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QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO SERVIDOR TÉCNICO- ADMINISTRATIVO: UM ESTUDO NO CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS DE UMA IES PÚBLICA Tulio Cremonini Entringer (UENF ) [email protected] Andre Luis Policani Freitas (UENF ) [email protected] O presente artigo buscou mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) segundo a percepção dos servidores técnico-administrativos a partir do emprego do instrumento proposto por Freitas e Souza (2009), após incorporação de alguns itens de avaliação. Por meio de um estudo realizado no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias de uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública foi possível identificar os itens de maior criticidade em termos de QVT, através da análise dos quartis, e avaliar a confiabilidade do instrumento a partir do coeficiente alfa de Cronbach e análises de correlação item-total. Como resultados, para as duas categorias de servidores, há evidências de comprometimento da QVT em termos de Segurança e saúde nas condições de trabalho, Constitucionalismo, Compensação justa e adequada e Oportunidade de carreira e garantia profissional. Os instrumentos se mostraram confiáveis na maioria das dimensões, entretanto, o valor de alfa se revelou baixo em algumas dimensões e negativo em uma dimensão, realçando a necessidade de realização de estudos adicionais com amostras com maior número de respondentes. A estratificação dos respondentes em termos da função predominante na IES (técnica ou administrativa) permitiu identificar dimensões que precisam ser mais bem analisadas quando o instrumento é aplicado a técnicos e itens que, uma vez excluídos, aumentam sensivelmente a confiabilidade do instrumento em certas dimensões. Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho; Servidores técnico- administrativos; Instituições de Ensino Superior XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO DO SERVIDOR … · Públicas nigerianas revelou que a realização profissional e pessoal dos servidores é o principal fator de satisfação no trabalho

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QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

DO SERVIDOR TÉCNICO-

ADMINISTRATIVO: UM ESTUDO NO

CENTRO DE CIÊNCIAS E

TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS DE

UMA IES PÚBLICA

Tulio Cremonini Entringer (UENF )

[email protected]

Andre Luis Policani Freitas (UENF )

[email protected]

O presente artigo buscou mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho

(QVT) segundo a percepção dos servidores técnico-administrativos a

partir do emprego do instrumento proposto por Freitas e Souza (2009),

após incorporação de alguns itens de avaliação. Por meio de um

estudo realizado no Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias

de uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública foi possível

identificar os itens de maior criticidade em termos de QVT, através da

análise dos quartis, e avaliar a confiabilidade do instrumento a partir

do coeficiente alfa de Cronbach e análises de correlação item-total.

Como resultados, para as duas categorias de servidores, há evidências

de comprometimento da QVT em termos de Segurança e saúde nas

condições de trabalho, Constitucionalismo, Compensação justa e

adequada e Oportunidade de carreira e garantia profissional. Os

instrumentos se mostraram confiáveis na maioria das dimensões,

entretanto, o valor de alfa se revelou baixo em algumas dimensões e

negativo em uma dimensão, realçando a necessidade de realização de

estudos adicionais com amostras com maior número de respondentes.

A estratificação dos respondentes em termos da função predominante

na IES (técnica ou administrativa) permitiu identificar dimensões que

precisam ser mais bem analisadas quando o instrumento é aplicado a

técnicos e itens que, uma vez excluídos, aumentam sensivelmente a

confiabilidade do instrumento em certas dimensões.

Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho; Servidores técnico-

administrativos; Instituições de Ensino Superior

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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1. Introdução

O panorama atual em que as organizações estão inseridas é marcado pela alta competitividade

e fortes mudanças, as quais afetam diretamente a vida do trabalhador. A constante busca pela

sobrevivência e pelo avanço da produtividade das organizações é marcada por diferentes

formas de precarização do trabalho, gerando dessa forma, repercussões nocivas ao individuo

(PINTO, 2013).

Diante disso, emerge o desafio de manter a eficiência e eficácia organizacional e, ao mesmo

tempo, disponibilizar condições necessárias para que o trabalhador se sinta satisfeito e

motivado com o trabalho. Nesse contexto, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) vem

ganhando destaque dentro das organizações, bem como nos meios acadêmicos, que visam

atender esses processos de mudanças (FREITAS; SOUZA; QUINTELLA, 2013).

Nas instituições, os indivíduos são considerados recursos, ou seja, portadores de habilidades e

conhecimentos que apoiam no processo produtivo e crescimento organizacional. Porém, é de

extrema importância não esquecer que essas pessoas são humanas, formadas de

personalidade, expectativas, necessidades e objetivos pessoais (ANDRADE, 2012).

O termo QVT pode ser relacionado à percepção que os trabalhadores possuem em relação ao

ambiente laboral e em relação a seu cargo; pode ainda se referir às condições físicas presentes

no recinto de trabalho; e muitas vezes corresponde a programas implementados no ambiente

organizacional, buscando aumentar o contentamento e bem-estar do trabalhador e sua

motivação, e com isso obter um aumento da produtividade (NESPECA; CYRILLO, 2011).

Este cenário não é diferente para o trabalho técnico-administrativo em Instituições de Ensino

Superior (IES), ainda que a importância e o impacto da QVT e do aspecto competitivo neste

ambiente organizacional não seja tão facilmente percebido e compreendido quanto nos setores

coorporativos e/ou industriais (FREITAS; ENTRINGER, 2014).

No Brasil, a discussão sobre a QVT ainda é recente, e, em geral, os estudos visam à

compreensão a respeito de situações individuais dos trabalhadores em seus ambientes

laborais, abrangendo aspectos comportamentais e de contentamento profissional (TIMOSSI et

al., 2009). Nesse sentido, observa-se uma ausência de estudos focados na mensuração da

QVT de servidores atuantes em IES.

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Este artigo apresenta um estudo que buscou mensurar a QVT a partir do emprego de um

instrumento adaptado do modelo proposto por Freitas e Souza (2009). Em especial, o estudo

representa a continuidade das análises realizadas por Freitas e Entringer (2014a, 2014b).

O presente artigo está organizado da seguinte forma: a seção 2 aborda concepções teóricas

sobre QVT e o trabalho técnico-administrativo em IES, a seção 3 apresenta os procedimentos

metodológicos; a seção 4 apresenta o estudo realizado e os resultados e, por fim, a seção 5

apresenta as considerações finais.

2. Servidores técnico-administrativos e QVT

O desenvolvimento econômico e social de um país depende, sobretudo, do fortalecimento e da

credibilidade das IES. As universidades são patrimônios sociais que exercem as funções de

ensino, pesquisa e extensão, sendo responsáveis pela geração, sistematização e difusão do

conhecimento e do saber, estimulando a produção, criação e divulgação científica (FILHO et

al., 2010). Sendo assim, o profissional técnico-administrativo, ocupa um lugar de destaque

nas IES.

Segundo Freitas, Souza e Quintella (2013), técnicos atuam em laboratórios e fornecem apoio

às atividades de ensino e pesquisa, sendo corresponsáveis por estudos e experimentos que têm

impacto na qualidade da produção científica de pesquisadores, indicadores estes que são

empregados para estabelecer a qualidade de cursos e Instituições. Por outro lado, servidores

administrativos operam em diversos processos nas IES e são responsáveis, dentre outras

atividades, pelo trâmite de documentações de distintas naturezas.

As instituições públicas têm buscado adotar uma gestão mais estratégica, flexível e inovadora.

Entretanto há desafios a se enfrentar, como o estímulo e criação de práticas que assegurem o

desenvolvimento profissional, promovendo a aprendizagem e oferecendo aos servidores

oportunidades de crescimento profissional e pessoal (DUARTE; FERREIRA; LOPES, 2009).

Um estudo com foco em QVT realizado com servidores administrativos em Universidades

Públicas nigerianas revelou que a realização profissional e pessoal dos servidores é o principal

fator de satisfação no trabalho e componentes como políticas administrativas, supervisão,

remuneração, relações interpessoais, condições de trabalho e reconhecimento, também

contribuíram de forma proeminente com o nível de satisfação desses funcionários

(OLORUNSOLA, 2013).

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Com a finalidade de contribuir para esta temática, Freitas e Souza (2009) propuseram um

modelo híbrido para avaliar a QVT em IES fundamentado nas dimensões da QVT

estabelecidas por Walton (1973); Hackman e Oldham (1975); Westley (1979) e Davis e

Werther (1983). O modelo adaptado foi estruturado em oito dimensões e 46 questões.

3. Procedimentos metodológicos

O estudo foi realizado com servidores técnico-administrativos lotados no Centro de Ciências e

Tecnologias Agropecuárias (CCTA) de uma universidade pública estadual. Atualmente, nove

Departamentos estão vinculados ao CCTA, associados ao ensino e pesquisa em engenharia

agrícola, entomologia e fitopatologia, reprodução e melhoramento genético animal, sanidade

animal, solos, tecnologia de alimentos, zootecnia e nutrição animal, melhoramento genético

vegetal e fitotecnia, além da biblioteca setorial, secretarias e coordenações.

Segundo a Gerência de Recursos Humanos, na ocasião do estudo 166 servidores técnico-

administrativos estavam lotados no CCTA. O questionário foi encaminhado à chefia de todos

os setores do Centro e posteriormente disponibilizado aos servidores. Após um período de 15

dias, 90 questionários respondidos foram contabilizados (54% da população). O instrumento

de coleta de dados, adaptado de Freitas e Souza (2009), é composto de três partes:

Parte 1 (Identificação do respondente): setor/departamento em que atua; cargo

inicial, quando admitido na IES; cargo ocupado na ocasião da pesquisa; tempo em que

trabalha na IES; tempo em que ocupa o mesmo cargo na ocasião da pesquisa; nível de

instrução ao ser admitido pela IES; nível de instrução na ocasião da pesquisa; carga

horária semanal, exceto hora extra; tempo médio de deslocamento da residência ao

local de trabalho; idade; gênero; número de filhos; atuação em outra atividade

profissional; se estuda atualmente; e se possui algum tipo de necessidade especial;

Parte 2 (Avaliação da QVT): As Dimensões foram decompostas em 52 questões

distribuídas em dois Blocos (Tabelas 2 e 3): Bloco 1, com 28 questões para avaliar a

QVT segundo o desempenho da IES, e Bloco 2, também com 24 questões para avaliar

a QVT segundo a ocorrência de fatores na IES. Para tanto, foram consideradas duas

escalas de mensuração com 5 pontos, não-forçadas e balanceadas (Quadro 1);

Quadro 1 – Escalas utilizadas para avaliação da QVT

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Fonte: Adaptado de Freitas, Souza e Quintella (2013)

Parte 3 (Observações/sugestões): espaço para apresentação de informações (aspectos

positivos, aspectos negativos, observações e sugestões) acerca da QVT na IES.

A análise dos quartis (Freitas et al., 2006) foi utilizada para identificar os itens críticos da IES

em termos de QVT. A composição das categorias é estabelecida da seguinte forma:

Prioridade Crítica (itens cujos valores sejam inferiores ao valor do primeiro quartil);

Prioridade Alta (itens cujos valores sejam superiores ao valor do primeiro quartil e inferiores

ao valor do segundo quartil); Prioridade Moderada (itens cujos valores sejam superiores ao

valor do segundo quartil e inferiores ao valor do terceiro quartil); e Prioridade Baixa (itens

cujos valores sejam superiores ao valor do terceiro quartil).

O alfa de Cronbach (CRONBACH, 1951) foi utilizado para verificar a confiabilidade do

instrumento de coleta de dados.

4. Resultados do estudo

A Tabela 1 revela que há um equilíbrio no percentual dos técnicos em termos de gênero, já os

administrativos são, em sua maioria, do gênero feminino. Técnicos e administrativos são em

sua maioria, casados e não estudam atualmente. Percentual significativo destes elevou o nível

instrucional em relação ao nível que possuíam quando ingressaram na IES.

TABELA 1 – Caracterização dos respondentes técnicos (T) e administrativos (A)

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Fonte: Autoria própria (2015)

O percentual de atribuição dos julgamentos em relação ao desempenho da IES em termos de

aspectos relacionados à QVT é apresentado na Tabela 2.

Não há evidências de que a QVT esteja comprometida em termos de Integração Social (D1)

para administrativos e técnicos, entre servidores do mesmo nível hierárquico (P1), com

superiores (P2), com subalternos (P3), e com servidores de outros setores (P4), além da

cooperação entre colegas (P5) e da integração entre as pessoas no ambiente de trabalho (P6).

Percentual significativo de respostas foi associado ao desempenho ‘Neutro’, principalmente

aquelas atribuídas ao item referente ao ponto de vista dos colegas do setor quando um

membro do grupo é promovido (P7).

Não há evidências de comprometimento da QVT em relação à Utilização da Capacidade

Humana (D2) para ambas as atividades. Porém, nota-se um percentual relevante de respostas

atribuídas com desempenho ‘Neutro’, com destaque ao item referente ao grau em que o

trabalho envolve tarefas complexas (P12).

Há evidências de problemas de QVT relacionados à dimensão Segurança e Saúde nas

Condições de Trabalho (D3) referente as condições do ambiente de trabalho (P15),

acessibilidade (P18) e área do local de trabalho (espaço físico) (P19).

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A preservação da privacidade (P20) e a possibilidade de recursos em decisões tomadas na

organização (P21) não evidenciam problemas de QVT em termos de Constitucionalismo (D4),

porém, é preciso observar o item P21 segundo a percepção dos servidores administrativos.

O nível de interferência dos assuntos relacionados ao trabalho no ambiente familiar (P22) e o

grau de impacto causado pelo trabalho realizado na vida de outras pessoas (P23) não

comprometem o desempenho da IES na dimensão Trabalho e Espaço de Vida (D5).

Entretanto, há evidências problemas de QVT em relação à dimensão Compensação Justa e

Adequada (D6) em termos da relação entre as atividades realizadas e o valor pago pela IES

(P24), e entre o valor pago pela IES e por outras instituições (P26), além dos benefícios

concedidos (P25).

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TABELA 2 – Resultados da avaliação da QVT segundo o grau de desempenho da IES

Fonte: Autoria própria (2015)

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A Tabela 3 apresenta o percentual de atribuição em relação à frequência de ocorrência de

aspectos acerca da QVT. Segundo Freitas et al. (2013), os itens F1, F2, F3, F7, F9, F11 e F18

devem ser analisados inversamente pois, quanto maior a frequência, menor a QVT.

TABELA 3 – Resultados da avaliação da QVT segundo a frequência de ocorrência de aspectos da QVT

Fonte: Autoria própria (2015)

É possível que a QVT esteja comprometida em termos de segurança e saúde devido a pouca

utilização de técnicas de proteção e segurança no trabalho (F4), não realização de exames

médicos periodicamente (F6) e mal estar causado por poeira, ruído e o calor (F3), este último

principalmente de acordo com a percepção dos técnicos. Por outro lado, na dimensão trabalho

e espaço de vida, os trabalhos não são levados para casa (F7), há tempo para lazer e atividades

sociais (F10) e não há necessidade de realizar horas-extras (F11). Vale destacar que há

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problemas em termos de recebimento de gratificações ou bonificações de acordo com a

produtividade (F14).

Há evidências de problemas de QVT em termos das Oportunidades de Carreira e Garantia

Profissional (D7) em relação às promoções baseadas em competência e produtividade (F16) e

investimento na carreira através de oferecimento de cursos ou estímulo à continuidade dos

estudos (F17), este último principalmente segundo a visão dos administrativos. Não há

evidências de problemas em termos da Relevância Social (D8) do trabalho (F22 e F23), com

exceção à participação de servidores em projetos sociais da IES junto à comunidade.

A análise dos quartis (Figura 1) revela os itens mais críticos segundo os servidores.

FIGURA 1 – Resultados da análise dos quartis

Fonte: Autoria própria (2015)

Observa-se que os itens críticos são aproximadamente os mesmos, segundo a percepção de

servidores técnicos e administrativos, apesar da ordem dos itens não ser igual. Ou seja, caso

os itens críticos sejam tratados em conjunto, será possível melhorar a QVT de ambas as

categorias de servidores. De maneira sucinta, estes itens estão associados à relação entre o

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salário recebido, a contribuição do servidor para com a organização e o cargo ocupado;

oportunidades de carreira; gratificações por produtividade; incentivo à continuidade dos

estudos; espaço e condições do ambiente de trabalho; uso de equipamentos e técnicas de

proteção aos riscos no trabalho; possibilidade de recursos em processos decisórios na

organização; e, participação do servidor em atividades comunitárias. Esses resultados são

muito próximos aos encontrados por Freitas, Souza e Quintella (2013) e Freitas e Entringer

(2014a, 2014b).

4.1 Considerações sobre a confiabilidade do instrumento

A Tabela 4 apresenta os resultados das análises de confiabilidade do instrumento utilizando o

coeficiente alfa de Cronbach em relação a cada dimensão proposta por Freitas e Souza (2009),

em função do desempenho e da frequência de aspectos relacionados à QVT. As colunas

‘Geral’ referem-se aos valores quando os julgamentos de todos os respondentes foram

considerados simultaneamente. As colunas ‘Administrativo’ e ‘Técnico’ correspondem aos

valores quando cada uma das respectivas categorias de respondentes.

Hair et al. (2006) e Malhotra (2006) sugerem que em pesquisas exploratórias o valor mínimo

aceitável de confiabilidade seja = 0,60. Na Tabela 4, os asteriscos indicam as dimensões

que infringem este valor. Segundo Maroco e Garcia-Marques (2006), valores negativos de α

ocorrem quando as correlações inter-itens de uma dada dimensão são, elas próprias, negativas

e normalmente refletem um erro sério na codificação dos pontos dos itens. Adicionalmente,

um α muito baixo pode refletir a codificação errada de itens ou a mistura de itens de

dimensões diferentes, exigindo a reavaliação da base teórica que motivou a construção da

escala.

TABELA 4 – Síntese dos valores de alfa de Cronbach

Fonte: Autoria própria (2015)

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Diferenças de níveis de confiabilidade entre as duas categorias de respondentes também

foram percebidas e, de certa forma, influenciam a confiabilidade do instrumento quando os

respondentes são considerados simultaneamente. Neste contexto, as Tabelas 5 e 6 apresentam,

respectivamente, os resultados da análise com o alfa de Cronbach e correlação item-total de

obtidos a partir dos estratos dos respondentes técnicos e administrativos em termos de

desempenho e frequência.

Na Tabela 5, nota-se que não necessidades que itens sejam excluídos do instrumento, em

função do valor da correlação item-total e da confiabilidade do instrumento. Entretanto, os

resultados sugerem que os itens P27 e P28 podem ser excluídos do instrumento. A

confiabilidade nas dimensões D1, D2, D3, D4, D5 e D6 são consideradas adequadas tanto para

servidores administrativos, quanto para técnicos.

TABELA 5 - Análise com alfa de Cronbach e correlação item-total segundo o desempenho da IES

Fonte: Autoria própria (2015)

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Na Tabela 6, os itens F18 e F24 podem ser excluídos do instrumento, devido ao baixo valor da

correlação item-total e do aumento significativo da confiabilidade do instrumento, caso seja

excluído. Consequentemente, a confiabilidade nas dimensões D2, D4 e D8 são consideradas

adequadas, tanto para servidores administrativos, quanto para técnicos.

Para os servidores administrativos, se o item F8 for excluído, a confiabilidade da dimensão D5

aumenta significativamente. Para os servidores técnicos, estudos adicionais precisam ser

realizados para a verificação da confiabilidade nas dimensões D3, D5, D6, e D7.

TABELA 6 - Alfa de Cronbach e correlação item-total segundo fatores associados à QVT

Fonte: Autoria própria (2015)

5. Considerações Finais

Este artigo buscou mensurar a QVT de servidores técnico-administrativos por meio do

emprego do modelo proposto por Freitas e Souza (2009), após incorporação de alguns itens de

avaliação. Por meio de um estudo realizado no Centro de Ciências e Tecnologias

Agropecuárias de uma IES pública, foi possível mensurar a QVT segundo a percepção dos

servidores técnicos e administrativos e identificar os itens mais críticos em termos de QVT,

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por meio da análise dos quartis, segundo a percepção distinta dessas categorias de servidores.

A confiabilidade do instrumento em cada dimensão foi mensurada por meio do coeficiente

alfa de Cronbach. Análises de correlação item-total também foram realizadas.

Como resultados, para ambas as categorias de servidores, constata-se que existem evidências

de comprometimento da QVT em termos das dimensões Segurança e Saúde nas Condições de

Trabalho, Constitucionalismo, Compensação Justa e Adequada e Oportunidade de carreira e

Garantia Profissional, mais bem percebidas pela criticidade associada ao salário recebido, a

contribuição do servidor para com a organização e o cargo ocupado; oportunidades de

carreira; gratificações por produtividade; incentivo à continuidade dos estudos; espaço e

condições do ambiente de trabalho; uso de equipamentos e técnicas de proteção aos riscos no

trabalho; dentre outros itens.

No contexto de estudos exploratórios, os instrumentos se mostraram confiáveis na maioria das

dimensões. Entretanto, o valor de alfa se revelou baixo em algumas dimensões e negativo em

uma dimensão, realçando a necessidade de realização de estudos adicionais com amostras

com maior número de respondentes. A estratificação dos respondentes em termos da função

predominante na IES (técnica ou administrativa) permitiu identificar que existem dimensões

que precisam ser mais bem analisadas quando o instrumento é aplicado a servidores técnicos e

também itens que, uma vez excluídos do instrumento, aumentam sensivelmente a

confiabilidade em certas dimensões.

Atualmente a pesquisa está sendo realizada em outros Centros da universidade. Espera-se

obter uma quantidade de respondentes maior tal que seja possível realizar análises estatísticas

mais robustas para verificar a confiabilidade e, eventualmente, promover o refinamento do

instrumento.

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