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QUARTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2010 PRESIDÊNCIA: JERZY BUZEK Presidente 1. Abertura do período de sessões (A sessão tem início às 09H05) *** Edit Herczog (S&D). (EN) Senhor Presidente, procedemos ontem à discussão do orçamento. Durante o debate ficou evidente que o relatório elaborado pela Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia (ITRE) não tinha sido recebido pelos serviços relevantes. Verificámos este assunto. O relatório foi concluído e devidamente enviado, pelo que é provável que tenham ocorrido algumas falhas durante o procedimento. Todavia, não é importante descobrir o responsável nem determinar exactamente o que sucedeu. O mais importante é garantir que o nosso relatório, que era também a nossa base para o trílogo e no qual reside a maior diferença em comparação com o documento do Conselho, seja enviado para os documentos oficiais do Conselho. Como tal, trouxe-o comigo para vo-lo entregar, assim como ao Conselho. Pedimos atenciosamente que se certifique de que a proposta da Comissão ITRE, a qual foi adoptada por unanimidade, chega às mãos do Conselho em tempo devido. Agradeço muito o vosso apoio nesta questão. Presidente. – Faremos o que nos solicita. Será um prazer. O início da discussão de hoje é fantástico! 2. Medidas de execução (artigo 88.º do Regimento): ver Acta 3. Preparação do Conselho Europeu (28-29 de Outubro) - Preparação da Cimeira do G20 (11-12 de Novembro) - Crise financeira, económica e social: recomendações referentes a medidas ou iniciativas a tomar - Reforçar a governança económica e o quadro da estabilidade da União Europeia, nomeadamente na área do euro (debate) Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta: - das declarações do Conselho e da Comissão sobre a preparação da Cimeira do G20 (11-12 de Novembro), - das declarações do Conselho e da Comissão sobre a preparação do Conselho Europeu (28-29 de Outubro) - do relatório (A7-0267/2010) da deputada Pervenche Berès, em nome da Comissão Especial para a Crise Financeira, Económica e Social, sobre a crise financeira, económica e social: recomendações referentes às medidas e iniciativas a tomar (relatório intercalar), e - do relatório (A7-0282/2010) do deputado Diogo Feio, em nome da Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, com recomendações à Comissão tendo em vista melhorar a governação económica e o quadro de estabilidade da União Europeia, em particular na área do euro. 1 Debates do Parlamento Europeu PT 20-10-2010

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QUARTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2010

PRESIDÊNCIA: JERZY BUZEKPresidente

1. Abertura do período de sessões

(A sessão tem início às 09H05)

***

Edit Herczog (S&D). – (EN) Senhor Presidente, procedemos ontem à discussão doorçamento. Durante o debate ficou evidente que o relatório elaborado pela Comissão daIndústria, da Investigação e da Energia (ITRE) não tinha sido recebido pelos serviçosrelevantes. Verificámos este assunto. O relatório foi concluído e devidamente enviado,pelo que é provável que tenham ocorrido algumas falhas durante o procedimento.

Todavia, não é importante descobrir o responsável nem determinar exactamente o quesucedeu. O mais importante é garantir que o nosso relatório, que era também a nossa basepara o trílogo e no qual reside a maior diferença em comparação com o documento doConselho, seja enviado para os documentos oficiais do Conselho. Como tal, trouxe-ocomigo para vo-lo entregar, assim como ao Conselho. Pedimos atenciosamente que secertifique de que a proposta da Comissão ITRE, a qual foi adoptada por unanimidade, chegaàs mãos do Conselho em tempo devido. Agradeço muito o vosso apoio nesta questão.

Presidente. – Faremos o que nos solicita. Será um prazer. O início da discussão de hojeé fantástico!

2. Medidas de execução (artigo 88.º do Regimento): ver Acta

3. Preparação do Conselho Europeu (28-29 de Outubro) - Preparação da Cimeirado G20 (11-12 de Novembro) - Crise financeira, económica e social: recomendaçõesreferentes a medidas ou iniciativas a tomar - Reforçar a governança económica e oquadro da estabilidade da União Europeia, nomeadamente na área do euro (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta:

- das declarações do Conselho e da Comissão sobre a preparação da Cimeira do G20 (11-12de Novembro),

- das declarações do Conselho e da Comissão sobre a preparação do Conselho Europeu(28-29 de Outubro)

- do relatório (A7-0267/2010) da deputada Pervenche Berès, em nome da ComissãoEspecial para a Crise Financeira, Económica e Social, sobre a crise financeira, económicae social: recomendações referentes às medidas e iniciativas a tomar (relatório intercalar),e

- do relatório (A7-0282/2010) do deputado Diogo Feio, em nome da Comissão dosAssuntos Económicos e Monetários, com recomendações à Comissão tendo em vistamelhorar a governação económica e o quadro de estabilidade da União Europeia, emparticular na área do euro.

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Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhor Presidente, SenhorPresidente Barroso, Senhor Comissário, Senhoras e Senhores Deputados, em nome doConselho, gostaria de agradecer ao Senhor Presidente pela oportunidade que nos é dadade falar sobre os trabalhos preparatórios que estão a ser realizados no Conselho com vistaao próximo Conselho Europeu.

Este Conselho Europeu terá uma ordem de trabalhos carregada. O seu ponto central será,sem dúvida, a governação económica. Como sabem, o grupo de missão presidido peloPresidente Van Rompuy reuniu-se na passada segunda-feira e aprovou o seu relatório final.

Este relatório contém recomendações e propostas importantes e concretas que nos deverãopermitir dar um salto qualitativo na governação económica comunitária. As suasrecomendações visam, em particular, melhorar a disciplina orçamental, alargar a supervisãoeconómica, aprofundar e alargar a coordenação, consolidar o quadro de gestão de crisesfinanceiras e fortalecer as instituições.

Todas estas recomendações podem ser rapidamente implementadas por via legislativa.Esperamos, naturalmente, que o Conselho Europeu possa endossá-las, permitindo assimque a Comissão, o Parlamento e o Conselho avancem rapidamente com estes assuntosextremamente importantes. De qualquer modo, a sua adopção enviaria um sinal positivoquanto às nossas intenções de tomar as medidas necessárias para responder ao importantedesafio económico que temos diante de nós.

É certo que houve quem colocasse a hipótese de se explorarem outras opções que vão paraalém destas recomendações e ultrapassam o âmbito dos Tratados. Trata-se de questõescomo a suspensão do direito de voto ou a introdução de novas regras de votação, porexemplo, a da maioria inversa.

Trata-se obviamente de assuntos complexos, quer do ponto de vista técnico, quer do pontode vista político, que serão discutidos no Conselho Europeu da próxima semana.

Outro ponto importante da ordem de trabalhos do Conselho Europeu diz respeito aospreparativos para a Cimeira do G20. De facto, o Conselho Europeu terá de definir a posiçãoda União com base nos trabalhos preliminares realizados ontem pelo Conselho ECOFIN.Em termos gerais, é importante que a Cimeira do G20 em Seul marque uma aceleraçãodos nossos esforços de implementação do quadro financeiro definido para promover umcrescimento mais forte, mais sustentável e mais equilibrado. Precisamos, nomeadamente,de abordar os grandes desequilíbrios económicos mundiais que podem comprometer ocrescimento.

Desde 2008, com o desencadear da crise e as medidas tomadas para a combater – ou seja,desde a muito esperada ascensão de estatuto do G20 – a situação alterou-se radicalmente.O motivo é muito simples: a pertinência. A natureza intrínseca de muitas das decisões comconsequências directas para os nossos concidadãos passou, num espaço de poucos meses,da escala local ou nacional para a escala internacional. A globalização implica que agora,na maioria das questões, tenhamos de agir simultaneamente a nível europeu e a nívelinternacional.

Todos sabemos que a União Europeia precisou de tempo para chegar a acordo sobre umnovo Tratado, que visava também reforçar o papel da União na cena internacional. Aelaboração desse Tratado ocupou-nos uma boa parte dos últimos dez anos, mas somentenos últimos dez meses nos apercebemos da sua importância.

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O G20 tem-se revelado relativamente bem-sucedido desde o seu início, mas creio que oteste mais difícil e mais relevante é aquele que nos espera nas próximas semanas ou meses,quando formos confrontados com o sério risco de perder o ímpeto.

De momento, a União Europeia está a preparar-se para duas reuniões importantes, ambasna Coreia do Sul, a primeira das quais terá lugar dentro de dois dias. Trata-se da reuniãodos ministros das Finanças e dos governadores dos bancos centrais dos países do G20, àqual se seguirá a Cimeira do G20 em meados de Novembro.

Em termos de substância, a contribuição da União para um crescimento forte, sustentávele equilibrado tem por base: 1) planos de consolidação orçamental diferenciados epromotores do crescimento; 2) a Estratégia Europa 2020 para as reformas estruturaisnecessárias para apoiar, entre outras coisas, a criação de emprego; 3) o programa de reformado sector financeiro e dos mercados financeiros; e 4) o fortalecimento da governaçãoeconómica da União. Sobre este último ponto, poderemos apresentar as conclusões dogrupo de missão na cimeira de Novembro, assim que forem aprovadas pelo ConselhoEuropeu.

Gostaria de acrescentar que a União Europeia tem um enorme interesse no processo deanálise pelos pares no seio do G20. Enquanto Europeus, estamos habituados a este tipode exercício e sabemos o quão interessante e útil pode ser. Evidentemente, todos terão decumprir a sua parte e demonstrar uma vontade genuína de contribuir para o quadro parao crescimento.

O combate ao proteccionismo não se ganha numa única batalha, mas sim mantendo umestado de alerta geral, dia após dia. Quanto ao resto, embora os trabalhos dos órgãostécnicos como o Conselho de Estabilidade Financeira, presidido por Mario Draghi, estejama avançar bem, e a integração global, sobretudo em certos sectores, esteja a meu ver bemencaminhada, é também importante realizar uma reforma a longo prazo do FundoMonetário Internacional.

Os Europeus estão prontos para honrar os compromissos do passado, em particular osque foram assumidos no último ano em Pittsburg, de modo a assegurar que o novo FMIseja mais representativo na nova realidade económica internacional e, como tal, que aseconomias emergentes tenham um papel de maior destaque e uma voz mais vigorosa.Gostaria, porém, de deixar isto bem claro: não se pode esperar que seja a Europa sozinhaa fazer todas as concessões nesta matéria.

Todos os países desenvolvidos devem contribuir. Já demos a conhecer quais os sectoresem que estamos especificamente dispostos a negociar, em termos de representação,governação e partilha de votos. Acreditamos que esta uma boa plataforma para alcançarum compromisso. Assim, que ninguém culpe a Europa caso não se verifiquem alteraçõesnesta matéria.

Enquanto União, negociámos entre nós sobre tudo isto sobre uma série de questõesfundamentais e termos de referência para a reunião dos ministros das Finanças do G20,que terá lugar esta semana. Fizemo-lo de modo a comprovar que os Europeus não apenasfalam a uma só voz, mas também estão empenhados em defender e promover o querepresenta os seus principais interesses. A Presidência e a Comissão farão tudo ao seualcance para defender e apoiar esses interesses resultantes da nossa posição comum, a qualé o fruto de vários meses de trabalho por parte de todos os Estados-Membros.

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Em relação às alterações climáticas, em teoria, a intenção não é proceder a uma discussãodetalhada no Conselho Europeu, tendo em conta que o Conselho "Ambiente" já adoptou,em 14 de Outubro, um documento muito circunstanciado com as conclusões queestabelecem a posição europeia. Torna-se cada vez mais urgente avançar com aimplementação de um esquema ambicioso para combater as alterações climáticas a partirde 2012, e com essa finalidade, a União Europeia continua a defender uma abordagemgradual que tem por base o Protocolo de Quioto e os resultados da Conferência deCopenhaga e abre o caminho para um enquadramento global abrangente e juridicamentevinculativo, tendo em conta as orientações políticas delineadas no documento final deCopenhaga.

A Conferência de Cancum deverá alcançar um resultado equilibrado, que responda àspreocupações dos participantes e nos permita consolidar o progresso realizado até estemomento. A União manifestou a sua preferência por um instrumento juridicamentevinculativo, o qual incluiria os principais elementos do Protocolo de Quioto. Contudo,mediante certas condições, poderia prever um segundo período de compromisso ao abrigodo Protocolo de Quioto. Tal sucederia no contexto de um acordo mais alargado ao qualtodas as grandes economias adeririam e que encarnaria a ambição e a eficácia da iniciativainternacional e satisfaria a necessidade premente de proteger a integridade ambiental.

Gostaria de mencionar resumidamente a preparação da posição da União Europeia comvista às cimeiras que decorrerão com os Estados Unidos, a Rússia e a Ucrânia. Está será aprimeira vez que os preparativos para as cimeiras com os parceiros principais da Uniãoterão sido debatidos pelos Chefes de Estado ou de Governo, em consonância com asconclusões do Conselho Europeu de 16 de Setembro. O objectivo é que os Chefes de Estadoou de Governo tenham um debate aberto sobre os principais desafios nas nossas relaçõescom os nossos parceiros. Sem querer antecipar este debate, permitam-me que exponharesumidamente os temas fundamentais dessas próximas cimeiras.

Será com certeza importante orientar a cimeira com os Estados Unidos para certos temasfundamentais. De modo geral, terá de assinalar um reforço da cooperação transatlântica,veículo essencial para a concepção de soluções eficazes para os desafios comuns que temosdiante de nós. Além do mais, logo a seguir à cimeira do G20, a cimeira entre a Europa e osEstados Unidos será uma excelente oportunidade para tomar nota desses resultados edesenvolver uma abordagem conjunta a várias questões económicas actuais. Deveríamostambém tentar desenvolver uma abordagem comum em relação às economias emergentes.

A cimeira deveria ainda – pelo menos, assim o esperamos – possibilitar a revitalização doConselho Económico Transatlântico, convertendo-o num fórum económico que ultrapasseas questões puramente regulamentares. O Conselho poderia examinar proveitosamentemaneiras de gerir a crise e de promover o crescimento e o emprego, com base num mandatoreforçado.

Tencionamos ainda aproveitar esta cimeira para prepararmos a de Cancum, e obviamenteesperamos uma reacção positiva expressiva por parte dos nossos parceirosnorte-americanos.

Por fim, também constarão da ordem de trabalhos assuntos relevantes de política externa,nomeadamente relacionados com o Sudão e com o Irão.

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Quanto à cimeira com a Ucrânia, está agendado outro debate para esta tarde com aparticipação da Alta Representante, por isso perdoar-me-ão se não revelar mais sobre esteassunto esta manhã.

Na cimeira com a Rússia, a União Europeia tenciona expressar o seu total apoio à parceriapara a modernização, a qual nos permitirá consolidar a cooperação mútua em todas asáreas, sobretudo em áreas fundamentais como a inovação e a energia.

São estes, Senhor Presidente, Senhor Presidente Barroso, Senhoras e Senhores Deputados,os principais pontos que deverão ser discutidos no Conselho Europeu da próxima semana:de facto, é uma ordem de trabalhos preenchida e importante.

José Manuel Barroso, Presidente da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, debatemos hojeo primeiro dos muitos temas que serão tratados na próxima semana pelo Conselho Europeu.Vou concentrar-me naqueles que creio serem os tópicos mais importantes: a governaçãoeconómica na União Europeia, evidentemente, e externamente – para além daimportantíssima cimeira com os Estados Unidos e da cimeira com a Rússia – as cimeirasque considero serem cruciais: a cimeira do G20 em Seul e a conferência de Cancum sobreas alterações climáticas.

A reforma da nossa governação económica é uma pedra angular da nossa recuperaçãoeconómica sustentável e da nossa credibilidade. Por esse motivo, a Comissão adoptou umaabordagem muito ambiciosa desde o início destas discussões. As propostas apresentadaspela Comissão no mês passado procuram traduzir a urgência provocada pela crise numarealidade jurídica ambiciosa. Tratam das questões essenciais de dar à União Europeia umainfluência efectiva na política económica, através de uma supervisão orçamental coordenadaadequada, e de combater os desequilíbrios macroeconómicos, de maneira a criar, comotemos afirmado inúmeras vezes, uma verdadeira União económica na Europa.

Estimo imenso a atenção dispensada a estas propostas por parte deste Parlamento. Umacordo logo na primeira leitura provaria que a União Europeia está empenhada em pôrem prática a sua nova visão. Devíamos procurar ter estas regras estabelecidas até meadosdo próximo ano. Por esse motivo, exorto os Estados-Membros a concretizem estesimportantes objectivos e a seguirem esta ordem de trabalhos com um carácter de urgência.

Por enquanto, avançámos em direcção a um consenso mais robusto em áreas de acçãofundamentais, reforçando o Pacto de Estabilidade e Crescimento e lidando com osdesequilíbrios macroeconómicos, também graças aos procedimentos do grupo de missãopresidido por Herman Van Rompuy.

Depois de terminadas todas as discussões e de tomadas todas as decisões, o resultado desteprocesso combinado deverá ser uma visão para a governação económica muito maisabrangente e mais ajustada à necessidade de prevenir problemas em primeiro lugar, e muitomais solidamente assente na aplicação de sanções.

Permitam-me, contudo, que seja bem claro. O resultado geral deve representar umaverdadeira mudança em relação à situação actual. Temos de demonstrar aos nossos cidadãosque a União Europeia tem vindo a retirar todas as ilações e ensinamentos desta crise.

Há outros assuntos que ainda terão de ser resolvidos. Um com particular relevância é comosubstituir o actual mecanismo de resolução de crises acordado em Maio por outromecanismo de natureza mais permanente, quando terminar o seu prazo em 2013. Faremosde tudo para evitar uma repetição desta crise, mas também faremos tudo ao nosso alcance

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para estarmos mais bem preparados do que no passado para enfrentar situações críticas.A preparação e a existência de um mecanismo de crise robusto e permanente podemprevenir a ocorrência de tais situações no futuro.

A Comissão regista as opiniões expressas pelos Estados-Membros a favor da alteração doTratado, a qual, como todos sabem, exige a unanimidade dos Estados-Membros. Demomento, a Comissão vai concentrar os seus esforços na substância. Referimo-nos àconcepção de um mecanismo permanente e capaz de oferecer protecção nos momentoscríticos, minimizando ao mesmo tempo o risco moral e garantido que tal instrumentoapenas será utilizado como último recurso no interesse comum.

Se e quando for completamente concretizado, o resultado de todo este labor será aquilode que precisamos: um sistema incentiva os Estados-Membros a conduzirem políticaseconómicas e orçamentais sólidas, e um sistema que incentiva os investidores a observarempráticas de empréstimo responsáveis.

Globalmente, acredito estarmos no caminho certo. Temos aprendido lições com esta crise.Pelo bem dos seus cidadãos, a União Europeia deve instituir um sistema de governaçãointeiramente renovado quando comparado com a situação anterior à crise, e estamos agoraa montar todo este sistema numa base muito mais sólida.

O nosso currículo em governação económica, assim como a estratégia Europa 2020 e oregulamento financeiro, dar-nos-ão a plataforma correcta para avançar para o G20 emSeul. Esta cimeira surge num momento crítico. Será um verdadeiro teste à capacidade doG20 para assegurar a coordenação de que a economia mundial carece, através de soluçõescooperativas à escala global. Acredito a União Europeia pode ter e terá um papelfundamental no êxito da cimeira de Seul.

O que pretendemos alcançar em Seul? Em primeiro lugar, não devemos esquecer que oG20 teve um papel importante na gestão da crise. Fê-lo agindo colectivamente, e à medidaque avançamos para uma nova fase, temos de continuar a agir colectivamente,cooperativamente. Tal implica o reconhecimento de que os desequilíbrios globais sãomotivo de preocupação para todos e que todas as grandes economias têm um papel adesempenhar na busca da solução. Além disso, não podemos ignorar que na realidade astaxas cambiais são aqui um factor importante.

Em segundo lugar, precisamos de ver também uma intervenção nas instituições financeirasinternacionais. Nomeadamente, a reforma do FMI, que está atrasada. Precisamos que osoutros participantes correspondam à flexibilidade que a União Europeia já demonstrou.

Em terceiro lugar, com o apoio deste Parlamento, estamos no meio de uma reformafundamental do nosso próprio sistema financeiro e, mais uma vez, quero agradecer-vospela ênfase dada à necessidade de realizar esta reforma o mais rapidamente possível.

Necessitamos, de igual modo, de manter a dinâmica no G20. O progresso alcançado temsido satisfatório, mas agora precisamos de nos certificar de que a sua implementação serálevada a cabo.

Pretendo que o sector financeiro participe neste processo. Com esse intuito, a UniãoEuropeia deve permanecer empenhada em defender um imposto sobre transacçõesfinanceiras a nível mundial. Entretanto, a Comissão quer explorar outras vias para assegurarque o sector financeiro dê um contributo equitativo a nível comunitário, como o impostosobre as actividades financeiras.

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Pela primeira vez, o próximo G20 irá também incluir o desenvolvimento como um dospontos da ordem de trabalhos. Será adoptado um plano de acção plurianual para orientaro nosso esforço comum nesta área. A Comissão tem sido, desde o início, uma forte apoiantedesta proposta, juntamente com a Presidência coreana. Temos de demonstrar que agendado G20 em matéria de crescimento também engloba e beneficia os países emdesenvolvimento. Ao mesmo tempo, queremos envolver as economias emergentes numquadro de desenvolvimento internacional que esteja em sintonia com os princípiosfundamentais da política de desenvolvimento e permita uma maior coordenação.

Ontem, quando falei aqui em Estrasburgo com o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon,ele mencionou especificamente este ponto e manifestou a sua grande gratidão pelo apoioque a União Europeia tem dado a esta ordem de trabalhos.

Por último, é necessário que o G20 assuma a liderança para fazer avançar a agendacomercial. Longe de se apresentar como uma alternativa à OMC, o nosso acordo com aCoreia deveria inspirar os nossos parceiros a aproveitar esta ocasião e avançar para umarápida conclusão das negociações da Ronda de Doha.

Na recta final para Cancum, gostaria de fazer um comentário sobre esta conferência muitoimportante. Não podemos perder de vista os nossos objectivos para esta conferência, temosde ser ambiciosos pela Europa, e também pelo mundo. Temos de fazer avançar o processointernacional. Isso não é fácil. Sabemos que, em alguns dos nossos parceiros principais, oritmo da mudança abrandou em vez de acelerar.

Não esqueçamos que, entretanto, estamos a implementar o sistema mais concreto e eficazpara redução de emissões a nível mundial. Este é um dos nossos trunfos mais fortes e,quanto mais nos aproximamos da aplicação do novo regime de comércio de licenças deemissão, mais forte se torna. Gozamos de uma credibilidade ímpar, alicerçada num consensorobusto entre este Parlamento, os Estados-Membros e a Comissão sobre o que temos defazer.

Quando chegarmos a Cancum, não nos deixemos distrair por argumentos sobre aspectosformais. Devemos entrar no processo da ONU com plena confiança e determinação.Cancum não será o fim da história, nem será o avanço decisivo, mas poderá certamenteser um passo muito importante neste processo. A UE tem de transmitir uma mensagemclara e coerente, de modo a fazer progredir as negociações. Devemos almejar um conjuntode medidas concretas orientadas para a acção e capazes de transmitir confiança e segurançano processo e de nos aproximar mais do nosso objectivo final.

Foi por isso que escrevi aos Membros do Conselho Europeu, na semana passada. Defini oque considero ser uma posição equilibrada e realista – uma posição que continue a fazer-nosprogredir sem criar expectativas irrealistas. É o momento certo para a Europa assumir aliderança, definindo o modo como Cancum pode dar uma série de passos importantes emfrente, cumprindo compromissos importantes tais como o financiamento de arranquerápido e, acima de tudo, mostrando claramente que continuamos a dar o exemplo.

A economia da União Europeia crescerá este ano ainda mais do que previsto, mas arecuperação ainda não está firmemente assegurada; não existe margem para complacência,como já afirmámos várias vezes, sobretudo quando ainda se verificam taxas de desempregomuito elevadas.

Todos sabemos que temos enfrentado grandes desafios nos últimos meses, como ficouclaramente demonstrado no relatório da senhora deputada Berès que irão discutir em

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seguida. Congratulo-me com a ambição e o amplo consenso que existe nesta Casa sobreestes temas importantes, mas todo sabemos que estamos numa fase em que o desempregonos atinge duramente e em que a despesa pública está a ser comprimida. Os nossos cidadãosmostram as suas preocupações e nós devemos tê-las em consideração.

Todavia, devemos reconhecer que, enquanto União Europeia, temos sido capazes deencontrar respostas. Fizemos algumas propostas legislativas importantes em matéria degovernação económica. Apresentámos a Estratégia Europa 2020. Gostaria de vos lembrarque se trata de uma estratégia para o crescimento porque é no crescimento – um crescimentointeligente, inclusivo e sustentável – que está a resposta. Estas preocupações são de igualmodo expressas no excelente relatório elaborado pelo senhor deputado Feio.

Propusemos uma vasta gama de medidas de regulação dos mercados financeiros.Permitam-me saudar o acordo do legislador relativamente às nossas propostas em matériade supervisão financeira. Na realidade, se há dois anos se perguntasse à maioria dosobservadores se acreditavam que a União Europeia estava preparada para ter um sistemade supervisão europeu, a maioria teria respondido que não, que não seria possível. Agoracomprovámos que isso é possível.

Estamos a seguimos uma abordagem holística, de modo a abarcar todas as vertentesenvolvidas. Permitam-me, portanto, realçar também o acordo alcançado ontem peloConselho sobre a proposta da Comissão relativa aos fundos de retorno absoluto. Esperoque esta posição possa agora conduzir a negociações conclusivas no Parlamento Europeu,para que a União Europeia possa enfim beneficiar deste tão esperado regulamento e paraque também possamos assumir uma posição de liderança nesta matéria durante a cimeirade Seul.

Também estamos a progredir noutras áreas, pois temos de encarar a economia real.Permitam-me ainda congratular esta Assembleia pelo trabalho realizado a favor de umanova directiva relativa à luta contra os atrasos de pagamento nas transacções comerciais.A directiva irá proporcionar melhor protecção aos credores, que na maioria dos casos sãoPME, respeitando ao mesmo tempo a liberdade contratual. As autoridades públicas terãode efectuar os pagamentos no prazo de 30 dias ou então terão de pagar juros de mora auma taxa de 8%. Os senhores deputados sabem o quanto este regulamento era esperadopelas PME, que continuam a ser o sector mais importante da nossa economia.

O nosso trabalho ainda não está terminado. Todas as propostas ainda têm de ser levadasa termo, mas já começam a dar resultados. O objectivo é tirar-nos desta crise e, através darecuperação, alcançar de novo as taxas de crescimento que geram emprego e garantemque a nossa economia social de mercado está preparada para o século XXI. Muito obrigadopela vossa atenção.

PRESIDÊNCIA: GIANNI PITTELLAVice-presidente

Pervenche Berès, relatora. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Presidente Chastel, SenhorPresidente Barroso, a crise financeira, económica e social que o mundo está a atravessardesde há vários anos vai custar 60 biliões de dólares americanos à escala mundial, oequivalente a um ponto percentual da taxa de crescimento anual. Temos de agir em relaçãoa isso. A crise vai causar, até ao fim do ano, uma taxa de desemprego de 11% na nossaUnião Europeia. Está a manifestar-se no contexto da nova guerra das moedas causada, naopinião dos nossos economistas, pelo risco de uma recessão em "W".

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Perante esta situação, percebi nesta Assembleia um sentimento de responsabilidade paraenviar às outras instituições, à Comissão e ao Conselho, uma mensagem forte apelandomais uma vez à união de forças em torno do valor acrescentado do projecto europeu, eque o que está em jogo pode ser resumido em poucas palavras: temos uma responsabilidadecolectiva e precisamos implementar uma estratégia à escala da UE que nos permita, na áreada energia, ser fortes no interior para sermos fortes no exterior. Temos de contar com anossa própria força e, para o conseguir, precisamos do nível europeu.

Porém, Senhor Presidente Barroso, não encaramos a governação económica como umavisão. É um meio para promover esta estratégia, e é com base nesta estratégia que decidimosquais são os recursos necessários. Trata-se, acima de tudo, de recursos financeiros. Há odesafio de fazer a revisão das perspectivas financeiras de acordo com esta mobilização emtorno de uma estratégia para uma Comunidade Europeia da Energia. Torna-se necessáriomobilizar uma proposta que os senhores rejeitam: a tributação das transacções financeiras.Torna-se necessário lançar um empréstimo europeu substancial para financiar investimentosa longo prazo. Torna-se necessário recuperar o equilíbrio fiscal na Europa, de modo aincentivar o trabalho e o emprego em vez do capital, e para que seja compatível com oambiente. Torna-se necessário coordenar os orçamentos dos Estados-Membros com oprojecto europeu, de modo a que os esforços sejam orientados na mesma direcção.

Em termos de governação, sugerimos a nomeação de um "Sr. Euro" para garantir umagovernação económica harmoniosa e equilibrada. Sugerimos de igual modo que não sefocalize toda a atenção na situação dos países com dívidas, mas que se equilibre esta comuma avaliação dos países com superavit. Adicionalmente, sugerimos que numa uniãomonetária a dívida também deveria ser gerida em comum e que deveríamos poder preveremissões mútuas de dívidas. Gostaríamos que a reforma financeira pela qual tem trabalhadotanto, Senhor Presidente Barroso, se concentrasse nas necessidades dos Europeus, e nãoapenas em objectivos de estabilidade financeira. Queremos uma reforma dos mercadosfinanceiros que faça reviver as noções de ética e de valor moral, e que contribua para acriação de emprego e para os investimentos a longo prazo.

Nenhum projecto europeu poderá ser bem sucedido se não tiver o apoio dosEstados-Membros. A única maneira de a União Europeia mostrar o que tem de melhor éconquistando o apoio dos Estados-Membros. Um debate dedicado apenas ao fardo deimpor sanções não fará com que os Europeus queiram voltar a envolver-se no projectocom os seus Estados-Membros. Solicitamos uma mobilização forte em torno do valoracrescentado do projecto europeu para tirar os Europeus desta recessão e garantir que, defuturo, toda a gente na Europa tenha emprego, saia da pobreza e possa voltar a ter fé noprojecto europeu.

Esta é a nossa ambição. Espero, Senhor Presidente Barroso, que seja capaz de a partilhar ede aceitar muitas das sugestões que aqui lhe fazemos, em nome de toda esta Assembleia.

(Aplausos)

Diogo Feio, relator . − Senhor Presidente, Senhor Presidente da Comissão, SenhorComissário Olli Rehn, queria cumprimentá-los especialmente pelo diálogo positivo queo Parlamento manteve com a Comissão. Senhores representantes do Conselho... Queriacomeçar por agradecer a todos aqueles que trabalharam neste relatório e o tornarampossível, muito especialmente a todos os relatores-sombra com quem tive a oportunidadede trocar opiniões e fazer consensos, tarefa muitas vezes difícil, com várias tendênciasdentro deste Parlamento, da esquerda à direita, daqueles que defendiam mais soberania ou

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uma soberania mais moderna, daqueles que defendiam determinadas instituições. Tantase tantas opiniões foram dadas. Mas foram dadas com vista a um objectivo: o objectivo deretirar soluções em relação à actual crise.

A crise demonstrou que a Europa não respondeu a tempo. Muitas vezes não respondeubem. A crise demonstrou que muitos governos dentro da União Europeia ainda mantinhamuma política que não se baseava na verdade dos factos. E para isso mesmo são necessáriassoluções, soluções que o Parlamento Europeu dá com uma voz própria, com uma vozfirme. Soluções que são, algumas de curto, outras de longo prazo.

Apresentamos basicamente 8 recomendações. A ideia de uma supervisão multilateral daevolução macroeconómica da situação dos Estados-Membros e da União Europeia comvista a melhor alcançar os objectivos da Estratégia UE 2020, com vista a uma Europa decrescimento, com vista a reforçar um pacto que é de estabilidade, mas também é decrescimento.

Também estão propostas feitas para reforçar o Pacto de Estabilidade e Crescimento e olharcom especial atenção para aquilo que sucede relativamente à dívida. O reforço da governaçãoeconómica na área do euro pelo Eurogrupo, a instituição de um programa sólido e credívelde prevenção da dívida excessiva e um mecanismo de resolução para a área do euro quepode passar pela instituição de um Fundo Monetário Europeu. A ideia de revisão dosinstrumentos orçamentais, financeiros e fiscais da União Europeia, a regulação e supervisãodo mercado financeiro com uma dimensão macroeconómica clara e a melhoria dasestatísticas dentro da União Europeia.

Por fim, a ideia de uma melhor representação da União nos domínios dos assuntoseconómicos e monetários. Em relação a todas estas matérias, o Parlamento demonstra, oupode demonstrar, uma voz firme. Pretendemos que o Parlamento Europeu e os parlamentosnacionais tenham uma melhor coordenação neste plano institucional. Podemos contribuirpara que esta solução possa dar melhores soluções relativamente a situações de futurascrises ou de futuras dificuldades. A partir deste momento, a Europa fica com os instrumentospara melhor responder no plano económico. E o Parlamento muito contribuiu para isso,e assim continuará a acontecer.

Estamos, neste momento, no início de um debate legislativo sobre seis propostas que foramapresentadas pela Comissão e em relação às quais acredito que o Parlamento vai manteraquela que é a sua própria posição. Por isso mesmo, também quero dizer que estranhoque, num documento recente do Conselho ainda ontem apresentado, não tenha sidoreferida a posição do Parlamento e o diálogo que o Parlamento manteve com o Conselho.

Mas quero deixar aqui uma palavra: o Parlamento Europeu mantém as suas posições,independentemente das nossas diferenças. O Parlamento Europeu está empenhado parauma Europa forte, para um melhor governo económico, com mais crescimento e commelhor prosperidade.

Marta Andreasen, relatora de parecer da Comissão dos Orçamentos. – (EN) Senhor Presidente,no meu parecer sobre o relatório do senhor deputado Feio sobre a governação económicae o quadro de estabilidade destaquei três pontos.

O primeiro refere-se à necessidade de levar a sério a aplicação de sanções aosEstados-Membros que violem o Pacto de Estabilidade. Ainda há dias, o Primeiro-Ministrofrancês e a Chanceler alemã concordaram em alterar o Tratado para introduzir sançõesmais pesadas a aplicar aos países que ameacem a estabilidade do euro. Destaquei também

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a necessidade de dar prioridade à despesa no orçamento no caso de um Estado-Membroprecisar de ajuda. Por fim, queria sensibilizá-los sobre a necessidade de avaliar o impactoda notação de crédito da União Europeia, pois tem servido como garante do mecanismoeuropeu de estabilização financeira.

Os números relevantes foram alterados e já não fazem parte do meu parecer. Nestascircunstâncias, sinto-me compelido a rejeitar o meu parecer.

David Casa, relator de parecer da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais. – (MT) Nãorestam dúvidas de que a União Europeia foi exemplar no modo como optou por avançarcom as medidas de regulação e de supervisão, e que está reflectido no novo pacote desupervisão, o qual permite a identificação de determinados riscos sistémicos e que a mesmaseja feita em tempo oportuno.

Por outro lado, relativamente ao conceito de governação económica, ninguém pode negarque ainda há um longo caminho a percorrer. Qualquer Estado-Membro que negligencieas suas obrigações e responsabilidades, particularmente as referentes ao Pacto de Estabilidadee Crescimento, cria sérios problemas aos restantes Estados-Membros. Assim, somosobrigados a fazer tudo ao nosso alcance para encorajar o cumprimento rigoroso das regrasque foram acordadas, de modo a garantir a estabilidade nos Estados-Membros, tantofinanceira como fisicamente.

Estou muito satisfeito com as recomendações contidas no parecer que apresentei à Comissãodo Emprego, e apraz-me que estas tenham sido levadas em consideração. Penso que orelatório defendeu uma melhor vigilância do emprego na União Europeia e o fortalecimentoda Comissão do Emprego.

António Fernando Correia De Campos, relator de parecer da Comissão do Mercado Internoe da Protecção dos Consumidores . − Senhor Presidente, caros Colegas, todos reconhecemosque falhou o controlo das variáveis macroeconómicas a curto e a longo prazo na UniãoEuropeia, nomeadamente nos quadros orçamentais e na dívida nacional acumulada. Acrise veio acentuar a necessidade de fortalecer o mercado único, tendo em linha de contaas propostas Monti e Grech. É essencial desenvolver o comércio electrónico etransfronteiriço, simplificar processos de pagamento em linha, normalizar produtos eserviços, harmonizar instrumentos fiscais, a fim de criar confiança nos consumidores edinamizar a economia.

A União tem que sair da crise de forma sustentável, assegurando um crescimento sólido eorçamentos responsáveis, mas também objectivos de emprego. Indicadores como a taxade desemprego e a taxa de ocupação da população activa devem constar obrigatoriamentedo sistema de supervisão.

Os indicadores que medirão o progresso da Estratégia 2020 não podem também seresquecidos. O estudo de viabilidade sobre a emissão de obrigações europeias comunspoderá constituir uma oportunidade para aprofundar e pôr em prática instrumentosfinanceiros para defesa contra a especulação.

Gostaríamos que pudéssemos ter ido mais além que um simples estudo. A criação do FundoMonetário Europeu merece o nosso apoio e vemo-lo não apenas como instrumento dedisciplina, mas sobretudo como meio de reduzir a manipulação especulativa dos mercadosda dívida soberana. A cooperação com o relator Feio foi profícua e conseguiu alcançar-seum texto abrangente, equilibrado e rico.

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Martin Schulz , em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, se olhar para a sua listade oradores, verá que o próximo orador é o meu colega Jáuregui Atondo. Se me permite,antes de ele usar da palavra e na qualidade de presidente do nosso grupo, gostaria deinformar que esta manhã o senhor deputado Jáuregui Atondo foi nomeado pelo Governoespanhol para o cargo de Ministro da Presidência. Como devem imaginar, é uma grandehonra para o nosso grupo. Dou-lhe os meus sinceros parabéns.

(Aplausos)

Ramón Jáuregui Atondo, relator de parecer da Comissão dos Assuntos Constitucionais. –(ES) Senhor Presidente. Gostaria muitíssimo de agradecer ao meu amigo deputado Schulz.Tenho apenas um minuto para vos dizer que penso que, nos últimos meses, a Europa fezum progresso extraordinário em termos de governação económica.

Curiosamente, a cimeira entre a França e a Alemanha decorrida anteontem também abriuportas a uma nova esperança: a possibilidade de rever os nossos quadros e tratados emmatéria de governação económica.

Sei que este é um tema que assustou um pouco os Estados-Membros. Todavia, penso que,como europeístas, sabemos que para alcançar a governação económica de que precisamostalvez sejam necessárias reformas, e essas reformas terão de ser acordadas.

Porém, acredito sinceramente que este acordo entre a França e a Alemanha abre umaoportunidade para o relatório Feio, que iremos aprovar mais tarde – tal como propostopela Comissão dos Assuntos Constitucionais – considerar a necessidade de adaptar o nossoquadro constitucional a uma governação que não seja apenas um pacto de estabilidade.Trata-se de uma governação em profundidade, de maneira a juntar as economias de umaforma que procure ser competitiva, criar empregos e proporcionar a redistribuição a quenós, como social-democratas, sempre aspirámos.

(Aplausos)

Joseph Daul, em nome do Grupo PPE. – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o fio condutor comum entre as reuniões do Conselho Europeu e do G20 é anecessidade de fazer as adaptações necessárias após a crise financeira.

No caso da União Europeia, estas adaptações consistem em colocar as respectivas finançaspúblicas nacionais e europeias em ordem e em proteger a nossa moeda, o euro,consolidando-a internamente e defendendo o seu valor contra as outras moedasimportantes. O Conselho Europeu será dominado pelas discussões sobre governaçãoeconómica e financeira europeia. O Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) saúda as linhas iniciais seguidas pelo grupo de missão Van Rompuy,incluindo os planos para um sistema sancionatório contra os Estados-Membros que nãocumpram os critérios do Pacto de Estabilidade.

Todavia, ainda há muito a fazer, com mais método comunitário e menos métodointergovernamental. Saúdo o trabalho que a Comissão realizou nesse sentido. Gostaria desolicitar ao Conselho que não esqueça que este Parlamento é presentemente co-legisladore irá desempenhar um papel capital na definição das futuras reformas. Quanto mais oParlamento for envolvido nas fases iniciais, mais hipóteses haverá de alcançarmos umresultado satisfatório e oportuno. Solicito ao Presidente Van Rompuy que preste atençãoa esta mensagem.

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Senhoras e Senhores Deputados, a Europa tem de fazer ouvir a sua voz no debate sobre ovalor relativo das moedas, e o Conselho Europeu tem de definir a nossa posição sobre estamatéria na próxima semana, antes da cimeira do G20 em Seul. A Europa deve juntar-seaos seus parceiros, em especial os Estados Unidos, para lembrar aos países emergentesquais são as suas responsabilidades. Não se deve continuar a permitir o dumping cambialnem as consequências sociais que acarreta.

Haverá três grandes temas sobre a mesa na Cimeira de Seul: a reforma do sistema monetáriointernacional, como é óbvio, mas também a estabilidade dos produtos de base – sobretudogéneros alimentícios e energia – e a governação mundial. A Europa tem uma mensagema transmitir sobre cada um destes temas, mas essa mensagem apenas será credível se forempostos em prática instrumentos internos eficazes, à escala comunitária, para governar egerir as nossas finanças públicas.

Senhoras e Senhores Deputados, não conseguiremos influenciar a governação mundialnem teremos verdadeiramente um lugar no palco internacional se não conseguirmosrealizar o esforço frequentemente impopular de arrumar as nossas finanças, e se não nosmantivermos fiéis às nossas prioridades do combate às alterações climáticas e da políticade desenvolvimento.

(Aplausos)

Martin Schulz, em nome do Grupo S&D. – (DE) Senhor Presidente, gostaria de citar umapassagem da declaração emitida pelos Chefes de Estados ou de Governo na cimeira do G20realizada em Pittsburgo em 24 e 25 de Setembro de 2009 – ou seja, há um ano. Nessacimeira, os Chefes de Estado comprometeram-se a "lançar um quadro que defina as políticase o modo de agirmos em conjunto para gerar um crescimento mundial forte, sustentávele equilibrado. Precisamos de uma recuperação duradoura que crie os empregos de qualidadede que as nossas populações carecem". Óptimo! Presumo que um trecho semelhante voltaráa ser escrito mais uma vez este ano na próxima cimeira e em todas as cimeiras subsequentes.Isso leva-me a perguntar o que se fez entretanto para gerar o crescimento forte, sustentávele equilibrado que trará os empregos de que as nossas populações carecem. A descriçãoserá correcta, mas aquilo que está a ser criado é uma filosofia a nível europeu – no ConselhoEuropeu – que diz que os cortes unilaterais nos serviços públicos através de reduções nosorçamentos são uma panaceia para estabilizar o nosso continente, em vez de ter em atençãoque um investimento que estimule o crescimento é um requisito essencial para a criaçãode mais emprego e, através de um maior crescimento económico, para o reforço das receitasdo Estado – tão urgentemente necessárias para consolidar os orçamentos dos Estados epara que estes possam desempenhar as suas funções. O que estamos a observar na Europaé que, em consequência de um processo maniqueísta mais ou menos evidente, segundo oqual todos os gastos são maus e todos os cortes são bons, nos encontramos numa situaçãona qual os países mais afectados pela crise – a Irlanda e a Grécia – entraram em recessãoou têm crescimento nulo. Na realidade, o que está a ser feito é o oposto daquilo que foiaqui descrito como sendo o objectivo. Esta é uma evolução dramática. Ainda mais dramáticaquando aqueles que estiveram na origem da crise, que causaram a crise – o sector financeiro,aqueles que especularam desenfreadamente – não foram responsabilizados e obrigados acontribuir para os orçamentos públicos através da aplicação de medidas como um impostosobre as transacções financeiras. Esta solução pode até ter sido defendida a nível europeu,mas mesmo no momento em que era defendida, já estava a ser colocada numa prateleira,sob o argumento de que "Nunca irá passar no G20". Claro que nunca irá passar no G20 senem sequer tentarmos fazê-lo primeiro a nível europeu!

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Trata-se de uma injustiça particularmente dramática porque a falta de iniciativa por partedos Chefes de Estado ou de Governo – o facto de nos estarem a conduzir na direcção erradada desigualdade social – é permanentemente reforçada. As pessoas que se manifestam nasruas têm razão quando afirmam que a desigualdade social na Europa não está a sercombatida, antes está a ser intensificada por políticas incorrectas. Cabe a este Parlamentoexpor esta realidade e desenvolver estratégias para a combater. Por esse motivo, insistimosno imposto sobre as transacções financeiras. O relatório da senhora deputada Berès e orelatório elaborado pela minha colega Podimata irão demonstrar-nos se esta Câmara estápreparada para dizer: "Sabemos que não será fácil, mas insistimos para que a União Europeiacomece a aplicar a impostos sobre o sector financeiro nível transnacional caso este nãopossa ser tributado a nível nacional".

Há ainda mais um desenvolvimento preocupante. O que sucedeu em Deauville entre oPresidente Sarkozy e a Chanceler Angela Merkel vira a estrutura institucional da UniãoEuropeia do avesso. Pergunto a mim mesmo quando irá o Senhor Presidente Van Rompuytirar daí as devidas conclusões. Foi-lhe pedido que elaborasse, com o seu grupo de missão,os pormenores das reformas necessárias – na verdade, essa devida ser uma tarefa vossa,por isso foi um pouco abusivo pedir ao Senhor Presidente Van Rompuy que o fizesse –mas para cúmulo, o pobre homem está a trabalhar em segredo e antes de ter oportunidadede apresentar seja o que for, o nosso encantador casal em Deauville surge em cena e anuncia:"Já decidimos tudo". O que Nicolas e Angela – esse autonomeado comité executivofranco-alemão – fizeram é um ataque às instituições da União Europeia.

(Aplausos)

Se estivesse no lugar do Senhor Presidente Van Rompuy, dir-lhes-ia onde enfiar o trabalhoque fizeram. O senhor não pode continuar a ser sempre um capacho e a aturar este tipode abuso. Contudo, há mais uma coisa: se o nosso encantador casal tivesse olhado, lá desdeDeauville, para o outro lado do canal, teria visto as falésias brancas da costa britânica, ondeé exigido um referendo para as suas alterações ao Tratado – pelo menos, se acreditarmosna palavra de David Cameron. Será que alguém acredita realmente que David Cameroniria aceitar a alteração sem incluir no tratado travões adicionais que abrandassem a legislaçãocomunitária? Isso iria mesmo abrir uma caixa de Pandora. Espero que o nosso encantadorcasal não caia das nuvens.

Mais uma vez repito: a Europa está a ser levada na direcção errada, tanto institucionalmentecomo em substância.

Guy Verhofstadt, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, talvez eu possacontinuar a partir do ponto em que ficou o senhor deputado Martin Schulz. Podíamos,eventualmente, convocar uma convenção, caso pretendam modificar o Tratado.Normalmente, é isso que se faz, convocar uma convenção. É o primeiro passo, mas creioque a situação não o exige ainda. O que importa agora é chegar urgentemente a acordo,no Conselho Europeu, sobre a governação económica e o reforço do Pacto de Estabilidade.

Passou quase um ano desde que se declarou a crise da dívida grega. Começou em Dezembrode 2009 e já é tempo de chegarmos a uma conclusão, a um acordo sobre o assunto. Nestemomento estão sobre a mesa três propostas. Sejamos muito claros. Recebemos a propostada Comissão, a proposta do grupo de missão sobre governação económica e, ontem, aproposta resultante daquilo a que chamamos "acordo de Deauville". É a terceira propostaque se encontra sobre a mesa. Na minha opinião, é bom que este Parlamento analise asdiferenças entre as três propostas, para poder decidir se são adequadas.

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A Comissão apresentou, há algumas semanas, o que considero serem propostas eficazes,firmes e coerentes. A proposta do grupo de missão difere destas ao sugerir que o Conselhoaja com base em recomendações e não em propostas da Comissão. A diferença é grande,já que as recomendações podem ser modificadas, ao contrário das propostas da Comissão.Além disso, o grupo de missão diverge da Comissão ao propor um procedimento de análisemais prolongado.

Devo, contudo, dizer que a proposta do grupo de missão conserva o caráctersemiautomático das sanções e mantém o mecanismo de inversão da regra de votaçãosugerido pela Comissão.

Temos, desde ontem, uma terceira proposta, o "acordo de Deauville". Reconheço que umacordo entre a França e a Alemanha pode muitas vezes ser útil no Conselho, mas isso nãoacontece agora. Na verdade, a proposta franco-alemã de Deauville limita-se a manter avelha regra da votação por maioria qualificada no Conselho, ou seja, essas propostas, emvez de exigirem uma maioria para bloquear as sanções automáticas da Comissão, exigem-napara dar início a essas sanções. Vejo aqui uma diferença substancial, pois o caráctersemiautomático das sanções da proposta da Comissão não está presente na proposta deDeauville.

Não sei se conhecem Deauville: além da praia e de alguns hotéis belíssimos, tem um casino.Em consequência, talvez devêssemos falar não do acordo de Deauville mas antes docompromisso de casino franco-alemão, pois é de um compromisso de casino que se trataaqui. Com base nesta proposta, os Estados-Membros podem continuar a jogar com o euroe com a zona euro.

Se conseguirem apoio suficiente no Conselho, podem avançar por aí; podem fazerexactamente o mesmo que a Grécia. Se têm apoio suficiente no Conselho, não hesitem.Faites vos jeux! Avancem.

A primeira parte do acordo de Deauville enfraquece não só a proposta do grupo de missãomas, sobretudo, o pacote da Comissão. Para mim, trata-se de uma atitude absolutamenteincompreensível, especialmente por parte da Alemanha. Durante dez meses pediram acçõesmais firmes e, ontem, fizeram o contrário. Estão a retirar força às firmes propostas daComissão, justamente na mesma altura em que o Presidente do Banco Central Europeu,Jean-Claude Trichet, pede soluções mais severas, mesmo mais severas do que as propostasiniciais da Comissão.

Não posso senão terminar com a seguinte conclusão: este Parlamento tem uma missão.Consiste em anular o acordo de Deauville, esse compromisso de casino. Atenhamo-nosàs propostas eficazes da Comissão e prossigamos com a nossa indispensável tarefalegislativa.

Daniel Cohn-Bendit, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Senhor Presidente, SenhorPresidente em exercício Olivier Chastel, Senhor Presidente José Manuel Barroso, minhasSenhoras e meus Senhores, o deputado Guy Verhofstadt hoje fartou-se de trabalhar! Maso que ele disse foi importante, assim como as palavras do deputado Martin Schulz. Mastambém tenho algumas ideias que quero partilhar.

Viram o filme "Jules e Jim"? Nesse filme há uma mulher - Angela Merkel. Sabemos quemé Jules – é Nicolas Sarkozy. Mas quem será Jim? James Cameron ou José Manuel Barroso?Eis o dilema com que se debate a Comissão.

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Na minha opinião, o Parlamento e a Comissão deviam agora ter um diálogo muito franco,visto que a política do Conselho – neste ponto Guy Verhofstadt tem toda a razão – e dasua direcção franco-alemã é anti-União Europeia. Essa política não reflecte a essência daUE, e temos o dever de ultrapassar as diferenças que nos opõem – Joseph Daul estácertíssimo neste ponto – e salvar a União Europeia e o método comunitário. Para tal, aComissão, este Parlamento e nós todos temos de perceber que ninguém sairá vencedor senão encontrarmos uma abordagem comum entre a Comissão e o Parlamento, entre oParlamento e a Comissão.

Senhor Presidente Barroso, acredito em si quando diz que quer aplicar um imposto sobreas transacções financeiras ou as actividades financeiras. O problema não está aí; o problemaé, como concretizar essa ideia? Não basta dizer "Quero". Isso é o que diz o meu filho dequatro anos. O problema está em perceber como atingir esse objectivo e, na minha opinião,não é preciso a Comissão encomendar mais um estudo, como fez ontem o Conselho"Ambiente", para perceber que a degradação do clima é realmente tão grave que temos deaumentar a redução de CO2 na Europa – sabendo que é do maior ridículo pedir novo estudo.Não. O que traria à Europa um estudo profundo sobre as transacções financeiras, e o quelhe traria um imposto sobre essas transacções? Um imposto de 0,01% sobre as transacçõesfinanceiras equivaleria a 80 mil milhões de euros. Se aceitarmos uma redução de 30 milmilhões de euros das contribuições nacionais, ou seja, uma redução da parte dos orçamentosnacionais, ficamos com um montante extra de 50 mil milhões para o orçamentocomunitário. 120 mil milhões de euros menos 30 mil milhões faz 90 mil milhões; somando50 mil milhões, chegamos aos 140 mil milhões. Ou seja, é possível aplicar as políticaseuropeias necessárias para pôr em prática o pós-Lisboa, e os Estados-Membros e a Europasairão a ganhar. Mas, para tal, é preciso ter uma visão europeia.

Outra coisa, Senhor Presidente Barroso, a propósito dos défices: eu penso que há déficese défices. É como o colesterol: pode ser bom ou mau. Um défice que investe e que,consequentemente, dá a um país, ou à Europa, perspectivas de futuro, não é necessariamentenegativo. Se investirmos, como já aconteceu, nas indústrias improdutivas do passado –estou a pensar no carvão – estamos a deitar dinheiro à rua, pois será uma medida inútil, esairemos a perder. Mas, se investirmos nas energias do futuro e na produção do futuro, aí,ganharemos.

O que é preciso, então, fazer, e peço-o também aos liberais, é não nos limitarmos a falarde estabilidade apenas, mas estabelecermos uma diferença entre o que devemos fazer e oque já não devemos fazer. Não falemos apenas de défice, mas vejamos antes o que éprodutivo ou o que não é produtivo. Se todos concordarmos, o que será difícil, seconseguirmos chegar a acordo, seremos capazes de enfrentar as constantes manipulaçõesdo Conselho.

O problema hoje em dia é que muitos governos querem reduzir a dimensão política daEuropa, mas o nosso papel, aqui, consiste em defender e reforçar essa dimensão política.Sem ela não iremos a parte nenhuma.

Como vê, Senhor Presidente Barroso, temos interesses comuns, mas há que os defenderaté às últimas consequências. Não devia estar a pressionar o Parlamento mas sim o ConselhoEuropeu.

Presidente. – Como podem ver, fui bastante flexível no que diz respeito aos tempos deuso da palavra, em parte porque todos os discursos foram muito interessantes e sugestivos– FMI, casinos, colesterol – e todos enriquecem esta discussão.

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Michał Tomasz Kamiński, em nome do Grupo ECR. – (PL) Já aqui foram hoje contadasdiversas histórias e veio-me à mente também uma associação histórica. Durante 18 anosvivi num país de socialismo real, onde cada congresso do partido propunha, sucessivamente,novas metas económicas, e os congressos do partido repetiam aos cidadãos do meu país– e o mesmo acontecia com os cidadãos dos outros países que praticavam o socialismoreal – que a situação ia melhorar, e explicavam como ia melhorar. No meu país existia, até,um ministério do comércio interno, apesar de na altura não haver comércio interno.

Ao ouvir alguns dos discursos de hoje, fiquei com a impressão de que a proposta daComissão Europeia pretende voltar a fazer a economia prevalecer sobre o pensamentopolítico, sobre essa atitude política que poderia abafar qualquer acção económicaconsistente, porque, nos dias de hoje, os políticos nacionais, como se vê, por razõespopulistas, gostam de apontar o dedo à Europa. Dizem que devemos ter menos Europa eque a Europa não é solução, pois ao afirmá-lo estão, de certo modo, a livrar-se deresponsabilidades perante os seus eleitores. Se não tomarmos medidas que levem os paísesa perceber que, se aplicarem políticas económicas irracionais, as consequências serãogravíssimas, não avançaremos nunca. Mas precisamos também de solidariedade. Vejo, naproposta franco-alemã, o perigo de acabarmos numa situação em que os países mais fortesdisporão de maior espaço de manobra, e em que a Grécia não poderá ultrapassardeterminados limites. A Grécia terá de cortar na despesa mas, quando chegar a vez dospaíses fortes, serão mais afortunados e perceberemos, repentinamente, que por motivospolíticos serão autorizados a quebrar essas regras. Eu queria dizer o seguinte: precisamosda solidariedade europeia e precisamos dela pelas razões expostas.

Concluindo, Senhor Presidente, queria dizer-lhe que sei que está atento a essa solidariedadeeuropeia. A recente decisão da Comissão Europeia sobre o acordo relativo ao gás entre aPolónia e a Rússia – que aproveito para agradecer – é um bom exemplo de como o aspectocomunitário funciona, e de como funciona a bem do interesse de países como a Polónia.Repito, Senhor Presidente, não podemos mudar a realidade com uma varinha de condão.Se atingirmos um ponto em que as soluções políticas, aliadas ao populismo existentenalgumas partes da Europa actual, se sobrepuserem ao pensamento económico, os seusambiciosos planos de intensificação do mercado – que, aliás, considero muitopositivos…(frase inacabada). Penso que, na qualidade de deputados ao Parlamento Europeu,estamos bem cientes da distância que nos separa ainda de um mercado comum - basta veras contas que todos os meses pagamos pelo roaming dos telemóveis. Se, mesmo com ummercado comum europeu, ainda pagamos roaming, é evidente que temos um longo caminhopela frente antes de atingirmos a nossa meta da integração económica.

Patrick Le Hyaric, em nome do Grupo GUE/NGL. – (FR) Senhor Presidente, SenhorPresidente em exercício Olivier Chastel, Senhor Presidente José Manuel Barroso, se bempercebi o Presidente da Comissão, os nossos pontos de partida são totalmente opostos. OSenhor Comissário afirmou que a crise já foi ultrapassada, enquanto o meu grupo, o GrupoConfederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, pensa que a situaçãoestá cada vez pior. Como solução para a crise, recomenda austeridade com o Pacto deEstabilidade e, agora, com o reforço das sanções. Na minha opinião, devíamos fazerexactamente o contrário: melhorar os salários, impor uma nova abordagem fiscal que osapoie, criar um imposto sobre as transacções financeiras, reforçar a protecção social,proteger os serviços públicos e lançar uma sólida política de emprego.

Infelizmente, receio que a sua estratégia possa colocar a Europa numa situação muitodelicada. Não ouviu a força dos protestos populares em toda a União Europeia? Ontem,

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pela sexta vez, milhões de pessoas manifestaram-se em toda a França, com o apoio de 70%da população. Não vê o perigo que hoje nos ameaça? A ideia europeia, porque se baseiana concorrência e numa política de comércio totalmente livre, esbarra com os interessesdo dinheiro nestas guerras económicas, que se tornaram já guerras monetárias. Porquenão almejamos um sistema novo: um fundo de desenvolvimento humano e social em vezdo Pacto de Estabilidade, mas que fosse concebido em colaboração com o Banco CentralEuropeu, o qual deveria poder refinanciar as dívidas dos Estados-Membros e os bancosnacionais cunhando mais moeda, a taxas de juro que fossem ao encontro dos critériossociais?

Penso que a União Europeia deve tomar a iniciativa de criar uma nova ordem monetáriamundial, começando por aceitar a proposta da China de uma moeda comercial internacionalcomum. Tal como fizeram a Tailândia e o Brasil, porque não decide a Europa impor umataxa sobre as divisas, de forma a aliviar as tensões monetárias?

Senhor Presidente da Comissão, Senhores Representantes do Conselho, creio que é chegadaa hora de pensarmos em iniciativas novas e de ouvir os nossos povos.

Nigel Farage, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhor Presidente, Senhor Presidente Barroso,está a exercitar-se, a usar os poderes que lhe são conferidos pelo Tratado de Lisboa queforçou, recorrendo a meios ilícitos. Agora está a fazer tudo o que consegue na cena mundiale dentro da UE para se apresentar com uma pose de Estado.

E isso está bem patente na sua recente proposta de imposto directo a ser cobrado aos povosdeste continente pelas instituições europeias.

É certo que, no passado, um movimento independentista glorioso fez campanha sob olema "não à tributação sem representação" ("no taxation without representation") ereconheça que não é nosso representante. Não votámos em si e não podemos destituí-lo.Penso, portanto, que com este imposto directo está, de facto, a cometer um erro.

Como este clube está a ficar caro! Há dois anos apenas, a contribuição líquida anual doReino Unido foi de 3 mil milhões de libras esterlinas. Este ano, já vai nos 6 mil milhões delibras. No próximo ano, passará a 8 mil milhões. No ano seguinte, deverá situar-se nos 10mil milhões de libras e, agora, ouvimo-lo dizer que pretende acabar com a correcção afavor do Reino Unido. Isso significa que, em 2013, a nossa contribuição ascenderá aos 13mil milhões de libras. No espaço de seis anos terá quadruplicado.

Quando perceberem estes cálculos, quando souberem do seu imposto directo, oscontribuintes chegarão à conclusão de que não podemos dar-nos ao luxo de pertencer àUnião Europeia.

Mas ainda há esperança: o acordo de Deauville entre Merkel e Sarkozy, aquilo que hojetanto os aterroriza. Espero que se concretize. Assinemos um novo Tratado. O SenhorPresidente quase parece apoiá-lo. Assinemos um novo Tratado europeu e sujeitemo-lo areferendo em muitos países, em particular na Grã-Bretanha, e os Britânicos perceberãoque os termos são muito negativos para o Reino Unido. Votarão a favor da nossa saída daUnião Europeia e da arrumação da nossa casa.

Muito obrigado. Saímos com todo o prazer.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

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Martin Schulz (S&D). – (DE) Senhor Presidente, queria fazer uma pergunta ao senhordeputado Nigel Farage. Peço-lhe que tenha a gentileza de responder. Demonstra muitapreocupação com os cofres britânicos. Tal como a mim, no início desta legislatura, foi-lhedado escolher de que cofres queria que saíssem as suas ajudas de custo: dos cofres britânicosou dos cofres da União Europeia. Não se importa de esclarecer esta Assembleia sobre quempaga as suas ajudas de custo, se é o orçamento da União Europeia ou se optou pelo sistemanacional do Reino Unido?

Nigel Farage (EFD). – (EN) Senhor Presidente, devíamos acabar com essa ideia de dinheiroeuropeu. A primeira coisa a saber antes de cobrar um imposto directo é que não existe,enquanto tal, dinheiro europeu: trata-se do nosso dinheiro! Somos um contribuinte líquidoimportante desta União Europeia e, em troca, não obtemos qualquer benefício económico!O dinheiro é nosso!

José Manuel Barroso, Presidente da Comissão. - (EN). – Senhor Presidente, não tenho porhábito intervir, mas sinto-me na obrigação de fazer um ponto de ordem.

Já não é a primeira vez que o senhor deputado Farage afirma, dirigindo-se à minha pessoa,"O Senhor não foi eleito". É verdade que não fui eleito por si mas fui eleito por esteParlamento.

(Aplausos)

Fui eleito por este Parlamento, por escrutínio secreto, e o senhor deputado faz parte desteParlamento. Considero que, ao afirmar reiteradamente que eu próprio ou a Comissão nãofomos eleitos, está a faltar ao respeito à Comissão e ao Parlamento a que pertence.

(Aplausos)

Francisco Sosa Wagner (NI). – (ES) Senhor Presidente, vou ver se consigo acalmar osânimos neste debate tão acalorado.

É lamentável que, a par da União Europeia, alguns dos seus Estados-Membros continuema pertencer ao G20. Apesar desta anomalia que, sem dúvida, enfraquece a imagem daEuropa no resto do mundo, seria positivo que, no mínimo, apresentássemos uma posiçãoglobal comum nesse fórum mundial.

Em que devia consistir, a meu ver, tal posição? Na minha humilde opinião, penso quedevíamos propor o seguinte: primeiro, a adopção de um acordo global com vista a combateras consequências da crise não pode ser adiada através da adopção de um mero acordofinanceiro; em segundo lugar, a Europa deve manter o euro como moeda de referência ou,se preferirem, como âncora, de forma a não sermos arrastados por perturbações do mercadoque nos levem a repetir os erros do século XX; finalmente, o euro deve anunciar o que aEuropa representa perante o mundo, em termos tanto de valores democráticos como deliberdades cívicas.

Em suma, temos de estar cientes de que, num mundo global, neste jogo global, quem apenasjoga com as cartas nacionais sai a perder.

Othmar Karas (PPE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Presidente Barroso, minhasSenhoras e meus Senhores, este debate é testemunho de uma coisa: o acordo de Deauvilleimpede-nos de superar a crise, o acordo de Deauville é um passo atrás para a União Europeia,o acordo de Deauville comprova que nenhum dos elementos deste lindo par retirouensinamentos da atitude indecente da França e da Alemanha em 2002 e 2005, quando

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ambos os países começaram a minar o Pacto de Estabilidade. Pelo contrário, assistimosagora ao retomar de tão indecente comportamento.

Queremos ultrapassar os erros do passado. Queremos uma resposta europeia aonacionalismo e aos vetos apresentados a muitos regulamentos europeus. Apresentámo-lano caso da supervisão dos mercados financeiros. Estamos a prepará-la através do relatóriode resposta à crise. Estamos a prepará-la com o relatório do deputado Diogo Feio e estamosa prepará-la no nosso trabalho legislativo quotidiano. Concentremo-nos nesse esforço enão nos deixemos desviar, mesmo neste debate. Há que avançar. Há que encontrar respostas.O relatório subscrito pelos cinco grupos envia uma mensagem muito clara: ainda nãoultrapassámos a crise. As políticas fiscal e monetária não substituem as reformas estruturais.Estamos a afirmar claramente que exigimos uma redução dos défices como requisito préviopara um futuro mais seguro. Mas não é possível cortar o défice com uma simples tesoura.A redução dá-se em resultado de reformas, investimentos, poupanças e mudanças. Opresente relatório envia uma mensagem clara: queremos mais Europa como parte dasolução. Avancemos com o próximo passo da integração – a criação de uma uniãoeconómica, a criação de uma união social, a criação de uma união da defesa e da segurança– e façamos do mercado interno o mercado nacional de cada cidadão. A comunidade daEuropa, a iniciativa da União Europeia, é a resposta que se impõe. O grupo de missão e oencontro de Deauville falharam.

Stephen Hughes (S&D). – (EN) Senhor Presidente, como nos informaram, o grupo demissão presidido por Herman Van Rompuy apresentou já o seu relatório. Contém propostaspara resolver a crise e impor disciplina orçamental, ou seja, refere-se a parte do problema,apenas.

Permita-me realçar que estamos perante meras propostas. Estou certo de que os ministrosdo ECOFIN que dominaram esse grupo de missão gostariam que o processo terminasseaqui, mas não termina. O processo começa aqui. Encontramo-nos no ponto inicial doprocesso legislativo. Espero que todas as instituições percebam que o trabalho do ParlamentoEuropeu sobre as propostas legislativas da Comissão terá agora de avançar, num processoamplamente democrático, em conjunto com o Conselho.

O grupo de missão afirmou pretender dar um salto em frente em termos de uma governaçãoeconómica mais eficaz. Na minha opinião, as suas propostas parecem antes um passo àretaguarda em termos de prosperidade e bem-estar da Europa. O grupo de missão propõeo reforço dos instrumentos - mas só dos instrumentos que visam a disciplina orçamental.É aqui que está o busílis. A coordenação económica é mais do que mera disciplinaorçamental e não conseguiremos uma união económica enquanto esse equilíbrio não fordevidamente reconhecido. Esta orientação conduzirá, inevitavelmente, a economias políticasdistorcidas que não consideram adequadamente outros objectivos políticos válidos nacondução da sua política macroeconómica - ou seja, crescimento, investimento e emprego.

Senhor Presidente Barroso, não precisamos que mais um grupo de missão nos apresentemais um pacote de medidas políticas. Precisamos antes que a Comissão use o seu direitode iniciativa e apresente propostas relativas a crescimento, investimento e emprego.

Quanto às propostas agora em cima da mesa, penso que a responsabilidade do ParlamentoEuropeu nos próximos meses será de monta. Temos de fazer algumas modificações nalinha do relatório do deputado Diogo Feio, que será hoje submetido a votação. Na minhaopinião, impõem-se três modificações principais: o procedimento relativo aos desequilíbriosexcessivos tem de ser suficientemente abrangente para abarcar os mercados de trabalho,

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incluindo os níveis de desemprego, pelo que há que incluir o Conselho "Emprego" sempreque necessário; a avaliação qualitativa dos níveis de dívida pública e dos progressos navertente correctiva do Pacto de Estabilidade e Crescimento devia levar plenamente em linhade conta os níveis e progressos no investimento público; e há que explicitar e tornaroperacional ao máximo a ligação com a Estratégia 2020 ao longo de todo o novo sistema.

No que respeita à governação, nesta fase precoce, mencionarei dois pontos apenas. OConselho tem de orientar o sistema e assumir ao longo do processo a responsabilidadepolítica; tem também de garantir o envolvimento adequado, sempre que necessário, detodas as formações pertinentes do Conselho, e não apenas do ECOFIN.

Por fim, o Parlamento Europeu tem de ser plenamente envolvido na totalidade do processo,de modo a garantir o mais elevado nível de legitimidade democrática. Basta olhar para aproposta de semestre europeu para perceber até que ponto falta aqui o papel do Parlamento.Alguns de nós, de todos os grupos políticos, estão a trabalhar em propostas para reforçaro envolvimento parlamentar. Espero que sejam aceites pelas outras instituições, de modoa conferir a este processo a legitimidade democrática que lhe falta.

Olle Schmidt (ALDE). – (SV) Este ano que passou mostrou que a UE pode tomar decisõesimportantes em situações difíceis. Infelizmente, os últimos dias têm sido uma desilusão.Quando a UE precisa de regras orçamentais claras e rigorosas, a França e a Alemanhahesitam. Este facto causa preocupação. Deixaríamos aqui uma mensagem: deixem em paza proposta do Comissário Olli Rehn!

Os meus sinceros agradecimentos a Pervenche Berès e aos colegas da Comissão Especialpara a Crise Financeira, Económica e Social, que mostraram que, no Parlamento Europeu,sabemos ultrapassar as baias partidárias para encontrar soluções comuns a bem da Europa.O Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa apresentou uma alteraçãopropondo que, se for introduzido um imposto sobre as transacções financeiras, essa medidadeverá ter alcance mundial. No caso em questão, é importante que a medida seja aplicadamundialmente.

Não podemos permitir que o nacionalismo volte a impor-se na Europa. Só uma economiade mercado claramente delimitada e um comércio livre poderão gerar prosperidade.Precisamos de uma Europa mais unida, uma Europa mais aberta, uma Europa mais forte– numa palavra, precisamos de mais Europa.

As opções de penalização propostas aplicar-se-ão, numa primeira fase, apenas aos paísesda zona euro. Nós gostaríamos que a redacção do texto abarcasse os 27 Estados-Membros.Consequentemente, vou apresentar uma alteração oral ao relatório do deputado DiogoFeio, e espero que o Parlamento possa apoiá-la. O relator e o Grupo da Aliança Progressistados Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu já declararam estar dispostos a tal.Passo a ler essa alteração em Inglês:

(EN) Na medida do possível, os 27 Estados-Membros aplicarão todas as propostas degovernação económica, reconhecendo embora que, para os Estados-Membros que nãopertencem à zona euro, tal aplicação se fará numa base voluntária.

(SV) Os tempos não são propícios à criação de uma UE que possa dividir a União.

Pascal Canfin (Verts/ALE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Presidente JoséManuel Barroso, Senhor Comissário Olli Rehn, espero, muito sinceramente, que ponderemo trabalho desenvolvido pelo Parlamento Europeu sobre os assuntos que hoje nos ocupam,

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nomeadamente através dos relatórios de Diogo Feio e Pervenche Berès, porque estamos atrabalhar na qualidade de co-legisladores para a governação económica. Posso afirmar que,com o apoio de pelo menos quatro grupos parlamentares pró-europeus, fizemos umesforço genuíno para chegar a compromissos que nos levem a bom porto. Estamosjustamente a dar por encerradas as discussões para tentar resolver os problemas.

Há quem se refira ao orçamento, quem se refira a medidas fiscais, quem se refira agovernação. É necessário, hoje, que a Comissão – no desempenho das suas competências,pela nossa parte estamos a tentar fazê-lo mas cabe também à Comissão avançar por aí –proponha um pacote global: algo no espírito do relatório Monti, o qual também está nalinha daquilo que Michel Barnier tem tentado fazer para o mercado interno. Aguardo queo Comissário Barroso apresente um pacote global que nos indique como sair da criseeconómica. Não se trata apenas de governação macroeconómica; o que importa é ler trêsou quatro dossiês sobre macroeconomia, tributação e orçamento, e apresentar então opacote.

Estou certo de que se o fizer, conseguirá o apoio de vasta maioria do Parlamento Europeu.Se olharmos apenas para as finanças públicas, por exemplo, há dois ou três anos a Comissãoe os seus departamentos afirmavam que, de todos os países, a Espanha era o que respeitavamais estritamente o Pacto de Estabilidade e Crescimento, e que as finanças públicas deEspanha estavam em ordem. O problema é que surgiu instabilidade de outro lado e nestemomento a situação de Espanha, tal como a da Irlanda, é terrível. Vemos claramente,portanto, que centrarmo-nos apenas nas finanças públicas não nos ajudará a resolver acrise.

Os compromissos propostos nos vários relatórios hoje apresentados e a votar amanhãrepresentam uma súmula desses pontos. São uma forma de reconhecer que precisamosde reforçar a disciplina orçamental. Isso é evidente. No entanto, se queremos garantir queessa disciplina orçamental não conduz ao colapso social mas apenas a cortes na despesapública, precisamos, ao mesmo tempo, de um pacote orçamental europeu que financie oinvestimento e de um pacote fiscal que permita aos Estados-Membros cobraremdeterminados impostos.

Assim, lanço uma última pergunta ao Comissário Olli Rehn e, especialmente, ao PresidenteDurão Barroso: estão, de facto, a favor de uma base comum para o cálculo de impostosobre as sociedades? Apoiam-na sem reservas? É que há 10 anos que a Comissão tem essaproposta na gaveta e, durante 10 anos, os Senhores não conseguiram resolver o assunto.Chegou a altura de o fazerem.

(Aplausos)

Roberts Zīle (ECR). – (LV) Muito obrigado, Senhor Presidente. Agradeço também aoPresidente Barroso, que já abandonou o Hemiciclo.

Começaria por agradecer à relatora, aos relatores-sombra e ao presidente da comissãocompetente, Wolf Klinz, o compromisso a que finalmente chegámos. Tenciono abordardois pontos apenas do relatório, visto que não me agradam, mas não se referem nem àAlemanha nem a França. Em primeiro lugar, em resultado de um investimentotransfronteiras agressivo, a partir de 2004, a dívida privada das famílias e a dívida dasempresas cresceram em muitos Estados-Membros, chegando nalguns casos a decuplicar.Além disso, a maioria desses empréstimos eram contratados de forma a deixar todo o riscocambial recair sobre o mutuário. Significa isto que os governos desses países não dispõem

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de muita margem de manobra nas respectivas políticas macroeconómicas, restando-lhesa redução da despesa pública e o aumento dos impostos. Ao mesmo tempo, a grandepreocupação das famílias reside no reembolso do empréstimo expresso em euros.Infelizmente, o relatório praticamente não refere este aspecto.

A minha segunda observação está relacionada com a primeira: suponhamos um novoEstado-Membro cujo PIB tenha regredido para níveis pré-adesão, para um nível anteriorao ano de 2004, e actualmente com a dívida privada 10 vezes superior e a dívida pública5 vezes superior. Esse Estado-Membro pode inferir do presente relatório que a própriapolítica de coesão pode ser alterada de tal modo que o principal critério deixará de ser oPIB per capita mas a gestão da crise em dado território, o que poderia conduzir aconsequências políticas extremamente importantes. Agradeço a atenção.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL). - Senhor Presidente, as declarações da Alemanha e da França,no chamado acordo de Deauville, além de serem inadmissíveis e demonstrarem a verdadeiraface de quem dita as ordens na defesa dos grupos económicos e financeiros, revelamtambém impaciência, arrogância e agressividade perante a resposta dos trabalhadores edas populações atingidas pelas suas políticas neoliberais e anti-sociais do PEC ou da políticade concorrência, seja na Grécia, na França, em Espanha ou em Portugal, onde também jáestá prevista uma greve geral para 24 de Novembro.

É tempo de os responsáveis da União Europeia reconhecerem a falência destas políticasneoliberais que estão a aumentar o desemprego, as desigualdades sociais, a pobreza, e aprovocar recessão nos países de economias mais débeis, onde as imposições comunitáriaspodem provocar um autêntico desastre social.

Lamentavelmente, não é isso que está a acontecer. Caíram todas as promessas de acabarcom os paraísos fiscais, taxar devidamente as transacções financeiras, acabar com osprodutos financeiros especulativos.

Por isso, aqui fica o nosso protesto, dando voz aos muitos milhões de trabalhadoresameaçados de pobreza, aos desempregados, aos idosos com reformas de miséria, aos jovenssem emprego e às crianças em risco de pobreza a quem querem negar um futuro comdignidade.

É tempo de uma ruptura com estas políticas para termos uma verdadeira Europa social,uma Europa de progresso e desenvolvimento.

Juozas Imbrasas (EFD). – (LT) Permitam-me algumas palavras sobre a Comissão Especialpara a Crise. Fez um belo trabalho e apresentou recomendações e propostas muito positivas.Claro que, num mundo ideal, todas elas caberiam nos documentos em fase de redacçãopela Comissão. É essencial que a Comissão não esqueça os pontos fundamentais e os maisimportantes. Um desses pontos consiste na criação de um sistema de regulação e supervisãoque não deixe de fora nenhum mercado financeiro, nenhum instrumento financeiro,nenhuma instituição financeira. A Comissão devia orientar a sua acção para a criação demais emprego e ligar esse novo emprego a medidas tendentes a combater a pobreza e aexclusão social. Todos os esforços nesse domínio devem, antes de mais, visar o empregodos jovens. Para ultrapassar a crise, são necessárias decisões de emergência sobreinfra-estruturas relativas a fontes de energia renováveis, energia verde, eficiência energéticados sectores dos transportes e construção e é necessária uma rede de energia europeia.Seria bom se, daqui a um ano exacto, a Comissão pudesse chegar aqui e afirmar que as

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disposições da resolução propostas pela Comissão Especial para a Crise não ficaram apenasno papel mas já tiveram efeitos concretos.

Krisztina Morvai (NI). – (HU) Tal como já aconteceu no mais importante debate destasemana aqui no Parlamento Europeu, a saber, o debate sobre a pobreza, os políticos daUnião Europeia mostram-se de novo surpreendidos e tristes por verificar que a situaçãodos cidadãos europeus não está a melhorar mas, pelo contrário, se deteriora continuamente.A pobreza cresce continuamente, a par da miséria, do desemprego, dos sem abrigo. E ficamtão surpreendidos como se fossem consequência de lamentáveis catástrofes naturais oude tsunamis. Não são, essas situações resultam de decisões tomadas pelos políticos europeus.A miséria e pobreza crescentes nascem directamente da política neoliberal que os senhores– à excepção dos que se lhe opõem – quiseram perseguir, e a tendência vai manter-se. Apobreza e a miséria continuarão a aumentar se não se decidirem por outro sistema devalores.

Os dois relatórios à nossa frente podem ser comparados a um painel de médicos quepercebe que a terapia aplicada a determinado paciente só lhe tem sido prejudicial e atépiorou a sua situação e depois propõe a que se mantenha a mesma terapia com base nomesmo diagnóstico, decide manter o mesmo tratamento, mas com uma supervisão maisapertada e punindo o paciente se não obedecer às orientações, por exemplo, se não tomara medicação prescrita. O que aqui está em causa é uma escolha consciente entre sistemasde valores. Até hoje, a União Europeia escolheu, deliberadamente, um sistema de valoresonde sempre tomou a decisão acertada do ponto de vista do dinheiro e do lucro, do pontode vista das multinacionais e dos bancos, mas nunca das pessoas e da comunidade. Sempreprocurou o que está certo do ponto de vista de uma concorrência desenfreada que não sedeixa cercear por considerações relativas a justiça e moralidade e nunca se norteou poraquilo que está certo do ponto de vista da justiça social e da solidariedade. A situação temde mudar. A partir de agora, há que tomar boas decisões.

Corien Wortmann-Kool (PPE). – (NL) Senhor Presidente, apesar de alguns sinaispositivos, o risco de agravamento da crise não está ainda afastado. O sistema bancáriomantém-se instável e diversos Estados-Membros correm o risco de ver os déficesorçamentais fora de controlo se nada se fizer. Urge, portanto, uma união económica.

Senhor Presidente, o grupo de missão tem ainda de apresentar resultados concretos mas,na qualidade de relatora deste Parlamento para o Pacto de Estabilidade e Crescimento, devodizer ao Comissário Olli Rehn que temos capacidade para trabalhar rapidamente. Envio amesma mensagem ao Conselho. Temos capacidade para trabalhar depressa, mas só a partirdas propostas da Comissão. O Conselho está disposto a aceitar esta oferta?

Queria, igualmente, lançar um alerta contra a modificação do Tratado sugerida, que poderianão passar de um engodo para nos obrigar a adiar de novo as medidas necessárias. Nestemomento, temos de avançar com todas as medidas possíveis ao abrigo do Tratado deLisboa. Hoje em dia, o Parlamento tem um novo papel de co-legislador no atinente aoPacto de Estabilidade e Crescimento e tirará pleno partido desse papel para construir umaunião económica robusta, com um Pacto de Estabilidade e Crescimento robusto.

Sergio Gaetano Cofferati (S&D). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, a crise teve um impacto terrível em todos os países europeus. Se analisarmosas consequências de um ponto de vista social, rapidamente chegaremos à conclusão –conclusão esta que orienta grande parte do trabalho da Comissão – de que o pior aindaestá para vir. O desemprego deverá aumentar e os débeis sinais de recuperação que já se

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verificam nalguns países não bastam para garantir a criação de novos empregos. Assim,temos de admitir que será fundamental enfrentar os aspectos sociais mais acentuados dacrise, que foi gerada a partir do sistema financeiro mas rapidamente alastrou aos domínioseconómico e social.

Perante o exposto, temos de nos dotar de outros instrumentos para defender as pessoasmais duramente atingidas. Preparamo-nos para debater uma proposta de directiva-quadrorelativa ao rendimento mínimo garantido em todos os países europeus, que considero damaior importância para, por um lado, combater a pobreza e, por outro, ajudar os quecertamente serão de alguma forma afectados pela crise nos próximos meses.

A melhor forma, porém, de combater uma crise passa pelo lançamento de políticas decrescimento. O crescimento exige recursos, investimentos dirigidos e prioridades clarasque apontem para onde canalizar os recursos disponíveis. O orçamento da União nãochega. Foi por isso que a Comissão afirmou claramente a necessidade de obter recursosadicionais a utilizar em investimentos de infra-estruturas e destinados à qualidade daconcorrência e ao emprego. Esta via conduz à criação de euro-obrigações e de um impostosobre transacções financeiras. Não há alternativa. É por isso que as soluções que sugerimos– e que espero que o Parlamento aprove – são não só importantes mas também inovadoras.

Wolf Klinz (ALDE). – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, no augeda crise financeira, os países do G20 prometeram uma acção conjunta para estabilizar osmercados financeiros. Passados dois anos, continuamos ainda muito longe de uma respostaglobal. Em muitos casos, as medidas adoptadas seguiram os interesses e consideraçõesnacionais. A energia inicial esfumou-se e o que aconteceu quase sempre foi que voltámosà nossa rotina. Mervyn King, do Banco de Inglaterra, resumiu admiravelmente a situaçãoquando afirmou que falta ainda vontade de agir no interesse colectivo. No seu relatóriointercalar, a Comissão Especial para a Crise Financeira, Económica e Social torna muitoclaro que a Europa se encontra numa encruzilhada decisiva. Urge intensificar a nossaintegração, urge harmonizar mais as nossas políticas económicas e orçamentais, urgelançar projectos europeus de infra-estruturas nas áreas da energia, dos transportes, dastelecomunicações. Urge um mercado interno e um mercado de trabalho que funcionem,e urge captar os recursos necessários para atingir as exigentes metas de crescimentoestabelecidas na Estratégia UE 2020. Urge encontrar fontes de financiamento inovadoraspara podermos explorar o potencial das PME. Urge mais método comunitário e menosmétodo intergovernamental. Neste caso, uma pausa equivale a um passo à retaguarda; nãopreservará o statu quo.

A crise da dívida na Europa mostra à evidência que não é possível atingir a estabilidade ea confiança sem disciplina. As propostas do Comissário Olli Rehn e do grupo de missãopresidido pelo Presidente Herman Van Rompuy visam garantir que os Estados-Membrossão disciplinados. Lamento dizer que no Luxemburgo, há uns dias, os Ministros das Finançaspuseram de parte essas propostas por ordem do nosso par franco-alemão – umaoportunidade perdida e um dia negro para os nossos cidadãos, que mais uma vez, e comtoda a razão, se sentem traídos pelos políticos.

Kay Swinburne (ECR). – (EN) Senhor Presidente, o debate desta manhã tem comodenominador comum o tema da nossa resposta à crise financeira e da procura de maioreficácia na nossa gestão do risco – trate-se do risco relacionado com a gestão da dívidapública, com a gestão dos nossos mercados e produtos financeiros ou com a gestão dosdesequilíbrios globais. Temos de garantir um elevado padrão de comportamento comum

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na adesão a um pacote de regras concertadas, quer no comportamento dos nossos bancos,quer no comportamento dos Ministérios das Finanças dos Estados-Membros.

Tanto o sector público como o privado têm de aplicar uma disciplina financeira e fiscalmais rigorosa. Temos de garantir que, na procura de oportunidades de crescimento, osinstrumentos de financiamento utilizados pela UE e pelos Estados-Membros são os maiscerteiros e tão transparentes quanto possível. Há que abordar com cautela as formasinovadoras de financiamento, e as tentativas da UE de reforçar o seu orçamento não podemesquecer as contingências e a possibilidade de risco moral.

O Fundo Europeu de Estabilização Financeira é um instrumento extrapatrimonial assentenuma notação de risco. O reforço do orçamento da UE através da emissão deeuro-obrigações pelo BEI tem de ser analisado com a maior precaução. Todos sabemosque instrumentos complexos e formas de alavancagem financeira complexas tambémimplicam riscos próprios. O dinheiro não é grátis e não há formas fáceis de o conseguir.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL). – (EL) Senhor Presidente, tenho algo a dizer, em nomedo Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, a propósitodo relatório Berès sobre a crise, que explicará a nossa decisão de não votar a favor. Houvehoje uma profusão de referências históricas e vou manter esse registo. Quando comparadocom o documento inicial da relatora, o de hoje parece um velho papiro, um velhopergaminho de onde foi raspado o texto inicial para ser escrito novo texto sobre traços doinicial – ou seja, um palimpsesto. Essa "raspagem" selvagem feita pelo Grupo da AliançaProgressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu e pela direita europeiaa partir da tentativa inicial, honesta e honrada, da relatora, de identificar as causas da crisee apresentar propostas vigorosas deu origem a um texto que já não é do ParlamentoEuropeu, a única instituição democrática da União Europeia. É agora um texto da Comissão,um documento que esconde a causa da crise e entrega a política da UE às iniciativas deAngela Merkel, Nicolas Sarkozy e do grupo de missão.

Pela nossa parte, apresentámos propostas para melhorar o texto. Criticámos o Pacto deEstabilidade e o funcionamento do Banco Central Europeu. Propusemos alterações quepretendiam verificar se todos aqueles que dizem que a União Europeia escolheu a via erradase referiam ao mesmo. A nossa proposta inspirou-se nas manifestações de hoje em França,nas manifestações, na Alemanha, de trabalhadores cujos rendimentos são reduzidos paraque a Siemens tenha dinheiro para pagar "luvas", pelas manifestações, na Grécia, detrabalhadores que são tratados como cobaias. Numa palavra, o texto final assumiu umaforma que não podemos aceitar.

Mario Borghezio (EFD). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,deveríamos ter ouvido os conselhos do Prémio Nobel, Maurice Allais, que exortou a umaclara separação entre os bancos comerciais, os bancos de investimento e os bancosespeculativos, em conformidade com os princípios da Lei Glass-Steagall, de que não se falaneste relatório.

Quanto à proposta de se tributarem os contribuintes europeus, a minha resposta é "Nãoa qualquer imposto na Europa!". Se esta proposta da União Europeia avançar, poderãoestar certos de também aqui expressaremos o nosso protesto: haverá um protesto emmassa. A opinião pública europeia não tenciona pagar por um serviço que não está areceber, e com toda a razão.

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Continuamos a financiar os bancos. No entanto, o que fazem os bancos, em plena criseeconómica e financeira? Compram títulos, inclusivamente aqueles que contêm derivadosde alto risco e assim por diante. Continuam a comprá-los. E, enquanto isso, o que faz oBCE? O BCE – que se quis incontestável – permite que assim seja. Parece-me evidente queesta é uma Europa dos banqueiros. Se até mesmo os líderes maçónicos o afirmam, nãovejo por que não podemos afirmá-lo também.

Acreditamos existir uma só forma eficaz de combater a especulação: que as operaçõessejam realizadas no acto de pagamento das negociações, e apenas em dinheiro líquido.Angela Merkel atreveu-se a dizê-lo, e foi vaiada. Algum motivo deve existir.

Sirpa Pietikäinen (PPE). – (EN) Senhor Presidente, passaram-se apenas dois anos desdeque a crise financeira eclodiu e seis meses desde a questão da Grécia, e assistimos já aoesmorecer das vontades nos nossos Estados-nação.

Hoje, o Parlamento Europeu envia uma mensagem clara através dos relatórios Berès e Feio.Precisamos de um reforço das políticas económicas e financeiras correntes. Precisamos demais Europa e de um Pacto de Estabilidade e Crescimento mais eficaz, com mecanismosreforçados. A mais recente decisão do Conselho ECOFIN equivale a um murro no estômagodos cidadãos europeus. É um erro. Precisamos de fortalecer a estratégia de crescimento,de modo a que, neste ambiente, ela seja sustentável e socialmente responsável, e precisamosde melhores mecanismos de governação para a UE 2020. Precisamos de mais e melhorgovernação económica europeia, a fim de que as acções nacionais acompanhem estaabordagem, incluindo um imposto sobre as transacções financeiras, que exorto a Comissãoa estudar cuidadosamente, inclusivamente no contexto europeu. Precisamos de uma Europaunida melhor e mais forte que fale a uma só voz a nível mundial. Precisamos de uma melhorregulação financeira, e há um longo caminho ainda a percorrer.

Para concluir, precisamos de uma iniciativa da Comissão. Em vez de uma série de gruposde missão, é necessário que a Comissão actue no interesse dos cidadãos europeus.

Udo Bullmann (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercício doConselho Olivier Chastel, Senhor Comissário, este poderia efectivamente ter sido ummomento de grandes respostas, porém, em retrospectiva, não me parece que o tenha sido.O que está sobre a mesa, no que respeita à chamada reforma do Pacto de Estabilidade eCrescimento, não é uma grande resposta; uma vez mais, não passa do menor denominadorcomum - o mínimo que efectivamente foi possível acordar. Felicito a Comissão. Continuaà mesa - os Estados-Membros não estão a avançar sozinhos. Felicito também o Conselho.Foi alcançado um êxito, e França e Alemanha dispõem de um acordo – não sabemos se éum bom ou um mau acordo, mas pelo menos deixaram de estar presos no atoleiro.

O que significa tudo isso? Significa que, no próximo ano, se os números relativos aocrescimento voltarem a diminuir, teremos de enfrentar a realidade e não teremos qualquerresposta para a situação económica. Onde está o documento, o diploma legal, no qual sepropõe a fórmula para, em conjunto, conseguirmos ultrapassar a crise? É aqui que o meugrupo entende que existe uma lacuna, e esse é o debate que travaremos nesta Assembleia.Sim, concordamos com os senhores deputados que exortam a mais empenho nas reformas.É também o que queremos. No entanto, é preciso que debatamos a substância. Se nãoestiverem em posição de nos apresentar uma base jurídica mais sólida para a orientaçãoda nossa política orçamental, então não vemos qualquer justificação para continuarmosa debater a Estratégia UE 2020. Esta é já um tigre de papel, que podemos deitar no cesto

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dos papéis já hoje, se não quiserem debater connosco com maior determinação a suasubstância.

Queremos fazer a diferença. Sim, faz toda a diferença a opção entre investir numa burocraciacoxa, ou nas fontes de energia e nos empregos do futuro. O que existe nas vossas propostasque nos permita fazer a diferença? É essa a resposta que esperamos. Esse debate ainda nãofoi realizado. Será esse o factor decisivo para nós.

Para além disso, não aceitaremos uma lista de indicadores assente na legislação. EsteParlamento não se deixará enganar. Queremos discutir se o emprego e o desemprego sãoou não características importantes da evolução orçamental, e queremos fazê-lo antes de anova legislação ser aprovada.

Ramon Tremosa i Balcells (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, a actual crise financeiraoferece-nos a oportunidade de fazer progressos claros no processo de integração europeia.Gostaria de centrar a minha intervenção na criação de um Tesouro Europeu Comum paraos países da zona euro. Este constituiria uma clara melhoria do quadro institucional degovernação económica europeia.

Estou ciente de que este é um assunto muito delicado para alguns países, contudo, teremosde o enfrentar nos próximos anos. A existência de um Tesouro Europeu permitiria melhorara coordenação das políticas de incentivo económico aplicadas pelos Estados-Membros. OTesouro Europeu estaria igualmente em condições de emitir obrigações europeias parafinanciar a construção de infra-estruturas europeias. A UE precisa de recursos próprios,num contexto de diminuição dos futuros orçamentos dos Estados-Membros. Um TesouroEuropeu Comum com capacidade de cobrança de alguns impostos a nível europeupermitiria a redução das transferências nacionais para a UE.

Sem uma autonomia real de receitas, não haverá autonomia real de despesas. A criação deum Tesouro Comum Europeu é uma decisão política. O ponto nevrálgico desta discussãoreside na falta de vontade política, ou, para ser mais preciso, na falta de vontade políticada parte da Alemanha. Na década de 1990, a Alemanha teve como visão política a promoçãoda criação do euro, apesar das dificuldades enfrentadas com o seu processo de reunificação.A meu ver, a Alemanha deve agora liderar o processo e avançar para a criação de umTesouro Europeu Comum.

Ivo Strejček (ECR). – (CS) Quem tiver assistido ao debate desde o início, facilmenteconcordará que estão certos aqueles que dizem que a União Europeia está numaencruzilhada. Temos aqui no Parlamento, de um lado, os que advogam uma abordagemcomunitária forte; e do outro, é justo dizê-lo, uma minoria que pensa que a União Europeiadeve passar a trabalhar mais com base numa abordagem intergovernamental. A propostade introdução de diversos tipos de impostos europeus insere-se também neste debate,embora seja apelidada de financiamento inovador. Apela ao reforço da União Europeia,mediante a transferência de mais poderes para a Comissão Europeia, em detrimento dosEstados-Membros. É vergonhoso que ninguém tenha ainda referido que a União Europeiae a Comissão Europeia devem começar a reduzir o número das suas agências, que são tãocontroversas, e a proceder à reforma da política agrícola comum.

Jürgen Klute (GUE/NGL). – (DE) Senhor Presidente, a governação económica tal comoestá aqui a ser desenvolvida concentra-se exclusivamente na poupança e na política daconcorrência. Como o nosso colega espanhol acaba de mencionar, ainda não se abordouaqui a questão de a Alemanha estar a orientar a sua economia para as exportações. No

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entanto, esse é claramente um problema crucial, tanto na zona euro, como no conjuntoda União Europeia. A política da concorrência alemã está a ser conduzida em detrimentoda procura interna no país. Esta questão não está a ser debatida. No entanto, trata-se deuma política realizada, sobretudo, em detrimento dos salários. Trata-se de uma batalhasalarial – de concorrência salarial. Esta concorrência salarial exerce uma enorme pressãosobre os países vizinhos, os sindicatos europeus e os trabalhadores europeus. Nem aComissão nem o relatório Feio abordam este problema. Qualquer governação económicadigna deste nome terá de tomar medidas correctivas neste domínio, ao invés de permanecerem silêncio.

Jean-Paul Gauzès (PPE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Presidente em exercício OlivierChastel, Senhor Comissário, em 1968, os amigos do nosso colega Cohn Bendit escreviamnas paredes de Paris "palavras, e não acções". Hoje, os cidadãos exigem o contrário: acções,e não palavras. Todos nós ouvimos muitas palavras, mas não vemos quaisquer resultados.A lentidão da resposta da União Europeia não está à altura dos imperativos que temos deenfrentar.

É preciso que avancemos juntos, unidos pelo espírito europeu. A este respeito, gostaria dedizer uma palavra sobre o papel do Parlamento. Também há trabalho por fazer no querespeita à defesa do princípio da co-decisão. O Senhor Presidente da Comissão agradeceuvárias vezes ao Parlamento o seu apoio, porém, o Parlamento não está aqui simplesmentepara desempenhar um papel secundário de apoio, ou para ratificar as decisões tomadaspelo Conselho, sem ter a oportunidade de as discutir previamente. O Parlamento está empé de igualdade com o Conselho. É tempo de reconhecer essa realidade, e o debate sobrea governação económica será, a esse respeito, um teste.

Finalmente, no que respeita à próxima Cimeira do G20, a União Europeia deve apresentaruma frente unida a fim de garantir que este organismo internacional desempenhe o papelque dele se espera, não enveredando apenas por debates intermináveis.

PRESIDÊNCIA: STAVROS LAMBRINIDISVice-presidente

Elisa Ferreira (S&D). - Senhor Presidente, Senhor Comissário, quero começar poragradecer ao senhor deputado Feio o trabalho de compatibilização e o espírito decompromisso de que ele imbuiu o seu relatório. Porém, a conclusão a que chegámos foi ade que o Parlamento, em determinados dossiês, e isto aconteceu também na supervisãofinanceira, é capaz de se unir e é capaz de tomar uma posição forte que defende os interessesdo cidadão, e essa posição forte tem de ser reconhecida pela Comissão e pelo Conselho. Eeste aspecto é particularmente relevante no momento em que se inicia um pacote legislativode seis propostas extraordinariamente sensíveis e em muitas das quais este Parlamentotem poderes de co-decisão.

Estaremos igualmente activos, mas sem concessões. O nosso espírito é de diálogo, masnão de ultrapassagem dos objectivos que pretendemos defender. E, nesse aspecto, o relatórioFeio sublinha alguns aspectos que são enquadradores. Um deles é que governaçãoeconómica é mais do que um pacote de sanções. O crescimento e o emprego precisam deiniciativas próprias. São precisas iniciativas que combatam as divergências internascrescentes da União Europeia. São precisas propostas concretas sobre o Fundo MonetárioEuropeu. São precisas soluções estáveis para a dívida soberana.

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Estamos num momento em que a confiança depende da capacidade que Comissão eConselho tenham de responder aos anseios efectivos dos cidadãos, e esses são desemprego,crescimento e coesão.

Vicky Ford (ECR). – (EN) Senhor Presidente, é necessária uma melhor governaçãoeconómica com alertas e acções mais céleres. As tradicionais metas para a dívida e o déficenão foram cumpridas por muitos países, porém, não nos teriam alertado para as crisespendentes em Espanha ou na Irlanda. São necessárias também outras medidas.

Contudo, a economia não é uma ciência exacta e não trata apenas de números. A históriasoviética lembra-nos que a contagem central da produção de tractores não traz, por si só,uma economia forte, assim como uma tributação ou um Tesouro centralizados tambémnão são uma solução utópica.

Hoje em dia, são muitas as interrogações que se colocam quanto às medidas a tomar.Ameaçar com multas uma nação praticamente falida parece ser uma ameaça vã, e ascontínuas promessas de resgate na zona euro comportarão sempre um risco moral. Estouciente de que as pessoas estão preocupadas com os acordos franco-alemães, mas talveztenham fundamento. Se o mercado empresta o dinheiro, então talvez deva ser o mercadoa assumir as perdas, e não o contribuinte.

Danuta Maria Hübner (PPE). – (EN) Senhor Presidente, como sempre, há aspectospositivos e negativos na nossa realidade e na nossa actuação. É importante compreendero passado e as causas da crise, e considero que, a este respeito, a União fez o seu trabalhode casa. Porém, hoje, a atenção deve voltar-se para o futuro. A governação económicaeuropeia e mundial que hoje construímos visa o futuro, por isso, não está apenas em causaabordar a actual crise.

A Europa não existe num vácuo. Ao corrigir a situação na Europa, fazemo-lo num contextoque é, hoje, muito diferente do que era em 2008. O G20 esteve unido, há dois anos, emprol do resgate orçamental, mas a sua unanimidade foi impulsionada pelo receio. Hojeencontra-se dividido. O bem comum mundial não existe. São muitas as forças em presençaapostadas em liderar a recuperação mundial e o reequilíbrio da economia mundial. Nesteprocesso, as alterações estruturais fundamentais, que influenciam fortemente acompetitividade europeia, desempenham um papel crucial. No entanto, o papel das divisase das taxas de câmbio como mecanismos de ajustamento mundial sofreu uma enormeaceleração. Está a surgir um novo sistema monetário mundial a uma velocidade semprecedentes, e o número de actores está a aumentar.

Para evitar o desastre que representam os ajustamentos assimétricos, são urgentementenecessários diálogo e acção colectiva. Se o conseguirmos, a questão que se coloca é a desaber se a Europa será capaz de desempenhar a parte que lhe cabe nesta acção colectiva.Para isso, o que faz claramente falta é uma reforma corajosa e simplificadora darepresentação externa da zona euro. Ao atrasar esta reforma, estamos a perder capacidadede influência. Nas actuais circunstâncias mundiais, a Europa não pode dar-se a esse luxo.

Robert Goebbels (S&D). – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, aEuropa está num mau caminho e o mundo não vai muito melhor.

Há pouco, o Senhor Presidente em exercício do Conselho salientou que a globalizaçãoexige que se actue a nível europeu e internacional. No entanto, se analisarmos o que estáa acontecer na União Europeia e a nível internacional, torna-se bastante claro que o quefalta são justamente acções concretas.

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Cimeira após cimeira, os grandes e os menos grandes que supostamente, deveriamgovernar-nos desfilam os seus egos insuflados e encantam-se com os seus discursos decircunstância, e a principal conclusão que se retira de cada cimeira é a necessidade de umanova reunião.

Além disso, esta pretensa governação mundial que o G20 pretende encarnar não tem baseabsolutamente nenhuma no direito internacional e funciona à margem do sistema dasNações Unidas. Com efeito, o G20 é um órgão que se autoproclamou, que funciona semregras escritas e é um clube de nações ricas que se cercaram de alguns países ditosemergentes, incluindo democracias tão exemplares como a Arábia Saudita.

Há pouco, Martin Schulz citou um excerto de uma dessas declarações vãs do G20.Poderíamos fazer o mesmo com as declarações publicadas na sequência das cimeiraseuropeias. Intermináveis promessas e palavras vãs, às quais nunca se seguiu qualquer acção.Para coroar tudo isso, a Europa está sujeita a minicimeiras franco-alemãs, com as quaisesse estranho casal, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, tem a pretensão de nos apontar ocaminho a seguir.

Guy Verhofstadt acaba de evocar os jogos de casino. Estou tentado a acrescentar, "Asapostas estão feitas!" É preciso que a Comissão e o Parlamento se unam para não desperdiçaras "fichas" da Europa e preservar o método comunitário.

Regina Bastos (PPE). - Senhor Presidente, começo por saudar a relatora Berès e todosaqueles que colaboraram para obter o relatório que hoje está aqui em discussão. No âmbitodesse relatório, trabalho da Comissão Especial para a Crise, elaborei um contributo temáticoonde é salientado o papel crucial das pequenas e médias empresas enquanto força motrizpara a recuperação da União Europeia e o futuro crescimento e bem-estar.

Na verdade, há mais de 20 milhões de pequenas e médias empresas na União Europeia.Assim, se cada uma delas pudesse criar um posto de trabalho, isso significaria uma reduçãoequivalente do desemprego. São apontadas nesse documento recomendações comoestratégias económicas de saída da crise. Realço as principais.

A primeira, a necessidade de reforçar a economia social de mercado, evitando restrições àconcorrência e assegurando o acesso ao crédito pelas pequenas e médias empresas. Aconcessão de incentivos fiscais, e mesmo de subvenções, às PME para manter e criar postosde trabalho. A criação de um novo Small Business Act dotado de uma dimensão social maisforte. O estabelecimento de uma rede europeia de consultores seniores para divulgaçãodo seu conhecimento. A inovação como motor mais potente do crescimento económicoe, como tal, a essencialidade de uma ligação orgânica entre a indústria e a inovação. Oestabelecimento de novas parcerias entre a indústria e os meios académicos e, finalmente,a criação de um sistema de educação adequado às necessidades da procura do mercado detrabalho, mas também a necessidade de criar novas qualificações para os novos postos detrabalho.

Liisa Jaakonsaari (S&D). – (FI) Senhor Presidente, o Senhor Presidente da Comissão,José Manuel Barroso, começou por afirmar que a governação económica registou progressostão rápidos que há apenas dois anos ninguém os poderia ter previsto. Tem toda a razão, eé por isso que é sempre conveniente verificar se o comboio se mantém sobre carris, sendoque a velocidade não é um fim em si mesmo. O relatório Berès faz essa análise, e é umexcelente relatório.

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Agora que a comissão liderada pela senhora deputada Pervenche Berès vai prosseguir osseus trabalhos, talvez valha também a pena ouvir os dissidentes da política económica:por exemplo, o vencedor do prémio Nobel, Paul Krugman. Este afirma que os Ministrosdas Finanças são feiticeiros que estão a sacrificar empregos no altar. Devemos ouvir estaspessoas, se quisermos passar de uma economia imaginária para uma economia real e,depois, precisaremos igualmente de indicadores da economia real, que são o emprego e apobreza.

Fiquei desapontado com a sugestão do senhor deputado Olle Schmidt de que o impostosobre as transferências de capital não pode ser experimentado e introduzido na Europa. Éalgo decepcionante, especialmente porque a sua conclusão foi: "mais Europa".

Iliana Ivanova (PPE). – (BG) No relatório da Comissão Especial para a Crise Financeira,Económica e Social exortamos, acima de tudo, a uma resposta europeia, a uma orientaçãopolítica e intelectual forte com dimensão europeia, a uma integração de longo alcance e àrealização do mercado único europeu em benefício dos cidadãos europeus.

Chegámos a um compromisso da maior importância sobre questões-chave, como o Pactode Estabilidade e Crescimento, os seus mecanismos sancionatórios, o rumo das reformasestruturais, a consolidação orçamental e os investimentos estratégicos da União Europeia.Entre as acções prioritárias de particular importância incluem-se as relacionadas com apolítica de coesão e as pequenas e médias empresas.

A política de coesão deve ser um dos pilares fundamentais da nossa política económica.Apoiará o desenvolvimento da eficiência energética e das redes transeuropeias, que, porsua vez, ajudarão a revitalizar a economia europeia e a promover o seu crescimentosustentável. As pequenas e médias empresas são, por seu turno, de importância vital parao nosso futuro desenvolvimento, crescimento e prosperidade. Deverá ser encontrada umanova definição de pequenas e médias empresas, que proporcione também oportunidadestanto para uma política mais específica de apoio ao empreendedorismo como para aadopção de medidas adequadas que permitam reduzir os encargos administrativos eburocráticos.

Espero sinceramente que as nossas propostas e recomendações se traduzam em acçõesconcretas tomadas pela Comissão Europeia e, principalmente, pelos Estados-Membros,porque não temos tempo a perder. Devemos aos nossos cidadãos uma resposta adequadae célere para que possamos sair da crise mais rapidamente e mais fortes.

Ivailo Kalfin (S&D). – (BG) A recessão económica atingiu os Estados-Membros comgravidade diferente. No entanto, essa diferença não se estende para além das fronteiras dazona euro, o que, de uma perspectiva económica, pode ser entendido como sendo verdade.Infelizmente, a moeda única não resultou, até agora, num alinhamento económico. Naverdade, aconteceu precisamente o contrário. Neste momento, existem muito maisdiferenças entre os países da zona euro do que na altura em que o euro foi introduzido, oque é extremamente perigoso.

Os indicadores do Pacto de Estabilidade e Crescimento, objectivamente, não são rigorosose não funcionam. É por isso que a imposição de sanções de forma automática não vai, porsi só, produzir resultados positivos e terá um impacto muito menor ainda na totalidadedos 27 Estados-Membros da União Europeia. Pode inclusivamente acontecer o contrário,levantando os estereótipos económicos, que constituem um fim em si mesmos, novosproblemas.

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A solução é clara. As economias dos Estados-Membros devem convergir na medida dopossível, de modo a que as mesmas medidas possam ser utilizadas para alcançar os mesmosresultados em todo o lado. Isto passa por uma política mais abrangente a nível da UE, porpela atribuição de mais instrumentos às Instituições europeias, por um orçamento maissignificativo e por uma maior independência orçamental da União Europeia, inclusivamenteatravés do aumento da percentagem dos seus recursos próprios.

Frank Engel (PPE) . – (FR) Senhor Presidente, a crise está longe de ter acabado, e osdistúrbios em certos países, como a França, são testemunho disso. Penso que a crise, naEuropa, se tornou uma crise de integração. Exemplo perfeito disso é, mais uma vez, o"acordo de Deauville", que compromete o método comunitário e é um reflexo dos delíriosde grandeza que alguns Estados-Membros ainda têm. Porém, vendo bem, qual de nós aindaé grande?

Estou ciente de que, em 2050, a Europa continuará a representar 6-7% da populaçãomundial, com um poderio económico em definhamento. Será que continuando a competiruns com os outros desta forma conseguiremos responder aos desafios da concorrênciainternacional, ou será que, ao invés, sujeitando-nos ao método comunitário e trabalhandoem conjunto seremos capazes de dar resposta a esses desafios? Para isso, a Europa precisaráde recursos: de meios novos e inovadores. O debate sobre as futuras perspectivas financeirasconstitui uma boa oportunidade para debater essa questão e tentar identificar esses recursos:em matéria de investigação e desenvolvimento e também no que se refere ao serviço deacção externa.

De que serve criar um 28.º corpo diplomático europeu que venha apenas acrescentar-seaos organismos existentes, sem os diluir? A sua criação deveria permitir alguma folga aosEstados-Membros para procederem a uma consolidação, sendo que devemos dotar a Europados recursos necessários para que esta possa, finalmente, conduzir políticas com significadopara os nossos cidadãos. É isso que esperam de nós.

Burkhard Balz (PPE). – (DE) Senhor Presidente, sem querer parecer presunçoso, ouvindoo debate desta manhã, penso que podemos concluir que tem sido realizado algum trabalhonos últimos meses. A Comissão Especial para a Crise Financeira, Económica e Social realizoutambém um grande trabalho no ano passado. Isso fica bem patente nas 1 600 alteraçõesapresentadas ao projecto de relatório original. Os trabalhos desta comissão foramprolongados por mais um ano, o que considero correcto. A crise está longe de ter terminado.A Irlanda acaba de escapar à falência, o orçamento de Estado na Grécia não está ainda,certamente, em boa forma e a situação mundial não nos dá motivos para baixar a guarda.As reformas económicas e financeiras devem prosseguir, sendo ainda demasiado cedopara pôr um fim ao debate sobre as causas da crise e as ilações a retirar.

Seria, portanto, incorrecto declarar praticamente terminado o trabalho daquela comissãoe pôr fim ao seu mandato. Ao invés, é preciso que os trabalhos prossigam com base noque foi alcançado até à data. Por esse motivo, sinto que o relatório intercalar apresentadoé aceitável para todos, como o demonstra também o amplo consenso que granjeou naComissão Especial para a Crise Financeira, Económica e Social. É certo que o texto poderiater sido redigido de forma um pouco mais concisa e sucinta nalgumas passagens, masdevemos aceitá-lo por aquilo que é: uma solução temporária.

Muito mais importante do que a formulação de determinadas passagens será, na segundafase do trabalho da referida comissão, avançar com base nos trabalhos preliminares já

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realizados. Teremos de averiguar de que forma as demais comissões legislativas poderãoapoiar os debates naquela comissão, bem como os aspectos em que poderão contribuir.

Antonio Cancian (PPE). – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, ouvicom toda a atenção os vários discursos desta manhã, mas considero necessária uma maiorclarificação, fazendo a distinção entre os vários instrumentos, que aliás considero bemdefinidos e alinhados, e a estratégia e a nossa unidade interna como União Europeia.

No que se refere aos instrumentos, creio que foram realizados progressos decisivos e queestamos, por conseguinte, a avançar no bom caminho. O que não consigo entender é aestratégia. Por outras palavras: estaremos todos a seguir a mesma abordagem? Semprefalámos de estabilidade, porém, chegou agora o momento de falar de crescimento, oumelhor, já o deveríamos ter feito. Concordo plenamente que se fale de estabilidade e desacrifícios, mas se, simultaneamente, não visarmos o crescimento, através da criação deemprego - o tema crucial durante este período –, penso que não faremos um bom trabalho.

Cumpre recordá-lo ao Senhor Presidente José Manuel Barroso, que, há pouco tempo, veioao Parlamento falar sobre o estado da União, apresentando claramente a estratégia daUnião no que diz respeito ao mercado financeiro. Esta manhã, não ouvi uma palavra sobreesta estratégia.

Permitam-me ainda dizer que seria um erro imperdoável tentar camuflar a anarquia evidente,que reina entre os Estados-Membros sob a capa do conceito de subsidiariedade, mencionadocom muita frequência e, normalmente, de forma inadequada.

Arturs Krišjānis Kariņš (PPE). – (LV) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoresrepresentantes do Conselho, nos últimos dois anos, foram muitos os que, na União Europeia,sofreram directamente as consequências da crise. Não foram poucos no meu país, a Letónia,aqueles que enfrentaram dificuldades: uma redução de 20% na actividade económica e umaumento igualmente acentuado do desemprego. Os meus compatriotas perceberam que,nestas circunstâncias extraordinárias, teriam de ser adoptadas soluções extraordinárias.Que soluções foram essas? A fim de restabelecer as nossas finanças públicas, o povo daLetónia teve de suportar pacientemente uma redução de salários de mais de 30% e oaumento dos impostos. Como resultado, conseguimos a estabilidade das nossas finanças.Então, por que razão estou eu indignado? Fiquei indignado ao ler hoje que a Alemanha ea França, longe de quererem reforçar a supervisão financeira na União Europeia, desejam,com efeito, enfraquecê-la. Quererá, então, isso dizer que o esforço dos meus compatriotasterá sido em vão? Senhoras e Senhores Deputados, não podemos permitir que prevaleçaa vontade de alguns dos grandes Estados-Membros de continuar a viver de formairresponsável. Temos de reforçar a proposta da Comissão, para que a Europa possa ter umasupervisão financeira forte. Obrigado pela vossa atenção.

Gunnar Hökmark (PPE). – (EN) Senhor Presidente, penso que devemos ser claros quantoa um aspecto, a saber, que a crise económica mundial se centra sobretudo nas economiasdos EUA e da Europa. Registam-se níveis elevados de crescimento noutras partes do mundo,mas não na Europa ou nos EUA. Mais do que em qualquer outro factor, a origem doproblema reside no excesso de despesa e na falta de crescimento. Penso que esse é um dosmais importantes desafios.

É preciso desencadear o crescimento, contudo, ao fazê-lo, é preciso que exista estabilidadenas finanças públicas. Por isso, considero preocupante - acrescentando ao que já foi ditopelos oradores que me precederam - que alguns líderes europeus nos venham agora falar

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de regras menos rigorosas e mais flexíveis no que respeita ao Pacto de Estabilidade, optandopor alterar o Tratado. Não me parece que a Europa precise de uma década de discussõessobre a alteração do Tratado. Seria mais uma política de desintegração do que de integraçãoe de competitividade.

É preciso reforçar o Pacto de Estabilidade, introduzindo o maior número possível de sançõesautomáticas. É preciso garantir que os défices orçamentais sejam reduzidos, em confiançae em boa ordem, ao mesmo tempo que procedemos a uma reforma que nos permita umamaior abertura ao crescimento económico – abrindo as fronteiras europeias e abrindo-nosa uma maior concorrência. Esse é o caminho a seguir, e é isso que devemos defender noG20. Esse é também o objectivo para a agenda europeia.

Theodoros Skylakakis (PPE). – (EL) Senhor Presidente, o relatório Berès sobre a crisefinanceira, que é o tema de um dos nossos debates de hoje, refere no seu n.º 32 que algunsEstados-Membros, o que implica, obviamente, o meu país, a Grécia, não têm presentementea oportunidade de criar verdadeiros planos nacionais de recuperação, e que todas as opçõesaté 2012 se restringem a cortes nas despesas públicas, aumentos de impostos e à reduçãoda dívida pública. Esta posição é de enorme importância para a Grécia e outros países, umavez que existem forças dentro do país que argumentam exactamente no sentido oposto.

Pessoalmente, gostaria de apoiar esta posição do relatório Berès, uma vez que os paísescom elevados défices e dívidas e, em particular, os países que deixaram de ter acesso aomercado internacional de capitais devem reduzir os respectivos défices para que arecuperação possa vingar. Não há outra solução. Sem uma redução do défice, não podehaver acesso aos mercados internacionais. Sem acesso aos mercados internacionais, nãopode haver recuperação. É uma pílula difícil de engolir, principalmente para os cidadãos,mas devemos ter a coragem de falar verdade aos cidadãos.

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhor Presidente, tomarei um minuto então. Foram proferidasaqui duas declarações, esta manhã, em que pretendo concentrar-me. Uma pela senhoradeputada Danuta Hübner, dizendo que a Europa não existe num vácuo, e a segunda peloSenhor Presidente em exercício do Conselho, Olivier Chastel, que afirmou que a Europanão pode ser a única a fazer concessões.

Penso ser altura de a União Europeia dar mostras de firmeza, em particular junto dos paísesdo G20 e das Nações Unidas. Temos 11% de desemprego, 20% de desemprego juvenil,uma gigantesca dívida pública e milhões de pessoas na pobreza e, a menos que outrospaíses do mundo estejam dispostos a partilhar o fardo, deveremos afirmar que nãopermitiremos que os nossos países deixem de ser competitivos, nem que a pobreza aumentena União Europeia.

Em segundo lugar, faço questão de dizer que, na Europa, precisamos não só de falar a umasó voz, mas também de agir como um só corpo; não podemos permitir que se perpetue oautonomeado conselho de governadores, aqui mencionado esta manhã. Têm a oportunidadede apresentar os seus argumentos junto do Conselho.

Jan Kozłowski (PPE). – (PL) Gostaria de começar por me congratular com o relatórioque contém recomendações à Comissão, tendo em vista melhorar a governação económicae o quadro de estabilidade da União Europeia, expressando a minha gratidão ao relator, osenhor deputado Diogo Feio, pelo excelente trabalho desenvolvido. Estou convencido deque novas iniciativas, tais como o pacote de supervisão financeira e o Semestre Europeunos permitirão evitar crises futuras, ou, pelo menos, atenuar o seu impacto.

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No entanto, creio que a questão fundamental reside na persistência relativamente às medidasque visam uma melhor coordenação e maior transparência das estratégias políticas relativasàs economias dos Estados-Membros. Gostaria de sublinhar a importância da criação deum bom quadro de cooperação orçamental a nível da UE e dos Estados-Membros, incluindoo alinhamento das categorias de despesa dos orçamentos nacionais com as do orçamentoda UE. Tornar-se-ia, assim, possível a realização de análises criteriosas e sistemáticas dasdespesas públicas europeias.

Gilles Pargneaux (S&D). – (FR) Senhor Presidente, para começar, gostaria apenas dedizer algumas palavras sobre as propostas franco-alemãs. Penso que a nossa reacção deveráacabar por ser positiva. Dizemos muitas vezes que, desde 2007, nos faz falta o nosso motorfranco-alemão. Ao mesmo tempo, é lamentável que as referidas propostas possuamrelativamente a França um pendor esclavagista, uma vez que aquelas foram concebidaspara ajudar a evitar que este país seja colocado em situação difícil devido ao mau estadoda sua situação económica e financeira.

É igualmente importante salientar que, ao contrário do relatório Berès, estas propostasnão apresentam quaisquer sugestões positivas que, efectivamente, nos permitam chegara uma verdadeira governação económica na União Europeia.

Monika Flašíková Beňová (S&D). – (SK) A crise é um fenómeno muito complexo, porisso, permitam-me apenas alguns comentários, posto que o tempo é escasso.

Em primeiro lugar, é colocada demasiada ênfase no critério da dívida pública nas economiasnacionais, quando são igualmente importantes outros indicadores. Ao mesmo tempo, éinevitável, em tempos de crise, alguma dívida pública, na medida em que os governosdevem compensar os défices do sector privado com a actividade económica no sectorpúblico, ou, mais precisamente, com estímulos públicos ao sector privado, que possamdesacelerar o crescimento do desemprego. Isto porque, Senhoras e Senhores Deputados,em todos estes números, esquecemos as pessoas que não causaram a crise, esquecemos odesemprego e o agravamento da situação social. Gostaria também de salientar o facto deque, sem coordenação a nível europeu em matéria de políticas económicas e de regulaçãodo sector financeiro, a saída da crise será muito difícil.

Em conclusão, deixo um último apelo ou pedido: Senhor Comissário, há vários anos quevenho exortando a que se desenvolvam acções concretas no que respeita à situação dosparaísos fiscais.

Anneli Jäätteenmäki (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, proponho que, no futuro, existaum representante para as questões económicas. Deveríamos ter um Alto Representantepara os assuntos económicos, tal como temos uma Alta Representante para os NegóciosEstrangeiros. No futuro, poderíamos fundir os cargos dos Senhores Comissários Olli Rehne Michel Barnier.

Passando a outro assunto, é lamentável que não possamos falar a uma só voz nas reuniõesdo G20. A União Europeia está a ajudar a França, o Presidente Nicolas Sarkozy e aPresidência do G20. De futuro, a União Europeia deveria ter um lugar, um representante,nesta reunião, e deveria falar a uma só voz.

Sven Giegold (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, ontem à noite, durante a conferênciade imprensa, sofri juntamente com o Senhor Comissário Olli Rehn, quando me apercebide que lhe cabia apresentar este acordo, que, efectivamente, não assenta unicamente nassuas propostas. Com base no exemplo do pacote da supervisão, penso que estamos bem

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cientes de que o Parlamento e a Comissão conseguem trabalhar em conjunto para conseguirum bom resultado. Penso que é, na verdade, o que temos de fazer.

Quando analisamos os procedimentos do défice e da dívida, bem como as propostaspositivas que apresenta sobre os desequilíbrios macroeconómicos, é com efeito crucial,para se conseguir um bom acordo, que os países com superavit e os países com déficesfaçam a parte que lhes cabe com vista a colocar o euro de novo sobre carris. Resta-me dizerapenas que a maioria desta Câmara está disposta a apoiar as propostas que apresenta.

Miguel Portas (GUE/NGL). - Senhor Presidente, como o directório franco-alemão aindanão tem lugar sentado nesta sala, dirijo três perguntas à Comissão e ao Conselho sobre arecente fúria sancionatória.

A primeira pergunta é sobre a ideia dos depósitos com juros. Por que raio e qual é que é aracionalidade de acrescentar défice ao défice para combater o défice?

E a segunda pergunta é sobre a possibilidade de suspender os fundos estruturais, o que sópode ter como consequência hipotecar o crescimento a médio e longo prazo. Logo,aumentar os juros da dívida. Logo, aumentar o défice de curto prazo.

E sobra-me uma terceira pergunta. E que tal se existissem sanções contra a estupidez e opecado da arrogância?

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhor Presidente, prometeram-noscrescimento económico, mas a concorrência que os países europeus enfrentam por partedas economias em desenvolvimento levará à destruição das bases de produção e do empregonos nossos países.

Só poderemos competir com esses países através da redução do nível de vida dos nossostrabalhadores. É preciso rejeitar a globalização, proteger as nossas economias e parar dealimentar a força dos nossos concorrentes.

Prometeram-nos uma melhor governação económica na Europa. Contudo, as economiasdos Estados-Membros são muito diferentes, e uma única receita económica não servirá 27países diferentes. Cada um dos Estados-Membros deverá decidir a forma de governaçãoque melhor lhe serve.

A crise económica foi desencadeada pela actividade dos bancos, mas a resposta dos governostem sido correr a resgatá-los. É preciso que controlemos as actividades creditícias, ou seja,as actividades geradoras de lucro dos bancos. Os bancos devem servir as nossas economias,sem que lhes seja permitido seguir a sua própria agenda, e não devem, seguramente, seros nossos beneficiários preferenciais.

Alajos Mészáros (PPE). – (HU) Temos estado a viver a mais grave crise económica esocial da História da União Europeia, cujas principais causas incluem a desigualdade a nívelmundial, uma regulamentação financeira laxista e a política financeira permissiva dosEstados Unidos. Considero que a União Europeia demorou tempo demais a dar respostaàs consequências da crise. As primeiras reacções dos Estados-Membros não foramharmonizadas entre todos. De futuro, precisaremos de mecanismos apropriados de gestãoeconómica, que nos permitam enfrentar situações de crise. Para o bem da nossa segurança,é preciso que asseguremos que a União Europeia possa contar com a sua própria força. Ameu ver, continua a ser necessário o trabalho da Comissão Especial para a Crise Financeira,Económica e Social, uma vez que a crise ainda não terminou e os mercados financeirosainda não estabilizaram. Os Estados-Membros deverão harmonizar as suas políticas

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orçamentais e partilhá-las com os restantes. O mercado interno é uma das alavancasindispensáveis para o crescimento, por conseguinte, a Estratégia Europa 2020 deveráconcentrar-se em investimentos de longo prazo e no emprego. É necessário reforçar aposição das PME, uma vez que o trabalho fundamental que desenvolvem constitui a forçamotriz da investigação, da inovação e do crescimento.

Antigoni Papadopoulou (S&D). – (EL) Senhor Presidente, a União Europeia está, defacto, numa encruzilhada. A crise económica internacional tem limitado o crescimento eagravado o desemprego, a pobreza e a exclusão social. As medidas de resgate forampositivas, apesar das graves deficiências. No entanto, é evidente que precisamos de maissolidariedade e coordenação, na União, entre os planos de relançamento nacionais.

O Parlamento Europeu espera da Comissão mais Europa, menos burocracia, mais apoioàs pequenas e médias empresas, mais emprego, mais recursos para o financiamento deprojectos em sectores cruciais e um sistema de regulação, supervisão e coordenação daspolíticas económicas, orçamentais e sociais da União Europeia.

Também eu apoio a criação de um Fundo Monetário Comum que assegure um controloefectivo da governação económica europeia. Por fim, o profundo orgulho que sinto pelaatribuição do prémio Nobel ao cipriota Christoforos Pissalides leva-me a pedir aoParlamento Europeu que o convide a apresentar as suas opiniões sobre a forma de abordaro desemprego e os desafios do nosso tempo.

Philippe Lamberts (Verts/ALE). – (FR) Senhor Presidente, gostaria de me dirigir àComissão e ao Conselho, simplesmente para salientar aquelas que consideramos seremtrês lacunas nas propostas de governação europeia.

A primeira prende-se com o facto de existir uma disciplina de extremo rigor em matériade défice e uma disciplina extremamente laxista no que respeita ao investimento, e pensoaqui na Estratégia Europa 2020. Precisamos, com efeito, de uma disciplina igualmenterigorosa em ambas as áreas, uma vez que a austeridade, por si só, não relançará a actividadeeconómica.

A segunda lacuna é a seguinte: se estamos tão interessados em exercer controlo sobre asdespesas, então devemos também garantir que conseguimos as receitas necessárias. Tenhoenfatizado esta questão já em diversas vezes: não conseguiremos dispor de coordenaçãoem matéria orçamental se não tivermos coordenação em matéria fiscal.

A terceira lacuna é, no nosso entender, de natureza não democrática, aspecto que consideroparticularmente notório nas propostas apresentadas pelo grupo de missão. Ao que parece,para o grupo de missão, o Parlamento não existe, o que considero inaceitável.

Constance Le Grip (PPE). – (FR) Senhor Presidente, gostaria de centrar a minhaintervenção nos preparativos para as próximas cimeiras do G20. Os oradores que meantecederam já disseram tudo o que haveria a dizer sobre a governação económica europeia,a necessidade de a reforçar, de reforçar o Pacto de Estabilidade e Crescimento e de envolvermais no processo o Parlamento Europeu, bem como, naturalmente, também os parlamentosnacionais.

Gostaria de mencionar rapidamente dois desafios que se colocam às nossas nações e aosmembros do G20, desafios que devem, na minha opinião, ser abordados durante aspróximas reuniões do G20.

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Refiro-me às guerras cambiais e à volatilidade dos preços dos produtos de base.Relativamente a estas duas questões, que representam uma verdadeira ameaça para ocrescimento mundial e que causam desequilíbrios significativos no nosso planeta, consideroque a União Europeia tem de se unir em torno de posições comuns, a fim de ser capaz defalar a uma só voz nas próximas cimeiras do G20, quer naquela que se realiza em Seul,quer nas posteriores, bem como, de uma forma mais abrangente, na esfera mundial.

Petru Constantin Luhan (PPE). – (RO) Neste momento, os efeitos da crise parecem longede estar debelados. Por conseguinte, gostaria de lembrar, neste contexto, o importantepapel desempenhado pela política de coesão económica e social e, por último, mas nãomenos importante, o facto de essa política constituir um indubitável requisito prévio.

Esta política tornou-se característica essencial do pacote de relançamento económico,proporcionando valor acrescentado e apoiando os esforços de modernização e crescimentoeconómico sustentável e demonstrando, assim, simultaneamente, a solidariedade europeia.Considero, em primeiro lugar, que são necessários grandes investimentos em todos ostipos de infra-estruturas, quer de transportes, quer de energia, quer ainda detelecomunicações. Precisamos de um investimento de capital significativo, provenientede diversas fontes de financiamento, tanto públicas como privadas, bem como de parceriaspúblico-privadas, cujo potencial, penso, ainda não foi plenamente explorado.

Rachida Dati (PPE). – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, emprimeiro lugar, gostaria de felicitar o nosso colega Diogo Feio pela qualidade do seu relatórioe pelas propostas ambiciosas que apresenta. Isso demonstra também que o ParlamentoEuropeu desempenha um papel de pleno direito num debate que é decisivo para o futuroda Europa, facto com o qual só podemos estar satisfeitos.

Para além disso, a crise grega revelou as deficiências que minam a governação económicada União Europeia. A este respeito, registo, portanto, a proposta do senhor deputado DiogoFeio relativa à criação de um mecanismo permanente para a estabilidade financeira. Épreciso igualmente abordar este problema na sua origem.

Considero que a solução passa também pelo reforço do Pacto de Estabilidade e Crescimento,nomeadamente, das suas sanções. Isso é essencial se quisermos uma recuperação duradourados orçamentos nacionais, algo que nem sempre é popular. Trata-se de uma abordagemrestritiva, porém, não temos outra escolha.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) A crise financeira, económica e social tem afectadotodos os cidadãos da Europa. No entanto, os tempos difíceis têm colocado ainda mais emevidência o facto de os diversos planos nacionais de relançamento económico terem sidomal coordenados e terem resultado pouco eficazes. Para além disso, algunsEstados-Membros não tiveram, com efeito, a oportunidade de criar verdadeiros planosnacionais de relançamento económico, incluindo medidas destinadas a estimular ocrescimento e o emprego, uma vez que, durante a recessão, reduziram ainda mais a despesapública e aumentaram os impostos, a fim de reduzirem a dívida nacional. Infelizmente,nalguns Estados-Membros, essas medidas estão a ser tomadas à custa do cidadão comum.Gostaria ainda de chamar a atenção para o facto de a crise ter revelado muito claramentea desigualdade social existente entre os diferentes grupos sociais. Por exemplo, as mulherescorrem riscos muito maiores do que os homens de virem a encontrar-se abaixo do limiarda pobreza. É, pois, necessário que a União Europeia retire ilações desta crise e concretizeas iniciativas que aprovou em todos os domínios, coordenando a acção conjunta com osEstados-Membros.

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Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, mal conseguimos regulamentar,parcialmente, os tubarões financeiros que monopolizam as bolsas de valores e somos jáconfrontados com o problema de uma corrida mundial à desvalorização das moedas, que,apesar da ligeira contenção revelada hoje pela China, ainda não foi evitada. Uma situaçãoque para nós, na Europa, representa um anátema – a saber, a desvalorização ou a intervençãonos mercados de divisas - é agora um problema que a globalização impõe que enfrentemos.Os EUA querem reduzir a dívida pública, os japoneses querem estimular a economia e oschineses querem aumentar as exportações. Esta política de moeda fraca, conduzida poroutras potências económicas, prejudica naturalmente a Europa, assim como outros países,devendo, por conseguinte, na minha opinião, ser um importante tema de debate na Cimeirado G20.

Afinal, inundar os mercados mundiais com importações baratas provenientes da China éfácil se a moeda deste país estiver artificialmente desvalorizada. Este tipo de intervençãopermanente distorce o mercado, um jogo extremamente perigoso, que, no pior dos cenários,poderá colocar em maus lençóis toda a economia mundial.

Ainda que as perspectivas de êxito sejam duvidosas, é essencial que os planos com vista àtributação das transacções financeiras sejam abordados nessa Cimeira.

Pervenche Berès, relatora. – (FR) Senhor Presidente, gostaria de agradecer aos senhoresdeputados que deram o seu contributo e gostaria de responder a duas ou três dessasintervenções.

Em primeiro lugar, ao senhor deputado Roberts Zīle. Considero as suas afirmações deextrema importância no que respeita à reforma da política de coesão. Deveremos fazeruma avaliação desta política, a fim de verificar se, ao longo dos anos que decorreram desdea adesão, a ideia de que as assimetrias internas poderiam ser parcialmente niveladas pelaaplicação desses fundos provou ser verdadeira, bem como para fazer uma avaliação objectivaque nos permita tirar lições para o futuro.

Muitos dos senhores deputados - e agradeço-lhes - falaram sobre a representação da UniãoEuropeia e da governação mundial. Trata-se, uma vez mais, sem dúvida, de uma questãode estratégia para a nossa União Europeia, numa altura em que as guerras cambiais parecemestar prestes a eclodir. É preciso que falemos a uma só voz europeia, tanto a nível interno,como externo. É preciso que usemos a nossa força interna para nos apresentarmos firmese unidos nas nossas intervenções externas.

Em seguida, reiterando o que meu colega Robert Goebbels afirmou, é verdade que, emúltima análise, o G20 não é a solução a que aspiramos no que respeita à governação mundial,na qual todos tenham o seu lugar e onde exista espaço para as autoridades de arbitragemde que carecemos. Isso remete-nos para o discurso ontem proferido pelo Secretário-Geraldas Nações Unidas, quando afirmou que a nossa actuação futura se deve desenvolver noseio das Nações Unidas, através de uma reforma profunda e cabal desta organização e dasua governação.

Por último, Senhor Presidente, para terminar este debate, gostaria de voltar ao tema doinvestimento público e de regressar ao que o meu colega Philippe Lamberts aqui referiu.No nosso relatório, exortamos a uma revisão anual, por parte da Comissão, das necessidadesde investimento público e privado, bem como à criação de indicadores de desempenhoque nos permitam, de facto, dispor de uma estratégia de investimento a longo prazo,favorável ao emprego e, consequentemente, benéfica para os cidadãos europeus. Esta

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estratégia deverá assentar numa visão sustentável e no conceito de solidariedade, que estáno cerne da União Europeia.

(Aplausos)

Diogo Feio, relator . − Senhor Presidente, eu queria começar por agradecer a todos oscolegas os contributos que, mesmo até ao final do debate, têm sido dados. Esta é a ocasiãode passarmos das palavras para os actos. A partir deste momento, e após a votação queespero positiva, o Parlamento passará a ter uma posição própria sobre a matéria degovernação económica. Defendendo o espírito comunitário, mais transparência e maispublicidade. Defendendo uma governação económica como um objectivo a 27 para ocrescimento. Com uma coordenação melhor entre todos os Estados-Membros da UniãoEuropeia, com mais união económica e monetária.

Enfim, defendendo uma Europa mais solidária, mais preparada e mais eficaz. Uma Europade todos, com vozes diferentes, mas um discurso único. Uma Europa com posições doConselho, da Comissão e do Parlamento Europeu. A Europa da governação económicanão é a Europa das cimeiras a dois. É a Europa das vozes institucionais. É a Europa noParlamento Europeu, da voz dos cidadãos europeus.

Salientando o papel essencial que este Parlamento e os parlamentos nacionais devem terrelativamente a esta matéria, com uma visão própria sobre a vigilância macroeconómicaque é necessário fazer relativamente aos Estados. Com uma voz própria em relação aomodo de execução da Estratégia UE 2020. Olhando também com atenção para a questãodo reforço do Pacto de Estabilidade e Crescimento. O Parlamento tem um conjunto depropostas diferentes em relação às outras instituições.

Está então na altura – Senhor Presidente, vou terminar – de fazermos com força e comunidade o debate sobre as propostas que estão em cima da mesa.

Olli Rehn, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, permita-me que comece poragradecer aos relatores, a senhora deputada Pervenche Berès e o senhor deputado DiogoFeio, bem como aos senhores deputados, este debate muito importante e substantivo.

Estou consciente de que o volume das contribuições corresponde à importância das questõesdiscutidas. Gostaria de tecer alguns comentários, de dar algumas respostas e de fazeralgumas observações sobre o debate e os relatórios, e começarei pela esfera internacional.

Na economia mundial, os desequilíbrios que existiam antes da crise estão a reemergir, oque ameaça uma recuperação sustentável e a criação de emprego. Por conseguinte, éessencial que o G20, em primeiro lugar, no encontro ministerial desta semana e, depois,na cimeira a realizar daqui a duas semanas, seja capaz de exercer, com eficácia, acoordenação da política internacional com vista a reequilibrar o crescimento mundial.

Todos os países devem desempenhar o seu papel nesse reequilíbrio: os países com superavit,mediante o reforço da sua procura interna, e os países deficitários, privilegiando ocrescimento das exportações. Estão em causa milhões de empregos na economia mundiale na União Europeia.

A União Europeia está a trabalhar com vista a um sistema financeiro internacional forte eestável, em que as taxas de câmbio reflictam os dados económicos fundamentais. Este éum elemento essencial do objectivo de reequilíbrio do crescimento mundial do G20, embenefício da recuperação sustentável e da criação de emprego.

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Pelas mesmas razões, é essencial que a UE reforme e reforce a sua própria governaçãoeconómica. Os relatórios elaborados pela senhora deputada Pervenche Berès e pelo senhordeputado Diogo Feio constituem contributos importantes para este efeito, e as propostaslegislativas da Comissão, uma vez aprovadas, permitirão dar um salto considerável nadirecção de uma verdadeira união económica e monetária, que funcione com eficácia.

Existiam algumas dúvidas sobre a posição da Comissão no que respeita às taxas e impostossobre as instituições financeiras. Debati essas questões com o Senhor Presidente José ManuelBarroso, e considerámos que seria útil esclarecer a nossa posição a esse respeito, pois foramproferidas algumas declarações algo confusas sobre esta matéria.

Estamos em plena reforma de base do nosso sistema financeiro, e é preciso quemantenhamos esta dinâmica também na reunião do G20. Em primeiro lugar, a Comissãoapresentou uma proposta quanto a uma taxa de estabilização ou a um imposto sobre abanca, com vista a que o sector privado e o sector bancário e financeiro participem nacobertura dos custos provocados pela crise e na resolução de futuras crises.

Este é um tema que está sobre a mesa, sendo que, nalguns Estados-Membros, estas medidasestão já a ser implementadas.

Em segundo lugar, a Comissão pretende que o sector financeiro desempenhe o seu papelna cobertura dos custos da crise, razão por que a UE e a Comissão estão empenhadas emexercer pressão no sentido da criação de um imposto sobre transacções financeiras a nívelglobal.

Em terceiro lugar, a Comissão apresentou, entretanto, como uma opção, no que se refereaos recursos próprios do orçamento da UE, uma proposta no sentido de que o sectorfinanceiro dê um contributo equitativo a nível da UE, como o imposto sobre transacçõesfinanceiras.

Este é o nosso ponto de vista. Propusemos uma taxa bancária ou taxa de estabilidade;sugerimos a possibilidade de um imposto sobre transacções financeiras como uma fontede recursos próprios; e, em terceiro lugar, estamos empenhados em exercer pressão nosentido da criação de um imposto sobre transacções financeiras a nível mundial.

No relatório do senhor deputado Diogo Feio, apresenta-se uma proposta para a criaçãode um fundo monetário europeu. A Comissão é favorável à criação de um mecanismopermanente para a prevenção e resolução de crises, com duas vertentes, dois elementos,duas dimensões. É preciso que se coloque a tónica na prevenção de crises, bem como naresolução de crises, pois é melhor prevenir do que remediar.

Quanto à resolução de crises, afirmámos claramente, já em Maio, a necessidade de umaestrutura robusta para gerir as crises na zona euro, tencionando a Comissão apresentar,oportunamente, propostas para a criação de um mecanismo permanente de resolução decrises.

São já evidentes alguns princípios gerais, em especial, a necessidade de a prevenção e aresolução de crises andarem a par e de qualquer apoio financeiro ficar sujeito a condiçõesestritas.

Esse mecanismo permanente deverá minimizar o risco moral e proporcionar incentivospara que os Estados-Membros prossigam uma política fiscal responsável, bem comoincentivos para que os investidores prossigam práticas responsáveis em matéria deconcessão de empréstimos.

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O senhor deputado Olle Schmidt apresentou uma alteração relativa à participação voluntáriade Estados-Membros não pertencentes à zona euro no regime de sanções. Como sabem,nesta primeira etapa, estamos a propor um regime para a zona euro e, posteriormente,numa segunda etapa, para todos os 27 Estados-Membros. A Comissão está, pois, em posiçãode aceitar e aprovar esta alteração, que visa o envolvimento voluntário de Estados-Membrosnão pertencentes à zona euro no regime de sanções.

Fizemos progressos satisfatórios no âmbito do grupo de missão, e conseguimos algumaconvergência no que se refere às iniciativas da Comissão destinadas ao reforço da governaçãoeconómica, com ênfase, em especial, na prevenção e na acção preventiva, colocando atónica na sustentabilidade da dívida, chegando a acordo quanto a um método de correcçãodos desequilíbrios macroeconómicos e estabelecendo um mecanismo de execução eficaz.

Embora se tenha registado, no grupo de missão, uma convergência de pontos de vista emrelação às propostas da Comissão, o processo legislativo normal está apenas no começo.Até agora, percorremos apenas uma fase inicial. Estamos talvez já no fim dessa fase inicial,contudo, só agora se iniciará o verdadeiro processo legislativo normal, e o ParlamentoEuropeu, na qualidade de co-legislador, desempenha efectivamente aqui um papel cruciale decisivo.

Pretendemos trabalhar em conjunto com o Parlamento, e exortamos o Conselho e oParlamento a apresentarem as posições legislativas até ao Verão do próximo ano, para quepossamos ter o novo sistema de governação económica em vigor no Verão de 2011, alturaem que teremos de proceder à próxima ronda de avaliação das acções concretas.

Está, com efeito, em causa a credibilidade da União Europeia no que respeita ao reforço dagovernação económica, e concordo plenamente com o Parlamento quando afirma que é,efectivamente, o método comunitário que permite que a União Europeia funcione e produzaresultados.

Ouvi com muita atenção as intervenções a este respeito. Aprecio o vosso firme compromissopara com o método comunitário, a começar pelas intervenções dos senhores deputadosDaul, Schulz, Guy Verhofstadt e Cohn-Bendit, embora não possa deixar-me levar por umaelegância oratória como a revelada em referências como o "acordo de Deauville" ou o"compromisso de casino".

Seja como for, demonstraremos, em conjunto, uma vez mais, que o método comunitáriopode oferecer, e hoje deverá fazê-lo, um novo sistema de governação económica,permitindo-nos, assim, complementar a forte união monetária com uma união económicaefectiva, de modo a conseguirmos uma verdadeira e completa união económica e monetária.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhor Presidente, vou ser brevee começar por agradecer em nome do Conselho aos dois relatores, a senhora deputadaPervenche Berès e o senhor deputado Feio. Dão expressão à participação do Parlamentonum domínio tão importante como este. Gostaria igualmente de referir que os exorto aanalisarem, sem mais delongas e, nomeadamente, com base no princípio da co-decisão,as iniciativas relativamente à governação económica, as iniciativas da Comissão que deverãopermitir-nos implementar a governação económica europeia.

O Conselho está à disposição do Parlamento, para que possam realizar-se progressos reaisno que se refere a estas propostas.

Presidente. – Está encerrado o debate.

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A votação terá lugar hoje, quarta-feira, 20 de Outubro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Paolo Bartolozzi (PPE), por escrito. – (IT) Senhor Presidente, Caros colegas, gostaria demanifestar o meu apreço pelo importante contributo que este trabalho dará para aidentificação de um conjunto de medidas a tomar com vista a superar a actual crise e evitara possibilidade de novas crises.

Depois de os limites de um sistema de auto-regulação terem sido revelados, de formapreocupante, pela recente crise financeira, é cada vez mais necessário que optemos porum sistema de controlo a nível mundial. A actual fase de instabilidade económica efinanceira, a mais grave em décadas, conduziu a uma crise de emprego e a uma crise socialde uma tal dimensão que se torna necessária uma acção determinada para eliminar as suasrepercussões negativas e dar prioridade às oportunidades que se abrem com a existênciade uma economia globalizada.

A crise dos últimos anos tem afectado de forma considerável a maioria das economiasavançadas. O relançamento é, ainda hoje, lento para alguns países, e a fragilidade dosmercados financeiros faz da coordenação a nível mundial e da escolha de estratégiaseconómicas e industriais adequadas aspectos cruciais do combate à crise financeira. Asupervisão mundial deverá, com efeito, promover a estabilização de mercados financeirossólidos e apoiar o actual relançamento económico, assegurando um forte crescimento dosníveis da procura e do emprego.

Elena Băsescu (PPE), por escrito. – (RO) A actual crise económica demonstra que o modelode governação económica actualmente utilizado na UE não funciona, não permitindo,assim, alcançar uma convergência total entre os Estados-Membros. Esta situação impõeuma melhoria do quadro económico, bem como o desenvolvimento de instrumentos demonitorização ambiciosos, mais claramente definidos e mais bem orientados. É vital queos Estados-Membros respeitem os regulamentos e decisões aprovados a nível europeu,especialmente no que se refere ao Pacto de Estabilidade e Crescimento. Tendo isso presente,gostaria de saudar a iniciativa do senhor deputado Diogo Feio, destinada a incentivarmedidas como a concepção de mais controlos e um acompanhamento mais estrito dastendências da dívida e das receitas públicas.

Gostaria de concluir, acrescentando que o Governo romeno adoptou recentemente a suaestratégia orçamental para 2011-2013, que inclui as medidas necessárias para reduzir odéfice orçamental para menos de 3% e manter a dívida abaixo dos 60%. Este processo dereformas criará as condições necessárias para o relançamento da economia.

Dominique Baudis (PPE), por escrito. – (FR) Há já dois anos que grassa a crise financeira,económica e social, originando uma taxa de desemprego superior a 10% na UE e o riscode uma nova recessão. Trata-se de uma crise que somos incapazes de controlar.

A próxima Cimeira do G20 terá lugar nos dias 11 e 12 de Novembro, em Seul, sob aPresidência da França. A criação do G20 foi uma ideia do Presidente Nicolas Sarkozy, queacredita que, actualmente, a economia mundial já não é regulada pelo G8, mas tambémpor todos os principais países em desenvolvimento. Este quadro prevê o desenvolvimentode uma ambição alicerçada numa visão de longo prazo. Esta crise exige que disponhamosde uma verdadeira governação económica, de regras que restrinjam o dumping social dospaíses em desenvolvimento, de regulação financeira e de uma reforma do sistema monetáriointernacional. Para isso, a Europa deverá saber falar de forma firme e determinada.

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Ivo Belet (PPE), por escrito. – (NL) Senhor Presidente, uma das características mais atraentesnestas recomendações prende-se com o imposto sobre transacções financeiras. Essa medidapermitir-nos-á matar vários coelhos de uma cajadada só: trata-se de um instrumento eficazcontra a especulação e as receitas que nos permitirá resolver os défices do governo e aquestão do financiamento de projectos sociais prementes (ambiente, ajuda aodesenvolvimento, projectos de infra-estruturas, etc.). O Parlamento deixou agora claro quenós, na Europa, devemos insistir nessa acção, mesmo que o resto do mundo possa, porenquanto, coibir-se de o fazer porque tem medo de tomar decisões. O próximo passo é arealização de um estudo de viabilidade por parte da Comissão. O que decidimos hoje passapor uma intervenção específica e uma resposta à crise financeira, além de enviar um sinalclaro aos cidadãos europeus da nossa capacidade de aprender com os erros cometidos aolongo dos últimos anos e de responder à crise, a fim de tornar a Europa mais forte,concretamente, no interesse dos cidadãos europeus.

George Sabin Cutaş (S&D), por escrito. – (RO) As estruturas reguladoras que já existiamantes da crise económica e monetária da União Europeia e dos Estados Unidos mostraramuma falta de coerência e eram predominantemente baseadas em diferentes análisesmacroeconómicas. Devido à falta de coerência a nível global nessas estruturas de regulação,os países responderam cada um por si só. Não levaram em conta que, num mundoglobalizado, as políticas monetárias adoptadas a nível nacional têm um impacto significativonas outras economias. A criação do Comité Europeu do Risco Sistémico e das AutoridadesEuropeias de Supervisão Financeira reforça a supervisão financeira na UE. No entanto, aregulamentação disponível a nível internacional é ainda insuficiente para a gestão de crisesno sector financeiro. A UE deve insistir na reunião do G20, a realizar em Novembro, naimportância de dispor de um sistema de supervisão e regulação, cujas acções incluam aobrigatoriedade de registar os instrumentos e transacções financeiras. Temos umaresponsabilidade para com a economia e precisamos antes de mais de ser fortes a níveleuropeu para podermos ser líderes a nível global.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito . – Senhor Presidente, de uma vez por todas, a UEe os seus responsáveis terão de perceber que a profunda crise que vivemos não foi importadados EUA! É uma crise sistémica, do capitalismo, na sua fase actual de desenvolvimento –o neoliberalismo. Assim sendo, na UE, esta é uma crise dos fundamentos da própria UE –que tem no neoliberalismo um dos seus pilares essenciais. Confrontadas com os resultadosdesastrosos das suas políticas, as potências que têm determinado, no essencial, o rumo daUE dão sinais de uma inquietante arrogância e agressividade, procurando impor,particularmente aos trabalhadores e aos povos dos países mais vulneráveis, inadmissíveisretrocessos civilizacionais, por via de um intolerável ataque à sua soberania. É este osignificado da declaração conjunta que, em Deauville, antes da reunião do G20 e da reuniãodo Conselho Europeu, a Alemanha e a França decidiram emitir. Parecem ignorar que oaprofundamento do caminho que aqui nos trouxe só nos poderá conduzir à desgraça. Éessa a mensagem que por toda a Europa ecoa nas lutas dos trabalhadores e dos povos! Étempo de lhes dar ouvidos! A verdadeira resposta à crise reside na valorização do trabalhoe numa mais justa repartição dos rendimentos (nomeadamente por via fiscal), beneficiandoo trabalho em detrimento do capital.

Louis Grech (S&D), por escrito. – (EN) Estamos no meio de uma crise, que tem danificadoem larga medida os sectores financeiro, económico e social e tem tido um impacto negativono processo de integração do mercado interno. O mercado único pode ser o catalisadornecessário para iniciar uma verdadeira recuperação económica e financeira na Europa

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saindo da crise e restabelecendo a confiança tão necessária entre os cidadãos. A crise, porsi só, pode servir como uma janela de oportunidade para implementar medidas que irãoestimular o crescimento económico, a competitividade e o progresso social na Europa,colocando os cidadãos no centro da economia europeia. Apoio o empenho da relatora emapontar claramente saídas para a crise: a adopção de medidas e iniciativas concretas quese centram na importância do mercado interno, no emprego e no papel das PME. Alémdisso, tem de ser adoptada uma nova abordagem holística e abrangente por meio da qualos objectivos dos cidadãos, particularmente os relacionados com as suas preocupaçõeseconómicas, sociais, de saúde e ambientais, são totalmente integrados na economia.Precisamos de um novo paradigma de pensamento político, que faça dos cidadãos europeusa principal variável na definição e formulação da legislação e política da União.

Marian-Jean Marinescu (PPE), por escrito. – (RO) A recuperação económica está emcurso na Europa. No entanto, o clima continua incerto. A recuperação económica mundialé ainda frágil, com o ritmo do processo variando de país para país. A grande prioridadecontinua a ser uma base estável, que promova sistematicamente o crescimento económicoequilibrado e sustentado. Nesse sentido, devemos criar um sistema que apoiesimultaneamente a resposta à crise, a prevenção e a cooperação a médio e longo prazo. AUnião Europeia deve ser um parceiro forte e capaz não só de fazer uso da sua experiênciana integração económica e política, mas também de dar um contributo significativo paraa governação económica mundial. Temos de delinear políticas económicas credíveis eviáveis a médio prazo e coordenar uma política macroeconómica, baseada num quadrode crescimento sustentado e equilibrado, elaborado pelo G20. Uma estratégia para aspolíticas económicas da UE deve incluir o seguinte: um plano de acção sobre o uso dasreformas estruturais para reforçar o crescimento económico e o emprego, uma reformafiscal consolidada e uma maior governação económica da UE e da zona euro. A agenda dedesenvolvimento do G-20 deve ser adoptada, com um plano de acção plurianual, quepromova o crescimento económico e flexibilidade relativamente aos países emdesenvolvimento.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) Tendo em conta a evolução da situação, omais importante a fazer é um diagnóstico e um apuramento das causas que nos levaramà crise. Os cidadãos nos vários países da UE experimentaram as consequências da crise demaneiras diferentes. É essencial identificar os erros, as más práticas e a conduta nãoprofissional dos governos nacionais, a fim de evitar que a situação em que os seus povosse encontram piore no futuro. O Governo da Letónia, por exemplo, já pediu emprestadoa instituições financeiras internacionais uma quantia duas vezes superior ao seu orçamentoanual. A cada dia que passa, o Governo letão adopta medidas relativas ao sistema fiscal epolítica fiscal, em geral, desvantajosas para os cidadãos e que levam à liquidação de empresase à emigração de empresários da Letónia. O Governo letão está constantemente a tentaralterar a legislação relativa às pensões, de modo a reduzir os pagamentos aos pensionistas,o que está a causar uma explosão social e uma situação de injustiça generalizada. Temosde transmitir com firmeza aos governos nacionais que a redução dos pagamentos sociaise das pensões em tempo de crise é um crime contra a população. Tenho para mim que ascamadas desprotegidas e necessitadas da sociedade não devem arcar com a responsabilidadedos erros dos governos.

Sławomir Witold Nitras (PPE), por escrito. – (PL) Gostaria de agradecer ao senhordeputado Feio o seu trabalho no projecto de relatório. Parece-me que estamos a regressaraos trabalhos demasiado depressa, como é habitual, face às ameaças que se fazem sentir

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sobre a Europa. Não estamos a dar a devida atenção aos sinais de alerta dos mercadosfinanceiros, ou de pessoas como o Presidente Jean-Claude Trichet, que de facto classificarama proposta da Comissão como positiva mas insuficiente para o fortalecimento do Pactode Estabilidade e Crescimento. Hoje, o nosso papel, enquanto Parlamento Europeu, édefender as propostas da Comissão Europeia contra os governos dos Estados-Membrosque, aparentemente, não aprenderam quaisquer lições com esta crise.

Se o Conselho Europeu tivesse respeitado devidamente as disposições do Pacto, a dimensãoda crise europeia nas finanças públicas teria sido muito menor. Se hoje permitirmos queos governos, e em especial os governos da Alemanha e da França, diluam as propostas daComissão, o que vai acontecer é que a crise se acentuará e teremos de nos perguntar setodo o projecto da moeda única tem alguma razão de ser na sua forma actual e se,inadvertidamente, demonstraremos que o euro foi uma experiência fracassada. OParlamento enfrenta uma tarefa de monta. Cumpre-nos defender o euro e opormo-nos aquaisquer objectivos políticos de curto prazo, assim como nos cumpre obrigar todos osEstados-Membros a levar por diante políticas orçamentais responsáveis, por dolorosas quepossam ser. Obrigado pela sua atenção.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) A palavra "crise" vem da palavra grega krino queliteralmente significa "decidir", "escolher". Assim sendo, indica um momento que separauma fase da outra. Devemos olhar mais além e analisar o passado a fim de implementaras mudanças estruturais que tornarão as nossas pequenas e médias empresas maiscompetitivas e capazes de enfrentar a maior pressão que resultará de um ambienteglobalizado.

Ao fazer isso, temos igualmente de garantir emprego para uma boa parte da camada maisvulnerável da nossa mão-de-obra e suas famílias. A União Europeia precisa de uma novagovernação económica que garanta a estabilidade e o rigor das finanças públicas nacionais.Uma crise económica e financeira como a que vivemos actualmente não pode voltar aacontecer. A nova governação económica da Europa deve ter em conta não só o nível dadívida pública, como também a sua sustentabilidade a médio e longo prazo. A dívidaprivada e a sustentabilidade dos sistemas de segurança social são tão importantes como adívida pública, enquanto tal, para a estabilidade das finanças públicas. Com efeito, os paísesque controlavam a dívida pública mergulharam numa crise profunda, precisamente emrazão do grave endividamento das famílias e das empresas, enquanto os países com elevadadívida pública se saíram bem.

Richard Seeber (PPE), por escrito. – (DE) A crise económica e financeira revelou commuita clareza as deficiências e fraquezas dos instrumentos e métodos existentes para acoordenação da política económica e monetária. No passado, alguns Estados-Membros,nomeadamente a França e a Alemanha, mostraram-se demasiado hesitantes quanto àintrodução de uma regulamentação mais rígida. Superar a crise económica é um dosmaiores desafios que temos enfrentado e aquele para o qual só pode haver uma respostaeuropeia, não uma resposta nacional. Isto também se aplica aos mecanismos de sanções,que continuam a ser bloqueadas por alguns Estados-Membros. Contudo, segundo as novasregras do mercado financeiro, era já altura de a União Monetária ter sido reforçada e,simultaneamente, a dívida pública, em especial, reduzida, a fim de garantir o futuro doespaço económico europeu. Os parlamentos nacionais, em particular, precisam de participarmais intensamente neste processo, a fim de "europeizar" o debate nos Estados-Membros.Só então se poderá encontrar uma resposta europeia passível de superar a crise e conseguiruma união económica robusta e forte.

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Jutta Steinruck (S&D), por escrito. – (DE) Desde a crise financeira de 2008, os Chefes deEstado ou Governo do G20 têm-se reunido com regularidade todos os seis meses paradiscutir questões económicas e financeiras e reforçar a cooperação, no intuito de alcançarum crescimento estável e sustentável da economia mundial em benefício de todos. Noentanto, considero que, a fim de encontrar uma resposta adequada e sustentável para osproblemas financeiros, económicos e sociais da crise, precisamos de uma abordagem maisabrangente e de uma perspectiva mais equilibrada sobre estes problemas. Os Ministros dasFinanças dos Estados-Membros não estão em posição de avaliar a situação do mercado detrabalho e propor respostas para as questões urgentes da política laboral e social que tenhamdevidamente em conta as necessidades dos trabalhadores e do povo em geral. Porconseguinte, exorto a que haja reuniões regulares dos Ministros do Emprego e dos AssuntosSociais no G20. Além do mais, apelo à UE e aos Estados-Membros que são igualmentemembros do G20 para que dêem um maior desenvolvimento a esta ideia, cooperem maisestreitamente uns com os outros no domínio do emprego e política social e apontem parauma abordagem mais equilibrada a nível de cimeira. Não podemos permitir que aconcorrência prejudique a protecção dos direitos dos trabalhadores. Precisamos de fazervaler esses direitos, não só para os cidadãos da União Europeia, como também para oscidadãos de outros países em todo o mundo.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D), por escrito. – (RO) A UE, com os seus 500 milhões decidadãos, que representam 7% da população mundial, produz 30% do PIB mundial. Asúltimas estatísticas mostram que a UE registou um défice comercial de 17,3 mil milhõesde euros em Agosto de 2010. Durante o primeiro semestre deste ano, a UE registou osmaiores aumentos nas exportações com o Brasil (57%), a China (41%) e a Turquia (38%),enquanto os maiores aumentos a nível das importações foram com a Rússia (43 %), a Chinae a Índia (ambas com 25%).

A fim de atingir os objectivos da Estratégia UE 2020, a UE deve reduzir a sua dependênciaenergética dos seus fornecedores habituais. Durante o primeiro semestre deste ano, o déficecomercial da UE-27 no sector da energia aumentou 34,3 mil milhões de euros emcomparação com o mesmo período no ano passado. Além disso, a União Europeia precisade uma política industrial eficaz do ponto de vista ecológico, que garanta a articulaçãoentre a capacidade de inovação e as unidades de produção da UE, contribuindo assim paracriar empregos em toda a UE e manter a sua competitividade global.

Por essa razão, o Conselho Europeu deverá incluir na sua agenda, durante a sua reuniãode 28 e 29 de Outubro, a futura política industrial e a segurança energética da UE, bemcomo propostas para reduzir o impacto das alterações climáticas e demográficas.

PRESIDÊNCIA: JERZY BUZEKPresidente

Janusz Wojciechowski (ECR). – (PL) Ontem, em Lodz, na Polónia, um assistente demembros do Parlamento Europeu foi assassinado no local de trabalho. Foi o meu assistente,Marek Rosiak. O que o assassino disse enquanto cometeu o crime não deixou dúvidas deque o motivo foi o ódio ao Partido Lei e Justiça, o principal partido da oposição na Polónia.A campanha de ódio dirigida contra este partido há já algum tempo culminou nesta tragédia.Além do crime em si, o Parlamento Europeu também deve condenar o ódio e a violência,que não têm lugar na política europeia e na democracia europeia. Senhor Presidente, peçoque se guarde um minuto de silêncio em memória de Marek Rosiak, um homem que morreuenquanto trabalhava para o Parlamento Europeu.

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(O Parlamento, de pé, guarda um minuto de silêncio)

Ria Oomen-Ruijten (PPE). – (NL) Senhor Presidente, acabamos de mostrar quão dignosnós, como Parlamento, podemos ser. No entanto, ao entrar nesta Assembleia só agora, fuiem primeiro lugar assediada por pessoas que pensam que devemos assinar determinadasresoluções e, depois, cercada por balões a promover algumas alterações. Senhor Presidente,considero este tipo de comportamento prejudicial à dignidade deste Parlamento e gostariade lhe pedir que pense duas vezes sobre esta questão e sobre a forma de manter os corredoresdesimpedidos.

Gerard Batten (EFD). – (EN) Senhor Presidente, posso pedir-lhe que tome uma decisão,por favor? Vemos que estão a ser dispostos balões no Hemiciclo. Poderá V. Exa. decidir seisto é, ou não, permitido? Se não for, podem ser removidos? Se for, os meus colegas e eutemos alguns balões de muito bom gosto do Partido da Independência do Reino Unidoem roxo e amarelo que gostaríamos de trazer para aqui na próxima vez.

(Aplausos)

Presidente. – Caros colegas, hoje votaremos sobre esta questão de grande importante.Esta questão está relacionada com a vossa manifestação aqui. Peço-lhes que deixem de semanifestar, até à votação, que será dentro de 40 minutos, sensivelmente. Peço-lhes isso. Éum pequeno gesto para todos nós. De um modo geral, dou-vos o meu apoio, mas por favornão façam manifestações nesta Assembleia.

(Aplausos)

4. Período de votação

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o período de votação.

(Resultados pormenorizados das votações: ver Acta)

4.1. Revisão do Acordo-Quadro sobre as relações entre o Parlmento Europeu e aComissão (A7-0279/2010, Paulo Rangel) (votação)

4.2. Adaptação do Regimento do Parlamento ao Acordo-Quadro revisto sobre asrelações entre o Parlamento Europeu e a Comissão (A7-0278/2010, Paulo Rangel)(votação)

Presidente. – Gostaria de mencionar que este foi o resultado das nossas demoradasnegociações com a Comissão Europeia. Gostaria, acima de tudo, de felicitar o relator, osenhor deputado Rangel, e também o senhor deputado Lehne, que negociaram em nossonome com a Comissão Europeia. As senhoras deputadas Wallis, Harms e Roth-Berendt eos senhores deputados Swoboda e Rangel também participaram do trabalho, pelo quegostaria de lhes agradecer sinceramente o resultado das negociações. Agradeço tambémao Presidente Barroso e ao Vice-Presidente Šefčovič. Fomos todos muito francos uns comos outros. O resultado foi muito positivo e gostaria de felicitar ambos os lados. Aguardocom expectativa uma boa colaboração no futuro.

4.3. Regulamento Financeiro aplicável ao orçamento geral das ComunidadesEuropeias no que diz respeito ao Serviço Europeu de Acção Externa (A7-0263/2010,Ingeborg Gräßle) (votação)

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4.4. Modificação do Estatuto dos Funcionários das Comunidades Europeias e doRegime aplicável aos outros agentes destas Comunidades (A7-0288/2010, BernhardRapkay) (votação)

4.5. Projecto de orçamento rectificativo n.º 6/2010: Secção II - Conselho Europeue Conselho - Secção III - Comissão - Secção X - Serviço Europeu de Acção Externa(A7-0283/2010, Roberto Gualtieri) (votação)

Presidente. – Senhoras e Senhores Deputados, concluímos agora o processo legislativosobre o Serviço Europeu de Acção Externa. Acima de tudo, gostaria de agradecer às muitaspessoas que estão neste momento entre nós, no Hemiciclo, aos deputados, o seu trabalhoextremamente difícil e exigente. Os presidentes das várias comissões do Parlamento Europeudesempenharam um papel fundamental neste trabalho. Gostaria de agradecer aospresidentes o seu trabalho consistente, mas gostaria de estender os meus agradecimentos,em especial, a uma série de pessoas que representaram esta Assembleia, tanto na qualidadede negociadores, como de relatores, e cujos nomes gostaria de mencionar aqui. São eles:Elmar Brok, Guy Verhofstadt, Roberto Gualtieri, Ingeborg Gräßle, Crescenzio Rivellini eBernhard Rapkay, bem como os deputados que trabalharam no orçamento, László Surjáne Sidonia Jędrzejewska.

Referi especificamente os seus nomes porque trabalharam arduamente para garantir aobtenção de um bom acordo sobre o Serviço Europeu de Acção Externa. Consideramosque este acordo será útil para a União Europeia. Gostaria de felicitar todos, mas, em especial,felicitemos também Lady Ashton e aqueles que negociaram ao seu lado, e felicitemos oConselho pelo resultado. Também entre nós está o Embaixador Christoffersen, queparticipou igualmente nas negociações. Aplausos, por favor.

(Aplausos)

Tenho umas flores para Lady Ashton, mas sucede que não está presente. Como de costume,temos de esperar pelas senhoras! Não estava à espera, mas temos de estar preparados paraisto – nós, homens, temos de estar preparados para tudo!

(Aplausos)

5. Sessão solene - Discurso intercalar do mandato de Jerzy Buzek, Presidente doParlamento Europeu

Presidente. – Colegas, o meu discurso é curto, como prometi há um ano.

Estamos a meio da minha Presidência. Precisamente no início, prometi que iria informá-losdas minhas actividades.

Como Presidente do Parlamento Europeu, represento todos vós. Onde quer que vá, o quequer que faça, sempre senti a honra e a responsabilidade de actuar em nome desta prestigiadaAssembleia.

Todavia, este discurso não é sobre mim: este discurso é sobre vós e a vossa actividade.Trata-se de todos nós, do que alcançámos em conjunto no Parlamento Europeu, nos últimos15 meses, e do que temos pela frente.

Senhoras e Senhores Deputados, em primeiro lugar, a crise. O que os nossos cidadãosesperam de nós, políticos, acima de tudo, é que superemos a crise: combater a pobreza e

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a exclusão social, e especialmente este ano. A crise não começou na Europa, mas é aqui,na Europa, que tem de ser superada. Esta Assembleia tem exigido reformas ambiciosas àComissão Europeia e ao Conselho. No entanto e sobretudo, adoptamos reformas financeirasfundamentais, como o Pacote de Supervisão Financeira, regulamentação que limita osbónus dos banqueiros e que diz respeito aos requisitos de capital detido pelos bancos. Aofazer isso, lançámos os alicerces dos muros que protegerão os cidadãos de futuras crises.

Porém, cumpre-nos fazer mais: é preciso integrar melhor os nossos mercados europeus,pois é isso que vai garantir o crescimento económico e os preços mais baixos. O relatóriodo Professor Monti tem de passar a ser lei. É interessante notar que partes importantes dorelatório têm por base iniciativas vossas - as iniciativas dos deputados do ParlamentoEuropeu e das nossas comissões.

Quando representei esta Assembleia no Conselho Europeu, afirmei que temos de serhonestos com as pessoas sobre a necessidade de apertar o cinto, neste momento difícil, anecessidade de trabalhar mais tempo e de adiar o momento da aposentação. Só assimconseguiremos manter a prosperidade da Europa. Trata-se de um programa a longo prazode reformas estruturais, que não pode ser realizado de um dia para o outro e que nos ajudaráa implementar a Estratégia Europa 2020 e a garantir a competitividade e o emprego, quesão as coisas mais importantes para os nossos cidadãos. Recuperar da crise e apostar nodesenvolvimento a longo prazo são as nossas tarefas mais urgentes.

Em segundo lugar, a solidariedade. A crise mostrou quão importante é a solidariedadeeuropeia. Estive em lugares que foram particularmente atingidos - Lituânia, Letónia,Roménia e Grécia. Transmiti mensagens de solidariedade, mas também sublinhei que nãoexiste solidariedade sem responsabilidade. Conseguimos travar a crise, em grande medida.Salvámos o paciente, mas agora há que garantir que ele pode deixar o hospital pelos seuspróprios pés. Por conseguinte, como disse antes, impõe-se uma estratégia de longo prazopara sair da crise. Impõe-se igualmente uma boa gestão económica. Precisamos de mudançasestruturais, sociais e educacionais. Em tempos de crise, temos de ser realistas, mas tambémsensíveis.

Em terceiro lugar, a política energética e as alterações climáticas. A energia é o grandeproduto de base numa economia. Energia e protecção climática são algumas das nossasprincipais prioridades, e motores políticos fundamentais para outras iniciativas no planoeconómico. A segurança energética, aliada à protecção ambiental e electricidade o menosdispendiosa possível tornaram-se o principal desafio do século XXI, como todos nós bemsabemos. Por essa razão, em 5 de Maio de 2010, juntamente com Jacques Delors,anunciámos a Declaração sobre a criação de uma Comunidade Europeia da Energia.Gostaríamos que esta designação, "Comunidade Europeia da Energia", se tornasse a marcade todas as empresas europeias que operam neste domínio. Repito: a Comissão, oParlamento e o Conselho já desenvolveram um vasto trabalho nesta área, sendo que estãoem curso esforços que incidem sobre estas questões fundamentais, muito embora tambémseja importante proporcionar incentivos adicionais e "resguardar" estas actividades demodo a que sejam correctamente executadas. Apraz-me o facto de hoje assinar uma novaregulamentação sobre a segurança do aprovisionamento de gás que aprovámos emconjunto.

Há muito trabalho ainda a fazer antes de o mercado de energia se tornar um mercado únicocomum. Continuarei a trabalhar neste domínio em colaboração convosco. O maisimportante é que as nossas actividades no domínio da energia também possam protegero clima. Somos líderes neste campo, e queremos continuar a sê-lo. Nós, enquanto

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Parlamento Europeu, assinámos um acordo sobre o Sistema Comunitário de Ecogestão eAuditoria - EMAS, criando assim um "parlamento verde", que irá poupar energia e começara utilizar fontes alternativas de energia.

Em quarto lugar, temos os assuntos externos. Enquanto deputados, somos embaixadoresda democracia e contribuímos para a organização de eleições livres e justas, no quadro danossa missão. Não passa uma semana sem que um de nós promova os nossos valoresfundamentais a par dos nossos interesses comerciais. Somos a maior economia do mundoe o maior doador de ajuda, mas não estamos a pleno uso das nossas forças. Precisamos derever a forma como atingimos os nossos objectivos, e temos de integrar o apoio àdemocracia e aos direitos humanos nas nossas negociações comerciais. Não devemosaplicar normas duplas, independentemente de os nossos parceiros de negociação seremgrandes e poderosos ou pequenos e fracos.

O meu papel como Presidente é fortalecer a nossa voz comum e comunicar os pontos devista dos nossos cidadãos para além das fronteiras da UE. Temos, assim, reforçado a nossadiplomacia parlamentar. Representei-vos nas reuniões parlamentares do G8. Tenho feitovisitas oficiais à China e aos EUA. As nossas relações com o Congresso dos EUA, ondetemos um gabinete de representação, melhoraram qualitativamente. Fui o primeiroPresidente do Parlamento a visitar a Rússia em 12 anos.

Graças aos nossos esforços comuns, criámos um secretariado para a Assembleia ParlamentarEuro-Mediterrânica e temos desenvolvido uma boa cooperação com a América Latinaatravés da EUROLAT. No entanto, devemos admitir que ainda temos muito trabalho afazer antes de conseguirmos pôr em marcha a cooperação parlamentar no âmbito daEURONEST, que faz parte da Parceria Oriental.

Senhoras e Senhores Deputados, acabámos de votar o Serviço Europeu de Acção Externa.Em breve - e acredito nisso convictamente – tornar-se-á a nossa grande força e gerará onosso potencial europeu. Negociámos com firmeza com o Conselho de modo garantir umServiço moderno, que representa os pontos de vista da União e os interesses comuns daEuropa. Cumpre, no entanto, reconhecer que todas as partes estavam muito abertas a umcompromisso, pelo que as nossas felicitações devem ser mútuas. Todos nós participámosnas discussões.

Senhoras e Senhores Deputados, para já fiquemos por aqui relativamente aos assuntosexternos e permitam-me que volte a debruçar-me sobre o que fizemos durante este ano:rejeitámos o acordo SWIFT. Este foi um momento excepcionalmente importante. OGoverno dos EUA viu que o Parlamento pós-Lisboa significa trabalho. No futuro, não sóos EUA, mas os governos de muitos outros países vão entender isso. Quando oshistoriadores do futuro vierem avaliar esta votação, vão dizer que fizemos a coisa certa nointeresse dos nossos cidadãos. Restabelecemos um equilíbrio entre segurança e protecçãoda liberdade pessoal. Isto é importante porque, enquanto deputados, representamos oscidadãos.

Em quinto lugar, temos os direitos humanos, que são uma prioridade para o nossoParlamento, e para mim também. Sempre levantei esta questão quando foi necessário. Seique tenho o apoio de 735 defensores dos direitos humanos, e que por trás deles estão 500milhões de cidadãos. Na Rússia, questionei o Presidente Medvedev sobre os assassinatosde activistas de direitos humanos e jornalistas, como Anna Politkovskaya e MagnitskySergey. Quando Liu Xiaobo foi galardoado com o Prémio Nobel, reiterei o meu apelo nosentido da sua libertação imediata e incondicional. Amanhã, decidiremos quem vai ser

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galardoado com o Prémio Sakharov deste ano. Estou decidido a usar a rede Sakharov dosgalardoados com o Prémio Sakharov, assim como o fórum dos antigos presidentes doParlamento Europeu, como uma ferramenta eficaz na nossa luta pela dignidade humana,pelos direitos humanos e pela democracia em todo o mundo. Os activistas dos direitoshumanos podem ter a certeza de que o seu destino é importante para nós. Eles sãoimportantes para nós! O Parlamento Europeu é um lugar onde as pessoas importam.

Em sexto lugar, os direitos das mulheres. Tenho exortado uma e outra vez a que maismulheres sejam eleitas para os cargos mais elevados da UE. Tive o apoio esmagador detodos os deputados desta Assembleia. Também apoiei a iniciativa de introduzir quotas naslistas eleitorais. Um sistema político que não pode assegurar uma representação adequadapara 52% da sua população em órgãos de decisão perde o contacto com a sociedade. AEuropa deve estar unida numa coligação em prol do trabalho e, ao mesmo tempo, da vidafamiliar. É importante, sobretudo em tempos de crise económica, que a maternidade nãose torne vítima de práticas laborais inseguras. Acabámos de realizar um debate sobre estamatéria, a qual está igualmente relacionada com a superação da crise demográfica naEuropa. Como já confirmei há 15 minutos, apoio decididamente qualquer acção desse tiponesta Assembleia, embora não seja provavelmente o melhor lugar para a desenvolver.

Aristóteles disse que o excesso e o defeito são características do vício, e no meio está avirtude. Temos de garantir uma participação igual de homens e mulheres na vida pública.Sigamos os passos de Aristóteles.

Em sétimo lugar, a reforma institucional. Uma vez que tinha a noção da importância doTratado de Lisboa, estive na Irlanda, assim como muitos de vós, para tentar mostrar aosirlandeses a necessidade de aprovar o Tratado. Também me avistei com o Presidente Klausda República Checa e apelei à sua ratificação. Trabalhámos arduamente para que o Tratadoentrasse em vigor, e conseguimos.

Senhoras e Senhores Deputados, uma das mudanças mais importantes foi o reforço dopoder legislativo do nosso Parlamento. Temos agora novos direitos, mas também novasresponsabilidades. O Tratado, ao reforçar o papel do Parlamento, ainda nos permite tomarmuitas decisões recorrendo ao método intergovernamental. Por esta razão, ainda precisamosde promover o método comunitário como um instrumento eficaz em termos de controlodos cidadãos. No entanto, lembremo-nos de que as decisões sobre o rumo que a UniãoEuropeia tomará ainda dependem em grande medida dos Estados-Membros, dos Chefesde Governo, presidentes e chanceleres. A possibilidade de cooperação com vista ao reforçodas instituições europeias que no passado deram força à Europa é extremamente importante,e estou convencido de que isso vai acontecer também no futuro.

Na minha qualidade de Presidente do Parlamento Europeu, pus todo o meu empenho noreforço da posição da nossa Assembleia em relação às outras instituições europeias, combase no Tratado de Lisboa. Fi-lo porque representamos os cidadãos e são eles que noselegem directamente, pelo que também é nosso dever representá-los em pleno junto dasinstituições europeias.

Fizemos progressos significativos no sentido de aumentar a responsabilização da Comissãoperante este Parlamento. Foram também introduzidas alterações no funcionamento dopróprio Parlamento. Pela primeira vez, realizaremos mensalmente uma sessão de perguntase respostas com o Presidente da Comissão Europeia, o primeiro debate sobre o estado daUnião já teve lugar, temos reuniões periódicas da Conferência dos Presidentes das Comissões

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e do Colégio de Comissários, e eu também tenho reuniões com a Comissão e o Colégio deComissários.

Iniciámos o diálogo com a Presidência do Conselho sobre a programação legislativa.Encontro-me regularmente com o Chefe do Governo responsável pela Presidência rotativa.Pela primeira vez, o Presidente do Conselho Europeu não apareceu só numa sessão plenária,também se reuniu com a Conferência dos Presidentes das Comissões imediatamente apóso Conselho Europeu. Por último, e considero este aspecto extremamente importante,estamos a desenvolver uma estreita parceria com os parlamentos nacionais. Gostaria deagradecer, como todos nós, aos parlamentos nacionais a sua pronta cooperação. Seremosagora co-responsáveis pela legislação a nível europeu. É nossa responsabilidade comumpelo futuro da Europa.

Em oitavo lugar, e esta é a minha última observação, menciono o orçamento - a nossatarefa mais importante para o futuro. É nosso dever garantir que o orçamento de 2011contribua para o crescimento económico. A estrutura do orçamento determina a lista deprioridades políticas. Temos de tomar muito cuidado para que este preveja as verbasprometidas aos nossos cidadãos. Os "cortes" não devem ser ditados por um populismovazio. Não podem desfavorecer os cidadãos em domínios como a educação, a formação,a investigação científica ou os projectos de infra-estruturas. Devemos sempre questionaras repercussões financeiras de ter menos despesas a nível europeu. Será que as repercussõesfinanceiras significam menos Europa?

O nosso falecido colega, Egon Klepsch, um antigo Presidente desta Assembleia, quandose discutia a primeira votação do Parlamento sobre o orçamento, disse que o Parlamentoestava a definir o "interesse público" europeu, o que, segundo ele, era o verdadeiro teste.Acabamos de enfrentar um teste desses, todos nós, hoje.

Passarei agora à conclusão.

Temos pela frente muito trabalho legislativo urgente. No final, gostaria de falar novamentesobre os aspectos mais importantes. O nosso objectivo é sair desta crise e proteger oscidadãos de uma outra. Repito: esta crise não nasceu na Europa, mas tem de ser erradicadaaqui na Europa. Não podemos superar a crise através de métodos tradicionais. É por essarazão que, na Europa, os debates - debates muito alargados - e a imaginação dos seuscidadãos são tão importantes.

Além do mercado único, importa fortalecer o mercado das ideias, dos nossos valoresfundamentais. Temos de discutir o papel do Estado e o futuro da Europa, a transferênciade conhecimento, os sistemas alternativos de segurança social, os novos métodos de ensinoe a cultura.

Como vosso representante, tive o privilégio de participar em importantes eventos: o 65.ºaniversário da libertação de Auschwitz, o 60.º aniversário da Declaração de Schuman, o30.º aniversário da criação do sindicato Solidariedade e o 20.º aniversário da reunificaçãoda Alemanha. Digamos, desde o verdadeiro pesadelo da guerra ao espírito de solidariedadee à reunificação da Europa.

Nos meus diálogos com os nossos parceiros que não pertencem à União Europeia, vejoque o nosso modelo europeu é respeitado em todo o mundo. Tenhamos orgulho no nossométodo comunitário de cooperação – nos últimos sessenta anos, deu-nos paz e,actualmente, uma Europa unida.

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Se acreditamos na Europa, temos de acreditar em nós mesmos. Para dissipar quaisquerdúvidas sobre a União Europeia, temos de voltar às suas raízes. Então compreenderemosque paz, estabilidade, prosperidade e uma sociedade aberta não nos são dadas para sempre.O perigoso e impensável pode acontecer novamente se não contivermos o populismo enão cuidarmos dos nossos valores fundamentais da liberdade e da solidariedade para comtodos.

Ao relembrar o passado, organizemos o presente e pensemos no futuro. Os nossosantepassados políticos escolheram o caminho certo. Cabe-nos agora definir como será oséculo XXI na Europa e em todo o mundo. Esta é uma batalha que vale a pena travar. Comcolegas como os vós, não tenho medo de levar esta batalha por diante.

Muito obrigado.

(Aplausos)

PRESIDÊNCIA: GIANNI PITELLAVice-presidente

6. Período de votação (continuação)

6.1. Projecto de orçamento rectificativo n.º 3/2010: Secção III - Comissão - MAB(medidas de acompanhamento para o sector das bananas) (A7-0281/2010, LászlóSurján) (votação)

6.2. Projecto de Orçamento Geral da União Europeia para o exercício de 2011(votação)

- Antes da votação:

Sidonia Elżbieta Jędrzejewska, relatora. – (EN) Senhor Presidente, na Comissão dosOrçamentos, votámos mais de 1 600 alterações ao projecto de orçamento para 2011.Inevitavelmente, existem alguns ajustes técnicos que deverão ser votados em plenário. Noque se refere à inclusão da Carta Rectificativa n.º 1/2011 na leitura do Parlamento, sãonecessárias determinadas adaptações técnicas, quer na nova secção "Serviço Europeu paraa Acção Externa", quer na secção da Comissão, na sequência das propostas de transferênciade dotações entre secções.

Na secção do SEAE, isto aplica-se nomeadamente à orçamentalização dos ajustes salariaisde 1,85% para o novo serviço, como é o caso das demais instituições. Os montantesafectados pela Carta Rectificativa na secção da Comissão devem igualmente ser alteradosem conformidade. O mesmo aplica-se a algumas alterações do Parlamento relativas arubricas administrativas, que convém que sejam alinhadas aos montantes finais inscritosnas rubricas orçamentais da Secção III.

No que se refere às agências, as observações que se seguem às rubricas orçamentais dedeterminadas agências serão adaptadas tecnicamente para que sejam coerentes com osvalores adoptados finalmente. Na rubrica 02 01 04 04, as observações aprovadas naalteração 996 devem ser acrescentadas, tal qual, à alteração 1010 sobre a rubrica operacional02 02 01 (enquanto parte do pacote sobre os projectos-piloto e as acções preparatórias).Na rubrica 19 05 01, os termos "que não os Estados Unidos" são suprimidos do título edas observações, em conformidade com a decisão da Comissão dos Orçamentos. Na rubrica

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19 09 01, é incluída nas observações uma alteração oral aprovada na Comissão dosOrçamentos. Deve ser aditada a seguinte frase: "parte desta dotação visa apoiar, entreoutros, iniciativas como a fundação UE-ALC (cuja criação foi decidida na Cimeira de Chefesde Estado e de Governo UE-ALC), e o Fórum de Biarritz".

A fim de evitar contradições na numeração de certas rubricas orçamentais criadas e derespeitar as regras de nomenclatura, proceder-se-á a uma nova numeração das rubricasorçamentais. Isto não afecta nem o capítulo QFP (Quadro Financeiro Plurianual) nem ocapítulo orçamental das alterações aprovadas na Comissão dos Orçamentos. Trata-se dasalterações 386, 389, 521, 833, 997, 998, 999, 1016, 1018, 1021, 1022, 1023 e 1024.

- Antes da votação sobre a alteração 700:

María Muñiz De Urquiza (S&D). – (ES) Senhor Presidente, lamento, mas é impossívelacompanhar a votação à velocidade a que está a ler as alterações.

Presidente. – Gostaria de ir mais devagar … Vamos tentar conciliar a necessidade develocidade com o direito de todos os deputados cumprirem o seu dever e votar.

- Antes da votação sobre o bloco 3:

József Szájer (PPE). – (EN) Senhor Presidente, peço desculpas à Assembleia, mas a listade votação do Grupo PPE está errada relativamente à alteração 967. A votação correcta é"sim".

Presidente. – Isto aplica-se à votação seguinte. Muito bem. Trata-se de uma informaçãointerna para o grupo.

- Antes da votação sobre a alteração 987:

Göran Färm (S&D). – (EN) Senhor Presidente, tal como o meu colega do Grupo PPE hámomentos atrás, também tenho de assinalar um erro na nossa lista de votação. A lista devotação do S&D deverá ler-se da seguinte forma: menos, mais, mais. Nada mais.

Presidente. – Trata-se de uma informação interna para o grupo.

- Após a votação sobre o orçamento:

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhor Presidente, Senhoras eSenhores Deputados, esta satisfação deve-se ao facto de os senhores deputados acabaremde aprovar alterações à posição do Conselho sobre o projecto de orçamento rectificativon.º 3/2010 e sobre o projecto de orçamento para 2011.

Consequentemente, tomo nota das diferenças existentes entre o Parlamento e o Conselhoe, em conformidade com o artigo 314.º, n.º 4, alínea c), do Tratado sobre o Funcionamentoda União Europeia, manifesto a minha concordância com a convocação do Comité deConciliação pelo Presidente do Parlamento Europeu.

Presidente. – Não se trata de uma gentil concessão do Conselho, mas sim de observar ostermos do Tratado. Nós, enquanto Parlamento, desempenharemos naturalmente o nossopapel na íntegra.

6.3. Posição do Parlamento sobre o projecto de orçamento para 2011 alterado peloConselho - todas as secções (A7-0284/2010, Sidonia Elżbieta Jędrzejewska) (votação)

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6.4. Calendário dos períodos de sessões do Parlamento Europeu - 2012 (votação)

- Antes da votação:

Joseph Daul (PPE). – (FR) Senhor Presidente, ontem à tarde, o meu grupo debateualterações que os serviços nos disseram que eram inaceitáveis. Em consequência disso, eapós a discussão que travei hoje de manhã com os chefes de delegação e os líderes de grupo,solicito o adiamento da votação sobre o calendário.

Martin Schulz (S&D). – (DE) Senhor Presidente, não tivemos oportunidade de discutireste assunto como grupo. Fui informado sobre ele pelo senhor deputado Daul há minutos,durante o debate desta manhã, e debati-o com os presidentes de outros grupos,designadamente a senhora deputada Harms e o senhor deputado Verhofstadt. Tambémpretendo tratar deste aspecto com o meu grupo, visto não termos tido até agoraoportunidade de o discutir. Estou convencido de que, com um adiamento, haverá uma boahipótese de se chegar a um amplo consenso acerca do calendário para 2012. Considero,por isso, que deveríamos votar hoje a aprovação deste adiamento.

Presidente. – O senhor deputado Schulz usou da palavra a favor da proposta do senhordeputado Daul. Dou agora a palavra ao senhor deputado Fox, que é contra esta proposta.

Ashley Fox (ECR). – (EN) Senhor Presidente, encontrava-me no Hemiciclo nasegunda-feira à tarde, quando o Grupo dos Verdes pediu um adiamento. Os senhoresdeputados Daul e Schulz também estavam aqui e ambos votaram contra esse adiamento.

(Aplausos)

O que é que mudou então? Trata-se de facto de uma questão jurídica importante ou averdade é que eles têm consciência de que correm o sério risco de perder a alteração n.º 4e querem adiá-la para poderem exercer pressão sobre membros dos respectivos grupos?

(Aplausos)

Isto não tem nada a ver com a razão fictícia que nos foi apresentada, e gostaria de exortaros meus colegas a votarem contra este atraso e a favor da alteração n.º 4.

(Aplausos)

Presidente. – Vou colocar à votação o pedido de adiamento da votação apresentado pelosenhor deputado Daul.

(O Parlamento aprova o pedido de adiamento da votação)

6.5. Melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas oulactantes no trabalho (A7-0032/2010, Edite Estrela) (votação)

- Antes da votação sobre as alterações 50 e 125:

Carl Schlyter (Verts/ALE). – (SV) Há vários erros de tradução na versão sueca desterelatório. Entre outras coisas, há uma confusão entre os termos barnledighet (licença parental)e mana mmaledighet (licença de maternidade). No entanto, na alteração 125 em particular,há um erro de tradução muito grave. A versão sueca da alteração 125 diz que a licença depaternidade deve ser paga integralmente. Nas outras versões não se diz isto, o que significa

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que não há nenhuma diferença entre a alteração 50 e a alteração 125 na versão sueca. Seriabom que isso fosse corrigido.

6.6. Luta contra os atrasos de pagamento nas transacções comerciais (A7-0136/2010,Barbara Weiler) (votação)

6.7. O papel do rendimento mínimo no combate à pobreza e na promoção de umasociedade inclusiva na Europa (A7-0233/2010, Ilda Figueiredo) (votação)

6.8. Crise financeira, económica e social: recomendações referentes a medidas ouiniciativas a tomar (A7-0267/2010, Pervenche Berès) (votação)

6.9. Reforçar a governança económica e o quadro da estabilidade da União Europeia,nomeadamente na área do euro (A7-0282/2010, Diogo Feio) (votação)

- Antes da votação:

Olle Schmidt (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, esta é uma alteração oral importante:"considerando que, na medida do possível, todos os 27 Estados-Membros deveriam seguirao máximo todas as propostas de governação económica, reconhecendo que, paraEstados-Membros não pertencentes à área do euro, este será, em parte, um processovoluntário".

Foi aceite pelo Grupo PPE, foi aceite pelo Grupo S&D e até mesmo o Senhor Comissárioa aceitou. Faço votos de que todos os colegas possam aceitar esta alteração oral. É importantepara mim, é importante para o Grupo ALDE e é especialmente importante para o meupaís, a Suécia, se alguma vez chegarmos a aderir ao euro.

(A alteração oral é aceite)

Presidente. – Está encerrada a votação.

Visto a votação ter demorado tanto tempo, em consequência do vosso excelente trabalho,gostaria de pedir a quem solicitou a apresentação de declarações de voto que passe essasdeclarações de orais a escritas ou adie essa apresentação para amanhã, porque foramapresentados 62 pedidos e não conseguimos atender todos.

Michał Tomasz Kamiński (ECR). – (EN) Senhor Presidente, gostaria de o felicitar peloexcelente trabalho que fez hoje. Apreciei de facto a maneira como exerceu hoje a presidênciae espero que partilhe com outros vice-presidentes do Parlamento as suas maravilhosascompetências.

Nicole Sinclaire (NI). – (EN) Senhor Presidente, votei hoje e os cidadãos do meu círculoeleitoral podem ver como votei hoje, por isso deveriam ter oportunidade de ouvir hoje aminha declaração de voto.

Presidente. – Apresentei-lhe um pedido no sentido de converter a sua declaração oralnuma declaração escrita. Isso continuará a permitir-lhe apresentar aos cidadãos do seucírculo eleitoral as razões que a levaram, bem como a outros deputados, a votar dedeterminada maneira sobre as diversas questões. Não desejamos de forma alguma privá-lade quaisquer direitos. Peço-lhe apenas que se junte aos outros eurodeputados queprescindem do seu direito a fazer uma declaração oral e apresentam uma declaração escrita.É tudo.

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Barbara Matera (PPE). – (IT) Senhor Presidente, vou satisfazer o seu pedido: eu e o senhordeputado Mastella vamos apresentar as nossas declarações por escrito. Em segundo lugar,associo-me ao meu colega e felicito-o também, Senhor Presidente.

Licia Ronzulli (PPE). – (IT) Senhor Presidente, se estiver de acordo, e para satisfazer todaa gente, poderemos adiar as declarações de voto orais para amanhã.

Presidente. – Sim, claro que concordo. Se a senhora deputada Sinclaire também concordar.Conto com a boa vontade dos eurodeputados, solicito-lhes que apresentem declaraçõesorais amanhã ou declarações escritas hoje e daremos à senhora deputada Sinclaire aoportunidade de apresentar a sua agora.

7. Declarações de voto

Declarações de voto orais

Projecto de Orçamento Geral da União Europeia para o exercício de 2011

Nicole Sinclaire (NI). – (EN) Senhor Presidente, apresento aos meus colegaseurodeputados as seguintes observações.

Foi hoje a primeira vez que votámos sobre o orçamento depois da aprovação do Tratadode Lisboa. Todos se aplaudiram a si próprios e pensam que fizeram um bom trabalho, mas,de facto, enquanto há países em toda a União Europeia que têm de cortar serviços públicose têm de reduzir os orçamentos públicos, os senhores quiseram aumentar o vosso.

Os senhores aumentaram o vosso orçamento "para diversões" em 2 milhões de euros, umaumento de 85%. É mesmo esta a mensagem que querem enviar aos cidadãos da Europa?Também aprovaram disposições sobre o subsídio de maternidade que vão ter um impactomuito sério sobre os meus eleitores no Reino Unido. Isto vai traduzir-se na redução depostos de trabalho e vai afectar serviços públicos. Espero que se orgulhem do que fizeramhoje. Não é assim que se governa a Europa.

Licia Ronzulli (PPE). – (IT) Senhor Presidente, nesta altura, em nome da justiça, vou fazeruma declaração de voto a favor do resultado alcançado no que respeita ao relatório Estrela.

Presidente. – Não vamos, todavia, prolongar mais este período de intervenções. Demosa palavra a dois eurodeputados. Para as outras declarações – há 61, ainda nos faltam 59 –decidam entre apresentá-las por escrito e apresentá-las amanhã no fim das votações.

Declarações de voto escritas

Relatório: Paulo Rangel (A7-0279/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente a revisão do acordo-quadroque regerá as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia à luz do Tratadode Lisboa, porque considero que esta revisão cria uma relação de maior transparência edinamismo entre o Parlamento e a Comissão. Até ao Tratado de Lisboa e de acordo coma base jurídica do artigo 295.º do TFUE, os Tratados não encorajavam explicitamente asinstituições da UE a celebrarem acordos interinstitucionais., Assim, considero que a presenterevisão do acordo-quadro reflecte o equilíbrio institucional criado pelo Tratado de Lisboae consolida as conquistas alcançadas com este novo Tratado. O presente texto representaassim um compromisso entre as duas partes e estabelece uma aplicação mais coerente esensata do Tratado de Lisboa.

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Mara Bizzotto (EFD), por escrito. – (IT) Em todos os sistemas democráticos, o controloparlamentar das acções do executivo é uma questão fundamental, tal como é de grandeimportância a comunicação recíproca concentrada entre o governo e os representantesdos cidadãos. Este acordo interinstitucional entre o Parlamento e a Comissão satisfaz – namedida do possível, num sistema complexo e em contínua evolução como é o da UniãoEuropeia – algumas solicitações legitimamente apresentadas pelo Parlamento relativamenteà Comissão Europeia. É por isso bom que o controlo parlamentar da Comissão sejafacilitado, visto que esta última é um órgão técnico que não pode ser o cérebro político detodo um continente e tem de responder pela substância, pelas razões e pelos métodos dassuas acções. Também é, sem dúvida, positivo que se procure neste momento a possibilidadede uma participação ainda maior da Comissão no trabalho do Parlamento, nomeadamenteem sessões plenárias, para que ela possa responder aos pedidos dos representantes doscidadãos da União Europeia e responder atempadamente pela posição da Comissão sobrequestões políticas, económicas, sociais e internacionais actuais. O certo é que, se a UEdeseja caminhar para uma estrutura democrática diferente da que tem hoje, as relaçõesentre a Comissão e o Parlamento terão de melhorar e de se intensificar. Votei a favor dorelatório do senhor deputado Rangel.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D), por escrito. – (LT) Esta proposta conseguiu estabelecer oprimeiro acordo-quadro construtivo. O aumento dos poderes do Parlamento Europeu nasequência do Tratado de Lisboa é muito importante para a continuação da cooperaçãocom a Comissão Europeia e para futuras relações referentes à implementação de novosacordos. Deste modo, o presente documento estabelece novas orientações para a cooperaçãoentre estas duas Instituições. O Parlamento Europeu e a Comissão serão capazes dedesenvolver um diálogo estreito sobre o Programa de Trabalho da Comissão e sobre acordosinternacionais. O Parlamento terá direito a obter documentos confidenciais, será informadosobre o avanço de negociações internacionais e, para além disso, conseguirá tambémespecializar-se para poder apresentar propostas à Comissão sobre estas questões. Oacordo-quadro prevê também um controlo parlamentar abrangente, disposições reforçadassobre a eleição do Presidente da Comissão e desta como instituição, e ainda sobre a suacomposição, a sua possível modificação e remodelação. O Parlamento envida esforços nosentido de uma cooperação melhor e mais transparente com outras instituições.Congratulo-me com o facto de que uma cooperação mais estreita entre estas duasInstituições contribuirá para que os Estados-Membros transponham a legislação da UniãoEuropeia para o direito nacional com a maior rapidez e eficácia possíveis.

Lara Comi (PPE), por escrito. – (IT) A arquitectura constitucional da União Europeia estáa assumir cada vez mais a forma de um Estado-nação. Para além das considerações daíresultantes sobre o futuro da União, é necessário que reconheçamos a aceitação destasemelhança. De facto, a modelização das relações entre a Comissão e o Parlamento deriva– correctamente, a meu ver – disso mesmo, de uma maneira que já foi testada e foi ganhandoforma ao longo de décadas (se não mesmo de séculos) em cada um dos Estados-Membros.Em particular, o papel de supervisor e inquiridor do Parlamento deve ser apreciado, namedida em que contribui para reduzir o chamado défice democrático e torna maistransparente a relação entre os cidadãos e a Comissão.

Mário David (PPE), por escrito. − Saúdo o sucesso das negociações e as soluções decompromisso alcançadas neste novo acordo-quadro, o quinto acordo interinstitucional,entre o Parlamento Europeu e a Comissão. Este novo acordo descreve um avanço inegávele importante no que respeita às relações com a Comissão. Embora a solução de

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compromisso acordada tenha ficado aquém das ambições do Parlamento, estamos peranteum acordo que garante uma aplicação coerente e sensata do Tratado de Lisboa. Destaco aimportância das negociações em torno da dimensão interinstitucional das relaçõesinternacionais da UE, permitindo ao Parlamento ser plenamente informado em tempo útilde se poder pronunciar acerca dos acordos internacionais aquando dos processos denegociação. Por último, e no que respeita à obrigação de informação, sublinho que acooperação precoce com o Parlamento em relação aos pedidos de iniciativa legislativa combase nas petições dos cidadãos será crucial para assegurar a ligação entre o Parlamento eos cidadãos. Deste modo, voto favoravelmente a generalidade das propostas apresentadasneste relatório.

Robert Dušek (S&D), por escrito. – (CS) O projecto de relatório referente à revisão doacordo-quadro sobre as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia visaconseguir o equilíbrio institucional entre o Parlamento e a Comissão defendido no Tratadode Lisboa. Embora os acordos interinstitucionais não alterem a promulgação do direitoprimário, neste caso clarificam as relações entre instituições da UE. A versão final daproposta é, de acordo com o relator, um compromisso equilibrado entre as opiniões e asposições de ambas as partes institucionais, considerando que as negociações maiscomplicadas se encontravam nas relações internacionais da UE. O Parlamento deve sercabalmente informado de modo a facilitar a concessão de aprovação e para que nãotenhamos de novo uma falta de acordos internacionais. Já se encontram concluídas asnegociações sobre eles.

Com o Tratado de Lisboa, o Parlamento adquiriu novos poderes para um controlo melhore mais estreito da transposição da legislação da UE para o direito nacional e respectivaaplicação, o que é realmente de saudar. A legislação europeia comum não significa grandecoisa se determinados Estados-Membros a não aplicarem a nível nacional. Concordo coma formulação do relatório e vou votar a favor da sua aprovação.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Os acordos interinstitucionais a nível da União Europeiasão fundamentais para uma efectiva supervisão, controlo e equilíbrio de poderes. Assim,e no seguimento das necessárias adaptações estabelecidas pelo Tratado de Lisboa,regozijo-me com o facto de ver o Parlamento Europeu com os seus poderes aumentadosna sua relação com a Comissão. Isto, como é espelhado por este relatório, constitui ummaior e mais efectivo poder de controlo sobre as propostas da Comissão Europeia, umamaior transparência no processo legislativo.

Assim, foi dado mais um passo no sentido da existência de um poder democráticoefectivamente exercido que contribuirá para uma Europa mais próxima dos cidadãos. Nãopoderia também deixar de salientar o amplo esforço negocial que esta proposta exigiu, emespecial por parte do deputado relator, Paulo Rangel. Para ele, neste momento, endereçovotos de felicitações.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Congratulo-me com a adopção destaresolução e saúdo o excelente trabalho do relator Paulo Rangel. Este relatório reflecte e dáforma ao equilíbrio institucional estabelecido pelo Tratado de Lisboa, resultando numamelhoria clara e significativa das relações com a Comissão. O projecto de acordo-quadrorevisto sobre as relações entre o Parlamento e a Comissão constitui o quinto acordo destegénero celebrado entre as duas instituições. Em relação ao processo legislativo e àprogramação, importa destacar as alterações relativas à abordagem "Legislar melhor" e oanúncio de uma revisão do acordo interinstitucional sobre esta matéria, e a nova

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regulamentação relativa aos estudos de impacto levados a efeito pela Comissão. No querespeita à dimensão interinstitucional das relações internacionais da UE, o objectivo doParlamento consiste no direito a ser informado para poder dar a sua aprovação comconhecimento de causa, e para evitar a não conclusão de acordos internacionais quandoas negociações já tenham sido levadas a termo. Destaco ainda a atribuição do estatuto deobservador aos deputados do Parlamento em conferências internacionais, que passam apoder também estar presentes em todas as reuniões pertinentes. Este papel é fundamentalpara reforçar os poderes democráticos do Parlamento, sobretudo durante a negociação deimportantes conferências internacionais como as conferências sobre as alterações climáticasdas Nações Unidas.

Nathalie Griesbeck (ALDE), por escrito. – (FR) Na passada quarta-feira, votámos a favorda revisão do acordo-quadro sobre as relações entre o Parlamento Europeu e a ComissãoEuropeia, uma revisão que estabelece, no âmbito deste acordo, os novos poderes doParlamento resultantes do Tratado de Lisboa.

Estes novos poderes do Parlamento Europeu são essenciais e representam uma modificaçãoradical no processo institucional europeu. O reforço do controlo parlamentar sobre aComissão, o poder do Parlamento de aprovar acordos internacionais, a participação doParlamento no programa de trabalho da Comissão, a participação do Parlamento na eleiçãodo Presidente da Comissão Europeia, são outros tantos desenvolvimentos cruciais naconstrução de uma área europeia mais democrática.

O que também me parece fundamental são as garantias adicionais que vamos obtendo emtermos de obrigações de informar o Parlamento: teremos melhor acesso a documentosconfidenciais relativos a acordos e negociações internacionais. O Parlamento Europeu temde participar e deve participar nestes "procedimentos internacionais", antes e depois.Portanto, este acordo estabelece um novo equilíbrio em prol de uma área europeia maisdemocrática e é positivo que tudo isto se encontre redigido num acordo oficial.

Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Aprovado por larga maioria, o acordo-quadrorevisto assinala a realização de progressos indiscutíveis nas relações entre o ParlamentoEuropeu e a Comissão.

De facto, é tempo de o equilíbrio institucional criado pelo Tratado de Lisboa aparecerreflectido de forma rigorosa. Entre os elementos-chave da presente revisão, é necessárioque saudemos em especial a igualdade de tratamento entre o Parlamento e o Conselho, emparticular quando se trata do intercâmbio de informações e do acesso a reuniões. A esterespeito, não posso deixar de me congratular com as disposições que foram introduzidasa propósito da negociação de acordos internacionais. Como é que o Parlamento poderáconceder a sua aprovação com pleno conhecimento dos factos se não for informado aolongo de todo o processo de negociação?

Os eurodeputados estão efectiva e verdadeiramente decididos a implementar cabalmenteos poderes acrescidos de que dispõem desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa: foiprova disso a rejeição, em Fevereiro, do acordo Swift. Uma coisa é certa: teremos decontinuar vigilantes para manter este novo processo institucional.

Peter Jahr (PPE), por escrito. – (DE) O Tratado de Lisboa confere ao Parlamento Europeuum número considerável de novos poderes de co-decisão. Em consequência disso, haverá,no mínimo, um aprofundamento da democracia na União Europeia e uma melhoria daparticipação por parte dos cidadãos europeus.

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Codificando e concretizando estes direitos, o novo acordo-quadro leva-os em linha deconta, tal como leva em linha de conta o novo equilíbrio entre a Comissão e o Parlamento.Isto é efectivamente de saudar, na medida em que o Parlamento terá agora melhorespossibilidades de fazer jus ao seu papel de representante dos cidadãos da UE. Cabe-nosagora a nós utilizar estes novos direitos de forma responsável.

David Martin (S&D), por escrito. – (EN) Este acordo representa um grande êxito para oParlamento e um quadro positivo para as relações entre o Parlamento e a Comissão.Congratulo-me em particular com o reconhecimento do "pé de igualdade" existente entreo Conselho e o Parlamento e com as implicações que isso tem para o acesso do Parlamentoa documentos confidenciais, o seu direito a ser informado sobre reuniões da Comissãocom peritos nacionais e a sua participação em conferências internacionais. Apraz-metambém que o Parlamento venha a desempenhar um papel de relevo na programaçãolegislativa e venha a ter frequentes oportunidades para debater e questionar estes assuntoscom a Comissão no plenário e em sede de comissões parlamentares.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Com a aprovação do Tratado de Lisboa, as relações entreo Parlamento Europeu e a Comissão sofreram uma grande alteração, com o aumento dascompetências do Parlamento em várias matérias, nomeadamente no quadro do processolegislativo ordinário e em questões orçamentais, e com o reforço do seu papel no âmbitoda política externa da UE. Graças a estas alterações, o cidadão europeu ganha um novopapel no que respeita às tomadas de decisão a nível da UE. Neste sentido, é necessário eoportuno que se reveja o acordo-quadro que rege as relações entre o Parlamento Europeue a Comissão.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) Concordo inteiramente com o relatório dosenhor deputado Rangel. Até agora, a Comissão Europeia, em muitas ocasiões, ignorouas resoluções do Parlamento Europeu, o que, a meu ver, é inaceitável. Por exemplo, aresolução do Parlamento Europeu de 11 de Março de 2004, em que o Parlamentorecomenda que a República da Letónia conceda aos não-cidadãos o direito a votar emeleições locais e simplifique o processo de naturalização dos idosos, não foi aplicada atéagora. Gostaria de saber porque é que os Comissários europeus competentes têm ainda defazer perguntas ao Governo da Letónia. Porque é que esta resolução do Parlamento Europeuestá a ser ignorada? Talvez em consequência da assinatura do novo acordo sobre as relaçõesentre o Parlamento Europeu e a Comissão este tipo de inactividade por parte da Comissãoseja devidamente julgada pelo Parlamento Europeu e as pessoas que não desempenhamdevidamente as suas funções sejam excluídas da Comissão na próxima ocasião.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Saúdo vivamente a elaboração dorelatório referente à revisão do acordo-quadro sobre as relações entre o Parlamento Europeue a Comissão Europeia e a sua aprovação em plenário, para a qual contribuí, enquantoquadro fundamental para o aprofundamento da democratização da União Europeia, atravésde uma divisão de poderes entre a CE e o PE mais respeitadora das suas respectivascompetências.

Este acordo-quadro torna-se particularmente importante por ser o primeiro depois daentrada em vigor do Tratado de Lisboa que atribuiu ao Parlamento Europeu poderesacrescidos, sobretudo no plano legislativo.

Considero que ao abrigo deste novo acordo-quadro o Parlamento Europeu se torna umparceiro mais activo no projecto de construção europeia, podendo cumprir as suascompetências de forma mais plena, eficaz e responsável.

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Marc Tarabella (S&D), por escrito. – (FR) Apesar das medidas consideráveis que a resoluçãoda senhora deputada Figueiredo propõe sobre o papel que um rendimento mínimo temno combate à pobreza e na promoção de uma sociedade inclusiva na Europa, lamento quea maioria do Parlamento Europeu não fosse mais ambiciosa. Como socialista, acreditoefectivamente que é indispensável uma directiva-quadro para combater de forma eficaz apobreza, que afecta 17% da população europeia.

Esta directiva-quadro, proposta pelo meu colega Frédéric Daerden, estabeleceria o princípiode um rendimento mínimo adequado na Europa, com base em critérios que sejam comunsa todos os Estados-Membros e em conformidade com práticas nacionais de negociaçãocolectiva e com o direito nacional. Temos o dever de ser ambiciosos em prol de uma Europamais social.

Aldo Patriciello (PPE), por escrito. – (IT) Antes do Tratado de Lisboa e da nova basejurídica para o artigo 295.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, osTratados não incentivavam especificamente as instituições da União Europeia a celebraremacordos interinstitucionais. Estes acordos não podem alterar as disposições do direitoprimário, mas muitas vezes clarificam-nas.

Estou convencido de que este projecto reflecte rigorosamente o equilíbrio institucionalestabelecido pelo Tratado de Lisboa. Dou-lhe a minha aprovação porque este acordorepresenta uma melhoria clara e significativa nas relações com a Comissão. Como acontececom todos os acordos, o texto definitivo tende a ser um compromisso entre ambas aspartes; ainda assim, esse compromisso final apresenta um juízo equilibrado e uma aplicaçãorazoável e coerente do Tratado de Lisboa.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) O relatório Rangel assinala osêxitos mais importantes para o Parlamento Europeu contidos na revisão do acordo-quadrono que se refere ao seguinte:

Em relação a "Processo legislativo e programação: cooperação mútua", inclui a melhoriada participação do Parlamento, a análise de todas as propostas pendentes no início domandato de uma nova Comissão, tendo em conta os pareceres emitidos pelo Parlamentoe a obrigação assumida pela Comissão de prestar contas do seguimento dado aos pedidosde iniciativa legislativa, em conformidade com o disposto no artigo 225.º do TFUE.

Em relação a "Controlo parlamentar", inclui novas disposições relativas à participação deComissários em campanhas eleitorais, a obrigação de a Comissão consultar o Parlamentose pretender proceder à revisão do Código de Conduta e a obrigação de os candidatos aocargo de director de agências regulamentares se apresentarem perante as comissõesparlamentares competentes para efeitos de audição.

Também define as obrigações de prestar informação e o requisito da presença da Comissãono Parlamento.

Czesław Adam Siekierski (PPE), por escrito. – (PL) A entrada em vigor do Tratado deLisboa conferiu novos direitos à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu. O projectodo texto alterado do acordo-quadro é uma expressão de uma aplicação mais eficaz dasmodificações decorrentes do Tratado com base nas relações entre as duas instituições.Introduz modificações benéficas no processo legislativo, no controlo parlamentar e naobrigação de prestar informação. Representa um importante progresso nas relações coma Comissão e constitui um importante passo no sentido de uma cooperação mais estreita.O intercâmbio de informações e o diálogo construtivo permitir-nos-ão alcançar resultados

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mais eficazes e transparentes, o que é uma questão fundamental do ponto de vista doscidadãos da UE cujos interesses representamos. É por isso que considero tão importanteque no acordo seja atribuída prioridade à participação de membros da Comissão em sessõesplenárias e outras reuniões relacionadas com actividades do Parlamento. Deixa-meparticularmente satisfeito o facto de a Comissão se ter comprometido a manter uma estreitacolaboração com o Parlamento sobre propostas de iniciativas legislativas apresentadas porcidadãos numa primeira fase.

Graças a isto, nós, no Parlamento, podemos estar mais perto dos nossos cidadãos, o quereforçará a nossa democracia. Ainda assim, a fim de funcionar com eficácia no interessedos cidadãos da UE, a Comissão deverá conceder aos eurodeputados o estatuto deobservadores em todas as conferências internacionais e, sempre que possível, facilitar anossa presença noutras reuniões de interesse numa escala ainda maior, e deverá informaro Parlamento sobre as posições negociais que adoptar nessas reuniões e conferências.

Eva-Britt Svensson (GUE/NGL), por escrito. – (EN) Votei a favor do relatório RangelA7-279/2010. No entanto, discordo vivamente do pressuposto do relator de que "o Tratadode Lisboa aprofunda de forma significativa a democracia na UE, cometendo aos cidadãosda União, nomeadamente através do Parlamento, um poder reforçado em matéria decontrolo da Comissão".

Viktor Uspaskich (ALDE), por escrito. – (LT) Este novo acordo-quadro sobre relaçõespode eventualmente consolidar os êxitos alcançados pelo Tratado de Lisboa e isso poderárepresentar um progresso significativo. São particularmente importantes as alterações quemelhoram os processos jurídicos e reforçam o controlo parlamentar. Concordo com todasas alterações que contribuem para melhorar o intercâmbio de informações e promover aeficácia das relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia. É importanteassegurar que esta parceria institucional seja o menos burocrática possível. O novoacordo-quadro sobre relações regulamenta a "parceria especial" existente entre o Parlamentoe a Comissão Europeia. Não podemos esquecer que a mais importante de todas as parceriasé a parceria entre a União Europeia e os seus cidadãos. A União Europeia tem de fazer umesforço maior para encontrar um terreno comum com os seus cidadãos e provar a suaimportância na vida quotidiana desses cidadãos.

O relator indicou, e bem, que este acordo representa um "novo equilíbrio interinstitucional",isto é, um compromisso saudável. No entanto, há algumas questões acerca das quais aUnião Europeia não pode negociar – direitos humanos e liberdades fundamentais. Maiorespoderes significam maior responsabilidade. Uma coisa é falar de valores comuns, masimplementar e defender esses valores é uma questão diferente. Se não se conseguir fazê-lo,os vários ramos do sistema institucional da União Europeia serão incapazes de realizarplenamente o seu potencial. Para ser uma força coesa, a União Europeia tem de tercredibilidade.

Relatório: Paulo Rangel (A7-0278/2010)

Mário David (PPE), por escrito. − Aprovada a revisão do acordo-quadro sobre as relaçõesentre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia, é natural uma subsequente adaptaçãodo Regimento do Parlamento Europeu ao supracitado acordo-quadro. Assim, votofavoravelmente este relatório.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Concordo com as alterações ao Regimentodo Parlamento Europeu de modo a que este se adapte ao acordo-quadro revisto sobre as

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relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia. Dada a abertura da Comissãopara dar mais informação aos deputados, concorda-se que os deputados se obriguem arespeitar as regras do Parlamento Europeu em matéria de tratamento de informaçõesconfidenciais. A abertura da Comissão para prestar mais informação aos deputados obrigaà necessidade de os presidentes e os relatores da comissão competente e, eventualmente,das comissões associadas tomarem conjuntamente as medidas adequadas para assegurarque o Parlamento seja imediata, regular e plenamente informado, se necessário a títuloconfidencial, em todas as fases da negociação e celebração de acordos internacionais,incluindo o projecto de directrizes de negociação e o texto final adoptado das mesmas.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Com a aprovação do Tratado de Lisboa as relações entreo Parlamento Europeu e a Comissão sofreram uma grande alteração, devido ao aumentodas competências do Parlamento em várias matérias, nomeadamente no quadro do processolegislativo ordinário e em questões orçamentais, e ao reforço do seu papel no âmbito dapolítica externa da UE. Com estas alterações, o cidadão europeu ganha um novo papel noque respeita às tomadas de decisão ao nível da UE. Neste sentido, é necessário e oportunoque se adapte o Regimento do Parlamento ao acordo-quadro revisto sobre as relações entreo Parlamento Europeu e a Comissão.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − A adaptação do Regimento do ParlamentoEuropeu ao acordo-quadro revisto sobre as relações entre o Parlamento Europeu e aComissão Europeia decorre naturalmente da revisão desse acordo-quadro, permitindoque, num tempo imediato, se passe do estabelecimento do acordo-quadro para a sua práticaefectiva tal como se exigiria e assim fica assegurado. O exposto e a conformidade entre osdois relatórios citados justificam a minha aprovação (também) deste último.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) O relatório Rangel assinala osêxitos mais importantes para o Parlamento Europeu contidos na revisão do acordo-quadrono que se refere ao seguinte:

Em relação a "Processo legislativo e programação: cooperação mútua", inclui a melhoriada participação do Parlamento, a análise de todas as propostas pendentes no início domandato de uma nova Comissão, tendo em conta os pareceres emitidos pelo Parlamentoe a obrigação assumida pela Comissão de prestar contas do seguimento dado aos pedidosde iniciativa legislativa, em conformidade com o disposto no artigo 225.º do TFUE.

Em relação a "Controlo parlamentar", inclui novas disposições relativas à participação deComissários em campanhas eleitorais, a obrigação de a Comissão consultar o Parlamentose pretender proceder à revisão do Código de Conduta e a obrigação de os candidatos aocargo de director de agências regulamentares se apresentarem perante as comissõesparlamentares competentes para efeitos de audição.

Também define as obrigações de prestar informação e o requisito da presença da Comissãono Parlamento.

Eva-Britt Svensson (GUE/NGL), por escrito. – (EN) Votei a favor do relatório RangelA7-0278/2010. No entanto discordo vivamente do pressuposto do relator de que "oTratado de Lisboa aprofunda de forma significativa a democracia na UE, cometendo aoscidadãos da União, nomeadamente através do Parlamento, um poder reforçado em matériade controlo da Comissão".

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Relatórios: Paulo Rangel (A7-0279/2010), (A7-0278/2010)

Bairbre de Brún e Søren Bo Søndergaard (GUE/NGL), por escrito. – (EN) Votei a favordos relatórios Rangel A7-0278/2010 e A7-0279/2010. No entanto, discordo vivamentedo pressuposto do relator de que "o Tratado de Lisboa aprofunda de forma significativa ademocracia na UE, cometendo aos cidadãos da União, nomeadamente através doParlamento, um poder reforçado em matéria de controlo da Comissão".

Joe Higgins (GUE/NGL), por escrito. – (EN) Abstive-me nas votações dos relatórios RangelA7-0278/2010 e A7-0279/2010. Apesar de apoiar muitas medidas referidas nos relatórios,tais como o reforço do papel do Parlamento na elaboração do Código de Conduta dosComissários e o reforço do papel do Parlamento nas negociações internacionais, discordovivamente do pressuposto do relator de que "o Tratado de Lisboa aprofunda de formasignificativa a democracia na UE, cometendo aos cidadãos da União, nomeadamente atravésdo Parlamento, um poder reforçado em matéria de controlo da Comissão".

Marisa Matias (GUE/NGL), por escrito. – (EN) Votei a favor dos relatórios RangelA7-0278/2010 e A7-0279/2010. No entanto discordo vivamente do pressuposto dorelator de que "o Tratado de Lisboa aprofunda de forma significativa a democracia na UE,cometendo aos cidadãos da União, nomeadamente através do Parlamento, um poderreforçado em matéria de controlo da Comissão".

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) O senhor deputado Rangel propõe alteraçõesmuito importantes ao Regimento do Parlamento Europeu. É possível que, como resultadodirecto desses ajustamentos ao Regimento do Parlamento Europeu, os problemas quedebatemos se resolvam mais rapidamente. Gostaria especialmente de ver as decisões erecomendações do Parlamento Europeu serem executadas nos Estados-Membros da UE.Só quando pusermos a nossa própria casa em ordem é que as recomendações feitas pelaUE a países terceiros terão um peso consideravelmente maior. Por exemplo, asrecomendações contidas na resolução de 11 de Março de 2004 do Parlamento Europeusobre a situação dos não-cidadãos na Letónia não foram ainda implementadas. Faço votosde que o Regimento do Parlamento Europeu depois de revisto contribua para que asinstituições da UE fiquem com uma imagem clara das violações dos direitos humanosbásicos que ocorrem na Letónia.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Por meio do presente acordo, o Parlamento"melhorou" e reforçou-se e a democratização da União Europeia foi intensificada. Aaprovação deste relatório é um forte sinal do desejo de consolidar o princípio da separaçãode poderes. O acordo-quadro reveste-se de grande importância porque define as relaçõesentre o Parlamento e a Comissão, numa altura em que o Parlamento obteve maiores poderes,em especial no processo legislativo, agora ao mesmo nível que o Conselho. Na realidade,não obstante os tratados e protocolos complementares e de aplicação, era necessária maislegislação destinada a especificar e a esclarecer melhor algumas questões. Aplaudo,nomeadamente, o facto de o acordo-quadro esclarecer os aspectos relativos àresponsabilidade política de ambas as instituições, a circulação de informação, as relaçõesexternas, o alargamento e acordos internacionais, a execução do orçamento, o programapolítico e legislativo da Comissão e o programa plurianual da União Europeia, a competêncialegislativa da Comissão e o exercício dos seus poderes específicos, acompanhando aaplicação do direito comunitário e a participação da Comissão no trabalho do Parlamento.

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Relatório: Ingeborg Gräßle, Crescenzio Rivellini (A7-0263/2010)

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Votei a favor deste regulamento. Inclui pormenorestécnicos, financeiros e administrativos e explica as relações interinstitucionais que esteserviço europeu e as suas estruturas necessitam de ter. Foi, e continua a ser, nosso desejoque a UE seja um agente poderoso e reconhecido na política externa. Para o conseguir,necessitamos igualmente de regras e regulamentos europeus talhados à medida dessafunção.

Alain Cadec (PPE), por escrito. – (FR) Quando o Serviço Europeu de Acção Externa foicriado, foi necessário alterar o Regulamento Financeiro a fim de melhorar o controlo e oacompanhamento da sua implementação.

O relatório Gräßle-Rivellini aumenta a responsabilidade orçamental e financeira, melhoraa transparência e promove a eficácia do SEAE. As melhorias propostas contribuirão paracriar uma cultura da integridade financeira necessária para promover a confiança nofuncionamento adequado do SEAE.

Congratulo-me igualmente com as partes do relatório que exigem que seja concedido aoParlamento um poder de controlo considerável. Assim sendo, concordo com o pedido dosrelatores no sentido de o Parlamento poder exercer cabalmente os seus poderes de quitaçãoe de os chefes das delegações apresentarem os seus relatórios da execução orçamental àComissão do Controlo Orçamental.

Mário David (PPE), por escrito. − Voto a favor da generalidade das medidas propostasneste relatório, que visam conferir ao SEAE uma cultura de idoneidade financeira necessáriapara a confiança no bom e indiscutível funcionamento futuro do SEAE. A diversidade deorigens dos funcionários fará do SEAE um melting pot de culturas corporativas, pelo queo SEAE terá de estabelecer gradualmente a sua própria cultura. Na definição da estruturadeste novo serviço, importa estabelecer as suas disposições financeiras e garantir desde oinício todas as salvaguardas possíveis, de modo a que a probidade e integridade financeirassejam parte integrante da cultura de empresa do SEAE. Gostaria ainda de realçar que, paraassegurar o controlo democrático e aumentar a confiança dos cidadãos nas suas instituições,deve ser apresentada anualmente ao Parlamento Europeu uma declaração de fiabilidadedos sistemas de gestão e controlo interno instituídos nas delegações da União.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) O Serviço Europeu de Acção Externa(SEAE) está agora no bom caminho para se tornar um corpo diplomático operacional. OParlamento assegurou que 60% do pessoal virá de outras instituições europeias, o quegarantirá uma certa independência dos Estados-Membros. Foi introduzido o princípio doequilíbrio geográfico, ficando assim garantida uma presença adequada e considerável denacionais de todos os Estados-Membros.

Esta votação reforçou o papel do Parlamento: os chefes das delegações da União Europeianomeados em regiões "estrategicamente importantes" serão efectivamente ouvidos pelaComissão dos Assuntos Externos do Parlamento. Além disso, o Parlamento terá um direitode controlo sobre o modo como o orçamento do SEAE é utilizado e o seu pessoal terá depossuir formação específica em matéria de gestão orçamental.

Philippe de Villiers (EFD), por escrito. – (FR) Foi pedido ao Parlamento Europeu quedesse o seu parecer sobre a proposta de regulamento apresentada pelos deputados IngeborgGräßle e Crescenzio Rivellini relativa à criação de um orçamento geral das ComunidadesEuropeias para o Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE).

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É impossível apoiar a criação de um futuro serviço diplomático europeu que ficará sob ocontrolo administrativo, orçamental e político da Comissão. A França, que se pode orgulharde ter o mais antigo serviço diplomático do mundo, terá de voltar a entregar prerrogativasdiplomáticas a uma União Europeia cujos cidadãos são totalmente indiferentes às posiçõesque ela adopta.

Este serviço diplomático, que a Comissão solicitou com tanto entusiasmo, afastar-se-ácompletamente dos patrimónios nacionais. Os funcionários do SEAE não poderão receberinstruções de Estados-Membros e terão de trabalhar para o bem "superior" de uma UniãoEuropeia que apenas constitui uma referência para os próprios eurocratas.

Diane Dodds (NI), por escrito. – (EN) Senhor Presidente, sempre me opus à criação doSEAE – nada teria modificado a minha opinião sobre ele. Mas tenho conhecimento dasgarantias dadas enquanto a UE andou a realizar a sua campanha de persuasão, recolhendoapoio para o SEAE.

Disseram-nos que o SEAE seria neutro em matéria de orçamento. No entanto, em que péestamos agora? A neutralidade orçamental não passa agora de mais uma promessa da UEque não conduz a nada. Já excedemos em 34 milhões o orçamento previsto devido aexigências de mais e mais pessoal e a outras despesas de arranque e o SEAE nem sequerestá a funcionar!

O SEAE constitui mais um exemplo de desperdício do dinheiro dos contribuintes para umserviço que os meus eleitores não querem, mas que lhes foi imposto por burocratas queprocuram extorquir cada vez mais poder aos governos nacionais e transferi-lo para a UE.Uma burocracia destas é inaceitável, e há que cortá-la nestes tempos de crise económica enão que a aumentar.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − A proposta de regulamento destina-se a alterar oRegulamento Financeiro aplicável ao orçamento geral das Comunidades devido àinstitucionalização do Serviço Europeu de Acção Externa, decorrente da adopção doTratado de Lisboa pelos Estados-Membros. A nova entidade carece de enquadramentoorçamental, pelo que se justifica esta alteração. A equiparação do Serviço Europeu de AcçãoExterna a uma instituição permite-lhe dispor de autonomia orçamental e confere-lhecompetência para executar as suas próprias despesas administrativas, estando sujeito àquitação a realizar pelo Parlamento Europeu.

Desejo que o Serviço Europeu de Acção Externa desenvolva a sua acção de modocompetente, eficaz, complementar e, sobretudo, não concorrencial com as representaçõesdiplomáticas dos Estados-Membros. A Comissão Europeia declarou, a este propósito,pretender assegurar uma função unificada no domínio da acção externa, sem que tal afectea boa gestão financeira, a obrigação de prestação de contas e a protecção dos interessesfinanceiros da União. Faço votos para que assim seja.

Elisabeth Köstinger (PPE), por escrito. – (DE) O Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE)será o futuro porta-voz da política externa da União Europeia. Neste serviço, as nossasdiferentes posições encontrarão uma única voz – a comunicar uma mensagem forte – e éimportante que lhe demos o nosso apoio. Para que o SEAE funcione de forma eficaz, énecessário um controlo financeiro eficiente. Só se o SEAE fizer parte da Comissão é quepoderá ser assegurado o melhor controlo possível. A clara distribuição de direitos eobrigações permitir-lhe-á funcionar sem problemas. Apoio o relatório bem sucedido da

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senhora deputada Gräßle e do senhor deputado Rivellini e, como é evidente, votei a favordesta contribuição construtiva do Parlamento Europeu.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório da senhora deputadaGräßle e do senhor deputado Rivellini que cria o Regulamento Financeiro aplicável aoorçamento geral das Comunidades Europeias, no que diz respeito ao Serviço Europeu deAcção Externa (SEAE), porque acredito que a promoção da integridade financeira éimportante para garantir uma gestão correcta e transparente das instituições europeias. Acriação deste novo serviço diplomático, tal como previsto no Tratado de Lisboa, representaum grande passo para a União Europeia, que pode finalmente beneficiar de um corpodiplomático único que tem por missão promover acções tendentes a imprimir maiscoerência, segurança e eficiência às relações externas da União Europeia. Em último lugar,é importante sublinhar que o Serviço Europeu de Acção Externa fará a gestão do seu próprioorçamento administrativo e será também responsável pelas partes do orçamento defuncionamento que se inscrevem no âmbito do seu mandato.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O novo Serviço Europeu de Acção Externa, criado apósa aprovação do Tratado de Lisboa, carece de um orçamento para poder desenvolver asactividades e concretizar os objectivos delineados no Tratado. Nesse sentido é necessárioalterar determinadas disposições do Regulamento Financeiro aplicável, a fim de ter emconta as alterações introduzidas pelo Tratado de Lisboa.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito. – (ES) Votei contra esta resolução legislativa doParlamento Europeu porque a criação do serviço que querem financiar representa maisum passo no sentido da militarização da política externa da União Europeia. Juntamentecom a minha oposição a esta filosofia militarista dos assuntos externos, a razão por quevotei contra é que, ao longo de todo o processo de criação do Serviço Europeu de AcçãoExterna (SEAE), estiveram ausentes os princípios mais básicos da transparência e dademocracia. A organização e o financiamento deste serviço não incluem o controlo rigorosonecessário do pessoal e do financiamento por parte do Parlamento Europeu, o que significaque o SEAE enferma de uma falta preocupante de democracia e transparência. Nãosurpreende, por isso, que a estrutura proposta para o SEAE relegue o Parlamento Europeupara uma posição secundária e irrelevante na política externa da UE, que eu e o meu gruporejeitamos firmemente. Por isso votei contra. Não posso ser a favor dos orçamentospropostos para este tipo de serviço com as suas tendências militaristas.

Franz Obermayr (NI), por escrito. – (DE) Para além das estruturas duplicadas que serãocriadas pelo Serviço Europeu para Acção Externa (SEAE), os custos com o pessoal tambémdispararão da forma esbanjadora e burocrática que é típica da UE. Dos 1 643 cargos comque o SEAE arrancará no dia 1 de Dezembro, 50 são, acreditem ou não, cargos dedirector-geral, e durante as fases iniciais um director-geral terá sob as suas ordens poucomais de 30 efectivos. Quando a estrutura final estiver completa, estes não chegarão sequera ser 80. Os directores-gerais atrás referidos ganharão em média 17 000 euros por mês.Abaixo destes directores-gerais há outro nível com 224 directores e 235 chefes de unidade.Para além disso, ainda estamos à espera de que sejam definidos objectivos e tarefasespecíficos para o pessoal do SEAE. Queremos que a UE tenha uma voz forte no mundo,mas isso não exige decerto um aparelho administrativo inflacionado que custará milharesde milhões aos cidadãos da UE em consequência da duplicação de estruturas e defuncionários que desfrutarão de uma fonte de rendimento muito lucrativa. Votei, portanto,contra este relatório.

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Justas Vincas Paleckis (S&D), por escrito. – (LT) Em negociações com representantes doConselho Europeu e da Comissão, o Parlamento e, nomeadamente, negociadores do Grupoda Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, conseguiramassegurar que o orçamento para o novo serviço diplomático da UE seria utilizado de formamais transparente. O Parlamento aprovará anualmente a sua quitação do orçamento e aComissão terá de fornecer regularmente aos eurodeputados informações detalhadas sobrea sua despesa. Votei a favor deste relatório porque ele sublinha que, quando se empregamcidadãos dos Estados-Membros da UE, será assegurada maior cobertura geográficajuntamente com uma representação adequada e significativa para os cidadãos de todos osEstados-Membros.

Concordo com o relator que o nosso objectivo tem de ser o de garantir que os funcionáriossejam seleccionados em função das suas capacidades e também que seja tida em conta aigualdade dos géneros. É importante que o Serviço Europeu de Acção Externa que vai serlançado em 1 de Dezembro se torne rapidamente eficaz e incorpore, acima de tudo, osinteresses da UE e, sempre que necessário, os interesses nacionais.

Aldo Patriciello (PPE), por escrito. – (IT) O Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE)procederá à gestão do seu próprio orçamento administrativo e será responsável por ele.De facto, ao criar este novo serviço e, em particular, ao elaborar as suas regras financeiras,é necessário fornecer desde o princípio as salvaguardas económicas adequadas.

Portanto, é importante assegurar a interacção sem problemas dos diversos serviçosresponsáveis pela supervisão dos assuntos financeiros, em especial nas delegações da UE,a fim de promover a probidade financeira dos mesmos. Por meio do reforço dessassalvaguardas, esperamos aumentar a confiança dos cidadãos europeus nas instituiçõeseuropeias. Em consequência, as melhorias estruturais apresentadas na presente propostavisam impor a integridade financeira necessária para que se confie no funcionamentoharmonioso e inquestionável do SEAE.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) O percurso foi cheio de solavancos,mas, graças aos esforços do Parlamento, o Serviço Europeu de Acção Externa da UE temagora o potencial necessário para ser a força motriz para uma política externa da Uniãomais eficaz e mais legítima. Congratulamo-nos pelo facto de preocupações fundamentaisdos Verdes – como as que se prendem com o equilíbrio dos géneros e a formação comumpara criar um "esprit de corps" – terem sido amplamente tratadas e porque o Parlamentovai exercer um maior controlo democrático sobre o funcionamento do SEAE,nomeadamente através da introdução de rubricas orçamentais individuais para as grandesoperações ultramarinas da UE. O PE conseguiu também salvaguardar o método comunitárioe, graças à pressão dos Verdes, prioridades no domínio do desenvolvimento.

Angelika Werthmann (NI), por escrito. – (DE) A fim de poderem representar de formamais eficaz os interesses dos Estados europeus na cena internacional, as acções da políticaexterna têm de ser discutidas antecipadamente e depois comunicadas ao mundo exteriorpor uma só voz. Agora, através do Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE), está a serfeita uma tentativa de incluir os instrumentos da política externa da União num quadrocoerente – os recursos já existentes estão a ser reunidos e complementados por novosrecursos. Face à natureza original desta estrutura, é necessário aplicar disposições ambiciosasno que respeita a transparência e responsabilidade orçamental e financeira. Visto aautoridade orçamental do Parlamento incluir o SEAE, este serviço tem de ser integrado naestrutura da Comissão. De outro modo, será impossível a concessão de quitação na acepção

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dos Tratados. Os relatórios anuais de actividade são também fornecidos às autoridadesorçamentais.

Relatório: Bernhard Rapkay (A7-0288/010)

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Tal como os meus colegas, também eu consideroque o SEAE necessita de ter autonomia no âmbito do Estatuto dos Funcionários dasComunidades Europeias. Apoio a disposição que estipula que os funcionários da UE e osagentes temporários provenientes de Estados-Membros e de serviços diplomáticos têm deusufruir dos mesmos direitos e ser elegíveis para se candidatar a novos cargos. Faço votosde que o recrutamento numa base geográfica tão vasta quanto possível – e, com isto, façoreferência aos novos Estados-Membros – se torne uma realidade.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − O Serviço Europeu de Acção Externa é um instrumentoessencial para uma União Europeia que se deseja aberta ao mundo e capaz de estabelecercontactos frutíferos com as mais diversas regiões e países. Para que este importante serviçofuncione, é essencial enquadrar devidamente os seus funcionários e clarificar o seu estatutoe o dos agentes temporários oriundos dos serviços diplomáticos nacionais que neleexercerão funções. Esta alteração ao Estatuto dos Funcionários das Comunidades Europeiase ao Regime aplicável aos outros agentes mostra-se, por isso, plenamente justificada. Esperoque o SEAE opere em complementaridade com as diplomacias nacionais e constitua umfactor positivo que potencie a actuação destas. Faço votos para que as grandes prioridadesda política europeia não descurem a componente externa da sua existência e para que, nodecurso da sua acção, o SEAE não descure o papel crucial das línguas europeias decomunicação universal ou línguas europeias globais que são as mais aptas a permitir oestabelecimento de comunicação directa com grande parte do mundo.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − O Serviço Europeu de Acção Externa é agoraparte integrante da administração europeia, aberta, eficiente e independente nos termosdo artigo 298.° do TFUE. Destaco, na modificação das regras aplicáveis aos funcionáriosdas Comunidades Europeias e aos outros agentes destas Comunidades, o estatuto deigualdade entre os funcionários da UE e os agentes temporários oriundos dos serviçosdiplomáticos dos Estados-Membros, em especial no que respeita à elegibilidade para assumirtodos os cargos em condições equivalentes e à promoção da igualdade de oportunidadespara o género sub-representado.

Tunne Kelam (PPE), por escrito. – (EN) Abstive-me na altura da votação final do relatórioRapkay em 20 de Outubro de 2010. Apoio inteiramente a constituição de um ServiçoEuropeu de Acção Externa e atribuo grande valor aos esforços do deputado Elmar Brok ede outros eurodeputados que conseguiram introduzir um equilíbrio apreciável no projectooriginal apresentado pela Alta Representante. A minha intenção era chamar a atenção parao facto de que a alteração relativa à representação geográfica, que foi apoiada pelasComissões AFET e BUDG, não foi aprovada em sede de Comissão JURI. Em consequência,subsistem dúvidas de que a versão final do relatório possa fornecer ao Parlamento Europeuuma base jurídica no que respeita ao equilíbrio geográfico.

Andrey Kovatchev (PPE), por escrito. – (BG) Desejo-lhe, Lady Ashton, bem como aonovo SEAE, no qual depositamos grandes esperanças quanto à concretização de mais umsonho europeu, os maiores êxitos e fazemos votos de que a Europa fale ao mundo comuma só voz, forte e autoritária. É isto que quer uma enorme parcela do nosso Parlamento.Pode ter a certeza de que a ajudaremos.

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Desejo explicar porque é que me abstive de votar a alteração ao Estatuto dos Funcionáriosdas Comunidades Europeias. Penso que objectivos indicativos para o equilíbrio geográficosão benéficos para a nova instituição. Necessitamos de um serviço diplomático altamentequalificado que reúna pessoas de todos os Estados-Membros, para que possam reforçar arepresentação da UE no mundo.

Estou certo de que o SEAE será coroado de êxito se puder beneficiar da experiência detodos os Estados-Membros. Estou consciente de que o número de Estados-Membros maisdo que quadruplicou desde o início do processo de integração europeia. É compreensívelque os países recém-admitidos tenham ficado para trás nesta fase em termos do nível derepresentação. No entanto, tem de haver determinação e textos legislativos claramentedefinidos para ultrapassar esta situação.

Acredito no seu desejo e na sua determinação, que nos manifestou em numerosas ocasiões,de trabalhar no sentido de estabelecer uma representação geográfica autêntica e adequadapara o novo serviço, a fim de poder ser a Alta Representante de toda a UE. Seguiremos deperto a actividade desse serviço.

Edvard Kožušník (ECR), por escrito. – (CS) Congratulo-me com o facto de termosconseguido introduzir no relatório algumas salvaguardas, sob a forma de alterações, o queconstituirá uma garantia de que, quando chegar a altura de preencher lugares no ServiçoEuropeu de Acção Externa, os funcionários de determinados Estados-Membros não estarãoem vantagem relativamente a funcionários de outros Estados. A política externa da UniãoEuropeia é, no fim de contas, apenas uma área específica e por isso, para além dasqualificações e da vasta representação geográfica, há que aplicar um princípio segundo oqual os funcionários do Estado de todos os Estados-Membros terão de estarconvenientemente representados entre o pessoal do Serviço Europeu de Acção Externa.Penso, por isso, que é muito importante que o Parlamento tenha proposto a supressão dedisposições que permitiam a transferência de funcionários do Conselho ou da Comissãopara o Serviço Europeu de Acção Externa sem concurso para preenchimento de vagas.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O Serviço Europeu de Acção Externa trabalha emcolaboração com os serviços diplomáticos dos Estados-Membros e é composto porfuncionários provenientes dos serviços competentes do Secretariado-Geral do Conselhoe da Comissão e por pessoal destacado dos serviços diplomáticos nacionais dosEstados-Membros. Assim, para efeitos do Estatuto e do Regime aplicável aos outros agentes,o SEAE deve ser considerado como uma instituição da União. Por esse motivo, osfuncionários da União Europeia e os agentes temporários oriundos dos serviçosdiplomáticos dos Estados-Membros devem ter os mesmos direitos e deveres e ser tratadosem pé de igualdade, em especial no que respeita à elegibilidade para assumir todos os cargosem condições equivalentes. Daí a necessidade da alteração prevista nesta resolução.

Alajos Mészáros (PPE), por escrito. – (HU) Apoiei este relatório que foi precedido pordebates muito sérios, principalmente no que se refere ao preenchimento dos lugares doServiço Europeu de Acção Externa. O princípio do equilíbrio geográfico foi a causa principaldesses debates, um princípio que – juntamente com as prioridades do equilíbrio institucionale entre os géneros – acabou por ser incluído no relatório de uma forma muito atenuada.

Os novos Estados-Membros não estão, sem dúvida, inteiramente satisfeitos, mas, aindaassim, é bom que se tenha chegado a um compromisso, e confiamos em que, no futuro,esta matéria seja revista a fim de que se faça ainda mais justiça. Para esse efeito, temos defazer tudo ao nosso alcance para garantir que os diplomatas designados por cada um dos

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Estados-Membros tenham qualificações comparáveis e elevadas. Devemos estar satisfeitos,porém, por termos dado um passo importante na via de uma representação externaunificada e eficaz da UE, já que, perante os desafios actuais e futuros, este é um dos aspectosmais importantes da política da União.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) Aprovámos por larga maioria opacote de compromisso que reflectia a posição dos Verdes, para o qual o nosso grupo deuuma contribuição substancial.

György Schöpflin (PPE), por escrito. – (EN) Para aqueles de nós que vêm dos novosEstados-Membros, a omissão de qualquer compromisso juridicamente vinculativorelativamente ao equilíbrio geográfico no Serviço Europeu de Acção Externa é umadesilusão. É verdade que foram feitas várias declarações políticas a prometer que os interessesdos novos Estados-Membros serão tomados em consideração. Por muito positivo que umcompromisso político possa ser, é lamentável a ausência de uma disposição jurídica. Semuma disposição jurídica, é difícil ver como é que os eleitores dos novos Estados-Membrosvão sentir que o SEAE também lhes pertence. Foi por isso que vários de nós tivemos dúvidasem apoiar inteiramente o relatório Rapkay.

Czesław Adam Siekierski (PPE), por escrito. – (PL) Estamos a chegar ao fim do trabalhodeveras tumultuoso sobre a forma que vai assumir o Serviço Europeu de Acção Externa,que hoje estamos prestes a votar. Falámos muito sobre desenvolvimento sustentável emtermos de género e de geografia e também muito sobre transparência do recrutamentocom base em regras e regulamentos pré-definidos, mas a questão mais importante é a desaber até que ponto o SEAE vai ser um serviço bom e eficaz, razão pela qual os critériosmeritocráticos são tão importantes quando se trata de recrutar pessoal. Gostaria de sublinharo requisito – de facto, a necessidade – de assegurar que participem nestes serviçosfuncionários das direcções da Comissão Europeia que são tematicamente pertinentes, bemcomo do Conselho e do Parlamento.

O que está em questão não é a representação de instituições europeias, mas a necessidadede essas pessoas possuírem as qualificações adequadas em diversas esferas das actividadesda UE, como sejam os aspectos complexos da energia, do comércio, da agricultura e outrasquestões, para já não falar dos direitos humanos ou do terrorismo. Preocupa-me que amaior parte das pessoas ligadas ao SEAE tenha competências na esfera diplomática emgeral, mas não esteja familiarizada com as complexas questões factuais com que terá delidar.

Róża Gräfin von Thun und Hohenstein (PPE), por escrito. – (PL) Abster-se de votarnão é solução. Os ausentes estão sempre errados. Penso que a resolução na sua globalidadecontém muito mais medidas boas do que medidas de menor valia. Precisamos do ServiçoEuropeu de Acção Externa, que deve iniciar os seus trabalhos o mais rapidamente possívelpor forma a aumentar a importância da Europa no mundo.

Na resolução que foi aprovada, diz-se que todos os Estados-Membros estarão representadosneste serviço. Agora, temos de velar por que isso suceda de facto, o que gerará confiançano processo de criação do Serviço de Acção Externa. Convém recordar que foi com basena confiança mútua que a União Europeia foi construída, facto de que a Polónia beneficiougrandemente. Irei acompanhar de perto este processo.

Rafał Trzaskowski (PPE), por escrito. – (PL) Há um ano apenas, a introdução do conceitode equilíbrio geográfico no debate sobre o Serviço Europeu de Acção Externa foi objecto

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de uma enorme oposição, mesmo vinda do interior do Parlamento Europeu. Hoje ninguémtem a menor dúvida de que isso é um problema e de que tem de ser resolvido. Ocompromisso encontrado em todos os documentos mais importantes relacionados como SEAE no sentido de tomar medidas para garantir uma igual representação de todos osEstados-Membros da União Europeia no novo serviço diplomático da União é um êxito.A revisão prevista para 2013 permitir-nos-á julgar se essas medidas foram tomadas.

Traian Ungureanu (PPE), por escrito. – (EN) Os resultados da votação do relatório Rapkaydemonstram que um número considerável de eurodeputados dos novos Estados-Membrosse absteve ou votou contra. Eu fui um dos eurodeputados que se abstiveram. A minhaprincipal preocupação foi a falta de ambição revelada no relatório na formulação doprincípio do equilíbrio geográfico no âmbito da política de emprego e do pessoal do futuroServiço Europeu de Acção Externa (SEAE). O relatório não apresentou um compromissojuridicamente vinculativo relativamente ao equilíbrio geográfico no SEAE, limitando-seassim a confiar apenas em promessas políticas feitas por decisores-chave da UE em matériade assuntos externos. Foi por isso que a maior parte dos novos Estados-Membros não ficoutranquila no que respeita à aplicação devida do princípio do equilíbrio geográfico no futuroSEAE. É lamentável que o relator optasse por uma linha tão minimalista, ao mesmo tempoque a relutância do Conselho em aceitar explicitamente esse compromisso vinculativosuscita ainda maior preocupação. Solicito ao Conselho e à Comissão que analisem de pertoo resultado da votação deste relatório e cumpram as promessas de respeitar o princípiodo equilíbrio geográfico aquando do recrutamento do futuro pessoal do SEAE. O controloatento deste processo no futuro será uma das prioridades dos eurodeputados.

Relatório: Roberto Gualtieri, László Surján (A7-0283/2010)

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por concordar que é crucial que a UE possa utilizar a totalidade dosseus instrumentos externos no âmbito de uma estrutura coerente, e que a provisão derecursos orçamentais em 2010 para estabelecer essa estrutura, na sua fase inicial, constituia finalidade política do presente relatório.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei contra o relatório, que se refereao Serviço Europeu de Acção Externa criado com base no Tratado de Lisboa. A ajudafinanceira e qualquer outro tipo de ajuda a este serviço é inaceitável, porque ele mobilizarecursos políticos e militares para acções inadequadas ao abrigo da política externa daUnião, que resultam em última análise na continuação da militarização da União Europeia.Ao mesmo tempo, afasta a Europa do papel independente e pacífico que deveriadesempenhar na resolução de problemas internacionais, o que faz dela parte da tensão euma força que participa em intervenções militares geradoras de divisão em zonas de guerra.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Torna-se necessário adequar os instrumentos orçamentaisà nova realidade que constitui o Serviço Europeu de Acção Externa. Creio, portanto, queos esforços desenvolvidos para assegurar uma dotação adequada às suas competências euma acção eficiente e eficaz de acordo com o pretendido, bem como um controlo efectivodas suas despesas, são amplamente justificados.

Os primeiros tempos de efectiva existência do Serviço Europeu de Acção Externa deverãoser alvo de especial atenção por parte das instituições europeias e dos Estados-Membros,de modo a poderem monitorizar devidamente a sua acção e identificarem os seus principaisproblemas.

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José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Esta proposta de orçamento rectificativoimpõe-se no âmbito da concretização do Tratado de Lisboa, de forma a viabilizar aimplementação e o funcionamento do Serviço Europeu de Acção Externa. É, por isso, umainiciativa que apoio e que importa assegurar, dentro dos princípios da gestão eficiente dosrecursos europeus, realçando a boa relação entre o custo e o benefício, assim comoimperativos de contenção orçamental por força do impacto da crise económica sobre asfinanças públicas.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − O nosso voto contra este relatório, que representaum passo mais dado no sentido da constituição e operacionalização do Serviço Europeude Acção Externa (SEAE), constitui uma posição coerente com a nossa oposição à criaçãodeste serviço. Ponto central do Tratado de Lisboa e peça fundamental do federalismo naUnião Europeia, vai envolver mais de cinco mil pessoas nas futuras 130 embaixadas daUE nos diversos países do mundo.

Uma mega-estrutura diplomática que inevitavelmente subalternizará as representações einteresses dos Estados-Membros, sobrepondo-lhes, também aqui, os interesses das potênciasque têm determinado o rumo da UE. Além do mais, não está assegurada a não ligação doSEAE a estruturas militares e de informações secretas. Perspectiva-se, por isso, umainquietante militarização da UE e das relações internacionais, que vigorosamentecombatemos.

Cabe igualmente perguntar, num orçamento extremamente reduzido como é o da UE, deonde virão as contribuições para fazer face a esta despesa? Tudo isto num momento emque se agudizam os efeitos da crise, com as políticas ditas "de austeridade", em que se colocauma enorme pressão sobre os orçamentos nacionais, se corta nos salários e nas prestaçõessociais e se aumentam os impostos sobre os rendimentos do trabalho.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Após a alteração do Estatuto dos Funcionários e umamodificação do Regulamento Financeiro para se enquadrar nesses documentos a criaçãodo Serviço Europeu de Acção Externa, é necessário agora aprovar um orçamento para oseu bom funcionamento. Assim, e para que este serviço funcione de forma adequada econsiga concretizar os objectivos para o qual foi criado, é preciso dotá-lo de um orçamentoque seja suficiente para o dotar dos meios materiais e humanos necessários para o bomdesempenho da sua actividade.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito. – (ES) Votei contra a presente resolução legislativado Parlamento Europeu, porque a criação do serviço que pretendem financiar representamais um passo no sentido da militarização da política externa da União Europeia. Paraalém da minha oposição a esta filosofia militarista dos assuntos externos, a minha razãopara votar contra é o facto de os princípios mais elementares de transparência e democraciaterem estado ausentes em todo o processo de criação do Serviço Europeu de Acção Externa(SEAE). A organização e o financiamento deste serviço não têm em conta o necessáriocontrolo rigoroso dos recursos humanos e do financiamento por parte do ParlamentoEuropeu, o que significa que há uma falta preocupante de democracia e transparência noSEAE. Portanto, não é surpresa que a estrutura proposta para o SEAE relegue o ParlamentoEuropeu para uma posição secundária e irrelevante na política externa da UE, o que eu eo meu grupo rejeitamos liminarmente. Por isso, votei contra. Não posso ser a favor dosorçamentos propostos para este tipo de serviço com as suas tendências militaristas.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) Certamente, não será necessário considerar aforma exacta do Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE) que irá ser estabelecida. Um

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sistema em que cada um dos 50 directores-gerais teria inicialmente 30 membros do pessoale a seguir 80 equivaleria a uma administração sobredimensionada e dispendiosa.

Da mesma forma, a criação do SEAE deverá trazer consigo uma onda de promoções.Algumas questões ainda não foram suficientemente esclarecidas. Os possíveis efeitos noscustos de construção devem ser sujeitos a controlo prévio. Outros factores, tal como darrealmente a importância apropriada ao alemão como língua de trabalho, conforme previstonos tratados, têm sido ignorados. Por estas razões, penso que, na sua forma actual, ofinanciamento do SEAE deve ser rejeitado.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por concordar que é crucial que a UE possa utilizar a totalidade dosseus instrumentos externos no âmbito de uma estrutura coerente, e que a provisão derecursos orçamentais em 2010 para estabelecer essa estrutura, na sua fase inicial, constituia finalidade política do presente relatório.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) A criação do Serviço Europeu deAcção Externa (SEAE) exige uma alteração ao orçamento de 2010 e ao orçamento propostopara 2011. Tem de ser criada uma nova Secção X no orçamento e o orçamento de 2010tem de ser alterado para proporcionar 100 postos de trabalho adicionais no quadro dopessoal do SEAE e um envelope financeiro para o financiamento de 70 agentes contratuaisadicionais. A maior parte dos recursos necessários será simplesmente transferida das secçõesdo Conselho Europeu, do Conselho e da Comissão. O sentimento predominante naComissão dos Assuntos Externos (AFET) é que a Alta Representante Catherine Ashton nãocumpriu inteiramente as promessas que fez ao Parlamento Europeu sobre a criação doSEAE. A AFET considera que o PE deveria ser consultado sobre as prioridades do pessoaldeste serviço (por exemplo, no que se refere aos equilíbrios geográficos) e que a questãodo equilíbrio de género seria mais bem tratada no âmbito do processo de recrutamentopara o SEAE. Do ponto de vista do Grupo VERTS/ALE, o facto de a Senhora BaronesaAshton não ter transferido até agora o pessoal da Comissão afecto à DG RELEX, que lidacom a construção da paz e a resposta a crises, para o SEAE é considerado uma lacunaimportante, especialmente porque a AR transmitiu mensagens em que garantia aoParlamento Europeu esta transferência.

Relatórios: Ingeborg Gräßle, Crescenzio Rivellini (A7-0263/2010), Bernhard Rapkay(A7-0288/2010), Roberto Gualtieri, László Surján (A7-0283/2010)

Bruno Gollnisch (NI), por escrito. – (FR) Nós opomo-nos firmemente à criação de umServiço Europeu de Acção Externa. Os negócios estrangeiros e a diplomacia estão sobsoberania nacional e é por isso que votámos contra todos os relatórios sobre esta matéria.

Uma política externa comum conduzida no interesse exclusivo da União Europeia iráforçosamente, mais cedo ou mais tarde, entrar em contradição com os interessesfundamentais de um, vários ou todos os Estados-Membros. Por exemplo, se houver umconflito em que os países são convidados a participar, mas a que os seus cidadãos se opõem.Ou se uma política particularmente hostil ou particularmente favorável a um país ou grupode países for promovida, indo contra as antigas tradições de alguns serviços diplomáticosou contra os interesses vitais de alguns Estados-Membros.

Pior ainda: os tratados já estipulam que, aconteça o que acontecer, tudo isto estará sujeitoa outros compromissos ou constrangimentos numa escala ainda maior, possivelmenteglobal: a NATO, as Nações Unidas, sabe-se lá que mais. Portanto, nem sequer é um serviço

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diplomático forte e independente que está aqui a ser proposto, mas antes um instrumentode submissão à liderança não europeia.

Relatório: László Surján (A7-0281/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Tendo em consideração que a repartição anualpara assistência financeira para as medidas de acompanhamento no sector das bananasteve um montante de 75 milhões de euros em 2010, em que a parte mais importante destaassistência financeira proveio de uma reafectação da rubrica 4 do orçamento, quecorrespondia a 55,8 milhões de euros, e que, em 2011, esta rubrica é de apenas 875 530euros, concorda-se com a proposta do PE de convidar a Comissão a apresentar uma novaproposta de mobilização do Instrumento de Flexibilidade para a parcela restante de 74124 470 euros. Esta proposta justifica-se pelo facto de haver necessidade de assistênciafinanceira às medidas de acompanhamento no sector das bananas, especialmente seconsiderarmos que a assistência financeira da UE aos países ACP fornecedores de bananas,afectados pela liberalização decorrente do estatuto de nação mais favorecida no âmbitoda OMC, deve ser garantida se a UE deseja manter a sua influência como actor global.Devemos mencionar ainda que faz todo o sentido viabilizar esta proposta, tendo em contaque estas medidas estão previstas no ponto 27 do Acordo Interinstitucional relativo àutilização do Instrumento de Flexibilidade.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por concordar que a assistência financeira da UE aos países ACPfornecedores de bananas, afectados pela liberalização decorrente do estatuto de nação maisfavorecida no âmbito da OMC, não deve ser questionada e que o esforço orçamental nãodeve ser adiado. Concordo, portanto, com a proposta da Comissão que propõe umaalteração ao Regulamento (CE, Euratom) n.º 1905/2006 destinada a permitir ofinanciamento das medidas de acompanhamento no sector das bananas durante os anosde 2010 a 2013, com um orçamento global de 190 milhões de euros, e, eventualmente,10 milhões de euros suplementares, se as margens o permitirem.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) O sector das bananas é um sector vitalpara algumas regiões da UE, especialmente para os departamentos e territórios francesesultramarinos; esta é a razão pela qual, face à concorrência de países latino-americanosagravada por acordos em negociação, o Parlamento aprovou o financiamento de medidasdestinadas a ajudar este sector enfraquecido.

Os deputados gostariam de ver o instrumento de flexibilidade mobilizado num montantede 74,12 milhões de euros. Este é um forte sinal do Parlamento à Comissão e ao Conselho,que previram apenas um financiamento de 18,3 milhões. Da mesma forma, é umaoportunidade para o Parlamento salientar que é hora de pôr fim à utilização do orçamentopara a acção externa da UE financiar as medidas de acompanhamento no sector das bananas.Os 190 milhões de euros em ajuda prometida para o período 2010-2013 terão de serfinanciados por fundos novos, que o Parlamento irá exigir nas novas PerspectivasFinanceiras.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − A Comissão propõe uma alteração aoRegulamento (CE, Euratom) n.º 1905/2006 para financiar as medidas de acompanhamentono sector das bananas durante os anos de 2010 a 2013, com um orçamento global de 190milhões de euros. A repartição anual proposta prevê um montante de 75 milhões de eurosem 2010. Note-se que a margem disponível na rubrica 4 é de apenas 875 530 euros. Aparte mais importante desta assistência financeira em 2010 provém de uma reafectação

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dentro da rubrica 4 do orçamento (55,8 milhões de euros do total de 75 milhões de euros)que afecta instrumentos e acções que a UE e, particularmente, o Parlamento Europeudefiniram como sendo de grande interesse. Para além disso, a necessidade de assistênciafinanceira ligada às medidas de acompanhamento no sector das bananas não foi previstaao adoptar o quadro financeiro plurianual em vigor. No entanto, a assistência financeirada UE aos países ACP fornecedores de bananas, afectados pela liberalização decorrente doestatuto de nação mais favorecida (NMF) no âmbito da OMC, não deve ser questionada eo esforço orçamental não deve ser adiado. Por isso, concordo com a alteração do projectode orçamento rectificativo n.º 3/2010 conforme proposta pelo relator.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − O relatório pretende estabelecer as medidasnecessárias para a assistência financeira aos países ACP que irão ser afectados pelaliberalização do comércio de bananas entre a UE e onze países da América Latina, no quala UE se compromete a não aplicar restrições quantitativas ou medidas de efeito equivalenteà importação de bananas no seu território.

Aquando da celebração do Acordo de Genebra, que prevê esta liberalização, a UEcomprometeu-se a canalizar 200 milhões de euros para os países ACP, como forma decompensação pelo impacto que esta medida teria nas suas exportações para a UE. Na altura,criticámos este acordo, que beneficiará fundamentalmente as multinacionaisnorte-americanas que dominam o mercado mundial do sector.

Diversos países ACP, bem como diversos produtores de bananas desses países, manifestarama sua preocupação perante as consequências do acordo, considerando que o valor de 200milhões de euros não compensará todos os impactos dele decorrentes. Agora, o relatórioprevê um orçamento global de 190 milhões de euros, e, eventualmente, 10 milhões deeuros suplementares, se as margens o permitirem. Ademais, não foram convenientementeacautelados os impactos sobre os países e regiões produtoras de banana da UE, como é ocaso da Região Autónoma da Madeira. Por estas razões, abstivemo-nos na votação dorelatório.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. – (IT) A proposta de resolução do Parlamento Europeusobre a posição do Conselho relativa ao projecto de orçamento rectificativo n.º 3/2010da União Europeia para o exercício de 2010, Secção III - Comissão, atribui novos recursospara financiar as medidas de acompanhamento no sector das bananas para os países ACP(África, Caraíbas e Pacífico). A proposta da Comissão foi efectivamente elaborada sem oenvolvimento de nenhum ramo da autoridade orçamental e prevê uma dotação de 75milhões de euros, a serem inscritos na reserva, enquanto se aguarda a aprovação docorrespondente regulamento de alteração. Devo salientar que o Parlamento e o Conselhonão chegaram a um acordo sobre esta matéria. O Parlamento tinha, de facto, consideradoutilizar o Instrumento de Flexibilidade, que se revelou excelente para lidar com situaçõessemelhantes, porque os fundos em questão podem ser imediatamente mobilizados e têmfundamento jurídico. O Conselho, por outro lado, teve uma ideia diferente devido àrelutância dos Estados-Membros em utilizar o Instrumento de Flexibilidade, o que levouconsequentemente a um aumento nas suas contribuições. Por estas mesmas razões, aComissão dos Orçamentos reconheceu a impossibilidade de chegar a um acordo sobre oorçamento de 2010.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A UE sempre se preocupou em ajudar os países emdesenvolvimento, nomeadamente os países ACP. No caso concreto que é tratado nestaproposta de orçamento rectificativo, os países ACP produtores de bananas. Esta ajuda

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extraordinária vem no âmbito da liberalização do comércio de bananas entre a UE e 11países da América Latina produtores de bananas. Esta forma de ajuda é, na nossa opinião,melhor e mais eficaz do que a ajuda directa com fundos, para serem aplicados sem critério.Ao ajudarmos o sector das bananas nestes países, estamos a ajudá-los a desenvolver a suaeconomia, a criar postos de trabalho e a combater a pobreza.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) O plano para superar a crise económica consisteem disponibilizar tanto dinheiro quanto possível para financiar as prioridades da UE para2010. Isto foi possível através da reafectação de recursos do orçamento. O apoio financeiropara medidas de acompanhamento no sector das bananas não foi previsto quando o actualquadro financeiro plurianual foi elaborado.

Para amortecer a liberalização do comércio a nível da OMC e a consequente redução nosdireitos aduaneiros sob o estatuto das nações mais favorecidas, fomos informados de queo apoio financeiro da UE aos países ACP que fornecem bananas irá agora ser mantido.Principalmente em tempos em que a própria UE luta contra a crise económica, esse tipode utilização do Instrumento de Flexibilidade deve ser rejeitado.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) Devido à mudança nos acordoscomerciais, nomeadamente a liberalização do comércio no âmbito da OMC, a redução damargem preferencial para os países ACP exportadores de bananas teve um impacto negativo.

A Comissão Europeia propõe, por conseguinte, apoiar os principais países ACP exportadoresde bananas, criando as medidas de acompanhamento no sector das bananas (BAM), comum orçamento de 190 milhões de euros ao longo de 4 anos (2010-2013). O objectivodesta assistência é ajudar os países ACP exportadores de bananas a lançar programas deajustamento. Embora a questão das bananas remonte a longa data, o financiamento dasBAM continua a ser problemático.

A Comissão e o Conselho não o integraram na rubrica 4 do quadro financeiro plurianual(QFP) para 2007-2013, e a Comissão do Desenvolvimento considera que a proposta nãoé compatível com o limite máximo da rubrica 4 do QFP e solicita à Comissão alteraçõessubstanciais ou a substituição por outro texto.

Projecto de Orçamento Geral da União Europeia para o exercício de 2011

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Congratulo-me com a proposta deorçamento para 2011, que hoje se discute, por contemplar, exactamente, as prioridadesenunciadas. Pela primeira vez, o Parlamento está em pé de igualdade com o Conselhonestas matérias. Este é o primeiro orçamento depois do Tratado de Lisboa. Por esta razão,e pela situação de crise que a Europa atravessa, será importante que o processo deconciliação seja bem sucedido. É fundamental que a UE seja dotada de um orçamento paraa concretização das áreas prioritárias e das novas competências atribuídas pelo Tratado.É importante lutarmos pelas nossas convicções e por um orçamento que seja visionárioem tempos de crise. A proposta do Parlamento reflecte esta ambição. Por outro lado, osvalores propostos pelo Conselho reproduzem a austeridade dos orçamentos adoptados anível nacional na UE. No entanto, a UE deve ter a capacidade de reagir às mudanças depolíticas provocadas pelos grandes desafios. A UE tem o dever de apresentar um orçamentoeuropeu ambicioso que contribua para a recuperação económica. Só através do reforçode áreas como a ciência e inovação, que contribuem para o crescimento económico e paramais e melhor emprego, poderemos tornar a Europa um lugar mais atractivo para viver etrabalhar.

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Ole Christensen, Dan Jørgensen, Christel Schaldemose e Britta Thomsen (S&D),por escrito. – (DA) Nós, sociais-democratas dinamarqueses no Parlamento Europeu, votámosa favor das alterações 700, 701 e 706 ao orçamento. Fizemo-lo, embora as observaçõescontenham uma passagem em que se afirma que a UE deve avançar na direcção de umaeconomia de baixo carbono. Estamos bem conscientes de que os defensores da energianuclear estão a tentar utilizar esse termo para esconder o facto de que estão na verdade areferir-se a uma economia em que a energia nuclear desempenha um papel de destaquecomo fonte de energia. Gostaríamos de salientar que acreditamos que é uma péssima ideiagastar os recursos da UE em energia nuclear e é com esta ressalva que votámos a favor daalteração.

Anne E. Jensen (ALDE), por escrito. – (DA) Na votação do orçamento da UE de 2011, oPartido Liberal Dinamarquês votou contra uma série de alterações relativas à retirada dedinheiro das restituições à exportação. As despesas das restituições à exportação sãodeterminadas por lei e, portanto, devem ser pagas independentemente do montanteespecificado no orçamento. No entanto, se a despesa não estiver especificada no orçamentoda UE, terá de ser suportada pelos Estados-Membros. Numa altura em que os orçamentosnacionais estão a sofrer cortes, seria economicamente irresponsável sobrecarregar osEstados-Membros com esta significativa despesa adicional. O Partido Liberal Dinamarquêscongratula-se com a considerável redução dos subsídios à exportação da UE nos últimosanos e continuará a trabalhar para trazer uma mudança à legislação subjacente, de modoa que a redução gradual possa continuar. O Partido Liberal Dinamarquês também votoucontra uma declaração que impede o pagamento de um prémio especial aos bovinosmachos para os touros utilizados em toureio.

O Partido Liberal Dinamarquês votou contra esta proposta, porque este prémio é pagoapenas na Dinamarca, Suécia e Eslovénia, onde, como bem sabemos, não há touradas.Finalmente, o Partido Liberal Dinamarquês votou contra a atribuição de 300 milhões decoroas dinamarquesas a um fundo europeu do leite. Os preços dos produtos lácteosaumentaram ao longo do ano passado e, neste contexto, a Comissão concluiu que, comas regras actuais, não será possível utilizar dinheiro deste fundo.

Véronique Mathieu (PPE), por escrito. – (FR) Votei a favor da alteração ao orçamentoque inscreve na reserva uma parte do orçamento de 2011 para a Academia Europeia dePolícia (CEPOL). Congratulo-me com a votação em plenário, a qual, com 611 votos a favor,38 contra e 6 abstenções, reforça a posição do Parlamento Europeu sobre a CEPOL. Comefeito, o Parlamento desbloqueará as dotações previstas se receber informações satisfatóriasda agência sobre o seguimento dado à quitação pelo exercício de 2008.

Estes requisitos são claros: informar o Parlamento sobre os resultados do inquérito doOLAF, publicar a lista de membros do Conselho de Administração, fornecer o relatóriofinal de um auditor externo sobre as dotações utilizadas para financiar despesas privadase assegurar que são realizadas mudanças no Conselho de Administração a fim de evitaruma repetição desta situação no futuro. Espero sinceramente que a CEPOL respondarapidamente e forneça provas da sua vontade de cooperar plenamente com o Parlamento.

Marit Paulsen, Olle Schmidt e Cecilia Wikström (ALDE), por escrito. – (SV) UmaEuropa forte e moderna necessita de um orçamento orientado para o futuro e o crescimento,enquanto, ao mesmo tempo, a situação económica exige reflexão e contenção. Optámos,assim, por manter uma rubrica orçamental restritiva, com enfoque em investimentosdiversificados em investigação, desenvolvimento e inovação, que promovem crescimento

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e empregos, de acordo com a Estratégia Europa 2020. Uma vez que desejamos uma Europasustentável do ponto de vista da economia, das questões sociais e do clima, votámos afavor de investimentos no ambiente, no capital humano e no controlo dos mercadosfinanceiros, mas sempre dentro dos limites dos recursos existentes.

Uma proporção injustificadamente grande do orçamento é ainda utilizada na políticaagrícola da UE e os desafios de amanhã não serão atingidos pela aplicação de políticas dopassado. Por isso, votámos contra o proposto fundo dos lacticínios no valor de 300 milhõesde euros e a nossa própria proposta para abolir os subsídios à exportação da UE para osprodutos agrícolas, por exemplo, bem como os subsídios para o cultivo do tabaco. Já quetodos têm de fazer a sua parte nestes tempos de dificuldades económicas, também votámosa favor da redução dos custos de administração da UE.

Relatório: Sidonia Elżbieta Jędrzejewska, Helga Trüpel (A7-0284/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − O contexto de frágil recuperação na zona euro ede fracas finanças públicas em muitos Estados-Membros, o orçamento utilizado de formasensata pode estabilizar e estimular a recuperação da economia, embora haja que saberaproveitá-lo. No que respeita aos cidadãos, nota-se o aumento na rubrica "competitividadea favor do crescimento e emprego" e igualmente na rubrica "coesão para o crescimento eemprego", embora se verifique uma redução no que respeita à educação e formação.Salienta-se o aumento no FSE, mas lamenta-se que apenas 1,4% das dotações sejamconsagradas à aplicação de uma política social, em que o sector da saúde tem uma reduçãode 15,77 milhões de euros relativamente a 2010. No domínio do desenvolvimento regional,há um aumento na ordem dos 3,2%, o que se considera fundamental. No que respeita àagricultura, há que recordar a extrema volatilidade do sector leiteiro, realçando-se anecessidade de uma abordagem permanente para enfrentar esta questão, nomeadamenteatravés de um fundo para o sector do leite. Já no que diz respeito às pescas, verifica-se umaredução dos montantes destinados à PCP, o que se considera lamentável.

Charalampos Angourakis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) O orçamento da UE para 2011foi concebido com o fim de sustentar a rentabilidade das grandes empresas e o ataqueselvagem pelos monopólios e pelos governos burgueses ao trabalho e aos direitos sociaisdos trabalhadores. Prevê ainda mais "dinheiro quente", subsídios e facilidades para gruposmonopolistas, além dos cerca de 5 biliões que foram já concedidos aos governos burguesesnacionais, para reforçar a sua posição na competição inexorável entre os imperialistas,com uma perspectiva clara de reavivar o sistema capitalista. A sua abordagem básica é, porum lado, conceder dinheiro ao capital e, por outro, cortar quaisquer gastos - já de siinsignificantes - com os trabalhadores, com as pequenas empresas comerciais e deartesanato, com as explorações agrícolas de média dimensão com pobres recursos e comos jovens, para proporcionar ainda mais dinheiro à intervenção imperialista da UE e aosmecanismos que esta utiliza para reprimir e perseguir as pessoas.

O primeiro orçamento aprovado pelo Parlamento Europeu, com os seus poderesalegadamente reforçados pelo Tratado de Lisboa, é digno do seu carácter reaccionário. Issoprova mais uma vez que o Parlamento Europeu está a servir fielmente as necessidades e osinteresses dos monopólios e é profundamente hostil aos trabalhadores e às necessidadesdo povo. O movimento da classe trabalhadora e popular tem de intensificar a sua luta,para que os trabalhadores não paguem o preço da crise capitalista.

Liam Aylward, Brian Crowley e Pat the Cope Gallagher (ALDE), por escrito. – (GA)Nos últimos anos, tem havido uma crescente volatilidade nos mercados internacionais de

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produtos lácteos. O financiamento excepcional no valor de 300 milhões de euros, concedidoao sector dos lacticínios no orçamento de 2010, foi especialmente benéfico para osprodutores de leite, que estavam a ser bastante afectados pela crise. Votámos a favor deuma nova rubrica orçamental para estabelecer um fundo do leite e dos produtos lácteosde apoio à inovação, diversificação e reestruturação e para aumentar a capacidade denegociação dos produtores de leite, de modo a combater os desequilíbrios na cadeiaalimentar. Além disso, congratulo-me com as declarações do relatório sobre o apoio dadoao regime de distribuição de leite nas escolas e com a proposta da Comissão relativa aoaumento do financiamento deste regime e do regime de distribuição de fruta nas escolas.

O objectivo da política agrícola comum consiste em garantir a segurança do abastecimentoalimentar, proteger o ambiente e a biodiversidade e assegurar um rendimento adequadoaos agricultores. Neste contexto, congratulamo-nos com o apelo do relatório para que aComissão inclua uma reserva no orçamento de 2011 a fim de evitar o aumento davolatilidade dos mercados em 2011, reduzir a burocracia e melhorar e clarificar o acessoao financiamento.

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Concordo com os colegas que não apoiam asreduções do orçamento propostas pelo Conselho. O melhor argumento contra isto é asituação dos Estados-Membros que tomaram estas medidas a nível nacional. Refiro-me,em particular, à Roménia. A pressão exercida para restringir o consumo não nos tirou dacrise, mas criou realmente uma tensão social sem precedentes. Concordo, por isso, como aumento de 300 milhões de euros no fundo do leite. Adoptei a mesma postura de apoioa dotações financeiras suplementares para este produto, durante todo o período da criseeuropeia. Apoio totalmente a ideia do mecanismo europeu de estabilização e a necessidadede as duas novas rubricas orçamentais criadas serem específicas e incluírem números, aocontrário do caso actual, para que este instrumento de intervenção europeia se possa tornaruma realidade e não apenas uma teoria. Espero que esse ponto de vista do Parlamento sejarespeitado durante a conciliação, que um acordo seja alcançado com o Conselho e que nósem Novembro possamos dizer "sim" ao orçamento da UE para 2011.

Zuzana Brzobohatá (S&D), por escrito. – (CS) Pela primeira vez na sua história, oParlamento Europeu debateu o projecto de orçamento geral da União Europeia para 2011de acordo com as novas regras do Tratado de Lisboa. Uma série de alterações que o plenáriodo Parlamento Europeu levou a cabo mostram claramente que o grau de controlo e ofuncionamento democrático da União Europeia aumentaram. Tendo em conta a melhoriados procedimentos democráticos, e também tendo em conta a estrutura do orçamento,apoiei esta proposta.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por concordar com as prioridades horizontais do PE para o orçamentode 2011, os domínios da juventude, da educação e da mobilidade, que requerem, no âmbitodas várias políticas, investimento específico intersectorial como meio de promover ocrescimento e desenvolvimento da UE. Concordo com o aumento proposto nas dotaçõespara todos os programas relacionados com essas prioridades, a saber, os programasAprendizagem ao Longo da Vida, Pessoas e Erasmus Mundus. Concordo igualmente quea mobilidade de emprego dos jovens é um instrumento essencial para garantir odesenvolvimento de um mercado de trabalho competitivo e dinâmico na Europa e, comotal, precisa de ser reforçada. Sou favorável ao aumento das dotações para o Serviço deEmprego Europeu e apoio vivamente, para este fim, o lançamento da acção preparatória"O teu primeiro emprego EURES", que tem como objectivo ajudar os jovens a entrarem

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no mercado de trabalho ou a acederem a empregos especializados noutro Estado-Membro,como primeira etapa para um programa específico não académico de mobilidade dosjovens.

Françoise Castex (S&D), por escrito. – (FR) Este orçamento não corresponde àquilo quea União Europeia necessita para sair da recessão, para promover a recuperação e enfrentaras suas responsabilidades em termos de solidariedade. A este respeito, lamento que aproposta do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no ParlamentoEuropeu, para a criação de uma linha de "recursos próprios" financiada por um impostosobre transacções financeiras, tenha sido pura e simplesmente rejeitada pelo Grupo doPartido Popular Europeu (Democratas-Cristãos). Esta incoerência entre o que a direita dize faz é escandalosa, uma vez que tem vindo a defender há meses o apoio a este impostoperante os cidadãos e os meios de comunicação. No entanto, quando se trata de votar, equando o Parlamento Europeu tem o poder para fazer acontecer, essas são as mesmaspessoas que querem ver esta proposta enterrada. Embora a UE esteja a expandir-se e cadavez mais poderes lhes estejam a ser confiados, os recursos à sua disposição estão a diminuir.Este é um mau sinal para a recuperação do crescimento e do emprego na Europa, em geral,e para os cidadãos europeus, em particular.

Anna Maria Corazza Bildt, Christofer Fjellner, Gunnar Hökmark e Anna Ibrisagic(PPE), por escrito. – (SV) Gostaríamos que as prioridades da UE para o orçamento seconcentrassem mais no futuro, no aumento da competitividade e em investimentos eminfra-estruturas e investigação, em vez do apoio à política agrícola. Hoje fomos fiéis àsnossas prioridades, votando a favor da segurança jurídica, do aumento das dotações paraa investigação e de mais fundos para medidas climáticas, mas também a favor de umaredução das dotações para os subsídios à agricultura e às exportações, bem como para ocultivo do tabaco e os fundos de lacticínios. Apesar de não conter todas as prioridades quegostaríamos de ver contempladas, votámos, naturalmente, a favor do orçamento da UEpara 2011.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) Acabámos de aprovar o orçamento de2011 que o Parlamento Europeu desejava. Esta votação permitiu-nos reafirmar as nossasprioridades em relação aos mais pobres, para quem um pacote de 100 milhões de eurosfoi solicitado, e também para os produtores de leite, para quem desejávamos a continuaçãodo fundo dos lacticínios.

As empresas em dificuldades também devem continuar a receber apoio do Fundo Europeude Ajustamento à Globalização, que deveria ser permanente e dispor de um orçamentopróprio. Por último, gostaríamos que o orçamento europeu fosse dotado de recursospróprios e que um imposto sobre transacções financeiras fosse finalmente introduzido.

Christine De Veyrac (PPE), por escrito. – (FR) Numa altura em que os Estados, os órgãosde poder local, os contribuintes e as empresas aceitam fazer sacrifícios financeiros, a Uniãonão pode eximir-se deste processo virtuoso. Um aumento desmesurado do orçamento daUnião, desejado por alguns, não é aceitável. Isso não significa que chegou o momento decortar nas despesas estrategicamente essenciais, como a política agrícola comum, graçasà qual dispomos de autonomia alimentar e beneficiamos de uma fonte de exportações (e,portanto, de receitas).

Por outro lado, seria uma boa altura para nos questionarmos sobre as derrogações depagamento de que, por razões históricas, alguns Estados beneficiam, e que não têm razão

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de existir actualmente. A ideia de um imposto europeu não pode ser encarada no contextoactual: convém, primeiro, diminuir a pressão fiscal que incide sobre os Estados-Membros.

Philippe de Villiers (EFD), por escrito. – (FR) O Parlamento Europeu pronunciou-se sobreo projecto de resolução legislativa relativa à posição do Conselho sobre o projecto deorçamento geral da União Europeia para o exercício de 2011.

A análise, pelo Parlamento Europeu, do orçamento geral da União Europeia constituiusempre uma oportunidade para ver mais claramente como os poderes desta União se foramampliando ao longo dos anos e, inversamente, como a soberania dos Estados-Membrosse foi perdendo.

Este relatório é revelador da pressão fiscal que será exercida sobre os contribuintes. Apesarde a desilusão dos cidadãos com a União Europeia ser evidente, esta última está, ainda, aaumentar o seu orçamento em 6% para financiar as políticas que se arrogou estabelecer.Porquê este aumento, quando 10% a 15% dos recursos não são utilizados e a Comissãoexige rigor em todos os Estados-Membros?

Diane Dodds (NI), por escrito. – (EN) Considero inaceitável qualquer proposta de aumentodo orçamento da UE, pois não consigo justificar aos meus eleitores um aumento de cercade 6% das despesas da UE em 2011. O Ministro das Finanças do Reino Unido estápresentemente a delinear cortes drásticos no sector público – cortes que a UE instou osEstados-Membros a fazerem. No entanto, ao mesmo tempo, a mesma UE consideraadequado aumentar em 6% o seu orçamento. "Façam o que eu digo, não o que eu faço",parece ser a política oficial da UE, o que considero inaceitável.

Não poderia olhar os meus eleitores nos olhos, alguns dos quais irão certamente perderos seus postos de trabalho em consequência dos cortes nas despesas do Reino Unido, edizer-lhes que os eurodeputados gastaram sensatamente uma porção ainda maior do seudinheiro – lembremo-nos de que se trata do seu dinheiro –, aumentando os cofres do SEAE,da Europol e da autoridade de regulamentação dos serviços financeiros. E tão-poucopoderia, decididamente, justificar o aumento do orçamento destinado a acções deentretenimento. Por isso, votei contra este orçamento. Caberá a outros justificar a razãopor que o apoiaram.

Lena Ek (ALDE), por escrito. – (SV) Uma Europa forte e moderna requer um orçamentoorientado para o futuro e o crescimento, ao mesmo tempo que a situação económica exigereflexão e contenção. Optei, assim, por me manter fiel a uma abordagem orçamentalrestritiva, concentrando-me em amplos investimentos na investigação, no desenvolvimentoe na inovação que geram crescimento e criam emprego, em conformidade com a EstratégiaEuropa 2020. Porque quero uma Europa sustentável do ponto de vista económico, sociale climático, votei a favor dos investimentos no ambiente, nas pessoas e no controlo dosmercados financeiros, mas sempre dentro dos limites dos recursos existentes.

Uma grande parte do orçamento vai para a política agrícola da UE. Infelizmente, a actualestrutura da política agrícola comum raramente se centra na resposta aos desafios dofuturo. A vitalidade das zonas rurais é muito importante. No entanto, continuar com ossubsídios à exportação e as subvenções ao cultivo de tabaco não é o caminho correcto aseguir; é necessário, sim, que existam condições razoáveis para a produção alimentar naEuropa, uma protecção adequada dos animais e incentivos aos agricultores para queproduzam energia verde. Dado que todos têm de fazer a sua quota-parte nestes temposeconómicos difíceis, também votei a favor da redução dos custos administrativos da UE.

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Göran Färm, Anna Hedh, Olle Ludvigsson e Marita Ulvskog (S&D), por escrito. –(SV) Nós, sociais-democratas suecos, votámos hoje a favor do projecto de orçamento daUE para 2011. É um orçamento restritivo, mas também prevê os investimentos necessáriosna energia, na investigação, em iniciativas a favor dos jovens, além de permitir a criaçãodo novo Serviço de Acção Externa da UE e de novas autoridades de supervisão financeira.

No entanto, é também um orçamento em que muitas das novas prioridades da UE carecemde um financiamento razoável, por exemplo, a nova estratégia da UE para o crescimentoe o emprego (UE 2020), a política climática, a política externa da UE e a política de ajudaao desenvolvimento, nomeadamente a ajuda à Palestina.

A fim de restringir o orçamento, propusemos novos cortes nas ajudas agrícolas da UE,proposta que, no entanto, foi rejeitada na votação. Votámos também a favor de umareapreciação do sistema de recursos próprios da UE, incluindo a previsão de um impostosobre transacções financeiras. Independentemente da forma que um novo sistema dereceitas da UE possa assumir, este deverá manter a neutralidade orçamental e respeitar acompetência dos Estados-Membros em matéria fiscal.

No que diz respeito ao orçamento do próprio Parlamento, consideramos que é necessárioreforçar as comissões às quais se solicita um maior volume de trabalho por força do Tratadode Lisboa. Isto justifica um aumento de pessoal nos secretariados do Parlamento e dosgrupos. No entanto, não consideramos necessário um aumento do pessoal dos deputados.O Parlamento decidiu agora manter na reserva as dotações para um aumento do subsídiode assistência parlamentar, dotações que, todavia, não devem ser libertadas a menos quetodas as condições estejam reunidas. Teríamos preferido que os recursos do Parlamentofossem aumentados por via de uma redistribuição e de medidas para aumentar a eficiênciae não de um aumento do orçamento global.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − O orçamento comunitário é fundamental para odesenvolvimento das actividades da União Europeia e, em especial em tempos de crise,para a efectiva alocação de fundos relativos à política de coesão.

Considero que o Conselho não deverá reduzir arbitrariamente, como observadorelativamente a prioridades como as verbas alocadas à inovação, e com objectivos decrescimento e competitividade. O Conselho cortou 0,55% em dotações de autorização e2,77% em dotações de pagamento, aprovando um orçamento final de 141,8 mil milhõesde euros para dotações de autorização e 126,5 mil milhões de euros para dotações depagamento, o que poderá ser particularmente crítico se impactar o crescimento ecompetitividade europeus.

Assim, apoio a manutenção pelo Parlamento Europeu das verbas iniciais alocadas àquelasáreas.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Com a entrada em vigor do Tratado deLisboa, houve a supressão da distinção entre despesas obrigatórias (DO) e despesas nãoobrigatórias (DNO), o que significa que o PE e o Conselho passam a ser co-responsáveispor todas as despesas da UE, sobre as quais decidem conjuntamente. Além disso, o processoorçamental anual torna-se um processo legislativo especial (o orçamento é aprovadomediante um regulamento) passível de ser considerado um processo especial de co-decisãoou, para evitar confusões, uma decisão conjunta do PE e do Conselho. O orçamento queo Parlamento propõe para 2011 é ambicioso, inteligente, respeitador dos compromissosassumidos, rigoroso e realista. Assumimos como prioritárias as políticas relativas à

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juventude, educação, mobilidade, formação, investigação, competitividade e inovação.Destaco a acção preparatória "O teu primeiro emprego EURES", na qual estive pessoalmenteenvolvido, que vai favorecer a mobilidade dos jovens na União Europeia e permitir ocombate ao desemprego. Este orçamento continua a equivaler a cerca de 1% do rendimentonacional bruto. Fica claramente demonstrada a necessidade de revisão do Quadro FinanceiroPlurianual, dadas as escassas margens das suas rubricas, e nomeadamente das rubricas 1A,3B e da rubrica 4. Fica ainda bem evidente a urgência do debate em torno da necessidadede novos recursos próprios para o orçamento comunitário.

João Ferreira (GUE/NGL), por escrito. − Partilhamos as críticas feitas aos cortes e reduçõesarbitrárias efectuados pelo Conselho à proposta de orçamento, deixando-a cerca de 7 000milhões de euros abaixo do acordado no Quadro Financeiro Plurianual 2007-2013 (QFP)para 2011. Isto é tanto mais inaceitável quanto o estabelecido no QFP é já de si um valorextremamente exíguo, que compromete à partida qualquer objectivo de coesão económicae social e que acentua, por isso, os efeitos perniciosos das políticas que a UE vemprosseguindo.

Partilhamos, por isso, a opinião de que uma reapreciação substancial do orçamento éabsolutamente necessária, assim como uma revisão imediata dos limites máximos do actualQFP. Não podemos, contudo, aceitar que, partindo desta justa crítica, se queira "lisbonizar"o orçamento, como refere o relatório, mantendo-o ao serviço dos pilares matriciais doTratado de Lisboa - o neoliberalismo, o federalismo e o militarismo - ou seja, no fundo, aoserviço das mesmas políticas que geraram a profunda crise com que os trabalhadores e ospovos europeus estão hoje confrontados. O que é preciso, partindo do necessário reforçodo orçamento comunitário - com base em contribuições dos Estados-Membrosproporcionais ao seu RNB - é uma ruptura com estas políticas e uma aposta genuína nacoesão, no progresso social e na preservação do ambiente.

Bruno Gollnisch (NI), por escrito. – (FR) O Tratado de Lisboa entrou em vigor em 1 deDezembro do ano passado. Confere novas competências à União Europeia e, portanto,novas oportunidades para gastar dinheiro. Ninguém ou quase ninguém aqui tem a decênciade salientar que há algo de escandaloso em pedir um aumento dos recursos destinados àUnião Europeia ou a criação de um novo imposto, quando os Estados-Membros são instadosa pôr em prática políticas de austeridade e a reduzir a sua protecção social.

Em França, a Europa tem um custo directo enorme: 8 mil milhões de euros por ano, valorque tem vindo a aumentar constantemente. Ou seja, é responsável por grande parte dodéfice da segurança social, por exemplo. O custo indirecto é ainda maior – em termos dedesemprego, fraco crescimento, deslocalizações, etc. –, ligado às políticas europeias. Oorçamento comunitário não é complementar aos orçamentos nacionais, mas sim seuconcorrente e predador. Com os sistemas de co-financiamento das políticas estruturais,que não são mais do que uma distribuição clientelista de recursos, é também um incentivoà despesa. Circunstância agravante: desde há 15 anos que o Tribunal de Contas Europeunão pode aprovar a gestão destas dezenas de milhares de milhões de euros pela Comissão.Creio que é hora de acabar com tudo isto.

Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Apoiei a resolução do Parlamento Europeusobre o projecto de orçamento geral da UE para 2011. Se queremos ser capazes de assumiras prioridades políticas da União Europeia, as novas despesas tornadas necessárias pelacrise económica e as novas competências conferidas pelo Tratado de Lisboa, temos deapoiar um projecto de orçamento ambicioso, capaz de permitir os investimentos necessários

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à criação de mais emprego e ao regresso ao crescimento sustentável, ou, numa palavra,um orçamento que esteja à altura da Europa que queremos.

O Conselho desejaria reduzir o orçamento da União, pois os Estados têm de fazer face adéfices consideráveis. Por isso, introduzimos uma nova rubrica orçamental para os recursospróprios da União, para que o orçamento não dependa tão fortemente das contribuiçõesnacionais. Lamentamos que a alteração que apela à criação de um imposto sobre astransacções financeiras tenha sido, uma vez mais, rejeitada pela direita.

Elisabeth Köstinger (PPE), por escrito. – (DE) Apoio as propostas do Parlamento Europeupara o projecto de orçamento para 2011. Os domínios políticos importantes e os váriospareceres foram tidos em conta no relatório. O Parlamento reconhece que, no futuro, aUnião Europeia não poderá cumprir as suas amplas e variadas tarefas com menos recursosfinanceiros. Isso aplica-se sobretudo à agricultura. O parecer da Comissão da Agriculturae do Desenvolvimento Rural sobre o orçamento de 2011 já expressava a preocupação deque as premissas da Comissão sejam demasiado optimistas no que diz respeito aoplaneamento e à utilização dos fundos não utilizados. Os grandes projectos de investigaçãoeuropeus são financeiramente dependentes das recuperações financeiras, cujo montanteninguém conhece antecipadamente. A Comissão é chamada a garantir, no futuro, ofinanciamento a longo prazo da investigação e do desenvolvimento e a elaborar planos definanciamento precisos. As recuperações financeiras do cabaz agrícola devem ser utilizadaspara o seu propósito original.

Petru Constantin Luhan (PPE), por escrito. – (RO) Votei a favor deste relatório, porqueo Parlamento Europeu identifica, entre as prioridades mais importantes das suas políticas,os domínios da juventude, da educação e da mobilidade. Também eu tenho sustentado,em várias ocasiões, que estes domínios são componentes vitais e necessários da estratégiade recuperação económica da UE e da Estratégia Europa 2020. Os jovens, a educação e amobilidade exigem investimentos específicos intersectoriais no quadro das políticasadequadas, a fim de promover o crescimento e o desenvolvimento da UE.

Apoio, portanto, a necessidade de aumentar as dotações para todos os programasrelacionados com estas prioridades, como os programas "Aprendizagem ao longo da vida","Pessoas" e Erasmus Mundus. É igualmente necessário aumentar as dotações destinadas àrede europeia de serviços de emprego, e apoio, para este fim, o lançamento da acçãopreparatória "O teu primeiro emprego EURES", que tem como objectivo ajudar os jovensa entrarem no mercado de trabalho ou a acederem a empregos especializados noutroEstado-Membro, como primeira etapa para um programa específico não académico demobilidade dos jovens.

David Martin (S&D), por escrito. – (EN) Relativamente às votações individuais, voteicontra as disposições que considero terem consequências negativas para os cidadãos daUnião Europeia e as pessoas nos países em desenvolvimento. Incluem-se aqui osfinanciamentos da UE para a produção de tabaco e as subvenções às exportações agrícolasda UE, que prejudicam os países em desenvolvimento. Votei igualmente contra o aumentodas rubricas orçamentais relacionadas com subsídios, viagens e custos administrativos.Congratulo-me, no entanto, com os elementos positivos resultantes da primeira leitura doParlamento, incluindo a inscrição de fundos para o desenvolvimento económico das nossasregiões, o apoio à investigação fundamental e ao desenvolvimento e o aumento da ajudaexterna, em consonância com o objectivo do Reino Unido de aumentar a ajuda aodesenvolvimento. Considero que o orçamento da UE é necessário para garantir estabilidade

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a longo prazo contra as severas medidas de austeridade que estão a ser introduzidas naEuropa pelos governos nacionais. Ao mesmo tempo que os governos nacionaisimplementam cortes drásticos, em alguns casos com uma visão de curto prazo, o orçamentoda UE pode proporcionar estabilidade e um planeamento a longo prazo para ajudar –através de fundos como os fundos estruturais e de coesão – a criar postos de trabalho,proporcionar formação profissional e impulsionar as economias europeias através darecuperação, nomeadamente mediante a mobilização de fundos estruturais para as zonasdesfavorecidas mais duramente atingidas.

Barbara Matera (PPE), por escrito. – (IT) Pela primeira vez desde que o Tratado de Lisboaentrou em vigor, o orçamento europeu foi aprovado numa única leitura. É também aprimeira vez que o Parlamento teve maior peso decisório do que o Conselho. Este poderacrescido deve, contudo, ser acompanhado de um elevado sentido de responsabilidade erealismo impostos pela persistente crise económica.

Nesse sentido, a Comissão dos Orçamentos enviou um sinal claro, decidindo respeitar asmargens impostas pela actual situação financeira e implementando uma política de rigorbaseada nas prioridades para relançar o crescimento, com ênfase na investigação, nainovação e nos jovens. Acolho com satisfação a decisão desta Assembleia de seguir asorientações da Comissão dos Orçamentos e dos Estados-Membros, que muitas vezes sãoforçados a endividar-se na sequência de excessivos adiantamentos de dinheiro da UE.

O orçamento da União deve, todavia, ser reconsiderado à luz das novas competênciasdecorrentes do Tratado de Lisboa e da necessidade de recursos próprios. Estas questõesrequerem firmeza durante a conciliação, a fim de proporcionar o apoio financeiro adequadoa um projecto tão ambicioso como a Estratégia UE 2020.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A entrada em vigor do TFUE veio reforçar as políticas daUE e criar novos domínios de competência – nomeadamente política externa e de segurançacomum, competitividade e inovação, espaço, turismo, luta contra as alterações climáticas,política social, política energética, justiça e assuntos internos. Estas novas competênciasimplicam um orçamento que permita concretizá-las e exigem, por conseguinte, que todosos ramos da autoridade orçamental sejam coerentes e consistentes no que respeita acapacidades financeiras acrescidas. Desta forma, temos que dotar o orçamento comunitáriodas verbas necessárias para que se consigam atingir os objectivos delineados para 2014,de modo a que a estratégia 2020 não fique comprometida. É certo que, neste cenário decrise, os Estados-Membros põem alguma resistência ao aumento das comparticipações,mas têm de ser sensíveis aos desígnios da UE e à necessidade de não pôr em causa tudo oque já foi conseguido em matéria de coesão e integração.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) Uma das coisas que o Tratado de Lisboa veioalterar foi a estrutura financeira da UE, nomeadamente o quadro financeiro plurianual(QFP) e o processo orçamental anual. O Tratado confere ao QFP estatuto jurídico vinculativoe estipula que este deve ser estabelecido pelo Conselho, deliberando por unanimidade,após aprovação do Parlamento Europeu. Deixa agora de existir distinção entre despesasobrigatórias e não obrigatórias, por cuja decisão são agora conjuntamente responsáveisas duas autoridades orçamentais, sendo o processo simplificado em conformidade. O factode o Parlamento ter agora o direito de co-decisão sobre todo o orçamento reforça o controlodemocrático.

Estão também previstas algumas novas medidas tendentes a uma simplificação burocrática.É importante que o Parlamento Europeu, enquanto única instituição directamente eleita

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da União Europeia, tenha os seus direitos orçamentais reforçados de modo a que possa terinfluência sobre decisões importantes da UE, como a exigência de poupança de custos nonovo Serviço de Acção Externa. Não posso, contudo, apoiar quaisquer tendências decentralização.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do projecto de orçamento, porqueaprovo a sua linha geral e o seu conteúdo. Concordo com o restabelecimento dos limitesmáximos em relação aos cortes efectuados pelo Conselho. Considero esta votaçãoextremamente importante e aplaudo a posição expressa pelo Parlamento, que faz valer assuas novas prerrogativas. Com efeito, graças ao novo processo orçamental introduzidopela entrada em vigor do Tratado de Lisboa, o Parlamento pode fazer valer o seu peso e osseus poderes em relação ao Conselho, defendendo um orçamento forte e ambicioso, masao mesmo tempo de rigor, na consciência de que, para relançar a economia da UniãoEuropeia – sujeita a uma dura prova pela recente crise económica e financeira –, sãonecessários investimentos importantes em sectores chave como a investigação e a inovaçãotecnológica.

Georgios Papanikolaou (PPE), por escrito. – (EL) O projecto de orçamento inicialapresentado à Comissão da Cultura e da Educação pela Comissão dos Orçamentos ficouaquém das expectativas, na medida em que não incluía medidas ambiciosas para atingiros objectivos principais da Estratégia UE 2020 em matéria de educação, formação emobilidade. Para ser exacto, a comissão responsável aprovou inicialmente a posição daComissão e do Conselho e propôs um congelamento das dotações destinadas a programaspara promover a aprendizagem ao longo da vida, a educação e o empreendedorismo jovem.No entanto, é reconfortante ver que, na sequência da oposição e das preocupações expressaspelos membros da Comissão da Cultura e da Educação a respeito da desvalorização daspolíticas de educação e formação, sobretudo numa altura em que o desemprego está aaumentar e a causar problemas em vários Estados-Membros da União Europeia, a Comissãodos Orçamentos apresentou as alterações necessárias, que apoiei, e aumentou as dotaçõesiniciais previstas (por exemplo, no caso do artigo 150202 relativo aos programas deaprendizagem ao longo da vida).

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente a resolução doParlamento Europeu por concordar com as prioridades horizontais do PE para o orçamentode 2011, nomeadamente nos domínios da juventude, da educação e da mobilidade, osquais requerem investimento específico intersectorial, no âmbito das várias políticas, comomeio de promover o crescimento e desenvolvimento da UE. Concordo com o aumentoproposto nas dotações para todos os programas relacionados com essas prioridades, asaber, os programas Aprendizagem ao Longo da Vida, Pessoas e Erasmus Mundus.

Considero também que a mobilidade de emprego dos jovens é um instrumento essencialpara garantir o desenvolvimento de um mercado de trabalho competitivo e dinâmico naEuropa e que, como tal, precisa de ser reforçada. Sou assim favorável ao aumento dasdotações para o Serviço de Emprego Europeu e apoio vivamente o lançamento da acçãopreparatória "O teu primeiro emprego EURES", que tem como objectivo ajudar os jovensa entrarem no mercado de trabalho ou a acederem a empregos especializados noutroEstado-Membro, como primeira etapa para um programa específico não académico demobilidade dos jovens.

Frédérique Ries (ALDE), por escrito. – (FR) 142 650 mil milhões de euros – eis oorçamento para o exercício de 2011 aprovado pelo Parlamento Europeu ao meio-dia de

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hoje. Um orçamento apertado, praticamente idêntico ao proposto pela Comissão Europeiae aprovado num contexto de austeridade. No entanto, todos sabemos que a Europa nãopode fazer mais e melhor com menos dinheiro.

É por isso que, juntamente com vários outros deputados e também dom o Comissárioresponsável pela programação financeira e pelo orçamento, Janusz Lewandowski, defendoque a União Europeia se dote de recursos próprios: um mecanismo de financiamento quegaranta autonomia e margem de manobra face aos Estados-Membros que, com situaçãode crise ou não, há muito abandonaram a ideia de dotar a Europa de meios à altura dassuas ambições. Vejo pelo menos duas razões para não restringir o orçamento europeu.

A primeira decorre da entrada em vigor do Tratado de Lisboa e das novas competênciaseuropeias em matéria de política externa, energia, supervisão financeira, para citar apenasestas. A segunda diz respeito à nova estratégia para 2020, que visa recolocar a Europa navia do crescimento sustentável, dos grandes projectos e da inovação. Novos desafios ecompetências que precisarão de ser bem financiados. O que nos traz de volta à única solução– o financiamento directo da União Europeia.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) O debate orçamental deste anovem destacar, uma vez mais, a necessidade de chegar a acordo quanto a um sistemapertinente de recursos próprios da UE. As querelas anuais entre as instituições europeiasem torno dos orçamentos levam à tomada de decisões caóticas e geram divergênciasacrimoniosas que poderiam ser facilmente evitadas através de um sistema de recursospróprios, nomeadamente afectando parte das receitas resultantes de um imposto sobre astransacções financeiras da UE, de um imposto sobre o combustível da aviação ou de umimposto sobre o carbono para financiar o orçamento da UE. Apesar disso, a votação dehoje estabelece, globalmente, um equilíbrio entre a resposta às exigências adicionaissuscitadas pelo Tratado de Lisboa, limitando ao mesmo tempo o crescimento dosorçamentos da UE, em resposta às actuais dificuldades orçamentais.

Eva-Britt Svensson (GUE/NGL) , por escrito. – (SV) Optei por me abster em relação àdecisão sobre o orçamento do Parlamento. O reforço do programa Daphne, que visacombater a violência contra as mulheres, é encorajador. Congratulo-me também com ofacto de o Parlamento ter rejeitado a proposta da Comissão e do Conselho para a realizaçãode cortes na assistência financeira à Autoridade Palestiniana. Gostaria também de salientar,contudo, que, em minha opinião, o Parlamento está a agir de forma irresponsável ao atribuirao sistema da UE e a si próprio verbas tão elevadas sob a forma de programas e subsídiose de ajudas à burocracia, enquanto os Estados-Membros estão a ser forçados a fazer cortesbrutais a fim de cumprir as exigências do Pacto de Estabilidade – ou seja, o pacto neoliberalque a maioria do Parlamento apoia sem reservas.

O grande ganhador é o sector da agricultura, sobretudo com a criação de um fundo de 300milhões de euros para o sector do leite. É uma decisão que, para nós, deputados, seráembaraçosamente difícil de explicar às pessoas que, num país após o outro, lutam e semanifestam nas ruas. Porque têm elas de sofrer, enquanto o sistema de despesas orçamentaisda UE é totalmente insensível à realidade?

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − Este é o primeiro orçamento da União votado deacordo com as regras do Tratado de Lisboa, apenas com uma única leitura. Embora hajaainda alguns pontos sensíveis deixados para a conciliação, e que versam sobre questões ameu ver da máxima importância, como a dotação para a coesão e para a agricultura,congratulo-me com a proposta apresentada.

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O documento aprovado restabelece a proposta inicial da Comissão relativa à secção coesãopara o crescimento e para o emprego, após o Conselho ter diminuído o montante destinado.Embora o montante para 2011 esteja já previsto no quadro financeiro plurianual no limitemáximo de 50,65 mil milhões de euros a preços correntes, é de notar que a relatora ressalvaque esta rubrica exigirá um nível superior de pagamentos.

Saúdo também as dotações atribuídas na secção de competitividade para o crescimento epara o emprego, a qual inclui a previsão do financiamento da maior parte das propostasdo Parlamento, tais como as relacionadas com as PME e os programas de juventude,educação e mobilidade.

Voto favoravelmente o documento, apesar de o mesmo não contemplar as propostas doPPE quanto a medidas de intervenção armazenada relativamente aos cereais, leite e seusderivados e leite em pó, as quais foram lamentavelmente rejeitadas na Comissão AGRI.

Róża Gräfin von Thun und Hohenstein (PPE), por escrito. – (PL) Abster-se de votarnão é solução. Os ausentes estão sempre errados. Penso que a resolução na sua globalidadecontém muito mais medidas boas do que medidas de menor valia. Precisamos do ServiçoEuropeu de Acção Externa, que deve iniciar os seus trabalhos o mais rapidamente possívelpor forma a aumentar a importância da Europa no mundo.

Na resolução que foi aprovada, diz-se que todos os Estados-Membros estarão representadosneste serviço. Agora, temos de velar por que isso suceda de facto, o que gerará confiançano processo de criação do Serviço de Acção Externa. Convém recordar que foi com basena confiança mútua que a União Europeia foi construída, facto de que a Polónia beneficiougrandemente. Irei acompanhar de perto este processo.

Derek Vaughan (S&D), por escrito. – (EN) Congratulo-me com os elementos positivosdo orçamento de 2011, nos quais se incluem a inscrição de fundos para o desenvolvimentoeconómico do País de Gales, o apoio à investigação fundamental e ao desenvolvimento ea ajuda externa. Reconheço que as despesas adicionais decorrentes do Serviço Europeu deAcção Externa e das novas autoridades europeias de supervisão são necessárias e têm oapoio de todos os Estados-Membros no Conselho, incluindo o Reino Unido. Causam-mepreocupação, contudo, as despesas em algumas áreas, que não reflectem uma boa aplicaçãodo dinheiro ou têm consequências negativas para os cidadãos da UE e para as pessoas nospaíses em desenvolvimento. Incluem-se aqui os financiamentos da UE para a produção deálcool e tabaco, o que entra em conflito com os objectivos da UE em matéria de saúde, eas subvenções às exportações agrícolas da UE, que prejudicam os países emdesenvolvimento, assim como os aumentos nas rubricas orçamentais relacionadas comsubsídios, viagens, publicações e outras despesas administrativas. Na actual conjunturaeconómica, é mais importante do que nunca justificar o dinheiro gasto nas nossasprioridades, cortando todas as despesas inúteis e excessivas em outros sectores. Não mesenti capaz de votar contra este orçamento. Em tempos de desafios económicos, votarcontra financiamentos vitais para um vasto leque de prioridades seria contraproducente.No entanto, creio também que alguns aumentos não se justificavam e, como tal, tomei adecisão de me abster.

Angelika Werthmann (NI), por escrito. – (DE) Os pontos-chave do orçamento da UEpara 2011 são o investimento na formação, na investigação e na inovação – umanecessidade face à situação actual no mercado de trabalho. A redução das actuais taxas dedesemprego na Europa deve estar no centro de todas as decisões – tendo também em vistaimplementar, de facto, os ambiciosos objectivos da Estratégia Europa 2020. Dar prioridade

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à juventude em conexão com os programas de formação e de mobilidade é um investimentomuito interessante, com boas possibilidades de desenvolvimento para o mercado detrabalho. Há alguns aumentos, mas também cortes – o orçamento é um compromisso,como qualquer decisão multilateral. Redireccionar o dinheiro para a investigação nuclear,porém, não pode ser do interesse dos cidadãos da Europa e esse dinheiro seria melhoraplicado, por exemplo, no desenvolvimento das fontes de energia renováveis.

Glenis Willmott (S&D), por escrito. – (EN) Os trabalhistas britânicos no ParlamentoEuropeu congratulam-se com os elementos positivos da posição em primeira leitura doParlamento, nos quais se incluem a inscrição de fundos para o desenvolvimento económicodas nossas regiões, o apoio à investigação fundamental e ao desenvolvimento e a ajudaexterna. Reconhecemos também que as despesas adicionais decorrentes do Serviço Europeude Acção Externa e das novas autoridades europeias de supervisão são necessárias parapôr em prática estas importantes novas actividades e têm o apoio de todos osEstados-Membros no Conselho, incluindo o Reino Unido. Causam-nos grande preocupação,contudo, as despesas em algumas áreas, que não reflectem uma boa aplicação do dinheiroou têm consequências negativas para os cidadãos da UE e para as pessoas nos países emdesenvolvimento. Incluem-se aqui os financiamentos da UE para a produção de álcool etabaco, o que entra em conflito com os objectivos da UE em matéria de saúde, e assubvenções às exportações agrícolas da UE, que prejudicam os países em desenvolvimento,assim como os aumentos nas rubricas orçamentais relacionadas com subsídios, viagens,publicações e outras despesas administrativas. Na actual conjuntura económica, é maisimportante do que nunca justificar o dinheiro gasto nas nossas prioridades, cortando todasas despesas inúteis e excessivas em outros sectores. Com o objectivo de enviar umamensagem clara antes das negociações entre as instituições, os trabalhistas britânicos noParlamento Europeu votaram contra a resolução final sobre o orçamento nesta fase.

Artur Zasada (PPE), por escrito. – (PL) É com grande prazer que felicito a relatora, senhoradeputada Jędrzejewska, pelo seu bem elaborado relatório. Hoje, pela primeira vez,aprovámos um orçamento da UE nos termos do disposto no Tratado de Lisboa e, tambémpela primeira vez, não excedemos os limites financeiros estabelecidos nas actuaisperspectivas financeiras. Considero que as soluções propostas pela senhora deputadaJędrzejewska expressam uma abordagem realista e pragmática num momento difícil decrise económica. É também com satisfação que constato que o orçamento hoje aprovadoreforça as prioridades do Parlamento em termos financeiros.

Relatório: Edite Estrela (A7-0032/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − A extensão da licença de maternidade, das catorzepara as vinte semanas, deve ser considerada um direito fundamental. Este novo períodonão deve ser visto como uma ameaça, mesmo tendo em conta a introdução dos direitosrelativamente aos pais. As suas consequências para o quadro legislativo dos váriosEstados-Membros são pouco significativas, bem como no que respeita à economia, sepensarmos por exemplo na possibilidade da criação de uma bolsa de trabalho temporárioa nível europeu, que promova a mobilidade profissional, o que pode estimular a partilhade melhores práticas e a continuação da realização das tarefas profissionais das mulheresem licença de maternidade. A garantia de um salário mensal a 100% na licença dematernidade, bem como a extensão do período à proibição de despedimento de seis mesespara um ano não devem ser postas em causa, tendo em conta as preocupações demográficasconciliadas com a actual conjuntura económica. Outras medidas simples, mas importantes,são, por exemplo, a possibilidade de flexibilidade dos horários no tempo após a licença de

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maternidade, medidas preventivas no que respeita a saúde e segurança e a extensão destesdireitos aos casais que adoptam crianças, o que favorece um quadro legal mais justo.

Roberta Angelilli (PPE), por escrito. – (IT) Infelizmente, na Europa, a taxa de natalidadevaria de país para país e, muitas vezes, não depende apenas da garantia de protecção dosdireitos, mas também de serviços sociais à disposição das mães trabalhadoras, como ascreches, por exemplo. Há ainda muito a fazer para conciliar trabalho e vida familiar.

O sistema de protecção da maternidade em vigor em Itália está, de modo geral, emconsonância com os novos parâmetros propostos na directiva, não só no que se refere aonúmero de semanas de licença de maternidade obrigatória, mas também no que respeitaao pagamento de uma indemnização igual a 100% da sua remuneração durante o períodode ausência. É significativo o facto de a directiva introduzir claramente a licença depaternidade: um objectivo importante para garantir a igualdade de direitos entre homense mulheres e reforçar a partilha de responsabilidades entre os pais.

George Becali (NI), por escrito. – (RO) Concordo com o prolongamento do período dalicença de maternidade para um mínimo de 20 semanas com pagamento integral do salário,prevendo, no entanto, uma certa flexibilidade para os Estados que já possuem disposiçõespara este tipo de licença. Às trabalhadoras em licença de maternidade será paga aintegralidade do salário e a prestação equivalerá a 100% do último salário mensal ou dosalário mensal médio. As alterações aprovadas impedirão que as mulheres grávidas sejamdespedidas entre o início da gravidez e seis meses após o termo da licença de maternidade.Além disso, as mulheres devem ter o direito de retomar o seu posto de trabalho ou umposto de trabalho equivalente, usufruindo da mesma remuneração e categoria profissionale com uma evolução na carreira idêntica à que tinham antes da licença de maternidade.

Jean-Luc Bennahmias (ALDE), por escrito. – (FR) Prolongamento da licença dematernidade, melhores condições de trabalho ... as mulheres estiveram hoje no cerne dodebate no Parlamento Europeu. Dezoito anos após a primeira directiva relativa àstrabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes, a situação económica e demográfica naEuropa mudou muito. Portanto, votámos hoje em sessão plenária a favor da alteração dalegislação em vigor sobre a licença de maternidade, no intuito de favorecer o emprego dasmulheres, permitindo-lhes ao mesmo tempo ter uma família nas melhores condiçõespossíveis.

Permitir às mulheres conciliar a sua vida familiar com a vida profissional, mas tambémrealizar os objectivos da igualdade dos géneros: é o que estamos hoje a defender para todasas mulheres europeias. O Parlamento Europeu pronunciou-se, por maioria, a favor de umperíodo de 20 semanas de licença de maternidade integralmente remunerada. Teremosagora, por conseguinte, de negociar com os Estados-Membros para chegar a umcompromisso sobre este texto.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE), por escrito. – (ES) Se, depois de se conhecer o resultadodesta votação, tivéssemos de dar um título aos resultados desta iniciativa seria o de Rebellionin the halls ["Rebelião nos corredores"]. Antes da votação, conhecíamos as resistências queos deputados dos vários grupos mantinham à aprovação do prolongamento da licença dematernidade para 20 semanas, à necessidade de pagar às pessoas nessa situação 100% doseu salário, ao alargamento das medidas no caso da existência de filhos portadores dedeficiência e à inclusão das licenças de paternidade. Tudo fazia pensar que estas medidasnão seriam aprovadas, mas não foi o caso. O facto de muitos deputados não teremrespeitado a disciplina de voto dos seus grupos tornou possível o milagre. Hoje, o

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Parlamento esteve à altura das expectativas dos homens e das mulheres da Europa. Étambém mais um passo em frente no caminho da igualdade, que ainda estamos longe dealcançar, mas que temos de tornar realidade trabalhando em conjunto, homens e mulheres.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D), por escrito. – (LT) Congratulo-me com o facto de, após umdebate muito aguardado, o Parlamento Europeu ter aprovado hoje esta directiva tãoimportante. Com base nesta nova directiva, o período de licença de maternidade passaráde 14 para 20 semanas, mantendo a integralidade da remuneração. Hoje, a fim de solucionaro mais rapidamente possível os problemas demográficos com que nos deparamos devidoà baixa taxa de natalidade e ao envelhecimento da população, torna-se necessáriopartilharmos as obrigações familiares. Portanto, é muito importante que esta directivaestabeleça o direito de os homens gozarem pelo menos de duas semanas de licença depaternidade. A criança tem também um direito inquestionável de estabelecer vínculos comambos os progenitores. Esta proposta permitirá criar um melhor equilíbrio no seio dasfamílias e melhorar a integração no mercado de trabalho. O Parlamento demonstrou quepode realizar os objectivos estabelecidos na Estratégia Europa 2020 de permitir às famíliasuma melhor conciliação entre trabalho e vida privada, lutando ao mesmo tempo em proldo crescimento económico, do bem-estar social, da competitividade e da igualdade entreos géneros. Espero sinceramente que esta directiva aprovada pelo Parlamento Europeuseja igualmente adoptada pelo Conselho com a maior brevidade possível.

Sebastian Valentin Bodu (PPE), por escrito. – (RO) A UE defronta-se actualmente comproblemas demográficos causados pela diminuição da natalidade e pelo aumento donúmero de pessoas idosas. Melhorar as disposições que favoreçam a conciliação entre vidaprofissional e vida familiar é uma das maneiras de responder a este declínio demográfico.É evidente que os estereótipos de género persistem na sociedade, o que constitui umobstáculo que impede as mulheres de aceder a postos de trabalho, sobretudo a postos detrabalho de qualidade. As mulheres continuam a ser as principais responsáveis peloscuidados aos filhos e a outras pessoas dependentes, o que significa que são muitas vezesconfrontadas com a necessidade de optar entre a maternidade e uma carreira profissional.

As mulheres são frequentemente vistas como trabalhadoras de "alto risco", de "segundaclasse" ou "inadequadas", devido à forte probabilidade de ficarem grávidas e exercerem odireito à licença de maternidade. É, pois, fundamental que as novas formas de licença nãoreflictam nem confirmem os estereótipos existentes na sociedade. O envolvimento dospais na vida dos filhos desde os primeiros meses após o seu nascimento é da maiorimportância para o desenvolvimento saudável da criança do ponto de vista físico, emocionale psicológico.

Vito Bonsignore (PPE), por escrito. – (IT) É indubitável que a taxa de natalidade em muitosEstados-Membros continua a ser muito baixa. Daí, portanto, a necessidade de as instituiçõesincentivarem os nascimentos mediante uma política adequada de apoio à família. Votei afavor do relatório da senhora deputada Edite Estrela, dado que aponta nesse sentido.Considero correcto, de facto, que se harmonizem os direitos de maternidade entre osEstados-Membros (tendo sempre em conta, em primeiro lugar, a saúde das mães e dosrecém-nascidos), a fim de evitar discrepâncias e uma diminuição da competitividade dosEstados que já há muito adoptaram medidas avançadas de protecção à maternidade.

A este respeito, aprecio a proposta de prolongar a licença de maternidade para 18 semanasem todos os países da UE, uma prática que já está em vigor em vários Estados-Membros:em Itália, por exemplo, é concedida uma licença de 21 semanas e meia. Por último,

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considero essencial garantir o direito de retomar o mesmo posto de trabalho ou ocuparum posto de trabalho equivalente.

David Casa (PPE), por escrito. – (EN) Sou contra o conceito de 20 semanas com saláriocompleto e votei contra essa alteração específica. No entanto, decidi votar a favor do textofinal na sua versão alterada pela inserção de uma cláusula que foi negociada pelo PPE, oque permite um certo grau de flexibilidade durante as últimas quatro semanas. Decidi,assim, apoiar o meu grupo político na consecução deste compromisso.

Françoise Castex (S&D), por escrito. – (FR) Apraz-me que o Parlamento Europeu tenhafeito progressos nesta questão desde o debate sobre o desafio demográfico para o qual fuirelatora em 2007. Esta votação demonstra que ainda é possível obter hoje novos acervossociais: a mobilização e a acção política permitem proteger as conquistas de vitóriaspassadas, mas também obter novos direitos. Hoje, reforçámos os direitos das mulheres,mas também os dos homens, com a licença de paternidade. Esta última representa umaverdadeira mudança de mentalidades que, com os anos, contribuirá para melhorar arepartição dos papéis entre os progenitores.

John Bufton, William (The Earl of) Dartmouth e Nigel Farage (EFD), por escrito. –(EN) Em relação à alteração 9, o UKIP votou a favor desta alteração que declara apenas que"Todos os pais têm o direito de cuidar dos seus filhos". O UKIP não corrobora de modoalgum a legitimidade desta directiva, já que deveria competir aos governos nacionais eleitosdecidir as políticas sociais e de assistência social. Contudo, o Governo do Reino Unido nãofaz cerimónia nenhuma em colocar crianças ao cuidado do Estado, pelo que votar a favordeste considerando será um tiro de advertência, uma provocação, ao governo. Relativamenteà proposta em geral, o UKIP não reconhece a legitimidade desta directiva, já que deveriacaber aos governos nacionais eleitos decidir sobre as políticas sociais e de assistência social.Esta directiva irá implicar custos incríveis para as entidades patronais e para o governo,custos que são praticamente incomportáveis nesta altura. Irá também aumentar adiscriminação das mulheres, tornando a sua contratação ainda mais onerosa do que já é,principalmente para as pequenas empresas que são a espinha dorsal da economia do ReinoUnido. O UKIP é, além disso, solidário com os pais de crianças portadoras de deficiênciae com aqueles que se decidiram pela adopção. Contudo, a UE não tem o direito de criartais regras sobre maternidade, e não podemos permitir que tenha legitimidade para o fazer.O UKIP votou contra esta directiva para garantir que a legislação seja avaliada através dasurnas e não através dos burocratas de Bruxelas.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei a favor do relatório, porque eleé muito importante para a igualdade dos género e para a defesa dos direitos dostrabalhadores – homens e mulheres – no que diz respeito aos direitos de maternidade e depaternidade. É um importante passo em frente na defesa e na promoção dos direitos dasmulheres, e da igualdade em geral, no local de trabalho, dado que, segundo o relatório, "avulnerabilidade das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes exige que lhes sejagarantido um direito a um período de licença de maternidade de pelo menos 20 semanasconsecutivas, antes e/ou após o parto, e torna necessária a obrigatoriedade de um períodode licença de maternidade de pelo menos seis semanas após o parto".

Também votei a favor do relatório por causa de um elemento adicional muito importante:o reconhecimento do direito do pai a um período de licença de paternidade de duas semanas.

Derek Roland Clark e Paul Nuttall (EFD), por escrito. – (EN) Relativamente à propostaem geral, o UKIP não aceita a legitimidade desta directiva, já que deveria caber aos governos

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nacionais eleitos decidir sobre as políticas sociais e de assistência social. Esta directiva iráimplicar custos incríveis para as entidades patronais e para o governo, custos que sãopraticamente incomportáveis nesta altura. Irá igualmente aumentar a discriminação dasmulheres, tornando a sua contratação ainda mais onerosa do que já é, principalmente paraas pequenas empresas que são a espinha dorsal da economia do Reino Unido.

O UKIP é, além disso, solidário com os pais de crianças portadoras de deficiência e comaqueles que se decidiram pela adopção. Contudo, a UE não tem o direito de criar tais regrassobre maternidade, e não podemos permitir que tenha legitimidade para o fazer. O UKIPvotou contra esta directiva para garantir que essa legislação seja avaliada através das urnase não através dos burocratas de Bruxelas.

Carlos Coelho (PPE), por escrito. − A presente proposta visa melhorar as condições desegurança e de saúde associadas à parentalidade. Neste aspecto, defendo que se devemreduzir as assimetrias entre os homens e as mulheres e promover uma conciliaçãoequilibrada da vida profissional com a vida familiar e privada. Só assim haverá o fomentode uma parentalidade com responsabilidades partilhadas. Partindo deste pressuposto,considero que o alargamento do prazo da licença de maternidade para 20 semanas, dasquais 6 semanas serão obrigatoriamente após o parto, conforme proposto pela relatora,é um período adequado, havendo a possibilidade de este ser partilhado entre os pais.

Acolho também a proposta incluída no documento que visa a garantia do pagamento daintegralidade do salário mensal durante a licença de maternidade, sendo a prestação de100% do último salário ou do salário médio mensal. Por último, parece-me pertinente queiguais medidas sejam aplicadas também em casos de adopção de uma criança com menosde 12 anos e que se destinem também às mulheres trabalhadoras independentes.

Pelas razões expostas, declaro ter votado a favor do relatório em plenário.

Lara Comi (PPE), por escrito. – (IT) A igualdade dos géneros é muitas vezes um slogan,uma oca declaração de direitos, que nem sempre é acompanhada pelo assumir deresponsabilidades e por argumentos sólidos. Por outro lado, esta proposta de directivaencontra um equilíbrio correcto entre o papel biológico da mulher e os direitos devidos aquem desempenha esse papel em pleno. Estas medidas são uma resposta de bom senso,quando nos defrontamos com questões demográficas que parecem cada vez mais umaemergência e com uma economia que exige taxas de emprego feminino cada vez maiselevadas. O reconhecimento da igualdade está completo quando certos direitos se estendemtambém aos pais, permitindo que os compromissos familiares sejam partilhados da formamais adequada e quando a flexibilidade de organização é deixada ao critério de cada família.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Votei para melhorar a segurança e a saúde dastrabalhadoras grávidas no trabalho, por respeito pelo princípio da igualdade de direitosdos géneros e da não discriminação com base no género, e também para favorecer umamaior participação das mulheres no mercado de trabalho.

Um dos efeitos desta medida é a criação de um equilíbrio entre a vida profissional e a vidafamiliar para as mulheres. Além disso, as mulheres precisam deste apoio legislativo paraa protecção da sua saúde e dos seus filhos. Outro aspecto importante desta medida, quevisa a segurança do emprego para as mulheres, é a proibição do seu despedimento duranteo período compreendido entre o início da gravidez e, no mínimo, seis meses após o termoda licença de maternidade. Foi também estabelecido um tecto salarial, que, uma vez mais,se destina a satisfazer necessidades de segurança social.

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Por último, mas não menos importante, um argumento decisivo a favor deste voto é oaumento da taxa de natalidade, que é um problema particularmente grave que osEstados-Membros da UE enfrentam.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) De acordo com as estatísticas, a taxade natalidade está a decrescer na UE. Esta reduzida taxa de natalidade, combinada com oenvelhecimento da população, irá criar-nos, no futuro, um verdadeiro problema no quediz respeito ao pagamento das pensões e das despesas com cuidados médicos na Europa.As famílias, e especialmente as mulheres, não devem ser penalizadas por quererem terfilhos. As trabalhadoras grávidas e as trabalhadoras lactantes não devem realizar actividadesque, com base em avaliações, apresentem um risco de exposição a determinados agentesou condições de trabalho particularmente nocivas que comprometam a segurança ou asaúde dessas trabalhadoras. Por isso, apoio a ideia da implementação de medidas queincentivem melhorias na segurança e na saúde das trabalhadoras puérperas ou lactantes.Estas medidas não devem colocar as mulheres em desvantagem no mercado de trabalhonem serem prejudiciais às directivas relativas à igualdade de tratamento para homens emulheres.

Michel Dantin (PPE), por escrito. – (FR) A França está entre os países da União Europeiaque apresentam as mais altas taxas de natalidade. Isto deve-se a um conjunto de medidascontidas numa política familiar global. A resolução, na sua forma actual depois da votaçãodas alterações, não traz qualquer melhoria real. Pelo contrário, irá colocar muita coisa emcausa porque o peso orçamental das medidas não pode ser suportado neste momento.Essas são as razões que me levaram a não aprovar este texto, que, de resto, ébem-intencionado.

Mário David (PPE), por escrito. − Concordo genericamente com as medidas propostasneste relatório, pois considero que esta questão é um dos desafios mais importantes quea Europa terá de vencer nas próximas décadas: o envelhecimento demográfico. Por exemplo,em Portugal – realidade que conheço mais de perto. Porém, à semelhança de outros paísesda União, a taxa de natalidade não assegura a renovação das gerações e expõe uma durarealidade que compromete o futuro. Considero que políticas mais flexíveis no que respeitaà licença de maternidade e paternidade poderão ajudar a inverter estas tendências. É porisso importante enviar às famílias uma mensagem consequente de apoio à maternidade eà paternidade, com medidas concretas para uma melhor conciliação da vida profissional,privada e familiar. A realização deste desafio é essencial para se atingirem os objectivoseconómicos e sociais da Estratégia Europa 2020 e como forma para tentar inverter oenvelhecimento demográfico do nosso continente. Ainda em Portugal, a licença dematernidade é já remunerada a 100% durante 120 dias. Defendo, por isso, que o saláriodas mulheres seja assegurado durante a licença de maternidade, tal como expresso nesterelatório.

Luigi Ciriaco De Mita (PPE), por escrito. – (IT) A votação da proposta de resoluçãolegislativa que altera a Directiva 92/85/CEE foi levada a cabo não só para apoiar medidasnovas e melhores para a segurança e a saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas elactantes no trabalho, mas também para, de um modo geral, apoiar novas medidas quepromovam uma melhor conciliação entre vida profissional e vida familiar. Embora osistema jurídico italiano seja mais inovador, o aumento do número de semanas de licençade maternidade a nível europeu representa um forte impulso a favor da assistência familiaraos bebés recém-nascidos. O apoio à licença de paternidade também é um passo na mesmadirecção, embora a obrigatoriedade talvez não seja o melhor caminho para perseguir o

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objectivo louvável de garantir uma presença mais eficaz de ambos os progenitores na alturamais complicada para a nova família e de assegurar uma maior sensibilização e participaçãodo pai. O apoio a uma extensão dos direitos das crianças adoptadas permite um reforço e,espera-se, também uma simplificação do processo de adopção. Finalmente, com vista aconseguir-se uma melhor conciliação entre vida profissional e vida familiar, parece-meque também é importante ter apoiado o apelo aos Estados-Membros para que reforcemos serviços de apoio à infância com estruturas de acolhimento para crianças até à idade daescolaridade obrigatória.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) A votação do relatório de Edite Estrelasobre os direitos das mulheres grávidas e jovens mães no trabalho permitirá harmonizar,a um nível mínimo, a duração da licença de maternidade e a sua remuneração. O ParlamentoEuropeu optou por uma posição forte para negociar com o Conselho e, como tal, apoiouo princípio de um período de licença de 20 semanas remunerada a 100% (permitam-mesalientar que, na Suécia, a licença de maternidade pode ir até às 75 semanas, das quais 14são reservadas exclusivamente à mãe, podendo as restantes ser partilhadas com o pai).

É um sinal forte para os pais europeus, mulheres e homens que serão, deste modo, ajudadosa encontrar um melhor equilíbrio entre a vida familiar e a vida profissional. Cabe agoraaos governos europeus estudar a possibilidade orçamental de assumir tal mudança eaceitá-la. No final, é provável que o período mínimo seja aquele que foi proposto pelaComissão Europeia e apoiado pela delegação do Movimento Democrático, ou seja, umperíodo de licença de 18 semanas, o que estaria em conformidade com as recomendaçõesda Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Anne Delvaux (PPE), por escrito. – (FR) Creio que esta votação, por grande maioria, éum sinal forte enviado ao Conselho: além da extensão da licença de maternidade de 14para 20 semanas com remuneração integral, votámos a favor da instauração da licença depaternidade de duas semanas. É nosso dever velar por que ninguém tenha de escolher entresacrificar os filhos pelo trabalho ou o trabalho pelos filhos.

Congratulo-me também com o facto de o Parlamento ter votado a favor de medidas queirão permitir que as mães adoptivas sejam tratadas, em termos jurídicos, em pé de igualdadecom as mães biológicas. Este é um parlamento que finalmente reconheceu os mesmosdireitos às mães adoptivas e às mães biológicas. Os pais adoptivos são pais na plena acepçãoda palavra e merecem ser tratados como tal. A legislação não pode continuar a discriminareste tipo de parentalidade.

É, portanto, um grande dia para muitas famílias que não conseguem conciliar vida familiare vida profissional. E não é pelo facto de o contexto económico ser difícil que devemosdeixar ao desamparo ainda durante décadas todas estas famílias que também dão umcontributo significativo para a nossa sociedade.

Christine De Veyrac (PPE), por escrito. – (FR) A extensão para 20 semanas do períodode licença de maternidade com salário completo é uma falsa boa ideia. Uma tal medidalegislativa prejudicará a empregabilidade das mulheres nas empresas, que a considerarãocomo um fardo demasiado pesado a suportar em caso de maternidade. Comprometerá,além disso, a reintegração da mulher exactamente no mesmo posto que ocupava antes deiniciar a licença. Finalmente, optar por uma remuneração de 100% durante um longoperíodo de tempo representa um custo para os sistemas de segurança social (num contextoem que as instituições europeias apelam firmemente os Estados para que reduzam os seusdéfices públicos).

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São estas as razões por que não pude apoiar este relatório, e considero que devemos serrealistas e dar aos Estados-Membros a possibilidade de manter um certo grau de flexibilidadenesta matéria.

Harlem Désir (S&D), por escrito. – (FR) O Parlamento acaba de votar em primeira leituraa favor do prolongamento da licença de maternidade para um mínimo de 20 semanas emtoda a Europa, pagas a 100% do salário, excepto para as pessoas com salários elevados, ea possibilidade de os pais terem pelo menos duas semanas de licença após o nascimentode um filho. É uma vitória para os defensores da Europa social e um passo em frente rumoa uma maior igualdade entre homens e mulheres na Europa.

Uma parte da direita utilizou o argumento dos custos futuros destas medidas para recusarestes progressos. No entanto, ajudar os pais a conciliar vida familiar e vida profissionalfacilitará o regresso dos pais ao trabalho, favorecerá a natalidade europeia e protegerá asaúde das mães e dos bebés.

A esquerda do Parlamento, com a relatora socialista portuguesa Edite Estrela, manteve-sefirme, a direita europeia dividiu-se e a via do progresso venceu. É preciso, agora, ganhar abatalha no Conselho, onde vários governos ameaçam bloquear esta directiva. Os deputadosdos parlamentos nacionais devem assumir esta tarefa e intervir junto dos seus governospara que estes não desfaçam aquilo que o Parlamento Europeu propõe para uma Europaque protege os direitos dos seus cidadãos.

Diane Dodds (NI), por escrito. – (EN) Embora eu apoie os direitos das mulheres grávidas,não posso, na actual conjuntura económica, apoiar este relatório. A estimativa da avaliaçãodo impacto para o Reino Unido, se a licença de maternidade for alargada para 20 semanas,é de uma média de quase 2,5 mil milhões de libras por ano. Isto resultaria na duplicaçãodo custo da licença de maternidade no Reino Unido. Está provado que, actualmente, asmulheres já beneficiam muito das disposições em vigor no Reino Unido: 9 em cada 10mulheres gozam a licença de maternidade de 20 semanas, e 3 em cada 4 mulheres gozama totalidade da licença remunerada. Com um tal grau de aceitação, é óbvio que, no ReinoUnido, é desnecessária mais burocracia europeia em cima da legislação actual.

Além disso, o requisito proposto de 20 semanas de remuneração integral iria resultar numaregressão social. Isto deve-se ao facto de as mulheres com salários mais elevados iremreceber a compensação mais elevada. Apoio sem reservas a necessidade de uma licença dematernidade adequada e flexível, mas considero que compete ao Governo eleito do ReinoUnido decidir, com o contributo de pais e entidades patronais, quanto é que a nossa própriaeconomia pode despender e a forma como devem ser atribuídos os subsídios dematernidade.

Lena Ek, Marit Paulsen, Olle Schmidt e Cecilia Wikström (ALDE), por escrito. – (SV)Trabalhar para se conseguir uma sociedade em que homens e mulheres sejam iguais é umaquestão de princípio extremamente importante – ninguém deve ser discriminado por serprogenitor. Cabe acrescentar que, do ponto de vista socioeconómico, é muito importanteque mulheres e homens possam conciliar a vida familiar com a vida profissional para sealcançar um elevado grau de emprego.

Por isso, consideramos lamentável que o relatório não constitua um claro passo em frentepara a igualdade na Europa. Ele reflecte uma visão antiquada de igualdade, onde a mãe deveser a principal responsável pelos filhos, em vez de essa responsabilidade ser partilhada por

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ambos os progenitores. Também é errado propor, como faz o relatório, que seja obrigatóriaa proibição de as mães trabalharem durante seis semanas após o parto.

Decidimos, por isso, votar a favor daquelas partes que pensamos serem positivas, tal comoa alteração que protege os sistemas nacionais que têm um seguro parental mais ambicioso,o aumento do período mínimo de licença de maternidade e a inclusão da licença depaternidade na directiva. Contudo, abstivemo-nos de votar o relatório na sua globalidade,já que consideramos que é demasiado vago, impreciso e desactualizado. A principal razãoé a falta de uma perspectiva da igualdade de género clara e sem ambiguidades.

Göran Färm, Anna Hedh, Olle Ludvigsson e Marita Ulvskog (S&D), por escrito. –(SV) Nós, sociais-democratas suecos, decidimos apoiar o relatório da senhora deputadaEdite Estrela sobre a proposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho que alteraa Directiva 92/85/CEE do Conselho relativa à introdução de medidas destinadas a promovera melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes notrabalho.

Gostaríamos que a directiva se tivesse centrado na licença parental, em vez de se concentrarna licença de maternidade. Também teríamos gostado que fosse menos detalhada e maisflexível – tanto mais que se trata de uma directiva de minimis – por exemplo, no que dizrespeito ao nível de remuneração e ao limite de tempo para o período imediatamente aseguir ao parto. Contudo, consideramos que o relatório é importante para melhorar adirectiva actual, que dá poucas possibilidades de conciliação do trabalho com a paternidadeem muitos Estados-Membros da UE. Com esta decisão, temos agora uma primeira propostade negociação, relativamente à qual o Conselho tem de assumir uma posição.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − O CDS há muito que olha para a questão da natalidadecomo uma prioridade do Estado e reconhece que não é possível estimular a natalidade semproteger a parentalidade. Nos nossos programas, não é de hoje que existem capítulosdedicados à família e à natalidade. Também não é de hoje que defendemos os direitos dasmães e dos pais a constituir família sem que tal represente um encargo acrescido oudificuldades laborais.

Políticas amigas da família e da natalidade, como aquelas que defendemos, são, porém,transversais e não se limitam a alargar a licença de maternidade (medida que aplaudimos,já que defendemos, no nosso Programa de Governo de 2009, um alargamento para 6meses da licença parental). É por isso que nos apraz ver o PS, no Parlamento Europeu, aonosso lado na defesa das mães e dos pais, posição tão diferente daquela que este partidotem na política nacional, quando corta no abono de família, na comparticipação demedicamentos para doentes crónicos, nas deduções no IRS para despesas com a educaçãoe com a saúde, ou quando aumenta dramaticamente a carga fiscal sobre os cidadãos, muitoem especial sobre as famílias com filhos e menores rendimentos.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − A UE enfrenta um desafio demográfico,caracterizado por baixas taxas de natalidade e uma proporção crescente de idosos. Amelhoria das disposições que favoreçam um equilíbrio entre a vida profissional e familiarajuda a dar resposta a este declínio demográfico. Em Portugal, a taxa de natalidade nãoassegura a renovação das gerações e revela uma realidade que compromete o futuro.Defendo por isso que, para contrariar esta tendência, se deve fomentar a melhoria dasegurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes, o que passa pelapromoção de uma conciliação equilibrada da vida profissional com a vida familiar e privada.Concordo com a posição da relatora e com as alterações introduzidas, como a extensão

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do período mínimo de licença de maternidade, passando de 14 para 20 semanas; o princípioda remuneração equivalente a um salário completo; o estabelecimento de requisitos desegurança e saúde no local de trabalho; e ainda a proibição do despedimento. Concordoainda que, no caso de adopção, deve ser igualmente reconhecido o direito a um períodode licença, repartido entre ambos os membros do casal.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − A votação favorável do relatório sobre amelhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes notrabalho é o culminar de um longo processo de discussão no Parlamento Europeu, que jávinha da anterior legislatura e em que participámos activamente, contribuindo para a suaaprovação.

Embora estejamos, ainda, na primeira leitura da proposta de directiva, é positivo na áreados direitos das mulheres pelo sinal que dá, sobretudo aos países que ainda não têm 20semanas de licença de maternidade totalmente paga ou que ainda não aplicam duas semanasde licença de paternidade também paga integralmente.

A aprovação desta proposta para negociação com o Conselho reconhece o valor socialfundamental da maternidade e da paternidade, no respeito pelos direitos das mulherestrabalhadoras que queiram assumir a maternidade.

A aprovação desta proposta também representa uma vitória sobre as posições maisconservadoras que persistem neste Parlamento Europeu, o que significa que a luta vaicontinuar na defesa dos direitos das mulheres, da maternidade e da paternidade, dos direitosdas crianças.

Esperamos, agora, que o Conselho aceite esta posição do Parlamento Europeu, que aumentade 18 para 20 semanas a proposta da Comissão Europeia, e visa alterar a actual directivaainda em vigor que apenas consagra 14 semanas de licença de maternidade.

Robert Goebbels (S&D), por escrito. – (FR) Apoiei a posição da minha colega Edite Estrelaa favor de uma melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperasou lactantes no trabalho. "A mulher é o futuro do homem", escreveu Louis Aragon. Ascrianças são preciosas e devem ser protegidas. As suas mães também.

Nathalie Griesbeck (ALDE), por escrito. – (FR) Ao pronunciar-se a favor de um períodomínimo de licença de maternidade de 20 semanas (que é actualmente de 14 semanas), comremuneração integral, e ao reconhecer na União Europeia uma licença de paternidadeobrigatória de duas semanas, o Parlamento Europeu avançou no sentido de um progressosocial inegável.

Dito isto, votei a favor do prolongamento da licença de maternidade para 18 semanas enão para 20. Com efeito, parece-me que um período de 20 semanas, apesar de constituiruma proposta extremamente generosa, é susceptível de se voltar contra as mulheres e deservir de argumento adicional para não as contratar ou para complicar o seu regresso aotrabalho. Por outro lado, lamento que a disposição que previa a possibilidade de prolongara licença de maternidade em caso de complicações (nascimento prematuro, deficiência,etc.) tenha sido rejeitada.

Françoise Grossetête (PPE), por escrito. – (FR) Lamento o resultado desta votação. Todosnós partilhamos a vontade de permitir às jovens mães construir um vínculo forte com osseus bebés durante o período de recuperação pós-parto. Preocupa-me profundamente,

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porém, o impacto económico de uma tal medida, que custará 1,5 mil milhões de euros aonosso país.

Nestes tempos de crise económica, não é a demagogia que irá pagar a factura. As empresasnão poderão pagá-la, e os orçamentos dos Estados-Membros ainda menos. Tais medidaspoderiam penalizar algumas carreiras profissionais ou constituir um travão à contrataçãode jovens mulheres. Perpetuar um sistema tradicional em que o pai leva para casa o salárioe a mulher cuida dos filhos, como querem alguns, representa um passo atrás. A liberdadede escolha é também um direito para as mulheres.

As negociações que irão agora iniciar-se entre os governos dos 27 Estados-Membros noConselho serão difíceis.

Pascale Gruny (PPE), por escrito. – (FR) Não quis apoiar este relatório na medida em queum aumento de 14 para 20 semanas com remuneração integral teria consequênciasfinanceiras catastróficas para vários Estados-Membros. O estudo da OCDE demonstra quedaí resultarão custos muito importantes para os orçamentos sociais dos Estados-Membros.

Para a França, o montante anual cifra-se em 1,3 mil milhões de euros e para o Reino Unidoem 2,4 mil milhões de libras. Na actual situação económica, não é possível absorveraumentos nestes orçamentos. Além disso, as empresas teriam de suportar estes custosadicionais, o que é impossível. No entanto, apoiar as mulheres durante a maternidade éessencial. A aplicação destas medidas constitui um risco muito grande para o emprego dasmulheres. O estudo da OCDE mostra também que o prolongamento da licença dematernidade se traduziria numa redução do emprego feminino.

Ao querer ajudar as mulheres, existe um risco de as penalizar no mercado de trabalho.Desejo ajudar as mulheres no seu emprego e desejo apoiá-las durante a maternidade. Oaumento de 14 para 18 semanas, proposto pela Comissão, foi um progresso real. Outroavanço teria sido a previsão de medidas progressistas relativas aos modelos de guarda dascrianças.

Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Votei a favor do relatório Estrela e regozijo-mecom o facto de o Parlamento ter adoptado uma posição progressista em relação às mães,às futuras mães e aos pais. A extensão da licença de maternidade para 20 semanas é umprogresso social inegável, que encarna a Europa social que desejamos sinceramente. Estetexto melhora a conciliação entre vida familiar e vida profissional.

A instauração de uma licença de paternidade obrigatória de duas semanas é igualmenteum importante passo em frente na mudança de mentalidades e na repartição de papéisentre os progenitores. O argumento dos custos adicionais que esta medida implicaria seriaválida se as mulheres não complementassem já actualmente a sua licença de maternidadecom baixas por doença e/ou férias pagas. As empresas e os sistemas de protecção social jápagam estes custos.

Richard Howitt (S&D), por escrito. – (EN) Sinto orgulho por ter votado a favor daextensão dos direitos de maternidade e condeno os deputados conservadores e democratasliberais que primeiro conspiraram para impedir o consenso parlamentar em torno destadirectiva e que hoje votaram a favor da negação de direitos dignos às mulheres trabalhadoras.Quero registar que pretendi votar a favor de um compromisso diferente sobre a duraçãodo período de pagamento do subsídio de maternidade, mas respeito que essa opção tenhacaído, porque uma maioria no Parlamento apoiou as 20 semanas. Reconheço que irá haveruma nova negociação sobre este ponto antes de a directiva ser enfim adoptada, e que seria

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vital para este Parlamento aprovar finalmente um texto que permitisse o avanço do processo.Concordo plenamente com os meus colegas trabalhistas britânicos que se empenham emproteger em especial as mulheres com baixos salários e, a este respeito, apelo ao Governobritânico para que respeite integralmente a cláusula de não regressão prevista na directiva.

Romana Jordan Cizelj (PPE), por escrito. – (SL) O Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) assinalou que muitas das propostas (alterações) apresentadas excedemo âmbito e a finalidade da directiva. Concordo com os meus colegas, mas, ao decidir comovotar, desta vez abri uma excepção. A situação das mulheres na UE, no que diz respeito aemprego, níveis salariais, exposição à pobreza, etc., é significativamente mais fraca do quea dos homens. Acredito que a igualdade de oportunidades é um dos princípios básicossubjacentes ao trabalho na UE e, por essa razão, utilizarei todas as oportunidades parapromover a igualdade de situações das mulheres e dos homens. O voto de hoje não édefinitivo, mas irá dar-nos uma forte posição negocial no Conselho.

Cătălin Sorin Ivan (S&D), por escrito. – (RO) O alargamento do período de licença dematernidade para 20 semanas, com salário completo durante esse período, é uma medidaque restitui a dignidade às mães. Foi por isso que votei, sem reservas, a favor da propostacontida no relatório, com a certeza de que os Estados-Membros irão dar atenção à nossadecisão e incorporá-la nas legislações nacionais.

Além do apoio às mães, este relatório também recomenda aos Estados que introduzam alicença parental integralmente remunerada, reconhecendo desse modo o papel de ambosos progenitores na educação dos filhos. Hoje, com o nosso voto, enviámos uma importantemensagem que apela a uma vida condigna, transcendendo os limites ideológicos e ossistemas sociais nacionais.

Philippe Juvin (PPE), por escrito. – (FR) Não quis apoiar este relatório, porque a extensãodo período de licença de maternidade de 14 semanas (conforme previsto na directiva actual)para 20 semanas com remuneração integral teria um impacto financeiro considerável nosEstados-Membros (1,3 mil milhões de euros para a França) num momento de criseeconómica pouco favorável ao crescimento orçamental.

Em segundo lugar, os encargos adicionais para as empresas nos Estados-Membros ondesão estes últimos que financiam em parte a licença de maternidade (por exemplo, aAlemanha) seriam muito elevados. Em terceiro lugar, as consequências negativas para aempregabilidade das mulheres são reais, nomeadamente no que se refere ao regresso aomercado de trabalho.

Por fim, o Parlamento Europeu, ao adoptar medidas que não são financeiramente exequíveise que podem mesmo ser contraproducentes em termos de participação das mulheres nomercado de trabalho, descredibiliza-se no processo de decisão europeu. Prolongar a licençade maternidade para 18 semanas, como proposto pela Comissão, teria sido um passoimportante na melhoria da situação das mulheres, evitando as armadilhas do texto talcomo finalmente aprovado pelo Parlamento Europeu, quando o essencial é permitir àsmulheres conciliar a vida profissional e a vida familiar.

Jarosław Kalinowski (PPE), por escrito. – (PL) Em face do envelhecimento da populaçãoe das dificuldades que a economia europeia enfrenta, temos de utilizar todas asoportunidades disponíveis para incentivar as mulheres a terem filhos e para lhes facilitaro regresso ao trabalho. Muitas mulheres são especialistas eminentes nas suas áreas, e aeconomia da Europa não pode dispensar os serviços desta força de trabalho altamente

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qualificada. A situação é similar com as mulheres que vivem e trabalham nas zonas rurais.Muitas vezes, estas mulheres não têm uma licença de maternidade no verdadeiro sentidoda palavra, pelo contrário, têm de regressar ao trabalho o mais rapidamente possível, comum risco óbvio para a saúde delas e dos filhos. É por isso que elas devem ter os mesmosprivilégios que as mulheres que trabalham fora do sector agrícola.

Sandra Kalniete (PPE) , por escrito. – (LV) Votei a favor do alargamento do período mínimoobrigatório de licença de maternidade para 18 semanas, mas contra o alargamento para20 semanas. Compreendo perfeitamente a necessidade de assegurar condições adequadaspara as mães puérperas. Contudo, a longo prazo, o alargamento do período mínimo delicença para 20 semanas seria uma desvantagem para as mulheres jovens que planeiam teruma família e uma carreira profissional. Além disso, actualmente, os Estados-Membrosnão conseguem, pura e simplesmente, fazer face aos custos adicionais com os seusorçamentos. As empresas opuseram-se a um período mínimo de 20 semanas de licençade maternidade, porque isso irá causar custos adicionais incomportáveis na actual situaçãoeconómica. Existe, por isso, o risco de muitas entidades patronais não contratarem mulheresjovens, pura e simplesmente. Já se pode constatar a dificuldade dos jovens em encontraremprego, e o alargamento da licença de maternidade irá reduzir ainda mais a capacidadedas mulheres para competirem com os homens no mercado de trabalho. Penso que nãodevemos permitir que isso aconteça, e que temos de pensar a longo prazo. Fixar a licençade maternidade nas 20 semanas representará milhares de milhões em custos orçamentaisem toda a Europa. São custos que nem os governos nacionais nem os contribuintes podemsuportar actualmente. Vamos, evidentemente, ser alvo de críticas de uma parte da sociedade,mas estamos aqui para trabalhar e tomar as melhores decisões possíveis que sejam dointeresse de todos os Europeus.

Rodi Kratsa-Tsagaropoulou (PPE), por escrito. – (EL) Manifestei uma opinião diferentena votação sobre a questão da licença. Prefiro a proposta de 18 semanas da Comissão.

A proposta é realista e equilibrada em relação às condições de mercado, não só por causada crise económica, mas também por causa das exigências e das obrigações e ambiçõesprofissionais das próprias mulheres trabalhadoras.

As mulheres não devem ser seres superprotegidos evitados pelo mercado de trabalho.

Além disso, como tenho constantemente defendido, os esforços para conciliar a vidafamiliar com o trabalho e a educação dos filhos necessitam basicamente de infra-estruturassociais e de responsabilidade social das empresas ao longo de toda a vida profissional deuma mulher.

Constance Le Grip (PPE) , por escrito. – (FR) Votei contra o relatório Estrela porque aextensão da licença de maternidade para 20 semanas, na realidade, só à primeira vista éuma boa ideia. Com efeito, esta extensão é apresentada como concedendo mais direitosàs mulheres, quando, em minha opinião, teria repercussões negativas para as mulheresque tentam aceder ao mercado de trabalho.

É de recear que esta proposta, a ser implementada, possa voltar-se contra as mulheres,dificultando consequentemente a sua empregabilidade. Contrariamente ao que alegam arelatora e aqueles que apoiam este texto, não existe qualquer relação óbvia entre as taxasde natalidade e a duração da licença de maternidade.

Além disso, a proposta de extensão de 14 para 20 semanas integralmente remuneradasnão é uma posição financeiramente aceitável para muitos países. De facto, os custos

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adicionais incorridos com esta extensão não poderão ser suportados nem pelas empresasnem pelos Estados-Membros. A proposta inicial da Comissão Europeia, nomeadamentea passagem de 14 para 18 semanas, constituía um passo em frente suficiente.

Elżbieta Katarzyna Łukacijewska (PPE), por escrito. – (PL) Gostaria de sublinhar, quantoao relatório da senhora deputada Edite Estrela, que votei a favor das regras relativas à licençade maternidade de 20 semanas, da protecção das mulheres contra um despedimento injustoseis meses depois de regressarem ao trabalho, e a favor da manutenção da integralidadeda remuneração e da protecção das mulheres lactantes, mas neste caso sem recomendaçõesespecíficas, pois considero que estas regras devem ser da competência dos Estados-Membros.

No caso de nascimentos múltiplos, penso que essa licença deveria ser alargadaproporcionalmente. Apoio sempre quaisquer ideias que ajudem as mulheres a terem umaexperiência segura da maternidade e que lhes garantam melhores condições pararegressarem ao mercado de trabalho.

Toine Manders (ALDE), por escrito. – (NL) A delegação do Partido Popular para aLiberdade e a Democracia dos Países Baixos (VVD) no Parlamento Europeu votou hojecontra a proposta de directiva que aumenta a licença de maternidade (remunerada) para20 semanas. Somos de opinião que o mínimo previamente estabelecido de 14 semanas ésuficiente. As mulheres que se sintam incapazes de regressar ao trabalho no fim da licençade maternidade podem obter uma licença, nos termos das disposições da legislação relativaàs baixas por doença dos seus países. Esta proposta acarretaria um aumento dos encargosda segurança social, que é uma questão sobre a qual os Estados-Membros devem decidirsozinhos, sobretudo numa altura como esta, em que todos os Estados-Membros têm deeconomizar. Existem outras formas menos rigorosas de implementar medidas que permitamum melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada. A proposta pode conduzira que mulheres jovens e talentosas fiquem com menos oportunidades no mercado detrabalho, porque as entidades patronais não vão querer correr o risco de ter de pagar muitosmeses de licença de maternidade às suas trabalhadoras. Nem o aumento da natalidade naUE, que é a solução desejada para o problema do envelhecimento da população, tem deser regulado a nível da UE. No que diz respeito ao VVD, regras da UE para regulamentardispensas do trabalho para amamentação são supérfluas. A delegação do VVD noParlamento Europeu: Hans van Baalen, Jan Mulder e Toine Manders.

David Martin (S&D), por escrito. – (EN) Votei a favor deste relatório. Dado que todos oscidadãos da UE têm o direito de viver e trabalhar em toda a UE, é essencial queproporcionemos às mulheres um direito mínimo à licença de maternidade onde quer queestejam a trabalhar na altura do parto. Uma licença de maternidade condigna inscreve-sena questão mais vasta da participação feminina no mercado de trabalho e da resolução dasimplicações financeiras de uma sociedade envelhecida. O objectivo da UE é atingir umataxa de emprego de 75% até 2020, e um elemento decisivo para tal será dar a todas as mãeso direito a terem uma licença de maternidade com os recursos necessários e a regressaremdepois ao trabalho. Numa sociedade envelhecida, onde a procura de assistência social estáa aumentar e o número de pessoas que providenciam essa assistência está a diminuir, sãonecessárias licenças mais realistas como a licença de maternidade. As mulheres não devempensar que ter filhos é incompatível com o trabalho – as nossas políticas devemproporcionar assistência às pessoas mais jovens e às mais velhas. A aplicação desta medidanão entrará em vigor senão dentro de pelo menos 5 anos. Além disso, com um aumentoda participação das mulheres no mercado de trabalho de apenas 1,04%, os custos adicionaisdo aumento da licença de maternidade ficariam cobertos.

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Clemente Mastella (PPE), por escrito. – (IT) Uma das prioridades estabelecidas na agendasocial da União Europeia é a necessidade de promover políticas destinadas a facilitar aconciliação entre vida profissional e vida privada e familiar, dirigidas tanto a homens comomulheres. Um melhor equilíbrio entre vida profissional, por um lado, e vida privada efamiliar, por outro, é também um dos seis domínios prioritários de acção definidos no"Roteiro para a igualdade entre homens e mulheres" 2006-2010.

A melhoria destas disposições é, portanto, parte integrante da política europeia em respostaao forte declínio demográfico registado ultimamente. A maternidade e a paternidadeconstituem, sem dúvida, direitos fundamentais inalienáveis para fins de equilíbrio social.É, portanto, desejável que a revisão da directiva em apreço resulte em benefício tanto dasmulheres que trabalham como dos homens que desejam assumir responsabilidadesfamiliares.

Não se pode separar o respeito de um melhor equilíbrio entre o princípio da protecção dasaúde e da segurança do princípio da igualdade de tratamento. Este e outros aspectos,porém, induzem-me a apoiar a necessidade de, quando adequado, deixar aosEstados-Membros ampla margem de flexibilidade no estabelecimento de normas sobrelicenças, e isto apenas por razões de sustentabilidade económica, a fim de cobrir os custosadicionais decorrentes das mesmas.

Marisa Matias (GUE/NGL), por escrito. − O relatório aprovado propõe uma licença dematernidade de 20 semanas sem perda salarial. Esta medida, por si só, poderá representaruma enorme melhoria social na vida das mulheres em cerca de dois terços dos países naUnião. É o caso de Portugal, onde as mulheres apenas têm direito a 16 semanas totalmentepagas. A inclusão de duas semanas de licença de paternidade é também um passo importantena luta pela igualdade entre mulheres e homens. Mais importante, este relatório é aprovadoem contracorrente com as medidas recentemente adoptadas em resultado das políticas deausteridade, que favorecem o corte na despesa pública e a redução dos direitos sociais.Deste modo, espero que este relatório seja um contributo para o fortalecimento dos direitoslaborais e sociais da União e em todos os Estados-Membros.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − É unânime na UE que um dos seus principais problemasé o reduzido crescimento demográfico, face a reduzidos níveis de natalidade. Assim, tudoo que contribua para alterar esta situação é muito importante. A defesa das trabalhadorasgrávidas e lactantes no trabalho, bem como a redução das assimetrias entre o homem e amulher, são passos importantes nesse sentido. Apesar da crise que atravessamos, as medidashoje aqui aprovadas são muito importantes para inverter, num futuro próximo, a tendênciademográfica decrescente que a UE enfrenta.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito. – (ES) Votei a favor da resolução legislativa doParlamento Europeu sobre a "introdução de medidas destinadas a promover a melhoriada segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes no trabalho",por considerar que o reforço dos direitos das mulheres no trabalho é um progresso realno sentido da igualdade dos géneros numa área onde, infelizmente, existem muitas barreiras.A discriminação que as mulheres sofrem no mercado de trabalho é muito preocupante jáque, na maioria dos casos, são elas que devem tomar a seu cargo as tarefas domésticas econciliá-las com a sua actividade profissional. Esta situação agudiza-se nos meses anteriorese posteriores ao parto, sendo necessária uma maior protecção, a fim de evitar adiscriminação de que as mulheres são vítimas actualmente. Entendo que o aumento paraum período contínuo de licença de maternidade de pelo menos 20 semanas repartidas

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antes e/ou depois do parto, com um período mínimo obrigatório de seis semanas após oparto, é um passo em frente no que respeita ao direito das mulheres a conciliar vida familiare vida profissional.

Louis Michel (ALDE), por escrito. – (FR) O prolongamento do período da licença dematernidade é um projecto importante em termos do lugar que é conferido aos bebés e àparentalidade na nossa sociedade. Apoio a proposta de concessão de 18 semanas de licençade maternidade, assim como o princípio da licença de paternidade. É preciso evitar osefeitos perversos de medidas demasiado generosas que correm o risco de provocardiscriminações no emprego. Sou, aliás, defensor de uma maior liberdade de escolha paraas mulheres grávidas ou puérperas. Elas devem poder decidir quando desejam usufruir daparte não obrigatória da sua licença de maternidade, o que deveria ajudá-las a melhorconciliar a vida privada com a vida profissional e a preservar a sua empregabilidade.

É igualmente importante criar um estatuto apropriado para as mulheres que desejamretomar o trabalho após uma interrupção de carreira. Chamo também a atenção para ofacto de o direito à licença parental e a garantia de retorno ao mesmo posto de trabalhodeverem poder ser suportados pelos empregadores, em particular nas pequenas e médiasempresas, sob pena de aqueles poderem hesitar em contratar ou promover mulheres emidade fértil.

Miroslav Mikolášik (PPE), por escrito. – (SK) Face às profundas alterações demográficase ao envelhecimento da sociedade europeia, a União Europeia deve adoptar activamentemedidas de apoio à parentalidade.

O alargamento do período mínimo de licença de maternidade terá em conta, em minhaopinião, o facto de os primeiros meses de vida de uma criança serem cruciais para o seucrescimento saudável e equilíbrio psíquico. Como tal, apoio o pagamento do salário integraldurante todo o período da licença de maternidade, o que deverá ter um efeito positivosobre as mulheres, para que possam tornar-se mães sem terem de se preocupar com osriscos de pobreza ou de exclusão social. Deve também ser garantido o direito de regressarao mesmo posto de trabalho ou a um posto equivalente com as mesmas condições detrabalho após o nascimento, e deve ser dada a possibilidade de requerer alterações aohorário ou à organização do trabalho, bem como a possibilidade de recusar fazer horasextraordinárias logo após o parto.

Elisabeth Morin-Chartier (PPE), por escrito. – (FR) Sou contra o projecto de alargamentoda licença de maternidade para 20 semanas remuneradas a 100%. A adopção deste regimeteria consequências importantes para os orçamentos dos Estados-Membros e das empresas;para a França, o custo anual adicional ascenderia a 1,3 mil milhões de euros, um encargofinanceiro insustentável num período de restrições orçamentais. Embora seja uma ideiaatraente, as consequências sobre o emprego das mulheres podem ser negativas. Nãogostaríamos que esta medida significasse um retrocesso para as mulheres. As mulheresque regressam ao trabalho após a gravidez e as mulheres jovens que procuram trabalhocorrem o risco de ser fortemente penalizados por esta medida. Em contrapartida, a propostade um máximo de 18 semanas era socialmente justa. Apelo à implementação, o maisrapidamente possível, de ideias inovadoras em matéria de guarda de crianças e de conciliaçãoentre vida profissional e vida familiar, a fim de permitir tanto às mães como aos paisdesempenhar plenamente o seu papel de progenitores.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) A minha decisão de votar a favor desta propostaderiva da necessidade de melhorar a segurança e a saúde das trabalhadoras grávidas,

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puérperas ou lactantes no trabalho. A modificação da directiva visa, de facto, promover aigualdade de género no mundo do trabalho, promovendo um melhor equilíbrio entre avida profissional e a vida familiar das mulheres. As mulheres são muitas vezes vistas comotrabalhadoras "de risco" ou "de segunda escolha" dada a elevada probabilidade de ficaremgrávidas ou de fazerem uso de uma licença de maternidade. É importante apoiar certasformas de licença para combater alguns preconceitos e estereótipos. Contudo, não devemosesquecer que a maternidade e a paternidade são direitos essenciais, se quisermos garantira possibilidade de alcançar um equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar. Existem,obviamente, certos pontos relativos a algumas alterações, a respeito dos quais manifesteiuma opinião contrária. Na verdade, penso que a lei europeia deve estabelecer umenquadramento geral, que ofereça garantias e salvaguardas mínimas, no âmbito do qualos Estados-Membros tenham espaço para decidirem à sua vontade sobre as medidas maisadequadas. Existem, de facto, diferenças ligadas à cultura, à assistência social e aos sistemasde segurança social que têm de ser levadas em devida consideração e também em virtudedo respeito pelo princípio da subsidiariedade.

Georgios Papanikolaou (PPE), por escrito. – (EL) Votei a favor do relatório sobre aproposta de directiva do Parlamento Europeu e do Conselho que altera a Directiva92/85/CEE do Conselho relativa à introdução de medidas destinadas a promover a melhoriada segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes no trabalho.Dois factores importantes determinaram o meu voto em algumas alterações: em primeirolugar, a importância vital de garantir a segurança e a saúde das mães jovens e das futurasmães, e, em segundo lugar, o facto de a Grécia ter uma legislação específica de protecçãoàs mulheres grávidas.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente as propostas deimplementação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e da saúde dastrabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes no trabalho, que incluem uma licença dematernidade de vinte semanas e uma licença de paternidade de duas semanas, ambas semredução de salário.

Estas são medidas sociais que correspondem à Europa que queremos ter, visando o apoioà natalidade, a família, a saúde dos bebés, o emprego dos pais.

É, porém, um projecto de difícil concretização e que pode, perversamente, agravar adiscriminação da mulher no mundo do emprego porque: (1) coloca uma pressão adicionalnos sistemas de segurança social, os quais, em muitos casos, se encontram já no limiar dasustentabilidade; e (2) introduz novos constrangimentos no mercado de trabalho, o qualjá não responde às necessidades da actual população activa. Receio, pois, que estas medidasde apoio aos pais trabalhadores provoque o aumento das taxas de desemprego e/ou otrabalho precário entre as mulheres jovens.

As negociações do Parlamento com o Conselho têm de ser realistas e pragmáticas, e tambémambiciosas, para que a futura lei cumpra, no enunciado, e favoreça, na prática, os valoresda proposta esta semana votada em plenário.

Aldo Patriciello (PPE), por escrito. – (IT) Com o meu voto, apelo a uma nova abordagemglobal que permita enviar uma mensagem poderosa às empresas, no sentido de que areprodução humana diz respeito tanto aos homens como às mulheres. O acordo-quadrorelativo à licença parental é um aspecto importante da política de igualdade deoportunidades que promove a conciliação entre a vida profissional e a vida privada e

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familiar, mas limita-se a estabelecer requisitos mínimos, pelo que apenas pode serconsiderado um primeiro passo.

Concordo com a comunicação que considera os direitos das crianças uma prioridade daUnião e que convida os Estados-Membros a observarem a Convenção das Nações Unidassobre os Direitos da Criança e os seus protocolos facultativos, assim como os Objectivosde Desenvolvimento do Milénio. No que diz respeito a esta directiva, isto significa a garantiade que todas as crianças tenham a possibilidade de receberem cuidados adequados às suasnecessidades de desenvolvimento e de acederem a cuidados de saúde de qualidade.

Rovana Plumb (S&D), por escrito. – (RO) Hoje, o Parlamento Europeu fez uminvestimento no futuro da União Europeia ao promover a maternidade através doalargamento do período de licença de maternidade para 20 semanas, com salário completo,o que pode ser descrito como uma melhoria tanto quantitativa como qualitativa. Oargumento simplista dos benefícios económicos a curto prazo não resistiu, prevalecendoa sustentabilidade da sociedade europeia, que é impossível de alcançar sem uma demografiasaudável e, consequentemente, por acréscimo, sem uma maior protecção às mães e aosseus filhos.

Elaborei o parecer da Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais e votei a favor da nãopenalização da maternidade e do pagamento do salário integral; da proibição dedespedimento das mulheres grávidas durante o período compreendido entre o início dagravidez e seis meses após o termo da licença de maternidade; do direito das mulheres aretomarem o seu posto de trabalho ou um "posto de trabalho equivalente", o que significacom a mesma remuneração e categoria profissional e com uma evolução na carreira idênticaà que tinham antes da licença de maternidade; do facto de gozarem licença de maternidadenão afectar o seu regime de pensões; de as mulheres trabalhadoras não serem obrigadas arealizar trabalho nocturno ou a fazer horas extraordinárias durante as 10 semanas anterioresà data prevista do parto e durante o resto da gravidez se a saúde da mãe e do feto assim oexigir, e durante a totalidade do período de amamentação.

Cristian Dan Preda (PPE), por escrito. – (RO) Votei contra esta resolução por considerarque o subsídio de maternidade é uma questão que deve ser decidida a nível nacional, combase no princípio da subsidiariedade. Além disso, penso que, numa altura de crise, a adopçãodesta medida pode ter o efeito completamente oposto, já que irá actuar como factordissuasor para as empresas que desejam contratar mulheres.

Evelyn Regner (S&D), por escrito. - (DE) Subscrevo a melhoria das normas mínimaseuropeias em matéria de protecção da maternidade. Contudo, acabei por votar contra esterelatório, uma vez que sou oriundo de um país que estabeleceu um equilíbrio específicoentre a protecção da maternidade e a licença parental remunerada/não remunerada. Paraalém de 16 semanas de licença total com direito a remuneração equivalente a um saláriocompleto, as mulheres têm também direito a uma licença de maternidade não remuneradacom abono de família. O montante do abono de família estabelecido durante a licença dematernidade não remunerada depende da sua duração e do nível de rendimento maisrecente. A legislação austríaca vai muito mais longe do que as normas mínimas estipuladasneste relatório.

Além disso, sou também a favor da introdução de uma licença de paternidade comremuneração equivalente a um salário completo, embora neste caso, deva ser escolhidauma base jurídica diferente. Penso que esta licença de paternidade não deve regular-se pela

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directiva da protecção da maternidade, mas sim por uma directiva específica que não visea protecção da saúde da mãe e da criança.

Mitro Repo (S&D), por escrito. - (FI) Votei a favor das 20 semanas da licença dematernidade. Períodos mais longos de licença de maternidade são importantes para odesenvolvimento e o bem-estar da criança, que representa a melhor forma de investimentona sociedade. Na Finlândia, existe um sistema viável de licenças de maternidade epaternidade. Contudo, esse tipo de licença não está disponível para todos na Europa. Poressa razão, é importante garantir que as mulheres não tenham de sofrer financeiramentese decidirem ter filhos. Os encargos financeiros das licenças de maternidade não devemrecair integralmente sobre as empresas: o sector público deve partilhar, sem qualquerdúvida, esses encargos. As pequenas e médias empresas, nomeadamente, correm o riscode enfrentar dificuldades. E os sectores dominados pelo trabalho feminino também nãodevem ser sujeitos a uma pressão económica excessiva. A posição das mulheres no querespeita ao salário é alarmante. Não pode ser enfraquecida. É vital zelar por que tal nãoaconteça.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. - (ES) Finalmente, o Parlamento fezalguma justiça relativamente às mulheres trabalhadoras na União Europeia, embora nãotoda a justiça que elas merecem. Foi um longo processo. No final do último mandatoparlamentar, estivemos prestes a adoptar um texto que teria representado um passo degigante para os direitos das mulheres trabalhadoras. Não pudemos aprová-lo porque oGrupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e o Grupo da Aliança dosDemocratas e Liberais pela Europa juntaram forças contra ele e decidiram reenviá-lo àComissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros.

Após meses de trabalho, hoje votámos mais uma vez sobre um texto que, embora não tãoambicioso como o anteriormente rejeitado pelo PPE e pelo ALDE, é corajoso: permite àsmulheres manterem o seu salário durante a licença de maternidade; aumenta a sua protecçãolegal contra o despedimento; permite uma maior flexibilidade em termos de horas detrabalho, conciliando melhor a maternidade com o trabalho; prolonga a licença dematernidade até, no mínimo, 20 semanas (embora alguns de nós tivéssemos preferido 24semanas, conforme recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)); facilita amobilidade das mulheres trabalhadoras dentro da União Europeia e obtém progressos noque respeita à responsabilidade conjunta dos pais, embora não tantos como alguns de nósteríamos desejado.

Licia Ronzulli (PPE), por escrito. - (IT) A votação de hoje encoraja as trabalhadoras quedesejam ser mães, marcando assim um importante passo em direcção a uma maiorprotecção, que ajudará milhões de europeias a conciliarem o papel de mães com o detrabalhadoras de forma mais eficaz. Os interesses económicos não ajudaram: enveredámosagora por um caminho que vai de encontro às necessidades de novas famílias. O resultadoda votação aponta no sentido de uma sociedade que coloca o crescimento, a formação ea educação no centro da acção política. Creio ser infundado o receio de o prolongamentoda licença de maternidade com remuneração equivalente a um salário completo de 14 para20 semanas vir a penalizar a mulher: é nosso dever proteger as trabalhadoras maisvulneráveis, concedendo-lhes o direito de ficar em casa com os filhos. A vitória de hoje noParlamento representa também uma satisfação pessoal, dados os esforços que eu própriadesenvolvi com vista a garantir que nenhuma lactante tenha de executar trabalhos pesadosou perigosos, isentando-as de horas extraordinárias e trabalho nocturno. Passamos agoraa responsabilidade para os Estados-Membros, e espero que eles se comprometam

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integralmente nesse sentido. Com a decisão de hoje, o Parlamento Europeu mostrou quenão quer que as mulheres enfrentem um dilema, quer sim mulheres livres e conscientesdo seu papel na nossa sociedade.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. - (IT) Numa Europa envelhecida, são essenciais políticasde defesa das mulheres que optam por ter filhos. Com uma legislação tão fragmentadacomo a que existe actualmente, há demasiadas diferenças entre Estados-Membros no querespeita ao apoio à maternidade, facto que desencoraja muitas mulheres a tornarem-semães. Esta directiva estabelece um tempo mínimo de licença de maternidade de 20 semanas,seis das quais, pelo menos, com remuneração equivalente a um salário completo.

É evidente que, em países como a Itália, esta lei é supérflua porque o tempo de remuneraçãocompleta é muito maior do que o tempo mínimo estabelecido pela directiva, e o tempoem que a mulher pode estar ausente do trabalho para cuidar dos filhos é extensível até aos8 anos de idade. Noutros países, contudo, esta directiva representa lançar finalmente asbases de uma dignidade garantida para as mulheres. A proposta prevê também que os paispossam ter duas semanas de licença paga, de forma a poderem estar com as suas mulheresdurante o período imediatamente a seguir ao nascimento.

Daciana Octavia Sârbu (S&D), por escrito . - (EN) Hoje votei a favor do reforço dosdireitos e de um maior equilíbrio entre a vida privada e a vida profissional dos paistrabalhadores. Uma questão especialmente importante neste relatório é a das disposiçõesrelativas às mulheres lactantes. Os intervalos para amamentar concedem às mães o tempode que precisam para fornecerem a alimentação melhor e mais natural para odesenvolvimento do seu filho. A nutrição é determinante para a saúde ao longo da vida.Congratulo-me com o facto de este relatório ser favorável às mulheres que voltaram aotrabalho mas, mesmo assim, decidiram amamentar o filho e fornecer-lhe os correspondentesbenefícios nutricionais.

Carl Schlyter e Isabella Lövin (Verts/ALE), por escrito. - (SV) Cremos que uma licençaparental bem desenvolvida juridicamente é da maior importância para todos os países. Navotação final, contudo, não quisemos votar a favor da proposta legislativa do Parlamentoporque contraria diversos princípios muito importantes para nós. Em primeiro lugar, aproposta pretende introduzir uma licença obrigatória de seis semanas só para a mulher.

Pensamos que devem ser os progenitores a escolher como é que utilizam a licença parentale que esta proposta constituiria um passo na direcção errada no que respeita à igualdadedos géneros na Suécia. Em segundo lugar, pensamos não ser razoável estabelecer o nívelde remuneração da licença parental no pagamento de um salário completo. No que respeitaà Suécia, isso poderia forçar a uma redução do tempo de seguro parental, de forma afinanciar um regime tão caro. Somos de opinião que a organização dos regimes de segurançasocial é da responsabilidade dos parlamentos nacionais.

Brian Simpson (S&D), por escrito . - (EN) O PTPE apoia integralmente a necessidade deaumentar a protecção das grávidas, puérperas e lactantes, pelo que votou favoravelmenteum grande número de propostas-chave da directiva, que incluem o prolongamento dalicença de maternidade para 20 semanas, a remuneração integral das mulheres nas primeirasseis semanas obrigatórias após o parto, e duas semanas de licença de paternidade comremuneração equivalente a um salário completo. Contudo, o PTPE está preocupado coma possibilidade de as propostas aprovadas pelo Parlamento Europeu poderem vir a terconsequências imprevistas em países que já dispõem de um conjunto mais complexo dedisposições relativas à maternidade. Estamos preocupados, nomeadamente, com a

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possibilidade de as propostas poderem permitir a governos mais antiquados reduzirem osseus subsídios de maternidade de tal forma que as trabalhadoras mais mal pagas possamvir a ser prejudicadas, na prática, durante o período da sua licença de maternidade. Enquantoalguns aspectos deste relatório constituirão uma melhoria incalculável em Estados-Membroscom disposições relativas à maternidade muito fracas, estas alterações podem conduzir auma regressão social noutros países.

Bogusław Sonik (PPE), por escrito. - (PL) O Parlamento Europeu aprovou hoje um relatóriodestinado a garantir a saúde das mulheres grávidas ou em licença de maternidade. Aoaprovarmos uma posição comum como esta, estamos a emitir um sinal muito claro deque apoiamos alterações destinadas a melhorar as normas europeias em matéria deprotecção às jovens mães. As mulheres vêem assim garantido um tempo mínimo de licençade maternidade, que passará a ter direito a remuneração equivalente a um salário completo.Ao evitarmos despedimentos injustos, estaremos também a reforçar a protecção dos postosde trabalho das mulheres que regressam depois da licença de maternidade.

As mudanças introduzidas pela directiva constituem um passo na boa direcção, garantindoàs mulheres europeias um direito mínimo à licença de maternidade. Congratulo-me tambémcom o facto de os pais serem incentivados a tomar conta dos filhos através da introduçãode uma licença de paternidade de duas semanas.

Catherine Soullie (PPE), por escrito. - (FR) A votação relativa ao relatório da senhoradeputada Edite Estrela é de uma importância crucial. A posição aprovada é altamentedemagógica e irresponsável. Ao exigirmos vinte semanas de licença de maternidade, estamosa desacreditar o Parlamento Europeu. Somos a voz do cidadão; aprovarmos posições tãoirrealistas não lhes faz justiça. São de esperar custos elevadíssimos para as contas sociaisdos Estados-Membros: para a França, por exemplo, esses números elevam-se a 1 300milhões de euros.

A actual situação económica não permite integrar esse tipo de aumento nos orçamentosde Estado, sem esquecer as consequências para as nossas empresas, que terão de suportaruma parte desses custos adicionais. Temos de acompanhar e incentivar as mulheres aconciliarem melhor a sua maternidade com a sua vida profissional, não a condenar as suasoportunidades de serem contratadas.

O aumento de 14 para 18 semanas proposto pela Comissão Europeia constituía umverdadeiro passo em frente; um passo que teria sido valorizado por uma reflexão sobre osnovos modos de guarda de crianças. A mensagem veiculada por este texto constitui umaenorme responsabilidade: a maternidade representaria claramente um travão à carreiraprofissional.

Marc Tarabella (S&D), por escrito. - (FR) Congratulo-me com a aprovação deste relatóriosobre a proposta de directiva relativa à implementação de medidas destinadas a promovera melhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes notrabalho e de medidas destinadas a ajudar as trabalhadoras a conciliarem a vida profissionalcom a vida familiar. Prolongámos e remunerámos melhor a licença de maternidade, e, pelaprimeira vez na história europeia, criámos uma licença de paternidade. Esta votação faráhistória no que respeita aos direitos fundamentais das mães e dos pais europeus.

A todos aqueles que queriam sacrificar os direitos sociais no altar da crise económica, devodizer-lhes que têm de ir buscar o dinheiro onde ele está, e não penalizar ainda mais oscidadãos. Uma licença de maternidade mais confortável e a criação de uma licença de

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paternidade, eis outros tantos combates em prol de uma sociedade um pouco mais humana,neste momento em que a família está a tornar-se, cada vez mais, o último reduto face aostormentos da vida.

Keith Taylor (Verts/ALE), por escrito. - (EN) Votei hoje favoravelmente neste Parlamentouma proposta legislativa que garante um subsídio de paternidade/maternidade reforçadoe prolongado. Fi-lo após ter sofrido a pressão dos lóbis a favor e contra. Estou bem cienteda situação financeira no Reino Unido, que irá piorar ainda mais com os recentes anúnciosorçamentais de mais cortes nas despesas. Todavia, o Parlamento Europeu defendia 20semanas de licença de maternidade com remuneração equivalente a um salário completo,e 2 semanas de licença de paternidade, e eu penso que se trata de um investimento razoávelpara a economia, que ajuda a atingir o objectivo dos 75% de participação dos trabalhadoresaté 2020. Melhora a saúde dos bebés e protege a saúde e o bem-estar das mães. Representaum passo para colmatar o fosso salarial entre os géneros. Na União Europeia, as mulheresganham em média menos 17% do que os homens. Se não garantirmos remuneraçõesdecentes durante as licenças de maternidade, as mulheres são punidas nos seus rendimentospor terem filhos. E incentivar o pai a participar nos cuidados a prestar à criança é tambémalgo de muito positivo. Para além da morte e dos impostos, o nascimento é outra certezada vida. Os nossos filhos são o futuro e as melhorias hoje aprovadas irão proporcionar-lhesum começo de vida melhor e mais seguro.

Marianne Thyssen (PPE), por escrito. - (NL) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, precisamos ter mais homens e mulheres a trabalhar, mais homens e mulheresque se mantenham a trabalhar, se queremos preservar a nossa prosperidade e poder pagarpensões. Além disso, neste momento de forte concorrência e de rigor orçamental, temosde ter a coragem de tomar medidas de investimento na família e que retirem alguma pressãoda tarefa que consiste em conjugar trabalho com vida familiar. Prolongar a licença dematernidade constitui um dos meios para isso. Por essa razão, apoio o prolongamento dalicença de parto. Contudo, neste momento de dificuldades orçamentais, temos de serrealistas. Uma licença de maternidade de 20 semanas com remuneração equivalente a umsalário completo não é uma solução exequível para os nossos regimes de segurança sociale para os orçamentos dos nossos governos. Assim, nessa perspectiva, abstive-me na votaçãofinal, embora apoie um prolongamento da licença de maternidade. Por outro lado, apoioa proposta original da Comissão de um prolongamento da licença de maternidade para18 semanas, desde que seja aplicado o actual regime de compensação limitado. Espero queesta proposta tenha mais sorte na segunda leitura parlamentar.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D), por escrito. - (RO) Votei favoravelmente o relatório sobrea proposta de directiva relativa à implementação de medidas destinadas a promover amelhoria da segurança e da saúde das trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes notrabalho.

Penso ser de importância capital para as trabalhadoras no gozo de uma licença dematernidade terem direito a remuneração equivalente a um salário completo e receberemum subsídio de maternidade igual ao seu último salário, ou à média dos seus salários nocaso de o salário mensal ser inferior a ela. Isto significa que as mulheres não serãopenalizadas na sua pensão de reforma pelo período de licença de maternidade que gozaram.

Tendo em conta as tendências demográficas que se verificam na União Europeia, o índicede natalidade precisa de um impulso, através de legislação específica e de medidas quecontribuam para um melhor equilíbrio entre as vidas profissional, privada e familiar. Para

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ajudar as trabalhadoras a alcançar o equilíbrio entre as vidas profissional e privada, é vitalproporcionar períodos mais prolongados de licenças de maternidade e paternidade,incluindo os casos de adopção de crianças com menos de 12 anos. A fixação de um períodoobrigatório de licença de maternidade de 20 semanas está de acordo com a recomendaçãoda Organização Mundial de Saúde (OMS) de 16 de Abril de 2002 sobre uma estratégiaglobal para a alimentação dos bebés e das crianças mais novas.

Thomas Ulmer (PPE), por escrito. - (DE) Votei contra este relatório pois não observa comrigor o princípio da subsidiariedade e interfere com as disposições nacionais em matériade pagamentos e as obrigações dos Estados-Membros. Além disso, contém igualmenteelementos, como o aborto e a liberdade de reprodução, relativamente aos quais não possopartilhar a respectiva responsabilidade por razões de natureza religiosa.

Viktor Uspaskich (ALDE), por escrito. - (LT) Minhas Senhoras e meus Senhores, asmulheres não devem ser punidas porque decidiram ter uma família. Não se trata apenasde uma questão de ética, é também uma questão estratégica: a União Europeia está, nestemomento, a ser afectada por alterações demográficas que se devem a uma baixa taxa denatalidade e a um maior número de pessoas mais velhas. Durante estes tempos difíceis,em particular, não devemos afugentar as mulheres do mercado de trabalho. Precisamosde mais trabalhadoras, isto se a União Europeia quer aumentar a sua competitividade global.Chegou a altura de combater os estereótipos que se instalaram na sociedade. As mulherestrabalhadoras são muitas vezes percepcionadas como trabalhadoras "de alto risco" ou "desegunda escolha". Assim, é essencial que as novas disposições relativas às licençasapresentadas neste relatório ajudem a acabar com esses estereótipos. Além disso, devemosprestar mais assistência às mulheres que foram abandonadas pela sociedade. As estatísticasda União Europeia mostram que, na Lituânia, as mulheres solteiras enfrentam o granderisco da pobreza. O risco de pobreza para as trabalhadoras deste grupo é de 24%. Foi umlongo caminho até a União Europeia conseguir garantir juridicamente a igualdade dosgéneros. Contudo, temos de ir ainda mais longe e de aplicar na prática a igualdade dosgéneros ainda teórica, torná-la uma igualdade dos géneros tangível, aplicada no dia-a-dia.

Frank Vanhecke (NI), por escrito. - (NL) Votei favoravelmente o relatório de Edite Estrelaporque não quero que haja qualquer mal-entendido sobre o seguinte: é evidente que asmulheres têm necessidades específicas durante e imediatamente após a gravidez, que é degrande interesse para a sociedade no seu todo que essas necessidades sejam satisfeitas eque, por conseguinte, a sociedade deve suportar uma boa parte da respectivaresponsabilidade. Contudo, gostaria de fazer algumas perguntas de princípio. Em primeirolugar, será verdadeiramente razoável impormos, a partir destas nossas torres de marfimeuropeias, normas obrigatórias a aplicar em toda a União, até mesmo nos Estados-Membrosque, em termos económicos, ainda têm um longo caminho a percorrer?

Quem vai pagar a factura disso? O que me conduz ao meu segundo comentáriofundamental: será razoável fazer pesar o fardo - passe a expressão - dessas medidasexclusivamente sobre os ombros das entidades patronais? Não seremos levados a umasituação que é afinal a oposta daquela que se pretende? Ou seja, haverá menos empregosdisponíveis para as jovens, uma vez que as entidades patronais não estarão muitosimplesmente dispostas a carregar sozinhas com as consequências a que estarão sujeitascaso as suas jovens trabalhadoras engravidem. É óptimo votarmos "socialmente" nestaAssembleia, mas não somos nós que vamos arcar com as consequências do voto social.

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Marie-Christine Vergiat (GUE/NGL), por escrito. - (FR) A directiva sobre a licença dematernidade foi finalmente aprovada por este Parlamento Europeu em 20 de Outubro.Votei favoravelmente este texto, que representa um real progresso para as mulheres.

A directiva ainda tem de ser aceite pelo Conselho. O texto hoje aprovado visa conceder àsmulheres da União Europeia o direito a uma licença de maternidade de 20 semanas, istoé, mais quatro semanas do que em França, onde as mulheres têm actualmente direito a 16semanas.

O texto aprovado estabelece também o direito a uma licença de paternidade de 20 dias(mais 9 do que os 11 dias actualmente concedidos em França).

A directiva prevê também que, durante a licença, as mulheres recebam uma remuneraçãoequivalente ao seu salário completo. Uma chamada de atenção não negligenciável no actualcontexto de crise.

Além disso, o texto beneficia de uma cláusula de não regressão social, ou seja, que, se odireito dos Estados-Membros for mais protector em certos aspectos, continuará em vigor.Assim, trata-se realmente de um progresso, com o qual me congratulo.

Relatório: Barbara Weiler (A7-0136/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório, pois existeem muitos países uma grande disparidade no que respeita às condições de pagamento àsempresas, quando estão envolvidos o Estado, as PME e as grandes empresas. Bem sabemosque, nesta situação de crise económica e dificuldades acrescidas, as empresas se debatemcada vez mais com problemas de liquidez, encontrando-se mesmo em muitosEstados-Membros expostas a um risco acrescido de falência. A directiva que tentouregulamentar esta matéria teve efeitos limitados, pelo que a proposta que agora aprovámosrepresenta um passo importante na fixação e cumprimento dos prazos de pagamento, nãosó nas relações entre as empresas e as entidades públicas como também nas relações queas empresas estabelecem entre si. Teremos agora uma legislação que nos traz maior eficáciapara cumprimento de prazos de pagamentos, com um sistema claro de sanções para osatrasos e que nos traz igualmente uma melhoria efectiva no equilíbrio do abuso de posiçãodominante que o Estado e as grandes empresas com frequência exercem sobre as PME. Estadirectiva tem agora de ser transposta rapidamente pelos Estados-Membros, a fim de queos sérios problemas causados pelo estabelecimento de prazos longos de pagamento earrastar dos pagamentos sejam finalmente resolvidos.

Roberta Angelilli (PPE), por escrito. - (IT) O cumprimento das obrigações contratuaisnas transacções comerciais pelas administrações tanto públicas como privadas não é umaquestão apenas de dever cívico, é também uma questão de assunção da responsabilidadede um conjunto de condições negativas que podem afectar empresas credoras,particularmente pequenas e médias empresas (PME). Poder contar com o pagamento apronto significa garantir a essas empresas estabilidade, crescimento, criação de empregose investimentos.

Infelizmente, segundo as informações de que dispõe a Comissão, os atrasos de pagamentorepresentam uma situação frequente na Europa, prejudicando a competitividade. Há quecriticar, em particular, as entidades públicas, pela criação de dificuldades, muitas vezesdevidas à má gestão dos seus orçamentos e fluxo de caixa ou como resultado de demasiadaburocracia nas suas máquinas administrativas. Por vezes, é também tomada a decisão detrabalhar com base em novas estruturas de despesas, sem ter em conta compromissos

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assumidos anteriormente, os quais deveriam ser honrados nos termos contratualmenteacordados.

Assim, considero ser nosso dever adoptar medidas que colmatem as lacunas existentes naanterior Directiva 2000/35/CE, tentando assim desencorajar o fenómeno dos atrasos depagamento através da adopção de medidas que levem os devedores a não atrasar os seuspagamentos e outras medidas que permitam aos credores exercer os seus direitos integrale eficazmente na eventualidade de esses atrasos ocorrerem.

Liam Aylward (ALDE), por escrito. - (GA) Votei favoravelmente este relatório oportunoe a fixação de um prazo de 30 dias para o pagamento das facturas. As PME são uma pedraangular da economia europeia; estas empresas mais pequenas representam 99,8% datotalidade das empresas da União Europeia, e criam 70% de todo o emprego na UE. Asmedidas destinadas a lidar com os atrasos de pagamento incluídas no relatório constituemmedidas práticas destinadas a apoiar as PME e a garantir que as empresas mais pequenasnão sejam prejudicadas devido às facturas por pagar.

As novas regras podem criar melhores condições de investimento e devem permitir àsPME concentrarem-se na inovação e no desenvolvimento. Além disso, congratulo-me como que o relatório diz sobre a garantia de que as novas medidas não irão aumentar o actualnível de burocracia e de que não serão criados mais problemas burocráticos ouadministrativos às PME.

Zigmantas Balčytis (S&D), por escrito. - (LT) Votei favoravelmente este relatório econgratulo-me com o facto de o Parlamento Europeu e o Conselho terem conseguidochegar a este acordo, que é extremamente importante, em particular para as pequenasempresas. Embora as pequenas e médias empresas constituam os alicerces dacompetitividade da União Europeia e o seu maior criador de empregos, a crise mostroumuito claramente que, simultaneamente, os proprietários dessas PME são os elementosmais vulneráveis desta máquina e, por outro lado, a política prosseguida pelosEstados-Membros não é particularmente favorável à sua promoção e ao seudesenvolvimento, já que a legislação europeia, como, por exemplo, a Lei das PequenasEmpresas (Small Business Act), não está a ser integralmente aplicada. Muitas empresasabriram falência durante a crise, o que constitui uma perda enorme. Assim, fico contentecom este passo que, apesar de pequeno, possui um enorme significado para o pequenocomércio, clarificando os períodos de pagamento. Vamos começar a criar, na prática, umambiente claro e compreensível para as pequenas empresas, e que ajudará a estabeleceruma cultura empresarial.

Sergio Berlato (PPE), por escrito. - (IT) Com a adopção desta nova directiva contra osatrasos de pagamento, uma medida que representa um apoio importante para as empresas,e sobretudo para as pequenas e médias empresas, o Parlamento Europeu está a contribuirdecisivamente para o benefício dos cidadãos e do sistema produtivo europeu. A directivaresultante da reformulação estabelece termos de pagamento categóricos e penalizaçõesadequadas com vista a incentivar o pronto pagamento dentro da União, tanto pelasentidades públicas como pelas empresas privadas. Segundo as estimativas, esta medidapoderá recolocar em circulação na economia europeia aproximadamente 180 mil milhõesde euros, que é o montante actualmente em dívida pelas entidades públicas ao sistemaempresarial na União.

O problema dos atrasos de pagamento é sentido de uma forma particularmente grave emItália, onde as entidades públicas levam 128 dias, em média, para realizarem os seus

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pagamentos, contra a média europeia de 67 dias. Os efeitos negativos dos atrasos depagamento para as transacções comerciais são portanto consideráveis. Espero que estadirectiva seja aplicada o mais rapidamente possível pelos governos nacionais, de modo aeliminar um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento no mercado interno europeu.

Mara Bizzotto (EFD), por escrito. - (IT) Chegámos finalmente a este ponto, após mesesde adiamento: votámos favoravelmente o relatório, que constitui uma lufada de ar frescopara o futuro das nossas empresas. Os atrasos de pagamento constituem um fenómenoque, sobretudo em Itália, pôs de joelhos dezenas de milhares de empresas, custando aosistema económico italiano cerca de 30 mil milhões de euros, segundo estimativas deassociações profissionais. Deixando de lado considerações e situações nacionais específicas,votei favoravelmente o relatório, que estabelece, preto no branco e de uma vez por todas,regras para os operadores tanto públicos como privados. A crise económica já provocounúmeros dramáticos de falências e encerramentos de fábricas e empresas, para além decessações de actividades empresariais. Com esta medida, a Europa pode dar efectivamentea mão a muitos pequenos comércios permanentemente asfixiados pelos empréstimosbancários provocados pela crise e que já podem estar a navegar em águas turbulentasdevido a dívidas por receber já muito atrasadas. Quando esta directiva for aplicada, pelomenos evitaremos muitos casos em que as empresas são forçadas a fechar devido a dívidascontraídas por outros operadores públicos ou privados.

Sebastian Valentin Bodu (PPE), por escrito. - (RO) Num clima económico instável, osatrasos de pagamento podem ter um impacto extremamente adverso sobre as pequenase médias empresas que precisam de dinheiro para pagar aos seus empregados e fornecedores.Os novos regulamentos sobre atrasos de pagamento nas transacções comerciais, sobre osquais o Parlamento Europeu e o Conselho chegaram a acordo no passado dia 5 de Outubro,devem facilitar e acelerar o procedimento que permite às empresas recuperar o dinheiroque lhes é devido. São as pequenas e médias empresas que mantêm a economia emandamento, mesmo durante a crise. É o que acontece em todas as economias europeias.O Parlamento Europeu garantiu que todas as partes estarão em igualdade de circunstânciase que a regras se aplicarão a todos, o que beneficiará muitas PME europeias.

Graças a esse acordo, as PME deixarão de servir de bancos às empresas públicas e às grandesfirmas. Para além da recomendação do Parlamento Europeu de as PME apenas terem depagar o IVA depois de as facturas terem sido, pelo seu lado, pagas, o estabelecimento deum prazo definido para o pagamento das facturas ajudará aquelas que estão preocupadascom a sua sobrevivência neste momento de declínio dos mercados.

Vito Bonsignore (PPE), por escrito. - (IT) Votei favoravelmente o relatório porque sintoque é de importância vital desenvolver todas as acções possíveis com vista ao reforço dacompetitividade das PME. Além disso, o combate aos atrasos de pagamento nas transacçõescomerciais, que representam um abuso inaceitável, deve ser também reforçado, sobretudoneste momento de recessão económica que estamos a viver. Os efeitos negativos dos atrasosde pagamento são consideráveis, representando custos significativos para as empresascredoras, reduzindo os fluxos de caixa e a possibilidade de investimento, e afectando acompetitividade das PME.

Esta directiva inclui, com razão, medidas destinadas a desencorajar os devedores de pagarematrasado, medidas essas que permitem aos credores exercerem os seus direitos, e, por outrolado, especifica e define regras como, por exemplo, notificações, indemnizações peloscustos suportados e um prazo de 30 dias, excepto em caso de derrogação aplicável, para

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o pagamento das dívidas. Estas colocam as entidades públicas perante uma obrigação edesencorajam-nas de certas formas de comportamento que podem ter impactos negativossobre as PME, comprometendo a credibilidade das políticas adoptadas.

Os pagamentos atempados representam também uma condição necessária e prévia parao investimento, o crescimento e a criação de empregos.

Françoise Castex (S&D), por escrito. - (FR) Também eu quero declarar a minha satisfaçãocom a solução encontrada em matéria de prazos de pagamento, e congratulo-me com ofacto de o texto retomar a proposta dos socialistas e democratas de permitir um prazoadicional para os serviços públicos de saúde, cujos procedimentos orçamentais complexosimplicam prazos de pagamento mais alongados. Além disso, embora a liberdade contratualentre empresas privadas seja respeitada, é criada uma salvaguarda importante ao proibirprazos de pagamento abusivos aos credores, muitas vezes PME.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. - (EL) Abstive-me na votação do relatórioporque agrava os esforços da Comissão no sentido de pressionar os Estados devedores,propondo medidas rígidas numa altura em que as suas finanças públicas estão em máforma. A pressão com vista ao pagamento imediato das dívidas, com a ameaça depenalizações monetárias sérias sob a forma de juros, serve sobretudo os interesses dasempresas que estão a aproveitar-se da crise para procurar reduções na protecção social econgelamentos ou cortes nos salários dos trabalhadores. O argumento de que ajudará aspequenas e médias empresas não colhe, uma vez que, segundo os números citados noregulamento, as empresas em causa não são pequenas e médias empresas. Este tipo deacção justificar-se-ia se fosse precedida por um apoio corajoso à economia real detrabalhadores assalariados e a uma acção destinada a promover a coesão social e económica.

Lara Comi (PPE), por escrito. - (IT) Apoio a necessidade de reforçar a Directiva 2000/35/CEe identificar os instrumentos necessários à eliminação ou redução dos atrasos de pagamentosnas transacções comerciais. Concentro-me nas PME, que representam uma parte essencialdo mercado europeu na criação de património e empregos. Esta opção política da ComissãoEuropeia constitui um passo na boa direcção, com o objectivo de tornar o clima empresarialmais favorável às PME. No que respeita à dissuasora taxa de juros de 8%, estou de certaforma preocupada com os resultados para certas regiões do meu país, e de outros Estadosda União Europeia, que estão efectivamente a esforçar-se por respeitarem as novas regras.Espero que esta nova abordagem possa constituir uma verdadeira oportunidade de mudança.Agora temos de concentrar-nos em acompanhar a aplicação da directiva nos sistemasjurídicos internos, com o envolvimento das autoridades regionais e locais, de forma agarantir que tudo decorre segundo as normas em todos os países.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. - (RO) Espero que a entrada em vigor dadirectiva relativa ao combate aos atrasos de pagamento nas transacções comerciais beneficiemais as pequenas e médias empresas da União Europeia, que terão assim mais protecçãoe disporão de recursos para reforçar os investimentos e criar novos empregos.Simultaneamente, espero que a directiva facilite o desenvolvimento dos mecanismos decobrança de dívidas, uma vez que os atrasos de pagamento das entidades públicas provocamdesequilíbrios no funcionamento das pequenas e médias empresas e, por extensão, de todoo mercado.

Luigi Ciriaco De Mita (PPE), por escrito. - (IT) Os atrasos de pagamento nas transacçõescomerciais entre empresas, e entre empresas e entidades públicas, constituem um dosfactores que dificultam a recuperação do crescimento económico. A aprovação da nova

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directiva relativa ao combate aos atrasos de pagamento nas transacções comerciaisrepresenta uma inovação fundamental que exigirá uma preparação adequada, acima detudo, no sector público, em termos tanto políticos como administrativos. Em termospolíticos, para que o planeamento financeiro e orçamental possa ter em conta o impactodas normas da União Europeia sobre o Pacto de Estabilidade e Crescimento, mas agoratambém o impacto das novas regras sobre os atrasos de pagamento, que, se não foremgeridas satisfatoriamente, podem ter um efeito tanto directo como reflexo sobre a margemde manobra dos governos a vários níveis. Em termos administrativos, é necessária umapreparação adequada para uma gestão financeira correcta dos organismos públicos,começando pelo ratio entre o passivo e as despesas, para que receitas fiscais e, porconseguinte, as pessoas, não sejam esmagadas por encargos como o pagamento de juros,que podem ter um efeito importante sobre as finanças públicas. Por fim, parece importanteexistir uma consciencialização e uma flexibilidade especiais no que respeita a alguns sectores,como o da saúde, no qual as entidades públicas acumularam importantes atrasos depagamento às empresas, pelo fornecimento de bens e pela prestação de serviços.

Diane Dodds (NI), por escrito. - (EN) No actual clima económico, já é suficientementedifícil para as pequenas e médias empresas sobreviverem sem a ajuda dos encargosdecorrentes dos atrasos de pagamento em transacções comerciais. Assim, qualquermecanismo que ajude a proteger essas empresas dos custos adicionais e das implicaçõesfinanceiras que envolvem os atrasos de pagamento deve ser bem-vindo.

Contudo, creio que compete ao Governo britânico regulamentar sobre esta matéria, nãoà União Europeia, garantindo assim às empresas e aos órgãos governamentais o respeitodas suas obrigações de pagamento. Este relatório, embora pleno de mérito, exige umamelhor clarificação de certos aspectos, pelo que optei por me abster neste momento, nestavotação.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre a luta contraos atrasos de pagamento nas transacções comerciais, uma vez que permitirá a adopção demedidas harmonizadas, que, na actual conjuntura de crise económica, podem serparticularmente importantes para o desempenho das empresas, em particular das PME.No entanto, considero positivo garantir-se um regime de derrogação para o sector da saúde.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − O atraso de pagamentos constitui umproblema de consequências extremamente gravosas para a saúde da economia mundial ecujos impactos são particularmente devastadores para as pequenas e médias empresas.Esta é uma realidade de efeitos ainda mais perniciosos neste período actual de criseeconómica e financeira. É inaceitável o mau exemplo da administração pública, comoacontece de forma particularmente grave em Portugal. Impõem-se medidas que travem osatrasos de pagamento nas transacções comerciais para defesa da boa saúde da economiaeuropeia, evitando situações de asfixia financeira de estruturas produtivas e de sobrecargano recurso a produtos de financiamento que aumentam a dependência em relação ao sectorbancário. Saliento o caso particular dos produtores agrícolas, que muitas vezes vêemretardadas liquidações que lhes são devidas por grandes superfícies e distribuidores. Oprazo máximo de 30 dias – que pode ser derrogado até ao limite de 60 dias – parapagamento após a prestação de serviço e facturação é bastante razoável para o equilíbriodas relações comerciais e será decisivo para promover uma cultura de cumprimentoatempado de compromissos.

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Louis Grech (S&D), por escrito. - (EN) A aprovação, hoje, do relatório Weiler marca umprimeiro passo importante em matéria de pagamentos nas relações comerciais.Actualmente, é prática comum - e, ainda pior, é prática aceite - as entidades públicaspressionarem as PME a assinarem acordos permitindo os atrasos de pagamento das facturas.

Malta é um caso típico. Muitas PME, que geram acima dos 70% dos empregos no sectorprivado, têm sentido sérias dificuldades de caixa devido aos atrasos de pagamento dasempresas, especialmente das entidades públicas, incluindo o governo.

Em inúmeros Estados-Membros, o limite máximo de 60 dias aplicado às entidades públicasservirá como importante cláusula de protecção para as PME e os cidadãos. Todavia, paraque esta disposição seja verdadeiramente eficaz, há que proceder a uma transposição e auma aplicação correctas da directiva em todos os Estados-Membros, acompanhadas deum controlo apertado por parte da Comissão. Só assim esta nova regra poderá traduzir-seem benefícios tangíveis para os cidadãos e para as PME em particular.

Jarosław Kalinowski (PPE), por escrito. - (PL) As condições de pagamento numatransacção comercial são uma questão prioritária para o bom funcionamento das economiaseuropeias. Infelizmente, existem disparidades consideráveis entre os Estados-Membros noque respeita ao cumprimento das condições de pagamento, o que requer uma verificaçãoatenta da Directiva 2000/35/CE de 8 de Agosto de 2002, actualmente em vigor.

A falta de disciplina nas transacções constitui uma ameaça especial às pequenas e médiasempresas em países que foram afectados pela crise económica. Os atrasos de pagamentoprovocam frequentemente dificuldades, tanto no mercado interno como no comérciotransfronteiriço. Por esta razão, apoio a proposta do relator de tornar a legislação maisrigorosa, introduzir instrumentos com vista a proteger as empresas e estabelecer umaindemnização obrigatória pelos atrasos no pagamento de facturas e juros.

Elisabeth Köstinger (PPE), por escrito. - (DE) Congratulo-me com a decisão do presenterelatório de nos mantermos firmes ao lado das pequenas e médias empresas. Os atrasosde pagamento representam um problema económico fundamental nas transacçõescomerciais dentro da União Europeia. Também no sector da agricultura, os problemas deliquidez transferidos para as empresas agrícolas provocam situações graves. Prazos depagamento claramente estabelecidos porão fim a esses métodos. Apoio a norma propostano relatório de um prazo de pagamento de 30 dias, e também a introdução de um limitemáximo geral de 60 dias. Considero incompreensível que, em muitos Estados-Membros,haja atrasos nos pagamentos de dinheiros públicos relativos a transacções com asadministrações públicas. Os atrasos de pagamento prejudicam seriamente o climaempresarial e o mercado interno e têm um efeito directo nos Estados-Membros. Aindemnização fixa agora defendida, que tem de ser paga a partir do primeiro dia em quehá atraso de pagamento, constitui um método importante de prevenir essas situações.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. - (IT) Votei favoravelmente o relatório da senhoradeputada Weiler porque acredito que é essencial salvaguardar os credores das administraçõespúblicas, que são maioritariamente pequenas e médias empresas. Esta medida irá permitira recolocação em circulação de aproximadamente 180 mil milhões de euros de fundoslíquidos: é este o montante global da dívida das administrações públicas às empresas emtoda a União Europeia. Trata-se de um passo verdadeiramente importante, uma vez queas empresas passarão a dispor de um direito automático a exigir o pagamento de juros demora e a receber um montante mínimo fixo de 40 euros como indemnização pelos custosde recuperação da dívida. Em qualquer caso, as empresas poderão também pedir o

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reembolso de todos os custos razoáveis incorridos para o efeito. Creio que esta iniciativaservirá de estímulo aos Estados-Membros para que estabeleçam códigos de prontopagamento. De facto, podem manter ou introduzir leis e regulamentos contendo disposiçõesmais favoráveis aos credores do que as estabelecidas pela directiva.

Erminia Mazzoni (PPE), por escrito. – (IT) Entre as muitas propostas incluídas na Lei dasPequenas Empresas, uma das mais urgentes, em minha opinião, foi a proposta de alteraçãoda Directiva 2000/35/CE. Os atrasos de pagamento têm-se tornado uma prática rotineirapara as autoridades públicas em muitos países (e isso, certamente, inclui a Itália). Se a médiaeuropeia é de 180 dias a contar da data de vencimento, então podemos imaginar comoserão os atrasos nos casos extremos e as consequências para os gestores das pequenas emédias empresas.

O paradoxo é que o Estado exige o pagamento imediato de taxas e impostos, aplicandomultas e cobrando juros desde o primeiro dia de atraso, mas ignora os seus próprioscompromissos quando é o devedor. A alteração que estamos a votar é muito importante,sobretudo neste momento de sérias dificuldades económicas, mas por si só não serásuficiente para resolver o problema. Se os Estados-Membros não alterarem os seusprocedimentos de recuperação de dívidas das entidades públicas, a fim de os tornar maisbreves e mais eficazes, as disposições aprovadas não surtirão qualquer efeito.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − O atraso no pagamento das transacções comerciais, sejaentre empresas ou entre empresas e entidades públicas, é responsável por dificuldades detesouraria nas PME e, por sua vez, contribui, muitas vezes, para que haja novos atrasos nospagamentos, formando assim um círculo vicioso difícil de contrariar. Com a aplicação dasnovas regras aqui propostas, estamos convencidos de que se dá um passo importante paraacabar com esta situação e assim ajudar as empresas a enfrentar este período de criseeconómica e financeira. As sanções propostas são equilibradas e as necessárias, e espera-seque sejam dissuasoras das práticas comerciais menos correctas que têm vindo a seradoptadas pelos agentes comerciais.

Alajos Mészáros (PPE), por escrito. – (HU) Era essencial que a resolução sobre a directivarelativa aos atrasos de pagamento fosse aceite, e foi por isso que votei a favor da resolução.O debate desta manhã revelou igualmente que os efeitos da crise, que no passado recentetambém não poupou os nossos Estados-Membros, ainda se fazem sentir acentuadamente.É necessário proceder a inúmeras mudanças, tendo em vista o bom funcionamento domercado interno. Como parte destas mudanças, o relatório recomenda correctamente atransição para uma cultura de pagamentos atempados. Isto permitirá que os atrasos nospagamentos tenham consequências que os tornarão desvantajosos.

De acordo com a avaliação do impacto anterior à revisão, as autoridades de váriosEstados-Membros são conhecidas pelas suas más práticas de pagamento. Esperosinceramente que a decisão de hoje consiga também mudar isso. Por último, tornar a vidamais fácil para as PME pode também ser a nossa preocupação principal a esse respeito. Aproposta de mecanismos alternativos de resolução de litígios e a medida de tornar públicasas práticas dos Estados-Membros podem oferecer uma solução. Aproveitar ao máximo asoportunidades oferecidas através do portal europeu de justiça electrónica pode facilitar aacção dos credores e das empresas.

Miroslav Mikolášik (PPE), por escrito. – (SK) Congratulo-me com a proposta da Comissãopara resolver a questão dos atrasos de pagamento, a qual se está a tornar num problema

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grave, especialmente em transacções comerciais transfronteiriças, uma vez que viola asegurança jurídica.

Para que as consequências dos atrasos de pagamento sejam de molde a desincentivar a suaprática, é necessário criar uma cultura de pagamentos mais rápidos e introduzir nelaprocedimentos para a rápida recuperação de dívidas incontestadas, relacionadas compagamentos atrasados. A proposta de alteração que visa a execução do pagamento dasreferidas reclamações contra uma empresa ou uma autoridade pública, através de umprocesso em linha amplamente acessível, será um passo positivo para uma recuperaçãomais rápida e simplificada deste tipo de dívida. Beneficiará sobretudo as pequenas e médiasempresas, que são as que mais sofrem com os atrasos de pagamento e os procedimentoslaboriosos de recuperação.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) As dívidas pendentes representam um riscofinanceiro considerável, especialmente para as pequenas e médias empresas. A falta deuma moral do pagamento, especialmente em tempos de crise, pode restringir severamentea sua liquidez. Há certamente benefícios a retirar de medidas que conduzam a uma maiorconsciência sobre o pagamento. Abstive-me, porque não estou convencido de que façasentido regulamentar isto a nível pan-europeu ou de que isso teria uma influência positivana moral do pagamento.

Claudio Morganti (EFD), por escrito. – (IT) O relatório aborda o problema dos atrasosde pagamento, um problema que desestabiliza o mercado e, acima de tudo, prejudica aspequenas e médias empresas, pelas quais tenho especial consideração. O meu voto a favordo relatório deve ser interpretado como uma esperança no nascimento de uma nova culturacomercial mais propensa ao pagamento pontual e na qual os atrasos de pagamento sejamconsiderados como um abuso inaceitável da posição do cliente e uma violação de contrato,e não como uma prática normal.

Radvilė Morkūnaitė-Mikulėnienė (PPE), por escrito. – (LT) Votei a favor desta legislação,porque penso que modalidades de pagamento mais bem organizadas são benéficas paraas pequenas e médias empresas (PME) e para a cultura empresarial de um modo geral. Creioque uma das disposições apresentadas neste documento é particularmente progressista: oapelo à rápida publicação de listas de entidades que prestam informação. Estas medidasnão só incentivariam as empresas (especialmente as PME) a efectuar pagamentos atempadosentre si, reduzindo assim os riscos de problemas de liquidez, mas contribuiriam tambémpara aumentar a credibilidade e, por sua vez, a competitividade destas empresas.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório da senhora deputadaWeiler, porque penso que é crucial estabelecer um limite máximo para o pagamento àsempresas. Esta necessidade é ainda mais urgente e essencial nestes tempos de crise. Aspequenas e médias empresas, juntamente com os empresários, desempenham um papelimportante em todas as nossas economias e são geradores fundamentais de emprego erendimento, assim como motores de inovação e crescimento. Infelizmente, em temposrecentes, temos assistido com demasiada frequência a situações em que as empresas sãocredoras de vários milhões das autoridades públicas, mas infelizmente são forçadas aencerrar ou a declarar falência devido justamente a estes pagamentos em atraso. Assim,espero que na fase de execução sejam também considerados outros factores, que criemuma flexibilização das obrigações decorrentes do pacto de estabilidade para as autoridadespúblicas, assim como uma redução gradual em termos de pagamento. Isto satisfaria ambosos requisitos e beneficiaria todo o sistema do país. Espero que a directiva seja rapidamente

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transposta pelos Estados-Membros, para que possa ser aplicada o mais brevemente possível.É um dever por parte dos legisladores e um direito que é devido às empresas credoras.

Robert Rochefort (ALDE), por escrito. – (FR) Os pagamentos em atraso podem causardificuldades financeiras e até mesmo a falência de algumas empresas, sobretudo as PME:de acordo com a Comissão Europeia, os pagamentos em atraso custam à economia europeiacerca de 180 mil milhões de euros por ano. Outros estudos referem 300 mil milhões deeuros por ano, uma quantia equivalente à dívida pública grega. No actual clima económico,congratulo-me com o facto de o Conselho e o Parlamento terem, desde o início, chegadoa acordo sobre uma revisão ambiciosa da legislação europeia nesta área. A contribuiçãodo Parlamento Europeu nesta matéria foi importante. Assegurámos com sucesso que otexto final fosse inspirado nas muitas melhorias aprovadas na Comissão do Mercado Internoe da Protecção dos Consumidores, nomeadamente: taxas de juros de mora legais maiselevadas; para as transacções entre empresas, uma regra de 30 dias de incumprimento depagamento e uma extensão para 60 dias, que poderá ser prolongada sob certas condições;para as instituições públicas, um máximo de 60 dias; uma maior flexibilidade para asinstituições de saúde pública e para as instituições públicas médicas e sociais; e, por último,uma simplificação da indemnização pelos custos suportados com a recuperação (uma taxafixa de 40 euros).

Crescenzio Rivellini (PPE), por escrito. – (IT) Gostaria de felicitar a senhora deputadaWeiler pelo seu excelente trabalho. O Parlamento Europeu deu luz verde a novas leis paralimitar os pagamentos em atraso por parte das autoridades públicas aos seus fornecedores,a maioria dos quais são pequenas e médias empresas. O Parlamento determinou que asautoridades públicas sejam obrigadas a pagar por serviços ou bens adquiridos no prazode 30 dias. Se o não fizerem, terão de pagar juros de mora à taxa de 8%.

O princípio de pagar atempadamente pelo trabalho é um princípio fundamental docomportamento correcto, mas é também de importância crucial para a solidez de umaempresa, os seus recursos disponíveis e o seu acesso ao crédito e financiamento. Esta novadirectiva, que será transposta para os sistemas jurídicos nacionais dentro do prazo de 24meses a contar da sua aprovação, beneficiará, por isso, toda a economia europeia.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) Tendo em conta que os atrasosde pagamento são um fenómeno com múltiplas causas interligadas, só podem sercombatidos por uma vasta gama de medidas complementares. Assim, o Parlamentoconsidera que uma abordagem puramente legalista, que tenha por objectivo melhorar asrespostas aos pagamentos atrasados, é necessária mas não é suficiente. A abordagem "dura"da Comissão, com enfoque em sanções e desincentivos severos, deve ser alargada de modoa incluir medidas "brandas", que se centrem em incentivos positivos para combater osatrasos de pagamento.

Além disso, medidas práticas, tais como a utilização de facturas electrónicas, devem serincentivadas em paralelo com a aplicação da directiva.

Marco Scurria (PPE), por escrito. – (IT) A Itália é o país onde as empresas mais sofremdevido aos atrasos de pagamento por parte das autoridades públicas, com um prazo médiode pagamento a fornecedores de 180 dias, ao contrário da média europeia de 67 dias. Istoconduz a problemas financeiros, a uma redução drástica nas oportunidades de investimentoe a uma perda de competitividade, em particular para as PME.

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A directiva a favor da qual votámos hoje desincentiva pagamentos tardios por parte dosdevedores e permite aos credores proteger eficazmente os seus interesses contra os atrasosde pagamento, através da introdução do direito a juros de mora legais por atraso depagamento, mesmo que tal não conste no contrato. Além disso, força as autoridadespúblicas a pagar no prazo máximo de 60 dias a contar do pedido de pagamento, desde queo serviço tenha sido executado de forma satisfatória.

A aprovação desta directiva é realmente uma grande ajuda para as nossas empresas: hojeem dia, uma em cada quatro empresas fecha devido a problemas de liquidez financeirainsuficiente. As novas regras de pagamento irão permitir que as empresas recuperem a suacompetitividade no mercado e que não haja perda de empregos.

Marc Tarabella (S&D), por escrito. – (FR) Ao aprovar por maioria contundente o relatórioda minha colega Barbara Weiler, sobre a proposta de directiva relativa aos atrasos depagamento, o Parlamento Europeu introduziu regras claras e equilibradas que promovema solvência, a inovação e o emprego. As pequenas empresas e os hospitais públicos irãobeneficiar das medidas propostas.

As primeiras deixarão de ser confrontadas com problemas financeiros na sequência dosatrasos de pagamento e os segundos poderão beneficiar de um prazo de pagamento alargadode 60 dias, devido ao seu estatuto especial, utilizando os recursos provenientes dosreembolsos, em conformidade com os sistemas de segurança social. Além disso, o acordoque deveremos alcançar com o Conselho irá permitir uma rápida entrada em vigor dadirectiva e transposição pelos Estados-Membros, já em Janeiro de 2011. Congratulo-mecom a eficácia desta votação.

Salvatore Tatarella (PPE), por escrito. – (IT) Nos últimos anos, os atrasos de pagamentostornaram-se um fardo cada vez mais pesado para a gestão financeira das empresas.Representam um problema grave e perigoso, que prejudica a qualidade do sistema deadjudicação, ameaça seriamente a sobrevivência das pequenas empresas e contribui paraa perda de competitividade da economia europeia. As estatísticas são alarmantes, sobretudono que diz respeito à Itália, onde a média dos pagamentos é de 186 dias, atingindo ummáximo de 800 dias a nível do governo regional no sector da saúde. É uma verdadeiravergonha que frequentemente tem obrigado PME a fechar. Com este relatório, demos umgrande passo em frente ao fixar 60 dias como o limite para pagamentos do sector públicoao sector privado. Obviamente, a adopção desta legislação não irá resolver o problemacomo por magia, mas representa claramente um ponto de partida de um ciclo virtuoso,em especial no que respeita às relações com as autoridades públicas. A eficiência e a rapidezdas autoridades públicas no pagamento de facturas é um passo importante, que tambémtrará benefícios à economia europeia. Espero que os Estados-Membros, sobretudo a Itália,transponham a legislação muito rapidamente.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − O documento contribui de forma significativa paraa resolução do problema dos atrasos de pagamento nas transacções comerciais entreempresas ou entre empresas e entidades públicas. A iniciativa visa uma melhor liquidezdas empresas da União Europeia, através de uma harmonização. A luta contra os atrasosde pagamento é particularmente bem-vinda no actual período de crise, pois as longasdemoras têm repercussões negativas nas actividades das empresas. A medida visa contribuirpara o bom funcionamento do mercado interno, através de uma reforma urgente do prazoexigido e das sanções a aplicar no caso de não respeito do mesmo.

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Saúdo, neste contexto, a proposta legislativa que encontrou no seio do Grupo PPE, ao qualpertenço, um largo apoio na estipulação do prazo de 30 dias como prazo geral parapagamentos de transacções entre empresas e entre empresas e entidades públicas, podendoestas beneficiar, em casos excepcionais, de 60 dias.

Vejo também com bons olhos o estabelecimento da taxa de juro aplicável com base nataxa de referência do BCE acrescida de 8 % em situações de atraso no pagamento. Na minhaopinião, esta medida traduzir-se-á num forte incentivo à actividade económica das pequenase médias empresas que, muitas vezes bloqueadas pelo processo burocrático, vêem o seudesempenho económico gravemente afectado.

Marianne Thyssen (PPE), por escrito. – (NL) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, acabámos de votar a directiva revista relativa aos atrasos de pagamento nastransacções comerciais. Dei o meu total apoio a este acordo. Prazos de pagamentoexcessivamente longos e, aliás, atrasos de pagamento, são uma ameaça para a gestãosaudável das empresas, afectam tanto a competitividade como a rentabilidade e podem,em última análise, pôr em risco a continuação da existência da empresa. Uma vez que aactual directiva não parece ser suficientemente eficaz para desincentivar os atrasos depagamento, apoio igualmente o reforço das regras existentes. Quanto aos prazos máximosde pagamento, iremos pôr em prática garantias adicionais para as empresas, porque, emprincípio, os pagamentos terão de ser feitos no prazo de 30 dias. Isto é especialmenteimportante para os pagamentos entre as empresas e os órgãos governamentais. A verdadeé que a partir de agora terão de ser os próprios Estados-Membros e os governos a dar oexemplo. Esta é uma questão de credibilidade, isto é, uma questão de as instituiçõeseuropeias, no futuro, serem obrigadas a cumprir os mesmos prazos legais que todas asoutras pessoas. O facto de a directiva estipular claramente que qualquer desvio contratualdos termos de pagamento normais só será possível por razões objectivas e justas será umfactor importante na sua aplicação. Para concluir, espero que a indemnização fixada emrelação aos custos de recuperação leve os retardatários a trilhar a senda estreita e direita eque, melhor ainda, aí os mantenha. Isso seria bom para nossas empresas e para o emprego.

Iva Zanicchi (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório da senhora deputadaWeiler sobre a luta contra os atrasos de pagamento nas transacções comerciais.

As actividades empresariais são consideravelmente dificultadas por dívidas ou pagamentosem atraso que, devido a uma espécie de efeito dominó, constituem frequentemente a razãopela qual empresas solventes fracassam. Os atrasos de pagamento representam uma situaçãofrequente na Europa, que é prejudicial para as empresas, especialmente para as pequenasempresas.

Além disso, na maioria dos Estados-Membros, as autoridades públicas por hábito pagamtarde quando se encontram com dificuldades financeiras. Surgiu, portanto, a necessidadede reforçar as medidas legais existentes através do combate aos atrasos de pagamento, como fim de apoiar as empresas, especialmente as PME, e estabelecer os termos exactos e assanções adequadas para os infractores.

Relatório: Ilda Figueiredo (A7-0233/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório, pois a pobrezaé um problema muito sério que afecta 85 milhões dos nossos concidadãos europeus e quenão deve por isso deixar ninguém indiferente. Exige ser colocada no topo das nossasprioridades e merece uma resposta colectiva que garanta uma dignidade mínima para

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aqueles que se encontram em situação de fragilidade social. A pobreza afecta os nossosjovens, os nossos idosos, mas também os nossos trabalhadores de uma forma crescente.Houve uma perda de 6 milhões de postos de trabalho só nos últimos 2 anos e um aumentoda insuficiência e precariedade dos seus salários, mesmo quando conseguem permanecernos seus postos de trabalho. Necessitamos de uma abordagem sistémica que ataque eresolva as suas causas e os problemas que estão na sua origem, mas não podemos dispensarigualmente, neste momento, respostas imediatas e urgentes para as suas consequências. Épor isso que assegurar àqueles que se encontram fragilizados na nossa sociedade umrendimento mínimo de existência e proporcionar-lhes respostas urgentes para que possamsair dessa situação é não só uma necessidade, mas sobretudo um imperativo que devemossubscrever e que deve cumprir-se num quadro de responsabilidade e exigência.

Roberta Angelilli (PPE), por escrito. – (IT) A UE demonstrou o seu empenho no combateà pobreza na Europa no âmbito das iniciativas promovidas para 2010, o Ano Europeu doCombate à Pobreza e à Exclusão Social, e no que se refere à consecução dos Objectivos deDesenvolvimento do Milénio das Nações Unidas. Considerando a gravidade da criseeconómica e social e o seu impacto no aumento da pobreza e da exclusão social, algunsgrupos populacionais mais vulneráveis, como as mulheres, as crianças, os idosos e osjovens, sofreram os efeitos negativos da situação de forma mais aguda. Nesta situação,apesar de um rendimento mínimo poder constituir um sistema adequado para protegeressas categorias, não leva em conta o princípio da subsidiariedade e, portanto, o facto deeste assunto ser da responsabilidade dos Estados-Membros individuais.

Uma vez que existem desigualdades entre os níveis salariais e sociais na Europa, é difícilestabelecer um patamar de rendimento mínimo comum. Creio que, em vez disso, seriaútil incentivar os Estados-Membros a melhorarem as suas respostas políticas para combatera pobreza, promover a inclusão activa, um rendimento adequado, o acesso a serviços dequalidade e uma redistribuição justa da riqueza. Acima de tudo, no entanto, osEstados-Membros devem ser encorajados a utilizar melhor os fundos estruturais à suadisposição.

Elena Băsescu (PPE), por escrito. – (RO) A comunidade internacional reafirmou em váriasocasiões o seu empenho na luta contra a pobreza. Essa abordagem global é necessária,porque a pobreza não se limita aos países subdesenvolvidos na África Subsariana e na Ásia,mas também a 17% da população da UE.

Penso que a cimeira das Nações Unidas, no mês passado, assinala uma evolução importanteno sentido da adopção de um plano de acção específico para atingir os Objectivos deDesenvolvimento do Milénio. A UE, pela sua parte, sugeriu uma redução de 25%, até 2020,do número de pessoas que vivem na pobreza e uma dotação de 0,7% do rendimentonacional bruto à ajuda ao desenvolvimento. Além disso, o Parlamento Europeu está aincentivar, através da aprovação do presente relatório, a inclusão activa dos grupos menosfavorecidos e a proporcionar uma forte coesão económica e social.

Gostaria de mencionar a grande contribuição dada pela Roménia aos programas das NaçõesUnidas de combate à pobreza, no montante de 250 milhões de euros. Como a ajuda aodesenvolvimento deve ser recíproca, o meu país vai continuar a respeitar os seuscompromissos. No entanto, penso que deveria ser dada mais atenção a grupos em altorisco de pobreza, como as populações rurais ou a minoria étnica Roma.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE), por escrito. – (ES) O objectivo desta iniciativa é aadopção a nível europeu de várias medidas para eliminar a pobreza e a exclusão social. A

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crise económica tem agravado a situação de muitos europeus. O desemprego aumentoue, nestas circunstâncias, a situação das pessoas mais vulneráveis, como as mulheres, ascrianças, os jovens e os idosos, é mais precária. É por essa razão que temos de adoptarmedidas a nível europeu e nacional, e os rendimentos mínimos são um bom instrumentopara assegurar que aqueles que necessitam deles possam viver com dignidade. O objectivoúltimo, no entanto, é a plena integração no mercado de trabalho, que é o que permite umacoesão social genuína. A este respeito, espero que sejamos capazes de assegurar umdesenvolvimento económico acompanhado pelo desenvolvimento social e, em particular,de influenciar o desenvolvimento da economia social. Espero também que consigamoscumprir o objectivo da estratégia "Europa 2020" de reduzir em 20 milhões o número depessoas em risco de pobreza.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D), por escrito. – (LT) Votei favoravelmente este relatório porque,apesar de todas as declarações sobre o combate à pobreza, há cidadãos europeus quecontinuam a viver na pobreza, as desigualdades sociais têm aumentado e o número detrabalhadores pobres também está a aumentar. A União Europeia tem de tomar medidasmais activas de combate à pobreza e à exclusão social, prestando especial atenção às pessoascom emprego precário, aos desempregados, famílias, idosos, mulheres, mães solteiras,crianças desfavorecidas e pessoas doentes ou que estejam fisicamente aptas em grausdiversos. O rendimento mínimo é uma das medidas fundamentais para combater a pobreza,que ajuda a tirar estas pessoas da pobreza e a garantir o seu direito a uma vida condigna.Gostaria de chamar a atenção para o facto de que o rendimento mínimo só alcançará osseus objectivos na luta contra a pobreza se os Estados-membros tomarem medidas concretaspara o garantir e implementarem programas nacionais de combate à pobreza. Além disso,em alguns Estados-Membros, os regimes de rendimento mínimo ficam aquém do limiarde pobreza relativa. Como tal, na avaliação dos planos de acção nacionais, a ComissãoEuropeia deverá considerar as boas e as más práticas. Assim, o rendimento mínimo – oprincipal elemento de protecção social – é sem dúvida importante para assegurar a protecçãodas pessoas em situação de pobreza e a sua igualdade de oportunidades na sociedade.

Sebastian Valentin Bodu (PPE), por escrito. – (RO) Quase 300 000 famílias na Roméniarecebem um rendimento mínimo garantido do Estado, ao abrigo de uma lei que já está emvigor desde 2001 e para a qual é disponibilizado um esforço orçamental de quase 300milhões de euros. No contexto da actual crise económica, cujo impacto é especialmentesentido pelos cidadãos dos países menos desenvolvidos economicamente, a recomendaçãofeita pelo Parlamento Europeu para a introdução de um regime de rendimento mínimoem todos os Estados-Membros é uma solução óbvia. Embora ninguém possa argumentarcontra a necessidade de tal regime de rendimento mínimo garantido, este pode, obviamente,estar sujeito a abusos.

O regime necessita de um bom planeamento de tempo e de um bom quadro de controlo,porque há o risco de este regime incentivar as pessoas a não trabalhar. Justamente paragarantir que isso não aconteça, recomenda-se que qualquer pessoa que receba esterendimento dedique também algumas horas ao trabalho em benefício da comunidade. Nofinal de 2008, 85 milhões de pessoas viviam abaixo do limiar da pobreza em toda a UE.Estes números evidenciam a necessidade de apoio, especialmente quando estamos a falardos jovens ou idosos.

Alain Cadec (PPE), por escrito. – (FR) A crise económica piorou consideravelmente asituação de pobreza. Mais de 85 000 pessoas vivem actualmente abaixo do limiar dapobreza na União Europeia. No contexto do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à

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Exclusão Social, congratulo-me com o compromisso político assumido pelo ParlamentoEuropeu no sentido de garantir uma coesão económica e social forte e eficaz.

O relatório Figueiredo salienta que a introdução de um rendimento mínimo a nível nacionalé uma das formas mais eficazes de combate à pobreza. No entanto, sou contra umrendimento mínimo a nível da União Europeia. Tal medida seria demagógica e totalmenteinadaptada à situação actual. Os Fundos Estruturais também desempenham um papelessencial no combate à exclusão social. O Fundo Social Europeu, em particular, é um forteinvestimento europeu, destinado a tornar o mercado de trabalho mais acessível a quem seencontra em dificuldades. Deve continuar a ser um forte instrumento da política de coesãono período 2014-2020.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei a favor deste excelente relatório,porque insiste na necessidade de tomar medidas específicas para eliminar a pobreza e aexclusão social, nomeadamente através da justa redistribuição do rendimento e da riqueza,garantindo deste modo um rendimento adequado e dando um significado real ao AnoEuropeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social. Exorta os Estados-Membros a repensarpolíticas que garantam um rendimento adequado, sabido como é que a criação de trabalhocondigno e viável é necessária para combater a pobreza. Considera que os objectivos sociaisdevem constituir uma parte integrante da estratégia de saída da crise e que a criação deempregos deve ser uma prioridade para a Comissão Europeia e para os governos dosEstados-Membros, como primeiro passo para reduzir a pobreza. Considera que os regimesde rendimento mínimo adequados devem estabelecer os rendimentos mínimos a um nívelequivalente a pelo menos 60% do rendimento médio do Estado-Membro em causa. Salientatambém a importância da existência de um subsídio de desemprego que garanta um padrãode vida condigno e também a necessidade de reduzir a duração das ausências do trabalho,designadamente, através de serviços estatais de emprego mais eficientes. Destaca igualmentea necessidade de adoptar regras em matéria de seguros, de modo a estabelecer uma ligaçãoentre a pensão mínima paga e o limiar de pobreza correspondente.

Ole Christensen (S&D), por escrito. – (DA) Nós, os Sociais-Democratas dinamarquesesno Parlamento Europeu (Dan Jørgensen, Christel Schaldemose, Britta Thomsen e OleChristensen), votámos a favor do relatório de iniciativa sobre o papel do rendimentomínimo no combate à pobreza e na promoção de uma sociedade inclusiva na Europa.Pensamos que todos os Estados-Membros deverão fixar metas de pobreza e introduzirregimes de rendimento mínimo. Ao mesmo tempo, consideramos que estas metas e estesregimes devem ser adaptados às circunstâncias de cada Estado-Membro. Pensamos queexistem muitas formas de avaliar a pobreza e cabe a cada Estado-Membro encontrar amelhor maneira de o fazer, assim como desenvolver um regime de rendimento mínimoadaptado ao Estado em questão.

Carlos Coelho (PPE), por escrito. − A actual crise económica teve um enorme impactono aumento do desemprego e na aceleração desenfreada do empobrecimento e exclusãosocial de pessoas por toda a Europa. A pobreza e a exclusão social atingiram níveisinaceitáveis, em que cerca de 80 milhões de cidadãos europeus vivem abaixo do limiar depobreza, dos quais 19 milhões são crianças (o equivalente a quase 2 em cada 10 crianças)e muitos outros enfrentam sérios obstáculos em termos de acesso ao emprego, educação,habitação e serviços sociais e financeiros. Os níveis de desemprego também atingiramníveis sem precedente em todos os Estados-Membros, com uma média europeia de 21,4%, em que 1 em cada 5 jovens está desempregado. Esta situação é inaceitável e temos que

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fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar a resolver o drama em que estaspessoas vivem.

Nesse sentido, o ano de 2010 foi designado o Ano Europeu de combate a este flagelo, como objectivo de reforçar o empenho político da UE em tomar medidas com impacto decisivona erradicação da pobreza. Concordo com a necessidade de existir um rendimento mínimoem cada Estado-Membro, acompanhado de uma estratégia de reintegração social e acessoao mercado de trabalho.

Lara Comi (PPE), por escrito. – (IT) A coesão económica e social é um pré-requisitofundamental de qualquer política comum, tanto na Europa como em contextos maispequenos. Onde há interesses divergentes, os objectivos também divergem e será impossívelplanear em conjunto. Elevar o nível de vida das pessoas que vivem abaixo do limiar dapobreza é uma prioridade. A utilização dos recursos públicos neste contexto constitui,sem dúvida, um investimento a médio prazo, pois se estes forem bem distribuídos irãodesencadear situações de crescimento que se propagarão. A transferência de quantias fixasde dinheiro é sempre um negócio incerto, se estas não fizerem parte de um programa maisamplo de incentivos. Duas situações exigem uma abordagem diferente. A primeira situação,relativa ao bem-estar social, ocorre quando um trabalhador não consegue ganhar o suficientepara levar uma vida digna, devido a uma deficiência física ou mental, ou outras razõesconexas. A segunda situação, relacionada com questões jurídicas e económicas, envolvea rigidez do mercado de trabalho, que não equaciona adequadamente produtividade esalários, ou que não permite que alguém trabalhe tanto quanto gostaria ou em proporçãoa quanto quer ganhar para levar uma vida condigna. Nestas duas situações, o sector públicopode e deve intervir, deixando um incentivo ao trabalho árduo que seja criado nas outras- e nunca o contrário.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Aproximadamente um quinto da população daUE vive abaixo do limiar da pobreza, com elevadas taxas de pobreza entre crianças, jovense idosos. A proporção de trabalhadores pobres está a crescer em paralelo com a proliferaçãode empregos precários, de baixa remuneração. A taxa de privação material afecta pelomenos um quarto da população em 10 Estados-Membros, e mais de metade da populaçãono caso da Roménia e da Bulgária. Todos estes factores se somam ao problema de pobrezaque a União Europeia enfrenta, agravado não só pela recessão, mas também pelas políticasanti-sociais implementadas por governos de direita. O rendimento mínimo pode garantirprotecção social para grandes grupos da população, que vivem agora na pobreza. Esterendimento mínimo tem um papel absolutamente fundamental a desempenhar naprevenção de situações trágicas causadas pela pobreza e na suspensão da exclusão social.A fim de combater eficazmente a pobreza, há também necessidade de melhorar a qualidadedos empregos e salários, e introduzir o direito a um rendimento, bem como meios paraproporcionar benefícios a título da assistência social, pensões e subsídios. 2010 é o AnoEuropeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, dando continuidade à campanha parauma sociedade inclusiva, aprovada pelo Tratado de Lisboa. Isto é mais uma razão para euvotar a favor desta campanha.

Vasilica Viorica Dăncilă (S&D), por escrito. – (RO) Estou convicta da necessidade de setomarem providências, quer a nível europeu, quer a nível nacional, para proteger osconsumidores contra condições injustas de pagamento de empréstimos e cartões de crédito,bem como de estabelecer condições de acesso a empréstimos que impeçam as famílias dese endividarem excessivamente e, por conseguinte, de enfrentarem a pobreza e a exclusãosocial.

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Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) Na Europa, vinte Estados-Membrosdispõem de legislação nacional que fixa um salário mínimo, podendo as diferenças de paíspara país ser muito substanciais. Assim, no Luxemburgo, o salário mínimo é de cerca de1 682 euros, ao passo que na Bulgária é apenas de 123 euros.

É por esse motivo que o Parlamento Europeu tem apelado reiteradamente à fixação de umsalário mínimo europeu. Esse rendimento mínimo poderia constituir uma das soluções aexplorar para se evitar que milhões de Europeus resvalem para a pobreza. Consideramosimportante fazer notar que a garantia de um rendimento mínimo se devia fazer acompanharde uma estratégia social global, incluindo o acesso a serviços básicos, como cuidados desaúde, acesso à habitação, à educação e aprendizagem ao longo da vida, e isto para todasas idades e de modo adaptado a cada país.

Os deputados europeus destacaram que o verdadeiro objectivo dos sistemas de rendimentomínimo não devia ser apenas ajudar, mas também apoiar os beneficiários, de molde apermitir-lhes passar de uma situação de exclusão social para a vida activa.

Christine De Veyrac (PPE), por escrito. – (FR) O meu apoio a este relatório sublinha aimportância da solidariedade nas nossas sociedades europeias, particularmente no AnoEuropeu do Combate à Pobreza.

Certos Estados-Membros, como, por exemplo, a França, desempenharam um papel pioneirocriando, há 20 anos, um "rendimento mínimo garantido". Todavia, a experiênciaensinou-nos que este sistema pode gerar efeitos adversos, encorajando, por exemplo, aociosidade em algumas pessoas. É esse o motivo por que a União tem de considerar aadopção de medidas, como o revenu de solidarité active francês, ou rendimento social deinserção, que criem um sentido de responsabilidade nos beneficiários e os encorajem aprocurar emprego, que é, realmente, o principal elemento da inclusão social.

Anne Delvaux (PPE), por escrito. – (FR) Sempre reclamei, e já o incluí no meu programapara as eleições europeias de 2009, a introdução de um rendimento mínimo equivalentea 60% do rendimento médio para todos os cidadãos da União. Hoje, porém, infelizmente,esta Assembleia votou contra esta proposta legislativa a nível comunitário.

Neste Ano Europeu 2010 de Combate à Pobreza, estou convencida de que umadirectiva-quadro relativa ao rendimento mínimo podia ter servido de texto de referênciapara as políticas e legislações nacionais.

Creio que isto seria a maneira mais eficaz de reduzir a pobreza e de fazer sair dela 20 milhõesde pessoas até 2020. Como advertência: na Europa, 80 milhões de pessoas vivem abaixodo limiar da pobreza.

Ioan Enciu (S&D), por escrito. – (RO) Penso ser necessário evitar a todo o custo o riscoda exacerbação da pobreza, uma vez que ela pode, a longo prazo, ter um impacto estruturalextremamente adverso, tanto do ponto de vista social como económico. Votei a favor desterelatório porque creio ser necessário garantir um rendimento mínimo razoável paraassegurar um nível razoável de protecção social, em especial para os grupos mais vulneráveisde pessoas que foram duramente atingidas pelas políticas de austeridade implementadaspelos governos europeus durante a actual crise económica e financeira.

Diogo Feio (PPE), por escrito. − Não sendo insensível às gravíssimas consequências quea actual crise tem para os cidadãos, criando e/ou agravando a situação de pobreza de muitos

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europeus, não concordo com a visão estatizante que pretende solucionar este problemacom mais prestações sociais, no caso um rendimento mínimo, estabelecido a nível europeu.

Mais prestações sociais exigem mais dinheiro do Estado, o que só pode ser conseguido, jáque este não cria riqueza, pela via do aumento da sua receita fiscal. Quer isto dizer, maisimpostos sobre todos, tornando todos mais pobres e mais dependentes desse mesmoEstado sanguessuga.

A luta contra a pobreza deve ser feita pelo lado das políticas de emprego e pelacompetitividade económica. Se Portugal não visse, todas as semanas, várias empresas afechar, não veria tantos portugueses no desemprego e em situação de pobreza. Por isso, épelo lado do estímulo à economia e ao mercado que vejo que se deve fazer o combate àpobreza, e não pela via do subsídio, o qual terá sempre que ser financiado por impostosque, como sabemos, estrangulam os contribuintes e a economia e são obstáculo àcompetitividade económica.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Como já afirmei neste plenário há um ano,defendo um novo conceito de socialidade no interior da União Europeia, capaz de assegurarpara cada cidadão um patamar mínimo ao nível das condições de vida. Numa Europasocial, justa, evoluída e de coesão, é urgente assegurar medidas que anulem e minimizemos riscos de dumping social e degradação das condições de vida dos cidadãos, face aos efeitosdevastadores da actual crise económica. Para uma Europa mais forte e solidária, devemosgarantir a protecção dos direitos elementares dos cidadãos em todo o espaço europeu.Entendo que são necessárias normas mínimas nas áreas da saúde, da educação, das pensõessociais e até ao nível das remunerações, garantindo maior homogeneidade das condiçõesde emprego. No Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, saúdo este relatórioenquanto contributo para incentivar todos os Estados-Membros a concretizar as suasresponsabilidades em matéria de inclusão activa, corrigindo desigualdades sociais emarginalização. Saliento o equilíbrio realista e o respeito pelo princípio da subsidiariedade.Por isso, voto favoravelmente este relatório e contra as alterações propostas.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Sublinho a importância da aprovação desterelatório, de que fui responsável, no plenário do Parlamento Europeu, propondo aintrodução de regimes de rendimento mínimo em todos os Estados-Membros da UE. Foiaprovado, em plenário, por 437 votos a favor, 162 contra e 33 abstenções e surge comouma medida concreta em Ano Europeu de Luta contra a Pobreza.

Como se diz no relatório, "A introdução de regimes de rendimento mínimo em todos osEstados-Membros da UE – consistindo em medidas específicas de apoio às pessoas (crianças,adultos e idosos) cujo rendimento é insuficiente, através de uma contribuição financeira,e da garantia de acesso aos serviços públicos essenciais – constitui o modo mais eficaz paracombater a pobreza, garantir um adequado nível de vida e promover a integração social".

A resolução aprovada defende que os regimes de rendimento mínimo devem ser fixados,no mínimo, em 60% do rendimento mediano no respectivo Estado, insistindo com aComissão na elaboração de um plano de acção destinado a acompanhar a realização deuma iniciativa europeia sobre o rendimento mínimo nos Estados-Membros, chamando aatenção para a crescente pobreza dos trabalhadores e para a necessidade de responder aeste novo desafio, insistindo numa distribuição justa dos rendimentos.

Bruno Gollnisch (NI), por escrito. – (FR) Raramente encontrei um relatório tão demagógicoe tão irrealista como este. Demagógico, porque pretende introduzir em todos os

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Estados-Membros, e para todos, um rendimento mínimo igual a 60% do rendimento médio,sem qualquer requisito, em termos de nacionalidade. Trata-se de um rendimento médiobruto ou líquido? Trata-se do nível de vida médio, utilizado para calcular o limiar dapobreza? No meu país isso equivale a encorajar a inactividade assistida e a criar um poderosoíman para a imigração.

Porque, de acordo com a definição utilizada, este rendimento podia ser superior ao saláriomínimo, que é o que recebem 15% dos trabalhadores franceses. Um recorde entre os paísesdesenvolvidos. Não é de ajuda que necessitam os europeus, mas sim de empregos reais quepaguem um salário digno. Não obstante - e essa é a parte irrealista -, o relatório passa emsilêncio sobre as verdadeiras causas da pobreza: a pressão sobre os salários causada pelaconcorrência externa de países de mão-de-obra barata, onde se pratica o dumping social,pela concorrência interna da imigração não-europeia, e pela explosão do desemprego,deslocalizações e encerramentos de empresas causadas pela globalização selvagem. Alémdisso, o relatório também esquece o caso extremamente preocupante do empobrecimentodas classes médias europeias. É ao combate dessas causas que se deve dar prioridade.

Louis Grech (S&D), por escrito. – (EN) Muito embora a União Europeia seja uma daszonas mais ricas do mundo, ainda se encontra uma percentagem elevada de cidadãoseuropeus confrontados com o problema da pobreza de rendimento, limitando-se as suascapacidades a ter dinheiro para o essencial, em matéria de alimentação, saúde, energia eeducação. Na Europa, a pobreza afecta 85 milhões de pessoas. Além disso, na sequênciada actual depressão económica e financeira, existe um risco mais elevado de pobreza queafecta as crianças, os jovens e os idosos, pondo muitas famílias em situação de alto risco,reduzindo o seu acesso a medicamentos, aos cuidados de saúde, às escolas e ao emprego.Temos de assegurar a distribuição equitativa da riqueza entre Estados-Membros ricos epobres, entre países grandes e países pequenos, e entre os seus cidadãos.

Cumpre afectar mais fundos à realização de diferentes estudos e análises relacionados coma pobreza e a exclusão social, comparando os sistemas de 27 Estados-Membros eidentificando a política que melhor funcione. Temos de continuar a combater a pobrezae a exclusão social, na Europa e em todo o mundo, tomando providências urgentes e, maisimportante, trabalhando solidariamente, não obstante as diferentes pressões de naturezaorçamental ou política que possamos ter de enfrentar.

Nathalie Griesbeck (ALDE), por escrito. – (FR) Actualmente, na Europa, 17% dapopulação, o equivalente a cerca de 85 milhões de pessoas, está a viver abaixo do limiarda pobreza. Por trás destes números, o mais preocupante é a pobreza extrema, que está aprogredir, especialmente nestes tempos de recessão, motivo por que um rendimentomínimo é crucial.

Uma vez que 2010 é o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, e noseguimento do Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, votámos, no ParlamentoEuropeu, a favor de uma resolução que exige um rendimento mínimo europeu igual a 60%do rendimento médio de cada Estado-Membro.

O nosso relatório acentua que a introdução de sistemas de rendimento mínimo em todosos Estados-Membros constitui uma das medidas mais eficazes para combater a pobreza,garantir um nível de vida digno e encorajar a integração social, pelo que aplaudo a aprovaçãodesta resolução.

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Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Apoiei o relatório que convida osEstados-Membros a combater a pobreza mediante a introdução de sistemas de rendimentomínimo, do modelo do RSA ["rendimento mínimo de solidariedade activa"], antigamenteRMI ["rendimento médio de inserção] da França. Este tipo de instrumento tem sidoclaramente reconhecido como sendo extremamente útil quando se luta contra aprecariedade do trabalho.

O texto propõe que este tipo de rendimento mínimo ascenda a 60% do salário médio decada país, e, sobretudo, se integre num estratégia global de inserção, com um regressosustentável ao trabalho e acesso aos serviços públicos, com prioridade para a habitação.

O texto foi aprovado, mas, infelizmente, as versões alternativas propostas pelos grupospolíticos de esquerda, que pediam uma directiva-quadro para a implementação de umrendimento mínimo em toda a União, foram rejeitadas. A posição que adoptámos a favordestes sistemas de rendimento mínimo é, por conseguinte, encorajadora, mas provavelmenteinsuficiente.

Jarosław Kalinowski (PPE), por escrito. – (PL) Dados actuais mostram que estão aaumentar os níveis de pobreza na União Europeia. Em muitos Estados-Membros, a pobrezaatinge mais duramente as crianças e os idosos, e o número cada vez maior de contratos acurto prazo e rendimentos baixos e incertos trazem consigo o risco de deterioração dascondições de vida em toda a sociedade. Acrescente-se a isso a crise demográfica que estáa afectar alguns países, e temos uma receita para o declínio económico garantido. Cabe-nosa nós assegurar uma vida digna para todos os cidadãos.

Não podemos permitir que os nossos filhos e os nossos netos vivam sob a ameaça da fome,do desemprego e da exclusão social. Temos de assegurar às futuras gerações níveis dignosde salários, estabilidade das carreiras, acesso aos serviços públicos e integração social aolongo das suas vidas - desde a mais tenra idade, até à reforma.

Alan Kelly (S&D), por escrito. – (EN) Calcula-se que há em toda a UE uns 85 milhões depessoas que sofrem, ou estão em risco de vir a sofrer, com a pobreza. Pessoalmente, creioque, a nível europeu, é necessário fazer tudo quanto é possível para fazer frente a estasituação. É fundamental a introdução de procedimentos como este para reduzir o númerode pessoas que na UE correm o risco de ser atingidas pela pobreza, para garantir que sealcança o objectivo da UE 2020 de se eliminar esse risco para 20 milhões de cidadãoseuropeus.

Petru Constantin Luhan (PPE), por escrito. – (RO) A crise económica e financeiraexacerbou a situação em que se encontra o mercado de trabalho em toda a União Europeia.Ainda recentemente se perderam cerca de 5 milhões de postos de trabalho, o que deu azoa pobreza e exclusão social em alguns Estados-Membros. Apoio firmemente este relatórioporque creio serem necessárias medidas urgentes para reintegrar no mercado de trabalhoaqueles que foram afectados, bem como a garantia de um rendimento mínimo que permitaassegurar um nível de vida razoável e uma vida compatível com a dignidade humana. Pensoque devemos criar indicadores relevantes que nos permitam introduzir nosEstados-Membros sistemas de rendimentos mínimos, assegurando desse modo um nívelde vida adequado, que fomente a integração social e promova a coesão económica e socialem toda a União Europeia.

Elżbieta Katarzyna Łukacijewska (PPE), por escrito. – (PL) Um instrumento eficaz paracombater a pobreza é garantir aos cidadãos da União Europeia um rendimento mínimo

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que inclua salários, pensões e benefícios. Um rendimento mínimo devia ser um direitouniversal, e não depender das contribuições efectuadas.

Devíamos prestar particular atenção aos grupos sociais particularmente susceptíveis àpobreza e à exclusão social, entre os quais se encontram, particularmente, pessoasportadoras de deficiência, famílias numerosas e famílias monoparentais, doentes crónicose idosos. Uma análise da experiência de vários Estados-Membros mostra-nos a importânciado papel desempenhado pelo rendimento mínimo no combate à pobreza e à exclusãosocial, motivo por que votei a favor do relatório da senhora deputada Figueiredo.

Clemente Mastella (PPE), por escrito. – (IT) Hoje em dia, é essencial integrar a prevençãoe o combate da pobreza, bem como da exclusão social, em outras políticas da UE, com oobjectivo de garantir o respeito dos direitos humanos fundamentais, o acesso universalaos serviços públicos essenciais e o direito à saúde, à educação e à formação profissional.

Tudo isto requer a sustentabilidade económica das políticas macroeconómicas, o queimplica mudar as prioridades e políticas monetárias incluídas no Pacto de Estabilidade eCrescimento, bem como todas as políticas em matéria de concorrência, de mercado internoe as políticas orçamentais e fiscais. O presente relatório usa o termo "rendimento mínimo",um termo controverso definido como um instrumento que permite acompanhar osbeneficiários na sua passagem de situações de exclusão social para a vida activa. Alémdisso, sublinha a importância das políticas mais alargadas, que também tomam emconsideração outras necessidades: cuidados de saúde, educação, formação profissional,serviços sociais e habitação.

Votei a favor deste relatório porque apoio a ideia da necessidade de uma estratégia europeiade coordenação. Não obstante, creio que o rendimento mínimo é uma responsabilidadedos Estados-Membros a título individual, com base no princípio da subsidiariedade. É difícilestabelecer um limiar mínimo nos vários Estados-Membros, quando existem grandesdiferenças entre os salários, e entre o custo de vida em geral.

Barbara Matera (PPE), por escrito. – (IT) O conteúdo do Tratado de Lisboa, as disposiçõesda Estratégia Europa 2020 e os princípios incluídos nos Objectivos de Desenvolvimentodo Milénio não parecem reflectir-se, nem sequer em termos de perspectivas futuras, nadesconcertante realidade que é o elevado número de pessoas que, mesmo hoje, vivem namiséria. Só na Europa, cerca de 80 milhões, 19 milhões das quais crianças, vivem emcondições de pobreza. As ambiciosas políticas estabelecidas pela própria comunidadeinternacional para a erradicação da pobreza demonstraram, demasiadas vezes, seremineficazes e difíceis de implementar, ou serem apenas medidas de assistência social.

Em vez disso, os objectivos devem ser alcançados considerando uma abordagem maisestrutural, avaliando iniciativas específicas coordenadas a nível europeu com impactosobre o rendimento, sobre os serviços sociais e sobre os cuidados de saúde, tendo comoobjectivo aliviar o impacto de uma crise financeira que atingiu os que se encontram maisem risco no mercado de trabalho, designadamente mulheres, mulheres mais velhas, emparticular, e jovens. Creio que a avaliação das iniciativas europeias que visam estabelecerum rendimento mínimo pode representar um dos processos de combater a pobreza, desdeque se observe o princípio da subsidiariedade.

Marisa Matias (GUE/NGL), por escrito. − A indicação de aplicação do rendimento mínimoem todos os países da União Europeia é uma medida fulcral para o combate à pobreza.Voto, assim, a favor deste importante relatório.

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O rendimento mínimo é, contudo, calculado país a país, não contribuindo, por isso, paraa convergência social no espaço europeu. No contexto de crise em que vivemos, mantémas desigualdades nacionais. São, assim, necessárias mais políticas sociais de convergênciaa nível europeu para uma distribuição mais justa da riqueza. Este é um importante papelda UE.

Erminia Mazzoni (PPE), por escrito. – (IT) A União Europeia sempre proclamou a "inclusãosocial" como um dos seus princípios fundadores. É difícil combater muitas das situaçõesque conduzem à marginalização, ao afastamento e ao abandono. Entre essas situações, apobreza ocupa muito certamente um lugar cimeiro na lista. Ao contrário de causas comoa doença, o comportamento anti-social, a raça ou o género, isto representa uma condiçãopara a qual os países civilizados deviam organizar medidas normais de prevenção.

Um rendimento mínimo para os cidadãos é um remédio, não uma solução. Na resolução,apoio o apelo da Comissão no sentido de se inserirem as acções do Estado num quadro decoordenação europeia e de assegurar que um rendimento mínimo seja acompanhado poruma abordagem integrada que inclua cuidados de saúde, educação e habitação. Junto,também, o meu apelo pessoal à Comissão, por outras palavras, de que se dê prioridade na"Plataforma Europeia contra a Pobreza e a Exclusão Social" às acções para apoiar a inclusãotendo por objectivo a prevenção.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Os Estados não podem ser insensíveis às situações depobreza extrema e devem assegurar que ninguém fica simplesmente entregue à sua sorte,em situações muitas vezes profundamente degradantes. Daí que um apoio extraordinário,excepcional, nestes estritos casos, deve ser considerado. Todavia, experiências de atribuiçãode rendimentos mínimos, como a portuguesa, sem qualquer tipo de fiscalizaçãoverdadeiramente eficaz, e com um enorme número de pessoas inscritas como beneficiárias,mas que podiam e deviam trabalhar, sem que o façam, nem sequer tentem, são umaperversão da lógica que deve ser contemplada. Daí o meu voto no sentido da abstençãopelo facto de estes aspectos descritos da boa fiscalização do sistema o porem em causatanto do ponto de vista da possibilidade financeira como do ponto de vista moral.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − Os Estados não podem ser insensíveis às situações depobreza extrema e devem assegurar que ninguém fica simplesmente entregue à sua sorte,em situações muitas vezes profundamente degradantes. Daí que um apoio extraordinário,excepcional, nestes estritos casos, deve ser considerado. Todavia, experiências de atribuiçãode rendimentos mínimos, como a portuguesa, sem qualquer tipo de fiscalizaçãoverdadeiramente eficaz, e com um enorme número de pessoas inscritas como beneficiárias,mas que podiam e deviam trabalhar, sem que o façam, nem sequer tentem, são umaperversão da lógica que deve ser contemplada. Daí o meu voto no sentido da abstençãopelo facto de estes aspectos descritos da boa fiscalização do sistema o porem em causatanto do ponto de vista da possibilidade financeira como do ponto de vista moral.

Willy Meyer (GUE/NGL), por escrito. – (ES) Votei a favor da resolução do ParlamentoEuropeu sobre o papel do rendimento mínimo no combate à pobreza e na promoção deuma sociedade inclusiva na Europa, porque estou de acordo com a maior parte dos pedidose opiniões que contém, como por exemplo, com o facto de os Estados-Membros, o Conselhoe a Comissão terem necessidade de implementar "medidas concretas de erradicação dapobreza e da exclusão social" e de que "o combate à pobreza principia com a criação deempregos dignos e sustentáveis para os grupos mais carenciados no mercado de trabalho".Nesse ponto, considero muito valiosa a sua defesa do estabelecimento de um limiar do

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rendimento mínimo em todos os Estados-Membros, de molde que todos, empregados ounão empregados, possam viver dignamente. Apoiei esta resolução porque, de um modogeral, ela exige maior intervenção social para combater a situação de pobreza que afectamilhões de cidadãos. Com esse fim, exige que os Estados-Membros e as Instituiçõeseuropeias estabeleçam medidas concretas para promover a integração digna no mercadode trabalho dessas pessoas que estão a viver na pobreza.

Siiri Oviir (ALDE), por escrito. – (ET) Como deputada, perturba-me particularmente ofacto de, na actual crise económica, as mulheres da UE estarem muito mais ameaçadas pelapobreza extrema do que os homens. Se considerarmos os números fornecidos pelo Eurostat,actualmente, antes de receberem a segurança social, 27% das mulheres estão em risco decair na pobreza. Na sociedade europeia, a tendência sustentada para a feminização dapobreza mostra que o quadro existente dos sistemas da segurança social e as várias medidaspolíticas sociais, económicas e de emprego adoptadas na UE não são concebidas para asnecessidades das mulheres, nem para abolição das disparidades relacionadas com o empregofeminino. Apoio, por conseguinte, a relatora, que afirma que a pobreza e a exclusão socialda mulher na Europa requerem soluções estratégicas concretas, variadas e baseadas nogénero, motivo por que também apoiei com o meu voto o facto de ela trazer este assuntoà colação.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório da senhora deputadaFigueiredo. O trabalho constitui a maior prioridade para a população. A solidariedade emque se baseia o modelo europeu de economia social de mercado e a coordenação dasrespostas a nível nacional são fundamentais. As iniciativas empreendidas por Estados atítulo individual serão ineficazes, a não ser que tenhamos acções coordenadas a nível daUE. É, por conseguinte, essencial que a União Europeia fale com voz forte e em uníssono,e tenha uma visão comum, deixando aos Estados a título individual a escolha da aplicaçãoconcreta de medidas, de acordo com o princípio da subsidiariedade. Na economia socialde mercado, consagrada no Tratado e por ele defendida, as autoridades públicas têm deimplementar medidas de pagamento directo, com o objectivo de acelerar e facilitar aconsecução do equilíbrio, a fim de evitar, ou pelo menos minimizar, dificuldades para opúblico. Temos necessidade de políticas sociais para proteger as famílias, limitando asdesigualdades, bem como o impacto e os efeitos da crise. Temos de melhorar os sistemasde segurança social, mediante a implementação de políticas a longo prazo, tambémrelativamente aos postos de trabalho, dando maior estabilidade ao emprego, evitando, aomesmo tempo, encargos insustentáveis para os nossos orçamentos nacionais.

Georgios Papanikolaou (PPE), por escrito. – (EL) Votei a favor da proposta de resolução– Alteração 3 – (n.º 4 do artigo 157.º do Regimento) a fim de se substituir a proposta deresolução não legislativa A7-0233/2010 sobre o papel do rendimento mínimo no combateà pobreza e na promoção de uma sociedade inclusiva na Europa. Sobretudo na época actualde crise económica, esta disposição não é incompatível com o princípio de uma economiasocial de mercado, princípio que subscrevo sem reservas.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − A pobreza é um dos maiores problemassociais em todo o mundo a que, lamentavelmente, a UE não está imune. Aliás, a jáprolongada crise financeira e económica em que vivemos tem vindo a agravar a pobrezados europeus, criando nalguns países, como Portugal, uma nova vaga de pobres, antespertencendo ao que é comummente designado como classe média.

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A atribuição de um rendimento mínimo é uma importante medida social, com impactosignificativo também no plano económico e exprimindo o que muitos interpretam comouma obrigação moral. Importante é que este rendimento mínimo seja de tal formaregulamentado que constitua uma alavanca que guinde os pobres para um nível de vidaaceitável e que jamais possa constituir um incentivo para a passividade face a uma situaçãodifícil, nomeadamente a possibilidade de ausência de empenho na procura de um emprego.

Rovana Plumb (S&D), por escrito. – (RO) A pobreza é uma realidade que afecta pessoascujo rendimento é insuficiente para lhes proporcionar uma vida aceitável, pessoas cujonúmero está a aumentar, em consequência da actual crise. Em 2008, 17% da populaçãoda UE (cerca de 85 milhões de pessoas) estavam ameaçadas pela pobreza. O índice de riscode pobreza era mais elevado para as crianças e jovens até à idade de 17 anos do que parao total da população, atingindo os 20% na UE-27, sendo o índice mais elevado registadona Roménia (33%). O índice de risco de pobreza para os empregados era de 8%, em média,na UE-27, registando-se, uma vez mais, o mais elevado na Roménia (17%).

Votei a favor da necessidade de adopção de um sistema de cálculo do rendimento mínimo(equivalente a 60%, pelo menos, do rendimento médio no Estado-Membro em questão)na totalidade dos Estados-Membros, consistindo em medidas específicas de apoio a pessoascujo rendimento seja insuficiente, mediante a concessão de um financiamento efacilitando-lhes o acesso a serviços. Essa medida poderia constituir um dos processos maiseficazes de combater a pobreza, de garantir um nível de vida adequado e de promover aintegração social.

Frédérique Ries (ALDE), por escrito. – (FR) Arrancar 20 milhões de Europeus à pobrezaaté 2020 é o ambicioso objectivo estabelecido pela Estratégia UE 2020, um objectivo quepoderá muito bem continuar a ser um voto piedoso, se a Europa não lutar contra o crescenteempobrecimento que actualmente afecta mais de 80 milhões de cidadãos.

Essa é a razão por que é importante a introdução, a nível europeu, de um rendimentomínimo de subsistência, ou o seu alargamento a todos os Estados-Membros. Concebidopara ser a "última rede de segurança", o rendimento mínimo já desempenha um papel naluta contra a exclusão social.

Temos agora de aumentar a sua eficácia, tendo em mente três coisas: manter o diferencialentre o rendimento mínimo e o salário mínimo garantido, porque é necessário que otrabalho se mantenha atraente e estar empregado ainda é a melhor maneira de não cair napobreza; a necessidade de inserir o rendimento mínimo numa política coordenada e globalde ajuda às pessoas vulneráveis (acesso à habitação, cuidados de saúde, assistência à infânciae cuidados ao domicilio); eliminar o título I, relativo à integração dos objectivos que lhesão atribuídos, e activar o rendimento mínimo como meio de, em dado momento, ajudarfinanceiramente uma pessoa, ou uma família, em dificuldades.

Robert Rochefort (ALDE), por escrito. – (FR) Na Europa, oitenta e cinco milhões depessoas estão ameaçadas pela pobreza. A crise económica que estamos a atravessar está atornar os jovens (dos quais, um em cada cinco se encontra desempregado), as mulheres eos pais de famílias monoparentais ainda mais vulneráveis. Estão igualmente a aumentaras condições de precariedade entre os trabalhadores, sendo actualmente de 19 milhões onúmero dos afectados pela pobreza. Considerando que 2010 foi declarado "Ano Europeudo Combate à Pobreza e à Exclusão Social", uma sondagem recente levada a cabo peloEurobarómetro sobre as opiniões dos cidadãos a respeito da UE mostrou que 74% esperamque a UE desempenhe um papel importante neste domínio. Escutemo-los e actuemos.

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Apoiei a resolução sobre o papel do rendimento mínimo no combate à pobreza e napromoção de uma sociedade inclusiva na Europa. Infelizmente, nem todos os 27Estados-Membros têm um rendimento mínimo nacional. Apoiei o convite dirigido àComissão para fazer uso do seu direito de iniciativa a fim de propor uma directiva-quadroque estabeleça na Europa o princípio de um rendimento mínimo adequado, com base emcritérios comuns, o que, infelizmente foi rejeitado.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (FR) Com a nossa proposta de umadirectiva-quadro sobre o rendimento mínimo, o Parlamento tinha hoje oportunidade dedotar a Europa de um instrumento essencial para lutar verdadeiramente contra a pobrezae para dar a cada jovem, a cada adulto, a cada pessoa idosa, o direito a um rendimentosuficientemente elevado para os arrancar à pobreza e lhes permitir viver, finalmente, comdignidade. Isto requeria audácia política e coragem, para pôr fim ao escândalo vergonhosoque é a pobreza a longo prazo.

Todavia, em consequência da sua cobardia e da sua falta de coerência política, a direitaeuropeia irá carregar com a pesada responsabilidade do fracasso da Estratégia UE 2020, eirá dar azo ainda a mais desilusão entre os nossos concidadãos e todas as organizaçõesque, dia após dia, lutam a favor dos mais vulneráveis.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. – (IT) Numa sociedade moderna constituída por cidadãoshonestos e activos, devia ser excelente introduzir um rendimento mínimo para os quecasualmente estivessem desempregados. Na realidade, garantir um rendimento aos quenão trabalham conduz à distorção do mundo laboral. Muitas pessoas iriam, de facto, preferirnão procurar emprego, complementando o seu rendimento mínimo garantido com trabalhonão declarado ou dedicando-se à microcriminalidade.

Essas situações negativas iriam certamente afectar os grupos populacionais menos bempreparados para sobreviver, particularmente as famílias de países terceiros quefrequentemente têm de se contentar com partilhar entre si pequenas habitações e, porconseguinte, de baixo custo. A garantia de uma prosperidade generalizada iria, sem dúvida,fazer com que as pessoas mais pobres do mundo tentassem vir viver para a Europa, porque,por muito pouco que lhes fosse garantido, seria, certamente, melhor do que nada. É poresses motivos que me oponho firmemente ao relatório.

Czesław Adam Siekierski (PPE), por escrito. – (PL) A pobreza e a exclusão socialconstituem uma manifestação de falta de respeito pela dignidade humana. Combater ofenómeno é uma prioridade da União Europeia, e também está inscrita nos Objectivos deDesenvolvimento do Milénio. Que podemos nós fazer e que tarefas devíamos empreendera este respeito? Os factores mais importantes são a educação e assegurar condições parao desenvolvimento, uma vez que estas são soluções que iriam ensinar às pessoas a seremelas próprias a lidar com o problema da pobreza, usando o seu próprio potencial, apoiadaspor soluções sistémicas. Por outras palavras: devíamos dar-lhes a competência de que têmnecessidade.

Nos países em desenvolvimento, é importante apoiar a construção de infra-estruturas,sobretudo dando às pessoas acesso a água potável. A ajuda ao desenvolvimento deve estarassociada à criação de condições para o desenvolvimento do comércio. Facilitar odesenvolvimento e criar novos postos de trabalho é o melhor modo de combater a pobrezaem várias regiões do mundo, tanto ricas como pobres. Não é possível combater eficazmentea pobreza apenas por meio de regulamentos administrativos, inclusive por meio daquelesque estabelecem rendimentos mínimos.

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Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − A crise económica veio agravar as desigualdadessociais no seio da UE. No final de 2008, cerca de 17% da população europeia, isto é, 85milhões de pessoas, viviam abaixo do limiar da pobreza. Os efeitos da crise, nomeadamenteo aumento do desemprego e a diminuição das oportunidades de trabalho, têm vindo adeixar muitas pessoas numa situação difícil. É essencial que a Europa se envolva napromoção de uma sociedade mais inclusiva através de medidas de erradicação da pobreza.2010 é o "Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social" e a Estratégia UE2020 contempla o objectivo de reduzir em 20 milhões o número de pessoas em situaçãode risco de pobreza. A verdade é que o nível de pobreza não afecta apenas a coesão social,mas também a economia.

Assim, e tendo em conta o compromisso do Parlamento em participar no combate àpobreza e à exclusão social, considero o regime de rendimento mínimo com base em 60%do rendimento mediano do respectivo Estado um contributo importante para a inclusãosocial. Pelas razões referidas e por considerar que o documento destaca a necessidade deuma acção concreta no sentido de uma coesão social e económica mais eficaz, com respeitopela subsidiariedade, votei a favor.

Thomas Ulmer (PPE), por escrito. – (DE) Votei contra este relatório pelo facto de ele virardo avesso a consolidação orçamental pelos Estados-Membros e de conter a habitualverborreia floreada comunista a respeito das transferências interestatais. Além disso, háuma nítida violação do princípio da subsidiariedade na esfera social. Na República FederalAlemã, a assistência social e o rendimento garantido pelo Estado através dos subsídios doHartz IV em caso de desemprego prolongado já são tão elevados que não vale a penatrabalhar em empregos com salários baixos. A este respeito, impõe-se a existência de umadiferença mínima obrigatória entre os subsídios da segurança social e o rendimento. Opré-requisito para toda a prosperidade continua a ser, como sempre foi, um crescimentoeconómico saudável.

Viktor Uspaskich (ALDE), por escrito. – (LT) Senhoras e Senhores deputados, não obstantetodas as declarações sobre a redução da pobreza, a desigualdade social aumentou - cercade 85 milhões de residentes na UE correm o risco de cair na pobreza. Isto constitui umenorme problema para a Lituânia, uma vez que 20% da nossa população corre esse risco.Temos necessidade de uma política de emprego forte, que estimulasse o crescimento e acompetitividade da economia de mercado social europeia, evitasse o desequilíbrio egarantisse a inclusão social.

Isso não é, porém, suficiente para combater o desemprego. Ter simplesmente trabalho nãooferece protecção contra a pobreza. O aumento do emprego precário e baixos saláriossignifica que está a aumentar a percentagem de trabalhadores que se encontram em riscode pobreza.

De acordo com relatórios da UE, na Lituânia, os rendimentos de mais de 20% dostrabalhadores a tempo inteiro são inferiores a 60% do rendimento médio, quando a médiaeuropeia é de 14%. Um aumento do salário mínimo mensal ajudaria a reduzir a pobreza,mas não garantiria uma sociedade sem isolamento. Na maior parte jovens abandonam opaís, não apenas por falta de dinheiro e de trabalho (no ano passado, o desemprego entreos jovens lituanos atingiu quase os 30%), mas também porque se sentem abandonados eimpotentes contra decisões que têm impacto sobre o seu dia-a-dia, coisa que é necessáriomudar.

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Derek Vaughan (S&D), por escrito. – (EN) Não obstante os esforços desenvolvidos portodo o mundo e os compromissos assumidos por muitas instituições internacionais (UEincluída), a luta contra a pobreza ainda está longe de ser vencida. Entre 2005 e 2008, apercentagem de pessoas a viver na pobreza aumentou na Europa de 16% para 17%. Portoda a Europa é consensual, tanto entre governos como entre as populações, que temosde lutar para erradicar a pobreza. Considerando os compromissos da Europa 2020, somos,uma vez mais, forçados a pensar em que medidas podem ser tomadas para combater apobreza.

Apoio o relatório da senhora deputada Figueiredo, que apela a uma reavaliação doscompromissos da UE para combater a pobreza e a exclusão social, bem como à inclusãode objectivos claros, que constituem um desafio, mas são realizáveis, para pôr fim à pobrezae às desigualdades, mediante a implementação de estratégias eficazes, inclusivas eprogressistas que lutem proactivamente contra a pobreza global.

Angelika Werthmann (NI), por escrito. – (DE) Na UE, cerca de 85 milhões de pessoasenfrentam actualmente a ameaça da pobreza. Isto inclui vários grupos diferentes: criançase jovens até à idade de 17 anos correm maior risco de pobreza, o que, em termos específicos,significa que um em cada cinco crianças e jovens é vítima da pobreza. As pessoas idosastambém enfrentam um risco mais elevado de pobreza do que a população em geral. Em2008, o índice de pessoas em risco de pobreza entre as pessoas de 65 anos e mais velhasera de 19%. Todavia, em 2008, o índice de pessoas empregadas em risco de pobreza, oschamados "trabalhadores pobres", era de 8%. O conceito de um rendimento mínimo irácontribuir significativamente para a integração social de grupos em situação de risco. Naelaboração da directiva, porém, será necessário prestar a maior atenção possível ao controlorigoroso e a evitar-se qualquer possível "exploração" desta assistência social. Seconsiderarmos apenas o número de pessoas que recebem subsídios de desemprego,verificamos que há 23 milhões de pessoas que têm necessidade de receber subsídios dedesemprego para poderem viver dignamente.

Relatório: Pervenche Berès (A7-0267/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório, pois defendea continuação do trabalho realizado pela comissão especial sobre a crise que, desde a suacriação, permitiu chegar a conclusões e fazer recomendações específicas quanto a certospontos, mas ainda é necessário um trabalho mais aprofundado para proceder a umintercâmbio nesta base com os parlamentos nacionais, transformar essas recomendaçõesem propostas legislativas e traduzir os resultados objectivos num programa de trabalho.Pôr termo aos trabalhos desta comissão especial daria a impressão de que a crise foisuperada, quando a situação dos mercados financeiros não se encontra estabilizada e osefeitos económicos e sociais deste grande crash ainda não são conhecidos, tendo um impactoprofundo e a longo prazo. Todos os dossiês abertos ou a abrir hoje em dia (Estratégia UE2020 e novas directrizes, governação económica, perspectivas financeiras, regulação esupervisão, reforma da governação mundial e representação da União) devem partir daconstatação da crise do modelo. Tal continuação permitiria, nomeadamente, assegurar oseguimento aprofundado desta agenda múltipla, aprofundar a análise e as recomendaçõespolíticas com base num programa de trabalho a definir e, nessa base, fazer um relatóriode seguimento para o segundo semestre de 2011.

Charalampos Angourakis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei contra o relatório pelofacto de o ataque à classe trabalhadora pelo sistema capitalista e os seus representantes

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políticos ser um ataque global, que nada tem a ver quer com os défices financeiros, quercom o excessivo endividamento -, coisa que é confirmada pela atitude assumida pelosresponsáveis comunitários e pela resolução do Parlamento Europeu. O conflito entre osimperialistas não pode ser ultrapassado, e irá agravar-se progressivamente. A UE e o G20estão a fazer planos simples para cortar os rendimentos das bases, para pôr o que pertenceàs bases nas mãos das grandes empresas, e aumentar-lhes os lucros, para aumentar aexploração da classe trabalhadora e cortar-lhe o direito à segurança e ao trabalho. Asmedidas globais decidiram reforçar os monopólios e deslocar a carga da crise capitalistapara os ombros dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a UE e a plutocracia estão a tentardourar a pílula, promovendo novos modelos de governação económica e de economiasverdes, prometendo que há uma luz ao fundo do túnel, para gerar esperanças vãs e obteraprovação da sociedade por meio de lisonjas. As manifestações na Grécia, em França, naItália e em outros países são prova flagrante de que as opções feitas pelo sistema capitalistasão rejeitadas pelos trabalhadores. Esta rejeição pode - e deve – tornar-se uma rejeição dosmonopólios e do imperialismo e deve ser transformada numa luta pelo poder das bases.

Liam Aylward (ALDE), por escrito. – (GA) A Estratégia UE 2020 é extremamenteimportante para a competitividade, a sustentabilidade e as características sociais da União.Pessoalmente, votei a favor do que o relatório diz sobre prestar, no futuro, mais atenção ainiciativas relacionadas com a energia, a investigação e o sector da inovação, bem comoàs questões da saúde e da educação. Estou absolutamente de acordo que as questões daeducação deviam estar no centro da estratégia económica da União e que devia haver maisapoio a programas como "Aprendizagem ao Longo da Vida", "Erasmus" e "Leonardo" paraa educação e a formação noutros países, e que se devia dar ao povo da Europa maior acessoa esses programas. A investigação e o desenvolvimento são cruciais para a competitividade,impondo-se dar a estudantes e investigadores apoio e encorajamento, quando estão a tirarpartido da mobilidade transfronteiriça, ao mesmo tempo que o acesso ao financiamentodeve ser transparente e simplificado.

Apoio igualmente o que o relatório diz sobre melhorar a capacidade das pequenas e médiasempresas para obterem crédito, reduzindo a burocracia associada a contratos públicospara as PME, e estabelecer um balcão único para tratar as questões administrativas dessasempresas.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE), por escrito. – (ES) Diversos factores concorrerampara a actual crise: o comportamento especulativo dos mercados financeiros e odesenvolvimento da procura interna durante os últimos anos, baseada no crédito aoconsumo, entre outras coisas. Há muitas razões, que muito discutimos aqui no Parlamento,mas temos de olhar para o futuro. O futuro é parte do cumprimento do conteúdo destainiciativa. Para isso, a Europa tem de superar o problema do envelhecimento da população.Tem de regular, reorganizar e supervisionar o mercado financeiro da União, melhorar asua coordenação e usar a sua força para desempenhar um papel activo a nível global. Temde adoptar medidas para melhorar a coordenação entre os diferentes níveis da governação,definir um novo modelo de crescimento económico que vá acompanhado dedesenvolvimento humano e social, concentrar-se na solidariedade europeia, na melhoriada competitividade, da qualidade, na melhoria da educação, da inovação, das novastecnologias e no conhecimento. Este é o único processo de podermos garantir que a Europaé uma oportunidade para o mundo.

Mara Bizzotto (EFD), por escrito. – (IT) Procedemos à votação de um relatórioextremamente longo e complicado, com um texto e uma estrutura intrincados. Há, porém,

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uma coisa que não convence: não se deu a devida atenção à causa real, profunda, quedesencadeou a crise económica em que nos encontramos, muito embora se encontrepresente nos considerandos do texto. Não se tratou de uma causa contingente, mas simestrutural - e não apenas em termos económicos. A crise financeira foi causadaprincipalmente pela ilusão, cultivada pelas elites financeiras e políticas mundiais, de que,no terceiro milénio, a economia e a riqueza da humanidade podiam basear-se mais nasfinanças do que na produção de bens, mais na espantosa criação de produtos de engenhariafinanceira do que naquilo que é realmente criado, produzido, vendido e comercializadopor centenas e centenas de milhões de empresas em todo o mundo. A não ser quereconheçamos a importância económica e política da recuperação do primado da economiareal sobre a economia virtual, o relatório corre o risco de cometer o erro fatal de sugerirvias de saída da crise que, em última análise, não seriam uma verdadeira solução. A Europanão tem necessidade de mais centralização dos poderes económicos a nível da UE. A Europanecessita de iniciativa e de menos burocracia. Logo, votei contra o relatório.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D), por escrito. – (LT) Votei a favor deste relatório porque a actualcrise financeira que afectou os sectores económicos e financeiros deu azo a uma criseeconómica e social em que cidadãos europeus continuam a viver na pobreza, asdesigualdades sociais estão a tornar-se mais pronunciadas e o número de trabalhadorespobres também está a aumentar.

Gostaria de sublinhar que a recessão foi mais exacerbada pelo facto de os vários planosnacionais de recuperação económica não estarem suficientemente coordenados, porqueé altamente provável que, com coordenação a nível da União Europeia, seria possível termaior impacto do que com aquilo que é possível alcançar com a maior parte dos planosa nível nacional. Segundo a Estratégia Europa 2020, a União Europeia comprometeu-se acombater o desemprego, incrementar o emprego e reduzir a pobreza e a exclusão social.Todavia, esta estratégia deve ser um esforço concertado - parte da gestão da crise e doprocesso estratégico de planeamento pós-crise.

Concordo com a posição do Parlamento de que este objectivo estratégico da União Europeiatambém devia ser realizado através da estreita cooperação com os governos nacionais,com os parceiros sociais e com a sociedade civil, e de que o Parlamento Europeu devia sermais envolvido na sua execução.

Vito Bonsignore (PPE), por escrito. – (IT) A aprovação deste complexo relatório representaum passo muito importante para a comunidade europeia, que clama por respostas clarase soluções rápidas para ultrapassar esta difícil crise económica. Votei favoravelmenteporque o texto hoje aprovado inclui princípios que sempre constituíram a base da políticaeconómica do meu grupo. Refiro-me, por exemplo, à necessidade de maior consolidaçãoorçamental, ao reforço do Pacto de Estabilidade e Crescimento e à conclusão do mercadoúnico.

Estou, de facto, convencido de que a Europa necessita de uma transformação radical paraduplicar o seu potencial de crescimento e este resultado só pode ser alcançado através deuma maior coordenação das políticas económicas e orçamentais dos Estados-Membros.Mas, antes disso, considero necessário rever o sector da regulação financeira que se revelouser não só falaz, mas também uma das causas principais da crise. A UE também tem defazer face rapidamente a vários desafios, começando pelo emprego, o desafio demográficoe o sistema de pensões. Mas, primeiro, precisamos de implementar políticas para apoiar

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as PME, força motriz e coração económico da Europa, sobretudo, promovendo pacotes eincentivos fiscais que permitam um acesso mais fácil ao crédito.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório porconcordar que a Comissão deve assumir a responsabilidade de garantir a monitorizaçãoe o financiamento de projectos nos seguintes domínios: novos investimentos nainvestigação, desenvolvimento e implantação de energias renováveis, na eficiênciaenergética, em particular no parque imobiliário europeu, bem como, de um modo geral,na utilização eficaz dos recursos; reforço da rede europeia da energia, interconectando asredes nacionais e distribuindo a energia de grandes centrais de produção de energiasrenováveis aos consumidores, bem como emprego de novas formas de armazenagem daenergia e da super-rede europeia de corrente contínua de alta tensão (CCAT); promoçãodas infra-estruturas espaciais da UE no domínio da radionavegação e da observação daTerra, visando fomentar o fornecimento de novos serviços da UE e o desenvolvimento deaplicações inovadoras, bem como facilitar a aplicação da legislação e das políticas da UE;oferta de acesso rápido à Internet em toda a União, garantindo a rápida execução da agendadigital da UE e proporcionando um acesso livre e seguro a todos os cidadãos.

David Casa (PPE), por escrito. – (EN) Este relatório analisa detalhada e minuciosamenteas causas da crise económica e as medidas tomadas a nível da UE para prevenir, anteciparou, no mínimo, diminuir o impacto de crises futuras. As conclusões tiradas no relatóriosão muito equilibradas e apresentam uma visão geral apurada das causas e dos efeitos dacrise. O relatório também acrescenta valor ao debate actual sobre os possíveis caminhospara sair desta situação. Por isso, decidi votar a favor deste relatório.

Françoise Castex (S&D), por escrito. – (FR) Votei a favor deste texto, embora os custosprevisíveis da recessão que atravessamos desde o Verão de 2007 ascendam a 60 biliões dedólares e a recuperação não esteja garantida, porque, através deste voto, tanto eu como osmeus colegas deputados europeus, queríamos provar que a responsabilidade política poderir a par da ambição. Sugerimos uma proposta clara em alternativa à cacofonia entre aComissão, o grupo de missão de Van Rompuy e a dupla Merkel-Sarkozy sobre a governaçãoeconómica: a criação de uma Senhora ou um Senhor Euro responsável pela coerênciainterna e externa das escolhas da política económica da União.

Nessa Childers (S&D), por escrito. – (EN) Votei a favor do relatório Berès, porque apoiomaior parte do seu conteúdo. Contudo, é necessário prosseguir um debate pormenorizadosobre uma questão em particular, uma MCCCIS. Concordo que é necessário garantir queos diferentes regimes fiscais aplicáveis às sociedades não permitam às empresas isentarem-sedas suas responsabilidades de apoiar a sociedade, através da partilha dos seus lucros noquadro de um regime fiscal justo.

No entanto, é necessário atender de forma particular ao impacto negativo que uma MCCCISpoderia ter sobre países pequenos, como a Irlanda, cujos níveis de prosperidade e deemprego dependem, em grande parte, da sua capacidade de atrair investimento estrangeiro.Quero também fazer notar que o Partido Trabalhista Irlandês não apoia uma MCCCIS.

Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei contra o relatório, porque aesquerda não pode aceitar um relatório nascido de um compromisso entre os Socialistase a direita europeia, um relatório que não vai ao fundo do problema, isto é, às causasfundamentais da crise económica e social. O relatório vincula politicamente o Parlamentoàs propostas neoliberais desastrosas da Chanceler Merkel, do Presidente Sarkozy e do grupo

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de missão cujo objectivo consiste em tornar os Tratados e o Pacto de Estabilidade maisrigorosos, o que quebrará o Estado social e privará os trabalhadores dos seus direitos.

A nossa facção criticou o Pacto de Estabilidade anti-social, anti-crescimento, a fraquezainstitucional e política da UEM, a forma antidemocrática como o BCE funciona e ocrescimento desigual na UE e propôs caminhos para a saída da crise que respeitam direitoslaborais e sociais. No entanto, infelizmente, o espírito e a letra do texto continuam fiéis apolíticas neoliberais desastrosas que funcionam em detrimento dos trabalhadores, levamà recessão e ao desemprego e estão a exacerbar a crise.

Lara Comi (PPE), por escrito. – (IT) A crise ensinou-nos uma dura lição e ainda tem muitoa ensinar-nos sobre os aspectos estáticos e dinâmicos das políticas económicas. É nossatarefa aprender com estas lições e pô-las em prática, para conseguirmos voltar a andar.Precisamos de evitar os erros cometidos no passado e de reconhecer os fenómenos quenão haviam sido identificados antes, mas, acima de tudo, precisamos de ser meticulososno estabelecimento das relações entre a economia real e as finanças, protegendo o empregoe o bem-estar geral de choques deste tipo. Mas a União Europeia tem de fazer mais. Temde criar valor acrescentado, reforçar os instrumentos que funcionaram bem (como, porexemplo, a moeda), afinar aqueles que podem ser aperfeiçoados (como a coordenação depolíticas fiscais e orçamentais), e criar economias de escala para uma recuperação rápidae duradoura. Considero muito positivo que o Parlamento esteja a reflectir sobre estesassuntos e continue a monitorizar a situação, desde que estes sinais sejam traduzidos emmedidas concretas e efectivas.

Anna Maria Corazza Bildt, Christofer Fjellner, Gunnar Hökmark e Alf Svensson(PPE), por escrito. – (SV) Votámos a favor deste relatório, mas votámos contra e opomo-nosveementemente à recomendação de introdução de um imposto sobre as transacçõesfinanceiras e à distribuição da dívida entre os países da área do euro.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) Votei a favor da aprovação deste relatório porduas razões. Primeiro, porque os seus autores fizeram um trabalho extraordinário que sereflectiu numa extensa análise das causas e do impacto da crise económica na economiaglobal, por um lado, e na economia europeia, por outro lado. Em segundo lugar, porqueo relatório contém uma série de recomendações importantes na secção intitulada "O futuro– Uma Europa que constitua um valor acrescentado". Temos de reconhecer que aconcentração estreita e de curto prazo no lucro levou à perda de um grande número deempregos nas indústrias europeias que oferecem um elevado valor acrescentado, criando,simultaneamente, empregos precários e de baixa qualidade. É tempo de inverter a tendência,reindustrializar a União Europeia e restabelecer a sua capacidade de inovar e criar empregosem sectores ligados à investigação e ao desenvolvimento e às novas tecnologias.

Anne Delvaux (PPE), por escrito. – (FR) Congratulo-me com este voto favorável, porqueera importante referir, finalmente, a questão das sanções por incumprimento do Pacto deEstabilidade e Crescimento (PEC), que os Estados-Membros desrespeitaram alegrementecom demasiada frequência.

Precisamos de criar um sistema eficaz de incentivos e sanções relacionados com aimplementação do PEC que contribuam para garantir que a crise actual não se agrave aindamais e que se previnam crises no futuro. Por isso, apoiei o número em que a Comissão éexortada a introduzir um sistema vinculativo de sanções que seja controlado de formainequívoca por ela, para forçar os Estados-Membros a cumprir as regras do PEC.

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Harlem Désir (S&D), por escrito. – (FR) A crise revelou as insuficiências da UniãoEconómica e Monetária: quase fez cair o euro e resultou na perda de milhões de empregosem todo o continente. Com o relatório Berès, o Parlamento Europeu acabou de aprovaruma proposta de estratégia coerente para tirar a Europa da recessão e responder àsrepercussões financeiras, económicas e sociais da mesma.

Esta proposta inclui a introdução de uma efectiva supervisão financeira, algo quecomeçámos a implementar, mas que terá de ser reforçado consideravelmente; a tributaçãodas transacções financeiras, para regular os mercados, financiar os bens públicos e reduzirdéfices públicos; a coordenação das políticas económicas e dos orçamentos dosEstados-Membros, em prol de um crescimento sustentável; a nomeação de um Senhor ouuma Senhora Euro que se encarregue da área do euro e unifique a sua representação noG20 e no FMI; e a criação da Comunidade Energética Europeia.

É tempo de a Europa voltar a andar. É isto que os cidadãos esperam. Num mundo emmudança constante, a inércia equivale ao declínio. É por isso que, agora, precisamos depassar deste relatório à acção.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório sobre a crise financeira,económica e social: recomendações referentes a medidas ou iniciativas a tomar, porqueapresenta medidas concretas para ultrapassar a crise económica e social, através daconstrução de uma verdadeira economia social de mercado europeia, tendo em vista ocrescimento sustentado, o emprego e a inclusão social.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Os efeitos da crise económica e financeirapersistem muito para lá do que seria desejável, com repercussões sociais de gravidade cadavez mais acentuada. Conforme tenho defendido e este relatório também substancia, estacrise veio demonstrar que precisamos de mais Europa. Num espaço de grande amplitudee fronteiras abertas à livre circulação e mercado interno, tornou-se incomportável permitira resistência de um sistema de mediação, fiscalização e supervisão assente no poderindividualizado de Estados, de alcance reduzido e limitado face à realidade europeia eglobal. O reforço da governação económica, da supervisão financeira e da competênciade coordenação de políticas e assuntos económicos e monetários por parte das instituiçõesda União Europeia vai assegurar maior estabilidade e maior capacidade para uma actuaçãocélere e eficiente. Saliento o reconhecimento da importância da Estratégia UE 2020, ondea investigação e inovação são fulcrais para a competitividade das empresas e para a criaçãode emprego. Realço a importância do mercado interno e das PME para a recuperação e adinamização da economia, pelo que se impõem medidas que promovam a sua consolidaçãoe desenvolvimento sustentado.

Ilda Figueiredo (GUE/NGL), por escrito. − Votámos contra este relatório por ter sidodesvirtuada a proposta inicial da relatora e ter acolhido as posições que insistem na aplicaçãodas medidas que estão na origem da crise, além de insistir nas sanções aos Estados que nãocumpram o Pacto de Estabilidade. Mesmo tendo mantido uma ou outra proposta na áreasocial, a sua orientação global é negativa.

Por outro lado, foram rejeitadas as propostas que subscrevemos para plenário,designadamente nas seguintes áreas:

- Rejeição das recentes propostas legislativas da Comissão no domínio da governaçãoeconómica, incluindo das sanções, que terão efeitos depressivos sobre as já fracas taxas de

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crescimento nos Estados-Membros, defendendo um ambicioso plano europeu deinvestimentos em prol do emprego.

- Congratular-se com a grande participação na jornada europeia de mobilização contra aausteridade e a precariedade, organizada pelos sindicatos, em 29 de Setembro de 2010,salientando o seu importante significado político e expressando o apoio às reivindicações,exigindo empregos estáveis e com um salário digno, uma forte protecção social e do poderde compra, a garantia de melhores reformas, serviços públicos e sociais de qualidadeacessíveis a todos.

- Condenação firme do papel desempenhado pelos paraísos fiscais no incentivo e naexploração da fraude, da evasão fiscal e da fuga de capitais.

Bruno Gollnisch (NI) , por escrito. – (FR) Como é habitual, quando o Parlamento se vêconfrontado com a crise económica, social e financeira, o relatório da senhoradeputada Berès ignora as questões fundamentais e concentra-se em salvar o sistema, emvez de o colocar profundamente em questão. Este relatório até acrescenta uma profissãoda fé às virtudes auto-reguladoras do mercado, pretendendo acreditar que este pode sertornado mais ético.

Acredita nos benefícios da concorrência global e da livre e irrestrita circulação de capitaise mercadorias. A supervisão de um sistema que não funciona não nos permitirá evitar assuas piores anomalias. O sistema bancário demonstrou o seu cinismo ao reembolsarantecipadamente a ajuda estatal que, em última análise, evitou o seu afundamento, parapoder evitar ter de mudar o seu comportamento, incluindo as suas práticas maisescandalosas.

O sistema financeiro global, na sua versão actual, é prejudicial para a economia real. Encorajaa especulação e a criação de produtos complexos, produtos frequentemente poucotransparentes e potencialmente tóxicos. Produz riqueza infundada. Obriga as empresas aseguir estratégias de prazo extremamente curto e favorece os accionistas à custa dos agenteseconómicos. Não basta pretender supervisioná-lo. É necessário mudá-lo.

Nathalie Griesbeck (ALDE), por escrito. – (FR) Para além da perda de milhões de empregosem todo o continente europeu e das ameaças ao euro, a recessão realçou a ausência de umagovernação económica forte e harmonizada na União Europeia e o falhanço da supervisãofinanceira.

Portanto, votei a favor desta resolução, porque ela pretende remediar estes males e promovera introdução de um imposto sobre as transacções financeiras que teria a vantagem delimitar a especulação com as mesmas, regular os mercados, financiar bens públicos, mastambém reduzir o défice público. Trata-se de uma medida forte que eu reclamava há muitotempo e com a qual me congratulo.

Sylvie Guillaume (S&D), por escrito. – (FR) Apoiei o relatório da minha colega socialistafrancesa, senhora deputada Berès, sobre a crise financeira, económica e social. Este textoambicioso propõe muitas ideias e soluções para a saída da recessão, assegurando umarecuperação sustentável e evitando que voltem a acontecer crises financeiras semelhantes,através de mecanismos de governação e supervisão.

Com este voto, o Parlamento Europeu prova que a responsabilidade política e a ambiçãopodem ir de mãos dadas. Dá-se prioridade ao emprego, uma vez que existe o perigo deuma recuperação económica sem redução de desemprego. O texto apela ao estabelecimento

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de uma verdadeira Comunidade Europeia da Energia. A nomeação do Senhor/SenhoraEuro, responsável pelas opções económicas e monetárias da União, também representariaum grande progresso. Por fim, recorda-nos a necessidade de um imposto sobre transacçõesfinanceiras, de modo a que aqueles que são responsáveis pela recessão sejam, finalmente,obrigados a contribuir.

Gay Mitchell, Mairead McGuinness, Jim Higgins e Seán Kelly (PPE), por escrito. –(EN) Os deputados europeus do partido Fine Gael não apoiam a proposta de uma directivarelativa à matéria colectável consolidada comum para o imposto sobre as sociedades, masnão consideram que isto constituísse razão para votar contra um relatório que é tãoimportante no seu todo.

Anne E. Jensen (ALDE), por escrito. – (DA) O Partido Liberal Dinamarquês absteve-seda votação final do relatório Berès sobre a crise financeira, uma vez que este recomendapositivamente a criação de um imposto sobre as transacções financeiras.

Alan Kelly (S&D), por escrito. – (EN) Eu, tal como os meus colegas trabalhistas, votei afavor do relatório Berès, porque apoio a maior parte do seu conteúdo. Contudo, é necessárioum debate contínuo e pormenorizado, em particular, sobre a questão da MCCCIS. Concordoque é necessário garantir que os diferentes regimes fiscais aplicáveis às sociedades nãopermitam às empresas fugir às suas responsabilidades de apoiar a sociedade através dapartilha dos seus lucros resultante de um regime fiscal aplicável às sociedades que sejajusto. No entanto, é necessário prestar uma atenção especial ao impacto negativo que umaMCCCIS possa ter sobre pequenos países como a Irlanda, cuja prosperidade e níveis deemprego dependem, em grande parte, da sua capacidade de atrair investimento estrangeiro.Peço que também fique registado que o Partido Trabalhista Irlandês não apoia uma MCCCIS.

Rodi Kratsa-Tsagaropoulou (PPE), por escrito. – (EL) O relatório Berès cobre questõesimportantes para a estabilidade da área do euro que receberam o meu voto favorável.

No entanto, abstive-me na votação final, em primeiro lugar, porque penso que está a seradoptada uma abordagem geral e simplificada dos problemas económicos e financeirosda UE e das medidas que têm de ser tomadas e, em segundo lugar, porque o relatório serefere às propostas da Comissão relativas a sanções para Estados-Membros indisciplinados,assim como outras medidas fiscais ou financeiras que o Parlamento Europeu ainda nãodebateu e sobre as quais ainda não chegou a qualquer conclusão.

Por isso, reservo-me o direito a manifestar uma opinião específica numa data posterior.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório Berès, porque acreditona necessidade de uma cooperação eficaz entre o Parlamento, o Conselho e a Comissãopara encontrar um caminho de saída da crise económica e financeira.

O Fundo Monetário Internacional publicou recentemente uma análise da situação actualda economia mundial, mostrando que o processo de recuperação continua a ser frágil edesigual. De facto, estamos confrontados com dois cenários diferentes: por um lado, umafase de forte crescimento para países emergentes e, por outro lado, taxas elevadas dedesemprego e um ritmo, em geral, lento de recuperação em Estados economicamente maisavançados.

Por isso, penso que seria útil seguir um rumo que nos permita garantir solidez das finançaspúblicas que é necessária para manter a confiança nos mercados e assegurar que os cidadãospossam voltar a acreditar no valor do projecto europeu.

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Thomas Mann (PPE), por escrito. – (DE) Votei a favor do relatório da Comissão Especialpara a Crise Financeira, Económica e Social, relatório esse que representa um compromissoconstrutivo entre todos os grupos envolvidos. Não precisamos de menos Europa, mas simde mais Europa! As nossas economias nacionais possuem uma estreita interligação –egoísmos nacionais só intensificarão a crise. Este relatório exige que a Europa seja unânimeem questões essenciais. A pedra angular da nossa acção tem de residir numa política daUE em matéria de finanças, de economia e de emprego que seja sustentável. Asrecomendações para a acção apontam uma forma clara para avançar: no futuro, as notaçõesde crédito das empresas têm de ser estabelecidas por uma agência de notação da UEindependente. É necessário acabar com a especulação de alto risco através um impostosobre transacções financeiras. O Pacto de Estabilidade e Crescimento tem de estar maisligado à estratégia Europa 2020. Fazemos um apelo inequívoco à Comissão para que crieequilíbrio entre o crescimento, a igualdade de oportunidades e a estabilidade dos mercadosfinanceiros. É necessário reduzir a tributação do trabalho, para reforçar o investimento e,portanto, a competitividade da Europa. As pequenas e médias empresas, em particular,necessitam de um acesso facilitado ao crédito.

A prioridade máxima na esfera social consiste na promoção do capital humano através demedidas reais e concretas que permitam formação e qualificação de pessoas. As numerosasaudições públicas, workshops e análises realizadas permitiram-nos, enquanto membrosda comissão, dar contributos bem fundados e baseados em factos para o debate público.É importante que o Parlamento ofereça respostas claras à crise. Só assim podemos reforçara nossa credibilidade e fiabilidade aos olhos dos cidadãos.

Mario Mauro (PPE), por escrito. – (IT) O meu voto favorável ao relatório deve-seinteiramente ao novo acordo alcançado, sobretudo, graças ao Grupo do Partido PopularEuropeu (Democratas-Cristãos). O projecto apresentado inicialmente pela relatora constituiuuma clara provocação ideológica, pelo que teve de ser completamente alterado. O FundoMonetário Internacional considera como prioridades corrigir as fragilidades remanescentesno sector financeiro, assegurar um forte crescimento da procura e do emprego, manter asustentabilidade da dívida, trabalhar para um maior equilíbrio no crescimento mundial eresolver os desafios resultantes de movimentos amplos e voláteis do capital. O relatório,que reconhece a necessidade contingente de garantir a solidez adequada das finançaspúblicas para manter a confiança nos mercados financeiros e reais, está em plena sintoniacom o último orçamento aprovado pelo Governo italiano, que visa reduzir o défice abaixodo limiar dos 3%.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A constituição da comissão para a crise financeira,económica e social (CRIS) tinha como objectivo o diagnóstico dos factores que levaram àcrise, definir o que falhou na UE para que a crise não tivesse sido antecipada e as medidase iniciativas futuras para evitar situações semelhantes e que consigam revitalizar aseconomias e afastar definitivamente os cenários de crise que ainda se mantêm em algunsEstados-Membros. Sou de opinião de que a comissão CRIS desempenhou bem as suasfunções e apresenta neste documento novos caminhos, medidas e iniciativas que levarãoa UE a estar mais bem preparada para futuras crises que possam vir a ter lugar.

Louis Michel (ALDE), por escrito. – (FR) Apoio o relatório da senhora deputada Berès,que exige mais Europa e não menos, mais eficiência e menos burocracia, assim como umaUnião Europeia a uma só voz na cena internacional.

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A retoma do crescimento não deveria levar-nos a cometer o erro de acreditar que a recessãoestá completamente ultrapassada e, sobretudo, que resolvemos as suas causas. Se existelição a tirar desta crise é a da ausência de governação mundial (ausência de um Estadomundial). Necessitamos de uma distribuição mais justa da riqueza entre os países e dentrode cada país. É aqui que está a verdadeira crise. Por isso, sou favorável a que o ConselhoEuropeu convoque uma cimeira G20 dedicada exclusivamente a esta questão.

No que diz respeito ao desenvolvimento, gostaria de sublinhar – tal como faz a senhoradeputada Berès, no seu relatório – que é importante os Estados-Membros honrarem osseus compromissos de 2005 em matéria de ajuda pública ao desenvolvimento (APD). Nadajustifica uma redução na ajuda pública ao desenvolvimento. Ela deve continuar a aumentare não deveria sofrer as consequências da crise financeira.

Andreas Mölzer (NI), por escrito. – (DE) A crise financeira pôs fim ao conto de fadas dosmercados financeiros auto-regulados. Esta crise global resultou, em particular, da falta detransparência dos produtos financeiros e estruturas de pacotes de alto risco, associada àpolítica de moeda fraca dos Estados Unidos e a conflitos de interesses em termos denotações. Os Estados-Membros da UE e as suas populações ainda têm muita matéria dereflexão sobre o resultado da crise económica, com as suas taxas crescentes de desempregoe os cortes no sector dos serviços sociais. Os pacotes de medidas de salvamento nãoconseguiram senão travar a espiral descendente no imediato. A longo prazo, apenasdeslocam os problemas que lhe são subjacentes. A crise não deve, de maneira alguma, serutilizada para alargar as competências da UE.

A eurocracia e a burocracia não constituem resposta à crise. Pelo contrário, a uniformidadeque eles impõem e o facto de ignorarem as diferenças culturais contribuíram para criar acrise. Sou totalmente a favor de uma melhor coordenação e consulta a nível da UE. Poroutro lado, é preciso rejeitar o mais veementemente possível um governo económico anível europeu, pelo que rejeito decididamente este relatório.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório intercalar da ComissãoEspecial para a Crise Financeira, Económica e Social. Enquanto membro desta ComissãoEspecial, tive um papel activo no processo e contribuí para a elaboração deste relatório.Acredito, em particular, que, na economia social de mercado, reconhecida e estabelecidacomo objectivo pelo Tratado, o sistema público deveria fazer alguns ajustes para acelerare facilitar o equilíbrio, a fim de evitar perdas e dificuldades ou de as limitar ao mínimo. Emvez de deixarmos a procura de novos caminhos a cargo do sector produtivo, que tem depassar por uma mudança radical, precisamos de nos dedicar a planos de transformação,créditos, mudanças de direcção ou outros meios adequados. A Europa tem de voltar a atrairinvestimentos e produção, estabelecendo-se como um modelo mundial para a inovaçãoe o crescimento. As instituições financeiras públicas e privadas têm de dar o seu melhorpara garantir que os mercados funcionem em benefício da economia real e das pequenase médias empresas, de modo a colocá-las em posição de contribuírem para a recuperaçãoeconómica e o crescimento na Europa.

Georgios Papastamkos (PPE), por escrito. – (EL) Abstive-me na votação do relatórioBerès, porque as propostas relativas à governação económica europeia não resolvem osproblemas estruturais de uma união económica incompleta e não diminuem a assimetriaentre uma união económica "mutilada" e uma união monetária completa. Além disso,abstive-me porque as propostas não "europeízam" as políticas económicas e o riscoeconómico. Apenas "europeízam" as sanções, que agora são ainda mais severas. Não existem

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quaisquer orientações estratégicas para garantir um crescimento equilibrado e estimulara competitividade de todos os Estados-Membros.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório porconsiderar que a Comissão deve garantir a monitorização e financiamento de projectosnos seguintes domínios: (1) na investigação, desenvolvimento e implantação de energiasrenováveis; (2) no reforço da rede europeia da energia, bem como no emprego de novasformas de armazenagem da energia e da super-rede europeia de corrente contínua de altatensão (CCAT); (3) na promoção das infra-estruturas espaciais da UE no domínio daradionavegação e da observação da Terra; (4) na oferta de acesso rápido à Internet; (5) naexpansão da liderança da UE no domínio da cibersaúde; (6) na realização da mobilidadeeléctrica e elaboração de normas comuns para a mesma. No âmbito da regulação financeira,o PE deve solicitar um sistema de regulação e supervisão que não deixe de fora nenhummercado financeiro, instrumento financeiro ou instituição financeira. Importaria então:(1) introduzir uma regulação mais anticíclica; (2) reduzir o risco sistémico colocado porinstituições de grandes dimensões e pelos mercados de derivados; (3) reforçar as estruturasde regulação e supervisão pan-europeias e mundiais; (4) investigar a utilização de transacçõesextrapatrimoniais; (5) introduzir um imposto sobre as transacções financeiras; (6) introduzirnovas normas relativas a dados estatísticos sobre o sector financeiro.

Mario Pirillo (S&D), por escrito. – (IT) Este relatório intercalar sobre a crise financeira,económica e social constitui uma ferramenta útil para analisar a actual situação financeirana Europa, mas, acima de tudo, indica o caminho que a Europa tem de percorrercorajosamente para evitar que se repitam situações como esta.

Acredito que para fazê-lo – tal como afirma acertadamente o relatório – a Europa tem decriar imediatamente organismos fortes e com autoridade, capazes de oferecer um padrãode governança para políticas económicas em todos os Estados. Estou convencido de quea Europa não pode continuar a assistir passivamente à maneira como os Estados-Membrosapresentam respostas fragmentadas e inconsistentes a uma crise económica cujasconsequências constituem uma ameaça real ao potencial de crescimento das nossaseconomias.

Rovana Plumb (S&D), por escrito. – (RO) O processo de transposição da Estratégia Europa2020 para programas nacionais, por parte dos Estados-Membros, tem de ajudar a estabeleceruma União Europeia mais competitiva, social e sustentável que coloque os cidadãos e aprotecção do ambiente no centro das suas políticas.

Os Estados-Membros têm de estabelecer como prioridades empregos de qualidade e umagarantia de bom funcionamento dos mercados de trabalho, assim como uma garantia daexistência de condições sociais adequadas com vista a melhorar o desempenho do mercadode trabalho. A taxa de desemprego entre a população da UE atinge, em média, 10%,chegando a 20% em alguns países e a mais de 40% entre jovens, o que sublinha aimportância de despesas públicas de qualidade e responsáveis, combinadas com a promoçãodo potencial empresarial e de inovação do sector privado, a fim de impulsionar o progressoeconómico e social.

Votei a favor da necessidade de os Estados-Membros elaborarem programas viáveis quereforcem o mercado de trabalho, melhorando os incentivos e as condições para ostrabalhadores, tornando, simultaneamente, os incentivos mais atraentes para osempregadores recrutarem e manterem o pessoal. É igualmente necessário colocar ênfase

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no trabalho digno, o que inclui o combate ao trabalho não declarado, e no acesso aomercado de trabalho para pessoas actualmente excluídas do mesmo.

Miguel Portas (GUE/NGL), por escrito. − Voto contra o relatório Berès com tristeza. Asua primeira versão era francamente promissora, quer na análise das causas da crise, querem muitas das propostas para a superar. Contudo, as exigências dos grupos à direitadesvirtuaram, em aspectos decisivos, o relatório inicial. Se é certo que se mantêm váriasboas propostas – como a criação de uma agência pública europeia de rating –, também éverdade que, em matéria de governação económica, o relatório se reconduz ao Consensode Bruxelas. Porque a escolha é entre défice e dívida pública ou crescimento e emprego, eo relatório não se define nesta questão decisiva, não o posso apoiar.

Paulo Rangel (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório por concordar quea Comissão deve assumir a responsabilidade de garantir a monitorização e o financiamentode projectos, designadamente nos domínios dos novos investimentos na investigação,desenvolvimento e implantação de energias renováveis e também da oferta de acesso rápidoà Internet em toda a União, garantindo a rápida execução da agenda digital da UE. Noâmbito da regulação financeira, o Parlamento deve solicitar um sistema de regulação esupervisão que não deixe de fora nenhum mercado financeiro, nenhum instrumentofinanceiro, nem nenhuma instituição financeira. Para tal concordo que se devem reforçaras estruturas de regulação e supervisão pan-europeias e mundiais.

Carmen Romero López e Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN)Congratulo-me com o facto de o relatório ter sido adoptado por uma maioria esmagadora,mas, sobretudo, porque a tentativa do Grupo ALDE de enfraquecer o número relativo aoimposto sobre as transacções financeiras falhou e porque o texto baseado na nossa alteração– que apela à introdução de um imposto sobre as transacções financeiras a nível da UEcomo primeiro passo – foi aprovado.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. – (IT) Este relatório resulta de um compromisso, umavez que foram apresentadas nada mais, nada menos do que 1 625 alterações ao mesmo,e está dividido numa série de pontos-chave que cobrem as causas da crise, desde a bolhaimobiliária, até produtos bancários sem garantia, falta de harmonização fiscal a níveleuropeu e incumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Os efeitos estão à vistade todos nós: diminuição da riqueza e desemprego.

As únicas respostas possíveis consistem na criação de novos empregos, através da promoçãodo espírito empreendedor, da investigação e do desenvolvimento, da adopção de medidasque premeiam a transparência e favorecem regras europeias comuns, por exemplo, relativasa impostos, ao IVA e a impostos indirectos.

A única coisa que é duvidosa é a introdução de um novo imposto sobre transacçõesfinanceiras, que se tornaria, efectivamente, o primeiro imposto europeu a financiardirectamente o orçamento da União. Não podemos aceitar o facto de a Europa, num períodode crise como aquele que estamos a viver actualmente, meter as mãos nos bolsos já vaziosdos seus cidadãos.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − A União Europeia conhece actualmente aquela quedeve ser a sua mais grave crise económica e social desde a sua origem. Isto coloca o grandedesafio de encontrar respostas à situação actual, tendo em vista o horizonte a longo prazo.

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Saúdo a criação da comissão CRIS e o presente relatório. Defendo a necessidade demecanismos de governação económica, nomeadamente através de uma coordenação e deuma supervisão das políticas dos Estados com vista à sustentabilidade das finanças públicas.

Lamento, porém, que o Parlamento Europeu não esteja mais envolvido neste exercícioestratégico de procura de soluções para a crise, sendo desejável doravante uma associaçãomais estreita deste e também dos parlamentos nacionais. Destaco a importância dosinstrumentos de coesão neste processo.

Por um lado, a UE necessita de reforçar a coordenação e utilizar melhor as sinergias entreos diferentes níveis de governação e as diferentes políticas. Por outro lado, as especificidadesterritoriais e o impacto assimétrico da crise devem ser tidos em conta. Aliás, como é realçadono relatório, a força da política de coesão para estabelecer um elo entre retoma e crescimentoa longo prazo está precisamente no seguinte: estabelecer directrizes estratégicas, dar margemaos Estados e às regiões na execução e conceder os instrumentos para prosseguir osobjectivos.

Viktor Uspaskich (ALDE), por escrito. – (LT) Senhoras e Senhores Deputados, a Europanão se tornou só vítima da crise financeira e social. Também estamos a viver uma fortecrise na confiança dos cidadãos. Temos de recuperar a confiança dos cidadãos nas nossasinstituições financeiras e políticas tanto na Lituânia, como em toda a Europa, e estabelecerum sistema financeiro viável e sustentável, que ofereça protecção contra futuras crises.Precisamos de um mecanismo de regulação transparente, a vários níveis, baseado numamoral saudável, que sirva o público em geral.

A crise financeira desferiu um golpe particularmente duro na Lituânia – em 2009, a nossaeconomia contraiu 15%. A elaboração de uma estratégia para a saída da crise deveria terem conta as características regionais e o impacto desigual da crise. Congratulo-me com ofacto de a comissão especial sublinhar a importância dos instrumentos de coesão, cruciaispara proporcionar ajuda às regiões da UE que mais necessitam da mesma. Eles podemajudar-nos a superar as consequências da crise, apoiando investimentos essenciais eminfra-estruturas, empresas e criação de emprego.

O sucesso da recuperação também depende muito do sucesso da estratégia UE 2020. Éimportante que qualquer estratégia comunitária de investimento a longo prazo se preocupecom a preservação da competitividade e com o reforço do mercado interno (um dosprincipais motores do crescimento europeu).

Derek Vaughan (S&D), por escrito. – (EN) Os últimos anos mostraram como as nossaseconomias são interdependentes e os problemas que podem resultar de falta deregulamentação legislativa ou de coesão das economias em toda a Europa. No momentoem que estamos a sair da crise, temos de procurar soluções europeias que prometamconstruir uma economia europeia mais forte e sistemas financeiros que sejam mais bemintegrados e que beneficiem a população do País de Gales e de toda a União Europeia.

Por isso, votei a favor das recomendações relativas às medidas e iniciativas que deverão sertomadas na sequência da crise financeira, económica e social, tal como foram apresentadasno relatório Berès. Temos de procurar soluções comuns para os problemas europeus,embora respeitando a escolha de cada Estado-Membro da UE ao permitir-lhes decidir comohavemos de avançar. O Conselho, a Comissão e o Parlamento têm de trabalhar em conjuntopara assegurar que construamos uma economia global mais forte e mais robusta quefuncione para a União Europeia no seu todo.

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Marie-Christine Vergiat (GUE/NGL), por escrito. – (FR) O Parlamento Europeu aprovouhoje, quarta-feira, dia 20 de Outubro, o relatório da sua Comissão Especial para a CriseFinanceira, Económica e Social.

Nós, no Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, votámoscontra este relatório, porque as propostas que o mesmo contém são um tanto surrealistase ignoram totalmente a mobilização social que teve lugar, durante vários meses, nosEstados-Membros da UE, contra os planos de austeridade, as medidas anti-sociais e odesmantelamento dos sistemas de segurança social e dos serviços públicos: estas são asúnicas medidas previstas para limitar os défices orçamentais dos Estados-Membros.

Este relatório vem na sequência da contra-reforma das pensões proposta por NicolasSarkozy e o seu Governo, combatida e condenada pelo movimento de contestação francêsjá há várias semanas.

Portanto, este relatório continua a elogiar o Pacto de Estabilidade e as medidas e políticasque condenámos há anos e que os nossos concidadãos consideram cada vez mais comoum fracasso.

A maioria muito ampla (501 votos a favor) que votou favoravelmente este relatório nãocompreende, manifestamente, a mensagem destes cidadãos que têm protestado, em todaa Europa, há várias semanas, contra os planos de austeridade e as contra-reformas que lhesestão associadas.

Relatório: Diogo Feio (A7-0282/2010)

Luís Paulo Alves (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório que foi aquiapresentado e discutido hoje, pois representa um passo em frente no reforço da UE,nomeadamente por defender o estabelecimento de uma instituição como o Fundo MonetárioEuropeu, levando assim à constituição de um supervisor da evolução da dívida soberanae que complementa o PEC enquanto mecanismo de último recurso para osEstados-Membros. De sublinhar também a proposta de criação de um grupo de alto nívelpresidido pela Comissão e com um mandato para estudar as possíveis alteraçõesinstitucionais no contexto das reformas da governação económica em curso, incluindo apossibilidade de criar um Tesouro Comum Europeu, com o objectivo de dotar a UE dosseus próprios recursos financeiros e de reduzir a sua dependência das transferênciasnacionais, bem como a elaboração de um estudo da viabilidade para estabelecer um sistemaa longo prazo em que os Estados-Membros possam participar na emissão de obrigaçõeseuropeias comuns. Assim, com uma devida avaliação de impacto e com o enunciar dasdiferentes alternativas legais, bem como com uma definição clara dos objectivos e dofinanciamento das infra-estruturas europeias, os projectos estratégicos a longo prazo paraa construção de uma UE mais robusta serão mais fáceis de alcançar.

Zigmantas Balčytis (S&D), por escrito. – (LT) Votei a favor deste relatório. A actual criseeconómica, financeira e social mostrou que o modelo de governação económica existentena União não funcionou de forma tão eficaz como previsto. Nos últimos anos, não existiuconvergência suficiente entre Estados-Membros e continuou a haver desequilíbriosmacroeconómicos e fiscais, que até aumentaram na última década. O quadro de supervisãofoi demasiado fraco e as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento não foramsuficientemente respeitadas, em particular, no que diz respeito a disposições preventivas.Concordo com as propostas, apresentadas no documento, de que temos de visar umamelhor coordenação de acções com e entre os Estados-Membros, em particular para evitar

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a repetição da situação que surgiu recentemente. É decisivo que os Estados-Membrosapliquem plenamente as regras e decisões acordadas a nível da UE, como, por exemplo, asregras e os instrumentos do Pacto de Estabilidade e Crescimento. É necessário prestar amáxima atenção ao crescimento sustentável a longo prazo, proporcionando condiçõespara a criação de empregos de qualidade, em vez de um lucro a curto prazo que causougrandes danos à estabilidade financeira dos mercados europeus.

Izaskun Bilbao Barandica (ALDE), por escrito. – (ES) A actual crise económicademonstrou que a coordenação da política económica não funcionou na União, tal comonão funcionaram os quadros de governação, supervisão económica ou regulação de serviçosfinanceiros. Esta situação fez grassar instabilidade e declínio na Europa. Gostaria, nestecontexto, de destacar e agradecer as recomendações que acompanham a proposta e quevisam estabelecer um quadro coerente e transparente que permita supervisionar processosmacroeconómicos na União e nos Estados-Membros, assim como melhorar a supervisão;melhorar as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento; aperfeiçoar a governaçãoeconómica; estabelecer um mecanismo forte para prevenir e resolver a dívida excessiva naárea do euro e rever os instrumentos orçamentais, financeiros e fiscais. Gostaria de destacarque concordo plenamente com a melhoria da representação externa da União no domíniodos assuntos económicos e monetários.

Vito Bonsignore (PPE), por escrito. – (IT) Gostaria de agradecer ao senhor deputado Feiopelo seu excelente trabalho na elaboração deste complexo relatório. Votei a favor domesmo, porque considero que se reveste de uma importância fundamental para oaperfeiçoamento da governação económica da União Europeia. A crise financeiraevidenciou, de facto, a ausência de uma verdadeira coordenação política e económica entreos Estados-Membros e a ineficácia dos diversos instrumentos de controlo. Por isso, já étempo de a Europa se dotar de um quadro legal mais fiável que tenha em conta os objectivosda estratégia UE 2020, implementando, ao mesmo tempo, também um maior controlosobre a dívida e as receitas públicas, os incentivos fiscais para as PME, o desenvolvimentodo mercado interno e a integração dos mercados de trabalho. No entanto, e tendo em contaos recentes acordos, não apoio a introdução de regras numéricas, por estas poderiamrevelar-se demasiado mecanicistas para alguns Estados-Membros e difíceis de cumprir.Não deveríamos esquecer-nos que na origem da crise financeira estão activos tóxicos e,ainda em maior medida, endividamento pessoal excessivo (créditos hipotecários de altorisco). Por outras palavras, a crise foi causada pelo desequilíbrio no sector privado e bancário,não pela dívida pública. Por fim, concordo com a recomendação 3 relativa ao reforço dacoordenação entre Estados através de relatórios de supervisão anual da área do euro.

Maria Da Graça Carvalho (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório porconcordar que se deve estabelecer um quadro coerente e transparente para a supervisãomultilateral da evolução macroeconómica na União Europeia e nos Estados-Membros.Apelo a que se assegure a realização de um debate anual entre o Parlamento Europeu, aComissão, o Conselho e os representantes dos parlamentos nacionais sobre os Programasde Estabilidade e Convergência (PdEC) e os Programas Nacionais de Reformas (PNR), bemcomo sobre a avaliação da evolução económica nacional, enquanto parte do SemestreEuropeu. Apelo a que seja criado, a nível nacional, um mecanismo de avaliação da aplicaçãodas prioridades da Estratégia Europa 2020 e da consecução dos objectivos nacionaisrelevantes incluídos no Programa Nacional de Reforma, a fim de secundar a avaliação anualfeita pelas Instituições da União.

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Nikolaos Chountis (GUE/NGL), por escrito. – (EL) Votei contra o relatório que, em nomeda governação económica da União Europeia, adopta uma percepção e uma política altivaem relação à disciplina rigorosa no Pacto de Estabilidade e apoia sanções preventivas emdetrimento dos Estados-Membros que "transgridem" os indicadores de Maastricht. Propõeo objectivo da estabilidade orçamental e uma supervisão rigorosa dos orçamentos nacionaise acaba por adoptar medidas duras em detrimento dos salários, pensões e direitos laboraise segurança social dos trabalhadores. Tudo isto, apesar de podermos ver os efeitos destaspolíticas na Grécia, na Irlanda, em Espanha, em Portugal e noutros países. Tudo isto, numperíodo em que os trabalhadores em numerosos países europeus saíram às ruas protestandocontra o facto de serem as vítimas da crise e de ter sido lançado um contra-ataque neoliberalpela UE, o BCE e o FMI.

Lara Comi (PPE), por escrito. – (IT) A adopção do euro foi um empreendimento arriscadode importância fundamental para a UE. O principal factor de risco está menos associadoa questões da técnica monetária, onde o Banco Central Europeu está a fazer um excelentetrabalho, do que à coesão económica e à ligação à economia real. O problema fez-serealmente sentir durante a crise: a moeda única faz cada vez menos sentido para um mercadoque continua fragmentado e com políticas orçamentais que nem sempre são suficientementehomogéneas. Reflectir sobre estas questões não deveria ser – e não tem de ser – um meroexercício ou uma desculpa para reivindicar uma soberania legal sobre matérias actualmenteda competência nacional. Pelo contrário, a reflexão é útil para conferir coerência e umaabordagem sistemática à acção económica face às situações cada vez mais complexas cujosdesafios monetários não são os mesmos que no passado, que exigem instrumentos eobjectivos diferentes e nas quais as responsabilidades arcadas pelos técnicos têm de sersustentadas por uma monitorização permanente e consistente, assim como por umaorientação política baseada numa visão ponderada do futuro e capaz de antever a resoluçãode possíveis problemas.

Anna Maria Corazza Bildt, Christofer Fjellner, Gunnar Hökmark, Anna Ibrisagic eAlf Svensson (PPE), por escrito. – (SV) Votámos a favor deste relatório sem abandonar,de maneira alguma, a nossa oposição a um imposto europeu. Também continuaremos adizer "não" à criação de um grupo de alto nível para debater a possibilidade de criar umTesouro Comum Europeu (TCE) apostado em dotar a União Europeia de recursos financeirospróprios. Também utilizámos o nosso voto para manifestar uma opinião diferente noutrospontos.

Corina Creţu (S&D), por escrito. – (RO) A questão da governação económica a nível daUnião Europeia é uma matéria ardilosa e as reticências reveladas por alguns dos seusEstados-Membros em relação a novas transferências de soberania são compreensíveis. Acrise na Grécia realçou as limitações dos actuais mecanismos de intervenção, para não falarda insuficiência dos instrumentos necessários para forçar o cumprimento dos critérios deconvergência, em especial nos países pertencentes à área do euro. A criação de um quadrocoerente e transparente que apoie a supervisão multilateral de tendências macroeconómicasna União Europeia e nos Estados-Membros, juntamente com a consolidação da supervisãofiscal, tal como proposto no documento, marca um passo em frente na direcção certa,embora tal possa implicar uma alteração parcial do Tratado Constitucional. Em termosglobais, as recomendações neste documento são importantes e oferecem soluções relevantes.Foi por isso que votei a favor da aprovação do documento.

Mário David (PPE), por escrito. − É com satisfação e sentido de responsabilidade que votofavoravelmente as recomendações para melhorar a governação económica da UE sugeridas

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neste relatório. Observando que a UE se depara com uma aguerrida concorrência por partedas economias emergentes, e que a estabilidade das finanças públicas se assume vital paraconsolidar oportunidades, potenciar a inovação e estimular o crescimento económico,elementos fundamentais a uma sociedade europeia do conhecimento; atendendo a que ocrescimento económico e a sustentabilidade das finanças públicas são condições préviaspara a estabilidade económica e social da UE e para a consolidação orçamental a longoprazo, as actuais regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento conjugadas com a suadeficiente aplicação têm-se revelado insuficientes para garantir políticas orçamentais emacroeconómicas saudáveis. Importa, assim, reforçar uma aplicação mais rigorosa demedidas preventivas e sanções, bem como incentivar a melhoria da supervisão e dagovernação económicas através de estatísticas mais precisas e comparáveis relativamenteàs políticas e posições económicas dos Estados-Membros, em particular na área euro.

Marielle De Sarnez (ALDE), por escrito. – (FR) Ao adoptar a resolução sobre a governaçãoeconómica, o Parlamento Europeu está a reafirmar os seus principais objectivos para asnegociações sobre as seis propostas legislativas da Comissão.

Os deputados do Parlamento Europeu lamentam que o Pacto de Estabilidade e Crescimentoesteja a ser implementado de forma inadequada e propõem a criação de um mecanismode incentivos e sanções eficaz, sublinhando ainda a importância do investimento nossectores da energia, investigação, inovação, cuidados de saúde e educação.

Para pôr termo à recessão, necessitamos de planear os financiamentos necessários a níveleuropeu e devemos pôr em prática a ideia dos recursos próprios. Sustentamos que aintrodução de um imposto sobre as transacções financeiras reduziria a especulação emelhoraria o funcionamento do mercado interno. Além disso, as receitas geradas por esteimposto poderiam ajudar a financiar os bens públicos mundiais e a reduzir os déficesorçamentais. Esse imposto deveria ser estabelecido numa base o mais ampla possível e,certamente, numa primeira fase, a nível da União Europeia.

Diane Dodds (NI), por escrito. – (EN) É sem dúvida oportuno que o Parlamento se estejaa ocupar deste assunto apenas alguns dias depois de o Presidente Sarkozy e a ChancelerAngela Merkel terem chegado a acordo sobre a necessidade de alterar o Tratado de Lisboade modo a assegurar a resolução ordeira de futuras crises da dívida soberana na zona euro.Claro que tudo isto se está a passar numa altura em que a crise na zona euro se mantém,demonstrando, com cada dia que passa, a loucura do modelo da moeda única. Mas há umaoutra consequência. É nítido que, se isto for para a frente, o governo de coligação do ReinoUnido se verá obrigado a realizar um referendo.

Foi esta a garantia dada por David Cameron, e, ao contrário da garantia firme que deu antes,ele terá de cumprir a sua promessa. Se a França e a Alemanha podem procurar alterar oTratado de Lisboa, é imprescindível que o Governo do Reino Unido aproveite o processode negociação para recuperar os poderes do nosso parlamento soberano.

Edite Estrela (S&D), por escrito. − Votei favoravelmente o relatório Feio, que resulta denegociações bem sucedidas entre os grupos políticos do Parlamento Europeu, e se baseianum consenso alargado sobre a necessidade de reforçar as políticas de crescimento eemprego, tendo em vista uma melhoria da governação económica que permita ultrapassara crise e relançar a economia europeia.

José Manuel Fernandes (PPE), por escrito. − Na sequência da actual crise económica,financeira e social, o Parlamento Europeu tem assumido um papel determinante para dotar

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a União Europeia de mecanismos que garantam uma intervenção eficiente, capazes nãosó de travar novas situações de crise, mas sobretudo de assegurar a estabilidade necessáriaao desenvolvimento sustentado e coesão do espaço europeu. Este relatório do colega DiogoFeio vem consubstanciar a responsabilidade do Parlamento Europeu na consolidaçãoinstitucional da União para uma actuação mais unificada no contexto europeu e no cenárioda economia global, em defesa dos interesses dos cidadãos europeus, da sua prosperidade.As recomendações propostas são uma evolução qualitativa extremamente significativapara melhorar a governação económica da UE, destacando-se o reforço de regras parapromover a estabilidade e o crescimento dos Estados e da União, assim como os mecanismosde prevenção e também de correcção e resolução de problemas e desvios à estratégia dedesenvolvimento comunitário. A fiabilidade das estatísticas da UE constitui também umelemento importante para dotar as estruturas e autoridades de melhor capacidade deavaliação e decisão de intervenção. Saliento ainda a preocupação com a necessidade deprevenir, além dos défices públicos, as situações de dívida excessiva.

Bruno Gollnisch (NI), por escrito. – (FR) Não se trata aqui de melhorar a governaçãoeconómica a nível da UE, mas de controlar as políticas económica, orçamental e fiscal dosEstados-Membros, que estão sujeitas ao requisito fundamental, não de criar prosperidadeeconómica, mas sim de salvaguardar os interesses do mercado único e de Bruxelas. Trata-setambém de reactivar e deteriorar ainda mais o Pacto de Estabilidade, que continua a causardanos.

Isto não é aceitável, e não o é também a criação de um tesouro público comum destinadoa gerir um imposto europeu nem a institucionalização de um governo económico europeu(para fazer o quê?). É certo que o nível do défice público e da dívida pública, na sua maioriadetida por países estrangeiros, é perigoso não só financeiramente, mas também em termosde soberania. No entanto, esse défice e essa dívida seriam sem dúvida menores se nãofossem as vossas políticas e a obrigação de os Estados recorrerem ao mercado para obtercrédito. Quase um sexto do orçamento de Estado francês é utilizado para pagar os jurosda sua dívida. Enquanto estivermos a pagar a dívida, não poderemos usar o dinheiro paramais nada.

Peter Jahr (PPE), por escrito. – (DE) A crise económica e financeira mostrou-nos semdúvida que é urgente melhorar a cooperação económica na União Europeia. Para isso, énecessário reforçar o Pacto de Estabilidade e Crescimento e alargá-lo de modo a incluiropções adequadas e eficazes em matéria de sanções. É também necessário, porém, estarmais atento aos orçamentos nacionais e à competitividade dos Estados-Membros.

De futuro, necessitamos de identificar mais cedo os desequilíbrios entre os países da zonaeuro e eventuais deficiências ao nível da concorrência, e devemos ter a possibilidade deexigir medidas eficazes para combater esse tipo de situações. O objectivo que nos devemospropor é o de tornar a união monetária e o euro fortes e robustos a longo prazo, a fim depodermos evitar crises como a da Grécia.

Anne E. Jensen (ALDE), por escrito. – (DA) O Partido Liberal dinamarquês votou contrauma alteração específica ao relatório Feio, que recomenda que seja realizado um estudosobre as vantagens de se criar um sistema europeu de cobrança de impostos. O PartidoLiberal dinamarquês votou a favor do relatório na sua globalidade, pois, quanto ao resto,trata-se de um texto equilibrado.

Alan Kelly (S&D), por escrito. – (EN) É muito importante que as regras da governaçãoeconómica sejam reforçadas, especialmente à luz da crise económica que muitos países

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da UE estão ainda a atravessar. No entanto, concordo com as alterações propostas peloParlamento no sentido de se suprimirem as recomendações sobre as sanções automáticascontra os Estados-Membros que incorram num défice excessivo, pois, tal como a crise temdemonstrado, em circunstâncias extraordinárias é necessário exceder os requisitos relativosaos défices para evitar os efeitos ainda mais graves de uma crise.

Giovanni La Via (PPE), por escrito. – (IT) O relatório que acabamos de votar contendorecomendações à Comissão com vista a melhorar a governação económica e o quadro deestabilidade da União, em particular, na zona euro, insere-se num debate mais alargado,que tem vindo a decorrer há meses, sobre iniciativas destinadas a combater a crise financeira.Começa a tornar-se claro que a União Europeia necessita de uma forte governaçãoeconómica, especialmente depois do que aconteceu na Grécia há alguns meses.

Vai ser publicado muito brevemente o relatório final do Grupo de Missão sobre aGovernação Económica criado pelo Presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy.Mesmo assim, neste momento, podemos afirmar que é absolutamente necessário definirnormas de vigilância para as políticas económicas, normas que não sejam mecanicistas,mas sim realistas e sustentáveis, e que sejam susceptíveis de reforçar a política fiscal emelhorar a governação europeia no seu conjunto.

Petru Constantin Luhan (PPE), por escrito. – (RO) Uma observação que se poderia terfeito durante a recente crise económica e financeira era que a supervisão e coordenaçãoeconómica a nível da UE necessitavam de ser significativamente reforçadas. Foramobservados grandes desequilíbrios macroeconómicos e alguns Estados debatem-se comum grande aumento da dívida pública e com a proporção do seu PIB que essa dívidarepresenta. Votei a favor deste relatório porque apoio vigorosamente as oito recomendaçõesapresentadas pelo relator com vista a promover a boa governação e a estabilidade económicana União Europeia.

Penso que vamos enfrentar desafios consideráveis nos próximos anos. Temos de estar emposição de estabelecer prioridades definidas e de fazer algumas escolhas difíceis a fim deapoiar o potencial de crescimento económico da UE e consolidar as finanças públicas. Serávital que haja coordenação a nível europeu para esse efeito, e essa coordenação poderáajudar a eliminar os efeitos adversos.

Astrid Lulling (PPE), por escrito. – (FR) O debate conjunto sobre o Conselho Europeu, oG20, o relatório da Comissão Especial para a Crise Financeira, Económica e Social e orelatório sobre a governação europeia não produziu orientações claras nem recomendaçõespertinentes no que respeita à crise financeira. Cada pessoa disse o que tinha a dizer eapresentou a sua interpretação pessoal sobre textos que eram confusos e pouco claros. Éesta, infelizmente, a realidade destes relatórios de iniciativa, que conseguem o apoio degrandes maiorias mas que, por outro lado, não dizem muito.

O relatório Feio foi discutido demasiado tarde, uma vez que a Comissão Europeia já tinhaapresentado as directivas destinadas a reformar o Pacto de Estabilidade e Crescimento e agovernação da zona euro. Assim sendo, de que serve votar recomendações à Comissão?

O Parlamento deve munir-se de um Regimento mais rigoroso e respeitá-lo. A sua eficáciae credibilidade dependem disso.

A reforma do Pacto de Estabilidade e Crescimento e a governação da zona euro terão o seumomento decisivo quando os textos legislativos forem analisados. Tal como os meuscolegas, irei empenhar-me nesse trabalho de espírito aberto e com diligência. É importante

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que o Parlamento apoie uma reforma realista mas ambiciosa, de modo a edificar a uniãomonetária sobre novas bases. É com trabalho esforçado que uma instituição conquista asua legitimidade no seio do aparelho europeu, e não…

(Declaração de voto abreviada nos termos do artigo 170.º do Regimento)

Mario Mauro (PPE), por escrito. – (IT) Sem regras e sem supervisão é impossível fazerprogressos. Aplicar as regras que nos impusemos durante este tempo de crise, melhorar acoordenação e a vigilância no que respeita a assuntos económicos, é o mínimo que temosde exigir a nós mesmos e aos Estados-Membros. Neste sentido, o relatório do senhordeputado Feio permite-nos concentrarmo-nos em algumas distorções consideráveis, umavez que "a evolução recente da economia demonstrou claramente que a coordenação daspolíticas económicas na União Europeia, e em particular na área do euro, não funcionoude modo satisfatório e que, pesem embora as obrigações dos Estados-Membros decorrentesdo Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), estes não consideraram assuas políticas económicas como uma questão de interesse comum". O meu voto é, portanto,sem dúvida, a favor do relatório.

Nuno Melo (PPE), por escrito. − A actual crise financeira e económica veio demonstrarque a UE necessita de uma governação económica e monetária cada vez mais forte, paraque a estabilidade do euro não seja posta em causa, bem como a própria união monetária.Assim sendo, a Estratégia UE 2020 deve procurar promover o crescimento económico ecriar postos de trabalho, pois a acentuada queda do PIB, a queda da produção industrial eo elevado número de desempregados constituem um desafio social e económico importante,que só uma governação forte, harmoniosa e solidária poderá conseguir ultrapassar. Orelatório Feio aponta caminhos e define estratégias a serem seguidas para um verdadeiroreforço da governação económica e do quadro de estabilidade da União Europeia, comprincipal incidência na zona euro. São disso exemplo: o estabelecimento de um quadrocoerente e transparente para a supervisão, o reforço das regras do Pacto de Estabilidade eCrescimento (PEC) e o reforço da governação económica da área euro, entre outros.

Louis Michel (ALDE), por escrito. – (FR) A crise económica, financeira e social mostrouquais são os limites do modelo europeu de governação económica. É por esta razão quenecessitamos que, no próximo Conselho Europeu, se chegue a um acordo sobre agovernação económica e sobre o Pacto de Estabilidade e Crescimento. É urgentementenecessário adoptar reformas que nos permitam dar um grande passo em frente em termosde qualidade no que respeita à governação económica e introduzir instrumentos desupervisão transparentes e bem orientados.

Sou a favor do relatório do senhor deputado Feio porque apoia a proposta da Comissão,que, a meu ver, é uma proposta de compromisso equilibrada. Sou a favor de uma maiorparticipação do Parlamento na governação económica da União e da centralização, a níveleuropeu, dos poderes exclusivos de supervisão das principais instituições financeirastransfronteiriças. Penso que também seria útil dotar a União dos seus próprios recursosfinanceiros, a fim de ajudar a planear as suas acções e actividades.

Alexander Mirsky (S&D), por escrito. – (LV) Na minha opinião, o relatório Feio é orelatório mais profissional que tivemos nos últimos três meses. Todas as questões e soluçõesapresentadas no relatório são extremamente oportunas. A falta de informação, a prestaçãode informações deturpadas e, ocasionalmente, as mentiras flagrantes dos governos dosEstados-Membros da UE conduziram a resultados terríveis. Ao esconderem receosamenteos défices manifestos dos seus orçamentos, a Grécia, a Letónia e a Hungria abalaram a

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confiança no euro. A Comissão Europeia e o Parlamento Europeu têm de reagir com rigore eficácia às deturpações de factos e à ocultação da verdade. É essencial preparar medidascontra os políticos desonestos, responsáveis pela crise em que se encontra a UE. Parasairmos desta situação económica complicada, temos não só de elaborar regulamentossobre supervisão e estatísticas, mas também fazer planos com vista a superar a crise. Istoimplica, em primeiro lugar, critérios claros para a política orçamental e prazos e garantiaspara os contribuintes. Devemos também assegurar que esta legislação não seja alteradatodos os dias, ao bel-prazer dos investidores. Infelizmente, hoje em dia, o Governo letãoaltera os regulamentos conforme dá na cabeça aos funcionários do Fundo MonetárioInternacional e do Banco Europeu. Espero que o relatório Feio envie à Comissão Europeiaa mensagem de que chegou o momento de deitar mãos ao trabalho.

Alfredo Pallone (PPE), por escrito. – (IT) Votei a favor do relatório do senhor deputadoFeio, mas tal como já tive oportunidade de realçar, a Europa necessita urgentemente deuma reforma profunda nesta área, mesmo que a nova governação económica europeianão possa considerar exclusivamente o montante da dívida pública. Não necessitamos demecanismos para combater a dívida que sejam excessivamente automáticos e pró-cíclicos,correndo o risco de não realizarem os seus objectivos e, como tal, de impedir acçõesdestinadas a impulsionar o crescimento económico. Sou antes a favor da adopção demecanismos de vigilância dotados de fórmulas flexíveis e razoáveis, que possam serfacilmente postos em prática pelos Estados-Membros. Os resultados e benefícios, para osorçamentos, de reformas importantes de questões sociais e económicas, sobretudo, dareforma das pensões, não se vêem no exercício financeiro seguinte, mas sim após váriosanos, a médio e longo prazo, na sustentabilidade das finanças públicas. Em qualquer caso,estas são as reformas mais importantes e necessárias. Por conseguinte, temos de pensarmais e melhor nas reformas estruturais necessárias para estimular a competitividade e ocrescimento económico na Europa. A competitividade gera crescimento económico e ocrescimento gera mais receitas fiscais e uma consolidação financeira efectiva.

Georgios Papastamkos (PPE), por escrito. – (EL) Abstive-me de votar o relatório Feioporque as propostas sobre a governação económica europeia não se ocupam dos problemasestruturais de uma união económica incompleta e não atenuam a assimetria entre umaunião económica "truncada" e uma união monetária total. Mais concretamente, abstive-meporque as propostas não conferem uma dimensão europeia às políticas económicas nemao risco económico. Apenas conferem uma dimensão económica às sanções, que passarama ser ainda mais rigorosas. Não existem nenhumas orientações estratégicas para salvaguardaro crescimento equilibrado e estimular a competitividade para bem de todos osEstados-Membros.

Maria do Céu Patrão Neves (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório porconsiderar que: (1) se deve estabelecer um quadro coerente e transparente para a supervisãomultilateral da evolução macroeconómica na União Europeia e nos Estados-Membros,assegurando um debate anual entre o Parlamento Europeu, a Comissão, o Conselho e osrepresentantes dos parlamentos nacionais sobre os Programas de Estabilidade eConvergência (PdEC) e os Programas Nacionais de Reformas (PNR), bem como sobre aavaliação da evolução económica nacional; e que (2) se deve criar, a nível nacional, ummecanismo de avaliação da aplicação das prioridades da Estratégia Europa 2020 e daconsecução dos objectivos nacionais relevantes incluídos no Programa Nacional de Reforma,secundando a avaliação anual das Instituições da União.

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Considero igualmente que se devem reforçar as regras do Pacto de Estabilidade eCrescimento, tendo em vista: (1) atender mais ao nível de endividamento e ao perfil dadívida, à sua dinâmica, ao nível do ritmo de convergência dos OFMP específicos dosEstados-Membros, a incluir no PEC; (2) encorajar o estabelecimento de mecanismos dealerta precoce de controlo orçamental a nível nacional; (3) estabelecer mecanismospré-especificados e preventivos na área do euro, tanto para a vertente preventiva comopara a vertente correctiva do PEC.

Miguel Portas (GUE/NGL), por escrito. − O relatório de Diogo Feio dedica-se à questãocentral de coordenação económica europeia, procurando orientar os documentoslegislativos da Comissão, sendo discutido 24 horas depois de ser conhecida a posição dodirectório franco-alemão sobre o assunto. As sugestões positivas que o relatório incluiencontram-se fatalmente coordenadas, seja pela posição franco-alemã, seja pelas propostasde automatismo das sanções já presentes nos textos da Comissão e do grupo de missão doConselho. O relatório não rompe com a disciplina sancionatória em voga no Consenso deBruxelas, apenas a procura amenizar. Este consenso não é reformável. Só pode ser substituídopor outro que coloque o emprego e a correcção das grandes desigualdades no centro decoordenação económica.

Paulo Rangel (PPE), por escrito. − Votei favoravelmente este relatório por concordar quese deve estabelecer um quadro coerente e transparente para a supervisão multilateral daevolução macroeconómica na União Europeia e nos Estados-Membros.

Raül Romeva i Rueda (Verts/ALE), por escrito. – (EN) A crise económica mundial pôsem causa os mecanismos de coordenação das políticas económicas existentes na UE erevelou algumas das suas fragilidades.

O funcionamento da união económica e monetária tem estado sob grande pressão, pornão se terem respeitado as regras de base e pelo facto de os procedimentos de vigilância ecoordenação existentes não serem suficientemente abrangentes. Este relatório INI pretendeapresentar a posição do Parlamento no que respeita ao pacote legislativo sobre acoordenação das políticas económicas (seis propostas, incluindo quatro apresentadas noâmbito do processo de co-decisão) divulgado pela Comissão duas semanas antes. Prevê-seque o Conselho apresente a sua posição no final de Outubro através do relatório final doGrupo de Missão sobre a Governação Económica criado pelo Presidente Van Rompuy.

Oreste Rossi (EFD), por escrito. – (IT) Após a crise económica e financeira, o ParlamentoEuropeu aprovou uma série de relatórios e directivas da Comissão sobre as suasconsequências e formas de as combater. A fim de evitar repetições de "bolhas" especulativascomo aquela a que estamos neste momento a tentar escapar, é indispensável estabeleceruma série de medidas e controlos entre os Estados-Membros e em conjunto com os mesmos.Por exemplo, é essencial respeitar o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Umacompanhamento sério e abrangente teria talvez evitado as situações extremas que seregistaram na Grécia e em Espanha.

Nuno Teixeira (PPE), por escrito. − A actual crise económica, financeira e social veiodemonstrar que o modelo de governação económica na União Europeia não funcionoutão bem quanto seria ideal. É, assim, necessário, e com vista a impedir o agravamento dosjá sérios efeitos da crise, encontrar soluções para uma melhor e mais eficiente governaçãoeconómica europeia.

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Neste contexto, o relator recomenda à Comissão Europeia que estabeleça um quadrocoerente para a supervisão económica, reforce as regras do Pacto de Estabilidade eCrescimento e a governação económica na área do euro, bem como que reveja osinstrumentos orçamentais, financeiros e fiscais da União Europeia.

Para além disso, é também proposto criar um programa sólido de prevenção da dívidaexcessiva e um mecanismo de resolução para a área do euro. Por fim, é aconselhadomelhorar a fiabilidade das estatísticas da UE e também a representação externa da Uniãonos assuntos económicos e monetários.

Posteriormente, é necessário que os Estados-Membros respeitem na íntegra as regras e asdecisões da União Europeia. Sublinho também a importância de alinhar a reforma com osobjectivos da UE 2020, nomeadamente no sentido de reforçar o mercado interno e o papeldas PME como motores essenciais do crescimento económico.

Pelas razões expostas, voto favoravelmente o documento.

Viktor Uspaskich (ALDE), por escrito. – (LT) Senhoras e Senhores Deputados, osregulamentos do Pacto de Estabilidade e Crescimento actualmente em vigor e o sistemade implementação insatisfatório não conseguiram garantir suficientemente uma políticaorçamental e macroeconómica sólida. As recomendações contidas neste relatório são umbom começo. O relator tem razão em dizer que necessitamos de proceder a reformasestruturais no que respeita à política social e à integração dos mercados de trabalho, etambém de criar incentivos fiscais para as pequenas e médias empresas. O processo dereduzir os défices a longo prazo tem de ser conjugado com outros esforços para estimulara economia, tais como medidas destinadas a melhorar as condições de investimento e omercado interno, e assim promover a competitividade. Congratulo-me também com ofacto de o relator reconhecer que eventuais medidas que venham a ser propostas não devemter um impacto desproporcionado nos Estados-Membros mais vulneráveis, em particular,os países do Báltico. Isso iria prejudicar os nossos esforços em matéria de crescimento ecoesão. No ano passado, o entusiasmo pelo euro diminuiu ligeiramente nosEstados-Membros que não pertencem à zona euro, incluindo a Lituânia. Por conseguinte,é importante que compreendamos que as decisões tomadas no primeiro semestre parasalvaguardar a estabilidade do euro são apenas temporárias e terão de ser apoiadas por umquadro de governação económica melhor a nível da UE.

Derek Vaughan (S&D), por escrito. – (EN) Os objectivos da Estratégia UE 2020 reafirmama necessidade de uma maior reintegração entre as economias dos Estados-Membros emtoda a União Europeia, a fim de incentivar a produtividade, a competitividade e ocrescimento. A actual crise económica demonstrou que o modelo de governação económicaexistente não vai suficientemente longe e não permite uma integração progressivasusceptível de assegurar a estabilidade das economias da UE.

É por esta razão que vou votar a favor das recomendações do relatório Feio, que realça anecessidade de reforçar as disposições económicas da UE e de as rever e melhorar a longoprazo. Compreendo que a Europa necessita de examinar com um sentido crítico os seusplanos actuais de estabilidade económica e financeira, a fim de avançar em conjunto emdirecção a uma economia mais forte e mais estreitamente interligada, capaz de realizar oseu potencial como superpotência económica mundial.

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8. Correcções e intenções de voto: ver Acta

(A sessão, suspensa à 14H00, é reiniciada às 15H05)

PRESIDÊNCIA: STAVROS LAMBRINIDISVice-presidente

9. Aprovação da acta da sessão anterior: ver Acta

10. Instrumento de Estabilidade - Instrumento de financiamento da cooperaçãopara o desenvolvimento - Instrumento financeiro para a promoção da democraciae dos direitos humanos a nível mundial - Instrumento de financiamento para acooperação com os países industrializados - Instrumento de financiamento dacooperação para o desenvolvimento (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a discussão conjunta dos seguintes relatórios:

- A7-0066/2009, da deputada Franziska Katharina Brantner, em nome da Comissão dosAssuntos Externos sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselhoque altera o Regulamento (CE) n.º 1717/2006 que institui um Instrumento de Estabilidade(COM(2009)0195 - C7-0042/2009 - 2009/0058(COD)),

- A7-0078/2009, do deputado Gay Mitchell, em nome da Comissão do Desenvolvimento,sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho que altera oRegulamento (CE) n.º 1905/2006 que institui um instrumento de financiamento dacooperação para o desenvolvimento e o Regulamento (CE) n.º 1889/2006 que institui uminstrumento financeiro para a promoção da democracia e dos direitos humanos a nívelmundial (COM(2009)0194 - C7-0043/2009 - 2009/0060A(COD)),

- A7-0188/2010, das deputadas Kinga Gál e Barbara Lochbihler, em nome da Comissãodos Assuntos Externos, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e doConselho que altera o Regulamento (CE) n.º 1905/2006 que institui um instrumento definanciamento da cooperação para o desenvolvimento e o Regulamento (CE) n.º 1889/2006que institui um instrumento financeiro para a promoção da democracia e dos direitoshumanos a nível mundial (COM(2009)0194 - C7-0158/2009 - 2009/0060B(COD)),

- A7-0052/2010, do deputado Helmut Scholz, em nome da Comissão do ComércioInternacional, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselhoque altera o Regulamento (CE) n.º 1934/2006 que institui um instrumento de financiamentopara a cooperação com os países e territórios industrializados e outros de elevadorendimento (COM(2009)0197 - C7-0101/2009 - 2009/0059(COD)), e

- A7-0285/2010, do deputado Charles Goerens, em nome da Comissão doDesenvolvimento, sobre a proposta de regulamento do Parlamento Europeu e do Conselhoque altera o Regulamento (CE) n.º 1905/2006 que institui um instrumento de financiamentoda cooperação para o desenvolvimento (COM(2010)0102 - C7-0079/2010 -2010/0059(COD)).

Franziska Katharina Brantner, relatora. – (DE) Senhor Presidente, temos hoje de analisarum grande número de instrumentos financeiros. Já debatemos um aspecto esta manhã,mas vou começar por falar do Instrumento de Estabilidade. Este instrumento foi criadoem 2006 e é o instrumento mais bem financiado nos domínios da não proliferação de

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armas de destruição em massa, da prevenção de conflitos, do apoio pós-catástrofe àpopulação, da acção civil de consolidação da paz e também da justiça e do policiamentono âmbito do antiterrorismo. Apesar disso, a dimensão do financiamento é relativamentepequena, totalizando, até agora, apenas 1,4 mil milhões de euros nas perspectivasfinanceiras. Não se trata de uma grande quantidade de dinheiro, mas é uma boa maquia,já que pode ser utilizada com relativa flexibilidade. A possibilidade de reduzir este valortem sido repetidamente considerada, mas, até agora, temos sempre conseguido garantirque não seja cortado no orçamento. De que trata a revisão intercalar deste instrumento?O que está em causa? Bem, há um pequeno número de pontos a abordar, mas alguns delessão importantes em termos de conteúdo. Em primeiro lugar, as medidas de longo prazoao abrigo do n.º 3 do artigo 4º destinam-se a permitir aplicar medidas de promoção dapresença de mulheres nos processos políticos, em particular, no que diz respeito aos meiosde comunicação. Por consequência, aquilo de que estamos realmente aqui a falar é datransferência de um domínio já com grande sucesso para o n.º 3 do artigo 4º. Até agora,foi concedido apoio à presença nos meios de comunicação de mulheres afegãs que secandidatam ao parlamento. Gostaríamos de incorporar isto nas medidas de longo prazo,em vez de estar apenas nas medidas de curto prazo, para que essas mulheres possamcontinuar a ser apoiadas por esta via, a longo prazo.

Em segundo lugar, queremos ver a parceria para a consolidação da paz explicitamentemencionada na directiva, não só para recompensar o estabelecimento do diálogo formalcom a sociedade civil, mas também para trazer o conceito para a nova era do ServiçoEuropeu de Acção Externa. Não devemos permitir que esta parceria desapareça e, porconsequência, julgo que é importante que tenha uma referência específica.

Em terceiro lugar, vamos votar a favor do aumento de 5 para 10% da percentagem definanciamento para as medidas de longo prazo ao abrigo do n.º 3 do artigo 4º. No entanto,eu gostaria de recordar, uma vez mais, à Alta Representante que a Comissão dos AssuntosExternos aprovou efectivamente esse aumento no último momento, uma vez que nos foiprometido que, no futuro, seriam tomadas medidas abrangentes no âmbito do Instrumentopara combater as minas terrestres, as bombas de fragmentação e os remanescentes demunições. Por outras palavras, este aumento nas medidas de longo prazo de 5% da rubricaorçamental global para 10% foi acordado numa base condicional e esperamos que a SenhoraBaronesa Ashton e o Serviço de Acção Externa honrem este acordo e que o documento deestratégia para 2012/2013 reflicta isso mesmo. Por outras palavras, isto é importante paranós. Actuar de outro modo não estaria no espírito do acordo.

No entanto, se o Parlamento e a Comissão levarem a sua avante, a maior inovação noconteúdo do texto da revisão intercalar será um alargamento explícito das competências,de modo a incluir as armas ligeiras e de pequeno calibre (ALPC). Neste momento, queroapelar uma vez mais à Presidência para que aceite esta ideia. O Tribunal de Justiça Europeudecidiu a favor. Eu sei que a alguns ainda custa aceitar isto, mas espero que, com o Serviçode Acção Externa, possamos agora ser capazes de superar esta divergência entre o Conselhoe a Comissão, e chegar a acordo sobre como prosseguir em matéria de armas ligeiras e depequeno calibre. Parece-me que este é um ponto muito importante.

O meu último ponto diz respeito à questão dos actos delegados. Nós já debatemos estaquestão esta manhã e parece-me que, nesta matéria, precisamos de uma solução políticae não de uma solução judicial, que representaria um beco sem saída. Um último pontomuito breve: no que se refere ao Instrumento de Estabilidade e à programação no Serviçode Acção Externa - estamos firmemente convencidos de que o planeamento e a programação

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devem continuar a depender das pessoas que foram até agora responsáveis por isso, e queessas pessoas não devem ser despromovidas a uma mera "gestão financeira", devendo, pelocontrário, continuar a efectuar o planeamento de conteúdos.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, gostaria de manifestar o meu desagradocom o facto de que, embora estejamos hoje a abordar temas importantes como ofinanciamento, a ajuda ao desenvolvimento e os princípios democráticos, apenas 14deputados - julgo ter contado correctamente – terem conseguido comparecer, naturalmente,devido a algum acontecimento simultâneo ou extemporâneo, já que todos os outros foramsuficientemente disciplinados para participarem nesse outro evento. É injusto para aquelesque têm de fazer as apresentações e para aqueles que são hoje relatores, bem como paraos colegas deputados, para não mencionar o pessoal administrativo e os representantesda Comissão que têm de enfrentar aqui uma Assembleia vazia.

Presidente. – Colegas, isto não é um ponto de ordem: é um ponto interessante e quepoderá passar em algum canal de televisão local, mas não é um ponto de ordem. Tenhama bondade de não interromper a sessão com este tipo de pontos.

Iva Zanicchi, relatora. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, o relatorda Comissão do Desenvolvimento, o senhor deputado Mitchell, pediu-me para o substituir,porque ele não pode estar hoje aqui presente. Gostaria de lhe agradecer o trabalho querealizou com a sua habitual pontualidade e a qualidade das suas propostas, que receberamum parecer favorável - e unânime - da Comissão do Desenvolvimento. Pelas razões quevou referir, mas, acima de tudo, pelo trabalho que o senhor deputado Mitchell efectuouaté hoje, estou convencida de que o relatório poderá ser aprovado com uma ampla maioria.

Analisando então o relatório, em 2009, a Comissão Europeia apresentou uma propostade alteração ao Regulamento nº 1905/2006, que institui um instrumento de financiamentoda cooperação para o desenvolvimento. Através desta proposta, a Comissão convidava oParlamento a aprovar uma alteração que permitisse que as organizações não governamentaisbeneficiassem de benefícios fiscais quando operam em países em desenvolvimento. Nósaceitámos o pedido.

No entanto, o regulamento relativo à cooperação para o desenvolvimento contém tambémnormas de execução da política de desenvolvimento da União Europeia. Essas normasestabelecem que, quando a Comissão aceita o financiamento, tem de seguir osprocedimentos de comitologia, o que significa que o Parlamento pode analisar as propostasde financiamento e, se a Comissão ultrapassar os limites das suas competências, oParlamento poderá aprovar resoluções para solicitar à Comissão que altere as decisões emcausa.

Só entre 2006 e hoje, o Parlamento considerou que a Comissão ultrapassou as suascompetências de execução em pelo menos 12 casos, mas apenas em três destes casos aComissão alterou ou retirou, efectivamente, o seu projecto de decisão. No seguimento daentrada em vigor do Tratado de Lisboa, a Comissão do Desenvolvimento propôs a aplicaçãodo procedimento de actos delegados, instituído pelo Artigo 290.º do Tratado sobre oFuncionamento da União Europeia.

A adopção deste procedimento significaria que o Parlamento desempenharia um papelmais importante, pelo menos, nas decisões de financiamento estratégico que a ComissãoEuropeia tem de adoptar. Com efeito, de acordo com o Tratado de Lisboa, em alguns casosbem definidos, o Parlamento pode delegar o poder de tomar decisões estratégicas na

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Comissão. Quais poderão ser, todavia, essas decisões? Na nossa opinião, o legislador éresponsável por escolher os países aos quais a União Europeia deve fornecer ajuda aodesenvolvimento.

Há depois a questão de saber quais os sectores a que se deve dar prioridade de financiamento:educação, saúde, protecção ambiental, capacidade de boa governação ou desenvolvimentode pequenas empresas? Além disso, como poderemos nós garantir transparência na gestãoda ajuda ao desenvolvimento?

Estas são as escolhas e os temas em relação aos quais o Parlamento Europeu tem dedesempenhar um papel mais importante do que no passado. Nestes sectores, deve ser olegislador a dar indicações precisas ao executivo. Afinal, julgo que é nesse sentido que vãoos pedidos dos cidadãos europeus. Espero, sinceramente, o maior consenso possível emrelação a este relatório do senhor deputado Mitchell.

Kinga Göncz, relatora. – (HU) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhora AltaRepresentante Ashton, Senhoras e Senhores Deputados, o instrumento europeu para ademocracia e os direitos humanos é o instrumento de financiamento que apoia os direitoshumanos, o primado do direito, a defesa da democracia e a prevenção de conflitos em todoo mundo. Os beneficiários deste instrumento financeiro são, em primeiro lugar, asorganizações da sociedade civil, as organizações e indivíduos que, em países terceiros,lutam pelos direitos humanos nas condições mais adversas. A grande vantagem desteinstrumento financeiro, ao contrário de outros instrumentos geográficos, é que pode serpago sem o consentimento do governo do país que recebe a ajuda, pelo que o seu papel éde grande importância. No entanto, no caso do presente instrumento, não foi possívelfinanciar os custos relativos a pagamentos do IVA através de fundos comunitários. Porisso, a iniciativa da Comissão Europeia sugeriu uma alteração técnica, que ajudaria otrabalho e o funcionamento em países terceiros das organizações da sociedade civil queutilizam estes fundos. Uma vez que estas organizações são de importância vital para apromoção dos direitos humanos nesses países e para o desenvolvimento do pluralismopolítico, é muito importante não dificultar ainda mais o trabalho destas organizações, quejá enfrentam situações problemáticas. Por consequência, saudamos a iniciativa da Comissãoe, com o consentimento da minha colega relatora, a senhora deputada Lochbihler,damos-lhe o nosso inteiro apoio. No entanto, esta é apenas uma das faces da moeda.

Na outra face, está o significado político desta questão. A questão do instrumento financeirotornou-se parte da luta interinstitucional que se vem desenrolando de há um ano a estaparte. É precisamente porque o instrumento para o financiamento dos direitos humanosé essencial para as organizações da sociedade civil que é importante que o ParlamentoEuropeu participe na definição dos programas-quadro estratégicos plurianuais. Aquilopor que nós estamos a lutar é que o Parlamento Europeu tenha uma palavra a dizer, namedida em que o considere necessário, na elaboração dos planos estratégicos para oinstrumento de financiamento, através de revisões anuais, em vez de com intervalos desete anos, por altura dos ciclos orçamentais. É esse o significado das alterações que queremosaqui apoiar. O Tratado de Lisboa confirmou o direito de controlo do Parlamento Europeu,que é, de facto, a instituição de um "acto delegado" que os meus colegas já referiram e quenos parece que temos de aplicar e fazer cumprir no presente caso. O assunto em questãoé, na verdade, o primeiro exemplo do crescente papel do Parlamento Europeu desde 1 deDezembro de 2009.

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Na sequência das discussões e dos debates parlamentares que tivemos até agora, nós, osrelatores para os instrumentos de financiamento, chegámos à conclusão conjunta de queo dossiê deve ser enviado para segunda leitura, e estamos com isto a enviar uma mensagempolítica séria para as instituições, porque agora, desde a entrada em vigor do Tratado deLisboa, temos de actuar dentro do espírito do Tratado. Julgamos que estes são exactamenteos instrumentos para os quais é fundamental que o Parlamento exerça efectivamente o seudireito democrático de controlo.

Barbara Lochbihler, relatora. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,o Instrumento Europeu para a Democracia e os Direitos Humanos é um instrumento muitorecente. No entanto, é já possível dizer que ele produziu muito trabalho significativo eimportante. Podemos concluir isso da resposta que recebemos dos representantes dasociedade civil, dentro e fora da UE. Ele é também um complemento muito positivo danossa política de direitos humanos no Parlamento Europeu e na UE no seu conjunto.

O trabalho relativo aos direitos humanos ocorre frequentemente em condições muitodifíceis. É, pois, particularmente importante que estes instrumentos dêem à UE a capacidadede conceder apoio financeiro a organizações da sociedade civil sem que o governo emquestão tenha de dar o seu consentimento e, potencialmente, sem que este tenha mesmode ser informado pela UE do apoio financeiro em causa. Devemos sublinhar repetidamenteque esta ajuda deve ser mantida e, se necessário, alargada.

Tal como a minha co-relatora, a senhora deputada Gál, posso apoiar a proposta da Comissãopara que haja uma redução fiscal nos países em que os pagamentos oriundos desteinstrumento de financiamento ainda são tributados. Também isso aliviariasignificativamente o trabalho das ONG em questão.

No entanto, considero um desafio constante no trabalho com este instrumento definanciamento que, por um lado, tenhamos também reclamações ou respostas negativas,neste contexto, que deixam bem claro que o instrumento conduz a mais burocracia paraas organizações da sociedade civil que procuram o seu apoio. Por outro lado, há,naturalmente, necessidade de transparência em relação aos montantes despendidos e se ecomo eles são utilizados. No entanto, devemos levar a sério a reclamação repetida porpequenas organizações, em particular, de que são desincentivadas a utilizar este apoio eesta é uma questão que temos de resolver agora.

Da mesma forma, considero um desafio o facto de ser difícil chegar a um grande númerode organizações locais nas zonas rurais, ao contrário do que acontece nas metrópoles dosul do planeta. Por outras palavras, é difícil consciencializar essas organizações de queexiste um instrumento de financiamento desta natureza e de como podem utilizá-lo.Imaginem a seguinte situação: numa zona rural, onde nem sempre há electricidade, osdocumentos escritos são, provavelmente, a excepção e não a regra – o que torna necessáriauma atenção especial na realização destas iniciativas. Neste momento, eu vejo umaoportunidade na ampliação das embaixadas da UE no terreno - e está, naturalmente,estabelecido que tem também de haver responsabilidades, e pessoal disponível, em cadaembaixada local da UE para defender os direitos humanos e a democracia. Vejo umaoportunidade nestes funcionários públicos, a que a partir de agora aludirei como agentesdos direitos humanos, que se envolvem profundamente em assumir precisamente essepapel de mediadores e nesta missão de fornecimento de informação e comunicações etambém em contactar iniciativas locais que talvez não tenham a capacidade de comunicarem inglês, francês, espanhol ou outra língua da UE.

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Neste momento ainda é demasiado cedo para proceder a uma avaliação exaustiva doInstrumento. O horizonte temporal é demasiado curto - os resultados não resistiriam muitobem. Dentro de poucos anos, porém, teremos de nos dedicar muito intensamente a umaavaliação desse tipo. Por avaliação, não me refiro apenas a reavaliar o que correu bem, mastambém a considerar que novas ideias devemos adoptar e como poderemos desenvolverainda mais o instrumento de financiamento.

Andris Piebalgs, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, gostaria de agradecera todos os relatores, as senhoras deputadas Brantner, Gál e Lochbihler, bem como ossenhores deputados Mitchell, Scholz e Goerens.

As propostas que temos diante de nós resultam da revisão intercalar efectuada pela Comissãoem 2009 a pedido do Parlamento. Essa revisão concluiu que os instrumentos estão afuncionar bem, o que é muito positivo e proporciona um enquadramento estável para asnossas relações externas até 2013. Em alguns casos, a Comissão apenas propôs alteraçõestécnicas, a fim de as harmonizar com os outros instrumentos. Estamos satisfeitos porpodermos contar com o vosso apoio relativamente a estas questões técnicas.

O grande problema identificado na revisão foi o das objecções do Parlamento relativamenteà ajuda no âmbito do Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD) que nãopoderia ser considerada ajuda pública ao desenvolvimento. Nesta matéria, a Comissãotomou plenamente em conta a posição desta Assembleia. Apresentámos uma propostade ampliação do instrumento dos países industrializados para cobrir actividades que nãopossam ser elegíveis como ajuda pública ao desenvolvimento. Trata-se do envolvimentocom importantes parceiros bilaterais e actores globais com os quais a União Europeia temum interesse estratégico na promoção de relações diversificadas, tais como a Índia, a Chinaou o Brasil. Estes países estão também interessados em estabelecer intercâmbios com aUnião Europeia em termos económicos, académicos, empresariais e científicos.

Este instrumento modificado, designado por ICI+, é uma solução de curto prazo para trêsanos. Não fazemos juízos antecipados sobre a futura revisão dos instrumentos financeirosde acção externa para o período pós 2013. O Parlamento já aprovou um orçamento paraeste instrumento, em 2010. A fim de executar o orçamento para 2010, o instrumento temde ser agora aprovado, por isso congratulo-me muito com o trabalho efectuado pelosrelatores na obtenção de um amplo acordo.

No que se refere ao instrumento de estabilidade, a Comissão propôs a inclusão da acçãoda UE contra a proliferação de armas ligeiras e de pequeno calibre, na sequência do acórdãodo Tribunal de Justiça em 2008. Estamos a debater as questões levantadas no Conselho etemos de encontrar uma solução consensual. Posso também assegurar-vos de que ofinanciamento para a sociedade civil no âmbito do componente de prevenção de crises doinstrumento de estabilidade irá aumentar ainda mais este ano.

Além disso, prevê-se que, durante o período 2011-2013, o financiamento para a parceriade consolidação da paz duplique, o que permitirá uma ampla margem para o financiamentode acções da sociedade civil. Ainda mais importante é a participação de 22% para ofinanciamento da sociedade civil no âmbito do orçamento de resposta à crise desde 2007,o que mostra a capacidade das ONG no processo de consolidação da paz e de resposta acrises. É um excelente exemplo do valor acrescentado que o instrumento de estabilidadetrouxe para a acção global da UE em países frágeis e afectados por conflitos em todo omundo.

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Depois das propostas relativas à revisão intercalar, foi apresentada uma outra alteração aoICD a 17 de Março de 2010. As chamadas Medidas de Acompanhamento para o sectordas Bananas têm um objectivo claro: apoiar a adaptação de 10 países ACP exportadoresde bananas às alterações das tarifas de importação da UE para este produto.

As bananas foram objecto do mais longo diferendo comercial do mundo. A UE teve deencontrar uma solução e assinar um acordo em conformidade com as regras da OMC. AsMedidas de Acompanhamento para o sector das Bananas são parte integrante desse acordoe as reduções tarifárias estão já em vigor.

Gostaria muito de agradecer mais uma vez ao relator a sua atitude muito construtiva. Julgoque dispomos agora de um programa efectivo que poderá ter início assim que o aprovarmos.As tarifas estão já em vigor e os países ACP estão insistentemente à procura do apoiofinanceiro que a UE prometeu durante as negociações.

Chegamos agora à questão mais debatida. Todas as comissões aprovaram alterações nosentido de tratar os documentos de estratégia e os programas plurianuais como actosdelegados ao abrigo do novo procedimento do Tratado do artigo 290.º. Como sabem, aComissão, e também o Conselho, não partilham este ponto de vista. Nós consideramosque estes documentos de estratégia e programas plurianuais não se enquadram no âmbitodo artigo 290.º, uma vez que não complementam nem alteram certos elementos nãoessenciais do acto legislativo.

No entanto, concordamos inteiramente com a necessidade de assegurar uma forteparticipação do Parlamento nas decisões estratégicas globais. É também do interesse detodos nós garantir que a programação pode ser feita de uma maneira prática e suave. Atéagora, o Parlamento Europeu tem estado envolvido através do procedimento de controlodemocrático que foi acordado em 2006, no que diz respeito aos documentos estratégicose à programação plurianual. Através destes procedimentos, a Comissão dialoga com oParlamento sobre o conteúdo das estratégias, num processo de consulta que ultrapassa oslimites estritos da comitologia.

Permitam-me que seja claro: temos realmente de encontrar uma solução agora. A Comissãoestá aberta a debater com o Parlamento a fim de encontrar um caminho a seguir queresponda às vossas preocupações. Na semana passada, os três presidentes enviaram umconvite para uma reunião informal entre o comité director responsável por esta questãono Parlamento, a Comissão e o Conselho.

Acolhemos com grande satisfação esse convite. A Senhora Alta Representante, umrepresentante do Conselho e eu próprio reunimo-nos com o comité director esta manhã.Foi uma reunião muito proveitosa que confirmou muito claramente a necessidade deencontrar uma solução no mais curto prazo possível, de modo a aplicar integralmente oTratado de Lisboa e respeitando igualmente preocupações práticas inadiáveis,designadamente no que se refere ao orçamento.

Sinto-me confiante de que, se agirmos juntos, conseguiremos encontrar uma solução.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhor Presidente, SenhoraBaronesa Ashton, Senhor Comissário Piebalgs, Senhores Deputados, também eu, em nomedo Conselho, evidentemente, gostaria de agradecer aos relatores pelo seu trabalho e pelasua participação. Permitam-me que acrescente algumas palavras aos comentários do SenhorComissário Piebalgs, que, naturalmente, o Conselho subscreve inteiramente.

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O Senhor Comissário chamou muito justamente a atenção para a questão principal quecontinua por resolver, nomeadamente, o desejo do Parlamento de ver os documentosestratégicos e a programação plurianual tratados como actos delegados. Não pretendoapresentar aqui esta tarde, em pormenor, a posição do Conselho, mas direi apenas que aPresidência terá, naturalmente, todo o gosto em chegar a um acordo que satisfaça as trêsinstituições e que nos permita aprovar os instrumentos de financiamento o maisrapidamente possível. Evidentemente, estou a pensar mais especificamente, neste contexto,no já mencionado ICI+ e nas medidas de acompanhamento do sector das bananas.

Estou muito satisfeito com a reunião desta manhã com a Senhora Baronesa Ashton, oSenhor Comissário Piebalgs e os relatores. Consideramos que esta reunião é uma provaclara da vontade genuína das nossas três instituições de chegarem a acordo e, como sabem,a Presidência julga que o actual debate sobre os instrumentos de financiamento deve serseparado das negociações em curso entre o Parlamento e o Conselho no que diz respeitoà comitologia e aos actos delegados.

Por enquanto, os senhores deputados estão cientes de que o Conselho está ainda a analisarestas duas questões e que qualquer solução possível terá, na verdade, de ser aprovada peloParlamento. É por isso que, tendo em vista a necessidade urgente de aprovar os instrumentosde financiamento, temos de tomar esta medida excepcional de desenvolver uma soluçãoque é concebida especificamente para eles.

Pela sua parte, a Presidência belga garantirá que o trabalho que foi convidada a realizar noseguimento da reunião desta manhã avançará rapidamente e produzirá resultados concretosque nos permitam chegar a um acordo o mais depressa possível. A reunião desta manhãleva-nos a acreditar que o Parlamento Europeu partilha inteiramente este objectivo.

Barbara Lochbihler, relatora de parecer da Comissão dos Assuntos Externos. – (DE) SenhorPresidente, vou referir-me à questão do instrumento ICI+. O instrumento para a cooperaçãocom os países e territórios industrializados e outros de elevado rendimento (ICI) foi lançadona legislatura anterior. A Comissão dos Assuntos Externos apelou, num dos seus pareceres,à instituição de um instrumento de financiamento para a política externa que não estivesseligado à ajuda ao desenvolvimento, mas que se destinaria a países da América Latina, Ásiae Médio Oriente. A Comissão instituiu, então, o pequeno instrumento que é o ICI.Infelizmente, a Comissão considerou isso como uma solução provisória que permitiureabastecer os países do Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD), mas,para além disso, não produziu nada de novo e a Comissão tratou-o como um instrumentocomercial. Por consequência, a Comissão dos Assuntos Externos apresentou uma alteraçãorelativa ao título do instrumento, que clarificou a intenção original de o identificar comoum instrumento de política externa. O novo título é "Instrumento de financiamento paraa cooperação com os países do Médio Oriente, da Ásia, das Américas e da África do Sul".Solicitamos o vosso apoio para esta alteração. Seria extremamente lamentável que a UEnão dispusesse de um instrumento de financiamento da política externa que fosseefectivamente designado como tal.

Nirj Deva, relator de parecer da Comissão do Desenvolvimento. – (EN) Senhor Presidente,temos de analisar de que forma os instrumentos de financiamento - o ICD, os instrumentosde estabilidade e os instrumentos de direitos humanos - são importantes para o poder deinfluência (soft power) que a União Europeia exerce em todo o mundo. Esse poder está aaumentar, como revelam as nossas missões de observação e acompanhamento eleitoral,as campanhas a favor da democracia, etc.

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O Parlamento desistiu de 16 instrumentos de controlo quando instituiu o ICD. Tínhamos16 competências fundamentais de decisão que relegámos para a Comissão, a fim decontrolarmos o instrumento ICD e facilitarmos uma maior cooperação e isso tem estadoa funcionar bem. Agora temos um instrumento de estabilidade para o desenvolvimentopós-crise, que tem de ser reforçado com uma quantidade de dinheiro substancial, uma vezque há muitas crises civis e militares em todo o mundo. Existem actualmente 36 conflitoscivis.

Da mesma forma, julgo que o instrumento de direitos humanos necessita de maiordinamismo. Não nos basta falar, falar, falar: precisamos de ter gente no terreno, instrumentosde monitorização das eleições, boa governação e todas as outras coisas para as quaisnecessitamos de fundos. Tenho muito prazer em apoiar esta proposta.

Ivailo Kalfin, relator de parecer da Comissão dos Orçamentos. – (BG) Permitam-me quecomece por expressar a minha total concordância com as conclusões do relatório do senhordeputado Goerens sobre a necessidade do Instrumento Cooperação para o Desenvolvimento(ICD) e os seus benefícios para a prossecução das políticas da União Europeia.

Concordo também que a União Europeia deve encontrar uma maneira de continuar aapoiar os países produtores de bananas, mesmo depois de a Organização Mundial doComércio ter proibido a concessão de condições favoráveis a partir do início deste ano.Por acaso, estranhamente, a Comissão não realizou uma única vez, de 1994 até agora,uma avaliação do impacto da ajuda a estes 12 países, algo que terá de ser alterado no futuro.

O ponto em que a Comissão dos Orçamentos está a insistir e com o qual nós nãoconcordamos é a questão de cortar recursos de outras políticas, para que os 190 milhõesde euros em causa possam ser atribuídos para os próximos três anos. Há um princípio quenós insistimos que deve ser salvaguardado, nomeadamente, o de que novas políticas devemser financiadas com novos recursos. Isto significa que esta nova política, embora pudesseestar prevista no quadro financeiro da Comissão Europeia, deveria estar prevista noorçamento e não ser financiada à custa de outros programas.

Tunne Kelam, em nome do Grupo PPE. – (EN) Senhor Presidente, Senhora AltaRepresentante, Senhor Comissário, gostaria, em primeiro lugar, de saudar a exposiçãocircunstanciada e positiva feita pelo Senhor Comissário Piebalgs sobre a situação e as suasconclusões de que os instrumentos financeiros estão a funcionar bem.

Julgo que o instrumento de estabilidade tem sido muito útil na resolução de conflitos ecrises e devemos, por consequência, concentrar-nos mais na prevenção e noacompanhamento. Isso significa também um sólido apoio à consolidação da sociedadecivil. Aqui, mais uma vez, deve ser saudado o anúncio de um aumento substancial dosfundos para a consolidação da paz.

Saudamos igualmente a notícia do aumento do limite máximo das medidas previstas non.º 1 do artigo 4º, de 7% para 10%, e compreendemos a necessidade desse aumento. Aomesmo tempo, é essencial garantir que os diferentes instrumentos e programas da UE sãoutilizados de forma coerente e com uma percepção da sua complementaridade.

O Tratado de Lisboa tem de tornar a UE mais coerente e eficiente. Neste Parlamento, nóscompreendemos a necessidade de alterações técnicas, mas a questão tem mais a ver coma solução política, como tem sido sublinhado. Tem a ver com actos delegados e com odireito de controlo do Parlamento Europeu.

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Sinto-me hoje encorajado pelas declarações de abertura por parte tanto do Conselho comoda Comissão. Trata-se de um sinal de que estão preparados para chegar a acordo no maiscurto prazo possível. Espero sinceramente que possamos chegar a um acordo que garantao justo equilíbrio entre as três instituições da UE.

Gianluca Susta, em nome do Grupo S&D. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, em primeiro lugar, gostaria de felicitar o senhor deputado Scholz pelaelaboração deste relatório, que institui um instrumento de financiamento para a cooperaçãocom os países industrializados. Faz sentido que este instrumento seja gerido pela Comissãodo Comércio Internacional, porque, acima de tudo, ele diz respeito à cooperação com ospaíses industrializados e os países emergentes, pelo que existe uma certa diferença emrelação a outros instrumentos.

Em primeiro lugar, julgo que é necessário salientar o papel do Parlamento. Perdemosdemasiado tempo numa guerra com o Conselho e a Comissão sobre uma questão óbviaapós o Tratado de Lisboa. Temos de defender a centralidade do Parlamento, tanto emrelação aos actos delegados como aos actos de execução. Em segundo lugar, julgo serimportante sublinhar a importância estratégica de todo este jogo e, em terceiro lugar, anecessidade de reforçar a colaboração com países em desenvolvimento e países emergentes,sem retirar dinheiro aos países mais pobres.

Devemos fazer um esforço, no âmbito do orçamento da União Europeia, para desviar maisrecursos para os países mais pobres, tendo em conta que os problemas com os paísesemergentes têm mais a ver com normas do que com financiamento. De qualquer modo,a inovação deve ser apoiada, mas com recursos adicionais que não tenham sido retiradosaos países mais pobres.

Annemie Neyts-Uyttebroeck, em nome do Grupo ALDE. – (NL) Senhor Presidente emexercício Chastel, Senhora Baronesa Ashton, Senhoras e Senhores Deputados, estamoshoje a debater diversos instrumentos financeiros que permitem à União Europeia actuarem matéria de assuntos externos. Todos estes instrumentos são relativamente recentes esão, além disso, de natureza bastante original. Anteriormente, nós não dispúnhamos denada comparável e, no resto do mundo ou no âmbito de outras instituições internacionaisou supranacionais, há, efectivamente, muito poucos modelos do tipo de instrumentos quea União Europeia está a desenvolver. Dada a natureza inovadora deste conjunto deinstrumentos, concordámos, avisadamente, que iríamos avaliá-los ao fim de apenas algunsanos e, se necessário, ajustá-los. É isso que nos ocupa aqui esta tarde.

Todavia, outras mudanças importantes ocorreram entretanto. Hoje, temos uma AltaRepresentante, que é também Vice-Presidente da Comissão. Durante esta sessão, fomosconvidados a aprovar os textos básicos sobre a questão do Serviço Europeu de AcçãoExterna, que é, por assim dizer, o braço diplomático da União Europeia. Também issoconstitui uma inovação muito importante.

Por último, mas não menos importante, as competências desta Assembleia foramconsideravelmente alargadas. Tivemos, até agora, ampla oportunidade de explorar essascompetências e, como costuma acontecer com as novas instituições, tenta-se pressionaro mais possível para afirmar ao máximo essas novas competências. Por consequência,estamos neste momento a debater com as outras instituições exactamente onde é que sedevem estabelecer os limites.

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Congratulo-me igualmente com aquilo que tanto o Senhor Comissário Piebalgs como oSenhor Presidente em exercício disseram sobre a vontade de chegar a acordo. Dado queintegrei anteriormente o executivo do meu país, consigo compreender os diversos ladosdo argumento e espero que possamos chegar a acordo. Atrevo-me também a esperar queesta Assembleia não force demasiado a nota, como se costuma dizer.

Em conclusão, no que se refere ao Instrumento de Estabilidade - ainda disponho de algunssegundos - gostaria de dizer que estou muito satisfeita com o facto de o Senhor ComissárioPiebalgs ter afirmado que, na verdade, a intenção é que nos concentremos, entre outrascoisas, no combate ao tráfico de armas ligeiras e de pequeno calibre; que a intenção éenvolver mais as ONG no funcionamento do Instrumento de Estabilidade e fazer plenouso do conjunto ainda mais inovador de instrumentos de consolidação da paz. Se isso setornar uma realidade, poderão contar com o inteiro apoio do nosso grupo.

Franziska Keller, em nome do Grupo Verts/ALE. – (EN) Senhor Presidente, gostaria delevantar a questão do Instrumento de Cooperação para o Desenvolvimento (ICD), emrelação à qual eu, e também os colegas da Comissão do Desenvolvimento, vemos anecessidade urgente de reforçar o poder de controlo do Parlamento. Isto porque oParlamento tem o dever de controlar onde é que a Comissão gasta o dinheiro e se ele égasto como previsto, neste caso, na Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD).

Deparámo-nos, no passado, com maus exemplos de casos em que o dinheiro não foi gastoem conformidade com os critérios da APD ou em que descobrimos que não foi respeitadoo objectivo de erradicação da pobreza. Tendo simplesmente o direito de consulta, as nossaspropostas e as nossas ideias não foram tidas em conta, o que mostra claramente queprecisamos de uma posição mais forte. Precisamos do poder de co-decidir para onde vaio dinheiro.

Não é apenas a Comissão, mas também nós, enquanto Parlamento, que temos umaobrigação no que diz respeito à coerência das políticas de desenvolvimento. Temos tambémde ter a certeza de que o dinheiro que é gasto vai no sentido certo e que outros domíniospolíticos trabalham igualmente no sentido da erradicação da pobreza.

O Parlamento tem também uma responsabilidade para com os cidadãos da União Europeia.Temos de controlar melhor onde o dinheiro é gasto, nomeadamente, em matéria deerradicação da pobreza. Os cidadãos europeus são a favor da ajuda ao desenvolvimento.Eles são até a favor de dar mais ajuda ao desenvolvimento - como os inquéritos têmdemonstrado -, mas temos também de mostrar claramente como o gastamos e que ogastamos em benefício das populações mais pobres.

Por consequência, a Comissão do Desenvolvimento e eu própria exortamos-vos a aceitaractos delegados para o ICD.

Charles Tannock, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, a UE é o maiordoador multilateral do mundo em termos de ajuda ao desenvolvimento e assistênciahumanitária, desempenhando igualmente um importante papel político de apoio àpromoção dos direitos humanos e da democracia em países terceiros.

Por consequência, o meu grupo, o Grupo ECR, acredita firmemente que são essenciaisnovos instrumentos financeiros da UE devidamente estruturados, já que estes garantemque o dinheiro dos contribuintes é despendido mais eficiente e eficazmente e permitemao Parlamento Europeu, sobretudo depois do Tratado de Lisboa, fiscalizar as despesas e apolítica estratégica de uma forma mais aberta e transparente.

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Esta responsabilidade democrática é fundamental, sobretudo numa altura em que osEstados-Membros têm eles próprios de fazer cortes drásticos nas respectivas despesasnacionais. O investimento e o desenvolvimento, a democracia e os direitos humanos sãopotencialmente uma forma importante de apoiar, em particular, através do poder deinfluência (soft power), os objectivos mais vastos da política externa da UE, podendoigualmente contribuir para reduzir as pressões migratórias sobre as fronteiras externas daUE. Mecanismos robustos de prevenção da corrupção e da má utilização dos dinheiros daUE são, contudo, fundamentais e devemos também ter o cuidado de, a pretexto dos direitoshumanos, não impormos os nossos próprios valores liberais ocidentais, em particular, oschamados direitos reprodutivos, a outros povos menos bem preparados ou relutantes emabsorvê-los.

Sabine Lösing, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, é importantedeixar claro neste ponto que, no que se refere aos instrumentos de financiamento da políticaexterna da UE, o Tratado de Lisboa revogou o direito de controlo do Parlamento Europeu.Deste modo, a competência relativa a estes instrumentos de financiamento foi integralmentetransferida para a Comissão e a Alta Representante, e com ela, para o Serviço Europeu deAcção Externa. Julgo que é totalmente inaceitável que o Parlamento Europeu e o Conselhosejam ignorados, apesar de aquilo que está em questão serem as medidas de política externade grande alcance da União Europeia e a sua aplicação.

Apoiamos os esforços do Parlamento para tentar alcançar um acordo entre grupos como objectivo de restabelecer o controlo parlamentar dos instrumentos de financiamento.Por conseguinte, apoiaremos as alterações aos actos delegados nesta matéria, que foram,naturalmente, debatidas anteriormente. Ainda assim, eu gostaria de concluir, manifestandoa minha grande preocupação no que diz respeito, em particular, ao Instrumento deEstabilidade e ao Instrumento Europeu para a Democracia e os Direitos Humanos, já queme parece que estes instrumentos são utilizados de uma forma antidemocrática e poucotransparente e, em alguns casos, contra a vontade dos países em questão, o que lhes confereo carácter de uma política externa comunitária intervencionista.

William (The Earl of) Dartmouth, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhor Presidente,circula nos bazares de Carachi uma anedota que reza mais ou menos assim: um ladrãosurpreende o Presidente do Paquistão e diz-lhe: "Dê-me o seu dinheiro". O Presidente doPaquistão responde: "Eu sou o Presidente Zardari, o teu Presidente". O ladrão diz: "Nessecaso, dê-me o meu dinheiro!"

Esta anedota é relevante para o debate de hoje porque incide no cerne da questão. AComissão Europeia não tem dinheiro. O dinheiro da Comissão vem todo dos contribuintesdos Estados-Membros ou, mais precisamente, dos contribuintes dos 14 Estados-Membrosque são contribuintes líquidos. Mesmo que a Comissão venha um dia a obter os seusrecursos próprios, situação que, a julgar pelas votações de hoje, parece ser lamentavelmenteprovável, o dinheiro gasto pela Comissão continuará a ser o dinheiro dos contribuintes.

Deixo, portanto, à vossa consideração a seguinte pergunta, que peço que seja objecto decuidada ponderação: acreditam, de facto, que os já duramente atingidos contribuinteseuropeus e britânicos, em especial nos tempos que correm, queiram realmente que segastem mais 2 mil milhões de euros - pois é isso que prevêem estas propostas - apenas parao Comissário da UE poder pavonear-se na cena mundial?

Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, como sempre, os organismos definanciamento da UE estão a ter alguns problemas. A ajuda financeira é difícil de obter

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devido à sua complexidade. Ao mesmo tempo, os sistemas de acompanhamento continuama ser concebidos de forma pouco satisfatória. Um exemplo disso mesmo é a ajuda depré-adesão, que, como todos sabemos, é concedida a países potencialmente candidatos,mas cujo pagamento só faz sentido se os países em questão começarem a resolver os seusproblemas de corrupção ou a estabelecer realmente as estruturas necessárias. Nesse sentido,faço votos de que a UE tenha aprendido alguma coisa com o seu alargamento precipitadode 2007. No que respeita ao Instrumento de Estabilidade e à cooperação para odesenvolvimento, é frequente os fundos orçamentais não chegarem, ou chegarem apenasparcialmente, às instituições locais a que se destinam. Isto deve-se em parte à debilidadedas instituições dos países beneficiários, mas também a estruturas de incentivos ineficientese à ausência de uma prestação de contas devidamente documentada. Há que pensar nofacto de, segundo um estudo do FMI, a despesa pública de 33 países depender em mais de50% da ajuda internacional ao desenvolvimento. Relativamente à ajuda financeira da UE,independentemente da sua natureza, importa reforçar o acompanhamento da mesma.

Godelieve Quisthoudt-Rowohl (PPE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria, em primeirolugar, de dirigir os meus sinceros agradecimentos ao relator, o senhor deputado Scholz,pela cooperação positiva e aberta que mantivemos. No trílogo, em particular, nem semprehouve concordância, mas nunca deixou de existir um ambiente de discussão construtivo.

O alargamento do instrumento de financiamento para a cooperação com os países eterritórios industrializados e outros de elevado rendimento dará à UE a oportunidade deestabelecer uma cooperação, em pé de igualdade, com as principais economias emergentese em desenvolvimento. Isso passará por programas de intercâmbio a nível da educação,no âmbito do Programa Erasmus Mundus, bem como pelo apoio à cooperação empresarialou cultural, algo que saúdo vivamente. Há, não obstante, um aspecto para o qual gostariade chamar a vossa atenção: dada a actual situação financeira da UE - e dos seusEstados-Membros - o Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) considerainaceitável solicitar novos fundos, actualmente indisponíveis, para executar as medidasatrás referidas. É necessário que haja alguma contenção financeira com o instrumento definanciamento para a cooperação para o desenvolvimento, cujos recursos se destinavamunicamente às economias emergentes e em desenvolvimento. Por conseguinte, apresenteiuma alteração, em nome do Grupo PPE, com vista a atingir esse equilíbrio financeiro.

Queria também fazer uma breve alusão aos actos delegados. Esta é uma questão importante,já aqui referida duas vezes esta manhã. A meu ver, não resta qualquer dúvida de que oParlamento tem de exercer um direito de supervisão e de veto sobre todo o pacote relativoao financiamento da cooperação externa, actualmente em discussão, por meio de actosdelegados. O espírito do Tratado de Lisboa tem de imperar neste ponto. Não pode havercompromissos quanto à inclusão ou não dos actos delegados nos instrumentos definanciamento.

Ana Gomes (S&D). – (EN) Senhor Presidente, o instrumento europeu para a promoçãoda democracia e dos direitos humanos é fundamental para uma política externa da UEseriamente empenhada em promover a democracia, o Estado de direito e os direitoshumanos no mundo. É o único instrumento que podemos agora mobilizar para ajudar osque lutam pela democracia e pelos direitos humanos em países onde existem restrições àsliberdades básicas. Podemos fazê-lo sem o consentimento dos respectivos governos.Obviamente, um instrumento tão valioso tem de ser adequadamente controlado peloParlamento Europeu, donde a necessidade de adoptar o procedimento dos actos delegados.

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Contudo, devemos ter presente que este instrumento é bastante limitado em termos dosfundos disponíveis e que parte considerável do mesmo paga as missões de observaçãoeleitoral da UE: 22% no período de 2011-2013. Isto significa que o orçamento atribuídoao instrumento europeu para a promoção da democracia e dos direitos humanos tem deser significativamente reforçado.

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para sugerir um novo mecanismo que oParlamento Europeu devia ajudar a criar, e que este Instrumento podia financiar, paraprestar uma assistência ainda mais eficiente e flexível às pessoas que, não raro, arriscam avida na sua luta pela democracia, pelo Estado de Direito e pelos direitos humanos em paísescom ditaduras ou regimes de opressão, e em países à procura de uma transição para ademocracia, nos quais enfrentam forças antidemocráticas violentas, necessitando por issode uma assistência muito maior em termos de capacitação para derrotar essas forças.

Precisamos de uma fundação europeia interpartidária e não governamental, semelhanteao "National Endowment for Democracy" criado pelo Congresso dos EUA.

(A oradora aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º)

Heidi Hautala (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, obrigada por me conceder o usoda palavra. Gostaria de perguntar à senhora deputada Ana Gomes, relativamente à suaexcelente proposta, o que pensa ela que poderíamos aprender com os modelos existentesnos EUA para este tipo de financiamento mais flexível e, digamos, menos burocrático, dademocratização e dos direitos humanos.

Ana Gomes (S&D). – (EN) Senhor Presidente, é justamente na flexibilidade que reside abeleza do conceito. Com uma fundação interpartidária, poderíamos identificar os casosespecíficos necessitados, em termos latos, de uma ajuda especial, ao arrepio de governos,autoridades ou forças de bloqueio, para reforçar as capacidades daqueles que lutam pelosdireitos humanos. Julgo que o exemplo do NED dos EUA é, de facto, deveras inspirador eque não devemos inibir-nos de seguir os modelos que funcionam noutras partes do mundo,neste caso, um modelo criado pelos nossos parceiros americanos.

Temos já as fundações de diferentes partidos que desenvolvem a sua actividade na Europa,mas muitas vezes com agendas diferentes. Haverá, seguramente, muitos casos em quedeviam convergir, o que lhes permitiria uma maior eficiência na prestação de assistênciaaos que lutam pela democracia e pelos direitos humanos.

Presidente. – Levou-me à certa, Senhora Deputada Ana Gomes. Julguei que estava aterminar mas, de repente, continuou com a sua intervenção e fiquei sem saber se devia ounão interrompê-la. O facto é que, segundo o procedimento do "cartão azul", quem apresentaa pergunta tem 30 segundos para o fazer e a pessoa que responde apenas 30 segundos.

Louis Michel (ALDE). – (FR) Senhor Presidente, sinto-me muito incomodado, poisgostaria de ter tomado parte nesta discussão. Tenho muitas dúvidas de que o modelo dosEUA seja mais eficaz do que o europeu. Em matéria de direitos humanos, o modelo dosEUA é, no essencial, selectivo e totalmente virado para o proveito próprio. Na verdade, omodelo dos EUA centra-se, primeiro que tudo, num bilateralismo activo.

Gostaria de felicitar o meu colega deputado, Charles Goerens, pelo trabalho efectuado,visto que conseguiu reforçar a dimensão do desenvolvimento na sua abordagem.

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Naturalmente, gostaria também de agradecer ao Senhor Comissário Piebalgs toda a atençãoque deu a este pedido.

Gostaria de fazer três breves observações. Em primeiro lugar, o desmantelamento repentinodo regime comunitário de preferências pode e vai trazer consequências dramáticas paracertos países ACP que ainda exportam bananas. Algumas destas consequências afectarãodirectamente a capacidade dos países ACP para promoverem um desenvolvimentosustentável. Posto isto, gostaria de apelar a uma interpretação razoável e algo flexível doscritérios de atribuição da ajuda. Esta deve ser prioritariamente atribuída aos países ACPque pretendam manter o seu sector bananeiro, por força do impacto deste último nodesenvolvimento sustentável do seu país. Nesse sentido, teria sido útil - algo que foisolicitado, mas não satisfeito - termos já realizado uma avaliação de impacto ex ante sobrea situação dos países exportadores de bananas.

Gostaria ainda de apresentar duas outras observações de carácter geral, às quais voltarei,certamente, nas próximas semanas. Do meu ponto de vista, a melhor maneira de canalizaresta ajuda é, sem dúvida, através do apoio orçamental geral, sempre que possível, e dosauxílios sectoriais, sempre que desejável. De igual modo, teria, porventura, sido útil debatera quantidade da ajuda e o cumprimento dos compromissos assumidos em 2005 pelosEstados-Membros. Este é um aspecto central do debate. Além disso, aquilo que aqui ouvide alguns colegas deputados é extremamente preocupante. Evidentemente, o egoísmo érei. Devo dizer que este é um dado deveras surpreendente.

Por último, e em resposta a uma série de perguntas, gostaria, porém, de renovar a ideia dainclusão do Fundo Europeu de Desenvolvimento no orçamento, o que, obviamente, nospermitiria acompanhar directamente a acção política da Comissão.

Catherine Grèze (Verts/ALE). – (FR) Senhor Presidente, gostaria de agradecer ao senhordeputado Goerens ter tido em consideração as normas internacionais em matéria de saúdee segurança dos trabalhadores e as normas ambientais internacionais, em especial as queversam, naturalmente, sobre a exposição a pesticidas.

Na minha opinião, a defesa dos pequenos produtores feita no presente relatório é deimportância crucial, e isto porque, importa lembrá-lo, eles recebem apenas 1,5% do preçopago pelo consumidor final. Valerá também a pena lembrar que, como é já do vossoconhecimento, anualmente, milhões de pequenos agricultores vêem-se forçados a ir viverpara bairros degradados.

Agora que a luta contra os pesticidas e a exposição em grande escala aos mesmos foiabordada nesta Câmara, penso ser fundamental aplicar os mesmos requisitos às AntilhasFrancesas, onde é utilizada a clordecona, bem como às regiões ultraperiféricas. Exorto aComissão a agir precisamente nesse sentido.

Para concluir, embora saudando os progressos alcançados, gostaria de reiterar que oproblema fundamental do comércio das bananas reside, obviamente, no modelo agrícola,que, por estar orientado unicamente para a exportação, devia ser repensado. O modeloagrícola deve ser reformulado com vista a uma maior auto-suficiência.

Marek Henryk Migalski (ECR). – (PL) Concordo plenamente com a senhora deputadaAna Gomes quando afirma que a questão dos direitos humanos é uma das questões maisimportantes que se nos colocam, razão pela qual não consigo entender de todo as palavrasda senhora deputada Lösing, segundo as quais o dinheiro despendido com os direitos

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humanos é, por vezes, para não dizer muitas, mal gasto. Os direitos humanos são a nossatarefa basilar, ou mesmo a mais importante, enquanto Comunidade Europeia.

Gostaria também de me referir a um dos instrumentos de apoio à democracia e aos direitoshumanos em todo o mundo, e à afirmação de que esses instrumentos deviam serintroduzidos e aplicados independentemente da concordância ou não de terceiros e outrasentidades públicas. Esta é, creio, uma declaração crucial e ilustrativa da nossa obrigação.Em certos casos, temos de ajudar a construir a democracia e a reforçar os direitos humanosà revelia dos governos de alguns países. Creio tratar-se de um exercício que vale por si, emespecial, e sobretudo, nos locais em que ocorra a violação do direito à liberdade de expressão.Estamos a cumprir o nosso dever.

Joe Higgins (GUE/NGL). – (EN) Senhor Presidente, boa parte deste debate está eivadode irrealismo. Todos estes relatórios relativos à promoção dos direitos democráticos e dosdireitos humanos a nível mundial e ao financiamento dos instrumentos da cooperaçãopara o desenvolvimento têm de ser analisados no contexto da arrepiante declaração feitaontem, neste mesmo Hemiciclo, pelo Secretário-Geral da ONU, segundo a qual, só nocorrente ano, mais 65 milhões de seres humanos deste nosso mundo mergulharão napobreza extrema.

Esta é a dura realidade que embate nas palavras floreadas dos governos e da ComissãoEuropeia. Fora das portas deste Parlamento, enormes faixas com logótipos da UEproclamam: "Ponham fim à pobreza". Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia - e, de facto,os grandes grupos políticos deste Parlamento - estimulam políticas económicas neoliberaisque fazem cortes em orçamentos e serviços públicos, canibalizam o nível de vida daspessoas comuns e transferem recursos maciços sob a forma de resgates para bancos eespeculadores.

Quanto ao financiamento da cooperação para o desenvolvimento, a Comissão congratula-secom a nova redução das pautas aduaneiras aplicáveis às bananas acordada com osprodutores da América Latina, mas, na verdade, este novo regime vem beneficiar aspoderosas empresas multinacionais. Os grandes exportadores de bananas, como a Chiquitae a Del Monte, vão ter ganhos enormes, mas os países de África, Caraíbas e Pacífico e ospequenos produtores serão devastados. Naturalmente, os subsídios aos pequenos produtoresde bananas que enfrentam a ruína devido ao novo acordo não podem provir dos fundossociais estabelecidos, mas sim de outras rubricas do orçamento da UE. O comércio devebeneficiar os pequenos produtores e os trabalhadores - ou seja, a maioria - e não as grandesempresas multinacionais.

Nikolaos Salavrakos (EFD). – (EL) Senhor Presidente, receio que o orçamento da UniãoEuropeia para 2011 enferme de erro, tanto na disposição relativa à revisão intercalar comono estabelecimento de receitas directas provenientes de novos impostos que, em últimaanálise, serão pagos pelos utilizadores, dito de outro modo, pelos cidadãos europeus. Julgoque não será adequado lançar estes impostos numa altura em que a Europa está mergulhadanuma recessão e os trabalhadores perdem os seus empregos, o seu poder de compra e,mais importante ainda, os seus direitos sociais. Em vez de dar, estamos a tirar aosconsumidores europeus. Aparentemente, e uma vez mais, os nossos esforços no sentidoda disciplina orçamental descuraram os planos de crescimento e a nossa aplicação da teoriaeconómica esqueceu a teoria política.

Temos, por exemplo, de convencer os cidadãos europeus de que estamos a zelar por elesda melhor maneira possível. Nesta conjuntura específica, não nos devemos portar como

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Maria Antonieta. Deste modo, tenho duas propostas concretas a apresentar: em primeirolugar, a nossa remuneração, enquanto deputados ao Parlamento Europeu, devia ser reduzidaem 1 000 euros em 2011 e cada um de nós devia utilizar esse dinheiro para recrutar umjovem cidadão europeu desempregado do nosso país. Em segundo lugar, devíamos reduziras nossas despesas de viagem voando em classe económica.

Nick Griffin (NI). – (EL) Senhor Presidente, como tantas vezes sucede com as propostasda UE, estes instrumentos financeiros incluem medidas de grande apelo emocional. Todasas pessoas decentes como nós querem pôr termo ao tráfico de drogas e de pessoas e aofornecimento de armas ligeiras a zonas de conflito, mas é muito fácil ser emotivo e generosocom o dinheiro dos outros.

Assim, enquanto as pessoas comuns da Grécia, França, Irlanda e Grã-Bretanha assistem àfragmentação das suas sociedades devido a cortes de vária ordem e sentem as costas vergarsob o peso dos impostos, o relatório Scholz quer acrescentar 176 milhões de euros aos172 milhões já destinados a ajudar os capitalistas do terceiro mundo a extinguir ainda maisos nossos postos de trabalho. O relatório Goerens esbanjará 190 milhões de euros, 17,4milhões dos quais atribuídos a um instrumento de resposta rápida ao aumento dos preçosdos géneros alimentares nos países em desenvolvimento. Para quem ainda não se apercebeu,os preços dos alimentos estão também a subir nos nossos círculos eleitorais.

O pior de tudo surge, porém, no relatório Brantner, em cuja página nove se menciona umenquadramento financeiro de 2 062 mil milhões de euros até 2013. Trata-se, obviamente,de um erro de impressão. Peço a Deus que o seja, mas a possibilidade de um erro tãogrosseiro ter escapado a todos os peritos e deputados ao PE que leram este relatório dizmuito da negligência com que a União Europeia gasta dinheiro.

Este dinheiro não cresce nas árvores. Não é entregue num pote por uma fada. Não é odinheiro da Comissão, nem dos deputados ao Parlamento Europeu. É o dinheiro doscontribuintes e uma quantidade extremamente desproporcionada do mesmo é dinheirodos contribuintes britânicos.

Maurice Ponga (PPE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, durante muitos anos, a União Europeia manteve uma relação especial e sólidacom os países ACP. Essa relação especial resultou, nomeadamente, na concessão depreferências pautais. Foi o caso do sector das bananas, no qual os países ACP beneficiaramde um regime comercial preferencial cobrindo as suas exportações para a União Europeia.

Esta preferência foi contestada no quadro da OMC, em especial pelos paíseslatino-americanos, que são grandes exportadores de bananas. Assim, com o intuito de darcumprimento às regras da OMC e de acabar com um longo litígio, a União Europeia aceitou,em Dezembro de 2009, reduzir as suas pautas aduaneiras no sector das bananas.

No entanto, em nome da parceria privilegiada que mantém com os países ACP, a UniãoEuropeia quis ajudar os países ACP produtores de bananas a enfrentarem o futuro acréscimode concorrência. Consequentemente, a Europa destinou 190 milhões de euros, até 2013,para ajudar os países ACP produtores de bananas a adaptarem-se, serem competitivos ereestruturarem o seu sector, se necessário.

No relatório que amanhã votaremos, o Parlamento Europeu reitera os seus compromissose apoio aos países ACP produtores de bananas, posição que acolho com grande satisfação.Assim, sugerimos, entre outras coisas, que a União Europeia possa, se necessário, adoptarmedidas complementares depois de 2013.

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Thijs Berman (S&D). – (EN) Senhor Presidente, precisamos de pugnar por um máximode transparência e responsabilização em matéria orçamental, pois isso contribuirásobremaneira para a legitimidade da política externa da UE.

Estão em causa montantes significativos gastos com base em regulamentos que conferemà Comissão uma margem de manobra considerável. Tudo isto é acertado, mas precisamosde exercer plenamente o nosso controlo sobre os documentos de estratégia, os programasindicativos plurianuais e documentos similares, visto serem documentos de âmbito gerale complementarem os instrumentos financeiros definindo domínios e objectivosprioritários.

A Comissão deve apresentar os seus resultados num relatório anual ao Parlamento, dandoespecial atenção à elegibilidade de todos os projectos no quadro da APD. A programaçãoe o planeamento devem ser realizados pelo mesmo grupo de peritos que agora os tem sobsua responsabilidade, mas o próprio Serviço de Acção Externa necessita de mais peritosem matéria de desenvolvimento e direitos humanos para compreender e trabalhar comos instrumentos em apreço, tanto em Bruxelas como nas delegações da UE situadas empaíses terceiros.

Takis Hadjigeorgiou (GUE/NGL). – (EL) Senhor Presidente, gostaria de fazer uma brevealusão à questão da democracia e ao financiamento do apoio à mesma fora da UE.Consideramos que a democracia é uma conquista humana que precisa de ser salvaguardada.Será, porém, a democracia tal como a conhecemos aquela que queremos - e temos de -exportar? Tenho a certeza absoluta de que a primeira coisa que temos a fazer é melhorara democracia em nossa casa. Como podemos falar de democracia quando temos um paísem que a abstenção é superior a 50%? Podemos falar de democracia quando há milhõesde pessoas desempregadas? O que diremos então quando, em vez de se exprimir por meiodos representantes eleitos, a democracia se expressa, sobretudo, através, e sob o controlo,dos meios de comunicação social? É esta a democracia de que nos podemos orgulhar e quequeremos exportar?

Acredito que há, efectivamente, nações que precisam de ajuda para que os seus direitosconsigam um apoio adequado e a aceitação dos seus governos. No entanto, não é um factoque isso devia ser feito com cautela, após um longo exercício de antecipação de potenciaisresultados negativos, em vez de positivos? Pode alguém afirmar que o financiamento dademocracia no Afeganistão a fez avançar? Ao invés de obrigarmos as pessoas a copiar onosso modelo, penso que podemos fazer muito mais para tornar a nossa democracia umexemplo digno de ser copiado.

Alf Svensson (PPE). – (SV) Com o Tratado de Lisboa e o novo Serviço de Acção Externa,é-nos possível ter uma maior presença na cena mundial. Naturalmente, essa possibilidadeanda também a par com uma maior responsabilidade.

Temos uma responsabilidade especial em todos os tipos de relações com países nãodemocráticos, seja em matéria de ajuda ou de comércio. A Europa e a UE devem e têm deassumir a liderança. A UE tem de apontar o caminho. Entre os instrumentos definanciamento que estamos a debater, há elementos essenciais que nos dotam das condiçõesprévias para fazermos verdadeiramente a diferença. Temos as condições prévias, mas issonão significa automaticamente que sejamos bem sucedidos. Para optimizar o efeito de cadaeuro da ajuda, o nosso trabalho no domínio do desenvolvimento tem de ser constantementeacompanhado por iniciativas de promoção da democracia e de formação de opinião. Istopode parecer óbvio mas, na verdade, nem sempre acontece.

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No quadro das Nações Unidas, é a UE que ergue a voz. É a UE que, nos contextos denegociação, afirma posições contra regimes totalitários e somos nós que, de uma formacoerente e firme, nos colocamos do lado dos mais vulneráveis e, obviamente, é isso quedevemos fazer. Por conseguinte, é decepcionante verificar que, a nível mundial, o sentidoda mudança não seja o que gostaríamos que fosse nos capítulos da democracia e dos direitoshumanos, e tenho a impressão de que alguns deputados do nosso Parlamento não estãoplenamente conscientes da importância da democracia enquanto elemento mais importantee fundamental do desenvolvimento.

Regularmente, assistimos, na Comissão do Desenvolvimento, a tentativas de lançamentode textos que subtilmente, nas entrelinhas, quando não de forma declarada, conferem umcerto grau de concessão aos regimes totalitários. A título de exemplo, recentemente,argumentou-se que o principal problema das ditaduras é o risco de privatização doscuidados de saúde. Raramente se menciona o facto de nunca ter ocorrido uma situação defome generalizada numa democracia.

Esta é uma atitude absolutamente insustentável. A fim de aperfeiçoar o funcionamentodos nossos instrumentos de financiamento inseridos no orçamento para a ajuda, temosde colocar a promoção da democracia no centro de todas as nossas relações externas, enão apenas em contextos formais e nos discursos, sem qualquer acção prática subsequente.

Patrice Tirolien (S&D) . – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, voufocar a minha intervenção no relatório do senhor deputado Goerens, que aborda as medidasde acompanhamento para o sector das bananas (MAB) nos países ACP.

Como eu próprio sou oriundo de uma das poucas regiões europeias que produzem bananas,só posso manifestar a minha solidariedade para com os produtores dos países ACP emquestão. Solidariedade, em primeiro lugar, devido à forte ligação histórica que une a UniãoEuropeia a estes países, pelo que devemos fazer tudo que o que estiver ao nosso alcancepara garantir que também eles consigam maximizar os benefícios da globalização, da qualsão, na maior parte dos casos, as primeiras vítimas.

Solidariedade, também, porque as concessões comerciais generosamente dadas pelaComissão à OMC se arriscam a desferir um golpe fatal neste sector agrícola dos nossospaíses parceiros ACP. Solidariedade, por fim, mas nunca ingenuidade, visto que, na versãoapresentada pela Comissão, a proposta de regulamento em matéria de MAB coloca umatónica excessiva na diversificação económica.

Tendo em conta a perda de preferências pautais resultante do acordo com a OMC, oprincipal objectivo deste programa é, claramente, garantir a sustentabilidade das exportaçõesde bananas dos países ACP e, consequentemente, ajudá-las a tornarem-se competitivas.

Além disso, sejamos francos, as verbas previstas pelas MAB não são de todo suficientes,nem se estendem por um período suficientemente prolongado para permitir a diversificação.

Por fim, acrescentaria que, se estivermos realmente cientes da urgência da situação,poderemos aceitar o financiamento destas medidas de acompanhamento através de umaampla reafectação da rubrica IV do orçamento. O Conselho tem de mostrar-se responsávele trabalhar para encontrar uma solução viável para o financiamento plurianual desteprograma.

Lena Kolarska-Bobińska (PPE). – (PL) O Instrumento Europeu para a Promoção daDemocracia e dos Direitos Humanos é, na minha opinião, um instrumento cujas utilização

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e abordagem assumem, presentemente, um cariz demasiado técnico. Deve ser uminstrumento político da União Europeia mais explorado, dado que reúne um enormepotencial para apoiar e promover a democracia. No entanto, isso exigiria uma alteraçãona abordagem deste instrumento financeiro europeu. Até aqui, a questão do apoio àdemocracia tem sido ofuscada pela dos direitos humanos. Naturalmente, estes sãoextremamente importantes, mas julgo que o apoio à própria democracia, que é uma questãodiversa, deve ter um estatuto bastante mais elevado e um peso muito maior.

Por conseguinte, temos igualmente de fortalecer as instituições não-governamentais empaíses com governos autoritários. Devemos concentrar-nos na democracia de base dessespaíses, construindo-a de baixo para cima. Isso significa centrar-nos nas organizações dasociedade civil que adoptem métodos inovadores de expansão do espaço público. Paratermos êxito, precisamos, primeiramente, de estabelecer um acompanhamento regular doimpacto das organizações que recebem financiamento europeu. Temos também, comoessas próprias organizações reconhecem, de instituir um fórum que realize reuniõesregulares para facilitar a comunicação entre doadores e beneficiários, e não apenas osdoadores da União Europeia, mas também de outras regiões do mundo. Temos de simplificaros nossos formulários de pedidos de ajuda, que, actualmente, são incompreensíveis paramuitos actores. Finalmente, a Comissão tem de trabalhar no sentido da flexibilização daregulamentação financeira.

Kader Arif (S&D). – (FR) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, o títulodeste debate é susceptível de criar um certo optimismo porque, em teoria, trata de definiros procedimentos da ajuda aos países ACP produtores de bananas. A realidade écompletamente diferente, e tenho de dizer que a forma como estes países foram tratadosao longo deste relatório é simplesmente inaceitável. Antes de tudo o mais, importa termospresente o facto de o sector bananeiro ser vital para muitos países de África e das Caraíbas.

Contudo, apesar disso, eles fizeram o esforço de aceitar, no quadro da OMC, um acordoque reduz a pauta aduaneira europeia para 114 euros por tonelada, a fim de pôr termo aum longo litígio com os países produtores da América Latina. Não obstante, a Comissãoparece ter-se esquecido de informá-los das negociações bilaterais que mantinha com estesúltimos países, com vista à adopção de uma pauta muito inferior: 75 euros por tonelada.Por outras palavras, as consequências económicas destes acordos serão profundamentesentidas num contexto em que a parte de leão do mercado europeu da banana é já detidapor empresas multinacionais instaladas na América Latina.

Perante esta situação, na última sessão plenária da Assembleia Paritária ACP-UE, realizadaem Tenerife, todos os membros concordaram adoptar por unanimidade uma declaraçãoapelando à tomada célere de medidas de apoio adequadas às necessidades dos produtores.

Voltando a Bruxelas e a Estrasburgo, constato que, infelizmente - mas sem surpresa -, aopção foi recuar e até obstar a qualquer referência à dita declaração. Estou cansado destejogo duplo, mas, acima de tudo, receio que este cansaço seja comum aos nossos parceiroshistóricos, que já não acreditam na nossa vontade de apoiar de forma sincera o seudesenvolvimento.

Richard Howitt (S&D). – (EN) Senhor Presidente, saúdo esta revisão intercalar daIniciativa Europeia para a Democracia e os Direitos do Homem (IEDDH). Quero igualmenteelogiar o trabalho do relator e saudar as alterações que permitem o pagamento de tributação.Dois terços das organizações de defesa dos direitos humanos não conseguiram obter

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isenções a nível local. Assim, esta lacuna, que ignorou as necessidades reais dos projectos,será agora colmatada.

Dirigindo-me à Comissão, saúdo a cooperação estruturada que permitiu que o Parlamentoseja consultado sobre os programas anuais da Comissão e apoio as novas alterações hojeaprovadas em matéria de actos delegados. Lembro também os representantes da Comissãoda necessidade de integrar as conclusões das missões de observação eleitoral noacompanhamento efectuado no país em causa.

Quanto aos Estados-Membros, recordo-lhes que, relativamente às próximas PerspectivasFinanceiras, não se sintam tentados a introduzir cortes na IEDDH. Houve tentativasanteriores nesse sentido, que fracassaram, e este Parlamento cuidaria de garantir o fracassode novas tentativas.

Elena Băsescu (PPE). – (RO) Gostaria de destacar a aplicação do instrumento europeupara a promoção da democracia e dos direitos humanos na região separatista da Transnístria,na República da Moldávia. A Transnístria comete graves violações em matéria de democraciae respeito pelos Direitos humanos. Nesse sentido, a utilização deste instrumento constituiuma boa maneira de promover a democracia, o Estado de Direito e o respeito pelos direitoshumanos nesta região.

No âmbito deste instrumento, foram lançados vários projectos, incluindo o lançado em2009, com vista à capacitação e à promoção dos direitos humanos e das instituiçõesdemocráticas na região moldava da Transnístria. Este projecto levou ao envolvimento dasociedade civil da região no processo democrático. Todavia, a experiência mostrou queeste instrumento não foi utilizado em toda a sua capacidade, dada a frequência dos atrasosna aplicação e dos problemas de transparência. Assim, sinto-me compelida a frisar anecessidade de rever este instrumento, de modo a delinear estratégias de aplicação eficazesnesta região.

Miroslav Mikolášik (PPE). – (SK) Com o seu orçamento de 1,1 mil milhões de eurospara o período de 2007-2013, o instrumento europeu para a promoção da democracia edos direitos humanos contribui significativamente para a salvaguarda e o avanço dosdireitos humanos e para o reforço da democracia no mundo.

Apraz-me que o conjunto de medidas de alteração e complementares adicionais tenha emconsideração e, simultaneamente, preveja as alterações decorrentes do Tratado de Lisboa,reforçando adequadamente o direito de controlo do Parlamento neste domínio. Considerotambém que a estipulação expressa da possibilidade de formular objecções ao acto delegadono prazo de dois meses a contar da data de notificação constitui um trunfo importantepara o Parlamento. Penso que o reforço da autoridade do Parlamento fará com que esteinstrumento seja mais flexível, cumpra os novos requisitos estabelecidos no Tratado sobreo Funcionamento da União Europeia e permita enfrentar melhor os desafios ligados àprotecção dos direitos humanos e da democracia no mundo.

Corina Creţu (S&D). – (RO) O denominador comum aos três relatórios presentementeem discussão reside no facto de analisarem os instrumentos destinados a financiar acooperação para o desenvolvimento e as medidas tomadas para promover a democraciae os direitos humanos a nível mundial.

Creio ser natural realizarmos as avaliações dos instrumentos de financiamento dacooperação para o desenvolvimento, assim como exercermos o nosso direito de controloao abrigo do procedimento de comitologia e chamarmos a atenção para uma série de

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problemas associados à maneira como a Comissão aplicou o instrumento e interpretoualgumas das suas disposições de base.

Queria manifestar o meu apoio às propostas apresentadas pela Comissão doDesenvolvimento, que irão complementar as medidas de acompanhamento propostaspela Comissão, nomeadamente para o sector das bananas. Por outro lado, gostaria delembrar todos os presentes que o objectivo da política da União Europeia para odesenvolvimento é a redução e, a longo prazo, a erradicação da pobreza. Penso, portanto,que, para além dos direitos humanos e da promoção da democracia, não devemos esquecero objectivo fundamental de erradicação da pobreza.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) A proposta da Comissão, que altera e completa o instrumentopara a cooperação com os países industrializados, prevê o alargamento da jurisdiçãogeográfica, dos 17 países iniciais a mais 46 países, à qual o instrumento de financiamentoda cooperação para o desenvolvimento se aplicou até agora.

Verifico com agrado que a União Europeia decidiu, em conformidade com o programa doinstrumento para a cooperação com os países industrializados, alargar a cooperação amais países. No entanto, não entendo o motivo que levou à inclusão de alguns dos paísesna lista. Admiro os cidadãos da República Popular Democrática da Coreia por conseguiremtolerar e suportar as longas décadas de abusos do regime militar, mas não entendo osfuncionários da Comissão que, na proposta apresentada, nos recomendam indirectamenteque ajudemos Kim Jong-Il a melhorar a base tecnológica da sua indústria militar, para quepossa intimidar e ameaçar ainda mais os países vizinhos. Acredito firmemente que amodernização do exército da República Popular Democrática da Coreia não deve ser umaprioridade para a qual os cidadãos da União Europeia devam contribuir financeiramentee que a República Popular Democrática da Coreia ainda não reúne condições para pertencerà lista de países propostos no anexo pela Comissão.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, antes de começar, gostaria de lheagradecer a forma construtiva como está a presidir à nossa sessão e a sua equidade nanomeação dos oradores.

Os países da OCDE canalizam, anualmente, mais de 100 mil milhões de dólares para aajuda ao desenvolvimento, ou seja, asseguram 90% da ajuda ao desenvolvimento financiadapor fundos públicos no mundo. A UE é o maior doador mundial de ajuda aodesenvolvimento. No entanto, ano após ano, perdem-se 3 mil milhões de euros de ajudadevido a defeitos qualitativos. O que se pode fazer quanto a isto? Esperamos que, no futuro,haja um acompanhamento que garanta uma utilização rastreável e sustentável dos fundos.

Esperamos igualmente que os países beneficiários sejam lembrados das suas obrigações,por exemplo, em matéria de cooperação para o repatriamento de migrantes ilegais. Éperfeitamente possível utilizar a ajuda ao desenvolvimento como meio de pressão paracelebrar acordos de readmissão. Os países de origem de milhões de imigrantes ilegais nãocooperantes não podem continuar a ter acesso aos milhões da ajuda ao desenvolvimento.Espero que seja expressa uma posição clara a este respeito na próxima cimeira UE-África,em Novembro.

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PRESIDÊNCIA: MIGUEL ANGEL MARTÍNEZ MARTÍNEZVice-presidente

Mariya Nedelcheva (PPE). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, os instrumentos de financiamento para a cooperação para odesenvolvimento e para a promoção da democracia e dos direitos humanos devem serflexíveis, de modo a evitar situações de impasse como as já amiúde ocorridas.

A União Europeia está, de facto, a disponibilizar fundos substanciais. Estes fundos nãodevem tornar-se inacessíveis devido à complexidade dos procedimentos. Para além daflexibilidade a dar a esses instrumentos, gostaria, porém, de salientar a importância degarantir verdadeiramente que as organizações e estruturas de pequena dimensão possamtambém beneficiar destes subsídios, visto que, neste momento, somos, infelizmente,confrontados com um número excessivo de situações em que só as grandes ONG beneficiamdos fundos, e apenas por um breve período.

Efectivamente, julgo que dar prioridade às pequenas ONG durante períodos maisprolongados podia gerar resultados bastante melhores. Existem hoje muitas pequenasorganizações de proximidade que efectuam, a longo prazo, um excelente trabalho a nívellocal. São elas os verdadeiros veículos da mudança, razão pela qual devem também poderbeneficiar da ajuda.

Andrew Henry William Brons (NI). – (EN) Senhor Presidente, dar dinheiro do nossobolso é um acto de generosidade. Mas tirar dinheiro do bolso dos outros, ou seja, doscontribuintes, é menos generoso e menos honesto. O montante adicional de 176 milhõesde euros não vai apenas ser dado aos países mais pobres, mas também aos países emergentescujas exportações destroem já, e cada vez mais, as nossas bases de produção e os postosde trabalho dos nossos contribuintes.

O desejo alimentado pela UE de promover a democracia e os direitos humanos no TerceiroMundo podia ser digno de admiração, não fosse o facto de os países da União Europeiapoderem deter, e deterem, pessoas que não cometeram nem actos de violência nem roubos,mas que se limitaram a exprimir opiniões heréticas ou dissidentes sobre assuntos de naturezapolítica ou académica.

Os países da União Europeia podem proibir, e proíbem, partidos políticos às claras, comoacontece na Bélgica e na Alemanha, ou pela calada de uma acção civil, como sucede noReino Unido. Se queremos expandir a democracia e os direitos humanos no mundo,fá-lo-íamos de forma mais eficaz e barata dando um bom exemplo.

Andris Piebalgs, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, temos assistido a umdebate fascinante. De algum modo, coincide em muito com o discurso ontem aqui proferidopelo Secretário-Geral Ban Ki-Moon, quando afirmou claramente que a UE e as NaçõesUnidas partilham a responsabilidade, neste mundo, pelo combate à pobreza, às alteraçõesclimáticas e à proliferação nuclear. Enfrentamos um desafio comum.

De um modo geral, os nossos cidadãos não evidenciam hoje grande preocupação com estaquestão, porquanto acreditam que velamos por ela e promovemos também os nossosvalores. Foi feita menção à Transnístria. Não está a milhares de quilómetros de distânciade nós, situa-se muito perto. No que respeita à paz e à segurança, é verdade que não temosgrandes conflitos, mas isso acontece porque temos uma política externa extremamenteactiva e apostada em resolver qualquer conflito à nascença.

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Creio que podemos orgulhar-nos da nossa experiência. Os instrumentos financeirosajudam-nos, efectivamente, a enfrentar estes desafios. Penso que o debate de hoje foi,basicamente, muito positivo quanto à experiência adquirida com os instrumentosfinanceiros. Ao mesmo tempo, sublinharia que nos incumbe uma enorme responsabilidadepelo dinheiro dos contribuintes. Sempre que iniciamos um projecto, procedemos acontrolos ex ante e a controlos ex post após a sua conclusão. Existe um Tribunal de Contasda União Europeia que não só verifica se o dinheiro é gasto correctamente como analisa afundamentação política desse dispêndio de fundos. A Comissão do Controlo Orçamentalé deveras rigorosa em relação às despesas da Comissão, pelo que posso garantir-vos queo dinheiro dos contribuintes é tido em grande apreço e gasto com a-propósito.

Discutimos sempre como sermos mais eficazes, mas posso garantir-vos que perseguimosos objectivos políticos acordados com este Hemiciclo. O debate de hoje iniciou já o debateseguinte, pois a ambição relativa à revisão dos instrumentos financeiros foi, até agora,bastante contida. Queríamos apenas adoptá-los até 2013, dando conta de algumas situaçõesespecíficas.

Alguns de vós aludiram ao desafio que se coloca aos países que terão problemas específicosdevido ao nosso acordo relativo ao comércio de bananas. É necessário adoptar as medidasde acompanhamento para o sector das bananas o mais rapidamente possível. Não é só anossa credibilidade que está em jogo; esses países enfrentam realmente um desafio. É esseo fundamento de tal urgência. Creio que esta Câmara se mostrou muito favorável a estaideia. Começámos a debater o que vai acontecer depois de 2013 e gostaria de chamar aatenção para o facto de este ser o início do debate. Não estamos a antecipar o que vaiacontecer depois de 2013. A revisão orçamental foi aprovada ontem pela Comissão e seráapreciada neste Parlamento.

Tenciono discutir o Livro Verde sobre a política de modernização e desenvolvimento noseio da Comissão. Penso que os meus colegas irão também colocar as suas questões.Precisamos de chegar atempadamente a acordo quanto às prioridades políticas e aosinstrumentos financeiros, isto para que, caso venhamos a descobrir que não há dinheirosuficiente num instrumento, não tenhamos de fazer ajustamentos posteriores nem detentar cobrir algumas prioridades através de uma reafectação.

Estou ciente de que este não é o caminho ideal, mas isto significa que, antes de ajustarmoso quadro financeiro, devíamos estabelecer o que gostaríamos de alcançar, que instrumentosdevemos aplicar e o âmbito que gostaríamos de definir.

Gostaria de sublinhar que, na qualidade de Comissário, lido com duas autoridadesorçamentais. Uma delas é, decididamente, este Parlamento, mas a outra é o Conselho.Penso que isto significa que, em todos os controlos que realizarmos e tivermos de acordar,teremos de nos reger pela letra do Tratado de Lisboa, imbuídos da vontade política paraencontrar o compromisso certo, de modo a que o controlo democrático possa serplenamente realizado e mostrar-se eficiente, rápido e eficaz.

Foi precisamente isto que discutimos hoje na reunião que referi na primeira intervenção.Tenho todas as razões para acreditar que vamos encontrar o compromisso necessário. Nãoserá fácil, pois vai exigir uma grande dose de vontade política. Pela parte da Comissão, essavontade política existe, pois sei o que está em jogo, nomeadamente em relação a algumasmedidas, as quais exigem uma rápida conclusão deste processo.

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Muito obrigado. Não é de mais elogiar o trabalho dos relatores, que teve grande apreçopor parte da Comissão.

Franziska Katharina Brantner, relatora. – (EN) O que irá acontecer depois de 2013?

No que se refere ao instrumento de estabilidade, temos visto que é maravilhoso, por sermais flexível do que outros instrumentos, mas, pontualmente, leva a utilizações indevidasem crises alimentares e catástrofes humanitárias e naturais. Há que pôr cobro a isto. Importaclarificar, para o período pós-2013, que o instrumento se destina a situações de conflitoe, porventura, aumentar a flexibilidade de outros instrumentos para serem aplicados emsituações de emergência.

Há ainda outro aspecto que gostaria de destacar. A recente revisão do conceito de defesaestratégica britânico coloca a prevenção de conflitos no centro do Serviço de Acção Externa.Julgo ser uma posição bastante interessante e correcta. Penso ser correcto afirmar que oServiço de Acção Externa deve, em nome da coerência interna, ser o centro por excelênciada prevenção de conflitos. Entre os instrumentos de que carece está o instrumento deestabilidade. Vislumbro outros, como uma célula de mediação, a criar no seio das estruturasadequadas. Quando olharmos para o período pós-2013, penso que devemos partir daquie perguntar: de que precisamos, em termos de dinheiro e recursos, para passarmos a ser,efectivamente, um actor de peso no capítulo da prevenção de conflitos?

Iva Zanicchi, relatora. – (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, gostariade começar por cumprimentar calorosamente o Senhor Comissário Piebalgs e instá-lo aparticipar de forma activa, como creio que sinceramente participará, nas medidas a votaramanhã, dado tratar-se de uma questão de grande importância para o Parlamento Europeu,que terá mais poderes depois do Tratado de Lisboa. Obrigada, Senhor Comissário Piebalgs.

Gostaria também de agradecer a todos os oradores que expressaram o seu apoio duranteo debate de hoje. Espero sinceramente que a votação de amanhã resulte, se não numaaprovação unânime, pelo menos numa ampla maioria, garantindo uma grande vitóriapara o relatório do senhor deputado Mitchell, precisamente porque é importante que oParlamento Europeu disponha de poderes acrescidos depois do Tratado de Lisboa.

Kinga Göncz, relatora. – (HU) Gostaria de agradecer aos meus colegas deputados a suaparticipação neste debate. Os vossos comentários chamaram realmente a atenção para aquestão com que nós, os relatores, tivemos que lidar neste último período. Gostaria deagradecer ao Senhor Comissário pela sua abordagem construtiva a este debate. O quevimos aqui hoje foi que – como quase todos os oradores confirmaram – o instrumentofinanceiro europeu para a promoção da democracia e dos direitos humanos é uminstrumento muito importante e talvez o único ao dispor da União Europeia para ademocratização de países terceiros e para a defesa dos direitos humanos concebido demodo a que as organizações da sociedade civil possam receber directamente os fundos.Podem ser pagos directamente às organizações que trabalham no terreno, sem oenvolvimento do país terceiro. É por isto que é importante e que consideramos necessáriopromover toda a facilitação técnica que permita a estas organizações terem acesso a umaajuda que é frequentemente crucial para a sua sobrevivência.

Ao mesmo tempo e pela mesmíssima razão, dado que este programa envolve este domínioprioritário e que estamos a falar de um instrumento que se destina directamente a estasONG e organizações da sociedade civil, é importante que o Parlamento tenha uma palavraa dizer na elaboração da estratégia e do programa a longo prazo, e é essencial que o

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Parlamento monitorize regulamente a utilização destes fundos e não apenas no fim doquadro financeiro de sete anos. É por isto que consideramos importante sublinhar o direitodemocrático de supervisão do Parlamento e o seu direito de ter uma palavra a dizer. Acreditoque será encontrada uma solução conjunta, especialmente depois da reunião desta manhãcom a Senhora Baronesa Ashton e o Senhor Comissário Piebalgs, e também acreditosinceramente que, se existir vontade política, os entraves jurídicos serão ultrapassados. É,pois, esta a postura que devemos assumir quando olhamos para as próximas semanas.

Barbara Lochbihler, relatora. – (DE) Senhor Presidente, a cooperação entre a Comissãoe o Parlamento em relação ao instrumento financeiro para a promoção da democracia edos direitos humanos foi boa; de facto, o relacionamento foi muito cooperativo. Osdeputados ao Parlamento Europeu foram ocasionalmente convidados a participar numatroca de opiniões entre a Comissão e a sociedade civil sobre programas específicos. Odebate também demonstrou que não existe praticamente nenhum problema naadministração do instrumento. No entanto, isto não significa que possamos excluir ahipótese de surgirem problemas ocasionais na sua futura aplicação. É por isso que o direitode supervisão do Parlamento é muito importante. Todavia, o único ponto sobre o qualainda não conseguimos chegar a acordo é o estabelecimento de um direito de supervisãovinculativo para o Parlamento, que está previsto no Tratado de Lisboa. Por conseguinte,junto-me aos muitos que já expressaram a esperança de que cheguemos rapidamente aum compromisso – por outras palavras, a uma solução política – que tenha plenamenteem conta os direitos do Parlamento.

Helmut Scholz, relator. – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário Piebalgs, Senhorase Senhores Deputados, agora que o debate se aproxima da sua conclusão, gostaria deexpressar de novo os meus sinceros agradecimentos aos relatores-sombra e à senhoradeputada Lochbihler pela sua cooperação construtiva e orientada para os resultados duranteo ano em que trabalhámos juntos.

O debate de hoje demonstrou que as questões financeiras, a utilização dos recursosorçamentais, o planeamento e a questão do controlo político dos instrumentos são matériasaltamente políticas. Por conseguinte, para encerrar o debate, eu gostaria de resumir a formaque os instrumentos devem assumir. A forma como os concretizamos tem muito a vercom o modo como os cidadãos europeus olham para a União Europeia e,consequentemente, com o modo como a utilização de recursos para este ou para aqueleinstrumento é aceite pelos cidadãos. Assim sendo, resta-me apenas repetir o que disse àSenhora Baronesa Ashton e a si, Senhor Comissário, esta manhã, durante a reunião deesclarecimento do comité director para o grupo de trabalho sobre actos delegados, que foique julgo existir a necessidade urgente de se chegar rapidamente a uma solução em relaçãoaos actos delegados preservando simultaneamente a responsabilidade jurídica e políticado legislador e da Comissão. O instrumento de financiamento para a cooperação com ospaíses e territórios industrializados e outros de elevado rendimento (ICI) está a serfundamentalmente alterado na presente legislatura parlamentar. Planeamos libertar até348 milhões de euros para cooperação nos domínios da ciência, dos intercâmbiosacadémicos, do Programa Erasmus Mundus, da cultura, da protecção ambiental, das fontesde energia renováveis e da promoção de relações comerciais bilaterais. O objectivo é queseja dedicada especial atenção às pequenas e médias empresas.

Tenho o seguinte a dizer às cadeiras vazias à minha frente, inclusive porque o senhordeputado Griffin já ali não está: acredito que isto é um contributo muito importante para

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a abertura da União Europeia ao resto do mundo e para a sua aceitação pelos seus próprioscidadãos e pelos países com os quais interagimos.

Para concluir, pusemos este instrumento de financiamento em marcha através decompromissos negociados com sucesso entre o Conselho e o Parlamento e procurámosadaptá-lo aos desafios do futuro e chegar a acordo em todas as questões importantes.Espero que com a votação de amanhã nesta Câmara possamos dar um passo em frentedecisivo.

Charles Goerens, relator. – (FR) Senhor Presidente, não escondo o facto de que asdisposições definidas nas medidas de acompanhamento para o sector das bananas são umaaposta de risco no futuro, por várias razões.

Em primeiro lugar, a tendência geral de redução das preferências comerciais, das quais ospaíses ACP beneficiaram até agora, não se vai alterar nos tempos mais próximos. Asnegociações actualmente em curso já estão a apontar para direitos aduaneiros próximosdos 75 euros por tonelada de bananas, enquanto estamos aqui a trabalhar na base dos 114euros por tonelada.

Em segundo lugar, a Comissão não teve outra alternativa a não ser aceitar negociar umacordo de redução de direitos aduaneiros com os países que concorrem com os países ACPexportadores de banana. A alternativa seria deixar a resolução do problema ao Órgão deResolução de Litígios. Pessoalmente, creio que uma solução negociada é um mal menorpara os países ACP, e é neste espírito que devemos também abordar as medidas deacompanhamento para o sector das bananas, já que não teriam sido o resultado automáticode uma decisão do Órgão de Resolução de Litígios.

Em terceiro lugar, dado que o mundo não vai acabar em 2013, que é o ano em queterminarão as medidas de acompanhamento para o sector das bananas, continuamos aacreditar que é importante começarmos já a preparar-nos para o período pós-2013.

De facto, o direito aduaneiro de 114 euros pago nas fronteiras da União Europeia por cadatonelada de bananas está prestes a ser excedido na prática. Eu disse no início que jáestávamos a falar de 75 euros por tonelada.

Por conseguinte, julgo ser sensato – e este é o meu quarto ponto – preservar os poderes desupervisão do Parlamento Europeu. Devemos garantir que o direito de supervisionardocumentos de estratégia, consagrado no artigo 290.º, não se torne letra morta. Julgo quepodemos afirmar com segurança que, neste caso, a nossa cooperação com a Comissão foiextremamente frutuosa. O Parlamento não é um agitador; pelo contrário, está sempre aenriquecer o debate e a ajudar a Comissão a avançar nesta matéria.

Finalmente, Senhor Presidente, faço uma observação pessoal, mas ainda assim faço-a comorelator. Estamos a assistir mais uma vez a uma questiúncula entre países emergentes epaíses menos desenvolvidos. Além do mais, se não fosse a União Europeia ter-se aliadoaos fracos de modo a mitigar os efeitos prováveis de um acordo comercial, com toda a suabrutalidade, os países menos desenvolvidos ter-se-iam sentido ainda mais isolados.

Exorto a Comissão a começar a pensar já no período pós-2013, porque creio que as medidasque serão decididas agora e que, segundo espero, entrarão em breve em vigor, bastarãopara tornar a produção de banana sustentável nos países em causa. Espero que estas medidascontribuam para garantir a sobrevivência a longo prazo do sector da banana e que aquelesque não consigam continuar a produzi-las possam encontrar alternativas.

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Penso que, depois de 2013, como já afirmei, a água continuará a correr debaixo das pontessobre o Reno e os problemas relativos ao sector da banana vão continuar a existir. Devemoscomeçar já a pensar numa estratégia pós-2013.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã, quinta-feira, 21 de Outubro de 2010, às 12H00.

11. Ucrânia (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a declaração da Vice-Presidente da Comissão eAlta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança sobrea Ucrânia.

A Senhora Baronesa Ashton não pôde continuar aqui connosco hoje. O SenhorComissário Füle irá apresentar a questão em seu nome.

Štefan Füle, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, agradeço esta oportunidadee peço desculpa em nome da Senhora Baronesa Catherine Ashton, que me pediu quepartilhasse convosco o que ela tencionava dizer-vos.

Apraz-me dispor desta oportunidade para fazer uma declaração sobre a situação actual naUcrânia. Gostaria de fazer as minhas observações à luz de três acontecimentos importantesque se aproximam: a Reunião Ministerial UE-Ucrânia que terá lugar no Luxemburgo, em26 de Outubro, as eleições autárquicas, que decorrerão em 31 de Outubro, e a XIV CimeiraUE-Ucrânia, a realizar em Bruxelas, a 22 de Novembro.

Recentemente, a Ucrânia beneficiou de um nível elevado de liberdades políticas. Assucessivas eleições foram reconhecidas como tendo decorrido de acordo com as normasinternacionais. A Ucrânia desenvolveu uma sociedade civil e um ambiente de meios decomunicação social dinâmicos e diversificados. Têm-se verificado progressos consistentesgeneralizados no que toca ao respeito pelos direitos humanos.

Em consequência destes desenvolvimentos e do empenhamento dos sucessivos governosno estreitamento dos laços com a União Europeia, as relações entre a União Europeia e aUcrânia adquiriram um ímpeto considerável. Este facto reflecte-se inequivocamente noambicioso e abrangente Acordo de Associação União Europeia-Ucrânia que estamos anegociar e que tem como objectivos a consecução da associação política e da integraçãoeconómica com a União Europeia.

O governo do Presidente Yanukovych levou a cabo várias reformas económicas importantesnos últimos meses, reformas que devem ser elogiadas. Incluem a aprovação de legislaçãoem matéria de adjudicação de contratos públicos, que deverá desempenhar um papelimportante no combate contra a corrupção e no aumento da competitividade.

A aprovação de legislação para a reforma do sector do gás, que abre o caminho para aadesão iminente da Ucrânia ao Tratado que institui a Comunidade da Energia, bem comoo acordo recém-alcançado com o FMI para um acordo de "standby", são também passoscríticos na garantia da estabilidade macro-financeira, da transparência e do regresso aocrescimento. Estas reformas vão na direcção certa e devem ser sustentadas.

O Governo ucraniano conseguiu também alcançar um nível de estabilidade que o sistemapolítico da Ucrânia nos últimos anos não logrou obter. É um desenvolvimento importantee necessário para garantir a governação eficaz do país. No entanto, estamos preocupados

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com os relatórios consistentes e generalizados que dão conta de uma deterioração na esferadas liberdades fundamentais e dos princípios democráticos na Ucrânia. São particularmentepreocupantes as queixas relacionadas com a liberdade dos meios de comunicação social,a liberdade de reunião e a liberdade de associação.

O respeito por estes valores fundamentais é essencial. São os melhores garantes dasliberdades individuais. Asseguram uma genuína concorrência de ideias e são umcomponente essencial das sociedades verdadeiramente abertas, inovadoras e competitivas.

No dia 1 de Outubro, o Tribunal Constitucional da Ucrânia emitiu um acórdão anulandoas alterações constitucionais efectuadas depois da Revolução Laranja de 2004. Esta decisãosó vem aumentar a necessidade de a Ucrânia levar a cabo reformas constitucionais maisvastas através de um processo de reforma constitucional inclusivo e, em grande medida,pega num tema chave da resolução do Parlamento Europeu de 25 de Fevereiro deste ano.Esse processo deveria procurar estabelecer um sistema constitucional eficaz e duradourode equilíbrio e controlo de poderes em conformidade com as normas europeias.

Para a União Europeia e para os nossos Estados-Membros, o respeito pelos direitos humanos,os princípios democráticos e o Estado de direito são princípios fundamentais que nosunem. São princípios que não podem ser comprometidos, e o mesmo é válido para asnossas relações com parceiros importantes como a Ucrânia. O ritmo e a profundidade danossa aproximação à Ucrânia serão determinados pelo pleno respeito por estes valores.

Michael Gahler, em nome do Grupo PPE. – (DE) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o povo da Ucrânia tem-se pronunciado claramente a favor de um futuroeuropeu para o seu país. Todavia, notícias inquietantes provenientes da Ucrânia indiciamdesenvolvimentos que distanciam o país da Europa. É por isto que estamos a ter este debateantes das eleições autárquicas. Poderemos discutir as reformas económicas em Novembro,no contexto da Cimeira UE-Ucrânia.

Por conseguinte, necessitamos de falar na intimidação levada a cabo pela polícia secreta enas restrições à liberdade de imprensa e à possibilidade de participar nas eleições semobstáculos. Desenvolvimentos como estes não podem ser contrabalançados por notíciaspositivas na esfera económica. "Prosperidade económica através de uma governaçãoautoritária" é uma abordagem chinesa, não é europeia. Não se pode permitir que aquelesque hoje detêm o poder na Ucrânia julguem que se podem safar só porque a generalidadedo público europeu não está atenta ou porque o governo anterior teve efectivamente falhasem relação à boa governação e ao combate à corrupção. É verdade que teve, mas não existiauma atmosfera de se estar a ser vigiado, não havia visitas da polícia secreta, como aconteceucom o reitor da Universidade Católica de Lviv e com jovens ligados a ONG e a partidos daoposição. O corte de energia a empresas, o confisco de computadores, a ocupação de sedespartidárias a pretexto de supostos riscos de ataques – todo este déjà vu está a acontecer naUcrânia, e de forma metódica. A polícia secreta é chefiada pelo Sr. Khoroshkovsky, donode um império de meios de comunicação social e que agora pertence também ao comitéque nomeia o principal juiz do país. Isto também distancia a Ucrânia da Europa. Restapouca igualdade de oportunidades no combate político antes das eleições autárquicas. Aoposição está a ser parcialmente excluída das eleições, enquanto partidos fantoches estãoa ser espontaneamente constituídos e autorizados a participar nas eleições com a bênçãodas autoridades locais. Em Kiev, os conselhos distritais estão a ser abolidos sem cerimóniaspara impedir a realização de eleições – o partido do governo sabe que nesta altura não

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conseguirá vencer lá. A vertical do poder tem como objectivo garantir o controlo dasregiões que anteriormente se revelaram inclinadas a contestá-la.

Como alternativa, avançamos a nossa experiência europeia. Os nossos Estados-Membrostomaram decisões importantes em consensos democráticos entre os governos e as oposiçõesprontas a assumir responsabilidades – para as reformas europeias, para o Estado de direito,para a economia de mercado competitiva, para a integração europeia. Queremos que aUcrânia continue por este caminho connosco.

(O orador aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul"" nos termos don.º 8 do artigo 149.º do Regimento.)

Marek Henryk Migalski (ECR). – (PL) Obrigado por me permitir fazer a minha pergunta.É sempre bom poder iniciar um debate destes. O senhor deputado acabou de pintar umquadro bastante negro do que está a acontecer na Ucrânia, chegando ao ponto de a compararcom a China. Acredita mesmo que a situação actual da Ucrânia é tão desesperada quepossamos lançar acusações tão graves contra o país? Qual é a sua opinião sobre a Rússianeste contexto? Equiparar a Ucrânia à Rússia não é injusto para a Ucrânia?

Michael Gahler, em nome do Grupo PPE. – (DE) Senhor Presidente, eu disse que tentaralcançar a prosperidade económica através de uma governação autoritária não é umcaminho que a Europa possa seguir. Sabemos isto quando olhamos para a China. Não fiznenhuma comparação, limitei-me a afirmar que seria um caminho errado e que não seriaum caminho europeu. Julgo que a imagem que esbocei é uma imagem muito realista paraas pessoas que estão no terreno. As alegadas realizações económicas ainda nãodemonstraram a sua eficácia.

Adrian Severin, em nome do Grupo S&D. – (EN) Senhor Presidente, a Ucrânia é um paísmuito importante para nós. É um país que enfrenta muitos desafios. Gostaria de agradecerao Senhor Comissário pela sua descrição perfeita da situação, bem como pela sua descriçãoperfeita das nossas expectativas.

Foi eleito um novo governo através de eleições livres e justas e reconhecidas por todos nós.Chegou a altura de deixar este governo apresentar resultados e não de julgarantecipadamente as suas realizações ou não realizações logo nos primeiros minutos doseu mandato. O verdadeiro problema deste debate é um problema nosso. Apressámo-nosa dividir a Ucrânia em pró-ocidentais e pró-orientais, e agora temos relutância, porque ospró-ocidentais não estão no poder, em reconhecer a capacidade dos pró-orientais deapresentar resultados e ajudar o país a promover as suas expectativas europeias. Este é overdadeiro problema do debate de hoje e faríamos bem em compreender que os verdadeirospró-europeus são os pró-ucranianos – os que podem implementar o Estado de direito, ademocracia e a modernização europeia no seu país.

Termino pedindo simplesmente aos meus colegas que optem por adiar a resolução quedevemos supostamente aprovar porque os ucranianos têm pela frente eleições e negociaçõesconnosco. Não devemos aprovar resoluções a meio de um processo político nem antes deconhecermos os factos que nos permitam efectivamente tirar conclusões.

Adina-Ioana Vălean, em nome do Grupo ALDE. – (EN) Senhor Presidente, parecemosestar com dificuldades em saber como lidar com o nosso vizinho oriental, a Ucrânia.

Mas também é difícil para a Ucrânia, que um dia trata a Europa como um aliado, no diaseguinte como um problema. É por isto que julgo que devemos ser pragmáticos, reconhecer

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as realidades no terreno e encontrar itens comuns nas nossas agendas para chegarmos aacordos.

A cooperação económica foi sempre o motor mais poderoso da Europa para garantir umamaior integração e a Europa deve o seu sucesso a esta abordagem pragmática desde 1956.

Por conseguinte, devemos continuar a colocar o enfoque nas reformas institucionais eeconómicas que a Ucrânia deverá implementar em paralelo. Esta dupla abordagem é aúnica possível se queremos criar um círculo virtuoso passível de conduzir à estabilidadedemocrática neste país e na vizinhança oriental.

A prioridade deverá ser o apoio a um ambiente empresarial saudável e à concretização deuma economia de mercado funcional na Ucrânia, encorajando as suas reformas nosdomínios da propriedade e do IVA e os seus esforços no combate à corrupção de alto nível,entre outras prioridades.

É por esta razão que vejo o acordo de associação como um poderoso instrumento dereforma, e é por isso que devemos prosseguir as nossas negociações sobre o estabelecimentode uma zona de comércio livre abrangente e aprofundada e sobre a adesão da Ucrânia aoTratado que institui a Comunidade da Energia.

Neste contexto, saúdo a adesão da Ucrânia à OMC, que deve ser vista como um passoimportante na aceitação das normas económicas europeias pela Ucrânia.

Espero que possamos ultrapassar os contínuos adiamentos da zona de comércio livre (ZCL)e encorajar o círculo virtuoso de confiança mútua que é benéfico para toda a região e paraa Europa.

Rebecca Harms, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, antes de mais,gostaria de dizer que comungo das preocupações sobre a agudização da situação e osdesenvolvimentos antidemocráticos na Ucrânia. São cada vez mais as notícias que dãoconta da repressão da liberdade de expressão dos jornalistas, e de ameaças regulares amembros empenhados das ONG e a pessoas que trabalham em prol do desenvolvimentodemocrático. A actuação da polícia secreta também causa profunda preocupação. Noentanto, não creio que as altercações por causa da liberdade de imprensa e dodesenvolvimento democrático em geral tenham começado com as últimas eleições. O quetem sucedido é que – e já disse isto aqui muitas vezes – todos os principais actores naUcrânia têm repetidamente abusado do seu poder para fins que incluem a consumaçãodos seus interesses. Estes abusos estão a tornar-se mais graves, o que de facto nos devepreocupar.

Não faríamos favor nenhum a nós próprios se aprovássemos esta resolução sem estarmospreocupados com certos desenvolvimentos económicos na Ucrânia. Vejo com igualpreocupação como a influência da Rússia na economia ucraniana, no sector da energia,mas também noutros sectores, se vem sistematicamente expandindo. Por conseguinte, omeu conselho vai também no sentido de não termos que votar amanhã, mas sim depoisde a delegação visitar Kiev – partirá uma delegação para Kiev daqui a dois fins-de-semana– e antes da cimeira, depois de uma preparação cuidadosa em todas as áreas para chegarmosa acordo sobre a posição final do Parlamento Europeu em relação à situação na Ucrânia.

Percorri este caminho dos tempos pré-democráticos para os novos tempos com numerososamigos ucranianos. A Ucrânia estava num caminho excelente. A nossa impressão foi queas últimas eleições se realizaram de acordo com as convenções democráticas. Mas, caso a

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situação não melhore e venha a piorar, devemos considerar muito cuidadosamente a formade intervirmos e de não intervirmos. Em qualquer dos casos, aconselho a que não se tomeuma decisão antes da nossa próxima visita à Ucrânia. A nossa voz ouvir-se-á melhor selevarmos para lá o debate sobre as coisas nas quais falámos na resolução.

Como digo, estou verdadeiramente preocupada. Estou a receber muitas notícias indicativasde que tudo se está a encaminhar numa direcção negativa. No entanto, não faríamosnenhum favor a nós próprios se descartássemos o debate no terreno e tomássemos umadecisão demasiado precipitada.

Michał Tomasz Kamiński, em nome do Grupo ECR. – (PL) Muitos de nós desempenhámosum papel activo na Revolução Laranja ajudando os democratas ucranianos num momentode dificuldades. Todavia, sublinhámos sempre que o objectivo do nosso envolvimento naUcrânia não era apoiar nenhuma força política em particular, mas sim ajudar a tornar aUcrânia um país livre e democrático. Hoje, devemos recordar-nos que o Parlamento Europeunão desempenhou nenhum papel na política interna da Ucrânia, tendo agido como umguardião de duas formas muito importantes: por um lado, promovendo e apoiando asaspirações europeias dos ucranianos e, por outro lado, promovendo na Ucrânia ademocracia, os direitos humanos e todos os valores que consideramos como valoreseuropeus. Em meu entender, o tom da resolução proposta não ajuda aqueles que seconsideram amigos da Ucrânia. A resolução de hoje empurrará ainda mais a Ucrânia paraa Rússia e para aqueles que dizem: "Vêem? Não há lugar para nós no Ocidente. Está-nos afechar as portas".

Temos de estar abertos à Ucrânia, temos de lhe dizer quais são as normas europeias e temosde manter a pressão para garantir que são observadas, enquanto por outro lado, temos deimpedir absolutamente a Ucrânia de regressar ao Oriente. Gostaria de perguntar ao senhordeputado Gahler, cujo envolvimento nos direitos humanos e na política internacionalmuito prezo, porque é que acha necessário que utilizemos palavras tão contundentes emrelação à Ucrânia. Gostaria que ele me dissesse se a sua colega, a Senhora Chanceler AngelaMerkel, utilizou palavras tão contundentes em relação à Rússia durante a sua recentereunião com o Primeiro-Ministro Putin.

Bastiaan Belder, em nome do Grupo EFD. – (NL) Senhor Presidente, no princípio destasemana, a Ucrânia esteve nos cabeçalhos da imprensa holandesa, cabeçalhos que – digo-oneste auditório – não foram infelizmente muito lisonjeiros. Isto passou-se na segunda-feira.Em suma, a Ucrânia é o faroeste da Europa Oriental. Afirma-se que os investidoresestrangeiros receiam a ilegalidade que reina no país, onde na semana passada nada menosde 3 000 edifícios e empresas foram expropriados com recurso à fraude e à violência. Esteprocesso envolve vigaristas que se conluiam com os políticos do país para ludibriar osempresários. Ora os Estados-Membros da UE são os maiores investidores estrangeirosdirectos na Ucrânia desde 1991.

Senhor Comissário Füle, está ao corrente destas enormes preocupações que afectam osinvestidores europeus na Ucrânia? Que medidas específicas tomou a Comissão para protegeros interesses de negócios europeus legítimos e legais na economia ucraniana? Isto é queseria mostrar empenho. Não temos nada contra a Ucrânia. O meu partido até advogafortemente a adesão da Ucrânia à União Europeia, mas temos obviamente de manter umaperspectiva sóbria. Estamos a assistir a desenvolvimentos preocupantes, não só no domíniodos direitos humanos, mas também nos domínios da economia e dos negócios.

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Andreas Mölzer (NI). – (DE) Senhor Presidente, decorridos alguns meses depois daseleições presidenciais de Fevereiro deste ano, nas quais o Presidente Yanukovych celebrouo seu regresso, as realizações democráticas da Revolução Laranja estão claramente aperder-se. Mas quando até os mercados financeiros consideram o novo governo maisestável e previsível do que o governo formado pela Revolução Laranja, trata-seprovavelmente de um sinal de que a democracia de acordo com as concepções ocidentais– de acordo com as nossas concepções europeias – não pode ser transposta em absolutopara todos os países, incluindo os da ex-esfera de influência comunista. A decisão tomadapelo Tribunal Constitucional reforçará efectivamente a posição do Presidente e enfraqueceráa do parlamento, não tenhamos ilusões acerca disto. Aqueles que conhecem a região dizemque já existia um sistema presidencial de facto antes do acórdão pro forma do tribunal. Ascrescentes restrições à liberdade de imprensa e de opinião colocam em dúvida as garantiasdo Presidente Yanukovych de que as normas democráticas serão mantidas. Se o Presidenteconseguir reforçar a sua própria base de poder e concretizar uma recuperação económicaatravés de reformas estruturais na Ucrânia, que é, como sabemos, um dos países maispobres deste continente, é provável que se mantenha mais tempo no seu trono presidencial,e eu creio que isso seria algo que a União Europeia teria pura e simplesmente de ter emconta.

György Schöpflin (PPE). – (EN) Senhor Presidente, os desenvolvimentos na Ucrâniailustram claramente o velho ditado que diz que se o poder corrompe, o poder absolutocorrompe de forma absoluta. A actual elite governante exerce o poder desde a eleição doPresidente Yanukovych e muito do que tem sido feito aponta no sentido de promover aconcentração de poder.

Isto é ainda mais notório se nos recordarmos dos resultados das eleições presidenciais, quederam uma pequena maioria a Yanukovych e demonstraram que ele só goza de fortesapoios no Sul e no Leste do país. Contudo – e esta é uma característica notória da políticaucraniana hoje –, tem-se verificado um movimento contínuo no sentido da marginalizaçãodos centros de poder alternativos. Os meios de comunicação social, o Estado de direito, aoposição e a autonomia da administração estatal foram afectados. O que causa particularpreocupação é o facto de a polícia secreta ter adquirido a capacidade de intervirextensamente nos assuntos do país.

Isto não augura nada de bom para o futuro, especialmente se os ucranianos procuramgenuinamente um futuro europeu, porque o sistema que está a ser construído porYanukovych aponta para longe da Europa e não para a Europa.

O mais que se pode dizer em abono das mudanças é que trouxeram alguma estabilidadeao país, mas esta estabilidade anuncia cada vez mais estase e imobilidade. Ao mesmo tempo,é verdade, Yanukovych melhorou certamente as relações com a Rússia mas aceitou algumasubordinação a Moscovo, o que constituiu um facto novo. Resta saber se a sociedadeucraniana aceitará esta transformação no longo prazo.

Marek Siwiec (S&D). – (PL) Perguntemo-nos o que é que aconteceu verdadeiramentena Ucrânia: um golpe de Estado, talvez um golpe militar? Estas seriam as únicas situaçõesem que ficaríamos noite dentro a elaborar propostas de resolução para no dia seguinte nossentarmos à mesa das negociações. Estamos a negociar de modo que a maioria absolutadomina a forma como as resoluções são formuladas e o que dizem. A linguagem da propostade resolução do Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) é uma linguagemutilizada para condenar ditadores africanos e regimes sul-americanos. Não é o tipo de

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linguagem apropriado para a situação da Ucrânia. Gostaria que os senhores deputados doPPE decidissem se devemos descrever a Ucrânia utilizando a linguagem do senhorComissário Füle, que diz "sim, mas...", por outras palavras, que algumas coisas estão bemmas que há muitas coisas das quais não gostamos, ou se devemos utilizar uma linguagemnegativa, na qual não há nada de que gostemos e tudo é condenável.

A Ucrânia esteve imersa no caos durante cinco anos. Assistimos a esse caos. Ajudámos osdemocratas e ajudámos toda a gente que queria avançar para a União Europeia. Tivemosseis meses de consolidação, uma consolidação que poderá ter um desfecho negativo, e anossa tarefa é apontar estes desfechos negativos, mas não agora nem desta maneira.Compreendo a mágoa do PPE pela derrota eleitoral de Yulia Tymoshenko mas digo-vos oseguinte: é pena, talvez tivesse hipótese de ganhar, mas perdeu. E agora que perdeu, tratemosde reconhecer o que está verdadeiramente a acontecer e mantenhamos as autoridadesucranianas sob uma cuidadosa observação, mas não atiremos fora o bebé com a água dobanho.

Paweł Robert Kowal (ECR). – (PL) Agradeço sinceramente ao Senhor Comissário Fülepela sua atitude construtiva. Esta atitude provocará grandes mudanças nas relações entrea UE e a Ucrânia. Agradeço também à senhora deputada Harms a sua posição equilibrada,e as suas palavras sábias – como sempre – sobre a questão da Ucrânia. Todas as informaçõesda OSCE mostram que a Ucrânia é um dos poucos países da antiga União Soviética nosquais foram até ao momento realizadas eleições credíveis. Isto é um feito da Ucrânia, querdo lado laranja, quer do lado azul. É um feito que não podemos questionar antes determinadas as próximas eleições. Seria um erro político grave da parte da União Europeiae do Parlamento se déssemos ouvidos à voz do Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) e colocássemos em dúvida o facto de se poderem realizar eleiçõescom sucesso num dos poucos países do Leste em que tal é possível. Ajudemos a Ucrâniaa realizar eleições normais. Não façamos nenhum juízo antes de terem decorrido.

Gostaria de me dirigir aos convidados ucranianos hoje aqui presentes: o lugar da Ucrâniaé aqui, nesta Câmara, e é por esta razão que vos sujeitamos às mesmas normas que aplicamosaos países da União Europeia. Foi por isto que combatestes juntos, azuis e laranjas. Todasas questões, mesmo as mais pequenas, relacionadas com os direitos humanos ou com aliberdade de imprensa serão escrutinadas aqui. Não vos surpreendais – falo com os nossosirmãos ucranianos. É porque estais a ser tratados como um país europeu e segundo padrõeseuropeus.

O último apelo que vos faço é para que actueis juntos nas vossas relações com as instituiçõeseuropeias e o Parlamento Europeu. Acreditamos que no futuro ireis estar connosco.Sabemos que não será para breve mas queremos ajudar-vos nesta matéria. Concordo coma senhora deputada Harms quando diz que a altura para resoluções é depois das eleições.Será nessa altura, antes da cimeira da UE, que poderemos discutir francamente a questãoe definir uma posição que represente a posição comum do Parlamento Europeu.

Inese Vaidere (PPE). – (LV) Senhoras e Senhores Deputados, a Ucrânia é um país degrande significado estratégico para a União Europeia. É por isso que não podemos ficarindiferentes em relação ao que acontece nesse país. No dia 1 de Outubro, dezenas demilhares de ucranianos protestaram nas ruas contra as alterações constitucionais iniciadaspor Yanukovych e confirmadas pelo Tribunal Constitucional, cuja composição foi alteradapouco depois da eleição do Presidente. Estas reformas foram levadas a cabo sem debatedemocrático e sem o consentimento da Comissão de Veneza. As alterações enfraquecem

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o equilíbrio de poder e ameaçam a independência do poder judicial na Ucrânia. As reformaseconómicas também são ameaçadas. Os nossos amigos ucranianos expressaram a suapreocupação relativamente à organização das próximas eleições, à representação excessivada coligação governamental na Comissão Eleitoral Central, às restrições impostas àsorganizações não governamentais e à interferência do Estado nas actividades dos partidosda oposição. É precisamente por causa disto que necessitamos desta resolução hoje.Infelizmente, a coligação governamental rejeitou no parlamento ucraniano a moção daoposição de tornar a adesão à União Europeia uma prioridade da política externa da Ucrânia.No entanto, devemos continuar a sublinhar a importância da cooperação com a Ucrâniae a monitorizar a implementação dos acordos que foram celebrados. A União Europeiadeve exigir que a corrupção seja combatida e, ao mesmo tempo, ajudar nesse combate, eque a liberdade de imprensa seja garantida. Uma situação em que um magnata dos meiosde comunicação social lidera os Serviços de Segurança do Estado e é membro do ConselhoSupremo da Justiça, que tem o poder de nomear e exonerar juízes, não é característica deum Estado democrático. Concluindo, necessitamos também de dar passos positivos, tendoem conta não apenas a introdução, no futuro, de um regime de isenção de vistos, mastambém a cooperação económica, em especial no domínio da energia, enquantoaguardamos o desenvolvimento democrático da Ucrânia. Deverá ser este o objectivo dapróxima resolução, que deveremos elaborar depois das eleições e que deverá abranger asquestões energéticas, económicas e outras de significado para a Ucrânia. Obrigada.

(A oradora aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º do Regimento.)

Marek Siwiec (S&D). – (EN) Senhor Presidente, a minha pergunta é muito simples.Talvez se trate de um problema de interpretação, mas a senhora deputada disse que oGoverno ucraniano rejeitou a adesão futura à União Europeia.

Tanto quanto sei da declaração do Presidente e da declaração oficial da política de longoprazo do parlamento ucraniano, a adesão à União Europeia é uma das suas principaisprioridades.

Trata-se, pois, de saber se eu compreendi mal a senhora deputada ou se a senhora deputadacompreendeu mal o Presidente da Ucrânia.

Inese Vaidere (PPE). – (LV) Sim, esclarecerei essa questão de bom grado. Tratou-seclaramente de uma tradução incorrecta. O Presidente da Ucrânia anunciou a sua vontadede prosseguir a convergência com a União Europeia. No entanto, de acordo com a decisãodo parlamento ucraniano, a adesão à União Europeia não será uma prioridade de topo.

(A oradora aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos don.º 8 do artigo 149.º do Regimento.)

Rebecca Harms (Verts/ALE). – (DE) Senhor Presidente, gostaria de perguntar à senhoradeputada Inese Vaidere o seguinte: agora que já pusemos por escrito todas as questõesrelativas à nossa preocupação com o abuso do poder e a repressão na Ucrânia, que objecçãopode haver a que se leve este texto a Kiev dentro de quinze dias para o discutir e decidirentão como proceder a partir daí? Gostaria de saber a resposta a esta pergunta, pois, tendoem conta a experiência anterior da nossa delegação, penso que esta é a melhor maneira, ea mais produtiva, de avançar, especialmente se quisermos ganhar influência democrática.

Inese Vaidere (PPE). – (LV) Sim, respondo com prazer. Pessoalmente, embora não saibaporquê, Senhora Deputada Harms, continuo a estar preocupada, mesmo depois da nossa

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participação nas cimeiras da Ucrânia, com os sinais que estamos a receber presentementedos nossos amigos ucranianos acerca da composição da Comissão Eleitoral Central, daliberdade dos meios de comunicação social e das limitações postas às organizações nãogovernamentais. Todos estes sinais existem, e é precisamente expressando as nossaspreocupações quanto a isto que as eleições regionais podiam, em minha opinião, ter lugarnum ambiente muito melhor. Não há ninguém que nos impeça de ir à Ucrânia na próximasemana, mesmo com a nossa resolução. Ninguém nos impede de elaborar outra resolução,como referi, sobre questões económicas. Temos absolutamente de o fazer, mas quanto aestas preocupações sobre a deterioração da situação democrática, temos infelizmente, querdizer, penso que nós...

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Kristian Vigenin (S&D). – (EN) Senhor Presidente, diria que a qualidade do debate dehoje mostra que ele não foi preparado. Não precisávamos deste debate e agora não é omomento de aprovar resoluções sobre a Ucrânia, nem hoje, nem amanhã.

Devo recordá-lo que, há seis meses, o país estava em queda livre e à beira de mergulhar nocaos. Tínhamos instabilidade política, económica e financeira – e mesmo uma crise profunda– mas agora o quadro é bastante diferente. Temos de reconhecer que, no espaço de poucosmeses, o governo da Ucrânia conseguiu fazer que o país regressasse ao normal; que voltassea ter estabilidade política, económica e financeira.

Existem problemas. Não o negamos. Mas temos de admitir que eles estão a ouvir o quedizemos; foram tomadas algumas medidas correctivas, por exemplo, sobre as questões dalei eleitoral e de algumas práticas eleitorais. Neste sentido, a nossa voz será ouvida no paísse não gritarmos a cada ocasião, mas adoptarmos uma abordagem decente à Ucrânia.

É por isso que penso que estamos a prestar um mau serviço à nossa comissão parlamentarque vai à Ucrânia dentro de dez dias; estamos a prestar um mau serviço a nós própriosquando enfraquecemos o nosso papel ao aprovarmos estas resoluções 10 dias antes daseleições. Trata-se de uma clara tentativa de influenciar as eleições. Não devemos permitirque o nosso parlamento tome partido neste jogo.

Por conseguinte, proponho que adiemos a aprovação da resolução e que solicitemos aosnossos colegas da Comissão Parlamentar de Cooperação UE-Ucrânia que contactem comos nossos colegas no país, para discutir essas questões …

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Traian Ungureanu (PPE). – (EN) Senhor Presidente, as novas autoridades ucranianassão novas apenas no nome. Um regresso às práticas autoritárias varre o país. O quadrojurídico para as próximas eleições locais foi alterado e pode pôr em risco a participaçãodos partidos da oposição. A constituição foi modificada e está de novo instalado um regimepresidencial de facto. Os meios de comunicação social e a sociedade civil encontram-sesob pressão constante, e o serviço secreto ucraniano parece estar a reviver os seus diassoviéticos.

É tempo de expressarmos claramente a nossa preocupação através de uma resolução. Asautoridades ucranianas deveriam compreender a mensagem de que não podem sergarantidos laços mais estreitos com a UE apenas com declarações amigáveis. Um governoucraniano antidemocrático não pode ser um parceiro de confiança para a UE, em especialna área estrategicamente sensível do Mar Negro.

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Hannes Swoboda (S&D). – (DE) Senhor Presidente, penso que todos precisamos deestar à altura das nossas responsabilidades. O governo da Ucrânia precisa de instituir oEstado de Direito e a liberdade dos meios de comunicação social, e precisa de fazê-lo deuma forma eficaz, mas, de igual modo, a oposição tem de mostrar que é responsável e nãodeve emitir falsas informações. Quando olho para a quantidade de afirmações contidas novosso projecto de resolução que foram depois imediatamente desmentidas pelas pessoasem questão, fica patente quanta informação falsa está muitas vezes a ser aqui veiculada.Também nós precisamos de mostrar que somos responsáveis. Não nos podemos permitirser arrastados para a discussão política interna. Senhoras e Senhores Deputados – e dirijoisto em particular aos membros do Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) – não faz sentido defendermos um ou outro grupo na Ucrânia porrazões político-partidárias. Não é essa a nossa missão.

Na próxima semana, teremos conversações com o Ministro dos Negócios Estrangeiros,depois temos as eleições, e, a seguir, temos a Comissão Parlamentar de CooperaçãoUE-Ucrânia, que está a caminho da Ucrânia, e, como sempre aconteceu – SenhorDeputado Gahler, apelo aqui para o seu sentido de justiça –, vamos dizer depois das eleiçõesse as coisas correram bem, em vez de antecipar as eleições afirmando que as coisas nãoirão correr bem. Não é essa a nossa missão; apelo ao seu sentido de justiça – algo que oSenhor Deputado normalmente sempre demonstrou – e peço-lhe que seja justo tambémneste caso.

Elżbieta Katarzyna Łukacijewska (PPE). – (PL) Só quem viveu no sistema socialistapode compreender totalmente os países que sofreram a ausência de liberdade pessoal, aausência de liberdade de imprensa e dos meios de comunicação social, ou o difícil caminhoque estes países tiveram de percorrer. Compreendo aqueles que hoje estão a expressar assuas preocupações e a falar da falta de respeito pelos direitos das pessoas e dos problemasmultifacetados com a Ucrânia está actualmente a lutar. No entanto, temos também dereconhecer as mudanças, pequenas mas positivas, como as recentes eleições democráticasnas quais nós, enquanto representantes do Parlamento Europeu, fomos observadores.

Apelamos a que haja sensibilidade relativamente à situação de milhões de cidadãos daUcrânia e de centenas de jovens ucranianos. Eles contam com a União Europeia, com anossa ajuda na construção da democracia, e com a nossa ajuda para construir uma sociedadecivil. É muito fácil criticar, mas, enquanto polaca, lembro-me que outrora fomos ajudados.

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Kyriakos Mavronikolas (S&D). – (EL) Senhor Presidente, também gostaria de juntar aminha voz àqueles que defenderam que não há razão para uma resolução tão rápida,sobretudo antes das eleições, antes da visita e, o que é mais importante, antes de oParlamento Europeu estar presente na Ucrânia. Este governo foi eleito há muito poucotempo; é um facto que há problemas, mas temos de reconhecer que ele foidemocraticamente eleito e permitir que prossiga os seus esforços. Uma resolução só fariasentido após as próximas eleições naquele país.

Siiri Oviir (ALDE). – (ET) Quero fazer uma pergunta à minha colega, a senhora deputadaVaidere, mas gostaria de dizer o que penso. O facto de pretendermos aprovar agora, e nãoamanhã, a resolução sobre a Ucrânia não é oportuno, e o povo ucraniano, que olha parao Parlamento Europeu com reconhecimento, não nos compreenderia. Isto porque o quetemos hoje no projecto não é desde logo o melhor em termos de tom, não é o maisadequado, e existem alguns erros factuais.

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A senhora deputada Inese Vaidere referiu aqui que o presidente de comissão de Venezacriticou a alteração da constituição. Tenho uma carta do presidente com a data de hoje emque ele se afirma estupefacto por esse ponto aparecer na nossa resolução, e afirmaclaramente que não fez tal crítica, nem aqui nem noutro lado qualquer.

Marek Henryk Migalski (ECR). – (PL) Ao contrário do senhor deputado Kristian Vigenin,considero que o debate de hoje foi excelente e muito útil. É raro ocorrer um debate tãointeressante nesta Câmara, pelo qual desejo agradecer a todos. A intervenção da senhoradeputada Elżbieta Łukacijewska mostra que mesmo o Grupo do Partido Popular Europeu(Democratas-Cristãos) está dividido quanto a este assunto, o que é uma boa notícia.Devíamos agradecer aos socialistas, e em particular aos senhores deputados HannesSwoboda, Adrian Severin e Marek Siwiec, por compreenderem que decisões que são tãodesfavoráveis aos nossos amigos ucranianos não devem ser tomadas antes das eleições. OSenhor Comissário Füle e a senhora deputada Rebecca Harms têm igualmente razão eminvocar certos factos que são motivo de preocupação e dos quais estamos também cientes.

Jaromír Kohlíček (GUE/NGL). – (CS) Acalmem-se, Senhoras e Senhores Deputados, e,por uma vez, tentem pensar. Há uma semana que não há alteração das leis nem dacomposição da comissão eleitoral. É interessante que, sempre que certas forças políticasvêem que os seus aliados num país de fora da União Europeia não ganharam, estas forçasno estrangeiro expressam instantaneamente a sua preocupação acerca do estado dademocracia nesse país. Concordo com o que disse, entre outros, o senhor deputado MichalKamiński. Precisamos absolutamente de iniciativas do Parlamento Europeu que contribuampara o desenvolvimento da democracia e a melhoria das condições para o desenvolvimentomútuo de relações. Os esforços para apoiar as acções de estabilização efectuadas pelogoverno ucraniano feriram aparentemente a susceptibilidade daqueles que se deleitamcom o caos e a anarquia. Os meus colegas provavelmente consideram-nos melhoresparceiros do que o actual governo. Recomendo o adiamento do projecto de resolução e oregresso a um debate sobre este assunto depois de a delegação voltar de Kiev.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Considero a Ucrânia um dos mais próximos potenciaisparceiros da União Europeia.

Os Ucranianos estão muito mais próximos da Europa, em termos de civilização, do queos Turcos ou os Albaneses. O povo ucraniano elegeu livremente uma mudança porque asforças democráticas laranja lançaram o país na pobreza, no desespero e na decadência.Yanukovych esteve muito tempo na oposição e a sua atitude para com a oposição actualreflecte o tratamento que recebeu dos dirigentes laranja. Além disso, temos também dereconhecer o facto de que ele provavelmente se lembra do período anterior em que foiperseguido pela liga laranja, e a União Europeia se limitou a reagir com um sorrisobenevolente. A menos que queiramos perder a Ucrânia como nosso futuro membro,sejamos pacientes e concentremo-nos na cooperação económica; criemos um clima deconfiança mútua. Temos de explicar ao governo que a oposição tem o seu lugar legítimona sociedade democrática, e à oposição que, a menos que consiga um apoio suficiente dopovo, não tem o direito de competir pelo poder.

Michael Gahler (PPE). – (DE) Senhor Presidente, como fui interpelado pessoalmente,gostaria de ter um minuto para responder segundo o procedimento "catch-the-eye". Podeser?

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhor Presidente, a fundação, em 2006, da ComunidadeEnergética estabeleceu um mercado europeu da energia integrado para o gás e a

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electricidade, e a projectada inclusão da Ucrânia destina-se a assegurar o abastecimento deenergia em direcção à Europa Oriental. Isto é positivo, pois houve indubitavelmente algunsproblemas graves nos últimos anos e o diferendo do gás entre a Rússia e a Ucrânia, emparticular, reflectiu-se fortemente no abastecimento de gás aos Estados-Membros da UE.Subsequentemente, foi evidente que a Rússia suspendeu o fornecimento de gás durante asdiscussões sobre preços e o meu país, a Áustria, sofreu por si só uma quebra de 33% noabastecimento de gás russo, enquanto a França, a Hungria e a Itália também registaramquedas entre 20 e 40%. Isto exige que a Comissão – enquanto coordenadora da ComunidadeEnergética – agarre a Ucrânia por um braço e lhe recorde as suas obrigações quando estáem jogo a segurança do abastecimento da Europa. Não se pode permitir que o abastecimentoenergético dos nossos Estados-Membros se torne simplesmente um peão na guerra depreços entre a Rússia e a Ucrânia. Efectuemos, pois, conversações profícuas, mas sejamostambém duros e, por favor, asseguremos o abastecimento de energia dos nossosEstados-Membros.

Mariya Nedelcheva (PPE). – (BG) O Parlamento Europeu sempre apoiou a Ucrânia nasua caminhada para a democracia, com base nos princípios do Estado de Direito epartilhando connosco valores comuns sobre a integração europeia.

Em qualquer democracia, as eleições funcionam como um barómetro. Isto permite-nosavaliar a qualidade do processo democrático, a estabilidade das instituições, a maturidadedos partidos políticos e os pontos de vista da sociedade civil. Congratulo-me com a decisãodas autoridades ucranianas de convidar observadores às eleições que se vão realizar em 31de Outubro.

Confio em que a sua missão irá conferir uma maior credibilidade ao processo eleitoral, eas suas observações ajudarão a confirmar a transparência e a imparcialidade dofuncionamento das instituições ucranianas. Para além das eleições, a constituição, sendoa lei suprema da Ucrânia, deve garantir o equilíbrio das autoridades e o seu controlorecíproco.

A Ucrânia pode confiar no seu parceiro europeu para apoiar firmemente os seus esforçospara realizar reformas e alcançar a estabilidade. A opinião da União Europeia e da suasociedade civil fornece um impulso adicional e uma garantia para o seu êxito final.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) Na semana passada, Viktor Yanukovych, Presidenteda Ucrânia, efectuou uma visita oficial ao meu país, a Lituânia, e confirmou mais uma vezque o objectivo da Ucrânia é tornar-se membro da União Europeia. Sem dúvida, isso iráexigir alguns anos e muito trabalho de casa, e muitas reformas terão de ser realizadas emmuitos domínios, designadamente na garantia dos direitos humanos, no combate àcorrupção, na eliminação da pobreza e no fortalecimento da democracia. Contudo,concordo com os meus colegas que falaram aqui no Parlamento Europeu; não devemoscondenar imediatamente a Ucrânia enquanto país e não devemos impedi-la de se tornarum parceiro de estatuto igual, e, por conseguinte, repito que nós, no Parlamento Europeu,devemos efectivamente cooperar como parceiros em pé de igualdade e ajudar a Ucrânia aavançar para a União Europeia.

Ivo Vajgl (ALDE). – (SL) A Ucrânia é um grande e importante parceiro da União Europeiae um país que, indubitavelmente, tem um futuro europeu. Penso que o pior serviço quepodíamos fazer à Ucrânia, um país com uma estrutura interna complicada e uma históriadifícil, seria falar dela como moeda de troca interpartidária ou ideológica.

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Por este motivo, qualquer documento que aprovemos deve ser bem pensado e equilibrado.A oposição de ontem é o governo de hoje e isso pode acontecer em qualquer outro paísque tenha eleições democráticas. É, pois, fácil de compreender que a oposição estejadescontente por ter perdido o poder. Todavia, terá a sua oportunidade, na altura própriae se os eleitores assim o decidirem. Penso que é errado estarmos a basear-nos nosargumentos de apenas um dos lados e, sobretudo, gostaria de dizer que estou confiante...

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Charles Tannock (ECR). – (EN) Senhor Presidente, a Ucrânia é o nosso parceiroassociativo democrático europeu mais importante, e também espero que, um dia, se tornemembro da União Europeia. Tal como muitos outros oradores, tenho algumas dúvidasquanto à oportunidade de uma resolução do PE pouco tempo antes das eleições locaisnaquele país, e o meu grupo, o Grupo ECR, apresentou uma série de alterações para tornara resolução mais equilibrada e menos repetitiva.

Yanukovych ganhou a eleição presidencial democraticamente, embora por pequenamargem. Existem efectivamente algumas tendências autoritárias preocupantes em Kiev,desde as tentativas para restabelecer a censura temniki da liberdade de imprensa até àutilização do serviço de segurança FBU, chefiado por um oligarca, com objectivos políticos.Contudo, o Ocidente está a observar de perto o processo. O presidente Yanukovychencontra-se agora sob pressão. O legado da revolução laranja é ainda forte e a sociedadecivil ucraniana que emergiu dela é muito pujante.

Toda a gente sabe que mantenho relações estreitas com as principais figuras da oposição,mas penso também que devemos evitar uma interferência excessiva nos assuntos internose políticos ucranianos que se poderia virar contra este Parlamento e devíamos dar...

(O Presidente retira a palavra ao orador)

Lena Kolarska-Bobińska (PPE). – (PL) Foram avançados exactamente os mesmosargumentos antes das eleições presidenciais, quando nos interrogávamos nesta Câmarasobre que resolução aprovar, e qual devia ser a nossa posição relativamente ao que sepassava na Ucrânia nessa altura. Decidimos que iríamos emitir uma resolução depois daseleições, e foi isso que fizemos. Apelámos ao governo e à oposição para que respeitassemos direitos humanos, a liberdade de expressão e a liberdade de associação.

Passaram alguns meses desde essa resolução, e podemos já ver que algumas das suasdisposições não foram cumpridas. Deste modo, compreendo a preocupação de que aseleições locais, que são fundamentais em termos da promoção da democracia, do seufortalecimento e da sua instauração, possam envolver a violação de certos direitos. É porisso também que sou um dos autores da resolução.

(O Presidente retira a palavra à oradora)

Štefan Füle, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, agradeço-lhe por me dar aoportunidade de intervir neste debate que tem sido realmente muito interessante; a minharesposta centrar-se-á em três pontos.

Em primeiro lugar, permita-me que responda a uma pergunta concreta do senhor deputadoBastiaan Belder respeitante ao ambiente para o investimento e para os negócios. Na Ucrânia,é preciso fazer mais neste domínio. Isso é evidente, e levantei diversas vezes esta questão,quer no quadro do Conselho de Associação quer em várias reuniões. A última vez que tivea oportunidade de suscitar este assunto foi com o Primeiro-Ministro Azarov, na semana

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passada. Há uma série de questões, tais como o direito em matéria dos contratos públicose a possibilidade de voltar atrás neste direito através de diversas alterações que estão agoraa ser debatidas no parlamento ucraniano

É preciso fazer mais no que respeita ao Estado de Direito e, é claro, observámos com grandeinteresse o caso Mittal nos últimos dias. É preciso fazer mais para cumprir o compromissoe as promessas feitas para lidar com a questão do IVA, que é uma fonte de perturbaçãopara as nossas empresas. Através dos nossos contactos com as autoridades ucranianas, eatravés de contactos regulares com os empresários, estamos prontos para proteger osinteresses dos investidores e empresários europeus.

O segundo ponto é que o processo em que estamos envolvidos com a Ucrânia não é fácil.É um processo em que as proclamações acerca do futuro europeu podem por vezes serúteis, mas não são produtivas. O que é produtivo é construir mais da União Europeia dentroda Ucrânia.

Eles precisam da nossa ajuda. Precisam também que lhes mostremos a realidade dos factosde tempos a tempos. É isso que esperam de nós.

O que não precisamos é de ser empurrados para um falso debate acerca do que é maisimportante: estabilidade ou adesão a valores e empenho na sua implementação, e istoleva-me ao terceiro ponto.

Quem sou eu para comentar o projecto de resolução perante este Parlamento, mas consideroque o próprio facto de este debate ter acontecido deu já um sinal importante. Penso que acircunstância de representantes deste Parlamento se deslocarem em breve à Ucrânia, e iremtransmitir a maioria destas mensagens, veicula em si própria uma mensagem muito valiosa.Considero que outra mensagem significativa em termos do que devemos esperar dosUcranianos é que as próximas eleições locais, que terão lugar em 31 de Outubro, irãoconfirmar mais uma vez a postura democrática do seu país.

A minha intervenção fica agora por aqui, se me permitem.

Presidente. – O senhor deputado Michael Gahler tem a palavra ao abrigo do ponto 1 doartigo 151º devido a assuntos de natureza pessoal.

Peço-lhe que seja breve e se refira aos assuntos de natureza pessoal.

Michael Gahler (PPE). – (DE) Senhor Presidente, queria responder em pormenor ao quedisse o senhor deputado Hannes Swoboda. Ele sublinhou uma questão que não estavainteiramente correcta. É verdade que, na nossa resolução, nós, Grupo do Partido PopularEuropeu (Democratas-Cristãos), citámos incorrectamente a comissão de Veneza. Falei como secretário Thomas Markert e ele referiu-me o que efectivamente tinha dito. É por issoque a resolução conjunta já não contém a citação. Deste modo, como vê, isto já não estáem discussão.

O Senhor Deputado falou sobre o Estado de Direito em geral. Porém, gostaria de o terouvido, em nome do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas noParlamento Europeu, dizer alguma coisa clara e específica sobre as coisas que a políciasecreta faz nesse país. O facto de haver aí partidos que não são autorizados a participar emeleições é algo que pode criticar mesmo antes de umas eleições, pois, nessas circunstâncias,os seus resultados não podem obviamente estar conformes às normas democráticas.

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Hannes Swoboda (S&D). – (DE) Senhor Presidente, isto não devia ser um diálogo.Contudo, Senhor Deputado Michael Gahler, devia pelo menos ter informado que eu torneimuito claro, num comunicado de imprensa, emitido também em nome do meu grupo,que os serviços secretos têm de ser fiscalizados. Levantei esta questão também nas minhasconversações com o Primeiro-Ministro Azarov. Temos uma posição clara a este respeito.

Queria pedir-lhe, mais uma vez, que reflectisse de hoje para amanhã se não faria maissentido que adoptássemos uma resolução conjuntamente, enquanto uma comunidadealargada, em vez de aprovar uma com uma maioria escassa como seria o casopresentemente. Pense outra vez no assunto. Seria sensato que o fizesse.

Presidente. – Para concluir o debate, recebi seis propostas de resolução (1) apresentadasao abrigo do ponto 2 do artigo 110º do Regimento.

Está encerrado o debate.

A votação terá lugar amanhã, quinta-feira, 21 de Outubro de 2010, às 12H00.

Declarações escritas (artigoº149º)

Justas Vincas Paleckis (S&D), por escrito. – (LT) A Ucrânia desempenhou sempre umpapel especial na parceria da UE com a Europa Oriental. A sua dimensão, localização, e asvicissitudes da história fazem dela uma ponte importante entre o Oriente e o Ocidente.Não é de surpreender que agora, tal como anteriormente, a Europa acompanhe de pertoos acontecimentos políticos na Ucrânia. Porém, o quadro actual não é desprovido deambiguidades. Temos de reconhecer que o novo governo foi eleito em eleições livres edemocráticas e isso ajudou a fazer sair a Ucrânia do caos económico e político que grassavahá seis meses. Por outro lado, não podemos ignorar tendências no domínio da liberdadedos meios de comunicação social que suscitam preocupação. Mas concordo com os colegasque afirmaram que a resolução de hoje é inoportuna. Penso que a devemos adiar, e a seguirà visita de uma delegação do Parlamento Europeu prevista para a próxima semana, a seguiràs próximas eleições autárquicas e ao encontro de alto nível UE-Ucrânia, estaremos emcondições de emitir uma posição parlamentar mais equilibrada e objectiva. É que a Ucrâniapode fornecer um bom exemplo para outros países da Comunidade de EstadosIndependentes de como seguir a via da aproximação com a UE, alimentando, ao mesmotempo, boas relações com a Rússia.

Indrek Tarand (Verts/ALE), por escrito. – (EN) Congratulo-me com o debate sobre aUcrânia, em que as opiniões são expressas com clareza. A minha conclusão é que ademocracia ucraniana precisa de ajuda, mas não na forma deste documento. Seria maisimportante criar condições para o desenvolvimento. Uma delas é aplacar a tensão na região.E é por isso que, ceterum censeo, o plano francês de vender navios de guerra Mistral à Rússiatem de ser travado!

(A sessão, suspensa às 17H55, é reiniciada às 18H00)

(1) ver Acta

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PRESIDÊNCIA : DIANA WALLISVice-Presidente

12. Período de perguntas (perguntas ao Conselho)

Presidente. – O ponto seguinte é o período de perguntas (B7-0552/2010).

Foram dirigidas ao Conselho as seguintes perguntas.

Pergunta 1 de Marian Harkin (H-0454/10)

Assunto: Convenção da ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiência

A Presidência Belga realçou a sua firme intenção de fazer progressos na luta contradiscriminação e promover a igualdade. Neste contexto, que medidas concretas, se existirem,está a Presidência a tomar para impulsionar a ratificação da Convenção da ONU sobreDireitos das Pessoas com Deficiência por todos os 27 Estados-Membros da UE?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Em 7 de Junho de 2010, oConselho aprovou a resolução do Conselho da União Europeia e dos representantes dosgovernos dos Estados-Membros, reunidos no Conselho, sobre um novo quadro europeupara a deficiência. Esta resolução convida os Estados-Membros e a Comissão, de acordocom as suas respectivas competências, a promover a ratificação e a aplicação da Convençãoda ONU sobre Direitos das Pessoas com Deficiência concluída pela União Europeia em26 de Novembro de 2009. Até agora, a convenção foi ratificada por 13 Estados-Membrosda União Europeia.

No seio do Conselho, estamos por conseguinte claramente à espera de que osEstados-Membros que ainda não o fizeram ratifiquem esta convenção. Em particular, osartigos 3 e 4 da decisão 2010/48/CE do Conselho estipulam que deve ser adoptado umcódigo de conduta entre os Estados-Membros e a Comissão antes que possa ter lugar adeposição do instrumento de confirmação formal em nome da União Europeia, de modoa estabelecer pormenores relativos à função de ponto de contacto conferida à Comissão.O trabalho relativo ao código de conduta encontra-se agora na sua fase final e deve estarcompletado no fim do ano.

Marian Harkin (ALDE). – (EN) Gostaria de agradecer ao Conselho a sua resposta. Fiqueiparticularmente satisfeito por ouvir dizer o Senhor Ministro que o processo podia estarconcluído antes do final do ano. Penso que disse 13 – tanto quanto sei, terão sido 16 osEstados-Membros que já ratificaram.

O Conselho pode dizer-me qual será o impacto de a própria UE ratificar esta convenção?

Referiu vários artigos, e há obviamente uma série de artigos na convenção que se referemà questão das adaptações razoáveis para pessoas com deficiência e do direito a uma vidaindependente. Em sua opinião, qual vai ser o impacto disso?

Em particular, o que pretendo saber é qual será o impacto de a própria UE ratificar aconvenção nos países que ainda não a ratificaram?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Gostaria de voltar a um aspectoreferido. Foram 13 os Estados-Membros que ratificaram a convenção. Aliás vou enunciá-lospara que possa repreender este ou aquele: ratificaram esta convenção a Áustria, Bélgica,

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República Checa, Dinamarca, Alemanha, Hungria, Itália, Portugal, Eslovénia, Espanha,Suécia, Reino Unido e França.

Qual é a situação actual? Estamos à espera de um acordo sobre o código de conduta entreos Estados-Membros e a Comissão antes de depositar o instrumento de confirmação formal.Isto completará a ratificação pela União Europeia da Convenção da ONU sobre Direitosdas Pessoas com Deficiência.

Quais serão provavelmente as próximas etapas? Após a convenção estar plenamenteratificada, o Conselho pode voltar à questão de uma possível "caixa de ferramentas" parapromover activamente os direitos das pessoas com deficiência – uma ideia que, aliás, foisugerida por diversos Estados-Membros.

O trabalho neste projecto iria a par da preparação, pela Comissão, de uma estratégiaeuropeia 2010-2020 para as pessoas com deficiência, e, como o seu nome sugere, estaestratégia apresentará um plano de acção para os próximos dez anos com o objectivo deassegurar que as pessoas com deficiência possam desfrutar plenamente dos seus direitose liberdades.

Janusz Władysław Zemke (S&D). – (PL) Gostaria de fazer uma pergunta ao SenhorMinistro que considero muito importante. A situação deixa muito a desejar. Treze dosvinte e sete Estados-Membros ratificaram a convenção, mas catorze, ou, por outras palavras,a maioria, não o fizeram. Por que razão apenas metade dos Estados-Membros da UniãoEuropeia ratificou uma convenção que é tão importante para as pessoas com deficiência?

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) Agradeço a sua resposta. Na verdade, seria muitointeressante saber por que motivo os Estados-Membros estão a levar tanto tempo pararatificar a Convenção das Nações Unidas sobre Direitos das Pessoas com Deficiência.Recearão assumir a responsabilidade por criar oportunidades iguais para as pessoas comdeficiência? Senhor Ministro, mais uma vez, se não for demasiado complicado, gostariade perguntar se a elaboração da directiva antidiscriminação avançou pelo menos um poucoe como estão a progredir as negociações, discussões e consultas com os Estados-Membrossobre a aceleração da directiva antidiscriminação, pois ela é muito importante para aspessoas com deficiência.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Estão a ser desenvolvidosesforços concertados no seio dos Estados-Membros, mas mesmo assim devo dizer quepodemos, de facto, estar decepcionados, e mesmo cépticos, quanto à rapidez com quevários Estados-Membros estão a proceder à ratificação. Na realidade, repito pela terceiravez que é verdade que apenas treze Estados-Membros ratificaram.

Não penso que haja qualquer razão especial para isso. Acontece apenas que osEstados-Membros ratificam de acordo com um processo que por vezes difere de umEstado-Membro para outro. Não me estou a refugiar atrás deste argumento, mas devotambém dizer-lhe que, nesta matéria como noutras, a soberania nacional é ainda importanteem termos do modo como os Estados-Membros avançam no processo de ratificação.

Na realidade, podemos afirmar que ele podia ir mais depressa, que todos osEstados-Membros poderiam cooperar muito mais desde o início. No entanto, o facto é quea soberania nacional desempenha o seu papel num conjunto de questões.

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Presidente. – Pergunta 2 de Gay Mitchell (H-0456/10)

Assunto: Tratamento da epilepsia

Em Agosto de 2010, participei na Conferência Europeia sobre Epilepsia e Sociedade, queteve lugar no Porto, onde a Campanha Global contra a Epilepsia apresentou o seu relatóriointitulado "Epilepsia na Região Europeia da Organização Mundial de Saúde". Segundo orelatório, os programas de cirurgia para a epilepsia são inexistentes em 58% dos paíseseuropeus, embora seis milhões de europeus sofram da doença, gerando custos de 20 milmilhões de euros por ano.

Não será altura de os Estados-Membros da UE adoptarem uma abordagem comum ecoerente no que se refere ao tratamento desta doença?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de começar por agradecer, embora ele não esteja presente, ao senhor deputadoque apresentou esta pergunta pelo seu interesse nesta matéria. É verdade que as doençasneurodegenerativas, as perturbações do desenvolvimento neurológico e as doenças cerebraisnão psiquiátricas, uma das quais é a epilepsia, são uma grande preocupação para muitosdos nossos concidadãos.

De acordo com o artigo 168º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, aUnião deve incentivar a cooperação entre os Estados-Membros no domínio da saúdepública e da prevenção da doença. Por conseguinte, é efectuada uma abordagem horizontalao nível da UE, centrada no combate à estigmatização e à discriminação das pessoasafectadas pelas doenças neurodegenerativas, perturbações do desenvolvimento neurológicoe doenças cerebrais não psiquiátricas.

Assim, o Conselho, nas suas conclusões de Junho de 2003 sobre o combate à estigmatizaçãoe à discriminação ligadas à saúde mental, convidou os Estados-Membros a dar uma atençãoespecífica aos problemas relacionados com o impacto da estigmatização e da discriminaçãodevidas à doença mental em todos os grupos etários, e a assegurar que estes problemassejam reconhecidos, concedendo, neste contexto, uma especial atenção à redução dosriscos de exclusão social.

Nas suas conclusões de 3 Junho de 2005 sobre a acção da Comunidade no campo da saúdemental, o Conselho convidou os Estados-Membros a aplicarem a declaração e o plano deacção aprovados pela Conferência Ministerial Europeia da Organização Mundial de Saúdesobre saúde mental, que teve lugar em Helsínquia em Janeiro de 2005.

Finalmente, o Conselho está particularmente empenhado em combater outra doença quefaz parte do grupo das doenças neurodegenerativas, perturbações do desenvolvimentoneurológico e doenças cerebrais não psiquiátricas, a saber, a doença de Alzheimer. Devoreferir, a este respeito, as conclusões, de 16 de Dezembro de 2008, sobre as estratégias desaúde pública de combate às doenças neurodegenerativas associadas ao envelhecimentoe, em particular, a doença de Alzheimer, e as conclusões de 3 de Dezembro de 2009 sobreo programa de investigação conjunto na Europa, que abrange, em particular, o lançamentoda iniciativa piloto de programação conjunta dedicada à luta contra as doençasneurodegenerativas e, em particular, a doença de Alzheimer.

Mairead McGuinness, autora. – (EN) Obrigada, Senhor Presidente em exercício doConselho, pela sua resposta. Transmitirei o seu apreço ao meu colega Gay Mitchell.

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Pode analisar a situação nos diferentes Estados-Membros, que devem ser motivo depreocupação para o Conselho? É um facto que o tratamento que se obtém para a epilepsiadepende de onde se vive, e existe um enorme problema de falta de neurologistas nalgunsEstados-Membros.

Pode abordar também as implicações disto para o pacote de cuidados de saúdetransfronteiriços que se encontra presentemente em discussão? Se a epilepsia não fortratada, o sofrimento das pessoas é mais agudo do que se houver um tratamento adequado.É lamentável que, em diferentes Estados-Membros, haja diferentes tipos de cuidados paraas pessoas com epilepsia.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Penso que a sua observaçãorespeitante à qualidade dos cuidados de saúde nos vários Estados-Membros tem toda arazão de ser. Estamos ainda muito longe de harmonizar a gestão dos cuidados de saúdeno seu conjunto.

Isto resulta também do facto – e isso deve ser assinalado – de os poderes da União emmatéria de cuidados de saúde serem ainda bastante restritos em comparação com os poderesnacionais. Além disso, tem razão em referir o pacote transfronteiriço, pois é algo que podemelhorar vários aspectos qualitativos em termos de cuidados de saúde.

Será necessário recordá-lo de que, sob a Presidência Belga, o Conselho ainda está a negociar,e continuará a fazê-lo até ao fim, com o objectivo de conseguir o maior apoio possível paraum acordo em segunda leitura sobre este pacote de cuidados de saúde transfronteiriços?Trata-se de uma tarefa difícil, e o calendário é apertado, mas temos a ambição de a conseguirlevar a bom termo antes do final de Dezembro.

Presidente. – Pergunta 3 de Seán Kelly (H-0457/10)

Assunto: Coordenação da posição da UE em Cancum

Na perspectiva da conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, que terálugar em 2010 em Cancum, que medidas concretas está o Conselho a tomar para coordenara posição comunitária nas negociações, sobretudo para que a UE no seu conjunto fale auma só voz?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho – (FR) Senhoras e Senhores Deputados,na sua reunião de 14 de Outubro, o Conselho adoptou conclusões sobre a posição daUnião Europeia na perspectiva da Conferência sobre as Alterações Climáticas em Cancum,durante a qual o quadro mundial em matéria de protecção do clima será examinado.

Com base nesse texto, o Conselho Europeu de Outubro, que terá lugar na próxima semana,nos dias 18 e 19 de Outubro, definirá a posição da União Europeia tendo em vista a 16ªConferência da Partes na Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.Esta posição da União Europeia engloba todos os aspectos importantes desta conferência:resultado esperado, condições para o prolongamento do Protocolo de Quioto para alémde 2012, progressos a realizar nos diferentes domínios enunciados no roteiro de Bali –atenuação, adaptação, aspectos da tecnologia florestal e financiamento.

Em relação a todos estes aspectos, o Conselho esforçou-se no sentido de apresentar umaposição que fosse clara e fácil de transmitir. Incumbe agora a todos os actores da UniãoEuropeia usarem esta posição para enviar uma mensagem clara e inequívoca aos nossosparceiros internacionais.

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Conforme o Conselho acabou de assinalar, a União Europeia espera que a conferência deCancum redunde na adopção de um conjunto equilibrado de decisões e que propicie aintrodução de uma política internacional destinada a proteger o clima após 2012. Alémdisso, antes da conferência de Cancum terão lugar diversos encontros e contactos bilateraisque constituirão uma oportunidade para explicarmos aos nossos parceiros a nossa posição.

Durante a conferência propriamente dita, esta posição será clarificada, se necessário, nasreuniões de coordenação que a União Europeia irá realizar com regularidade. Claro estáque contamos com todas as instituições para ajudar a clarificar a nossa posição, veiculando,se possível, a mesma mensagem em todas as nossas representações externas.

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhor Presidente em exercício do Conselho, agradeço a suaresposta e penso que é muito importante que tenhamos um impacto positivo em Cancum,ao contrário do que, infelizmente, aconteceu em Copenhaga.

Gostaria apenas de fazer mais uma pergunta: dos contactos que suponho que teve comoutros países de todo o mundo, decorrentes de Copenhaga, qual o seu grau de confiançaem conseguir um acordo sobre objectivos vinculativos? Em última análise, têm de servinculativos. Qualquer outra coisa não permitiria enfrentar esta situação lamentável.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho - (FR) Devo dizer e deixar claro que,de facto, vai ser difícil fazer progressos em Cancum.

Há três razões para este relativo pessimismo. Em primeiro lugar, a crise económica queafecta obviamente a União Europeia e muitos outros países fora da UE conduziu a umafrouxamento do espírito de cooperação e das promessas de investimento neste domínio;em segundo lugar, o facto de os países emergentes se recusarem a aceitar compromissosvinculativos; e, por último, o insucesso dos Estados Unidos na promulgação de legislaçãoclara neste domínio.

A União Europeia manteve as mesmas posições que defendeu em Copenhaga, e penso quedevemos ser prudentes na forma como hoje nos comprometemos, a fim de não aviltar asposições e orientações que poderíamos adoptar em Cancum dentro de um mês.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D). – (RO) Senhor Ministro, gostaria de lhe perguntar se ponderainterligar os objectivos respeitantes às alterações climáticas e à redução da poluição comos objectivos do milénio, uma vez que existem, reconhecidamente, países emdesenvolvimento que acham que é demasiado dispendioso para eles avançar com umprocesso de redução de emissões, mesmo que possa implicar criação de emprego e, poracréscimo, uma economia sustentável. Pergunto-lhe, portanto, se tenciona estabeleceruma ligação entre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e as alterações climáticas.

Franz Obermayr (NI). – (DE) Senhora Presidente, em Copenhaga, mesmos os paísescooperantes como a Indonésia e o Brasil acabaram por se bater ao lado dos estados doG77, unindo assim forças para formarem uma aliança contra os designados países ricosdo Norte. O debate sobre o clima tornou-se um debate sobre justiça e, mesmo na conferênciapreparatória, as economias emergentes deixaram claro que não pretendiam fazer concessõesem Cancum.

Portanto, pergunto-lhe o seguinte: como se pode evitar a formação deste tipo de aliançase como se pode acautelar uma alteração de tema deste tipo? Será que a UE não deveriaassumir neste caso um papel importante como mediador?

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Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Para responder a estas duasperguntas, eu devo dizer que não poderia estar mais de acordo. A União tem de alterar aestratégia que utilizou em Copenhaga.

A União tem de clarificar muito mais a sua posição, tem de falar muito mais com os gruposde países que defendem opiniões significativamente diferentes das nossas e, sim, é verdade,a ligação entre as alterações climáticas e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio éevidente.

Claro está que, sobretudo nos anos vindouros, nos anos mais próximos, não podemospedir o mesmo esforço àqueles que têm de reduzir uma pesada base industrial, como nóstemos no seio da União e como têm os países em desenvolvimento. Aparentemente, istonão é suficiente, mas é por essa razão também que a União contribui tanto para o princípiodo "arranque rápido", um financiamento destinado a ajudar os países em desenvolvimento.Este regime visa muito claramente os países que não estão em condições de suportar essaredução.

Penso que estes elementos constituem um todo. O diálogo e a disponibilização dos recursosapropriados deveriam permitir que os países em desenvolvimento reflectissem maisaprofundadamente sobre os seus próprios objectivos de redução, especialmente no quese refere às emissões de gases com efeito de estufa.

Presidente. – Pergunta n.º 4 do deputado Georgios Papanikolaou (H-0460/10)

Assunto: Programa da Presidência – abandono escolar prematuro

No capítulo "Educação, formação, juventude, desporto, cultura e política para os meiosaudiovisuais" do programa da Presidência belga, refere-se que será dada particular atençãoaos problemas que conduzem ao abandono escolar e ao papel da educação e da formaçãona inclusão social.

Que iniciativas concretas tomou até hoje para realizar esses objectivos e qual o calendárioprevisto até ao fim do ano?

Dispõe o Conselho de dados que comprovem que a conjuntura económica agrava oproblema do abandono escolar precoce nos Estados-Membros por ela afectados?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, no seguimento do trabalho que foi iniciado por anteriorespresidências, sobre o reforço da cooperação europeia no domínio do ensino primário, aPresidência consagra uma atenção especial à problemática das competências-chave e doabandono escolar precoce.

A Presidência dá assim seguimento às conclusões do Conselho Europeu de Março de 2002,que destacou a necessidade de reduzir a taxa de abandono escolar precoce na Europa e quefixou também o objectivo colectivo de a reduzir para menos dos 10% até 2020.

A Presidência lançou diversas iniciativas nesse sentido, começando pelo seminário a nívelministerial que organizou logo no início do seu mandato, em Julho último. Este seminário,assim como a reunião dos directores-gerais do ensino obrigatório – que, incidentalmente,teve lugar no dia anterior -, concentrou-se nas dificuldades sentidas pelos alunos na aquisiçãode competências básicas, isto é, a sua língua materna, ciências e matemática, bem comona experiência dos Estados-Membros e nas orientações políticas a desenvolver com vistaà prevenção do abandono escolar precoce.

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Na sequência destas reuniões, a Presidência formulou conclusões sobre a importância deelevar o nível de competências-chave no contexto da cooperação europeia na área doensino primário. Uma vez que estas conclusões estão neste momento a ser discutidas noConselho, a Presidência tenciona inscrevê-las na ordem do dia do Conselho de Novembro.

De um modo mais geral, o Conselho aguarda uma proposta de recomendação que aComissão deverá apresentar em breve sobre a questão do abandono escolar precoce a níveleuropeu. Concomitantemente, continuarão a ser desenvolvidos ou intensificados esforçosa nível europeu com o objectivo de reduzir progressivamente a taxa de abandono escolarprecoce até 2020, em conformidade com o objectivo fixado pelo Conselho Europeu.

Para terminar, acrescentaria que no contexto do Ano Europeu do Combate à Pobreza e àExclusão Social, a Presidência belga organizou igualmente, em 28 de Setembro, aconferência intitulada "Quebrar o círculo vicioso da desigualdade - inclusão social naeducação e através da educação". Os resultados desta conferência servirão de base para umdebate que terá lugar durante o Conselho "Educação", em 19 de Novembro.

Georgios Papanikolaou (PPE). – (EL) Obrigado pela sua resposta, Senhor Ministro. Nasequência do que o senhor disse, gostaria de acrescentar as seguintes perguntas: para ondevão estas crianças que abandonam a escola? Acabam elas na marginalidade, na exclusãosocial, ou seguem uma profissão técnica, o que corresponde a uma atitude positiva quelhes irá proporcionar um nível de vida digno?

Possui o Conselho alguma informação ou, pelo menos, pediu ou está a planear pedir àComissão que faça o levantamento das transições sociais, para que possamos ver o queacontece a seguir na vida dessas crianças e como nos podemos assegurar que as nossaspolíticas têm melhores resultados?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho – (FR) Senhoras e Senhores Deputados,a iniciativa é excelente e, além disso, os contactos entre os ministros e aqueles que trabalhamna educação mostram-nos o quanto as situações variam de país para país, na UE, poisalguns países possuem programas que podem ser muito específicos e muito selectivos,destinados a evitar que os alunos que abandonam prematuramente a escola sejammarginalizados. Este processo cartográfico é, portanto, particularmente importante. Levarátempo, pois avaliar a situação em 27 Estados-Membros não é tarefa fácil.

Penso que o trabalho relacionado com o abandono escolar precoce arrancou bem sob aPresidência belga e que as presidências subsequentes, especialmente a Presidência húngara,poderão certamente iniciar um projecto de recomendação, não apenas para reduzir a taxade abandono escolar precoce mas também para retirar conclusões deste levantamento dasituação nos 27 Estados-Membros relativamente ao que acontece aos alunos que abandonamprematuramente a escola, especialmente nos casos em que estes são marginalizados e nãosão recuperados por um sistema de ensino de carácter mais técnico, como V. Exa. observou.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) Obrigado, Senhor Ministro, pelos esforços quedesenvolveu, enquanto país que detém a Presidência, para combater a pobreza. Concordaou não que a pobreza é também uma das razões que conduz a que nem todos os jovensacabem a escola secundária e sejam forçados a abandonar a escola? Hoje, o nosso ParlamentoEuropeu aprova uma decisão muito importante sobre o aumento do rendimento mínimopor toda a União Europeia. Na sua opinião, enquanto país que detém a Presidência, poderiaesta ser uma das medidas para motivar os jovens a obterem uma educação ao nível dosecundário e a não abandonarem a escola?

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Silvia-Adriana Ţicău (S&D). – (RO) Infelizmente, a taxa de abandono escolar na Europaé de 19%, se bem que em países como Portugal seja de 40%. A crise económica e a reduçãodo orçamento e dos recursos da população conduziram, nalguns países, ao encerramentode várias escolas, especialmente nas zonas rurais. Quando falamos de educação, estamosa falar do futuro da Europa. Gostaria portanto de lhe pedir, Senhor Ministro, no AnoEuropeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, para fixar metas obrigatórias, noConselho, e mesmo, talvez, ao nível do Conselho Europeu, para a redução da taxa deabandono escolar.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Gostaria de dizer que concordocom os dois senhores deputados em que o abandono escolar precoce está, efectivamente,ligado à pobreza e à exclusão social. Estou bem ciente de que muitas das nossas crianças,em função do seu estatuto familiar, do estatuto financeiro dos seus pais, são desfavorecidasno seu percurso escolar e de que a crise económica agravou consideravelmente estefenómeno.

Dito isto, tanto o Conselho como a Comissão tiveram este aspecto em consideração, pois,como sabem, adoptámos conjuntamente esta Estratégia Europa 2020, que combinasimultaneamente o desenvolvimento económico, a investigação em prol dodesenvolvimento, a qualidade do nosso ensino e também a luta contra a pobreza. Todosestes elementos formam um todo que nos permite, pelo menos quanto a mim, apresentaruma resposta coerente.

Quero voltar brevemente às competências-chave, pois esta é uma questão importante. Asconclusões que a Presidência belga submeterá para adopção no Conselho de Novembrovisarão um conjunto de objectivos, que passo a rapidamente a indicar: a implementaçãode estratégias nacionais para melhorar o desempenho dos alunos nos domínios da leitura,da matemática e das ciências.

Outro objectivo é analisar a eficácia das actuais estratégias nacionais para que tenhamosuma fonte de informação que possa ser utilizada, como dizíamos há pouco, no processode decisão. No entanto, o objectivo consiste igualmente em lançar projectos-pilotoconduzidos pelos Estados-Membros a título voluntário e que visam melhorar ascompetências básicas dos jovens europeus, e também – por que não? – assegurar umamelhor utilização dos instrumentos que temos ao nosso dispor e que são relevantes, comoos que fazem parte do método aberto de coordenação, o programa no domínio da educaçãoe da aprendizagem ao longo da vida e o 7º Programa-Quadro para a Investigação e oDesenvolvimento Tecnológico.

Estes são alguns objectivos que iremos perseguir durante a Presidência belga e que irão,com toda certeza, ser retomados pelas presidências subsequentes, e especialmente pelaPresidência húngara.

Presidente. – Pergunta n.º 5 do deputado Jim Higgins (H-0465/10)

Assunto: Objectivo da União Europeia de acabar com as minas terrestres

Que medidas tenciona tomar o Conselho face às consequências devastadoras das minasterrestres? Certos países continuam a utilizar minas antipessoal e pensa-se que algunscontinuem a produzir minas terrestres – cerca de 65 países são ainda afectados, com maiorou menor gravidade, pelas minas e materiais explosivos não detonados (UXO). Segundoestimativas, as minas fazem anualmente entre 15 000 e 20 000 vítimas, entre as quaismuitos civis, nomeadamente crianças.

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A UE tem manifestado frequentemente o desejo de destruir as minas terrestres e pôr termoà sua utilização e armazenamento, mas, por enquanto, ainda não foi apresentado, e muitomenos posto em prática, qualquer plano de acção ambicioso e com um calendário deaplicação.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Há muitos anos que a UniãoEuropeia se empenha na eliminação total das minas terrestres antipessoal, contribuindoassim para resolver os enormes problemas humanitários e de desenvolvimento por elasprovocados. Já em Maio de 1995, a União Europeia adoptou, através da Decisão95/170/PESC do Conselho, a primeira das suas acções comuns com o objectivo de ajudara combater a utilização e a proliferação de minas terrestres antipessoal em todo o mundo.

A União Europeia foi portanto a primeira a agir no seio da comunidade internacional, emNovembro de 1997, na sequência da Convenção de Otava sobre a Proibição do Uso,Armazenamento, Produção e Transferência das Minas Antipessoal e sobre a sua Destruição.Em 18 de Setembro, o Conselho adoptou uma nova acção comum destinada a prosseguiros esforços políticos da União em prol da eliminação total das minas terrestres antipessoale, mais concretamente, a estabelecer uma moratória comum sobre a exportação e aprodução de minas terrestres antipessoal e a facilitar um contributo multidimensional, noseio da União, para o esforço de desminagem e outras actividades conexas.

Desde então, a União promoveu continuadamente estes compromissos, que se baseiam,desde 2003, na estratégia europeia de segurança. Em Junho de 2008 foi adoptada umanova acção comum para apoiar a ratificação universal da Convenção de Otava. Esta acçãocomum destina-se também a ajudar especificamente os Estados Partes da Convenção aimplementarem as disposições da Convenção, especialmente as relacionadas com adesminagem, a assistência às vítimas e a destruição das reservas.

Além disso, embora o número de Estados Partes da Convenção tenha aumentadoconsideravelmente e o número de vítimas das minas terrestres esteja a diminuir, continuaa ser necessário prestar assistência às vítimas e melhorar as suas vidas de forma efectiva.

A União Europeia participou na elaboração do plano de acção 2010-2014 – por estatotalmente apoiado – adoptado em Cartagena, na Colômbia, por ocasião da segundaconferência de revisão da convenção, de 29 de Novembro a 4 de Dezembro de 2009.

Neste momento, está a ser preparada uma nova decisão do Conselho a fim de apoiarespecificamente o plano de acção e a sua componente de assistência às vítimas. Para alémda acção de cariz mais político, desenvolvida pelo Conselho, os programas de assistênciaàs vítimas geridos pela Comissão no contexto da ajuda ao desenvolvimento e da políticade vizinhança – juntamente com os programas nacionais dos Estados-Membros –aumentaram a contribuição da União Europeia para a desminagem e a assistência às vítimaspara 1,8 mil milhões de euros, o que equivale a metade do total da contribuição mundial.

Jim Higgins (PPE). – (EN) Gostaria de agradecer ao Senhor Presidente em exercício a suaresposta muito completa. O Senhor Presidente em exercício referiu a Convenção de Otavaou Tratado sobre a Proibição de Minas, dispusemos da Convenção Internacional sobre asMunições-Cacho, assinada em Dublin em 2008, e dispomos agora de um plano de acção,mas a realidade é que a União Europeia consagrou 1,8 mil milhões de euros a projectos desensibilização para o problema das minas terrestres, até 2007, mas só foram de facto gastos1,5 mil milhões de euros. A realidade é que as minas terrestres continuam a ser utilizadas.Trata-se de uma prática desumana; por mês, morrem ou ficam mutiladas 2 000 pessoas e

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temos efectivamente de enfrentar esta questão de forma abrangente e a um nívelinternacional.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Tem razão, Senhor Deputado,nós gastámos 1,5 mil milhões de euros, e ainda há 2 000 mil vítimas todos os meses. AUnião Europeia não pode fazer sem ajuda tudo o que é necessário nesta matéria – e está jáa fazer metade do trabalho.

Penso que vos expliquei claramente o quanto somos sensíveis ao aspecto humano desteproblema. Infelizmente, nós não podemos ir muito mais longe no que diz respeito à tomadade decisão. Progressos substanciais e concretos só serão provavelmente ainda possíveis naárea do desarmamento, e nós estamos particularmente envolvidos no aspecto relacionadocom a proibição das minas antipessoal.

Paul Rübig (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Presidente em exercício OlivierChastel, as minas antipessoal continuarão provavelmente a ser um problema muitoimportante ainda por muito tempo. Acreditam que é possível iniciar programas deinvestigação especificamente orientados para a detecção de minas terrestres? Não se trata,evidentemente, de um problema europeu, mas de um problema global. Consideramigualmente viável encontrar instituições apropriadas que assumam programas deinvestigação nesta área?

Seán Kelly (PPE). – (EN) Começo por agradecer ao meu colega, o Senhor DeputadoHiggins, por colocar essa importante pergunta e agradecer também ao Conselho pela suaresposta exaustiva.

Eu penso, para ser justo, que a União Europeia tem sido pró-activa na abordagem destainfeliz situação. Gostaria de perguntar ao Conselho: está satisfeito com a forma como asNações Unidas estão a tratar este assunto e pode o Conselho dar um contributo melhor,semelhante ao que nós estamos a fazer?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) As duas perguntas estãoestreitamente ligadas, e eu ia justamente responder à primeira remetendo para a segunda.É verdade que qualquer programa de investigação com vista à detecção de minas antipessoalem todo o mundo seria bem-vindo.

A introdução de um programa dessa natureza requer uma cooperação estreita com asNações Unidas e, essencialmente, tem ser possível chegar a acordo, no âmbito das NaçõesUnidas, com todos os que compõem essas instituições. Esse é um trabalho longo e exigente,pois é preciso convencer outros que não concordam necessariamente com os recursos queterão de ser investidos neste tipo de programa de investigação.

Presidente. – Pergunta n.º 6 da deputada Vilija Blinkeviciute (H-0468/10)

Assunto: Criação de um observatório da violência contra as mulheres

As conclusões do Conselho relativas à erradicação da violência contra as mulheres,adoptadas em 8 de Março de 2010, preconizam a criação de um observatório europeu daviolência contra as mulheres, com base nas estruturas institucionais existentes, a fim decoligir dados estatísticos de qualidade que servirão de base às políticas a instaurar. Numasociedade civilizada, não há lugar para a violência contra as mulheres, que deve desaparecer.Cumpre recolher dados estatísticos de melhor qualidade, coordenar mais adequadamenteas medidas, proceder ao intercâmbio de boas práticas e organizar campanhas de informaçãoeficazes sobre a violência contra as mulheres.

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Quando tenciona o Conselho tomar uma decisão sobre a criação deste futuro observatório?Quais seriam os seus objectivos e atribuições e quando entraria em funcionamento?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) Senhoras e Senhores Deputados,o combate à violência contra as mulheres é um objectivo partilhado tanto pelo ParlamentoEuropeu como pelo Conselho. Como sabem, as nossas duas instituições já trabalham nestetema há vários anos e em muitos contextos diferentes.

Permita que lhe recorde a resolução que V. Exas. aprovaram no ano passado, quandocelebrámos o 10.º aniversário da resolução das Nações Unidas que institui o dia 25 deNovembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.Nessa resolução, convidaram a Comissão apresentar um plano político comunitárioespecífico e mais coerente, e instaram os Estados-Membros a introduzir um sistema coerentepara a recolha de dados estatísticos.

Como o senhor deputado nos recordou, em Março o Conselho pediu à Comissão paraelaborar uma estratégia europeia para prevenir e combater a violência contra as mulheres.Uma das prioridades identificadas pelo Conselho nesta matéria é a preparação da criaçãode um observatório europeu da violência contra as mulheres, baseado nas estruturasexistentes.

A Comissão está presentemente a elaborar uma nova estratégia sobre a violência contraas mulheres, que contemplará também a criação deste observatório. No entanto, comodeverão compreender, por enquanto ainda não conhecemos o conteúdo dessa estratégia.Esperamos recebê-la no decurso do próximo ano. É muito provável, portanto, que depoisdisso seja necessária uma proposta separada para criar este observatório.

Obviamente, como sabem, o Conselho só pode intervir enquanto legislador com basenuma proposta da Comissão. Tal proposta será devidamente examinada pelo Conselho,agindo na qualidade de co-lesgislador com o Parlamento Europeu.

É evidente que, nesta fase, é um pouco prematuro fazer vaticínios sobre quais irão ser osobjectivos de um futuro observatório da violência contra as mulheres, e sobretudo quantoà data em que o mesmo entrará em funcionamento.

Vilija Blinkevičiūtė (S&D). – (LT) Senhor Ministro, obrigado pela sua resposta. Continuaportanto a haver esperança de que, num determinado momento, passará a existir um centroque recolherá dados fiáveis sobre a violência contra as mulheres que ainda existe. Todavia,gostaria de saber se, na sua opinião, os Estados-Membros dispõem de informação suficientepara que a luta contra a violência em relação às mulheres se torne realmente uma prioridade.No meu entender, ainda não dispomos de dados fiáveis e essa é uma das razões porquecontinuam a existir bastantes tipos diferentes de violência na União Europeia.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) O que V. Exa. diz não é incorrecto.É difícil, hoje, aceitar que, para criar este observatório e identificar os problemas envolvidos,precisamos apenas de basear-nos naquilo que os diferentes Estados-Membros já conceberamindividualmente em termos de recenseamento, tipo de violência e prevalência dos diversostipos de violência. Isto é um começo.

Aquilo que esperamos da Comissão é um plano, uma orientação, uma metodologia paraque possamos harmonizar em todo o território da UE, nos 27 Estados-Membros, umamaneira fidedigna de enumerar todos os tipos de violência e a sua prevalência, e parapodermos elaborar - conjuntamente, se possível – uma estratégia que produza resultados.

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Paul Rübig (PPE). – (DE) Senhor Presidente em exercício Olivier Chastel, nós temosagências que já lidam com estas questões. Recordo-lhe a Agência dos Direitos Fundamentais,em Viena. Não seria possível solicitar a essa agência para concentrar a sua atenção naquestão e fazer convergir para ela o seu trabalho de modo a não termos de criar um novoorganismo, mas podermos, em vez disso, transferir esta actividade para a agência que existeem Viena? Temos pessoal muito qualificado. Seria bom se isso pudesse ser organizado.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) (fora do microfone) responderfacilmente a essa pergunta. Sou fortemente a favor de que se utilize uma agência já existente,em vez de se criar uma nova. Penso que já existem demasiadas agências, pelo que não hánecessidade de criar mais. Em todo o caso, espero que as estruturas existentes, como aagência de Viena, sejam envolvidas na elaboração do plano táctico que a Comissão iráapresentar-nos.

Presidente. – Pergunta n.º 7 do deputado José Manuel Fernandes (H-0470/10)

Assunto: Bio-resíduos

No passado dia 6 de Julho, o Parlamento Europeu aprovou por larga maioria a ResoluçãoP7_TA(2010)0264 sobre o Livro Verde da Comissão sobre a gestão dos bio-resíduos naUnião Europeia, que insta a Comissão a elaborar uma proposta de Directiva específica paraos bio-resíduos até ao final de 2010.

Durante a subsequente troca de pontos de vista na Comissão do Ambiente com a Ministrabelga, Joke Schauvliege, a 14 de Julho de 2010, esta, em nome da Presidência belga,manifestou a sua satisfação com a resolução aprovada pelo Parlamento e prontificou-se afazer progressos em relação a esta matéria.

Dado que estamos já a meio da Presidência belga, pode o Conselho indicar o que pretendefazer até ao termo do seu mandato para pôr em prática a solicitação do Parlamento?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, tal como o Parlamento Europeu, o Conselho adoptou, em 25 deJunho de 2009, conclusões sobre o Livro Verde relativo à gestão de bio-resíduos na UniãoEuropeia.

Nas suas conclusões, o Conselho incentiva a Comissão Europeia a prosseguir a sua avaliaçãode impacto tendo em vista a preparação, sendo caso disso, de uma proposta legislativa daUE sobre resíduos biodegradáveis até 2010. Dir-me-á V. Exa. que estamos em 2010. Emparticular, o Conselho convidou a Comissão a considerar medidas preventivas, medidasdestinadas a introduzir a recolha em separado de resíduos biodegradáveis, um sistema degarantia de qualidade baseado no princípio da gestão integrada da cadeia e da rastreabilidadeao longo de todo o processo, assim como o estabelecimento de requisitos relativos àrotulagem e aos critérios de qualidade para a compostagem e digestão anaeróbica.

Além disso, o Conselho de Junho de 2010 tomou nota da comunicação da Comissãorelativa às futuras etapas na gestão dos bio-resíduos na União Europeia. Nessa comunicação,a Comissão indicou a sua intenção de continuar a trabalhar com vista à introdução deregras técnicas de apoio à gestão de bio-resíduos e, consequentemente, de alterar a Directiva86/278/CEE relativa às lamas de depuração.

O Conselho vai obviamente examinar uma nova proposta de acordo com estas orientações,e a Presidência belga organizou uma conferência sobre bio-resíduos, em 21 de Setembro,a fim de debater, entre outras questões, a essência da comunicação da Comissão. O resultado

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desta conferência foi transmitido ao Conselho em 14 de Outubro, muito recentemente,portanto.

José Manuel Fernandes (PPE). - Senhor Presidente, Senhor Ministro, o ParlamentoEuropeu aprovou por larga maioria, em 6 de Julho do corrente ano, uma directiva específicapara os bio-resíduos. Por uma questão de clareza, por uma questão de simplicidade, poruma questão de certeza jurídica, nós consideramos que em vez desta legislação que estárepartida por vários textos legislativos, em vez dessa situação é melhor uma directivaespecífica.

Desta forma poderemos estar de acordo com a Estratégia da União Europeia 2020, umcrescimento inteligente, um crescimento sustentável, um crescimento inclusivo já queconseguimos, desta forma também, ter mais empregos verdes. Desta maneira tambémconseguiremos combater as alterações climáticas, através de um composto de alta qualidadeconseguiremos uma melhor ajuda para os nossos solos e também uma ajuda àbiodiversidade, e por isso, pergunto, se o Conselho está de acordo, se o Conselho defende,também ele, uma directiva específica e aquilo que vai fazer para este objectivo.

Presidente. – Tenho sido relativamente tolerante com todos esta noite, porque temostido bastante tempo, mas pretende-se que não excedam 30 segundos.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Procurarei ser tão breve quantopossível, Senhora Presidente, para não ser chamado à ordem no fim da minha intervenção.No entanto, esta é uma pergunta interessante. Como é do vosso conhecimento, é à Comissãoque incumbe a decisão de propor, ou não, essa directiva específica. O Conselho está cientede que, na sua comunicação relativa às futuras etapas na gestão dos bio-resíduos na UniãoEuropeia, a Comissão não observou quaisquer lacunas na legislação actual que exigissemuma legislação específica, mas anunciou, de facto, uma proposta de alteração da Directivarelativa às lamas de depuração.

Isto não irá satisfazê-lo, mas saiba também que, quando as conclusões do Conselho foramelaboradas em 2009, os Estados-Membros pareciam estar divididos quanto à necessidadeou não de uma directiva específica sobre bio-resíduos. Por conseguinte, a minha respostanão será nem "sim" nem "não", visto que os Estados-Membros estão divididos. O Conselhoapreciará obviamente com interesse as propostas da Comissão sobre esta directiva relativaàs lamas de depuração, e sobretudo as suas disposições em matéria dos bio-resíduos, queserão, evidentemente, abrangidos por esta proposta.

Presidente. – Obrigado, Senhor Ministro. Os meus comentários não eram dirigidos a si.Pergunta n.º 8 da deputada Mairead McGuinness (H-0471/10)

Assunto: Possibilidade de nova recessão: sustentabilidade do limite de 3%

Poderá o Conselho responder às observações do conceituado economista Joseph Stiglitz,galardoado com o Prémio Nobel, segundo as quais a economia europeia corre o risco devoltar a entrar em período de recessão devido aos cortes na despesa impostos pelos governosda UE numa tentativa de alcançar o limite para o défice de 3% estabelecido no Pacto deEstabilidade e Crescimento?

Será que este limite de 3% é realista, considerando que as finanças de algunsEstados-Membros se encontram sob forte pressão?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. – (FR) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, o principal objectivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento é

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manter a estabilidade dos preços na União Europeia. Nos termos do Tratado, osEstados-Membros devem conduzir uma política nacional que seja coerente com o Pactode Estabilidade e Crescimento e com as orientações gerais para as políticas económicas.

O Conselho de 7 de Setembro chegou a acordo sobre a introdução do semestre europeu,a partir de 2011. Este exercício tem como objectivo principal alinhar o calendário para aapresentação dos programas de estabilidade e crescimento e dos programas de reformanacionais, a fim de assegurar a coerência da supervisão estrutural a todos os níveis dadisciplina orçamental, a estabilidade macroeconómica e o crescimento, mantendoformalmente separados os procedimentos individuais.

Este processo permitirá melhorar a coordenação das políticas económicas no seio da UniãoEuropeia e contribuirá para reforçar a disciplina orçamental, a estabilidade macroeconómicae o crescimento. Foi esta mesma preocupação que levou a União Europeia, na observânciadas competências estabelecidas no Tratado, a considerar medidas destinadas a promovera recuperação, assegurando concomitantemente esta disciplina orçamental. A EstratégiaEuropa 2020, a nova estratégia da UE para o emprego e para um crescimento inteligente,sustentável e inclusivo, adoptada pelo Conselho Europeu em 17 de Julho, responde a estedesafio. O seu objectivo é reorientar as políticas, centradas na gestão da crise, para aintrodução de reformas a médio e longo prazo, que promovam especificamente ocrescimento e o emprego, e que garantam também a viabilidade das finanças públicas.

Como sabem, os principais objectivos identificados na Estratégia Europa 2020 incluem oaumento do número de empregos, melhores condições em matéria de investigação edesenvolvimento, melhoria dos níveis de educação – e, já tocámos neste aspecto numapergunta anterior – e promoção da inclusão social, incluindo a redução da pobreza. A meuver, não existe, portanto, qualquer incompatibilidade entre um pacto de estabilidade emedidas para restabelecer o crescimento e o emprego.

Mairead McGuinness (PPE). – (EN) Agradeço a sua resposta. Esperava mais pormenores,mas agradeço-lhe. O partido ao qual pertenço, o Fine Gael, apoia o limite de 3%, comotodos os principais partidos na Irlanda. Penso que é crucial ter a meta e o prazo para aalcançar, não só para os nossos próprios interesses, mas também para o bem da UniãoEuropeia.

Queria chamar a atenção dos senhores deputados para um excelente discurso proferidoesta manhã por um antigo Primeiro-Ministro da Irlanda, John Bruton, um amigo destaAssembleia, que falou em termos muito directos acerca dos desafios, mas também do factode termos capacidade de fazer o que nos foi fixado dentro destas metas ambiciosas; afirmouainda que a Irlanda, como país, tem muitas qualidades que nos permitirão alcançar osobjectivos sem sofrimento. Haverá mágoa, mas seremos capazes de lidar com ela. Gostariade ouvir os vossos comentários sobre isto, por favor, e também de chamar a vossa atençãopara esse discurso.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) A senhora deputada refere oproblema irlandês. Eu compreendo, e é óbvio que todos nós somos sensíveis ao problemairlandês. A minha resposta à sua primeira pergunta é, naturalmente, uma resposta muitoextensa, que abrange 27 Estados-Membros, pois nós precisamos de ter políticas coerentes,de ter políticas de estabilidade monetária e orçamental, de ter políticas de recuperação.Além disso, é legítimo dizer que alguns países irão, evidentemente, ter mais dificuldadesdo que outros, dependendo do seu nível de endividamento, dependendo da sua dívidaanual nos últimos dois ou três anos e desde o início da recessão.

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Por conseguinte, sim, é verdade, a Irlanda está a atravessar momentos difíceis. Pode ter acerteza de que a Europa compreende que a Irlanda está a atravessar este momento difícil,mas penso que há vários países que estão na mesma situação, vários países que irão vivê-lano futuro, e austeridade e solidariedade não se excluem mutuamente.

Por isso mesmo, penso que, nas medidas de governação económica que a Comissão pôsem cima da mesa, esta semana, nós iremos invariavelmente encontrar a preocupação denão deixar nenhum país ficar pelo caminho – V. Exa. sabe aquilo de que a Europa foi capazem termos de solidariedade para com a Grécia. Não estamos a comparar a situação dosdois países, mas pode a senhora deputada estar certa de que, em circunstância alguma, aEuropa deixará qualquer dos seus 27 Estados-Membros ficar pelo caminho.

Brian Crowley (ALDE). – (EN) Gostaria de agradecer ao Presidente em exercício pelasua resposta. Abordarei apenas dois aspectos muito rapidamente. Em primeiro lugar, nodecurso das discussões em relação à questão do défice de 3%, parece-nos que os diversosEstados-Membros utilizam normas de contabilidade diferentes de acordo com determinadoscritérios.

Em segundo lugar, quanto ao cumprimento, qual é o nível de flexibilidade que existe, devidoà actual crise que afecta todos os Estados-Membros, para permitir a alavancagem ou margensde erro em torno deste valor de 3%?

Georgios Papanikolaou (PPE). – (EL) Senhor Ministro, claro que as conclusões doConselho e a Estratégia UE 2020 se esforçam por conter mensagens optimistas. Todavia,mesmo no orçamento que aprovámos hoje, quando se trata de alcançar os objectivos para2020, penso que – por exemplo, na investigação e na inovação – não conseguimos darresposta e não seremos capazes de atingir os objectivos que queremos com estes números.

Todavia, constatamos que o Conselho não menciona a questão da enorme divisão Norte/Sulna União Europeia. Lembro-me de uma declaração recente de um funcionário superior daUnião Europeia, o Presidente do Eurogrupo, no sentido de que grandes países na União,como a França ou a Alemanha, tinham conhecimento do problema da Grécia – mencionoeste caso porque o senhor referiu-se à Grécia – e no entanto não fizeram nada até agora,pois ganharam muitíssimo com essa situação.

Podemos esperar uma iniciativa que tente colmatar a divisão Norte/Sul na União?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) Duas perguntas, duas respostas.Quanto à primeira pergunta: claro está que houve, e ainda há, disparidades nas normascontabilísticas. Estas normas estão, evidentemente, a ser harmonizadas, pois se amanhãquisermos ser justos com todas as economias dos Estados-Membros precisamos de ter osmesmos métodos de cálculo. Por conseguinte, esta harmonização está em curso e vaiprosseguir.

Quanto à flexibilidade relativamente ao limite de 3%, como sabe, nós estamos realmentea ser flexíveis; já somos flexíveis desde 2009, fomos flexíveis em 2010, e continuaremosa ser flexíveis em 2011 e 2012, para que os nossos diferentes Estados-Membros possamregressar aos orçamentos sadios, porque se quiséssemos aplicar este limite de 3% comrigor, sem a mais pequena margem de erro, então este ano, por exemplo, quase todos osnossos países teriam faltado ao cumprimento deste plano de austeridade orçamental, enão é esse o caso.

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Penso que as instituições europeias compreenderam que o regresso a orçamentosequilibrados, até 2013, levaria o seu tempo, especialmente tendo em conta a recessão e asituação dos Estados-Membros.

Passo agora à questão do desequilíbrio Norte-Sul. Quer o desequilíbrio seja entre o Nortee o Sul ou entre os Estados-Membros que capitalizaram a ajuda fornecida pela UniãoEuropeia para desenvolver a sua economia, para desenvolver o seu tecido produtivo e omercado de trabalho, e outros que o fizeram menos, eu penso que a União Europeia existeefectivamente para salvaguardar essa coerência, essa coesão. Em particular, os fundosdisponíveis no orçamento comunitário a favor da coesão – a primeira rubrica orçamentalda União – devem efectivamente ser usados para reduzir esses desequilíbrios. V. Exa. falado desequilíbrio Norte-Sul, mas eu não estou certo de que esse seja o único desequilíbrioque existe no seio da União Europeia.

Presidente. – Pergunta n.º 9 da deputada Silvia-Adriana Ticau (H-0473/10)

Assunto: Medidas consideradas pelo Conselho para favorecer a livre circulação detrabalhadores entre os Estados-Membros

A nova estratégia económica da União Europeia para os próximos dez anos evoca amobilidade dos trabalhadores como condição essencial para a redução do desemprego. Ataxa de desemprego aumentou de forma preocupante durante a crise, passando de 6,8%(em Maio de 2008) para 10% (em Julho de 2010). De igual modo, de acordo com umasondagem realizada pela Comissão e publicada em 13 de Julho de 2010, 48% dos europeusdizem-se dispostos a procurarem antes um trabalho noutro país ou noutra região em vezde permanecerem no desemprego. Além disso, 17% tencionam trabalhar no estrangeirono futuro. Convém igualmente chamar a atenção para a necessidade dos Estados-Membrosdarem prioridade aos cidadãos dos Estados-Membros da União em relação aos trabalhadoresoriundos de países terceiros.

Neste contexto, o Conselho poderia indicar as medidas concretas que estão em consideraçãopara eliminar rapidamente os obstáculos existentes à livre circulação de trabalhadoresoriundos dos Estados-Membros que aderiram à União Europeia após 1 Maio de 2004?

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, o Conselho gostaria obviamente de reiterar que a livre circulaçãode pessoas é uma das liberdades fundamentais garantida pelo Tratado e pelo direito derivado,e que ela inclui o direito que assiste aos cidadãos da União Europeia de viverem etrabalharem noutro Estado-Membro.

No que diz respeito às restrições temporárias estabelecidas nos tratados de adesão, incumbea cada um dos Estados-Membros, que continua aplicar restrições, avaliar as repercussõesnos seus mercados de trabalho e decidir manter as restrições que subsistem, ou torná-lasmais flexíveis antes do final do período transitório - Abril de 2011, para os países queaderiram em 2004, e Dezembro de 2013, para os que aderiram em 2007. Além disso, oConselho convidou os Estados-Membros que ainda aplicam restrições, nos termos dasdisposições transitórias estabelecidas nos tratados de adesão, a levantarem essas restriçõesdurante a terceira fase do período transitório, se não for possível determinar se o seumercado de trabalho sofreria, ou correria o risco de sofrer, perturbações graves.

Desde Maio de 2009, quando a Dinamarca abriu o acesso ao seu mercado de trabalho, asdisposições transitórias aplicadas pelos Estados-Membros não foram alteradas, e apesarde a maioria dos Estados-Membros conceder livre acesso aos trabalhadores originários dos

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Estados-Membros que aderiram depois de 1 de Maio de 2004, há 10 Estados-Membrosque continuam a aplicar restrições.

O Conselho sublinhou que a crise económica e financeira não devia ser invocada parajustificar, por si só ou de modo mais geral, a manutenção das disposições em causa, econvidou os Estados-Membros a continuarem a desenvolver estratégias e instrumentosapropriados que lhes permitiriam identificar e analisar as barreiras à mobilidade geográficae profissional dos trabalhadores e os ajudariam a eliminar as barreiras existentes, tal comodisposto no Tratado.

Silvia-Adriana Ţicău (S&D). – (RO) Senhor Ministro, obrigada pela sua resposta. Euteria mesmo requerido que o Conselho Europeu continuasse a pedir aos Estados-Membrospara levantar os obstáculos e as cláusulas temporárias que restringem a livre circulação detrabalhadores dos novos Estados-Membros, especialmente da Roménia e da Bulgária.Quero ainda sublinhar que proporcionar igualdade de oportunidades no mercado laboraleuropeu a todos os trabalhadores provenientes de todos os Estados-Membros significatambém proteger os trabalhadores nos países de destino. É por esta razão, Senhor Ministro,que lhe solicito que peça aos Estados-Membros que levantem os obstáculos existentes.

Georgios Papanikolaou (PPE). – (EL) Senhora Presidente, obrigado por me dar de novoa palavra. Senhor Ministro, por um lado, temos problemas de mobilidade e, por outro lado,temos iniciativas europeias para aumentar a mobilidade profissional que, nestes temposdifíceis, será certamente uma opção para muitos cidadãos europeus, especialmente osjovens.

Aprovámos, em 2007, o plano de Acção Europeu para a Mobilidade no Trabalho quetermina em 2010. Podemos esperar uma avaliação desse plano e uma nova proposta doConselho? Temos igualmente o programa Leonardo da Vinci sobre a mobilidade notrabalho. Podemos esperar mais apoio para este programa ou para novas iniciativassemelhantes?

Nicole Sinclaire (NI). – (EN) Resumidamente, que medidas está o Conselho a tomar emrelação à circulação de trabalhadores, ou mesmo refugiados, que vêm para a União Europeiaobter documentos e depois se deslocam para outros países dentro da União Europeia, eainda em relação às salvaguardas ao abrigo da Convenção de 1951 que leva a que tenhamde solicitar asilo no primeiro país seguro?

Gostaria de saber que medidas está o Conselho a tomar em relação a este assunto.

Olivier Chastel, Presidente em exercício do Conselho. - (FR) Em primeiro lugar, eu gostariade assinalar que a livre circulação de trabalhadores é uma verdadeira prioridade do Conselho.Penso que tudo foi feito no sentido de encorajar os Estados-Membros que mantêm umcerto número de restrições a analisarem exaustivamente a esta fase transitória, durante aqual mantêm um certo número de restrições, e para verem como podem levantar essasrestrições.

Além disso, para responder a uma das perguntas, devo acrescentar que, embora seja verdadeque a livre circulação de trabalhadores é uma prioridade para o Conselho, é também, emparticular, uma prioridade para a Presidência. No programa de trabalho de dezoito mesesdo trio de Presidências do Conselho - Espanha, Bélgica e Hungria – poderão verificar queeste três países irão trabalhar, e estão neste momento a trabalhar, na revisão do mercadoúnico que está em curso, encorajando a implementação das quatro liberdades, uma vez

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que a exploração de todo o potencial do mercado único é essencial para o regresso aocrescimento.

O nosso programa menciona especificamente a possibilidade de rever os períodos detransição, que limitam a livre circulação dos trabalhadores dos novos Estados-Membros.Devemos considerar que estas restrições transitórias são incompatíveis com a livrecirculação de trabalhadores? Não é mim que compete responder a essa questão, visto queas restrições transitórias são definidas nos tratados de adesão e que essas restrições foramutilizadas para todas as adesões.

É verdade que, para além dos incentivos que podemos oferecer-lhes, é a cada um dosEstados-Membros que aplica estas restrições que cabe analisar o impacto sobre o seumercado de trabalho e decidir manter ou levantar estas restrições antes do final destesperíodos transitórios, que, conforme de recordarão, são Abril de 2011, para as adesões de2004, e Dezembro de 2013, para as adesões de 2007.

Presidente. – As Estando esgotado o tempo atribuído ao período de perguntas, às restantesperguntas serão dadas respostas por escrito (ver Anexo).

Está encerrado o período de perguntas.

13. Composição das comissões: ver Acta

(A sessão, suspensa às 19H05, é reiniciada às 21H00)

Presidência: RODI KRATSA-TSAGAROPOULOUVice-presidente

14. Ajuda ao Paquistão e possíveis consequências para o sector industrial europeu(debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre ajuda ao Paquistãoe possíveis consequências para o sector industrial europeu.

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, a Europa está muito preocupada com o devastador impacto das cheias noPaquistão, que destruiu meios de subsistência e comunidades por todo o país.

A dimensão da tragédia não tem precedentes na história do Paquistão. O custo ememergência humanitária, associado à sua já frágil economia, é enorme. A gravidade destacrise exige uma resposta imediata e significativa, tendo também em conta a importânciaestratégia do desenvolvimento do Paquistão e a segurança e a estabilidade da região.

O Conselho Europeu solicitou no dia 16 de Setembro um conjunto abrangente de medidasde curto, médio e longo prazo que irão ajudar a sustentar a recuperação do Paquistão e oseu futuro desenvolvimento. A resposta inicial da UE às cheias foi rápida e generosa. Anossa contribuição comum para os esforços de ajuda humanitária eleva-se actualmente amais de 320 milhões de euros, provenientes dos Estados-Membros e da Comissão Europeia,em dinheiro e em géneros. Só isso representa mais de 60% do pedido inicial das NaçõesUnidas.

O Conselho Europeu reconheceu que, juntamente com ajuda humanitária imediata esignificativa e auxílio ao desenvolvimento, são fundamentais medidas comerciais ambiciosas

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para o crescimento e a recuperação económica. O comércio faz parte, portanto, da respostade longo prazo à actual crise. Com este objectivo, a Comissão aprovou no dia 7 de Outubrouma proposta para a suspensão unilateral de direitos de importação para diversos artigosmuito exportados pelo Paquistão. Apresenta-se agora essa proposta aos Estados-Membrose ao Parlamento Europeu.

A Comissão propõe liberalizar 75 linhas pautais nas importações oriundas do Paquistão,responsáveis por 27% das actuais importações do Paquistão para a UE e quase 900 milhõesde euros. Isto iria aumentar as importações da UE provenientes do Paquistão em cerca de100 milhões de euros.

O objectivo desta medida é apoiar os esforços de reconstrução do Paquistão a médio prazo.Consequentemente, as concessões especiais serão limitadas no tempo – a Comissão propõetrês anos. Dada a natureza do tecido industrial e do pacote de exportações do Paquistão,onde os têxteis são responsáveis por mais de 60%, uma grande parte dos produtos para osquais propomos a liberalização são produtos têxteis. Outros produtos industriais, tal comoo etanol, são também abrangidos.

Caso o Parlamento e o Conselho possam dar rapidamente seguimento a esta questão,esperamos ter as medidas em vigor a 1 de Janeiro de 2011. Paralelamente, estamos atrabalhar com outros membros da Organização Mundial do Comércio para obter aautorização necessária – a derrogação da OMC – que tem de ser concedida antes de asmedidas entrarem em vigor.

As concessões comerciais têm de ser significativas para o Paquistão mas, simultaneamente,devem ter em conta as susceptibilidades industriais da União Europeia. Portanto, naelaboração desta proposta, tentámos ter em conta as susceptibilidades industriais na UE,especialmente em relação aos têxteis. A nossa análise mostrou que o impacto na produçãoda UE é provavelmente moderado.

O possível aumento das importações da UE provenientes do Paquistão (100 milhões deeuros) corresponde a menos de 0,5% do valor da produção da UE dos artigos liberalizados,o que corresponde de facto a 24 mil milhões de euros. O apoio do Parlamento Europeu,ao ajudar esta proposta a concretizar-se, é fundamental para a apresentação de uma imagemda plena solidariedade da UE em momentos de carência sem precedentes.

O comércio pode constituir uma parte importante da solução económica a longo prazopara o Paquistão. Dispomos de um prazo apertado para trabalhar nisso. Podem contarcomigo e com o meu pessoal para explicar a nossa abordagem e reduzir qualquerpreocupação que ainda possam ter.

Nuno Melo, em nome do Grupo PPE . – Senhora Presidente, devo dizer que tenho toda acompreensão pela situação vivida no Paquistão, mas queria dizer que esta decisão é trágicapara a Europa e, particularmente, para alguns países que já atravessam grandes dificuldades,casos de Portugal, Espanha ou Grécia.

Num exemplo, a indústria têxtil e do vestuário representa 11 % do total das exportaçõesportuguesas, 22 % do emprego da indústria transformadora e, em alguns produtos, 80 %da produção é mesmo feita em Portugal. E, portanto, estes 80 % diluídos talvez nos 27 daEuropa poderão significar pouco para a Comissão Europeia, mas para Portugal significammuitíssimo.

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A Europa não pode exigir a estes países medidas violentíssimas, que se compreendem, paracontrolo das contas públicas e contenção do défice e, ao mesmo tempo, tomar decisõesque atingem o coração produtivo e a capacidade de criação de riqueza e de manutençãode postos de trabalho nestes mesmíssimos países.

Esta decisão, devo dizer, também atenta contra as normais regras de mercado de formaque não se concebe. Eu não defendo nenhum proteccionismo de mercado, mas reclamoa defesa intransigente das suas boas regras, de um mercado saudável e de um mercadojusto.

Percebam que esta decisão permitirá a entrada na Europa de produtos fabricados noPaquistão abaixo do preço de custo possível às nossas empresas, simplesmente porquenão se lhes exigem as mesmas condições na produção. E a isto, peço imensa desculpa, maschama-se concorrência desleal. Concorrência desleal. As empresas paquistanesas não têmcustos sociais com os seus trabalhadores, não têm custos de protecção ambiental, não têmpreocupações particulares no combate a uma realidade de trabalho infantil, não têmrestrições equivalentes no uso de matérias-primas por razões de saúde pública.

E eu pergunto até: como é que é possível uma decisão tão radical, sem que se apresenteantes um relatório circunstanciado e exacto do seu impacto negativo nos diferentes países?

Há, não obstante, consequências que posso desde já adiantar, e essas consequências são oencerramento e as falências de empresas na União Europeia, particularmente em Portugal,e o aumento do número dos seus desempregados. É bom que tenham a exacta noção disso,porque alguém também terá a seu tempo de ser responsável por isso mesmo.

E, no limite, tendo-se esta proposta como inevitável – porque haverá quem a tenha –, aomenos, por favor, prevejam algumas coisas que neste momento não são contempladas.Por exemplo, o estabelecimento do limite de quotas, como é previsto para o etanol, masnão é previsto para o têxtil. O waiver no máximo de um ano, porque uma ajuda se étemporária... em três anos, acreditem, nenhuma empresa europeia aguenta em concorrênciadirecta concorrer com as empresas paquistanesas.

Termino, Senhora Presidente. E, já agora, uma disposição sobre matérias-primas, para queo próprio Paquistão não impeça o acesso a estas matérias-primas por parte das empresaseuropeias para beneficiar ele próprio dessa produção.

David Martin, em nome do Grupo S&D. – (EN) Senhora Presidente, compreendo a posiçãodo senhor deputado Melo, mas não posso concordar com ela. Saúdo a proposta da Comissãode suspensão da cobrança de direitos na importação para a União Europeia de um lequede produtos de exportação de capital importância para o Paquistão.

Em primeiro lugar, assinalo que há identidade de pontos de vista entre nós a respeito deum ponto: o Paquistão, que não tem tido uma existência fácil desde que é uma naçãoindependente, está a atravessar o pior momento possível. Está na linha da frente da guerracontra o terrorismo, que lhe custou até à data, segundo estimativas, 40 mil milhões dedólares. Todos estamos bem ao corrente das inundações, cujo impacto combinadoultrapassa o do maremoto no Sudeste Asiático de 2004 e o das inundações deste ano noHaiti. Isto representa um golpe de peso para qualquer país.

O que merece o meu aplauso na proposta da Comissão é o ser um meio de dar ao Paquistãoa oportunidade de vencer parte das suas dificuldades através do comércio. É uma propostainteligente. Em primeiro lugar, como disse o senhor comissário, as 75 linhas pautais que

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ajudarão a incrementar o comércio do Paquistão num montante estimado de 100 milhõesde euros anuais pouco afectam o investimento da UE. Isto não lesará nenhuma indústriada União Europeia de forma significativa e, o que é igualmente importante – possivelmente,é até mais importante ainda – não prejudicará os países em desenvolvimento em situaçãoequiparável à do Paquistão, porque nenhuma das linhas pautais em causa respeita a artigosque façam parte da lista dos produtos afectados pela erosão das preferências, da ADD. Issoé muito positivo.

O segundo aspecto sensato da proposta da Comissão consiste no facto de se tratar de umamedida temporária e não tentar modificar unilateralmente a resolução relativa ao SPG.Saúdo esse facto, porque desse modo o Paquistão continua a ter um incentivo a ajustar-seàs normas em matéria de direitos sociais e humanos daqui até 2014, para se habilitar abeneficiar do regime GSP+ em 2014. Assim, por um lado, presta-se a ajuda de emergênciaque é precisa neste momento, mas, por outro, não se dá carta branca ao Governopaquistanês. Diz-se, "vocês têm o dever de pôr a vossa casa em ordem, se quiserem continuara preencher as condições para serem contemplados com estes benefícios".

Isto constitui um verdadeiro teste à generosidade da Europa e eu espero que nós, nesteParlamento, estejamos à altura de o superar.

Niccolò Rinaldi, em nome do Grupo ALDE. – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, este nosso debate de hoje marca uma bifurcação naestrada, entre dois princípios cruciais. De um lado, temos o dever de solidariedade paracom um país que foi atingido por catástrofes naturais que deixaram a sua sociedade, quejá sofria de problemas estruturais, de joelhos. Do outro, estão as exigências de equilíbriono domínio da política comercial. Com a proposta da Comissão Europeia de suspensãodos direitos na importação de produtos do Paquistão, a União Europeia foge, acertadamente,a prosseguir uma política de mera ajuda humanitária, permitindo ao Paquistão reforçar asua economia e, consequentemente, a sua sociedade.

O facto de as 74 linhas pautais envolvidas serem todas de produtos dos sectores têxtil edo vestuário é quase inevitável num país que só exporta artigos dessas áreas. Nós, liberaisdemocratas, preferimos decididamente o recurso a medidas desta natureza à opção porajuda humanitária que é incapaz de imprimir ao país um verdadeiro impulso. No entanto,como o senhor deputado Melo reiterou há pouco, não devemos ser ingénuos e pedimosà Comissão – acima de tudo – que não cometa o erro de o ser.

O senhor comissário conhece perfeitamente a situação crítica em que algumas zonas deprodução têxtil, como a do Prato, se encontram. A região de Prato é um caso especial: aías autoridades nacionais perderam o controlo dos acontecimentos e vigora uma situaçãode ilegalidade generalizada, que é exacerbada também pela crise do sector têxtil europeu.

Como entendemos que o sector têxtil europeu não pode ser o único a pagar a nossajustíssima solidariedade humanitária com o Paquistão, solicitamos três coisas: 1) que seestabeleçam instrumentos de regulação tendentes a evitar quaisquer triangulações comoutros países que possam estar em posição de explorar os benefícios atribuídos ao Paquistão;2) que se previna um agravamento da crise do sector têxtil europeu, mediante a tomadade medidas aptas a apoiá-lo, como a redução do custo da electricidade; e 3) que se evitecriar um precedente para outros países que sejam atingidos por calamidades naturais comoesta. Dessa forma, penso que a ajuda ao Paquistão será partilhada e sustentável, inclusivea longo prazo, e é disso que esse país precisa.

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Jacek Włosowicz, em nome do Grupo ECR. – (PL) Reunimo-nos esta tarde para discutirmosa proposta da Comissão de ajuda ao Paquistão na sequência das inundações. Devemos terpresente que as inundações no Paquistão atingiram quase 14 milhões de pessoas, o quesignifica que assumiram proporções verdadeiramente bíblicas. Causaram uma devastaçãoinimaginável no Paquistão, e os resultados dessa devastação não tardarão em fazer-se sentirem todo o mundo. Porquê? Este foi um ano mau para a cultura do algodão, que é tambémdesignado como "o ouro branco", e de que o Paquistão é um dos principais produtores, e,para agravar a situação, a safra no país perdeu-se em grande medida. Os fabricantes devestuário e as marcas líderes a nível global estão já a prever um aumento do preço dosprodutos de algodão. O algodão é uma matéria-prima que encontramos em todo o lado,e que é usada para o fabrico de peças de roupa, notas de banco, filtros de café, tendas eredes de pesca, além de estar presente nas encadernações de livros e em muitos outrosartigos de utilização corrente. É usado para uma infinidade de fins. Estamos num momentode crise, em que se prevê um aumento dos preços dos bens e serviços de consumo diário.Isto confere uma enorme magnitude a este problema.

Miguel Portas, em nome do Grupo GUE/NGL . – Numa mão, nós temos grandesimportadores europeus que ganham com a entrada dos produtos paquistaneses na Europa.Na outra mão, nós temos outro pequeno número de grandes fábricas têxteis paquistanesas,por acaso situadas em territórios fora das zonas de catástrofe, que também ganhamlargamente com esta proposta da Comissão.

Esta é a realidade. Quem ganha não são os doentes, não são os desalojados, não são ascrianças, não são os idosos que ficaram sem casa. Quem ganha são os grandes negociantes.E o que se está aqui a fazer é a instrumentalização da catástrofe, a instrumentalização defenómenos climáticos extremos, para a realização de grandes negócios.

É isso que é absolutamente intolerável na proposta que está a ser feita pela Comissão. Ébom que arrepiem caminho.

William (The Earl of) Dartmouth, em nome do Grupo EFD. – (EN) Senhora Presidente,no passado, fui muitas vezes um crítico acerbo do Primeiro-Ministro britânico, DavidCameron. No entanto, o Primeiro-Ministro Cameron andou muitíssimo bem ao pedir aconcessão de preferências comerciais ao Paquistão. Não uso o termo "pedir" de formaarbitrária. Foi isso, exactamente, que o primeiro-ministro teve de fazer.

Desde que aderiu à UE, o Reino Unido, a quinta maior economia mundial, não temautonomia para definir a política comercial, sequer com um país da Commonwealth. Nãoobstante, é do interesse nacional do Reino Unido que sejam concedidas ao Paquistãopreferências comerciais. Raramente estou de acordo com David Martin, mas nesta matériaestou. O Paquistão não é apenas um país em desenvolvimento com 170 milhões dehabitantes e fronteiras estratégicas com o Afeganistão; é também um país que tem umastrintas ogivas nucleares.

Um eventual colapso do Estado paquistanês teria repercussões devastadoras na segurançade todo o mundo desenvolvido. A concessão de preferências comerciais ao Paquistão nestemomento poderá, porventura, contribuir para evitar que ele ocorra.

Daniel Caspary (PPE). – (DE) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, creioque devemos rememorar todos, uma vez mais, a situação verdadeiramente dramática queo Paquistão viveu há um par de semanas e que, na realidade, continua a viver em muitoslocais. Regiões inteiras foram inundadas, regiões que são maiores que muitos dos nossos

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Estados-Membros. Há dezenas, aliás centenas, de milhares de pessoas numa situação deprivação extrema. A infra-estrutura foi arrasada: estradas, hospitais, universidades, creches,escolas, empresas. Os meios de sustento de muita gente foram destruídos. Penso que nãosomos capazes, sequer, de imaginar o que isso é. Todos concordamos em que temos deajudar. O problema, porém, está em, como nós dizemos em alemão, "querermos que noslavem, mas sem nos molharem". Que quero eu dizer com isto? Bom, a ajuda financeiradirecta custa dinheiro, que, naturalmente, se tem de ir buscar a outras rubricas orçamentais.A ajuda indirecta – facilitação do comércio – que a Comissão ora propõe, naturalmente,também suscita preocupações da parte daqueles que poderão vir a ser afectados por ela. Épor isso que estamos hoje, e muito bem, a debater este tópico.

A Comissão não propôs que se recorresse ao Sistema de Preferências Generalizadas. Issoé positivo, a meu ver. No fundamental, creio que esta opção pelos canais da OMC, de usaressa via para tentar auxiliar efectivamente as pessoas a valerem-se a si mesmas, é uma opçãojudiciosa. Contudo há ainda muitas questões por esclarecer, como a de saber qual será oimpacto nas indústrias da União Europeia. Olhando para o documento da Comissão, aproposta de regulamento, vejo que nele se afirma, logo no início da exposição de motivos,que se adopta como pressuposto de trabalho que o saldo líquido das importações da UEregistará um crescimento da ordem dos 100 milhões de euros anuais. Será isso, realmente,uma ajuda de grande dimensão e durável ao Paquistão? Dará isso um contributo efectivopara a mobilização das grandes somas que estão aqui jogo? Por outro lado, a propostaimplicará perdas de receita aduaneira de 80 milhões de euros para o nosso orçamento.Será que este rácio faz sentido? É razoável sacrificar 80 milhões de euros de receitaalfandegária para propiciar um aumento das importações em 100 milhões de euros? Estesnúmeros estão correctos? Gostaria que a Comissão me facultasse elementos muito concretossobre toda esta questão.

Estou firmemente convencido de que temos de ajudar o Paquistão. Estou também preparadopara explicar aos cidadãos da União Europeia, e aos do meu círculo eleitoral, que temosde fazer algo e que o auxílio que prestamos a outros tem sempre de ser suportado poralguém. Contudo, estou firmemente convencido de que o Senhor Comissário deviaaproveitar o ensejo, esta noite e nos próximos dias e semanas, para persuadir realmenteos 736 deputados ao Parlamento Europeu de que as medidas propostas constituem a opçãocorrecta e são sensatas. V. Ex.ª devia aproveitar também, e acima de tudo, para destacarformas de os trabalhadores das empresas susceptíveis de virem a ser afectadas em paísescomo Portugal, a Itália e a Espanha, e no conjunto da União Europeia, encontraremigualmente saídas e perspectivas de futuro para eles mesmos. Acredito que são essas astarefas que se impõem, para que a proposta possa ser aprovada por uma maioria destaCasa dentro de algumas semanas ou meses. Acredito que os envolvidos têm muito trabalhoa fazer, no que a persuadir as pessoas e a prestar informação diz respeito.

Gianluca Susta (S&D). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, pensoque temos de ter em consideração a crise que a União Europeia e os seus Estados-Membrosenfrentam a nível global. Num cenário marcado por uma crise nos campos do trabalho,do emprego e do crescimento, tenho dificuldade em perceber a lógica por que alguns paíseseuropeus, e sobretudo a Comissão Europeia, se regem no campo das relações internacionais.A proposta da Comissão que está hoje em discussão penalizará fortemente alguns sectoresindustriais, particularmente o têxtil, e, numa situação como a presente, devemosperguntar-nos se tal é razoável.

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Alguns temem que estas decisões sejam fruto do desejo da Europa de assumir um papelde liderança na cena mundial. Na verdade, sabemos que não é o caso e que elas não são,muito menos, fruto de uma tentativa de reduzir a pressão, incluindo a pressão do terrorismocom origem no seio de, ou ligada a, alguns sistemas políticos e institucionais. A verdade éque a proposta não tem, sequer, nada que ver com as recentes inundações, pois o principalnúcleo da indústria têxtil paquistanesa não se situa nas regiões sinistradas.

A sua real motivação consiste no desejo que lhes está subjacente de, uma vez mais, financiara economia europeia à custa de um sector e beneficiar as grandes cadeias de distribuição,em detrimento dos interesses da indústria transformadora localizada em certos paíseseuropeus. Isto constitui uma opção profundamente errada em termos de crescimento,trabalho e emprego num momento em que atravessamos uma grave crise económica enecessitamos que a UE logre um crescimento real nos mercados globais, em termos deexportações e de capacidade de inovação e qualidade.

Sajjad Karim (ECR). – (EN) Senhora Presidente, permita-me que comece por agradecerao senhor comissário e aos meus colegas Martin e Caspary os comentários muito úteis quefizeram. Depois das inundações, desloquei-me ao Paquistão para ver com os meus própriosolhos a extensão da devastação. A devastação causada pelas inundações é a maior catástrofenatural da História do Paquistão. Ultrapassa inquestionavelmente tudo o que eu poderiaimaginar ou esperar ver.

Quando me encontrei com o Primeiro-Ministro do Paquistão, no dia 22 de Setembro, elemostrou-se, sem dúvida, muito grato pela resposta da UE até então, que qualificou comomuito corajosa; corajosa, nos termos em que o senhor comissário De Gucht a descreveu.Não podemos, de todo em todo, deixar de continuar a reagir de uma forma apropriada. AComissão apresentou agora uma proposta legislativa de redução a zero dos direitos deimportação de 75 linhas pautais que correspondem a 27% das exportações do Paquistãopara a UE, que levará a um crescimento das exportações do Paquistão da ordem dos100 milhões de euros anuais. Isto constitui, realmente, um teste à credibilidade da UE.

Cabe-nos a nós garantir que o acordo político alcançado pelos líderes da UE se traduza emacções que produzam um impacto efectivo e assegurem à economia paquistanesa um meiode salvação nesta hora de necessidade desesperada. Nós somos, afinal, o maior parceirocomercial do Paquistão. Escutei as preocupações expressas por alguns colegas nesta Câmarae subscrevo plenamente a ideia de que devemos ser justos na nossa resposta; justos, masambiciosos. As concessões comerciais a oferecer ao Paquistão têm de representar umesforço credível da parte da UE e proporcionar benefícios económicos significativos aoPaquistão, tendo ao mesmo tempo em conta as vulnerabilidades das nossas própriasindústrias, bem como as de outros membros da OMC – em particular, as dos países menosdesenvolvidos.

Penso que, com esta proposta, estamos a ser ambiciosos, estamos a ser corajosos, mas,acima de tudo, estamos a ser justos connosco próprios, bem como com o povo paquistanês.

Joe Higgins (GUE/NGL). – (EN) Senhora Presidente, é evidente que os 20 milhões depessoas que foram atingidos pelas catastróficas cheias que tiveram lugar recentemente noPaquistão precisam de assistência imediata e substancial, especialmente as 100 000 criançasque, por força das inundações, ficaram desalojadas e em risco de morte por falta dealimentos.

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Essenciais a uma produção alimentar a preços comportáveis são os milhões de pequenosagricultores e agricultores sem terra que estão agora à mercê da classe dos agrários. Adistribuição gratuita de sementes, fertilizantes respeitadores do ambiente e outros meiospode servir de base a uma recuperação rápida do aprovisionamento de alimentos, mas aliquidação dos latifúndios no Paquistão e a distribuição de terrenos aos agricultores semterra é uma chave do abastecimento alimentar sustentável.

Já passaram 140 anos desde que o campesinato irlandês levou a cabo uma grande campanhapelo fim do regime de latifúndio, portanto já é mais que tempo de ele acabar neste país. Aredução dos direitos aduaneiros deve reverter em favor dos trabalhadores e dos pobres,em lugar de beneficiar agrários e responsáveis do Estado corruptos ou engrossar os lucrosdos industriais. A venda da produção dos pequenos agricultores do Paquistão no mercadomundial deve garantir uma justa remuneração do esforço destes, e não proveitos aespeculadores sem escrúpulos dos mercados de produtos de base.

Cristiana Muscardini (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras eSenhores Deputados, todos estamos preocupados com as inundações que devastaram oPaquistão e com as suas graves consequências económicas, mas estamos igualmentepreocupados com a proposta da Comissão Europeia, não obstante o facto de a suaapresentação ser o resultado de uma iniciativa dos chefes de estado e de governo.

A suspensão dos direitos de importação prevista na proposta da Comissão concentra-se,essencialmente, nos sectores têxtil e da marroquinaria – que representam 60% dasexportações paquistanesas, com um volume de negócios de quase 200 milhões de eurose de 510 milhões de euros, respectivamente, e que têm em comum o localizarem-se ambosem áreas de implantação vizinhas uma da outra que, claramente, não foram afectadas pelasinundações.

Afigurou-se-nos que, nas indicações políticas dadas, a grande preocupação que houve foia de garantir que fosse escolhida uma política de ajuda que não lesasse sectores estruturaisda economia europeia. A suspensão dos direitos terá graves repercussões nas indústriastêxtil e das peles europeias, com a potencial perda de milhares de postos de trabalho aolongo dos três anos em que o regulamento deverá ser aplicado. Estas medidas serãointegradas no, e agravadas pelo Sistema de Preferências Generalizadas, que em 2013 seráalargado ao Paquistão.

Senhor Comissário, todos sabemos que a adopção unilateral de medidas excepcionaisderiva da vontade de auxiliar um país pobre de grandes dimensões que se encontra emdificuldades por ter sido atingido por uma calamidade, e cuja situação é agravada pela criseeconómica e pelo facto de não se ter ajustado às regras da Organização Mundial deComércio. Com efeito, o actual regime favorece os países que já se desenvolveram, comoa China e a Índia, mais do que os países mais pobres. As medidas excepcionais tomadasem favor de um país não devem, porém, causar uma crise noutros países.

A proposta da Comissão requer, por isso, correcções significativas no sentido dadiversificação dos sectores envolvidos, incluindo a produção e as exportações do Paquistão,que lhe imprimam uma visão diferente e que assegurem a produção de efeitos sérios nosplanos do respeito pelos direitos humanos e da luta antiterrorista. O Paquistão deve serajudado, mas por meio de acordos claros, incluindo os que respeitam à situação políticana região.

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Josefa Andrés Barea (S&D). – (ES) Senhora Presidente, Senhor Comissário, as inundaçõesde Julho e Agosto deste ano causaram 1 800 mortos no Paquistão e afectaram 20 milhõesde pessoas, 12,5 milhões das quais carecem de ajuda humanitária.

A União Europeia envidou um esforço humanitário de 320 milhões de euros — como V.Exa. disse — e a Espanha contribuiu com 11 milhões de euros. Não é de um acordocomercial que estamos a falar aqui, mas sim de apoiar o desenvolvimento estratégico doPaquistão.

A Comissão, com um mandato do Conselho, liberalizou 70 produtos no espaço de trêsanos. Não há dúvida de que as exportações do Paquistão terão impactos variados nosdiferentes países UE, tendo em conta as características específicas de cada país. Os produtosque o Paquistão pode exportar são etanol, produtos têxteis e artigos em pele.

A Comissão afirma que não pode alterar as listas de produtos que irão colidir com a nossaprodução têxtil. A Espanha representa 16% do volume de negócios do sector têxtil. AComunidade de Valência representa 18% da produção têxtil espanhola, e 17% do empregositua-se na Comunidade de Valência. O mercado para o sector têxtil valenciano é a Europae, dentro da Europa, a França, a Itália e a Alemanha. Por conseguinte, a importação deprodutos têxteis do Paquistão reduz o seu mercado, tanto na Europa como dentro deEspanha.

O Senhor Comissário disse que há um estudo estratégico, mas será que a capacidadeindustrial do Paquistão foi avaliada? Será que se pensou em reduzir a lista de produtostêxteis? Será feita uma avaliação anual do impacto deste acordo?

Christofer Fjellner (PPE). – (SV) Senhora Presidente, Senhor Comissário, queria dizerque a abolição dos direitos de importação e das barreiras ao comércio a título de medidade auxílio ao Paquistão no contexto desta grande calamidade é muitíssimo bem-vinda.Direi que, provavelmente pela primeira vez nesta Câmara, estou impressionado pelaceleridade e determinação mostradas tanto pela Comissão como pelo Conselho nestaquestão.

Não há dúvida de que o dinheiro é necessário. Contudo, qual é a vantagem de estar a darajuda e dinheiro – para além do efeito de apaziguamento da nossa má consciência – se, aomesmo tempo, dificultamos mais, por meio de direitos e barreiras ao comércio, o esforçode recuperação dos próprios?

O que estamos a fazer neste momento, a saber: abolir rapidamente todos os direitos ebarreiras ao comércio respeitantes a 75 linhas pautais diferentes, correspondentes a 27%das exportações do Paquistão, é uma excelente resposta ao desastre com que este país sedefronta. No entanto, nós, no Parlamento, temos agora uma responsabilidade. Temos aresponsabilidade de agir com celeridade. Por outras palavras, isto não deve tornar-se umexemplo de morosidade do processo político. O Paquistão necessita de dinheiro e ajudajá – não daqui a um ano. Temos de demonstrar que compreendemos isso.

Por outro lado, sinto-me desalentado ao ver a dimensão da oposição que esta medidasuscita. Recebi uma petição em que os produtores têxteis europeus expressam a sua oposiçãoa ela, por recearem que o Paquistão passe a exportar mais para a Europa, coisa que eles nãodesejam.

Mas não é precisamente esse o objectivo? A intenção não é criar condições que lhespermitam comerciar connosco, para saírem da situação de pobreza em que se encontram?

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Caso os consumidores europeus tenham acesso a têxteis mais baratos, será que isso constituium problema?

Nesta Casa, muitas vezes, as profissões de fé no comércio livre e na solidariedade cessamsubitamente quando chega a hora de tomar as decisões. Tratemos de demonstrar aqui eagora que é no momento em que eles são mais necessários que damos mais importânciaa esses valores. Esta proposta constitui, provavelmente, o melhor ensejo de tomarmosposição a favor do comércio livre e da solidariedade.

Lara Comi (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, nesta curtaintervenção, queria manifestar a minha discordância da suspensão dos direitos deimportação que poderá ser concedida ao Paquistão, válida por um período de três anos epara 74 linhas pautais, quase todas elas dos sectores têxtil e do vestuário.

As minhas preocupações prendem-se com as consequências negativas que essa medidapode ter na indústria europeia, e em particular na italiana – e com a perda de empregos naEuropa num sector que já foi duramente castigado pela crise económica. Refiro-me emparticular às pequenas e médias empresas do sector que estamos a tentar auxiliar a todo otranse, e que serão afectadas de forma considerável.

Por outro lado, o facto de no princípio do ano o Paquistão ter lançado direitos de 15% sobreas suas exportações de fibra de algodão, para desencorajar a venda de matéria-prima nãoé irrelevante. É claro que a ideia é reter as matérias-primas para conseguir taxas de câmbiomais favoráveis na exportação. Compreendo perfeitamente a necessidade de se ajudar umpaís que enfrenta problemas sérios, especialmente depois dos graves desastres que sofreu.Eu esperaria, no entanto, que a ajuda europeia revestisse a forma de contribuições comvista à construção de estradas e infra-estruturas, com recurso a mão-de-obra local.

Jörg Leichtfried (S&D). – (DE) Senhora Presidente, Senhor Comissário, não é fácil ser-seobjectivo no debate quando o assunto que está em causa são 100 000 crianças que ficaramsem abrigo, milhões de agricultores que estão na rua e pessoas reduzidas à pobreza maisabsoluta. Entendo que a União Europeia deve agir com rapidez e ser lesta a fornecer socorroneste caso. A grande questão que se levanta para mim no que toca às medidas que aComissão propôs é, Estaremos a canalizar a ajuda para o lugar certo ou a auxiliar as pessoaserradas? Esse é um ponto que eu gostava de ver mais bem explicado, na medida em que,se se pode indubitavelmente afirmar, a respeito da indústria têxtil, que a ajuda beneficia oPaquistão no seu todo, já não estou seguro de que ela chegue às pessoas certas.

Em segundo lugar, gostaria de dizer que, se esta ajuda auxilia as pessoas a auxiliarem-se asi mesmas, temos obviamente de ter em conta o efeito de tudo isto na Europa. Creio,contudo, que a situação neste caso já é dramática, que temos de prestar auxílio, e esperoque a ajuda chegue a quem precisa realmente dela.

Jean Lambert (Verts/ALE). – (EN) Senhora Presidente, quero apenas responder a algunsdos comentários que foram feitos.

O que o Paquistão está a tentar fazer, neste momento, é sair do caos em que mergulhouna sequência das inundações devastadoras. Se as fábricas se situassem nas áreas atingidas,não estariam em condições de laborar, por isso não admira que as fábricas em causa nãose situem nas áreas atingidas pelas cheias.

A ajuda directa que se poderia mobilizar é minúscula, face às necessidades. Se a questãoda distribuição da receita das exportações adicionais é importante – sabemos que assim é,

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no que toca à infra-estrutura, abastecimento de energia, escolas, estradas, etc. –, o facto éque há responsabilidades que incumbem ao Governo democraticamente eleito do Paquistãoem termos de eficácia, de rendimento, de receita fiscal e por aí fora.

Falou-se também na necessidade de uma maior diversificação. Se o Paquistão tivesse umtecido industrial composto por um maior número de sectores, não nos concentraríamostanto no têxtil. Exorto os senhores deputados a proporcionarem-lhe esta oportunidade desuperar este desastre com as suas próprias energias.

João Ferreira (GUE/NGL). - Senhora Presidente, Senhor Comissário, a tragédia noPaquistão exige a solidariedade europeia, mas não pode ser pretexto para pôr em causa aindústria têxtil de vários Estados-Membros, como é o caso de Portugal. Há outras formasde ser solidário. Formas de ajuda mais eficazes, dirigidas ao restabelecimento das zonasafectadas e à melhoria das condições de vida das populações locais, mas também formasde ajuda mais justas.

As concessões comerciais não são medidas de longo prazo, como aqui veio dizer. Beneficiamsobretudo os grandes importadores europeus, que assim vêem satisfeitas pretensões de hámuito. Mas prejudicam a indústria têxtil e os países e regiões dela mais dependentes. Tudoisto num quadro de profunda crise e de desemprego elevado.

Sendo certo que as medidas propostas pela Comissão não podem ser pretexto, em nenhumacircunstância, para novos despedimentos, também não podemos ignorar as dificuldadesobjectivas que vêm criar. Exigem-se medidas de defesa do sector têxtil europeu e dorespectivo emprego.

Por proposta do nosso Grupo, o orçamento comunitário 2010 prevê uma rubricaorçamental destinada à criação de um programa comunitário para o sector do têxtil ecalçado. Onde está esse programa, Senhor Comissário? Quais as suas linhas-chave? Sãoperguntas que aqui deixamos.

Claudio Morganti (EFD). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,afigura-se-me paradoxal que a União Europeia, em lugar de defender os nossos postos detrabalho, os ponha em risco, ocultando as possíveis consequências das suas acções sob acapa da retórica dos desígnios humanitários. A possível redução dos direitos de importaçãode produtos de vestuário do Paquistão nos próximos três anos arrisca-se a precipitar osector secundário numa crise ainda mais profunda que a que estamos a atravessar nestemomento, com a perda de 120 000 empregos na Europa toda e de 40 000 só na Itália.

O Paquistão deve ser ajudado, mas não podemos estar a conceder facilidades comerciaisnum momento em que o meu país – a Itália – e outros Estados-Membros já estão a sentiros efeitos da contrafacção de produtos têxteis, cujos grandes centros se localizam sobretudonos países asiáticos e na China. A Comissão não pode fazer caridade à custa, acima de tudo,da Itália, que por si só representa 30% do sector têxtil europeu. Considero que, juntamentecom o Paquistão, devemos auxiliar as nossas pequenas e médias empresas a fugir à crisemediante a imposição de direitos e quotas à importação de produtos asiáticos. Eu sou dePrato e os meus compatriotas e eu estamos fartos de medidas como estas.

Georgios Papanikolaou (PPE). – (EL) Senhora Presidente, no que respeita à indústriatransformadora, eu recordaria à Câmara que o Paquistão é o 4.º produtor mundial dealgodão, com 9% da produção global, seguido pela União Europeia, com um pouco menosde 5,5%. Como tal, estamos perante uma questão muito séria. Naturalmente, não queremosproteccionismos, que obstam a uma concorrência saudável; queremos, pelo contrário, um

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comércio internacional livre e aberto. Por outro lado, porém, este ponto já foi suscitadopor deputados. O senhor deputado Melo, que é de Portugal, um país com uma economiafrágil, foi muito explícito. Outros deputados referiram-se ao caso da Itália. Eu queriaacrescentar a Grécia à lista; todos estão a par dos problemas que ela enfrenta. É claro queé de ajudar o Paquistão, mas devemos também monitorizar a situação e é isso que eu queroperguntar à Comissão: dispomos nós de mecanismos aptos a assegurar que a ajuda queprestamos ao Paquistão seja encaminhada para o destino correcto e não seja desviada paraoutros fins ou para determinadas indústrias, em detrimento das empresas e dostrabalhadores europeus?

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhora Presidente, não me considero especialmente entendidona matéria, mas reconheço a importância estratégica do Paquistão. Por esse motivo, apoioa tese do senhor deputado Karim de que é do interesse de todos ter um regime estável lá,numa região caracterizada por uma grande volatilidade.

Tenho de dizer também que uma União que tem como alicerces os princípios da paz e daprosperidade para os nossos cidadãos deve estar na vanguarda em matéria de prossecuçãoda paz e da prosperidade noutras partes do mundo, pelo que apoio as propostas que aquiestão a ser apreciadas esta noite, mas gostaria que a Comissão respondesse de forma muitocabal às questões que foram levantadas pelo senhor deputado Higgins e outros membrosda esquerda.

Pode ela garantir que a ajuda que dermos reverterá a favor daqueles que a merecem e nãode grandes negociantes e latifundiários? É essa a questão crucial que está aqui em causa,esta noite.

Elisabeth Köstinger (PPE). – (DE) Senhora Presidente, os efeitos da catástrofe das cheiasno Paquistão atingiram proporções inimagináveis. Considero que a União Europeia temo dever de se certificar de que a ajuda chega rapidamente ao povo do Paquistão. As medidasdestinadas a fortalecer a economia e o emprego a longo prazo constituirão um importantecontributo da UE no sentido de ajudar este país tão flagelado a sair da crise em que seencontra. No entanto, pergunto-me se uma simples redução dos direitos aduaneiros serásuficiente para produzir os efeitos desejados. Necessitamos de apurar, efectivamente, seas preferências concedidas ao Paquistão são ou não exploradas por países terceiros porvias indirectas e se, por consequência, produzem ou não o efeito desejado. Além da indústriatêxtil, estou a pensar, acima de tudo, no sector do bioetanol.

A pergunta específica que tenho para a Comissão é se considera a criação de um contingentepautal para o etanol uma opção verdadeiramente sustentável e eficiente, apta a ajudar opovo do Paquistão. Pode avaliar-se se, no caso da produção de bioetanol, os requisitos desustentabilidade das importações para a UE também são preenchidos.

(A oradora aceita responder a uma pergunta segundo o procedimento "cartão azul", nos termos donº 8 do artigo 149º)

William (The Earl of) Dartmouth (EFD). – (EN) Senhora Presidente, eu só gostava desaber se a oradora está ciente de que o que está em discussão hoje, por uma vez semexemplo, não é a ajuda, mas simplesmente as preferências comerciais. Esta medida facultaráao Paquistão um ensejo de superar os seus problemas através do seu próprio esforço eempenho. Pergunto-me se a oradora compreenderá isso.

Elisabeth Köstinger (PPE). – (DE) Senhora Presidente, creio que é esse, de facto, o pontocentral que estamos a debater. É necessário que as medidas sejam cuidadosamente

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ponderadas, para assegurarem uma assistência sustentável. Acima de tudo, há sempre aquestão de saber, em última análise, em que medida o correspondente balançocusto/benefício é aceitável para a Europa.

Sergio Paolo Francesco Silvestris (PPE). – (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o Paquistão deve inquestionavelmente ser auxiliado, na sequência dasinundações que sofreu. No entanto, a pergunta que hoje devemos fazer é: que tipo de ajudafaz mais falta a este país, e que tipo de ajuda está a União Europeia em condições de prestarmelhor. Devemos agir com celeridade, mas também com eficácia.

Na realidade, o que mais me preocupa é a eficácia da proposta da Comissão Europeia.Afigura-se-me uma proposta de qualidade desigual, que, por incidir primariamente nossectores têxtil e das peles, se arrisca não ser suficientemente eficaz, uma vez que esta ajudaé susceptível de dar azo a novas tensões por força dos novos focos de pobreza que gerarána Europa, e de mutilar ainda mais o sector têxtil europeu, que já está em grave declínio.

Depois, temos de ter em consideração o facto de, ao privilegiar as exportações de empresasprodutoras, estarmos na verdade a auxiliar as regiões do Paquistão que não foram afectadaspelas cheias, quando a nossa ajuda deve contribuir para promover a competitividade e odesenvolvimento, favorecendo a recuperação do tecido produtivo das áreas do país queforam atingidas pela catástrofe. Por todas estas razões, entendo que a via da abolição dosdireitos é absolutamente inadequada e que não devemos dar-lhe o nosso assentimento ouapoiá-la.

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, antes de mais, queriaapresentar com toda a clareza os números que estão em causa. Estamos a falar de umvolume de comércio de 900 milhões de euros. O efeito será um acréscimo de 100 milhõesde euros nas exportações paquistanesas para o mercado europeu, mas o saldo total para aUnião Europeia será de somente 50 milhões de euros, por via da posição de vantagem deque o Paquistão beneficiará para exportar para o mercado europeu, haverá também umcerto efeito de desvio dos fluxos de comércio, o que significa que outros importadoresperderão algumas oportunidades nos mercados europeus. Portanto, o impacto global anualserá de cerca de 50 milhões de euros.

Faço esta precisão, porque no debate voltei a ouvir dizer que se perderiam120 000 empregos. Todos os senhores deputados dispõem de uma calculadora notelemóvel; se a Europa vai perder 120 000 empregos por causa de um aumento dasimportações para o seu mercado em 50 milhões, isso é sinal de que a indústria têxtil europeiatem realmente problemas muito graves, independentemente do que aconteça com oPaquistão. Invocar esse argumento, pura e simplesmente, é falta de seriedade.

Esta é a minha primeira observação. Em segundo lugar, tomámos devidamente em contaas vulnerabilidades da indústria têxtil europeia e a posição difícil em que essa indústriapoderia ficar. A linha pautal da roupa de cama não é abrangida pela medida proposta, nemas do vestuário e da roupa de casa, que são três das linhas de produtos mais sensíveis paraa Europa.

Já muitos produtos semiacabados são, pelo contrário, abrangidos. Se são semiacabados,isso quer dizer que serão acabados na Europa, o que deve, na verdade, embaratecer asimportações para as empresas que se dedicam ao tratamento final deste tipo de produtos.Portanto, isto não nos traz prejuízos imediatos. Eu diria até o contrário. Nós estudámoscom muito cuidado o que poderia constituir uma boa proposta para o Paquistão sem lesar

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demasiado a indústria europeia, numa conjuntura em que nós próprios estamos tambéma sair de uma crise económica, que não é certamente fácil de gerir.

Foi feito igualmente um comentário relativo às exportações de algodão. Há escassez dealgodão no mercado mundial, e é verdade que o Paquistão é um dos principais produtoresde algodão. A minha ideia é que, depois de chegarmos a um consenso, mal vejamos queestamos realmente a conseguir resultados, devemos pedir também ao Paquistão que tratede assegurar à nossa indústria têxtil algodão suficiente para satisfazer a procura do mercado.Como há grande escassez de algodão à escala global, ou pelo menos de algumas variedadesde algodão, os senhores deputados poderão perguntar por que motivo não importamosessas variedades de algodão da África. Bom, porque na África não se produzem as variedadesde algodão de que nós precisamos, e a reconversão da produção não pode ser feita de umdia para o outro, por isso teremos de prestar especial atenção a este problema.

Deixem-me só concluir, dizendo que, analisando a situação do Paquistão, verificamos queo que faz falta é mais ajuda e mais comércio; precisamos de ambos. A União Europeia jácontribuiu com 320 milhões de euros, 60% do que as Nações Unidas pediram inicialmente.Continuaremos a fazê-lo; isso é mais ajuda.

Comércio não é ajuda, como foi dito neste plenário. No comércio o que está em causa éproporcionar à economia paquistanesa ensejos de produzir e exportar para dar empregoàs pessoas que dele carecem. A meu ver, a concessão de facilidades comerciais adicionaisé um instrumento essencial à recuperação económica do Paquistão. Mas não se trata deajuda, o que significa que não podemos determinar quem deverão ser os beneficiários,digamos. O processo é muito mais fácil de dirigir no caso do comércio, mas, ainda queeste tenha as suas fragilidades, também sabemos que não é possível recuperar uma economiaà base de ajuda.

Penso que são precisos os dois elementos, ajuda e comércio, e é por isso que estamos atrabalhar em ambos os campos. É verdade que devemos ter igualmente presente que, comoeu tenho dito neste plenário, estamos a tratar de uma região que sofreu uma devastaçãosevera. Usaram da palavra muitos deputados italianos e, segundo sei, a parcela do territóriodo Paquistão que está inundada tem aproximadamente a mesma superfície que a Itália. Édisso que estamos a falar, por isso penso que devemos ajudá-los, mas devemos tambémter presente que se trata de uma região muito sensível e de grande importânciageoestratégica. É muito importante para nós e para a nossa segurança, também. Se seinstalasse um clima de instabilidade nesta região, isso acarretaria grandes perigos para aEuropa, pelo que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para impedir que aestabilidade da região possa ser afectada pelo que aconteça no Paquistão.

Assim, preparámos todo um conjunto de medidas para serem aplicadas. Temos discussõespolíticas com o Paquistão; reunimo-nos numa cimeira bilateral recentemente, eprosseguiremos com esse diálogo. Vários representantes da UE têm-se deslocado lá, bemcomo a Comissária Georgieva, por exemplo, para tratar de assuntos da ajuda humanitária.Temos o "pacote" de ajuda, que é considerável, e temos também uma abordagem económicade intensificação do comércio. Penso, e espero, que isto constitua realmente algo deconsiderável para o Paquistão. Estou também convencido de que, ao ajudar o Paquistão,estamos também a ajudar-nos a nós próprios, em certa medida.

Presidente. – Está encerrado o debate.

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15. Indicação do país de origem em determinados produtos importados de paísesterceiros (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia o relatório da deputada Cristiana Muscardini,em nome da Comissão do Comércio Internacional, sobre a proposta de regulamento doParlamento Europeu e do Conselho sobre a indicação do país de origem em determinadosprodutos importados de países terceiros (COM(2005)0661 – C7-0048/2010 –2005/0254(COD)) (A7-0273/2010).

Cristiana Muscardini, relatora. - (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhorase Senhores Deputados, muitos dos países que constituem os principais parceiroseconómicos e comerciais da União Europeia aplicam, há já bastante tempo, normas internasque exigem que as mercadorias importadas sejam portadoras de uma denominação deorigem.

Em 2005, a Comissão Europeia apresentou uma proposta de regulamento tendente a pôra União Europeia em pé de igualdade com esses países, exigindo que alguns bensmanufacturados importados para a União Europeia incluam uma denominação de origem.Esse regulamento ajudará a corrigir uma situação de desequilíbrio que tem prejudicado osconsumidores europeus, que, ao contrário dos cidadãos de países não comunitários, nãotêm o direito de escolher o que compram com pleno conhecimento da sua proveniência.Está, pois, em causa um direito democrático, que pressupõe liberdade de escolha, na baseda qual está o direito ao conhecimento.

O regulamento acaba com uma situação de inferioridade para os cidadãos da UE ao proportambém de novo o direito legítimo à reciprocidade. Trata-se de um regulamento exigidopor muitas associações de consumidores e apoiado por muitas associações empresariais.O sistema produtivo europeu não conseguirá nunca recuperar se aos nossos produtoresnão forem dadas as mesmas condições de garantia que são dadas noutros países em queestá já em vigor legislação relativa à indicação do país de origem dos produtos.

Os produtores europeus - que justamente têm de preencher muitos requisitos impostospela União Europeia com vista a garantir a qualidade dos produtos e a protecção dosconsumidores, e que, para exportarem, são obrigados a identificar os seus produtos comuma marca de origem - estão a ser vítimas de uma concorrência desleal por parte deprodutores de países terceiros que podem exportar as suas mercadorias para a Europaocultando a sua proveniência.

Actualmente, as pequenas e médias empresas europeias, a favor das quais foi aprovadauma resolução na passada legislatura, em 5 de Fevereiro de 2009, relativa aos problemasque encontram quando pretendem internacionalizar-se, continuam a ver-se confrontadoscom dificuldades decorrentes da concorrência desleal por parte dos produtores não europeusque podem exportar para a Europa sem uma marcação de origem, e aos consumidoreseuropeus é negado o direito a uma escolha informada.

Para que o livre mercado o seja inteiramente, deve basear-se numa concorrência justa eassentar em regras claras, partilhadas e aplicadas. É por isso que a aprovação desteregulamento irá, finalmente, sanar o défice de democracia e de leal concorrência aindapresente na Europa, e que prejudica, sobretudo, os consumidores.

O regulamento foi aprovado pela Comissão do Comércio Internacional do ParlamentoEuropeu pela larga maioria de dezanove votos a favor e apenas três votos contra. O

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Parlamento Europeu já exprimiu o seu apoio na passada legislatura mediante uma declaraçãoescrita aprovada por ampla maioria e, na presente legislatura, com a votação de umaresolução que obteve 529 votos a favor num total de 593 votantes. É, de facto,surpreendente que alguns deputados que tinham subscrito a declaração escrita e votado afavor da resolução em Novembro de 2009 tenham hoje apresentado uma alteração tendenteà rejeição do regulamento.

Com muita serenidade, julgo poder dizer que aqueles que se manifestarem contra a propostanão querem dar aos cidadãos europeus os mesmos direitos que têm os cidadãos chineses.

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhora Presidente, ilustres deputados,esta noite estamos a discutir uma proposta legislativa apresentada pela Comissão em 2005,relativa à indicação do país de origem de certos produtos importados de países terceiros– o regulamento "Made in".

Gostaria de agradecer à relatora, senhora deputada Muscardini, pela sua dedicação no apoioà nossa proposta e pelo seu árduo trabalho. Desejo-lhe muito sucesso na sua futuracondução deste através do processo legislativo.

O ano 2005 foi muito antes da entrada em vigor do Tratado de Lisboa e, por isso, muitoantes de ter sido atribuída a este Parlamento igualdade de poderes legislativos relativamenteà política comercial, mas a falta de poder legislativo não impediu o Parlamento Europeude expressar por duas vezes o seu apoio a esta proposta. Apesar dos nossos esforços, nãoforam feitos progressos quanto à sua adopção por parte do Conselho.

Agora que o Tratado de Lisboa está em vigor, congratulo-me que o Parlamento Europeupossa exercer todos os seus poderes relativamente a esta proposta. Digo isto porque a UEprecisa de adoptar legislação sobre a marcação de origem de certos bens de países terceiros.Actualmente, a UE não exige a marcação de origem: os produtos podem ter uma marcaçãode origem desde que não induza os consumidores em erro, em conformidade com aDirectiva CE das práticas comerciais desleais de 2005.

O objectivo da nossa proposta é introduzir a obrigatoriedade da marcação de origem nasimportações de certos produtos e estabelecer regras claras quanto à determinação da suaorigem. Os objectivos da nossa proposta são claros – permitir que os consumidores saibamqual a origem dos bens e garantir a transparência de acordo com uma única regra pela qualseja determinada a sua origem. É claro que a informação de origem não abrange tudo oque o consumidor possa querer saber sobre um produto específico, mas tem a vantagemde ser útil e clara.

Em segundo lugar, depois de melhor informados os consumidores serão então livres dedecidir o que comprar de acordo com as suas preferências. Eventualmente, a nossa propostapode também contribuir para reduzir a incidência de marcações de origem fraudulentasou que induzam em erro. É limitada no seu âmbito, aplicando-se a bens como o couro,têxteis, calçado e vidro e não se aplica a sectores como a electrónica, equipamentos TIC,químicos, maquinaria, automóveis, etc.

Entre as categorias de produtos abrangidos pela proposta estão os produtos cuja informaçãode origem é particularmente importante para os consumidores: os destinados aoconsumidor final. Uma das alterações adoptadas pela Comissão do Comércio Internacionalrefere-se claramente a esta disposição, o que considero positivo. Claro que teremos quegarantir coerência entre este princípio – nomeadamente os "bens destinados ao consumidor

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final" – e os produtos que, no final, serão de facto abrangidos pelo presente regulamento,conforme constam no seu anexo.

Não nego que a marcação de origem tem custos para aqueles que têm relações comerciaiscom e exportam para a UE. O custo dependerá nomeadamente dos processos de produçãoe das regras técnicas de marcação. Por isso, é importante manter estes custos no mínimovalor possível. A Comissão será responsável pelo estabelecimento de regras quanto àsmodalidades de marcação e dará a maior atenção à minimização dos custos com base naspráticas internacionais, consultando os Estados Membros e todas as indústrias e parceiroscomerciais envolvidos.

Analisando esta proposta num contexto mais vasto, podemos verificar que grandes parceiroscomerciais - como os UE, Canadá, Japão e China – já têm há muito tempo esquemassemelhantes em prática. Estamos por isso em condições de aprender lições úteis a partirda experiência dos outros.

Concluindo, quero sublinhar a determinação da Comissão em trabalhar em estreitacolaboração com o Parlamento com vista à adopção desta proposta e à obtenção de umesquema de marcação de origem eficiente, preciso, e eficaz em termos de custos.

Christofer Fjellner, em nome do Grupo PPE. – (SV) A obrigatoriedade da marcação deorigem, ou a utilização das palavras "Made in", significa que os bens importados para aEuropa de países terceiros devem ser etiquetados com o nome do país de onde sãoprovenientes. Na minha opinião, esta é uma proposta que pertence ao século passado,quando algo fabricado na Suécia, por exemplo, era composto apenas por peças origináriasda Suécia. No entanto, parece que o comércio mundial, a globalização e as cadeias defornecimento globais não foram tidos em conta nesta proposta.

Um dos meus exemplos preferidos é o da camisa que estou a usar. É feita de algodão doEgipto, tecido em Itália. Foi desenhada em Hong Kong e finalmente costurada na China.Creio que uma designação muito melhor do que "Made in China", que provavelmentereceberia de acordo com este regulamento, seria "Made in the world", para citar o anteriorComissário e actual Director-Geral da OMC. É assim que o mundo se apresenta hoje emdia.

Esta não é uma proposta que forneça melhor informação. Pelo contrário, acredito que estaproposta vem criar novas barreiras ao comércio e torná-lo mais difícil, e é talvez atéproteccionista. É precisamente por isso que este tipo de regulamento é proibido dentro daUE. No mercado interno não é permitido, por exemplo, que, na Suécia, se exija que osartigos importados da Alemanha sejam etiquetados com o local de onde são originários.É verdade que muitos dos nossos parceiros comerciais, os Estados Unidos por exemplo,têm regulamentos deste tipo. Os Estados Unidos introduziram estas informações em 1930,mas este não é, com certeza, um exemplo a imitar. Todos sabemos que os anos 30 foramuma das décadas mais negras da história do comércio mundial. Em vez de introduzirmosregulamentos de comércio do século passado, criando novas barreiras e entraves aocomércio mundial, julgo que deveríamos fazer o contrário. Para sairmos da recessão,devemos facilitar o comércio. A minha mensagem para a Comissão é, por isso, a seguinte:reformular a proposta e fazê-lo bem! Amanhã votarei contra esta proposta e estou certode que muitos dos meus colegas deputados seguirão o meu exemplo.

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Kader Arif, em nome do Grupo S&D. – (FR) Senhora Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, é sempre com grande satisfação que intervenho depoisdo senhor deputado Fjellner, pois tenho a certeza de que não estarei de acordo com ele.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à nossa relatora assim como a todos osrelatores-sombra e, em particular, ao meu amigo Gianluca Susta, pelo seu excelente trabalhoe pela sua boa cooperação na preparação deste texto, que permitirá, finalmente, introduzirum sistema de marcação de origem obrigatório para certos produtos importados para aEuropa. Gostaria de lhe agradecer também, Senhor Comissário, pelo seu empenhamento.

O nosso voto de amanhã será, na realidade, a primeira fase do processo de introdução desteregulamento, que data de 2005 e que o Parlamento Europeu sempre apoiou e pediu. Amarcação de origem representa um passo importante para a transparência e a informaçãoque nós devemos melhorar constantemente em prol dos cidadãos europeus.

Com efeito, os consumidores europeus querem, com razão, saber aquilo que compram,qual a proveniência do produto e em que condições foi fabricado. Estão portanto a exigira possibilidade de consumirem de uma forma mais informada e, consequentemente, deuma forma mais responsável.

Com este novo regulamento, nós respondemos a este pedido, pois os nossos cidadãosserão mais bem informados, nomeadamente sobre as condições sociais e ambientais emque os bens que adquirem são produzidos. Contrariamente ao que alguns querem crer, oconsumidor também é um cidadão que aceita pagar mais por uma produção europeia dequalidade, pois esta legislação é igualmente essencial para as empresas europeias cujaprodução está associada a uma reputação de qualidade e a normas de produção rigorosas.

Para essas empresas que optaram por manter um modelo de produção que salvaguarda osaber-fazer e o emprego na Europa, este regulamento irá restabelecer condições deconcorrência equitativas face aos nossos parceiros comerciais de países terceiros. O textoresultante da votação em Comissão do Comércio Internacional é equilibrado, e é por issoque apelo aos deputados deste Parlamento para que, aquando da sua votação na sessãoplenária de amanhã, não ponham em causa este equilíbrio e apoiem este texto votandoesmagadoramente a favor dele.

Niccolò Rinaldi, em nome do Grupo ALDE. - (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados. Senhora Presidente, se visitasse a Ponte Rialto, em Veneza- eventualmente em companhia do Senhor Comissário De Gucht - e quisesse comprar umpar de sapatos apresentados como italianos, uma gravata, uma máscara típica ou um copode Murano, correria o risco de ser enganada, acabando por descobrir que o produtocomprado não tinha sido, de facto, produzido em Itália, mas num qualquer país asiático.

Considero que a proposta de regulamento em análise começa a introduzir um pouco deordem num mercado global cada vez mais confuso. O seu objectivo é proteger osconsumidores - incluindo-a a si, Senhora Presidente, e ao Senhor Comissário De Gucht,se forem fazer compras na Ponte de Rialto, em Veneza, ou em qualquer outro lugar - etambém as indústrias europeias que não se deslocalizaram (ao passo que aquelas que ofizeram serão penalizadas por este regulamento). Sobretudo, irá corrigir a assimetriaexistente nos mercados comerciais, em que a Europa é a única grande área em que nãoexiste um regulamento sobre obrigatoriedade da marcação de origem.

Não se trata de uma proposta proteccionista; considero-a, efectivamente, muito equilibrada.Só se aplica a um número limitado de produtos, ao produto directamente destinado ao

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consumidor final, e é um projecto-piloto - falo em nome do meu Grupo - de cinco anos,pois vamos apoiar a alteração com a cláusula de caducidade. Além disso, introduzimostambém em comissão - mediante uma alteração por mim apresentada - uma disposiçãoque visa evitar qualquer carga burocrática excessiva que possa prejudicar as empresas.

Se a votação de amanhã correr bem, tal significará que uma etapa foi vencida, mas nãoserá uma vitória final. Precisamos, depois, do pleno apoio da Comissão Europeia nasconversações com o Conselho Europeu. A Comissão foi já muito pródiga em sugestões emuito cooperante - o que agradecemos -, razão pela qual deveremos continuar a trabalharem conjunto. Estou certo de que, daqui a cinco anos, estaremos satisfeitos com o resultadoobtido.

Malika Benarab-Attou, em nome do Grupo Verts/ALE. – (FR) Senhora Presidente, Senhorase Senhores Deputados, gostaria de agradecer à relatora pelo bom trabalho que realizou.Precisamos de ser mais bem informados sobre a marcação de origem dos produtos quecompramos. O direito comunitário também prevê sanções em caso de violação...

Peço desculpa, tenho um problema. Falarei mais tarde.

(A oradora interrompe a sua intervenção e retoma-a depois a convite da Presidente)

Precisamos de ser mais bem informados sobre a marcação de origem dos produtos quecompramos. O direito comunitário também prevê sanções em caso de violação e de osconsumidores serem induzidos em erro no que respeita à origem. O Tribunal Europeu...

Não, não consigo, peço desculpa.

(A oradora interrompe de novo a sua intervenção)

Jan Zahradil, em nome do Grupo ECR. – (CS) Compreendo porque é que a proposta foiapresentada, mas não concordo com as razões que levaram à sua apresentação. Creio queo actual mundo globalizado dificilmente permite determinar o país de origem de umproduto; afinal de contas, a garantia de qualidade deste ou daquele produto é de longe maisimportante que a sua marca comercial ou país de origem. Também devemos ter em atençãoque esta proposta não tem a ver com a protecção de marcas comerciais ou rotulagemproteccionista, assim como também não serve de nada à protecção de marcas comerciaisou etiquetagem proteccionista. O facto de esta proposta conduzir ao aumento do preçoespecífico de um produto e, consequentemente, também a um aumento do preço doproduto final, já foi aqui mencionado pelo Senhor Comissário. No fim de contas, o factode a proposta abranger apenas certos produtos – conforme foi aqui mencionado pordiversas vezes – poderá mesmo ser descrito como algo parecido com discriminação emfunção da origem do produto ou discriminação geográfica.

Por isso, gostaria de argumentar que devemos introduzir a etiquetagem voluntária, porque,afinal, onde os consumidores dão valor acrescentado esta etiquetagem, a maioria dosprodutores da UE já utilizam esta etiquetagem de forma voluntária. A União Europeia émuito frequentemente criticada por ter regulamentação excessiva, por aprovar demasiadasleis que sobrecarregam a actividade económica. Peço, por isso, pelo menos neste caso, quenão contribuamos para uma maior sobrecarga legislativa da actividade económica naUnião Europeia.

Helmut Scholz, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhora Presidente, Comissário,também eu gostaria de agradecer à senhora deputada Muscardini pelo trabalho que tevecom este relatório e aos relatores-sombra pela sua colaboração construtiva.

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O meu grupo acolhe com agrado a abordagem de fornecer mais transparência aosconsumidores em relação à origem dos produtos, e apoia o roteiro, como o descreveu osenhor deputado Rinaldi, até à vitória final. De facto, teríamos preferido que fosse fornecidamais informação, tal como informação sobre as "pegadas" ecológicas dos produtos, sobrea observância os direitos dos trabalhadores no processo de fabrico ou sobre a distribuiçãoequitativa dos lucros entre produtores e trabalhadores. Ao mesmo tempo, também nãoacreditamos que uma lista tão exaustiva de informação possa fazer parte de um regulamentosobre a indicação do país de origem, já que o nome do país, por si só, não fornece nenhumainformação fiável sob este ponto de vista. Tomemos o exemplo da Índia, onde o trabalhoinfantil é proibido. Embora entre as empresas existam "ovelhas negras", a grande maioriacumpre a lei. Num regulamento Europeu, temos por isso que ter em consideração o factode que nem os concorrentes nem os nacionalistas podem lançar na lama o nome de umpaís inteiro e dos seus produtos.

Defendemos o desenvolvimento de sistemas de certificação. As etiquetas comerciaiscorrectas representam um modelo a seguir e deverão, a partir de agora, ser desenvolvidascom o apoio da UE. Além disso, poderíamos ter em conta métodos de produção combaixas emissões de carbono e condições de trabalho humanas o que nos permitiria englobardesafios modernos. Apelo à Comissão que desenvolva esforços para que se dê início a umregulamento adicional neste sentido.

Permitam-me acrescentar mais uma ideia. A introdução consistente das disposições "Madein" também tem um papel a desempenhar na resolução de conflitos políticos difíceis; porexemplo, o livre acesso a produtos "Made in Palestine" no mercado da UE, que permitiriadar uma oportunidade de desenvolvimento económico autónomo na Palestina.

Claudio Morganti, em nome do Grupo EFD. - (IT) Senhora Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, o Parlamento Europeu vai votar amanhã o regulamento relativo à marcaçãode origem, com base no qual - de acordo com as alterações apresentadas - a marcação deorigem deverá ser aplicada aos bens de consumo final e aos bens destinados ao consumidorfinal.

Esta última especificação poderá causar uma grave reacção em cadeia, pois não incluiprodutos semiacabados e intermédios que, tendo sido produzidos em países não europeus,uma vez chegados à Europa, com um processamento final - eventualmente insignificante- poderão passar por produtos originários de um Estado-Membro. Deste modo, oconsumidor não será cabalmente informado da verdadeira origem do produto, e, ao mesmotempo, as grandes indústrias serão incentivadas a deslocalizar-se para países terceiros,multiplicando, assim, os seus próprios lucros à custa do empobrecimento dos nossossectores industriais.

Por estas razões, apresentámos algumas alterações tendentes a alargar a referidaespecificação a produtos semiacabados e intermédios, a fim de garantir transparência erastreabilidade relativamente a produtos importados de países terceiros, de acordo com omodelo da lei italiana Reguzzoni, que respeita inteiramente os direitos dos consumidores.Senhoras e Senhores Deputados, esta é, efectivamente, a última oportunidade de quedispomos para proteger o sector secundário, em Itália e em toda a Europa, que constituium dos principais motores da economia, ao contrário do que acontece com os poucosgigantes industriais, que buscam o seu próprio interesse e não o bem de toda a comunidade.

Prevenir as deslocalizações selvagens, a contrafacção e a exploração da mão-de-obra devecontinuar a ser um dos objectivos do Parlamento Europeu. Se amanhã aprovarmos o

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regulamento na sua actual formulação, estaremos a desperdiçar uma grande oportunidade,assim como os nossos esforços e, sobretudo, os de milhões de trabalhadores das pequenase médias empresas, que se sentirão traídos, tal como todos os consumidores que confiaramem nós para fazermos uma escolha responsável. A batalha que estamos a travar não écontra ninguém, mas a favor do trabalho, das empresas, dos nossos trabalhadores e detodos os cidadãos europeus.

Diane Dodds (NI). – (EN) Senhora Presidente, vivemos tempos de desafios económicose muitos pequenos negócios sentem-se sobrecarregados com o excesso de burocracia daUE e com os custos que lhe estão associados. Creio que, antes de tudo, o Parlamento e aComissão deveriam procurar formas de aliviar a sobrecarga financeira da burocracia coma qual insistimos neste regulamento.

Relativamente a esta proposta, precisamos de estabelecer um equilíbrio entre a aberturade mercados para os produtos Europeus e a garantia da qualidade e segurança dos produtosimportados. Devo dizer, contudo, que, no que se refere aos produtos alimentares, considerovantajosa a etiquetagem dos produtos de países terceiros. Sei que não estão abrangidospelo âmbito desta proposta, mas muitos dos agricultores da Irlanda do Norte sentem-sedesprotegidos, porque fazem todos os esforços para cumprir as exigências estabelecidaspela Europa e depois têm de competir com agricultores que não são obrigados a cumpriressas mesmas exigências.

Espero que o Senhor Comissário tenha tomado em boa nota que, aqueles que entre nósrepresentam as comunidades agrícolas e rurais, não esqueceram o reatar das conversaçõescom os países do Mercosul e esperamos que não esteja disposto a sacrificar a nossa indústriaagrícola por outros mercados. Este Parlamento tem o hábito de levar a legislação demasiadolonge e receio que é o que está a acontecer neste caso específico.

Elisabeth Köstinger (PPE). – (DE) Senhora Presidente, antes de mais gostaria de agradecerà senhora deputada Muscardini pelo seu árduo trabalho, especialmente em relação aosassuntos controversos, alguns dos quais foram já aqui discutidos. Estou convencido queos consumidores europeus precisam que lhes expliquem este assunto. Também sou daopinião que o nosso objectivo deve ser o de proteger os cidadãos europeus de produtosperigosos e prejudiciais à saúde. Os consumidores finais devem saber quais asmatérias-primas que foram utilizadas, como são obtidas, como e onde são processadas equais as nomas de produção e sociais aplicadas nos países envolvidos. O objectivo é claro,mas precisamos de clareza em relação à forma como pretendemos fazê-lo. Infelizmente,a actual versão das disposições do regulamento "Made in" não nos dizem nada sobre averdadeira origem de uma mercadoria em particular.

Gostaria de ilustrar isto com um exemplo: O Uzbequistão é o terceiro maior exportadorde algodão do mundo. Noventa por cento das colheitas de algodão são feitas à mão, a maiorparte com recurso a trabalho infantil. O algodão recolhido é depois embarcado para oVietname, onde é processado. De acordo com as actuais propostas da Comissão, os têxteisimportados para a UE provenientes do Vietname devem ser etiquetados com a marcação"Made in Vietnam", então e a transparência para o consumidor europeu? Ninguém sabede onde vêm as matérias-primas e como foram obtidas. O nível de informação é bastanteinsuficiente.

O Centro Europeu do Consumidor, na Áustria, publicou uma análise actualizada que indicaque os negócios de maior relevo e líderes a nível mundial na área dos têxteis, não podemgarantir que as matérias-primas provenientes de empresas subsidiadas pelo Estado e que

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recorrem a trabalho infantil não entram nos seus processos de produção. Disposições"Made in" deste tipo, que excluem as matérias-primas do processo produtivo, enganamclaramente as expectativas dos utilizadores finais europeus. Sou a favor de uma maiorverdade na etiquetagem dos produtos e, por isso, oponho-me a esta proposta da Comissão.

Gianluca Susta (S&D). - (IT) Senhora Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, gostaria de agradecer à relatora, a senhora deputada Muscardini, e a todos osrelatores-sombra com quem trabalhei sobre este tema, que é extremamente importantepara nós. Espero que, amanhã, o Parlamento Europeu dê à resolução legislativa um apoiotão forte como o que manifestou no passado em três ocasiões: primeiro em Julho de 2006,depois com a declaração escrita de 2008 e, finalmente, com o voto favorável à resoluçãode 2009.

Preparamo-nos para aprovar uma medida de protecção dos consumidores, informando-ossobre a origem dos produtos de utilização mais generalizada, que repõe a igualdade deoportunidades no comércio internacional e a reciprocidade entre a União Europeia e osseus principais concorrentes. Não acrescenta custos às empresas dos países terceiros, quesão já obrigadas a marcar os seus produtos em todos os países do mundo nossosconcorrentes e em muitos outros. Também não cria quaisquer custos para o sistema dedistribuição europeu, que, indirectamente, sem custos para os orçamentos públicos,promove o regresso à Europa de importantes produções, reduz as deslocalizações deempresas e contribui ainda para o combate à contrafacção.

Trata-se de um conjunto de vantagens muito óbvias, que não podem ser travadas em nomede outras eventuais medidas adicionais, pois estamos perante uma situação em que,efectivamente, o óptimo é inimigo do bom. Temos de concluir um processo iniciado hásete anos, demonstrando a nossa preocupação relativamente aos interesses das nossasempresas - sobretudo neste momento de crise e desemprego -, mas pensando também naspotencialidades de um sistema comercial regulado de modo a garantir reciprocidade,protecção dos consumidores e informação correcta, e que pode ser mais desenvolvido emtermos de rastreabilidade.

Mal seria se esta medida não viesse a ser aprovada pelo Parlamento. Gostaria de agradecer,uma vez mais, à Comissão Europeia e a todos quantos quiserem apoiar esta medida, queé positiva para os cidadãos europeus e para o comércio mundial.

Malika Benarab-Attou (Verts/ALE). – (FR) Senhor Presidente, as minhas desculpas,Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de agradecer à relatora. Precisamos de ser maisbem informados sobre a marcação de origem dos produtos que compramos. A legislaçãoda UE também prevê sanções em caso de violação e de os consumidores serem induzidosem erro no que respeita à origem.

O Tribunal de Justiça Europeu estabelece...

Não, peço desculpa, tenho um problema, vou registá-lo na Acta.

(A oradora interrompe a sua intervenção)

Jacky Hénin (GUE/NGL). – (FR) Senhora Presidente, o milagre do comércio livre e daconcorrência livre e sem distorções significa que o consumidor que adquire uma faca queostenta a denominação Laguiole, em Aveyron, a sua região de origem, tem 90% de hipótesesde adquirir uma lâmina de má qualidade produzida na China ou no Paquistão. Este é umexemplo entre muitos outros. Trata-se uma rotulagem verdadeiramente fraudulenta.

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Se quisermos realmente salvaguardar e desenvolver o emprego industrial na União Europeia,se não quisermos enganar o consumidor e proteger a sua saúde, se quisermos prolongaro acervo social e ambiental das nossas sociedades, precisamos urgentemente de tornarobrigatória a marcação de origem dos produtos manufacturados, mesmo que isso impliqueesborcelar os dogmas ultraliberais fundadores da Europa. Esta marcação tem de ser sériae não uma forma de embuste que consiste em apresentar um produto como sendo "madein Europe", quando na realidade não passa de uma montagem de peças vindas de todomundo, em que só o rótulo é "made in Europe".

Os serviços aduaneiros e os ministérios da justiça dos Estados-Membros terão, portanto,de ser dotados de todos os meios de controlo e de aplicação da lei para implementaremlegislação rigorosa sobre a marcação de origem e sobre o país de origem.

Jaroslav Paška (EFD). – (SK) Graças a uma política de comércio aberta, os nossosconsumidores podem adquirir produtos feitos em todo o mundo. No entanto, a maiorparte das vezes, não têm forma de saber onde foram produzidos, de onde vieram asmatérias-primas de que são feitos e que procedimentos tecnológicos foram utilizados pelofabricante no seu processamento.

Ao mesmo tempo, a condição prévia para uma boa tomada de decisão por parte dosconsumidores quando escolhem um produto é que disponham da maior quantidade deinformação possível. Os cidadãos europeus não têm, até hoje, direito a informaçãoelementar sobre os produtos, a mesma informação que está disponível para os cidadãosdos Estados Unidos desde 1930, mas também, hoje em dia, para os cidadãos da China,Japão, Canadá, Índia, México e outros países.

É por isso que acredito que é altura de a União Europeia adoptar uma norma que protejaos consumidores europeus, independentemente dos interesses específicos das grandescadeias de distribuição ou de certos grupos de interesses e que exija aos fornecedores quemarquem os bens importados de países terceiros com a informação necessária sobre a suaorigem. Desta forma os nossos consumidores terão acesso a uma fonte de informaçãoimportante quando tiverem que decidir quais os produtos que vão comprar, enquanto osfabricantes de países terceiros não serão, de forma nenhuma, substancialmente afectados,porque já há muito tempo que indicam a origem dos seus produtos para outros países.

No entanto, seria importante analisar em pormenor os mecanismos de uma aplicaçãouniforme de sanções e penalizações pela violação desta legislação por qualquer EstadoMembro, por forma a prevenir que os fabricantes procurem um ponto de entrada nomercado comum da União Europeia que não esteja adequadamente protegido por sanções,evitando assim a condescendência em relação aos regulamentos. Acredito firmemente quea introdução de um sistema eficaz de marcação da origem dos produtos será extremamentebenéfico quer para os consumidores europeus quer para os fabricantes.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Tenho sido abordada por fabricantes de vidro checos,fabricantes de têxteis e de calçado que pedem transparência quanto à origem dos produtos.Têm que competir com imitações de origem desconhecida as quais são parasitas em relaçãoao mercado da União Europeia. Estamos sobretudo a falar de produtos de baixa qualidadee frequentemente prejudiciais. Acresce ainda que a informação sobre o local onde sãoproduzidos têxteis, calçado, vidro, jóias ou produtos farmacêuticos não é classificada, nemconstitui proteccionismo ou qualquer barreira ao comércio livre, como a classificam osliberais. Pelo contrário, o Mercado livre e a competição justa só funcionam bem se os

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consumidores puderem tomar decisões acertadas e livres com base na informação e naexperiência.

Apoio totalmente a relatora, senhora deputada Muscardini, e agradeço a sua contribuiçãopara que se chegue a um compromisso que, espero, nos permitirá adoptar a propostaamanhã. Compreendo que, em especial nos países nórdicos, onde os produtos tradicionaisforam substituídos por produtos importados de outros países, este regulamento possa serconsiderado como burocracia desnecessária. De qualquer modo, deixem-nos comparar aadopção do regulamento com os nossos concorrentes nos Estados Unidos, Canadá, Japãoe China, onde a indicação "Made in" é obrigatória. Tal como o orador anterior, consideronecessário que a Comissão proponha, pelo menos, regras básicas quanto às penalizaçõese que garanta o seu acompanhamento sistemático em toda a União Europeia, para alémde garantir que os exportadores de países terceiros não darão preferência a certos paísesdevido às baixas sanções ou à sua inexistência.

PRESIDÊNCIA: LÁSZLÓ TŐKÉSVice-presidente

Jörg Leichtfried (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Comissário, senhoras e senhores,durante uma viagem de delegação recente em representação da Comissão do ComércioInternacional, tive o prazer de visitar uma série de locais de produção na Europa, pequenasempresas que são obrigadas a funcionar em condições muito difíceis: testemunhei umaqualidade superior, salários justos, boas condições de trabalho e uma atmosfera de trabalhoracional. Trata-se de um resultado directo das nossas tradições e do ordenamento jurídicoeuropeu. No entanto, existem imensos países onde tais princípios não existem, onde ascondições de trabalho são pobres e onde não existem garantias para os trabalhadores.Acredito que, no mínimo, os consumidores europeus devem poder reconhecer no futurose os produtos que estão a comprar vêm de um país onde os princípios básicos não sãoaplicados. Trata-se de algo que será exigido no futuro graças à directiva que a senhoradeputada Muscardini preparou de forma tão eficiente. Consequentemente, vamos concordarcom a proposta.

Para os negócios que deslocaram a sua produção para o estrangeiro, por sua própriaconveniência e para evitar a burocracia, e que agora se estão a queixar, diria: Vocês são osúnicos culpados!

Antonio Cancian (PPE). - (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, a Europa não podia eximir-se a este seu dever: não poderíamos agir de outromodo. Gostaria de agradecer à senhora deputada Muscardini pela tenacidade do seutrabalho, bem como a todos os colegas que trabalharam sobre esta questão.

No que respeita à rastreabilidade das mercadorias provenientes de países não europeus,considero que os consumidores devem ter conhecimento da proveniência e da origem dosprodutos, com vista à protecção da sua saúde e da sua liberdade, alargando a exigência derastreabilidade aos produtos semiacabados, em que deve ser indicada a fileira de produção.Quanto à competitividade, a falta de um regulamento deste tipo compromete o direito doscidadãos europeus e dos consumidores e impede o correcto funcionamento do mercado,o qual, para ser livre, deve assentar em regras comuns e partilhadas, sem disparidades ouconcorrência desleal.

Relativamente à protecção das pequenas e médias empresas e dos seus produtos nacionais:não são os grandes grupos empresariais que precisam dessa protecção. Pelo contrário,

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considero que não precisam dela de todo, tendo em conta que as suas marcas estão presentesem todo o mundo. Além disso, temos de valorizar as especificidades e os produtos deexcelência típicos dos nossos países, de relançar a economia europeia e de garantir o respeitopelos direitos dos trabalhadores no domínio social e ambiental e na produção.

Senhor Presidente, Senhor Comissário, pergunto a mim mesmo porque é que havemos derecear dizer a verdade e procurar estabelecer regras iguais para todos. Não podemosdeixar-nos intimidar, recorrendo ao método legislativo europeu ordinário, e não deixandoque o Conselho imponha sempre a sua vontade. Por conseguinte, procuremos concretizareste passo, apoiando o regulamento em questão. O resto se verá.

Sergio Gutiérrez Prieto (S&D). - (ES) Senhor Presidente, o regulamento que hojedebatemos é de vital importância para o futuro do sector da cutelaria e afins, um sectorque, na minha região - na terra de Dom Quixote, mais concretamente em Albacete -representa não só a conservação de mais de oito mil postos de trabalho, mas é tambémparte da sua identidade e uma aposta no futuro do artesanato enquanto fonte geradora deemprego.

A marca "Made in" nas facas já é há muito reivindicada por grupos sociais como o Aprecu,e o Governo de Castilla-La Mancha bate-se por ela com o apoio unânime do seu Parlamentoregional.

A marcação de origem não é intervencionismo; é um compromisso com a transparênciae as regras do jogo comerciais na luta contra a concorrência desleal. Significa aumentarcapacidade de os consumidores tomarem decisões ao escolherem um produto porquelevam conta não só o seu preço final, mas também a marca de qualidade do local de origemou as condições sociais em que o mesmo é produzido. A marcação de origem representará,acima de tudo, uma nova oportunidade de optimismo para muitas pessoas que atravessamtempos difíceis, mas que hoje sentem que não fomos indiferentes em termos do apoio aum comércio mais justo, conferindo simultaneamente um valor acrescentado àqueles que,para além de produzirem, o fazem respeitando os direitos sociais e as melhores condiçõesdos trabalhadores europeus.

Gostaria, pois, de agradecer à relatora e ao senhor deputado Menéndez del Valle aconsciência social que demonstraram nesta matéria que é tão importante para a minharegião.

Peter Šťastný (PPE). – (SK) Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar a senhoradeputada Muscardini pela forma como abordou o relatório e pelo trabalho árduo que neleinvestiu. A União Europeia não é a primeira, nem a segunda ou terceira, a exigir que osseus cidadãos sejam informados sobre a origem de um produto que compram para satisfazeras suas necessidades de consumo.

EUA, Japão, Índia e muitos outros países já há muito tempo que garantiram este direitoaos seus cidadãos. A proposta está de acordo com os regulamentos da Organização Mundialde Comércio. Por isso, a questão é: porque é que ainda não chegámos a um compromisso?Todos estamos de acordo com a necessidade de informar o cidadão consumidor. Noentanto, também é verdade que a indicação do país de origem, ou seja, a marcação "Madein", pode potencialmente induzir em erro, porque a globalização na indústria significa queo produto final é composto por diversas partes feitas em países diferentes. Por conseguinte,talvez se adicionássemos outra etiqueta à etiqueta "Made in", como por exemplo "processedin" ou "assembled in", fosse mais fácil chegar a um acordo mais amplo. O maior obstáculo,

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o receio de fornecer informação incorrecta, incompleta ou que induza em erro, seriaeliminado.

Concluindo, gostaria de manifestar o meu desejo de que, aqui, no Parlamento Europeu, aoqual o Tratado de Lisboa atribuiu maiores poderes nesta área específica, através da propostaconduzida pela relatora, senhora deputada Muscardini, se encontrem soluções comunsque ajudarão os nossos cidadãos a fazer escolhas melhores e, sobretudo, escolhas maislivres.

Presidente. – Gostaria de lhe pedir desculpa pelo incómodo. Segue-se na ordem do diaos comentários breves. São seis, por isso poderemos passar a palavra a cada um deles.

Giovanni Collino (PPE). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, todosos cidadãos se aperceberam da escala global da actual crise económica, e pensamos queestão conscientes da importância da adopção de regras comuns para evitar provocardistorções no mercado e uma perigosa redução das trocas comerciais.

A União Europeia tem consciência da necessidade de informar claramente os cidadãossobre os produtos que circulam dentro das suas fronteiras, e tem agido nesse sentido, tendoem conta o interesse tanto dos Estados-Membros como dos cidadãos. Enquanto o interessedo primeiro grupo consiste na promoção dos seus recursos, embora sem proteccionismo,os cidadãos querem conhecer sempre a proveniência de todos os produtos, mesmo quetenham de aguardar algum tempo antes de este regime se aplicar a todas as categorias debens.

Queremos que a União Europeia fale a uma só voz, ao mesmo nível de todas as outrasvozes que se fazem ouvir com veemência nos mercados internacionais. Por isso, vamosapoiar amanhã o relatório sobre a indicação do país de origem em determinados produtosimportados de países terceiros, exortando o Conselho Europeu a cumprir a parte que lhecabe para concluir o melhor possível este percurso legislativo, que já se arrasta há seislongos anos.

Mario Pirillo (S&D). - (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhoras e SenhoresDeputados, cinco anos após a apresentação da proposta de regulamento, vamos finalmentevotar amanhã a obrigatoriedade da marcação de origem de determinados produtosimportados de países terceiros. Ao longo destes anos, o Parlamento Europeu afirmou,muitas vezes, a necessidade de uma norma que reconheça aos consumidores o direito auma correcta informação sobre a proveniência dos produtos, promovendo, desse modo,uma escolha mais consciente.

Os nossos produtos são, muitas vezes, objecto de contrafacção e de indicações enganosas.Este regulamento poderá contribuir para dar maiores garantias às empresas europeias epara a recuperação da competitividade a nível internacional. Espero que o Parlamentoenvie um sinal forte, aprovando por uma larguíssima maioria o relatório da senhoradeputada Muscardini, a quem agradeço, assim como ao relator-sombra, o senhordeputado Susta.

Peter Jahr (PPE). – (DE) Senhor Presidente, também no sector agrícola, os consumidorestêm direito a informação detalhada e clara sobre os produtos vendidos na União Europeia.Desta forma, poderemos ajudá-los a tomar decisões de compra bem informadas edeliberadas.

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No entanto, o objectivo a longo prazo deve ser que os níveis de qualidade e segurança dosprodutos europeus se apliquem também aos produtos importados que se vendem na UniãoEuropeia. Não se trata de criar restrições ao comércio mas, pelo contrário, de estabelecercondições de competitividade iguais, um pré-requisito para um comércio global justo.Infelizmente, a proposta de resolução apresentada pela Comissão não atingirá este objectivo.

Sergio Paolo Francesco Silvestris (PPE). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, apoiamos com entusiasmo este regulamento, e gostaríamos de agradecer àrelatora, a senhora deputada Muscardini, bem como ao senhor deputado Susta e ao senhordeputado Rinaldi. Também eu considero que esta medida constitui um passo intermédio.Temos de decidir se é ou não justo que, ao adquirir um produto, o consumidor saiba ondeele foi fabricado. Nós consideramos que é justo. Este é um regulamento que aponta nosentido da transparência e da defesa dos direitos dos consumidores. Pouco nos importase, neste momento, para defender o direito dos consumidores à transparência e à clareza,algumas empresas que se deslocalizaram se vão sentir, de algum modo, penalizadas.

Ouvi atentamente as palavras do colega sueco, o senhor deputado Fjellner, que vem deEstocolmo, e devo responder-lhe que gostaria de ir ao seu país e, com toda a confiança,comprar um fato típico sueco com a certeza de que tenha sido, realmente, feito na Suécia.Isto porque poderá ter a marca de uma empresa sueca, mas ter sido fabricado numa pequenaempresa transformadora eventualmente localizada a dez quilómetros da minha casa.Sentir-me-ia, nesse caso, um imbecil por ter ido à Suécia comprar algo produzido na minhaterra.

Por isso me congratulo com a marcação de origem, se ela der transparência e possibilidadesde clareza e de conhecimento de causa aos consumidores, e, ainda, uma resposta mínimaa um grande número de empresas que tiveram a coragem de não se deslocalizar, acabandopor ser prejudicadas por uma concorrência desleal.

João Ferreira (GUE/NGL). - Senhor Presidente, temos defendido e valorizado apossibilidade da existência da marcação de origem, considerando-a em todos os aspectoscomo um instrumento de defesa dos empregos industriais na Europa, nomeadamente naspequenas e médias empresas, um instrumento contra o dumping social e ambiental. Uminstrumento importante, mas apenas isto: um instrumento. Não é – não nos iludamos aeste respeito – uma panaceia. Não é a solução mágica universal para fazer face àsconsequências nefastas que decorrem da liberalização e desregulação do comércio mundial,fazer face aos tremendos prejuízos que decorrem desta desregulação.

Alguns dos que beneficiam desta liberalização são os mesmos que se têm desde sempreoposto à denominação de origem: os grandes importadores e a grande distribuição europeia.Pela nossa parte, continuaremos a lutar contra o proteccionismo de que estes grandesinteresses têm beneficiado, contrariando o interesse geral, para prejuízo de milhares dePME na Europa, dos trabalhadores, dos seus direitos e salários.

Precisamos de abordar seriamente questões que se prendem com cadeias de produção ede transformação que abrangem áreas geográficas distintas, mas estas questões não sãoinultrapassáveis e devem ser resolvidas da forma mais transparente e informativa possível.

Seán Kelly (PPE). – (EN) Senhor Presidente, gostaria de dizer à minha colega, senhoradeputada Muscardini, que – nas palavras de Shakespeare – prestou um serviço ao país,porque há demasiado tempo que somos a fada-madrinha do mundo, espalhando a nossagenerosidade por toda a parte e em troca também somos tratados como fadas. Vimo-lo

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em Copenhaga e vemo-lo nas Nações Unidas, mas, felizmente, esta noite começaremos adominar combatendo e estabelecendo um patamar de condições iguais para os nossosconsumidores e para as nossas indústrias.

Na realidade, não faz qualquer sentido que os produtos provenientes de países terceirospossam entrar na União Europeia sem qualquer indicação sobre o seu local de origem.Gostaria que fossemos muito mais longe. A minha colega, senhora deputada Dodds, disseque gostaria que o regulamento se estendesse à agricultura e isto é, no mínimo, um primeiropasso. Precisamos de ajudar os nossos consumidores a fazer escolhas, para sabermos queas escolhas que estão a fazer são as correctas, que não existe contrafacção e que as regrasdo jogo são justas para todos.

Por isso, cumprimento a minha colega, senhora deputada Muscardini. Estamos finalmenteno caminho certo.

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, Reparei que existe umgrande apoio no Parlamento quanto à proposta e não me vou deter em muitos doscomentários que foram feitos, porque a maioria apoia a proposta da Comissão e o relatórioda senhora deputada Muscardini sobre a mesma.

Deixem-me apenas dizer, em relação às regras de origem que este é um regime muitoestabilizado. Estas regras são de facto muito estáveis e são bem conhecidas, porque é combase nestas regras de origem que os direitos alfandegários são pagos, quando os produtosentram no mercado Europeu. De facto, a nossa proposta assenta nelas. Não pode haverqualquer mal-entendido quanto a isso.

A segunda observação que gostaria de fazer é quanto à alteração introduzida pela senhoradeputada Muscardini e que propõe que este regulamento "Made in" seja uma espécie deprojecto-piloto, que será avaliado após um período de quatro anos e, talvez, alterado.Considero que vale a pena apoiar esta alteração, porque imagino que aumentará as hipótesesde sucesso da proposta junto do Conselho.

A razão pela qual esta proposta, que se reporta ao ano 2005, não faz ainda parte dalegislação da UE é simplesmente porque o Conselho não a aceita. Tem-na recusado atéagora, mas a proposta da senhora deputada Muscardini de a transformar numprojecto-piloto por um período de cinco anos, com uma avaliação após quatro anos, é umbom passo na direcção certa. É por essa razão que a Comissão pode aceitar a alteraçãoproposta.

Cristiana Muscardini, relatora. - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de agradecer ao Senhor Comissário pela consideração que demonstrou pelaspropostas que elaborámos em comissão. Foi um trabalho longo, com uma mediação difícil,mas procurámos ter presentes as necessidades de todos. Agradeço, sobretudo, aosrelatores-sombra, o senhor deputado Susta e o senhor deputado Rinaldi. Conseguimosapresentar um texto que, na sua globalidade, abarca a maior parte dos problemas que nosforam apresentados.

Gostaria de agradecer também aos colegas que, esta noite, se expressaram, maioritariamente,a favor do regulamento, mas, sobretudo, a favor de mais democracia e de mais respeitopelos consumidores e pelos cidadãos europeus. Espero que amanhã a votação possa,finalmente, assinalar uma nova fase da União Europeia; uma fase que, por um lado,testemunhará a reafirmação da vontade política da União, e, por outro, a reafirmação do

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direito dos cidadãos europeus a serem informados e a participarem nas escolhas que aUnião Europeia irá fazer.

Foi um longo trabalho de compromisso, e, sinceramente, surpreende-me que haja aindaalguns colegas, representantes de vários países, que preferem a ideia de rejeitar oregulamento a garantir aos seus concidadãos os mesmos direitos de que gozam os cidadãoschineses, indianos ou americanos, entre outros.

Espero que a noite seja boa conselheira e que cada um de nós pense que um dia seremosquestionados sobre o que fizemos de bem e de mal, e também sobre aquilo que não fizemos.Hoje, finalmente, temos de agir com a capacidade de compreender aquilo que o mundorepresenta para nós. A liberdade e a democracia defendem-se com o conhecimento.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar na quinta-feira, 21 de Outubro de 2010.

Declarações escritas (artigo 149.º)

Jiří Havel (S&D), por escrito. – (CS) Gostaria de manifestar o meu total apoio ao relatóriosobre a introdução da rotulagem com indicação do país de origem para vários produtosimportados de países terceiros. A proposta da senhora deputada Cristiana Muscardiniresolve a anterior inexistência de normas legislativas europeias neste domínio. A exigênciada indicação da origem dos produtos pode contribuir para a igualdade de condições nomercado mundial, porque várias economias globais, como as dos Estrados Unidos, Canadáou Japão, insistem também numa protecção semelhante para os produtos nacionais. Umaprotecção deste tipo, por conseguinte, contribui para que os bens produzidos na UniãoEuropeia sejam mais competitivos com os bens oriundos de países terceiros. A indicaçãodo país de origem contribui também para a preservação dos métodos de produçãotradicionais, das características dos produtos típicos e da qualidade. Este tipo de protecçãodos produtos europeus terá também um efeito positivo sobre a manutenção do empregoem todos os Estados-Membros. Gostaria igualmente de referir que a indicação do país deorigem aumenta a consciência do consumidor e a transparência no momento de decidircomprar produtos específicos e evita eventuais reclamações fraudulentas acerca da origemdos produtos ou contrafacção.

Jarosław Kalinowski (PPE), por escrito. – (PL) A informação sobre a origem dos produtosdisponível no mercado da União Europeia é muito importante para todos os consumidores.A indicação do país de origem permite aos cidadãos fazerem escolhas informadas quandocompram um produto determinado e habilita-os a evitar os riscos de saúde e de segurançaassociados a produtos de países terceiros que não cumprem as normas de qualidade. Osregulamentos sobre a rotulagem com indicação do país de origem proporcionam tambémuma protecção eficaz contra a contrafacção e a concorrência desleal. É importante definirformas e procedimentos detalhados para a rotulagem com indicação do país de origem eestabelecer sanções para as violações das cláusulas do regulamento.

16. Acordo Comercial Anticontrafacção (ACTA) (debate)

Presidente. – Segue-se na ordem do dia a declaração da Comissão sobre o AcordoComercial Anticontrafacção (ACTA).

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, Senhoras e SenhoresDeputados, pediram-me que viesse ao plenário explicar em que ponto se encontram as

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negociações sobre o ACTA - o Acordo Comercial Anticontrafacção internacional. Partilhoo vosso ponto de vista de que se trata de um dossiê importante e estou aqui pela terceiravez em menos de um ano para o discutir convosco.

Em que ponto nos encontramos? Bem, em duas palavras, estamos quase lá. De facto, nodia 2 de Outubro de 2010, os negociadores da União Europeia e de 10 outros paísesconcluíram a última ronda de negociações. Resolveram quase todas as questões, deixandoem aberto apenas algumas. Voltarei a isso mais tarde.

Um texto consolidado e amplamente estabilizado da proposta de acordo foi divulgado háduas semanas. Espero que isso vos tenha permitido chegar à conclusão de que a Comissãorespeitou escrupulosamente os princípios que defini nas minhas intervenções anterioresperante esta Assembleia.

É essencial recordar que o ACTA é um acordo referente à aplicação dos direitos depropriedade intelectual. Isto significa que não obriga nenhum dos seus signatários a criarnovos direitos substantivos, nem a alterar os já existentes. Apenas compromete os seussignatários a garantir que os titulares de direitos podem defender plenamente os seusdireitos se, quando e onde eles existirem.

O ACTA tem por finalidade a criação de um novo instrumento que garanta uma protecçãoeficaz dos direitos de propriedade intelectual já existentes. Trata-se de algo essencial sepretendermos manter um papel de liderança na "economia do conhecimento".Contrariamente ao que alguns parecem alegar, o ACTA não tem por finalidade a criaçãode nenhum tipo de "Grande Irmão".

Sei que vos preocupou o facto de as negociações serem realizadas à porta fechada e de ostextos das negociações não terem sido tornados públicos. Por insistência da Comissão,foram publicadas versões sucessivas do texto e os nossos negociadores vieram aqui nofinal de cada ronda de negociações para responder a todas as vossas perguntas. Tomámosestas medidas para assegurar que poderíamos debater o tema num clima de confiançamútua.

Gostaria de mencionar que o Provedor de Justiça reconheceu recentemente, precisamenteno contexto das negociações do ACTA, que se justificava manter a confidencialidade dealguns documentos chave das negociações. O Provedor de Justiça confirmou que amanutenção da confidencialidade era legal e estava em conformidade com o Regulamentode 2001 relativo ao acesso a documentos.

Permitam-me agora destacar algumas das características principais do ACTA. Em primeirolugar, uma ampla cobertura dos direitos de propriedade intelectual (DPI). Dada a diversidadedos DPI, nos quais os operadores europeus se baseiam para proteger as suas invenções,lutámos por, e obtivemos, uma ampla cobertura. Em particular, conseguimos garantir queas indicações geográficas (IG) da Europa serão tratadas em pé de igualdade.

Este é um êxito da UE. Não estaria incluído no projecto de Tratado ACTA sem o papel daComissão Europeia. Sei que pode não ter ido tão longe quanto alguns gostariam - porexemplo, no que se refere às medidas relativas às fronteiras. Diferenças justificadas irãopermanecer e as Partes do ACTA não terão de adoptar o sistema da UE de protecção dasIG através de sistemas sui generis.

Em segundo lugar, o ACTA define pela primeira vez uma norma internacional para asinfracções à propriedade intelectual na Internet. A Internet é o ambiente de mercado mais

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global, mais aberto e em mais rápida evolução, onde circulam músicas, filmes, livros esoftware. Milhões de bens contrafeitos são negociados diariamente através da Internet. OACTA representa assim um nível inovador - e no entanto equilibrado - de harmonia etransparência para as regras aplicáveis a essas infracções, permanecendo ao mesmo tempoem total conformidade com o acervo da UE.

Permitam-me sublinhar que o ACTA não modificará o acervo da UE. As nossas directrizespara a negociação assim o exigiram e nós respeitámo-las escrupulosamente, como poderãover pelo texto.

Em terceiro lugar, o ACTA proporciona um acordo equilibrado, que responde às quatropreocupações principais expressas pelos senhores seputados, pelas quatro razões seguintes.

Em primeiro lugar, o texto não afecta a protecção dos direitos fundamentais, privacidadee protecção de dados.

Em segundo lugar, respeita o papel importante da Internet livre e salvaguarda o papel dosprestadores de serviços, assim como o sistema europeu de excepções aos direitos de autor,tal como o regime europeu de isenção condicional de responsabilidade para os operadoresda Internet. As excepções europeias, como a utilização para fins privados ou educativos,manter-se-ão também válidas.

Em terceiro lugar, o texto refere-se àquelas cláusulas do acordo TRIPS que salvaguardamo equilíbrio essencial entre os direitos dos detentores de direitos e o interesse público, eque destacam a "necessidade de os direitos de propriedade intelectual contribuírem paraa inovação técnica, o bem-estar socioeconómico ou a protecção da saúde".

Em quarto lugar, o ACTA reconhece explicitamente a importância da salvaguarda do acessoaos medicamentos, remetendo para a Declaração de Doha sobre esse assunto, bem comoexcluindo explicitamente as infracções às patentes das secções sobre as fronteiras e sançõespenais.

Qual é o ponto da situação e os próximos passos relativos ao ACTA? Bem, em Tóquio, nãofoi possível finalizar o texto. As Partes mantiveram algumas reservas, que ainda necessitamde ser abordadas nas próximas semanas. Em especial, existem duas questões em aberto.

Em primeiro lugar, as infracções às patentes devem ser incluídas ou excluídas do âmbitodas medidas de processo civil? Seria interessante ouvir as vossas opiniões acerca destaquestão. Preocupa-me que uma exclusão abrangente das patentes - um importante direitode propriedade intelectual - possa correr o risco de privar muitas indústrias dos benefíciosdeste capítulo. Estou a pensar, por exemplo, nos sectores automóvel, de maquinaria,farmacêutico e agro-químico.

Em segundo lugar, a outra questão importante está relacionada com a proposta da UE paraque as medidas relativas à Internet definidas no ACTA sejam aplicadas não apenas aosdireitos de autor mas - pelo menos - também às violações referentes às marcas registadas.Como sabem, na Internet, é possível encontrar milhares de ofertas de artigos de contrafacçãoutilizando marcas europeias, quer se trate de roupas, cosméticos, relógios ou até génerosalimentícios. Penso que devemos combater estas infracções cometidas através da Internetporque elas são basicamente idênticas às infracções da vida real relativas a bens físicos.

Para concluir, estou firmemente convencido da importância do combate ao abusogeneralizado da propriedade intelectual europeia em todo o mundo. O ACTA pode serum contributo importante para este objectivo, no pleno cumprimento da legislação europeia

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já existente. O ACTA é o primeiro acordo internacional importante sobre os DPI desde oacordo TRIPS alcançado na OMC já em 1994. Também estabelece um equilíbrio adequadocom os direitos dos cidadãos e dos consumidores.

Aguardo com expectativa a continuação de um diálogo estreito com o Parlamento Europeue tendente à conclusão bem sucedida do acordo e sua posterior aprovação.

Daniel Caspary, em nome do Grupo PPE. – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, gostaria de exprimir os meus sinceros agradecimentosao Senhor Comissário por aproveitar a oportunidade, por diversas vezes nos meses maisrecentes, primeiramente, para informar aqui a sessão plenária e, em segundo lugar, paraestar presente em sessões de perguntas e respostas com a comissão parlamentar pertinente,quer pessoalmente, quer através do seu pessoal. É correcto e importante garantirmos aoParlamento Europeu que a Comissão presta realmente informações acerca do estado dasnegociações de uma maneira transparente. Acredito que isto também nos coloca em posiçãode avaliarmos, e consequentemente aprovarmos ou rejeitarmos, tal acordo com base emdados sólidos.

A minha impressão neste momento é que muitos críticos estão a ficar sem argumentoscontra o acordo ACTA. Penso ser positivo o facto de o acervo comunitário se manterinalterado. Seria realmente magnífico se a Comissão pudesse uma vez mais demonstrar-nosque isto é realmente sólido. Existem ainda alguns deputados desta Assembleia que têm assuas dúvidas a este respeito e sentir-me-ia grato se a Comissão pudesse explicar esta questãouma vez mais, de forma clara e sem ambiguidades - talvez pedir até aos serviços jurídicosda Comissão que analisem o assunto. Considero positivo que o acordo ACTA esteja aoque parece centrado na aplicação da lei já existente, e não na concepção de novas leis.

Congratulo-me particularmente com o capítulo sobre a Internet. É mais do que tempo detomarmos medidas em relação aos filmes, música, livros e software que circulam na Internet.Não pretendo incriminar nenhum dos nossos cidadãos, mas penso que deve ser possívelaos artistas e criadores defenderem os seus direitos de propriedade intelectual também naInternet e saúdo o facto de o acordo ACTA constituir um primeiro passo nesta direcção.

Teria, sem dúvida, preferido, tratar toda esta questão no âmbito da OMC. No entanto,constato também que tivemos falta de parceiros adequados no diálogo dentro da OMC,razão pela qual o acordo ACTA é certamente um bom ponto de partida. Ficaria agradecidose a Comissão, possivelmente após a conclusão do acordo ACTA, fizesse todos os possíveispara garantir que o maior número possível de outros países assine este acordo edemonstrasse também uma certa flexibilidade nos casos em que existam dúvidas.

Congratulo-me particularmente com o facto de o Senhor Comissário ter sido bem sucedidona inclusão da informação sobre a origem geográfica - como, por exemplo, champanhe,uísque escocês, presunto de Parma, etc. - e gostaria de o felicitar por isso. Considero queeste é um grande passo em frente para os interesses da União Europeia. Tem de ser possívelgarantir e proteger a nossa rotulagem e informação de origem europeia à semelhança demarcas registadas como a Coca-Cola, os cornflakes Kellogg’s, etc. Penso que devemos tomarnesta Assembleia medidas activas no interesse dos nossos produtores.

O Senhor Comissário referiu uma questão relacionada com as patentes: por um lado, adesignação deste acordo aponta claramente numa direcção diferente; no entanto, por outrolado, as nossas empresas deparam com problemas enormes a este respeito e gostaria desugerir que talvez pudéssemos discutir detalhadamente esta questão com o Senhor

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Comissário na segunda-feira, quando participar na reunião da Comissão do ComércioInternacional.

Parabéns pelo que alcançou. Incito-o a que dê mostras de perseverança no que se refereaos assuntos ainda pendentes. Aguardo com expectativa o dia em que esta Assembleiapossa decidir se aprova ou rejeita o acordo tendo por base a sua redacção final.

Kader Arif, em nome do Grupo S&D. – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, Senhorase Senhores Deputados, estamos claramente perante um texto cuja complexidade inquietamuitos de nós, e inquieta mais ainda, a meu ver, os cidadãos europeus. Senhor Comissário,eu pedi transparência e o senhor respondeu. Hoje sinto-me um tanto inquieto.

Com efeito, na minha óptica, para além das questões puramente técnicas, o principal riscoreside no rumo pelo qual começamos a enveredar no que se refere a esta relação cada vezmais complexa entre as liberdades individuais e a Internet. O mundo está em rápidamudança, e todos temos consciência disso. Todos estamos conscientes da revolução quese está a dar em termos do acesso, não só à informação, mas também à cultura atravésdeste instrumento.

No mundo de hoje, onde esse acesso é instantâneo e gratuito, os pontos de referênciatradicionais estão a ser minados. A nossa tarefa mais complexa consiste, portanto, emdefinir novos regulamentos, porque a regulamentação não é necessária apenas para protegeros artistas e os detentores de direitos; porém, eu não quero ver as desprezadas as liberdadesindividuais.

No que respeita à protecção das liberdades, de entre as quais o direito à privacidade é umadas mais importantes, uma das minhas principais preocupações é a possibilidadeproporcionada pelo Acordo Comercial Anticontrafacção (ACTA) de que os bens pessoaise as bagagens dos viajantes sejam controlados nas fronteiras. Significa isto que os nossostelemóveis, os nossos leitores MP3 e os nossos computadores poderão ser revistados pelasautoridades aduaneiras em busca de ficheiros descarregados ilegalmente?

Segundo a Comissão, trata-se apenas de uma possibilidade, pois o termo exacto utilizadono texto não é vinculativo. Foi dito que os Estados-Membros podem optar por autorizar,ou não, que a bagagem dos viajantes seja revistada. No entanto, sejamos aqui sérios porum instante. Como se pode esperar que tal formulação não seja encarada como um incentivoà realização de tais inspecções? Pensa realmente que um governo, sobretudo se ele for dealgum modo pressionado pela sua indústria discográfica – e cito deliberadamente esteexemplo –, não tirará partido desta oportunidade oferecida pelo ACTA para fazer evoluira sua legislação nacional para um reforço do controlo sobre os passageiros que entram noseu território?

Outro problema é que, se for provado que os ficheiros que estão na posse de uma pessoasingular são para uso comercial, a punição é automática. No entanto, quem é que determinase os ficheiros que estão na nossa posse são ou não de natureza comercial? Alguns dirão,porventura, que uma pessoa que tem 500 canções gravadas no seu MP3 temnecessariamente objectivos comerciais, mas por que se absteriam outros de aproveitar aoportunidade para fixar esse limite em 300, 100, 50 ou 10? Com efeito, tudo o que umapessoa mal intencionada precisa de fazer é descarregar ilegalmente um só filme para depoisfazer milhares de cópias e transformar isso numa actividade comercial.

Em última instância, o castigo é fixado pelos juízes de cada país, mas se um cidadão europeufor detido pelas autoridades aduaneiras de um país signatário nos termos numa legislação

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particularmente restritiva, não terá qualquer meio de se defender. Deseja a Comissãorealmente que tal abuso seja possível? Não tinha a Comissão precisamente aresponsabilidade de fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para assegurar que o acordoproibisse as revistas de bens pessoais?

Foi deliberadamente que, esta noite, eu abordei apenas esta questão, mas os senhoresabordaram muitas outras, que nós iremos incorporar na resolução que eu solicitei e que,em princípio, será votada no mês que vem, em plenário. Senhor Comissário, peço-lhe quetenha em conta o resultado desta votação, que estará em linha com o seu compromisso,isto é, que tenha em conta a palavra do Parlamento Europeu antes de assinar o acto.

Niccolò Rinaldi, em nome do Grupo ALDE. - (IT) Senhor Presidente, Senhor Comissário,Senhoras e Senhores Deputados, as negociações foram difíceis, com fortes ideias opostase com diferentes interpretações das consequências deste acordo. Ao que parece, no estadoactual das negociações, prevê-se uma desigualdade de tratamento entre indicaçõesgeográficas e marcas, a favor das últimas, assim como a manutenção da situação de marcasque usam denominações protegidas por indicações de origem geográfica, que constituiuma violação do artigo 22.º do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de PropriedadeIntelectual relacionados com o Comércio (Acordo TRIPS). O queijo "Parmesão" - umexemplo entre muitos possíveis - pode ser livremente produzido com essa designação nosEstados Unidos e na Austrália e exportado para a China ou para qualquer outra parte domundo, em concorrência directa com os produtos europeus que têm como um dos seustrunfos as indicações geográficas. Assim, os produtos europeus vêem-se confrontadoscom uma concorrência desleal, sem qualquer protecção eficaz por parte do AcordoComercial Anticontrafacção (ACTA). Gostaria que houvesse uma clarificação acerca destetema.

"Parmesão" significa de Parma, não da Austrália ou dos Estados Unidos, e o mesmo se podedizer de todas as outras indicações geográficas europeias. Temos de ter cuidado, pois se,na globalização do século XXI, dentro de alguns anos, deixarmos de ter as nossas indicaçõesgeográficas, isso ficará a dever-se, em parte, às opções erradas feitas hoje, e perderemosuma parte muitíssimo significativa da nossa identidade. Nesta perspectiva, se tudo istofosse permitido pelo ACTA, este seria inaceitável.

Há ainda a questão da Internet, como já foi referido. A União Europeia é a favor de umasociedade do conhecimento generalizada, aberta a todos, e o ACTA não deve, de modoalgum, constituir uma restrição da liberdade de acesso à Internet. Muitos foram já osprogressos neste domínio. O Senhor Comissário deu-nos garantias importantes, mas seriainaceitável que o acervo comunitário fosse manchado, como parece continuar a ser o caso,pela possibilidade de injunções judiciais previstas no artigo 2.º, e pela possibilidade desanções penais, até para utilizadores individuais, como previsto no n.º 1 do artigo 2.14.

Congratulo-me com as importantíssimas garantias quanto ao acesso a medicamentos porparte dos países em desenvolvimento, mas sabemos que o número de países aderentes aoACTA é muito limitado, estando excluídos desse grupo as grandes potências dacontrafacção, particularmente asiáticas, mas não só. Por isso, tendo em conta tudo o quetemos a perder quanto às indicações geográficas e aos riscos na Internet, parece-nos, parajá, que o acordo não é vantajoso, e, portanto, talvez seja melhor deixá-lo cair.

Jan Philipp Albrecht, em nome do Grupo Verts/ALE. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário De Gucht, é óbvio que o acordo ACTA que foi negociado será aprovado embreve. Este é um acordo que implica toda uma série de compromissos das partes contratantes

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no sentido de reforçar a aplicação dos direitos de propriedade intelectual. Nós, na qualidadede deputados do Parlamento Europeu, seremos em breve chamados pela Comissão aaprovar este acordo. No entanto, há meses que o Parlamento deixou claro que diversasdeclarações de intenção feitas pela UE no âmbito do acordo ACTA correm o risco de irmais além da actual lei da UE. Não só não é claro se existe a competência suficiente paraeste tipo de acordo, envolvendo como ele o faz cláusulas que prevêem medidas punitivasou intervenção nos direitos fundamentais, como também carecemos de informação sobreem que medida o ACTA obrigará à introdução de medidas ilegais na UE. Por esta razão, oACTA terá de ser devolvido à mesa das negociações. E, no entanto, o Senhor Comissárioestá na disposição de assinar agora o acordo. É por isso que lhe pergunto em primeirolugar: já assinou? Se não assinou, quando tenciona fazê-lo? Em segundo lugar: quandoreceberemos uma avaliação detalhada do impacto que nos diga em que medida o ACTApoderá afectar direitos fundamentais na UE? Aguardo com expectativa as suas respostas.

Syed Kamall, em nome do Grupo ECR. – (EN) Senhor Presidente, penso que devemoscomeçar por saudar algumas das declarações que foram feitas esta noite e o facto de, apósa Ronda de Tóquio, a Comissão ter dado a conhecer o texto ao Parlamento, que em últimaanálise estará na posição de dar ou não o consentimento a estes acordos. Penso que o passodado no sentido da transparência é algo que deve ser saudado em todo o Parlamento.Afinal, este sempre foi um dos pontos de consenso no Parlamento - podemos ter discordadorelativamente a certos elementos, mas concordámos em que deve haver uma transparênciacada vez maior.

Um aumento da transparência significa reduzirmos as falsas especulações acerca do teordas negociações, mas também, para ser justo, coloca em evidência o papel positivodesempenhado pela Comissão ao tentar persuadir os parceiros de negociação da necessidadede uma maior transparência. Penso que desempenhámos um papel neste Parlamento aopressionarmos a Comissão para que esta, por sua vez, pudesse falar aos seus parceiros denegociação na necessidade de uma maior transparência.

Existem obviamente nesta Assembleia divergências de opinião acerca dos direitos depropriedade intelectual. É evidentemente um assunto crucial para os detentores de direitosde autor e de marcas registadas. O ACTA representa, assim o espero, um passo importanteem termos de aplicação da lei entre todas as partes activas e reforça o acordo TRIPS demeados da década de 1990.

Pessoalmente, penso que deve ser feita uma distinção entre o mundo digital e o mundodos átomos; num mundo de maior poder de processamento, maior armazenagem e maiorlargura de banda, assiste-se a uma tendência para um preço de zero e muitos na indústriada música, por exemplo, têm deixado de reagir. No entanto, sei, através de conversas comjuristas, que isto é muito difícil de codificar num acordo.

No que se refere à produção de medicamentos genéricos, congratulo-me com o facto deo ACTA proteger os direitos de autor e as marcas registadas, ao mesmo tempo que excluias patentes das medidas relativas às fronteiras, para assim se evitar a apreensão demedicamentos genéricos em trânsito através da UE. Mas tenho uma pergunta a fazer, umavez que a Comissão não foi responsável pela negociação em nome da UE quando se abordouo capítulo da execução penal, que foi tratado pelo Conselho em nome dos Estados-Membros.Quando temos este debate em torno das preocupações com as sanções penais, de quemaneira tencionamos conciliar as duas negociações diferentes entre o capítulo civil e openal?

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É uma pergunta para si, Senhor Comissário. Pode encolher os ombros, mas seria interessanteouvir o seu ponto de vista sobre este tema.

Helmut Scholz, em nome do Grupo GUE/NGL. – (DE) Senhor Presidente, SenhorComissário, esta semana, os senadores norte-americanos Bernie Sanders e Sherrod Brownescreveram ao Gabinete de Patentes e Marcas Registadas dos EUA solicitando uma análiseexaustiva para garantir que o texto do acordo ACTA que foi negociado possa serharmonizado com a legislação norte-americana existente. Podem ter a certeza de que, nestaAssembleia, também nós cumprimos o nosso dever, examinando o acordo à luz das leisda União Europeia. O meu grupo é a favor da adopção de uma abordagem minuciosa etão demorada quanto o necessário, mesmo apesar de o Senhor Comissário ter uma vezmais proporcionado respostas muito detalhadas às perguntas relativas ao acervocomunitário. Isto porque as perguntas que pudemos formular à Comissão nas sessões deinformação que recentemente nos proporcionou após as negociações, e que gostaria delhe agradecer, Senhor Comissário, não obtiveram respostas que nos deixassem inteiramentesatisfeitos. O seu negociador principal deu-nos muitas vezes a impressão de que éramos -se é que posso utilizar termos coloquiais nesta altura - um pouco como aquelas pessoasque estão sempre a importunar Deus pondo em causa as sagradas escrituras, em vez detratar das preocupações que exprimíamos em nome dos cidadãos da Europa.

No entanto, algumas das nossas críticas iniciais acerca de aspectos relacionados com aInternet surtiram algum efeito e algumas das propostas mais prejudiciais foramabandonadas.

Angelika Werthmann (NI). – (DE) Senhor Presidente, as negociações do ACTA parecemestar mais ou menos concluídas. A redacção da versão mais recente do acordo soa já comoum texto legislativo dado que se aplica em Estados-Membros individuais. Como tal, oacordo ACTA deixará a situação legal existente na Europa quase inalterada. O objectivoinicial do acordo era melhorar a aplicação. No entanto, não sou capaz de identificar naproposta nenhumas soluções específicas a este respeito. Antes da sua divulgação, soube-seque os pontos contestados iriam ser abandonados. No entanto, esta versão não parece terem devida consideração os vários interesses em conflito. Por exemplo, o artigo 2.º, n.º 2,do acordo diz que os procedimentos adoptados, mantidos ou aplicados para a execuçãodeste capítulo devem ser justos, equitativos e garantir que os direitos de todos osparticipantes sujeitos a procedimentos sejam devidamente protegidos. O capítulo sobremedidas temporárias não contém qualquer referência explícita ao direito ao devido processolegal, nem existe uma cláusula de verificação da necessidade de destruir os bens decontrafacção.

Por último, mas não menos importante, - ouvimos dizer que os últimos pontos danegociação vão ser finalizados por e-mail. No entanto, estes últimos pontos incluem oâmbito de aplicação do acordo no seu conjunto. Certamente isso terá de ser definido antesde começarmos com a formulação do conteúdo. Talvez isso dê nessa altura origem aalgumas soluções práticas dentro do próprio acordo.

Cristiana Muscardini (PPE). - (IT) Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,gostaria de agradecer à Comissão Europeia e, em particular, ao Senhor Comissário De Gucht,pela difícil tarefa de negociação que está a realizar com os Estados Unidos, e que visaencontrar um ponto de convergência sobre um acordo que, infelizmente, parece não chegara termo.

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Estamos ainda longe de uma solução para os problemas em matéria de propriedadeintelectual, que continuam a ser objecto de contencioso entre dois blocos que divergemtanto em termos económicos como em termos políticos. A Europa deve continuar aconcentrar-se em dois pontos fundamentais. As indicações geográficas europeias devemser protegidas tanto na vertente civil como na vertente aduaneira, pois estão neste momentoa ser prejudicadas, com consequências muito negativas. As consequências são negativaspara a indústria agro-alimentar, que vê os seus produtos contrafeitos e a ser objecto deconcorrência desleal devido à utilização de nomes que copiam e evocam conhecidas marcaseuropeias. E são igualmente negativas para as indústrias que operam em sectores como odesign e a moda. Prejudicam-se as empresas, a propriedade intelectual, a investigação e -como sempre - os consumidores.

Um segundo ponto central é a necessidade de regras comuns de controlo das vendas emlinha: a venda de filmes, livros, música e medicamentos, e de milhões de outros produtoscontrafeitos, continua a verificar-se na Internet, sem quaisquer controlos. A União Europeiadeve enviar uma mensagem clara ao resto do mundo: o Acordo Comercial Anticontrafacçãodeve ser um baluarte contra todo e qualquer tipo de contrafacção.

Emine Bozkurt (S&D). – (NL) Senhor Presidente, os acordos internacionais têm de sersubmetidos ao Parlamento Europeu para aprovação., É vital que nós, enquantoeurodeputados, possamos exercer o nosso direito de veto tantas vezes quantas foremnecessárias, mas agora ficámos praticamente impedidos de fazer o nosso trabalho. Nósfomos, repetidas vezes, obrigados a pedir à Comissão para nos fazer o ponto da situaçãoactual das negociações sobre o ACTA. No entanto, fomos constantemente enganados compalavras. Primeiro, tranquilizaram-nos com o argumento de que as negociações estão longede ter terminado, e agora V. Exa. diz-nos que isto não passa de um acordo de execução eque não serão feitas mudanças no acervo comunitário nem no direito dos Estados-Membros.

Nesse caso, perguntar-lhe-ia: qual é então a mais-valia do ACTA? O Senhor Comissáriodisse que o acordo não irá harmonizar as sanções penais nem impor qualquer obrigaçãoindirecta, em termos da política de "three strikes". No entanto, aqui estamos nós a falaruma vez mais do conteúdo deste projecto de acordo e, especificamente, dos pontos queeu referi. Porém, eu todos os dias recebo mensagens de empresas e de cidadãos preocupadose, não obstante, existe um consenso geral entre os grupos políticos no Parlamento Europeuquanto ao facto de este projecto de acordo minar os direitos fundamentais dos nossoscidadãos e dos passageiros de países terceiros. Vou, pois, fazer-lhe esta pergunta em termosmuito claro: quais serão os benefícios concretos da adopção do ACTA? Por favor,convença-nos de que este texto de 2 de Outubro é uma coisa positiva e necessária.

Tenho também uma pergunta muito específica para si, Senhor Comissário: quando é queas partes negociadoras voltarão a reunir-se para discutir o ACTA. Quais foram as partesque não concordaram com ele? Por que razão? Uma pergunta a seguir à outra, SenhorComissário. Mais uma vez, foi-nos dito que os retoques finais ainda não foram introduzidosno acordo. Como podemos dar o nosso aval a um acordo que está a ser negociado nosbastidores?

Marietje Schaake (ALDE). – (EN) Senhor Presidente, ontem, a Comissão adoptou umaestratégia para integrar a Carta dos Direitos Fundamentais da UE, juridicamente vinculativa.Enquanto liberais, foi esta uma proposta nossa, pelo que me agradou ouvir essa informação.

Hoje, a Comissão colocou na Internet informação sobre o ACTA após o termo das últimasnegociações há três semanas. O portal tem um parágrafo intitulado "aspectos positivos do

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ACTA", mas existem também algumas questões que poderiam ser rotuladas de outramaneira.

Em primeiro lugar, os acordos comerciais ou tratados de aplicação das leis - que eu pensoque o ACTA é efectivamente - também estão ao abrigo da integração dos direitosfundamentais? A Comissão irá proceder a uma avaliação?

Em segundo lugar, estará a Comissão disposta a regressar à mesa das negociações se osdireitos fundamentais ficarem ameaçados com o ACTA? Pretende a Comissão esperar atéconcluir as negociações para tomar verdadeiramente em consideração a resolução doParlamento do início do ano passado? Tanto quanto sei, nenhum país rubricou uma únicapágina do ACTA.

No que se refere à Internet, o ACTA chega a ser inovador, diz a declaração. O preâmbuloafirma que o ACTA procura promover a cooperação entre os prestadores de serviços e osdetentores de direitos. O artigo 2.18.3 prossegue, estipulando que cada parte deveempenhar-se em promover esforços de cooperação dentro da comunidade empresarialpara punir eficazmente as infracções aos direitos de autor, o que implica medidasextrajudiciais e desafia a divisão de poderes. O artigo 2.18.4 afirma que as autoridadescompetentes, não necessariamente as judiciais, devem dispor de poderes para ordenar aum prestador de serviços em linha que facilite rapidamente a um detentor de direitosinformação suficiente para identificar um assinante cuja conta tenha sido alegadamenteutilizada para cometer uma infracção.

Além de colocar em evidência a palavra "alegadamente", gostaria de sublinhar que osprestadores de serviços de Internet estão apreensivos por terem de começar a aplicar a lei.Por isso, é necessário criar algum espaço ao abrigo do título "aspectos negativos do ACTA"para avaliar o aspecto dos direitos fundamentais que o ACTA ainda tem no actual projectoe que a Comissão a partir de agora está juridicamente obrigada a integrar.

Eva Lichtenberger (Verts/ALE). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, uma vezque o texto do acordo ACTA está agora disponível, consideramos que ele dá origem amuito mais perguntas do que respostas. Isso deve-se em parte à terminologia jurídica vagae pouco clara utilizada em alguns pontos, que parece não excluir nada e abarcar tudo.Deixem-me apenas mencionar aqui uma questão chave, que é o apelo à cooperação entreos prestadores de serviços e os detentores de direitos no cumprimento dos direitos. Devemosinterpretar isto como se, por exemplo, a Warner Brothers devesse trabalhar em conjuntocom os prestadores de serviços em linha quase como se fossem ajudantes de xerife? Comoé que isto funcionaria em pormenor? Significaria ter de fazer streaming da Internet paraidentificar as violações? Esta confusão deriva do facto de, por exemplo, o termo "uso privadoou uso comercial" não estar adequadamente definido e não ter sido encontrada umadefinição comum. Na minha opinião, tratar-se aqui de uma questão extremamenteproblemática porque implica a privatização de direitos legais.

Como já foi referido, a Comissão deu ontem uma garantia de que haverá uma avaliaçãode impacto em relação aos direitos cívicos em quaisquer novas cláusulas. Para quandopodemos esperar esta avaliação de impacto em relação ao acordo ACTA? O que é podemosesperar desta avaliação e quando poderemos eventualmente lê-la? Trata-se de algo dedecisivo para nos habilitar a avaliar o acordo.

Sajjad Karim (ECR). – (EN) Senhor Presidente, nós enquanto União temos andado àsapalpadelas no escuro para responder aos desafios que têm surgido nesta nova era da

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Internet. É claro que não estamos sozinhos e muitas das nações nossas parceiras estão namesma situação, mas tivemos todos de nos juntar e trabalhar para a harmonização daaplicação da lei anticontrafacção.

A protecção dos direitos de autor é imperativa, mas tem de se encontrar um equilíbrio paragarantir que a liberdade de expressão e a inovação não são coarctadas. Estamos interessadosem garantir que o equilíbrio alcançado no relatório Gallo é devidamente reconhecido noacordo para encorajar o crescimento, a competitividade e a inovação, proporcionando aomesmo tempo as protecções necessárias aos detentores de direitos. Não existe no acordouma abordagem de modelo único para a aplicação, ou abordagem à aplicação. Aflexibilidade por parte dos Estados-Membros é reconhecida; tem o nosso apoio. O ACTA,como afirmou o Senhor Comissário, é um bom primeiro passo para o combate aos gruposde contrafacção e pirataria na Internet e assim por diante.

Para a UE, esperamos uma proposta detalhada sobre direitos de autor e uma avaliaçãominuciosa do impacto, que o Parlamento Europeu passará em revista, analisará e escrutinaráem nome dos nossos cidadãos.

Christofer Fjellner (PPE). – (SV) O ACTA, ou Acordo Comercial Anticontrafacção nasua designação completa, é, claro, altamente controverso. Tem sido altamente controversoaqui no Parlamento Europeu, mas também na Suécia, país que represento. Tenho sidomuito crítico, particularmente em relação a muito do que considero ser o seu secretismo,o facto de os textos terem sido mantidos em sigilo, entre outras coisas. Isso criou umsentimento e uma atmosfera em que os mitos que rodeiam o acordo podiam prosperar.O mais teimoso de todos parece ser o mito de que, como consequência do ACTA, asalfândegas vão começar a inspeccionar iPod e computadores. A última vez recente queouvi este mito foi hoje mesmo, neste plenário. No entanto, agora que dispomos de todosos textos e que tudo está sobre a mesa, posso ver que está errado e que não passou de ummito. Acredito que, se Shakespeare tivesse escrito uma peça sobre o debate em torno doACTA, ter-lhe-ia dado também o título de "Muito Barulho Por Nada".

A Comissão prometeu que o ACTA não mudará nada na legislação da UE, e, ao ler isto,compreendo o mesmo. O facto de não ir haver alterações na legislação significa que nãohaverá alterações na vida quotidiana dos cidadãos e isso não mudará a relação dos cidadãoscom a Internet, por exemplo.

No entanto, não significa que o ACTA não seja importante nem que seja desnecessário,como afirmou alguém aqui nesta Assembleia. Pelo contrário, o ACTA criará um padrãodourado global para a protecção da propriedade intelectual. Isso é importante e é dointeresse tanto da Suécia como da Europa. Reduzirá o número de conflitos e, se há algumacoisa que eu ouço quando contacto com empresas suecas, é, sobretudo, a necessidade deproteger as patentes e os direitos de propriedade intelectual que detêm. Isto é bom,especialmente fora da Europa. Sinto-me tranquilo e confiante depois de ter lido osdocumentos das negociações que agora recebemos. Estou certo de que os cidadãos sentirãoo mesmo. Isso significa que me sinto bastante confiante em relação à continuação do debatesobre este assunto no Parlamento Europeu.

Françoise Castex (S&D). – (FR) Senhor Presidente, Senhor Comissário, enquantoiniciadora, em conjunto com os meus colegas Lambrinidis, Roithová e Alvaro, da declaraçãoescrita sobre o Acordo Comercial Anticontrafacção (ACTA), eu gostaria, antes de mais, delhe agradecer os esforços que envidou para garantir transparência e consenso, especialmente

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nas últimas semanas. Por ora, os meus agradecimentos irão ficar por aqui, pois este textocontinua a ser extremamente ambíguo em relação a questões fundamentais.

Primeiro: V. Exa. afirma, Senhor Comissário, que este texto não altera o acervo comunitário,mas o que sucede então com as novas sanções penais previstas para o crime de colaboraçãoe cumplicidade em infracções dos direitos de autor, que, no entanto, V. Exa. quer distinguirda contrafacção?

Como é possível não pensarmos no que está a acontecer em França com a ameaça da leiHadopi e as potenciais sanções contra a neutralidade dos intermediários técnicos? O factode este texto ter sido negociado pelo Conselho coloca-o fora do âmbito de negociação daComissão e portanto, talvez, do acervo comunitário.

Em segundo lugar, pareceria que o comité ACTA tem a possibilidade de introduzir alteraçõesnos textos. Compreenderá, portanto, que a possibilidade de adoptar um texto que podevir a ser alterado nos preocupa. Mais uma vez, Senhor Comissário, é difícil, para nós, passarum cheque em branco ao Secretariado do ACTA, e as reservas que iremos formular quantoà interpretação do texto, quando votarmos a resolução, irão ditar a nossa posição sobre aratificação deste texto.

Christian Engström (Verts/ALE). – (EN) Senhor Presidente, no dia 10 de Março desteano, esta Assembleia aprovou, por maioria esmagadora, uma resolução que dizia,designadamente, que o acordo não devia possibilitar a imposição dos chamadosprocedimentos do tipo "três golpes". Isto porque não queremos que os prestadores deserviços Internet (PSI) comecem a actuar como forças policiais privadas e sejam forçadosa assumir esse papel.

A Comissão tem afirmado repetidamente, em várias declarações verbais, que não será esseo caso. Saúdo estas declarações. No entanto, quando se olha para o texto, aparece logo nopreâmbulo, "desejando promover a cooperação entre os prestadores de serviços e osdetentores de direitos relativamente às infracções relevantes do ambiente digital". Depois,no artigo 2.18.3, como já foi citado pela senhora deputada Marietje Schaake, diz que devemempenhar-se em promover os esforços de cooperação dentro da comunidade empresarialpara combater eficazmente as infracções das empresas. Se isto não significa três golpes,então o que é que significa?

Está muito bem falar em colaboração entre os detentores de direitos e os prestadores deserviços em linha, mas o que é que estes últimos deverão fazer? Se não o quiserem fazer,que medidas serão tomadas contra os prestadores de serviços em linha? Receio que alinguagem deste acordo - como afirmava a senhora deputada Françoise Castex - seja tãoambígua que não seja realmente claro o que pretende dizer. Tenho ainda as apreensõesbásicas que têm estado connosco todo este tempo e gostaria muito de ver uma avaliaçãoadequada dos aspectos deste acordo relacionados com os direitos fundamentais.

Jörg Leichtfried (S&D). – (DE) Senhor Presidente, Senhor Comissário, evidentemente,a tentativa para alcançar bons acordos internacionais é muito louvável e admito semdificuldade que é uma tarefa que nada tem de fácil. No entanto, quando preparamos essesacordos, devemos em algum momento parar para perguntar: quem beneficiará e quemsofrerá em consequência disto? Tenho a impressão de que, de facto, ele beneficia apenasum reduzido número de pessoas que querem obter grandes lucros e estão pouco interessadasem favorecer os direitos humanos, a liberdade de informação, etc., e que ele de factoprejudica muito mais pessoas do que as que beneficia verdadeiramente.

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Ainda não estou completamente esclarecido quanto à situação concreta relativamente aosgenéricos. Reconhecidamente, não se pode alcançar grande coisa através de penalizaçõescriminais. No entanto, sabemos que as acções civis e os grandes pedidos de indemnizaçõesa elas associados, etc., podem infligir muito mais danos do que os processos penais. Depois,levanta-se a questão da protecção das marcas registadas versus as marcações de origem.Acabámos de efectuar um debate onde se afirmou que as marcações de origem estão aganhar uma importância crescente e oferecem oportunidades que vão além do âmbito daprotecção das marcas registadas. No entanto, tudo parece ter sido incluído na questão daprotecção das marcas registadas.

A ideia de usar os prestadores de serviços de Internet como uma força policial privada defacto, algo que já havia sido mencionado por outros eurodeputados, é um conceito queeu rejeito em absoluto. Quem é que vai controlar os prestadores de serviços? Não existenenhum dever de fornecer informação, nem nenhuma protecção de dados, como deviaser realmente o caso tratando-se de entidades públicas. Todas estas coisas são para mimmotivo de preocupação. Além disso, não sei o que estas avaliações de impacto alcançarãoem termos de direitos humanos e, sobretudo, o que fará a Comissão se esta Assembleiacriar a impressão de que esta é uma solução atenuada e se recusar a apoiá-la.

Judith Sargentini (Verts/ALE). – (NL) Senhor Presidente, posso imaginar que o principalobjectivo visado por este acordo possa ser o de prevenir a contrafacção de malas de mãoe de relógios. Porém, um acordo que diz que a comunidade empresarial tem de cooperarpara combater a violação dos direitos de autor, bom, aí é que me parece que as coisascomeçam a tornar-se um pouco mais complicadas. E se me for permitido voltar à questãodas malas de mão, deverei depreender que um curtidor poderá ter de pedir a um fabricantede fechos de correr e de fivelas para verificar a identidade das pessoas que adquirem essasmalas? Será que enquanto autoridades públicas nós vamos então impor essa tarefa depoliciamento a este tipo de empresas? Bom, isso seria um desenvolvimento imprudente eo Senhor Comissário não nos prestou esclarecimento algum sobre este ponto da suaproposta.

Ouvi V. Exa. dizer, Senhor Comissário De Gucht, que receia que, se deixarmos as patentesfora do acordo ACTA, a indústria farmacêutica irá cair-nos em cima. O meu receio é outro,pois continuam a existir ambiguidades no que diz respeito às patentes e aos controlosfronteiriços. Isso não garante que algo tão vergonhoso, como a retenção de medicamentoscontra o VIH no porto de Roterdão, não voltará a acontecer.

Tranquilize-nos, Senhor Comissário De Gucht, e examine o ACTA à luz dos direitoshumanos. Ontem, a sua Comissão publicou uma estratégia para esse efeito. Assegure-nosque as populações dos países em desenvolvimento têm direito a cuidados de saúde.Garanta-nos que os utilizadores da Internet não serão espiados por empresas comerciaise que a sua liberdade não será restringida.

Monika Flašíková Beňová (S&D). – (SK) O crescente número de produtos decontrafacção e pirateados existentes no mercado internacional aumenta a possibilidadede uma ameaça ao desenvolvimento sustentável da economia mundial, e indubitavelmenteimplica também prejuízos financeiros para os fabricantes originais, assim como infringea propriedade intelectual de autores e indivíduos envolvidos no fabrico e na produção.Representa também claramente um risco para os consumidores e é causa de perda depostos de trabalho na Europa.

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A ideia de um acordo multilateral para combater a pirataria e a contrafacção pode constituirum mecanismo eficaz para limitar essas actividades. No entanto, junto-me aos meus colegaspara sublinhar a necessidade de transparência e melhor credibilidade nessas negociaçõese acordos. Considero igualmente essencial chegar a um equilíbrio entre os direitos queestamos interessados em proteger e os direitos essenciais numa sociedade. A aplicação ouprotecção dos direitos de alguns não deve lesar os direitos e interesses justificados de outros.Refiro-me, em particular, às cláusulas do acordo que pretendem criminalizar utilizadorescomuns perfeitamente inofensivos, mas que não penalizarão os grandes intervenientes.Parece-me absurdo que, durante os controlos relativos às fronteiras, o equipamento técnicocontendo gravações de áudio e vídeo para uso pessoal possa ser confiscado. Na nossatradição jurídica, copiar para uso pessoal e sem fins comerciais é corrente e não é ilegal.Senhor Comissário, por que é que um estudante, por exemplo, deve ser impedido de fazeruma cópia de um livro de que necessita para a escola?

Uma vez mais, saliento que necessitamos de dar luz verde à protecção aceitável dos direitosde autor. No entanto, por trás da versão actual do ACTA, está o trabalho dos grupos deinteresses das empresas de gravação norte-americanas que, na sua procura do lucro,tencionam aterrorizar e incriminar uma grande parte da nossa sociedade, e os cidadãosdos Estados-Membros da União Europeia em particular. Considero desproporcionadas asmultas astronómicas, as verificações inadequadas, as negociações à porta fechada sobre oacordo, e assim por diante. Como tal, gostaria de pedir à Comissão Europeia que resista àenorme pressão dos grupos de interesses e prepare uma alternativa racional e bemequilibrada à actual versão do ACTA.

Zuzana Roithová (PPE). – (CS) Através da nossa declaração escrita, estávamos a tentaralcançar a transparência na negociação do ACTA e uma garantia quanto à protecção dosdados pessoais e do acervo da UE. Congratulo-me com o facto de o projecto de acordo tersido dado a conhecer finalmente e de a maioria dos problemas que criticámos terdesaparecido do acordo. Contudo, seria um fracasso para a União se, por exemplo, aprotecção às indicações da origem geográfica fosse cortada, por exemplo, se os países nãoeuropeus não fossem obrigados a proteger os waffles de Karlovy Vary, ou o já mencionadochampanhe, no seu território. Não basta controlar apenas as fronteiras. Solicito ao SenhorComissário um esclarecimento a este respeito.

No entanto, tenho também dúvidas quanto à eficácia do acordo dado que os maioresprodutores de contrafacções da Ásia não fazem parte dele, o que, ainda para mais, podecausar problemas aos empresários e consumidores no momento da aplicação do acordo.Por último, pediria ao Senhor Comissário ou à Comissão que nos apresentem uma análisedetalhada do impacto do ACTA na União Europeia.

Karel De Gucht, Membro da Comissão. – (EN) Senhor Presidente, antes do mais, houvevárias intervenções alegando que a implementação do ACTA levaria à limitação dasliberdades cívicas e várias delas apontaram como exemplo o controlo dos computadoresportáteis ou dos passageiros de aviões nas fronteiras.

A declaração conjunta de 16 de Abril feita por todas as partes do ACTA é muito clara. Nãohá nenhuma proposta no sentido de obrigar os participantes no ACTA a exigir àsautoridades fronteiriças que revistem a bagagem dos passageiros ou os seus aparelhoselectrónicos pessoais à procura de materiais infractores.

O ACTA tem por objectivo combater a actividade ilegal em larga escala e perseguir asorganizações criminosas. Não visa limitar as liberdades cívicas nem hostilizar os

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consumidores. O ACTA estará em conformidade com o actual regime da UE para a aplicaçãodos DPI, que respeita plenamente os direitos fundamentais e as liberdades cívicas, tais comoa protecção dos dados pessoais.

Um exemplo disso é a cláusula di minimis no regulamento aduaneiro de 2003 da UE queisenta os viajantes de controlos se os bens infractores não fizerem parte de um tráfico emlarga escala.

As alfândegas da UE, confrontadas frequentemente com o tráfico de drogas, de armas oupessoas, não dispõem de tempo nem de base jurídica para procurar num iPod ou numcomputador portátil um par de canções pirateadas e não têm nenhuma intenção de alterareste estado de coisas.

Não vamos alterar isso e vamos garantir que as partes do ACTA possam continuar a aplicaressa mesma isenção. No entanto, não podemos impor a isenção de minimis como umaobrigação absoluta, porque alguns Estados-Membros, ao abrigo das leis nacionais,conservaram a competência para proceder a determinados controlos de passageiros.

Foi novamente feita uma referência à lei dos três golpes ou lei HADOPI em França, quetorna isto possível. No entanto, esta é uma regra nacional, e a União Europeia não temcompetência para obrigar um Estado nacional a alterá-la.

Várias intervenções pediram uma avaliação do impacto sobre os direitos fundamentais,um estudo de impacto sobre a privacidade e um estudo de impacto sobre o acervocomunitário.

Proferi várias declarações neste plenário de que não houve qualquer tipo de violação dosdireitos fundamentais nem do acervo comunitário e devo dizer que, em três debates quejá tivemos neste plenário, nenhum dos senhores deputados deu um exemplo de problemasrelacionados com as liberdades fundamentais. Ninguém apontou uma violação do acervocomunitário. Ninguém foi capaz de dar um exemplo. Se nos derem exemplos, iremosestudá-los.

Quando à negociação à porta fechada, o Parlamento tem vindo a pedir maior transparêncianas negociações do ACTA. É a Comissão que tem garantido que isso aconteça, que ossenhores deputados tenham à vossa frente o texto que foi negociado em Tóquio e tiveram-noum par de dias depois de ele ter sido finalizado. Têm-no também com as reservas que aindaexistem, três por parte da União Europeia e três por parte dos Estados Unidos. Têm oresultado das negociações. Como podem dizer que isso aconteceu à porta fechada?

A questão foi colocada ao Provedor de Justiça. Talvez os senhores deputados não confiemem mim. Eu sou a Comissão. Talvez não confiem nos vossos governos. Tenho detectadoatravés de muitos discursos que não depositam grande confiança nos vossos governosnacionais. No entanto, penso que pelo menos confiarão no Provedor de Justiça. O Provedorde Justiça afirmou muito claramente que podemos manter a confidencialidade dosdocumentos e que o que temos feito é dar um grande passo adicional no sentido datransparência.

Esperaríamos, quando se procede assim, ser aplaudidos. Que pelo menos houvesse algumaconsideração pelo facto. Mas alguns dos senhores deputados, simplesmente, continuama afirmar que negociamos à porta fechada e que não há transparência. Por isso, qual avantagem de fazer um esforço para haver maior transparência se, afinal, os senhores

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deputados continuam a afirmar que não houve transparência? Talvez eu devesse investiro meu tempo noutra coisa.

No que se refere à possibilidade de a Comissão Europeia chegar a acordo sobre um textofinal: no Tratado de Lisboa, existem de facto regras muito claras sobre a maneira como sãonegociados os tratados internacionais, por quem e de maneira são concluídos e ratificados,incluindo o papel importante do Parlamento Europeu.

Existem também regras claras no acordo-quadro relativamente à maneira como oParlamento dever ser informado e ouvido durante o processo negocial. Penso querespeitámos escrupulosamente essas normas. É prerrogativa da Comissão, na qualidadede negociador, determinar o momento em que as negociações estão tecnicamente concluídase em que o acordo pode ser rubricado. O acordo não está ainda rubricado e os senhoresdeputados têm a possibilidade de fazer esta noite os vossos comentários antes de nóstermos rubricado o acordo e antes mesmo de termos decidido rubricar o acordo enquantotal. Não tomámos ainda uma decisão na Comissão sobre o que vamos efectivamente fazer,porque ainda temos umas quantas reservas que queremos resolver com os Estados Unidosantes de nos decidirmos.

A rubrica de um acordo faz parte das prerrogativas da Comissão e não vinculadefinitivamente a União. O acordo tornar-se-á definitivo depois de o Parlamento Europeudar o seu consentimento.

Por isso, respeitemos o Tratado e respeitemos os acordos-quadro. Entretanto, continuaremosa informar os senhores deputados e a fazer-vos participar tal como está estipulado noacordo-quadro.

A propósito, nos termos do Tratado, é o Conselho que autoriza a assinatura dos acordos,mas o Parlamento tem sempre a última palavra. Terá de ratificar este acordo e, se oconsentimento for recusado, simplesmente não haverá acordo nenhum.

Por isso, sede um pouco pacientes. Não se procedeu ainda a nenhuma rubrica. Quandofor rubricado, tereis a tradução, tereis a verificação feita pelos juristas-linguistas e, depois,o acordo irá ao Conselho para ser assinado e ao Parlamento para ser ratificado. Por isso,até este momento não foi tomada nenhuma decisão e os senhores deputados têm aindaoutra oportunidade esta noite para darem a conhecer todos os comentários que têm emmente.

Alguns têm perguntado em que medida a UE beneficiará com a adesão a um tal acordo seeste não vai mais longe do que as suas leis actuais e se, além disso, outros países como osEstados Unidos também dizem que não alterarão as leis nacionais.

Não se trata aqui de leis substantivas. O acordo tem em vista o cumprimento da lei existentee é por isso que tenho insistido repetidamente em que não vamos alterar o acervocomunitário. O acervo comunitário tem a ver com direito substantivo e isso não vai seralterado. Um tratado internacional que adopte normas semelhantes aos da UE, mas tambémsemelhantes à que já estão em vigor em países como os EUA ou o Japão, será ainda assimuma contribuição altamente valiosa para a norma internacional prevalecente actualmentetal como foi definida pelo acordo TRIPS da OMC.

O nosso objectivo é promover as normas do ACTA junto dos parceiros chave emergentes,designadamente através dos nossos futuros acordos comerciais, mas também em contextosmultilaterais. Dizendo isto, vários parceiros do ACTA têm aproveitado o impulso criado

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pelas negociações do ACTA para rever a sua legislação interna em conformidade com aslinhas já acordadas.

Tanto quanto sei, por exemplo, o Japão e o Canadá estão no processo de revisão dosrespectivos regimes de aplicação da lei relativamente à Internet. Além disso, tem sido muitasvezes ignorado o facto de o ACTA não ter que ver apenas com a melhoria das normasjurídicas. Tem a ver também com a cooperação entre as autoridades responsáveis pelaaplicação da lei, a adopção de melhores práticas ou a melhor coordenação da assistênciatécnica.

Embora a UE tenha tido uma cooperação de muito êxito com os EUA nestas áreas pelomenos nos últimos quatro a cinco anos, acreditamos que o ACTA pode também melhoraresses aspectos importantes da luta contra as violações dos DPI.

Consideramos que o sistema de aplicação da lei dos EUA é geralmente eficaz e eficiente naprotecção de certos direitos de propriedade intelectual. A Comissão tem sublinhado queo ACTA não é um meio disfarçado de contornar o seu processo legislativo interno e dedesviar as suas leis actuais, e o mesmo tem feito o Parlamento. É compreensível que asautoridades dos EUA insistam na mesma tecla.

Permitam-me acrescentar que o princípio da cooperação entre os detentores de direitosestá já no artigo 15.º da Directiva relativa ao Comércio Electrónico desde 2003, pelo quenão se trata de um conceito novo. Está na Directiva relativa ao Comércio Electrónico eestamos simplesmente a tomá-la em linha de conta. Estamos a tomar em consideração alegislação já existente na UE.

Gostaria ainda de dizer que o que é muita vez ignorado no debate sobre o ACTA é o númerode postos de trabalho de cidadãos da UE relacionados com os direitos de propriedadeintelectual e são muitas as vezes que discutimos os empregos em todos os lados destaAssembleia.

Milhões de postos de trabalho na Europa dependem do respeito pelos direitos depropriedade intelectual. A contrafacção é um ataque grave à indústria europeia, à economiaeuropeia e à inovação europeia, porque somos uma economia baseada na inovação.

Aquilo que está realmente em causa são postos de trabalho. E devo dizer que estou umpouco surpreendido porque, nos três debates que tivemos até agora neste plenário, issonunca foi realmente mencionado. Esta referência aos postos de trabalho nunca foi feita.As referências feitas são aos direitos fundamentais, e eu sou muito sensível a isso, mas semser dado nenhum exemplo conprovativo.

São feitas referências aos controlos nas fronteiras, quando é evidente que o ACTA nãoacrescenta nada ao que já existe. É feita referência à privacidade e não vejo razão para pensarque a privacidade esteja a ser atacada. Há referências a uma espécie de liberdades enevoadasque os senhores deputados pensam que estão a ser atacadas, mas sem apresentar exemplosdisso. Por outro lado, o que é muito claro, e o que está documentado em todos os tipos deestudos de impacto que já foram feitos pela Comissão, sobre todos os tipos de itens, é quemuitos dos nossos postos de trabalho estão ligados aos direitos de propriedade intelectuale essa é uma das razões porque atribuímos tanta importância a esse tema. Fico um poucosurpreendido por isso raramente ser mencionado pelo Parlamento.

Presidente. – Está encerrado o debate.

A votação terá lugar no próximo período de sessões.

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Page 268: QUARTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 20102010)10-20_P… · O motivo é muito simples: a pertinência. A natureza intrínseca de muitas das decisões com consequências directas para os

Declarações escritas (artigo 149.º)

Ioan Enciu (S&D), por escrito. – (RO) Desejo saudar os progressos alcançados nasnegociações do ACTA. Este acordo é uma necessidade absoluta para a criação de normasinternacionais comuns acerca da aplicação da legislação sobre propriedade intelectual.

No entanto, devo salientar que as medidas sancionatórias contra as violações dos direitosde propriedade intelectual devem respeitar o princípio da proporcionalidade e equilíbrioentre a gravidade dos actos praticados e as sanções aplicadas. Neste caso, refiro-me emparticular às violações da propriedade intelectual nos meios digitais e na Internet, ondedeve ser estabelecida uma clara diferença em termos de tratamento entre a pirataria emlarga escala para fins comerciais e casos isolados, fortuitos, de fraude intelectual.

Além disso, independentemente da gravidade dos crimes cometidos, o acordo deve dedicarespecial atenção à protecção da liberdade de expressão, do direito a um julgamento justoe da confidencialidade.

17. Ordem do dia da próxima sessão: ver Acta

18. Encerramento da sessão

(A sessão é suspensa às 23H55)

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