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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ADRIANO LUIS COSTA RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO “PAPA-LÂMPADAS” Salvador - Bahia 2009

RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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Page 1: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ADRIANO LUIS COSTA

RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO “PAPA-LÂMPADAS”

Salvador - Bahia

2009

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ADRIANO LUIS COSTA

RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO “PAPA-LÂMPADAS”

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em

Engenharia de Segurança do Trabalho da Escola

Politécnica da Universidade Federal da Bahia para a

obtenção do título de Engenheiro de Segurança do

Trabalho.

Orientador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça

Salvador - Bahia

2009

Page 3: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

3

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Reitor: Prof. Naomar Monteiro de Almeida Filho

ESCOLA POLITÉCNICA

Diretor: Prof. Luis Edmundo Prado de Campos

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Chefe Deptº: Prof. Marcelo José Pirani

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Coordenador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça

COSTA, Adriano Luis. Reciclagem de lâmpadas que contêm mercúrio - Avaliação do

método de processamento “Papa-Lâmpadas”. Salvador, 2009. 103 p.

Orientador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça, Mestre.

Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) - Universidade

Federal da Bahia - Escola Politécnica - Departamento de Engenharia Mecânica - CEEST.

Palavras Chave: 1. Mercúrio; 2. Reciclagem; 3. Risco ocupacional; 4. Impacto ambiental.

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4

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal da Bahia

Ao orientador Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça

Aos professores do CEEST

A José Neto e Fernando Maxixe da Ivomax

Aos amigos e colegas do CEEST

A minha família

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta monografia

Page 5: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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RESUMO

Das 100 milhões de lâmpadas fluorescentes produzidas por ano, quase metade é trocada

anualmente. Destas 50 milhões descartadas, apenas 6% chegam às empresas recicladoras.

Somente 8% encontram destinação em aterros sanitários apropriados para receber resíduos

com contaminantes tóxicos. Assim, 43 milhões de lâmpadas são jogadas fora de maneira

prejudicial ao ambiente e à saúde pública.

Com a crise energética de 2001, os brasileiros mudaram seus hábitos e padrões de

consumo energético. Depois de o consumidor adotar medidas simples como apagar a luz ao

deixar um ambiente, ou substituir as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, o gasto de

energia caiu consideravelmente no país. As fluorescentes compactas custam mais caro que as

incandescentes, porém, no final das contas, a relação custo-benefício acaba sendo

compensadora, em função da economia de eletricidade proporcionada.

O problema está no descarte dessas lâmpadas, pois quando há o rompimento do vidro o

mercúrio contido é expelido podendo intoxicar os seres humanos e o meio ambiente. Cabe

então ao governo, em suas esferas nacional, estadual e/ou municipal, fazer uso de seu poder

de legislador, e estabelecer as regras relacionadas à destinação das lâmpadas que contêm

mercúrio. Como no Brasil ainda não existe uma regulamentação abrangente sobre os resíduos

sólidos, o descarte inadequado das lâmpadas em lixões e aterros sanitários acaba sendo a

alternativa da maioria dos consumidores, especialmente os residenciais.

Desde a década de noventa empresas especializadas em reciclagem começaram a surgir

no mercado brasileiro como uma alternativa para o descarte de lâmpadas que contêm

mercúrio. Concomitantemente começaram a surgir também questionamentos sobre a

idoneidade destas empresas e capacidade das mesmas de dar aos resíduos das lâmpadas a

destinação adequada.

Considerando este contexto, objetivou-se com a presente monografia estudar as

lâmpadas que contêm mercúrio e o seu descarte junto a empresas especializadas que fazem da

reciclagem uma atividade comercial, encarregando-se da disposição dos resíduos. O enfoque

principal deste trabalho são os potenciais impactos ambientais e riscos ocupacionais

decorrentes desta atividade, especificamente de uma empresa que atua na Bahia, realizando a

denominada “Operação Papa-Lâmpadas”.

Page 6: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

6

ABSTRACT

Of the 100 million fluorescent lamps produced per year, almost half is exchanged

annually. 50 million out of these, only 6% reach businesses recycled. Only 8% are appropriate

destination in landfills to receive waste with toxic contaminants. Thus, 43 million light bulbs

are thrown out of the way detrimental to the environment and public health.

With the energy crisis of 2001, the brazilians have changed their habits and patterns of

energy consumption. After the consumer adopting simple as turn off the light when leaving an

environment, or replace incandescent bulbs for fluorescent, the energy spent in the country

has fallen considerably. The compact fluorescent costs more expensive than the incandescent,

but in the end, the cost-benefit has been rewarding, depending on the economy of electricity

provided.

The problem is the disposal of these bulbs, because when the rupture is contained

mercury expelled can poison humans and the environment. It is then up to the government in

their spheres national, state and / or municipal, to use its power of legislature, and establish

rules related to allocation of lamps containing mercury. As in Brazil there is still no

comprehensive legislation on solid waste, the improper disposal of the lamps in landfills has

been the choice of most consumers, especially residential.

Since the nineties companies specializing in recycling began to appear in the brazilian

market as an alternative to the disposal of lamps containing mercury. Concurrently began to

appear also questions about the suitability of these companies and the same ability to waste

the allocation of lamps properly.

Considering this context, the aim of this monograph is to study the lights that contain

mercury and its disposal with specialized firms that make a business of recycling, is

responsible for the disposal of waste. The main focus is the potential environmental and

occupational risks from this activity, specifically a company that operates in Bahia,

performing the "Operação Papa-Lâmpadas".

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... 9

LISTA DE TABELAS ....................................................................................... 10

LISTA DE SIGLAS ........................................................................................... 12

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ..................................................................................... 16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 18

2.1. CARACTERÍSTICAS DO MERCÚRIO SEUS COMPOSTOS ................................... 18

2.1.1. Aplicações práticas do mercúrio e seus compostos .................................................. 19

2.2. RISCOS DA EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO PARA OS SERES HUMANOS ........... 21

2.2.1. Casos expressivos de exposição ocupacional e ambiental ao mercúrio ................... 24

2.2.2. Riscos associados à exposição ocupacional .............................................................. 28

2.2.3. Legislação sobre exposição ocupacional ao mercúrio .............................................. 32

2.2.4. Medidas de ordem técnica e médica para redução dos riscos ocupacionais ............. 35

2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO ............... 39

2.3.1. Ecotoxicidade do mercúrio ....................................................................................... 39

2.3.2. Legislação ambiental brasileira sobre o mercúrio .................................................... 43

2.4. CARACTERÍSTICAS DAS LÂMPADAS DE MERCÚRIO ....................................... 48

2.4.1. Histórico das lâmpadas de descarga elétrica ............................................................. 49

2.4.2. Tipos de lâmpadas que contêm mercúrio ................................................................. 50

2.4.3. Mercado brasileiro das lâmpadas de mercúrio.......................................................... 54

2.4.4. Aspectos positivos das lâmpadas que contêm mercúrio ........................................... 56

2.4.5. Aspectos negativos das lâmpadas que contêm mercúrio .......................................... 59

2.5. RECICLAGEM DE LÂMPADAS NO BRASIL ........................................................... 61

2.5.1. Conceitos associados à prevenção da poluição ambiental ........................................ 62

2.5.2. Reciclagem artesanal ................................................................................................ 66

2.5.3 Reciclagem mecanizada ............................................................................................. 67

2.5.4. Principais empresas de reciclagem de lâmpadas e suas características .................... 69

2.5.4.1. Apliquim ............................................................................................................. 70

2.5.4.2. Mega Reciclagem ................................................................................................ 72

2.5.4.3. Brasil Recicle ...................................................................................................... 72

2.5.4.4. Tramppo .............................................................................................................. 73

3. METODOLOGIA ......................................................................................... 75

3.1. OBJETIVOS ................................................................................................................... 75

Page 8: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

8

3.1.1. Geral .......................................................................................................................... 75

3.1.2. Específicos ................................................................................................................ 75

3.2. MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................................. 76

3.3. POPULAÇÃO / AMOSTRA .......................................................................................... 76

3.4. LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................... 77

4. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E SEUS PROCESSOS ............... 78

4.1. HISTÓRICO DA IVOMAX ........................................................................................... 78

4.2. PROCESSAMENTO DAS LÂMPADAS ...................................................................... 79

4.2.1. Preparação da operação............................................................................................. 81

4.2.2. Transporte dos equipamentos e resíduos .................................................................. 83

4.2.3. Descaracterização das lâmpadas ............................................................................... 84

4.3. ANÁLISE QUÍMICA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS ......................................... 85

4.4. LICENÇAS AMBIENTAIS ........................................................................................... 88

4.5. RISCOS OCUPACIONAIS............................................................................................ 89

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................. 91

5.1. RISCOS OCUPACIONAIS............................................................................................ 91

5.2. IMPACTOS AMBIENTAIS .......................................................................................... 95

5.3. EQUIPAMENTOS MÓVEIS E ESTACIONÁRIOS ..................................................... 96

5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 98

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 99

Page 9: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1. Principais constituintes de uma lâmpada fluorescente ........................................... 52

Figura 2.2. Distribuição por tipos de lâmpadas no Brasil ........................................................ 56

Figura 2.3. Distribuição por tipos de lâmpadas na região Nordeste ......................................... 56

Figura 2.4. Redução de mercúrio nas lâmpadas fluorescentes tubulares ................................. 58

Figura 2.5. Cadeia de distribuição reversa ............................................................................... 63

Figura 2.6. Ciclo do processo de reciclagem ............................................................................ 64

Figura 2.7. Ações para prevenção e controle da poluição ........................................................ 65

Figura 4.1. Sistema de descaracterização de lâmpadas “in company” ..................................... 79

Figura 4.2. Fluxo do processo de descaracterização de lâmpadas............................................ 80

Figura 4.3. Detalhes dos filtros primário e secundário ............................................................. 81

Figura 4.4. Detalhes da tampa e do acoplamento dos filtros .................................................... 82

Figura 4.5. Visão geral do equipamento com mangueiras conectadas ..................................... 82

Figura 4.6. Detalhes da operação de descaracterização de lâmpadas ....................................... 84

Figura 4.7. Detalhes do estoque inicial de lâmpadas e dos resíduos de vidro e alumínio ........ 85

Figura 5.1. Detalhe da falta de isolamento da área de trabalho ................................................ 93

Figura 5.2. Detalhe do uso de máscara facial somente pelo operador...................................... 94

Figura 5.3. Detalhes da fuga de gás com o pó fosfórico na operação de descaracterização .... 94

Page 10: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Aplicação de alguns compostos do mercúrio ........................................................ 20

Tabela 2.2. Estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil, em toneladas .............. 21

Tabela 2.3. Valores de referência de mercúrio em pessoas não expostas ................................ 22

Tabela 2.4. Distribuição de trabalhadores segundo tempo de exposição e presença ou não de

intoxicação ............................................................................................................. 26

Tabela 2.5. Distribuição de trabalhadores segundo sinais detectados no exame clínico-

neurológico ............................................................................................................ 27

Tabela 2.6. Distribuição de trabalhadores segundo o resultado de dosagem de mercúrio

urinário ................................................................................................................... 28

Tabela 2.7. Distribuição de trabalhadores segundo a combinação do conjunto de alterações

apresentadas nos exames clínicos, neurológico, psiquiátrico e psicológico .......... 28

Tabela 2.8. Doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos .......... 32

Tabela 2.9. Parâmetros para controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio ......... 33

Tabela 2.10. Tabela de limites de tolerância ao mercúrio ........................................................ 33

Tabela 2.11. Limites de exposição aos vapores de Hg pela OSHA, NIOSH e ACGIH ........... 34

Tabela 2.12. Valor máximo de mercúrio total admitido nas águas e efluentes no Brasil ........ 43

Tabela 2.13. Resíduos perigosos de fontes não específicas (Anexo A) ................................... 44

Tabela 2.14. Resíduos perigosos de fontes específicas (Anexo B) .......................................... 45

Tabela 2.15. Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos (Anexo C) ..................... 45

Tabela 2.16. Concentração máxima no extrato obtido no ensaio de lixiviação (Anexo F) ...... 45

Tabela 2.17. Padrões para o ensaio de solubilização (Anexo G) ............................................. 46

Tabela 2.18. Tipos de lâmpadas contendo mercúrio e sua utilização ....................................... 51

Tabela 2.19. Composição da poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente .......................... 52

Tabela 2.20. Lâmpadas que contêm mercúrio e quantidades ................................................... 54

Tabela 2.21. Dados estimados do mercado brasileiro de lâmpadas em 2007 .......................... 55

Tabela 2.22. Quantidade de mercúrio contido nas lâmpadas por tipo de consumidor ............. 55

Tabela 2.23. Dados sobre a emissão de mercúrio nos Estados Unidos .................................... 58

Tabela 2.24. Quantidade total de mercúrio em lâmpadas comercializadas no Brasil .............. 60

Tabela 2.25. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes em alguns países ................................... 61

Tabela 2.26. Valor dos materiais recuperados pela reciclagem de lâmpadas fluorescentes .... 69

Tabela 2.27. Dados comparativos dos processos e custo de reciclagem no Brasil .................. 70

Page 11: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

11

Tabela 4.1. Valor cobrado pelos serviços de reciclagem por lâmpada..................................... 79

Tabela 4.2. Resultado da análise química realizada pelo IPT .................................................. 86

Tabela 4.3. Resultado da análise do vidro e alumínio realizada pela Engequímica ................. 86

Tabela 4.4. Resultado da análise do pó fosfórico realizada pela Engequímica ........................ 86

Tabela 4.5. Resumo da análise química e destinação dos resíduos de lâmpadas ..................... 88

Tabela 4.6. Resultados das análises de ar atmosférico para fins de higiene ocupacional ........ 89

Tabela 5.1. Concentrações de mercúrio para o modelo Bulb Eater 55-VRS ........................... 92

Tabela 5.2. Concentração de mercúrio no modelo Bulb Eater 55-VRS-U............................... 92

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LISTA DE SIGLAS

ABILUMI - Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação

ABILUX - Associação Brasileira da Indústria de Iluminação

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists

ACPO - Associação de Combate aos Poluentes

ADEMA - Administração Estadual do Meio Ambiente

ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres

ATRP - Autorização de Transporte de Resíduos Perigosos

CAS - Chemical Abstract Substance

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CIR - Centro de Informações de Resíduos

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONEM - Congresso Nacional de Engenharia Mecânica

CRA - Centro de Recursos Ambientais

CRR - Certificado de Recepção e Responsabilidade

EPA - Environmental Protection Agency

IBMP - Índice Biológico Máximo Permitido

IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FATMA - Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina

GT - Grupo de Trabalho

HSDB - Hazardous Substances Data Bank

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBE - Indicador Biológico de Exposição

IDLH - Immediately Dangerous to Life and Health

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

NEMA - National Electrical Manufacturers Association

NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health

NR - Norma Regulamentadora

OIT - Organización Internacional del Trabajo

ONU - Organização das Nações Unidas

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OSHA - Occupational Safety & Health Administrations

PGR - Procuradoria Geral da República

PRONAEM - Programa Nacional para Eliminação do Mercúrio

SINPHA - Sistema de Informação de Posses e Hábitos de Uso de Aparelhos Elétricos

TLV - Threshold Limit Value

TWA - Time Weighted Average

UFBA - Universidade Federal da Bahia

USGS - United States Geological Survey

VR - Valor de Referência da Normalidade

WHO - World Health Organization

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1. INTRODUÇÃO

Gilvan Xavier, diretor da empresa Tramppo Recicla Lâmpadas, apresenta o seguinte

panorama no que tange às lâmpadas fluorescentes no Brasil (PIPE, 2007): “Das 100 milhões

de lâmpadas fluorescentes produzidas por ano, quase metade é trocada anualmente. Destas 50

milhões descartadas, apenas 6% chegam às empresas recicladoras. Somente 8% encontram

destinação em aterros sanitários apropriados para receber resíduos com contaminantes

tóxicos. Assim, 43 milhões de lâmpadas são jogadas fora de maneira prejudicial ao ambiente

e à saúde pública.”

De acordo com o IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - com a crise

energética de 2001, os brasileiros mudaram seus hábitos e padrões de consumo energético.

Depois de o consumidor adotar medidas simples como apagar a luz ao deixar um ambiente,

ou substituir as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, o gasto de energia caiu 24,4%

no país, entre junho de 2001 e fevereiro de 2002. As fluorescentes compactas custam, em

média, cinco vezes mais caro que as incandescentes, porém, no final das contas, a relação

custo-benefício acaba sendo compensadora, pois a economia de eletricidade proporcionada

pode chegar a 80% (IDEC, 2009).

Depois de ser incorporada em grande parte dos lares do país, a lâmpada fluorescente

compacta tornou-se uma boa alternativa para economizar energia. O problema está no

descarte, pois essas lâmpadas, juntamente com as fluorescentes tubulares e outros modelos

não tão conhecidos popularmente, são na verdade produtos tóxicos que contém metais

pesados. Quando há o rompimento dessas lâmpadas o mercúrio que é expelido pode intoxicar

os seres humanos, afetando o sistema nervoso central e outros órgãos. Se jogadas no lixo

comum podem acabar contaminando o solo e também o lençol freático, chegando, inclusive, à

cadeia alimentar do homem.

A ACPO - Associação de Combate aos Poluentes - destaca que como a maioria de

lâmpadas queimadas e quebradas ainda não conta com uma coleta seletiva em nível nacional,

quando são descartadas pelos domicílios e estabelecimentos do comércio, seguem para

“lixões” e aterros, sendo uma parcela mínima reciclada. A falta de uma regulamentação

rigorosa e eficaz faz com que toda a cadeia (indústria, comércio, distribuição, uso e descarte

de lâmpadas) seja extremamente perigosa, colocando em risco a saúde das pessoas envolvidas

(ACPO, 2006).

Page 15: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

15

O IDEC entende que os fabricantes e importadores são responsáveis pela destinação

adequada desses resíduos. Os quatro maiores fabricantes (Philips, Osram, GE e Silvânia) e

algumas importadoras do país foram consultados por essa organização em 2008, e o serviço

de atendimento ao consumidor de todas as empresas contatadas afirmou que elas não recebem

os resíduos para a sua correta destinação final.

Soma-se a isso o fato do mercado consumidor de lâmpadas dividir-se em dois

segmentos, o residencial (pequenos geradores) e o industrial, comercial e serviços (grandes

geradores), sendo que estes últimos juntos são responsáveis pela produção de mais de 90%

dos resíduos de mercúrio, devendo então ser prioritariamente responsabilizados pela sua

destinação (ABILUX, 2003).

Roberto Castanon da ABILUX - Associação Brasileira da Indústria de Iluminação - destaca

outros aspectos relevantes relacionados com as lâmpadas inservíveis que contêm mercúrio,

que dificultam a formulação de uma solução adequada para esta problemática no Brasil:

• Estrutura complexa de distribuição de lâmpadas;

• Produto frágil e volumoso;

• Dimensões continentais do país (5.500 municípios e 47 milhões de unidades

consumidoras de energia elétrica, dos quais 40 milhões são residenciais);

• Impacto da inclusão do custo de disposição no custo do produto, aumento em cerca de

4 vezes o preço para o usuário final (como a antecipação de pagamento, desembolso no início

da vida útil da lâmpada);

• Pouca disponibilidade de aterros licenciados e recicladoras habilitadas nas regiões

Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país;

• Quase impossibilidade de se conhecer dados técnicos das lâmpadas dos importadores

independentes;

• Dificuldade do consumidor em separar lâmpadas por fornecedor (o modelo adotado

pelos Estados Unidos, por exemplo, atribui aos usuários e aos governos locais a destinação

final do produto);

• Os equipamentos e os processos de fabricação de lâmpadas são completamente

diferentes daqueles usados para a disposição/reciclagem.

Page 16: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

16

Com base nessa realidade, verifica-se então que cabe ao governo, em suas esferas

nacional, estadual e/ou municipal, fazer uso de seu poder de legislar para estabelecer as regras

relacionadas à destinação das lâmpadas que contêm mercúrio, definindo exatamente como

proceder e quem são os responsáveis. Como no Brasil ainda não existe uma regulamentação

abrangente sobre os resíduos sólidos, apesar das discussões a respeito ocorrerem há pelo

menos duas décadas, o descarte inadequado das lâmpadas acaba sendo a alternativa da

maioria dos consumidores, especialmente os residenciais.

Enquanto as leis não se concretizam, empresas especializadas em reciclagem

começaram a surgir no mercado brasileiro desde a década de noventa como uma alternativa

para a destinação de lâmpadas que contêm mercúrio. De posse de variados modelos de

equipamentos, alguns nacionais e outros importados, aproximadamente dez empresas vêm

oferecendo seus serviços de forma regular na atualidade, estando as mesmas concentradas em

seis estados do país.

Concomitantemente começaram a surgir também questionamentos sobre a idoneidade

destas empresas e capacidade das mesmas de dar aos resíduos das lâmpadas, especialmente

para o mercúrio, a destinação mais segura do ponto de vista ambiental, já que os serviços

prestados são remunerados. Outro aspecto que gera dúvidas aos potenciais usuários dos

serviços de reciclagem são as condições nas quais o trabalho é executado, e quais os riscos de

exposição que os operadores dos equipamentos e outras pessoas inadvertidamente podem

estar sujeitas.

Nesta monografia, o objeto de estudo são as lâmpadas de descarga que contêm

mercúrio, produtos encontrados nas indústrias, comércio, empresas de serviços em geral, na

iluminação pública e nas residências, e o seu descarte junto a empresas especializadas que

fazem da reciclagem uma atividade comercial, encarregando-se da disposição dos resíduos,

inclusive do mercúrio. O enfoque principal são os potenciais impactos ambientais e riscos

ocupacionais decorrentes desta atividade, especificamente de uma empresa que atua na Bahia,

realizando a denominada “Operação Papa-Lâmpadas”.

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Esta monografia está dividida em cinco capítulos. No primeiro é feita a introdução ao

estudo das lâmpadas que contêm mercúrio e a sua reciclagem, que é o objetivo geral do

presente trabalho.

Page 17: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

17

No segundo capítulo são apresentadas as fundamentações teóricas, que tratam sobre as

características do mercúrio seus compostos, os riscos da exposição ao mercúrio para os seres

humanos, os problemas ambientais da contaminação por mercúrio, as características das

lâmpadas de mercúrio e reciclagem de lâmpadas no brasil.

No terceiro capítulo é realizada a descrição da metodologia do trabalho, destacando os

objetivos geral e específicos, o método de pesquisa, aspectos associados à população e à

amostra estudada e também os problemas enfrentados na pesquisa.

O quarto capítulo apresenta a empresa recicladora que realiza na Bahia a “Operação

Papa-Lâmpadas”, incluindo as características principais de seus equipamentos, processos,

destinação de resíduos, licenças existentes para a operação com mercúrio e cuidados com a

saúde dos trabalhadores.

Por fim, o quinto capítulo traz as conclusões sobre o estudo e sugestões para colaborar

com o prosseguimento das pesquisas nesta área e com os usuários de lâmpadas que contêm

mercúrio.

Page 18: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. CARACTERÍSTICAS DO MERCÚRIO SEUS COMPOSTOS

O mercúrio é conhecido pelo homem desde a antiguidade. Egípcios, chineses, fenícios e

gregos já o utilizavam para a extração do ouro. Tumbas egípcias datadas de antes de 1500

A.C. continham o cinábrio, principal minério do qual se extrai o mercúrio, cuja composição é

o sulfeto de mercúrio (HgS) (ACPO, 2006).

O cinábrio é encontrado em rochas próximas de atividades vulcânicas recentes, em

veios ou fraturas minerais e em áreas próximas de fontes de águas termais. O mercúrio é um

metal pesado cujo símbolo Hg deriva do latim hydrargyrum e, na sua forma elementar, em

condições normais de temperatura e pressão, é um líquido denso, inodoro e de aspecto

argênteo. (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O mercúrio rapidamente se combina com enxofre e halogênios a temperatura normal e

forma amálgamas com todos os metais, exceto ferro, níquel, cádmio, alumínio, cobalto e

platina. Reage exotermicamente (gerando calor), com metais alcalinos, é atacado pelo ácido

nítrico, mas não por clorídrico e, quando aquecido, combina com ácido sulfúrico. (OIT, 1998)

As formas nas quais pode ser encontrado são o mercúrio metálico (Hgº), mercúrio (I) e

mercúrio (II), nas quais os átomos perdem um ou dois elétrons, respectivamente, formando o

mercúrio mercuroso (Hg2++) e o mercúrio mercúrico (Hg++). Estes dois últimos, mercuroso e

mercúrico, formam diversos compostos químicos orgânicos e inorgânicos. As formas

orgânicas são aquelas em que o mercúrio é anexado covalentemente a, pelo menos, um átomo

de carbono. (WHO, 1990).

Os compostos formados a partir do mercúrio (II) são mais abundantes que aqueles

formados a partir do (I), e em adição a sais simples como cloretos, nitratos e sulfatos, formam

uma importante classe de compostos organomercuriais. Do ponto de vista toxicológico, os

compostos organomercuriais que causam maior preocupação são os ligados aos radicais

alquila de cadeia curta, onde o mercúrio se liga aos grupos metila, etila e propila. (WHO,

1976).

Os compostos de monometilmercúrio proporcionam riscos para a saúde humana. O

termo genérico "metilmercúrio" é utilizado para representar os compostos

Page 19: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

19

monometilmercuriais. Em alguns casos, a identidade exata destes compostos não é conhecida,

exceto que contêm o cátion metilmercúrio (CH3Hg+) associado tanto a um simples ânion

como o cloreto, ou a moléculas de alto peso molecular, tais como proteínas, com cargas

negativas ou positivas (WHO, 1990).

No ciclo local do mercúrio na natureza, segundo Albert (1988), quando o metilmercúrio

está livre na água atravessa as membranas biológicas com facilidade, motivo pelo qual se

incorpora rapidamente as cadeias tróficas aquáticas. Esta característica, associada a sua

liposolubilidade e sua afinidade pelos grupos sulfidrilos das proteínas, fazem com que o

metilmercúrio seja muito perigoso para todos os seres vivos.

Para Nascimento & Chasin (2001), a crosta terrestre é fonte importante para a

contaminação de corpos aquáticos naturais. Uma parcela do mercúrio encontrado na água é de

origem natural, embora possa parcialmente ser de origem atmosférica e ter sido gerada,

também, por atividade antropogênica (humana). Portanto, é difícil avaliar quantitativamente

as contribuições relativas à atividade antropogênica e à natural em relação aos mercuriais que

sofrem lixiviação do solo para a água.

De acordo com Allan (1997), apud Nascimento & Chasin (2001), as estimativas de

emissão natural de Hg nos anos 70 são baseadas em análises de geleiras na Groenlândia, além

de outros locais no mundo. Novas técnicas de coleta de amostras e análise de metal em água e

gelo foram implementadas nos anos 80, assim, as estimativas mais recentes admitem uma

proporção de 50/50 para as emissões globais naturais / antropogênicas.

2.1.1. Aplicações práticas do mercúrio e seus compostos

As utilizações mais importantes do mercúrio metálico e seus compostos inorgânicos

incluem o processamento de minerais (prata e ouro); a produção de amálgamas; a fabricação e

reparação de instrumentos de medição ou de laboratório; manufatura de lâmpadas, tubos de

raios-X, interruptores, baterias, retificadores, etc.; como catalisador para a produção de cloro e

álcalis e na produção de ácido acético e acetaldeído de acetileno; em laboratórios de

investigação químicos, físicos e biológicos; na eletrodeposição de ouro, prata, bronze e

estanho; no curtimento e tratamento de peles e na fabricação de feltros em taxidermia; na

tecelagem, na fotografia e fotogravura; em tintas e pigmentos à base de mercúrio, e no fabrico

de seda artificial. Algumas destas aplicações têm caído em desuso devido aos efeitos tóxicos

da exposição ao mercúrio pelos trabalhadores (OIT, 1998).

Page 20: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

20

Já os compostos orgânicos de mercúrio, que são aqueles nos quais o mercúrio está

ligado diretamente a um átomo de carbono, têm suas principais utilizações na prática médica,

sendo usados como anti-sépticos, germicidas, diuréticos e contraceptivos; no domínio dos

pesticidas, como algicidas, fungicidas, herbicidas e limocidas; como conservantes em tintas,

ceras e pastas para remover o mofo, tintas anti-incrustantes, tintas de látex; no tratamento de

microbicidas têxteis, papel, cortiça e madeira para uso em climas úmidos; na indústria

química, atuando como catalisadores nas diversas reações (OIT, 1998). A tabela 2.1 apresenta

algumas aplicações específicas de compostos orgânicos e inorgânicos do mercúrio.

Tabela 2.1. Aplicação de alguns compostos do mercúrio

Nome Composição Aplicação

Cloreto de mercúrio (I)

(Hg2Cl2) Medicamento tópico para rashes e úlceras cutâneas, antisséptico, composição de agrotóxicos, tintas para cerâmica e em fogos de artifício.

Cloreto de mercúrio (II)

(HgCl2) Reagente analítico em sínteses orgânicas, feltragem e secretagem de pelos, crinas e plumas e de substâncias para empalhamento de animais, curtimento do couro, fungicida no tratamento de sementes e vegetais, e proteção de madeira.

Óxido de mercúrio

(HgO) Produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos, em antissépticos, em fungicidas, como pigmento para tintas e em baterias de células secas (especialmente as utilizadas em equipamentos miniaturizados)

Cianeto potássico de mercúrio

[Hg(CN)2 2KCN] Douração e estanhagem de vidros para a fabricação de espelhos

Fulminato de mercúrio

[Hg(CNO)2] Fabricação de espoletas e como detonante de explosivos para emprego militar ou industrial

Tiocianato de mercúrio

[Hg(SCN)2] Produção de fogos de artifício e como intensificador na indústria fotográfica

Sulfeto de mercúrio

(HgS) Pigmento vermelho ou preto para fabricação de tintas

Sulfato de mercúrio

(HgSO4) Galvanização de baterias e no tratamento a quente de amálgamas de ouro e prata, para recuperação destes metais

Estearato de mercúrio

[(C17H35CO2)2 Hg] Germicida

Fonte: BRASIL, 2001

No Brasil os principais setores que usam o mercúrio são: garimpo, indústria de cloro-

soda, fabricação de aparelhos elétricos, instrumentos científicos, lâmpadas fluorescentes,

catalisadores, odontologia, laboratórios de pesquisa, de análises químicas e biológicas,

indústria farmacêutica, refino do petróleo, fabricação de ácido acético e de acetaldeído (a

partir do acetileno) e indústrias de papel (AZEVEDO, 2003). A tabela 2.2 demonstra uma

estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil e respectivas quantidades, para

diversos setores.

Page 21: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

21

Tabela 2.2. Estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil, em toneladas

Setor Uso Quantidade Anual (T)

Estimativa do mercúrio de origem externa - importação Garimpo de ouro Amálgama 130,0 Indústrias de cloro-soda Células de eletrólise 17,0 Lâmpadas fluorescentes Componente 1,1 Odontologia Amálgama dentário 2,8 Aterros sanitários e lixões Resíduo 5,0

Estimativa do mercúrio de origem interna - exportação Produção de aço e ferro Contaminante do processo 12,0 Pirometalurgia (Pb, Zn, Cd) Contaminante do processo 4,5 Combustíveis fósseis e gás natural Contaminante 4,2 Queimadas Contaminante 8,7 Total estimado de origem externa - importação 29,4 Total estimado de origem interna - exportação 155,9 Total geral 185,9 Fonte: AZEVEDO, 2003

Com relação às quantidades utilizadas, a ACPO (2006), citando a ABILUX -

Associação Brasileira da Indústria de Iluminação, destaca que a importação anual de mercúrio

brasileira atinge 300 toneladas, apesar dos dados oficiais do governo não indicarem tal

quantia. Esta diferença deve ser levada em conta devido à inexistência de registros oficiais

mais abrangentes e criteriosos. Algumas hipóteses indicam que esta diferença pode estar

associada à entrada de mercúrio de forma clandestina no país.

2.2. RISCOS DA EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO PARA OS SERES HUMANOS

O mercúrio foi usado na medicina desde a época de Aristóteles até a Idade Média. Os

antigos chineses acreditavam que o cinábrio e o mercúrio tinham propriedades

medicamentosas que prolongavam a vida. Vários imperadores morreram de mercurialismo na

tentativa de assegurar a imortalidade, através da ingestão constante desse metal. Os antigos

hindus, por outro lado, acreditavam que o mercúrio possuía propriedades afrodisíacas. No

início do primeiro século depois de Cristo, na Grécia, o mercúrio foi usado como ungüento

medicinal. Foi muito usado como componente de ungüentos ou pomadas para o tratamento de

diversas doenças da pele, além de cosméticos, pelos romanos (D’ITRI, 1972; QUEIROZ,

1995; YAMADA et al., 1997; apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Durante a Idade Média o mercúrio foi muito usado pelos alquimistas, que tentavam

transformar o chumbo em ouro usando o mercúrio neste processo. O uso medicinal do

mercúrio ganhou maior importância a partir do século XVI, quando passou a ser aplicado na

Page 22: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

22

tentativa de curar inúmeras doenças, principalmente nas feridas produzidas pela sífilis e como

diurético. Em 1557 o francês Jean Fernel descrevia os sinais e sintomas de intoxicação

mercurial em pacientes que recebiam o mercúrio como medicamento. Contudo, até o século

XIX, o mercúrio ainda era usado como medicamento para desobstrução intestinal e, no século

XX, o famoso mercuriocromo foi usado como anti-séptico (AZEVEDO, 2003).

Os níveis de mercúrio encontrados em populações não expostas constituem objeto de

estudo de vários artigos citados na literatura e que embasam o estabelecimento dos valores de

referência. Os indicadores biológicos da exposição humana ambiental são o mercúrio no

sangue e o mercúrio no cabelo, os quais permitem uma avaliação do grau de exposição

ambiental de populações ao mercúrio. O cabelo é a matriz biológica de escolha quando se

pretende avaliar a exposição pregressa ao mercúrio metálico e ao metilmercúrio e, por isso

mesmo, é particularmente empregado nas pesquisas de avaliação da exposição ambiental da

população em geral representada por pessoas sem histórico de contato profissional com o

mercúrio. O cabelo pode ser usado também para o levantamento do grau de exposição ao

metilmercúrio veiculado por alimentos por ele contaminados (FRIBERG et al., 1979;

RAHMAN, et al., 2000; WHO, 1991; apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

A tabela 2.3 mostra as concentrações de mercúrio no sangue, na urina e no cabelo

humano sugeridas como normais por diferentes autores.

Tabela 2.3. Valores de referência de mercúrio em pessoas não expostas

Indicador Biológico de Exposição (IBE) Concentração Referência

Sangue (µg/dL)

< 2 (também para metilmercúrio) LAUWERYS, 1986 < 1-5 (sangue total) HAMMOND, 1980 3-4 (limite máximo de concentração normal) KLAASEN, 1986 > 4 (anormal em adultos) KLAASEN, 1986 até 10 BRAS IL, 1983 25 (máximo na população normal) KLAASEN, 1986 < 100 (corrigida a densidade para 1,018) HAMMOND, 1980

Urina (µg/g creatinina) < 5 LAUWERYS, 1986

Cabelo (µg/g) 1 SHAHRISTANI et al, 1976 2 OPS, 1987

Fonte: NASCIMENTO & CHASIN, 2001

A exposição ambiental da população geral ao mercúrio é estimada em,

aproximadamente, 1 µg/dia pelo ar, até 2 µg/dia pela água e 20 µg/dia através dos alimentos,

podendo, neste caso, atingir até 75 µg/dia, conforme a quantidade de peixes da dieta

(GOYER, 1995 apud AZEVEDO, 2003).

Page 23: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

23

Populações com risco de intoxicação são aquelas com maiores probabilidades de

exposição a níveis perigosos do mercúrio ou as portadoras de condições biológicas ou

patológicas que podem exacerbar os efeitos da intoxicação pelo agente (AZEVEDO,

NASCIMENTO & CHASIN, 2001). Segundo estes autores, entre tais grupos populacionais

estão:

a) trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio;

b) populações gerais vizinhas a fontes de poluição por mercúrio (minas, indústrias);

c) populações de regiões com contaminação por mercúrio (nas situações em que ocorra

tal contaminação, principalmente das águas, todos os habitantes locais que se alimentam da

fauna regional têm risco significativo de desenvolver intoxicação crônica);

d) pessoas que se alimentam preferencialmente de pescados e outros produtos aquáticos;

e) pessoas que usam prolongadamente medicamentos mercuriais;

f) doentes do Sistema Nervoso Central, doentes renais crônicos, doentes

broncopulmonares crônicos;

g) gestantes e crianças pequenas.

De acordo com as diferentes toxicidades, propriedades físico-químicas e riscos de dano

à saúde humana e do ambiente, pode-se estabelecer quatro categorias de mercúrio: o

elementar (metálico), os compostos inorgânicos, os alquilmercuriais e os demais compostos

orgânicos (AZEVEDO, 2003).

A rota principal de absorção do mercúrio metálico é a inalação. Já a absorção

gastrointestinal é desprezível. Os sais de mercúrio inorgânico podem ser absorvidos pelos

pulmões (inalação do aerossol inorgânico do mercúrio) ou pelo trato gastrointestinal. Também

é possível a absorção cutânea de mercúrio metálico e de seus sais inorgânicos. Os compostos

orgânicos do mercúrio são absorvidos facilmente por todas as vias (OIT, 1998).

Segundo Albert (1988), quando o vapor de mercúrio é absorvido pelos seres vivos,

especialmente os animais superiores como o ser humano, se distribui por todo o organismo

através da circulação sanguínea. Quando chega ao cérebro se ioniza e une às proteínas,

demorando a ser liberado, o que ocasiona danos reversíveis e irreversíveis neste e em outros

órgãos. Os compostos alquimercuriais entram nos organismos pela via respiratória, digestiva e

Page 24: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

24

cutânea, pela qual podem ser absorvidas quantidades suficientes para causar intoxicações

graves.

O período da vida mais sensível à intoxicação pelo metilmercúrio é a fase intrauterina,

já que o feto parece ser de duas a cinco vezes mais sensível do que o adulto. Uma intoxicação

intrauterina resulta na paralisia cerebral, devida, em parte, pela inibição da migração de

neurônios das zonas centrais às áreas corticais periféricas. Nos casos menos graves foi

detectado um atraso no desenvolvimento psicomotor (OIT, 1998).

2.2.1. Casos expressivos de exposição ocupacional e ambiental ao mercúrio

A contaminação ambiental humana por ingestão do mercúrio e seus compostos teve dois

casos de maior relevância ao longo da história, os quais são relatados por diversos autores: o

de Minamata no Japão e o do Iraque.

No episódio de Minamata, a maior indústria de plásticos do Japão operando entre 1920

e 1960 na produção de acetaldeído e cloreto de vinila, aumentou a fabricação de seu principal

produto, o cloreto de vinila, na qual eram empregados sais de mercúrio no eletrodo das células

eletrolíticas. A fábrica funcionava de maneira muito ineficiente e estima-se que tenha lançado

ao mar 600 toneladas de mercúrio (OTTAWAY, 1982 apud AZEVEDO, 2003).

Nos sedimentos da baía a concentração de mercúrio, naquela época, alcançou níveis de

até 2.010 mg/kg (peso seco), na confluência do canal de descarga da empresa. Esta poluição

das águas da baía de Minamata resultou, também pela colaboração de bactérias

metanogênicas, em pesada contaminação dos moluscos e peixes locais por metilmercúrio,

sendo o destinatário final o morador da região que os ingeria (HARADA, 1995 apud

AZEVEDO, 2003).

Assim, de 1953 a 1956 surgiram numerosos casos de “uma doença neurológica

incomum” numa comunidade de pescadores situada na localidade denominada de Baía de

Minamata, em área litorânea do mar de Yatsushiro (McALPINE, SHUKURO, 1958 apud

AZEVEDO, 2003).

O mal se notabilizou como “Doença de Minamata”. Até 1984 haviam sido oficialmente

documentados 2.578 casos de doença pelo Japão, com 656 mortes. A primeira morte

aconteceu em 1954, com um pico de incidência em 1956. Após 1972, o número de mortes

tornou a aumentar rapidamente, com um segundo pico de incidência em 1976 (TAMASHIRO

et al., 1984 apud AZEVEDO, 2003).

Page 25: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

25

Já no Iraque, os mercuriais orgânicos passaram a ser usados como desinfetantes de

sementes em 1955, e já no período de 1955 a 1959 ocorreram duzentos casos de intoxicação.

Um surto mais claramente definido foi verificado em 1960, acarretando cerca de mil

internações hospitalares (DAMLUJI, 1976 apud AZEVEDO, 2003).

No período de dezembro de 1971 a março de 1972 (inverno), uma ocorrência muito

grave de intoxicações por organomercuriais, na verdade uma epidemia, voltou a castigar o

Iraque. Desta feita houve admissão hospitalar de 6.530 casos, dos quais 459 evoluíram a

óbito. O agente tóxico então responsável foi o metilmercúrio contido no fungicida. Mais uma

vez, o mecanismo das intoxicações foi o consumo de pão feito de grãos (73.201 toneladas de

trigo e 22.262 toneladas de cevada) tratados com o fungicida, os quais deveriam ser utilizados

apenas para plantio. (TIKRITI, MUFTI, 1976; BAKIR et al., 1973; apud AZEVEDO, 2003)

No Brasil foi realizado um estudo aprofundado dos efeitos da exposição ocupacional ao

mercúrio no início da década de noventa, em uma fábrica de lâmpadas elétricas fluorescentes

no Estado de São Paulo.

Para verificar os efeitos da exposição ao mercúrio metálico sobre a saúde humana,

Zavariz & Glina (1993) realizaram um estudo tomando como base 91 dos 641 trabalhadores,

sendo que 83 (91,21%) eram do sexo masculino e 8 (8,79%) eram do feminino, com idades

variando de 20 a 65 anos. A escolaridade era predominantemente o primeiro grau incompleto,

porém não havia nenhum analfabeto.

O estudo foi realizado transversalmente compreendendo três aspectos, entre eles uma

visita à fábrica para entendimento dos processos de trabalho, determinação dos diferentes

grupos de risco e atendimento aos trabalhadores, que foram submetidos à avaliação clínica,

neurológica, psiquiátrica e psicológica.

Entre os principais resultados apresentados pelas autoras, destaca-se que dos 60

(65,93%) trabalhadores que se situavam na faixa de 20 a 35 anos, 50 (54,94%) estavam

intoxicados. O tempo de exposição variou de 4 meses a 30 anos, sendo que com tempo de

exposição até 3 anos foram encontrados 38 trabalhadores na faixa dos intoxicados (49,35%),

conforme indica a tabela 2.4.

Page 26: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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Tabela 2.4. Distribuição de trabalhadores segundo tempo de exposição e presença ou não de intoxicação

Tempo de Exposição Intoxicados

Não Intoxicados Inconclusivos Total

(em anos) Nº % Nº % Nº % Nº % Menos de 1 7 70,00 2 20,00 1 10,00 10 100,00 1 - 3 31 86,11 3 8,33 2 5,56 36 100,00 4 - 6 19 85,00 2 10,00 1 5,00 22 100,00 7 - 9 5 100,00 - - - - 5 100,00 10 - 12 7 77,78 2 22,22 - - 9 100,00 13 - 15 4 100,00 - - - - 4 100,00 16 - 18 1 50,00 1 50,00 - - 2 100,00 19 - 21 1 100,00 - - - - 1 100,00 22 - 24 1 100,00 - - - - 1 100,00 Acima de 24 1 100,00 - - - - 1 100,00 Total 77 84,89 10 10,46 4 4,65 91 100,00 Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

De acordo com Zavariz & Glina (1993), os sintomas referidos foram agrupados nas

síndromes gastrintestinal, neurológica, eretismo psíquico e outros. Na sintomatologia

gastrintestinal destacaram-se a epigastralgia (63,73%), digestão difícil (53,84%), gosto

metálico (52,74%). Na sintomatologia neurológica predominaram a cefaléia (79,12%),

parestesia (56,04%), insônia (52,74%) e tremores (50,54%). No eretismo psíquico os sintomas

mais referidos foram nervosismo (72,52%), irritabilidade (68,13%), distúrbios de memória

(50,54%) e tristeza (39,56%). Em outros sinto- mas foram encontrados irritação nos olhos

(64,83%), fraqueza muscular (61,53%) e borramento visual (48,35%).

Dos sinais detectados no exame clínico-neurológico, os mais importantes na

caracterização do quadro da intoxicação crônica por mercúrio metálico, segundo as autoras,

foram os tremores, as alterações de cavidade oral (faringite), linha azul na margem alveolar,

depósitos gengivais, ulcerações orais e a hipertensão arterial, que pode ser visto em detalhes

na tabela 2.5.

Page 27: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

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Tabela 2.5. Distribuição de trabalhadores segundo sinais detectados no exame clínico-neurológico

Sinais Detectados Nº %

Tremores 69 75,82 Hipertensão Arterial 50 54,95 Faringite 47 51,65 Amigdalite 43 47,25 Conjuntivite 35 38,46 Hepatomegalia 20 21,98 Linha Azul na Margem Alveolar 16 17,58 Arritmia Cardíaca 14 15,38 Edema de Membros Inferiores 14 15,38 Sopro Sistológico de Foco Mitral 12 13,19 Depósitos Gengivais 8 8,79 Ulcerações Orais 8 8,79 Auscuta Pulmonar Alterada 5 5,49 Dor à Palpação da Região Epigástrica 4 4,40 Alterações Cutâneas 4 4,40 Alterações de Sensibilidade 2 2,20 Nistagmo Multidirecional Bilateral 1 1,09 Espondilite Anquilosante 1 1,09 Extração Renal 1 1,09 Punho Percussão Positiva 1 1,09 Dentes Moles 1 1,09 Alterações de Reflexos 1 1,09 Edema Gengival 1 1,09

Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Os resultados dos testes neuropsicológicos realizados para a verificação da memória

demonstraram existir 72 casos (79,12%) com distúrbios de memória variando de discretos

(20) a moderados (52). Não foram detectados distúrbios graves, mas apenas 15 trabalhadores

(16,48%) apresentaram resultados dentro da normalidade. Os exames complementares

efetuados revelaram os seguintes resultados com relação ao mercúrio urinário (tabela 2.6).

Page 28: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

28

Tabela 2.6. Distribuição de trabalhadores segundo o resultado de dosagem de mercúrio urinário

Resultado de HgU Nº %

Abaixo de 10 µg/1 23 11,97 10 - 19 µg/1 36 18,75 20 - 29 µg/1 32 16,66 30 - 39 µg/1 17 8,85 40 - 49 µg/1 15 7,82 50 e acima 27 14,06 Sem Informação 42 21,87 Total 192 100,00 Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Para a caracterização do quadro da intoxicação de cada trabalhador, Zavariz & Glina

(1993) levaram em consideração o somatório das alterações apresentadas em cada clínica

(médica, neurológica, psicológica e psiquiátrica), associadas entre si e comparadas com a

literatura internacional, sendo os dados demonstrados na tabela 2.7.

Tabela 2.7. Distribuição de trabalhadores segundo a combinação do conjunto de alterações apresentadas nos exames clínicos, neurológico, psiquiátrico e psicológico

Alterações Combinadas aos Exames Trabalhadores

Nº % Clínico, Neurológico, Psiquiátrico, Psicológico 45 58,44 Clínico, Neurológico, Psicológico 9 11,69 Neurológico, Psiquiátrico, Psicológico 7 9,09 Neurológico, Psicológico 6 7,79 Clínico, Psiquiátrico, Psicológico 4 5,19 Psiquiátrico, Psicológico 3 3,90 Clínico, Psicológico 2 2,60 Clínico, Neurológico 1 1,30 Total 77 100,00 Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Como conclusão geral as autoras destacam que o número de trabalhadores intoxicados

foi de 77 (84,62%), o que aponta para a gravidade do problema, em virtude da natureza da

doença, que compromete áreas nobres do organismo, acomete trabalhadores jovens e

apresenta ineficácia com relação aos tratamentos existentes.

2.2.2. Riscos associados à exposição ocupacional

Segundo Azevedo & Ramos (1993), o mercúrio foi a primeira substância a ser objeto de

legislação para controle da doença por ele causada em trabalhadores. Em meados do século

Page 29: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

29

XVII, nas minas de mercúrio em Idrija, Iugoslávia, o dia de trabalho foi reduzido para 6 horas

em oposição às 14 horas normais em outras atividades àquele tempo. O hidrargirismo ou

mercurialismo (intoxicação crônica por mercúrio) é a mais antiga das doenças profissionais

conhecidas e foi descrita por Pope em 1665, embora Paracelso já a tivesse relatado em 1567.

Em 1700, Ramazzini igualmente assinalou doenças dos trabalhadores das minas de

extração de mercúrio e dos trabalhadores de douração de jóias. Em 1721 encontra-se a

menção de doenças em gengivas e tremores das mãos em mineradores. Em 1861 foram

relatados casos graves de estomatites em operários que fabricavam espelhos e de mineradores

sem nenhum dente (BAIR, 2002 apud ACPO, 2006).

Os indivíduos podem expor-se aos vapores de Hg elementar, mercuriais inorgânicos e

às poeiras contendo mercuriais alquílicos, intoxicando-se com esses compostos, em indústrias

que os produzem ou os usam como matéria-prima, ou pelo manuseio dos produtos

industrializados (HSDB, 2000 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

A intoxicação por mercúrio, principalmente aquela a longo prazo, pode ocorrer entre

trabalhadores em qualquer tipo de atividade ou indústria em que se utilize o mercúrio, seja

numa etapa intermediária de um processo, seja na obtenção de produtos derivados. Em locais

de trabalho onde se emprega o mercúrio metálico, altas concentrações de seu vapor podem

ocorrer no ar ambiente em conseqüência de sua volatilidade, o que se pode constituir em sério

risco de mercurialismo. Muitas vezes laboratórios químicos, físicos e gabinetes odontológicos

chegam a apresentar concentrações de mercúrio no ar superiores ao limite recomendado

(SALGADO et al., 1986 apud AZEVEDO, 2003).

Diversas profissões possibilitam a exposição ao mercúrio, sendo que a via de entrada

principal do produto no organismo do trabalhador é por inalação, dado que o mercúrio

metálico evapora em temperatura ambiente e, quanto mais quente o local de trabalho, maior a

quantidade evaporada e, portanto, maior o risco de inalação (ACPO, 2006).

Além da via respiratória, as vias cutânea, ocular e digestiva também são importantes

meios de penetração/absorção do mercúrio e seus compostos, considerando-se a exposição

ocupacional (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

As diferentes formas de apresentação do mercúrio oferecem riscos diferenciados de

exposição. Além da forma de mercúrio metálico, cujos vapores são inodoros e incolores e o

trabalhador não tem noção de que está inalando tais vapores, temos diversos compostos

inorgânicos (cloreto de mercúrio - HgCl2; sulfeto de mercúrio - HgS; cloreto mercuroso -

Page 30: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

30

Hg2Cl2) e diversos compostos orgânicos em uso (cloreto de metilmercúrio - CH3HgCl;

metilmercúrio - Hg(CH3)2 e acetato de fenilmercúrio - C8H8HgO2), sendo os orgânicos de

fácil solubilidade na água e nos tecidos adiposos do corpo humano, transpondo as barreiras

hematoencefálica e placentária. Já o mercúrio inorgânico concentra-se nos rins, danificando

os néfrons (AZEVEDO, 2003).

Os sintomas de uma intoxicação aguda por mercúrio inorgânico ou metálico são

irritação pulmonar (pneumonia química), que pode produzir um edema pulmonar agudo.

Também é possível que seja afetada a função renal. Quase sempre, a intoxicação aguda se

deve à ingestão acidental ou voluntária dos sais de mercúrio, que produz uma grave

inflamação do trato gastrointestinal, seguida rapidamente de insuficiência renal pela necrose

dos órgãos (OIT, 1998).

O envenenamento crônico pelo mercúrio inorgânico começa geralmente de forma

assintomática, o que dificulta sua detecção precoce. O principal órgão danificado é o sistema

nervoso. Inicialmente, podem ser aplicados testes usados para detectar as mudanças

psicomotoras e neuromusculares e o tremor ligeiro. Às vezes é possível detectar efeitos renais

leves (proteinuria, albuminuria, enzimuria) antes dos efeitos neurológicos (OIT, 1998).

Se a exposição excessiva ao mercúrio inorgânico não for descontinuada, os sintomas

neurológicos e outras manifestações como tremor, sudorese e dermatografismo se acentuam, e

aparecem mudanças no comportamento e transtornos de personalidade, acompanhados, em

alguns casos, de problemas digestivos (estomatite, diarréia) e de uma deterioração no estado

geral de saúde (anorexia, perda de peso). Uma vez chegado neste estágio, o afastamento da

exposição não mais permite a recuperação total do trabalhador (OIT, 1998).

Com relação ao mercúrio orgânico, os sinais e os sintomas da intoxicação aguda

também não são facilmente percebidos no início, aparecendo depois de um período de

latência que pode oscilar entre uma e diversas semanas. Este período da latência depende do

valor da dose, assim, quanto maior a dose, menor o tempo de latência. Na exposição crônica

ao mercúrio orgânico, essencialmente os mesmos sintomas e sinais da aguda são percebidos,

devido a sua acumulação no sistema nervoso central, o que produz danos a área sensorial,

visual e auditiva. Nos casos de intoxicação mais graves há ocorrência de convulsões (OIT,

1998).

Alterações do sistema nervoso podem ocorrer com ou sem envolvimento do trato

gastrintestinal, onde dois quadros clínicos podem ser observados: leves tremores, semelhantes

Page 31: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

31

aos encontrados em esclerose múltipla, e parkinsonismo, com tremor em estado de descanso e

redução da função motora. Uma das duas condições é dominante e pode ser complicada por

irritação mórbida e pronunciada hiperatividade mental (eretismo mercurial) (HSDB, 2000

apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Azevedo (2003) comprova que, mesmo em concentrações baixas de mercúrio no

ambiente de trabalho, os trabalhadores apresentam tremores. Exemplifica indicando que

trabalhadores que ficaram expostos por mais de quinze anos a concentração de apenas 0,026

mg/m3 apresentaram tais sintomas.

Os tremores são mais marcados em situações em que o paciente se sente embaraçado ou

envergonhado. Em casos extremos, tais tremores invadem toda a musculatura voluntária de

forma continuada, havendo casos em que o paciente necessita ser amarrado para evitar que

caia da cama. Os tremores cessam durante o sono, embora cólicas e contrações possam ser

observadas e sejam mais evidentes em situação de estresse emocional, uma das características

que permitem diagnosticar a intoxicação por mercúrio (HSDB, 2000 apud NASCIMENTO &

CHASIN, 2001).

Para o HSDB (2000) apud Nascimento & Chasin (2001), o parkinsonismo mercurial

apresenta-se como andar cambaleante, oscilante e irregular, ausência de reflexos de equilíbrio

e hipotonia, sintomas vegetativos leves com rigidez facial, sialorréia, dentre outros.

Entretanto, esse parkinsonismo é geralmente leve.

Para o estabelecimento de políticas públicas no campo da saúde do trabalhador, o

Ministério da Saúde brasileiro, considerando o artigo 6.º, parágrafo 3.º, inciso VII, da Lei n.º

8.080/90, definiu a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, a ser adotada como referência

dos agravos originados no processo de trabalho no Sistema Único de Saúde, para uso clínico e

epidemiológico. As doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos

(denominadas e codificadas segundo a CID-10), são apresentadas na tabela 2.8.

Page 32: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

32

Tabela 2.8. Doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos

Doenças relacionadas ao mercúrio e seus compostos CID-10

Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de doença física

F06.-

Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, lesão e de disfunção de personalidade

F07.-

Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático não-especificado F09.- Episódios Depressivos F32.- Neurastenia (inclui Síndrome de Fadiga) F48.0 Ataxia Cerebelosa G11.1 Outras formas especificadas de tremor G25.2 Transtorno extrapiramidal do movimento não-especificado G25.9 Encefalopatia Tóxica Aguda G92.1 Encefalopatia Tóxica Crônica G92.2 Arritmias cardíacas I49.- Gengivite Crônica K05.1 Estomatite Ulcerativa Crônica K12.1 Dermatite Alérgica de Contato L23.- Doença Glomerular Crônica N03.- Nefropatia Túbulo-Intersticial induzida por metais pesados N14.3 Efeitos Tóxicos Agudos T57.1 Fonte: BRASIL, 2001 (adaptação)

2.2.3. Legislação sobre exposição ocupacional ao mercúrio

A NR 7 (BRASIL, 1978a) estabelece que o PCMSO deve incluir, entre outros, a

realização obrigatória dos exames médicos: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de

mudança de função e demissional. Os exames compreendem a avaliação clínica, abrangendo

anamnese ocupacional e exame físico e mental e exames complementares, realizados de

acordo com os termos específicos nesta NR e seus anexos.

Para os trabalhadores cujas atividades envolvem os riscos discriminados no Quadro I da

NR 7, os exames médicos complementares deverão ser executados e interpretados com base

nos critérios constantes do referido quadro e seus anexos. A periodicidade de avaliação dos

indicadores biológicos do Quadro I deverá ser, no mínimo, semestral, podendo ser reduzida a

critério do médico coordenador, ou por notificação do médico agente da inspeção do trabalho,

ou mediante negociação coletiva de trabalho. A tabela 2.9 apresenta os parâmetros para

controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio inorgânico.

Page 33: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

33

Tabela 2.9. Parâmetros para controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio

Agente Químico

Indicador Biológico VR* IBMP** Método

Analítico Amostragem Interpretação

Material Biológico

Análise

Mercúrio Inorgânico

Urina

Mercúrio Até 5 µg/g

creatinina

35 µg/g creatinina

EA A PU T-12 12

EE

* IBMP - Índice Biológico Máximo Permitido: é o valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem deste valor significa exposição excessiva ** VR - Valor de Referência da Normalidade: valor possível de ser encontrado em populações não-expostas ocupacionalmente Fonte: BRASIL, 1994

Já a NR 15 (BRASIL, 1978b), no seu anexo nº 11, estabelece os agentes químicos cuja

insalubridade é caracterizada por Limite de Tolerância e inspeção no local de trabalho. Nas

atividades ou operações nas quais os trabalhadores ficam expostos a agentes químicos, a

caracterização de insalubridade ocorrerá quando forem ultrapassados os Limites de Tolerância

constantes do Quadro nº 1 do referido anexo. Todos os valores fixados no Quadro nº 1 são

válidos para absorção apenas por via respiratória. A tabela 2.10 apresenta o Limite de

Tolerância para o mercúrio, exceto as suas formas orgânicas.

Tabela 2.10. Tabela de limites de tolerância ao mercúrio

Agentes Químicos

Valor teto

Absorção também pela pele

Até 48 horas/semana

Grau de insalubridade a ser considerado no caso de sua caracterização ppm* mg/m3**

Mercúrio (todas as formas exceto orgânicas)

- - - 0,04 Máximo

* ppm - partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar contaminado ** mg/m3 - miligramas por metro cúbico de ar

Fonte: BRASIL, 1978

Segundo Zavariz (2007), os valores para níveis de mercúrio no ar nos locais de trabalho

previstos na legislação brasileira estão totalmente defasados. Embora nenhum valor limite

para vapores de mercúrio no ar seja seguro, devem ser adotados minimamente os valores

internacionais recomendados pelos órgãos mundialmente reconhecidos, desde que não

resultem em contaminação ou alterações à saúde dos expostos. São os seguintes:

• Valor Limite de Tolerância de 0.025 mg/m3 (0.025 mg de mercúrio por metro cúbico

de ar) para jornada normal de 8 horas diárias e 40 horas semanais (adotado pela ACGIH -

American Conference of Governmental Industrial Hyienists).

Page 34: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

34

• Limite Teto de 0.1 mg/m3 de ar. Este valor não pode ser ultrapassado em nenhum

momento da jornada de trabalho (adotado pela OSHA - Occupational Safety and Health

Administration).

Na tabela 2.11 pode-se observar todos os valores de referência para os Limites de

Exposição propostos pela OSHA, NIOSH e ACGIH - American Conference of

Governamental Industrial Hygienists - para o mercúrio.

Tabela 2.11. Limites de exposição aos vapores de Hg pela OSHA, NIOSH e ACGIH

Tipo Compostos Alquil Compostos Aril Compostos Inorgânicos

OSHA 8 horas TWA 0.01 mg/m3 0.1 mg/m3 0.1 mg/m3 C (Teto) 0.04 mg/m3 - -

NIOSH 8 horas TWA 0.01 mg/m3 - Pele 0.05 mg/m3 - Pele 0.05 mg/m3 - Pele STEL/C (Teto) 0.03 mg/m3 (STEL) - Pele 0.1 mg/m3 (C) - Pele 0.1 mg/m3 (C) - Pele IDLH 2 mg/m3 10 mg/m3 10 mg/m3

ACGIH 8 horas TWA 0.01 mg/m3 - Pele 0.1 mg/m3 - Pele 0.025 mg/m3 - Pele STEL 0.03 mg/m3 - Pele - -

Fonte: OSHA, 2007

As siglas significam (CISQ, 2004):

• TLV - Threshold Limit Value (Limite de Limiar) - é a concentração no ar de

substâncias selecionadas pela ACGIH, que representam condições, nas quais se acredita que

praticamente todos os trabalhadores podem ser expostos continuamente sem efeitos adversos.

TLV´s são guias de aconselhamento, não sendo padrões legais, mas padrões baseados em

evidências de experiência industrial, de estudos com animais ou com humanos, quando

existirem. Há diferentes tipos de TLV´s: TWA, STEL e C;

• TLV-TWA - Time Weighted Average (Média Ponderada de Tempo) - é considerado o

tempo médio de exposição de uma pessoa a um agente químico, relativo a um período de

trabalho (por exemplo, 8 horas/dia). A média é determinada por amostragem do contaminante

ao longo do período;

• TLV-STEL - Short Term Exposure Limit (Limite de Exposição Curta) - consiste na

concentração máxima a qual indivíduos podem ser expostos por um curto período (15

minutos), por apenas quatro vezes ao dia ao longo da jornada, e com intervalos de pelo menos

1 hora entre as exposições;

Page 35: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

35

• TLV-C - Ceiling (Teto ou Limite Máximo) - é uma descrição geralmente associada a

um limite de exposição, e refere-se à concentração que não deve ser ultrapassada, nem por um

instante;

• IDLH - Immediately Dangerous to Life and Health (Imediatamente Perigoso à Vida e

à Saúde) - representa o nível máximo de exposição do qual uma pessoa pode escapar do local

em 30 minutos sem a manifestação de sintomas que impeçam sua saída ou afetem

irreversivelmente sua saúde.

Segundo Grigoletto et al. (2008), analisando os valores limites estabelecidos pela

OSHA, NIOSH e ACGIH, verifica-se que esses são semelhantes para todos os compostos de

mercúrio (alquil, aril e compostos inorgânicos de mercúrio). Observa-se também que, para o

composto alquil mercúrio (metilmercúrio), os limites de exposição para 8 horas de trabalho

são até dez vezes menores comparando com os outros compostos (aril e mercúrio inorgânico).

Na NR 15 não há fixação de limites para as várias formas do mercúrio, como o faz a

ACGIH (exceto para os alquilmercuriais). Assim, para todas as formas de mercúrio, exceto as

orgânicas, o limite de exposição ocupacional (LEO) segundo a legislação brasileira é de 0,04

mg/m3 (NASCIMENTO & CHESIN, 2001).

A NIOSH sugere que os limites em ambientes de trabalho para vapores de mercúrio

devam ser inferiores a 0,05 mg/m3, pois o eretismo, que é um sintoma característico de

mercurialismo crônico e mais freqüentemente observado que tremores, ocorre em 33% dos

trabalhadores expostos a níveis superiores a 0,05 mg/m3 e em 8% dos trabalhadores abaixo

desse nível. Os estudos realizados em ambientes laborais demonstram que exposições mais

elevadas aos vapores variam de 0,016 a 0,687 mg/m3 (ACGIH, 1986 apud NASCIMENTO &

CHESIN, 2001).

2.2.4. Medidas de ordem técnica e médica para redução dos riscos ocupacionais

No controle da exposição ocupacional e na prevenção das intoxicações algumas

medidas preventivas de ordem técnica devem ser tomadas no local de trabalho (HSDB, 2000

apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001). São elas:

• monitorização ambiental - vigiar para que a concentração de mercúrio e de seus

compostos no ambiente ocupacional não ultrapasse os limites recomendados pela legislação;

Page 36: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

36

• derramamento do produto - deve ser evitado e, se ocorrer, limpar imediatamente e

adequadamente a área; vasilhames com mercúrio e seus compostos devem estar bem

fechados;

• os assoalhos - não devem ser porosos pois o mercúrio pode acumular-se em cantos ou

frestas e, devido à sua elevada volatilidade, contaminar o ambiente, e devem ser lavados com

solução de sulfeto de cálcio ou com outro reagente disponível;

• todos os trabalhadores diretamente envolvidos nas operações de manipulação de

compostos de mercúrio devem banhar-se antes de deixar o local de trabalho; também deve ser

evitado alimentar-se ou fumar nesses locais;

• ventilação adequada e uso de uniformes descartáveis - de modo que não venham a

constituir uma fonte de contaminação e absorção cutânea, e uniformes úmidos ou

contaminados devem ser removidos e trocados imediatamente;

• máscaras - devem ser apropriadas a vapores de mercúrio;

• lentes de contato - devem ser evitadas por trabalhadores que manipulam mercuriais;

• pele e mãos - quando contaminadas, devem ser imediatamente lavadas com água.

De acordo com a OIT (1998), todo o esforço possível deve ser feito para substituir o

mercúrio por outras substâncias que envolvem menos riscos. Por exemplo, a indústria do

feltro pode usar compostos sem mercúrio. Especificamente nas minas, podem-se aplicar

técnicas de perfuração úmidas. A ventilação é a medida de segurança principal e, se uma não

existir a ventilação apropriada, os trabalhadores terão que usar o equipamento de proteção

respiratória.

Na indústria, sempre que é possível, o mercúrio deve ser manipulado em sistemas

fechados hermeticamente e medidas estritas de higiene do trabalho são exigidas. Quando

houver derrame de mercúrio, é importante evitar toda a contaminação das superfícies de

trabalho, que devem ser lisas, de um material não absorvente e ter uma leve declividade para

um coletor ou, na falta dele, uma grade metálica e uma calha cheia da água para recolher

alguma gota do mercúrio que porventura caia (OIT, 1998).

A OIT (1998) recomenda ainda que os trabalhos têm de ser projetados de modo que se

reduza ao mínimo o número de pessoas expostas ao mercúrio. É necessário evitar a

contaminação da roupa e das partes expostas do corpo, o que pode constituir numa fonte

Page 37: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

37

perigosa de vapor do mercúrio perto da zona respiratória. As roupas protetoras são para uso

especial, devendo ser trocadas a cada retorno ao trabalho. As operações de pintura com tintas

que contêm compostos de mercúrio devem ser feitas com EPI e ventilação apropriada.

Os compostos alquilmercuriais de corrente curta devem ser eliminados ou substituídos

por outros materiais, sempre que é possível. Se não se pode evitar a manipulação, deve-se

recorrer aos sistemas fechados combinados com uma ventilação apropriada para limitar a

exposição ao mínimo. Muito cuidado deve ser tomado para evitar a contaminação de fontes de

água com os efluentes do mercúrio, já que este pode ser levantado pelos mananciais,

produzindo desastres como o acontecido em Minamata no Japão (OIT, 1998).

Nascimento & Chasin (2001) destacam que medidas preventivas de ordem médica

também devem ser estabelecidas para controle da exposição ocupacional ao mercúrio, e

incluem:

• Exame médico pré-admissional tendo em vista a natureza da toxicidade do mercúrio e

seus compostos, e os tipos de efeitos nocivos que eles acarretam ao organismo, preconiza-se a

realização de cuidadoso exame clínico-laboratorial, previamente à admissão, em pessoas que

poderão vir a expor-se àqueles agentes químicos. Devem ser avaliadas as funções: pulmonar,

hepática, renal, digestiva, além do sistema nervoso e da pele. Devem ser realizadas pesquisas

dos biomarcadores de exposição ao metal (mercúrio no sangue, urina e cabelo). Não é

recomendável admitir, para função que implique em risco de contato com o mercúrio, os

portadores de alterações nos órgãos anteriormente citados ou os que apresentam resultados

preocupantes nas avaliações toxicológicas mencionadas.

• Exame médico periódico, no qual o médico do trabalho deve observar, entre outros

aspectos, lesões gengivais, alterações neurológicas (tremores) e oculares (estado do cristalino

anterior). A espécie do metal e o tipo de exposição determinam o órgão crítico a ser avaliado

pelo clínico (DINMAN, 1973 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001). A avaliação da

condução nervosa, os testes neurocomportamentais e os testes cognitivos podem, também, ser

de muita valia.

• Avaliação médica rotineira dos trabalhadores expostos a compostos de mercúrio, com

a finalidade de reconhecer sinais e sintomas precoces e reverter a situação. Exposição a

vapores de mercúrio (forma elementar) leva ao aparecimento de efeitos no sistema nervoso

central. A medicina do trabalho deve reconhecer no trabalhador os primeiros sinais não

específicos decorrentes da exposição crônica, a denominada síndrome astênica vegetativa ou

Page 38: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

38

micromercurialismo (tremores, aumento da tireóide, gengivites, alterações hematológicas

etc.). A tríade excitabilidade, tremores e gengivites é a manifestação característica da

intoxicação por mercúrio pela inalação de seus vapores. Manifestações clínicas dos efeitos

neurotóxicos decorrentes de exposição a metilmercúrio, que devem ser observadas, incluem

parestesia, ataxia, neurastenia, perda de visão e de audição etc. (GOYER, 1996 apud

NASCIMENTO & CHASIN, 2001);

• Monitorização biológica realizada por meio da determinação dos indicadores ou

biomarcadores de exposição (IBE), e posterior comparação do resultado obtido com os limites

biológicos de exposição ou, como chamado na NR 7, índice biológico máximo permitido

(IBMP).

A NR 7, que dispõe sobre os parâmetros de controle biológico da exposição ocupacional

a agentes químicos, propõe a utilização do mercúrio inorgânico urinário total como IBE -

Indicador Biológico de Exposição - de trabalhadores aos compostos de mercúrio.

O IBE mais utilizado para se aferir a exposição ao mercúrio e ao metilmercúrio são suas

próprias determinações em diferentes constituintes do organismo, mais freqüentemente

sangue, cabelo e urina (FRIBERG, 1985 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Para Nascimento & Chasin (2001), o IBE a ser escolhido para adoção em programa de

toxicovigilância da exposição ao mercúrio, em pesquisa, ou em análise de emergência, irá

depender além, obviamente, da disponibilidade de condições analíticas, do tipo de exposição

(intencional, acidental, ocupacional, ambiental, alimentar, medicamentosa) e do composto

mercurial a que se está exposto. Não há uma regra única, nem a existência para o mercúrio de

um IBE que seja universal.

O mercúrio no sangue é um bom IBE quando se deseja conhecer o grau de exposição

recente, e aplica-se tanto para o mercúrio metálico, quanto para o inorgânico e o orgânico. No

caso específico de pretender-se avaliar a exposição recente ao metilmercúrio, pode-se recorrer

às hemácias em vez de sangue total. O sangue pode ser usado na avaliação da exposição

ocupacional e também ambiental. A dieta e a exposição ambiental podem afetar as

concentrações de mercúrio no sangue (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O mercúrio na urina é um IBE razoável para avaliação da exposição ao mercúrio

inorgânico ou ao elementar, tendo boa aplicação na vigilância da exposição ocupacional

recente a ambos (ROELS et al., 1987 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

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39

A facilidade de colheita também depõe a seu favor. Muitos especialistas, instituições

científicas e órgãos governamentais propõem valores limites para os IBE´s, mantendo-se, à

luz dos conhecimentos disponíveis, a garantia de manutenção da saúde das pessoas. Estes são

os Limites de Tolerância Biológicos (LTB´s) ou índices biológicos máximos permitidos

(IBMP´s), que, se nunca ultrapassados, fazem crer que uma intoxicação não sobrevirá daquela

exposição. Não há um consenso sobre estes limites e eles variam segundo os diferentes

autores e instituições, podendo ser diminuídos sempre que nova evidência toxicológica assim

o determinar (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

De acordo com estas autoras, a avaliação dos dados toxicológicos e das evidências

epidemiológicas permite o estabelecimento da identificação do risco para alguns efeitos, tais

como, carcinogenicidade, mutagenicidade, efeitos na reprodução e toxicidade sistêmica.

2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO

A prevenção da exposição ambiental de populações ao mercúrio pode ser razoavelmente

conseguida pela avaliação do mercúrio no ambiente e observância a certos limites propostos.

Estes limites se baseiam nas concentrações de mercúrio já registradas em distintas partes do

mundo e nas quais não se detectaram efeitos nocivos sobre a saúde da população exposta.

Contudo, eles não foram suficientemente estudados e avaliados, ao contrário dos limites

ocupacionais, e poderão sofrer alterações sempre que novas pesquisas assim o recomendarem,

ou se mudanças importantes das condições de exposição aconteceram (AZEVEDO, 1994).

2.3.1. Ecotoxicidade do mercúrio

Diversos autores citados por Azevedo (2003) mencionam que toda vez que um

organismo contaminado por mercúrio estiver em nível inferior numa cadeia trófica, seu

predador absorverá aquele mercúrio orgânico, mas revelará concentrações comparativamente

aumentadas, fenômeno este conhecido como biomagnificação.

De acordo com o USGS (2000 e 2009b), a biomagnificação refere-se à seqüência de

processos que resulta em altas concentrações de uma substância nos organismos de níveis

tróficos mais elevados (peixes, animais que se alimentam de peixes e pessoas), e ocorre

porque a fonte de alimento é progressivamente mais concentrada, aumentando assim a

bioacumulação no topo da cadeia alimentar.

Page 40: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

40

A bioacumulação é o processo no qual os organismos (inclusive seres humanos) podem

adquirir contaminantes mais rapidamente do que seus corpos podem eliminá-los, e depende da

taxa de absorção, do modo de captação (ingestão, epiderme, guelras de peixes, etc.), de quão

rapidamente a substância é eliminada do organismo, da transformação da substância por

processos metabólicos, dos lipídios (gordura) contidos no organismo, da hidrofobicidade da

substância, de fatores ambientais, e outros fatores físicos e biológicos. A bioacumulação pode

resultar em concentrações da substância maiores do que seria esperado se a água fosse o único

mecanismo de exposição (USGS, 2009a).

Em estudo de avaliação da presença de mercúrio em diversos tipos de peixes num

ambiente contaminado, foi observado que o metal se concentrava mais intensamente à medida

que se evoluía na cadeia trófica. Os peixes vegetarianos apresentavam 6,64 ppm, os peixes

que se alimentavam de invertebrados 12,4 ppm, os peixes onívoros 26,6 ppm e os peixes

piscívoros 40,2 ppm (AZEVEDO, 2003).

Para dar uma idéia da magnitude a respeito da biomagnificação, Raposo (2001)

considera os seguintes elementos da cadeia alimentar e a respectiva concentração de

mercúrio: água fresca (10 ppt de Hg), algas (28 a 34 ppb de Hg) e músculo de peixes (230 a

500 ppb de Hg). Com base nos cálculos do autor, é possível verificar uma relação da ordem

de 1:50.000 entre a concentração da água e a concentração máxima no músculo de peixes.

Quanto à toxicidade para os diversos seres vivos, o mercúrio afeta de diferentes formas

os microorganismos, as plantas e animais aquáticos e as plantas e animais terrestres, conforme

exposto a seguir.

• Toxicidade para microrganismos: O mercúrio inorgânico lhes provoca efeitos

nocivos em concentrações de 5 µg/L, em meio de cultura, e os organomercuriais, em

concentrações 10 vezes inferiores. Um dos fatores que afetam a toxicidade é a velocidade de

absorção do metal pelas células. O mercúrio se liga a membranas celulares dos

microrganismos, aparentemente a um número limitado de sítios de ligação. Assim, os efeitos

estão relacionados à densidade celular e às concentrações do mercúrio no substrato. Esses

efeitos tendem a ser irreversíveis, por isso, o mercúrio, mesmo em baixas concentrações,

representa um grave risco aos microrganismos (WHO, 1989).

• Toxicidade para plantas e animais aquáticos: As formas de mercúrio orgânico

tendem a ser mais tóxicas que as inorgânicas para os animais aquáticos. Concentração de 1

µg/L de mercúrio inorgânico afeta esses organismos. Vários são os efeitos fisiológicos e as

Page 41: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

41

alterações bioquímicas, além de efeitos sobre a reprodução, associados às concentrações

subletais de mercúrio. Estas alterações são de difícil avaliação (WHO, 1989).

Os organomercuriais são rapidamente absorvidos por organismos aquáticos. Estes, e

particularmente os insetos, acumulam mercúrio em altas concentrações. Os peixes absorvem o

mercúrio com facilidade e o acumulam em seus tecidos, principalmente na forma de

metilmercúrio, mesmo se expostos ao mercúrio inorgânico. A metilação bacteriana do

mercúrio inorgânico (além de se dar no ambiente) pode ocorrer por meio das bactérias

encontradas nas guelras, superfície ou intestinos do peixe. Poucas são as evidências de que os

peixes metilem ou desmetilem mercúrio (WHO, 1989).

Tanto o mercúrio orgânico quanto o inorgânico são absorvidos diretamente da água

como dos alimentos ou da ingestão dos sedimentos. No entanto, o metilmercúrio acumula-se

mais eficientemente do que o mercúrio inorgânico na maioria dos organismos aquáticos.

Tanto a absorção como a depuração dependem da forma do metal, da fonte de exposição

(água ou alimento) e do tipo de tecido receptor, resultando em diferentes padrões de

acumulação (NOAA, 1996 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O acúmulo de mercúrio nas cadeias aquática e terrestre resulta em risco para o homem,

principalmente pelo consumo de peixe de águas contaminadas, particularmente os predadores,

como atum, peixe-espada e outros peixes de água salgada, mesmo se pescados distantes da

região costeira, frutos do mar como mariscos, além de pássaros e mamíferos que se alimentam

de peixes e ovos de pássaros (WHO, 1976).

A eliminação do metilmercúrio de organismos aquáticos e em peixes é lenta, podendo

levar meses ou anos. A perda de mercúrio inorgânico é mais rápida e assim a maior parte é

retida como metilmercúrio (WHO, 1989).

• Toxicidade para plantas e animais terrestres: Os vegetais tendem a ser mais

insensíveis aos efeitos tóxicos dos compostos mercuriais. Em plantas superiores observa-se

que o mercúrio pode interferir na fotossíntese, na transpiração, na absorção de água e na

síntese de clorofila, sendo que esses efeitos podem ser atribuídos mais aos danos causados às

raízes do que propriamente a uma ação direta do metal. As ervas tendem a acumular mais

metais que as gramíneas e os vegetais de folhas verdes (AZEVEDO, 2003).

Dos animais terrestres que se contaminam com mercúrio, os pássaros são os mais

estudados. A forma como essas aves armazenam o mercúrio é variada e depende da espécie,

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42

órgão e locais onde vivem. Os mais contaminados são os que se alimentam em estuários

(WHO, 1989).

Os pássaros alimentados com mercúrio inorgânico apresentam uma diminuição da

ingestão de alimento e, consequentemente, baixo crescimento. Outros efeitos mais sutis são

observados em sistemas enzimáticos, função cardiovascular, parâmetros sangüíneos, resposta

imunológica, estrutura e função renal, além de alterações de comportamento (BOENING,

2000 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Azevedo (2003) destaca que existem poucos estudos que avaliam os efeitos do mercúrio

em mamíferos selvagens, e a maior parte está relacionada com o vison (espécie de marta) e

com o Microtus ochrogaster. Nestes animais o metilmercúrio mostrou-se mais tóxico que as

espécies inorgânicas do mercúrio.

As fontes de emissão e contaminação ambiental pelo mercúrio dividem em duas:

naturais e antropogênicas (atividade humana).

• Fontes naturais: As principais fontes naturais de mercúrio são as desgaseificações da

crosta terrestre, as emissões dos vulcões e a evaporação de corpos aquáticos. As estimativas

mais recentes indicam que as emissões naturais são da ordem de 2.700 a 6.000 toneladas / ano

(Lindberg et al., 1987 apud WHO, 1991).

De acordo com Clayton (1982) apud Nascimento & Chasin (2001), o mercúrio é obtido

quase que exclusivamente do HgS, mineral cuja composição é de 86,2% Hg e 13,8% S,

embora possa ser encontrado em outros minérios na forma de mercúrio elementar, sendo mais

freqüente em calcário, arenito, serpentina, andesita, basalto e riolita (alkaline feldspar e

quartzo).

• Fontes antropogênicas: A capacidade de extração mundial de mercúrio por

mineração é estimada em cerca de 10.000 toneladas / ano, mas este valor varia

consideravelmente de ano para ano, dependendo do valor comercial do metal. Atividades de

mineração também resultam em perdas de mercúrio em função do despejo de rejeitos e

descargas diretas para a atmosfera (WHO, 1990).

Outras fontes importantes de emissão de mercúrio são a queima de combustíveis

fósseis, fundição de minérios metálicos que contém enxofre, mineração de ouro, produção de

cimento, incineração de lixo e diversas aplicações industriais do metal. A liberação total de

Page 43: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

43

mercúrio para a atmosfera devido à atividade humana, embora difícil de ser avaliada com

precisão, é estimada em torno de 3.000 toneladas / ano (WHO, 1991).

Como o mercúrio natural deriva da desgaseificação da crosta terrestre, através de

vulcões e provavelmente da evaporação dos oceanos, mesmo havendo a diminuição da

atividade antropogênica desse metal, admite-se que a contaminação do ambiente, das águas e

do solo continue a ocorrer através de processos de mineração de chumbo, cobre e zinco, que

emitem mercúrio para a atmosfera em quantidades estimadas em 100 toneladas / ano (WHO,

1990 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

2.3.2. Legislação ambiental brasileira sobre o mercúrio

A Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005) dispõe sobre a classificação dos corpos

de água (doces, salobras e salinas) e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem

como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Especificamente para o

mercúrio, são estabelecidos os seguintes valores máximos conforme demonstra a tabela 2.12.

Tabela 2.12. Valor máximo de mercúrio total admitido nas águas e efluentes no Brasil

Classificação da água Classe Valor máximo de mercúrio

Água doce 1 e 2 0,0002 mg/L Hg

3 0,002 mg/L Hg 4* ---

Água salina 1 0,0002 mg/L Hg 2 1,8 µg/L Hg

3* ---

Água salobra 1 0,0002 mg/L Hg 2 1,8 µg/L Hg

3* --- Efluentes de qualquer fonte poluidora 0,01 mg/L Hg

* Águas destinadas à navegação e à harmonia paisagística Fonte: BRASIL, 2005

A Resolução CONAMA 401 (BRASIL, 2008) estabelece os limites máximos de

chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os

critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras

providências. As pilhas e baterias que sejam comercializadas, fabricadas no território nacional

ou importadas, deverão atender aos seguintes teores máximos dos metais de interesse:

• pilhas e baterias de pilhas elétricas zinco-manganês e alcalino-manganês devem conter

até 0,0005% em peso de mercúrio, quando for do tipo pilha ou acumulador portátil, e conter

Page 44: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

44

até 2,0% em peso de mercúrio, quando for do tipo pilha-botão, bateria de pilha botão e pilha

miniatura;

• baterias com sistema eletroquímico chumbo-ácido, não poderão possuir teores de

metais acima do limite de 0,005% em peso de mercúrio.

A ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - possui uma norma específica

para classificação de resíduos perigosos, a NBR 10004:2004, que substituiu a norma de igual

numeração, datada de 1987 (ABNT, 2004).

De acordo com a NBR 10004:2004, os resíduos gerados em diferentes fontes produtoras

podem ser classificados de acordo com o grau de risco ou periculosidade para a saúde pública

e meio ambiente como: Classe I - perigosos e Classe II - não perigosos. Os resíduos Classe I

são considerados perigosos por apresentarem uma das cinco características: inflamabilidade,

corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. O mercúrio inclui-se como Classe I

pelo risco, principalmente, ligado à toxicidade e patogenicidade humana, além da

contaminação ambiental (GRIGOLETTO et al., 2008).

As lâmpadas de pós-consumo que possuem vapor de mercúrio estão destacadas na NBR

10004:2004 (Anexo A) que classifica os resíduos quanto aos seus riscos potenciais ao meio

ambiente e à saúde pública, indicando aqueles que devem ter manuseio e destinação mais

rigidamente controlados. Esta norma classifica especificamente as lâmpadas fluorescentes

após o uso como “resíduo perigoso de fontes não específicas (resíduo classe I) sob código

F044, sendo a característica de periculosidade a sua toxidez (SANCHES, 2008).

São os seguintes os anexos da NBR 10004:2004:

Tabela 2.13. Resíduos perigosos de fontes não específicas (Anexo A)

Código de identificação

Resíduo perigoso Constituinte perigoso

Característica de periculosidade

F044 Lâmpada com vapor de mercúrio após o uso

Mercúrio Tóxico

Fonte: ABNT, 2004

Page 45: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

45

Tabela 2.14. Resíduos perigosos de fontes específicas (Anexo B)

Fonte geradora

Código de identificação Resíduo perigoso Constituintes

perigosos Características de

periculosidade

Químicos orgânicos

K175

Lodos do tratamento de águas residuárias da produção do monômero de cloreto de vinila que utiliza como catalisador o cloreto mercúrico num processo à base de acetileno

Mercúrio Tóxico

Química inorgânica

K071

Lamas de purificação de salmoura, provenientes de células de mercúrio em unidades de produção de cloro, onde não se faz a prépurificação da salmoura

Mercúrio Tóxico

K106

Lodos provenientes do tratamento de efluentes líquidos originados no processo de produção de cloro em células de mercúrio

Mercúrio Tóxico

Fabricação de tintas

K079

Efluentes líquidos provenientes de etapas de limpeza ou materiais cáusticos gerados em processos de produção de tintas

Mercúrio Tóxico

K081

Lodos provenientes do tratamento de efluentes líquidos originados no processo de produção de tintas

Mercúrio Tóxico

K082

Lodos ou poeiras provenientes do sistema de controle de emissão de gases empregado na produção de tintas

Mercúrio Tóxico

Fonte: ABNT, 2004

Tabela 2.15. Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos (Anexo C)

Substâncias Código de identificação

CAS - Chemical Abstract Substance Nome comum Outra denominação

Acetato de fenilmercúrio* - P092 62-38-4 Fulminato de mercúrio (II)* - P065 628-86-4 Mercúrio* - U151 7439-97-6 Mercúrio (compostos de mercúrio) NE**

- - -

* Substâncias agudamente tóxicas (anexo D) ** NE- Não especificado de outra forma Fonte: ABNT, 2004

Tabela 2.16. Concentração máxima no extrato obtido no ensaio de lixiviação (Anexo F)

Parâmetro Código de

identificação Limite máximo no Lixiviado (mg/L)

CAS - Chemical Abstrat Substance

Inorgânicos

Mercúrio D011 0,1 7439-97-6

Fonte: ABNT, 2004

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46

Tabela 2.17. Padrões para o ensaio de solubilização (Anexo G)

Parâmetro Limite máximo no extrato (mg/L)

Mercúrio 0,001

Fonte: ABNT, 2004

Segundo Durão & Windmöller (2008), o teste de lixiviação descrito na norma NBR

10005:2004, consiste em simular em laboratório as condições mais inadequadas possíveis nos

processos de deposição e verificar o quanto de mercúrio é extraído do resíduo nessas

condições. A fase líquida usada como extrator constituirá o lixiviado que será submetido a

análises químicas para verificar a periculosidade do resíduo. Caso a concentração do mercúrio

no lixiviado esteja acima do limite máximo, ele deve ser disposto em instalações adequadas.

Mais especificamente, com relação aos resíduos gerados pelas lâmpadas fluorescentes, o

bulbo de vidro de uma lâmpada apresenta 70% da massa total de uma lâmpada de vapor de

mercúrio. O chumbo, presente no vidro, excede os limites estabelecidos pela NBR

10004:2004, logo, esse resíduo é classificado como perigoso, ou seja, um resíduo de Classe I.

O pó de fósforo, que representa 2% da massa total de uma lâmpada fluorescente, contém

mercúrio e cádmio. Concentrações elevadas do mercúrio, que podem variar de lâmpada para

lâmpada, também qualificam esse resíduo como perigoso (DURÃO & WINDMÖLLER,

2008).

Zavariz (2007) destaca no Brasil não existe legislação específica que abarca os diversos

aspectos, de modo a prevenir os riscos advindos do uso de mercúrio em lâmpadas. Entretanto,

existem fundamentos legais que dão embasamento para se estabelecer padronizações de

procedimentos e exigências. Também não existe determinação legal da quantidade de

mercúrio que deve ser utilizada, por tipo de lâmpada, de modo a reduzir os riscos para a vida.

A Constituição de 1988, no artigo 225 define que “Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações” (ZAVARIZ, 2007).

É considerado crime previsto no Código Penal Brasileiro “expor a vida ou a saúde de

outrem a perigo direto e iminente”. O Código Civil Brasileiro estabelece que “aquele que, por

ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, ainda que os danos causados pelo

mercúrio sejam irreparáveis do ponto de vista social e de saúde pública (ZAVARIZ, 2007).

Page 47: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

47

O acordo “Gestão Ambiental de Resíduos Especiais de Geração Universal e

Responsabilidade Pós-Consumo”, assinado pelos Ministros do Meio Ambiente dos países do

Mercosul, estende a responsabilidade da gestão ambiental aos fabricantes/importadores de

lâmpadas de mercúrio e tubos fluorescentes, entre outros produtos (ZAVARIZ, 2007).

São direitos básicos previstos no Código de Defesa do Consumidor: a proteção da vida,

saúde e segurança, contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e

serviços considerados perigosos ou nocivos, bem como à informação adequada e clara sobre

os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,

composição, qualidade, preço e sobre os riscos que apresentem. Neste sentido, cabe ao

fabricante prestar informações através de impressos apropriados que devem acompanhar o

produto. Independentemente da existência de culpa os fabricantes e importadores respondem

pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,

fabricação, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos (ZAVARIZ, 2007).

Para suprir esta lacuna legislativa, destaca Zavariz (2007), a coordenadora do Programa

Nacional de Mercúrio, do Ministério do Trabalho e Emprego/Delegacia Regional do Trabalho

no Estado de São Paulo, no início do ano de 2006, convidou diversas entidades

representativas da área governamental e da sociedade civil organizada para discutir e elaborar

um documento em comum acordo, abordando todos os aspectos preventivos aos riscos

relacionados à fabricação, importação e exportação, uso, transporte, descarte, coleta,

reciclagem e disposição final de lâmpadas com mercúrio e dar encaminhamentos ao mesmo.

A primeira reunião ocorreu em março de 2006, quando foi criado um grupo de trabalho,

o GT - Lâmpadas, constituído por representantes das entidades presentes, que assumiram o

compromisso de participar das reuniões do grupo, até a finalização dos trabalhos, tendo como

objetivo discutir e elaborar um documento abordando todas as questões relativas às lâmpadas

com mercúrio, desde a fabricação até o destino final dos produtos, perpassando pela

quantidade de mercúrio utilizada por tipo de lâmpada, a forma de reciclagem, recuperação de

mercúrio, a coleta, o transporte, a armazenagem, o manuseio e o descarte, inclusive

doméstico, e que servirá de subsídio para adoção de procedimentos e regulamentações a

serem implementados pelos órgãos competentes (ZAVARIZ, 2007).

Novas reuniões do GT - Lâmpadas foram realizadas em setembro e outubro de 2008

com a presença de representantes de diversas entidades, porém, devido à complexidade do

assunto e a multiplicidade de interesses, não houve consenso entre os participantes, e nova

Page 48: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

48

reunião foi marcada para dezembro de 2008. Na página do CONAMA na Internet

(http://www.mma.gov.br/port/conama/ctgt/gt.cfm?cod_gt=148) onde é possível acompanhar o

processo nº 02000.001522/2001-43, que “dispõe sobre resíduos de lâmpadas mercuriais”,

consta como última informação que a reunião de dezembro de 2008 foi cancelada.

Enquanto não é estabelecida uma legislação federal, alguns estados e municípios

brasileiros estão se mobilizando e criando suas próprias leis relacionadas às lâmpadas de

mercúrio e sua disposição. Segundo Polanco (2007), no estado de São Paulo existe a Lei nº

10.888 de 2001 que trata do descarte de produtos potencialmente perigosos junto ao resíduo

urbano. O município de Americana no estado de São Paulo, através da Lei nº 3.578 de 2001,

dispõe sobre a responsabilidade da destinação de pilhas, baterias e lâmpadas usadas e dá

outras providências. Em Campinas, também no estado de São Paulo, a Lei nº 11.294 de 2002

proíbe a disposição de lâmpadas fluorescentes, que utilizam mercúrio metálico, e similares em

aterros sanitários.

No Rio Grande do Sul, a Lei nº 11.187 de 1998, estabelece normas para o descarte de

pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes que contenham mercúrio, proibindo a disposição em

depósitos públicos de resíduos sólidos e a sua incineração. Em Caxias do Sul, estado de Rio

Grande do Sul, a Lei nº 5.873 de 2002, disciplina o descarte e o gerenciamento adequado de

pilhas, baterias e lâmpadas usadas no município. O Estado de Santa Catarina, pela Lei nº

11.347 de 2000, regulamenta sobre a coleta, o recolhimento e o destino final de resíduos

sólidos potencialmente perigosos, tais como baterias, pilhas e lâmpadas de mercúrio e proíbe

sua disposição em aterros sanitários (POLANCO, 2007).

Na Bahia, em específico, foi criado o Projeto de Lei nº 11.305 em 1997, para dispor

sobre o descarte de lâmpadas fluorescentes, baterias de telefones celulares e relógios. Uma

busca recente por esta Lei, porém, não produziu resultados, o que aparentemente demonstra

que a mesma não passou da fase de projeto.

2.4. CARACTERÍSTICAS DAS LÂMPADAS DE MERCÚRIO

Uma lâmpada é um conversor de energia. Ainda que possa realizar funções secundárias,

seu principal propósito é a transformação de energia elétrica em radiação eletromagnética

visível. Existem muitas maneiras de criar luz, porém o método normalmente utilizado na

iluminação geral é a conversão de energia elétrica em luz (OIT, 1998).

Page 49: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

49

Existem lâmpadas de dois tipos básicos: de filamento (ou incandescentes) e de descarga.

As lâmpadas de filamento ou incandescentes são as mais antigas, e têm esse nome por causa

do modo como produzem a luz: por aquecimento de um filamento metálico a temperatura

suficiente para que ele fique vermelho. Ainda que seja possível fabricar uma lâmpada

incandescente com qualquer tipo de filamento (nas primeiras lâmpadas se utilizava carbono),

hoje em dia a maioria delas utiliza filamento de tungstênio (OIT, 1998).

A descarga elétrica é uma técnica utilizada em modernas fontes de luz para o comércio

e indústria, porque a produção de luz é mais eficaz. Alguns tipos de lâmpadas combinam a

descarga elétrica com a fotoluminescência. Uma corrente elétrica passa através de um gás

excita os átomos e moléculas que emitem radiação com um espectro característico dos

elementos presentes. Normalmente dois metais são utilizados, de sódio e mercúrio, porque as

suas características permitem radiação no espectro visível. Lâmpadas de descarga são

geralmente divididas em categorias de baixa ou alta pressão (OIT, 1998).

2.4.1. Histórico das lâmpadas de descarga elétrica

Durante um longo tempo as formas artificiais de produção de luz foram sendo

aperfeiçoadas, mas mantinham como base o princípio de utilização do fogo, como as velas e

os sistemas de iluminação a gás, o que caracteriza a estagnação desta área do conhecimento

durante este período. Uma grande revolução nos sistemas de iluminação somente ocorreu

depois que o homem dominou a eletricidade, o que colocou a prova a criatividade e o

conhecimento científico dos estudiosos da época (ANDRÉ, 2004).

André (2004) relata que à medida que a utilização da eletricidade no desenvolvimento

de fontes de luz se difundia, várias técnicas foram testadas, como aquelas aplicadas por

Thomas Edison no aperfeiçoamento e conseqüente produção de lâmpadas incandescentes de

aplicação prática. Entretanto, mesmo antes do desenvolvimento da lâmpada incandescente, já

se conhecia o fato de que uma descarga elétrica em gás rarefeito produz luminosidade. Uma

das primeiras descargas de gás, causada acidentalmente, foi observada por Picard em uma

tarde em Paris em 1676, quando carregava um barômetro de mercúrio. O movimento do

mercúrio no vácuo de Torricelli causou o fenômeno da luz.

A primeira demonstração de sucesso registrada, de uma lâmpada de descarga utilizada

para iluminação pública, foi feita em 1876 por um engenheiro russo. A lâmpada de

Jablochkoff apresentava simplicidade e baixo custo como maiores diferencias, e a quantidade

Page 50: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

50

de luz também superava em muito tudo o que já se tinha obtido. Esta lâmpada que foi usada

para iluminar ruas, prédios públicos e docas, tornou-se atrativo em praticamente todos os

eventos industriais e sobre eletricidade desde o seu lançamento até 1890 (ANDRÉ, 2004).

Para André (2004), durante estes pouco mais de cem anos da existência deste tipo de

lâmpada, registrou-se uma grande evolução, sendo uma das etapas importantes neste

desenvolvimento foi a invenção, por Peter Cooper-Hewitt em 1901, da lâmpada de vapor de

mercúrio.

2.4.2. Tipos de lâmpadas que contêm mercúrio

Nas lâmpadas de descarga elétrica, o fluxo luminoso é gerado a partir da passagem da

corrente elétrica em um gás, mistura de gases ou vapores. Em lâmpadas fluorescentes e outras

lâmpadas de mercúrio, a radiação ultravioleta, resultante da luminescência do vapor de

mercúrio devido à descarga no gás, é convertida em luz visível por uma cobertura de fósforo

no interior do tubo. Se esta emissão existe somente durante o período de excitação, ela é

chamada de “fluorescência” (ANDRÉ, 2004).

A Instituição “Net Resíduos” de Portugal realizou um estudo quanto aos riscos inerentes

aos usos das lâmpadas, com base nas legislações vigentes na Comunidade Européia e na

presença, na lâmpada, de compostos potencialmente perigosos. Neste estudo, foi realizada a

distinção dos tipos de lâmpadas existentes em duas categorias distintas: “lâmpadas não

potencialmente perigosas para o meio ambiente” composta pelas lâmpadas incandescentes, e

“lâmpadas potencialmente perigosas para o meio ambiente” composta de lâmpadas que

contêm mercúrio (ZANICHELI et al., 2004). A tabela 2.18 apresenta o resultado desta

classificação para lâmpadas potencialmente perigosas para o meio ambiente.

Page 51: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

51

Tabela 2.18. Tipos de lâmpadas contendo mercúrio e sua utilização

Lâmpadas Tipos Funcionamento Componentes Usos

Descarga Fluorescentes

(potencialmente perigosas para o

ambiente)

Fluorescentes Descarga de corrente elétrica

Vidro, metal (alumínio), mercúrio, fósforo,

antimónio, estrôncio, tungsténio, argão, índio

bário, ítrio, chumbo, ETR

Áreas residenciais, parques, grandes

áreas de superfície, hospitais, teatros,

anúncios Vapor de

Mercúrio de Alta Pressão

Descarga de corrente elétrica

Vidro, metal (alumínio),vapor de

mercúrio, gases inertes, estrôncio, bário, ítrio,

chumbo, vanádio, ETR

Iluminação de entradas, decoração

interior, centros comerciais, vias de trânsito, instalações

fabris Halogenetos

Metálicos Descarga de

corrente elétrica Vidro, metal (alumínio), sal de sódio, mercúrio, iodetes de metal, gases inertes, césio, estanho,

tálio, estrôncio, bário, ítrio, chumbo, vanádio, ETR

Zonas abertas, recintos desportivos,

zonas industiais, vitrines de lojas,

iluminação pública

Vapor de Sódio de Alta

Pressão

Descarga de corrente elétrica

Vidro, metal (alumínio), gás de sódio, gases inertes,

mercúrio, bário, ítrio, chumbo, estrôncio vanádio,

ETR

Zonas industriais, ruas, exposições, pontes, linhas de

comboio, estradas, tunéis, indústria

pesada

Descarga Não-Fluorescentes

de Alta Pressão

Vapor de Sódio

de Baixa Pressão

Descarga de corrente elétrica

Vidro, metal (alumínio), gás de sódio, gases inertes,

ETR

Iluminação pública (auto-estradas, tunéis,

parques de estacionamento)

Sódio-Xénon Descarga de corrente elétrica

Vidro, metal (alumínio), sódio, gases inertes, ETR

Ruas, passeios, largos, parques, áreas residenciais, estátuas

Fonte: CIR, 2009

Alguns dados sobre os principais tipos de lâmpadas de descarga elétrica que contêm

mercúrio são apresentados a seguir:

• Lâmpadas fluorescentes tubulares (inclusive circulares): De alta eficiência e longa

durabilidade, são encontradas nas versões Standard com eficiência energética de até 70lm/W,

temperatura de cor entre 4.100 e 6.100K e índice de reprodução de cor de 85%, e Trifósforo

com eficiência energética de até 100lm/W, temperatura de cor entre 4.000 e 6.000K e índice

de reprodução de cor de 85% (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

Segundo André (2004), uma das lâmpadas de descargas mais comuns, na atualidade, é a

lâmpada fluorescente de baixa pressão. A lâmpada fluorescente é uma lâmpada de descarga

de mercúrio de baixa pressão, de seção normalmente circular, podendo ter cátodos frios ou

quentes, na qual a maior parte da luz é emitida por uma camada de material fluorescente

excitada pela radiação ultravioleta gerada pela descarga (figura 2.1).

Page 52: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

52

Fonte: ANDRÉ, 2004

Figura 2.1. Principais constituintes de uma lâmpada fluorescente

Battye et al.(1994) apud Raposo & Roeser (2000) explicam que uma lâmpada

fluorescente típica é composta de um tubo selado de vidro preenchido com gás argônio à

baixa pressão (2,5 Torr) e vapor de mercúrio à baixa pressão parcial. Nestas condições, o tubo

está em vácuo parcial. O interior do tubo é revestido com uma poeira fosforosa composta de

vários elementos, conforme demonstra a tabela 2.19.

Tabela 2.19. Composição da poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente

Elemento Concentração

(ppm) Elemento Concentração

(ppm) Elemento Concentração

(ppm) Alumínio 3.000 Chumbo 75 Manganês 4.400 Antimônio 2.300 Cobre 70 Mercúrio 4.700 Bário 610 Cromo 9 Níquel 130 Cádmio 1000 Ferro 1900 Sódio 1700 Cálcio 170.000 Magnésio 1000 Zinco 48

Fonte: TRUESDALE et al. apud RAPOSO & ROESER, 2000

Espirais de tungstênio, revestidas com substância emissora de elétrons, forma os

eletrodos em cada uma das extremidades do tubo. Quando a voltagem é aplicada, os elétrons

passam de um eletrodo para outro, criando um fluxo de corrente, denominado de arco

voltaico, ou descarga elétrica. Estes elétrons chocam-se com os átomos de argônio, os quais

por sua vez emitem mais elétrons. Os elétrons chocam-se com os átomos do vapor de

mercúrio, e energizam o vapor causando a emissão de radiação ultravioleta (UV). Quando os

raios ultravioletas atingem a camada fosforosa que reveste a parede do tubo, ocorre então a

fluorescência, produzindo luz visível (BATTYE et al.,1994 apud RAPOSO & ROESER,

2000).

O tubo usado numa lâmpada fluorescente padrão é fabricado com vidro é similar ao

usado por toda a indústria de vidro para a fabricação de garrafas e outros itens de consumo

comum. Os terminais da lâmpada são de alumínio ou plástico, enquanto os eletrodos são

Page 53: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

53

feitos de tungstênio, níquel, cobre ou ferro. Nenhum desses materiais apresenta risco potencial

se a lâmpada quebrar, exceto o perigo óbvio do vidro quebrado. A camada branca,

normalmente chamada de fósforo, que reveste o tubo de uma lâmpada fluorescente padrão é

geralmente um clorofluorfosfato de cálcio, com pequenas quantidades de antimônio e

manganês (1 a 2%) na matriz de fósforo. A quantidade destes componentes menores pode

mudar ligeiramente dependendo da cor da lâmpada. Uma lâmpada padrão de 4' tem cerca de 4

a 6 gramas de poeira fosforosa (BATTYE et al.,1994 apud RAPOSO & ROESER, 2000).

• Lâmpadas fluorescentes compactas: Possuem a tecnologia e as características de

uma lâmpada fluorescente tubular, porém com tamanhos reduzidos. São utilizadas para as

mais variadas atividades, seja comercial, institucional ou residencial, com as seguintes

vantagens: consumo de energia 80% menor, durabilidade 10 vezes maior, design moderno,

leve e compacto, aquecem menos o ambiente, representando forte redução na carga térmica

das grandes instalações, excelente reprodução de cores, com índice de 85% e tonalidade de

cor adequada para cada ambiente, com opções entre 2.700K, com aparência de cor semelhante

às incandescentes, a 4.000K com aparência de cor mais branca (CATÁLOGO OSRAM, 1998

apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor metálico: São lâmpadas que combinam iodetos metálicos, com

altíssima eficiência energética, excelente reprodução de cor, longa durabilidade e baixa carga

térmica. Sua luz é muito branca e brilhante. Tem versões de alta potência recomendadas para

grandes áreas, com índice de reprodução de cor de até 90%, eficiência energética de até

100lm/W e temperatura de cor de 4.000 a 6.000K, em vários formatos, e de baixa potência de

70 a 400W, com formato tubular com diversas bases, apresentando alta eficiência, ótima

reprodução de cor, vida útil longa e baixa carga térmica (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud

APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de sódio: Com eficiência energética de até 130lm/W, de longa

durabilidade, é a mais econômica fonte de luz. Com formatos tubulares e elipsoidais, emitem

luz branca dourada e são utilizadas em locais onde a reprodução de cor não é um fato

importante, como em estradas, portos, ferrovias e estacionamentos (CATÁLOGO OSRAM,

1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de sódio brancas: Seu diferencial é a emissão de luz branca,

decorrente da combinação dos vapores de sódio e gás xênon, resultando numa luz brilhante

como as halógenas ou com aparência de cor das incandescentes. Acionadas por reatores

eletrônicos, podem ter, através de chaveamento, a temperatura de cor alterada de 2.600 para

Page 54: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

54

3.000K ou vice versa. São utilizadas em áreas comerciais, hotéis, exposições, edifícios

históricos, teatros, stands, etc. (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de mercúrio: Com aparência branca azulada, eficiência de até

55lm/W e potências de 80 a 1.000W, são normalmente utilizadas em vias públicas e áreas

industriais (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de luz mista: Compostas por um filamento e um tubo de descarga,

funcionam em tensão de rede de 220V, sem uso de reator. Via de regra, representam

alternativa de maior eficiência para substituição de lâmpadas incandescentes (CATÁLOGO

OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

Com relação à quantidade de mercúrio contida nos diferentes modelos de lâmpadas de

descarga elétrica, a Abilux (2008) sintetiza os dados conforme apresentado na tabela 2.20.

Tabela 2.20. Lâmpadas que contêm mercúrio e quantidades

Tipo de lâmpada Potência

(W)

Quantidade média de mercúrio

(g)

Variação das médias de mercúrio por

potência (g) Fluorescentes tubulares 15 a 110 0,009 0,003 a 0,020 Fluorescentes compactas 5 a 65 0,005 0,002 a 0,010 Luz mista 160 a 500 0,017 0,014 a 0,047 Vapor de mercúrio 80 a 400 0,032 0,015 a 0,075 Vapor de sódio 70 a 1000 0,019 0,015 a 0,030 Vapor metálico 35 a 2000 0,045 0,003 a 0,170 Fonte: ABILUX, 2008

2.4.3. Mercado brasileiro das lâmpadas de mercúrio

A Abilux (2008) apresentou ao GT - Lâmpadas (CONAMA) os dados estimados do

mercado de lâmpadas no Brasil em 2007, destacando a participação da produção local e das

importações, conforme a tabela 2.21.

Page 55: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

55

Tabela 2.21. Dados estimados do mercado brasileiro de lâmpadas em 2007

Tipo de lâmpada

Volume comercializado (milhões/ano)

Produção local Importações

(milhões/ano) % (milhões/ano) %

Fluorescente Tubular

70 56 80 14 20

Fluorescente Compacta

90 0 0 90 100

Descarga de alta intensidade

9 2,7 30 6,3 70

Fonte: ABILUX, 2008

A Abilux (2003) divide o mercado consumidor de lâmpadas contendo mercúrio

considerando o segmento residencial e o segmento industrial, comercial e serviços, de forma a

identificar proporcionalmente quem são os maiores geradores de resíduos, os quais devem ser

prioritariamente responsabilizados pela sua destinação. Os dados são reunidos na tabela 2.22.

Tabela 2.22. Quantidade de mercúrio contido nas lâmpadas por tipo de consumidor

Tipo de consumidor Número de

estabelecimentos eletrificados (x 1000)

Quantidade de mercúrio

(Kg) % de mercúrio total

Industrial, Comercial e Serviços

6000 1.013 92,4

Residencial 41000 83 7,6 Total 47000 1.096 100

Fonte: ABILUX, 2003

Nas figuras 2.2 e 2.3 são exibidos gráficos com informações relativas à distribuição de

lâmpadas, segundo os diferentes tipos, nos domicílios dos clientes residenciais no Brasil e na

região Nordeste, respectivamente. O levantamento foi realizado em 2005 pela Eletrobrás e

Procel e mostra que as lâmpadas incandescentes ainda são utilizadas em proporções

significativas, mas as lâmpadas fluorescentes, especificamente as compactas, já têm uso

predominante na região Nordeste (ELETROBRÁS/PROCEL, 2005).

Page 56: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

56

Fonte: ELETROBRÁS/PROCEL, 2005

Figura 2.2. Distribuição por tipos de lâmpadas no Brasil

Fonte: ELETROBRÁS/PROCEL, 2005

Figura 2.3. Distribuição por tipos de lâmpadas na região Nordeste

2.4.4. Aspectos positivos das lâmpadas que contêm mercúrio

Segundo a Abilux (2008), são as seguintes as vantagens ambientais das lâmpadas

contendo mercúrio em relação às incandescentes: eficiência luminosa de três a seis vezes

superior, vida útil de três a quinze vezes mais longa e 70% a 80% de redução de consumo

energia. Além disso, devido à maior eficiência e vida útil, as lâmpadas contendo mercúrio

geram menos resíduos, reduzem o consumo de recursos naturais para a geração de energia

elétrica e produzem menos resíduos de mercúrio decorrentes da queima de carvão ou óleo

para geração de energia.

5%

37%

6% 0% 6% 9%

15%

17% 1% 2% 1% 1%

Fluor. Comp. até 15W

25W Inc. 40W Inc. 60W Inc. 100W Inc. 150W Inc. 20W Fluor. Tubular

40W Fluor. Tubular

Fluor. Comp. >15W

Fluor. Circular

Dicróica

Outro

2% 8%

29%

1% 6%

8%

29% 2% 1% 0%

14% 0%

Fluor. Comp. até 15W

25W Inc. 40W Inc. 60W Inc. 100W Inc. 150W Inc. 20W Fluor. Tubular

40W Fluor. Tubular

Fluor. Comp. >15W

Fluor. Circular

Dicróica

Outro

Page 57: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

57

Para Raposo & Roeser (2000) as lâmpadas de mercúrio têm um tempo de vida de três a

cinco anos, ou um tempo de operação de aproximadamente 20.000 horas, sob condições

normais de uso.

O IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - realizou entre janeiro e abril

de 2003 um teste que teve como ponto de partida as normas da ABNT (NBR 14538:2000 e

NBR 14539:2000 e do Inmetro (Portaria nº 27 de 2002). No total, foram realizados oito

ensaios: potência consumida, fluxo luminoso, depreciação, corrente de alimentação, eficiência

luminosa, verificação da presença de material ferroso no casquilho, verificação das

informações disponíveis na embalagem e no corpo dos produtos (tensão, potência, fator de

potência e freqüência), e a equivalência com a lâmpada incandescente (IDEC, 2003).

Adicionalmente, os técnicos do IDEC (2003) também avaliaram as informações

previstas pelo Código de Defesa do Consumidor e elaboraram uma lista com itens

complementares, além dos obrigatórios segundo os padrões técnicos. São eles: potência de

equivalência, temperatura de cor, aparência de cor, fluxo luminoso, índice de reprodução de

cor, eficiência luminosa, vida média em horas, nome e identificação do fabricante e/ou

importadora (endereço, CNPJ e telefone) e garantia.

Após a medição das características das lâmpadas fluorescentes, os técnicos calcularam o

custo total dos produtos (preço somado ao valor em reais do consumo de energia). Os

resultados foram comparados ao custo total das lâmpadas incandescentes de potência

equivalente. O objetivo era descobrir qual dos dois tipos acabava saindo mais barato. O teste

avaliou 18 modelos de lâmpadas fluorescentes e apresentou como resultado a eliminação de

quatro modelos de duas marcas diferentes.

O catálogo da OSRAM 2008-2009 destaca que as lâmpadas fluorescentes produzem

mais de 70% da luz artificial em todo o mundo. Proporcionam excelente economia de energia

e são ecologicamente corretas, características que fazem da sua linha a primeira escolha para

diversas aplicações. As lâmpadas fluorescentes tubulares aliam alta eficácia luminosa com

baixo consumo de energia. Já as fluorescentes compactas produzem mais luz e consomem

muito menos energia que as incandescentes comuns e duram muito mais. Cada vez mais

compactas, podem ser utilizadas em substituição às lâmpadas incandescentes comuns.

A versão LUMILUX® da OSRAM, por exemplo, consome apenas 15% da energia que

uma lâmpada incandescente comum precisa para gerar a mesma quantidade de luz. Em termos

de durabilidade, elas são ainda uma excelente alternativa, pois a vida média de uma lâmpada

Page 58: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

58

fluorescente LUMILUX® T5 HO é de 24.000 horas, e de uma LUMILUX® T8 é de 20.000

horas, comparadas com apenas 1.000 horas de uma lâmpada incandescente comum.

No que tange ao mercúrio, a indústria de lâmpadas tem realizado investimentos

significativos nos projetos de produtos e processos de produção, reduzindo continuamente a

quantidade contida nas lâmpadas. As pesquisas, contudo, ainda não viabilizaram a sua

substituição nas lâmpadas (NEMA, 2005). A figura 2.4 mostra a evolução para lâmpadas

tubulares de 4’ (120 cm).

Fonte: NEMA, 2005

Figura 2.4. Redução de mercúrio nas lâmpadas fluorescentes tubulares

Com base em dados coletados nos Estados Unidos é possível verificar outras tendências

de melhoria ao longo dos anos, em diversos índices associados à reciclagem de lâmpadas que

contém mercúrio, conforme demonstra a tabela 2.23 (NEMA, 2000).

Tabela 2.23. Dados sobre a emissão de mercúrio nos Estados Unidos

Aspectos Avaliados Anos

1990 1995 2000 2004* Número de lâmpadas dispostas (milhões) 440 530 620 680

Total de mercúrio contido nas lâmpadas (t) 24 27 17 13

Total de mercúrio liberado no ar e água (t)** 3,66 2,3 1,1 0,36

Disposição por reciclagem (%) 2 8 15 25

Disposição em aterros (%) 82 77 71 64

Disposição em incineradores (%) 16 15 14 11

Liberação pelos incineradores no ar e água (%) 90 51 33 9

Lâmpadas quebradas (%) 98 92 85 75

Mercúrio contido no vidro reciclado (mg/lâmpada) 1,5 1,5 1,5 0,75 * Projeção ** Redução principalmente por melhorias nos processos de incineração

Fonte: NEMA, 2000

Page 59: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

59

2.4.5. Aspectos negativos das lâmpadas que contêm mercúrio

Segundo Durão & Windmöller (2008), o uso de lâmpadas fluorescentes pode até

representar uma significativa economia doméstica, comercial e industrial. No entanto, se por

um lado a natureza agradece a economia no uso dos recursos naturais pelo uso de lâmpadas

fluorescentes na iluminação, a proliferação do seu uso está gerando uma nova demanda

ambiental: O que fazer com as lâmpadas queimadas?

A durabilidade das lâmpadas fluorescentes compactas informada é de 5 anos, mas, na

prática, isso não tem ocorrido. Muitas lâmpadas estão tendo durabilidade menor que as

incandescentes. Em termos de energia, há realmente economia, mas em termos financeiros

essas lâmpadas custam 10 vezes a mais e a durabilidade é questionável (BRASIL, 2006).

Em seus ensaios laboratoriais realizados em 2003 o IDEC concluiu que os padrões

exigidos pelas normas e leis brasileiras para lâmpadas fluorescentes compactas nem sempre

são obedecidos. Nas medições de potência, por exemplo, 28% das lâmpadas não atenderam às

padronizações. Cerca de 22% das lâmpadas perderam seu poder de iluminação ao longo das

horas de uso, conforme os ensaios de depreciação. Dois modelos de uma determinada marca

descumpriram as normas em dois testes: o de fluxo luminoso e o de eficiência luminosa.

Poucas lâmpadas queimaram antes do término dos ensaios: das 180 testadas (dez unidades de

cada modelo), apenas 12 não resistiram aos testes (IDEC, 2003).

Com relação às diretrizes das normas técnicas e do Código de Defesa do Consumidor

relativos às informações disponíveis nos rótulos e nas lâmpadas avaliadas, grande parte dos

dados foi contemplada pelos fabricantes. Nos casos em que houve ausência de informações, o

IDEC sugeriu que as mesmas fossem incorporadas (IDEC, 2003).

A lâmpada fluorescente de pós-consumo é considerada um resíduo perigoso, por isso, a

NBR 10004:2004 exige uma destinação adequada a fim de evitar a contaminação do meio

ambiente e de garantir a saúde dos seres humanos. Embora uma lâmpada quebrada libere

apenas uma pequena quantidade de mercúrio, o problema ambiental pode ser gerado pelo

efeito acumulativo e persistente do metal pesado proveniente de muitas lâmpadas

(SANCHES, 2008).

O risco oferecido por uma única lâmpada é quase nulo. No entanto, levando em

consideração que o Brasil comercializa cerca de 100 milhões de lâmpadas por ano, o

problema do descarte destas se agrava enormemente. Isso sem contar que as indústrias de

reciclagem de lâmpadas de mercúrio são responsáveis pelo controle de apenas

Page 60: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

60

aproximadamente 6% do estoque de lâmpadas queimadas no país (LUMIÈRE, 2007 apud

DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

A Abilux (2003) estimou que a quantidade total de mercúrio utilizada nas lâmpadas

comercializadas no Brasil em 2001 foi de aproximadamente 1,1 tonelada, conforme detalhado

na tabela 2.24.

Tabela 2.24. Quantidade total de mercúrio em lâmpadas comercializadas no Brasil

Tipo de lâmpada Teor de

mercúrio (g)

Volume comercializado Quantidade total de mercúrio utilizada (t) (milhões/ano) Abilux* Abilumi**

Fluorescente Tubular

0,015 56 90% 10% 0,840

Fluorescente Compacta

0,004 14 30% 70% 0,056

Descarga de alta intensidade

0,020 10 80% 20% 0,200

Total - 80 78% 22% 1,096 * Produção nacional ** Importação Fonte: ABILUX, 2003

Segundo Sanches (2008), ao ser rompida, a lâmpada fluorescente emite vapores de

mercúrio que são absorvidos pelos organismos vivos, contaminando-os. Além disso, o

descarte realizado nos aterros faz com que estes resíduos contaminem o solo e, mais tarde, os

cursos d’água, chegando à cadeia alimentar, causando danos ambientais a plantas e animais,

os quais podem ser ingeridos pelo homem. A intoxicação por ingestão apresenta efeitos

desastrosos, podendo afetar o sistema nervoso do homem, causar vida vegetativa ou,

dependendo da concentração de mercúrio no corpo, levar até mesmo a morte.

O ciclo de intoxicação do mercúrio causado pelo descarte inadequado de lâmpadas

fluorescentes pode ocorrer por via cutânea devido ao manuseio inadequado e por via

respiratória ao inalar vapor de mercúrio. Esta inalação pode causar dor de estomago, diarréia,

tremores, depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, sangramento nas gengivas, insônia,

falhas de memória, fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade,

dificuldade de prestar atenção e até a demência (SANCHES, 2008).

Para fins de referência, a tabela 2.25 compara o volume de lâmpadas fluorescentes

recicladas por ano em alguns países, sendo que o Brasil aparece com índice bastante inferior

ao da Alemanha, por exemplo, que descarta o mesmo número de unidades.

Page 61: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

61

Tabela 2.25. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes em alguns países

País Descarte

(milhões/ano) Reciclagem

(milhões/ano) Reciclagem

(%) Holanda 24 20 83,3 Suécia 14 7 50 Alemanha 100 50 50 Bélgica 12 6 50 EUA 903 220 25 Noruega 6 2 33,3 Espanha 35 5 14,3 Itália 45 5 11,1 França 50 5 10 Reino Unido 50 5 10 Brasil 100 6 6 Fonte: MRT SYSTEM, 2009

2.5. RECICLAGEM DE LÂMPADAS NO BRASIL

As empresas de engenharia ambiental, atentas ao problema do descarte de produtos com

metais pesados em suas composições, criaram uma maneira de colaborar com a preservação

do meio ambiente por meio da reciclagem de lâmpadas fluorescentes, evitando que estas

sejam jogadas em aterros e lixões. Porém, algumas condições essenciais devem ser

estabelecidas na cadeia de distribuição reversa, como a lucratividade nas etapas, a qualidade

dos materiais reciclados, a escala econômica de atividade e a existência de um mercado para

os produtos com conteúdo de reciclados (SANCHES, 2008).

Segundo Sanches (2008) a reciclagem das lâmpadas fluorescentes deve satisfazer aos

interesses econômicos das empresas envolvidas, ou seja, da indústria de reciclagem e das

empresas que compram os materiais reciclados para utilizá-los como matéria-prima em seus

processos produtivos. Os preços de venda dos reciclados, portanto, devem ser competitivos

em relação aos preços das matérias-primas virgens que irão substituir.

Os materiais obtidos por meio da reciclagem de lâmpadas fluorescentes devem permitir

a fabricação de produtos com boa qualidade e economicamente aceitáveis, além de

rendimentos industriais compatíveis nos processos. O mercúrio extraído destas lâmpadas, por

exemplo, é reintegrado ao ciclo produtivo por meio das empresas que fabricam termômetros e

o vidro é utilizado nas indústrias de cerâmica devido a sua alta qualidade (SANCHES, 2008).

A quantidade de material reciclado das lâmpadas, de acordo com Sanches (2008), deve

ser suficiente e constante para que possibilite a realização de atividades em escala econômica.

Com a qualidade e os baixos preços comprovados, o material reciclado passa a ser uma

Page 62: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

62

matéria-prima, por isso, quanto maior a quantidade comercializada, maior a economia gerada

no lote.

Além disso, é necessário que exista mercado para os produtos fabricados com materiais

reciclados, pois este fator vai refletir nas demandas dos reciclados. Exemplo: se a indústria de

termômetros apresentar uma queda nas vendas, conseqüentemente consumirá menos mercúrio

reciclado de lâmpadas, ou seja, a demanda desta matéria-prima será afetada pela baixa

demanda do produto final (SANCHES, 2008).

2.5.1. Conceitos associados à prevenção da poluição ambiental

A lâmpada fluorescente de pós-consumo é considerada um resíduo, portanto, o

consumidor final é gerador de resíduos e, conseqüentemente, deve ser responsabilizado pela

destinação ambientalmente adequada desses produtos de pós-consumo. Porém, em muitas

regiões do Brasil ainda não existem pontos de coleta seletiva organizados, a fim de que as

pessoas físicas descartem adequadamente as lâmpadas fluorescentes de uso doméstico, que

geralmente são consumidas em baixa quantidade. Já no caso das empresas é diferente, pois

devido à grande quantidade de lâmpadas fluorescentes descartadas, estas podem ser enviadas

diretamente às indústrias de reciclagem credenciadas, que são especializadas no

gerenciamento ambientalmente correto de resíduos (SANCHES, 2008).

Geralmente a coleta seletiva é administrada pela própria indústria de reciclagem, por

isso, as lâmpadas já utilizadas são previamente separadas em condições e locais adequados

pela empresa que gerou o resíduo, até que o material seja coletado. Esse tipo de operação

minimiza a quantidade de lixo que vai para os aterros ou outros tipos de disposição final. As

lâmpadas coletadas são encaminhadas às empresas de reciclagem, que realizam seus

procedimentos internos para dar continuidade de forma adequada ao fluxo reverso desses bens

de pós-consumo (SANCHES, 2008).

A figura 2.5 abaixo apresenta a cadeia de distribuição reversa do setor de lâmpadas

fluorescentes, mostrando que os caminhos percorridos pelas lâmpadas de pós-consumo são

diferentes dos percorridos pelas lâmpadas novas.

Page 63: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

63

Fonte: SANCHES, 2008

Figura 2.5. Cadeia de distribuição reversa

A logística reversa de pós-consumo do setor apresenta um fluxo reverso que não utiliza

etapas da cadeia de suprimentos direta, ou seja, existe uma cadeia de distribuição própria para

o processo reverso das lâmpadas fluorescentes, cujos objetivos dividem-se em ecológico,

legal e econômico. O primeiro é voltado para a preservação do meio ambiente e o uso

sustentável de recursos, o segundo associa-se a necessária intervenção governamental por

meio da legislação para permitir um melhor equacionamento da questão das lâmpadas

fluorescentes de pós-consumo, e o terceiro envolve o lucro obtido pelas indústrias de

reciclagem que comercializam os materiais recuperados de lâmpadas fluorescentes, além das

organizações que reduzem as despesas comprando matéria-prima reciclada (SANCHES,

2008).

Sanches (2008) destaca ainda que o termo “reciclagem de lâmpadas fluorescentes”

refere-se à recuperação de seus materiais constituintes e à reintegração destes ao processo

produtivo das indústrias de lâmpadas ou outros segmentos, isto é, o processo de reciclagem

não gera novas lâmpadas fluorescentes, mas estende o ciclo de vida de seus componentes. A

figura 2.6 esquematiza o ciclo do processo de reciclagem.

Page 64: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

64

Fonte: RAPOSO, 2001

Figura 2.6. Ciclo do processo de reciclagem

As etapas consideradas como mais importantes são: recebimento, separação por tipo e

tamanho, contagem, armazenamento em local adequado, separação dos resíduos e obtenção

de matéria-prima secundária por meio do processo de reciclagem, armazenamento dos

materiais reciclados e comercialização para variados segmentos (SANCHES, 2008).

Conforme visto, a indústria de lâmpadas tem realizado investimentos significativos nos

projetos de produtos e processos de produção, reduzindo continuamente a quantidade de

mercúrio contida nas lâmpadas e, por outro lado, a reciclagem das lâmpadas tem permitido

que seus materiais constituintes sejam recuperados e reintegrados ao processo produtivo das

indústrias de lâmpadas ou de outros segmentos, estendendo o ciclo de vida de seus

componentes.

Com relação a estas diferentes iniciativas, Kiperstok et al. (2002) salientam que as

técnicas para redução da poluição dividem-se em duas categorias: fim-de-tubo (end-of-pipe) e

prevenção. As tecnologias fim-de-tubo se caracterizam pelo baixo valor de seus produtos,

pelo alto custo da sua implementação e pelo fato de não eliminar os poluentes, mas apenas

transferi-los de um meio receptor para outro. Para esses autores, nas medidas de fim-de-tubo

assume-se que os resíduos são inevitáveis e procura-se apenas reduzir o impacto do seu

lançamento no meio ambiente. Para isto se gasta energia e outros insumos.

Page 65: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

65

Já a prevenção da poluição representa um novo paradigma para equacionar o problema

da poluição, pois transfere o eixo da discussão dos limites da fábrica para o interior do

processo produtivo. Para tal, torna-se necessário identificar as causas da geração de resíduos,

que estão normalmente associadas a falhas no processo produtivo, uma vez que gerar resíduos

implica em custos adicionais com perdas de matéria-prima, tratamento e disposição final,

entre outros (KIPERSTOK et al., 2002).

Este novo enfoque pode ser melhor visualizado na figura 2.7, na qual as possíveis

tecnologias e/ou atitudes gerenciais e técnicas, organizam-se da esquerda para a direita, e de

cima para baixo, segundo sua importância ou prioridade de aplicação (LAGREGA, 1994 apud

KIPERSTOK et al., 2002).

Fonte: KIPERSTOK et al., 2002

Figura 2.7. Ações para prevenção e controle da poluição

Page 66: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

66

Para Kiperstok et al. (2002) a redução na fonte prioriza medidas baseadas em mudanças

no produto, nos insumos, na tecnologia empregada e nas boas práticas operacionais, e ocorre a

partir do questionamento “precisamos de um determinado produto ou o produzimos/

compramos/usamos porque sempre foi assim?”.

Uma vez esgotadas as idéias para redução na fonte, passa-se a pensar no reuso e

reciclagem de resíduos gerados. Normalmente se define reuso como sendo o aproveitamento

de um resíduo ou efluente diretamente em outro processo, sem que para isso haja necessidade

de promover qualquer adequação de suas características. Já a reciclagem é o aproveitamento

do resíduo a partir de uma modificação das suas características para atender aos requisitos de

outro processo. A reciclagem interna reintegra os resíduos ao próprio processo de produção da

empresa (corrente residual), enquanto a externa tem o processamento dos resíduos fora da

empresa (KIPERSTOK et al., 2002).

2.5.2. Reciclagem artesanal

O número reduzido de recicladoras no Brasil, segundo Pereira (2004) é o principal

entrave para que se adote este tipo de descarte para as lâmpadas fluorescentes, porque

dependendo da localização em que as lâmpadas estejam, o transporte pode elevar

significativamente o preço da reciclagem, acabando por desmotivar qualquer iniciativa. Uma

alternativa informal surgiu na região metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro: a

reciclagem artesanal para o aproveitamento do tubo de vidro para a fabricação de peças

decorativas.

O processo inicia-se pelo recebimento das lâmpadas. Na maioria das vezes elas são

doadas, porém em algumas épocas há necessidade de serem compradas. O armazenamento

das lâmpadas é feito de forma precária, por empilhamento num galpão. O processo produtivo

pode ser dividido em quatro etapas: a abertura, a lavagem, a confecção das peças e a

embalagem (PEREIRA, 2004).

Pereira (2004) esclarece que a etapa de abertura inicia-se com um leve aquecimento nas

extremidades da lâmpada, seguido de um choque térmico para gerar o trincamento, e em

seguida as lâmpadas são encaminhadas para a área de lavagem aonde as extremidades

metálicas são retiradas. Neste ponto ocorre a liberação de vapor sob forte pressão carreando

parte da poeira que se espalha no ar, e se deposita sobre o operador e à sua volta. A etapa de

lavagem é realizada em dois reservatórios contendo água inicialmente limpa. Em um deles, o

Page 67: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

67

resíduo de cada lâmpada é retirado com auxílio de uma esponja presa na ponta de um cabo de

madeira. A finalização da lavagem é feita com a água do segundo reservatório e o efluente é

descartado diretamente no esgoto urbano.

O tubo de vidro já lavado é encaminhado para a etapa da confecção das peças, onde

com o auxilio de um maçarico o tubo começa a tomar forma de ampolas com duas pontas.

Esta é a estrutura básica para a confecção das outras peças. A última etapa é a embalagem,

que é feita após o resfriamento das peças, sendo utilizadas folhas de jornal e caixas de papelão

para o armazenamento (PEREIRA, 2004).

Segundo as referidas autoras, nesta recicladora, atualmente, são produzidas cerca de

4500 peças semanais de 25 modelos diferentes, utilizando cerca de 550 lâmpadas. A infra-

estrutura utilizada é precária, tanto do sistema de gás, como da refrigeração, elétrica e

hidráulica. São utilizados bujões de gás para os maçaricos e a refrigeração é feita com uma

bomba de ar comprimido, que direciona o ar na direção do operador facilitando o resfriamento

das lâmpadas e do próprio operador.

Pereira (2004) identificou como pontos críticos em sua pesquisa, do ponto de vista da

saúde ocupacional, que entre os voluntários avaliados somente oito participaram em mais de

uma campanha, e que seis deles apresentam um aumento significativo na relação

Hg/creatinina, sendo todos acima dos valores recomendados pela NR 7. Dado a

complexibilidade da situação, os voluntários foram encaminhados a buscar o

acompanhamento médico no Ambulatório de Saúde Ambiental e Ocupacional e o Núcleo de

Estudos de Saúde Coletiva (NESC). Os resultados mostram que os trabalhadores estão tendo

um aumento contínuo do teor de mercúrio na urina decorrente de sua atividade laboral.

2.5.3 Reciclagem mecanizada

Os processos de reciclagem de lâmpadas podem ser divididos em duas categorias: via

úmida e via seca. O processo via úmida envolve a quebra da lâmpada com lavagem

simultânea, retendo o mercúrio na fase líquida, com posterior tratamento do efluente

(normalmente, através da precipitação com sulfeto de sódio). A problemática deste método é

o consumo de recurso natural (água), bem como a disposição de resíduos de composto de

mercúrio em aterros. Já o processo via seca quebra a lâmpada em ambiente fechado e

exaurido para captação de vapores de mercúrio. O mercúrio exaurido é captado em sistema de

Page 68: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

68

filtro e os componentes da lâmpada passam por sistema de destilação a vácuo (APLIQUIM,

2009).

Um dos processos mecanizados de reciclagem via seca mais usual, em operação no

Brasil e em várias partes do mundo envolve basicamente duas fases: a de esmagamento e a de

destilação do mercúrio. Na fase esmagamento os materiais constituintes das lâmpadas usadas

são separados em cinco classes: terminais de alumínio, pinos de latão/componentes ferro-

metálicos, vidro, poeira fosforosa rica em mercúrio e isolamento baquelítico (RAPOSO &

ROESER, 2000).

Raposo & Roeser (2000) explicam que inicialmente as lâmpadas são implodidas e/ou

quebradas em pequenos fragmentos, por meio de um processador (britador e/ou moinho). Isto

permite separar a poeira de fósforo contendo mercúrio dos outros elementos constituintes. As

partículas esmagadas restantes são conduzidas a um ciclone por um sistema de exaustão, onde

as partículas maiores, tais como vidro quebrado, terminais de alumínio e pinos de latão são

separados e ejetados para fora do ciclone, onde são separados por diferença gravimétrica e por

separação eletrostática. A poeira fosforosa e particulados são coletados em um filtro no

interior do ciclone.

A fase de destilação do mercúrio contido na poeira de fósforo envolve um processo

químico ou um processo térmico. No processo térmico, o material é aquecido a temperaturas

muito altas (maiores que 600°C). O material vaporizado a partir desse processo é condensado

e coletado em recipientes especiais ou decantadores. O mercúrio assim obtido pode passar por

nova destilação para se removerem impurezas. Emissões fugitivas durante esse processo

podem ser evitadas usando-se um sistema de operação sob pressão negativa (PCEPC, 2007

apud DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

No caso do processo químico, ou lixiviação, o resíduo é tratado por processo de

extração, envolvendo algum líquido extrator e a solução resultante precisa então passar por

algum outro tratamento para recuperar o mercúrio. O método de lixiviação tem como

desvantagens, comparado com o processo térmico, a complexidade do processo, a

necessidade de diversas etapas, a utilização de reagentes químicos e, especialmente, a geração

de efluentes que demandam um tratamento adequado para serem descartados, sendo, portanto,

menos utilizado que o processo térmico (DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

De acordo com Durão & Windmöller (2008) todos os constituintes das lâmpadas podem

ser reciclados, exceto o isolamento baquelítico. Os vidros podem ser recuperados para

Page 69: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

69

produção de novas lâmpadas ou novos vidros em aplicação não alimentar. O alumínio e os

pinos de latão, após limpeza, podem ser fundidos e utilizados para produção de novos

materiais. O pó de fósforo, quando livre do mercúrio, pode ser reutilizado em fábricas de

cimento.

Sanches (2008) relata que, atualmente, os materiais reciclados de lâmpadas

fluorescentes são destinados à indústria em geral, como o vidro, que devido a sua resistência

pode ser usado na constituição da cerâmica. O mercúrio pode ser vendido às empresas que

fabricam termômetros e barômetros, e o pó fosfórico sem contaminação de mercúrio pode ser

vendido ao próprio fabricante de lâmpadas, já que a matéria-prima nova é muito cara. A

tabela 2.26 apresenta uma estimativa dos valores comerciais dos materiais recuperados das

lâmpadas fluorescentes.

Tabela 2.26. Valor dos materiais recuperados pela reciclagem de lâmpadas fluorescentes

Material reciclado

Comprador de material reciclado

Valor de compra aprox.

(R$/kg)

Economia em relação à

matéria-prima Observação

Metais (latão e alumínio)

Diversos 0,90 100% Preço de sucata

Vidro Indústria cerâmica 0,20 100% Preço de sucata Mercúrio Indústria de termô-

metros e barôme-tros e de lâmpadas fluorescentes

1000,00 Praticamente não existe

Preço de matéria-prima

Fonte: SANCHES, 2008

2.5.4. Principais empresas de reciclagem de lâmpadas e suas características

Até 1993 não existiam alternativas para tratamento de lâmpadas no Brasil, e a totalidade

das lâmpadas era descartada no lixo comum, sendo normalmente direcionadas a aterros

sanitários. Não existem estudos sobre o impacto causado por esta destinação inadequada de

lâmpadas. A partir de 1993, surgiram várias empresas no mercado se propondo a fazer o

tratamento das lâmpadas (ZANICHELI et al., 2004).

Na atualidade, existe no Brasil pelo menos uma dezena de empresas especializadas na

reciclagem de lâmpadas, as quais utilizam diferentes equipamentos, tanto importados como

nacionais, para o processamento e descontaminação dos resíduos. O serviço de reciclagem

pode ser executado em instalações próprias (equipamento estacionário) ou nas instalações dos

clientes (equipamento móvel). A destinação dos resíduos e os preços praticados também

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70

variam, estando relacionados, de uma forma geral, ao tipo de equipamento e à região onde a

empresa atua.

Ente as empresas de maior visibilidade no momento estão a Apliquim - SP, Brasil

Recicle - SC, Bulbox - PR, Ivomax - BA, Mega - PR, Naturalis - SP, Recitec - MG, Silex -

RS e Tramppo - SP. Na tabela 2.27 é apresentada uma síntese das informações de algumas

dessas recicladoras reunidas por Polanco (2007).

Tabela 2.27. Dados comparativos dos processos e custo de reciclagem no Brasil

Empresa UF Tipo de Processamento Capacidade (lâmpadas/mês)

Custo sem transporte (R$)

Lâmpada Kg Apliquim SP Fragmentação seca + recuperação

térmica de Hg 400.000 0,70 -

Brasil Recicle

SC Corte de terminais + separação de componentes

160.000 0,45 2,56

HG Desconta-minação

MG Trituração e separação química - 0,50 -

Mega Reciclagem

PR Trituração e separação química 150.000 0,45 a 0,58

-

Naturalis do Brasil

SP Trituração no próprio cliente e disposição dos filtros contaminados em aterro de resíduos Classe I

38.000 0,60 -

Recitec MG Fragmentação seca + recuperação térmica de Hg

200.000 0,75 4,00

Sílex SC Fragmentação seca + recuperação térmica de Hg no próprio cliente

144.000 0,55 a 0,60

3,60 a 3,70

Tramppo SP Sopro + recuperação térmica de Hg 120.000 0,50 - Fonte: POLANCO, 2007

2.5.4.1. Apliquim

• Histórico: Fundada em 1985, a Apliquim foi a primeira empresa do Brasil a realizar

tratamento de resíduos contendo mercúrio. Suas atividades iniciais envolveram a recuperação

de mercúrio a partir de resíduos da fabricação de cloro-soda, termômetros, pesticidas

agrícolas a base de mercúrio, resíduos da fabricação de lâmpadas. Em 1993, passou a realizar

o tratamento de lâmpadas contendo mercúrio, tornando-se a primeira instituição no hemisfério

sul a desenvolver tal atividade (ZANICHELI et al., 2004).

• Processamento: A descontaminação é feita com um equipamento nacional, de

fabricação própria que faz a retortagem a vácuo. O equipamento, segundo um dos

proprietários é inédito no Brasil, e somente países como a Suécia e a Alemanha recuperam

Page 71: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

71

mercúrio utilizando processo semelhante, embora utilizando outra tecnologia. A retorta é um

equipamento utilizado em nível industrial, específico para processos que envolvem reações

químicas, e é um pouco parecida com uma panela de pressão, cuja boca é voltada para baixo.

A ausência de ar é necessária para evitar contaminação no processo. O mercúrio é extraído

com um índice de recuperação de 100% (ATIYEL, 2001).

• Resíduos: O vidro recuperado pela Apliquim é encaminhado para fabricação de

esmaltes cerâmicos. Metais são encaminhados para recicladores de metais, e o mercúrio

comercializado para instituições que o utilizem em seu processo, com devida autorização do

IBAMA (órgão que fiscaliza a comercialização do mercúrio no Brasil).

• Licenças: Em 2004 a Apliquim foi interditada pelo Ministério do Trabalho (DRT/SP)

por emitir para o meio ambiente de trabalho níveis de mercúrio incompatível com a legislação

vigente (ACPO, 2006). Ainda em 2004 o PRONAEM - Programa Nacional para Eliminação

do Mercúrio - que vistoria as empresas que fazem uso do mercúrio em todo território

nacional, suspendeu a interdição do processo de tratamento de lâmpadas da Apliquim

justificando que a máquina de rupturas de lâmpadas passou a contar com processo mais

integrado e com dispositivos de controle de poluição mais adequados (ACPO, 2009).

Segundo Zanicheli et al. (2004) a Apliquim é licenciada pela CETESB e credenciada

pelo IBAMA para processar resíduos mercuriais. Na página da CETESB (2009) é possível ver

a situação das licenças da Apliquim ao longo dos anos, inclusive as que foram negadas.

Cada remessa de lâmpadas é documentada por um “Certificado de Descontaminação de

Lâmpadas Usadas” e “Termo de Recepção de Responsabilidade” emitidos pela Apliquim e

nominal ao cliente gerador das lâmpadas. Esse documento é parte integrante do Sistema de

Gestão Ambiental da Apliquim que lhe conferiu a certificação pela norma ISO 14001:2004

(PGR, 2008).

• Preço: R$ 0,65 por lâmpada para descontaminação de lotes de 1.000 a 2.999 unidades.

Esse preço é válido para qualquer tamanho, tipo e potência de lâmpada. Para descontaminação

de lâmpadas já quebradas o preço é de R$ 3,50 por quilograma (dados do início de 2008).

Estes valores são para material posto na unidade de processamento, pois a Apliquim não faz

retirada fora do estado de São Paulo (PGR, 2009).

Page 72: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

72

2.5.4.2. Mega Reciclagem

• Histórico: A Mega Reciclagem iniciou suas atividades em Curitiba em 1998,

percebendo a carência do mercado em empresas especializadas na destinação final de

lâmpadas de vapores metálicos e na descontaminação do mercúrio e outros metais pesados.

(ZANICHELI et al., 2004).

• Processamento: A empresa é voltada exclusivamente ao bloqueio da toxicidade de

lâmpadas inservíveis, destruindo-as e gerando subprodutos reutilizáveis em processos de

manufatura industrial. Oferece também orientação quanto ao manejo, acondicionamento,

estocagem, transporte e legislação aplicável. O processo consiste, basicamente, na triagem e

descontaminação das lâmpadas, que são quebradas por submersão em meio líquido onde

reagentes químicos separam os materiais tóxicos do vidro e dos metais (ZANICHELI et al.,

2004).

• Resíduos: Os subprodutos gerados pelo processo são encaminhados para diversas

empresas de diversos segmentos para que possam ser reciclados. Após o processo de

descontaminação o mercúrio é encaminhado para uma empresa especializada na tridistilação

do mercúrio que posteriormente comercializa (ZANICHELI et al., 2004).

• Licenças: Na homepage da Mega Reciclagem não consta se a mesma possui licença

(arquivo não disponível) junto aos órgãos municipais, estaduais e federais para a atividade

desenvolvida.

Zanicheli et al. (2004) por sua vez, destacam que a Mega Reciclagem possui todas as

licenças para comercialização do mercúrio, no entanto, contatos realizados com a empresa e

seus clientes não proporcionaram detalhes quanto ao receptor do resíduo de mercúrio.

• Preço: R$ 0,45 a R$ 0,58 por lâmpada (OSADA, 2006 apud POLANCO, 2007).

2.5.4.3. Brasil Recicle

• Histórico: A Brasil Recicle começou a atuar no mercado em 2000 em conseqüência

da necessidade de vidros para uso como matéria-prima em outro negócio no segmento de

produtos para animais de estimação, principalmente bebedores para passarinho. Como as

lâmpadas fluorescentes continham mercúrio, não bastava recolhê-las, era preciso tratá-las

também, o que despertou o interesse pela reciclagem (ZANICHELI et al., 2004).

Page 73: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

73

• Processamento: O processo utilizado por ela consiste no corte dos terminais e

limpeza interna do tubo de vidro com escova giratória. Durante o corte é aplicado um jato de

ar em uma extremidade do tubo e exaustão no lado oposto. Nessa fase, os terminais metálicos

são separados do processo e armazenados em bombonas para posterior trituração e separação.

Os tubos de vidro após o corte e limpeza, são armazenados ou triturados. As poeiras finas são

retidas nos filtros manga e o vapor de mercúrio é adsorvido nos filtros à base de carvão

ativado. O processo permite a recuperação de vidro e sucata metálica (POLANCO, 2007).

• Resíduos: O vidro obtido a partir da reciclagem é utilizado por indústrias cerâmicas

da região como parte de fabricação de lajotas (ATIYEL, 2001). Resíduos como alumínio,

terminais de contato, polímeros e bulbos são separadamente armazenados e os subprodutos,

após o laudo do IPT, são comercializados (ZANICHELI et al., 2004).

• Licenças: Conforme consta em sua homepage a empresa possui licenças estaduais e

federais, tais como: licença de funcionamento para descontaminação de lâmpadas especiais,

emitido pela FATMA - Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina, Cadastro

Técnico Federal de Atividades potencialmente poluidoras do IBAMA, entre outros

(POLANCO, 2007).

Com base em um levantamento realizado, a PGR (2008) menciona que juntamente com

a Nota Fiscal e Fatura, a Brasil Recicle envia o CRR - Certificado de Recepção e

Responsabilidade, devidamente reconhecido pelo cartório.

• Preço: R$ 0,63 para lâmpadas fluorescentes acima de 1,21 m e R$ 0,45 para as demais

(custo unitário no início de 2008). Lâmpadas quebradas são processadas por R$ 2,56 / Kg. A

coleta deverá obedecer à quantidade mínima de 1000 (mil) lâmpadas por descarte,ou

faturamento de R$ 450,00. A empresa Brasil Recicle não cobra pelo frete. (PGR, 2009).

2.5.4.4. Tramppo

• Histórico: A Tramppo é uma empresa que em 2003 incubou-se no Centro Incubador

de Empresas Tecnológicas (CIETEC) da Universidade de São Paulo (USP), obtendo

financiamento em 2004 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP) para desenvolver o equipamento de reciclagem de lâmpadas e, em 2005, pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desenvolveu um

sistema que recupera os componentes das lâmpadas fluorescentes tubulares. O equipamento

Page 74: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

74

possui tecnologia similar à existente na Suécia, conhecida como tratamento por sopro, mas foi

desenvolvido integralmente pela própria empresa e patenteado em 2005 (POLANCO, 2007).

• Processamento: O equipamento é totalmente automatizado, computadorizado e com

monitoramento automático para detecção de mercúrio. O processo completo é composto por

três fases: sopro, trituração do vidro tubular e sublimação de mercúrio. As lâmpadas tubulares

são alimentadas automaticamente no equipamento, que faz o corte de terminais, separando-os

do processo. Um sistema de sopro e sucção retira do tubo o pó de fósforo contendo mercúrio,

separando-o do tubo de vidro limpo. Após o sopro, o tubo de vidro limpo que sai do processo

é fragmentado em um sistema móvel de trituração e o vidro é recolhido em tambores. A

poeira de fósforo contendo mercúrio é aquecida para separação dos demais materiais. Com o

aquecimento, o mercúrio sublima, e é resfriado para condensação e recuperação (POLANCO,

2007).

• Resíduos: Por enquanto, a empresa ainda não está vendendo o mercúrio retirado das

lâmpadas, porque a quantidade é muito pequena (o mínimo para comercialização é de 1 quilo,

sendo que de cada mil lâmpadas são retiradas 8 gramas de mercúrio, em média). O vidro

triturado é vendido para uma grande fabricante nacional de vidros e o pó fosfórico está sendo

negociado para utilização na produção de tintas. Os terminais de alumínio, separados no início

do processo, são destinados para uma cooperativa de um conjunto habitacional popular de São

Paulo e depois para uma empresa recicladora da matéria-prima (FAPESP, 2008).

• Licenças: A Tramppo possui licença de operação da CETESB desde junho de 2007

(CETESB, 2009).

• Preço: R$ 0,50 por lâmpada entregue na Tramppo independente do volume a ser

reciclado (dados do início de 2008) (PGR, 2009).

Page 75: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

75

3. METODOLOGIA

Neste item é apresentada a metodologia de pesquisa usada para o desenvolvimento da

presente monografia, bem como os objetivos envolvidos desse estudo. A descrição dos

objetivos vem em primeiro plano, seguida das hipóteses da pesquisa, da descrição do método

de trabalho e pela delimitação da população abrangida.

3.1. OBJETIVOS

3.1.1. Geral

O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar o método de reciclagem de

lâmpadas denominado “Operação Papa-Lâmpadas”, que atua em Salvador e região

metropolitana, com enfoque nos riscos de exposição ocupacional dos trabalhadores que

executam os serviços, e nos possíveis impactos ambientais produzidos pelo mercúrio durante

o processamento das lâmpadas, transporte do equipamento e disposição dos resíduos.

3.1.2. Específicos

Os objetivos específicos do estudo são os seguintes:

a) Avaliar de forma quantitativa os riscos de exposição dos operadores ao mercúrio

durante o processamento das lâmpadas e o nível de descontaminação dos resíduos, a luz da

legislação em vigor;

b) Analisar qualitativamente as etapas de preparação, transporte e operação do

equipamento, bem como a destinação final dos resíduos, de forma a identificar possíveis

riscos de contaminação com mercúrio para os trabalhadores e população em geral;

c) Examinar os potenciais impactos ambientais produzidos pelo mercúrio na reciclagem

das lâmpadas, decorrentes tanto do processamento como da disposição dos resíduos;

d) Discutir se o processamento de lâmpadas com equipamentos móveis (in company)

apresenta riscos ocupacionais e ambientais diferenciados em relação aos equipamentos

estacionários, cuja operação é feita nas instalações das empresas recicladoras;

Page 76: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

76

e) Apoiar as organizações e os consumidores em geral na escolha de métodos de

reciclagem de lâmpadas que contém mercúrio, de forma que os recursos investidos produzam,

em contrapartida, resultados aceitáveis do ponto de vista ocupacional e ambiental (objetivo de

ação).

3.2. MÉTODO DE PESQUISA

O método de pesquisa empregado na elaboração da presente monografia foi dividido

nas seguintes etapas principais:

a) Revisão bibliográfica, realizada com o intuito de obter informações referentes aos

métodos mecanizados de processamento de lâmpadas que contêm mercúrio empregados no

Brasil, com enfoque nos riscos ocupacionais e ambientais;

b) Visita às instalações de uma empresa de reciclagem de lâmpadas que atua em Salvador

e região metropolitana, para coletar dados sobre o seu histórico, equipamentos utilizados,

destinação dos resíduos, licenças existentes e preços praticados, entre outros;

c) Observação do serviço de reciclagem de lâmpadas florescentes tubulares em uma

empresa cliente, a fim de conhecer o método de processamento e verificar as condições de

trabalho dos operadores, bem como os riscos ambientais existentes;

d) Avaliação crítica dos dados coletados face à legislação trabalhista e ambiental em

vigor, visando identificar pontos fortes e oportunidades de melhoria do processo, que possam

servir de parâmetro para os clientes atuais e futuros na contratação do serviço de reciclagem

de lâmpadas.

3.3. POPULAÇÃO / AMOSTRA

A avaliação foi realizada somente em uma empresa, por ser a única que atua

regularmente em Salvador e região metropolitana. Com relação aos trabalhadores envolvidos,

a empresa possui três funcionários que preparam, manuseiam, transportam e operam o

equipamento de dascaracterização de lâmpadas e seus acessórios, bem como auxiliam na

disposição dos resíduos. Os laudos das análises amostrais de exposição dos trabalhadores ao

mercúrio e da descontaminação dos resíduos foram obtidos no acervo da própria empresa de

reciclagem.

Page 77: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

77

3.4. LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Considerando que o processo é relativamente padronizado, inicialmente foi previsto que

haveria pelo menos uma visita a um cliente para acompanhar o serviço de descaracterização

das lâmpadas in company, com o objetivo de observar os detalhes da operação, entrevistar os

trabalhadores e registrar imagens para serem inseridas na monografia. Por dificuldades de

liberação do acesso às instalações das empresas clientes, no entanto, acabou não sendo

possível realizar nenhuma visita, sendo as imagens apresentadas obtidas em vídeos

disponibilizados pela Ivomax.

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78

4. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E SEUS PROCESSOS

4.1. HISTÓRICO DA IVOMAX

A Ivomax Serviços Ambientais Ltda. está localizada em um galpão em Campinas de

Pirajá, Salvador / BA, e entre as suas diversas atividades, atua na busca de alternativas que

colaborem para que empresas e instituições ecologicamente conscientes possam dar um

destino ambientalmente seguro a seus resíduos, e um dos maiores exemplos deste esforço é o

seu sistema móvel de descaracterização de lâmpadas fluorescentes (in company), denominado

de “Operação Papa-Lâmpadas”.

Como a operação é executada nas dependências dos clientes, as instalações da Ivomax

são relativamente simples, contando com um escritório e um depósito que totalizam 24 m2. A

empresa possui dois equipamentos do modelo Bulb Eater fabricados pela Air Cycle

Corporation dos Estados Unidos, dois veículos utilizados para transporte e três funcionários

que executam os serviços.

A produção tem sido, em média, de 40000 lâmpadas descaracterizadas por mês, no

entanto, com os dois equipamentos em operação, a Ivomax tem capacidade de processar

140000 lâmpadas. O equipamento permite a reciclagem de todos os modelos de lâmpadas que

contêm mercúrio, mas a maior participação no cômputo total é de lâmpadas fluorescentes

tubulares.

A carteira de clientes conta atualmente com aproximadamente 150 empresas,

compreendendo indústrias e outras organizações de considerável porte, que têm em comum a

certificação ISO 14001:2004 ou a preservação ambiental como prioridade na gestão de seus

negócios. Os clientes estão em sua maioria concentrados em Salvador e região metropolitana,

porém, são atendidas também algumas empresas no interior da Bahia ou unidades de negócios

de empresas multisite que atuam em outros estados do nordeste, como o Ceará, Sergipe, entre

outros.

Para serviços realizados até 60 km da sede da Ivomax, os preços por lâmpada reciclada

são os apresentados na tabela 4.1.

Page 79: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

79

Tabela 4.1. Valor cobrado pelos serviços de reciclagem por lâmpada

NÚMERO DE LÂMPADAS PREÇO UNITÁRIO (R$)

1 - 500 1,52 501 - 1000 1,37

1001 - 2000 1,21 2001 - 3000 1,06

> 3000 0,90 Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

4.2. PROCESSAMENTO DAS LÂMPADAS

A descaracterização das lâmpadas é um processo relativamente simples, que envolve

basicamente o transporte do equipamento até o cliente, a preparação do equipamento e do

local de trabalho, o processamento propriamente dito e o retorno para as instalações da

Ivomax, onde os resíduos ficam armazenados até completar a quantidade estabelecida para

destinação, como ilustra a figura 4.1.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.1. Sistema de descaracterização de lâmpadas “in company”

Page 80: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

80

O fluxo mais detalhado contendo todas as etapas do processo pode ser visualizado na

figura 4.2.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.2. Fluxo do processo de descaracterização de lâmpadas

Page 81: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

81

4.2.1. Preparação da operação

Os procedimentos preparatórios da operação estão descritos na Instrução Operacional

IO-IVM-01, a qual estabelece que antes de começar o processo de descaracterização, as

condições do local e a forma de armazenamento das lâmpadas devem ser avaliadas. A área de

operação é isolada com cones e correntes e a aproximação de pessoas não envolvidas com o

processo de descaracterização é proibida, inclusive colaboradores dos clientes, exceto se os

mesmos estiverem utilizando todos os EPI's requeridos.

Os filtros primário e secundário são trocados mantendo registro em formulário

específico, considerando o seguinte critério: um filtro primário para cada tambor processado e

um filtro secundário para cada dez tambores processados. Após a troca, é verificado se os

filtros primário e secundário estão acoplados corretamente na caixa de filtros, conforme as

fotografias da figura 4.3.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.3. Detalhes dos filtros primário e secundário

A tampa com o motor é colocada no tambor (base da máquina) e vedada através do

parafuso de ajuste, e o filtro de carvão ativo e a caixa de filtros (primário e secundário) são

então acoplados na tampa do tambor, conforme as fotografias da figura 4.4.

Page 82: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

82

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.4. Detalhes da tampa e do acoplamento dos filtros

A seguir a mangueira de sucção da tampa do tambor é conectada à entrada da caixa de

filtros e a mangueira de exaustão é conectada entre a saída da caixa dos filtros e a entrada da

caixa do filtro de carvão ativo. Com a fixação do tubo guia e ligação a rede de energia elétrica

o equipamento está pronto para operar, conforme ilustra a figura 4.5.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.5. Visão geral do equipamento com mangueiras conectadas

Antes de iniciar a operação é verificado se há vazamento nas conexões. Caso haja, os

acoplamentos são refeitos e, se necessário, as mangueiras são substituídas. Em nenhuma

hipótese o equipamento deve operar com vazamento. O teste para detectar fugas acidentais do

vapor de mercúrio é feito aplicando-se espuma em todo o sistema, observando a formação de

bolhas.

Page 83: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

83

4.2.2. Transporte dos equipamentos e resíduos

As atividades de transporte são estabelecidas na Instrução de Trabalho IT-IVM-03. O

transporte existente antes da operação envolve somente os componentes do equipamento

(apresentados no item 4.2.1) e os tambores metálicos de duzentos litros que são usados para

armazenar os resíduos de vidro e alumínio. Os tambores são substituídos à medida que vão

enchendo, e têm capacidade para abrigar de 850 a 1400 lâmpadas, dependendo do modelo que

está sendo processado.

Com relação ao retorno do equipamento e tambores cheios para a sede, a Ivomax está

dispensada da obtenção da ATRP - Autorização de Transporte de Resíduos Perigosos - junto

aos órgãos ambientais, pois os tambores são fechados com tampa e fecho de segurança, e em

seu interior ficam apenas componentes já descontaminados. A condicionante VII da Licença

do CRA apresenta como requisito que qualquer acidente no transporte do equipamento seja

comunicado imediatamente ao CRA. Havendo qualquer derramamento indesejado, os

resíduos são coletados com utensílios comuns e recolocados nos tambores.

Os filtros primário e secundário, por sua vez, ficam inseridos no próprio equipamento,

sendo transportados com ele. Quando saturados, são embalados em sacos plásticos e

colocados em tambores para serem encaminhados para a sede da empresa e, posteriormente,

para a destinação final. O filtro de carvão ativado fica acondicionado em um recipiente

blindado que é transportado junto com o equipamento e conectado durante a operação.

No transporte para destinação final também não são requeridos maiores cuidados com

relação aos tambores e filtros primário e secundário. Já o filtro de carvão ativado, conforme

condicionante V da Licença do CRA, requer uma ATRP para o transporte até o local de

descarte. Até o momento a empresa teve de transportar um único filtro em setembro de 2008,

o qual foi retirado do equipamento, acondicionado em dois sacos plásticos e colocado dentro

de um tambor metálico lacrado. Tal procedimento foi apresentado previamente pela Ivomax

ao CRA por meio de um Manifesto de Resíduos, sendo fornecido pelo CRA a ATRP nº

0225/2008-1371.

Com base na Portaria nº 402 de 12 de fevereiro de 2004 da ANTT, no transporte

terrestre de produtos perigosos o mercúrio deve ser enquadrado na Classe 6 (substâncias

tóxicas, infectantes e irritantes), mais precisamente na Subclasse 6.1 (substâncias tóxicas),

com nº ONU 2024 (mercúrio composto líquido) e 2025 (mercúrio composto sólido)

(BRASIL, 2004).

Page 84: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

84

Desta forma, os rótulos de risco são fixados no recipiente do carvão ativado adsorvido

de mercúrio, na ocasião do seu embarque, conforme determina a classificação da ONU

(inflamabilidade, corrosividade, etc.). O veículo que transporta os resíduos perigosos também

é identificado através das placas de risco conforme legislação vigente.

4.2.3. Descaracterização das lâmpadas

Para realizar a descaracterização é seguida a Instrução Operacional IO-IVM-01, que

estabelece que as lâmpadas devem ser transportadas do local de armazenamento até o local

onde se encontra o equipamento, tomando todo cuidado para evitar quebras. As lâmpadas

então são desembaladas e qualquer tipo de adesivo é retirado, garantindo que as mesmas

fiquem limpas antes de iniciar o processo. Quando ocasionalmente houver a quebra de uma

lâmpada, o operador recolhe os resíduos e lança no tubo guia, sendo este o mesmo

procedimento feito com os resíduos de lâmpadas quebradas encontrados junto com as

lâmpadas inteiras armazenadas pelos clientes.

O operador posiciona-se de maneira que a extremidade do tubo-guia, onde as lâmpadas

serão inseridas, fique na altura do seu tórax, para facilitar o processo e garantir a segurança e

ergonomia. As lâmpadas fluorescentes são introduzidas no tubo alimentador e quebradas pela

hélice posicionada sob a tampa do tambor do equipamento. As fotografias da figura 4.6

ilustram a alimentação do equipamento.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.6. Detalhes da operação de descaracterização de lâmpadas

Os fragmentos de vidro e metais caem no fundo do tambor e as poeiras finas (fósforo e

micro-partículas de vidro) e o vapor de mercúrio, são direcionadas por um sistema de

insuflação/exaustão de ar para dois filtros de celulose. As poeiras são retidas nesses filtros e o

Page 85: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

85

vapor de mercúrio é adsorvido nos filtros à base de carvão ativado. Nenhum material sólido

ou líquido é colocado dentro dos tambores, exceto o vidro, o alumínio das lâmpadas

quebradas e os filtros usados. As fotografias da figura 4.7 mostram o estoque de lâmpadas

inteiras (antes) e de resíduos de vidro e alumínio (depois).

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.7. Detalhes do estoque inicial de lâmpadas e dos resíduos de vidro e alumínio

4.3. ANÁLISE QUÍMICA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS

Em termos de classificação, a descaracterização das lâmpadas permite que os resíduos

sejam divididos em duas fases: a sólida e a gasosa. A sólida é obtida pela trituração das

lâmpadas, transformando-as em fragmentos de vidro e alumínio e o pó fosfórico, resíduos

estes classificados segundo a NBR 10004:2004 como Classe II. Já a gasosa consiste em criar

um caminho preferencial para que os gases contidos nas lâmpadas passem pelos filtros, de

forma a reter o mercúrio, que é considerado resíduo Classe I pela norma.

A análise química dos resíduos sólidos foi feita inicialmente em 2002, na época da

aquisição dos equipamentos, pelo IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas, por solicitação da

empresa denominada Naturalis do Brasil, que é parceira da Ivomax e atua em São Paulo. Os

ensaios de lixiviação e solubilização para detectar os níveis de mercúrio no vidro e no pó

fosfórico foram realizados conforme as normas NBR 10004, NBR 10005, NBR 10006 e NBR

10007 vigentes na época, publicadas em 1987. A tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos

pelo IPT nas análises químicas das lâmpadas.

Page 86: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

86

Tabela 4.2. Resultado da análise química realizada pelo IPT

Ensaio Elemento Resultados das amostras (mg/L)* NBR 10004

(limite máximo) Nº 1 Nº 2 Nº 3 Resíduo filtro**

Lixiviação Mercúrio < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,03 0,1 mg/L

(Anexo G)

Solubilização Mercúrio 0,01 0,01 0,01 0,1 0,001 mg/L (Anexo H)

* As amostras denominadas Nº 1, Nº 2 e Nº 3 são de vidro somente (sem as peças de alumínio) ** O resíduo do filtro é o genericamente denominado pó fosfórico nesta monografia

Fonte: IPT, 2002

O IPT concluiu que o mercúrio estava dentro do limite máximo permitido para o extrato

de lixiviação e acima do limite permitido para o extrato de solubilização, tanto nas amostras

de vidro como na amostra de pó fosfórico, e com base nos resultados obtidos classificou os

resíduos como Classe II - não inertes, ou seja, os resíduos não foram considerados perigosos.

Já a Ivomax realizou a análise química do vidro e alumínio duas vezes desde a entrada

em atividade, e a análise do pó fosfórico foi feita em uma ocasião. Os ensaios de lixiviação e

solubilização para detectar os níveis de mercúrio foram realizados segundo as normas NBR

10004, NBR 10005, NBR 10006 e NBR 10007 publicadas em 2004. As tabelas 4.3 e 4.4

apresentam os resultados dos laudos disponibilizados pela Ivomax, obtidos pela Engequímica

nas análises químicas do vidro e alumínio e do pó fosfórico das lâmpadas, respectivamente.

Tabela 4.3. Resultado da análise do vidro e alumínio realizada pela Engequímica

Parâmetros Métodos Limites Data da análise

Lixiviado Solubilizado

Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,1 09/02/06 0,048 mg/L - Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,001 09/02/06 - 0,177 mg/L

Fonte: ENGEQUÍMICA, 2006

Tabela 4.4. Resultado da análise do pó fosfórico realizada pela Engequímica

Parâmetros Métodos Limites Data da análise

Lixiviado Solubilizado

Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,1 09/02/06 0,1 mg/L - Fonte: ENGEQUÍMICA, 2007

Mais uma vez a análise da solubilização apresentou resultados superiores ao permitido

no ensaio de solubilização para as amostras de vidro e alumínio. Segundo a NBR 10004:2004,

os resíduos Classe II A - não inertes, podem ter propriedades tais como: biodegradabilidade,

combustibilidade ou solubilidade em água.

Page 87: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

87

Com relação à identificação, armazenamento e destinação dos resíduos gerados no

processo de descaracterização, os procedimentos a serem seguidos estão definidos na

Instrução de Trabalho IT-IVM-03. Os tambores contendo vidro e alumínio são identificados e

armazenados temporariamente no depósito da empresa que é de alvenaria, tem cobertura de

telhas metálicas e piso cimentado impermeável. Os tambores são encaminhados mensalmente

para uma cimenteira que mói o vidro e o alumínio e usa como insumo em seu processo de

fabricação de clinquer portland. A condicionante IV da Licença do CRA exige que os

resíduos sólidos sejam encaminhados para empresas licenciadas ambientalmente ou dispostos

em aterro industrial igualmente licenciado, mantendo documentação comprobatória.

Os filtros primário e secundário também são armazenados em tambores no depósito, e a

cada três meses são encaminhados para uma empresa especializada que incinera o pó

fosfórico. Os filtros de ar propriamente ditos, segundo a condicionante III da Licença do

CRA, devem ser encaminhados para reciclagem, tratamento de descontaminação ou

destruição, em empresas licenciadas ambientalmente.

Já o filtro de carvão ativado fica acondicionado em um recipiente blindado do próprio

equipamento, e só é removido a cada 500.000 lâmpadas processadas ou dois anos, o que

ocorrer primeiro. Até o momento foi atingida a capacidade de um filtro, cujo destino foi uma

empresa produtora de cloro-soda, que desenvolveu um método piloto de tratamento do carvão

ativado para retirada do mercúrio, o qual é utilizado como matéria prima em seu processo

produtivo. A tabela 4.5 sintetiza o tratamento dado aos resíduos gerados no processo de

descaracterização das lâmpadas e os controles dos níveis de mercúrio já realizados.

Page 88: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

88

Tabela 4.5. Resumo da análise química e destinação dos resíduos de lâmpadas

Descrição Classe NBR 10004

Análise química (Quantidade/ Responsável)

Armazenamento (Local/Tempo)

Destino final (Para quem/ Finalidade)

Vidro II B Duas análises, realizadas pelo IPT

e Engequímica

Depósito da Ivomax durante um mês

Cimenteira para moagem e aproveitamento no processo produtivo

Metal II B Duas análises, realizadas pelo IPT

e Engequímica

Depósito da Ivomax durante um mês

Cimenteira para moagem e aproveitamento no processo produtivo

Pó fosfórico contido nos filtros primário e secundário

II B Duas análises, realizadas pelo IPT

e Engequímica

Depósito da Ivomax durante três meses

Empresa especializada para incineração e

descarte dos resíduos

Mercúrio contido no carvão ativo

I - Recipiente blindado do equipamento

durante dois anos

Indústria de cloro-soda para tratamento e

aproveitamento no processo produtivo

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Sobre o descarte dos resíduos cabe destacar ainda que a Ivomax paga para as empresas

receptoras para que dêem a destinação apresentada acima, diferentemente da prática descrita

por Sanches (2008) na tabela 2.25, onde os materiais recuperados na reciclagem de lâmpadas

têm valor comercial.

4.4. LICENÇAS AMBIENTAIS

A Ivomax adquiriu seus equipamentos em 2001 e iniciou efetivamente suas atividades

comerciais em maio de 2006, após ter recebido a licença simplificada do CRA - Centro de

Recursos Ambientais - do estado da Bahia, segundo o processo nº 2005-007170/TEC/LS-

1078. A licença é válida até abril de 2009 e está em fase de renovação.

A empresa esta cadastrada no IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis - como executante de Atividades Potencialmente Poluidoras,

mais especificamente, para prestação de serviços de “tratamento e destinação de resíduos

industriais”. O Certificado de Regularidade é válido até maio de 2009.

Para prestar serviços no estado de Sergipe a Ivomax possui uma Licença de Operação

de nº 648/2008 emitida pela ADEMA - Administração Estadual do Meio Ambiente. A licença

foi renovada em dezembro de 2008.

Como foi relatado no item 2.3.2 desta monografia, não existe uma legislação abrangente

a nível federal sobre o descarte de lâmpadas que contém mercúrio, e nos estados e municípios

Page 89: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

89

existem somente algumas leis pioneiras a cerca do assunto. Assim sendo, para a prestação de

serviços em outros estados a Ivomax não tem exigências específicas, adicionais àquelas já

atendidas na Bahia e Sergipe. Cabe ressaltar, adicionalmente, que muitos dos clientes acabam

solicitando por conta própria a apresentação de atestados e licenças para prestação do serviço,

mesmo que de outros estados, de forma a se respaldar em relação a possíveis fiscalizações de

órgãos ambientais.

4.5. RISCOS OCUPACIONAIS

Do ponto de vista comercial, muitos dos clientes da Ivomax, por necessidade de

justificar os investimentos com o descarte de lâmpadas, por exigência normativa ou por

estarem imbuídos de maior consciência ambiental e social, exigem que sejam apresentados os

laudos de exames do ar atmosférico para fins de higiene ocupacional, chegando, em alguns

casos, a realizarem as análises por conta própria.

Do ponto vista legal, a condicionante I da Licença do CRA obriga a Ivomax a

apresentar semestralmente um relatório de medição da concentração de mercúrio na descarga

do exaustor, contemplando análise crítica, laudos analíticos, conclusão e recomendações. A

tabela 4.6 apresenta os resultados dos Relatórios de Análise cedidos pela Ivomax, realizados

nos anos de 2007 e 2008 pela Environ Científica, segundo o método NIOSH 6009, para

avaliar o nível de mercúrio no ar atmosférico para fins de higiene ocupacional.

Tabela 4.6. Resultados das análises de ar atmosférico para fins de higiene ocupacional

Amostra Nº do cliente Volume (L) Data da coleta Resultados (mg/m3)*

68428.1 553368 454,6 19/01/2007 < 0,001 71723.1 512261 74,75 26/07/2007 0,012 71723.2 512263 73,06 26/07/2007 0,008 71723.1 512262 76,26 26/07/2007 0,004 76508.1 535554 77,60 06/03/2008 < 0,003 76508.2 535546 77,80 06/03/2008 < 0,003 79404.1 516943 90,00 23/07/2008 0,003

* Limites de Tolerância: NR 15 = 0,04 mg/m3

ACGIH (2006) = 0,025 mg/m3 Fonte: ENVIRON CIENTÍFICA, 2007 e 2008

Para atender a NR 7 a Ivomax realiza os exames periódicos, nos quais são monitorados

os níveis de mercúrio no organismo dos trabalhadores através da urina. Como os resultados

dos exames são de acesso exclusivo do médico do trabalho e do próprio funcionário, foram

Page 90: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

90

apresentados os ASO´s do Técnico de Operações emitidos pelo SESI Lucaia, datados em

29/03/2008, 12/11/2008 e 06/12/2008, cujas conclusões registradas são “apto para a função”.

A Licença do CRA também tem como condicionante II o fornecimento de EPI´s aos

funcionários, adequados e compatíveis com o exercício de suas funções, e a fiscalização de

seu efetivo uso conforme estabelecido na NR 6 do MTE. A Ivomax estabelece na IO-IVM-01

e IT-IVM-03 os procedimentos relativos ao fornecimento, uso, preservação e controle dos

EPI´s. A máscara com filtro para vapor de mercúrio é de uso obrigatório durante toda a

operação, desde o reconhecimento do local onde as lâmpadas estão armazenadas até o

desligamento da máquina, para proteção do operador e seus ajudantes de eventual exposição

ao mercúrio.

A empresa conta ainda com armários metálicos nas suas instalações para guarda dos

EPI´s, de forma que fiquem separados das roupas e acessórios de uso externo dos

trabalhadores. A higienização dos EPI´s é de responsabilidade dos próprios funcionários.

Page 91: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

91

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Considerando as limitações da pesquisa, que foi feita sem nenhuma visita para

acompanhamento da operação in company, e as informações obtidas na revisão bibliográfica,

são retomados os objetivos desta monografia e realizadas a seguir algumas considerações

sobre o serviço de reciclagem de lâmpadas que contém mercúrio com equipamento móvel.

5.1. RISCOS OCUPACIONAIS

Com relação ao monitoramento biológico da exposição ocupacional ao mercúrio, a

Ivomax vem cumprindo a periodicidade dos exames determinada pela NR 7, e as informações

disponíveis nos ASO´s, apesar de não serem muito esclarecedoras, demonstram que os

Valores de Referência, a priori, estão sendo respeitados.

No que tange aos riscos de exposição dos operadores ao mercúrio durante o

processamento das lâmpadas, é possível verificar no item 4.5 que os resultados apresentados

nos Relatórios de Análises são cerca de dez vezes mais conservadores do que a legislação em

vigor, tanto se forem usados como referência os Limites de Tolerância da NR 15 como os da

ACGIH.

O Departamento de Controle de Substâncias Tóxicas da EPA - Environmental

Protection Agency - dos Estados Unidos realizou em 2001 uma pesquisa com o objetivo de

avaliar diferentes tipos de equipamentos de reciclagem de lâmpadas fluorescentes disponíveis

no mercado americano, tanto móveis como estacionários, considerando, entre outros aspectos,

os resultados de controles de emissões de mercúrio (EPA, 2001). Entre os equipamentos

avaliados estavam dois modelos da Air Cycle Corporation, fabricante da recicladora usada

pela Ivomax, e os resultados das análises, a título de enriquecimento desta discussão, são

apresentados nas tabelas 5.1 e 5.2.

Page 92: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

92

Tabela 5.1. Concentrações de mercúrio para o modelo Bulb Eater 55-VRS

Local da amostragem Lâmpadas

processadas (unidades)

Período de coleta (h)a

Resultados das amostras

(mg/m3)e Antes do tratamento pelos filtrosb,d 820 4 4,0 Na saída do filtro de carvão ativadob,c 820 4 0,045 Na saída do filtro de carvão ativadoc,d 446 4 0,03 Entre os filtros de ar e o de carvão ativadoc,d 446 4 0,45 Zona de respiração do operador (7,5 h)c 446 4 0,002 Zona de respiração do operador (30 min.)c 100 0,5 0,001 OSHA (Limite de Exposição permitido): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele) 15 minutos (TWA) = 0.1 mg/m3 (teto) NIOSH (Limite de Exposição recomendado): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele) a Equipamento funcionou por 8 horas mas as lâmpadas só foram processadas durante o período abaixo, exceto para o valor na zona de respiração do operador (período de 30 minutos) b Dados de 22/11/2000 (fornecidos pela Air Cycle Corporation a Minnesota Pollution Control Agency) c Dados de 07/11/2000 (obtidos em um relatório publicado pela Air Cycle Corporation) d Amostra coletada integralmente durante um período de 8 horas e Todas as amostras foram analisadas pelo método NIOSH 6009 Fonte: EPA, 2001

Tabela 5.2. Concentração de mercúrio no modelo Bulb Eater 55-VRS-U

Local da amostragem Lâmpadas

processadas (unidades)a

Resultados das amostras (mg/m3)e 90 min. 390 min.d 8 horas

(média) Entre os filtros de ar e carvão ativado 450 9,28 0,057 1,79 Na saída do filtro de carvão ativado 450 0,00211 0,00218 0,00217 Zona de respiração do operador 450 0,0603b

0,0443c 0,00264 0,00907

OSHA (Limite de Exposição permitido): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele) 15 minutos (TWA) = 0.1 mg/m3 (teto) NIOSH (Limite de Exposição recomendado): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele) a 300 lâmpadas modelo U e 150 tubulares b Amostras coletadas ao longo dos primeiros 15 minutos de processamento das lâmpadas c Amostras coletadas ao longo dos últimos 75 minutos de processamento das lâmpadas d Amostra coletada após o equipamento ser desligado, mas sem lacrar a abertura de alimentação das lâmpadas e Todas as amostras foram analisadas pelo método NIOSH 6009 Fonte: EPA, 2001

Para ambos os modelos de equipamentos a EPA (2001) conclui que as concentrações de

mercúrio na zona respiratória do operador e após o filtro de carvão ativado foram abaixo da

OSHA, tanto para os limites de exposição admissível de 8 horas como para o de 15 minutos.

A EPA (2001) destaca, no entanto, que os ensaios da Air Cycle Corporation foram

realizados durante um período de 8 horas, mas parte do tempo foi com o equipamento em

operação e outra parte com o equipamento ocioso. Os relatórios não forneceram detalhes

sobre as condições de realização dos ensaios, como se o filtro de carvão ativado era novo ou

Page 93: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

93

usado, e se a abertura de alimentação das lâmpadas foi lacrada quando os equipamentos

estavam ociosos.

Segundo a EPA (2001), não foram realizados monitoramentos por meio de um

instrumento de leitura adequado, durante as trocas de tambores e do filtro de carvão ativado

próximo da sua capacidade limite. Apesar do STEL e PEL basearem-se em 15 minutos

(TWA) e 8 horas (TWA), respectivamente, estes resultados não conseguiriam avaliar as

concentrações de vapor de mercúrio associadas a tarefas como a mudança de tambor ou outras

situações imprevistas durante a operação.

A análise qualitativa das etapas de preparação, transporte e operação do equipamento,

bem como a destinação final dos resíduos foi comprometida pela impossibilidade de

acompanhar o serviço in company (vide limitações da pesquisa), porém, com base nos vídeos

assistidos sobre o processo de descaracterização, três aspectos puderam ser evidenciados: o

isolamento da área de trabalho, o uso de EPI´s pelos trabalhadores e a fuga de gases pelo tubo

guia durante a operação. As fotografias da figura 5.1 demonstram duas situações de

descaracterização de lâmpadas com o “Papa-Lâmpadas” onde não foi feito o isolamento da

área, sendo uma delas executada pela Ivomax.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.1. Detalhe da falta de isolamento da área de trabalho

Cabe destacar que na Ivomax o isolamento da área com cones é previsto no

procedimento IO-IVM-01. No caso da outra empresa, não há informações disponíveis para

justificar a existência ou não de isolamento. Com relação aos EPI´s, as fotografias da figura

5.2 demonstram duas situações de descaracterização de lâmpadas com o “Papa-Lâmpadas”

onde ambos os trabalhadores usa máscara facial (esquerda) e onde somente o operador usa a

máscara, ficando o ajudante exposto a possíveis liberações de mercúrio.

Page 94: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

94

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.2. Detalhe do uso de máscara facial somente pelo operador

Na figura da direita é possível verificar o abastecimento de lâmpadas feito pelo

ajudante, o qual está sem máscara facial a uma distância bastante próxima do equipamento em

operação. As fotografias da figura 5.3 demonstram uma aproximação da câmera de vídeo que

captou a fuga de gases contendo pó fosfórico pelo tubo guia no momento da trituração da

lâmpada, evidenciando que o equipamento não opera hermeticamente, e portanto é

imprescindível o uso de EPI´s durante todas as etapas do processo.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.3. Detalhes da fuga de gás com o pó fosfórico na operação de descaracterização

Em sua avaliação a EPA (2001) destaca ainda que tambores que tenham qualquer

irregularidade na área de contato com a tampa do equipamento ou danos no dispositivo de

vedação também podem permitir a liberação de partículas e de vapor de mercúrio durante a

operação. Assim sendo, os trituradores devem ser instalados em áreas externas ou em locais

bem ventilados, acessíveis apenas ao pessoal devidamente treinado.

Page 95: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

95

Atividades como a substituição dos filtros e tambores devem ser realizados por

trabalhadores equipados com EPI´s adequados, incluindo máscara facial com respirador (com

indicadores do "fim de vida"), luvas resistentes e macacão de material especial. Quando o

aparelho não estiver em uso, a via de alimentação das lâmpadas precisa ser fechada com

tampa ou dispositivo similar para impedir a liberação das emissões de mercúrio (EPA, 2001).

5.2. IMPACTOS AMBIENTAIS

No quesito nível de descontaminação dos resíduos, especificamente no que tange ao

ensaio de lixiviação, observa-se nos dados disponíveis no item 4.3 que não há uma

unanimidade, uma vez que os resultados variam entre dez vezes menos que o limite máximo,

no caso do vidro, até exatamente o limite máximo, no caso do pó fosfórico. Uma majoração

do número de ensaios talvez pudesse auxiliar no esclarecimento da questão. Segundo um dos

proprietários da Ivomax, o fato dos resultados estarem no limite máximo para o pó fosfórico é

o que vem determinando o seu envio para incineração, ao invés de optar por um descarte

menos dispendioso.

Com relação ao ensaio de solubilidade, o proprietário da Ivomax entrevistado declarou

que tal indicador não compromete a atividade de reciclagem pois não há utilização de

líquidos, especificamente a água, no processamento das lâmpadas.

Os filtros usados deverão ser considerados perigosos e tratados adequadamente, a

menos que tenham sido testados e considerados não perigosos, com as concentrações de

mercúrio total e solúvel abaixo dos respectivos índices previstos na legislação (EPA, 2001).

Na Ivomax os filtros primário e secundário após o uso são jogados no lixo comum. De acordo

com um dos proprietários entrevistados, o fabricante orienta que os filtros podem ser

reaproveitados, mas em função dos resultados das análises do pó fosfórico, por medidas de

segurança, a empresa opta pelo descarte.

Na destinação de resíduos de vidro e alumínio junto a uma fábrica de cimento portland,

a Ivomax recebe, em contrapartida, um documento atestando o efetivo recebimento para uso

em seu processo produtivo. Com relação ao pó fosfórico, que é incinerado por uma empresa

especializada, e ao mercúrio, processado em uma planta de cloro-soda, a Ivomax não possuía

documentos comprobatórios até o momento da visita a sua. Segundo o proprietário da

empresa que foi entrevistado, tais documentos seriam providenciados pela ocasião da

renovação da Licença do CRA, ainda no mês de abril de 2009.

Page 96: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

96

5.3. EQUIPAMENTOS MÓVEIS E ESTACIONÁRIOS

Com relação às vantagens e desvantagens de equipamentos móveis em relação aos

estacionários, no que diz respeito aos riscos ocupacionais e ambientais, não foram

encontradas informações suficientemente detalhadas sobre os equipamentos fixos na

realização desta monografia, de forma a permitir um parecer mais embasado sobre o assunto.

A EPA (2001) em sua pesquisa destaca que a principal vantagem dos equipamentos

móveis é que eles ocupam menos espaço, e dispensam embalagens e outros cuidados

adicionais para prevenir a quebra das lâmpadas durante o armazenamento ou transporte até

uma recicladora. Baseada em um estudo de três empresas que usam equipamentos móveis,

porém, a EPA concluiu que aparentemente não há vantagens significativas em termos de

redução nos custos quando o processamento é feito nas instalações dos clientes.

Outro inconveniente apontado pela EPA (2001) com relação aos equipamentos da Air

Cycle Corporation é que nenhum dos modelos avaliados na pesquisa estava equipado com um

sistema de contagem de lâmpadas, de monitoramento do mercúrio, nem indicadores para

advertir sobre a necessidade de mudanças dos filtros ou de tambores cheios. O operador

precisa monitorar o número e tipo de lâmpada esmagada para determinar quando os filtros de

carvão ativado precisam ser substituídos.

Já os equipamentos móveis de maior porte e os estacionários têm como desvantagem o

custo do investimento, de forma que os únicos usuários que podem comprar estas unidades

são geradores de quantidades muito grandes de lâmpadas fluorescentes, ou empresas de

reciclagem que prestam esta atividade comercialmente (EPA, 2001).

Zavariz (2007) em seu documento apresentado ao GT - Lâmpadas do CONAMA com

recomendações relativas às lâmpadas com mercúrio, a serem implementadas pelos órgãos

competentes em todo o território nacional, inclui no item V, aspecto 3, a seguinte proposição:

“Fica proibida a realização de quebra ou tratamento de lâmpadas contendo mercúrio em

unidades móveis, seja em veiculo ou similares ou quaisquer meios passíveis de deslocamento

para a realização deste tipo de atividade". Esta autora porém não justifica no documento o

motivo da defesa de tal posição.

A ACPO (2006) menciona em seu relatório sobre o mercado de mercúrio no Brasil que

as empresas recicladoras necessitam de rígido e constante controle para o cumprimento da

legislação, independentemente do seu método de processamento, de forma que estas cumpram

Page 97: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

97

o seu desejável papel ambiental e não coloquem em risco o ambiente laboral, o meio ambiente

e a vida no seu entorno.

Segundo a ACPO (2006), existe o problema da introdução no mercado brasileiro de

tecnologias que não foram totalmente verificadas quanto a sua segurança e eficácia, como é o

caso do equipamento denominado “Papa-Lâmpadas”, que vem sendo utilizado para

reciclagem de lâmpadas fluorescentes e promete dar conta da sua destinação. Por outro lado, a

própria ACPO noticiou que em 2004 e 2006, respectivamente, duas empresas recicladoras de

mercúrio (Apliquim e Brasil Recicle), ambas usuárias de equipamentos estacionários, foram

interditadas pelo Ministério do Trabalho (DRT/SP) por emitirem para o meio ambiente de

trabalho níveis de mercúrio incompatíveis com a legislação vigente.

Conclui-se então que ambos os tipos de equipamentos, móveis e estacionários, possuem

características positivas e negativas que podem ser preponderantes do ponto de vista

comercial, contudo, no que tange a saúde das pessoas, independente do método de

processamento empregado, é imprescindível a avaliação permanente das concentrações de

mercúrio e seus compostos liberados no ar, para minimizar os riscos de intoxicação dos

trabalhadores envolvidos, e da população em geral que estiver dentro do raio de ação dos

gases durante a operação.

Com relação à destinação dos resíduos, aparentemente não existem diferenças

ambientalmente significativas entre os dois tipos de equipamentos, já que ambos geram os

mesmos componentes (vidro, alumínio e pó fosfórico), os quais, uma vez descontaminados,

são encaminhados de forma similar para o aproveitamento em processos de outras empresas

ou para a destruição.

No caso específico do mercúrio, do ponto de vista ambiental, a diferença entre os

equipamentos não é determinada pela forma de descaracterização das lâmpadas, que é

aparentemente similar, e sim pela sua capacidade de processar os resíduos a fim de destilar e

remover as impurezas do mercúrio. Como foi relatado nesta monografia, o equipamento

usado na operação “Papa-Lâmpadas” não têm esta capacidade, sendo necessário que o carvão

ativado passe por um processamento posterior, que depende, dentre outras coisas, da detenção

de conhecimento e de equipamentos tecnologicamente adequados.

Page 98: RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO

98

5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos objetivos específicos estabelecidos para esta monografia é apoiar as

organizações e os consumidores em geral na escolha de métodos de reciclagem de lâmpadas

que contém mercúrio, de forma que os recursos investidos produzam, em contrapartida,

resultados aceitáveis do ponto de vista ocupacional e ambiental.

Apesar das limitações da pesquisa, acredita-se que tal objetivo foi alcançado, uma vez

que um volume considerável de informações a cerca da reciclagem de lâmpadas que contém

mercúrio foi sintetizado em um único documento. Tais informações podem servir,

primeiramente, para se decidir de forma mais consciente entre reciclar ou não as lâmpadas, e

em segundo lugar, para facilitar na escolha da empresa recicladora.

Como o mercado de reciclagem ainda é restrito e consideravelmente caro, no momento,

os pequenos consumidores ainda não têm uma opção acessível para destinação de suas

lâmpadas. Para viabilizar uma ação de amplitude nacional, estadual ou então municipal, é

preciso pressionar os legisladores para que cumpram seu papel, de forma que os trabalhadores

deste segmento, os usuários em geral e a natureza como um todo sejam preservados da

contaminação por mercúrio.

Por fim, reforçando a mensagem de Azevedo (1994) e da OIT (1998), o controle da

exposição ocupacional ao mercúrio, nas mais diferentes atividades em que ele ou seus

compostos são empregados ou produzidos, pode e deve ser feito pela introdução de medidas

de ordem técnica, sendo que uma das mais relevantes é a substituição do mercúrio por

produtos menos perigosos nos processos industriais.

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99

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