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Promoção: Apoiadores

Promoção: Apoiadores - upf.brupf.br/_uploads/Conteudo/anpae2018/ANPAE_FINAL.pdf · Dra. Calinca Jordana Pergher – IFFarroupilha Dra. Clarice Monteiro Scott – IFRS Dra. Gionara

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  • Promoo:

    Apoiadores

  • UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

    Editores

    Diagramao

  • COMISSO ORGANIZADORA:

    Alexandre Harn mestrando PPGEddu UPF

    Ctia Sauer mestranda PPGEddu UPF

    Eduardo Albuquerque mestrando PPGEddu UPF

    Dra. Eliara Zavieruka Levinski diretora da Faed UPF

    Dra. Elisa Mainardi professora Faed UPF

    MS. Evandro Consalter doutorando PPGEddu UPF

    Dra. Luciane Spanhol Bordignon- Coordenadora do CRE UPF

    Dra. Rosimar Serena Siqueira Esquinsani professora PPGEddu UPF

    Dr. Telmo Marcon Professor PPGEddu UPF

    COMIT CIENTFICO

    Dra. Adriana Loss UFFS/Erechim

    Dr. Almir Paulo dos Santos UFFS/Erechim

    Dra. Calinca Jordana Pergher IFFarroupilha

    Dra. Clarice Monteiro Scott IFRS

    Dra. Gionara Tauchem FURG

    Dra. Graziela Zambo Abdian Unesp/Marlia-SP

    Dr. Ivo Dickmann Unochapec/Chapec

    Dr. Jeferson Saccol Ferreira Faculdade Santa Rita/Chapec

    Dra. Maria Cristina Frana IFRS

    Dra. Maria Lcia Marocco Maraschin UFFS/Chapec

    Dra. Olinda Evangelista Unoesc/ Joaaba

    Dra. Rosa Millitz Martins Udesc/Florianpolis

    Dra. Simone de Ftima Flach UEPG/PR

    Dra. Terciane ngela Luchese UCS

    Dr. Valdecir Soligo Unioeste/Cascavel

  • OBJETIVOS:

    a) Geral

    Analisar criticamente os desafios enfrentados pelas polticas educacionais, de modo

    especial a tenso entre o pblico e o privado, luz das pesquisas produzidas no campo

    da educao e em reas afins, dialogando com experincias educativas em construo.

    b) Especficos

    Aprofundar os embates entre o pblico e o privado no mbito da educao e suas

    implicaes e interferncias nas polticas educacionais;

    Problematizar os pressupostos de uma educao republicana, confrontando-os com as

    tendncias de mercantilizao da educao crescentes no contexto atual;

    Socializar pesquisas e reflexes que vem sendo desenvolvidas por educadores em

    distintos espaos sobre as tendncias nas polticas educacionais nos distintos espaos

    locais, nacional e global;

    Criar espaos para que experincias criativas que vem sendo desenvolvidas em distintos

    espaos educativos, particularmente nas redes pblicas, permitem ressignificar prticas

    e as funes prprias da educao, visualizando perspectivas e possibilidades

    emancipatrias.

  • SUMRIO

    APRESENTAO ................................................................................................................... 15

    A ATUAO DO BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO NA REDE

    MUNICIPAL DE ENSINO DE EDUCAO INFANTIL DE FLORIANPOLIS E SUAS

    IMPLICAES NA QUALIDADE DA EDUCAO INFANTIL ....................................... 18

    ngela Maria Scalabrin Coutinho

    Marlise Oestreich

    A ATUAO DO TERCEIRO SETOR NA GESTO DA EDUCAO EM PONTA

    GROSSA - PR .......................................................................................................................... 23

    Simone de Ftima Flach

    Aldimara Catarina Brito Delabona Boutin

    A ATUAO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARAN NO

    MONITORAMENTO DA META 1 DO PLANO NACIONAL DE EDUCAO ............ 29

    Ktia Cristina Sommer Schmidt

    Lusiane Ferreira Gonalves

    A EDUCAO SUPERIOR NA ENCRUZILHADA: ATENDER AOS INTERESSES DO

    MERCADO OU FORMAR PARA A CIDADANIA DEMOCRTICA? .............................. 34

    Diego Bechi

    Maria Dinora Baccin Castelli

    A EDUCAO SUPERIOR NO PLANO NACIONAL DE EDUCAO (2001-2010 E

    2014-2024): DESDOBRAMENTOS E PERSPECTIVAS ...................................................... 40

    Talita Zanferari

    Thales Fellipe Guill

    A ESCOLA SOB PRESSO DE MANDAMENTOS NEOLIBERAIS ................................. 45

    Marcos Antonio Martinelli Madaloz

    Janimara Rocha

    A EXTENSO COMO MOBILIZADORA DO ENCONTRO DA UNIVERSIDADE

    COM A EDUCAO BSICA: UMA EXPERINCIA EM DESENVOLVIMENTO ........ 51

    Viviane Ftima Lima do Prado

    Everaldo Silveira da Silva

    A FLEXIBILIZAO DO TEMPO E ESPAO NAS SOCIEDADES COMPLEXAS E

    SUAS IMPLICAES PARA O ENSINO SUPERIOR ......................................................... 56

    Rogrio Augusto Bilibio

    Marcio G. Trevisol

    A FORMAO NA EDUCAO SUPERIOR E O ACESSO AO TRABALHO ................ 61

    Maria Lourdes Gisi

    Andrey Alves Kochake

    A FRAGILIDADE DAS HUMANIDADES NO ENSINO SUPERIOR SOB A

    INFLUNCIA DO NEOLIBERALISMO NO CONTEXTO DAS UNIVERSIDADES

    COMUNITRIAS ................................................................................................................... 66

    Rosana Cristina Kohls

    Rosenei Cella

    Flvia Peruzzo

  • A IDEOLOGIA DA ESCOLA SEM PARTIDO E SUAS CONSEQUNCIAS NA

    ATUAO DOCENTE ........................................................................................................... 71

    Eduardo Albuquerque

    Telmo Marcon

    A IMPLANTAO DO PROGRAMA NOVO ENSINO MDIO NA REDE PBLICA

    ESTADUAL DE ENSINO DE MINAS GERAIS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS ............. 76

    Suzana dos Santos Gomes

    Heyde Ferreira Gomes

    A INSTITUIO PBLICA NO-ESTATAL E O BEM PBLICO: COMPROMISSO

    SOCIAL E DEMOCRTICO .................................................................................................. 81

    Raquel Paula Fortunato

    A INTENSIFICAO DO TRABALHO DA GESTO ESCOLAR COMO ENTRAVE

    PARA A FORMAO CONTINUADA DOCENTE ............................................................. 86

    Maiara Fernanda Fusinato

    Alexandre Jos Hahn

    A LUTA DE CLASSES NAS POLTICAS PBLICAS DA EDUCAO DO CAMPO:

    ESTADO E PODER ................................................................................................................. 91

    Algacir Jos Rigon

    A META DA GESTO DEMOCRTICA: COMPARANDO O PLANO MUNICIPAL

    DE EDUCAO DA CIDADE DE CURITIBA COM O PLANO NACIONAL DE

    EDUCAO ............................................................................................................................ 96

    ngelo Ricardo de Souza

    Karina Falavinha

    Mariana Peleje Viana

    A PERCEPO DO PROCESSO DE MONITORAMENTO E AVALIAO DOS

    PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO DO ESTADO DA BAHIA: UM OLHAR

    DOS AVALIADORES EDUCACIONAIS ............................................................................ 101

    Luzinete Barbosa Lyrio

    Graciene Guimares Rocha

    Moacir Borges Freitas

    A PESQUISA NOS CURSOS DE DOUTORADO BRASILEIROS SOBRE FORMAO

    E VALORIZAO DOCENTE NAS LINHAS DE POLTICA EDUCACIONAL NO

    TRINIO 2010-2012 .............................................................................................................. 105

    Altair Alberto Fvero

    Carina Tonieto

    A REFORMA DO ENSINO MDIO (LEI N 13.415/2017) E A PROVVEL

    ACENTUAO DA CRISE DA EDUCAO BRASILEIRA ........................................... 111

    Daiane Rodrigues Costa

    Jnior Bufon Centenaro

    A RELEVNCIA DA GESTO DEMOCRTICA ESCOLAR .......................................... 117

    Francisca Eleodora Santos Severino

    Kacianna P. J. Barbosa e Amorim

    A RESPONSABILIZAO DOS GESTORES EM EDUCAO PELA QUALIDADE

    EDUCACIONAL ................................................................................................................... 122

    Carmem Lcia Albrecht da Silveira

    Robledo Leonildo Zuffo

  • ACESSO, PERMANNCIA E VULNERABILIDADE ESCOLAR: ANLISE DOS

    ESTUDANTES VINCULADOS AO PROGRAMA BOLSA FAMLIA ............................. 127

    Ana Lorena Bruel

    Gabriela Schneider

    ANLISE DOS INDICADORES ENCONTRADOS REFERENTES AS

    PUBLICAES CIENTFICAS DO GRUPO DE TRABALHO 11 DA ANPED ............... 133

    Thales Fellipe Guill

    Talita Zanferari

    AS CONFERNCIAS MUNICIPAIS DE EDUCAO DA REDE MUNICIPAL DE

    ENSINO DE CONCRDIA NA GESTO DEMOCRTICA DO ENSINO PBLICO .... 138

    Liane Vizzotto

    Slvia Fernanda Souza Dalla Costa

    Solange Aparecida Zotti

    AS DESIGUALDADES PERANTE O DIREITO CRECHE E A VISIBILIDADE DE

    BEBS E CRIANAS BEM PEQUENAS ENQUANTO ATORES SOCIAIS ................... 144

    Patricia Sesiuk

    Angela Scalabrin Coutinho

    AS POLTICAS DE FORMAO E VALORIZAO DOS PROFISSIONAIS DA

    EDUCAO SOB A PERSPECTIVA DA POLICY CYCLE APPROACH ......................... 149

    Bruna de Souza Souza

    Laudirege Fernandes Lima

    ASPECTOS TERICO-EPISTEMOLGICOS DA PESQUISA EM POLTICA

    EDUCACIONAL NO BRASIL: LEVANTAMENTO DE PUBLICAES ....................... 154

    Jefferson Mainardes

    Silvana Stremel

    AVALIAO DA EDUCAO SUPERIOR E CURSOS DE FORMAO DE

    PROFESSORES: DILOGO ENTRE POLITICAS COMPLEMENTARES ....................... 160

    Msa. Mnica Souza Trevisan

    Msa. Liliane Silveira Bonorino

    Ms. Antnio Carlos Minussi Rigues

    AVALIAO NA EDUCAO BSICA E NO ENSINO SUPERIOR: UM DEBATE

    PARA ALM DO MERCADO CAPITALISTA ................................................................... 167

    Michele L. Blind de Morais

    Silmara Terezinha Freitas

    AVALIAO NACIONAL DA ALFABETIZAO E A RESIGNIFICAO DE

    QUALIDADE DA EDUCAO BSICA: DESAFIOS PARA OS MUNICIPIOS DO RIO

    GRANDE DO SUL ................................................................................................................ 172

    Tatiane de Ftima Kovalski Martins

    Flvia Obino Correa Werle

    BREVE ESTUDO ACERCA DE PESQUISAS ACADMICAS SOBRE A

    FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES INICIANTES NA CARREIRA

    DE MAGISTRIO SUPERIOR ............................................................................................. 177

    Lidiane Limana Puiati Pagliarin

    CARREIRA E REMUNERAO DOCENTES NA REDE ESTADUAL DO RIO

    GRANDE DO SUL E NA REDE MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE .............................. 183

    Laura Dexheimer Trein

    Nal Farenzena

  • CENRIO DAS PESQUISAS SOBRE ENADE E SINAES JUNTO AO BANCO DE

    TESES E DISSERTAES DA CAPES NO PERODO DE 2010 A 2016 ......................... 189

    Andra Vergara Borges

    CONSTRUO DO ESTADO DA ARTE: EM PAUTA A EVASO E A BAIXA

    PROCURA DOS CURSOS DE LICENCIATURA NOS INSTITUTOS FEDERAIS .......... 198

    Greice Lopes Maia

    Marilene Gabriel Dalla Corte

    CONSTRUO, IMPLEMENTAO E AVALIAO DO PME DE MANOEL

    VIANA - RS: UM TRABALHO EM PARCERIA ................................................................ 204

    Calinca Jordnia Pergher

    Joze Medianeira dos S. Andradade Toniolo

    Monique da Silva

    CONVENIAMENTO DE INSTITUIES SEM FINS LUCRATIVOS EM PORTO

    ALEGRE E SEUS IMPACTOS PARA A FORMAO DOCENTE NA

    EDUCAO INFANTIL ...................................................................................................... 209

    Simone Souza Prunier

    Simone Valdete dos Santos

    DESAFIOS DA GESTO ESCOLAR: PODER LOCAL E REGULAO NACIONAL

    NA FORMAO DOS PROFESSORES .............................................................................. 214

    Janaina Melques Fernandes

    Francisca Eleodora S. Severino

    Francisca Eleodora S. Severino

    DILEMAS DA INCLUSO SOCIAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA:

    CONTRADIES E IMPACTOS NAS POLTICAS EDUCACIONAIS ........................... 219

    Ivana Aparecida Weissbach Moreira

    DIMENSES RACIONAIS, POLTICAS E SIMBLICAS QUE AFETAM A GESTO

    EDUCACIONAL SUPERIOR PBLICA E PRIVADA ....................................................... 225

    Haroldo Andriguetto Junior

    Maria Lourdes Gisi

    DISTONIAS ENTRE A PROPOSIO E A CONSTITUIO DO CURRCULO

    ESCOLAR EM DIREITOS HUMANOS............................................................................... 230

    Elisa Mainardi

    Eldon Henrique Mhl

    EDUCAO E O SEU PROFISSIONAL: COMPETNCIAS E HABILIDADES

    NECESSRIAS ..................................................................................................................... 235

    Ivanete Maria Weber

    EDUCAO INCLUSIVA NAS INSTITUIES DE ENSINO SUPERIOR:

    UM DIREITO EM VIGOR? ............................................................................................... 239

    Fernanda Soares Ferreira

    Viviane Ftima Lima do Prado

    EDUCAO LIBERTADORA: UM RELATO DE EXPERINCIA DOCENTE NO

    ENSINO SUPERIOR NA AMAZNIA SOBRE AS POLTICAS EDUCACIONAIS,

    AS PRTICAS PEDAGGICAS E A DIVERSIDADE ...................................................... 244

    Viviane Martins Vital

    Rosane Carneiro Sarturi

  • EDUCAO PARA SUSTENTABILIDADE ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS:

    EXPERINCIA ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE ..................................................... 249

    Sandra Lilian Silveira Grohe

    ELEIO DE DIRETORES E VICE-DIRETORES NO MUNICPIO DE SO

    SEBASTIO DO PASS- BAHIA: REFLEXES SOBRE O CAMINHO

    PERCORRIDO ....................................................................................................................... 254

    Anita dos Reis de Almeida

    Leandro Gileno Milito Nascimento

    Nadja Maria Amado de Jesus

    ELEIO PARA DIREO ESCOLAR EM CURITIBA A PARTIR DE MAX

    WEBER .................................................................................................................................. 259

    Renata Riva Finatti

    ENSINO MDIO EM DISPUTA: UMA REFORMA QUE SE DISTANCIA DO

    DEBATE ACADMICO ....................................................................................................... 264

    Maria Beatriz Luce

    Mateus Saraiva

    Angela Chagas

    ESCOLA PBLICA E O SUCESSO/INSUCESSO DE ESTUDANTES, NA

    PERSPECTIVA DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

    FUNDAMENTAL .................................................................................................................. 269

    Ivanete Maria Weber

    Tania Mara Zancanaro Pieczkowski

    ESPAOS E MECANISMOS DE PARTICIPAO EM SISTEMAS MUNICIPAIS DE

    ENSINO DA MESORREGIO CATARINENSE VALE DO ITAJA ................................ 273

    Aline Bettiolo dos Santos

    Elton Luiz Nardi

    ESTUDO SOBRE RELAES ENTRE GESTO ESCOLAR E AVALIAO EM

    LARGA ESCALA .................................................................................................................. 278

    Simone Salete Sawicki

    Lidiane Limana Puiati Pagliarin

    ESTUDOS SOBRE A IMPLEMENTAO DE POLTICAS ............................................. 283

    Sandra Simone Hpner Pierozan

    Marcia Farinella Soares de Campos

    Flavia Obino Correa Werle

    EVASO DISCENTE EM CURSOS DE GRADUAO DO CAMPUS ITAQUI DA

    UNIPAMPA: UM ESTUDO DE CASO ................................................................................ 288

    Felipe Batista Ethur

    Rosane Carneiro Sarturi

    EXPERINCIAS E DESAFIOS DA PROPOSTA DO MAIS EDUCAO NA

    PERSPECTIVA DA EDUCAO INTEGRAL EM JORNADA AMPLIADA NAS

    ESCOLAS MUNICIPAIS DE ERECHIM/RS ....................................................................... 293

    Greicimra Samuel Nascimento Zick

    FORMAO DOCENTE NA EDUCAO INFANTIL DE CURITIBA: MUDANA

    DE RUMO .............................................................................................................................. 298

    Daniela Sanches Salsamendi

  • FORMAO PARA A CIDADANIA NUM CONTEXTO MARCADO PELA

    RACIONALIDADE CONCORRENCIAL: CONTRIBUIES PARA PENSAR AS

    POLTICAS EDUCACIONAIS NUMA PERSPECTIVA DEMOCRTICA ...................... 303

    Neri Jos Mezadri

    GESTO DEMOCRTICA E FORMAS DE PROVIMENTO DA GESTO ESCOLAR

    NO MUNICPIO DE PINHAIS-PR ....................................................................................... 309

    Tatiana Figueroa Martin Gaya

    GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA E ELEIO DE DIRETORES: AS VOZES

    QUE OPERAM NA GESTO DA ESCOLA ....................................................................... 315

    Waldirene sawozuk Bellardo

    Juliana Kussem

    GESTO MUNICIPAL DA EDUCAO EM BIDOS/PAR: REFLEXOS E

    DESDOBRAMENTOS DA CRISE POLTICA NACIONAL .............................................. 321

    Lucas de Vasconcelos Soares

    Maria Antonia Vidal Ferreira

    GESTO UNIVERSITRIA: A FORMAO CONTINUADA COMO

    ALTERNATIVA PARA A CONSTRUO DO DOCENTE GESTOR. ............................ 326

    Natlia de Almeida Ghidini

    Ctia Ruas Teixeira Sauer

    Helena Rita Schimitz

    INFNCIAS, POLTICAS E DIREITOS: DISPUTAS AFIRMATIVAS ENTRE

    GARANTIAS E CUMPRIMENTO ....................................................................................... 330

    Daniele Vanessa Klosinski

    INFRAESTRUTURA DAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL EM

    CURITIBA: (DES)IGUALDADE DE OFERTA? ................................................................. 335

    Gabriela Scneider

    Desiree Mathias

    MISSO E DESTINO DAS UNIVERSIDADES: A INTERNACIONALIZAO DO

    ENSINO SUPERIOR NA SOCIEDADE DA INFORMAO ............................................ 341

    Marcio G. Trevisol

    Maria de Lourdes Pinto de Almeida

    MOVIMENTOS CONSERVADORES NO CENRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO:

    REPERCUSES NA EDUCAO BSICA ....................................................................... 346

    Iana Gomes de Lima

    NOVO MAIS EDUCAO: UM ESPECTRO DE DISPUTAS POLTICAS ..................... 351

    Rosa Maria Bortolotti de Camargo

    Mnica souza Trevisan

    Rosane Carneiro Sarturi

    NUCLEAO DE ESCOLAS RURAIS: REPERCUSSES EM COMUNIDADES DO

    OESTE CATARINENSE ....................................................................................................... 357

    Ktia Lucena Alves de Oliveira

    O CONFLITO DA UNIVERSIDADE PERANTE A NECESSIDADE DE ADEQUADO

    TRABALHO DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSO ...................................................... 361

    Renan Anderson de Oliveira

  • O CONSELHO ESTADUAL DE SANTA CATARINA E AS RECOMENDAES

    DA OCDE .............................................................................................................................. 366

    Fernanda Denise Siems

    O DILOGO NO PROCESSO DE FORMAO CONTINUADA DE PROFESSORES . 371

    Eliara Zavieruka Levinski

    Ana Carolina Cabral Leite

    Caroline Simon

    O LUGAR DA EQUIDADE E DA DESIGUALDADE EDUCACIONAL NOS

    DOCUMENTOS DO IDEB ................................................................................................... 376

    Janane Souza Gazzola

    Edite Maria Sudbrack

    ORDENAMENTO JURDICO DO TERCEIRO SETOR NO BRASIL: IMPASSES

    PARA A DEMOCRATIZAO DA EDUCAO PBLICA ........................................... 382

    Daniela de Oliveira Pires

    PAPEL POTENCIALIZADOR DOS JOGOS NA FORMAO HUMANSTICA A

    PARTIR DA PERSPECTIVA DE MARTHA NUSSBAUM E GEORGE H. MEAD ......... 387

    Aline Franciele Morigi

    O PRINCIPIO DA PARTICIPAO DA GESTO DEMOCRTICA NOS SISTEMAS

    MUNICIPAIS DE SANTA CATARINA: QUAL PARTICIPAO? ................................. 392

    Durlei Maria Bernardon Rebelatto

    O SENTIDO DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA GESTO DEMOCRTICA DO

    SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE SOLEDADE/RS ............................................... 398

    dria Brum de Azambuja

    Eliara Zavieruka Levinski

    O SUJEITO EMPRESARIAL E O NEOLIBERALISMO PEDAGGICO: AMEAAS

    DEMOCRACIA EDUCACIONAL ................................................................................... 403

    Evandro Consaltr

    PARCERIAS PBLICAS PRIVADAS NA EDUCAO ESCOLAR: O CASO DO

    PROGRAMA AABB COMUNIDADE DA FENABB NO ESTADO DO RS ..................... 408

    Douglas Gadelha S

    Aline Medeiros

    Susana Schneid Scherer

    PARTICIPAO E CONTROLE SOCIAL NO FINANCIAMENTO DA EDUCAO ... 414

    Tagiane Graciel Fiorentin Tres

    Rafael Pavan

    PERCURSOS DA EXPANSO DA EDUCAO SUPERIOR NO BRASIL .................... 419

    Viviane Kanitz Gentil

    PERMANNCIAS E RUPTURAS DO TRABALHO INFANTIL NO CULTIVO DO

    TABACO: DESAFIOS PARA OS GESTORES DA EDUCAO ..................................... 423

    Tnia Parolin da Cruz

    Simone de Ftima Flach

    PERSPECTIVAS PARA O FINANCIAMENTO NOS PLANOS MUNICIPAIS DE

    EDUCAO .......................................................................................................................... 429

    Edugas Loureno Costa

    Tagiane Graciel Fiorentin Trs

  • PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO: CONTRADIES EM FORMA DE LEI NO

    PROVIMENTO DE DIRETORES DE ESCOLAS PBLICAS ........................................... 435

    Munir Lauer

    Rosimar Siqueira Esquinsani

    Carmem Albrecht da Silveira

    PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAO E A ARTICULAO AO PNE: O CASO

    CATARINENSE .................................................................................................................... 440

    Marcia Farinella Soares de Campos

    Liane Vizzotto Sandra

    Simone Hopner Pierozan

    POLTICA DE ENFRENTAMENTO AO INSUCESSO ESCOLAR: DIAGNOSE DA

    EVASO E RETENO PARA A CONSTRUO DO PLANO INSTITUCIONAL

    ESTRATGICO DE PERMANNCIA E XITO DOS ESTUDANTES DO INSTITUTO

    FEDERAL DO PAR ............................................................................................................ 446

    Samai Serique dos Santos Silveira

    Silvana Neumann Martins

    Adriana Oliveira dos Santos Siqueira

    POLTICA EDUCACIONAL COMO CAMPO ACADMICO NO BRASIL:

    EMERGNCIA E EXPANSO A PARTIR DAS PUBLICAES .................................... 451

    Silvana Stremel

    Jefferson Mainardes

    POLTICAS DE AVALIAO EDUCACIONAL E A CULTURA DA

    PERFORMATIVIDADE NA PRTICA DOCENTE ........................................................... 457

    Silmara Terezinha Freitas

    POLTICAS DE FORMAO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR ............................... 462

    Simone de Lima

    Leandro Jos Piovesan

    Silvia Regina Canan

    POLTICAS DE FORMAO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAO BSICA:

    INOVAES OU PREOCUPAES? ................................................................................ 467

    Luciane Spanhol Bordignon

    Egeslaine de Nez

    POLTICAS EDUCACIONAIS E DESIGUALDADES SOCIOECONMICAS NO

    BRASIL .................................................................................................................................. 473

    Telmo Marcon

    POLTICAS EDUCACIONAIS PARA A FORMAO DE PROFESSORES

    NO BRASIL ........................................................................................................................... 478

    Flaiane Rodrigues Costa

    Munir Jos Lauer

    POLTICAS PRIVATIVISTAS NA EDUCAO BSICA GACHA ............................. 483

    Renata Ceclia Estormovski

    POLTICAS PBLICAS DE AVALIAO: A REDAO DO ENEM E A

    PRODUO TEXTUAL NA ESCOLA PBLICA ............................................................. 489

    Glcia Juliana Leandro Lemos

    Suzana dos Santos Gomes

  • POLTICAS PBLICAS DE INCLUSO: UMA ABORDAGEM ACERCA DOS

    PROCESSOS INCLUSIVOS NAS ESCOLAS REGULARES ............................................. 494

    Dbora dos Santos Bert

    Julio Cesar Godoy Bertolin

    POLTICAS PBLICAS PARA A EDUCAO INFANTIL NO BRASIL, ARGENTINA E

    URUGUAI: UM ESTUDO COMPARATIVO ...................................................................... 500

    Adrea Cristiane Maraschin Bruscato

    PRECARIZAO DAS CONDIES DE TRABALHO DOCENTE: O CASO DOS

    PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DO PARAN..................................................... 506

    Denize Cristina Kaminski Ferreira

    PROFESSOR E PROFESSOR DE EDUCAO INFANTIL EM CURITIBA: DUAS

    CARREIRAS A MESMA PROFISSO. ............................................................................... 512

    Claudia Alessandra Gregrio

    PROFISSIONALIZAO DOCENTE: ENTRE CONQUISTAS E DESAFIOS ................ 517

    Camila de Ftima Soares dos Santos

    Edite Mara Sudbrack

    PROGRAMAS DE FORMAO DE TRABALHADORES DO CAMPO:

    REFLEXES SOBRE O PRONERA E O PROCAMPO ...................................................... 522

    Naira Estela Roesler Mohr

    PROJETO CONECTADOS NAS ESCOLAS PBLICAS PARANAENSES:

    ANLISE DA POLITICA EDUCACIONAL EM AO .................................................... 528

    Mary ngela Teixeira Brandalise

    PROVIMENTO DO DIRETOR DE ESCOLA POR INDICAO: O PESO DA

    GESTO MUNICIPAL NA GESTO DOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAO

    INFANTIL DE CURITIBA ................................................................................................... 533

    Danieli DAguiar Cruzetta

    QUESTIONRIO COMO FERRAMENTA DE PESQUISA COMPARTILHADA: UMA

    EXPERINCIA DE COLETA DE DADOS CONJUNTA SOBRE GESTO NA

    EDUCAO INFANTIL ...................................................................................................... 538

    Jolma de Souza Arbigaus

    Danieli DAguiar Cruzetta

    REFLEXES INICIAIS SOBRE A POLTICA DE ASSISTNCIA ESTUDANTIL

    NOS INSTITUTOS FEDERAIS ............................................................................................ 543

    Andriara Ponte Casarotto Soares

    Fernanda Martini de Andrade

    Calinca Jordnia Pergher

    REFLEXES SOBRE AS TEMTICAS DOS TRABALHOS DE CONCLUSO DO

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM COORDENAO PEDAGGICA ........................ 548

    Maria Goreti Farias Machado

    RELATO DA CONSTRUO E IMPLEMENTAO DE UMA POLTICA PBLICA

    DE EDUCAO ESCOLAR PARA IDOSOS NO MUNICPIO DE CONCRDIA SC NO

    CONTEXTO DA HISTRIA DE EJA NO BRASIL ............................................................ 554

    Flvia Peruzzo

    Ricardo Cocco

    Rosana Cristina Kohls

  • REPERCUSSES DA ACCOUNTABILITY NA PRODUO ACADMICO -

    CIENTIFICA BRASILEIRA ................................................................................................ 559

    Marilda Pasqual Schneider

    Michele Luciane Blind de Morais

    SABERES NECESSRIOS GESTO DA SALA DE AULA ......................................... 564

    Alexandre Jos Hahn

    Maiara Fernanda Fusinatto

    SOBRE OS GRUPOS DE PESQUISA EM EDUCAO SUPERIOR DAS

    UNIVERSIDADES PBLICAS DA REGIO CENTRO-OESTE DO BRASIL ................ 569

    Fernando Rodrigo Dall Igna

    UMA RELEITURA DO DIREITO EDUCAO BSICA A PARTIR DAS

    IMPLICAES DAS POLTICAS DO GOVERNO SARTORI (2015-2018) ..................... 574

    Marlize Dressler

    Liliana Soares Ferreira

    UNIVERSIDADE COMUNITRIA E A TENSO PBLICO-PRIVADO:

    COLEGIALIDADE E PARTICIPAO ESTUDANTIL NAS INSTNCIAS

    DE GESTO .......................................................................................................................... 580

    Brenda Natallie Girardi de Almeida

    Cristina Fioreze

    UNIVERSIDADES COMUNITRIAS, POLTICAS DE GESTO AMBIENTAL E

    AMBIENTALIZAO: EDUCAO PARA ALM DA SALA DE AULA..................... 586

    Gabriela Andrighe Colombo

    Silvia Regina Canan

  • 15

    APRESENTAO

    Anualmente, a Anpae promove eventos, intercalando um em nvel nacional com outros

    regionais. Em 2018, ocorrero eventos regionais. No sistema de rodzio entre os trs estados do

    sul, coube ao Rio Grande do Sul sediar o V Seminrio, que ocorrer de 11 a 13 de abril de 2018

    na Universidade de Passo Fundo, tendo como tema Polticas educacionais como campo de

    disputas: tenses entre o pblico e o privado.

    Por que da escolha dessa temtica? O campo das polticas educacionais vem se tornando

    cada vez mais disputado por diferentes agentes com projetos e interesses distintos. A construo

    de diretos entre os quais o da educao, resultante de duros embates nas ltimas quatro

    dcadas e consagrados em diferentes legislaes como a Constituio de 1988, a LDB de 1996

    e as regulamentaes educacionais posteriores atravs de pareceres e diretrizes est sendo

    ameaada por um conjunto de decises polticas, econmicas e legais. Fazem parte desse

    contexto a reforma do ensino mdio, a proposta de Escola sem partido, o congelamento de

    investimentos por vinte anos, as sistemticas investidas contra o Plano Nacional de Educao

    (2014-2024), a excluso de representaes do campo da educao no Frum Nacional de

    educao, entre as quais a Anped e o Sintee. Esses so alguns dos sintomas em curso que

    apontam para a desestruturao das polticas educacionais pblicas construdas nas ltimas

    quatro dcadas e a implantao de novas propostas, fortemente influenciadas por interesses

    empresariais. A educao brasileira vive uma forte tenso entre duas perspectivas distintas: uma

    republicana e outra privatista-mercadolgica. Esses embates, no entanto, no so novos. Desde

    a dcada de 1920, intensificam-se as crticas educao privada pelos pioneiros da escola nova

    que, no Manifesto de 1932, clamam pelos princpios de uma educao pblica, gratuita e laica.

    Ao contrrio desses princpios, crescem, no contexto atual, tendncias de mercantilizao,

    ocorrendo o fortalecimento de grupos empresariais que defendem um Estado mnimo quando

    se trata de polticas pblicas, como a educao, o crescimento de instituies educativas com

    interesses exclusivamente mercantis e Institutos sem fins lucrativos que atuam em assessorias

    a redes pblicas de educao, assumindo protagonismos no mbito de polticas educacionais,

    mesmo no tendo trajetrias e experincias histricas na educao formal. Com base num

    discurso gerencialista, defendem projetos e propostas educacionais sem os pressupostos

    polticos e pedaggicos que so imprescindveis para uma educao emancipadora, humana e

    cidad.

    Nesse contexto, propostas pautadas em lgicas mercantis ganham a simpatia de gestores

    pblicos e conquistam espaos cada vez mais significativos. Em contrapartida, instituies

  • 16

    educacionais com trajetrias consolidadas e organizaes que tradicionalmente ocuparam-se da

    educao, entre as quais a Anpae, so marginalizadas de debates fundamentais e suas

    contribuies, quando no desconsideradas, so secundarizadas. Tudo isso produz uma

    sensao de impotncia entre educadores para fazer frente aos complexos processos

    socioculturais, polticos e educacionais presentes na sociedade e vivenciados cotidianamente

    nas escolas.

    Diante disso, temos de nos perguntar a respeito dos impactos dessas mudanas na

    educao bsica. A definio legal de educao bsica ainda se sustenta no contexto da reforma

    do ensino mdio? Como fica a educao bsica a partir da Base Nacional Curricular Comum

    que tratou em separado a educao infantil e Fundamental do ensino mdio? Como avanar

    numa articulao orgnica entre a educao bsica, a educao superior e os programas de ps-

    graduao lato e stricto sensu? Como o discurso gerencialista da educao est avanando sobre

    a educao bsica? At que ponto professores e gestores conseguem diagnosticar o que est em

    curso para se posicionarem propositivamente por meio de prticas que resistam

    desqualificao da educao? Como enfrentar o pessimismo, o desnimo e as ameaas que

    envolvem gestores, professores e alunos?

    A Anpae, entre outras organizaes educacionais, tem de continuar contribuindo com

    reflexes crticas sobre os mltiplos desafios que se fazem presente nas prticas educativas e,

    ao mesmo tempo, precisa dar visibilidade s experincias que esto sendo produzidas em

    instituies educativas e em redes de educao com muitas dificuldades, mas que acenam para

    mudanas criativas. O V seminrio constitui-se num espao de socializao dessas experincias

    que precisam ser refletidas e confrontadas com as pesquisas que vem sendo produzidas,

    especialmente no mbito dos programas de ps-graduao stricto sensu em Educao.

    Nesse contexto, o V Seminrio tem como objetivo geral discutir criticamente os desafios

    enfrentados pelas polticas educacionais, de modo especial a tenso entre o pblico e o privado,

    luz das pesquisas produzidas no campo da educao e em reas afins, dialogando com

    experincias educativas em construo. Como objetivos especficos, prope-se a aprofundar os

    embates entre o pblico e o privado no mbito da educao e suas implicaes e interferncias

    nas polticas educacionais; problematizar os pressupostos de uma educao republicana,

    confrontando-os com as tendncias de mercantilizao crescente na educao atual; socializar

    pesquisas e reflexes que vm sendo desenvolvidas por educadores em distintos espaos sobre

    as tendncias nas polticas educacionais em distintos espaos locais, nacionais e globais; e criar

    espaos para que experincias criativas que vm sendo desenvolvidas em distintos espaos

  • 17

    educativos, particularmente em redes pblicas, permitam ressignificar prticas e as funes

    prprias da educao, visualizando perspectivas e possibilidades emancipatrias.

    No ano em que a Universidade de Passo Fundo, instituio comunitria e regional, est

    completando cinco dcadas de existncia; a Faculdade de Educao, 61 anos; e o Programa de

    Ps-Graduao em Educao, 21 anos de atividades, sentimo-nos profundamente agraciados

    em acolher o V Seminrio Regional sul da Anpae. Desejamos a todos que o evento constitua-

    se num espao privilegiado de socializao de pesquisas e experincias educativas e possa

    trazer alento e energias para continuarmos lutando por uma educao capaz de formar seres

    pensantes e democrticos.

  • 18

    A ATUAO DO BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO NA

    REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE EDUCAO INFANTIL DE FLORIANPOLIS

    E SUAS IMPLICAES NA QUALIDADE DA EDUCAO INFANTIL

    ngela Maria Scalabrin Coutinho Universidade Federal do Paran

    [email protected]

    Marlise Oestreich Universidade Federal de Santa Catarina

    [email protected]

    Resumo: Em linhas gerais, apresentamos a atuao do Banco Interamericano de

    Desenvolvimento na rede municipal de ensino de Educao Infantil de Florianpolis e suas

    implicaes, por meio do Programa de expansin y mejoramiento de la educacin infantil y la

    enseanza fundamental en el Municipio de Florianpolis, em especial na qualidade da

    Educao Infantil. Os componentes do Programa, num total de quatro, organizam-se em torno

    da expanso, da infraestrutura, da formao, da gesto e do monitoramento da qualidade da

    educao. Destacaremos a expanso do setor privado na educao pblica, sendo mais uma

    ao visando hegemonia e alinhada com uma agenda global, vindo assentada na lgica

    gerencialista e implicando as polticas educacionais.

    Palavras-chave: Banco Interamericano de Desenvolvimento. Educao Infantil. Qualidade na

    Educao Infantil.

    INTRODUO

    Em 2009, na pesquisa sobre qualidade na Educao Infantil (EI),1 Florianpolis obteve

    os melhores resultados, ocasionando que em 2012 o municpio firma um emprstimo junto ao

    BID no valor de 58 milhes de dlares, por meio do Programa de expansin y mejoramiento

    de la educacin infantil y la enseanza fundamental en el Municipio de Florianpolis, cujo

    1 No Brasil foram realizadas duas pesquisas com abrangncia nacional sobre a qualidade na Educao Infantil,

    uma em 2006 e outra em 2009.

  • 19

    objetivo principal anunciado foi melhorar a qualidade da educao. Esse programa composto

    de quatro componentes, tendo o primeiro relao com a cobertura e a melhoria da infraestrutura,

    prevendo:

    [...] (i) a construo de 23 unidades de educao infantil, a ampliao ou renovao

    de 15, atingindo 100% de cobertura na pr-escola e pelo menos 60% das crianas de

    0 a 3 anos, tudo em tempo integral, (ii) a construo de trs escolas de ensino

    fundamental, a expanso ou renovao de 11 unidades, atingindo 32% de cobertura

    em tempo integral, bem como a construo de dois centros de inovao da educao

    bsica para atividades pedaggicas no contraturno, e (iii) a aquisio de bens e

    materiais durveis para equipar as unidades educacionais. (BID, 2014, traduo

    nossa).

    Em relao ao segundo componente, esse se prope a

    [...] apoiar (i) o processo de licitao para a seleo de novos professores, (ii) a

    formao e qualificao de professores e cursos de formao de educao integral, de

    contedo especfico e competncias pedaggicas necessrias para cada nvel, assim

    como a implementao de um sistema de "treinamento" para professores, (iii) o

    desenvolvimento de matrizes para o currculo do ensino bsico, a articulao e a

    facilitao da transio de uma educao para o prximo nvel, (iv) o desenvolvimento

    da matemtica, de ensino inovador, do portugus e da cincia, e da tecnologia da

    informao na sala de aula para reforar o desempenho e a permanncia no sistema

    escolar, e (v) a formao de materiais para todos os estabelecimentos na rede. (BID,

    2014, traduo nossa).

    O componente trs remete gesto, ao acompanhamento e avaliao:

    [...] (i) a gesto da escola e da rede, tais como a seleo e a formao de gestores

    escolares, redesenhando os processos e a implementao de um sistema de

    gerenciamento de rede e escolas que atenda aos desafios da extenso da oferta de

    tempo integral, (ii) a implementao de novos processos de seleo, colocao, apoio

    e avaliao de professores, (iii) a melhoria da Prova Floripa em design,

    processamento, utilizando os professores e os diretores e seus resultados, (iv) o

    desenvolvimento e a implementao de um sistema de monitoramento da qualidade

    da Educao Infantil, e (v) a realizao de pesquisas para identificar a demanda

    reprimida, e o desenho e a implementao de avaliaes do processo e dos impactos

    gerados pelo programa. (BID, 2014, traduo nossa).

    E, por fim, o componente quatro trata da administrao do Programa: [...] (i) a criao

    da unidade de gesto do projeto, (ii) a aquisio de bens para o seu funcionamento, e (iii) a

    prestao de apoio gesto de servios e Auditoria externa (BID, 2014, traduo nossa).

    Observamos que os componentes se propem a expandir o atendimento, a melhorar a

    infraestrutura, a implementar possveis mudanas na seleo de novos professores, nas

    atividades de formao e na qualificao, prevendo a implantao de um sistema de

    treinamento. Verificamos um esforo concentrado no ensino da matemtica, do portugus e

  • 20

    de cincias, bem como da tecnologia da informao, objetivando melhorar o desempenho dos

    estudantes. H aspectos que dizem respeito gesto,2 fazendo meno seleo e formao

    dos gestores das unidades educativas, a um sistema de gerenciamento da rede, com vistas

    oferta da educao em tempo integral, ou seja, vislumbra aes legitimando um sistema de

    gerenciamento. Atua na implantao de novos processos de seleo, colocao, apoio e

    avaliao de professores, alm do desenvolvimento e da implementao de um sistema de

    monitoramento da qualidade da Educao Infantil. E, por fim, consta o apoio para a gesto e a

    auditoria externa visando garantia do Programa.

    METODOLOGIA

    Como aporte terico, utilizamos o conceito de Agenda Globalmente Estruturada para a

    Educao (AGEE), por tratar-se de [...] um conjunto de dispositivos poltico-econmicos para

    a organizao da economia global, conduzido pela necessidade de manter o sistema capitalista

    mais do que qualquer outro conjunto de valores (DALE, 2004, p. 436). Agregamos ainda o

    conceito de hegemonia de Gramsci (2002, p. 48), que

    [...] pressupe indubitavelmente que sejam levados em conta os interesses e as

    tendncias dos grupos sobre os quais a hegemonia ser exercida, que se forme um

    certo equilbrio de compromisso, isto , que o grupo dirigente faa sacrifcios de

    ordem econmico-corporativa; mas tambm indubitvel que tais sacrifcios e tal

    compromisso no podem envolver o essencial, dado que, se a hegemonia tico-

    poltica, no pode deixar de ser tambm econmica; no pode deixar de ter seu

    fundamento na funo decisiva que o grupo dirigente exerce no ncleo decisivo da

    atividade econmica".

    Para a anlise dos documentos, mobilizamos as proposies de Fairclough (2001, p. 22)

    utilizando a Anlise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO), pois [] diferentes

    discursos constituem entidades-chave de diferentes modos e posicionam as pessoas de diversas

    maneiras como sujeitos sociais.

    2 Em Florianpolis a eleio de diretores acontece desde 1986 no ensino fundamental e 1994 na Educao

    Infantil. Em termos de gesto, a rede municipal tambm implementou em 1987 a eleio de Conselhos

    Deliberativos.

  • 21

    CONCLUSO

    Uma de nossas questes de pesquisa : qual a concepo e quais instrumentos esto

    sendo adotados como referncia para o monitoramento da qualidade na rede municipal de

    ensino de Educao Infantil de Florianpolis, j que em 2015 realizou-se, por intermdio da

    Fundao Carlos Chagas, a avaliao em larga escala,3 sendo aplicada em todas as unidades

    educativas de EI da rede. O fato de o BID investir na cidade de melhor resultado, visto que foi

    [] escolhida para receber os recursos financeiros, em detrimento das outras capitais com

    maiores carncias de recursos e infraestrutura para os padres do BID (EVANGELISTA;

    PEREIRA, 2016, p. 215), nos parece objetivar a manuteno da hegemonia, em especial atravs

    do consenso. Como, de fato, se justifica esse investimento em Florianpolis considerando que

    nas aes prioritrias do BID consta reducir la pobreza y la desigualdad social? Uma de

    nossas hipteses a de que esse programa, celebrado com o BID e a Secretaria Municipal de

    Educao (SME), implementa aes que contribuiro, dentre outras questes, para uma

    concepo da qualidade atrelada ampliao do setor privado junto ao pblico, o investimento

    na lgica gerencialista, bem como o avano do empresariado na educao, interferindo nas

    polticas educacionais. Destacamos ainda que Florianpolis tornou-se a porta de entrada para o

    investimento advindo do BID na Educao Infantil do pas, j que na sequncia foram

    celebrados outros emprstimos junto ao Banco, como, por exemplo, pelas redes municipais de

    ensino de Manaus4 e de Porto Alegre.5

    O conjunto de autores (DALE, 2004; GRAMSCI, 1978, 2002) nos permite compreender

    que h uma ntima relao do Programa alinhavada a uma agenda global, implementada pelas

    polticas, e sendo regulada, pois [] justamente a criao de um bloco ideolgico que

    permite classe dirigente manter o monoplio intelectual, atravs da atrao das demais

    camadas de intelectuais (PORTELLI, 1977, p. 69). Dessa forma, promove-se a conservao

    da hegemonia, impulsionando [...] a realizao de um aparato hegemnico, enquanto cria um

    novo terreno ideolgico, determina uma reforma das conscincias e dos mtodos de

    conhecimento, um fato de conhecimento, um fato filosfico (GRAMSCI, 1978, p. 52).

    Em linhas gerais, com base no discurso da melhoria da qualidade, compreendemos esse

    emprstimo como uma estratgia para o avano da privatizao da educao, pois consta

    3 Foram utilizadas as escalas ITERS-R e ECERS-R. 4 Valor do emprstimo: 52 milhes de dlares. 5 Valor do emprstimo: 80,8 milhes de dlares.

  • 22

    tambm nas prioridades do BID promover el desarrollo a travs del sector privado,

    sacramentando o avano do empresariado nas polticas educacionais, ou seja, fomentando a

    mercantilizao da educao.

    REFERNCIAS

    BID. Expansion and Improvement Program of Early Childhood Education and

    Elementary Education. Brazil, 2014.

    ______. Acerca del BID. Disponvel em: . Acesso em: 28 set. 2017.

    DALE, R. Demonstrando a existncia de uma cultura educacional mundial comum ou

    localizando uma agenda globalmente estruturada para educao. Educao e Sociedade,

    Campinas, SP, v. 25, n. 87, p. 423-460, maio/ago. 2004.

    EVANGELISTA, O.; PEREIRA, E. (Org.). Ns da rede: a educao bsica municipal na

    voz de seus professores. Florianpolis: NUP-CED-UFSC, 2016.

    FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudana social. Traduo de Izabel Magalhes. Braslia: UnB,

    2001.

    GRAMSCI, A. Concepo dialtica da histria. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978.

    ______. Cadernos do crcere. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002. v. 3.

    PORTELLI, H. Gramsci e o bloco histrico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

  • 23

    A ATUAO DO TERCEIRO SETOR NA GESTO DA EDUCAO

    EM PONTA GROSSA - PR

    Simone de Ftima Flach UEPG

    [email protected]

    Aldimara Catarina Brito Delabona Boutin UEPG

    [email protected]

    Resumo: Baseando-se em pesquisa bibliogrfica a respeito da atuao do terceiro setor nas

    polticas educacionais e de dados disponveis on line sobre aes do Instituto Ayrton Senna e

    da Fundao Lemann, o texto apresenta dados parciais de pesquisa em andamento sobre a

    atuao do terceiro setor no municpio de Ponta Grossa PR, em diferentes perodos

    governamentais. A partir da produo acadmica sobre o assunto, ao final conclui-se que as

    aes implementadas em diferentes perodos evidenciam o alinhamento do poder pblico com

    os interesses do terceiro setor.

    Palavras-chave: Parcerias pblico-privadas. Terceiro setor. Poltica educacional municipal.

    Gesto da Educao.

    INTRODUO

    A atuao do terceiro setor tem sido recorrente nas polticas educacionais brasileiras,

    em especial nas realidades municipais. Analisar como o terceiro setor, em especial o Instituto

    Ayrton Senna e Fundao Lemann, tem atuado na gesto de polticas municipais o objetivo

    do presente texto.

    A partir de pesquisa bibliogrfica so apresentados alguns fundamentos da Terceira Via

    que justificam a atuao do Terceiro Setor na execuo de polticas pblicas, em especial

    aquelas entendidas como polticas sociais, dentre as quais se situa a educao. Em seguida

    apresentamos a realidade do municpio de Ponta Grossa quanto s parcerias pblico- privadas

    para o campo educacional, com foco no Instituto Ayrton Senna e Fundao Lemann em

    diferentes perodos governamentais.

    mailto:[email protected]

  • 24

    Ao final, conclui-se que as aes implementadas revelam a fragilidade do poder pblico

    em definir polticas com base na efetivao da gesto democrtica e que possibilitem a melhoria

    da educao oferecida populao. Em contrapartida, os dados tambm revelam como as duas

    organizaes exercem a centralidade na definio de polticas educacionais.

    A TERCEIRA VIA E O TERCEIRO SETOR NA EDUCAO PBLICA

    Nas ltimas dcadas, a teoria e a prtica das polticas educacionais no Brasil tm sofrido

    forte influncia do movimento global do capitalismo, o qual ultrapassa fronteiras territoriais

    reestruturando o modo de produo, de forma a aprofundar a lgica de explorao da classe

    trabalhadora.

    Desde a dcada de 1970, os efeitos da crise mundial contriburam para o

    desenvolvimento do pensamento neoliberal, o qual impactou no papel do Estado, pois este foi

    entendido como o responsvel pela crise, sendo necessrio reduzir a sua atuao (dentre outras

    estratgias), principalmente em relao s polticas sociais. Nesse sentido tornou-se central o

    papel do mercado, pois a lgica mercantil deve prevalecer inclusive no Estado, para que ele

    possa ser mais eficiente e produtivo (PERONI, 2008, p. 113). A estratgia central do

    neoliberalismo para a superao da crise do Estado privatizao dos servios pblicos,

    passando esses a serem executados pelo mercado.

    Entretanto, outra concepo para a superao da crise dada pela chamada Terceira

    Via, a qual se apresenta como alternativa para o neoliberalismo, incorporando tanto elementos

    neoliberais quanto elementos da socialdemocracia. Giddens (2001, p. 40) defende que a

    poltica da terceira via no uma continuao da filosofia do neoliberalismo, mas uma

    filosofia poltica alternativa a ele.

    Diferentemente do neoliberalismo que enfatiza o processo de privatizaes, a terceira

    via no o nega, mas defende que a responsabilidade das polticas sociais seja repassada para a

    sociedade civil representada pelo terceiro setor, o qual caracterizado pelas instituies no-

    estatais que atuam na esfera pblica e que, em tese, no tm fins lucrativos6. Peroni (2008)

    alerta que quando a Sociedade Civil passa a ser entendida como Terceiro Setor ocorre, dentre

    outros fatores: a redefinio do papel do Estado em razo da no definio clara entre o pblico

    6 Podemos citar como instituies do terceiro setor os Institutos e Fundaes, Entidades beneficentes,

    filantrpicas ou de caridade; Organizaes No Governamentais ONGS, dentre outras.

  • 25

    e o privado, a reconfigurao e o esvaziamento da democracia, a qual se materializa em polticas

    sociais em detrimento do processo participativo dos cidados. Nessa perspectiva, a educao

    sofre os efeitos mais perversos, pois a conquista do princpio da gesto democrtica

    subsumida pelas parcerias pblico-privadas, as quais impem a lgica do privado no setor

    pblico.

    Tais questes podem ser visualizadas na crescente atuao de Institutos e Fundaes na

    execuo de polticas educacionais, seja por meio da difuso de materiais didticos e

    pedaggicos, formao de professores e gestores educacionais ou sistemas de monitoramento

    das redes escolares. A justificativa que tem sido utilizada tornar o sistema educacional mais

    produtivo, por meio de eficincia e eficcia.

    Assim, o discurso da conquista da qualidade da educao pblica seduz os gestores, que

    acabam por impor um modus operandi que atropela profissionais e alunos e, ainda,

    desconsidera as necessidades locais e as conquistas em prol da gesto democrtica com

    participao de profissionais e comunidade na definio, acompanhamento e avaliao das

    aes escolares.

    A ATUAO DO IAS E DA FUNDAO LEMANN EM PONTA GROSSA

    Ponta Grossa um dos municpios mais importantes do estado do Paran e atendeu em

    2017 em torno de 31.000 alunos em 84 escolas e 59 Centros Municipais de Educao Infantil.

    Segundo dados disponveis no website da Secretaria Municipal de Administrao e Recursos

    Humanos, o municpio contou com aproximadamente 3500 professores (dentre efetivos e

    contratados com prazo determinado). O IDEB de 5,8 para os anos iniciais em 2015 ficou abaixo

    da meta municipal que era estimada em 6,0. Os dados atuais demonstram a amplitude do

    atendimento da educao pblica e indica o quo significativo pode ser os resultados de

    parcerias com o terceiro setor.

    A atuao do Terceiro Setor no municpio de Ponta Grossa tem sido recorrente nos

    ltimos anos, especialmente a partir de ano de 2001, quando o Instituto Ayrton Senna

    conquistou espao da gesto educacional, atuando junto Rede Municipal por 12 anos e, mais

    recentemente, em 2017 pela entrada da Fundao Lemann para a formao de profissionais da

    educao. O Quadro 1 demonstra que o Terceiro Setor se faz presente no municpio em

    diferentes perodos e sob o comando de diferentes correntes partidrias.

  • 26

    Quadro 1 - atuao do terceiro setor em ponta grossa pr em diferentes perodos governamentais

    Perodo Prefeito Partido Terceiro

    Setor Programas/Foco de atuao

    2001 - 2004 Pricles de

    Holleben Mello PT IAS

    Programa Escola Campe / Aprendizagem

    / Monitoramento

    2005 - 2012 Pedro Wosgrau

    Filho PSDB IAS

    Programas: Circuito Campeo

    e Gesto Nota 10 / Aprendizagem

    /Formao de Gestores / Monitoramento

    2017 - ... Marcelo Rangel

    de Oliveira PPS

    Fundao

    Lemann

    Programa Formar / Gesto da SME /

    Formao Continuada de Profissionais

    Nota: Organizado pela autora, conforme dados disponveis nos Websites da Prefeitura Municipal, IAS e Fundao

    Lemann (2018)

    No perodo 2001 2004, quando a administrao municipal esteve sob a

    responsabilidade do Partido dos Trabalhadores, a parceria com o IAS teve como foco a busca

    pelo sucesso da aprendizagem dos alunos e, alm dessa questo foi justificada pela equipe da

    SME como alinhamento entre o pblico e o privado quanto efetivao da gesto democrtica.

    A esse respeito Rocha (2003, p. 211) alertou que ou a SME est equivocada quanto ao real

    significado da gesto democrtica ou no percebeu que a gesto democrtica oportunizada

    pelo Escola Campe um embuste.

    No perodo 2005 2012, sob a administrao vinculada ao PSDB, a Rede Municipal

    viveu o aprofundamento do encaminhamento educacional do IAS. No entanto, o foco mais

    significativo ocorreu com a participao no Programa Gesto Nota 10, o qual influenciou a

    reorganizao da gesto escolar, aprofundou o controle do trabalho e das atividades

    pedaggicas desenvolvidas. Sob a influncia do IAS o municpio foi premiado em 2006, pelo

    MEC/INEP, com o Prmio Inovao em Gesto Educacional, fato que colocou em evidncia

    mtodos gestionrios divulgados pelo IAS em relao gesto administrativa, pedaggica e

    financeira das escolas com vistas aos resultados de desempenho dos alunos.

    Em que pese anlise de Rocha (2003) ter sido feita em outro perodo, j indicava a

    preocupao que se evidenciou posteriormente quando afirmou que do ponto de vista da

    privatizao e despolitizao, exemplos como o de Ponta Grossa so preocupantes [...] por

    representar uma realidade que est adquirindo status de natural (ROCHA, 2003, p. 221). Tal

    fato, alm de naturalizar a atuao do Terceiro Setor na educao pblica, contribui para o

    fortalecimento de uma cultura escolar, conforme evidenciado em Relatrio do IAS.

  • 27

    O municpio paranaense de Ponta Grossa hoje um campeo da gesto escolar. Desde

    2001 a Secretaria de Educao vem implementando a metodologia e as prticas do

    Programa Gesto Nota 10, desenvolvendo uma cultura de trabalho articulado, em que

    toda a rede se envolve e se empenha para proporcionar condies de aprendizado

    efetivo aos alunos. (IAS, 2012, p. 18)

    Pode-se afirmar que findo a parceria com o IAS, as prticas divulgadas em 12 anos de

    atuao permaneceram, visto que as mudanas no so imediatas e necessitam de oportunidades

    e condies para serem gestadas superando a realidade anterior.

    Em 2017, novamente o poder pblico municipal firmou parceria com a Fundao

    Lemann, por meio do Programa Formar, o qual atua em duas frentes: reviso e

    desenvolvimento de polticas e processos pedaggicos; e, formao continuada de professores,

    gestores escolares e equipe da SME. Segundo a Fundao Lemann o programa customizado

    e atende os desafios da rede e as formaes fortalecem e aprimoram as prticas dos

    educadores a fim de promover melhores aulas e mais qualidade na aprendizagem dos alunos

    (FUNDAO LEMANN, 2018).

    Para tanto, h encontros presenciais e a distncia, sendo que nesses o profissional recebe

    uma senha de acesso para o desenvolvimento de atividades propostas, as quais visam

    padronizao de procedimentos educacionais e administrativos, sem considerar a realidade de

    cada municpio, escola ou aluno. Tais questes podem colocar a educao em risco.

    CONCLUSO

    Os dados parciais apresentados demonstram como o municpio de Ponta Grossa vem

    efetivando parcerias com o Terceiro Setor para a execuo de polticas educacionais. Tais

    parcerias evidenciam, em diferentes perodos governamentais, o alinhamento do poder pblico

    com os interesses do terceiro setor.

    Tais dados evidenciam a necessidade do aprofundamento da discusso a respeito de

    como os grupos do terceiro setor oferecem opes para a execuo de servios pblicos e como

    tais propostas se alinham com os interesses do capitalismo global.

  • 28

    REFERNCIAS

    FUNDAO LEMANN. Formar: redes que transformam a educao. Disponvel em:

    Acesso em: 12. jan. 2018.

    PERONI, V. A relao pblico/privado e a gesto da educao em tempos de redefinio do

    papel do Estado. In: ADRIO, T.; PERONI, V. M. (Org.). Pblico e privado na educao:

    novos elementos para o debate. So Paulo: Xam, 2008.

    GIDDENS, A. A terceira via e seus crticos. Rio de Janeiro: Record, 2001. IAS. Instituto Ayrton

    Senna. Relatrio de resultados 2012. Disponvel em: http://educacaosec21.org.br/wp-

    content/uploads/2013/07/relatorio institucional2012.pdf. Acesso em: 10. jan. 2018.

    ROCHA, J. M. Parcerias na educao: uma efetiva participao da sociedade civil? 2003. 242

    f. Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Federal do Paran. Curitiba, 2003.

    http://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/07/relatorio%20institucional2012.pdfhttp://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/07/relatorio%20institucional2012.pdf

  • 29

    A ATUAO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO PARAN NO

    MONITORAMENTO DA META 1 DO PLANO NACIONAL DE EDUCAO

    Ktia Cristina Sommer Schmidt UFPR

    [email protected]

    Lusiane Ferreira Gonalves UFPR

    E-mail: [email protected]

    Resumo: As anlises apresentadas nesse trabalho fazem parte de uma pesquisa de mestrado

    ainda em andamento que objetiva analisar a atuao do Tribunal de Contas do Estado do Paran

    (TCE-PR) no monitoramento da Meta 1 do Plano Nacional de Educao (2014-2024), que

    trata da expanso das matrculas na Educao Infantil. Este artigo se atm anlise do

    documento PAF 2016 EDUCAO que apresenta os dados da auditoria de 40 municpios

    paranaenses realizada no ano de 2016 pelo TCE-PR.

    Palavras-chave: Tribunal de Contas. Monitoramento do PNE. Educao Infantil.

    INTRODUO

    Os Tribunais de Contas (TCs), representados pela Associao dos Membros dos

    Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), firmaram em maro de 2016 um Acordo de

    Cooperao Tcnica e Operacional junto ao Instituto Rui Barbosa (IRB), o MEC e o Fundo

    Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE), que prev a realizao de aes conjuntas

    para implementao da Lei n 13.005/2014, no que se refere execuo dos Planos de

    Educao, nacional, estaduais e municipais (BRASIL, 2016).

    No estado do Paran, o TCE-PR iniciou em 2015 um projeto piloto de fiscalizao

    integrada para avaliar a situao dos entes municipais em relao ao cumprimento da Meta 1

    do PNE, projeto que teve continuidade no ano de 2016 com a auditoria de 40 municpios do

    estado (TCE-PR, 2016) e, em 2017, com a previso de auditar outros 30 (TCE-PR, 2017). Os

    dados referentes auditoria realizada no ano de 2016 foram organizados no Relatrio intitulado

    PAF 2016 EDUCAO Educao Infantil: Universalizao da educao na pr-escola para

  • 30

    crianas de 4 a 5 anos e ampliao da oferta de vagas em creche para crianas at 3 anos,

    publicado em 2017. Desse modo, entende-se a relevncia da anlise do Relatrio para

    compreenso, ainda que parcial, da atuao desse TC no monitoramento da Meta 1 do PNE.

    METODOLOGIA

    Para realizao desse trabalho recorreu-se pesquisa do tipo documental, que conforme

    Cellard (2014, p. 298) toma o documento como seu objeto de estudo, entendendo que, o exame

    minucioso de alguns documentos ou bases de arquivos abre, s vezes, inmeros caminhos de

    pesquisa e leva formulao de interpretaes novas, ou mesmo a modificao de alguns

    pressupostos iniciais. O documento analisado refere-se ao Relatrio Geral de Auditoria do

    Plano Anual de Fiscalizao (PAF) Educao elaborado pelo TCE-PR a partir da auditoria

    realizada no ano de 2016 em 40 municpios paranaenses para fiscalizar o cumprimento da Meta

    1 do PNE.

    RESULTADOS E DISCUSSES

    O TCE-PR visitou 40 municpios do estado do Paran entre 13/06/2016 a 07/10/2016 e

    organizou os dados no mencionado Relatrio, publicado em 2017. Conforme enunciado no

    documento, a apresentao dos dados seria organizada em dois momentos, sendo o primeiro

    destinado exposio do contexto geral e o segundo s especificidades de cada municpio, no

    entanto, o documento disponibilizado na pgina eletrnica do TCE-PR contm apenas a

    primeira parte (TCE-PR, 2017).

    A parte disponibilizada do referido Relatrio constituda por seis captulos. No

    captulo 1, Introduo, o texto apresenta brevemente o documento e lembra que o projeto

    realizado em 2016 estava em conformidade com o Projeto Piloto de Fiscalizao Integrada

    realizado por esta Corte no ano de 2015 (TCE-PR, 2017, p. 1), desse modo, percebe-se que o

    trabalho de monitoramento feito pelo TCE-PR teve incio um ano aps a aprovao do PNE

    (2014-2014), sendo anterior ainda ao Acordo de Cooperao Tcnica e Operacional firmado

    entre a Atricon, o IRB, o FNDE e o MEC (BRASIL, 2016).

    O captulo 2, intitulado Motivao e antecedentes necessrios expe a justificativa do

    TCE-PR para essa atuao. O texto ressalta a concepo de educao tomada pelo rgo, que

    em consonncia com a Constituio Federal (1988) reconhece a educao enquanto um direito

    fundamental. Nesse sentido, Silveira (2006) esclarece que a instituio da educao como

  • 31

    direito fundamental implica na constituio dessa como dever do Estado, que deve garanti-lo a

    todos quantos precisarem. O texto tambm se refere ao PNE como um importante passo para a

    materializao desse direito, mas recorda que os objetivos expostos nos Planos Nacional e

    Estadual afiguram-se distantes de boa parte dos Municpios do Estado do Paran, registrando-

    se casos de elevado nvel de eficincia nos gastos pblicos na educao e casos extremamente

    opostos (p. 2), sendo esta constatao o principal motivo para o monitoramento realizado pelo

    TCE-PR.

    No captulo 3, so expostos os objetivos e escopo da auditoria, sendo estabelecido

    como objetivo geral verificar as medidas planejadas e executadas pelos Municpios em

    cumprimento a Meta n 01 do PNE e do PEE, tanto no que diz respeito universalizao do

    acesso pr-escola (4 e 5 anos) a partir de 2016, quanto progressiva expanso do acesso as

    creches (0 a 3 anos) at 2024 (TCE-PR, 2017, p. 3). Para atender ao objetivo proposto foram

    elaboradas onze questes de auditoria que se referem a trs eixos centrais: o planejamento

    municipal, a adequao dos espaos fsicos e a adequao do corpo tcnico (TCE-PR, 2017).

    O captulo 4 reserva-se apresentao da Metodologia utilizada pelo TCE-PR.

    Conforme consta no Relatrio, todas as fases da auditoria foram conduzidas por uma equipe

    multidisciplinar de servidores, com a participao, na fase de planejamento, de especialistas e

    estudiosos da rea da Educao Infantil. A definio da amostra foi realizada com base em

    indicadores ligados performance do municpio no atingimento da Meta 1 do PNE e PEE.

    Alm dos indicadores, levou-se em conta limites populacionais e geogrficos, sendo a amostra

    final constituda por dois grupos, um formado por 10 municpios com elevado desempenho nos

    ndices mencionados e o outro por 30 municpios com baixo desempenho7. Desse modo, a

    amostra de municpios auditados no ano de 2016 refere-se a quase 10% dos 399 municpios

    daquele estado.

    No captulo 5 esto elencados os Resultados Agregados. O TCE-PR (2017) destaca a

    existncia de cinco fatores externos que influenciam no atingimento da Meta 1 do PNE,

    quais sejam: extenso territorial, populao rural, populao ocupada na agropecuria,

    populao que vive abaixo da linha da pobreza e o ndice de Gini.

    Em relao ao atendimento da Meta 1 do PNE, o TCE-PR afirma que apenas 13 dos

    40 municpios visitados universalizaram o atendimento na pr-escola, que se refere a parte A

    da Meta 1 do PNE, no entanto, no indicam a situao dos municpios quanto ao atendimento

    7 O Relatrio no informa em qual dos dois grupos est cada municpio.

  • 32

    na creche. Importante destacar que apesar do prazo final para o cumprimento dessa parte da

    Meta 1 ser maior (2024), conforme lembra Flores (2015), o alcance desse objetivo somar ao

    final desse PNE um prazo de 24 anos, j que a meta de atendimento de 50% da populao de 0

    a 3 anos esteve presente tambm no PNE 2001-2010, e nesse sentido, crianas e famlias tm

    sido privadas do acesso Educao Infantil durante esse tempo, o que sinaliza a urgncia e a

    necessidade do monitoramento do atendimento essa subetapa tambm.

    O captulo 6, ltima parte do Relatrio, apresenta a Proposta de Encaminhamento do

    TCE-PR. Conforme previsto em uma das diretrizes da auditoria, o TCE-PR previa a promoo

    de Termos de Ajustamento de Gesto (TAG) junto aos municpios, no entanto, estes no foram

    autorizados pela inexistncia de regulamentao, desse modo, a equipe de trabalho elaborou

    uma proposta de Resoluo Normativa, da qual ainda no se teve acesso.

    CONCLUSO

    Entendendo as limitaes inerentes a este breve estudo, ainda assim possvel perceber

    aspectos importantes da atuao do TCE-PR no monitoramento da Meta 1 do PNE. Nesse

    sentido, destaca-se aqui a iniciativa desse TC, anterior ao acordo firmando pela Atricon com

    outros rgos para esse fim, bem como a continuidade dos trabalhos, iniciados em 2015, com

    sequncia nos anos de 2016 e 2017. Outro aspecto relevante, como destacado no Relatrio

    (TCE-PR, 2017), a movimentao causada pela presena do TCE-PR nos municpios, que ao

    saberem da visita do rgo passaram a buscar mecanismos para resoluo dos problemas.

    Em relao ao cumprimento da Meta 1 do PNE, conforme definido pelo TCE-PR,

    haveria a fiscalizao da universalizao da pr-escola e a ampliao das matrculas em creches,

    todavia apenas dados referentes pr-escola foram apresentados nos resultados, sem fazer

    meno situao dos municpios quanto ao atendimento da parte B da meta, que se refere

    creche.

    Faz-se necessrio ainda, refletir sobre as competncias definidas a este rgo pela

    Constituio Federal (1988), que se referem prioritariamente ao controle e fiscalizao dos

    recursos pblicos, j que no campo educacional, pesquisas como as de Nicholas Davies (2003)

    tm denunciado a ineficincia por parte dos TCs na verificao da correta aplicao dos

    recursos vinculados manuteno e desenvolvimento do ensino, o que compromete

    diretamente o cumprimento das metas estabelecidas no PNE, pois como relatado no prprio

    documento, um dos problemas encontrados de forma recorrente nos municpios auditados

  • 33

    refere-se a ausncia (total ou parcial) de estudos prvios do impacto econmico e financeiro

    para o cumprimento das metas do PME.

    Desse modo, ainda que a iniciativa do TCE-PR analise importantes elementos no mbito da

    poltica de educao infantil, contribuindo para ampliao do nmero de vagas, conforme relatou

    Flores (2015) sobre a experincia do TCE-RS, este no pode deixar de se atentar para orientao e

    fiscalizao da correta aplicao dos recursos pblicos na rea, contribuindo assim, para garantia

    do melhor investimento e consequentemente, no alcance das metas e objetivos do PNE. Por fim,

    destaca-se a necessidade da ampliao dessa investigao e consequentemente de suas anlises para

    melhor compreenso da atuao do TCE-PR no monitoramento da Meta 1 do PNE.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado, 1988.

    ______. MEC. FNDE. Atricon. IRB. Acordo de cooperao tcnica e operacional. Braslia,

    2016.

    CELLARD, A. A anlise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa:

    enfoques epistemolgicos e metodolgicos. 4. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2014.

    DAVIES, N. Tribunais de Contas e seus procedimentos de verificao dos recursos da

    educao. RBPAE v. 19, n. 1, jan./jun. 2003.

    FLORES, M. L. R. Direito creche e pr-escola na vigncia do Plano Nacional de Educao

    Lei Federal n 13.005/2014. Revista Digital Multidisciplinar Criana e Adolescente.

    Ministrio Pblico Estado do Rio Grande do Sul, 10. ed. 2015.

    ______. Monitoramento das metas do Plano Nacional de Educao no Rio Grande do Sul:

    um estudo de caso sobre a atuao do Tribunal de Contas do Estado. 37 Reunio Nacional da

    ANPEd, out. 2015

    SILVEIRA, A. A. D. Direito educao e o ministrio pblico: uma anlise da atuao de

    duas promotorias de justia da infncia e juventude do interior paulista. 263 f. Dissertao

    (Mestrado em Educao) - Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo (USP), So

    Paulo, 2006.

    TCE-PR. PAF 2016 educao: educao infantil: universalizao da educao na pr-escola

    para crianas de 4 a 5 anos e ampliao da oferta de vagas em creche para crianas at 3 anos.

    Curitiba, 2016.

    TCE-PR. TC 70: 2017-2018 Plano de Gesto. Curitiba, 2017.

  • 34

    A EDUCAO SUPERIOR NA ENCRUZILHADA: ATENDER AOS INTERESSES

    DO MERCADO OU FORMAR PARA A CIDADANIA DEMOCRTICA?

    Diego Bechi Universidade de Passo Fundo

    [email protected]

    Maria Dinora Baccin Castelli IDEAU

    [email protected]

    Resumo: A pesquisa suscita o urgente debate sobre os rumos que a educao superior e a

    formao acadmica precisam tomar num contexto marcado pela

    instrumentalizao/mercantilizao da educao superior. Para tanto, parte-se do pressuposto

    de que a educao superior ir atender aos anseios da populao e proporcionar melhorias nas

    condies societais na medida em que valorizar o desenvolvimento intelectual e moral dos

    indivduos, por meio de um processo formativo calcado nos ideais democrticos e na

    valorizao da reflexo e da pesquisa. Em oposio ao modelo empresarial de ensino, as

    instituies devem propiciar aos alunos, com o apoio das disciplinas humanas e sociais, prticas

    pedaggicas que os levem a pensar de modo reflexivo sobre o ser humano e sua relao com o

    mundo.

    Palavras-chave: Educao superior. Mercantilizao. Formao humana. Cidado reflexivo.

    Democracia.

    O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre os desafios da formao acadmica

    e o papel das disciplinas humanas e sociais na formao de profissionais reflexivos e

    comprometidos com as causas sociais. Primeiramente, faz-se uma anlise das transformaes

    polticas, econmicas e socioculturais ocorridas no bojo da sociedade global que incidiram

    sobre o processo de expanso e de mercantilizao do ensino superior no pas. Em seguida, so

    apresentadas as caractersticas que compe o atual cenrio educacional e as consequncias

    provenientes das reformas educacionais de carter neoliberal e do modelo de gesto empresarial

    s instituies de educao superior. Por fim, so descritos os desafios e as reais funes da

    educao superior frente a uma sociedade complexa e dinmica, acrescidas de mudanas que

  • 35

    exigem a formao de profissionais reflexivos, capazes de pensar de forma independente e de

    respeitar a dignidade humana.

    As reformas e modernizao dos Estados nacionais, implantadas a partir da dcada de

    1990, em especial nos pases da Amrica Latina, possibilitaram a disseminao e a legitimao

    das polticas de ajuste estrutural, consubstanciadas pelos organismos financiamento

    internacionais (Banco Mundial, FMI, OMC, BID, dentre outros). Os Estados-nao tm

    incorporado as metamorfoses que esto se produzindo na relao capital/trabalho e as diretrizes

    poltico-econmicas inerentes ao novo regime de acumulao capitalista. Os programas de

    estabilizao e ajuste estrutural, propostos pelo Consenso de Washington, condicionaram as

    polticas educacionais aos moldes da racionalidade econmica, imanente nova fase de

    universalizao do capitalismo. O economicismo e o privatismo adotados por vrios pases em

    desenvolvimento, inclusive pelo Brasil, em favor do ajuste econmico proposto pelo receiturio

    neoliberal, incidiram majoritariamente sobre a gesto e o financiamento da educao superior.

    As medidas oramentrias e a reestruturao da produo capitalista estimularam o processo de

    mercantilizao desse nvel de ensino, mediante a expanso do setor privado/mercantil e a

    crescente subordinao das universidades pblicas s regras do mercado (BECHI, 2013).

    As reformas implementadas no mbito da educao superior estimularam a

    diversificao das fontes de financiamento mediante o estabelecimento de parcerias entre as

    instituies pblicas e o setor privado. Os precursores do neoliberalismo acreditavam que, com

    a consolidao desse marco estratgico, a eficincia e a qualidade desse setor transcenderiam

    os limites impostos pelo financiamento pblico. O reconhecimento das instituies privadas

    com fins lucrativos (empresas comerciais) e a implantao de polticas de diversificao

    institucional aceleraram o processo de privatizao do ensino superior no Brasil. As facilidades

    de criao de IES privadas, de natureza civil ou comercial, transformaram a educao superior

    em objeto de lucro ou acumulao; uma mercadoria ou a educao-mercadoria de interesse

    dos empresrios da educao, que viria se completar com seu par gmeo de interesse de todos

    os empresrios dos demais ramos industriais e comerciais, a mercadoria-educao

    (RODRIGUES apud SGUISSARDI, 2008, p. 1000-1001).

    As polticas educacionais, implementadas em sintonia com as transformaes de ordem

    econmica e cultural retratadas pelo padro de acumulao capitalista, estimularam a

    transformao desse setor em um bem de servio comercializvel, caracterizado pela

    predominncia dos interesses privado/mercantis. A atual fase da globalizao do capitalismo,

    despertada pela chamada revoluo tecnolgica e pela flexibilizao dos processos de trabalho

    e produo, vinculou o conhecimento e o processo pedaggico s leis do mercado,

  • 36

    transformando a educao superior em negcio rentvel. O processo de comercializao da

    educao superior, assegurado pelas reformas poltico-econmicas de carter neoliberal, levou

    a uma acirrada disputada entre universidades, grupos educacionais e empresas, pela presena

    nos mercados educacionais mais promissores. A diversificao das fontes de financiamento

    pelas instituies pblicas e o reconhecimento legal da IES privadas com fins lucrativos

    fortaleceram o clima de competio entre as instituies e alteraram a lgica do trabalho

    acadmico. Na interpretao de Oliveira (1999, p. 152), o autofinanciamento e o intenso

    processo de privatizao da educao superior poder lev-las a tomar forma de instituies

    ou empresas, preocupadas com a prpria sobrevivncia e/ou obteno de dividendos. Isso

    poder, ainda, alterar a identidade, o papel institucional, os compromissos sociais e a concepo

    de universidade pblica.

    A reduo dos investimentos pblicos e a expanso do setor privado/mercantil, aliada

    ao aumento da competitividade, levaram as instituies de ensino superior (IES) pblicas e

    privadas a assumir novas estratgias polticas e administrativas. Para que as instituies,

    gerenciadas por uma proposta de gesto empresarial, possam garantir sua sustentabilidade

    econmica e financeira, o produto ofertado deve ser flexvel s exigncias do mercado. Por

    conta disso, o desenvolvimento cientfico e cultural da comunidade acadmica vem sendo

    prejudicado pela eliminao e pela reorganizao das atividades que no agregam valor

    econmico. Para garantir suas atividades no mercado educacional, muitas delas optaram por

    encurtar o tempo de durao dos cursos e passaram a incentivar a formao de tecnlogos. Os

    altos ndices de expanso da educao superior no Brasil e a transformao dos institutos e das

    faculdades em unidades de negcios so fatores responsveis pela gradativa eliminao e

    marginalizao das disciplinas humanas e sociais. O constante empobrecimento dos currculos,

    com o intuito de aumentar a lucratividade em meio efervescncia do mercado educacional,

    est impossibilitando o desenvolvimento de profissionais crticos e comprometidos com as

    causas sociais. O enxugamento e a flexibilizao dos currculos, de acordo com as demandas

    do mercado educacional, vm ameaando a formao integral do ser humano. Se isso no

    bastasse, a flexibilizao e adaptao das atividades acadmicas aos interesses do mercado vm

    prejudicando o acesso e a produo livre do conhecimento.

    A universidade precisa definir novos objetivos e finalidades a fim de superar o modelo

    de ensino baseado exclusivamente na transmisso e inculcao de informaes. O ideal de

    universidade a ser construdo deve promover o desenvolvimento de competncias e de

    aprendizagem nos alunos, alm de conscientiz-los sobre o papel do cidado no seio da

    sociedade contempornea. A prtica pedaggica voltada pura e simples transmisso de

  • 37

    conhecimentos, centradas na sociedade do trabalho, deve ser substituda por um modelo

    pedaggico embasado na aprendizagem de novos mtodos e novos processos capazes de

    integrar as pessoas sociedade. A educao superior requer um processo formativo que prima

    pelo desenvolvimento de cidados crticos e responsveis. Paviani (2009, p. 49-50) afirma que

    a aprendizagem dos estudantes dever ser orientada visando ao desenvolvimento de

    habilidades e competncias no apenas profissionais, mas tambm pessoais; no apenas

    imediata, mas tambm ao longo de suas vidas. Para que os sujeitos sejam capazes de responder

    complexidade e s exigncias do mundo contemporneo, a universidade precisa expandir seu

    processo formativo para alm das atividades limitadas preparao para o mercado de trabalho.

    No entanto, por se tratar de uma sociedade plural e dinmica, acrescida de vrios

    problemas que afligem a humanidade, a formao acadmica deve transcender as necessidades

    apresentadas pelo vis produtivo/econmico, centrada na formao de sujeitos flexveis, geis

    e abertos a mudanas a curto prazo, levadas a cabo pelas transformaes ocorridas no mundo

    do trabalho e da produo. A expanso da lgica de mercado, preconizada pela racionalidade

    neoliberal, tem estimulado a concorrncia generalizada, a competitividade e a individualizao,

    contrariando o processo de singularizao e a formao para a democracia. Quando analisada

    sob o ponto de vista social e cultural, a sociedade contempornea requer a formao de

    profissionais reflexivos e comprometidos com o futuro da humanidade. Nesses termos, os

    alunos precisam participar de prticas que os instiguem a pesquisar, a pensar e a refletir sobre

    questes sociais e ticas que envolvam a sua formao profissional e suas relaes

    interpessoais. O ensino estritamente tcnico no forma sujeitos autnomos, dispostos a

    sustentar sua independncia e sua integridade espiritual diante dos mecanismos massificadores

    e perante os iderios consumistas que permeiam a vida contempornea. A reflexo e a

    deliberao so essenciais a uma slida democracia e busca permanente pela justia.

    (DEWEY, 1959; NUSSBAUM, 2005).

    Aliado a uma nova concepo terico-metodolgica, calcada nas estratgias de

    problematizao e na construo de prticas reflexivas, os cursos de graduao devem

    estruturar-se de maneira a estimular os participantes a analisar e discutir rigorosamente sobre

    temas interculturais e pertinentes ao relativismo cultural. A educao multicultural e a reflexo

    crtica sobre diversos enfoques inerente a diversidade humana, mediante o questionamento

    filosfico segundo a tradio socrtica, torna-se condio necessria formao de cidados

    reflexivos, capazes de pensar de forma independente e de respeitar a dignidade da humanidade

    em cada pessoa e/ou cidado. A problematizao, ao fortalecer a interao e o embate de ideias,

    rompe com a normalidade das coisas, possibilitando que os alunos reconstruam e enriqueam

  • 38

    suas experincias de forma intersubjetiva. A reflexo e a argumentao crtica em mbito

    acadmico, desenvolvidas com o intuito de problematizar as normas e tradies da sociedade,

    conduzem formao de pessoas responsveis, com aptides necessrias para controlar de

    forma autnoma seus raciocnios e emoes. De acordo com Nussbaum (2005, p. 51), la

    argumentacin crtica conduce al poder intelectual y a la libertad por si misma una notable

    transformacin del propio yo, si antes el yo haba sido indolente y perezoso , y tambin a una

    modificacin de las motivaciones y deseos del alumno. Tomando por base o estoicismo, a

    filsofa estadunidense parte do pressuposto de que as pessoas que costumam fazer um exame

    crtico de suas crenas so melhores cidados, no que diz respeito s suas emoes e

    pensamentos.

    A formao de cidados interconectados com as necessidades humanas e conscientes

    dos problemas sociais que, por sua vez, afetam os relacionamentos interpessoais, requer a

    construo de um modelo terico-metodolgico que propicie a reconstruo das experincias

    subjetivas dos alunos, oferecendo-lhes novas possibilidades de interpretao dos problemas

    humanos e sociais. Para Dewey (1959, p. 118), a educao deve ampliar o horizonte de

    interpretaes e as perspectivas de esprito: quanto mais completa for a concepo, de algum,

    das futuras realizaes possveis, menos sua atividade presente se sentir manietada por um

    pequeno nmero de alternativas, condicionadas enfoques ideolgicos e hbitos dominantes.

    A formao de cidados verdadeiramente livres no sentido socrtico requer o desenvolvimento

    de pessoas capazes de pensar por si mesmas e de argumentar criticamente sobre os diferentes

    problemas que envolvem a diversidade humana e a sociedade. O desenvolvimento da

    conscincia sobre a diferena cultural essencial para promover o respeito e a melhoria das

    relaes interpessoais. A vida examinada, caracterizada pela flexibilidade proporcionada pela

    abertura ao dilogo e ao autoquestionamento, constitui-se o objetivo central para a democracia.

    Uma sociedade que no atenda a essas necessidades cria barreiras para o livre intercambio e a

    comunicao da experincia humana. Por conta disso, no aceitvel que os sistemas de ensino,

    em especial a educao superior, continuem produciendo ciudadanos estrechos de mente con

    dificultades para entender a las personas diferentes de ellos, y cuya imaginacin raramente se

    aventure a ir ms all de su medio local (NUSSBAUM, 2005, p. 34).

    O sistema de educao superior precisa preocupar-se com a formao dos futuros

    cidados numa poca de diversidade cultural e de crescente internalizao, em que o ser

    humano constantemente desafiado a tomar decises que requerem algum tipo de compreenso

    sobre os grupos raciais, tnicos, religiosos, bem como sobre a situao das mulheres e de grupos

    considerados minoria em funo de sua inclinao sexual. Nesses termos, Nussbaum (2005,

  • 39

    p. 25) acredita que a nova nfase atribuda diversidade nos currculos das faculdades e

    universidades es, sobre todo, un modo de hacerse cargo de los nuevos requisitos de la

    condicin de ciudadano, de los deberes, derechos y privilegios que le son propios; un intento

    en producir adultos que puedan funcionar como ciudadanos [...] de un mundo complejo e

    interconectado. Diante desses desafios, a filosofia e demais disciplinas ligadas s cincias

    humanas e sociais deveriam assumir um lugar central nos programas de graduao, em

    contrapartida ao enxugamento dos currculos, sobretudo pela extino das disciplinas humanas

    e sociais, proliferado em decorrncia do atual processo de mercantilizao da educao

    superior.

    REFERNCIAS

    BECHI, Diego. O financiamento da educao superior: uma anlise do PNE 2001-2010.

    2013. Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Educao, Universidade de Passo

    Fundo, Passo Fundo, 2013.

    DEWEY, John. Democracia e educao: introduo filosofia da educao. 3. ed. Trad.

    Godofredo Rangel e Ansio Teixeira. So Paulo: Nacional, 1959.

    NUSSBAUM, Martha C. El cultivo de la humanidad: uma defesa clsica de la reforma en la

    educacin liberal. Barcelona: Paids, 2005.

    OLIVEIRA, Joo Ferreira. A nova reforma da educao superior no Brasil: o processo de

    desorganizao do sistema e de desajustamento da universidade pblica. In: SILVA, Rinalva

    C. (Org.). Educao para o sculo XX: dilemas e perspectivas. Piracicaba: UNIMEP, 1999,

    p. 147-159.

    PAVIANI, Jaime. Ainda possvel a formao universitria? In: FVERO, A.; CENCI, A.;

    TROMBETTA, G. (Orgs.). Universidade, filosofia e cultura. Passo Fundo: UPF Editora,

    2009, p. 44-55.

    SGUISSARDI, Valdemar. Universidade brasileira no sculo XXI: desafios do presente. So

    Paulo: Cortez, 2009.

    _______. Modelo de expanso da educao superior no Brasil: predomnio privado/mercantil

    e desafios para a regulao e a formao universitria. Educao e Sociedade. Campinas,

    v. 29, n. 105, p. 991-1019, set./dez. 2008.

  • 40

    A EDUCAO SUPERIOR NO PLANO NACIONAL DE EDUCAO (2001-2010 E

    2014-2024): DESDOBRAMENTOS E PERSPECTIVAS

    Talita Zanferari UNOESC

    [email protected]

    Thales Fellipe Guill UOESC

    [email protected]

    Resumo: Este texto parte de uma pesquisa realizada no Mestrado em Educao da

    Universidade do Oeste de Santa Catarina, que tem como objetivo identificar as relaes entre

    os Planos Nacionais de Educao (2001-2010 e 2014-2024), verificando os desdobramentos e

    perspectivas das metas destinadas a educao superior. O estudo teve como norte a metodologia

    histrico-crtica, o que permitiu fazer tensionamentos sobre o tema e problema investigados.

    Foi utilizado a anlise de contedo de Lawrence Bardin. Esta pesquisa se faz importante haja

    vista a necessidade de se expor o discurso do Estado em ambos os planos no que se refere a

    Educao Superior no Brasil, uma vez que a atuao do Estado Avaliador valoriza a

    universidade enquanto formadora de mo-de-obra.

    Palavras-chave: Plano Nacional de Educao (2001-2010 e 2014-2024). Metas de Educao

    Superior. Polticas de Educao Superior.

    INTRODUO

    Este texto parte de uma pesquisa na rea da educao superior desenvolvida na Linha

    de Pesquisa Educao, Polticas Pblicas e Cidadania do Programa de Mestrado em Educao

    da Universidade do Oeste de Santa Catarina, financiado pelo Programa de Bolsas Universitrias

    de Santa Catarina (Uniedu/Ps-Graduao). Neste tivemos como objetivo identificar as

    relaes entre os Planos Nacionais de Educao (2001-2010 e 2014-2024), verificando os

    desdobramentos e perspectivas das metas destinadas a educao superior e o que o ltimo PNE

    traz sobre a realidade das universidades brasileiras.

    A importncia de pesquisar a educao superior se d ao fato de que a universidade

    sempre foi uma arena de intervenes usada pelos governos para implantar aes que a atendem

  • 41

    a poltica neoliberal do pas, visando a produo de qualificao profissional que sirva aos