Raca Como Concepto Que Essencialisa

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    DESIGUALDADERACIAL, RACISMOESEUSEFEITOSMaria Helena Rodrigues Navas ZamoraH

    RESUMO

    O artigo discute as noes de raa, racialismo e racismo para produzir

    uma reflexo sobre alguns dados concretos sobre a desigualdade racial

    no Brasil, mostrando que tal dimenso no pode ser reduzida somente

    pobreza. Partindo do referencial da produo de subjetividade e da

    concepo de biopoder de Foucault, so examinados alguns estudos que

    tratam do racismo operando seus efeitos no acesso sade e educao.

    Este trabalho tambm visa empreender uma breve reviso da literatura

    sobre o tema nas pesquisas e estudos no campo da psicologia.

    Palavras chave: raa; racismo; desigualdade racial; efeitos do racismo.

    RACIALINEQUALITY, RACISMANDITSEFFECTS

    ABSTRACT

    The article discusses the notions of race, racialism and racism in order to

    reflect upon some of the concrete date on the issue of social inequality in

    Brazil, showing that such dimension cannot be reduced to poverty. Fromthe referential of the production of subjectivity and the concept of biopower

    in Foucaults works, some studies that analyze the issue of racism and how

    it operates concerning the acess to health and education will be examined.

    This work also intends to start a brief revision of the themes literature on

    researches and studies on the field of psychology.

    Keywords: race; racism; racial inequality; the effects of racism.

    HDoutorado (1999) em Psicologia Clnica pela PUC-Rio. Docente da graduao em Psicologia

    da PUC-Rio. Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, Centro de Teologia e CinciasHumanas, Departamento de Psicologia. Rua Marqus de So Vicente, 225. Edifcio CardealLeme. Sala 217. Gvea - Rio de Janeiro, RJ Brasil.

    E-mail: [email protected]

    http://lattes.cnpq.br/6425497242419672mailto:[email protected]:[email protected]://lattes.cnpq.br/6425497242419672
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    Maria Helena Rodrigues Navas Zamora

    uma simples verdade que ns todos precisamos apenasouvir e ver: nenhum de ns livre, se um de ns est preso(A Solomon Burke, in memoriam)

    O presente artigo pretende produzir uma reflexo sobre alguns dadosconcretos sobre a desigualdade racial dos negros brasileiros grupo da po-

    pulao em quem focalizamos. Entendemos que as diversas e complexasdimenses da desigualdade racial no podem ser reduzidas desigualdadede classe, embora se articulem com ela.

    Este trabalho tambm visa empreender uma breve reviso da literatura so-bre o tema nas pesquisas e estudos no campo da psicologia e em outros camposdo saber que esto em permanente dilogo com as prticas do psiclogo. Aquipretendemos destacar alguns aspectos dos efeitos do racismo que consideramosmais relevantes como as questes ligadas sade e educao.

    Partindo do referencial da produo de subjetividade e da concepo debiopoder de Foucault, so examinados alguns estudos que tratam dos efeitos doracismo como vetor de subjetivao (GUATTARI, 1990; GUATTARI, 1992;GUATTARI; ROLNIK, 1996). Entendendo subjetividade como formas de viverque podem ser prescritas e proscritas; que podem ser tanto individuais quan-to coletivas; homogneas e aprisionadas; mas tambm podem ser singulares eexperimentar novos territrios de existncia. A subjetividade algo modelado,produzido por processos coletivos, institucionais, sociais, que atravessam os indi-vduos. Produzir subjetividades tem valor estratgico essencial para o capitalismoem sua forma atual, pois permite que ele se instaure, se legitime e se reproduza.

    no exame das dimenses abismais da desigualdade racial que possvelcompreender a importncia de tal discusso. Se a ideia de raa no faz sentido doponto de vista da cincia, por outro lado ela pode ajudar a compreender o sentido demuitas aes que pressupem sua existncia (GUIMARES, 2002). No h raas;[o que] h racismo, diz Joel Runo dos Santos (SANTOS, 2009, p. 172). E ainda o racismo que diz muito sobre como vo viver e morrer os negros no Brasil.

    ESTABELECENDOCONCEITOS: RAA, RACIALIZAO, RACISMO

    A noo de raa foi criticada como ideologia, depois de sua suposta exis-tncia justicar a colonizao, escravizao, segregao, esterilizao, perse-guio e morte de milhes de pessoas (NASCIMENTO, 1978; SANTOS, 2000;BLACK, 2004; SILVA Jr., 2008). Contudo, raa um operador social que con-tinua a produzir efeitos, sendo usada para agregar indivduos e grupos que com-partilham certos aspectos fsicos observveis e ajuda a determinar uma atitudenegativa frente a eles. Raa uma construo social essencialista, amplamenteaceita (MUNANGA, 2010), criado e reforado em prticas cotidianas (ESSED,1991; SCHWARCZ, 1998). Se levada em conta como uma categoria analtica,raa/racismo capaz de desvelar muitas formas de exerccio de poder opressivoe de favorecer nosso entendimento da sociedade e da subjetividade que produz.

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    facilmente constatvel que a maioria das pessoas ainda pensa em termos deracializao (ou racialismo), ou seja, acredita que h distintas raas humanas. Estacrena desenha verdadeiros mapas de navegao social para os brasileiros, desdesua primeira socializao. Contudo, o racialismo no implica necessariamente noracismo. O racismo consiste na idia de que algumas raas so inferiores a outras,atribuindo desigualdades sociais, culturais, polticas, psicolgicas, raa e, por-tanto, legitimando as diferenas sociais a partir de supostas diferenas biolgicas.

    Parte importante deste jogo de dominao , como adverte Walter Benja-min, transformar a histria em uma histria ocial dos vencedores, um registro dasvitrias dos grupos dominantes. Contudo, o autor nos convoca a escovar a His-tria a contrapelo (BENJAMIN, 1992, p. 161), ou seja, a construir uma histriacrtica, anti-hegemnica, rejeitando a possibilidade de silenciamento da memria:

    Pensamos que no importa saber se quando algumasescravas azedavam a comida de suas senhoras, fugiam,

    ou, na pior das hipteses, se matavam, ou empreendiamqualquer ao para tornar suas existncias mais suportveis,tinham a medida exata do que isso iria acarretar. Importasim, ter em mente que agiam segundo o que, no limite, lhesera exigido para se manterem vivas. O que parece um ato decrueldade era, naquele instante, a sada para quem no meroexpectador da vida, mas nela est mergulhado e de algumamaneira intervm no seu curso. Foram os pequenos gestos,aparentemente sem importncia para o conjunto da sociedadeque aos poucos foram minando o edifcio escravista, de sorteque chegou o momento que outra paisagem se congurou(NASCIMENTO, 2005, p. 105).

    No caso dos negros vencidos, o desao construir e recuperar a histria damultiplicidade de sua resistncia: desde o suicdio nos navios negreiros, das re-voltas na senzala, das fugas para os quilombos, dos movimentos anti-racistas, dareao represso cultural e religiosa imposta pelos senhores at o enfrentamentodas mltiplas prticas racistas, pulverizadas no cotidiano atual.

    A partir da admisso de que pessoas com certos traos raciais (como a

    pele de cor escura) so inferiores (racismo) justica-se sua posio desvantajo-sa na sociedade e seu assujeitamento. Guattari (1996) menciona mecanismos desegregao, infantilizao e culpabilizao que operam produzindo sentimentosde solido, inferioridade, incapacidade, dependncia e culpa sobre aqueles quetentam novas formas de se colocar no mundo. Isso especialmente verdadeiroem relao aos negros e a outros grupos que apresentam caractersticas somticasinferiorizadas ao longo da histria. Espera-se que eles se mantenham em lugaressociais subalternizados, no resistam dominao e que sejam gratos porque al-gum lhes tira desse lugar (RAMO, MENEGHEL; OLIVEIRA, 2005).

    Mostrando os mecanismos racistas que parecem mais suaves, psicolgi-cos, no pretendo esquecer que a discriminao direta, a violncia e o extermniono s so possveis, como so muito empregados. Trata-se de mostrar que uma

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    coisa prepara, justica e banaliza a outra. Baptista (1999) chama de genocdiono apenas aos assassinatos concretos, mas tambm aos assassinatos subjetivos:os discursos neutros, enunciados por especialistas e outros autorizados a falar,que condenam a expresso singular; que fragilizam, patologizam, fragmentam aviolncia da cotidianidade, remetendo-a a particularidades individuais (BAPTIS-TA, 1999, p.46). Um assassinato aa a arma do outro. A ao do racismo enfra-quece a vtima (BAPTISTA, 1999, p.46) e faz com que ela internalize sua falhae sua culpa em no ser aquilo que desejvel (VERGNE, 2010); tornando-a maisvulnervel, menos propensa a se defender e a armar sua diferena.

    No podemos esquecer que muitas formas de se pensar os negros so prove-nientes do discurso cientco do sculo XIX, produzido a partir das teorias raciaiseuropeias. O racismo explicado pela cincia foi a forma de manter a desigual-dade de tratamento entre brancos e negros, naquele momento histrico (NUNES,2006). Tanto quanto as mulheres, as crianas e outros grupos no brancos, os ne-gros so historicamente vistos pelo poder e pelo senso comum como menos inte-ligentes e racionais (portanto menos capazes para o trabalho intelectual) e maisligados ao universo dos instintos, das emoes, mais propensos s supersties(CORRA, 2006). Como alerta Vilhena (2006), o branco foi e continua sendo amanifestao do Esprito, da Ideia e da Razo. O branco e a brancura so os nicoslegtimos herdeiros e construtores do progresso e desenvolvimento do homem.Eles so a cultura e a civilizao, em uma palavra - a humanidade.

    Deleuze e Guattari (2004) trabalham com a ideia de que o racismo eu-ropeu no opera com a categoria do negro (ou de outros grupos) como sendo o

    outro da civilizao. No h outro, nem pode haver. O que h so os desvios evariaes determinados a partir do rosto do Homem-branco-mdio-qualquer[...]: assim temos o homem amarelo, o homem negro, como homens de segundaou terceira categoria (FIGUEIREDO, 2009). O racismo, para os autores, operaconnando os desvios em determinados territrios, mas na verdade [...] jamaissuporta a alteridade ( um judeu, um rabe, um negro, um louco... etc.). Doponto de vista do racismo, no existe exterior, no existem as pessoas de fora.S existem pessoas que deveriam ser como ns, e cujo crime no o serem(DELEUZE; GUATTARI, 2004, p. 45).

    RACISMOBRASILEIRA: FENMENOTOPRESENTEQUANTONEGADO

    Vrios estudos mostram o paradoxo de um racismo brasileiro que se destacapela inexistncia de racistas. Um trao recorrente em vrias pesquisas aqui analisa-das que, nas entrevistas, as pessoas relatam que o preconceito racial na sociedadeexiste, mas no o admitem em si mesmos (SILVA, 1998; SCHWARCZ, 2001; FI-GUEIREDO; GOSFROGUEL, 2009; CAMINO et. al., 2001; FERREIRA, 2002).

    Negado patologicamente, as propostas para a reduo de tal iniquidade en-contram muitas resistncias, sustentando a ideia de que no preciso fazer nada,

    pois anal somos um povo mestiado e de natureza cordial (CARNEIRO, 2003).O mito de que vivemos uma democracia racial, j bastante denunciado, encontra

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    persistncias muito concretas no Brasil de hoje; procurando desqualicar comoum potencial racismo s avessas as iniciativa de equilibrar as notveis inequida-des sociais, de que trataremos mais adiante.

    A raa ainda hoje segue originando percepes de como seriam as carac-tersticas morais dos negros. Giacomini (2008), na reviso dos mais importantes

    estudos nacionais sobre o assunto, menciona que neles os negros aparecem comosendo briges; indolentes; pouco higinicos. Mesmo hoje, certa identidade atribuda aos negros; eles seriam instveis e perigosos (SANTOS, 2000). Ou-tros esteretipos ainda persistem; como mostra Silva Bento (2002), acentuandoque diferentes estudiosos tm se preocupado com a maneira como os negros soatingidos pela ideologia do branqueamento e tambm que a militncia negra temdestacado persistentemente que as diculdades de identicao racial esto liga-das baixa auto-estima e tornam mais rdua a luta deste segmento contra a discri-minao racial. A autora aponta tanto para a negao do racismo subjacente a taisprticas de violncia, como para o difcil movimento de destacar-se como negro,de estar fora de lugar, mas no poder reagir a uma opresso no assumida.

    Como explica Neuza Santos Souza, no importante livro Tornar-se Negro(1983), a violncia racista atinge o corpo do negro no necessariamente de formafsica. O corpo do negro visto pejorativamente em relao ao do branco; ressal-tando-se principalmente os atributos ligados fora fsica (ligada capacidadepara o trabalho manual) e a uma hipersexualidade, quase descontrolada (PINAR,2008). Souza lembra que a autoridade da esttica branca quem dene o belo esua contraparte, o feio, nesta nossa sociedade classista onde os lugares de poder

    e tomada de decises so ocupados hegemonicamente por brancos. [] O negro o outro do belo (SOUZA, 1983, p. 29, grifos da autora).

    Os atributos fsicos ditos dos negros so geralmente pensados no negativoe sempre postos em comparao desfavorvel aos ideais estticos etnocntricos.Dois exemplos disso so a viso do cabelo crespo como sendo ruim, duro,bombril (palha de ao) e do cabelo liso, que seria bom; bem como a apre-ciao depreciativa do nariz dos tipos negros, que seria chato, grosso emoposio ao no dos brancos, que seria considerado bonito (GOMES, 2003;VILHENA, 2006) e mais que isso, o ideal da beleza.

    O corpo, pensado com atributos pejorativos, deixa de ser vivido como umafonte de alegria e prazer. Por meio da aceitao do racismo at mesmo por faltade outros modelos positivos para se constituir e se identicar se estabelece umarelao persecutria entre o negro e o seu corpo (COSTA, 1984). A relao como prprio corpo ento passa a ser de vigilncia, no sentido de mascarar as carac-tersticas diferentes do modelo dominante e portanto indesejveis. Instala-se apreocupao em disfarar seus traos fsicos originais e de fazer-se passar porbranco. Mas ao desejar embranquecer, o negro no se permite existir; ele instau-ra o projeto de sua prpria extino.

    Insisto na violncia destas formas ditas douces de dominao e endossoos estudos mencionados que mostram que elas no podem ser entendidas separa-das, do ataque corporal, como fenmenos inteiramente diferentes. Tornar difcil

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    algum ser aquilo que ; fazer com que a pessoa seja vista no negativo e pensadaem sua suposta falta; fazer com que a prpria pessoa se veja no negativo e queconspire contra seu crescimento tudo isso violento, brutal. Desde cedo, namdia e na escola, seno na prpria famlia, a criana negra v e sente a desva-lorizao de seu corpo e a fundamentao de padres estticos que desprezam oseu tipo, reservando a idia de beleza para o tipo branco, quando no o nrdico.Tornar-se negro, portanto, vencer inmeros obstculos, onde o referencial sempre o mundo branco; um desao doloroso.

    Esta desqualicao da negritude no pode ser desvinculada da histria daescravido, nem do fato do Brasil ter resistido tanto a aboli-la ocialmente (NU-NES, 2006; FLAUZINA, 2008). No se pode separar a ideia de que os negrosso potenciais criminosos do temor de sua revolta, desde o regime escravo at osdiscursos contemporneos, clamando por maior controle social, por mais repres-so penal. Hoje este pedido de conteno das classes perigosas se naturalizacomo uma guerra civil, onde negros pobres so os inimigos internos a seremcaados e combatidos (COIMBRA, 2001). Hoje uma certa viso de seguran-a pblica procura instituir uma represso explcita como biopoltica, que nopode e talvez nem pretenda ocultar seu racismo subjacente (BATISTA, 2003;NASCIMENTO, 2008; NUNES, 2010; RAMOS, 2011).

    A liberdade no garantiu condies dignas de vida e a lgica da exploraoescravagista encontrou muitas formas de continuidade: no h o que discutirsobre nossa forma de lidar tanto com a escravido como com o racismo: suaviza-mos a primeira e negamos o segundo (FLAUZINA, 2008, p. 47).

    O RACISMOESEUSEFEITOS: ACESSOSADEEEDUCAO

    A populao brasileira, de acordo com levantamento do IBGE de 2010,tem 42,1% de pardos e 5,9% de negros autodescritos. Reunindo os dois con-juntos, temos quase metade da populao total. Os resultados do Censo 2010,que poca da escrita desse artigo apenas comeavam a circular, mostram oBrasil como uma das maiores naes negras do mundo e que, pela primeiravez, a maior parte da populao se autodeclara negra. Estes dados evidenciamo quanto o termo minoria inadequado.

    Se os negros so a maioria do pas, supostamente deveriam ter a mesmaequivalncia em termos de acesso a direitos sociais. Contudo, a parte negraconcentra dados inquos em relao branca, formando, na prtica, dois pases.A desigualdade social tem cor. Ela deriva, principalmente, da forte concentraode renda no segmento mais rico da sociedade [...]. Os negros frequentam a rique-za do pas, mas so participantes minoritrios. Os brancos so mais ricos e maisdesiguais. Os negros, mais iguais e mais pobres (HENRIQUES, 2001, p. 49).

    Se tomarmos qualquer dado que informe sobre o desenvolvimento huma-no e a qualidade de vida educao, sade, moradia, emprego, renda, expecta-

    tiva de vida, acesso a equipamentos sociais veremos que os negros esto emgrande e injusta desvantagem. Parece importante denir que [...] as desigual-

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    dades sociais so ditas raciais quando se encontrem e se comprovem mecanis-mos causais operando ao nvel individual e social que possam ser retraados oureduzidos idia de raa (GUIMARES, 1999, s/p.).

    A violncia estrutural ca bem demonstrada em dados como o Racismo,Pobreza e Violncia (PNUD, 2005). Ali veremos que, apesar do crescimento da

    renda das ltimas dcadas, o percentual de negros pobres nunca cou abaixo de64%. Embora sejam mais de 45% da populao total, os negros so 70% entre os10% mais pobres e no passam de 16% entre os 10% mais ricos.

    Para darmos alguns exemplos ilustrativos das diferenas nesses doispases, sabemos que a expectativa de vida, segundo o IDH (ndice de Desen-volvimento Humano), se desagregado por gnero e raa, , respectivamente:homens brancos, 69 anos; mulheres brancas, 71 anos; j entre homens negros de 62 anos; e entre mulheres negras, de 66 anos. Os dados relativos rendainformam que o PIB per capita das mulheres negras de 0,76 salrios mnimos

    (SM); os dos homens negros: 1,36 SM; mulheres brancas: 1,88 SM; e homensbrancos, 4,74 SM (OLIVEIRA, 2003).

    Deste grande grupo afrodescendente, aproximadamente a metade com-posta de mulheres, o que representa cerca de 24% do total da populao bra-sileira. Sobre elas incide uma trplice discriminao: de raa, de gnero e declasse social. Elas constituem a parcela mais pobre, so as que possuem a si-tuao de trabalho mais precria, que tm os menores rendimentos e as maisaltas taxas de desemprego (DIEESE, 2003). As mulheres encontram-se maisconcentradas, proporcionalmente, em trabalhos informais e mais precrios e

    mal remunerado do que os homens, como o caso do trabalho domstico. Ouseja: Num quadro global de gravssimas desigualdades sociais, j amplamentereconhecido, evidencia-se uma ntida hierarquia que tem, no topo, os homensbrancos (no negros) e que vai descendo para as mulheres brancas, homensnegros (e pardos) e mulheres negras (QUADROS, 2004).

    indisfarvel que h 53 milhes de pobres e, desses, 22 milhes soindigentes. 65% e 70%, respectivamente, desses pobres e indigentes so pessoasnegras (CARNEIRO, 2003, p.1). Podemos portanto dizer que no Brasil, mesmocom variaes regionais, a pobreza e a misria so predominantemente negras.

    preciso superar o pensamento que prefere admitir que melhorandonossa injustia social, a questo racial ser resolvida, j que o que h apenaspreconceito de classe. O racismo no redutvel pobreza e misria. Isto vemsendo desmentido desde os anos 50 (GIACOMINI, 2008) e conrmado em estu-dos mais recentes (FIGUEIREDO, 2004).

    Na rea da educao h notveis diferenas no acesso escola entre bran-cos e negros. As diferenas raciais, contudo, so muito marcantes: os negros enegras esto menos presentes nas escolas, apresentam mdias de anos de estudo

    inferiores e taxas de analfabetismo bastante superiores. As desigualdades se am-pliam quanto maior o nvel de ensino. O acesso ao ensino mdio, ainda bastanterestrito em nosso pas, signicativamente mais limitado para a populao ne-

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    gra, que, por se encontrar nos estratos de menor renda, mais cedo pressionadaa abandonar os estudos e ingressar no mercado de trabalho. (IPEA, 2008). Em2009, 4,7% dos pretos e 5,3% dos pardos nesta faixa etria tinha diploma de en-sino superior, contra 15% dos brancos e 62,6% dos estudantes brancos entre 18e 24 anos estavam na universidade, contra 28,2% dos negros e 31,8% dos pardos(IBGE, 2010), o que impacta especialmente a vida dos jovens. Como foi mos-trado, h muita diferena no tratamento dado aos dois grupos. Esse dado apontapara a formao dos professores, pois de nada adianta dispor de livro didticoe currculo apropriados se o professor for preconceituoso, racista, e no souberlidar adequadamente com a questo (VALENTE, 2005, s/p.).

    Sendo persistentes, as formas preconceituosas de ver reduzem as oportuni-dades dos negros em vrios campos da garantia de direitos e cidadania. Pesquisasrecentes mostram que as expectativas dos educadores em relao s crianas ejovens negros e tambm estreitam suas oportunidades quando crescem. Santossustenta que muitas escolas partem da crena de que alunos pobres e negros noso educveis (VALENTE, 2005, p. 44). Com raras excees, o combate aoracismo no uma meta nas instituies escolares; no parte da formao dosprofessores; no discutido nem mesmo nas famlias dos alunos negros, talvezporque tenham sofrido os pais tenham sofrido os mesmos ataques e tenham seresignado, propagando este conformismo (MIRANDA, 2004).

    No exame do contedo dos livros escolares e literatura infanto-juvenil osnegros no raro so retratados como fracos, feios, maus, estpidos ou mesmo sogrotescos (LIMA, 2005) e tambm pode ocorrer a omisso de aspectos importan-

    tes de sua histria de resistncia (LUCINDO, 2010). Muitas vezes eles so per-sonagens tristes, vitimizados e degradados, presos ao que Batista (2003) chamou,em outros contextos, de esttica da escravido.

    Ou seja, pode-se dizer que na escola as tenses raciais so apagadas magi-camente, basta no falar delas. Mas os efeitos se impem, tornando o ambiente es-colar hostil e facilitando os processos de suposta desistncia de continuar a estudar:

    No precisamos ser profetas para compreender queo preconceito incutido na cabea do professor e suaincapacidade de lidar prossionalmente com a diversidade,

    somando-se ao contedo preconceituoso dos livros emateriais didticos e s relaes preconceituosas entre alunosde diferentes ascendncias tnico-raciais, sociais e outras,desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado.O que explica o coeciente de repetncia e evaso escolar

    altamente elevado do alunado negro, comparativamente aodo alunado branco. (MUNANGA, 2005, p. 16).

    Na sade, os dados epidemiolgicos so eloquentes, mostrando a diminui-o da qualidade de vida e da expectativa de vida da populao negra. Em geral,

    este segmento apresenta nveis mais baixos de instruo, reside em reas commenos servios de infra-estrutura bsica, tem menos acesso ao Sistema nico deSade e, quando dispe dele, depara-se com menor qualidade. Ou seja, essa parte

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    da populao brasileira vivencia, em quase todas as dimenses de sua existncia,situaes de excluso, marginalidade e/ou discriminao scio econmica, o quea coloca mais vulnervel aos agravos sade e a faz adoecer de doenas curveise morrer antes do tempo, de mortes evitveis (CHAGAS, 2010; CUNHA, 2001).Contudo, o racismo estrutural e institucional tem sido discutido e enfrentado narea da sade, com a implementao de aes concretas, enfatizando a formaodos trabalhadores (BARBOSA, 2006).

    Mas o negro, em especial o homem, no escapa de outra seletividade perver-sa. O Programa para o Desenvolvimento das Naes Unidas (PNUD, 2005) mostraque cerca de 30 mil brasileiros so assassinados por ano. A maioria dessas mortesviolentas pobre, negra e tem entre 15 e 24 anos. Muitos moram nos territriosestigmatizados das grandes cidades, as favelas ou so to pobres que no tm ondemorar. H muitos relatos concretos de execues sumrias contra rapazes e mesmomeninos, sem registro criminal e sem oportunidade de defesa (JAHANGIR, 2003).

    Tambm so eloquentes os dados do Mapa da Violncia 2006, com dadosde at 2004, organizado por Julio Waiselsz (2006), que mostrou que os homicdiosvitimam preferencialmente os homens (93%); mas vitimam muito mais os negros,cujas mortes chegam a ser mais de cinco vezes superior ao dos brancos. Os dadosdessas mortes evitveis apontam para uma continuidade de prticas histricas re-pressivas e genocidas contra essa populao (ZAMORA; CANARIM, 2009). OMapa de 2012 (dados de 2011) mostra o reforo desta tendncia, com a quantidadede vtimas brancas caindo e o de negros aumentando. Para cada dois brancos assas-sinados em 2002, morreram aproximadamente trs negros. J em 2010, para cada

    dois brancos assassinados 4,6 negros foram vtimas de homicdio.CONCLUSES

    A luta para terminar com grandes iniquidades contra parte do nosso povo,herana da escravido e do colonialismo, deveria envolver todos. As polticaspblicas deveriam ser urgentes e ter como objetivo precpuo a participao da po-pulao negra no processo de desenvolvimento coletivo, a partir de sua histria ecultura, visando a eliminao das desigualdades. Estas so iniciativas que cabema toda sociedade, em um processo educativo, em um sentido mais amplo.

    O tema do racismo considerado por vrios autores como sendo to impor-tante quanto pouco abordado pela psicologia (MIRANDA, 2004; NASCIMEN-TO, 2005; NUNES, 2006; OLIVEIRA, MENEGHEL; BERNARDES, 2009;CHAGAS, 2010). De fato, na pesquisa empreendida para este artigo, havia maisque o triplo de publicaes nas reas de sade, educao, sociologia, sociologia,consideradas individualmente, que na psicologia. O que coloca questes a pensarsobre formao e compromisso social (NRTE, MACIEIRA; FURTADO, 2010).Porm, notvel que o assunto ganha cada vez mais ateno na psicologia, me-recendo um nmero crescente de estudos.

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    O racismo constitui nossa histria, estrutura as relaes em nossa so-ciedade e precisa ser encarado como o grave problema que realmente (VIEI-RA, 1995; SANTOS, 2009). Ele opera talvez a mais poderosa clivagem nanossa sociedade, pois justica inclusive o poder de deixar morrer ou de matardo Estado (FOUCAULT, 2005; AGAMBEM, 2007; ALVARENGA FILHO,2010). Ele opera e ajuda a operar uma seletividade entre quem tem ou notem o direito a uma vida cidad; entre quem deve ser preservado e protegidoe quem a vida indigna, que no merece ser vivida.

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