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Promoção de saúde e educação infantil

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141Paidéia, 2003, 13(26), 141-146

PROMOÇÃO DA SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL:CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO1

Patrícia Carla de Souza Della BarbaCláudia Maria Simões Martinez2

Bianca Gonçalves CarrascoUniversidade Federal de São Carlos

Resumo: Este estudo tem por objetivo uma reflexão acerca dos aspectos envolvidos na melhoria daqualidade de vida de crianças e suas famílias. São abordados questões e temas relativos ao cuidado e educa-ção, do ponto de vista histórico-social, bem como situações de vulnerabilidade e pobreza. O aporte teóricoutilizado está apoiado nos indicadores da UNESCO, Ministério da Saúde e publicado originalmente pelaOrganization for Economic Co-operation and Development. Discute-se o conceito e a efetivação das práticasde educação infantil no Brasil, destacando ações de desenvolvimento e promoção da saúde na infância, oempowerment e intersetorialidade, na perspectiva da construção de caminhos para minimizar ou atenuar osinúmeros estressores aos quais as famílias de parcelas menos favorecidas da população estão expostos; reafir-ma-se a necessidade do investimento na formação continuada dos educadores, considerando que resultadossatisfatórios são obtidos quando a intervenção envolve a família, a comunidade e os serviços públicos.

Palavras-chave: Desenvolvimento infantil; promoção à saúde; formação de educadores; educação infantil

HEALTH PROMOTION AND EARLY EDUCATION:PATHWAY OF CHILD DEVELOPMENTAL

Abstract: The aim of this study is to promote a reflection about the aspects related to the improvementof life quality of children and their families. Items and themes related to care and education are pointed out,using the social-historical point of view, as well as aspects of vulnerability and poverty situations. The theoryis based on the indicators presented by UNESCO, the Brazilian Health Agency and it was originally publishedby OECD (Organization for Economic Co-operation and Development). The concept and effective practicesof children education in Brazil are presented, highlighting development and health-promotion actions inchildhood, also empowerment and intersectionality, with the perspective of constructing ways to minimize thegreat amount of stressors that the families from less favored classes are exposed to. The necessity of investmentsfor the continuous training of the educators is reaffirmed, considering that satisfactory results are obtainedwhen the intervention involves family, community and public services.

Key-words: child development; health promotion; early education; nursery´s education

1 Artigo recebido para publicação em 24/07/03; aceito em 18/10/03.2 Endereço para correspondência: Cláudia Maria Simões Martinez,Dep. de Terapia Ocupacional, Universidade Federal de São Carlos,Rod. Washington Luiz, Km 235, São Carlos, SP, Cep 13565-905E-mail:[email protected]

Educação e cuidado na primeira infância:indicadores de desenvolvimento

O estudo publicado pela Organização paraCooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDEUNESCO, 2002) considera que a expressão – edu-cação e cuidado na primeira infância (ECPI) – in-

clui todas as modalidades que garantem a educaçãoe cuidado das crianças antes da idade da escolarida-de obrigatória, independentemente da organizaçãodo espaço, do financiamento, dos horários de funci-onamento ou do conteúdo do programa. Tal estudopressupõe que “educação e cuidado” são conceitosinseparáveis, e que devem ser necessariamente leva-dos em consideração nos serviços destinados às cri-anças. Entretanto, mostra que mesmo nos países par-ticipantes da OCDE há o emprego de terminologiasdiferentes, como “jardim de infância”, ou “educa-

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ção pré-escolar”. Na prática, observam-se aborda-gens incoerentes dos serviços, uma vez que, em cer-tas estruturas ditas de “cuidado”, existem possibili-dades de ensino e em outras que seriam ditaseducativas o que, na verdade, é oferecido é o cuida-do às crianças. Nesta perspectiva, o resultado da di-vergência de terminologia é a desarticulação entrepolítica e prestação de serviço3.

Como alternativa, o estudo da OCDE (2002)propõe que a expressão “educação e cuidado na pri-meira infância” indique uma abordagem integradae coerente, tanto da política quanto da prestação deserviços, e que inclua a criança e seus pais, indepen-dentemente do status profissional ousocioeconômico.

Os objetivos que embasam a política de edu-cação e cuidado na primeira infância na maioria dospaíses membros da OCDE são: facilitar a integraçãodas mães das crianças no mercado de trabalho e con-ciliar responsabilidades profissionais e familiares;apoiar as crianças e familiares em “situação de ris-co” e favorecer igualdade de oportunidades de aces-so à educação ao longo da vida; auxiliar na implan-tação de ambientes que estimulem o desenvolvimentoglobal e o bem-estar da criança; facilitar a prepara-ção para o ingresso na escola e manter a integração ea coesão sociais.

O estudo aponta que quando a educação naprimeira infância era vista nos países membros comoresponsabilidade privada (dos pais e não da socieda-de), as políticas públicas ocupavam-se somente dascrianças em situação de risco. É, portanto, recentetanto a abordagem mais abrangente da educação ecuidado por parte do poder público para toda a po-pulação, como a própria concepção de que a educa-ção da primeira infância deve ser compartilhada en-tre a família e o poder público. O texto da UNESCO(2002) diz o seguinte:

A grande maioria dos países (OCDE) reco-nhecem que os serviços destinados à primei-

ra infância oferecem a possibilidade de iden-tificar crianças com necessidades especiais ouem situação de risco; neste caso, tem a possi-bilidade de intervir o mais cedo possível afim de prevenir ou reduzir as dificuldades ul-teriores. (p.60).

Assim a educação e cuidado na primeira in-fância passam a ser vistos na maioria dos países daOCDE como complementares aos cuidados da famí-lia, e não como substitutos. A grande contribuiçãodos serviços de educação infantil é a de oferecer apossibilidade de apoio social e ponto de encontroentre família e sociedade. De acordo com estereferencial, existe a concepção de que a educação naprimeira infância deve preparar a criança para serbem sucedida em sua escolaridade, vida profissionale em sociedade. Nos países em que esta visão é di-fundida, são destinadas verbas às famílias conside-radas de risco com o objetivo de que as crianças se-jam estimuladas a se tornarem autônomas e sejamdiminuídos gastos com assistência social, delinqüên-cia e outros problemas sociais.

A maioria dos países membros da OCDE con-sidera assim que o acesso universal à educação ecuidado na primeira infância é um meio de promo-ver igualdade de oportunidades educativas; e parti-cularmente as crianças em situação “de risco”, ou asque têm necessidades especiais, poderão se benefi-ciar de condições ótimas de aprendizagem quandoingressarem no ensino fundamental. Ressaltam ain-da a importância de a educação infantil considerar a“criança em sua totalidade” e garantir o respeito àssuas necessidades, uma vez que são muitas as opor-tunidades de aprendizagem em diferentes situaçõese contextos do cotidiano.

Pobreza e educação infantil

A modificação do quadro demográfico, eco-nômico e social, ocorrida nos últimos anos nos paí-ses participantes do estudo da OCDE, contribui paraa compreensão do contexto no qual se inserem asatuais políticas de educação e cuidado na primeirainfância (UNESCO, 2002). Alguns exemplos dasalterações dos contextos são: a constituição tardia dafamília, a formação de famílias monoparentais, o au-

Patrícia Carla de Souza Della Barba

3 Estudo editado e lançado pela UNESCO durante as comemorações da“Semana Mundial da UNESCO de Educação para Todos” realizada de22 a 26 de abril de 2002, considerado pela UNESCO o estudo maisabrangente no campo das políticas de educação e cuidado para a crian-ça de zero a seis anos já realizado pela OCDE. Estabelece relações entreas atuais políticas desenvolvidas em 12 países membros – Austrália,Bélgica Comunidade Flamenga, Bélgica Comunidade Francesa, Dina-marca, Estados Unidos da América, Finlândia, Itália, Holanda, Norue-ga, Portugal, República Tcheca, Reino Unido e Suécia.

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mento da participação da mulher no mercado de tra-balho. Estes fatos trazem a necessidade de maior aces-so das crianças a um serviço de atendimento à infân-cia com qualidade. Além disso, a distribuição de em-prego não é realizada de forma igualitária, verifican-do-se altas taxas de desemprego para as populaçõescujo nível de instrução é mais precário e o rápido cres-cimento da proporção de casais que não recebem ne-nhum tipo de salário, com dramáticas conseqüênciaseconômicas e sociais para as crianças.

Em relação à situação da mãe que trabalha, odocumento apresenta dados que mostram as conse-qüências sobre as políticas de educação e cuidadona primeira infância: além do crescente número demães de crianças muito jovens que trabalham, mui-tos empregos têm se caracterizado por serem sazo-nais, fora de normas trabalhistas, desempenhados emhorários atípicos, com prolongamento da duraçãomédia da semana de trabalho. Todos estes fatoressão considerados um desafio para a organização deserviços de atendimento à criança, na medida em quenecessitam de adaptação a esta diversidade de mo-dalidades de trabalho. Com exceção dos EstadosUnidos e da Austrália, todos os países participantesdo estudo mantêm políticas de licença maternidadee proteção do emprego à mãe que trabalha (emboracom características de remuneração diferentes). AOCDE considera que tais políticas se constituem emimportantes contribuições para a educação e o cui-dado dos bebês e crianças mais novas, e ainda ummeio de conciliarem responsabilidades profissionaise familiares.

Pesquisas demonstram efeitos a curto prazoda educação e cuidado na primeira infância sobre odesenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo das cri-anças (Barnett, 1995; Boocok, 1995; Jarousse et al.,1992, apud UNESCO, 2002). Mas tais benefíciospodem não ser suficientes quando a criança apresen-ta necessidades essenciais em relação à saúde, nutri-ção e moradia.

O relatório “Situação da Infância Brasileira2001” (UNICEF, 2001) aponta que o maior desafiodo país em relação ao desenvolvimento infantil con-siste em apoiar as famílias para que estejam aptas acuidar de suas crianças e garantir qualidade nos ser-viços públicos. O estudo mostra que, embora a redede serviços de saúde, educação e assistência social

seja satisfatória e tenham sido criados marcos im-portantes de atenção à criança (como o Estatuto daCriança e do Adolescente, as Leis Orgânicas de Saú-de, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os Pro-gramas de Saúde da Família), ainda há necessidadede melhora na qualidade do atendimento que é ofe-recido às crianças de zero a seis anos de idade. Eafirma que esta depende do esforço conjunto de go-vernos e sociedade.

O relatório brasileiro constata que, da mesmaforma que nos países membros da OCDE, no Brasilocorreu uma queda na taxa de fertilidade das mulhe-res e, pela primeira vez na história, o número de cri-anças de zero a seis anos de idade decresceu 3,4%,ou seja, de 1991 a 1999 o número de crianças nessafaixa etária passou de 23,9 milhões para 23,1 mi-lhões. E afirma que este é um excelente momentopara investir em políticas de desenvolvimento infan-til. (UNICEF, 2001, p. 23). O relatório descreve ain-da os avanços na situação da infância brasileira, en-tre eles a queda do índice de mortalidade infantil (de47,8 mortes para cada mil nascidos vivos em 1990para 36,1 em 1998). Apesar desta queda, o país nãoatingiu a meta estabelecida de 31,9 por mil, e sãoalarmantes as disparidades das taxas de mortalidadeem relação às diferentes regiões do país. A reduçãodo índice de baixo peso ao nascimento também foiimportante, sendo que a taxa de crianças nascidascom menos de 2500 gramas em 1989 era de 10%,passando para 9,2% em 1996. O número de criançascom retardo de crescimento também foi reduzido emum terço neste período, embora este índice não te-nha atingido as áreas rurais, onde as crianças aindaapresentam déficits entre a altura e a idade. Mas, semdúvida, uma grande conquista do Brasil nos últimosanos foi o aumento dos índices de imunização con-tra tétano, difteria, sarampo, coqueluche, tuberculo-se e poliomielite, mostrando que ótimos resultadospodem ser obtidos quando a intervenção envolve afamília, a comunidade e os serviços públicos.

Entretanto, o estudo da UNICEF (2001) aler-ta que muitos desafios ainda estão por ser superadospara garantir os direitos das crianças. O maior delesé a pobreza. No Brasil, 30,5% das famílias com cri-anças de zero a seis anos de idade vivem com rendaper capita igual ou inferior a meio salário mínimo,sendo que na região Nordeste este índice aumenta

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para 53,6%. O relatório declara que:

“pobreza significa mais do que renda insufi-ciente para cobrir as necessidades mínimasda família. Sinais de que as necessidades bá-sicas não estão sendo atendidas – como saú-de frágil, baixa escolaridade, discriminaçãoe marginalização – também são indicadoresde pobreza. Assim, a pobreza está ligada aoacesso inadequado a serviços básicos, comoboas creches e suas alternativas, pré-escolas,postos de saúde e saneamento adequado”(UNICEF, 2001, p. 27).

Sabe-se que as crianças são as mais atingidaspela pobreza, que é causa de milhares de mortes,evasão escolar, fome e exploração. E como os ou-tros indicadores brasileiros, a pobreza também émarcada por desigualdades que estão presentes emcada região do país.

Um outro grave problema ainda relacionado àgarantia de direitos das crianças brasileiras é o altoíndice de mortalidade materno-infantil. Vários fato-res contribuem para esta situação, entre eles: a esco-laridade da mãe (quanto menor o nível de escolari-dade, maior o risco de mortalidade do filho), os par-tos de mães adolescentes (todos os anos são realiza-dos mais de 730 mil partos de meninas entre 10 e 19anos na rede pública de saúde), a qualidade dos ser-viços de acompanhamento pré-natal (na região Nor-deste, 26 em cada 100 mães não realizam nenhumaconsulta pré-natal), a alta quantidade de partoscesáreos (41%, enquanto que a OMS recomenda oíndice máximo de 15%) e ainda, considerados maisgraves, os elevados índices de morte de crianças commenos de um ano de idade por causas indefinidas ede morte materna por causas facilmente detectáveis,como hipertensão e infecções.

O relatório da UNICEF (2001) coloca que,“assim como muitos desafios ainda devem ser supe-rados em relação à garantia de saúde das crianças,também é necessário avançar no sentido de assegu-rar o seu atendimento em creches e pré-escolas. Odocumento afirma que apenas 6,3 milhões dos 21milhões de crianças de zero a seis anos freqüentam aeducação infantil e que na faixa etária de zero a trêsanos, somente 8,3% estão matriculadas em creches

e de quatro a seis anos apenas 57% estão em pré-escolas. A oferta de educação infantil é um deverdos municípios, que podem destinar 10% dos 25%do orçamento para a educação infantil. O estudo con-clui que principalmente para as crianças que provêmde famílias de baixa renda, o espaço da educaçãoinfantil representa a maior fonte de estímulos soci-ais e cognitivos, e por isso, é urgente estendê-lo paraas mais novas, mais pobres e as que vêm de zonasrurais e periferias” (p. 38).

Dentre outros problemas que atingem as cri-anças brasileiras, o relatório aponta os maus tratos,o trabalho infantil, o abuso, a violência e a privaçãodo convívio familiar, todos com enorme impacto navida da criança. O estudo recomenda a necessidadeurgente de transmissão de informações a profissio-nais da saúde e da educação a fim de que comuni-quem os casos às autoridades competentes.

E quais são as discussões que permeiam o tema“cuidado e educação” no contexto das instituiçõesbrasileiras?

Kuhlmann Jr. (2000), em seu parecer sobre oReferencial Curricular Nacional da Educação Infan-til, aborda a questão da função da educação infantil,relatando que no Brasil, a polarização entre assis-tência e educação tem sido contemplada do ponto devista teórico, entretanto permanece intocada a reali-dade institucional nas questões que efetivamente dis-criminam a população pobre.

O autor, em suas considerações traz a relaçãoentre a oferta de determinadas ações educativas e decuidado com a situação social e econômicas das fa-mílias. Afirma que, várias pesquisas têm mostradoque tanto a creche como a pré-escola constituíram-se historicamente como instituições educacionais, eo que as diferencia é o público e a faixa etária aten-dida. Como estas instituições são destinadas à infân-cia pobre, o assistencialismo tem se tornado a pró-pria proposta pedagógica:

“O fato dessas instituições carregarem emsuas estruturas a destinação a uma parcelasocial, a pobreza, já representa uma concep-ção educacional. A pedagogia das instituiçõeseducacionais para os pobres é uma pedago-

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gia da submissão, uma educaçãoassistencialista marcada pela arrogância quehumilha para depois oferecer o atendimentocomo uma dádiva, como um favor para ospoucos selecionados para o receber”.(Kuhlmann Jr.,2000, p. 54).

Foi um passo importante a vinculação das cre-ches e pré-escolas ao sistema educacional, mas deacordo com a realidade nacional, são ainda observa-das desigualdades quanto à distinção das faixasetárias atendidas e à denominação dessas instituições(por exemplo, alguns locais denominam “creche” oatendimento de zero a seis anos). Além disso,Kuhlmann Jr. (2000) aponta um cuidado que deveser levado em consideração a despeito desse “avan-ço”: nos Referenciais Curriculares Nacionais daEducação Infantil (versão preliminar – Brasil, 1997)as propostas para a educação das crianças de zero aseis anos “subordinam-se ao que é pensado para asmaiores, seguindo um atrelamento ao ensino funda-mental” (p.56). As tendências mais recentes das pes-quisas sobre a educação infantil enfatizam a neces-sidade de ser considerado o processo social, culturale histórico da criança de zero a seis anos, e não siste-matizar seu conteúdo para enquadrá-lo nos moldesdo ensino fundamental.

O autor aponta a adoção, recente, da expres-são inglesa – “educare” – que atribui à educação in-fantil o papel de educar e cuidar, com o objetivo,portanto, de tornar o trabalho pedagógico conseqüen-te com a criança pequena. Esta afirmação vai ao en-contro do relatório preparado pelos países membrosda OCDE (UNESCO, 2002), que mostrou a forteindicação de integrar o cuidado com a educação dascrianças de zero a seis anos de idade.

Considerações finais

O presente estudo teve por objetivo realizaruma reflexão acerca dos aspectos envolvidos namelhoria de qualidade de vida de algumas crianças esuas famílias nos primeiros anos de vida. Na atuali-dade, fica evidenciada a presença de inúmeros fato-res que contribuem ou dificultam a promoção dodesenvolvimento. Um agrupamento das variáveisenvolvidas permite observar a presença de diferen-

tes setores, como o da saúde, educação, meio ambi-ente, dentre outros.

Uma visão intersetorial, ao nosso ver, poderáse constituir em um caminho, quando se objetiva apromoção da saúde e educação de crianças peque-nas no Brasil. Saúde, ambiente e desenvolvimentosão conceitos que não podem caminhar sozinhos,considerando inúmeros estressores e situações de ris-co aos quais as famílias e parcelas/camadas maisdesfavorecidas estão expostas na atualidade. ParaGuralnick (1997) fator de risco é “... qualquer fatorque interfira na habilidade da família em interagircom a criança de modo a assegurar seu desenvolvi-mento” (p. 03). Sendo assim, o suporte às famíliaspode assegurar o pleno desenvolvimento de crian-ças pequenas.

De acordo com o relatório da UNICEF (2001),algumas iniciativas bem sucedidas vêm asseguran-do a promoção do desenvolvimento da criança nosprimeiros anos de vida, como “garantir a formaçãoadequada de todos os agentes de desenvolvimentoinfantil – profissionais de saúde, de educação e deserviço social”. Além disso, recomenda que “as fa-mílias e comunidades precisam ter acesso a infor-mações sobre desenvolvimento infantil” ( p. 44).

Esse acesso à informação, ao nosso ver, éfundamental tanto para profissionais como para fa-miliares, pois na medida em que são informadas, aspessoas compreendem etapas do desenvolvimentoinfantil, associam com ações de sua prática (familiarou educacional) e identificam fatores de risco. Pas-sam a se constituir em efetivos “triadores”, com baseno suporte informativo, o qual fornece a estruturapara o desenvolvimento do empowerment, ou“empoderamento”. As possibilidades doempowerment oferecem condições para que famíli-as e educadores possam assumir os cuidados com acriança diante de um contexto maior, a sociedade(Thompson, 1997).

A vertente educacional mostra-se como umcaminho importante para efetivação da melhoria daqualidade de vida da população bem como para apromoção à saúde, especialmente o investimento daformação do educador tendo como um dos pilares acompreensão de que a valorização da auto-estima eautonomia são fundamentais para o desenvolvimentoe promoção a saúde.

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Referências Bibliográficas

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Kuhlmann Jr., M. (2000). Educação infantil e currí-culo. Em A. L. de Faria & M.S. Palhares (Orgs.),Educação infantil Pós-LDB: rumos e desafios.(pp. 51-65) Campinas: Autores Associados –FE/UNICAMP; São Carlos: Editora da UFSCar;Florianópolis: Editora da UFSC.

Thompson, L. (1997). Pathways to familyempowerment: effects of family-centered-delivery of early intervention services.Exceptional Children, 64, 99-113.

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