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QUALIDADE NA APRENDIZAGEM
Eixo 2 – “Política Educacional e Gestão Escolar”
DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS: UMA
ANÁLISE DAS “CRECHES AMPLIADAS”
Universidade Federal de Santa Catarina
Linha: Educação e Infância/2011 Orientanda: Marlise Oestreich
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Roselane Fátima Campos
A questão central
A estratégia das “creches ampliadas”, adotada pelo governo municipal (Berger), e que tem ampliado a oferta de vagas, vem também garantindo a qualidade do atendimento educativo destinado às crianças que as frequentam?
O que são “creches ampliadas”
Trata-se de instituições que antes possuíam, em média, 6, 7 ou 8 salas e passaram a contar com 10 salas de atividades ou mais.
O NEI Ingleses e o NEI Armação foram instituições totalmente construídas novas, apresentando, inclusive, uma estrutura diferente das demais.
OS PRESSUPOSTOS
1. A democratização da Educação Infantil implica a universalização de seu acesso a todas as crianças de 0 a 5 anos, conforme preceito constitucional;
2. O que fundamenta a universalização do acesso à Educação Infantil é o direito que todas as crianças de 0 a 5 anos têm de se desenvolver integralmente “em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29 – LDB/1996);
3. A universalização da Educação Infantil implica na obrigatoriedade de sua oferta a todas as crianças de 0 a 5 anos, sem qualquer limite à sua abrangência (idade, classe social, gênero, região, etc.);
4. A garantia plena deste direito sustenta-se ainda na qualidade da educação oferecida às crianças. Assim, não basta efetuar a ampliação de vagas, se as condições básicas necessárias a um atendimento que respeite os direitos das crianças não estiverem presentes.
Os objetivos específicos
a) Identificar e analisar as estratégias que foram utilizadas pelo poder público municipal no período de 2000 a 2010 para responder as demandas explícitas de vagas na Educação Infantil;
b) Analisar os critérios utilizados pela Secretaria Municipal de Educação (SME) para a escolha das instituições que foram ampliadas;
c) “Mapear” as instituições ampliadas e investigar os efeitos desta ampliação na organização da gestão, no espaço físico, no tempo, na rotina, nos espaços coletivos (refeitório, parque) e no trabalho dos profissionais de sala (professores e auxiliares de sala) e de outros profissionais da instituição.
O percurso da pesquisa - desenvolvida em três etapa s
a) Levantamento da bibliografia da área – artigos, dissertações e teses;
b) Análise de fontes documentais;
c) Pesquisa de campo em uma instituição de Educação Infantil, escolhida dentre aquelas que nomeamos “creches ampliadas”. Foram instrumentos desta pesquisa as fontes documentais e as entrevistas.
Capítulo 1 - A democratização da Educação Infantil n o Brasil
1.1 Antecedentes da Constituição do direito das crianças pequenas àeducação
• 1.2 A década de 1970-1980: primeira onda de expansão
• 1.3 Do direito à educação - a efetivação da política: década de 1990• 1.4 O acesso à Educação Infantil e a obrigatoriedade da pré-escola
• Autores: TEIXEIRA, FERNADES, FAVERO, AZANHA, CARVALHO, KISCHIMOTO, FARIA, NISKIER, KUHLMANN, ROSEMBERG, CAMPOS, M. M., PEREIRA, RIZZINI, PINTO, SOARES, REZENDE PINTO, CAMPOS R. F., SILVA.
• Documentos: Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases; Leis trabalhistas, Estatuto da Criança e do Adolescente.
• Destaque: Manifesto dos Pioneiros, Manifesto em Defesa da Escola Pública, Movimento das Mulheres, MNMMR.
Legislações Federais e os Manifestos de 1932 e 1959
ano Cons. Federal
LDBs Legislação Trabalhista
Outros
1932 Decreto 21.417 Manifesto Pioneiros
1934 CF
1943 Decreto 5.452
1946 CF
1959 Manifesto Defesa Escola Pública
1961 LDB
1967 CF Decreto-lei 229
1969 EC
1971 LDB
1988 CF
1990 ECA
1996 LDB
Capítulo 2 – A qualidade da Educação Infantil
• 2.1 O que é qualidade da Educação Infantil? Concepções em construção
• 2.2 Os marcos regulatórios sobre qualidade na/da Educação Infantil
• 2.2.1 Os marcos regulatórios dos anos 1990• 2.2.2 Os marcos regulatórios na década de 2000
• 2.2.3 O que dizem as pesquisas sobre a qualidade da Educação Infantil brasileira?
• Autores: BONDIOLI, ZABALZA, ROSEMBERG, CORREA, KULHMANN, CAMPOS M.M., FULGRAFF, WIGGERS, CURY, MOSS.
• FCC, 2006 e FCC, 2010.
Os marcos regulatórios da qualidadeAno Documento/Legislações
1995 Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças.
1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
1998 Subsídios para o credenciamento e funcionamento de instituições de Educação Infantil.
1999 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
2006 Parâmetros Nacionais de qualidade para a Educação Infantil (vol. 1 e 2).
2009 Indicadores de Qualidade na Educação Infantil.
2009 Parecer CNE/CEB nº 20/2009 – Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
2009 Resolução CNE/CEB nº 5 - Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.
2010 Resolução CNE/CEB 08/2010 – Estabelece o CAQi – Custo aluno/qualidade.
Capítulo 3 – Os efeitos da ampliação na qualidade da Educação Infantil: um estudo sobre o NEI Armação
• 3.1 A rede municipal de Educação Infantil de Florianópolis• 3.2 Gestão popular: estratégia de ampliação via zoneamento e ampliação do
conveniamento com o setor privado-filantrópico• 3.3 A “era Ângela Amin” – novas estratégias de expansão• 3.4 Nova gestão – “era Berger” (2005-2008)• 3.4.1 A principal estratégia para expansão do atendimento: as “creches ampliadas”• 3.4.2 Distribuição das creches ampliadas, por região• 3.4.3 Os critérios de expansão• 3.5 Os efeitos da ampliação na qualidade da Educação Infantil: um estudo sobre o NEI
Armação• 3.5.1 A expansão e o espaço físico• 3.5.2 A expansão e a gestão• 3.5.3 A expansão e a organização do trabalho pedagógico – efeitos sobre a prática
pedagógica• 3.5.3.1 Efeitos sobre a organização do trabalho coletivo dos professores• 3.5.4 O impacto da expansão no trabalho dos profissionais/professores• AUTORES: OSTETTO, WALTRICK, CARMINATTI, FULLGRAF, ROSEMBERG,
FRANCISCO, FRAGO, AGOSTINHO, BATISTA.• DOCUMENTOS: RELATÓRIOS DE GESTÃO, PLANOS DE GOVERNOS, PPP,
PORTARIAS, ENTREVISTAS.
ESTRATÉGIAS DE AMPLIAÇÃO DO ATENDIMENTO E OUTROS ASPECTOS
ANO ESTRATÉGIA
1993 - 1996 Zoneamento e conveniamento
1999 “Uma vaga a mais” – Conselho Tutelar
2000 Turmas com crianças de diferentes idades
2001 Turmas mistas de idades aproximadas (25% das vagas – reserva – risco social)
2002 Turmas - grupos
2003 60% das vagas serão para atendimento em período parcial
2004 Preenchimento de vagas. Grupos mistos de idades aproximadas
2005 Crianças matriculadas no ensino fundamental não poderão se inscrever na Educação Infantil
2006 Ampliada a estrutura física…
2007 Vulnerabilidade e comissão microrregional
2008 Buscar atender grupos IV, V e VI
2011 NIS – Número de inscrição social
DADOS DE MATRÍCULA DA RMEI E DOS CONVÊNIOS
ANO RMEI CONVÊNIOS TOTAL
2000 5.536 6.331 11.867
2010 10.439 2.140 12.579
712
AUMENTO DAS VAGAS POR ANO – “CRECHES AMPLIADAS”
ANO NÚMERO DE VAGAS PERCENTUAL
2006 357 27,38%
2007 145 11,12%
2008 462 35,43%
2009 227 17,41%
2010 113 08,66%
TOTAL 1.304
DISTRIBUIÇÃO POR REGIÃO E 1ª OPÇÃO POR REGIÃO - 2010
REGIÃO LISTA DE ESPERA – 1ªOPÇÃO
DISTRIBUIÇÃO DAS “CRECHES AMPLIADAS”
NORTE 34,54% 33,33%
CONTINENTE 21,39% 08,33%
SUL 21,11% 25,00%
CENTRO 20,59% 25,00%
LESTE 02,36% 08,33%
DADOS POPULACIONAIS E COBERTURA DE 0 A 5 ANOS/RMEI
Bairro Projeção da população/2000 - 2010
Cobertura 0 a 5 anos/RMEI
Rio Vermelho 92,66% 33,5%
Canasvieiras 88,76% 14,4%
Ingleses 87,66% 23,9%
Cach. Bom Jesus 67,44% 21,0%
Campeche 61,69% 20,5%
“ Creches ampliadas ” – 2006 à 2011Instituição antes depois % de expansão
Creche Almirante 10 13 21,05%
Creche Caetana 07 10 55,55%
Creche Fermínio 06 10 41,41%
Creche Ingleses 06 12 66,25%
Creche Orlandina C. 08 12 51,32%
Creche Doralice T.B.
06 10 44,52%
Creche Waldemar 07 11 63,00%
Nei Armação 04 10 93,08%
Nei Ingleses 03 10 296,23%
Nei São João 06 10 58,03%
Creche Anna S. 06 10 61,72%
Creche Celso P. 06 12 105,61%
A escolha do campo“Creches ampliadas”: total: 12 instituições: 09 creches e 03 NEIs. As primeiras “creches ampliadas” foram inauguradas em 2006.
NEI Ingleses: maior crescimento no atendimento (296,23%). Poucosprofissionais que viveram o antes e o após a ampliação e que permaneciam na instituição; a região norte é a região em que há maior rotatividade de profissionais: muitas designações e muitos profissionais substitutos.
Creche Celso Pamplona: 105,61%, inaugurada em 2011.
NEI Armação : 93,08% de ampliação no atendimento. Havia um número significativo de profissionais que permaneceram na instituição após a ampliação, com representatividade dos professores,dos auxiliares de sala, das merendeiras,dos serviços gerais e da direção (a diretora atual jáocupou o cargo de diretora quando o espaço era menor).
NEI Armação e os sujeitos das entrevistas
Sujeito Número
Direção 01
Supervisão 01
Professoras 05
Auxiliares de sala 05
Merendeiras 01
Serviços Gerais 01
TOTAL 14
Resultados da pesquisaESPAÇO FISÍCO
Dicotomia do espaço: interno e externo (parque – tratado à parte) – binômio atenção/controle – FARIA (1999);
Tensão em relação ao espaço: se por um lado parece que as crianças têm mais espaço para circulação, por outro, esta fica condicionada à permissão ou não do adulto.
O TRABALHO DA DIREÇÃO
Há um aumento de atividades de ordem administrativa, sobrecarregando a direção. A falta de outros profissionais que colaborem na execução destas demandas administrativas também implica em mais horas de trabalho da direção - Conselho Deliberativo e APP.
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO
Impactos no período de atendimento – de parcial para integral – e na faixa etária – grupos de faixa etária menor;
Rotinas mais enrijecidas – BATISTA (2000) - e práticas adultocêntricas –CERISARA (2004) ;
Mudanças na qualidade das relações estabelecidas entre os sujeitos que ali convivem – crianças, funcionários, famílias;Há um distanciamento das famílias. Mais da metade das crianças utilizam a “topic” como meio para chegar à instituição. O distanciamento é causado, também, pela procura do atendimento de famílias de outras comunidades e que têm crianças matrículadas no NEI;
A falta de funcionários vem impossibilitando a realização dos grupos de estudo e do planejamento de sala;
Embora o NEI apresente vários projetos coletivos, sinalizam-se várias dificuldades ;
Há uma aceleração do tempo dos adultos, que vai “atropelando” o tempo das crianças;
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO DOS PROFESSORES
Com relação a “Formação Continuada”, a instituição indica que a formação oferecida pela SME trate também destes espaços ampliados na RMEI;
O planejamento revela a falta de tempo, a falta de funcionários para “cobrir” a saída da sala dos profissionais. Algumas vezes os profissionais utilizam o tempo do sono das crianças para se reunir;
Os grupos de estudos acontecem fora do horário de trabalho, porém há dificuldades para que se atinjam todos os profissionais;
A reunião pedagógica com aproximadamente 50 à 60 pessoas, dificultando o cumprimento da pauta, a troca de experiências – socialização de relatos e projetos –, as decisões coletivas;
TRABALHO DOS PROFISSIONAISMudança nas relações entre os funcionários: há um distanciamento provocado pelo aumento da instituição: espaço físico e do número de funcionários;
Com relação à terceirização - merendeiras e serviços gerais -foram apontadas a falta de formação e muita rotatividade destes profissionais, ocasionando também mudanças nas relações com as crianças, prejudicando a integração;
Esta falta de tempo e espaço para o diálogo entre os profissionais foi apontada como uma das fragilidades igualmente nas lutas sindicais;
Apontou-se um sentimento de “desqualificação” profissional; As crianças estão mais tempo fora de casa, pois aquelas que se utilizam da “topic” chegam mais cedo à instituição e saem mais tarde. Consequentemente as auxiliares de sala (vespertino) sentem-se mais sobrecarregadas, ficando mais tempo sozinhas com o grupo de crianças;
Atualmente, para conversar com as famílias, as profissionais necessitam se organizar fora do horário de trabalho ou no horário de almoço;
A falta do quadro completo de funcionários no início do ano letivo foi indicado como um dos fatores de sobrecarga dos profissionais, e que culminou com a suspensão do atendimento das crianças;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A expansão da RMEI – tensões presentes (e passadas) entre a quantidade e a qualidade. Estas tensões encontram-se potencializadas neste espaço ampliado;
Somente a “superação de preconceitos técnicos permite situar a maciça ampliação de oportunidades na sua autêntica dimensão que é política”(AZANHA, 2004, p. 339);
Quantidade: dimensão política – compromisso social. Os argumentos somente de ordem pedagógica não podem ser impeditivos para a não expansão da Educação Infantil;
Qualidade: vista sob a ótica do direito da criança de 0 a 6 anos – CORREA (2003) ;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As estratégias de ampliação encontram-se focadas no atendimento aos grupos GIV, V e VI – PEC 59/2009;
Em 2010 os grupos GI, II e III representavam 88% da demanda da “lista de espera” (Nazário, 2011);
A região norte apresenta o maior número de “creches ampliadas”, assim como o maior crescimento populacional. Porém é também a região que apresenta a menor cobertura do atendimento de 0 a 5 anos, realizado pela RMEI;
Há uma incorporação das matrículas na RMEI: são encerrados convênios com os NACs (creches domiciliares) e também municipalizadas creches estaduais e algumas conveniadas, além do ensino fundamental de 9 anos;
Em 2007 a SME assinou o TAC junto ao Ministério Público, comprometendo-se com a ampliação do atendimento;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desafio de superar dicotomias ainda presentes na prática pedagógica da Educação Infantil: espaços interno e externo, o binômio atenção/controle, as rotinas enrijecidas e as práticas adultocêntricas;
É preciso destacar que, apesar dos problemas, a RMEI de Florianópolis vem se destacando no que se refere à qualidade da educação oferecida às crianças pequenas – FCC, 2010;
Indicamos a necessidade de mais pesquisas, pois esta constitui-se apenas como um ponto de partida;
O que teriam a nos dizer as crianças? Ouvi-las pode ser uma rica oportunidade de aprendermos mais, dar voz a elas é cumprir com um de seus direitos fundamentais: o direito de participação!
Um trecho inspirador...
“São coisas pequenas que a gente não consegue muitas vezes nem discutir. É isso aí que estáacontecendo, de o professor ficar ocupado o tempo todo. É muito bom pra quem tem outra visão de educação, porque nós não conseguimos mais nos falar. Se era esse o objetivo, atingiram. Não se falando, não se discutem ideias, não se discutindo ideias, não se avança em nada.” (Sujeito 10)
Finalizando...
Este trabalho é dedicado a todos os profissionais da RME de Florianópolis, que lutaram e lutam por uma Educação Pública e de Qualidade.
Enfim, obrigada a tod@s que, de uma forma ou de outra, sempre apoiaram a realização desta pesquisa e contribuíram para minha formação.Obrigada sempre!