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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PROGRAMADAS: APROXIMAÇÃO DO
ACADÊMICO DE PEDAGOGIA COM O PROFISSIONAL DO ENSINO
HOÇA, Liliamar – Universidade Positivo
MORASTONI, Josemary- Universidade Positivo
Eixo Temático: Práticas e Estágios nas licenciaturas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo Este trabalho apresenta o relato da organização curricular do curso de Pedagogia da
Universidade Positivo, retratando a experiência desenvolvida na disciplina Prática Pedagógica
Programada I, instituída no curso, a partir da elaboração do Projeto Pedagógico, o qual
buscou com a discussão entre coordenação, corpo docente e discente, a convergência entre
teoria-prática e o intercâmbio dos acadêmicos com profissionais atuantes nas instituições de
ensino de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. A proposta da disciplina
foi de apresentar as práticas metodológicas e as organizações didáticas de professores atuantes
em escolas públicas e privadas aos acadêmicos do segundo semestre de Pedagogia, em
encontros sequenciais, com registros realizados pelos alunos acompanhados da orientação do
professor da disciplina, que busca construir um referencial de planos de trabalho e estudos
referentes a formação do professor, por meio dos relatórios descritivos, das leituras solicitadas
e pesquisas de campo realizadas. A intencionalidade da disciplina de Prática Pedagógica
Programada I – o fazer do professor alfabetizador, visa efetivar a reflexão sobre a ação
docente, que não se constituí apenas na aplicação de conteúdos e atividades, mas que
relaciona questões como tempo/espaço, a aprendizagem e avaliação e como esses elementos
estão implícitos às experiências proporcionadas no ambiente escolar e aos processos
cognitivos dos sujeitos.A proposta esta articulada com o Projeto Institucional da Universidade
que visa preparar os jovens para intervir no mundo do trabalho com argumentos teóricos,
competência técnica e visão política e com as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de
Pedagogia que enfatizam o engajamento reflexivo para a melhoria da prática educacional. O
trabalho apresentado foi embasado em autores como Buarque, Lima, Santomé, Zabalza, além
dos documentos oficiais referentes ao curso de Pedagogia.
Palavras-chave: Prática Pedagógica, formação do pedagogo, ação educativa.
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Introdução
No cenário da educação superior brasileira, principalmente nas áreas de formação para
a docência na Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental, propostas voltadas
para articulação dos conteúdos considerados necessários para a base da concepção teórica e
interdisciplinar desse educador, na perspectiva de ação/reflexão e ação a cerca da realidade da
sala de aula e da profissão, estão sendo estruturadas e reestruturadas.
Como afirma Buarque (1994, p.10): “A universidade será a esquina dos saberes, o
instrumento de convergência do saber existente na sociedade. Ela receberá o saber criado em
todas as partes, por todas as pessoas, e servirá como elemento de intercâmbio”.
No enfoque da convergência entre teoria-prática e intercâmbio, os alunos dos cursos
superiores da Universidade Positivo, participam de uma proposta de formação que enfatiza a
autonomia, a responsabilidade social, as capacidades de planejar e antever as consequências
de suas ações e o agir de forma a contribuir na disseminação dos bens culturais e materiais.
Ao construir o Projeto Pedagógico Institucional fruto da consolidação de um coletivo
pedagógico, aberto ao diálogo, à negociação, as parcerias e comprometido com a
emancipação dos sujeitos, a Universidade Positivo busca preparar jovens para o mercado de
trabalho e para intervir no mundo com argumentos teóricos, competência técnica e visão
política.
Seguindo esses princípios do Projeto Institucional, o corpo docente e discente do curso
de Pedagogia da Universidade Positivo, discutem um conjunto de ações formativas, que
visam saber efetivar planejamentos com os docentes, que não se resumam a conteúdos e
atividades, mas que relacionem questões como tempo/espaço, a aprendizagem e avaliação e
como esses elementos estão implícitos às experiências proporcionadas no ambiente escolar e
aos processos cognitivos dos sujeitos.
Lima (1997, p. 8) sustenta essa questão fazendo a seguinte observação:
[...] não basta somente planejar situações de aprendizagem para uma aula, mas de
que este planejamento deve incluir também a projeção temporal. O planejamento do
tempo deve incluir não somente a realização da ação, mas também a reflexão sobre
ela [...]. Uma ação é composta de uma série de atos encadeados [...] alocar tempo
para “pensar” [...] seria tão importante como definir o conteúdo e o método.
Este trabalho vem apresentar a experiência de articulação de um espaço de
aprendizagem interdisciplinar, constituído pelas disciplinas de Práticas Pedagógicas
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Programas, que visam a articulação entre estudos teóricos e experiências profissionais
vivenciadas nas escolas de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.
O planejamento e desenvolvimento da disciplina de Práticas Pedagógicas Programadas
Nos últimos anos o Ministério da Educação vem investindo nas discussões e ações em
nível de formação inicial e continuada dos professores, principalmente do Ensino
Fundamental, para garantir o direito subjetivo dos alunos a Educação, com qualidade.
Mas uma educação de qualidade perpassa pelo saber fazer docente, discutido,
vivenciado, refletido, durante o curso de formação inicial.
No curso de Pedagogia da Universidade Positivo, essa construção curricular iniciou-
se em 2010, com a reflexão da coordenação e do corpo docente, em relação aos resultados do
último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), realizado em 2008, que
revelaram a baixa qualidade dos cursos de Pedagogia em todo o país, o qual apontou que
30,1% dos 172 cursos avaliados obtiveram conceitos 1 e 2, considerados “insatisfatórios” pelo
Ministério da Educação (Inep/2008) e o desafio de adequar o Curso de Pedagogia à formação
de professores, enfrentar a situação da qualidade educativa do professor e reformular a prática
organizada no cotidiano do curso.
Neste cenário os professores do curso de Pedagogia da Universidade Positivo
discutem a reestruturação do curso, prevendo a renovação do repertório de conhecimentos
sobre os ambientes escolares e não escolares, a sala de aula, as metodologias e as práticas de
avaliação nos contextos em que se encontram as políticas públicas em geral e as políticas
educacionais em particular, as condições de vida das populações, o grau de autonomia das
instituições de ensino e, fundamentalmente, na atuação cotidiana dos profissionais
posicionados nestes cenários.
Este grupo de profissionais considerou que o desafio maior consistia no
redimensionamento da concepção de aprendizagem prática dos docentes. Concepção que
pressupõe, para o curso de Pedagogia, o desenvolvimento de atividades inerentes aos
processos de ensino e aprendizagem em duplo sentido: como quem ensina e quem aprende,
como agente de (re)educação das relações sociais em funções pedagógicas e de gestão da
escola.
Tomando como referência Santomé (1998, p. 56), o qual pressupôs que a construção
do conhecimento é resultado de ações coletivas, teórico e práticas, intencionais que, no
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decorrer da história, torna-se complexa pela articulação de novas experiências, linguagens e
saberes, surgiu a ideia de uma disciplina que apresentasse ao acadêmico a ponte entre a base
teórica trabalhada nas disciplinas do curso e o efetivo trabalho realizado pelos professores
atuantes na Educação Infantil e Ensino Fundamental.
Práticas Pedagógicas Programas são disciplinas constituintes do atual currículo do
curso de Pedagogia da Universidade Positivo, subdivididas em três anos e meio de curso, o
que equivale uma disciplina por semestre, a partir do segundo período do curso.
São sete disciplinas divididas em: Prática Pedagógica Programada I – o fazer do
professor alfabetizador; Prática Pedagógica Programada II – a articulação da teoria e prática
em Língua Portuguesa; Prática Pedagógica Programada III – as práticas em Matemática na
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental; Prática Pedagógica Programada IV-
Educação Infantil – o cuidar e o educar; Prática Pedagógica Programada V – Educação
Especial e Inclusiva – realidade presente; Prática Pedagógica Programada VI – a História e a
Geografia no contexto escolar; Prática Pedagógica Programada VII – fazendo Ciências e
Artes na escola.
Cada uma apresenta uma carga horária de 60 horas, enfocando a cada semestre uma
área do conhecimento e modalidade de ensino, apresentando dois blocos que se interligam:
um bloco há a participação de professores convidados com experiência na Educação Infantil e
anos Iniciais do Ensino Fundamental, que estão em atuação nas turmas, sendo um de escola
privada e outro de escola pública, que apresentam todos os procedimentos metodológicos
utilizados em sua prática cotidiana.
O outro bloco é de responsabilidade do professor do curso de Pedagogia da
Universidade, que acompanha os relatos dos alunos sobre as práticas vivenciadas com os
professores convidados, orienta a pesquisa de conteúdos e sequência didática apresentadas e
os registros, em forma de relatórios, para construir um referencial de planos de trabalho e
estudos teóricos sobre a formação do professor.
Não se trata de isolar os acadêmicos em sala de aula e conceber um simples
laboratório de ensino, o sentido é de aproximação deles com as metodologias empregadas
pelos professores, recursos, intervenções que utilizam com as crianças, podendo o acadêmico
realizar perguntas, esclarecer dúvidas, as quais muitas vezes, se exime de realizá-las quando
já está em contato direto com os alunos e professores no campo de estágio, vivenciando a
partir da experiência da professora todo o processo metodológico.
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Prática Pedagógica Programada I – o fazer do professor alfabetizador
A primeira disciplina de PPP está direcionada ao fazer do professor alfabetizador da
escola pública e da escola particular.
Para esta disciplina foram organizados no primeiro bloco quatorze encontros com
professoras convidadas da rede particular e pública de ensino da cidade de Curitiba, as quais
receberam a orientação de apresentar à turma de segundo período do curso de Pedagogia, a
prática que realizam com as crianças em processo de alfabetização, comentando com os
acadêmicos as orientações que seguem em seus planejamentos, as adequações necessárias
tendo em vista o processo singular de aprendizagem das crianças, as observações que são
pertinentes em uma sala de aula para que estas compreendam o sentido das atividades
realizadas e o registro que utilizam para acompanhar o desenvolvimento das crianças.
Considerou-se importante que nestes encontros a professora, destaca-se em sala de
aula, a revisão atenta das atividades planejadas e direcionadas aos alunos, principalmente para
que estes possam buscar esquemas de significados que os auxiliem não apenas na execução da
tarefa, mas nas articulações entre os conhecimentos disciplinares obtidos durante o curso.
O segundo bloco que ocorre simultaneamente, é organizado pelo professor titular da
disciplina, que orienta os registros, promove a leitura de textos que visam a ampliação do
conhecimento sobre a formação do alfabetizador, articula palestras referentes a capacitação
continuada do alfabetizador, e pesquisas de campo sobre o fazer desse professor em seu lócus
de trabalho, investigando questões relacionadas a prática reflexiva desse profissional, a
formação continuada, desafios e necessidades que estes revelam diante de sua experiência.
Conforme Altet (2001, p. 33), “a análise das práticas é um procedimento de formação
centrado na análise e na reflexão das práticas vivenciadas, o qual produz saberes sobre a ação
e formaliza os saberes de ação.”
Busca-se constituir com as narrativas dos professores o que originalmente Zabalza
(2004) utiliza como Diários de Aula, que como autor citado afirma: “(...) os diários podem ser
empregados tanto com uma finalidade mais estritamente investigadora (...) como com a
finalidade mais orientada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores”
(ZABALZA, 2004, p.16).
O fato de um número considerável de alunos estarem inseridos nos diversos níveis de
ensino e com diferentes classes sociais, facilita a ampliação e difusão dos conhecimentos
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apreendidos e reconstruídos no curso, não de forma espontânea e superficial, mas de maneira
orgânica, que rompe o limite da memorização de conteúdos para chegar a uma compreensão
contextualizada da realidade.
Considerações finais
A proposta da disciplina Prática Pedagógica Programada I converge no sentido de
enfatizar a necessidade de uma “nova pedagogia” que convoque os professores do curso e os
futuros pedagogos a integrarem o conteúdo escolar às atividades da vida diária, concebendo a
excelência em educação como “crescimento em compreensão, capacidade, autodescoberta,
controle de acontecimentos e habilidade para definir o mundo” (PERRONE, 2007, p. 23).
A pedagogia da compreensão abandona a reprodução automatizada de informações e
se traduz como ação que favorece a aprendizagem processual por meio do engajamento
reflexivo e desafiador, voltado para o estabelecimento de conexões claras e informativas sobre
si próprio e sobre os outros e de como é possível melhorar a prática educacional.
Desse modo, aprender um conjunto de conhecimentos e habilidades com vistas à
compreensão implica partir de compreensões anteriores e novas informações proporcionadas
pelo cenário educacional; conflitar com repertórios mais antigos de compreensão; e construir
novas compreensões, tendo como ponto central a descoberta para se chegar a uma relevante
representação mental.
Tendo por base este princípio norteador, torna-se preponderante destacar que a
docência é entendida aqui, e em concomitância com o parágrafo primeiro do Art 2º. da
Resolução no. 1/06 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso, como ação
educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído nas relações sociais,
étnico-raciais e produtivas, desenvolvida na articulação entre conhecimentos científicos e
culturais, valores éticos e estéticos, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução no. 1: Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em
Pedagogia, licenciatura. Diário Oficial da União, n. 92, 16.maio.2006.
UNIVERSIDADE POSITIVO, Projeto Pedagógico Institucional, 2009.
ALTET, Margarite. As competências do professor profissional: entre conhecimentos,
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esquemas de ação e adaptação, saber analisar. In: PAQUAY, L.;ALTET, M.;CHARLIER, E.;
PERRENOUD, P. (Orgs.). Formando Professores profissionais: Quais estratégias?Quais
competências? 2.ed. rev. Porto Alegre: Artmed. 2001.
GARDNER, Howard; PERKINS, David; PERRONE, Vito. Ensino para a Compreensão: a
pesquisa na prática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
BUARQUE, C. A aventura da universidade. São Paulo: UNESP, 1994.
SANTOME, J. T. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1998.
LIMA, Elvira Souza. Desenvolvimento e aprendizagem na escola: aspectos culturais,
neurológicos e psicológicos. São Paulo: Sobradinho, 1997. 32 p.