Pronomes Pessoais nas Línguas Românicas

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  • 8/4/2019 Pronomes Pessoais nas Lnguas Romnicas

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    OS PRONOMES PESSOAIS NAS LNGUAS ROMNICAS*

    Por: Renato Arajo([email protected] )

    Pedra de Roseta Forte So Juliano (el-Rashid), Egito.

    Perodo Ptolemaico (196 a.C)

    1

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    No decorrer do reinado do jovem que sucedeu a seu pai na realeza, Senhor dos Diademas, mui glorioso,que estabeleceu o Egito e foi piedoso perante os deuses, triunfante sobre seus inimigos e que restaurou a

    paz e a vida civilizada entre os homens...(Traduo do incio da inscrio que consta na

    Pedra de Rosetacom o decreto de Ptolomeu V)

    1. INTRODUO

    J no perodo do gramtico Dionysio Trcio (Circa 170 90 a.C.), autor daTechn Grammatik, utilizava-se o termo para designar aquelaclasse de palavras que tinham por funo serem substitutas do nome. No latim, essetermo foi traduzido porpronomen e entendido como a palavra que substitui o substantivo,ou que o acompanha para dar lhe nfase ou para tornar mais claro o seu significado.

    Na presente pesquisa procuraremos abordar em linhas gerais, especialmente, ahistria e desenvolvimento filolgico dos pronomes pessoais desde sua fonte latina atseus variados afluentes em algumas das lnguas romnicas, i., lnguas europeiasconstitudas no contexto da expanso do imprio romano e derivadas do latim vulgar.

    Antes de qualquer coisa preciso destacar a caracterstica bsica dos pronomespessoais. Eles so, de fato, aqueles que designam as trs pessoas gramaticais na emissocomunicativa. Contudo, esto intimamente ligados oralidade e, portanto, sobasicamente de 1a. e 2a. pessoas (eu e tu), pois, so essas pessoas gramaticais queconstituem o eixo do dilogo. A 3a. pessoa e as demais se acrescentam por analogia epodem, no limite, remeter-se quelas, eu e tu.1Determina-se os papis no discursosegundo o que se segue: a 1a. pessoa (eu) a que fala; a 2a. pessoa (tu) aquela aquem se fala e a 3a. pessoa (ele) a de quem se fala.

    Veremos que se distingue trs categorias gramaticais especficas2para o pronomepessoal latino. Pessoa, caso e nmero.

    a) Pessoa: O latim reservou o uso dos pronomes pessoais no nominativus casus

    exclusivamente para dar nfase ou preciso fala, assim, a caracterstica gramatical domorfema pessoal exprime-se no carcter obrigatrio das relaes que contrai. Cadamorfema de persona determina um cierto modo de organizacin dentro de las demscategoras de morfemas(Iordan, pg.279).

    b) Caso: A flexo latina dos pronomes pessoais era abundante, isto , mantinha osseis. O caso ablativo e o acusativo emprestaram a forma do singular e em combinaocom o plural, a forma do ablativo a mesma do dativo (Nobis, Vobis etc.). Era possvel,apenas por possuir o vocativo, distinguir a 2a. e a 5a. pessoa envolvidas no dilogo, dasoutras, ou seja, podan fugurar em la cadena del discurso sin ninguna funcinsintctica.( Iordan, pg. 280).

    c) Nmero: No correto afirmar que os pronomes ns e vs so os plurais

    de eu e tu. O ns indica tanto o conjunto das pessoas que fazem parte do dilogoou eventualmente, o conjunto das pessoas includas pelo falante. Deste modo, compeeste ns o eu e tu; o eu e aqueloutro e eu e aquele(s). O vs indica o

    1 Os pronomes pessoais so os verdadeiros pronomes, pois vm no lugar do nome. Sua origem mostra queno so anafricos. As 3a.s pessoas (seja no singular ou plural) esto fora do eixo bsico do dilogo; soditicos. (Ver : H. Murachco, Lngua Grega pp. 163-165 vol.I Ed. Vozes/Discurso, So Paulo 2001.2 Iorgu Iordan, : Manual de lingstica Romnica pg. 279 e ss. Editorial Gredos Madrid 1972.

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    conjunto dos colocutores ou outro conjunto tambm especfico. Assim, compe estevs o tu e tu(outro) e tu e ele(s).

    Do ponto de vista do gnero, os pronomes latinos da 1a. e 2a. pessoas independiamdo sexo dos falantes, j nas lnguas romnicas, a 3a. pessoa apresenta diferentes morfemasno feminino e masculino(algumas no neutro). Outra caracterstica importante dos

    pronomes a possibilidade de expressar no discurso o enftico e o no-enftico. Adesinncia pessoal do verbo j indicaria em si o sujeito da orao (Lat. canto eu canto;cantas tu cantas; cantat ele canta etc). Quando se acrescenta um pronome pessoalcomo sujeito (lat. ego canto, it. io canto, port. eu canto, esp. yo canto etc...) estepronome tnico como um substantivo-sujeito, segundo afirma Lausberg3. Explica-sea obrigatoriedade deste pronome-sujeito em funo da influncia germnica. ( cf. oalemoIch singe eu canto, du singsttu cantas. No francs essa obrigatoriedade faz ospronomes perderem intensidade, assim as formas dos pronomes-sujeitos je, tu, il , ilstm como substitivos as formas obliquas moi, toi, lui, eux.

    Por fim inclumos a anlise dos pronomes de tratamento e o pronome reflexivoem funo de sua relao com o presente tema. Os pronomes de tratamento foram

    estabelecidos tardiamente nas lnguas romnicas e so resultados, em boa parte, do estilojurdico ou administrativo da corte (Iordan, pg. 293) e tambm da converso em frmulasreverenciais de significado distintivo ou de afastamento, por isso, no implicado no eixodo discurso.4 Ao fim e ao cabo, analisaremos o pronome reflexivo que, no latim, podiaadquirir o valor de pronome pessoal de 3a. pessoa em estilo indireto [oratio obliqua](Iordan, pag. 295) embora se diferencie deste por no ter nominativo e no ter variaoem termos de nmero.

    2. EVOLUO DIACRNICA DOS PRONOMES PESSOAIS

    a) LATIM CLSSICO

    Verificando o quadro de declinao dos pronomes pessoais latinos da 1a. pessoatemos:

    Singular Plural

    Nom. ego eu nos nsGen. mei de mim nostrum de ns

    nostri de nsAcus. me me nos nosDat. mihi me/ a mim nobis a ns/nosAbl. me pormim/me/-migo nobis por ns/-nosco

    3 Lausberg, H. Lingstica Romnica pg. 154 Tomo II Ed. Gredos Madrid 1973.4 Tanto no Latim quanto no Grego, lnguas de larga expresso oral, as expresses de tratamento eramefetuadas em 2a. pessoa (singular e plural). As expresses de tratamento em 3 a. pessoa tm origemlitrgica, palaciana, subserviente e servil e se baseiam no receio da abordagem direta. Em alguns pases eregies de lngua portuguesa e castelhana, esse tratamento prevalece e lembra as relaes senhoriais de umsociedade escravocrata.(H. Murachco, Ibidem, pg.165)

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    Obs.: Os pronomes pessoais eram mais usados no latim vulgar que no clssico.

    Na 2a. Segunda pessoa, temos:

    singular plural

    Nom. tu tu vos vsGen. tui de voc/de ti vestrum de vs

    vestri de vsAcus. te te vos vosDat. tibi te/ a ti vobis a vs/vos

    Abl. te ti/te/-tigo vobis vos/-vosco

    Exemplos

    Nom.:Ego clamo. (Eu grito)

    Gen.: Memni tui. (Lembrei-me de ti)

    Acus.:Quinque pedes ad dextram ambulavit(Ele andou cinco ps para a direita)

    Dativo: Se videt(Ele se v a si prprio)

    Ablativo: Mecum ambulat. (Ele passeia comigo)

    Na 3a. pessoa:

    No h no latim um pronome que caracterize particularmente a terceira pessoa,quer seja do singular ou do plural. Ela no tem nominativo e de sentido reflexivo.Todavia, encontramos os substitutos is (utilizado como anafrico), ea, id , ou ainda ille,illa, illud. Estes ltimos deram origem ao artigo definido portugus, o, a , como veremosmais adiante. O emprego do pronome Ille mostrava o afastamento no espao no quediz respeito ao ato do discurso, por isso, era o mais correto para o uso em ocasies emque no est presente a pessoa a qual o discurso se refere. Posteriormente, com oenfraquecimento de seu valor espacial, Ille se transformou em uma expresso de terceirapessoa na maior parte das lnguas romnicas. De qualquer forma, sua evoluo semnticano foi suficientemente grande para ser considerado um pronome pessoal.5

    5 Bourciez afirma A ct de ille, ipse pouvait aussi fonctioner comme pronom de la 3 pers.: cest lui queest rest dans cet emploi en Sardaine, et il a galement jou un rle important en Italie et en Orient.(douard Bourciez lments de Linguistique Romane Pg. 93 4. Ed Klincksieck Paris 1946).

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    Os pronomes chamados do caso reto no latim so:

    Ego (eu)Tu (tu)Is, Ea, Id (ele/ela)

    Nos (ns)Vos (vs)Ii, E, Ea (eles/elas)

    b)LATIM VULGAR

    1

    a

    . pessoa do singularEgo (nom.) Transformado em eo baseado no latim vulgar, que, segundo

    Meyer-Lbke, aparece em textos latinos do sculo VI,6 servindo ao desenvolvimentoposterior; sendo que a forma plural nos se manteve como no latim clssico.

    Mihi (dat.)emmi M (acus.)Mecum (abl.) em mego (forma arcaica) e migo que resultou na forma

    pleonstica comigo do portugus). O mesmo ocorreu com Tecum (abl.) em tecum(forma arcaica) resultando em tigo.

    Quadro geral dos pronomes pessoais no latim vulgar

    1a. pess. Ego >eo 1a. pess. Mi 1a. pess. T Nom. sing. Dat. sing. Acus. sing.

    2a. pess. Tu 2a. pess. Tibi >ti 2a. pess. Vs

    c) LNGUAS ROMNICAS

    A lngua um recurso vivo de comunicao. Como fruto de freqentesampliaes semnticas e transformaes fonticas do latim vulgar os idiomas romnicosse formaram sustentando parte do que outrora fora a lngua falada pelo cidado romanocomum, (soldados, comerciantes etc.) e tendendo a desenvolver formas especficas.

    6 Ver: Pontos de Gramtica Histrica: Ismael de Lima Coutinho In: Biblioteca Brasileira de Filologiano. 4, pg. 278, 4a.Ed Livraria Acamica Rj. 1958.

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    Boa parte dos pronomes latinos se manteve nas lnguas romnicas. Nos casoschamados obliquos, observa-se a partcula formante m- para a primeira pessoa e t-para a segunda pessoa.

    1a. pessoa do singular

    Ego (Nom.) Destaca-se a sincope do -g- como se percebe em todas as lnguasromnicas. Observe o deslocamento do acento no romeno, sardo, provenal e noportugus.

    Romeno - eItaliano - ioFrans - jo > jeProvenal -joSardo - o > oFriulano -j

    Catalo - joEspanhol - yoPortugus - eu

    Me (Acus.) Manuteno deste acusativo no sardo, fr., it. Etc...

    Me (Abl.)

    Mecum/Tecum (it. Meco, teco; port. antigo mego, tego com a adio dapreposio cum como em cum illo amico; tosc. Com meco, com teco, sardokummus, kutus.

    Mihi - resultou mi na maioria das lnguas romnicas. No romeno, a formame aparece mie e no acusativo, esta forma (m, posio tnica e mine,posio tona). No sardo aparece a forma mene e no Veglioto main.No portugus aevoluo diacrnica se deu desta maneira mihi > mi > mim; sendo que essa formamim resultante da nasalizao por transferncia e contaminao do m- inicial comoem multo > muito [com a pronuncia anasalada munto]. O pronome mim data do fimdo sculo xv, aproximadamente. Mas mesmo possvel encontrar a forma mi emCames; Ouve os danos de mi. Esta uma forma tona arcaica da qual originou a atualme. O que explica a funo de objeto indireto que pode desempenhar esta variaopronominal. (Coutinho, pg. 278)

    1a. pessoa do plural

    Nos (Nom.) permanece idntico no rom., it., Port., e em fr. apresenta a naturalditongao nous como em trs > trois. Lausberg (pg. 162), explica que esta formafrancesa mostra o vocalismo pr-tnico que se d pelo apoio do pronome-sujeito. Em

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    espanhol e no Catalo o pronome ganha nfase com a incluso de alteros, alteras,assim, tem-se: (it. Noialtri, voialtri ; sardo noisteros, boistero; fr. Nous autres, vousautres; esp. Nosotros, vosotros. etc)

    Ns(Nom.) resulta em ns no portugus. Alguns gramticos explicam o

    emprego de noscum como uma contrao de nobiscum e influncia do termonobis. (No Apendix Probi tem se * Nobiscum non Noscum [App. Probi. 220, cit. porBourciez pg. 93]). Contudo, argumenta Coutinho, admite-se hoje que esta forma oacusativo plural latino nos + cum. (Coutinho, Ibidem pg. 279)

    Nostrum (Gen.) Substituido sempre por de nos e no sardo de nobis.

    Nos (Acus.) Permanece idntico ao latim.

    Nobis (Dat.) Permanecedativo tambm no romeno, mas nominativo/acusativono sardo.

    2a. pessoa do singular

    Tu (nominativo)Tibi (dativo)

    Na 2a. pessoa (tu) a situao do latim se apresentou idntica nas lnguasromnicas, no geral. Tibi convertido geralmente em ti. No romeno e ie. patente observar aqui a analogia ti/ tie da 2a. pessoa com as formas mi, mie.( verquadro geral dos pronomes pessoais do romeno pgina 9). O acusativo

    te tambm se

    mostrou igual.7Tecum (abl.) tego (arcaico), tigo, no portugus. A forma tecum originou-se

    do ablativo te + cum. O arcaico tego modificou-se em tigo por influncia de ti,segundo Leite de Vasconcelos. Afirma-se, todavia, que ticum ascende ao latim populare a atual forma pleonstica contigo provm da necessidade de reforo.

    2a. pessoa do plural

    Vos (Nom.) O no portugus mostra influncia de vosso (Coutinho, pg.279)

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    Iordan atesta que no romeno, a forma te observa-se os derivados te, tine , segn lo dicho paramine, puesto que tanto me com te tenan una e larga (=lat. Vogal e abierta), el francs la diptongem ei, haciendo despus oi, de donde los actuales moi y toi(Iordan, Pg. 290 nota 16) So correntestais formas no rom. tine e no sardo tene.

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    Vos (Acus.) semelhana de nos essa forma pode tambm exercer a funo deobjeto indireto.

    Voscum (Abl.) > vosco, entendido anteriormente como possvel sncope devobiscum resultante da transposio do acento para a primeira slaba, o que se explicaria

    pela influncia da acentuao de vobis. Entretanto, tm se afimado que trata-se doacusativo plural vos + cum semelhante combinao cum+tecum supracitada.Noportugus arcaico no havia reforo (com incluso do cum latino) no emprego devosco.

    Ille (masc.) cuja forma popular era illu, isto , illus, por influncia de adjetivos dotipo de bonus, -a, -um)

    Rom. - el (u)Ital. - egli (com i final tomada por analogia de outras formas pronominais)

    Fr. - ilProv. - elEsp. - lPort. - elle

    Illa - (fem.) de cuja forma derivam:

    Rom. - eaItal. - ellaFr. - elleProv. -

    ilaEsp. - ellaPort. - ela

    Illui (dativo vulgar de illi) Nas lnguas romnicas; Rom./Ital./Fr. luie o dativo feminino (forma vulgar illae, posteriormente illaei) resultou em Rom.

    ei, It. lei, Fr. antigo li 8

    No francs a 1 pessoa do sing. je se deveu por enfraquecimento gi, j;dialetalmente sobretudo no noroeste jo, jou.(Bourciez, pg. 354) A forma provenal eu,ieu e a 2 pessoa tu, ocorre em toda regio de fala provenal. As formas em regime dofrancs moi , toi, soi (acentuadas) so mi,ti,si no leste (trata-se de uma distino antiga) eas formas tonas so as correntes me, te, se. A prova de que as formas francesas nos, voseram utilizadas sobretudo como formas tonas, segundo Bourciez, vem do fato delas noterem se transformado em neus, veus, respectivamente, mas sim nous, vous, no sc. XII.

    8 As lnguas romnicas restantes no apresentam estas formas, pois elas s apareceram no latim falado naItlia em poca relativamente tardia, no alcanando assim, provncias mais distanciadas do centro doImprio.(Ver: Iordan, Ibidem pg. 290 nota 16)

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    Quadro geral dos pronomes pessoais no francs

    Sing.

    (Nom.) lle > il; lui (no francs moderno)(Acus.) llu > lui(Dat.) illi > lui, a lui; lui (no fr. mod.) [observe o reforo ad illi > a lui](Gen.) illius > de lui

    Pl.(Nom.) lli > il (metafonia)( Acus.) llos > eus (lour dialetal); eux (no fr.mod.)(Dat.) illru > a eus (a lour dialetal); eux (no fr. mod.)(Gen.) illru > deus; deux (no fr. mod.)

    No Portugus, enquanto que somente o acusativo latino restou nos substantivos e

    adjetivos, os casos nominativo e acusativo e por vezes o dativo dos pronomes pessoaistambm sobreviveram embora estes casos nem sempre estejam restritos sua funooriginal. Algumas formas de acusativo so empregadas como dativo e algumas formasdo nominativo e dativo so empregadas com preposies. (Williams, pg. 148)

    Quadro geral dos pronomes pessoais no portugus

    (Nom) Ego>eu(Acus) me > a mim( Dat.) mi > a mim(Gen.) mei (lat. Classico) lat.vulg.(?) > de mim(Nom.)

    Tu>

    tu(Acus.) te > a ti(Dat.) tibi > a ti(Gen.) tui (lat. Clssico) lat. Vulg. (?) > de tiIlle>ele, que se tornou el (arcaico e popular) por prclise.Illa>elaNos>ns, que recebeu influncia de nossoVos>vs, que recebeu influncia de vosso

    *As terceiras pessoas do pl. eles, eis - arcaico, las no provenieram diretamentedo latim, so formaes analgicas que vieram por meio da adio da terminao doplural ele, el e ela, formas do nominativo popular. J as formas correspondentes noespanhol ellos e ellas, provieram diretamente das formas do acusativo plural.

    Mihi >mi > mi, no portugus arcaico, era usado como dativo, mas noscancioneiros primitivos ganha a gradual funo de dativo e acusativo conjuntivo.(Williams, p. 149)

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    Como j nos referimos, a preposio cum se juntou como encltica ao ablativodos pronomes pessoais e reflexivos. De modo que o quadro das combinaes depronomes se d como se segue:

    Latim clssico portugus arcaico portugus modernoMecum mego, comego, migo, comigo comigoTecum tego, contego, tigo, contigo contigosecum sego, consego, sigo, consigo consigo

    *Lat.cl. nobiscum *Lat.cl. vobiscumlat.Vulg.Noscum (Ap. Probi) lat.vulg. voscum(Ap. Probi)

    port.Arc.nosco port. arc. boscoport.mod connosco/conosco port. mod. Convosco

    O emprego pelo povo do pronome de tratamento voc, explica Said Ali, originado do uso e abuso da frmula vossa merc. Este emprego acabou por aplicar-se a indivduos de condio igual, ou inferior da pessoa que fala (Ali, p. 93). Outraforma alterada de vossa merc vossanc Guarde Deos a Vossanc. Coutinho nosfornece a seguinte linha diacrnica no uso desse pronome: Vossa Merc > Vossemec >Vosmec > Voc. (Coutinho, pg. 280)

    As formas me, te , se, nos, vos do latim se mantiveram. Com a ateno de que possvel encontrar a pronncia moderna de nos como [nus], e de vos como [vus].

    Alm disso, percebe-se a influncia pelos sons dos verbos adjacentes, de outrospronomes ou de outras partes do discursos nas seguintes formas no acentuadas noportugus.

    Latim clssico portugus arcaico portugus modernoIllum (acus.) lo o -lo -no

    Illud (acus.) lo o -lo -no

    Illam(acus.) la a -a -na

    Illos(acus.) los os -los -nosIllas(acus.) las as -las -nasIlli (dat.) li li(arcaico) e lheIllis(dat.) lis lis(arcaico)e lhesTe che (arcaico)Se xe(arcaico)

    Vale observar que na linguagem popular de Portugal ainda se ouve a pronncia li.Quando temos um l seguido de semivogal diz-se que este se molha (Coutinho, p. 280).

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    Quer seja, trata-se da palatalizao do l como em filiu > filho que se generalizoupara o uso arcaico do lhe, por vezes, sem distino do plural. H semelhana disso noportugus moderno na seqncia dos pronomes o, a, desta maneira, as formas lho,lha podem tanto representarlhe+o, lhe+a quanto lhes+o, lhes+a (Coutinho, pg.280).

    Na lngua Friulana (Friuli, de Forum Juli, ou cidade de Jlio Csar) falada na

    regio norte-oriental da Itlia9

    , o pronome pessoal tem dupla forma, afirmativa einterrogativa e essa ltima torna-se encltica do verbo. Temos aqui um exemplo na flexodo verbo Sei [Ser] no presente do indicativo.

    Alguns pronomes pessoais em Friulano

    Forma afirmativa Forma InterrogativaJ o Soi ................................................Sojo?Tu tu ss ................................................Sestu?Lui ol (je e j) sal ....................................I? (I se?)No o sin ................................................Sino?

    Vo seis ................................................Seiso?Lr e son ...............................................Sono?

    O romeno mantm os mesmos casos do latim vulgar nas formsa dos pronomespessoais:

    Quadro geral dos pronomes pessoais em romeno

    NominativoEo > euTu > tu

    Illu (acus.) > el fem. Illae > ele (nom.)a) Casos com funo de complemento: os pronomes pessoais so, no romeno,

    classificados em duas formas de funo completiva, a forma acentuada e a noacentuada, nas 1a., 2a. e 3a. pessoas do singular (reflexivas);

    Posio Tnica Posio tona

    Dat. Acus. Dat. Acus.

    1a. Mie mine mi ma2a. tie tine ti te3a. sie sine si se

    E 2a. pessoas do plural:

    Formas Tnicas Formas tonas

    9 Uma faixa do Friuli oriental foi anexada pela Iuguslvia depois da 2a. Guerra mundial. Os primeirosdocumentos em Friulano remontam ao sculo XII. Ver Srgio Magnani O Friulano pp 46-47 in: Anaisdo 2o. Encontro de estudos Romnicos. Dep. De Letras UFMG 1995.

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    1o. Nou ne,ni

    2o. Vou v, vi

    A 3a. pessoa e as formas tnicas no acusativo:

    Masc Femin.sing. Illu > el illa > eapl. illi > ei illae > ele

    Formas tnicas no dativo:

    Masc. Femin.sing. Illui > lui illaei >ei

    pl. (masc. e fem.) illorem > lor

    Formas tonas no dativo:

    Masc. e fem. sing.: illi > i, iMasc. e fem. pl.: illae > le

    No provenal10

    1a. pessoa

    sing. ieu, eu (as formas io, yo so raras) pl. nos

    me, mi (mei, muito rara) mos

    2a. pessoa

    sing. tu pl. voste vos

    3a. pessoaa) forma acentuada

    masc.sing. el, elh (a forma il mais rara)

    lui, el, elhpl. il, ilh (elh, mais rara)

    10 Grammaire du lAncien Provenal pp. 245-248 Joseph Anglade Ed. Klincksieck, Paris 1921.

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    els, elhs, lor

    Observa-se no provenal tambm o emprego de formas apoiadas, assim nos apoiadona palavra precedente pode perder o o e se reduzir a ns; tambm vos pode perder oo reduzindo-se a us. Em resumo;

    ieu vos: ie.us, ie. s; (o ponto alto simboliza o apoio)

    Non nos: no.

    ns;

    Non vos: nus, n.us (monosilbico)

    Si nos: Si.

    ns; que nos: que.ns;

    Si vos: Sius, si.

    us (monosilbico); que vos: que.

    Us

    Veja alguns Exemplos:

    So qui.

    us dic - Isto que voc diz.

    So qule.us (ou qu ie

    .s) dic Isto que eu lhe disse.

    No.

    ns ve Ele no nos v.

    Si.

    ns faitz clamor Se nos faz um pedido.

    b) forma acentuada

    sing. ela ilh (o que reporta forma li empregada em funo de artigo feminino)liei, lieis; lei, leis; ela ( com ditongao)

    pl. elas elas; lor.

    Reflexivo: Observe que a forma do singular no se distingue da plural. O portugusarcaico manteve essa mesma caracterstica at os tempos de Cames onde possvelencontrar pronomes como lhe empregado em sentido plural.

    (Masc. e fem.)sing. se, si (sei, raro)pl. se, si

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    Formas tonas: estas formas, afirma Anglade, so empregadas no caso obliquo. Os casos-sujeitos no se diferem das formas acentuadas deles.

    Masc.

    sing. (dat.) li ; forma apoiada.L,

    .lh,

    .ilh.

    (Acus.) lo; forma apoiada .L.

    pl. (dat.)lor; forma apoiada.Ls.

    Fem.

    sing. (Dat) li, f. apoiada.lh,

    .ll. Etc.

    . (Ac) la

    pl (Dat.)lor ( a forma lur rara)(Ac.) lor

    Os pronomes pessoais no italiano:

    1 pess. sing. io (Nom.); me (Acus.); a me (Dat.); di me (Gen.)

    2 pess. sing. tu (Nom.); te (Acus.); a te (Dat.); di te (Gen.)

    1 pess. pl. noi (Nom.);noi (Acus.); a noi (Dat.); di noi (Gen.)

    2 pess. pl voi (Nom.); voi (Acus.); a voi (Dat.); di voi (Gen.)

    * As formas me, te, que so tanto do caso acusativo como do ablativo no latimclssico passam a ser a forma casual (praepositionalis) preposicionada. O mesmo valepara o francs, o provenal, o romeno etc. como vimos acima. E as formas tonas so:mi, ti.

    O iodo italiano possue a forma reduzida i permitida, contudo, apenas napoesia e no na prosa. (Meyer-Lbke e Dovcio, pg. 167)

    A 3 pessoa masculina no italiano advm de ille e ipse. Assim;

    a) ille (Nom.) > egli (lui) egli a prolongao da forma antervoclica illi cujoemprego se extendeu posio anteconsonntica(Lausberg, pg.167) ; (Acus.) lui; (Dat.) alui; (Gen.) di lui. A forma pl. glino < illi tem a forma antiga: illi e esta terminaono influncia da terceira pessoa do plural dos verbos; (Dat.) loro; (Acus.) loro;(Gen.) di loro.

    b) ipse (Nom.) torna-se esso; ipsu (Acus.) esso; ipsi (Dat.) ad esso; ipsius(Gen.) di esso. A forma pl. italiana essi (Nom.) provm de ipsi do latim vulgar; essi

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    (Acus.) de ipsos; ad essi (Dat.) de ipsoru; e, por fim, di essi (Gen.) provm de ipsoru.(Lausberg. pp. 165-166)

    O feminino;Lat. V. It.

    (nom.) illa > ella (lei)(Acus.) illa > lei(Dat.) illaei > a lei(Gen.) illaeius > di lei

    Pronome Reflexivo:

    No que diz respeito ao pronome reflexivo, as mesmas caractersticas do latimforam mantidas nas lnguas romnicas. Esse pronome, no latim, podia adquirir o valor depronome pessoal da 3 pessoa em estilo indireto (oratio obliqua).

    Nas lnguas romnicas, acrescenta-se uma funo de ndice da ditesis reflexiva.A forma pronominal no caso do reflexivo dinmico perde aquela caractersticafundamental do pronome pessoal de substituir o nome (cf. Rom. El se gndesti).

    A ditesis mdio-passiva do latim caiu em desuso, e isso favoreceu aaproximao dos pronomes reflexivos aos pessoais. Assim os pronomes pessoais de 1,2, 4 e 5 pessoas desenvolveram um valor reflexivo.

    Temos, portanto, o dativo do pronome pessoal (le, ls) no espanhol que tem avariante se quando um pronome pessoal no acusativo o segue. Ex.: Se lo prometipeloio prometi (Iordan, pg. 296).

    Segundo Iordan o que ocorreu foi uma dissimilao do segundo palatal pela aodos pronomes de 3 pessoa com s- em zelo > selo, conforme segue: illi + illu >*lliello > *zello > zelo > selo.

    3. CONCLUSO

    Vimos que os pronomes pessoais tiveram um percurso bemdefinido em seu desenvolvimento. Isso mostra que nas lnguasromnicas se torna crucial exercer uma avaliao dos seusconstituintes lingsticos sob o ponto de vista diacrnico ecomparativo.

    Os pronomes pessoais chegam s lnguas Romnicas derivadossobretudo do latim vulgar. Com a funo de serem substitutos donome, os pronomes pessoais representam os verdadeiros pronomes.(Grego: , lat. Pronomen).

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    Vimos que a herana pronominal do latim nas lnguas romnicasse transferiu sem rompimentos muito abruptos. Aplica-se aqui asmesmas caractersticas fonticas gerais que explicam os diversosmetaplasmos que se estabeleceram nas constituies das lnguas dospovos romanizados em particular onde cada um exprimiu sua base

    comum, o latim vulgar, a sua maneira. Alguns dos traos gerais quedistinguem o latim vulgar das lnguas dele derivadas so a perda do -gem Ego, Italiano io, Francs jo> je, Provenal jo, Espanhol yo e assim por diante. Sonorizao das surdas intervoclicas noocidente e a sua conservao no oriente e etc.

    O uso dos nomes pessoais latinos, no nominativo, manifestavamnfase. No exemplo que se segue a nfase dada para o dono daao: Ego clamo. (Sou eu quem grito). Quanto ao genitivo, as lnguasanalticas o exprimiram com o uso de preposies: Tui de ti;Vestrum de vs etc.

    Os pronomes pessoais esto intimamente ligados oralidade e,portanto, so basicamente de 1 e 2 pessoas, pois, so essas pessoasgramaticais que constituem o eixo do dilogo. A 3 pessoa de sentidoreflexivo e no tem no latim um pronome especfico. O pronome ille,de valor espacial, para referncia ausente do discurso em questoresultou em expresso da 3 pessoa na maior parte das lnguasromnicas.

    5. Avaliao final (exposio das dificuldades)

    A bibliografia indicada se mostrou insuficiente para satisfazer agrande curiosidade que nos suscitou a pesquisa, por exemplo, naexplicao comparativa do por qu as diversas lnguas romnicasoptaram por uma especfica mudana fontica e sua correspondentedemonstrao (assimilao, dissimilao, sncope, eferese, apcopeetc...). Eis a razo da falta de comentrio detalhado dodesenvolvimento diacrnico de alguns dos pronomes. sabido que somudanas naturais e fazem parte do aparelho fonador. Umademonstrao das razes, ainda que talvez no fossem completas,

    dadas as dificuldades com a comprovao textual dessasmodificaes, tornaria o estudo ainda mais completo.

    O tratamento do Latim Vulgar como um item em separado daslnguas romnicas dificultou nossa pesquisa que tendeu a ficarextensa, forando-nos sobretudo a repetir informaes queeventualmente no tenham sido claras numa primeira leitura.Encontramos dificuldade tambm em fazer um estudo sistemtico

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    dentro da bibliografia em funo de cada informao especfica queprocurvamos estar dispersa. Em geral, isto se faz de modocondensado. Se talvez, por exemplo, houvesse aqui tambm algumatabela da evoluo diacrnica dos pronomes seria melhor para situ-los em seu desenvolvimento e, qui compreend-los como um todo.

    5. Bibliografia

    ALI, Said M. Gramtica Histrica da Lngua Portuguesa in: Biblioteca Brasileira deFilologia Ed. Melhoramentos Rio de Janeiro 1927.BOURCIEZ, douard lments de Linguistique Romane Pg. 93 4. Ed KlincksieckParis 1946.COUTINHO, Ismael de lima Gramtica Histrica In: Biblioteca Brasileira de

    Filologia no. 4, pg. 278, 4a

    .Ed Livraria Acadmica Rj. 1958.IORDAN, Iorgu : Manual de lingstica Romnica pg. 279 e ss. Editorial GredosMadrid 1972.MEYER-LBKE, W., e DOVDIO, F. Grammatica Storica della Lngua e DeiDialetti ItalianiEd. Della Real Casa, Milano 1919.MURACHCO, H. Lngua Grega pp. 163-165 vol.I 1.Ed. Vozes/Discurso, So Paulo2001.RIBEIRO, Ernesto Carneiro Estudos Gramaticais e Filolgicos in:Obras completas Vol. 3 Ed. Aguiar e Sousa ltda. Bahia 1957.RNAI, Paulo No Perca o Seu Latim Ed. Nova Fronteira 1980.WILLIAMS, Edwin B. Do Latim ao Portugus trad. Antnio Houaiss in:

    Col. de Filologia III Ministrio da Educao e Cultura, Instit. Nac. doLivro 1961.

    Renato ArajoFilologia Romnica II

    2002

    * (Perdo pelo atrevimento! Como puderam perceber, esse foi umtexto escolar que eu escrevi no incio do sculo depois de seguir oscursos do excelente professor de filologia Bruno Basseto que foi,alis, recomendado pelo meu outro excelente professor de Grego

    Henrique Murachco (ambos eram ento professores do Departamentode Letras Clssicas na FFLCH/USP .)

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