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PROMOÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA A PARTIR DA ESCOLA · da dificuldade de se trabalhar textos literários na escola, de promover a literatura de livros, de contribuir para que os alunos

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PROMOÇÃO DA LEITURA LITERÁRIA A PARTIR DA ESCOLA

Nair Lucilda Junges1

Cláudio José de Almeida Mello2

RESUMO

Este artigo é resultado da pesquisa-intervenção pedagógica no Colégio Estadual Newton Felipe Albach - Ensino Fundamental e Médio, na unidade de Guarapuava-PR, que compõe o Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE. A proposta pesquisa-intervenção teve como objetivo o desenvolvimento de um trabalho com leitura a partir do Conteúdo Estruturante da Língua Portuguesa, o discurso como prática social, cujo objetivo foi desenvolver o gosto e hábito de leitura, uma vez que a leitura é necessidade básica, mas prazerosa, sendo o caminho para se adquirir cultura e conhecimentos para formar leitores mais críticos, interativos e conscientes. Esse artigo apresenta duas etapas: a primeira etapa corresponde à apresentação do universo de trabalho, a fundamentação teórica e fundamentação teórica metodológica da intervenção pedagógica. A segunda etapa envolve os resultados da intervenção pedagógica.

Palavras-chave: leitura, literatura, leitores, estratégias, metodologia.

ABSTRACT

This article is the result of the pedagogic research-intervention in the State College Newton Philip Albach - Elementary and Secondary Education in the unity of Guarapuava-PR, which comprise the Educational Development Program - PDE. The proposed intervention research aimed at developing work with a reading from the Content Structuring the Portuguese language, discourse as social practice, whose aim was to develop the taste and habit of reading, since reading is a basic need, but pleasant, and the way to acquire knowledge and culture to form more critical readers, interactive and aware. This article presents two stages: the first step consists in presenting the world of work, the theoretical methodological and theoretical foundation of the pedagogical intervention. The second step involves the results of the educational intervention.

Keywords: reading literature, readers, strategies, methodology.

1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE- do Governo do Estado do Paraná, Secretaria de Estado da Educação, do Colégio Estadual Newton Felipe Albach - Ensino Fundamental e Médio, pertencente ao Núcleo Regional de Guarapuava. 2 Professor Dr. do Curso de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste.

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INTRODUÇÃO

Tendo em vista as dificuldades de interpretação de textos e o pouco hábito de

ler, observados nos alunos Colégio Estadual Newton Felipe Albach - Ensino

Fundamental e Médio - desenvolvemos o projeto cujo tema é o ensino-

aprendizagem de leitura nas turmas das 5ª séries (6º ano) do Ensino Fundamental,

Fase II, cuja finalidade foi despertar o interesse pela leitura/literatura e o

conhecimento dos nossos autores. Com isso, levamos os alunos a participarem

ativamente do projeto e dos múltiplos caminhos no mundo da leitura prazerosa,

descobrindo o que ler, criando e recriando situações literárias e adequando-as a sua

realidade.

A prática da leitura estreitamente associada à visão geral de cada indivíduo

torna o ato de ler imprescindível no aprimorar do conhecimento, além de ajudar na

formação como ser humano. A abertura do diálogo com outros educadores conduz à

possibilidade de se discutir a formação de leitores literários no bojo de práticas de

outras leituras escolares e, assim, focalizar a experiência estética da leitura do texto

literário em sua relação com outros “modos de ler” que são praticados no ambiente

escolar.

Nesse sentido, tem-se debatido exaustivamente com referência ao pressuposto

da dificuldade de se trabalhar textos literários na escola, de promover a literatura de

livros, de contribuir para que os alunos se tornem leitores voluntários e autônomos,

acrescendo-se que a necessidade escolar de avaliação de leitura tem se

transformado em cobrança, com todas as ameaças que esta traz e, por isso mesmo,

em vez de aproximação e identificação, tais práticas tem causado repulsa ao objeto,

desgosto no ato de ler e afastamento das práticas sociais de leitura próprias do

contexto dos leitores.

Em corroboração com a necessidade de estratégias diversificadas para a prática

de leitura, Ezequiel T. da Silva (2005, p.16) afirma que “[...] a leitura ocupa um

espaço privilegiado não só no ensino da Língua Portuguesa, mas também, no de

todas as disciplinas acadêmicas que objetivam a transmissão de cultura e de

valores”.

Luis Carlos Cagliari (1991, p. 150), diz que “[...] A leitura de mundo é, pois, uma

metáfora, mas nem por isso deixa de ser algo tão importante para cada um quanto

a própria filosofia de vida”, outros autores que endossam a importância de se buscar

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uma educação para a leitura que, uma vez apreendida, tornar-se-á um talismã único

e de incomensurável valor, posto que é chave para qualquer mistério que se possa

ler, seja escrito, oral ou intencional.

Desse modo, buscamos trabalhar com a leitura/literatura na disciplina de

Língua Portuguesa nas 5ª séries (6º ano) do Ensino Fundamental, Fase II, propondo

caminhos metodológicos e material diversificado, numa perspectiva que aborde os

diferentes temas apresentados nas DCEs (2008) para nortear o trabalho docente.

Trabalhando com nossos alunos percebemos as inúmeras dificuldades que os

mesmos apresentam ao redigirem um texto, usam frases soltas ou mal elaboradas,

ou mesmo na oralidade, não conseguem organizar suas ideias.

Geralmente, isso ocorre porque nosso aluno lê pouco ou nada, pois a maioria

não gosta de ler. Talvez pelo fato do uso facilitado das tecnologias e mídias que

estão muito próximos das pessoas, ou falta de acesso aos livros. Poucos leem, ou

quando leem, muitas vezes é porque, o professor exige.

Dificilmente, nós professores paramos para refletir nos seguintes

questionamentos: Por que os alunos não gostam de ler? Enquanto professores de

língua como podemos contribuir para sanar essa dificuldade?Como as tecnologias,

presentes no cotidiano do nosso aluno, podem contribuir para que ele seja um leitor?

Entendendo ainda que é por meio da leitura que se dá a compreensão de

mundo, ela precisa ter seu espaço na escola, bem como ser instrumento primordial

na luta pela cidadania. No entanto, o que se observa é uma falta de interesse pela

leitura em grande escala.

Diante disto questiona-se: Nossas escolas têm utilizado de metodologias

adequadas/coerentes para despertar interesse de nossos alunos? Que tipo de texto

vem sendo utilizado em nossas escolas? Quais as reações de nosso alunado?

Partindo dessas questões, é necessário, então, que encontremos novas

metodologias para levar nossos alunos ao mundo da leitura, mas com o propósito de

ler com prazer, gosto, estimulando o pensamento crítico e a criatividade para sanar

a ideia de que “ler é muito chato”.

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1 LITERATURA: OBJETO SOCIAL DE DESCOBERTA

Para Lajolo (1994), definir o que pode ser literatura, depende do ponto de

vista, do sentido que a palavra tem para cada um, da situação na qual se discute o

que é literatura.

A obra literária é um objeto social, para que ela exista é preciso que alguém

a escreva e que outro alguém a leia. Ela só existe enquanto obra neste intercâmbio

social. Porém, na sociedade moderna, antes que se cumpra tal natureza social,

através da interação estética entre dois sujeitos (autor e leitor), a obra passa por

uma espécie de corredor comercial e pelo aval dos canais competentes. No primeiro

caso, a obra passa a ser apenas mais um produto da sociedade de capital. No

segundo, depende do endosso de setores especializados para ter reconhecida sua

literalidade como o fez e faz as escolas, definindo obras clássicas (LAJOLO, 1994).

Lajolo (1994) aprofunda e expõe que a definição de literatura perpassa por

múltiplas respostas. Não existe uma resposta correta, porque cada tempo, cada

grupo social tem sua resposta, sua definição para literatura. Mas, parece haver uma

profunda relação entre as obras escritas num período e aquilo que, nestas obras,

costuma ser identificado como o específico literário. Desenvolve-se, assim, uma

espécie de diálogo ininterrupto entre a prática e a teoria da Literatura. Para se

entender um pouco de literatura cabe então apontar como a literatura foi

diferentemente concebida em diferentes momentos da história.

Produzir literatura, para Lajolo, consiste embeber-se e fazer embeber em

sentimentos, transmitir emoções, amarrar-se em verdades científicas do tempo,

fazer o sentido emergir de contornos claros e realçados por torrentes de luz que

destacam massas e volumes, são concepções de literatura desenvolvidas ao longo

dos tempos que possuem intensas semelhanças. Todas buscam um significado para

a literatura. Nos dias de hoje, mais do que um significado determinado, o que é

próprio da literatura é encenar a própria linguagem. Pode-se pensar atualmente que

a literatura como linguagem está sozinha, sem prestar contas às teorias que a viam

como forma de interpretações da realidade com uma prática literária inquietante.

Renuncia, então, a literatura posterior ao entre - séculos a qualquer anseio de

totalidade premeditada. Mergulha na significação provisória e tem nesse provisória a

arma da sua permanência.

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Lajolo destaca, ainda, que as perguntas sobre literatura ultrapassaram

séculos, porém as respostas são sempre provisórias, pois, a cada tempo surgem

novos conceitos. Há quem diga que literatura é tudo aquilo que se escreve. Existem

em nossa volta bibliotecas lotadas de livros, revistas, mas será tudo literatura?

Segundo a autora, existem escritores, poetas, que deram soberania a outros

escritores e até leitores para chamar ou não suas obras de literatura. De acordo com

ela, tanto pode ser, como não serem literatura, os poemas que guardamos com

carinho, os romances que sequer foram publicados, peça de teatro esquecidas pelo

tempo, ou mesmo aqueles livros que nenhum professor indica, mas que gostamos

de ler, tudo depende do sentido que temos ao interpretá-los.

Ainda, para Lajolo, a literatura iguala-se a qualquer produto produzido e

consumido em moldes capitalistas. Ela pretende com isso fazer que entendamos

que uma obra para ser considerada literatura é preciso que tenha certa tradição

cultural, precisa de um aval de setores especializados. A escola é um setor

importante, pois há séculos vem sendo avalista dos livros que circulam isso, porque,

analisam e indicam a leitura dos mesmos aos alunos.

Lajolo afirma que o questionamento sobre literatura é sério, pois há séculos

existem pessoas empenhadas em defini-la para poder ter maior domínio sobre

textos lidos, mas nos faz entender que para entrar nesta discussão é preciso ter

ingresso, e, para ter esse ingresso, é preciso que tenhamos um poder aquisitivo

compatível com o mesmo. Estes ingressos são livros que precisam ser adquiridos,

estudados e avaliados para se chegar a alguma decisão.

Segundo Lajolo, já foram analisados vários critérios para identificar literatura,

como o tipo de linguagem, os textos e, até mesmo, a identificação do autor sobre a

obra, mas uma completa a outra e dificilmente se chegará a um consenso. Há,

inclusive, uma polêmica sobre o assunto, pois quando se acredita estar definida eis

que surgem novas obras, novos perfis que vão se inovando e o conceito quase

definido, volta à estaca zero.

"As definições propostas para literatura importam menos do que os

caminhos percorridos para chegar a elas" (LAJOLO, 1994, p.27). Com isso podemos

entender que os caminhos não são fáceis de serem percorridos, pois são ambíguos.

Lajolo (1994, p.28) faz referência ao dicionário Aurélio e diz que nele há dez

conceitos sobre literatura. Talvez, por isso, pensamos ser literatura tudo o que se

escreve, pois segundo Aurélio, ela deriva do latim: littera, que significa letra. Aos

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olhos de nossa cultura ter-se domínio sobre a escrita já é meio caminho andado,

visto que, no vestibular a parte que vale mais pontos é a escrita (redação).

Ao abordar a literatura surgem inúmeros questionamentos acerca da

literatura na escola, como finalidade, desenvolvimento de hábitos, criação de leitores

competentes, dentre outros.

Segundo as Diretrizes Curriculares para a Educação Pública do Estado do

Paraná (DCEs, 2008), ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em

diversas esferas sociais. Ao ler o indivíduo busca as suas experiências, os seus

conhecimentos prévios, sua formação familiar, religiosa e cultural.

A linguagem é o instrumento pelo qual o ser humano se comunica, expressa

seu pensamento, tem acesso à informação, articula ideias e adquire cultura. E para

tanto é necessário o domínio da língua e aprender uma língua significa conhecer e

compreender os seus signos linguísticos e seus significados.

Acreditamos que a prática do ensino da leitura nas escolas tem sido bem

vasta, porém, nem todos os alunos aprendem ou adquirem o gosto de ler.

Percebemos, assim, que o tratamento com a leitura exige uma visão social e cultural

de cada criança, priorizando suas peculiaridades e sua realidade.

A leitura está relacionada ao progresso escolar dos alunos, já que, para

escrever bem é preciso ser bom leitor. Desse modo, a leitura de mundo está

diretamente relacionada ao desenvolvimento do pensamento e, por sua vez, o

pensamento mais desenvolvido auxilia na aprendizagem.

Na sociedade atual, para muitos alunos, a escola é o único lugar onde ele

pode ter acesso aos livros, pois em outros ambientes frequentados por eles, o

acesso às tecnologias é priorizado e em casa os mesmos estão em contato com a

televisão quase o tempo todo. Portanto, cabe à escola, a tarefa de apresentar ao

aluno diferentes tipos textuais e de diversos gêneros.

Segundo Silva, (2005, p.16), a leitura ocupa, sem dúvida, um espaço

privilegiado não só no ensino da língua portuguesa, mas também no de todas as

disciplinas acadêmicas que objetivam a transmissão de cultura e valores.

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2 ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Conforme Menegassi (1992), o trabalho com estratégias de leitura no Ensino

Fundamental é extremamente relevante para a formação de um leitor competente,

que consiga ler qualquer texto da sociedade, compreendê-lo e fazer uso de seus

conhecimentos para conseguir transitar pelo corpo social em que convive. Assim, os

princípios básicos do letramento são aqui considerados, para que o professor

proponha um trabalho de leitura em que o texto social seja lido, analisado, refletido e

utilizado como meio para o desenvolvimento da leitura com os alunos.

Menegassi (1992) considera que as técnicas, como um procedimento de

ação ordenada, são sempre apreendidas através de instrução ou observação. Já as

estratégias são decorrentes da aprendizagem das técnicas ou da criação

espontânea do leitor.

Ao aprendê-la, o leitor, considerando-se sua maturidade no trato com a

leitura, pode desenvolver estratégias próprias, que lhe possibilitam um melhor

tratamento com o texto ou uma má conduta na leitura. Dessa forma, o que se tem

como certo é que o ensino das estratégias se efetiva na sala de aula a partir das

condutas que o professor proporciona aos alunos.

Segundo Menegassi (1992), ao se considerar as estratégias como

procedimentos, parte-se da ideia de que devem ser ensinadas aos alunos, para que

os conteúdos do ensino sejam aprendidos de maneira mais adequada, tornando o

trabalho do professor e do aluno mais propício.

As estratégias não amadurecem sozinhas, nem se desenvolvem, nem

emergem, nem aparecem no aluno só porque o professor deseja. Elas requerem,

por parte do professor, um conhecimento mínimo de trabalho com o texto, pois cada

texto requer uma leitura específica, já que os textos que circulam na sociedade não

são lidos sempre da mesma forma.

Desse modo, conforme Solé (1998), o aluno aprende na escola o trabalho

com as estratégias de leitura, para, posteriormente, usufruir desse procedimento na

leitura de textos que encontra no cotidiano social em que convive não se restringindo

o trabalho com o estudo do texto somente à sala de aula. Isto é formar um leitor

competente.

Conforme Solé (1998) são quatro as estratégias fundamentais para realizar

a compreensão, seleção, antecipação, interferência, verificação. Para entender o

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que significam, apresentamos as suas definições e exemplos que explicitam seu

funcionamento durante o processo de ensino e aprendizagem de língua.

Seleção: são ações que possibilitam ao leitor ater-se somente ao que lhe é

útil para compreensão do texto, desprezando-se itens considerados irrelevantes. A

seleção é também um importante recurso para a escolha de textos e também de

suas ideias relevantes.

Antecipação: são predições que o leitor constrói sobre o texto que está

lendo, possibilitando-lhe a antecipação do conteúdo, mantendo a atenção no

objetivo determinado inicialmente. Porém, se suas antecipações não são

comprovadas, o leitor, conscientemente, procura adequar uma nova estratégia á

leitura realizada, mostrando sua capacidade e competência no trato com o texto.

Interferência: são ações que unem o conhecimento que não está explícito no

texto. Na verdade, é uma ponte de sentido que o leitor cria com o texto lido,

construindo uma nova informação que não existia antes no texto, nem no leitor.

Assim a imagem da ponte de sentido se constrói, pois ela une o texto e os seus

significados implícitos, com o leitor, que explicita esses significados.

Verificação: a confirmação ou não das antecipações e das interferências

realizadas se constrói no processamento da leitura do texto. É justamente a

estratégia de verificação que mais controla a eficácia das estratégias escolhidas pelo

leitor.

Por outro lado, caso a verificação mostre que suas hipóteses de significado

estão inadequadas, cabe ao leitor alterar as estratégias, possibilitando uma escolha

mais adequada ao texto trabalhado, pois essa segmentação é apenas didática, para

elucidar a maneira como as estratégias ocorrem no leitor. É claro que ela pode

também ser utilizada com o aluno, para ensinar-lhe o desenvolvimento das

estratégias, com tudo não pode ser empregada frequentemente como procedimento

de leitura nos textos trabalhados em sala de aula, já que a fragmentação não é parte

da concepção de leitura que sustenta o estudo das estratégias.

Para Menegassi (1992), a estratégia de antecipação permite ao leitor

levantar a hipótese de que a história trata de algo envolvendo fantasmas, como, por

exemplo, a contação de uma história ou uma das histórias vividas pelos alunos. A

exemplo, ao ler uma história, que no começo observa-se que fala sobre os três

porquinhos, a linha de raciocínio do leitor é rompida e as expectativas são

readequadas. Assim, o leitor passa a construir novas antecipações e interferências,

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com a readequação, o leitor passa a esperar uma história da literatura infantil, que

apregoa o conhecimento prévio das crianças.

Ainda para Menegassi (1992), o trabalho com as estratégias de leitura de

seleção, antecipação, interferência e verificação é necessário à medida que facilita

ao aluno leitor aprender como funciona o processo de leitura e, principalmente,

tomar consciência das estratégias que fazem parte desse processo, permitindo-lhe

uma melhor manipulação dos recursos cognitivo-linguístico-discursivo que estão

presentes no texto lido.

Além dessas estratégias, o leitor também pode fazer uso de práticas de

estratégias de leitura que lhe ajudem na compreensão de diferentes gêneros

textuais, que se manifestam em diferentes momentos do processo de leitura.

A construção da compreensão de um texto, de acordo com a descrição

proposta na leitura especializada da psicolinguística e da linguística aplicada, lança

mão de estratégias que ocorrem antes, durante e após a leitura (MENEGASSI,

1992).

Durante o processamento de leitura do texto, o leitor lança mão de certas

estratégias de leitura que lhe permitem obter maior compreensão, exigindo-lhe, por

consequência, maior esforço de leitura. Por conseguinte, surge a estratégia de

esclarecimento de dúvidas, as quais resultam dos confrontos que o leitor encontra

com o texto durante sua leitura.

Em todo o processo envolvido durante a leitura do texto, o professor se põe

como mediador, servindo como modelo de ensino no processo de leitura aos alunos,

a partir da exposição de como é o seu próprio processo (MENEGASSI, 1992).

Conforme Menegassi (1992), para maioria dos leitores, incluindo-se aí

professores e alunos, o pós-leitura é a etapa mais importante. O que se tem como

certa é a necessidade de que, independente da fase, a compreensão seja uma

habilidade ativa no leitor. Cada texto apresenta uma ou mais ideias que são

alcançadas a partir do trabalho com uma leitura ativa, em que o leitor identifica nos

parágrafos e no corpo do texto, qual a ideia mais relevante, que está diluída em todo

o texto.

Para chegar-se à ideia principal, o leitor pode lançar mão de várias outras

estratégias, como, por exemplo, sublinhar as partes principais do texto que achar

importante, grifar palavras importantes no texto, entre outras.

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A partir de suas leituras e produções de sentidos, tornarem-se cidadãos,

compreender, interferir e alterar a sociedade à sua volta, para a construção de uma

sociedade melhor.

3 ENSINO DE LITERATURA E AS DCEs

As DCES refletem sobre o ensino da língua e da literatura, esse reflexão

implica pensar também as contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro

complexo da contemporaneidade.

Segundo as DCES a atitude normativa fundamenta-se em teorias que têm

pouco a dizer sobre a noção de discurso, porque trabalha com frases ou palavras

isoladas do contexto de atividade humana, local de sua gênese.

As Diretrizes ora propostas assumem uma concepção de linguagem que não

se fecha “na sua condição de sistema de formas, mas abre-se para a sua condição

de atividade e acontecimento social, portanto estratificada pelos valores ideológicos”

(RODRIGUES, 2005).

As palavras estão carregadas de conteúdo ideológico, elas “são tecidas a

partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações

sociais em todos os domínios” (BAKHTIN, 1999). A palavra revela-se, no momento

de sua expressão, como produto de relação viva das forças sociais.

Destaca-se que o letramento vai além da alfabetização: esta é uma atividade

mecânica, que garante ao sujeito o conhecimento do código linguístico (codificação

e decodificação); já aquele, de acordo com Soares (1998), refere-se ao indivíduo

que não só sabe ler e escrever, mas usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a

leitura e escrita, posiciona-se e interage com as exigências da sociedade diante das

práticas de linguagem, demarcando a sua voz no contexto social.

Ao considerar o conceito de letramento, também é necessário ampliar o

conceito de texto, o qual envolve não apenas a formalização do discurso verbal ou

não verbal, mas o evento que abrange o antes, isto é, as condições de produção e

elaboração; e o depois, ou seja, a leitura ou a resposta ativa.

Conforme Bakhtin (1999) compreende a palavra “diálogo” num sentido mais

amplo: “não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas colocadas face a

face, mas toda a comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. Pode-se dizer,

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então, que os nossos enunciados são heterogêneos, uma vez que emergem da

multidão das vozes sociais. Faraco (2003) destaca que é nessa atmosfera

heterogênea que o sujeito vai se constituindo discursivamente.

O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior

propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o

caráter dinâmico dos gêneros discursivos.

É na escola que um imenso contingente de alunos que frequentam as redes

públicas de ensino tem a oportunidade de acesso à norma culta da língua, ao

conhecimento social e historicamente construído e à instrumentalização que

favoreça sua inserção social e exercício da cidadania.

O que precisa ficar muito claro para os interlocutores deste documento é que

ele não propõe o abandono do conhecimento gramatical e tampouco impede que o

professor apresente regras gramaticais para os alunos, visto que toda a língua é

constituída de uma gramática e de um léxico (ANTUNES, 2003).

Sendo assim, o estudo dos conhecimentos linguísticos, sob esse enfoque,

deve propiciar ao aluno a reflexão sobre as normas de uso das unidades da língua,

de como elas são combinadas para produzirem determinados efeitos de sentido,

profundamente vinculados a contextos e adequados às finalidades pretendidas no

ato da linguagem.

4 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

Destacamos, inicialmente, como fundamental, diagnosticar os

conhecimentos que os alunos trazem, proporcionando a eles a oportunidade de

identificar e reconhecer esses conhecimentos e oferecer possibilidades de troca de

experiência entre eles, na perspectiva de dar continuidade à construção de novos

conhecimentos. Levantamentos de dados para descobrir quais alunos não gostam

de ler e por quê.

Após isso foram selecionadas, previamente, obras de diversos autores,

destacando aquelas que cheguem mais próximas à realidade e a vivência dos

alunos. O aluno escolherá o livro que mais lhe agradar. A partir desta seleção, serão

trabalhadas, poesias e histórias infantis, dramatizações, jograis, etc.,

A inclusão de atividades significativas em sala de aula permite ampliar os

vínculos afetivos e conferem a possibilidades de realizar tarefas de formas mais

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prazerosas. A mediação do professor é fundamental em todo esse percurso de

aprendizagem que abrange ainda o desenvolvimento e aprimoramento de atitudes.

Ressaltamos a necessidade de intervenção do professor em relação às orientações

sobre como organizar e lidar com o material de estudo, como desenvolver atitudes

de leitores, e de reflexão sobre as descobertas, para promover a autonomia do

aluno, sem a qual torna-se mais difícil garantir avanços.

Nesse sentido, é necessário acabar com a ideia de que existe apenas um

caminho para ir construindo noções eficazes dos procedimentos da leitura e da

escrita. Uma abordagem ampla, não restritiva, da aprendizagem inicial da leitura e

da escrita, Solé (1998), pressupõe o seguinte:

- Aproveitar e aumentar seus conhecimentos prévios em geral, para que possam utilizar o contexto e aventurar-se no significado de palavras desconhecidas, dentro do próprio contexto. - Utilizar integrada e simultaneamente todas essas estratégias em atividades que tenham sentido ao serem realizadas, só dessa maneira as crianças poderão se beneficiar da instrução recebida.

Para SOLÉ (1998), a leitura inicial deve garantir a interação significativa e

funcional com a língua escrita, como meio de construir os conhecimentos

necessários para poder abordar as diferentes etapas da sua aprendizagem.

Solé (1998) alerta para os objetivos da leitura, em que se inclui a leitura

prazer, ler por prazer. Segundo a autora, é fundamental que o leitor possa ir

elaborando critérios próprios para selecionar os textos que lê, assim como para

avaliá-los e criticá-los. Comenta, ainda, sobre a associação entre a leitura por prazer

e a leitura da literatura. Segundo ela, é normal que isso aconteça, pois a literatura,

por sua função estética, pode, mais facilmente, “enganchar” os alunos.

Nesse sentido, Geraldi (1990) orienta que é necessário tomar como base o

conhecimento trazido pelo aluno e o resgate do conteúdo que ele tem direito de

conhecer. Segundo esse autor, essa concepção implicará uma postura educacional

diferenciada, uma vez que situa a linguagem como o lugar de constituição de

relações sociais em que os falantes se tornam sujeitos.

Na vida e na escola, não se leem só livros. Há outros tipos de escritos e que

aparecem em diferentes contextos: na rua, em casa, na escola, nos veículos de

comunicação, nos escritos nas embalagens de produtos diversos nos anúncios de

rua, jornais, revistas ou mensagens escritas em placas. É fundamental que a escola

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trabalhe sistematicamente esses textos que circulam de forma aleatória, no entorno

das crianças e de todos.

Geraldi (1990) afirma que a prática da leitura de textos envolve a busca de

informações. Essa informação pode ser de duas formas: a) a busca de informações

com roteiro previamente elaborado; b) a busca de informação sem roteiro

previamente elaborado. No primeiro caso, lê-se o texto para responder questões

estabelecidas e, no segundo, lê-se o texto para verificar que informações ele dá. Em

ambos os casos, é prefacial a questão do “para quê?” Ter mais informações.

Sabemos, pois, que é importante trabalhar os diferentes tipos de textos para

que o aluno disponha de recursos para enfrentar qualquer situação que exija dele a

comunicação oral e a produção. Entre eles, os textos narrativos, descritivos,

normativos, correspondências.

Respeitando a individualidade de cada aluno, dando espaço para debates,

opiniões, leituras, críticas, construção do saber, os alunos terão a oportunidade de

vivenciar o saber e de construir sua história, tornando seu sujeito, construindo um

ensino libertador.

Essa proposta de leitura será trabalhada em sintonia com a proposta

pedagógica da escola, tendo a biblioteca escolar como espaço que propicia

vivenciar múltiplas possibilidades de cultura. A leitura livre, por sua vez, propicia o

atendimento à expectativa do leitor, motivando segundo, Aguiar (1986, p.94), o

prazer da leitura.

5 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO: PASSO A PASSO

Num primeiro momento, iniciamos uma conversa com os alunos, em círculo,

em sala de aula, para sabermos sobre o universo de leitura e podermos dar os

primeiros passos rumo às atividades, portanto, perguntamos:

• Quem gosta de ler e por quê?

• Quem lembra do primeiro livro que leu?

• Para que serve a leitura?

• Qual a importância da leitura em nossa vida?

• Em qual lugar você gosta de ler?

• Existe lugar específico para leitura?

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• Você já assistiu a algum filme sobre um livro que você leu?

• Costumam ir à biblioteca da escola?

• Conhecem outras bibliotecas além da biblioteca da escola?

A discussão ocorreu de forma prazerosa, muitos responderam que gostavam

de ler, que a leitura era importante, outros responderam que não gostavam de ler

quando a professora mandava ler e fazer resumo, alguns disseram que preferiam ler

na biblioteca, pois podiam escolher o que ler.

Depois da discussão percebemos que estávamos no caminho certo, pois

acreditamos que a leitura serve para aumentar o nosso conhecimento sobre as

coisas, mas o mais importante elevar o aluno a tomar gosto pela leitura, pois esta

quando feita sem obrigação torna-se prazerosa.

Trabalhamos com os alunos, então, a invenção do livro e o processo de

evolução: livros impressos, audiolivros, livros online, livros CD, livros digitais. Em

seguida passamos alguns vídeos disponíveis no youtube3. Após os questionamentos

e a discussão sobre os vídeos, convidamos os alunos para visitarem a biblioteca da

escola para conhecer os livros disponíveis para leitura.

Percebemos que esse momento foi mágico, pois todos pegavam os livros que

queriam, abriam, fechavam, devolviam nas estantes, solicitavam por alguns títulos,

pareciam estar descobrindo os livros naquele momento.

Nosso papel foi de observador, mas percebemos que por se tratar de um sexto

ano (antiga quinta série), os alunos se deslumbravam pelos clássicos: Peter Pan, A

Bela Adormecida, A Bela e a Fera, Cinderela, Branca de Neve e os Sete Anões e

outros.

Antes das atividades, escrevemos no quadro alguns nomes de livros: Peter

Pan, A Bela Adormecida, A Bela e a Fera, Cinderela, Branca de Neve e os Sete

Anões e outros e perguntamos aos alunos se eles conhecem esses livros.

Discutimos oralmente as seguintes questões: vocês já leram algum desses

livros? Gostaram? Por exemplo, quem saberia contar a história de um livro? Como

esses livros começam? Quem são as personagens?

3 http://www.youtube.com/watch?v=CfOPxJXGv8g

http://www.youtube.com/watch?v=DxkYgErbccc

http://www.youtube.com/watch?v=1EXZBOdMuI0&feature=related

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Após essa breve conversa, dividimos a turma em pequenos grupos.

Entregamos o texto “A Cinderela”, solicitamos aos alunos que fizessem uma leitura

silenciosa do texto.

Em seguida, pedimos que os grupos lessem o texto em voz alta. Logo após

perguntamos aos alunos: o que acharam do texto? Se gostaram? Se não gostaram?

Por quê? Como esse livro termina?

Depois de conversar sobre a história oralmente, entregamos aos alunos os

seguintes questionamentos que podiam ser respondidos oralmente ou por escrito.

Com essa atividade foi possível verificar se os alunos haviam compreendido a

história, seu início, meio (conflito) e desfecho. A habilidade de leitura cobrada aqui é

a compreensão global do texto.

− Conte o texto em poucas palavras.

− De acordo com o texto, quais seriam as características da personagem

Cinderela?

− De que modo Cinderela era tratada em casa?

− De acordo com a leitura de "Cinderela", a jovem moça ajudou as irmãs a se

vestirem para um grande baile, mas sua madrasta havia impedido que ela

também fosse à festa. Cinderela não poderia ir ao baile. Por quê?

− O que a madrasta fez para manter a jovem em casa?

− Apesar do obstáculo imposto pela madrasta, com a ajuda de um ser mágico,

Cinderela consegue ir ao baile. Que ser é esse?

− O que esse ser faz para ajudar Cinderela?

− Por que a garota deveria voltar pra casa antes da meia noite?

− Ao final da história, Cinderela consegue ser feliz com o príncipe?

Nesse momento, sentimos que os alunos estavam olhando a história com

outros olhos, voltando ao texto várias vezes, aos poucos foram tecendo outros

comentários, chagando a outras conclusões, foram trazendo, cada um a seu modo,

para o cotidiano de cada um, uma aluna disse ser a própria Cinderela.

Diante das observações que fomos fazendo, sugerimos uma atividade

apresentamos vários livros, histórias recontadas, livros mais ilustrados. Sentimos as

mais diversas reações, alguns alunos pegavam os livros e não queriam mais soltar,

num primeiro olhar o abraçavam junto ao corpo. Então, dissemos que eles podiam

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levar para casa o livro escolhido, desde que contassem, no próximo encontro, a

história para os colegas.

No encontro seguinte, resolvemos brincar um pouco, em vez de pedir apenas

para contarem a história que haviam lido fizemos a seguinte atividade: Em círculo,

ouvindo uma música, passar de aluno para aluno, um objeto qualquer, quando a

música parasse quem estivesse em posse do objeto será convidado a contar a

história que leu em casa.

Desse modo, a atividade se tornou prazerosa, os alunos seguravam o objeto

pois queriam contar, estavam eufóricos e queriam mais livros, contaram que leram

para os irmãos, para os pais e amigos.

Depois de terminada a atividade, mesmo tendo ouvido a história do colega

pediam para levar os livros para casa, esse ritual de empresta devolve, se tornou uma

atividade constante com esse grupo de trabalho.

Marcamos o nosso próximo encontro e solicitamos que quem tivesse algum

livro em casa e quisesse emprestar ou deixar no espaço de nossos encontros poderia

trazer.

No nosso próximo encontro, realizamos uma “roda de leitura individual ou

coletiva”, disponibilizamos vários livros de nosso acervo pessoal e outros da

biblioteca, com o objetivo de deixar na sala para que fossem organizadas as trocas

entre as os participantes das oficinas.

Explicamos, então, a dinâmica da roda de leitura: quem optasse por realizar a

atividade de forma individual teria a liberdade para escolher os livros que quisesse,

quem optasse pela roda de leitura coletiva, eles elegeriam um livro que poderia ser

lido pelo professor ou o livro vai passando e cada um lia um parágrafo /página.

Para nossa surpresa os alunos resolveram realizar a atividade de forma

individual e coletiva. Após a leitura, individual ou coletiva, abrimos espaço para a

discussão da atividade e convite para uma nova leitura. Como ainda tínhamos tempo,

sugerimos que fosse feito um convite para leitura, de forma oral, os alunos iam até o

centro da roda, iniciava a história e finalizava com a frase: “Quer saber o que

acontece no final? LEIA O LIVRO... Essa atividade foi uma pista de como seria o

nosso próximo encontro.

Mais um encontro, nesse encontro formalizamos a atividade que havíamos

iniciado oralmente. Distribuímos o texto e pedimos para que todos lessem com

atenção:

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O LIVRO4

Tenho amigos como ninguém os tem melhores. Moram em minha casa, mas

ocupam muito pouco espaço. Estão todos no escritório, e de lá não saem se eu não

quero que saiam. Nunca são importunos.

[...]

São amigos leais, incapazes de uma traição. Para gozar dos imensos benefícios

que me prestam, só preciso de uma causa amá-los. Se não os amasse, estou certo

de que não lhes ouviria nem mais uma palavra. Seriam como estátuas de mármore

que só serviriam para enfeitar a casa.

Já adivinharam quem são os meus leais amigos? Se adivinharam, procurem a

amizade deles que não se arrependerão.

Romão Puiggaei

Terminada a leitura, fizemos os seguintes questionamentos: Você viu que o

Romão tem amigos importantes: OS SEUS LIVROS!!! E você também tem desses

amigos especiais? Que não ocupam espaço? Que te levam para viagens na

imaginação? Logo após apresentamos o livro de Marcelo Xavier “Asa de Papel”

ASA DE PAPEL5

Quando você se sentir só...

Ou não quiser ser apenas mais um na multidão

Quando quiser descobrir quem descobriu, quem inventou, como surgiu

Nas curtas, médias e longas viagens

[...]

Para entender o que os bichos pensam da vida

Ou atravessar como se atravessasse uma porta

Para saber como é bonito o mundo visto por um mosquito

Ou, num instante, sentir a terrível solidão de um gigante

Quando o mundo vira uma geladeira e você um pinguim

Nos dias chorosos

Ou quando a terra se bronzeia

4Texto em PDF disponível em: cisenior.com.br/Util/HandlerArquivoBiblioteca.ashx?arq=137

5 Disponível em:http://veraeideias.blogspot.com/2010/03/asa-de-papel-marcelo-xavier-asa-de.html

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Ou quando quiserem fazer você de bobo

Para sentir aquele medinho gostoso.

Leia um livro...

No momento seguinte, falamos “ Marcelo escreveu um lindo convite... agora

é a sua vez... convide um amigo para ler um livro...” e distribuímos o material abaixo:

No

início, distribuímos apenas duas cópias para cada aluno, mas para nosso deleite, os

alunos queriam mais materiais, pois queriam mandar convite para os colegas de

outras salas, mãe, amigos, irmãos e os próprios colegas de oficinas.

Escritos os convites e distribuídos realizamos uma atividade lúdica com o

objetivo de retomar os elementos que subsidiavam nossos encontros.

CAÇA PALAVRA

No quadro abaixo encontre as seguintes palavras:

LIVROS ALUNO PERSONAGEM BIBLIOTECA AUTOR CRIANÇA CONTO

FALAR CAPA ESCOLA PROFESSOR AVENTURAS MÚSICA ESCRITOR

HISTÓRIA VOZ LEITURA COLEGA PALAVRA OUVIR TEXTO FADAS

LEITOR PRINCESAS ESTUDANTE

Atenção: uma palavra não cruza com a outra. Use lápis de cor para pintar as

palavras ao encontrá-las. As letras que restarem, lidas na ordem, formarão uma

frase do pensador Sandro Costa.

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E S C O L A A A C I S U ML E I P E R S O N A G E MA H I S T O R I A R T U RL O T N O C A É A O U M AU P O R T A A B V T E L RN R O T X E T L E U A I RO O T A P A R E N A R V OR T O U V I R I T A O R TF I U M M U N T U C S O IA R D O V O Z U R O S S EL C F A D A S R A L E D LA S E A P A C A S E F D ER E A R V A L A P G O S CO B A Ç N A I R C A R E RB I B L I O T E C A P T AE T N A D U T S E S S E MP R I N C E S A S F I M A

Frase que será encontrada: “A leitura é uma porta aberta para um mundo de descobertas sem fim”.

Com a frase encontrada solicitamos aos alunos que montassem um livro em

forma de sanfona, com recorte e colagem de jornais e revistas. (Vai escrevendo a

frase e colando figuras).

A leitura... ...é uma

porta... ...aberta ...para... ...um

mundo......de descobertas...

...sem fim...

Essa atividade movimentou o grupo, alguns alunos fizeram mais de um livro,

logo após os alunos cada um a seu tempo, mostrava o livro ou os livros para o grupo.

Marcado o nosso próximo encontro, a euforia e a descoberta da leitura como

prazer e não como obrigação tomava corpo e cada encontro era aguardado com

ansiedade.

Mais um dia esperado por todos chegou, nesse encontro levamos algumas

gravuras de histórias e pedimos aos alunos identificassem o nome de cada história.

Cada um escolheu uma história de sua preferência. Observamos as preferências de

cada um e solicitamos para que eles contassem uma história sobre as imagens e

depois fizessem um desenho.

No final dessa atividade, encaminhamos os alunos ao laboratório de

informática para buscarem mais informações sobre as histórias mostradas nas

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gravuras e em seguida acessassem o site, http://www.guri.com/guri.htm onde eles

encontrarão jogos, histórias e diversão.

Com isso terminava mais um encontro, no laboratório uns ajudavam aos outros

e a atividade se consolidou mais uma vez com aprendizagem e prazer.

Nesse momento de nossas oficinas refletíamos sobre a questão “os alunos não

leem”, diante da euforia dos alunos tal premissa não tinha validade, “os alunos liam” e,

mais, gostavam de ler. Pensando nisso, demos mais um passo, agora os nossos

passos estavam terminado, restavam poucas oficinas.

O dia tão esperado por nós e pelos alunos chegou. Nesse encontro, fazemos

comentários s sobre os diferentes tipos de histórias infantis (clássicos e outros).

Conversamos com os alunos sobre o contos de fadas, estimulamos a participação

de todos, para tanto fizemos as seguintes questões:

• Os contos de fadas já existiam na época de seus pais?

• Quais os contos de fadas que vocês conhecem?

• Os contos de fadas sempre iniciam da mesma forma?

• Quais são os personagens dos contos de fadas?

• Quem sabe quais são as características dos personagens dos contos de

fadas?

• Os contos de fada sempre terminam da mesma forma?

• O que você mais gosta nos contos de fadas?

• Qual é seu conto de fadas favorito?

Depois de muita conversa, proporcionamos o encontro dos alunos com alguns

Clássicos Infantis em CD com o uso do micro system e na tv pendrive, pelo simples

prazer de ouvir algumas outras versões. Como forma de registro eles deveriam

representar a história preferida através de desenho e escrita.

O encontro foi, mais uma vez, criativo e produtivo, conversamos, então, sobre

as várias versões de uma mesma história e das adaptações para os vídeos o que

resultava em uma nova história.

Nossa próxima atividade aconteceu no laboratório de informática.

Iniciamos a atividade com a afirmação: todos nós já ouvimos uma bela história, onde

uma bela princesa casou com o príncipe encantado e viveram felizes para sempre.

Será que toda história realmente tem final feliz? Vamos assistir alguns vídeos

acessando os seguintes sites: <http://www.contandohistoria.com > e

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<http://casorionet.files.wordpress.com >. Para nosso prazer, o encontro acabou com

gostinho de “quero mais”, terminou o horário e ninguém queria ir embora.

Faltavam apenas dois encontros para finalizar o número de horas para exigidas

para nossa pesquisa intervenção, planejamos uma atividade teatral:

Em grupos vamos escolher uma história, para realizar uma apresentação

teatral sobre a mesma.

1º momento: escolha da história.

2º momento: traçar o perfil dos personagens principais

3º momento: confecção do material para dramatização (ex.: coroa da princesa,

varinha de condão da fada, capa da chapeuzinho vermelho, etc.), tudo de acordo

como que a história conta.

4º momento: apresentação que poderá ser realizada para toda a escola.

Essa atividade demorou mais do que esperávamos, os grupos preferiram

apresentar apenas para os colegas do grupo de trabalho. Respeitamos a decisão e

todos apresentaram, cada um ao seu modo, alguns se caracterizaram com o que

tinham, outros preferiram apenas apresentar, outros ainda fizeram adaptações. No

final foi uma grande festa encantada.

Finalmente, fomos visitar a Usina de Conhecimento para a participação na

oficina”Literatura e Cinema. Na Usina os alunos tiveram o contato com algumas

versões do livro “O Mágico de OZ” de L. Frank Baum e Paul Hess recontada por Libby

Hamilton, uma história clássica em um livro sonoro e com Pop-up (Anexo 01).

Um novo encontro foi marcado e no retorno os alunos realizaram uma

atividade de pintura no isopor confeccionando um livro coletivo (Anexo 02).

As nossas oficinas foram finalizadas com uma visita à biblioteca do SESC

para leitura e atividades lúdicas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração prévia dessas atividades que fazem parte do caderno

pedagógico demandou estudos a fim de identificar os problemas enfrentados pelos

professores em relação à leitura. Nesse sentido, à medida que fomos selecionando

as atividades, os livros, deparamo-nos com uma diversidade estratégias de leitura,

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portanto, a seleção foi feita a partir de observações dos alunos nas visitas à

biblioteca da escola.

Durante o processo de seleção das obras, procuramos por textos que

apresentassem marcas mais ou menos estáveis com a esfera de circulação na

escola, nos lares dos alunos e na website.

Dessa forma, a elaboração e o desenvolvimento das atividades pedagógicas

como recurso metodológico mostrou-se adequada, pois proporcionou uma reflexão

sobre as diversas possibilidades de leitura, além de favorecer a escrita e a oralidade.

Comparando as inserções iniciais, observamos um avanço quanto a

incorporação dos conhecimentos, aos temas trabalhados, aos conhecimentos

prévios das alunas que participaram das atividades.

Na intervenção pedagógica, na aplicação das atividades, observamos que

cabe ao professor propiciar momentos de práticas de leitura que antecedam a

produção qualquer outra atividade. Nesse sentido, retomamos as palavras de

Menegassi (1992) cada texto apresenta uma ou mais ideias que são alcançadas a

partir do trabalho com uma leitura ativa, em que o leitor identifica nos parágrafos e

no corpo do texto, qual a ideia mais relevante, que está diluída em todo o texto.

O trabalho com a leitura foi desafiador, principalmente, no momento em que

trabalhamos com os níveis de leitura e com a mudança de suporte de divulgação

dos textos, cd, computador, vídeos e filme, conforme fotos no anexo 03.

Nesse sentido, a elaboração prévia das atividades e sua reestruturação

durante o processo de desenvolvimento, a partir com as necessidades das alunas,

contribuíram para a nossa formação profissional.

Portanto, tal encaminhamento metodológico para o trabalho com a leitura

oportuniza o desenvolvimento de um trabalho que envolve a leitura, a oralidade, a

escrita, considerando as situações de uso e a esfera de circulação, além de

possibilitar um trabalho interdisciplinar.

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7 REFERÊNCIAS

MACHADO, Ana Maria, como e porque ler os clássicos universais desde cedo, Rio de Janeiro: objetiva, 1979.

ANTUNES, I. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara Frateschi. 9 ed. São Paulo: Hucitec, 1999.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

CANDIDO, A. A literatura e a formação do homem. Ciência e cultura. São Paulo: vol. 4, n. 9 PP.803-809, setembro, 1972.

DCEs 2008 Diretrizes Curriculares da Educação Pública do Estado do Paraná. Diretrizes curriculares da educação básica, língua portuguesa. Paraná: Secretária do Estado da Educação, 2008.

FARACO, C. A área de linguagem: algumas contribuições para sua organização. Ensino médio – construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. São Paulo: Cortez, 2003.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam / São Paulo: Cortez, 2005.

GERALDI, João W. Concepções de linguagem e ensino de Português. In: O texto na sala de aula. 5. ed. Cascavel: Assoeste, 1990.

ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: vol. 1, 1996.

LAJOLO, Marisa. O Que é Literatura São Paulo, Ed. Brasiliense, 15ª ed. 1994.

Literatura Infantil. In: <http://www.graudez.com.br/litinf/> Acesso em 13/09/2010.

Literatura. In:<www.edukbr.com.br/artemanhas/ literatura _ infanto _juv.asp > Acesso em 13/09/2010.

MENEGASSI, R.J. Estratégias metacognitivas no processo de leitura. Revista Unimar, Maringá, v.14, n.2, p. 155-166, out. 1992.

PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.

RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. (UFSC), gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: parábola, 2005.

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SILVA, Eziquiel Teodoro da. A produção da leitura na Escola. Pesquisas e propostas.2. ed. 5.ª impressão. São Paulo:Editora Ática.2005.

SOLÉ, I. Estratégia de leitura: trad. Claudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: artes médicas, 1998.

SOARES, Angélica. Gêneros literários. São Paulo: Ática, 1998.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.

AGUIAR, Vera Teixeira de. A Literatura e o Leitor. Letras de Hoje. Porto Alegre, Epecê, 1986.

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ANEXO 01

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Usina de Conhecimento de Guarapuava

O MÁGICO DE OZ

O CICLONEDorothy morava num longínquo recanto duma das grandes planícies de Kansas, no meio dos Estados Unidos, com o Tio Henry, fazendeiro, e a Tia Em, sua mulher. A casa era pequena, porque a madeira empregada para construí-la teve de vir de muito longe. Eram só quatro paredes, o assoalho e o teto, isto é, um único aposento, contendo um fogão velho, um guarda-louça, a mesa, três ou quatro cadeiras e as camas. Tio Henry e Tia Em dormiam na cama grande, a um canto, e Dorothy numa pequenina, no lado oposto do aposento.Um alçapão, no centro do assoalho, dava acesso a um buraco cavado no chão, onde a família podia abrigar-se, durante os terríveis ciclones frequentes no lugar, tão violentos que derrubam às vezes

muitas casas que encontram pela frente.Da porta da casa, Dorothy só via a planície cinzenta e enrugada que se estendia até o

horizonte, sem uma árvore, sem uma vila. Até o capim era raro e mirrado e tinha o mesmo tom cinzento que caracterizava a planície.

A casa tinha sido pintada há tempos, mas o sol e a chuva se encarregaram de desbotar a tinta, tornando-a também cinzenta e triste como tudo em torno.

Tia Em, moça e bonita quando viera morar ali, tinha mudado também com o sol e o vento. Os olhos brilhantes, os lábios rosados, o rosto alegre e saudável, acabaram cinzentos e tristes como tudo o mais.

Quando Dorothy ficou órfã e foi morar em sua companhia, Tia Em levava sustos incríveis com o riso alegre da menina e olhava espantada para Dorothy, sem entender como a sobrinha podia ser alegre num lugar tão triste.

Tio Henry falava pouquíssimo e trabalhava sem parar, de manhã à noite, não sabendo o que era alegria. Também ele, das barbas até as botas, parecia feito de cinza.

Dorothy só não desaprendeu a rir e não ficou cinzenta graças a Totó, um cãozinho preto, de pelo comprido e sedoso, olhos escuros e miúdos que piscavam alegremente, com o qual passava o tempo brincando.

Mas aquele dia não parecia propício a brincadeiras. Tio Henry, sentado à porta, olhava com aflição para o céu, mais escuro que de costume. A seu lado, Dorothy também examinava o céu, apreensiva, enquanto Tia Em lavava a louça.

O gemido do Vento Norte não acabava mais. Olhando a dança doida do capinzal, Tio Henry e Dorothy sabiam que uma tempestade estava a caminho, e quando o vento subitamente mudou de direção, o velho gritou para a mulher:

— Vem aí um ciclone; vou recolher o gado. — E correu para os telheiros, sob os quais se brigavam as vacas e os cavalos.

Tia Em largou o trabalho e foi até a porta. Deu uma olhada na planície, viu o perigo iminente e gritou para Dorothy:

— Depressa para o porão!

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Assustado, Totó pulou dos braços da amiga e escondeu-se debaixo da cama. Enquanto a menina ia buscá-lo, Tia Em, apavorada, desceu aos trambolhões a escadinha do pequeno esconderijo. Dorothy, com Totó nos braços, preparava-se para entrar no alçapão, quando uma violenta rajada de vento abalou acasa toda e fez a menina cair sentada no chão.

Então, um fato muito esquisito aconteceu.A casa rodopiou duas ou três vezes e subiu devagarinho no ar, como se fosse um

balão.Os ventos do norte e do sul, que pareciam ter briga marcada, na planície, depois de se

encontrarem na casa de Dorothy, que ficava bem no centro do ciclone, elevaram-na lentamente no ar e a transportaram a quilômetros e quilômetros de distância.

Apesar da escuridão e do vento assustador, Dorothy sentiu como se estivesse num barco. Depois dos primeiros e mais violentos redemoinhos e de alguns perigosos sacolejos, a menina teve a impressão de que a embalavam levemente num berço.

Totó não gostou nada e corria de um lado para outro, latindo com força, enquanto Dorothy, sentada muito quietinha no chão, aguardava os acontecimentos.

Em certo momento, Totó chegou tão perto do alçapão que a menina chegou a dizer para si mesma: "Adeus, Totó..." Mas, quando viu uma das orelhas do cachorrinho ficar em pé, compreendeu que a forte pressão do ar o impediria de cair.

Arrastando-se até a abertura, agarrou Totó pela orelha e fechou o alçapão, evitando futuros acidentes.

O tempo passava muito devagar. Dorothy, já refeita do susto, começou de repente a ficar apavorada com a ideia de ter o corpo despedaçado, quando a casa voltasse ao chão. Controlou, porém, os nervos e resolveu ficar despreocupada, esperando calmamente o que viesse acontecer. Arrastando- se outra vez pelo assoalho, conseguiu alcançar a cama, deitando-se com Totó ao lado.

Apesar dos sacolejos da casa e dos gemidos da ventania, não demorou a adormecer.(BAUM , Lyman Frank. O Mágico de Oz)

Para ajudar a leituralongínquo recanto - lugar afastadoaposento = quartoalçapão = entradaterríveis ciclones - ventos fortesmirrado = sem vidasaudável = com saúdesedoso = maciopropicio a = bom parasubitamente = rapidamenterecolher = guardarabrigavam = protegiamiminente = que se aproximavaaos trambolhões = correndoelevaram-na = levantaram-natransportaram = levaramredemoinhos = encontro de ventos fortesacidentes = problemasapavorada - assustadadespedaçado = quebrado despreocupada = calma

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Depois de ler o primeiro capítulo do livro O Mágico de Oz responda.1. Qual o problema que se apresenta ao leitor no primeiro capítulo “O

ciclone”?________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Como vocês acham que será resolvido? Alguma ________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AGORA RESPONDA ORALMENTE• Vocês possuem o hábito de assistir a filmes?• Que tipos de filmes preferem? Drama? Aventura? Suspense? Ação? Terror? Ficção

científica?• Dão preferência às produções brasileiras ou gostam mais de assistir produções

hollywoodianas? Por quê?• Geralmente assistem nos cinemas, nos canais abertos ou fechados da televisão ou

preferem locar tais filmes?• Quais são os critérios adotados por vocês ao escolherem um filme? Geralmente

baseiam suas escolhas em gêneros, atores, enredos, títulos, propagandas ou comentários de outras pessoas?

• Vocês já ouviram falar nos termos - sinopse ou - sinopses de filmes‘?• Caso loquem filmes ou deem preferência ao cinema possuem o hábito de ler as

sinopses das produções antes de optar por algum?• Vocês acreditam que as sinopses dão uma visão clara das tramas dos filme? • Que tipo de informações geralmente podemos encontrar nas sinopses fílmicas?• Que sinopses costumam ler? De jornais? De revistas? Da internet? De capas de cds e

fitas?• Mas antes, vamos ler a sinopse, o resumo? Será que ela vai

responder como resolver esse problema?

SINOPSE DO FILMEEm Kansas vive Dorothy Gale (Judy Garland), uma aluna de

11 anos que vive na fazenda dos seus tios Henry (Charley Grapewin) e Em (Clara Blandick). Após o cão de Dorothy, Totó, “atacar’ a insuportável Srta. Gulch (Margaret Hamilton), que, irritada, vai até Henry e Em com uma ordem judicial que a autoriza pôr o Totó “para dormir”.

Apesar dos apelos de Dorothy, os tios dela se sentem obrigados em cumprir a lei, então Gulch pega Totó e o coloca em uma cesta na bicicleta dela. Porém o cachorro foge e corre de volta para a fazenda. Temendo que Gulch volte para pegar Totó, Dorothy foge. Na estrada conhece o professor Marvel (Frank Morgan), um adivinho falso que deixa Dorothy fascinada com seus “dons”.

Ele entende que Dorothy fugiu de casa, então sutilmente a persuade para voltar para casa. Porém, quando Dorothy e Totó voltam, surge um tornado enorme, que se move pelas planícies na direção da fazenda. Os colonos Zeke (Bert Lahr), Hickory (Jack Haley) e Hunk (Ray Bolger) correm com Em e Henry para um abrigo, fechando as portas antes de verem Dorothy, que não teve tempo de se proteger com eles.

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Dorothy corre para dentro da casa, quando uma tela de janela arrancada pelo vento voa através do quarto e bate na sua cabeça. Logo ela descobre que a casa da fazenda foi arrancada do chão pelo ciclone e está sendo levada para o centro do tornado.

Olhando pela janela, vê voando com a força do vento os animais de fazenda, um homem remando um barco e até mesmo uma mulher idosa, que calmamente tricota na cadeira de balanço. Dorothy também vê Gulch pedalando sua bicicleta, mas de repente se transforma em uma bruxa horrorosa montando uma vassoura e usando um chapéu pontudo.

A casa começa a descer, girando até o solo e aterrissando com um estrondo. Apreensiva, ela abre a porta da casa e seus olhos se deslumbram com um lugar maravilhoso. Dorothy tem certeza que não está mais no Kansas, principalmente quando, através de uma bolha colorida, surge Glinda (Billie Burke), a Bruxa do Norte, perguntando se Dorothy era uma bruxa boa ou má.

O motivo da pergunta é que os munchkins, os pequenos habitantes daquele lugar, disseram a Glinda que uma bruxa derrubara uma casa sobre a Bruxa Má do Leste, matando-a e os libertando-os de suas maldades.

A Bruxa do Leste foi esmagada e agora só se pode ver suas pernas, que usava mágicos sapatos de rubi. Porém uma nuvem de fumaça vermelha anuncia a chegada da Bruxa Má do Oeste, que é igual à Srta. Gulch, e ameaça Dorothy tentando arrebatar os sapatos de rubi, que permanecem nos pés da sua irmã morta. Entretanto a Bruxa do Oeste não tem nenhum real poder na terra dos munchkins e, antes que possa pôr as mãos nos sapatos mágicos, eles surgem nos pés de Dorothy, graças a uma magia de Glinda.

A bruxa jura vingança diante de uma terrificada Dorothy, antes de desaparecer em outra nuvem de fumaça vermelha. Dorothy conta para Glinda que ela quer ir para sua casa no Kansas. Glinda não pode ajudá-la, só o grande e Todo-Poderoso Mágico de Oz (Frank Morgan).

Glinda diz que ele tem este poder e Dorothy busca a ajuda dele na Cidade de Esmeraldas, onde ele reside. Glinda aponta para ela a Estrada de Tijolos Amarelos e lhe diz para seguir este caminho para chegar na Cidade de Esmeraldas. Antes de partir Glinde diz para ela nunca tirar os sapatos.

No caminho conhece um espantalho (Ray Bolger) que quer ter um cérebro e, como visitará um mago, pode ser que ele arrume um cérebro para o espantalho, assim resolvem viajar juntos. Mais adiante encontram um homem de lata (Jack Haley), que anseia por um coração, então os três passam a viajar juntos.

Logo depois se deparam com um leão covarde (Bert Lahr), que quer ter coragem, então o quarteto fica mais do que determinado em achar o mágico de Oz.

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CURIOSIDADE!!!Você sabia que esse filme O Mágico de Oz, dirigido por Victor Flemming é de 1939 e foi considerado pelos americanos o melhor filme do século XX.

ATIVIDADE ESCRITALeiam a sinopse do filme e que em seguida respondam os seguintes questionamentos, registrando-os em seus cadernos:1. Quem são os personagens principais da trama?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2. Que atores atuam no filme?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Quem dirigiu a obra?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Há informações importantes que afetam os personagens ou enredo?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. Como o autor da sinopse apresenta suas principais personagens e começa a contar suas histórias?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. O autor da sinopse a pontuou com citações de seus personagens?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. A sinopse de “O Mágico de OZ” fornece outras informações percebidas por você?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

VAMOS ASSISTIR AO FILME?

LEITURA FILMICA – DISCUSSÃO EM GRUPO Organização do grupo: Descrição da dinâmica: Cada grupo es-colhe rapidamente um secretário, um co-ordenador e um cronometrista. Secretário: Sua missão é fazer uma sín-tese do que o grupo falou e fez. Preparar o seu informar para apresentar no plená-rio, mas antes deve sujeitar à aprovação do grupo. Cronometrista: O tempo para cada eta-

pa do trabalho deve ser determinado pelo grupo. A função do cronometris-ta é indicar se o tempo ainda é suficiente ou se já estourou. Não deve dei-

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xar para avisar em cima da hora, mas de forma que o grupo possa se reor-ganizar com seu tempo, realizando as tarefas que lhe foram pedidas. Coordenador: Sua missão é fazer com que todos façam. É quem distri-bui as tarefas e faz com que todos participem. Pede que falem os que ain-da não falaram. Pede que falem menos os que falaram demais. Preocupa-se com a dinamicidade do trabalho em grupo e que os objetivos sejam al-cançados. Sua missão é fazer com que os outros opinem e atuem, ou seja, sua missão é coordenar. Funções no grupo: O grupo desenvolve a tarefa da qual foi incumbi-do. Metade do grupo organiza as manchetes, outros interpretam as man-chetes ilustrando-as, o secretário prepara a apresentação, o coordenador também observa se não está faltando material para a tarefa proposta, por fim, realizada a tarefa, avalia-se o processo vivido pelo grupo. Observação: um componente pode exercer mais de uma função.

Agora respondam as questões abaixo.

1. Que elementos da paisagem descrevem os cenários do capítulo O ciclone?

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2. Relate um episódio do filme que mais lhe chamou a atenção?________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Que personagens Dorothy encontrou no reino de OZ?________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. No início da narrativa fílmica, Dorothy busca apoio junto aos adultos para a solução de um problema. Que problema é esse?

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5. Como ela, Dorothy, é recebida na terra de OZ?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Qual o detalhe que mais lhe chamou a atenção em relação à protagonista do filme? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Vamos cantar e criar?O Mágico de Oz

Em algum lugar além do arco-írisBem lá no altoE os sonhos que você sonhouUma vez em um conto de ninarEm algum lugar além do arco-írisPássaros azuis voamE os sonhos que você sonhouSonhos realmente se tornam realidadeAlgum dia eu vou desejar por uma estrelaAcordar onde as nuvens estão muito atrás de mimOnde problemas derretem como balas de limãoBem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,Em algum lugar além do arco-íris pássaros azuis voamE o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

Bom, eu vejo árvores cheias de vida eRosas vermelhas tambémEu vou assisti-las florescer pra mim e pra vocêE eu penso comigoQue mundo maravilhoso

Bem eu vejo céus azuis e eu vejo nuvens brancasE o brilho do diaEu gosto do escuro e eu penso comigoQue mundo maravilhoso

As cores do arco-íris tão bonitas no céuTambém estão no rosto das pessoas que passamEu vejo amigos apertando as mãosDizendo, "como vai você?"Eles estão realmente dizendo, eu, eu amo vocêEu ouço bebês chorando e eu os vejo crescerEles vão aprender muito maisQue nós saberemosE eu penso comigoQue mundo maravilhoso

Algum dia eu vou desejar por uma estrelaAcordar onde as nuvens estão muito atrás de mim ee ee eehOnde problemas derretem como balas de limãoBem acima dos topos das chaminés é onde você me encontrará,Em algum lugar além do arco-íris bem lá no altoE o sonho que você desafiar, por que, porque eu não posso?

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ANEXO 02

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Figura 1 - JUNGES, Nair Lucilda

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ANEXO 03

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Figura 2 - JUNGES, Nair Lucilda