Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIacuteRITO SANTO
CENTRO DE CIEcircNCIAS JURIacuteDICAS E ECONOcircMICAS
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM POLIacuteTICA SOCIAL
MESTRADO EM POLIacuteTICA SOCIAL
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
VITOacuteRIA
2013
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Profordm Drordm Rogeacuterio Naques Faleiros
VITOacuteRIA
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo (CIP)
Lanes Mocircnica Paulino pocircr ano de nascimento- 1976 L267p ProJovem trabalhador no municiacutepio de SerraES anaacutelise concepccedilotildees accedilotildees e poliacuteticas sociais para a juventude Mocircnica Paulino Lanes - Vitoacuteria (ES) 2013
151 f Orientador Rogeacuterio Naques Faleiros
Disserataccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas
1 Poliacuteticas Sociais 2 Juventude e trabalho I Lanes Mocircnica Paulino II Faleiros Rogeacuterio Naques III Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas IV Tiacutetulo
CDU 36
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros
Aprovada em 13 de Setembro de 2013
COMISSAtildeO EXAMINADORA
____________________________________________ Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros Universidade Federal do Espiacuterito Santo Orientador ____________________________________________ Prof Drordf Vania Maria Manfroi Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________________ Prof Drordf Edinete Maria Rosa Universidade Federal do Espiacuterito Santo
Dedico este estudo a todos (as) osas jovens das periferias brasileiras
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Profordm Drordm Rogeacuterio Naques Faleiros
VITOacuteRIA
2013
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo (CIP)
Lanes Mocircnica Paulino pocircr ano de nascimento- 1976 L267p ProJovem trabalhador no municiacutepio de SerraES anaacutelise concepccedilotildees accedilotildees e poliacuteticas sociais para a juventude Mocircnica Paulino Lanes - Vitoacuteria (ES) 2013
151 f Orientador Rogeacuterio Naques Faleiros
Disserataccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas
1 Poliacuteticas Sociais 2 Juventude e trabalho I Lanes Mocircnica Paulino II Faleiros Rogeacuterio Naques III Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas IV Tiacutetulo
CDU 36
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros
Aprovada em 13 de Setembro de 2013
COMISSAtildeO EXAMINADORA
____________________________________________ Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros Universidade Federal do Espiacuterito Santo Orientador ____________________________________________ Prof Drordf Vania Maria Manfroi Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________________ Prof Drordf Edinete Maria Rosa Universidade Federal do Espiacuterito Santo
Dedico este estudo a todos (as) osas jovens das periferias brasileiras
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo (CIP)
Lanes Mocircnica Paulino pocircr ano de nascimento- 1976 L267p ProJovem trabalhador no municiacutepio de SerraES anaacutelise concepccedilotildees accedilotildees e poliacuteticas sociais para a juventude Mocircnica Paulino Lanes - Vitoacuteria (ES) 2013
151 f Orientador Rogeacuterio Naques Faleiros
Disserataccedilatildeo (Mestrado) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas
1 Poliacuteticas Sociais 2 Juventude e trabalho I Lanes Mocircnica Paulino II Faleiros Rogeacuterio Naques III Universidade Federal do Espiacuterito Santo Centro de Ciecircncias Juriacutedicas e Econocircmicas IV Tiacutetulo
CDU 36
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros
Aprovada em 13 de Setembro de 2013
COMISSAtildeO EXAMINADORA
____________________________________________ Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros Universidade Federal do Espiacuterito Santo Orientador ____________________________________________ Prof Drordf Vania Maria Manfroi Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________________ Prof Drordf Edinete Maria Rosa Universidade Federal do Espiacuterito Santo
Dedico este estudo a todos (as) osas jovens das periferias brasileiras
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas
MOcircNICA PAULINO DE LANES
PROJOVEM TRABALHADOR NO MUNICIacutePIO DE SERRA-ES
ANAacuteLISE DE CONCEPCcedilOtildeES ACcedilOtildeES E POLIacuteTICAS SOCIAIS PARA
A JUVENTUDE
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social ndash Mestrado em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Poliacutetica Social Orientador Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros
Aprovada em 13 de Setembro de 2013
COMISSAtildeO EXAMINADORA
____________________________________________ Prof Dr Rogeacuterio Naques Faleiros Universidade Federal do Espiacuterito Santo Orientador ____________________________________________ Prof Drordf Vania Maria Manfroi Universidade Federal de Santa Catarina ____________________________________________ Prof Drordf Edinete Maria Rosa Universidade Federal do Espiacuterito Santo
Dedico este estudo a todos (as) osas jovens das periferias brasileiras
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas
Dedico este estudo a todos (as) osas jovens das periferias brasileiras
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas
AGRADECIMENTOS
Eacute difiacutecil sintetizar o que significou todo o processo Foram momentos muito intensos
de alegrias realizaccedilotildees descobertas conquistas mas tambeacutem de laacutegrimas
decepccedilotildees perdas conflitos e sacrifiacutecios Muitas madrugadas de estudo em frente
ao computador e tantas outras buscando soluccedilotildees para as situaccedilotildees frente as
quais nos deparamos na pesquisa Mas valeu a pena As marcas me ajudaram a
crescer Por isso tenho muito a agradecer
Primeiro a Deus e agrave espiritualidade sempre presentes em todos os momentos seja
no silecircncio das madrugadas ou no silecircncio turbulento dos dias
Agrave Darcy minha matildee Catarina minha filha e Arthur meu sobrinho por terem
suportado os momentos mais tensos estressantes e as dificuldades financeiras
sempre com alegria e bom humor Agrave minha irmatilde Claacuteudia que mesmo de longe e a
seu modo cuida de mim Aos meus irmatildeos que torceram por mim sempre Amo
todos vocecircs
Aos amigos da Fraternidade Espiacuterita de Laranjeiras (Feslar) e da Federaccedilatildeo Espiacuterita
do Espiacuterito Santo (Feees) pela compreensatildeo cuidado e as boas vibraccedilotildees durante
esses anos O carinho de vocecircs foi sempre um aquecedor nos momentos mais
difiacuteceis
Aos amigos novos e os antigos que encontrei na turma de mestrado 2011 do
Programa de Poliacutetica Social da UFES Eacute bom encontrar solidariedade e amizade As
nossas discussotildees sempre foram muito produtivas e enriquecedoras Ter feito parte
dessa turma fez toda diferenccedila para mim
Ao meu orientador pela ousadia em aceitar o desfio de uma nova temaacutetica de
pesquisa pelas contribuiccedilotildees sempre pertinentes e o apoio incondicional em todo o
processo
Ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social da UFES em especial agrave Adriana
e agrave Keydma
Obrigada agrave Camila Taqueti pela partilha de alguns textos que foram essenciais para
a pesquisa
Agraves professoras Edinete Maria Rosa e Vanda Valadatildeo pelas contribuiccedilotildees na
qualificaccedilatildeo que nos permitiram observar outros acircngulos e aprofundar outros
aspectos direcionando a pesquisa
Agrave professora Vania Maria Manfroi por ter me apresentado a temaacutetica de juventude
evidenciando a pesquisa como um instrumento da praacutetica profissional e de mediaccedilatildeo
para compreender a realidade
Aos jovens do ProJovem Trabalhador de Serra em especial aos jovens do bairro
Vila Nova de Colares com os quais trabalhei diretamente Peccedilo desculpas por natildeo
poder por razotildees alheias agrave nossa vontade expressar nesse estudo as suas falas
desejos e anseios Estar com vocecircs foi muito importante para o processo da
pesquisa mas sobretudo foi extremamente prazeroso Aprendi muito com cada um
de vocecircs com suas histoacuterias de vida e de luta com a alegria ironia e rebeldia com
que lidaram com todas as dificuldades Somos pares na vida
Agrave equipe da Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda de Serra e agrave
equipe do Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania (IMDC)
Agradeccedilo aos professores da banca pela disponibilidade e contribuiccedilotildees para o
estudo
Natildeo poderia deixar de agradecer ao professor Reinaldo Carcanholo que tive o
prazer de conhecer na graduaccedilatildeo estudando Marx em sala de aula e no Grupo
Rosa Luxemburgo Reencontraacute-lo no mestrado foi extremamente enriquecedor
Ainda posso ouvir sua voz grave na sala de aula Saudades
Agraves minhas queridas amigas Sislene Liacutevia e Jorgelene Vocecircs natildeo estavam aqui
presencialmente mas contraditoriamente estavam pois desejei muito que
estivessem Fazer junto eacute muito melhor Amo muito vocecircs
E finalmente agradeccedilo agrave Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel
Superior (CAPES) pelo financiamento que permitiu a realizaccedilatildeo desta pesquisa
Muito obrigada a todos vocecircs Entrei no programa de mestrado acreditando que faria
um grande mergulho saio dele tendo a certeza de que apenas molhei as pontas dos
peacutes
Agosto de 2013
Mocircnica Paulino de Lanes
ldquoA utopia estaacute laacute no horizonte Me aproximo dois
passos ela se afasta dois passos Caminho dez
passos e o horizonte corre dez passos Por mais
que eu caminhe jamais alcanccedilarei Para que serve
a utopia Serve para isso para que eu natildeo deixe
de caminharrdquo
Eduardo Galeano
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo de mestrado tem por objetivo analisar o programa ProJovem
Trabalhador de Serra-ES identificando as concepccedilotildees de juventude presentes
buscando capturar se essas concepccedilotildees influenciam nas accedilotildees do programa no
municiacutepio Para isso iniciamos o trabalho com uma discussatildeo sobre as
configuraccedilotildees histoacutericas e atuais sobre as poliacuteticas sociais especialmente das
poliacuteticas de juventude no Brasil Realizamos ainda uma pesquisa bibliograacutefica sobre
as concepccedilotildees juvenis desde os anos 1950 buscando problematizar a categoria
social juventude de forma ampla Para identificar as concepccedilotildees no municiacutepio
realizamos entrevistas com a equipe teacutecnica que executa o programa bem como
pesquisa documental Os resultados indicam que apesar dos avanccedilos nas poliacuteticas
de juventude haacute aspectos que ainda precisam ser superados tais como a
fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas a descontinuidade administrativa
a insuficiecircncia de orccedilamento e a despreocupaccedilatildeo com as pesquisas e natildeo
construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos sendo extremamente necessaacuterio e
urgente abrir os canais de diaacutelogo com a juventude de modo a construirmos uma
poliacutetica que represente os interesses juvenis Identificamos ainda que o programa eacute
a expressatildeo siacutentese das poliacuteticas sociais ndash descentralizaccedilatildeo privatizaccedilatildeo e
focalizaccedilatildeo No que se refere agraves concepccedilotildees de juventude no programa ProJovem
Trabalhador de Serra percebemos que ainda sobressai a percepccedilatildeo de juventude
como sintoma de problema social como consequecircncia do contexto no qual o
programa se insere
Palavras-chave Poliacuteticas Sociais Juventude e Trabalho
ABSTRACT
This dissertation aims to analyze the program Projovem Worker Serra-ES identifying
conceptions of youth present seeking to capture whether these conceptions
influence the actions of the program in the city For this work began with a discussion
of the historical and current settings on social policies especially of youth policies in
Brazil We also performed a literature search about the conceptions youth since the
1950s seeking to confront the social category of youth broadly To identify the
concepts in the municipality conducted interviews with the crew that runs the
program as well as documentary research The results indicate that despite
advances in youth policies there are aspects that still need to be overcome such as
fragmentation overlap of public actions the lack of administrative insufficient
budget lack of concern with research and not construction of social indicators solid
being extremely necessary and urgent to open channels of dialogue with youth in
order to build a policy that represents the interests of youth Identified further that
the program is an expression synthesis of social policies - decentralization
privatization and focusing With regard to the concepts of youth in the program
ProJovem Worker Sierra realized that still stands the perception of youth as a
symptom of social problems as a result of the context in which the program operates
Keywords Social Politic Youth and Work
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Perfil dos Programas 19
Quadro 2 - Programas para Juventude no periacuteodo de 1999 a 2002 53
Quadro 3 - Programas para Juventude em 2011 57
Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do perfil do preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 85
Quadro 5 - Distribuiccedilatildeo dos jovens de 16 a 29 anos ocupados segundo posiccedilatildeo na
ocupaccedilatildeo Brasil e Grandes regiotildees 2009 104
Quadro 6 - Distribuiccedilatildeo da carga horaacuteria ProJovem Trabalhador 113
Quadro 7 - Carga horaacuteria Qualificaccedilatildeo social 113
Quadro 8 - Perfil dos Instrutores 114
Quadro 9 - Arcos Ocupacionais 115
Quadro 10 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para as mulheres jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 115
Quadro 11 - Saldo de emprego formal nas famiacutelias ocupacionais que mais geraram
empregos para os homens jovens 16 a 29 anos Brasil 2010 116
Quadro 12 - Atendimento das modalidades do ProJovem Integrado 119
Quadro 13 - Nuacutemero de Jovens cadastrados no ProJovem 2010 122
Quadro 14 - Proporccedilatildeo de jovens cadastrados que tem algum membro da famiacutelia
que recebeu auxiacutelio do governo 124
Quadro 15 - Renda familiar do Jovem cadastrado no programa 2010 125
LISTA DE SIGLAS
BID ndash Banco Interamericano de Desenvolvimento
CEJUVENT - Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude da Cacircmara dos
Deputados
CEPAL ndash Comissatildeo Econocircmica para a Ameacuterica Latina
CONJUVE - Conselho Nacional de Juventude
CRAS ndash Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social
CTJ ndash Cacircmara Teacutecnica de Juventude
EC ndash Emenda Constitucional
ECRIAD ndash Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
FMI ndash Fundo Monetaacuterio Internacional
IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IDH ndash Iacutendice de Desenvolvimento Humano
OIT - Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
ONG ndash Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental
ONU- Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas
PEC ndash Projeto de Emenda Constitucional
PL ndash Projeto de Lei
PPJ ndash Poliacutetica Puacuteblica de Juventude
Pronasci - Programa Nacional Seguranccedila com Cidadania
SENAI ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Industrial
SETER - Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
SNJ - Secretaria Nacional de Juventude
UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo Ciecircncia e Cultura
UNICEF - Fundo das Naccedilotildees Unidas para a Infacircncia
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS 13
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS 17
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL 25
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS 25
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES 34
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL 50
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS 63
21 FAIXA ETAacuteRIA 63
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA 66
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL 71
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE 74
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE 78
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES 93
31 JUVENTUDE E TRABALHO 93
32 APRESENTANDO O PROJOVEM 105
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM 122
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
125
341 Juventude como problema 126
342 Juventude como moratoacuteria social 128
343 E a juventude como sujeito social 131
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS 134
REFEREcircNCIAS 138
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO 148
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO 149
QUESTIONAacuteRIO COM JIVENS - PESQUISA EM CAMPO 150
13
1 INTRODUCcedilAtildeO E CONSIDERACcedilOtildeES METODOLOacuteGICAS
O interesse pela temaacutetica de juventude surgiu na graduaccedilatildeo quando me inseri no
Nuacutecleo de Estudos de Juventude e Protagonismo (NEJUP)1 onde estagiei por 1 ano
iniciando as discussotildees sobre o assunto que se estenderam no estaacutegio da
Prefeitura Municipal de Serra junto agrave Secretaria de Direitos Humanos no
Departamento de Juventude (SEDIR)
Depois de graduada o contato com a temaacutetica se deu no Projeto Mulheres da Paz
de Vitoacuteria Esse projeto eacute uma das accedilotildees do Programa Nacional de Seguranccedila com
Cidadania (PRONASCI) carro-chefe da poliacutetica de Seguranccedila Puacuteblica no Brasil Um
dos objetivos do projeto mencionado eacute a reduccedilatildeo dos iacutendices de violecircncia atraveacutes do
trabalho conjugado entre as ldquomulheres da pazrdquo e os jovens inseridos no Projeto de
Proteccedilatildeo dos Jovens em Territoacuterio Vulneraacutevel (PROTEJO)2
O contato com as comunidades denominadas de Territoacuterios de Paz (Forte Satildeo Joatildeo
Ilha do Priacutencipe e Grande Satildeo Pedro) e com a rede de atendimento nos colocou
algumas questotildees de que forma a juventude eacute percebida nesse e em outros
programas Como problema Como criminosa Quais os canais de participaccedilatildeo
desse jovem de periferia Quais as possibilidades de lazer Como esse jovem se
percebe
Assim nos aproximamos das perguntas norteadoras deste estudo qual a concepccedilatildeo
de juventude nas poliacuteticas de juventude Elas contribuem para fortalecer uma visatildeo
de juventude que estigmatiza a juventude
Com o objetivo de compreender os possiacuteveis nexos buscamos pensar como as
poliacuteticas satildeo concebidas com quais objetivos como satildeo executadas relacionando o
momento em que se deu a explosatildeo da temaacutetica juventude e a ampliaccedilatildeo das
accedilotildees voltadas para esse segmento populacional Assim identificamos que a partir
1Nuacutecleo criado em 2003 e eacute vinculado ao Departamento de Serviccedilo Social e Mestrado em Poliacutetica
Social da UFES 2 Projeto vinculado ao Ministeacuterio da Justiccedila cujo objetivo maior eacute prestar assistecircncia por meio de
programas de formaccedilatildeo e inclusatildeo social a jovens adolescentes expostos agrave violecircncia domeacutestica ou urbana ou que vivam nas ruas (MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA 2013)
14
dos anos 1990 houve um aumento significativo das intervenccedilotildees para a juventude
em grande parte estabelecendo uma vinculaccedilatildeo entre juventude e violecircncia
As primeiras experiecircncias dessa deacutecada emergem como resposta aos altos iacutendices
de mortes juvenis (a juventude eacute vista como ator principal nos casos de homiciacutedios
seja como autor seja como viacutetima) e ainda por conta da repercussatildeo do
assassinato do iacutendio Galdino por jovens da classe meacutedia em Brasiacutelia no ano de
1997 (SPOSITO 2003) Eacute tambeacutem nesse periacuteodo que a classe jovem atingiu os
maiores iacutendices de desemprego Segundo Quiroga (2001) 45 do desemprego
desse periacuteodo estava entre o puacuteblico desse segmento
Apesar das poliacuteticas juvenis natildeo terem sido demandadas pela juventude surgindo
com a funccedilatildeo de minimizar a potencial ameaccedila juvenil (SPOSITO 2003) nesse
periacuteodo houve muitos avanccedilos no campo das poliacuteticas de juventude no Brasil
quando se organizaram as primeiras conferecircncias e a Poliacutetica Nacional de
Juventude comeccedila a ser estruturada e discutida Alguns espaccedilos satildeo criados como o
Conselho Nacional de Juventude e a Secretaacuteria Nacional de Juventude vinculadas
diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica
De 1999 a 2002 houve uma grande explosatildeo de poliacuteticas destinadas para o puacuteblico
juvenil contudo nos questionamos qual eacute o real objetivo delas ldquo[] manter a paz
social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos juvenis
oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela sociedade e
seus problemas []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p 19)
Considerando que elas emergem num periacuteodo de contrarreforma do Estado de
redefiniccedilatildeo das poliacuteticas sociais natildeo podemos desconsiderar o impacto do
neoliberalismo sobre tais poliacuteticas que jaacute carregam um histoacuterico estigmatizador do
jovem Por esta razatildeo entendemos que tal processo faz parte do processo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social e de criminalizaccedilatildeo do pobre (IAMAMOTO 2007
NETTO BRAZ 2006 WACQUANT 2007)
Eacute por esta razatildeo que Abramo (1997 p 30) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
15
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo
Carrano (2012) lembra que os jovens foram vistos como possibilidade de corrupccedilatildeo
dos costumes na deacutecada de 1950 (a juventude transviada) como foco de agitaccedilatildeo e
subversatildeo da ordem nos anos de 1960 e 1970 como promotores e viacutetimas de
situaccedilotildees de violecircncia nos anos de 1980 e 1990 e hoje como sujeitos vulneraacuteveis
diante do desemprego da desocupaccedilatildeo e da quebra de viacutenculos institucionais Para
o autor ateacute mesmo essa preocupaccedilatildeo com o desemprego juvenil revela uma visatildeo
que associa o desemprego dos jovens com o risco em potencial do envolvimento
deles com o crime ou traacutefico de drogas Isto porque as jovens sempre viveram
situaccedilotildees de desemprego e esse dado nunca foi preocupante Carrano (2012) afirma
que tais representaccedilotildees satildeo dominantes em determinados periacuteodos mas
transcendem as proacuteprias eacutepocas e em determinadas situaccedilotildees satildeo encontradas
hibridizadas em concepccedilotildees do presente
O atual contexto das poliacuteticas sociais interfere significativamente no modo como a
juventude eacute concebida pois as accedilotildees para esse segmento ainda satildeo vistas como
caixinhas cada esfera defendendo a sua o que impede o diaacutelogo coloca as accedilotildees
em disputa e ainda prejudica a construccedilatildeo de um projeto mais amplo de
transformaccedilatildeo do paiacutes que agregue as bandeiras especiacuteficas (SPOSITO 2012)
Tal fragmentaccedilatildeo corrobora com a manutenccedilatildeo do abismo entre as concepccedilotildees e as
praacuteticas Como lembra Carrano (2012) surge o ldquojovem temaacuteticordquo como expressatildeo do
puacuteblico-alvo ldquoo jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa
jovem-que-natildeo-queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo Essa divisatildeo resulta em
um dualismo de um lado poliacuteticas que atendem agrave demanda da juventude e de
outro poliacuteticas que expressam interesses do mundo adulto
Podemos dizer que as poliacuteticas de juventude em sentido geral comeccedilam mais na
esfera dos direitos e menos na dos problemas sociais (SPOSITO 2012) Contudo
ainda ldquo[] natildeo se constituiacuteram em suportes suficientes para que os jovens brasileiros
possam viver com dignidade o tempo de juventude e tambeacutem caminhar em
16
transiccedilotildees natildeo tatildeo acidentadas para a autonomia da vida adulta []rdquo isto porque
permanecem aspectos como a fragmentaccedilatildeo a superposiccedilatildeo das accedilotildees puacuteblicas e
a descontinuidade administrativa a insuficiecircncia de orccedilamento a despreocupaccedilatildeo
com as pesquisas e natildeo construccedilatildeo de indicadores sociais soacutelidos (CARRANO
2012 p 231)
Para analisar o ProJovem Trabalhador no municiacutepio de Serra e identificar as
concepccedilotildees de juventude nesse programa propusemos este estudo Foi um grande
exerciacutecio pois natildeo haacute muitas pesquisas e produccedilotildees acerca dos impactos das
concepccedilotildees de juventude nas poliacuteticas voltadas a esse segmento Assim apesar de
trabalhoso se revelou necessaacuterio pois eacute de fundamental importacircncia conhecer
como a juventude eacute pensada na construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo das poliacuteticas
Outro aspecto extremamente relevante foi sobre a configuraccedilatildeo das poliacuteticas sociais
na atualidade expressas no primeiro capiacutetulo deste estudo destacando a gecircnese e
as configuraccedilotildees delas na contemporaneidade no ProJovem Trabalhador quais
sejam privatizaccedilatildeo ndash que separou a formulaccedilatildeo da execuccedilatildeo das poliacuteticas cabendo
ao Estado a formulaccedilatildeo e agraves instituiccedilotildees privadas a execuccedilatildeo descentralizaccedilatildeo ndash
quando a gestatildeo municipal recebe a responsabilidade de executar as accedilotildees e
programas que foram planejadas na esfera Federal focalizaccedilatildeo ndash a destinaccedilatildeo dos
serviccedilos sociais aos comprovadamente pobres Esse trinocircmio das poliacuteticas sociais
atuais eacute a expressatildeo e explicaccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra e com
certeza natildeo soacute o de Serra Tais caracteriacutesticas marcam profundamente o programa
e reforccedilam o modo de conceber a juventude
Dividimos este estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro apresentamos a discussatildeo
sobre poliacutetica social abordando a sua emergecircncia no contexto bem como as
configuraccedilotildees no Brasil contemporacircneo buscando capturar o momento em que as
poliacuteticas de juventude surgem e as conformaccedilotildees atuais
No segundo capiacutetulo apresentamos o resultado da pesquisa bibliograacutefica sobre as
concepccedilotildees de juventude enfatizando-a como uma categoria social complexa que
possui muacuteltiplas faces regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de classe pois
entendemos que eacute esse reconhecimento que permite o contraponto aos velhos
17
discursos que associam juventude agrave violecircncia ou reproduzem que a juventude atual
natildeo eacute tatildeo avanccedilada como a de outrora (SPOSITO 2012)
Apresentamos no terceiro capiacutetulo a discussatildeo sobre trabalho e mercado de
trabalho dos jovens para em seguida expor o ProJovem Trabalhador de Serra e o
perfil do jovem inserido no programa em acircmbito brasileiro Encerramos o capiacutetulo
apresentando as concepccedilotildees de juventude no municiacutepio relacionando as
concepccedilotildees encontradas em acircmbito local com as concepccedilotildees discutidas no capiacutetulo
anterior Aqui se evidenciou os impactos das configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais
contemporacircneas mostrando todos os limites enfrentados
11 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS
A finalidade de uma pesquisa eacute conhecer a realidade ou minimamente oferecer
caminhos para o conhecimento dessa realidade No entanto o resultado desse
processo estaacute condicionado agrave metodologia utilizada para trilhar o caminho de
desvelamento dessa realidade Ao fazer tal afirmaccedilatildeo queremos dizer que
metodologia natildeo eacute apenas um conjunto de etapas coordenadas para se alcanccedilar o
objetivo mas tambeacutem e acima de tudo uma opccedilatildeo teoacuterica que vai nortear o
caminho metodoloacutegico e o modo como o pesquisador iraacute se apropriar das
informaccedilotildees e percepccedilotildees colhidas no caminho para explicar ou buscar explicar
essa realidade
Nossa opccedilatildeo metodoloacutegica se deu pelo meacutetodo criacutetico-dialeacutetico pois essa
abordagem teoacuterica nos permite uma maior aproximaccedilatildeo com a realidade na
aparecircncia e essecircncia uma vez que o sujeito procura ldquo[] reproduzir idealmente o
movimento do objeto extrai as suas caracteriacutesticas reconstruindo-o no niacutevel do
pensamento como um conjunto rico de determinaccedilotildees que vatildeo aleacutem das suas
sugestotildees imediatasrdquo (BEHRING BOSCHETTI 2007 p38)
O conhecimento para o meacutetodo criacutetico-dialeacutetico natildeo se daacute atraveacutes da sobreposiccedilatildeo
do objeto ao sujeito tampouco do sujeito ao objeto mas num movimento dinacircmico
onde ldquo[] o homem conhece a realidade agrave medida que ele cria a realidade humana e
18
se comporta antes de tudo como ser praacutetico []rdquo (KOSIK 2002 p28)3
Para tal abordagem a realidade eacute entendida como uma unidade dialeacutetica e
contraditoacuteria que se constitui em aparecircncia e essecircncia e que na cotidianidade a
aparecircncia (ou fenocircmeno) esconde a essecircncia mas natildeo o elimina e nem impede o
seu desvelamento Assim eacute necessaacuterio primeiro conhecermos o fenocircmeno para
chegarmos agrave essecircncia fato que se torna possiacutevel pois esse movimento eacute feito a
partir da proacutepria realidade capturando o seu movimento (KOSIK 2002)
Nesse sentido buscamos compreender a totalidade dos fenocircmenos Totalidade
segundo Kosik (2002 p 44) significa a ldquo[] realidade como um todo estruturado
dialeacutetico no qual ou do qual um fato qualquer (classes de fatos conjunto de fatos)
pode vir a ser racionalmente compreendido []rdquo A totalidade natildeo eacute a soma de todos
os fatos natildeo eacute o real e sim um aspecto do real que nos leva agrave concreticidade
Para esse autor acumular todos os fatos natildeo significa ainda conhecer a realidade e
todos os fatos (reunidos em conjunto) natildeo constituem ainda a totalidade Logo
para Kosik (2002) a totalidade concreta natildeo eacute um meacutetodo para esgotar todos os
aspectos eacute a teoria da realidade como totalidade concreta que requer um
[] processo de concretizaccedilatildeo que procede do todo para as partes e das partes para o todo dos fenocircmenos para a essecircncia e da essecircncia para o fenocircmeno da totalidade para as contradiccedilotildees e das contradiccedilotildees para a totalidade e justamente neste processo de correlaccedilotildees em espiral no qual todos os conceitos entram em movimento reciacuteproco e se elucidam mutuamente atinge a concreticidade [] a compreensatildeo dialeacutetica da totalidade significa natildeo soacute que as partes se encontram em relaccedilatildeo de interna interaccedilatildeo e conexatildeo entre si e com o todo mas tambeacutem que o todo natildeo pode ser petrificado na abstraccedilatildeo situada por cima das partes visto que o todo se cria a si mesmo na interaccedilatildeo das partes (KOSIK 2002 p 50)
Deste modo se quisermos conhecer as poliacuteticas sociais em suas muacuteltiplas
determinaccedilotildees eacute necessaacuterio fazer o esforccedilo para desvendar o significado real da
poliacutetica social sob o veacuteu fenomecircnico da aparecircncia Para isto eacute preciso ultrapassar os
limites que ancoram o surgimento e o desenvolvimento das poliacuteticas sociais apenas
aos fatores econocircmicos ou apenas ao processo das lutas sociais Para compreendecirc-
la dentro de uma perspectiva dialeacutetica eacute preciso articulaacute-la tanto agrave poliacutetica econocircmica
3 Para Kosik o conhecimento eacute uma forma de apropriaccedilatildeo do mundo pelo homem Apropriaccedilatildeo no
sentido objetivo e subjetivo
19
quanto ao processo da luta de classes natildeo esquecendo a dimensatildeo cultural que
segundo Behring e Boschetti (2007) se relacionam com a poliacutetica que considera os
sujeitos poliacuteticos portadores de valores e do ethos de seu tempo Ou nas palavras de
Behring (2002 p 174) ldquo[] o significado da poliacutetica social natildeo pode ser apanhado
nem exclusivamente pela sua inserccedilatildeo objetiva no mundo do capital nem apenas
pela luta de interesses dos sujeitos [] mas historicamente na relaccedilatildeo desses
processos na totalidade []rdquo
Tendo como base essas consideraccedilotildees definimos o nosso problema de pesquisa da
seguinte forma Quais as concepccedilotildees de juventude presentes nas poliacuteticas de
juventude Partindo dessa questatildeo norteadora iniciamos o processo de escolha do
programa a ser analisado O primeiro recorte foi o municiacutepio quando escolhemos a
cidade de Serra no Espiacuterito Santo por ser um municiacutepio da Regiatildeo Metropolitana do
Estado que tem um grande percentual de jovens e que tem grande parte dos
programas para a juventude executados pelo Governo Federal mas que apesar
disso natildeo tem muitas produccedilotildees sobre o assunto
Em seguida realizamos um levantamento dos programas e accedilotildees voltados para a
juventude Na sequecircncia realizamos uma triagem de modo a escolher o programa
que mais nos aproximasse das questotildees levantadas 1) que o puacuteblico alvo fosse
essencialmente o jovem de preferecircncia de 15 a 29 anos que eacute a idade padratildeo
definida internacionalmente e utilizada pela Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL
2006) 2) que tivesse abrangecircncia no territoacuterio nacional permitindo um diaacutelogo
diversificado e ampliado 3) e programas que estivessem em execuccedilatildeo A
organizaccedilatildeo dessa triagem encontra-se exposta no quadro abaixo
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Bolsa Atleta Proeja Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Projeto Rondon ProUni (05)
Adultos e jovens
Praccedilas da Juventude Brasil Alfabetizado Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais (04)
Instituiccedilotildees
Continua
20
PROGRAMAS PUacuteBLICO DO PROGRAMA
Programa Segundo Tempo Escola Aberta (02) Puacuteblico escolar em geral
natildeo especificamente o
jovem
Programa Cultura Viva (01) Atendem ao puacuteblico de
baixa renda especialmente
mas natildeo exclusivamente
os jovens de 17 a 29 anos
Projeto Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem
Juventude e Meio Ambiente (03)
Jovem - puacuteblico muito
especiacutefico
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia (01) Atende aos adolescentes
de 15 a 17 anos
Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci (01)
Atendem jovens de 15 a 24
anos com foco na
prevenccedilatildeo da violecircncia
Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (ProJovem) (01)
Atendem o puacuteblico juvenil
de 15 a 29
QUADRO 1 - PERFIL DOS PROGRAMAS Fonte Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude (BRASIL 2010)
Identificamos que dos 18 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas 6 deles se destinam especificamente aos jovens Projeto
Soldado Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de
Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania
(PRONASCI) e o ProJovem Poreacutem desses retiramos os trecircs primeiros pois
adotam um puacuteblico ou temas muito especiacuteficos Jaacute o Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia se destina aos jovens adolescentes de 15 a 17 anos o que nos levou
a desconsideraacute-lo como possiacutevel objeto de estudo
Os outros dois programas (Programas do Pronasci e ProJovem) tecircm abrangecircncia
nacional com accedilotildees em grande parte das capitais e regiotildees metropolitanas4 No
4 Programas do Pronasci Acre Alagoas Bahia Cearaacute Distrito Federal Goiaacutes Espiacuterito Santo
Maranhatildeo Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute Paranaacute Pernambuco Piauiacute Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rondocircnia Satildeo Paulo Sergipe e Tocantins (Fonte wwwpronascigovbr) ProJovem Depende da modalidade (MINISTEacuteRIO JUSTICcedilA 2013)
Continuaccedilatildeo
21
entanto no que se refere agrave execuccedilatildeo nem todas as accedilotildees do Pronasci estiveram
em execuccedilatildeo em 2011 e 2012
Chegamos assim ao Programa ProJovem nosso objeto de pesquisa por ser o
programa em execuccedilatildeo que tem como puacuteblico alvo os jovens de 15 a 29 anos e
ainda por ter abrangecircncia nacional sendo considerado como o carro-chefe da
Poliacutetica Nacional de Juventude (BRASIL 2008b)
A ideia inicial era trabalhar com o ProJovem Urbano por jaacute constar de um nuacutemero
maior de estudos e avaliaccedilotildees em outros estados mesmo que estudos
institucionais bem como por natildeo estabelecer um criteacuterio de renda para a inserccedilatildeo do
jovem no programa No entanto foi necessaacuterio fazer uma alteraccedilatildeo na modalidade
do programa pois o programa ProJovem Urbano no municiacutepio de Serra natildeo estava
mais em execuccedilatildeo5
Assim voltamos os estudos para o ProJovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
tendo como objetivo geral analisar as concepccedilotildees de juventude presentes no
Programa ProJovem Trabalhador realizado no municiacutepio de SerraEspiacuterito Santo
Os objetivos especiacuteficos satildeo 1) Identificar as concepccedilotildees de juventude na literatura
sobre o tema 2) Identificar as concepccedilotildees de juventude presentes no Programa
analisando de que modo tais concepccedilotildees se materializam nas accedilotildees do Programa
3) Relacionar o puacuteblico-alvo do Programa apresentando o perfil do jovem inserido
no Programa do municiacutepio de SerraES com as concepccedilotildees identificadas de
juventude
Importante ressaltar que participei do programa como instrutora na qualificaccedilatildeo
social tendo atuado no processo de capacitaccedilatildeo em reuniotildees e trabalhado
diretamente com os jovens do turno matutino do bairro Vila Nova de Colares fato
esse que permitiu uma aproximaccedilatildeo maior com o programa com os instrutores e
principalmente com os jovens
Por sugestatildeo da banca de qualificaccedilatildeo inserimos na anaacutelise da pesquisa
5 O fato do Programa ser executado por Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental dificulta o acesso agraves
informaccedilotildees principalmente se o programa natildeo estiver em execuccedilatildeo no momento da pesquisa
22
concepccedilotildees de juventude da equipe teacutecnica que executa o programa bem como
dos jovens inseridos no programa pois a princiacutepio pretendiacuteamos apenas fazer uma
pesquisa documental Contudo acessar as informaccedilotildees sobre o programa foi
extremamente complicado
Primeiramente pelo atraso no iniacutecio do programa O convecircnio soacute foi assinado em
julho de 2012 apesar de ter sido aprovado em 2010 A entidade que ganhou a
licitaccedilatildeo para executar o programa foi o Instituto Mundial de Desenvolvimento e
Cidadania (IMDC) com sede em Belo Horizonte Minas Gerais As atividades foram
iniciadas em setembro de 2012 com a divulgaccedilatildeo em algumas instituiccedilotildees
municipais (Centro de Referecircncia da Assistecircncia Social Unidade de Sauacutede Escolas
e outras) Apoacutes o periacuteodo eleitoral a divulgaccedilatildeo foi mais ostensiva As atividades
com jovens comeccedilaram em dezembro de 2012
Nos primeiros meses de 2013 com a troca da gestatildeo municipal muitas atividades
ficaram paralisadas e o acesso agrave informaccedilatildeo ficou comprometido Esse fato se
justifica porque no iniacutecio do ano a equipe ainda natildeo estava toda formada6 faltando
vaacuterios instrutores para a qualificaccedilatildeo social e principalmente faltavam os jovens
Assim em marccedilo de 2013 o programa abriu novamente as inscriccedilotildees formando
novas turmas
Passado esse periacuteodo de organizaccedilatildeo fizemos diversas tentativas junto ao IMDC
para realizar a pesquisa de campo com os jovens e os instrutores Natildeo recebemos
uma negativa mas tambeacutem natildeo conseguimos chegar aos possiacuteveis entrevistados e
nem mesmo ter acesso aos relatoacuterios sobre o perfil dos jovens Dada a dificuldade
optamos por realizar entrevista com a equipe teacutecnica quando aplicamos
questionaacuterios em trecircs espaccedilos agrave Secretaria de Trabalho Emprego e Renda
(SETER) do municiacutepio agrave coordenaccedilatildeo teacutecnica do programa no municiacutepio agrave
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e aos teacutecnicos do programa totalizando 06 entrevistados
6 Uma das principais razotildees em manter os instrutores capacitados pois inicialmente o pagamento
dos instrutores seria por Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) que jaacute eacute uma forma precaacuteria de contrataccedilatildeo mas ao final da capacitaccedilatildeo os profissionais foram informados que precisariam estar inscritos na forma Micro Empreendedor Individual (MEI) estimulando assim o ldquoempreendedorismordquo o que fez com que alguns instrutores se desligassem imediatamente Outros se desligaram posteriormente dada a dificuldade em cumprir os preacute-requisitos para a inscriccedilatildeo no MEI
23
Em uma das entrevistas a informaccedilatildeo recebida foi de que o nuacutemero de jovens
estava muito abaixo do nuacutemero que foi contratado O IMDC recebeu o valor de R$
386 milhotildees para capacitar 2500 jovens no entanto natildeo havia nem mesmo 600
jovens cadastrados Essa seria a razatildeo que dificultou o acesso agraves informaccedilotildees
especialmente aos jovens Por essa razatildeo nossa pesquisa analisaraacute apenas as
concepccedilotildees de juventude no ProJovem Trabalhador de Serra baseado nas
informaccedilotildees colhidas junto agrave equipe teacutecnica bem como nos documentos sobre o
programa que foram disponibilizados no site do Ministeacuterio do Trabalho e da
Prefeitura Municipal de Serra
O nosso percurso mostra que o objeto de estudo eacute um caminho que estaacute sendo
construiacutedo natildeo estaacute pronto pois agrave medida que nos aproximamos da realidade
estudada novos acircngulos se apresentam e novas possibilidades ou impossibilidades
ajudam a desvelar o objeto (MINAYO 2002)
Cabe ressaltar que esse caminho deve ser percorrido com base na teoria por essa
razatildeo a pesquisa bibliograacutefica foi um dos instrumentos utilizados para estudar o
objeto proposto uma vez que natildeo haacute ciecircncia sem pesquisa teoacuterica jaacute que ela eacute a
ordenaccedilatildeo da realidade ao niacutevel mental (DEMO 2004)
Utilizamos desse meacutetodo teoacuterico para responder o primeiro objetivo dessa pesquisa
cujos resultados foram explicitados no capiacutetulo dois desta pesquisa quando
discutimos as concepccedilotildees de juventude e os impactos delas nas poliacuteticas para o
segmento juvenil Apresentando as concepccedilotildees de juventude no Brasil desde 1950
ateacute os dias atuais buscamos capturar como essas concepccedilotildees impactam as poliacuteticas
sociais e ainda como as novas configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais interferem nesse
processo articulando as discussotildees que foram feitas no primeiro capiacutetulo sobre
poliacutetica social
Recorremos agrave teacutecnica de questionaacuterio como procedimento metodoloacutegico isto porque
ele eacute um recurso primordial na investigaccedilatildeo qualitativa uma vez que os discursos
intelectuais burocraacuteticos e poliacuteticos os detalhes natildeo estatildeo escritos em lugar algum
(MINAYO SANCHES 1993) Assim infere-se que os dados ldquo[] natildeo existem
isolados mas precisam ser situados em uma estrutura teoacuterica para que o seu
24
conteuacutedo seja entendidordquo (MAY 2004 p 222)
No que se refere agrave abordagem da pesquisa optamos pela abordagem qualitativa por
acreditarmos ser o meacutetodo mais adequado para atender agraves nossas expectativas
buscando associar os dados do referencial bibliograacutefico com os resultados das
entrevistas e dos documentos encontrados (BAUER GASKELL ALLUM 2002)
Agrupamos as concepccedilotildees como sujeito social em dois aspectos 1) Juventude
como problema social 2) Juventude como momento de moratoacuteria social ou
vital e questionamos a inexistecircncia de uma concepccedilatildeo de juventude como sujeito
social Apresentamos o resultado desses conteuacutedos no capiacutetulo trecircs quando
discutimos sobre trabalho e mercado de trabalho juvenil discutindo outrossim o
ProJovem Trabalhador e as concepccedilotildees encontradas
25
CAPIacuteTULO 1 - POLIacuteTICAS SOCIAIS E AS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO
BRASIL
11 POLIacuteTICA SOCIAL GEcircNESE E FUNDAMENTOS
As primeiras experiecircncias de poliacutetica social surgem no mundo no seacuteculo XIX como
consequecircncia da ascensatildeo do capitalismo e da Revoluccedilatildeo Industrial Contudo ela
soacute se legitima a partir da intensificaccedilatildeo da luta de classes como expressatildeo das
manifestaccedilotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O termo questatildeo social foi utilizado pela primeira vez por volta de 1830 por criacuteticos
da sociedade e filantropos e surge para dar conta de um fenocircmeno evidente na
Europa Ocidental o pauperismo oriundo da primeira onda de industrializaccedilatildeo Era a
primeira vez que a miseacuteria se generalizava apesar da desigualdade natildeo ser algo
novo na histoacuteria e dessa vez natildeo mais se vinculava agrave escassez A pobreza e a
capacidade de produzir riquezas cresciam em proporccedilatildeo direta (NETTO 2005)
O uso do termo ldquoquestatildeo socialrdquo para designar esse pauperismo relaciona-se com os
seus desdobramentos sociopoliacuteticos Os pauperizados se manifestaram de diversas
formas greves manifestaccedilotildees e ainda atraveacutes de outros movimentos como
Ludismo Cartismos e os Trades-Unions todos em busca de condiccedilotildees de vida mais
dignas jornadas de trabalho mais humanas e melhores salaacuterios Esse cenaacuterio do
ponto de vista do capitalista representava uma ameaccedila agrave ordem burguesa e agraves
instituiccedilotildees existentes
Por essa razatildeo se afirma que a questatildeo social eacute expressatildeo do processo de
formaccedilatildeo desenvolvimento da classe operaacuteria7 e de seu ingresso no cenaacuterio poliacutetico
7 A Revoluccedilatildeo de 1848 trouxe agrave luz o antagonismo da sociedade de classes e dissolveu o ideaacuterio do
utopismo O proletariado passou da condiccedilatildeo de classe em si a classe para si assim no processo de luta evidenciou que ldquo[] a lsquoquestatildeo socialrsquo estaacute necessariamente colocada agrave sociedade burguesa somente a supressatildeo desta conduz a supressatildeo daquelardquo (NETTO 2005 p156) O autor lembra que a partir daiacute o termo passou a identificar uma expressatildeo conservadora e o pensamento revolucionaacuterio passou a utilizaacute-la somente para mostrar o seu traccedilo mistificador A ldquoquestatildeo socialrdquo (agora percebida como forte desigualdade desemprego fome doenccedilas penuacuteria desamparo) passa entatildeo a ser naturalizada e vista como desdobramento da sociedade moderna de caracteriacutesticas ineliminaacuteveis e que podem no maacuteximo ser objeto de uma intervenccedilatildeo poliacutetica limitada capaz de amenizaacute-las e reduzi-las que soacute satildeo possiacuteveis atraveacutes de uma reforma moral do homem e da sociedade e deve ser feita de modo a preservar a propriedade privada e os meios de produccedilatildeo (NETTO 2005)
26
da sociedade o que exigiu o seu reconhecimento enquanto classe por parte do
Estado e dos capitalistas (IAMAMOTO CARVALHO 2005)
Tal reconhecimento da classe operaacuteria requisitou accedilotildees que transitaram entre a
repressatildeo estatal e o reconhecimento de alguns direitos tais como a legislaccedilatildeo fabril
que normatizou a jornada de trabalho representando algumas conquistas para os
trabalhadores Assim as poliacuteticas sociais emergem nesse processo de mudanccedilas
nas configuraccedilotildees do papel do Estado8 como uma das formas de enfrentamento das
expressotildees da questatildeo social (BEHRING BOSCHETTII 2007)
Essas primeiras accedilotildees satildeo consideradas pelas autoras como as protoformas das
poliacuteticas sociais que eram percebidas como caridade privada e de responsabilidade
da sociedade Elas tinham como principal objetivo a puniccedilatildeo da vagabundagem e a
manutenccedilatildeo da ordem9 Nesse escopo existia um conjunto de leis assistencialistas
conhecidas como Leis Seminais na Inglaterra Estatuto dos Trabalhadores (1349)
Estatuto dos Artesotildees ndash Artiacuteficies (1563) Leis dos Pobres elisabetanas (1531 e
1601) Lei de Domicilio ndash Settlemente Act (1662) Speenhanland Act (1795) Lei
Revisora das Leis dos Pobres ou Nova Lei dos Pobres ndash Poor Law Amendent Act
(1834)
Ateacute 1795 as Leis dos Pobres (Estatuto dos Artiacuteficies Lei de Domicilio Estatuto dos
Trabalhadores) formavam um conjunto de regulaccedilotildees da sociedade preacute-
capitalista10 destinadas agraves pessoas sem trabalho (idosos invaacutelidos oacuterfatildeos crianccedilas
carentes desocupados voluntaacuterios e involuntaacuterios e outros) com o claro objetivo
punitivo e referenciado no trabalho A partir desse molde eacute que surgem as
Workhouses casas de trabalhos que funcionavam como verdadeiras prisotildees para
onde eram encaminhados os indigentes considerados aptos para o trabalho
(PEREIRA 2007)
Um novo conceito de regulaccedilatildeo da pobreza surgiu em 1795 com a Lei
8 Para aprofundar a questatildeo consultar Netto Braz (2006) Netto (2005) Berhing (2003)
9 Essas leis puniam exemplarmente a vagabundagem e mendicacircncia todos que se enquadravam a
essas leis eram obrigados a trabalhar em troca de qualquer salaacuterio e somente os invaacutelidos crianccedilas carentes e idosos tinham direito agrave assistecircncia social 10
Entendemos assim que Pereira (2007) se aproxima da definiccedilatildeo dessas leis como protoformas das poliacuteticas sociais como definiu Behring e Boschetti (2007)
27
Speenhamland (Speenhamland Law) ineacutedita na histoacuteria ateacute aquele momento pois
reconhecia o direito social da assistecircncia a todos os homens indissociando-a do
trabalho ou seja todos que necessitassem teriam direito a um miacutenimo (PEREIRA
2007) Em contrapartida como afirma a autora com essa Lei houve um o
rebaixamento de salaacuterios abaixo do miacutenimo E cabe destacar que tal lei era
suplementada atraveacutes de fundos puacuteblicos o que beneficiava mais o empregador que
o trabalhador
Pereira (2007) ressalta ainda que essa lei jaacute nasceu fadada ao fracasso pois
proclamava que nenhum homem deveria temer a fome pois a paroacutequia o
sustentaria constituindo-se desse modo em um obstaacuteculo agrave formaccedilatildeo do
proletariado industrial mesmo sendo o seu benefiacutecio irrisoacuterio e repleto de
contradiccedilotildees
Por conta das pressotildees em 1834 a Speenhamland foi revogada e instituiacuteda a Lei
Revisora das Leis dos Pobres (Poor Law Amendment Act) tornando a assistecircncia
seletiva e residual mais afinada com o perfil liberal Tal lei promoveu ainda a
quebra da territorializaccedilatildeo do domiciacutelio e da servidatildeo paroquial o que permitiu a
mobilidade espacial do trabalhador favorecendo assim a construccedilatildeo de um
mercado de trabalho que atendesse as necessidades capitalistas um trabalhador
desprotegido obrigado a vender sua forccedila de trabalho a um preccedilo baixo Esse fato
consolidou o viacutenculo histoacuterico e moralista entre assistecircncia e trabalho
Esse periacuteodo eacute permeado por lutas sociais greves e questionamentos sobre a
jornada de trabalho e salaacuterios A resposta por parte dos capitalistas foi a repressatildeo e
concessotildees pontuais nas legislaccedilotildees fabris (que em sua maioria eram burladas)
Esse processo de lutas se estendeu por seacuteculos mas eacute com a Lei Fabril de 183311
(que abrangia a induacutestria algodoeira de linho e seda) que nasceu uma jornada de
trabalho o embriatildeo dos direitos sociais (MARX 2003 BERHRING BOSCHETTI
11
ldquoA Lei de 1833 declara que a jornada de trabalho fabril deveria comeccedilar agraves 5 frac12 da manhatilde e terminar agraves 8 frac12 da noite e dentro desses limites um periacuteodo de 15 horas Eacute legal utilizar adolescentes (isto eacute pessoas entre 13 e 18 anos) a qualquer hora do dia pressupondo-se sempre que um mesmo adolescente natildeo trabalhe mais que 12 horas num mesmo dia com exceccedilatildeo para certos casos previstos [] O emprego de crianccedilas menores de 9 anos com exceccedilotildees que mencionaremos mais tarde foi proibido o trabalho de crianccedilas entre 9 e 13 anos limitado a 8 horas diaacuterias Trabalho noturno isto eacute segundo essa lei trabalho entre 8 frac12 horas da noite e 5 frac12 da manhatilde foi proibido para toda pessoa entre 9 e 18 anosrdquo (MARX 2003 p 221)
28
2007)
Tal cenaacuterio explicita o movimento realizado pelos capitalistas e trabalhadores em
que ambos natildeo aceitaram passivamente as determinaccedilotildees legais os fatos se
desenrolaram em um intenso momento de lutas12 Contudo esse movimento ganhou
grande forccedila com as Revoluccedilotildees de 184813 uma vez que se expunha claramente
como um movimento de ruptura com o modelo burguecircs As conquistas realizadas
nesse periacuteodo (fim do seacuteculo XIX) satildeo importantes mas se datildeo de forma muito
superficial recortada e repressiva incorporando apenas ldquo[] algumas demandas da
classe trabalhadora transformando as reivindicaccedilotildees em leis que estabeleciam
melhorias tiacutemidas e parciais nas condiccedilotildees de vida dos trabalhadores []rdquo
(BEHRING BOSCHETTI 2007 p 63)
Isso porque todo esse processo se daacute no marco histoacuterico do ideaacuterio liberal14 logo de
um Estado liberal que afirma buscar do bem-estar individual como forma de se
alcanccedilar o bem-estar coletivo assim a intervenccedilatildeo estatal deve se restringir ao
miacutenimo de forma a garantir o mercado livre fato que evidencia que a intervenccedilatildeo
estatal ldquo[] na garantia de direitos sociais sob o capitalismo natildeo emanou de uma
natureza predefinida do Estado mas foi criada e defendida deliberadamente pelos
liberais numa disputa poliacutetica forte com os reformadores sociaisrdquo (BEHRING
BOSCHETTI p 61)
12
Outras informaccedilotildees consultar Marx (2003) capiacutetulo VIII - A Jornada de Trabalho 13
As Revoluccedilotildees de 1848 expressam a conversatildeo total da burguesia ao conservadorismo Marx (2003b p 18) afirma que ldquoa revoluccedilatildeo social do seacuteculo XIX natildeo pode tirar sua poesia do passado e sim do futuro Natildeo pode iniciar sua tarefa enquanto natildeo se despojar de toda veneraccedilatildeo supersticiosa perante o passadordquo Ou seja essas lutas natildeo poderiam se inspirar no passado ndash aludindo agrave Revoluccedilatildeo Francesa Essas revoluccedilotildees marcaram natildeo soacute a derrota do proletariado (a destruiccedilatildeo do movimento Ludista e em seguida do movimento Cartistas com uso extremado da forccedila) mas tambeacutem expressam o abandono dos valores da cultura ilustrada e sua subsunccedilatildeo ao conservadorismo e o mais importante marcam a ultrapassagem do proletariado de classe em si em classe para si (NETTO BRAZ 2006) 14
Eacute bom que se diga que nos primoacuterdios do liberalismo no seacuteculo XIX existia um claro componente transformador nessa maneira de pensar a economia e a sociedade tratava-se de romper com as amarras parasitaacuterias da aristocracia e do clero do Estado absoluto com seu poder discricionaacuterio [] Ou seja havia um componente utoacutepico (Lowy 1987) na visatildeo social de mundo do liberalismo adequado ao papel revolucionaacuterio da burguesia tatildeo bem explorado por Marx e Engels em seu Manifesto do Partido Comunista (1998) Eacute evidente que essa dimensatildeo se esgota na medida em que o capital se torna hegemocircnico e os trabalhadores comeccedilam a formular seu projeto autocircnomo e a desconfiar dos limites da burguesia a partir das lutas de 1848 e das lutas pela jornada de trabalho (BEHRING BOSCHETTI 2007 p 59)
29
A pressatildeo por um Estado liberal na verdade visava levar ao mercado um
trabalhador mais fragilizado para vender sua forccedila de trabalho que natildeo contasse
com nenhuma lsquoajudarsquo ou seja que soacute tivesse como opccedilatildeo vender sua forccedila de
trabalho a qualquer preccedilo O veio liberal do Estado se limitava agrave relaccedilatildeo com os
trabalhadores pois como afirma Netto (2005 p 24) ldquonada eacute mais estranho ao
desenvolvimento do capitalismo do que um Estado arbitraacuteriordquo
A emersatildeo do movimento operaacuterio no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX e a
eclosatildeo da Revoluccedilatildeo Russa em 1917 (que resultam na conquista de alguns direitos
poliacuteticos para os trabalhadores) colabora para que haja um enfraquecimento do
ideaacuterio liberal fato que eacute acentuado com a crescente concentraccedilatildeo e monopolizaccedilatildeo
do capital (BEHRING BOSCHETTI 2007) caindo por terra a ideia liberal do
indiviacuteduo empreendedor com valores morais
Com a entrada da nova fase capitalista no iniciar do seacuteculo XX o Estado eacute
redimensionado jaacute que ldquoas funccedilotildees poliacuteticas do Estado imbricam-se organicamente
com suas funccedilotildees econocircmicasrdquo (NETTO 2005 p 23) Assim estabelece-se uma
tensatildeo entre o Estado redimensionado e o ideaacuterio liberal15 Mas deve-se ter claro
que o Estado que emerge no iniacutecio do seacuteculo XX natildeo rompe com a loacutegica liberal16
haacute um movimento contraditoacuterio onde o giro efetuado pelo Estado corta e recupera o
ideaacuterio liberal17 (NETTO 2005)
15
Haacute uma redefiniccedilatildeo do puacuteblico e do privado reafirmando o ethos individualista do liberalismo uma vez que o enfrentamento puacuteblico da questatildeo social se daacute por meio da intervenccedilatildeo privada Outro aspecto importante eacute a psicologizaccedilatildeo que para Netto (2005) natildeo se esgota na responsabilizaccedilatildeo do sujeito mas que implica numa relaccedilatildeo entre ele e as instituiccedilotildees proacuteprias da ordem monopoacutelica que se constituiu ldquoem verdadeira lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os papeacuteis sociais propiciados aos protagonistasrdquo (NETTO 2005 p 42) substituindo o espaccedilo de realizaccedilatildeo autocircnoma que lhe foi subtraiacutedo 16
Behring e Boschetti (2007) apresentam uma siacutentese do que seria os elementos essenciais do liberalismo a) predomiacutenio do Individualismo b) o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo c) predomiacutenio da liberdade e competitividade d) naturalizaccedilatildeo da miseacuteria e) predomiacutenio da lei da necessidade f) manutenccedilatildeo de um Estado miacutenimo g) as poliacuteticas sociais estimulam o oacutecio e o desperdiacutecio h) a poliacutetica social deve ser um paliativo 17
[] A proacutepria consideraccedilatildeo dos direitos sociais corolaacuterio da legitimaccedilatildeo das poliacuteticas sociais contribui para erodir pela base o ethos individualista que eacute componente indissociaacutevel do liberalismo econocircmico e poliacutetico Entretanto seria um grave equiacutevoco supor que o giro em questatildeo derruiu o conjunto de representaccedilotildees sociais (e de praacuteticas a ele conectadas) pertinente ao ideaacuterio liberal [] o caraacuteter puacuteblico do enfrentamento das refraccedilotildees da ldquoquestatildeo socialrdquo incorpora o substrato individualista da tradiccedilatildeo liberal ressituando-o como elemento subsidiaacuterio no trato das sequelas da vida social burguesa (NETTO 2005 p 35)
30
Eacute nesse periacuteodo que uma das estrateacutegias de organizaccedilatildeo dos trabalhadores para se
manterem em greve eacute utilizada como modelo inspirador para a construccedilatildeo do
modelo alematildeo de seguridade social18 satildeo as caixas de poupanccedila atraveacutes do
mutualismo O Chanceler Otto Von Bismarck que em 188319 criou o primeiro
seguro-sauacutede nacional obrigatoacuterio que se destinava apenas a algumas categorias
de trabalhadores era obrigatoacuterio garantia a substituiccedilatildeo de renda em caso de
incapacidade laborativa - em caso de doenccedila idade ou incapacidade para o trabalho
(BEHRING e BOSCHETTI 2007) Esse modelo chamado de bismarckiano se
identifica com o modelo de seguro social privado pois o seu acesso eacute condicionado
agrave uma contribuiccedilatildeo anterior e haacute proporcionalidade entre as prestaccedilotildees e a
contribuiccedilatildeo efetuada satildeo financiados com os recursos das contribuiccedilotildees de
empregados e empregadores a gestatildeo era realizada em caixas (caixa de
aposentadoria caixa de pensotildees caixa de seguro sauacutede) a cobertura era para o
trabalhador contribuinte de algumas categorias e em alguns casos a sua famiacutelia
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Apesar de terem comeccedilado timidamente os seguros sociais se espalharam no final
do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Na virada do seacuteculo XIX as bases materiais do
liberalismo perdem forccedila com a entrada de novos processos poliacuteticos e econocircmicos
Um deles eacute a Revoluccedilatildeo de 1917 quando ldquoa burguesia se viu obrigada a entregar os
aneacuteis para natildeo perder os dedosrdquo reconhecendo os direitos poliacuteticos e sociais da
classe trabalhadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro elemento eacute o proacuteprio movimento do capital que dada agraves caracteriacutesticas
assumidas com o imperialismo e o monopoacutelio evidenciam a concorrecircncia feroz que
se explicita atraveacutes das Grandes Guerras Em 1929-1932 haacute uma crise do capital
expressa no Crack de 1929 deixando a situaccedilatildeo ainda mais tensa e colocando em
xeque os princiacutepios e pressupostos do liberalismo e nesse sentido a legitimidade
poliacutetica do capitalismo (BEHRING BOSCHETTI 2007)
18
O termo Seguridade Social foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 1935 por Roosevelt nos Estados Unidos - Social Security mas em sentido ainda bem restrito (BEHRING BOSCHETTI 2007) 19
Behring e Boschetti (2007) afirmam que antes da implantaccedilatildeo do seguro social de Bismarck aconteceu uma seacuterie de legislaccedilotildees pontuais de assistecircncia social aos pobres A primeira a responsabilizar as prefeituras alematildes foi em 1842
31
Esse fato favorece a emersatildeo das ideias de um pensador capitalista heterodoxo que
aposta na intervenccedilatildeo estatal como estrateacutegia para se superar os periacuteodos de crise
capitalista Nos referimos agraves ideias de John Maynard Keynes20 e a teoria
keynesiana A sua heterodoxia residia natildeo apenas na proposta de uma intervenccedilatildeo
estatal no mercado mas residia na discordacircncia do conceito liberal de
autorregulaccedilatildeo da economia
Keynes pensa o Estado como um agente que deve intervir na economia atraveacutes de
medidas econocircmicas e sociais a fim de gerar uma demanda efetiva domando assim
o animal spirit21 dos empresaacuterios Essas medidas podem variar desde a
disponibilizaccedilatildeo de meios de pagamentos garantias no investimento e o controle da
moeda e das flutuaccedilotildees da economia Assim cabe ao Estado o papel de
restabelecer equiliacutebrio por meio de uma poliacutetica fiscal creditiacutecia e de gastos
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
Fica evidente assim a forte ligaccedilatildeo entre o Keynesianismo e o pacto fordista Para
Behring e Boschetti (2007) o fordismo vai aleacutem da mera mudanccedila teacutecnica com a
introduccedilatildeo da linha de montagem e da eletricidade introduzindo uma nova forma de
regulaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais As mudanccedilas efetuadas na linha de produccedilatildeo
trouxeram um aumento brutal de produtividade mas o novo do fordismo foi a
possibilidade de combinaccedilatildeo de produccedilatildeo em massa com consumo em massa Isso
implicou em nova forma de relaccedilotildees sociais ldquoum novo homem inserido numa lsquonovarsquo
sociedade capitalistardquo (BEHRING BOSCHETTI p 87)
A experiecircncia de Ford se deu nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX mas soacute apoacutes a
Segunda Guerra Mundial que esse modelo eacute exportado e ganha o mundo Claro que
essa disseminaccedilatildeo pelo mundo soacute pode existir porque houve um giro sofrido pelo
Estado e um abalo nas relaccedilotildees de classe Behring e Boschetti (2007) afirmam que
20
Keynes ldquoliberal insurretordquo rompe com a naturalizaccedilatildeo da economia do liberalismo e sem pretender romper com a loacutegica capitalista defende um estado regulador e produtor Em 1936 publica seu livro ldquoTeoria geral do emprego do juro e da moedardquo preocupado em apontar saiacutedas democraacuteticas para a Crise de 1929 (BEHRING BOSCHETTI 2007) 21
Para as autoras esse animal spirit se refere em Keynes agraves decisotildees tomadas pelos empresaacuterios que decorrem de sua visatildeo de curtiacutessimo prazo que mobilizam grandes volumes de recursos com expectativa de retorno raacutepido o que gera as inquietaccedilotildees sobre o futuro resultando em desemprego e recessatildeo E disso decorre o caraacuteter instaacutevel da economia capitalista reafirmando que a matildeo invisiacutevel natildeo produz harmonia (BEHRING BOSCHETTI 2007)
32
o movimento operaacuterio abriu matildeo de um projeto mais radical em troca de conquistas
mais imediatistas e reformistas Sem duacutevidas representou uma mudanccedila
significativa na qualidade de vida dos trabalhadores com acesso ao consumo e ao
lazer com maior estabilidade e esse foi chamado o pacto fordista22
Dentro da perspectiva do Keynesianismo surgiram diversos movimentos
reformadores que tambeacutem tentavam dar conta das lacunas do liberalismo mas
sem romper com a ordem capitalista Dentre eles o movimento fabiano23 que teve
como expoentes Beatrice e Sidney que foram convidados para dirigir uma comissatildeo
real na Inglaterra que estudaria a reforma da assistecircncia puacuteblica Em 1909 foi
publicado sob nome de Minority Report um relatoacuterio realizado por eles apontando a
necessidade de uma poliacutetica de prevenccedilatildeo social que ldquoconcretizasse a doutrina da
obrigaccedilatildeo muacutetua entre indiviacuteduo e a comunidaderdquo (PEREIRA 2007 p 109)
Em 1908 na Inglaterra Loyd George criou a lei de assistecircncia aos idosos sem
contrapartida para os beneficiaacuterios e comprovaccedilatildeo ldquoautoritaacuteriardquo de pobreza
(PEREIRA 2007) Uma das primeiras inovaccedilotildees aconteceu em 1911 na Inglaterra
quando se criou o sistema de seguro-doenccedila e seguro-desemprego Esses
benefiacutecios eram obrigatoacuterios apenas para os que ganhassem menos de 320 libras
por ano Eram geridos pelo Estado e cobria o risco de invalidez Esse plano foi
alterado em 1923 abrangendo tambeacutem um sistema de pensotildees para viuacutevas e
oacuterfatildeos e ainda em 1920 e 1931 abarcou os planos de desemprego (PEREIRA
2007) Contudo a concepccedilatildeo de Seguridade Social surge em 1942 com William
Beveridge um dos secretaacuterios de Beatrice e Sidney que quando deputado criou o
Plano Beveridge24 sobre Seguro Social e serviccedilos afins (Report on Social Insurance
and Allied Services) que inspirou diversos modelos de seguridade social em todo
mundo
22
As autoras lembram que esse processo soacute foi possiacutevel porque se verificou uma capitulaccedilatildeo das lideranccedilas operaacuterias agraves demandas do monopoacutelio (BEHRING BOSCHETTI 2007) 23
Os fabianos eram ldquoum grupo inglecircs de centro-esquerda que contra o liberalismo propunha reformas econocircmicas e sociais como condiccedilatildeo para a melhoria de vida da populaccedilatildeo pobrerdquo (PEREIRA 2007 p 109) 24
Para Marshall (apud BEHRING BOSCHETTI 2007) eacute um equivoco apontar apenas Beveridge como autor do modelo inglecircs de seguridade Afirmam ainda que tal plano se constituiu na fusatildeo de vaacuterias medidas esparsas jaacute existentes que foram ampliadas e padronizadas incluindo novos benefiacutecios
33
Partindo da identificaccedilatildeo por meio dos estudos feitos chegou-se a conclusatildeo de
que os projetos de Seguridade Social deveriam ter trecircs direccedilotildees a) estender seu
alcance a fim de abranger pessoas excluiacutedas da proteccedilatildeo social puacuteblica b) ampliar
os seus objetivos de cobertura de riscos e c) aumentar as taxas de benefiacutecio
(PEREIRA 2007 p 18) Foi previsto ainda um ajustamento de rendas em que a
famiacutelia receberia o benefiacutecio mesmo em periacuteodos que estivessem recebendo o
salaacuterio O principal objetivo era evitar a reproduccedilatildeo da miseacuteria dado os baixos
salaacuterios dos trabalhadores e o dispecircndio no futuro de grandes recursos puacuteblicos no
combate agrave miseacuteria em periacuteodos de desemprego (PEREIRA 2007)
As principais diferenccedilas que permeiam o modelo beveridgiano diz respeito a direitos
satildeo universais (incondicionalmente ou submetidos a teste de meio) o Estado deve
prover o miacutenimo social a todos em necessidade eacute financiado pelos impostos fiscais
(natildeo haacute contribuiccedilatildeo direta de empregados e empregadores) gestatildeo puacuteblica estatal
e um dos princiacutepios baacutesicos eacute a unificaccedilatildeo institucional e a uniformizaccedilatildeo do
benefiacutecio (BEHRING BOSCHETTI 2007)
O fato eacute que a partir desses modelos se passou a utilizar o termo Welfare State
Entender as diferenccedilas entre os dois modelos explicitados acima eacute de fundamental
importacircncia pois o que marca a emergecircncia do Welfare State eacute a superaccedilatildeo da
loacutegica securitaacuteria pela noccedilatildeo ampliada de Seguridade Social contida no Plano
Beveridge (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Outro ponto importante eacute que natildeo se pode confundir Welfare State com a
compreensatildeo geneacuterica de poliacutetica social pois natildeo eacute toda poliacutetica social que o
exprime Como destaca Pereira (2009 p 57) apesar das poliacuteticas sociais e o Wefare
State terem se imbricado em dado momento histoacuterico fica evidente que eles natildeo satildeo
a mesma coisa ldquo[] as poliacuteticas sociais natildeo morreram mas se reestruturaram para
seguir novos desiacutegnios que extrapolam os limites institucionais do Welfare State
enquanto este sim entrou em criserdquo
O modelo de regulaccedilatildeo das poliacuteticas sociais na perspectiva Keynesiana expresso
no Welfare State se esgotou na entrada da nova fase do capital em meados dos
anos 70 com as crises do capital desse periacuteodo e a entrada da fase de
34
mundializaccedilatildeo do capital que retoma o ideaacuterio liberal Trataremos dos efeitos do
neoliberalismo nas poliacuteticas sociais no item seguinte quando estivermos analisando
a realidade brasileira
12 POLIacuteTICA SOCIAL NO BRASIL BREVES CONSIDERACcedilOtildeES
Para entendermos as poliacuteticas sociais no Brasil precisamos analisar o processo de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro O primeiro ponto se refere agrave Revoluccedilatildeo Burguesa no
Brasil uma vez que as peculiaridades da nossa Revoluccedilatildeo Burguesa vatildeo estruturar
a burguesia nacional e moldar as poliacuteticas sociais
A chamada Revoluccedilatildeo Burguesa implicaria numa radical transformaccedilatildeo da estrutura
agraacuteria ldquonesse caso natildeo soacute desaparecem as relaccedilotildees de trabalho preacute-capitalistas
fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica sobre o trabalhador mas tambeacutem eacute
erradicada a velha classe rural dominante []rdquo (COUTINHO1989 p 118) Jaacute a Via
Prussiana
[] a velha propriedade rural conservando sua grande dimensatildeo vai se tornando progressivamente empresa agraacuteria capitalista mas no quadro da manutenccedilatildeo das formas de trabalho fundadas na coerccedilatildeo extraeconocircmica em viacutenculos de dependecircncia ou subordinaccedilatildeo que se situam fora das relaccedilotildees lsquoimpessoaisrsquo do mercado que vatildeo desde a violecircncia aberta ateacute intromissatildeo na vida privada do trabalhador [] (COUTINHO 1989 p 118)
A Via Prussiana seria a entrada para o capitalismo por meio da ldquomodernizaccedilatildeo
conservadorardquo pois como explicitado acima ela manteacutem estruturas antigas e
avanccedila na introduccedilatildeo dos moacuteveis capitalistas (MOORE JUNIOR 1983)
Para Fernandes (2006) a Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil natildeo eacute um episoacutedio mas
sim um processo estrutural ldquo[] um conjunto de transformaccedilotildees econocircmicas
tecnoloacutegicas sociais psicoculturais e poliacuteticas que soacute se realizam quando o
desenvolvimento capitalista atinge o cliacutemax de sua evoluccedilatildeo industrial []rdquo
(FERNADES 2006 p 239) e que eacute marcado por trecircs momentos principais
Independecircncia (1822) Aboliccedilatildeo da Escravatura (1888) e Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
(1889)
35
A Independecircncia representou a oportunidade de acumulaccedilatildeo para a nascente
burguesia nacional mesmo mantendo-se as relaccedilotildees de heteronomia25 e
dependecircncia com os paiacuteses de capitalismo central uma vez que a burguesia local
natildeo precisava mais remeter ao exterior todo o lucro
Foi a partir daiacute que se pocircde formar o Estado nacional instrumento fundamental para
a construccedilatildeo do capitalismo no Brasil Constituiu-se segundo Fernandes (2006) um
ldquoEstado amaacutelgamardquo isto eacute um Estado hiacutebrido ambiacuteguo situado ldquo[] entre um
liberalismo formal como fundamento e o patrimonialismo como praacutetica no sentido da
garantia dos privileacutegios estamentaisrdquo (BEHRING 2003 p 95) O Brasil assim como
outros paiacuteses capitalistas tambeacutem tiveram que recorrer ao Estado para consolidar o
capitalismo Segundo Fernandes (2006) o Estado eacute criado para estabelecer a
correlaccedilatildeo entre o ldquovelhordquo e o ldquonovordquo os estamentos senhoriais precisavam dele
Eacute importante ressaltar que a ordem social escravocrata e senhorial natildeo cedeu
facilmente aos requisitos econocircmicos sociais culturais juriacutedicos e poliacuteticos do
capitalismo uma vez que o desenvolvimento desses representava a gradativa
extinccedilatildeo daquela A Aboliccedilatildeo da Escravatura no Brasil soacute ocorreu mais de trinta
anos apoacutes a proibiccedilatildeo do traacutefico negreiro (1850) Ela surge natildeo como uma revoluccedilatildeo
social mas como uma ldquo[] revoluccedilatildeo dos lsquobrancosrsquo e para os brancos []rdquo
(FERNANDES 2006 p 36) representando assim uma estrateacutegia para a expansatildeo
do mercado externo e interno
Com a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica haacute alteraccedilatildeo no regime poliacutetico condiccedilatildeo
necessaacuteria para que a burguesia consolidasse sua posiccedilatildeo de dominaccedilatildeo Segundo
Fernandes (2006) muitos autores chamam esse processo de crise do poder
oligaacuterquico Todavia natildeo eacute propriamente a falecircncia da oligarquia ldquo[] mas o iniacutecio
de uma transiccedilatildeo que inaugurava ainda sob a hegemonia da oligarquia uma
recomposiccedilatildeo das estruturas do poder pela qual se configurariam historicamente o
poder burguecircs e a dominaccedilatildeo burguesa []rdquo (FERNANDES 2006 p 239) Assim
coexiste no Brasil a sociabilidade colonial (patrimonialismo mandonismo
patriarcalismo) com o padratildeo competitivo da ordem social capitalista nascente
25
Para Fernandes (2006 p 84) ldquo[] o paiacutes livrou-se da condiccedilatildeo legal de Colocircnia mas continuou sujeito a uma situaccedilatildeo de extrema e irredutiacutevel heteronomia econocircmicardquo
36
Esse processo natildeo se deu a partir dos anseios e da participaccedilatildeo das massas nem
do uso organizado da violecircncia Eacute fruto dos interesses e do empenho das elites
nativas que natildeo contestavam a estrutura da sociedade colonial mas natildeo toleravam
as implicaccedilotildees sociopoliacuteticas e econocircmicas que a subordinaccedilatildeo ao Estatuto Colonial
engendrava Essa eacute uma marca da formaccedilatildeo social brasileira ausecircncia das classes
populares
Isso faz que a nossa democracia seja uma ldquodemocracia restritardquo aberta e funcional
apenas agravequeles que tecircm acesso agrave dominaccedilatildeo burguesa (FERNANDES 2006)
Dificilmente segundo o autor esse capitalismo dependente e perifeacuterico produziraacute
uma revoluccedilatildeo democraacutetica e nacional Para o autor haacute um acordo taacutecito entre as
elites para manter o caraacuteter autocraacutetico mesmo que ferindo a filosofia da livre
empresa o que ressalta o caraacuteter conservador e reacionaacuterio de nossa burguesia
Tais particularidades na formaccedilatildeo social brasileira se materializam tambeacutem nas
poliacuteticas sociais como buscaremos analisar Desde seu surgimento na deacutecada de
1930 no periacuteodo do Populismo de Vargas as poliacuteticas sociais brasileiras carregam
a marca da loacutegica do favor e da filantropia Para Behring Boschetti (2007) essas
poliacuteticas se expandem nos periacuteodos da autocracia burguesa se configurando como
benesses e natildeo como direitos conquistados pelos trabalhadores acentuando assim
o caraacuteter de tutela e favor Nesse sentido haacute uma tentativa de construccedilatildeo de
consenso na classe trabalhadora nos periacuteodos de restriccedilatildeo dos direitos civis e
poliacuteticos
Outro traccedilo importante que eacute apresentado por Behring e Boschetti (2007) se refere
agraves marcas do escravismo que segundo elas fizeram no Brasil com que as classes
dominantes nunca tivessem um compromisso democraacutetico e redistributivo o que
retoma a anaacutelise de Fernandes (2006) sobre ldquodemocracia restritardquo
Ateacute 1930 quando surgem as primeiras experiecircncias de poliacuteticas sociais no Brasil o
Estado quase natildeo se colocava como provedor social sendo a questatildeo social posta agrave
mercecirc do mercado (que se limitava agraves preferecircncias e demandas individuais) da
iniciativa privada (que respondia pontual e informalmente) e da poliacutecia (que agia de
37
forma repressiva) As poucas medidas destinadas agrave aacuterea social no Brasil ateacute a
deacutecada de 1930 foram principalmente a criaccedilatildeo dos Departamentos Nacionais de
Trabalho e Sauacutede do Coacutedigo Sanitaacuterio de leis inconsistentes relacionadas ao
trabalho (acidentes feacuterias trabalho do menor e da mulher velhice invalidez morte
doenccedila e maternidade) e da Lei Eloy Chaves de 192326 (PEREIRA 2002)
Para Behring e Boschtti (2007) o ano de 1930 eacute imprescindiacutevel para entender o
perfil das poliacuteticas sociais no Brasil Historicamente a formaccedilatildeo do Brasil se deu de
forma heteronocircmica uma vez que nossa economia cafeeira agroexportadora
correspondia a cerca de 70 do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro Sendo assim
com a crise do capital em 1929 e 1932 a economia ficou fragilizada dando abertura
para o movimento das oligarquias natildeo ligadas ao cafeacute jaacute haacute tempos insatisfeitas
com a predominacircncia desse produto no mercado brasileiro Essas insatisfaccedilotildees
alteraram as correlaccedilotildees de forccedilas das classes dominantes e diversificaram a
economia brasileira Chega ao poder aleacutem dessas oligarquias o setor industrialista
com a pauta de uma agenda modernizadora (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Getuacutelio Vargas que esteve agrave frente de uma forte coalizatildeo de forccedilas na Revoluccedilatildeo de
1930 assume o governo brasileiro nesse ano e os primeiros sete anos de seu
governo foram marcados pela disputa de hegemonia e de direccedilatildeo do processo de
modernizaccedilatildeo (BEHRING BOSCHETTI 2007) Tal revoluccedilatildeo foi chamada por
Fernandes (2006) de ldquocontrarrevoluccedilatildeo autodefensivardquo que culminou com a
conquista de posiccedilatildeo de forccedila e barganha o que permitiu agrave burguesia brasileira ir
aleacutem se relacionando com o capital financeiro internacional
Nesse periacuteodo a acumulaccedilatildeo capitalista passa a ser dominada pelo capital
industrial e o Estado comeccedila a se colocar enquanto interventor na proteccedilatildeo social a
fim de responder a algumas reivindicaccedilotildees dos trabalhadores sem sacrificar a
lucratividade do capital As mudanccedilas ocorridas no Brasil no poacutes 1930 evidenciam
as bases da intervenccedilatildeo social do Estado brasileiro (MOTA 2005)
26
A Lei Eloy Chaves marca o iniacutecio das poliacuteticas de Seguridade Social no Brasil Essa Lei instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensotildees (CAPs) Behring e Boschetti (2007) afirmam que as primeiras categorias atendidas pelas CAPrsquos a exemplo dos ferroviaacuterios e mariacutetimos natildeo o foram por acaso e sim porque neste periacuteodo a economia cafeicultora de exportaccedilatildeo tinha estas categorias como centrais
38
Nessa deacutecada foi criado tambeacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede Puacuteblica A
sauacutede puacuteblica era conduzida pelo Departamento Nacional de Sauacutede (1937) e no que
se refere ao atendimento meacutedico hospitalar era conduzida pela iniciativa privada e
filantroacutepica Mas foi nas poliacuteticas destinadas agrave proteccedilatildeo trabalhista que a Era Vargas
se destacou com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio de Trabalho Induacutestria e Comeacutercio (1930)
da Carteira de Trabalho (1932) e dos direitos previdenciaacuterios como os Institutos de
Aposentadoria e Pensotildees (IAPrsquos) jaacute supracitados Aleacutem dessas conquistas foi
criada concomitantemente a Constituiccedilatildeo de 1934 (com princiacutepios poliacuteticos liberais
e econocircmicos reformistas) na qual se legitimava a regulamentaccedilatildeo do salaacuterio
miacutenimo e posteriormente promulgou-se a Constituiccedilatildeo de 1937 (inspirada nos
modelos coorporativos fascistas) fechando esse ciclo evolucionaacuterio com a
Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas em 1943 (BEHRING BOSCHETTI 2007
PEREIRA 2002)
Vale ressaltar que eram portadores de direitos apenas os que possuiacuteam a Carteira
de Trabalho assinada demonstrando assim o caraacuteter fragmentado e corporativo do
reconhecimento dos direitos no Brasil caracterizando uma ldquocidadania reguladardquo
Aleacutem disso eacute importante lembrar que essas poliacuteticas tinham como fim uacuteltimo conter
os movimentos trabalhistas Ateacute mesmo a participaccedilatildeo dos operaacuterios na gestatildeo dos
IAPrsquos se constituiacutea em forte mecanismo de cooptaccedilatildeo dos mesmos (BEHRING
BOSCHETTI 2007)
Pereira (2002 p 130) reforccedila essa ideia lembrando que as poliacuteticas sociais no
periacuteodo Varguista funcionavam muitas das vezes como uma ldquo[] espeacutecie de zona
cinzenta onde se operavam barganhas populistas entre Estado e parcelas da
sociedade e onde a questatildeo social era transformada em querelas reguladas juriacutedica
ou administrativamente e portanto despolitizadardquo
O periacuteodo de 1940 a 1944 eacute marcado por grande ascensatildeo industrial os nuacutemeros
de empregos crescem e o salaacuterio dos trabalhadores sofre acentuado decliacutenio com a
precarizaccedilatildeo de suas condiccedilotildees de trabalho e intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo O
Estado atua como um agente de regulamentaccedilatildeo das condiccedilotildees favoraacuteveis ao
capitalismo industrial intervindo no mercado de trabalho Por um lado reprime as
39
formas de organizaccedilatildeo trabalhistas que soacute poderiam atuar com autorizaccedilatildeo do
Ministeacuterio do Trabalho e por outro restringe a aplicaccedilatildeo de aspectos importantes
das leis trabalhistas (IAMAMOTOCARVALHO 2004)
Nesse periacuteodo os empresaacuterios criaram o Serviccedilo Social do Comeacutercio (SESC) o
Serviccedilo Nacional de Aprendizagem (SENAI) e o Serviccedilo Social da Induacutestria (SESI)
influenciados por um ideaacuterio de paz social e diante da argumentaccedilatildeo de colaborar
institucionalmente para a reduccedilatildeo do pauperismo O financiamento era
regulamentado pelo Estado como uma forma de contribuiccedilatildeo social obrigatoacuteria das
empresas O Estado entatildeo no exerciacutecio de sua funccedilatildeo de defender as condiccedilotildees
propiacutecias para o desenvolvimento capitalista natildeo atuou somente como receptor de
pressotildees do empresariado Diante da escassez de recursos tambeacutem os induz a
interessar-se pela formaccedilatildeo da forccedila de trabalho e daiacute se institui o SENAI com os
objetivos de adequaccedilatildeo da forccedila de trabalho agraves necessidades do sistema industrial e
da produccedilatildeo de trabalhadores ajustados psicossocialmente ao estaacutegio de
desenvolvimento capitalista (MOTA 2005)
A criaccedilatildeo dessas instituiccedilotildees atenderia agraves necessidades tiacutepicas da atividade
industrial e tambeacutem contemplaria novos objetivos do empresariado fortalecendo a
organizaccedilatildeo patronal socializando os custos dos serviccedilos oferecidos pelas grandes
empresas com as empresas menores e ampliando a praacutetica assistencial das
empresas para a famiacutelia operaacuteria fora do espaccedilo fabril (MOTA 2005)
O periacuteodo de 1943 a 1945 foi o anoitecer da Era Vargas Algumas circunstacircncias
como a inserccedilatildeo do Brasil na Segunda Grande Guerra Mundial em 1942 a falta de
controle sobre as heterogecircneas fraccedilotildees burguesas e sobre a situaccedilatildeo da classe
trabalhadora e de suas lutas foram fundamentais para esse processo (PERERIA
2002)
O periacuteodo do Governo Dutra (1945-1950) foi chamado de fase da redemocratizaccedilatildeo
Destacou-se nesse periacuteodo a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1946
(portadora de ideias liberais) e a criaccedilatildeo do Plano Salte (Sauacutede Alimentaccedilatildeo
Transporte e energia) o primeiro plano a incluir os setores da sauacutede e da
alimentaccedilatildeo (PEREIRA 2002) Representa uma adaptaccedilatildeo agrave nova fase de
40
aprofundamento do capitalismo sob uma conjuntura poliacutetica diferenciada e sua
adesatildeo agrave novas formas de dominaccedilatildeo e controle do movimento operaacuterio cuja
especificidade seraacute dada pelo populismo e desenvolvimentismo onde a procura do
consenso se sobrepotildee agrave coerccedilatildeo (IAMANOTO e CARVALHO 2002)
Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleiccedilotildees diretas Retomando o ideaacuterio
nacionalista investiu na diversificaccedilatildeo industrial e na produccedilatildeo de bens
intermediaacuterios e de capital O Estado intensifica sua intervenccedilatildeo na economia o que
explica a criaccedilatildeo de empresas estatais nesse periacuteodo a saber Petrobraacutes Eletrobraacutes
e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE) (PEREIRA 2002)
Nesta segunda fase de governo segundo Behring e Boschetti (2007) natildeo houve
nenhuma inovaccedilatildeo significativa nas poliacuteticas sociais Foram criados novos IAPrsquos e
houve a separaccedilatildeo entre os Ministeacuterios da Sauacutede e da Educaccedilatildeo em 1953 Com a
morte de Vargas em 1954 o paiacutes eacute governado por governos provisoacuterios ateacute 1956
Eacute no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que o processo de
desenvolvimento econocircmico volta a se intensificar A expressatildeo maior desse
processo foi o chamado Plano de Metas que objetivava um crescimento econocircmico
de ldquo50 anos em 5rdquo Esse processo de salto para a economia brasileira acirrava a luta
de classes pois implicava o aumento numeacuterico e a concentraccedilatildeo da classe
trabalhadora com suas consequecircncias em termos de maior organizaccedilatildeo poliacutetica e
consciecircncia de classe (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Nesse periacuteodo tambeacutem crescem as tensotildees no campo com a organizaccedilatildeo das
Ligas Camponesas em funccedilatildeo da inexistecircncia de uma reforma agraacuteria consistente e
de imensa concentraccedilatildeo da terra Tambeacutem cresce a tensatildeo das camadas meacutedias
urbanas com destaque para os estudantes universitaacuterios e suas reivindicaccedilotildees pela
ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico superior (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Segundo Pereira (2002) foi nesse periacuteodo que se iniciou o deslocamento no eixo
trabalhista para as demais aacutereas sociais mas sem expressotildees muito significativas Eacute
desse periacuteodo a aprovaccedilatildeo da Lei Orgacircnica da Previdecircncia Social (LOPS) em
1960 proposta desde o Governo Vargas
41
Nos Governos de Jacircnio Quadros e Joatildeo Goulart (1961-1964) o contexto herdado do
periacuteodo anterior era de estagnaccedilatildeo econocircmica e de endividamento externo Nesse
periacuteodo se destacou na previdecircncia a aprovaccedilatildeo de mais uma proposta da Era
Vargas qual seja a previdecircncia para os trabalhadores rurais em 1963 na educaccedilatildeo
a Lei de Diretrizes e Bases o Programa de Alfabetizaccedilatildeo de Adultos e o Movimento
de Educaccedilatildeo de Base e na sauacutede a transformaccedilatildeo do Serviccedilo Especial de Sauacutede
Puacuteblica em fundaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de um novo Coacutedigo Sanitaacuterio com uma concepccedilatildeo
mais orgacircnica da sauacutede (PEREIRA 2002)
O periacuteodo de 1946 a 1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e
intensificaccedilatildeo da luta de classes o que acarretou em uma secundarizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais nos planos dos respectivos governos Em 1964 a disputa do projeto
nacional desenvolvimentista e do projeto de desenvolvimento associado ao capital
estrangeiro culminou no Golpe militar de 1964 que deu iniacutecio a um periacuteodo de 20
anos de autocracia burguesa e impulsionou uma nova fase do processo de
modernizaccedilatildeo brasileira (BEHRING BOSCHETTI 2007)
Cabe destacar que no plano internacional as burguesias dos paiacuteses capitalistas
centrais promoviam formas de enfrentamento agrave crise do capital jaacute adentrando em
novos modelos de produccedilatildeo e de regulaccedilatildeo social enquanto que o Brasil vivenciava
a expansatildeo do modelo de produccedilatildeo fordista ndash a populaccedilatildeo passa a ter mais acesso
a carros casa proacutepria eletrodomeacutesticos ndash num contexto de crescimento econocircmico
que ficou conhecido como ldquoMilagre Brasileirordquo O processo de produccedilatildeo em massa
de automoacuteveis e eletrodomeacutesticos jaacute vinha desde 1955 com o Plano de Metas mas
no projeto desenvolvimentista da Ditadura Militar esse movimento de intensificou
(BEHRING BOSCHETTI 2007)
O significado do periacuteodo da ditadura para Netto (1998) transcende os limites
territoriais do paiacutes Orquestrada por centros imperialistas com hegemonismo norte-
americano o ciclo da ditadura militar ou a ldquocontrarreforma preventivardquo inserida num
processo global atingiu diversos paiacuteses especialmente os ditos de Terceiro Mundo
Seus propoacutesitos especiacuteficos e articulados eram adaptar o desenvolvimento desses
paiacuteses ao novo movimento transcendente da economia capitalista enquadrando-os
42
agrave internacionalizaccedilatildeo do capital bem como combater o avanccedilo de grupos
insurgentes que se mobilizavam frente agrave subalternidade engendrada pelo sistema
capitalista
O Brasil neste periacuteodo natildeo havia ainda solucionado problemas estruturais de sua
ldquodescolonizaccedilatildeo incompletardquo ao contraacuterio disso aprofundou tais problemas de forma
a tornaacute-los ainda mais complexos refuncionalizaccedilatildeo e integraccedilatildeo de formas
econocircmico-sociais na dinacircmica do capitalismo por exemplo a manutenccedilatildeo dos
latifuacutendios e o bloqueio da participaccedilatildeo dos segmentos subalternos da sociedade
nos processos poliacuteticos decisoacuterios em face de soluccedilotildees vindas ldquopelo altordquo (NETTO
1998) O paiacutes caminhava em direccedilatildeo agrave expansatildeo de suas induacutestrias abandonando o
modelo de substituiccedilatildeo de importaccedilotildees27 para dar lugar agraves induacutestrias pesadas que
frente ao desafio de elevar a capacidade produtiva do paiacutes implementou a reuniatildeo
de recursos advindos do tripeacute sustentado pelo Estado capital privado e por
empresas transnacionais
Tal modelo de acumulaccedilatildeo em curso no paiacutes contrastava com as demandas das
classes subalternas (representadas por setores democraacuteticos e camadas
intelectuais) que fez emergir tensotildees e lutas sociais nesse periacuteodo rebatendo-se
numa ofensiva da classe burguesa que optou pela via repressiva instaurando o que
Netto (1998) chama de ldquomovimento ciacutevico-militarrdquo
O Estado teve um papel funcional nesse processo assegurando o espaccedilo para o
desenvolvimento do capitalismo monopolista no Brasil numa perspectiva altamente
antinacionalista e antidemocraacutetica pois aprofundou e ampliou a heteronomia e
excluiu grande parte da sociedade do protagonismo poliacutetico O Estado autocraacutetico
burguecircs natildeo somente favoreceu como tambeacutem produziu o processo de
concentraccedilatildeo e centralizaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica sob a modernizaccedilatildeo
conservadora
A deacutecada de 1970 ainda sob a loacutegica da autocracia burguesa foi para o Brasil um
momento de crescimento econocircmico em vista do incremento da produccedilatildeo industrial
que possibilitou um aumento nas taxas de lucro Por outro lado sua sustentaccedilatildeo por
27
Esse processo se iniciou na deacutecada de 1950 com o Plano de Metas
43
um longo periacuteodo era inviaacutevel ldquo[] diante dos limites de ampliaccedilatildeo do mercado
interno de massas cuja constituiccedilatildeo evidentemente natildeo era o projeto da ditadura
[]rdquo (BEHRING BOSCHETTI 2006 p135) Aliado a esses fatores a conjuntura
externa da acumulaccedilatildeo capitalista passava por um periacuteodo de saturaccedilatildeo e
investidas especulativas que culminaram nas Crises do Petroacuteleo (1974 e 1979) que
resultaram nas medidas restritivas dos anos 80 (MOTA 2008)
Esse contexto significou para o Brasil a implantaccedilatildeo de ajustes dado agrave
dependecircncia do paiacutes ao capital estrangeiro no governo do presidente Geisel (1974-
1979) que a partir disso instaurou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) -
uma poliacutetica que natildeo se efetivou por falta de uma articulaccedilatildeo (devido agraves disputas
setoriais) para desenvolver a induacutestria pesada que ficou a cargo da privatizaccedilatildeo dos
fundos puacuteblicos e endividamento externo Externamente o paiacutes eacute influenciado por
fatores relacionados aos resultados da crise de 1970 (MOTA 2008)
O resultado desse processo foi um saldo negativo para a maior parcela da
sociedade que vivenciou o aumento da concentraccedilatildeo de renda a precarizaccedilatildeo do
trabalho e elevaccedilatildeo do nuacutemero de empobrecidos culminando com a crise do
chamado ldquoMilagre Econocircmicordquo Esse processo de estagnaccedilatildeo na economia
brasileira reservou agrave deacutecada de 1980 o tiacutetulo dado por alguns estudiosos de ldquoA
deacutecada perdidardquo haja vista a inexpressiva taxa de crescimento do PIB a disparidade
na concentraccedilatildeo de renda e o rebaixamento dos salaacuterios Diversos planos
econocircmicos de enfrentamento agrave crise foram criados mas que natildeo surtiram o efeito
esperado (BEHRING 2003)
As caracteriacutesticas proacuteprias da formaccedilatildeo social brasileira fazem com que as poliacuteticas
sociais aqui sejam fortemente influenciadas pelas mudanccedilas poliacuteticas e econocircmicas
internacionais As exigecircncias do processo de acumulaccedilatildeo promovem algumas
mudanccedilas no acircmbito das poliacuteticas sociais procurando funcionalizar essas
demandas de acordo com o seu projeto poliacutetico por meio da expansatildeo seletiva de
alguns serviccedilos sociais em que se incluiacuteam as poliacuteticas de Seguridade Social
(MOTA 2008)
44
Segundo Mota (2005) com a emergecircncia do capitalismo monopolista
concomitantemente agrave autocracia burguesa no paiacutes constatou-se entatildeo a retomada
da Seguridade proacutepria das empresas e paralelamente a expansatildeo do sistema
puacuteblico de proteccedilatildeo social que foi unificado no Instituto Nacional de Previdecircncia
Social (INPS)
O sistema de proteccedilatildeo social no poacutes 1964 era constituiacutedo de alguns agentes
principais serviccedilos proacuteprios ou agenciados pelas empresas pelas entidades
empresariais pelos complexos filantroacutepicos e pela Previdecircncia Social Puacuteblica
(MOTA 2005) Como afirma Pereira (2007) a proteccedilatildeo social no Brasil natildeo se firmou
nas pilastras do pleno emprego dos serviccedilos universais e de uma rede social de
proteccedilatildeo da populaccedilatildeo na extrema pobreza e se ampliou justamente nos momentos
mais avessos agrave cidadania
A partir de 1975 diversas mobilizaccedilotildees sociais contra o regime militar se aglutinaram
em busca pelas mudanccedilas no acircmbito da praacutetica democraacutetica em relaccedilatildeo ao regime
poliacutetico autocraacutetico que finalizava seu ciclo de autoritarismo e repressatildeo
Esse processo culminou no reconhecimento de princiacutepios fundamentais como
participaccedilatildeo popular controle social e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
instituiacutedas na Constituiccedilatildeo de 1988 que se apresentou como um avanccedilo na histoacuteria
brasileira principalmente no modelo de Seguridade Social
A participaccedilatildeo da sociedade civil nas decisotildees governamentais passou a ser
reconhecida no plano legal legitimando espaccedilos deliberativos e consultivos como
foacuteruns referendo audiecircncia puacuteblica movimentos associativos e conselhos gestores
Mas como lembra Behring e Boschetti (2007) no bojo de todas essas mudanccedilas jaacute
estavam presentes expectativas em outra direccedilatildeo a agenda neoliberal
Dentre os avanccedilos trazidos com a Constituiccedilatildeo estatildeo a maior responsabilidade do
Estado na regulaccedilatildeo financiamento e provisatildeo de poliacuteticas sociais universalizaccedilatildeo
do acesso aos benefiacutecios e serviccedilos ampliaccedilatildeo do caraacuteter distributivo da
Seguridade Social redefiniccedilatildeo dos patamares miacutenimos dos valores dos benefiacutecios
45
sociais e adoccedilatildeo de miacutenimos sociais como direito de todos (PERERIA 2007 p
153)
Para o trabalhador empregado tambeacutem houve conquistas importantes tais como a
reduccedilatildeo da jornada semanal feacuterias anuais remuneradas acrescidas de 13 do
salaacuterio extensatildeo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviccedilo (FGTS) para todos os
trabalhadores direitos iguais para os trabalhadores rurais e urbanos vinculaccedilatildeo do
salaacuterio miacutenimo agrave aposentadoria extensatildeo aos aposentados dos mesmos benefiacutecios
concedidos aos trabalhadores da ativa ampliaccedilatildeo da licenccedila maternidade
ampliaccedilatildeo da idade miacutenima para comeccedilar a trabalhar reconhecimento do direito de
greve e da autonomia da organizaccedilatildeo sindical inclusatildeo do seguro desemprego
como um direito dos trabalhadores urbanos e rurais (PEREIRA 2007 p 154)
Na aacuterea da Educaccedilatildeo tambeacutem obteve-se progressos significativos tais como a
reafirmaccedilatildeo da universalidade do Ensino Fundamental a previsatildeo de recursos
puacuteblicos para esse niacutevel de ensino com ampliaccedilatildeo do percentual miacutenimo a ser
aplicado na educaccedilatildeo e por fim manteve-se a gratuidade do ensino puacuteblico
(PEREIRA 2007)
Mas foi no campo da Seguridade Social que se avanccedilou um pouco mais
introduzindo o conceito de proteccedilatildeo social puacuteblica na perspectiva da cidadania
elegendo as poliacuteticas de Sauacutede Previdecircncia e Assistecircncia Social28 como
mecanismos indispensaacuteveis na concretizaccedilatildeo de direitos No acircmbito da Sauacutede
implantou-se o Sistema Uacutenico de Sauacutede (SUS) que operaria em rede integrada
descentralizada e regionalizada de modo a prestar o atendimento igualitaacuterio a toda
populaccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave Previdecircncia os seus avanccedilos jaacute foram elencados acima
no que se refere ao trabalhador empregado (PEREIRA 2007)
Todavia as mudanccedilas mais significativas estatildeo contidas na Assistecircncia Social29
28
Alguns autores sustentam a necessidade de ampliaccedilatildeo das poliacuteticas da Seguridade Social incluindo a educaccedilatildeo a habitaccedilatildeo e emprego 29
A princiacutepio pode parecer pouco os avanccedilos feitos na Assistecircncia Social contudo se analisarmos os traccedilos histoacutericos de tal poliacutetica (descontinuidade pulverizaccedilatildeo e paralelismos forte subjugaccedilatildeo clientelista no acircmbito das accedilotildees e serviccedilos centralizaccedilatildeo tecnocraacutetica fragmentaccedilatildeo institucional
46
uma vez que tais avanccedilos caminhavam na direccedilatildeo de tornar direito aquilo que
sempre fora tratado como favor Ao ser incluiacuteda no campo da Seguridade Social a
Assistecircncia passa a ser reconhecida como parte do sistema de proteccedilatildeo social
tornando obrigatoacuteria e indispensaacutevel a sua articulaccedilatildeo com as demais poliacuteticas
sendo condicionada e condicionando as demais poliacuteticas sociais (PERERIA 2007
BOSCHETTI 2003)
Mas a Constituiccedilatildeo de 1988 representou o resultado contraditoacuterio das lutas
hegemocircnicas30 configurando-se assim uma grande arena de disputas
contemplando avanccedilos mas que manteve traccedilos conservadores na perpetuaccedilatildeo do
hibridismo entre velho e novo como jaacute sinalizado por Fernandes (2006) Behring
(2003) afirma que a Constituiccedilatildeo natildeo se tornou a expressatildeo ideal para nenhum
grupo expressando a tendecircncia societal de ldquoentrar no futuro de olhos no passadordquo
(2003 p 143)
A Seguridade Social brasileira representa bem esse processo pois ela natildeo se
constitui em um modelo hegemocircnico mas num modelo hiacutebrido que mescla
caracteriacutesticas securitarista da loacutegica bismarckiana na Previdecircncia Social e
caracteriacutesticas da loacutegica beveridgiana que estaacute presente tanto na Sauacutede quanto na
Assistecircncia Social
Neste sentido materializou-se na Seguridade Social do Brasil poliacuteticas com
caracteriacutesticas proacuteprias que mais se excluem que se complementam deixando o
conceito de Seguridade Social no meio do caminho entre o seguro e a assistecircncia
A fragmentaccedilatildeo da Seguridade Social fica evidente ainda na sua institucionalidade
uma vez que natildeo se constituiu um Ministeacuterio da Seguridade Social e sim manteve-
se um ministeacuterio para cada poliacutetica (BOSCHETTI 2003)
O Brasil mal acabara de inaugurar seu modelo de proteccedilatildeo social (repleto de
tensotildees de avanccedilos e continuidades) e jaacute teria que submetecirc-lo agraves mudanccedilas no
cenaacuterio internacional A partir de 1990 temos vivenciado o que Behring (2003) chama
ausecircncia de mecanismos de participaccedilatildeo popular e opacidade entre o puacuteblico e o privado) veremos que esses satildeo avanccedilos significativos Para maior aprofundamento consultar BOSCHETTI (2003) 30
Para ampliar o debate sobre Hegemonia e Contra Hegemonia consultar Calvi (2006) Coutinho (1989) Mota (2005) Simionatto (1999) e Filgueiras (2000)
47
de contrarreforma31 do Estado redirecionando as conquistas de 1988
A partir do periacuteodo descrito acima haacute uma expansatildeo do neoliberalismo sendo este a
expressatildeo poliacutetica da crise do capital dos anos de 1970 com o fim da onda
expansiva dos Trinta Anos Gloriosos do capital Essa estrateacutegia poliacutetica o
neoliberalismo foi acompanhada das outras estrateacutegias de enfrentamento agrave crise a
reestruturaccedilatildeo produtiva e a financeirizaccedilatildeo32
Dentre o rol das estrateacutegias da contrarreforma do Estado estatildeo os ajustes fiscais e
as privatizaccedilotildees Behring e Boschetti (2007) afirmam que houve uma entrega de
parte significativa do patrimocircnio nacional ao capital estrangeiro atrelado a uma natildeo
obrigatoriedade dessas empresas de comprarem os insumos no Brasil o que
resultou no desmonte do parque industrial nacional na enorme remesa de dinheiro
para o exterior no aumento do desemprego e no desequiliacutebrio da balanccedila comercial
Segundo as autoras esses resultados satildeo exatamente o contraacuterio do que a proposta
da contrarreforma anunciava
Precisamos destacar ainda que no bojo dessa contrarreforma estaacute o Programa de
Publicizaccedilatildeo que regulamentou o terceiro setor para a execuccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas fomentando a criaccedilatildeo de agecircncias de executivas e organizaccedilotildees sociais
para esse fim Surgiram desse processo os Termos de Parcerias entre as
Organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) e Instituiccedilotildees filantroacutepicas e o Estado de
modo a permitir a essas a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas ignorando assim o
conceito constitucional de Seguridade Social (BEHERING BOSCHETTI 2007)
Como consequecircncia disso haacute uma separaccedilatildeo entre a formulaccedilatildeo e a execuccedilatildeo das
poliacuteticas Ao Estado caberia a formulaccedilatildeo partindo de sua capacidade teacutecnica e agraves
agecircncias cabiam a implementaccedilatildeo (BEHERING BOSCHETTI 2007) Os resultados
da reforma no que se referia a aumentar a capacidade de implementaccedilatildeo eficiente
das poliacuteticas acabaram sendo miacutenimos Na verdade houve uma forte tendecircncia agrave
desresponsabilizaccedilatildeo da poliacutetica social e o abandono do padratildeo constitucional da
31
Para Behring (2003) a contrarreforma do Estado eacute siacutentese da expressatildeo das reformas que o Estado faz na direccedilatildeo dos interesses do mercado caminhando o forte enxugamento da maacutequina do Estado 32
Para aprofundamento sobre a crise de 1970 e as formas de enfrentamento consultar Caracanho NaKatani (1999) Harvey (2003) e Netto Braz (2006)
48
Seguridade Social o que foi acompanhado pelo aumento do desemprego e da
pobreza aumentando a demanda social Para Soares (2000) algumas poliacuteticas tais
como a sauacutede a educaccedilatildeo a alimentaccedilatildeo e o trabalho perderam a condiccedilatildeo de
direitos e se transformam em recursos agora geridos pelo mercado
Cabe agora pensar como tudo rebateu nas poliacuteticas sociais diretamente A tendecircncia
geral observada eacute a reduccedilatildeo de direitos transformando as poliacuteticas sociais em
accedilotildees pontuais compensatoacuterias e direcionadas ao atendimento dos efeitos mais
perversos da crise O que prevaleceu nesse cenaacuterio foi o trinocircmio do ideaacuterio liberal
privatizaccedilatildeo focalizaccedilatildeo e descentralizaccedilatildeo
A descentralizaccedilatildeo tem se constituiacutedo em simples transferecircncia de responsabilidade
dos serviccedilos que muitas vezes jaacute estatildeo deteriorados e sem financiamento para o
niacutevel municipal da gestatildeo (SOARES 2000) diferentemente do que estaacute previsto nos
princiacutepios constitucionais da Seguridade Social brasileira que visa garantir uma
gestatildeo compartilhada entre governo trabalhadores e prestadores de serviccedilos
abrindo espaccedilo na tomada de decisatildeo para aqueles que usufruem dos direitos O
que se observa eacute na verdade um processo de descentralizaccedilatildeo significando
apenas o repasse de recursos entre os niacuteveis de gestatildeo onde os municiacutepios
recebem um pacote de programas do governo federal para executar esses
programas
O segundo tripeacute do ideaacuterio neoliberal eacute a privatizaccedilatildeo total ou parcial dos serviccedilos
quando parte dos serviccedilos ou todos os serviccedilos passam a ser ofertados tambeacutem
pelo mercado que eacute o caso da Previdecircncia da educaccedilatildeo e da sauacutede Esse traccedilo
aliado ao ajuste fiscal e o aumento do desemprego fez com que a qualidade dos
serviccedilos prestados pelo Estado diminuiacutesse e que houvesse um aumento da
demanda social A principal consequecircncia tem sido a ldquodualidade discriminatoacuteriardquo ou
seja serviccedilos melhores a quem pode pagar e os piores ou a inexistecircncia de serviccedilos
destinados agraves classes inferiorizadas que compotildeem a maior parte do puacuteblico
(BEHRING BOSCHETTI 2007 BEHRING 2003 MOTA 2005)
49
Importante destacar ainda que a privatizaccedilatildeo nas poliacuteticas sociais sinaliza tambeacutem o
movimento de transferecircncias patrimoniais e a supercapitalizaccedilatildeo propiciando um
nicho lucrativo para o capital
Outro aspecto importante da privatizaccedilatildeo que pode ser percebida pela
refilantropizaccedilatildeo da questatildeo social eacute atraveacutes das anaacutelises das fundaccedilotildees e ONGs na
execuccedilatildeo das poliacuteticas sociais Isto favoreceu o processo de mercantilizaccedilatildeo das
poliacuteticas sociais quando essas deixam de ser direitos sociais e retomam
caracteriacutesticas jaacute ultrapassadas com a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 como
clientelismo focalizaccedilatildeo estiacutemulo agrave ldquosolidariedaderdquo e mobilizaccedilatildeo de organizaccedilotildees
filantroacutepicas
O terceiro e uacuteltimo aspecto referentes agraves tendecircncias atuais das poliacuteticas sociais - a
focalizaccedilatildeo diz respeito agrave ideia de que os serviccedilos sociais devem ser dirigidos
exclusivamente aos pobres ou melhor ldquoos comprovadamente pobresrdquo (SOARES
(2000) A focalizaccedilatildeo eacute vista por Yasbek (2001) tambeacutem como a falta de articulaccedilatildeo
entre as poliacuteticas sociais
Percebemos desse modo que o sistema de seguridade social avanccedilado construiacutedo
no Brasil na deacutecada de 1980 natildeo resistiu ao processo de americanizaccedilatildeo da deacutecada
de 1990 Segundo Boschetti (2008) a partir desse periacuteodo haacute uma ecircnfase maior em
programas de transferecircncia de renda em detrimento nos investimentos produtivos e
geraccedilatildeo de emprego o que para a autora ldquo[] revela uma tendecircncia das poliacuteticas
sociais de minorar a pobreza e indigecircncia e compensar sua incapacidade de reduzir
as desigualdades com poliacuteticas estruturaisrdquo (BOSCHETTI 2008 p 193)
Berhring (2008) sinaliza para um processo de ldquoassistencializaccedilatildeordquo da seguridade
social quando haacute uma maior alocaccedilatildeo do fundo puacuteblico para as accedilotildees de
enfrentamento ao pauperismo Segundo a autora de 1990 para caacute a discussatildeo
sobre pobreza se desloca da discussatildeo da questatildeo social passando a se constituir
em ausecircncias de capacidades individuais Neste sentido a poliacutetica social
transforma-se numa estrateacutegia poliacutetica para lidar com aqueles que natildeo tecircm
condiccedilotildees de ingressar no mercado formal de trabalho Para a autora o cenaacuterio
atual eacute de reduccedilatildeo de direitos e de limitaccedilatildeo da capacidade preventiva e
50
redistributiva das poliacuteticas sociais
Pensaremos agora as poliacuteticas sociais voltadas para a juventude buscando capturar
como as atuais configuraccedilotildees das poliacuteticas sociais refletem nas accedilotildees voltadas para
a juventude
13 POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE NO BRASIL
Ateacute a deacutecada de 1950 as accedilotildees destinadas agrave juventude no Brasil eram pontuais e
natildeo atendiam especificamente agrave juventude pois eram voltadas para crianccedila
adolescecircncia e juventude As poliacuteticas sociais existentes se embasavam em
perspectiva de tutela e coerccedilatildeo atendendo preferencialmente agrave crianccedila e ao
adolescente pobre com vista a escondecirc-los da sociedade e promover uma ldquolimpezardquo
social (ABRAMO 1987) Um bom exemplo disso eacute a constituiccedilatildeo do Primeiro Coacutedigo
de Menores em 1927 que associava diretamente pobreza agrave delinquecircncia
estabelecendo medidas privativas de liberdade para as crianccedilas adolescentes e
jovens pobres que eram reconhecidos como abandonados por sua condiccedilatildeo social
Entre as deacutecadas de 1950 e 1970 quando a Ameacuterica Latina vivencia o
desenvolvimentismo as accedilotildees destinadas a esse segmento giravam em torno da
ampliaccedilatildeo da educaccedilatildeo e do controle do tempo livre (SPOSITO CARRANO 2003)
Haacute tambeacutem nesse periacuteodo algumas accedilotildees voltadas para a sauacutede numa perspectiva
de prevenccedilatildeo ao uso de drogas e agrave gravidez na adolescecircncia (UNESCO 2004)
As accedilotildees voltadas para educaccedilatildeo se encaixam dentro da necessidade de se formar
matildeo de obra qualificada que atendesse agraves necessidades da fase do
desenvolvimentismo no Brasil momento de grande expansatildeo da industrializaccedilatildeo no
Brasil Nesse periacuteodo a educaccedilatildeo ganha um grande destaque se constituindo como
direito ateacute o Ensino Secundaacuterio e haacute uma massiva campanha de alfabetizaccedilatildeo de
adultos A educaccedilatildeo profissional com vista agrave formaccedilatildeo para o mercado de trabalho
tambeacutem ganha maior destaque (NETTO 2005)
Para Abad (2002) esse cenaacuterio eacute favoraacutevel agrave juventude pois foram construiacutedas
51
estrateacutegias de ascensatildeo e melhorias das condiccedilotildees de vida que atendiam agrave
juventude Para ele essa ampliaccedilatildeo e estiacutemulo agrave educaccedilatildeo fortalece o conceito de
moratoacuteria social33 propiciando a esse jovem um tempo maior para o estudo e o
preparo para o mercado de trabalho
As mudanccedilas no contexto da Ameacuterica Latina entre as deacutecadas de 1970 e 1980
trazem novas formas de accedilotildees para a juventude Nesse periacuteodo de consolidaccedilatildeo do
capitalismo monopolista e de emergecircncia dos governos totalitaacuterios em toda a
Ameacuterica Latina (NETTO 2005) emergem movimentos sociais revolucionaacuterios onde
os jovens se inserem ocupando um papel central Podemos citar natildeo soacute os
movimentos estudantis mas tambeacutem as Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs)
da Igreja Catoacutelica Esses movimentos foram duramente repremidos com o uso
extremado da violecircncia
As accedilotildees voltadas para a juventude nesse periacuteodo visavam o controle social da
juventude buscando reprimir o perfil questionador do jovem restringindo a liberdade
civil e introduzindo formas de construccedilatildeo de hegemonia nos espaccedilos educacionais
A forte participaccedilatildeo da juventude nesses espaccedilos de contestaccedilatildeo e enfrentamento
marca profundamente a forma como a juventude eacute vista pela sociedade Os jovens
tiveram um papel fundamental no processo de redemocratizaccedilatildeo a partir da deacutecada
de 1980 e muito deles foram vitimados durante todo o processo de emersatildeo e
decliacutenio da autocracia burguesa no Brasil
Na deacutecada de 1980 jaacute em um cenaacuterio de abertura democraacutetica mas em meio agrave uma
grande recessatildeo aliado agrave diminuiccedilatildeo dos gastos puacuteblicos como jaacute relatado acima
haacute um quadro de expansatildeo da pobreza Segundo a UNESCO (2004) nesse contexto
outras formas de organizaccedilotildees juvenis se constroem com a participaccedilatildeo de jovens
em situaccedilatildeo de marginalidade social e econocircmica em sua maioria sem acesso agrave
educaccedilatildeo e aos serviccedilos coletivos Tais movimentos satildeo chamados de ldquodistuacuterbios
nacionaisrdquo que incluiacuteam entre as accedilotildees saques a supermercados e ocupaccedilotildees de
preacutedios puacuteblicos
33
Desenvolveremos o conceito no capiacutetulo 02
52
Como uma estrateacutegia paliativa para dar conta desses problemas sociais emergem
em toda Ameacuterica Latina diversos programas de combate agrave pobreza que segundo a
UNESCO (2004) esses programas eram sustentados pela transferecircncia direta de
recursos para a populaccedilatildeo atendida vinculados agrave permanecircncia da crianccedila ou
adolescente na escola apesar dessas iniciativas natildeo terem sido definidas como
poliacuteticas para juventude mesmo atendendo a milhares de jovens com vistas a
prevenir ldquocondutas delituosasrdquo
No Brasil as estrateacutegias tambeacutem satildeo parecidas Pereira (2002) lembra o lema da
gestatildeo de Sarney ldquoTudo pelo Socialrdquo que iam desde accedilotildees emergenciais
(especialmente as de combate agrave fome e desemprego) ateacute accedilotildees de caraacuteter mais
estruturais de fortalecimento do crescimento econocircmico Aleacutem dos programas de
enfrentamento agrave pobreza recebe destaque tambeacutem as accedilotildees no campo da sauacutede
A deacutecada de 1980 eacute de intensa mobilizaccedilatildeo social A proteccedilatildeo social ganha espaccedilo
nos debates enquanto um marco conceitual e legal que pode ser percebido nos
avanccedilos com relaccedilatildeo agrave temaacutetica da crianccedila e do adolescente que culmina com a
promulgaccedilatildeo da poliacutetica de proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente
consolidada a partir da institucionalizaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila do Adolescente
(ECRIAD) A proteccedilatildeo ao idoso comeccedila jaacute nessa deacutecada a ser discutida entrando
na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social (LOAS) um artigo que estipula um miacutenimo
social para o idoso O mesmo natildeo se daacute com a categoria juventude ela natildeo entra
nas discussotildees da proteccedilatildeo social
Na deacutecada de 1990 haacute uma explosatildeo das accedilotildees voltadas para a juventude Antes do
Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) ateacute 1995 havia apenas 03 projetos
voltados para a juventude34 (SPOSITO CARRANO 2003) Jaacute no periacuteodo do
Governo de FHC de 1995 a 2002 identificamos mais de 3035 programas
34
Programa Sauacutede do Adolescente e do Jovem (Ministeacuterio da Sauacutede) Programa Especial de Treinamento (PET - Ministeacuterio da Educaccedilatildeo) e Precircmio Jovem Cientista (Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia) 35
Dos 30 programas estritamente governamentais cinco se localizavam no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo seis no Ministeacuterio de Esporte e Turismo seis no Ministeacuterio da Justiccedila um no Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio um no Ministeacuterio da Sauacutede dois no Ministeacuterio de Trabalho e Emprego trecircs no Ministeacuterio de Previdecircncia e Assistecircncia Social dois no Ministeacuterio de Ciecircncia e Tecnologia dois no Gabinete de Seguranccedila Institucional da Presidecircncia da Repuacuteblica um no Gabinete do Presidente da Repuacuteblica (Projeto Alvorada) e por uacuteltimo um de caraacuteter interministerial especificamente voltado para
53
governamentais divididos em diversos ministeacuterios que incluiacuteam natildeo soacute os jovens
mas tambeacutem adolescentes e 03 accedilotildees natildeo governamentais de abrangecircncia
nacional
O ponto alto dessa explosatildeo se daacute no intervalo de 1999 a 2002 quando foram
ativados 18 programas que seguem listados no Quadro 1 abaixo Para Sposito
Carrano (2003 p 22) esse momento eacute ldquo[] uma verdadeira explosatildeo na temaacutetica de
juventude e adolescecircncia []rdquo poreacutem sem muita consistecircncia conceitual
01 PEC-G Programa de estudante em convecircnio de Graduaccedilatildeo
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Ministeacuterios das Relaccedilotildees Exteriores
02 Projeto Escola Jovem Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
03 Jogos da Juventude Ministeacuterio do Esporte e Turismo
04 Olimpiacuteadas Colegiais Ministeacuterio do Esporte e Turismo
05 Projeto Navegar Ministeacuterio do Esporte e Turismo
06 Serviccedilo Civil Voluntaacuterio Ministeacuterio da Justiccedila
07 Programa de Reinserccedilatildeo Social do Adolescente em Conflito com a Lei
Ministeacuterio da Justiccedila
08 Promoccedilatildeo de Direitos de mulheres jovens vulneraacuteveis ao abuso sexual e agrave exploraccedilatildeo sexual comercial no Brasil
Ministeacuterio da Justiccedila
09 Programa de Sauacutede do Adolescente e do Jovem
Ministeacuterio da Sauacutede
10 Jovem Empreendedor Ministeacuterio do Trabalho e Emprego
11 Programa Brasil Jovem Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
12 Centros da Juventude Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
13 Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano
Ministeacuterio da Assistecircncia e Providencia Social
14 Precircmio Jovem Cientista Ministeacuterio da Ciecircncia e
a integraccedilatildeo das accedilotildees de 11 projetos programas focados em jovens localizado no Ministeacuterio de Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo (Programa Brasil em Accedilatildeo) (SPOSITO CARRANO 2003)
54
Tecnologia
15 Precircmio Jovem Cientista do Futuro Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia
16 Comunidade Solidaacuteria Presidecircncia da Repuacuteblica
17 Programa Capacitaccedilatildeo Solidaacuteria -----
18 Rede Jovem Conselho da Comunidade solidaacuteria e Ministeacuterio da Ciecircncia e tecnologia
19 Brasil em AccedilatildeoGrupo Juventude Ministeacuterio do Planejamento Orccedilamento e Gestatildeo
QUADRO 2 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE NO PERIacuteODO DE 1999 A 2002 Fonte Sposito Carrano (2003) Apesar dessa efervescecircncia nas poliacuteticas de juventude para Sposito e Carrano
(2003) no periacuteodo de 1995 a 2002 natildeo se pode falar de poliacuteticas estrateacutegicas
orientadas para os jovens mas de algumas propostas que segundo as autoras
partem da ldquo[] ideia de prevenccedilatildeo de controle ou efeito compensatoacuterio de
problemas que atingem a juventude transformada em algumas situaccedilotildees ela
mesma num problema para a sociedaderdquo (2003 p 08) Esse fato talvez explique a
ausecircncia da juventude nas accedilotildees de proteccedilatildeo social Importante destacar que a
sauacutede a seguranccedila puacuteblica e o trabalho expressam a materialidade imediata para se
pensar as poliacuteticas de juventude nesse periacuteodo
Esse quantitativo expressivo natildeo significa contudo que haacute um aumento na
qualidade dos serviccedilos prestados agrave juventude Comparando as accedilotildees do Ministeacuterio
da Sauacutede e o Ministeacuterio dos Esportes nesse periacuteodo percebemos que o primeiro
possui um uacutenico programa mas cujas accedilotildees ldquo[] se mostram institucionalmente
orgacircnicas racionalmente focalizadas refletidas teoricamente e articuladas com
redes governamentais e da sociedade civil []rdquo (SPOSITO CARRANO 2003 p23)
Jaacute o segundo ldquo[] que contava com seis programas demonstrou baixa capacidade
de coordenaccedilatildeo de suas accedilotildees incipiente reflexatildeo sobre a problemaacutetica juvenil e
baixiacutessima sinergia com atores coletivos da sociedade civil []rdquo (SPOSITO
CARRANO 2003 p23)
Mas porque essa explosatildeo das poliacuteticas de juventude na deacutecada 1990 Segundo
Quiroga (2001) os jovens satildeo os mais atingidos pelo desemprego pelas ocupaccedilotildees
55
precaacuterias ou simplesmente a falta de proteccedilatildeo laboral Nesse periacuteodo o
Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos (DIEESE)36 apresentou uma
pesquisa que mostrou que 455 dos desempregados eram jovens na faixa etaacuteria
entre 16 a 24 anos
A deacutecada de 1990 eacute a expressatildeo das profundas mudanccedilas no mundo do trabalho
que satildeo consequecircncias das formas de enfrentamento agrave crise do capital de 1970
(NETTO BRAZ 2006) Nesse periacuteodo haacute um crescimento exponencial da violecircncia
urbana no Brasil e parte significativa dessa violecircncia aparece atrelada ao jovem Na
deacutecada de 1970 a participaccedilatildeo dos jovens no total das mortes por homiciacutedios foi de
288 jaacute na deacutecada de 1980 os iacutendices sobem para 319 e na deacutecada de 1990 os
iacutendices chegaram a 347 (POCHANN 2004 p 236)
Esse cenaacuterio fomenta a necessidade de poliacuteticas sociais para a juventude mas em
grande parte esses programas ldquo[] buscam de certa forma minimizar a potencial
ameaccedilador que os jovens trazem para a vida social alguns deles considerados a
lsquonova classe perigosarsquo que precisa estar sob um campo de forte controlerdquo
(SPOSITO 2003 p 67) O perigo para a autora passa a ser visto natildeo mais nos
estudantes das classes meacutedias (como nos anos 60) mas nos jovens pobres
marginalizados e moradores da periferia das grandes cidades
A partir de 2003 com o Governo Lula haacute um salto de qualidade37 nas accedilotildees
voltadas a esse puacuteblico dentre elas a criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Juventude
(CONJUVE) em 2004 a criaccedilatildeo do Grupo Interministerial a criaccedilatildeo da Secretaria
Nacional de Juventude em 2005 e a realizaccedilatildeo da Conferecircncia Nacional de
Juventude Tais avanccedilos sinalizam para o iniacutecio do processo de construccedilatildeo e
consolidaccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude no intento de despertar o
diaacutelogo com a juventude
Poreacutem em nosso entendimento esse processo ainda estaacute inconcluso uma vez que
os instrumentos legais como o Projeto de Lei nordm 453004 que prevecirc a criaccedilatildeo do
36
Pesquisa ldquoA ocupaccedilatildeo dos jovens nos mercados de trabalho metropolitanordquo 37
O Grupo Interministerial descrito acima identificou 131 accedilotildees vinculadas a 45 programas e destes 19 satildeo especiacuteficos para os jovens
56
Plano Nacional de Juventude e o Projeto de Lei nordm 452904 que prevecirc a criaccedilatildeo do
Estatuto da Juventude ainda seguem sem aprovaccedilatildeo nas esferas federais
mantendo assim as concepccedilotildees histoacutericas jaacute apresentadas aqui (IPEA 2009)38
Cabe destacar que o Plano Nacional de Juventude eacute o documento que visa
fundamentar a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional de Juventude com vigecircncia de
dez anos a partir de sua aprovaccedilatildeo criando objetivos e metas agrave concretizaccedilatildeo de
cada um dos eixos temaacuteticos emancipaccedilatildeo juvenil bem-estar juvenil
desenvolvimento da cidadania e a organizaccedilatildeo poliacutetica juvenil apoio agrave criatividade
juvenil e equidade de oportunidades para jovens em condiccedilatildeo de exclusatildeo (BRASIL
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 2004)
Jaacute o Estatuto da Juventude quando aprovado possuiraacute forccedila de lei
responsabilizando o Estado e o obrigando a tomar medidas que garantam a
promoccedilatildeo e proteccedilatildeo dos jovens Esse documento define ainda o puacuteblico alvo das
accedilotildees pessoas entre 15 e 29 anos e que necessitam de poliacuteticas especiacuteficas em
aacutereas especiacuteficas poreacutem sem prejuiacutezo da normatizaccedilatildeo do ECRIAD que tambeacutem
incorpora o adolescente ateacute completar 18 anos de idade
Outro avanccedilo importante se deu em 2010 quando foi editada a Emenda
Constitucional nordm 65 que altera o contexto incluindo o jovem onde se constava
apenas da famiacutelia da crianccedila do adolescente e do idoso no Capiacutetulo VII do Tiacutetulo
VII (Da Ordem Social) Essa modificaccedilatildeo da Emenda nordm652010 coloca a obrigaccedilatildeo
do Estado na satisfaccedilatildeo dos direitos baacutesicos da juventude fato que representa uma
conquista para os jovens brasileiros uma vez que esse eacute o maior instrumento
juriacutedico do paiacutes que passa a assegurar os direitos ldquo[] agrave vida agrave sauacutede ao lazer agrave
profissionalizaccedilatildeo agrave cultura agrave dignidade ao respeito agrave liberdade e agrave convivecircncia
familiar e comunitaacuteria []rdquo (BRASIL EC Nordm 652010) e assegura a criaccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas para esse segmento
38
O Estatuto da Juventude foi aprovado na Cacircmara dos Deputados no dia 10072013 representando uma grande vitoacuteria nas lutas sociais juvenis inaugurando novas perspectivas para as poliacuteticas de juventude uma vez que o Estatuto institucionaliza o jovem como sujeito de direitos O texto sofreu algumas modificaccedilotildees e foi enviado para sanccedilatildeo
57
Desse modo a proteccedilatildeo social ao jovem comeccedila a se constituir enquanto dever do
Estado e a aprovaccedilatildeo da Emenda nordm 652010 assegura que tanto o Estatuto quanto
o Plano Nacional de Juventude sejam aprovados a depender dos interesses e da
correlaccedilatildeo de forccedilas na Cacircmara dos Deputados Federais e do Senado Federal para
aprovaccedilatildeo Gostariacuteamos de salientar ainda que cabe agrave aprovaccedilatildeo de uma Poliacutetica
Nacional o papel de inovar na perspectiva de conceituar juventude e incluir novos
eixos temaacuteticos
Podemos perceber assim que esse periacuteodo foi de grandes avanccedilos no entanto
esses avanccedilos natildeo foram o suficientes para minorar os problemas da juventude
Precisamos ainda avanccedilar no sentido de garantir direitos de natildeo soacute dialogar com
as necessidades juvenis mas tambeacutem com as suas vontades definir recurso
orccedilamentaacuterio para a juventude como prevecirc o projeto de lei para Estatuto da
Juventude de construir poliacuteticas natildeo soacute de qualidade mas que tambeacutem sejam tanto
atrativas quanto acessiacuteveis aos jovens nas suas diferenccedilas (TAQUETI 2010)
Analisando as poliacuteticas de juventude no Brasil em 2010 identificamos atraveacutes do
Guia de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude (BRASIL 2010) que existiam 18 programas
voltados para o puacuteblico jovem e que se desenvolvia vaacuterias accedilotildees em diversos
Ministeacuterios e secretarias (observar quadro abaixo) o que jaacute evidencia uma
dificuldade em construir uma Poliacutetica Nacional de Juventude jaacute que cada ministeacuterio
desenvolve a sua accedilatildeo
1 Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens (Projovem) Projovem Urbano Projovem Campo Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente
Secretaria Nacional de Juventude da Secretaacuteria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome (MDS)
2 Programa Cultura Viva Ministeacuterio da Cultura
3 Bolsa Atleta Ministeacuterio do Esporte
4 Programa Segundo Tempo Ministeacuterio do Esporte
5 Praccedilas da Juventude Ministeacuterios do Esporte e da Justiccedila
58
6 Projeto Rondon Ministeacuterio da Defesa em parceria com diversos ministeacuterios
7 Projeto Soldado Cidadatildeo Comandos da Marinha Exeacutercito e Aeronaacuteutica
8 Programa Nacional de Seguranccedila Puacuteblica com Cidadania ndash Pronasci Protejo Jovem Detento Geraccedilatildeo Consciente Pelc Projeto Praccedila da Juventude Pintando a Liberdade e Pintando a Cidadania Pontos de Leitura Pontos de Cultura Projeto Museus Projeto Farol Projovem Prisional
Ministeacuterio da Justiccedila tendo alguns parceiros Ministeacuterio Cultura Esporte Igualdade Racial e Secretaria Nacional de Juventude
9 Pronaf Jovem Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio
10 Juventude e Meio Ambiente Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Meio Ambiente com a parceria da Secretaria Nacional de Juventude
11 Escola Aberta Cooperaccedilatildeo teacutecnica entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a UNESCO
12 ProUni Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
13 Reforccedilo agraves Escolas Teacutecnicas e Ampliaccedilatildeo das vagas em Universidades Federais
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
14 Brasil Alfabetizado Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
15 Proeja Ministeacuterios da Educaccedilatildeo e do Trabalho e Emprego
16 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM)
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
17 Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
18 Ampliaccedilatildeo do Bolsa Famiacutelia Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome
QUADRO 3 - PROGRAMAS PARA A JUVENTUDE EM 2011 Fonte Brasil (2011) Um aspecto importante das poliacuteticas listadas acima eacute que parte significativa delas
tem como estrateacutegia a transferecircncia de renda articulada ao cumprimento de algumas
condicionalidades que de maneira geral se relacionam com a ampliaccedilatildeo da
59
escolaridade e a qualificaccedilatildeo profissional
No que se refere agrave ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo essa pode ser um aspecto positivo
entretanto precisamos ponderar que o simples acesso agrave escola por si soacute natildeo
garante educaccedilatildeo de qualidade e ainda que natildeo se resolve o problema com os
jovens tornando-os mais ldquoempregaacuteveisrdquo se novos empregos natildeo satildeo criados
Precisamos considerar ainda que [] a maioria natildeo eacute pobre porque natildeo tem boa
educaccedilatildeo mas na realidade natildeo cosegue boa educaccedilatildeo porque eacute pobre
(FRIGOTTO 2004 p 192) Natildeo queremos negar a educaccedilatildeo como um direito
elementar e muito menos o potencial de emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta
pretendemos apenas alertar que um diagnoacutestico equivocado pode trazer respostas
equivocadas Concordamos com Frigotto (2004 p 194) quando afirma que ldquo[] a
crenccedila de que o problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas
focalizadas e de natureza filantroacutepica ou de administraccedilatildeo e controle da pobreza
sem atentar para poliacuteticas que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo A
pobreza nesse contexto passa a ser vista com ausecircncia de capacidades individuais
logo a poliacutetica social se transforma numa estrateacutegia para inserir os pobres no
mercado de trabalho (BEHRING 2009)
No que se refere agrave transferecircncia de renda Stein (2008) destaca que na Ameacuterica
Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia de
rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado confirmando
segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da sociedade
Cabe lembrar ainda que os programas de transferecircncia de renda ganham maior
destaque como forma de diminuir a incapacidade de reduzir as desigualdades
(BOSCHETTI 2009) que afetam de forma especial a juventude diante da crise do
trabalho e da ausecircncia de direitos efetivamente ldquo[] assegurados de acesso ao lazer
e aos bens culturais e de um sistema educativo capaz de acolher seu novo puacuteblico
ocorrem os programas de transferecircncia de renda aos jovens incapazes por si soacute de
assegurar transformaccedilotildees mais densas nessas esferas []rdquo (SPOSITO
CORRACHANO 2005 p 20)
60
Apesar disso Sposito e Corrachano (2005) afirmam que algumas avaliaccedilotildees
apontam o quanto essa renda tem sido importante para os jovens mesmo que seja
ainda percebida como privileacutegio e natildeo como direito No capiacutetulo 03 quando
analisaremos juventude e trabalho ficaraacute mais claro o porquecirc dessa afirmativa mas
sobre a juventude recai o grande impacto das mudanccedilas no mundo do trabalho
Outro ponto que merece destaque eacute o caraacuteter transitoacuterio das accedilotildees (em meacutedia 02
anos) natildeo se configurando enquanto uma poliacutetica puacuteblica mantendo o cariz de
programa numa proposta de poliacutetica emergencial para a juventude que mina a
construccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica nacional Esse fato dificulta ainda a avaliaccedilatildeo
seacuteria de tais programas39
Outro aspecto importante eacute a fragmentaccedilatildeo uma vez que as poliacuteticas de juventude
ainda satildeo vistas como um conjunto de caixinhas isoladas em disputa o que
impede o diaacutelogo entre elas (SPOSITO 2012)
Uma estrateacutegia utilizada para ultrapassar a fragmentaccedilatildeo eacute a transversalizaccedilatildeo que
tem sido buscada poreacutem ela natildeo pode ser feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo das poliacuteticas
entres os ministeacuterios como ocorre atualmente com as accedilotildees para a juventude Elas
devem ser transversais mas eacute preciso ldquo[] repensar e fortalecer um pacto pela
juventude que parta da Secretaria Nacional da Juventude e consiga chegar ateacute
onde o jovem estaacute no municiacutepio no bairro e o conecte com o governo federalrdquo
(SPOSITO 2012 p 225)
Esse processo de trasnversalizaccedilatildeo precisa considerar tambeacutem o local com suas
referecircncias e diferenccedilas pois eacute extremamente importante construir uma rede de
atenccedilatildeo aos jovens que conectem as poliacuteticas municipais estaduais e federais num
diaacutelogo permanente neste sentido as poliacuteticas para esse segmento natildeo devem
simplesmente reproduzir as poliacuteticas de acircmbito nacional elas devem ser efetivadas
e assumidas em todos os acircmbitos de accedilatildeo (SPOSITO 2012 p 226) Carrano (2012)
afirma que o caraacuteter fragmentaacuterio das poliacuteticas de juventude se explicita na
focalizaccedilatildeo das diretrizes que o autor chama de ldquojovem temaacuteticordquo que expressa o
39
No caso do ProJovem Trabalhador o programa tem previsatildeo para ser executado em 06 meses
61
puacuteblico alvo das accedilotildees desenvolvidas nos diferentes ministeacuterios assim tem-se ldquoo
jovem-alunordquo o ldquojovem-filhordquo o ldquojovem-infratorrdquo a ldquojovem-matildeerdquo ldquoa jovem-que-natildeo-
queremos-que-seja-matildeerdquo o rdquojovem-ruralrdquo e outros
Percebemos ainda que as poliacuteticas destinadas aos jovens tecircm se destinado muito
mais a oferecer o que se instituiu como necessidades dos jovens e natildeo aquilo que o
jovem apresentou ou demandou como uma necessidade sua Como afirmou
Carrano (2012) os jovens precisam de espaccedilo natildeo soacute para receber os projetos jaacute
preconcebidos mas sobretudo para dizer o que precisam individual e
coletivamente Para esse autor as accedilotildees destinadas aos jovens emergem
simultaneamente agrave criaccedilatildeo de personagens sociais (protagonistas empreendedores
e outros) de pouco diaacutelogo que atendam muito mais aos interesses e modelos de
poliacuteticas das agecircncias internacionais de desenvolvimento
Para Carrano (2012) haacute um dualismo entre as poliacuteticas concebidas dentro de uma
loacutegica da cabeccedila dos jovens e outra pelo mundo do adulto e suas instituiccedilotildees A
Secretaria Nacional de Juventude apesar de suas limitaccedilotildees sintetizaria as poliacuteticas
pensadas com a cabeccedila do jovem e uma expressatildeo dessa perspectiva eacute o
programa ProJovem Jaacute o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sintetizaria as poliacuteticas do mundo
adulto pois se recusa a ver jovens e juventude onde sempre viu alunos e
estudantes ou seja ldquo[] individualidades dirigidas ao intencionado sucesso escolar
e natildeo sujeitos culturais completos para os quais a escolarizaccedilatildeo eacute apenas uma e
natildeo menos importante faceta de suas vidasrdquo (CARRANO 2012 p 240)
Observando as poliacuteticas de juventude podemos afirmar que elas caminham mais na
direccedilatildeo dos direitos sociais e menos na direccedilatildeo do risco social contudo eacute preciso
ter um otimismo moderado uma vez que esse discurso natildeo eacute hegemocircnico na esfera
puacuteblica e no acircmbito governamental (SPOSITO 2012 p 326) Por essa razatildeo eacute
necessaacuterio observar mais de perto e buscar conhecer as concepccedilotildees de juventude
e suas relaccedilotildees com as poliacuteticas para a juventude
Analisaremos de que modo as concepccedilotildees de juventude influenciam tais poliacuteticas
Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do conhecimento e da formulaccedilatildeo de
poliacuteticas consistentes e coerentes com as necessidades e demandas sociais que a
62
requeremrdquo (PEREIRA 2009 p 18) No entanto conceitos natildeo satildeo meras palavras
mas categorias teoacutericas que expressam as relaccedilotildees existentes no mundo real
(PEREIRA 2009) Logo as concepccedilotildees de poliacutetica social pressupotildeem sempre uma
perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica (ROMERO 1998 BEHRING BOSCHETTI 2007)
que buscaremos analisar no proacuteximo capiacutetulo
63
CAPIacuteTULO 2 - AS CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE E SEUS IMPACTOS NAS
POLIacuteTICAS
ldquoQuem define o problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo
(Miguel Abbad 2003)
A juventude tem muacuteltiplas faces e soacute podemos entender essa categoria se a
considerarmos em sua diversidade regional de gecircnero de orientaccedilatildeo sexual de
classe e de etnia Eacute esse reconhecimento que nos permite ultrapassar velhas formas
e discursos de pensar a juventude (SPOSITO 2012) Por essa razatildeo nesse capiacutetulo
analisaremos algumas das abordagens socioloacutegicas sobre juventude pois existem
vaacuterias formas de visualizar as diferenccedilas do ser jovem o que nos permitiraacute ainda
sair da observaccedilatildeo concreta e objetiva da juventude para uma forma teoacuterica e
abstrata Eacute este movimento que nos permitiraacute contribuir para transformar os
problemas da juventude em problemas socioloacutegicos
21 FAIXA ETAacuteRIA
O conceito de juventude em principio aparece fortemente associado aos aspectos
bioloacutegicos e cronoloacutegicos contudo a definiccedilatildeo etaacuteria que agrave primeira vista um fator
homogecircneo e puramente bioloacutegico sofre influecircncia e implicaccedilotildees do contexto
histoacuterico e social Portanto ao tratarmos em juventude natildeo falamos apenas em
idade mas sobretudo em representaccedilotildees sociais sobre a juventude
Como ressalta Leacuteon (2005 p13) haacute uma diversidade de classificaccedilotildees etaacuterias nos
paiacuteses ibero-americanos 7 a 18 anos em El Salvador 12 a 26 na Colocircmbia de 12 a
35 na Costa Rica 12 a 29 no Meacutexico 14 a 30 na Argentina Alguns organismos
internacionais adotam o ciclo entre os 15 e os 24 anos como a Organizaccedilatildeo das
Naccedilotildees Unidas (ONU) o Banco Mundial e a Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho
(OIT) 40
40
Carrano (2012) relatou que o Iard instituto de pesquisa italiano ndash um dos principais institutos de pesquisa italiano segundo o autor utilizou recentemente o corte etaacuterio de 34 anos
64
No Brasil haacute basicamente duas classificaccedilotildees etaacuterias a utilizada pelo Conselho
Nacional de Juventude (CONJUVE) que adota o ciclo entre 15 a 29 anos e a do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que utiliza o ciclo de 15 a 24
anos As duas classificaccedilotildees estatildeo presentes nas formulaccedilotildees de poliacuteticas para
juventude havendo uma tendecircncia recente pela utilizaccedilatildeo do ciclo de 15 a 29 anos
por orientaccedilatildeo do proacuteprio CONJUVE
Tal fato ressalta a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria pois a juventude passa
pelo enquadramento soacutecio-histoacuterico-cultural mas tambeacutem passa por uma
classificaccedilatildeo etaacuteria sendo essa uacuteltima um paracircmetro elementar Isso porque o corte
etaacuterio eacute que permite uma diferenciaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude de modo a
considerar nas formulaccedilotildees das poliacuteticas puacuteblicas dois segmentos que satildeo as
especificidades do ser jovem e do ser adolescente E ainda por que a associaccedilatildeo
recorrente entre juventude e adolescecircncia muitas vezes tornando-os sinocircnimos
(LEOacuteN 2005) acaba por excluir das formulaccedilotildees puacuteblicas a populaccedilatildeo jovem de 18
a 29 anos41 e como veremos no proacuteximo capiacutetulo os jovens entre 18 a 24 anos satildeo
os que mais recebem os impactos do contexto social contemporacircneo como por
exemplo as mudanccedilas no mundo do trabalho
Abramo (2005) lembra que uma dissociaccedilatildeo entre adolescecircncia e juventude eacute
recente (por volta da deacutecada de 1990) e estaacute ligada ao aparecimento de novos
atores juvenis principalmente os jovens dos setores populares e eacute justamente
nesse periacuteodo que comeccedilam a surgir propostas especiacuteficas para o segmento juvenil
Para a autora o poacutes segunda Grande Guerra introduziu uma extensatildeo da juventude
em vaacuterios sentidos na duraccedilatildeo do ciclo de vida na abrangecircncia do fenocircmeno para
vaacuterios setores sociais ultrapassando os limites apenas dos rapazes da burguesia
(como no iniacutecio)42 nos elementos constitutivos da experiecircncia juvenil e nos
41
Sposito et all (2006 p 14) afirma que eacute possiacutevel reunir adolescentes e jovens em um mesmo programa o que seria provavelmente uma accedilatildeo mais adequada do que trazer os adolescentes para o universo da infacircncia o que acabaria por descaracterizar natildeo soacute a infacircncia tal qual foi concebida pela modernidade como a proacutepria adolescecircncia e juventude como momentos diversos construiacutedos historicamente na sociedade moderna a partir do seacuteculo XIX No entanto outras implicaccedilotildees existem porque os marcos legais da maioridade satildeo arbitraacuterios produto de consensos provisoacuterios e natildeo deveriam implicar restriccedilatildeo da accedilatildeo do Estado pois deixam agrave sombra categorias significativas de jovens sobre as quais o Poder Puacuteblico no Brasil natildeo assume qualquer responsabilidade 42
A autora cita a inclusatildeo escolar como um dos fatores principais para a ampliaccedilatildeo da juventude para aleacutem dos rapazes burgueses
65
conteuacutedos das concepccedilotildees das noccedilotildees socialmente construiacutedas Tal ampliaccedilatildeo
segundo ela divide esse ciclo em dois momentos a adolescecircncia mais relacionada
agraves mudanccedilas bioloacutegicas com consequecircncias psicossociais e a juventude
propriamente dita mais voltada para o processo de inserccedilatildeo social (ABRAMO
2005)
Analisando a Pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira do Instituto de Cidadania e
da Fundaccedilatildeo Perseu43 Abramo (2005) afirma que as demandas dos dois
segmentos satildeo diferentes Os adolescentes identificam como maior necessidade
dos direitos individuais (liberdade) e para os jovens (acima de 20 anos nos dados
analisados por ela) a maior necessidade eacute por direitos sociais Ou seja para o
adolescente o crucial eacute a possibilidade de viver experiecircncias formativas e da
conquista da autonomia e para o jovem propriamente dito o mais importante satildeo
questotildees de inserccedilatildeo social que remetem ao plano das poliacuteticas sociais
Entendemos ser de suma importacircncia essa diferenciaccedilatildeo ateacute mesmo como um
processo de distinccedilatildeo das demandas desses segmentos de modo que as poliacuteticas
sociais possam atender verdadeiramente agraves demandas dos sujeitos a quem se
destinam Mesmo que cumprindo apenas uma funccedilatildeo operacional essa
classificaccedilatildeo etaacuteria eacute de suma importacircncia para a execuccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude
Neste sentido reconhecemos a importacircncia de uma classificaccedilatildeo etaacuteria ateacute mesmo
porque como bem lembrou Groppo (2000) mesmo a negando dificilmente se chega
agrave uma definiccedilatildeo de juventude sem passar por uma classificaccedilatildeo de idade Contudo
natildeo podemos esquecer que o dado bioloacutegico eacute socialmente manipulaacutevel e
manipulado logo potencialmente problemaacutetico E ao enfatizarmos esse aspecto
corremos o risco de pensar a juventude como uma unidade social dotada de
interesses comuns (BOURDIEU 1983) Neste sentido precisamos pensar a questatildeo
etaacuteria como parte da conceituaccedilatildeo e natildeo o conceito em si porque ldquo[] os indiviacuteduos
natildeo pertencem a grupos etaacuterios eles os atravessam []rdquo (LEVI et al 1996 p 9)
43
Abramo (2005) analisou os dados da pesquisa que se referem aos direitos
66
Por esta razatildeo adotamos a diferenciaccedilatildeo feita no documento Poliacutetica Nacional de
Juventude Diretrizes e Perspectivas que entende ldquo[] os adolescentes-jovens
(cidadatildeos e cidadatildes com idade entre os 15 e 17 anos) os jovens-jovens (com idade
entre os 18 e 24 anos) e os jovens adultos (cidadatildeos e cidadatildes que se encontram na
faixa-etaacuteria dos 25 aos 29 anos)rdquo (BRASIL 2006 p 05) Entendemos que essa
definiccedilatildeo diferencia os dois puacuteblicos e manteacutem ampliado o entendimento de
juventude
Desse modo podemos afirmar que juventude eacute uma categoria social e como tal ela
se torna uma representaccedilatildeo social e uma situaccedilatildeo social ou seja ela eacute entendida
como ldquo[] uma concepccedilatildeo representaccedilatildeo ou criaccedilatildeo simboacutelica fabricada pelos
grupos sociais ou pelos proacuteprios indiviacuteduos tidos como jovens para significar uma
seacuterie de comportamentos e atitudes a ela atribuiacutedosrdquo (GROPPO 2000 p 08)
Ampliar as combinaccedilotildees para se pensar a questatildeo juvenil colabora para que
possamos responder quando algueacutem comeccedila e deixa de ser jovem Mas devemos
ter sempre a clareza de que essa resposta natildeo eacute definitiva dependeraacute de fatores do
campo bioloacutegico mas sobretudo dos dados sociais objetivos e das representaccedilotildees
que a sociedade empresta ao conceito juventude (CARRANO 2012)
22 PERSPECTIVA GERANCIONAL E PERSPECTIVA CLASSISTA
Pais (2003) eacute um dos autores que buscam interpretar o conceito de juventude dentro
de uma perspectiva socioloacutegica Para ele a sociologia da juventude tem oscilado
entre uma perspectiva que toma a juventude ora como geracional o qual
compreende
[] indiviacuteduos pertencentes a uma dada laquofase da vidaraquo prevalecendo a busca dos aspectos mais uniformes e homogecircneos que caracterizariam essa fase da vida aspectos que fariam parte de uma laquocultura juvenilraquo especiacutefica portanto de um geraccedilatildeo definida em termos etaacuterios [] (PAIS 1990 p 140)
ora oscilado entre a tendecircncia que toma a juventude como ldquo[] um conjunto social
necessariamente diversificado [] em funccedilatildeo de diferentes pertenccedilas de classe
diferentes situaccedilotildees econocircmicas diferentes parcelas de poder diferentes
67
interesses diferentes oportunidades ocupacionais []rdquo (1990 p 140) ndash
expressando assim a perspectiva classicista
Segundo Pais (1990 2003) a perspectiva geracional parte da ideia de que a
juventude eacute uma ldquofase da vidardquo consequentemente enfatiza o aspecto individual de
ser jovem Em qualquer sociedade haacute vaacuterias culturas que se desenvolvem no quadro
de valores dominantes A questatildeo central para essa corrente eacute a relaccedilatildeo de
continuidade ou descontinuidade dos valores e normas intergeracionais (PAIS 2003
GROPPO 2000)
O quadro teoacuterico da perspectiva geracional segundo Pais (1990 2003) divide-se em
duas tendecircncias uma que se baseia na teoria da socializaccedilatildeo desenvolvida pelo
funcionalismo e outra que se baseia na teoria das geraccedilotildees Para a teoria da
socializaccedilatildeo funcionalista os conflitos tambeacutem chamados de descontinuidades
intergeracionais satildeo percebidos como disfunccedilotildees no processo de socializaccedilatildeo da
juventude que eacute tomada como fase da vida Jaacute para os defensores da perspectiva
geracional tais conflitos ou descontinuidades satildeo naturais uma vez que se natildeo
houvesse conflitos e descontinuidades natildeo haveria uma teoria das geraccedilotildees (PAIS
1990 2003)
Para a perspectiva geracional (seja no quadro teoacuterico da socializaccedilatildeo ou das teorias
das geraccedilotildees) os conflitos ou descontinuidades intergeracionais estatildeo na base da
formaccedilatildeo da juventude como uma geraccedilatildeo social assim cada geraccedilatildeo social soacute eacute
determinada mediante uma autorreferecircncia a outras geraccedilotildees (PAIS 1990)
Nesse sentido para essa perspectiva teoacuterica os indiviacuteduos vivenciam a realidade de
uma geraccedilatildeo e natildeo de classe logo as experiecircncias de uma geraccedilatildeo satildeo comuns ou
similares aos membros dessa geraccedilatildeo independente de outros fatores Logo haacute
uma uacutenica cultura juvenil que eacute comum a toda juventude (PAIS 1990 2003)
Essa cultura juvenil admite a possibilidade de que em determinados momentos
histoacutericos uma cultura juvenil se oporia agrave cultura de outras geraccedilotildees Tal oposiccedilatildeo
pode resultar em diferentes tipos de descontinuidades Intergeracionais alternando
periacuteodos de descontinuidades rupturas e outros periacuteodos de socializaccedilatildeo contiacutenua
68
Esta uacuteltima pode ser entendida como os periacuteodos histoacutericos em que as geraccedilotildees satildeo
socializadas sem grandes fricccedilotildees e predominam os valores sociais das geraccedilotildees
anteriores Quando as descontinuidades se expressam em graves tensotildees entre as
geraccedilotildees e os valores dominantes podem ser abalados estamos diante de crises ou
conflitos intergerancionais (PAIS 1990 2003)
Pais (1990) ressalta que para a perspectiva geracional os indiviacuteduos experienciam o
mundo como partes de uma geraccedilatildeo e natildeo como membros de uma classe social
assim as experiecircncias satildeo compartilhadas por outros indiviacuteduos da mesma geraccedilatildeo
que vivem circunstacircncias semelhantes No entanto o autor ressalta que essa
afirmativa natildeo quer dizer que diferentes perspectivas de vida natildeo possam ser
especiacuteficas de jovens de uma mesma geraccedilatildeo Do mesmo modo que certas
perspectivas de vida satildeo propriedade comum de todos os membros de uma
geraccedilatildeo e outras perspectivas de vida seriam comuns a todas as geraccedilotildees
Desse modo para a perspectiva geracional a problemaacutetica da juventude se justifica
pelos signos de continuidade e descontinuidade entre as geraccedilotildees Tal problemaacutetica
vem sendo polarizada entre duas posiccedilotildees uma que destaca a reproduccedilatildeo da
cultura adulta na cultura juvenil e outra que destaca os aspectos da descontinuidade
entre as geraccedilotildees Segundo Pais (1990) essa problemaacutetica apresenta duas
possibilidades uma que percebe os jovens como fenocircmeno uniforme e homogecircneo
e outra que admite entre os jovens a possibilidade de subculturas juvenis Poreacutem
essas subculturas estariam sempre relacionadas e filiadas agrave cultura juvenil ndash que eacute
entendida como a oposiccedilatildeo agrave cultura de outras geraccedilotildees (PAIS 1990) Neste
sentido as possibilidades de diversidades estatildeo sempre subordinadas agrave cultura
social dominante
Nesta perspectiva a juventude aparece apenas como uma categoria etaacuteria onde a
idade eacute considerada como uma das variaacuteveis mais importantes ou a mais importante
(PAIS 2003) Esse caraacuteter de transitoriedade evidencia aos jovens como um ldquovir a
serrdquo o que agrega um caraacuteter negativo a esse segmento pois o jovem ainda natildeo
chegou a ser negando o presente vivido (DAYRELL 2009)
69
Para Abramo (1997) a continuidade social expressa um momento crucial para a
manutenccedilatildeo da coesatildeo social Por esta razatildeo segundo a autora os temas mais
abordados pela sociologia tecircm sido o processo de socializaccedilatildeo dos jovens bem
como as disfunccedilotildees encontradas fato que faz com que a juventude sempre apareccedila
como problema pois se juventude eacute compreendida como esse processo de
desenvolvimento social as falhas desse processo eacute que aparecem e precisam ser
debatidas
Tal problematizaccedilatildeo tem quase sempre um foco moral a coesatildeo moral da
sociedade e a integridade moral do indiviacuteduo que muitas vezes vem acompanhada
por uma ldquo[] espeacutecie de ldquopacircnico moralrdquo que condensa os medos e anguacutestias
relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas
sociaisrdquo (ABRAMO 1997 p 29)
Peralva (2011) ressalta que a contribuiccedilatildeo da sociologia funcionalista eacute inegaacutevel
poreacutem destaca que eacute tambeacutem inegaacutevel natildeo reconhecer o caraacuteter quase caricatural
de uma sociologia para a ldquo[] qual valores e arcabouccedilo normativo da ordem social
constituem natildeo categorias de anaacutelise mas a priori a partir da qual a anaacutelise seraacute
desenvolvida []rdquo (2011 p 21) A autora lembra ainda que os temas da ordem e da
normatividade estatildeo longe de serem exclusividade do funcionalismo
Percebemos nessa perspectiva que haacute uma visatildeo homogeinizadora da juventude
que natildeo considera outros aspectos que perpassam o ser jovem tais como as
questotildees de classe gecircnero etnia segmento social e outros fatores Para uma
aproximaccedilatildeo dessa categoria social de forma clara e eficiente eacute preciso ldquo[] sempre
combinar a categoria social juventude ou geraccedilatildeo com outras categorias sociais
procurando tornar mais inteligiacutevel as reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo
(GROPPO 2000 p 23)
Na perspectiva classista de acordo com Pais (1990 2003) a reproduccedilatildeo social eacute
vista na dimensatildeo da reproduccedilatildeo social de classes por esta razatildeo o conceito de
juventude nessa perspectiva busca sempre ultrapassar a visatildeo de fase da vida e
encontra-se sempre fundamentada na reproduccedilatildeo das classes sociais E neste
sentido as culturas juvenis seratildeo sempre culturas de classe entendidas como
70
produto das relaccedilotildees antagocircnicas de classe e muitas vezes segundo o autor as
culturas juvenis satildeo apresentadas como culturas de resistecircncia pois satildeo
negociadas em um quadro de relaccedilotildees de classe Assim as culturas juvenis tecircm
sempre um significado poliacutetico
Pais (1990 2003) afirma que essa perspectiva acabou engessando a anaacutelise da
cultura juvenil apenas ao jovem operaacuterio do sexo masculino e depois as feministas
incluiacuteram o debate das jovens operaacuterias poreacutem mesmo dentro dessa perspectiva
natildeo havia uma interaccedilatildeo ficando o debate sobre os jovens isolados do debate sobre
as jovens Tal engessamento limitou a capacidade explicativa dessa teoria para o
autor o que distanciou o debate agraves diferentes condiccedilotildees e dimensotildees da vida dos
jovens tais como sexualidade e a arte
Outra criacutetica que o autor faz se refere agrave homogeneidade cultural dentro de uma
mesma classe social Para Pais (1990 2003) natildeo haacute um uacutenico modo de vida dentro
de uma classe social tal percepccedilatildeo eacute fruto de uma visatildeo determinista que foi sendo
apropriada dentro da teoria marxista que o autor entende como um grande
equiacutevoco jaacute que mesmo pertencente a uma mesma classe social haacute fatores que
tambeacutem precisam ser pensados os que jaacute citamos como gecircnero e etnia mas
tambeacutem as proacuteprias condiccedilotildees de classe em si e classe para si Caso contraacuterio
corremos o risco de pensar que dentro de uma classe social tambeacutem natildeo haacute
diversidade e subjetividades culturas e contraculturas
Apesar das limitaccedilotildees eacute preciso considerar que essa perspectiva amplia o debate
sobre a categoria social juventude ultrapassando o campo do individual incluindo
fatores que tambeacutem precisam ser considerados tais como a reproduccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais de uma sociedade capitalista Isso porque para o autor nessa
perspectiva haacute um processo dialeacutetico entre a cultura dominante e a dominada
quando a cultura eacute reproduzida de forma homogecircnea atraveacutes das diversas
instituiccedilotildees sociais (PAIS 2003)
Pais (1990) sintetiza a questatildeo analisando o problema do desemprego juvenil jaacute que
essa eacute uma questatildeo muito debatida entre as duas perspectivas Segundo ele para a
perspectiva geracional o mais relevante nesse quesito eacute a idade ou seja os jovens
71
tecircm mais dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho por serem jovens Jaacute para a
perspectiva classista a explicaccedilatildeo estaacute no fato de que os jovens satildeo de origem
operaacuteria tem relaccedilatildeo com sua origem social
Analisando mais de perto podemos verificar que a duas perspectivas estatildeo corretas
no que se refere agrave inserccedilatildeo no mundo do trabalho Isto porque o jovem eacute o mais
afetado em situaccedilotildees de desemprego justamente por ser jovem Poreacutem o
desemprego natildeo atinge a juventude indistintamente os jovens oriundos da classe
trabalhadora os mais pauperizados satildeo os mais afetados pelo desemprego44
Neste sentido podemos afirmar que as duas perspectivas satildeo complementares e
natildeo excludentes pois ambas trazem contribuiccedilotildees importantes para pensar a
categoria juventude (PAIS 2003) Nas palavras de Groppo (2000 p 23) ldquo[] uma
anaacutelise social eficiente deve sempre combinar a categoria social juventude ou
geraccedilatildeo com outras categorias sociais procurando tornar mais inteligiacutevel as
reconhecidas multiplicidades sociais []rdquo (GROPPO 2000 p 23)
As culturas juvenis agregando as duas perspectivas assim satildeo processos de
socializaccedilatildeo e como tal acontecem tanto no acircmbito macrossocial no coletivo
quanto no acircmbito microssocial no espaccedilo individual (PAIS 2003) Desse modo a
categoria juvenil vai aparecendo como ldquo[] uma categoria socialmente construiacuteda
formulada no contexto de particulares circunstacircncias econocircmicas sociais ou
poliacuteticas uma categoria sujeita a modificar-se ao longo do tempordquo (PAIS 2003
p37)
23 MORATOacuteRIA SOCIAL E MORATOacuteRIA VITAL
Outra abordagem explicativa da categoria social juventude eacute o conceito de
moratoacuteria que direta ou indiretamente estaacute sempre presente na discussatildeo de
juventude e marca as poliacuteticas de juventude
44
No proacuteximo capiacutetulo apresentaremos os dados que comprovam nossas afirmaccedilotildees
72
O significado da palavra moratoacuteria eacute prorrogaccedilatildeo do prazo No caso da moratoacuteria
social seria um tempo livre um tempo a mais de preparaccedilatildeo que o jovem teria para
se ingressar no universo adulto Camacho (2007) afirma que a ideia de moratoacuteria se
solidifica no seacuteculo XVIII com o prolongamento do periacuteodo de instruccedilatildeo dos jovens
basicamente com os jovens do sexo masculino da classe burguesa Arieacutes (1981)
destaca que
[] a partir do seacuteculo XVIII a escola uacutenica foi substituiacuteda por um sistema de ensino duplo em que cada ramo correspondia natildeo a uma idade mas uma condiccedilatildeo social o liceu ou coleacutegio para os burgueses (o secundaacuterio) e a escola para o povo (o primaacuterio) O primaacuterio durante muito tempo foi um ensino curto [] (ARIEacuteS 1981 p 128)
Eacute justamente nesse periacuteodo que o conceito de juventude surge Neste sentido o
jovem aparece como um signo que eacute condicionado agraves atividades produtivas e
ligadas ao corpo e agrave imagem fazendo com que haja uma concorrecircncia entre os
jovens e natildeo jovens sendo que os primeiros possuem tempo livre e estatildeo protegidos
pela moratoacuteria (MARGULIS 1996)
Dentro dessa perspectiva os jovens satildeo indiviacuteduos que possuem tempo livre pois
eles estatildeo sob a moratoacuteria social um momento de preparo quando eacute possiacutevel viver
sem muitas preocupaccedilotildees e responsabilidades pois esse eacute o momento dos
estudos do preparo para a vida adulta (MARGULIS 1996)
Contudo precisamos ter clareza de que a moratoacuteria social natildeo eacute a mesma para toda
a juventude uma vez que para os jovens das classes populares esse tempo livre da
moratoacuteria social eacute visto como um tempo vazio que precisa ser ocupado e muitas
poliacuteticas sociais voltadas para esse puacuteblico revelam essa percepccedilatildeo e se colocam
como forma de ocupaccedilatildeo desse tempo vago e potencialmente perigoso
A moratoacuteria social aparece assim como um privilegio de parte da juventude
negado aos jovens de classes populares pois mesmo quando o desemprego
possibilita o ldquotempo livrerdquo a realidade vem carregada natildeo soacute de culpabilidade e
impotecircncia frustraccedilatildeo e sofrimento Eacute como se existissem jovens natildeo juvenis pois
esses natildeo podem usufruir da moratoacuteria social (MARGULIS 1996)
73
Como lembra Carrano (2012) nem todos os jovens vivem a situaccedilatildeo de tracircnsito para
a vida adulta Para os jovens das classes populares a pressatildeo com relaccedilatildeo ao
mercado de trabalho a experiecircncia da gravidez chegam no momento em que estatildeo
passando por uma determinada vivecircncia de juventude
Por conta dessa impossibilidade de incluir as juventudes no conceito de moratoacuteria
social eacute que Margulis (1996) inclui no debate a moratoacuteria vital Para ele essa uacuteltima
existe para todos os jovens pois independente da classe social capacidade
produtiva seria uma energia vital um tempo futuro como esperanccedila A juventude
como moratoacuteria vital eacute um fato que depende da idade e isso eacute inegaacutevel e eacute a partir
daiacute que comeccedilam as diferenciaccedilotildees entre o espaccedilo social classe gecircnero etnia que
influenciaratildeo o modo como esses sujeitos viveratildeo essa moratoacuteria vital como
condicionantes para o futuro (MARGULIS 1996)
Para Margulis (1996) a energia vital aparece como um creacutedito social um tempo
futuro disponiacutevel de maneira diferencial de acordo com a classe social e neste
ponto eacute que reside a importacircncia da articulaccedilatildeo com a moratoacuteria social uma vez que
se tomarmos apenas o conceito de moratoacuteria vital recorreriacuteamos agrave reproduccedilatildeo
dominante de juventude Nesse sentido a moratoacuteria vital depende da idade mas
partindo da idade considera as diferenccedilas de classe posiccedilatildeo social que
influenciaraacute depois como ele viveraacute essa moratoacuteria e seus condicionantes
(MARGULIS 1996) Para o autor essa discussatildeo sobre moratoacuteria social e vital eacute que
recupera certa materialidade e historicidade ao uso socioloacutegico da categoria social
juventude
Todos esses elementos satildeo fundamentais para entendermos a categoria social
juventude Soacute poderemos nos aproximar com seguranccedila dela se todos esses
elementos forem analisados em conjunto de modo que possamos pensar juventude
em sua diversidade ou como afirma Abbad (2002) pensando nos aspectos da
condiccedilatildeo (o modo como a sociedade imprime significado e constitui o ciclo de vida) e
situaccedilatildeo juvenil (que exprime os diversos recortes e coloridos da condiccedilatildeo juvenil ndash
classe gecircnero etnia rural e urbana)
74
24 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE DE 1950 Agrave ATUALIDADE
Abramo (1997) faz uma retomada histoacuterica de como a categoria social juventude
vem sendo tematizada desde a deacutecada de 1950 Para ela pode-se verificar que tal
categoria ldquo[] acabou sendo sempre depositaacuteria de um certo medo categoria social
frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou
salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de
intercacircmbio []rdquo (1997 p30)
Na deacutecada de 1950 a transgressatildeo e a delinquecircncia satildeo percebidas quase como
uma condiccedilatildeo juvenil (ldquoos rebeldes sem causardquo) Os atos de delinquecircncia
extrapolavam os limites dos ldquosocialmente anocircmalosrdquo e alcanccedilam os jovens de
setores operaacuterios e de classe meacutedia A juventude passa a aparecer ela mesma
como potencialmente delinquente por sua condiccedilatildeo etaacuteria Eacute nesse periacuteodo que
segundo Abramo (1997) se consolida a visatildeo da juventude como uma fase difiacutecil e
perturbadora em si mesma necessitando assim da ajuda dos adultos para conduzir
esses jovens de modo a assegurar uma integraccedilatildeo ldquonormalrdquo agrave sociedade
Essa percepccedilatildeo segundo a autora se formou porque uma parte desses jovens que
apresentavam condiccedilotildees objetivas de se ajustarem agrave sociedade natildeo a fizeram o
que gerou anguacutestias quanto ao modelo de integraccedilatildeo social surgindo aiacute o processo
de ldquodemonizaccedilatildeordquo do ldquoRockrsquonrsquorollrdquo Esse entendimento com o tempo cede lugar ao
entendimento de ldquonormalidaderdquo desse desconforto juvenil como parte do processo
de integraccedilatildeo agrave sociedade Isto porque se passa a acreditar que se os jovens forem
bem conduzidos eles acabaratildeo por integrar-se agrave sociedade Desse modo a
percepccedilatildeo de juventude como transgressora se volta para os segmentos juvenis dos
ldquoanocircmalosrdquo para as quais se destinam accedilotildees de controle e ressocializaccedilatildeo
(ABRAMO 1997)
Jaacute nos anos de 1960 e parte dos anos de 1970 o problema surge como sendo de
toda uma geraccedilatildeo de jovens que passa a ameaccedilar a ordem social atraveacutes de uma
atitude criacutetica agrave ordem estabelecida por meio dos movimentos sociais e partidos
poliacuteticos de oposiccedilatildeo ao regime totalitaacuterio (ABRAMO 1997)
75
Eacute marcante a percepccedilatildeo de juventude nesse periacuteodo como portadora de grande
potencial de transformaccedilatildeo o que significava a uma certa parte significativa da
sociedade uma situaccedilatildeo de pacircnico da revoluccedilatildeo Segundo Abramo (1997 p 31)
esse medo era duplo ldquo[] por um lado o da reversatildeo do ldquosistemardquo por outro o
medo de que natildeo conseguindo mudar o sistema os jovens condenavam a si
proacuteprios a jamais conseguirem se integrar ao funcionamento normal da sociedade
[]rdquo
No Brasil segundo a autora eacute nesse momento que a questatildeo da juventude ganha
maior visibilidade justamente por conta do engajamento juvenil da classe meacutedia
essencialmente estudantes secundaristas e universitaacuterios o que resultou em formas
extremamente violentas de repressatildeo os jovens passam a ser perseguidos tanto
pelo comportamento (uso de drogas modo de vestir e outros) e tambeacutem por suas
accedilotildees e ideais poliacuteticos Abramo (1997) ressalta que mesmo para parte dos
segmentos descontentes com o sistema (esquerda e os agentes da ldquocontraculturardquo)
os jovens eram tidos como problema pois essas accedilotildees eram vistas como accedilotildees
pequeno-burguesas inconsequentes que ameaccedilavam um processo seacuterio de
negociaccedilotildees de transformaccedilatildeo gradual
Para a autora somente apoacutes o refluxo desses movimentos eacute que a imagem da
juventude inserida nesses processos de mobilizaccedilatildeo social eacute reelaborada de forma
positiva assim construiacuteda uma imagem idealista generosa dos Jovens dos anos 60
que ousou sonhar e lutar pela transformaccedilatildeo social Tal fato fixou segundo ela um
modelo ideal de juventude que se caracterizava por uma rebeldia transformadora
pelo idealismo a inovaccedilatildeo e a utopia como fatores inerentes dessa idade atributos
dessa categoria social (ABRAMO 1997)
Interessante obsevar que eacute em contraponto a essa imagem de juventude da deacutecada
de 1960 que o jovem dos anos 80 aparece individualista consumista conservadora
e indiferente aos assuntos puacuteblicos apaacutetica O problema agora passa a ser a
incapacidade da juventude em resistir agraves tendecircncias da ordem societal ldquo[] a
juventude aparece aqui como depositaacuteria de certo medo relativo ao ldquofim da Histoacuteriardquo
uma vez que nega seu papel como fonte de mudanccedilardquo (ABRAMO 1997 p 31)
76
A deacutecada de 1990 tambeacutem apresenta mudanccedilas quanto agrave percepccedilatildeo juvenil a visatildeo
de apatia e de desmobilizaccedilatildeo cede lugar agrave presenccedila juvenil nas ruas envolvida em
accedilotildees individuais e coletivas no entanto parte dessas accedilotildees continua sendo
relacionada como traccedilos do individualismo da fragmentaccedilatildeo social da violecircncia e
do desregramento e desvio O que mais aparece nesse momento eacute o jovem pobre
da periferia que aparece dividido entre o hedonismo e a situaccedilatildeo de risco social
para eles e a sociedade Tal associaccedilatildeo representa neste sentido uma retomada agraves
caracteriacutesticas identificadas como juvenis nos anos 50 que concentravam sua
atenccedilatildeo nos problemas de comportamento que levam ao processo de integraccedilatildeo
social que satildeo resultados de uma situaccedilatildeo anocircmala de falecircncias das instituiccedilotildees de
socializaccedilatildeo da cisatildeo entre os excluiacutedos e os integrados (ABRAMO 1997)
Os jovens aparecem aqui como viacutetimas e promotores desse processo de cisatildeo
social passando assim a serem depositaacuterios do medo e anguacutestias e por serem
percebidos como a encarnaccedilatildeo da impossibilidade de todos os dilemas e
dificuldades que a sociedade tem enfrentado Neste sentido como expressatildeo dessa
impossibilidade ldquo[] eles nunca podem ser vistos e ouvidos e entendidos como
sujeitos que apresentam suas proacuteprias questotildees para aleacutem dos medos e
esperanccedilas dos outros Permanecem assim na verdade semi-invisiacuteveis []rdquo
(ABRAMO 1997 p32) natildeo vistos e percebidos como agentes capazes de accedilatildeo
propositiva
Essa breve contextualizaccedilatildeo soacute ressalta o caraacuteter histoacuterico das concepccedilotildees de
juventude Por essa razatildeo Bourdieu (1983 p 113) afirmou que ldquo[] a juventude e a
velhice natildeo satildeo dados mas construiacutedos socialmente na luta entre os jovens e os
velhos
Carrano (2012) afirma que uma das caracteriacutesticas da atualidade principalmente
nas sociedades urbanas eacute que natildeo haacute limites precisos para as fronteiras
geracionais Isto porque haacute uma impossibilidade do jovem conseguir meios para se
tornar autocircnomo economicamente antes dos 30 anos ndash terminar os estudos
conseguir trabalho sair da casa dos pais constituir a proacutepria moradia e outros ndash a
perda dessa linearidade eacute um dos marcos da juventude contemporacircnea (CARRANO
2012)
77
No que se refere agrave construccedilatildeo da identidade o autor afirma que haacute maior autonomia
do jovem em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees sociais do ldquomundo adultordquo Para ele um dos
principais processos produtores de identidade hoje diz respeito agrave possibilidade de
escolha das diferenccedilas que o jovem quer ser reconhecido socialmente sem
desconsiderar o peso das estruturas e condicionamentos sociais Neste sentido a
identidade eacute mais uma escolha que uma imposiccedilatildeo e um papel importante das
instituiccedilotildees seria o de contribuir para que os jovens possam conscientemente
realizar suas trajetoacuterias Assim o jovem transita para o ldquomundo adultordquo dentro de um
contexto de uma sociedade produtora de riscos mas tambeacutem podendo
experimentar processos sociais com possibilidade de realizaccedilatildeo e apostas no futuro
(CARRANO 2012)
A aceleraccedilatildeo temporal segundo Carrano (2012) estaria criando uma nova
juventude que se desenvolve em contextos de novas alternativas de vida
resultantes do desenvolvimento cientiacutefico-tecnoloacutegico e de novos padrotildees culturais
entre as geraccedilotildees Contudo ele destaca que esse processo eacute limitado pela
globalizaccedilatildeo marcada por desigualdades de oportunidades pela fragilidade dos
viacutenculos institucionais Assim ldquo[] a velocidade contemporacircnea tem consequecircncias
marcantes natildeo soacute para a vida das instituiccedilotildees mas tambeacutem para construccedilotildees
biograacuteficas individuais que satildeo forccediladas a uma contiacutenua misturardquo (CARRANO 2012
p 235)
Outra caracteriacutestica da atualidade eacute que os jovens assumem o status de sujeitos de
direito embora ainda seja como horizonte desejado Como expressatildeo desse
fenocircmeno podemos citar a postergaccedilatildeo da inserccedilatildeo no mundo do trabalho a
expansatildeo da escola e todas as conquistas no plano das poliacuteticas para esses
segmentos Mesmo a condiccedilatildeo de sujeito de direito estar longe de atingir a maioria
dos jovens no Brasil esse modelo de vivecircncia do tempo da juventude existe
visivelmente no plano simboacutelico (CARRANO 2012)
Haacute uma tendecircncia agraves representaccedilotildees positivadas sobre a juventude que percebem
o jovem como soluccedilatildeo e natildeo como problema apesar de nunca pela via coletiva
sempre pela oacutetica individual Trata-se dos ldquojovens protagonistasrdquo ldquojovens
78
voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo ldquojovens empreendedoresrdquo
ldquojovens voluntaacuteriosrdquo entre outras denominaccedilotildees (CARRANO 2012 p 232)
Apesar dos avanccedilos a categoria social juventude ainda carrega representaccedilotildees
estigmatizadas que enxergam o jovem como problema social e por sua vez
estimulam respostas puacuteblicas de ldquo[] caraacuteter profilaacutetico tutelam corpos tempos e
espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves razotildees sentimentos e vivecircncias reais dos
sujeitos aos quais se destinam as poliacuteticasrdquo (CARRANO 2012 p 233)
Para Carrano (2012 p 231) haacute ldquo[] um abismo entre as concepccedilotildees e a praacutetica
entre as demandas por direitos manifestadas pelos jovens e as respostas na forma
de poliacuteticas puacuteblicas efetivas []rdquo Neste sentido as poliacuteticas de juventude para o
autor natildeo asseguram suportes para viver com dignidade o tempo da juventude
25 AS CONCEPCcedilOtildeES NAS POLIacuteTICAS DE JUVENTUDE
Pensaremos agora de que modo essas concepccedilotildees e conceitos interferem nas
poliacuteticas para os jovens Isto porque o conceito ldquo[] eacute a pedra angular do
conhecimento e da formulaccedilatildeo de poliacuteticas consistentes e coerentes com as
necessidades e demandas sociais que a requeremrdquo (PEREIRA 2009 p18)
Sposito e Carrano (2003) ressaltam que no Brasil haacute uma ausecircncia de estudos que
demonstrem como as accedilotildees destinadas para esse puacuteblico foram concebidas Mas
afirmam que essas concepccedilotildees satildeo perceptiacuteveis atraveacutes da reiteraccedilatildeo de algumas
imagens que de um modo geral satildeo marcadas pela visatildeo de juventude como
sintoma de problema com o foco na contenccedilatildeo e ocupaccedilatildeo do tempo livre Os
autores questionam ainda qual o real objetivo das poliacuteticas de juventude ldquo[] manter
a paz social ou preservar a juventude Controlar a ameaccedila que os segmentos
juvenis oferecem ou consideraacute-los como seres em formaccedilatildeo ameaccedilados pela
sociedade e seus problemas []rdquo (2003 p 19)
Para Leacuteon (2003) por traacutes de toda poliacutetica haacute uma concepccedilatildeo determinada dos
sujeitos a que se destinam bem como uma concepccedilatildeo de suas problemaacuteticas Para
79
ele haacute mesmo que de modo maniqueiacutesta uma percepccedilatildeo de que haacute um ldquojovem satildeordquo
e um ldquojovem estragadordquo sendo que boa parte das poliacuteticas de juventude estatildeo
impregnadas dessa segunda visatildeo
Para compreender melhor a influecircncia das concepccedilotildees nas poliacuteticas de juventude
vamos retomar as contribuiccedilotildees de Loic Wacquant (1994 2007) Para esse autor a
crise do capital no final dos anos 70 impactou profundamente as relaccedilotildees e
configuraccedilotildees no mundo do trabalho que colocou para o Estado a necessidade de
uma triacuteplice transformaccedilatildeo quais sejam a) mercantilizaccedilatildeo dos bens puacuteblicos e a
escalada do trabalho precaacuterio45 b) os descumprimentos dos esquemas de proteccedilatildeo
social que levou agrave substituiccedilatildeo do direito coletivo como recurso ao desemprego46 c)
o reforccedilo e a extensatildeo do aparelho punitivo principalmente nos bairros de periferia
(WACQUANT 2007 p 31)
Para o autor o Estado Keynesiano acoplado ao trabalho assalariado fordista (que
operava como um vetor de solidariedade) tinha por missatildeo contrapor-se aos ciclos
recessivos e proteger as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis reduzindo as desigualdades
mais gritantes Esse Estado foi sucedido por Estado neo-darwinista que se baseia
na competiccedilatildeo na responsabilidade individual e logo tem como contrapartida a
irresponsabilidade poliacutetica (WACQUANT 2007)
Eacute importante fazermos uma pequena pausa para problematizarmos as
configuraccedilotildees do Estado uma vez que natildeo concordamos com Wacquant (2007)
quando ele afirma que o Estado Keynesiano tinha por missatildeo proteger as
populaccedilotildees vulneraacuteveis Isto porque em nosso entendimento haacute uma relaccedilatildeo
orgacircnica entre o Estado e o capital47 e natildeo uma relaccedilatildeo de exterioridade uma vez
que
45
Essa estrateacutegia eacute muito visiacutevel nas poliacuteticas sociais como discutimos no capiacutetulo 1 atraveacutes do processo de refilantropizaccedilatildeo e a terceirizaccedilatildeo por meio das Parceria-puacuteblico-privadas 46
Essa estrateacutegia ganhou forccedila com as contribuiccedilotildees de Ronsavallon (1998) ao afirmar que o Estado deve converter-se num Estado de serviccedilos limitando-se a dar a cada um os meios especiacuteficos para modificar a sua vida que serviu de orientaccedilatildeo para o neoliberalismo 47
Para Mathias e Salama (1983) haacute uma sucessatildeo entre as categorias mercadoria valor dinheiro e capital e essa seacuterie ldquo[] enuncia simplesmente que cada uma das categorias ultrapassa a si mesma e nenhuma das categorias pode ser plenamente compreendida sem as anteriores (1983 p 23)rdquo poreacutem eacute preciso prosseguir na sucessatildeo das categorias pois o capital natildeo pode ser compreendido sem a categoria Estado
80
[] o capital como relaccedilatildeo social natildeo existe e natildeo pode existir sem o Estado Logicamente natildeo se pode conceber o capital como relaccedilatildeo social de exploraccedilatildeo que se estabelece entre indiviacuteduos livres e iguais se natildeo se considera a relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo impliacutecita a esta relaccedilatildeo Historicamente a constituiccedilatildeo desta relaccedilatildeo sua gecircnese e consolidaccedilatildeo natildeo pode ser concebida sem o concurso de uma instituiccedilatildeo que garanta esta relaccedilatildeo (NAKATANI1987 p 52)
Analisando a especificidade do Estado Keyneisiano Behring (2003) afirma que as
medidas propostas por Keynes tecircm por objetivo amortecer as crises ciacuteclicas do
capital e as poliacuteticas sociais fazem parte dessas estrateacutegias Outra medida eacute a
relaccedilatildeo com a forccedila de trabalho muito mais ligada agrave ldquo[] preservaccedilatildeo e o controle
da forccedila de trabalho ocupada e excedente eacute uma funccedilatildeo estatal de primeira ordem
[]rdquo (NETTO 2005 p 26) Na busca pela legitimidade emerge uma dinacircmica
contraditoacuteria no sistema estatal que natildeo exclui o tensionamento nas instituiccedilotildees
sociais a seu serviccedilo de modo que o atendimento agraves demandas dos trabalhadores
por parte do Estado natildeo significa que essa seja a sua tendecircncia natural e devemos
lembrar que essas respostas agraves demandas dos trabalhadores podem ser funcionais
ao interesse maior do capital monopoacutelico que a maximizaccedilatildeo dos lucros (NETTO
2005)
Desse modo entendemos que a funccedilatildeo do Estado Keynesiano natildeo era de proteger
as populaccedilotildees mais vulneraacuteveis mas sim que essa era uma das estrateacutegias de
funcionamento proacuteprio do Estado no capitalismo monopolista com a finalidade de
maximar os lucros48 Essa ressalva eacute importante pois podemos assim entender
que o processo que Wacquant (2007) descreve faz parte da crise civilizatoacuteria da
sociedade capitalista
Para Wacquant (2007 p 43) no momento atual do capital haacute um imbricamento
entre a poliacutetica social e a poliacutetica penal De um lado haacute uma ativaccedilatildeo de programas
para os desempregados os indigentes matildees solteiras e outros assistidos com a
finalidade de empurraacute-los para os setores perifeacutericos do mercado de trabalho e de
outro o desenvolvimento de uma rede policial e penal ampliada Esses satildeo os dois
Os autores afirmam que a categoria Estado eacute fundamental para entender a proacutepria instituiccedilatildeo da relaccedilatildeo de produccedilatildeo e apresentam para isto duas razotildees 1) o Estado eacute o garantidor da manutenccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo em geral 2) e atua decisivamente na no processo de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo dos capitais individuais 48
Para aprofundar o debate consultar Behring (2003)
81
componentes de um uacutenico dispositivo que tem por finalidade a gestatildeo da pobreza
de modo a retificar autoritariamente comportamentos das populaccedilotildees recalcitrantes
assegurando o expurgo ciacutevico dessa populaccedilatildeo considerada o incorrigiacutevel ou inuacutetil
O autor chama esse processo de ldquodramaturgia do trabalhordquo
[] Na era do assalariamento fragmentado e descontiacutenuo a regulaccedilatildeo das famiacutelias das classes populares natildeo passa mais apenas pelo braccedilo maternal e soliacutecito do Estado-Providecircncia ela se apoia tambeacutem no braccedilo viril e controlador do Estado penal A ldquodramaturgia do trabalhordquo natildeo eacute representada apenas nos palcos do escritoacuterio da assistente social ou na agecircncia de colocaccedilatildeo no mercado de trabalho ela tambeacutem desenvolve seus severos roteiros nos postos policiais nos corredores dos tribunais e agrave sombra das celas das prisotildees [] (2003 p 44)
Haacute assim uma relaccedilatildeo direta entre a assistecircncia focalizada e repressatildeo a
regulaccedilatildeo das classes populares atraveacutes das intervenccedilotildees do Estado representada
pelo direito ao trabalho educaccedilatildeo agrave sauacutede agrave assistecircncia social e agrave moradia
constituindo a ldquomatildeo esquerdardquo do Estado (expressatildeo emprestada de Bourdier)
sendo suplantada e suplementada pela regulaccedilatildeo de sua ldquomatildeo direitardquo que
administra a poliacutecia a justiccedila e a prisatildeo (WACQUANT 2003)
Iamamoto (2007) sustenta a tese de que na fase atual do capitalismo financeiro49 haacute
uma tentativa de naturalizaccedilatildeo da ldquoquestatildeo socialrdquo a partir de uma leitura de
ldquodisfunccedilatildeordquo ou ameaccedila agrave ordem social que resulta em propostas imediatas de
enfrentamento atraveacutes da atualizaccedilatildeo entre assistecircnciarepressatildeo com reforccedilo do
braccedilo coercitivo do Estado Assim a tese de Iamamoto (2007) caminha lado a lado
com a tese de Wacquant (2007)
Contudo Ianni (2004) ressalta que a unidade ndash assistencializaccedilatildeo e criminalizaccedilatildeo
no Brasil natildeo representa exatamente algo novo Esse traccedilo eacute tatildeo forte que o mesmo
autor em outro texto (WACQUANT 1994) chega a falar em ldquobrasilinizaccedilatildeordquo da
metroacutepole europeia e norte-americana Podemos dizer entatildeo que se trata de uma
49
Para a autora ldquoA expansatildeo monopolista provoca a fusatildeo entre capital industrial e bancaacuterio dando origem ao domiacutenio do capital financeiro []rdquo Assim para ela seguindo a interpretaccedilatildeo de Lecircnin e Hilferding a financerizaccedilatildeo eacute parte e resultado do processo do imperialismo monopoacutelico (IAMAMOTO 2007 p 100) Carcanholo e Nakatani (1999) afirmam que com a queda da taxa de lucro do capital este busca tambeacutem no processo de financerizaccedilatildeo atraveacutes do capital especulativo parasitaacuterio uma forma de recompor a taxa de lucro poreacutem o faz de forma que se aproprie da mais-valia mas natildeo contribui para a sua criaccedilatildeo como o capital industrial e as outras formas autonomizadas do capital Ele natildeo prescinde do processo produtivo para obter o lucro nem sob a forma de transferecircncia de valor
82
reatualizaccedilatildeo50 das formas de enfrentamento da questatildeo social
Por essa razatildeo entendemos que se trata de um processo de naturalizaccedilatildeo da
questatildeo social e de criminalizar o pobre (IAMAMOTO 2007 NETTO BRAZ 2006
WACQUANT 2007)
O termo criminalizaccedilatildeo da pobreza tem origem no conceito de ldquoclasses perigosasrdquo
Esse conceito surge na fase concorrencial do capitalismo como desdobramento da
nascente questatildeo social expressando o fenocircmeno do pauperismo a pobreza dos
trabalhadores Leite (2008) afirma que ateacute esse periacuteodo a pobreza estava
relacionada ou a inexistecircncia de trabalho ou agrave suposta decisatildeo pessoal de natildeo
trabalhar mas essa nova pobreza do seacuteculo XIX tinha como origem ldquo[] natildeo a
ausecircncia de trabalho mas no proacuteprio trabalho industrialrdquo (LEITE 2008 p 218) Os
trabalhadores estavam cobertos com os sinais da miseacuteria (LEITE 2008) Esse
empobrecimento massivo segundo o autor era encarado como um fator de perigo
sendo percebido como uma forma de degradaccedilatildeo moral e corrupccedilatildeo das faculdades
mentais estabelecendo-se uma relaccedilatildeo que natildeo fazia diferenccedila entre o homem
trabalhador pobre e criminoso Oliveira (2010) afirma que no Brasil os preceitos
dessa percepccedilatildeo de ldquoclasse perigosardquo se mostram desde o periacuteodo da escravidatildeo
mas ganha maior densidade a partir do movimento higienista no seacuteculo XX que
culminam na redefiniccedilatildeo dos papeis da famiacutelia da crianccedila da mulher da cidade e
dos pobres51
Para Ianni (1991) haacute duas tendecircncias de naturalizaccedilatildeo da questatildeo social uma que
tende a transformar as manifestaccedilotildees da questatildeo social em problemas de
assistecircncia social e outra que tenta relacionar essas manifestaccedilotildees em questotildees de
violecircncia e caos que resulta em seguranccedila e repressatildeo As duas explicaccedilotildees
segundo ele natildeo necessariamente andam separadas muitas vezes operam em
conjunto uma vez que satildeo acionados pelos mesmos interesses dominantes com o
objetivo de manter a ldquopaz socialrdquo ou a ldquolei e a ordemrdquo Para ele
Quando se criminaliza o ldquooutrordquo isto eacute um amplo segmento da sociedade
50
Como jaacute discutido antes esse eacute um dos mitos fundadores da sociedade brasileira (CHAUIacute 2006) 51
Para outras informaccedilotildees consultar Netto (2005) Leite (2008) e Oliveira (2010)
83
civil defende-se mais uma vez a ordem social estabelecida Assim as desigualdades sociais podem ser apresentadas como manifestaccedilotildees inequiacutevocas de ldquofatalidadesrdquo ldquocarecircnciasrdquo ldquoheranccedilardquo quando natildeo ldquoresponsabilidadesrdquo daqueles que dependem de medidas de assistecircncia previdecircncia seguranccedila ou repressatildeo (IANNI 1991 p 7)
Para Netto (2005 p 45) ldquo[] ao naturalizar a sociedade a tradiccedilatildeo em tela eacute
compelida a buscar uma especificaccedilatildeo do ser social que soacute pode ser encontrada na
esfera moral []rdquo culminando para o processo de psicologizaccedilatildeo do social Neste
sentido nos questionamos se e em que medida o processo contemporacircneo de
naturalizaccedilatildeo da questatildeo social impotildee uma saiacuteda soacute encontrada na esfera moral
para a compreensatildeo da juventude na fase atual do capital
Analisando a emergecircncia das poliacuteticas sociais no capitalismo monopolista Netto
(2005) afirma que o caraacuteter de psicologizaccedilatildeo da ordem monopoacutelica ultrapassa a
responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por seu destino social implicando tambeacutem em novo
tipo de relacionamento entre os sujeitos e as instituiccedilotildees sendo que essas para o
autor ldquo[] oferecem e executam desde a induccedilatildeo comportamental ateacute os conteuacutedos
econocircmico-sociais mais salientes [] num exerciacutecio que se constitui em verdadeira
lsquopedagogiarsquo psicossocial voltada para sincronizar as impulsotildees individuais e os
papeis sociais propiciadas aos protagonistasrdquo (2005 p 42) Esse processo caminha
para a conversatildeo dos problemas sociais em patologias sociais o que requer o
ldquotratamentordquo dos afetados pelas refraccedilotildees da questatildeo social como individualidades
sociopaacuteticas (NETTO 2005)
Tais anaacutelises mostram as instituiccedilotildees que executam as poliacuteticas sociais como
espaccedilos importantes de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais mas tambeacutem como um
loacutecus na construccedilatildeo da hegemonia52 e do consenso em nosso entendimento
podendo funcionar como um instrumento natildeo soacute de explicitaccedilatildeo da violecircncia
estrutural mas tambeacutem de construccedilatildeo e legitimaccedilatildeo dessa violecircncia colaborando
para o processo de criminalizaccedilatildeo da juventude
Eacute importante destacar que para Wacquant (1994) haacute um grande espectro entre a
criminalizaccedilatildeo num extremo a repressatildeo e em outro a politizaccedilatildeo do problema
Segundo ele na Franccedila houve maior politizaccedilatildeo sendo que no Reino Unido ela
52
Para discutir o conceito consultar Gramsci (2004)
84
aconteceu parcialmente e nos Estados Unidos ela foi totalmente despolitizada que
resulta nos dados apresentados por ele em punir os Pobres (WACQUANT 2003)
O autor expotildee trecircs alternativas hoje apresentadas pelo Estado que natildeo se excluem
1- remendo dos programas sociais 2- alternativa que ele chama de repressiva e
regressiva ndash o confinamento dos pobres em bairros isolados e estigmatizados e a
penitenciaacuteria do outro 3- alternativas de intervenccedilatildeo do Estado que ele chama de
inovaccedilotildees radicais ndash o salaacuterio cidadatildeo
Deste modo tanto as anaacutelises de Wacquant (2003) quanto de Iamamoto (2007)
sinalizam para uma retomada repressora do enfrentamento da ldquoquestatildeo socialrdquo no
Brasil uma vez que para noacutes brasileiros natildeo houve um Estado de Bem-Estar-
Social53 fato que evidencia uma fratura entre as forccedilas produtivas do trabalho social
e as relaccedilotildees que a impulsionam ldquo[] traduzindo na banalizaccedilatildeo da vida humana na
violecircncia escondida do fetiche do dinheiro e da mistificaccedilatildeo do capital ao impregnar
todos os espaccedilo e esferas da vida socialrdquo (IAMAMOTO 2007 p 144) Para a autora
o alvo principal satildeo aqueles que soacute dispotildeem de sua forccedila de trabalho para
sobreviver o que inclui os idosos as mulheres e as novas geraccedilotildees de
trabalhadores
Uma primeira observaccedilatildeo que podemos fazer relacionando os estudos de Wacquant
(2007) nos Estados Unidos com a realidade brasileira estaacute no caraacuteter histoacuterico da
questatildeo social no Brasil como afirmou Ianni (1991 p 09) ldquosim a histoacuteria da
questatildeo social no Brasil pode ser vista como a histoacuteria das formas de trabalho com
uma reiterada apologia do trabalho Essa eacute uma pedagogia anta cotiacutenua e presente
[]rdquo Ou seja se haacute um viacutenculo orgacircnico entre a questatildeo social e as formas de
trabalho no Brasil tambeacutem haacute relaccedilatildeo entre as mudanccedilas no mundo do trabalho no
paiacutes e a questatildeo social na contemporaneidade
Outro ponto crucial que merece destaque se refere ao encarceramento pois
identificamos os dados com certa proximidade Segundo Batista (2007 p41) houve
53
Por jaacute termos discutido no capiacutetulo 1 a questatildeo do Estado de Bem Estar Social natildeo retomaremos o assunto Para aprofundar a temaacutetica consultar Behrinhg e Boschetti (2007) Pereira (2002) e Pereira (2009)
85
uma impressionante expansatildeo do encarceramento no Brasil a partir de 2000 como
podemos observar no graacutefico abaixo que faz com que a autora afirme ldquo[] que essa
demanda nunca vista de aprisionamento faz parte do paradigma neoliberal de
gestatildeo socialrdquo
GRAacuteFICO 1 - EVOLUCcedilAtildeO DA POPULACcedilAtildeO CARCERAacuteRIA POR SEXO NO BRASIL Fonte Portal do IPEA Olhando os dados sobre o encarceramento mais de perto percebemos que a maior
parte da populaccedilatildeo carceraacuteria eacute composta por jovens
Faixa Etaacuteria
Periacuteodo
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
18 a 24 anos 55193 78658 99723 117931 127386 129330 132768
25 a 29 anos 43277 63260 81085 97711 105471 111135 116330
30 a 34 anos 27653 40132 52740 64762 69384 74370 82572
35 a 45 anos 24718 37103 47001 56242 60000 66585 75355
46 a 60 anos 9584 14654 18851 22224 22700 25447 27454
Mais de 60 anos
1350 2263 3106 3554 3897 4396 4524
Natildeo Informado
-- 234 1034 10594 8924 4533 4833
QUADRO 4 - Evoluccedilatildeo do Perfil Etaacuterio do Preso no Brasil no periacuteodo de 2005 a 2011 Fonte Relatoacuterio Infopen ndash Sistema de Integrado de Informaccedilotildees Penitenciaacuterias dos anos 2005 agrave 2011 Poreacutem cabe ressaltar que os dados apresentados natildeo mostram que a juventude eacute
violenta mas sim que o encarceramento se tornou uma estrateacutegia de accedilatildeo para
86
lidar com a populaccedilatildeo jovem O controle social da juventude se articula com o
discurso do soacutecio-meacutedico-juriacutedico entre a falta de demonizaccedilatildeo principalmente do
jovem pobre e afrodescendente que aparece como representaccedilatildeo daquele que cairaacute
no crime necessitando assim ser contido ou pela poliacutecia ou pela caridade ou pelos
dois (BATISTA 2007)
Batista (2007) afirma ainda que todo esse processo de encarceramento produziu
uma nova economia prisional como um sistema de controle social do tempo livre
que eacute lucrativo natildeo soacute pela apropriaccedilatildeo do trabalho dos presos mas tambeacutem pela
privatizaccedilatildeo de sua administraccedilatildeo e a induacutestria do controle social do crime
(BATISTA 2007)
Eacute inegaacutevel e triste constatar que tal mecanismo de encarceramento atinge de forma
brutal a juventude isto porque eacute sobre a juventude que pesam as maiores
mudanccedilas no mundo do trabalho Eacute sobre os jovens que recaem o tiacutetulo de inuacuteteis
para o mundo logo eacute sobretudo para esse puacuteblico que eacute preciso criar meacutetodos e
formas para mantecirc-los sob controle por meio de um ldquo[] adequado do que um
discurso juriacutedico que conjuga liberalismo poliacutetico com as permanecircncias absolutistas
e os paradigmas inquisitoriais []rdquo (BATISTA 2007 p 42) Contudo o discurso eacute
tatildeo bem elaborado e recebido pela sociedade que a juventude pobre acaba sendo
considerada violenta e natildeo como o que eacute realmente viacutetima da violecircncia
Retomando a fala do iniacutecio do capiacutetulo de Miguel Abad (2003) ldquoquem define o
problema define tambeacutem as suas estrateacutegias de soluccedilatildeordquo cabe pensar agora como
todo esse espectro impacta as poliacuteticas de juventude
Sposito e Carrano (2003) afirmam que as accedilotildees destinadas aos jovens exprimem
representaccedilotildees normativas construiacutedas socialmente sobre esse puacuteblico ou
dito de outra forma a conformaccedilatildeo das accedilotildees e programas puacuteblicos natildeo sofre apenas os efeitos de concepccedilotildees mas pode ao contraacuterio provocar modulaccedilotildees nas imagens dominantes que a sociedade constroacutei sobre seus sujeitos jovens Assim as poliacuteticas puacuteblicas de juventude natildeo seriam apenas o retrato passivo de formas dominantes de conceber a condiccedilatildeo juvenil mas poderiam agir ativamente na produccedilatildeo de novas representaccedilotildees (SPOSITO CARRANO 2003)
87
Complementando essa anaacutelise Abramo (1997) assegura que natildeo eacute por acaso que a
problematizaccedilatildeo da juventude vem sempre presidida do medo que segundo ela eacute
uma ldquo[] categoria social frente agrave qual se pode (ou deve) tomar atitudes de
contenccedilatildeo intervenccedilatildeo ou salvaccedilatildeo mas com a qual eacute difiacutecil estabelecer uma
relaccedilatildeo de troca de diaacutelogo de intercacircmbiordquo (ABRAMO 1997 p 30)
Recapitulando a discussatildeo feita no capitulo anterior sobre as poliacuteticas de juventude
identificamos que dos dezoito54 programas apresentados no Guia de Poliacuteticas de
Juventude apenas seis se destinam especificamente aos jovens Projeto Soldado
Cidadatildeo Pronaf Jovem Juventude e Meio Ambiente Programa de Ampliaccedilatildeo do
Bolsa Famiacutelia Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania e o Projovem Isso
pode sinalizar que ainda haacute uma confusatildeo entre adolescecircncia e juventude se
compararmos o numero de accedilotildees para os dois puacuteblicos que eacute significativamente
menor para os jovens
Outro aspecto importante que jaacute discutimos anteriormente se refere agrave fragmentaccedilatildeo
da poliacutetica natildeo se constituindo como uma poliacutetica universal mas como um conjunto
de accedilotildees e programas juvenis que tendem a operacionalizar e programatizar o
discurso descrito acima do ldquojovem estragadordquo Para isso ldquo[] basta pensar na oferta
puacuteblica governamental orientada agraves ldquotemaacuteticas juvenisrdquo como o consumo abusivo de
drogas iliacutecitas a seguridade cidadatilde e seu correlato na delinquecircncia Mas
exatamente ainda na direccedilatildeo dos sujeitos jovens populares []rdquo (LEacuteON 2003 p
80)
Importante ressaltar que mesmo que o discurso oficial natildeo apresente a delinquecircncia
como uma questatildeo central ela pode aparecer no conteuacutedo das accedilotildees desenvolvidas
nos programas e accedilotildees nas capacitaccedilotildees para as equipes teacutecnicas quando o
controle social do tempo aparece como fundamental
Para Sposito et al (2006) nem mesmo a recente discussatildeo em torno do
empregodesemprego consegue romper a loacutegica do combate ao traacutefico que
54
Consultar Quadro 2 do capiacutetulo 1
88
arrebanha os jovens desocupados assim o tempo livre dos jovens aparece como
sintoma de perigo principalmente se vir associado ao jovem negro e pobre
Haacute uma visatildeo mesma que impliacutecita nos programas de juventude que entende que
o puacuteblico juvenil precisa ter o tempo ocupado seja com trabalho com os programas
sociais pois caso contraacuterio eles estariam expostos agrave criminalidade Essa eacute a razatildeo
pela qual deve se construir programas sociais para a juventude ocupaacute-los para
desse modo retiraacute-los das situaccedilotildees de risco em que jaacute se encontram (SPOSITO et
al 2006)
Os autores citados acima analisando as poliacuteticas de juventude em 74 municiacutepios no
Brasil verificaram que o objetivo principal dessas accedilotildees estaacute voltado para o
acompanhamento e reinserccedilatildeo social (209) e a segunda maior satildeo os programas
de cultura (192) e em terceiro lugar vecircm as atividades ligadas ao mundo do
trabalho (146) com propostas que vatildeo desde o adiamento na entrada do jovem
no mercado de trabalho ateacute a sua profissionalizaccedilatildeo Para os autores o desemprego
comeccedila a tomar conta da pauta nos municiacutepios (SPOSITO et al 2006)
Acreditamos que tal questatildeo jaacute tomou conta das discussotildees municipais nas poliacuteticas
de juventude
Outro aspecto importante observado na pesquisa citada eacute parte significativa
constatado que os usuaacuterios natildeo satildeo partiacutecipes na construccedilatildeo dessas poliacuteticas Os
autores sinalizam para uma falta de abertura para essa possibilidade de construccedilatildeo
(SPOSITO et al 2006)
No entanto eacute preciso considerar que parte significativa dessas poliacuteticas satildeo
realizadas nos municiacutepios mas satildeo gestadas na esfera federal e repassadas agraves
esferas municipais para que sejam executadas dentro dos moldes jaacute preacute-
estabelecidos Tudo isso como parte do processo de descentralizaccedilatildeo que foi
discutida no capiacutetulo 1 Mas a observaccedilatildeo dos autores eacute importante pois se os
jovens natildeo podem interferir e contribuir no processo de construccedilatildeo das poliacuteticas de
juventude haveraacute sempre o risco de essas poliacuteticas carregarem concepccedilotildees
equivocadas sobre a juventude e uma primeira delas eacute preciso construir para a
juventude e natildeo com ela
89
Outro item que precisa ser analisado com cuidado satildeo as condicionalidades
impostas aos jovens pela maioria dos programas As exigecircncias variam da
frequecircncia agrave escola capacitaccedilotildees e em alguns casos na implementaccedilatildeo de projetos
de intervenccedilatildeo nas comunidades em que residem E cumprindo essa contrapartida
os jovens recebem o pagamento de um benefiacutecio social por meio da transferecircncia
de renda Para Sposito et al (2006) fica claramente perceptiacutevel a imagem do jovem
relacionada com os problemas sociais (fonte e viacutetima dos problemas sociais) e ao
mesmo tempo como protagonista do desenvolvimento local de sua comunidade
E para essa primeira imagem satildeo pensados em projetos sociais em especial os
programas de integraccedilatildeo social depois que esse jovem (pouco escolarizado sem
trabalho fragilmente vinculado agrave famiacutelia e agrave sociedade) eacute estimulado a contribuir
para a melhoria das condiccedilotildees sociais de sua comunidade (SPOSITO et al 2006)
Fato que nos coloca a questatildeo por que essa exigecircncia apenas para o jovem pobre
Por que os jovens inseridos nas escolas teacutecnicas federais ou nas universidades
puacuteblicas que tambeacutem usufruem de serviccedilos puacuteblicos tambeacutem natildeo satildeo submetidos agrave
mesma contrapartida comunitaacuteria (SPOSITO et al 2006)
Carrano (2012) reconhece que essas classificaccedilotildees de jovens (ldquojovens
protagonistasrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo ldquojovens agentes do desenvolvimento localrdquo
ldquojovens empreendedoresrdquo ldquojovens voluntaacuteriosrdquo) satildeo percepccedilotildees positivadas que
comportam boas intenccedilotildees Contudo para ele elas satildeo tambeacutem formas de ldquo[]
pedagogizaccedilatildeo da participaccedilatildeo de jovens na direccedilatildeo do controle social e do
ajustamento E isto ocorreu em comunidades que necessitavam elaborar agendas
conflitivas para superar suas contradiccedilotildees []rdquo (CARRANO 2012 p 233)
No que se refere agrave transferecircncia de renda citada acima Stein (2008) destaca que na
Ameacuterica Latina os programas de transferecircncia entram como substituto da ausecircncia
de rendimentos provocada pelo desemprego ou o emprego precarizado o que
confirma segundo a autora a centralidade do indiviacuteduo e a responsabilizaccedilatildeo da
sociedade fato que evidencia a afirmativa anterior
90
Tais questotildees inscritas no processo sociocultural de construccedilatildeo da concepccedilatildeo de
juventude no Brasil ldquo[] alicerccedilada no medo e na percepccedilatildeo de que os jovens
pobres satildeo potencialmente perigosos e constituem um problema para a sociedade
tornam ainda mais intrigantes as accedilotildees puacuteblicas que tecircm como meta transferir renda
para eles []rdquo (SPOSITO CORROCHANO 2005 p 21) por isso a necessidade de
submeter tais poliacuteticas agrave critica
No que se refere agrave condicionalidade de obrigatoriedade da matriacutecula na escola
puacuteblica Sposito et al (2006) nos convida a analisarmos com cuidado uma vez que
os jovens usuaacuterios dos programas sociais voltados para a juventude satildeo os
mesmos que foram precocemente excluiacutedos da escola (seja por distorccedilatildeo de seacuterie
idade ou outro fator) Logo a mera exigecircncia de retorno agrave mesma escola que natildeo foi
capaz de lidar com essas situaccedilotildees eacute no miacutenimo manter os processos de
segregaccedilatildeo (SPOSITO et al 2006) Segundo os autores podemos constatar duas
consequecircncias desse fato uma eacute o paralelismo das atividades de caraacuteter
socioeducativo que natildeo se articula com a rede puacuteblica de ensino e a outra eacute a total
ausecircncia das poliacuteticas de educaccedilatildeo que se articulem com os programas sociais para
a juventude de modo a redefinir o tipo de proposta de escolaridade adequada a
esses jovens (SPOSITO et al 2006)
Eacute importante mostrar ainda a tendecircncia de valorizaccedilatildeo da socioeducaccedilatildeo contidas
nos programas que natildeo eacute acompanhada das justificativas que induzem a essa
adesatildeo indicando haver uma deficiecircncia nos sistemas de ensino natildeo soacute no campo
pedagoacutegico mas tambeacutem na funccedilatildeo socializadora da escola que natildeo formaria para
a cidadania55 (SPOSITO et al 2006) fato que estaria criando segundo esses
autores uma via paralela de educaccedilatildeo natildeo-escolar para jovens pobres o que os
leva a questionar se essa via estaria oferecendo uma proposta melhor que a rede
puacuteblica Sendo a resposta afirmativa por que natildeo articulaacute-la com o sistema de
ensino Se a resposta eacute negativa nos faz crer que trata-se apenas de ocupar o
tempo livre dos jovens dos bairros pobres
55
A cidadania como eacute tratada aparece como um conceito muito mais ligado a uma ideia de atividade socializadora com ecircnfase no civismo e no aprendizado de certos valores importantes para essa civilidade o que acaba esvaziando os conteuacutedos da cidadania ligados agrave ideia de direitos prevalecendo a pressuposiccedilatildeo de que jovens e adolescentes pobres - precisam ser atingidos por alguma accedilatildeo que lhes ensine algo (SPOSITO et al 2006)
91
Para Pais (2003) um dos problemas que mais afetam a juventude se relaciona a
dificuldade de inserccedilatildeo no mundo do trabalho que resulta em uma seacuterie de outros
problemas para esse jovem e sua famiacutelia Outra questatildeo eacute a exigecircncia do mercado
do aumento da escolarizaccedilatildeo e da formaccedilatildeo escolar o que explica o grande nuacutemero
de programas e projetos voltados para o segmento juvenil que tem como objetivo
aumentar o niacutevel de escolaridade e a inserccedilatildeo no mercado de trabalho
Natildeo estamos negando com isto o direito agrave educaccedilatildeo dos jovens e o princiacutepio de
emancipaccedilatildeo que a educaccedilatildeo comporta mas apenas alertando para um diagnoacutestico
errado que sinaliza para soluccedilotildees equivocadas pois ldquo[] a crenccedila de que o
problema eacute conjuntural pode conduzir a poliacuteticas puacuteblicas focalizadas e de natureza
filantroacutepica ou de ldquoadministraccedilatildeo e controle da pobrezardquo sem atentar para poliacuteticas
que atacam as estruturas produtoras da desigualdaderdquo (FRIGOTTO 2004 p194)
Natildeo podemos deixar de tratar ainda sobre a questatildeo dos instrutores A pesquisa
apresentada por Sposito et al (2006) afirma que as atividades em geral satildeo
realizadas com um base material precaacuteria e com baixa formaccedilatildeo teacutecnica ou mesmo
escolar que sempre inclui palestras cursos e oficinas Em alguns casos os
programas propotildeem uma formaccedilatildeo geral voltada para a cidadania e outra com foco
no aprendizado de habilidades para o mercado do trabalho
Partindo do que foi apresentado pela pesquisa de Sposito et al (2006) haacute duas
grandes orientaccedilotildees em torno do adolescente pobre e outra em torno do jovem
pobre Para os autores apoacutes anos de promulgaccedilatildeo do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente jaacute satildeo visiacuteveis os avanccedilos que fazem com que os direitos da crianccedila
independente de sua condiccedilatildeo social (ter uma famiacutelia agrave escola sauacutede proteccedilatildeo do
Estado) sejam reconhecidos socialmente mesmo que ainda precisem ser
disputados mas jaacute satildeo reconhecidos Contudo o mesmo natildeo acontece com os
jovens pobres pois para eles eacute impelida uma imagem que impede o
reconhecimento social de seus direitos para esses satildeo reservadas as accedilotildees de
inserccedilatildeo social compensatoacuterias e alto teor socioeducativo esses satildeo chamados
segundo os autores de adolescentes pobres que continuam a ocupar o natildeo-lugar e
soacute se tornam visiacuteveis pela ameaccedila ou pelo risco provocados na sociedade Aos
92
outros que mesmo minimamente podem usufruir de alguns direitos o termo jovem
passa a ser fortemente aplicado (SPOSITO et al 2006)
Percebemos assim que as poliacuteticas de juventude estatildeo fortemente marcadas pelas
concepccedilotildees de juventude mas sobretudo pelas concepccedilotildees sobre os jovens
pobres
Para que as poliacuteticas de juventude se transformem em poliacuteticas para a juventude eacute
preciso sair desse ciclo de vitimizaccedilatildeocriminalizaccedilatildeo voluntariadoencerramento ou
prevenccedilatildeorepressatildeo (BATISTA 2007) Para isso eacute necessaacuterio transformar esses
problemas sociais da juventude em problemas socioloacutegicos Esse eacute um exerciacutecio de
interrogaccedilatildeo que gera como produto a incerteza de afirmaccedilotildees antes dadas como
inquestionaacuteveis Sem o questionamento a juventude se torna um quase lsquomitorsquo e
para esse mito eacute necessaacuterio ldquopenetrar no cotidiano do jovemrdquo e questionar ldquo[]
sentiratildeo os jovens estes problemas como seus problemasrdquo (PAIS 2003 p34)
Mas sobretudo eacute preciso dotar de precisotildees conceituais acerca do tema juventude
de modo a iluminarmos os processos de construccedilatildeo de marcos poliacuteticos em
coerecircncia com os marcos conceituais os discursos e programaacuteticas deixando de
conceber aos jovens sobre ldquo[] a noccedilatildeo de um jovem problema e carente visatildeo
que tende agrave geraccedilatildeo de um determinado tipo de poliacutetica de juventude de natureza
compensatoacuteriardquo (LEacuteON 2003 p88)
Avanccedilar nas concepccedilotildees de juventude natildeo significa superar todos os limites das
poliacuteticas sociais de juventude mas pode resultar em poliacuteticas que se efetivem em
direitos que se concretizaram na satisfaccedilatildeo das necessidades sociais dos jovens
93
CAPIacuteTULO 3 - PROJOVEM TRABALHADOR ACcedilOtildeES E CONCEPCcedilOtildeES
ldquoA juventude brasileira eacute uma juventude trabalhadorardquo 56
31 JUVENTUDE E TRABALHO
O Censo de 2010 mostrou que haacute no Brasil uma populaccedilatildeo de 15 a 29 anos de 50
milhotildees de jovens aproximadamente em torno de 25 da populaccedilatildeo total Esse
ldquobocircnus demograacuteficordquo (quando o peso da populaccedilatildeo economicamente ativa eacute maior
que o da populaccedilatildeo dependente) representa um importante ativo para economia do
paiacutes (BRASIL 2013) No entanto dados estatiacutesticos tecircm mostrado - como veremos
adiante - que natildeo temos aproveitado esse ldquobocircnusrdquo que parte significativa do
desemprego recai sobre a juventude e parte das poliacuteticas voltadas para a juventude
tem como foco sanar ou minorar esse problema e o ProJovem Trabalhador eacute um
desses por essa razatildeo discutiremos nesse capiacutetulo as relaccedilotildees entre trabalho e
juventude
O trabalho57 eacute a base da sociabilidade humana pois eacute atraveacutes dele que o ser
humano desenvolve sua capacidade de criar bens para atender suas necessidades
individuais e sociais o que o coloca como central na reproduccedilatildeo do ser social jaacute que
a condiccedilatildeo da existecircncia humana estaacute na ldquo[] satisfaccedilatildeo material das necessidades
dos homens e mulheres que constituem a sociedade []rdquo (NETTO e BRAZ 2006 p
30) podendo ser as necessidades essenciais para a sobrevivecircncia ou as novas
necessidades que surgem criadas no desenvolver das sociedades
56
Brasil 2010 Ministeacuterio do Trabalho Siacutentese da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude 57
Entendemos trabalho como a condiccedilatildeo de existecircncia do homem independente de todas as formas de sociedade eterna necessidade natural de mediaccedilatildeo do metabolismo entre homem e natureza e portanto da vida humana (MARX 2003) Ao longo da histoacuteria o trabalho vai se metamorfoseando e agrave medida que o homem vai transformando a natureza transforma a si mesmo e humaniza a natureza acumulando exigecircncias e necessidades que complexificam e diversificam os processos ldquo[] assim no seu desenvolvimento ele produz objetivaccedilotildees que embora relacionadas ao processo de trabalho dele se afastam progressivamente - objetivaccedilotildees crescentemente ideais []rdquo (NETTO BRAZ 2006 40) Isto faz com que a relaccedilatildeo humano-natureza se desloque para a relaccedilatildeo entre humanos o que substitui a dominaccedilatildeo da natureza pela dominaccedilatildeo entre os seres humanos ldquoO novo sujeito eacute agora um sujeito social que domina um novo objeto outros seres humanos Surge a alienaccedilatildeo do trabalhordquo (NAKATANI 2000 p7)
94
Assim o trabalho eacute de suma importacircncia para a constituiccedilatildeo do ser social58 por sua
capacidade teleoloacutegica pois ldquo[] antes de efetivar a atividade do trabalho o sujeito
prefigura o resultado de sua accedilatildeo []rdquo (NETTO BRAZ 2006 p32) Mas tambeacutem por
sua capacidade de realizaccedilatildeo da praacutexis59 de transformaccedilatildeo de seu sujeito ativo
uma vez que o trabalho assume uma dupla dimensatildeo a da necessidade e da
liberdade sendo que a primeira estaacute subordinada agraves necessidades imperativas do
ser histoacuterico-natural ldquo[] eacute a partir da resposta a essas necessidades imperativas
que o ser humano pode fruir do trabalho propriamente humano - criativo e livrerdquo
(FRIGOTTO 2001 p 74)
Para Frigotto (2001) o trabalho constitui-se em um direito e um dever Um dever a
ser aprendido aprendizado que se inicia desde a infacircncia trata-se de apreender que
o ser humano precisa elaborar a natureza e transformaacute-la em bens para satisfazer
as necessidades vitais bioloacutegicas sociais culturais e outras mas eacute tambeacutem um
direito pois ldquo[] eacute por ele que pode recriar reproduzir permanentemente sua
existecircncia humana Impedir o direito ao trabalho mesmo em sua forma de trabalho
alienado60 sob o capitalismo eacute uma violecircncia contra a possibilidade de produzir
minimamente a vida []rdquo (FRIGOTTO 2001 p 74)
Neste sentido defender o emprego dos jovens eacute buscar assegurar o direito de
sobrevivecircncia desse segmento populacional Quando falamos em sobrevivecircncia nos
referimos natildeo agrave reproduccedilatildeo material mas tambeacutem agrave necessidade social de estar
inserido no mundo do trabalho uma vez que a identidade de trabalhador ainda eacute um
valor baacutesico em nossa sociedade (LEITE 2003 p 156) e para a juventude esse
58
ldquo[] O indiviacuteduo social eacute um produto histoacuterico [] fruto de condiccedilotildees e relaccedilotildees sociais particulares e ao mesmo tempo criador da sociedade e natildeo um dado da naturezardquo (IAMAMOTO 2007 p 347) 59
ldquo[] A praacutexis compreende ndash aleacutem do momento laborativo ndash tambeacutem o momento existencial ela se manisfesta tanto na atividade objetiva do homem que transforma a natureza e marca com sentido humano os materiais naturais como na formaccedilatildeo da subjetividade humanardquo [] (KOSIK 2002 p 224) 60
A concepccedilatildeo marxiana de trabalho que o entende como uma unidade contraditoacuteria ndash trabalho concreto e trabalho abstrato (alienado) Trabalho concreto uacutetil ou trabalho vivo eacute o trabalho que cria valor de uso sendo que este eacute necessaacuterio agrave existecircncia de qualquer sociedade logo em toda sociedade haveraacute trabalho concreto Jaacute o Trabalho abstrato eacute uma especificidade da sociedade capitalista e eacute criador de valor de troca (MARX 1985) Para Netto e Braz (2006 p 105) ldquo[] quando o trabalho eacute reduzido agrave condiccedilatildeo de trabalho em geral tem-se o trabalho abstratordquo
95
valor tem um peso ainda maior pois o ingresso no mercado de trabalho61
tradicionalmente constitui-se em um marco de passagem da juventude para o
ingresso no mundo adulto (CORRACHANO 2012)
Contudo como lembra Corrachano (2012) as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas entre os jovens que entre os adultos em diferentes paiacuteses e momentos
histoacutericos mesmo em conjunturas de crescimento ou de retraccedilatildeo sendo que em
periacuteodos de recessatildeo as taxas de desemprego juvenis se elevam mais rapidamente
que a dos adultos e nos momentos de expansatildeo diminuem mais lentamente
(CORRACHANO 2012)
As transformaccedilotildees do capitalismo nas uacuteltimas deacutecadas resultaram em mutaccedilotildees no
mundo do trabalho62 que reforccedilam a realidade descrita acima e tornaram mais
complexa a relaccedilatildeo juventude e trabalho uma vez que os jovens satildeo mais
fortemente atingidos pelo desemprego e a precarizaccedilatildeo63 dos postos de trabalho
Corrachano (2012) destaca que as manifestaccedilotildees ocorridas na Europa em especial
na Franccedila e Espanha no Egito e outros paiacuteses aacuterabes que foram mobilizadas pela
juventude motivada pelas altas taxas de desemprego juvenil satildeo expressotildees da
realidade na qual a juventude estaacute inserida (CORRACHANO 2012)
61
A reificaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais capitalistas que fazem com que as relaccedilotildees entre as mercadorias assumam caracteriacutesticas de relaccedilotildees sociais pode ser expresso no caso em estudo no uso do termo ldquomercado de trabalhordquo que aparece personificado escondendo ldquo[] que o mercado de trabalho resulta de relaccedilotildees sociais relaccedilotildees de forccedila e de poder vinculadas a interesses de grupos e fraccedilotildees das classes sociais []rdquo (FRIGOTTO 2004 p 182) 62
A maior mudanccedila eacute a introduccedilatildeo crescente de novas tecnologias o que provoca a reduccedilatildeo na demanda por trabalho vivo As consequecircncias natildeo se limitam a isso e apontam outras trecircs principais consequecircncias 1) expansatildeo das fronteiras do trabalhador coletivo quando as atividades realizadas pelos trabalhadores se tornam cada vez mais complexas e amplas 2) dada a ampliaccedilatildeo anterior o trabalhador eacute requisitado a desenvolver atividades muacuteltiplas o que exige um trabalhador mais qualificado e polivalente 3) se refere agrave gestatildeo da forccedila de trabalho quando se recorre agrave ldquoparticipaccedilatildeordquo ldquoenvolvimentordquo dos trabalhadores reduzindo hierarquias atraveacutes das equipes de trabalho na clara intenccedilatildeo de desconstruir a consciecircncia de classe e os trabalhadores e operaacuterios passam a ser ldquocolaboradoresrdquo ldquocooperadoresrdquo (NETTO BRAZ 2006) Outras informaccedilotildees consultar Harvey (2003) Antunes (1999) Antunes (2005) 63
A precarizaccedilatildeo eacute uma das expressotildees das mudanccedilas no mundo do trabalho que natildeo significa apenas o desemprego mas toda a forma de ampliaccedilatildeo da exploraccedilatildeo e geraccedilatildeo de instabilidade que podem ser expressos em contrataccedilotildees temporaacuterias subcontrataccedilotildees contratos de trabalho mais flexiacuteveis reduccedilatildeo de direitos e salaacuterios ampliaccedilatildeo eou intensificaccedilatildeo da jornada de trabalho Para Harvey (2003 p 144) a ldquo[] atual tendecircncia dos mercados de trabalho eacute reduzir o nuacutemero de trabalhadores lsquocentraisrsquo e empregar cada vez mais uma forccedila de trabalho que entra facilmente e eacute demitida sem custos quando as coisas ficam ruinsrdquo
96
Analisando o contexto brasileiro identificamos que apesar da ampliaccedilatildeo e criaccedilatildeo de
empregos formais os jovens manteacutem uma participaccedilatildeo perifeacuterica no mercado de
trabalho encontrando dificuldades para ingressar e permanecer nos postos de
trabalho mesmo apresentando niacuteveis de escolaridade elevados em relaccedilatildeo agraves
geraccedilotildees anteriores como poderemos ver nos dados apresentados abaixo Esse fato
torna particularmente instigante o reforccedilo na necessidade de poliacuteticas direcionadas
aos jovens no mundo do trabalho (CORRACHANO 2012)
Como apresenta Gonzalez (2009) houve um aumento na idade de saiacuteda da escola
de 154 para 181 anos para os homens e de 155 para 179 anos para as mulheres
Contudo a entrada no mercado de trabalho apresentou uma variaccedilatildeo bem menor
de 151 para 158 anos para os homens e de 155 para 159 para as mulheres
Essa queda na taxa da participaccedilatildeo dos jovens como afirma Gonzalez (2009) eacute
ambiacutegua pois a primeira vista a reduccedilatildeo sugere que estaacute em curso um processo de
prolongamento do tempo de escolarizaccedilatildeo como um aumento da ldquomoratoacuteria
socialrdquo64 em parte por conta da universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio Poreacutem esses
mesmos dados comprovam que a dedicaccedilatildeo exclusiva aos estudos eacute uma realidade
para poucos como podemos conferir na tabela abaixo assim o aumento da
escolarizaccedilatildeo natildeo significou adiamento da entrada no mercado de trabalho mas
uma ampliaccedilatildeo da simultaneidade entre a escola e o trabalho
Tabela 1 - Proporccedilatildeo de pessoas por faixa etaacuteria condiccedilatildeo de estudotrabalho e faixas de renda ndash Brasil 2007
HOMENS ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
260 512 126 102
Entre 12 e 1 SM
265 527 133 375
Maior que 1 SM
269 617 79 35
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
130 128 515 227
Entre 12 e 1 SM
146 96 613 146
64
O que reforccedila a tese de Margulis (1996) que discutimos no capiacutetulo anterior sobre moratoacuteria social de que estaacute eacute um privilegio de parte da juventude uma vez que nem todos podem usufruir desse tempo livre
97
Maior que 1 SM
226 135 561 78
MULHERES
ESTUDA E TRABALHA
SOacute ESTUDA
SOacute TRABALHA
NAtildeO ESTUDA NEM TRABALHA
MULHERES
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
43 23 750 183
Entre 12 e 1 SM
56 16 815 112
Maior que 1 SM
130 26 789 54
15 A 17 ANOS Menor ou igual a 12 SM
148 626 54 172
Entre 12 e 1 SM
174 657 54 115
Maior que 1 SM
197 707 41 55
18 A 24 ANOS Menor ou igual a 12 SM
75 166 261 498
Entre 12 e 1 SM
114 148 390 348
Maior que 1 SM
236 178 427 160
25 A 29 ANOS Menor ou igual a 12 SM
39 51 362 547
Entre 12 e 1 SM
64 41 556 338
Maior que 1 SM
144 42 657 156
Fonte Microdados da PNADIBGE 2007 Elaboraccedilatildeo NinsocDisocIpea Retirado de Gonzalez (2009) A tabela indica que os jovens saem da escola por volta dos 18 anos o que natildeo
significa necessariamente a conclusatildeo do ensino meacutedio O autor afirma assim que
o aumento da escolarizaccedilatildeo acontece num ritmo mais acelerado do que a entrada
do jovem no mercado de trabalho (GONZALEZ 2009)
Como lembra Sposito (2005) a expansatildeo da escolaridade no Brasil eacute recente Nos
uacuteltimos 50 anos parte significativa da populaccedilatildeo permaneceu fora da escola ou
apenas teve acesso aos primeiros anos do sistema de ensino Eacute com a Constituiccedilatildeo
de 1988 e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo de 1996 que esse cenaacuterio
comeccedila a se modificar e novos desafios se colocam Essa pode ser uma das razotildees
pelas quais o processo de escolarizaccedilatildeo eacute mais raacutepido do que o processo de
inserccedilatildeo no mercado de trabalho Mas precisamos considerar ainda que esse
aumento de escolarizaccedilatildeo dos jovens pode se relacionar a mais uma estrateacutegia para
manter esses jovens um pouco distantes da inserccedilatildeo no mundo do trabalho sob a
98
justificativa de ampliaccedilatildeo da qualificaccedilatildeo jaacute que natildeo haacute oportunidades de emprego
para todos os trabalhadores
Essa afirmativa pode fazer sentido se a analisarmos com os dados apresentados por
Pochmann (2005) quando ele afirma que as taxas mais expressivas de desemprego
estatildeo entre as pessoas com escolaridade entre 4 a 7 anos em relaccedilatildeo agraves pessoas
com acesso a 1 ano de educaccedilatildeo O autor ressalta que esses dados mostram a
natureza das ocupaccedilotildees que estatildeo criadas
Haacute que se considerar ainda o que alguns estudiosos chamam de ldquonem-nemrdquo se
referindo agrave parcela da juventude que nem estuda e nem trabalha De acordo com
Censo de 2010 53 milhotildees de jovens estatildeo nesse perfil A tabela 1 no mostra esse
cenaacuterio e eacute mais marcante entre as mulheres do que entre homens e mais
diretamente aos jovens entre a faixa etaacuteria de 18 a 25 anos
A maternidade precoce pode ser um dos fatores que se relacionam com o maior de
nuacutemero de jovens mulheres que nem estudam e nem trabalham uma vez que mais
da metade (535) segundo dados da OIT (2009) jaacute eram matildees e se dedicavam
em meacutedia a 325 horas aos afazeres domeacutesticos Jaacute entre as mulheres que natildeo
trabalhavam mas estudavam apenas 5 eram matildees
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que os jovens que saem da escola tem
mais dificuldade de se empregar e de se manter empregado Eacute preciso considerar
ainda que a renda das famiacutelias interfere diretamente tanto na probabilidade de se
permanecer na escola quanto nas variaccedilotildees da taxa de participaccedilatildeo de
desemprego e os dados da tabela apontam que agrave medida que cresce a renda
cresce tambeacutem a probabilidade de se dedicar integralmente aos estudos tanto para
homens quanto para mulheres (GONZALEZ 2009)
Devemos considerar ainda que a questatildeo de gecircnero no trabalho jaacute estaacute presente na
juventude A condiccedilatildeo exclusiva de estudantes eacute comum para ambos os sexos jaacute a
condiccedilatildeo de trabalhador eacute mais marcante entre os homens nas faixas etaacuterias de 18
a 24 anos e 25 a 29 anos mas acentuadamente nessa uacuteltima ou ldquo[] em outras
palavras as indiferenccedilas na renda familiar influem profundamente nas condiccedilotildees de
99
escolarizaccedilatildeo e na incorporaccedilatildeo de papeacuteis no mundo do trabalho e na famiacutelia
criando nas novas geraccedilotildees diferenccedilas quanto agraves perspectivas profissionais futurasrdquo
(GONZALEZ 2009 p116)
Podemos perceber essa realidade tambeacutem na Ameacuterica Latina como podemos
observar no graacutefico abaixo mantendo a mesma tendecircncia de ser a maioria
mulheres e tambeacutem estaacute na faixa etaacuteria de 18 a 24 anos (no caso em questatildeo natildeo
se considerou ateacute a faixa de 24 a 29 anos) Na Uniatildeo Europeia os iacutendices relativos
aos jovens que nem estudam nem trabalham aumentou em 118 entre 2008 a
2011 provavelmente em relaccedilatildeo direta com a crise econocircmica Apenas na
Alemanha na contra matildeo apresenta reduccedilatildeo nesses iacutendices que caiacuteram em 118
entre 2008 e 2011 (OITCEPAL 2012)
GRAacuteFICO 2 - AMEacuteRICA LATINA JOVENS QUE NEM ESTUDAM E NEM TRABALHAM Fonte (OITCEPAL 2012)
No que se refere aos jovens que nem estudam e nem trabalham eacute importante
pensarmos que esse deve ser um aspecto para traccedilar estrateacutegias para defender o
direito do jovem agrave educaccedilatildeo e ao trabalho tomando o cuidado de natildeo nos
ocuparmos dessa informaccedilatildeo por medo do tempo ocioso desse jovem reforccedilando
uma visatildeo do jovem como potencialmente problemaacutetico encarando-o como algueacutem
que precisa estar com o seu tempo ocupado para natildeo produzir efeitos ruins e
danosos agrave sociedade
Nem estudam nem
trabalham
Nem estudam nem trabalham
por afazeres domeacutesticos
100
Outro aspecto importante para qual se direcionam grande parte das accedilotildees
governamentais para a juventude os iacutendices de desemprego As taxas de
desemprego nas faixas etaacuterias dos jovens elevaram-se expressivamente a partir dos
anos 90 e ainda permanecem elevados como podemos ver nos graacuteficos abaixo
GRAacuteFICO 3 - TAXAS DE DESEMPREGO NO BRASIL POR IDADE E SEXO (2007 2009 E 2011) Fonte PMEIBGE 2011 Apesar da grande reduccedilatildeo dos iacutendices de desemprego entre o puacuteblico juvenil de
179 para 121 entre os homens e de 253 para 174 entre as mulheres percebemos
que a diferenccedila entre o puacuteblico juvenil e o adulto eacute enorme Fica claro mais uma vez
a questatildeo de gecircnero o desemprego atinge de forma diferente as mulheres tanto
entre os jovens quanto entre os adultos e em qualquer um dos trecircs periacuteodos
analisados
Gonzaacuteles (2009) afirma que eacute tentador atribuir o aumento do desemprego juvenil ao
aumento da pressatildeo sobre o mercado de trabalho principalmente por parte das
jovens contudo eacute precisar ponderar que houve uma reduccedilatildeo na populaccedilatildeo jovem
com mais de 15 anos no periacuteodo de 1992 a 2007 e que o mesmo se deu com a taxa
de participaccedilatildeo ou seja ldquo[] o aumento do desemprego natildeo foi consequecircncia da
pressatildeo dos jovens sobre o mercado de trabalhordquo (GONAZALEZ 2009 p 117) O
que aconteceu segundo o autor foi uma compensaccedilatildeo o aumento da participaccedilatildeo
101
das mulheres entre 18 a 29 anos pela diminuiccedilatildeo dos jovens-adolescentes de 15 a
17 anos de ambos os sexos
Como podemos ver a idade de ingresso no mercado de trabalho eacute fortemente
marcada por desigualdades sociais enquanto muitos jovens das famiacutelias de baixa
renda ainda ingressam no mercado de trabalho antes da idade legal para o trabalho
e sem concluir o ensino fundamental os jovens de renda mais elevada ingressam
de um modo geral apoacutes os 18 anos principalmente em situaccedilotildees de trabalho
protegidas e tendo completados o ensino meacutedio (BRASIL 2010)
O desemprego juvenil tem caracteriacutesticas especiacuteficas mesmo em momentos de
crescimento econocircmico em parte porque o crescimento econocircmico natildeo resolve
inteiramente o problema do desemprego entre os jovens particularmente aqueles de
mais baixa renda de baixa escolaridade as mulheres os negros e os moradores de
aacutereas urbanas metropolitanas para os quais as taxas de desemprego satildeo mais
elevadas (BRASIL 2010) Contudo natildeo podemos deixar de considerar que o
desemprego afeta de modo diferente a juventude o que coloca a necessidade de
pensar as particularidades do desemprego juvenil
Segundo Corrachano (2012) diversas pesquisas tem tentado explicar essa equaccedilatildeo
de maior desemprego entre os jovens Para ela alguns autores65 afirmam que a
questatildeo estaacute na esfera da reproduccedilatildeo na oferta e demanda do trabalho do lado da
oferta haacute um menor custo para os jovens em abandonar os empregos por conta dos
baixos salaacuterios e da natildeo necessidade de prover uma famiacutelia (sem desconsiderar o
grande contingente de jovens que satildeo chefes de famiacutelia ou cuja renda individual tem
forte peso na renda familiar) Contudo a autora afirma que eacute preciso analisar essa
hipoacutetese com cuidado uma vez que ela transmite a ideia de que o jovem eacute menos
responsaacutevel pelo rendimento familiar e portanto precisa de menos acesso ao
trabalho Outro fator apresentado se refere aos custos da demissatildeo desse segmento
que eacute menor em relaccedilatildeo ao dos adultos pois haacute menor investimento realizado na
qualificaccedilatildeo menor sujeiccedilatildeo dos jovens agrave legislaccedilatildeo trabalhista e menos gastos com
a legislaccedilatildeo trabalhistas o que torna mais barato demitir um jovem que um adulto
65
A autora cita Tokmann (2003)
102
Importante sinalizarmos ainda que mesmo os jovens inseridos no trabalho eles
sofrem os impactos das mudanccedilas no mundo do trabalho pois estatildeo mais sujeitos agrave
uma inserccedilatildeo precaacuteria em relaccedilatildeo aos adultos (CORRACHANO et al 2008)
O fato fica claro quando analisamos a questatildeo da informalidade que eacute muito mais
elevada entre os jovens Analisando os dados de 2006 da Organizaccedilatildeo Internacional
do Trabalho (OIT) ldquo[] havia 182 milhotildees de jovens brasileiros ocupados deste
aproximadamente 11 milhotildees isto eacute 605 encontrava-se na informalidade
enquanto que entre os adultos esse percentual era de 507 []rdquo (CORRACHANO
2012 p 54)
Haacute outro fator que precisa ser considerado e se refere agrave renda das famiacutelias desses
jovens Carrochano et al (2008) afirmam que eacute comum a associaccedilatildeo entre o criteacuterio
de renda e o consequente afastamento do jovem da escola e inserccedilatildeo no mercado
de trabalho que os autores questionam Para eles os dados evidenciam que jovens
de baixa renda comeccedilam a trabalhar mais cedo e muitas vezes sem concluir os
estudos Poreacutem natildeo podemos inferir desta informaccedilatildeo que os jovens deixam de
estudar em funccedilatildeo da necessidade de trabalhar Segundo ela as razotildees da evasatildeo
escolar satildeo mais complexas e merecessem ser investigadas com mais cuidado
Pertencer a uma famiacutelia de baixa renda eacute um fator extremamente relevante contudo
Corrachano et al (2008 p 23) apresentam ainda fatores culturais ldquo[] dada a
crenccedila de parcelas da populaccedilatildeo brasileira sobre o caraacuteter pedagoacutegico do trabalho
pelo qual a crianccedila e o adolescente tornar-se-iam mais responsaacuteveis e disciplinados
[]rdquo Esse fator precisa ser somado ainda agrave relaccedilatildeo entre o jovem e a escola
sugerindo que natildeo soacute a dedicaccedilatildeo ao trabalho pode prejudicar a permanecircncia na
escola mas tambeacutem questiona a capacidade do sistema de ensino em atrair o
interesse do aluno Em nosso entendimento eacute necessaacuterio pensar natildeo soacute na questatildeo
da relaccedilatildeo entre o jovem e a escola mas tambeacutem pensar na qualidade desse
sistema escolar E principalmente pensar como os jovens tem percebido e
relacionado a importacircncia da educaccedilatildeo para suas vidas de uma forma praacutetica isto
sem desconsiderar nenhum dos aspectos anteriores
103
Para Frigotto (2001) no contexto de crise endecircmica do desemprego estrutural e a
consequente divisatildeo de incluiacutedos precarizados e excluiacutedos desmonta-se a
promessa integradora e a funccedilatildeo econocircmica atribuiacuteda agrave escola passa a ser a
empregabilidade ou a formaccedilatildeo para o desemprego Para o autor a educaccedilatildeo em
geral e particularmente a educaccedilatildeo profissional tem se vinculado a um
adestramento acomodaccedilatildeo conformando um cidadatildeo miacutenimo
que pense minimamente e que reaja minimamente Trata-se de uma formaccedilatildeo numa oacutetica individualista fragmentaacuteria - sequer habilite o cidadatildeo e lhe decirc direito a um emprego a uma profissatildeo tornando-o apenas um mero ldquoempregaacutevelrdquo disponiacutevel no mercado de trabalho sob os desiacutegnios do capital em sua nova configuraccedilatildeo (FRIGOTTO 2001 p 80)
Os jovens receberam a maior parte do impacto da retraccedilatildeo de oportunidades de
empregos na deacutecada de 1990 e manteve-se o mesmo apoacutes 2005 que atingiram de
forma desigual o proacuteprio segmento juvenil mulheres e os (as) jovens mais pobres
Corrachano (2012) analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiciacutelio (PNAD) de 2006 afirma que se olharmos superficialmente para os
nuacutemeros acreditamos que os jovens estatildeo em melhores condiccedilotildees uma vez que
355 dos jovens entre 15 e 24 anos ocupavam a posiccedilatildeo de empregados com
carteira assinada enquanto entre os adultos esse percentual era de 315 No
entanto analisando os dados com mais cuidado percebemos que essa eacute a
expressatildeo da realidade pois obversarmos que proporccedilatildeo de jovens que
trabalhavam sem carteira assinada era significativamente superior quando
comparada aos adultos enquanto o iacutendice entre estes uacuteltimos atingia 141 entre
aqueles elevava-se a 314
Outros dados tambeacutem corroboram para a afirmaccedilatildeo acima como os apresentados
por Gonzalez (2009) ao tratar da qualidade dos postos de trabalho dos jovens ao se
inserirem no mercado de trabalho Para eles os postos satildeo aqueles com as menores
exigecircncias de qualificaccedilatildeo e de pior qualidade o que se reflete nas principais
posiccedilotildees ocupadas pelo grupo etaacuterio mais jovem considerado como podemos
observar nos quadros abaixo
104
19Posiccedilatildeo na ocupaccedilatildeo
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Brasil
Empregados com carteira 291 272 571 527 465 452
Militares e estatutaacuterios 61 32 34 31 47 36
Empregados sem carteira 297 311 213 205 247 248
Trabalhadores domeacutesticos com carteira
06 07 14 10 18 11
Trabalhadores domeacutesticos sem carteira
68 72 39 31 56 50
Conta proacutepria 155 147 82 95 98 109
Empregadores 14 12 15 25 21 16
Trabalhadores para o autoconsumo
23 51 07 14 18 22
Trabalhadores na autoconstruccedilatildeo 01 00 00 01 01 00
Natildeo remunerados 85 95 24 62 29 54
Total 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Total (m 1000 pessoas) 2315 7877 12021 4508 2233 28954
QUADRO 5 - DISTRIBUICcedilAtildeO DOS JOVENS DE 16 A 29 ANOS OCUPADOS SEGUNDO POSICcedilAtildeO NA OCUPACcedilAtildeO BRASIL E GRANDES REGIOtildeES 2009 (EM ) Fontes Elaboraccedilatildeo DIEESE agrave partir de dados do IBGE PNAD (2009) - DIEESE (2011)
Outro aspecto importante eacute a extensatildeo da jornada de trabalho dos jovens
Corrachano (2012) analisando os dados da PNAD (2006) afirma que 48 dos
jovens de 14 a 29 anos que apenas trabalhavam tinham uma jornada de trabalho
entre 31 a 44 horassemana Jaacute os 453 dos jovens de 14 a 29 anos que
trabalhavam e estudavam tinham uma jornada semanal de 31 a 44 anos
Gonzalez (2009) faz um alerta importante ao observar que as ocupaccedilotildees melhoram
ao passar de um grupo etaacuterio mais jovem para outro mais velho pois corremos o
risco de acreditar que haacute uma sequecircncia que o trabalhador deva transpor (das
ocupaccedilotildees sem proteccedilatildeo ateacute as que satildeo regulamentadas) quando na verdade o que
ocorre eacute que haacute uma mudanccedila na composiccedilatildeo pois os grupos de jovens de 18 a 24
e de 25 a 29 anos natildeo satildeo formados apenas por jovens que entraram cedo no
mercado de trabalho e que conseguiram mudar para ocupaccedilotildees melhores agrave medida
que envelheciam mas tambeacutem por aqueles jovens que postergaram a entrada no
mercado de trabalho para possivelmente aumentar a sua escolaridade o que o
torna mais proacuteximo de uma ocupaccedilatildeo de melhor qualidade na primeira oportunidade
Eacute para diminuir os impactos desse cenaacuterio que emergem as poliacuteticas de juventude
voltadas para o trabalho emprego geraccedilatildeo de renda Apesar dos limites colocados
105
para as proacuteprias poliacuteticas sociais por estarem inseridas numa sociedade capitalista
reforccedilarmos a necessidade de defendecirc-las pois trata-se aleacutem de uma questatildeo de
sobrevivecircncia mas tambeacutem de uma dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho para o jovem
Sarti (2010 p 90) apresenta outro acircngulo que natildeo pode ser esquecido Segundo ela
ldquo[] o valor do trabalho se define dentro de uma loacutegica em que conta natildeo apenas o
caacutelculo econocircmico mas o benefiacutecio moral que retiram dessa atividade []rdquo Segundo
a autora nas periferias a identidade de ser pobre se confunde com a de trabalhador
quando a identificaccedilatildeo de pobre mas trabalhador livre o ser das implicaccedilotildees com a
associaccedilatildeo de ser pobre Logo o trabalho assume centralidade em diversos
aspectos para os trabalhadores em especial para os trabalhadores das periferias
A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira publicada em 2005 mostra que o trabalho
eacute uma das aacutereas de maior preocupaccedilatildeo dos jovens bem como a de maior interesse
A pesquisa apresenta ainda que para 64 dos jovens trabalhar eacute uma necessidade
e para 55 deles eacute tambeacutem uma forma de independecircncia (INSTITUTO
CIDADANIA 2005)
Fica claro assim que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o trabalho dos jovens
brasileiros satildeo ldquo[] no plano econocircmico-social e eacutetico-poliacutetico tatildeo imprescindiacuteveis
quanto complexasrdquo (FRIGOTTO 2005 p 204) Essas poliacuteticas satildeo Imprescindiacuteveis
por tudo o que foi discutido ateacute o momento com relaccedilatildeo aos impactos do
desemprego para os jovens e complexas por conta dos impasses estruturais da
economia e cultura da elite brasileira que ldquo[] se manteacutem soacutecia menor e
subordinada aos centros hegemocircnicos do capital []rdquo (FRIGOTTO 2005 p204)
32 APRESENTANDO O PROJOVEM
Como jaacute trabalhado no primeiro capiacutetulo as primeiras experiecircncias de poliacuteticas para
Juventude no Brasil tem uma explosatildeo na deacutecada de 1990 quando a temaacutetica
juventude ganha destaque na agenda puacuteblica Esse periacuteodo eacute de grandes mudanccedilas
nos meios produtivos com acentuado aumento da violecircncia a flexibilizaccedilatildeo de
direitos sociais e trabalhistas e configuraccedilatildeo de poliacuteticas neoliberais um quadro
106
fortemente marcado pelo desemprego66 que atingiu significativamente a juventude A
deacutecada de 2000 representa a soma de esforccedilos de todos os grupos movimentos e
redes de jovens para a mobilizaccedilatildeo na defesa dos direitos da juventude (BRASIL
2013)
Em 2004 eacute instituiacuteda a Comissatildeo Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude
dando iniacutecio ao debate sobre a construccedilatildeo de um Plano Nacional de Juventude e de
um Estatuto da Juventude (que ainda aguarda aprovaccedilatildeo) e a inclusatildeo da Emenda
Constitucional 65 que inclui a palavra ldquojovemrdquo na constituiccedilatildeo federal Nesse mesmo
ano eacute criado o Grupo Interministerial (com 19 Ministeacuterios e Secretarias) com a
finalidade de fundamentar as bases para uma Poliacutetica Nacional de Juventude que
integre os programas para a juventude Nesse bojo satildeo criados em 2005 a
Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) o Conselho Nacional de Juventude (CNJ)67
e o Programa Nacional de Inclusatildeo dos Jovens (ProJovem)
Assim o ProJovem surge em 2005 como resultado de demanda por parte da
sociedade mas sobretudo como resultado do diagnoacutestico realizado do Grupo
Interministerial que recomendava maior integraccedilatildeo e complementaridade entre os
programas voltados para a juventude e tinha como objetivo aumentar o niacutevel de
escolaridade de modo a inserir esses jovens no mercado de trabalho (BRASIL
2008)
A primeira versatildeo do ProJovem (2005) foi criada em parceria com a Secretaria
Nacional da Juventude e do Conselho Nacional de Juventude e foi regulamentado
atraveacutes do decreto 5557 de 05102005 e tinha como puacuteblico alvo os jovens de 18 a
24 anos que ainda natildeo tivessem completado o ensino fundamental mas que
tivessem feito no miacutenimo a 4ordf seacuterie e natildeo poderiam ter viacutenculo formal no mercado
de trabalho e que fossem moradores de capitais e regiotildees metropolitanas com mais
de duzentos mil habitantes Os jovens participantes do programa receberia uma
bolsa no valor de R$ 10000 (cem reais) e teriam formaccedilatildeo profissional integral
66
ldquoNaquela deacutecada foram principalmente as igrejas e as organizaccedilotildees natildeo governamentais que se encarregaram de projetos sociais voltados para os jovens considerados ldquoem situaccedilatildeo de riscordquo (BRASIL 2013 p 09) 67
Esses satildeo marcos importantes para a construccedilatildeo de uma Poliacutetica Nacional pois criou um oacutergatildeo com a competecircncia de propor acompanhar avaliar os programas coordenando e articulando todas as accedilotildees
107
associando a elevaccedilatildeo da escolaridade atraveacutes da formaccedilatildeo baacutesica de 800 horas
acrescida da formaccedilatildeo profissional com carga horaacuteria de 350 horas e 50 horas de
atividades de accedilotildees comunitaacuterias (SECRETAacuteRIA NACIONAL DE JUVENTUDE
2008)
O objetivo principal nesse momento era a elevaccedilatildeo da escolaridade tendo em vista
a conclusatildeo do ensino fundamental a qualificaccedilatildeo profissional e o desenvolvimento
de accedilotildees comunitaacuterias de interesse puacuteblico A gestatildeo era do Grupo Interministerial e
da Secretaria Nacional de Juventude e o financiamento era do Governo Federal que
repassava aos municiacutepios para que esses executassem o programa
Em 2007 foi lanccedilado o Programa Integrado que agrupou seis programas o proacuteprio
ProJovem o Agente Jovem Saberes da Terra Escola de Faacutebrica Juventude cidadatilde
e o Consoacutercio da Juventude
Tal mudanccedila ocorreu em funccedilatildeo de estudos feitos pelo sistema de informaccedilatildeo do
programa que os jovens excluiacutedos estatildeo mais dispersos geograficamente do que se
esperava ldquo[] apontando a necessidade de ampliar o alcance do programa para
cidades menores uma vez que parte substantiva dos jovens brasileiros deixava de
ser contemplada quando se restringia o atendimento a municiacutepios com mais de 200
mil habitantesrdquo (BRASIL 2008 p18)
Aliado a essa informaccedilatildeo pesquisas da Pnad2003 (das regiotildees metropolitanas) e
do Censo 2000 (nacional) que tomaram como pesquisa os jovens de 18 a 24 anos
com quatro a sete anos de escolaridade e residentes nas cidades com mais de 200
mil habitantes mostravam queda do nuacutemero de jovens excluiacutedos No entanto
quando analisado os jovens de 24 a 29 anos esses mesmos iacutendices satildeo crescentes
[] evidenciando-se a necessidade de ampliar a faixa etaacuteria atendida pelo
ProJovem de modo a contemplar tambeacutem os jovens de faixa etaacuteria mais elevada
(BRASIL 2008 p 18) As atividades do ProJovem Integrado se iniciam em 2008
atraveacutes de 04 modalidades
ProJovem Urbano ldquoDestina-se a jovens de 18 a 29 anos que sabem ler e
escrever mas que natildeo concluiacuteram o ensino fundamental Oferece elevaccedilatildeo de
escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental qualificaccedilatildeo profissional
108
participaccedilatildeo em accedilotildees de cidadania e uma bolsa mensal de R$ 10000 Com
duraccedilatildeo de 18 meses eacute executado pela Secretaria Nacional de Juventude da
Secretaria-Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica68 A modalidade eacute executada mediante
convecircnios firmados entre a Secretaria Nacional de Juventude estados e municiacutepios
Nas cidades com mais de 200 mil habitantes a parceria eacute feita diretamente com a
Prefeitura Municipal Jaacute nas cidades menores essa parceria eacute firmada com o
governo do estado que viabiliza a chegada do Programa nas cidades menoresrdquo
(GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Campo Executado pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo a modalidade oferece
elevaccedilatildeo de escolaridade com a conclusatildeo do ensino fundamental e capacitaccedilatildeo
profissional de jovens de 18 a 29 anos que atuam na agricultura familiar O curso
tem duraccedilatildeo de 24 meses e eacute ministrado conforme a alternacircncia dos ciclos
agriacutecolas respeitando o periacuteodo em que os alunos trabalham no campo O programa
eacute desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais de educaccedilatildeo e uma rede
de instituiccedilotildees puacuteblicas federais mediante convecircnios firmados com o MEC (GUIA
NACIONAL DE POLIacuteTICA DE JUVENTUDE 2011)
ProJovem Adolescente Executado pelo Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e
Combate agrave Fome (MDS) destina-se a jovens de 15 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco
social independentemente da renda familiar ou que integram famiacutelias beneficiaacuterias
do Bolsa Famiacutelia Com duraccedilatildeo de 24 meses oferece proteccedilatildeo social baacutesica e
assistecircncia agraves famiacutelias visando elevar a escolaridade e reduzir os iacutendices de
violecircncia uso de drogas das doenccedilas sexualmente transmissiacuteveis e gravidez
precoce Os municiacutepios interessados no Programa devem observar os seguintes
criteacuterios -estar habilitado nos niacuteveis de gestatildeo baacutesica ou plena do Suas -possuir
Centros de Referecircncia da Assistecircncia Social (CRAS) em funcionamento e registro no
Censo do CRAS - apresentar a demanda miacutenima de 40 jovens que pertenccedilam a
famiacutelias beneficiaacuterias do Bolsa Famiacutelia (GUIA NACIONAL DE POLIacuteTICA DE
JUVENTUDE 2011)
ProJovem Trabalhador O ProJovem Trabalhador ficou sob a responsabilidade do
Ministeacuterio do Trabalho (MTE) unificando as accedilotildees do Consoacutercio Social da
Juventude Empreendedorismo Juvenil Juventude Cidadatilde e Escola de Faacutebrica
68
A partir de 2012 a coordenaccedilatildeo geral do ProJovem Urbano migrou da Secretaria Nacional de Juventude para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) mas manteve a Secretaria Nacional de Juventude como parte do Comitecirc Gestor
109
tendo como objetivo ldquo[] preparar o jovem para ocupaccedilotildees com viacutenculo
empregatiacutecio ou para outras atividades produtivas geradoras de renda por meio da
qualificaccedilatildeo social e profissional e do estiacutemulo agrave sua inserccedilatildeo no mundo do trabalhordquo
(BRASIL 2008) como estaacute previsto no artigo 37 da Lei 6629 de novembro de 2008
que unificou os programas
Essa modalidade do ProJovem se destina a jovens de 18 a 29 anos em situaccedilatildeo de
desemprego e cuja renda familiar per capita seja de ateacute um salaacuterio miacutenimo e ainda
que cumpra os seguintes preacute-requisitos a) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino
fundamental ou b) cursando ou tenha concluiacutedo o ensino meacutedio e natildeo esteja
cursando ou natildeo tenha concluiacutedo o ensino superior69 (BRASIL 2008 artigo 38)
O ProJovem Trabalhador tem duas submodalidades o Consoacutercio Social da
Juventude e o Juventude Cidadatilde Isto porque o ProJovem Trabalhador natildeo unificou
os programas anteriores do Ministeacuterio do Trabalho ele apenas os agregou sob a
forma da lei Inclusive parte da legislaccedilatildeo eacute diferente para o ProJovem Trabalhador
ndash Consoacutercio Social da Juventude o qual segue a orientaccedilatildeo da Portaria 2043 de 22
de Outubro de 2009 o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde por sua vez
segue a Portaria 991 de 27 de novembro de 2008 Ambos seguem as orientaccedilotildees
do Decreto 6629 de 2008
Fato que mostra como eacute prematuro apresentar o ProJovem como a poliacutetica nacional
de juventude pois natildeo basta colocar sob um mesmo nome todas as accedilotildees para que
elas faccedilam assim parte de uma mesma loacutegica e que tenham os mesmos objetivos
Como pensar em projeto pedagoacutegico Como operar com sistemas de avaliaccedilatildeo
controle e monitoramento E estamos falando aqui apenas de uma das modalidades
do ProJovem as demais estatildeo divididas entre algumas Secretarias Eacute preciso muito
cuidado para que o programa natildeo apenas camufle a fragmentaccedilatildeo que eacute uma marca
das poliacuteticas de juventude que ao que podemos ver ainda se manteacutem
No que se refere agrave execuccedilatildeo do Programa a legislaccedilatildeo (Termo de Referecircncia 991
69
Nas accedilotildees de empreendedorismo juvenil aleacutem dos jovens referidos no caput tambeacutem poderatildeo ser contemplados aqueles que estejam cursando ou tenham concluiacutedo o ensino superior (BRASIL 2008 artigo 38)
110
de 2008) delega tais execuccedilotildees a Estados e Municiacutepios com populaccedilatildeo com acima
de 20 mil habitantes natildeo haacute necessidade de convecircnio acordo contrato ajuste ou
outro instrumento congecircnere o que natildeo dispensa a prestaccedilatildeo de contas (BRASIL
2008)
Para a celebraccedilatildeo dos convecircnios a entidade de direito privado sem fins lucrativos na
execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador deveraacute ser precedida de seleccedilatildeo por chamada
puacuteblica e essas deveratildeo comprovar experiecircncia de no miacutenimo 3 anos no objeto do
convecircnio ter capacidade fiacutesica instalada necessaacuteria agrave execuccedilatildeo do objeto do
convecircnio ter capacidade teacutecnica e administrativo-operacional adequada para
execuccedilatildeo e apresentar proposta com adequaccedilatildeo entre os meios sugeridos seus
custos cronogramas e resultados previstos em conformidade com as
especificaccedilotildees teacutecnicas do termo de referecircncia e edital de chamada puacuteblica70
(BRASIL 2008)
Como jaacute discutimos anteriormente essa eacute uma forma de gerir a maacutequina puacuteblica que
se tornou praacutetica comum na gestatildeo das poliacuteticas sociais e expressa a loacutegica da
transferecircncia de responsabilidade do Estado para a sociedade civil quando cabe ao
Estado o papel de financiador e ao terceiro setor o de executor Tal fenocircmeno eacute parte
do processo de reestruturaccedilatildeo produtiva (BEHRING 2003) e tem impactos diretos
no programa principalmente no que se refere agrave continuidade e agrave qualidade das
atividades uma vez que a empresa contratada ou Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil
de Interesse Puacuteblico (OSCIP) tem por objetivo o lucro
Assim o ProJovem Trabalhador de Serra eacute uma poliacutetica que foi pensada pelo
Ministeacuterio do Trabalho (uma vez que os programas jaacute existentes no Ministeacuterio
apenas passaram a compor o ProJovem Integrado) sendo executado no municiacutepio
de Serra por intermeacutedio de uma empresa contratada para implementar as
atividades Satildeo trecircs atores diferentes e diretamente envolvidos poreacutem nem sempre
com objetivos comuns Conciliar esses interesses e perspectivas diferentes eacute grande
desafio Neste sentido Castro (2012) faz uma questatildeo importante em meio a tantos
personagens e interesses como fazer chegar ao centro do poder os interesses dos
70
No municiacutepio de Serra o programa eacute executado pelo Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC) e eacute gerido pela Secretaria Municipal de Trabalho Emprego e Renda
111
principais interessados os jovens
No ProJovem Trabalhador de Serra o Convecircnio entre o Ministeacuterio do Trabalho e a
prefeitura de Serra atraveacutes da Secretaria de Emprego e Renda (SETER) foi
assinado em 2010 poreacutem ele soacute pocircde ser licitado em julho de 2012 por conta dos
tracircmites burocraacuteticos A empresa licitada foi o Instituto Mundial do Desenvolvimento
e da Cidadania (IMDC)71 que ganhou a licitaccedilatildeo por menor preccedilo O valor do
convecircnio era de R$ R$ 464887500 sendo repassado ao IMDC o valor de R$
358672 milhotildees para a execuccedilatildeo
Como podemos ver o programa soacute pocircde ser lanccedilado agraves veacutesperas do periacuteodo
eleitoral nos municiacutepios (julho 2012) o que prejudicou substancialmente o processo
de divulgaccedilatildeo junto agraves comunidades e da contrataccedilatildeo dos profissionais por conta da
legislaccedilatildeo eleitoral O programa teve iniacutecio em dezembro de 2012 tendo como meta
inscrever 2500 jovens (quantidade prevista no contrato assinado) contudo no iniacutecio
das atividades do programa haviam poucos inscritos no Sistema Informatizado
ProJovem Trabalhador (SinProjovem) por conta disso no iniciar de 2013 foram
abertas novas inscriccedilotildees73 Ademais nem mesmo essas novas inscriccedilotildees foram
suficientes para preencher todas as vagas74
71
OSCIP (Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico) pela Lei Estadual nordm 14870 de 16122003 e Lei Federal nordm 9790 de 23031999 com sede no Estado de Minas Gerais 72
As informaccedilotildees sobre os valores foram dadas pela Secretaria do SETER 73
De acordo com informaccedilotildees da SETER o processo de inscriccedilatildeo se deu da seguinte forma O processo de divulgaccedilatildeo das inscriccedilotildees do Projovem Trabalhador de Serra contou com 3 (trecircs) etapas distintas e complementares ldquo1ordf Fase anterior agraves eleiccedilotildees - Na primeira fase foram afixados cartazes em locais como CRAS - Centro de Referecircncia de Assistecircncia Social Escolas do Municiacutepio e no Proacute-Cidadatildeo e realizadas estrateacutegias corpo a corpo nas quais se ofertava folder especiacutefico contendo informaccedilotildees sobre o programa e locais de inscriccedilotildees 2ordf Fase posterior agraves eleiccedilotildees - Nesta fase foi realizada panfletagem nas ruas feiras livres reuniotildees em Escolas Associaccedilotildees de Moradores com liacutederes comunitaacuterios carro de som miacutedia impressa miacutedia virtual spot para raacutedios comunitaacuterias cartazes afixados nos ocircnibus que circulam dentro do Municiacutepio As inscriccedilotildees foram realizadas em diversos locais aleacutem do SINESETER 3ordf Fase Retorno agraves aulas e captaccedilatildeo de novos alunos - O terceiro momento teve como objetivo convidar os alunos para retorno agraves aulas e contou com estrateacutegia via Call Center A empresa contratada entrou em contato com os alunos inscritos no Programa informando objetivos deste data de iniacutecio e local das aulas Para os alunos os quais o Call Center natildeo conseguiu contato telefocircnico foram enviadas correspondecircncias com as informaccedilotildees supracitadas Concomitantemente foram realizadas as seguintes estrateacutegias de divulgaccedilatildeo anuacutencios em raacutedios comunitaacuterias e carros de som site do instituto afixados cartazes em locais de grande circulaccedilatildeo como terminais e CRAS e realizada a plotagem dos carros do Programa Essas tiveram o objetivo de inscrever novos alunos tendo em vista o baixo nuacutemeros de alunos em sala de aulardquo 74
De acordo com a Portaria 2043 eacute permitido 10 de evasatildeo do programa
112
Os jovens inscritos foram distribuiacutedos em 15 bairros Bairro de Faacutetima Serra
Dourada II Feu Rosa Serra Sede Central Carapina Jacaraiacutepe Parque Residencial
Tubaratildeo Planalto Serrano Nova Carapina I Jardim Tropical Joseacute de Anchieta
Parque das Gaivotas Vila Nova de Colares Satildeo Marcos Cidade Continental
Basicamente como local para sediar as aulas foi utilizada as escolas puacuteblicas
apenas uma delas era um instituto social por serem esses espaccedilos o que melhor
ofereciam condiccedilotildees de comportar os jovens
De acordo com a equipe teacutecnica a proposta era para que as unidades onde as
atividades fossem acontecer estivessem proacuteximas agrave moradia do jovem Contudo
natildeo podemos deixar de considerar que o convecircnio assinado obriga aos entes
parceiros fornecer aos jovens o transporte ateacute o local de realizaccedilatildeo das atividades
do programa assim ter os equipamentos puacuteblicos proacuteximos dos locais de moradia
dos jovens contribuiu para o aumento do lucro da instituiccedilatildeo executora
Para definir as metas da qualificaccedilatildeo social e profissional para os Estados
Municiacutepios e Distrito Federal satildeo utilizados os seguintes criteacuterios a) intensidade do
desemprego juvenil e a vulnerabilidade socioeconomia do jovem b) meacutedia do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) c) Iacutendice de
Desenvolvimento Humano (IDH) proporccedilatildeo entre a populaccedilatildeo economicamente
ativa juvenil e populaccedilatildeo economicamente ativa total O programa eacute custeado com
recursos do Ministeacuterio do Trabalho e com recursos de contrapartida dos executores
parceiros (BRASIL 2008)
Os jovens inscritos no programa recebem um auxilio financeiro no valor de R$
10000 (cem reais) mensais de caraacuteter temporaacuterio que natildeo podem ser cumulativos
a outros benefiacutecios sociais de programas federais de natureza semelhante75
devendo o jovem optar por um deles O valor eacute repassado diretamente do governo
federal para os beneficiados do programa atraveacutes de uma conta bancaacuteria O auxiacutelio
poderaacute ser suspenso nas seguintes situaccedilotildees a) recebimento de benefiacutecio de
natureza semelhante de outros programas federais b) frequecircncia mensal abaixo de
75
Consideram-se de natureza semelhante ao auxiacutelio financeiro mensal a que se refere o caput os benefiacutecios pagos por programas federais dirigidos a indiviacuteduos da mesma faixa etaacuteria do Projovem (Inciso 5ordm do Artigo 47 da Lei 6629 de novembro de 2008)
113
75 nas atividades76 c) natildeo atendimento de outras condiccedilotildees da modalidade
(BRASIL 2008)
Como jaacute dissemos anteriormente a transferecircncia de renda opera como princiacutepio
redistributivo que pressupotildee como contrapartida a frequecircncias agraves atividades
socioeducativas (SPOSITO CORROCHANO 2005)
A carga horaacuteria do curso foi dividida da seguinte forma
QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL QUALIFICACcedilAtildeO PROFISSIONAL TOTAL
100 horasaula 250 horasaula 350 horasaula
Em 07 semanas Em 17 semanas Em 24 semanas
15 horasaula por semana
QUADRO 6 - DISTRIBUICcedilAtildeO DA CARGA HORAacuteRIA PROJOVEM TRABALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008
O conteuacutedo a ser desenvolvido na qualificaccedilatildeo social eacute o seguinte
CONTEacuteUDOS CARGA HORAacuteRIA
Inclusatildeo Digital 40h
Valores humanos eacutetica e cidadania 10
Educaccedilatildeo Ambiental higiene pessoal promoccedilatildeo da qualidade de vida 10
Noccedilotildees de direitos trabalhistas formaccedilatildeo de cooperativas prevenccedilatildeo de acidentes de trabalho
20
Estimulo e apoio agrave elevaccedilatildeo da escolaridade 20
QUADRO 7 - CARGA HORAacuteRIA QUALIFICACcedilAtildeO SOCIAL PROJOVEM TRBALHADOR FONTE Manual do Educador e BRASIL 2008 Deluiz (2010) analisando a execuccedilatildeo do programa no Rio de Janeiro afirma que o
material didaacutetico utilizado para expor esses conteuacutedos era muito superficial ficando
sob a responsabilidade do instrutor77 aprofundar o conteuacutedo para a melhor
compreensatildeo dos jovens inseridos no programa Esse tambeacutem eacute observado no
ProJovem Trabalhador de Serra e pode ser facilmente comprovado uma vez que
apesar de ter um programa que inclui disciplinas como portuguecircs e matemaacutetica natildeo
76
Para fins da certificaccedilatildeo profissional dos jovens e de pagamento do auxiacutelio financeiro exigir-se-aacute frequecircncia mensal miacutenima de setenta e cinco por cento nas accedilotildees de qualificaccedilatildeo 77
A autora utiliza o termo educador poreacutem a orientaccedilatildeo dada nas capacitaccedilotildees era para o uso do termo instrutor por uma questatildeo de pagamento do valor horaaula o valor para educador eacute maior que o do instrutor
114
exige ao instrutor o domiacutenio desses conteuacutedos como podemos observar no quadro
abaixo nem tampouco haacute uma exigecircncia ou proposta metodoloacutegica e didaacutetica a
orientaccedilatildeo dada se limita agrave adoccedilatildeo de dinacircmicas de grupo e ao respeito agrave realidade
do jovem (DELUIZ 2010)
Competecircncias Teacutecnicas Domiacutenio teoacuterico e praacutetico dos conteuacutedos
Formaccedilatildeo Acadecircmica Curso Normal Superior pedagogia Assistente Social Psicologia e outros (com comprovaccedilatildeo de experiecircncia em sala de aula
78) ndash
para Qualificaccedilatildeo Social Ensino Meacutedio ou Superior e curso de Informaacutetica ndash para Inclusatildeo Digital Pelo menos Ensino Meacutedio apresentaccedilatildeo da conclusatildeo do curso de qualificaccedilatildeo profissional (da ocupaccedilatildeo definida pelo arco escolhido) ou comprovaccedilatildeo da experiecircncia na aacuterea da ocupaccedilatildeo ndash para a Qualificaccedilatildeo Profissional
Horaaula R$ 1800
Regime Contrataccedilatildeo RPA79
QUADRO 8 - PERFIL DO INSTRUTOR Fonte Manual do Educador (BRASIL 2008)
As avaliaccedilotildees da aprendizagem seguem a mesma problemaacutetica quando os
conceitos satildeo abordados de forma geneacuterica e superficial cabendo aos instrutores
adaptar agrave realidade de sua turma De acordo com Deluiz (2010) os traccedilos
marcantes no trato ao conteuacutedo da qualificaccedilatildeo social satildeo a fragmentaccedilatildeo e a
superficialidade Neste sentido a qualificaccedilatildeo reproduz os processos de
escolarizaccedilatildeo padratildeo poreacutem com menos qualidade
No caso do ProJovem de Serra ainda houve um outro complicador pois as aulas
aconteciam de terccedila-feira agrave quinta-feira em cinco horas de aula por dia (manhatilde de
0700 as 1200h noturno de 1700 as 2200h) o que compromete a permanecircncia do
jovem no programa uma vez que as atividades ficam cansativas e dificultam que o
jovem possa se envolver em outras atividades Essa escolha eacute tambeacutem uma
estrateacutegia de reduccedilatildeo de custos por parte da empresa contratada pois menos dias
em atividade significa diminuir os custos com o pagamento referente agrave alimentaccedilatildeo
e transporte dos jovens uma vez que esses dois itens satildeo obrigaccedilotildees que a
entidade executora do programa precisa cumprir
78
No caso do municiacutepio de Serra essa condicionalidade natildeo foi observada 79
A forma de contrataccedilatildeo adotado no ProJovem Trabalhador de Serra atraveacutes da Empresa contratada para a execuccedilatildeo do Programa foi o Microempreendedor Individual (MEI)
115
Outra problemaacutetica enfrentada pelo ProJovem Trabalhador de Serra foi que como o
iniacutecio do programa aconteceu no periacuteodo eleitoral o processo de seleccedilatildeo e
qualificaccedilatildeo dos profissionais ficou comprometido Aleacutem disso a forma de
contrataccedilatildeo dos instrutores dificultou a seleccedilatildeo A princiacutepio a forma escolhida foi de
Recibo de Pagamento a Autocircnomo (RPA) contudo como a forma de pagamento
tem uma tributaccedilatildeo elevada a equipe gestora optou pela ldquocontrataccedilatildeordquo atraveacutes do
MEI uma vez que os instrutores passam a ser pessoa juriacutedica assim recai sobre
eles a responsabilidade de pagar os tributos o que diminui os custos na execuccedilatildeo
do projeto mas tambeacutem diminui a qualidade das atividades do programa
A qualificaccedilatildeo profissional deveraacute observar a demanda da empregabilidade e em
caso da aula praacutetica deveraacute ser desenvolvida em condiccedilotildees laboratoriais de acordo
com o curso O conteuacutedo da oferta dos cursos de qualificaccedilatildeo profissional deve ser
elaborado com base na relaccedilatildeo dos arcos ocupacionais abaixo (MANUAL DO
EDUCADOR BRASIL 2008)
Administraccedilatildeo Alimentaccedilatildeo Arte e Cultura Beleza e esteacutetica Construccedilatildeo e Reparos Graacutefica Joalheria Madeira e Moacuteveis Metalmecacircnica Sauacutede Serviccedilos Domeacutesticos Serviccedilos Pessoais Telemaacutetica Transporte Turismo e hospitalidade Vestuaacuterio Outros
QUADRO 9 - ARCOS OCUPACIONAIS Fonte Manual do Educador
Comparando os arcos ocupacionais oferecidos pelo programa com os arcos das
famiacutelias ocupacionais que mais empregam no Brasil tanto para o puacuteblico feminino
quanto masculino podemos perceber que haacute certa proximidade entre os cursos
oferecidos e as possiacuteveis vagas no mercado de trabalho de acordo com os arcos
ocupacionais que mais geram empregos como podemos observar nos quadros
abaixo
Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm Absolutos)
Em
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 112290 150
Operadoras do comeacutercio em lojas e mercados 107736 144
Operadoras de telemarketing 39458 53
Caixas e bilheteiras (exceto caixa de banco) 38221 51
Recepcionistas 37824 51
Alimentadoras de linhas de produccedilatildeo 34153 46
Garccedilonetes barwoman copeiras e sommeliegraveres 25261 34
Trabalhadoras nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 24420 33
Trabalhadoras de embalagem e de etiquetagem 19335 26
Teacutecnicas e auxiliares de enfermagem 17362 23
116
Escrituraacuterias de serviccedilos bancaacuterios 15109 20
Operadoras de maacutequinas para costura de peccedilas do vestuaacuterio 11871 16
Trabalhadoras nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza e conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
9286 12
Almoxarifes e armazenistas 7561 10
Auxiliares de contabilidade 7449 10
Cozinheiras 7142 10
Montadoras de equipamentos eletroeletrocircnicos 6536 09
Teacutecnicas de vendas especializadas 6213 08
Enfermeiras e afins 5822 08
Trabalhadoras da preparaccedilatildeo da confecccedilatildeo de roupas 5452 07
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 538501 720
Total geral 747476 1000
QUADRO 10 - SALDO() DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA MULHERES JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota() Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011) Famiacutelias ocupacionais
Saldo (em nordm absolutos)
Em
Ajudantes de obras civis 120452 116
Alimentadores de linhas de produccedilatildeo 93433 90
Operadores do comeacutercio em lojas e mercados 67644 65
Agentes assistentes e auxiliares administrativos 62540 60
Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias 47072 45
Almoxarifes e armazenistas 36006 35
Trabalhadores de embalagem e de etiquetagem 29584 28
Trabalhadores nos serviccedilos de manutenccedilatildeo de edificaccedilotildees 25889 25
Vigilantes e guardas de seguranccedila 25299 24
Motoristas de veiacuteculos de cargas em geral 20552 20
Porteiros e vigias 14500 14
Trabalhadores nos serviccedilos de coleta de resiacuteduos de limpeza conservaccedilatildeo de aacutereas puacuteblicas
14355 14
Garccedilons barmen copeiros e sommeliers 14015 13
Teacutecnicos em eletrocircnica 12216 12
Analistas de tecnologia da informaccedilatildeo 12037 12
Escrituraacuterios de serviccedilos bancaacuterios 11671 11
Trabalhadores de estruturas de alvenaria 10118 10
Motoristas de veiacuteculos de pequeno e meacutedio porte 10046 10
Preparadores e operadores de maacutequinas-ferramenta convencionais
9679 09
Operadores de telemarketing 9621 09
Total das 10 famiacutelias que mais geraram emprego 646729 620
Total geral 1042393 1000
QUADRO 11 - SALDO(1) DE EMPREGO FORMAL NAS FAMIacuteLIAS OCUPACIONAIS QUE MAIS GERARAM EMPREGOS PARA HOMENS JOVENS DE 16 A 29 ANOS BRASIL 2010 Fonte MTE Caged Elaboraccedilatildeo DIEESE Nota (1) Resultado da diferenccedila entre admitidos e desligados DIEESE (2011)
117
Relacionando os quadros acima com os arcos ocupacionais percebemos que os
arcos ocupacionais contemplam mesmo que natildeo totalmente as aacutereas identificadas
nos quadros como as que mais geram empregos Uma justificativa que pode ser
dada a esse fato eacute de que essas opccedilotildees de cursos facilitaratildeo a inserccedilatildeo do jovem no
mercado de trabalho contudo os arcos natildeo pensados de acordo com as
necessidades e desejos dos jovens tornam o trabalho apenas uma expressatildeo de
troca sem nenhuma possibilidade de autorrealizaccedilatildeo Esse pode ser um dos fatores
para explicar a baixa adesatildeo dos jovens de Serra ao programa
No entanto em nosso entendimento as definiccedilotildees dos arcos ocupacionais limitam a
inserccedilatildeo desses jovens aos interesses das instituiccedilotildees empregadoras uma vez que
natildeo eacute perguntado ao jovem o que ele deseja fazer mas o que ele deseja fazer
dentro do que eacute oferecido pelo programa Neste sentido retomamos a discussatildeo
feita no capiacutetulo anterior sobre as concepccedilotildees de juventude especialmente sobre
moratoacuteria social Jaacute ficou claro que a possibilidade de escolha de quando ingressar
no mercado de trabalho natildeo eacute a realidade de todos os jovens mas fica expliacutecito que
aos jovens das classes populares natildeo eacute permitido nem mesmo escolher como
ingressar no mercado de trabalho qual profissatildeo escolher O trabalho para o jovem
trabalhador pobre assume desse modo apenas a dimensatildeo da exploraccedilatildeo eacute
negado a ele a dimensatildeo da praacutexis de transformaccedilatildeo
Precisamos pensar ainda em um aspecto de suma importacircncia A lei determina
como meta miacutenima a inserccedilatildeo de pelo menos 30 dos jovens no mundo do
trabalho sendo admitidas as seguintes formas de inserccedilatildeo a) emprego formal
(comprovado atraveacutes de coacutepias da carteira assinada dos jovens) b) estaacutegio ou
jovem aprendiz (comprovado atraveacutes de coacutepias dos contratos) c) ou formas
alternativas geradoras de renda (BRASIL 2008) Cabe questionar quais as formas
estatildeo sendo feitas para contabilizar essa inserccedilatildeo e mais do que isso eacute preciso
saber como ela tem se dado Quais os viacutenculos de trabalho Qual o salaacuterio Quais
as condiccedilotildees Qual a permanecircncia dos jovens nesses viacutenculos Essas questotildees
satildeo preliminares para pensarmos na efetividade da poliacutetica e em como os recursos
puacuteblicos estatildeo sendo utilizados
118
Deluiz (2012) observando a realidade do Rio de Janeira afirma que os mecanismos
adotados para essa inserccedilatildeo eacute feita sem uma intermediaccedilatildeo adequada que utiliza
mecanismos informais que natildeo asseguram a meta miacutenima E quando a inserccedilatildeo
acontece os postos criados satildeo precaacuterios sem garantias trabalhistas e de baixa
permanecircncia que em geral natildeo eacute acompanhada Aliaacutes cabe registrar aqui que
diferentemente do ProJovem Urbano o programa que estamos analisando natildeo
conta um instrumento de monitoramento das accedilotildees o que torna extremamente
complicado analisar se os contratos firmados entre os municiacutepios e as instituiccedilotildees
executoras do programa nos municiacutepios estatildeo cumprindo com a meta que eacute uma
exigecircncia legal aleacutem disso natildeo haacute nenhum mecanismo de acompanhamento dos
egressos do ProJovem Trabalhador logo ateacute esse momento como saber em que
situaccedilatildeo os jovens que passaram pelo programa estatildeo no mercado de trabalho
Finalizando a apresentaccedilatildeo do programa nos colocamos diante de algumas
questotildees de fundo que precisamos nos fazer O desafio eacute pois o de termos
condiccedilotildees de distinguir o projeto de Educaccedilatildeo Profissional patrocinado pelos
organismos internacionais (Banco Mundial Banco Interamericano de
Desenvolvimento) reforccedilando o aspecto da heteronomia80 brasileira ou de se
buscar construir uma proposta numa perspectiva de emancipaccedilatildeo da classe
trabalhadora (FRIGOTTO 2001)
Frigotto (2001) sinaliza que a orientaccedilatildeo pedagoacutegica na formaccedilatildeo do trabalhador
(psicofiacutesico intelectual e emocional) tem se dado pela loacutegica do Banco Mundial
como um intelectual coletivo por excelecircncia E no caso do Brasil a perspectiva
politico-pedagoacutegica da Confederaccedilatildeo Nacional da Induacutestria mediante sua triacuteade
SENAI SESI e IEL passa a ser a referecircncia fundamental
Feita a apresentaccedilatildeo do Programa precisamos analisar de que modo tais mudanccedilas
impactaram os resultados A partir dos primeiros resultados do ProJovem Integrado
comparando-os com os programas separados antes da integraccedilatildeo percebermos
um primeiro avanccedilo a ampliaccedilatildeo no nuacutemero de jovens atendidos
80
O conceito de heteronomia eacute de Florestan Fernandes que o define como a dependecircncia poliacutetico econocircmica e psicocultural de relaccedilotildees internacionais que impede qualquer dinacircmica interna de desenvolvimento independente (FERNANDES 2006)
119
MODALIDADE JOVENS ATENDIDOS TOTAL
2003-2007 2008-2009 2010
OS SEIS PROGRAMAS QUE DERAM
ORIGEM AO PROJOVEM INTEGRADO
684844 -- -- 684844
PROJOVEM URBANO -- 350000 200711 550711
PROJOVEM ADOLESCENTE -- 511765 859275 1370950
PROJOVEM CAMPO -- 30000 80000 110000
PROJOVEM TRABALHADOR -- 162960 216779 379739
TOTAL GERAL 684844 1054635 1356765 3096244
QUADRO 12 - ATENDIMENTO DAS MODALIDADES DO PROJOVEM INTEGRADO Fonte Assunccedilatildeo (2010 p 97) Tal fato se deve agrave extensatildeo da faixa etaacuteria que passou a atender jovens de 15 a 29
anos Aleacutem disso natildeo havia mais a necessidade de comprovar a conclusatildeo da 4ordf
seacuterie e aqueles que tivessem inserccedilatildeo formal no mercado de trabalho poderiam ser
alunos do ProJovem
A gestatildeo do programa passou a ser partilhada com os ministeacuterios responsaacuteveis
pelas modalidades seguindo a coordenaccedilatildeo geral da Secretaria Nacional de
Juventude Um dos principais objetivos da integraccedilatildeo era o de evitar a fragmentaccedilatildeo
e a desarticulaccedilatildeo entre as accedilotildees do Governo Federal contudo o objetivo natildeo foi
alcanccedilado As avaliaccedilotildees feitas indicam que ainda existem muitos limites no campo
da gestatildeo que ainda mantecircm a independecircncia dos programas sendo feita por
ministeacuterios diferentes E ainda haacute a existecircncia de submodalidades dentro das
modalidades como eacute o caso do ProJovem Trabalhador que manteacutem a
submodalidade ProJovem Trabalhador Consoacutercio Social da Juventude (CSJ) e
ProJovem Trabalhador Juventude Cidadatilde81 (GONZALEZ 2009 CORRACHANO
2012)
Para Gonzalez (2009) a integraccedilatildeo do programa manteve a loacutegica da elevaccedilatildeo da
escolaridade nas modalidades do ProJovem Adolescente (antigo Agente Jovem) e
do ProJovem Urbano adiando a entrada do jovem no mercado de trabalho jaacute as
modalidades ProJovem Trabalhador e ProJovem do Campo mantiveram a finalidade
81
Consultar Termo de Referecircncia 2043 de 22 de Outubro de 2009 (BRASIL 2009) e Portaria 991 de 27 e novembro de 2008
120
de inserccedilatildeo do jovem no mercado de trabalho82 sendo que este uacuteltimo agregou em
um de seus eixos o estiacutemulo ao empreendedorismo por meio de projetos de
qualificaccedilatildeo que apresentem metodologias e inovaccedilotildees tecnoloacutegicas direcionadas
ao fomento do empreendedorismo juvenil (BRASIL 2010)
O estiacutemulo ao empreendedorismo eacute apresentado como uma saiacuteda importante para
geraccedilatildeo de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos e tambeacutem satildeo
estimuladas propostas natildeo apenas de empreendimento individual mas coletivo na
perspectiva da promoccedilatildeo da economia solidaacuteria desenvolvida no acircmbito do
Ministeacuterio do Trabalho e do Emprego (BRASIL 2010)
Contudo natildeo podemos deixar de considerar que apesar de reconhecer a
importacircncia dessa estrateacutegia para a sobrevivecircncia dos jovens ela tambeacutem natildeo deixa
fazer parte de um processo de naturalizaccedilatildeo das mudanccedilas no mundo do trabalho
que culmina na responsabilizaccedilatildeo dos proacuteprios trabalhadores Eles satildeo convencidos
de que eles eacute que natildeo tecircm grande coisa para vender ou natildeo sabem como vendecirc-la ndash
ou seja natildeo tem ldquocapital humanordquo ocultando desse modo todas as estruturas de
distribuiccedilatildeo desigual e apropriaccedilatildeo desigual dos recursos materiais sociais culturais
e simboacutelicos de nossa sociedade Esse fato faz com que o ldquo[] ldquocapital humanordquo de
um jovem oriundo do contexto popular da ldquoperiferiardquo tenha pouca chance de
equivaler ao de um jovem saiacutedo de um meio privilegiadordquo (BIHR 2007) No bojo do
ldquocapital humanordquo vem tambeacutem a ideia do empreendedorismo Nas palavras de
Pochmann (2005 p 122) essa parece mais a danccedila das cadeiras pois ldquo[] quando
a muacutesica para como na brincadeira infantil haacute mais pessoas de peacute do que cadeiras
disponiacuteveis para sentarrdquo
O termo ldquoempregabilidaderdquo expressa bem a responsabilizaccedilatildeo do indiviacuteduo por sua
situaccedilatildeo de emprego e desemprego numa clara tentativa de transferir riscos e
responsabilidades ao trabalhador fazendo com ele assuma a sua empregabilidade
por meio de formaccedilatildeo profissional qualificaccedilatildeo e requalificaccedilatildeo Em alguns casos
empresas e o Estado ateacute destinam alguns recursos para esses fins que satildeo ldquo[]
82
Em Serra eacute executado o ProJovem Trabalhador ndash Juventude Cidadatilde
121
importantes mas absolutamente incapazes de gerar mais postos de trabalho Uma
contribuiccedilatildeo digamos para o ldquosalve-se quem puderrdquo (MATTOSO 2000 p20)
Neste sentido desloca-se a responsabilidade social do Estado para o plano
individual onde natildeo haacute poliacutetica de emprego apenas indiviacuteduos empregaacuteveis ou natildeo
(FRIGOTTO 2001) E os indiviacuteduos afetados pela loacutegica da competiccedilatildeo por
empregos inseguros comeccedilam a adaptar-se a novas condutas psicoloacutegicas do perfil
do ldquovencedorrdquo (COSTA 2004)
Os limites e desafios colocados no programa vatildeo desde as especificidades do
segmento populacional ateacute a nova formataccedilatildeo do mercado de trabalho Entre os
desafios especiacuteficos da juventude estatildeo a proacutepria legitimidade do trabalho para o
jovem como lembra Corrachano (2012) se no imaginaacuterio social lugar de mulher eacute
em casa lugar de jovem eacute na escola o que torna necessaacuterio reafirmar os muacuteltiplos
sentidos do trabalho para a juventude E um passo importante nessa direccedilatildeo foi a
construccedilatildeo da Agenda Nacional do Trabalho Descente para a Juventude que se
inicia em 201083 e os programas podem ser um importante instrumento contudo
eles precisam estar conectados com as demandas juvenis despidos de antigas
concepccedilotildees e principalmente que se utilize de avaliaccedilotildees consistentes e de
pesquisas para fundamentar as accedilotildees
Para uma aproximaccedilatildeo com o ProJovem apresentaremos abaixo o perfil do jovem
inserido no programa
83
Em 2009 por meio do Decreto Presidencial de 04072009 eacute criado o Comitecirc Executivo Interministerial da Agenda Nacional de Trabalho Descente que cria em o Subcomitecirc de Juventude coordenador pelo Ministeacuterio do Trabalho e da Secretaria Geral da Presidecircncia da Repuacuteblica Jaacute no ano de 2010 eacute criado o Grupo Consultivo Tripartite para a construccedilatildeo da Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude em 2011 o tema eacute discutido nas Conferecircncias Estaduais de Emprego e Trabalho Decente e em 2012 na Conferecircncia Nacional de Emprego Descente em 2013 se inicia a construccedilatildeo do Plano Nacional de Trabalho Decente para a Juventude que tem por objetivo natildeo apenas a inserccedilatildeo do jovem mas sobretudo a qualidade nas ocupaccedilotildees juvenis A agenda se baseia nos pilares do Trabalho Descente da Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho (OIT) quais sejam a) respeito agraves normas internacionais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociaccedilatildeo coletiva eliminaccedilatildeo de todas as formas de trabalho forccedilado aboliccedilatildeo efetiva do trabalho infantil eliminaccedilatildeo de todas as formas de discriminaccedilatildeo em mateacuteria de emprego e ocupaccedilatildeo) b) promoccedilatildeo do emprego de qualidade c) extensatildeo da proteccedilatildeo social d) e diaacutelogo social (BRASIL 2010 p 04)
122
33 PERFIL DO JOVEM INSERIDO NO PROJOVEM
O Ministeacuterio do Trabalho atraveacutes do Departamento Intersindical de Estaacuteticas e
Estudo Socioeconocircmicos (DIEESE) realizou uma pesquisa referente aos anos de
2010 e 2011 relacionando Juventude e Trabalho no Brasil que apresenta resultados
importantes sobre o jovem inserido no ProJovem Trabalhador e alguns dados
socioeconocircmicos sobre a juventude brasileira Apresentaremos alguns pontos que
podem nos ajudar a compreender melhor quem eacute o jovem inserido no Programa
ProJovem Trabalhador
A primeira informaccedilatildeo eacute sobre o nuacutemero de jovens cadastrados no programa
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
HOMENS MULHERES TOTAL
Norte 13509 29524 43033
Nordeste 59095 125207 184302
Sudeste 43597 108104 151701
Espiacuterito Santo 4450 9095 13545
Sul 18187 40165 58352
Centro-Oeste 11709 35385 47094
Brasil 146097 338385 484482
QUADRO 13 - NUacuteMERO DE JOVENS CADASTRADOS NO PROJOVEM Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DIEESE (2011) Percebemos assim que cerca de 10 dos jovens brasileiros estatildeo inseridos no
programa o que mostra a relevacircncia e importacircncia do programa levando os
organismos governamentais a se referirem ao programa como a expressatildeo da
poliacutetica nacional de juventude Com base na populaccedilatildeo jovem do Espiacuterito Santo
qual seja 950 mil pessoas entre 15 a 29 anos de acordo com dados do IBGE
depreende-se que desse quantitativo pouco mais de 142 dos jovens estatildeo
inseridos no programa
No municiacutepio de Serra a populaccedilatildeo de 15 a 29 anos eacute de aproximadamente 155 mil
pessoas em torno de 38 da populaccedilatildeo total conforme dados do IBGE de 2010
Foram disponibilizados para o municiacutepio 2500 vagas No entanto nem todas as
vagas foram ocupadas Foram feitas duas chamadas para ocupaccedilatildeo das vagas
como jaacute descrito O processo foi prejudicado por conta da mudanccedila na gestatildeo
municipal por conta do periacuteodo eleitoral
123
Importante observar que esses iacutendices tatildeo baixos de vagas disponibilizadas para o
programa no Estado e em especial no municiacutepio contrastam com os nuacutemeros de
jovens que tem perfil para a inserccedilatildeo no programa conforme os dados que
apresentamos acima principalmente se observarmos que 1 em cada 7 jovens no
Estado do Espiacuterito Santo estatildeo em situaccedilatildeo de desemprego de acordo com
pesquisa sobre juventude realizada pelo Instituto Jones Santos Neves (IJSN)
equivalendo a um total de 1401 dos jovens entre 15 a 29 anos (ESPIacuteRITO
SANTO 2012) Ou seja haacute no estado demanda e puacuteblico para uma oferta maior de
vagas resta identificar quais razotildees limitam essa ampliaccedilatildeo pensando em
estrateacutegias para diminuir a evasatildeo do jovem no programa
No que se refere agrave faixa etaacuteria a pesquisa mostrou que no Brasil e no Espiacuterito
Santo segue a tendecircncia em meacutedia 60 dos jovens inseridos no programa tem
idade entre 18 a 24 anos (BRASIL 2011) Essa natildeo eacute a faixa etaacuteria mais atingida
pelo desemprego os jovens de 15 a 17 anos satildeo os mais afetados Poreacutem como
um dos criteacuterios de inclusatildeo no programa eacute ter idade miacutenima de 18 anos esse
criteacuterio explica porque os mais afetados estatildeo fora do programa Podemos deduzir
assim que os jovens de 25 a 29 anos tecircm uma participaccedilatildeo menor por jaacute estarem
inseridos no mercado de trabalho levando em consideraccedilatildeo que iacutendices de
desemprego satildeo menores para essa faixa etaacuteria (ESPIacuteRITO SANTO 2012)
Interessante obsevar ainda o nuacutemero das jovens inseridas no programa
representando mais de 60 do total dos jovens participantes fato esse que pode ser
explicado em partes pelos altos iacutendices de desemprego que afetam de forma
diferente as mulheres como apresentamos nos itens anteriores o que evidencia a
inserccedilatildeo ainda precaacuteria da mulher no mundo do trabalho representando assim que
essa pode ser uma oportunidade importante de inserccedilatildeo no mercado de trabalho
para essas jovens
No municiacutepio de Serra a distribuiccedilatildeo dos jovens por sexo foi a seguinte
124
Tabela 2 - Distribuiccedilatildeo de jovens cadastrados por sexo - ProJovem trabalhador Serra Nordm de Alunos
Feminino 1831 6046
Masculino 1197 3954
Total 3028 10000
Fonte SinproJovemSeter-PMS
Isso mostra tambeacutem que eacute necessaacuterio pensar um ProJovem que leve em
consideraccedilatildeo as especificidades de ser uma jovem mulher natildeo soacute no que se refere
agrave inserccedilatildeo no mercado de trabalho que eacute objetivo do programa mas tambeacutem na
permanecircncia dessa jovem no programa em quais condiccedilotildees satildeo ofertadas para
isso e principalmente num acompanhamento posterior
Um uacuteltimo dado que natildeo podemos deixar de comentar mesmo que sucintamente se
refere agrave questatildeo da renda Como mostra a tabela abaixo dos jovens inseridos no
ProJovem Trabalhador o percentual de jovens que recebem outros benefiacutecios
sociais eacute relativamente pequeno apenas na regiatildeo Nordeste o iacutendice eacute um pouco
maior (377) nas demais regiotildees os iacutendices ficam em torno de 15 Esses dados
podem mostrar que esses jovens estatildeo quase que totalmente desassistidos com
relaccedilatildeo aos direitos sociais uma vez que ficaram agrave margem do sistema escolar
estatildeo fora do mercado de trabalho (ou inseridos precariamente) e tambeacutem natildeo satildeo
assistidos pelos programas de Assistecircncia Social ou seja satildeo jovens que estatildeo
expostos a uma grande violecircncia urbana de desproteccedilatildeo social
Brasil Grandes Regiotildees e Unidades da Federaccedilatildeo
PERCENTUAL
Norte 165
Nordeste 377
Sudeste 127
Sul 120
Centro Oeste 145
Brasil 210
QUADRO 14 - PROPORCcedilAtildeO DE JOVENS CADASTRADOS QUE TEcircM ALGUM MEMBRO DA FAMIacuteLIA QUE RECEBEU AUXIacuteLIO DO GOVERNO Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE Obs O total Brasil inclui jovens cadastrados sem informaccedilatildeo para UF DIEESE (2011)
Observando o quadro abaixo que trata especialmente da renda a descriccedilatildeo acima
se fortalece Podemos ver que entre os jovens da populaccedilatildeo rural o salaacuterio em
125
2010 era em meacutedia de pouco mais de um salaacuterio miacutenimo e dos jovens da zona
urbana a meacutedia no mesmo periacuteodo era de dois salaacuterios miacutenimos
RURAL R$ 63700
URBANA R$ 104200
TOTAL R$ 103000
QUADRO 15 - RENDA FAMILIAR DO JOVEM CADASTRADO NO PROGRAMA 2010 BRASIL E GRANDES REGIOtildeES - 2010 (EM ) Fonte MTE Departamento de Poliacuteticas de Trabalho e Emprego para a Juventude Elaboraccedilatildeo DIEESE DIEESE (2011)
Percebemos assim que o jovem inserido no Projovem aleacutem de ter as caracteriacutesticas
padratildeo que satildeo preacute-requisitos para a entrada no programa tais quais situaccedilatildeo de
desemprego e com renda familiar per capita de ateacute um salaacuterio miacutenimo a maioria dos
beneficiados com o programa satildeo jovens mulheres de etnia parda entre 18 a 24
anos e que vem de uma histoacuteria de desproteccedilatildeo social Apenas esses dados
sozinhos jaacute tem grande significado e apontam para a direccedilatildeo que o programa deve
seguir contudo seria interessante saber um pouco mais como o seu real niacutevel de
escolaridade (natildeo apenas a seacuterie de matriacutecula do jovem) a sua composiccedilatildeo familiar
se tem filhos ou natildeo seu histoacuterico de inserccedilatildeo no mundo do trabalho mas
principalmente eacute imperioso saber quais satildeo as reais demandas desses jovens
quais seus anseios e aspiraccedilotildees
34 CONCEPCcedilOtildeES DE JUVENTUDE NO PROJOVEM TRABALHADOR DE SERRA
Para identificar as concepccedilotildees presentes no ProJovem Trabalhador de Serra como
jaacute explicitado na Introduccedilatildeo utilizamos trecircs procedimentos metodoloacutegicos aplicaccedilatildeo
de questionaacuterio agrave equipe teacutecnica do programa e pesquisa documental como foi
descrito na Introduccedilatildeo Analisando os instrumentos de anaacutelise identificamos duas
concepccedilotildees de juventude presentes Juventude como problema e Juventude como
moratoacuteria social Certamente haacute outras concepccedilotildees de juventude presentes no
programa e na equipe que natildeo foi possiacutevel identificar em nossa pesquisa mas
essas em nosso entendimento satildeo as que mais se destacaram
126
Importante ressaltar ainda que essas duas concepccedilotildees natildeo estatildeo isoladas ou seja
um mesmo profissional pode apresentar as trecircs concepccedilotildees de juventude Em uma
resposta sobressaiu uma visatildeo de juventude jaacute em outras respostas a concepccedilatildeo
predominante foi diferente Isto mostra primeiro a complexidade do tema como jaacute
discutimos nos capiacutetulos anteriores e a necessidade de conceituar a categoria
juventude de modo a incluir os diversos aspectos que compotildee o ser jovem
Essa fusatildeo pode indicar ainda a necessidade de aprofundar as discussotildees mais
conceituais sobre juventude com as equipes que executam o programa pois caso o
contraacuterio haveraacute sempre um distanciamento entre as praacuteticas de quem executa e os
objetivos contidos nas orientaccedilotildees das poliacuteticas
341 Juventude como problema
Aqui estatildeo incluiacutedas as respostas que identificam a juventude como o ser social que
tem em si a possibilidade de corrupccedilatildeo dos costumes e valores e que por isso
precisa ser trabalhada para que possa ser bem conduzida e manter a ordem dos
costumes e valores Apesar de ser a forma mais frequente de ver a juventude essa
concepccedilatildeo natildeo estaacute aparente mas tambeacutem natildeo estaacute escondida Talvez porque no
plano do discurso oficial seja necessaacuterio incorporar outra forma de ver a juventude
mas por se tratar do jovem pobre se torna inevitaacutevel uma abordagem que apresente
o jovem como problema
O primeiro ponto que nos leva a identificar a concepccedilatildeo de juventude como
problema no ProJovem Trabalhador e natildeo especificamente no programa municipal
estaacute na proacutepria elaboraccedilatildeo dessa modalidade porque o desemprego do jovem do
sexo masculino recebeu maior atenccedilatildeo
Carrano (2012) afirma que desemprego entre as jovens mulheres eacute uma realidade
antiga mas que natildeo ganhou destaque na agenda puacuteblica Eacute na explosatildeo do
desemprego entre os homens jovens (a partir da deacutecada de 1990) que essa
problemaacutetica ganha status para compor uma proposta poliacutetica Para ele haacute uma forte
tendecircncia de associar o desemprego do homem jovem pobre ao risco potencial de
127
inserccedilatildeo no crime
Isto porque a discussatildeo do empregodesemprego juvenil aparece sempre associada
ao combate do crime ou traacutefico de drogas que arrebanha os jovens desocupados
desse modo o tempo livre da juventude surge como sintoma de perigo
principalmente quando se refere ao oacutecio do jovem do sexo masculino pobre e de
origem negra (SPOSITO CORRACHANO 2006 p 9)
Essa afirmativa ganha maior solidez se aliarmos a essa questatildeo agraves anaacutelises do
ProJovem Trabalhador de Serra mas natildeo soacute desse municiacutepio que apresentamos
acima O principal deles se refere agrave proacutepria loacutegica da qualificaccedilatildeo profissional
proposta pelo programa os cursos de qualificaccedilatildeo satildeo de baixa duraccedilatildeo (250 horas)
e de baixa qualidade uma vez que as empresas que concorrem ao processo de
licitaccedilatildeo concorrem por menor preccedilo e natildeo por melhor condiccedilatildeo teacutecnica
Questionamos assim qual eacute de fato a capacidade de inserccedilatildeo do jovem do
ProJovem Trabalhador no mercado de trabalho e como se daacute essa inserccedilatildeo
Analisando a Portaria 991 de 2008 identificamos que a lei determina que no miacutenimo
30 dos jovens estejam inseridos no mercado de trabalho mas permite como
comprovaccedilatildeo de inserccedilatildeo outras formas que natildeo soacute a carteira de trabalho assinada
mas tambeacutem via inserccedilatildeo de jovem aprendiz e outras formas alternativas geradoras
de renda
Para uma afirmaccedilatildeo conclusiva precisariacuteamos ter acesso a dados e estudos que
avaliassem os egressos do ProJovem Trabalhador mas tudo nos leva a acreditar
que se o programa natildeo os insere no mundo do trabalho ele certamente insere um
processo de pedagogizaccedilatildeo do jovem de tentativa de construccedilatildeo de um modo de
ser jovem Neste sentido entendemos que haacute uma possibilidade grande de que de
fato o programa tenha por objetivo mesmo que natildeo explicitado ocupar o tempo livre
desse jovem de modo a retiraacute-lo da potencial ameaccedila da criminalidade e ainda de
contribuir para que o jovem construa novas formas de relaccedilatildeo natildeo soacute com um
mundo do trabalho
Ao questionarmos a equipe sobre os principais problemas enfrentados pelo jovem
que participa do ProJovem Trabalhador de Serra apenas um entrevistado relacionou
o jovem agrave criminalidade ou drogas os demais associaram a pergunta agrave frequecircncia e
128
permanecircncia do jovem no programa
ldquoDrogas violecircncia e famiacutelias desunidasrdquo (E05) ldquoFalta de entusiasmo em algumas atividades A pressa de conclusatildeo sem a devida preparaccedilatildeo A carecircncia em conhecimento nas aacutereas baacutesicas de ensinordquo (E04) ldquoRecurso financeiro sabendo que essa bolsa de 10000 (cem reais) eacute um valor irrisoacuterio e natildeo tem como se dedicarem exclusivamente ao curso Alguns aventuram em atividades extras mas nem todos possuem essa visatildeo e desanimamrdquo (E03) ldquoOrganizaccedilatildeo com os prazos e calendaacuterios -Falta de Vale Transporte - Falta de recebimento do benefiacuteciordquo(E02) ldquoLocalizaccedilatildeo dos nuacutecleos (locais de grande vulnerabilidade) Carga horaacuteria pesada e atraso na bolsardquo (E01)
No entanto quando perguntamos sobre o que lhes chamava a atenccedilatildeo na temaacutetica
juventude percebemos que ainda eacute marcante a visatildeo de juventude como problema
ou como o ser social que precisa ser bem conduzido para que natildeo se torne
problema que precisa ser socializado como podemos ver abaixo
ldquoAtualmente o nuacutemero crescente de jovens envolvidos com a criminalidaderdquo (E01) ldquoHoje em dia estaacute sendo dada muitas oportunidades para esses jovens (estudo profissionalizante menor aprendiz e etc) que muitas vezes natildeo estatildeo aproveitando isso preferindo um caminho alternativo complicado e doloridordquo (E05) ldquoEsse dinamismo onde devemos trabalhar a fim de direcionarmos para coisas positivas mas se a Famiacutelia natildeo estiver embasada em princiacutepioscondutas e boa iacutendole muito se perderdquo (E03) ldquoConteuacutedos voltados para a socializaccedilatildeo desse jovem como direitos e deveres prevenccedilatildeo trabalho seguranccedila e etcrdquo (E06)
Percebemos assim que haacute uma visatildeo estigmatizadora da juventude que eacute a forma
mais eficiente de tornar algueacutem invisiacutevel ldquo[] Quando o fazemos anulamos a
pessoa e soacute vemos o reflexo de nossa proacutepria intoleracircncia [] o estigma dissolve a
identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificaccedilatildeo que lhe
impomosrdquo (SOARES 2004132) o que resulta em respostas puacuteblicas de caraacuteter
profilaacutetico que tutelam corpos tempos e espaccedilos e satildeo poucos sensiacuteveis agraves histoacuterias
de vida sentimentos e vivecircncias reais dos jovens a quem se destinam as poliacuteticas
(CARRANO 2012)
342 Juventude como moratoacuteria social
Essa concepccedilatildeo eacute muito marcante no ProJovem Trabalhador isto porque ele faz
parte das poliacuteticas voltadas para o futuro que satildeo consideradas mais estruturantes
da vida dos jovens que se relacionam diretamente com o aumento das chances de
129
mobilidade social (CARRANO 2012) Neste sentido o jovem aparece como o ser
social que recebe um tempo maior de preparo para o seu ingresso no mundo do
trabalho e social Dentro dessa concepccedilatildeo vatildeo aparecer tambeacutem expressotildees com
tentativas de inclusatildeo e inserccedilatildeo do jovem justamente por entender que estando
num periacuteodo de moratoacuteria social ele precisa ser inserido
Em alguns momentos o jovem aparece tutelado que corre perigo se natildeo for bem
conduzido mesclando a ideia de moratoacuteria social e a percepccedilatildeo de juventude como
problema Observemos algumas falas dos entrevistados quando perguntados sobre
qual deve ser a funccedilatildeo da poliacutetica social para juventude
ldquoAccedilotildees de inclusatildeo no mercado de trabalho ocupaccedilatildeo dessa juventude com projetos que valorizam o seu potencial disponibilizando accedilotildees que atraem e se sintam valorizadosrdquo (E03) ldquoProtegecirc-los e mostrar a eles oportunidades de crescimento enquanto ser humano que possa transformar a sociedade com suas accedilotildeesrdquo (E01) ldquoAcho que se deve dar oportunidades para que o jovem possa se desenvolver fiacutesica emocional e profissionalmenterdquo (E05) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente para aqueles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02)
Percebemos assim que os entrevistados entendem essa poliacutetica de juventude
como um importante mecanismo de inserccedilatildeo social que se destinam a um puacuteblico
que precisa ser cuidado e natildeo com sujeitos com os quais podemos construir juntos
e oferecer oportunidade mas que precisamos tutelar colocar sob a orientaccedilatildeo do
mundo adulto
Quando perguntados sobre o que eacute ser jovem para eles identificamos que a maior
parte das respostas associa juventude ao sentimento ou emoccedilatildeo como podemos
observar abaixo
ldquoSer jovem eacute estar aberto a novas oportunidades desejos sonhos inquietaccedilotildees e forccedilardquo (E06) ldquoSer jovem eacute poder desfrutar de alegrias pertinentes agrave idade estudar para crescer carinho e amor no lar e comeccedilar a ser dado oportunidades de visualizar um futuro proacutesperordquo (E05) ldquoSer (jovem) eacute o conjunto de emoccedilotildees que influenciam a fazer algo a acreditar em algo por exemplo ser catoacutelico eacute sentir a necessidade de estar em Deus de seguir teus passos deixando se envolver com a emoccedilatildeo causada por essa feacute assim satildeo todas as coisas que formam um ser a emoccedilatildeo movendo cada um de noacutesrdquo (E04) ldquoA fase de encantos e desencantos que deve ser moldada e conduzida afim de natildeo
130
se perderem no ecircxtase das aventuras do querer mais que poderrdquo (E03) ldquoComo uma etapa de transiccedilatildeo que visa preparar a juventude para o futurordquo (E02) ldquoA melhor fase de nossas vidas e que precisamos saber aproveitarrdquo (E01)
Essa percepccedilatildeo tambeacutem estaacute presente no Manual do Educador (Brasil 2012)
Ser jovem eacute ter energia vitalidade e alegrias Eacute estar em constante mudanccedila Para representar estas caracteriacutesticas foi escolhido o SOL que aleacutem de representar a energia e jovialidade tambeacutem nos ilustra o objetivo principal do ProJovem iniciar uma nova etapa na vida dos jovens de Serra iluminando seus caminhos para o futuro (Manual do Educador p 31)
Ao serem solicitados que citassem trecircs vantagens em ser jovem as respostas
repetem essa tendecircncia
ldquoEstar aberto a mudanccedilas sem compromisso e dedicaccedilatildeordquo (E06) ldquoSauacutede disposiccedilatildeo e alegriardquo (E05) ldquoEstar em constante aprendizado Ter admiraccedilatildeo das pessoas atraveacutes das accedilotildees maduras Viver em contiacutenua correriardquo (E04) ldquoMuita energia entusiasmo e disposiccedilatildeo curiosidade com o novo praticidaderdquo (E03) ldquoSer jovem eacute ter mais responsabilidades mais maturidade mais experiecircncia de vidardquo (E02) ldquoNatildeo ter responsabilidade ser forte ser felizrdquo (E01)
Essa associaccedilatildeo remete agrave uma visatildeo de juventude quase como um estado de
espiacuterito nas palavras de Kehl (2004 p 90) ldquo[] eacute um estado de espiacuterito eacute um jeito
de corpo eacute um sinal de sauacutede e disposiccedilatildeo eacute um perfil consumidor uma fatia do
mercado onde todos querem se incluir [] neste sentido mesmo havendo uma
visatildeo tutelada do jovem ele aparece como um periacuteodo de alegrias de boas
emoccedilotildees
Curioso foi quando questionamos a definiccedilatildeo que eles atribuiriam aos jovens do
programa inserido no ProJovemTrabalhador de Serra As respostas divergem das
definiccedilotildees dadas para juventude em sentido geral
ldquoJovens em eminecircncia de risco social de periferiardquo (E05) ldquoInteressados em ser e ter natildeo necessariamente nesta ordemrdquo (E04) ldquoGuerreiro e que pelo fato de estarem frequentando e galgando estudo qualificaccedilatildeo devem ser valorizados e acima de tudo reconhecidos na sociedaderdquo (E03) ldquoPropiciar esperanccedila a muitos jovens que tentam incansavelmente buscar espaccedilos no mercado de trabalho especialmente agravequeles vulneraacuteveis frente ao mundo dando-lhes sobretudo a retomada da dignidaderdquo (E02) ldquoSatildeo jovens que na sua maioria possuem necessidade financeira aleacutem de estarem dispostos ao novo ao conhecimento satildeo jovens interessadosrdquo (E01)
131
O fato de tratar-se de jovens de periferia eacute realccedilado como se o fato de serem jovens
de periferia natildeo fosse possiacutevel a eles ter os sentimentos e emoccedilotildees citados
anteriormente O pressuposto da falta (SARTI 2010) aparece em maior destaque
mostrando nitidamente na visatildeo dos entrevistados a separaccedilatildeo entre o ser jovem e
o ser jovem de periferia
343 E a juventude como sujeito social
Para Dayrell (2001) sujeito social eacute o ser humano que convive e que possui
vontades e eacute movido por elas tem origem familiar vive em determinado contexto
social mas possui singularidades pois possui uma histoacuteria interpreta e daacute sentido
ao mundo bem como agraves relaccedilotildees com os outros Isto significa dizer que esses
jovens constroem um determinado modo de ser jovem na verdade determinados
modos de ser jovem pois natildeo haacute apenas um O jovem aqui eacute compreendido em seu
protagonismo em sua capacidade de construir e reconstruir sua histoacuteria
Chamou-nos a atenccedilatildeo o fato de que nenhum dos entrevistados tenha apresentado
o jovem dentro dessa perspectiva ndash sujeito social ou como protagonista Isto
expressa uma forma de compreender a juventude que no miacutenimo exclui dos
processos de construccedilatildeo da poliacutetica social o jovem que eacute o principal interessado
Um dos entrevistados destaca a importacircncia de construccedilatildeo de um foacuterum de
participaccedilatildeo democraacutetica mas ele inclui o jovem como o principal ator desse
espaccedilo
Contribuir para que cada jovem envolvido exerccedila a sua cidadania contribuindo ainda para a formaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para juventude atraveacutes de um foacuterum onde seratildeo discutidas propostas e ideias de forma participativa a serem encaminhadas num uacuteltimo momento para um conselho (E02)
No debate sobre esse espaccedilo de deliberaccedilatildeo a Portaria 991 de 2008 estabelece
como se daraacute o Controle Social do ProJovem Trabalhador na modalidade Juventude
Cidadatilde
O controle social do Projovem Trabalhador - Juventude Cidadatilde se daraacute com a participaccedilatildeo das Comissotildees Estaduais e Municipais de Emprego devendo os Entes Parceiros apresentarem seus Planos de Implementaccedilatildeo a essas Comissotildees previamente ao iniacutecio da execuccedilatildeo das atividades para fins de conhecimento e acompanhamento (BRASIL 2008 p 39)
132
Fica claro que a perspectiva de controle social natildeo inclui o jovem ou as
organizaccedilotildees juvenis como partiacutecipes do controle social dessa poliacutetica social o que
explica a ausecircncia uma maior apropriaccedilatildeo dessa concepccedilatildeo de juventude na equipe
que executa o programa
Em pesquisa realizada em regiotildees metropolitanas no Brasil Spostio et al (2006)
identificou que a noccedilatildeo de protagonismo juvenil nos depoimentos dos gestores e nos
textos formulados natildeo resultavam de fato em praacuteticas que estimulassem o
protagonismo juvenil No caso do ProJovem Trabalhador eacute um pouco mais
preocupante pois o protagonismo juvenil natildeo estaacute presente nem mesmo no plano
do discurso ou legal
Um dos fatores que podem explicar esse fenocircmeno se refere agrave percepccedilatildeo do jovem
pobre Como lembra Sarti (2010 p 12) ldquo[] a pobreza eacute um problema para quem
vive natildeo apenas pelas difiacuteceis condiccedilotildees materiais de sua existecircncia mas pela
experiecircncia subjetiva de opressatildeo permanente e estrutural que marca sua
existecircncia a cada ato vivido a cada palavra ouvida []rdquo Neste sentido haacute uma
desatenccedilatildeo para a vida social e simboacutelica dos pobres que se expressa segundo
Telles (1999) na privaccedilatildeo da palavra assim a pobreza passa a ser o lugar ldquo[] no
qual a pobreza vira carecircncia a justiccedila se transforma em acesso e os direitos em
ajuda a que o indiviacuteduo tem acesso natildeo por sua condiccedilatildeo de cidadania mas pela
prova de que dela estaacute excluiacutedordquo (TELLES 1999 p 95)
Assim o jovem do ProJovem Trabalhador de Serra mas provavelmente de outros
municiacutepios tambeacutem por serem jovens pobres estatildeo privados do direito de se
expressarem natildeo porque seja proibido mas porque algueacutem acredita que pode falar
por eles
Neste sentido um dos desafios do ProJovem Trabalhador eacute incluir o jovem como
ator importante na elaboraccedilatildeo da poliacutetica Acreditamos que essa proximidade com
os sujeitos a quem se destina a poliacutetica pode contribuir consubstancialmente para a
melhoria da qualidade do programa bem como a permanecircncia do jovem uma vez
que ele passaria a representar a siacutentese dos anseios e desejos juvenis para que
133
assim o ProJovem Trabalhador se torne um programa ldquocabeccedila de jovemrdquo que seja a
expressatildeo dos interesses dos jovens que os envolva e principalmente tenha
impactos positivos em suas vidas
134
4 COSIDERACcedilOtildeES FINAIS
Os dados apresentados aqui mostram como as poliacuteticas sociais para a juventude
em especial o ProJovem Trabalhador de Serra podem ser importantes no cotidiano
desses jovens como um instrumento na efetivaccedilatildeo de direitos sociais Eacute inegaacutevel
os avanccedilos das poliacuteticas de juventude no paiacutes natildeo soacute em quantidade mas
sobretudo em qualidade no entanto ainda a muito a caminhar
Um desses aspectos eacute a descontinuidade administrativa Por natildeo fazer parte de uma
poliacutetica puacuteblica que tenha marcos legais bem definidos o programa acaba se
tornando uma accedilatildeo de governo e natildeo uma poliacutetica de estado Eacute necessaacuterio formular
com clareza incluindo a participaccedilatildeo social especialmente a juvenil os objetivos
das poliacuteticas os meacutetodos e os tempos de execuccedilatildeo tornando puacuteblico os
orccedilamentos os modos de avaliaccedilatildeo (CARRANO 2012) Segundo o autor um dos
desafios da Secretaria Nacional da Juventude eacute justamente essa definiccedilatildeo
institucional
A Secretaria Nacional de Juventude tem o desafio de enfrentar a situaccedilatildeo poliacutetico-institucional que colocou para si que diz respeito agrave convivecircncia de objetivos amplos e ambiciosos ndash como a criaccedilatildeo e gerecircncia do ProJovem ndash ao mesmo tempo em que natildeo logrou constituir estruturas e recursos materiais (materiais humanos e orccedilamentaacuterios) equivalentes aos referidos objetivos (CARRANO 2012 p 240)
Ou seja haacute uma estrutura constituiacuteda um aparato institucional mas que natildeo conta
com os recursos necessaacuterios para a o pleno e devido funcionamento
Haacute tambeacutem uma despreocupaccedilatildeo do programa na elaboraccedilatildeo de pesquisas que
avaliem e pensem as perspectivas futuras do programa principalmente na
problematizaccedilatildeo dos conceitos presentes no ProJovem Trabalhador Evidencia-se
estudos que apresentem as condiccedilotildees dos egressos do programa especialmente
em sua relaccedilatildeo com o mundo do trabalho O ProJovem Urbano jaacute avanccedilou nesse
sentido e conta com produccedilotildees do proacuteprio programa para orientaccedilatildeo das equipes e
em pesquisas que avaliem o programa
A ausecircncia do jovem no processo de elaboraccedilatildeo do programa tambeacutem natildeo pode ser
esquecida Talvez esse seja um dos fatores da evasatildeo do jovem do programa Natildeo eacute
135
possiacutevel elaborar poliacuteticas para juventude excluindo o jovem do processo pois
assim o programa acaba assumindo o caraacuteter de um programa ldquocabeccedila de adultordquo
(CARRANO 2012) natildeo expressando os interesses e as linguagens dos jovens
O fato do ProJovem Trabalhador ser um programa federal de execuccedilatildeo municipal
tambeacutem eacute um condicionante uma vez que a gestatildeo dos municiacutepios precisa seguir as
orientaccedilotildees do Ministeacuterio do Trabalho adentrando-se a uma dupla necessidade que
o programa mesmo sendo de acircmbito federal considere as particularidades de cada
regiatildeo e municiacutepio e que as poliacuteticas de juventude tambeacutem sejam construiacutedas na
esfera municipal construindo uma rede de atenccedilatildeo ao jovem
Como lembra Novaes (2012) esse eacute um dos desafios da poliacutetica de juventude na
atualidade ndash a de interagir na gestatildeo organizando as accedilotildees em sistemas pois
segundo ela uma poliacutetica se fortalece quando se torna um sistema caso contraacuterio
se torna uma poliacutetica fraacutegil
Outro aspecto extremamente relevante eacute o processo de execuccedilatildeo do programa que
eacute feito por uma entidade privada que foi contratada pela Prefeitura Municipal de
Serra atraveacutes da Secretaria de Trabalho Emprego e Renda por meio de licitaccedilatildeo
sendo a entidade vencedora o IMDC Essa estrateacutegia coloca em cena trecircs atores no
processo de execuccedilatildeo do programa cada qual com os seus interesses especiacuteficos
todos inseridos na loacutegica do capital mas para um deles a reduccedilatildeo dos gastos e o
lucro eacute essencial o que ficou visiacutevel no processo de execuccedilatildeo do ProJovem
Trabalhador de Serra na escolha dos bairros onde seriam realizados as atividades
na escolha da forma de contrataccedilatildeo da equipe teacutecnica e na distribuiccedilatildeo das
atividades por exemplo
O fato acima explicita um fenocircmeno em cadeia a fragmentaccedilatildeo O ProJovem que
deveria ser integrado se mostrou fragmentado distribuiacutedo entre os ministeacuterios cada
modalidade seguindo uma orientaccedilatildeo estrateacutegias e objetivos No caso do ProJovem
Trabalhador foram mantidas as mesmas condicionantes dos programas anteriores
antes da integraccedilatildeo Haacute ainda outro tipo de fragmentaccedilatildeo pois o programa natildeo se
articula com as demais poliacuteticas setoriais o que natildeo permite que os conceitos
debatidos no interior das poliacuteticas de juventude sejam partilhados com as demais
136
poliacuteticas exemplo disso eacute que no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo natildeo se utiliza do conceito
de mas de aluno que eacute um conceito puramente de interesse da proacutepria aacuterea
(CASTRO 2012)
Neste sentido eacute importante reafirmar que as poliacuteticas de juventude fazem parte das
estrateacutegias para assegurar os direitos sociais Apesar de parecer oacutebvia essa
afirmaccedilatildeo ela eacute necessaacuteria para que o debate sobre as poliacuteticas de juventude natildeo
fiquem restritas a si mesmas e nesse sentido perca os viacutenculos necessaacuterios com as
discussotildees das demais poliacuteticas Para Carrano (2012) eacute essa inserccedilatildeo mais ampla
que permitiraacute agraves poliacuteticas de juventudes se constituiacuterem como uma poliacutetica de
Estado de modo a perdurar no tempo e no espaccedilo com maturidade institucional
Em nosso entendimento todo o cenaacuterio descrito acima contribui para produzir e
reproduzir concepccedilotildees sobre juventude Evidente que a produccedilatildeo e reproduccedilatildeo natildeo
partem do nada haacute um movimento histoacuterico de percepccedilotildees sobre a juventude em
que a ausecircncia de pesquisas e avaliaccedilotildees a falta de condiccedilotildees adequadas para
desenvolver as atividades a fragmentaccedilatildeo institucional da poliacutetica ausecircncia da
participaccedilatildeo juvenil ndash do controle social dos jovens no programa todos satildeo fatores
que reforccedilam antigas concepccedilotildees que por sua vez tecircm um impacto direto sobre o
programa estudado nas propostas elaboradas retomando Abad (2002) quem define
o problema define tambeacutem as formas de soluccedilatildeo
A concepccedilatildeo mais marcante no ProJovem Trabalhador de Serra sem excluir outras
concepccedilotildees eacute sem duacutevida a do jovem como problema social Do ser social que
precisa ser tutelado e cuidado para que ele possa se inserir de forma adequada agrave
sociedade sem causar maiores danos que considera o jovem como um sujeito
social capaz de conduzir sua proacutepria histoacuteria Observando os fatos ocorridos no
Brasil recentemente que foi em grande parte conduzida pelas juventudes brasileiras
percebemos o quanto tais concepccedilotildees podem estar equivocadas Natildeo se trata de
retomar a visatildeo romacircntica da concepccedilatildeo de juventude dos anos 60 nem de
acreditar em um ethos juvenil principalmente porque estamos em uma sociedade de
classes Mas eacute preciso considerar que os jovens de todas as formas de ser jovens
de qual classe for satildeo sujeitos natildeo soacute de direitos mas sujeitos protagonistas
137
Neste sentido o Programa ProJovem Trabalhador de Serra representa um avanccedilo
pois pode contribuir para a melhoria da realidade concreta dos jovens ao menos
diminuir os problemas Contudo ainda haacute muito que avanccedilar talvez o primeiro passo
seja construir um canal de contato com os jovens de modo a expressar seus
interesses o segundo passo seria o de construir instrumentos de avaliaccedilatildeo e
sistematizaccedilatildeo que ultrapassem as anaacutelises quantitativas de modo a incorporar
discussotildees mais conceituais sobre juventude e trabalho
Dessa forma encerramos esse estudo apoacutes completarmos os objetivos desse
trabalho apesar das inuacutemeras limitaccedilotildees e dificuldades na certeza de que algumas
questotildees ficaram em aberto mas esperamos que a partir desse trabalho outras
possam ser fomentadas e assim possamos manter o debate constante sobre a
categoria social juventude
138
REFEREcircNCIAS
ABRAMO Helena Wendel Condiccedilatildeo juvenil no Brasil contemporacircneo In______ BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 ______ Consideraccedilotildees sobre a tematizaccedilatildeo social da juventude no Brasil In PERALVA AT SPOSITO M (Orgs) In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 5 e 6 Satildeo Paulo 1997 _______ O uso das noccedilotildees de adolescecircncia e juventude no contexto brasileiro In FREITAS M V (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 Cap 2 p 19-35 ABAD Miguel Criacutetica poliacutetica das poliacuteticas de juventude In FREITAS M V PAPA F C (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas juventude em pauta Satildeo Paulo Cortez 2003 _______ Politicas de juventud y empleo juvenil el traje nuevo del rey In Ultima Deacutecada nordm 22 CIDPA Valparaiacuteso ago 2005 p 63-94 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 26 mar 2012 ANTUNES Ricardo Adeus ao Trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 ________ As respostas do capital a sua crise estrutural A reestruturaccedilatildeo produtiva e suas repercussotildees no processo de trabalho In__ Os sentidos do trabalho Ensaios sobre a afirmaccedilatildeo e a negaccedilatildeo do trabalho 6 ed Satildeo Paulo Boitempo Editorial 2002 Cap 3 p 35 ndash 59 ARIEgraveS P Histoacuteria Social da Crianccedila e da Famiacutelia 2 ed Rio de Janeiro LTC Editora 1981 ASSUNCcedilAtildeO Geniuely Ribeiro da A (Des) proteccedilatildeo social da juventude Uma anaacutelise agrave luz da avaliaccedilatildeo do Projovem Urbano segundos seus usuaacuterios no municiacutepio de Joatildeo PessoaPB Dissertaccedilatildeo de mestrado UFPB Joatildeo Pessoa 2010
139
BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Trad Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro 3ordf ediccedilatildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2007 BATISTA Vera Malaguti Filiciacutedio a questatildeo criminal no Brasil contemporacircneo ____ Direitos Humanos violecircncia e pobreza na Ameacuterica Latina contemporacircneaRio de Janeiro Letra e Imagem 2007 BAUER Martin W GASKELL Georges ALLUN Nicholas C Qualidade quantidade e interesses do conhecimento In BAUER M W GASKELL G Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 p 17-27 BEHRING Elaine Rosseti BOSCHETTI Ivanete Poliacutetica Social fundamentos e histoacuteria 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2007 BEHRING Elaine Rosseti Brasil em contra-reforma desestruturaccedilatildeo do Estado e perda de direitos Satildeo Paulo Cortez 2003 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121______ A poliacutetica social no capitalismo tardio 2 ed Satildeo Paulo Cortez 2002 BRASIL Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria Nacional de Juventude Guia das Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude Secretaria Nacional de Juventude ndash Brasiacutelia SNJ 2010 ______ Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil IPEA Instituto de Pesquisa Econocircmicas Aplicadas IPEADATA macroeconocircmicos Disponiacutevel em httpwwwipeadatagovbrgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Justiccedila Relatoacuterio Infopen ndash Relatoacuterios estaacuteticos do sistema prisional Brasiacutelia DIsppniacutevel em lthttpportalmjgovbrgt Acesso em 22 fev 2012 ______ Secretaria Nacional de Seguranccedila Puacuteblica PRONASCI ndash Programa Nacional de Seguranccedila com Cidadania Disponiacutevel emlt wwwportalmjgovbrsenaspgt Acesso em 20 ago 2013 ______ Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia DIsponiacutevel em ltwwwbdtdibictbr Acesso em 20 nov 2011
140
______ Secretaacuteria Nacional de Juventude Manual do Educador Orientaccedilotildees Gerais Brasiacutelia Projovem Urbano 2008 ______ Secretaria Nacional de Juventude Poliacutetica Nacional de Juventude diretrizes e perspectivas 2008b ______ Ministeacuterio do Trabalho Portaria 2043 de 22 de Outubro de 2009 ______ Ministeacuterio do Trabalho Decreto nordm 6629 de 04 de novembro de 2008 regulamenta o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndash Projovem _____ Lei nordm 11692 de 10 de junho de 2008 dispotildee sobre o Programa Nacional de Inclusatildeo de Jovens ndashProJovem _____ Manual do Educador Elaboraccedilatildeo da equipe de execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador de Serra 2012 BOURDIEU P A juventude eacute apenas uma palavra In Questotildees de sociologia Rio de Janeiro Marco Zero 1983 pg 112121 BOSCHETTI Ivanete Assistecircncia Social no Brasil um Direito entre originalidade e Conservadorismo 2 edBrasiacutelia 2003 CAMACHO Luiza M Y Juventude Escolarizaccedilatildeo e Poder Local Relatoacuterio da 1ordf fase da Pesquisa Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude na Regiatildeo Metropolitana da Grande Vitoacuteria ndash ES Vitoacuteria Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwacaoeducativaorgbrportalindexphpgt Acesso em 21 jul 2011 _______ A ilusatildeo da moratoacuteria social para jovens das classes populares In SPOSITO M P (Coord) Espaccedilos puacuteblicos e tempos juvenis um estudo de accedilotildees do poder puacuteblico em cidades de regiotildees metropolitanas brasileiras Satildeo Paulo Global 2007 p 135-157 CAcircMARA DOS DEPUTADOS Plano nacional de juventude proposta para apreciaccedilatildeo e debate Brasiacutelia Centro de Documentaccedilatildeo e Informaccedilatildeo 2004 CARCANHOLO Reinaldo A NAKATANI Paulo O capital especulativo parasitaacuterio uma precisatildeo teoacuterica sobre o capital financeiro caracteriacutestico da globalizaccedilatildeo
141
Ensaios FEE v 20 nordm 1 p 264-304 Porto Alegre junho de 1999 CARRANO Paulo Poliacuteticas Puacuteblicas de Juventude desafios da praacutetica In PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil Satildeo Paulo Petropolis 2012 CASTEL Robert Introduccedilatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 21-37 CASTEL Robert Cap VIII As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 495-591 CASTEL Robert Conclusatildeo As metamorfoses da questatildeo social uma crocircnica do salaacuterio Petropolis Vozes 1999 pg 593-611 CASTRO Mary Garcia Desafios para quem faz o campo das poliacuteticas puacuteblicas de juventude Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 CHAUI Marilena Brasil Mito fundador e sociedade autoritaacuteria 1ordm d Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2006 COUTINHO Carlos Nelson Gramsci Um estudo sobre seu pensamento poliacutetico Rio de Janeiro Campus 1989 COSTA Jurandir Freire Perspectivas da Juventude na sociedade de mercado In___ ABRAMO Helena Wendel BRANCO Pedro Paulo Martoni (Org) Retratos da Juventude Brasileira Anaacutelises de uma pesquisa nacional Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2005 p 75 a 88 DAYRELL Juarez O jovem como sujeito social Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Nordm 24 Satildeo Paulo 2003 p 40-52 DELUIZ NEISE O ProJovem Trabalhador avanccedilos ou continuidade nas poliacuteticas de qualificaccedilatildeo profissional Revista Educaccedilatildeo Profissional Rio de Janeiro V 36 nordm 02 MaioAgo 2010 DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS A ocupaccedilatildeo dos jovens no mercado de trabalho metropolitanos Satildeo Paulo DIEESE ano 03 nordm 24 setembro de 2006
142
DIEESE ESTUDOS E PESQUISAS Anuaacuterio do Sistema Puacuteblico de Emprego Trabalho e Renda 20102011 juventude 3 ed Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos -- Satildeo Paulo DIEESE 2011 ESPIacuteRITO SANTO Instituto Jones dos Santos Neves Perfil da Juventude e Poliacuteticas puacuteblicas no Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2012 EVANGELISTA Joatildeo Emanuel Teoria Social Poacutes-Moderna uma introduccedilatildeo criacutetica Porto Alegre Sulina 2007 FERNANDES Florestan A Revoluccedilatildeo Burguesa no Brasil Ensaio de interpretaccedilatildeo socioloacutegica 5 ed Satildeo PauloGlobo 2006 FILGUEIRAS Luiz Projeto poliacutetico e modelo econocircmico no Brasil Implantaccedilatildeo evoluccedilatildeo estrutura e dinacircmica [S I sn2005] FRIGOTTO Gaudecircncio Juventude trabalho educaccedilatildeo no Brasil perplexidade desafios e perspectivas In ___NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2004 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo p 180-216 FRIGOTTO Gaudecircncio Educaccedilatildeo e Trabalho bases para debater a Educaccedilatildeo Profissional Emancipadora Revista Perspectiva Florianoacutepolis V 19 nordm 01 JanJun 2001 GONZALEZ Roberto Poliacutetica de emprego para jovens entrar no mercado de trabalho eacute a saiacuteda In____ Juventude e Poliacuteticas Sociais no Brasil CASTRO Jorge Abrahatildeo et al Brasiacutelia IPEA 2009 GROPPO L A Juventude ensaios de sociologia e histoacuteria das juventudes modernas Rio de Janeiro Difel 2000GONZALEZ 2009 HARVEY David Do fordismo agrave acumulaccedilatildeo Flexiacutevel In __ Condiccedilatildeo Poacutes-Moderna Uma pesquisa sobre as origens da mudanccedila cultural 12 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 2003 Cap 9 p 135- 162 IAMAMOTO Marilda Vilela CARVALHO Raul de Relaccedilotildees Sociais e Serviccedilo Social no Brasil Esboccedilo de uma interpretaccedilatildeo histoacuterico-metodoloacutegica 16 ed Satildeo Paulo Cortez 2004 (5)
143
__________ Serviccedilo social em tempo de capital fetiche capital financeiro e questatildeo social Rio de Janeiro Cortez 2007 IANNI Octaacutevio Capitalismo violecircncia e terrorismo Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2004 ______ A Questatildeo Social Satildeo Paulo Revista Satildeo Paulo em perspectiva Satildeo Paulo nordm05 Jan-Mar 1991 INSTITUTO CIDADANIA 2005 IPEA Juventudes e poliacuteticas sociais no Brasil Disponiacutevel em ltwwwipeagovbrgt Acesso em 30 de novembro 2012 KEHL Maria Rita A juventude como sintoma da cultura In Juventude e sociedade trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Org Novaes R Vannuchi p Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004p 89114 KOSIK Karel Dialeacutetica do Concreto 7ordf ed Rio de Janeiro Editora Paz e Terra 2002 LEITE Izildo Correcirca Caminhos entrelaccedilados pobreza questatildeo social poliacuteticas sociais e Sociologia In MANFROI Vania Maria MENDONCcedilA Jorge Luiz V P (Orgs) 2003 Poliacutetica social trabalho e subjetividade Vitoacuteria EDUFES [no prelo] _______ A pobreza e a miseacuteria na literatura cientiacutefica A pobreza e a miseacuteria na sociedade brasileira In _____ Desconhecimento piedade e distacircncia representaccedilotildees da miseacuteria e dos miseraacuteveis em segmentos sociais natildeo atingidos pela pobreza 2002 Tese (Doutorado em Sociologia) mdash Faculdade de Ciecircncias e Letras (Campus de Araraquara) Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo p 22-62 LEOacuteN DAacuteVILA Oscar Adolescecircncia e juventude das noccedilotildees agraves abordagens In FREITAS Maria Virgiacutenia (Org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2005 p 9-18 LEVI G SCHMITI C (org) Histoacuteria dos jovens Satildeo Paulo Companhia das letras 1996 pg 0717 v 1 LOWY Michel As aventuras de Karl Marx contra o baratildeo de Munchhausen Satildeo Paulo Cortez 1987
144
MAY Tim Pesquisa social questotildees meacutetodos e processos Traduccedilatildeo Carlos Alberto Silveira Netto Soares - 3ed - Porto Alegre Artmed 2004 MARGULIS Mario URRESTI Marcelo La juventud es maacutes que una palabra Buenos Aires Biblos 1996 p 13-30 MARX Karl A jornada de Trabalho In____ O Capital criacutetica da economia poliacutetica livro I Reginaldo SantrsquoAnna (trad) 19 ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003 Cap 08 p 187-238 MATHIAS Gilberto e SALAMA Pierre O Estado super-desenvolvido Das Metroacutepoles ao Terceiro Mundo Satildeo Paulo Brasiliense 1983 MATTOSO Jorge O Brasil desempregado Como foram destruiacutedos mais de 3 milhotildees de empregos nos ano 90 Satildeo Paulo Perseu Abramo 1999 MINAYO SANCHES Odeacutecio Quantitativo-qualitativo oposiccedilatildeo ou complementaridade In Cadernos de Sauacutede Puacuteblica v 9 n 3 Rio de Janeiro Julset 1993 Disponiacutevel emlthttpwwwscielobrscielophpgt Acesso em 12 dez 2012 MINISTEacuteRIO DA JUSTICcedilA Pronasci 2013 Disponiacutevel em lt httpportalmjgovbr pronascidataPagesMJF4F53AB1PTBRNNhtmgt Acesso em 20 ago 2013 MOORE JUNIOR Barrigton Implicaccedilotildees teoacutericas e projeccedilotildees In__ As origens sociais da ditadura e da democracia Satildeo Paulo Martins Fontes 1983 III Parte p 405-515 MOTA A E Cultura da Crise e Seguridade Social Um estudo sobre as tendecircncias da previdecircncia e da assistecircncia social brasileira nos anos 80 e 90 3 ed Satildeo Paulo Cortez 2005 NAKATANI Paulo Estado e acumulaccedilatildeo de capital discussatildeo sobre a teoria da derivaccedilatildeo Revista Anaacutelise Econocircmica Porto AlegreUFRGS n 8 ano 5 p 35-64 mar 1987 NETTO Joseacute Paulo Capitalismo Monopolista e Serviccedilo Social 4 ed Satildeo Paulo Cortez 2005
145
NETTO Joseacute Paulo BRAZ Marcelo Economia poliacutetica uma introduccedilatildeo criacutetica Satildeo Paulo Cortez 2006 NOVAES Regina Entre Juventudes governo e sociedades (e nada seraacute como antes) Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no Brasil PAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012 OIT ndash Organizaccedilatildeo Internacional do Trabalho Juventude e Trabalho no Brasil variaccedilotildees de situaccedilotildees e desafios para as poliacuteticas 2012 Disponiacutevel em ltwwwoitbrasilgovbrgt Acesso em 18 fev 2013 OLIVEIRA Laura Freitas Questatildeo social e criminalizaccedilatildeo da pobreza aportes para a compreensatildeo do novo senso comum penal no Brasil Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Faculdade de Serviccedilo Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro 2010 PAIS J M As muacuteltiplas ldquocarasrdquo da cidadania In CASTRO et al (org) Juventude contemporacircnea perspectivas nacionais e internacionais Rio de Janeiro NAU Editora 2005 p 107-134 PAIS J M Culturas Juvenis Lisboa Editora Casa da Moeda 2003 PAIS Joseacute Machado A construccedilatildeo socioloacutegica da juventude alguns contributos Anaacutelise Socioloacutegica v 25 n 105-106 1990 PASTORINI Alejandra A categoria ldquoQuestatildeo Socialrdquo em debate Satildeo Paulo Cortez 2004 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subsiacutedios agrave critica dos miacutenimos sociais 4ed Satildeo Paulo Cortez 2007 ______ Poliacutetica Social temas amp questotildees Satildeo Paulo Cortez 2009 PERALVA Angelina T O jovem como modelo cultural Juventude e Contemporaneidade Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo n 56 maioagosetdez 1997 POCHMANN Maacutercio Juventude em Busca de novos caminhos In______NOVAES Regina VANNUCHI Paulo (Org) Juventude e Sociedade Trabalho Educaccedilatildeo
146
Cultura e Participaccedilatildeo Satildeo Paulo 2005 Editora Fundaccedilatildeo Perseu Abramo QUIROGA Consuelo Trabalho e Identidade Juvenil reconhecimento de trajetoacuterias de jovens pobres Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro Belo Horizonte 2001 ROMERO Ricardo Montoro Fundamentos teoacutericos de la politica social In BRACHO Carmeacutem A FERRER Jorge G Politica Social Madrid McGraw-Hill 1998 ROSANVALLON Pierre A nova questatildeo social Brasiacutelia Instituto Teotocircnio Vilela 1998 SARTI Cynthia Andersen A famiacutelia como espelho um estudo sobre a moral dos pobres 6 ed Satildeo Paulo Cortez 2010 SIMIONATO Ivete As expressotildees ideoculturais da crise capitalista da atualidade In Capacitaccedilatildeo em Serviccedilo Social e Poliacutetica Social Moacutedulo 1 Brasiacutelia UnBCEAD 1999 p 79-90 STEIN Rosa Helena Configuraccedilatildeo recente dos programas de transferecircncia de renda na Ameacuterica Latina focalizaccedilatildeo e condicionalidades In Boschetti et al (Orgs) Poliacutetica Social no capitalismo tendecircncias contemporacircneas Satildeo Paulo Cortez 2009 SOARES Laura Tavares Os custos do Ajuste Neoliberal na Ameacuterica Latina Satildeo Paulo Cortez 2000 SOARES Luiz Eduardo Juventude e Violecircncia no Brasil contemporacircneo In ______ Juventude e Sociedade Trabalho educaccedilatildeo cultura e participaccedilatildeo Fundaccedilatildeo Perseu Abramo 2004 pg 130 a 159 SPOSITO Mariacutelia Pontes Trajetoacuterias na constituiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de juventude no Brasil In FREITAS Virginia de e PAPA Fernanda de Carvalho (Orgs) Poliacuteticas Puacuteblicas Juventude em Pauta Satildeo Paulo 2003 Cortez Accedilatildeo Educativa Assessoria p 57-74 _______Breve balanccedilo sobre a constituiccedilatildeo de uma agenda de poliacuteticas voltadas para o jovem no Brasil In ______ Juventude em Pauta poliacuteticas puacuteblicas no BrasilPAPA Fernanda de Carvalho FREITAS Maria Virginia (Orgs) Satildeo Paulo Petropolis 2012
147
SPOSITO Mariacutelia P CORROCHANO Maria C A face oculta da transferecircncia de renda para jovens no Brasil Tempo Social Satildeo Paulo v 17 n 2 p 141-172 nov 2005 SPOSITO Marilia Pontes CARRANO Paulo Juventude e poliacuteticas puacuteblicas no Brasil In Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro n 24 p16-39 setdez 2003 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielogt Acesso em 12 set 2006 SPOSITO Mariacutelia Pontes et al (Org) Juventude e poder local um balanccedilo de iniciativas puacuteblicas voltadas para os jovens em municiacutepios de regiotildees metropolitanas Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Rio de Janeiro v 11 nordm 32 MaiAgo 2006 TAQUETI Camila Lopes A gestatildeo das poliacuteticas de juventude o caso de Vitoacuteria 2005-2010 Dissertaccedilatildeo de Mestrado Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Poliacutetica Social Universidade Federal do Espiacuterito Santo 2010 TELLES Vera Luacutecia da Silva Direitos Sociais afinal do que se trata Editora UFMG BH1999 UNESCO Poliacuteticas puacuteblicas deparacom as juventudes Brasiacutelia UNESCO 2004 WACQUANT Loiumlc Punir os Pobres a nova gestatildeo da miseacuteria nos Estados Unidos (A onda punitiva) Rio de Janeiro 2003 ________ O Retorno do Recalcado violecircncia urbana ldquoraccedilardquo e dualizaccedilatildeo em trecircs sociedades avanccediladas Revista Brasileira de Ciecircncias Sociais 1994 n 24 p 16-30 WAISELFISZ Julio Jacobo Mapa da Violecircncia 2012 crianccedilas e adolescentes do Brasil Rio de Janeiro 2012
148
APEcircNDICE A - QUESTIONAacuteRIO PARA PESQUISA EM CAMPO
1 RELACcedilAtildeO COM O PROJOVEM
11 Vocecirc considera esse programa uma poliacutetica social de juventude ( ) Sim ( )
Natildeo
Por quecirc
12 Em sua opiniatildeo quais satildeo os principais desafios do ProJovem Trabalhador
13 Quais desafios vocecirc enfrentou durante a execuccedilatildeo do ProJovem Trabalhador
14 Quais impactos em sua opiniatildeo o ProJovem Trabalhador tem na vida dos
jovens inseridos no programa
2 JUVENTUDE
21 O que mais chama a sua atenccedilatildeo nas temaacuteticas relativas agrave juventude
22 Como vocecirc define o jovem inserido no ProJovem Trabalhador de Serra
23 Qual sua concepccedilatildeo de juventude O que eacute ser jovem para vocecirc
24 Quais as vantagens de ser jovem
25 Quais as desvantagens de ser jovem
149
APEcircNDICE 2 - DADOS PARA COLETAR COM A GESTAtildeO
1- Objetivos do Projovem Trabalhador
2- Quais satildeo as metas do Projovem Trabalhador
3- Qual eacute o orccedilamento do Projovem Trabalhador no Municiacutepio de Serra
4- Como eacute a execuccedilatildeo do Programa Puacuteblica Ou puacuteblico-privada
5- Quais satildeo as atividades e accedilotildees do Projovem Trabalhador Quais satildeo os
objetivos dessas atividades
6- Quais satildeos os criteacuterios de acesso do jovem ao Projovem Trabalhador Como
se deu o processo de inscriccedilatildeo
7- Como foi o processo de divulgaccedilatildeo do Programa Projovem nas
comunidades
8- Qual o perfil dos funcionaacuterios do Projovem Qual a forma de contrataccedilatildeo
9- Apesar de ser um programa federal haacute alguma particularidade ou diferencial
no Projovem Trabalhador do municiacutepio de Serra
150
QUESTIONAacuteRIO COM JOVENS - PESQUISA EM CAMPO
1- IDENTIFICACcedilAtildeO
11 Qual a sua idade ____________ anos 12 Sexo ( ) masculino ( )
feminino
13 Bairro onde mora
14 Etnia ( ) Branco (a) ( ) Negro (a) ( ) Pardo (a) ( ) Amarelo (a) ( )
Outro
15 Estado civil ( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Uniatildeo Estaacutevel ( )
Separado(a) ( ) Outro ___________
16 Filhos ( ) Sim ( ) Natildeo Se sim quantos ____________
17 Mora com a famiacutelia ( ) Sim ( ) Natildeo 18 Quantas pessoas moram na
mesma casa _________ pessoas
1 9 Local de Nascimento (cidade e Estado) ____________ Estado
_____________
2- INFORMACcedilOtildeES SOBRE ESCOLARIDADE
21 Qual a sua escolaridade atual ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie Incompleto ( ) 1ordf a 4ordf Seacuterie
Completo ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Incompleto ( ) 5ordf a 8ordf Seacuterie Completo ( ) Ensino
Meacutedio Incompleto ( ) Ensino Meacutedio Completo ( ) Curso Teacutecnico Incompleto ( )
Curso Teacutecnico Incompleto
22 Estaacute estudando atualmente ( ) Sim ( ) Natildeo 23 Se sim qual seacuterieano
24 Caso tenha parado de estudar em qual seacuterieano parou de estudar
Porque parou de estudar
3- INFORMACcedilOtildeES SOBRE TRABALHO
31 Vocecirc tem experiecircncia profissional ( ) Sim ( ) Natildeo 32 Se sim qual sua
atividade profissional
151
33 Se sim qual era a forma de inserccedilatildeo no trabalho
( ) Carteira assinada ( ) Prestador de serviccedilo ( ) Autocircnomo ( ) Eventual (
) Outro ________________
4- INFORMACcedilOtildeES SOBRE RENDA
41 Qual a renda familiar ( ) ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 salaacuterio miacutenimo ( ) 01 a
02 salaacuterios miacutenimos ( ) 02 a 03 salaacuterios miacutenimos ( ) Mais de 03 salaacuterios
miacutenimos ( ) outros R$ ___________
43 Quantas pessoas trabalham em sua casa _________________ pessoas
44 A famiacutelia utiliza algum programa social governamental ou natildeo
governamental ( ) Sim ( ) Natildeo se sim quais
5- JUVENTUDE
51 O que eacute ser jovem para vocecirc
52 Quais as vantagens em ser jovem
53 Quais as desvantagens em ser jovem
6 Qual a sua opiniatildeo sobre as atuais mobilizaccedilotildees no Brasil por mudanccedilas
poliacuteticas