Ravindra Svarupa dasa - Quando Deus Advém

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    Quando Deus Advm

    When God Descends

    Sua Graa Ravindra Svarupa dasa

    Por todo o mundo, encontramos o tipo de literatura que chamamos de escritura. Essas obrascontam-nos um tipo particular de histria. Elas contam aquelas ocasies extraordinrias em qdivino penetrou o nosso mundo, e os nossos pequenos espao e tempo abrigaram, por um tempo,o eterno e infinito. As testemunhas dessas incurses, completamente mudadas pelo que vivem-se compelidas a derramar sobre os ouvidos indiferentes e descrentes do mundo sunarrativas singulares e poderosas. E simplesmente porque essas testemunhas foram tomudadas, outros ouviram e tambm mudaram.A partir desses relatos escriturais, vemos que o divino advm de vrias maneiras. No Pentateucpor exemplo, Deus entremete-Se em nosso mundo basicamente por meio de atos maravilhosos de

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    poder divino: Ele infesta os egpcios com sapos e moscas, piolhos e gafanhotos, transforma seu rioem sangue, e ceifa a vida de seus primognitos. Ele liberta Seu povo abrindo o Mar Vermapresenta diante deles uma nuvem de fumaa durante o dia e um pilar de fogo durante a noitecomo faris a guiarem-nos atravs do deserto.Ocasionalmente, Deus coloca-Se especialmente perto, embora permanea, mesmo ento, comuma presena estupenda e incompreensvel bem atrs do vu fenomnico. Sua proximidade facom que a natureza ferva e exploda; parece que, a qualquer momento, Ele possivelmente

    estourar atravs da fina cortina da natureza e emergir inteiramente sobre o palco mas Elnunca o faz. Quando Deus pela primeira vez colocou-Se perante Moiss, um arbusto qfuriosamente e no consumido, enquanto que Moiss temerosamente evita fixar seu olhar sobreo mesmo. Quando o Senhor advm sobre o topo do Monte Sinai, a ladeira treme, e uma dennuvem, matizada de fogo, perturba e troveja em torno do pico oculto. Moiss some para dentnuvem a fim de parlamentar demoradamente com Deus. Em seguida, ele relata ter tido apenasmais fugidio relance das costas do Senhor indo embora, sem jamais ter visto Seu rosto.Outro celebrado ingresso do divino em nosso mundo ainda mais severamente restrito: Maomfilho de Abdullah, meditando durante o calor do Ramad no monte Hira, fora de Meca, ouvcomando de uma voz magnfica: "L!". "No sei ler", vem sua aterrorizada resposta. Novamen

    "L!". A mesma resposta mais uma vez. A voz, ainda mais terrvel, comanda uma terceira vez"L!". Maom responde: "O que devo ler?". A voz diz:

    L: Em nome do teu Senhor que criou. Criou o homem a partir de umcogulo. L: teu Senhor o mais bondoso, aquele que ensinou pelo censinou o homem aquilo que ele no sabia.

    Desta maneira, a primeira de muitas de tais "leituras" torna-se manifesta na Terra. Juntasconstituem o Qur'an (Coro), entregue a Maom, o mensageiro de Deus, por Gabriel, o emissride Deus, que permanecia suspenso entre o cu e a terra, que abordou e chegou to perto quantoa medida de dois arcos, ou at mesmo mais perto. Seus encontros formam o conduto atravs

    qual o incriado Qur'an, preservado eternamente na tbua do cu, advm Terra. Neste casoDeus no entra em nosso reino mundano em pessoa, mas vem na forma de Sua paltranscendental que torna manifesta a Sua vontade.Aqui, a palavra de Deus advm ao mundo. O Novo Testamento, entretanto, fala sobre um advenem que "a Palavra se fez carne". A natureza divina se corporifica na pessoa humana de JesuCristo, o Filho de Deus. Jesus declara: "Eu desci do cu, no para fazer a minha vontade, mvontade dAquele que me enviou", e confessa: "De maneira autnoma, nada posso fazer". Demodo, Jesus revela-se um servo eterno de Deus, dizendo: "meu Pai maior do que eu". Porporque rendido a Deus sem reservas, Deus torna-Se manifesto nele para ns: As palavras queeu vos digo no as digo eu mesmo, mas o Pai, que est em mim, quem faz as obras. Acredita

    em mim que eu estou no Pai e que o Pai est em mim. A pessoa de Jesus, por conseguinte, ,em si mesma, a revelao de Deus: Aquele que viu a mim viu o Pai, pois eu e o Pai somos um.Porque diferentes escrituras reportam adventos divinos to vastamente diferentes e conduzem-nos rendio a Deus sob diferentes nomes - Jeov, Al, Jesus e assim por diante - e porquseguidores de uma escritura tendem a condenar os seguidores de todas as outras como infipagos ou hereges, muitas pessoas ficam perplexas ou desgostosas. A religio, desta forma, ficmal tida pelas pessoas em geral. As pessoas se perguntam: "Se h um Deus, por que Ele deveriSe manifestar de diferentes maneiras e fornecer diferentes instrues?".H uma resposta a essa pergunta em uma outra escritura, o Bhagavad-gita. Esta cano (g

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    cantada por Deus (bhagavan) durante Seu advento Terra cinco milnios atrs. O Senhoconhecido como Krsna, "o todo-atrativo" - dirige-Se ao Seu amigo e discpulo Arjuna: "Da manecom que todos Se rendem a Mim, Eu os recompenso de acordo. Todos seguem o Meu caminhosob todos os aspectos, filho de Prtha" (Bg. 4.11).Considerado como uma resposta ao problema da diversidade religiosa, esta declara

    judiciosamente nos conduz entre extremos. Ela evita, de um lado, aquelas formas de sectarismque concedem a uma tradio religiosa em particular direitos autorais exclusivos sobre Deus

    "Todos seguem o Meu caminho sob todos os aspectos". Por outro lado, rejeita o sentimentalismque endossa, sem nenhum senso crtico, toda e qualquer forma de espiritualidade. Krsna,verdade, oferece um princpio mediante o qual podemos discriminar entre eles: "Da maneira coque todos Se rendem a Mim, Eu os recompenso de acordo".A palavra snscrita traduzida aqui como "recompenso" - bhajami - rica em significado. Elaformada a partir de uma palavra que significa fundamentalmente "distribuir", "compartilhar comMais frequentemente, contudo, significa "servir com amor", ou, em um sentido mais vago, "adorar".Vemos, assim, que Krsna est estabelecendo um princpio de reciprocao. Deus reciprocconosco justamente distribuindo-Se - revelando-Se - a ns proporcionalmente ao nvel em que nosrendemos a Ele.

    A "recompensa" de Deus, portanto, pode ser qualquer uma de uma hierarquia de respostas aolongo do caminho progressivo do servio divino. Na parte mais baixa desse caminho, por exemplo,uma pessoa pode servir fielmente Deus em prol do logramento de bnos materiais. Deureciproca outorgando-lhe o desejo. Embora o adorador desfrute apenas de um benefcio material etemporrio (no espiritual e eterno), ele aceita sua recompensa como reciprocao divina - paraele, trata-se de uma revelao de Deus - e sua f reforada o mantm no caminho da devoo. Noque diz respeito queles devotos avanados que no desejam nada material ou espiritual em trocade seu servio oferecido de todo corao, Krsna os recompensa de forma diferente: Eleinteiramente, e, em uma troca doce e ntima, serve os devotos tal qual os devotos O servem.

    Deus declara: Todos seguem o Meu caminho. Como h um Deus, h uma religio: o sedevocional a Deus em completa rendio. No devemos ser desorientados por designasectrias. Embora Isl, por exemplo, seja uma palavra utilizada para denotar uma comunisectria ou sua f, o termo al islem si no exclusivo ou particular, seno que significa simplesmente a submisso, ou rendio. Essa religio nica, verdadeira, essencial e universal tambm seguramente indicadpor Jesus. Quando solicitado a citar o mais grandioso mandamento da lei, ele respondeu, citando oPentateuco: Amars o Senhor teu Deus de todo o teu corao, e de toda a tua alma, e de todatua mente.O Senhor Krsna, de modo similar, aponta a religio essencial ao fim do Bhagavad-gita. T

    examinado muitos processos espirituais trabalho piedoso, rituais religiosos, meditao iadorao de semideuses, discriminao filosfica entre matria e esprito e tendo mostrado qeles nada so alm de vrios degraus no caminho at a completa devoo a Deus, Krsconvida-nos conclusivamente a irmos diretamente a esse ponto. Abandona todas as variedadesde religio, Ele incita Arjuna, e simplesmente rende-te a Mim (Bg. 18.66).Todavia, porque somos, em vrios nveis, resistentes ao chamado divino de completa rendiDeus permite o nosso avano gradual, instruindo-nos e revelando-Se na extenso de nodisposio de servio ou a mesma coisa na extenso em que nossa pureza espiritual perAssim, o elemento da relatividade adentra a interao divino/humano de maneira a fazervariedades de religio. Em todo caso, entretanto, o fundador da religio Deus e ningum m

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    Como o Srimad-Bhagavatam (uma escritura sobre a qual consideraremos adiante) nos dizdharmam tu saksad bhagavat-pranitam (Bhag. 6.3.19): O caminho da religio estabediretamente pelo prprio Senhor Supremo.Para esse propsito, Deus advm muitas vezes. Krsna anuncia o princpio geral governandoentrada neste mundo: Quando e onde quer que haja um declnio na prtica religiosa ecrescimento predominante de irreligio nesse momento, Eu advenho. Para libertar os piedaniquilar os descrentes, bem como para restabelecer os princpios da religio, Eu mesmo apareo,

    milnio aps milnio (Bg. 4.7-8).Nenhum tempo e nenhum lugar tem monoplio sobre a auto-revelao de Deus. Deus vem quandoEle necessrio, sempre com a mesma misso: reparar e restaurar o caminho da religidevastado pelo tempo, coberto de matagal e corrodo por negligncia e abuso. Desta maneirSenhor no apenas estabelece a religio na Terra, seno que retorna repetidamente comincessante mantenedor da mesma.Dessarte, no precisamos nos alarmar diante do nmero e da variedade de aparecimentos deDeus relatados nas escrituras reveladas do mundo. Respondendo gratamente bondadedevemos aspirar a uma perspectiva inclusiva e aberta, compreendendo cada advento particula

    Deus de acordo com o princpio de que a revelao reciprocada pela rendio.Podemos buscar ajuda para essa diligncia no Srimad-Bhagavatam. Tanto o Bhagavad-gitaquanto o Srimad-Bhagavatam foram revelados Terra no perodo do advento de Krsna cincoanos atrs, e, juntos, possuem uma posio distinta na vasta biblioteca indiana de sabedoespiritual, a literatura Vdica. O Srimad-Bhagavatam, a escritura ps-graduada, transmite altima palavra em conhecimento Vdico, e o Bhagavad-gita transmite especificamente asinstrues a qualificarem o indivduo para abordar o Srimad-Bhagavatam.A literatura Vdica, em sua catolicidade, prov algo para o avano de todos no caminho espiritual.O Srimad-Bhagavatam compara os Vedas a uma rvore-dos-desejos a rvore celeste cuj

    ramos produzem toda variedade de frutas. Quando, com o tempo, os seguidores dos Vtornaram-se confusos por esta diversidade e perderam de vista o verdadeiro propsitoensinamento Vdico, o autor dos Vedas o prprio Deus adveio e entregou o Seu Gita. Ali,como mencionado, Ele rev todas as prticas Vdicas e, com Sua autoridade, restabelececoncluso Vdica final: Abandona todas as variedades de religio e simplesmente rende-teMim.Tendo aceito esta instruo, estamos aptos para o Srimad-Bhagavatam, como o preldio de taobra indica: Rejeitando completamente todas as atividades religiosas motivadas por desemateriais, este Srimad-Bhagavatam prope a verdade mais elevada, que compreensvel paqueles devotos que so completamente puros de corao (1.1.2). O Srimad-Bhagavata

    conseguinte, o fruto maduro da rvore-dos-desejos dos Vedas (1.1.3).Srimad significa belo, esplndido ou ilustre, e Bhagavatam significa vindo de Deusrelacionado a Deus. Este Belo Livro de Deus uma compilao enciclopdica dos admirvefeitos de Deus enquanto Se divertia na Terra em numerosas aventuras. Seus passatempoatestando plenamente Sua inexaurvel faculdade inventiva, Sua completa exuberncia desperante nossos maravilhados olhos panoramas arrebatadores da divindade a brincar. Tesaboreado essa fruta madura da rvore Vdica da sabedoria, o indivduo contrai a nsia deatirar-se diante daquelas pessoas de alma estril que, na aridez de seu entendimento pesperderam todo gosto por Deus, e implora: L este belo livro!.

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    Por favor, l este belssimo livro!. Aqueles confortveis com uma idia mais constringida detalvez se choquem ou se surpreendam ante o grande nmero e a grande variedadeaparecimentos de Deus. Em um dos captulos do comeo do Bhagavatam, o santo Suta Gofalando perante uma audincia de sbios, lista vinte e duas encarnaes (tanto do passado comodo futuro) e faz uma observao: brahmanas, as encarnaes do Senhor so inumerveis,como regatos fluindo a partir de inesgotveis fontes de gua (1.3.26). Um captulo mais adian(2.7), Encarnaes Anunciadas com Funes Especficas, contm um compndio aindaextenso. O Srimad-Bhagavatam , em grande medida, devotado a detalhadas exposi

    encarnaes, uma aps a outra, conduzindo e preparando o leitor para a narrao ltima, aqueldos passatempos do prprio Krsna.Assim, encontramos Deus em muitas formas. Ele advm, por exemplo, como Matsya, o leviat quesalvou os Vedas do dilvio mesmo enquanto Se divertia nas vastas guas; advm como Varah

    javali que ergueu do abismo a Terra cada e aniquilou em um nico combate aquele que a viadvm como o sbio Narada, o eterno viajante espacial que migra de planeta a planeta ao longodo universo pregando e cantando as glrias do Senhor; advm como Nrsimha, o prodighomem-leo que, em uma estupenda epifania de poder, socorreu Seu devoto, um menino deanos, matando de maneira espetacular seu torturador, um tirano atesta interplanetrio que erao prprio pai do garoto; advm como Vamana, o belo ano que atravessou todo o universo com

    trs longos passos; advm como Parasurama, aquele que porta um machado e que puniu vinteuma geraes de homens da realeza por desviarem-se dos princpios de conduta divina; advcomo o Senhor Ramacandra, o exemplar regente divino, rei perfeito e a personificao dmoralidade em ofcio; e advm como muitas outras personalidades insignes e inesquecapareceram a fim de ensinar, proteger, liderar e inspirar a humanidade.Tudo isto ser muitssimo incrvel conduz incredulidade. Todavia, consideremos: Deus nodefinio, o ser mais incrvel de todos? Assim sendo, o nosso princpio deve ser: quanto maiincrvel o relato, mais aberto devemos estar a ele. Por que exigir que Deus Se reduza deadequar-Se nossa compreenso prosaica? Quanto mais incrvel Ele for, mais divino Ele .

    Podemos detectar um elemento inconfundvel de brincadeira em muitos adventos divinos, e istalvez tambm cause dvidas. Isso, porm, seria outro caso no qual insensatamente imporestries a Deus. Deus brincalho: o termo snscrito para atividade divina , na verdade, lilabrincar ou divertir-se. Mediante Seu poder inconcebvel, Deus une perfeitamente em Seusadventos um propsito muito srio, salvar a humanidade, com grande diverso. Destarte, cMatsya, Ele retoua nas ondas do dilvio; como Varaha, desfruta de uma boa luta. Em todadventos, ns O vemos deleitando-Se no aproveitamento das possibilidades de um papelparticular, um ator no palco.A idia de lilacaptura um elemento definidor da atividade divina: ela imotivada. Todos os atos huma

    originam-se de motivos, do desejo de termos o que nos falta ou do medo de um dia faltar-nosDeus, entretanto, j tem tudo. Ele nada tem a ganhar ou a perder. O que existe, portanto,impeli-lO ao?Nada, dizem muitos especuladores. E eles concluem que Deus esttico, inerte. Caso istverdade, Deus seria, na verdade, depauperado. Ao contrrio, Deus completo, e Ele agexatamente em Sua completude: Ele brinca. A nossa noo de brincar transmite parcialmentesprito correto: fazer algo sem nenhum outro motivo alm da prpria diverso do fazer, pelo jbida ao por si mesmo. A liladivina, portanto: Deus age por pura e imotivada exuberncia; Sua completude divinacontinuamente transborda em contnua expresso criativa, o brincar incessante e transcendental

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    do esprito.Frederick Nietzsche, o filsofo que trouxe cristandade a nova de que Deus est morto, certavez ressalvou: Eu acreditaria em um Deus que pudesse danar. Tendo isto em conta, seuatesmo deve ser a compreensvel reao a alguma ranzinza imagem teutnica de divindamodelada, talvez, a partir de algum sisudo patriarca burgus cuja solenidade exclua a dana.Caso Nietzsche houvesse conhecido o Srimad-Bhagavatam, ele teria poupado a si mesmo eoutros de grande mgoa, haja vista que suas pginas descrevem extraordinariamente

    transcendental de Deus, o mais belo e gracioso de todos os danarinos.Por que Deus deveria ser limitado de alguma maneira? Trata-se de encoberta inveja deproibir-Lhe o que ns mesmos possumos e desfrutamos. Ele o nosso superior categricoexcede em todas as esferas: este o prprio significado de Deus. Ns, por conseguintcompreender que tudo o que vemos aqui todas as atividades, todos os relacionamentos, todosos desfrutes tem sua perfeio consumada em Deus.Deus, afinal, a Verdade Absoluta, a nica e exclusiva fonte de tudo. Tudo o que existe , poassim dizer, clonado a partir dEle. O nosso mundo transitrio um reflexo turvo e deslustrado dSeu mundo eterno; a nossa sociedade, de Sua sociedade; os nossos relacionamento

    relacionamentos. Ns mesmos, sendo feitos imagem divina, somos pequenosConsequentemente, estudando-nos e estudando o nosso mundo, podemos entender algo sobDeus e sobre o Seu mundo. Vemos, por exemplo, que as pessoas possuem a disposio dPodemos compreender, por conseguinte, que a essa disposio existe em Deus. Similarmenvemos em nosso mundo a atrao sexual entre aqueles do sexo masculino e aqueles do sfeminino. Tal atrao, pois, tambm tem de residir em Deus. Deus completo, e, longe de smenos pessoa do que somos, vastamente mais completamente pessoal.Desta maneira, Ele luta e faz amor, e a razo pela qual os especuladores querem negar-Lhe essasatividades pensarem que o Seu lutar e o Seu amar seriam maculados pelo dio e pela luxriaque acompanham os nossos. Isto um equvoco. As atividades de Deus, como o Seu nome e

    Sua forma, no so materiais, seno que so completamente espirituais. Conquanto possa havuma semelhana familiar entre a forma e as atividades de Deus e as nossas, devemos estaratentos para no Lhe atribuirmos os defeitos e debilidades das nossas; h uma diferenaqualitativa.Devemos compreender essa diferena de modo inteligente. Consideremos o atributo variedadComo vimos, o Srimad-Bhagavatam revela esmagadora variedade na divindade. Deus exibexemplo, uma infinitude de formas. Mas a unidade absoluta no um atributo do esprito? Deusno um? Isto verdade, mas a unidade que apenas exclui ou nega a diversidade materunidade mundana. Podemos ver que semelhante unidade seria indigna de Deus, dado quemesma O privaria de algo de valor. (E h variedade aqui; se no de Deus, de onde ela vem?)

    Logo, a unidade de Deus tem de ser transcendente: ela deve incluir no excluir a variTampouco Sua variedade granjeada a custo da unidade. Este o poder da transcendncconciliar o um e os muitos em uma sntese superior. Embora essa unidade espiritual escompreenso da inteligncia mundana, cabe bem dentro do mbito do poder inescrutvel de Deus.O princpio da transcendental diversidade-na-unidade tambm nos ajuda a compreender anatureza espiritual do corpo de Deus. Conquanto Deus advenha em uma forma similar nossaessa forma eterna e espiritual no diferente, na verdade, do prprio Deus. Para Deus, ndiviso como h para ns de alma e corpo. E a forma de Deus to transcendentalmeunificada que cada e todo rgo possui em si mesmo as funes de todos os outros. EmboraKrsna possa ter membros, cada membro uma pessoa completa. (E, como Sua forma espiritual,

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    ela permanece eternamente no auge da juventude).O mesmo princpio explica por que Deus pode aparecer em tantas formas diversas e, ainda assim,permanecer um e absoluto. O devoto puro, pela percepo espiritual, pode entendercompletamente, e Ele aprecia a insondvel profundidade do atributo de Deus de ser pessomediante a multifacetada expresso desse atributo. As vrias personalidades do Supremo nicoso manifestas no contexto de diferentes relacionamentos. Vemos o mesmo fenmenfuncionamento na personalidade humana. Um homem mostrar diferentes facetas de

    personalidade em diferentes contextos: como, digamos, um juiz em trajes negros no tribunal, comoum esposo relaxando sozinho com sua esposa, como um pai brincando com seus filhos, comofilho em visita aos seus pais, como um professor instruindo seus alunos, como um amigopalhaada com seus companheiros e assim por diante.Assim, caracterstico a pessoas exibirem muitas facetas, e quanto mais bem integrada pessoa, maior a variedade de papis e relacionamentos que ela pode manter sem perdintegridade. O mesmo princpio aplica-se, portanto, Pessoa Suprema, mas, em Seu caso, tanto aintegridade pessoal quanto a variedade de relaes so levadas, como estabelecido, ao extremo.Deus estabelece relaes pessoais com ilimitadas almas, todas as quais so criadas e mantidas

    por Ele para esse prprio fim. A fim de facilitar essas relaes, Ele Se expande em diferenteformas, mostrando-Se a Seus devotos puros de vrios modos em resposta s maneiras com queles aproximam-se dEle. Todas essas formas transcendentais so eternamente manifestasmorada espiritual de Deus. E, de tempos em tempos, uma ou outra dessas formas advmmostrar-Se na escurido do mundo material, iluminando o caminho de volta ao lar.O veredicto do Srimad-Bhagavatam que, de todos os adventos de Deus, Krsna o mais elevado.Suta Gosvami, aps concluir seu levantamento das encarnaes, declara: ete camsa-kalahpumsah krsnas tu bhagavan svayam: Todas as encarnaes acima mencionadas so ouplenrias ou pores das pores plenrias do Senhor, mas o Senhor Sri Krsna a Personalidadde Deus original.

    Por esta razo, o seguimento central do Srimad-Bhagavatam uma extensa narrao do adventdo Senhor Krsna Terra. Todo o Dcimo Canto devotado a isso, e o Srimad-Bhagavatamconstri recontando muitos outros adventos divinos, levando-nos, deste modo, cada vez maisfundo na compreenso acerca de Deus, e, assim, preparando-nos para a revelao ltimadivindade.Essa revelao ltima transmitida nos passatempos infantis e juvenis de Krsna na vila pastoril deVrndavana. O que seria um paradoxo para olhos mundanos claro para a viso purificada: queaqui neste pequeno vilarejo, havia advindo Terra no apenas Deus em Sua mais elmanifestao, mas tambm toda a inteireza de Sua mais elevada morada. O Senhor, afin

    inseparvel de Seus devotos e de Sua morada, e, quando Krsna advm, todos advm comSeparado disto, no h Krsna manifesto, e, a fim de revelar-Se, Krsna tem, necessariamenterevelar Seus devotos ntimos, Suas relaes com eles, e os lugares de Suas atividades juntos.A nossa idia referente ao Senhor Supremo , de maneira geral, condicionada a noes de podere fora e majestade Ele o que est assentado sobre o crculo da terra, cujos moradores so para ele comogafanhotos; ele o que estende os cus como cortina, e os desenrola como tenda o quecorreto. Todas as escrituras, por fim, convidam-nos a reconhecermos a nossa subordinaoQuando, porm, ns o fizemos completamente, tornamo-nos elegveis a receber a revelao dDeus de uma faceta outra e mais sublime dEle prprio, na qual Ele demonstra, desimpedidamente,

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    um sedutor encanto de sentimentos. Tal a Suprema Personalidade de Deus, Krsna, quVrndavana, entra em relaes ntimas de amor de forma a desenvolver inauditas intensidsentimento. A apetncia do Senhor Supremo por amor infinita: Ele Se chama Rasaraja, o mesdos sentimentos de amor. Nessas trocas confidenciais de amor, alguns devotos amam-nOemoes parentais, e o Senhor reciproca brincando como um menininho encantador e traquioutros devotos adoram-nO com sentimento fraternal, e o Senhor diverte-Se com eles, garotgarotos, como seu amigo do corao e parceiro espirituoso; ainda outros adoram Krsna comfervente ardor do amor conjugal, e, em resposta, Ele atrai semelhante devotos e os galanteia como

    seu encantador pretendente e parte seus coraes.Reconhecemos esses sentimentos no mundo material, claro, mas, em Vrndavana, resideemoes originais e verdadeiramente espirituais, como manifestas no reino transcendental deDeus por meio das trocas de amor nos corpos espirituais. Relacionamentos e emoes materiaino podem nos ajudar a compreender esses sentimentos transcendentais. Visto os amoremateriais serem vacilantes e evanescentes, eles so contaminados pela hesitao e pela dvida, etranspassados por medo e receio. Eles so perniciosos, e o tempo e as mudanas os roubamtodos. O amor direcionado a Krsna jamais morre; Sua beleza sempre nova e Sua eternreciprocao fomentam esse amor incessantemente; sua intensidade cresce sem limites. Todesses imortais sentimentos de Vrndavana, cada um com sua prpria mistura de humores

    variedades de xtase. So superemoes, as quais, por comparao, tornam os nossosestimados sentimentos terrestres franzinos, secos e inspidos.Krsna significa todo-atrativo, e, em cumprimento ao significado de Seu nome, Ele revela-incitar-nos a reviver a nossa relao perdida com Ele e para entrarmos com Ele nessespassatempos de amor. Desta maneira, Ele mostra-nos o que significa inteiramente amar a Deus detodo o nosso corao, alma e mente. A maior parte de ns, no obstante, no pode perexperienciar diretamente a qualidade espiritual desses passatempos e sentimentostranscendentais. Eles so revelados, eles so disponibilizados, mas ns no os assimilamos coeles so. Podemos estar contemplando o esprito, mas vemos apenas matria.

    Neste ponto, faz-se necessrio tocar em um ponto delicado. Deus Se revela a ns comorendemos a Ele. Rendermo-nos a Deus significa retirar o nosso interesse e o nosso desejo de tudoo que no Deus. Completa rendio significa ter Deus, e somente Deus, como o nosso fim enosso meio. Devemos devotar-Lhe todo o nosso corao, alma e mente. Tal pureza necessria.Deus, claro, tambm permite a rendio parcial, com a esperana de gradual avano. Emtradio religiosa, h desfrute material escrituralmente sancionado leiamos desfruteenvolvimento com coisas que no Deus. Uma vez que esse materialismo restrito e regulado, ele, nesse aspecto, bom. Em ltima instncia, todavia, ele tambm deve ser abandonado:Abandona toda religio materialmente motivada e rende-te a Mim. Resistir a essa solicitao combase no fato de que o nosso materialismo escrituralmente sancionado tornar o bom o inimigo

    do melhor. Simplesmente retardamos o nosso progresso no caminho espiritual e permanecemmais ou menos distantes da Personalidade de Deus.Essa pureza de corao necessria para ver Deus talvez parea distante do nosso alcance, mano o caso. Krsna revelou verdadeiramente a Si mesmo: A mesma escritura que transmirevelao ao mundo o Srimad-Bhagavatam transmite, ao mesmo tempo, o procespurificarmo-nos a fim de podermos receber a revelao de Krsna. Esse processo a prticaservio devocional centrado na audio da narrao pura dos gloriosos passatempos de Deus. Emoutras palavras, o prprio Srimad-Bhagavatam, quando falado por algum que puro, purifica-nos

    Ele purifica o desejo por desfrute material no corao do devoto (1.3.17) de forma qupossamos pessoalmente perceber Krsna como Ele . Embora Krsna tenha advindo cinco mil

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    atrs, Ele permanece completamente acessvel a ns no Srimad-Bhagavatam. A nica coisa pequal a revelao aguarda somos ns.

    Traduo de Bhagavan dasa (DvS) Outras tradues disponveis emwww.devocionais.xpg.com.br