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PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO 1 EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO INQUÉRITO CIVIL Nº 556.1.282.3/05 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo Promotor de Justiça do Consumidor da Comarca de Ribeirão Preto, com fundamento no disposto no artigo 129, incisos III e IX, da Constituição da República; artigo 5º caput, da Lei Federal nº 7.347/85; artigo 25, IV, “a”, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público; artigos 81, parágrafo único; 82, inciso II e 91, da Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor); artigo 103, VIII, da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo e artigos 282 e seguintes, do Código de Processo Civil, vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido liminar, de procedimento ordinário, instruída com o inquérito civil que a acompanha, em face de COOPERTETO COOPERATIVA HABITACIONAL RIBEIRÃO PRETO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 02.686.262/0001-87, sediada na Rua Campos Salles, 1027, neste Município de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, pelas razões de fato e de direito que passa a deduzir: 1- DOS FATOS: A ré foi constituída sob a natureza jurídica de cooperativa (fls. 23 a 61) e sua atividade é a construção e venda de unidades habitacionais populares, mediante termo de adesão e compromisso de participação por parte do adquirente, que denomina cooperado.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO · verdadeira empresa, travestida de cooperativa, para locupletamento indevido de benefícios legais e geração de lucro a seus dirigentes

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO

1

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE RIBEIRÃO PRETO

INQUÉRITO CIVIL Nº 556.1.282.3/05

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO

PAULO, pelo Promotor de Justiça do Consumidor da Comarca de Ribeirão

Preto, com fundamento no disposto no artigo 129, incisos III e IX, da

Constituição da República; artigo 5º caput, da Lei Federal nº 7.347/85;

artigo 25, IV, “a”, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público; artigos 81,

parágrafo único; 82, inciso II e 91, da Lei Federal nº 8.078, de 11 de

setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor); artigo 103, VIII, da

Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo e artigos 282 e

seguintes, do Código de Processo Civil, vem propor a presente AÇÃO CIVIL

PÚBLICA, com pedido liminar, de procedimento ordinário, instruída com o

inquérito civil que a acompanha, em face de COOPERTETO –

COOPERATIVA HABITACIONAL RIBEIRÃO PRETO, pessoa jurídica de

direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 02.686.262/0001-87, sediada na

Rua Campos Salles, 1027, neste Município de Ribeirão Preto, Estado de São

Paulo, pelas razões de fato e de direito que passa a deduzir:

1- DOS FATOS:

A ré foi constituída sob a natureza jurídica de cooperativa

(fls. 23 a 61) e sua atividade é a construção e venda de unidades

habitacionais populares, mediante termo de adesão e compromisso de

participação por parte do adquirente, que denomina cooperado.

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O contrato de adesão firmado pela requerida com os

compradores prevê a realização de um determinado conjunto de habitações

e a entrega, a partir do início do processo de conclusão das obras, de dois

imóveis por mês, sendo um por sorteio e outro mediante a apresentação de

lance por parte do comprador (fls. 588 a 597).

O contratante paga uma parcela a título de adesão e

mensalidades do imóvel adquirido, antes e depois da entrega das chaves, e

no preço final do imóvel está incluído o percentual de 25% (vinte e cinco por

cento), cobrado a título de administração do empreendimento.

Apurou-se no presente inquérito civil que, embora

constituída sob forma de cooperativa, a requerida caracteriza-se,

verdadeiramente, como fornecedora, posto que sua atividade consiste na

construção e venda de unidades habitacionais, mediante a cobrança do

preço do bem e de taxa de administração. Essa circunstância se evidencia

ainda mais com o fato de os instituidores da cooperativa, em sua grande

maioria ser ligada ao ramo da construção civil, conforme demonstram os

documentos de fls. 66 a 134 e 287 a 328. Na verdade, os próprios dirigentes

da Cooperteto, por suas empresas ou individualmente, prestam serviços

para a construção das casas a serem entregues aos contratantes,

embolsando uma exorbitante taxa de administração de 25% (vinte e cinco

por cento), fator que por si só descaracteriza a cooperativa. É uma

verdadeira empresa, travestida de cooperativa, para locupletamento

indevido de benefícios legais e geração de lucro a seus dirigentes. Inexiste o

espírito que move a denominada cooperativa, que é o da união de esforços e

a cooperação mútua para se atingir os legítimos interesses dos cooperados.

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O mínimo que se poderia esperar de uma cooperativa

habitacional é que as obras fossem licitadas para que os cooperados

pudessem usufruir das melhores condições possíveis para obtenção da casa

própria. Ao contrário, conforme já mencionado, a Cooperteto cobra um

percentual absurdo de 25% (vinte e cinco por cento) de taxa de

administração, quando no mercado da construção civil a taxa de

administração não ultrapassa a casa dos 12% (doze por cento). Todo esse

panorama lesivo aos consumidores para o enriquecimento ilícito dos

mandantes da cooperativa, os próprios executores das obras.

Não bastasse esse cenário de ilegalidades e lesão à

coletividade que adquire os imóveis da Cooperteto, apurou-se no presente

inquérito civil que acompanha esta inicial, que a empresa não cumpre os

prazos para a conclusão e entrega das unidades habitacionais, de modo a

não oferecer ao contratante qualquer segurança quanto ao recebimento do

imóvel adquirido. Vale dizer, a requerida deixa de cumprir a obrigação de

entregar o imóvel ao comprador na data avençada, apesar da pontualidade

daquele no pagamento das parcelas contratadas.

Observa-se, a propósito, no quadro demonstrativo de fls.

2294 a 2303, que reflete a demanda que tem sido enfrentada pelo órgão da

Defensoria Pública na defesa dos interesses individuais de adquirentes de

imóveis, contida às fls. 562 a 2291, que consumidores que contrataram a

aquisição de imóvel popular no ano de 1999 ainda não receberam o bem, e

pior, a construção sequer teve início.

Vale transcrever as situações concretas:

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- Adilson Vieira Seles contratou em 15 de março de 1999,

já pagou 141 parcelas de um total de 200 e a construção do imóvel não

começou;

- Efigênia de Paula Santos e Altino Lino dos Santos

contrataram em 18 de março de 1999, já pagaram 142 parcelas de um total

de 200 e a construção do imóvel não começou;

- Luiz Cláudio Rodrigues de Campos contratou em 26 de

março de 1999, já pagou 136 parcelas de um total de 200 e a construção do

imóvel não começou;

- Alfredo Francisco Monteiro Braga contratou em 06 de

abril de 1999, já pagou 141 parcelas de um total de 200 e a construção do

imóvel não começou;

- José Augusto Cortez contratou em 12 de abril de 1999,

já pagou 145 parcelas de um total de 200 e a construção do imóvel não

começou;

- Antônia Maria de Jesus Coutinho contratou em 17 de

agosto de 1999, já pagou 140 parcelas, de um total de 200 e a construção

do imóvel não começou;

- Marilene Figueiredo Pereira contratou em 24 de agosto

de 1999; já pagou 128 parcelas de um total de 200 e a construção do

imóvel não começou;

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Esses, dentre outros casos arrolados no demonstrativo de

fls. 2294 a 2303, demonstram a situação aflitiva que tem sido

experimentada pelos adquirentes de imóveis da Cooperteto. E importa

consignar que o mencionado quadro demonstrativo se reporta apenas aos

casos que chegaram ao órgão da Defensoria Pública em busca de

providência de consignação em pagamento das prestações que têm sido

arbitrariamente reajustadas, conforme material de fls. 441 a 453.

O certo é que consumidores esperam há 13 anos a

entrega das chaves dos imóveis que compraram da requerida; continuam

pagando as prestações e as construções respectivas sequer tiveram início.

É de se concluir, destarte, que a conduta da requerida,

por seus representantes legais, vem impondo lesão a uma coletividade de

pessoas – consumidores de pequeno poder aquisitivo, que acreditaram estar

negociando com pessoa jurídica idônea e a ela confiaram a realização do

sonho da casa própria. Contudo, a requerida vem captando as prestações

pagas há anos pelos consumidores e não constrói os imóveis, objeto da

contratação.

Não há dúvida de que esses consumidores já

experimentaram prejuízo concreto, e outros estão na iminência de se

lesionar material e moralmente, caso não se opere imediata e efetiva

intervenção do Poder Judiciário. É de se duvidar, de fato, que a Cooperativa

entregará aos adquirentes os imóveis comercializados, tudo indicando que o

produto das prestações recebidas há anos dos consumidores não foi utilizado

na construção dos imóveis contratados.

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2 - DO DIREITO:

Embora aparentemente constituída nos moldes da Lei n.º

5.764/1971, é possível se afirmar que a requerida é pessoa jurídica travestida

sob a natureza jurídica de cooperativa, o que se deu certamente para maior

facilidade de obtenção de vantagens. É flagrante que a atividade

desenvolvida pela ré no mercado de consumo configura venda de produto,

nos termos do artigo 3º, § 1º, da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990,

(Código de Defesa do Consumidor), caracterizando-a como fornecedora.

De fato, todas essas irregularidades praticadas pelos

administradores da requerida levam à inevitável conclusão de que a

cooperativa vem sendo utilizada para encobrir o exercício de atividade

econômica com o fim de lucro, própria das sociedades empresariais – e não

das sociedades simples, como são as cooperativas -, assemelhando-se a

empresas incorporadoras de bens imobiliários – e com a vantagem de não se

submeter às exigências legais que estas estão obrigadas a cumprir, como o

registro da incorporação imobiliária, nos moldes do artigo 32 da Lei n.º

4.591/1964, de modo a restar descaracterizada a sociedade cooperativa.

Viola, com isso, a norma residente no artigo 3.º da Lei n.º 5.764/1971, que

estatui que “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o

exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de

lucro”.

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A sociedade cooperativa, segundo João Batista Brito

Pereira, “é uma associação de pessoas que se organizam com o

propósito de se ajudarem mutuamente, e tem por finalidade a

prestação de serviços a seus associados, de tal modo que possibilite

o exercício de uma atividade econômica comum que, na oferta de

bens e serviços, minimize custos, elimine o intermediário, etc. É, em

resumo, a união de esforços em proveito comum, sem finalidade

lucrativa”.1

O mesmo autor acrescenta que “um dos pilares

materializado na cooperativa como associação autônoma de pessoas

é a ajuda mútua, consistente na busca do atendimento das

necessidades reais dos cooperados ou associados, permeado por um

ideal vivamente ético e baseado em valores como responsabilidade,

democracia, igualdade, eqüidade e solidariedade, enfim uma espécie

de aliança traduzida na expressão „um por todos, todos por um‟, na

busca da melhoria da situação socioeconômica de todos quantos

individualmente não podem realizar um certo objetivo e assim a

cooperativa visa alcançar os objetivos dos cooperados”.2

Aliás, de há muito os nossos Tribunais vêm reconhecendo

a aplicabilidade do CDC às cooperativas habitacionais. Confira-se, a

propósito, os seguintes julgados:

Civil e Processual. Cooperativa habitacional. Termo de adesão para

1 Cooperativa, uma alternativa. In: Marcus Elidius Michelli de Almeida e Ricardo Peake Braga. Cooperativas à luz

do Código Civil. São Paulo: Ed. Quartier Latin, 2006, p. 101. 2 João Batista Brito Pereira. Cooperativas, uma alternativa, cit., p. 101.

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compra de imóvel. Desistência. Ação pretendendo o ressarcimento das importâncias pagas. Retenção sobre parte das parcelas determinadas em percentual inferior ao previsto contratualmente. Cláusula abusiva. Situação peculiar. Obra sequer iniciada. Despesas administrativas irrelevantes. Código de Defesa do Consumidor, arts. 51, II, 53 e 54. Código Civil, art. 924. I. A 2ª Seção do STJ, em posição adotada por maioria, admite a possibilidade de resilição do compromisso de compra e venda por iniciativa do devedor, se este não mais reúne condições econômicas para suportar o pagamento das prestações avençadas com a empresa vendedora do imóvel (EREsp 59.870-SP, rel. Min. Barros Monteiro, DJU de 9.12.2002). II. O desfazimento do contrato dá ao comprador o direito à restituição das parcelas pagas, porém não em sua integralidade. III. Caso em que, em face das circunstâncias peculiares da causa, a retenção determinada pelo Tribunal a quo se fez em parâmetro razoável. IV. Recurso especial não conhecido3. Ação de Rescisão de Termo de Compromisso de Participação em Empreendimento Habitacional C.C. Restituição de Quantias Pagas e Indenização por Perdas e Danos. Procedência parcial. Alegação de nulidade da sentença por falta de fundamentação afastada. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às cooperativas habitacionais, principalmente quando o objetivo principal é a venda de imóveis no mercado imobiliário. Recurso da ré não provido e recurso da autora parcialmente provido4.

3 STJ. REsp. 403189/DF – Quarta Turma – Relator Ministro Aldir Passarinho Júnior – 26.05.2003.

4 TJSP – Apelação 466.465.4/5-00 – Sétima Câmara “B” de Direito Privado – Relatora Daise Fajardo Jacot –

24.3.2009.

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Por se tratar de relação de consumo, deve o fornecedor

primar pelo respeito aos direitos básicos do consumidor, que traduz norma

de ordem pública. O artigo 1º, do CDC, atendendo ao espírito emanado do

texto constitucional (artigos 5º, XXXII, 170, V, da CF e 48, do ADCT), dispôs

que as normas inseridas no estatuto são de ordem pública e interesse social.

Não se pode tolerar, dessa forma, que detentores do

poder econômico abusem da inexperiência e boa fé do consumidor humilde,

hipossuficiente tanto no plano financeiro como no plano intelectual, para o

seu enriquecimento ilícito.

O advento do CDC emergiu do propósito de se garantir

respeito à dignidade do consumidor. Dessa forma, a necessária intervenção

estatal tem o escopo de harmonizar as relações de consumo, de modo a

exigir boa fé e equilíbrio nas relações travadas entre fornecedor e

consumidor. Isso é o que se extrai das disposições do art. 4º, I e III, do

CDC5.

Dentro desse espírito, o legislador consumeirista

proclamou como direitos básicos do consumidor:

5 Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos

consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria

de sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes

princípios:

I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

III- harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do

consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos

quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa – fé e equilíbrio nas

relações entre consumidores e fornecedores.

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Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

VI- a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VIII- a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras de experiência;

É direito dos consumidores que contrataram com a

Cooperteto o recebimento dos imóveis que adquiriram e que vem sendo

pago em prestações. Em muitos casos, como anteriormente demonstrado, o

valor da transação está quase quitado e a construção do imóvel sequer teve

início.

A rigor, seria aplicável, desde logo, o princípio da exceptio

non adimpleti contractus – a exceção do contrato não cumprido, que tem por

finalidade proteger o contratante não inadimplente.

Segundo apontamentos de Evelin Sofia Rosenberg Konig e

Marcos de Almeida Villaça Azevedo, o princípio da exceptio non adimpleti

contractus “consagra que um contrato nasce para ser cumprido e da

forma convencionada, e se uma parte não cumpre sua obrigação, a

cumpre parcial ou insatisfatoriamente, ou ainda de forma defeituosa,

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não é correto exigir que a parte em desvantagem, por essa

inexecução ou execução a desejar, cumpra sua obrigação”6.

Neste caso, parece razoável que até que se conheça

efetivamente a solvabilidade da requerida, com uma recomendável

intervenção judicial para essa finalidade, se faculte a todos os contratantes

vitimados pela inadimplência da cooperativa, que depositem os valores

atinentes às prestações em juízo, com a possibilidade de levantamento, caso

se constate o estado de insolvência e se resolva pela dissolução da pessoa

jurídica.

A intervenção judicial e consequente afastamento dos

atuais diretores da administração da Cooperteto é inevitável, pois se

apresenta como única medida eficaz no sentido de se avaliar a saúde

financeira da pessoa jurídica para futura deliberação acerca do saneamento

das irregularidades e continuidade da existência da cooperativa ou sua

dissolução e liquidação.

É importante, também, para se evitar que outros

consumidores venham a contratar a aquisição de unidade imobiliária com a

Cooperteto, que se suspenda, de imediato, a comercialização de novas

habitações.

Esta ação envolve pedidos complexos, cumulativos e

alternativos, cuja apreciação e deferimento se revelam fundamentais para a

proteção dos interesses da coletividade consumidora que adquiriu imóveis da

6 Konig, Evelin Sofia Rosenberg e Azevedo, Marcos de Almeida Villaça – Relações de Consumo – A exceção de

contrato não cumprido – Revista Plural da Escola Superior do Ministério Público, nº 49, p. 41.

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Cooperteto e está na iminência de suportar prejuízo de grande monta, talvez

irreparável.

Não se pode olvidar, neste momento, que a facilitação da

defesa do consumidor em juízo, inclusive com a inversão do ônus da prova,

quando identificada a verossimilhança da alegação ou o estado de

hipossuficiência, é direito básico, previsto no artigo 6º, VII, do CDC.

Demais disso, o mesmo estatuto, em seu artigo 83,

prescreve:

Art. 83. Para a defesa dos direitos

e interesses protegidos por este Código são

admitidas todas as espécies de ações capazes de

propiciar a efetiva tutela.

Uma pretensão simplista de indenização aos

consumidores prejudicados poderia não representar medida

verdadeiramente protetiva a seus interesses. Primeiro, porque tais pessoas

há anos vêm pagando suas prestações mensais, com o desiderato de

conseguir o imóvel próprio. Em segundo lugar, porque se a cooperativa

estiver insolvente, dificilmente se conseguiria indenização justa para a

coletividade de adquirentes de imóveis. Em terceiro lugar, porque se a

cooperativa apresentar viabilidade financeira, após intervenção a ser

decretada, bastará o afastamento da diretoria e o saneamento das

PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO

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irregularidades para que prossiga em suas atividades, observado o espírito

cooperativo de ajuda mútua e inexistência de lucro.

É certo que uma vez identificado o estado de insolvência

da cooperativa, a dissolução e liquidação judicial serão medidas de rigor,

para prevenir que os consumidores continuem a sofrer prejuízos, para que

obtenham reparação na medida do ativo existente, e para evitar que outros

consumidores passem a integrar a coletividade prejudicada.

Nesse caso, a desconsideração da personalidade jurídica

da cooperativa, para o fim de se atingir o patrimônio dos dirigentes que

compuseram as duas últimas gestões também haverá de ser decretada,

porquanto caracterizado, à saciedade, o abuso de direito, o excesso de

poder, infração da lei, prática de ilícito e violação dos estatutos em

detrimento do consumidor. Esses dirigentes empreenderam conduta

desrespeitosa e lesiva à coletividade que contratou com a Cooperteto;

arrecadam expressivo valor mensal proveniente das prestações recebidas e

deixam de cumprir o avençado, a ponto de sua inadimplência ultrapassar a

casa dos dez anos. Além disso, agem de forma arbitrária, impondo reajustes

não previstos no contrato, intimidando e discriminando consumidores que

têm buscado a ajuda do órgão da Defensoria Pública para a defesa de seus

interesses, conforme noticia o ofício de fls. 2310 a 2312.

O fenômeno da desconsideração da personalidade

jurídica, expressamente autorizado pelo artigo 28, do Código de Defesa do

Consumidor e pelo artigo 50, do Código Civil é salutar para se impedir ou se

reprimir o fato de administradores se valerem da pessoa jurídica, desviando

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a finalidade constante do ato de instituição, para contemplação de seus

interesses pessoais, notadamente o de locupletamento ilícito, em detrimento

de terceiros.

3 - CABIMENTO DA AÇÃO E LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO

PÚBLICO:

A presente ação está amparada na Lei Federal nº

7.347/85, que introduziu em nosso direito a ação civil pública, para a

proteção dos chamados interesses difusos e legitimou o Ministério Público

para sua propositura.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o campo

de atuação da Ação Civil Pública foi alargado, com a inclusão dos interesses

coletivos (“ex vi” do disposto no art. 129, inciso III, da C.F.).

Mais recentemente, o Código de Defesa do Consumidor,

em seus artigos 81 a 110, além de disciplinar os conceitos de interesses

difusos e coletivos, incluiu os interesses individuais homogêneos no rol

daqueles protegidos pela ação civil pública e, acrescentando um inciso ao

art. 1º, da Lei 7.347/85, colocou sob o manto do instituto a defesa de

“qualquer outro interesse difuso ou coletivo”.

Como se percebe, portanto, é o Ministério Público

legitimado para a propositura de ação civil pública, e, por conseqüência, de

medidas cautelares suficientes ao seu resguardo, para a tutela de todos os

interesses transindividuais, divisíveis ou não, previstos em lei.

PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO

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Especificamente no caso em estudo, a ação civil pública tem por escopo a

proteção dos interesses da coletividade de consumidores que está sendo

lesada pelo procedimento abusivo e ilegal desencadeado pela requerida.

Note-se a legislação:

É da Constituição Federal:

Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

I - ... II - ... III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”;

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público dispõe:

“Art. 25 - Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:

I - ... II - ... III - ... IV - promover inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei: a) para proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.

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O Código de Defesa do Consumidor, ao eleger o Ministério

Público como parte legítima, estatui que:

Art. 5º - Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - ... II - Instituição das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público. Art. 81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercido em juízo individualmente ou a título coletivo Art. 82 - Para fins do art. 100, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público

Observa-se, assim, que a Lei de Proteção ao Consumidor

distinguiu três espécies de interesses passíveis de tutela, os difusos, os

coletivos, e os individuais homogêneos, concedendo, através de seu art.

117, legitimidade ao Ministério Público para postular em qualquer âmbito.

O art. 1º, inciso IV, da Lei nº 7.347/85, com a redação

dada pelo art. 110 do Código do Consumidor, previa as hipóteses de

cabimento da ação civil pública quando a matéria versasse sobre a proteção

de qualquer interesse ou direito difuso ou coletivo.

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Na sequencia, o art. 117 do C.D.C., acrescentou à Lei nº

7.347/85, o artigo 21, estendendo o alcance do cabimento da ação civil

pública e legitimando o Ministério Público também para a defesa dos

interesses e direitos individuais homogêneos.

No caso vertente, busca-se o resguardo de interesses

coletivos, buscando-se providência jurisdicional para que os contratos

firmados com a cooperativa, para aquisição de unidade habitacional sejam

efetivamente cumpridos ou, então, na impossibilidade do cumprimento, que

os consumidores sejam ressarcidos, em processo de dissolução e liquidação

da Cooperteto.

Os direitos dos consumidores em verem construídas e

receberem as unidades residenciais que adquiriram é de natureza coletiva,

nos termos do artigo 81, parágrafo único, inciso II, do Código de Defesa do

Consumidor. Trata-se direitos “transindividuais de natureza indivisível de

que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou

com a parte contrária por uma relação jurídica base”. Com efeito, todos os

cooperados estão ligados entre si e com a cooperativa por uma relação

jurídica-base, materializada nos termos de adesão que subscreveram. São

interesses transindividuais de um grupo acentuado de pessoas plenamente

determinado, havendo, sem dúvida, interesse social na sua defesa.

A jurisprudência, hoje pacífica, construída à luz do artigo 127,

caput, da Constituição da República, é no sentido de que, havendo relevância

social, está o Ministério Público legitimado à defesa dos interesses individuais

PROMOTORIA DE JUSTIÇA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO

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homogêneos. E tal relevância, como se demonstrou, está presente na espécie.

Vale reproduzir aqui ementa de acórdão do STJ em caso análogo ao tratado

nestes autos7:

Ministério Público. Legitimidade ativa. Código de Defesa

do Consumidor. Cooperativa Habitacional. Administração

em detrimento dos cooperados apurada em inquérito civil.

Precedentes da Corte.

1. Tem o Ministério Público, na forma de vários

precedentes da Corte, legitimidade ativa para

defender interesses individuais homogêneos,

presente o relevante interesse social, assim, no caso,

o direito à aquisição de casa própria, obstado pela

administração de cooperativa habitacional em

detrimento dos cooperados, como apurado em

inquérito civil.

2. Recurso Especial conhecido e provido (grifos nossos).

De se consignar que em razão do que dispõe o artigo 5.º,

XVIII, da Constituição Federal, que veda a interferência do Estado no

funcionamento das cooperativas, “cresce em importância a atuação do

Promotor de Justiça nesta área, como uma das únicas formas de se

7 STJ - REsp 255947 / SP - Relator - Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO – Terceira Turma –

J.8/20/2001

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19

fazer cessar o mal que esteja ou possa ser eventualmente causado à

coletividade por tais entidades (cooperativas)”8.

O desiderato da intervenção do Parquet no caso em tela é

exatamente o de tutelar, de forma coletiva, os interesses dos inúmeros

cidadãos/consumidores que contrataram com a Cooperteto e que, conforme

demonstrado pelas provas constantes do inquérito civil que instrui esta

inicial, estão sendo prejudicados pela atuação ilícita (contrária às regras da

Lei do Cooperativismo e do Código de Defesa do Consumidor) dos

representantes legais da requerida.

4 – A NECESSIDADE DE SE DEFERIR LIMINAR, INAUDITA ALTERA

PARS:

Consoante dispõe o art. 12, da Lei nº 7.347/85

(chamada Lei da Ação Civil Pública), é cabível a concessão de medida

liminar, com ou sem justificação prévia, nos próprios autos da ação civil

pública, sem a necessidade de se ajuizar ação cautelar. Dicção semelhante

se extrai do disposto no art. 84, § 3º, do Código de Defesa do

Consumidor, que autoriza a concessão de tutela liminar quando for

relevante o fundamento da demanda e existir justificado receio de ineficácia

do provimento final.

Na hipótese dos autos, considerando que os consumidores

adquirentes de unidades habitacionais comercializadas pela Cooperteto estão

8 Dora Bussab Castelo. Cooperativas habitacionais e algumas considerações sobre associações. Revista de Direito

Imobiliário, n. 46, ano 22, janeiro-junho de 1999, p. 138.

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20

sofrendo prejuízos irreparáveis com o fato de estarem adimplentes com as

obrigações contratuais, mas sem obtenção da contrapartida da cooperativa,

que deveria construir e entregar os respectivos imóveis, e tendo em vista

que muitos compradores estão há mais de dez anos na espera do

cumprimento do contrato por parte da ré, providências de natureza liminar,

inaudita altera pars devem ser adotadas. São elas:

a)o afastamento dos administradores da Cooperteto, até

o desfecho definitivo da ação;

b) a nomeação de interventor/administrador para assumir

a administração da Cooperteto até decisão definitiva, bem como para, no

prazo de 60 (sessenta dias), apresentar ao Juízo relatório circunstanciado,

com indicação do ativo, passivo, número de habitações comercializadas,

número de habitações entregues, número de habitações em construção,

relação de fornecedores e prestadores de serviços, com parecer conclusivo a

respeito da viabilidade financeira da entidade, devendo, no desempenho da

função, dar andamento às obras em curso e obedecer o critério de

antiguidade do contrato para o início de novas obras, de modo a, prestigiar o

cumprimento dos contratos mais antigos .

c) que se faculte aos consumidores que adquiriram

imóveis da requerida o depósito judicial das prestações mensais, bem como

a conversão de valores consignados em pagamento no bojo de ações

individuais em depósito judicial, com expressa cláusula de levantamento da

importância depositada caso decretada a dissolução judicial da cooperativa;

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d) para se prevenir que novos consumidores sejam

lesados, que se determine, até segunda ordem, a imediata suspensão da

comercialização de imóveis por parte da Cooperteto;

e) que se decrete a indisponibilidade dos bens móveis e

imóveis, referidos nas matrículas de fls. 359 a 401, bem como de outros

porventura existentes, de propriedade da requerida;

Os requisitos para o deferimento da liminar, em toda a sua

extensão, facilmente se vislumbram do já exposto. O fumus boni juris, sem

um prejulgamento do mérito, se consubstancia em um juízo de

probabilidade, razoavelmente demonstrado, da ilegalidade e abusividade da

conduta perpetrada pela ré, em especial de sua grave inadimplência para

com os adquirentes de imóveis por ela comercializados. Não há como se

negar, por mais perfunctória que seja a análise dos dispositivos invocados

pela Promotoria de Justiça quando da abordagem do mérito, que no contexto

das relações de consumo travadas com os compradores de unidades

habitacionais populares, a requerida está se comportando de modo a

transgredir o Código de Proteção ao Consumidor e o diploma legal que

disciplina o funcionamento das cooperativas, com a imposição de

procedimento visivelmente lesivo aos adquirentes.

Patente, de outra parte, o periculum in mora, pois a se

esperar decisão final de mérito, prejuízos irreparáveis e irreversíveis já terão

sido suportados pela coletividade de compradores dos imóveis

comercializados pela ré, pessoas humildes e de escassos recursos

financeiros.

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22

Observa-se, a propósito, que inúmeras ações individuais

já tramitam na Justiça Paulista em busca de providência jurisdicional, ante

as ilegalidades perpetradas pela requerida (fls. 191 a 200). Todas essas

ações, por certo, foram motivadas pela inadimplência da requerida na

entrega dos imóveis comercializados. Conforme demonstração levada a

efeito quando da narrativa dos fatos, há compradores que firmaram contrato

no ano de 1999; estão em vias de quitar o contrato, e até agora a

construção do imóvel sequer começou. Isso reforça a necessidade de

providência de natureza ultra partes, até mesmo por questão de economia

processual, e para que os menos favorecidos econômica e intelectualmente

possam ter acesso aos benefícios da decisão judicial.

Sem a liminar, permanecerão os consumidores, por um

tempo indefinido, alimentando a insegurança quanto ao fato de receberem

ou não o objeto do contrato a que se submeteram, com a agravante de

continuarem pagando as prestações, sob o risco de perda total dos valores

pagos, caso a situação da cooperativa seja de insolvência financeira.

Evidente, portanto, ser o dano de difícil reparação.

5 - OS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto, requer:

I - concessão de medida liminar inaudita altera pars, para

os seguintes fins:

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a)se determinar o afastamento dos administradores da

Cooperteto, até o desfecho definitivo da ação;

b) nomeação de interventor/administrador para assumir a

administração da Cooperteto até decisão definitiva, bem como para, no

prazo de 60 (sessenta dias) apresentar ao Juízo relatório circunstanciado,

com indicação do ativo, passivo, número de habitações comercializadas,

número de habitações entregues, número de habitações em construção,

relação de fornecedores e prestadores de serviços, com parecer conclusivo a

respeito da viabilidade financeira da entidade, devendo, no desempenho da

função, dar andamento às obras em curso e obedecer o critério de

antiguidade do contrato para o início de novas obras, de modo a, prestigiar o

cumprimento dos contratos mais antigos .

c) se facultar aos consumidores que adquiriram imóveis

da requerida o depósito judicial das prestações mensais, bem como a

conversão de valores consignados em pagamento no bojo de ações

individuais em depósito judicial, com expressa cláusula de levantamento da

importância depositada caso decretada a dissolução judicial da cooperativa;

d) se determinar, até segunda ordem, a imediata

suspensão da comercialização de imóveis por parte da Cooperteto;

e) se decretar a indisponibilidade dos bens móveis e

imóveis, referidos nas matrículas de fls. 359 a 401, bem como de outros

porventura existentes, de propriedade da requerida;

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II - a publicação de edital no órgão oficial a fim de que os

interessados possam intervir no feito como litisconsortes, conforme dispõe o

art. 94 do Código de Defesa do Consumidor;

III que se determine a inversão do ônus da prova, na

forma prevista pelo art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor;

IV) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e

outros encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18, Da Lei nº

7.347/85 e no artigo 87, da Lei nº 8.078/90.

V - a citação da requerida no endereço mencionado, para,

querendo, contestar a presente ação;

VI - a produção de todas as provas em direito admitidas,

notadamente a oitiva de testemunhas, a colheita do depoimento pessoal dos

membros da atual e da anterior diretoria executiva da entidade, a

apresentação de documentos e perícias, pleiteando-se, desde logo, que se

requisite do Delegado de Polícia Federal e do Delegado Seccional da Polícia

Civil cópias das peças que integram inquéritos policiais que tramitam nos

órgãos e que investigam os requeridos;

VII - ao final, seja julgada integralmente procedente a

ação, com a contemplação das providências abaixo elencadas,

cumulativamente e/ou alternativamente:

a)destituição definitiva dos atuais dirigentes da

Cooperteto, caso apurado no curso da ação que a entidade tem viabilidade

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financeira para cumprimento dos contratos inadimplidos, assim como

daqueles cujo prazo para cumprimento estiver em curso;

b) que uma vez comprovada a viabilidade financeira da

cooperativa, que se decrete a inelegibilidade permanente das pessoas que

integraram as duas últimas composições da diretoria da entidade,

determinando-se a realização de assembleia, no prazo de sessenta dias, com

providências do interventor para a efetivação do processo eleitoral,

intimando-se todos os contratantes de imóveis para eventual registro de

candidaturas e posterior realização do pleito para formação de nova

diretoria;

c) que uma vez comprovada a viabilidade financeira da

Cooperteto, e respeitada a etapa mencionada no item anterior, seja ela

condenada à obrigação de fazer, consistente em, sem prejuízo das obras em

andamento, obedecer doravante a ordem de antiguidade dos contratos para

fim de construção e entrega da unidade habitacional, sob pena de multa no

importe de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a ser recolhida para o fundo a

que se refere o artigo 13, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, para

cada obra iniciada em desacordo com o referido critério.

d) que caso comprovado o estado de insolvência da

cooperativa, se decrete sua dissolução, com a nomeação de liquidante, da

confiança do juízo, para efetivação das providências tendentes ao

arrolamento de bens, liquidação da mencionada pessoa jurídica, e satisfação

do crédito dos consumidores prejudicados e demais credores.

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e) que caso comprovado o estado de insolvência da

cooperativa, se autorize o levantamento de importâncias depositadas em

juízo pelos consumidores a título de pagamento das mensalidades do

contrato com ela firmado, excluindo-se tais valores do espólio a ser

formado;

f) que uma vez decretada a dissolução da Cooperteto, se

decrete, também, a desconsideração da pessoa jurídica requerida, nos

termos dos artigos 28, do Código de Defesa do Consumidor e 50, do Código

Civil, objetivando a expropriação de bens móveis e imóveis pertencentes aos

diretores que ocuparam cargos executivos na Cooperteto nas duas últimas

gestões, quais sejam: Satoru Hoju, brasileiro, casado, engenheiro civil,

portador do CPF. 273.570.906-04 e do RG. 5.271.049 – SSP – SP, residente

na Rua Paulo Barra, 294, neste Município de Ribeirão Preto; Leonel

Waldrighi Neto, brasileiro, casado, empresário, portador do CFP.

071.546.978-90 e do RG. 12.850.364-6 – SSP – SP, residente na Rua

Caramuru, 2100, apto. 404, bloco b, neste Município de Ribeirão Preto;

Celso Rubens Passos Valente, brasileiro, casado, publicitário, portador do

CPF. 771.100.308-06 e do RG. 5.276.827 – SSP – SP, residente na Rua

Valentin Mestriner, 261, Ribeirão Preto, SP; José Carlos Fagundes

Gouveia, brasileiro, solteiro, comerciante, portador do CPF. 552.059.098-

20 e do RG. 16.900.105 – SSP – SP, residente na Avenida Treze de Maio,

500, Município de Dumont, SP; Rogério Serantola, brasileiro, solteiro,

auxiliar de escritório, portador do CPF. 277.511.038-09 e do RG.

24.156.695 – SSP – SP, residente na Rua Prudente de Moraes, 1800, casa

1, Ribeirão Preto, SP e Thiago Purcino dos Santos, brasileiro, solteiro,

motorista, portador do CPF. 333.403.438-02 e do RG. 40.754.119 – SSP –

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SP, residente na Rua Amélio Enio de Tulio, 5, Município de Pitangueiras, SP,

com o objetivo de fazer com que tais bens de valor venham a integrar a

massa liquidada.

g) a condenação da requerida ao pagamento de custas e

demais despesas processuais.

Dá-se à presente ação, por estimativa, o valor de R$

1.000,00 (um mil reais).

Termos em que, pede deferimento.

Ribeirão Preto, 1º de junho de 2012.

CARLOS CEZAR BARBOSA 2º PROMOTOR DE JUSTIÇA DE RIBEIRÃO PRETO PROMOTOR DE JUSTIÇA DO CONSUMIDOR