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UFOP - CETEC - UEMG REDEMAT R EDE T EMÁTICA EM E NGENHARIA DE M ATERIAIS UFOP – CETEC – UEMG Dissertação de Mestrado "Utilização de Resíduo de Mineração para Obtenção de Madeira Plástica" Autor: Rafael Eler de Souza Orientador: Prof. Fernando Soares Lameiras Fevereiro de 2.013

R E D E M A T - repositorio.ufop.br

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UFOP - CETEC - UEMG

R E D E M A TR E D E T E M Á T IC A E M E N G E N H A R I A D E M A T E R I A IS

U F O P – C E T E C – U E M G

Dissertação de Mestrado

"Utilização de Resíduo de Mineração para Obtenção de Madeira Plástica"

Autor: Rafael Eler de Souza

Orientador: Prof. Fernando Soares Lameiras

Fevereiro de 2.013

UFOP - CETEC - UEMG

R E D E M A TR E D E T E M ÁT IC A E M E N G E N H A R IA D E M AT E R IA IS

U F O P – C E T E C – U E M G

Rafael Eler de Souza

"Utilização de Resíduo de Mineração para Obtenção de Madeira Plástica"

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Engenharia

de Materiais da REDEMAT, como parte

integrante dos requisitos para a obtenção do

título de Mestre em Engenharia de Materiais.

Área de concentração: Engenharia de Materiais

Orientador: Prof. Fernando Soares Lameiras

Belo Horizonte, fevereiro de 2.013

i

AGRADECIMENTOS

Ao orientador Prof. Fernando Soares Lameiras pelo efetivo acompanhamento deste

trabalho, pela dedicação, e pela paciência e eficiência não só em orientar, mas em ensinar os

caminhos corretos a ser galgados no cumprimento desta pesquisa.

À REDEMAT – Rede Temática em Engenharia de Materiais, pela infraestrutura e

empenho na formação de pesquisadores de qualidade.

Ao CDTN – Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, pelo empréstimo de

sua infraestrutura, no qual foi amplamente utilizada nesta empreitada.

À CAPES – por acreditar na pesquisa sendo financiadora deste projeto

À SAMARCO MINERAÇÃO - pelo incentivo ao constante desenvolvimento

tecnológico, e ser parceira neste trabalho.

Ao Adair Generoso, por disponibilizar sua estrutura e pelo grande suporte em que deu

durante toda a pesquisa.

Ao Edilson, pelo compartilhamento de informações e ajuda na obtenção dos perfis.

Aos meus grandes amigos e coorintadores postiços, Professores Julia Gárcia e Douglas

Didoro, pelas inúmeras vezes em que me incentivaram e ajudaram, nos quais se fizeram de

grande valia na finalização deste relatório.

À minha grande companheira Gemima de Assis, pelo permanente apoio e dedicação,

no qual me mantém centrado e firme para enfrentar os obstáculos que surgem na vida.

Aos meus pais Adenir de Souza e Euza de Souza, que sempre acreditaram na minha

capacidade, e sempre me apoiaram incondicionalmente, sendo meus melhores amigos e base

da pessoa em que me tornei.

Aos companheiros de pesquisa, Edna Carla, Danielle Leirose, Geraldo Machado,

Roger Ferreira, Paulo Henrique e Danielle Alkmim, pelo companheirismo e paciência, de

ouvir e ensinar, onde contribuíram de forma efetiva para o desenvolvimento do pesquisador

em que me tornei.

Aos amigos e pessoas que de alguma forma contribuíram para este trabalho.

ii

Sumário

1. Introdução ....................................................................................................................... 1

2. Objetivos......................................................................................................................... 3

2.1 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 3

3. Revisão bibliográfica ...................................................................................................... 4

3.1. Samarco Mineração S. A. ............................................................................................... 4

3.1.1. A Empresa ...................................................................................................................... 4

3.1.2. O Processo ...................................................................................................................... 5

3.1.3. A Matéria Prima ............................................................................................................. 7

3.1.4. Os Resíduos .................................................................................................................... 8

3.2. Polímeros, Compósitos e Madeiras Plásticas ............................................................... 10

3.2.1. Polímeros ...................................................................................................................... 10

3.2.2. Polietileno ..................................................................................................................... 11

3.2.3. Polietileno de Alta Densidade ...................................................................................... 13

3.2.4. Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) ...................................................................... 15

3.2.5. Polipropileno ................................................................................................................ 16

3.3. Compósitos e Madeira Plástica .................................................................................... 18

3.4. Planejamento Fatorial dos Experimentos ..................................................................... 22

4. Parte Experimental ....................................................................................................... 24

4.1. Planejamento dos Experimentos................................................................................... 24

4.2. Materiais ....................................................................................................................... 26

4.2.1. Resíduo Arenoso .......................................................................................................... 26

4.2.2. Polímeros ...................................................................................................................... 30

4.2.3. Aglutinante ................................................................................................................... 31

4.3. Extrusão do Compósito ................................................................................................ 31

4.4. Caracterização das amostras ......................................................................................... 36

iii

4.4.1. Difração de Raios X ..................................................................................................... 36

4.4.2. Microscopia Eletrônica de Varredura ........................................................................... 36

4.4.3. Espectrometria na região do Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) ...... 37

4.4.4. Teste de Densidade ....................................................................................................... 37

4.4.5. Ensaios Mecânicos ....................................................................................................... 38

4.4.6. Irradiação das Amostras ............................................................................................... 38

5. Resultados e Discussão................................................................................................. 39

5.1. Extrusão da madeira plástica ........................................................................................ 39

5.2. Microscopia .................................................................................................................. 40

5.3. Difração de Raios X ..................................................................................................... 44

5.4. Espectroscopia na Região do Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) .... 46

5.6. Ensaios mecânicos ........................................................................................................ 51

5.6.1. Teste de Flexão ............................................................................................................. 51

5.6.2. Teste de Compressão .................................................................................................... 54

6. Conclusões .................................................................................................................... 57

7. Sugestões para trabalhos futuros. ................................................................................. 59

8. Referência bibliográfica. .............................................................................................. 60

9. Anexos. ......................................................................................................................... 63

iv

Lista de Figuras

Figura 3.1-Mercados consumidores da exportação de pelotas de minério de ferro da Samarco

em 2010. ..................................................................................................................................... 5

Figura 3.2 - Processo de exploração e beneficiamento integrado. ............................................. 6

Figura 3.3 - Foto de um itabirito com domínios ricos em quartzo (parte clara) intercalados aos

veios de hematita. ....................................................................................................................... 8

Figura 3.4 - Barragem de Germano, localizada em Mariana/MG, empregada na disposição dos

rejeitos provenientes do beneficiamento de itabirito pela Samarco ........................................... 9

Figura 3.5 - Esquema simplificado do processo de beneficiamento do minério e geração de

resíduos da Samarco ................................................................................................................... 9

Figura 3.6 - Polietileno ............................................................................................................. 12

Figura 3.7 - Cadeias de PEAD ................................................................................................. 14

Figura 3.8 - Cadeias de polietileno de baixa densidade (PEBD) ............................................. 15

Figura 3.9 - Polipropileno ........................................................................................................ 16

Figura 4.1 – Diagrama das misturas extrudadas obtido com o auxílio do Minitab®16 ............ 25

Figura 4.2 - Resíduo Arenoso .................................................................................................. 27

Figura 4.3 - Distribuição granulométrica do resíduo arenoso conforme a norma NM 248 ..... 29

Figura 4.4 - Micrografia do resíduo arenoso com aumento de (a) 35 vezes e (b) 140 vezes. .. 29

Figura 4.5 - Extrusora LGMT instalada no CDTN .................................................................. 32

Figura 4.6 - Moldes para obtenção do compósito .................................................................... 33

Figura 4.7 - Mistura pronta de grãos de PP, PE, resíduo e óleo de soja. ................................. 34

Figura 4.8 - Obtenção do compósito de PP, PE e resíduo por extrusão. .................................. 35

Figura 4.9 - Amostras de madeira plástica pronta .................................................................... 36

Figura 5.1 -Micrografia de superfície da amostra contendo 15% de resíduo, 55% de PP e 30%

de PE. (A) com aumento de 35X. (B) com aumento de 500X. (C) com aumento de 2000X.

(D) com aumento de 5000X 41

Figura 5.2 - Micrografia de superfície com aumento de 1500X. (A) amostra contendo 15% de

resíduo, 55% de PP e 30% de PE. (B) amostra contendo 20% de resíduo, 40% de PP e 40% de

PE. (C) amostra contendo 22,5% de resíduo, 35% de PP e 42,5% de PE ................................ 42

Figura 5.3 - Micrografia de superfície com aumento de 1500X da amostra contendo 20% de

resíduo, 40% de PP e 40% de PE. ............................................................................................ 43

v

Figura 5.4 - Fratura no compósito irradiado com 500 kGy de radiação gama. Imagem com

aumento de 12X. ...................................................................................................................... 44

Figura 5.5 - Análise por difração da madeira plástica com 15% de resíduo, 55% de PP e 35%

de PE. ....................................................................................................................................... 45

Figura 5.6 - Análise entre dois gráficos de difração Raios-X para madeiras plásticas com 15%

de resíduo, 55% de PP, 35% de PE e 20% de resíduo 40% de PP, 40% de PE respectivamente.

.................................................................................................................................................. 46

Figura 5.7 - Espectro de FTIR da madeira plástica com 15% de resíduo, 55% de PP, 35% de

PE e seus componentes separados. ........................................................................................... 47

Figura 5.8 - Espectros FTIR para amostras com 15% de resíduo, 55% de PP e 35% de PE. .. 48

Figura 5.9 - Detalhe do espectro de FTIR para amostras com 15% de resíduo, 55% de PP e

35% de PE. ............................................................................................................................... 49

Figura 5.10 - Gráfico da análise de efeito da radiação sobre as amostras ................................ 53

Figura 5.11 - Gráfico da análise de variância ........................................................................... 55

Figura 5.12 - Gráfico da função de desejabilidade para madeira plástica no teste de resistência

a compressão ............................................................................................................................ 56

vi

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 – Composição do minério explorado no complexo de Alegria pela Samarco ......... 6

Tabela 4.1- Composições das amostras de madeira plástica e ordem das suas sínteses .......... 26

Tabela 4.2 – Resultado do ensaio de lixiviação do resíduo arenoso segundo a norma ABNT

NBR 10005 ............................................................................................................................... 27

Tabela 4.3 – Resultado do ensaio de solubilização segundo a norma ABNT NBR 10006 ..... 28

Tabela 4.4 - Análise por fluorescência de raios X do polipropileno utilizado ......................... 30

Tabela 5.1 - Densidade dos Compósitos Ensaiados ................................................................. 50

Tabela 5.2 - ANOVA do Teste de Densidade .......................................................................... 50

Tabela 5.3 - Teste de Tukey sobre a influência do resíduo na densidade do compósito ......... 51

Tabela 5.4 - Tabela de composições e resultados para os ensaios de resistência a flexão ....... 52

Tabela 5.5 - Anova para o teste de flexão ................................................................................ 52

Tabela 5.6 - Resultado do teste de Tukey para amostras irradiadas ........................................ 53

Tabela 5.7 - Tabela de resultados para o teste de resistência a compressão ............................ 54

vii

Lista de Siglas e abreviaturas.

ASTM – Sociedade americana para testes e materiais

CDTN – Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear

FISPQ – Ficha de informações de segurança de produtos químicos

FTIR – Infravermelho por transformada de fourier

ICDD – Centro internacional para dados de difração

ISO – Organização internacional para padronização

KBr – Brometo de potássio

kGy – kilogray

MEV – Microscopia eletrônica de varredura

MG – Minas Gerais

PE – Polietileno

PEAD – Polietileno de alta densidade

PEBD – Polietileno de baixa densidade

PEL – Polietileno linear

PEUAPM – Polietileno de ultra alto peso molecular

PEUBPM – Polietileno de ultra baixo peso molecular

PP – Polipropileno

PVC – Cloreto de polivinila

Tg – Transição vítrea

WPC (wood plastic composite) – Compósitos de madeira plástica

WWF (wood waste flour) - Farinha de madeira

viii

Resumo

A madeira plástica é um material que vem ganhando cada vez mais destaque como

material alternativo, principalmente na construção civil. As qualidades deste compósito vão

além das características mecânicas. O seu apelo ecológico é muito grande, pois permite

reciclar os resíduos poliméricos, que demorariam centenas de anos para se decompor. Existe

um grande esforço no meio acadêmico e industrial na pesquisa de novas composições, para

constante melhoria do material, visto que na produção da madeira plástica é permitida uma

vasta combinação de componentes, podendo ser uma opção de reciclagem para mais de um

tipo de resíduo. Neste trabalho foram desenvolvidas madeiras plásticas utilizando material

plástico reciclado. O compósito foi obtido a partir de polipropileno, polietileno de baixa e alta

densidade e resíduo arenoso proveniente da flotação do itabirito. Foram realizados vários

experimentos com diferentes composições para obtenção da madeira plástica. Com uma

extrusora aquecida e estabilizada a uma temperatura de 175C° nas 5 zonas, a mistura

planejada foi colocada no funil aos poucos, para controlar o fluxo da extrusão. O compósito

foi extrudado, coletado nos moldes e mantido descansando por 1 minuto para a saída de

vapores da amostra. Após o descanso, os moldes com material coletado foram levados até a

uma prensa, sendo prensados a 9810N/m2 e mantidos sob essa pressão por mais de 1 minuto.

Aliviada a pressão, os moldes foram colocados por mais 5 minutos para o resfriamento e

desenformado. A madeira plástica obtida foi testada para identificação da melhor composição

do compósito. No intuito de analisar sua durabilidade em ambiente externo, as composições

foram irradiadas com raios gama, para avaliar as perdas das propriedades dos compósitos. A

madeira plástica desenvolvida tem como finalidade a fabricação de mourões de cerca e

pallets, sendo uma alternativa ao eucalipto. O compósito comportou o resíduo arenoso até

25% em peso de forma a manter as propriedades físicas desejáveis e boa resistência a

radiação, podendo ser exposta a ambientes externos por mais de 80 anos sem perdas de

propriedades.

Palavras-chave: madeira plástica, resíduo, polímero, resíduo de mineração.

ix

Abstract

The plastic timber is a material that has been gaining increasing prominence as an

alternative material, mostly in construction. The qualities of this composite are beyond the

mechanical characteristics. For instance, its ecological appeal is very large because it allows

recycling waste polymers which would take hundreds of years to decompose. However, there

is a major effort in academic and industrial research of new compositions aiming at a constant

improvement of the material taking into account that it is allowed a wide combination of

components in the production of plastic timber, which can be an option for recycling of more

than one type of waste. In this study we developed plastic timber using recycled plastic. The

composite was made from polypropylene, low density polyethylene, high density and gritty

residue from the banded iron formation flotation. Several experiments were carried out with

different compositions to obtain the plastic timber. With an extruder that was heated and

stabilized at a temperature of 175C ° in the 5 zones, the planned mixture was gradually placed

in the funnel to control the flow of extrusion. Then the composite was extruded, collected

from the molds and held for 1 minute resting in order to escape vapors from the sample. After

the rest, the molds were taken with the collected material to a press, and pressed 9810N/m2

and maintained under such pressure for more than 1 minute. The pressure relieved, the molds

were placed for more 5 minutes and were removed from the cooling. The plastic timber

obtained was tested to identify the best composition of the composite. In order to analyze its

outdoor durability the compositions were irradiated with gamma rays to assess the losses of

the properties of composites. The plastic timber developed aims at manufacturing fence posts

and pallets, as an alternative to eucalyptus. The composite was able to hold gritty residue up

to 25% by weight in order to maintain desirable physical properties and good resistance to

radiation, thus it can be exposed to the outdoors over 80 years without loss of properties.

Keywords: plastic timber, residue, polymer, mining waste.

1

1. Introdução

O apelo ecológico da madeira plástica é grande, porque ela recicla o resíduo

polimérico, que demoraria centenas de anos para se decompor na natureza, e pode ser

utilizada para obtenção de produtos que, em grande maioria, detêm alta qualidade técnica

(JANSSON et. al. 2004; ROSÁRIO et. al. 2011; DU et al. 2012; LU et. al. 2012; SOBCZAK

et. al. 2012; GAO et al., 2012).

O nome madeira plástica, ou WPC (wood plastic composite), surgiu do conceito da

madeira e do polímero interagindo, formando um compósito. Porém, nos dias atuais, este

modelo foi ampliado para o uso de qualquer quantidade de madeira, ou mesmo nenhuma, para

utilização como fase dispersa do compósito. Na obtenção do compósito, também podem ser

acrescentados vários aditivos, reduzindo efeitos indesejados da madeira.

A utilização de farinha ou fibra de madeira como carga em termoplásticos é conhecida

desde a década de 60 e empregada pela engenharia em uma variedade de aplicações. Nos

últimos anos, o interesse da indústria tem se voltado para o desenvolvimento de compósitos

de madeira plástica (MIGNEAULT et al. 2011). A madeira plástica pode ser obtida através de

materiais reciclados e possui algumas vantagens quando comparada à madeira natural, como a

resistência à deterioração biológica, o baixo custo do processo e a farta disponibilidade de

matéria-prima (HIZIROGLU; WECHSLER, 2007). Mundialmente, os setores de construção,

arquitetura e design vêm empregando cada vez mais a madeira plástica, devido ao seu baixo

custo de manutenção e benefícios ecológicos (SOBCZAK et. al. 2012).

Embora a viabilidade técnica para produção de compósitos celulósicos termoplásticos

tenha sido comprovada em outros países, no Brasil encontra-se ainda certa relutância por

parte da indústria de compostos termoplásticos em empregar essa tecnologia. Na maioria dos

casos, tal relutância é decorrente da falta de informações técnicas sobre os materiais e os

processos de certificação local de fornecedores de matéria-prima e sobre a ausência de

equipamentos específicos, além de desenvolvimentos de novos mercados para esses produtos.

No Brasil ainda não existe uma normalização sobre madeira plástica, ou mesmo estudos que

comprovem sua eficiência e durabilidade sobre os produtos feitos no país.

Porém, grande parte dos fabricantes de madeira plástica busca constantemente novas

formulações e aditivos que melhorem as propriedades de seu produto. Além dos estudos

envolvendo as fases majoritárias, fibras de celulose e matrizes poliméricas, a utilização de

cargas minerais é importante para a melhoria de várias características do compósito, como

2

propriedades mecânicas (módulo de flexão, resistência à tração, compressão e aumento da

rigidez), cor e resistência à chama, dentre outras (KLYOSOV, p.129, 2007).

Atualmente, produtos feitos de materiais reciclados oferecem resistência, durabilidade

e rentabilidade com um custo de manutenção menor que aqueles feitos com material virgem

(ROSÁRIO et al. 2011). O painel ecológico, feito de madeira e material reciclado, é uma das

mais efetivas respostas para a demanda crescente de materiais. Logo, acredita-se que ele seja

a solução ideal para móveis e divisórias de boa qualidade em perfeita harmonia com o meio

ambiente, utilizando-se componentes ecológicos aliados a um processo de produção

ambientalmente correto.

Materiais como a madeira plástica já são utilizados em larga escala na construção civil

no sul do Chile e na Califórnia em substituição à madeira. Os estudos mercadológicos

realizados nos EUA e na Europa sobre o uso de fibras celulósicas ou farinha de madeira

(WWF - wood waste flour) como carga e reforço em termoplásticos revelam que a

substituição da madeira convencional por compósitos termoplásticos se apresenta como

alternativa viável ao reaproveitamento de resíduos, com inúmeras vantagens (MIGNEAULT

et al. 2011; SOBCZAK et al.2012; BUTYLINA et. al. 2012). A título de ilustração, em Belo

Horizonte, a empresa Ecoblock se dedica à fabricação da madeira plástica sem adição de

cargas minerais.

Neste trabalho foi estudada, em escala piloto, a obtenção de perfis extrudados de

madeira plástica com adição dos resíduos arenosos provenientes da flotação do itabirito. Os

perfis devem apresentar bom fluxo de trabalho na sua obtenção e propriedades físicas

compatíveis com mourões de madeira, com o máximo de resíduo comportado no compósito.

Foram obtidos perfis, que podem ser uma alternativa aos mourões de eucalipto usados em

cercas, utilizando material plástico residual, proveniente da indústria de reciclagem. Os

polímeros empregados foram o polipropileno (PP) e o polietileno de alta e baixa densidade

(PEAD e PEBD) reciclados. Foram feitos experimentos com diferentes composições para

obtenção da madeira plástica, os quais foram submetidos a testes mecânicos, caracterização

por microscopia, e ensaios químicos para atestar qual a melhor composição do compósito.

Para analisar sua durabilidade em ambiente externo, as composições foram irradiadas com

raios gama, com doses de 100 kGy e 500 kGy, para avaliar as perdas de propriedades dos

compósitos.

3

2. Objetivos

Estudar o efeito da adição do resíduo arenoso da exploração do itabirito na composição e

no processo de obtenção da madeira plástica. Foi estudada a quantidade máxima de resíduo

arenoso comportado pelo compósito, para utilizar o máximo de resíduo por material

produzido.

2.1 Objetivos Específicos

a) verificar a possibilidade de se produzir esses compósitos em uma extrusora monorrosca;

b) verificar qual a quantidade máxima de resíduo arenoso que pode ser utilizada nas

formulações para a produção dos compósitos;

c) avaliar a influência do resíduo arenoso nas propriedades dos compósitos produzidos por

meio da extrusão;

d) verificar a degradação por radiação nos compósitos produzidos.

4

3. Revisão bibliográfica

Neste capítulo estão apresentados fatos que dão suporte ao foco desta pesquisa,

organizados em quatro seções. Na primeira seção, a empresa Samarco Mineração S.A é

apresentada, salientando sua importância no mercado, a extração e beneficiamento dos

derivados de minério de ferro, e a produção e caracterização dos seus resíduos. Esta empresa

foi fornecedora das amostras de resíduo arenoso utilizadas neste trabalho. Na segunda seção

estão apresentadas informações sobre polímeros, compósitos e as madeiras plásticas. Já na

terceira seção, são abordados dados relevantes para a obtenção de compósitos e de compósitos

de madeira plástica. Por fim, na quarta seção, questões acerca do planejamento fatorial dos

experimentos são apresentadas.

3.1. Samarco Mineração S. A.

3.1.1. A Empresa

A Samarco Mineração S.A. é uma empresa que detém a tecnologia e as instalações

necessárias para a extração de minério de ferro (itabirito), seu beneficiamento, pelotização e

embarque (SAMARCO, 2011). A empresa é brasileira, de capital fechado, fundada em 1977,

sendo controlada pela Vale S.A. e BHP Billiton, cada uma com participação de 50 %. A

Samarco, segunda maior exportadora mundial de pelotas no mercado transoceânico, possui

atualmente uma capacidade produtiva de aproximadamente 22 milhões de toneladas, gerando

cerca de 4 mil empregos diretos e indiretos (SAMARCO, 2010).

Dois tipos de pelotas de minério de ferro são produzidas: pelota para redução direta e

pelota de alto forno. São produzidos também finos, que são o excedente da produção de

concentrado de minério de ferro. A Samarco é essencialmente uma empresa exportadora e, em

2011, 99% de sua produção foi destinada para siderúrgicas de 19 países das Américas, Ásia,

África e Europa. A divisão de mercados consumidores da produção de pelotas de minério de

ferro da Samarco no ano 2011 está ilustrada na Figura 3.1.

5

Figura 3.1-Mercados consumidores da exportação de pelotas de minério de ferro da Samarco

em 2011.

Fonte: (SAMARCO, 2011).

3.1.2. O Processo

O processo produtivo da Samarco é integrado (Figura 3.2). Na unidade de Germano,

localizada nos municípios de Mariana e Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, o minério de

ferro é extraído e beneficiado. Sistemas de correias são utilizados para levar 70% desse

minério e transportá-los das minas até os concentradores, sem uso de caminhões. Nos

concentradores, é realizado o beneficiamento do minério de ferro, por meio de processos de

britagem, moagem, deslamagem e flotação, que resultam em um concentrado com 67,5% de

ferro produzido a partir de um minério com teor de 46% (SAMARCO, 2011). Posteriormente,

o minério é enviado através de minerodutos para a usina de Ponta de Ubu, no município de

Anchieta, no estado de Espírito Santo (MONTE et al. 2002), onde é feita a pelotização

(SAMARCO, 2008). O uso de minerodutos, que são os maiores do mundo, com 396 km de

extensão, faz parte da estratégia da empresa para manter o preço da pelota competitivo no

mercado internacional, pois representa uma opção com custo inferior às alternativas

ferroviária e rodoviária. Apesar disso, o mineroduto exige tecnologia de bombeamento e

controle das propriedades reológicas da polpa de minério de ferro, além de manutenções

periódicas (SAMARCO, 2010).

6

Figura 3.2 - Processo de exploração e beneficiamento integrado.

Fonte: (SAMARCO, 2011)

A usina de Germano está localizada no Complexo de Alegria, região leste do

Quadrilátero Ferrífero, que possui recursos minerais estimados em 3,3 bilhões de toneladas. A

composição mineralógica do minério explorado na mina de Alegria está apresentado na

Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Composição do minério explorado no complexo de Alegria pela Samarco

Principais Minerais Fórmula Química Distribuição (%)

Hematita Especular Fe2O3 15,0

Hematita Fe2O3 38,0

Magnetita Fe3O4 1,0

Goethita FeO(OH) 19,8

Quartzo SiO2 24,0

Fonte: Adaptada de (MONTE et al., 2002).

7

A flotação consiste na separação da sílica em meio aquoso usando agentes químicos

surfactantes. Esta etapa eleva o teor de ferro no minério itabirítico de aproximadamente 45 %

para uma faixa entre 60 a 68 % em massa e elimina boa parte da sílica, um resíduo que se

mostra prejudicial nas próximas etapas siderúrgicas (SAMARCO, 2008).

Um estágio subsequente de moagem e flotação em colunas eleva este teor para

aproximadamente 68 %. Finalmente, o minério é convertido em polpa (30 % de água e 70 %

de sólidos) e adquire as propriedades reológicas necessárias para o transporte via mineroduto.

Anualmente, são transportadas cerca de 24 milhões de toneladas de polpa de minério

(SAMARCO, 2010).

Quando a polpa chega ao município de Anchieta, extrai-se o Pellet Feed (minério

concentrado com umidade de aproximadamente 10 %), uma matéria-prima para a etapa de

pelotização (SAMARCO, 2008). A polpa de minério é transformada em pelotas com

tamanhos entre 8 e 16 milímetros (SAMARCO, 2011). Para que esta etapa tenha uma boa

eficácia, é essencial a adoção de um rígido controle de qualidade quanto à composição

mineralógica do minério (VIEIRA; ROSIERE; PENA, 2003). As pelotas de minério de ferro

passam por um tratamento térmico, no qual adquirem características desejáveis para a

indústria siderúrgica, seja para o processo de alto-forno ou para o de redução direta

(SAMARCO, 2011). Como o tamanho das pelotas é um parâmetro crítico para o

funcionamento dos alto-fornos, é realizado um peneiramento das pelotas queimadas em uma

malha de 6,3 mm. As partículas passantes (finos) no peneiramento são chamadas de Sinter

Feed, porque são usadas como matéria-prima no processo de sinterização (SAMARCO,

2008).

3.1.3. A Matéria Prima

A Samarco beneficia o minério itabirítico com baixo teor de ferro, sendo alcançada a

viabilidade econômica graças à combinação da etapa de flotação e ao escoamento da

produção via mineroduto. O termo itabirito é dado ao minério metamórfico de ferro

constituído por camadas alternadas de óxidos de ferro e quartzo, cujas espessuras podem

variar bastante. Raramente contém mica ou outros minerais associados (SELMI;

LAGOEIRO; ENDO, 2009). As unidades litológicas contendo itabirito são chamadas de

8

formações ferríferas (DAMASCENO, 2006). A Figura 3.3 traz a imagem deste minério,

sendo possível visualizar os veios de óxidos de ferro e de quartzo.

Figura 3.3 - Foto de um itabirito com domínios ricos em quartzo (parte clara) intercalados aos

veios de hematita.

Fonte: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/metamorficas/itabirito.html, acessado em 25

de janeiro de 2013.

No intuito de simplificar a caracterização, minérios de múltiplas fases, como o

itabirito, podem ser considerados binários. Os óxidos de ferro (goethita, hematita e magnetita)

formam a fase férrea, enquanto a fase ganga é constituída por silicatos, argila e componentes

menores (NEUMANN et. al. 2004).

3.1.4. Os Resíduos

Em 2011, as usinas de Germano e Ponta de Ubu geraram 15,66 milhões de toneladas

de resíduos, separadamente, em arenosos e lamas. Esses materiais são transportados e

dispostos na barragem de Germano (Figura 3.4) (SAMARCO, 2011).

9

Figura 3.4 - Barragem de Germano, localizada em Mariana/MG, empregada na disposição dos

resíduos provenientes do beneficiamento de itabirito pela Samarco

Fonte: Foto de Valéria Melo.

Os resíduos do processo de beneficiamento do minério de ferro da Samarco são

gerados em duas etapas específicas (Figura 3.5).

Figura 3.5 - Esquema simplificado do processo de beneficiamento do minério e geração de

resíduos da Samarco

Fonte: Adaptado de SAMARCO, (2009).

10

Na etapa de deslamagem são retiradas as partículas finas e ultrafinas, que constituem o

resíduo denominado lama. Já na etapa de flotação, o material flotado (quartzo) é chamado de

resíduo arenoso. A lama e o resíduo arenoso são polpas com aproximadamente 35 % e 55 %

de sólidos, respectivamente (SAMARCO, 2010).

A geração de resíduos, embora impactada pela produção, deve seu crescimento

principalmente à contabilização de um grande estoque de resíduos refratários armazenados na

unidade de UBU (MONTE et. al. 2002), que aguarda uma destinação ambientalmente correta

e economicamente viável (SAMARCO, 2011). Há desenvolvimento de estudos para a

utilização dos resíduos, tendo em vista assegurar a sustentabilidade do negócio a longo prazo.

Visando a incentivar novas ideias, a Samarco, em 2010, propôs um desafio, buscando as

melhores propostas elaboradas por pesquisadores sobre a utilização desses resíduos.

3.2. Polímeros, Compósitos e Madeiras Plásticas

3.2.1. Polímeros

Há muita semelhança entre os conceitos de macromolécula e de polímero. A expressão

polímero foi criada por Berzelius, em 1832, em contraposição a isômero, para designar

compostos de pesos moleculares múltiplos, ou de mesmo peso molecular, respectivamente.

Atualmente não se usa esse conceito e são considerados polímeros as moléculas relativamente

grandes, de pesos moleculares da ordem de 10³ a 10⁶, sendo que em sua estrutura encontram-

se repetidas unidades químicas simples conhecidas como meros (MANO, 1999).

Os polímeros naturais são aqueles que são derivados de plantas e animais e têm sido

utilizados há muitos séculos. Esses materiais incluem a madeira, a borracha, a lã, o couro e a

seda. Outros polímeros naturais, como as proteínas, as enzimas, o amido e a celulose, são

importantes nos processos biológicos e fisiológicos, nas plantas e nos animais. Muitos dos

plásticos, borrachas e materiais fibrosos que utilizamos hoje são de origem sintética. De fato,

desde o fim da segunda guerra mundial até os dias de hoje, o campo de materiais foi

virtualmente revolucionado com o advento dos polímeros sintéticos. Os materiais sintéticos

podem ser produzidos de maneira barata, e suas propriedades podem ser administradas num

nível em que muitas delas são superiores às suas contrapartes naturais. Em algumas

aplicações, peças de madeira e de metais foram substituídas por plásticos, os quais possuem

11

propriedades satisfatórias e podem ser produzidos a um custo mais baixo (CALLISTER,

2002).

Como ocorre com os metais e os materiais cerâmicos, as propriedades dos polímeros

estão relacionadas de maneira complexa aos elementos estruturais do material. Os

componentes sintéticos podem ser obtidos principalmente do petróleo, gás natural e da hulha.

A partir do látex, produzido por certas árvores tropicais, obtêm-se gomas e borrachas e, a

partir da celulose, é possível obter celofane e celulóide. As propriedades dos polímeros

dependem bastante dos materiais de partida, isto é, os monômeros, do tipo de reação

empregada na sua obtenção e também da técnica de preparação. Há três tipos de reações pelas

quais se pode produzir um polímero: a poliadição, a policondensação e a modificação química

de um outro polímero. Conforme a natureza química do monômero, o tipo de reação visada,

bem como a aplicação desejada para o polímero, varia a técnica de sua preparação (em massa,

em solução, em emulsão, em suspensão ou interfacial) (MANO, 1999).

No entanto, o plástico, por sua vez, se tornou um material de grande importância,

largamente utilizado pela sociedade, cujo descarte já é um grave problema ambiental. Sua

baixa degradabilidade e seu grande volume diminui a vida útil dos aterros. No Brasil, a

inadequada gestão urbana resulta na inapropriada disposição, danificando o sistema de esgoto,

causando sérios problemas ambientais, sanitários e de saúde pública. (CRUZ e ZANIN,

2003). Os plásticos descartados são chamados de “poluição branca” e têm sido reconhecidos

como um dos principais poluentes na China, por exemplo. O lixo plástico de consumo diário

pode chegar a 60 milhões de toneladas ao ano no mundo, sendo altamente resistentes à

degradação pelos microrganismos e gerando problemas no descarte por falta de localidades

disponíveis para aterros. Uma alternativa ao lixo plástico é a reutilização como matriz para a

produção de madeira plástica, sendo uma estratégia opcional, diminuindo o impacto

ambiental (GAO et al., 2012).

3.2.2. Polietileno

Resinas de polietileno, PE, puras consistem de alcanos com a fórmula (CH2-CH2)n,

onde n é o grau de polimerização. Na Figura 3.6 é mostrada a estrutura do PE.

12

.

Figura 3.6 - Polietileno

Fonte: http://qnint.sbq.org.br, acessado em 22 de janeiro de 2013.

Ao contrário dos materiais orgânicos convencionais, o polietileno não consiste de

moléculas idênticas. As resinas de polietileno podem possuir cadeias com o comprimento de

sua estrutura principal, e tipicamente, podem ter o grau de polimerização muito superior a 100

vezes, podendo ser tão elevado quanto 250.000 vezes ou mais, equivalendo a pesos

moleculares que variam de 1.400 vezes a mais de 3.500.000 vezes o peso molecular do

monômero. Polietilenos de baixo peso molecular (oligómeros), com um grau de

polimerização entre 8X e 100X, são sólidos, porém com propriedades de ceras, não sendo

normalmente associadas a um plástico. Quando o grau de polimerização é inferior a 8, os

alcanos são gases ou líquidos a temperaturas e pressões ordinárias. Moléculas de polietileno

podem ser ramificadas em vários graus e conter pequenas quantidades de insaturações

(PEACOCK, 2000).

O polietileno pode apresentar várias derivações, como o polietileno de baixa densidade

(PEBD), de alta densidade (PEAD), de ultra baixo peso molecular (PEUBPM), ultra alto peso

molecular (PEUAPM), dentre outros. Os mais comuns são os de baixo e alto peso molecular e

cada um tem suas características e suas aplicações. No Brasil, estima-se que a presença do

PEAD em estado sólido representa cerca de 30% de todo plástico rígido consumido, perdendo

apenas para o politereftalato de etileno (PETCHWATTANA et. al. 2012), que representa 60%

(CRUZ e ZANIN, 2003).

Como um dos mais populares plásticos de commodities, o polietileno (PE) tem sido

amplamente usado em embalagens, canos, isolantes de cabos, e em uma variedade de

produtos domésticos.

Alguns problemas relacionados ao polietileno dizem respeito à alta energia estática

gerada na fricção, pois é facilmente acumulada e dificilmente dissipada, causando, portanto,

descargas eletrostáticas. Como um exemplo em particular, os filmes de PE se agarram

13

facilmente ou se atraem durante o processo de produção, tornando a estática um de seus

maiores problemas na produção (ZHENG et al., 2012). Outro problema é o descarte (CRUZ e

ZANIN, 2003). O polietileno, quando utilizado em embalagem de alimentos, sacolas de

supermercados e outras formas, onde o ciclo de vida é muito curto, gera grandes problemas de

descarte e demora centenas de anos para se decompor na natureza. Muitas pesquisas têm sido

desenvolvidas com o interesse de criar compósitos de polímeros biodegradáveis. Dois

importantes estudos feitos (SHUJUN; JIUGAO e JINGLIN, 2005) e (CHANDRA e RUSTGI,

1997), mostraram blendas entre amido e polietileno biodegradáveis, translúcidas e com

qualidades bem vindas a nichos como o de embalagens e coberturas agrícolas.

As blendas obtidas entre amido e polietileno aproveitam as características do amido

como polímero natural, sendo uma alternativa para o enxerto em polímeros sintéticos,

obtendo-se excelentes resultados. Para elaboração desta blenda, é utilizado o princípio de que

ambos os polímeros são hidrofílicos, e o amido tem o grupo funcional polar que causa, assim,

a interação entre ele e o grupo funcional apolar do polietileno. Essas pesquisas mostraram

que, com a dispersão em meio aquoso, é possível produzir filmes com até 50% de amido

(CHANDRA et. al. 1997; SHUJUN et. al. 2005).

Além das blendas entre polietileno e amido, outra forma de reduzir o impacto gerado

no descarte é a reciclagem. Contudo, uma característica dos materiais reciclados é a eventual

degradação a que este material já foi submetido, com resultados diretos na diminuição das

propriedades, principalmente as mecânicas. No todo, polímeros são susceptíveis à degradação

termo-oxidativa, do armazenamento, do processamento, do uso no produto final e

reprocessamento, no caso de materiais recicláveis. No entanto, estudos reportam que, durante

o reprocessamento, são criadas ramificações e reticulações nas cadeias dos polímeros,

tornando, consequentemente, muito importante o uso de um estabilizador depois de cinco

reciclagens sucessivas (CRUZ e ZANIN, 2003).

3.2.3. Polietileno de Alta Densidade

O polietileno de alta densidade (PEAD) é quimicamente mais próximo da estrutura do

polietileno puro e é constituído principalmente por moléculas não ramificadas, com muito

14

poucas falhas, para não prejudicar sua linearidade. A forma geral das cadeias do polietileno de

alta densidade é mostrada na Figura 3.7.

Figura 3.7 - Cadeias de PEAD

Fonte: (PEACOCK, 2000)

Como ele apresenta um nível extremamente baixo de defeitos que impedem a

organização, um elevado grau de cristalinidade pode ser alcançado, resultando em resinas

com uma densidade elevada (em relação a outros tipos de polietileno). Algumas resinas deste

tipo são copolimerizadas com uma concentração muito pequena de 1-alceno, a fim de reduzir

ligeiramente o nível de cristalinidade. As resinas de polietileno de alta densidade têm

densidades na faixa de 0,94-0,97 g/cm³. Devido ao nível muito baixo de ramificação, o

polietileno de alta densidade é por vezes chamado de polietileno linear (PEL) (PEACOCK,

2000).

As aplicações típicas para polietilenos de alta densidade puros são em contentoras,

bombonas, fitas para lacres de embalagens e material hospitalar (MANO, 2000).

Porém, as aplicações para o PEAD reciclado tem se tornado mais frequentes, podendo

ser usado para: pavimentação (misturado com asfalto), madeira plástica, construção, indústria

automotiva, manufatura de embalagens industriais, sacolas (para supermercados, etc.),

blendas com resinas virgens para embalagens não alimentícias e em peças, como baldes,

cartões, etc.

Entretanto Cruz e Zanin (2003) afirmam que, quando o PEAD é diversas vezes

reprocessado e estabilizado, há aumento da viscosidade e da massa molar. No entanto, com a

15

adição de 0,2% de antioxidante, a viscosidade do polímero derretido fica praticamente

inalterada se comparada com o material sem reprocessamento.

3.2.4. Polietileno de Baixa Densidade (PEBD)

As numerosas ramificações características do polietileno de baixa densidade inibem a

sua cristalização, reduzindo a densidade da resina em relação ao polietileno de alta densidade,

tendo densidade tipicamente na faixa de 0,90–0,94 g/cm3. A baixa densidade é devido à

natureza do processo de polimerização, pois são produzidos ramificações de etilas e os butilas

sendo frequentemente agrupadas em conjunto, porém separadas por funcionalidades ao longo

da cadeia principal, podendo ocorrer de forma aleatória. (PEACOCK, 2000). A representação

simplificada das cadeias do polietileno de baixa densidade está mostrada na Figura 3.8.

Figura 3.8 - Cadeias de polietileno de baixa densidade (PEBD)

Fonte: (PEACOCK, 2000)

De acordo com Mano (2000), as aplicações típicas para o polietileno de baixa

densidade são em recipientes para embalagens de produtos alimentícios, farmacêuticos e

químicos, filmes para embalagens em geral, utensílios domésticos, brinquedos e lençóis para

usos agrícolas.

16

3.2.5. Polipropileno

Depois de mais de 50 anos da descoberta do polipropileno (PP) isotáctico, ele está,

atualmente, entre os polímeros mais utilizados no mundo, perdendo apenas para o polietileno,

com uma demanda mundial superior a 36 milhões de toneladas. O PP, além das aplicações

tradicionais, permite modificações de suas características na forma de copolímeros ou mesmo

compósitos, o que resulta em uma ampliação maior de seu uso, substituindo, dessa forma, o

uso de materiais tradicionais em alguns mercados. (PASQUINI et. al. 2005; ROSÁRIO et al.

2011).

Segundo alguns autores (MANO, 2000; PASQUINI e ADDEO, 2005; ROSÁRIO et.

al. 2011), o polipropileno é um produto termoplástico da classe das poliolefinas,

essencialmente linear e altamente cristalino. O polímero tem uma coloração branca opaca e

tem como características marcantes a alta resistência química, a alta resistência a solventes,

além do baixo custo. Na Figura 3.9 está mostrado de forma simplificada o monômero e o

polipropileno.

Figura 3.9 - Polipropileno

Fonte: (MANO, 2000).

Segundo Costa et. al. (2012), o polipropileno é uma resina que oferece um bom

equilíbrio de propriedades térmicas, químicas e elétricas, acompanhadas de resistência

mecânica moderada. Além disso, apresenta facilidade para incorporação de teores elevados de

cargas e agentes de reforço e capacidade para produzir misturas com outros polímeros,

incluindo borrachas, o que o torna extremamente versátil.

Rosário et. al. (2011) postula que as características marcantes do polipropileno é

devido ao seu ponto de fusão superior ao da maioria das poliolefinas, em razão da maior

17

rigidez estrutural ocasionada pelo grupo lateral metil. Para o PP isotáctico, o ponto de fusão

pode alcançar o valor máximo de 176° C, enquanto para o PP sindiotáctico tal limite é de

135° C. O ponto de fusão, em ambos os casos, é dependente da porcentagem da fase cristalina

do polímero. Como o PP atáctico não cristaliza, ele não tem ponto de fusão e apresenta, dessa

forma, somente ponto de transição vítrea. No que diz respeito aos valores encontrados para a

temperatura de transição vítrea, assume-se que eles variam muito em decorrência das

diferentes técnicas de medidas e influência da tacticidade e da massa molar. Para o PP

isotáctico, os valores de Tg vão de -13 a 0° C e para a forma atáctica de -18 a 5° C.

Sobre a sua estabilidade química, muitos autores (JANSSON et. al. 2004; BUTYLINA

et. al. 2012) também têm descrito diferentes reações de oxidação nas poliolefinas. Embora a

oxidação seja relacionada a degradação do polímero, o início ainda está sendo debatido.

Acredita-se que os hidroperóxidos (ROOH) são responsáveis pela oxidação inicial e a

degradação intermediária dos produtos (JANSON et al. 2004; CHYTIRI et al. 2006; RAVi et

al. 2011; DU et al. 2012; BUTYLINA et al. 2012; MURRAY et al. 2012). Porém, muitos

processos podem ser a causa da degradação. No material virgem, por exemplo, o

processamento produz pequenas quantidades de hidroperóxidos, sendo limitada a quantidade

de oxigênio no equipamento de processamento. Durante o envelhecimento, com a

decomposição, a formação de hidroperóxidos é substancialmente rápida. Em um

envelhecimento prolongado, mas sem exposição a altas temperaturas ou a radiação

ultravioleta, hidroperóxidos são formados, porém a decomposição por radicais é muito lenta.

Considera-se que maiores perdas das propriedades mecânicas resultantes da deterioração do

PP são devidas à separação beta para os radicais do grupo alcóxi, levando a quebra de cadeia,

no qual é formada uma cetona terminal e um radical alquilo (JANSSON et. al. 2004).

Mesmo quando utilizado em compósitos, assim como a madeira, o polipropileno

também se degrada ao tempo. A radiação ultravioleta contida na radiação solar tem efeito

menos nocivo sobre a química do polipropileno quando este tem madeira impregnada na

matriz polimérica. A presença de cromóforos usualmente contidos no polímero e na madeira,

que é geralmente utilizada na produção de madeira plástica, absorve a luz ultravioleta e

diminui, portanto, a fotodegradação no compósito. A radiação ionizante no polipropileno

causa a redução no tamanho da molécula e a criação de grupos químicos, como carbonila e

hidroperóxidos. A redução no tamanho molecular em curtos períodos de tempo favorece a

cristalização. Porém, quando exposto a longo período de radiação, a presença de muitos

grupos estranhos e a alta degradação dificulta muito a cristalização. (BUTYLINA;

HYVARINEN e KARKI, 2012).

18

Independentemente da aplicação, o polipropileno virgem é amplamente utilizado.

Porém, o aumento do custo das resinas plásticas, pressionado pelas constantes flutuações do

preço do petróleo no mercado internacional, tem estimulado pesquisas em reciclagem deste

polímero. Normalmente o preço do plástico reciclado é 40% menor do que o da resina virgem

(ROSÁRIO et al., 2011).

Butylina et. al. (2012) mostram a diferença entre as características do polímero

reciclado e o virgem, quando demonstram as características dos polipropilenos adquiridos

para seus experimentos. De acordo com as especificações do seu fornecedor, o PP virgem tem

um fluxo de massa na extrusão de 45g/10min (230°C) e o reciclado tem o fluxo de 3g/10min

(190°C) evidenciando, assim, a diferença de propriedades entre eles.

Com base em Costa et. al. (2012) e Mano, (2000), tanto os tipos de PP reforçados

como os não-reforçados são aplicados em automóveis, aparelhos domésticos e elétricos, potes

e copos para a indústria alimentícia, em caixas para embalagens industriais, filmes, carpetes,

tubos para carga de caneta esferográfica, bem como em bocal de pistola para aplicação em

aerossóis, material hospitalar, seringas de injeção descartáveis e madeira plástica, entre outras

aplicações. Embora apresente uso crescente na indústria automobilística, o comportamento

frágil com relação à resistência ao impacto em baixas temperaturas é um fator limitante para

maiores aplicações.

O polipropileno, assim como as poliolefinas, também é considerado biologicamente

resistente a microrganismos, pois além de não sofrer ataque biológico, não causa reações

fisiológicas, podendo ser utilizado para fins terapêuticos, como, por exemplo, em suturas.

Graças à sua inércia química, é comum o uso de PP em embalagens de alimentos sensíveis a

umidade e gordura.

3.3. Compósitos e Madeira Plástica

Callister, (2002, p. 359), define, compósito como “sendo qualquer material multifásico

que exiba uma proporção significativa das propriedades de ambas as fases que o constituiu, de

tal modo que é obtida uma melhor combinação de propriedades.” De acordo com esse

princípio da ação combinada, melhores combinações de propriedades são criadas através de

uma combinação criteriosa de dois ou mais materiais distintos. Também são feitos

intercâmbios de propriedades para muitos materiais compósitos.

19

A madeira plástica é considerada um compósito, e segundo Petchwattana et al. (2012),

ela se consiste principalmente de uma matriz polimérica, com enchimento ligno-celulósico,

como farinha de madeira e alguns aditivos.

São comumente usadas em madeira plástica, matrizes de termoplásticos, como

polietileno (PE), polipropileno (PP) e cloreto de polivinila (PVC). Segundo Klyosov (2007),

os aditivos tipicamente usados em madeira plástica são: carbonato de cálcio (CaCO3),

wollastonita (CaSiO3), talco (Mg3Si4O10(OH)2), caulinita (Al2O3.2SiO2.2H2O), mica, argilas e

cinzas (alumino silicatos com inclusões de outros elementos).

Segundo Lu et al. (2012), a composição química da fibra natural se consiste de

celulose (microfibra ou parede da célula), hemicelulose, e lignina (componentes de

biopolímero para a parede da célula). A superfície exterior da fibra da planta contém ceras,

gorduras, e pectina. O grupo da celulose tem estruturas altamente cristalinas com modulo de

Young de ~130GPa.

Enquanto poliolefinas têm sido reforçadas com fibra de vidro e partículas minerais há

muitas décadas, mais recentemente as fibras naturais e a madeira têm se tornado de interesse

comercial para a produção de uma nova classe de compósitos de fibras naturais. A vantagem

da fibra natural é claramente percebida quando se compara a sua densidade em relação aos

materiais convencionais de reforço, tendo a densidade de 1,7 a 2,8 g/cm³, enquanto a madeira

e as fibras prontas para o processamento de WPC é de 1,3 a 1,6 g/cm³. Compósitos de

fibras naturais e madeiras plásticas podem produzir estruturas mais leves, quando comparado

com reforços minerais, fibra de vidro, fibra de vidro longa e materiais reforçados com fibras

de carbono curtas. Também é sabido que as propriedades físicas e mecânicas da madeira

plástica, como na maioria dos compósitos, são afetadas por fatores, como a fração

volumétrica e a proporção de fibra, orientação da fibra, nível de dispersão, adesão fibra-

polímero, bem como o tempo de mistura e temperatura de processamento. Todavia, é

geralmente aceito que a tenacidade dos compósitos reforçados por fibras depende

primordialmente do comportamento tensão-deformação da fibra. Fibras resistentes com alta

deformação de ruptura elevam a resistência à fratura dos compósitos (ROSÁRIO et al. 2011;

PETCHWATTANA et. al. 2012; SOBCZAK et. al. 2012).

A produção de madeira-plástica também pode utilizar lixo plástico reciclado. Porém, o

lixo pode ter misturas de muitos tipos de polímeros distintos, e a total separação em polímeros

individuais raramente é implementada. Os componentes misturados podem suportar estruturas

20

químicas distintas e de graus de polimerização diferentes, exibindo várias temperaturas de

fusão, que são incompatíveis umas com as outras. Muitos dos lixos plásticos são hidrofóbicos

e não compatível com a madeira hidrofílica. Essas características dos plásticos reciclados tem

resultado em dificuldades na composição com a madeira na hora da extrusão. Como

resultado, a madeira plástica feita de material reciclado pode possuir baixas propriedades

mecânicas e visíveis defeitos de superfície (GAO et al., 2012).

Outra característica importante na madeira plástica é o encapsulamento de

componentes pelo polímero, onde o material polimérico fundido molha a fase dispersa do

compósito provocando uma melhor adesão superficial entre os dois materiais, podendo alterar

as características do compósito de acordo com cada mistura. Costa (COSTA et al.) demonstra

em seus estudos que pequenas quantidades de polietileno de alta densidade (PEAD)

misturadas à blenda polimérica, geram um encapsulamento na fase dispersa do compósito

pela fase do PEAD. Assim, com pequenas percentuais de PEAD, a mistura apresenta um

mecanismo de microfissuramento com características dúcteis, o que reflete em uma elevada

resistência ao impacto. Porém, de acordo com Klyosov (2007, p.383-411), o completo

encapsulamento de fibras de madeira pelo polímero é impossível quando o conteúdo das

fibras de madeira no compósito exceder a 40%.

O encapsulamento das fibras de madeira pelo polímero é influenciado pelo processo

de produção da fibra e do compósito. Quando fibras naturais são usadas para reforçar o

compósito, surgem problemas de processamento, porque elas não estão em escalas de

dosagens usuais. Tradicionalmente as fibras são vendidas em fardos ou grampos, e assim não

tem um bom fluxo de trabalho. Existem dois caminhos para superar esta desvantagem:

primeiro, pelo corte e moagem, diminuindo as fibras até o tamanho suficiente para ter um

bom fluxo de trabalho, sendo encapsulada pelo polímero. Essa forma de trabalho pode reduzir

as propriedades do compósito pela diminuição do tamanho da fibra; segundo, as fibras podem

ser peletizadas, mas isso envolve processos que aumentam os custos. Essa opção, por outro

lado, levanta questões relacionadas a re-dispersão das fibras durante o processo de

composição, que podem gerar problemas quando as pelotas não são bem feitas. O método que

evita essas questões é o processo de granulados de fibras longas. Neste tratamento, os fios ou

fibras são cobertos com a matriz termoplástica. Assim, grãos contendo fibras longas (para o

tamanho do grão) podem ser produzidos. Apesar deste processo aparecer como uma

alternativa promissora, para esclarecimento, ele ainda não está implementado em escala

industrial (SOBCZAK; LANG e HAIDER, 2012).

21

Sobre a influência do processo de produção na qualidade da madeira plástica,

Migneault et al. (2011) mostra em seu estudo as diferenças entre os métodos de obtenção da

madeira plástica, por injeção (ordenando as fibras de madeira) e por extrusão (fibras sem

ordenação). Ele conclui que, em termos de resistência à flexão e módulo de elasticidade, o

modelo de manufatura de ordenação de fibras leva a uma leve vantagem, demonstrando que a

diferença dos dois processos é a orientação e o tamanho da fibra. Porém, com o uso de

lubrificante, a transferência da tensão entre fibra e matriz é diminuída.

Outras questões de interesse relacionadas à madeira-plástica é o desempenho dos

compostos em ambientes externos, levando a questões sobre sua durabilidade, especialmente

sobre a resistência quando exposta ao tempo, biodeterioração e biodegradação. A exposição

ao tempo causa lenta deterioração no processo físico e químico na superfície do material

(BUTYLINA; HYVARINEN e KARKI, 2012).

Segundo Butylina et al. (2012), depois de um ano exposto ao tempo, o compósito

apresenta separação entre a madeira e a matriz polimérica na superfície, porque os cromóforos

no polímero e a madeira usada na madeira-plástica absorvem a luz ultravioleta, causando

fotodegradação. A água acelera a reação de oxidação, pois causa o inchamento da fibra,

criando mais poros para a penetração da luz. A umidade absorvida pelos compósitos de

madeira plástica depende da presença e da quantidade de cavidades/passagens para a água na

estrutura, e também está relacionada à densidade do compósito. É esperado que compósito

com alta densidade contenha baixa quantidade de umidade em sua composição e o de baixa

densidade tenha alta. Compósitos com maior quantidade de madeira têm uma perda acentuada

em sua resistência a flexão.

Ainda de acordo com Butylina et al. (2012), depois de um ano exposto ao tempo, as

madeiras plásticas feitas de polipropileno contendo pigmentos escuros (cinza e marrom)

mostram grande perda de cor quando comparadas com compósitos sem pigmento ou com

pigmento verde. Curiosamente, os compósitos feitos de polímeros reciclados mostram

melhores propriedades quando comparados aos polímeros virgens, resistindo mais a mudança

de cor e a perda de propriedades mecânicas.

Nem todas as formas de produção se limitam as fibras naturais. Petchwattana et al.

(2012), demonstraram em seus estudos feitos com blendas de casca de arroz (sendo

praticamente sílica pura) e polietileno de alta densidade, que há um grande aumento na

resistência a flexão, em relação às madeiras plásticas feitas com fibra de madeira. A qualidade

22

da madeira-plástica pode ser melhorada com a ajuda de aditivos, aumentando a adesão

interfacial entre a sílica e o polímero.

Os compósitos de madeira plástica (WPC) têm grande potencial para aplicações

internas ou externas. Manufaturados por meio do processo de moldagem por injeção ou

extrusão são usados em automóveis (painel de instrumentos ou telas de portas para veículos),

na indústria construtiva (coberturas de chão de interiores, portas, janelas, painéis ornamentais)

(MIGNEAULT et al. 2011; ROSÁRIO et al. 2011; BUTYLINA et. al. 2012; HYVARINEN

et. al. 2012; SOBCZAK et. al. 2012).

3.4. Planejamento Fatorial dos Experimentos

A estatística é uma ferramenta importante para a análise de trabalhos científicos. Para

uma decisão significativa, o analista deve planejar os experimentos da melhor forma usando

os métodos corretos, calibrando instrumentos, bem como, adquirindo os dados sobre as

condições apropriadas, revendo e conferindo os resultados, apresentando dados concisos e

tomando decisões objetivas baseadas nos dados. Todos esses passos são suportados por

procedimentos estatísticos. (ELLISON et. al. 2009)

No planejamento de qualquer experimento, a escolha dos fatores e a gestão das

respostas são dados importantes a serem tratados, uma vez que um experimento não planejado

pode dar resultados inúteis, por não apresentarem uma forma razoável de serem interpretados.

Usando planejamentos experimentais baseados em princípios estatísticos, os pesquisadores

podem extrair do sistema em estudo o máximo de informação útil, fazendo o mínimo de

experimentos (NETO et. al. 1995). As vantagens deste tipo de planejamento são,

principalmente, a redução de custos e de tempo, obtendo-se respostas confiáveis.

Em planejamento fatorial usam-se os termos fatores, níveis e respostas. Os fatores são

as variáveis controláveis que, a princípio, influenciam um determinado processo. Eles podem

ser qualitativos ou quantitativos. Os níveis são os valores ou as classes (caso o fator seja

qualitativo) nos quais cada fator deve ser estudado no experimento. Já as respostas são as

variáveis de saída do sistema que serão ou não afetadas por modificações provocadas nos

fatores, ou seja, são as propriedades de interesse deste processo (NETO et. al. 1995).

23

Usualmente, a melhor forma da pesquisa chegar a respostas sem vícios é variando

todos os fatores ao mesmo tempo, porque ao se fixar um fator no ponto ótimo e variar outros

fatores, a valor fixado pode reagir com outros fatores variáveis. Esse comportamento é

chamado de interação entre os fatores. Desta forma, depois de fixar os experimentos, estes são

feitos de forma aleatória para produzir o menor número de vícios possíveis.

O planejamento fatorial em dois níveis é muito útil em investigações preliminares,

uma vez que se quer se determinados fatores têm ou não influência sobre a resposta. São

planejamentos muito simples de se executar, pois todos os fatores são estudados a apenas dois

níveis. Costuma-se identificar os níveis superior e inferior com os sinais (+) e (-),

respectivamente (NETO et. al. 1995).

24

4. Parte Experimental

Neste capítulo, está apresentada a parte experimental que dá suporte às conclusões

deste estudo, a qual está organizada em nove seções.

Os materiais utilizados para a obtenção da madeira plástica foram o resíduo arenoso da

Samarco, polímeros e óleo de soja como aglutinante.

Os polímeros utilizados foram o polietileno e o polipropileno, porque são os materiais

mais utilizados na obtenção da madeira plástica no mundo (Klyosov, 2007), e também porque

têm os pontos de fusão próximos, proporcionando o trabalho em conjunto com ambos os

polímeros na criação de blendas sem nenhum dos materiais volatizarem ou reagirem entre

eles.

4.1. Planejamento dos Experimentos

Estudos anteriores já haviam demonstrado que a adição de 15 % em peso de resíduo

arenoso na composição da madeira plástica é possível e que não apresenta problemas para o

seu processamento (Lameiras, F.S., 2007). Como o objetivo deste trabalho é verificar o

aumento dessa adição, foram feitos estudos preliminares e consultas a técnicos experientes na

fabricação da madeira plástica por meio de extrusão, os quais indicaram que o limite superior

de adição de resíduo seria em torno de 25 % em peso. Portanto, foi estudada a adição de

resíduo arenoso na obtenção de madeira plástica, por meio de extrusão, na faixa de 15 a 25 %

em peso.

O compósito básico utilizado foi uma mistura em partes iguais de polietileno e

polipropileno, ambos provenientes de reciclagem. A Figura 4.1 mostra um diagrama da

mistura de PE, PP e resíduo arenoso.

25

Figura 4.1 – Diagrama das misturas extrudadas obtido com o auxílio do Minitab®16

A região estudada neste trabalho é o trapézio dentro do triângulo. Os pontos indicam

as composições estudadas. A estratégia foi partir da relação de partes iguais de PE e PP e

fazer uma variação dos teores relativos de PE e PP. Por exemplo, para 15 % em peso de

resíduo, os teores de PE e PP variaram de 30 a 55 % em peso, e, para 25 % em peso de

resíduo, de 30 a 45 % em peso. A Tabela 4.1 mostra as composições estudadas e a ordem

aleatória na qual as amostras foram sintetizadas, com uma réplica para cada composição. A

ordem aleatória foi adotada para atenuar a influência de parâmetros não controlados que

podem estar presentes no processo de síntese das amostras. Ela foi obtida com auxílio do

software Minitab®16.

26

Tabela 4.1- Composições das amostras de madeira plástica e ordem das suas sínteses

Composição Ordem das

sínteses

Composição (% em peso)

Resíduo PP PE

1 10a e 15a 0,15 0,3 0,55

2 1a e 11a 0,15 0,55 0,3

3 3a e 12a 0,175 0,35 0,475

4 6a e 17a 0,175 0,475 0,35

5 7a e 9a 0,2 0,4 0,4

6 2a e 13a 0,225 0,35 0,425

7 4a e 16a 0,225 0,425 0,35

8 8a e 18a 0,25 0,3 0,45

9 5a e 14a 0,25 0,45 0,3

4.2. Materiais

Na obtenção de amostras de madeira plástica para este trabalho foi utilizado resíduo

arenoso, polipropileno (PP), polietileno (PE) e óleo de soja (aglutinante).

4.2.1. Resíduo Arenoso

O resíduo arenoso, proveniente do processo de concentração do minério de ferro a

partir do itabirito, foi cedido pela Samarco Mineração S. A. Ele foi do mesmo lote utilizado

por Freire (2012) em seus estudos relacionados com a obtenção de produtos cimentícios, onde

o resíduo arenoso substitui a areia de rio. A Figura 4.2 mostra uma foto desse resíduo.

27

Figura 4.2 - Resíduo Arenoso

Trata-se de uma areia muito fina, composta predominantemente por quartzo (83,9 %

em peso), óxido de ferro (hematita, 15,9 % em peso) e pequenas proporções de outros

minerais de alunimossilicatos (0,2 % em peso).

A Tabela 4.2 mostra o resultado do ensaio de lixiviação do resíduo arenoso, de acordo

com a norma ABNT NBR 10005. Com esses resultados, o resíduo arenoso pode ser

classificado como não perigoso (Classe II).

Tabela 4.2 – Resultado do ensaio de lixiviação do resíduo arenoso segundo a norma ABNT

NBR 10005

Parâmetro Valor Máximo

Permitido (mgL-1) Limite de detecção do método (mgL-1)

Concentração no Resíduo Lixiviado

(mgL-1)

Arsênio 1 0,01 <0,01

Bário 70 0,02 0,04

Cádmio 0,5 0,001 <0,001

Chumbo 1 0,01 <0,01

Cromo Total 5 0,01 <0,01

Fluoretos 150 0,1 <0,22

Mercúrio 0,1 0,0002 <0,0002

Prata 5 0,01 <0,01

Selênio 1 0,01 <0,01

Fonte: (FREIRE, 2012)

28

A Tabela 4.3 mostra os resultados da análise dos extratos solubilizados do resíduo arenoso. De acordo com esses resultados, o resíduo arenoso pode ser classificado como não perigoso e inerte (Classe IIB). Além disso, o resíduo arenoso tem pH de 8,13, o que o classifica como não corrosivo e não reativo (FREIRE, 2012).

Tabela 4.3 – Resultado do ensaio de solubilização segundo a norma ABNT NBR 10006

Parâmetro Valor Máximo

Permitido (mgL-1) Limite de detecção do método (mgL-1)

Concentração no Resíduo Lixiviado

(mgL-1)

Inorgânicos

Arsênio 0,01 0,01 <0,01 Bário 0,7 0,02 0,04

Cádmio 0,005 0,001 <0,001 Chumbo 0,01 0,01 <0,01 Cianeto 0,07 0,01 <0,01

Cromo Total 0,05 0,01 < 0,01 Fluoretos 1,5 0,1 0,26 Mercúrio 0,001 0,0002 <0,0002 Nitrato 10 0,05 0,22 Prata 0,05 0,01 <0,01

Selênio 0,01 0,01 <0,01 Alumínio 0,2 0,05 <0,05 Cloreto 250 2 <2 Cobre 2 0,009 <0,009 Ferro 0,3 0,1 <0,1

Manganês 0,1 0,05 <0,05 Sódio 200 0,8 <0,8

Sulfato 250 1 3,3 Zinco 5 0,1 <0,1

Orgânicos Surfactantes 0,5 0,1 <0,1

Fenóis Totais 0,01 0,001 <0,001 Fonte: (FREIRE, 2012)

A Figura 4.3 apresenta a distribuição granulométrica do resíduo arenoso segundo a

norma NM 248. A dimensão máxima do resíduo é 0,21 mm.

29

1,21,00,80,60,40,20,0

25

20

15

10

5

0

Abertura (mm)

% massa retida

Figura 4.3 - Distribuição granulométrica do resíduo arenoso conforme a norma NM 248

Fonte: Adaptado de (FREIRE, 2012).

A Figura 4.4 mostra uma micrografia das partículas do resíduo obtida com o auxílio de

um microscópio eletrônico de varredura. Notam-se grão com superfícies angulares (não

arredondadas), características de um processo de moagem. Isso e a alta dureza do quartzo e da

hematita são a causa da alta abrasividade do resíduo, que causam preocupação relacionada

com desgaste das partes dos equipamentos de processo que ficam em contato com elas.

Figura 4. 4 - Micrografia do resíduo arenoso com aumento de (a) 35 vezes e (b) 140 vezes.

Fonte: Adaptado de (FREIRE, 2012).

(a) (b)

30

A massa específica do resíduo, de 1,92 g/cm3 foi determinada segundo a norma

MERCOSUL NM 52:2002 “Agregado fino – Determinação de massa específica e massa

específica aparente”.

Segundo Freire (2012), o teor de umidade do resíduo arenoso utilizado foi de 0,1 %.

4.2.2. Polímeros

O PP e o PE reciclados foram adquiridos em forma de pellets da empresa Bemplast em

Betim - MG.

O PP é de coloração gelo, e foi submetido a análise química por fluorescência de raios

X para verificação de impurezas. O equipamento utilizado para análise do PP foi um

espectrômetro de energia dispersiva Rigaku ZSX-Primus II, usando vácuo. O tubo de raios-X

possui um catodo de ródio e um colimador de 30 micrômetros. Os resultados estão

apresentados na Tabela 4.4.

Tabela 4.4 - Análise por fluorescência de raios X do polipropileno utilizado

Número Componente Teor (%)

1 CaO 0,60

2 TiO2 0,93

3 C 98,3

Total: 99,8

A única impureza com valor significativo no PP é o oxido de titânio, provavelmente

utilizado na coloração do polímero.

O polietileno reciclado é também conhecido como polietileno de média densidade,

pois é uma mistura entre o PEBD e o PEAD. O PE foi submetido a análise de fluorescência

de raios X (o mesmo acima descrito), onde o polímero mostrou uma pureza > 99% de cadeias

de carbono, ou seja, quase puro.

31

4.2.3. Aglutinante

Para homogeneização dos ingredientes na obtenção do compósito, houve a

necessidade da utilização de um aglutinante. Na análise das fichas de informações de

segurança dos produtos químicos (FISPQ) do polietileno e polipropileno, observa-se que uma

temperatura média de trabalho seria 175C°, não sendo prudente ultrapassar 240C°, devido a

perda de propriedades e a degradação do polímero. O óleo de soja tem o ponto de ebulição em

340C° de acordo com a sua FISPQ, servindo como aglutinante sem volatizar na temperatura

de trabalho da extrusora, além de ser insolúvel na água, como os polímeros. Todos as FISPQs

se encontram em anexo.

4.3. Extrusão do Compósito

O planejamento dos experimentos apresentado na Tabela 4.1 mostra que, para realizar

todos os experimentos com uma réplica, foi necessário realizar dezoito ensaios. A Tabela

também mostra a fração de cada material em cada experimento, sendo mantido fixa a

quantidade de óleo de soja em cinco gramas para cada quilo de material preparado.

A extrusora utilizada é uma LGMT monorrosca, com 5 zonas de temperaturas, modelo

LGEX 35/32D, mostrada na Figura 4.5, instalada no CDTN.

32

Figura 4.5 - Extrusora LGMT instalada no CDTN

Para a conformação das amostras foram utilizados moldes metálicos, de madeira e de

acrílico, com auxílio de uma prensa hidráulica de 15 toneladas (vide Figura 4.6).

33

Figura 4.6 - Moldes para obtenção do compósito

Os ensaios foram preparados com a pesagem de cada componente na quantidade

especificada.

Para adesão do resíduo aos pellets dos polímeros de forma homogênea, foi necessário

o uso de um aglutinante, portanto ao resíduo foram acrescidos 5 gramas de óleo de soja, que

foi misturado até o mesmo apresentar uma coloração mais escura e uniforme, sendo então

misturado aos grãos de polímero, formando uma mistura homogênea, mostrada na Figura 4.7.

A mistura final foi pesada novamente para averiguar se não houve nenhuma perda.

34

Figura 4.7 - Mistura pronta de grãos de PP, PE, resíduo e óleo de soja.

Na configuração dos parâmetros da extrusosa, não foi detectado como importante a

variação das temperaturas entre as 5 zonas, porque a rosca da máquina é longa, o que

ocasionaria a fusão dos polímeros por igual até o final do curso da rosca, sem o risco de

volatizar ou formar gases.

Com a extrusora aquecida e estabilizada a uma temperatura de 175C° nas 5 zonas, a

mistura foi colocada no funil aos poucos, para controlar o fluxo da extrusão.

A velocidade da rosca não se tornou um parâmetro porque ela funcionava

principalmente como o controle do maquinário em caso de entupimentos ou engasgos. Porém

de forma qualitativa, nota-se que em compostos com maior quantidade em peso de PE

apresentavam melhor fluxo de trabalho, podendo utilizar maior velocidade da rosca, quando

comparado com misturas com maior quantidade em peso de PP.

O compósito foi extrudado, coletado nos moldes (Figura 4.8) e mantido descansando

por 1 minuto para a saída de vapores da amostra, antes da prensagem, evitando assim bolhas

de ar, grandes poros, ou alguma reação na conformação pela diferença de temperatura entre o

interior e o exterior da peça, diminuindo a probabilidade de perda das características

mecânicas.

35

Figura 4.8 - Obtenção do compósito de PP, PE e resíduo por extrusão.

Nos moldes de perfis, com o tamanho de 150 mm x 300 mm, era demandado um

grande volume de massa extrudada. Para que não houvesse defeitos, foi necessário aquecê-los

a 150°C. Desta forma, o polímero se manteria derretido, até que enchesse todo molde, para a

formação de peças homogêneas.

Após o descanso, os moldes com material coletado foram levados até a prensa, sendo

prensados a 9810N/m2 e mantidos sob essa pressão por mais de 1 minuto. Depois de aliviada

a pressão, os moldes foram colocados por mais 5 minutos para o resfriamento e

desenformado.

Depois de desenformados, foram retiradas as rebarbas e sobras de materiais do

compósito (Figura 4.9). As amostras foram catalogadas de acordo com o experimento e

armazenadas para futuros ensaios.

36

Figura 4.9 - Amostras de madeira plástica pronta

4.4. Caracterização das amostras

4.4.1. Difração de Raios X

A difratometria de raios X foi feita pelo método de finas pastilhas em porta amostras

de alumínio, sendo realizada no laboratório do CDTN em um difratômetro semi-automático

da Rigaku (modelo AS-HFM3). Esse difratômetro utiliza o método de alta frequência

invertida (fonte de alimentação de alta tensão: 20 KHz; filamento: 400 Hz). Para obtenção de

raios X foi utilizado um tubo de cobre (Cu Kα = 1,542 Å), tensão de 40 kV, corrente de 30

mA e velocidade de varredura (2θ) de 4º/min.

A identificação de fases e compostos foi feita por comparação do difratograma das

amostras pelo software Jade V.9 com o banco de dados PDF2 da ICDD (International Center

for Diffraction Data). A determinação semi-quantitativa dos compostos das amostras

considerou as intensidades das principais reflexões e as comparações entre as mesmas.

4.4.2. Microscopia Eletrônica de Varredura

As imagens da morfologia das amostras foram obtidas por microscopia eletrônica de

varredura (MEV) no laboratório do CDTN. O microscópio utilizado foi o Jeol JSM-5310

37

Scanning Microscope com uma resolução de 4,0nm e potencial de aceleração entre 15 e 20

kV. Este MEV tem aumentos de 15 a 20000X, porém é mais comum aumentos de até 5000X

e suporta amostras de até 5 polegadas de diâmetro.

Para análise no MEV, as amostras devem ser condutoras, sendo comumente utilizada a

metalização em ouro das amostras. Um filme de ouro (≈ 2Å) sobre as amostras em forma de

pastilha foi obtido por sputtering.

4.4.3. Espectrometria na região do Infravermelho por Transformada de Fourier

(FTIR)

As análises foram realizadas no espectrômetro MB102 da ABB Bomem, no modo de

absorbância, com o auxílio do software GRAMS.

Para a obtenção das amostras para esta análise foi necessário lixar as madeiras

plásticas com uma lixa de carbeto de silício de número 80. O material desbastado no

lixamento foi passado em uma peneira de 0,35mm e misturado ao brometo de potássio. A

mistura foi moída até sua homogeneização e prensada a 10 toneladas em vácuo.

Os espectros foram medidos na faixa de 4000 a 400 cm-1, com resolução 4 cm-1, nas

quais foram feitas 32 varreduras em cada amostra.

4.4.4. Teste de Densidade

Para medir a densidade de plásticos, a norma aconselhável seria a ASTM D792-00. O

procedimento envolveria mergulhar o corpo em água destilada. Porém, como o polímero é

mais leve que a água, seria necessário usar um contrapeso. Uma alternativa com menor

susceptibilidade a falhas é o uso de um picnômetro a gás hélio automático, no qual mede-se a

densidade real, sem a necessidade de contrapeso, diminuindo o erro do operador,

proporcionando um resultado confiável.

As medidas de densidade foram realizadas no CDTN usando o equipamento

ultrapicnômetro 1000 da Quantachrome Instruments. Este equipamento utiliza um gás ideal

para encher uma câmara de volume conhecido. Então é aberta uma solenoide para outra

38

câmara onde está a amostra, analisando a diferença de pressão entre estas duas câmaras. Esse

equipamento pode fazer medidas de objetos com tamanhos de 1cm³ até 50cm³ com uma

precisão de aproximadamente 99%, o qual é apropriado para medir o real volume e densidade

de objetos sólidos. O equipamento foi configurado a realizar 20 coletas de dados ou parar

quando o desvio padrão for menor que 0,003%.

As amostras aferidas foram cortadas de forma a conter as dimensões médias de 40mm

de diâmetro por 60mm de altura, ocupando aproximadamente 70% do porta amostra do

aparelho.

O ultrapicnômetro utiliza o mesmo princípio da norma já citada, empregando o

princípio de Arquimedes de deslocamento de fluidos e da lei de Boyle de expansão de gases

para determinar o volume. O deslocamento de fluidos é feito por um gás inerte, penetrando

nos finos poros da amostra, proporcionando maior precisão.

4.4.5. Ensaios Mecânicos

Os ensaios mecânicos de flexão e compressão foram realizados no laboratório de

ensaios mecânicos do CDTN. Os testes foram conduzidos usando a máquina de ensaios

universal INSTRON 5882, a qual pode realizar ensaios com a força de até 100 kN. A máquina

foi configurada para a realização dos testes com uma velocidade de 30 mm por minuto na

temperatura média de 22 ºC, em conformidade com as normas ISO 16572:2008(E).

Foram feitos testes de flexão de amostras irradiadas com raios gama até doses de 0

kGy, 100 kGy e 500 kGy.

4.4.6. Irradiação das Amostras

A irradiação com raios gama nas amostras, foi feito pelo irradiador gama panorâmico

a seco, com atividade de 60 kCi, modelo GB127 da NORDION Inc do CDTN. Foram

irradiadas amostras com doses de raios gama de 100 kGy e 500 kGy.

39

5. Resultados e Discussão

Neste capítulo estão apresentamos os resultados obtidos na parte experimental,

estando organizados em (6) seções. Na primeira seção estão discutidos os fatores relevantes

ocorridos na obtenção da madeira plástica. Na segunda seção, é feita a caracterização da

madeira plástica pela microscopia, bem como a interação dos componentes na obtenção do

compósito. Na terceira seção, estão mostrados os resultados da caracterização dos compósitos

obtidos por difração de raios X. Na quarta seção, estão apresentados os resultados das análises

dos espectros obtidos das amostras irradiadas e não irradiadas por FTIR. Na quinta seção,

estão apresentados os resultados das medidas de densidade dos compósitos obtidos. Por fim,

na sexta seção, estão apresentados os ensaios mecânicos das madeiras plásticas.

5.1. Extrusão da madeira plástica

Foram obtidas madeiras plásticas por extrusão, feitas de polietileno e polipropileno

com até 25% em peso de resíduo arenoso da extração do itabirito. Observou-se que

compósitos com quantidades superiores a 20% em peso ocasionaram baixa produtividade e

complicações na administração do maquinário pela falta de lubrificação, aumentando além do

tolerável o atrito entre a massa e a rosca da extrusora. Entre as formulações obtidas, a que

ocasionou melhor fluxo de trabalho foi a madeira plástica com a composição de 20% em peso

de resíduo, 40% em peso de polipropileno e 40% em peso de polietileno, podendo ser

trabalhada com valores entre 65 e 80% da velocidade da rosca, sem engasgos ou

entupimentos, obtendo compósitos sem defeitos superficiais ou poros em excesso. Também

foi observado que os grãos do resíduo influenciam na cor da madeira plástica. O resíduo

compõe a coloração escura, e os polímeros são brancos (PP) e leitosos (PE). Os compósitos

obtidos apresentaram cor cinza claro, sendo mais escuros com o aumento da quantidade de

resíduo.

Na realização dos ensaios na extrusora, a fluidez do compósito era uma resultante das

características de cada componente utilizado na composição da amostra. Compósitos com teor

de resíduo superior a 20 % em peso ocasionaram pior trabalhabilidade quando a extrusora

utilizava uma peneira no fim da rosca, pois o polietileno de alta densidade (PEAD) tem como

característica o encapsulamento de grãos e pequenos corpos, ocasionando a multiplicação do

tamanho dos grãos do resíduo quando encapsulados, impossibilitando sua passagem pela

peneira até que o polímero fosse consumido, provocando entupimentos e gerando gases

devido a volatização do material ocasionando baixa produtividade. O gás gerado se difundia

40

na massa, criando poros, defeitos e, consequentemente, a falha do encapsulamento do resíduo

nas peças extrudadas. Para melhorar o fluxo de trabalho da extrusora, foi retirada a peneira

que ficava no fim da rosca do maquinário, reduzindo os problemas na produção dos

compósitos com grande quantidade em peso de resíduo.

Experimentos com quantidades superiores a 20% de resíduo demoravam tanto tempo

a ser derretido e extrudado, que, em alguns ensaios, quando o final da amostra estava saindo,

o começo já estava rígido. Para Gao et al. (2012), o resultado pode ser atribuído a

características fluidas não-Newtoniana do pseudoplástico para as blendas e compósitos, e as

movimentações das cadeias poliméricas nos compósitos é mais dificultada pela interação

entre a partícula rígida (resíduo) e o polímero.

É importante o repouso do extrudado no molde por 1 minuto antes da prensagem, pois

solucionou problemas de peças estufadas e/ou deformadas ocorridos pelo enrijecimento

prematuro da superfície.

Os moldes de madeira plástica não necessitaram de desmoldante, porque o compósito

retrai quando seca, evitando a sua adesão ao molde. Quando desmoldadas muito quentes, a

retração da superfície ocasiona empenamentos e deformações nas peças.

5.2. Microscopia

A análise ao microscópio eletrônico de varredura mostra a morfologia típica de

componentes imiscíveis, onde se consegue distinguir facilmente o fibroso PP, o rejeito e o

globular PE. Na Figura 5.1 temos 4 ampliações do compósito com 15% de resíduo, 55% de

polipropileno e 30% de polietileno, onde o polietileno são os pontos brancos e o resíduo é

composto pelos pontos cinzas.

41

Figura 5.1 -Micrografia de superfície da amostra contendo 15% de resíduo, 55% de PP e 30%

de PE. (A) com aumento de 35X. (B) com aumento de 500X. (C) com aumento de 2000X.

(D) com aumento de 5000X

Na Figura 5.2 (C) notam-se estruturas maiores de polietileno, que correspondem ao

encapsulamento do resíduo pelo polietileno. Para Butylinia et al. (2012) e Costa et al. (2012),

o polietileno tem como característica o encapsulamento das partículas de madeira, o que não é

característica do polipropileno.

Para melhor ilustração do fator de encapsulamento do polietileno, na Figura 5.2 estão

apresentados três compostos diferentes, todos com um aumento de 1500X.

B A

C D

PE

RESÍDUO

42

Figura 5.2 - Micrografia de superfície com aumento de 1500X. (A) amostra contendo 15% de

resíduo, 55% de PP e 30% de PE. (B) amostra contendo 20% de resíduo, 40% de PP e 40% de

PE. (C) amostra contendo 22,5% de resíduo, 35% de PP e 42,5% de PE

Na Figura 5.3, o composto contém 20% de resíduo, 40% de PE e 40% de PP.

Praticamente não se notam estruturas de sílica solta, mostrando uma maior homogeneidade do

compósito. Esse ensaio também obteve a melhor trabalhabilidade na extrusora.

A B

C

Encapsulamento

Resíduo

43

Figura 5.3 - Micrografia de superfície com aumento de 1500X da amostra contendo 20% de

resíduo, 40% de PP e 40% de PE.

Imagens coloridas com pequenos aumentos foram obtidas com uma lupa. A título de

ilustração, a Figura 5.4 mostra a imagem da fratura do compósito exposto a 500 kGy de

radiação gama, obtida com uma lupa com aumento de 12X. A fratura não contém superfícies

alongadas, mostrando que se trata de uma fratura frágil. Os pontos amarelos e alaranjados são

os óxidos de ferro presente no resíduo, mostrando a falha do encapsulamento na fratura após a

irradiação.

44

Figura 5.4 - Fratura no compósito irradiado com 500 kGy de radiação gama. Imagem com

aumento de 12X.

5.3. Difração de Raios X

A análise de difração de raios X foi feita para investigar quais componentes existem

no compósito, visto que os polímeros são reciclados e poderia haver vários tipos de impurezas

em seu reprocessamento.

A Figura 5.5 mostra a análise da madeira plástica com 15% de resíduo, 55% de PP e

35% de PE.

45

Figura 5. 5 - Análise por difração de raios X da madeira plástica com 15% de resíduo, 55% de

PP e 35% de PE.

O difratograma da Figura 5.5 mostra a presença de polipropileno alfa e o isotáctico,

polietileno, quartzo proveniente do resíduo e uma pequena quantidade de óxido de titânio

(rutilo). O óxido de ferro não foi identificado, provavelmente devido ao tamanho da amostra e

a sua pequena concentração no resíduo.

Os óxidos de titânio são amplamente utilizados na coloração, principalmente da cor

branca. Os polímeros utilizados no experimento eram reciclados, sendo os pellets do

polipropileno na cor branco gelo, devido a presença do rutilo e os de polietileno translúcidos.

Foram feitas comparações de duas amostras distintas na Figura 5.6, para análise semi-

quantitativa. Os difratrogramas analisados são de amostras que continham as proporções de

15% de resíduo, 55% de PP, 35% de PE e 20% de resíduo, 40% de PP, 40% de PE, nos quais

foram confirmadas as presenças destes componentes em ambas as amostras, porém

respeitando as proporções de cada um, mostrando que não há a ocorrência de volatilização ou

interação entre eles.

46

Figura 5.6 - Análise entre dois gráficos de difração raios X para madeiras plásticas com 15%

de resíduo, 55% de PP, 35% de PE e 20% de resíduo 40% de PP, 40% de PE respectivamente.

5.4. Espectroscopia na Região do Infravermelho por Transformada de Fourier

(FTIR)

Foram pesquisados dois tipos de respostas por este método. O primeiro tipo foram

estudos sobre cada componente envolvido no processo e os fatores para a análise de uma

possível interação no desenvolvimento do compósito. No outro tipo de análise, foi o efeito da

radiação no composto pronto, aplicando radiação gama com 100 kGy e 500 kGy, a fim de

prever o comportamento da madeira plástica no meio ambiente.

Para analisar possíveis interações entre os componentes do compósito, foi feito um

espectro de cada componente envolvido no processo de produção da madeira (PP, PE e

resíduo) e adicionalmente a do brometo de potássio (KBr) utilizado na confecção das

pastilhas para análise. Na Figura 5.7 está mostrado os espectros dos componentes.

47

Figura 5.7 - Espectro de FTIR da madeira plástica com 15% de resíduo, 55% de PP, 35% de

PE e seus componentes separados.

O gráfico mostra que as bandas apresentadas pelo compósito é a soma de todas as

outras bandas, indicando que o compósito conseguiu reunir todos os componentes sem a

volatilização de nenhum, ou a interação entre eles no processo de fabricação. As bandas não

estão em escala em relação ao compósito, porque cada pastilha continha quantidades de

materiais diferentes, gerando bandas de absorbância de alturas diferentes.

Outra resposta analisada com FTIR foi a degradação do compósito após a irradiação

com raios gama. Foi feito o espectro de três amostras do compósito com a mesma composição

(15% de resíduo, 55% de PP e 35% de PE), sendo uma não irradiada e outras duas com

irradiações de 100 kGy e 500 kGy de radiação gama, como mostra a Figura 5.8.

48

Figura 5.8 - Espectros FTIR para amostras com 15% de resíduo, 55% de PP e 35% de PE.

A Figura 5.8 não demonstra mudanças significativas após a irradiação em relação aos

componentes. No entanto, o espectro da amostra irradiada com 500 kGy, há o aparecimento

de uma pequena banda um pouco abaixo de 2000 cm-1.

De acordo com JANSSON et. al. (2004) e BUTYLINA et al. (2012), como os

polímeros utilizados na confecção da madeira plástica são reciclados, já é esperado algum tipo

de degradação por radiação ultravioleta pelo seu uso primário e/ou seu reprocessamento.

Vários autores (JANSON et al. 2004; CHYTIRI et al. 2006; RAVi et al. 2011; DU et

al. 2012; BUTYLINA et al. 2012; MURRAY et al. 2012), demonstram em seus estudos a

influência da radiação e da degradação nos polímeros e compósitos na formação de bandas

proximos de 1700cm-1. Para RAVI et al. (2011), o aumento da vibração das moléculas é o

responsável pelas mudanças na cadeia carbônica, onde tem o decaimento do C-C (2360cm-1)

com o aumento dos carbonos saturados, diminuindo assim a cristalinidade do polímero.

Porém, para autores como JANSON et al. (2004), MURRAY et al. (2012), a banda próxima

de 1700cm-1 é decorrente da formação de carbonila (C=O) e pode ter começado já no

reprocessamento do polímero por fatores como temperatura e degradação e que foi

intensificado pela radiação.

49

De acordo com SKOOG et al., 2002, os alcenos (C=C) tem uma faixa de banda que

compreende de 1610cm-1 a 1680cm-1 e as cetonas e ácidos carboxílicos compreende a faixa de

banda de 1690cm-1 a 1760cm-1, justificando pela proximidade das bandas as diferenças de

cada autor. A Figura 5.9 mostra a faixa de absorbância em 1715cm-1 decorrente da formação

de carbonila pela degradação do compósito devido a alta dose de radiação.

Figura 5.9 - Detalhe do espectro de FTIR para amostras com 15% de resíduo, 55% de PP e

35% de PE.

5.5. Densidade

Foram medidas as densidades das composições mostradas na Tabela 5.1. Os resultados mostram que somente dois experimentos produziram amostras com densidade abaixo de 1

50

g/cm3, ou seja, menos denso que a água. O teste também verificou a influência do resíduo na densidade do extrudado, já que de acordo com as FISPQs dos demais componentes envolvidos nas composições, todos tem densidade menor que 1 g/cm3.

Tabela 5.1 - Densidade dos Compósitos Ensaiados

Composição Resíduo PP PE Densidade

(g/cm3)

1 0,150 0,550 0,300 1,005

2 0,225 0,350 0,425 1,020

3 0,175 0,350 0,475 1,008

4 0,225 0,425 0,350 1,030

5 0,250 0,450 0,300 1,010

6 0,175 0,475 0,350 0,970

7 0,200 0,400 0,400 1,030

8 0,250 0,300 0,450 1,007

9 0,200 0,400 0,400 1,010

10 0,150 0,300 0,550 0,940

11 0,150 0,550 0,300 1,007

12 0,175 0,350 0,475 1,040

13 0,225 0,350 0,425 1,050

14 0,250 0,450 0,300 1,110

15 0,150 0,300 0,550 1,020

16 0,225 0,425 0,350 1,060

17 0,175 0,475 0,350 1,040

18 0,250 0,300 0,450 1,080

A análise de variância (ANOVA) com 95% de confiabilidade é mostrada na Tabela

5.2 e foi aferida comparando a influência do resíduo na densidade do composto.

Tabela 5.2 - ANOVA do Teste de Densidade

Fonte da Variação

Soma dos Quadrados

Graus de Liberdade

Média Quadrática

F0 Fcrítico Valor de p

Resíduo 0,00834 4 0,00208 1,66 F4,13;0,05 = 3,18 0,219 Erro 0,01634 13 0,00126 Total 0,02468 17

51

De acordo com a análise variância, dentro das quantidades de resíduo citadas, Como

Fcrítico > F0, a hipótese de o resíduo possuir influência sobre a densidade dos compósitos é

rejeitada. Feito o teste de Tukey (Tabela 5.3), constata a mesma conclusão da análise de

variância. Os compósitos ficaram com a densidade média 1 g/cm3.

Tabela 5.3 - Teste de Tukey sobre a influência do resíduo na densidade do compósito

Densidade (g/cm3)

Teor (%) Grupo

1,11 0,25 A

1,08 0,25 A

1,06 0,225 A

1,05 0,225 A

1,01 0,225 A

1,03 0,225 A

1,007 0,2 A

1,02 0,175 A

1,04 0,175 A

1,008 0,175 A

0,97 0,175 A

1,005 0,15 A

0,94 0,15 A

5.6. Ensaios mecânicos

5.6.1. Teste de Flexão

O teste de flexão foi realizado em amostras com 9 composições diferentes e os

resultados estão mostrados na Tabela 5.4. A Tabela mostra que para cada composição foram

obtidas seis medidas, onde cada par de amostras sofreu irradiações de 0, 100 e 500 kGy de

radiação gama.

52

Tabela 5.4 - Tabela de composições e resultados para os ensaios de resistência a flexão

Composição Número Dose

Resíduo PP PE 0 kGy 100 kGy 500 kGy

1a medida 2a medida 1a medida 2a medida 1a medida 2a medida

1 17,70 15,14 22,51 8,80 13,37 8,27

0,150 0,300 0,550 2

13,10 14,02 7,67 11,76 13,23 16,12 0,150 0,550 0,300

3 18,43 14,02 16,58 12,54 15,10 9,79

0,175 0,350 0,475 4

26,40 17,42 27 13,14 14,56 12,55 0,175 0,475 0,350

5 19,72 29,18 22,80 24,07 10,31 8,94

0,200 0,400 0,400 6

18,26 18,64 17,55 14,80 8,57 12,84 0,225 0,350 0,425

7 21,35 16,87 15,47 8,80 13,56 8,27

0,225 0,425 0,350 8

29,71 11,11 15,80 11,28 13,41 9,63 0,250 0,300 0,450

9 26,70 12,13 27,00 10,86 14,31 13,49

0,250 0,450 0,300

A análise de variância é mostrada na Tabela 5.5. Os Fatores considerados foram as

composições mostradas na Tabela 5.4 e a dose de irradiação nas amostras.

Tabela 5.5 - Anova para o teste de flexão

Fonte da Variação

Soma dos Quadrados

Graus de Liberdade

Média Quadrática

F0 Fcrítico Valor de p

Composição 237,58 8 29,697 0,97 F8,27;0,05 = 2,30 0,480 Dose 415,35 2 207,674 6,77 F2,27;0,05 = 3,35 0,004

Interação entre Dose e Composição

268,15 16 16,759 0,55 F16,27;0,05 = 2,04 0,896

Erro 827,64 27 30,653 Total 1.748,72

53

A análise de variância mostra que a composição não possui influência no ensaio de

resistência a flexão, porém a dose de radiação gama influencia os resultados. A tabela também

mostra que a dose de radiação não interage com a composição da madeira plástica.

Os resultados da análise do efeito da radiação na degradação do material foram

obtidos pelo teste de Tukey e é mostrada na Tabela 5.6. O teste pode comprovar que é

estatisticamente significante o efeito da radiação nas amostras de madeira plástica quando

irradiadas com 500 kGy em relação àquelas com 0 kGy, porém não pode diferenciá-los dos

resultados quando irradiados com 100 kGy quando comparadas as amostras com doses de

radiação de 0 e 500 kGy.

Tabela 5. 6 - Resultado do teste de Tukey para amostras irradiadas

Dose (kGy)

Graus de Liberdade

Média (Kgf)

Agrupamento

0 18 18,772 A

100 18 16,024 AB

500 18 12,018 B

O gráfico mostrado na Figura 5.10 mostra valores próximos para compósitos com 0 e

100 kGy, significando que a madeira plástica pode ficar quase 80 anos sofrendo radiação

solar, sem sofrer alterações significativas da resistência à flexão.

Figura 5. 10 - Gráfico da análise de efeito da radiação sobre as amostras

54

5.6.2. Teste de Compressão

Foi realizado o teste de compressão em 10 amostras de composições distintas. As

amostras eram do tamanho 6x20x90 mm, e os resultados são mostrados na Tabela 5.7.

Tabela 5.7 - Tabela de resultados para o teste de resistência a compressão

Composição Resíduo PP PE Resistência à

compressão (N/mm2)

1 0,15 0,55 0,3 36,28 2 0,225 0,35 0,425 34,43 3 0,175 0,35 0,475 41,05 4 0,225 0,425 0,35 43,94 5 0,25 0,45 0,3 44,82 6 0,175 0,475 0,35 42,84 7 0,2 0,4 0,4 45,45 8 0,25 0,3 0,45 38,95 9 0,2 0,4 0,4 38,70

10 0,15 0,3 0,55 33,47

Os resultados podem ser observados na Figura 5.11. Há uma tendência ao aumento de

resistência à compressão do compósito quando acrescentado o resíduo, porém, pela falta de

dados, estas conclusões têm de ser suportadas por medidas adicionais.

55

0,2500,2250,2000,1750,150

43

42

41

40

39

38

37

36

35

34

Teor de Resíduo

Resistência a Compressão

Resistência a Compressão vs teor de resíduo

Figura 5.11 - Gráfico da análise de variância

A Figura 5.12 mostra o gráfico de resposta da função de desejabilidade, sendo que na mistura

dos componentes para a obtenção da madeira plástica, a mistura com 20% de resíduo, 40% de

PE e 40% de PP, obtém-se as melhores características de todos componentes.

56

0,750,500,250,00-0,25-0,50

60

50

40

30

20

10

0

Proporção de Componentes (%)

Resistência a Compressão (N/mm²)

Resíduo 0,2000

PP 0,4000

PE 0,4000

Figura 5.12 - Gráfico da função de desejabilidade para madeira plástica no teste de resistência

a compressão

57

6. Conclusões

Entre as formulações obtidas na obtenção da madeira plástica, a que ocasionou melhor

fluxo de trabalho foi a composição de 20% em peso de resíduo, 40% em peso de

polipropileno e 40% em peso de polietileno, podendo ser trabalhada com valores entre 65 e

80% da velocidade da rosca, sem engasgos ou entupimentos, obtendo compósitos sem

defeitos superficiais ou poros em excesso.

Compósitos com teor de resíduo mais alto que 20 % em peso ocasionaram pior

trabalhabilidade quando a extrusora utilizava uma peneira no fim da rosca, pois o polietileno

de alta densidade (PEAD) tem como característica o encapsulamento de grãos e pequenos

corpos, ocasionando a multiplicação do tamanho dos grãos do resíduo quando encapsulados,

impossibilitando sua passagem pela peneira até que o polímero fosse consumido, provocando

entupimentos e gerando gases devido a volatização do material. O gás gerado se difundia na

massa, criando poros, defeitos e, consequentemente, a falha do encapsulamento do resíduo

nas peças extrudadas.

Os compósitos com quantidades de resíduo superiores a 15% em peso apresentaram

uma tendência a ganhos na resistência a compressão. As alterações nas propriedades

mecânicas ocorrem pelo encapsulamento do resíduo, ocasionando falhas na adesão do

polímero com o resíduo quando os teores de resíduo são superiores a 20% em peso, pois

contém alto grau de dureza, muito maior que o dos polímeros, obtendo peças com alta

resistência a compressão, porem mais quebradiças, ocasionadas pelas perdas na ductilidade.

Nos testes realizados para aferir a densidade da madeira plástica produzida, verificou-

se que mesmo o resíduo tento a densidade superior ao do polietileno e polipropileno, não há

influência na densidade dos compósitos. Todas as madeiras plásticas ficaram com a densidade

média de 1g/cm3.

Os grãos do resíduo influenciam na cor da madeira plástica. O resíduo compõe a

coloração escura, e os polímeros são brancos (PP) e leitosos (PE). Os compósitos obtidos

apresentaram cor cinza claro, sendo mais escuros com o aumento da quantidade de resíduo.

Foram conduzidos estudos na madeira plástica com a irradiação das amostras com

raios gama, com doses de 100 kGy e 500 kGy, para analisar a influência no compósito. As

doses irradiadas correspondem aproximadamente a 79 anos e 395 anos de radiação solar

consecutivamente, contando dia e noite.

58

Os estudos feitos por espectrometria de infravermelho mostraram que amostras

irradiadas com 100 kGy não sofreram alterações na estrutura química da madeira plástica.

Entretanto, com 500 kGy, o compósito apresenta a formação de peróxidos, significando que

as amostras já se encontravam em estágio avançado de degradação. Os resultados da

degradação dos compósitos pela radiação foram confirmados pelos ensaios mecânicos, no

quais amostras irradiadas com 100 kGy não apresentam perdas significativas das propriedades

mecânicas quando comparadas às amostras sem doses de radiação. Em amostras com 500

kGy, a perda de propriedades mecânicas foram de quase 50%.

59

7. Sugestões para trabalhos futuros.

• Resíduo como pigmentação no reprocessamento de plásticos

• Compósitos de PET e Resíduo para fabricação de assoalhos

• Estudo dos perfis, encaixes e acabamentos para madeira plástica

• Compósitos plásticos na produção de tubulações

• Caracterização e abrasividade da madeira plástica com resíduo

• Madeira plástica na produção de placas de revestimento

• Compósitos com resíduos de tecidos filtrantes

• Compósitos com poliuretano

60

8. Referência bibliográfica.

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9.

63

9. Anexos.