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[Recensão a] Pociña, Andrés; Rabaza, Beatriz; Silva, Maria de Fátima - Estudiossobre Terencio

Autor(es): Toipa, Helena Costa

Publicado por: Universidade Católica Portuguesa, Departamento de Letras

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/23592

Accessed : 14-Feb-2019 04:51:10

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Andrés POCIÑA, Beatriz RABAZA, Maria de Fátima SILVA (eds), Estudios sobre Terencio. (Universidad de Granada e Universidade de Coimbra, Granada, 2006), 532 pp.

Reuniram os editores, em torno da figura de Terêncio, um

conjunto de estudos de autores, especialistas da sua obra, oriundos de Universidades espanholas (de Granada, Ferrol, Valencia, Madrid, Almería), argentinas (Rosario, U. Nacional del Sur) e portuguesas (Coimbra, Viseu e Lisboa), resultantes de frequentes e enriquecedores intercâmbios entre helenistas e latinistas dessas universidades. Os estudos, na sua maioria originais, sobre a figura do comediógrafo latino estão divididos, de uma forma muito apropriada, em três secções.

A primeira, intitulada “Antes de Terêncio”, inclui três artigos que constituem um “conjunto de aproximaciones a la comedia de Menandro, com especial atención a todos aquellos aspectos que son fundamentales en la obra terenciana, impossible de entender si no se tienen presentes” (p.8). No primeiro artigo, “Menandro e a comédia grega: o fim de um trajecto”, a autora, Maria de Fátima Silva, ocupa-se da comédia nova ateniense e de Menandro, destacando as novidades, em termos de temática, as personagens e as preferências estruturais e cénicas, e a quota de inovação introduzida por Menandro nos modelos tradicionais. No segundo estudo, “De la Política a la Ética: la configuración de los personajes de Menandro” de Carmen Morenilla, a autora preocupa-se em revelar as características gerais das personagens de Menandro, insistindo naqueles aspectos que mais interessaram a Terêncio para construir as suas, na busca de uma comicidade moralizante. O terceiro artigo, “La recepción de Menandro en Roma”, de Andrés Pociña, ocupa-se da presença de Menandro nos autores dramáticos latinos, desde Lívio Andronico, e nos autores não dramáticos (nomeadamente em Cícero, César, Varrão, Horácio, Ovídio, Propércio, Plínio-o-Velho, Quintiliano, Marcial, Frontão, Aulo Gélio ou Apuleio, que sobre ele se pronunciam): conclui e constata a existência de dois Menandros em Roma: aquele conhecido da generalidade do povo que frequentava o teatro, e aquele que deleitou várias gerações de homens cultos, familiarizados com o grego.

A segunda secção, intitulada “Terencio y sus comedias”, inclui um conjunto de treze artigos que abarcam alguns aspectos da vida, obra e pensamento de Terêncio; esclarecem os coordenadores que “son siempre aspectos particulares, parciales, que nunca hemos

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planteado como un tratamiento exhaustivo de la figura y la obra de nuestro comediógrafo, pues sería empresa imposible de realizar en un volumen como el nuestro.”(p.8). Começa precisamente com um estudo de José Luís Brandão sobre a “Vida suetoniana de Terêncio: estrutura e estratégias de defesa do poeta”. Conclui o autor que Suetónio, na biografia que compôs do comediógrafo, “opera uma progressiva defesa de Terêncio, através de vários recursos” (p. 123), ora ponderando as opiniões dos detractores, ora buscando a emulação com Menandro, ora, para cativar a simpatia dos leitores, deixando a ideia de um poeta desafortunado, que se auto-exila e morre precocemente. No estudo seguinte, “El officium del poeta en Terencio”, de Rosalía Rodrigues, faz-se a análise do papel daquele que Terêncio considera um bom poeta; da leitura dos seus prólogos, com efeito, podem deduzir-se os deveres do escritor: entreter o público com obras bem construídas; não utilizar a cena para desprestigiar um concidadão, dar a cada personagem a sua própria personalidade, aceitar as críticas construtivas para poder melhorar a sua arte.

“Consideraciones generales sobre los modelos de Terencio” de Aurora López e Andrés Pociña é o texto que se segue: neste artigo, propõem-se os autores apresentar dados objectivos sobre os modelos das seis comédias terencianas, as comédias, na sua maior parte homónimas, de Menandro e de Apolodoro de Caristio, enfatizando a ideia de que o próprio Terêncio indica, nos seus prólogos, frequentemente não ter tomado como modelo uma só comédia grega, mas utilizado elementos procedentes de outras. Trata-se de comprovar, com este estudo, o que se dissera na primeira secção, nos artigos que apontavam para a influência de Menandro em Terêncio.

Em “Los prólogos de Terencio: polémica literaria y oratoria forense”, de Marta Garelli, o estudo seguinte, continua-se, como nos dois anteriores, o trabalho sobre os prólogos, fontes de informação diversificada. Desta feita, a autora, constatando que Terêncio abandonara o omnisciente prólogo expositivo e o utilizara com propósitos polémicos, analisa-os sob a perspectiva da oratória forense: estudam-se as figuras do defensor e do acusador, a argumentação defensiva e as formas que toma a captatio beneuolentiae.

“Phormio. Desorden ciudadano” é a reedição em espanhol de um trabalho de David Konstan (Brown Univ., USA), que consiste num capítulo da sua obra Roman Comedy, essencial para o estudo da comédia latina. Debruça-se o autor sobre o papel das personagens e o seu tratamento na comédia Phormio.

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Depois dos estudos sobre os prólogos e sobre a comédia acima citada, mais dois estudos, mas agora sobre a Hecyra: “Terencio en el Comicio? Reflexiones sobre la primera y la segunda representación de la Hecyra” de Román Bravo, e “A Hecyra de Terêncio. Incompreensão, isolamento e convenção social.”, de Delfim Leão. O propósito do autor do primeiro é esclarecer os acontecimentos na primeira e segunda representações da Hecyra, evocados por Terêncio nos seus prólogos, fazendo o ponto da situação das soluções apresentadas até ao momento e avançando com a sua própria. No segundo estudo citado, o autor centra-se na caracterização e análise dos sentimentos das personagens, destacando, em cada uma delas, ora a incompreensão de que são vítimas, ora o desencanto, as expectativas frustradas, o isolamento a que são votadas, o peso das convenções que sobre elas se abate, a abnegação, as virtudes que justificam a a humanitas que, desde a Antiguidade se reconhece no teatro de Terêncio.

Depois dos artigos sobre duas peças em particular, desce-se ainda mais ao pormenor, com três artigos sobre as personagens: “El servus terenciano: convergencias y divergencias con la tradición plautina”, de Beatriz Rabaza, Aldo Pricco, Darío Maiorana; “As cortesãs em Terêncio”, de Aires Pereira do Couto, e “El personaje secundario en las comedias de Terencio”, de Carmen González Vázquez. O primeiro. ocupa-se do estudo de uma das figuras recorrentes nas comédias de Plauto e de Terêncio: o seruus, destacando-se o tratamento diferenciado em cada um dos comediógrafos referidos No segundo, sobre as cortesãs, começa o autor por estabelecer as diferenças entre as cortesãs plautinas e terencianas, para depois se centrar na caracterização das terencianas, destacando as duas dignas representantes da bona meretrix tipicamente terenciana (Bacchis da Hecyra, e Thaís do Eunuchus), “duas cortesãs que, pela sua generosidade e nobreza de carácter, se afastam completamente do conceito habitual de cortesã e não têm paralelo nas cortesãs plautinas” (p. 290).

O terceiro artigo referido começa por tentar responder à questão “O que é uma personagem, para passar depois à análise, por comédias, das características funcionais da personagem secundária em Terêncio, fundamental para o desenvolvimento e desenlace das suas comédias.

Segue-se “La poética dramática: Terencio como programa retórico”, de Beatriz Rabaza, Aldo Pricco, Darío Maiorana: trata-se de uma tentativa de “una reformulación del funcionamento del material teatral de Terencio desde una perspectiva cercana a la especificidad

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del discurso dramático en sus cruces com la retórica e el discurso político” (p. 314).

“Amor em Terêncio”, de Francisco Oliveira, é o artigo seguinte. Propõe o autor uma pesquisa das concepções de amor presentes na comédia terenciana tomada como produto romano. Essa pesquisa contempla as seguintes etapas: estudo do amor, como tema de comédia; o conceito e linguagem do amor em Terêncio; iniciação sentimental masculina: o amor meretrício; amor e casamento.

Em “Teatralidad cognitiva y psicofísica en el discurso terenciano: la constitución del auditorio”, o estudo que se segue na ordenação adoptada, Aldo Pricco, o autor, considerando que, “el discurso escénico y las condiciones de un sitio de representación otorgan al espectador la possibilidad de vivir una experiencia, o sea, de alterar, aunque en medidas exiguas, sus competencias de reflexión, su sensibilidad, sus esquemas perceptivos, no por el objetivo de algun fin predeterminado sino sólo por el placer de intertarlo, o por participar de hábitos comunitarios que, en los casos de los ludi romanos, habilitan el rito de la asistencia a la representación de una comedia”, faz esta breve análise que “incluye menciones a la índole ritual del espectáculo de la palliata, y las condiciones de acción colectiva en que un espectador de Roma accedía a la experiencia estética de una pieza de Terencio” (p. 358)

A terceira secção, “Pervivencia e recepción de Terencio”, inclui seis estudos que se ocupam da perviência de Terêncio e da sua obra ao longo dos séculos “en obras de otros autores, en ediciones de sus comedias, convertido el mismo en tema literario, por ultimo en la investigación filológica.” (p. 9)

Assim, os dois primeiros estudos ocupam-se das remissões e referências a Terêncio em autores posteriores. No artigo Leituras de Terêncio nos autores clássicos, a autora, Maria Cristina Pimentel, tomando como ponto de partida uma frase do Prólogo do Eunuchus (“Nullum est iam dictum quod non sit dictum prius”), a propõe-se observar os diversos tipos de leituras e alusões a Terêncio e à sua obra que se encontram nos autores latinos clássicos. Distingue dois tipos de texto: em primeiro lugar os que reflectem o uso escolar e se ocupam de questões gramaticais, isto é, a presença de Terêncio nos currículos escolares; em segundo lugar, aqueles que registam dados biográficos, emitem juízos de valor sobre a obra, o desenho das personagens, a elegância do estilo, desde Suetónio até Amiano Marcelino, passando por César, Varrão, Horácio, Veleio Patérculo, Aulo Gélio, Ovídio, entre outros, e principalmente Cícero. O segundo estudo referido, de

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Arnaldo Espírito Santo, apresenta um título perfeitamente elucidativo do assunto a tratar: Terêncio nos autores cristãos da Antiguidade Tardia e Idade Média (séc. IV-XII). Como refere o autor: “seja na escola, no manual de gramática, no comentário de Donato, no manual de dialéctica, nas obras de Agostinho, Jerónimo, etc., na produção de comentários bíblicos, de sermões, de crónicas e anais, na correspondência epistolar, na reflexão moral e filosófica, em todo o tipo de textos, Terêncio esteve presente na configuração da escrita, das imagens e de algum pensamento dos autores cristãos.” (p. 426) Menciona também o autor épocas privilegiadas da pervivência de Terêncio.

Segue-se Terencio en España: del Medievo a la Ilustración, de Luís Gil: Terêncio foi conhecido e seguido, em Espanha, desde a Idade Média até ao Século das Luzes, através da escola, de adaptações e representações teatrais; a sua presença em autores espanhóis é muito significativa, como revela este interessante estudo.

Prolegomena Terentiana. Las ediciones renascentistas de Terencio: organización y estructura, de Manuel Molina, é o título que surge no Índice, mas que, no estudo propriamente dito, surge como Prolegomena Terentiana. Modelos de introducción y comentario en las ediciones renacentistas de Terencio. Começa o autor por salientar o facto de os preliminares que encabeçam as edições renascentistas de Terêncio serem de tal forma exaustivos que nada mais parece possível dizer-se, em termos de teoria dramática, embora considere que alguns outros aspectos tenham passado despercebidos à maioria dos estudiosos humanistas. O objectivo do trabalho é apresentar os diferentes modelos de introdução e comentário que, ao longo do séc. XVI, se realizaram na Europa sobre as obras de Terêncio.

“Terentius (1997) de Juanjo Prats, o el arte viejo de hacer comedias”, de Carmen Morenilla, Patricia Crespo, é o estudo de uma comédia intitulada Terentius, de Juanjo Prats, representada sob a direcção de Pep Cortés, em 1997; do argumento, o autor conclui que Juanjo Prats e Pep Cortés criaram esta comédia dentro do espectáculo, baseando-se fundamentalmente em três comédias de Terêncio, Hecyra, Eunuchus e Phormio, mas utilizando elementos das outras três. E diz mesmo “podemos destacar que en Terentius hay de Terencio exactamente lo mismo que de Menandro o Apolodoro de Caristos hay en las comedias de Terencio”(p. 510).

Finalmente, Recepción y estudios críticos sobre Terencio en Espana, de José M Camacho Rojo, encerra esta colectânea de estudos; trata-se de um repertório bibliográfico sobre a recepção e estudos

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críticos sobre Terêncio em Espanha, classificado em três partes: 1) códices, edições e traduções; 2) estudos críticos; 3) recepção e influência de Terêncio nas literaturas hispânicas.

Esta é, pois, uma obra bem estruturada, que contempla aspectos fundamentais da vida e obra de Terêncio, bem como dos seus antecedentes e da sua recepção ao longo dos séculos. Os seus estudos são diversificados e de grande relevância para os interessados nesta matéria, pela sua profundidade e pertinência. Não sendo uma obra exaustiva no tratamento da figura e da obra de Terêncio, é, sem dúvida, um contributo notável e um útil instrumento de trabalho para os interessados.

Helena Costa Toipa