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Carlos Alberto Lopes Miranda - OAB-DF 3.937Alessandra de La Vega Miranda - OAB-DF 15.064
ADVOGADOS ASSOCIADOS
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DE UM DOS
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS DA COMARCA DE PORTO
VELHO- RONDÔNIA
“Não é a injustiça em si mesmo que
nos fere, é o sermos vítimas dela.”
Pierre Nicole
XXXXXXXXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, jornalista, inscrito
no CPF sob o n.º XXXXXXXXXXX e portador do R.G. número XXXXXXXXXXX,
domiciliado à XXXXXXXXXXX, respeitosamente vem, por intermédio dos advogados
signatários (doc. 01), perante a ínclita presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 145 do Código de Processo Penal, oferecer a presente
QUEIXA CRIME
em face de XXXXXXXXXXX, brasileiro, jornalista, estado civil desconhecido, que
poderá ser encontrado no endereço situado à XXXXXXXXXXX, pelos fundamentos
fáticos e jurídicos que passa a aduzir.
1. Antes de adentrar o mérito da causa, mister chamar a atenção do I. Juízo
para o fato de a presente queixa crime não estar embasada nos preceitos
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FONES: (61) 3037 0240 FAX: (61) 3036 6889 e-mail: [email protected] /[email protected]
e dispositivos da Lei de Imprensa – Lei 5.250/67, tendo em vista dois
fatores, em especial: primeiro, o fato de o QUERELADO ser
PESSOALMENTE o redator do texto que traz o fato a que se imputa o delito
aqui capitulado, que se utilizou de um meio cibernético para concretizar a
conduta.
2. O segundo fator relaciona-se à recente decisão do Pretório Excelso, no
que pertine ao julgamento da Argüição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF 130), versando sobre a inconstitucionalidade de
diversos dispositivos da Lei de Imprensa.
3. Com efeito, o Supremo, em sede de liminar, suspendeu a eficácia de 20
dos 77 artigos da Lei 5.250/67, de modo a possibilitar que os juízes de
todo o Brasil utilizem, quando cabível, as regras do Código Penal para o
julgamento dos processos que versem sobre dispositivos que estão
atualmente com a eficácia suspensa.
4. É o que aponta a decisão, cujo teor se extrai:
“(...) 11. É o quanto me basta para entender configurada a plausibilidade do pedido (fumus boni juris) em sede ainda cautelar. E quanto ao requisito do perigo na demora da prestação jurisdicional (periculum in mora), tenho que não se pode perder uma só oportunidade de impedir que eventual aplicação da lei em causa (de nítido viés autoritário) abalroe esses tão superlativos quanto geminados valores constitucionais da Democracia e da liberdade de imprensa. Valho-me, pois, do § 3º do art. 5º da Lei nº 9.882/99 (Lei da ADPF) para, sem tardança, deferir parcialmente a liminar requestada para o efeito de determinar que juízes e tribunais suspendam o andamento de processos e os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que versem sobre os seguintes dispositivos da Lei nº 5.250/67: a) a parte inicial do § 2º do art. 1º (a expressão “... a espetáculos e diversões públicas, que ficarão sujeitos à censura, na forma da lei, nem...”); b) o § 2º do art. 2º; c) a íntegra dos arts. 3º, 4º, 5º, 6º, 20, 21, 22, 23,
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51 e 52; d) a parte final do art. 56 (o fraseado “...e sob pena de decadência deverá ser proposta dentro de 3 meses da data da publicação ou transmissão que lhe der causa...”); e) os §§ 3º e 6º do art. 57; f) os §§ 1º e 2º do art. 60; g) a íntegra dos arts. 61, 62, 63, 64 e 65. Decisão que tomo ad referendum do Plenário deste STF, a teor do § 1º do art. 5º da Lei nº 9.882/99.” [g.n.].
5. Compulsando o teor da decisão, Vossa Excelência poderá observar, à clara
evidência, que os artigos alusivos aos crimes de calúnia, difamação e
injúria (respectivamente os arts. 20, 21 e 22) tiveram sua eficácia
suspensa.
6. De mais a mais, o Relator, valendo-se do § 3º do art. 5º da Lei nº 9.882/99,
DETERMINOU que juízes e tribunais suspendessem o andamento de
feitos correlatos aos dispositivos da Lei nº 5.250/67 cuja resolução não
seja possível de ser feita por meio do Código Penal.
7. Ora, tendo em vista se tratar de conduta individualizada, que
se materializou por intermédio de veículo cibernético,
encontra esteio a pretensão persecutória nas regras
ordinárias aplicáveis à espécie pelo CPB.
8. Assim sendo, o QUERELANTE requer, num primeiro momento,
que Vossa Excelência se digne a receber a presente queixa
crime, sem que sobreste o feito, tendo em vista que o escólio
invocado refoge do âmbito da Lei 5.250/67.
9. Mutatis mutandis, uma vez que se trata de interpelação correlata a um
crime, in tese , contra a honra , mister salientar a competência deste Juizado
Especial Criminal, segundo jurisprudência maciça deste Tribunal, bem como
do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
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“Auditoria e juizados especiais. Concurso. Crime continuado.
Injúria e dano. É da competência dos juizados especiais
criminais o processamento e julgamento das ações penais
pelos delitos de injúria e dano, ainda que em concurso ou
crime continuado, se a soma das penas não ultrapassar o
limite de 2 (dois) anos.” (100.501.2003.007787-2.
Conflito Negativo de Competência – Tribunal de Justiça
do Estado de Rondônia).
“Os delitos de difamação ou injúria, isoladamente, são
considerados infrações de menor potencial ofensivo da
competência do Juizado Especial.” (100.501.2004.000354-
5 - Conflito Negativo de Competência – Tribunal de
Justiça do Estado de Rondônia).
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ARTS. 330, 329 E 147 DO CÓDIGO PENAL. CONCURSO MATERIAL. COMPETÊNCIA.No caso de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótesede concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas ao delitos. Com efeito, se desse somatório resultar um apenamento superior a 02 (dois) anos, fica afastada a competência do Juizado Especial (Precedentes do Pretório Excelso e do STJ). Ordem denegada.” (STJ - HC 80773 / RJ - Ministro FELIX FISCHER - 04/10/2007)
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA A HONRA. CONCURSO MATERIAL. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N.º 10.259/01. RECURSO IMPROVIDO.1. Após o advento da Lei nº 10.259/01, que instituiu os Juizados Especiais Federais, os crimes cujas penas não excedam a dois anos passaram a ser considerados como de menor potencial ofensivo, e a competência para processá-los e julgá-los é dos Juizados Especiais Criminais.2. Na hipótese de concurso de crimes, a pena considerada para fins de fixação de competência, será o resultado da soma, no caso de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das penas máximas cominadas ao delitos.3. Recurso a que se nega provimento.” (STJ - RHC 18300 / SC - Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA - SEXTA TURMA)
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“PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A HONRA. CONCURSO MATERIAL. SOMATÓRIO DAS REPRIMENDAS MÁXIMAS. SUPERIOR A DOIS ANOS. COMPETÊNCIA. JUÍZO COMUM. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INOCORRÊNCIA.1. Praticados delitos de menor potencial ofensivo em concurso material, se o somatório das penas máximas abstratas previstas para os tipos penais ultrapassar 2 (dois) anos, afastada estará a competência do juizado especial, devendo o feito ser instruído e julgado por juízo comum. Precedentes.2. Ordem denegada.” (STJ - HC 66312 / RS - Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - SEXTA TURMA)
10.No dia 29 de fevereiro de 2007, o QUERELADO, imbuído de animus
injuriandi, veiculou no site XXXXXXXXXXX, a seguinte manchete:
“XXXXXXXXXXX”, tendo, a seguir, com o mesmo animus difamandi,
desenvolvido a seguinte redação, verbis:
“XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX (fonte: XXXXXXXXXXX, acesso em 04 de março de 2.008)
11.O informativo (doc. 02) encontra-se disponível no sítio acima elencado, de
modo a se propagar irrestritamente, dentro e fora do território nacional,
tendo em vista se tratar de veículo midiático de internet, de fácil acesso, por
todos aqueles que o endereço consultam.
12.O QUERELADO afirma, no texto em apreço, que o QUERELANTE
“XXXXXXXXXXX; bem como afirmou que ” XXXXXXXXXXX.”, além de afirmar
que “XXXXXXXXXXX.” “de modo a atacar a honra subjetiva do
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QUERELANTE, que teve o sentimento em relação a si e ao seu decoro
atingidos no âmago.
13. Isto porque, a veiculação em comento, como Vossa Excelência pode
depreender sem muito esforço, esparge um fato que ofende a dignidade e o
decoro do QUERELANTE, que foi chamado de “criminoso” no mencionado
texto. Eis a deflagração do animus injuriandi, posto se tratar de uma
demonstração de reprovável desapreço, denegridor do sentimento que o
QUERELANTE nutre em relação a sua dignidade.
14.Tal texto reveste-se de ofensividade e repulsa direcionadas à honra
subjetiva do QUERELANTE, porquanto afirma que esse é um
“XXXXXXXXXXX”. Ora, chamar ou afirmar que alguém é criminoso constitui
fato tipificado na lei penal como ofensor da dignidade, porquanto atinge o
sentimento de estima com que cada pessoa se vê.
15.A ofensa, aí, é bem clara, posto que destinada à incolumidade moral do
QUERELANTE, no que tange à estima – aestimatio – bem como à sua
incolumidade moral e à dignidade – dignitas, corolários da honra subjetiva.
16.A violência à dignidade e ao decoro ainda despontam na afirmação que ”
XXXXXXXXXXX.”, atribuindo ao QUERELANTE, assim, a pecha de
mentiroso, o que desabona sua dignidade.
17.Demais disso, consta no corpo do mesmo texto que XXXXXXXXXXX,
defluindo-se da parte o entendimento que o QUERELANTE publica um site
“criminoso”.
18.O QUERELANTE não está ou nunca esteve envolvido em crimes, não é
mentiroso ou voltado para tais práticas narradas, de modo que o texto em
questão mostrou-se como frívola leviandade em relação à dignidade de sua
pessoa. Todas essas afirmações constituem formulações de juízos de
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valor que se exteriorizam em qualidades negativas e defeitos que
importam, como visto, ultraje à pessoa do QUERELANTE.
19.O texto em questão finda por acarretar reflexos na esfera íntima do
sentimento que o QUERELANTE nutre em relação à dignidade e ao seu
decoro, pois, desde então, não mais tem encontrado repouso de alma, ante a
preocupação com a sua honra subjetiva fortemente atacada.
Diante de todo o exposto até então, vem o QUERELANTE formalmente
tipificar a conduta perpetrada pelo QUERELADO nos termos do art. 140 do
Código Penal, requerendo se digne Vossa Excelência receber a presente
queixa crime, citando o QUERELADO para a instrução de estilo. Arrola a
testemunha abaixo, e, ao final, pugna o QUERELANTE pela total procedência
da pretensão punitiva estatal.
Termos em que,
P. deferimento.
XXXXXXXXXXX, 11 de março de 2008.
Carlos Alberto Lopes Miranda Alessandra de La Vega
Miranda
OAB/DF 3.937 OAB/DF 15.064
TESTEMUNHAS:
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1. ROBERTO MORAES DA SILVA, brasileiro, solteiro, jornalista, inscrito no
CPF sob o n.º 409.635.602-63 e portador do R.G. número 79.593 SSP/RO,
domiciliado à SHIS QI 28, conjunto 19, casa 03, Lago Sul – Distrito Federal.
2. IGOR AUGUSTUS PAIVA DE AQUINO, brasileiro, solteiro, comerciário,
residente e domiciliado na SCLN 310, bloco “A”, entrada 70, subsolo, sala 76,
Brasília-DF.
3. MARCELO GLADSON SEGOVIA SOARES, brasileiro, solteiro, comerciário,
residente e domiciliado na SHIS QI 29, conjunto, 2, casa 05, Lago Sul-DF.
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