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Governo do Estado do Amazonas Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino Departamento de Políticas e Programas Educacionais Gerência de Educação Escolar Indígena Tema: Processo da construção de uma maloca da etnia Hexkaryana na aldeia Riozinho. Aldeia Riozinho – Nhamundá 1

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Governo do Estado do AmazonasSecretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino

Departamento de Políticas e Programas EducacionaisGerência de Educação Escolar Indígena

Tema: Processo da construção de uma maloca da etnia Hexkaryana na aldeia Riozinho.

Aldeia Riozinho – Nhamundá

Aldeia Riozinho - Nhamundá/AM2015

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PROJETO PIRAYAWARAPrograma de Formação de Professores Indígenas no Estado do Amazonas

Nome: Ricardo Rosinaldo wai wai.

Etnia: Hexkaryana. Clã: Karahawyana. Aldeia: Riozinho. Escola que atua: Escola Indígena Riozinho.

Localidade: Rio Nhamundá.

Município: Nhamundá.

Aldeia Riozinho - Nhamundá/AM2015

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PROJETO PIRAYAWARAPrograma de Formação de Professores Indígenas no Estado do Amazonas

Ricardo Rosinaldo Wai-Wai

TEMA: A construção de malocas na aldeia Riozinho

Aldeia Riozinho - Nhamundá/AM2015

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Este trabalho foi solicitado pela Gerência de Educação Escolar Indígena como um dos pré-requisitos para obtenção de Diploma do Curso Profissionalizante em Magistério Indígena.

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Índice

1- Introdução..........................................................................................................5

2- Objetivo geral ....................................................................................................6

2.1. Objetivos específicos...............................................................................6

3- Justificativa.........................................................................................................7

4- Pesquisa de campo............................................................................................8

5- Origem histórica do Maya na aldeia Riozinho....................................................9

6- Outros tipos de construção............................................................................10

7- Importância cultural e social do Maya para a vida na aldeia...........................12

8- Processo de construção de Maya...................................................................12

8.1. O meio de transporte............................................................................12

8.2. Alimentos consumidos durante a busca por madeira...........................13

8.3. Alimentação durante construção do Maya...........................................14

8.4. Passo-a-passo......................................................................................14

8.5. Insumos.................................................................................................15

9. Prática .............................................................................................................17

10. Conclusão........................................................................................................18

11. Glossário..........................................................................................................20

12. Referências .....................................................................................................21

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1- Introdução

O povo indígena hexkaryana, pertence ao tronco linguístico carib, e ocupa

atualmente as calhas dos rios Nhamundá e Jatapu. A aldeia Riozinho, onde vive o

autor deste trabalho, está geograficamente localizada ao leste do Estado do Pará a

oeste do Estado do Amazonas, no Município de Nhamundá, a cerca de 240 km, via

fluvial, e 180 km, em linha reta, da sede do município.

Antigamente os hexkaryana moravam em uma grande casa comunal chamada

maloca (namnó) construída com telhado de palha bastante alto, de estacas de

madeira em forma circular, constituindo paredes, porém sem divisões internas. Hoje

em dia, cada família possui sua casa, mas todas as aldeias possuem o maya. Maya

é o nome dado a uma casa enorme e circular, coberta de palha ubim, com duas

colunas centrais que ultrapassam a cobertura. Lá acontecem as festas cristãs do

Natal e da Páscoa, as reuniões políticas e algumas refeições que precedem os

trabalhos coletivos.

Portanto, os hexkaryana ainda seguem construindo malocas, e valorizando esta

tradição. Porém, esse tipo de habitação deixou de ser um lugar onde todas as

famílias dormiam no mesmo espaço. Atualmente, a maloca serve apenas para

reunião, palestra, cursos, planejamento das atividades e festejos das comunidades

locais e celebração.

Esta pesquisa tem como foco principal o entendimento hexkaryana e o passo-

a-passo de como é construído um maya, evidenciando, o tamanho ideal, a madeira

usada, o tipo de cobertura, o material utilizado para fixar os caibros, e toda a

arquitetura desse tipo de construção.

Para tanto, este estudo se baseia em pesquisa de campo, análise

bibliográfica, e coleta de relatos dos idosos da aldeia que evidenciam o

pensamento hexkaryana e toda sua experiência. A sistematização deste

conhecimento poderá revitalizar este aspecto real da cultura hexkaryana.

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2. Objetivo Geral

Mostrar para as futuras gerações o passo-a-passo de construção de uma

maloca (maya) na Aldeia, os materiais usados, e o respeito à natureza, sempre

valorizando, a cultura do povo Hexkaryana, a fim de não somente mostrar para

nosso povo, mas também para outros povos que podem aprender com o nossa

cultura.

2.1. Objetivos Específicos

Reunir com a Aldeia para ensinar aos jovens a maneira certa de construção

de uma maloca;

Procurar e selecionar o tipo de madeira adequada na construção da maloca;

Usar o ensinamento dos mais velhos na divulgação correta da construção

desse tipo de habitação;

Elaborar materiais didáticos pedagógicos voltados para sua realidade, textos,

cartilhas e desenhos com os nomes dos materiais específicos, mais utilizados

na construção de maloca.

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3. Justificativa

Antigamente, o povo Hexkaryana habitava uma casa só, chamada Maya ou

Námno. Este é nome de uma casa comum, de forma arredondada. Cada pai de

família morava junto, mas somente os idosos sabiam construir a casa redonda.

Atualmente, a maioria das pessoas não sabe construir Maya e não sabe que tipo de

madeiras será utilizado na construção.

Este foi o motivo principal que instigou esse trabalho. A pesquisa sobre a

construção de Maya é um estudo significativo para os mais jovens, no intuito de

manter viva a cultura desse povo, evidenciando a formal tradicional de habitação

criada pelos antigos moradores dessa aldeia.

Essa pesquisa poderá ajudar o povo hexkaryana, principalmente os mais

interessados, em construir a casa na forma arredondada, como na antiguidade.

Assim, ao pesquisar essa temática, e registrar o passo-a-passo da construção dessa

tradicional habitação, poderá incentivar os mais jovens e as gerações futuras a

aprenderem a construir malocas, valorizando a cultura arquitetônica dessa etnia,

uma vez que esse é um patrimônio do nosso povo.

Além disso, com essa pesquisa apresentamos soluções que contribuirão para

construção de uma educação diferenciada, e de qualidades através de uma mostra

consciente e racional do uso dos recursos naturais existentes na região.

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4. Pesquisa de campo

O autor do presente trabalho realizou entrevista com seu pai Tobias

Warahta, na aldeia Riozinho. O tema abordado foi a construção do maya. Na

trajetória de sua vida, Tobias adquiriu muitos conhecimentos que agora

compartilha conosco. Ele conta que os povos Wai-Wai e Hexkaryana faziam uma

grande construção de casa comunal, onde todos moravam juntos, o nome da

habitação era Námno. Meggers (1987) descreve essas habitações:

“As aldeia Wai-Wai consistem de uma única habitação comunal, em forma circular, que varia em tamanho de acordo com o número de seus ocupantes (.....). A casa é construída pelos os homens aos quais ela se destina (.....). Não há divisões dentro da casa mas cada família nuclear tem sua área bem definida.” (MEGGERS, 1977: 130 – 131)².

De acordo com Tobias, todos aprendiam a construir as malocas através

da observação dos mais velhos enquanto construíam. Ele sempre acompanhava

os idosos que tinham experiência em construir maloca. Segundo os mais velhos,

o tempo da construção deve ser no início do ano e também no verão. Naquela

época, nossos antepassados construíam pelo seu raciocínio. Vendo o local da

construção, tamanho, quantidade de materiais necessários da construção e tipos

de madeiras.

Conforme o tamanho da casa, já faziam o cálculo dos materiais a serem

utilizados, e então iniciavam a busca dos materiais necessários no mato. Era

construída com um telhado de palha bastante alto e estaca de madeira em forma

circular. Antigamente, o telhado da construção estendia-se até o chão. A casa

tinha apenas entre 6 a 8 anos de resistência.

O formado mais usual era bastante parecido com o atual maya que

funciona como casa das reuniões políticas, lugar de festas e planejamento de

atividades e celebrações.

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5. Origem histórica do Maya – o ponto de vista hexkaryana

Eu, professor Ricardo Wai-wai, da etnia Hexkaryana, casado com 7 filhos, moro

na comunidade Riozinho. Sou filho do senhor Tubais Warahta e da dona Paula

Amaka, descendentes de Karahawyana e Hexkaryana que são o povo do pássaro e

o povo do veado roxo respectivamente.

Maya é o nome de uma casa de forma arredondado, coberta de palha ubim,

medindo 20m de diâmetro e 15m de altura. É o lugar onde os povos habitavam o

mesmo ambiente. Somente o pajé tomava conta de todas as coisas, naquela época,

não tinha tuxawa. Há muito tempo atrás, essas experiências nasceram no coração

dos povos Hexkaryana e Wai-wai, que são dois grupos carib com culturas parecidas.

Desde o surgimento do ser humano, o homem é o capaz de pensar e

desenvolver suas atividades através da observação. Por exemplo, todo o ser vivo

tem suas casas para dormir. O ser humano, precisa de casa para dormir com sua

família. Antigamente o povo Hexkaryana e Waiwai construía a casa menor do que

construímos hoje em dia, pois as aldeias eram constituídas de poucas pessoas.

Com a chegada do evangelho eles passaram a juntar as aldeias, acabaram as

brigas e disputas internas, passaram a respeitar o casamento e também aboliram o

infanticídio, aumentando consideravelmente o número de habitantes nas aldeias,

havendo a necessidade de construir casas comunais, Maya, maiores.

Hoje, nós - principalmente as novas gerações - não sabemos a origem de

nosso povo, por isso é importante pesquisarmos sobre os fatos históricos e os

conhecimentos tradicionais dos povos Hexkaryana. Portanto, decidi fazer uma

maloca tradicional para mostrar as pessoas interessadas em conhecer.

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6. Outros tipos de construçãoHoje em dia, os hexkaryana estão fazendo um novo tipo de habitação, usando

materiais que vêm da cidade. A divisão do espaço destas novas casas já é mais

parecida com a das casas dos brancos nas cidades. Algumas medidas já são

tomadas para tornar o ambiente mais saudável e higiênico, por exemplo, não

deixar os animais dormir dentro de casa e separar o ambiente de alimentação do

ambiente de dormitório.

a. Waryehxato

Waryehxato é o nome de uma casa em forma de

retângulo ovado. Atualmente as pessoas constroem

sua casa em forma de retângulo. Usam os pregos

substituindo cipó e fazem as paredes de tábua de

madeira.

b. Outras casas

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7. Importância cultural e social do Maya para a vida na Aldeia

O maya é usado para as

reuniões com moradores das outras

aldeias, festas, reuniões da aldeia,

comemorações de natal, ano novo,

páscoa, semana do índio, aniversário,

dia da independência e casamento.

Perpetuando nossos costumes, nos

períodos de festa celebramos juntos no

maya, comendo caça e peixe após os

cultos.

Sobre o maya, Maria Luiza Lucas (2014) complementa:

“(...) o maya é um lugar de reunião de toda a aldeia, acionado em diversas ocasiões. Seu interior possui uma espécie de arquibancada de ripas de madeira que, percorrendo toda a

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circunferência da construção, acomoda as pessoas sentadas em torno de seu centro, onde se encontram os mastros que ultrapassam o telhado. No cume,na parte de dentro, há animais confeccionados em madeira (aves e macacos),.” (LUCAS, M. L., 2014:77)

O Tuxaua da aldeia convida todas as pessoas para os eventos no maya. O

povo antigo utilizava-o principalmente para receber visitantes que não eram da

mesma etnia. Também utilizavam o local para práticas de rituais, casamentos, artes,

pinturas corporais etc.

O pajé mandava caçadores moquear carne e peixe durante uma semana

antes da festa, e as mulheres preparavam uma bebida fermentada feita de cará,

batata-doce, abacaxi, banana chamada futxukwa. Também eram preparados

alimentos típicos feitos de beiju, banana, cara e batatas. Quando estavam prontos, o

pajé mandava o támxemá que era um nó que funcionava como calendário e quando

entregue nas aldeias significava convite para participar do ritual de festa. Quando

chegava os awekará, ou seja, os convidados, um rapaz forte previamente preparado

tinha que lutar contra visitante para fazer a abertura da festa.

Atualmente, existem duas festas muito importantes que são comemoradas

no Maya: a páscoa e o natal. Agora são festas cristãs, mas que ainda guardam

algumas semelhanças com as festas de antigamente. A aldeia também recebe

moradores das outras aldeias visitantes, as mulheres preparam alimentos típicos e

são feitas brincadeiras, danças e pinturas corporais. Agora não é mais preparado o

futxukwa, mas é feita a “gororoba”, bebida não fermentada feita com a goma de

tapioca misturada com vinho de bacaba, buriti ou patauá. Durante sua pesquisa de

campo de mestrado entre os Hexkaryana do Nhamundá, Maria Luiza Lucas (2014)

descreveu uma festa da páscoa que ela presenciou na aldeia Riozinho.

8. Processo de construção do Maya na aldeia

Maya é uma casa comunal construído forma em círculo. Atualmente esta

construção atinge, no máximo, 20m de diâmetro e 15 metros de altura. Os mayas

grandes, geralmente demoram aproximadamente três meses para serem

construídos, com 25 trabalhadores, incluindo homens, mulheres, dois caçadores e

dois cozinheiros. Na verdade, conforme o nosso costume, cada pessoa levava seu

alimento, mas com novos conhecimentos estamos melhorando cada vez mais a 12

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organização deste trabalho de construção. O maya pode durar entre 6 e 10 anos.

Depois é necessário trocar a palha de cobertura e as peças de madeiras que tiverem

apodrecidas.

8.1. O meio de transporte.

O Povo Hexkaryana costumava sair em buscar das madeiras por terra,

andando 1 ou 2 km (quilometro) até encontrar as madeiras adequadas para fixação,

conhecidas pelo branco como pau-caboco. Nós chamamos de kuru kuru.

Atualmente, utilizamos uma canoa grande quando as madeiras se encontram na

outra margem do rio, sendo que os Hexkaryana valorizam canoa de madeira

bicudo. O seu comprimento pode ser de 12 metros. Com ela conduzimos as

madeiras. Assim o povo consegue os materiais de construção.

a) Fazendo canoa nova b) canoa pronta para transporte

8.2. Alimentos consumidos durante a busca por madeira

Figura: Assando peixe no acampamento

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Geralmente os grupos se preparam e se organizem antes de saírem para

buscar madeira no mato. Levam beiju, farinha, banana e, principalmente, carne e

peixe moqueados. Preparam gororoba, bebida feita de goma misturada com vinho de

bacaba, buriti, patauá ou outras frutas. Garantindo assim a sua permanência no

acampamento, quando for longe da aldeia.

8.3. Alimentação durante construção do Maya

Figura 2: Beiju e buriti

Durante a construção do maya, a alimentação é a mesma do cotidiano. Beiju,

farinha, buriti, patuá, bacaba e açaí, gororoba, peixes e carnes de caça são os

alimentos mais consumidos nas aldeias durante o trabalhos coletivos.

8.4. Passo-a-passo

a- A escolha do local ideal

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O primeiro passo para a construção desse tipo de

habitação será encontrar o local ideal. Esse local tem

que ser na terra plana, com poucos troncos e de

terreno firme para poder aguentar com segurança os

fundamentos da casa.

b- Retirada da madeira certa no mato Madeira acariquara

A madeira tem que ser acariquara,

própria para esteio da casa. Essa

madeira é encontrada em terra firme,

longe da aldeia. São necessárias

muitas pessoas para ajudar a

carregar esteios até o local onde

será a construção.

c- Inicio de armação da casa.

A

comunidade começa a limpar o local onde será

construída a maloca. Tiramos as medidas certas da

base da casa, os espaços entre os esteios e todas

as madeiras necessárias, conforme discriminação

abaixo. A comunidade decide sobre o tamanho da

casa.15

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8.5. Insumos

As ferramentas necessárias são: Machado, terçado, lima, enxada, carro-de-

mão, martelo, serrote, boca-de-lobo, pregos, cabo de náilon, trena e nível. São

necessárias botas, lanternas, pilhas e lona.

São necessários combustíveis (gasolina, diesel, óleo 2T) para transporte

dos materiais.

c. Orçamento de madeiras

01-16 unidades de esteio, (3) três metros comprimento.

02 - 08 unidades esteio de cinco 5 metros comprimento.

03 - 02 unidades esteio do meio 15 metros comprimento.

04 - 13 peças de madeiras finas para colocar em circulo três 03

metros.

05 - 70 unidades de caibros madeiras leves chamados pal.-

caboco

06 - 200 unidades varas de caniço de 5 metros comprimento.

07 - 225 unidades talas de baca beira de 4 metros de

comprimento.

08 - 225 unidades talas para tecer a palhas

09 - 40 unidades enveras de tauarizeiro

10 - 60 unidade rolo de cipó ambê

11 - 60 unidades rolo de cipó titica

12 - 240 feixes de palha de ubim

13 - 40 unidade palha de baca beira

14 - 40 dúzia a tabua de forro

d. Madeiras encontrados na região para construção

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Aquariquara, é a madeira reforçado que dura muito tempo. Ela serve

para esteio da casa. É difícil encontrar essa madeira. Só existe na terra firme ou na

várzea.

Itaúba é uma madeira muito boa para construção pois dura muito

tempo. Ela possui um óleo dentro e serve para fazer esteio e canoa.

Maçaranduba é uma arvore que dá leite. Essa madeira não é boa para

construção na terra firme, só na terra úmida.

Pau-caboclo é uma madeira leve, fácil de encontrar em região de

capoeira. Geralmente dá muito nas roças abandonadas. Ela serve para fazer caibro

das casas.

Tauarizeiro; é uma árvore enorme que tem casca. Ela serve para amarrar

as casas. Às vezes aproveitamos ela para fazer tábua de forro e assoalho.

Palmeira paxiúba. Uma tala retirada desta palmeira dura muito tempo e

serve para tecer palha de cobertura da casa.

e. Palha para cobertura da casa.

Palha de ubim é a palha mais usada

para cobertura da casa. Quando

cortamos a palha temos que cortar

com cuidado: não devemos cortar até

o pé de palha para deixar ela

reproduzir novamente. Assim, depois

de um ano, ela está pronta para ser

cortada novamente. Assim, as

pessoas tem cuidado com a natureza.

f. Talas e embira para tecer.17

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A tala de baxiuba é da mesma espécie

do pupunheiro. Utilizamos ela para

tecer a palha junto com a embira de

tauarizeiro. O tauarizeiro, ou turu, é

uma árvore enorme cuja casca serve

para amarrar. Também é usado como

remédio para feridas. É parecido com

a castanheira. Quando retiramos a

casca dela, a árvore não morre, e

depois de alguns anos a casca

regenera e pode ser retirada mais duas ou três vezes.

9. Prática

No início do ano de 2015, fiz uma prática de construir um maya pequeno perto da

minha casa. A casa circular teve base de 8m de diâmetro e altura de 7m. A obra foi

concluída dentro de 16 (dezesseis) dias. Somente quatro pessoas trabalharam: eu,

meu filho, meu pai e meu sogro. O orçamento das madeiras utilizadas está em

anexo.

Construção em pratica

Portanto, esta pesquisa sobre a construção de maya e entrevista com o Sr. Tobias

Warahta foi muito interessante pelo conteúdo histórico e por informar como é

construído o Maya (maloca). Devemos repassar para os nossos filhos, netos e

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futuras gerações, valorizando assim os nossos costumes tradicionais. O projeto de

pesquisa foi norteado por pesquisa de campo baseada em diálogo direto com os

nossos velhos. Foi muito importante o registro da história oral nesta pesquisa para o

processo da construção. Assim é possível registrar, de fato, os acontecimentos da

história da construção da casa maya.

10. Resultados e conclusão

A partir deste trabalho, foi possível:

Fazer um registro escrito do conhecimento tradicional de Tobias Wàràhtà;

Valorizar o conhecimento dos hexkaryana mais velhos;

Chamar atenção da população da aldeia Riozinho para a necessidade de

resgatar o conhecimento e as técnicas tradicionais do povo hixkaryana

Conscientizar os moradores de Riozinho sobre a necessidade de se

preservar os recursos naturais, principalmente, a madeira;

Ensinar alguns jovens a construírem malocas (maya) no estilo tradicional;

Construir uma maloca, na aldeia Riozinho, no estilo tradicional, nem

necessidade de muitos materiais da cidade;

Discutir como o povo hexkaryana tem transformado a sua maneira de

construir habitações.

Este trabalho de pesquisa registra o entendimento hexkaryana sobre a

construção de casa maya. Isto é importante porque as novas gerações não estão

fazendo mais malocas no estilo tradicional. Por isso, este projeto buscou

conscientizar as novas gerações para terem mais conhecimento sobre os problemas

vivenciados pelos povos hexkaryana nas aldeias, e refletir sobre as transformações

pelas quais nosso povo está passando.

Com base no ensinamento de Tobias, aproveitamos este projeto para construir

uma maloca tradicional e contribuir para que a cultura hexkaryana se mantenha viva

para sempre. Também fica claro para os hexkaryanas, nesse trabalho, que a

valorização da cultura é favorável para a manutenção e preservação dos recursos

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naturais, garantindo assim a permanência das madeiras, necessárias aos povos

indígenas.

11. Glossário

(Maya); é o nome de casa dado pelos pessoas mais novos

(Námno) é o nome de uma casa dado pelos antigos

(Waryehxato) é a casa ovado, “estilo português”.

(Támxemá) é um nó que funciona como calendário indígena,

(Awekará) e visitante,

(Paxiúba) é o nome da árvore de onde se tira a tala,

(Turu) é o nome do Tauarizeiro

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12. REFERÊNCIAS

RCNI, Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, Brasília, MEC, 2005.Projeto Pirayawara\ Programa de formação de Professores Indígenas no Estado do Amazonas, IER-AM\SEDUC, 1998.

Wáráhta, Tubias, (Entrevistado) 88 anos, etnia Hexkaryana 24/03/2014. Aldeia do

Riozinho: Alto Rio Nhamundá.

Arwa, Raimundo, tuxawa (Entrevistado) 51 anos etnia hexkaryana 13/04/14

LUCAS, A. M. S. Antes a gente tinha vindo do jabuti”: notas etnográficas sobre

algumas transformações entre os Hixkaryana no rio Nhamundá/AM. Rio de Janeiro:

PPGAS- MN/UFRJ, 2014.

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MEGGERS, B. 1977. Amazônia: a ilusão de um paraíso. São Paulo: Ed. Itatiaia

Limitada / Ed. da Universidade de São Paulo.

By Ricardo Rosinaldo wai wai

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