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Que Fazer? nº 2 Abril/Maio 1998

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Editado pelo Colectivo "Luta Socialista", antecessor do Socialismo Revolucionário

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Page 1: Que Fazer? nº 2 Abril/Maio 1998

CrescimentoEconómico para quem?Contando com uma situa-ção económica invejável,do ponto de vista do Capi-tal, com uma taxa de cres-cimento de 3,5% (uma dasmais altas da UniãoEuropeia) e baixas taxasde desemprego e de infla-ção, Portugal assiste àmaior diferença de semprena distribuição das rique-zas: os ricos nunca foramtão ricos, os pobres nuncaforam tão pobres. Se bai-xou o desemprego, au-mentou e em grande esca-

la o trabalho precário, sem direi-tos sem protecção. Se a inflaçãoé baixa, os preços continuam asubir e os aumentos salariaissão, muitas vezes, inferiores àinflação. Os grandes grupos eco-nómicos e financeiros continuama obter milhões e milhões de con-tos em lucros mas exigem cadavez mais flexibilização para des-pedimentos, mais desprotecçãosocial, mais subsídios aos lucros.

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No. 2 Abril/Maio 98 100$ Apoio 200$

A hipótese da nova ADPrevendo que a contestação

social ponha em perigo os actu-ais executores da sua política noGoverno, o Guterres e seus“boys”, a classe dominante tentarecompor a direita com um PSDainda não totalmente refeito dotrambolhão de Cavaco e um PPcom Porta nova. O fantasma daAD significa uma ameaça pen-dente sobre a “moderação” doPS. A exigência da classe domi-nante é clara: “ou o nosso pro-grama é cumprido ou colocamosno governo outros que nos ga-rantam os lucros”. E é precisa-mente com o espantalho do re-gresso da direita que o PS contapara continuar, nas próximas elei-ções a prosseguir com esta polí-tica contrária aos interesses dostrabalhadores e da juventude.Que resposta da Esquerda?A questão que se coloca é quetipo de oposição de esquerda,que tipo de programa, que res-posta a esta política é necessá-ria?

(continua na última página)

Socialismo Sempre,PS nunca Mais!

Apesar de ter ainda algum capital de simpatia dealguns sectores dos trabalhadores, para muitos sec-tores este Governo perdeu qualquer credibilidade e aarrogância com que o patronato age força-os a en-trar em luta, resistindo à ofensiva do Capital. São osoperários da Sodia (ex-Renault), empresa fortemen-te subsidiada pelo Estado - isto é, pelos impostosdos trabalhadores - que já viram anunciado a suaentrada para o número de desempregados. São osoperários da Regina, os trabalhadores da Carris, daAdministração Local, os bancários, os trabalhadores

da hotelaria. São enfim os estudantes do EnsinoSuperior, os professores, os enfermeiros.

NESTE NÚMEROOpinião Sindical pág. 2Câmara de Lisboa Coligação de Esquerda? pág.31º de Maio - Dia Internacional dosTrabalhadores CentraisA Crise Asiática e o Socialismo pág.6Libertem Adelino da Silva pág.7Alguns Pontos para um Programa pág 8

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em Luta

ReginaSem ordenados há já 3 meses

continuam em luta os operários daRegina, que viram a actuam gestãovender as intalações ao BCP depoisde ter duplicado as dívidas daempresa desde 1995. Recentementeos trabalhaores impediram osgestores de entrarem nas intalações.É urgente a solidariedade activa dosrestantes trabalhadores,nomeadamente da àera da Ajuda eAlcântara.

CARTEIROS DE SINTRAEM GREVE

Os carteiros de Sintra estiveramem greve de 4 a 10 de Abril. Segundoo Sindicato Nacional dosTrabalhadores dos Correios eTelecomunicações os principaismotivos desta greve são a admissãode um colega despedido sem justacausa; as sobrecargas de trabalho;as péssimas condições de laboração;os horários desumanos; a arrogânciada gestão.

Ferroviários em LutaOs trabalhadores ferróviários

estão em luta pela defesa deaumentos reais, valorização dossubsídios de turno e de alimentaçãoe o fim dos horários de trabalhosuperiores a 40 horas semanais.

Várias acções já foramdesencadeadas nomeadamentegreves, no passado dia 9 de Março e3 de Abril conm fortes níveis deadesão quer na CP quer nas outrasduas empresas ligadas ao sectorferroviário, a Refer, que faz a gestãoda rede ferroviária, e a empresa demanutenção das ferrovias (EMEF).

Face à pulverização sindicalexistente no sector, está na ordemdo dia a undiade de base dostrabalhadores e, como aliás emrelação às outras movimentações nosector dos transportes, a busca deacções sindicias que ganhem o apoiodos utentes e não deixem opatronato e o governo fazerdemagogia sobre os incómodoscausados. A experiência das grevesferroviárias dos trabalhdoresfranceses em finais de 96 eprincipios de 97, e a célebre “greveda mala” da Carris ainda durente aditadura, mostram que isso não éimpossível.

Unir as Lutas,

Construir a Solidariedade!

Arecente onda grevista marca o fim do estado de graça do governo

de Guterres e, ao mesmo tempo, mostra a inutilidade de confiar

cegamente nas negociações e ser-se “realista e moderado” nas

reivindicações, na vã esperança de haver uma nova política sem a luta firme

dos trabalhadores.

Está posta em causa a estratégia sindical que durante os últimos tempos

separou as lutas em fragmentos. A quantidade e qualidade dos movimentos

mostra bem a necessidade de reforçar, interligar e coordenar as lutas que o

movimento operário e sindical de norte a sul tem vindo a desencadear contra

as políticas neo-liberais do governo e dos patrões.

Esta luta, - como o movimento dos desempregados na França, na Itália e

na Alemanha, bem como a silenciada luta dos desempregados de Sines

mostraram - tem de ter em conta não só os trabalhadores organizados no

movimento sindical, mas a massa dos trabalhadores que estão numa situação

de trabalho precário ou no desemprego.

Esta luta tem de sair dos gabinetes dos negociadores sindicais e fundar-se

nas empresas, nos plenários de trabalhadores, na reorganização e reforço das

Comissões de Trabalhadores e das estruturas de delegados sindicais,

reacendendo a Solidariedade activa entre os sectores em luta e entre estes e

os demais trabalhadores e jovens.

Só esta perspectiva pode fazer frente com eficácia aos ataques do governo

e da burguesia. Alfredo Gregório

Opinião sindical

STCP - contra a repressãoContra a onda de repressão patronal, que nos

últimos meses levantou 100 processos disciplnares,os trabalhdores dos STCP, reunidos em plenário,votaram a realização de uma greve para 24 de Abril.

Apesar das tentivas de “moderação” de certosdirigentes sindicais, os operários, moteristas erestantes trabalhadores dos Serviços de TransportesColectivos do Porto mostrarma que a sua tradição deluta e solidariedade ainda não se vergou à onda dorealismo político.

CARRIS A luta tem de avançar!Em luta em defesa dos postos de trabalho, por

melhores condições e salários, os trabalhadores daCARRIS já realizaram 3 greves parcelares queimobilizaram mais de 90% da frota.

É necessário que seja dado um passo mais duro,com a marcação de uma greve de 24 horas e com oapelo aos restants Sindicatos para uma Solidariedadeactiva que faça frente a tentativa da burguesia deisolar dos trabalhadores da CARRIS dos utentes.

LISNAVETrabalhadoresdos subempreiteiros resistem evencem!

Após uma greve “selvagem” nos dias 30 e 31 deMarço e 1 de Abril os operários a trabalhar nossubempreiteiros da nos estaleiros da Mitrena daLISNAVE, em Setúbal conquistaram um aumento de100$00 por hora. Sujeitos muitas vezes a 12 horas detrabalho diário e constantemente ameaçados pelodesemprego, os operários tiveram de agir de uma formaclandestina tal é a repressão exercida pelo patronato.

Usando formas de organização que muitosjulgavam desnecessárias ou ultrapassadas, areorganização do proletariado da LISNAVE é uma outraforma de demonstrar que, por mais que a burguesiadecrete a morte do Marxismo, tal como Marx dizia,são as próprias condições de trabalho e vida a que opatronato sujeita os trabalhadores que provocam arevolta e luta organizada e consciente do proletariado

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Câmara de Lisboa, Coligação de Esquerda?

O Município de Lisboa é governado, já há dois mandatos, por uma coligação PS/PCP e como apoio do PSR e da UDP no anterior mandato e de apenas a UDP no actual. Para muitos

sectores de trabalhadores, a vitória desta coligação abriu esperanças e perspectivas para umentendimento mais favorável quer aos trabalhadores que vivem e trabalham na cidade quer aospróprios trabalhadores do Município.

Infelizmente os grandes problemas que afectam a cidade continuam. Mas, e incrivel mente,os planos de privatizações e de desmantelamento dos serviços públicos já de fendidos pela

administração de direita de Krus Abecassis, têm vindo a tomar forma durante esta gestão.Quanto aos pelouros do PS, outra coisa não seria de esperar: são coerentes com o projecto neo-liberal cor de rosa de Guterres.

A actual coligação, seguindo o caminho traçado por Sampaio e continuado por João Soares,prossegue na criação de empresas municipais, com a concessão de serviços, com o des-

mantelamento dos serviços sociais e a sua entrega ao sector privado. Mas é precisamente nospelouros geridos pelos vereadores comunistas que as mesmas medidas chocam ainda mais pelaforma e conteúdo que assumem. Também é chocante a relação que dois vereadores do PC têmcom a organização de classe dos trabalhadores do Município, o Sindicato dos Trabalhadores doMunicípio de Lisboa.

Durante a coligação, quase metade dos jardins da cidade passaram da administração municipal para a concessão a empresas privadas. Centenas de postos de trabalho forma assim

eliminados e ao que se pode ver, sem benefícios nem para os trabalhadores das empresasconcessionárias nem para os habitantes de Lisboa. Os serviços municipais de habitação foramdesarticulados. Uma nova empresa ”municipal”, gerida sob a lógica privada, faz agora a gestãodo parque habitacional dos bairros sociais. O odioso do aumento das rendas e despejos fica naCâmara. “Resolve-se” o estacionamento com uma nova empresa municipal que se limita areceber o dinheiro dos parcímetros instalados por tudo o que é canto. Não poderia ser a Câmaraa receber esses milhões e a investi-los em habitação social, em infra-estruturas de apoio àscrianças, aos jovens, aos idosos e à população em geral?

O sector de turismo foi desmantelado e o Parque Municipal de Campismo entregue ao sectorprivado, eufemisticamente dito a uma Associação sem fins lucrativos, mas composta por

Agências de Viagem e Turismo. Isto depois do Executivo da Câmara se ter comprometido amanter a administração directa do Parque. Este processo, em que os trabalhadores do Parqueforam e são sujeitos a pressões psicológicas incríveis, é exemplificativo: o vereador do pelouroé o Dr. Vítor Costa, ex - advogado do STML e que, face à resistência e denúncias do STML cortoudurante algum tempo as relações institucionais com o Sindicato.

No sector da Limpeza Urbana, cujo vereador é o primeiro vereador do PCP, Engº Rui Godinho,são conhecidos os problemas, o clima de repressão que se vive, o constante desrespeito e

desconsideração pelos cantoneiros de limpeza, que trabalham em muitos casos sem condiçõesmínimas de dignidade, higiene e segurança. Quando confrontado pelos trabalhadores com arepressão exercida por chefias intermédias a resposta deste representante eleito por um Parti-do de trabalhadores foi “é para isso que existem tribunais”.

Em defesa da aplicação do horário de trabalho de 2ª a 6ª feira, e face ao desrespeito que aadministração, e nomeadamente o vereador Rui Godinho, mostram pelas posições dos tra-

balhadores e do seu Sindicato, os cantoneiros de limpeza vêem travando uma dura luta, comampla discussão nos locais de trabalho, vários plenários concentrações e greves. O cúmuloaconteceu quando um dos acessores do Vereador, ex-coordenador do Sindicato e actual mem-bro dos Corpos Gerentes, o Sr. Abílio, andou pelos locais de trabalho a desmobilizar e a intimi-dar trabalhadores. Também os militantes comunistas foram pressionados, sem êxito, pelo apa-relho do PCP a desmobilizar ou a abandonar a luta.

Esta prática tem vindo a revoltar os trabalhadores e foi com profunda mágoa e revolta quemuitos trabalhadores, nomeadamente os militantes comunistas do Município, viram estes

vereadores serem novamente indicados pelo PCP a candidatos a vereadores. Os trabalhadoresdo Município de Lisboa têm pela frente uma dura batalha contra as privatizações e contra aretirada de direitos e regalias. Eles necessitam de tudo menos de falsos “amigos” que agemexactamente como os capitalistas.

O PC tem de escolher: não pode fazer uma propaganda geral contra as privatizações e adestruição dos serviços públicos e deixar que os seus vereadores sejam os mais fiéis aplica-

dores desses mesmos ataques aos trabalhadores. Inevitavelmente, com o actual curso, ou estese outros vereadores saem do PC e juntam-se aos outros EXs ou os militantes sinceros do PCacabaram por sentir aquilo que já muitos activistas de esquerda sentem: a necessidade daconstrução de um novo Partido dos Trabalhadores!

Francisco Raposo - Comité de Redacção do “Que Fazer?”Secretário da Ass. Geral dos Delegados Sindicais do STML (em nome pessoal)

em LutaAgricultores contra aPolítica AgricolaComum

Mais de 5000 agricultores detodo o país, organizados naCofederção Nacional de Agricultura,manifestaram-se no dia 17 passadoem São Bento contra a políticaimposta pela União Europeia e quecondena à ruina a maioria dos nossopequenos agricultores.

Ford Lusitana -repressão

Os operários da Ford Lusitanaconcentraam-se na fábricaprotestando contra o impedimentoda reocupação do posto de trabalhoda delegada sindical HelenaSeverino, depois de ter alta médicaapós 37 meses de baix por doençaprofissional (tendinite).

A adminsitração quer vingar-seda derrota que a irmão da camaradaHelena, Agripina Ribeiro, lhe infligiuao ter ganho em tribunal umprocesso contra a empresa movidopela Inpecção de Trabalho.

A solidariedade operária faráimpor os direitos de Helena e dosrestantes trabalhadores vítimas daexploração e más condições detrabalho!

Movimentação deDesempregados

Cerca de 100 desempregados deSines protestaram contra a EDP pelofacto desta empresa estar a“empregar” reformados da PSP e daGNR e manter os operários nodesemprego. A EDP usa e abusa desub-empreiteiros que por sua vezempregam trabalhares em regimemais que precário e semdireitos.

Hotel Ritz - Policia emdefesa de fura greves

Os trabalhadores da industriahoteleira estão em luta pormelhorias salairias e de condiçõesde trabalho e ontra a precarizaçãoe flexibilização salarial.

Durante a greve no Hotel Ritzassitiu-se a uma carga policialcontra o piquete de greve, a pedidoda administração e para proteger umgrupo de fura greves.

Não será dever da CGTP e da USL,na proxima greve nesta unidadehoteleira, convocar um piquete desolidariedade com trabalhdores dosdiferentes sectores?

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1º de MAIODia Internacional

do TrabalhadorNo dia 1 de Maio de 1886, realizaram-se greves gerais nos Estados Unidos e

no Canadá exigindo a jornada de 8 horas de trabalho diário. Em Chicago apolícia atacou os grevistas e assassinou 6 deles.

No dia seguinte, numa manifestação na praça Haymarket Square paraprotestar contra a brutalidade policial, uma bomba explode no meio da multi-dão de policias matando 8 deles. A polícia prendeu 8 dirigentes sindicaisanarquistas, acusando-os de terem atirado bombas.

Naquele que se tornou o mais infame julgamento espectáculo da Américado século XIX, o Estado de Illinois julgou os operários anarquistas por tantopor lutarem pelos seus direitos como por, eventualmente terem atirado bombas( o que nunca se provou). Eles eram agitadores que estavam a desencaminhara classe operária e era necessário dar-lhes uma lição

Albert Parsons, August Spies, George Engle e Adolph Fischer forma consi-derados culpados e executados pelo Estado de Illinois.

Em Paris, em 1889, a Associação Internacional dos Trabalhadores (aPrimeira Internacional) declarou o 1º de Maio como o Dia Internacional dosTrabalhadores em memória dos mártires de Haymarket. A bandeira vermelhatornou-se o símbolo do sangue dos mártires da classe operária e da sua batalhapelos direitos da classe.

Cento e nove anos depois, os trabalhadores e jovens em todo o mundoenfrentam novamente tempos extremamente duros devido à exploração e

opressão capitalista e a repressão exercida pelo aparelho de Estado burguês.Em muitos países, não só nos países do mundo ex-

colonial da Ásia, África e América Latina, mas em muitospaíses capitalistas avançados a luta dos operários deChicago há 109 anos atrás continua actual.

A intensificação da exploração e opressão capitalistanos últimos anos destruiu muitas conquistas que o movi-mento operário tinha arduamente conquistado ao longo doséculo.

A Grã-Bretanha, por exemplo, apesar de ser uma dasgrandes potências capitalistas, já têm indicadores sociaisde pobreza idênticos aos dos últimos 25 anos do séculopassado.

A globalização da economia, os planos concertados docapitalismo a nível global reforçam a actualidade da ideiaque Karl Marx e Federich Engels divulgaram no séculopassado segundo a qual “ os trabalhadores não têm frontei-ras!”

Na verdade, com a globalização da economia, com aconcentração do poder nas mãos de um cada vez maisreduzido núcleo de conglomerados multinacionais e assuas agências como o Banco Mundial e o Fundo Monetá-

rio Internacional.

O Capitalismo têm um plano global de intensificaçãoda exploração par aumento do lucro privado: cortessociais, privatizações, destruição dos sistemas de seguran-ça social e das leis de protecção do trabalho.

Face a este plano é urgente que os trabalhadores ergamum plano de resistência e de luta que volte a por a luta poruma sociedade livre da exploração do homem pelo homemno centro das suas reivindicações.

Ao comemorarmos o 1º de Maio, celebramos osmártires e heróis da luta organizada dos trabalhadores detodo o mundo por essa sociedade.

Saudamos o movimento operário e sindical que emtodo o mundo se reorganiza e resiste, como os estivadoresaustralianos cuja luta divulgamos nestas páginas.

Saudamos os militantes socialistas que procuramdiligentemente a construção de uma Internacional Operáriaque organize, coordene e diriga a luta internacional contraa exploração do Capitalismo e pelo Socialismo.

Como há 150 anos Marx e Engels apelavam no “Mani-festo” renovamos o apelo:

“Proletários de todos os Países, Uni-vos!”4

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Austrália

1400 Estivadoresdespedidos

No passado dia 6 de Abril, as do-cas de Sidney, Melbourne,Fremantle, Brisbane, na Austráliaforma invadidas por elementos deempresas de segurança privadacom cães e matracas para expul-sar os estivadores do SindicatoMarítimo da Austrália (MaritimeUnion of Austrália) empregadosna firma Partick Stevedores.

O cartaz diz:“Guerra nas docas - por favornão despeçam o meu paizinho”

A empresa argumenta que o Sindicatose recusava a ceder às suas propostas decondições de trabalho.

O governo australiano apoiou a Em-presa, dizendo que esta tem o seu direi-to de impor as reformas que entender.

Mas a solidariedade dos trabalhadoresaustralianos não se fez esperar: greves de solidariedade naindústria petrolífera, nas minas , na administração pública egigantescas manifestações tiveram lugar logo nos primeirosdias.

Um apelo à solidariedade internacional foi lançado. O Co-lectivo “Luta Socialista” enviou uma mensagem de apoio aosestivadores e aos seu Sindicato.

O movimento sindical português deve urgentemente divul-gar e apoiar esta luta demonstrando assim a sua solidarieda-de.

http://www.users.bigpond.com/Takver/soapbox/index.htm

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Economia MundialA Crise Asiática e o SocialismoUma crise económica está a desenvolver-se no Sudoeste Asiático. Isto pode parecer ser algo muito e semnenhuma importância real para os trabalhadores em Portugal. Que diferença faz para um trabalhador daCâmara de Lisboa se a moeda tailandesa está a desvalorizar-se ou que o Banco Hokkaido Takwshoro tenhafalido? Mas esses acontecimentos tem uma enorme importância para cada trabalhador de todo o planeta. Ocrescimento do comércio mundial e das corporações multinacionais levaram a que todos nós vivamos numaeconomia mundial. E nesse sentido todos nós estamos a caminhar à beira do abismo, uns amarrados aos outros.As economias do Sudoeste Asiático caíram no abismo e o resto do mundo está em perigo de ser empurradopara o buraco atrás delas.

Desde o colapso do estalinismo quevimos um período de um triunfalismo semparalelo do Capital. Os porta-vozes do Ca-pitalismo propalavam o completo triunfodo seu sistema. O império do mal tinha sidoderrotado e nós estávamos a entrar numperíodo de crescimento sem fim. É irónicoque as economias que os capitalistas tinhammais orgulho, os “Tigres Asiáticos”, a jóiada coroa do Capitalismo, sejam o cenáriodas fases de abertura de uma crise capita-lista global, seja o lugar onde o mito daestabilidade capitalista se torne irreal.

Para o Capitalismo esta crise sur-giu de um céu completamente azul..Mas as nuvens vinham-se a acumularno horizonte há já muito tempo. A ondade greves na Coreia do Sul, a instabili-dade política e a convulsão monetáriaque se lhe seguiram, a desvalorizaçãodo Yuan chinês tudo isto eram sinaisque um período histórico estava a che-gar ao fim. Quando os comentadorescapitalistas acusam a desvalorização obhat tailandês como o causador a dacrise monetária, é como acusar-se ummorto da chagada da morte.

Os últimos 20 anos viram taxassubstanciais de crescimento económi-co no Sudoeste Asiático. Mas a razão des-se crescimento foi a enorme quantidade decapital proveniente dos países capitalistasavançados. Nos anos 80, $4.7 biliões dedólares por ano foram despejados na re-gião. Entre 1990 e 1995 esta quantia au-mentou para a espectacular cifra de $33biliões de dólares por ano. Mas em 1996ela subiu ainda mais para a astronómicaquantia de $57 biliões de dólares mais $23biliões investidos na China. Isto foi o com-bustível que alimentou as máquinas dessaseconomias. Mas para onde foi esse dinhei-ro? De princípio vimos companhias multi-nacionais a construir fábricas na área, au-mentado a base económica. Mas cada vezmais o capital ia para acções e obrigaçõesde tesouro, empréstimos e especulaçãomobiliária. Nos últimos anos a região as-sistiu a um vasto crescimento na constru-ção civil - e este foi um dos sectores onde

a crise se começou a manifestar. Aprocura por escritórios de luxo não é

infinita. A sobre - produção conduz à quedade preços.

Exactamente o mesmo processo foi sen-tido noutros sectores da economia da região.Foram produzidos mais carros e microchispsdo que aqueles que o mercado necessita. Aresposta dos governos Capitalistas foi tentardefender as suas economias à custa dos seuscompetidores. Foi por isso que a Tailândiadesvalorizou a sua moeda, o baht, para tor-nar os seus produtos mais baratos. Mas osoutros governos não estavam dispostos a dei-

xar a Tailândia tirar vantagens. Uma onda dedesvalorizações competitivas iniciou-se. Osmercados monetários entraram em turbulên-cia. Isto, em conjunto com o problema desobre-produção já existente provocou ner-vos aos investidores estrangeiros. Começa-ra a retirar os seus investimentos da regiãopara investir em mercados mais estáveiscomo os Estados Unidos. Os governos daregião, ameaçados com esta saída de capi-tais aumentaram as taxas de juro para tentarpersuadir os investidores a não abandonarema região. Mas esta medida foi um desastrepara companhias com grandes dívidas cujasamortizações subiram em flecha. As compa-nhias viram-se incapazes de pagar as dívidasa e a confiança sofreu um novo embate. A23 de Outubro, a Bolsa de Honh Kong en-trou em colapso e a instabilidade tornou-senuma crise aberta.

Desde Janeiro, 6 das 30 maiores compa-nhias sul-coreanas foram à falência. 90%dascompanhias sediadas na Indonésia estão ago-

ra tecnicamente insolventes. No Japão, as-sistimos ao colapso da Yamaichi InvestementCorporation com dívidas de $24 biliões dedólares. O Banco Hokkaido Takushoko e ogrupo alimentar Toshuko também caíram.As vendas de carros caíram 27%. As ven-das a retalho diminuíram 4,7%, a maior que-da em mais de 40 anos. Os comentadorescapitalistas esperam que se percam duranteeste ano 7 milhões de postos de trabalho.

Será isto apenas uma dificuldade local?A globalização do capital significa que nãoexiste coisa. As exportações japonesas para

a região asiática representam 47% dototal. Os Estados Unidos enviam parao Sudoeste Asiático 32% das suas ex-portações. E a crise já começou a afec-tar muitas outras áreas. O golpe que aconfiança capitalista sofreu com a cri-se asiática conduziu ao desinvestimentona Europa de Leste , no Brasil e na res-tante América Latina. Os trabalhado-res desses países estão a pagar o preçoda crise na Ásia.

O FMI, a agência financeira do im-perialismo norte-americano, está aten-tar arranjar um pacote de salvação. Adespesa projectada é actualmente de$100biliões de dólares só para o Su-

doeste Asiático. Donde virá esse dinheiro?Os Estados Unidos já tem uma dívida ex-terna de $1.3 triliões de dólares. Estarão oscapitalistas ocidentais preparados para cor-rer o risco de apertar ainda mais o cinto aostrabalhadores dos seus próprios países parapagar pelo colapso dos Tigres? As conse-quências sociais de tais atitudes poderiamser muito perigosas. A agitação operária esocial seriam uma inevitável consequênciadessas medidas.

Não estamos numa recessão ou colapsoeconómico mundial. Mas a crise está-se aaprofundar dia a dia. A questão não é se arecessão virá mas quando é que as econo-mias ocidentais entraram na crise e que di-mensão ela irá Ter. Assistimos a uma mu-dança fundamental na situação mundial. Omito do crescimento do Capitalismo foidestruído. Depois de um período difícil a vozdo Socialismo pode de novo ser ouvida.

David6

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Timor Leste

LibertemAdelino daSilva e seuscompanheiros

O Colect ivo “LUTASOCIALISTA” é uma asso-ciação de trabalhadores ejovens marxistas que de-fende um programa em de-fesa da classe operária edemais trabalhadores noseio dos sindicatos e aconstrução de um progra-ma de luta que conduza à

Adelino da Silva, sua mulhere duas filhas de 4 e 6 anos emais dois companheiros

estão refugiados há mais de setemeses na Embaixada Austriaca emDjacarta, a capital Indonésia.Contrariamente ao que tem vindo aacontecer com outros pedidos deasilo politico, a ditadura indonésiarecusa-se a autorizar a saida deAdelino da Silva e dos seuscompanheiros.Curiosamente a imprensa portuguesaque não se cansa de referir a questão deTimor-Leste e dá uma profundacobertura ao representante exterior,

nomeado pelo Conselho Nacional deResistência, Ramos Horta, temmantido esta questão num silência sóde quando em vez furado pelaintervenção da Associação Socialistade Timor (AST).Contrariamente a outras correntestimorenses no exterior que, indo aoencontro dos interesses imperialistasna região, admitem a autonomia deTimor-Leste no seio da Indonésia,Adelino da Silva e a AST defendem,em consonância com a resistência nointerior, que só a Independência totale completa responde aos anseios doPovo de Timor.O “Que Fazer?” associa-se àcampanha “Libertem Adelino daSilva e companheiros” lançada pelaAST e pela REDE de SolidariedadeInternacional e apela ao apoio activode todos os trabalhadores e jovens.Mais informações:REDE de SolidariedadeInternacionalTelefone:362 44 16

transformação socialistada sociedade.

Entendemos que estaluta só pode ter êxito serealizada, de forma coor-denada a nível internaci-onal.

Por isso o Colectivo“LUTA SOCIALISTA” fazparte do COMITÉ PORUMA INTERNACIONALOPERÁRIA (CIO) , queagrupa no seu seio mi-lhares de activistas e lu-tadores pelo Socialismoorganizados no seio departidos, grupos e jor-nais marxistas em maisde 35 países dos 5 con-tinentes. 7

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Alguns Pontos para umPrograma de Luta peloSocialismo

- Contra o desemprego, semana de trabalho de35 horas sem perca de salário; Salário Mínimonacional de pelo menos 100.000$00 para atodos os trabalhadores, incluindodesempregados e pensionistas e reformados.Índice 100 da Adiminsitração Pública igual aosalário mínimo nacional.- Congelamento da riqueza pessoal dos donos eadiministradores de empresas com salários ematraso e falências; prioritarização absoluta dopagamrento das dívidas aos trabalhadores emcaso de falência. Fim às leis de flexibilidade epolivalência. Fim à precariadade, aos recibosverdes e aos contratos a prazo.- Os ricos que pagem a crise, não ostrabalhadores: Impostos progressivos sobre ariqueza e os lucros; diminuição da carga fiscaldos trabalhadores por conta de outrém.

LutaA vitória da luta dos operários e operárias têxteis pela imposição das40 horas mostrou o caminho. Numa dura luta que envolveu sacrifíciosincalculáveis aos milhares de trabalhadores envolvidos, o movimentooperário soube arrancar ao patronato e ao sue governo uma vitóriaimportantíssima. Tanto mais importante quando ela foi conseguida ape-sar do “deixa andar” com que muitos dos dirigentes sindicais, já habitu-ados às derrotas e ganhos para o “realismo dos novos tempos”, cum-priam ritualmente presença nas manifestações mas foram incapazesde promover uma onda de solidariedade que apressasse o desfechodesta luta. Como uma dirigente da Federação de Têxteis o colocounum recente Plenário Nacional de Dirigentes e Delegados Sindicais aSolidariedade não pode ser uma palavra vã.SolidariedadeE é nesse contexto que a persistência dos dirigentes sindicais em frag-mentar as lutas acaba por trazer prejuízos à luta geral dos trabalhado-res em Portugal. Com tantos sectores em luta pela revisão salarial, emdefesa dos postos de trabalho, pela melhoria das condições de vida, éimperioso que o movimento sindical contribua para a unificação daslutas, para a solidariedade activa dos trabalhadores e dos jovens, paraconstruir uma força alternativa que vire efectivamente à esquerda oquadro político do país.Étambém necessário que os dirigentes dos partidos dos trabalhadoresoptem claramente por que modelo social combatem: se por um mode-lo de “reformas” do capitalismo, por uma “democracia avançada” sejaela de que tipo, ou pelo Socialismo, uma ruptura clara com o modelode produção da nossa sociedade que não encontra uma só respostapara os interesses e anseios dos produtores.SocialismoNo quadro desta sociedade todas as pequenas e grandes vitórias dostrabalhadores serão necessariamente transitórias. Só uma sociedaderadicalmente diferente, o Socialismo que não se confunde com o mo-delo burocratizado e anti-democrático dos regimes da URSS e outrospaíses do chamado campo soviético, mas que, suportando-se na de-mocracia dos trabalhadores e na nacionalização dos meios de produ-ção, gere central e democraticamente a economia não para o lucro dealguns mas para o benefício das esmagadora maioria do povo, os tra-balhadores.É neste combate que o Colectivo “Luta Socialista” participa, nos Sindi-catos e nas comunidades, para uma Esquerda de Luta, de Solidarie-dade e de Socialismo.

Abril de 1998Colectivo “Luta Socialista”

Edição do Colectivo "Luta Socialista"Comité de Redacção:Francisco R., Mariana Rio, David H.,Tiago Luis, Helena T.Contacto: Apartado 4273 1500 LISBOAPortugaleMail [email protected]

O que Defendemos(continuado da 1ª pág.)

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Em defesa de quem trabalha

Em defesa dos direitos sociais- Uma casa decente e acessível para todos.Porum programa de construção de habitação socialde qualidade e de rendas acessíveis.- Defesa e aprofundamento do Serviço Nacionalde Saúde. Não às taxas moderadoras. Não àgestão privada da Saúde! Não aos lucros naSaúde!- Educação gratuita e de qualidade para todos.Abolição imediata das propinas. Bolsas de estudoe apoios sociais decentes para todos osestudantes.- Defender o Ambiente. Impedir que o lucroenvenene o planeta.-Definição de uma real politica de Juventudecom apoio ao Associativismo Juvenil;constituição de Centros Juvenis geridos pelospróprios jovens e não por burocratas dos partidos- Completa oposição ao racismo, sexismo e todasas formas de descriminação. Legalização dosimigrantes; fim às medidas intimidatórias contraos imigrantes e minorias étnicas; não à EuropaFortaleza.- Combate às causas sociais da criminalidade;não à policiação da sociedade; fim à violênciapolicial nomeadamente à violência policialracista e anti-juvenil; controlo democrático daspolicias; desmantelamento do SISPor uma nova sociedade- Os eleitos dos trabalhadores devem receberapenas o salário médio do operário industrial.-Fim a todas as privatizações! Defesa eaprofundamento da Segurança Social.- Nacionalização dos grandes monopólios semindeminizações a não ser com base emnecessidade comprovada. Por uma economiaplaneada e controlada pelos trabalhadores.-Um Orçamento Geral do Estado baseado nasnecessidades dos trabalhadores. Se os patrõesnão podem pagar os serviços adequados- nós nãopodemos aguentar o sistema deles!- Não à Europa dos patrões! Não ao Euro dospatrões. Pela unidade internacional dostrabalhadores. Por um Portugal verdadeiramenteSocialista, numa Europe e Mundo Socialistas8