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PROTOCOLO ASSISTENCIAL DA ENFERMEIRA OBSTETRA NO ESTADO DA BAHIA SALVADOR, 2014

Protocolo - Enfermagem última versão.pdf

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  • PROTOCOLO ASSISTENCIAL DA ENFERMEIRA

    OBSTETRA NO ESTADO DA BAHIA

    SALVADOR,

    2014

  • EQUIPE DE ELABORAO

    Presidente da Comisso: Enf Obstetra Rita de Cssia Calfa Vieira Gramacho

    Equipe tcnica:

    Enf Obstetra Eliana Ferraz Melo

    Enf Obstetra Keury Thaisana Rodrigues dos Santos Lima

    Enf Obstetra Maria Lindiane de Souza Andrade

    Enf Obstetra Priscila de Freitas Brando

    Enf Obstetra Thiago Fiel dos Santos

    Residente em Enfermagem Obsttrica Luciana Moreno Acyole

    REVISO

    Enf Obstetra Rita de Cssia Calfa Vieira Gramacho

    Enf Obstetra Keury Thaisana Rodrigues dos Santos Lima

    Enf Obstetra Maria Lindiane de Souza Andrade

    Enf Obstetra Thiago Fiel dos Santos

    Residente em Enfermagem Obsttrica Luciana Moreno Acyole

    APROVAO

    REVISADO E APROVADO PELO ASSOCIAO BRASILEIRA DE OBSTETRIZES E

    ENFERMEIROS OBSTETRAS SEO BAHIA (ABENFO-BAHIA) E CONSELHO

    REGIONAL DE ENFERMAGEM COREN BAHIA

  • SUMRIO

    APRESENTAO

    INTRODUO

    OBJETIVOS

    ASPECTOS TICOS E LEGAIS NO EXERCCIO PROFISSIONAL DA

    ENFERMAGEM OBSTTRICA

    1 ASSISTNCIA MULHER

    1.1. ASSISTNCIA DURANTE A ADMISSO Avaliao inicial na admisso

    Exame Fsico na admisso

    1.2. ASSISTNCIA DURANTE O TRABALHO DE PARTO Diagnstico do Trabalho de Parto e Critrios Para Admisso

    Exames laboratoriais:

    Exames complementares:

    Diagnstico e condutas diferenciais das fases do trabalho de parto

    1.2.1ASSISTNCIA DURANTE O PERODO DE DILATAO

    Instrumentos para acompanhamento do trabalho de parto

    Conduta no perodo de dilatao

    Avano da apresentao e desprendimento

    1.2.2 ASSISTNCIA AO PERODO EXPULSIVO

    Posio da parturiente para o parto

    Controles no perodo expulsivo

    Assistncia ao recm nascido no parto e nascimento

    Anormalidades no Perodo Expulsivo

    Perodo expulsivo prolongado

    Traumatismo Obsttrico

    1.2.3 ASSISTNCIA DURANTE A DEQUITAO E PS DEQUITAO

    1..2.4 QUARTO PERODO DO PARTO: GREENBERG

    Reviso manual do canal do parto

    Correo de atonia ou hipotonia uterina

    Sutura das laceraes vaginais e perineais

    1.3 ASSISTENCIA AO PUERPERIO

  • Aspectos que devem ser avaliados na purpera

    Alta Hospitalar

    2. APNDICES APNDICE I - Perfil da gestante considerado como risco habitual APNDICE II - Padronizao das prescries gerais e da prescrio dos medicamentos

    sob responsabilidade da enfermeira obstetra APNDICE III Boas prticas no trabalho de parto, parto e nascimento

    APNDICE IV Aes realizadas pelas tcnicas e auxiliares de enfermagem no

    trabalho de parto, parto, nascimento e puerprio

    APNDICE V Transporte e regulao na obstetrcia

    APNDICE VI Transporte e regulao de RN

    3. ANEXO ANEXO: Quadro de Tecnologias de Cuidado No- Invasivas de Enfermagem

    Obsttrica (Retirado do Protocolo Assistencial da Enfermagem Obsttrica da Secretaria

    Municipal SMS/RJ - 2013)

  • Lista de Quadros

    Quadro 01 Exame fsico geral e obsttrico

    Quadro 02: Rudos que podem ser identificados durante a ausculta fetal

    Quadro 03: Distino entre BCF, sopros funicular e da artria uterina

    Quadro 04: Situaes que podem dificultar a audibilidade dos BCFs

    Quadro 05: Taquicardia fetal X Bradicardia fetal

    Quadro 06: Tcnica de Ausculta de BCF com estetoscpio de Pinard ou Sonar-Doppler

    Quadro 07 Contrao uterina

    Quadro 08: Exame genital

    Quadro 09: queixas de perdas vaginais frequentes

    Quadro 10: Diagnstico e condutas diferenciais das fases do trabalho de parto

    Quadro 11: Avaliao dos sinais vitais

    Quadro 12: Mtodos no invasivos para alvio da dor

    Quadro 13: Prticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

    Quadro 14: Conduta no perodo de dilatao

    Quadro 15: Condutas e aes no 4 Perodo do Parto

    Quadro 16: Correo de atonia ou hipotonia uterina

    Quadro 17: Processo de reparao perineal e/ou vaginal

  • Lista de Figuras

    Figura 1: Manobras de Leopold

    Figura 2: Ausculta de BCF

    Figura 3: Amadurecimento do colo uterino

    Figura 4: Avaliao da apresentao

    Figura 5: Altura da apresentao segundo escala de De Lee

    Figura 6: Variedade de posio

    Figura 7: Graus de deflexo da apresentao ceflica

  • Lista de Abreviaturas e Siglas mais utilizadas na Obstetrcia

    - Ausente

    + Presente

    A Aborto

    ABO Sistema sanguneo ABO

    AIG Adequado para Idade Gestacional

    ATB Anti-microbiano

    AU Altura Uterina

    BCF Batimento Crdio-Fetal

    bHCG b Gonadotrofina Corinica Humana

    BP Baixo Peso

    CMV Citomegalovrus

    CTG Cardiotocografia

    CU Contrao Uterina

    DHEG Doena Hipertensiva Especfica da Gestao

    DIP Doena Inflamatria Plvica

    DIU Dispositivo Intrauterino

    DLD Decbito Lateral Direito

    DLE Decbito Lateral Esquerdo

    DPP Descolamento Prematuro de Placenta

    DST Doena Sexualmente Transmissvel

    DU Dinmica Uterina

    DUM Data da ltima Menstruao

    E Esquerdo

    E.coli Escherichia Coli

    FANT Fontanela anterior normotensa

    FR Frequncia respiratria

    G Gestao

    GIG Grande para Idade Gestacional

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    Hb Hemoglobina

    Ht Hematcrito

    IG Idade Gestacional

    IGc Idade Gestacional Corrigida

    ILA ndice Lquido Amnitico

    IMC ndice de Massa Corprea

    ITU Infeco do Trato Urinrio

    LM Leite materno

    LMO Leite materno ordenhado

    MBP Muito Baixo Peso

    MF Movimentao fetal

    Mg Magnsio

    MID Membro Inferior Direito

    MIE Membro Inferior Esquerdo

    MMBP Muito Muito Baixo Peso

    MMII Membros Inferiores

    MMSS Membros Superiores

    OTD Occipitotransversal Direta (Posio Fetal)

    OP Occipto Pbico

    OS Occipto Sacro

    PC Parto Cesria

    PC Permetro Ceflico

    PIG Pequeno para Idade Gestacional

    PN Parto Normal

    POAE Posio Occipito Anterior Esquerda (do Feto no tero)

    PP Placenta Prvia

    RN Recm-Nascido

    RNPT Pr-Termo

    RNT Recm-Nascido de Termo

    SFA Sofrimento fetal agudo

    SIC Segundo Informaes Coletadas

    SSVV Sinais Vitais

    SVA Sonda Vesical de Alvio

    SVD Sonda/Sondagem Vesical de Demora

    Tbg Tabagista

    TP Trabalho de Parto

    TPP Trabalho de Parto Prematuro

    TTRN Taquipneia transitria do Recm Nascido

    VPP Ventilao com presso positiva

  • APRESENTAO

    Segundo a Organizao Mundial de Sade OMS, a assistncia obsttrica deve ter

    como objetivo me e criana saudveis, com o mnimo de intervenes e compatveis com a

    segurana. Nessa perspectiva deve haver uma razo vlida para se interferir no parto normal.

    O Ministrio da Sade vem financiando e estimulando a qualificao da enfermagem

    obsttrica, para acolher as escolhas da mulher no processo de parto e nascimento, por meio de

    uma cuidadosa avaliao de suas condies clnicas e obsttricas, como parte da estratgia da

    Rede Cegonha, para ampliar e qualificar a assistncia prestada s gestantes e aos bebs no

    Sistema nico de Sade (SUS) (BRASIL, 2012a).

    De acordo com pesquisas cientficas, o cuidado oferecido por essas profissionais em

    Centros Obsttricos de maternidades e/ou maternidades diminuem o uso das intervenes

    obsttricas, melhoram os indicadores de morbimortalidade materna e perinatal e aumentam a

    satisfao da mulher com a experincia vivida, indicando a segurana e a viabilidade da ateno

    ao parto e nascimento nestes locais de nascimento (HATEM et al, 2008)

    O modelo humanizado privilegia o bem-estar da mulher e de seu beb, buscando ser o

    menos invasivo possvel, considerando tanto os processos fisiolgicos, quanto os psicolgicos

    e o contexto sociocultural. Faz uso da tecnologia de forma apropriada, sendo que a assistncia

    se caracteriza pelo acompanhamento contnuo do processo de parturio. Garante s mulheres

    e s crianas vivenciar a experincia da gravidez, do parto e do nascimento com segurana,

    dignidade e beleza (BRASIL, 2012a).

    O desafio que persiste no , pois, tecnolgico, mas sim estratgico e organizacional,

    onde profissionais de diferentes categorias e saberes possam trabalhar de forma integrada e

    estabelecer o cuidado adequado para cada mulher.

    O presente documento apresenta as diretrizes para a assistncia de enfermagem

    obsttrica no Estado da Bahia e deve ser usado em conjunto com outras publicaes, que

    incluem os Documentos Tcnicos e Portarias do Ministrio da Sade e reas Tcnicas de

    Sade, bem como a legislao do Exerccio Profissional, as resolues, deliberaes e

    recomendaes do Conselho Federal e Regional de Enfermagem, e as publicaes e

    recomendaes da Associao Brasileira de Obstetrizes, Enfermeiras Obstetras e Neonatais e

    sua regional Bahia.

  • MARCO LEGAL

    CONSIDERANDO que o enfermeiro um profissional autnomo, legalmente

    habilitado por lei para exercer suas atividades laborais, conforme o disposto no Artigo Art. 5

    da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, inciso XIII,

    CONSIDERANDO o disposto no Artigo 11 da Lei n 7.498/86, que regulamenta a

    profisso do Enfermeiro, assim como no inciso II, alnea c da referida Lei que autoriza o

    enfermeiro a prescrio de medicamentos estabelecidos em programas de sade pblica e em

    rotina aprovada pela instituio de sade e as alneas, g, h e i que autoriza o enfermeiro

    a assistncia de enfermagem gestante, parturiente e purpera, o acompanhamento da evoluo

    e do trabalho de parto a execuo do parto sem distocia

    CONSIDERANDO o pargrafo nico da Lei n 7.498/86 que, aos enfermeiros obstetras

    incumbe, ainda: a assistncia parturiente e ao parto normal, a identificao das distocias

    obsttricas e tomada de providncias at a chegada do mdico e a realizao de episiotomia e

    episiorrafia e aplicao de anestesia local, quando necessria.

    CONSIDERANDO a Resoluo COFEN n159/93 que dispe sobre a Consulta de

    Enfermagem em seu Art. 1 - determina que em todos os nveis de assistncia sade, seja em

    instituio pblica ou privada, a consulta de Enfermagem deve ser obrigatoriamente

    desenvolvida na Assistncia de Enfermagem.

    CONSIDERANDO o disposto no Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem,

    destacando-se os princpios fundamentais: O profissional de enfermagem atua na promoo,

    preveno, recuperao e reabilitao da sade, com autonomia e em consonncia com os

    preceitos ticos e legais. [...]

    CONSIDERANDO a Resoluo COFEN n195/1997 que disciplina no Art. 1, o

    procedimento de que o Enfermeiro pode solicitar exames de rotina e complementares quando

    no exerccio de suas atividades profissionais;

    CONSIDERANDO o disposto na Portaria N 2.815/GM de 29 DE MAIO DE 1998, que

    Inclui na Tabela do Sistema de Informaes Hospitalares do Sistema nico de Sade

    (SIH/SUS) o Grupo de Procedimento e os Procedimento: 35.150.01-7 - Parto Normal Sem

    Distocia Realizado Por Enfermeiro Obstetra e 35.080.01.9 - Parto Normal Sem Distocia

  • Realizado Por Enfermeiro Obstetra;

    CONSIDERANDO o disposto na Portaria n. 163/GM, de 22 de setembro de 1998 que

    Regulamenta a realizao do procedimento 35.080.01.9 Parto Normal sem Distcia Realizado

    Por Enfermeiro Obstetra e Aprova o modelo do Laudo de Enfermagem para Emisso de

    Autorizao de Internao Hospitalar AIH para realizao de parto normal.

    CONSIDERANDO o disposto na Resoluo COFEN n 223/1999, sobre a atuao dos

    profissionais Enfermeiros na Assistncia Mulher no Ciclo Gravdico Puerperal que estabelece

    em seu Art. 1 - A realizao de Parto Normal sem Distcia da competncia de enfermeiros,

    e dos portadores de Diploma, Certificado de Obstetriz ou Enfermeiro Obstetra, bem como

    Especialistas em Enfermagem Obsttrica e na Sade da Mulher; Art. 2 - Compete ainda aos

    profissionais referidos no artigo anterior: Assistncia a gestante, parturiente e purpera;

    Acompanhamento do trabalho de parto; Execuo e assistncia Obsttrica em situao de

    emergncia. Art. 3 - Ao Enfermeiro Obstetra, Obstetriz, Especialistas em Enfermagem

    Obsttrica e Assistncia em Sade da Mulher, alm das atividades constantes do Art. 2,

    compete ainda: Assistncia a parturiente e ao parto normal; Identificao de distcias

    obsttricas e tomada de todas as providncias necessrias, at a chegada do mdico, devendo

    intervir, de conformidade com sua capacitao tcnico-cientfica, adotando os procedimentos

    que entender imprescindveis, para garantir a segurana do binmio me/filho; Realizao da

    episiotomia, episorrafia e aplicao de anestesia local quando couber; Emisso de Laudo de

    Enfermagem para autorizao de Internao Hospitalar, constante do Anexo da Portaria

    SAS/MS-163/98; Acompanhamento do cliente sob seus cuidados, da internao at a alta;

    CONSIDERANDO o disposto na Portaria n 985/GM, de 05/08/1999, que instituiu os

    Centros de Parto Normal no mbito do SUS Sistema nico de Sade; CONSIDERANDO o

    que fora contemplado no Pacto Nacional pela Reduo da Mortalidade Materna e Neonatal,

    firmado no ano de 2004;

    CONSIDERANDO o disposto na Portaria n 746/GM, de 20 de dezembro de 2005, que

    regulamenta o novo modelo de laudo de AIH e d outras providencias;

    CONSIDERANDO o disposto na Resoluo-RDC N-36, de 3 de Junho de 2008, que

    dispe sobre Regulamento Tcnico para Funcionamento dos Servios de Ateno Obsttrica

    e Neonatal, quando no ANEXO I, item 3.7, estabelece, como definio sobre os profissionais

    recursos de sade necessrios para esse funcionamento Profissional legalmente habilitado,

    profissional com formao superior inscrito no respectivo Conselho de Classe, com suas

  • competncias atribudas por lei. Define que o Servio Tcnico Obsttrico e Neonatal deve ter

    um responsvel tcnico (RT) e um substituto, legalmente habilitados pelo seu conselho de

    classe;

    CONSIDERANDO a Portaria n 1.459/GM/MS, de 24 de junho de 2011, que institui,

    no mbito do SUS, a Rede Cegonha;

    CONSIDERANDO a PORTARIA N 904, DE 29 DE MAIO DE 2013 que Estabelece

    as diretrizes para implantao e habilitao de Centro de Parto Normal (CPN), no mbito do

    Sistema nico de Sade (SUS), para o atendimento mulher e ao recm-nascido no momento

    do parto e do nascimento, em conformidade com o Componente PARTO E NASCIMENTO da

    Rede Cegonha, e dispe sobre os respectivos incentivos financeiros de investimento, custeio e

    custeio mensal;

    CONSIDERANDO as revises sistemticas e evidncias cientficas sobre as prticas

    assistenciais que promovem a fisiologia e a normalidade do processo de parto e nascimento,

    demonstrando os benefcios mulher e ao beb na assistncia ao parto de risco habitual pela

    enfermeira obstetra ou obstetriz;

    CONSIDERANDO a necessidade de organizao da ateno ao parto e ao nascimento

    em diferentes nveis de complexidade e de superao do modelo biologicista e medicalizante;

    CONSIDERANDO o direito das mulheres a espaos de cuidado que possibilitem

    ambincia adequada favorecedora das boas prticas de ateno ao parto e nascimento

    CONSIDERANDO que a Secretaria Estadual de Sade vem desenvolvendo aes com

    o objetivo de ordenar ampliar e qualificar a assistncia ao parto nas Maternidades e Centros de

    Parto Normal do Estado;

    CONSIDERANDO que entre essas aes a institucionalizao da assistncia ao parto

    de risco habitual pelo enfermeiro obstetra se configura como um importante instrumento de

    mudanas de paradigma do modelo biologicista e medicalizado para o modelo humanizado de

    cuidado, com nfase no cuidado centrado na mulher e sua famlia, com importantes resultados

    perinatais;

    CONSIDERANDO a importncia de normatizar e unificar os protocolos assistenciais

    da enfermagem obsttrica do Estado da Bahia, apresentamos o Protocolo Assistencial da

    Enfermeira Obstetra no Estado da Bahia.

  • INTRODUO

    As mulheres sempre cuidaram de outras mulheres na hora do parto, compartilhavam

    histrias e conhecimentos sobre a gravidez, assim como sempre fizeram com outros aspectos

    de sua vida cotidiana. Estas mulheres se destacaram nesta arte de cuidar e eram particularmente

    eficazes no ato de confortar e encorajar as outras. Estimadas pela sociedade, sua assistncia era

    frequentemente solicitada e, aparentemente, apresentava bons resultados com o parto e

    nascimento, mesmo em situaes adversas. Desta forma, algumas mulheres desenvolveram

    habilidades e conhecimentos empricos sobre a arte de assistir ao parto e nascimento, os quais

    eram passados de gerao a gerao, ou para mulheres mais jovens quando a demanda assim o

    exigia (GRAMACHO & SILVA apud BRASIL, 2014).

    No Brasil o modelo hegemnico do parto ainda pautado em excessiva medicalizao.

    No entanto, este modelo tem sido discutido crescentemente por profissionais e movimentos

    sociais, articulados em torno de um conjunto de valores e prticas identificadas pela noo de

    humanizao da assistncia ao parto e ao nascimento. Este modelo apontado como um dos

    responsveis pelas altas taxas de mortalidade materno-infantil em vrios pases, pelo

    desrespeito aos direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, e pela reduo de um evento

    social, cultural e de sade a um fenmeno patolgico, mdico e fragmentado (TORNQUIST,

    2003).

    Rattner (2009) em um trabalho que abordou como tem sido desenvolvida no Brasil a

    poltica pblica no que tange humanizao na ateno a nascimentos e partos, e o papel dos

    movimentos sociais, defende que mudanas de paradigma exigem firmeza e constncia do

    gestor, pois sempre haver oposio dos setores interessados pela manuteno do modelo

    hegemnico. H que se dar continuidade formao de enfermeiras (os) obstetras voltada para

    a mudana de paradigma e apoiar iniciativas de capacitao de doulas, assim como a

    implantao de centros de parto normal, com superviso da atuao. Considera importante

    incentivar o trabalho conjunto da equipe, estabelecendo protocolos assistenciais locais que

    contemplem peculiaridades e diversidades regionais e a complementariedade das atuaes

    (mdicos, enfermeiras/os, doulas, parteiras tradicionais).

    A humanizao do parto refere-se a uma multiplicidade de interpretaes com

    abordagens que se baseiam em evidncias cientficas, em direitos, entre outras. So recriadas

  • pelos diversos atores sociais, que as utilizam como instrumento para a mudana, que vem

    ocorrendo muito lentamente e com enorme resistncia. (GRAMACHO & SILVA, 2014)

    Segundo Gramacho e Silva, 2014; apesar de o termo humanizao vir se incorporando

    nas polticas de sade, inclusive com a criao da Poltica Nacional de Humanizao, seus

    sentidos, percepes e significados, dependem das diferentes posies ou papis que ocupam

    aqueles que a ele se referem, sejam dirigentes, tomadores de deciso, profissionais de sade,

    movimentos organizados da sociedade ou usurios.

    Hoje, a tecnologia ainda usada abusivamente, baseada numa crena preconceituosa e

    falsa em relao mulher, de que a tecnologia mais segura do que as mulheres para dar conta

    do nascimento. Por estas questes marcadamente filosficas, pode-se dizer que a humanizao

    do nascimento tambm uma questo de gnero, porque a matriz desta viso distorcida

    desconsidera a mulher e sua fisiologia.

    A humanizao da assistncia ao parto implica em respeitar a autonomia da mulher,

    devolver-lhe o protagonismo, e tambm, principalmente, que a atuao do (GRAU DE

    RECOMENDAO A) profissional respeite os aspectos da fisiologia da mulher, que no

    intervenha desnecessariamente, que reconhea os aspectos sociais e culturais do parto e

    nascimento, e oferea o necessrio suporte emocional mulher e sua famlia, facilitando a

    formao dos laos afetivos familiares e o vnculo me-beb. Outros aspectos referem-se a

    elaborao de um plano de parto que seja respeitado pelos profissionais que a assistirem; de ter

    um acompanhante de sua escolha; de serem informadas sobre todos os procedimentos a que

    sero submetidas; e de ter os seus direitos de cidadania respeitados (DIAS; DOMINGUES,

    2005).

    A enfermagem tem participado das principais discusses acerca da sade da mulher,

    juntamente com movimentos sociais feministas, em defesa da humanizao no pr-natal e no

    nascimento. Diante disto, o MS tem criado portarias que favorecem a atuao desta (e)

    profissional na ateno integral a sade da mulher, privilegiando o perodo gravdico puerperal,

    por entender que estas medidas so fundamentais para a diminuio de intervenes e riscos,

    tanto em maternidades, como em casas de parto, favorecendo a humanizao da assistncia

    (BRASIL, 2003).

    As(os) enfermeiras(os) obstetras possuem perfil e competncia para acompanhar o

    processo fisiolgico do nascimento, contribuindo para a sua evoluo natural, reconhecendo e

    corrigindo os desvios da normalidade, e encaminhando aquelas que demandem assistncia

  • especializada. Alm disso, tem o papel de facilitar a participao da mulher no processo do

    nascimento, caminhando para o modelo fundamentado nos princpios da humanizao que se

    baseia no respeito ao ser humano, empatia, intersubjetividade, envolvimento, vnculo,

    oferecendo mulher e famlia a possibilidade de escolha de acordo com suas crenas e valores

    culturais (MERIGHI; GUALDA, 2009).

    Gramacho e Silva, 2014, trazem que o grande desafio que se coloca, para todas(os)

    profissionais que prestam esta assistncia, o resgate da atuao ativa da enfermeira obstetra

    na assistncia ao parto, pois estudos j apontam que essas profissionais intervm positivamente

    na reduo de intervenes desnecessrias, a exemplo da prtica excessiva do parto cesrea e

    com consequente diminuio da morbimortalidade materna e perinatal.

    Dessa forma, a construo desse protocolo ir contribuir para o fortalecimento da

    Enfermagem Obsttrica do Estado da Bahia.

  • OBJETIVOS

    Criar uma linha de cuidado da Enfermagem Obsttrica no estado da Bahia;

    Normatizar a atuao profissional das Enfermeiras Obstetras no estado da Bahia,

    atravs do Conselho Regional de Enfermagem;

    Orientar e uniformizar as aes da Enfermagem Obsttrica que garantam o exerccio

    das boas prticas de ateno sade da mulher, neonato e famlia no ciclo gravdico-

    puerperal, baseado nas evidncias cientficas;

    Fortalecer a atuao das(os) enfermeiras(os) obstetras, oferecendo subsdios tcnico-

    cientficos para sua atuao.

  • ASPECTOS TICOS E LEGAIS NO EXERCCIO PROFISSIONAL DA

    ENFERMAGEM OBSTTRICA

    A regulamentao do exerccio profissional dos enfermeiros est disposto na Lei 7.498

    de 1986, sancionada pelo ento presidente Jos Sarney, definindo em seus artigos as atividades

    as quais os enfermeiros poderiam exercer legalmente e privativamente como:

    i) consulta de enfermagem;

    l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

    m) cuidados de enfermagem de maior complexidade tcnica e que exijam

    conhecimentos de base cientfica e capacidade de tomar decises imediatas;

    Analisando este aspecto fica claro que os cuidados em situaes de emergncia e a

    pacientes graves so de responsabilidade exclusiva do enfermeiro, dentro da equipe de

    enfermagem, devido a sua formao acadmica e titularidade. O parto considerado uma

    emergncia obsttrica que necessita de cuidados e condutas precisas para o seu bom desfecho.

    Estas condutas devem ser subsidiadas de outras aes, entre as quais no mesmo artigo 11 da

    referida lei trs que o enfermeiro como integrante da equipe de sade pode realizar a

    prescrio de medicamentos estabelecidos em programas de sade pblica e em rotina

    aprovada pela instituio de sade, bem como prestar: assistncia de enfermagem

    gestante, parturiente e purpera realizar o: acompanhamento da evoluo e do trabalho

    de parto e execuo do parto sem distocia

    Por uma caracterstica da formao, o enfermeiro especialista em obstetrcia pode

    realizar, alm do citado, ainda: a) assistncia parturiente e ao parto normal; b)

    identificao das distocias obsttricas e tomada de providncias at a chegada do mdico;

    c) realizao de episiotomia e episiorrafia e aplicao de anestesia local, quando

    necessria. No restando dvidas quanto a atuao dos enfermeiros e enfermeiros obstetras

    no cenrio de parto e nascimento.

    A OMS define parto normal como: aquele cujo incio espontneo e sem risco

    identificado no incio do trabalho, assim permanecendo at o parto. A criana nasce

    espontaneamente, em posio de vrtice, entre 37 e 42 semanas completas de gestao.

    Vale ressaltar que o mesmo ratificado no Decreto presidencial n 94.406 de 08 de junho

    de 1987, ao qual Regulamenta a Lei n 7.498, no artigo 8, inciso II, alneas h) prestao de

    assistncia de enfermagem gestante, parturiente, purpera e ao recm-nascido, i)

  • participao nos programas e nas atividades de assistncia integral sade individual e

    de grupos especficos, particularmente daqueles prioritrios e de alto risco, j)

    acompanhamento da evoluo e do trabalho de parto e l) execuo e assistncia

    obsttrica em situao de emergncia e execuo do parto sem distocia e no artigo 9

    referente s profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou de Enfermeira

    Obsttrica, alm das atividades de que trata o artigo precedente, incumbe: I - prestao de

    assistncia parturiente e ao parto normal; II - identificao das distocias obsttricas e

    tomada de providncia at a chegada do mdico; III - realizao de episiotomia e

    episiorrafia, com aplicao de anestesia local, quando necessria.

    Estas aes dos enfermeiros obsttricos no so isoladas, h diversas normativas a

    respeito desta atuao, emitidas tanto Conselho Federal de Enfermagem, quanto pelo Ministrio

    da Sade, abaixo relacionadas:

    Resoluo COFEN 311/2007: Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem - O Profissional

    de Enfermagem atua na promoo, preveno, recuperao e reabilitao da sade, com autonomia e

    em consonncia com os preceitos ticos e legais.

    Resoluo COFEN 223/1999: Dispe sobre a atuao de enfermeiros na assistncia mulher no ciclo

    gravdico-puerperal.

    Resoluo COFEN 339/2008: Normatiza a atuao e a responsabilidade civil do Enfermeiro Obstetra

    nos Centros de Parto Normal e/ou Casas de Parto e d outras providncias.

    Resoluo COFEN 439/2012: Dispe sobre a obrigatoriedade do registro do ttulo de especialista em

    Enfermagem Obsttrica e d outras providncias.

    Resoluo COFEN 381/2011: Normatiza a execuo, pelo Enfermeiro, da coleta de material para

    colpocitologia onctica, pelo mtodo de Papanicoloau.

    Portaria 2815/GM/1998: Inclui na tabela SHI o grupo de procedimentos e os procedimentos

    referentes ao parto normal sem distocia por enfermeira obstetra inclusive a analgesia no parto.

    Portaria SAS/743/2005: Art. 3 - Estabelecer que a emisso do laudo est restrita responsabilidade

    das seguintes categorias profissionais: mdico, cirurgio-dentista e enfermeiro(GRAU DE

    RECOMENDAO A) obstetra.

  • ASSISTNCIA MULHER

  • 1 ASSISTNCIA MULHER

    1.1 ASSISTNCIA DURANTE A ADMISSO

    O parto e o nascimento so eventos fisiolgicos. Para muitas mulheres, entretanto, o

    trabalho de parto pode ser um momento de medo, incerteza, excitao e ansiedade, assim como

    de antecipao. Isso devido a mudana do ambiente familiar, para o ambiente hospitalar,

    impessoal, frio e desconhecido para a mulher e sua famlia. (LUZES, 2007)

    No sentido de harmonizar esse processo, a filosofia de cuidados deve enfatizar o

    respeito, assim como as suas escolhas, conciliando os desejos e anseios da mulher com as

    melhores tcnicas assistenciais que devem ser flexveis e que garantam autonomia e promovam

    o autocuidado.

    Para tanto preciso avaliar o conjunto fsico, obsttrico, familiar e psicolgico da

    mulher, trazendo para o contexto hospitalar o histrico da gestante, bem como as suas emoes

    para aquele momento.

    Para um bom trabalho de parto devemos ter em mente a preparao do 4 Ps

    (MONTENEGRO & REZENDE, 2013)

    1. Passageiro Avaliar corretamente a idade gestacional, de preferncia pela DUM

    confivel ou pela USG de at 14 semanas com Comprimento Ndega nuca fetal

    (CNN fetal).

    2. Passagem Avaliar se a gestante possui condies fsicas para o parto normal;

    3. Potncia Avaliar a dinmica uterina da mulher durante o perodo de 10

    minutos, caracterizando as contraes existentes ou no;

    4. Psicolgico Avaliar o estado psicolgico da gestante.

    Avaliao inicial na admisso

    Toda mulher que procura o servio de sade queixando-se de algia na regio abdominal

    irradiando-se para a regio sacra, com referida perda de lquido ou de tampo mucoso, com ou

    sem raja de sangue, deve ser devidamente acolhida e classificada de acordo com o seu risco,

    conforme protocolo, com a suspeita de trabalho de parto, independentemente da idade

    gestacional. A identificao da mulher deve comear no primeiro contato com a mesma,

  • devendo-se ser cordial e trat-la sempre pelo primeiro nome. Apresentar-se com o nome e

    profisso.

    Em uma sala especfica para avaliao inicial, dever ser realizada a escuta das queixas

    da gestante, observando o nvel de conscincia, os seus sinais vitais, como presso arterial,

    temperatura, frequncia cardaca, saturao e sinais de alerta.

    A mulher e seu acompanhante presente devero ser questionados quanto:

    1. Gestaes anteriores e desfechos (parto ou aborto)

    2. Perda de lquido amnitico H quanto tempo de bolsa rota, caractersticas do

    lquido;

    3. Movimentos fetais Se ausentes, h quanto tempo;

    4. Perda do tampo mucoso caractersticas da secreo e h quanto tempo;

    5. Sangramento;

    6. Contraes H quanto tempo est tendo e a frequncia das contraes;

    7. Intercorrncias durante a gestao (ITU, HAS, DM, Leucorrrias, entre outros)

    8. Medicaes usados durante a gestao;

    9. Alergias;

    10. Se realizou pr-natal e possui exames laboratoriais e de imagem.

    11. Complicaes nos partos anteriores (prematuridade, baixo peso, macrossomia,

    placenta retida, hemorragia ps-parto, entre outros)

    As perguntas devem ser de forma clara, objetiva com uma linguagem simples e

    harmoniosa que favorea a abertura do dilogo, e em caso de dvidas modifique a sua

    abordagem ou reelabore sua pergunta, evitando os julgamentos. Dever ser realizada tambm

    a leitura do carto de pr-natal, e interpretao dos exames apresentados, correlacionados com

    a clnica obsttrica.

    Da leitura do carto de pr-natal deve-se prestar ateno aos aspectos:

    Clnicos (HAS, DM, Sorolgicos, cirurgias prvias, comorbidades, imunizaes, tipo

    sanguneo, anemia grave, anemia falciforme entre outras)

    Obsttricos (Gestaes anteriores, citologia onctica, colposcopia, pr-eclampsia;

    eclampsia)

    Perinatais (prematuridades, peso dos filhos anteriores, macrossomia, baixo peso)

    Idade materna (maior risco em menores de 14 anos e maiores de 45 anos)

  • Idade gestacional (DUM confivel ou USG de at 14 semanas)

    Controle pr-natal (Quantidade de consultas de pr-natal)

    Ganho de peso e altura uterina

    Patologias durante a gravidez

    Impossibilidade de no amamentar

    Observar a linearidade da Tenso arterial (se aumentou, apresentou pico hipertensivo).

    Exame Fsico na admisso

    Durante o exame fsico devem ser explorados os aspectos de acordo com o quadro

    abaixo:

    Quadro 01 Exame fsico geral e obsttrico

    Aspecto Sinal/Conduta Cuidados

    Inspeo de pele e mucosas

    Palidez Confrontar com Hb/Ht possvel anemia

    Cianose Verificar SpO2, FC e FR, possvel choque ou

    insuficincia cardaca

    Hidratao Questionar sobre mese, possvel desidratao

    Edema Verificar PA e riscos para HAS gestacional

    Leses drmicas Avaliar dermatoses ou violncia domstica

    Inspeo torcica Observar expansibilidade Relacionar com sinais vitais e condio

    circulatria

    Inspeo da regio abdominal

    Aumento do volume uterino

    Medir altura uterina com fita mtrica

    Realizar manobra de Leopold* para

    confirmao da presena do feto, Situao

    (longitudinal, transversa ou obliqua);

    Apresentao (ceflico, plvico ou crmico);

    Posio (direita ou esquerda materna)

    Ausculta do BCF** Realizar ausculta fetal com sonar durante 1

    minuto inteiro para determinar BCF adequado

    Presena de cicatrizes na regio

    abdominal

    Questionar a mulher sobre a cirurgias

    anteriores na regio abdominal

    Inspeo de aparelho genito-

    urinrio

    Observar a vulva, canal vaginal e

    uretral

    Visualizar se h presena de condilomas,

    lceras e secrees conduta de abordagem

    sindrmica e cuidados especiais

    Toque vaginal Realizar o toque vaginal na presena de

    contrao uterina, procurando conhecer a

    altura da apresentao, variedade de posio,

    dilatao cervical, apagamento do colo,

    condies da bolsa amnitica

    Inspeo de Membros inferiores Observar presena de edema e/ou

    varizes

    Verificar Presso arterial, histria vascular

    Observao: Registrar achados em pronturio

  • *MANOBRA DE LEOPOLD:

    Primeira manobra (GRAU DE RECOMENDAO A): Palpa-se o fundo uterino

    procurando identificar o polo fetal que o ocupa. Normalmente encontram-se as ndegas. O

    rebote ceflico nesse nvel indica apresentao plvica que deve ser confirmada atravs do

    exame genital.

    Segunda manobra (b): Palpa-se os flancos da me para se determinar a situao e

    posio do dorso fetal. Nos casos de situao transversa palpam-se os polos.

    Terceira manobra (c): Permite palpar o polo fetal que se apresenta, que normalmente

    o ceflico. Isto pode ser confirmado pela manobra do rechao e pelo exame genital.

    Quarta manobra (d): Permite avaliar o encaixamento da apresentao na pelve e a

    flexo. Se os dedos so introduzidos em uma escavao vazia, deve suspeitar-se de situao

    transversa.

    Figura 1: Manobras de Leopold

    Observao: A suspeita de desproporo feto-plvica deve ser confirmada pela

    pelvimetria interna atravs do exame genital. A manobra de Leopold consiste em

    identificar a apresentao e posio fetal.

    **AUSCULTA DA FREQUNCIA CARDACA FETAL

    Esse procedimento visa verificar a:

    Presena de gravidez;

    Vitalidade do concepto;

  • Presena de gestao mltipla;

    Permite ainda:

    Identificar alteraes grosseiras do ritmo cardaco;

    Acompanhar a higidez do feto;

    Confirmar a posio fetal identificada pela palpao obsttrica.

    Se existem fatores de risco, deve-se intensificar o cuidado na ausculta do BCF.

    Com a tcnica de ausculta Estetoscpio de Pinard ou Detector cardaco fetal (Sonar-

    doppler) deve-se empregar a seguinte conduta para avaliao do BCF:

    A ausculta deve ser feita durante 60 segundos;

    Podem ocorrer variaes na ausculta fetal logo aps as contraes, levando episdios

    de bradicardia e taquicardia fetal, atentar para quadros persistentes;

    Rudos que podem ser captados

    Abordaremos especificamente o contedo relacionado aos batimentos cardacos fetais,

    ao sopro funicular e ao sopro da artria uterina, porm existem outros rudos que podem ser

    captados.

    Quadro 02: Rudos que podem ser identificados durante a ausculta fetal

    Rudos de origem fetal Rudos de origem materna

    Batimentos cardacos fetais (BCF);

    Rudos de choque;

    Sopro funicular;

    Movimentos ritmados.

    Sopro da artria uterina;

    Rudos intestinais;

    Batimentos da aorta abdominal.

    Quadro 03: Distino entre BCF, sopros funicular e da artria uterina

    O som correspondente ao BCF, curto e seco, duplo e s vezes triplo, semelhante ao ritmo

    de galope. O som relacionado ao cordo umbilical (sopro funicular) soproso, nico e

    iscrono com os batimentos cardacos fetais e o rudo placentrio (artria uterina) mais

    abafado, iscrono com o pulso materno e comparvel ao vento em redemoinho.

  • Quadro 04: Situaes que podem dificultar a audibilidade dos BCFs

    Obesidade;

    Edema da parede abdominal;

    Presena de polidrmnio;

    Implantao placentria anterior;

    Variedade de posies e atitudes fetais;

    Presena de contrao uterina.

    Apesar da frequncia cardaca fetal normalmente oscilar entre 120-140 (prximo ao

    termo da gestao) a 160 batimentos por minuto (no incio da gestao), nas ltimas semanas

    de gravidez, pode ocorrer queda gradual da FCF, atingindo valores normais entre 110 e 160

    batimentos por minuto (ACOG, 2000)

    O aumento transitrio na frequncia cardaca fetal, denominado de acelerao

    transitria (aumento de 15 a 25bpm com durao entre 15 e 30 segundos), aps contrao

    uterina, movimentao fetal ou estmulo mecnico sinal de bem estar fetal.

    Quadro 05: Taquicardia fetal X Bradicardia fetal (LISTON, 2007; ACOG, 2000)

    Taquicardia fetal: Frequncia cardaca maior que 160 batimentos por minuto

    Bradicardia fetal: Frequncia cardaca menor que 110 batimentos por minuto

    Causas provveis de taquicardia fetal Causas provveis de bradicardia fetal

    Hipoxemia crnica;

    Corioamnionite;

    Hipertermia materna (a cada grau de

    temperatura acima de 37C h uma

    elevao de 10-20 batimentos);

    Drogas (terbutalina, ritodrina,

    salbutamol, isoxsuprina, atropina,

    nicotina);

    Resposta fetal estmulos sonoro e

    vibratrio;

    Hiperatividade fetal;

    Taquiarritmias cardacas.

    Ps-maturidade;

    Droga: propanolol;

    Bradiarritmias cardacas;

    Casos graves de asfixia fetal.

  • Afastada febre e /ou uso de medicamentos pela gestante, a presena de bradicardia ou

    taquicardia fetal, pode estar associada ao sofrimento fetal. Nesse caso, necessrio avaliao

    mdica.

    Foco de ausculta

    Corresponde regio com raio de mais ou menos 3cm, na qual a audibilidade dos

    batimentos cardacos mxima. Situa-se ao nvel da quarta vrtebra dorsal do feto.

    Ateno aos itens (LISTON, 2007)

    No incio do perodo gestacional at a 20 semana de gestao, o batimento nico,

    sistlico e audvel, geralmente, na linha mediana, independente da posio fetal.

    Posteriormente, torna-se duplo com duas bulhas, sistlica (mais longa) e diastlica

    (mais curta);

    Aps o 5- 7 ms de gestao, deve-se primeiramente realizar a palpao obsttrica;

    pois as localizaes do polo ceflico e do dorso fetais ajudam a definir o melhor local

    para a ausculta dos batimentos cardacos fetais;

    Nas apresentaes ceflicas o foco de escuta na regio infra-umbilical e nas

    apresentaes plvicas supra-umbilical. Nas situaes tranversas, o foco de escuta

    coincide com a linha abdominal mediana; junto cicatriz umbilical;

    No caso de gestao gemelar, os batimentos cardacos de cada um dos fetos apresentam

    frequncias diferentes de 8-10 batimentos por minuto e entre eles, h uma zona de

    silncio mais ou menos extensa.

    Quadro 06: Tcnica de Ausculta de BCF com estetoscpio de Pinard ou Sonar-Doppler

    Posicionar a gestante em decbito dorsal, com o tronco ligeiramente fletido e o abdome descoberto;

    Primeiramente, deve-se realizar a palpao obsttrica, a fim de definir a localizao do polo ceflico e

    do dorso fetal. Alm disso, pode perguntar gestante em que lado ela percebe maior movimentao

    fetal. O dorso fetal estar no lado oposto;

    Em seguida, deve segurar o estetoscpio de Pinard pelo tubo, posicionando a extremidade de abertura

    mais ampla (parte coletora) ou o Sonar Doppler, perpendicularmente sobre a parede abdominal da

    gestante, no local determinado como foco de escuta;

    Contar os batimentos cardacos fetais por um minuto, observando ritmo e frequncia;

  • Figura 2: Ausculta de BCF

    Conduta: Quando se registra bradicardia persistente ou desaceleraes tardias o parto deve ser

    conduzido segundo normas de alto risco com comunicao imediata ao mdico obstetra

    responsvel que dever assumir a conduo do caso. A bradicardia leve, a taquicardia e as

    desaceleraes variveis so situaes de alarme ante as quais deve-se extremar a vigilncia do

    BCF, com a me em decbito lateral esquerdo.

    Padro de contratilidade uterina

    Deve-se determinar o padro de contratilidade uterina pela apreciao do tnus,

    frequncia, durao e intensidade das contraes e o momento em que a me comeou a

    perceber a intensificao de algum destes parmetros. Pode ser utilizado o mtodo clnico com

    a palpao abdominal ou atravs da cardiotocografia ou da aferio da presso intrauterina.

    (Grau de recomendao A)

    Para que as contraes sejam percebidas, sua intensidade deve ultrapassar um certo

    valor (limiar de percepo por palpao). Em condies normais, o valor mdio do limiar de

    percepo por palpao de 50 mmHg acima do tonos normal da presso amnitica.

    (MONTENEGRO & REZENDE, 2013)

    Quadro 07 Contrao uterina

    Mtodo Clnico Mo

    repousada sobre abdome Tnus

    Frequncia

    (Ct./10min.)

    Durao

    (Seg) Intensidade

    Normal

    Palpam-se partes

    fetais. tero se

    deprime entre

    contraes.

    2 a 5

    20 -60

    O tero no se deprime no

    acme da contrao.

    Anormal

    Hipertonia

    Impossvel palpar

    partes fetais.

    Dor

    > 7 > 60

    Hipersistolia

    tero no se deprime em

    momento algum da

    contrao

  • Tcnica: O controle clnico das contraes uterinas deve ser realizado por perodos no

    menores que 10 minutos, colocando a mo estendida no abdome da me sobre o corpo uterino,

    sem estimul-lo.

    Conduta: Contratilidade normal:

    Admitir a me para ateno, segundo normas de baixo risco, aps confirmao da

    dilatao por toque vaginal, com abertura de partograma se 04 cm de dilatao cervical

    e colo 100% apagado ou 05 cm com qualquer apagamento do colo (Grau de

    recomendao A);

    Observar o progresso do parto.

    Aps avaliao e confirmao de baixo risco orientar a parturiente a deambular,

    utilizar mtodos no farmacolgicos para alivio da dor.

    Em trabalho de parto ativo abrir o partograma e fazer acompanhamento pelo

    mesmo.

    Exame genital feminino

    Quadro 08: Exame genital

    TOQUE

    VAGINAL

    TCNICA AVALIAR

    Inspeo dos genitais externos;

    Separar os pequenos lbios com os dedos polegar e anular da mo;

    Inspecionar o introito vaginal;

    Realizar o toque se houver contraes uterinas, evitando assim toques

    desnecessrios;

    Introduzir horizontalmente os dedos indicador e mdio da mo na direo

    do eixo vaginal, com os dedos anular

    e mnimo flexionados e o polegar

    estendido;

    Palpar com a superfcie palmar dos dedos;

    Manter o antebrao em posio horizontal;

    Apoiar o fundo uterino com a mo externa;

    No retirar os dedos at haver completado o exame.

    Sinais de DSTs

    Amplitude e elasticidade das partes moles;

    Dilatao, apagamento e posio do colo;

    Integridade das membranas ovulares;

    Hemorragias genitais;

    Apresentao, variedade de posio e altura;

    Proporo feto-plvica;

    Avaliar a possvel presena de mucosidade, lquido ou sangue,

    na luva.

  • Quadro 09: queixas de perdas vaginais frequentes

    QUEIXA ACHADO CARACTERSTICAS CONDUTA

    SECREES

    VAGINAIS

    Tampo

    mucoso

    Secreo espessa, de colorao

    transparente, podendo apresentar

    rajas de sangue, cuja emisso

    obedece ao comeo da dilatao

    e ao apagamento do colo

    uterino.

    Questionar a mulher

    quando iniciou o processo

    de perda e orient-la sobre

    o processo do trabalho de

    parto e nascimento

    Corrimento

    vaginal

    Secreo vaginal com colorao

    esbranquiada, amarelada ou

    esverdeada, com ou sem odor

    ftido, associado ou no a

    prurido vaginal

    Seguir abordagem

    sindrmica

    PERDA DE

    LQUIDO

    Lquido

    amnitico

    Lquido emitido, normalmente,

    transparente e de odor

    caracterstico, semelhante a

    lquido seminal ou a hipoclorito

    de sdio; pode ter cor amarelada

    ou esverdeada (mecnio), ou

    purulento, se h infeco ovular.

    Quando a perda de lquido

    no evidente, procede-se

    a um exame especular com

    mobilizao do polo fetal

    para a deteco de sada de

    lquido pelo orifcio

    cervical.

    SANGRAMENTO

    VAGINAL

    Pequenos sangramentos podem estar associados dilatao cervical porm

    toda perda sangunea pelos genitais deve ser avaliada adequadamente,

    principalmente se seu volume abundante. As hemorragias graves constituem

    uma situao de alto risco. Aproximadamente metade das hemorragias ao

    termo da gestao ocorrem devido a placenta prvia e descolamento prematuro

    da placenta (DPP).

    Em caso de perda de lquido ou sangue pelos genitais, deve-se avaliar sua procedncia

    e magnitude por exame especular prvio ao toque vaginal. No realizar o toque vaginal em caso

    suspeito ou confirmado de placenta prvia. (DOWNE et al., 2013) (Grau de recomendao A).

    Poder ser utilizada a luva de procedimento para o toque vaginal em caso de bolsa

    ntegra, sem sangramento vaginal. Caso contrrio deve ser utilizado luva estril. O toque deve

    ser realizado preferencialmente a cada 3 ou 4 horas, evitando toques repetitivos em curtos

    prazos (DOWNE et al., 2013) (Grau de recomendao A).

  • Dilatao, apagamento e posio do colo

    O apagamento e a dilatao cervical se produzem por efeito das contraes e

    modificaes bioqumicas do colo ao final da gravidez. O apagamento a reduo da

    longitude do canal cervical. Ao completar-se o apagamento, o orifcio cervical externo se

    confunde com o interno. Habitualmente, a primigesta completa o apagamento antes de se

    iniciar a dilatao. Na multpara os processos so simultneos. O apagamento se descreve

    indicando a longitude do canal endocervical, em valores absolutos (1 a 4 cm), ou em

    porcentagem (0 a 100 %). A dilatao a ampliao transversal do colo uterino que varia

    entre alguns milmetros at 10 cm. A dilatao se mede introduzindo os dedos exploradores

    pelo orifcio cervical e separando-os at tocar as bordas do colo.

    No colo imaturo, o orifcio cervical externo se encontra geralmente no fundo de saco

    posterior. Ao amadurecer, sua posio muda e se torna centralizado.

    Figura 3: Amadurecimento do colo uterino

    Estado das Membranas

    Diante do relato de eliminao de lquido pelos genitais, verificar a integridade das

    membranas durante o exame genital que pode se confirmar simplesmente ao ver lquido fluindo

    pela vulva. Deve ser feito o diagnstico diferencial com emisso involuntria de urina. O

    lquido emitido transparente e de odor caracterstico semelhante a lquido seminal ou a

    hipoclorito de sdio pode ter cor amarelada ou esverdeada (mecnio) ou ser purulento, se h

    infeco ovular. Quando a perda de lquido no evidente, procede-se a um exame especular

    com mobilizao do polo fetal para a deteco de sada de lquido pelo orifcio cervical.

    (DOWNE et al., 2013) (Grau de recomendao A).

  • A ruptura prematura das membranas ovulares (RPMO) o quadro caracterizado pela

    ruptura espontnea das mesmas antes do comeo do trabalho de parto. O perodo de latncia

    o tempo transcorrido entre o momento em que se produz a ruptura e o parto. Quando maior que

    24 horas, a ruptura se define como prolongada. Quando a RPMO se produz em gestaes de

    termo, o trabalho de parto se inicia espontaneamente dentro das primeiras 24 horas em mais de

    80% dos casos.

    Toda mulher com diagnstico de RPM e sua famlia devem receber aconselhamento

    sobre a morbidade e mortalidade associadas idade gestacional e sobre a eficcia limitada do

    tratamento. A conduta em relao RPM depender da idade gestacional em que a mesma

    ocorrer (BRASIL, 2012b) (Grau de recomendao A).

    Evitar toques vaginais frequentes em gestantes com RPM em trabalho de parto. Embora

    a cesariana possa reduzir a mortalidade neonatal em recm-nascidos de extremo baixo peso

    (

  • Altura e variedade de posio na apresentao ceflica de vrtice

    O progresso do parto se avalia pelo grau de encaixamento da apresentao alm da

    contratilidade e da dilatao cervical. Habitualmente, as nulparas iniciam o trabalho de parto

    com a cabea fetal encaixada e a descida se acelera ao final da dilatao. As multparas iniciam

    a dilatao com a cabea insinuada ou fixa at a dilatao completa, sucedendo-se no perodo

    expulsivo o encaixamento e a rotao.

    Vrias tcnicas podem ser utilizadas para se determinar o grau de encaixamento do polo

    ceflico. A altura da apresentao no canal de parto poder ser determinada tendo como

    referncia as espinhas isquiticas, utilizando a escala de De Lee ou de Hodge.

    Figura 5: Altura da apresentao segundo escala de De Lee

    Pela escala de De Lee, quando o ponto mais baixo da apresentao se encontra no

    mesmo nvel das espinhas isquiticas, designa-se plano 0 (zero). Acima ou abaixo das espinhas,

    o canal de parto pode ser dividido em quintos, correspondendo medida em centmetros, ou

    seja, 5 cm acima e abaixo.

    Deste modo, medida que a apresentao desce da borda superior do pbis em direo

    s espinhas, designam-se os planos em -5, -4, -3, -2, -1 e depois 0. Ao ultrapassar as espinhas

    em direo ao perneo, os planos so designados em +1, +2, +3, +4 e +5. Dividindo o canal de

    parto em teros acima ou abaixo das espinhas, temos os planos -3, -2, -1, 0, +1, +2 e +3,

    correspondendo, respectivamente descida da apresentao da borda superior do pbis at o

    perneo.

  • No registro da altura da apresentao deve-se identificar o mtodo de avaliao,

    colocando-se no numerador o plano e no denominador o sistema utilizado. Ex.: -5/5, -4/5, -3/5,

    -2/5, -1/5, 0, +1/5, +2/5, +3/5, +4/5, +5/5 e -3/3, -2/3, -1/3, 0, +1/3, +2/3, +3/3.

    Variedade de Posio

    A variedade de posio se define pela relao entre um ponto de reparo fetal (fontanela

    posterior) e a hemipelve materna. Para fazer o diagnstico em apresentao de vrtice deve-se

    identificar a sutura interparietal com o dedo que toca e segui-la at encontrar a fontanela

    posterior, menor, occipital ou lambdide que se identifica por sua forma triangular e menor

    tamanho, da anterior, frontoparietal ou bregmtica, de forma quadrangular e maior tamanho.

    Figura 6: Variedade de posio

    As variedades posteriores, as deflexes e os graus limite de proporo feto-plvica

    produzem retardo na descida da cabea fetal.

    Na apresentao em vrtice podem ocorrer vrios graus de flexo da cabea

    (materializados pelo dimetro supraoccipitomentoniano, linha contnua, e o

    occipitobregmtico, linha pontilhada). A Flexo moderada (uma deflexo complementar

    levaria a fontanela maior ao centro da pelve, gerando uma apresentao de bregma). B Flexo

    avanada. C Flexo completa (o dimetro a cabea fetal o suboccipitobregmtico).

  • Figura 7: Graus de deflexo da apresentao ceflica

    Se for impossvel tocar a fontanela posterior e se encontra a fontanela anterior, possvel

    que a deflexo seja extrema e se trate de apresentao de bregma, fronte ou face, situao de

    risco que requer assistncia correspondente com mdico obstetra assumindo a conduo do

    caso.

    Na apresentao de fronte podem reconhecer-se os arcos orbitrios, os olhos e o nariz. A

    apresentao de face o grau mximo de deflexo. Associa-se a pelve plana e ms-formaes

    fetais. Diagnostica-se pela identificao dos arcos ciliares, olhos, nariz, boca e mento ao toque

    por via vaginal.

  • ASSISTNCIA DURANTE O TRABALHO DE

    PARTO

  • 1.2 ASSISTNCIA DURANTE O TRABALHO DE PARTO

    O diagnstico de trabalho de parto um processo dinmico, devendo haver contraes

    uterinas rtmicas e regulares, apagamento e dilatao cervical progressivas. De preferncia, a

    gestante s deve ser admitida quando estiver na fase ativa do trabalho de parto que, segundo o

    CLAP (Centro Latino-Americano de Perinatologia), se define quando a mesma estiver com

    dilatao cervical de 4 com colo completamente apagado ou com 5 cm independente do

    apagamento. (MONTENEGRO & REZENDE, 2013)

    As mulheres que no satisfizerem esses critrios devero ser orientadas sobre a sua

    situao e, se residirem prximo ao Hospital, devero retornar s suas casas e retornarem

    quando houver intensificao da frequncia e intensidade das contraes uterinas. Nas demais

    situaes, a mesma ser admitida em regime de observao por 2 a 3 horas para se confirmar o

    progresso do parto.

    Conduta da Enfermeira Obstetra aps a avaliao inicial: no havendo achados

    patolgicos, a gestante ser admitida, de acordo com os critrios estabelecidos de risco habitual,

    com preenchimento da AIH conforme portaria ministerial N 743 de 20 de dezembro de 2005

    e solicitao dos seguintes exames laboratoriais, ou complementares se forem necessrios:

    1. Exames laboratoriais:

    Hemograma completo ou Ht+Hb+Plaquetas

    Tipagem sangunea (ABO/RH)

    Anti-HIV 1 e 2

    HTLV 1 e 2

    HIV (teste rpido)

    VDRL

    Teste rpido para sfilis

    Sumrio de Urina

    Uria

    Creatinina

    TGO

    TGP

    Bilirrubina total e fraes

    2. Exames complementares:

    Cardiotocografia para avaliao da vitalidade fetal

    Ultrassonografia obsttrica

  • Quadro 10: Diagnstico e condutas diferenciais das fases do trabalho de parto

    TRABALHO DE PARTO EM GESTAO >37 SEMANAS E < 42 SEMANAS

    Diagnstico Sinais Condutas

    Perodo

    Premonitrio

    Aumento gradual da atividade uterina

    contraes com ritmo irregular,

    incoordenadas, por vezes dolorosas

    Orientar a mulher e a famlia sobre as contraes do trabalho

    de parto ativo, bem como a frequncia e durao das mesmas;

    Aumento das secrees cervicais

    perda do tampo mucoso eliminao

    de muco, por vezes acompanhado de

    sangue

    Exame obsttrico, realizando de preferncia exame especular

    ao invs do toque vaginal, que ser realizado se necessrio,

    para avaliao da dilatao, apagamento, altura da

    apresentao, a integridade da bolsa, secrees vaginais,

    integridade do canal vaginal e vulva;

    Orientar sobre a diferena de lquido amnitico para o tampo

    mucoso e a observar as perdas vaginais;

    Descida do fundo uterino,

    caracterizado por seu abaixamento em

    cerca de 2 a 4 cm

    Realizar medio do fundo uterino com fita mtrica e realizar

    a comparao com o carto de pr-natal

    Orientar e estimular a mulher em condutas ativas no invasivas, como deambular, manter-se em posio

    verticalizada, aumentar a ingesta hdrica, com gua, sucos e chs, evitar jejuns, uso de banhos para

    relaxamento, atividades sexuais devem ser estimuladas, se for o desejo da gestante. Orientar a retornar ao

    servio de sade em caso de presena de sinais de trabalho de parto ativo ou sinais de alerta.

    Trabalho de

    parto latente

    Corresponde ao final do perodo

    premonitrio e incio do trabalho de

    parto, quando as contraes, embora

    rtmicas, so incapazes de promover a

    dilatao do colo uterino.

    Realizar as mesmas condutas do perodo premonitrio

    Trabalho de

    parto ativo

    Contraes uterinas rtmicas, em geral

    dolorosas, que se estendem por todo o

    tero. (Mnimo de 2 contraes em 10

    minutos)

    Promover a participao ativa da parturiente e membro do

    grupo familiar que a acompanha.

    Colo uterino dilatado para, no mnimo

    4 cm, com apagamento total ou 5 cm

    independente do apagamento.

    Abrir o partograma adequadamente e mant-lo atualizado a

    cada 1 hora com a dinmica uterina, ausculta fetal e fluidos

    ingeridos e a cada 3 horas a dilatao cervical, mantendo

    viglia constante sobre a mulher

    Utilizao dos mtodos no invasivos para alvio da dor vide Quadro 12

    Evitar uso de prticas comprovadamente ineficazes e que promovem danos vide Quadro 13

    Utilizao das boas prticas no parto e nascimento - vide Apndice III

    Prescrio e conduta a cargo da avaliao da enfermeira obstetra

  • ASSISTNCIA DURANTE O PERODO DE

    DILATAO

  • 1.2.1 ASSISTNCIA DURANTE O PERODO DE DILATAO

    A cada contato dos profissionais com a parturiente, deve-se fornecer informaes acerca

    do seu desenvolvimento do trabalho de parto, oferecendo-lhe instrumentos no invasivos para

    alvio da dor e para a conduo do trabalho de parto e parto, utilizando uma ateno

    tranquilizadora. Incluir a participao do cnjuge ou outro membro do grupo familiar no parto

    facilita o processo de conduo e aprendizado sobre o evento. Uma vez iniciado este processo

    de informaes e dilogo deve-se incluir os seguintes contedos:

    Informao sobre o trabalho de parto;

    Recomendaes sobre a participao ativa da mulher e a do acompanhante;

    Importncia da posio vertical, da deambulao e exerccios para o perodo de

    dilatao e expulso;

    Importncia da hidratao oral e manuteno de dieta, de acordo com a aceitao da

    parturiente, durante o trabalho de parto, parto e nascimento;

    Importncia do aleitamento materno na primeira hora de vida, com o contato pele a pele.

    A informao que se d me deve ser verdica podendo assim, contribuir para que o

    trabalho de parto se desenvolva sem ansiedade. A linguagem utilizada deve ser apropriada ao

    seu nvel cultural, evitando lanar muitas informaes ao mesmo tempo, utilizando-se do

    intervalo entre as contraes, perodo ao qual a mulher consegue ter ateno no dilogo.

    Deve-se estar atento aos sinais vitais da parturiente e do seu feto, observado de forma

    sistemtica e programada a presso arterial sistmica, temperatura, frequncia cardaca

    materna, a frequncia cardaca fetal, movimentos fetais, dinmica uterina, perda de lquidos e

    secrees vaginais, avaliando aspectos caractersticos dos mesmos (cor, cheiro, textura e

    viscosidade) entre outros sinais que considerar necessrios e em caso de alteraes dos mesmos,

    que possa ocasionar riscos maternos e fetais, o mdico plantonista ou obstetra plantonista

    dever ser comunicado.

  • Quadro 11: Avaliao dos sinais vitais

    Cuidado O que observar Intervalo Observao

    Sinais

    vitais

    maternos

    Frequncia cardaca

    materna

    Frequncia respiratria

    Presso arterial

    Temperatura

    A cada 4

    horas

    Repetir se aparecerem sintomas de sua

    provvel alterao, por exemplo: dispnia,

    lipotmias, cefalias, escotomas visuais,

    zumbidos, calafrios, sudorese.

    Se constatar a existncia de alteraes acima referidas, dever ser utilizada a clnica

    para diagnsticos diferenciais, solicitar avaliao mdica para controle de emergncias

    e distcias.

    Na ausncia de alteraes:

    Vigiar estritamente o BCF de 1h/1h, se bolsa ntegra, bolsa rota de 30/30min e

    registrar no partograma e pronturio;

    Realizar dinmica uterina de 1h/1h e registrar no partograma e pronturio;

    Avaliar o progresso do trabalho de parto para decidir o tipo de assistncia

    adequada.

    Durante o trabalho de parto ativo se faz necessria a ateno para algumas prticas e

    tcnicas que busquem o bem estar materno e fetal, utilizando-os de forma planejada e

    individualizada. Devemos evitar o jejum prolongado da parturiente, oferecendo lquidos tais

    como gua, chs, sucos, bebidas aucaradas, melaos entre outros (GRAU DE

    RECOMENDAO A). A hidratao venosa desaconselhada como rotina (GRAU DE

    RECOMENDAO A).

    Deve-se estimular a parturiente uma atitude ativa com movimentao e exerccios livres

    durante o trabalho de parto, parto e nascimento, favorecendo as posies verticais e uso de

    mtodos no invasivos para alvio da dor conforme o Quadro 12, Apndice III e Anexo. Deve-

    se estar atento s prticas consideradas prejudiciais e que devem ser eliminadas, conforme o

    Quadro 13.

  • Quadro 12: Mtodos no invasivos para alvio da dor

    Protocolo assistencial utilizando os recursos no invasivos na fase ativa do trabalho de parto*

    Dilatao Recurso teraputico Tempo Tcnica

    3-5 cm

    Chuveiro Mnimo 20

    minutos

    Jato de gua morna na regio

    lombossacral e/ou baixo ventre

    **Mudanas de posturas 15 minutos (cada) Decbito lateral esquerdo, quatro

    apoios, sentada, posio ortosttica

    Deambulao Livre mnimo de

    30 minutos Deambulao

    Massagem Mnimo 10

    minutos

    Deslizamento, amassamento e

    presso entre T10-L1 e S2-S4.

    6-7 cm

    Chuveiro Mnimo 20

    minutos Idem anterior

    Banho de imerso Livre

    Massagem Durante as

    contraes Idem anterior

    **Mudana de posturas 15 minutos (cada) Idem anterior

    Tcnica respiratria

    Durante e entre as

    contraes

    Respirao lenta e profunda,

    inspirando pela nariz e expirando

    pela boca

    Deambulao Livre mnimo de

    30 minutos Deambulao

    Relaxamento Intervalo entre as

    contraes Relaxamento muscular progressivo

    Associao de recursos

    8-10 cm

    Banho de imerso Livre

    Idem anterior

    **Mudana de posturas 15 minutos (cada)

    Tcnica respiratria

    Durante e entre as

    contraes

    Relaxamento Intervalo entre as

    contraes Associao de recursos

    * GALLO et al 2011, adaptado

    **Estimular posturas verticais livres, podendo utilizar bola, cavalinho e banquetas.

  • Quadro 13: Prticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas

    PRTICAS CLARAMENTE PREJUDICIAIS OU INEFICAZES E QUE DEVEM SER

    ELIMINADAS*

    Uso rotineiro de enema

    Uso rotineiro de tricotomia

    Infuso intravenosa de rotina no trabalho de parto (Soluo glicosada)

    Acesso venoso de rotina

    Uso rotineiro de posio supina (decbito dorsal) durante o trabalho de parto e parto

    Exame retal

    Administrao de ocitcitos em qualquer momento antes do parto de um modo que no

    permita controlar seus efeitos

    Uso de rotina da posio de litotomia, com ou sem estribos durante o trabalho de parto

    Esforo de puxo prolongado e dirigido (manobra de Valsalva) durante o segundo estgio do

    trabalho de parto

    Massagem e distenso do perneo durante o segundo estgio do trabalho de parto

    Uso de comprimidos orais de ergometrina no terceiro estgio do trabalho de parto, com o

    objetivo de evitar ou controlar hemorragias

    Uso rotineiro de ergometrina parenteral no terceiro estgio do trabalho de parto

    Lavagem uterina rotineira aps o parto

    Reviso uterina (explorao manual) rotineira aps o parto

    Clampeamento precoce do cordo umbilical

    Estimulao do mamilo para estimular a contratilidade uterina durante o terceiro estgio do

    trabalho de parto

    Uso liberal e rotineiro de episiotomia

    Transferncia rotineira da parturiente para outra sala no incio do segundo estgio do

    trabalho de parto

    Sondagem vesical de rotina

    *OMS, 1996, adaptado

    Instrumentos para acompanhamento do trabalho de parto

    Amniotomia

    A amniotomia encurta a durao do trabalho de parto, porm se associa a uma srie de

    riscos possveis para a me e seu filho. Conservando a posio vertical sem outras manobras,

  • pode evitar-se o prolongamento do trabalho de parto. A amniotomia no tem indicao como

    manobra rotineira no trabalho de parto normal.

    A amniotomia deve ser postergada at 7-8 cm de dilatao e quando o polo ceflico j

    tenha ultrapassado o plano zero De Lee, a no ser nos casos em que h alteraes dos BCF e

    torna-se necessrio a verificao da presena ou no de mecnio no lquido amnitico. A

    amniotomia s deve ser realizada ante a apario de complicaes em casos de:

    Trabalho de parto prolongado (descartada desproporo feto-plvica e hipodinamia);

    Necessidade de encurtar o trabalho de parto por patologia materno-fetal;

    Polihidrmnios;

    Hemorragia por placenta prvia marginal;

    Descolamento prematuro da placenta;

    Feto morto ou malformao fetal.

    Se as membranas se rompem espontaneamente ou a amniotomia efetuada artificialmente,

    deve-se assinalar o aspecto do lquido amnitico na histria e no partograma. A presena de

    mecnio no sinal de sofrimento fetal, porm se associa a maior risco de morbimortalidade

    neonatal.

    Tcnica: Deve ser realizada por enfermeiro obstetra ou mdico obstetra. Pode-se lanar

    mo da amniotomia, ruptura da bolsa amnitica realizada propositalmente, com uso de luva

    estril e amnitomo, durante a contrao uterina, atravs do toque bidigital, as membranas

    devem ser rompidas. Deve ser registrado o momento em que foi realizado o procedimento, bem

    como cor e aspecto do liquido encontrado.

    Devem-se avaliar os riscos e benefcios. Evitar o uso rotineiro no primeiro perodo do

    parto. Reserva-se seu uso em condies onde sua prtica seja claramente benfica (D). Ao

    realiz-la, deve-se manter a mo bidigitalmente dentro da crvice, at o esvaziamento do

    liquido amnitico com perfeito encaixe do polo fetal no colo uterino; evitando-se, assim, o

    prolapso de cordo umbilical. Tal procedimento desaconselhvel em casos de polidramnia,

    pelo risco de descolamento prematuro de placenta e/ou prolapso de cordo.

    Partograma

    No sentido de se avaliar o progresso do trabalho de parto de forma mais objetiva, bem

    como de se adotar condutas mais uniformes nos desvios da normalidade do mesmo, vrios

  • autores, incluindo a OMS (Organizao Mundial de Sade), desenvolveram grficos nos quais

    se registram os dados referentes evoluo do trabalho de parto, principalmente a dilatao,

    comparando-se estes dados com curvas de evoluo normal, chamadas curvas de alerta, j

    constantes dos mesmos. Estes grficos servem de orientao ao profissional que assiste ao

    parto, informando-o do momento adequado para se adotar condutas, visando a correo dos

    desvios da normalidade.

    O modelo padro a ser seguido o mesmo adotado pelo Ministrio da Sade, ao qual

    deve-se inserir as LINHAS DE ALERTA E LINHA DE AO, com intervalo de 4 horas entre

    elas, bem como todos os parmetros essenciais de avaliao do trabalho de parto, em seu

    processo dinmico, tais como: dilatao cervical, variedade de posio, altura da apresentao,

    batimentos cardacos fetais, contraes uterinas, bolsa amnitica, aspecto do lquido amnitico,

    medida da tenso arterial da gestante, intercorrncias clinicas.

    A no utilizao do partograma no processo de acompanhamento do trabalho de parto

    ativo, consistem em negligncia e imprudncia do profissional de sade, passvel de

    processo tico, civil e criminal.

    Na forma mais comum de montagem do partograma, utiliza-se de papel quadriculado,

    colocando na abscissa (eixo X) o tempo em horas e, nas ordenadas (eixo Y), em centmetros, a

    dilatao cervical esquerda e a descida da apresentao direita. Para a descida da

    apresentao, considera-se o plano zero de De Lee ou o correspondente plano III de Hodge

    espinhas citicas no estreito mdio da bacia acima deste ponto esto os valores negativos e

    abaixo os positivos de De Lee ou, respectivamente, os planos I, II, e IV de Hodge.

    A linha de alerta implica simplesmente a necessidade de uma melhor observao

    clnica. Somente quando a curva de dilatao cervical atinge a linha de ao que a interveno

    mdica torna-se necessria, na tentativa de melhorar a evoluo do trabalho de parto e corrigir

    possveis distcias que possam estar se iniciando. Isto no significa necessariamente conduta

    cirrgica.

    Para a construo do partograma, algumas observaes so necessrias:

    No partograma, cada divisria corresponde a uma hora na abscissa (eixo X) e a um

    centmetro de dilatao cervical e de descida da apresentao na ordenada (eixo Y);

  • Inicia-se o registro grfico quando a parturiente estiver na fase ativa do trabalho de parto

    (vide Quadro 10). Em caso de dvida, aguardar 1 hora e realizar novo toque: velocidade

    de dilatao de 1 cm/hora, verificada em dois toques sucessivos, confirma o diagnstico

    de fase ativa do trabalho de parto;

    Realizam-se toques vaginais subsequentes, a cada 3 horas, respeitando em cada

    anotao o tempo expresso no grfico. Em cada toque deve-se avaliar a dilatao

    cervical, a altura da apresentao, a variedade de posio e as condies da bolsa das

    guas e do lquido amnitico (quando a bolsa estiver rota) por conveno, registra-se

    a dilatao cervical comum tringulo e a apresentao e a respectiva variedade de

    posio so representadas por uma circunferncia;

    O padro das contraes uterinas e dos batimentos cardacos fetais, a infuso de lquidos

    e drogas e o uso de analgesia devem ser devidamente registrados;

    A dilatao cervical inicial marcada no ponto correspondente do grfico, traando-se

    na hora imediatamente seguinte a linha de alerta e em paralelo, quatro horas aps,

    assinala-se a linha de ao, desde que a parturiente esteja na fase ativa do trabalho de

    parto.

  • Quadro 14: Conduta no perodo de dilatao

    Condio Conduta

    Evoluo normal Observao conservadora sem manobras

    nem medicao.

    Hiperdinamia

    Inibio uterina e assistncia segundo

    normas de alto risco, com comunicao

    imediata ao mdico obstetra responsvel

    que assumir a conduo do caso.

    Hipodinamia Estimulao Ocitcica Apndice II

    Taquicardia fetal Decbito Lateral Esquerdo com

    superviso dos BCF.

    Bradicardia leve

    Desaceleraes variveis

    Desaceleraes precoces

    Controlar BCF com mais frequncia;

    Realizar Cardiotocografia, se disponvel;

    Comunicar ao mdico obstetra

    responsvel.

    Bradicardia persistente

    Desaceleraes tardias

    Tratamento de sofrimento fetal agudo in

    tero. Assistncia segundo normas de

    alto risco. Comunicao imediata ao

    mdico obstetra responsvel que dever

    assumir a conduo do caso.

    Parto prolongado segundo partograma

    Reavaliar antecedentes de patologia

    cervical, proporo feto-plvica e

    contratilidade;

    Corrigir hipodinamia, podendo utilizar a

    ocitocina para conduo vide Apndice

    II controle em duas horas;

    Se no houver progresso, amniotomia

    controle em duas horas;

    Se no evolui, conduzir segundo normas

    de alto risco, comunicando o mdico

    obstetra responsvel que dever assumir o

    caso ou realizar transferncia.

    Hemorragia genital

    Observar intensidade, aspecto, realizar

    condutas no manejo das hemorragias e

    solicitar avaliao mdica se necessrio

    Lquido amnitico meconial

    Controle mais frequente de BCF (de 15/15

    minutos), com registro e comunicao a

    equipe. Avaliar a necessidade de aspirao

    do RN ao nascimento.

    No existindo mdico obstetra no planto, avaliar a transferncia e regulao utilizando o Score

    de Malvinas Apndice V

  • AVANO DA APRESENTAO E DESPRENDIMENTO

    O parto ocorre segundo a teoria da menor resistncia, a apresentao fetal tem que se

    adaptar aos menores dimetros possveis a fim de transpor as dimenses e os contornos mais

    favorveis que so alcanados durante o trajeto do parto. So fatores maternos e fetais para um

    bom curso dos mecanismos do parto: dimenses e configuraes da pelve materna; resistncia

    do colo uterino e partes moles; efetividade das contraes uterina.

    Mecanismos do parto:

    Encaixamento

    Passagem do maior dimetro transverso da cabea fetal, atravs do estreito superior da

    pelve materna. Nas nulparas, esta fase ocorre, geralmente, nas ultimas duas semanas de

    gravidez, nas multparas acontece comumente no incio da fase ativa do trabalho de parto.

    Flexo

    Movimento da cabea fetal em direo ao seu trax, permitindo que o menor dimetro

    da cabea fetal se apresente primeiro em relao pelve materna. Geralmente, a flexo

    essencial tanto para o encaixamento como para a descida.

    Descida

    Representa percurso do feto por todo o canal do parto. Comea no inicio do trabalho

    de parto e s termina com expulso total do feto. A descida pode ser afetada pela disposio

    da pelve, resistncia do colo e das partes moles da pelve e as dimenses e posio da cabea

    fetal. Quanto maior a resistncia plvica, juntamente com um padro das contraes ineficaz,

    mais lenta a descida.

    Rotao interna

    Inicia com occipito em contato com assoalho plvico, onde a circunferncia mxima

    da cabea fetal se encontra no nvel das espinhas isquiticas. A partir da, a cabea vai sofrer

    movimento de rotao que levar a sutura sagital a se orientar no sentido anteroposterior da

    sada do canal.

    Deflexo

  • A cabea fetal encontra-se no nvel do perneo. Finalizada a rotao interna, a fontanela

    lambdoide encontra-se sob a snfise pbica, com a sutura sagital no sentido anteroposterior.

    Devido curvatura inferior do canal do parto, o desprendimento da cabea se processa por

    movimento de deflexo, neste momento se faz importante atentar para no momento do

    desprendimento, instruir a me para promover puxos suaves, atentar para segurar a

    apresentao para que no se desprenda bruscamente. Em seguida, instruir a me para no

    promover puxos, uma vez desprendida a cabea e rodada at sua posio primitiva, verificar a

    presena de circulares de cordo que devem ser gentilmente desfeitas. Seco de cordo dever

    ser feita em caso de circular apertada com sofrimento fetal.

    Rotao Externa

    Aps a sada da cabea fetal, que gira assumindo a posio em que estava no momento

    do encaixamento. Acontece simultaneamente a rotao interna das espaduas. Nesse momento,

    o dimetro biacromial assume o sentido anteroposterior da sada do canal.

    Desprendimento das Espduas

    Acontece, geralmente de forma espontnea, o que deve ser praticado pela enfermagem

    obsttrica uma vez que comprovadamente quanto menos interveno melhor e menos

    traumtico ser o processo de nascimento para o binmio me-beb, eventualmente pode ser

    realizada trao leve no sentido posterior para desprendimento do ombro anterior,

    ocasionalmente, o resto do corpo se desprender com facilidade, sempre contendo o feto para

    que no ocorra de forma brusca.

    Obs: Eventualmente, pode no ocorrer um desprendimento espontneo de espduas, manobras

    para desprendimento manual devem ser rapidamente colocadas em prtica.

  • ASSISTNCIA AO PERODO EXPULSIVO

  • 1.2.2 ASSISTNCIA AO PERODO EXPULSIVO

    O segundo estgio (perodo expulsivo) se inicia com a dilatao mxima e termina com

    a expulso do feto; nessa fase ocorrem os puxos maternos. De acordo com o American College

    of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) a durao normal seria de trs horas em primpara

    com analgesia, duas horas em primpara sem analgesia, duas horas em multpara com analgesia

    e uma hora em multpara sem analgesia.

    As seguintes definies tm sido sugeridas para o segundo perodo do trabalho de parto.

    Porm, sua acurcia ainda deve ser estabelecida em estudos prospectivos bem desenhados (D):

    Segundo perodo do trabalho de parto passivo o achado de dilatao cervical

    completa antes ou na ausncia de contraes expulsivas involuntrias.

    Incio do segundo perodo ativo do trabalho de parto o beb visvel, contraes

    expulsivas com o achado de dilatao cervical completa, esforos maternos ativos.

    Preparao

    Seguir estritamente as normas de anti sepsia

    Uso de roupa limpa

    Instrumental estril para assistncia ao parto

    Lavagem das mos

    Uso de luvas estreis

    Uso de equipamento de proteo individual (Avental de plstico, culos e mscara)

    Assepsia perineal com gua e sabo. Usar PVP-I tpico diante de realizao de

    episiotomia.

    Campos estreis.

    Posio da parturiente para o parto

    As mulheres devem ser encorajadas a parir na posio que lhes for mais confortvel,

    evitando-se a posio de litotomia e outras posies horizontais. As posturas verticais durante

    o parto apresentam vantagens, tanto do ponto de vista gravitacional como no aumento dos

    dimetros plvicos maternos. Promovem uma retificao do canal de parto e alinhamento do

    feto na bacia materna maximizando os puxos expulsivos maternos e facilitando o

  • desprendimento fetal, devendo, portanto ser adotadas preferencialmente na assistncia ao parto

    (GRAU DE RECOMENDAO A).

    Posies de preferncia:

    Posio sentada ou semi-sentada (45) em bancos ou cadeiras de parto;

    Posio indgena ou de ccoras;

    Posio inglesa, de quatro, de mos-joelho ou de Gaskin;

    Posio francesa ou lateral esquerda ou de Sims.

    Independentemente da posio escolhida pela mulher, importante a utilizao de campos

    estreis, a realizao da antissepsia da regio perineal e ter prximo instrumental estril para o

    pinamento e seco do cordo; no esquecer uma touca e campo (manta) para receber o recm-

    nato (RN);

    CONTROLES NO PERODO EXPULSIVO

    Puxos dirigidos ou manobra de Valsalva

    Os puxos precoces reduzem a durao do perodo expulsivo, porm aumentam os riscos

    de parto instrumental, podem acarretar leso do assoalho plvico, esgotamento materno e queda

    no BCF, portanto devem ser evitados. Recomenda-se o puxo espontneo.

    BCF

    O controle de BCF dever ser realizado de 5 em 5 min durante o perodo expulsivo. De

    acordo com vrias diretrizes, a ausculta cardaca fetal intermitente deve ser realizada durante e

    aps uma contrao, por pelo menos um minuto, a cada cinco minutos. O pulso materno deve

    ser palpado se houver suspeita de bradicardia fetal, ou qualquer outra anormalidade, para fazer

    o diagnstico diferencial das duas auscultas cardacas(D).

    H tambm outros mtodos propeduticos utilizados para a avaliao do bem-estar fetal

    no primeiro perodo do parto, como a cardiotocografia, porm sem evidncia cientfica de sua

    utilizao do perodo expulsivo (D).

  • Em parturientes de risco a frequncia da ausculta fetal deve ser aps cada contrao.

    Aceita-se quedas de BCF at 100-110 bat/min devido a compresso ceflica. Uma FCF < de

    100 bat/min, mantida entre os puxos, sugere sofrimento fetal, o que dever ser imediatamente

    comunicado ao mdico plantonista ou obstetra plantonista.

    Contratilidade

    Avaliar a dinmica uterina: frequncia e intensidade a cada 30 minutos

    Utilizar de amniotomia e/ou administrao de ocitocina quando necessrios na

    reverso de perodo expulsivo prolongado. Sempre com vistas avaliao da

    dinmica uterina.

    Consideraes da episiotomia

    A recomendao atual da Organizao Mundial de Sade (OMS) no de proibir a

    episiotomia, mas de restringir seu uso, porque, em alguns casos, pode ser necessria. Entretanto,

    a taxa de episiotomia no deve ultrapassar 10%, que foi a taxa encontrada em ensaio clnico

    randomizado ingls sem associao com riscos maternos ou neonatais.

    Deve-se ter a noo de que a realizao de episiotomia no reduz as taxas de

    incontinncia fecal e urinria, prejudica o relaxamento do assoalho plvico por 9 meses ps

    parto e que prejudica tambm a funo sexual dentro de 12 meses ps parto (HARTMANN,

    2005)

    Quando realizada, a episiotomia deve ser reparada com sutura contnua, por estar

    associada com menos dor no ps-parto imediato do que a sutura separada. Efeitos em longo

    prazo no so claros. O uso de material de sutura absorvvel (cido poliglicoico e poliglactina)

    prefervel por provocar menos dor. Essas mesmas tcnicas so recomendadas para o reparo

    de laceraes espontneas, quando necessrio (GRAU DE RECOMENDAO A).

    Assistncia ao recm nascido no parto e nascimento

    Durante o processo de parto e nascimento so necessrias algumas aes diferenciadas

    e mudanas de comportamento profissional. Neste momento recomenda-se diminuir a

    intensidade de luz na sala de parto (penumbra), evitando luz forte sobre a vulva da mulher, ou

  • sobre a face do recm-nascido. Evitar conversas em tom de voz muito alto devendo-se permitir

    que a me veja o nascimento do filho e que a sua voz se sobreponha s demais.

    Imediatamente aps o nascimento, o beb deve ser seco com compressas ou toalhas quentes,

    enquanto colocado sobre o abdmen ou nos braos da me. Ao mesmo tempo, avalia-se o

    estado do beb, observando se h tnus muscular, se est respirando ou chorando. importante

    manter a temperatura corporal do beb; recm-nascidos expostos a salas de parto frias podem

    sofrer quedas acentuadas de temperatura, com os problemas metablicos decorrentes. O contato

    pele-a-pele entre a me e o beb pode fazer com que a queda da temperatura do beb no seja

    to intensa e dever durar pelo menos meia hora.

    Se, ao nascimento, verifica-se que o RN a termo, est respirando ou chorando e com tnus

    muscular em flexo, a criana apresenta boa vitalidade e no necessita de qualquer manobra de

    reanimao

    A conduta frente presena de lquido tinto de mecnio depende da vitalidade ao nascer.

    Caso o neonato no apresente, logo aps o nascimento, movimentos respiratrios rtmicos e

    regulares, tnus muscular adequado e FC < 100 bpm, levar o paciente mesa de reanimao,

    colocar sob fonte de calor radiante, posicionar sua cabea com uma leve extenso do pescoo,

    aspirar o excesso de secrees da boca e do nariz com sonda de aspirao traqueal no 10 e, a

    seguir, secar e desprezar os campos midos, verificando novamente a posio da cabea e,

    ento, avaliar a respirao e a FC. Se a avaliao resultar normal, o RN retornar ao contato

    materno.

    Proceder ligadura do cordo umbilical at a cessao dos batimentos do funculo, cerca

    de 2 a 3 minutos aps o nascimento, exceto nos casos de me Rh negativo, quando deve ser

    feito de imediato.

    Aps o clampeamento do cordo, o RN poder ser mantido sobre o abdome e/ou trax

    materno, usando o corpo da me como fonte de calor, garantindo-se que o posicionamento da

    criana permita movimentos respiratrios efetivos. O contato pele a pele imediatamente aps o

    nascimento, em temperatura ambiente de 26 graus, reduz o risco de hipotermia em RNs a termo

    que nascem com respirao espontnea e que no necessitam de ventilao, desde que cobertos

    com campos preaquecidos. Nesse momento, pode-se iniciar a amamentao.

  • A Organizao Mundial da Sade recomenda que o aleitamento materno seja iniciado na

    primeira hora de vida, pois est associado menor mortalidade neonatal, ao maior perodo de

    amamentao, melhor interao me-beb e ao menor risco de hemorragia materna.

    Identificar o recm-nascido com pulseira e/ou tornozeleira, constando nome da me, data,

    hora do nascimento e sexo, caso no sejam diferenciadas por cor (rosa para as meninas e azul

    para os meninos).

    Os procedimentos de rotina, tais como exame fsico geral do recm-nascido, aplicao de

    vitamina K, Cred devem ser adiados por no mnimo 1 hora e banho por no mnimo 6 horas

    buscando um momento oportuno que no interfira na relao me-filho.

    Estudos com nascidos a termo, concluram que o clampeamento tardio do cordo umbilical

    benfico com relao aos ndices hematolgicos na idade de 3-6 meses, embora possa elevar

    a necessidade de fototerapia por hiperbilirrubinemia indireta na primeira semana de vida. Com

    base nesses estudos, recomenda-se que o RN a termo, saudvel e com boa vitalidade ao nascer

    seja posicionado sobre o abdome da me por um a trs minutos, antes de clampear o cordo

    umbilical.

    Aps o parto, descrever em impresso todo o procedimento, identificando-se com nome

    legvel, assinatura e carimbo; orientar a purpera para o autocuidado e aleitamento; o cuidado

    deve ser contnuo e integrado, portanto evitar um grande nmero de informaes que ainda

    esto sendo processualmente absorvidas.

    Durante o trabalho de parto e parto, o profissional de nvel tcnico de enfermagem tem uma

    importante participao, descritos no Apndice IV.

    Anormalidades no Perodo Expulsivo

    1. Perodo expulsivo prolongado

    Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists o perodo expulsivo

    prolongado definido como 3 horas com e 2 horas sem anestesia regional, em nulparas. Para

    as multparas definido como 2 horas com e 1 hora sem anestesia regional.

    As causas de prolongamento do perodo expulsivo so:

  • Hipodinamia

    Puxo materno ineficaz

    Defeitos de rotao ceflica

    Desproporo cfalo-plvica no diagnosticada

    Conduta: Estimulao ocitcica no caso de hipodinamia Vide apndice II; estimular o puxo

    materno espontneo assinalando o momento apropriado (junto com a contrao); estimular uma

    ventilao adequada entre as contraes para se evitar o esgotamento materno; nos casos de

    distcias de rotao e desproporo, o parto deve ser conduzido segundo normas de alto risco,

    com comunicao ao mdico obstetra responsvel.

    2. Traumatismo Obsttrico

    No perodo expulsivo podem surgir traumatismos tanto para a me como para o recm-nascido

    que podem ser evitados mediante a adoo de medidas preventivas corretas.

    Traumatismo materno: Laceraes do canal de parto (vagina, perneo e colo uterino);

    ruptura uterina.

    Traumatismo fetal: Desalinhamento sseo ceflico parieto-fronto-occipital

    cavalgamento sseo ceflico; bossa serosangunea exagerada; cfalohematoma; asfixia;

    fraturas sseas; hemorragias intracranianas; paralisias; leses tegumentares.

    A proteo adequada do perneo pode prevenir as laceraes do canal de parto. A ruptura

    uterina deve ser prevenida evitando-se hiperestimulao ocitcica e o diagnstico e correo

    oportuna de distcias de rotao e desproporo cfalo-plvica. Tais