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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 435 • ANO XXXIX NOVEMBRO 2009 • MENSAL • 1, 50

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 435 • ANO XXXIX ... · vidas em ambiente hiperbárico ou disbárico e a manutenção dessa certificação durante o de-curso das missões;

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 435 • ANO XXXIX NOVEMBRO 2009 • MENSAL • € 1,50

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Fotografias Antigas, Inéditas ou Curiosas

No passado dia 8 de Agosto, após várias tentativas ao longo de uma semana, o Engº Paulo Santana Pinheiro, Chefe da Divisão de Estudos e Projectos do Arsenal do Alfeite, acompanhado apenas pelo seu filho, capturou ao largo da Ilha de Sta. Maria, Açores, um Espadim Azul (Blue Marlin) com mais de 200 Kg. Esta captura, que constitui o seu re-cord pessoal, foi conseguida a bordo da sua embarcação “Nortada”, com 8 metros, após um duro combate que durou cerca de hora e meia. Foram utilizados cana e carreto de 50 libras e linha com cerca de 0.7 mm de diâmetro.

De realçar o facto do espadim ter sido pescado na modalidade “stand up” (em pé), sem auxílio de cadeira de combate, o que, pela grande dimensão do peixe, torna a captura muito rara e difícil, devido ao enorme esforço físico exigido.

Por ter sido o primeiro espadim a ser pescado por uma embarcação sediada na Ilha de Sta. Maria, com a inerente importância turística, foi dado ao acto um particular relevo na comunicação social dos Açores, tendo, posteriormen-te, sido também transmitida uma peça alusiva a esta captura na RTP1.

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 435 • Ano XXXIX

Novembro 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: MAN FERRoSTAAl PoRTUgAl, lda.; gMV-INNoVATINg SolUTIoNS; RoHDE & SCHWARZ, lda.

FOTOGRAFIAS ANTIGAS, INÉDITAS OU CURIOSAS 2PONTO AO MEIO DIA 4NRP “ÁLVARES CABRAL”. NAVIO-ALMIRANTE DA SNMG1 6VISITA DO SECRETÁRIO DE ESTADO DA DEFESA NACIONAL E DOS ASSUNTOS DO MAR À MARINHA / MISSÃO DE SALVAMENTO – EMBARCAÇÃO “NOSA CANTIGA” 8JURAMENTO DE BANDEIRA DO CURSO “ALMIRANTE ROBOREDO E SILVA” / EMBARQUE DOS JUÍZES DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 9CAMARADAGEM E JUSTIÇA OS PILARES DA ÉTICA MILITAR 10PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL 11REFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS 1 12DOUTRINA NAVAL 3 18A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (2) 20PARTICIPAÇÃO DA SAÚDE NAVAL NO TEATRO DE OPERAÇÕES DO AFEGANISTÃO / DOUTORAMENTO EM MEDICINA 21VIGIA DA HISTÓRIA 15 23GENUÍNO MADRUGA, O VELEJADOR SOLITÁRIO 24ACADEMIA DE MARINHA 25PAINÉIS DE AZULEJOS VOLTAM À LUZ DO DIA 27HISTÓRIAS DA BOTICA (68) 30OS 100 ANOS DO ENGº ROCHETA / CORRECÇÕES 31QUADRO DE FOLGA / CONVÍVIO 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2009 3

Composição gráfica Aida Colaço

A F334 já Navega!7

Joseph Silverstein. Um amigo da “Sagres” e da Marinha Portuguesa

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Portugal assume comando da EUROMARFOR

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O Mar, de novo o destino de Portugal

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4 NOVEMbrO 2009 • Revista da aRmada

PONTO AO MEIO DIA

Saúde Naval – mudar para servir melhor

A mudança caracterizadora dos nossos dias insinua-se, instala-se e determina novas realidades. Aproveitar-lhe as forças só

pode ser uma atitude inteligente, realista e indis-pensável à adequação aos novos tempos.

Por mais rica, digna e exaltante que seja a his-tória das instituições, por mais determinada que seja a vontade de construir um futuro promete-dor, é o presente que temos que saber viver. É por ele que responderemos.

Há cada vez menos tempo para idealizar pro-jectos de longo prazo. O nosso tempo é hoje!

Assistimos na Saúde, nos últimos trinta anos, a profundas modificações. Médicos, enfermeiros e outros técnicos de saúde constituem populações heterogéneas marcadas por referenciais distintos. Os médicos mais antigos viram nascer o Serviço Nacional de Saúde; vivenciaram o Serviço Médi-co à Periferia; trabalharam para edificar carreiras médicas individuais que os creditassem como de-tentores de conhecimentos e perícias suficientes para o desempenho de cargos progressivamen-te mais exigentes e lhes facultassem maior esta-bilidade e prestígio; viveram o pluriemprego; mantêm, hoje, o sistema e preparam-se para re-tirar. Os médicos mais jovens tiveram que lutar ardua mente pelo acesso às Faculdades de Me-dicina que impuseram numerus clausus muito apertados; vivenciaram reformas curriculares e sentiram no seu dia a dia as dificuldades da tran-sição; tem o acesso às especialidades fortemente condicionado; viram nascer e crescer os grandes hospitais privados; perderam a estabilidade no emprego e estão ameaçados, a prazo não muito longo, pelo desemprego.

Esta modificação da realidade foi ocorrendo não se conhecendo nenhum plano estratégico que tenha orientado a mudança. Foi navega-ção à vista!

À Saúde Naval chegaram, naturalmente, refle-xos de tanta mudança. O trajecto até aos quadros dos médicos, enfermeiros e técnicos de saúde na-vais é muito heterógeneo. Temos licenciados e mestres em Medicina oriundos da Escola Naval, temos licenciados em medicina por universida-des nacionais e estrangeiras entrados a partir de concursos ordinários e temos licenciados médi-cos e doutores especialistas entrados a partir de concursos extraordinários. Temos enfermeiros e técnicos de saúde nos quadros permanentes e temos enfermeiros e técnicos de saúde em regi-me de contrato.

A diversidade marca, pois, a Saúde Naval e enriquece-a. Trajectos diferentes até à chegada, só podem trazer mais valia ao conjunto…assim saibamos integrar-nos e organizar-nos.

É fácil encontrar o cimento unificador, quando falamos de profissionais de saúde. Todos, inde-pendentemente do trajecto e da formação, têm no centro da sua intervenção, por um lado a preven-ção, a promoção e a manutenção da saúde e por outro o tratamento e a reabilitação da doença. O indivíduo é o centro da sua acção. Os códigos de ética e de conduta que juraram tem no indivíduo que sofre, o centro das suas preocupações.

A Saúde Naval permite aos seus profissionais militares e civis, de um modo claro, desenvolver uma actividade competente e relevante, organi-zada, com presente e futuro.

Hoje, a Saúde Naval tem os quadros preen-chidos com profissionais diferenciados e capa-zes, tem uma missão clara para cumprir e, tem uma visão para o sucesso da sua acção consubs-tanciada num plano estratégico superiormente aprovado e já em desenvolvimento.

A Saúde Naval está preparada para participar na edificação da nova realidade da Saúde Militar e, está fortemente empenhada, não só no desen-volvimento da vertente das suas especificidades operacionais, mas também na consolidação dos cuidados primários de saúde e do apoio médico diferenciado aos seus militares no activo, na re-serva e na reforma e aos seus familiares.

No respeito pela riqueza histórica e pelo desejo de um futuro bem sucedido, é hoje, que preten-demos consolidar um importante pilar da pron-tidão da Marinha, a Saúde Naval.

Conhecemos a nossa realidade, assumimos um plano para melhorar o seu desempenho. Ini-ciamos a acção. Haverá, agora, que prossegui-la e controlar o seu desenvolvimento.

Num tempo não muito longínquo será possí-vel ver a Saúde Naval: constituir-se como uma estrutura flexível, adaptável e projectável, capaz de responder às necessidades operacionais da Marinha; desenvolver-se de modo a satisfazer os objectivos da prevenção, promoção, manutenção e reabilitação da saúde individual do seu pessoal; actuar de modo competente, rigoroso e dedicado procurando a excelência nas suas áreas de inter-venção específicas; manter o apoio aos militares na reserva a e na reforma e estender a sua acção à família militar; garantir uma dimensão hospitalar generalista que permita manter uma resposta co-erente e adequada; interagir de modo biunívoco, em parceria e respeito mútuo com as estruturas do Serviço Nacional de Saúde e ainda preparar--se para participar na edificação, da anunciada, nova realidade da Saúde Militar.

Como não pode deixar de ser, é o desenvol-vimento da vertente das nossas especificida-des operacionais que mais nos estimula. A ela dedicaremos um carinho especial, que espera-mos permita tornar-nos relevantes pela compe-tência, dignificar o Pessoal, a Saúde, a Marinha e Portugal.

Serão indispensáveis: promover, desenvolver e consolidar a componente operacional da Me-dicina Naval; garantir a prevenção, promoção, manutenção, tratamento e reabilitação da saúde individual do pessoal; manter e reorganizar o apoio aos militares na reserva, na reforma e aos familiares; colocar todo o sistema de Saúde Na-val a funcionar em sintonia e melhorar a produ-tividade individual e do sistema.

Com estes objectivos em mente nasceram, no último ano, dois novos órgãos com intervenção fundamental na saúde operacional, o Centro de Simulação Médica da Marinha e o Centro de Me-dicina Subaquática e Hiperbárica.

O Centro de Simulação Médica da Marinha assume-se como um pólo gerador de conheci-mento contribuindo de uma forma decidida e eficaz para elevação dos padrões de desempe-nho, numa vertente muito importante da Saúde, a emergência. Tem como populações alvo, não só o pessoal de saúde, médicos e enfermeiros, mas também os socorristas e as guarnições em geral. Aborda a emergência não como intervenção ex-clusiva do pessoal de saúde mas antes como um problema de cidadania. Preparar todos para a ac-ção é o seu desiderato último.

O Centro de Medicina Subaquática e Hiper-bárica prepara-se para assegurar: a operacionali-dade dos meios humanos intervenientes em ope-rações militares desenvolvidas em meio sujeito a variações amplas e bruscas da pressão ambiente, nomeadamente, subaquático; o apoio terapêutico permanente aos acidentes resultantes da prática de acções militares navais em ambiente hiperbá-rico e em atmosfera “seca” ou “húmida”; o apoio terapêutico às operações militares empreendidas em meio aéreo hipobárico; o treino e a formação, em câmara, do pessoal especializado para o mer-gulho militar profundo; a realização de testes, em câmara, ao funcionamento do equipamento de mergulho militar profundo; a avaliação da apti-dão médica dos Mergulhadores da Armada; a certificação médica dos militares em preparação para missões de natureza operacional desenvol-vidas em ambiente hiperbárico ou disbárico e a manutenção dessa certificação durante o de-curso das missões; a concretização de acções de formação e de investigação na área da Medicina Subaquática e Hiperbárica, e ainda, responder por toda a actividade clínica ligada com a utili-zação da oxigenoterapia hiperbárica e conduzir o treino, a formação e a investigação.

Não menos importante, para a concretização dos objectivos definidos é a reorganização do De-partamento Médico e a reformulação do plano de consultas externas do ambulatório do Hospi-tal de Marinha, que se pretende seja mais amigo do utente, de qualidade, humano, e com maior e mais abrangente oferta.

O tempo, que se vive na Saúde Naval, não é fácil, exige esforço diário redobrado, exige rigor de procedimentos, exige determinação, mas é um tempo de oportunidades. Não queremos perdê-lo. Saberemos ser dignos dos códigos de conduta que jurámos como profissionais da saú-de, honraremos a condição militar que volunta-riamente assumimos e a opção pela Saúde Na-val que fizemos.

Já compreendemos o que nos espera, já assu-mimos a mudança, é agora tempo de agir. Es-pera-nos muito trabalho. Enfrentá-lo-emos com espírito marinheiro e reforçar-nos-emos com o espírito de dedicação orientador dos profissio-nais de saúde.

Saberemos ser dignos deste nosso tempo e serviremos melhor.

Eduardo Teles MartinsCALM MN

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 5

O Vice-Almirante Saldanha Lopes, Co-mandante Naval, assumiu no passa-do dia 15 de Setembro o comando

da European Maritime Force (EUROMAR-FOR), cargo que cabe a Portugal desempe-nhar nos próximos dois anos, sucedendo à Itália que exer-ceu o comando desta For-ça Marítima Europeia entre 2007 e 2009.

No seu discurso manifes-tou o orgulho que sentia em receber o comando da EU-ROMARFOR e que tudo fa-ria para continuar o trajecto realizado pelos seus ante-cessores, com uma palavra especial para o Almirante Binelli Mantelli, da Marinha italiana, de quem recebeu o cargo de Comandante da EU-ROMARFOR (COMEURO-MARFOR).

Na cerimónia, o Coman-dante Naval e actual CO-MEUROMARFOR sublinhou ainda o desempenho cres-cente da Força que ao lon-go dos 14 anos de existên-cia regista 31 activações de entre as quais se salientam a participação em operações reais, tais como a operação Coherent Behaviour, no Me-diterrâneo Oriental, a ope-ração Resolute Behaviour, no Oceano Índico e a ope-ração Impartial Behaviour, que teve lugar na Costa Libanesa, entre outras missões em que a EUROMARFOR tem participado, nomeadamente as rela-cionadas com a cooperação com os países do Mediterrâneo.

As missões até aqui desempenhadas, se-gundo o VALM Salda-nha Lopes, contribuem para a afirmação da EUROMARFOR como uma força marí t i -ma experiente e com grande capacidade de actuação. Pronta a actua r individualmen-te ou sob a égide de organizações interna-cionais, como a NATO ou a ONU, no com-bate às ameaças à paz mundial.

Para responder a eventuais decisões do Comité Interministe-rial que requeiram a participação de meios

navais, o COMEUROMARFOR garante o cumprimento do grau de prontidão de 48 horas como suficiente para ter os meios no mar, prontos a actuar.

Por sua vez, ao entregar o Comando da

EUROMARFOR ao seu congénere portu-guês, o Vice-Almirante Binelli Mantelli realçou a actividade realizada pela Força nos últimos dois anos sob o comando da Itália em que as várias participações em exercícios

e sobretudo operações reais, demonstraram a credibilidade e o valor da EUROMARFOR enquanto Força Marítima Multinacional cujo desempenho demonstrou um elevado nível operacional e espírito combativo. Conside-

rou ainda que existe espaço para que os objectivos alcançados até aqui se constituam como impor-tantes pilares para uma futura Força Marítima da União Euro-peia. Para tal dever-se-á, ainda segundo o Almirante italiano, manter o enfoque em alguns pontos-chave dos quais se desta-cam a contínua aposta na credi-bilidade enquanto força parceira para operações reais, a aposta no treino para a preparação de mis-sões reais e o aperfeiçoamento da relação entre a EUROMAR-FOR e a União Europeia.

O cais avançado de Alcântara foi o palco da cerimónia da en-trega do Comando, onde estive-ram presentes meios navais dos quatro países membros desta Força nomeadamente o FS “De Grasse” (França), o ITS “Euro” (Itália), o NRP “Corte-Rea l” (Portugal) e o ESPS “Navarra” (Espanha).

A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, General Valença Pinto, que na ocasião referiu a importância das EUROFORÇAS, na qual a EUROMARFOR se inclui, no

contexto da segurança europeia e política de defesa.

A cerimónia contou igualmente com as pre-senças do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Melo Gomes e do seu homólogo

italiano, Almirante Pao-lo La Rosa, entre outras entidades.

Esta é a segunda vez que Portugal coman-da a European Mariti-me Force, a primeira vez ocorreu em 1998 tendo sido o cargo desempenhado pelo VALM Reis Rodrigues, também presente nesta ocasião.

A França será o mem-bro da European Mariti-me Force que sucederá a Portugal no Coman-do da EUROMARFOR em 2011.

(Colaboração da Célula Permanente

da EUROMARFOR)

Portugal assume comando da EUROMARFORPortugal assume comando da EUROMARFOR

datas relevantes da eUROmaRFOR19 Junho 1992 Assinatura da Declaração de Petersberg.

7 Setembro 1992 Os Ministros da Defesa da França, Itália e Espanha desenvolvem o conceito de Força Marítima Europeia pré-estruturada.

15 Maio 1995 Os Ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da França, Itália, Portugal e Espanha assinaram em Lisboa a declaração que deu origem à EUROMARFOR.

2 Outubro 1995 O Vice - Almirante espanhol ACEDO MANTEOLA é nomeado o primeiro Co-mandante da EUROMARFOR.

23 Abril 1996 Primeira activação da EUROMARFOR para participação no exercício EOLO ’96.

1 Outubro 200230 Novembro 2002(total: 2 meses)

Primeira activação da EUROMARFOR no âmbito de operações reais (Real World Operations – RWO).Operação “Coherent Behaviour” (no Mediterrâneo Oriental).

14 Janeiro 200312 Dezembro 2005(total: 28 meses)

Segunda activação da EUROMARFOR em operações reais (Real World Operations).Operação “Resolute Behaviour” (no Oceano Índico).

26 – 30 Novembro 2007

Activação da EUROMARFOR para participação no exercício MULTICOOPERA-TIVE 2007 com a Argélia.

29 Fevereiro 2008 28 Fevereiro 2009 (12 meses)

Terceira activação da EUROMARFOR sob a égide das Nações Unidas para parti-cipação em operações reais (Real World Operations).Operação “impartial Behaviour” (Águas Libanesas).

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6 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

“Álvares Cabral Guarnição, Mestre à Ponte, Mestre à Ponte”

Cádis ficou para trás e com ela fica-ram boas recordações de dias de fim de Estio.

Após os quase 20 dias de operação Active En-deavour, chegou o primeiro porto de descanso, a milenar cidade de Cádiz. Os dias foram, ainda, de Verão, para delei-te da guarnição. Alguns banhos de mar com águas a rondar os 25º e os passeios pelo Casco Viejo trou-xeram de novo rasgados sorrisos e retemperadas forças para a nova tirada que se avizinhava.

Passou rápida, também, a se-mana de mar que nos separava de Marselha. Depois dos dias de Ac-tive Endeavour em que o esforço e dedicação foram sobretudo dirigi-dos ao controlo da navegação mer-cante, era agora tempo de voltar ao treino interno. A base sólida de conhecimento permite uma evolu-ção constante em busca do aperfeiçoamento, e como tal, aliando o tempo disponível a uma vontade de fazer cada vez melhor, voltámos ao treino. Contudo não se trata já de apenas trei-no interno. A SNMG1 é constituída, além do NRP “Álvares Cabral”, pelo USS “Stephen W. Groves” e o FGS “Rhön”, sendo este último o navio reabastecedor que nos apoia. Depois de consolidada a proficiência individual de cada navio houve que crescer como Força, elevando cada vez mais os níveis de exigência dos diversos exercícios levados a cabo.

Marselha recebeu-nos com uma solarenga manhã. Esta que é a segunda maior cidade Francesa, cedo mostrou os seus encantos, pois seria difícil não ficarmos des-lumbrados com a magnífica entra-da do seu Vieaux Port. A gastrono-mia da Provence não defraudou todos aqueles que optaram por arriscar sair um pouco da cidade e deixarem-se envolver pela pai-sagem rústica e pela simpatia do povo Provençal.

Durante os três dias que nos separavam de Toulon houve oportunidade de trocar sempre enriquecedoras experiências através de mais um Cross-Pol com o navio Americano. Para além da oportunidade óbvia de ver como uns e outros trabalham, e de explicar ao “outro” lado como os “nossos” fazem e entendem os exercícios, ficou clara a supremacia que leva-mos em termos gastronómicos, tendo deixado,

sem sombra de dúvida, a concorrência a léguas de distância.

A Base Naval de Toulon arranjou-se para receber os cerca de 18 navios que se prepara-vam para o exercício vindouro, Loyal Midas 09 (LM09). Toulon é uma pequena cidade cujos encantos não vão muito além de uma pitores-ca avenida marginal e marina típicas da costa

mediterrânica. O exercício Loyal Midas foi inte-gralmente preparado por uma parceria Franco--Italiana no sentido de obter uma verificação de proficiência e certificação da NRF 14. Coube à “Álvares Cabral” desempenhar o papel de navio-almirante do Task-Group (TG), constituí-do pelos escoltas que asseguravam a protecção das várias unidades valiosas, incluindo o porta--aviõe s ITS “Garibaldi”. O exercício acabou

por se revelar bastante completo, pois além de se ter “combatido” nos vários ambientes da guerra aérea, superfície e sub-superfície, houve também a oportunidade de treinar operações de embargo e de interdição marítima. Espaço houve ainda para refinar os procedimentos de apoio a navios sinistrados e escolta a navios mercantes. A Baía de Toulon foi também cená-rio para jogar uma vez mais a sempre actuação

assimétrica de diferentes ameaças.A fase inicial de seriado correspondeu às ex-

pectativas, tendo levado ao empenho esforçado da guarnição no sentido de conseguir manter, de forma sustentada, as capacidades exigidas ao Navio-Almirante da SNMG1. Este exercício decorreu durante duas semanas, no tranqui-lo Mediterrâneo. Foi um exercício ambicioso

que se saldou com uma nova visi-ta a Toulon, agora sem os prepara-tivos operacionais, apenas com o objectivo de proporcionar tempo para pequenas manutenções, al-gum descanso e a reconfirmação da virtude gastronómica da Pro-vence Francesa.

De novo no Mar, uma curta pernada nos separa agora do pró-ximo porto de abrigo. Depois de consolidadas as lições aprendidas na sequência do LM09, é tempo de voltar o foco das atenções e do treino para uma nova fase de em-penhamento na operação Active Endeavour. Esta centrar-se-á no

extremo leste do Mediterrâneo, ao largo das costas do Egipto, Israel, Líbano, Síria e Tur-quia. O futuro perspectiva ainda 3 meses no Golfo de Aden no combate à pirataria, e fruto da experiência transmitida pela “Côrte-real” ponderam-se, treinam-se e discutem-se quais as melhores soluções e abordagens. A doutrina é muito recente e quase inexistente, como tal o treino e preparação da guarnição para este

novo cenário é tema comum a to-das as conversas. Antes da chega-da a Malta ficarão na memória as imagens da ilha de Stromboli e o seu activo vulcão. Ainda o quarto da Alva mal havia rendido e já se ouvia pela ponte, «…está ali qual-quer coisa cor de laranja…». Com os primeiros alvores viria a confir-mar-se a visão atenta de horas an-tes. Da imponência dos seus 3000 mil pés fumegantes, o Stromboli deu as boas vindas de regresso à Sicília. Poucas horas mais tarde foi a vez do Estreito de Messina sau-dar a SNMG1.

Com La Valletta já no horizonte, é tempo de preparar o navio. Serão 5 dias de merecido descanso respirando História na se-cular cidade de Il-Belt Valletta, entretanto bal-deia-se o navio, aprimora-se e prepara-se tudo para posições de porto.

Sinal de terra firme próxima, à voz do Oficial Imediato «Mestre à Ponte, Mestre à Ponte».

(Colaboração do COMANDO NAVAL)

NRP “Álvares Cabral”Navio-Almirante da SNMG1

NRP “Álvares Cabral”Navio-Almirante da SNMG1

PARTE II

Navegando junto ao vulcão Stromboli.

Exercício de tiro com a peça de 100 mm.

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 7

O HNLMS “Van Galen”, futuro NRP “D. Francisco de Almeida”, iniciou em Setembro de 2008 uma revisão

intermédia preparatória da sua transferência para a Marinha Portuguesa. Durante estes fabricos, que se estenderam até Junho de 2009, para além de efectuadas as interven-ções programadas nos diversos sistemas de bordo, foram ainda instalados novos equi-pamentos, tais como o radar de navegação KH1007, o sistema de navegação electró-nica ECDIS em conjunto com o AIS1, e ain-da a infra-estrutura da rede do navio que suportará todos os Sistemas de Informação a utilizar a bordo, tais como o SINGRAR2, ATIAO3, WISE4, entre outros.

Paralelamente a esta intervenção foi levado a cabo o plano de forma-ção e treino da guarnição, consti-tuído por diversos cursos e acções que envolveram tanto os diversos departamentos de formação e cen-tros de instrução da Marinha Portu-guesa, como as es-colas técnicas e de operações da Mari-nha Holandesa, em Den Helder. A for-mação na Holan-da iniciou-se em Outubro de 2008, envolvendo numa primeira fase os militares das áreas técnicas dos Departamentos de Propulsão e Energia e de Armas e Electró-nica, e estendeu-se até Setembro de 2009, com a participação progressiva do restan-te pessoal. Esta fase da formação, especi-ficamente orientada para os sistemas que equipam esta classe de navios, contou com uma assinalável componente prática, com recurso a réplicas dos equipamentos exis-tentes a bordo e a simuladores dos sistemas de comando e controlo existentes nas refe-ridas escolas, o que permitiu pôr em práti-ca todos os conhecimentos adquiridos na sala de aula tanto a nível individual, como da equipa, e esclarecer dúvidas nas mais variadas situações.

A partir de meados de Agosto, deu-se iní-cio à projecção da nossa guarnição para Den Helder, com a vinda de elementos chave das áreas técnicas, a fim de participar nos testes a cais aos equipamentos e iniciar o processo de recepção do material de bordo. A presen-ça na Holanda da totalidade da guarnição da futura “D. Francisco de Almeida” foi alcan-çada em 9 de Setembro, data da chegada do último grupo de militares para frequência do

treino na escola LA da Marinha Holandesa, para familiarização com os equipamentos que dotam estes navios.

A primeira navegação de militares da guarnição portuguesa no seu futuro navio decorreu durante a fase de treino de cer-tificação da guarnição holandesa, desi-gnado por SARC35, no período de 24 a 28 de Agosto, que constituiu um conjunto de actividades de treino básico da guarnição do HNLMS “Van Galen”, sob a égide da equipa de treino e avaliação da Marinha Holandesa.

Concluído este treino, durante as duas semanas subsequentes, o navio realizou, a navegar, os testes de recepção aos prin-

cipais sistemas e equipamentos de bordo, quer da área da plataforma, quer do sistema de combate, das armas e dos sensores. Nes-te período destaca-se a realização de diver-sas séries de tiro anti-aéreo e de superfície com a peça de artilharia de 76 mm e com o sistema de defesa próxima Goal keeper, nas áreas de exercício holandesas ao largo de Den Helder. A execução dos testes aos sistemas anti-submarinos tornou necessá-ria a deslocação do navio até à costa da Noruega, em busca de águas mais profun-das, de modo a permitir o lançamento de torpedos e os testes ao sonar de casco acti-vo e ao sonar rebocado passivo, designado por Anaconda, que equipam esta classe de navios. Efectuaram-se também os testes à instalação propulsora tendo sido alcança-da a velocidade máxima - 30 nós. Durante este período, o navio efectuou uma visita ao porto norueguês de Bergen na qual par-ticipou também um conjunto alargado de elementos da guarnição portuguesa que, embarcados, acompanharam todas as fases de preparação, condução e avaliação das provas, e, simultaneamente, aprofundaram o seu conhecimento sobre o navio.

Findas estas importantes fases de treino e certificação da guarnição holandesa e de testes aos diversos sistemas e equipamentos de bordo, o HNLMS “Van Galen” encontra-va-se em condições para receber a totalida-de da guarnição nacional e dar início a um período de 6 semanas de treino destinado exclusivamente à sua integração a bordo.

Este período de treino, designado por On-board Training, compreende duas fases dis-tintas: uma de 2 semanas a cais e outra de 4 semanas a navegar. Assim, ao longo destas 6 semanas, de 14 de Setembro a 23 de Ou-tubro, é desenvolvido todo um conjunto de actividades que, com o apoio da guarnição e de formadores das escolas técnicas e de li-

mitação de avarias da Marinha Holan-desa, vão habilitar a nossa guarnição com os conheci-mentos necessários tanto à condução, em segurança, do navio e seus siste-mas, como a fazer face a situações de emergência em tempo de paz. Du-rante o período de treino de mar, o navio efectuou uma visita ao por-to de Dublin, na Irlanda, ostentan-do, pela primeira vez, as placas com a inscrição - NRP

“D. Francisco de Almeida”.Ao longo deste processo a Marinha Portu-

guesa tem sido alvo de rasgados elogios por parte da Marinha Holandesa, tanto pela ati-tude do pessoal que constituirá a guarnição desta unidade naval, que no futuro próximo será aumentada ao “Efectivo dos Navios da Armada”, na busca dos conhecimentos ne-cessários a uma boa operação do seu na-vio, como pelos laços de amizade e cama-radagem que conseguiu estabelecer com os seus congéneres holandeses. Esta postura, invariavelmente adoptada na nossa Mari-nha, tem-se mostrado instrumento essencial para atingir os objectivos fixados às equipas de missão, no caso vertente, o sucesso da transferência dos dois navios.

(Colaboração da ET-MFF)

Notas1) Automatic Identification System2) Sistema Integrado de Gestão de prioridades de

Reparação e Afectação de Recursos 3) Aplicação para a Transferência de Informação de

Apoio às Operações4) Web Information Service Environment (Portal

da Unidade)5) Safety and Readiness Check

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Já ia tarde o dia de 06 de Setembro de 2009. O N.R.P. “Schultz Xavier” tinha lar-gado nesse domingo, às 17 horas, de Lei-

xões. A sua missão, no âmbito do SIFICAP (Sistema de Fiscalização das Actividades da Pesca), tinha como objectivo a fiscalização dos espaços marítimos na área entre Viana do Castelo e a fronteira espanhola. Cerca das 19 horas, a navegar com rumo Norte e mar de NW – 1M, o 2SAR E Brito, de quarto à ponte, interceptou uma comunicação entre Laguardia Radio e a embarcação “Nosa Cantiga”.

No VHF escutou-se uma voz ansiosa “...somos 8 homens, estamos a meter água rápidamente na casa das máqui-nas, a nossa posição é 41º 22´.3N de latitude e 008º 11´.8W de longitude. A embarcação vai afundar-se.” A po-sição foi de imediato marcada na car-ta. A “Nosa Cantiga” estava a escassas 13 milhas e a sua guarnição estava em apuros e precisava de assistência ime-diata. Agora o rumo do N.R.P. “Schultz Xavier” era 265 e navegava à sua velocidade máxima disponível.

O 2TEN Cardoso Pereira, de quarto à ponte, entrou em contacto com o MRCC Lisboa na expectativa de validar esta informação. A res-posta foi pronta do outro lado, dirigir para o lo-cal à máxima velocidade. Não existiam agora dúvidas, estávamos perante uma situação de-licada que ia exigir cuidados e concentração para não se cometer erros e que permitissem resgatar estes oito homens assustados com o cenário de um afundamento eminente.

Segundo Laguardia Radio, a cerca de 3 ho-ras da posição da embarcação estava também a fragata espanhola Navarra. O seu helicópte-ro foi mandado descolar em apoio ao N.R.P. “Schultz Xavier” na tentativa de sinalizar a po-sição da embarcação. Às 19 horas e trinta mi-nutos foram estabelecidas comunicações com

o helicóptero espanhol. O objectivo era agora a embarcação ser sinalizada e o navio proce-der ao resgate da guarnição.

Com o pôr-do-sol previsto para as 20 horas e 12 minutos, restava pouco tempo de luz. O estado do mar estava também a agravar. Era preciso localizar rapidamente os náufragos. A guarnição estava em alerta máximo. Tentou-se antecipar todos cenários e calculados os ris-

cos. Precisamente às 20 horas e 2 mi-nutos, foi avistado um flash vermelho. Era um bom sinal, mas havia pouco mais de 30 minutos antes das condições de visibilidade se degradarem rapidamente. Dois minutos depois o helicóptero estava no local e fazia longos raios de giração sobre a embarca-ção de pesca. Foi com imensa satisfação que o piloto nos disse que estavam 3 balsas na água interligadas entre si.

Precisamente às 20 horas e 5 minutos o ofi-cial de quarto avistou as balsas. O bote ZEBRO tipo III foi colocado na água. Quinze minutos depois com o bote junto às balsas chegou a primeira informação que dos 8 homens, dois necessitavam de apoio médico mas não cor-riam qualquer risco. Em duas viagens, numa

operação que durou 20 minutos, os 8 homens estavam a salvo e a bordo do N.R.P. “Schultz Xavier”.

A missão estava quase cumprida. Faltava recuperar as balsas, a EPIRB (Emergency po-sition-indicating Radio beacons), e os bens pessoais dos náufragos (todos recuperados no dia seguinte com êxito). No entanto a priori-dade passou a ser colocar estes homens em

terra firme, contactar as suas famílias e assegurar através do INEM (Institu-to Nacional de Emergência Médica) o correcto encaminhamento dos dois feridos ligeiros.

O N.R.P. “Schultz Xavier” dirigiu-se à máxima velocidade disponível para o porto de Leixões. À sua chegada, por volta da meia-noite, esperavam o

navio, a Polícia Marítima de Leixões, INEM, SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e representantes da comu-nicação social portuguesa e espanhola (apoiado de forma brilhante nas relações públi-cas do Gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada) numa prova de articulação entre as várias entidades que

este tipo de situações exige. Numa operação que durou 3 horas, 5 espa-

nhóis, 2 ganeses e 1 russo foram salvos ao largo de Vila do Conde, quando a sua embarcação, “Nosa Cantiga”, vinda do porto de Marin – Co-runha, se afundou e tinha como destino o Se-negal. A guarnição do N.R.P. “Schultz Xavier” no âmbito das missões que lhes estão confia-das provou uma vez mais que a salvaguarda da vida humana é uma das missões mais nobres e prestigiantes da Marinha.

(Colaboração do Comando do N.R.P. “Schultz Xavier”)

8 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

Recolha das balsas.

Visita do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar à Marinha

Visita do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar à Marinha

No passado dia 9 de Setembro, o Secretário de Estado da De-fesa Nacional e dos Assuntos

do Mar, Dr. João Mira Gomes, realizou uma visita à Marinha Portuguesa, ten-do sido acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando Melo Gomes.

Na visita, o Secretário de Estado teve oportunidade de assistir a uma demons-tração de capacidades na área da Au-toridade Marítima, nomeadamente de combate à poluição, de salvamento marítimo e de uma acção policial ma-

rítima a uma embarcação suspeita de actividade ilícita. Depois embarcou no NRP “Gago Coutinho”, onde teve opor-tunidade de assistir à operação do ROV (Remotely Operated Vehicle) na zona do canhão de Setúbal. Recorda-se que este navio de investigação científica da Marinha tem estado envolvido no levan-tamento hidrográfico associado ao “Pro-jecto de Extensão da Plataforma Conti-nental”, sob coordenação da EMEPC (Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental).

Missão de salvamento – Embarcação “Nosa Cantiga”Missão de salvamento – Embarcação “Nosa Cantiga”

N.R.P. “Schultz Xavier”.

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No passado dia 24 de Setembro, embarcaram no N.R.P. “Bartolo-meu Dias”, o Presidente do Su-

premo Tribunal de Justiça Juiz-Conselheiro Luís António Noronha Nascimento e uma comitiva de cerca de vinte juízes com o objectivo de mostrar as capacidades dos meios navais no desempenho de algumas missões atribuídas à Marinha.

Para cumprimento deste desígnio, foi cons-tituída uma força naval composta pelo N.R.P “Bartolomeu Dias”, N.R.P. “Baptista de Andra-de”, N.R.P. “João Coutinho”, N.R.P. “Barracuda” e N.R.P. “Bérrio”.

A comitiva de juízes do Supremo Tribunal de Justiça foi recebida a bordo, no Cais de Alcân-tara, em Lisboa, pelo ALM CEMA. Embarcaram também o Comandante Naval, VALM Salda-nha Lopes, o CMG Sousa Pereira, Comandante da Força Tarefa Naval (COMPOTG) e o CMG N eves Coelho.

Após as boas vindas transmitidas pelo ALM CEMA, foi efectuada uma pequena apresenta-ção de segurança a bordo. Seguiu-se um brie-fing pelo CMG Sousa Pereira. Neste briefing, foi apresentada a sequência de eventos que iriam decorrer durante a demonstração naval, as capa-cidades da Força Tarefa Naval e o tipo de tarefas que lhe podem ser atribuídas no âmbito da:

- Defesa militar e apoio à política externa;- Segurança marítima e da salvaguarda da

vida humana no mar.Antes do inicio da demonstração naval, foi

proporcionada de forma genérica uma ideia das capacidades do N.R.P. “Bartolomeu Dias”, através da demonstração de um conjunto varia-do de actividades internas, materializadas atra-vés de uma visita a bordo. O Centro de Opera-ções, a Central da Plataforma e a Ponte foram os Centros de Comando objecto da visita. Nestes

locais houve oportu-nidade de demons-trar as capacidades e as valências dos siste-mas e equipamentos instalados a bordo, realçando-se, sempre que adequado, as valên-cias de uma Marinha de Duplo Uso e a postu-ra proactiva de grande abertura que a Marinha assume no seu papel de charneira na articula-ção da variadas áreas de actividade do Estado no mar, através, nomeadamente, de protocolos operacionais com outros Departamentos do Estado, permitindo que a Marinha se afirme e evolua numa procura contínua de excelência adoptando uma postura firme na defesa e em-penhada na segurança, essencial para que ao país continue a usar o mar com grande liberda-de compatível com os seus interesses.

A demonstração Naval decorreu nas áreas a sul de Cascais e iniciou-se com a realização de uma operação de reabastecimento no mar, através do método PROBE. O N.R.P. “Bérrio” efectuou, em simultâneo, o reabastecimento ao N.R.P. “Bartolomeu Dias” e a passagem de linha de distâncias ao N.R.P. “Baptista de Andrade”. Simulada uma avaria no leme, exercitou-se a largada de emergência do aparelho e o conse-quente afastamento dos navios.

Com o intuito de demonstrar a capacidade de interditar um espaço marítimo e efectuar abordagens a navios mercantes suspeitos, para

inspeccionar a documentação de trans-porte e a eventual carga ilícita, foi realiza-da uma abordagem através de Fast Rope (por uma equipa constituída por cinco fuzileiros) a um navio suspeito simulado pelo N.R.P. “João Coutinho”. Após a con-

clusão da vistoria foi simulada a queda de um homem ao mar e de imediato foi efectuada a recuperação do náufra-go, o famoso boneco “Óscar”, através de helicóptero.

Na demonstração da capacidade submarina da Marinha, o N.R.P. “Bar-racuda” executou diversas manobras

com os mastros. Nesta oportunidade, foi ex-plicado aos convidados qual o seu objectivo e a sua proficiência. Finalmente, o submarino efectuou a manobra de vinda à superfície em emergência: uma manobra sempre marcada por grande espectacularidade.

O almoço decorreu no hangar e constituiu-se como um momento de confraternização com os convidados. Trocou-se impressões sobre as mis-sões da Marinha e os seus meios e a operação dos sistemas e equipamentos instalados a bordo.

A assinatura do Livro de Honra, pelo Presi-dente do Supremo Tribunal de Justiça Juiz-Con-selheiro Noronha Nascimento, foi efectuada na Câmara de Oficiais, na presença da totalidade da comitiva. Ficou patente, nas palavras do Presiden-te do colectivo de juízes, o prazer tido durante a visita, a sua utilidade e o reconhecimento do bem servir pelos homens e mulheres da Marinha.

Posteriormente, o ALM CEMA e o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça foram transporta-dos por helicóptero para o aeródromo de Tires.

O navio atracou no cais de Alcântara, em Lis-boa, ao final da tarde. À saída dos convidados foram prestadas as devidas honras.

(Colaboração do NRP “BARTOLOMEU DIAS”)

Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 9

No passado dia 25 de Setembro os As-pirantes a Oficial do Curso que tem como patrono o ALM Roboredo e Silva

prestaram continência, pela primeira vez com a sua espada, ao Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

Nesse dia teve lugar a cerimónia anual mais importante da Escola Naval - o Juramento de Bandeira e Entrega de Espadas aos alunos que agora finalizaram o 5º ano – os primeiros Mes-tres formados pela Escola. Esta cerimónia simbo-liza o fim de uma etapa repleta de desafios, de aprendizagem, de assimilação de experiências e o começo de uma carreira como Oficiais de Marinha nas unidades navais ou em terra.

O CALM Macieira Fragoso, Comandante da Escola Naval, recebeu o Almirante CEMA e, após os cumprimentos aos docentes desta instituição, deu-se inicio à cerimónia militar. Procedeu-se à imposição de condecorações a várias personalidades civis e militares que se

distinguiram ao serviço da Marinha, entre elas o Prof. Doutor Godinho Rodrigues, que aqui lec-cionou durante 35 anos. Em seguida o Almirante

CEMA entregou a espada ao melhor classificado do curso; seguiu-se a entrega de espadas, por vários oficiais generais, aos outros aspirantes, se-gundo a respectiva classificação de mérito. Jun-tamente com a entrega das espadas foi, ainda, entregue a cada um dos alunos um exemplar da obra literária “Os Lusíadas”, edição da Ma-

rinha. Esta oferta simboliza a responsabilidade de proteger e preservar o legado do património cultural da língua portuguesa, falada em todo o mundo. Já Fernando Pessoa escrevia “..um dos mais notáveis exemplos do valor artístico deste património que o destino nos fez partilhar e com o qual teremos de construir o futuro”.

O CMG Machado da Silva, Comandante do Corpo de Alunos, proferiu uma alocução re-cordando aos alunos o seu passado nesta insti-tuição, a importância da presente cerimónia e os desafios que doravante vão ter que enfren-tar, servindo a Marinha em várias unidades. Seguiu-se a leitura dos Deveres Militares, pela primeira vez segundo os moldes recentemente aprovados pelo poder político, o Juramento de Bandeira e o desfile do Batalhão Escolar, pres-tando continência ao Almirante Chefe do Esta-do-Maior da Armada.

(Colaboração da ESCOLA NAVAL)

Juramento de Bandeira do Curso “Almirante Roboredo e Silva”Juramento de Bandeira do Curso “Almirante Roboredo e Silva”

Embarque dos Juízes do Supremo Tribunal de JustiçaEmbarque dos Juízes do Supremo Tribunal de Justiça

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10 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

Camaradagem e JustiçaOs pilares da ética militarCamaradagem e Justiça

Os pilares da ética militarCaros cadetes, neste artigo falo-vos

da camaradagem e da justiça, os valores militares que sustentam a

ética na Marinha.Ser camarada é patentear um sentimen-

to de amizade fraterna e aglutinante, que leva cada militar a cumprir os seus deve-res e a assumir as suas responsabilidades segundo os ideais do grupo.

Na prática, a camaradagem traduz-se na forte ligação entre os militares, de forma a que os esforços individuais resul-tem coesos, o espí-rito de corpo seja sólido e a eficiên-cia da Marinha se torne relevante. Estes efeitos notá-veis são possíveis porque a camara-dagem transfor-ma as ambições pessoais legítimas que todo o militar tem, em objecti-vos colectivos que toda a unidade militar persegue.

A camarada-gem cria a união, estabelece a con-fiança, fortalece as tradições e conso-lida os ideais comuns a todos os membros da Marinha. Resulta do convívio fraterno e cordial entre os militares, despido de ou-tros interesses que não sejam servir e ser útil, num clima de sinceridade e franqueza. Por isso, é incompatível com rixas, conten-das ou discussões prejudiciais à harmonia entre os militares e deve existir na paz e na guerra, no mar e em terra. Porém, todos sabemos que os anseios, as incertezas e os perigos associados ao cumprimento de ta-refas operacionais tornam a camaradagem magnânime e sincera.

Caros cadetes, a camaradagem mani-festa-se na ajuda e na solidariedade, liga-das ao apoio, ao auxílio e ao socorro, bem como à ternura, à piedade e à fraternida-de pelos militares que carecem de ampa-ro. Também se exprime na confiança e na familiaridade daqueles militares que acre-ditam na probidade e na perfeição dos ou-tros e, pela sã convivência, desenvolvem com eles intimidade e amizade. Traduz-se, igualmente, na consideração e no afecto

dos militares que usam de deferência, de estima e de respeito, acrescida de amizade, de simpatia e de cordialidade no relaciona-mento com os outros. Por fim, exterioriza--se na lealdade e na admiração, fundadas na fidelidade e na franqueza, complemen-tadas pelo sentimento de contemplação va-lorativa recíproca entre os militares.

Ser justo é usar a autoridade legal e regu-lamentar que todo o militar possui, de for-ma prudente, firme, sensata e enérgica.

Na prática, a justiça traduz-se na res-ponsabilidade patenteada pelos militares na promoção da disciplina, da coesão, da segurança, do valor e da eficácia da Ma-rinha. Estes efeitos notáveis são possíveis porque a justiça leva os militares a man-terem uma conduta esclarecida e respei-tadora da dignidade humana, das regras do direito e dos regulamentos.

A justiça evita os ressentimentos que desencadeiam efeitos intensos, duradou-ros e desviantes do comportamento dos membros da Marinha. Resulta do uso de precaução e solidez nas exigências formu-ladas, bem como de ponderação e vontade nos actos praticados. Por isso, é incompa-tível com despotismos ou cumplicidades que degradam o respeito mútuo entre os militares, e deve existir na paz e na guer-ra, no mar e em terra. Porém, todos sabe-mos que as exigências, as dificuldades e os riscos associados ao cumprimento das tarefas operacionais requerem uma justiça pronta e impoluta.

Caros cadetes, a justiça manifesta-se nas recompensas públicas concedidas aos su-bordinados que se destacam pela realiza-ção de obras invulgares, cujo valor exce-de os parâmetros convencionados. Nestas circunstâncias, serve de tónico para ali-mentar o desejo do militar se superar e de praticar novas acções meritórias e positi-vas. Para os restantes militares, serve-lhes de estímulo para adoptarem uma condu-ta semelhante à daquele que foi objecto

da referência elo-giosa. Para a Ma-rinha, resulta no fomento da admi-ração pelos com-portamentos dis-tinguidos, o que contribui para re-forçar o espírito de corpo.

A omissão de r e c o m p e n s a a quem se fez me-recedor dela é prova de egoís-mo. Concede-la a quem não a mere-ce é prova de fra-queza. Ambos os casos revelam in-constância e tibie-za, fruto da inve-ja e do medo, que

provocam o sentimento de comiseração e desdém dos subordinados.

Ser justo também implica punir aqueles que cometeram infracções às leis e aos re-gulamentos estabelecidos, ou desobede-ceram às ordens emitidas legitimamente. A punição destina-se a coibir o seu autor de futuros desvios de conduta que pro-voquem consequências nefastas. Para os restantes militares, serve-lhes de referên-cia para não cometerem falta semelhante à daquele que foi alvo da punição. Para a Marinha, resulta no fomento da rejeição pelos comportamentos desviantes, o que contribui para reforçar a disciplina.

O uso de prepotência na aplicação da pena, avilta e acanha os seus autores, para além de desvalorizar e corroer os fundamentos da ética militar. Por isso, a justiça requer tolerância, equilíbrio e adequação.

António Silva RibeiroCALM

AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 7

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 11

Nascido a 1 de Dezembro de 1867, na cidade de Lagos, Jayme Daniel Leotte do Rego ingressa na Escola Naval aos 19 anos. Em princípios de 1888, já guarda-marinha, embarca na corve-

ta “Mindelo”, tendo então o seu baptismo de fogo, em Moçambique, nas operações do Pungué, durante as quais demonstra possuir eleva-das qualidades de bravura, coragem e serenidade, virtudes essas rei-teradas ao longo de toda a sua vida.

Na maior parte da década seguinte presta serviço em navios atri-buídos à Divisão Naval da África Oriental. Assim, comanda a lancha-canhoneira ”Maravi” e, após a promoção a 2º tenente, em 1890, o va-por “Auxiliar”, sendo agraciado com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Comanda ainda os vapores “Baptista de Andrade” e “Ne-ves Ferreira”. Entretanto, em 1891, ti-nha sido secretário de António Ennes, Comissário Régio de Moçambique e após a promoção a 1º tenente, em 1894, ajudante de Jacinto Cândido, Ministro da Marinha e do Ultramar.

Entra o novo século no seu quinto comando, o da canhoneira “Mandovi” que, em Fevereiro de 1903, navega para Moçambique, onde durante um perío-do de oito meses efectua trabalhos hi-drográficos, interrompidos para exer-cer as funções de ajudante de ordens do Major-General da Armada, retornando, em 1904, a Moçambique para novo co-mando, o da canhoneira “Bengo”.

De regresso a Lisboa, por designa-ção do próprio rei D. Carlos, é nome-ado oficial às ordens de importantes individualidades estrangeiras de visita a Portugal.

A promoção a capitão-tenente dá-se em Junho de 1906. Faz então a sua entrada na política, filia-se no Partido Franquista, tendo-se estrea-do em S. Bento na sessão de 21 de Fevereiro de 1907, como deputado por Moçambique.

Em Agosto desse ano é comandante da canhoneira “Diu” que lar-ga, em 1908, para Moçambique onde retoma os reconhecimentos hi-drográficos.

Em princípios de 1910 é nomeado governador de S. Tomé e Prínci-pe. A duração do exercício do cargo é diminuta devido a mudanças na pasta da Marinha e Ultramar que comprometem o governo de Leotte do Rego. Chamado a Lisboa, denuncia a falta de apoio da Metrópole e declara que sem este apoio preferia apresentar a sua demissão, que foi aceite. Para ele a luta pelo engrandecimento da Marinha constituía o objectivo prioritário, pois essa situação, aliada a um bom governo do Ultramar, levaria também ao fortalecimento da Pátria que, na sua opi-nião, deveria estar acima de tudo e de todos. Aderiu à República no início de 1911, já que lhe pareceu que o novo regime político melhor poderia corresponder aos seus desejos.

Em Março de 1911, após repetidas solicitações, particularmente da po-pulação de S. Tomé e Príncipe, volta a ser nomeado governador daquele arquipélago, cessando funções em Novembro desse ano. O seu governo ultramarino foi curto, repartido em dois regimes políticos distintos, mas as medidas que tomou viriam a marcar profundamente uma das coló-nias onde o tratamento dispensado ao indígena era questionado.

Em 1913 filia-se no Partido Republicano Português, liderado por

Afonso Costa, e é eleito deputado. Continuará a sua luta na defesa da Marinha.

A Grande Guerra deflagra em Julho de 1914. No ano seguinte, em Maio, Leotte do Rego opõe-se à ditadura militar do General Pimenta de Castro e faz parte da Junta Revolucionária que, a 14 desse mês, pro-vocará a queda do Ministério. A Marinha, cujo papel foi decisivo na rebelião, teve como chefe Leotte do Rego que tomou o comando do cruzador “Vasco da Gama” e de bordo liderou a intervenção dos ou-tros navios revoltosos, sendo posteriormente nomeado, em acumula-ção, Comandante-Chefe da Divisão Naval de Defesa e Instrução. Em Julho, já como candidato independente, é eleito deputado pelo círculo

de Lagos, a sua terra natal.Com o começo de 1916 é incremen-

tada a pressão dos Aliados sobre a Ale-manha e a política nacional nesse sen-tido é clara, tendo em Leotte do Rego um dos seus principais defensores. Assim, em 23 de Fevereiro, são apreen-didos todos os navios alemães surtos em portos portugueses do Continente, Ilhas e Ultramar. A ordem do Governo é transmitida ao Comandante da Divi-são Naval de Defesa que, a bordo do contratorpedeiro “Douro”, superinten-de a operação durante a qual foi içada a Bandeira Nacional em 35 navios ger-mânicos, no rio Tejo.

A 9 de Março a Alemanha declara guerra a Portugal. É nessa ocasião que Leotte do Rego, dirigindo-se ao então Presidente da República, Dr. Bernardino Machado, profere uma frase que ficou para a História: “Senhor Presidente. A Marinha está pronta para o combate!”.

Devido, fundamentalmente, ao facto de ser comandada por um oficial de excepcional craveira, a Divisão Naval de Defesa irá cumprir plena-mente as missões que lhe serão atribuídas.

A 5 de Dezembro de 1917 o Major Sidónio Pais chefia uma revolta, assume as funções de Chefe de Estado e provoca a demissão do Go-verno. Leotte do Rego, exonerado do seu comando exila-se em Paris, só regressando à Pátria em Março de 1919, e logo nesse mesmo mês é-lhe concedido o grau de comendador da Ordem da Torre e Espada que se vem juntar ao de cavaleiro, ganho em 1892. O Governo inglês entrega--lhe as insígnias da Ordem Militar do Banho, o francês as da Cruz de Oficial da Legião de Honra e o rei dos Belgas a grã-cruz da Ordem Mi-litar da Coroa da Bélgica.

A nova Câmara de Deputados aprova, em Novembro de 1919, a sua promoção a contra-almirante por distinção.

No intervalo de uma sessão da Câmara de Deputados, a 25 de Julho de 1923, sofre um colapso cardíaco que virá a causar o seu falecimen-to no dia seguinte.

Desaparecia do mundo dos vivos o Contra-almirante Jayme Daniel Leotte do Rego, heróico combatente das campanhas de Moçambique, esclarecido governador ultramarino, chefe militar insigne que brilhan-temente comandou as forças navais na I Guerra Mundial, parlamen-tar íntegro e, acima de tudo, um ser honrado, detentor das mais belas qualidades humanas com as quais serviu a Monarquia e a República, pugnando sempre pelo engrandecimento da Marinha.

Contra-Almirante Jayme Leotte do Rego

Contra-Almirante Jayme Leotte do Rego

PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL

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12 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

EquadorREFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS 1

em certa medida inspirados pelo formato do artigo «Crónica dos Antípodas»1, propomo-nos agora, através do pequeno conjunto de textos que neste número se inicia, relembrar a im-portância, para os marinheiros, de algumas das principais referências de índole geográfica. No entanto, se relativamente a algumas delas podemos falar com a propriedade de quem já esteve ou passou por essas quase lendárias li-nhas e lugares, outras há que aguardam, ainda, a nossa visita…

a Equinocial, a Linha ou simplesmente o Equador2, como é mais conhecido este peculiar círculo máximo3, é, também, a

mais famosa referência geográfica concebida pelo Homem. Não se encontrando, de facto, consubstanciada fisicamente, esta linha imagi-nária constitui, todavia, o referencial para gran-dezas e prodígios de assinalável relevância para a sociedade e o mundo contemporâneos.

Por definição, o Equador4 é a linha fictícia que resulta da intersecção da superfície da Ter-ra com o plano que contém o seu centro e é perpendicular ao eixo de rotação, dividindo o globo terrestre em dois hemisférios, setentrio-nal e meridional, por sinal, muito distintos en-tre si. A norte, como se sabe, concentra-se uma maior percentagem de massa terrestre (69,7%), enquanto o sul é também conhecido como o hemisfério de água (70%). Esta desproporção, no que respeita à distribuição de continentes e oceanos pelos dois hemisférios, leva a que o de-nominado Equador Meteorológico se localize, sensivelmente, na latitude dos cinco graus Nor-te, ajudando a compreender como os fenóme-nos meteorológicos afectam, de forma díspar, as diferentes regiões do mundo.

A latitude5 de um lugar (j), definida como o valor da amplitude, em graus, do arco de meri-diano compreendido entre o Equador e o para-lelo do lugar, constitui a mais antiga coordena-da terrestre, podendo o seu valor oscilar entre os extremos de 90 graus Sul e 90 graus Norte, registados nos pólos, assumindo o valor zero no Equador.

Na cartografia, encontramos também outras linhas horizontais, igualmente imaginárias – os paralelos –, que circundam a Terra equidistan-tes ou paralelas ao Equador, evidenciando, as-sim, a proveniência da respectiva designação. No essencial, estes têm como principal função identificar os locais de igual latitude, permitindo perceber, de imediato, quais os que se encon-tram mais a norte ou mais a sul.

Cumpre acrescentar, no entanto, que nos primórdios da sua utilização por parte dos pi-lotos portugueses, no século XV, a latitude era, naquela época, designada como «altura», situ-ação que encontra explicação no facto da altu-ra da estrela Polar – o ângulo entre o plano do horizonte e o astro –, concordar, grosso modo,

com a latitude do lugar, ou «altura do pólo árti-co», nas palavras do navegador Diogo Gomes, aludindo à utilização do quadrante numa via-gem que realizou c. 1462, por sinal aquela que constitui a primeira prova documental acerca da

denominada «navegação por alturas» e também do uso deste instrumento.

Além da latitude, o Equador constitui-se igual-mente como referência das Coordenadas Equa-toriais, relevantes para a resolução de questões no âmbito da navegação astronómica, também conhecida como posicionamento com recurso aos astros, mas caídas em relativo desuso com o advento dos sistemas de navegação electróni-ca, como o Omega, o Loran C, o Transit, e, em especial, o ubíquo GPS6.

As coordenadas equatoriais são a declinação7 (δ) e o ângulo sideral8 (as), ambas angulares. A primeira é definida como o valor de arco do meridiano do astro, de sinal norte ou sul, en-tre o Equador Celeste9 e o astro, enquanto que a segunda é a distância angular compreendida

entre o Ponto Vernal10 () e o meridiano do astro, cuja contagem é feita de 0 a 360 graus, no sentido retrógrado (leste para oeste). No seu conjunto, tal como sucede com a latitude e a longitude em relação a um ponto localizado na superfície terrestre, permitem identificar, inde-pendentemente do lugar onde se encontra o ob-servador, a posição de qualquer astro na esfera celeste, com a vantagem de não serem afectadas pelo movimento de rotação da Terra.

No Equador, o raio da Terra totaliza, aproxi-madamente, 6.378,5 quilómetros, dos quais resulta um perímetro de cerca de 40.076 qui-lómetros, o que, devido ao achatamento do planeta que se verifica na região dos pólos, faz com que seja este o local onde ambos atingem o seu maior valor. Resta acrescentar, ainda, que é nos lugares situados nesta linha que se obser-va a mais rápida transição entre o dia e a noite, e vice-versa, como consequência da duração mínima dos crepúsculos11 que aí se registam. Além disso, independentemente da época do ano, tanto o dia como a noite têm aqui, sempre, 12 horas cada, algo que habitantes oriundos de outras latitudes podem considerar monótono.

Muito embora o Equador compreenda o maior perímetro da Terra, atravessa, no entanto, somente treze países: Brasil, Colômbia, Congo, Equador, Gabão, Indonésia, Maldivas, Quénia, Quiribati, República Democrática do Congo, Somália, S. Tomé e Príncipe e Uganda. Apesar do seu nome sugerir o oposto, o território da Guiné Equatorial não é atravessado pela linha do Equador, muito embora a sua extremidade sul se situe, apenas, a uns escassos 103 quiló-metros distância.

Com base nos estudos do Almirante Gago Coutinho (1869-1959), foi erigido no ilhéu das Rolas, no arquipélago de S. Tomé e Príncipe, um padrão que assinala a passagem da linha do Equador por aquela pequena ilha, mas que antes do seu exaustivo trabalho se julgava pas-sar no canal que a separa de S. Tomé. A inau-guração do Padrão Gago Coutinho teve lugar a 26 de Julho de 1936, mantendo-se ainda, actu-almente, em bom estado de conservação.

A propósito do significado deste monumento, foi o próprio Almirante Gago Coutinho quem, em 1933, teceu as seguintes considerações:

«Êste pequeno monumento, não regista ape-nas a passagem do Equador por aqui. Êle, con-cretamente, significa que nesta ilha se procedeu a uma seqüência de operações geométricas de precisão. Porque, a definição dêste ponto repre-senta trabalho mais complexo do que aquilo que alguns poderão supôr.

Certo, à primeira vista, julgar-se-á que bastaria observar a latitude de um ponto destas proximi-dades – digamos neste ilhéu das Rôlas – reduzi--la a metros, marcá-los no terreno para Norte ou para Sul, e estaríamos na latitude zero, isto é, no Equador, conforme êle se deduzia dessas obser-

Equador

Representação gráfica da latitude e dos paralelos.

CTEN António Gonçalves

CTEN António Gonçalves

A Esfera Celeste e as Coordenadas Equatoriais – declinação e ângulo sideral – de um astro.

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vações astronómicas locais. Mas um tal Equador diferiria quási um quilómetro do Equador real, ou seja daquele círculo único segundo o qual a Terra é cortada pelo plano que a divide nos seus dois hemisférios, o Norte e o Sul.

Para conhecermos, com mais propriedade, quais os pontos destas ilhas cortados por êsse círculo máximo, não bastaria a operação sim-plista a que me referi, a observação astronómi-ca local. Porque as observações astronómicas dependem dos ní-veis dos instrumentos, os quais obedecem à vertical local. Ora esta direcção do fio do prumo, devido à irregularidade das mon-tanhas, está geralmente muito er-rada: aqui pende muito para Nor-te, noutros lugares para Sul.

Assim, é preciso proceder e uma série de determinações de la-titude, em vários pontos das ilhas, ligados entre si, para se conhecer por onde passa aquele plano ge-ral do equador, que corta tôda a África, como o Atlântico e a América, vindo completar a sua volta à esfera terrestre pelo oceano Pacífico e pelo Índico.

Essas determinações geométricas, das quais resultou o conhecimento aproximado dos pontos segundo os quais aquele Equador geo-désico, ou absoluto, corta esta dependência da ilha de S. Tomé, passando por êste marco – exigiram, portanto, determinações da latitude astronómica em cêrca de uma dezena de es-tações, exigiram a medição de duas bases de precisão, a fios de invar, e, enfim, várias outras operações geodésicas em cerca de meio cento de vértices. Foi trabalho que aqui consumiu 14 meses no Cam-po, e que, em Portugal, me ocupou ain-da mais dois anos.

Tudo foi relatado em um volume, que tornou essas operações perduráveis, e, portanto, definitivas. […] Mas, com esta ocupação geométrica, que tanto hon-ra os habitantes do arquipélago, e que, simbòlicamente, aqui fica registada nês-te marco, cuja importante significação procurei acentuar, não cessará aquele paciente esforço secular»12.

Mas foi também neste arquipélago, mais concretamente na ilha do Prín-cipe, a 29 de Maio 1919, aquando de um eclipse do Sol, que uma expedição científica, organizada pela Royal Astronomical Society e liderada por Sir Arthur Eddington (1882-1944), pôde comprovar um dos pressupostos da Te-oria da Relatividade Geral, de Albert Einstein (1879-1955), que prevê o desvio da própria luz na presença do forte campo gravítico pro-vocado pela massa do Sol, devido à deforma-ção do espaço pelo qual se propaga, o que veio revolucionar a Física e o nosso entendi-mento sobre o Universo.

Relembramos, ainda, que o lançamento de foguetões, quando efectuado nas proximida-des do Equador, beneficia da maior velocida-de centrífuga provocada pelo movimento de rotação da Terra13, o que favorece a coloca-

ção de satélites em órbita. Em 1964, ciente da importância desta particularidade, o governo francês escolheu Kourou, na Guiana France-sa, situado na América do Sul cerca de 300 quilómetros a norte do Equador, como local de lançamento dos seus engenhos espaciais. Na década seguinte, em 1975, aquando da criação da Agência Espacial Europeia (ESA), foi-lhe proposta a partilha deste Centre Spatial

Guyanais (CSG), local donde, desde 1980, tem sido efectuado o lançamento dos foguetões do programa Ariane14.

Ainda por imperativo das leis da física, so-mente no plano do Equador é possível a exis-tência de satélites geostacionários15, colocados a uma altitude de 35.756 quilómetros em relação ao nível do mar, sendo na sua grande maioria utilizados no âmbito das comunicações (e.g. televisão, rádio, telefone, etc.).

Não admira, pois, que esta quimérica Linha, com tamanho significado, continue a merecer

o maior apreço e quase veneração da parte dos Marinheiros em todo o mundo, que mantêm a tradição de organizar, a bordo, por ocasião da sua passagem, uma carnavalesca efeméri-de, com vista a acolher – leia-se julgar –, todos quantos se estreiam, e atrevem, a cruzar a Cin-tura do Mundo, afrontando, com o seu insen-sato gesto, os desmedidos poderes do rei Nep-tuno16. De resto, durante muito tempo, a linha do Equador estabeleceu a estrema entre real e imaginário, que o sincretismo religioso e pagão converteu nos conhecidos ritos de baptismo e iniciação que chegaram até aos nossos dias.

António Manuel GonçalvesCTEN

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Notas:1 Revista da Armada, n.º 409, Junho de 2007, p.14.2 Do latim medieval oequatore, cujo significado é

«o que iguala os dias e as noites, dividindo a Terra em duas partes iguais».

3 Círculo máximo, ou ortodrómia, é a linha que resul-ta da intersecção da superfície terrestre com um qual-quer plano que contém o centro da Terra.

4 Na realidade, houve necessidade de estabelecer ou-tras três referências, o Equador Astronómico, o Equador Celeste e o Equador Geodésico.

5 Do latim latitudo, que significa lar-gura, extensão ou amplitude. Mais cor-rectamente, a latitude é definida na su-perfície terrestre como o ângulo entre o plano do Equador e a normal à super-fície de referência, por norma a verti-cal do lugar.

6 Acrónimo de Global Positioning System.

7 Não confundir com a declinação magnética (D), que é o valor do ângulo formado entre o meridiano magnético e o meridiano geográfico, num determina-do momento e lugar.

8 De referir que a ascensão recta (AR) é complementar do ângulo sideral, mas difere deste pelo facto de ser uma gran-

deza horária, oscilando o seu valor entre as 0 e as 24 horas (1 hora <=> 15 graus de longitude), além de ser contada no sentido directo (oeste para leste).

9 Círculo que resulta da intersecção do plano que contém o Equador terrestre com a esfera celeste, cons-tituindo-se como uma projecção ou prolongamento do primeiro.

10 É o ponto de intersecção do Equador Celeste com a Eclíptica (plano que contém a órbita da Terra em torno do Sol) e por onde o astro passa, de Sul para Norte, no equinócio da Primavera. Este último termo tem origem no latim aequinoctium, que traduz a igualdade dos dias e das noites. Etimologicamente, eclíptica radica no grego ek-leiptikós, que significa sujeito a eclipses. Estes consistem em obscurecimentos ou ocultações do Sol e da Lua, mas

só ocorrerem quando a órbita da Lua está muito próxima ou coincidente com aquele plano.

11 Os crepúsculos correspondem aos perío-dos de luminosidade, que se observam antes do nascer e após o ocaso do Sol. O primeiro toma a designação de crepúsculo matutino, enquan-to que o segundo recebe o nome de crepúscu-lo vespertino.

12 No Equador – Padrão de Gago Coutinho, S. Tomé, Edição da Comissão Executiva do Pa-drão de Gago Coutinho, s.d.

13 Neste local, por si só, o denominado efeito de slingshot (catapulta), proporcionado pela ro-tação da Terra (1.656 Km/h), confere ao fogue-tão um acréscimo de velocidade na ordem dos 460 metros por segundo, contribuindo para uma efectiva poupança de combustível, além de au-mentar também a vida útil dos satélites, uma vez que, desta forma, estes são sujeitos a menores valores de aceleração para atingir a denomina-da velocidade de escape.

14 O mesmo que Ariadne, da mitologia grega, filha de Minos e de Pasífae, que se apaixonou pelo herói Teseu. Este, depois de matar o célebre Minotauro, conseguiu escapar com a ajuda da sua amada, que, para o efeito, lhe oferecera um novelo de lã, que ele desenrolou à medida que entrava no labirinto em Creta, seguindo-o, depois, para encontrar a saída. Esta é a razão pela qual este foi o nome escolhido para baptizar os propulsores da ESA, com o intuito de os ajudar, também, a encon-trar os insondáveis caminhos no espaço.

15 Satélites cujo período de rotação em torno da Terra assume valor idêntico ao da rotação do próprio planeta – como resultado do equilíbrio entre a força centrífuga e a força da gravidade –, pelo que aparentam estar fixos em relação a qualquer ponto na superfície terrestre.

16 Nome do deus romano que reina nos mares. Iden-tifica-se com Posídon da mitologia grega – de quem herdou toda a carga simbólica –, que era filho de Cro-no (Tempo) e de Reia (Terra), mas também irmão do próprio Zeus (Luz).

Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 13

A linha do Equador e os países por ela atravessados.

O Padrão de Gago Coutinho e a delimitação da linha do Equador no ilhéu das Rolas.

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14 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

O Mar, de novo o destino de PortugalO Mar, de novo o destino de Portugal

O século XX foi marcado por duas Guerras Mundiais mas, provavel-mente, será lembrado como o sé-

culo em que o homem pisou, pela primeira vez, a Lua. No início do século XXI é pre-maturo afirmar que marcas deixará na his-tória, no entanto, há razões para acreditar que será de novo um século virado para o mar, tal como o século XV e o XVI. Na altura, o mar era apenas o caminho, mas, agora, é ele próprio o destino.

Portugal entregou, no dia 11 de Maio de 2009, à Comissão dos Limites da Plata-forma das Nações Unidas, a sua proposta para a extensão da plataforma continental. O nosso pequeno país, de 91 mil km2, com uma plataforma continental actual de 1,65 milhões de km2, reclama um acréscimo de quase 2 milhões de km2 aos espaços marí-timos sob soberania nacional. Assim, Por-tugal poderá passar a exercer soberania so-bre um solo da ordem dos 3,6 milhões de km2. Este potencial património correspon-de a quase 40 vezes o território nacional e a cerca de 83% da área terrestre dos 27 países membros da União Europeia.

Vendem-se, na Internet, terrenos na Lua e em Marte, mas é no fundo do mar que verdadeiramente hoje, ainda, se pode con-quistar terreno.

O mar volta assim a dar-nos uma opor-tunidade e grande parte da população portuguesa não tem a consciência do que isto significa, em especial para as gerações vindouras.

Esta é a motivação para este artigo, é preciso que o mar seja um desígnio nacio-nal. O nosso mar pode patrocinar-nos um futuro melhor, se soubermos desenvolver e aplicar uma grande estratégia nacional centrada no mar.

QUAL O VALOR ACTUAL DO MAR?

Quando pensamos no valor do mar temos sempre de ter em conta que ele tem um va-lor real, ligado ao que dele se pode obter ou ao que se pode fazer a partir dele, mas tam-bém um valor potencial, que tem a ver com o aproveitamento que se pode fazer dele, ou com ele, no futuro. Muito se sabe sobre o seu valor real, muito ligado à exploração dos recursos da pesca, ou do transporte e comércio marítimo, mas pouco se tem fa-lado sobre o seu valor potencial, numa al-tura em que há inúmeras razões para acre-ditar que este século será de novo o século do mar. Para justificar esta ideia basta lem-brar que é no mar que se descobrem as no-vas reservas de petróleo e que a tecnologia já permite explorá-lo a mais de 3000 m de profundidade. Se adicionarmos a esta ideia o facto da profundidade média do Atlânti-co ser de 3350 m, então podemos deduzir imensas possibilidades.

QUE RIQUEZAS HÁ NO FUNDO DO MAR?

Do ouro negro ouvimos falar com fre-quência e daria, por certo, um artigo interes-sante, mas, neste artigo, vamos falar de ou-tras riquezas menos conhecidas. A história não é muito longa, já que a busca de rique-zas nas profundezas só começou nos anos 50, impulsionada pela tecnologia desenvol-vida durante a Segunda Guerra Mundial.

Em busca das crostas e nódulos polimetá-licos (anos 60 e 70).

Quando o HMS Challenger fez a sua épi-ca viagem científica, sob os auspícios da Royal Society e do Almirantado Britânico, os cientistas a bordo fizeram muitas des-cobertas estranhas. Uma das descobertas mais estranhas foi a existência de nódulos de manganês, que pareciam almôndegas cheias de limo, no fundo do mar em re giões muito profundas. Durante a viagem, entre Dezembro de 1872 a Maio de 1876, efectua-ram recolhas de amostras de fundo em 133 locais diferentes. Em todos estes locais re-colheram pequenos nódulos com tamanhos da ordem dos 3 cm de diâmetro. As análises mostravam que eram tesouros de metais ra-ros - até 25% de manganês, 2% de cobalto, 1,9% de cobre, 1,6% de níquel e quantidades mais pequenas de muitos outros elementos invulgares.

A procura de riquezas no fundo do mar ter-se-á iniciado nos anos 50 e centrou-se nas águas relativamente superficiais das plata-formas continentais. Na maioria dos casos procurava-se no mar a continuação de filões de estanho, ouro e diamantes que havia em

terra. Os nódulos de manganês foram consi-derados curiosidades até depois da Segunda Guerra Mundial, altura em que se iniciou uma intensa pesquisa oceanográfica.

Não tardou muito tempo até que apare-cessem muitos navios, de vários países, a descer dragas até às profundezas dos oce-anos. Ao içá-las recolhiam pedaços negros com um aspecto repulsivo que não eram mais de que nódulos de manganês.

Para se ter uma noção da importância do manganês refere-se que ele é fundamental para a produção de aço, sobretudo do tipo super-duro usado em blindagens e nos den-tes de escavadoras. O cobalto é utilizado em peças que trabalhem a altas temperaturas, como por exemplo os motores a jacto e as turbinas de gás industriais. O níquel é ne-cessário para fazer o aço inoxidável, bem como as moedas, blindagens e circuitos electrónicos.

Assim, no final dos anos 60 construíram-se muitos navios com longos tubos e bom-bas poderosas para aspirarem este ouro in-dustrial do fundo do mar. Nos anos 70 já havia muitos preparativos, tanto técnicos como políticos, para a exploração do miné-rio do fundo do mar. Mas toda esta excitação foi apanhada pelos trabalhos das Nações Unidas sobre Direito do Mar.

Recorda-se que nas conferências sobre Di-reito do Mar de 1958 e 1960, a falta de con-senso sobre a extensão das águas territoriais impediu que se avançasse também no regi-me de exploração dos fundos marinhos. A indefinição a que se chegou revelou-se ver-dadeiramente preocupante quando se vis-lumbrou a viabilidade tecnológica do aces-so às riquezas de todo o fundo do mar. A

Imagem elaborada pelo autor com uma representação aproximada da proposta de extensão da Plataforma Continental Portuguesa, submetida à Comissão de Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas. Repare-se no imenso valor das ilhas, que passam a estar ligadas ao continente por baixo de água em solo que passa, todo ele, a ser Português.

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 15

Convenção de 1958 conduzia à virtual apro-priação integral dos fundos marinhos pelos Estados costeiros, restaria, à falta de outro, considerarem-se os fundos marinhos como «res nullius» susceptíveis de ocupação por quem primeiro o fizesse.

Os recursos do fundo do mar, proclama-vam os países pobres numa frase que iria ecoar ao longo de décadas, eram a “herança comum da Humanidade”. O princípio de-senvolvido no âmbito das Nações Unidas previa que o licenciamento de explorações do fundo do mar envolveria a partilha de informação técnica com uma nova entida-de designada por Autoridade Internacional dos Fundos Oceânicos. À América, cujas companhias eram lideres na matéria, não agradou a ideia de partilhar os seus segre-dos técnicos e voltou-se contra a convenção (a tal ponto que ainda hoje não a ratificou, apesar de uma alteração à convenção intro-duzida em 1994 abrir a expectativa da sua aprovação).

Entre 1974 e 1977 formaram-se quatro consórcios sediados na América para ex-plorar minérios no fundo do mar. Foram emitidas imensas patentes americanas para equipamento de exploração mineira em pro-fundidade, elevando-se em 1976 para qua-se sessenta por ano. Os gastos para o tra-balho de exploração atingiram o seu pico em 1978, com quase 100 milhões de dóla-res por ano.

Com as cabeças cheias de visões de grande riqueza, os consórcios mineiros pediram a concessão (muitas vezes ilegal à luz das Nações Unidas) de enormes ex-tensões de terreno submarino no Pacífi-co, numa área a sudeste do Havai rica em nódulos carregados de níquel e com área s maiores que a Espanha. A composição dos nódulos polimetálicos varia muito de local para local e apenas em poucas áreas con-têm manganês, níquel, cobalto e cobre su-ficientes para reunirem valor económico de interesse. Uma combinação de cerca de 3% de níquel, cobalto e cobre é suficiente para tornar os nódulos um recurso econo-micamente viável.

As maiores concentrações de nódulos de manganês ocorrem no nordeste equatorial do Pacífico, onde, por vezes, chegam a co-brir mais de 90% do fundo oceânico. O mes-mo se tem vindo a descobrir no extremo do Atlântico Sul (por isso há actualmente si-nais de desentendimento entre a Argenti-na, Reino Unido e Chile) e nas regiões sul, oeste e centro do Índico. Na ZEE portugue-sa também foram detectadas ocorrências de nódulos de manganês, principalmente em áreas integradas nas ZEEs dos Açores e da Madeira.

Países como a Alemanha, a França, o Japão, a China, a Índia, o Reino Unido, a União Soviética e a Coreia do Sul depressa manifestaram os seus pedidos de concessão de áreas de exploração. Apareceram outros candidatos e, como eram tantos, a distribui-ção de concessões expandiu-se ao longo do

Pacífico. Na prática, os países tecnologica-mente evoluídos esgravatavam calmamente enormes partes do mar, desafiando muitas vezes as Nações Unidas e apostando numa valorização dos fundos marinhos. A acção tinha algumas semelhanças com a divisão colonial de África e do Novo Mundo, sé-culos antes.

Ao mesmo tempo, muitos estados costei-ros fizeram grandes reivindicações territo-riais, sancionadas pelas Nações Unidas e até encorajadas se o Estado também subscreves-se a lei marítima internacional emergente. Pelas regras das Nações Unidas, um Estado podia adquirir legalmente uma grande área costeira conhecida por Zona Económica Ex-clusiva, ou ZEE, que se estendia da linha de costa até às 200 milhas náuticas. Entre 1975 e 1980 o número de Estados costeiros que fizeram tais reivindicações subiu, de menos de 30, para mais de uma centena.

As visões de riqueza rápida e o muito dinheiro e trabalho gasto em prospecção, dissiparam-se, em grande parte, no final da década, em consequência da recessão global e da conclusão de que o trabalho de explo-ração mineira era muito mais difícil do que se pensara inicialmente.

Concluiu-se que os nódulos de manga-nês eram um tesouro potencial, mas que só teria valor quando os preços do metal compensassem a grande despesa e dificul-dade do trabalho nas profundezas do mar, no meio de temperaturas gélidas e pressões esmagadoras. A actividade abrandou lenta-mente, até um nível relativamente baixo de exploração.

À procura de sulfuretos polimetálicos (anos 80).

A descoberta de filões de minerais po-tencialmente ricos sob a forma de chami-nés quentes foi descoberta em 1979. Este brilho chamou à atenção da Administração Reagen que tinha acabado de tomar posse. As chaminés eram uma sensação, tratava--se de uma mistura concentrada de mine-rais, incluindo a pirite (sulfureto de ferro), calcopirite (sulfureto de cobre) e esfalerite (sulfureto de zinco). Estas misturas eram conhecidas como sulfuretos polimetálicos. Em terra, os minérios de sulfureto tinham sido explorados durante milénios, incluin-do os que continham ouro. Agora, os cien-tistas pareciam ter tropeçado casualmente no seu lugar de origem, o que multiplicava as possibilidades económicas. Desta forma, em breve se materializaria uma nova onda de exploradores.

Até então, pensava-se que os minerais na crosta oceânica se encontravam disper-sos, como o ouro na água do mar. Agora, a descoberta das chaminés e do seu ambien-te quente e ácido mostrava que a natureza tinha autênticas fábricas na escuridão que concentravam os metais raros da água do mar e, ainda mais importante, no fundo do mar rochoso. Enquanto a água a escal-dar reagia com enormes volumes de rocha,

os minerais espalhados por grandes áreas eram dissolvidos e depositados nos orifí-cios vulcânicos.

O que se pretendia saber no início dos anos 80 era se as chaminés quentes e as for-mações da mesma natureza eram caracte-rísticas regulares dos fundos marinhos, se a sua composição era frequentemente rica, e se os depósitos metálicos eram superficiais ou se se estendiam às profundezas da crosta terrestre. Além disso, havia a questão de sa-ber se a sua exploração seria rentável, dados os graves desafios colocados pelo extraordi-nário frio, escuridão, e pressão do local.

Em 1982 descobriu-se que em muitas en-costas das ilhas vulcânicas e dos montes submarinos do Pacífico havia uma cober-tura fina de reboco oxidado, rico em cobre, manganês, cobalto e níquel. Esperava-se que cada local produzisse vários milhões de toneladas de minério. O cobalto, que suporta elevadas temperaturas, era um dos principais metais para o aparelho militar da Administração Reagen.

Não faltaram artigos científicos a iden-tificarem as potencialidades das chaminés vulcânicas oceânicas. Houve mesmo artigos a defenderem a ideia que as jazidas dos ori-fícios quentes eram bastante potentes com-paradas com as dos nódulos de manganês gelados, sendo “aproximadamente mil ve-zes” mais concentradas. As estimativas op-timistas começaram a correr em Washington e começou a gerar-se a perspectiva de um novo El Dourado.

Estas perspectivas optimistas eram preci-samente o que a Administração Reagen ne-cessitava para reforçar a sua agenda anti-co-munista. Um dos objectivos pretendidos era a auto-suficiência material em metais estra-tégicos como o alumínio, o crómio e o cobal-to. O Secretário da Marinha, John Lehman, em 1982 disse que “das quase duas dúzias de minerais estratégicos de que a América precisa são importadas do estrangeiro” e re-matou dizendo que “podiam ser fornecidas pelo fundo do mar”.

As Nações Unidas estavam a trabalhar desde Dezembro de 1973 numa nova Lei do Mar, que previa que todos os recursos minerais do fundo do oceano pertenciam à população mundial e propunham que as Nações Unidas controlassem o seu apro-veitamento.

Em Dezembro de 1982, Fiji tornou-se a primeira nação a ratificar o Tratado. Os EUA apressaram-se a denunciá-lo como um dis-parate socialista, mas, ao mesmo tempo, encorajavam as companhias americanas a explorar livremente os mares. Apesar desta postura, a Administração Reagen não dei-xou de aproveitar para reclamar a posse da maior ZEE da Terra. No círculo próximo do presidente chegou-se a dizer que tinha sido um golpe de mestre, como o da compra da Louisiana em 1803. Com a magia da geome-tria das duzentas milhas e a ousada reivin-dicação da jurisdição do fundo do mar, as ilhas minúsculas do Pacífico aumentaram

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16 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

incomensuravelmente o tamanho dos EUA para o dobro.

Os americanos apressaram-se a anunciar a abertura de concessões na Crista Gor-da (ao largo do Oregon e da Califórnia do norte) para a exploração de sulfuretos po-limetálicos.

A reacção ao plano foi rápida, os ambien-talistas apressaram-se a divulgar que seria uma catástrofe para a zona costeira e para os ecossistemas não explorados dos orifícios quentes. Os académicos mostraram-se per-plexos dizendo que, na melhor das hipóte-ses, o plano era prematuro. A indústria, ale-gadamente um dos principais beneficiá-rios do plano, reagiu com estudada indi-ferença, apesar do entusiasmo inicial. Na verdade, o pre-ço dos metais estava em queda, tornan-do as fontes exóti-cas pouco atractivas. Além disso, havia pouco saber sobre a forma de explorar a Crista Gorda, o que tornava o aluguer da concessão altamen-te especulativo. Por fim há que recordar a perda de centenas de milhões de dó-lares da primeira aventura para a re-colha de nódulos.

1986, o ano do ouro. Em 1986 o sub-

mersível da Mari-nha Americana Sea Cliff descobriu uma área de chaminés e elevações com sulfu-retos metálicos a mais de uma milha de profundidade. As análise revelaram cobre, zinco, chumbo, cobalto e prata em concen-trações mais elevadas do que todas as an-teriormente localizadas no fundo do mar. A derradeira emoção surgiu quando se desco-briu ouro fora da ZEE norte-americana na Crista Juan Fuca, ao largo do Oregon, e ao longo da falha vulcânica que passa no meio do Atlântico Norte. A vinte e três partes por milhão, as concentrações eram aí duas mil vezes superiores à média na crosta terrestre e muitas vezes superior à usual exploração mineira em terra.

Embora sedutor, o brilho das cristas vul-cânicas acabou por ser considerado pouco atractivo para ser explorado no século XX, mas será, com certeza, um desafio para este novo século.

16 de Novembro de 1994. Nesta data entrou em vigor a Convenção

das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Lei do Mar). Um ano antes, a Guiana foi a

sexagésima nação a assinar o Tratado, per-mitindo a sua entrada em vigor. Para os paí-ses industrializados, os defeitos do Tratado foram de alguma forma diminuídos quan-do a Administração Clinton lançou uma manobra diplomática de última hora para atenuar as cláusulas “socialistas” da explo-ração mineira do fundo do mar. Chegou-se a um acordo sobre a exploração da “Área” (todo o fundo do mar para além das pla-taformas continentais) que aparentemen-te tinha satisfeito os norte-americanos. Na verdade, até hoje, os EUA ainda não ratifi-caram o Tratado.

É importante recordar que uma das con-sequências mais visíveis da aplicação da Lei do Mar foi a apropriação das ZEE pelos Estados costeiros. Países, como por exem-plo a Indonésia, armaram-se com centenas de navios de guerra para defenderem as suas ZEE’s.

A declaração da ZEE deu às nações deve-res de policiamento das suas novas águas contra a pesca ilegal, contrabando, terro-rismo, pirataria, etc, por forma a assegura-rem o controlo da biodiversidade e outras actividades económicas. Por outro lado in-citou também ao exercício da soberania, o que gerou e tem gerado disputas fronteiri-ças. As Nações Unidas com esta cedência procuraram ganhar apoio para a aceitação geral do pacto do mar por parte de todos os Estados costeiros.

Com sede na Jamaica, a Autoridade Inter-nacional dos Fundos Oceânicos das Nações Unidas, e o seu braço de exploração minei-ra, a Enterprise, são ostensivamente os meios pelos quais os países pobres conseguem um pouco de acção no fundo do mar.

Fontes hidrotermais.A exploração de nódulos de manganês e de

sulfuretos polimetálicos não caiu em esqueci-mento, continuam a ser estudados, mas, ironi-camente, o ouro que mais se procura actual-mente é o que está na própria vida.

Calmamente, implacavelmente, os ex-ploradores do abismo estão a recolher mi-crorganismos invulgares nas profundezas vulcânicas e com eles estão a acelerar a re-volução genética e a tornar muito ricos al-guns industriais.

A exploração da vida nas profundezas nunca foi prevista em todo o tumulto inter-

nacional de divisão da riqueza mineral do mar. Os próprios cientistas foram len-tos a perceber estas potencialidades. O que já se sabe e já se provou é que a vida das profunde-zas vale muito mais do que ouro. Os mi-crorganismos ca-pazes de suportar temperaturas muito elevadas e de cres-cerem e se multipli-carem nesse meio, quebram as regras da vida a que nos habituámos, fazen-do delas um tesouro precioso para a En-genharia Genética.

O principal atrac-tivo era as suas en-zimas, que, como os próprios orga-nismos, funcionam a temperaturas ex-traordinariamen-

te elevadas. As enzimas são catalisadores b iológicos, ou seja, agentes em milhares de reacções químicas dentro das células de to-dos os seres vivos. Sem elas, não haveria quí-mica da vida. Os cientistas têm conseguido transformar estas maravilhas naturais em importantes ferramentas para reorganizar a natureza, fazendo isso cada vez mais com a ajuda dos microrganismos das profunde-zas marinhas. As enzimas dessas criaturas facilmente sobrevivem às altas temperaturas da bioquímica, ao contrário das convencio-nais que morrem relativamente depressa e têm de ser substituídas. Isso poupa dinhei-ro e acelera os processos. O mais importante de tudo é que permitem conduzir reacções bioquímicas a temperaturas muito eleva-das, um passo que mata automaticamente a maioria das bactérias terrestres e imobili-za as suas partes constituintes, além de per-mitirem misturas genéticas puras. Por estas e outras razões, empresas de todo o mundo competem para isolar, clonar, e vender en-zimas extremamente estáveis dos microrga-nismos das fontes hidrotermais, dando um

Riquezas da Plataforma. Imagem do autor, sem rigor científico, elaborada a partir de informação da Estru-tura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) e de outras fontes.

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grande empurrão à biotecnologia e outras indústrias.

Uma aplicação actual muito conhecida das enzimas obtidas das profundezas quentes é a que permite a duplicação artificial do ADN, ou ácido desoxirribonucleico. Graças a estas enzimas é hoje possível reproduzir material genético muito rapidamente e a baixo cus-to. Com um minúsculo fragmento de ADN é possível multiplicá-lo e obter material su-ficiente para análises e manipulações.

Tal como algumas indústrias farmacêuti-cas têm andado pela Amazónia a pesquisar princípios activos para medicamentos, ou-tras já houve com resultados que se basearam em matérias-primas retiradas à escuridão dos fundos oceânicos. Veja-se o volume de negócios de cem milhões de eu-ros logo no primeiro ano da co-mercialização de um conhecido fármaco para minorar o herpes labial. A molécula que lhe deu o êxito veio do fundo oceânico. Daí começam a vir anticancerí-genos “à base” de esponjas, que em dois anos de vendas deram um retorno de dez mil milhões de euros.

Os hidratos de metano.Um outro tema do momento é

a recuperação de hidratos de me-tano do fundo do mar. Os hidra-tos de metano têm o aspecto de gelo branco e ocorrem nos fundos de diversos mares e oceanos. São originados por moléculas de metano libertadas durante a digestão da matéria orgânica por parte de bactérias. O metano fica aprisionado em cristais de água que acabam por formar os hidratos. Os cris-tais de hidrato de metano podem distribuir--se por centenas de metros abaixo do solo marinho. Para além do seu grande potencial como combustível primário, os hidratos de metano, no seu conjunto, albergam habitats bacterianos únicos. Sabe-se que 60% das bactérias que vivem na Terra estão em sedi-mentos no subsolo marinho. Calcula-se que o volume de gás nos reservatórios mundiais de hidratos de metano exceda o volume das reservas terrestres. Ao que se sabe, toda a área da embocadura do Mediterrâneo apa-renta conter hidratos de metano.

QUAL O VALOR DA EXPANSÃO DA PLATAFORMA CONTINENTAL PARA PORTUGAL?

Com o que foi dito podemos pensar no valor desta expansão em duas dimensões, a tangível e a intangível.

Valor intangívelDo ponto de vista do valor intangível

podemos considerar que Portugal ganha porque obtém maior afirmação estratégi-ca e reconhecimento internacional mercê de um maior espaço físico. A extensão da

Plataforma Continental significa o reforço inequívoco da posição de Portugal nas re-lações internacionais em matérias relativas ao mar e aos oceanos. É, no entanto, preciso que Portugal demonstre conhecimento e ca-pacidade científico-tecnológica no domínio dos mares e das ciências do mar.

A experiência portuguesa permitiu aju-dar Cabo Verde no seu estudo preliminar. Portugal ganhou credibilidade junto dos Países de Língua Portuguesa, abrindo po-tenciais portas a projectos de cooperação que podem incluir a utilização dos navios hidro-oceanográficos da Marinha.

Este projecto já despertou a mente de muitos cientistas nacionais para as rique-zas do mar. Devemos esperar que os nos-sos políticos também despertem para o enorme potencial do mar, aqui e sempre do nosso lado.

Valor tangívelA exploração das riquezas do fundo do

mar irá gerar benefícios ao nível da econo-mia, da biotecnologia e da saúde. Estes be-nefícios serão tanto mais valiosos quanto o país conseguir desenvolver um “cluster marítimo” para a sua exploração.

O aproveitamento das singularidades da vida nos campos hidrotermais e das pro-fundidades abissais tem estado a resultar em fenomenais aproveitamentos para a in-dústria farmacêutica. Portugal tem ao largo dos Açores, na crista Atlântica, um enorme potencial.

Portugal tem ainda de se preparar para levar a cabo a exploração e aproveitamento de recursos minerais e energéticos do leito e subsolo marinhos. Existem diversos re-cursos cujo aproveitamento, em termos co-merciais, já é uma realidade, ou poderá vir a sê-lo no médio-longo prazo, merecendo especial consideração os nódulos polime-tálicos ricos em manganês, as crostas ferro-manganesianas ricas em cobalto, as fontes hidrotermais com deposição de sulfuretos, os depósitos de materiais inertes, os hidro-carbonetos e os hidratos de metano.

Não foi divulgada muita informação sobre

as descobertas efectuadas pela Missão para a Extensão da Plataforma Continental . O res-ponsável pela Missão, o Comandante e Pro-fessor Pinto e Abreu, admitiu que “Claro que temos evidência de recursos minerais”. Ad-verte ainda que “os recursos ligados à bio-tecnologia são dos que têm maior potencial económico para exploração no fundo do oce-ano, é a chamada biotecnologia azul.”.

QUAIS OS REFLEXOS NA MARINHA?

Devemos esperar que a Marinha do futuro resulte de um conceito estratégi-co nacional, que aproveite esta oportunidade que o mar nos oferece. Talvez tenha faltado até hoje algo que cimentasse uma visão geradora de uma grande estratégia nacional. Felizmente, já há alguns passos dados que nos alimentam alguma esperan-ça de ver, de novo, o nosso país virado para o mar.

Os meios navais deverão ser em número suficiente e com au-tonomia capaz para protegerem os interesses nacionais numa área que, previsivelmente, irá passar para mais do dobro da actual. É preciso desenvolver, com criatividade, novas formas de vigiar, de forma integrada, os

nossos espaços marítimos. Não podemos esquecer que no futuro tudo se passará a 3 dimensões e aí serão fundamentais os sub-marinos e os veículos submarinos e aéreos de operação remota.

Nos últimos anos tem-se vindo a registar um número crescente a navios estrangeiros (mais de 30 por ano) a pedirem para rea-lizarem cruzeiros científicos na ZEE por-tuguesa. No futuro haverá muitos mais e precisamos de saber, e ter capacidade de verificar, o que andam a fazer. Este aspecto será cada vez mais importante, já que a evo-lução tecnológica irá permitir seguramen-te a exploração económica das riquezas do fundo do mar.

Devemos esperar uma grande interac-ção entre a Marinha, a comunidade cientí-fica nacional e a indústria nacional de for-ma a conhecer melhor as potencialidades do nosso mar, a partilhar saberes, desen-volver novos meios e novas técnicas, para aproveitarmos e protegermos as riquezas do oceano.

Compete aos nossos governantes desen-volver as sinergias entre as universidades, a indústria, o comércio e a Marinha para o aproveitamento das riquezas do mar. A Marinha, com o seu saber de séculos, estará preparada para se assumir firme na defesa, empenhada na segurança e parceira no de-senvolvimento.

Armando J. Dias CorreiaCFR

Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 17

Hidrato de metano no fundo do mar. Tem a aparência de gelo branco mas arde como gás butano.

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18 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

DOUTRINA NAVAL 3

Segurança e autoridade do Estado

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20 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (2)

D. Constantino de Bragança, Vice-Rei da ÍndiaD. Constantino de Bragança, Vice-Rei da Índia

A 14 de Junho de 1557, dois dias depois da morte de D. João III, reuniu o con-selho de estado que aceitou as últimas

vontades do soberano e começou a preparar--se para a aclamação de D. Sebastião, con-formando-se com a regência de Dª Catarina que deveria encarregar-se da tutela do neto. Curiosamente, a rainha não assistiu à cerimó-nia de aclamação do jovem rei, declinando a homenagem devida numa procuração passa-da ao cardeal D. Henrique, para que o fizesse em seu nome.

O governo da Índia estava entre-gue a Francisco Barreto, por carta de sucessão aberta após a morte do vice--rei D. Pedro de Mascarenhas (Mari-nha de D. João III (48)), sendo urgente escolher alguém que tivesse as quali-dades e o poder necessário para repor a ordem num império em verdadeira decadência. Diogo do Couto diz que foi essa uma das primeiras preocu-pações da regente, aconselhada para isso pelo cardeal D. Henrique, son-dando duas personagens gradas (que não nomeia) do reino que declinaram o convite. Segundo o cronista, o Du-que de Bragança, D. Teodósio, e seu irmão, D. Constantino, comentaram aquelas recusas com grande espanto, condenando a falta de brio dos esco-lhidos. E D. Constantino expressou a sua própria vontade de ir à Índia “por serviço de Deus e de El Rey”, embora o tivesse feito na sequência da con-versa e sem imaginar que tal pudesse vir a acontecer. A escolha dos vice-reis – sobretudo quando o título era defi-nido à partida – recaía dentro das fa-mílias da alta nobreza, mas nunca nas que estavam mais próximas da famí-lia real, como acontecia com a casa de Bragança ou de Aveiro. Mas D. Teodósio en-tendeu manifestar esta iniciativa a Dª Catari-na, que abraçou a ideia da melhor forma e, a 3 de Março de 1558, nomeou D. Constanti-no como vice-rei da Índia, devendo partir na armada desse mesmo ano. Saídos de Lisboa a 7 de Abril, invernaram em Moçambique e chegaram a Goa a 3 de Setembro, depois de uma viagem sem incidentes.

D. Constantino tinha pouco mais de trinta anos – idade com que muitos fidalgos já eram veteranos da Índia – mas vivera sempre na corte, faltando-lhe experiência de guerra e, so-bretudo, dos assuntos ultramarinos. D. João III prometera-lhe o cargo de camareiro-mor do jo-vem príncipe D. Sebastião, e era na esperança desse cargo que colocara todo o seu empenho. Mas não deu o dito por não dito e aceitou o desafio, fazendo-se acompanhar de gente que pudesse aconselhá-lo da melhor forma, como

era o caso de Aleixo de Sousa Chichorro, des-tinado ao cargo de vedor da fazenda. Em Goa recebeu o cargo de Francisco Barreto e, de ime-diato, despachou D. Payo de Noronha para a capitania de Cananor, onde o contacto com o rei local não ocorreu da melhor forma. A fal-ta de senso e atenção por parte de D. Payo ou o precipitar de circunstâncias que já vinham do passado, levou a um recrudescimento da pirataria dos canais, com os paraus a ataca-rem os portugueses e a criarem instabilidade no Malabar. Ainda em Setembro isso chegou

aos ouvidos do vice-rei, que enviou duas ar-madas de remos consecutivas, para por fim à ousadia islâmica.

Porém, o problema mais importante com que D. Constantino teria de se defrontar era o de Damão, que se arrastava desde o tem-po de D. Pedro de Mascarenhas. A cidade tinha grande importância estratégica sobre o Guzerate e estava ocupada por escravos abexins convertidos ao islão, mediante con-trato e sob a tutela do sultão de Cambaia. E, desde que os portugueses tinham ocupado Baçaim, esses abexins lançavam ataques rá-pidos e traiçoeiros, causando uma instabili-dade difícil de suportar. Teve a noção disso Diogo de Noronha, enquanto capitão de Diu, que propôs a sua ocupação, mas a opção de Mascarenhas fora a da negociação para ce-dência. O acordo com Cambaia conseguiu--se ainda no tempo de Francisco Barreto, mas

a chegada de D. Cons tantino fez com que o problema passasse para o novo vice-rei. Na prática, era necessário expulsar os abexins, ha-vendo a anuência do sultanato para isso, mas implicava uma acção de guerra que tinha de ser preparada. Em Baçaim, lançando os seus espiões, António Moniz Barreto soubera que a guarnição tinha mais de três mil homens, de forma que o Conselho foi de opinião a que se organizasse uma armada para a conquistar. D. Constantino despachou as naus do reino, como era de regimento, enviou o vedor Aleixo

de Sousa a Cochim para tratar do resto da carga, e começou a reunir os meios necessários, enviando emissários onde era preciso juntar tropas e navios.

“E pelas Oitavas do Natal se fez o Viso-Rey á vela com huma Armada de mais de cem navios, em que levava per-to de três mil homens”, como nos diz Diogo do Couto. Passou por Chaul e por Baçaim, indo fundear em frente de Damão, com grande espanto dos ini-migos que não esperavam uma força tão impressionante. A barra, no entan-to, era demasiado estreita para tantos navios, sendo perigosa a entrada, por-que teriam de lançar ferro debaixo do alcance da artilharia inimiga. Felizmen-te o tempo corria de feição, com ventos terrais fracos que permitiam chegar à praia sem perigo, de forma que se de-cidiu desembarcar e atacar a cidade, contornando as defesas viradas para a entrada da barra. No dia dois de Feve-reiro, foram postos em terra 2000 ho-mens em cinco unidades distintas, que deviam dominar os abexins, entrando a armada quando fosse içada no forte “uma bandeira das nossas”. Tudo cor-reu como previsto e a resistência foi mí-nima. D. Constantino entrou na fortale-

za ao som das salvas dos navios, com grande pompa e festa nesse mesmo dia.

A retirada dos abexins tinha, contudo, o in-tuito estratégico de reorganizar forças e con-tinuar a assolar os portugueses. Assentaram arraiais a cerca de duas léguas de distância e todas as noites fustigavam as forças nacio-nais, impondo-lhes uma vigilância perma-nente. Mas não foi ameaça que muito duras-se. Comandados por Moniz Barreto, cerca de quinhentos homens passaram o rio durante o final de uma tarde, permanecendo toda a noite emboscados, à espera da alva. Um pou-co antes do nascer do sol fizeram os últimos quilómetros até à posição inimiga, que foi sur-preendida sem vigilância e sem possibilidade de resposta.

J. Semedo de MatosCFR FZ

D. Constantino de Bragança, Vice-Rei da Índia.Livro de Lisuarte de Abreu.

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Revista da aRmada • NOVEMBrO 2009 21

No passado dia 1 de Julho, Portugal iniciou a sua participação no Hospital Multinacional de Kaia, localizado nas instalações militares da ISAF, no Aeroporto Internacional de Kaia, em

C abul – Afeganistão.Esta participação será de 12 meses no total, com rotações de equipas

médicas cada 4 meses. O contingente português é constituído por 15 elementos, sendo 2 médicos, 8 enfermeiros, 1 técnico de laboratório, 1 fisioterapeuta e três socorristas oriundos dos três ramos das Forças Ar-madas. A Marinha tem a maior contribuição na corrente rotação, com o 1TEN MN Alípio Araújo, especialista em Medicina Interna; 2TEN MN Ola-vo Gomes, Interno de Cirurgia Geral; 1SAR HE Vera Bento, 1SAR HE Vânia Moreira, 1SAR HE Verónica Sousa, enfermeiros do Hospital de Marinha; 1SAR TSN José Roques, técnico de la-boratório e análises clínicas; 1SAR TSN Nuno Ribeiro, fisioterapeuta.

A “leading nation” foi assumida pela França, estando também envolvidas, uma equipa cirúrgica alemã, outra búlgara, e dois “role 1” da Bélgica e dos EUA, respectivamente, numa dotação total hospitalar de 124 militares.

Localizado na contiguidade do aeroporto de Kaia é constituído por um Serviço de Urgência com 8 camas, (duas de reanimação com ventiladores portáteis), duas salas de bloco operatório, uma sala operatória para peque-nas cirurgias, sala de recobro com 4 camas, Unidade de Cuidados Inten-sivos com 4 camas, enfermaria médico-cirúrgica com 25 camas, quarto de isolamento de doenças infecto-contagiosas sob pressão negativa com 3 camas, para além de uma zona de consultas programadas.

As valências médico-cirúrgicas do Hospital dividem-se por diversas áreas como a Medicina Interna, Clínica Geral, Cirurgia Geral, Ortopedia, Anestesiologia, Oftalmologia, Psiquiatria e Medicina Dentária.

A área de cobertura hospitalar corresponde essencialmente à cidade de Cabul e distrito, recebendo feridos e doentes evacuados de outras área s do Afeganistão. A assistência prioritária desta unidade são os mili-tares da ISAF, militares da ANA (Afghanistan Nacional Army), forças de

segurança do Afeganistão, como a Polícia Afegã, e também civis. A maior parte da actividade está relacionada com as operações de combate que decorrem no teatro de operações, vítimas de ataques de IEDs, rockets e armas ligeiras, mas também é dirigida à população civil, com a capaci-dade sobrante do hospital.

A equipa portuguesa tem a responsabilidade clínica do Internamento Médico-cirúrgico, Laboratório, Fisioterapia, participação nas escalas das equipas do Serviço de Urgência e nas equipas de “Crash and Rescue”, onde tem desempenhado as suas funções de forma exemplar e reconhecida, pe-

los diferentes destacamentos internacio-nais destacados no Afeganistão.

Esta missão militar, tem duas ver-tentes assistenciais importantes que muito dignificam a acção da equipa médica. A actividade diária e rotineira com doen tes de menor gravidade ou vítimas de doença natural, é quebra-da pelas situa ções de MASCAL (“Mass Casualt y”), onde todos os recursos hu-

manos do hospital são convocados para o Serviço de urgência. Após triagem feita à entrada, pelas equipas multinacionais for-madas, os doentes são orientados conforme a sua gravidade e estabilidade. Esta organi-

zação da resposta hospitalar, obriga a que todos os elementos da equipa tenham disponibilidade total para atendimento urgente 24h por dia.

Outra das vertentes assistenciais importante tem a ver com a presta-ção de cuidados médicos à população civil. As diferenças culturais e sociológicas, fazem com que a prestação de cuidados médicos seja um desafio permanente, pois alguns pormenores têm de ser tidos em conta aquando da acção médica.

No computo geral, esta é uma missão em que a Marinha, juntamen-te com os outros ramos, presta simultaneamente um serviço de apoio aos militares das forças nacionais e internacionais destacadas no teatro de operações do Afeganistão, bem como um apoio clínico e sanitário à população civil afegã.

Participação da Saúde Naval no Teatro de Operações do Afeganistão

Participação da Saúde Naval no Teatro de Operações do Afeganistão

Realizou-se no dia 14 de Julho de 2009, no Instituto de Ciências Biomé-dicas de Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, a prova de doutoramento em Ciências Médicas do 1TEN MN Paulo Sérgio Alves

Vera-Cruz Pinto, com uma tese intitulada “Alterações na mucosa nasal pro-vocadas pela pressão atmosférica, oxigénio e outros factores”.

Esta tese aborda um tema muito grato à saúde naval, uma vez que a Mari-nha foi pioneira na introdução da Oxigenoterapia Hiperbárica em Portugal e mantém-se na vanguarda do seu desenvolvimento e afirmação. Nesta dis-sertação ficou explícito o contributo para o melhor entendimento dos efeitos desta modalidade de tratamento no tracto respiratório superior, os benefícios ao nível da respiração nasal e as potencialidades de aplicação futura.

O júri foi presidido pelo Presidente do Conselho Directivo do Instituto de Ciên cias Biomédicas de Abel Salazar, Prof. Dr. Sousa Pereira (Univ. Porto), e integrou o Prof. Dr. Artur Águas (Univ. Porto), o Prof. Dr. António Carlos Mi-gueis (Univ. Coimbra), o Prof. Dr. João Paço (Univ Lisboa) e o Prof. Dr. Carlos Zagalo (ISCS Egas Moniz) que foi também o orientador da tese. O júri deci-diu aprovar o candidato por unanimidade.

Prof. Dr. Artur Águas, Prof. Dr. João Paço, 1TEN MN Paulo Vera­­Cruz, Prof. Dr. Carlos Zagalo. Prof. Dr. António Carlo s Migueis

Doutoramento em Medicina

Doutoramento em Medicina

VALM Rebelo Duarte, CALM MN Rui de Abreu, 1TEN MN Paulo Vera­Cruz, CALM MN Telles Martins

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22 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

Joseph SilversteinUm amigo da “Sagres” e da Marinha Portuguesa

Joseph Silverstein

No passado dia 30 de Maio, o NRP “S agres” iniciou mais uma Viagem de Instrução de cadetes da Escola

Naval. A viagem deste ano levou novamente o navio a visitar terras da América do Nor-te. Uma vez mais, e agora no percurso entre Nova Iorque e Boston, o navio embarcou o americano Joseph Silverstein, nascido em 1927, em New Bedford, Massachussets, ami-go de longa data da “Sagres”, da Marinha Portuguesa e de Portugal.

Aproveitando mais esta oportunidade de embarque de tão eminente figura, o Coman-dante do navio decidiu que se realizasse uma entrevista ao mesmo, para recolha das suas memórias, fruto de uma longa ligação a este navio. A entrevista foi iniciada a bordo, na travessia de Nova Iorque para Boston e con-tinuou na sua casa, em New Bedford, onde Joseph Silverstein recebeu os oficiais da barca para um dia de convívio. Aí foi possível cons-tatar a ligação intensa à “Sagres”, materializa-da em inúmeras fotografias, pinturas e outras recordações da sua passagem pelo navio.

Quando e como começou a sua carreira naval e a ligação ao mar?

Iniciei a minha carreira na Merchant Ma-rine Academy, do Estado de Massachussets, em 1945, com dezassete anos. A duração ini-cialmente prevista para o curso era de quin-ze meses, devido à guerra, no entanto, como esta terminou, o curso prolongou-se até Maio de 1947. Os primeiros navios em que embar-quei foram cargueiros de transporte de car-vão a granel.

Entretanto decidi continuar os meus estu-dos, tendo obtido formação em Gestão, no Babson College, em Boston – Massachussets. Terminei esse curso em 1950.

Nesse mesmo ano de 1950, voluntariei-me para servir na Marinha de Guerra dos Estados Unidos, uma vez que tinha começado a Guer-ra da Coreia. A Marinha tinha uma necessida-de elevada de pessoal especialista em navios mercantes. Fui viver para Norfolk, na Virgi-nia, onde estive durante três anos. Prestava serviço nas Forças Anfíbias, treinando Mari-nes, das bases de Cherry Point e de Quantico. Era ministrado essencialmente treino de ope-rações anfíbias, sendo preparado o pes soal para acções de desembarque na Coreia.

Em 1954 terminei a minha prestação acti-va na Marinha, mantendo-me, contudo, na situa ção de reserva durante mais de trinta anos, tendo atingido o posto de Capitão-de--fragata. Foi-me oferecido o posto de Capitão--de-mar -e-guerra, mas, por razões pessoais, declinei o convite. A aceitação desse posto implicava o comando de uma estação naval de reserva, o que tinha como consequência a necessidade de me deslocar duas vezes por semana a Boston. Na altura não me convinha

esta limitação, uma vez que possuía diversos ne-gócios que necessitavam da minha atenção.

Como nasceu a sua li-gação à “Sagres”?

Uma das unidades que comandei, durante a pres-tação de serviço na reser-va, foi a Estação Naval de New Bedford. Em 1964, comandava essa unidade, quando recebi um telex, do meu comando, pedin-do um oficial e um sargen-to para darem apoio a um navio que visitava o porto. O navio era a “Sagres”, na sua primeira viagem de instrução de cadetes, ao serviço da Marinha Por-tuguesa. Uma das con-dições era que o oficial e o sargento falassem bem português, de modo a fa-cilitar a comunicação com a guarnição do navio. Vi-vendo numa região com uma população maioritariamente de origem portuguesa, possuía alguns – muito poucos – conhecimentos de português. No entanto, vi ali uma excelente oportunidade de conhecer melhor um navio e uma cultura que me fas-cinava. Decidi então, em vez de nomear um dos oficiais sobre o meu comando, assumir eu próprio o apoio à “Sagres”. Escolhi um sargento que falava fluentemente português e a situação ficou resolvida.

Nessa viagem, estabeleci laços fortíssi-mos de amizade com três oficiais: o coman-dante do navio, Almirante Silva Horta, o navegador, Comandante Martins e Silva e o professor de Navegação da Escola Naval, que acompanhava os cadetes, Comandante Cyrne de Castro. Esses laços de amizade per-duraram até aos nossos dias. Durante essa estadia do navio nos Estados Unidos, tive oportunidade de viajar pela primeira vez a bordo da barca.

Estabeleceu certamente relações de ami-zade muito próximas com as inúmeras pes-soas que conheceu ao longo de todos estes anos na “Sagres”.

É verdade! Já viajei inúmeras vezes para Portugal, ficando muitas vezes alojado em casa desses amigos que conheci a bordo. Co-nheço muito bem grande parte de Portugal, graças a esses amigos que fiz a bordo. Posso afirmar que de todos os comandantes do na-vio que constam da placa com os respectivos nomes, que se encontra à entrada da camari-

nha, não tive oportunidade de navegar ape-nas com dois deles.

Também tenho recebido, em minha casa, nos Estados Unidos, muitos desses meus ami-gos, que conheci graças à “Sagres”.

Quais foram para si as viagens mais sig-nificativas a bordo da “Sagres”?

Todas elas tiveram um significado espe-cial! Por exemplo, tive oportunidade de via-jar diversas vezes acompanhado de familia-res meus. O meu filho Stephen embarcou duas vezes, o meu filho David, está a embar-car pela segunda vez nesta viagem. A minha neta Emily teve oportunidade de fazer uma viagem que durou quase um Verão inteiro, navegando dos Estados Unidos para Portu-gal, tendo ficado lá alojada em casa do Co-mandante Dias Pinheiro. O meu neto Benja-mim também teve oportunidade de fazer um pequeno percurso a bordo. A minha mulher nunca navegou, mas já esteve imensas vezes a bordo da barca.

Numa das viagens mais fantásticas que fiz, percorri as nove ilhas dos Açores a bordo da “Sagres”. Estive a bordo na viagem de 1976, comemorativa dos duzentos anos da indepen-dência dos Estados Unidos. Participei também na viagem de 1986, comemorativa dos cem anos da Estátua da Liberdade, viagem essa em que o actual comandante da barca era ca-dete. Noutra ocasião percorri toda a costa Oes-te dos Estados Unidos, viajando de Ensenada até Vancouver, fazendo escala em San Diego

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e San Francisco. Nesta ocasião compartilhei o meu alojamento com outro grande amigo da “S agres”, já falecido, o pintor francês Roger Cha pe let. Mantivemos também uma amizade de longa duração com ele, possuindo em mi-nha casa três quadros por ele pintados.

Noutra viagem interessante tive a compa-nhia de um fotógrafo da IBM, Carl Lindenberg. Conhecemo-nos casualmente em Newport, du-rante uma estadia da barca naquela cidade. O fotógrafo estava interessado em embarcar num dos navios lá presentes e eu pedi ao comandan-te se ele poderia embarcar. Foram conseguidas as devidas autorizações, tendo ele realizado um trabalho excelente de fotografia.

Nessa viagem tive oportunidade de assis-tir a dois acidentes, simultâneos, à largada das Bermudas. Os navios envolvidos foram o “Christian Radich” e o “Gazela Primeiro”, por um lado, e o “Libertad” e o “Juan Sebastian de Elcano”, por outro. No final da viagem, o fo-tógrafo ofereceu-me inúmeras fotos desse em-barque, tendo eu organizado um álbum que ofereci ao Museu de Marinha em Lisboa.

Noutra ocasião, ofereci ao navio dois qua-dros de pintores luso-americanos. Um desses quadros tive oportunidade de o ver, na cama-rinha do comandante, quando esta semana fui convidado para lá jantar.

Nessas viagens, conheceu ou embarcou com pessoas de elevada relevância na so-ciedade portuguesa?

Sim! Tive oportunidade de navegar com

o Presidente Mário Soares, numa viagem que ele fez a bordo da barca, desde São Mi-guel, nos Açores, até Lisboa. Noutra ocasião, embarquei com o meu amigo Silva Horta, quando ele era Ministro da República para os Açores.

Aconteceu-me ainda um outro episódio curioso, com uma pessoa que conheci graças à “Sagres”. Numa das viagens de regresso de Portugal para minha casa, num voo da TAP, um dos pilotos tinha sido cadete da Es-cola Naval e embarcado numa das viagens que eu fiz. Quando me viu, reconheceu-me e convidou-me a visitar a “cabine” de pilo-tagem, tendo feito grande parte da viagem na “cabine”.

Sendo uma pessoa com uma grande liga-ção a Portugal, e vivendo numa região com uma enorme comunidade portuguesa, como classifica o seu relacionamento com essa co-munidade?

Considero que tenho mantido excelen-tes relações com a comunidade portugue-sa. Tenho cerca de quinhentos emprega-dos nas minhas empresas. Destes, cerca de quatrocentos e cinquenta são portugue-ses. Sempre fui uma pessoa muito activa junto da comunidade portuguesa de New Bedford. Mesmo a minha casa de Inver-no, na Florida, pertence a uma sociedade luso-americana.

O reconhecimento dessa minha ligação a Portugal e à comunidade portuguesa mate-

rializou-se na atribuição da medalha da Cruz Naval. Recebi essa medalha no Alfeite e na ce-rimónia estiveram presentes muitos dos meus amigos, que conheci aqui a bordo.

Fui ainda sponsor de diversos oficiais portu-gueses que frequentaram o Naval War Co lle ge em Newport. Cada oficial estrangeiro que fre-quenta aquela escola necessita de um sponsor americano, e eu acedi de boa vontade a desem-penhar esse papel.

Tendo uma larga experiência de embar-que na “Sagres”, diga-nos como lhe pareceu o navio nesta viagem.

Todos os navios passam por fases melhores e outras piores. Os factores que influenciam es-sas fases são diversos: tempo desde a última manutenção profunda, maior ou menor dis-ponibilidade financeira para apoiar melhorias internas e, acima de tudo, o empenhamento da respectiva guarnição. Posso dizer que desta vez fiquei bastante surpreendido, pela positi-va, com o aspecto do navio e o seu estado.

Gostei também bastante da saída de Nova Iorque, descendo o rio Hudson com todo o pano, num domingo, com milhares de pes-soas a passear na zona ribeirinha; assim como da entrada em Boston, também com todo o pano, até curta distância do cais de atracação, numa cidade que estava a iniciar um festival náutico, contando com a presença de deze-nas de veleiros.

(Colaboração do NRP “SAGRES”)

Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 23

VIGIA DA HISTÓRIA 15

Recrutamento

O recrutamento do pessoal da marinhagem para o serviço nos navios da Marinha de Guerra foi, durante muito tempo, efectuado por meios que estavam longe de ser pacíficos.

Uma das formas mais utilizadas consistia na elaboração de lista-gens de marítimos, em cada um dos portos, de onde depois eram re-tirados, de forma proporcional, os indivíduos compelidos a servir.

As proporções atrás referidas variavam conforme as necessida-des, desde um em cada vinte até, por exemplo, um em cada quatro, como se encontrava estabelecido em Abril de 1799.

Outro dos métodos utilizados consistia em retirar os tripulantes necessários das guarnições matriculadas nos navios mercantes, tal situação, bastante frequente no século XVIII na cidade do Porto, era registada nos Livros de Matrícula com a seguinte anotação:

“Preso para o serviço dos navios da Coroa”No início do século XIX, face às carências de pessoal da marinha-

gem para o completamento das lotações dos navios da Coroa, a Se-cretaria de Estado dos Negócios da Marinha obteve, por via legisla-tiva, autorização para proceder a um recrutamento extraordinário, o que foi concretizado através da Portaria de 26 de Agosto de 1817 que, para evitar o recurso a meios violentos de recrutamento, estabelecia um conjunto de procedimentos simplificados.

Assim, o recrutamento seria efectuado por oficiais da Auditoria Geral da Marinha, nomeados para o efeito, com autoridade para re-crutarem todo e qualquer indivíduo que reconhecidamente perten-cesse à vida do mar ou aqueles que, pelo seu traje e disposição, sejam, considerados como aptos para tal tipo de vida.

Nenhum dos encarregados do recrutamento poderia, sob pena

de prisão e perda de vencimento, isentar do serviço qualquer indi-víduo recrutado.

Todos os recrutados desta forma seriam encaminhados para o Arsenal de Marinha onde se procederia ao respectivo registo com indicação do seu recrutador.

No sentido de evitar a retenção indevida seriam passadas 2 revis-tas diárias por um júri constituído por representantes da Auditoria e 2 médicos navais.

Todos os que, nessas revistas, apresentassem defeitos físicos ou doença, seriam de imediato isentos do serviço e bem assim todos os que apresentassem razões de natureza legal, a comprovar do-cumentalmente, para serem isentos do serviço, os restantes seriam logo classificados como marinheiros ou grumetes e remetidos, sob escolta, para os respectivos navios.

Todos os indivíduos cuja isenção estivesse dependente de apresen-tação de documentos manter-se-iam retidos, devendo a respectiva prova ser apresentada até 3 dias, findos os quais, não o fazendo, seriam classificados e remetidos para os navios que lhes destinassem.

O diploma estabelecia ainda um prémio para os dois recrutadores que mais depressa completassem as “quotas” que lhes haviam sido fixadas, o primeiro receberia 800 reis por cada marinheiro e 400 por cada grume-te enquanto ao segundo seria atribuído metade daqueles valores.

Provavelmente ainda com alguns erros, é bem certo que o recru-tamento hoje em dia não parece tão agressivo como então.

Com. E. GomesFonte: Gazeta de Lisboa 17 de Setembro de 1817

Recrutamento

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24 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

Genuíno Alexandre Goulart Madruga, cedo se fez “filho do mar”. Pescador de profissão, natural de São João – Ilha

do Pico – Açores, desde pequeno sentiu uma grande curiosidade de ver o que estava para além do horizonte. Começou cedo na faina da pesca, num pequeno barco que foi sucessivamente substituindo por outros mais apetrechados. Residen-te na Horta, Ilha do Faial, mítica ci-dade-mar, local de acolhimento e cruzamento de navegadores, desde os primórdios, não podia deixar de conviver e ser tocado pelas histórias, lendas e aventuras desfiadas por es-ses inúmeros navegadores durante os convívios à mesa do inevitável “Peter’s” Café Sport.

A sua primeira viagem à volta do mundo demorou dois anos e foi realizada entre 20 de Outubro de 2000 e 18 de Maio de 2002, com início e chegada no porto da Hor-ta, tendo percorrido um total de 26760 milhas.

No dia de Portugal, em 10 de Ju-nho 2003, foi agraciado pelo Pre-sidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio, com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Em Agosto de 2007 partiu para esta nova aventura, que denomi-nou de “O Desafio do Cabo Horn”, tendo, como principal desafio, a travessia deste ponto no extremo Sul da América Latina. Zona de correntes e ventos fortes, de grande instabilidade, agravada pela pos-sível presença de icebergs, onde, centenas de embarcações naufra-garam. O desafio teve, também, a dificuldade acrescida de a traves-sia ter sido realizada em sentido contrário ao que é habitualmente feito pelos velejadores que ousam passar pelo local, contra as corren-tes e os ventos predominantes. Tal como aconteceu na sua primeira viagem à volta do mundo, Genuí-no Madruga utilizou um veleiro de onze metros de comprimento, o “Hemingway”, para a concreti-zação de um sonho e desafio que acalentava há muitos anos: circum-navegar o planeta a bordo de um veleiro.

Durante esta viagem, o navegador percor-reu em 21 meses e 12 dias, cerca de trinta e quatro mil milhas. Desde que partiu dos Aço-res, fez escala em Cabo Verde, Brasil, Uruguai, Argentina, Chile (Cabo Horn), Ilha de Páscoa, Polinésia Francesa, Samoa, Fiji, Espírito Santo,

Austrália, Timor Leste, Indonésia, Maurícias, África do Sul e, de novo, no Brasil.

Durante a sua viagem assumiu uma peculiar nova maneira de estar na navegação, fazendo de ponte de contacto constante entre o modo de ser da cultura portuguesa e outras formas cultu-

rais totalmente diferentes com que se deparou nos seus longos percursos por esse mundo fora. Em cada porto realizou palestras, visitando lo-cais de interesse histórico-cultural, e, constante-mente, transmitiu as suas vivências e emoções, via rádio para a sua Ilha e gentes Açorianas.

Não esquecendo o seu passado de mestre pescador, em cada novo sítio ausculta os pes-

cadores tentando obter informações sobre as artes tradicionais, as espécies capturadas e ou-tras curiosidades culturais. Simultaneamente, transmite os saberes açorianos e as formas de captura de pescado naquela região.

Emocionado, Genuíno Madruga, refere algumas fases desta viagem, no-meadamente a sua passagem pelo difícil Cabo Horn na América do Sul, e a navegação deste ponto, no Pacífico, para Puerto Montt, com condições extremas de frio e can-saço devido ao nível intenso de atenção que a costa chilena, com os seus estreitos, exige. Mas o ver-dadeiro testemunho das dificulda-des sentidas, na passagem pela Pa-tagónia, foi expressa por Genuíno numa entrevista:

“… se houvesse um problema com o motor, se houvesse um pro-blema qualquer com o meu barco, nem os ossos escapavam, segura-mente! Passei em sítios, nomeada-mente naquela zona do Pacífico, à volta da Patagónia que … O Pacífi-co não é nada pacífico. Não volto mais aquela zona!”

Outro grande momento desta via-gem, foi sem dúvida, a memorável recepção, com as maiores honras, em Díli, pelo Presidente da Repú-blica de Timor Leste e Prémio Nobel da Paz, José Ramos Horta.

Depois da passagem pelo Ocea-no Índico, e já com o “peso” das saudades da sua terra, o regresso ao Oceano Atlântico, após a dobragem dos Cabos das Agulhas e da Boa Es-perança foi, para Genuíno Madruga, como que, esquecer continentes e enaltecer as ilhas de Santa Helena (prisão de Napoleão), Fernando No-ronha (reserva ambiental), São Luís do Maranhão e, por fim, a Ilha do Pico – Açores, terra-mãe de São João e terra-mar das Lajes, em época das festas maiores do arquipélago: As Festas do Divino Espírito Santo.

Num dos seus registos diários, refere:

“ … a navegação perto de terra ou com mau tempo, exige um cui-dado enorme pelo que tudo rela-

cionado com a segurança não pode ser posto em causa. Assim, durmo quando é possível, tanto ao meio-dia, como à meia-noite! Digo--vos que já estive, por diversas vezes, muitas horas sem dormir e tudo fazendo para não adormecer. Mas isso deve-se à prática do trei-no adquirido durante anos no mar, na pesca. Agora, navegando à vela e não se tratando

Genuíno Madruga, o velejador solitário

Genuíno Madruga,

Lado Nordeste da ilha de Horn vendo-se o cabo Horn ao fundo.

Partida do Porto das Lajes do Pico em Agosto de 2007.

Rotas realizadas em 2000/2002 e 2006/2009.

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 25

de pesca (que também se faz), os meus olhos e o meu corpo já estão preparados para essas situações extremas. Todavia, asseguro que não é fácil e sempre que consigo dormir, há um lado que perma-nece acordado.”

Já na fase final desta volta ao mundo, foi vítima de um acidente, quando um temporal partiu o mastro e destruiu a ge-noa, numa altura em que se encontrava a cerca de 2 mil milhas náuticas do Arqui-pélago dos Açores. Apesar dos estragos provocados pelo temporal na embarca-ção e de algumas escoriações, Genuíno Madruga não desistiu e improvisou um mastro com a retranca e com uma pe-quena vela manteve a proa direccionada para o Pico, onde, e devido a este con-tratempo, chegou com uma semana de atraso relativamente à data prevista.

Questionado sobre o que sentiu na-quele momento, referiu:

“Foram momentos muito difíceis, e não via a hora de terminarem. Depois de as coisas acalmarem, só pensava no que devia fazer e tinha que tomar uma decisão. Tinha poucas hipóteses à es-colha, nomeadamente, regressar a São Luís do Maranhão (Brasil) que se encontra-va a 600 milhas, ou dirigir-me para a Ilha de Tobago a 800 milhas, ou ainda, rumar para

a Ilha de Guadaloupe (Caraíbas), provavel-mente a hipótese mais sensata, ou ainda, a solução derradeira, não perder de vista o ob-

jectivo principal, ou seja, o regresso à Ilha do Pico que se encontrava a 2000 milhas de distância. Foi o que fiz, pois ti-nha mantimentos, combustível e água, e analisando as previsões meteorológicas, decidi continuar e aproveitar os ventos e correntes favoráveis”.

Nas derradeiras milhas da sua longa e dura aventura, com a ilha a bombordo, o iate “Hemingway” foi acompanhado por mais de trinta embarcações, e pelo N.R.P. “António Enes”, tendo sido re-cebido, com elevado entusiasmo, pelo seu povo e inúmeras entidades, que não quiseram deixar de estar presentes neste memorável dia.

Genuíno Madruga foi o primeiro por-tuguês a dar a volta ao mundo em veleiro solitário, sendo o 10º a nível mundial a concretizar tal feito, tendo-o, aliás, rea-lizado pela segunda vez.

No respeito da melhor tradição náu-tica portuguesa, Genuíno Madruga fez questão de, invariavelmente, levar o nome de Portugal e o velho saber ma-rítimo Português mais longe, ajudando um pouco, à sua maneira, a sedimentar o prestígio de Portugal no mundo.

Marco Sousa Ferreira1TEN SEP

À saída de Dili a bordo do “Hemingway”, Genuíno Madruga com o Dr. José Ramos Horta e o Embaixador Dr. João Pinto.

As palavras do velejador à chegada ao Pico.

Em sessão presidida pelo Almirante Nuno Vieira Matias, teve lugar a 22 de Setembro, no auditório da Academia, a cerimó-nia de lançamento do livro «A Marinha em África – Angola,

Guiné e Moçambique – Campanhas Fluviais 1961-1974», da autoria do Prof. Doutor John P. Cann.

Depois do presidente da Academia de Marinha ter historiado a géne-se da obra e o mérito do longo trabalho de investigação daquele autor

norte-americano, agora disponível em língua portuguesa, e de uma in-tervenção do Dr. Nuno de Carvalho, responsável da editora Prefácio, o Prof. Doutor John Cann fez a apresentação do seu livro, tendo deixado bem expressa a sua admiração pela forma como a Marinha Portuguesa soube conduzir as campanhas de águas interiores em África, sem des-curar as suas responsabilidades enquanto membro da NATO.

(Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)

“A Marinha em África”“A Marinha em África”ACADEMIA DE MARINHA

Foto Reinaldo de Carvalho

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 27

Há cerca de dez anos realizaram-se no Hospital da Marinha obras de remodelação, em duas enfermarias e refeitórios anexos, que obrigaram ao levantamento integral do seu revestimento azulejar. Dos painéis desmontados, parte foi reinstalada nos corredores de acesso ao actual serviço de Medicina, piso 5, e a

restante ficou armazenada a aguardar destino condigno. O referido conjunto de painéis engloba cerca de dois mil azulejos com a assinatura da “CERÂMICA BATTISTINI de MARIA de PORTUGAL” e na sua decoração predo-minam motivos da fauna marinha. A sua instalação data da 1ª década do Estado Novo (1939 – 40), época em que tiveram lugar no Hospital importantes investimentos em obras e equipamentos técnicos. Faziam então parte da Direcção o Dr. Júlio Gonçalves e o Dr. Emílio Tovar Faro.

Em 2007 foi requisitada pelo Hospital uma intervenção para inventário e conservação dos azulejos em reserva. Na sequência deste trabalho, a cargo do Dr. Fernando Duarte, foi programada para 2009 a reconstrução dos cita-dos painéis e a sua instalação em local adequado, nomeadamente na zona dos Refeitórios e no corredor de acesso ao Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica.

G. Rocha de Macedo CMG MN

PAINÉIS DE AZULEJOS VOLTAM À LUZ DO DIAUM OCEANÁRIO DE AZULEJOS NO HOSPITAL DA MARINHA

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28 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

Leopoldo Battistini (1865-1936), distinto artista plástico italiano, leccionou pintura e desenho nas Escolas Industriais Avelar Brotero, em Coimbra e em 1903, na Marquês de Pombal, em Lisboa, tendo pintado azulejos e faianças que alcançaram significa-tivos prémios internacionais.

Na capital portuguesa foi professor de Albertina dos Santos Leitão (1884-1971), pintora e destacada ceramista sob o pseudó-nimo de Maria de Portugal. Esta discípula, dedicada amiga e colaboradora de Battistini, foi proprietária e directora artística da fábrica “Constância - Faiança Battistini de Maria de Portugal” onde, em 1940, o Hospital de Marinha adquiriu o conjunto de painéis de azulejos representados nestas imagens.

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30 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

…Está difícil encontrar um fim para o po-ema da minha vida – diz o velho samurai, ao seu aluno.

- Não sou escritor mestre, mas sinto que o verso se esconde no vento – responde o aluno enquanto os seus olhos perscrutavam os invasores mongóis, que se aproximavam da praia…

In O Vento Divino, autor desconhecido

todos procuramos, em menor ou maior grau, justiça. Procuramos satisfação para o nosso esforço, satisfação para a

nossa alma. Contudo, muitos procuram jus­tiça uma vida toda, sem nunca a encontrar. Outros, os que têm alma religiosa, acredi­tam que a justiça vem sempre, embora num tempo que pode não ser o nosso. Este é o caso de muitas pessoas ligadas à arte, mes­mo de alguns que constituem hoje marcos do ser português, como o imortal Camões, que conviveu particularmente mal com o seu tempo, e de outros em que a História não deixou fenecer o nome ou a obra…

Muitas vezes a injustiça não depende de ninguém, mas do destino que nos calhou em sorte. A explicação para isso perturbou e baralhou filósofos e religiosos durante sé­culos. Noutras ocasiões, ainda, a justiça de­pende de todos os que nos rodeiam e, neste mundo em que o que interessa mais parece ser o que muda menos – que é o coração do homem, as atitudes permanecem tão selva­

gens como eram no princípio, só a roupagem se apresenta mais camuflada...

Todas estas pro­fundas considera­ções me ocorre­ram a propósito de um homem grisa­lho, já amparado por uma bengala, de ar austero e so­lene – tanto que temi que me vies­se admoestar por qualquer motivo desconhecido. Decidi chamar­­lhe Velho Lobo--do-Mar, à falta de melhor nome que lhe caracte­rizasse o carácter e uma alma forte, que transparecia

no olhar. Pediu para falar comigo à secretá­ria do Centro de Medicina Naval. Não, não queria discutir nenhum problema de saúde dele ou de qualquer familiar. “Queria só fa­lar”, anunciou ela num suspiro, perturbada com o ar sóbrio e voz intimidatória do nosso antigo marinheiro…

Para meu grande espanto, vinha falar das histórias – sim, “as da Botica”, confirmou perante o meu olhar de espanto. Afirmou ainda que, como assinante da Revista da Armada, as coleccionava desde o princí­pio, há cerca de 9 anos. Ainda se lembrava da primeira – “a da Estrela no Céu”. Sur­preso, desvalorizei o assunto. Na verdade, muitas vezes fui criticado pelas histórias e admito ter pago um preço pelo meu estilo tão íntimo de escrita. Quem critica as mais das vezes – tenho­o como seguro – seria incapaz de escrever e duvido mesmo que tenha lido alguns dos verdadeiros mestres do presente e do passado. Saberia, se assim fosse, que a arte provém da perplexidade. Este estado de alma não se escolhe, nem se pratica...simplesmente acontece. É…e isso deveria bastar…

Ao contrário, aquele homem antigo vinha agradecer. Adiantou, assim, palavras since­ras, porque me pareceram vindas de um ser pouco dado a elogios, sobre sensibilidade, beleza e, para meu grande espanto, sobre a história da instituição Marinha e de como as histórias são importantes. Retorqui­lhe com

a minha convicção da pouca importância que esta actividade tem no cômputo geral da Marinha e, certamente, da pouca impor­tância que tem para a Medicina Naval. Ele esboçou um sorriso – foi o primeiro que lhe senti nesse dia – e afirmou:

­Você ainda é jovem, acredite que o futu-ro lhe dirá se são importantes…

Apertámos as mãos, acompanhei­o na escada, protegendo­o das armadilhas que os trabalhadores da construção deixaram no caminho, da mesma forma que todos gostamos que nos protejam do mal e do sofrimento. Tinha um condutor à espera. Saiu tão subitamente como entrou, mas ficou­me no espírito…a sua voz do meu contentamento…

Agradeço­lhe daqui, da única forma que sei, com esta escrita sem jeito, que procu­ro verdadeira e transparente. Este Lobo-do--Mar fez­me sentir que o silêncio que faço na alma tinha valor e encheu­me da alegria e do sentimento de limpeza que é apanágio dos deserdados da sorte – que tantas vezes foram os temas destes escritos. Nesse dia, ainda, senti que haverá justiça. Naquele preciso momento tudo me fez sentido. – Percebi porque me emociono quando ouço Nessun Dorma, de Giacomo Puccini, per­cebi que a luz e a vida têm nuances sempre diferentes, dependendo do coração mais do que do olhar de quem as vê, ou sente…. Cometi até o supremo pecado de acredi­tar que tenho um dom, não uma marca de desgraça. Percebi, finalmente, que o que é arte para alguns, para outros nunca será compreen sível e isso magoa­os…É um pro­cesso do qual não tenho qualquer controlo, porque não consigo escrever o que agrada­ria àquela larga maioria, nem estou certo de desejar escrever assim…

Do mesmo modo, acredite o leitor assíduo, todas as histórias – sejam elas boas ou más – nascem de um profundo lago de memórias, onde a água tem outra cor, o tempo é infinito e a verdade é cristalina…Eu, como o velho samurai da citação acima, também espero que o vento me ajude a escrever o poema da minha vida. O gasto marinheiro, apesar de toda a rudeza aparente, sente – também ele no vento Norte – a poesia da sua própria vida. Só assim se explica que, quem comandou ho­mens e navios, sinta a força que as palavras carregam... Se o único mérito destas histórias for agradar à minoria que sente os sonetos no azul do mar e no sentir do fim da tarde, na praia, sei que valerá a pena....

Doc

HISTÓRIAS DA BOTICA (68)

A voz do meu contentamento… e o velho lobo do mar…

A voz do meu contentamento… e o velho lobo do mar…

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Revista da aRmada • NOVEMBrO 2009 21

Por ocasião da passagem do centésimo aniversário do Engº João Rocheta deslocou-se a “Casa dos Leões” em Carna-xide, uma representação da Academia de Marinha e da

Revista da Armada que manteve com o feliz aniversariante uma animada conversa em que foram recordadas histórias já muito antigas.

Assinala-se na foto para além do Engº João Rocheta, uma sua neta e dois bisnetos, o ALM Vieira Matias, o CMG Cyrne de Castr o, o Dr Ortigão Neves, o CALM Roque Martins e o Dr. João Abel da Fonseca.

CORRECÇÕESRA nº 415 JAN08Pág. 2 –Na “Lista dos Chefes Militares da Marinha desde o

início do século XX”, nos “Major General da Armada” deve ser incluído:

1921 22 Outubro CALM D. Luís da Câmara LemeNota: Foi exonerado, a seu pedido, em 22 de Dezembro de

1921 e desde essa data até 12 de Agosto de 1922 o cargo de Major General da Armada não foi preenchido.

RA nº 434 SET/OUT09Pág. 23 – Na “Lista dos Oficiais que chefiaram, dirigiram ou

comandaram a Marinha na Quinta das Torres”-“Grupo nº 1 de Escolas da Armada”

Onde se lê CMG José Manuel de Sousa Ceregeiro, deve ler--se CMG José Miguel de Sousa Cerejeiro e onde se lê CMG João Manuel Casqueiro de Sampaio, deve ler-se CMG Rui Manuel Casqueiro de Sampaio.

Os 100 anos do Eng° João Rocheta

Os 100 anos do Eng° João Rocheta

l Os “Filhos da Escola” de Setembro de 1964 comemoraram o seu 45º aniversário de incorporação na Armada, com um almo-ço de confraternização no dia 26 de Setembro, no restaurante “O Miradouro” em Benavente.

Reuniram-se cerca 215 pessoas entre “Filhos da Escola” e familiares. O convívio decorreu em agradável ambiente e sã camaradagem.

“FILHOS DA ESCOLA” DE SETEMBRO 1964

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Intercepção, análise de sinais e guerra electrónicaSoluções para intercepção, identificação e contra medidas electrónicas

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Revista da aRmada • NOVEMBRO 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 123

E-W vuln. Sul em 3ª posição resolveu abrir em 1♥, o que originou que fossem jo-gar um contrato de 3♥ com 7 trunfos em linha, quando poderiam tê-lo feito em ♦, onde até fariam vaza a mais. W sai a ♠R e vira o flanco jogando um trunfo. Será que S conseguirá remediar a sua duvidosa abertura cumprindo o contrato?

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 123Com este problema pretendo mostrar-vos uma questão que se prende com a “li-nha de segurança” a seguir no carteio, pois ela é “uma regra de ouro” a ter em atenção no cumprimento dos contratos, e nunca nos deveremos deixar deslumbrar por aparentes facilidades, pondo-os em risco, sobretudo em partida livre. É o que pode acontecer neste caso em que um jogador menos avisado será levado a pen-sar que com os trunfos 3-3 (36%) lá perdeu a partida, pois pega de A, corta uma ♠ no morto, vem à mão no último trunfo para destrunfar, e acaba por fazer 11 vazas (4♥+1 corte no morto+6♦). Se jogou assim vai apanhar 2 cabides, pois terá de dar 3♠+1♥+2♣, uma vez que W só cortará naturalmente o 3º ♦ não lhe permitindo que balde qualquer ♠ ou ♣. S tem, portanto, de se proteger contra a distribuição 4-2 dos trunfos, aliás a que será mais provável (48%), pelo que deverá ceder o 1º trunfo, assegurando assim o cumprimento, e repare que se E continuar ♥ vai mes-mo fazer 10 vazas, pois pega, corta uma ♠ no morto, vem à mão em ♦R, acaba o destrunfo e desfila então os ♦.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

RD2

10964

75

R982

Este (E):

A10976

V8

V10

A1074

Norte (N):

V

753

AD9643

D65

8543

Sul (S):

ARD2

R82

V3

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 406

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais: 1 – Diz-se das pessoas que praticam o vegetarismo. 2 – In-flamação interna (inv). 3 – No meio da anca; semelhantes; é quase adail. 4 – Roera, na confusão; ave-do-paraíso. 5 – Antílopes africanos, de carne tenra e suculenta; escudeiro; escumilha (inv). 6 – Rádio Televisão Portugue-sa; nota musical (pl); salto brusco do cavalo. 7 – Pronome pessoal; satélite da terra; ourela (inv). 8 – Irritai; narra na confusão. 9 – Miar na barafunda; zune (inv); grito de dor. 10 – Cidade e porto da Dinamarca; o sol entre os egípcios. 11 – Harmonometrias.

veRtiCais: 1 – Vasilhas em que se guarda ou prepara o vinagre. 2 – Chefe de cem homens ou de uma centúria, na milícia romana. 3 – Símb. quím. do gálio; é quase pura (inv); lama, na barafunda. 4 – Roças em que trabalhavam escravos (Bras); rebordo do disco de um astro (astronomia). 5 – Título de sobe-rano russo (no império); mulos; o primeiro número. 6 – Árvore com cuja cas-ca se aromatiza o vinho; dama de companhia; unidade de superfície. 7 – No meio da arma; gritos de dor; toga na confusão. 8 – Pântano, charco, coberto de mato (Bras); zorra na confusão. 9 – Poeta ambulante, entre os Gregos; lar-va que se cria nas feridas dos animais. 10 – É quase nela; manifestara a sua opinião. 11 – Culto das serpentes.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 406HORiZONtais: 1 – Vegetariano. 2 – Aisamgelf. 3 – Nc; Tal; Adai; 4 – Aeror; Apo. 5 – Gnus; Aio; Ol. 6 – R. T.P; Mis; Upa. 7 – Eu; Lua; Arit. 8 – Irais; Aranr. 9 – Riam; Aoz: Ai. 10 – Aalburgo; Ra. 11 – Sonometrias.

veRtiCais: 1 – Vinagreiras. 2 – Centurião. 3 – Ga; Rup; Aaln. 4 – Eitos; Limbo. 5 – Tsar; Mus; Um. 6 – Aal; Aia; Are. 7 – Rm; Ais; Aogt. 8 – Igapo; Arzor. 9 – Aedo; Ura. 10 – Nla; Opinara. 11 – Ofiolatrias.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIO

“FILHOS DA ESCOLA” DE 1959/1960l No dia 23 de Maio realizou-se no Hotel Man-são da Torre, Óbidos, um almoço de convívio dos “Filhos da Escola” que assentaram praça em 1959/1960, em Vila Franca de Xira, na Escola de Alunos Marinheiros. Participaram neste almoço cerca de 301 pessoas, entre “Filhos da Escola” e familiares de localidades de todo o País e até do estrangeiro.

Falou-se da vivência de cada um, primeiro na Es-cola de Alunos Marinheiros, na Escola de Mecânicos ou na Escola de Fuzileiros, e, depois, dos navios, nas diversas unidades em terra ou no teatro de guerra de outros continentes.

Houve música e várias canções executadas por profissionais contratados, que animaram o baile.

Com efeito, envolveu uma apreciada vertente cultural, consubstanciada, em primeiro lugar, na leitura de um texto escrito por um dos filhos da es-cola, com o título visita guiada ao nosso passado marinheiro, em que, sob a forma de afirmação do seu esquecimento da matéria aprendida no velho “Livro do Grumete”.

Durante o almoço foi exibido um filme construí-do por via da digitalização de fotografias dos “Filhos da Escola” no quadro das várias facetas da sua vida, em terra, nos navios ou na guerra, envolvido da letra e da música da velha marcha da Marinha.

Entre o lanche e o partilhar do bolo comemorati-vo, foi lido por um dos “Filhos da Escola” um poema, escrito por outro “Filho da Escola”, sobre o tema do mar, dos navios, da Marinha e dos marinheiros.

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l Realizou-se em 02JUN09 nas instalações do Clube de Oficiais de Coimbra o I Congresso de Clubes Militares de Oficiais, com a presen-ça dos Clubes de cada Ramo das Forças Armadas designadamente o Clube Militar Naval (CMN), o Clube Militar de Oficiais de Setú-bal, o Clube Militar de Oficiais de Mafra, Associação da Força Aé-rea Portuguesa e o próprio Clube de Oficiais de Coimbra. Estiveram

presentes como Observadores representantes d o C E M G FA , CEMA e Direc-tor do Programa D. Afonso Henri-ques (EME).

Constituíram pontos da agenda de trabalhos, que se prolongaram

por todo o dia, com intervalo para o almoço no Comando Militar de Coimbra, seguido de visita àquela unidade.

- Reforço dos laços de camaradagem, amizade e boa convivên-cia, entre os vários Clubes e seus associados;

- Inter-relacionamento entre os vários Clubes;- Procura de soluções para o bom funcionamento dos Clubes;- Discussão de interesses comuns.O próximo Congresso será organizado pelo CMN, em Lisboa,

no 2º trimestre de 2010 e em data a propor.

“FILHOS DA ESCOLA” DE NOV55 E MAR56l Ainda cá estamos. Marcamos encontro? Contacto: SMOR FZ Francisco Egas Soares TL: 21 215 0186/968 030 042.

34 NOVEMBRO 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVAl CFR OT José António Pereira Salgueiro l CTEN SEM Helder Gil Galrinho l SMOR TRC Aires Mendes Moreira l SCH CE João Manuel da Silva Abreu Reis l SAJ CM Ma-nuel Correia de Almeida l SAJ A Joaquim José Elias Rosalino l SAJ FZ António No-gueira Valente da Silva l SAJ FZ José Soares Ribeiro l SAJ FZ Joaquim Antunes Prates Russo l SAJ H Mário Nelson Duarte Marques Mano Guimarães l 1 SAR A António Augusto da Silva Rodrigues l 1 SAR TF José Carlos Soares de Matos l CAB L João Manuel Cavaco l CAB L João Fernando da Silva Nunes l CAB L José Nunes Marques l CAB A Victor Luís de Oliveira Tavares l CAB T António José Mota Gomes l CAB T Fernando Manuel Marchante Vicente l CAB M Mário Jorge Soares Simões.

REFORMAl CALM Jorge José Correia Jacinto l CMG Silvério Tavares Martins l CMG EMQ Luís Manuel Nunes da Costa Alves l CFR EMQ Valter Martins Vairinhos l CFR EMQ Fernando Jorge Teixeira Barroso de Moura l CFR FZ Rui Miguel Guedes Reis Trigoso l CFR EMQ Luís Manuel Évora Bonito l CTEN OT Jaime da Costa Lopes l SMOR L Victor Manuel Peixoto Rebelo l SMOR L António Mendes Barriguinha l SMOR M Armindo de Oliveira Fernandes l SMOR CE José Maria Coelho de Oliveira l SMOR

FALECIMENTOSl CMG REF Henrique Alexandre da Fonseca l CMG EMQ RES Jorge Eduardo Rodri-gues Cabral l CTEN OTT REF José Rosa da Silva l SMOR A REF Fernando Bacalhau Marinho l SMOR FZ REF José Correia Dias l SMOR O REF Manuel Augusto Robbles l SAJ M REF Alfredo Almeida de Sousa l SAJ FZ REF Adriano José Pinto l SAJ CM REF Francisco Henriques l SAJ CM REF Serafim dos Anjos Pipa Reguengo l SAJ FZ REF Álvaro Pedro de Vasconcelos Saianda l SAJ A REF Manuel Marques de Almeida l 1SAR CE REF Mário de Oliveira Cardoso l CAB CM REF Florindo Fernandes As-censo l CAB CM REF Fernando Martinho Dias l CAB T REF Luciano Augusto Pa-radinha l CAB A REF Ricardo Manuel Moreira Proença l CAB TFH REF José Mar-ques de Azevedo l CAB L REF António de Jesus Inácio l 1GRT FZ REF-DFA Victor Manuel Pombo Nunes l AG 1ª CL PM Joaquim Pedro da Silva Duarte l AJ MAN TR MAR REF Ramiro do Carmo Ladeira l AG 1ª CL PM REF Humberto Guido de Goes Mendonça l Patrão Costa APOS Carlos Alberto Martins Alves l Guarda 1ª CL Carlos Humberto Araújo Cardoso.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

l CMG Pedro Manuel Filipe do Amaral Frazão nomeado Comandante da Zona Ma-rítima da Madeira em acumulação, Chefe do Departamento Marítimo da Madeira e Capitão do Porto do Funchal, em substituição do CMG António Manuel de Carvalho Coelho Cândido l CMG Fernando Jorge Ferreira Seuanes nomeado Comandante da Unidade de Apoio às Instalações Centrais de Marinha, em substituição do CMG Aníbal Júlio Maurício Soares Ribeiro l CMG EMQ António José de Carvalho Gonçalves Hen-riques nomeado Director de Transportes, em substituição do CMG EMQ Luís Manuel Ramos Borges l CFR Nuno António de Noronha Bragança nomeado Chefe do Centro de Comunicações e Dados de Cifra da Marinha em substituição do CFR Pedro Alexan-dre Rodeia Ribeiro l 2TEN Bruno Miguel Caldeira Ribeiro nomeado Comandante do NRP Cassiopeia, em substituição do 2TEN João Filipe Henriques Pombo.

CONVÍVIOS

I Congresso de Clubes MIlItares de ofICIaIs

TRC Manuel de Carvalho Braga l SMOR CM Ramiro Martins Cardoso l SMOR CM Agostinho da Costa e Silva l SCH TF Domingos Azevedo Sá l SCH SE Manuel Dan-tas Loureiro l SCH TF Victor Manuel Ferreira Moreira l SCH T Manuel Norberto dos Reis da Silva l SAJ L Urbano Alves João l SAJ O Matias Manuel da Palma Correia l SAJ M António Cardoso Loureiro de Almeida l SAJ CE Ilídio Fernandes l SAJ CM José Bernardes Duarte l SAJ ETA Fernando Valdemar dos Santos l SAJ ETS Sebastião Godinho Teixeira l SAJ FZ José Joaquim Cachapa Botas l SAJ SE Agostinho Santo de Miranda l SAJ T José Augusto da Silva Cardoso l SAJ A Agostinho da Cunha Mon-teiro l SAJ TF Manuel Gonçalves Fernandes l SAJ FZ António José Pimenta l SAJ H Luís Manuel Monteiro Vicente l 1SAR TF Álvaro Marques Lobo l 1SAR L Herlander Rosado Medinas l 1SAR C Belmiro José da Silva Ribeiro l 1SAR E José Pedro da Cos-ta Loureiro l 1SAR MQ Adelino de Oliveira Fernandes Cavalheiro l 1SAR M José de Oliveira Alves l CAB TFD Armindo de Oliveira de Jesus l CAB A Adérito Tolentino Moreira l CAB FZ João Domingos Gomes Lima l CAB TFH Adelino Augusto Mon-teiro Dias l CAB M João Carlos Correia da Silva l CAB FZ Manuel Basílio da Luz l CAB TFD Adelino Manuel Pereira Marques l CAB CRO João Francisco da Silva Lopes l CAB CM Luís Filipe da Silva Martins l l CAB L António Albano Varandas Faria l CAB L Luís Filipe de Almeida e Costa l CAB CM Caetano Francisco Machado de Queirós Pisco l CAB M Manuel João da Silva Pereira.

l Cerca de uma centena de associados familiares e amigos, en-contraram-se no passado dia 12 de Julho para comemorar o 14º aniversário do “A LCACHE”.

O encontro decorreu num ambiente de grande amizade e com elevado espírito de camaradagem. Após o discurso de boas vin-das, foi servido o almoço e mais tarde para todos os presentes foi servido um lanche e ainda lançado um CD com temas composto orquestrado e interpretado integralmente por prata da casa.

“o alCaCHe”

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20. O Departamento marítimo do Sul

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

Em 1882, por Carta de Lei, é definida, e promulgada em Diário do Governo pelo Rei D. Luís, a divisão da costa de Portugal, desde a foz do rio Minho até à do Guadiana, em três Departamentos: Norte, Centro e Sul. A autoridade do Estado nos espaços de jurisdição ma-rítima, até 1982, exercida pelo Rei, é alterada pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1892, aprovado com base na Carta de Lei de 26 de Fevereiro de 1892, tendo aquele Decreto enquadrado as estruturas dos três Departamentos Marítimos, e definido as respectivas Capita-nias dos Portos e Delegações Marítimas deles dependentes. A função de Chefe de Departamento Marítimo, que conheceu a sua origem a partir do segundo Regulamento Geral das Capitanias (publicado em 21 de Outubro 1839, pela designada lei do barão da Ribeira da Sabrosa), e que viria a ser gradualmente institucionalizada através de diplomas vários que lhe foram conferindo competências técni-cas, de vistorias e de polícia (1852, 1863, 1868, 1887, en-tre outros), assume um papel nuclear no funcionamento do exercício da autoridade do Estado, sendo desde en-tão nomeados para o exer-cício de tais funções Oficiais Superiores da Armada, com o posto de capitão-de-Mar--e-Guerra, que, a partir da lei de 18 de Abril de 1895, de Hintze Ribeiro, foram in-clusive colocados na directa dependência do conselho do almirantado.

No período entre 1892 e 1925, o Departamento Marí-timo do Sul, não detinha instalações adequadas para o cumprimento da missão estabelecido pelo decreto de 1892. Com a extinção da Es-cola de Alunos Marinheiros do Sul, em 1925, o Departamento Ma-rítimo do Sul instalou-se no antigo Paço Episcopal, ocupado após a Instauração da República pelo Ministério da Marinha. Convenhamos que esse edifício constitui uma peça arquitectónica rara e bem en-quadrada no harmonioso conjunto do Largo da Sé. A urbanização da zona da Doca de Faro em 1962, proporcionou ao Ministério da Ma-rinha a possibilidade de erguer um edifício novo e com as valências adequadas para o exercício da Autoridade Marítima no Algarve, vol-tando o antigo Paço Episcopal à posse do seu legítimo proprietário, a diocese do Algarve, nele funcionando actualmente, diversos orga-nismos diocesanos.

Presentemente, todos os organismos da Marinha existentes em Faro, nomeadamente, o Comando da Zona Marítima do Sul, a Capitania de Faro, o Comando Regional da Polícia Marítima do Sul, o Coman-do Local da Polícia Marítima de Faro, o Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão e a Biblioteca Infante D. Henrique, estão situados no edifício junto à Doca de Faro.

Destaca-se, neste contexto, o Museu Marítimo e a Biblioteca como pólos culturais para a cidade de Faro. Em 1889, surge o desi gnado “Museu Industrial e Marítimo”, associado à Escola Industrial “Pedro Nunes”, mas mais não era do que uma colecção didáctica, para uso interno do seu corpo escolar. Em 1916, é transferido para a Escola de Alunos Marinheiros do Sul onde reabre ao público em 1931 pelo

então Comandante Ramalho Ortigão, no Departamento Marítimo do Sul. Seguidamente, em 1964, foi transferido para as instalações actu-ais pelo Comandante Carlos Pacheco Pinto, tendo a sua decoração sido orientada pelo pintor Carlos Porfírio. A par do Museu Municipal de Faro, criado em 1894, o Museu Marítimo constitui uma referên-cia local importante, proporcionando aos seus visitantes, uma pers-pectiva integrada da pesca, da construção naval e dos instrumentos náuticos, conjugada com a identidade cultural da comunidade de Faro e com a recuperação de saberes tradicionais. Composto pelas salas “Baldaque da Silva”, “Manuel Bívar” e “Lyster Franco”, o mu-seu possui raros e preciosos aparelhos e utensílios referentes à arte de pesca, diversos modelos de embarcações e quadros a óleo. A bi-blioteca, constituída por mais de dez mil volumes, muitos dos quais oferecidos pelo Comandante Sebastião José da Costa, são patrimó-

nio raro em assuntos náuti-cos, geográficos, históricos, filosóficos e literários.

O Departamento Marítimo do Sul é um órgão regional da Direcção-Geral de Autoridade Marítima, cujas competên-cias, no espaço marítimo sob a sua jurisdição, passam pela coordenação e apoio às Capi-tanias. Chefiado por um Capi-tão-de-Mar-e-Guerra da classe de Marinha é, por inerência, Capitão de Porto de Faro, Co-mandante Regional da Polícia Marítima do Sul, Comandante Local da Polícia Marítima de Faro, Director do Museu Ma-

rítimo e Director da Biblioteca. Para o cumprimento da missão, conta com um efectivo de 3 Oficiais, 1 Sargento, 4 Praças, 14 Militarizados e 3 Civis. Mantém a sua jurisdição marítima original, desde Odecei-xe até Mértola, abrangendo cerca 200 km de orla marítima e 36 km de águas interiores.

O dispositivo do Departamento Marítimo do Sul é constituído pelas seguintes Capitanias e Delegações Marítimas:

- Capitania de Lagos, incluindo a Delegação Marítima de Sagres.Desde Odeceixe até à Meia-Praia.- Capitania de Portimão, incluindo a Delegação Marítima de

Albufeira.Desde a Meia-Praia até à Marina de Vilamoura, exclusive.- Capitania de Faro, incluindo a Delegação Marítima de Quarteira.Desde a Marina de Vilamoura até ao Farol do Cabo de Santa Maria. - Capitania de Olhão, incluindo a Delegação Marítima de Fuzeta.Desde o Farol do Cabo de Santa Maria até Fuzeta.- Capitania de Tavira.Desde a Fuzeta até Cacela.- Capitania de Vila Real de Santo António.Desde Cacela até Mértola.Da organização original de 1892, destaca-se a criação da delega-

ção de Sagres e a passagem da jurisdição da Delegação Marítima da Fuzeta, da Capitania de Tavira para a Capitania de Olhão.

(Colaboração do DEPARTAMENTO MARÍTIMO DO SUL)

Paço Episcopal onde esteve instalada a Capitania de Faro entre 1910 e 1962.

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14 Janeiro 2003 • Revista da aRmada

20. O Departamento marítimo do Sul

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departamento marítimo do sul. Capitania do Porto de Faro

Capitania do Porto de Lagos Capitania do Porto de Portimão

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