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Dezembro 2010 Primeiro Texto / Especial ARS PRIMEIRO TEXTO Jornal Laboratório do 4º semestre de Jornalismo (FaAC) - Manhã - Ano XIII-Especial - Dezembro 2010 ARS Criada em 1994, a ARS - Ação de Recuperação Social desenvolve um trabalho comunitário aos moradores do Saboó e imediações, nas áreas pedagógicas, de apoio social e de geração de renda, construindo uma nova realidade para centenas de crianças, jovens e adultos. Confira nesta edição especial as atividades desenvolvidas pela entidade. Construindo uma nova realidade

PT Especial ARS

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Jornal Mural Primeiro Texto Especial MANHÃ

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Page 1: PT Especial ARS

Dezembro 2010 Primeiro Texto / Especial ARS �

PRIMEIRO TEXTOJornal Laboratório do 4º semestre de Jornalismo (FaAC) - Manhã - Ano XIII-Especial - Dezembro 2010

ARS

Criada em 1994,a ARS - Ação deRecuperação Social desenvolve um trabalho comunitário aos moradores do Saboó e imediações, nas áreas pedagógicas, de apoio social e de geração de renda, construindo uma nova realidade para centenas de crianças, jovens e adultos. Confira nesta edição especial as atividades desenvolvidas pela entidade.

Construindo umanova realidade

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Primeiro Texto / Especial ARS� Dezembro 2010

Editorial

Mal começara o semestre e nossos professores já fa-lavam desse trabalho. A verdade é que a classe não deu muito valor. Veio a escolha da instituição: Ação de Recuperação Social - ARS. E então chegou o dia de conhecer mais sobre ela. Recebemos a diretora

financeira Eva no início de outubro. Saber mais sobre a instituição animou os alu-

nos que no mesmo dia já pensaram em pautas. Na semana seguinte, decidimos os textos e, divididos entre carros e ônibus, fomos ao Saboó, onde fica o

prédio da entidade, para conhecer o local. Além das instalações, histórias e das

atividades, conhecemos a presidente Myrian de Domênico Rodrigues. Nesse dia também tivemos o

primeiro contato com nossos entrevistados e também futuros leitores. Saímos de lá com a sensação de

termos feito a melhor escolha. A partir desse dia os alunos foram, em grupos

ou sozinhos, fazer suas reportagens. Conheceram personagens e a Vila Pantanal, um núcleo popular no Saboó. Também vivenciaram os projetos e o almoço

organizado pela ARS. O trabalho com a instituição encantou tanto aos alunos que alguns pensam em voltar para dar aulas ou simplesmente ajudar com doações. Buscamos na realização desse trabalho dar o melhor de nós para uma instituição que procura melhorar não só a vida

de seus atendidos, mas também fazer deles pessoas melhores.

Making Off

KARINA CARNEIRO

CAUÊ GOLDBERG

CAUÊ GOLDBERG

MARIANA TERRA

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CAR

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MARIANA TERRA

KARINA CARNEIRO

MARIANA TERRA MAR

IANA TER

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MARIANA TERRA

PRIMEIRO TEXTO é o Jornal laboratório do Curso de Jornalismo. Redação, edição e diagramação dos alunos do 2º ano de Jornalismo do período diurno da Universidade Santa Cecília - UNISANTA.

Diretor da FaAC: Humberto Iafullo Challoub.Coordenador de Jornalismo: Robson Bastos.Professores Responsáveis: Fernando Claudio Peel (diagramação), Fernando De Maria (textos)Editora: Bruna Corralo.Sub-editores: Mariana Serra, Simone Menegussi, Cauê GoldbergEditores gráficos: Mariana Terra, Vanessa Teixeira, Caio Augusto, Karina Car-neiro, Ivan Baeta.Foto Capa: Karina CarneiroO teor das matérias e artigos são de responsabilidade de seus autores não representando, portanto, a opinião da instituição mantenedora.

A elaboração deste jornal foi um processo detalhado, que durou 60 dias. Algumas imagens retratam como

foi o trabalho. Acima a classe reunida na primeira visita à entidade. A seguir, da esquerda para direita:

um de nossos reporteres, Cauê Goldberg, trabalhando no almoço realizado dia no dia 24 de outubro. Crian-ças da ARS são entrevistadas por nossos repórteres. As crianças na aula de coral; repórter Karina Carneiro entrevista a professora de reforço escolar Rosangela.

Aldo Jr, voluntário conversa e dá instruções sobre o almoço. Entrega do ventilador sorteado em rifa durante o almoço. O prêmio foi doado pela Arno. Crianças posando para foto, durante a aula.Hora do lanche na ARS. Voluntários ajudam a preparar o almoço especial da ARS. Voluntárias posam para

foto durante o evento. O professor Fernando De Maria conversa com a tesoureira Evangelina de Andrade e

a presidente Myriam Rodrigues, que mostram as ativi-dades da entidade.

Fazer pessoas melhores

Etapas de um jornal

MARIA VITÓRIA TERRA

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Dezembro 2010 Primeiro Texto / Especial ARS �

KARINA CARNEIRO

História construída ‘tijolo a tijolo’

Vanessa Teixeira

A ideia de criação da Ação de R e c u p e -

ração Social – ARS decorreu de um tra-balho voluntário em Educação TVE, de-senvolvido pela pro-fessora, atualmente presidente da enti-dade, Myrian de Do-mênico Rodrigues, em 1988. O projeto era constituído de cursos e aulas dire-cionado às pesso-as que desejassem atuar como voluntá-rios em instituições beneficentes de Santos.

A ARS foi fundada em 30 de junho de 1994 por um grupo de amigos. A assembleia-geral de fun-dação ocorreu no Sindica-to dos Petroleiros na Ave-nida Conselheiro Nébias – Santos, com a presença de voluntários e pessoas especialmente convida-das.

O conceito de criação da ARS provém da aproxima-ção da professora Myrian de Domênico Rodrigues com o Conselho Tutelar, no início dos anos 90. Houve um interesse pelo desen-volvimento de projetos de visitas às famílias de risco social. Os conselheiros da Zona Noroeste inventaram o Projeto Famílias Madri-nhas, designado a atender as crianças de famílias si-tuadas abaixo da linha da pobreza, oferecendo re-cursos necessários para crescerem com saúde, educação e dignidade.

A importância desse projeto resultou na cria-

ção da Ação de Recupera-ção Social – ARS, dando então a forma jurídica e institucional às atividades existentes e aprimorando os novos projetos.

Por oito meses, a sede da instituição era na Casa das ONG’s, situada na Avenida Almirante Cochra-ne. E em 1995, graças a uma doação, foi possível a conquista de um imóvel, onde hoje funciona a sede, à Rua Manoel Barbosa da Silveira, 239, Saboó, em Santos.

Em 1998, a área foi re-construída com mais 71m² com uma obra que durou quatro meses. Depois de oito anos, foi inaugurada a nova sede no mesmo lo-cal. No entanto, com maior espaço, contando agora com três andares consti-tuídos de salas, refeitório, biblioteca, laboratório de informática e banheiros.

A ARS atualmente tem como fonte de renda, as doações de amigos e con-

tribuintes, o bazar e bre-chó permanentes. A insti-tuição teve por um tempo convênio com a Prefeitu-ra de Santos, porém por exigências burocráticas abriram mão. “Estava se tornando muito difícil para nós, nem sempre conse-guíamos cumprir as exi-gências. Como, por exem-plo, o número de famílias cadastradas”, conta a pre-sidente Myrian.

Atualmente, a institui-ção tem cadastradas dez famílias, totalizando cer-ca de 154 pessoas. Con-ta também com 35 volun-tários, seis conselheiros, três funcionários, dois es-tagiários e seis diretores.

Dos cursos oferecidos, os de artesanato têm 43 alunos, os de informática 15; aulas de reforço esco-lar, 18; manicure cinco, e de alfabetização, quatro alunos. Porém, quando sobram vagas são aceitas alunos que não são de fa-mílias cadastradas.

Em sede própria, a entidade atende a moradores do Saboó e das imediações

De volta ao comando

Um profissional admiradoVanessa Teixeira

Jornalista, economista, espírita e muito respei-

tado por todos, José Ro-drigues era o presidente da Ação de Recuperação Social – ARS. Falecido em fevereiro passado aos 72 anos, Rodrigues deixou sua esposa Myrian de Do-mênico Rodrigues e cinco filhos.

No início de sua vida, tudo foi muito sofrido, po-rém nada o abalou ou o fez desistir de lutar pelos seus sonhos e seguir sua trajetória. “Do jeito em que viveu na infância e na ado-lescência, estudaria até a quarta série e iria trabalhar, como era comum naquela época”, descreve sua vi-úva Myrian. “Porém, ele gostava de crescer e abrir novos caminhos”, conta.

José Rodrigues conhe-ceu sua então esposa, Myrian de Domênico Ro-drigues, no movimento jo-vem espírita, e atuou como jornalista no jornal do cen-tro espírita. Jovem e sol-teiro, trabalhou no serviço social da Santa Casa. Em busca de melhorias e si-tuação mais segura antes de seu casamento, pas-sou a trabalhar na Codesp (Companhia Docas de São Paulo).

Interessado em litera-tura, se apresentou em A Tribuna como jornalista, e passou a fazer, por muitos anos, uma coluna de eco-nomia no jornal, já que era formado em Economia na Unisantos (Universidade Católica de Santos). Foi quando projetou seu nome e se lançou como jornalis-ta.

Sua outra especialida-de era o café. Em diver-sas ocasiões, participou das reuniões da Organiza-ção Internacional do Café em Londres e também foi convidado a trabalhar na

Associação Comercial de Santos após um acordo com o jornal A Tribuna.

Já com outra especia-lidade, José Rodrigues se aprofundou e estudou Porto. “Ele dizia que de-veria conhecer a fundo as informações, sobretudo do café, e também sobre por-to. Era o mister Porto”, brin-ca Myrian. Trabalhou para o governo da então prefeita de Santos, Telma de Souza (1989 a 1992), e criou a As-sessoria de Assuntos Por-tuários, sendo o primeiro a assumi-la. “Com essa ex-periência, abriu mais uma vez outro leque de conheci-mento para ele”, lembra.

Depois de aposentado, foi correspondente do Jor-nal Valor Econômico em Santos e escrevia sobre assuntos gerais na área de economia. Mensalmente, escrevia uma coluna, cha-mada Coluna do Zé, no Jor-nal da Orla, sobre Porto.

Na criação da ARS, es-teve presente desde o co-meço e presidia com muita competência e segurança. “Hoje temos o desafio mo-ral de continuar e diante de tudo que fizemos juntos, agora nós gostaríamos de manter a entidade no mes-mo nível ético e também continuar dentro dos pa-drões que ele tinha”, conclui a viúva e agora presidente da ARS, Myrian de Domê-nico Rodrigues.

José Rodrigues

Bruna Corralo

Myrian de Domêni-co Rodrigues ocupa

o cargo de presidente da ONG Ação de Recupera-ção Social (ARS) desde o falecimento de seu marido, em fevereiro de 2010. Ela já havia sido presidente quan-do a instituição foi fundada, em 1994, porém abdicou do cargo por não gostar de questões burocráticas, passando a ser vice-presi-dente. “Quando eu vi que estava grande demais pedi para criarem um cargo de vice-presidente para mim”, conta, aos risos.

Antes da fundação da ONG, Myrian trabalhava

como professora primária. Com a aposentadoria sur-giu uma necessidade de ocupação. Então ela deci-diu fazer trabalhos voluntá-rios. “Por volta de 1992 eu comecei a prestar serviço voluntário na área de edu-cação. Criei um trabalho pequeno onde as pessoas faziam um cursinho para voluntário na educação e depois procurávamos insti-tuições interessadas nestas pessoas”, conta Myrian.

Como presidente, Myrian é responsável por dar conti-nuidade aos programas ini-ciados por seu marido, que atendem a 154 pessoas e tem dez famílias cadas-tradas. Além disso, ela se

preocupa em manter uma boa relação com as famí-lias cadastradas e voluntá-rios, exercendo uma função mais social. “Eu prefiro a parte funcional e lidar com o público, com as famílias”, diz.

Para ela, é essencial uma boa relação com as famílias. “Acaba surgindo um envolvimento, uma ami-zade. Cabe a mim o envol-vimento social porque eles me conhecem e me respei-tam”, explica

“Esse trabalho é para satisfação, mas é difícil”, continua a presidente, que comparece diariamente à entidade. Myrian ocupará o cargo até 2012. A presidente Myrian Rodrigues foi uma das fundadoras da ARS

KARINA CARNEIRO

CAUÊ GOLDERG

REPRODUÇÃO

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Primeiro Texto / Especial ARS� Dezembro 2010

Comunidade com muitas promessas e cheia de esperanças

simone menegussi

O Porto de San-tos, maior da América Latina, prevê fechar o

ano de 2010 movimentan-do 90 milhões de toneladas de carga, recorde históri-co. Contrastando com este cenário, encontra-se a Vila Pantanal, localizada nas proximidades deste gigante portuário.

A Vila Pantanal surgiu nos anos 90. No início, era uma pequena favela, com barracos construídos em um terreno baldio, atrás do Cemitério da Filosofia no Bairro do Saboó. Em pou-cos anos, devido ao gran-de número de invasões, a área extensa de mangue se transformou na Vila Panta-nal, em homenagem à no-vela de sucesso na extinta TV Manchete.

Em 2004, foi criado um projeto de reurbanização da área. Usando terrenos pró-ximos, foi construída pela CDHU e a Cohab-Santis-ta a primeira fase do Con-junto Habitacional da Vila

SIMONE MENEGUSSI

Pantanal, batizado com o nome do falecido gover-nador de São Paulo, Mário Covas. O projeto prevê a construção de 970 unida-des no total. Até o momen-to, foram construídos 260

Resultado de invasão em 1991, a Vila Pantanal se tornou um núcleo popular que necessita de melhorias

apartamentos. Devido a problemas de legalização do terreno, as obras estão paralisadas há seis anos.

A líder comunitária da Vila Pantanal, Ana Bernar-da dos Santos, 50 anos,

mãe de cinco filhos, conta que mora na comunida-de há 19 anos. Em 1991, cansada de pagar aluguel, resolveu comprar um terre-no demarcado na invasão. Mudou-se com o marido,

uma irmã especial, um fi-lho pequeno e grávida do segundo. Construiu um barraco de madeira e “Caiu pra dentro”, como costuma dizer. “O começo foi difícil, mas com o tempo conse-guimos construir uma con-fortável casa de alvenaria”, diz ela.

Atualmente, Ana Bernar-da é presidente da Associa-ção de Moradores e Amigos da Vila Pantanal,que conta com 13 membros. Segun-do ela, a comunidade tem três mil moradores.

Ana é uma pessoa po-litizada, conhece seus di-reitos, adora sua comuni-dade e tem como objetivo acabar com a favela da Vila Pantanal e que todos possam ter um endereço. Munida de documentos e muitas promessas, acre-dita que o reinício das obras da segunda fase das habitações, comece em março de 2011, e o novo cadastramento dos moradores no projeto Mi-nha Casa Minha Vida do Governo Federal, inicie ainda este ano.

Convivendo com o esgoto

simone menegussi

A presidente relata que a Vila Pantanal melho-

rou muito depois das obras de asfaltamento, de mini-drenagem feitas pela pre-feitura, por meio do Depar-tamento da Administração Regional da Zona Noroeste, no mês de agosto de 2010.

Mas alguns problemas ainda persistem, como o esgoto a céu aberto com um metro de largura, que margeia um muro na divi-sa do terreno do Centro de Treinamento do Santos Fu-tebol Clube, com algumas casas da vila. Em época

de chuvas, o canal de lodo fétido e cheio de lixo trans-borda, alagando as casas vizinhas. Outro problema é a dengue. Segundo Ana Bernarda,ocorreram três casos de óbito não registra-dos pela Secretaria de Saú-de do Município.

A sede da Associação também tem problema. Construída com madeiri-te, está prestes a cair. Ana aguarda ajuda prometida pela prefeitura para cons-trução de uma nova sede de alvenaria, onde possa prestar serviços à comuni-dade.

JULIANA KUCHARUK

Esgoto localizado entre a Vila Pantanal e o CT do Santos

Comunicação muito além do muro

Caio augusTo moura

A ONG ARS (Ação de Recuperação So-

cial), para se comunicar com representantes da instituição e o público externo, utiliza meios de comunicação como a in-ternet e um jornal interno, além de existir um muro onde se tem um painel com várias informações sobre a instituição.

A ideia de colocar infor-mações no muro da enti-dade foi uma necessida-de, já que eles tinham um painel de informações, mas ficava dentro da ins-tituição onde as pessoas não tinham acesso. A ex-secretária Layza Juliana da Silva explica: “Depois que começamos a colo-car as informações fora da ARS, as pessoas co-meçaram a notar mais a ONG, a se interessar mais por ela e sobre o que fazia”, diz

O mural externo existe desde setembro. As in-formações contidas nele são sobre a ARS e outras que possam interessar a população do bairro.

Outro meio de comuni-

ARS, uma grande parceirasimone menegussi

Ana Bernarda diz que frequenta a ARS des-

de o começo. Ela e muitas famílias são ajudadas cons-tantemente. Seus cinco fi-lhos frequentaram todos os cursos da entidade quando eram pequenos. Tiveram atendimento com psicólogas e foram enca-minhados para tratamento dentário. Hoje, todos traba-lham e estudam. Para Ana, a ARS é a ponte entre os excluídos e a sociedade.

Se não fosse a ARS, muitas

crianças da comunidade teriam sido

desviadas para o submundo.

Devemos muito a estas pessoas.

Aqui ninguém é discriminado,

todos são iguais”.

Ana Bernarda Presidente da Associação de Moradores da Vila Pantanal

cação usado é um jor-nal interno, o INFORM-AÇÃO. E este jornal circula entre a ONG e as pessoas que vêm visitá-la, além de ser distribuído para os ór-gãos públicos. O jornal conta com matérias so-bre a própria entidade, fazendo uma avaliação das ações desenvolvi-das. Sem periodicida-de definida, o boletim iniciou em 1999 e até hoje teve 25 edições, uma média de duas a três por ano.

O terceiro meio de comunicação utilizado pela entidade é a in-ternet. O site www.via-santos.com/ars/ é vol-tado totalmente para as atividades que a instituição desenvolve ao longo do ano. Nele estão postados relató-rios, históricos, fotos de passeio, atas e do-cumentos oficiais da entidade pública. Ou-tro ponto é que o site ajuda na divulgação da própria ARS, fazendo com que as pessoas possam saber qual é o trabalho desenvolvido.

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Oficinas garantem renda extra e diversão

mariana Terra

Dentre as diversas atividades ofere-cidas pela entida-de, o apoio aos

cursos profissionalizantes é fundamental. Tem como idéia principal gerar renda às mulheres cadastradas. Oficinas de manicure, arte-sanato em retalhos, pintura em tecidos, bordado e cro-chê são ministradas por vo-luntárias.

A oficina de bordado ocorre toda segunda-feira, das 14h30 às 16h30.São 12 alunas que aprendem ponto richelieu, ponto cruz, ponto russo, vagonite, ca-seado, ponto paris, entre outros, com a professora voluntária Helena Ferreira Pinto Gaban. Ela já trabalha na associação há dez anos. Virou voluntária na ARS de-pois que ficou viúva. Antes de conhecer a entidade, ela alfabetizava em igrejas e comunidades carentes.

Nos dez anos de volun-tariado, “dona” Helena tra-balhou durante nove ensi-nando pintura às crianças, só que após uma cirurgia de coração foi proibida de lecionar para elas já que com os pequenos ela tem um desgaste maior. “Meu trabalho com as crianças foi demais!”, diz a professo-ra de bordado.

“Minha intenção era jun-tar as mulheres, trazê-las para aprender e conversar um pouco e quem sabe montar uma cooperativa. Já vi projetos como esse em cidades de interior que de-ram certo”, conta a voluntá-ria, ressaltando que o tra-balho ajuda a aumentar a auto-estima dela e de suas alunas.

O que prevalece na ofi-cina de bordado é a união

e a companhia entre elas. Auderi Germano da Silva, que entrou na aula

para aprender, e Vera Lú-cia Andrade de Freitas, que aprendeu a bordar com a

mãe quando pequena, jul-gam que o melhor das aulas é a troca de experiência.

Pintura em Tecido

A oficina de pintura em tecido é realizada toda ter-ça- feira a partir 14h30, assim como a de bordado com 12 alunas, as quais possuem um aprendizado um pouco livre. “Ensino o que elas quiserem: pintura em pano de prato, cami-nho de mesa, fralda, almo-fadas, em tecido no geral, porém o mais comum é pano de prato”, afirma a professora voluntária, Sir-léia Chioro dos Reis.

Sirléia, que começou a trabalhar na ARS há 15 anos, relata que a finalida-de da oficina é fazer com que as cadastradas ob-tenham uma renda extra para ajudar nas despesas.

A aluna Célia Maria Lo-pes Neves já pintava qua-dros quando resolveu en-trar na aula de pintura em tecido e decidiu fazê-la, pois queria passar o tem-po com um pouco mais de lazer. “O que mais gosto é dessa fraternidade, união das alunas e o prazer de pintar. O bom é que dá até para ter uma renda”, diz.

Retalhos

A oficina de retalhos acontece juntamente com a de pintura em tecido, onde as alunas aprendem a fazer tapete com reta-lhos. A professora Eugê-

nia de Amorim Pitta, há 20 anos atua como voluntária e há sete trabalha com ar-tesanato em geral.

“A intenção é gerar ren-da, mas algumas delas preferem não vender e le-var para casa”, revela Eu-gênia. O material utilizado é doado pela ARS e caso as alunas queiram ven-der seu tapete, elas “com-pram” os materiais da as-sociação por cinco reais e podem vender pelo valor que quiserem.

Gisela Aparecida Amaral optou pela oficina de reta-lhos para distrair e ter um pouco mais de tranqüilida-de. Já Leila Nascimento dos Santos é aluna de pin-tura em tecido e pretende fazer retalhos no próximo ano.

Crochê

A última das oficinas na semana é feita na quinta-feira às 15 horas e é mi-nistrada pela voluntária Lucia Ventura, que en-sina as suas 16 alunas como fazer tapete, pano de mesa e biquinho em pano de prato. “A oficina tem como intenção gerar renda para elas poderem ganhar um dinheirinho, mas nem todas vendem”, lamenta a professora.

“Eu gosto das aulas, amizades e dos papos. Isso distrai bastante”, conta Marina Correia Pe-ralta que resolveu entrar na oficina para se divertir um pouco.

O que você quer ser quando crescer

1. As aulas de artesanato com retalhos atraem as mulheres da

comunidade e se transformam em fonte de renda para a família.

2. Doze alunas fazem parte da turma da aula de pintura e se dedi-cam a pintar panos de prato com

muito amor e carinho

?mariana serra

Essa é uma pergunta que ronda a vida de todos,

desde a infância até a hora de decidir qual caminho se-guir. Mas quando se vive uma realidade com dificul-dades, os sonhos ficam para trás e dão lugar a um dia-a-dia sofrido e sem a alegria de fazer o que se gosta.

São em horas como estas, que a ARS ajuda as crianças a construírem um novo futu-ro. Quase todas as crianças chegaram à instituição com dificuldades em alguma dis-ciplina da escola regular e por meio do reforço escolar oferecido passaram a de-senvolver mais rapidamente o aprendizado.

Gabriel Scarpa tem dez anos e está na instituição há três, quando a mãe per-cebeu que as notas do filho precisavam ser melhoradas. Desde então, ele participa das aulas de reforço que fizeram com que a dificul-dade que tinha na aula de Ciências fosse amenizada. “A professora ensina muito bem, agora eu até tiro nota dez na escola, coisa que não acontecia antes. Tam-bém melhorei na leitura”, comenta Gabriel.

Ele ainda não sabe o que quer ser quando crescer, mas com as aulas que re-cebe na ARS e o apoio das professoras logo as aptidões aparecerão para clarear o futuro do jovem. Já Lucas

Mateus de Brito Ferreira, de dez anos, imagina onde estará trabalhando no futu-ro. ”Eu quero ser gerente do Pão de Açúcar daqui a uns anos”, revela.

Apesar da pouca idade, Lucas já nota o que mudou na sua vida desde que come-çou a ter as aulas de reforço há dez meses. “Estudando aqui eu vou melhorar na es-cola. As professoras me dão parabéns e falam que eu es-tou indo muito bem”, afirma o aluno.

Antes das aulas, ele tinha dificuldades em Português, Ciências e História e hoje vê o quanto a ARS o ajudou no aprendizado. “Aprendo a matéria primeiro aqui e depois na escola. Isso me ajuda a já entender o que a professora vai explicar e acompanhar meus amigos”, afirma Lucas.

Com as aulas de canto, informática e reforço, Thia-go Matias da Silva Carva-lho, de nove anos, também viu a vida mudar. Ele tinha dificuldade em aprender Matemática na escola e a partir da tabuada e contas, auxiliado pela professora, viu que a disciplina não é um bicho de sete cabeças. Aliás, para quem não gosta-va de Matemática, escolheu uma profissão que exige muito cálculo. “Eu quero ser engenheiro, trabalhar com construção, com pedreiros... pegar no pesado também”, revela Thiago.

As aulas de reforço ajudam as crianças a melhorar o rendimento escolar...

... e sonhar com um futuro melhor

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KARINA CARNEIRO

KARINA CARNEIRO

KARINA CARNEIRO

MARIANA TERRA

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comida. “Não sou cozinheira profissional, mas gosto de preparar recei-tas para eles. Vou inventando e vendo o que eles gostam”, comenta Carina.

Enquanto ela fica no final do corredor, Adriana Gomes dos Ramos é a responsável por dar as boas vindas a quem chega nà ARS. Ela é a secretaria do local e cuida não só da parte administrativa, mas também ajuda no que for preciso. Secretária da entidade, ela teve que se afas-tar em março, pois estava com dengue e logo em seguida entrou em licença-maternidade. Em seu lugar, esteve Laysa Juliana da Silva, que atuou com carinho e atenção até outubro passado.

Mesmo com pouco tempo de casa, o laço criado entre ela e a ARS foi grande. “Eu já tinha passado por alguns lugares antes, mas aqui é um ambiente tranqüilo. Você não vê ninguém brigando, gritando ou se estressando. Todo mundo se ajuda”, explica Laysa.

O começo foi um pouco difícil, pois as crianças estranharam o novo “Boa Tarde” que recebiam logo que chegavam e criaram uma barreira. Mas logo o jeito brincalhão começou a conquistar as crianças devagari-nho, uma a uma. “Eu decorei os nomes e tentei conhecer um pouco da história de cada uma para me aproximar. Acho que deu certo”.

Em 26 de ou-tubro foi o último dia de trabalho de Laysa na associa-ção, mas a despe-dida teve cara de “até logo”. Sempre com o jeito alegre característico de uma criança, ela pretende não se afastar do local. “Já avisei às crian-ças que virei na hora da merenda, aproveitar e comer o lanche delas. Es-pero que no próxi-mo emprego tenha pelo menos um pouco do carinho que recebo aqui, mas com certeza

Guloseimas e atendimentos feitos com carinho

mariana serra

A rotina começa cedo, antes mesmo das crianças chegarem. Às oito horas, Carina Michelle de Oliveira começa o dia na ARS. Ela é uma das três funcionárias da entidade, mas não é por causa do cargo que possui que ela faz o serviço por

obrigação. A história dela no lugar começou quando era aluna de in-formática e de retalhos (tapetes), na antiga sede. Hoje, é ela quem prepara os deliciosos lanches servidos, além de organizar a limpeza do lugar.

Carina deixa os três filhos com a mãe no período da manhã, mas o horário de trabalho possibilita que ela consiga acompanhar o dia-a-dia deles. “Trabalho das 8h às 14 horas. Esse horário me permite levar e buscar meus filhos na escola, tarefa que não conseguiria fazer trabalhando em outro lugar”, explica.

O carinho que Carina tem com as crianças e adultos que frequen-tam a ARS é o mesmo que pode ser encontrado nos outros funcioná-rios e voluntários. Com o tempo criou-se uma relação de família en-

tre ela e as crianças, fazendo com que a ONG se transformas-se em sua segunda casa. “Encontro as crianças na rua, elas vão na minha casa e freqüentam a mes-ma escola que meus filhos. Faço por eles tudo o que faria pelos meus filhos”, explica.

O bolo de chocolate, a torta salgada e o ar-roz doce são os pratos preparados por Carina que as crianças mais gostam. Na hora do lanche, é comum ver uma criança falando o quanto a comida esta-va gostosa, deixando evidente que o amor é o segredo especial da

Julia BranCoVan

Assim como a grande maioria das ONGs do

Brasil, a ARS (Ação de Re-cuperação Social) também carece de dinheiro e recur-sos para manter seu traba-lho em prol da comunidade.

Deste modo, a Instituição conseguiu arrecadar por meio da ajuda de voluntá-rios, uma boa quantidade de doações de roupas, cal-çados, bolsas, brinquedos e acessórios, criando o “Lojão” e o “Brechó”, duas formas improvisadas, mas bem or-ganizadas para atrair com-pradores, que funcionam há mais de dez anos na entida-de.

“Tudo o que é arrecadado é separado por seu estado de conservação. O brechó abriga as peças mais con-servadas e o lojão, as peças e acessórios mais usados”, afirma a presidente da ARS, Myrian Rodrigues.

Além da venda provenien-te da doação das roupas, o brechó também vende os

O que não é útil para uns, é importante para a ARS

quadros e o artesanato dos alunos de diversos cursos, como pinturas em tela, tape-tes e almofadas. Também são aceitas doações de li-vros.

Os infantis são separados para a biblioteca da entida-de que os utiliza durante as atividades da “hora do con-to” com os alunos de 2ª a 5ª ano do Ensino Fundamen-tal, matriculados no reforço escolar.

Os outros livros são sepa-rados para a “biblioteca de rua”, uma ação que a ONG realiza todos os sábados das 9 às 11h, aberta aos mo-radores que quiserem retirar os livros gratuitamente.

Os interessados em aju-dar e colaborar com doa-ções podem comparecer à sede da ARS: Rua Manoel Barbosa da Silveira, 239, no Bairro do Saboó. Fun-ciona de segunda a sexta feira, das 8 às 18 horas. Sábados, das 8 ao meio-dia. Funcionamento do Brechó e lojão: De 2ª a 6ª das 14h30 às 17 horas.

MA

RIA

NA TE

RR

A

KARINA CARNEIRO

No brechó, o público encontra produtos de qualidade a preço bens acessíveis, atraindo compradores

MA

RIA

NA TE

RR

A

MA

RIA

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RR

A

Carina Michelle cuida das merendas feitas na ARS Adriana Gomes, responsável pela parte administrativa

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Com amor e persistência, educar se torna uma tarefa mais fácil

Mariana Terra

A ARS tem um grande papel na educação, seja das crianças

cadastradas ou dos adultos. Hoje, ela oferece reforço escolar para crianças do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental e Alfabetização de Adultos, mas já teve aulas de Matemática e plantão de dúvidas. Estes não são mais aplicados por falta de voluntários aptos a realizá-los.

Gabriel SoareS

Ler, escrever, fazer liga-ções telefônicas. Pare-

cem atividades simples para a maioria das pessoas, po-rém, ainda hoje, muita gen-te não sabe como lidar com estas ações básicas. A ARS ajuda os adultos com dificul-dades no aprendizado e dá para eles uma nova espe-rança de uma vida melhor.

Sem a ajuda da ARS, muitos adultos continuariam sem saber escrever seu pró-prio nome. Além dos proble-mas básicos decorrentes do analfabetismo para os adul-

Alfabetização para Adultos – Conta com quatro alunos e é ministrada pela professora voluntária Guacira dos Santos Jardim. Ela trabalha na entidade há aproximadamente cinco anos e nesse tempo já ministrou aulas de reforço escolar, plantões de dúvidas e até foi coordenadora na área da educação, mas se afastou por algum tempo para trabalhar em outro lugar. Como não

resistiu aos pedidos d o s

alunos, acabou voltando.Guacira explica que

em suas aulas utiliza a cartilha e o caderno, e que muitos dos seus alunos são alfabetizados, mas possuem alguma dificuldade.

“Eles não são só meus alunos, mas meus alunos e amigos. Temos um carinho muito grande uns pelos outros”, conta a professora que diz não saber mais viver sem os estudantes.

Laudinete Oliveira Araújo, 41 anos, relata que resolveu fazer as aulas para melhorar a leitura.

Reforço Escolar – Ao todo estão cadastradas 19

crianças, nove no reforço de

alunos dos 2º e 3º ano do Ensino

Fundamental e dez no de 4º e 5º anos.

Todas as crianças passam duas horas e meia na ARS e durante esse período elas têm aula de informática às terças e quintas, coral às terças-feiras, leitura dirigida às sextas-feiras, hora do conto às quartas-feiras, reforço escolar e lanche diariamente.

“Como a ARS não é uma escola, os alunos trazem a lição de casa para fazer aqui, daí eu vejo qual é a dificuldade e trabalho reforçando o que eles aprendem na escola”, descreve a professora estagiária Elaine de Santos de Jesus, que trabalha há sete meses com os alunos de 2º e 3º anos.

Ana Clara Pereira, aluna de Elaine, diz que gosta muito das aulas e de todas as atividades realizadas.

“Eu vejo onde eles têm mais dificuldades e trabalho isso durante um mês, sempre respeitando o limite de cada um e quando eles

são avaliados temos um retorno”, diz a professora estagiária Rosangela Santos Joaquim, que, desde 2009, ministra aulas para as crianças do 4º e 5º anos.

Além de reforçar o que as crianças aprendem na escola, são trabalhadas questões como cidadania e higiene pessoal, continuando o trabalho que é realizado na escola e em casa.

Tia Rô, como é chamada carinhosamente pelos seus alunos, conta que para dar certo o trabalho tem que ser realizado com persistência e muito amor. ”É um trabalho de formiguinhas”, explica.

Jhonattan Accioly da Silva e Mikarakner da Silva contam que gostam muito de freqüentar a ARS pelos jogos, brincadeiras, pelo que aprendem e principalmente por algumas vezes conhecerem na Associação novidades que ainda não foram ensinadas na escola.

Descobrindo novos horizontes

tos, outro ponto fundamen-tal é a falta de auto-estima e complexo de inferioridade sobre quem não sabe ler nem escrever.

A professora Guacira dos Santos Jardim afirma que após as aulas os alunos passam a ser outras pesso-as. “Ela se sente valorizada e se torna mais independen-te. É um novo horizonte”, afirma

Guacira também cita a di-ficuldade em dar aulas para adultos. “Precisa ter muito jogo de cintura para não ma-goar ninguém para eles não se sentirem inferiorizados”, explica.

Maria de Lourdes Mene-zes, umas das alunas do cur-so, faz aula há quatro anos. Já aprendeu a ler e escre-ver e afirma que isso mudou muito sua vida. “Melhorou muito. Fez bem para minha auto-estima”, comenta.

Uma nova fonte de ren-da também é a esperança dos adultos que praticam as aulas na ARS. Essa é a expectativa de Rosa Maria, que participa das aulas de informática há quatro meses. “Antes de começar as aulas eu não sabia nada, agora já sei algo. Um dia, quem sabe, posso abrir uma lan house” , finaliza.

Trabalhar na ARS é...

“... tremendo, é gostoso, não tem como explicar só com palavras. Aqui as pessoas estão preocupadas em ajudar e fazer

com que os outros melhorem de vida.”

guaCira dos sanTos Jardim

Rosangela e Elaine, professoras de reforço que amam muito o que fazem

MA

RIA

NA TE

RR

A

SIMONE MENEGUSSI

“... uma realização. Aqui você é mãe,

tia, madrinha e professora. É uma delícia!”

elaine dos sanTos de Jesus

“Eu faço com muito amor por isso está dando certo. Estou muito feliz de estar com as mulheres.Elas são demais!”

Helena Ferreira PinTo gaBan

“Eu gosto muito de trabalhar na ARS. Isto

aqui é minha vida!”

luCia VenTura

Alunos e professora Guacira: aprendizado constante e de aperfeiçoarmento diário e contínuo

(opinião de quem ajuda a fazer a entidade)

Page 8: PT Especial ARS

Primeiro Texto / Especial ARS� Dezembro 2010

Almoço da SolidariedadeCauê goldBerg

O almoço da ARS acontece duas vezes por ano. N o r m a l m e n t e

uma vez por semestre. O almoço conta com a parti-cipação de todos os volun-tários e convidados. O últi-mo aconteceu no clube dos Conferentes, na Rua Xavier Pinheiro. O preço foi de R$15 por pessoa.

O evento reuniu por vol-ta de 150 pessoas. A pre-paração começou às 9h e às 12h40 já estava quase tudo pronto. Mesmo o even-to sendo marcado para as 13 horas, 30 minutos antes já era possível ver uma pe-quena fila do lado de fora do clube

Parte da comida foi com-prada pelos amigos da enti-dade, outra parte foi doada por quem participou como ajudante, ou até mesmo quem veio apenas para al-moçar. O cozinheiro do al-moço, Aldo Jr, doou uma parte da comida que foi uti-lizada para o almoço “Doei um pouco de carne seca, azeite, cebola, todos os tem-peros e o arroz”, diz.

Era um total de 17 mesas, com nove cadeiras cada e a disposição criava um am-biente na qual não parecia um salão para um evento, mas um almoço familiar.

O cardápio, sempre varia-do, cria certa expectativa de quem participa. Desta vez foram apresentadas mesas com diversos tipos de sala-das como entrada, doces de sobremesa e o prato princi-pal, escondidinho de carne seca, preparado pelo chef Aldo, que vinha com uma leve camada de queijo gra-tinado, cujo cheiro se espa-lhava pelo salão. Logo que ia para a mesa central onde era servido, criava uma fila de mais de dez pessoas.

Era um vai e vem de pes-soas voltando do salão ex-terno para as mesas no salão interno, sempre que o escondidinho chegava para ser servido. Ao retor-narem às mesas, era pos-sível ver um leve sorriso de satisfação, observando os pedacinhos de carne seca, meticulosamente cortados,

escondidos em queijo gra-tinado e mandioca amas-sada. Foram servidas sete bandejas de escondidinho de carne seca ao todo.

Doces Já os doces viraram uma

atração à parte. Antes mes-mo de o almoço ser servido já havia fila. Entre os doces mais populares do almoço, venceu o mousse de mara-cujá, que acabou antes mes-mo de o prato principal ser servido. Mas a atração cen-tral não ficou apenas com os doces e salgados, mas com o sorteio que aconteceu ao final. Cerca de 15 brindes foram sorteados pelo ani-mado neto da dona Myriam, o qual sacolejava uma pe-quena sacola verde. Cada vez que tirava um número sorteado fazia uma festa e,

muitas vezes, até dançava, arrancando gargalhadas de quem estava presente. O brinde mais esperado foi um ventilador, que foi doado pela Arno.

O salão foi cedido pelo Clube dos Conferentes de Santos. De acordo com a te-soureira da ARS Evangelina de Andrade, o clube oferece gratuitamente o salão para o almoço. “Eles sempre estão

dispostos a nos emprestar o espaço”, agradece.

O almoço ajuda na ren-da da entidade, de acordo com Evangelina. “O almoço gera um lucro de 15% em nosso orçamento, então ele é muito importante para nós”, conta. O almoço ren-deu entre R$ 1.500 e R$ 2 mil, recursos que servirão para pagamento de contas da entidade.

Escondidinho de carne seca fez sucesso entre o público

Nem em casa eu faço comida...Em casa, nunca havia

preparado comida. No início, a tarefa voluntá-ria me assustou, pois nem sabia como ligar o fogão. Com o tempo, percebi que preparar um almoço não é um bicho de sete cabeças. Todos já sabiam o que fa-zer.

A preparação começa cedo, às 9h. Quem che-gava era recepcionado ca-lorosamente por todos os presentes. A primeira tare-fa a ser feita é arrumar as mesas e cadeiras. Eu e a também voluntária Mariana Terra arrumamos todas as cadeiras em volta de cada mesa. Não demorou muito até que eu fosse convocado para a cozinha. Assim que cheguei fui recepcionado calorosamente por todos e alertado sobre a responsa-bilidade de preparar um al-moço para 150 pessoas. As instruções foram dadas por nada menos que uma das estrelas do almoço, o co-zinheiro Aldo Jr, voluntário nos almoços da entidade.

A primeira tarefa a ser feita foi cortar 15 quilos de carne seca. A maior dificul-dade era de não cortar os

próprios dedos. A carne deve ser cortada bem fini-nha, para facilitar na hora

O repórter-ajudante Cauê Goldberg colocou a mão na massa

MARIANA TERRA

MARIANA TERRA

MARIANA TERRA

de montar o escondidinho. Então, na hora de cortar é necessário ter muito cuida-

do e precisão. A segunda tarefa parecia

mais fácil. Só parecia. Des-ta vez, foi preciso amassar 30 quilos de mandioca em mais ou menos duas horas. Éramos seis pessoas. Pen-samos: Não vai dar tempo de cortar tudo isso. É en-tão que chega a cavalaria: mais sete pessoas se jun-taram à batalha contra a pilha de mandioca. Depois de uma hora e quarenta mi-nutos, vencemos a guerra: a mandioca estava amas-sada, a cebola cortada, o arroz quase pronto e já ha-via pessoas chegando, fal-tando míseros 30 minutos para o início do almoço.

O mais interessante de se observar é que todos são voluntários e se pron-tificam a sair cedo de casa em pleno domingo para carregar mesas ou limpar o chão, cortar carne seca ou amassar mandioca, arru-mar os talheres nas mesas, preparar a salada. Enfim, trabalhar de graça, sem es-perar nada em troca, sim-plesmente para ajudar.

O chef Aldo, ou melhor, o “Edu Guedes” como ele mesmo se denominou, fa-

zendo referência ao apre-sentador do programa Hoje em Dia, da TV Record, é empresário e ajuda a ARS em todos os almoços sem cobrar nada. Aliás, ele aju-da a várias entidades. “A gente sempre dá um jeito de ajudar. Às vezes, falta alguma coisa ou outra e nós apoiamos. Eu adoro tudo isso aqui. Se vocês tiverem alguma entidade para me levar, estou à disposição”, brinca.

No final, deu tudo certo, com todos exaustos. Era de se esperar, pois foram sete horas de trabalho inin-terrupto. Outro ponto a ser lembrado é uma frase que foi repetida constantemente na cozinha e fora dela “To-dos fazemos a comida com muito amor”. O amor no caso não é aquele tempero artificial, regado a música sertaneja que aparece em comerciais no intervalo das novelas. O amor em ques-tão é o carinho e dedicação que cada um doa na hora de trabalhar. E o trabalho continua, pois em quatro meses haverá um novo al-moço e uma nova história para se contar. (C.G.)

Voluntários participam do almoço que reuniu cerca de 150 pessoas

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Dezembro 2010 Primeiro Texto / Especial ARS �

Luta diária por recursos

Relatórios e documentos ficam arquivados para consultas e controle

IVAN BAETA

Os exemplos dessa luta são comprova-

dos por histórias como as de Jocilene dos San-tos e Adriana dos Ramos.

Foi por meio de ami-gos que Jocilene Lima dos Santos, 36 anos, conheceu a ARS. Desempregada e com dificuldades financei-ras, teve de volta o prazer de viver e a recolocação no mercado de trabalho.

Sua trajetória dentro da Instituição passa por cursos e trabalhos voluntários. Hoje, ajuda sempre que pode, e sempre tem uma frase que sintetiza seu sentimento “um simples motivo... torna-se grande”. De aprendiz dos cursos de informática, cida-dania e costura, Jô como

é conhecida, vê seu sonho realizado. “Comecei trazen-do minha filha para aulas de reforço. Interessei-me pelos cursos oferecidos e fui fazê-los. Primeiro, o de Informá-tica. Depois, o de costura. Durante as aulas presencia-va os alunos desistindo do curso. Ao final de cada eta-pa, só ficava ela. Valeu o es-forço e a emoção ao ver seu trabalho continuado”, revela.

Hoje, empresária, mon-tou sua microempresa com sacrifício. Precisou fazer empréstimo, mas tudo de forma programada. Gra-ças aos cursos de Infor-mática e Cidadania cons-truiu seu aprendizado. Atua como costureira e, às vezes, contrata pesso-

mariana Terra

Os colaboradores da ARS são chamados

de adotantes desde que a entidade foi fundada. “A princípio o colaborador po-deria adotar uma criança. Mas com o tempo vimos que não adianta adotar só a criança, já que ela geral-mente tem uma família que também possui necessi-dades”, explica a tesourei-ra Evangelina de Andrade.

Desta forma, o colabora-dor adota não só a criança, mas a família. Qualquer con-tribuição é aplicada em ações desenvolvidas pela ARS em beneficio da família assistida.

Ser adotante é uma for-

Adotar, um ato de amorma de adotar à distância, podendo ajudar periodica-mente. A ARS informa a esses colaboradores, mos-trando tudo que é feito, a pro-gressão da família adotada, seja na escola ou no meio familiar. Não esquecendo que a entidade está aberta para quem quiser conhecer.

“É uma coisa que me satisfaz muito. Ali você acompanha o empenho de todo o grupo, de to-das as pessoas e isso dá gosto de ver”, conta a jornalista e escritora Taís Curi Pereira, que além de adotante da instituição também é uma das sócias fundadoras, orgulhosa em participar do ato solidário.

as para atender a deman-da de pedidos de clientes.

Adriana Gomes dos Ramos, 29 anos, hoje secretária da Instituição, começou sua trajetória profissional graças aos cursos oferecidos. Sua família, que também atravessou momentos de dificuldades, tinha o amparo da ONG. “Participei de quase tudo que podia e fui aproveitando as oportunidades: sempre que tinha um tempo prestava trabalhos voluntários”. Há mais de uma década funcionária da ARS, ela percebeu que as oportunidades existem. E avisa: “As pessoas precisam apenas ter mais interesse”.

Histórias de sucessoDIVULGAÇÃO/ARS

Ao lado de funcionários da ARS, moradores se unem e trabalham em equipe para o bem comum

O custo da manutenção

- Custo mensal por pessoa em reais R$ 46,00 - Total de 10 famílias cadastradas, mais as pessoas da comunidade perfazendo um total de 154 atendidosR$ 7.000,00 por mês

- 35 Voluntários trabalham na ARS

- Alimentação para merenda e cesta básicaR$ 17,00 por pessoa (R$ 450,00 p/mês)

iVan BaeTa

Com a difícil arte de equilibrar as con-tas, as despesas da entidade che-

gam a R$ 7 mil/mês. A sua ma-nutenção só ocorre graças ao apoio e trabalho de um forte grupo de voluntários, respon-sáveis em administrar suas contas e ainda devolver a dig-nidade da vida à sociedade.

Atendendo em sua maior parte à comunidade da favela Vila Pantanal, no Saboó, sen-do a causa socioeconômica o seu gerador, hoje a entida-de tem exemplos de supera-ção e reencontro com a vida.

A tesoureira da instituição Evangelina de Andrade relata que não é fácil, mas o resulta-do final é o motivo do esforço deste trabalho. “Resgatar a satisfação e a alegria de poder viver com dignidade é uma de nossas metas”, enfatiza.

As dificuldades para equili-brar o orçamento são muitas. Para atingir a cota mensal e pagar as contas, ela cita que existem pessoas que não con-seguem tempo para atuar di-retamente na instituição, mas ajudam de maneira curiosa e desconhecida para muitos, por meio de doação da nota fiscal paulista que não possu-am CPF. Com essas notas, as pessoas que não que-

rem o benefício, direcionam o valor à ONG contribuindo na ajuda dessas famílias.

O custo de cada pes-soa atendida na ARS está em torno de R$ 46,00 por mês. “Os voluntários são o nosso alicerce”, diz.

A ARS mantém sua do-cumentação junto ao MDS, MJ, Conselhos e Secreta-rias, rigorosamente em dia, que lhe dá isenção da cota patronal do INSS. Se tives-se que pagar cada uma des-tas pessoas, num total de 35 voluntários, o gasto men-sal superaria os R$ 100 mil.

A entidade mantem sua do-cumentação em dia junto ao Ministério do Desenvolvimen-to Social (MDS), VJ, conselhos e secretarias, garantindo isen-

ção da cota patronal do INSS. E não para por aí. O or-

çamento é complementado com doações de roupas e mantimentos, além de almo-ços promovidos pela ONG, e participação junto aos even-tos promovidos pelo Fundo Social de Solidariedade de Santos e o Bazar de Natal.

Para ser atendida pela ARS, a pessoa é encaminha-da a uma assistente social, passando por um elaborado processo de triagem e como não é possível atender a to-dos devido aos altos custos, somente os casos aprovados por esta seleção, são aten-

didos. Hoje são 110 atendi-dos famílias cadastradas.

Na base da superação, a entidade sabe que o número é pequeno. “Atendemos 10 fa-

mílias e diversas pessoas ca-dastradas que se beneficiam dos cursos e atividades ofere-cidas pela entidade”, cita a as-sistente social Roseli Falcão.

Roseli atende aos moradores carentes do bairro e imediações

JULIA BRANCOVAN

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Primeiro Texto / Especial ARS�0 Dezembro 2010

Boa filha à casa tornaJuliana KuCHaruK

Com 420 mil ha-bitantes, Santos é uma pequena metrópole. En-

tre a multidão, poucos se destacam. Às vezes, são desconhecidos para a po-pulação em geral, porém contam com brilho próprio para sua comunidade, fa-mília ou para si mesmos.

Cristiane Araújo Silvei-ra Muniz poderia ser uma pessoa grande aos olhos do mundo, se destacando por feitos em prol da hu-manidade, mas seu mérito é sua personalidade. Com ensino básico completo, vive com o marido em um apartamento, na CDHU, no Saboó, deixando para trás o barraco onde morava na Vila Pantanal. Trabalha como manicure quando pode e ajuda como volun-tária na ARS, localizada perto de sua casa.

Quando o ditado diz “o bom filho à casa torna”, é verdade. Cristiane é um exemplo. Fruto da ARS, hoje, ela ajuda outros a te-rem a mesma experiência boa que teve.

Em uma sala de aproxi-madamente 8m², com sete computadores, Cristiane trabalha ao lado do pro-fessor Élcio nas aulas de informática básica, profes-sor em quem se espelha não só profissionalmente como no caráter e vivên-

cia. Cristiane conta que o professor já passou por más situações e chegou a ficar em coma, mas se restabeleceu e voltou a trabalhar na ONG. Segun-do a auxiliar, mesmo com idade para se aposentar, ele continua a fazer o que gosta, e isso serve de in-centivo a Cristiane.

Com um sorriso con-tagiante e uma simpatia implacável, a professora, como é chamada por uma colega de trabalho, con-tribui para o lugar que lhe deu complemento e profis-são na vida.

Durante seis anos, a en-tão voluntária atuou dentro da instituição fazendo au-las de informática, como mãe cadastrada, e aulas de manicure, sua profis-são. Depois disso, saiu da ARS, mas não teve jeito. Há cerca de um ano, ela voltou, agora para ajudar. “Fui convidada pela ‘dona’ Myrian a ser voluntária na ARS. Voltei para ajudar, dar um reforço, porque também o professor via-ja, né? E eu gosto dessa área, por isso voltei”, ex-plica.

Em sua vida, Cristiane conta que passou por vá-rias situações, algumas das quais considera ruins e erradas, mas que en-controu o caminho quando conheceu Jesus.

Há cerca de cinco me-ses, já trabalhando como

voluntária, Cristiane pas-sou por uma fatalidade, que nenhuma mãe sonha viver: enterrou sua única filha, de sete anos. Nas-cida com necessidades especiais, sem falar ou andar, a pequena Carol foi ao médico para fazer uma cirurgia no pé. A mãe con-ta que no hospital a meni-na pegou uma infecção e veio a falecer.

Diante da situação, a manicure contou com a ajuda da ARS, mas teve de se apegar a sua fé e ten-ta superar mais um obs-táculo em sua jornada. “A dor é grande, mas o que

consola é saber que em breve nos encontraremos no céu, onde ela vai falar, andar...”, diz a voluntária, com um olhar pensativo.

Com linguajar simples, Cristiane, de 32 anos, es-banja esperteza, humilda-de e paixão pelo que faz. E completa: “Eu tenho muita coisa para aprender ainda”.

É na simplicidade das pessoas que se encontram os grandes tesouros. Pou-cos se destacam por suas grandes obras, mas mui-tos têm grandes histórias destacadas para contar, simplesmente sobre a for-

ma de viver. A história de Cristiane é uma das que deram certo. Moradora por mais de uma década da favela do Pantanal, hoje Cristiane vive com água encanada e luz em seu apartamento na CDHU, tem uma profissão e mé-ritos no trabalho voluntá-rio, além de prosseguir em uma fé que ajuda a superar as dificuldades e avançar. Certamente ela é alguém na multidão.É como diz a Bíblia Sagrada: “O temor do Senhor é a instrução da sabedoria e precedendo a honra vai a humildade”, Provérbios 15.33.

Ex-aluna, hoje Cristiane auxilia no laboratório de informática e tambêm nas aulas de manicure, sua profissão

JULIANA KUCHARUK

Guacira: professora, amiga... e alunasimone menegussi

Apesar da globalização, da evolução tecno-

lógica e da criação da Internet, o número de iletrados é inacreditável. Em pleno século 21, um em cada 16 habitantes acima de 15 anos da Baixada Santista é considerado analfabeto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Ação de Recuperação Social contribui para diminuir este resultado tão negativo para a sociedade. A entidade, além de outros cursos, não abre mão da alfabetização de adultos. Por apenas cinco reais por mês de contribuição, qualquer pessoa pode aprender a ler e escrever. Porém, o pagamento é facultativo.

A pedagoga Guacira dos Santos Jardim, 46 anos formada em 1996, é a responsável por esta missão. Entrou para ARS como prestadora de serviços.

Após alguns anos ensinando seus “amigos”, termo que usa para falar dos alunos, foi convidada a trabalhar em outra instituição para ganhar mais. Ficando muito dividida, conversou com os superiores da ARS e seguiu seu caminho. A entidade

continuou com o curso com outras professoras. Guacira não conseguiu ficar longe por muito tempo. A falta que sentia de seus amigos, da sala de aula, do cheiro dos livros... enfim da ARS, era muito grande. E ela resolveu voltar, agora como

voluntária. A pedagoga diz que

o trabalho realizado na entidade não tem preço. Cada aluno e aluna são grandes amigos. Para ensinar pessoas adultas o processo é diferenciado. Não basta usar apenas cartilhas, lousa e cadernos. “Temos que respeitar o ritmo de cada um. Desenvolvo técnicas específicas para o aprendizado individual”, explica.

A professora comenta que todo começo de ano é informado, no muro da entidade, o curso de alfabetização de adultos. As aulas geralmente começam, em média, com 15 alunos. Com o passar do ano este número cai drasticamente. “Ler e escrever não é do dia para a noite, leva um tempo e muitos desistem”. Guacira, como professora, ensina português, matemática e cidadania, mas como voluntária, é amiga, irmã, filha, psicóloga, ensina e aprende muito. “O amor

que sinto e recebo aqui não tem dimensão. Minhas fofinhas e meus queridos são tudo para mim”, diz emocionada,

Atualmente, a ARS conta com quatro alunos, com idade acima de 40 anos. A moradora do bairro Chico de Paula, Maria Cristina da Silva, de 63 anos, é a mais vivida, mas é a mais nova na entidade, pois está matriculada há dois meses.

Maria comenta que trabalhou por mais de 20 anos como empregada doméstica e sempre teve um sonho. “Assim que parasse de trabalhar voltaria a estudar”, diz. Para cuidar do marido, que ficou doente, teve que se aposentar. Agora que ele está com a saúde recuperada, Maria recebe o apoio do marido e do filho para realizar seu sonho.

JULIANA KICHARUK

Guacira retornou à ARS em razão do amor que nutre pela entidade

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Dezembro 2010 Primeiro Texto / Especial ARS ��

Alunos ‘viajam’ pelo mundo das letras e da cultura

Karina Carneiro

A biblioteca costu-ma ser um dos lugares mais importantes em

todos os lugares, e com a ARS não poderia ser dife-rente. É ali que crianças, jovens e adultos podem buscar qualquer tipo de in-formação quando necessá-rio.

A biblioteca da ARS foi construída graças às doa-ções dos livros que com-põem o acervo do local. Atualmente, a entidade conta com mais de 900 li-vros em seu acervo, varian-do entre os gêneros infan-til, infanto-juvenil, adulto e enciclopédias. Na disposi-ção dos livros, a entidade conta com duas grandes estantes doadas por verba parlamentar estadual.

A entidade costuma re-ceber livros por meio de doação, que passam por análise entre os responsá-veis para verificar quais po-dem ser reaproveitados ou não. Os de maior interesse são os livros infantis, muito utilizados pelos alunos do reforço.

Porém, a responsável pela organização de todos esses livros é a voluntária Neuza Barroso de Araújo. Bibliotecária da ARS há cerca de quatro anos, ela

tem a lista de livros organi-zada por ordem alfabética e sempre atualizada a cada seis meses.

Além de bibliotecária, Neuza é professora de lei-tura dos alunos de reforço. Todas as sextas feiras de-pois do horário do lanche, ela direciona crianças e jovens à biblioteca, onde eles lêem trechos do livro que está sendo trabalha-do naquela determinada semana. “Esse trabalho é feito para que as crianças possam aprender a ler cor-

retamente, principalmente a respeitar a acentuação na hora da leitura em voz alta e a entender o que o texto tem a dizer”, conta.

A bibliotecária explica que antigamente os alunos podiam levar os livros para casa, porém não havia tan-to sucesso quanto ler o li-vro dentro da associação durante as aulas de refor-ço. “Muitos deles levavam o livro para casa e nem tra-ziam ou não liam. Na aula é diferente, pois todos têm a oportunidade de ler um

trecho do texto que está sendo trabalhado”, diz.

A procura de livros pelas crianças durante as aulas também é grande e entre os gêneros favoritos estão as histórias em quadrinhos, contos de fadas e histó-rias relacionadas à Bíblia. “É curioso ver as crianças procurando histórias rela-cionadas à Bíblia ou reli-gião na biblioteca, princi-palmente nos dias de hoje. Mas isso é muito bom, pois influencia o lado da religião e da leitura ao mesmo tem-

po”, declara Neuza.Para os alunos Fabrício

dos Santos Souza e Letícia Borges, ambos de 9 anos, a leitura faz parte da vida de-les. “Quando eu acabo as lições cedo, a professora deixa ir à biblioteca e pegar um livro para ler. O meu fa-vorito é a Branca de Neve conta Fabrício. Já para Le-tícia, a biblioteca e as aulas de leitura são suas preferi-das.

Biblioteca de Rua

Além da biblioteca para os alunos, a ARS implantou há cerca de sete meses a biblioteca de rua para os moradores da comunida-de. Esse setor fica sob res-ponsabilidade da presiden-te Myrian Rodrigues, que durante todos os sábados, das 9 às 11 horas, coloca os livros à disposição da comunidade.

O projeto funciona de for-ma simples, onde os mora-dores podem preencher um formulário de cadastro, reti-rar o livro e devolvê-lo em um prazo de 15 dias, com direito a renovação. Caso o livro não seja devolvido na data certa, Mirian conta que não é cobrado qualquer tipo de multa por enquanto, pelo fato do projeto ainda estar em fase experimental.

Com 900 livros em seu acervo, a biblioteca é um dos espaços mais frequentados pelo público

KARINA CARNEIRO

Karina Carneiro

Toda semana, os alu-nos da ARS aguardam

ansiosamente a chegada da terça-feira. Isso aconte-ce porque é apenas nesse dia da semana que eles podem ter aula de canto, uma das favoritas entre as crianças do reforço.

Divididos em duas clas-ses, os alunos entre 8 e 11 anos vibram com as aulas, com as canções e se apli-cam à técnica na hora de soltar a voz.

A professora de canto, Maria Cecília Gozzoli, está sempre acompanhada de um teclado para ensinar o ritmo das músicas aos alu-nos.

Maria Cecília conta que a idéia de implantar o coral à grade de atividades da ARS foi da atual presiden-te Myrian Rodrigues. “An-teriormente já existia um coral aqui, mas a respon-sável precisou nos deixar. Fui chamada e reiniciei as aulas em maio deste ano”, conta.

Sons que encantam

Antes, porém, dos alu-nos soltarem a voz, eles aprenderam a teoria. Co-meçaram a entender prin-cipalmente como o coral é formado, o ritmo das músi-cas, melodias, e até mes-mo a respiração para, nos dias de hoje, os alunos po-derem cantar juntos as mú-sicas, durante a meia hora de aula semanal.

Entre os estudantes, a aula de coral é uma das favoritas. “Eu adoro can-tar. É uma das coisas que

eu mais gosto, e sempre gostei de música”, conta o estudante Ítalo da Silva Al-ves, de 9 anos.

Quando a aula está para terminar, a euforia dos alu-nos é exclusivamente por uma música: Vagalume tem-tem. As crianças con-tam que essa música é a favorita deles, porque to-dos da classe sabem can-tar. A professora ainda co-menta sorrindo: “Se eu não tocá-la, parece que eu não entrei para dar aula”.

Aula de canto com a professora Maria Cecília Gozzoli

KARINA CARNEIRO

isaBella PasCHoal

O clima é aconchegante e de paz. Do labora-

tório é possível escutar as crianças do coral cantando e a música contagia todo o ambiente do prédio. A sala é pequena e possui seis computadores, mas isso não é problema para quem quer ensinar e para quem quer aprender. Assim são as aulas de informática às terças-feiras, quando se encontram pessoas de to-das as idades.

Porém, são os jovens que mais procuram o curso, que tem como objetivo pre-pará-los e qualificá-los para o mercado de trabalho. De acordo com o professor, Paulo César Gama, a pro-cura só tem diminuído por conta da grande oferta do curso em outras instituições e escolas.

Gama afirma que a maior dificuldade que os alunos enfrentam é a falta de equi-pamento em casa. “Os alu-nos que não possuem com-putador em casa têm mais

dificuldades ao aprender. Mas isso tem melhorado por conta dos preços mais acessíveis e das lojas que parcelam em várias vezes”.

O estudante Erik Medei-ros, de 14 anos, mora no bairro da Alemoa. Ele diz que procurou o curso para garantir seu futuro profis-sional. Além das aulas de informática, Erik faz técni-co de turismo e hotelaria na Universidade Corporativa, que se encontra no Centro de Santos. “Procurei o cur-so porque é importante para o meu futuro”, afirma.

Ele conta que encontra dificuldades em digitar por não ter computador em casa nem praticar. “Tento ir rápido e me atrapalho com as palavras”, explica, rindo. “Mas se eu passar de ano, vou ganhar um de Natal”.

Gama, voluntário há 10 anos, afirma que quando se ensina, temos a possibilida-de de aprender duas vezes. “Tudo o que a gente recebe de conhecimento, tem que passar para frente”, conta o professor de informática.

Curso de informática qualifica para o mercado de trabalho

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Primeiro Texto / Especial ARS�� Dezembro 2010

guilHerme uCHoa

A ARS - Ação de R e c u p e r a ç ã o Social oferece d i v e r s a s

atividades para os moradores do Bairro do Saboó e imediações. Desde os mais novos aos idosos, todos comparecem à instituição buscando frequentar as aulas e aprender novas habilidades que lhe serão úteis no cotidiano.

Entre as pessoas da terceira idade, várias frequentam as aulas de bordado ministradas por Helena Ferreira Pinto, de 72 anos. “Eu acho interessante esse projeto. Muitas delas são filhas de bordadeiras e estão indo muito bem, aprendem com facilidade. Elas vêm com prazer e os trabalhos feitos vão para o bazar”, explica.

Além disso, Helena Ferreira enumerou os benefícios obtidos nas aulas. “Aumenta a auto-estima dos idosos. É uma oportunidade que elas têm para se encontrar e conversar e, além de aprender, elas podem

ganhar um dinheiro com os trabalhos”, diz.

São os casos de Auderi Germano da Silva, de 57 anos, e Iraci Josefa. A primeira assiste as aulas de bordado e freqüenta a entidade há dois anos. “Para mim é muito bom [assistir as aulas], pois conheço pessoas, saio de casa e aprendo algo. Sinto-me bem aprendendo algo novo”, afirma.

Iraci vê melhoras em seu cotidiano com os aprendizados o b t i d o s na ARS. C h e g a n d o com sua b i c i c l e t a c a r r e g a d a de tecidos, ela garante que utiliza tudo que aprendeu nas salas de aula para lucrar. “ M u d o u muita coisa na minha vida, aprendi a r t e s a n a t o aqui e agora faço as

minhas peças para vender”, destaca.

Outro caso é o de Maria Cristina da Silva, de 63 anos. Há três meses assistindo as aulas de alfabetização, ela conta como a entidade ajudou a melhorar sua vida. “Eu não sabia, agora já estou aprendendo a ler e fazer contas. É ótimo porque eu não fico em casa sem ter o que fazer. Aqui eu estou estudando e aprendendo”, destaca.

Mulheres deixam idade e aposentadoria para trás

Nas aulas de artesanato, as participantes passam as tardes aprendendo a produzir peças

KARINA CARNEIRO

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A arte da boa comunicação. Essa é

a função do fonoaudiólogo, um profissional que atua nas áreas da voz, escrita, audição e musculatura facial.

Visando uma melhor comunicação de sua comunidade, a ARS (Ação de Recuperação Social) dispõe de uma fonoaudióloga semanalmente para atender à população.

Cabe à profissional, Silvia Marrach, a tarefa de atender a comunidade do Bairro do Saboó. Há nove anos como voluntária, Silvia dispõe de um dia da semana para atender os pacientes em sua pequena sala no andar térreo da entidade. As crianças têm na fala suas maiores dificuldades.

Silvia chega a atender cerca de seis pacientes nas manhãs de sábado entre adultos e crianças. Ao todo, são cerca de 20 cadastrados. As crianças são maioria, mas cada vez mais os adultos começam a procurar um tratamento de fonoaudiologia.

Infelizmente, nem todos os pacientes que começam o tratamento conseguem

Usando a voz corretamenteconcluir com sucesso. Muitos acabam desistindo e o trabalho da ARS é observar o que aconteceu com o paciente e procurar fazer com que ele retorne às consultas. Não são descartadas visitas às residências e nas escolas quando o paciente é uma criança. Um bom acompanhamento também ajuda na recuperação das pessoas.

“Conheci a entidade por uma amiga e me inscrevi para ser voluntária. Pouco tempo depois me ligaram e já estou há nove anos atendendo”, disse.

Duas vezes por ano as inscrições são abertas para novas pessoas e a fila de espera é bem concorrida. A ARS prioriza os moradores do Bairro do Saboó, mas não descarta o atendimento aos moradores de outras regiões em caso de vagas em aberto.

Além do serviço de fonoaudiologia, todas as quintas-feiras a casa possui atendimento de psicologia à população.

O telefone da ARS é 3296-2073. O horário de funcionamento é de segunda a sábado das 8 às 18 horas. A sede localiza-se à Rua Manoel Barbosa da Silveira, 239.

Muito além das cestas básicasJulia BranCoVan

A assistente social Roseli Luna Falcão é

a responsável pelas ações da ONG ARS. Na casa há 13 anos, ela conta que seu trabalho à frente da entidade já atendeu a mais de 1.500 pessoas. Esse cenário se deve primeiro ao crescimento que a ARS teve nos últimos anos.

Depois de tantos desafios, hoje a ONG tem sede própria, e oferece cursos de geração de renda (manicure, artesanato e crochê), reforço escolar para alunos do 2º ao 5º

ano (Novo Fundamental), prestação de serviços, como atendimento jurídico, registros, doações de cestas básicas para famílias necessitadas, alfabetização de adultos e intermediação de empréstimos do Banco do Povo para fins empreendedores.

Rosely conta que os novatos que chegam à ARS passam por uma entrevista, seguida por cadastramento e encaminhamento

para a área de maior carência. Recebem então visita domiciliar para acompanhamento da família ou membro matriculado e uma avaliação final para que a família ou cadastrado tenha um perfil acompanhado quanto aos seus progressos.

Rosely conta que seu dia-a-dia não é fácil, pois, infelizmente, muitas pessoas buscam a entidade apenas para usufruir benefícios, sem que estejam interessadas em se dedicar para sua própria melhoria e a de sua família. “Muitos chegam aqui apenas com o interesse na cesta básica. Isso é triste porque nosso trabalho é dar apoio e ajuda aos que buscam melhorar de vida, não apenas com distribuição de cestas”, afirma.

Como assistente social, ela diz enxergar isso como o maior desafio de sua carreira, pois muitos entram e não prosseguem nos cursos. “Poucos são os que realmente cresceram na vida, arrumaram um emprego e voltaram para

Assistências• Assistência Social – 2ª feira, 4ª e 6 ª, das 13 às 18h/ 3ª e 5ª, das 8 às 11h• Assistência Jurídica – 3ª feira das 15 às 17h• Assistência Psicológica – 5ª f, das 14 às 18h• Assistência Fonoaudiológica – Sábados, das 9 às 11h• Reforço Escolar (Ensino Fundamental I) – 2ª a 6ª, das 14h30 às 17hOficinas / Cursos• Crochê – 5ª feira às 14h30• Pintura em tecido – 3ª f às 14h• Tapetes – 3ºf às 14h30• Manicure – 2ª f às 8h30• Informática – 2ª e 6ª às 14h e sábados às 8h30 e 10h30• Alfabetização de Adultos – 2ª, 3ª, 5ª e 6ª, das 15h às 17h• Coral Infantil – 4ª f às 14h• Biblioteca – 5ª f às 15h• Contos de histórias – 4ª f às 16h• Ginástica para a terceira idade – 2ª f às 9h Atendimento esporádico – Saúde• Exames de olhos para alunos do reforço e encaminhamentos• Exames eventuais de audição

Serviços que a ARS oferece à comunidade

Helena, 72 anos: dedicação e empenho nas atividades

MARIANA TERRA