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Alô! Comunicação é pAra ontem! Seminário mostra a urgência de se compartilhar melhor a informação em saúde. NESTA EDIÇÃO Súmula Frustração em células-tronco Febre amarela recua Dengue avança Nº 42 • Fevereiro de 2006 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ • 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis Eliane Cruz Nosso objetivo não é aparecer no Jornal Nacional

radis 42 Web...Prezada Rosely, o assunto é de grande importância e vamos tratar dele em bre-ve. A Radis nº 2, de 2002, publicou um panorama das maternidades no Brasil. LOGOMARCA

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Alô!Comunicaçãoé pAra ontem!

Seminário mostraa urgência de secompartilhar melhor ainformação em saúde.

NESTA EDIÇÃO

SúmulaFrustração emcélulas-tronco

Febre amarela recuaDengue avança

Nº 42 • Fevereiro de 2006

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ • 21040-361

www.ensp.f iocruz.br/radis

Eliane

Cruz

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OConselho Municipal de Saúde deBelo Horizonte (CMSBH), que

completou 12 anos, tem estratégiasinternas e externas de comunicaçãoe informação. Das primeiras fazem par-te serviços de relações públicas, pro-dução de peças gráficas e a coordena-ção de uma biblioteca. Entre asestratégias externas estão a produçãodo ConSaúde, jornal bimestral com ti-ragem de 15 mil exemplares, a elabora-ção de releases para a imprensa e aparticipação no Conselho na Praça,quando a instituição promove ativida-des nos diferentes distritos da cidade.

Os usuários recebem orientaçãosobre diversos temas de saúde, e tam-bém apresentam suas reclamações esugestões — que são devidamenterespondidas. Artistas locais ajudam aatrair a atenção do público. Tudo évoluntário, com colaboração das se-cretarias regionais. O Conselho naPraça não tem freqüência determi-nada: é marcado conforme a deman-da de cada distrito. Em um ano e meiode existência houve cinco edições.

Essa atuação tornou o CMSBHreferência para a imprensa local. Se-gundo a jornalista Michèlle de ToledoGuirlanda, assessora de comunicação

Uma experiência em construção

do conselho, sempre que um temade saúde aparece na pauta os repór-teres de diversos veículos recorremàs opiniões dos conselheiros.

No início, havia uma grande bar-reira: a comunidade desconhecia aexistência do conselho de saúde ouas diretrizes do SUS, que estabele-cem os direitos do usuário. “A solu-ção era uma assessoria de comunica-ção que divulgasse o papel e asatividades do conselho”, diz Michèlle.Só que não era tão simples: primeiro,foi preciso conhecer as necessida-des do público, da comunidade emgeral. “A linguagem, os veículos, a pro-gramação visual, tudo foi ditado pe-los conselheiros, que representamtodos os segmentos da sociedade”,conta. “Não se trouxe um projeto,montou-se um projeto”.

A infra-estrutura foi sendo mon-tada aos poucos também — de acor-do com as demandas que iam surgin-do. Primeiro resultado: o ConSaúde.A cada edição, mais páginas, novosespaços, pautas mais direcionadas. “Evai continuar assim, porque nosso sis-tema de saúde também está sendoconstruído”.

A assessoria de comunicaçãomantém sua rotina, com atendimen-

to à imprensa, organização e cober-tura de eventos etc. Mas a constan-te busca de informações mostra queo conselho está se tornando referên-cia importante. Muito em breve, estepapel, que atualmente é quase didá-tico, terá que ser revisto, prevê. Atendência é a troca de experiênci-as, o aprimoramento do controle so-cial. O conselho tem planos para acriação de uma rádio, de uma páginana internet e de uma revista anual,na qual estarão as melhores matériasdo ConSaúde e a prestação de con-tas da instituição. (W. V.)

Nesta página vale tudo: análises decampanhas de saúde nas mídias,comentários sobre as mais recen-tes teses acadêmicas, mosaico deexperiências exitosas (e também deexperiências hesitosas) da práticados serviços e dos usos da comuni-cação. Para divulgar aqui a sua ex-periência bem-sucedida há váriosmeios: Endereço Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos, Rio de Janeiro,RJ/CEP 21040-361 • Telefone (21)3882-9118 • Fax (21) 3882-9119 •E-mail [email protected] • Faleconosco http://157.86.162.233/pedass/pa12.asp

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Muito além do Jornal Nacional

Comunicação e Saúde

• CSMBH: Uma experiênciaem construção 2

Editorial

• Muito além do Jornal Nacional 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 5

Toques da Redação 7

1º SNCIIS

• Guerreiros do SUS, comunicai-vos! 8

• Uma proposta para ontem 15

Entrevista: Eliane Cruz

• “Temos que falar com o usuárioe com o trabalhador do SUS” 16

Farmacovigilância

• Seu farmacêutico é todo ouvidos 17

Serviço 18

Pós-Tudo

• Transgênicos: a novidade ignorada 19

editorial

Nº 42 • Fevereiro de 2006

Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.)

Capa e Ilustrações Aristides Dutra (A.D.)

A imagem da capa é um decalque sobreilustração original de Nestor Redondo

Democratizar os meios de comu-nicação, diversificando radical-

mente as fontes de produção de in-formação, ou quebrar o monopóliona informática, ampliando o uso desoftware livre, são estratégias impor-tantes para a sociedade brasileira e fa-zem bem à saúde. Mas comunicaçãoem saúde é muito mais do que isso,afirmam os participantes do I SeminárioNacional de Informação, Comunicaçãoe Informática em Saúde, promovido peloConselho Nacional de Saúde (CNS) e re-gistrado em nossa matéria de capa.

Saúde ainda é tratada na mídiacomo assunto de interesse e consumoindividual, como produto vendido emfavor de clínicas, planos e indústriasprivadas, ou como mazelas de um Sis-tema Único de Saúde visto apenas comoum conjunto de hospitais públicos,como no tempo do Inamps. Por outrolado, no âmbito da saúde pública, aindaé freqüente limitar a visão de comuni-cação ao que fazem a mídia e as asses-sorias de imprensa, a megacampanhaspouco esclarecedoras ou a cartilhascom linguagem infantilizada.

Eliane Cruz, secretária-executi-va do CNS, lembra que sempre quese discutia uma política de comuni-cação no SUS, pensava-se em comoatingir a grande mídia. Com o tempo,viu-se que o caminho prioritário é oinverso e começa pela mobilização earticulação dos conselhos de saúde.

Angélica Silva, do Canal Saúde,sonha com a inclusão digital e umaplenária virtual permanente entre osconselhos. Eliane sonha com os con-selheiros se comunicando diretamen-te com o usuário do SUS e os traba-lhadores de saúde: “Nosso objetivonão é aparecer no Jornal Nacional”.

O Programa RADIS busca manteruma linha editorial coerente e críticae se esforça para acolher diversas vo-

zes e publicar opiniões de leitores esegmentos diversos. Mas não deixa deser uma espécie de Jornal Nacional

da saúde pública, “transmitindo” in-formação de um ponto central paratodo o país, numa relação predomi-nantemente unidirecional. Por isso,desejamos e queremos contribuir paraque a sociedade organizada suplanteas limitações de nossa revista e donosso sítio na internet, capilarizandoos fluxos de informação e participa-ção com estratégias e processos des-centralizados e diversificados de co-municação em saúde. Cada conselhode saúde, movimento social, entida-de sindical ou instituição deve exer-cer seu direito de comunicar, produ-zindo uma polifonia realmentedemocrática no campo da saúde.

Para Áurea Pitta, do Centro deInformação Científica e Tecnológicada Fiocruz, a comunicação é “o cerneda democracia” e vivemos numa are-na em que cada instituição, cada gru-po político disputa o poder de dizer,mostrar, fazer valer, fazer crer.

Comunicação, portanto, é poder.É constante disputa para dar sentido ainformações, fatos, realidades. Isso nãopode ser desconsiderado, assim comoa compreensão e a valorização da pro-dução de sentidos no campo da “re-cepção”. Se o SUS que queremos ébaseado na atenção, na participaçãopopular, numa construção solidária, aspolíticas de comunicação em saúdedevem compartilhar esse poder, incluiroutra dimensão também presente nacomunicação e tender à interação e àmobilização na sociedade. Em sua di-mensão mais humana, comunicação nãoé “de/para”, é “com/entre”. É ouvir, édiálogo, vínculo essencial com o outro.

Rogério Lannes RochaCoordenador do RADIS

Cartum

MEU SONHO É DAR

UMA ENT REVISTA AO

JORNAL NACIONAL.

ENTÃO SORRIA , POIS VOCÊ JÁ

ESTÁ NO RODAPÉ DA RA DIS.

C.P./A.D.

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RADIS 42 � FEV/2006

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CARTAS

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 44 mil exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaSubcoordenação Justa Helena Franco

Edição Marinilda CarvalhoReportagem Katia Machado (subeditora),

Claudia Rabelo Lopes, WagnerVasconcelos (Brasília/Direb) e JúliaGaspar (estágio supervisionado)

Arte Aristides Dutra (subeditor) eCassiano Pinheiro (estágiosupervisionado)

Documentação Jorge Ricardo Pereira,Laïs Tavares e Sandra Suzano

Secretaria e Administração OnésimoGouvêa, Fábio Renato Lucas,Cícero Carneiro e Mario Cesar G.F. Júnior (estágio supervisionado)

Informática Osvaldo José Filho e GeisaMichelle (estágio supervisionado)

EndereçoAv. Brasil, 4.036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radisImpressãoEdiouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

BIOÉTICA NOTA 10

Sinceros agradecimentos pela edição nº 39, sobre bioética. A revista

está nota 10. Fui aluna do Politécnico daFiocruz em 2002, quando conheci a Radis.Fiz o curso de Vigilância Sanitária e Saú-de Ambiental, e agora faço o de técnicoem enfermagem no Hospital da OrdemTerceira de São Francisco de Assis. Essarevista é tudo de bom na área de saúde.•Luciane Nascimento da Silva, NovaIguaçu, RJ

NO CAPS

Foi com grande satisfação que re-cebi a edição de nº 38, que trata

com perfeição a história da “loucura”e da reforma psiquiátrica, além deenfatizar bem a proposta e a práticados CAPs. Sou psicólogo e coordena-dor do CAPs I de Luís Correia, no Piauí.•Daniel Trindade e Silva

expediente

PCCS DO SUS

Desde 1983, sou defensora doSUS. Ou seja, antes do SUS ser SUS

em 1990, como voluntária. O que metrouxe muito aprendizado, mas tambémmuito prejuízo financeiro. A matéria daRadis 26 sobre PCCS do SUS — Plano decarreira, cargos e salários do SUS — medeu esperança. Pergunto: em que péestá o trabalho da comissão?•Irene Bernardo, Marília, SP

Cara Irene, a Radis continua acom-panhando. Em dezembro a Câmara dosDeputados aprovou em primeiro tur-no a PEC 7/03, que permite acontratação de agentes sem concursopúblico, por seleção — antiga reivin-dicação dos trabalhadores do SUS.

NA PAUTA

Olá! Sou acadêmica de Enferma-gem da Universidade Federal de

Alagoas e estou no 4º ano do curso. Gos-taria de agradecer pelo envio das revistase também elogiá-los pela alta qualidadedo material divulgado mensalmente. É umaótima forma de manter a comunidade atu-alizada no que diz respeito às questõesde saúde. Seria interessante que vocêsfizessem matéria sobre a situação atual

da assistência pré-natal no Brasil, especi-almente no Nordeste. Sou muito interes-sada nesta área e vejo real importâncianuma reportagem como essa.•Rosely Pontes Lessa, Maceió, AL

Prezada Rosely, o assunto é de grandeimportância e vamos tratar dele em bre-ve. A Radis nº 2, de 2002, publicou umpanorama das maternidades no Brasil.

LOGOMARCA DO SUS

Concordo plenamente, o símbolodo SUS não é divulgado, pois não

consegui nem na internet imprimir alogomarca para utilizar na monografiaque estou fazendo sobre este tema.É uma pena. Se vocês puderem dispo-nibilizar, agradeço!•Mauricea Rodrigues da Silva,Caruaru, BA

Cara Mauricea, o documento ABC doSUS, com as especificações da marca,está em http://www.ensp.fiocruz.br/radis/web/ABCdoSUS.zip

PELO BEM-ESTAR PÚBLICO

Venho agradecer a todos da Fio-cruz e, de modo especial, à equipe

da Radis por tão importante trabalho.Já recebo a revista há alguns anos e mealegro com cada edição, pois traz infor-mações de extrema importância não sópara quem trabalha na área da saúde,como também para toda e qualquerpessoa que queira estar atualizada como que se faz pelo bem-estar público.Um 2006 cheio de conquistas!•José Edson F. de Araújo, Caieiras, SP

EM SALA DE AULA

Sou docente em faculdade e uni-versidade. Tenho incentivado a

leitura e usado o conteúdo da Radisem debates integrados em sala deaula. Tem sido de grande proveitonas disciplinas de Epidemiologia, Saú-de Ambiental e Bioética. Um abraçoa todos.•Amanda Cordeiro Mathias, Vitória daConquista, BA

Parabéns pela revista. Sou assinan-te há vários anos e, como professor

de saúde pública, utilizo vários artigosem minhas aulas, inclusive indicando arevista a colegas e alunos. Justamente

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RADIS 42 � FEV/2006

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A Radis solicita que a correspondên-cia dos leitores para publicação (car-ta, e-mail ou fax) contenha identifi-cação completa do remetente: nome,endereço e telefone. Por questões deespaço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

por isso o nº 30 de minha coleção foiextraviado. Seria possível o envio de umexemplar deste número?•Benedito Carlos Cordeiro, Itajaí, SC

Quero partilhar a minha alegria porter feito um trabalho acadêmico

sobre a Reforma Psiquiátrica, para oqual utilizei a edição de outubro. Es-tou cursando o 2º período de Direito,trabalho e faço estágio no CAPS deCataguases. Desde o primeiro momen-to, quis fazer minha tese sobre o Mi-nistério Público e a Saúde Mental. Jádei o primeiro passo! Que Deus conti-nue iluminando o caminho de todosos colaboradores desta revista.•Elaine Cristina de Oliveira, Catagua-ses, MG

Há quatro anos tenho acesso àrevista, porque trabalho no Hos-

pital de Pronto Socorro João XXIII,em Belo Horizonte. Sou acadêmica docurso de Enfermagem, na Unincor, esó tenho que parabenizá-los, pois inú-meras vezes a revista me auxiliou emtrabalhos e eu cito sempre como re-ferência bibliográfica.•Angela Levy Campos, Belo Horizon-te, MG

Acabei de solicitar minha assinatu-ra e gostaria de saber se é possí-

vel receber um número maior deexemplares, uma vez que tenho hoje158 alunos matriculados.•Juliana Carneiro, diretora da Escolade Técnico em Enfermagem Julieta,Riachão do Jacuípe, BA

NO VESTIBULAR

Écom imensa felicidade que venhoagradecer e comemorar com todos

vocês um ano que recebo mensalmen-te esta publicação. Agradeço a oportu-nidade de usufruir de tamanho conhe-cimento. Em breve vou prestar vestibularpara Odontologia, e graças à Radis játenho informações que me fazem sen-tir alto índice de capacitação.•Amanda Sampaio Prates, Nova Viço-sa, BA

SÚMULA

FEBRE AMARELA RECUA

Apenas dois casos de febre amare-la de transmissão silvestre foram

registrados no Brasil em 2005 — amboscom óbito. Em 2004, houve dois casos,também com óbito. Em 2003, um qua-dro bem mais adverso: 64 casos de fe-bre amarela, 23 óbitos. Em 2005, a do-ença ficou restrita à Região Amazônica.

A febre amarela urbana estáerradicada no Brasil desde 1942. A sil-vestre não pode ser erradicada, poisocorre de forma enzoótica, ou seja, ovírus circula naturalmente nas matasentre os vetores silvestres e animais ver-tebrados, como os macacos. Apenasseis municípios em quatro estados no-tificaram casos da doença entre

primatas em 2005: Mucajaí (RR), ondehouve os casos humanos, Bela Vista deGoiás, Luziânia e Joviânia (GO), SantoAntônio das Missões (RS), Silvanópolise Jaú do Tocantins (TO).

A notificação de mortes de ma-cacos numa região deve servir dealerta para as equipes de saúde, paraque sejam tomadas as medidas de pre-venção e controle, como vacinaçãoe vigilância epidemiológica. O perfilepidemiológico da febre amarela per-manece o mesmo: ocorre em adultosjovens do sexo masculino, não-imunes,com alta taxa de letalidade. A partir de1998, o Brasil enfrentou surtos da do-ença durante seis anos seguidos, o queevidenciou a reemergência da febreamarela em áreas fora da Amazônia, ogrande reservatório do vírus amarílico.

O Ministério da Saúde fornece va-cinas contra febre amarela nos postosde saúde do SUS. Entre 1997 e outubrode 2004 mais de 79,7 milhões de doses

foram aplicadas na população. A vacina(produzida pela Fiocruz), única forma deevitar a doença, tem validade de 10 anos.A Secretaria de Vigilância em Saúde re-comenda que todos os turistas que fo-rem às áreas endêmicas da febre ama-rela tomem a vacina com 10 dias deantecedência. Para as pessoas que re-sidem nas áreas de risco, a recomenda-ção é tomar a vacina a cada 10 anos.

DENGUE AVANÇA

Onúmero de mortes por dengueno ano passado foi o segundo

maior da história do país, anunciouem janeiro o Ministério da Saúde. Adoença matou pelo menos 43 pesso-as entre janeiro e novembro de 2005— número cinco vezes maior em rela-ção a 2004, quando houve oito mor-tes. O saldo só não é maior que o de2002, ano em que o Brasil teve suapior epidemia de dengue: morreram

150 pessoas. A maior parte das 43mortes do ano passado — 32 — foiregistrada no Nordeste. Os estadosmais afetados foram o Ceará (19 mor-tes) e a Bahia (8).

O balanço não contabiliza os nú-meros de dezembro nem os dados deoutubro e novembro do RJ e os de no-vembro da Bahia. Segundo o Ministérioda Saúde, o elevado número de mor-tes se explica pela dispersão dosorotipo 3 da dengue pelo país, o queprovocou a histórica epidemia de 2002.

CTNB IO ENFIM FORMADA

ODiário Oficial da União publicouem 26/12/05 os nomes dos inte-

grantes da Comissão Técnica Nacio-nal de Biossegurança (CTNBio), um mês

C.P.

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RADIS 42 � FEV/2006

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após a publicação do decreto queregulamentou a Lei de Biossegurança(Lei nº 11.105/05). No total, são 27titulares e 27 suplentes, que darãoapoio técnico ao governo federal emrelação às ações da Política Nacionalde Biossegurança e na liberação deorganismos geneticamente modificados(OGM) e seus derivados.

A lista de nomes está na páginada web www.ensp.fiocruz.br/radis/42/web-01.html

CONTRABANDO DE MILHO

TRANSGÊNICO

OMinistério da Agricultura anun-ciou em janeiro o resultado de

análise de laboratório com 41 amos-tras de milho no Rio Grande do Sul —folhas, espigas e grãos. Uma delasapresentou resultado positivo paratransgenia, com índice de 0,43%. Aamostra foi coletada numa casa co-mercial da região de Santo Ângelo edestinava-se à alimentação animal. Oministério determinou a suspensão davenda do produto.

A Superintendência Federal deAgricultura apurava denúncia de plan-tio ilegal de milho geneticamentemodificado, informa a agência gaúchaCarta Maior. Plantio e venda de milhotransgênico não são autorizados nopaís e o infrator está sujeito a prisãode até dois anos, além de multa. Emnovembro, análise de amostras colhi-das em Barão de Cotegipe indicara omilho RR GA21, da Monsanto, larga-mente utilizado na Argentina.

Repete-se portanto o padrão daintrodução ilegal no Brasil da sojatransgênica: virou fato consumado.Mas o risco de contaminação é mai-or agora: o milho, ao contrário dasoja, tem polinização aberta e cru-zada e pode se propagar por até novequilômetros com insetos, pássaros oucorrentes de vento. Nos países ondeo plantio de milho transgênico foiaprovado, há áreas de refúgio comoforma de proteção. O plantio anár-quico põe em risco a avicultura e asuinocultura gaúchas: os países im-portadores exigem status de produ-to livre de transgênico. Preocupa-dos, 21 frigoríficos da AssociaçãoGaúcha de Avicultura decidiram ban-car testes de transgenia no milho quefornecem aos animais.

Mas, como no caso da soja, aquestão parece irreversível. A Mon-santo desenvolve pesquisas com milhotransgênico em Uberlândia (MG) e aCTNBio analisará, a partir deste feve-reiro, dois pedidos pela aprovação do

milho Guardian e Roundup Ready. Paraambientalistas, a saúde da populaçãoe o meio ambiente estão em risco. “Orecente episódio da soja RoundupReady, da Monsanto, deve servir dealerta”, diz o documento. “Sob a ale-gação de fato consumado, o presiden-te da República autorizou sua libera-ção em 2003, 2004 e 2005, por medidaprovisória, ao arrepio da lei e em ma-nifesta afronta ao Poder Judiciário”.

CÉLULAS-TRONCO, A FRUSTRAÇÃO

Chocou a comunidade científica,no fim do ano, a denúncia de que

foram falsificados os resultados daspesquisas do sul-coreano Woo-SukHwang, pioneiro da clonagem tera-pêutica (Radis nº 20, pág. 6). Colegasdele questionaram os testes de DNAusados como prova de que as célu-las-tronco que produziu foram mes-mo derivadas de embriões clonadosde pessoas doentes.

Hwang publicou dois trabalhosde grande impacto em 2005. Um de-les foi a clonagem de um cão afghanhound, Snuppy. No segundo trabalho,células de 11 pacientes tiveram seunúcleo retirado e transferido para 185óvulos (dos quais o núcleo foi retira-do), doados por 18 voluntárias. A par-tir daí, geraram-se 11 linhagens decélulas-tronco embrionárias (CTE),isto é, com potencial de fabricar to-dos os tecidos desses pacientes. “Foium resultado espetacular, festejadopor todos os pesquisadores da área,ávidos por aprender e dominar essatecnologia”, escreveu no Estado deS. Paulo (1º/1) a professora de Gené-tica Mayana Zatz, coordenadora doCentro de Estudos do Genoma Huma-no, do Instituto de Biociências da USP.

Um dos requisitos básicos paravalidação de um experimento é que,depois de publicado, ele possa ser

reproduzido por outros laboratórios.Mas 30 pesquisadores da própria Uni-versidade Nacional de Seul (UNS),onde Hwang trabalhava, tentaram emvão. “Achamos que parte significati-va dos dados de análise de DNA éinexplicável”, denunciaram, em car-ta ao reitor.

“Se eles falsificaram mesmo osresultados, é gravíssimo”, disse MayanaZatz. “Vão pensar que cientista éque nem político”, lamentou o pes-quisador Marco Antonio Zago, da Fa-culdade de Medicina de RibeirãoPreto da USP. “Cria sensação de in-segurança numa área em que já hámuita discussão.”

Lorenz Studer, especialista emcélulas-tronco do Instituto Sloan-Kettering, de Nova York, que visitou olaboratório do sul-coreano várias ve-zes, diz que o progresso do grupo naárea da clonagem era evidente. “Émuito difícil julgar se há mesmo umproblema ou se alguém tem interes-ses ocultos [em desacreditar Hwang]”,afirma. Afinal, não seria a primeira vezque se desacredita pesquisador depaíses periféricos.

Finalmente, em relatório divulga-do em 10/1, comissão de nove investi-gadores da UNS concluiu que Hwangfalsificou mesmo as experiências. Dosestudos, resistiu apenas o de Snuppy.O relatório, que classifica o caso de“escandaloso”, afirma que dados foramdeliberadamente fabricados. “Estes in-divíduos não podem ser consideradosrepresentantes da ciência da Coréia”.

Hwang admitiu algumas práticasconsideradas antiéticas (mulheres desua equipe foram coagidas a doar óvu-los), renunciou ao cargo e desapare-ceu. Ao ressurgir, em 11 de janeiro,disse: “Estou tão envergonhado quenem sei como pedir desculpas.” Em19 de janeiro, outra notícia de frau-de na ciência: o médico norueguêsJon Sudbo forjou dados em estudosobre os efeitos positivos da aspirinano tratamento de câncer bucal.

As fraudes são descobertas cadavez mais rapidamente. Em 2001, a re-vista Nature expôs o Archaeoraptor,fóssil forjado de dinossauro-pássaroanunciado com grande pompa pelaNational Geographic em 1999. Em1996, o paleontólogo David Martill, daUniversidade de Portsmouth (ReinoUnido), quase foi enganado por umfóssil na verdade manipulado, e ficoutão enfurecido com a mentira que de-nominou o dinossauro original de Irritator.

A mais famosa fraude científicaé de 1912. Uma montagem grosseiramisturando ossos humanos e de oran-gotango foi apresentada pelo arque-

C.P./A.D.

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“É DE ASSUSTAR” — Foi este o co-mentário do sertanista SydneyPossuelo à declaração do presiden-te da Funai, Mércio Gomes, de queo índio brasileiro já tem terra de-mais (125% do território nacional) esuas reivindicações por demarcaçãojá passaram dos limites — divulgadapela Agência Reuters em 12/1. “Jáouvi esse discurso de fazendeiro,grileiro, garimpeiro e madeireiro. Es-tou acostumado. Mas de um presiden-te da Funai é a primeira vez”, disseSydney ao Estado de SP do dia 19/1.Nota da Funai, na mesma edição, afir-mava: “As declarações do presidenteda Funai (...) foram descontextua-lizadas, propiciando grande mal-en-tendido”. Na aldeia guarani Tenondé-Porã, em Parelheiros (SP), que o jornalvisitou, o desânimo: “Hoje o índio estávivendo sem rumo”, disse o caciqueVander Jacintho. Resultado do epi-sódio: Sydney Possuelo foi demitidoda Funai em 23/1.

FOBIAS SOCIAIS — A Associação Brasi-leira de Psiquiatria premiou o traba-lho “Tradução, adaptação para o por-tuguês e estudo da qualidade de umaescala para a identificação da fobiasocial em uma população de adoles-centes” como a melhor pesquisa naárea da psiquiatria da infância e ado-lescência de 2005. Em busca de esta-tísticas para sua dissertação demestrado sobre vítimas de fobia soci-al, transtorno de ansiedade caracte-rizado pelo medo acentuado de serhumilhado, julgado ou criticado, apsiquiatra Liliane Vilete (atualmente,doutoranda da Ensp/Fiocruz) adaptouà realidade brasileira o Inventário deFobia Social (Spin, na sigla em inglês),instrumento para avaliar a freqüênciado distúrbio na população. A disserta-ção está disponível na Biblioteca daENSP (http://teses.cict.fiocruz.br/pdf/viletelmpm.pdf).

CURSO DE COMUNICAÇÃO EM SAÚDE— O Centro de Informação Científicae Tecnológica da Fiocruz e a Direto-ria Regional de Brasília (Direb/Fiocruz)promovem em março o Curso de Co-municação e Saúde. As inscrições pelainternet (www.sigals.fiocruz.br) estãoabertas até 24 de fevereiro.

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[ 7 ]

ólogo amador Charles Dawson comoo Homem de Piltdown, o "elo perdi-do" com os primatas. A farsa só foidesmascarada no início dos anos 50.

DORES E EXCESSO DE TRABALHO

AComissão de Justiça e Direitos Hu-manos da Câmara dos Deputados

analisou em dezembro as conseqüên-cias do ritmo intenso de trabalho naindústria avícola, que vem gerando umalegião de trabalhadores lesionados einválidos, vítimas da aceleração do rit-mo das nórias (as correntes que trans-portam o frango até os trabalhadoresna linha de produção). Segundo a Fo-

lha de S. Paulo, os parlamentares acom-panharam os depoimentos com lágri-mas nos olhos. “A situação é bem maisgrave do que se imaginava. Ficamosemocionados com o grau de cruelda-de dessa guerra econômica, que pro-duz um exército de mutilados”, dissea deputada Luci Choinacki (PT-SC).

As exportações do setor avícolavêm crescendo vertiginosamente — de879 milhões de dólares, em 2000, para 2bilhões e 862 milhões de dólares, atéoutubro de 2005. Para atender a essademanda, as empresas aceleram a pro-dução. Um dos problemas dos trabalha-dores é a síndrome do túnel do carpo,inflamação do nervo mediano que cau-sa dor aguda da mão ao ombro, incapa-citando a vítima e exigindo cirurgias.

MORTES E EXCESSO DE TRABALHO

As denúncias de que o excesso detrabalho pode estar por trás das

“mortes súbitas” de bóias-frias no in-terior de São Paulo ganharam forçaapós investigação da Relatoria Nacio-nal para o Direito Humano ao Traba-lho (RNDHT), da Plataforma Brasileirade Direitos Humanos Econômicos, So-ciais e Culturais — uma rede de orga-nizações da sociedade civil. Entre abrilde 2004 e outubro de 2005, pelo me-nos 10 trabalhadores morreram naregião canavieira de Ribeirão Pretode causas semelhantes: as péssimascondições no corte da cana e o pa-gamento proporcional, por metro decana colhido, favorecem mutilaçõese estão ligadas a paradas cardíacas ea acidentes cerebrais hemorrágicos.

A investigação, com ajuda do Mi-nistério Público do Trabalho, foi feitaapós denúncias da Pastoral do Migranteem Guariba (SP). Um dos casos é o dobóia-fria Valdecy Lima, 38 anos, quemorreu em 11/6/2005 de acidente ce-rebral hemorrágico, conta a Agência

Carta Maior. Lima derrubava em média12 toneladas de cana por mês, o quelhe rendia R$ 820. Ele se sentiu mal e,segundo sua família, foi diagnosticadauma enxaqueca. Como não conseguiuatestado médico, continuou indo paraa lavoura, até passar mal de novo. Mor-reu três dias depois no hospital.

EXPOSIÇÃO AO PÓ-DE-BROCA

Finalmente receberão cuidados in-tensivos as quase 400 famílias da

Cidade dos Meninos, no município deDuque de Caxias (RJ), que ficaramexpostas anos seguidos à substânciapó-de-broca — após o abandono, nosanos 80, de uma fábrica de pesticidasdo Ministério da Saúde. Um consór-cio de instituições (Secretaria esta-dual de Saúde, UFRJ e Anvisa, entreoutras), coordenado pelo InstitutoNacional do Câncer (Inca), foi mon-tado para acompanhar a saúde dessapopulação de agora em diante.

Quando a fábrica foi desativada,uma grande quantidade de pó-de-bro-ca (o inseticida BHC) ficou no local,e acabou usada pela população parapavimentar ruas e até na agricultura.No início dos anos 90, descobriu-seque o material estava sendo vendidonuma feira de Caxias. Retirado o ma-terial, uma empresa foi contratadapelo governo para fazer remediaçãoquímica, mas o problema acabou agra-vado pelas novas substâncias criadas.

Agora, os médicos do ProgramaSaúde da Família que atuam na áreaforam treinados pelo pesquisador Sér-gio Koifman, do Departamento deEpidemiologia e Métodos Quantitativosem Saúde da Ensp/Fiocruz. As famílias,quase 1.400 pessoas, se reuniram comKoifman em assembléia, e fizeram mui-tas perguntas. Uma delas foi sobre acontaminação: pessoas contaminadasnão contaminam outras pessoas, escla-receu. A contaminação vem do ambi-ente. Koifman apresentou os resulta-dos dos exames toxicológicos, quedeterminam a dosagem do pesticida noorganismo. “A população como um todoapresenta níveis elevados”, disse. “Eoutros agrotóxicos elevam esses níveis”.

O objetivo do acompanhamentoé a detecção precoce de doençasendócrinas, má-formação congênita,abortamento espontâneo, doençasneurológicas e possíveis tipos de cân-cer, disse Koifman.

SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

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1º SNCIIS

Guerreiros comunicai

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Wagner Vasconcelos

Reza a sabedoria popular que,para defendermos algo, pre-cisamos amá-lo. E para amá-lo, precisamos conhecê-lo. En-

tão, pergunta-se: a população conhe-ce o SUS em sua essência? A resposta,infelizmente, ainda é um retumbantenão. Assim, esse sistema tão ardua-mente conquistado está sempre naberlinda. Prova disso são as manche-tes distorcidas e superficiais em nos-sa imprensa diária. Ou a noção equi-

vocada das pessoas de que o siste-ma de saúde resume-se ao atendi-mento hospitalar. E por que isso acon-tece? Simples: porque a gente não secomunica. Foi o que ficou muito cla-ro no 1º Seminário Nacional de Co-municação, Informação e Informáticaem Saúde, promovido pelo ConselhoNacional de Saúde (CNS), nos dias 8e 9 de dezembro, no Hotel Nacio-nal, em Brasília. Políticas eficazes decomunicação, de uma forma geral,ainda são abstrações na realidade dasaúde pública brasileira.

do SUS ,-vos!

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No decorrer do próprio even-to viu-se como faz falta o debate dacomunicação em saúde. Boa partedas vezes, muitas discussões com fo-cos diversos ao que o evento pro-punha vinham à tona. A logomarcado SUS, por exemplo (Radis 35), foicitada poucas vezes como estraté-gia de comunicação. Mas também épreciso reconhecer que, se ainda

estamos engatinhando nocampo da comunicação, nãofalta disposição para os pri-meiros passos. Afinal, 429 pes-soas de cada um dos 26 esta-dos e do Distrito Federal

participaram do encontro, precedi-

do de etapas concorridas em todasas regiões do país.

MITOS DECADENTES

Antes de detalhar o evento, aRadis convida o leitor a refletir so-bre a importância da comunicaçãopara o setor saúde. Se comunicaçãoé troca de informações e sentidos,o estabelecimento de vínculos en-tre sujeitos diversos, comunicar emsaúde não é apenas montar e ofere-cer bancos de dados. Também nãoé somente veicular peças publicitá-rias ou apelar à mídia para que divul-gue o que há de bom no sistema —bem, é isso e muito mais.

Uma crítica muito comum entre osprofissionais de saúde é que os olhosda imprensa estão voltados para as fa-lhas do Sistema Único de Saúde. Comoa fiscalização das políticas públicas é umadas tarefas precípuas da imprensa, o malestaria na superficialidade do tratamen-to que a mídia dá às causas dos proble-mas, passando à população imagens em-baçadas do que seja o SUS e nãoatribuindo ao sistema a sua verdadeiradimensão e importância — como resul-tado de uma mobilização poucas vezesvista em nossa história. Dessa forma,fragilizam-se as tentativas de identifica-ção com o SUS por parte do povo.

Mas comunicação em saúde tam-bém não se limita ao esclarecimentoda imprensa. É, ainda, fazer os profis-sionais de saúde, os conselhos e oscidadãos interagirem. Aí, há sinais deesperança, que o evento reforçou aodestacar necessidades urgentes, comoo cadastramento nacional dos conse-lhos de saúde e a criação de comitêsde comunicação nesses conselhos.

UM VELHO COMPROMISSO

Não há sequer uma fórmula má-gica a ser adotada e, a partir dela,um mundo perfeito a ser conquista-do. A Resolução nº 333/2003 diz que a21ª competência dos conselhos desaúde é: “Estabelecer ações de in-formação, educação e comunicaçãoem saúde (...)”. Além dos conselhos,um número crescente de instituições

Radis Adverte

COMUNICAÇÃO ÉPREOCU PAÇÃO P RESENTEEM TODAS AS POLÍTICAS

PÚBLICAS

COMUNICAÇÃO EI NFORMAÇÃO SÃO VITAIS

PARA A CONSTRUÇÃO DO SUS ,

E A FALTA DE CONHECIMENTOIMPEDE O FORTALECIMENTO

DO SISTEMA

O controle socialdo SUS salva vidas!

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de saúde descobre o valor da infor-mação e da comunicação em saúde.

Entre os representantes das re-gionais que saudaram os participan-tes na abertura do seminário, o gaúchoValdir Donizete destacou esse esforçogeral. “Comunicação e informação sãovitais para a construção do SUS, e a fal-ta de conhecimento impede o fortale-cimento do sistema”, disse.

Prevendo que há muita luta pelafrente, o representante da RegiãoCentro-Oeste, Jonas Cavadas, afirmouque é chegado o momento “de rea-tarmos compromissos como o velhoSUS”, um sistema que, segundo ele,devido aos ataques que vem sofren-do, “nunca precisou tanto de nós”.

UM TRABALHO

“REVOLUCIONÁRIO”

O potiguar Francisco Júnior, re-presentante da Região Nordeste, quei-xou-se das falhas verificadas quando sãorequisitadas informações aos conselhos desaúde e o prejuízo que isso traz ao efetivocontrole social do SUS. Para ele, o semi-nário assumia um caráter de trabalho “re-volucionário” tocado pela coordenaçãode comunicação social do CNS. A outrarepresentante do Nordeste, Maria doCarmo da Silva, ressaltou a importância dasrádios comunitárias, principal meio de in-formação do trabalhador rural.

Muito aplaudida foi a represen-tante do Sudeste, Maria do Espírito

Santo (a conhecida Santinha), ao re-clamar da falta de comunicação en-tre as secretarias de Saúde e os con-selhos. Destacou a importância dainclusão digital e arrancou muitos ri-sos quando disse que ela mesma nãosai mais correndo de medo quandovê um computador pela frente.

A pesquisadora Áurea Maria daRocha Pitta, da Fundação OswaldoCruz, também representante do Gru-po de Trabalho de Comunicação e Saú-de da Associação Brasileira de Pós-Gra-duação em Saúde (Abrasco), ressaltouque a maior conquista na história denossa democracia é a liberdade de co-municar-se, e lembrou o empenho daFiocruz para que a comunicação tra-balhe em prol da pesquisa e do desen-volvimento científico e tecnológico.Geusa Dantas Lélis, coordenadora daComissão de Comunicação e Informa-ção em Saúde do CNS, disse que a pri-oridade no momento é a interlocuçãocontínua entre o CNS e os conselhosespalhados pelo país.

Representando o Ministério daSaúde, Márcia Rollemberg, coordena-dora-geral de Documentação e Infor-mação, disse que a comunicação é pre-ocupação presente em todas aspolíticas públicas na busca de maiorsintonia com as demandas dos conse-lhos. E não elidiu questões mais am-plas, afirmando que o Estado brasileiromerece reforma urgente, uma vez que

está repleto de vínculos precários noscontratos de trabalho.

CNS AO VIVO

Por fim, a secretária-executiva doConselho Nacional de Saúde, ElianeCruz, disse que o evento significavaum marco para os que atuam no con-trole social. Depois de informar quena véspera, 7 de dezembro, o CNS sereunira com o presidente da Câmarados Deputados, Aldo Rebelo, e ou-tros parlamentares, para pressionaro parlamento em favor da aprovaçãoda proposta de regulamentação daEC-29, o PLP 01/03, que fixa recur-sos para a saúde, afirmou que ocadastramento dos conselhos de saú-de é passo importante na política decomunicação. Dessa forma, ela dis-se, será possível fazer com que to-dos os informativos do CNS cheguema todos os cantos do Brasil. Deixoupara o fim uma notícia que fez a ale-gria da platéia: num prazo previstode seis meses, as reuniões do con-selho poderão ser transmitidas ao vivopor uma rede de internet.

Por sinal, o cadastro nacional estápraticamente pronto, com previsão deconclusão, segundo o CNS, na primeirasemana de fevereiro: faltavam apenas osestados de Alagoas, Ceará, Paraíba,Sergipe, Mato Grosso e São Paulo.

Na mesa-redonda “Pacto pelademocratização e qualidade da co-

A MAIOR CONQUISTANA HISTÓRIA DE NOSSA

DEMOCRACIA É A LIBERDADEDE COMUNICAÇÃO

A DISCUSSÃO SOBREI NFORMAÇÃO E I NFORMÁTICA

EM SAÚDE NO BRASIL ESTÁ SENDOPOLITICAMENTE REDUZIDA AO

IMPÉRIO DA TECNICIDADE ,

DO ESPECIALISTA

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municação e informação em saúde,”Áurea Pitta, bióloga de formação,doutora em Comunicação, disse queenveredou pelos caminhos da comu-nicação por “pura angústia”, justi-ficando: a “comunicação é o cerneda democracia”. Ela começou levan-tando questões sobre o que é pactoe o que é necessário informar. Res-saltou o aspecto da qualidade da in-formação, lembrando que ela deveter vínculos com a vida cotidiana, coma saúde e com as doenças do indiví-duo e da coletividade. Deve “fazersentido”, ensinou.

Disse que as informações em saú-de circulam não apenas em sistemasde informações governamentais enão-governamentais, como jornais, TV,rádios, internet etc., mas sobretudonas relações que estabelecemos atodo instante, como nas relações mé-dico-paciente, nas relações do cida-dão com os serviços públicos e priva-dos e, claro, nas relações pessoais.Repisou a afirmação de que não háinformações isentas. “Estão todas elascarregadas de subjetividades”.

Áurea lembrou que, no Brasil, hágrande dificuldade de acesso à pro-dução da informação, uma vez queesse poder está concentrado nasmãos dos poucos donos dos sistemasde comunicação. Divagando sobre oprocesso de comunicação, ela disseque comunicação é um sistema com-plexo, que faz com que as informa-ções que circulam em nosso cotidia-no façam sentido. Cada produtor dainformação, porém, tenta fazer valer

o seu modo de retratar o real.Destacou a teoria do semiólogoargentino Eliseo Verón, segun-do a qual “estamos diante deuma arena em que cada insti-tuição, cada grupo político dis-

puta o poder de dizer, mostrar, fazervaler, fazer ver, fazer crer”.

FORO DE SENTIDOS

Defendeu a necessidade de fa-zermos pactos, porque, segundo ela,considera-se que as informações emsaúde existentes não estão fazen-do o sentido que deveriam fazernas milhares de arenas, que são osconselhos de saúde do Brasil”. ParaÁurea, “pactuar é fazer ajustes,convencionar, contratar e transigir emnome da construção de consensos edeliberações”. E os conselhos de saú-de são os foros nos quais as informa-ções em saúde devem ganhar senti-do para os processos decisórios.

Lembrou o governo Collor paraexemplificar o uso de imagens públi-cas no reforço de imagens individu-

ais. O personagem “Zé Gotinha”, cri-ado para ilustrar as campanhas de va-cinação, chegou a aparecer andan-do de jet-ski e participando decorridas — atividades que marcavamos hábitos do ex-presidente. Áureacitou o cientista político Robert Dahl,para quem uma democracia plenadeve dar direito à comunicação. Porfim, lembrou que na era da velocida-de de informações em que vivemos,é necessário investirmos em parceri-as dos conselhos de saúde com as co-missões bipartite e tripartite de saú-de, bem como com o ConselhoNacional de Saúde, “para definirmosmodelagens tecnológicas de apoio aosconselhos e que lhes dêem visibilida-de, para que a população tenha co-nhecimento sobre o que os conse-lhos deliberarem”.

Em seguida, Illara Hämmerli Sozzide Moraes, da comissão de Comuni-cação e Informação do Conselho Na-cional de Saúde e da Abrasco, lem-brou o relatório da 12ª ConferênciaNacional de Saúde, que, entre ou-tros desafios, apontou o acesso uni-versal à saúde, o uso de ciência etecnologia para ação em saúde e tam-bém o pleno exercício de controlesocial sobre o sistema. Debruçou-sesobre o que classificou de “nós críti-cos” da área da saúde.

O primeiro deles seria a fragmen-tação dos sistemas de informaçãoque, segundo Illara, não se comuni-cam. Com isso, as ações governamen-tais na área também se tornam frag-mentadas. Outro nó é a própriaausência de uma cultura de informa-ção e também a dificuldade no pro-

Comunicação , uma

Oconvite a profissionais de co-municação não-especialistas

em saúde — desta vez, o jornalistaBernardo Kucinski — é uma saudá-vel prática dos organizadores deeventos do setor, como também seviu na Doze (Radis nº 18). Professorde Ética no Jornalismo da USP, gra-duado em Física, doutor em Comu-nicação, Kucinski lembrou em suafala os muitos fatores que influenci-am a saúde, como economia, sanea-mento, meio ambiente. Para ele, asaúde conseguiu formar um poderpopular como nenhum outro setore, exatamente por isso, “será a pri-meira vítima do neoliberalismo” — oque reforça a necessidade de umpacto “pela sobrevivência do SUS”.

Peixe fora d’água em saúde,mas experimentado analista dosmuitos sentidos inseridos na infor-mação, Kucinski conhece por den-tro as políticas públicas de comu-nicação: é assessor especial dopresidente Lula. Não poucas vezescondena a má qualidade da comu-nicação do governo em seu bole-tim Cartas críticas, que envia diari-amente ao presidente Lula após aleitura dos jornais.

Viraram livro (Ateliê, 2000) suasCartas ácidas, crítica matinal à co-bertura na grande imprensa da cam-panha de Lula à presidência em1998: quando enfrentava os repór-teres, Lula já sabia onde estavamas “cascas de banana” (expressão

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cesso de apropriação da informaçãopelos conselhos. Mais um complicadoré que a linguagem das informaçõesnão seria adequada à população enem aos conselhos de saúde, impe-dindo, assim, a sua compreensão.“Não podemos repassar gráficos etabelas e acharmos que estamos noscomunicando. Isso é apenas lavar asmãos”, disse, sob muitos aplausos.

O IMPÉRIO DA TECNICIDADE

A baixa participação dos con-selhos na tomada de decisões so-bre o setor saúde é outro nó a serdesatado, segundo Illara. Lembran-do a pressão exercida pelas empre-sas de informática que disputam o“mercado da saúde”, apontou osucateamento das instituições públi-cas de gestão da informação e

questão estratégicado candidato) jogadas pela mídia emseu caminho. A coluna prosseguiuem 2002 na Agência Carta Maior.

Em palestra sobre a comuni-cação do governo, Kucinski já dis-se que o Executivo não tem recur-sos nem tradição de políticaspúblicas de comunicação. Entre asfunções das assessorias de comu-nicação, para ele, estão a organi-zação do fluxo de notícias sobreas ações do governo, para manteros gestores informados, e o com-bate às distorções, voluntárias einvoluntárias, dessas notícias. Em en-trevista a estudantes de Jornalismo,ele afirmou certa vez que a maioriados assessores é muito jovem e nemsequer sabe redigir uma respostasatisfatória aos meios de comunica-ção que divulgam informações erra-das sobre as políticas públicas.

Em seu mais recente livro, Jor-nalismo na era virtual — Ensaios so-bre o colapso da razão ética (Fun-dação Perseu Abramo/Unesp, 2005),Kucinski diz que o jornalismo comovocação acabou: hoje, é opção pro-fissional como outra qualquer, nummercado em que vige mentalidadeindividualista cada vez mais distan-te da concepção idealista do jor-nalismo. Como também acabou a se-paração entre jornalismo eassessoria de imprensa e, para com-pletar, exacerbou-se a concentra-ção da produção e da propriedade

na área de comunicação, temos umcolapso da razão ética.

Em e-mail à Radis, Kucinski des-carta entretanto as generalizações.“O mundo da comunicação é muitoamplo e heterogêneo, e mesmo nagrande imprensa e na TV há muitotrabalho voltado ao interesse da so-ciedade”, diz. Para o jornalista, mes-mo os que defendem interessessetoriais, corporativos ou empresa-riais acham que estão defendendointeresses gerais da sociedade eagem em nome disso. “O problemahoje é que as classes subalternasestão sub-representadas na grandemídia, e os jornalistas jovens, nor-malmente os mais combativos e in-dependentes são, hoje, de umamentalidade conservadora, defensi-va e acanhada”, avalia. “Têm medode perder o emprego e não queremse complicar”.

Para a comunicação de gover-no Kucinski prega uma grande dosede formalismo, com “ritos diários”,incluindo coletivas, briefings etc.,porque governo é instituição enuma democracia de massa como anossa essa instituição se comunicacom a sociedade pela imprensa.“Nosso governo não estabeleceuesses ritos, o que é um erro”, afir-ma. Também não conferiu lugar es-tratégico à comunicação em seuplanejamento. “Hoje, corre atrásdo prejuízo.” (M. C.)

informática como uma estratégia parajustificar privatizações. Disse que asTecnologias de Informação em Saúde(TIS), que abrangem informação einformática, perpassam áreas comociências sociais, humanas e políticas,ciências da saúde, computação e te-lecomunicações. O maior desafio paraessa área, segundo Illara, será des-cobrir como pode contribuir para oprocesso democrático.

“A discussão sobre informação einformática em saúde no Brasil estásendo politicamente reduzida ao im-pério da tecnicidade, do especialis-ta”, disse Illara: cada vez mais essessistemas estão ficando nas mãos depoucos. Afirmou que a inclusão só serealiza quando a informação e suastecnologias são aprovadas pelo cida-dão, contribuindo para o aumento de

sua capacidade de interação. Voltan-do um pouco ao que dissera ÁureaPitta, Illara afirmou que “a informaçãoem saúde é um espaço estratégico deluta, é um lugar de relações entre di-ferentes interesses em disputa peladirecionalidade das políticas públicas:espaço de exercício de uma de de-terminada política de governo”.

Os desafios para os cidadãos eos conselhos de saúde, portanto,seriam a conquista do direito de am-plo acesso às informações, da apro-priação de seus significados e da par-ticipação em suas definições. Foimuito aplaudida ao encerrar sua fala,dizendo que devemos “fortalecer opacto ético da solidariedade na prá-tica da atenção à saúde e, ao mes-mo tempo, restaurar o encantamen-to e a esperança no SUS”.

“OLHAM MAS NÃO VÊEM”Maria Leda Resende Dantas, tam-

bém do Conselho Nacional de Saúde,destacou a importância da comuni-cação para o sistema de saúde, masapontou a “comunicação não-verbal”como ferramenta muito importantena consolidação do SUS. Em fala pos-terior à do jornalista BernardoKucinski (ver box), na mesa que de-bateu a apresentação de Áurea Pittae Illara Moraes, ela disse: “Há profis-sionais que atendem a população queolham as pessoas, mas não as vêem.Outros nem sequer olham”.

No período da tarde, o espaçofoi aberto, primeiramente, à apre-sentação de experiências regionaisem comunicação e informa-ção para o exercício do con-trole social. Muitas envereda-ram por trilhas variadas, mas,de uma forma geral, os parti-cipantes exaltaram a importân-cia da comunicação e ressaltaram aurgência de ações coordenadas deinformação e capacitação. O repre-sentante da Região Sul, SilvestreCachanoski, e a delegada da RegiãoCentro-Oeste, Maria Luíza OrtizNunes da Cunha, listaram as ativida-des desenvolvidas em suas regionais,como boletins informativos, e medi-das que precisam ser adotadas, en-tre as quais os contatos diretos doCNS com todos os conselhos, quali-ficação em comunicação e o uso delinguagem mais clara.

UM BELO HORIZONTE

Quem acertou na mosca foi opessoal do Conselho Municipal deBelo Horizonte (CMSBH). Ao exibir otrabalho da entidade, a fala da jorna-lista Michelle de Toledo Guirlanda,

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que toca a comunicação social doconselho, soou como música. Ela des-tacou a importância do uso dalogomarca do SUS — presente na capado ConSaúde, boletim informativo doCMSBH — devidamente distribuído en-tre os participantes do seminário.Disse que o conselho de lá realiza duasreuniões mensais, que contam com apresença de 100 pessoas, em média,e — muito importante! — com a co-bertura da imprensa.

Ela enumerou, entre os ob-jetivos da área de comunicaçãodo conselho, o apoio perma-

nente às ações da entidade, a divul-gação da importância do controle so-cial, a mobilização da opinião públicana defesa do SUS. Para isso, a áreatem estratégias internas e externas(que estão expostas na página 2). Essaatuação tornou o CMSBH referênciapara a imprensa local.

Em seguida, a coordenadora deComunicação e Informação do CNS,Alessandra Ximenes da Silva, apresen-tou dados sobre o Cadastro Nacionaldos Conselhos de Saúde, estratégiadiscutida na 12ª Conferência Nacio-nal de Saúde. Dados que variam dasinformações sobre a estrutura físicados conselhos (como quantidade detelefones) até o perfil etário e degênero dos conselheiros.

A manhã do dia seguinte foi des-tinada ao trabalho dos grupos, para aelaboração de propostas aos dois blo-cos de perguntas apresentados pelaorganização do evento. No primeirobloco, as perguntas se centraram nocomo e no que informar, e tambémnas responsabilidades das esferas degoverno na garantia da democratiza-ção e da qualidade da comunicação,informação e informática em saúde.No segundo bloco, perguntava-se,por exemplo, que contribuição o tra-balhador da área poderia dar a essademocratização e como uma Confe-rência Nacional de Informação, Co-municação e Informática em Saúdepode contribuir para este processo.

A apresentação dos trabalhos dosgrupos, no turno da tarde, foi tumul-

tuada. Não apenas pela grande quan-tidade de pessoas que insistiam emconversar em voz alta enquanto oscolegas se apresentavam, mas tambémdevido a propostas que geraram mui-tas críticas. Enquanto alguns propu-nham um debate com o Ministério daSaúde sobre as campanhas veiculadasna mídia, assunto sempre polêmico,houve quem defendesse a “quebra domonopólio dos meios de comunica-ção no país”, discussão que cada vezmais merece espaço próprio nos de-bates sobre a democracia que temose a que queremos.

O aspecto mais importante des-te seminário, contudo, foi a própriainiciativa de pôr no centro do palcoeste elemento fundamental no de-senvolvimento do SUS — a comuni-cação. Para construir esse processoé preciso, mais do que nunca, botara mão na massa.

MAIS INFORMAÇÕESO documento que subsidiou as edi-ções regionais do Seminário de Co-municação, Informação e Informáticaem Saúde, de 88 páginas, preparadopela Área Técnica do Conselho Na-cional de Saúde, foi publicado pelaEditora do Ministério da Saúde.PEDIDOSTel. (61) 3233-2020/1774/9353Fax (61) 3233-9558E-mail [email protected] BAIXARhttp://dtr2001.saude.gov.br/editora/produtos/livros/pdf/05_0717_M.pdf

As ilustrações

desta matéria são reproduções

de desenhos de NESTOR REDONDO,

IRV NOVICK, fred carrillo, jim aparo,

noly panaligan, ERNIE CHUA e

john f. rosenberger.

U M AARENA EM QUE

CADA I NSTITUIÇÃO ,

CADA GRU PO POLÍTICODISPUTA O PODER DE

DIZER , MOSTRAR , FAZERVALER , FAZER

VER , FAZERCRER

ESTE SEMINÁRIOÉ UM MARCO PARA OS

QUE ATUAM NO CONTROLESOCIAL

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Uma proposta para ontem

Marinilda Carvalho

Ajornalista Angélica Baptista Silva,do Canal Saúde/Fiocruz, terá reunião

neste mês com o Conselho Nacional deSaúde para falar do tema central de suadissertação, “Multimídia e conectividadeentre os conselhos de saúde: a plenáriavirtual permanente”, pela qual obteve em2005 o título de mestre em Gestão da In-formação e da Comunicação em Saúdena Ensp/Fiocruz. Em novembro, seu tra-balho ficou entre os 15 melhores con-correntes ao Prêmio Sergio Arouca deGestão Participativa do ano passado, re-cebendo menção honrosa, e chamouatenção da Secretaria de Saúde do Esta-do do Rio, que adotou a criação da Ple-nária Virtual Permanente como uma dasprioridades para 2006. A secretaria lan-çou no fim do ano o Programa de Inclu-são Digital das Secretarias e Conselhos Mu-nicipais de Saúde do Estado do Rio, queAngélica está coordenando.

Responsável pela área de Inova-ções Tecnológicas do Canal Saúde,Angélica propôs no trabalho a forma-ção de uma rede de conexões dosconselhos de saúde usando justamen-te as tecnologias da informação e dacomunicação — apesar das recomen-dações das conferências de saúde ede outros encontros de conselheiros,esta é uma idéia bem distante da reali-dade brasileira. A pesquisadora proje-tou uma ferramenta-piloto (http://plenaria.canalsaude.fiocruz.br — paraconselheiros com senha) para promo-ver a interlocução entre os conselhosque, concebida inicialmente para ainternet, é capaz, no futuro, de migrarpara um sistema aberto de TV digital.

Essa ferramenta permite que os con-selheiros do Acre, por exemplo, conver-sem ao vivo com os colegas do Rio de Ja-

neiro numa sala de reunião virtual, criadano computador, e troquem informaçõesde seu interesse. Para quem usa a todomomento programas de conversação emtempo real, pode não parecer muito. Masé bom lembrar que 68% dos brasileiros nun-ca acessaram a internet e, pior, 55% nuncausaram um computador, segundo pesquisado Comitê Gestor da Internet. “Dos 92 mu-nicípios do Rio de Janeiro, só cinco têmsite”, resume Angélica a dificuldade. “Ficoaté numa situação desconfortável, porqueestou entre o básico e o estado-da-arteda comunicação entre os conselhos”.

A plenária virtual permanente seriaa última fase do programa que Angélicavem coordenando no RJ. O primeiro é acapacitação do conselheiro. “Vamos pe-gar um computador, abrir, mostrar o quehá lá dentro, desmistificar a caixa mági-ca”, diz ela. “Depois, conecta na internete deixa mexer, cria um site, dá e-mail”.Isso feito, é hora de selecionar uma pes-soa que atualize a página. “Aí já pode en-trar na plenária virtual: o tempo mínimo éum ano, mas o programa é permanente,para formarmos uma cultura de uso”.

Isso é para ontem, afirma Angélica.No seminário de Brasília, ela colaboroucom o grupo que consolidou as propos-tas dos encontros regionais, e consta-tou, como “jornalista, pesquisadora, ci-dadã e artífice do gestor” (ou seja, quecria ferramentas de gestão), que essadiscussão não está projetada ainda en-tre os conselheiros. “Eles sabem da ne-cessidade, mas vêem de uma maneiraincipiente”, diz. “Os estados ficavamcompetindo para ver quem tinha maismunicípios cadastrados, sem questionaro papel da informação no contexto polí-tico da atuação deles” — o de conectaros cidadãos aos conselhos de saúde.

“O cidadão não conhece os con-selhos, e aos conselhos não basta ter ainformação centralizada num cadastro,

é preciso que se forme uma rede, euma rede de mão dupla”, convoca An-gélica. “Não basta cadastrar, tem quetrocar, capacitar, disponibilizar bibliote-cas virtuais, computadores”. Segundoela, o Estado está solicitando uma in-formação ao conselheiro e tem que daralgo em troca: o cadastro sozinho nãoresolve a questão da necessidade ur-gente da interlocução dos conselhos.

Inclusão digital, por sua vez, é mui-to mais do que dar computadores aosconselhos, como outros programas já fi-zeram, sem resultados. É criar a tal cul-tura de uso da informática e da internet.“E isso tinha que ter sido feito ontem”,repete. “As instituições financeiras estãona internet há anos porque perceberama vantagem de fazer circular o capital,mas as áreas sociais ainda não se apro-priaram deste ferramental, e isto se re-flete no controle social”. Segundo apesquisadora, o seminário nem sequerfalou de software livre: um grupo che-gou a pedir “computadores comWindows XP”. A plenária reagiu e apro-vou a adoção do software livre.

Na opinião de Angélica, dois pon-tos-chave resumem o que se precisapriorizar: a materialização da rede públi-ca nacional e a inclusão digital. O con-ceito de rede se relaciona à comunica-ção, o de inclusão, à informação e àinformática. “Os gestores já estão em redenos vários conselhos, Conass, Conasemsetc., os conselheiros é que precisam cor-rer atrás do prejuízo”.

Missão nada fácil, se a maio-ria dos conselhos nem sequermantém o hábito de reunir dadoslocais de saúde, como faz a Pas-toral da Criança (Radis 21). “Faltaprática de network (rede), que as ONGstêm há muito tempo”, diz Angélica. A Pas-toral da Criança, por exemplo, apoiou-se na divulgação de uma idéia muito sim-ples: o soro caseiro salva vidas. “Por quenão fazemos isso com o controle soci-al?”, pergunta a pesquisadora. “Porqueisso não está claro para as pessoas, con-trole social é uma figura incompreendida:uns acham que é apenas fiscalização, ou-tros que é manipulação.”

Idéias para inclusão e networking nãofaltam (telefone 0800, blogs para conse-lheiros, rede de observatórios de gestão,perfil dos conselheiros, cadastro dos con-selhos) — como também não se ignoramos riscos de quebra de privacidade queenvolvem algumas destas questões. “Sãovárias iniciativas que usam a internet eque deveriam ser unificadas”, recomen-da Angélica. “Isso é democratizar.”

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ENTREVISTA

Eliane Cruz

“Temos que falar com o usuárioe com o trabalhador do SUS”

Secretária-executiva do Conse-lho Nacional de Saúde, a assis-tente social Eliane Cruz apostanuma permanente troca de in-

formações entre os conselhos de todoo Brasil como primeiro passo para aconstrução de uma política eficaz decomunicação em saúde. Para ela, pormuito tempo as atenções do setor es-tiveram voltadas para a grande mídia.Hoje, isso mudou. “Nosso objetivonão é aparecer no Jornal Nacional”,diz Eliane. “Temos que falar é com ousuário do SUS, com o trabalhador”.

Por que a comunicação é tão impor-tante para a saúde?

A troca das informações existen-tes é muito importante. Há váriosfóruns e políticas sobre saúde no Bra-sil, e a única forma de as pessoascompreenderem o que está aconte-cendo é por meio de uma política decomunicação permanente.

Ainda há poucos profissionais de co-municação trabalhando em saúde. Háplanos de agregar mais especialistaspara ajudar na formulação de políti-cas de comunicação em saúde?

A Secretaria Executiva do CNSvem pensando muito, desde 2003, napolítica de comunicação. As propos-tas sempre começavam pela grandemídia, como atingir a grande mídia.Depois de muita discussão, vimos queo caminho é o inverso. Há conselhosem quase todos os municípios, emmédia com 20 conselheiros. É umexército de pessoas. A estratégia éconstruir mecanismos de contatopermanente entre os conselhos paratroca de informações. Chegar ao pro-fissional de comunicação é um passoseguinte.

E como seria essa estrutura?Pelo que pesquisamos, os con-

selhos não têm essa estrutura pen-sada. Quando se pensa num jornalis-ta pensa-se de novo na grande mídia,

e não no usuário do SUS, no traba-lhador, em como divulgar as deci-sões do conselho. Então, adotamosa idéia do cadastro nacional deconselhos, dos seminários regionaisde comunicação. Com o pacto pelademocratização da comunicação,um segundo momento será o depensar com os profissionais de co-municação como é que se dialogacom a sociedade.

Falta compreensão do SUS por par-te da sociedade?

O SUS é distorcido pela mídia,porque a visão que a mídia tem doSUS é ainda a do Inamps, da carteiraassinada. Por parte dos gestores, avisão é a do hospital público. O quecria dificuldades para as pessoas: senão há serviços básicos, elas vão aohospital, um espaço tenso, difícil. Umgrande acidente ou uma dor de ca-beça muito forte, seja o que for ésempre a mesma fila, e as pessoasnunca vão entender, e vêem nisso oSUS. Ao não se desenvolver um tra-balho educativo, a visão dos servi-ços de saúde deixa as pessoas muitodesamparadas. Quem precisa de umserviço muito complexo, como umtransplante, vai conseguir no SUS.Um serviço de atenção primária,como vacina, vai conseguir no SUS.Mas consulta com especialista, exa-mes, ainda que os mais simples, issoainda está muito fragilizado. Porcausa dessa falha os planos de saú-de ganham espaço.

Que ajuda um evento como o semi-nário pode trazer?

Esse tipo de evento é ótimo. Oque ninguém pode ter medo é deouvir críticas ou sugestões. Conse-guimos proporcionar um espaço noqual as pessoas puderam falar o quequiseram, o que consideram proble-mas, que é a melhor estratégia. Oimportante foi reunir pessoas detodos os estados, uma vitóriaincomum numa atividade de fim de

ano. É um incentivo: a partir das ex-periências que todos viram aqui, po-dem desenvolver suas políticas de co-municação. E vão perceber que têmque falar é com o usuário do SUS,com o trabalhador. Esse sonho deaparecer no Jornal Nacional não éexatamente o objetivo de quem tra-balha por um pacto pela democra-cia da comunicação, para o contro-le social. O controle social não éalgo que a sociedade brasileira assu-ma como seu, há vitórias e derrotas.É uma luta que ainda está para serganha na sociedade.

O uso relativamente limitado dalogomarca do SUS é um equívoco decomunicação? Há projetos para seusar de fato essa logomarca?

Cada governo tem instruçõesnormativas sobre como deve ser di-vulgado seu material, como aslogomarcas. Na caso da marca do SUS,é uma decisão do CNS e dos conse-lhos que ela esteja presente em to-dos os documentos, sejam eles dogoverno federal, dos estaduais oumunicipais, bem como a logomarcados respectivos conselhos de saúde.Houve um tempo em que o materialnão tinha as logomarcas. Mas agorajá têm. Isso é importante, porque setodos colocarem ela se estabelececomo logomarca nacional. (W. V.)

C.P.

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FARMACOVIGILÂNCIA

Seu farmacêuticoé todo ouvidos

AAgência Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa), os cen-tros de Vigilância Sanitária eos conselhos regionais de

Farmácia de três estados, São Paulo,Santa Catarina e Pará, estão unidosdesde 2005 em torno de um projetoinédito: o das Farmácias Notificadoras.A idéia central é que sejam regis-trados os casos suspeitos deefeitos adversos dos remédios,num estímulo às ações de saú-de em farmácias e drogarias.Que, afinal, embora brotemcomo capim em toda parte(Radis nº 29), não são um co-mércio como outro qualquer —são estabelecimentos de saúde,e de grande utilidade pública.

O programa, que transfor-ma a farmácia num elo entrea população e as autoridadesde saúde, promove o uso ra-cional dos remédios e almejaconsolidar o sistema nacionalde farmacovigilância. Nessas far-mácias o paciente pode relatarqualquer problema que sentirenquanto estiver usando um me-dicamento, com a certeza deque sua queixa será levada adi-ante com rapidez.

AVANÇO MAIOROs estabelecimentos parti-

cipantes recebem o selo de “Far-mácia Notificadora”. Para aderirao projeto, a farmácia deve cumpriras várias exigências da Vigilância Sani-tária e do Conselho de Farmácia. Aprincipal delas: o farmacêutico preci-sa permanecer no estabelecimento aolongo de todo o horário de funciona-mento. Este profissional é que vai re-ceber as queixas dos usuários de me-dicamentos, e notificar a ocorrênciaao Centro Nacional de Monitorizaçãode Medicamentos (CNMM).

São Paulo foi o primeiro estadoa aderir, e entrou na segunda fasedo projeto em outubro. De suas 14mil farmácias, 75 já ganharam o selo,no interior e na capital. Nos seis me-ses da primeira fase de participa-ção, 79% das farmácias contribuíramcom 135 notificações, sendo 32% re-lativas à suspeita de reações adver-sas a medicamentos — 29% delas con-

sideradas graves — e 68% relaciona-das a queixas técnicas.

Por enquanto, o avanço maior éo de Santa Catarina. Em poucos me-ses, 728 farmacêuticos estavam ca-pacitados no estado, que tem 3.244farmácias, e 143 delas receberamo selo de Farmácia Notificadora.Pelo menos um município em cadamicrorregião tem um destes estabe-lecimentos, informou à Radis a far-

macêutica Marize Lippel, supervisorada Divisão de Vigilância em Produ-tos Pós-Comercializados da Vigilân-cia Sanitária Estadual.

Para Marize, a colaboração deprofissionais de saúde na vigilânciado desempenho, da efetividade e dasegurança dos produtos de saúde éde fundamental importância para oestudo da farmacovigilância. “Os

eventos adversos podem serrastreados, analisados e agrupa-dos para alimentar um único sis-tema de informação, tornandopossível a geração de um bancode dados cujas informações téc-nicas subsidiarão pesquisas epermitirão que se formulem no-vas normas regulatórias”, disse.

Marize acredita tambémque a capacitação em farmaco-vigilância torna o farmacêuti-co consciente do exercícioprofissional direcionado aouso racional de medicamentocom segurança e eficácia. Umdos grandes problemas dos ór-gãos de fiscalização, no coti-diano de suas ações, é justa-mente a falta do farmacêuticoresponsável técnico pelo es-tabelecimento no horário defuncionamento de uma farmá-cia. “O papel do farmacêuti-co é muito mais que a simplesdispensação do medicamento,mas principalmente a orienta-ção, a informação, o acompa-

nhamento ao paciente durante aprática da assistência farmacêuti-ca”, disse a supervisora. “É ele quegarante ao paciente o acesso aomedicamento de forma segura”, co-laborando para a adesão ao trata-mento e sua eficácia. (M. C.)Mais informaçõesAnvisaTel. (61) 3448-1000Site www.anvisa.gov.br

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EVENTOS

1ª MOSTRA NACIONAL DE V IVÊNCIAS

INOVADORAS DE GESTÃO NO SUS

Estão abertas até 15 de abril asinscrições para a 1ª Expogest — Mos-

tra Nacional de Vivências Inovadoras deGestão no SUS, promovida pelo Depar-tamento de Apoio à Descentralização(DAD) do Ministério da Saúde em parce-ria com o Conselho Nacional de Secre-tários Municipais de Saúde (Conasems)e o Conselho Nacional de Secretáriosde Saúde (Conass). O objetivo do even-to é divulgar e premiar as experiênciasde gestão que representem esforços demudança e inovação, contribuindo paraa consolidação do SUS.Data 4 a 7 de junhoLocal Brasília, DFMais informaçõesTel. DAD (61) 315-2649Site http://dtr2002.saude.gov.br/expogest/

FÓRUM MERCOSUL SOBRE INTEGRAÇÃO

REGIONAL E SISTEMAS DE SAÚDE

Promovido pela Rede de Investiga-ção em Sistemas e Serviços de Saú-

de no Cone Sul (RedSalud), em parceriacom a Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e o Minis-tério da Saúde, o evento pretende ana-lisar possíveis impactos sobre as políticasde saúde e no acesso aos serviços desaúde. Reserva espaço também para dis-cutir estratégias que apóiem a formula-ção de políticas públicas específicasdirecionadas para a garantia da eqüida-de e que se antecipem a repercussõesindesejáveis da integração regional en-tre países sobre os sistemas nacionaisde saúde. As inscrições podem ser fei-tas pelo site www.ensp.fiocruz.br/par-cerias/redsalud.Data 22 a 24 de marçoLocal Rio de Janeiro, RJMais informaçõesRedSaludTel. (21) 2260-8243 / 3882-9184E-mail [email protected]

NA INTERNET

INFLUENZA AVIÁRIA

AOrganização Pan-Americana deSaúde (Opas) oferece em seu site

informações sobre a influenza aviária,

popularmente conhecida como gripedo frango ou aviária. O leitor encon-tra as 10 coisas que precisa saber so-bre uma eventual pandemia deinfluenza, novas questões sobre a do-ença, os números no mundo e quaisos testes recomendados para a iden-tificação do vírus da gripe do frango,cujo foco principal está na China.Site http://www.opas.org.br/influenza/

PUBLICAÇÕES

V IGILÂNCIA SANITÁRIA

À sua saúde —A Vigilância Sa-nitária na His-tória do Brasil,de EduardoBueno, contaa evolução daSaúde Públicano Brasil e reú-ne dados e fatos importantes extraídosdo contexto social e político da históriado país, como as medidas sanitárias inova-doras de Oswaldo Cruz no combate à fe-bre amarela. O livro, lançado pela EditoraAnvisa, é fruto de extensa pesquisa do-cumental feita pelo autor nas bibliotecasda Fiocruz, Nacional e de arquivos doMinistério da Saúde, e de depoimentosde personagens que participaram da his-tória contemporânea da Vigilância Sani-tária e da Saúde Pública no país, como oex-ministro da Saúde José Serra e os mé-dicos-sanitaristas Gonzalo Vecina Neto eCláudio Maierovitch Pessanha Henriques,ambos ex-presidentes da Anvisa.

EDUCAÇÃO E SAÚDE

Iniciação científicana educação pro-fissional em saúde— articulando tra-balho, ciência ecultura, organizadopelos pesquisado-res Isabel Brasil,Luiz Gustavo Tomáse Márcio Rolo, da Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), apresenta oito artigos base-ados em monografias de alunos docurso técnico em saúde da escola.Publicado pela EPSJV/Fiocruz, o livrotrata de diversas áreas científicas, dasociologia à genética. Segundo os au-tores, a publicação é um “desenho co-

SERVIÇO

Editora AnvisaSite www.anvisa.gov.br/institucional/editora/index.htm

Editora FiocruzAv. Brasil, 4.036, sala 112,Manguinhos, Rio de Janeiro, RJCep 21040-361Tel. (21) 3882-9039 e 3882-9006E-mail [email protected] www.fiocruz.b/editora

EPSJV/FiocruzAv. Brasil, 4.036, Sala 114,Manguinhos, Rio de Janeiro, RJCEP 21040-361Tel. (21) 3865-9850E-mail [email protected] www.revista.epsjv.fiocruz.br

erente de uma experiência educaci-onal — quiçá única no Brasil — de ini-ciação científica num curso de edu-cação profissional em saúde”.

Trabalho, Educaçãoe Saúde, volume 3,número 2 enfatiza aexpansão do capita-lismo global e seusdesdobramentos naeducação e na saú-de. Publicada pelaEPSJV/Fiocruz, aedição traz como destaque uma en-trevista com o professor de CiênciasPolíticas Emir Sader, da Universidadede São Paulo, sobre o esgotamento te-órico do neoliberalismo.

Textos de apoio emPolíticas de Saúdediscute temas geraisno marco do surgi-mento do SUS e abor-da questões sobreassistência à saúde epolíticas de gestãodas instituições hos-pitalares e do trabalho em saúde, polí-ticas de informação em saúde e de for-mação dos trabalhadores do setor.Editada pela EPSJV/Fiocruz, a publica-ção integra a série Trabalho e Forma-ção em Saúde, lançada em 1998, comapoio do Programa Ampliado de Livrosde Textos Materiais de Instrução(Paltex), da Opas. Outros seis volumesintegram essa coleção.

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PÓS-TUDO

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Luiz Weis *

Burocraticamente ou quase, a Fo-lha, o Estado e o Valor deram hoje

[12/1/06] o press-release da organi-zação americana Serviço Internacio-nal para a Aquisição de Aplicações emAgrobiotecnologia (Isaaa, na sigla eminglês) com os mais recentes núme-ros sobre o cultivo de transgênicosno mundo.

A Folha e o Estado destacaram jáno título que o Brasil passou de quar-to para terceiro maior produtor deplantas geneticamente modificadas(de 5 milhões de hectares semeadosem 2004 para 9,4 milhões no ano pas-sado). É um aumento de 88%, confor-me ressaltou o Valor. As maiores cul-turas transgênicas estão nos EstadosUnidos e na Argentina.

Transgênicos:a novidade ignorada

Mas, enquanto o Estado abre asua matéria informando que a áreaplantada com variedades transgênicas— nos 21 países que praticam a agri-cultura de base biotecnológica — au-mentou 11%, o Valor preferiu chamara atenção, desde o título, para o fatode que esse aumento indica umadesaceleração no setor. Em 2004, aexpansão tinha sido de 20%.

As lavouras transgênicas co-brem 3 milhões de hectares, ou 3%da agricultura mundial. Aderiram aostransgênicos em 2005 a França, o Irã,Portugal e a República Checa.

O relatório do Isaaa é o tipo deinformação que cai no colo das reda-ções, cada uma trabalhando menos oumais a matéria-prima recebida. O queos jornais não fizeram, aproveitandoo gancho, foi dar uma passeada pelainternet para ver se seria possível en-riquecer a história com eventuais ou-tras novidades no pedaço.

Tivessem tomado essa provi-dência elementar, teriam um prato

cheio a oferecer ao público pagan-te, partindo do fato de que o úni-co transgênico legalmente plantadono Brasil — e que teve o tal aumentode 88% — é a soja.

Isso porque acaba de se divul-gar o resultado perturbador de umestudo conduzido sobre efeitos dasoja GM pela doutora Erina Erma-kova, da Academia Russa de Ciênci-as. O caso está contado no sitewww.rssl.com, especializado emquestões alimentares.

O estudo verificou que ratos re-cém-nascidos de mães alimentadas comsoja geneticamente modificada estavamcinco vezes mais propensos a morrernas três primeiras semanas de vida doque os ratos cujas mães consumiramsoja convencional. Além disso, 36% dosprimeiros nasceram pesando muitomenos do que os outros, entre os quaisapenas 6% estavam abaixo do peso.

O site que deu a notícia ontem[11/1/06] acrescenta que a pesqui-sa faz parte de uma série de investi-gações recentes cujas descobertasrevivem as preocupações com a se-gurança dos alimentos GM.

No domingo passado [8/1/06],por exemplo, o Independent deLondres informou que, segundoum estudo italiano, a soja GM afe-ta o fígado e o pâncreas de ratos.Informou também que dados da pró-pria Monsanto, a megaempresa de se-mentes transgênicas, revelam queratos submetidos a uma dieta rica emmilho GM têm rins menores e maishemácias (células de sangue) do queos outros — indícios de dano ao seusistema imunológico.

Comentando a pesquisa russa, aMonsanto retrucou que “a maioriaesmagadora dos estudos científicosindependentes, publicados e avalia-dos por outros cientistas, demons-tra que a soja transgênica RoundupReady pode ser consumida com se-gurança por ratos e por todas as de-mais espécies animais estudadas”.

Quando é que a mídia nacionalvai abocanhar o assunto?

* Jornalista

(http:observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs/blogs.asp?id_blog=3)

C.P.

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