Quantificacao Do Limiar Anaerobio AntonioGraca

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quantificacao_do_limiar_anaerobio_AntonioGraca

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  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 1

    QuantificaodoLimiarAnaerbio

    (ControloAtravsdaLactatmia)

    ProfessorAntnioGraa

    TreinadordeAtletismo

    TcnicoRegionaldaAssociaodeAtletismodeLeiria

    ColaboradordoSectordeMeioFundodaFPA

    1.Introduo

    Organizar e colocar em prtica o planeamento do treino requer a sua

    confirmao atravs demeios de avaliao. Este controlo , sem dvida, um

    instrumentodeajudaqueotreinadormodernonodevedispensar.

    Athbempoucotempo,onicomeio,maiscomummentedifundido,deavaliar

    otreinodosatletasderesistnciaeraamediodafrequnciacardaca.Como

    avanar dos tempos foramse padronizando outros instrumentos de controlo,

    comoaavaliaodosvaloresdoconsumomximodeoxignioedasanlises

    sanguneas, onde se podem quantificar as vrias molculas presentes no

    sangue.Umadessasmolculasocido lcticoqueseencontrapresenteno

    sangue, emmenor ou maior quantidade, conforme a actividade realizada e a

    intensidade do esforo despendida. este instrumento de controlo que os

    estudiosos do treino tm tentado desmistificar nos ltimos anos. Apesar da

    maioria dos estudos comprovarem a sua credibilidade, o uso do cido lctico

    como meio de controlo e quantificao do treino ainda no tem uma total

    aprovaoporpartedostreinadoresedacomunidadecientfica.

    Durantemuitosanos julgousequeoconsumomximodeoxignioeraonico

    meiodeavaliararesistncianosatletasmeiofundistas.Smuitorecentemente

    se contabilizou que nem sempre o VO2 se mostra ser o parmetro mais

    importantedeavaliaodonvel de resistnciadosatletasmeiofundistas.Por

    exemplo, pode perfeitamente acontecer que um atleta com o mesmo VO2

    mximo que um outro, mas com uma velocidade de limiar anaerbio mais

    elevada,mostreclaramenteumrendimentomaiselevadoemprovassuperiores

  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 2

    a 5.000 e 10.000 m, ou seja, distncias que esto mais identificadas com a

    capacidadeaerbia.

    2.AlgumasConsideraesSobreoLimiarAnaerbio

    Como se sabe, desde que o atleta inicia a realizao de um esforo a baixa

    intensidade e vai aumentando at atingir o esgotamento, atravessa vrios

    patamares de solicitao energtica. Inicialmente, num esforo de fraca

    intensidade, por exemplo corrida contnua lenta, a energia fornecida pelo

    glicognio e, principalmente, pelas gorduras. Estamos ento numa zona de

    produoenergticapreponderantementeaerbia.Nestaintensidadedeesforo

    o cido lctico produzido insignificante.Emesmo essa pequena quantidade

    produzidapeloorganismoporelemesmofacilmenteassimilada,sendomuitas

    vezes inferior aos valores de repouso (cerca de 1,5mmol/l). Aps um ligeiro

    aumento da intensidade no esforo que se est a produzir, provvel que a

    quantidade de cido lctico possa elevarse acima dos valores de repouso.

    Entooorganismointensificaosmecanismoderemoodesteresduofinaldo

    glicognio.Mas,continuandoaaumentaraintensidade,existirumaumentode

    produo cido lctico podendo o organismo conseguir, ou no, remover o

    referidocidomesmavelocidadequeesteseproduz.

    Podemos ento dizer que, a partir destemomento, ouseja, quando aenergia

    anaerbia comea tambm a comparticipar na produo energtica, foi

    alcanadoolimiaranaerbio.Apesardisto,desdeaintensidadeemquealcana

    olimiaranaerbioatzonadeesforoemquesealcanaoconsumomximo

    deoxignio,aenergiacontinuaaserpredominantementeaerbiasendoapenas

    uma pequena parcela de energia assegurada pelo sistema anaerbio. E s a

    partirdomomentoemqueseultrapassaazonadeesforodoconsumomximo

    deoxignioqueaenergiapassaserpredominantementeanaerbia.

    Mas como saber ento qual o momento exacto em que se alcana o limiar

    anaerbio?Muito se discute ainda sobre estamatria, mas definiuse, grosso

    modo, que o momento em que o organismo no consegue remover o cido

    lctico mesma velocidade que se produz alcanado cerca das 4 mmol/l.

    Apesardisto,sabeseperfeitamentequeestemomentonoigualparatodos.

  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 3

    3.Testedeterrenoparaavaliaravelocidadedolimiaranaerbios4mmol

    (V4)

    As pesquisas mostramnos que a transio da zona de produo de energia

    aerbiaparaumacadavezmaiorsolicitaodeproduodeenergiaanaerbia

    acontececercadas3e as5mmol de lactatopresente noplasmasanguneo.

    Paraseavaliarcorrectamenteestedadohanecessidadedesequantificara

    velocidadea queo atleta alcana o limiar individual. Como o limiar anaerbio

    individualmostraseumdadodedifcilquantificao,Mader(citadoporSantos,

    1995)convencionou,genericamente,queo limiaranaerbiosealcanavas4

    mmol.Assim,muitosinvestigadorescolocaramdeparteaquantificaodolimiar

    anaerbioindividualepassaramadeterminaravelocidades4mmoldelactado

    (V4). Por este facto a utilizao deste mtodo simplificado para avaliar a

    capacidadeaerbiadoatletageneralizouse.

    Para avaliar a V4 Mader (citado por Santos, 1995) utiliza um protocolo que

    consistenarealizaode4esforos(patamares)de6a8comumaumentode

    0.40m/sem cada patamar. Podem utilizarse, nomesmo teste, distncias de

    1000 a 2000 m conforme a intensidade e a durao. O protocolo deve ser

    realizadoempistade400mdemodoaquea velocidadedoatletapossa ser

    aferida em cada 200 m. Esta aferio fazse atravs de sinais sonoros no

    momentoemquealcanadootemporeferenteparcelados200m,podendo

    estes sinais serem uma ajuda preciosa para a manuteno da velocidade

    referenteacadapatamar.

    A quantidade de lactato alcanada em cada patamar deve espelhar todo o

    esforodesenvolvidoduranteomesmoenoapenasumadeterminadaparcela.

    Porestefacto, importantequeospatamaressejampercorridosavelocidades

    uniformes,nuncatentantooatletaaumentardevelocidadepelofactodofimdo

    patamarseaproximar.Aumentaraandamentonapartefinalpodesignificaruma

    produo de lactato excedente que no corresponde ao esforo desenvolvido

    durantetodoopatamar.

  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 4

    Quadro1.Tabeladeandamentopararitmosdotesteda(V4).

    m/s 200 400 800m 1.000m 1.200m 1.600m 2.000m3.50 57.14 1.54.3 3.48.5 4.45.7 5.42.8 7.45.7 9.31.43.90 51.28 1.42.6 3.25.1 4.16.4 5.07.7 6.50.2 8.32.84.30 46.51 1.33.0 3.06.0 3.52.5 4.39.1 6.12.8 7.45.04.70 42.55 1.25.1 2.50.2 3.32.7 4.15.3 5.10.4 7.05.4

    A velocidade dos patamares deve ser calculada de modo que o ltimo seja

    percorridoaumavelocidadesuperioraoritmodohipotticolimiaranaerbio,ou

    seja, com uma lactatmia superior a 4 mmol. Normalmente a velocidade do

    primeiro patamar percorrido a velocidades inferiores mesma que o atleta

    treina a corrida contnua lenta, o segundo velocidade da corrida contnua

    mdiaeoterceirovelocidadedacorridacontnuarpida.Tendoemcontaque

    a velocidadedo limiaranaerbio se identifica, grossomodo,comavelocidade

    deumacompetiode15.000metros,e tendo tambmemcontaqueoltimo

    patamardeverser superiors4mmol, portantomais rpidoqueamdiada

    provade15.000metros,oltimopatamarestassimassociadovelocidadea

    queoatletacorreaumaprovaaoritmoprximodadistnciade10.000m.

    Arealizaodotestedeveserprecedidadeumligeiroaquecimento,composto

    por cercade5decorrida contnua, realizadaaumritmo inferior ou idntico

    velocidadederealizaodo1patamar.

    No final de cada patamar ser registado o tempo do mesmo e realizada a

    recolhadesangue,demodoaseranalisada,devendoesteprocessoserapenas

    o suficiente para executar a recolha sangunea que normalmente no dever

    exceder1a1minutoemeio.

    Para melhor realizarmos a recolha de sangue, deveremos untar o lbulo da

    orelha do atleta com uma pomada vasodilatadora de modo a aumentar a

    aflunciadesangueaolocalderecolha.Narecolhadeverosertomadostodos

    os cuidados sanitrios de modo que nem o pesquisador nem o pesquisado

    sejamposteriormenteafectadoscomalgumapossvelcontaminaosangunea.

  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 5

    Assim, cada atleta dever ser picada no lbulo com agulha esterilizada

    descartvel e utilizarse luvas de proteco prprias. Este kit dever servir

    apenasparaumatleta.

    4.Tratamentodosdados

    A partir do momento em que temos os dados referentes a cada patamar,

    velocidadesevalordelactato,poderemosquantificarolimiaraerbios2mmol

    (V2) e o limiar anaerbio s 4 mmol (V4). Apesar de existirem softwares

    prpriospararealizaremestaoperao,amesmapoderserexecutadaatravs

    da frmula da regresso da recta. Com esta frmula, a partir do valor

    imediatamente abaixo das 4mmol/l e imediatamente acima do referido valor,

    podesequantificarqualavelocidadedolimiars4mmol/l.

    Paraquemelhorsecompreendaestaoperaodseumexemplocomvalores

    fictcios. Os dados referentes velocidade de deslocao em cada patamar

    deverosertransformadosemm/s.Porexemplo,umpatamarde1.600metros

    percorridoem7.17,depoisdetransformadoemm/sassumeovalorde3.66um

    de 2.000 metros percorrido em 7.16 assumir o valor de 4.59 m/s. Assim,

    utilizando a frmula da regresso da recta, o resultado da operao seria o

    seguinte(exemplo):

    LA=X1+((YY1)*(X2X1))/(Y2Y1),emque:

    X1=velocidadedopatamarabaixodas4mmol(4.35m/s)

    Y1=valordelactatoabaixode4mmol(2.58)

    X2=velocidadedopatamaracimadas4mmol(4.59m/s)

    Y2=valordelactatoacimade4mmol(4.00)

    Y=4,valordelactatmiadolimiaranaerbio

    LA(4mmol)=3.66+((42.58)*(4.594.35))/(4.002.58)

    Velocidadedolimiaranaerbios4mmol(V4)=4.59m/s

  • AntnioGraaProtocoloparaquantificaroLimiarAnaerbio 6

    Nota:Sequisssemosavaliaravelocidadeda lactatmias2mmol ovalor Y

    assumiria o valor de 2 e todas as leituras de velocidade e de lactato seriam

    abaixodopatamarabaixode2mmoleacimadopatamarde2mmol.

    TestedoLimiarAerbio(V2)eAnaerbio(V4)

    1,00

    1,40

    2,58

    4,00

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    3,2 3,4 3,6 3,8 4 4,2 4,4 4,6 4,8

    Velocidade(m/s)

    cidoLc

    tico

    (mmol/l)

    Figura1.Grficoilustrandoaevoluodoteste.