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1 QUALIDADE DO SOLO EM ÁREAS DE EXPANSÃO DA CULTURA DA SOJA NO RS LATOSSOLO VERMELHO DISTROFÉRRICO Propriedades físicas do solo O ambiente com mata nativa apresentou a menor densidade encontrada em ambas as camadas, diferindo estatisticamente dos demais usos do solo. Consequentemente, apresentando uma maior porosidade total, menor microporosidade e maior macroporosidade, devido à ausência de ação antrópica, mantendo a sua estrutura preservada e evitando a compactação (CALONEGO et al., 2012). Embora os ambientes com pastagem cultivada e soja não tenham diferido estatisticamente entre si, os valores de densidade do solo encontrados para pastagem cultivada foram maiores, resultado do pisoteio animal, principalmente nas camadas superficiais (CONTE et al., 2011). Embora a pastagem cultivada tenha apresentado os maiores valores de densidade do solo, deve-se considerar que o crescimento radicular pode não estar sendo prejudicado, pois as forrageiras contém uma grande quantidade de volume de raízes, deixando uma grande quantidade de canais no solo, facilitando o crescimento de novas plantas (CALONEGO et al., 2012). Valores de densidade de 1,62 Mg m - ³ e 1,54 Mg m - ³ foram constatadas por Secco (2003), sendo que não afetaram a produção da soja em em Latossolos (Vermelho distroférrico e Vermelho distrófico). Desta forma, a palhada pode estar proporcionando melhorias na cobertura do solo. Para a porosidade total do solo, não foi encontrada diferença estatística significativa quando comparadas as áreas com pastagem cultivada e soja nas camadas de 0,0-0,10; 0,10- 0,20 m, embora sua cobertura e sistemas de manejo de solo sejam distintos. A única diferença significativa encontrada para esse parâmetro foi na camada de 0,20-0,30 m, onde o cultivo com soja em plantio direto apresentou o menor valor de porosidade do solo, em consequência dos níveis mais intensos de tráfego de máquinas e implementos agrícolas, que faz com que as partículas de solo se aproximem (STONE et al., 2002; VALICHESKI et al., 2012).

QUALIDADE DO SOLO EM ÁREAS DE EXPANSÃO DA ...dos coloides do solo (CQFS-RS/SC, 2016). Quanto a CTC pH7, os valores obtidos foram considerados médios para todos os usos do solo,

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QUALIDADE DO SOLO EM ÁREAS DE EXPANSÃO DA CULTURA DA SOJA NO

RS

LATOSSOLO VERMELHO DISTROFÉRRICO

Propriedades físicas do solo

O ambiente com mata nativa apresentou a menor densidade encontrada em ambas as

camadas, diferindo estatisticamente dos demais usos do solo. Consequentemente,

apresentando uma maior porosidade total, menor microporosidade e maior macroporosidade,

devido à ausência de ação antrópica, mantendo a sua estrutura preservada e evitando a

compactação (CALONEGO et al., 2012).

Embora os ambientes com pastagem cultivada e soja não tenham diferido

estatisticamente entre si, os valores de densidade do solo encontrados para pastagem cultivada

foram maiores, resultado do pisoteio animal, principalmente nas camadas superficiais

(CONTE et al., 2011).

Embora a pastagem cultivada tenha apresentado os maiores valores de densidade do

solo, deve-se considerar que o crescimento radicular pode não estar sendo prejudicado, pois as

forrageiras contém uma grande quantidade de volume de raízes, deixando uma grande

quantidade de canais no solo, facilitando o crescimento de novas plantas (CALONEGO et al.,

2012).

Valores de densidade de 1,62 Mg m-³ e 1,54 Mg m

-³ foram constatadas por Secco

(2003), sendo que não afetaram a produção da soja em em Latossolos (Vermelho distroférrico

e Vermelho distrófico). Desta forma, a palhada pode estar proporcionando melhorias na

cobertura do solo.

Para a porosidade total do solo, não foi encontrada diferença estatística significativa

quando comparadas as áreas com pastagem cultivada e soja nas camadas de 0,0-0,10; 0,10-

0,20 m, embora sua cobertura e sistemas de manejo de solo sejam distintos. A única diferença

significativa encontrada para esse parâmetro foi na camada de 0,20-0,30 m, onde o cultivo

com soja em plantio direto apresentou o menor valor de porosidade do solo, em consequência

dos níveis mais intensos de tráfego de máquinas e implementos agrícolas, que faz com que as

partículas de solo se aproximem (STONE et al., 2002; VALICHESKI et al., 2012).

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No geral, a microporosidade do solo foi maior no cultivo com pastagem quando

comparada ao cultivo com soja em plantio direto, corroborando com as dados da densidade do

solo, indicando um maior grau de compactação do solo para este cultivo.

Em contrapartida, os valores de macroporosidade encontrados não diferiram entre si, para os

sistemas de cultivo com pastagem e soja em plantio direto em ambas as camadas. Os

resultados obtidos para este parâmetro foram inferiores a 0,10 m³ m-3

, valor considerado

limitante, pois pode ocasionar deficiência de oxigenação, tornando-se prejudicial para o

desenvolvimento das plantas (SILVA et al., 2010).

A intervenção humana com a substituição da mata nativa para sistemas de produção

agrícola, afeta negativamente os atributos físicos do solo. O aumento da densidade do solo,

com a consequente diminuição da porosidade total, fica evidente em sistemas de cultivos de

soja e também em pastagens com pastoreio animal quando comparados à condição inicial com

ambiente de mata nativa (TRABAQUINI et al., 2015).

Propriedades químicas do solo

Na camada de 0,00-0,10 m não foi observada diferença entre os diferentes usos do

solo, para as propriedades Al3+

e saturação por Al. O SMP, CTC efetiva e saturação por bases

foram menores na área de cultivo com soja. Valores de alta saturação por bases e baixa

saturação por Al3+

estão associados com o aumento dos valores de pH (TIECHER et al.,

2016). O cultivo com soja diferiu estatisticamente dos demais usos para o parâmetro de

saturação por bases, apontando maior adsorção de Al3+

e H+ nos colóides do solo.

Apenas o SMP e a CTC efetiva diferiram estatisticamente na camada de 0,10-0,20 m,

onde o cultivo com soja apresentou os menores valores, apontando baixa capacidade de troca

de cátions, onde a matéria orgânica contribui com a maior parte da CTC.

Para a camada de 0,20-0,30 m, só foi encontrada diferença estatística significativa para

CTCpH7, que segundo Netto et al., (2009), em Latossolo Vermelho esse parâmetro tende a

diminuir, de acordo com a profundidade do solo, devido a diminuição da matéria orgânica.

Ambos os usos do solo não apresentaram diferença estatística para pH nas camadas

estudadas, demonstrando valores maiores que 5,5, onde os cátions ocupam a maior quantidade

dos coloides do solo (CQFS-RS/SC, 2016). Quanto a CTC pH7, os valores obtidos foram

considerados médios para todos os usos do solo, de acordo com a literatura (CQFS-RS/SC,

2016).

Na camada de 0,0-0,10 m, o teor de fósforo diferiu estatisticamente entre a pastagem

cultivada e a mata nativa, onde os maiores valores foram encontrados para a pastagem

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cultivada e soja, respectivamente. Isso se explica pelo fato da adubação fosfatada ser realizada

todos os anos, e ainda, devido à baixa mobilidade deste nutriente (CHERUBIN et al., 2011),

corroborando com os menores teores encontrados nas camadas de 0,10-0,20 e 0,20-0,30 m.

Para o potássio, em ambas as camadas de solo, os maiores teores encontrados foram na

área de pastagem cultivada, inclusive, diferindo estatisticamente dos demais usos do solo na

camada de 0,0-0,10 m. Segundo Vital et al. (2004) e Crusciol et al. (2008), depois da

adubação, a maior fonte de potássio para o solo é a ciclagem de nutrientes, onde as gramíneas

tem grande produção de massa seca, liberando altas quantidades de potássio, e no caso da

mata nativa, a decomposição do material orgânico.

De acordo com CQFS-RS/SC (2016), todos os usos da terra tiveram valores

considerados altos de Ca (>4,0 cmolc L-1

), onde a mata nativa diferiu significativamente dos

demais cultivos em ambas as camadas de solo. No caso da pastagem cultivada e da soja, os

altos teores encontrados se devem às correções realizadas para corrigir a acidez do solo

(CHERUBIN et al., 2015). Os altos valores encontrados na mata nativa corroboram com o

estudo de Veiga & Coutinho (2015).

Teores de magnésio acima de 1,0 cmolc L-1

são considerados altos para o

desenvolvimento das plantas (CQFS-RS/SC, 2016). Somente a mata nativa não obteve teores

acima desse valor, em ambas as camadas de solo. Na camada de 0,10-0,20 m, a pastagem

cultivada e a área com soja obtiveram valores superiores, e nas demais camadas de solo, a

pastagem também demonstrou os maiores valores. Silva (2018) diz que áreas de pastagem

apresentam valores considerados altos para o desenvolvimento das plantas, pois existe a

permanência de cátions base em geral (Mg), desacidificando o solo e não permitindo a

lixiviação dessas bases.

Para todas as camadas avaliadas, a mata nativa apresentou valores superiores para

carbono orgânico do solo, justificado pelo maior aporte de matéria orgânica estabilizada e de

biomassa vegetal (MADARI et al., 2010). O uso agrícola do solo ou culturas com baixa

adição de resíduos reduzem a matéria orgânica do solo que antes se encontrava estável sob a

vegetação natural, corroborando com os menores valores encontrados para as áreas com

pastagem cultivada e soja (VEIGA & COUTINHO, 2015).

Propriedades biológicas do solo

O carbono da biomassa microbiana no ambiente de mata nativa foi maior quando

comparado aos demais usos da terra, diferindo estatisticamente do cultivo com soja. Em

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condições naturais do solo, ou seja, com a ausência de seu preparo, há maior presença de

raízes e diversidade de espécies, fatores que favorecem o desenvolvimento microbiano,

aumentando assim, a biomassa microbiana do solo (PERIZACO et al., 2013). Segundo

Kaschuk et al. (2001), a substituição dos biomas (vegetação nativa) por práticas agrícolas,

alteram o carbono da biomassa microbiana, causando a sua redução em até 30%.

Atividades agrícolas como plantio direto, que propiciem algum tipo de revolvimento

do solo (semeadura de culturas) pode diminuir a biomassa microbiana por danos diretos às

células microbianas (MATIAS et al., 2009). Já, o sistema de cultivo com pastagem apresentou

maiores valores de carbono da biomassa microbiana, embora não tenha diferido

significativamente, quando comparadas com áreas agrícolas, corroborando com os resultados

encontrados por Silva et al., (2012).

A respiração basal do solo é resultante do metabolismo dos microrganismos, e embora

esse parâmetro não tenha diferido para os diferentes usos do solo, os maiores valores

encontrados por Assis et al. (2003) foram em sistemas de pastagem e mata nativa,

corroborando os resultados encontrados. Ainda, de acordo com Islam & Weil (2000), altos

valores de respiração geralmente significam alto nível de produtividade, ou então, distúrbios

ecológicos.

Quanto ao quociente metabólico do solo, embora os resultados não tenham diferido

entre si, o cultivo de pastagem obteve o maior valor encontrado, indicando um ambiente com

maior perda de carbono (MERCANTE et al., 2008), ou então, situações de matéria orgânica

de baixa qualidade, desequilíbrio ambiental ou microrganismos submetidos a estresses, como

acidez, déficit hídrico ou irregularidade de nutrientes (RAMOS et al., 2010).

Nesse sentido, propriedades biológicas do solo como a biomassa microbiana,

respiração basal e quociente metabólico do solo, se mostram como sensíveis indicadores de

impactos causados por diferentes manejos de solo, pois influenciam diretamente a atividade

metabólica de microrganismos (ALVES et al., 2011).

Índice de qualidade do solo

A mata nativa apresentou maior qualidade do solo com índice de 0,86 (ou 86%) do

potencial de funcionamente do solo, diferindo estatisticamente dos demais manejos (Figura

9b). A maior qualidade do solo nesse ambiente foi impulsionada por todas as propriedades

estudadas, sejam elas físicas, químicas e biológicas (Figura 1a).

O cultivo com soja apresentou a menor qualidade do solo (0,73), indicando os efeitos

negativos do manejo da cultura sobre o solo. Luz et al. (2019), encontrou resultados

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semelhantes a este, onde o maior índice de qualidade do solo foi observado na vegetação

nativa, para solos do Parará.

Figura 1 – Contribuição ponderada das propriedades do solo (A) e o índice de qualidade do

solo (B), nos usos do solo MA (mata nativa), PA (pastagem), SO (soja) do Latossolo

Vermelho distroférrico.

* Médias seguidas de letras iguais, não diferem pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

Fonte: Autor (2019)

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Após 20 anos da mudança no uso do solo para o cultivo com soja, o índice

encontrado indica que o manejo realizado nesse tempo não reduz dastricamente a sua

qualidade. Cherubin, Tormena & Karlen (2017) observeram que ouso do solo com

cultivo de grãos após 20 anos obteve índice de qualidade do solo de 0,64.

No uso do solo com pastagem cultivada e soja, as propriedades químicas e a

biológica elevaram a qualidade do solo. Os valores elevados de pH, fósforo e potássio

na pastagem contribuiram para que esse uso do solo obtivesse o maior score das

propriedades químicas (Figura 1a), contribuindo para elevar o seu índice de qualidade

do solo.

Em contrapartida, a propriedade física da qualidade do solo apresentou um score

baixo para pastagem cultivada e para a soja, diminuindo assim o índice de qualidade do

solo e demostrando que o manejo realizado nesses usos está compactando o solo. Esses

resultados indicam que práticas de manejo do solo alternativas, que amenizem este

adensamento, são necessárias para incrementar a qualidade do solo (CHERUBIN,

TORMENA & KARLEN, 2017; COLODEL et al., 2018).

ARGISSOLO VERMELHO AMARELO DISTRÓFICO

Propriedades físicas do solo

Não houve diferença significativa entre os valores observados para densidade do

solo, porosidade total, microporosidade e macroporosidade na camada de 0,0-0,10 m,

corroborando com o encontrado por Chioderoli et al., (2012) em um Argissolo

Vermelho-Amarelo.

Embora sem diferença significativa, o pastejo animal nas áreas de campo nativo

e pastagem cultivada, foram maiores do que o cultivo com soja. Luz (2017) também

encontrou valores maiores de densidade do solo na presença do pastejo animal. Outro

fator importante, que justifica a menor densidade na área cultivada com soja é o fato da

mobilização do solo durante a semeadura da cultura, evitando altos valores de densidade

na camada de 0,0-0,10 m (SILVA et al., 2017).

A densidade do solo foi significativamente maior na área cultivada com soja, quando

comparada com a pastagem cultivada, na camada de 0,10-0,20 m, e embora não tenha

diferido na camada de 0,20-0,30 m, ainda assim obteve o maior valor, demonstrando

uma maior compactação em profundidade ocasionada pelo sistema plantio direto.

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Segundo Loss et al., decorrência do manejo e uso de máquinas e implementos para

plantio e colheita, aumentando os valores de densidade do solo.

Ainda, na camada de 0,10-0,20 m, os valores de porosidade total e

macroporosidade corroboram com os encontrados para a densidade do solo,

apresentando diferença significativa entre a soja e os demais cultivos. Uma vez que são

dependentes entre si, conforme a densidade aumenta, a porosidade diminui (BERTOL et

al., 2004). O valor de macroporosidade encontrado para a nesse sistema de cultivo, está

bem abaixo do limite de 0,10 m³ m-3

, podendo se tornar prejudicial para o

desenvolvimento das plantas (SILVA et al., 2010). Já, para a microporosidade, os

valores encontrados não diferiram entre os três diferentes usos de solo estudados.

Na última camada avaliada, a pastagem cultivada apresentou no geral, os

melhores valores físicos, diferindo significativamente dos demais sistemas de manejo,

com exceção da microporosidade, quando comparada com a soja. Áreas de pastagem

tendem a diminuir os valores de densidade do solo em maiores profundidades, e

também aumentar a porosidade e macroporosidade, resultando em uma melhor condição

física do solo (CHIODEROLI et al., 2012).

Propriedades químicas do solo

O uso do solo com campo nativo obteve os menores valores encontrados para

pH em ambas as camadas estudadas, diferindo estatisticamente dos demais usos nas

camadas de 0,10-0,20 e 0,20-0,30 m. Essa tendência é relacionada à acidez ativa natural

do solo e pela própria composição do campo nativo, onde presença de certas espécies de

plantas liberam exsudatos ácidos pelas raízes, baixando os valores de pH (ROSA et al.,

2018).

Aliada a diminuição do pH, o uso do solo com campo nativo apresentou

diminuição da CTCefetiva e da saturação de bases, aumento do Al3+

e da saturação de Al

em ambas as camadas de solo, diferindo significativamente dos demais manejos

estudados. Prestes (2015) observou melhorias nas propriedades químicas do solo em

campo nativo, quando a dose de calcário foi aumentada, sendo recomendável o uso

dessa prática. Caso contrário, a exploração do campo nativo sem manejo adequado,

provoca a degradação da qualidade química do solo.

Usos do solo com pastagem cultivada e soja apresentaram melhor qualidade

química do solo, resultado do manejo e das práticas agrícolas adequadas. Houve o

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aumento do SMP, diminuição do Al3+

e da saturação por Al, diferindo estatisticamente

dos demais usos do solo, com exceção da camada superficial, onde não foi encontrada

diferença entre a pastagem e o campo nativo para o SMP e para a saturação por Al.

Os níveis de fósforo foram semelhantes para todos os usos do solo, corroborando com o

encontrado por Liu et al. (2002). Embora sem diferir, o cultivo com soja apresentou os

menores valores. Quando campo nativo é convertido em terras cultivadas, alterações nos

atributos químicos podem ocorrer, como a perda de P, N e C, quando não manejado de

forma adequada (WHALEN et al., 2003).

Ainda, o cultivo com soja apresentou os menores teores de potássio, diferindo

significativamente do campo nativo nas camadas de 0,10-0,20 e 0,20-0,30 m. Esse

nutriente é extraído em grande quantidade pela cultura da soja, o que faz com que o seu

aporte no solo, muitas vezes não seja o suficiente para cultivos sucessivos (FOLONI &

ROSOLEM, 2008), exigido uma maior restituição através da adubação.

Foram encontrados valores superiores de cálcio e magnésio no campo nativo, em

ambas as camadas. Abrão et al., (2015) constataram que a conversão do campo natural

em área florestada causou redução nos teores de cálcio e magnésio. Os valores de

carbono orgânico do solo não diferiram entre os diferentes usos, e seus valores

decresceram conforme a profundidade, efeito constatado também por BAVOSO et al.,

(2010).

Propriedades biológicas do solo

Não houve diferença estatística significativa entre os diferentes sistemas de

manejo estudados para as propriedades biológicas do solo. Para a biomassa microbiana

do solo, o maior valor foi obtido no plantio direto com soja, corroborando com os

resultados obtidos por Lisboa et al., (2012) onde a biomassa se mostrou maior no

plantio direto. O aumento da biomassa microbiana do solo é alusivo ao plantio direto no

âmbito da adição de resíduos de culturas diversas na superfície do solo, o que não

acontece em sistemas de cultivo como pastagem e campo nativo (ROLDÁN et al.,

2003).

Nesse sentido, entende-se que o aumento da matéria orgânica no solo,

proporcionada por sistemas de cultivo como o plantio direto, seguido do campo nativo,

consequentemente proporcionam a manutenção e o aumento da biomassa microbiana do

solo (LISBOA et al., 2012).

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Embora sem diferir estatisticamente, o comportamento da respiração basal do solo foi

maior para o plantio direto com soja, seguido pelo campo nativo. Resultados

semelhantes foram encontrados por Lisboa et al. (2012) e Meriles et al. (2009), onde os

sistemas de cultivo que envolvem baixa mobilização do solo apresentam respiração

basal superiores, indicando incremento na atividade microbiana do solo, devido ao

aporte de C, decorrente da conservação de umidade e cobertura do solo na camada

superficial.

No que diz respeito à respiração basal do solo, houve equivalência entre os três

diferentes usos do solo estudados. A atividade respiratória resultante da ação dos

microrganismos na produção de carbono e consequente emissão de CO2 estão sendo

parecidas para ambos os manejos, dada à ausência de diferença estatística.

Os valores obtidos para o quociente metabólico do solo não apresentaram

diferença estatística, assim como o observado por Silva et al., (2012). No entanto, as

áreas de campo nativo e pastagem, apresentaram um aumento deste parâmetro quando

comparado ao ambiente com soja.

Esse padrão indica um aumento de estresse, o que pode ser explicado devido ao

aumento de temperatura nessas áreas, acelerando a atividade da biomassa microbiana

(SOUZA et al., 2010). Esse episódio não acontece na área cultivada com soja, visto a

existência de espessa camada de palhada, que conserva a umidade e temperatura do

solo. Por conseguinte, mudanças de cobertura vegetal proporcionam respostas diferentes

dos microrganismos, que são sensíveis indicadores.

Índice de qualidade do solo

Não houve diferença estatística significativa para o índice de qualidade do solo

entre os diferentes manejos, embora o sistema de referência (campo nativo) tenha

apresentado o maior índice de qualidade do solo (Figura 2b). As propriedades químicas

e a propriedade biológica influenciaram para que o campo nativo obtivesse maior índice

de qualidade do solo (Figura 2a).

Para todos os usos do solo estudados, a propriedade física sofreu maior

influência negativa pelo manejo adotado nas áreas, consequentemente, tornando-se a

propriedade mais limitante para altos índices de qualidade do solo (Figura 2a). Em

contrapartida, as correções químicas realizadas pelo manejo adotado beneficiaram a

qualidade química na pastagem e na soja, mantendo uma capacidade de funcionamento

superior a 0,70 (Figura 2b).

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A recente expansão da soja no Argissolo estudado não implicou na perda de

qualidade do solo, indicando que implantação de pastagem cultivada e soja com manejo

adequado, mesmo em solos suscetíveis a degradação, conseguem manter o seu

funcionamento adequado e a qualidade do solo.

Figura 2 – Contribuição ponderada das propriedades do solo (A) e o índice de

qualidade do solo (B), nos usos do solo CA (campo nativo), PA (pastagem), SO (soja)

do Argissolo Vermelho Amarelo distrófico.

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* Médias seguidas de letras iguais, não diferem pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

Fonte: Autor (2019)

Segundo Cherubin et al. (2017), a prática do plantio direto associado ou não com

a integração lavoura-pecuária, tende a aumentar o índice de qualidade do solo devido ao

acréscimo das propriedades biológicas do solo e melhoria da fertilidade química

realizada com o manejo, porém, os efeitos da compactação influenciam negativamente

as propriedades físicas do solo.

LUVISSOLO HÁPLICO ÓRTICO TÍPICO

Propriedades físicas do solo

O cultivo com soja apresentou valores superiores para densidade do solo,

diferindo do sistema de referência com campo nativo na camada de 0,0-0,10 m, para a

área I, sendo o mesmo observado por Sarmento et al. (2008). Para a área II, o maior

valor também foi encontrado na soja, porém este não diferiu da pastagem cultivada, que

apresentou o mesmo valor, apenas diferindo estatisticamente do campo nativo.

Na camada de 0,10-0,20 m, não houve diferença entre os diferentes usos do solo

para a densidade, mas mesmo assim, esse valor ainda foi superior para a soja. Assim

como na área II, a soja manteve o maior valor obtido para a densidade, mesmo sem

diferir do sistema com campo nativo.

O aumento da densidade em áreas de cultivo com soja em plantio direto é

consequência dos níveis intensos de tráfego de máquinas e implementos agrícolas, que

faz com que as partículas de solo se aproximem e ocupem um menor espaço

(VALICHESKI et al., 2012).

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Corroborando com o encontrado para a densidade do solo, a porosidade total

apresentou os menores valores no cultivo com soja na área I para a camada 0,0-0,10 m.

Em plantio direto, a densidade do solo tende a decrescer com a profundidade e a

porosidade total tende a se comportar de modo inverso, pois ambas são dependentes

entre si (TRINTINALIO et al., 2005). Já na área II, a porosidade total não diferiu entre

o cultivo com soja e pastagem, onde o maior valor de espaços porosos foi obtido para o

sistema de referência com campo nativo.

O campo nativo obteve valores superiores para microporosidade na área I,

diferindo significativamente da pastagem cultivada e da soja, na camada superficial. Em

contrapartida, para a macroporosidade o valor obtido foi significativamente inferior ao

encontrado na pastagem cultivada, assemelhando-se com ao encontrado para a soja. Na

camada de 0,20-0,30 m, não foi constatada diferença estatística para nenhum dos

parâmetros estudados nos diferentes manejos de solo.

Na área II, a pastagem obteve o maior valor de microporosidade em ambas as

camadas estudadas, diferindo dos demais manejos nas camadas de 0,0-0,10 e 0,10-0,20

m. Ainda, a pastagem apresentou o menor valor de macroporosidade na camada

superficial, diferindo estatisticamente.

4.3.2 Propriedades químicas do solo

A pastagem cultivada apresentou maior valor de pH e SMP na área I, diferindo

significativamente dos demais usos da terra em ambas as camadas, com exceção da

0,20-0,30 m, que embora o cultivo com pastagem tenha apresentado os maiores valores,

não diferiu do campo nativo. Corroborando com esses resultados, os valores de Al3+

, H+

+ Al3

e saturação por Al foram menores para a pastagem na área I, com exceção para o

Al na camada 0,20-0,30 m.

Para a área II, a pastagem novamente obteve os maiores valores de pH, embora

não tenha diferido do campo nativo em nenhuma das camadas estudadas. Destaca-se o

baixo valor de pH encontrado para o cultivo com soja, resultante provavelmente, da

recente mudança do uso da terra, para o plantio direto.

A saturação por bases foi maior para a pastagem nas camadas de 0,0-0,10 e 0,10-

0,20 m, seguida pela soja na área I. Valores de alta saturação por bases e baixa

saturação por Al3+

estão associados com o aumento dos valores de pH (TIECHER et al.,

2016), corroborando com os dados obtidos para esses parâmetros, e indicando uma

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calagem adequada nessas essas áreas. Na camada superficial da área II, embora a

saturação por bases tenha sido maior, o respectivo pH foi baixo, pois o tempo de

correção e manejo do solo ainda é recente.

Geralmente, áreas de recente mudança no uso da terra, como no ambiente

cultivado com soja, apresentam problemas de acidez, ocasionadas pela absorção de

cátions pela cultura, posteriormente exportados durante a colheita (CHERUBIN et al.,

2014). Esse fato não foi constatado na área I, cultivada com soja, reforçando o manejo

adequado que vem sendo realizado na mesma.

Os teores de fósforo no solo foram superiores para a área com cultivo de soja,

diferindo estatisticamente nas camadas 0,0-0,10 e 0,10-0,20 m a área I. Para a área II,

observou-se o mesmo resultado, com exceção da camada superficial, onde o maior valor

foi para a pastagem, porém, esse não diferiu da soja.

Os altos teores de fósforo constatados em solo com cultivo de soja se devem a

adubação fosfatada realizada na área, além dos resíduos variados de plantas na

superfície, o que favorece a ciclagem do fósforo (LUZ, 2017). Em contrapartida, o

bioma pampa é caracterizado em sua maioria, por pastagens naturais com baixos teores

de fósforo (OLIVEIRA et al., 2014).

A pastagem apresentou os maiores valores de potássio, diferindo

significativamente em todas as camadas estudadas quando comparada com o campo

nativo e com a soja para a área I. A criação de bovinos favorece o ciclo do potássio, pois

grande parte deste elemento retorna ao solo através da urina dos animais, sendo liberada

a solução do solo e apresentando-se prontamente disponível (HAYNES & WILLIAMS,

1993).

Em contrapartida, na área II os maiores valores encontrados para o potássio

foram no cultivo com soja. Embora esse macronutriente seja extraído em grande

quantidade pela cultura, os altos teores encontrados podem ser ainda resultantes do

sistema com campo nativo, e que recentemente foi modificado para o cultivo com soja

em plantio direto.

Os valores de Ca e Mg foram superiores para o ambiente cultivado com soja em

todas as camadas na área I. O aumento de Ca decorre da calagem adequada nesse manejo

de solo (DA ROS et al., 2017), beneficiando a qualidade química, o que ainda não ocorre

na área II, devido ao curto tempo de manejo no sistema plantio direto com soja.

Na área I, o carbono orgânico do solo não diferiu entre os diferentes usos, e seus

valores decresceram conforme a profundidade, efeito constatado também por BAVOSO

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et al., (2010). Já para a área II os maiores valores obtidos foram para a pastagem

diferindo significativamente dos demais usos do solo em todas as camadas estudadas,

demonstrando que a matéria orgânica nesse sistema se encontra estável (VEIGA &

COUTINHO, 2015).

Propriedades biológicas do solo

Os diferentes usos do solo não demonstraram influência sobre o carbono da

biomassa microbiana, não apresentando diferença significativa entre eles em ambas às

áreas estudadas. Embora sem diferir, o cultivo com soja foi superior para esse parâmetro

na área I, seguido pelo campo nativo e pastagem, respectivamente.

O plantio direto costuma apresentar resultados semelhantes a esse, pois

proporciona adição de palhada e resíduos na superfície do solo (ROLDÁN et al., 2003).

Com o aumento na matéria orgânica, consequentemente aumenta a biomassa

microbiana do solo (LISBOA et al., 2012). Para a área II, o cultivo com soja obteve o

menor valor de biomassa microbiana do solo, fato esse atribuído à recente mudança no

uso da terra, que ainda não se torna um sistema consolidado.

A respiração basal do solo indicou diferença estatística entre os diferentes

manejos estudados na apenas na área I. Os ambientes com campo nativo e pastagem

apresentaram valores superiores, diferindo do cultivo com soja. Alves et al. (2015)

relatam que o manejo de culturas agrícolas como a soja, pode causar a imobilização

temporária de nutrientes e da atividade biológica do solo.

Sistemas de cultivo com gramíneas apresentaram maiores valores para

respiração basal do solo em um trabalho realizado por Assis et al. (2003), corroborando

com o encontrado neste estudo para ambas as áreas. Vale ressaltar que altos valores de

respiração podem significar alto nível de distúrbios, ou então, de produtividade

(ALVES et al., 2015).

Os diferentes manejos de solo não diferiram estatisticamente para o quociente

metabólico do solo, assim como o observado por Silva et al., (2012). Isso indica que a

eficiência no uso de substrato e a atividade metabólica dos microrganismos estão sendo

semelhante para todos os ambientes estudados.

Mesmo sem diferir, os ambientes com pastagem cultivada apresentaram valores

superiores para esse parâmetro em ambas as áreas estudadas. Valores altos de quociente

metabólico do solo indicam aumento de estresse e maior grau de distúrbio nos

ambientes.

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Índice de qualidade do solo

Não houve diferença estatística significativa para os índices de qualidade do

solo, entre os diferentes manejos em ambas as áreas estudadas (Figura 3b). Embora, o

cultivo com soja tenha apresentado um índice maior do que o sistema de referência

(campo nativo) na área I, fato ocorrido devido às propriedades químicas e biológicas da

soja, que alavancaram o índice de qualidade final (Figura 3a).

Ainda na área I, o menor índice de qualidade do solo foi obtido para a pastagem

(Figura 3b), o que se deve basicamente a influência do manejo nas propriedades

biológicas do solo (Figura 3a). Em contrapartida, a propriedade física e as propriedades

químicas contribuíram para que o índice fosse alavancado, conseguindo manter-se

similar aos demais manejos, e demonstrando uma capacidade de funcionamento

superior a 70%, devido a essas compensações nos scores.

Na área II o maior índice de qualidade do solo foi encontrado no sistema de

cultivo com pastagem (Figura 3b), que foi alavancado devido às propriedades físicas e

químicas do solo. Seguido pelos sistemas de campo nativo e soja, respectivamente, que

obtiveram índices de qualidade do solo muito similares, impulsionados pelas

propriedades biológicas (Figura 18a).

Trabalhos na África do Sul relatam que o cultivo de pastagem com usos de

produtos químicos e herbicidas, e também a pertubação no solo diminuem a qualidade

biológica (SWANEPOEL et al. 2015), o que pode ter acontecido no uso do solo com

pastagem para o Luvissolo Háplico Órtico típico.

Figura 3 – Contribuição ponderada das propriedades do solo (A) e o índice de qualidade

do solo (B), nos usos do solo CA (campo nativo), PA (pastagem), SO (soja) do

Luvissolo Háplico Órtico típico.

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* Médias seguidas de letras iguais, não diferem pelo teste t, ao nível de 5% de probabilidade de erro.

Fonte: Autor (2019).