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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PSICOMOTRICIDADE E ESQUEMA CORPORAL: INTEGRAÇÃO ENTRE
MENTE E CORPO PARA CRIANÇAS ATÉ CINCO ANOS
Ellen Fátima Botelho Jakobsen
Rio de Janeiro, RJ
abril 2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PSICOMOTRICIDADE E ESQUEMA CORPORAL: INTEGRAÇÃO ENTRE
MENTE E CORPO PARA CRIANÇAS ATÉ CINCO ANOS
Autora: Ellen Fátima Botelho Jakobsen
Orientador: Jorge Tadeu Vieira Lourenço, M.Sc.
Rio de Janeiro, RJ
abril 2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
PSICOMOTRICIDADE E ESQUEMA CORPORAL: INTEGRAÇÃO ENTRE
MENTE E CORPO PARA CRIANÇAS ATÉ CINCO ANOS
Ellen Fátima Botelho Jakobsen
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Psicomotricidade
Rio de Janeiro, RJ
abril 2002
EPÍGRAFE
“...uma harmonia entre a mente e o
corpo, com a mente treinada para usar o
corpo adequadamente, e o corpo treinado
para responder aos poderes expressivos
da mente.”
(Howard Garder)
DEDICATÓRIA
À Isabella, querida filha, que me motiva,me inspira e
me ensina mais a cada dia;
ao meu marido pelo carinho e compreensão;
e todos que colaboram para o desenvolvimento do
ser humano e de si mesmo buscando a evolução e
a felicidade.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pela oportunidade de estar aqui e pelos exemplos;
aos professores e colegas pelas colaborações e trocas;
e acima de tudo Deus que sem Ele nada seria possível.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é mostrar a importância das atividades
psicomotoras focando o esquema corporal, como facilitar e reforçar o
conhecimento e a percepção do corpo pelas crianças de até cinco anos.
A psicomotricidade tem como finalidade uma ação educativa que age por
meio do corpo, sobre as funções mentais e comportamentais perturbadas ou
não. Desta forma, influencia no desenvolvimento da personalidade auxiliando
as crianças na aprendizagem e no autoconhecimento.
O desenvolvimento infantil mostra a evolução da criança através de uma
sucessão de transformações e aquisições. Esta dinâmica da personalidade
explica a eficácia da psicomotricidade porque pode retornar às etapas
anteriores, excluídas ou mal realizadas e tentará reconstruí-las mais
harmoniosamente, possibilitando uma melhor adaptação.
Com as atividades psicomotoras, a criança vivencia e aprende através da
consciência de seu corpo e da coordenação de seus gestos e movimentos. Na
medida que ocorrem estímulos neste sentido, a criança se beneficia de uma
melhor interiorização de seu corpo, podendo aprender a se expressar e se
comunicar de forma mais adequada.
SUMÁRIO
Páginas
INTRODUÇÃO.............................................................................................07
Capítulo 1 Psicomotricidade
1.1 Origem e definição.................................................................................
1.2 Tipos de movimentos.............................................................................
1.3 Tônus muscular e afetividade.................................................................
1.4 Elementos básicos da psicomotricidade.................................................
Capítulo 2 Desenvolvimento infantil
2.1 O desenvolvimento pré-natal.................................................................
2.2 O desenvolvimento do bebê....................................................................
2.3 O desenvolvimento nos anos pré-escolares...........................................
Capítulo 3 O esquema corporal
3.1 Origem e definição..................................................................................
3.2 Etapas do desenvolvimento do esquema corporal.................................
3.3 Perturbações do esquema corporal........................................................
3.4 Propostas de atividades psicomotoras....................................................
CONCLUSÃO........................................................................................................
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................
ANEXOS – Comprovantes acadêmicos:
1. De estágios...................................................................................................
2. De participação em eventos culturais...........................................................
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como tema a psicomotricidade e o esquema corporal
buscando a integração entre mente e corpo. Aborda estudos e atividades
psicomotoras ligadas à imagem corporal para crianças até cinco anos que
freqüentam creche ou maternal.
O objetivo deste estudo é sensibilizar educadores e famílias, que lidam
com crianças nesta faixa etária, para a importância do desenvolvimento infantil
e de atividades, que podem ser aplicadas em casa, na creche e no maternal,
facilitando e reforçando o conhecimento e a percepção do corpo e podendo
prevenir, amenizar ou solucionar possíveis perturbações.
Esta monografia tem como base as obras de La Pierre, Aucouturier,
Wallon, Gardner, Le Boulch, Meur, Celso Antunes e Piaget.
O capítulo 1 deste trabalho define o que é e quais são os elementos
básicos da psicomotricidade, abordando os tipos de movimentos e a relação do
tônus muscular com a afetividade.
É de grande importância que a criança desenvolva a habilidade de
aprimorar e aperfeiçoar o desempenho físico através da integração mente e
corpo. A psicomotricidade proporciona esta integração, buscando um
desenvolvimento “total” da pessoa.
Conforme Le Boulch (1992), as atividades psicomotoras ajudam a
criança a chegar a uma imagem corporal como uma unidade organizada, com o
seu mundo interno, suas partes, sua totalidade. Esta imagem é o instrumento
da relação dela com a realidade. A criança constrói sua imagem corporal
através de seus relacionamentos.
Wallon (1968) afirma que o controle do tônus muscular é fundamental na
atividade motora e postural, fixando a atitude, preparando o movimento,
sustentando o gesto, mantendo a estática e o equilíbrio.
O ato motor através da motricidade expressiva, dá a dimensão afetiva do
movimento, mostra que todas as emoções podem ser vinculadas à maneira
como o tônus se forma, se conserva ou se contorna.
O capítulo 2 aborda o desenvolvimento infantil da fase pré-natal até os
anos pré-escolares demonstrando como a criança média de até cinco anos se
desenvolve para que se possa compará-la a normalidade e concluir se ela está
atrasada no seu desenvolvimento. Assim, educadores e famílias podem ser
aconselhados de como ajudar.
O capítulo 3 define o que é esquema corporal, quais são as etapas de
seu desenvolvimento, possíveis perturbações e propostas de atividades
psicomotoras.
Conforme Meur (1989), o desenvolvimento do esquema corporal é
fundamental porque possibilita a criança tomar consciência de seu corpo e de
suas possibilidades de expressão. Na medida que ela tem uma imagem de si
mesma, ela percebe e controla melhor o seu corpo.
Portanto, a psicomotricidade é indispensável no desenvolvimento da
criança, seja ela normal ou com problemas. Esta ação educativa auxilia a
capacidade de análise, de lógica, de organização, de relação com os números,
de conhecimento e percepção do corpo, colaborando assim na formação da
personalidade e na evolução do ser. Proporciona também a expansão e o
equilíbrio da afetividade através do relacionamento com outras pessoas.
A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica e a
observação através de estágios em creche, academia de natação para bebês,
maternal e instituição de reabilitação.
CAPÍTULO 1
PSICOMOTRICIDADE
1.1 ORIGEM E DEFINIÇÃO
Segundo Gislene C. Oliveira (1997), o termo psicomotricidade surgiu em
1920, quando um pesquisador chamado Dupré observou a relação entre os
problemas psicológicos e motrizes e usou esta palavra para significar a relação
entre o movimento e o pensamento.
Desde então, vários trabalhos têm sido relacionados à detecção, à
análise, à educação e à reeducação dos distúrbios psicomotores.
Conforme Lapierre e Aucouturier (1986), a psicomotricidade é o estudo
do homem através de seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo
interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir, com
os outros, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionado ao processo de
maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas.
Portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento
organizado e integrado, em função de experiências vividas pelo sujeito cuja
ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.
A psicomotricidade pode ser exercida como educação e como
reeducação. A primeira visa prevenir distúrbios de aprendizagem e a segunda é
quando já existe um distúrbio e se usa atividades específicas para amenizar ou
resolver o problema.
1.2 TIPOS DE MOVIMENTO
O corpo evolui constantemente desde o controle dos movimentos
automáticos e voluntários até movimentos extremamente diferentes e
complexos. Isto depende da atenção, do rítmo e da intenção de cada ação.
Os movimentos podem ser:
MOVIMENTO VOLUNTÁRIO: Este movimento depende de nossa vontade. Nele
existe uma intenção, um desejo ou uma necessidade. O ato voluntário é sempre
aprendido e formado por diversas ações encadeadas.
MOVIMENTO REFLEXO: Este movimento não depende de nossa vontade e só
após ter sido realizado é que tomamos conhecimento dele. É uma reação
orgânica. A resposta motora é provocada por um estímulo recebido por
receptores sensoriais e encaminhado ao centro nervoso central.
MOVIMENTO AUTOMÁTICO: Este movimento depende de aprendizagem, da
prática, da histórica de vida e das experiências próprias de cada um. Nem
sempre é iniciado pela vontade, como a manutenção da postura e do equilíbrio.
Em alguns casos começa com o movimento voluntário e passa para o
automático, como dirigir carro.
Os movimentos são controlados pelo sistema nervoso por contrações
musculares, enquanto alguns músculos estão relaxados outros estão
contraídos, dependendo sempre dos estímulos internos e externos.
1.3 TÔNUS MUSCULAR E AFETIVIDADE
O tônus muscular é o estado permanente de relativa tensão que existe,
mesmo em repouso, em cada um dos músculos. Ele está presente em todas
asfunções motrizes do organismo, ou seja, todo movimento realiza-se sobre um
fundo tônico e um dos aspectos fundamentais é sua ligação com as emoções.
A boa evolução da afetividade é expressa através da postura, de atitudes
e do comportamento. Pela litura do corpo pode-se transmitir o estado interior
como a tristeza, a dor, o medo, a alegria.
Wallon (1968), afirma que as crianças podem ser hipertônicas,
hipotônicas ou normais.
As hipertônicas possuem um aumento do tônus, os músculos
apresentam grande resistência porque são contraídos em excesso. Os
movimentos voluntários e automáticos são comprometidos, por exemplo:
escrevem tão forte que rasgam a folha.
As hipotônicas apresentam uma pequena resistência muscular, têm uma
diminuição da tonicidade muscular da tensão, por exemplo: a escrita é tão leve
que quase não se enxerga.
Tanto as crianças hipertônicas quanto as hipotônicas precisam exercitar
o controle de seu tônus muscular para que possam ter o domínio de seu corpo
e agir de forma às diversas situações da vida.
Conforme Le Boulch (1992), o educador pode auxiliar a criança a
desenvolver ou refrear seu tônus através de exercícios psicomotores. O tônus
muscular depende muito da estimulação do meio. O educador e a família têm
um papel fundamental, na meda que auxiliam a criança a confiar mais em si
mesma, ela passa a agir no meio ambiente com mais segurança. Assim, seu
corpo responderá de forma satisfatória, nem tão tenso nem tão relaxado,
característica das crianças “normais”.
1.4 ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE
Segundo Meur (1989), os elementos básicos da psicomotricidade são: o
esquema corporal, a lateralidade, a estruturação espacial, a orientação
temporal e exercícios de pré-escrita. São as condições mínimas necessárias
para uma boa aprendizagem, constituem a estrutura da educação psicomotora.
ESQUEMA CORPORAL: é a consciência e percepção global do próprio corpo e
suas possibilidades de movimento.
LATERALIDADE: é a dominância de um dos lados do corpo, nível de força e de
precisão dos membros superiores, dos membros inferiores e dos olhos.
ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL: é como o indivíduo se localiza no espaço que o
circunda, é a consciência do lugar e da orientação que seu próprio corpo pode
ter em relação às pessoas e coisas.
ORIENTAÇÃO TEMPORAL: é como o indivíduo se situa no tempo.
EXERCÍCIOS DE PRÉ-ESCRITA: é como a criança pode fortalecer seus
músculos e trabalhar sua flexibilidade articular, preparando-se para os
diferentes movimentos da escrita.
CAPÍTULO 2
O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
2.1 O DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
A gravidez dura cerca de 266 dias e pode ser divida em três estágios: o
germinativo, que vai da fertilização até a segunda semana e é caracterizado por
uma rápida divisão celular e aumento de complexidade do organismo; o
embrionário, que vai da segunda semana até a décima segunda semana
aproximadamente e caracteriza-se pelo rápido crescimento e diferenciação dos
principais sistemas e órgãos do corpo; e o fetal, que vai da décima segunda
semana até o nascimento e é marcado pelo crescimento rápido e mudanças na
forma do corpo.
Conforme Celso Antunes (1998), o feto deixa de ser um habitante
passivo e passa a movimentar-se respondendo a sons e vibrações do
ambiente. Ele afirma que pesquisas indicam que o feto ouve e que há
diferenças individuais na atividade e no ritmo cardíaco.
O organismo em desenvolvimento é grandemente afetado pelo ambiente
pré-natal. Por isso, a mãe deve ter cuidado com a nutrição, a absorção de
drogas, doenças, irradiações, incompatibilidade sanguínea e alterações de
humor para que a criança tenha crescimento físico e emocional satisfatórios.
2.2 O DESENVOLVIMENTO DO BEBÊ
Ao nascer as necessidades elementares se manifestam e serão
satisfeitas pela mãe em maior ou menor grau. Assim, já aprece bem cedo, entre
a mãe e o bebê, uma relação entre a afetividade e a expressão tônica e motora
fundamental na formação da personalidade.
É importante que a mãe seja afetuosa e controle seu humor, assim
desenvolvendo uma relação rica com o bebê. Caso contrário, se a criança for
tratada com excesso de tensão, ela reagirá por descargas tônicas, podendo
ficar irritável e nervosa.
Segundo Celso Antunes (1998), na primeira semana o bebê já identifica
a mãe pela voz e pelo cheiro. Desde o nascimento, busca a integração social e
a formação de vínculos afetivos.
A criança nasce com habilidade para aprender, mas a aprendizagem
ocorre com a experiência. Os bebês aprendem com o que vêem, sentem,
ouvem, cheiram, provam e tocam, transformando essas ações sensoriais a
partir do repertório de seus conhecimentos inatos. Conforme Papalia e Olds
(1998), a aprendizagem é uma forma de adaptação ao ambiente, é o início da
consciência das necessidades postas pelo social.
A aprendizagem possui limitações impostas pela maturidade. O bebê
precisa de certas competências motoras, sensoriais e neurológicas para
aprender a engatinhar, andar, correr, etc.
Celso Antunes (1998), afirma que no primeiro mês, os bebês exercitam
reflexos inatos e ganham certo controle sobre os mesmos, mas não coordenam
as informações e seus sentidos e não desenvolvem a percepção de
permanência do objeto.
Segundo Le Boulch (1992), no segundo mês a criança começa com o
“jogo das mãos”, leva a mão na boca, agarra uma mão na outra, olha para elas.
De um a quatro meses, os bebês repetem comportamentos agradáveis
que ocorrem ocasionalmente e começam a coordenar as informações
sensoriais. É importante conversar com o bebê, valorizar seu balbucio e fazê-lo
descobrir sua linguagem.
Conforme Le Boulch (1992), de quatro a seis meses ocorre a
coordenação do espaço visual e do espaço tátil: começa a preensão.
De quatro a oito meses, as crianças se interessam pelo ambiente e
repetem reações que levam a resultados interessantes. Mostram que dominam
o conceito de permanência de objeto. É importante deixar a criança brincar com
objetos de diferentes formas e reconhecer figuras.
Le Boulch (1992), afirma que de seis a dez meses é o período da
manipulação, a aquisição da posição sentada, permite a aproximação da mão e
da tomada do objeto. Aos dez meses o bebê adquire suas características
definitivas de coordenação.
De oito a doze meses, os bebês podem prever eventos e o
comportamento é mais deliberado e intencional à medida que coordenam
esquemas aprendidos previamente.
Através da observação em estágios pode-se confirmar que, geralmente,
aos nove meses a criança pode rastejar e manter-se de pé com apoio. Aos
onze ou doze meses desloca-se com ajuda. Entre doze e quatorze meses a
criança entra no período da marcha. É indispensável que ela tenha equilíbrio. O
acesso à locomoção vai multiplicar as possibilidades de aquisição, graças à
exploração.
De onze a dezoito meses, os bebês mostram curiosidade e variam
propositalmente suas ações para perceberem os resultados. Exploram objetos,
tentam novas atividades e usam a tentativa e erro para a solução de problemas.
Deve começar a diferenciar sons e descobrir seus significados.
Segundo Celso Antunes (1998), de doze a vinte e quatro meses, os
bebês usam a linguagem, não se restringem mais à tentativa e erropara
resolver problemas. Começam a pensar em eventos e prever suas
conseqüências e já usam a linguagem para dizer o que querem ou não. É
importante que descubram o sentido dos talheres e das gravuras.
Howard Gardner (1999), afirma que o desenvolvimento intelectual
piagetiano da criança até dois anos é chamado de sensório-motor, é quando ela
adquire um conhecimento prático do mundo físico ao seu redor, o bebê
desenvolve o conceito de permanência de objeto.
2.3 O DESENVOLVIMENTO NOS ANOS PRÉ-ESCOLARES
A criança de três anos tem uma aparência mais esguia e atlética. Os
músculos abdominais se desenvolvem, troncos, braços e pernas se alongam.
Esse desenvolvimento físico é acompanhado com rápido desenvolvimento
motor global como: correr, saltar, rolar. E também com igual desenvolvimento
motor fino como: copiar, abotoar, amarrar. A inteligência e a memória
apresentam um expressivo desenvolvimento e demonstram maiores
necessidades sociais.
Howard Gardner (1999), mostra que o estudo de Piaget define o período
de dois a seis ou sete anos como intuitivo ou simbólico, onde ocorre o
desenvolvimento cognitivo, ou seja, podem pensar em símbolos. As crianças
agem e refletem sobre suas ações, mas ainda não podem usar a lógica.
Celso Antunes (1998), descreve que as crianças nesta fase são
centralizadoras, irreversíveis, antitransformadoras, trandutivas e egocêntricas.
Os estímulos utilizados devem levar em conta essas características.
Elas são centralizadoras porque não pensam, ao mesmo tempo, em
diversos aspectos de uma mesma situação. Como por exemplo, não imaginam
que um copo de água alto possa conter a mesma quantidade de água que um
copo baixo e largo. E diferenciam precariamente a fantasia da realidade.
São irreversíveis porque revelam a incapacidade de perceber que uma
ação pode tomar ambas as direções. Parece-lhes que a mesma quantidade de
água contida em dois copos iguais não pode ser a mesma quando em copos
diferentes.
São antitransformadoras porque não conseguem pensar de forma lógica
e em seu diálogo misturam causa e efeito. Como por exemplo: “ a menina caiu
do cavalo porque... quebrou a perna”.
São transdutivas porque não levam em conta o geral, vão de um
particular para outro particular. Não associam. Por exemplo: tomou chuva e
ficou resfriado, só entendem que as situações ocorrem ao mesmo tempo.
E são egocêntricas porque mostram incapacidade de ver as coisas do
ponto de vista do outro. É a compreensão centrada em si próprio.
De dezoito até vinte e quatro meses a criança torna-se capaz de captar
nos símbolos o conhecimento de que existem eventos e que estes envolvem
agentes, ações e objetos e têm lá suas conseqüências.
Conforme Celso Antunes (1998), aos três anos a criança ao observar o
símbolo, capta certas relações de tamanho e de forma extraídas de uma
referência visual. Aos quatro anos a criança pode começar a enumerar um
pequeno conjunto de objetos e deve ser levada a perceber relações espaciais
como: acima, embaixo, à frente, atrás. E lógico-matemáticas como: fino, grosso,
largo, estreito, muito, pouco. Nesta fase ela está apta para captar quantidades e
relações numéricas relativamente precisa. Aos cinco, seis ou sete anos as
crianças são capazes de desenhar símbolos para se lembrar de alguém ou de
uma situação.
Howard Gardner (1999), considera o período de dois a sete anos como
um momento que a capacidade da criança de usar, manipular, transformar e
compreender diversos símbolos amadurece em uma velocidade feroz. Para ele,
no período simbólico, a criança é impulsionada para um dinamismo cuja origem
é intrínseca.
As habilidades cognitivas podem ser aceleradas e pesquisas recentes
sugerem que a maior parte de crianças pequenas, desde que estimuladas
coerentemente, são ligeiramente mais competentes, principalmente na
linguagem.
As atividades psicomotoras auxiliam fornecendo experiências,
estimulando os sentidos das crianças, abrindo espaços para a ação infantil.
CAPÍTULO 3
O ESQUEMA CORPORAL
3.1 ORIGEM E DEFINIÇÃO
Segundo Le Boulch (1992), o termo “esquema corporal” foi criado em
1911 pelo neurologista Henry Head, representando um ponto de referência e
permitindo a construção de um modelo postural próprio da pessoa.
O modelo postural compreende todos os gestos do corpo, seja em
contato com o próprio corpo ou com objetos exteriores.
Conforme Meur (1989), o esquema corporal é um elemento básico
indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação
que a criança tem de seu próprio corpo, de seu ser, de suas possibilidades de
agir e transformar o mundo à sua volta.
A criança se sentirá bem na medida que seu corpo lhe obedece em que
o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas
também para agir.
O esquema corporal é base da estrutura espaço-temporal, só após
reconhecer-se é que a criança poderá apreender o espaço que a rodeia.
O esquema corporal é a organização das sensações relativas ao próprio
corpo, como resultado da associação de elementos cada vez mais coordenados
e complexos. Nada mais é do que a imagem de si mesmo, isto é, uma imagem
que tem como particularidade o interesse afetivo que lhe dirige o sujeito.
A construção do esquema corporal se dá a partir da maturação
neurológica, da evolução sensório-motora e da relação com o corpo do outro.
3.2 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DO ESQUEMA CORPORAL
Esta pesquisa considera as etapas do corpo vivido que ocorre do
nascimento até três anos e do conhecimento das partes do corpo que ocorre de
três até sete anos, já que o interesse aqui é verificar o desenvolvimento infantil
até cinco anos.
CORPO VIVIDO: Esta etapa é uma fase de adaptação, a criança delimita
progressivamente seu corpo, através de experiências realizadas na exploração
do ambiente e no contato com as pessoas. Os interesses da criança são
voltados para o mundo externo, explorando-o constrói seu mundo interno.
Prevalecem as sensações e vários exercícios motores. É o momento que toma
consciência do próprio corpo, da relação das partes entre si, das possibilidades
de movimento e ação.
Segundo Le Boulch (1992), a criança aos poucos melhora o controle da
motricidade global, é importante que ela possa exercitar o controle do tônus
muscular para que alcance um certo domínio global. Assim, ela poderá agir
adequadamente em momentos que geram uma carga emocional intensa.
O objetivo da psicomotricidade nesta fase é levar a criança a dominar
seus movimentos e a perceber seu corpo, constituindo um todo. São exerc´cios
que passam da atividade espontânea da criança para uma atividade integrada.
Isto quer dizer que começa com brincadeira livre e passa posteriormente a
responder dados verbais.
CONHECIMENTO DAS PARTES DO CORPO: Esta etapa ocorre após a
percepção global do corpo, é quando acontece a tomada de consciência de
cada segmento corporal. Isto se realiza de forma interna: quando a criança
sente cada parte de seu corpo, e de forma externa: quando ela vê cada
segmento num espelho, em outras pessoas ou em figuras.
Nesta fase a psicomotricidade convida a criança a situar todos os
segmentos do corpo, relacionando-os, a fim de reunificar a imagem corporal.
Ela deve conseguir apontar, nomear as diferentes partes do corpo e localizar
uma percepção tátil.
Os primeiros exercícios têm como objetivo permitir que as crianças
conheçam as partes mais usadas de seu corpo. A partir dessa base, ela
exercitará o conhecimento das diferentes articulações.
3.3 PERTURBAÇÕES DO ESQUEMA CORPORAL
Todas as perturbações têm em comum o mau conhecimento ou
desconhecimento do corpo, uma regulação tônica e respiratória de má
qualidade, uma má integração do tempo e do espaço. Tudo isso num contexto
afetivo perturbado, acarretando bloqueio à aprendizagem. Segundo Masson
(1985), a evolução fica bloqueada pela ausência de estimulação ou pela recusa
de integração das estimulações.
Segundo Meur (1989), as perturbações são problemas de natureza
psicomotora que influem na formação do esquema corporal que podem interferir
na estruturação espacial e temporal.
A classificação dessas perturbações é difícil, porém é feita para facilitar a
compreensão desse estudo. É importante lembrar que existem interações entre
os diferentes tipos de distúrbios. O foco aqui é para as perturbações do
esquema corporal.
Meur (1989), afirma que as perturbações do esquema corporal são de
origem afetiva, exceto os casos referentes a problemas motores e intelectuais.
São elas apresentadas pelos seguintes sintomas:
SINTOMA 1 – NÃO RECONHECE PARTES DO CORPO: O desenho da figura
humana é pobre para a idade da criança, as partes são mal colocadas. Existe
incapacidade de reconstruir um boneco articulado. Ignora o vocabulário
corporal.
SINTOMA 2 – NÃO POSICIONA BEM SEUS MEMBROS AO GESTICULAR: A
criança ainda não descobriu todas as possibilidades espaciais de seu corpo ou
tem falta de concentração para perceber bem a posição de seus membros.
Existe dificuldade para imitar bem um exercício apresentado e seus gestos não
são harmoniosos.
SINTOMA 3 – NÃO COORDENA BEM SEUS MOVIMENTOS: A criança não
tem problemas motores, mas é muito lenta. Ela precisa refletir para executar
seu gesto, não domina seu corpo em ação. Para realizar um movimento,
começa bem, mas depois se distrai e não consegue concluir. Em algumas
situações quer agir muito rápido e isto atrapalha seus movimentos.
Segundo Masson (1985), quando esses distúrbios existem, normalmente
levam a criança a uma dificuldade ou incapacidade de adquirir o simbolismo e a
conceituação na idade esperada, mesmo que não haja deficiência mental. O
problema afetivo jamais está ausente e é muito importante resolver a questão
do relacionamento, condicionando o desejo de expressão e de comunicação.
3.4 PROPOSTAS DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS
Em qualquer atividade é importante observar: se a ação é adequada para
a idade, se os movimentos da criança são harmoniosos, se tem interesse,
equilíbrio e atenção.Se a maioria do grupo mostrar desinteresse pela atividade,
será necessário improvisar de forma que alcance os objetivos propostos. É
fundamental proporcionar um bom relacionamento do grupo, um ambiente
adequado e permitir descansos durante e após cada exercício.
ETAPA: CORPO VIVIDO
EXERCÍCIOS DE GRANDE MOTRICIDADE:
1. Arrastar, engatinhar, rolar, andar, correr, pular, utilizando ou não objetos
como obstáculos ou circuitos. Em algumas ações as posições podem ser
variadas: com um pé só, com os dois pés juntos, de joelhos. Mostrar a diferença
da atividade com barulho e sem barulho.
2. Empilhar e destruir torres feitas com objetos que podem ser de espuma,
madeira, plástico, etc.
3. Atravessar túneis ou cabanas feitas com lençol.
4. Mostrar móbiles e soprar bolinhas de sabão.
5. Brincar de achar e esconder.
6. Encher saco grande com várias bolas de gás coloridas e abrir na frente da
criança, deixar que ela observe eles subindo.
7. Encher um saco grande com vários brinquedos e tirar um de cada vez
mostrando-os para o bebê.
8. Molhar os lábios, pressionar contra o braço ou barriga do bebê e soprar
devagar para criar uma vibração e fazer cócegas.Quanto mais alto o barulho,
melhor.
9. Passar uma fita ou outro objeto nos braços, nas pernas, na cabeça do bebê.
10. Brincar de olhar-se no espelho, fazendo caretas ou não.
11. Brincar de trem dando as mãos ou segurando-se pelos ombros.
12. Amarelinha, em duas versões: pular com um pé na ida e com outro na volta
ou alternar o pulo com um pé e colocar os dois pés nas casas 2-3 e 5-6.
13. Lançamentos: boliche; bola na lata; bola na cesta; atirar à distância objetos
de pesos diferentes; atirar à distâncias crescentes e decrescentes.
14. Jogos de bola: lançar e apanhar, jogando para o alto, contra a parede; rolar
a bola no chão; acertar alvos com a bola.
15. Jogos de equilíbrio: andar sobre bancos; passar de uma cadeira para a
outra; andar de quatro por baixo de bancos; pular com um pé.
16.Jogos de inibição: parar de correr ao toque do apito; parar diante de um
obstáculo; jogo de estátuas.
EXERCÍCIOS DE MOTRICIDADE REFINADA:
1. Rasgar, amassar ou torcer papéis.
2. Costurar placas perfuradas com barbante ou fio plástico.
3. Recortar em linha reta ou contornando figuras.
4. Enfiar macarrão ou miçangas em barbante ou fio plástico.
5. Jogar bolas de gude e pião.
6. Rodar e puxar carrinhos.
7. Despir e vestir bonecos.
8. Abotoar panos e roupas.
9. Embrulhar objetos.
10. Girar e fazer ondulações com cordas na horizontal e vertical.
11. Jogos de encaixes simples.
12. Jogos de martelos e pregos.
13. Massa ou argila para modelar.
ETAPA: DO CONHECIMENTO DAS PARTES DO CORPO
EXERCÍCIOS DO PONTO DE VISTA MOTOR E SENSÓRIO-MOTOR:
1. Tocar as diversas partes do corpo após solicitação.
2. Apontar em figuras ou em outra pessoa as diversas partes do corpo.
3. Deitar no chão e pedalar com as pernas para cima.
4. Andar com uma bola entre as pernas.
5. Vestir diferentes objetos como: óculos, boné, etc.
6. Fazer mímicas como se estivesse: colocando as calças, escovando os
dentes.
7. Aplaudir.
8. Andar descalça na areia ou por cima de objetos de texturas diferentes.
9. Colocar-se sobre uma bola grande: rolar nas costas e no ventre.
10. Tapar os ouvidos e os olhos.
11. Estalar a língua.
12. Imitar os olhos do chinês.
13. Apanhar com a boca uma bala pendurada ou em cima de um móvel.
14.Tentar adivinhar objetos com os olhos vendados.
15. Andar de joelhos.
16. Imitar animais.
17. Colocar os cotovelos nos joelhos ou deitar apoiando-se nos cotovelos.
18. Formar números com os dedos.
19. Músicas com coreografias.
20. Espirrar água com os dedos.
21.Fazer buracos na areia com os dedos e com as mãos.
22.Pegar uma bola com a ajuda de outra pessoa usando somente a testa.
21. Lavar as diversas partes de um boneco.
22. Amarrar um lenço em diferentes partes do corpo.
EXERCÍCIOS DO PONTO DE VISTA PERCEPTOMOTOR:
1. Jogos de memória: fazer pares com figuras iguais; reconhecer a mesma
pessoa em fotos ou figuras diferentes.
2. Quebra-cabeças simples de seis peças usando o corpo humano.
3. Jogos de encaixes com o corpo todo ou com as partes do rosto.
4. Pintar determinadas partes do corpo em um desenho preto e branco.
5. Modelar um boneco com massinha ou argila.
6. Desenhar uma figura humana.
7. Preencher um rosto colocando: olhos, nariz, boca, etc.
8. Descobrir que parte do corpo está faltando em um desenho.
9. Montar figuras humanas utilizando formas geométricas ou recortes.
10.Construir um boneco articulado.
11.Reconstruir figuras humanas reunindo três partes recortadas, como se fosse
um quebra-cabeça, para a criança perceber largura, altura, diferentes
vestimentas.
CONCLUSÃO
A família, a creche, a escola maternal e o ambiente que a criança vive
desempenham um papel determinante na preparação dela para o ingresso no
ensino fundamental e para a vida. Isto acontece de forma ainda mais eficaz
quando se tem como objetivo o desenvolvimento geral do indivíduo
promovendo todas as formas de expressão verbal e gráfica e favorecendo
através de jogos e experiências relacionais das crianças entre si e entre adultos
atraindo-as à cooperação.
Por meio de atividades psicomotoras a criança busca um equilíbrio entre
seu mundo interno e externo. Desta forma, ela condiciona e interioriza o
conhecimento do corpo. Ela tendo a consciência de seu corpo e de seus
movimentos, ela se expressa e se comunica melhor.
Além disso, o trabalho psicomotor beneficia a criança no controle de sua
motricidade utilizando-se de maneira privilegiada a base rítmica associada a um
trabalho de controle tônico e de relaxação.
Portanto, a aplicação de atividades psicomotoras para crianças de até
cinco anos, seja em casa, na creche ou na escola maternal, possibilita a criança
a aprender e conhecer melhor seu próprio corpo. A partir de movimentos e
atitudes corporais, favorece a gênese da imagem do corpo, que é fundamental
para a formação da personalidade. Assim, ela passa a nomear cada parte do
corpo, a usá-lo livremente, a manusear instrumentos que exigem coordenação
fina, a se expressar e se colocar de forma positiva através de movimentos
harmoniosos, buscando sempre a integração da mente e do corpo. Com esta
ação os educadores e a família proporcionam melhores condições de
aprendizagem e de autoconhecimento.
É essencial que a educação infantil seja plena de brincadeiras que
gratificam os sentidos, levam ao domínio de habilidades, despertam
imaginação, estimulam a cooperação e a compreensão sobre regras e limites, e
respeite, explore e amplie os inúmeros saberes que toda criança possui quando
chega à escola.
O trabalho corporal constitui a melhor ajuda a uma criança incapaz de
controlar-se.
O quanto antes uma criança for estimulada com atividades adequadas à
sua idade e à sua realidade, melhor será o seu desempenho na escola e na
vida.
Em outra oportunidade ou para quem tenha interesse, este trabalho pode
ser aprofundado focando-se as outras bases da psicomotricidade como: a
lateralidade, a estruturação espacial, a orientação temporal e exercícios de pré-
escrita.
BIBLIOGRAFIA
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Petrópolis: Vozes, 1998.
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