Upload
walter-ramos-franca
View
234
Download
6
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Psicologia - Trabalho obre defesas do ego.pdf
Citation preview
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS MDICAS: PSIQUIATRIA
DISSERTAO DE MESTRADO
A RELAO ENTRE OS MECANISMOS DE DEFESA E
A QUALIDADE DA ALIANA TERAPUTICA EM PSICOTERAPIA
DE ORIENTAO ANALTICA DE ADULTOS: UM ESTUDO EXPLORATRIO
FERNANDO GRILO GOMES
PORTO ALEGRE, JULHO DE 2003
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS MDICAS: PSIQUIATRIA
A RELAO ENTRE OS MECANISMOS DE DEFESA E
A QUALIDADE DA ALIANA TERAPUTICA EM PSICOTERAPIA
DE ORIENTAO ANALTICA DE ADULTOS: UM ESTUDO EXPLORATRIO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Mdicas: Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Psiquiatria.
FERNANDO GRILO GOMES
ORIENTADORA:
PROF. DRA. LCIA HELENA CEITLIN
PORTO ALEGRE, JULHO DE 2003
3
AGRADECIMENTOS
Professora Doutora Lcia Helena Freitas Ceitlin, minha orientadora, colega do
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, FAMED, UFRGS, por sua capacidade e
incentivo, minha profunda gratido.
Ao Professor Doutor Cludio Laks Eizirik, amigo e colega do Departamento de
Psiquiatria e Medicina Legal, FAMED, UFRGS, por sua ajuda e colaborao com seus
comentrios valiosos.
Professora Doutora Psicloga Maria Lcia Tiellet Nunes, por sua orientao e
ajuda em sugestes e na traduo do instrumento de pesquisa HAqII.
Meu agradecimento ao Professor Doutor Lester Luborsky pela gentileza de
autorizar o uso do instrumento HAqII na realizao deste trabalho.
A todos os Residentes em Psiquiatria que participaram deste trabalho, desejando
que possa ser til como incentivo em suas vidas acadmicas, em especial ao Cristiano
Frank, Gabriela Favali, ao Roberto Pierobon e nossa colega e ex-monitora de nosso
Departamento Desir Bortolanza.
4
Aos colegas do Programa de Ps-Graduao em Psiquiatria, pelo companheirismo
no qual transformamos os momentos de aprendizado em um convvio agradvel e
inesquecvel.
Ao Centro de Estudos Lus Guedes na pessoa de sua bibliotecria Viviane
Castagno, por sua disponibilidade e parceria.
Aos colegas, alunos e funcionrios do Departamento de Psiquiatria e Medicina
Legal, Faculdade de Medicina, UFRGS, e Servio de Psiquiatria do Hospital de Clnicas
de Porto Alegre, pelo estmulo e tolerncia para que esta tarefa pudesse ser efetivada.
Aos meus filhos e netos, em especial minha esposa Solange, por sua
compreenso na troca de momentos de convvio e lazer pelo incentivo concluso desta
tarefa.
5
DIVULGAO PARCIAL DA INVESTIGAO
Primeiro Simpsio Gacho de Pesquisa em Psiquiatria: Semana Cientfica do
Hospital de Clnicas de Porto Alegre - setembro de 2002.
6
SUMRIO
1 INTRODUO ...................................................................................................... 9 2 OBJETIVOS ...........................................................................................................12
2.1 Objetivo Principal ..............................................................................................12 2.2 Objetivos Secundrios ........................................................................................12
3 LITERATURA .......................................................................................................13 3.1 O Conceito de Aliana Teraputica ....................................................................14 3.2 O Conceito de Mecanismos de Defesa ...............................................................20
4 SUJEITOS E MTODOS .......................................................................................26 4.1 Delineamento da Pesquisa ..................................................................................26 4.2 Seleo da Amostra ...........................................................................................26 4.3 Avaliao dos Fatores em Estudo........................................................................27 4.4 Avaliao do Desfecho em Estudo: Aliana Teraputica ....................................31 4.5 Sistema de Escore ...............................................................................................32 4.6 Anlise Estatstica ..............................................................................................33
5 RESULTADOS ......................................................................................................34 5.1 Descrio da Amostra ........................................................................................34 5.2 Anlise da Aliana Teraputica ..........................................................................37 5.3 Anlise dos Escores Totais pelo Teste do Qui-quadrado: Efeito Nmero de
Sesses, Tempo de Terapia e Sexo ....................................................................39 5.3.1 Nmero de sesses ...................................................................................39 5.3.2 Tempo de terapia ......................................................................................40 5.3.3 Diferenas entre os sexos .........................................................................40
5.4 Anlise do Nvel dos Mecanismos de Defesa dos Pacientes em Relao Qualidade da Aliana Teraputica ..................................................................41 5.5 Anlise da Qualidade da Aliana Teraputica em Relao aos Sintomas Psiquitricos .....................................................................................................42 5.6 Anlise dos Sintomas Psiquitricos dos Pacientes em Relao ao Nvel de Defesas .............................................................................................................42 5.7 Anlise da Aliana Teraputica do Paciente em Relao Aliana Teraputica do Terapeuta .....................................................................................................43
6 DISCUSSO .........................................................................................................46 7 LIMITAES DO ESTUDO ................................................................................51
7
8 CONCLUSES ......................................................................................................53 9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .....................................................................55
ARTIGO - A RELAO ENTRE OS MECANISMOS DE DEFESA E A QUALIDADE DA ALIANA TERAPUTICA EM PSICOTERAPIA DE ORIENTAO ANALTICA .........................................................59
ANEXO 1 - FICHA DE IDENTIFICAO ..............................................................81 ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO (PACIENTE) ...........82 ANEXO 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO (TERAPEUTA) .......83 ANEXO 4 - HAq II (VERSO DO PACIENTE) .......................................................84 ANEXO 5 - HAq II (VERSO DO TERAPEUTA) ...................................................85 ANEXO 6 - MECANISMOS DE DEFESA - DSM IV / FORMULRIO
PARA REGISTRO - ESCALA DE FUNCIONAMENTO DEFENSIVO .......................................................................................86
ANEXO 7 - SCL 90 ...................................................................................................89
8
LISTA DE TABELAS E GRFICO
Tabela 1 - Diagnsticos em Eixo I ........................................................................... 35
Tabela 2 - Diagnsticos em Eixo II ................................................................................ 36
Tabela 3 - Freqncia mdia (X) da Qualidade da AT Considerada (HAqII) - Verso Paciente e Terapeuta .................................................................................... 38
Tabela 4 - Comparao entre as Questes cujas Mdias da AT Verso Paciente versus as Mdias da AT Verso Terapeuta ............................................................. 39
Grfico - Amostra dos pacientes por nvel dos mecanismos de defesa ............................ 41
Tabela 5 - Sintomas Psiquitricos mais Freqentes Encontrados nos Pacientes Utilizando o SCL 90 .................................................................................... 42
9
1 INTRODUO
Os resultados das psicoterapias de orientao analtica vivem um momento de
confrontao com a prtica; por um lado s pesquisas em psiquiatria se concentram em
instrumentos com caractersticas quantitativas que dificilmente nos levam ao
reconhecimento da relao humana existente entre paciente e terapeuta, ou seja, a
dificuldade de quantificar e qualificar a subjetividade das relaes humanas. Por outro, h
necessidade de testar e desenvolver instrumentos que avaliem estas condies e
demonstrem a real importncia desta relao paciente-terapeuta no resultado das
psicoterapias de orientao analtica.
Dentro das mais variadas vicissitudes desta relao, foi escolhido como objeto de
estudo, para esta investigao, a aliana teraputica (AT) conceito delineado por Freud1
(1912), como transferncia positiva e, posteriormente, complementado por Sterba2, j com
a denominao de aliana teraputica, em 1934. A opo deveu-se ao fato de ser um
fenmeno com existncia comprovada por diversos pesquisadores, como Bordin3 (1975),
Luborsky4,5 (1976, 1996), Piper6,7, (1991, 1993), entre outros, j existindo metodologia
cientfica validada internacionalmente e pelo fato de dispormos de material clnico de
pesquisa em nosso ambulatrio de psicoterapia da FAMED-HCPA.
Autores atuais seguem enfatizando o que props Freud, quando destacou que a AT,
que se estabelece durante o tratamento, influenciada "pelas imagens das pessoas por
quem foi acostumado a ser tratado com afeio", Freud1 (1912, apud). Horvath8 (1958), e
10
que comprovadamente repercute nos resultados de uma psicoterapia de orientao
analtica. Qualidades da AT, incluem as caractersticas do paciente, do terapeuta e de
como a interao entre ambos permite estabelecer a referida aliana, bem como o tempo
que despendido para que isto acontea; se precoce ou tardio. Desta forma, supe a
existncia de uma ligao entre a qualidade e a capacidade do paciente estabelecer uma
AT com o nvel de funcionamento dos mecanismos de defesa inconscientes utilizados pelo
paciente durante o tratamento, fatores influentes nos resultados de uma psicoterapia de
orientao analtica.
O presente estudo, teve como objetivo principal, investigar a existncia de uma
relao entre aspectos da personalidade prvia do paciente, traos ou transtornos, atravs
dos mecanismos de defesa utilizados predominantemente pelo mesmo, e a capacidade de
estabelecer uma AT durante o desenvolvimento de uma psicoterapia de orientao
analtica.
A hiptese de origem que pacientes que utilizam defesas menos regressivas,
seriam capazes de desenvolver uma melhor qualidade de aliana teraputica com seus
terapeutas e, conseqentemente, apresentariam melhores resultados em psicoterapia de
orientao analtica.
Como objetivo secundrio, foi tentar estabelecer uma relao entre os transtornos
em Eixo I e a sintomatologia que o paciente apresenta no incio do tratamento, com a
qualidade da AT.
Para avaliarmos estas hipteses, foram realizados os procedimentos abaixo listados:
- Reviso do conceito de AT e de mecanismos de defesa.
- Utilizao dos seguintes instrumentos para verificao das hipteses em estudo.
- Para a avaliao da AT, o Questionrio Revisado de Aliana Teraputica (The
Revised He1ping Alliance Questionnaire HAq-II34).
11
- Para avaliao do Eixo I e II, o diagnstico registrado no pronturio dos
pacientes do Ambulatrio de Psiquiatria do Hospital de Clnicas de Porto
Alegre.
- Para avaliao dos sintomas, o SCL 90 (Symptom Checklist-90 Revised).
- Para avaliao dos mecanismos de defesa foi realizada uma investigao clnica
pelos mdicos assistentes, com os critrios utilizados no DSM-IV-TR9
(Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders).
12
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Principal
Verificar a existncia de uma relao entre o nvel dos mecanismos de defesa
predominantes nos pacientes e a qualidade da aliana teraputica durante uma psicoterapia
de orientao analtica.
2.2 Objetivos Secundrios
Avaliar outros fatores, possveis interferentes, relacionando o diagnstico no Eixo I
e Eixo II, assim como a intensidade da sintomatologia, com os nveis dos mecanismos de
defesa e a qualidade da aliana teraputica.
13
3 LITERATURA
Inicialmente, antes de abordar a literatura psicanaltica, propriamente dita,
necessrio tecer algumas consideraes importantes quanto psicoterapia de orientao
analtica, um tipo de tratamento psicolgico, baseado na teoria e na tcnica da
psicanlise, porm, difere da psicanlise clssica. Ambas utilizam o conceito de
inconsciente postulado por Freud10, assim como a associao livre, a compreenso dos
sonhos, humor e atos falhos, para entender e dar um significado aos conflitos
inconscientes.
Porm, a psicanlise caracteriza-se no uso do div, maior freqncia de sesses e
na sistemtica da interpretao transferencial estimulando a neurose de transferncia. A
diferena que na psicoterapia de orientao analtica, embora a interpretao tambm
esteja baseada em uma compreenso transferencial ela expressa, a priori, extra-
transferencialmente, assim como habitual realizar-se um menor nmero de sesses
semanais e no usar o div.
Tambm existem diferenas quanto aos objetivos, entre estes, dois tratamentos e ao
processo teraputico que cada um desenvolve. Eizirik, Schestatsky e Aguiar37, referem-se
de forma didtica a certos aspectos diferenciais entre uma psicoterapia de orientao
analtica e a psicanlise clssica:
14
Ao contrrio da psicanlise a psicoterapia de orientao analtica no se prope a promover (ao invs, trata de evitar), no paciente o desenvolvimento de uma neurose transferencial regressiva plena, que ento procure resolver pelo trabalho interpretativo sistemtico que leve ao insight e elaborao dos conflitos; embora utilizando a tela transferencial [...] no se procura pelos desdobramentos genticos destes conflitos ou se tenta a recriao de seus prottipos primitivos [...]; a psicoterapia de orientao analtica estaria indicada naqueles pacientes com neuroses sintomticas, neuroses de carter ou transtornos fronteirios de personalidade [...] com o trabalho psicoterpico restrito ao nvel da capacidade do paciente [...]; na psicoterapia de orientao analtica os objetivos de mximo beneficio teraputico vm em primeiro lugar, acima da prioridade psicanaltica do mximo de conhecimento de si mesmo; pode-se discriminar nfases tcnicas diferentes entre estas duas formas de psicoterapia: enquanto na psicanlise a interpretao segue sendo o agente supremo na hierarquia dos princpios teraputicos[...], a psicoterapia de orientao analtica utiliza amplamente diversas combinaes de interpretaes transferenciais e extra-transferenciais, clarificaes, confrontaes, manipulaes e ab-reaes.
Em vista destes fatos importante esclarecer porque, ao ser abordada a Literatura
Psicanaltica, estaro sendo referidos tanto a Psicanlise em si, como a Psicoterapia de
Orientao Analtica.
3.1 O Conceito de Aliana Teraputica
A idia de aliana teraputica fcil de ser entendida intuitivamente, mas difcil de
ser colocada em conceitos. A aliana teraputica estabelecida com base em uma
experincia prvia na qual foi possvel interagir com outra pessoa, como o beb com a
me, para nos remetermos s suas origens. Etchegoyen11, no chama esse fenmeno de
transferncia, porque uma experincia do passado que serve para que o indivduo se situe
no presente e no em algo que se repete irracionalmente do passado em sua apresentao
do presente. Dessa forma, Greenson e Wexler12 e Etchegoyen11, separam a aliana
teraputica da transferncia; porm, esto totalmente de acordo com Melaine Klein13, para
a qual a aliana teraputica tem sua origem nas relaes precoces de objeto, na relao da
15
criana com o seio ao que Zetzel14 chega s mesmas concluses por seu prprio caminho.
J em 1893, Freud15 dizia que: [...] em anlise transformamos o paciente num
colaborador [...], afirmando, necessariamente ter como primeiro objetivo ligar o paciente
ao tratamento para que posteriormente, o possamos tratar analiticamente.
Desde que Freud1 discorreu sobre a transferncia positiva inobjetvel, para
diferenciar da transferncia excessivamente positiva ou ertica e da negativa, referindo-se
a uma parte consciente e racional do paciente que colabora com o analista para a
efetivao do processo teraputico, vrios autores tm tentado estabelecer um conceito
sobre o que acontece na relao entre analista e paciente. Relatava ento, a uma
transferncia diferente do conceito anterior da transferncia como resistncia que havia
descrito anteriormente.
Etchegoyen11 destaca que haveria uma dissociao teraputica do ego: o conceito
de que alm das resistncias o paciente colabora com o analista tipicamente freudiano e o
veremos atravessar toda sua obra. Em 1932, no Congresso de Wiesbaden em 1934, no
International Journal of Psichoanalysis The fate of ego in analytic therapy (O destino
do ego na terapia analtica), Sterba2 menciona concretamente a aliana teraputica e a
explica com base em uma dissociao teraputica do ego em que se destacam duas partes;
a que colabora com o analista e a que se ope a ele; aquela a que est voltada para a
realidade, esta compreende os impulsos do id, as defesas do ego e as ordens do superego.
A dissociao teraputica do ego se deve a uma identificao com o analista, cujo
prottipo o superego.
As coincidncias entre os ensaios de Sterba2 e de Strachey16, publicados no mesmo
nmero do International Journal de 1934 so dignas de nota. Enquanto para Sterba2, o
decisivo no processo analtico a dissociao teraputica do ego, para Strachey16 a chave
que o psicanalista assuma o papel de superego auxiliar. Os dois comeam a destacar a
16
importncia da interveno na (resistncia de) transferncia. De acordo com o modelo
freudiano de 1912, do qual parte Sterba, a transferncia se estabelece como resistncia ao
trabalho de investigao da anlise, j que o paciente atua para no lembrar as fantasias e
experincias infantis, o que promove uma defesa do ego frente ao analista, transformando-
o em representante das mesmas tendncias aos quais o ego do analisado tem que se opor.
O analista coloca-se em uma difcil situao, porque se transforma no destinatrio da
repetio emocional que se opera no paciente para obstruir justamente as lembranas que
ele, o analista, procura.
Zetzel14, no 19 Congresso Internacional de Genebra, onde ocorreu uma discusso
sobre problemas de transferncia, refere que a transferncia entendida como a unio da
neurose de transferncia com a aliana teraputica. Segundo Sterba2 e Bibring17 o ego
sofre um splitting, o que leva Zetzel a distinguir teoricamente a transferncia, ainda que
ela dependa da existncia de um ego suficientemente maduro, o que no existiria nos
pacientes severamente perturbados e nas crianas pequenas. A exposio de Zetzel no
Congresso de Genebra o ponto de partida de uma investigao penetrante sobre o papel
que cumpre no processo psicanaltico a aliana teraputica.
A aliana teraputica continua a ser entendida como assentada nas funes do ego
e, concretamente, na autonomia secundria, mas alm disto, remetida s primeiras
relaes de objeto da criana com os pais, em especial a me. Mantm-se ntegro o
conceito de que a aliana teraputica a base indispensvel do tratamento baseado na
teoria psicanaltica, e volta-se a defini-la como uma relao positiva e estvel entre
terapeuta e paciente, que permite levar a termo uma psicoterapia de orientao analtica.
consenso, na literatura atual, que aliana teraputica relaciona-se muitas vezes,
com a transferncia positiva e at negativa (quando fatores de rivalidade levam o paciente
a colaborar), apesar de ser legtima a tentativa de separar conceitualmente os dois
17
fenmenos. Para Greenson18 (1979) e Etchegoyen11 (1987), a aliana teraputica (ou de
trabalho) um aspecto da transferncia que no se separou claramente de outras formas de
relao transferencial; A aliana de trabalho um fenmeno de transferncia
relativamente racional, dessexualizado e desagressivado.
A aliana teraputica depende do paciente, do terapeuta e do enquadre. O paciente
colabora enquanto lhe possvel estabelecer um vnculo relativamente racional, a partir de
seus componentes instintivos neutralizados, vnculos do passado que agora surgem na
relao com o terapeuta. Este contribui por seu constante empenho em tentar entender e
superar a resistncia por sua empatia, sua atitude de aceitar o paciente sem julg-lo ou
domin-lo. Podemos deduzir ento, que a aliana teraputica contm sempre uma mescla
de elementos racionais e irracionais,
Greenson e Wexler no Congresso de Roma de 1976 (apud Etchegoyen11, 1987),
apresentaram suas idias de que a relao analtica dividida em transferencial e no-
transferencial. A aliana teraputica fica definida como uma interao real (s vezes, entre
aspas e outras, sem elas para mostrar a vacilao dos autores), que pode requerer por parte
do terapeuta intervenes diferentes da interpretao. Seria a relao racional, no
neurtica com o analista.
Meltzer19, afirma que sempre existe em cada enfermo, ainda que no seja acessvel,
um nvel mais maduro da mente que deriva da identificao introjetiva com objetos
internos adultos e pode ser chamado com razo parte adulta. Com essa parte se
constituiria a aliana teraputica, embora este autor no utilize tal conceito.
Heimann21, no mesmo Congresso de Roma de 1976, preferiu chamar de aliana
bsica o que Greenson e Wexler (1976), chamaram de aliana de trabalho. Heimann
reconheceu que a transferncia positiva sublimada um fator indispensvel ao tratamento;
aspecto que se liga confiana bsica e simpatia que fazem parte da condio humana.
18
Mackie22 (1981), considera que o paciente desenvolve um vnculo e uma
dependncia no transferencial com o terapeuta, o que seria parte da AT. Dickes23 (1975),
refere-se a uma distino entre aliana de trabalho e aliana teraputica, sendo esta uma
relao mais ampla envolvendo tanto aspectos racionais como irracionais. Dentre os
racionais esto as expectativas realsticas em relao ao tratamento, o desejo de aliviar-se
dos sofrimentos e entre os irracionais menciona as expectativas no realsticas (infantis,
mgicas, etc.), a transferncia positiva, bem como o desejo de livrar-se do sofrimento sem
seu prprio esforo.
Etchegoyen11, ainda menciona o conceito de pseudo-aliana teraputica de Rabih,
considerando que uma expresso do que Bion (1957), chama de personalidade psictica
ou parte psictica da personalidade que assume, s vezes, a forma da reverso da
perspectiva como a aparente colaborao do paciente.
Kaplan24, sugere que nenhuma anlise pode avanar sem a formao de uma
aliana teraputica racional e confivel, e seu estabelecimento a primeira tarefa antes que
a neurose de transferncia mais profunda possa a ser facilitada. A inevitvel irrupo de
elementos transferenciais exige que o terapeuta restaure repetidamente, a aliana
teraputica de modo a evitar que a irracional idade e a regresso desorganizem o paciente e
ameacem o tratamento. importante para o estabelecimento de uma boa aliana
teraputica que o paciente tenha a capacidade de enquanto uma parte de sua mente
inconscientemente repete os conflitos psquicos, outra parte deve ser capaz de manter-se
livre de conflitos e racional e de se distanciar a fim de reconhecer a natureza irracional de
suas respostas.
Hausner25, examina as diferenas entre aliana teraputica e aliana de trabalho.
Desde a sua introduo, os conceitos de aliana teraputica e aliana de trabalho vm
provocando polmica quanto natureza e funo dessas alianas, assim como
19
aplicabilidade e validade dos conceitos. So delineados aspectos destes conceitos tal como
colocados originalmente por Zetzel14 e Greenson26, com nfase nas distines
significativas entre elas. A relao destes conceitos com o grau de psicopatologia
examinada especialmente, no que diz respeito ao que pode ser entendido como os aspectos
mais silenciosos da aliana teraputica. Identificao mtua, empatia e responsividade
funo so enfatizadas como aspectos constituintes da aliana teraputica. A aliana de
trabalho s vista como possvel (terica e clinicamente), aps uma aliana teraputica ter-
se estabelecido em certo grau. Ambas as alianas so entendidas como estruturas
intrnsecas dentro do processo analtico.
Meissner27, em seu livro The therapeutic alliance, aborda exaustivamente o tema
quanto natureza e diferenas entre a transferncia e contratransferncia, aliana de
trabalho, a relao real entre terapeuta e paciente, a empatia e as qualidades e fatores
pessoais, numa das mais completas revises sobre o tema. Muitas de suas referncias so
as citadas acima.
Na Parte I, onde discorre sobre a natureza da AT, quanto definio do termo,
destaca que ainda existe uma considervel confuso; uns apontam que seria s a
colaborao do paciente, outros que seria a transferncia tambm, ou seja, poderia ser um
aspecto da transferncia. Lacan se refere a uma ligao entre o ego do paciente e o ego do
terapeuta, uma aliana de trabalho. Para Meissner, contudo, a AT algo especfico,
dinmico, que evolui com o desenvolvimento da terapia. Baseia seus conceitos em Zetzel
(1956) e Greenson (1965). Baseia-se em Winnicot (1960b e 1965), na comparao com o
conceito de holding, e a Anna Freud (1965) quando esta coloca que determinadas
crianas se relacionam com seus analistas como pessoas reais.
Seu conceito, no entanto, fundamentado em dois aspectos: o primeiro que a AT
se implementa no processo teraputico com o envolvimento dos elementos transferenciais
20
e contratransferenciais, assim como as histrias do paciente e do analista, e evolui durante
o tratamento mais no paciente que no terapeuta. O segundo que a AT se relaciona com o
setting, na manuteno das regras da terapia, no desenvolvimento de uma ressonncia
emptica do entendimento e das descobertas, das formulaes e das explicaes das
interpretaes e responsvel pelo desenvolvimento de um papel crtico em todos os
nveis do processo teraputico; extremamente dinmica e se desenvolve e modifica de
acordo com o carter e o significado do progresso teraputico.
Um estudo brasileiro recente foi realizado por Marcolino36 (2003). Este trabalho
avaliou o impacto da aliana teraputica em um programa de psicoterapia individual
psicodinmica breve e considerou a aliana teraputica como um conceito central do
processo psicoterpico. Os resultados demonstraram que nos pacientes que tiveram uma
pontuao maior na capacidade de perceber o terapeuta como capaz de entender seu ponto
de vista e seu sofrimento, tiveram uma reduo maior da sintomatologia, e os pacientes
com maior capacidade para aliana de trabalho atingiram os melhores resultados em
psicoterapia.
Embora o conceito de aliana teraputica possa ser discutido por alguns autores,
muitos o colocam como de importncia fundamental na relao teraputica e ressaltam que
o estabelecimento desta aliana, em maior ou menor intensidade, poder influenciar nos
resultados de uma psicoterapia.
3.2 O Conceito de Mecanismos de Defesa
A partir da obra de Freud foi possvel fundamentar a relao existente entre os
mecanismos de defesa e a formao de sintomas, ou seja, as doenas mentais. Em uma
21
compreenso mais ampla, como a prpria equao etiolgica freudiana das doenas
mentais se ressalta, a etiologia multifatorial, constituio (herana + vivncias maternas),
vivncias infantis e problema atual. Porm, sua compreenso da utilizao dos mecanismos
de defesa inconscientes permite relacionar o surgimento da doena assim como sua
gravidade, dependendo do grupo de mecanismos mais ou menos regressivos utilizados.
Destaca Freud28 (p.503):
Os mecanismos de defesa servem ao propsito de manter afastados os perigos. No se pode discutir que so bem-sucedidos nisso, e de duvidar que o ego pudesse passar inteiramente sem esses mecanismos durante seu desenvolvimento. Mas certo tambm que eles prprios podem transformar-se em perigos. s vezes, se v que o ego pagou um preo alto demais pelos servios que eles lhe prestam. O dispndio dinmico necessrio para mant-las, e as restries do ego que quase invariavelmente acarretam, mostram ser um pesado nus sobre a economia psquica. Ademais, esses mecanismos no so abandonados aps terem assistido o ego durante os anos difceis de seu desenvolvimento. Nenhum indivduo, naturalmente, faz uso de todos os mecanismos de defesa possveis. Cada pessoa no utiliza mais do que uma seleo deles, mas estes se fixam em seu ego. Tornam-se modalidades regulares de reao de seu carter, as quais so repetidas durante toda a vida, sempre que ocorre uma situao semelhante original. O ego do adulto, com sua fora aumentada, continua a se defender contra perigos que no mais existem na realidade; na verdade, v-se compelido a buscar na realidade as situaes que possam servir como substituto aproximado ao perigo original, de modo a poder justificar, em relao quelas, o fato de ele manter suas modalidades habituais de reao. Assim, podemos facilmente entender como os mecanismos defensivos, por ocasionarem uma alienao cada vez mais ampla quanto ao mundo externo e um permanente enfraquecimento do ego, preparam o caminho para o desencadeamento da neurose e o incentivam.
Em outro trabalho, Freud29 (p.13-17) continua:
O que nos resta agora considerar a relao entre a formao de sintomas e a gerao de ansiedade. Parece haver duas opinies amplamente sustentadas sobre esse assunto. Uma que a ansiedade um sintoma de neurose. A outra que existe uma relao muito mais ampla entre as duas. De acordo com a segunda opinio, os sintomas s se formam a fim de evitar a ansiedade: renem a energia psquica que de outra forma seria
22
descarregada como ansiedade. Assim este seria o fenmeno fundamental e o principal problema da neurose.
Podemos tambm acrescentar que a gerao de ansiedade pe a gerao de sintomas em movimento e , na realidade, um requisito prvio dela, pois se o ego no despertasse a instncia de prazer-desprazer gerando ansiedade, no conseguiria a fora para paralisar o processo que se est preparando no id e que ameaa com perigo.
Seria, contudo, mais correto atribuir ao processo defensivo o que acabamos de dizer sobre a formao de sintomas e empregar a segunda expresso como sinnimo de formao de substitutos. Tornar-se- ento claro que o processo defensivo anlogo fuga por meio da qual o ego se afasta de um perigo que o ameaa de fora. O processo defensivo uma tentativa de fuga de um perigo instintual.
Cumpre assinalar ento, que a utilizao de mecanismos de defesa um ponto
comum entre os indivduos na tentativa de controlar a ansiedade conseqente do conflito
intrapsquico. Quando o uso destes mecanismos acontece de forma agrupada e sistemtica
podem, ou caracterizar o jeito de ser de um indivduo, seus traos e transtornos de
personalidade, ou uma patologia psicolgica, quando sua utilizao seria de maneira mais
intensa, mais freqente e inflexvel.
Poderamos dizer ento que o uso de uma variedade de mecanismos de defesa
acontece em todas as pessoas, e o que diferenciaria de uma melhor capacidade adaptativa
at uma patologia mais severa, seria a intensidade e a freqncia do uso de determinado
grupo de mecanismos, sejam mais ou menos maduros.
Anna Freud30 (1936), em seu livro O ego e os mecanismos de defesa, descreve
detalhadamente a importncia e o papel destes mecanismos, na formao de sintomas e no
estabelecimento das doenas mentais. Comea a delinear a concepo de uma classificao
na qual os mecanismos de defesa teriam um continuum desde os mais primitivos, como
a represso e a projeo, at outros mais evoludos que se desenvolvem a partir da
maturao das estruturas, ego e superego, como a sublimao e o altrusmo.
Fenichel31 (1945), ressaltou que os principais mecanismos de defesas psicolgicos
23
seriam: represso, negao, racionalizao, formao reativa, isolamento, projeo,
regresso e sublimao, sendo que estes mecanismos poderiam ser encontrados em
indivduos saudveis, e sua presena excessiva seria, via de regra, indicao de possveis
sintomas neurticos.
Outros autores como Fadiman32, tambm se referem sobre o tema:
Os mecanismos de defesa so um conjunto de operaes que permitem reduzir ou suprimir estmulos que possam causar desprazer, tentando, assim, manter o equilbrio do aparelho psquico. Este conceito importante e complexo atinge tanto o conceito de normalidade como de patologia, uma vez que uma pessoa no adoece por possuir defesas, mas sim por sua ineficcia ou pelo mau uso que faz delas. Dessa forma, a reestruturao da pessoa (em relao aos mecanismos de defesa) consiste, em parte, utilizar esses mecanismos de forma flexvel e adequada. Os principais mecanismos de defesa so: represso, negao, ciso, projeo, sublimao e formao reativa.
Gabbard38 ao citar o trabalho de Anna Freud, descreve que embora Freud
reconhecesse a existncia de outros mecanismos de defesa dedicou maior ateno
represso, e que foi ela que ampliou este trabalho descrevendo detalhadamente nove
mecanismos de defesa especficos: regresso, formao reativa, anulao, introjeo,
identificao, projeo, voltar-se contra si mesmo, reverso e sublimao. Refere ainda
outra grande importncia deste trabalho, no qual a autora ao desviar a nfase da psicanlise
das pulses para as defesas do ego, antecipou o movimento da psicanlise e da
psiquiatria dinmica de afastamento da formao do sintoma neurtico rumo a patologia
do carter.
Retomando Anna Freud30 (p.36-37), ao reportar-se ao termo defesa, cita que:
[...] a palavra defesa que empreguei [...] a mais antiga representante do ponto de vista psicodinmico, na teoria psicanaltica. Surge pela primeira vez em 1984, no estudo de Freud The Defence Neuro-Psychoses, sendo a empregada e em muitos de seus trabalhos subseqentes [...] para descrever a luta do ego contra idias ou afetos dolorosos ou insuportveis.
Relata ainda que este termo foi abandonado por Freud, sendo substitudo por
24
represso, sendo que em Inibies, sintomas e ansiedade (1926) retomou ao antigo
conceito de defesa, [...] desde que o empreguemos explicitamente como uma designao
geral para todas as tcnicas de que o ego se serve em conflitos que possam redundar em
neurose, ao passo que retemos a palavra represso para aquele mtodo especial de
defesa [...].
A partir deste momento, a autora sugere uma maior investigao de outros modos
especficos de defesa e uma comparao com os demais que j haviam sido descobertos
por outros investigadores psicanalticos. Tentou ainda uma classificao cronolgica dos
mecanismos de defesa (p.45), mas conclui que:
Portanto, uma classificao dos mecanismos de defesa de acordo com a posio no tempo inevitavelmente compartilha de todas as dvidas e incertezas que ainda hoje afetam os pronunciamentos cronolgicos em anlise. Ser talvez melhor abandonar as tentativas para assim os classificarmos e, ao invs disso, estudar em detalhe as situaes que provocam as reaes defensivas.
George Vaillane3, em seu livro Adaptation to life, reporta-se aos trabalhos de
Freud e Anna Freud para, no captulo 5 - Mecanismos adaptativos do ego, uma hierarquia -
classificar 18 mecanismos de defesa em 4 nveis: mecanismos psicticos (comuns nas
psicoses, sonhos e nas crianas pequenas), mecanismos imaturos (comuns nas depresses
severas, transtornos de personalidade e adolescncia), mecanismos neurticos (comuns em
todas as pessoas) e mecanismos maduros (comuns em adultos sadios), de acordo com a
evoluo do processo adaptativo, sua maturidade e importncia patolgica. Sugere ainda
que o amadurecimento da vida humana acompanhado pela evoluo destes processos
adaptativos. Refere ainda que a hierarquia descrita no reflete somente um continuum da
criana ao adulto, mas tambm da doena at a sade.
Em pesquisa recente Kipper39 (2003) evidenciou que, em pacientes com pnico,
havia uso de mecanismos de defesa mais desadaptativos comparados com controles
25
normais, assim como diferenas aps o tratamento psicofarmacolgico. Ressalta que:
As defesas maduras so consideradas defesas adaptativas pois considera-se que so as defesas que conseguem maximizar a gratificao do impulso e permitem o conhecimento consciente dos sentimentos, idias e suas conseqncias, envolvendo um balano adequado entre manter a idia e o afeto na mente, enquanto simultaneamente atenua-se o conflito.
Considera ainda que:
[...] as defesas imaturas so aquelas que envolvem uma maior distoro de si mesmo, do corpo, ou de outros, podendo ser empregadas para regular a auto-estima, ou ainda caracterizam-se por manter os estressores, impulsos, idias, afetos ou responsabilidades desagradveis ou inaceitveis fora da conscincia, fazendo ou no uma atribuio incorreta destes a causas externas.
Na presente investigao a escolha da Escala de Funcionamento Defensivo
proposto no DSM-IV-TRTM9, como instrumento de pesquisa, levou em considerao estes
autores no sentido de haver uma hierarquia, isto , dentro de uma idia da utilizao de
mecanismos mais primitivos por pacientes portadores de doenas mentais de maior
gravidade a de mecanismos maduros, que seriam usados de maneira mais freqente nos
casos de menor intensidade. Alm disso, considerando a ego-sintonia inerente ao conceito
de mecanismos de defesa foi avaliado como relevante, o fato da mesma ser respondida
pelo terapeuta, conforme exame do funcionamento defensivo de seus pacientes.
26
4 SUJEITOS E MTODOS
4.1 Delineamento da Pesquisa
Estudo transversal.
4.2 Seleo da Amostra
Participaram do estudo os pacientes que tiveram indicao para Psicoterapia de
Orientao Analtica no Ambulatrio de Psicoterapia do HCPA, pelo perodo de um ano
durante o qual foi realizada a coleta dos dados.
Foram selecionados os pacientes que receberam indicao de Psicoterapia de
Orientao Analtica no Ambulatrio de Psiquiatria pelos residentes e cursistas do segundo
ao terceiro ano do Programa de Residncia e Curso de Especializao em Psiquiatria do
Departamento de Psiquiatria, treinados para a aplicao dos critrios de indicao desta
modalidade teraputica. Um pesquisador snior independente, com experincia em
psiquiatria e psicanlise, confirmava a indicao ou contra-indicao de psicoterapia.
Os critrios usados para indicao da psicoterapia foram os descritos por Cordioli20
(1998):
27
- sofrimento psquico,
- motivao,
- capacidade de estabelecer um vnculo e uma aliana de trabalho com o terapeuta,
- capacidade para insight,
- nvel de adaptao prvia razovel,
- idade mnima de 18 anos e mxima de 65 anos.
Foram critrios de contra-indicao para a psicoterapia e portanto, de excluso da
amostra:
- problemas de natureza aguda (psicoses, transtorno de humor e de ansiedade, etc.),
- pacientes severamente comprometidos, nos quais a busca de insight pode
provocar regresses graves,
- retardo mental,
- incapacidade para simbolizar, expressar seus sentimentos e emoes ou sem
interesse em procurar fazer modificaes por meio da compreenso de seus
conflitos.
4.3 Avaliao dos Fatores em Estudo
1. Ficha de Identificao (ANEXO 1);
2. Termo de Consentimento do Paciente (ANEXO 2);
3. Termo de Consentimento do Terapeuta (ANEXO 3);
4. Mecanismos de Defesa, utilizando-se a Escala de Funcionamento Defensivo do
DSM IV-TR9. A diviso dos mecanismos de defesa realizada de maneira
conceitual e empiricamente em grupos correlatos, denominados Nveis de
28
Defesa. Com o objetivo de viabilizar a anlise estatstica, foram agrupados os 7
nveis em que esto divididos nesta escala, em 3 nveis de acordo com
hierarquia adaptativa. Para o uso da Escala de Funcionamento Defensivo, o
terapeuta deveria listar at 7 defesas ou formas de manejo especficas
(iniciando com a mais proeminente) e depois indicar o nvel de defesa
predominante exibido pelo indivduo. Para este registro, foi utilizado um
formulrio especfico (ANEXO 6). O terapeuta, ao realizar o registro, colocava
o nmero correspondente descrio da defesa identificada. Este nmero
corresponde, no formulrio, ao mecanismo de defesa abaixo relacionado. Para
elaborao da escala, a ordem de descrio dos mecanismos de defesa foi
disposta aleatoriamente e o nome da defesa de cada item suprimida. A
finalidade foi de tornar menos enviesada a avaliao por parte dos terapeutas.
- Nvel 1 - Defesas Maduras (alto nvel adaptativo) - Este nvel de
funcionamento defensivo resulta em adaptao muito favorvel no manejo
de estressores. Essas defesas geralmente maximizam a gratificao e
permitem a conscientizao de sentimentos, idias e suas conseqncias.
Elas tambm promovem um equilbrio favorvel entre motivos conflitantes.
Neste nvel estariam includos os seguintes mecanismos de defesa:
01. Sublimao
15. Humor
05. Supresso
23. Afiliao
26. Altrusmo
13. Antecipao
14. Auto-afirmao
29
10. Auto-observao
- Nvel 2 - Defesas Intermedirias (nvel das inibies mentais - formao
de compromisso - nvel de leve distoro da imagem e nvel da negao) -
Nestes nveis o funcionamento defensivo mantm idias, sentimentos,
recordaes, desejos ou temores potencialmente ameaadores, fora da
conscincia. Tambm se caracteriza por distores da imagem de si
mesmo, do corpo ou de outros, podendo ser empregado para regular a auto-
estima. Igualmente podem atribuir, de forma correta ou no, a causas
externas a origem destes fatos. Esto includas neste nvel, as seguintes
defesas:
03. Desvalorizao
02. Onipotncia
21. Anulao
07. Deslocamento
19. Dissociao
11. Formao Reativa
8. Intelectualizao
9. Isolamento afetivo
12. Represso
20. Idealizao
24. Negao
04. Projeo
22. Racionalizao
- Nvel 3 - Defesas Primitivas (nvel de importante distoro da imagem,
nvel de ao, nvel de desregulagem defensiva) - So defesas
30
caracterizadas por uma ampla distoro ou descrio incorreta da imagem,
prpria ou de outros, ou que lida com os estressores internos ou externos
pela ao ou pelo retraimento, ou ainda, pelo fracasso de regulagem
defensiva em conter a reao do indivduo a estressores levando a uma
ruptura pronunciada com a realidade. Esto includas neste nvel as
seguintes defesas:
17. Ciso da auto-imagem ou da imagem dos outros
06. Fantasia autista
16. Identificao projetiva
25. Atuao
18. Queixas com rejeio de ajuda
5. Eixo I - Utilizao do diagnstico do mdico assistente.
6. Eixo II - Utilizao do diagnstico do mdico assistente.
7. Nveis da sintomatologia pela aplicao da escala Symptom Checklist-90-
Revised - SCL 90-R42,43 (ANEXO 7). Esta escala utilizada como um
instrumento de uma viso rpida, como uma medida para alta ou nvel da
psicopatologia e como uma quantificao da psicopatologia atual atravs de
nove expresses de sintomas: somatizao, obsessivo-compulsivo, sensibilidade
interpessoal, depresso, ansiedade, hostilidade, ansiedade fbica, ideao
paranide e psicose. Trata-se de um questionrio de 90 questes auto-
respondidas.
8. As aplicaes das escalas sero realizadas atravs de entrevistas realizadas por
mdicos residentes em Psiquiatria devidamente treinados para esta finalidade,
alm de um psicoterapeuta snior supervisor, com especializao em psiquiatria
e psicanlise.
31
4.4 Avaliao do Desfecho em Estudo: Aliana Teraputica
O desenvolvimento e a qualidade da AT, foi avaliado pelo instrumento HAqII,
verso do paciente e do terapeuta (ANEXOS 4 e 5), elaborado por Luborsky et a1.34
(1996). Este estudo publicado foi uma reviso da escala HAq-I, aplicada em pacientes
dependentes de cocana e comparada com a Escala Californiana da Aliana em
Psicoterapia (CALPAS), com uma convergncia validada nos escores totais.
Em outro trabalho Barber et a1.41 utilizaram este instrumento, assim como o
CALPAS, em um estudo randomizado, no qual documentaram uma aliana teraputica
alta. Embora a informao da aliana teraputica estabelecida no influa no prognstico
ps-alta do paciente em relao s drogas, apareceram medidas da existncia de uma
aliana forte aos 6 meses de tratamento o que no aconteceu no primeiro ms. A medida da
aliana, entretanto, previu uma diminuio de sintomas depressivos aos 6 meses de
tratamento.
Luborsky40 (2000), em data mais recente, publicou a convite dos editores do
Journal of Psychotherapy Research, um artigo de reviso de seus trabalhos de pesquisa e o
impacto destes, desde 1976. Retrata uma ampla evoluo das pesquisas a respeito da
aliana teraputica, assim como compara a validao a outros instrumentos semelhantes
como o Core Conflictual Relationship Theme (CCRT), o Helping Alliance Counting Signs
(HAcs), o Vanderbilt Therapeutic Alliance Scale (VTAS), o Working Alliance Inventory
(WAI), a California Psychotherapy Alliance Scale (CALPAS),
O HAqII, nos foi cedido para o uso nesta pesquisa pelo autor da mesma e traduzido
para o portugus e, posteriormente, retraduzido para o ingls, e comparada a equivalncia.
Houve uma boa compreenso da escala em portugus pelos indivduos que participaram do
32
estudo piloto como deste trabalho. No momento encontra-se em processo de validao.
O questionrio HAqII auto-respondido e contm dezenove itens que avaliam em
uma escala de 1 a 6 dimenses essenciais do relacionamento paciente-terapeuta,
sentimentos de compreenso, confiana, interesse, objetivos comuns e desejo de
progresso. O instrumento foi aplicado em todos os pacientes e terapeutas que realizavam
Psicoterapia de Orientao Analtica no Ambulatrio do HCPA, por um perodo de um
ano.
4.5 Sistema de Escore
O ponto de corte da escala calculado pela mdia e desvio padro para cada uma
das questes e para o escore total. considerada uma aliana fraca quando o resultado
menor do que o valor obtido pela equao: mdia menos o desvio padro (X-DP) e forte
quando maior ou igual mdia menos o desvio padro (X-DP). Nas questes 1, 2, 3, 5, 6,
7, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 17, 18, so considerados os escores diretos, enquanto que as de
nmeros 4, 8, 11, 16, 19 possuem escores invertidos em suas respostas, ou seja, quando
maior os escores no primeiro grupo e menores os do segundo grupo, melhor a Aliana
Teraputica. No entanto, para a anlise, o segundo grupo tem seus escores invertidos, de
tal forma que para todas as questes fica padronizado que quanto maior o escore, melhor
considerada a qualidade da aliana teraputica.
33
4.6 Anlise Estatstica
- A amostra foi seqencial conforme demanda de casos encaminhados, com
indicao dentro dos critrios j descritos, e seus respectivos terapeutas, para
tratamento em nosso Ambulatrio de Psicoterapia Psicanaltica. Significou em
torno de 40 duplas pacientes/terapeutas durante o ano de 2001. Partimos do
princpio de que haveria em torno de 80% de concordncia com nossa hiptese
principal.
- Os resultados foram examinados atravs de anlise descritiva das variveis e
pelos testes Qui-quadrado, ANOVA-uma via, teste t de Student-Newman-
Keuls e Mann-Whitney Test.
34
5 RESULTADOS
5.1 Descrio da Amostra
Foram investigados um total de 37 duplas pacientes/terapeutas das 40 duplas que
realizavam Psicoterapia de Orientao Analtica no Ambulatrio do Servio Psiquiatria do
Hospital de Clnicas de Porto Alegre. Em trs duplas, os pacientes no concordaram em
participar da pesquisa.
A composio da amostra de pacientes ficou assim caracterizada:
Quanto ao sexo, a maioria eram mulheres (27) e a minoria de homens (10), com
idade mdia de 38 anos (DP=13), todos alfabetizados. Em relao situao conjugal a
maior parte eram casados (45,9%), sendo seguidos dos solteiros (35,1%) e separados
(18,9%).
No referente aos diagnsticos de Eixo I, bastante variado, a freqncia, foi
Depresso Maior (10,8%), seguido de Transtorno Afetivo Bipolar e Transtorno Obsessivo-
Compulsivo com igual freqncia (5,4%).
35
Tabela 1 - Diagnsticos em Eixo I
Diagnsticos Freqncia Porcentagem Sem diagnstico 9 24,3 Abuso/abstinncia de lcool 1 2,7 T. Ans. Generalizada/Depresso 1 2,7
T. Bipolar/Anorexia Nervosa 1 2,7
T. Depressivo Maior 10 27,0 T. Depressivo Moderado 2 5,4 T. Distmico 1 2,7
T. Afetivo Bipolar em Remisso 3 8,1 Sndrome de Ansiedade 1 2,7 T. Ansiedade Generalizada 1 2,7
T. Pnico com Agorafobia 1 2,7
T. Afetivo Bipolar 1 1 2,7 T. Afetivo Bipolar 2 1 2,7 T. Afetivo Bipolar 3 1 2,7 T. Obsessivo Compulsivo 2 5,4 T. Pnico 1 2,7 Total 37 100,0
Em relao aos diagnsticos em Eixo II, foram bastante mistos, sendo que a maioria
dos pacientes no preenchia critrios de transtornos e, sim, de traos de personalidade. Dos
transtornos a maior prevalncia foi de Transtornos Histrinicos (5,4%) e de traos de
personalidade, os narcisistas (5,4%).
36
Tabela 2 - Diagnsticos em Eixo II
Diagnsticos Freqncia Porcentagem Sem diagnstico 15 40,5 T. Personalidade Depressiva 2 5,4 T. Personalidade Evitativa/Fbica 1 2,7 T. Personalidade Histrinica 5 13,5 Luto Patolgico 1 2,7 T. Personalidade Obsessiva 2 5,4 T. Personalidade Dependente 1 2,7
T. Personalidade Esquizide 1 2,7
Traos Histrinicos 2 5,4 Traos Narcisistas 3 8,1 Traos Histrinicos/Masoquistas 1 2,7 Traos Histrinicos/Obsessivos 1 2,7 Traos Obsessivos 2 5,4 Total 37 100,0
Quanto freqncia de sesses, a maioria dos pacientes (59,5%) realizava duas
sesses semanais, ao passo que os demais (40,5%) realizavam uma sesso semanal;
Em relao ao tempo de terapia, 25 pacientes (67,5%) estavam em terapia h mais
de 6 meses, enquanto que os outros 12 (32,5%), a menos de 6 meses.
Os resultados da predominncia dos mecanismos de defesa apresentados, em sua
maioria foram intermedirios (40,5%) seguidas pelas maduras (29,7%) e primitivas
(29,7%).
A composio da amostra de terapeutas foi assim constituda:
Os terapeutas envolvidos no estudo foram em nmero de 12, residentes ou
cursistas, com no mnimo um ano e meio de formao psiquitrica, 7 terapeutas eram do
37
sexo masculino e 5 do sexo feminino. A distribuio dos pacientes foi feita de forma
aleatria por ordem de admisso em psicoterapia no Ambulatrio de Psiquiatria do HCPA.
Cada residente/cursista tinha seu supervisor psicoterapeuta snior, alm de um
coordenador psicoterapeuta/psicanalista, coordenador do estudo.
5.2 Anlise da Aliana Teraputica
Na escala de aliana teraputica, verso paciente, foram consideradas como
aliana forte por 100% da amostra nas questes 1, 2, 3, 5, 7, 9, 12, 14, enquanto nas
demais os pontos de corte se dividam entre forte e fraco porm, mantendo freqncia
maior a percepo de qualidade de aliana forte: questes 4 (fraca 29%, forte 70,3%); 6
(fraca 2,7%, forte 97,3%); 8 (fraca 16,2% forte 83,8%); 10 (fraca 2,7% forte 97,3%); 11
(fraca 21,6% forte 78,4%); 13 (fraca 2,7% forte 97,3%); 15 (fraca 2,7% forte 97,3%); 16
(fraca 18,9% forte 81,1%); 17 (fraca 16,2% forte 83,8); 18 (fraca 16,2% forte 97,3%); 19
(fraca 16,2% forte 83,8). No escore total verso paciente, 13,5% dos pacientes
consideraram a aliana como fraca e 86% como forte.
Na escala de aliana teraputica, verso terapeuta, as questes 2, 3, 7, 9, 12, 14
como forte por 100% dos mesmos, as quais coincidem com a percepo dos pacientes,
exceto pela questo 15. Nas seguintes questes a percepo se dicotomizou: questo 1
(fraca 2,7% forte 97,3%); 4 (fraca 43% forte 56,8%) nesta houve uma distribuio mais
parelha; 5 (fraca 8,1% forte 91,9%); 6 (fraca 24% forte 75,7%); 8 (fraca 5,4% forte
94,6%); 11 (fraca 16% forte 94%); 19 (fraca 2,7% forte 97,3%). Em contraste, os
terapeutas consideraram um vnculo fraco no que se refere ao contedo das questes de
nmeros 16 (fraca 64,9% forte 35,1%) e 19 (fraca 54,1% forte 45,9%). No escore total da
38
escala verso terapeuta, encontrou-se uma freqncia de fraca para 10,8% para forte com
89,2%.
Tabela 3 - Freqncia Mdia (X) da Qualidade da AT Considerada (HAqll) - Verso
Paciente e Terapeuta (conforme ponto de corte calculado em AT Fraca e AT
Forte)
AT Verso Paciente AT Verso Terapeuta Questes Fraca Forte Fraca Forte
01 - 37 (100%) 01 (02,7%) 36 (97,3%) 02 - 37 (100%) - 37 (100%) 03 - 37 (100%) - 37 (100%) 04 11 (29,7%) 26 (70,3%) 16 (43,2%) 21 (56,8%) 05 - 37 (100%) 03 (08,1%) 34 (91,9%) 06 01 (02,7%) 36 (97,3%) 09 (24,3%) 28 (75,7%) 07 - 37 (100%) - 37 (100%) 08 06 (16,2%) 31 (83,8%) 02 (05,4%) 35 (94,6%) 09 - 37 (100%) - 37 (100%) 10 01 (02,7%) 36 (97,3%) 01 (02,7%) 36 (97,3%) 11 08 (21,6%) 29 (78,4%) 02 (05,4%) 35 (94,6%) 12 - 37 (100%) - 37 (100%) 13 01 (02,7%) 36 (97,3%) 08 (21,6%) 29 (78,4%) 14 - 37 (100%) - 37 (100%) 15 01 (02,7%) 36 (97,3%) - 37 (100%) 16 07 (18,9%) 30 (81,1%) 24 (64,9%) 13 (35,1%) 17 06 (16,2%) 31 (83,8%) 05 (13,5%) 32 (86,5%) 18 01 (02,7%) 36 (97,3%) 01 (02,7%) 36 (97,3%) 19 06 (16,2%) 31 (83,8%) 20 (54,1%) 17 (45,9%)
Total 05 (13,5%) 32 (86,5%) 04 (10,8%) 33 (89,2%)
39
Tabela 4 - Comparao entre as Questes cujas Mdias da AT - Verso Paciente
versus as Mdias da AT - Verso Terapeuta (com seus respectivos desvios
padres, foram significativas, sendo considerado significativo o valor p igual
ou menor que 0,05)
Questes Mdias Desvio Padro Valor de P 01 5,5135 vs. 5,0811 ,5588 vs. ,6823 0,004 02 5,2703 vs. 4,8108 ,5602 vs. ,5695 0,001 03 5,5676 vs. 5,1621 ,5548 vs. ,5534 0,002 05 5,4054 vs. 4,7027 ,8777 vs. ,7633 0,001 06 4,9730 vs. 3,9459 ,7633 vs. 1,0527 0,001 09 5,2703 vs. 5,0270 ,5082 vs. ,4992 0,041 11 2,2973 vs. 1,7838 1,4694 vs. ,7865 (tendncia) 0,066 13 5,1081 vs. 4,1351 ,6986 vs. ,9764 0,001 14 5,8919 vs. 5,5405 ,3148 vs. ,6496 0,004 16 2,4865 vs. 3,9730 1,2388 vs. 1,2130 0,001 19 2,0541 vs. 3,6216 1,2235 vs. 1,3815 0,001
5.3 Anlise dos Escores Totais pelo Teste do Qui-quadrado: Efeito Nmero de
Sesses, Tempo de Terapia e Sexo
5.3.1 Nmero de sesses
Na anlise da percepo pelos pacientes de aliana forte ou fraca conforme nmero
de sesses semanais (1 ou 2) no houve diferena significativa (p=0,266). O mesmo foi
demonstrado para os escores totais na escala verso terapeuta (p=0,897). Desta forma, a
40
qualidade da aliana teraputica em forte ou fraca pelos pacientes e terapeutas foi
independente do nmero de sesses semanais.
5.3.2 Tempo de terapia
O tempo de terapia de at 6 meses ou mais de 6 meses identificou que a
classificao no escore total em forte e fraco uma diferena estatisticamente significativa
na percepo dos pacientes (p=0,016). Quanto maior o tempo de terapia melhor era
considerada a AT pelos pacientes. A mesma anlise no escore total dos terapeutas mostrou
um escore muito prximo ao significativo: (p=0,053), podemos dizer que houve uma
tendncia.
Assim, atravs dos resultados foi possvel verificar que houve uma influncia do
tempo que o paciente encontra-se em psicoterapia em relao qualidade da AT
estabelecida, tanto do paciente em relao ao terapeuta como do terapeuta em relao a
seus pacientes.
5.3.3 Diferenas entre os sexos
Houve uma diferena estatisticamente significativa (p=0,001) em relao
qualidade da AT estabelecida por pacientes de sexo diferente em relao a seus terapeutas,
sendo que os pacientes homens relataram uma aliana mais forte em relao aliana
estabelecida por pacientes mulheres.
Quando considerado escore total da AT estabelecida pelo terapeuta em relao ao
sexo do paciente, no houve diferena significativa (p=0,50).
41
Na anlise da qualidade da AT, levando em considerao a diferena de sexo entre
os participantes por dupla, em todas as variveis de paciente vs. terapeuta, o valor
(p=0,206) no foi significativo para esta amostra.
5.4 Anlise do Nvel dos Mecanismos de Defesa dos Pacientes em Relao
Qualidade da Aliana Teraputica
Grfico - Amostra dos pacientes por nvel dos mecanismos de defesa
Na anlise dos escores do nvel dos mecanismos de defesa dos pacientes
versus a qualidade da AT, foram utilizados os mtodos de anlises estatsticas
descritivas, Anova de uma via e teste t de Student-Newman-Keuls.
Na anlise da relao das mdias dos nveis de mecanismos de defesa utilizados
pelos pacientes e a mdia da qualidade da AT estabelecida pelos mesmos, o resultado
de p=0,797 indicou que no existe diferena estatisticamente significativa para a amostra.
Na anlise da relao das mdias dos nveis de mecanismos de defesa utilizados
pelos pacientes e a mdia da qualidade da AT estabelecida pelos terapeutas, o
resultado de p=0,925 tambm demonstrou no existir diferena estatisticamente
significativa.
42
Na anlise estatstica da qualidade da AT (HAqll), por questes, tanto dos
pacientes como dos terapeutas, em relao aos nveis dos mecanismos de defesa
utilizados pelos pacientes, tambm no existiram resultados estatisticamente
significativos, p=0,788 e p=0,934 respectivamente.
5.5 Anlise da Qualidade da Aliana Teraputica em Relao aos Sintomas
Psiquitricos
Na anlise estatstica da qualidade da AT (HAqIl), tanto a verso paciente como a
verso terapeuta, cruzadas com os sintomas psiquitricos mais freqentes (SCL 90),
tiveram como valores de p=0,136 e p=0,436, respectivamente, o que no demonstra
significado estatstico.
5.6 Anlise dos Sintomas Psiquitricos dos Pacientes em Relao ao Nvel de Defesas
Tabela 5 - Sintomas psiquitricos mais freqentes encontrados nos pacientes
utilizando o SCL 90
Mdia Desvio Padro Somatizao 1,14 0,1153 Obsessivo-Compulsivo 1,45 0,5256 Interpessoal 1,36 0,1690 Depresso 1,67 0,6474 Ansiedade 1,14 0,7451 Hostilidade 0,90 0,9167 Fobia 0,73 0,4499 Ideao paranide 1,16 0,2939 Psictico 0,89 0,9662
43
Considerando os sintomas psiquitricos mais freqentes avaliados nos pacientes
(SCL 90), em relao ao nvel de defesas utilizadas pelos pacientes: maduras (1),
intermedirias (2), primitivas (3), a anlise estatstica (p=0,966) no demonstrou resultados
significativos.
5.7 Anlise da Mdia Aliana Teraputica do Paciente em Relao Mdia da
Aliana Teraputica do Terapeuta
Na anlise, questo por questo, da mdia dos resultados do HAqII - verso
paciente, em relao mdia dos resultados do HAqII - verso terapeuta, a maioria das
mdias por questo, 11 em 19, apresentou resultados estatisticamente significativos
(p
44
Questo n 3: p=0,002 Verso paciente: Sinto que meu(minha) terapeuta quer que eu atinja meus objetivos.
Verso terapeuta: O(A) paciente sente que quero que ele atinja seus objetivos.
Os pacientes sentem que os terapeutas querem que eles atinjam seus objetivos mais do que os terapeutas acham que os pacientes sentem que os terapeutas querem que
eles atinjam seus objetivos. Questo n 5: p=0,001
Verso paciente: Sinto que eu e
meu(minha) terapeuta estamos trabalhando num esforo conjunto.
Verso terapeuta: O(A) paciente sente que est trabalhando num esforo conjunto comigo.
Os pacientes sentem que esto trabalhando num esforo conjunto com os terapeutas mais do que os terapeutas pensam que os pacientes sentem que esto trabalhando
num esforo conjunto com eles. Questo n 6: p=0,001
Verso paciente: Acredito que temos idias semelhantes sobre a natureza dos meus problemas.
Verso terapeuta: Acredito que temos idias semelhantes a respeito da natureza de seus problemas.
Os pacientes sentem que eles e os terapeutas tm idias semelhantes sobre a natureza de seus problemas mais do que os terapeutas pensam que eles e os pacientes sentem
que tm idias semelhantes quanto natureza dos problemas dos pacientes.
Questo n 9: p=0,041 Verso paciente: Gosto do meu(minha) terapeuta como pessoa.
Verso Terapeuta: O(A) paciente gosta de mim como pessoa.
Os pacientes gostam dos terapeutas como pessoa mais que os terapeutas acham que os pacientes gostem deles como pessoa.
45
Questo n 11: p=0,066 (tendncia) Verso paciente: Meu(Minha) terapeuta se relaciona comigo de uma maneira que prolonga o andamento da terapia.
Verso terapeuta: O(A) paciente acredita que me relaciono com ele(ela) de uma maneira que prolonga o andamento da terapia.
Os pacientes sentem que seus terapeutas se relacionam com eles de uma maneira que prolonga a terapia mais que os terapeutas pensam que os pacientes sentem que
se relacionam com eles de uma maneira que prolonga a terapia.
Questo n 13: p=0,001 Verso paciente: Meu (Minha) terapeuta parece ser experiente em ajudar pessoas.
Verso terapeuta: O(A) paciente acredita que sou experiente em ajudar as pessoas.
Os pacientes sentem que os terapeutas parecem ser experientes em ajudar as pessoas mais que os terapeutas acham que os pacientes acreditam que so
experientes em ajudar as pessoas. Questo n 14: p=0,004
Verso paciente: Quero muito resolver meus problemas.
Verso terapeuta: Quero muito que o(a) paciente resolva seus problemas.
Os pacientes querem muito resolver seus problemas mais do que os terapeutas querem que os pacientes resolvam seus problemas.
Questo n 16: p=0,001 Verso paciente: Meu(Minha) terapeuta e eu, s vezes, trocamos informaes improdutivas.
Verso terapeuta: O(A) paciente e eu, s vezes, trocamos informaes improdutivas.
Os pacientes sentem que eles e o terapeuta, s vezes, trocam informaes improdutivas mais que os terapeutas sentem que, s vezes, trocam
informaes improdutivas com seus pacientes.
Questo n 19: p=0,001 Verso paciente: Algumas vezes meu(minha) terapeuta me parece distante.
Verso terapeuta: Algumas vezes meu(minha) paciente me sente distante.
Os pacientes sentem seus terapeutas, algumas vezes, distantes mais que os terapeutas pensam que seus pacientes os acham, algumas vezes, distantes.
46
6 DISCUSSO
A anlise dos resultados obtidos, nesta amostra e utilizando os instrumentos
relacionados, mostraram que o objetivo geral da pesquisa, ou seja, a hiptese de que
pacientes que utilizam mecanismos de defesas em nvel maduro fossem capazes de
desenvolver uma aliana teraputica mais forte do que aqueles que utilizam mecanismos
de defesa em nvel mais primitivo, no foi confirmada.
Os achados levam a considerar outras como: se o treinamento recebido pelos
terapeutas possa ter levado ao desenvolvimento de uma capacidade qualificada de
interao com seus pacientes independente do diagnstico, da sintomatologia e dos nveis
dos mecanismos de defesa? Ou o fato de se tratar de terapeutas jovens, em incio de
carreira os fazem investir na AT com maior disposio? Ou o instrumento no foi
suficientemente sensvel para captar esta diferena na presente amostra? Trata-se de
hipteses para outros trabalhos de pesquisas.
Uma outra possibilidade bastante importante a ser considerada que o
estabelecimento de uma AT forte no dependa do nvel dos mecanismos de defesa usados
e, sim, do tipo de relao transferencial estabelecida e da necessidade do paciente e a
disponibilidade do terapeuta.
Malan47 (1963), em sua pesquisa pioneira sobre psicoterapia breve dinmica
evidenciou que o entusiasmo dos terapeutas jovens, era o fato mais importante para a
47
obteno de resultados positivos. possvel que algo semelhante possa ter ocorrido nesta
amostra, no que se refere AT, talvez estimulado pelo fato de que se tratava de um grupo
que participava de um trabalho de pesquisa e isto, poderia aumentar seu interesse e
motivao.
Despland46 (2001), em sua pesquisa a respeito dos mecanismos de defesa e das
intervenes do terapeuta para o desenvolvimento de uma aliana teraputica precoce,
refere que a aliana desenvolve-se rapidamente, em torno da terceira sesso,
independentemente das intervenes ou das defesas do paciente. Entretanto, o ajustamento
das intervenes do terapeuta ao nvel dos mecanismos de defesa do paciente, podem
influenciar em tornar uma aliana pior em uma aliana melhor. O ajustamento das
intervenes teraputicas ao nvel defensivo dos pacientes, um fato promissor no
desenvolvimento da aliana teraputica.
Hersoug45 (2002), em seu trabalho da relao de mecanismos de defesa e qualidade
da aliana teraputica, em um estudo multicntrico, demonstra que as defesas no
influenciam nem a qualidade da aliana teraputica nem as melhoras em psicoterapia breve
dinmica. Relata que os sintomas cedem no incio da terapia e as defesas podem mudar ao
longo do tratamento.
Ackerman44 (2003), relata em sua pesquisa sobre como as caractersticas do
terapeuta e sua tcnica podem influenciar positivamente na aliana teraputica. Neste
trabalho, ressalta alguma caracterstica do terapeuta como; flexibilidade, respeito,
honestidade, confiabilidade, confidncia, calor humano, interesse e tolerncia podem
contribuir positivamente para a aliana. Tcnicas do terapeuta como explorao, reflexo,
valorizao de resultados, interpretaes acuradas, facilitar a expresso dos afetos e
valorizar a experincia do paciente, tambm contriburam positivamente na aliana.
Marcolino36 (2003), em seu trabalho, refere-se a achados positivos de que a melhor
48
qualidade de uma AT, influencia em melhores resultados, na diminuio da
sintomatologia, dos pacientes em um programa de psicoterapia breve, porm, no faz a
relao com o nvel dos mecanismos de defesa e, sim, com a sintomatologia. Esta pesquisa
demonstrou que pacientes com escores mais altos na medida da aliana no incio do
tratamento, apresentaram melhores resultados para depresso. Pacientes com melhores
resultados na escala da aliana teraputica tambm tiveram mudanas significativas na
melhora de seus sintomas.
Tambm quanto ao nmero de sesses semanais, se uma ou duas vezes por semana,
no apresentou diferena estatisticamente significativa quanto qualidade da AT.
Pensamos que talvez por tratar-se de Psicoterapia de Orientao Analtica, nas quais os
aspectos transferenciais no so estimulados mas, sim, compreendidos e levados em
considerao, o contato semanal, independente, se uma ou duas sesses, possa ser
suficiente para manter em bom nvel a AT.
Quanto ao tempo de tratamento, se menor ou maior que 6 meses, apareceram
resultados significativos, tanto em relao AT desenvolvida pelos pacientes (p=0,016)
como uma tendncia na qualidade da AT dos terapeutas (p=0,053), o que se compreende
da necessidade de tempo para confirmar ou corrigir as fantasias transferenciais e
contratransferenciais e conseqentemente influir na qualidade da AT.
Em relao ao sexo do paciente e do terapeuta, fazendo a anlise de todas as
correlaes, todos os resultados foram sem significado estatstico, com a exceo de que os
pacientes homens desenvolveram uma AT com melhor qualidade em comparao s
pacientes mulheres, com resultado estatisticamente significativo.
Sabe-se que um maior nmero de mulheres do que homens procuram atendimento
mdico e psicoterpico. Em nosso ambulatrio, Schestatsky et a1.48 (1997), demonstraram
de uma proporo praticamente de trs mulheres para um homem que procuram nosso
49
servio de ambulatrio.
Pode acontecer que os pacientes homens, que procuram em menor nmero
atendimento psicoterpico quando o fazem, o sofrimento psquico estaria em nveis muito
intensos, insuportveis, o que poderia explicar o fato de investirem com maior disposio
no estabelecimento de uma AT do que as pacientes mulheres. Ou ser que os homens desta
amostra vencendo uma resistncia relacionada ao gnero e suas caractersticas poderiam
ter apresentado maior motivao e maiores resultado na AT?
Quanto a no haver resultados significativamente estatsticos na relao entre o
sexo dos pacientes e terapeutas nos surpreenderam de alguma forma pois, na literatura
psicanaltica contempornea, existem trabalhos recentes, Meissner27 (p. 107-110),
demonstrando a valorizao da diferena de gnero na psicanlise e nas psicoterapias de
orientao analtica,
Porm, o que nos chamou a ateno com maior nfase, foi quanto aos resultados de
algumas questes do instrumento HAqII, que serve para medir a qualidade da AT, os quais
demonstraram como estatisticamente significativas s diferenas entre a qualidade da AT
desenvolvida pelos pacientes em relao a seus terapeutas e o inverso, isto , a qualidade
da AT desenvolvida pelos terapeutas em relao a seus pacientes.
Das 19 questes do instrumento HAqII aplicado em nossa amostra de 37 pares,
terapeutas-pacientes, as mdias das 11 questes apresentaram resultados significativos, nas
quais a qualidade da AT dos pacientes em relao de seus terapeutas significativamente
maior do que a qualidade da AT dos terapeutas em relao a seus pacientes. Como vemos,
trata-se da mdia da maioria das questes que compem o instrumento, indicando uma
assimetria de qualidade na AT estabelecida entre os terapeutas e seus pacientes.
Este fato nos leva a pensar nestas questes de uma relao assimtrica
estabelecida na relao, na qual o paciente investiria mais catexias do que o terapeuta,
50
provavelmente originada de uma maior necessidade deste em virtude de seu sofrimento e
seu desejo de alvio e de resoluo de seus problemas. Do outro lado o terapeuta que, por
mais que invista afetivamente na relao, s consegue imaginar o sofrimento do paciente e
de suas necessidades, no sentindo o que o paciente sente, mantm-se menos envolvido
na relao.
Poderamos tambm inferir que esta menor qualidade da AT do terapeuta em
relao ao seu paciente, como disse Freud35, possa ser conseqncia de uma necessidade
inconsciente para mant-lo um pouco mais afastado, no sentido de contaminar-se menos
com o sofrimento do paciente, para poder manter seu pensar assptico e desta maneira
utilizar plenamente sua capacidade psicoterpica.
Porm, outros autores como Etchegoyen (citado por Cordioli et a1.20), referem-se
AT como simtrica e que a assimetria ocorreria na relao transferencial. Estes resultados
no poderiam ser uma evidncia de aspectos diferentes do mesmo fato? Ou seja, que seria
impossvel separar de maneira estanque a AT da transferncia e contratransferncia?
H uma pesquisa psicanaltica recente, no ltimo IJPA (Leutzinger-Bohleber et
a1.49, 2003), que evidenciou as diferenas na avaliao do follow-up, entre analistas e
pacientes. Estes tendem a reportar melhores resultados obtidos do que aqueles, que
reportam insucessos teraputicos em casos que os pacientes descrevem como tendo
atingido seus objetivos.
Esta outra evidncia da assimetria que pode ser relacionada tambm a possveis
temores dos terapeutas de maior envolvimento emocional, dificuldade por estarem numa
etapa inicial da formao e possvel confuso terica e clnica pelo fato de estarem sendo
expostos a diferentes tcnicas clnicas e psicoterpicas, no seu curso ou residncia de
psiquiatria.
51
7 LIMITAES DO ESTUDO
Embora todos os casos desta amostra tenham sido avaliados conforme os critrios
preconizados, atualmente (Cordioli20), a questo seria se todos eles teriam indicao de
psicoterapia de orientao analtica. Outro fator seria o fato de que os residentes e cursistas
utilizam vrias tcnicas de psicoterapia, tanto de orientao analtica como de apoio e
cognitiva. Poderiam os resultados serem conseqncia do efeito destas vrias tcnicas?
Quanto ao nmero de duplas consideravelmente pequeno, 37, um n maior
modificaria os resultados?
Quanto ao diagnstico, um paciente deprimido poderia estimular respostas ligadas
posio cognitiva decorrente da depresso?
O fato dos pacientes serem examinados por terapeutas diferentes, em idades, sexo,
experincia, caractersticas pessoais, como refere Meissne27, poderiam alterar
significativamente as caractersticas da aliana teraputica?
A no existncia de um manual preconizado de psicoterapia de orientao analtica
poderia provocar diferenas significativas quanto a uniformidade dos padres de
procedimentos. Embora Luborsky (citado por Marcolino36, 2003), enfatize que em
psicoterapia de orientao analtica, o uso de um manual poderia estreitar o planejamento
da psicoterapia, e que realmente o maior agente para uma psicoterapia efetiva a
personalidade do terapeuta, particularmente na criao de uma relao afetiva e suportiva
52
capaz de adaptar-se s necessidades dos pacientes e indo ao encontro da variabilidade e
complexidade da relao teraputica.
53
8 CONCLUSES
No incio deste trabalho foram referidas as dificuldades da existncia de mtodos
de pesquisa em psicoterapia de orientao analtica, com instrumentos quantitativos para
avaliar emoes. A utilizao do HAqII pode, dentro de suas limitaes, ter proporcionado
um exerccio neste sentido, porm, o desenvolvimento de novos instrumentos para
pesquisa nesta rea do conhecimento, s acontecer como produto dos j consagrados.
Um dos fatores que tambm deve ser levado em considerao nestes resultados, o
numero de casos em estudo. Fica o questionamento se uma amostra maior poderia alterar
os resultados obtidos, o que certamente s poder ser respondido em futuros estudos.
Ficaram questionamentos quanto influncia do gnero, da freqncia das sesses
e da experincia dos terapeutas que no puderam ser aprofundadas neste estudo.
Destacaram-se como resultados de maior impacto, em primeiro lugar que, as
evidncias deste estudo demonstraram no haver uma correlao significativa entre os
mecanismos de defesa utilizados pelos pacientes e a capacidade de ser estabelecida,
predominantemente, uma AT de boa qualidade e em segundo lugar, a existncia de uma
assimetria na qualidade da AT dos pacientes em relao qualidade da AT dos terapeutas.
54
9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1. FREUD, S. A dinmica da transferncia (1912). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., v. XII, 1976.
2. STERBA, R. F. The fate of the ego in analytic therapy. International Journal of Psycho-Analysis, v. 115, p.117-126, 1934.
3. BORDIN, E. Research strategies in psychotherapy. New York: John Wiley, 1974.
4. LUBORSKY, L. Helping alliances in psychotherapy, psychotherapy research and clinical research. American Psychological Association, Washington D.C., 1976.
5. LUBORSKY, L. et al. Psychological health sickness (PHS) as a predictor of outcomes in dynamic and other psychotherapies. Journal of Consulting and Clnical Psychology, v. 61, n. 4, p. 542-548, 1993.
6. PIPER, W. E. et al. Transference interpretation, therapeutic alliance, and outcome in short-term individual psychotherapy. Arch Gen Psychiatty, v. 48, n. 10, p. 946-953, 1991.
7. PIPER, W. E. et al. Quality of object relations versus interpersonal functioning as predictors of therapeutic alliance and psychotherapy outcome. The Journal of Nervous and Mental Disease, v. 179, n. 7, p. 432-438, 1991.
8. HORVATH, A. O.; GASTON, L.; LUBORSKY, L. The therapeutic alliance and its measures. In: MILLER, N. et al. Psychodynamic treatment research: a handbook for clinical practice. New York: Basic Books, p. 247-273, 1993.
9. MANUAL DIAGNSTICO E ESTATSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS. 4 ed., Porto Alegre: Artes Mdicas, 1994. Traduo de: Dayse Batista.
10. FREUD, S. O inconsciente (1915). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., v. XIV, 1974.
11. ETCHEGOYEN, R. H. Aliana teraputica. Traduo Ccero G. Fernandes. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas, cap. 18,19,20, p. 125-142, 1987. Traduo de: Fundamentos da tcnica psicanaltica.
12. GREENSON, R. R.; WEXLER, M. A relao no transferencial na situao psicanaltica. In: GREENSON, R. R. Investigao em psicanlise. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., 1969.
13. KLEIN, M. Fundamentos psicolgicos da anlise infantil (1926). In: _____. Psicanlise da Criana. So Paulo: Mestre Jou, 1981.
14. ZETZEL, E. R. Current concepts of transference. The International Journal of Psycho-Analysis, v. 37, p. 369-376, 1956a.
15. FREUD, S. A psicoterapia da histeria (1893). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., v. II, 1974.
16. STRACHEY, J. The nature of therapeutic action of psychoanalysis. Int. J of Psychoanalysis, v. 15, p. 125-59, 1934.
17. BIBRING, G. L. et al. Psychological processes in pregnancy: earlies mother-child relations. Psychoanalytic Study of the Child, v. 16, p. 9-72, 1961.
18. GREENSON, R. R.; HAVENS, L. I. The therapeutic alliance contemporary meanings and confusions. Int. Rev. Psycho-Anal, v. 6, p. 467-81, 1979.
19. MELTZER, D. O processo psicanaltico. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., 1978.
20. CORDIOLI, AV. Psicoterapias: abordagens atuais. 2 ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1998.
21. HEIMANN, P. On countertransference. Int. Journal Psycho-Anal., v. XXXI, partes I e II, p. 81-84, 1954.
22. MACKIE, A. J. Attachment theory: its relevance to the therapeutic alliance. Brit. J. of Med. Psychol., v. 54, p. 203-12, 1981.
23. DICKES, R. Technical considerations of the therapeutic and working alliance. Int. J. of Psychoanal. Psychother., v. 4, p. 1-24, 1975.
24. KAPLAN, H. I. Psicoterapias. In: _____. Compndio de psiquiatria, Porto Alegre: Artes Mdicas, cap. 32, p. 773, 1997.
25. HAUSNER, R. S. The therapeutic and working alliances. Int. J. of the Am. Psychoan. Assoc., v. 48, n. 1, 2000.
26. GREENSON, R. R. A tcnica e a prtica da psicanlise (1967), Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., 1981.
27. MEISSNER, W.W. The therapeutic alliance. New Haven: Yale University Press, 1996.
28. FREUD, S. Conferncia XXVII - Transferncia (1917). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., v. XVI, p. 503, 1976.
29. FREUD, S. Inibies, sintomas e ansiedade. Um estudo autobiogrfico (1925). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de
56
Janeiro: Imago Editora Ltda., v. XX, p. 13-17, 1976.
30. FREUD, A. O ego e os mecanismos de defesa. Rio de Janeiro: Ed. Civ. Brasileira, 1982.
31. FENICHEL, O. Teoria psicanaltica das neuroses (1932). Traduo Samuel Penna Reis. Rio de Janeiro-So Paulo: Livraria Atheneu, 1981. Traduo de: Os mecanismos de defesa.
32. FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade, So Paulo: Harbra, 1980.
33. VAILLANT, G. E. Adaptation to life. USA: Harvard University Press, 2001.
34. LUBORSKY, L. et al. The revised Helping Alliance questionnaire (HAq-II): psychometric properties. Journal of Psychotherapy Practice and Research, v. 5, n. 3, p. 260-271, 1996.
35. FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar - Novas recomendaes sobre a tcnica da psicanlise II (1914). In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda., v. XII, p. 191-193, 1976.
36. MARCOLINO, J. A.; IACOPONI, E. O impacto inicial da aliana teraputica em psicoterapia psicodinmica breve. Revista Bras. Psiq., v. 25, n. 2, junho/2003.
37. EIZIRIK, C. L.; SCHESTATSKY, S.; AGUIAR, R. Psicoterapia de orientao analtica. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1989.
38. GABBARD, G. O. Psiquiatria psicodinmica, Porto Alegre: Artes Mdicas, 2 ed., 1998.
39. KIPPER, L. C. Avaliao de mecanismos de defesa em pacientes com transtorno de pnico, sua relao com gravidade, resposta ao tratamento e alterao ps-tratamento. (Dissertao de Mestrado). Programa de Ps-Graduao em Cincias Mdicas: Psiquiatria, FAMED, UFRGS, junho/2003.
40. LUBORSKY, L. A pattern-setting therapeutic alliance study revisited. Psychotherapy Research, v. 10, n. 1, p. 17-29, 2000.
41. BARBER, J. P. et al. Therapeutic alliance as a predictor of outcome in treatment of cocaine dependence. Psychotherapy Research, v. 9, n. 1, p. 54-73, 1999.
42. DEROGATIS, L. R; LIPMAN, R. S.; COVI, L. SCL-90: an outpatient psychiatric rating scale: preliminary report. Psychopharmacol Bull, V. 9, p. 13-28, 1973.
43. SCHAUENBURG, H.; STRACK, M. Measuring psychotherapeutic change with the symptom checklist SCL 90. R. Psychother Psychosom, v. 68, p. 199-206, 1999.
44. ACKERMAN, S. J.; HILSENROTH, M. J. A review of therapist characteristics and techniques positively impacting the therapeutic alliance. Clinical Psychology Review, v. 23, n. 1, p. 1-33, Feb/2003.
45. HERSOUG, A. G.; SEXTON, H. C.; HOGLEND, P. Contribution of defensive functioning to the quality of working alliance and psychotherapy outcome. American Journal of Psychotherapy, v. 56, n. 4, p. 539-554, 2002.
57
46. DESPLAND, J. N. et al. Contribution of patient defense mechanisms and therapist interventions to the development of early therapeutic alliance in a brief psychodynamic investigation. Journal of Psychotherapy Practice and Research, v. 10, n. 3, p. 155-164, 2001.
47. MALAN, D. H. A study of brief psychotherapy. Oxford, England: Charles C. Thomas, 1963.
48. SCHESTATSKY, S. et al. Psicoterapia de orientao analtica em sade pblica. Caractersticas da prtica e perfil dos pacientes do Ambulatrio de Psiquiatria do HCPA- 1997. [Aceito para publicao na Revista Brasileira de Psicoterapia, Porto Alegre].
49. LEUTZINGER-BOHLEBER M. How to study the quality of psychoanalytic treatments. Int J Psychoanal, v. 84, p. 263-290, 2003.
58
ARTIGO
A relao entre os mecanismos de defesa e a qualidade da aliana
teraputica em psicoterapia de orientao analtica
59
Ttulo: A relao entre os mecanismos de defesa e a qualidade da aliana teraputica em psicoterapia de orientao analtica
The relation between defense mechanisms and the quality of therapeutic alliance in analytic psychotherapy
Autores: Fernando Grilo Gomesa, Luciana Terrab, Simone Hauckc e Lucia Helena Ceitlind
a Psiquiatra, Psicanalista, Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal FAMED UFRGS. b Psicloga, mestranda em Psiquiatria pela UFRGS c Psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela UFRGS, Mdica contratada do Servio de Psiquiatria do Hospital de Clnicas de Porto Alegre. d Psiquiatra, Professora Adjunta do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal FAMED UFRGS e do
Servio de Psiquiatria do Hospital de Clnicas de Porto Alegre. Professora Orientadora do Ps-Graduao de Clnica Mdica: Psiquiatria da UFRGS.
Local de Realizao: Servio de Psiquiatria do Hospital de Clnicas de Porto Alegre e Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da FAMED/UFRGS. Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereo da Instituio: Hospital de Clnicas de Porto Alegre. Servio de Psiquiatria. Rua Ramiro Barcelos, 2350. Largo Eduardo Zaccaro Faraco. CEP 900035-903. Fone: 21018294.
Autor responsvel pela correspondncia: Prof. Fernando Grilo Gomes
Endereo: Prof. Fernando Grillo Gomes
Hospital de Clnicas de Porto Alegre - Servio de Psiquiatria.
Rua Ramiro Barcelos, 2350. Largo Eduardo Zaccaro Faraco.
CEP 900035-903.
E-mail: [email protected]
Fone: (51) 21018294
Estudo referente ao mestrado do Dr. Fernando Gomes, realizado no Programa de Ps-
graduao em Cincias Mdicas: Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
60
Resumo Introduo: O estabelecimento de uma aliana teraputica de boa qualidade em uma psicoterapia psicanaltica fundamental para o processo teraputico. Este estudo avaliou a influncia do nvel de funcionamento defensivo do paciente na qualidade da aliana teraputica estabelecida durante a psicoterapia.
Mtodo: Pacientes em psicoterapia psicanaltica e seus respectivos terapeutas responderam ao Helping Alliance Questionary (HAq II). Os sintomas dos pacientes foram avaliados atravs do Symptom Checklist-90-R (SCL 90), e seu o nvel defensivo atravs da Escala de Funcionamento Defensivo do DSM-IV-TR.
Resultados: No houve associao entre o estabelecimento de uma aliana teraputica de boa qualidade e o nvel defensivo do paciente. No entanto houve diferena significativa quando a verso do terapeuta foi comparada com a respondida pelo paciente: os pacientes estabeleceram uma aliana teraputica de melhor qualidade em relao a seu