Upload
ngothu
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Pull Flow na Indústria Automóvel Kaizen Institute Consultant Group
Miguel Moreira Monteiro
Dissertação de Mestrado
Orientador na FEUP: Prof. José Barros Basto
Orientador no Kaizen Institute: Eng. Rui Tenreiro
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Engenharia Industrial e Gestão
2012-06-29
Pull Flow na Indústria Automóvel
ii
Aos meus pais,
Ao meu irmão,
À M. F.,
Ao P. B.…
Pull Flow na Indústria Automóvel
iii
Resumo
Actualmente o tecido industrial português, na sua generalidade, enfrenta um momento difícil.
decorrente da crise económica mundial. O Grupo Salvador Caetano, caracterizado pelo seu
espírito de fazer sempre mais e melhor, avança com uma estratégia corporativa de integração
vertical e diversificação relacionada. Este toma a decisão de iniciar a produção dos chassis do
modelo Cobus montados na empresa CaetanoBus, aproveitando assim as sinergias existentes
na cadeia de valor. No âmbito do QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), uma
empresa do grupo, Caetano Components, candidatou-se à instalação de uma linha de fabrico
de chassis.
É neste contexto que surge a oportunidade de parceria entre o Kaizen Institute Consultant
Group e a Caetano Components para desenho e implementação de uma linha de montagem de
chassis e respetivos processos a montante com base na filosofia e ferramentas de melhoria
contínua e redução de desperdício Kaizen Lean. O trabalho realizado caracteriza-se pela
aplicação das metodologias Total Flow Management (TFM) e Kaizen Diário.
A metodologia TFM foi utilizada para a implementação da linha de montagem e gestão da sua
cadeia de abastecimento com base no fluxo pull, através da criação de fluxo na produção e na
logística interna, sendo suportadas pelas ferramentas de estabilidade básica, nomeadamente,
Gestão Visual e Normalização. Para a criação de fluxo na produção aplicaram-se as
ferramentas Desenho de Linha e Layout, Bordo de Linha e Standard Work, enquanto que para
a criação de fluxo na logística interna aplicaram-se as ferramentas Supermercados,
Sincronização Kanban/Junjo e Nivelamento. No âmbito da gestão da mudança, para
acompanhar e normalizar este projeto de inovação, empregou-se a metodologia Kaizen Diário.
Neste projeto, segundo o nível 1 desta metodologia, implementou-se a organização das
equipas de trabalho através da sensibilização para o desperdício e objetivos da equipa, da
criação de Quadros e Reuniões de Equipa e da prática de ações 5S.
Através da utilização destas ferramentas destacam-se a implementação de uma linha de
montagem com a redução do número de horas de trabalho de montagem por chassis e uma
evolução da cultura da empresa rumo à melhoria contínua. Os resultados obtidos demonstram
a eficácia da abordagem utilizada e premeiam todo o esforço investido no combate ao
desperdício e na busca da excelência.
Pull Flow na Indústria Automóvel
iv
Pull Flow in Automotive Industry
Abstract
Currently the Portuguese industry, in general, faces a hard moment due to the world economic
crisis. The group Salvador Caetano, characterized by its spirit of doing always more and
better, adopts a corporate strategy of vertical integration and related diversification. One of
the main decisions was to take advantage of synergies in the value chain by starting the
production of the chassis model Cobus, assembled in the group company CaetanoBus. As part
of the NSRF (National Strategic Reference Framework), a group company, Caetano
Components, applied to the installation of a production line of chassis.
It is in this context that appears the opportunity for a partnership between the Kaizen Institute
and Caetano Components for design and implementation of an assembly line and respective
upstream processes based on the philosophy and tools of continuous improvement and waste
reduction Kaizen Lean. The work performed is characterized by the application of the
methodologies Total Flow Management (TFM) and Daily Kaizen.
The TFM method was used for the implementation of the assembly line and management of
their supply chain based on the pull flow by creating flow in the production and internal
logistics, while being supported by basic stability tools, such as visual management and
standardization. For the creation of flow in the production were applied the tools Layout and
Line Design, Border Line and Standard Work, while for the creation of flow in the internal
logistics were applied the tools Supermarkets, Kanban / Junjo Synchronization and Levelling.
As part of the change management it was applied Daily Kaizen to support and standardize this
innovation project. In this project, according to the level one of this methodology, it was
implemented the organization of work teams by raising awareness to waste and team
objectives, the creation of team boards and meetings and the practice of 5S actions.
Through the use of these tools it can be highlighted the implementation of an assembly line
with a reduction in the number of assembly working hours for each chassis and an evolution
of the company culture towards continuous improvement. The results obtained demonstrate
the effectiveness of these approaches and reward all the effort invested in the fight against
waste and in the pursuit of excellence.
Pull Flow na Indústria Automóvel
v
Agradecimentos
Ao Rui Tenreiro, Nuno Martinho e André Pinho Oliveira pela disponibilidade e pelos
conhecimentos que me transmitiram, assim como pela motivação que me deram ao longo
deste projeto.
A toda a equipa do Kaizen Institute pelo conhecimento transmitido e pela confiança
profissional e pessoal que tanto facilitaram a minha integração e o meu desenvolvimento quer
pessoal quer profissional.
Ao Professor José Barros Basto pelo apoio e orientação no projeto.
Ao José Costa, Mário Silva, Joaquim Sousa, Márcio Tavares e a todos os outros
colaboradores da Caetano Components com os quais trabalhei e que permitiram o sucesso
deste projeto.
À Mariana França, ao Pedro Batista e a todos os meus amigos pelo apoio e pelas experiências
partilhadas que tanto contribuiram para o meu desenvolvimento quer pessoal quer
profissional.
A todos os meus amigos do MIEIG da FEUP pelas experiências partilhadas e pelos
conhecimentos transmitidos que tanto contribuiram para o meu desenvolvimento quer pessoal
quer profissional.
Pull Flow na Indústria Automóvel
vi
Índice de Conteúdos
1 Introdução ........................................................................................................................................... 1
1.1 Kaizen Institute Consultant Group .......................................................................................................... 1
1.2 Caetano Components ............................................................................................................................. 1
1.3 Caracterização do Projeto ...................................................................................................................... 2
1.4 Temas abordados e sua organização no presente relatório ................................................................... 3
2 Enquadramento teórico ....................................................................................................................... 4
2.1 Pensamento Pull Flow Kaizen Lean ....................................................................................................... 4
2.1.1 Push vs. Pull – Como gerir a cadeia de abastecimento? ..................................................................... 4
2.1.2 Filosofia Kaizen Lean como base do Pensamento Pull Flow ............................................................... 5
2.2 Gestão da Mudança ............................................................................................................................... 7
2.3 Kaizen Management System - KMS ....................................................................................................... 8
3 Apresentação do problema ............................................................................................................... 11
3.1 Componentes utilizados na montagem do chassis ............................................................................... 11
3.2 Áreas de atividade ................................................................................................................................ 12
3.2.1 Fabrico de Componentes - Metalomecânica ...................................................................................... 12
3.2.2 Montagem de chassis ........................................................................................................................ 14
4 Implementação do projeto Kaizen Lean............................................................................................ 16
4.1 Total Flow Management ....................................................................................................................... 16
4.1.1 Visão Kaizen -Value Stream Design .................................................................................................. 16
4.1.2 Fluxo na Produção ............................................................................................................................. 19
4.1.2.1 Desenho de Linha e Layout ............................................................................................................ 19
4.1.2.2 Bordo de Linha ............................................................................................................................... 23
4.1.2.3 Standard Work ................................................................................................................................ 27
4.1.3 Fluxo na Logística Interna .................................................................................................................. 30
4.1.3.1 Supermercados .............................................................................................................................. 30
4.1.3.2 Sincronização Kanban/Junjo .......................................................................................................... 33
4.1.3.3 Nivelamento .................................................................................................................................... 40
4.1.4 Estabilidade Básica ............................................................................................................................ 41
4.2 Kaizen Diário ........................................................................................................................................ 42
4.2.1 Reuniões e Quadros de Equipa ......................................................................................................... 43
4.2.2 Prática do 5S ...................................................................................................................................... 45
5 Resultados ........................................................................................................................................ 46
6 Conclusão ......................................................................................................................................... 48
7 Perspetivas de trabalho futuro .......................................................................................................... 50
Referências ............................................................................................................................................ 51
ANEXO A: Planeamento Push vs. Planeamento Pull ............................................................................ 53
ANEXO B: Modelo de gestão Kaizen Management System (KMS) ...................................................... 54
ANEXO C: Caminho Kaizen para a Gestão da Mudança ...................................................................... 55
ANEXO D: Operações de montagem do chassis (tarefas vs. área de conhecimento) ......................... 56
Pull Flow na Indústria Automóvel
vii
ANEXO E: Conteúdos da metodologia Total Flow Management .......................................................... 57
ANEXO F: Exemplo de documento de registo do tempo das tarefas de montagem ............................. 58
ANEXO G: Cálculo do número de postos de trabalho ........................................................................... 59
ANEXO H: Imagens postos da linha de montagem ............................................................................... 60
ANEXO I: Layout global Caetano Components ..................................................................................... 61
ANEXO J: Exemplo lista de componentes externos alocados aos postos do bordo de linha ............... 62
ANEXO K: Balanceamento de tarefas da linha de montagem para tempo de takt de 19,38
horas.................................................................................................................................................. 63
ANEXO L: Exemplo supermercados numa cadeia de abastecimento pull ............................................ 64
ANEXO M: Supermercado de Soldadura ............................................................................................... 65
ANEXO N: Supermercado de Peças Pintadas Kanban ......................................................................... 66
ANEXO O: Supermercado de Peças Pintadas Junjo............................................................................. 67
ANEXO P: Sistema kanban de construção de lote para encomenda de peças externas de
grande peso para o Supermercado de Soldadura ............................................................................ 68
ANEXO Q: Lista de abastecimento para o kit dos componentes do escape do chassis 3000. ............ 69
ANEXO R: Norma para realização de kanban de soldadura (subconjunto) .......................................... 70
ANEXO S: Exemplo de utilização de cores diferentes no bordo de linha de cada posto da
linha de montagem ............................................................................................................................ 71
ANEXO T: Exemplo de documentos criados para a equipa da Logística & Compras para
acompanhamento de encomendas ................................................................................................... 72
ANEXO U: Quadro da equipa Logística & Compras .............................................................................. 73
ANEXO V: Norma da agenda das reuniões Kaizen Diário .................................................................... 74
ANEXO X: Reunião de Kaizen Diário da equipa da linha de montagem ............................................... 75
ANEXO Y: Quadros de equipa Kaizen Diário ........................................................................................ 76
ANEXO Z.1: Formato do documento de auditoria 5S ............................................................................ 77
ANEXO Z.2: Implementação 5S nos postos de soldadura .................................................................... 78
Pull Flow na Indústria Automóvel
viii
Índice de Figuras
Figura 1 – Significado de Kaizen ............................................................................................................1
Figura 2 – Modelo Caetano Cobus .........................................................................................................2
Figura 3 – Enquadramento Global do Projeto ........................................................................................3
Figura 4 – Distintinção entre Sistemas de Planeamento Push e Pull .....................................................5
Figura 5 – à esquerda: placa de fixação soldada; à direita: estrutura de pedaleira .............................11
Figura 6 – Em cima: Suporte de coluna de direção; Em baixo: placa de fixação do vaso de
expansão ..............................................................................................................................................11
Figura 7 – Em cima: Eixo; Em baixo: Pneu ..........................................................................................12
Figura 8 – Em cima: Parafusos; Em baixo: Anilhas ..............................................................................12
Figura 9 – Tipos de Componente Montados no Chassis Caetano ......................................................12
Figura 10 – Máquina de Corte a Laser ADIRA .....................................................................................13
Figura 11 – Quinadora BAYKAL ...........................................................................................................13
Figura 12 – Posto de Soldadura ...........................................................................................................13
Figura 13 – “Transportador pintura” ......................................................................................................13
Figura 14 – Pormenor “transportador pintura” ......................................................................................13
Figura 15 – Componentes produzidos internamente que aguardam montagem no chassis .............. 14
Figura 16 – Componentes externos de grande dimensão que aguardam montagem no chassis .......14
Figura 17 – Módulo Dianteiro Chassis Caetano ...................................................................................14
Figura 18 – Módulo Traseiro Chassis Caetano ....................................................................................14
Figura 19 – Montagem de Chassis em células, com auxílio de 2 cavaletes ........................................15
Figura 20 – Fluxo do Processo de Produção de Chassis .....................................................................15
Figura 21 – Value Stream Design da cadeia de abastecimento (componentes produzidos
internamente sem soldadura e componentes comprados externamente) ............................................17
Figura 22 – Value Stream Design da cadeia de abastecimento (componentes produzidos
internamente com soldadura e componentes comprados externamente) ............................................18
Figura 23 – Exemplo de linha de montagem ........................................................................................20
Figura 24 – Layout da linha de montagem de chassis .........................................................................22
Figura 25 – Layout Posto PM.4A ..........................................................................................................23
Figura 26 – Layout Posto PM.4B ..........................................................................................................23
Figura 27 – Bordo de linha: abastecimento frontal vs. Abastecimento por trás ...................................24
Figura 28 – Vantagens dos contentores pequenos em relação aos grandes ......................................24
Figura 29 – Bordo de linha: Abastecimento logístico por trás ..............................................................25
Figura 30 – Bordo de linha com sistema “contentor cheio contentor vazio”; contentores cheios
em cima e vazios em baixo ..................................................................................................................26
Figura 31 – Montagem estrutura chassis (posto1) utilizando trolleys de abastecimento em kit ..........26
Figura 32 – Trolley com abastecimento de kit da estrutura da frente ..................................................26
Figura 33 – Bordo de linha: abastecimento unitário com utilização de calha ......................................27
Figura 34 – Lista de operações definida para o posto 2 ......................................................................28
Figura 35 – Sequência de realização de tarefas do posto 5 ................................................................28
Figura 36 – Caixa para balanceamento das tarefas a realizar pelos operadores da linha de
Pull Flow na Indústria Automóvel
ix
montagem – exemplo de balanceamento para meia semana de trabalho (com tempo de takt
igual a 19,35 horas) ..............................................................................................................................29
Figura 37 – Cartão relativo a uma tarefa do posto 2 (posto vermelho) ................................................29
Figura 38 – Armazenamento em estantes dinâmicas (à esquerda) e armazenamento sobre
rodas (à direita) ....................................................................................................................................30
Figura 39 – Componentes em sistema kanban (etiqueta azul) de um subconjunto de peças
(etiqueta verde) a soldar ......................................................................................................................31
Figura 40 – Gestão visual no Supermercado de Peças Pintadas Kanban ..........................................32
Figura 41 – Gestão visual no Supermercado de Peças Pintadas Junjo ..............................................33
Figura 42 – Ciclo de abastecimento logístico contínuo ........................................................................34
Figura 43 – Abastecimento sequenciado .............................................................................................34
Figura 44 – Pormenor do local no Supermercado Soldadura para contentores vazios a
transportar para a máquina de corte a laser ........................................................................................35
Figura 45 – Local no Supermercado de Soldadura para contentores vazios a transportar para o
armazém de componentes externos de pequena dimensão ...............................................................36
Figura 46 – Exemplo de etiqueta de contentor kanban; contém informação do cliente e do
fornecedor, da quantidade a abastecer e da localização da peça quer no armazém quer no
supermercado ......................................................................................................................................36
Figura 47 – Exemplo de dimensionamento das peças produzidas internamente com
sincronização kanban presentes no bordo de linha .............................................................................37
Figura 48 – Bordo de linha contendo peças com sincronização kanban através de ímanes ..............38
Figura 49 – Zona no bordo de linha para colocação de etiquetas kanban de componentes já
utilizados ..............................................................................................................................................38
Figura 50 – Exemplo da lista de componentes presentes no supermercado de peças pintadas
com sincronização kanban ...................................................................................................................38
Figura 51 – Área no Supermercado de Peças Pintadas Kanban para colocação de contentores
vazios a enviar para a metalomecânica consoante o seu roteiro ........................................................39
Figura 52 – Pormenor da colocação do roteiro na parte de trás dos contentores do
supermercado de Peças Pintadas Kanban ..........................................................................................39
Figura 53 – Ferramentas de nivelamento (caixa de nivelamento à esquerda e sequenciador da
produção à direita) ...............................................................................................................................40
Figura 54 – Caixa de nivelamento da soldadura .................................................................................41
Figura 55 – Colocação de contentor no sequenciador da máquina de corte ......................................41
Figura 56 – Gestão visual aplicada na sincronização entre a área de expedição para a pintura
e o supermercado de peças Pintadas kanban ....................................................................................42
Figura 57 – Norma para a explicação do procedimento a tomar na sincronização dos
contentores kanban entre a área de expedição e o supermercado de peças pintadas kanban ….....42
Figura 58 – Evolução do número de horas de trabalho de montagem por chassis ............................46
Figura 59 – Evolução na implementação 5S (situação inicial e final) + Número de sugestões
de melhoria ..........................................................................................................................................47
Pull Flow na Indústria Automóvel
1
1. Introdução
No âmbito da dissertação em ambiente empresarial realizada no 2º semestre do 5º ano do
Mestrado Integrado em Engenharia Industrial e Gestão, o trabalho realizado aborda um
projeto de desenho e implementação de uma nova linha de montagem de chassis e respetivos
processos a montante. Este projeto é resultante de uma parceria entre o Kaizen Institute
Consultant Group e a Caetano Components, adotando a filosofia e as ferramentas Kaizen
Lean para instaurar um fluxo Pull na Caetano Components, bem como uma cultura
vocacionada para a melhoria contínua.
1.1 Kaizen Institute Consultant Group
O Kaizen Institute Consultant Group (KICG) é uma empresa de consultoria, orientada para a
melhoria contínua, a excelência operacional e a redução de desperdício. Dedica-se ao desenho
e implementação de soluções operacionais, através de transformações Kaizen Lean. As suas
áreas de atuação são variadas, abrangendo a produção, a logística e os serviços. Foi fundado
em 1985, por Masaaki Imai, no Japão, com o nome da filosofia que serve de base ao trabalho
desenvolvido pela organização. A palavra japonesa Kaizen, que significa “melhoria contínua”
resulta da junção de duas palavras Kai e Zen, que significam “mudar” e “melhor”,
respetivamente (figura 1). Esta filosofia é utilizada para instaurar uma cultura de melhoria,
através de metodologias bem estruturadas e normalizadas, de forma contínua e gradual,
proporcionando resultados significativos ao
longo do tempo (Imai 1997). Esta pretende
assim promover e estimular, todos os dias,
em todas as pessoas e nas diferentes áreas de
uma organização, o espírito Kaizen que se
traduz pela procura constante de
oportunidades de melhoria nos métodos de
trabalho. Esta filosofia Kaizen permite
ultrapassar certos paradigmas existentes nas
empresas que são responsáveis pela
estagnação e quebra na procura de melhores
práticas.
Atualmente o KICG para realizar uma transformação Kaizen Lean baseia-se nos seguintes 5
princípios: 1º Criação de valor para o cliente; 2º Eliminação de muda (“desperdício”); 3º
Envolvimento das pessoas; 4º Ida para o Gemba; 5º Gestão Visual (Manual Interno Kaizen
Institute 2011).
Devido ao crescente desenvolvimento de atividades Kaizen Lean nas melhores empresas a
nível mundial, e dada a organização dos seus modelos de gestão com base nesta cultura de
mudança, o Kaizen Institute tem vindo a expandir-se, encontrando-se, atualmente presente em
mais de 30 países espalhados pelos 5 continentes. Em Portugal, o KICG iniciou a sua
atividade em 1999 e conta atualmente com uma equipa de cerca de 40 consultores.
1.2 Caetano Components
A Caetano Components, empresa onde decorreu a implementação do projeto, que pertence ao
grupo Salvador Caetano, foi fundada em 1972 e localiza-se em Pedroso, Vila Nova de Gaia.
Até 2010, esta empresa dedicava-se à produção de componentes para a indústria automóvel,
especificamente de bancos e componentes de metal. No mesmo ano candidatou-se (com
Figura 1 - Significado de Kaizen.
Pull Flow na Indústria Automóvel
2
sucesso), no âmbito do QREN, à instalação de uma linha de fabrico de um chassis
desenvolvido pela empresa Caetano Bus. Atualmente a Caetano Components é a única
fabricante de chassis de autocarro em Portugal e a 2ª na Península Ibérica (existência de uma
fábrica da Evobus, Grupo Daimler- Chrysler, em Espanha). Iniciou, em 2011, a produção dos
primeiros chassis. Em 2012, como resultado da grave crise, a Caetano Components optou por
uma estratégia de reforço da atividade de fabricação e montagem de chassis sofrendo uma
reestruturação interna, com a descontinuidade de produtos (bancos e componentes metálicos
para venda externa) e no seu quadro de pessoal. Porém, é forte convicção da empresa que a
decisão de enveredar por novas áreas de negócio e a intensificação da atividade de fabricação
e montagem de chassis (considerando a exportação direta deste produto para novos mercados)
irá permitir uma recuperação da sua atividade, nomeadamente no que concerne ao seu quadro
de pessoal.
O produto Chassis Caetano, nas suas versões diesel e elétrico, tem como seu cliente, a
empresa, do mesmo Grupo, CaetanoBus. Este é incorporado no modelo Cobus (figura 2),
autocarro que é carroçado e vendido pela
CaetanoBus à Contrac GMBH (empresa
responsável pelo seu comércio e distribuição
mundial). O Cobus é um autocarro específico
para transporte de passageiros em aeroportos,
sendo um produto líder de mercado, com
presença mundial na quase totalidade dos
principais aeroportos. Trata-se de um produto
de nicho de mercado sendo que detém uma
quota mercado de cerca de 90%. Este autocarro corresponde eficazmente às necessidades
atuais de diminuição do tempo entre o check-in e o embarque, e entre a aterragem e o
levantamento das bagagens. O modelo Cobus, apresenta duas versões, o C5 2500 e C5 3000
(número que diz respeito à largura do modelo). O modelo C5 2500 satisfaz a largura máxima
permitida para circular nas estradas, permitindo a saída do autocarro dos aeroportos.
Apresenta, assim, uma maior comodidade para os clientes através da possibilidade de
transporte para hotéis ou parques de estacionamento. A variante 3000, por seu lado, tem como
objetivo transportar um maior nú mero de pessoas.
1.3 Caracterização do Projeto
No seguimento do sucesso da empresa na candidadura à instalação de uma linha de fabrico de
chassis, segundo uma estratégia corporativa de diversificação e integração vertical do Grupo
Salvador Caetano (SGPS), surge a colaboração entre a Caetano Components e o KICG num
projeto de desenho e implementação de uma linha de montagem de chassis e respetivos
processos a montante com base no conceito Pull Flow. A Caetano Components, que até então
apenas produzia componentes para a indústria automóvel, passará a alimentar as linhas de
montagem final de autocarros do modelo Cobus, na CaetanoBus. A figura 3 resume o
enquadramento do projeto tendo em conta os seus objetivos e como se propõe a atingi-los. No
seu desenvolvimento, e para ultrapassar o problema proposto, o projeto pretende a aplicação
de metodologias de melhoria contínua e redução de desperdício, com maior enfoque nas
ferramentas de Total Flow Management (TFM) e no Kaizen Diário. Os objetivos principais do
projeto são a redução do número de horas de trabalho de montagem por chassis, a
implementação da linha de montagem com balanceamento das suas operações, o
dimensionamento de stocks para componentes produzidos internamente e a normalização do
fluxo de materiais e informação na cadeia de abastecimento.
Figura 2 - Modelo Caetano Cobus.
Pull Flow na Indústria Automóvel
3
Dentro da metodologia Total Flow Management foram aplicadas ferramentas que permitissem
a criação de fluxo na produção, a criação de fluxo na logística interna e a estabilidade básica,
e, por conseguinte, a implementação do Pull Flow. Para a criação de fluxo na produção as
ferramentas utilizadas foram o Desenho de Linha e Layout, o Bordo de Linha e o Standard
Work (normalização do trabalho), enquanto que para a criação de fluxo na logística interna as
ferramentas utilizadas foram os Supermercados, a Sincronização Kanban/Junjo e as
ferramentas de Nivelamento. Para garantir a estabilidade básica dos processos
implementaram-se as ferramentas de Normalização e Gestão visual. No âmbito da gestão da
mudança era necessário garantir o acompanhamento e o suporte das melhorias pretendidas,
bem como a criação de uma cultura vocacionada para a melhoria contínua. Assim, através da
metodologia Kaizen Diário, implementou-se a criação de Quadros Visuais e Reuniões de
Equipa e a Prática do 5S. Na figura 3 resume-se o enquadramento global do projeto.
1.4 Temas abordados e sua organização no presente relatório
Depois de realizada a Introdução do projeto no 1º capítulo, apresenta-se em seguida o
Enquadramento Teórico (2º capítulo) que pretende investigar e resumir o conhecimento
mais relevante inerente aos temas em estudo. No 3º capítulo faz-se uma Apresentação do
Problema, identificando-se os dados e processos que caracterizavam a empresa na situação
anterior ao projeto. No 4º capítulo procede-se à apresentação da Implementação do Projeto
Kaizen Lean dividido pelos vários subprojetos realizados. Cada subprojeto está associado a
cada uma das ferramentas de melhoria contínua e redução de desperdício utilizadas para
ultrapassar o problema proposto. No 5º capítulo apresentam-se os principais Resultados
decorrentes da implementação do projeto. Na Conclusão (6º capítulo) sintetiza-se o trabalho
realizado e, por fim, nas Perspetivas de Trabalho Futuro (7º Capítulo) sugerem-se as
principais oportunidades para o prosseguimento e para a melhoria do trabalho realizado.
Figura 3 – Enquadramento Global do Projeto.
Pull Flow na Indústria Automóvel
4
2. Enquadramento teórico
Em função da caracterização deste projeto (apresentada na secção 1.3) foi realizada uma
análise do estado da arte que pretende investigar e resumir genéricamente o conhecimento
mais relevante inerente aos temas em estudo. Assim, o estudo apresentado em seguida divide-
se na análise e explicação do Pensamento Pull Flow Kaizen Lean, na reflexão sobre a Gestão
da Mudança e, por fim, na apresentação do modelo de gestão Kaizen Management System –
KMS – como modelo de gestão que engloba os dois tópicos anteriores, bem como a
organização e estruturação do restante conhecimento inerente às transformações Kaizen Lean.
2.1 Pensamento Pull Flow Kaizen Lean
Para se entender o conceito presente neste tópico, realizou-se numa primeira fase um estudo
sobre a dualidade Push/Pull como sistema de gestão da cadeia de abastecimento e numa
segunda fase a análise da filosofia e dos conceitos na qual o Pensamento Pull Flow assenta.
2.1.1 Push vs. Pull – Como gerir a cadeia de abastecimento?
Refira-se que existe uma clara distinção entre os conceitos push e pull como meio de
planeamento da produção e gestão do fluxo de informação. Venkatesh (1996) descreve estes
dois conceitos como paradigmas operacionais, dando o exemplo que num sistema push uma
máquina produz componentes sem esperar pelo pedido da máquina que a sucede, enquanto
que no sistema pull uma máquina apenas inicia a produção após receber um pedido da
máquina subsequente. Assim, num sistema de controlo da produção do tipo push as operações
são despoletadas pela disponibilidade de material e mão-de-obra. Já num sistema de controlo
do tipo pull a produção só é despoletada aquando do pedido de mais material pelo processo a
jusante (Hunter et al. 2004 ).
Os sistemas de planeamento do tipo push tipicamente obedecem a um plano previamente
definido, este tipo de sistema tem pouca consideração pelas necessidades reais do processo
seguinte que irá abastecer. Esta filosofia de planeamento tem maior enfoque no aumento da
utilização da capacidade do equipamento de produção, promovendo a existência de grandes
quantidades de stock em curso (Bonney et al. 1999). Neste tipo de sistema mais tradicional, o
planeamento da produção é baseado em previsões, havendo uma antecipação da produção,
cujo produto acabado depois é empurrado para o cliente. Um exemplo deste tipo de modelo é
o método de planeamento centralizado MRP (Material Requirements Planning) que permite
determinar o número de componentes e materiais que são necessários produzir para cada
unidade de produto acabado. Este tipo de sistema pretende determinar quando é que cada um
destes componentes e materiais deve ser encomendado e produzido de acordo com a previsão
das encomendas. Outro exemplo de sistema de planeamento Push é o MPS (Master
Production Schedule), principal input do MRP, que tem como objetivo especificar e planear
quantas unidades, e em que momento, a empresa pretende produzir de produto acabado.
Em contraste, num sistema de planeamento do tipo pull, as ordens de produção são resultado
da procura real do cliente. Deste modo, o sistema do tipo pull guia-se pelas necessidades dos
clientes, não permitindo a produção de bens desnecessários, isto é, que não representam
necessidades reais. Neste tipo de sistema, as ordens de produção representam respostas a
pedidos de reposição, sendo estes ditados pelo consumo. No sistema de produção do tipo pull
os produtos e componentes são produzidos just-in-time, isto significa que um dado processo
produtivo só é ativado em resposta a um pedido de abastecimento por parte do processo a
jusante (Hunter et al. 2004). Este conceito pull é característico dos sistemas de produção
Pull Flow na Indústria Automóvel
5
Lean. Neste tipo de filosofia (contextualizada na seção seguinte), que procura promover a
melhoria do fluxo e a eliminação do desperdício, a produção só pode ser realizada quando é
necessária, just-in-time. Assim, as ordens de produção são puxadas desde o cliente final até ao
processo que recebe a ordem de produção.
Um sistema do tipo push é aquele em que o fluxo de informação (que é “empurrado”) circula
no mesmo sentido do fluxo de material, por outro lado, num sistema do tipo pull, o fluxo de
informação (que é puxado) e o fluxo de material têm sentidos opostos. A figura 4 ilustra de
forma simplificada a filosofia por detrás de cada um dos dois tipos de sistema de planeamento
referidos.
Como resumo de cada um dos sistemas de planeamento apresentados, apresenta-se em
seguida as principais características e os principais conceitos inerentes a cada um deles (anexo
A).
2.1.2 Filosofia Kaizen Lean como base do Pensamento Pull Flow
Os princípios do Pensamento Pull Flow têm por base a filosofia Kaizen Lean. Estes dois
conceitos, não sendo sinónimos um do outro, estão intimamente ligados. O primeiro conceito,
Kaizen, tem o seu foco na filosofia de melhoria contínua, enquanto que o segundo, Lean,
foca-se na finalidade de redução do desperdício. Pode dizer-se que a filosofia Kaizen é a
primeira etapa de uma transformação Kaizen Lean e que atua como a base dos princípios de
produção Lean. Por outro lado, os princípios e ferramentas de produção Lean, atuam como o
meio para se atingir o objetivo do projeto de melhoria contínua (Ortiz 2010).
Kaizen
A filosofia Kaizen, como já referido vocacionada para a melhoria contínua dos processos, tem
como dois principais fundamentos a ida para o gemba e o envolvimento das pessoas. Segundo
a visão Kaizen, a orientação para o gemba (palavra japonesa que significa o local onde as coisas
realmente acontecem) é essencial, uma vez que acredita que é no chão de fábrica (junto das
máquinas e dos trabalhadores) onde realmente se conseguem identificar os problemas e onde
surgem as melhores ideias e soluções. Além disso crê-se que o processo de realização e
assimilação das mudanças pretendidas pela gestão será mais bem sucedido se for experimentado
em conjunto com os trabalhadores e nos seus locais de trabalho (Imai 1997). O envolvimento das
pessoas também é um dos fundamentos base. A cultura Kaizen foca-se na concentração de
esforços voltados para as pessoas, procurando a valorização do ser humano e a maximização
do seu potencial para a resolução de problemas. Considera que as pessoas são o ativo mais
valioso de qualquer empresa, devendo ser promovida a sua capacidade na sugestão de ideias
de melhoria. Pretende também a criação de uma relação transparente e de confiança entre os
Figura 4 – Distintinção entre Sistemas de Planeamento Push e Pull.
Pull Flow na Indústria Automóvel
6
diversos elementos de uma organização, de forma a que estes se sintam capazes de contribuir
com todo o seu potencial. Esta cultura defende que não se deve culpar nem julgar, o esforço
deve caracterizar-se por identificar os problemas e as suas causas e não pela identificação de
quem cometeu os erros. Isto porque o julgamento das pessoas irá promover a ocultação dos
erros da próxima vez que estes ocorrerem (Imai 1997). Além destes fundamentos, as raízes da
filosofia Kaizen assentam num conjunto de conceitos enumerados em seguida:
1. Envolvimento da gestão: num projeto de melhoria contínua é necessário o
envolvimento da gestão para se obterem os resultados pretendidos. Se a gestão não
estiver envolvida nos procedimentos que estão a ser implementados, estes vão acabar
por se degradar, fazendo a empresa recuar ao seu estado inicial;
2. Processo vs Resultado: na filosofia Kaizen evidencia-se o pensamento orientado por
processos, considerando que para os resultados melhorarem os processos têm que ser
aperfeiçoados. Quando não se atingem os resultados pretendidos é porque o erro
provém do desenvolvimento do processo;
3. Ciclo PDCA/SDCA: para a implementação de melhorias de uma forma contínua e
sustentada a filosofia Kaizen apoia-se na utilização dos ciclos PDCA e SDCA. O ciclo
PDCA (planear, fazer, verificar e agir) pretende o estabelecimento de metas de
melhoria e a elaboração de planos para alcançar os objetivos definidos, diz respeito ao
processo de inovação. O ciclo SDCA (normalizar, fazer, verificar e agir) é responsável
pela normalização dos processos melhorados, diz respeito ao processo de manutenção;
4. Qualidade em Primeiro Lugar: entre as maiores metas da estratégia de uma empresa,
qualidade, custo e entrega, a qualidade deve ser sempre o objetivo principal. Este
modo de atuação garante que as especificações do produto ou serviço satisfazem as
necessidades dos clientes, e consequentemente sustenta a vida da empresa;
5. Próximo Processo é o Cliente: este conceito pretende promover a realização do
trabalho numa empresa como um conjunto de processos, sendo que cada processo tem
um fornecedor e um cliente. Assim, pode ter-se dois tipos de clientes, internos ou
externos e pode pensar-se que o processo seguinte representa um cliente. Este conceito
pretende impedir que passem para o processo seguinte peças defeituosas ou
informações erradas, para que o cliente final receba um produto/serviço de qualidade;
6. Utilização de dados: para se poder avançar para a implementação da melhoria
primeiro é necessário reconhecer um problema e recolher e analisar os dados
referentes à situação atual da empresa. Estes atuam como o ponto de partida para a
solução de melhoria. A utilização de dados impede que a solução de melhoria proposta
seja baseada em palpites (Imai 1997).
Produção Lean
O conceito Lean deriva do conceito JIT, desenvolvido pela Toyota depois da 2ª Guerra
Mundial. O aumento da eficiência pode conseguir-se através do aumento das quantidades
produzidas ou da redução do número de operários (poupar no número de operários
necessários não significa despedi-los, é possível utilizá-los noutras funções). No contexto em
que o Japão se inseria, após a 2ª Guerra Mundial, foi necessário aumentar a eficiência através
da redução de custos. Assim, surge o conceito JIT que se refere à instauração de um fluxo no
processo de produção. O seu objetivo era a produção de pequenas quantidades de diversas
referências, nivelamento da produção e resposta às exigências do mercado (Ohno 1997).
A produção Lean diz respeito a um conjunto integrado de atividades desenhadas com o intuito
de eliminar o desperdício (muda) o máximo possível (maximizando as operações de valor
acrescentado) e à criação de um fluxo e suavização do trabalho através das metodologias pull
Pull Flow na Indústria Automóvel
7
(Acharya 2011). O sistema Lean pretende assim eliminar os movimentos que não são
necessários, o excesso de inventário, o processamento em excesso, etc (Jacobs et al. 2009).
Taiichi Ohno define valor acrescentado como “unicamente as atividades pela qual o cliente
está disposto a pagar”. Exemplificando, na indústria automóvel representam valor
acrescentado as operações de transformação e montagem de materiais, na indústria de
transportes a deslocação de um ponto para outro no menor período de tempo e na indústria do
retalho a colocação de um produto no local correto e com o preço correto (Manual Interno
Kaizen 2011). São as atividades que efetivamente acrescentam valor ao produto/serviço e por
isso o cliente está disposto a pagar.
Os principais objetivos da produção Lean são a redução do custo do produto e a melhoria da
produtividade. Estes podem ser alcançados através da eliminação das atividades que não
acrescentam valor para a empresa (Muslimen et al. 2011). Em relação à definição de
desperdício, Fujio Cho, antigo presidente da Toyota, disse o seguinte:
“qualquer coisa que não seja a mínima quantidade de equipamento, material, peças e trabalhadores
(tempo de trabalho), que são essenciais para a produção” (Jacobs et al. 2009)
Segundo Ohno (1997), existem 7 tipos de desperdício. O primeiro é o material parado
(stocks), o segundo é o transporte de materiais, o terceiro são as pessoas à espera, o quarto é o
movimento de pessoas, o quinto é o sobreprocessamento (fazer mais trabalho do que aquele
que o cliente exige), o sexto é a produção de defeitos e o sétimo é a produção em excesso.
É também importante referir que a ferramenta que surgiu como meio de gestão do sistema JIT
na Toyota e que portanto se impôs como ferramenta essencial da produção Lean foi o
Kanban. Esta ferramenta permite a gestão do pull flow e garante a produção just-in-time,
possibilitando a sincronização e nivelamento da produção (Ohno 1997). Esta ferramenta é o
componente base numa área de produção e torna possível manter o baixo nível de trabalho em
curso, através da adaptação da produção à procura (Hadas 2011).
2.2 Gestão da Mudança
Nesta seção é realizado o enquadramento teórico do tema de gestão da mudança associado às
transformações Kaizen Lean.
Jones (2007) sugere que uma mudança organizacional é o processo pelo qual uma
organização passa do seu estado atual para o estado futuro de forma a aumentar a sua eficácia.
Kimberly (2002) acrescenta que a gestão de uma mudança organizacional deverá ter em conta
o seu impacto quer nos processos quer nas pessoas, garantindo que a perspetiva das pessoas
numa mudança está alinhada com a estratégia e modelo de negócio. Quando uma organização
procura alcançar um patamar de alta qualidade através de uma transformação Kaizen Lean,
pretende criar um fluxo no sistema produtivo, produzindo, sem qualquer tipo de desperdício, a
quantidade que os clientes realmente procuram. No entanto, a mudança de um sistema de
produção tradicional para um sistema Lean é um processo difícil e exigente, que envolve a
reformulação da cultura da organização. Se a relação entre a mudança na organização e a
mudança cultural não for atendida, a passagem para um sistema produtivo Lean pode falhar
(Nordin et al. 2011). Balle (2005) subscreve, realçando que na transição para um sistema Lean
a mudança cultural da organização é mais importante que mudar as questões técnicas
relacionadas com a produção. Paton et. al (2008) referem que numa mudança organizacional
os principais temas a considerar deverão ser a predisposição para a mudança, o planeamento,
a liderança, a comunicação eficaz, o reconhecimento e resposta à resistência à mudança, a
aprendizagem e a avaliação e, por fim, as pessoas. Já Nordin et al. (2011), na análise da
Pull Flow na Indústria Automóvel
8
mudança para um sistema Lean, evidenciam como fatores críticos a liderança e envolvimento
da Gestão, tal como outros fatores como a comunicação, o desenvolvimento de equipas, a
predisposição para a mudança e a autonomia dos funcionários. Papadopoulou and Ozbayrak
(2005), concordam com os mesmo fatores, acrescentando que na procura pela mudança Lean
deve ser instalado um sistema metódico de formação e o desenvolvimento de uma cultura
Lean. Estes fatores suportam a ideia de Boyer (1996) que defendia que na transição para um
sistema produtivo Lean as etapas mais importantes a ter em conta eram a qualidade da
liderança, a resolução de problemas em equipa e a delegação de tarefas.
Outro aspeto a ter em conta na gestão da mudança, nomeadamente numa transformação
Kaizen Lean, é a motivação das equipas. A filosofia Kaizen é utilizada para se alcançar esta
motivação, uma vez que esta assenta no envolvimento dos trabalhadores e na utilização das
suas capacidades e conhecimentos para melhorar os processos (Doolen et al. 2003). Por outro
lado, para se alcançar melhorias, a filosofia Kaizen sugere a criação de equipas, dado que se
acredita favorecer o aumento da motivação (MacDuffie 1995). Assim, através desta filosofia,
que valoriza o conhecimento humano, é possível que pessoas que não têm conhecimento de
conceitos de engenharia industrial sugiram melhorias nos processos produtivos, promovendo
a mudança. Na fábrica da Skoda, na República Checa, são realizadas reuniões diárias de
forma a garantir a melhoria contínua. Estas reuniões são realizadas todos os dias, entre os
vários supervisores e gestores de cada uma das linhas, de forma a resolver os problemas que
foram surgindo nos dias anteriores (Kochan 1998).
2.3 Kaizen Management System - KMS
Como se pode perceber, a aplicação de uma verdadeira transformação Kaizen Lean representa
um processo complexo. Não existe nenhuma receita que diga e explicite exatamente o que se
tem que fazer em cada empresa para se implementar com sucesso uma transformação deste
género e garantir a sua manutenção no futuro. Existem várias ferramentas e conceitos
conhecidos associados à melhoria contínua e redução de desperdício, porém, dada a
inexistência de uma solução óptima global a todas as empresas, as empresas têm vindo a
aplicar e apelidar este tipo de transformação de diferentes formas. Este tipo de projetos nem
sempre são realizados com o sucesso pretendido devido á dificuldade de organização do
conhecimento e do seu planeamento global.
Com base na Filosofia Kaizen Lean, o KICG desenvolveu o seu próprio modelo de gestão,
Kaizen Management System (KMS), onde resume e estrutura o seu conhecimento. Este
modelo de gestão está vocacionado para a melhoria contínua e pretende a excelência
operacional e a redução do desperdício. O KMS, que engloba os temas apresentados nas
secções 2.1 e 2.2, apresenta quatro principais elementos, nomeadamente a missão e objetivos,
as metodologias e ferramentas de melhoria Kaizen Lean (“o que fazer”), a metodologia de
gestão da mudança (“como fazer”) e os fundamentos da Filosofia Kaizen Lean (ver
esquematização do modelo KMS no anexo B).
Missão e Objetivos
No topo desta estrutura encontram-se os objectivos finais a que o KMS pretende dar resposta.
A missão de um sistema de melhoria contínua promove uma estratégia de competitividade de
forma a que a organização possa alcançar o estatuto de World Class Performance, liderando
nos quatro fatores-chave de competitividade: qualidade, custo, serviço/entrega e motivação
(QCDM) (Manual KMS 2011). Assim, para atingir esta visão e estratégia, deverá delinear o
seu mapa estratégico, definindo KPI’s (key performance indicators) tendo em conta as quatro
dimensões dos seus objetivos estratégicos, nomeadamente, a perspetiva financeira, a
Pull Flow na Indústria Automóvel
9
perspetiva de criação de valor para o cliente, a perspetiva de desenvolvimento dos processos
internos e a perspetiva de aprendizagem e crescimento (Kaplan & Norton 2004). Kaplan e
Norton definem mapa estratégico como:
“strategy maps show how an organization will convert its initiatives and resources – including
intangible assets such as corporate culture and employee knowledge – into tangible outcomes”
Metodologias/Ferramentas Kaizen Lean
O Segundo elemento do KMS refere-se às iniciativas Kaizen Lean, sendo constituído por
diversas metodologias e ferramentas de melhoria como meio de se atingir os objetivos
delineados no ponto anterior. Este tópico é constituído por 5 pilares que dizem respeito a
diferentes metodologias que poderão ser aplicados em cada empresa dependendo dos
objetivos pretendidos e das suas necessidades. Identificam-se então 5 diferentes tipos de
metodologias Kaizen Lean:
Total Flow Management - metolodologia para criação de fluxo na totalidade da
cadeia de abastecimento de uma organização;
Total Productive Maintenance - metodologia de melhoria da qualidade dos
equipamentos com o objetivo de maximizar a eficiência global (OEE);
Total Quality Management - metodologia para melhoria e garantia da qualidade;
Total Service Management - metodologia para melhoria dos processos nos serviços.
Estes podem estar ligados com a área administrativa, a área financeira, hospitais, etc;
Total Development Management – metodologia para a gestão de projetos (novos
produtos, nova fábricas, eventos, etc) (Manual Interno Kaizen 2011).
Metodologia de Gestão da Mudança
O terceiro elemento do KMS tem a ver com a gestão da mudança na implementação de
transformações Kaizen Lean, nomeadamente com a mudança da cultura da organização.
Segundo a perspetiva Kaizen, mudar a cultura de uma organização significa mudar o gemba e
mudar os comportamentos. O modelo Kaizen de Gestão da Mudança sugere 5 princípios de
mudança:
Dois tipos de mudança (mudança física e a comportamental): isto significa que pode
fazer-se mudanças técnicas e comportamentais, sendo que a mudança física implica a
comportamental (sendo que o inverso pode não ser verdade).
Aprender fazendo e praticando: é preciso treinar até desenvolver novos hábitos, sem
prática não há mudança;
Estabelecer objetivos importantes para o negócio: sem objetivos não é possível
focalizar as energias para atingir metas importantes, sendo que o objetivo obriga a
medir e a medição a definir;
Pequenos passos constantes são melhores para mudar os comportamentos: a
melhoria em pequenos passos é mais sólida a nível comportamental, permite um
avanço mais confortável na consolidação cerebral de novos hábitos;
Recorrer à mudança viral e a modelos excelentes: a mudança viral significa que se
os líderes de opinião forem os primeiros a dar o exemplo, os outros rapidamente os
seguirão. Os modelos excelentes são áreas piloto onde as pessoas podem ver os
resultados da mudança (Manual KMS 2011).
O modelo KMS estrutura a sua metodologia de gestão da mudança através de 3 pilares
distintos, o Kaizen de Projeto, o Kaizen Diário e o Kaizen de Suporte .
Pull Flow na Indústria Automóvel
10
Kaizen Projeto
O Kaizen de Projeto tem a ver com o desenvolvimento dos processos. Pretende a
transformação de processos em equipas de projeto e dividi-se em duas fases:
Fase de planeamento do projeto - mapeamento da situação atual (Value Stream
Mapping), formação da equipa e definição da visão Kaizen (Value Stream Design);
Fase de implementação do projeto – realização dos sub-projetos e workshops
Kaizen definidos na visão.
Kaizen Diário
A metodologia Kaizen Diário é utilizada para a estabilização dos processos através da
transformação de pessoas em equipas naturais. Esta metodologia divide-se em 4 níveis: 1º
Organização da equipa; 2ºMelhores Práticas; 3º Melhoria de Processos; 4º Trabalho de
Equipa Autónomo. Para a sua prossecução cada um destes níveis envolve um conjunto de
ferramentas, que permitem percorrer o caminho de implementação e ultrapassar cada um
desses níveis, com o objetivo final de alcançar um estado de autonomia do trabalho em
equipa.
Kaizen Suporte
O terceiro elemento do modelo Kaizen de gestão da mudança é o Kaizen de Suporte. O
Kaizen de Suporte é executado por duas entidades distintas, o Kaizen Steering Committee e o
Kaizen Promotion Office. O papel destas duas entidades é suportar o Kaizen Diário e projetar
as atividades Kaizen. Este pilar tem como objetivo o desenvolvimento da motivação na
organização.
No anexo C observa-se o desdobramento dos vários pilares do Modelo Kaizen de Gestão da
Mudança no percurso do caminho de melhoria, em comparação com um sistema tradicional
de melhoria em que só existem atividades de inovação esporádicas.
Fundamentos da Filosofia Kaizen Lean
O último elemento do KMS reúne os valores e princípios que devem estar presentes aquando
de uma transformação Kaizen Lean. Aqui estão presentes todos os conceitos relacionados com
a filosofia Kaizen e príncipios Lean apresentados na secção 2.1.2. Servem como base para
que, quando se avança para um projeto de melhoria contínua e redução de desperdício, todos
estejam envolvidos com o espírito pretendido e mais despertos para a melhoria.
Para concluir é importante referir que este modelo de gestão KMS serviu como modelo teórico
base à execução do projeto. Na secção 4, aquando da apresentação das ações desenvolvidas,
serão apresentadas em detalhe as metodologias TFM e Kaizen Diário que serviram como
metodologias base para a organização e realização do projeto.
Pull Flow na Indústria Automóvel
11
3. Apresentação do problema
O projeto, como referido, tem como objetivo máximo o desenho e implementação de uma
linha de montagem e dos respetivos processos a montante com base na filosofia Kaizen Lean.
Pretende-se a sua execução organizando toda a empresa com base num Fluxo Pull. Para isso
será necessário conhecer, e analisar, os vários processos e características da empresa de forma
a no final atingir-se o objetivo deste projeto. É essencial ter-se noção das necessidades e
exigências do produto, do método de produção e da cadeia de abastecimento. De seguida
explicam-se, por um lado, o tipo de componentes utilizados na montagem do chassis, e, por
outro lado, as diferentes atividades praticadas na empresa, de modo a que se tenha a perceção
dos problemas e dos dados que têm que ser considerados como ponto de partida para a
melhoria. No final da secção apresenta-se o resumo do processo de produção de chassis.
3.1 Componentes utilizados na montagem do chassis
Em primeiro lugar é importante fazer referência aos dois tipos de modelo produzidos pela
Caetano Components. Como já introduzido na apresentação da empresa são produzidos dois
modelos de chassis, o C5 2500 e o C5 3000. Para a sua montagem estas duas versões
requerem alguns componentes que são comuns e outros que diferem no seu comprimento
devido à diferença de largura entre os dois modelos de chassis.
De seguida, é importante explicar que, na empresa, para a produção de um chassis são
utilizados quer componentes metálicos produzidos internamente quer componentes adquiridos
externamente. Os componentes metálicos produzidos internamente são utilizados para a
constituição da estrutura do chassis e podem ser divididos genericamente em componentes de
pequena e grande dimensão (menor e maior valor, devido à quantidade de aço utilizado).
Quanto aos componentes produzidos internamente de grande dimensão, tem-se o exemplo da
placa de fixação soldada ou a estrutura de pedaleira (figura 5). Dos componentes produzidos
internamente de pequena dimensão, são exemplo o suporte de coluna de direção ou a placa de
fixação do vaso de expansão (figura 6).
Os componentes adquiridos externamente são muito variados e têm diversas funcionalidades,
mas, genericamente, também podem ser divididos em componentes de pequena e grande
dimensão. São exemplo de componentes de grande dimensão o motor, o eixo, o radiador, a
caixa de velocidades, o suporte de baterias e os pneus (figura 7) e de componentes externos de
pequena dimensão os parafusos, as porcas, as anilhas, os terminais e os interruptores (figura
8).
Figura 5 - à esquerda: placa de fixação soldada; à
direita: estrutura de pedaleira.
Figura 6 - Em cima: Suporte de
coluna de direção; Em baixo: placa de
fixação do vaso de expansão.
Pull Flow na Indústria Automóvel
12
Na figura 9, resume-se o tipo de componentes existentes na empresa.
3.2 Áreas de atividade
A empresa-se divide-se em duas grandes áreas, a de fabrico de componentes metálicos de
chassis e a área de montagem de componentes, produzidos interna ou externamente, para
formação do chassis. Estas duas áreas são suportadas pelo armazém que além de garantir o
armazenamento realiza o transporte de alguns materiais.
3.2.1 Fabrico de Componentes - Metalomecânica
A área de produção de componentes metálicos é composta por três tipos de atividade
distintos, o corte, a quinagem e a soldadura. Posteriormente os componentes produzidos têm
que ser pintados externamente. Todo o planeamento do fabrico de componentes é realizado
com base num sistema push, sendo a produção empurrada ao longo da cadeia de
abastecimento. É importante referir que consoante cada um dos componentes a produzir
podem ser realizadas, ou não, cada uma das três operações referidas. Um componente
produzido internamente apenas pode ter que ser cortado, enquanto que outro componente já
pode ter que ser cortado, quinado e soldado.
Figura 7 - Em cima: Eixo; Em baixo: Pneu. Figura 8 - Em cima: Parafusos;
Em baixo: Anilhas.
Figura 9 - Tipo Componentes Montados no Chassis Caetano.
Pull Flow na Indústria Automóvel
13
Corte
Para a atividade de corte dos componentes é utilizada uma
máquina de corte a laser (figura 10). De acordo com a lista de
materiais dos componentes que formam o chassis (Bill of
Materials) foram criadas listas de corte para cada um dos
grupos construtivos definidos para o chassis e posteriormente
foram criados programas de corte para se obter cada um dos
componentes. Nesta operação são introduzidas chapas de aço
dentro da máquina (com várias espessuras) e esta, de acordo
com o desenho dos programas de corte, corta as chapas
entregando os componentes pretendidos sob a forma plana.
Quinagem
Posteriormente, para a produção de componentes quinados
utilizam-se duas máquinas quinadoras (figura 11). Nesta
operação, os funcionários das máquinas à medida que recebem
os componentes provenientes da máquina de corte, e consoante
a forma final de cada um deles, procedem à sua quinagem.
De referir que estes componentes, sujeitos às operações de corte
e quinagem, tanto podem ser encaminhados diretamente para a
pintura como, por outro lado, antes podem ter que ser
encaminhados para a área de soldadura para serem aglomerados
(soldados) com outros componentes, dando origem à criação de
subconjuntos.
Soldadura
Na área da soldadura existem cinco postos de soldadura (figura
12). Nesta operação procede-se à ligação dos componentes em
vários subconjuntos, dando origem a componentes maiores que
posteriormente vão formar o chassis. Os postos de soldadura
são abastecidos com componentes produzidos internamente
(provenientes da máquina de corte e das quinadoras) e com
componentes comprados externamente. Posteriormente os
soldadores procedem à criação de subconjuntos.
Após o seu fabrico, quer os subconjuntos soldados quer os componentes individuais são
encaminhados para uma área de expedição para serem enviados para uma empresa externa
responsável pela pintura dos componentes. Este envio é realizado com as peças
acondicionadas num suporte apelidado “transportador pintura” (figuras 13 e 14).
Figura 12 – Posto de Soldadura.
Figura 10 – Máquina de Corte a
Laser ADIRA.
Figura 11 – Quinadora
BAYKAL.
Figura 13 – “Transportador pintura”. Figura 14 – Pormenor “transportador pintura”.
Pull Flow na Indústria Automóvel
14
3.2.2 Montagem de chassis
Primeiramente, antes da explicação dos fatores atuantes na montagem do chassis, é essencial
perceber a importância da logística nesta atividade. Todos os componentes, quer os
produzidos internamente, que chegam à empresa provenientes da pintura, quer os
componentes adquiridos externamente, têm que ser armazenados e disponibilizados aos
operadores para a sua posterior utilização na montagem do chassis (figuras 15 e 16).
Antes da implementação do projeto apresentado nesta tese, tanto os componentes produzidos
internamente como os comprados externamente eram colocados indiscriminadamente em
estantes e no chão numa zona de armazenagem. Esta má organização promovia a díficil
identificação dos componentes a utilizar, um picking dos componentes não ergonómico e
desperdício de movimentação dado que os operadores não tinham os componentes junto ao
local onde eram aplicados no chassis. Não havia qualquer sistema de logística interna estando
a produção dependente do armazém (Logística). Por outro lado existiam faltas de material na
montagem devido à má sincronização com a metalomecânica.
Um chassis do autocarro Cobus está dividido em dois módulos, o dianteiro e o traseiro
(figuras 17 e 18), sendo ambos montados na Caetano Components. Estes posteriormente
alimentam as linhas da CaetanoBus sendo acoplados através de um estrado.
Antes do projeto de implementação da linha de montagem (Produção), a montagem de chassis
era realizada com o auxílio de suportes, dois cavaletes, sendo que vários funcionários estavam
dedicados a uma célula de montagem de chassis, tal como mostrado na figura 19. À medida
que iam necessitando dos componentes a montar deslocavam-se até ao local de armazenagem
para os recolher, ou noutras vezes pediam ajuda aos funcionários do armazém.
Figura 15 – Componentes produzidos
internamente que aguardam montagem no
chassis.
Figura 16 – Componentes externos de grande
dimensão que aguardam montagem no chassis.
Figura 17 – Módulo Dianteiro Chassis Caetano. Figura 18 – Módulo Traseiro Chassis Caetano.
Pull Flow na Indústria Automóvel
15
A montagem de um chassis completo exige o acoplamento de centenas de componentes, das
mais variadas formas e tipologias, tal como a realização de um conjunto alargado de tarefas
que devem ser desempenhadas de acordo com uma sequência lógica. As tarefas de montagem
do chassis, de forma geral, podem ser dividas em várias áreas de conhecimento,
nomeadamente, estrutural, mecânica, elétrica e pneumática. No anexo D apresenta-se algumas
das tarefas que terão que ser executadas em cada uma das diferentes áreas de conhecimento.
Devido à quantidade e complexidade de organização das tarefas de montagem, antes da
implementação do projeto apresentada nesta tese não existia qualquer alocação normalizada
das tarefas a realizar pelos operadores de montagem. Dada esta indefinição de
responsabilidades, algumas tarefas por vezes não eram realizadas, além da carga de trabalho
entre os operadores não estar nivelada. Assim, devido ora à falta de balanceamento e alocação
das tarefas aos operadores ora à inexistência de um sistema de logística interna era necessário
uma elevada quantidade de tempo até à produção de um chassis.
Também é importante aludir à existência de pré-montagens que têm que ser realizadas antes
da união desse conjunto de componentes ao chassis. São exemplo destas pré-montagens, por
um lado, operações “simples” como a fixação de depósitos pneumáticos em chapas de
alumínio ou a colagem de borracha nalguns suportes e, por outro lado, operações mais
complexas como a pré-montagem do eixo, pré-montagem do radiador ou a pré-montagem do
powertrain (engloba no seu conjunto o radiador, o motor, a caixa de velocidades, entre
outros).
Em suma, para a produção de um chassis é então necessário desempenhar um conjunto de
tarefas que têm origem no fabrico dos componentes, passam pela compra de componentes
externos, prolongam-se pelas atividades de armazenamento e transporte de todo o material e
terminam com a montagem dos componentes, originando o produto final Chassis Caetano. Na
figura 20 resume-se o fluxo do processo de produção, tendo em conta a atividade de um
chassis desde a produção de componentes metálicos internamente até à montagem final.
Figura 19 – Montagem de Chassis em células, com auxílio de 2 cavaletes.
Figura 20 – Fluxo do Processo de Produção de Chassis.
Pull Flow na Indústria Automóvel
16
4. Implementação do projeto Kaizen Lean
4.1 Total Flow Management
A metodologia Total Flow Management (Coimbra 2009) é utilizada para o desenho e gestão
da implementação de um sistema Pull Flow. Pretende a criação de fluxo ao longo de toda a
cadeia de abastecimento através da eliminação de desperdício e da focalização nas atividades
que efetivamente acrescentam valor. Esta metodologia divide-se em 5 componentes distintos.
O primeiro refere-se à manutenção da estabilidade básica, o segundo à criação de fluxo na
produção, o terceiro à criação de fluxo na logística interna, o quarto à criação de fluxo na
logística externa e o quinto diz respeito à utilização da ferramenta VSD (Value Stream
Design) para se desenhar a visão pretendida para o projeto de melhoria do fluxo (anexo E).
4.1.1 Visão Kaizen -Value Stream Design
Contextualização da Ferramenta
A ferramenta de mapeamento de processos Value Stream Design (VSD) permite delinear a
visão Kaizen para a cadeia de abastecimento, determinando o caminho a seguir. A esta
ferramenta está normalmente associada outra ferramenta de mapeamento de processos, Value
Stream Mapping (VSM), que é utilizada para a representação da situação atual da cadeia de
abastecimento, melhorando assim o seu entendimento e possibilitando a deteção de
oportunidades de melhoria. No entanto, neste projeto, a empresa operou pouco tempo até ao
início do projeto Kaizen Lean, preocupando-se até então com as questões de ordem técnica e
qualidade de produção dos chassis. A parceria com o KICG surgiu exatamente para o desenho
da linha de montagem e dos vários processos da cadeia de abastecimento. Assim, havendo
uma total indefinição da cadeia de abastecimento, partiu-se logo para o desenho da visão
pretendida sem mapear a situação atual.
Através do desenho da cadeia de abastecimento pretendida (VSD) é possível efetuar a
visualização esquematizada do fluxo de informação e material ao longo de toda a cadeia de
valor. Na representação da visão, a ferramenta VSD utiliza os elementos das outras
ferramentas da metodologia TFM, que posteriormente darão origem a sub-projetos de
implementação. No final, se todos os sub-projetos forem executados com sucesso, a criação
de um sistema Pull Flow Kaizen Lean passará de um desejo para uma realidade.
Ações Desenvolvidas
Na representação da visão pretendida foi necessário ter em conta os vários processos
presentes de forma a criar um fluxo pull na cadeia de abastecimento. Assim, analisou-se toda
a gestão da cadeia de abastecimento tendo em conta as operações de fabrico de componentes
(corte, quinagem e soldadura), o abastecimento à soldadura de componentes comprados
externamente e a operação da linha de montagem, tendo em conta o seu abastecimento, quer
de componentes produzidos internamente quer comprados externamente. Para o
abastecimento à linha de montagem, aplicando a metodologia pull, foi definida uma reposição
pelo consumo para as referências de menor valor e a compra de acordo com as encomendas
para as referências de maior valor. Esta decisão tem impacto nos processos a montante,
originando dois diferentes tipos de abastecimento. No primeiro caso, reposição pelo consumo,
quer os componentes produzidos internamente na metalomecânica quer os comprados
externamente serão geridos segundo a lógica make-to-stock (MTS), sendo os componentes
produzidos (metalomecânica interna) ou encomendados (a empresas externas) em função do
seu consumo na linha de montagem. No segundo caso, compra de acordo com as encomendas,
Pull Flow na Indústria Automóvel
17
não existe uma lógica de deter junto à linha de montagem uma quantidade de componentes
que possa garantir o abastecimento à linha durante vários ciclos de produção. Neste caso os
componentes terão que ser produzidos internamente ou comprados externamente apenas em
função das encomendas reais de chassis. Esta lógica é apelidada de make-to-order (MTO).
No desenho da visão para a cadeia de abastecimento foi realizada uma divisão entre os
componentes (de origem interna) que têm soldadura e aqueles que apenas são sujeitos às
operações de corte ou corte e quinagem. Na soldadura sendo aglomerados vários componentes
(de origem interna e externa) foi necessário pensar a sua gestão de forma diferente.
Visão da Cadeia de Abastecimento: Componentes externos + internos sem soldadura
Na figura 21 traduz-se a visão delineada para a cadeia de abastecimento, tendo em conta os
componentes produzidos internamente sem soldadura e os comprados externamente. Deste
modo, na cadeia de abastecimento apresentada consideram-se apenas os componentes que são
cortados e quinados (ou só cortados) e que, posteriormente, sem passar pela área de soldadura,
são diretamente encaminhados para a área de expedição para a pintura.
Na visão delineada pode dividir-se os componentes abastecidos à linha de montagem em 4
tipos (ver secção 3.1):
Componentes produzidos internamente na metalomecânica segundo a lógica MTS;
Componentes produzidos internamente na metalomecânica segundo a lógica MTO;
Componentes comprados externamente segundo a lógica MTS;
Componentes comprados externamente segundo a lógica MTO;
No primeiro caso, segundo a lógica MTS (reposição em função do consumo), pode distinguir-
se 2 tipos de fluxo. Sempre através da sincronização kanban, os componentes são produzidos
na máquina de corte, são abastecidos ao Supermercado de Peças Pintadas Kanban e
posteriormente são abastecidos ao bordo de linha. No primeiro tipo de fluxo, o consumo de
componentes no bordo de linha ordena reposição ao Supermercado de Peças pintadas Kanban
Figura 21 - Value Stream Design da cadeia de abastecimento (componentes produzidos
internamente sem soldadura e componentes comprados externamente).
1. Componentes internos MTS
2. Componentes internos MTO
3. Componentes externos MTS
4. Componentes externos MTO
5. Planeamento Linha de Montagem (Refs. a produzir)
Pull Flow na Indústria Automóvel
18
(fluxo montagem) e no segundo tipo o supermercado ordena a produção de componentes na
máquina de corte através da utilização de um sequenciador (fluxo fabrico).
No segundo caso, segundo a lógica MTO, pode distinguir-se 2 tipos de fluxo. No primeiro
tipo os componentes de grande dimensão, e valor (valor proporcional à dimensão devido à
utilização aço na produção dos componentes), são produzidos na máquina de corte e
abastecidos ao Supermercado de Peças Pintadas Junjo em função das encomendas existentes
(fluxo fabrico). Posteriormente, no segundo tipo, esses componentes são abastecidos do
supermercado ao bordo de linha através da sincronização junjo (fluxo montagem).
No terceiro caso, segundo a lógica MTS, os componentes serão comprados externamente e
abastecidos aos armazém de componentes externos de pequena dimensão e ao de chapa de
aço em função do seu consumo. O armazém de chapa de aço é automático, abastecendo a
máquina de corte de forma contínua. Quanto aos componentes utilizados na montagem do
chassis, estes são abastecidos do armazém de componentes externos de pequena dimensão ao
bordo de linha em função do seu consumo, via sincronização kanban (fluxo montagem).
No quarto caso, segundo a lógica MTO, os componentes serão comprados externamente e
abastecidos ao armazém de componentes externos de grande dimensão em função das
encomendas reais existentes. Posteriormente esses componentes são abastecidos do armazém
ao bordo de linha através da sincronização junjo (fluxo montagem).
Visão da Cadeia de Abastecimento: Componentes externos + internos com soldadadura
Na figura 22 traduz-se a visão delineada para a cadeia de abastecimento tendo em conta os
componentes produzidos internamente com soldadura e os comprados externamente.
À semelhança da visão realizada no caso dos componentes sem soldadura, nesta visão
delineada também pode observar-se os mesmos quatro tipos de componentes.
No primeiro caso, segundo a lógica MTS (reposição em função do consumo), pode
diferenciar-se três tipos de fluxo. Estes três tipos de fluxo são geridos através da sincronização
kanban. No primeiro tipo, o consumo de componentes no Supermercado de Soldadura ordena
Figura 22 – Value Stream Design da cadeia de abastecimento (componentes produzidos
internamente com soldadura e componentes comprados externamente).
1. Componentes internos MTS
2. Componentes internos MTO
3. Componentes externos MTS
4. Componentes externos MTO
5. Planeamento Linha de Montagem (Refs. a produzir)
Pull Flow na Indústria Automóvel
19
reposição à máquina de corte através da utilização do sequenciador (fluxo fabrico pré-
soldadura), no segundo tipo o consumo de componentes no Supermercado de Peças pintadas
Kanban ordena reposição à soldadura através da utilização de uma caixa de nivelamento
(fluxo fabrico pós-soldadura) e, na terceira situação, o consumo de componentes no bordo de
linha ordena reposição ao Supermercado de Peças Pintadas Kanban (fluxo montagem).
No segundo caso, segundo a lógica MTO, também pode diferenciar-se três tipos de fluxo. No
primeiro tipo, o planeamento logístico ordena a produção de componentes de grande
dimensão na máquina de corte para abastecerem o Supermercado de Soldadura em função das
encomendas existentes (fluxo fabrico pré-soldadura). No segundo tipo, o planeamento
logístico, de acordo com o número de subconjuntos a soldar para a produção de um chassis,
transforma essas “encomendas” em ordens kanban enviando ordens de reposição à soldadura
através da caixa de nivelamento. Os componentes soldados, após serem pintados, são
entregues ao Supermercado de Peças Pintadas Junjo (fluxo fabrico pós-soldadura). No
terceiro tipo os componentes presentes no Supermercado de Peças Pintadas Junjo são
abastecidos ao bordo de linha através da sincronização junjo (fluxo montagem).
No terceiro caso, segundo a lógica MTS, os componentes serão comprados externamente e
abastecidos ao armazém de componentes externos de pequena dimensão e ao de chapa de aço
em função do seu consumo. O armazém de chapa de aço é automático abastecendo a máquina
de corte de forma contínua. Quanto aos componentes utilizados na montagem do chassis terão
que ser abastecidos do armazém de componentes externos de pequena dimensão quer para o
bordo de linha (fluxo montagem) quer para o Supermercado Soldadura (fluxo fabrico pré-
soldadura), em função do seu consumo, via sincronização kanban.
No quarto caso, segundo a lógica MTO, os componentes serão comprados externamente e
abastecidos ao armazém de componentes externos de grande dimensão em função das
encomendas reais existentes. Posteriormente esses componentes são abastecidos do armazém
ao bordo de linha através da sincronização junjo (fluxo montagem).
Esta visão da cadeia de abastecimento deu então origem à realização de vários subprojetos
com o objetivo final de instalar um fluxo em pull na empresa. Estes subprojetos, seguindo a
metodologia TFM, tiveram em conta a criação de fluxo na produção, a criação de fluxo na
logística interna e a estabilidade básica. No trabalho em seguida apresentado não se aborda os
fluxos entre os fornecedores externos e os armazéns de componentes externos.
4.1.2 Fluxo na Produção
O primeiro passo para se desenhar uma cadeia de abastecimento Pull Flow Kaizen Lean é a
criação de fluxo na produção, tendo como objetivo o modelo de fluxo unitário. Posteriormente
será necessário preparar a logística interna e assegurar a estabilidade básica da cadeia de
abastecimento. Para a implementação do projeto, no que toca à criação de fluxo na produção,
utilizaram-se as ferramentas Layout e Desenho de Linha, Bordo de Linha e Standard Work.
4.1.2.1 Desenho de Linha e Layout
Este subprojeto teve como principal objetivo a definição do desenho da linha de montagem
mas também contemplou o desenho do restante layout da empresa tendo em conta os
elementos definidos na visão Kaizen.
Contextualização da Ferramenta
Os objetivos desta ferramenta consistem na eliminação de operações que não acresentam
valor e na criação de fluxo unitário entre as atividades que acrescentam valor, sendo que por
Pull Flow na Indústria Automóvel
20
operações entende-se o fluxo de tarefas dos trabalhadores para efetivação de um transporte,
transformação ou inspecção do produto (Manual KMS 2011).
Layout de Produção
Na definição de um layout de produção consideram-se quatro formatos distintos,
nomeadamente o layout funcional, a linha de montagem, a célula de produção e o layout de
projeto. O layout funcional agrupa funções ou equipamentos semelhantes numa mesma área,
existindo uma clara divisão entre diferentes tipos de área produtiva (máquina ou tipo de
operação), tendo como consequência a criação de um lote de produção (aumenta tempo de
deteção de defeitos de qualidade). Neste tipo de organização funcional é necessário
movimentar os lotes de material entre as diversas áreas para fazer fluir o processo produtivo.
A separação entre áreas aumenta o lead-time e aumenta a complexidade de gestão da cadeia
de abastecimento. Num layout de processo é possível obter uma gestão do fluxo de material
menos complexa. Neste tipo de layout os equipamentos, ou as operações, estão dispostos de
acordo com o fluxo produtivo, tendo como objetivo o fluxo unitário (diminuição do lead-
time). As operações estão próximas umas das outras, evitando a criação de lotes (diminui
tempo de deteção de defeitos de qualidade) e a sua movimentação entre áreas. São exemplos
deste tipo de layout as linhas de montagem e o layout em célula que agrupa diferentes
máquinas numa mesma área para trabalharem em produtos com requisitos de processamento
similares. Por fim surge o layout de projeto onde o produto permanece sempre na mesma
localização e os equipamentos de produção são movidos. Numa mesma empresa podem ser
utilizados diferentes tipos de layout, por exemplo, utilizando o layout funcional para o fabrico
de componentes, células de produção para pré-montagens e linha de montagem para a
montagem final (Jacobs et al. 2009).
Linha de Montagem
As linhas de montagem (figura 23), exemplo do layout
de processo, também apelidadas de flow-shop layout,
é o formato comummente presente na indústria
automóvel. Este layout é caracterizado pela
organização dos processos e equipamentos de acordo
com os passos progressivos pelo qual o produto é feito
para a criação de fluxo unitário. Com o desenho deste
tipo de linhas está-se a simplificar e a racionalizar
extremamente o processo. Cada produto, durante o seu
trajeto desde a entrada em produção até à sua
conclusão, descreve uma linha. As linhas de
montagem podem ter várias diferenças, sendo que os principais fatores para a sua conceção
são a definição do meio de movimentação do produto, a configuração da linha (formato em U,
linha reta, etc), variedade de produtos, a definição das características da estação de trabalho
(trabalhadores em pé ou sentados, podem estar parados ou ter que caminhar) e o comprimento
da linha (Jacobs et al. 2009).
Para se definir o número de trabalhadores ou estações de trabalho de uma linha de montagem
é necessário ter em conta o somatório de tempo de todas as tarefas a realizar e o tempo de takt
exigido pelo cliente. O tempo de takt (1) estabelece o ritmo a que os produtos devem avançar
numa linha de montagem e pode ser calculado através da seguinte fórmula (Manual Interno
Kaizen 2011):
Figura 23 - Exemplo de linha de
montagem;
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011).
Pull Flow na Indústria Automóvel
21
(1)
*Tempo total sem paragens programadas
Para se calcular o número de trabalhadores ou estações de trabalho (com 1 trabalhador por
estação de trabalho) necessárias recorre-se à seguinte fórmula:
( )
Outro aspeto a ter em conta no desenho de linhas de montagem é a integração das pré-
montagens. A montagem de um produto pode requerer a realização de pré-montagens que
depois são ligadas ao conjunto principal. Na fábrica da Skoda (República Checa), que produz
o Skoda Octavia, são preparados 3 módulos em postos de pré-montagem adjacentes à linha
principal que, quando terminados, são aglomerados ao carro (Kochan 1998). Os postos das
pré-montagens podem ser desenhados de forma a que estas quando completas possam estar na
posição em que são montadas no conjunto principal (Damayanti & Toha 2011).
Ações Desenvolvidas
Neste projeto pretende-se a criação de uma linha de montagem de chassis de autocarros. Esta
linha foi desenhada de forma a criar fluxo unitário e a cumprir o tempo de takt exigido pelo
cliente. Como ponto de partida para o cálculo do tempo de takt considerou-se um tempo de
abertura para produção de 40 horas semanais (8 horas em cada um dos 5 dias da semana) e
uma pausa diária de 15 minutos. O tempo disponível de produção pode então ser calculado
subtraindo as 5 pausas semanais ao tempo de abertura semanal, surgindo com o valor de 38,75
horas. No desenho da linha, apesar da procura real atual ser aproxidamente de 2 chassis por
semana, considerou-se uma procura de 5 chassis de forma a contemplar um aumento futuro
das vendas e consequente aumento da cadência de produção de chassis (novos projetos do
grupo Salvador Caetano em perspetiva). Assim foi possível calcular o tempo de takt para a
empresa, obtendo-se o valor de 7,75 horas.
De seguida partiu-se para o cálculo do número mínimo de operadores necessários para o
cumprimento do tempo de takt exigido. Para este cálculo é necessário saber o somatório do
tempo das tarefas de montagem de chassis. Assim, através do acompanhamento inicial da
produção de alguns chassis, ainda antes da implementação da linha de montagem, foi
estimado e registado o tempo de grupos de tarefas, obtendo-se um somatório do tempo de
tarefas de montagem de chassis aproximadamente igual a 108 horas (ver exemplo da lista de
tarefas no anexo F). Através do tempo total das tarefas a realizar e do tempo de takt definido
calculou-se então o número mínimo de operadores obtendo-se o valor de 14. Uma vez que um
chassis é um produto de grande dimensão, possibilitando que mais que um trabalhador esteja
a trabalhar num posto ao mesmo tempo, considerou-se o pressuposto de que poderiam
trabalhar no mesmo posto 3 operadores. Assim, dividindo o número mínimo de operadores
necessários para o cumprimento do tempo de takt pelo número máximo de trabalhadores em
cada posto, obteve-se o número final de postos igual a 5 (ver Anexo G para consulta do
detalhe dos cálculos realizados).
Definido o número de postos necessários, partiu-se para o desenho da linha em detalhe. Na
alocação das tarefas a cada um dos postos, uma vez considerado um máximo recomendado de
operadores em cada posto igual a 3 (devido à dimensão do chassis) e que, de acordo com o
conceitos da linha de montagem, o chassis deveria movimentar-se entre postos a cada 7,75
horas, atribui-se um grupo de tarefas a cada posto tendo em conta a sua precedência de
processo global de forma a que o tempo total de tarefas não ultrapassasse as 23,25 horas (7,75
Pull Flow na Indústria Automóvel
22
a multiplicar por 3). Como referido na secção 3, um chassis é composto por um módulo
dianteiro e por um traseiro e exige a realização de algumas pré-montagens. Devido a
restrições de armazenamento e montagem dos componentes pneumáticos foi necessário criar
um posto exclusivamente dedicado à pneumática. Assim, definiram-se 3 postos para a
montagem do módulo da frente (com tempo estimado de trabalho de montagem de 55 horas),
1 posto para a montagem do módulo traseiro (com tempo estimado de trabalho de montagem
de 15 horas), 1 posto para a pré-montagem de componentes pneumáticos (com tempo
estimado de trabalho de montagem de 22 horas) e 1 posto para a pré-montagem do eixo e do
radiador e do powertrain (com tempo estimado de trabalho de montagem de 16 horas). No
caso das pré-montagens do eixo, do radiador e do powertrain, o seu layout foi definido de
forma a que, quando terminadas, pudessem ser acopladas ao chassis com a menor
movimentação possível. Assim definiu-se um posto de pré-montagem dividido em duas
secções adjacentes à linha que, após as suas operações de montagem concluídas, funcionavam
como bordo de linha com componentes à espera de serem montados. Apresenta-se agora o
layout definido para a linha de montagem (figura 24) bem como descrição geral de cada um
dos postos pertencentes à linha de montagem:
Posto 1 (1ª Etapa módulo dianteiro): Engloba as tarefas relacionadas com a
montagem da estrutura do chassis bem como uma banca para a realização de algumas
pré-montagens simples;
Posto2 (2ª Etapa módulo dianteiro): Engloba de forma geral as tarefas relacionadas
com a passagem de tubos pneumáticos e cablagem elétrica, mais a montagem do
powertrain (charriot) no chassis;
Posto3 (3ª Etapa módulo dianteiro): Engloba as restantes tarefas relacionadas com a
montagem do módulo da frente;
Figura 24 - Layout da linha de montagem de chassis.
Pull Flow na Indústria Automóvel
23
Posto PM.4A (pré-montagem do eixo e radiador):
Engloba as pré-montagens do radiador e do eixo
da frente. A pré-montagem do radiador após
concluída é transportada para o posto PM.4B para
montagem no powertrain. O eixo da frente é pré-
montado numa plataforma elevatória, para que
quando terminado possa ser descer ao nível da
montagem no chassis e ser montado no posto 3.
Após a sua conclusão o eixo apenas tem que se
deslocar perpendicularmente em relação ao eixo
da linha de montagem dado que já se encontra na
direção do ponto de montagem no chassis (figura
25) .
Posto PM.4B (pré-montagem do powertrain ou
“charriot”): Refere-se à pré-montagem do
powertrain (charriot). Depois de pré-montado,
este já se encontra na direção do ponto de
montagem no chassis, sendo montado no posto 2
(figura 26).
Posto PN (Pré-montagem dos componentes
pneumáticos): Refere-se à pré-montagem dos
componentes pneumáticos.
Posto 5 (Montagem módulo traseiro): Refere-se à
montagem do módulo traseiro.
O desenho desta linha de montagem de chassis além de ter tido em conta o desenho e
interligação entre os postos de trabalho, também contemplou o bordo de linha, criando o
espaço necessário para o abastecimento à linha. É importante referir que como meio de
movimentação do chassis na linha foram utilizados os próprios trolleys de abastecimento de
componentes (apresentado em detalhe na secção seguinte). No anexo H podem observar-se
imagens da linha de montagem.
Além do desenho da linha de montagem este projeto teve em consideração a redefinição do
layout de toda a fábrica que pode ser observado no anexo I. O layout da fábrica foi realizado
em função da visão Kaizen para a cadeia de abastecimento da Caetano Components. Este
além de contemplar o desenho da linha de montagem, o bordo de linha e as pré-montagens,
teve em conta a criação de fluxo na zona de fabrico de componentes, a construção de
supermercados junto à linha de montagem e à área de soldadura e a criação de armazéns para
componentes externos.
4.1.2.2 Bordo de Linha
Este subprojeto teve como objetivo o desenho do bordo de linha, através da definição do local
e do meio de disponibilização dos componentes aos operadores da linha de montagem.
Contextualização da Ferramenta
O bordo de linha refere-se ao local onde o operador da linha se serve de componentes para a
realização de uma tarefa. Este é utilizado para maximizar as tarefas de valor acresentado
através da colocação do material que o operador necessita junto à linha de montagem. Este
Figura 25 - Layout Posto PM.4A.
Figura 26 - Layout Posto PM.4B.
Pull Flow na Indústria Automóvel
24
deve ser desenhado de forma a minimizar o muda de movimento de pessoas e a ser o mais
ergonómico possível. O melhor layout para um posto de trabalho é aquele em que o operador
retira as peças sempre do mesmo local com o movimento mais curto (Coimbra 2009).
O bordo de linha atua como a interface entre a produção e a logística, no entanto serve como
forma de tornar o trabalho entre estas duas áreas independente. Preferencialmente, o bordo de
linha deve de frente para o operador quando este está a realizar as suas tarefas. Isto de forma a
que a logística possa abastecer as peças, em contentores pequenos, o mais próximo possível
da área de valor acrescentado (AVA) dos operadores. Quando o abastecimento frontal não for
possível (devido ao volume dos produtos), deve utilizar-se o abastecimento por trás com
contentores pequenos ou carros de abastecimento (trolleys). Nesta situação, o melhor tipo de
abastecimento em termos de standard work (eliminação de muda) é o abastecimento de kits de
componentes perto da área de valor acrescentado (figura 27).
Quanto ao tipo de abastecimento ao bordo de linha, este pode tomar duas formas,
abastecimento contínuo ou sequenciado. No abastecimento contínuo (ou kanban) são
abastecidos sempre os mesmo componentes, existindo um local para cada componente, sendo
que o consumo ordena reposição. Por outro lado, no abastecimento sequenciado (ou junjo) os
componentes abastecidos variam de acordo com a referência do produto seguinte a montar,
havendo apenas um local de recolha para esse conjunto de componentes.
No que diz respeito ao tipo de contentores utilizados, estes devem ser pequenos e com
tamanho normalizado. A utilização de contentores pequenos tem como principais vantagens a
proteção dos componentes, a eliminação do muda de movimento dos operadores, a melhoria
do fluxo logístico e a ergonomia. Por outro lado, a utilização de contentores com tamanho
normalizado facilita a sua própria gestão e possibilita a sua reutilização aquando da entrada de
novos componentes (Coimbra 2009). Na figura 28 ilutram-se as vantagens da utilização de
contentores pequenos face aos contentores grandes.
Figura 27 - Bordo de linha: abastecimento frontal vs. Abastecimento por trás;
Fonte: Coimbra (2009).
Figura 28 – Vantagens dos contentores pequenos em relação aos grandes;
Adaptado de: Manual Interno Kaizen (2011).
Pull Flow na Indústria Automóvel
25
Outra forma de abastecer componentes ao bordo de linha é criando carros de abastecimento
ou bases rolantes. Podem ser desenhados vários tipos de carros que se adaptem à geometria
dos componentes ou ao tipo de abastecimento, sendo que o pilar base a ter em conta na sua
construção deverá ser sempre a ergonomia no posto de trabalho (Coimbra 2009).
Outro aspeto importante a considerar no desenho do bordo de linha é a realização de um
abastecimento unitário sempre que possível de modo a optimizar o trabalho do operador no
posto de trabalho. Normalmente, para a concretização deste objetivo, utilizam-se calhas de
abastecimento que permitem otimizar os movimentos do operador (evita movimentos
estranhos e difíceis), aumentar o número de componentes em abastecimento contínuo e
efetuar um picking mais preciso (Coimbra 2009).
Ações Desenvolvidas
Para a criação do bordo de linha junto a cada um dos postos primeiro foi necessário definir
que peças seriam necessárias colocar em cada um deles. Deste modo foram realizadas listas
com os vários componentes, produzidos interna e externamente, a colocar em cada um dos
postos. No anexo J pode ver-se, como exemplo, parte da definição da lista de componentes
externos pequenos a serem abastecidos a cada um dos postos.
Após a definição dos componentes necessários às
tarefas de cada um dos postos, tendo em conta um
abastecimento por trás (figura 29), devido à
dimensão de um chassis, desenhou-se o bordo de
linha de forma a minimizar o movimento das
pessoas e a aumentar a sua ergonomia. Esta escolha
do bordo de linha teve em conta as diferentes
dimensões dos componentes a abastecer à linha e a
necessidade de produção de duas referências de
chassis. No desenho do bordo de linha definiu-se a
utilização de contentores pequenos (para
componentes pequenos) e carros de abastecimento
em kit (para componentes grandes das duas
referências produzidas) junto à área de valor acrescentado dos operadores. O bordo de linha
de cada posto foi dimensionado tendo em conta a existência de uma localização para cada
referência no caso dos componentes em contentores kanban e de uma localização para um
conjunto de referências a serem abastecidas sequenciadamente. No caso do abastecimento
contínuo (ciclo logístico kanban), foi dimensionado o espaço equivalente a dois contentores
para cada referência para ser possível implementar o sistema kanban “contentor cheio
contentor vazio”. Estes dois contentores garantem a satisfação da procura entre os ciclos de
reabastecimento. No caso do abastecimento sequenciado (ciclo logístico junjo) foi
dimensionado o espaço equivalente a um carro de abastecimento para entrega de kit de
componentes consoante a referência do produto (C5 2500 ou C5 3000).
Para os componentes de menor dimensão utilizaram-se contentores pequenos, com dimensões
normalizadas (três tipos diferentes), colocados em estantes dinâmicas junto dos postos. Estes
contentores pequenos pretendem eliminar o movimento dos operadores, aumentar a sua
ergonomia, melhorar o acondicionamento dos componentes e maximizar a utilização das
estantes. Estes contentores pequenos são utilizados para o abastecimento contínuo
(sincronização kanban) e por isso colocaram-se estantes junto a cada um dos postos, com uma
Figura 29 – Bordo de linha: Abastecimento
logístico por trás.
Pull Flow na Indústria Automóvel
26
zona de abastecimento de contentores cheios e outra zona para colocação de contentores
vazios para recolha por parte da logística (figura 30).
Por outro lado existiam componentes grandes, produzidos interna e externamente, que
ocupariam bastante espaço no bordo de linha (não disponível) e não eram ergonomicamente
favoráveis à utilização de contentores. Muitos destes tipos de componentes ainda eram
diferentes ora para a referência de chassis 2500 ora para a 3000. Desta forma, não havendo
espaço na zona de bordo de linha para a colocação de todos estes componentes em
contentores, definiu-se um abastecimento ao bordo de linha em kit gerido através de uma
sincronização sequenciada (junjo). Para a realização deste abastecimento em kit foram
desenhados carros de abastecimento (trolleys) de forma a disponibilizar aos operadores os
componentes necessários para cada uma das referências tendo em vista a diminuição de muda
de movimento. Foram criados vários carros de abastecimento tendo sempre em conta a sua
ergonomia. Os kits de componentes produzidos internamente abastecidos no posto 1
(montagem da estrutura do chassis) foram desenhados de forma a que alguns dos carros de
abastecimento que continham os kits, além de permitirem uma montagem ergonómica (à
altura dos operadores), pudessem servir como meio de movimentação do chassis na linha
(figuras 31 e 32) .
No desenho de bordo de linha foram considerados alguns sistemas de abastecimento unitário.
Na figura 33 mostra-se o exemplo de uma calha para abastecimento de tubos no posto 2.
Figura 30 – Bordo de linha com sistema “contentor
cheio contentor vazio”; contentores cheios em cima e
vazios em baixo.
Figura 32 – Trolley com abastecimento de kit
da estrutura da frente.
Figura 31 – Montagem estrutura chassis (posto1)
utilizando trolleys de abastecimento em kit.
Pull Flow na Indústria Automóvel
27
4.1.2.3 Standard Work
Este subprojeto teve como principal objetivo a definição e balanceamento das tarefas de
montagem de cada operador de forma a cumprir o tempo de takt exigido pelo cliente e a
diminuir a variabilidade nas operações de montagem. Apesar de a linha estar
sobredimensionada para um tempo de takt de 7,75 horas (de forma a satisfazer a previsão de
um aumento das vendas a curto prazo, tal como foi referido no ponto 4.1.2.1), o
balanceamento de tarefas na linha foi realizado para um tempo de takt adequado à procura
atual real de 2 chassis por semana. Na eventualidade de alteração do tempo de takt, o
balanceamento da linha terá de ser necessariamente ajustado.
Contextualização da Ferramenta
Esta ferramenta tem como objetivo definir as melhores práticas numa linha de montagem,
reduzindo a variabilidade dos processos e minimizando o desperdício. Engloba um conjunto
de procedimentos de trabalho bem definidos que determinam a sequência e os métodos mais
eficientes e fiáveis para cada processo e para cada trabalhador. Através da ferramenta
standard work pretende-se que todos tenham papéis e responsabilidades claras e que o
potencial de cada pessoa seja maximizado. Segundo este conceito, quer os operadores que
estão dedicados ao movimento de material quer os operadores de uma linha de montagem
devem ter rotinas específicas e cumprir um conjunto de tarefas prédefinidas no standard.
Assim, será promovido um melhor uso do tempo e maior produtividade (Ortiz 2010).
Relacionado com a ferramenta standard work está o problema de balanceamento de tarefas
numa linha de montagem, dado que pretende a definição do trabalho a realizar por cada um
dos operadores de modo a cumprir-se o tempo de ciclo da linha. Este problema diz respeito a
alocação das tarefas existentes a uma série de postos de trabalho (1 trabalhador por posto) de
forma a que a cada posto de trabalho não tenha mais tempo de trabalho do que o tempo de
ciclo exigido (Jacobs et al. 2009). No caso de existir mais que um operador por posto, para
que a linha avance de acordo com o tempo de takt definido, é necessário garantir que o
número de operadores é maior ou igual ao número de postos e realizar o balanceamento por
operador, atribuindo a cada um deles uma carga de trabalho menor ou igual ao tempo de takt.
Para a realização deste balanceamento de tarefas é normalmente utilizada a ferramenta
Gráfico Yamazumi que permite um excelente perceção visual do balanceamento a ser
realizado. Este poderá ser construído, por exemplo, através da alocação de tarefas a
operadores (utilizando-se cores para cada tipo de tarefas), utilizando papéis recortados com
tamanho correspondente à sua duração, até se atingir o tempo de takt da linha.
Figura 33 – Bordo de linha: abastecimento
unitário com utilização de calha.
Pull Flow na Indústria Automóvel
28
Ações Desenvolvidas
Neste projeto, o principal objetivo da utilização desta ferramenta de melhoria foi a definição
do conjunto de tarefas e procedimentos que cada um dos operadores da linha de montagem
teria que realizar. Para isso primeiro foi necessário definir uma lista de tarefas a executar em
cada um dos postos, com informação quanto ao seu tempo de execução e precedências
existentes entre cada uma delas. Na figura 34 mostra-se um exemplo de uma lista de tarefas
estabelecida para um dos postos de montagem que contém a informação do conjunto de
tarefas a realizar, do seu tempo standard de execução e das precedências existentes entre elas.
Esta lista de tarefas além de ter servido como fonte de informação para o balanceamento de
tarefas, acompanhava cada chassis a ser montado servindo como forma de garantir que os
operadores registavam a realização de uma tarefa aquando da sua conclusão.
Posteriormente, tendo a informação da precedência existente entre as tarefas de cada um dos
postos foi possível determinar a sua sequência de montagem (figura 35).
Tendo disponível a informação do tempo e sequência de cada uma das tarefas a realizar, de
forma a ser possível realizar o balanceamento de tarefas entre os operadores, avançou-se para
o cálculo do tempo de takt exigido pelo cliente. A procura atual é de 2 chassis por semana,
desta forma, considerando um tempo de produção semanal igual a 38,75 horas, o tempo de
takt surge com o valor de 19,38 horas. Seguidamente foi calculado o número mínimo de
operadores necessários para ao cumprimento deste tempo de takt na linha de montagem.
Através da definição do tempo de realização de cada uma das 96 tarefas de montagem e da
utilização de um coeficiente de segurança de 10%, o valor para o somatório do tempo global
de montagem de um chassis surge igual a 108,11 horas. Dividindo este valor pelo tempo de
takt exigido chegou-se ao valor de 5,58 pessoas (6 pessoas).
Antes de realizar o balanceamento de tarefas foi ainda necessário ter em conta dois fatores. O
primeiro diz respeito à existência de tarefas críticas que teriam de ser realizadas por um
operador específico (com elevado conhecimento nessa área) devido à sua preponderância para
a qualidade final do chassis. Através da lista de tarefas associadas a cada posto e da
Figura 34 - Lista de operações definida para o posto 2.
Figura 35 – Sequência de realização de tarefas do posto 5.
Pull Flow na Indústria Automóvel
29
informação fornecida por quem tinha o conhecimento dessas necessidades de especialização,
definiu-se a lista de tarefas críticas e a pessoa que a teria que realizar. O outro fator que
influenciou a realização do balanceamento de tarefas foi a existência de tarefas que teriam que
ser partilhadas por dois operadores de forma a poderem ser concluídas.
Posteriormente, tendo em conta todos os fatores referidos, e procurando um nivelamento da
carga de tarefas entre cada um dos operadores, foi realizado o balanceamento de tarefas
alocando tarefas a cada um dos 6 operadores. Esta alocação foi realizada tendo em conta o
tempo de takt de 19,38 horas e o tempo de cada tarefa sem coefiente de segurança, através da
utilização de um gráfico yamazumi em formato microsoft excel. Na utilização do gráfico
yamazumi, considerou-se no eixo horizontal a quantidade tempo disponível de produção (de
acordo com o tempo de takt) e no eixo vertical cada um dos 6 operadores da linha de
montagem. Deste modo foram alocadas aos operadores cada uma das 96 tarefas (identificadas
pelo seu número) referentes a cada um dos postos (identificados pela sua cor). Pede-se a
consulta do anexo K para se visualizarem as imagens do ficheiro relativo ao balanceamento
realizado.
Depois de alocadas todas as tarefas a cada um dos operadores, tendo em conta, e relembrando,
o tempo de takt exigido, a sequência entre tarefas, a existência de tarefas a realizar por um
operador específico e a existência de tarefas a terem que ser partilhadas por dois operadores,
foi necessário fazer passar essa informação para os operadores garantindo uma forma
normalizada para a realização das tarefas de montagem. Para isso foi construída uma caixa de
balanceamento da linha para representação das tarefas de montagem de forma visual (figura
36), e da sua hora de execução, que cada um dos seis operadores deveria desempenhar. Numa
escala horizontal representou-se o tempo disponível de produção semanal e para cada um dos
6 operadores colocaram-se cartões do tipo “cartão de crédito” (figura 37) com a informação
da tarefa a realizar. Cada um destes cartões continha informação quanto ao posto, à descrição
e ao tempo standard de cada uma das tarefas a realizar.
Com a utilização desta caixa de balanceamento cada operador deverá recolher um conjunto de
tarefas referentes a duas horas de trabalho e deslocar-se para o posto de trabalho para
desempenhar essas tarefas. Esta caixa de balanceamento permite uma fácil representação
visual das tarefas a realizar por cada um dos operadores para o tempo de ciclo definido,
permitindo também verificar a existência de atrasos.
Figura 36 – Caixa para balanceamento das tarefas a realizar pelos
operadores da linha de montagem – exemplo de balanceamento para meia
semana de trabalho (com tempo de takt igual a 19,35 horas).
Figura 37 – Cartão relativo a
uma tarefa do posto 2 (posto
vermelho).
Pull Flow na Indústria Automóvel
30
4.1.3 Fluxo na Logística Interna
O próximo passo para a implementação de uma cadeia de abastecimento Pull Flow Kaizen
Lean é a definição de um sistema de logística interna Lean capaz de melhorar o fluxo de
materiais e de informação da cadeia de abastecimento. Esta pretende estabelecer a
sincronização entre os vários processos, garantindo um nivelamento da carga de trabalho, a
operação com base na procura real, a minimização de stocks e a entrega ao processo seguinte
just in time. A logística interna surge como forma de abastecer a produção com as quantidades
necessárias à sua atividade, elimininando o muda de materiais em espera e o muda de
movimento dos operadores da linha de montagem. A criação de fluxo na logística interna
dividiu-se nos subprojetos de Supermercados, Sincronização Kanban/Junjo e Nivelamento.
4.1.3.1 Supermercados
Este subprojeto teve como objetivo o dimensionamento e implementação dos supermercados
definidos na visão Kaizen para a cadeia de abastecimento. Foram criados um supermercado na
área de soldadura e dois supermercados antes da linha de montagem, um que abastece o bordo
de linha com sincronização kanban e outro com sincronização junjo.
Contextualização da Ferramenta
Os supermercados aparecem como o primeiro elemento para a criação de fluxo na logística
interna. Os seus principais objetivos são atenuar as variações da procura para que cada um dos
processos a montante possa ter uma carga de trabalho mais nivelada e criar fluxo interno entre
as várias áreas de uma empresa, nomeadamente, entre a área de entrada de materiais, a área de
produção, a área de montagem (nas linhas de montagem) e a área de armazenagem final. No
anexo L ilustra-se a utilização de vários tipos de supermercado ao longo da cadeia de
abastecimento, com base na filosofia pull. Os supermercados representam infraestruturas de
armazenamento com as características seguintes: localização fixa para cada referência
(criação de hábitos de picking); fácil acesso para picking (armazenagem ao nivel do chão);
utilização de gestão visual (ferramenta muito importante para gestão de stocks num
supermercado); assegura o FIFO (First In First Out) físico; consumo dos supermercados
acima do nível definido implica ordens de reposição.
Um supermercado de fluxo pode ser constituído por dois tipos principais, estantes dinâmicas e
armazenamento no chão com rodas (figura 38). No primeiro caso são armazenados pequenos
contentores que deslizam por gravidade nos rolos, enquanto que o segundo requer a utilização
de bases rolantes ou trolleys.
O dimensionamento de supermercados depende do tipo de ciclo logístico em utilização
(kanban ou junjo), da frequência de picking e do número de setups na produção. No caso da
presença de um ciclo de abastecimento contínuo (ou kanban) o produto está sempre
C
D
A
B
C
D
C
D
A
B
A
B
Figura 38 – Armazenamento em estantes dinâmicas (à esquerda) e armazenamento sobre rodas (à direita).
Fonte: Manual KMS (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
31
disponível no local de consumo, o sinal de início de ciclo é o consumo no ponto de utilização
e a procura e abastecimento estão sincronizados através do sistema kanban. Por outro lado, no
caso do ciclo de abastecimento sequenciado (ou junjo), o produto está disponível no local de
consumo mediante um sinal de sequência, o sinal de ciclo é o junjo (sinal de sequência) e a
procura e o abastecimento estão sincronizados através do sistema junjo (Coimbra 2009).
Ações Desenvolvidas
Supermercado de Soldadura
Um dos supermercados criados foi o Supermercado de Soldadura (anexo M). Este tem como
objetivo criar fluxo no abastecimento dos postos de soldadura com os componentes
constituintes de cada um dos subcojuntos de chassis produzidos. A ordem de abastecimento
dos componentes à área de soldadura é dada através de kanbans provenientes da caixa de
nivelamento da soldadura. Estes kanbans de soldadura contêm a informação dos componentes
a recolher para cada um dos subconjuntos a soldar. O supermercado foi organizado de forma a
agrupar os componentes de cada um dos subconjuntos de forma a facilitar a operação de
recolha dos componentes. Para saber quais as referências a colocar no supermercado foi
necessário analisar cada um dos subconjuntos a soldar e listar cada um dos seus componentes.
De acordo com o conceito de supermercado foi definida uma localização para cada uma das
referências, utilizando-se a gestão visual para identificar cada um dos subconjuntos,
componentes (código, descrição e localização) e estantes do supermercado (figura 39).
Neste supermercado existem diferentes tipos de componentes, nomeadamente componentes
produzidos interna e externamente. Para o abastecimento dos componentes comprados
externamente, provenientes do armazém de componentes externos de pequena dimensão, foi
definida a sincronização kanban. Quanto aos componentes produzidos internamente alguns
deles foram definidos para serem abastecidos segundo a sincronização kanban e outros de
acordo com a filosofia make-to-order (MTO). O objetivo base é a redução do desperdício. Os
componentes mais pequenos foram colocados no Supermercado de Soldadura em pequenos
contentores (para sincronização kanban através do sistema “contentor cheio contentor vazio”),
uma vez que, dada a sua dimensão, são facilmente agrupados num programa de corte e através
da sincronização kanban garante-se a facilidade de gestão da reposição e a redução de stocks.
Os restantes componentes, de maior dimensão, são abastecidos de acordo com o plano de
produção, uma vez que são componentes grandes que ocupariam um grande espaço no caso
de serem kanban e, por outro lado, ao serem agrupados e cortados na máquina de corte a laser
a partir de programas de corte pré-definidos, permitem minimizar o desperdício de chapa. Foi
então dimensionado o supermercado tendo em conta a atribuição de um espaço para cada
referência (uma “frente de estante” para cada referência), com a garantia de espaço para
colocação de dois contentores por referência no caso da sincronização kanban (para
implementação de sistema “contentor cheio contentor vazio”) e para a colocação de unidades
Figura 39 – Componentes em sistema kanban (etiqueta azul) de um
subconjunto de peças (etiqueta verde) a soldar.
Pull Flow na Indústria Automóvel
32
de material referentes a 2 chassis no caso das referências MTO. No caso dos componentes
abrangidos pela sincronização kanban a sua quantidade garante a satisfação da procura entre o
ciclo de reabastecimento (ver secção Sincronização Kanban/Junjo).
Supermercado Peças Pintadas Kanban (KB)
Este supermercado está situado antes da linha de montagem e pretende abastecer o bordo de
linha com os componentes pequenos produzidos internamente provenientes da pintura (ver
supermercado no anexo N). A sincronização com o bordo de linha é feita através do sistema
kanban. À medida que os contentores ficam vazios no bordo de linha são reabastecidos a
partir dos contentores deste supermercado. Este supermercado contém peças que são soldadas
e peças que não soldadas, sendo a reposição dos componentes sincronizada através do sistema
kanban (“contentor cheio, contentor vazio”) quer com a área de soldadura quer com a
máquina de corte. Este sistema kanban permite reduzir os stocks e garante o fluxo de
abastecimento à linha de montagem.
A primeira fase para o dimensionamento deste supermercado foi a definição das referências
que existiriam no mesmo. Pretendia-se a colocação de referências de pequena dimensão
(menor valor) que pudessem ser agrupadas em pequenos contentores, de forma a poderem ser
reabastecidos pelos processos a montante segundo a sincronização kanban. Por outro lado, na
sincronização com a máquina de corte, este conjunto de componentes pequenos, em
contentores kanban, podia ser cortado garantindo a minimização de desperdício de chapa. O
supermercado foi dimensionado definindo uma localização para cada uma das 39 referências
consideradas, garantindo espaço para colocação de dois contentores para cada uma delas.
Estes dois contentores foram dimensionados de forma a satisfazerem a procura durante o ciclo
de reabastecimento do supermercado (ver secção Sincronização Kanban/Junjo). Por outro
lado as operações de recolha e reposição de componentes são simples uma vez que através da
gestão visual criou-se uma etiqueta e fotografia de identificação para cada um dos
componentes bem como a identificação de cada uma das estantes (figura 40).
Supermercado de Peças Pintadas Junjo (JJ)
O Supermercado de Peças Pintadas Junjo (anexo O) também se situa antes da linha de
montagem, mas ao contrário do Supermercado de Peças Pintadas Kanban, contém os
componentes produzidos internamente de grande dimensão. A sua reposição é realizada de
acordo com o plano de produção (MTO) uma vez que são componentes de grande dimensão
que ocupam uma grande quantidade de espaço e, por outro lado, dada a sua dimensão, a
utilização de programas de corte pré-definidos na máquina de corte tem impacto na
diminuição do desperdício de chapa. Para o dimensionamento do supermercado foi feita uma
listagem de todos os componentes de grande dimensão produzidos internamente, que não
estavam abrangidos no Supermercado de Peças Pintadas Kanban, e definido um só local para
Figura 40 – Gestão visual no Supermercado de Peças Pintadas Kanban.
Pull Flow na Indústria Automóvel
33
cada um deles. Este supermercado pretende abastecer o bordo de linha segundo o sistema de
abastecimento sequenciado (junjo). Segundo o plano de produção, existem listas de
abastecimento sequenciado (referentes a cada um dos kits a abastecer) que ordenam a recolha
dos componentes deste supermercado para abastecimento ao bordo de linha.
Foi também implementada gestão visual neste supermercado para identificação do local de
cada um dos componentes (para criação de hábitos de picking). Esta identificação foi
realizada através da colocação de etiquetas com a descrição do componentes e de desenhos
dos componentes na estantes (figura 41).
4.1.3.2 Sincronização Kanban/Junjo
Este subprojeto teve como objetivo interligar os diferentes elos da cadeia de abastecimento.
Através desta ferramenta TFM pretende-se estabelecer a sincronização entre os vários
processos de forma a alcançar uma cadeia de abastecimento do tipo pull. Ao longo da
apresentação dos outros subprojetos realizados foi feita referência aos tipos de sincronização
existentes na cadeia de abastecimento, porém nesta secção serão apresentados e explicados
em detalhe os vários tipos de sincronização estabelecidos.
Contextualização da Ferramenta
Existem duas formas possíveis para estabelecer a sincronização numa cadeia de
abastecimento do tipo pull, o abastecimento contínuo (ou ciclo logístico kanban) e o
abastecimento sequencial (ou ciclo logístico junjo). A decisão entre o kanban e o junjo tem
que ser baseada num compromisso entre a simplicidade do processo de abastecimento, a
eficiência dos trabalhadores e a quantidade de stock (Coimbra 2009).
Antes de se apresentar cada um dos tipos possíveis de sincronização é importante fazer
referência ao conceito mizusumashi. O mizusumashi é o operador que surge como figura
responsável por estabelecer fisicamente a sincronização entre os vários elementos da cadeia
de abastecimento. Este é responsável por abastecer componentes no local de uso e retirar
produto acabado, além de transportar toda a informação e ordens de produção. O seu trabalho
é realizado de forma normalizada e com um tempo de ciclo associado. Desta forma o
mizusumashi deverá chegar a cada uma das suas paragens dentro do tempo previsto (segundo
o tempo de ciclo normalizado). A sua implementação tem como objetivo a eliminação de
viagens em vazio (diminuição de muda) e para isso é necessário fornecer-lhe capacidade de
carga que pode ser alcançada através da utilização de carros adaptados. A sua movimentação
é normalmente realizada através de um trem logístico (Nomura & Takakuwa 2006).
No ciclo logístico kanban o material está sempre disponível no ponto de uso, existindo um
ciclo contínuo de reabastecimento logístico. A procura e o abastecimento estão sincronizados
Figura 41 – Gestão visual no Supermercado de Peças Pintadas Junjo.
Pull Flow na Indústria Automóvel
34
através do sistema kanban. Um kanban (que significa “cartão”) representa uma ordem de
reposição de material de um cliente para um fornecedor e deverá conter como informação
básica a identificação do material, a identificação do cliente, a identificação do fornecedor e a
identificação da quantidade a ser reabastecida. Num sistema kanban, quando o stock de um
componente num supermercado atinge determinado nível, existe uma ordem de
reabastecimento de material para o processo a montante (movimentação do kanban). O nível
de reaprovisionamento deve estar dimensionado para que o supermercado não entre em rutura
durante o tempo de reabastecimento. Além disto, deve ser adicionado um stock de segurança
para fazer face à variabilidade da procura e do próprio tempo de reabastecimento (figura 42).
A necessidade de fornecer produtos de forma
sequenciada a um processo cliente necessita de uma
outra forma de sincronização – ciclo logístico junjo. O
ideal seria ter todas as peças (geridas pelo sistema
kanban) no bordo de linha junto aos operadores de forma
a facilitar a gestão do reabastecimento. No entanto,
manter todas as referências no bordo de linha implica a
utilização de muito espaço e por isso menor ergonomia
para os operadores e muda de movimento. Para contornar
esta utilização é normalmente utilizado um espaço no bordo de linha para o fornecimento
sequenciado de peças. Normalmente as referências que são alocadas a este tipo de
sincronização são aquelas que têm menor rotação ou aquelas que ocupam mais espaço. A
palavra junjo significa sequência. Através deste sistema
de sincronização é estabelecida uma sequência para o
abastecimento destes componentes ao bordo de linha de
acordo com o plano de produção (figura 43).
No abastecimento de componentes sob a forma sequenciada são usualmente entregues
componentes ao bordo de linha sob a forma de kit junjo. Nesta situação o mizusumashi
prepara um kit de componentes a serem incluídos no produto principal. O kit terá todos os
componentes necessários aos operadores em cada posto de trabalho da linha e será entregue
de acordo com a sequência do produto principal. Esta preparação de kits de abastecimento
sequenciado minimizará o muda de movimento do operador (Coimbra 2009).
Ações Desenvolvidas
Este subprojeto pretende apresentar e resumir os meios utilizados para a sincronização da
cadeia de abastecimento implementada na empresa. Para a gestão da interligação entre os elos
da cadeia de abastecimento foram utilizadas a sincronização kanban e a sincronização junjo.
De seguida será explicada a implementação de um cada um destes dois tipos de sincronização
Figura 42 - Ciclo de abastecimento logístico contínuo.
Figura 43 - Abastecimento sequenciado;
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
35
apresentando quais os elementos da cadeia de abastecimento abrangidos por cada tipo de
sincronização bem como a forma como esta foi desenhada.
Sincronização Kanban
Em primeiro lugar apresenta-se as várias ligações implementadas na cadeia de abastecimento
através da sincronização kanban.
Sincronização entre o Supemercado de Soldadura e a Máquina de Corte
Para a implementação desta sincronização foi utilizado o sistema “contentor cheio, contentor
vazio” de forma a que o consumo no supermercado estabelecesse ordens de reposição á
máquina de corte a laser. Foram definidos dois contentores para cada referência com uma
quantidade que permitisse satisfazer a qualquer instante a procura dos postos de soldadura.
Esta quantidade foi dimensionada para evitar falta de material durante o ciclo de
reabastecimento que engloba os processos produtivos de corte e quinagem.
Para o dimensionamento dos contentores kanban considera-se que cada uma das operações de
fabrico (corte, quinagem e soldadura) tem um lead-time igual a 5 dias. O pressuposto para o
tempo de ciclo de revisão do mizusumashi é de 1 dia (tempo de ciclo considerado para
garantir o cumprimento de todas as tarefas necessárias ao funcionamento do sistema de
logística interna). Desta forma os contentores foram dimensionados de forma a que cada um
contivesse pelo menos a quantidade relativa ao consumo durante o ciclo de
reaprovisionamento. Após esse cálculo a quantidade de cada referência é adaptada à dimensão
normalizada do contentor. Para o cálculo da procura de cada componente no Supermercado de
Soldadura, a procura da área de soldadura, que é de 1 chassis por semana (lead-time de 5
dias), terá ser multiplicada pela quantidade de peças dessa referência que o chassis utiliza. O
tempo de reposição depende das operações de fabrico a montante que essa referência terá que
sofrer (5 dias no caso do corte e 10 dias no caso do corte mais a quinagem). Tome-se como
exemplo uma referência que fornece duas peças à soldadura para o fabrico de um chassis e
que tem que ser cortada e quinada antes de fornecida ao Supermercado de Soldadura. A
quantidade mínima do contentor terá que igualar a procura durante o ciclo de
reabastecimento. Portanto com um tempo de reposição de 11 dias (ciclo de recolha do
mizusumashi igual a 1 dia, mais a operação de corte igual a 5 dias mais a operação de
quinagem igual a 5 dias) e uma procura de 2 peças por semana (1 chassis por semana a
multiplicar por duas peças), o consumo durante o ciclo de reabastecimento (11 dias) é igual a
4,4 peças. A quantidade mínima de cada contentor teria que ser então igual a 5 peças.
Quando os contentores kanban ficam vazios são colocados numa zona de contentores vazios
para posteriormente serem transportados para o sequenciador da máquina de corte a laser e
ordenarem a reposição de material (figura 44). Quando as peças são fabricadas, são colocadas
dentro dos contentores e este é reposto no devido local no Supermercado de Soldadura (local
identificado pela etiqueta no contentor e a pela etiqueta no supermercado).
Figura 44 – Pormenor do local no Supermercado Soldadura para contentores vazios a
transportar para a máquina de corte a laser.
Pull Flow na Indústria Automóvel
36
Sincronização entre o Supemercado de Soldadura e Armazém de Componentes
Externos de Pequena Dimensão
Para a implementação desta sincronização também foi utilizado o sistema “contentor cheio,
contentor vazio” de forma a que o consumo de componentes externos no Supermercado de
Soldadura ordenasse reposição ao armazém de componentes externos de pequena dimensão.
Foram definidos dois contentores para cada referência (mínimo para garantir disponibilidade
de material a qualquer momento), cada um com quantidade mínima de peças que permitisse
satisfazer a procura dos postos de soldadura (igual a 1 chassis por semana). O ciclo de
reabastecimento corresponde a dois ciclos de mizusumashi, ciclo de recolha mais ciclo de
reposição e é igual a 2 dias (ciclo de mizusumashi igual a 1 dia). Depois de calculada a
quantidade mínima de cada contentor essa quantidade foi adaptada à sua dimensão do
contentor. Tome-se como exemplo uma referência que fornece 8 peças à soldadura para o
fabrico de um chassis. A quantidade mínima do contentor terá que igualar a procura durante o
ciclo de reabastecimento, portanto com tempo de reposição de 2 dias (2 ciclos de
mizusumashi) e uma procura de 8 peças por semana (1 chassis por semana a multiplicar por
duas peças) o consumo durante o ciclo de reabastecimento (2 dias) é igual a 3,2 peças. A
quantidade mínima de cada contentor teria que ser então igual a 4 peças. Quando os
contentores kanban ficam vazios são colocados numa zona de contentores vazios para
posteriormente serem transportados para o armazém de componentes externos de pequena
dimensão e ordenarem a reposição de material a partir da localização no armazém
especificada na etiqueta do contentor (figura 45). Posteriormente, aquando da execução do
seu ciclo normalizado de trabalho, o mizusumashi entrega o contentor no devido local, de
acordo com a localização no supermercado indicada na etiqueta do contentor (figura 46).
Na reposição de componentes externos ao Supermercado de Soldadura existe um caso
particular de duas referências de peças que, uma vez que têm um enorme peso, em vez de
ordenarem reposição ao armazém e este posteriormente ter que se abastecer das peças, ordena
diretamente reposição ao departamento de compras. Quando as peças chegam são diretamente
entregues no Supermercado Soldadura. Neste caso as referências fornecem duas peças a cada
chassis, têm duas semanas de lead-time de transporte e um lote mínimo de encomenda de
quatro unidades. Considerando o fabrico de 1 chassis por semana, durante o tempo de
reposição de duas semanas são utilizadas 4 peças. Desta forma, através de uma caixa de
construção de lote, foi definido que quando se consumirem 4 peças terá que ser dada uma
ordem de encomenda de 4 peças, sendo definido um stock de inicial de 8 peças. Este sistema
Figura 45 - Local no Supermercado de Soldadura
para contentores vazios a transportar para o armazém
de componentes externos de pequena dimensão.
Figura 46 – Exemplo de etiqueta de contentor kanban;
contém informação do cliente e do fornecedor, da
quantidade a abastecer e da localização da peça quer no
armazém quer no supermercado.
Pull Flow na Indústria Automóvel
37
funciona como se do sistema “contentor cheio contentor vazio” se tratasse, sendo que neste
caso cada “contentor” contém 4 peças e o “contentor fica vazio” quando a caixa de construção
de lote fica completa com 4 peças (ver a norma de utilização no anexo P).
Sincronização entre o Supermercado de Peças Pintadas Kanban e o Bordo de Linha
Para a implementação da sincronização kanban entre estes dois elementos da cadeia de
abastecimento foi utilizado o sistema kanban “contentor cheio, contentor vazio”, onde o
consumo no bordo de linha faz com que sejam emitidas ordens de reposição ao Supermercado
de Peças Pintadas Kanban. Foram definidos dois contentores para cada referência com
quantidade que permita satisfazer a procura a qualquer instante. Para o dimensionamento dos
contentores do Supermercado de Peças Pintadas Kanban foi assumido uma procura de 5
chassis/semana que corresponde ao caso de maior cadência de montagem. Este pressuposto
garantirá o correto dimensionamento dos contentores tendo em conta os projetos futuros que
se avizinham. O tempo de ciclo de mizusumashi considerado é de 1 dia (todos os dias o
mizusumashi passa pelo bordo de linha ora para recolher contentores vazios ora para entregar
contentores cheios). Para evitar a falta de material durante o ciclo de reabastecimento, cada
contentor foi dimensionado de forma a conter a quantidade mínima equivalente ao consumo
de peças durante o tempo de reposição. Neste caso o tempo de reposição é igual a 2 dias (2
ciclos de mizusumashi) e o consumo nesses dois dias é igual à quantidade de peças utilizadas
por chassis a multiplicar por 2 (consumo durante os 2 dias). Na figura 47 apresenta-se um
exemplo da lista de componentes presentes neste supermercado e o seu dimensionamento no
bordo de linha.
No bordo de linha existe uma zona em cada estante onde os operadores da linha colocam os
contentores vazios. Num ciclo o mizusumashi recolhe os contentores e, no ciclo seguinte, de
acordo com a informação presente na etiqueta do contentor kanban (posto, código, quantidade
e localização no supermercado), abastece o contentor e entrega-o no local respetivo.
Sincronização entre o Armazém de Componentes Externos de Pequena Dimensão e o
Bordo de linha
A sincronização de componentes externos pequenos com o bordo de linha é feita de duas
formas. A primeira, a mais usual, utiliza o sistema kanban “contentor cheio, contentor vazio”
já explicado na sincronização entre outros elementos da cadeia de abastecimento, sendo
dimensionado da mesma forma garantindo a satisfação do consumo durante o tempo de
reposição (igual a 2 dias, 2 ciclos de mizusumashi). A outra diz respeito a um sistema kanban
através de ímanes para o caso de peças grandes que não cabem em contentores. Este consiste
na colocação de etiquetas magnéticas nos componentes metálicos (figura 48) e na criação de
uma zona para colocação de etiquetas magnéticas correspondentes a peças que foram
utilizadas na montagem do chassis (figura 49). Quando o mizusumashi vê essas etiquetas no
Figura 47 – Exemplo de dimensionamento das peças produzidas internamente com
sincronização kanban presentes no bordo de linha.
Pull Flow na Indústria Automóvel
38
seu ciclo de trabalho transporta-as para o armazém de componentes externos de pequena
dimensão para posteriormente ser feita a sua reposição. Cada etiqueta contém a informação do
código do material, da quantidade a abastecer e da sua localização no armazém.
Sincronização entre o Supermercado de Peças Pintadas Kanban e a Metalomecânica
A sincronização do Supermercado de Peças Pintadas Kanban (relembrando, contém
componentes pequenos produzidos internamente) com a metalomecânica é feita através do
sistema “contentor cheio, contentor vazio”. Consoante o processo produtivo da referência de
material em causa, o dimensionamento do contentor e o processo de sincronização são
realizados de forma diferente. Para o dimensionamento dos contentores foi considerada uma
procura de 5 chassis por semana (1 chassis por dia) e o tempo de reposição para cada
referência foi considerado de acordo com o seu processo produtivo. Esse tempo de reposição
engloba o ciclo do mizusumashi (um dia para recolha do contentor), o lead-time da pintura
igual a 5 dias e o lead-time de cada operação de fabrico (5 dias para o corte, mais 5 dias para a
quinagem, mais 5 dias para a soldadura). Exemplificando, no caso de uma referência (fornece
apenas uma unidade por chassis produzido) que tenha englobado no seu processo produtivo
cada umas três operações de fabrico, somando o lead-time da pintura mais o tempo de ciclo
do mizusumashi (1 dia), o tempo total de reposição é igual a 21 dias. Deste modo esse
contentor foi dimensionado com uma quantidade mínima que satisfaz o consumo durante o
tempo de reposição. Neste caso teria que ter uma quantidade mínima de 21 unidades (1
peça/dia a multiplicar por 21 dias de tempo de reposição). Na figura 50 mostra-se como
exemplo parte da lista realizada para identificação e dimensionamento dos componentes
presentes no Supermercado Peças Pintadas Kanban.
Figura 48 – Bordo de linha contendo peças
com sincronização kanban através de ímanes.
Figura 49 – Zona no bordo de linha para colocação de
etiquetas kanban de componentes já utilizados.
Figura 50 – Exemplo da lista de componentes presentes no supermercado de peças pintadas com sincronização
kanban.
Pull Flow na Indústria Automóvel
39
No caso dos componentes que têm englobado no seu processo produtivo a soldadura, os
contentores que ficam vazios são enviados para a zona da caixa de nivelamento de soldadura e
no caso dos componentes que só sofrem as operações de corte ou corte e quinagem os
contentores são enviados para o sequenciador da máquina de corte. Para isso em cada
contentor foi colocado um “roteiro” que especifica quais as operações que esse material é
sujeito no seu fabrico e foi criada uma zona para colocação de contentores vazios dividida em
duas partes (figura 51). Assim quando fica vazio o contentor é colocado na zona de
contentores vazios a transportar para a soldadura ou na zona de contentores vazios a
transportar para a máquina de corte consoante o seu roteiro (figura 52).
Sincronização Junjo
A sincronização Junjo é utilizada na empresa para estabelecer a sincronização ora entre o
Supermercado de Peças Pintadas Junjo e o bordo de linha ora entre o armazém de
componentes externos de grande dimensão e o bordo de linha. As peças em causa, quer as do
supermercado de peças pintadas quer as do armazém, têm grande dimensão e por isso não é
possível mantê-las a todas permanentemente no bordo de linha. Isto porque ocupariam um
enorme espaço e implicariam menor ergonomia e maior desperdício de movimento para os
operadores da linha. Como já introduzido no subprojeto “Bordo de linha” foi definido um
método de abastecimento sequenciado para este tipo de peças que consiste no abastecimento
do bordo de linha com os componentes de cada uma das referências de chassis produzidas
(2500 e 3000) de acordo com a produção planeada. Este método de abastecimento
sequenciado retira a necessidade de se ter todas as peças no bordo de linha, abastecendo a
cada momento apenas os componentes necessários. De forma a minimizar o muda de
movimento do operador foram idealizados kits de abastecimento junjo que agrupam um
conjunto de componentes a serem entregues em cada um dos postos de trabalho de acordo
com a sequência do produto principal. Para ser possível realizar este abastecimento
sequenciado de kits de componentes foram desenhados carros de abastecimento que
permitissem acomodar o conjunto de componentes pretendido e garantissem boa ergonomia
aoa operadores da linha. Para implementar esta sincronização foram criadas listas de
componentes a entregar em cada um dos trolleys de abastecimento (kits), para que o
mizusumashi, aquando da realização do seu ciclo de trabalho normalizado, possa entregar
cada um dos kits aos postos de acordo com a sequência do produto principal. Este terá que
recolher e colocar nos trolleys cada um dos componentes indicados e abastecê-lo à linha no
local devidamente identificado para esse kit. Cada trolley contém um conjunto de etiquetas a
indicar o local onde cada um dos componentes deve ser colocado. Mostra-se no anexo Q um
exemplo de um kit de abastecimento com a listagem dos componentes a incluir no trolley
mais as fotografias que indicam a forma como as colocar.
Figura 51 - Área no Supermercado de Peças Pintadas
Kanban para colocação de contentores vazios a enviar para
a metalomecânica consoante o seu roteiro.
Figura 52 – Pormenor da colocação do roteiro
na parte de trás dos contentores do
supermercado de Peças Pintadas Kanban.
Pull Flow na Indústria Automóvel
40
4.1.3.3 Nivelamento
Este subprojeto foi implementado na área da metalomecânica e teve como objetivo a
introdução de algumas ferramentas de nivelamento, nomeadamente a passagem de ordens de
produção para kanban, a caixa de nivelamento e o sequenciador.
Contextualização da Ferramenta
O nivelamento permite reduzir o efeito de amplificação da procura e suavizar a carga de
trabalho. Esta ferramenta permite nivelar a variabilidade na procura enviando diariamente
para a produção um valor fixo de produtos. Esta ferramenta atua de acordo com a procura
real, sendo que as encomendas dos clientes e as ordens de reabastecimento são transformadas
em kanbans para posteriormente poder ser realizado o nivelamento da produção. Os principais
elementos que constituem o nivelamento são a passagem de ordens de produção para kanban,
a caixa logística, a caixa de nivelamento e o sequenciador na produção. O primeiro elemento
traduz-se pela transformação de cada ordem de produção em kanbans. A caixa logística
permite nivelar a quantidade de ordens diárias enviadas para a produção de acordo com a
capacidade disponível. Esta caixa é um dispositivo físico que permite a colocação de kanbans
de acordo com o dia de início de produção, sendo que cada coluna corresponde a um dia. A
caixa de nivelamento também é um dispositivo físico onde o tempo em cada coluna é igual ao
ciclo standard completo do mizusumashi. Esta respeita a capacidade de cada linha ou posto de
trabalho. O sequenciador, junto à área de produção ou montagem, dita os kanbans a serem
produzidos, assegurando o sistema FIFO e mostrando o atraso ou avanço da produção. No
caso do tempo de setup não ser zero é normalmente utilizada uma caixa de construção de lote
para cada referência, para lá serem colocados os kanbans antes de entrarem no sequenciador
(Coimbra 2009). Na figura 53 mostra-se como exemplo duas destas ferramentas de
nivelamento, nomeadamente a caixa de nivelamento e o sequenciador de produção.
Ações Desenvolvidas
Neste subprojeto foram utilizadas uma caixa de nivelamento na área de soldadura (com
passagem de ordens para kanbans) e um sequenciador de produção na máquina de corte.
Caixa de Nivelamento
A caixa de nivelamento da soldadura (figura 54) foi utilizada para garantir as ordens de
produção em função da procura real, nivelando a carga de trabalho entre os vários postos de
soldadura. Para o fabrico de um chassis completo é necessária a operação de soldadura em
vários subconjuntos de peças. Alguns destes subconjuntos são realizados em função de ordens
de reabastecimento do Supermercado de Peças Pintadas Kanban e outros em função das
ordens do planeamento logístico, de acordo com as encomendas dos clientes (MTO). Foi
definido que cada um deste tipo de ordens, quer de reabastecimento quer de encomenda, desse
Figura 53 – Ferramentas de nivelamento (caixa de nivelamento à esquerda e
sequenciador da produção à direita).
Pull Flow na Indústria Automóvel
41
origem a um kanban de produção (kanban de
soldadura). Assim, foi desenhada uma caixa de
nivelamento, contendo espaço de planeamento para
dois turnos de 8 horas em cada um dos 5 postos de
soldadura, para colocação dos kanbans de soldadura
(kanban soldadura = subconjunto) a serem
transportados para cada um dos postos de soldadura.
Cada um dos kanbans de soldadura tem impresso a
lista de componentes a soldar em cada um dos
subconjuntos de forma a que, antes do kanban de
soldadura chegar a cada um dos postos, seja
realizado o seu picking no Supermercado de
Soldadura. Os contentores vazios provenientes do
Supermercado de Peças Pintadas Kanban são
colocados junto à caixa de nivelamento e o planeador quando faz o planeamento dos dois
turnos, aloca os kanbans de soldadura à caixa de nivelamento de acordo com as ordens de
produção existentes no momento (kanbans de soldadura de encomendas e de ordens de
reabastecimento). No anexo R mostra-se uma norma que permite gerir a operação de
soldadura desde a colocação do kanban de soldadura na caixa de nivelamento até à sua
conclusão.
Sequenciador de Produção
O sequenciador de produção foi aplicado para
sequenciar a produção na máquina de corte. Através da
sincronização kanban implementada na empresa,
chegam à máquina de corte ordens de reposição quer do
Supermercado Soldadura quer do Supermercado de
Peças Pintadas Kanban. Desta forma foi colocado um
sequenciador para gerir estes kanbans antes de serem
fabricados. O sequenciador foi desenhado com várias
divisões, cada uma delas referente a um dia da semana,
para que os kanbans sejam colocados no sequenciador de
acordo com o dia da semana em que lá foram colocados (figura 55). Assim, quando se dá o
início à operação de corte, começa-se por produzir os componentes que chegaram primeiro ao
sequenciador. Este processo permite garantir o sequenciamento na produção da máquina de
corte a laser.
4.1.4 Estabilidade Básica
Nesta secção (devido á sua dimensão) não se faz divisão entre a apresentação da ferramenta e
a apresentação das ações desenvolvidas. Este elemento da metodologia TFM pretende garantir
que as condições mínimas de trabalho estejam reunidas. Para isso são normalmente utilizadas,
para além da ferramenta 5S (apresentada na secção Kaizen Diário), a normalização dos
procedimentos e a gestão visual. Ao longo da implementação do projeto foi tida em conta a
utilização de ferramentas de estabilidade básica para suportar as melhorias realizadas, sendo
aplicado nos vários elementos da cadeia de abastecimento vários exemplos de gestão visual e
normalização. No caso da gestão visual, além dos exemplos referidos aquando da explicação
dos outros subprojetos, destacam-se a utilização de diferentes cores para cada contentor
kanban presente no bordo de linha de forma a indicar o posto a que teria que ser abastecido
Figura 54 – Caixa de nivelamento da
soldadura.
Figura 55 – Colocação de contentor no
sequenciador da máquina de corte.
Pull Flow na Indústria Automóvel
42
(anexo S), a criação de zonas visuais para colocação de contentores kanban vazios e a criação
de locais visuais para colocação dos materiais a serem pintados. No caso da normalização,
além dos exemplos referidos aquando da explicação dos outros subprojetos (anexos P e R),
destaca-se a criação de uma norma para sincronização dos contentores kanban entre os vários
elementos da cadeia de abastecimento e a criação de norma para sincronização da área de
expedição para a pintura com o Supermercado de Peças Pintadas Kanban. Para
exemplificação da utilização destas ferramentas mostra-se a gestão visual (figura 56) e a
normalização (figura 57) aplicadas na sincronização entre a área de expedição para a pintura e
o Supermercado de Peças Pintadas Kanban.
4.2 Kaizen Diário
Como forma de acompanhar e suportar o projeto de implementação da linha de montagem e
do pull flow na cadeia de abastecimento foi utilizada a metodologia Kaizen Diário. A sua
utilização tem como objetivo acompanhar e gerir a mudança e é aplicada junto das equipas
naturais (equipa que engloba os elementos de uma dada área da empresa). A palavra “diário”
nesta metodologia deve ser encarada como “frequente” (“Kaizen frequente”), uma vez que
esta metodologia promove o acompanhamento dos processos e a sua melhoria de forma
constante. Enquanto que o Kaizen Projeto (que, relembrando, engloba projetos de melhoria do
fluxo TFM, melhoria da qualidade TQM, etc) é responsável pela inovação e pelo
desenvolvimento dos processos, o Kaizen Diário é responsável pela normalização dos
Figura 56 – Gestão visual aplicada na sincronização entre a área de expedição para a pintura
e o supermercado de peças Pintadas kanban.
Figura 57 – Norma para a explicação do procedimento a tomar na sincronização dos
contentores kanban entre a área de expedição e o supermercado de peças pintadas kanban.
Pull Flow na Indústria Automóvel
43
processos e pelo desenvolvimento das pessoas. Neste conceito de equipa natural, o líder de
cada equipa natural é o líder natural dentro de cada área da organização.
Esta metodologia está dividida em quatro níveis, no entanto neste projeto apenas foi
implementado o nível 1, que diz respeito à organização da equipa de trabalho. O nível 1
representa a base da implementação da metodologia Kaizen Diário. É através deste nível que
se inicia a sensibilização dos elementos da empresa para a importância da prática de ações de
melhoria com base diária e se enraiza neles uma mudança de comportamentos que vise o
acompanhamento constante do seu desempenho e a prática de ações que permitam melhorar
continuamente a empresa. Esta mudança de comportamentos permite suportar, por um lado,
as ações realizadas no Kaizen Projeto e, por outro, o desenvolvimento da cultura da empresa
suportada pela filosofia de melhoria contínua. O nível 1 da metodologia Kaizen Diário
engloba a sensibilização para o desperdício e objetivos da equipa, a criação de reuniões e
quadros de equipa e a prática de ações 5S. A sensibilização para as atividades que
representam desperdício foi feita através de uma formação em sala e consistiu em identificar
os vários tipos de desperdício presentes na empresa considerando o modelo dos 7 Muda. De
seguida, para as ferramentas Reuniões e Quadros de Equipa e Prática de Ações 5S faz-se uma
contextualização da sua contribuição para o sucesso da metodologia Kaizen Diário e
apresentam-se as ações desenvolvidas durante a implementação do projeto.
4.2.1 Reuniões e Quadros de Equipa
Contextualização da Ferramenta
O primeiro passo na execução da metodologia Kaizen Diário é a definição dos elementos (e
do líder) pertencentes a cada equipa natural. Se for pretendido implementar a metodologia
Kaizen Diário ao nível das equipas que trabalham diariamente no gemba as equipas terão que
ser divididas, por exemplo, de acordo com a área ou processo produtivo em que se inserem.
Depois de definidas as equipas naturais, os passos seguintes dizem respeito à criação de
quadros para a comunicação visual da equipa e do estabelecimento de reuniões que permitam,
por um lado, o acompanhamento e discussão da informação presente nos quadros e, por outro
lado, a definição de ações de melhoria dentro da equipa natural.
A informação presente num quadro de equipa pode ser variada, devendo ser adaptada às
necessidades de cada equipa e de cada empresa; no entanto, existe um conjunto de elementos
que são comummente utilizados na criação dos quadros: apresentação da equipa, indicadores
de objetivos (estabelecimentos de metas para a equipa), qualificações, responsabilidades,
auditoria (5S ou outras), plano de ação (planeamento de ações de melhoria) e plano de treino.
Além destes elementos poderão ser incluidos outros que representem informação útil para a
visualização e melhoria do desempenho da equipa.
As reuniões deverão ser frequentes, e a sua periodidade poderá ser igual à mudança de turno,
diária, semanal ou até mensal. Sendo que no caso da implementação do Kaizen Diário junto
das pessoas que trabalham diariamente no gemba esta periodicidade deverá ser pelo menos
semanal. Esta periodicidade deverá ser determinada e cumprida por toda a equipa. As
reuniões deverão ter curta duração e uma agenda definida antecipadamente de modo a serem
abordados os tópicos mais importantes sem que as pessoas se dispersem. A agenda e a data da
próxima reunião deverão estar junto ou nos próprios quadros de equipa
Ações Desenvolvidas
Para a implementação das reuniões e quadros de equipa o primeiro passo foi a definição das
equipas naturais. De acordo com a organização da empresa foram criadas 3 equipas:
Pull Flow na Indústria Automóvel
44
Equipa Linha de Montagem: contém 7 elementos, o supervisor da linha de
montagem (líder natural) mais os 6 operadores da linha de montagem;
Equipa Logística & Compras: contém 8 elementos, o diretor logístico (líder natural),
a diretora das compras e mais 6 elementos, 1 do departamento de compras e outros 5
do departamento logístico;
Equipa Metalomecânica: contém 11 elementos, o diretor da metalomecânica (líder
natural), mais 10 elementos das várias áreas de fabrico (Corte, Quinagem e
Soldadura).
Juntamente com o líder natural e os principais elementos de cada uma das equipas, foi
definida a informação a colocar em cada um dos quadros. Alguns elementos presentes nos
quadros são comuns às várias equipas e outros apenas dizem respeito à organização específica
da equipa natural. Assim para cada umas equipas foram estabelecidos os seguintes elementos:
Equipa Linha de Montagem: Apresentação da Equipa (fotografia de cada um dos
elementos); Plano de produção (montagem); Indicadores – número de horas de trabalho de
montagem por chassis; Registo de ocorrências – defeitos de qualidade de peças abastecidas ou
outras; Matriz de Competências; Auditoria 5S e Plano de Ação PDCA.
Equipa Logística & Compras: Apresentação da Equipa (fotografia de cada um dos
elementos); Mapa de Faltas de Armazém; Indicadores – ruturas de stock, faltas de
abastecimento à linha, atraso de encomendas/fornecedores; Registo de ocorrências – faltas de
abastecimento à linha e peças em rutura de stock; Matriz de Competências; Auditoria 5S e
Plano de Ação PDCA.
Equipa Metalomecânica: Apresentação da Equipa (fotografia de cada um dos elementos);
Plano de produção (fabrico); Indicadores – OEE da máquina de corte a laser e defeitos de
qualidade produzidos na quinagem e na soldadura; Registo de ocorrências – defeitos de
qualidade nas peças produzidas; Matriz de Competências; Auditoria 5S e Plano de Ação
PDCA.
Posteriormente, após definida a informação a incluir em cada um dos quadros, foi necessário,
tendo em conta a gestão visual, conceber cada um dos quadros através da criação dos
respetivos documentos e das etiquetas de identificação de cada elemento do quadro. De referir
que cada um dos documentos criados representou uma melhoria na capacidade de
acompanhamento do desempenho das equipas naturais e na análise dos fatores que com elas
interagem. Destaca-se, como exemplo, a criação de um documento na equipa Logística &
Compras que permite o acompanhamento das encomendas de material efetuadas a
fornecedores. Neste documento regista-se a informação relativa ao material a encomendar
(referência, quantidade, fornecedor, etc), a data prevista de entrega e a data de reçeção.
Através destes dados é possível acompanhar a execução das encomendas tomando acções
preventivas/corretivas quando necessário, perceber quais as encomendas em atraso, qual o
planeamento das encomendas a receber e, por fim, fazer uma análise do desempenho dos
fornecedores através da análise de atrasos (anexo T).
De seguida, tomando como exemplo a equipa da linha de montagem, será explicada a
finalidade de cada elemento presente no quadro. A apresentação da equipa permite a
identificação de cada um dos elementos a participar nas reuniões da equipa natural; o plano de
produção permite o balanceamento e nivelamento das tarefas na linha de montagem; o gráfico
do número de horas de trabalho por chassis permite impor objetivos e avaliar o desempenho
da equipa; o registo de ocorrências permite detetar paragens na linha de montagem devido a
fatores externos; a matriz de competências permite aferir as capacidades de cada operador da
Pull Flow na Indústria Automóvel
45
linha de montagem aquando do balanceamento das tarefas na linha de montagem; a auditoria
5S permite aferir e comunicar à empresa a organização básica dos postos de trabalho da
equipa; por fim o plano de ação PDCA permite à equipa planear ações de melhoria sugeridas
pelos seus elementos e acompanhar a sua execução até estas ações estarem completas. No
anexo U pode ver-se o exemplo do quadro da equipa da Logística & Compras contendo cada
um dos elementos definidos para o seu quadro.
Após os quadros estarem construídos deu-se início ao lançamento das reuniões dentro das
equipas naturais. Foi definida uma periodicidade semanal para as reuniões, uma duração de 15
minutos e definido o dia da semana para cada equipa realizar a sua reunião. No anexo V pode
ver-se a norma para a agenda das reuniões e no anexo X uma fotografia de uma das reuniões
da equipa da Linha de Montagem. Depois dos quadros de equipa criados e das reuniões
lançadas, foram melhorados os suportes físicos dos quadros de equipa de forma a tornar os
quadros mais vísiveis para o resto da empresa. No anexo Y pode ver-se o layout da zona de
Kaizen Diário com os novos quadros de equipa.
4.2.2 Prática do 5S
Contextualização da Ferramenta
A ferramenta 5S tem como objetivo a organização e a estabilidade básica do posto de
trabalho. Esta tem como objectivo final a melhoria das condições de trabalho bem como a
eliminação do desperdício. Esta metodologia divide-se em 5 passos: triagem, arrumação, limpeza,
normalização e disciplina (Hirano 1990). A triagem tem como objetivo retirar o material
desnecessário do posto de trabalho, a arrumação pretende arrumar todo o material necessário em
locais apropriados, a limpeza mantém o posto de trabalho nas condições de limpeza apropriadas, a
normalização permite a definição de regras, rotina e normas que permitam a manutenção dos
primeiros três elementos e a disciplina pretende incutir nos funcionários a responsabilidade de
manter e melhorar as normas existentes.
Ações Desenvolvidas
No âmbito da introdução do Kaizen Diário, numa primeira fase foram feitas auditorias 5S a
cada uma das equipas e colocados esses resultados nos quadros de cada uma delas. Esta
auditoria 5S pretende avaliar globalmente os postos de trabalho de cada uma das equipas
numa escala de 1 a 100, fazendo também uma divisão na atribuição de pontos a cada um dos
5S (ver formato da auditoria no anexo Z.1). Em função da auditoria, no âmbito das reuniões
de Kaizen Diário, foram definidas (no plano de ação PDCA) ações de melhoria para colmatar
os principais problemas identificados. Posteriormente, ao longo das reuniões de Kaizen diário
semanais, a execução dessas ações foi acompanhada e foram sugeridas novas ações de
melhoria 5S. Durante este percurso as equipas começaram por retirar os produtos
desnecessários aos seus postos de trabalho, definiram um local de arrumação para os
elementos necessários, mantiveram a preocupação pela limpeza do posto de trabalho e, por
fim, através da criação de etiquetas de identificação e da pintura no chão dos limites e nome
de cada elemento, foram definidas normas. Posteriormente foi feita mais uma auditoria 5S
para avaliar a evolução dos postos de trabalho de cada uma das equipas. No anexo Z.2
mostram-se alguns exemplos da situação antes e depois da implementação da ferramenta 5S
nos postos de soldadura.
Pull Flow na Indústria Automóvel
46
5. Resultados
Em função da implementação realizada em cada um dos subprojetos anteriormente referidos,
apresenta-se em seguida os principais resultados obtidos. Dividem-se os resultados
apresentados tendo em conta, por um lado, o principal objetivo do projeto que diz respeito à
implementação da linha de montagem e do pull flow na cadeia de abastecimento e, por outro
lado, a instauração de uma cultura vocacionada para a melhoria contínua.
No que diz respeito à implementação da linha de montagem e do pull flow, e tendo em conta
uma perspetiva quantitativa do trabalho realizado, surge como indicador principal o número
de horas de trabalho de montagem por chassis. Na figura 58 mostra-se a evolução deste
indicador ao longo do tempo.
Durante a situação entre a produção do chassis em células de montagem e a sua transição para
a implementação da linha de montagem, em 2011, o número médio de horas de trabalho por
chassis foi igual a 262. A partir de janeiro, com o lançamento e funcionamento da produção
de chassis com linha de montagem, observa-se uma tendência positiva na redução do número
de horas de trabalho por chassis, atingindo-se, em março de 2012, uma redução de
aproximadamente 35% em relação ao ano de 20111. Por detrás deste resultado quantitativo
surgem como principais responsáveis o balanceamento e a normalização das tarefas de
montagem, a existência de um bordo de linha que reduz o muda de movimento dos
operadores e a diminuição das faltas de material na linha de montagem. Esta diminuição foi
conseguida através da criação do sistema de logística interna que assegura a sincronização
entre a montagem e o fabrico de componentes e a independência da produção (montagem) em
relação à logística.
1 A partir de abril de 2012, devido a uma quebra de vendas decorrente da crise global em que a indústria
automóvel se encontra e à necessidade de realização de operações de retrabalho relacionadas com mudanças
nas características dos chassis efetuadas pela equipa de engenharia, foi decidido o cessamento da operação na
linha de montagem. Assim, apesar de ser expectável uma redução contínua no número de horas de trabalho por
chassis como resultado do desenvolvimento da implementação das ações de melhoria definidas para o projeto,
não foi possível continuar a acompanhar a evolução do indicador.
262
192 179 169
26,7% 31,7% 35,5%
0
50
100
150
200
250
300
2011 Janeiro Fevereiro Março
Ho
ras
Mês
Nº Horas de Trabalho por Chassis
Horas de trabalho
Variação acumulada (%)
Figura 58 - Evolução do número de horas de trabalho de montagem por chassis.
Pull Flow na Indústria Automóvel
47
Além destes resultados, deve também frisar-se o surgimento de outros resultados como a
melhoria da ergonomia, o nivelamento da carga de trabalho entre os operadores e a
diminuição da ocorrência de não conformidades por incumprimento da execução de tarefas de
montagem. Em primeiro lugar, a melhoria da ergonomia pode constatar-se nas operações de
montagem do chassis em função da existência de um bordo de linha com os componentes em
contentores junto ao operador, da utilização de trolleys contendo kits de componentes que
permitem a montagem à altura dos operadores e da facilidade de integração das pré-
montagens no conjunto principal. Em segundo lugar, a melhoria da ergonomia também é
visível na recolha e abastecimento de componentes entre os supermercados e o bordo de linha,
através da utilização de contentores pequenos. O nivelamento da carga de trabalho e a
diminuição da ocorrência de não conformidades na linha de montagem (devido a
incumprimento de tarefas) são resultado do trabalho de balanceamento e da atribuição de
responsabilidades na realização das tarefas de montagem. O nivelamento da carga de trabalho
dos operadores da soldadura resulta da utilização da caixa de nivelamento aplicada.
A avaliação da cultura de uma empresa é uma tarefa complexa. No entanto, de forma a se
aferir a evolução da empresa no caminho da instauração de uma cultura vocacionada para a
melhoria contínua, apresentam-se na figura 59 a evolução entre as auditorias 5S realizadas
(escala de 1 a 100), inicial e final, bem como o número de sugestões de melhoria propostas e
implementadas com sucesso pelos elementos de cada umas das equipas.
Apesar da introdução da metodologia Kaizen diário ainda ser recente na empresa, e da sua
total contribuição para a melhoria do desempenho da empresa não poder ser facilmente
medida, através da construção dos quadros de equipa e lançamentos das reuniões semanais foi
possível constatar uma melhoria na organização básica dos postos de trabalho, com um
aumento de cerca de 29% na situação final média dos postos de trabalho da empresa em
relação à situação média anterior ao lançamento da metodologia Kaizen Diário. Além disso,
detetou-se o despertar de interesse dos elementos das várias equipas na sugestão de ações de
melhoria que, com menor ou maior impacto, pudessem de alguma forma melhorar a
realização diária do seu trabalho. No total foram sugeridas e implementadas 39 ações de
melhoria.
Figura 59 – Evolução na implementação 5S (situação inicial e final) + Número de sugestões de melhoria.
52 56
44
67 68 61
12 11 18
0
20
40
60
80
100
Linha de Montagem Logística&Compras Metalomecânica
Ava
liaçã
o/N
º Su
gest
õe
s
Equipa
Evolução 5S / Sugestões de Melhoria
Auditoria 5S Inicial
Auditoria 5S Final
Nº Ações deMelhoria
Pull Flow na Indústria Automóvel
48
6. Conclusão
Em função do problema proposto, que diz respeito ao desenho e implementação de uma linha
de montagem e dos seus processos a montante, das soluções propostas e ações desenvolvidas
para o ultrapassar e dos principais resultados obtidos, resume-se nesta seção as principais
conclusões do trabalho realizado. Os principais problemas existentes na empresa antes da
implementação do projeto eram a ausência de um método de organização para a realização
das tarefas de montagem do chassis e, por outro lado, a inexistência de um sistema de
logística interna que permitisse o abastecimento sincronizado à linha de montagem e a sua
sincronização com o fabrico e compra externa de componentes. Estes dois fatores tinham
como principal resultado uma baixa produtividade que resultava num grande número de horas
de trabalho necessárias para a montagem de um chassis.
Com base no modelo de gestão do Kaizen Institute, Kaizen Management System, utilizando as
metodologias e ferramentas Kaizen Lean, foi possível implementar uma linha de montagem e
respetiva cadeia de abastecimento com base no conceito pull flow, assente nos princípios de
redução de desperdício Lean e na filosofia Kaizen que promove uma cultura orientada à
melhoria contínua. Para ultrapassar o problema proposto propôs-se a metodologia Total Flow
Management com ferramentas de criação de fluxo na produção (desenho de linha e layout,
bordo de linha e standard work), de criação de fluxo na logística interna (supermercados,
sincronização kanban/junjo e nivelamento), de estabilidade básica (gestão visual e
normalização) e a introdução de uma metodologia (Kaizen Diário) que permitisse gerir a
mudança, suportando a implementação deste projeto.
A utilização das ferramentas TFM, com o lançamento da utilização da linha de montagem de
chassis, tiveram como principal resultado obtido a redução do número de horas de trabalho de
montagem por chassis, com um descréscimo de 35% em março de 2012 em relação à média
de horas dispendidas no ano de 2011, onde ainda se estava numa situação de transição entre a
montagem de chassis numa célula de montagem com auxílio de cavaletes e o ínicio da
implementação de alguns elementos da metodologia TFM. Este resultado deve-se
principalmente ao trabalho de balanceamento e normalização das tarefas da linha de
montagem e à diminuição das faltas de material na linha de montagem, mas também ao
estabelecimento de um bordo de linha que promove a eliminação de muda de movimento dos
operadores da linha de montagem.
O balanceamento das tarefas na linha de montagem foi realizado para um tempo de takt de
19,38 horas, que corresponde á procura atual de 2 chassis por semana (subtraindo as pausas
diárias existentes) e através do trabalho implementado (listagem, sequenciamento e alocação
das tarefas aos operadores) foi possível atribuir a responsabilidade de realização de tarefas a
cada um dos operadores, sequenciando e nivelando a carga de trabalho global nas operações
de montagem e diminuindo a existência de não conformidades derivadas do incumprimento
de algumas tarefas de montagem. Na realização deste balanceamento é importante atentar na
complexidade existente devido à satisfação de várias restrições, nomeadamente o tempo de
takt exigido, a sequência entre tarefas de montagem, a existência de tarefas a realizar por um
operador específico (especializado) e a existência de tarefas de montagem a terem que ser
partilhadas por dois operadores. A diminuição das faltas de material na linha de montagem
resulta da implementação do sistema de logística interna. Este permite efetuar a sincronização
entre o consumo na linha de montagem e a produção na área de fabrico e estabeler a
independência da montagem face à logística. Para implementar esta independência e
Pull Flow na Indústria Automóvel
49
sincronização da linha de montagem em relação ao resto da cadeia de abastecimento
contribuiram decisivamente a criação de supermercados, a utilização de um sistema de
sincronização maioritariamente kanban, mas também junjo, e a criação do bordo de linha
junto da área de valor acrescentado dos operadores, todos eles suportados pela utilização
ferramentas de estabilidade básica eficazes, gestão visual e normalização dos procedimentos.
Além dos resultados acima referidos, surgem, ainda como resultado da implementação
efetuada, o nivelamento da carga de trabalho dos operadores da soldadura através da
utilização da caixa de nivelamento, o dimensionamento de componentes produzidos
internamente (através da utilização de contentores com quantidade normalizada tanto nos
supermercados como no bordo de linha), a normalização do fluxo de materias e informação,
suportada pelas ferramentas de estabilidade básica, e a melhoria da ergonomia. A melhoria da
ergonomia constata-se quer nas operações de montagem quer nas operações de movimentação
dos componentes que formam o chassis. No primeiro caso, a melhor ergonomia adquire-se
através da existência de um bordo de linha com os componentes em contentores junto à área
da valor acrescentado do operador, da utilização de trolleys (carros de abastecimento)
contendo kits de componentes que permitem a montagem à altura dos braços dos operadores e
da facilidade de integração das pré-montagens no conjunto principal. Os postos das pré-
montagens, segundo a ferramenta Desenho de Linha e Layout, foram desenhados de forma
adjacente à linha para que quando as pré-montagens estejam terminadas (eixo e powertrain)
possam já estar junto, e na direção do ponto de montagem, do chassis onde vão ser acopladas.
Outro dos resultados deste projeto, que não sendo quantitativo, através do seu contínuo
desenvolvimento, representará um dos principais ativos da empresa, foi o lançamento das
reuniões de Kaizen diário com a criação dos quadros de equipa e com a realização de ações de
melhoria relacionadas principalmente com a organização básica dos postos de trabalho (5S),
mas que também aludiram a outros temas. A criação dos quadros de equipa representou o
ponto de partida para a sensibilização dos elementos da empresa quanto à importância de se
estabelecerem equipas de trabalho (naturais) e dessa equipa natural ser responsável por
analisar e acompanhar constantemente o seu próprio desempenho, bem como ser responsável
por sugerir novas ações de melhoria. Por sua vez, a realização semanal das reuniões permitiu
dar forma a esses ideais e tornar real a sua implementação. Quanto aos resultados
quantitativos obtidos neste tema destaca-se a sugestão e implementação de 39 ações de
melhoria, associadas principalmente à implementação 5S, e a evolução positiva nas condições
básicas dos postos de trabalho, estimada, através de auditorias 5S, em cerca de 29%. Em
suma, todos estes avanços abrangidos pela metodologia Kaizen Diário permitiram dar passos
sucessivos no caminho para o trabalho autónomo das equipas naturais (objetivo máximo desta
metodologia), rumo à mudança cultural da empresa orientada para a melhoria contínua.
Como conclusão do trabalho realizado neste projeto, salienta-se o seu foco para a
implementação de processos baseados na filosofia de melhoria contínua e redução de
desperdício, e também a sua globalidade de temas de implementação. Esta abrangência é
importante uma vez que através da presente tese é possível identificar e perceber as várias
etapas necessárias à implementação de uma linha de montagem da indústria automóvel
(chassis de autocarros), à gestão da sua cadeia de abastecimento segundo o método pull e ao
estabelecimento de uma cultura na empresa capaz de acompanhar e normalizar as inovações
realizadas.
Pull Flow na Indústria Automóvel
50
7. Perspetivas de trabalho futuro
No entanto, apesar de através da implementação apresentada se ter dados grandes avanços
rumo à implementação de uma gestão da cadeia de abastecimento pull, além de, ao abrigo da
filosofia Kaizen, ser necessário melhorar continuamente os processos estabelecidos, existem
perspetivas de implementação de trabalhos futuros que poderão concluir a visão da cadeia de
abastecimento idealizada, melhorando ainda mais o desempenho da empresa.
O próximo tema a implementar no projeto deverá ser o mizusumashi. Apesar de na empresa
existir uma figura responsável pela movimentação de materiais e informação é necessário
assegurar a normalização do seu trabalho. De forma a eliminar o muda de movimento do
mizusumashi será necessário criar um folha de trabalho normalizado e definir o seu ciclo de
trabalho. Atualmente devido ao tempo de takt de produção de chassis permitir alguma folga
nas atividades de logística interna (e principalmente devido à quebra na procura) não se
prioritizou sua implementação do mizusumashi, dando-se prioridade aos sub-projetos
apresentados; no entanto, com uma cadência produtiva maior será necessário organizar de
forma adequada o trabalho do mizusumashi de modo a garantir atempadamente a execução
dos vários fluxos de material e informação desenhados na cadeia de abastecimento.
Outra perspetiva de trabalho futuro diz respeito ao desenvolvimento da ferramenta standard
work. No futuro, numa perspetiva de concretização de projetos em que a Caetano Components
está envolvida, perspetiva-se a necessidade de balanceamento das operações na linha de
montagem para novos tempos de takt. De acordo com o trabalho apresentado nesta tese, com
o balanceamento realizado para o tempo de takt de 19,38 horas, as bases necessárias à
realização do trabalho de balanceamento de tarefas na linha de montagem para outro output
produtivo já estão criadas. A listagem, medição e sequenciamento de tarefas realizados,
juntamente com a criação do ficheiro eletrónico baseado no conceito Gráfico Yamazumi e da
caixa metálica de balanceamento para comunicação da atribuição de tarefas, e apoiados pela
contratação de mais funcionários e pelo fornecimento da formação necessária, permitirão
adaptar o balanceamento para a cadência produtiva desejada. Ainda dentro do âmbito da
ferramenta standard work seria importante desenhar e melhorar os movimentos dos
operadores na linha de montagem para diminuir o muda de movimentos dos operadores e por
conseguinte diminuir o número de horas de trabalho de montagem por chassis. Esta
oportunidade de implementação poderia ser realizada nomeadamente através da utilização de
gráficos do tipo “spaghetti”.
A próxima perspetiva de trabalho futuro refere-se ao dimensionamento de stocks para
componentes comprados a empresas externas. De acordo com a ferramenta pull planning, será
importante criar um algoritmo de pull capaz de otimizar a gestão de stocks. O estudo do lead-
time e do lote mínimo de entrega de cada um dos componentes comprados externamente
permitirá, nos componentes abrangidos pelo conceito MTS, a definição de um nível de
reaprovisionamento capaz de estabelecer a partir de que quantidade se deverá dar a ordem de
reaprovisionamento. Prevê-se que este algoritmo pull tenha um impacto signficativo na
redução de stocks.
A última perspetiva de trabalho futuro apresentada refere-se ao desenvolvimento da
implementação da metodologia Kaizen Diário. Esta tem em vista o avanço das equipas
naturais para os próximo níveis considerados nesta metodologua que permitam alcançar a
meta da realização de trabalho de forma autónoma por parte das equipas.
Pull Flow na Indústria Automóvel
51
Referências
Acharya, TK 2011, ‘Material handling and process improvement using lean manufacturing
principles’, International Journal of Industrial Engineering Theory Applications and
Practice, vol.18, pp. 357-368.
Balle, M 2005, ‘Lean attitude - Lean application often fail to deliver the expected benefits but
could the missing link for successful implementations be attitude?’, Manufacturing Engineer,
vol. 84, pp. 14-19.
Bonney, MC, Zhang, Z, Head, MA, Tien, CC & Barson, RJ 1999, ‘Are push and pull systems
really so different?’, International Journal of Production Economics, vol. 59, 53-64.
Boyer, KK 1996, ‘An assessment of managerial commitment to lean production’,
International Journal of Operation & Production Management, vol. 16, no. 9, pp. 48-59.
Coimbra, E 2009, Total Flow Management: Achieving Excellence with Kaizen and Lean
Supply Chains, Kaizen Institute, Switzerland.
Damayanti, DD & Toha, IS 2011, ‘Model of spine configuration assembly line design for a
product family’, IEEE International Conference on Industrial Engineering and Engineering
Management, IEEM2011, December 6, 2011 - December 9, 2011, 2011 Singapore,
Singapore, IEEE Computer Society, pp 763-767.
Doolen, TL, Worley, J, Van Aken, EM, & Farris, J 2003, “Development of an Assessment
Approach for Kaizen Events”, Paper presented at the annual Institute of Industrial Engineers,
Industrial Engineering Research Conference, May, Portland, OR.
Hadas, L, & Pawlewski, P, 2011, ‘Using pull logic of flow simulation in the process of the
production planning system transformation’, 25th European Conference on Modelling and
Simulation, ECMS, June 7, 2011 - June 10, 2011, Krakow, Poland, European Council for
Modelling and Simulation, pp. 311-315.
Hirano, H 1995, 5 Pillars of the Visual Workplace, Productivity Press, New York, United
States of America.
Hunter, SL, Bullard, SH, Steele, PH, Motsenbocker, WD, Schuler, A 2004, ‘Parallel pull
flow: A new lean production variant’, Research Bulletin FP312, Forest and Wildlife Research
Center, Mississippi State University, 12p.
Imai, M, 1997, Gemba Kaizen: A Commonsense, Low-cost Approach to Management,
McGraw-Hill, New York.
Jacobs, FR, Chase, RB & Aquilano, NJ 2009, Operations and Supply Management, McGraw-
Hill, New York.
Jones, GR 2007, Organisational theory, design, and change, 5th ed.
Kaplan, RS & Norton, DP 2004, Strategy Maps, Harvard Business Press.
Pull Flow na Indústria Automóvel
52
Kimberly, E 2002, ‘Organizational change management: Theory and practice [Versão
Eletrónica]’, Transmission and Distribution World.
Kochan, A, 1998,’Automotive industry looks for lean production’, Assembly Automation, vol.
18, iss: 2, pp. 132 – 137
MacDuffie, JP 1995, “Human Resource Bundles and Manufacturing Performance:
Organizational Logic and Flexible Production Systems in the World Auto Industry”,
Industrial and Labor Relations Review, vol. 48, no. 2, pp. 197 – 221.
Manual Interno Kaizen 2011, não publicado.
Muslimen, R, Yusof, SRM & Abidin, ASZ 2011, ‘Lean manufacturing implementation in
Malaysian automotive components manufacturer: A case study’, World Congress on
Engineering 2011, July 6, 2011 - July 8, 2011, Newswood Ltd., London, United Kingdom.,
pp. 772-776.
Nomura, J, & Takakuwa, S 2006, ‘Optimization of a number of containers for assembly lines:
The fixed-course pick-up system’, International Journal of Simulation Modelling, vol. 5, no.
4, pp. 155.
Nordin N, Deros, MD, Wahab, B, & Rahman, AB 2011, ‘Managing change in lean
manufacturing implementation’, International Conference on Advanced Design and
Manufacturing Engineering, September 16, 2011 - September 18, 2011, 2011 Guangzhou,
China, Trans Tech Publications, pp. 2105-2111.
Ortiz, C 2010. ‘Kaizen vs. Lean: Distinct but related’, Metal Finishing, vol. 108, pp. 50-51.
Papadopoulou, TC, & Ozbayrak, M 2005, ‘Leaness: experiences from the journey to date’,
Journal of Manufacturing Technology Management, vol. 16, no. 7, pp. 784-807.
Paton, B, Beranek, L, & Smith, I 2008, ‘The transit lounge: a view of organisational change
from a point in the journey’, Library Management, vol. 29 (1/2), pp. 87-103.
Venkatesh, K, Zhou, MC, Kaighobadi, M, Caudill, R, Petri, A 1996, ‘Net approach to
investigating push and pull paradigms in flexible factory automated systems’, International
Journal of Production Research, vol. 34, no. 3.
Pull Flow na Indústria Automóvel
53
ANEXO A: Planeamento Push vs. Planeamento Pull
Planeamento Push Planeamento Pull
Objetivo Base Maximização da produção
(Produzir o máximo possível)
Otimização da produção (Produzir apenas o necessário)
Modelo de Produção Produção empurrada para o
cliente Produção é puxada pelo
cliente
Ordem de Produção Baseada em previsões Baseada na procura real
Sentido dos Fluxos Fluxos de material e
informação têm o mesmo sentido
Fluxos de material e informação têm sentidos opostos
Balanceamento da Cadeia
Atividades pouco balanceadas (isolamento de processos)
Bom balanceamento das atividades
(Sincronização dos processos)
Stock em Curso Grandes quantidades Reduzidas quantidades
Pull Flow na Indústria Automóvel
54
ANEXO B: Modelo de gestão Kaizen Management System (KMS)
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
55
ANEXO C: Caminho Kaizen para a Gestão da Mudança
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
56
ANEXO D: Operações de montagem do chassis (tarefas vs. área de conhecimento)
Pull Flow na Indústria Automóvel
57
ANEXO E: Conteúdos da metodologia Total Flow Management
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
58
ANEXO F: Exemplo de documento de registo do tempo das tarefas de montagem
Pull Flow na Indústria Automóvel
59
ANEXO G: Cálculo do número de postos de trabalho
( )
( )
( )
( )
Pull Flow na Indústria Automóvel
60
ANEXO H: Imagens postos da linha de montagem
Postos 1, 2 e PM.4B.
Postos 3 e PM.4A
Posto 5
Pull Flow na Indústria Automóvel
61
ANEXO I: Layout global Caetano Components
Pull Flow na Indústria Automóvel
62
ANEXO J: Exemplo lista de componentes externos alocados aos postos do bordo
de linha
Pull Flow na Indústria Automóvel
63
ANEXO K: Balanceamento de tarefas da linha de montagem para tempo de takt de
19,38 horas
1ª Parte:
2ª Parte:
3ª Parte:
Pull Flow na Indústria Automóvel
64
ANEXO L: Exemplo supermercados numa cadeia de abastecimento pull
Fonte: Manual Interno Kaizen (2011)
Pull Flow na Indústria Automóvel
65
ANEXO M: Supermercado de Soldadura
Pull Flow na Indústria Automóvel
66
ANEXO N: Supermercado de Peças Pintadas Kanban
Pull Flow na Indústria Automóvel
67
ANEXO O: Supermercado de Peças Pintadas Junjo
Pull Flow na Indústria Automóvel
68
ANEXO P: Sistema kanban de construção de lote para encomenda de peças
externas de grande peso para o Supermercado de Soldadura
Pull Flow na Indústria Automóvel
69
ANEXO Q: Lista de abastecimento para o kit dos componentes do escape do
chassis 3000.
Pull Flow na Indústria Automóvel
70
ANEXO R: Norma para realização de kanban de soldadura (subconjunto)
Pull Flow na Indústria Automóvel
71
ANEXO S: Exemplo de utilização de cores diferentes no bordo de linha de cada
posto da linha de montagem
Posto 1 (Azul Claro):
Posto 2 (Verde):
Posto 3 (Vermelho):
Pull Flow na Indústria Automóvel
72
ANEXO T: Exemplo de documentos criados para a equipa da Logística & Compras
para acompanhamento de encomendas
Pull Flow na Indústria Automóvel
73
ANEXO U: Quadro da equipa Logística & Compras
Pull Flow na Indústria Automóvel
74
ANEXO V: Norma da agenda das reuniões Kaizen Diário
Pull Flow na Indústria Automóvel
75
ANEXO X: Reunião de Kaizen Diário da equipa da linha de montagem
Pull Flow na Indústria Automóvel
76
ANEXO Y: Quadros de equipa Kaizen Diário
Pull Flow na Indústria Automóvel
77
ANEXO Z.1: Formato do documento de auditoria 5S
Pull Flow na Indústria Automóvel
78
ANEXO Z.2: Implementação 5S nos postos de soldadura
ANTES DEPOIS