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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL JOSÉ RIBAMAR SANTANA ANÁLISE DE ADEQUABILIDADE DA INFRAESTRUTURA DO PORTO DO RECIFE: Um Estudo de Caso RECIFE 2012

RECIFE 2012imagens.devrybrasil.edu.br/wp-content/uploads/sites/88/2015/01/... · faculdade boa viagem centro de pesquisa e pÓs-graduaÇÃo em administraÇÃo curso de mestrado profissional

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FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO

EMPRESARIAL

JOSÉ RIBAMAR SANTANA

ANÁLISE DE ADEQUABILIDADE DA INFRAESTRUTURA DO PORTO DO RECIFE: Um Estudo de Caso

RECIFE

2012

JOSÉ RIBAMAR SANTANA

ANÁLISE DE ADEQUABILIDADE DA INFRAESTRUTURA DO PORTO

DO RECIFE: Um Estudo de Caso

Dissertação apresentada ao Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação em Administração da Faculdade

Boa Viagem, como requisito complementar para

obtenção do título de Mestre em Gestão

Empresarial.

Orientador: Profº Dr. Olímpio José de Arroxelas

Galvão

RECIFE

2012

DEDICATÓRIA

A minha família, principalmente aos meus pais, Francisco e Conceição Santana (in memoriam), pelo legado de valores,

dedicação e amor que fazem de mim um cidadão digno e resoluto.

A minha esposa Olinda e aos meus filhos Ruana, Rudah e Rodrigo, minhas permanentes fontes de inspiração e energia.

AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida e da saúde, a quem recorro sempre, sem cerimônias, em

busca de apoio e paz.

A minha família Santana, à minha esposa Olinda, aos meus filhos Ruana, Rudah e

Rodrigo, aos meus irmãos, irmãs e sobrinhos, de quem recebo sempre amor, apoio

e reconhecimento, o que muito me fortalece a alma e o corpo, na busca pela

realização dos meus sonhos.

Ao professor e orientador Olímpio José de Arroxelas Galvão pela convivência,

paciência, conhecimento e presteza na condução deste trabalho. Um agradecimento

especial a este, que ao longo desta jornada pude tratá-lo simplesmente de Olímpio.

Aos professores José Raimundo Oliveira Vergolino e Fernando de Mendonça Dias,

examinadores deste trabalho, pelas ricas contribuições e sugestões por ocasião da

apresentação do projeto de pesquisa.

A empresa em que trabalho, Moinhos Cruzeiro do Sul S/A, na pessoa do meu

Diretor Amaro Santana Leite, por compreender, aprovar e me liberar às sextas-

feiras à tarde para realizar este sonho.

Aos dirigentes do Porto do Recife, especialmente para o Dr. Carlos Vilar, pelo apoio

e condições criadas para que este autor pudesse mergulhar no tema em estudo.

A todos os entrevistados, que com suas respostas contribuíram muito para

esclarecer a questão em estudo e principalmente pela disposição em colaborar.

A todos os professores e colegas do mestrado pelo rico convívio e pelo intenso

aprendizado, especialmente ao colega Alexandre pela sua notável presteza e

atenção para com toda a turma. Um agradecimento afetuoso à Albina Simões,

secretária do curso, pela permanente colaboração e pelo cafezinho com biscoito.

Agradeço à colega de trabalho e contadora Nazaré Sampaio, por sua preciosa

contribuição na secção que analisou o desempenho econômico do Porto do Recife,

pelo gentil empréstimo do seu aparelho de gravação, muito útil nas entrevistas, e ao

seu esposo Carlos Henrique pelo apoio na informática.

Agradeço ainda aos colegas de trabalho Alexsandra, Camila e Simone, pela gentil

contribuição na formatação dos gráficos deste trabalho.

RESUMO

Este trabalho tem como proposta identificar e analisar os principais gargalos

estruturais do Porto do Recife do Estado de Pernambuco, responsáveis pelas

sucessivas quedas em sua movimentação de cargas, verificadas nos últimos

tempos, a partir da visão dos atores envolvidos nesse contexto. O estudo aborda a

história do porto e o comportamento deste diante dos desafios impostos pela

reforma portuária brasileira e pelo avanço do comércio marítimo mundial. Além do

levantamento bibliográfico, a metodologia recorreu a aplicação de pesquisa de

campo, a qual consultou, através de entrevistas, dirigentes e usuários do porto, além

de especialistas portuários. A identificação e avaliação desses gargalos foram feitas

segundo o conhecimento e a sensibilidade de cada um desses grupos, que puderam

expressar suas opiniões e sugerir medidas de adequabilidade para o porto, de modo

a torná-lo competitivo na categoria de porto comercial. Desta forma, este trabalho

levantou questões importantes acerca do tema proposto e a possibilidade de

medidas de adequabilidade para que o porto possa competir neste novo ambiente

econômico.

Palavras chaves: Portos, Porto do Recife, Modernização, Adequabilidade.

ABSTRACT

This paper aims to identify and analyze the main structural bottlenecks of the port of

Recife, in the State of Pernambuco, responsible for the continuing declines in its

cargo handling observed lately, from the perspective of the actors involved in this

context. The study describes the history of the port and its behavior in response to

the challenges imposed by the portuary reform and development of the word

maritime trade. In addition to the literature, the methodology resorted to the

implementation of field research, which consulted, through interviews, managers and

users of the port, and port experts. The identification and evaluation of these

bottlenecks were made according to the knowledge and sensitivity of each of those

groups, who were able to express their opinions and suggest appropriate

interventions in the harbor, in order to make it competitive in the category of

commercial seaport. Thus, this paper has raised important questions about the

proposed topic and the possibility of measures of suitability for the port to compete in

this new economic landscape.

Key words: Port, Port of Recife, Modernization, Suitability, Revitalization.

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ...............................................................................1

1.1 – Antecedentes .................................................................................................1 1.2 – A infraestrutura portuária nacional .................................................................2 1.3 – Caracterização do problema ..........................................................................5 1.4 – Justificativa .....................................................................................................8 1.5 – Objetivo geral .................................................................................................8 1.6 – Objetivos específicos......................................................................................9 1.7 – Metodologia ....................................................................................................9 CAPÍTULO 2 – A EVOLUÇÃO DOS PORTOS .......................................................11

2.1 – Introdução ......................................................................................................11 2.2 – Conceitos e definições ...................................................................................11 2.3 – O processo evolutivo dos portos ....................................................................16 2.4 – Conclusões .....................................................................................................21 CAPÍTULO 3 – O SISTEMA PORTUÁRIO NACIONAL ..........................................22

3.1 – Introdução ......................................................................................................22 3.2 – Antecedentes .................................................................................................22 3.3 – A reforma do sistema portuário nacional ........................................................25 3.3.1 – A Lei nº 8.630/93 – lei de modernização dos portos ...................................26 3.3.2 – Criação da Agência Nacional de Transporte Aquaviário – ANTAQ .............33 3.3.3 – Criação da Secretaria de Portos da Presidência da República – SEP/PR ..34 3.4 – O quadro atual ................................................................................................35 3.5 – Conclusões .....................................................................................................39 CAPÍTULO 4 – A INFRAESTRUTURA PORTUÁRIA E LOGÍSTICA NO BRASIL ..40

4.1 – Introdução ......................................................................................................40 4.2 – A importância da infraestrutura no transporte de cargas no Brasil .................40 4.3 – A matriz de transporte brasileira .....................................................................46 4.4 – A importância do sistema portuário na matriz de transporte brasileira ...........50 4.5 – Conclusões .....................................................................................................60 CAPÍTULO 5 – O PORTO DO RECIFE ..................................................................61

5.1 – Introdução ......................................................................................................61 5.2 – O Porto do Recife e sua evolução histórica ....................................................61 5.2.1 – Período colonial ...........................................................................................63 5.2.2 – Período imperial ..........................................................................................67 5.2.3 – Período republicano ....................................................................................72 5.3 – Infraestrutura atual do Porto do Recife ...........................................................76 5.3.1 – Área do porto organizado ............................................................................77 5.3.2 – Acessos .......................................................................................................77 5.3.3 – Área de fundeio ...........................................................................................78 5.3.4 – Instalações de acostagem e atracação .......................................................79 5.3.5 – Área de armazenagem ................................................................................81

5.3.6 – Terminal de cargas e passageiros .............................................................82 5.3.7 – Retroárea e retroporto .................................................................................84 5.3.8 – Estrutura administrativa e operacional ........................................................84 5.3.9 – Arrendamentos e tarifas ..............................................................................86 5.4 – Porto do Recife – Movimentação portuária ....................................................88 5.4.1 – Um breve relato da movimentação de cargas da inauguração até a Década de 70................................................................................................89 5.4.2 – Movimentação de cargas na década de 80 e 90 .........................................90 5.4.3 – Movimentação de cargas após a implantação da Lei nº 8.630/93 ..............91 5.4.4 – Movimentação de cargas no período de 2004 a 2011 ................................96 5.4.5 – Principais produtos movimentados ..............................................................100 5.4.6 – Movimentação de Navios ............................................................................103 5.4.7 – Participação dos operadores portuários na movimentação de cargas ........104 5.4.8 – Movimentação de passageiros ....................................................................105 5.5 – Análise do desempenho operacional do Porto do Recife ............................106 5.5.1 – Evolução do desempenho operacional – Trigo ...........................................108 5.5.2 – Evolução do desempenho operacional – Fertilizante ..................................109 5.5.3 – Evolução do desempenho operacional – Açúcar em saco ..........................110 5.5.4 – Evolução dos preços médios totais da movimentação de Trigo ..................111 5.5.5 – Evolução dos preços médios totais da movimentação de Açúcar em saco 112 5.5.6 – Evolução dos preços médios totais da movimentação Fertilizantes ...........112 5.5.7 – Evolução dos preços médios totais da movimentação de Malte Cevada ...113 5.6 – Análise do desempenho econômico do Porto do Recife..............................114 5.7 – Programa de Revitalização de Área Portuária – REVAP – O Porto novo ...115 5.8 – Conclusões ..................................................................................................117 CAPÍTULO 6 – METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS GARGALOS DO PORTO DO RECIFE ....................................................................119

6.1 – Introdução ......................................................................................................119 6.2 – Metodologia aplicada .....................................................................................119 6.3 – Conclusões .....................................................................................................122 CAPÍTULO 7 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ......................................................123

7.1 – Introdução ......................................................................................................123 7.2 – Gargalos e demandas do Porto do Recife ......................................................123 7.2.1 – Acesso aquaviário .......................................................................................124 7.2.2 – Acesso rodoviário ........................................................................................126 7.2.3 – Acesso ferroviário ........................................................................................130 7.2.4 – Áreas e retroáreas .......................................................................................131 7.2.5 – Gestão da Autoridade Portuária ..................................................................132 7.2.6 – Modernização dos terminais ........................................................................135 7.2.7 – Outras demandas relevantes ......................................................................137 7.3 – Plano de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZ e o programa de Reestruturação do Porto do Recife...............................................................137 7.4 – Cenários possíveis para a movimentação de cargas e passageiros ..............141 7.5 – Conclusões .....................................................................................................145 CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES ..............................................................................146

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................151

ANEXO A – Porto do Recife: Organograma ............................................................155

ANEXO B – Porto do Recife: Contratos de arrendamento de áreas .......................156

ANEXO C – Porto do Recife: Balanço Patrimonial e Demonstrativo de Resultados............................................................................................157 ANEXO D – Porto do Recife: Área e projeto conceitual do Porto Novo ..................160

ANEXO E – Questionário das entrevistas com clientes do Porto do Recife ............163

ANEXO F – Questionário das entrevistas com operadores/agentes portuários do Porto do Recife......................................................................................166

LISTAS DE TABELAS

Tabela 4.1 – Divisão da matriz de transporte entre os principais modais – 2003....47

Tabela 4.2 – Custos comparativos entre modais de transportes.............................48

Tabela 4.3 – Movimentação de cargas nos terminais portuários do Brasil – Ton ...51

Tabela 4.4 – Investimentos recomendados em infraestrutura de transportes até 2025 – R$............................................................................................. 57 Tabela 5.1 – Porto do Recife – Caracterização dos trechos de cais.........................79

Tabela 5.2 – Porto do Recife – Caracterização dos berços de atracação.................81

Tabela 5.3 – Porto do Recife – Relação dos armazéns.............................................82

Tabela 5.4 – Porto do Recife – Trabalhadores portuários do OGMO........................85

Tabela 5.5 – Porto do Recife - Movimentação de cargas nos anos 80 e 90 - Ton ..91

Tabela 5.6 – Porto do Recife - Movimentação geral de cargas - Ton .....................93

Tabela 5.7 – Movimentação de cargas nos portos do Recife, Suape, Maceió, Salvador e Fortaleza – Ton...................................................................95 Tabela 5.8 – Porto do Recife – Movimentação de cargas 2004 a 2011- Ton ..........97

Tabela 5.9 – Porto do Recife – Movimentação de cargas por operação - Ton........98

Tabela 5.10 – Porto do Recife – Movimentação de cargas por navegação - Ton ...99

Tabela 5.11 – Porto do Recife – Movimentação de cargas por produtos – Ton ......101

Tabela 5.12 – Porto do Recife – Movimento de navios e atracações ......................103

Tabela 5.13 – Indicadores de desempenho operacional – Trigo .............................109

Tabela 5.14 – Indicadores de desempenho operacional – Fertilizantes ..................110

Tabela 5.15 – Indicadores de desempenho operacional – Açúcar em saco ...........111

Tabela 5.16 – Preços médios totais da movimentação de Trigo .............................112

Tabela 5.17 – Preços médios totais da movimentação de Açúcar em saco ...........112

Tabela 5.18 – Preços médios totais da movimentação de Fertilizantes .................113

Tabela 5.19 –Preços médios totais da movimentação de Malte de cevada ...........113

Tabela 5.20 – Porto do Recife - Indicadores econômicos e financeiros ..................115

Tabela 6.1 – Participação das empresas entrevistadas na movimentação de carga no Porto do Recife – 2011 – Ton.............................................121

Tabela 7.1 – Investimento no porto operacional – 2011 a 2013 ..............................139

Tabela 7.2 – Investimento no porto não operacional - porto novo - 2011 a 2013 ...140

LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS

Gráfico 4.1 – Matriz de transporte brasileira - 2010 ................................................46

Gráfico 4.2 – Matriz de transporte atual e futura – 2005/2025 ................................52

Gráfico 4.3 – Comércio internacional do Brasil – 2002/2010 ..................................53

Gráfico 4.4 – Portos brasileiros: principais gargalos e demandas – 2008 ...............55

Gráfico 4.5 – Investimentos em transportes e no setor hidroviário – 1999-2008.....56

Gráfico 5.1 – Movimento de carga nos portos de Recife, Suape, Maceió, Salvador e Fortaleza............................................................................................96

Gráfico 5.2 – Porto do Recife – Movimentação mensal de cargas – ton .................102

Gráfico 5.3 – Porto do Recife – Participação dos navios por calado .......................104

Gráfico 5.4 – Porto do Recife – Participação dos operadores portuários – 2011 ....105

Gráfico 5.5 – Porto do Recife – Movimentação de passageiros ..............................106

Figura 5.1 – O Porto do Recife – Forte do Picão .....................................................61

Figura 5.2 – O cais da lingueta – Século XIX ..........................................................70

Figura 5.3 – O arco da conceição ...........................................................................73

Figura 5.4 – Atual Porto do Recife ..........................................................................76

Figura 5.5 – Atual terminal marítimo de passageiro ................................................84

LISTAS DE SIGLAS E ABREVEATURAS

ANTAQ – Agência Nacional de Transporte Aquaviário

ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAP – Conselho de Autoridade Portuária

CEASA/PE – Centro de Abastecimento Alimentar de Pernambuco

CFN – Companhia Ferroviária do Nordeste

CNI – Confederação Nacional da Indústria

CNT – Confederação Nacional do Transporte

CONIT – Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transportes

COPPEAD/UFRJ – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte

FDC – Fundação Dom Cabral

FEM – Fórum Econômico Mundial

GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes

INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OGMO – Órgão Gestor de Mão de Obra

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PDZ – Plano de Desenvolvimento e Zoneamento

PNLT – Plano Nacional de Logística e Transportes

PORTOBRÁS – Empresa Brasileira de Portos S/A

SEP/PR – Secretaria de Portos da Presidência da República

SDP – Sistema de Desempenho Portuário

SINDAÇÚCAR – Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco

SPE – Sociedade de Propósito Específico

TMP – Terminal Marítimo de Passageiros

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development

1

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

1.1- Antecedentes

A infraestrutura brasileira há muito vem sendo questionada quanto à sua capacidade

de responder aos desafios do desenvolvimento, haja vista a sua reconhecida

defasagem qualitativa e quantitativa. A necessidade recente de colocar o país em

novo patamar do comércio internacional, particularmente o de incrementar as

exportações, aproveitando as oportunidades ofertadas no ambiente global de

negócios, tem intensificado esse questionamento.

Existe na verdade uma posição consensual dos diferentes atores envolvidos na

questão, de que o país precisa o mais rapidamente possível, promover um conjunto

de medidas e investimentos com capacidade de equacionar essas defasagens

acumuladas em décadas de políticas negligentes na área.

Em relação à infraestrutura econômica e, mais particularmente ao setor de

transportes, essas defasagens têm sido reportadas como gargalos, que dizem

respeito às imperfeições ou limitações nas malhas rodoviária, ferroviária, portuária e,

sobretudo, a um deficiente processo logístico, incapaz de integrar os diferentes

modais de transportes, numa eficiente rede, onde o fluxo de cargas e negócios

possam acontecer de forma rápida e eficaz.

Segundo LESSA (2010) a matriz de transporte brasileira tem uma configuração que

deprime a macroprodutividade da economia nacional. As mazelas do sistema reforça

a tendência ao uso do modal rodoviário por sua flexibilidade e agilidade em

detrimento aos demais modais e que em mantendo-se cobrará, a longo prazo, uma

redução da produtividade macroeconômica, com efeitos sociais preocupantes por

sua incidência na formação dos custos dos produtos e no poder de compra da

população.

O sistema portuário nacional, importante elo da matriz de transporte e que, segundo

CAMPOS NETO et al. (2009b), em 2007, foi responsável pela movimentação de

76,7% do comércio internacional brasileiro, perfazendo um valor aproximadamente

de R$ 214 bilhões, também tem sido questionado quanto à sua eficiência na gestão

e na modernização de sua infraestrutura.

2

Este trabalho trata a questão portuária como pano de fundo, analisando criticamente

suas particularidades e potencialidades, de modo a ampliar o entendimento a

respeito do Porto da cidade do Recife, objeto desse estudo.

1.2 – A infraestrutura portuária nacional

A abertura dos portos decretada por D. João VI, por ocasião da chegada da família

real portuguesa no Brasil colônia, coloca o país definitivamente na rota comercial

mundial. Foi nesse momento, quando, efetivamente, o país se inseriu de forma

autóctone no cenário do comércio internacional. Esta tendência se intensificou a

partir da promulgação da lei de concessões de 1869, cujo objetivo era permitir o

financiamento privado de obras de expansão dos principais portos nacionais à época

(CAMPOS NETO et al. 2009b, p.7).

A gestão e os investimentos privados prevaleceram até o inicio da década de 1930,

quando então o governo reassumiu seu papel de gestor, criando anos depois a

Empresa Brasileira de Portos S.A. - PORTOBRÁS, que passou a ser responsável

pela administração dos 35 portos públicos do país à época, permanecendo desse

modo até o final da década de 1980, ocasião em que o papel de gestora e

investidora da estatal entra em colapso, pelo excesso de burocracia e pela carência

de recursos financeiros para investimentos, culminando com sua extinção em 1990.

Os mais de 200 anos de abertura portuária brasileira colocaram o país dentro de um

ambiente comercial competitivo e transformador. O intercâmbio comercial

proporcionado por esse evento também possibilitou ao país uma maior inserção

social, científica e cultural no mundo, devido à hegemonia do sistema de transporte

marítimo no processo de integração e comunicação entre os povos nos séculos

passados, com expressivos ganhos para a toda a sociedade brasileira.

Apesar desses inestimáveis e inquestionáveis ganhos, a estrutura portuária

brasileira não conseguiu evoluir na mesma velocidade que a dos países

desenvolvidos. Entre os fatores que determinaram esse atraso, está a própria opção

brasileira, tomada em meados do século passado, de reduzir sua participação no

comércio internacional, como estratégia para promover o crescimento industrial

brasileiro, via substituição de importação.

3

O crescimento do comércio mundial estimulou a indústria naval a encontrar soluções

de transportes mais seguras, rápidas e econômicas para levar os novos produtos

aos consumidores de todas as distâncias, em todos os lugares. Assim, navios de

porte cada vez maiores foram sendo lançados aos mares, para determinarem um

novo perfil de porto e um novo padrão de operação portuária.

Segundo CURCINO (2007), a estrutura básica dos portos, principalmente as áreas

portuárias, sucumbiram às novas funções diante do crescimento do comércio

internacional, das novas tecnologias de informações e do desenvolvimento do

transporte multimodal.

O processo de abertura da economia brasileira no início da década de 90 pode ser

considerado como uma nova reinserção dos portos brasileiros no ambiente do

transporte marítimo mundial. Essa decisão estabeleceu novos patamares de

exigências para os portos, que já passavam por questionamentos acerca de sua

capacidade operacional em atender às demandas provenientes do crescimento do

comércio internacional. Essas exigências se traduziram na forma de melhor

prestação de serviços, os quais deveriam ser executados com mais rapidez,

segurança e menor custo operacional e para tanto grandes melhorias teriam que ser

executadas em suas infraestruturas.

Com a extinção da PORTOBRÁS e a necessidade de se criar um instrumento capaz

de dinamizar o setor portuário, capacitando-o para enfrentar os desafios existentes e

mais os que chegariam com a abertura do mercado brasileiro, em 1993,o governo

edita a lei nº 8.630, denominada de lei de modernização dos portos. Com essa lei

houve a redefinição dos papéis da autoridade portuária, do operador portuário e do

próprio Estado na gestão e regulação do sistema. Decretos e resoluções posteriores

também aperfeiçoaram o marco institucional e o equilíbrio econômico-financeiro dos

contratos, na busca por eficiência e competitividade (CAMPOS NETO et al., 2009b).

O quadro atual depois da implantação dessa lei indica que houve grandes avanços,

com relevantes melhorias na infraestrutura dos portos, levando-os a melhorias

significativas nos seus padrões de desempenhos, porém continua a denunciar que

4

estes avanços ainda não foram suficientes para promover o sistema a uma paridade

com o padrão internacional de eficiência portuária.

É possível identificar que os avanços ocorridos no sistema não aconteceram de

forma linear, ou seja, existem portos que conseguiram assimilar melhor o ritmo das

mudanças e, por conseguinte já apresentam melhorias no seu desempenho, assim

como existem outros que continuam enfrentado dificuldades para avançar.

A falta de investimentos ou investimentos insuficientes tem sido reportada como a

causa principal deste avanço insuficiente. Segundo dados do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada - IPEA (2010), os investimentos em infraestrutura portuária no

período de 1999 a 2008, ficaram em torno de 0,06% do Produto Interno Bruto – PIB,

enquanto no setor de transporte ocorreu uma evolução de 0,4 para 1,2% do PIB no

período.

Essa carência de investimentos produziu um quadro, no qual é possível identificar

um conjunto de limitações, chamadas de gargalos, que comprometem o bom

desempenho do setor. Segundo CAMPOS NETO et al.(2009b), através do trabalho

intitulado: “Gargalos e Demandas da Infraestrutura Portuária e os Investimentos do

PAC: Mapeamento IPEA de Obras Portuárias”, o setor portuário apresenta um

montante de 265 obras de infraestrutura portuária, de acesso ou de apoio, como

necessárias para a melhoria da eficiência operacional dos portos nacionais, com um

custo estimado em R$ 43 bilhões.

A lógica atual para o transporte de cargas se assenta na formação de redes globais

de produção e comercialização que exigem a criação de sistemas logísticos com

capacidade de colocar insumos, componentes e produtos nos mais distantes locais

de produção e consumo, a tempo e hora, de forma eficaz e com baixos custos.

Então, essa lógica que estabelece o transporte de cargas como um processo

interligado por diferentes modais, cresce em utilização, aumentando a discussão e

os estudos sobre a importância da logística dos transportes no desenvolvimento

econômico do país. Segundo FLEURY (2006), os transportes representam 64% dos

custos logísticos, uma participação considerável que requer infraestrutura de

qualidade para ser efetuado com o menor impacto possível sobre o custo final dos

produtos.

5

Nesse contexto, os portos ocupam um papel fundamental para o sistema, na medida

em que permitem a interligação entre os modais, principalmente no comércio

internacional. Sem portos com qualidade operacional o sistema logístico integrado,

multimodal, não consegue operar com eficiência e baixo custo, podendo inclusive

comprometer no curto, médio ou longo prazo a viabilidade do comércio, anulando

possíveis vantagens comparativas que o bem comercializado possa ter.

Portanto, os investimentos no setor portuário nacional, através desse conjunto de

obras identificadas, visam resolver os tais gargalos que se negligenciados, nos

próximos anos, poderão causar o estrangulamento do sistema, além de

comprometer o aproveitamento de oportunidades geradas pelos crescimentos

econômicos internos e externos. Segundo o Fórum Econômico Mundial - FEM e a

Fundação Dom Cabral - FDC, apud IPEA (2010), o Brasil ocupa a posição 123º,

entre 134 países, no ranking de qualidade dos portos.

Um dos maiores bloqueios à expansão do setor portuário nacional está na

deficiência da infraestrutura, que compromete o potencial do setor e representa um

entrave ao crescimento do comércio internacional e de cabotagem no país. Para

vencer esse problema, faz-se necessária a efetivação de investimentos direcionados

a obras portuárias e de acesso, e à equipagem dos portos nacionais (IPEA, 2010).

1.3 - Caracterização do problema

O Estado de Pernambuco ao longo dos séculos passados, especialmente no século

XIX, ocupou uma posição de destaque na economia nacional, sendo um importante

centro comercial regional e também um importante pólo exportador nacional,

especialmente com açúcar e algodão. Com a abertura dos portos por D. João VI, o

Porto do Recife veio a se tornar o de maior movimento da colônia, chegando a

exportar, no ano seguinte, 12.801 caixas de açúcar (PORTO DO RECIFE, 2011).

As primeiras iniciativas de melhoramento do antigo ancoradouro do Recife datam de

1815. Durante o século XIX diversas tentativas de estruturação ocorreram sem

grandes progressos. Este século testemunharia uma transformação substancial das

possibilidades do porto, que fez a glória de uma cidade, promoveu o orgulho de uma

capitania e foi responsável pela viabilização do projeto da Coroa Portuguesa para o

Brasil (ALMEIDA, 2000).

6

No final desse século, um conjunto de estudos técnicos e econômicos subsidiou um

projeto de reforma do porto que entrou em execução no ano de 1909 (CASTRO,

1977; GODIM, 1964).

As obras seguiram para finalmente, em 12 de setembro de 1918, o porto entrar em

operação comercial. Como concessionário do porto, o Estado de Pernambuco deu

prosseguimento as obras de estruturação, construindo galpões, armazéns e

ampliando o cais. Essa concessão foi revista em 1937, retornando a gestão, para o

governo federal, para ser encampada posteriormente pela PORTOBRÁS, em 1978,

através do decreto nº 82.278 de 18 de setembro do mesmo ano.

Com a extinção da PORTOBRÁS, a gestão do porto passa para Companhia Docas

do Rio Grande do Norte, em 1990, permanecendo até ao final da mesma década,

quando em junho de 2001, a administração é repassada para a empresa Estadual

Porto do Recife S/A, por força do convênio de delegação nº 02/2001, celebrado

entre a União e o Estado de Pernambuco.

Durante os séculos passados, o porto foi a porta de entrada do desenvolvimento

econômico do Estado de Pernambuco, viabilizando o comércio internacional e

contribuindo com o abastecimento da região, através da navegação de cabotagem.

Todavia, com o projeto de integração econômica nacional, via transporte rodoviário,

a importância relativa do Porto do Recife foi diminuindo no âmbito regional e

posteriormente também no Estadual, processo esse, que se intensificou no final do

século XX, com o início e o avanço das obras de estruturação do Porto de Suape no

Estado.

Ao longo de sua trajetória o porto passou por grandes transformações e adequações

estruturais com o propósito de responder às demandas surgidas pelo crescimento

econômico do país e do comércio internacional. Entretanto, as transformações

ocorridas mais recentemente, tanto na economia, como no transporte marítimo

mundial e que tem exigido desempenhos cada vez maiores no que concerne à

produtividade e à qualidade dos serviços prestados pelos portos em todo o mundo,

têm colocado em dúvida a viabilidade econômica de muitos portos, inclusive o do

Recife. A velocidade dessas transformações pressupõe mais flexibilidade, mais

7

inovação e menores custos nas estruturas operativas, sob o risco de condená-las a

uma condição de defasagem ou até mesmo obsolescência.

Segundo TOVAR e FERREIRA (2006), a concorrência interportos, nesta fase, pós

abertura de mercado e lei de modernização dos portos, tem privilegiado estruturas

portuárias com vantagens comparativas, adquiridas ao longo dos anos, pelos

investimentos e adequações na infraestrutura terrestre e aquaviária.

Essas vantagens comparativas são refletidas nas infraestruturas aquaviárias,

através de canais de navegação, cais e berços mais profundos, que possibilitam o

tráfego e atracação de navios de grande porte. Podem também ser refletidas através

de uma infraestrutura portuária bem equipada e aparelhada na operação de

movimentação de cargas, ou ainda por uma gestão que priorize a eficiência e a

prestação de serviços com rapidez e baixo custo.

As recentes transformações econômicas ocorridas no país e especialmente no

Estado de Pernambuco têm submetido o porto do Recife a uma competição regional

muito forte com outros portos, em particular com de o Suape, que além de possuir

significativas vantagens comparativas naturais, a exemplo dos acessos marítimo e

terrestre, tem recebido por parte do poder público toda atenção necessária com vista

a transformá-lo num porto moderno, concentrador e distribuidor de cargas.

Dados da movimentação de cargas no Porto do Recife revelam desempenho

declinante nas últimas décadas. Em 1994 a movimentação do porto atingiu o volume

de 2.306.215 ton., enquanto que em 2010 essa movimentação foi 1.860.981 ton.,

perdas realtivas de 21,65% (PORTO DO RECIFE, 2011). Nesse período a

movimentação de cargas nos portos públicos brasileiro subiu de forma considerável.

Segundo CAMPOS NETO et al. (2009a), o Porto do Recife é caracterizado como um

porto local, de pequeno porte, cuja área de influência abrange apenas o Estado de

Pernambuco em sua hinterlândia primária, alcançando em 2007, o montante de US$

de 427 milhões no comércio internacional, destacando-se como um porto importador

e movimentando produtos de médio valor agregado.

Considerando o atual cenário, onde de um lado tem-se uma economia regional em

crescimento, gerando novas demandas e ao mesmo tempo exigindo uma plataforma

8

logística mais eficiente e, de outro, uma estrutura portuária tradicional, nascida para

atender desafios do passado, pergunta-se: Como adequar a infraestrutura portuária

do Porto do Recife, para que ele encontre sua nova vocação, eliminando os

gargalos, de modo a colocá-lo em condições competitivas adequadas aos padrões

da concorrência global?

Este trabalho de pesquisa se propõe a estudar o Porto do Recife em seus mais

relevantes aspectos, de modo a elucidar essa questão, a fim de oferecer aos

interessados, governo e sociedade civil, as informações e os instrumentos

necessários para que se possa planejar o futuro do porto.

1.4 - Justificativas

O estudo se justifica pela importância do Porto do Recife como instituição pública de

relevantes serviços prestados à sociedade brasileira e em especial à sociedade

pernambucana ao longo desses mais de 200 anos de abertura portuária brasileira e

que no momento encontra-se em desvantagem competitiva em relação a outros

portos que conseguiram adequar suas infraestruturas, com investimentos

capitalizados nos setores públicos e privados.

A recente reforma portuária tende a considerar os portos apenas como importantes

elementos de uma cadeia logística global, os quais devem estar dimensionados e

aparelhados para atender a essa finalidade. Nessa dimensão os portos não são

mais considerados alavancadores do crescimento regional, papel exercido pelos

portos cidades no passado, a exemplo do Porto do Recife.

O desafio de encontrar um modelo, no qual os portos cidades sejam viabilizados

como instrumento de desenvolvimento local ou regional, exercendo o seu papel

tradicional e incorporando novas atividades no seu portfólio, aproveitando a relação

que exercem com a cidade, constitui-se um grande desafio para as autoridades e

toda sociedade.

1.5 - Objetivo geral

Dimensionar e avaliar os gargalos e as deficiências na infraestrutura do Porto do

Recife, com abrangência as áreas de acessos marítimo e terrestre, bem como a

9

área operacional, com vistas a se propor um projeto de adequabilidade do porto à

nova realidade econômica do Estado de Pernambuco.

1.6 – Objetivos específicos

Levantar e estudar os efeitos da implantação da lei de modernização dos portos na

movimentação de cargas do porto;

Realizar pesquisa com dirigentes, operadores e usuários do porto, com o propósito

de formar ampla e profunda visão crítica a respeito do mesmo;

Identificar possíveis vantagens comparativas, nichos específicos ou novas vocações

que possibilitem a alavancagem de novos negócios para o porto.

1.7 - Metodologia

Este trabalho é um estudo de caso e como tal tem a missão de fazer um amplo e

exaustivo estudo sobre o objeto da pesquisa: o Porto do Recife.

Os objetivos serão alcançados por meio de uma pesquisa bibliográfica e outra de

campo. A pesquisa bibliográfica será efetuada sobre o tema portos, sua evolução, os

diferentes padrões portuários, o sistema portuário brasileiro e sua importância no

contexto do transporte de cargas do país, além de uma ampla e profunda

contextualização do porto em estudo.

A pesquisa de campo visa obter informações e conhecimentos diretamente no

ambiente do porto e se utilizará das técnicas de entrevistas e observação direta

como meios de coleta os dados, para posterior análise. As entrevistas serão

aplicadas aos usuários do porto, bem como as autoridades responsáveis pelo seu

gerenciamento.

O estudo pode ser classificado como descritivo, pois visa caracterizar todos os

gargalos e deficiências do porto, e tem caráter propositivo, na medida em que

deverá apresentar recomendações que poderão ser adotadas no plano estratégico

do mesmo.

O Porto do Recife foi escolhido pelos motivos já ditos na justificativa e também por

ser um porto eminentemente urbano, legítimo representante dos portos que

10

ajudaram a construir a história econômica deste país e que, em muitos casos, tem

sido preterido pelos planejadores nas estratégias de desenvolvimento regional.

11

CAPÍTULO 2 – A EVOLUÇÃO DOS PORTOS

2.1 – Introdução

Este capítulo tem como objetivo fazer uma abordagem sobre os portos, seu papel no

sistema de transporte, sua trajetória evolutiva e suas recentes transformações

decorrentes do desenvolvimento do comércio marítimo no mundo e no Brasil.

Inicialmente o capítulo faz uma abordagem sobre a base conceitual dos portos,

como plataforma necessária para se entender o seu processo evolutivo, ocorrido ao

longo de séculos de prestação de serviços para o sistema econômico, para em

seguida traçar prováveis tendências de futuro.

2.2 – Conceitos e definições

O crescimento econômico em várias partes do mundo tem se apoiado

estrategicamente na infraestrutura portuária que, por sua vez, para responder

positivamente a essas demandas, tem evoluído, assumindo novas configurações

físicas e operacionais ao longo de sua história.

Nesse contexto, conceituar porto não é uma tarefa simples, ainda que seja de fácil

percepção o seu relevante papel no dinâmico mundo do comércio. Os portos

evoluíram e evoluem de forma permanente, adequando-se para responder

positivamente aos novos desafios por eles assumidos. Desse modo, mas

preservando sua essência, os portos necessitam sempre de revisões conceituais.

Para se compreender mais claramente o papel dos portos nesse dinâmico mundo

dos transporte, se faz necessário abordar dois conceitos que fazem parte do

cotidiano portuário e que exercem grandes influências sobres suas atividades. São

as chamadas zonas de influência Hinterland e Foreland.

Segundo MORAES (2009), a hinterland ou hinterlândia de um porto é a cidade ou a

localidade onde este estiver localizado, ou ainda onde funcionar a respectiva

alfândega, ou as costas ou margens atingidas pela navegação interior de um porto.

Pode ser ainda a região do país servida por meios de transporte terrestres, fluviais

ou lacustres para qual se encaminham, diretamente, mercadorias desembaraçadas

no porto ou no sentido inverso, de onde se originam, ou seja, da região para o porto.

12

A hinterlândia de um porto pode ser definida como a zona de impacto econômico em

terra e estes por considerações comerciais mais do que simplesmente geográficas.

É a área que cobre a destinação do frete utilizado pelo porto. Ela depende do nível

de atividade econômica e da concorrência entre os diferentes modos de transportes

assim como da intermodalidade (COLE e VALLE, apud CURCINO, 2006).

A dimensão da hinterlândia de porto é determinada pela sua capacidade de influir na

captação de clientes, no maior ou menor espaço geográfico e econômico. Desta

forma se identificam portos cuja hinterlândia seja local, regional ou mesmo nacional.

A foreland de um porto diz respeito à influência geoeconômica externa do porto em

relação ao mar. Dependendo do tipo de porto, ou terminal portuário, a foreland é

bem definida, bastando conhecer os portos com os quais este se comunicam.

A foreland de um porto é constituída por todos os outros portos com os quais se

tenha operações comerciais regulares. Importante ressaltar que, assim como a

hinterlândia portuária tende a mudar, dependendo de fatores concorrenciais e ou de

políticas de desenvolvimento para uma região, também a foreland modifica, quando

da ocorrência de alterações nos fluxos comerciais e também nas mudanças de

redes e rotas de transportes marítimos, que são constantemente reavaliadas por

armadores em busca de melhores resultados operacionais, preferindo estes, atuar

em portos que atendam melhor a esse objetivo.

O conceito tradicional de porto, centraliza-o para um papel de interface entre mar e

terra, e por isso, este deveria ter localização privilegiada para receber cargas, operar

transbordos, tanto pelos acessos terrestres quanto e principalmente pelo marítimo.

Segundo MORAES (2009, p.2), “O porto é uma estação de transbordo, estabelecida

no ponto terminal das aquávias e das vias terrestre. O acesso a ele deve ser

largamente assegurado tanto do lado aquático como do terrestre”.

Sendo assim, a localização portuária, preferencialmente deveria ser estabelecida em

águas abrigadas, que são áreas mais protegidas dos efeitos agressivos da

movimentação do mar, como por exemplo, baías, angras, e estuários, onde as

atividades de recebimento e atracação de embarcações e as operações de carga e

descargas acontecem sob mais segurança.

13

Acontece que esses ambientes, em geral são caracterizados por canais de acessos

de baixa profundidade, com elevados níveis de assoreamento, devido

principalmente à sedimentação orgânica provocada pela grande influência dos rios,

o que limita a entrada de navios de maior calado e, portanto, constituindo um

gargalo natural para o crescimento das operações no porto.

O local de escolha para implantação de um porto envolve critérios técnicos e

econômicos. As condições naturais devem atender às atuais exigências impostas

pela evolução da indústria naval, a qual tem produzido grandes, megas navios, os

quais, por sua vez, exigem dos portos boas condições de acessibilidade, maiores

profundidade de canais e condições seguras de tráfego e atracação. Esta realidade

tem movimentado os portos de áreas abrigadas para áreas de mar aberto, ainda que

seja necessária a realização de obras de contenção e reparação.

A evolução dos portos, como conseqüência positiva à evolução dos transportes

marítimos, os transformou, ao longo tempo, de simples estações de transbordo de

cargas e passageiros, para um estágio mais dinâmico, no qual, ocorreu agregação

de novas práticas portuárias e novos serviços no conjunto de suas atividades. Esse

novo papel produziu não apenas transformações físicas nas suas estruturas, mas

principalmente modificações na forma de se gerir e de se de se conceituar os portos

em todo o mundo.

Desse modo, os espaços portuários atraíram para suas áreas e seus entornos,

indústrias que buscavam desenvolver novos mercados para seus produtos,

introduzindo na vida cotidiana portuária, novas práticas operacionais e, sobretudo,

uma nova cultura de gestão, na qual os conceitos de produtividade e eficiência

operacional passaram a nortear a gestão dos portos.

Então, conceituar portos, necessariamente, exige um entendimento deste processo

evolutivo, que foi transformado os portos, de simples ancoradouros, normalmente

estabelecidos em áreas abrigadas, onde recebiam embarcações para atividades de

embarques e desembarques de cargas, para modernos centros logísticos,

localizados em áreas de mar aberto, com a proposta de prestação de serviços com

qualidade para seus usuários, dentro do modelo logístico de cadeia abastecimento,

que compreende armazenamento, operação portuária e transportes.

14

Nesse sentido CAMPOS NETO et al. (2009a, p.8), fazem a seguinte conceituação

de portos:

Um porto é uma área abrigada das ondas e correntes e localizada, na maioria das vezes, à beira de um oceano, mar, lago ou rio, sendo destinada ao atracamento de barco ou navios. Ela conta com pessoal e serviços necessários ao carregamento e descarregamento de cargas e ao estoque temporário destas, bem como instalações para o movimento de pessoas e cargas ao redor do setor portuário e, em alguns casos, terminais especialmente designados para acomodação de passageiros.

Ainda segundo o autor, conceituar porto é uma tarefa que depende da compreensão

do que seja o transporte aquaviário e da identificação de três aspectos inerentes a

esta modalidade: as infraestruturas aquaviárias, portuárias e terrestres.

Esse entendimento é importante, uma vez que as configurações dos novos modelos

de gerenciamento portuário estabelecem funções e responsabilidades das

autoridades e operadores levando em consideração esses aspectos. Assim, a

infraestrutura aquaviária que é composta dos canais de acesso, bacias de evolução,

quebra mares, hidrovias e berços de atracação, no Brasil, estão sempre sob

gerenciamento da autoridade portuária, que normalmente é um ente público.

A infraestrutura portuária que é composta pelos ativos fixos do porto, sobre os quais

é realizada a movimentação de cargas entre os navios e os modais terrestres, assim

como a superestrutura que é composta dos equipamentos de movimentação, tais

como guindastes, esteiras e armazéns para acomodação de cargas, estão sob

responsabilidade da autoridade portuária ou de agentes privados, conforme o caso.

A infraestrutura terrestre que é composta das vias ferroviárias e rodoviárias, dutos e

correias, que são utilizadas para transportar os bens dos navios até os limites do

porto, normalmente estão sob responsabilidade dos agentes públicos.

Atualmente, o conceito de porto está profundamente relacionado com o sistema de

transporte em cadeia de abastecimento e orientado para o uso da intermodalidade.

Esse conceito de transporte visa levar as cargas dos produtores até os clientes,

através de um fluxo contínuo, em formato de cadeia de abastecimento, porta a porta,

envolvendo diferentes modais, quais sejam ferrovias, rodovias, aerovias e outros, de

forma integrada, definindo rotas mais eficientes e com custos menores.

15

O porto exerce um papel típico de terminal de transporte, uma vez que viabiliza as

transferências entre os modais terrestres e aquaviários. Segundo MAGALHÃES

(2011) o conceito de terminal marítimo já é bem mais moderno e se refere às

instalações especializadas ao atendimento de determinado tipo de navios e cargas,

quais sejam, granéis sólidos e líquidos, os neogranéis ou passageiros e turistas dos

navios de cruzeiros. Tais instalações podem ser isoladas ou fazendo parte de um

complexo maior: o porto comercial.

Nesse ambiente, onde os portos estão cada vez mais se dotando de melhores

infraestruturas, quer seja, aquática, ou terrestre, pode-se conceituá-los dizendo o

seguinte: são estruturas orgânicas, que estão em constante processo de evolução

de suas infraestruturas aquática e terrestre e do seu modo de gestão, com o

propósito de oferecer a melhor prestação de serviços aos seus usuários, nas

atividades de carga, descarga, armazenamento de mercadorias e no transporte de

passageiros, com rapidez operacional, precisão nas informações, constituindo-se

um elo confiável e eficiente entre o transporte marítimo e outros modais, cobrando

tarifas compatíveis com o mercado e a sua eficácia.

A lei nº 8.630/93, lei de modernização dos portos, conceitua portos, através da

seguinte definição de porto organizado:

O construído e aparelhado para atender às necessidades da navegação, da movimentação de passageiros ou da movimentação e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela união, cujo tráfego e operações portuárias estejam sob a jurisdição de uma autoridade portuária.

Evidentemente, este conceito mais restrito, tem o propósito de promover o

entendimento legal acerca dos portos sob jurisdição de uma autoridade portuária,

não enfatizando o relevante papel mercadológico dos portos na cadeia de produção

e abastecimento.

Do ponto de vista comercial, existem três tipos de portos: marítimo, fluvial e o seco.

O porto marítimo é aquele que está localizado nas margens dos mares ou oceanos e

por ele acontece o comércio entre os países. O porto fluvial fica localizado às

margens de rios, é responsável pela navegação interior e, normalmente depende de

obras adicionais como eclusas e as retificações de calha de rio para funcionar com

eficiência. Os portos secos são recintos alfandegados, localizados em áreas

16

secundárias, onde ocorre o armazenamento e despacho de cargas sob o controle

aduaneiro, para zonas consumidoras e produtoras (CAMPOS NETO et al., 2009b).

2.3 – O processo evolutivo dos portos

O processo de difusão da revolução industrial da Inglaterra para toda Europa é

considerado por alguns autores, a primeira grande manifestação de globalização da

economia. Nesse momento histórico, o crescimento do comércio mundial, foi

impulsionado a partir da crescente onda de especialização dos sistemas produtivos

nacionais, que passaram a valorizar mais intensamente suas vantagens

comparativas1 na produção de determinados bens. Nos países centrais esses bens

eram, em sua maioria, manufaturados, têxteis e produtos químicos. Nos países

periféricos esses bens, em regra geral, eram originários do setor agrícola, como, por

exemplo, o café do Brasil (MONIÉ e VIDAL, 2006).

Ainda segundo os autores, em 1880 o comércio era responsável por 18% do PIB

mundial, contra 9% em 1850. Este crescimento só foi possível mediante as quedas

de barreiras comerciais e principalmente pela viabilização de avanços substanciais

e consistentes no sistemas de transportes. O transporte marítimo, com o aumento da

capacidade e velocidade dos navios, encurtou distâncias relativas, ao mesmo tempo

em que reduziu custos de fretes, através do aumento dos volumes transportados.

Simultaneamente, os portos acompanharam essa tendência, voltando-se para

modernizar suas operações, realizando investimentos em infraestrutura e

equipamentos, como medida de valorização de suas vantagens comparativas. No

Brasil, a construção de modernos portos como o de Santos e do Rio de Janeiro

confirmaram essa tendência.

________________

1- Conceito desenvolvido por David Ricardo, na obra The Principles of Political Economy and Taxation -1811. Todos os países se beneficiam do comércio internacional, mesmo que seja absolutamente menos eficiente na produção de todos os bens, desde que se especializem na produção de bens que são relativamente mais eficientes.

17

No inicio do século XX, mais precisamente após a primeira guerra mundial e a

grande depressão econômica de 1929, os países centrais tomaram um conjunto de

medidas de caráter restritivas ao comércio. Com o aumento de tarifas e a criação de

barreiras sanitárias e alfandegárias, derrubaram o fluxo de negócios entre os países.

A estratégia dominante passou a ser o desenvolvimento endógeno das economias,

via proteção do mercado interno da pressão competitiva dos produtos de economias

com vantagens comparativas.

No Brasil, a estratégia de desenvolvimento do mercado interno, via substituição de

importação, promoveu a economia nacional do estágio primário-exportador para um

modelo mais urbano-industrial.

A queda do comércio produziu um novo efeito nos portos, dessa vez pela perda

parcial ou total de suas atividades tradicionais, empurrando-os para um estado de

decadência, caracterizado pela degradação de suas áreas, cuja representação ficou

cada dia mais negativo na sociedade devido à sua relação com a prostituição,

insegurança, e poluição ambiental, o que os levou a condições de estigmas e

preconceitos.

A partir da década de 60 o processo de unitização de cargas, especialmente a

conteinerização, inaugura uma nova fase para as estruturas portuárias, deflagrando

novos avanços nas suas infraestruturas, que, por necessidade de apresentarem

fatores de diferenciação em relação aos seus concorrentes, já que as vantagens

comparativas sozinhas não mais garantiam a competitividade, promoveram

novamente readequações estruturais, de modo a tornar suas operações mais

eficientes e com menor custo.

A chegada dos contêineres repercute profundamente nas operações portuárias e

nas relações de trabalho a eles vinculadas. Nesta nova concepção se

introduzem novos equipamentos para operar nos costados dos navios, e na

retaguarda dos portos, com os pátios se transformando em terminais especializados,

condição favorável e determinante para ganhos de produtividade e redução de

custos.

Segundo RODRIGUES e VAZ (2007) o primeiro porto brasileiro a operar com

contêiner foi o de Santos, em 1965, com a amostra de 128 unidades, então apenas

18

na dimensão de 20 pés. Logo outros portos brasileiros foram adotando o uso do

contêiner, numa velocidade de adequação operacional que permitiu avanço

monumental no volume transportado. Em 1990 o Porto de Santos movimentou

597.683 TEU’s2, 63% do total do país, enquanto em 2006 essa movimentação

chegou a 2.456.927 TEU’s, com uma queda de participação para apenas 39%, dado

o crescimento de outras unidades portuárias do país no mesmo período.

Além dessa evolução, os contêineres, por suas características de padronização,

possibilitaram o desenvolvimento de uma concepção de transporte integrado,

permitindo que as cargas pudessem no seu fluxo, passar por diferentes modais de

transportes, com ganhos expressivos em tempo de entrega e redução nos custos de

fretes, devido à otimização das operações, redução do uso de mão de obra e o uso

de eficientes equipamentos em sua movimentação, como por exemplo, os

portêineres e transtêineres.

No Brasil, a partir da década de 1990, a globalização econômica retomou seu curso

com mais intensidade e novamente os portos são acionados para responder aos

avanços da navegação marítima que, com seus navios porta- contêineres, lançados

pelos estaleiros europeus e asiáticos, exigem ainda mais avanços na infraestrutura

destes. A entrada em circulação desses navios no transporte de cargas, por sua

elevada capacidade, aumentou o volume e o fluxo de cargas, reformulando rotas,

estabelecendo uma nova configuração para a logística do transporte marítimo, onde

a seleção de portos eficientes torna-se a variável crítica para o sucesso de todo o

sistema.

_________________

2 - TEU - Twenty-Foot Equivalent Unit ou unidade equivalente de 20 pés. Trata-se da medida padrão de capacidade de contêiner.

19

Outra grande mudança foi produzida pela movimentação dos granéis sólidos, como

minérios de ferro, carvão, soja, açúcar, entre outros, que ganharam destaques na

pauta de exportação brasileira, imprimindo uma série de inovações no sistema de

embarques, que passou adotar, além de modernos e rápidos sistemas de sugadores

e esteiras, o potente equipamento grabs, nas operações, produzindo ganhos de

produtividade e redução de tempo e custo operacional (MAGALHÃES, 2011).

Todo esse processo evolutivo aconteceu como resposta positiva às transformações

do sistema produtivo e dos avanços do comércio marítimo, em épocas distintas,

determinando a ocorrência de diferentes gerações portuárias. Segundo análise da

United Nations Conference on Trade and Development - UNCTAD3 apud CURCINO

(2007), o processo de evolução dos portos nos permite identificar três gerações de

portos.

A primeira geração foi predominante até a metade da década de 60. Nessa geração,

os portos eram apenas interface para a carga e descarga, entre mar e terra.

Caracterizavam-se principalmente pela prestação de serviço de carga, descarga e

serviço de navegação, com atividades independentes e relação informal com seus

usuários. Essa geração de portos ainda que limitada nas operações, ainda existe,

muitas vezes por falta de investimentos na modernização de sua infraestrutura.

A segunda geração de portos aconteceu a partir da década de 60, e se caracterizou

principalmente pela instalação de parques industriais nas suas áreas portuários ou

no seu entorno, com uma relação mais próxima com os seus usuários e algum tipo

de integração entre as atividades no porto.

A terceira geração surgiu a partir dos anos 80 e se caracteriza pela evolução dos

portos industriais a modernos centros logísticos, orientados para o transporte

intermodal; para o fluxo de distribuição de cargas, informações e serviços múltiplos;

uso de alta tecnologia para controlar suas operações e promover melhores

indicadores na sua gestão operacional.

____________________

3 – Análise da UNCTAD (1994). A comercialização portuária - as grandes perspectivas dos portos de

terceira geração

20

A tendência atual para evolução dos portos verificada no mundo inteiro direciona-os

para o uso cada vez mais intensivo de tecnologia que garanta o fluxo de cargas em

escalas cada vez maiores, o fluxo de informações com mais velocidade e a

formação de cadeias logísticas globais de transporte.

No Brasil, no início da década de 90, com a exaustão do sistema estatal,

comandado pela PORTOBRÁS, veio a reforma portuária. Concebida e implantada

ao longo dessa década, a reforma tinha com objetivo maior, melhorar o desempenho

operacional dos portos, buscando uma equivalência aos padrões mundiais de

competitividade, através da descentralização do sistema e modernização das

infraestruturas e equipamentos portuários, além de uma maior flexibilização da

gestão institucional.

O resultado desse processo segundo MONIÉ e VIDAL (2006), aponta para a

emergência de três tendências diferentes na concepção dos portos. A primeira,

tratou de transformar os portos tradicionais, engessados e caros, em unidades

modernas e competitivas, através de investimentos em infraestrutura, equipamentos

portuários e um novo modelo institucional, sem monopólios.

A segunda tendência consiste na construção de mega portos, voltados para a

concentração e distribuição do fluxo do comércio internacional para portos menores.

Os portos do tipo Hub Port funcionam em redes globais de abastecimento, cuja

operação é realizada com meganavios, em megarotas, onde nas extremidades

estão localizados os megaportos.

Com estruturas privilegiadas, compostas de canais de acesso com alta

profundidade, infraestrutura portuária moderna e acessos terrestres viáveis e

desbloqueados, este portos recebem as cargas de navios com alta capacidade de

transporte para em seguida reembarcá-las para outros portos da sua hinterlândia.

No sentido inverso recebe cargas oriundas dos portos alimentadores, concentrando-

as, para em seguida reembarcá-las para outro Hub Port. Este serviço de

alimentação e distribuição de cargas, denominado de feeder service, usa navios de

menor custos quando comparados aos demais modais de transportes; já a ligação

entre os portos alimentadores e os destinos finais é feito por rodovias, ferrovias ou

21

barcaças, onde se constata a força e a importância do multimodalismo

(FIGUEIREDO, 2006).

A terceira tendência está na transformação dos tradicionais portos brasileiros, os

portos-cidades, em instrumento de desenvolvimento local e ou regional, através de

uma aproximação do porto com a cidade. Nesse caso, além do crescimento das

atividades tradicionais do porto, voltada para fluxo de mercadorias destinadas ao

consumo regional, agrega-se um número crescente de atividades terciárias ao

núcleo do porto.

Como já foi dito, a evolução dos portos é resultante dos crescimentos da economia e

do transporte marítimo, e como as estruturas produtivas, por sua características de

organicidade, carecem permanentemente de inovações deverão os portos a

continuar o seu processo de mudanças, já que são entes fundamentais desse

complexo sistema logístico de transporte de cargas, vital para o crescimento

econômico.

2.4 - Conclusões

Os portos evoluíram como consequência positiva dos avanços ocorridos na

navegação marítima, esta, a serviço da distribuição das riquezas produzidas pelo

sistema econômico mundial.

Essa evolução se manifestou através de mudanças na infraestrutura e no modo de

operação dos portos, que em diferentes momentos se adaptaram de acordo com as

transformações ocorridas no sistema produtivo vigente. Assim, mais recentemente,

foi possível identificar a ocorrência de três gerações de portos, que em graus

variados ainda estão presentes no sistema portuário nacional.

A tendência atual caminha para a consolidação dos portos concentradores, os

chamados hub ports, que são megaportos com uma infraestrutura privilegiada,

capaz de atender aos super navios de última geração. Outra tendência são os portos

alimentadores, que são estruturas menores, modernas, cuja função preponderante

é operar como suporte aos hub ports.

22

CAPÍTULO 3 – O SISTEMA PORTUÁRIO NACIONAL

3.1- Introdução

Este capítulo tem como objetivo fazer uma abordagem sobre a evolução do sistema

portuário nacional, particularmente sobre a reforma promovida pela lei nº 8.630,

denominada de lei de modernização dos portos, editada em fevereiro de 1993,

instituindo o novo marco legal do sistema portuário brasileiro vigente.

Inicialmente, abordam-se de forma panorâmica, os antecedentes que precipitaram

as mudanças nos modelos portuários de todo o mundo, especialmente no Brasil,

para em seguida se comentar a implantação dessa lei e seu arcabouço institucional

necessário para consolidar o novo modelo de gestão portuária no país.

Por fim, analisam-se os efeitos, os avanços alcançados e os entraves de natureza

institucional e gerencial que têm dificultado maiores avanços dos portos em direção

à eficiência e à modernidade.

3.2 - Antecedentes

A abertura dos portos decretada por D. João VI, por ocasião da chegada da família

real portuguesa no Brasil colônia, introduz os portos brasileiros definitivamente na

rota do comercio internacional e a partir desse momento a largada para grandes

transformações de natureza física e institucional.

A partir de1846, quando o Visconde de Mauá organizou a companhia de

estabelecimento da ponta da areia, no guia de Pecobaia, de onde partiam seus

navios destinados à cabotagem na costa brasileira, como também de linhas para o

Atlântico Sul, América do Norte e Europa, aumentou a necessidade de instalações

portuária adequadas à operação. O governo, então recorreu à ajuda de investidores

privados para dividir os custosos gastos, iniciando nesse momento um incipiente

modelo de privatização das atividades portuárias no Brasil (CAMPOS NETO et al.,

2009a).

Essa tendência se intensificou a partir da promulgação da lei de concessões de nº

1746 de 13 de outubro 1869, cujo objetivo era permitir o financiamento privado de

23

obras de expansão dos principais portos nacionais à época. Nessa lei se adaptou o

sistema inglês de auto-ajuda, para a execução das obras de desenvolvimento e

exploração comercial dos portos.

A gestão e os investimentos privados prevaleceram até o inicio da década de 1930,

quando então o governo reassumiu seu papel de financiador e operador desses

ativos, culminando com a criação da empresa estatal PORTOBRÁS, no ano de

1975, que doravante assume, centraliza e monopoliza a gestão e os investimentos

da infraestrutura portuária do país.

No mundo, o crescimento da produção e do comércio internacional, fez crescer a

exigência por rapidez e confiabilidade nos transportes de cargas, além de exercer

forte pressão para redução de custos de transportes. Para atender a essas novas

exigências, originam-se grandes mudanças nas dimensões das embarcações, que

aumentaram de tamanho, para em seguida impulsionar grandes transformações nas

estruturas portuárias.

Nesse contexto, a configuração do sistema portuário mundial é colocada em

questionamento e consequente reformulações, saindo de um modelo

predominantemente estatal, com gestão centralizada, para novos modelos com

capacidade para operar com mais flexibilidade e eficiência. Essas transformações

contemplaram a liberalização ou as desregulamentações dos serviços portuários,

para permitir maior participação da iniciativa privada na gestão, em prol de maior

orientação mercadológica.

Segundo análise da Confederação Nacional das Indústrias – CNI (2007)4, as

diferentes orientações imprimidas às reformas portuárias nas últimas décadas,

culminaram com a configuração de quatro modelos distintos, a saber:

Service Port: Este modelo se caracteriza pelo comando da Autoridade Portuária,

ente público, que detém a posse de todos ativos do porto, executa as atividades e

exerce as funções de fiscalização e regulação. Os trabalhadores do porto estão

vinculados diretamente à Autoridade Portuária.

________________

4 - Port Reform Toolkit. Second Edition. The Word Bank, 2007, Module 3.

24

É um modelo que tem como ponto forte a unidade de comando que subordina o

planejamento e a operação do porto a uma mesma responsabilidade. A ausência de

concorrência é reportada como um dos seus maiores pontos fracos, responsável

pela ineficiência e falta de inovação na gestão dos portos. Este modelo vem cada

vez mais perdendo espaço em todos os mercados.

Tool Port: A Autoridade Portuária, um ente público, detém, desenvolve e mantém a

infraestrutura e a superestrutura portuária, com a operação dos equipamentos sendo

realizadas pela mão de obra da Autoridade Portuária, porém outras atividades nos

navios e cais são executadas por empresas privadas contratadas.

A fragmentação das responsabilidades pelo manuseio da carga é considerada o

principal ponto fraco deste modelo, além de apresentar praticamente os mesmos

problemas de eficiência e inovação que o modelo anterior.

Landlord Port: A Autoridade Portuária atua como órgão regulador e detém a

propriedade da área do porto, sendo a infraestrutura arrendada a empresas privadas

que respondem pela operação. A Autoridade Portuária tem como responsabilidade a

exploração econômica, a manutenção da infraestrutura básica, como as rodovias de

acesso, berços e ancoradouros, etc. A iniciativa privada provê e mantém sua própria

superestrutura, bem como compra e instala seus próprios equipamentos.

A grande virtude deste modelo está na capacidade de investimentos dos operadores

privados na modernização e adequação da infraestrutura, no poder de adaptação e

agilidade na prestação de serviços para os clientes. Entretanto, a concorrência

intensa entre os vários operadores pode gerar excesso de capacidade e duplicação

dos esforços de marketing.

Private Service Port: Este modelo implica a ausência do setor público na atividade

portuária, ficando para o setor privado todas as atividades de planejamento,

operação, além dos próprios terrenos onde o porto está localizado.

O modelo é bastante competitivo, flexível, com grande capacidade de investimentos,

com a política tarifária e prestação de serviços bem orientada para o mercado. Tem

como desvantagem a possibilidade de se transformar monopolista, assim como

25

pode o poder público perder a capacidade de desenvolver estratégias políticas

econômicas de longo prazo.

No Brasil, o início da década de 90 foi marcado pelo processo de abertura da

economia brasileira, que para atender a onda convergente de mercado livre e

globalizado, pós queda do muro de Berlim, abre ainda mais sua economia para o

comércio internacional, expondo de forma flagrante suas deficiências na

infraestrutura econômica, especialmente no setor de transporte.

Esta adesão precipitou uma série de mudanças nos diferentes segmentos da

economia e da infraestrutura nacional, entres elas destacando-se as mudanças

ocorridas no setor de transportes, particularmente na infraestrutura portuária

nacional que, obsoleta e ineficiente, necessitava de uma ampla reforma para atender

aos desafios dos novos tempos de economia mais aberta e globalizada.

3.3 - A reforma do sistema portuário nacional

A PORTOBRÁS explorava o cais comercial como Autoridade e Operador portuário

simultaneamente, administrando os 35 principais portos públicos comerciais do país,

através de suas subsidiárias, as Companhias Docas, assumindo também a

fiscalização das concessões estaduais e, até mesmo dos terminais privativos de

empresas estatais e privadas (CURCINO, 2007).

Como resultado desse processo, implantou-se pelo menos um porto organizado por

estado, sendo as regiões Sul e Sudeste contempladas com duas ou mais

instalações portuárias de porte médio ou grande. O sistema portuário continha um

total de 35 portos, com diferentes graus de aparelhamento e de facilidades, nem

sempre compatíveis com os níveis de demanda por serviços portuários (TOVAR, e

FERREIRA, 2006).

O sistema portuário nacional, comandado pela PORTOBRÁS, prevaleceu até o inicio

da década de 1990, ocasião em que a estatal, por apresentar um quadro de

profundas dificuldades na gestão e na capacidade financeira, não sendo mais capaz

de promover o desenvolvimento do setor, entra em colapso, terminando por ser

extinta em março de 1990.

26

A extinção da estatal colocou o sistema sem comando, gerando um vazio

administrativo, quando então a União, por intermédio do Ministério da Infraestrutura,

autorizou a descentralização do sistema para operação através das subsidiárias da

PORTOBRÁS, ou a unidades federais, por um prazo de um ano, até que em 25 de

fevereiro de 1993 é promulgada a lei nº 8.630/93, denominada lei de modernização

dos portos, que veio a estabelecer um novo arcabouço jurídico e institucional para o

setor, substituindo todas as leis que o antecederam.

3.3.1 – A Lei Nº 8.630/93 – Lei de modernização dos portos

O começo da reforma portuária se deu com a extinção da PORTOBRÁS, modelo

centralizado, monopolista e corporativista, que apresentava sinais claros de

exaustão e incapacidade estratégica e operacional para conduzir as reformas

necessárias rumo à modernização do sistema.

Com a extinção da PORTOBRAS e a consequente promulgação da Lei de Nº

8.630/93, chamada de Lei de Modernização dos Portos, emergiu uma nova

perspectiva para setor portuário nacional, que necessitava migrar urgentemente de

uma realidade de obsolescência dos equipamentos, baixa produtividade e altos

custos operacionais, para uma nova realidade, de eficiência e produtividade,

condizente com os padrões da concorrência global.

Segundo TOVAR e FERREIRA (2006, p.212), essa perspectiva de modernização

em busca por eficiência e competitividade, pode ser compreendida pela leitura de

alguns dos maiores objetivos e expectativas em relação a essa lei, como:

a) Permitir a exploração pelo setor privado da operação de movimentação portuária;

b) Promover a modernização da operação portuária através de investimentos em

superestrutura, aquisição de equipamentos mais produtivos pelo setor privado;

c) Reduzir o tempo de espera e de permanência de navios;

d) Permitir a movimentação de cargas de terceiros em terminais de uso privado,

antes limitado às cargas próprias;

e) Promover a concorrência entre terminais e entre portos, por meio do

arrendamento das instalações e de terminais a empresas privadas;

f) Adequar a quantidade de mão-de-obra na operação portuária, segundo os novos

processos tecnológicos e produtivos.

27

Para concretizar esses objetivos a lei preconizava uma profunda reestruturação na

organização portuária, definindo novos conceitos de administração, operação e

gestão, criando assim novos atores que passariam doravante a compor o novo

cenário da estrutura portuária brasileira, constituindo-se entes fundamentais nas

transformações que se objetivava para o setor.

Assim, a nova lei estabelece em seu capítulo I e artigo 1º que: Cabe à União

explorar, diretamente ou mediante concessão, o porto organizado. E em seguida, os

demais capítulos e parágrafos, conceituam, definem e estabelecem as regras que

determinaram o novo modelo institucional para o sistema portuário brasileiro.

Entre essas definições, destaca-se a figura da Autoridade Portuária, Conselho de

Autoridade Portuária, Órgão Gestor de Mão de Obra e Operador Portuário.

Autoridade Portuária (AP): administra o porto organizado, atua como entidade

pública e gere seu patrimônio, promove o seu desenvolvimento e controla as demais

entidades públicas e privadas atuantes no porto. Entre as várias funções da

autoridade portuária está a elaboração do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento

do porto - PDZ, que traz em sua concepção o desafio de integrar os vários

segmentos da economia regional e com isso dar consistência de longo prazo para

as atividades do porto.

Conselho de Autoridade Portuária (CAP): é um órgão gestor consultivo que tem

como objetivos regulamentar a exploração dos portos, sendo composto por

representantes de todos os setores participantes da atividade portuária, formado por

quatro blocos, quais sejam: Bloco do Poder Público (BPP), com três integrantes;

Bloco dos Operadores Portuários (BOP), com dois integrantes; Bloco da Classe

Trabalhadora Portuária (BCTP), com quatro integrantes e o Bloco dos Usuários dos

Serviços Portuários (BUSP), com cinco integrantes.

O CAP atua como fórum consultivo, de regulação e supervisão das atividades e

serviços do porto, aprovando as normas de qualificação do operador portuário e o

Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do porto (PDZ), mas não tem

personalidade jurídica;

28

Órgão Gestor de Mão de Obra - OGMO: administra a contratação, a escala e a

alocação de Trabalhadores Portuários (TP) e de Trabalhadores Portuários Avulsos

(TPA). Os OGMO’s substituíram os sindicatos, ficando responsáveis pela regulação

do uso e da qualificação do trabalhador portuário;

Operador Portuário (OP): são pessoas jurídicas de direito público ou privado que

realizam operações dentro da área do porto, mediante pré-qualificação junto à

administração do porto, segundo as normas aprovadas pelo CAP.

O novo modelo preconizava a saída do governo da operação portuária, que passou

a ser exercida pelo setor privado, através dos operadores portuários, pessoas

jurídicas pré qualificadas, objetivando a melhoria dos serviços ofertados ao público,

a otimização do uso de suas instalações e a redução dos custos.

Um amplo programa de arrendamento e concessões foi executado. O arrendamento

total ou parcial de áreas permitiu a participação e a exploração por terceiros, sempre

mediante procedimento licitatório prévio sem, contudo, transferir as funções da

autoridade portuária.

No sistema de concessão, a licitação é realizada na modalidade de concorrência e

nesse caso, a exploração dos portos públicos poderá ser exercida por agentes

públicos ou privados, bastando para isso vencer a licitação. Acontece que, na

prática, a União vem delegando diretamente para Estados e Municípios a função de

autoridade portuária, mantendo assim a iniciativa privada fora da gestão dos portos.

Os arrendamentos de áreas e instalações portuárias são feitos através de licitação

nas modalidades de concorrência ou leilão, exceto quando o interessado for o titular

do domínio da área, caso em que necessitará apenas de autorização da Agência

Nacional de Transporte Aquaviários - ANTAQ.

A proposta da reforma era consolidar as parcerias privadas dentro dos portos

organizados, por meio da privatização das operações portuárias, com a

complementação da atividade através da participação dos terminais de uso privativo

e promover a descentralização do setor, transferindo as administrações dos portos

para os estados e municípios, ou, no caso de portos ainda sob jurisdição federal,

conceder-lhes autonomias administrativas e financeiras. No âmbito federal, ficaram

29

mantidas as funções de supervisão, controle e promoção, para não perder a visão

sistêmica da cadeia de transporte nacional (Empresa Brasileira de Planejamento de

Transportes - GEIPOT, 2001).

Ainda segundo o GEIPOT (2001), na execução dessa política foi estimulada a

qualificação de operadores portuários privados, o arrendamento de áreas e

instalações e a implantação de terminais de uso privativo, exclusivo ou misto,

estando o governo federal executando o programa de desestatização dos Portos

Brasileiros, constituído de dois subprogramas principais para os portos de uso

público: Privatização dos Serviços Portuários e Reestruturação das Administrações

Portuárias.

O programa de privatização dos serviços portuários consistiu de várias medidas que

objetivavam, basicamente, intensificar, gradual e permanentemente, o arrendamento

de áreas e instalações portuárias para empresa privadas e privilegiar o uso de

operadores portuários. Assim sendo, todos os serviços portuários foram transferidos

para o setor privado. A Autoridade Portuária se manteve como entidade de natureza

pública, agindo como gestora do patrimônio, promotora do desenvolvimento

portuário e controladora das demais entidades públicas e privadas atuantes no

porto.

O programa de reestruturação das Companhias Docas, antigas subsidiárias da

PORTOBRÁS, teve o objetivo de direcioná-las para desempenhar o papel de

Autoridade Portuária, administradora do porto organizado. Essa reestruturação

visava dar maior agilidade às entidades exploradoras dos portos, possibilitando-as

responder mais adequada e prontamente às demandas do mercado de cargas

portuárias, inclusive aos novos aspectos logísticos de distribuição de cargas e

corretagem.

A reforma definiu dois tipos de portos: o porto organizado de uso público, cujo

tráfego e operações portuárias estão sob jurisdição de uma Autoridade Portuária e a

instalação portuária de uso privativo, que pode ser explorada por pessoa jurídica de

direito público ou privado, fora da área do porto organizado. Além disso, as

instalações e os terminais de uso privativo podem ser de uso exclusivo, quando

movimentarem apenas cargas próprias, ou de uso misto, quando também

30

movimentarem cargas de terceiros. Antes da lei, os terminais de uso privativos

ficavam jurisdicionados aos portos públicos vizinhos, obrigando-se ao recolhimento

de tarifas, além de estarem impedidos de movimentar cargas de terceiros, ainda que

apresentassem disponibilidade para tal.

A exploração de instalação pública, nos limites da área do porto organizado, é

concedida por um contrato de arrendamento com a autoridade portuária, precedido

de um processo licitatório, enquanto para a implantação de um terminal de uso

privativo, é necessária apenas uma autorização do governo federal, sem

necessidade de licitação. Essas autorizações são figuras jurídicas precárias, quando

comparadas às concessões.

Embora a lei de modernização dos portos apresente lacunas e indefinições quanto à

concorrência nos portos, referindo-se ao assunto apenas nas competências do CAP,

estabelecendo como uma de suas atribuições “estimular a competitividade”, o

processo de concorrência intra e interportos foi aumentando na medida em que os

arrendamentos e, consequentemente os investimentos foram acontecendo e

transformando os portos em plataformas de serviços com mais qualidade e menor

custo.

Assim, a concorrência, ao longo do processo de implantação e consolidação da lei

de modernização ganhou uma polêmica que persiste até o momento. Os terminais

privativos de uso misto, ou seja, aqueles que operam tanto suas cargas, como a de

terceiros, estando localizados fora do porto organizado, gozam de condições

favoráveis para competir, por não estarem submetidos às regulações do CAP e da

Autoridade Portuária, além de não estarem obrigados ao uso de mão de obra

avulsa, normalmente mais caras, oriundas do OGMO, ganhando em autonomia,

flexibilidade e menor ônus, condições que os fortalecem na concorrência com os

terminais dos portos organizados que estão sujeitos a esse conjunto de regulações.

Diante desta situação, duas correntes se formaram ao longo do tempo. Aquelas que

defendem o uso dos terminais mistos para operarem sua carga própria e também

cargas de terceiros e, de outro lado, aqueles que defendem a posição que esses

terminais deveriam operar somente suas cargas. O decreto 6.620/2008 ratificou que

os terminais privados mistos operem predominantemente com cargas próprias e

31

residualmente com cargas de terceiros, resguardando assim, a concorrência com os

portos organizados, já que estes operam em regime de concessão no uso de seus

terminais, tendo, portanto, maiores obrigações, quando comparados aos terminais

sob o regime de autorização.

Segundo TOVAR e FERREIRA (2006, p.217), a competição interportos foi

aumentando à medida que a reforma portuária foi avançando. Os portos

organizados foram se ajustando para disputar, cada vez mais com criatividade e

agressividade, seu espaço no mercado, aprimorando suas vantagens comparativas

naturais ou adquiridas ao longo dos anos, através dos investimentos feitos pela

União e da especialização ou seleção de cargas. Essas vantagens comparativas

podem ser agrupadas em dois grandes blocos: facilidades marítimas e terrestres e

administração portuária.

Entres as vantagens marítimas e terrestres, destacam-se os calados profundos com

capacidades para atender a navios de grandes portes e de última geração, acessos

terrestres, que facilitem a entrada e saída das mercadorias nos portos,

disponibilidade de berços maiores e especializados no tratamento de cargas,

mecanização e automação do manuseio da carga, sistema de controle e informação,

menos uso de mão de obra portuária e custos portuários condizentes com o

transporte portuário.

Quanto ao bloco referente à administração portuária, é fundamental o bom

atendimento aos clientes e à sociedade. A administração deve estar voltada para a

satisfação do cliente, ofertando serviços de qualidade e com produtividade

compatível com padrões do mercado global. Além disso, deve buscar uma imagem

de porto-cidade preservadora do meio ambiente, agregando áreas de lazer e

comércio em áreas anteriormente degradadas.

Segundo o GEIPOT (2001, p.1), os avanços mais significativos e os resultados

imediatos da implantação da Lei de Modernização dos Portos foram os seguintes:

a) Implantação nos portos dos Conselhos de Autoridade Portuária (CAP) que

passam a participar, em parceria com as Autoridades Portuárias, da regulamentação

de algumas atividades portuárias;

32

b) Fim do monopólio da operação portuária, que passam a ser realizadas por

empresas privadas, mediante sua qualificação como operadores portuários;

c) Possibilidade de terminais de uso privativo movimentar cargas de terceiros;

d) Possibilidade de a União, promover a concessão da exploração do porto

organizado, bem como a exploração comercial de áreas e instalações portuárias,

através de processo de licitação;

e) Possibilidade de investimentos da iniciativa privada à superestrutura, ao

aparelhamento portuária e recuperação das instalações, deixando para a União a

responsabilidade de concentrar investimentos em obras de infraestrutura;

f) Livre estabelecimento de tarifas e estímulos à concorrência intra e interportos;

g) Fim do monopólio dos sindicatos de trabalhadores avulsos no fornecimento e

escalação da mão de obra para as operações portuárias.

A implantação da lei de modernização dos portos, ao longo desses anos,

proporcionou um grande avanço no setor, especialmente na infraestrutura portuária,

que, através dos arrendamentos de terminais, recebeu grandes investimentos em

modernização e adequação das instalações, aumentando a produtividade e

reduzindo custos operacionais.

Os avanços decorridos da implantação dessa lei não podem ser atribuídos apenas

aos investimentos efetuados na infraestrutura portuária, mas também à introdução

de uma nova mentalidade que veio com a abertura da administração, que

possibilitou novas ideias e novos referenciais de gestão. Segundo FARIA (1998), o

primeiro aspecto positivo dessa lei está relacionado com uma maior participação da

sociedade no processo de decisão do porto. O sinal mais nítido dessa participação

foi a criação dos CAP’s, através do quais todos os segmentos atuantes no porto

estão representados.

Evidentemente, em que pese o poder transformador dessa lei, somente ela não

seria capaz de produzir os efeitos objetivados no ritmo das necessidades vigentes.

Assim, em 5 de junho de 2001, o governo publica a lei nº 10.233, que dispõe sobre a

reestruturação dos transportes aquaviários e terrestres, com a criação do Conselho

Nacional de Integração de Políticas de Transportes (CONIT), da Agência Nacional

de Transportes Terrestres (ANTT), da Agência Nacional de Transportes Aquaviários

(ANTAQ) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) e

33

posteriormente, por meio da medida provisória nº 369 de 07 de maio de 2007, que,

em seguida, se transformou na Lei nº 11.518, o governo criou a Secretaria de Portos

da Presidência da República – SEP/PR.

Os objetivos traçados por essas entidades levaram em consideração a necessidade

de uma maior articulação entre os setores público e privado, o estabelecimento e a

centralização de políticas estratégicas de médio e longo prazo, assim como dar

celeridade às mudanças em curso, para se atingir o objetivo integral da

modernização do novo modelo portuário nacional.

3.3.2 – Criação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ, criada pela lei nº 10.233

de 5 de junho de 2001, é entidade integrante da administração federal indireta,

submetida ao regime de autarquia especial, com personalidade jurídica de direito

público, independência administrativa, autonomia financeira e funcional, mandato

fixo de seus dirigentes, vinculados ao Ministério dos Transportes e à Secretaria de

Portos da Presidência da República, tem como finalidade implementar, em sua

esfera de atuação, as políticas formuladas pelo Ministério dos Transporte e pelo

Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte – CONIT, segundo os

princípios e diretrizes estabelecidas na sua lei de criação ( ANTAQ, 2011).

Compete também à ANTAQ, regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de

prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infraestrutura

portuária e aquaviária, exercida por terceiros, com vistas a:

a) Garantir a movimentação de pessoas e bens nos cumprimentos a padrões de

eficiência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e modicidade nos fretes e

tarifas;

b) Harmonizar os interesses dos usuários com as empresas concessionárias,

permissionárias autorizadas, e de entidades delegadas, preservando o interesse

público; e

c) Arbitrar conflitos de interesse e impedir situações que configurem competição

imperfeita ou infração contra a ordem econômica.

34

A regulação exercida pela ANTAQ abrange aspectos econômicos e técnicos. A

regulação econômica tem como objetivo o monitoramento das tarifas e políticas de

preços, sendo primordial onde a competição é fraca, condição propícia para

majoração de preços. Em mercados de concorrência intensa, a necessidade de

regulações de preços é menor, haja vista que as forças de mercado, oferta e

procura, tendem a equilibrar os preços praticados pelos prestadores de serviços,

situação que leva alguns operadores a defender a livre concorrência, sem a

necessidade de regulação de tarifas.

A regulação técnica é imprescindível e necessária para garantir o bom atendimento

a padrões de segurança gerais, do trabalho e de proteção ao meio ambiente.

Garantir um modelo de gestão transparente, no qual o usuário possa perceber a

eficiência gerencial dos portos, também se constitui um desafio da ANTAQ, que se

propõe a disponibilizar dados e informações sobre o desempenho dos portos,

divulgando indicadores relevantes de produtividade, custo e eficiência. Desse modo,

não apenas se divulgam informações relevantes para a tomada de decisões por

parte dos usuários, como também se estimula a concorrência entre portos, que, ao

tomarem conhecimento sobre indicadores favoráveis da concorrência, se obrigam a

buscar melhorias para seus padrões de desempenho.

3.3.3 – Criação da Secretaria de Portos da Presidência da República – SEP/PR

A Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/PR) foi criada por meio de

medida provisória nº 369 de 07 de maio de 2007 e posteriormente referendada pela

lei nº 11.518/2007 que consolidou o funcionamento da SEP/PR e o novo modelo de

gestão do setor portuário com a revogação das leis, decretos-lei e dispositivos legais

diversos (SEP/PR, 2011).

Compete à SEP/PR a formulação de políticas e diretrizes para o fomento do setor,

além da execução de medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento

da infraestrutura portuária, com investimentos orçamentários e do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC). Compete ainda à SEP/PR a participação no

planejamento estratégico e à aprovação dos planos de outorgas, tudo isso visando

assegurar segurança e eficiência ao transporte marítimo de cargas e de passageiros

no país.

35

A criação da SEP/PR, representou resposta positiva do governo federal diante dos

desafios de modernização do setor que se ressentia da ausência de um órgão

central, com competência para exercer todo o planejamento estratégico, com visão

de longo prazo e atuação de articulador no sentido de criar condições para

consolidação dos marcos regulatórios, buscar e estimular a livre iniciativa e atrair

mais investimentos para o setor.

3.4 – O quadro atual

Atualmente, segundo a SEP/PR (2011), o sistema portuário brasileiro é constituído

por 37 portos públicos organizados, entre marítimos e fluviais. Deste total, 18 são

delegados, concedidos ou tem sua operação autorizada à administração por parte

dos governos estaduais e municipais. Existem ainda 42 terminais de uso privativo e

três complexos portuários que operam sob concessão à iniciativa privada.

Considerando a ousadia de seu conjunto de objetivos, a expectativa com a

consolidação da lei nº 8.630/93, era de dotar os portos de um padrão de excelência

gerencial e operacional, capaz de atender os usuários com flexibilidade e agilidade

na prestação de serviços portuários. Em grande parte esses objetivos foram

alcançados como se constata pelos ganhos de produtividade e redução dos custos

nas operações dos portos e terminais privatizados.

O processo de arrendamento portuário propiciou a introdução de novas tecnologias

e a redução no tempo de espera para atracação e permanência dos navios no porto.

Como consequência, houve grande aumento de produtividade nos terminais

portuários brasileiros, criando condições favoráveis ao desenvolvimento do

transporte de cabotagem no Brasil (TOVAR e FERREIRA, 2006).

Segundo o GEIPOT (2001), o modelo brasileiro teve inspiração no modelo Landlord.

Este modelo se baseia na figura de uma autoridade pública atuando apenas na

oferta de instalações comerciais para o segmento privado, visando atrair negócios e

atividades econômicas para sua área de atendimento, ordenando, assim, o uso do

solo de sua propriedade. É parte essencial de sua atividade a promoção do porto e a

atração de empresas para se instalarem nos distritos industriais ligados a ele ou nos

escritórios de sua vizinhança. O modelo Landlord tem como uma de suas

características a forte atitude empresarial da Autoridade Portuária.

36

Acontece, que, no modelo nacional, esta responsabilidade definida em lei é do CAP,

no qual, entre outras competências, encontram-se as seguintes: fomentar a ação

industrial e comercial do porto; desenvolver mecanismo para atração de cargas;

estimular a competitividade.

Segundo análise da CNI (2007), o desenvolvimento do modelo portuário nacional

esbarra em dificuldades concentradas em três áreas: a má gestão, o insuficiente

volume de investimentos e o formato institucional inadequado, que em graus

variáveis respondem também pelos problemas de outros setores do sistema

portuário.

No que diz respeito ao formato institucional, as maiores críticas se concentram nas

competências atribuídas ao CAP, que, pelo marco legal, tem, entre outras

competências, a responsabilidade de promover a competitividade entre os portos,

apesar de não ter atuação direta na administração destes, sendo

preponderantemente uma entidade consultiva e de regulação. Esta ambigüidade de

competências, que confere funções conflitantes ao CAP, também retira da

Autoridade Portuária, gestora dos portos, o desafio da promoção da competitividade,

função esta preponderante no modelo de gestão Landlord, que credita à Autoridade

Portuária um comportamento empreendedor, atuante na articulação e captação de

novos negócios, de recursos financeiros, e nas soluções criativas e inovadoras dos

problemas operacionais, enfrentados no dia a dia da vida portuária.

Outra crítica que decorre do marco institucional, segundo estudo mais recente do

CNI (2010), é que o modelo delineado pela lei 8.630/93 foi implementado de forma

incompleta, na medida em que esta lei possibilita que a Administração do Porto seja

exercida diretamente pela União ou por entidade concessionária, sendo a concessão

precedida de licitação.

Entretanto, esta possibilidade de concessão à iniciativa privada nunca aconteceu,

mantendo-se a Administração dos Portos no âmbito do poder publico, através das

Companhias Docas, que já atuavam na gestão portuária, no período PORTOBRÁS e

também através das concessões feitas aos Estados e municípios. Recentemente, o

decreto 6.413/08 excluiu do Plano Nacional de Desestatização as Companhias

37

Docas, bem como todos os Portos administrados pela União, o que confirma a

posição do poder público em se manter na Administração dos Portos.

A delegação da Administração Portuária para o setor privado significa a completa

privatização do sistema, que passaria a permitir tanto na operação, como na gestão,

a entrada de empresas privadas. A expectativa desse modelo é de ganhos na

modernização, através de rápidos e maiores aportes de investimentos na

adequação, tanto da infraestrutura portuária, quanto na aquaviária. Entretanto, como

já dito anteriormente, este modelo pode gerar comportamentos monopolistas, ao

mesmo tempo em que pode tirar do governo a possibilidade de estabelecer as

políticas e estratégias condizentes com o interesse nacional.

Com relação às críticas por falta de investimentos é importante destacar o papel das

Companhias Docas e também das Empresas Estaduais concessionárias dos portos

organizados. Essas companhias têm como responsabilidade promover a adequação

da infraestrutura, instalações, tecnologia da informação, equipamentos e melhorias

nos sistemas de acesos terrestres e marítimos de modo a garantir uma

funcionalidade caracterizada pela rapidez, segurança e baixo custo. Para isso,

contam como fonte principal de recursos financeiros, a receita oriunda das tarifas

portuárias, assim como repasses originários de programas governamentais.

Acontece que as receitas provenientes da prestação de serviços, são, em geral,

insuficientes para se atingir esses objetivos, devido a alta defasagem acumulada ao

longo dos anos, a qual exige altos montantes de investimentos, quase sempre

incompatíveis com a capacidade de geração de caixa da maioria dos portos

brasileiros, ficando, portanto o sistema dependente de repasses federais para

investimentos estruturadores.

Segundo estudo da CNI (2007), em 2006 a execução do orçamento de

investimentos das oito Companhias Docas ligadas ao Ministério dos Transportes foi

da ordem de 24% da dotação aprovada, ou seja, R$ 100 milhões realizados, de R$

410 milhões aprovados, enquanto a execução do conjunto das empresas estatais foi

de 80%, situação que explicita claramente a ocorrência de problemas de ordem

administrativas na capacidade de execução dos investimentos previstos.

38

O baixo volume de investimentos no setor tem afetado muito a dragagem dos

Portos, programa este, que, levado a plena execução, produzirá ganhos

substanciais na acessibilidade marítima de muitos portos nacionais, que poderão

com seus canais aprofundados recepcionar navios de maior porte, ampliando assim

o volume de movimentação de cargas, principalmente cargas conteinerizadas, que

são atualmente transportadas por navios de grande porte.

Outro aspecto importante nos investimentos por parte das Companhias Docas, é o

fato de estas estarem impedidas de tomar empréstimos no sistema financeiro, por

conta de seus expressivos passivos trabalhistas, fiscais e previdenciários, além das

restrições impostas pelo Conselho Monetário Nacional, dispostas na resolução

2.827, de 30 março de 2001, que trata do contingenciamento de crédito ao setor

público, não sendo possível o apoio do setor público financeiro a essas companhias.

Neste sentido, TOVAR e FERREIRA (2006) propõem a subconcessão de parte das

atuais atribuições das Companhias Docas, por meio de processo licitatório, para um

grupo privado, constituindo uma Sociedade de Propósito Específico – SPE, que

ficaria responsável pela realização dos serviços previstos no edital de licitação

elaborado pela Autoridade Portuária.

Em seguida, esta sociedade poderia contratar financiamentos junto ao sistema

financeiro nacional, podendo ser o BNDES, ou outra instituição financeira,

oferecendo como garantias as ações da própria SPE, além do fluxo dos recursos

arrecadados pelas tarifas portuárias que, nessa modelagem seria de direito da SPE.

Com relação à gestão, o destaque vai para os procedimentos burocráticos

requeridos para a liberação de cargas que, segundo a CNI (2007), tem duração

média de 56% maior que a média mundial (39 contra 25 dias), elevando

significativamente os custos aduaneiros e exigindo por parte dos usuários uma maior

retaguarda de capital de giro, para fazer frente aos elevados custos estoques em

decorrência de armazenagem e espera de liberação. Tais procedimentos, na sua

maioria, ainda são manuais o que dificulta a comunicação entre os diversos órgãos

de fiscalização e promovem retrabalho pelos erros freqüentes. Há que se destacar

também o grande número de órgãos governamentais envolvidos no processo,

exigindo em muitos casos até 20 aprovações.

39

3.5 – Conclusões

O modelo proposto pela Lei 8.630/93, lei de modernização dos portos, produziu

muitos avanços na infraestrutura portuária nacional, na medida em que possibilitou a

entrada da iniciativa privada na operação portuária, e com ela investimentos

financeiros e uma nova mentalidade pautada na eficiência e na redução de custos.

Os avanços na infraestrutura portuária, especialmente nos terminais públicos e

privados na área do porto organizado, foram capazes de produzir melhorais de

desempenho que contribuíram de forma significativa para o avanço das exportações

brasileiras ocorrida nos últimos anos.

Entretanto, nas áreas de acessos aos portos, tanto no que diz respeito aos acessos

marítimos e terrestres, que estão sob gerenciamento da Autoridade Portuária, os

investimentos não foram suficientes para se conseguir realizar as melhorias

desejadas, situação que projeta um cenário de dificuldades para o crescimento das

exportações brasileiras, tão vital para o crescimento econômico do País.

Para continuar avançando na modernização dos Portos, se faz necessário uma

revisão no arcabouço institucional, de modo a reparar as ambigüidades de funções

entre a Autoridade Portuária, o CAP e a ANTAQ, um maior aporte de investimentos

na infraestrutura de acessos marítimos e terrestres, assim como a promoção e

efetivação de planos estratégicos de longo prazo, além de programas que visem

eliminar o excesso de burocracia e a promoção de uma gestão eficiente.

40

CAPÍTULO 4 – A INFRAESTRUTURA PORTUÁRIA E LOGÍSTICA NO BRASIL

4.1 – Introdução

O objetivo deste capítulo é apresentar um panorama da infraestrutura e da logística

de transporte de cargas no Brasil e seus efeitos na competitividade interna e externa

do país.

Inicialmente, será feita uma abordagem da matriz de transporte brasileira, com sua

estruturação, composição e integração, e seus efeitos na produção e na

competitividade da economia nacional.

Em seguida, se abordará a infraestrutura portuária brasileira, sua importância

estratégica, como importante elo logísticos da cadeia de transporte, apresentando os

seus principais gargalos estruturais, e as perspectivas de solução através dos

programas e projetos institucionais para o setor.

4.2 – A importância da infraestrutura no transporte de cargas no Brasil.

O processo de desenvolvimento de um país é resultante de um complexo e dinâmico

sistema produtivo, cuja estruturação depende da organização e implementação de

consistentes medidas de adequação e inovação de sua infraestrutura econômica e

social. A infraestrutura adequada e eficiente gera um ambiente propício e virtuoso ao

desenvolvimento.

De um modo geral, a infraestrutura econômica é entendida como o conjunto

daqueles elementos estruturais de uma economia, tais como as telecomunicações,

sistema de energia, sistema de transporte, serviços de saneamento, entre outros, os

quais, interligados, constituem a plataforma básica e imprescindível para a produção

e o fluxo de bens e serviços entre compradores e vendedores do complexo sistema

produtivo.

Importante destacar que essas atividades que compõem a infraestrutura, são

consideradas como serviços de utilidade pública, produzidos muitas vezes por

empresas estatais, embora mais recentemente tenham ocorrido crescentemente

transferências para o setor privado, através de concessão pública.

41

O sistema de transporte de cargas no Brasil, ao mesmo tempo em que tem

contribuído com o crescimento econômico do país, tem sido muito criticado em

relação a qualidade de suas vias, a sua composição matricial e principalmente por

sua ineficiência na integração dos seus diferentes modais.

Entende-se como modal, o meio de transporte usado para movimentação de cargas,

cada um com seus custos, características e peculiaridades operacionais, e que, por

isso, espera-se que sua utilização seja feita de forma articulada, racional e

integrada, aproveitando o potencial máximo de cada um, de modo a se estabelecer

uma adequada relação custo-benefício na prestação de serviços. No Brasil, o

sistema de transporte de cargas está estruturado sobre cinco modais distintos:

aéreo, rodoviário, aquaviário, ferroviário e dutoviário

Segundo a INFRAERO (2011), o modal aéreo de transporte está estruturado com 66

aeroportos, sendo 33 internacionais e outros 33 domésticos e 34 terminais de

logística de cargas, onde são prestados os serviços de armazenagem e capatazia

de cargas importadas e exportadas. Em 2010, o modal movimentou 1.139.209

toneladas de cargas, sendo 45% na importação, 27% na exportação e 28% de carga

nacional.

Este modal caracteriza-se pela velocidade e está fortemente direcionado para o

transporte de cargas de baixo peso, baixo volume e alto valor agregado, como por

exemplo, produtos de telecomunicação, metalmecânicos, automobilístico, químicos,

farmacêuticos, frutas, vestuários, bolsas, calçados, entre outros, em vista de seus

custos serem os mais elevados entre todos os demais modais.

O modal rodoviário está estruturado, segundo boletim CNT (2011), com uma malha

rodoviária de 1.580.964 Km de extensão, sendo que desse total, apenas 212.738

Km, ou seja 13,45%, apresenta-se pavimentada e com uma frota circulante de mais

de 3.700.000 veículos, composto de caminhões, cavalos mecânicos, reboques, semi

reboques e ônibus.

Caracteriza-se por apresentar uma maior flexibilidade e agilidade na operação de

transporte, operando isoladamente, porta a porta ou em composição, em sistema

multimodal, com os mais variados tipos de cargas em curtas, médias e longas

distâncias. Por apresentar alta flexibilidade e baixa capacidade no volume de carga

42

transportado, torna-se bastante oneroso em operações de média e longa distância.

Apresenta ainda, baixo índice de regulação o que possibilita com facilidade o

ingresso de operadores no sistema.

Segundo FLEURY (2006), a falta de regulação resultou num excesso de oferta de

serviço de má qualidade e promoveu um ambiente competitivo, de práticas danosas

que aviltam os preços de fretes, impedindo a renovação da frota. Os preços

praticados nos EUA, por exemplo, são 2,8 vezes maiores que o brasileiro, enquanto

no modal ferroviário, estes preços se equivalem.

O modal Aquaviário, por sua vez, está dividido em três submodalidades: navegação

marítima de longo curso, navegação de cabotagem e navegação interior. A

navegação marítima de longo curso diz respeito ao transporte de cargas entre os

países, ou seja, é a navegação do comércio internacional, enquanto a cabotagem

diz respeito à navegação realizada entre portos ou pontos do próprio país, utilizando

as vias marítimas e as vias interiores. Por sua vez a navegação interior diz respeito

ao uso dos rios nas diferentes bacias hidrográficas, transportando cargas no interior

do país e ou integrando a cabotagem e a navegação marítima.

Segundo dados da ANTAQ (2011), os portos brasileiros movimentaram em 2010,

833.882.797 toneladas de cargas, sendo 73,92% na navegação de longo curso,

22,55% na cabotagem e 3,53% na navegação interior. Apesar da tendência de

crescimento do modal aquaviário no transporte de cargas no Brasil, verificada nos

últimos anos, com o crescimento do comércio internacional, o aproveitamento deste

modal é considerado baixo, haja vista o seu grande potencial em vias navegáveis,

que segundo dados do Ministério dos Transportes, apresenta cerca de 29.000 km

em vias disponíveis para navegação, dos quais apenas 13.000 são economicamente

aproveitadas, além de o país possuir uma costa marítima com cerca de 8,5 mil

quilômetros de extensão aptas para navegação.

Este modal caracteriza-se principalmente pelo baixo custo em comparação com os

demais modais, já que permite uma escala maior no volume transportado a longas

distâncias, o que dilui de forma significativa os custos de fretes. Segundo a ANTAQ,

uma barcaça transporta o equivalente a 16 vagões de trem, ou a 60 caminhões.

43

Além do mais, é considerado um sistema mais seguro ambientalmente, pela menor

ocorrência de acidentes e menor emissão de poluentes.

O modal ferroviário, segundo a ANTT (2011), atualmente é constituído de uma

malha ferroviária de 29.706 Km de extensão, quase em sua totalidade operando em

regime de concessão à iniciativa privada, concentrando-se em sua maior parte nas

regiões Sul, Sudeste e Nordeste, mas atingindo também em menor densidade as

regiões Centro Oeste e Norte do Brasil.

Caracteriza-se por transportar grandes volumes, em médias e longas distâncias,

com elevada eficiência energética. Caracteriza-se também, por apresentar maior

segurança de tráfego em relação ao modal rodoviário, com menor índice de

acidentes e menor incidência de roubos e furtos de cargas. Dentre outras, são

cargas típicas do modal ferroviário produtos siderúrgicos, grãos, minérios, cimento,

cal, calcário e derivados de petróleo.

Na década de 90, o sistema ferroviário nacional foi privatizado, passando por um

amplo processo de recuperação, que resultou em grandes melhorias para o setor,

mas sem, no entanto, conseguir atingir o objetivo de integração de suas várias redes

regionais, para se transformar numa ampla rede nacional.

Segundo boletim da Confederação Nacional do Transporte – CNT (2011), a

velocidade média da rede ferroviária nacional é de 25 Km/h, enquanto a do EUA é

de 80 Km/h. Este dado é revelador de quanto ainda o sistema deve evoluir a partir

do equacionamento de seus problemas, que decorrem principalmente da dificuldade

das transposições de cargas entre vias ferroviárias de diferente bitolas e

principalmente por falta segurança nos trechos de travessias de perímetros urbanos.

O modal dutoviário pode ser dividido em três submodalidades: oleodutos, gasodutos

e mineriodutos. Os oleodutos são sistemas preparados para o transporte de cargas

líquidas como petróleo, óleo combustível, gasolina, querosene, nafta e outros. Os

gasodutos, como o próprio nome sugere, são sistemas preparados para o transporte

de gás natural, enquanto os mineriodutos são capacitados para transportar minérios,

tais como minério de ferro, sal gema e concentrado fosfático.

44

Caracterizam-se principalmente por apresentar baixos custos no transporte de

grandes volumes, principalmente de óleos e gás natural, quando comparados aos

modais, aéreo, rodoviário e ferroviário.

Segundo FLEURY (2006), quanto à prestação de serviços, são cinco as dimensões

mais importantes na caracterização dos modais de transportes: a velocidade, a

consistência, a capacitação, a disponibilidade e a freqüência.

O modal aéreo é o que apresenta a maior velocidade, seguido dos modais

rodoviário, ferroviário, aquaviário e dutoviário. No entanto, por apresentar custos

variáveis maiores, sua utilização se limita a grandes distâncias e prioritariamente

para o transporte de cargas de alto valor agregado.

Com relação à consistência, que diz respeito à capacidade de cumprir os tempos

previstos, o modal dutoviário apresenta o melhor desempenho, haja vista não estar

sujeito aos imprevistos de congestionamentos no tráfego, ou mesmo de fatores

climáticos, que afetam sobremaneira o modal aéreo, que em muitos casos é

obrigado a determinar cancelamento de vôos, atrasando a entrega dos produtos.

O modal Aquaviário destaca-se na dimensão de sua capacitação, na medida em que

permite transportar altos volumes e diferentes variedades de cargas até seu destino

final. Esta característica confere ao mesmo a reputação do modal de menor custo,

entre todos da matriz de transporte.

No que diz respeito à dimensão disponibilidade, o destaque vai para o modal

rodoviário, que praticamente não tem limites de onde pode chegar, estando

disponível para operar porta a porta, ou conectado a sistema multimodal, com muita

flexibilidade nas entregas de diferentes tipos de cargas, em diferentes destinos

desejados. Entretanto, este modal, também se caracteriza por oferecer pequena

capacidade de carga, maior consumo proporcional de combustível, alto índice de

poluição ambiental e por ser bem mais caro que os outros modais, à exceção do

aéreo.

Finalmente, no que se refere à frequência, ou seja, o número de vezes em que o

modal pode ser usado em dado horizonte de tempo, o dutoviário é o que melhor se

45

apresenta, já que suas instalações estão permanentemente disponíveis durante 24

horas por dia, para serem utilizadas.

A escolha do modal ou dos modais no transporte de cargas se constitui uma

importante decisão estratégica, considerando sua capacidade de impactar

fortemente na formação dos custos de transporte, e este, por sua vez, na formação

do custo final do produto. Promover a integração desses modais, transformando-os

em um sistema dinâmico se constitui um desafio a ser superado pelo setor de

transportes do país, em busca de uma operação logística de menor custo e maior

eficiência.

Ainda, segundo FLEURY (2006), o transporte representa em média 64% dos custos

logísticos, 4,3% do faturamento, e alguns casos mais que o dobro do lucro. Nesse

contexto, a importância do transporte é tão significativa ao ponto de poder definir em

muitas atividades a possibilidade do lucro ou prejuízo nas transações. Além disso, a

confiança no transporte exerce impactos diretos na manutenção e evolução dos

negócios.

Segundo WANKE (2006), basicamente são dois os critérios adotados por um

embarcador na escolha de um modal de transporte: preço/custo e desempenho.

Normalmente, a dimensão de desempenho é medida através do tempo médio de

entrega, de sua variabilidade absoluta e percentual e do nível médio de perdas e

danos que ocorrem no transporte. As empresas estão dispostas a incorrer num nível

de preços ou custo de frete compatível com desempenho.

Desse modo, a matriz de transporte exerce um papel crucial na formação dos custos

de transportes, com relevantes impactos na competitividade do sistema produtivo.

Portanto, sua estruturação e composição deve estar pautada em critérios técnicos e

de desempenho, de modo a se obter a melhor relação custo benefício, otimizando

os recursos e garantindo uma boa prestação de serviços aos usuários do sistema.

46

4.3 – A matriz de transporte brasileira

No Brasil, a matriz de transportes tem sido apontada por muitos analistas como

desfavorável à competitividade brasileira, por duas razões básicas: alta defasagem

estrutural, em relação às crescentes demandas por serviços eficientes e de baixo

custo, e alta concentração no modal rodoviário.

Em relação à concentração, segundo dados da CNT (2010), o modal rodoviário

transportou 485.625 Toneladas por Quilômetro Útil - TKU, o modal ferroviário

164.809 TKU, o aquaviário 108.000 TKU, o dutoviário 33.300 TKU e o aeroviário

3.169 TKU, o que estabelece uma matriz de 61,1% de participação para o modal

rodoviário, 20,7% para o ferroviário, 13,6% para o aquaviário, 4,2% para o dutoviário

e 0,4% para aeroviário.

Gráfico 4.1 - Matriz de transporte brasileira - 2010

Fonte: Boletim CNT (2010) Elaboração: própria

47

Esta concentração no modal rodoviário, para um país de dimensão continental como

o Brasil, produz um considerável incremento nos custos logísticos, comprometedor

da competitividade interna e externa do país. É importante ressaltar que nos últimos

anos, principalmente após melhorias no setor ferroviário e portuário, tem ocorrido

uma pequena desconcentração no sentido desses modais.

Segundo LESSA (2010), citando dados da ANTT, o Brasil possui a menor utilização

do modal ferroviário, uma baixa utilização do modal hidroviário e uma das mais altas

taxas de utilização do modal rodoviário, quando comparado com países de extensão

territorial semelhantes à brasileira, como no caso dos EUA, Rússia, Canadá,

Austrália e China. A tabela seguinte ilustra esta situação.

Tabela 4.1 – Divisão da matriz de transporte entre os principais modais - 2003

País Ferroviário ( %)

Rodoviário (%)

Hidroviário (%)

Extensão Territorial (1000 km2)

Rússia 81 8 11 17,0

Canadá 46 43 11 9,2

Austrália 43 53 4 7,6

EUA 43 32 25 9,2

China 37 50 13 9,6

Brasil 24 52 14 8,5 Fonte: Agencia Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), apud Lessa (2010) Não foram considerados os modais aéreo e dutoviário. Obs: Não foram consideradas áreas cobertas por água.

Ainda segundo LESSA (2010), citando dados do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro –

COPPEAD/UFRJ, esta deficiência estrutural é agravada ainda mais quando

analisada pelo custo médio entre os diferentes modais, recaindo sobre o modal

rodoviário custo de até cinco vezes maior que o ferroviário e aproximadamente vinte

vezes maior quando comparado aos custos de transporte por navios cargueiros. A

tabela abaixo demonstra esses dados.

48

Tabela 4.2 – Custos comparativos entre modais de transportes

Modais Us$ centavos/ton.km

Aéreo 14,00

Rodoviário 4,0 – 5,0

Ferroviário 0,3 – 1,0

Dutoviário 0,1 – 0,3

Balsa e Rebocador O,12 – 0,18

Navio Cargueiro 0,06 – 0,24

Navio Graneleiro 0,02 – 0,04 Fonte: Instituto de Pós Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( COPEAD/UFRJ), apud Lessa (2010).

A opção pelo modal rodoviário tem bases no modelo de desenvolvimento nacional

adotado no século passado, mais intensamente durante e após a década de 50,

quando se optou pelas rodovias, em detrimento ao demais modais, por se

considerar este modal mais rápido e adequado para promover a integração

econômica do país, ao mesmo tempo em que se visava o desenvolvimento da

indústria automobilística nacional.

De certa forma, esses objetivos foram alcançados, a indústria automobilística foi

implantada e desenvolvida, ao mesmo tempo em que se consolidou a integração

econômica do país sobre quatro rodas. Entretanto, esta integração, que trouxe

crescimento econômico e avanço da fronteira agrícola para novas regiões, também

trouxe novas demandas por estradas de qualidade e por alternativas de transportes

mais eficientes e de menor custo para operar em distâncias maiores e até remotas

desse país.

Segundo LESSA (2010), o desenvolvimento das forças produtivas e fenômenos

como urbanização, metropolização e deslocamento da fronteira agrícola, trouxeram

a tendência ao crescimento do percurso médio por tonelada de mercadorias

transportadas. Entre 1971 e 1991, o índice TKU saltou de 100 para 448, enquanto o

Produto Interno Bruto - PIB alcançou índice de 288. Simultaneamente, entre 1970 e

2004, houve aumento da distância percorrida por tonelada de mercadorias

transportadas, de 267 para 612 Km em média.

O problema da alta concentração no modal rodoviário, assim como dos gargalos em

todos os modais, decorre fundamentalmente do volume insuficiente de investimentos

para o setor, que, em épocas por falta de planos e projetos estratégicos e outras por

49

falta de recursos financeiros, dado as sucessivas crises econômicas enfrentadas

pelo país nas últimas décadas, não aconteceram de forma a equacionar as

demandas de atualização, ampliação e modernização do setor. Nas décadas de 60

e 70, os investimentos em infraestrutura chegaram a ser de 1,8% do PIB, tendo esse

percentual caído para 0,1% em 2003 (DIEESE, Apud CRUZ, 2006).

Segundo FLEURY (2006), no período de 1975 a 2002, os investimentos em

infraestrutura de transporte caíram de um patamar de 1,8 para 0,2% do PIB. Como

conseqüência, o país tem hoje uma defasagem muito grande em infraestrutura em

relação às suas necessidades. Considerando como medida de oferta a densidade

das malhas de transportes, ou seja, quilômetros de vias por área territorial, o Brasil

tem índice de 26,4, enquanto a China possuí 38,3, México 57,2 os EUA tem 447, o

que corresponde respectivamente a 69%, 46% e 6% a disponibilidade de

infraestrutura de transporte ofertada no Brasil, relativamente a desses países.

Em relação à defasagem estrutural por que passa a matriz de transporte brasileira, a

pesquisa da CNT de rodovias de 2009 revelou que, dos 89.552 km de rodovias

pesquisadas, 69% apresentavam alguma deficiência no pavimento, na sinalização e

ou na geometria das vias, ou seja, além do baixo índice de pavimentação de

rodovias do país, observa-se um elevado grau de deterioração das mesmas, o que

ocasiona problemas de várias ordens, como acidentes, elevados custos de

manutenção de veículos, roubo de cargas, dentre outros, que compromete o sistema

logístico, além de elevar o custo Brasil.

O modal rodoviário brasileiro, dado a sua utilização, por onde passam cerca de 60%

das cargas transportadas no Brasil, ainda exercerá forte destaque na logística de

transporte do país, condição que exige permanentemente investimentos que visem

sua adequação e ampliação de vias de modo a capacitá-lo para responder de

maneira eficaz aos desafios de crescimento econômico do País.

A malha ferroviária brasileira, em que pese às melhorais alcançadas após a

privatização do setor nos anos 90, também apresenta uma série de gargalos, que

superados, proporcionariam ao modal ganho de produtividade e maior participação

na matriz de transporte brasileira.

50

A pesquisa ferroviária da CNT de 2009 indicou que a grande variação no tempo de

viagens e as baixas velocidades na transposição de regiões metropolitanas, estas

causadas pelo excesso de passagem de nível e pelas invasões de faixa de

domínios, como sendo os maiores problemas a serem equacionados no sentido de

se dotar o modal de eficiência e segurança. A pesquisa também indicou problemas

de natureza tributária, regulatória e operacional, além da falta de investimentos para

construção de variantes para sanar o problema de traçado.

O transporte aquaviário nacional, que recentemente sofreu uma forte intervenção do

setor privado nacional, via concessão de terminais portuários, permitido pela lei de

modernização dos portos de 1993, já analisada neste trabalho, também ganhou

grandes avanços, mas ainda assim, insuficientes para responder às demandas

crescentes por serviços de alta produtividade.

A pesquisa aquaviária da CNT de 2006, indica a necessidade urgente de obras de

infraestrutura, como a retomada das dragagens, a compra de equipamentos de

estivas e movimentação, além de melhorias no acesso terrestre. A burocracia e o

treinamento da mão de obra se constituem também, importantes desafios a serem

equacionados no sentido de se prover os portos de uma gestão rápida e eficiente,

condizentes com os padrões da concorrência global.

4. 4 – A importância do setor portuário na matriz de transporte brasileira.

Segundo a ANTAQ ( 2011) a movimentação de cargas nas instalações portuárias do

Brasil em 2010 foi de 833.882.796 ton., um recorde estabelecido para um setor em

franco crescimento. Um aumento relativo de 13,7% e absoluto de 100.951.655 ton.

em relação ao ano anterior e superior cerca de 8,5% em relação ao recorde anterior

registrado em 2008.

Ainda segundo dados da ANTAQ nos últimos dez anos a movimentação de carga

nos terminais portuários brasileiro cresceu de um patamar de 506.206.051 ton./ano

para 833.882.799 ton./ano. Um crescimento médio de 5,7% ao ano no período. Os

portos públicos evoluíram na média 5,9% ao ano, enquanto os Terminais de Uso

Privados – TUP evoluíram 5,6% ao ano. Entretanto, em 2010 a participação dos

TUPs na movimentação total representou 65,37%, enquanto os portos públicos

51

ficaram com 34,63% de participação. A tabela abaixo demonstra a movimentação de

carga nos terminais portuário do Brasil.

Tabela 4.3 – Movimentação de cargas nos terminais portuários do Brasil – Ton.

Anos Portos públicos TUPs Total

2001 172.907.122 333.299.792 506.206.051

2002 176.739.963 352.265.088 529.005.051

2003 204.023.692 366.766.363 570.790.055

2004 228.309.578 392.410.967 620.720.545

2005 234.382.994 415.035.787 649.418.781

2006 253.331.929 439.501.539 692.833.468

2007 278.821.737 475.894.918 754.716.655

2008 274.028.568 494.294.982 768.323.550

2009 259.826.524 473.104.617 732.931.141

2010 288.797.332 545.085.467 833.882.799

Fonte: ANTAQ Elaboração: Própria

Em 2007, o Ministério dos Transportes lançou o Plano Nacional de Logística e

Transporte – PNLT, que entre vários objetivos, tem o desafio de promover uma

efetiva mudança na matriz de transporte brasileira, buscando sua melhor integração

multimodal, com o uso mais intensivo e adequado das modalidades ferroviárias e

aquaviária, aproveitando ao máximo suas eficiências energéticas e produtividade no

deslocamento de fluxos de maior densidade e distância de transportes. O gráfico

abaixo demonstra as metas estabelecidas pelo plano.

52

Gráfico 4.2 - Matriz de transporte atual e futura - 2005/2025

Fonte: PNLT Elaboração: Própria

Segundo Fernando Fialho, diretor executivo da ANTAQ, em palestra proferida na

Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2011, o crescimento da corrente de

comércio brasileira, ocorrida no período de 2002 a 2010, como demonstrada no

gráfico abaixo, indica de forma clara, que investir em portos traz grandes vantagens

para a economia nacional e para investidores privados do setor.

53

Gráfico 4.3 - Comércio internacional do Brasil - 2002 a 2010

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio – MDIC Elaboração:Própria

Segundo CAMPOS NETO et al. (2009b), um dos maiores bloqueios à expansão do

setor portuário nacional está na deficiência de infraestrutura, sobretudo portuária,

que compromete o potencial do setor e representa um entrave ao crescimento do

comércio internacional e de cabotagem no país. Para vencer esse problema, fazem-

se necessárias a efetivação de investimentos direcionados a obras portuárias e de

acessos, e a equipagem dos portos nacionais.

Segundo PÁDUA et al. (2006), a elasticidade estimada para a eficiência portuária é

a maior para todas as variáveis relacionadas a esse tipo de atividade. Dobrando-se

a eficiência de dois portos situados nos extremos, têm-se o mesmo impacto nos

custos do transporte internacional que se teria se reduzisse à metade a distância

entre os portos.

A lei de modernização dos portos, instituída em 1993, e implantada ao logo dos

últimos anos, promoveu reconhecidos avanços no setor portuário nacional, que pôde

contar com investimentos do setor privado, na atualização e modernização dos

terminais portuários, principalmente dentro da área dos portos organizados.

54

Entretanto, esses avanços também têm sido reconhecidos como insuficientes já que

sua ocorrência tem se concentrado principalmente nos terminais de operação de

carga e muito pouco na infraestrutura de acessos terrestres e marítimos.

Nesse contexto investir em portos torna-se vital para as pretensões do país em

relação ao comércio internacional. Nesse sentido e visando realizar um diagnóstico

profundo sobre os gargalos do setor portuário nacional, CAMPOS NETO et al.

(2009b) apresentaram um amplo levantamento dos gargalos do setor, que culminou

com o apontamento de um conjunto de 265 obras de infraestrutura portuária, de

acesso e de apoio, que se mostram necessárias para a melhoria da eficiência

operacional e competitividade dos portos nacionais. Este estudo recebeu a

denominação de Mapeamento Ipea de Obras Portuárias.

O estudo em questão dividiu esse conjunto de obras em quatro categorias, assim

constituídos: 133 obras de construção, ampliação e recuperação de áreas

portuárias, com demanda em investimentos na ordem de R$ 20,46 bilhões; 45 obras

de acessos terrestres, com investimentos na ordem de R$ 17,29 bilhões; 46 obras

de dragagem e derrocamento, com investimentos de R$ 2,78 bilhões e 41 de

infraestrutura, com investimentos de R$ 2,34 bilhões, totalizando um montante de

cerca de R$ 43 bilhões para equacionar as dificuldades do setor portuário.

55

Gráfico 4.4 - Portos brasileiros: principais gargalos e demandas – 2008

Fonte: Campos Neto at al. (2009b):Mapeamento Ipea de Obras Portuárias

O maior volume de investimentos definidos pelo estudo concentra-se nas áreas de

infraestrutura portuária e de acessos terrestres. Com relação a áreas portuárias

essas obras revelam a necessidade de construção, ampliação e recuperação de

áreas, retroáreas, berços, pátios, píeres, molhes, cais e a construção de novos

portos. No que diz respeito aos acessos terrestres, são obras de adequação de vias

rodoviárias e ferroviárias, para permitir um tráfego fluente, tanto de entrada como de

saída de carga nos portos. São investimentos que, ao longo desses anos, foram

negligenciados pelo poder público, que tinha a responsabilidade de fazê-lo, ou no

mínimo de atrair investimentos do setor privado.

As obras da categoria dragagem e derrocamentos, que compõem outro importante

bloco dos gargalos, diz respeito aos serviços de limpeza e aprofundamentos de

canais de acessos a berços e baía de evolução, o que irá possibilitar o acesso de

navios de grande porte nos portos, reduzindo as restrições de acesso marítimo e

ampliando o potencial comercial dos portos.

Com relação à categoria de obras em infraestrutura portuária, destacam-se as obras

em equipagem e instalações de apoio, terminais de acesos aquaviários e

56

intermodais, vias portuárias, sistemas de saneamento e eletrificação, sistemas de

segurança e sinalização, além de estudos e projetos.

A real necessidade de investimentos para o setor portuário, apesar de conhecida e

apontada, já algum tempo, por instituições, especialistas e usuários dos portos,

continuou sendo negligenciada, mesmo após a retomada de investimentos no setor

de transporte. Segundo análise do IPEA (2010), em estudo denominado Portos

Brasileiros: Diagnósticos e Perspectivas, comunicado IPEA nº 48, os investimentos

no setor hidroviário no período de 1999 a 2008 não acompanharam o crescimento

dos investimentos verificado no setor de transporte. Os investimentos no setor de

transportes, embora insuficientes, cresceram de um patamar de aproximadamente

0,4% de participação do PIB em 1999, para cerca de 1,2 % em 2008, enquanto os

investimentos no setor aquaviário, mantiveram-se em torno de 0,06%, ao longo

desse período. O gráfico abaixo demonstra esse comportamento.

Gráfico 4.5 - Investimentos em transportes e no setor hidroviário - 1999-2008

Fontes: Brasil (2009ª, 2009e) e Puga at al. (2007), apud IPEA (2010).

Apesar desta constatação, o setor portuário vive uma perspectiva positiva, já que

alguns dos gargalos diagnosticados já contam com investimentos definidos pelo

57

Programa de Aceleração de Crescimento – PAC. Mais recentemente, com a revisão

do PNLT de sua versão original de 2007, o setor pôde visualizar grande parte de

seus problemas abordados e com ações de investimentos provisionadas. Além do

mais, o PNLT representa, para todo setor de transporte, uma clara decisão

governamental de retomar o processo de planejamento do transporte brasileiro e

traz em seu arcabouço, estratégias, objetivos e metas, claramente definidos para

período de médio e longo prazo, voltados para implantação de um sistema

multimodal, economicamente viável.

A soma de investimentos definidos pelo PNLT apresenta no montante uma pequena

diferença, quando comparado ao montante sugerido em estudo pelo IPEA. O

problema está no longo cronograma de aplicação que vai de 2008 a 2025 diluído em

três etapas, enquanto os gargalos se constituem em demandas atuais, precisando

de uma solução mais rápida. Além do mais, ao longo desse cronograma certamente

aparecerão novas demandas advindas do crescimento econômico e das inovações

tecnológicas, provavelmente aumentando a necessidade por mais investimentos. Na

tabela abaixo podemos visualizar o cronograma PNLT de investimento nos

transportes e para setor portuário.

Tabela 4.4 – Investimentos recomendados em Infraestrutura de Transportes até

2025 - R$

Período Total dos

modais

Setor portuário % participação

2008 - 2011 109.204.304 17.894.347 16,39

2012 - 2015 84.309.774 8.123.177 9,63

Após 2015 97.294.202 12.915.500 13,27

Total 290.808.280 38.932.855 13,39

Fonte: PNLT Elaboração: própria

O PAC, lançado em 2007, cujo objetivo principal pode ser resumido na pretensão de

promover investimentos para melhorar a infraestrutura econômica do país, previu um

montante de R$ 503,9 bilhões em obras estruturadoras. Na sua revitalização em

2009 esses recursos foram ampliados para R$ 646 bilhões, cabendo ao setor de

transportes a quantia de R$ 37,1 bilhões.

58

Segundo CAMPOS NETO et al (2009b), nas obras definidas pelo PAC como obras

portuárias, consta apenas uma previsão de R$ 27,28 milhões. Contudo, vale

ressaltar que existe uma diferença de metodologia entre o mapeamento IPEA de

obras portuária e o PAC. Obras classificadas como de acesso terrestre pelo IPEA,

podem ser classificadas como rodoviária ou ferroviária no PAC.

Segundo estudos da Fundação Dom Cabral- FDC e Fórum Econômico Mundial em

2009, apud IPEA (2010), os investimentos do PAC, embora louváveis, não

representam mais que um esforço para compensar 30 anos sem a realização de

obras de infraestrutura. O estudo constatou que o Brasil apresentou uma queda no

ranking global de competitividade da 59ª posição para a 64ª no biênio 2005-2006.

Embora o volume de investimentos aplicados e definidos para futuras inversões

esteja abaixo do necessário, como já visto neste trabalho, o governo tem lançado

programas, que, pontualmente, visam a superação de muito desses gargalos,

estando sua implementação e consolidação, muitas vezes condicionadas à gestão

competente de cada porto. Entre eles podemos destacar os seguintes:

a) O Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura

portuária. O Reporto foi instituído pela lei nº 11.033/2004 e tem como objetivo

incentivar investimentos na recuperação, modernização e ampliação de portos,

através da suspensão de pagamentos de impostos por ocasião da venda de

produtos no mercado interno e ou mesmo na importação. São beneficiários do

Reporto operadores portuários, arrendatários de terminais, concessionário de portos

organizados e empresa autorizada a explorar instalações de portos públicos (IPEA,

2010).

b) O Programa Nacional de Dragagem, instituído pela lei nº 11.610 de dezembro de

2007 é outro importante programa do setor portuário que visa promover a dragagem

de baías, berços e acessos, que restringem a movimentação de grandes

embarcações nos mais variados portos do país. Segundo FDC;FEM apud IPEA

(2010) a ampliação de calados dos portos para a faixa dos 16 a 18 metros de

profundidade, permitirá a atracação de navios tipo Capesize, possibilitando a

movimentação de até 150 mil toneladas por embarcação e com isso redução de um

terço do valor de frete, atualmente pago por operações em navios Panamax (IPEA,

2010).

59

d) Outro importante programa do governo é o “Porto sem Papel”. Este programa tem

com objetivo simplificar a burocracia portuária, que atualmente envolve mais de 28

órgãos e entidades que atuam e interferem nas atividades portuárias. Segundo a

SEP/PR (2011), este programa visa estabelecer um documento virtual único para

processar e distribuir, em tempo real, as informações necessárias ao funcionamento

do setor. Sua implantação vai integrar os órgãos e ministérios envolvidos e conferir

mais celeridade às operações, reduzindo os custos operacionais.

Ainda segundo a SEP/PR, o projeto vai aperfeiçoar em cerca de 60% o desempenho

das operações e reduzir em 5% o tempo de estadia das embarcações nos portos.

e) O Plano Geral de Outorgas - PGO, elaborado pela ANTAQ, é um plano de caráter

indicativo que consiste em um amplo estudo da costa marítima brasileira, com a

finalidade de se identificar áreas potenciais para implantação de novos portos ou

novos terminais portuários. O PGO incorpora a visão de integração, definida pelo

PNLT, e suas projeções para novos portos e terminais, significam indicativos de

oportunidades tanto para o estado como também para a iniciativa privada. O plano

que prevê projeções até 2023, leva em conta projetos existentes para outros modais

de transporte que possam exercer influência sobre a demanda por serviços

portuários ou sobre a eficiência deles (IPEA, 2010).

f) O aproveitamento e a revitalização de áreas portuárias degradadas e sem

atividades, fazem parte de um novo programa conduzido pela SEP/PR, que tem

como objetivo readequar essas áreas atribuindo-lhe um novo uso, respeitando as

condições históricas, sociais e urbanas nas quais porto e cidade se estabeleceram.

A proposta é restabelecer uma convivência harmônica e produtiva entre a sociedade

e áreas portuárias que entraram em processo de degradação pela falta de uso e

abandono, através da revitalização em atividades de lazer, turística, esportiva e

culturais.

O planejamento e os investimentos no setor portuário nacional, através desse

conjunto de obras identificadas, visam não apenas resolver os tais gargalos, que se

negligenciadas nos próximos anos, poderão produzir um estrangulamento no setor,

mas principalmente criar um ambiente competitivo fértil, gerador de crescimento

econômico com ganhos de produtividades de forma virtuosa e permanente.

60

4.5 – Conclusões

A infraestrutura de transporte de cargas tem uma importância vital para a economia

do país, uma vez que tem como função primordial fazer circular e distribuir a riqueza

produzida para todas as pessoas nos mais distantes recantos do país, de forma

rápida, eficaz. Desse modo, quanto melhor for a infraestrutura de transporte, menor

será o custo do sistema, e, por conseguinte, o custo final dos produtos por ocasião

de sua chegada até o consumidor final.

O setor Portuário nacional, como importante integrante desse sistema, tem evoluído

nos últimos anos na solução de seus problemas mais urgentes, devido a

investimentos realizados nos terminais de cargas, oriundos do processo de

privatização ocorrido ao longo dos anos 90. Entretanto, mais recentemente, com o

incremento da movimentação de cargas, o setor tem acusado de forma intensa a

falta de investimentos, principalmente em infraestrutura de acessos marítimos e

terrestres.

Esta falta de investimentos que pode estrangular o setor precisa ser superada, e

neste sentido as forças que compõem o sistema, seja governo ou iniciativa privada,

precisam atuar de forma a encontrar as soluções para as carências diagnosticadas,

em prol de um ambiente virtuoso ao desenvolvimento econômico.

61

CAPÍTULO 5 – O PORTO DO RECFE

5.1 – Introdução

Este capítulo tem como objetivo contextualizar o Porto do Recife, fazendo uma

abordagem da sua trajetória histórica, até aos dias atuais.

A bem dizer o porto foi a pia batismal da nossa cidade. Quando Deus sonhou com este formoso e movimentado núcleo de homem, traçou-lhe os arrecifes de fronte, com uma muralha de proteção no mar alto e zangado. Dali por diante as ondas, por mais bravias, encontrariam obstáculo rijo e permanente, enquanto o rio poderia se aquietar lá dentro, correndo manso e acolhedor até a foz. Estava criado o nosso ancoradouro (SETTE, 1945, p.6).

A abordagem será realizada levando em consideração as diversas etapas evolutivas

do porto, seu papel, sua relação com a cidade do Recife, com as contribuições de

um para o outro e principalmente sua importância para a economia da cidade e o

estado de Pernambuco.

Será feito uma descrição de sua infraestrutura atual, suas transformações

decorrentes da lei nº 8.630/93, bem como uma análise de sua movimentação de

cargas, seu desempenho operacional e econômico e suas perspectivas para os

próximos anos.

5.2 – O Porto do Recife e sua evolução histórica

Figura 5.1 – O Porto do Recife – Forte do Picão - 1875.

Fonte: chicomiranda.wordpress.com/tag/fotos-antigas-do-recife/

62

Localizado nos estuários dos rios Capibaribe e Beberibe confluentes na bacia de

Santo Amaro e amparado por uma alongada faixa de arrecifes sílico-calcares, o

Porto do Recife está posicionado geograficamente a 8º 03’22” de latitude Sul, por

34º 51’57” de longitude oeste de Greenwich. Ocupa a parte mais saliente do

continente sul americano e apresenta pela sua localização geográfica e formação

natural, boas condições para navegação através do oceano Atlântico.

Sobre essas condições geográficas e geológicas, alguns estudiosos que pelo porto

estiveram, fizeram considerações dignas de serem rememoradas. Segundo GODIM

(1964, p.10), o grande naturalista inglês Charles Darwin, em seu estudo intitulado

“Viagem ao redor do mundo”, fez o seguinte comentário a respeito do Porto do

Recife:

Não creio que haja no mundo inteiro uma formação natural de aspecto tão artificial. Esse recife alonga-se numa extensão de algumas milhas, em linha absolutamente reta, a pouca distância da costa, com a largura de 30 a 60 metros de parte superior, chata e unida, parecendo na maré baixa, um quebra mar construído por cíclopes. A resistência desse recife, que as ondas nem de leve carcomem, é um dos fatos mais curiosos de sua história, sendo devido a um revestimento muito duro de matérias calcares com algumas polegadas de espessuras e inteiramente formadas pelo crescimento e morte de pequenos tubos de sérpulas, anatifas e muliporas. São estes seres insignificantes que prestam os maiores serviços aos habitantes de Pernambuco conservando-lhes o recife e garantindo-lhes o porto.

Ainda segundo o autor, a escritora inglesa Mary Graham1, também comentou de

forma admirada as condições naturais do porto e a paisagem por ele formada:

Sente-se embevecida com a entrada desse maravilhoso porto, onde apenas transpostos os recifes contra os quais o mar arrebenta com furor, o navio singra, em águas mansas como de um lago. Sobre os recifes um farol e um forte; no porto, navios de todas as nações; do lado da cidade grandes construções brancas, a terra baixa e arenosa com manchas verdes de campo e adornada de coqueiros ( GODIM,1964, p.11).

___________________

1 – Escritora Inglesa (1785 – 1842), registro em sua obra: “Diário de uma viagem ao Brasil e uma

residência lá, durante os anos 1821,1822 e 1823”

63

A situação do Porto, sob o ponto de vista de sua localização e formação natural, se

traduzia em condições privilegiadas para a navegação e o comércio marítimo, o que

viria se concretizar com o passar dos tempos, determinando uma contribuição

monumental para o crescimento e desenvolvimento do estado de Pernambuco e

particularmente para a cidade do Recife.

A história do Porto do Recife remota aos tempos do Brasil colonial e sua evolução

pode ser contada na mesma escala em que normalmente se conta a história do

Brasil, ou seja, podem-se estabelecer os períodos colonial, imperial e republicano,

como marcos de referência, divisores de tempo para melhor acompanhamento e

compreensão de sua evolução ao longo dos séculos passados. É o que este relato

se propõe a fazer.

5.2.1 – Período colonial

Quando Duarte Coelho chegou ao Brasil, em 1535, para tomar posse de seu

quinhão de terras, doado pelo então rei de Portugal, Dom João III, fundou a vila de

Igarassú, para em seguida encaminhar-se para o sul, pelo litoral, e descobrir as

colinas de Marim, onde fundou a vila de Olinda, ao mesmo tempo em que a elevou a

condição de sede do governo da capitania (ALMEIDA 200O; PINTO,1933).

Foram as condições naturais de Olinda a grande fonte de encantamento do

donatário. Situada sobre uma colina e privilegiada com uma ampla vista do mar, com

suas brisas e ventos, era mesmo de se encantar. Além do mais, sua localização, no

alto da colina, parecia estratégica quanto a possíveis ataques de invasores, situação

tão comum nessa época. Olinda se estabelece e se constitui o centro das atividades

econômicas e sociais da capitania, porém, logo uma grande dificuldade apareceria,

para, definitivamente, interferir no destino da Vila ( ALMEIDA, 2000).

A prosperidade econômica de Olinda levaria a necessidade de ampliar o seu

comércio com o reino de Portugal e para isso dependia de um porto. É nesse

momento que surge a grande dificuldade. As condições naturais para se estabelecer

um porto abrigado e seguro em Olinda são desfavoráveis, enquanto ao sul, paralela

a certa extensão do istmo de Olinda, acerca de seis léguas, havia uma linha de

arrecifes, formando um porto natural, com ótimas condições para ancorar os veleiros

64

e embarcações da época. Nesse local nasceria o porto de Olinda, para se

transformar em seguida no Porto do Recife.

Estabelecido o porto, a movimentação decorrente de suas atividades aumentou

gradativamente, atraindo mais pessoas para se ocuparem nas atividades de cargas

e descargas das poucas embarcações que ali atracavam. Esse pequeno

aglomerado de pessoas, formado basicamente de mestiços e pescadores, abrigados

em rústicas palhoças, logo levantariam uma ermida, a de Santo Telmo, onde

passariam a fazer suas orações, revelando assim, seus mais íntimos desejos, de se

estabelecerem ali, para formar um lugar digno de moradia permanente. Esse

primeiro núcleo de povoação se transformaria futuramente na majestosa cidade do

Recife.

Doravante, a história da cidade do Recife ficaria indissociavelmente ligada ao Porto

do Recife. A estrutura e o dinamismo da economia agroexportadora, viabilizada pelo

uso da infraestrutura do porto determinaram o ritmo de ocupação, crescimento e

desenvolvimento da cidade, influenciaram seu traçado urbano, ao mesmo tempo em

que fomentaram sua vida política e social. Recorrendo às palavras do cronista e

escritor MÁRIO SETTE (1945), “o porto ia impondo-se em grandeza e préstimo,

enquanto criava a cidade”.

O Porto nascera para atender a necessidade comercial da vila de Olinda que como

já dito, não tinha área abrigada para formação de um porto seguro. Nas primeiras

décadas de sua existência, além da construção de três modestos armazéns,

utilizados para acomodação das mercadorias que chegavam e saiam do porto, as

obras realizadas se limitaram à construção de três modestos fortes, necessários à

sua defesa e da capitania. Um sobre a parte norte dos arrecifes, o outro defronte

deste, no istmo de Olinda, cerca de 500 metros da povoação e o terceiro mais além,

ainda no istmo, cerca de 500 metros do segundo. O primeiro, que ficava no mar,

chamou-se forte da Lage ou forte do Mar, ficando conhecido popularmente como o

do Picão. O segundo, de Forte da Terra ou de São Jorge e o terceiro do Bom Jesus,

este, logo arrasado, ressurgiu como Forte do Brum, durante a ocupação holandesa

(ALMEIDA, 2000; CASTRO, 1977; COSTA, 1956; GODIM, 1964).

65

O Recife era, no século XVI, apenas uma povoação, constituída basicamente de

pescadores, que se apertavam em palhoças, armazéns e tabernas mal cheirosas

sobre uma chata língua de área. Formou-se sobre as áreas da península,

esgueirada entre o rio e o mar, e foi chamada de Povoação dos Arrecifes, ou ainda,

Ribeira Marinha dos Arrecifes. Foi criada para servir o porto e, portanto, com sua

vida e seu futuro indissociável à vida do porto. A cidade será o resultado do porto e

as vicissitudes desse condicionamento serão a evolução daquela (ALMEIDA, 2000).

A necessária estruturação do porto, como elemento vital para viabilizar a economia

de Olinda, que representava a própria economia da província, também confere ao

Recife oportunidades de crescimento e independência. Essa realidade cada dia mais

presente e crescente, denuncia uma dependência de Olinda em relação ao Recife,

que fica obrigada a recorrer permanentemente aos préstimos do porto, para

viabilizar seu projeto de crescimento e sua prosperidade.

Essa situação incomodava Olinda criando uma rivalidade entre as duas localidades.

Olinda com sua melhor infraestrutura, na condição de sede de governo, dominante

na produção e no comércio de bens e serviços não aceita a dependência em relação

ao porto e insiste em encontrar uma alternativa – um porto próprio - para processar

suas atividades comerciais com Portugal e outras sociedades. Ao mesmo tempo, o

povoado do porto, beneficiado com o crescimento das atividades, vai tomando forma

urbana, através de melhoramentos em casas e ruas, inclusive recebendo posto de

alfândega, mas continua sua dependência política em relação a Olinda.

O século XVII foi marcante para o porto, devido à contribuição dos holandeses, que

iniciaram os primeiros estudos a seu respeito, revelados através de fartos

documentos, os quais relatavam e descreviam o porto com muita riqueza de

detalhes. Na verdade, esses documentos demarcaram na história do porto, o início

de uma relação mais intimista, estudiosa e especializada no que concerne a suas

possibilidades e potencialidades (GODIM, 1964).

66

Segundo PINTO (1933, s/n), Emílio Béringer2, notável engenheiro e geógrafo

holandês, fez a seguinte descrição a respeito do Porto:

A entrada do porto ou poço estava situada um pouco ao norte do forte do Bruyn, no lugar que ainda hoje ocupa; era muito desabrigado em mau tempo, e, na opinião de Laet, tinha de 5,65 m a 5,97m de profundidade. Segundo Nieuhof, a sua entrada achava-se a 500 passos do norte do recife calcáreo, e, na preamar, tinha 6,91 m de água. O porto interior estava compreendido entre o bairro do Recife e o recife de pedra, no local em que ainda hoje se encontra; o canal que permitia entrá-lo era muito estreito, a julgar pelos dois bancos de areia que ali se havia formado. O porto, ou o canal de entrada, não possuía, com toda a probabilidade, um fundo superior a 4,5m ou 5,0 m. Os navios de guerra holandeses entraram nele na época da tomada de Olinda; mas esses navios, em geral, eram de pequeno calado. Quanto aos navios mercantes, viam-se eles obrigados a fundear no poço a fim de esperar que a preamar lhe permitisse a entrada. O recife de pedra, que protege o porto, apresentava, em frente a embocadura do braço dos Afogados, uma passagem, antigamente chamada de Barreta, ou Estreito Francês, e que foi fechada há alguns anos. Na extremidade do Recife se elevava o forte do Mar, hoje o forte do Picão.

Os holandeses não apenas melhoraram a estrutura do porto, realizando obras

importantes, como o alteamento do recife por uma muralha, numa extensão de 912

metros, a partir da barra do Picão para o sul, o que permitiu um melhor abrigo à sua

parte interna, como também imprimiram um ritmo maior de crescimento das

atividades do porto, através do incremento das atividades agroexportadoras.

Concorreram para esse crescimento não apenas o incremento da exportação de

caixas de açúcar, que atingiu um volume de 500.000 arrobas anualmente, mas

também o comércio do pau brasil e o tráfico de escravos que se prolongaria por

mais três séculos adiante( ALMEIDA, 2000; GODIM, 1964).

Ainda no final do século XVII o governador Caetano de Melo e Castro planejou a

construção de um molhe no porto do Recife, obra que deveria ser financiada sobre a

criação de um imposto sobre as caixas de açúcar exportadas e multas impostas aos

navios que trouxessem lastro de areia em vez de pedra, mas a câmara de Olinda

rejeita a proposta sugerindo que a contribuição fosse voluntária, o que inviabilizou o

projeto.

___________________

2 – Engenheiro holandês que reuniu cartas e obras de outros holandeses como, Barleus, Nieuhof, Laert,Netscher, Hessei Gerrritsz, Nicolau João Piscator, etc., em estudos sobre o porto.

67

Em meados do século XVIII a economia de Pernambuco já apresentava alguma

diversificação, sendo os principais gêneros comercializados o açúcar, aguardente,

melaço, algodão, madeiras, cola branca e vermelha, atanados, raiz de abutua e

angélica, óleo de copaíba e cocos. O Porto do Recife aparece como ponto central de

trocas em todo o Nordeste, viabilizando o abastecimento dos estados do Piauí,

Ceará, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe, influenciando a produção

e comércio em toda a região nordestina. O comércio exterior continuava intenso, ao

mesmo tempo em que as relações comerciais com outros portos brasileiros

ganhavam em importância, como no caso, com os portos da Bahia e Rio de Janeiro

(ALMEIDA, 2000; GODIM, 1964).

Apesar dessa importância e das reivindicações, as obras de melhoramento do porto

não aconteciam. Somente no século seguinte, uma comissão foi criada para estudar

os principais problemas do porto e a partir daí apresentar uma ampla proposta para

sua reforma.

5.2.2 – Período imperial

O progresso da navegação marítima, via propulsão motora dos novos navios que

chegavam ao mar em todo mundo e, especialmente, o advento da abertura dos

portos, decretado por Dom João VI, por ocasião de sua chegada ao Brasil, em 1808,

aumentaram a necessidade e o movimento por melhorias da infraestrutura do porto,

movimento esse que atravessaria todo o século XIX, manifestado em muitas

ocasiões, na forma de estudos técnicos3 e discussões políticas (CASTRO, 1977;

GODIM, 1964; PINTO,1933).

As primeiras iniciativas de melhoramento do porto datam de 1815, ocasião em que o

governo constituiu uma comissão para estudar e elaborar um plano de reforma. O

resultado foi apenas o conserto de paredes dos arrecifes e a retirada de canhões

velhos, depositados no fundo do ancoradouro.

__________________

3 – Estudos do Barão de Caçapava, em 1819; do engenheiro francês Boyer, em 1838; do engenheiro francês Wauthieu, em 1846; de Law e Blount,1856; do Dr. Barros Barreto,1865; do Dr. Rafael Arcanjo Filho, 1874; os do engenheiro francês Victor Fornié, em 1874; do Sr. John Hawkshw, em 1875.

68

Quatro anos depois foi construído um farol com luz visível à distância de quinze

milhas, projeto do general Jorge de Brito e do Barão de Caçapava, este último

propondo aumentar a ação das correntes sobre o Breguedé4, assim como altear o

molhe e obstruir a extremidade sul do porto (CASTRO, 1977).

Segundo ROCHA (1979), a abertura dos portos instituiu a cidade nova na corte e em

vários lugares do Brasil. O evento produziu impactos significativos sobre a economia

do país, melhorando a lavoura, criando indústrias básicas e permitindo um maior

intercâmbio intelectual e cultural, principalmente pela entrada de ilustres

estrangeiros, que com suas idéias puderam influir positivamente nas ciências, na

filosofia, na política e outras áreas.

Entretanto, o Porto do Recife, aberto para o mundo todo, carecia de melhoramentos,

não apenas para se adequar ao novo momento social vigente, mas, sobretudo para

cumprir bem o seu papel natural de agente do desenvolvimento econômico do

estado de Pernambuco e região. Nesse sentido, os estudos e os projetos foram

acontecendo e dando maior clareza sobre suas potencialidades e limitações.

Até o início do século XIX o Porto do Recife só recebia embarcações a vela, e estas

deram seus relevantes préstimos ao porto, transportando cargas e passageiros do

porto para o mundo e deste para o porto. Até que em 1839 o porto recebeu a visita

do primeiro barco a vapor. Com suas 300 toneladas de capacidade, estabelecia

doravante, um novo tempo para a navegação no porto, que passaria a receber com

mais frequência vapores de 1000, 2000, 6000 toneladas, cada vez maiores e

velozes, numa dinâmica crescente, onde só o tempo poderia revelar os limites

desses avanços, que impuseram uma nova fase para a navegação marítima no

mundo e para o Porto do Recife ( SETTE,1945).

__________________

4 – Extremo baixio (banco de areia ou pedra), entre o Poço e o Mosqueiro.

69

Esses novos parâmetros que impuseram aos portos de todo mundo novas

exigências, também exigiram do Porto do Recife urgentes adequações. Exigências

que demandavam por canais e berços mais profundos, cais de atracação mais

seguros e operações portuárias mais eficientes. Apesar desse cenário, as reformas

continuavam no papel, deflagrando um quadro no qual o porto, na prática cotidiana,

operava subdivididos em quatro outros portos, usados de acordo com o tamanho e

os calados dos navios que chegavam. Eram os Portos do Mosqueiro, Poço,

Laminhas e o Lamarão ( PINTO,1933; SETTE,1945; ALMEIDA,2000).

O Mosqueiro era o ancoradouro propriamente dito, ficando na parte abrigada pelos

arrecifes, estendendo-se na linha norte-sul do farol do Picão até a Coroa dos

Passarinhos, no formato de funil, com a boca voltada para a barra, onde as

embarcações de menor porte ancoravam. Um pouco a leste do Mosqueiro estava o

Poço, onde normalmente ficavam fundeados navios de médio porte, era pouco

protegido e na preamar estava sujeito à influência considerável de ressacas.

O ancoradouro das Laminhas situava-se entre o recife alagado e o Banco Inglês5,

em frente às duas barras. Seu fundo, de areia fina e profundidade aproximada de 9

m, era o lugar onde se costumava carregar os navios de maior porte, que não

podiam entrar no Porto.

O Lamarão era o surgidouro, situado ao sul do Banco Inglês, com profundidade

aproximada de 11 m, era o mais extenso e profundo dos portos, onde podiam

ancorar navios e paquetes de toda capacidade. Os grandes vapores ficavam

fundeados no Lamarão. Ali, o mar aberto, arisco e tempestuoso dificultava muito o

acesso daqueles que precisavam embarcar ou desembarcar. Os embarques ou

desembarques eram realizados com auxílio de uma pequena embarcação, que

levava cargas e passageiros até o navio fundeado no Lamarão.

__________________

5 – Banco rochoso, submerso, que dificultava a navegação na entrada do Porto.

70

Das embarcações, os passageiros eram transportados dentro de uma cesta, um

grande balaio, com capacidade de até seis pessoas, para o convés do navio, içados

a paus de cargas, ou com guindastes, dependendo do navio. Essa operação era

carregada de coragem, tensão e humor, atraindo muitos curiosos ao cais da

Lingueta, para assisti-la e se divertir (SETTE, 1945).

Figura 5.2 – O cais da lingueta – Século XIX

Fonte: Guillen e Couceiro (2006).

O Porto possuía duas entradas. A barra pequena, ou barra do Picão, que se

encontrava na extremidade norte dos recifes, com aproximadamente 136 metros de

largura e profundidade de 4,00 a 5,00 m em baixamar, por onde entravam as

embarcações pequenas; e a barra grande ou do Poço, que se achava mais ao norte,

no mesmo alinhamento da outra barra, com 550 metros de largura e 9 m de

profundidade, por onde ocorria o acesso de navios de maior porte.

Continuavam os avanços na engenharia naval, assim como os estudos e projetos

acerca da reforma do porto, sem, no entanto se conseguir realizar as obras de sua

atualização. Segundo CASTRO (1977, p.12), o engenheiro chefe da província de

Pernambuco, L.L. Wauthieu, em suas memórias de 1854, fez a seguinte queixa a

respeito das obras do porto:

Até agora poucas, ou nenhuma, têm sido as obras que se hão feito para

melhorar o estado do porto e muitas hão sido, pelo contrário, as causas que

71

têm contribuído para estragar a obra da natureza. A única obra

evidentemente aproveitável à navegação que se possa citar, é o farol,

edificado em 1819, ao lado sul da barra do Picão, na extremidade dos

arrecifes.

Em 1875, foi começada a construção do dique do Nogueira, ao sul do porto que

tinha como propósito conter o assoreamento, pela deposição de areais oriundas do

mar da Ilha do Pina. Foram construídos 1.116 metros de dique que atenderam

plenamente o objetivo proposto.

Estudos mais ou menos completos foram realizados ao longo do século, mas

algumas obras foram marcantes pelos seus conteúdos técnicos ou mesmo pelo seu

poder em gerar polêmica no meio, entre elas, destacam-se os estudos de Rafael

Arcanjo Galvão, que mencionava as causas e efeitos das cheias dos rios que

deságuam no porto e os meios de removê-las; os estudos do engenheiro francês

Victor Fournié, que apontavam as obras e medidas necessárias para o

desenvolvimento do porto; e os estudos de John Hawkshaw que demonstravam

uma meticulosa sondagem dos arrecifes. Esses estudos viriam a embasar o futuro

plano de reforma do porto (GODIM,1964).

Em 1887, Alfredo Lisboa publica a obra, “A memória descritiva e justificativa do

projeto de melhoramento do Porto do Recife”, a qual tomou como base a série de

estudos efetuados anteriormente, principalmente os estudos de John Hawkshaw e

apresentou sua opinião sobre os assoreamento do porto, argumentando que a

origem deste poderia ser tanto fluvial, como marítima, sendo duramente contestado

por Domingos de Sampaio Ferraz, na obra “ O Molhe de Olinda”, em 1914.

A luta pela reforma do porto continuava amadurecendo a cada dia com a

apresentação dos planos, já no final do Século XIX o porto já dispunha de um

conjunto aprofundado e meticuloso de estudos suficientes para subsidiar com

qualidade um projeto definitivo de reforma à altura de seu merecimento.

Segundo COSTA (1956), a influência do porto em todo o transcorrer do século XIX

era absorvente: a vida da cidade e a vida da província estavam intimamente ligadas

ao porto. Era uma época em que o porto e as atividades do mesmo, atraiam a

atenção de todas as gentes, como comerciantes, funcionários públicos, doutores e

72

professores. Essa influência seria determinante e decisiva na implantação de sua

reforma no século seguinte.

5.2.3 – Período republicano

Em 1907, constitui-se uma comissão liderada por Alfredo Lisboa, para apresentar

um projeto definitivo de melhoramento do porto. Um plano de obras com orçamento

definido foi apresentado e aprovado. Aberta a concorrência, apresentaram-se várias

propostas, mas a vencedora foi a dos engenheiros Edmond Bartissol e Demétrio

Nunes Ribeiro. Em agosto de 1908 é lavrado o respectivo contrato.

Os contratantes obrigavam-se a realizar os seguintes serviços: a) um quebra mar,

enraizado na extremidade norte dos arrecifes emergentes, avançando para o mar,

na extensão total de 1.147 metros; b) um molhe de pedra jogada, partindo do istmo

de Olinda em direção ao mar, na extensão total de 798 metros; c) cais para

atracação, carga e descarga de navios; d) alteamento da antiga muralha e

construção de nova, até a casa de banhos; e) dragagem a 8 e a 9 metros; f) aterro

da parte compreendida entre os novos cais e o litoral; g) construção de armazéns,

edifício para administração e depósitos; i) aparelhamento e instalação completa do

cais. O decreto que aprovava as cláusulas do contrato foi assinado em 2 de julho,

sendo o presidente da República o dr. Afonso Pena, e ministro de Viação e Obras

públicas o dr. Miguel Calmon (CASTRO,1977).

Em julho de 1909, esse contrato é transferido para a Societé de Construction du Port

de Pernambuco, subsidiária da Societé de Construction des Batignolles, sediada em

Paris, e autorizada a funcionar no país pelo Decreto nº 7291, de 21 de janeiro de

1909. Pelo decreto nº 7.447, de 1º de julho de 1909, foi essa transferência aprovada,

passando a Societé a responsabilidade integral dos compromissos assumidos por

aqueles engenheiros.

Os trabalhos iniciaram e, por decreto, novas obras foram acrescentadas nas já

contratadas, as quais deveriam terminar em janeiro de 1916. Os serviços foram

iniciados pela dragagem do porto, cujo equipamento flutuante era todo importado da

Europa. Somente mais tarde puderam se iniciar os serviços de construção dos cais,

do quebra mar e do molhe de Olinda, devido a dificuldade de se encontrar pedreiras

apropriadas para fornecer pedras em quantidade suficiente para essa finalidade.

73

Os serviços de acabamento dos cais e pavimentação, a cantaria aplicada,

compreendendo silhares, cobertinas e paralelepípedos de granito, inicialmente foram

importados, já aparelhados, da Noruega, devido à impossibilidade de se encontrar

aqui, profissionais especializados nessa tarefa. Somente anos depois, com o auxílio

de profissionais portugueses e espanhóis, se conseguiu formar mão de obra

especializada local aptas para a confecção desse material (CASTRO, 1977).

Simultaneamente à empreitada de construção do Porto, trabalhos de urbanização

foram realizados em harmonia com os planos estabelecidos, os quais constavam de

desapropriação de prédios e trapiches para a abertura de ruas e travessas, como as

atuais avenidas Marquês de Olinda e Rio Branco, com a finalidade de disciplinar e

melhorar o tráfego em direção ao porto (GODIM,1964).

Com o objetivo de modernizar a infraestrutura portuária para atender aos desafios

de uma economia em crescimento, a reforma foi realizada, alterando de forma

significativa o traçado do bairro, abrindo e ampliando ruas que determinaram a

demolição de obras memoráveis como o Arco da Conceição e o Arco de Santo

Antonio, tudo em prol de um projeto que priorizava o progresso.

Figura 5.3 – O arco da Conceição – Início do século XX

Fonte: Guillen e Couceiro (2006).

74

Com o atraso no cronograma de execução da obra, devido às dificuldades do

período de guerra na Europa, a inauguração prevista para 1916 foi adiada.

Finalmente a entrada na operação comercial ocorreu em 12 de setembro de 1918,

apesar das obras ainda não estarem totalmente concluídas. Em dezembro de 1920,

foi procedida a transferência da exploração do porto ao Estado de Pernambuco,

iniciando-se, assim, a gestão do governo estadual na vida portuária (GODIM, 1964).

A dragagem efetuada não atendeu os objetivos traçados, e, incompleta, não

possibilitaria o ingresso de grandes navios na área interna do porto. Então, para

solucionar o problema o governo de Pernambuco contrata uma nova companhia

especializada no assunto, a firma holandesa W.J. kalis WZn&CO’s, que realizou com

sucesso a dragagem completa do porto, que possibilitou em 15 de abril de 1923 a

entrada e atracação do navio Arlanza, com seus 589 pés de comprimento, 25 pés

de calado e 14.930 toneladas de peso. Posteriormente, atracaria o transatlântico

holandês Gelria, com suas 14.868 toneladas de cargas, acabando de vez com a

dúvida de muitos quanto à capacidade do porto para receber navios desse porte

(PINTO, 1933).

As obras de construção e requalificação continuaram ao longo do século XX. A

década de 30 caracterizou-se pela aquisição e montagem de equipamentos eletro

mecânicos para a movimentação de cargas, como a maioria dos guindastes da faixa

do cais e as pontes rolantes dos armazéns. Nas décadas seguintes foram

construídos mais armazéns, mais prolongamento de cais, o terminal açucareiro, um

quebra mar sobre o Banco Inglês, a ponte rodo ferroviária em substituição à antiga

ponte giratória, entre outras obras, que muito fortaleceram o porto, tornando-o

moderno e mais competitivo, no dinâmico mundo do transporte marítimo.

O Estado de Pernambuco continuou como concessionário do porto até o ano de

1937, ocasião em que o governo federal retoma a gestão, para anos depois, em 18

de setembro de 1978, através do decreto nº 82.278, criar a PORTOBRÁS, que

assume o controle da gestão portuária no Brasil.

Após a segunda metade do século XX o Porto do Recife tão decisivo na formação

da cidade, já não mais exerce a mesma contribuição do passado, haja vista que a

economia local, acompanhando a tendência nacional de diversificação na produção,

75

já possui alternativas de escoamento e abastecimento através de outros modais de

transportes, principalmente o rodoviário, mas continuava importante nas atividades

comerciais de importação e exportação.

Com a extinção da PORTOBRAS em 1990, a gestão do porto é concedida à

Companhia Docas do Rio Grande do Norte, permanecendo até ao início da década

seguinte, quando em junho de 2001, a administração é transferida à empresa

Estadual Porto do Recife S/A, por força do convênio de delegação nº 02/2000,

celebrado entre a União e o Estado de Pernambuco, que continua a administrá-lo

nos tempos atuais.

Na última década do século passado, é deflagrado o processo de abertura da

economia brasileira, pelo então presidente Fernando Collor de Melo, processo esse

que colocou o sistema portuário nacional sob questionamento no que diz respeito à

sua capacidade competitiva em relação aos portos internacionais e, no sentido de

dar ao sistema portuário oportunidades de readequações em suas infraestruturas, foi

editada a lei 8.633/93, a chamada de lei de modernização dos portos.

A tendência preponderante dessa lei foi de transformar estruturas portuárias

engessadas do ponto de vista operacional e institucional em estruturas modernas,

eficientes e competitivas, via investimentos em infraestrutura e equipamentos

portuários. Os portos cidades, neste caso particular, o Porto do Recife, que, pelas

suas características preponderantes de urbanidade, além das adequações sugeridas

pela lei de modernização dos portos, parece necessitar de um projeto maior, que o

trate como um porto a serviço do desenvolvimento local e que busque a

reaproximação e a harmonia com a cidade.

Atualmente o porto vive o desafio de superar suas dificuldades operacionais,

refletidas na queda de sua movimentação de cargas nos últimos anos, através de

medidas de revitalização operacional e não operacional. No plano operacional, obras

importantes andam em curso, como a dragagem nos canais de acesso e na baía de

evolução. Essa obra prevista no PAC objetiva aumentar a profundidade dos canais,

permitindo com isso, acessos de navios de maior calado.

O Plano de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZ do porto encontra-se em fase

final de elaboração e, aprovado, se constituirá num importante instrumento de

76

planejamento da Autoridade Portuária. O PDZ estabelece diretrizes para a

organização das atividades do porto e tem como objetivo promover a modernização

e a adequação da infraestrutura portuária.

5.3 – Infraestrutura atual do Porto do Recife

O Porto do Recife localiza-se na parte centro-leste da cidade do Recife, capital do

Estado de Pernambuco, na confluência e às margens dos rios Capibaribe ao sul, e

do rio Beberibe ao norte, no local onde deságuam no oceano Atlântico. Está

instalado em uma área total de 397.830,84 m², a qual está subdivida em: área

pública, 137.362,27 m²; área privada mista, 169.793.92; área de terceiro, 21.209,48;

área de preservação cultural, 2.710,75 m² e área não operacional, 66.754,54 m²

(PORTO DO RECIFE, 2011).

Figura 5.4 – Atual Porto do Recife

Fonte: Porto do Recife

77

5.3.1 – Área do porto organizado

Conforme a portaria do Ministério dos Transportes nº 1.030, de 20 de dezembro de

1.993, publicada no diário oficial da união em 22 de dezembro de 1993, a área do

porto organizado do Porto do Recife, no estado de Pernambuco, é constituída de:

a) Pelas instalações portuárias terrestres existentes na cidade do Recife, tendo

como limites extremos o molhe de Olinda, ao norte, e a ponte Agamenon

Magalhães, ao sul, na Baía do Pina, abrangendo todo os cais, docas, pontes e

píeres de atracação e de acostagem, armazéns e edificações em geral e vias

internas de circulação rodoviária e ferroviária e ainda os terrenos ao longo dessas

áreas e em suas adjacências pertencentes à União, incorporadas ou não ao

patrimônio do Porto do Recife ou sob sua guarda e responsabilidade;

b) Pela infraestrutura de proteção e acessos aquaviários, compreendendo as áreas

de fundeio, bacias de evolução, canal de acesso e áreas adjacentes a esse até as

margens das instalações terrestres do porto organizado, conforme definido no item

“a” acima, existentes ou que venham a ser construídas e mantidas pela

administração do porto ou por outro órgão do poder público.

5.3.2 - Acessos

O acesso ao Porto do Recife pode ser realizado por vias rodoviária, ferroviária

marítima e aeroportuária.

a) O acesso rodoviário pode ser realizado principalmente pelas rodovias PE-015 e a

PE-060 que, em conjunto com a BR-101, viabilizam o acesso tanto ao norte quanto

ao sul do Estado de Pernambuco. A rodovia BR-101 corta o litoral brasileiro de norte

a sul, interligando a maioria dos estados do Nordeste e Sudeste do Brasil. O acesso

rodoviário também pode ser feito pela BR-232, que viabiliza a ligação com todo o

interior do Estado de Pernambuco e outros Estados do Nordeste, a exemplo do

Ceará, Piauí, Bahia, Paraíba e Alagoas, que fazem fronteira com Pernambuco.

No perímetro urbano o acesso ao Porto do Recife é viabilizado com alguns

importantes corredores. Pela zona Norte da cidade, o importante corredor formado

pela Avenida Norte, faz a ligação do porto com a BR-101 e daí em diante para a

78

região da Zona da Mata Norte do Estado e para outros Estados situados ao norte,

como no caso, a Paraíba e Rio grande do Norte.

O corredor Sul formado pela Avenida Sul, Rua Imperial, Avenida Mascarenhas de

Moraes e Estrada da Batalha, viabilizam o acesso do porto à BR-101, e daí em

diante ao Porto de Suape, Zona da Mata Sul e demais Estados localizados ao Sul do

Estado de Pernambuco, como no caso, Alagoas, Sergipe e Bahia.

b) O acesso ferroviário do Porto do Recife atualmente está interrompido em função

das precárias condições de conservação de suas vias de entrada e saídas, que por

falta de investimentos entraram em decadência tornando-se inviáveis. Entretanto,

até alguns anos atrás o acesso ferroviário era realizado pela Companhia Ferroviária

do Nordeste – CFN, através de três troncos. O tronco norte, que liga o porto às

capitais dos estados situadas ao norte de Pernambuco. O tronco oeste, que liga o

porto aos municípios do interior do estado e o tronco sul, que liga o porto às capitais

dos estados de Alagoas e Aracajú.

c) O acesso marítimo do porto pode ser realizado por dois canais: o canal sul, que

possui aproximadamente 260 m de largura e 3,4 km de extensão, com profundidade

de 10,5 m, é o principal canal de acesso ao porto; o canal norte, que tem pouca

largura e 1 km de extensão, com profundidade de 6,5 m, é utilizado para o acesso

de pequenas embarcações.

A bacia de evolução tem uma extensão de 3,1 km com largura de 160 a 475 m e

profundidade de 9 a 11m, com 1.865 m de cais acostável operacional tipo alinhado

(do berço 0 até o berço 9) e 1062 m de cais não operacional (do berço 9 até o berço

15) (PDZ DO PORTO DO RECIFE, 2011).

d) O acesso aeroportuário é realizado através do Aeroporto Internacional Guararapes

– Gilberto Freire, que está localizado na zona sul da cidade do Recife a uma

distância de 14 km do porto.

5.3.3 – Áreas de fundeio

O Porto do Recife possui duas áreas para fundeio: área externa e área interna.

O fundeadouro externo está situado acerca de 0,8 milha a SSE do farol do Picão,

alongando-se na direção sudeste, em torno do ponto de coordenadas 08º03’08”S e

79

34º51’02”W, usadas para o fundeio de navios de grande e pequeno porte, sem

restrições quanto a quantidades de embarcações que ali podem fundear. Sua

profundidade varia entre 11 a 12 m. Não existe proteção contra ondas, ventos e

correntes marítimas nessa área.

O fundeadouro interno está situado entre os molhes Sul e Norte, dentro da bacia de

evolução, com profundidade aproximada de 9 metros. Esta área é destinada ao

fundeio de apenas uma embarcação por vez, com prévia autorização da Capitania

dos Portos e é abrigada contra ações de ventos, ondas e correntes marítimas ( PDZ

DO PORTO DO RECIFE, 2011).

5.3.4 – Instalações de acostagem e atracação

A acostagem pode ser realizada por um conjunto de berços que se dispõem ao

longo de um cais continuo de 2948 m, divididos em quatros trechos, caracterizado

de acordo com o tabela abaixo.

Tabela 5.1 – Porto do Recife - Caracterização dos trechos de cais

Trechos I II III IV

Lo

ca

liza

çã

o Ano de construção 1961 1961/1986 1909/1918 1908/1918

Berços 0 e 1 2 a 6 7 a 14 15

Cabeços 5 a 15 16 a 55 56 a 97 99 a 105

Armazéns IAA/A-1 A-5/A-6 A-7/A-14 A-15

Ca

rac

terí

sti

ca

s Comprimento(m) 340 999,6 1.261,6 347,7

Profundidade(m) 8,9 a 9,4 9,6 a 10,2 6,5 a 8,5 5,0 a 6,5

Tipo Estrutural Dinamarquês Dinamarquês De gravidade De gravidade

Sobrecarga (kn/m²) 50,00 50,00 40,00 40,00

Cota ( m²) 4,00 4,00 4,00 4,00

Conservação Ruim Regular Ruim Ruim

Fonte: PDZ do Porto do Recife, 2011.

No primeiro trecho está instalado o terminal de açúcar e o terminal de grãos.

80

O segundo trecho contempla um pátio de estocagem com área de 24.128 m² e os

armazéns A5 e A6. O pátio possui capacidade para estocagem de 1.140 contêineres

com 30 tomadas para contêineres frigoríficos.

No terceiro trecho está instalado o terminal de passageiros do porto, nos armazéns

que compreendem as áreas dos armazéns A7 e A8 e uma parte dos berços não

operacionais do porto.

O quarto trecho compreende a área em que está situado o armazém A15. Não há

equipamento portuário operando nesse trecho.

O Porto do Recife dispõe de 15 berços para atracação de embarcações, distribuídos

conforme os trechos anteriormente descritos. Suas características de comprimento,

largura e profundidade, são determinantes na forma de sua utilização, conforme

descrito na tabela abaixo.

81

Tabela 5.2 – Porto do Recife - Caracterização dos berços de atracação

Berço Localização Características Físicas Utilização

Cabeços Armazéns e pátios

Comprimento (m)

Largura (m)

Profundidade(m)

Pavimentação

0 5 a 10 IAA 180,00 17,50 8,92 Paralelepípedo

Granéis: Sólidos e Líquidos

1 11 a 15 A-1 160,00 19,20 9,41 Paralelepípedo

Granéis: Sólidos e Líquidos

2 16 a 24 P-2 228,51 25,00 10,19 Blokret Carga Geral/ Contêiner

3 25 a 31 P-3 162,50 25,00 10,19 Blokret Granéis/Carga Geral

4 31 a 39 P-4 200,29 25,00 10,19 Blokret Granéis/Carga Geral

5 39 a 47 A-5 211,43 25,00 10,39 Asfalto Granel Sólido/Carga Geral

6 48 a 55 A-6 196,59 25,00 9,60 Asfalto Granel líquido/Carga Geral

7 56 a 60 A-7 137,00 11,45 8,27 Paralelepípedo

Passageiros

8 60 a 64 A-8 120,00 11,40 8,27 Paralelepípedo

Passageiros

9 64 a 72 A-9 239,90 11,45 7,41 Paralelepípedo

Granel Sólido/Carga Geral

10 72 a 77 A-10 150,00 11,40 7,13 Paralelepípedo

Berço não operacional

11 77 a 82 A-11 158,30 11,40 6,50 Blokret Berço não operacional

12 82 a 87 A-12 150,00 14,70 6,00 Paralelepípedo

Berço não operacional

13 87 a 92 A-13 150,00 14,70 6,00 Paralelepípedo

Berço não operacional

14 92 a 97 A-14 156,40 14,70 5,80 Paralelepípedo

Berço não operacional

15 99 a 105 A-15 215,70 14,80 5,00 Paralelepípedo

Berço não operacional

Fonte: PDZ do Porto do Recife, 2011.

5.3.5 – Área de armazenagem

O Porto do Recife possui um conjunto de armazéns que totalizam uma área útil de

57.769,27 m², distribuídos conforme a tabela a seguir.

82

Tabela 5.3 – Porto do Recife - Relação dos armazéns

Armazéns Área (m²) Dimensões(m) Armazéns Área (m²) Dimensões(m)

01 1.789,00 90,00x19,88 11 1.966,90 100,25x19,62

03-B 2.861,00 140,75x20,33 12 1.666,48 86,00x20,00

05 7.507,00 150,05x50,03 13 1.666,48 85,68x19,45

06 7.507,00 150,05x50,03 14 2.375,55 85,29x19,44

07 2.055,86 105,7x19,45 15 1.643,75 85,61x19,20

08 1.847,92 95,5x19,35 16 3.656,02 150,33x24,32

09 2.069,75 105,6x19,60 17 7.175,37 185,41x38,70

10 1.976,66 100,95x19,6 18 6.004,50 150,00x40,03 Fonte: Porto do Recife

Os Armazéns de 09 a 17, que totalizam uma área útil de 24.196,96 m² estão

disponibilizados para o Programa de Revitalização de Áreas Portuárias – REVAP, do

Porto do Recife, portanto, fazendo parte do porto não operacional.

5.3.6 – Terminais de cargas e passageiros

O Porto do Recife possui cinco terminais de operação os quais apresentam as

seguintes características:

a) Terminal açucareiro: localizado na parte norte do porto, no berço 00, possui uma

capacidade estática de armazenagem para açúcar a granel de 180.000 ton. e opera

com equipamento do tipo shiploader, com capacidade nominal de 1.000 ton./h. O

terminal é usado e operado pelo Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool no

Estado de Pernambuco - SINDAÇÚCAR;

b) Terminal de granéis sólidos – Silo Portuário: localizado também na parte norte do

porto ao lado terminal açucareiro, no berço 01, possui capacidade estática de 25.000

ton. de armazenagem e equipamentos pneumáticos para descargas de cereais com

capacidade nominal de 400 ton./h. O terminal atualmente possui um contrato de

operação com o Centro de Abastecimento Alimentar de Pernambuco – CEASA-PE;

c) Terminal de carga geral e neogranéis: localizado na parte mais central do porto,

no trecho entre os berços dois e cinco. Este terminal opera na movimentação de

cargas gerais como fertilizantes, barrilha, bobina de papel, contêineres e veículos

pelo sistema roll on roll off e é operado por diversos operadores;

d) Terminal de granéis sólidos II: localizado no trecho do berço seis, abriga um

conjunto de silos metálicos com capacidade estática de armazenagem para 18.000

83

ton. de cereais. Arrendado pela empresa Rodhes S/A, é principalmente por onde

acontece a descarga de cevada;

e) Terminal de passageiros: o atual receptivo de passageiros do Porto do Recife

está localizado mais ao sul do porto e funciona nos armazéns sete e oito. Estes

armazéns desativados desde o ano 2000 para operação com cargas, deverá sofrer

uma segunda intervenção com vista a se transformar em um moderno e eficiente

terminal de passageiros até o final do ano de 2013.

Segundo informações PORTO do RECIFE (2012) serão investidos R$

25.767.937,30 para reformar o armazém 08 e construir a sala Pernambuco. O

primeiro prédio será constituído de três pavimentos. O primeiro pavimento abrigará

um estacionamento para 30 carros. O segundo, uma arena de manifestações

culturais e o check-in e o terceiro abrigará os órgãos envolvidos, como Polícia

Federal, ANVISA, Receita Federal e administração local, além de uma passarela de

ligação com o armazém 07.

O antigo galpão 07 abrigará os espaços de lazer e serviços, com restaurantes,

lanchonetes, cafés e lojas, salas de embarques e desembarques, com raio X,

alfândega, esteiras rotativas e portões de chegada e partida com área externa de

estacionamento para 150 veículos. A arquitetura original do Armazém será

preservada.

Paralelamente, serão reformados cerca de 260 m de cais localizados à frente dos

armazéns 07 e 08, com vistas a promover melhor atracação e acomodação aos

transatlânticos que chegarão ao porto, um investimento estimado em torno de R$ 60

milhões. A previsão para a conclusão dessas obras é fevereiro de 2013.

84

Figura 5.5 – Porto do Recife - Atual terminal marítimo de passageiro

Fonte: Porto do Recife

5.3.7 – Retroárea e retroporto

Os pátios descobertos que compõem a retroárea do porto são construídos em

pavimentação rígida de concreto protendido e destinados à acostagem de carga

geral pesada, contêineres e granéis sólidos.

O retroporto é um conjunto de áreas disponíveis para arrendamento que estão

localizadas próximas ao porto e que sofrem influência direta deste. Situadas na rua

Dr. Antônio Peixoto, estão atualmente arrendadas pelo posto FVV Ltda, área não

operacional, e pelas empresas Fertine Ltda, SCS Ltda, Agemar Ltda, A Máquinas

Ltda e Camil S/A. O retroporto ainda possui área ocupada por um Centro de

Manutenção do corpo de Bombeiros e pela Cruz do Patrão.

5.3.8 – Estrutura administrativa e operacional

Com a implantação da lei nº 8.630/93 a gestão do Porto do Recife adquiriu um novo

formato, o qual se caracteriza por um modelo misto de atuação, com a participação

do setor público na gestão e a setor privado na operação. São entes relevantes do

modelo: a Autoridade Portuária, o CAP, o OGMO e os Operadores Portuários:

85

a) Autoridade Portuária: O Porto do Recife é administrado pela empresa Porto do

Recife S/A, sob o convênio de delegação nº 02/2001, de 1º de junho de 2001,

firmado entre o Estado de Pernambuco e a União, por intermédio do Ministério dos

Transportes.

A empresa Porto do Recife S/A, está definida como uma sociedade de economia

mista, instituída pela lei estadual nº 11.735 de 30 de dezembro de 1999, com seu

estatuto aprovado pelo decreto estadual nº 22.645 de 19 de setembro de 2.000. O

atual quadro diretivo da empresa é composto de um Diretor-Presidente, um Diretor

de Administração e Finanças, um Diretor de Operações e Engenharia e um Diretor

de Relações Comerciais. O Anexo A desta dissertação apresenta o organograma

administrativo do porto;

b) Além da Empresa Porto do Recife S/A, que cumpre o papel de Autoridade

Portuária do porto, é parte integrante da gestão do porto, o CAP, que reúne a

participação de toda a comunidade portuária para exercer suas funções de

regulação e fiscalização, visando sempre o aumento da produtividade, redução dos

custos, de modo a garantir a competitividade do porto;

c) O OGMO é outra entidade que exerce importante função na operação do porto,

sendo responsável pelo fornecimento, treinamento e qualificação da mão de obra

operacional. O quadro abaixo demonstra o contingente atual de mão de obra do

OGMO para o Porto do Recife.

Tabela 5.4 – Porto do Recife - Trabalhadores portuários do OGMO

Atividades Quantidade de Trabalhadores Trabalhadores Ativos

Cadastrado Registrado Sub Total

Cadastrado Registrado Total

Arrumador 20 234 254 3 177 180

Conferente 1 39 40 1 36 37

Estivador 4 211 215 4 188 192

Multifuncional 111 59 170 90 59 149

Portuário 5 237 242 1 177 178

Vigia 1 1 2 1 0 1

TPA 213 0 213 212 0 212

Total 355 781 1.136 312 637 949

Fonte: PDZ do Porto do Recife, 2011.

86

f) Os Operadores Portuários foram introduzidos na gestão portuária, com o propósito

de melhorar o desempenho dos portos na movimentação de carga, ficando

obrigados a investir em máquinas, equipamentos e soluções administrativas e

operacionais. Em 2011, dados do Porto do Recife, registram a atuação de 17

operadores, os quais foram responsáveis pela movimentação de 100% das cargas,

além dos arrendamentos de áreas necessárias para o desenvolvimento de suas

atividades.

5.3.9 – Arrendamentos e tarifas

O arrendamento de áreas e a cobrança de tarifas são as duas formas pelas quais os

portos promovem a remuneração de seus ativos e dos serviços prestados aos

usuários dos portos.

O programa de arrendamento de áreas e instalações portuárias da Autoridade

Portuária objetiva, entre outros desafios, um melhor aproveitamento da infraestrutura

portuária, melhoria no desempenho operacional e de serviços, ganhos de redução

nos custos e, consequente redução dos preços dos serviços prestados no porto,

bem como a revitalização de áreas portuárias. Nesse sentido, os arrendamentos

são precedidos de um processo de licitação, com contratos assinados pelos

vencedores com vigência de 25 anos, renováveis por igual período, tudo definido de

acordo com a lei 8.630/93 e 8.666/93 e suas alterações e normatizações.

Os arrendatários do porto são importantes, não apenas pela contribuição dos

aluguéis das áreas arrendadas, mas principalmente pelos investimentos em

modernização, ampliação e adequação dos espaços ocupados, necessários para o

atendimento das atividades dos seus empreendimentos. Atualmente, o Porto do

Recife possui 19 contratos de arrendamentos de áreas e instalações portuárias

localizadas dentro da área do porto, os quais estão descritos no anexo B deste

trabalho.

O programa de arrendamento deve obedecer a orientação do PDZ, que entre outros

direcionamentos, deve indicar plantas das áreas, com descrição das características

e destinações, com vistas a ser obter a melhor ocupação. As resoluções editadas

pela ANTAQ estabelecem que os arrendamentos devam ser precedidos de estudos

87

de avaliação do empreendimento, mas não apresentam procedimento para cálculo

do preço mínimo do arrendamento.

Essa lacuna tem proporcionado grandes dificuldades na renovação dos contratos de

arredamentos porto a fora, que, via de regra, encontram-se com os contratos de

arrendamentos defasados, não remunerando adequadamente o ativo portuário.

A gestão do Porto do Recife, através da renovação dos contratos em vias de

vencimento e da efetivação de novos arrendamentos, tem o desafio de melhorar a

remuneração dos ativos do porto e com isso incrementar receitas tão necessárias

para o equilíbrio financeiro da instituição. Por outro lado, a política de arrendamento

tem que ser atrativa à iniciativa privada, tanto pelo potencial do negócio, como

também pelo preço equivalente do mercado.

Outro grande desafio da autoridade portuária é resolver os litígios de áreas dentro

do porto, que são alvos de contenda judicial. O caso mais notável diz respeito ao

terminal açucareiro, que tem a propriedade reivindicada na justiça pelo

SINDAÇÚCAR e pelo Porto do Recife, e que por isso, tem o pagamento do

arrendamento suspenso por força de liminar judicial.

Outro caso importante trata-se do silo portuário, atualmente com contrato

operacional com a CEASA S/A, que sendo empresa de economia mista não pode

exercer a função de operador portuário. No futuro, esta instalação deverá ser licitada

e arrendada na forma do estabelecido em lei.

Em relação às tarifas portuárias, compete à administração do porto fixar os valores e

efetuar a arrecadação, após a aprovação e homologação do CAP. As propostas de

rejustes tarifários elaboradas pela administração portuária deverão ser

encaminhadas para análise, e aprovação da ANTAQ, numa periodicidade mínima de

um ano, para em seguida serem submetidas à aprovação e homologação do CAP.

Estas proposta devem justificar as variações de custos da operação que não podem

ser absorvidas pelos ganhos de produtividade das operações portuárias, devendo

assim, ser repassadas aos usuários do porto. Essas variações de custos

normalmente estão relacionadas a aumento com folha salarial de empregados,

aumentos com energia, telefone, água, contratos, etc., no entanto, é recomendável

prudência e bom senso nessa prática, verificando-se sempre o mercado

concorrencial, principalmente aqueles concorrentes mais diretos.

88

O atual conjunto de tarifas do Porto do Recife está em vigência desde 1º de junho de

2009, homologada pela deliberação nº 02/2009 do CAP na 173ª reunião ordinária,

realizada no dia 21 de maio de 2009, portanto há quase três anos. A falta de

atualização nas tarifas do porto decorre da avaliação da própria administração, que

considera inoportuno o aumento de tarifas, mesmo necessária, devido a pouca

capacidade de atração do porto a novos negócios em função das suas limitações,

inclusive podendo até ameaçar algumas operações do atual movimento do porto.

Vale ressaltar que o conceito de tarifa alta é relativo, na medida em que operações

eficientes renovam o ciclo operativo mais rapidamente, repercutindo em ganhos de

produtividade e melhorando a relação custo benefício do serviço prestado.

5.4 – Porto do Recife - Movimentação portuária

A entrada em operação comercial do Porto do Recife em 1918 foi um ato simbólico

da maior relevância para a sociedade Pernambucana. Significava o fim de uma era

de atrasos e dificuldades para o desenvolvimento local e um marco inexorável para

um novo tempo de avanços para o Estado e principalmente para a cidade do Recife.

Foi um evento planejado, concorrido, com a presença das maiores autoridades

federal, estadual, municipal, civil, militar, eclesiásticas, corpo consular, associação

comercial e Imprensa. Todos celebrando em alto regozijo o novo momento e o futuro

promissor à vista.

Segundo ALMEIDA (2000), o porto do Recife no ano de 1594, portanto, final do

século XVI, já recebia cerca de 100 navios em seu atracadouro, os quais traziam

produtos da mais sofisticada manufatura da época para a vila de Olinda e levavam o

nosso precioso pau brasil e açúcar para Portugal e Europa.

Segundo o Porto do Recife, com a abertura dos portos, em 1808, o Porto do Recife

veio a se tornar o porto de maior movimento da colônia, chegando a exportar 12.801

caixas de açúcar no ano seguinte.

Segundo SETTE (1945), pelo Porto do Recife desembarcaram ilustres

personalidades da vida nacional como os imperadores Dom Pedro II e Dona Teresa

Cristina, em 1859. Em 1905, foi a vez de Santos Dumont, que de regresso para

Paris, onde demonstraria seus novos triunfos aeronáuticos, aportou no porto, sem

89

conseguir desembarcar, tanto era a euforia dos moradores em saudá-lo, por elevar o

Brasil tão alto, com o seu revolucionário invento.

Estes relatos vêm a corroborar com a afirmativa de muitos autores, que se

dedicaram a estudar o Porto do Recife, os quais ressaltaram o porto como de uma

importância fundamental para o desenvolvimento da vida econômica e social da

cidade do Recife e o Estado de Pernambuco, portanto a concretização da reforma

do porto veio atender ao anseio dos pernambucanos por mais desenvolvimento.

5.4.1 – Um breve relato da movimentação de cargas da inauguração até

década de 70

Segundo CASTRO (1977), em sua análise referente à movimentação portuária no

período de 1919 a 1976, constata-se que, embora a movimentação de mercadorias

ao longo desse tempo não fosse linear, o crescimento pode ser considerado notável,

principalmente a partir dos anos 60.

Os dados analisados pelo autor demonstraram que o maior índice de crescimento se

deu na navegação de cabotagem, pela operação de importação, principalmente a

partir do ano de 1959, evoluindo de um nível de 380.000 ton./ano de produtos

importados para um patamar de 1.450.000 ton./ano em 1976, isso devido

principalmente ao trigo e aos derivados de petróleo, que passaram em grande parte

a ser importados do próprio país. O movimento de exportação via cabotagem não

respondeu na mesma medida ao longo da série, mantendo-se em níveis abaixo de

200.000 to/ano, com o seu melhor momento registrado em 1959, quando atingiu um

pico de cerca de 300.000 ton.

A navegação de longo curso teve o seu crescimento mais expressivo nos últimos 12

anos da série, ou seja, a partir do ano de 1964, quando as exportações evoluíram de

um patamar de cerca de 300.000 ton./ano, para alcançar níveis de 1.000.000

ton./ano, em 1976. Acompanhando essa tendência as importações evoluíram de

patamares de 300.000 para 800.000 ton./ano no mesmo período. Portanto, no ano

de 1976 a movimentação do porto atingiu patamares em torno 3.500.000 ton./ano.

90

5.4.2 – Movimentação de cargas nas décadas de 80 e 90

Dados dos anos 80 e 90, décadas de dificuldades para a economia do país e

também para os portos nacionais, divulgados pelo boletim estatístico do porto,

evidenciam importantes informações sobre a movimentação de cargas no Porto do

Recife nesse período.

Primeiro, é oportuno destacar a ocorrência da queda acentuada na movimentação

total de cargas de 4.282.070 de 1980, para 3.399.281 ton. no ano 1990, uma queda

de 21% no período, representando em valores absolutos 876.789 ton./ano, já

indicando possíveis problemas na capacidade operacional do porto em competir

num mercado em fase inicial de transformações econômicas, que viriam a se

aprofundar mais adiante com o processo de globalização da economia brasileira.

As operações de embarque e desembarque, apesar da queda já mencionada

mantiveram-se na mesma proporcionalidade, ou seja, os desembarques com 63%, e

os embarques com 37%, condição que vai confirmando o perfil importador do porto.

Em relação ao tipo de navegação, nota-se que a navegação de longo curso perdeu

fôlego, cedendo participação de 58 para 53%, enquanto a cabotagem, mesmo com

perda de volume absoluto, evoluiu em participação de 42 para 47%.

No que diz respeito à movimentação de cargas por espécie, observa-se a

predominância dos granéis sobre as cargas gerais, também confirmando a aptidão

do porto para o transporte desse tipo de carga. Os granéis líquidos se mantiveram

praticamente com a mesma participação, caindo de 45, em 1980, para 44% em

1990. Os granéis sólidos por sua vez, apresentaram uma queda maior, perdendo

participação do nível de 37, para 34% no mesmo período, enquanto o movimento de

cargas gerais registrou ganhos relativos, subindo de 18, para 22%. A tabela seguinte

demonstra essa movimentação.

91

Tabela 5.5 – Porto do Recife - Movimentação de cargas - anos 80 e 90 – Ton.

1 - OPERAÇÃO 1980 % 1990 % % Var

EMBARQUE 1.582.568 37 1.246.209 37 -21

DESEMBARQUE 2.699.502 63 2.153.072 63 -20

TOTAL 4.282.070 100 3.399.281 100 -21

2- NAVEGAÇÃO

CABOTAGEM 1.805.138 42 1.607.505 47 -11

LONGO CURSO 2.470.932 58 1.791.776 53 -27

TOTAL 4.276.070 100 3.399.281 100 -21

3 - ESPÉCIE

CARGA GERAL 784.225 18 756.292 22 -4

GRANEL LÍQUIDO 1.925.527 45 1.491.508 44 -23

GRANEL SÓLIDO 1.566.818 37 1.151.481 34 -27

TOTAL 4.276.070 100 3.399.281 100 -21

Fonte: Boletim do Porto do Recife Dez 80/90 - Elaboração: Própria

Os principais produtos da pauta de importação na navegação de longo curso nesse

período foram trigo, milho, adubos e derivados de petróleo, enquanto na cabotagem

os destaques ficaram por conta dos derivados de petróleos e óleo vegetal.

Na pauta de exportação os destaques ficaram para o açúcar, melaço, ferro, aço e

suas ligas e outras poucas mercadorias.

Segundo LIMA (1999), o porto do Recife, na década de noventa, apresentava uma

das melhores estruturas portuárias do Nordeste, traduzidas em boas condições de

estocagem, comprimento de cais de atracação, dique de proteção, etc..Todavia, seu

maior problema, que reduzia suas potencialidades, era a falta de dragagem

permanente de seu canal de acesso.

5.4.3 – Movimentação de cargas após a implantação da Lei 8.630/93

A Lei 8.630/93, denominada lei de modernização dos portos, foi instituída com o

propósito de conferir a estrutura portuária brasileira mais dinamismo e eficiência, de

modo que o país, inserido no comércio internacional, pudesse aproveitar melhor as

oportunidades de negócios mundo a fora.

92

A lei preconizava a saída do governo da operação dos portos, ao mesmo tempo em

que flexibilizava a entrada da iniciativa privada para esse fim, culminando com o

surgimento de um modelo misto de atuação, no qual a gestão dos portos públicos

continuaria com o governo, mas a operação dos terminais, dentro e fora da área dos

portos organizados passaria para a gestão da iniciativa privada.

Após esse evento os portos do Brasil passaram por profundas transformações, as

quais produziram ganhos substanciais nas suas operações, com expressivas

reduções de custos operacionais, melhorias no desempenho e na qualidade dos

serviços ofertados aos seus usuários (TREVAS, 2005).

O Porto do Recife, assim como os demais portos públicos do Brasil, fizeram a

implantação dessa lei ao longo da década de 90, instituindo as entidades

preconizadas por ela, como os CAPs, os OGMOs, assim como arrendamento de

áreas portuárias e a qualificação de operadores portuários que passaram a compor

a nova face da estrutura administrativa do porto.

Segundo dados do anuário estatístico da ANTAQ (2004) no período de dez anos

após a implantação dessa lei, o movimento de cargas nos portos públicos e

terminais privados do Brasil, registrou uma evolução de 360.418.100 ton. em 1994

para 570.790.055 ton. em 2003. Um crescimento de 58,37% no período, com média

anual de 5,2%.

No que se refere apenas à movimentação dos portos públicos esses registros

apontaram um crescimento de 104,24% no período, com uma média anual de 8,3%,

saindo de um patamar de 99.893.583 ton. em 1994 para 204.023.692 ton. em 2003.

Por sua vez, os terminais privados apresentaram uma evolução menor, na ordem de

40,78%, partindo de patamar de 260.524.517 ton. em 1994 para 366.766.363 ton.

em 2003, com média anual de 3,9%. O crescimento substancial na movimentação

dos portos públicos refletiu as mudanças ocorridas no setor, com a implantação

dessa lei.

Evidentemente, os resultados variaram porto a porto. A tabela seguinte demonstra à

movimentação de carga no Porto do Recife, no período referenciado e revela um

desempenho declinante, em que pese algumas flutuações positivas no eixo da

média ao longo da série, indicando que os efeitos positivos preconizados por essa

93

lei, alcançados em vários outros portos públicos do país, não foi alcançado pelo

Porto do Recife. A variação da movimentação de carga ponto a ponto no período foi

positiva em apenas 3,8%, com um crescimento médio anual de apenas 0,4%.

Tabela 5.6 – Porto do Recife - Movimentação geral de cargas – Ton.

Ano Carga

geral

Granel

sólido

Granel

Líquido Contêiner Total

1994 466.298 1.432.640 273.947 133.330 2.306.215

1995 668.783 2.102.988 246.164 155.048 3.172.983

1996 404.162 1.401.111 239.557 186.390 2.231.220

1997 319.530 1.353.845 256.845 208.846 2.139.066

1998 291.582 1.809.570 298.306 217.220 2.616.678

1999 244.252 1.379.901 244.171 291.964 2.160.288

2000 160.542 1.728.171 186.836 281.174 2.356.723

2001 180.741 1.484.972 48.505 364.783 2.079.001

2002 262.279 1.164.633 25.787 76.807 1.529.506

2003 233.677 1.479.735 23.497 657.596 2.394.505

Fonte: Porto do Recife – ANTAQ

Observa-se claramente que os fluxos de granéis líquidos entraram em declínio ano a

ano para atingir níveis ínfimos em 2003. A razão para esse declínio decorreu, por

motivos de segurança, da transferência da tancagem de combustíveis para o Porto

de Suape.

Em relação à movimentação de carga geral nota-se uma tendência de queda

sistemática até o ano de 2000, a partir daí ocorrendo o inicio de uma recuperação,

embora para patamar bastante inferior ao ano base da série.

A movimentação de Contêineres apresentou um fluxo de crescimento gradual e

consistente até o ano de 2001, para no ano seguinte, registrar queda abrupta,

praticamente zerando esse fluxo no porto, com uma recuperação surpreendente no

ano de 2003. A explicação para o fato é que, no ano de 2002, foi implantado o

terminal de contêineres em Suape, que, com uma infraestrutura melhor, atraiu quase

todo o fluxo de contêineres do Porto do Recife. Todavia, problemas operacionais no

terminal de contêineres em Suape proporcionou o retorno desse fluxo ao Porto do

Recife no ano seguinte.

94

Em relação à movimentação de granéis sólidos observa-se uma certa estabilidade

ao longo da série, mesmo com flutuações no eixo da média. Por esse

comportamento e também pelo volume da operação, pode-se afirmar que a

movimentação dos granéis sólidos deu sustentação ao porto nesse período.

Analisar o desempenho na movimentação de cargas do Porto do Recife

isoladamente, pode não dar a real noção da dificuldade de adaptação dos portos ao

novo modelo institucional dos portos públicos brasileiros, e, por conseguinte, com

que rapidez estes se apropriaram dos benefícios da transição de um velho para um

novo modelo. Nesse sentido, o interessante seria compará-lo com outros portos do

Nordeste, com características semelhantes e que passaram pelo mesmo processo,

como no caso, os Portos de Maceió, Fortaleza e Salvador, que por suas

características de urbanidade se assemelham muito ao Porto do Recife, além do

Porto de Suape que, por estar localizado no Estado de Pernambuco tem exercido

uma concorrência direta com o mesmo.

A Tabela 5.7 e o gráfico 5.1 demonstram o desempenho na movimentação de

cargas desses portos que apresentaram desempenhos diferentes. O Porto do

Recife, nesse período, apresentou o pior desempenho do grupo, apesar de partir de

uma base maior, à exceção da base do Porto de Fortaleza. As flutuações ano a ano

demonstram nitidamente uma tendência de queda na operação do porto.

O desempenho de Suape de longe foi o melhor do grupo. O porto apresentou

crescimento de 104,67% no período, com incremento absoluto na movimentação de

cargas nos anos extremos da série em 1.597.982 ton.. Importante verificar que

nesse período, Suape absorveu praticamente toda a movimentação de granéis

líquido do Porto do Recife, bem como a movimentação de contêineres, que como já

dito anteriormente retornou de forma pontual no ano de 2003 ao Porto do Recife. O

desempenho de Suape refletiu sua melhor infraestrutura, caracterizada por canais e

berços profundos, adequados ao novo perfil de navios que circulam no transporte

marítimo mundial.

Os Portos de Salvador e Maceió apresentaram incrementos, apesar de algumas

flutuações no transcorrer do período. Salvador, a partir de 1998, ganhou uma

trajetória de crescimento consistente até se posicionar em um novo patamar de

95

movimentação, com ganhos de 53,81% nos extremos da série. Maceió apresentou

queda nos primeiros anos da série, mas a partir de 1999 entrou em recuperação,

finalizando o período com um crescimento de 56,1%.

Quanto ao Porto de Fortaleza, os registros revelam uma tendência de crescimento

ao longo da série, porém com uma queda significativa ocorrida no ano de 2003, o

que afetou negativamente a medição de crescimento ponto a ponto da série, que

ficou em modesto 10,36%. Vale ressaltar que à exceção de Suape, apenas o Porto

de Fortaleza tem movimentação superior a 3.000.000 de ton. anuais.

A movimentação de cargas dos portos analisados indica que houve crescimento no

período, porém esse crescimento ficou abaixo da média nacional dos portos

públicos, a exceção do o Porto de Suape que registrou uma média de crescimento

de 8,3% ao ano.

Tabela 5.7 – Movimentação de cargas nos portos do Recife, Suape, Maceió,

Salvador e Fortaleza – Ton.

Anos Recife Suape Maceió Salvador Fortaleza 1994 2.306.215 1.526.671 1.830.678 1701.477 2.780.247

1995 3.172.983 1766.747 2.612.051 1.607.446 3.057.318

1996 2.231.220 3.223.832 2.323.204 1.634.512 3.091.278

1997 2.139.066 3.778.384 2.342.903 1.572.509 3.139.876

1998 2.618.678 4.074.506 2.082.025 1.402.027 3.426.988

1999 2.160.288 3.723.125 1.865.276 1.789.021 3.263.077

2000 2.356.723 3.900.147 1.957.251 1.992.246 3.632.385

2001 2.079.001 4.917.522 2.529.831 1.939.383 3.457.155

2002 1.529.506 4.226.363 2.728.408 2.334.492 3.612.534

2003 2.394.505 3.124.653 2.857.620 2.617.111 3.068.272 Fonte: ANTAQ Elaboração: Própria

96

Gráfico 5.1 – Movimentação de Carga nos Portos do Recife, Suape, Maceió,

Salvador e Fortaleza – Ton.

Fonte: ANTAQ Elaboração própria

5.4.4 – Movimentação de cargas no período de 2004 a 2011

A Tabela 5.8 mostra o fluxo de carga do Porto do Recife no período acima

mencionado e confirma o comportamento decrescente, já verificado no período

anterior, principalmente a partir do ano de 2005, com quedas sucessivas e

significativas até o ano de 2009, acumulando perdas de 31,24% nesse intervalo de

tempo. A partir do ano de 2010 o porto apresentou uma leve reação, acumulando

ganhos em 2011 que restabeleceram o patamar de movimentação de 2008, ano pré-

crise econômica mundial.

Contudo, essa recuperação não foi suficiente para restabelecer a movimentação de

2.429.381 ton. do ano de 2005, ano de melhor desempenho no período. Apesar

disso, o ano de 2011 confirmou uma tendência, mesmo modesta, de recuperação do

porto, com um crescimento de 7,47% em relação a 2010 que já registrara um

crescimento de 11,41% em relação a 2009. Essa recuperação pode ser creditada à

ocorrência da movimentação de novos produtos pelo porto, como por exemplo, a

importação de veículos no sistema roll on roll off e também ao retorno da

movimentação de cargas em contêineres, interrompidas desde o ano de 2004.

A movimentação de carga geral nos dois últimos anos da série apresentou

movimento crescente, muito em função de novas operações no porto, que tem se

97

revelado atrativo para movimentação de veículos, máquinas e equipamentos.

Importante destacar o fim da movimentação de contêineres a partir de 2005, com

retorno em 2011, onde o registro dessa operação, foi atribuído ao grupo cargas

gerais.

Em relação a movimentação de granéis sólidos verifica-se uma queda a partir do

ano de 2008, ocasião em ocorreu a transferência do moinho da empresa Bungue

S/A para Suape. De toda sorte, a movimentação de granéis sólidos continua a

representar a maior movimentação do porto garantindo-lhes sua viabilidade. No ano

de 2011 representou 75,91% do volume total, menos que os 80,81% do ano de

2004.

Tabela 5.8 – Porto do Recife - Movimentação de cargas 2004 a 2011 – Ton.

Ano Carga

Geral

Granel

Sólido

Granel

líquido

Contêiner Total

2004 317.269 1.799.727 48.659 61.344 2.226.999

2005 332.260 2.039.146 57.975 - 2.429.381

2006 282.795 1.943.865 70.617 - 2.297.277

2007 357.583 1.954.033 74.127 - 2.385.743

2008 376.488 1.561.911 54.271 - 1.992.670

2009 313.633 1.354.982 1.821 - 1.670.436

2010 371.028 1.463.001 26.952 - 1.860.981

2011 459.741 1.518.178 22.088 - 2.000.007

Fonte: Porto do Recife

A tabela 5.9 trata da movimentação de cargas do porto por sentido de operação.

Nessa modalidade de fluxo, a operação de desembarque se manteve ao longo da

série com maior participação em relação aos embarques. No ano de 2004 os

desembarques participaram com 57,65% na movimentação total, enquanto os

embarques representavam 42,35%. Em 2011, os desembarques subiram para

60,43% de participação, enquanto os embarques caíram para 39,57%, ratificando a

sua já conhecida característica de porto importador.

98

Tabela 5.9 – Porto do Recife - Movimentação de cargas por Operação – Ton.

Anos Desembarque Embarque Total % Evolução 2004 1.283.865 943.134 2.226.999 -

2005 1.311.643 1.117.738 2.429.381 9,09

2006 1.445.541 851.736 2.297.277 -5,43

2007 1.633.539 752.204 2.385.743 3,85

2008 1.292.428 700.242 1.992.670 -16,48

2009 977.825 692.611 1.670.436 -16,17

2010 1.045.111 815.870 1.860.981 11.41

2011 1.208570 791.437 2.000.007 7,47 Fonte: Porto do Recife e ANTAQ Elaboração: Própria

No que se refere à movimentação de cargas por tipo de navegação, apresentada na

tabela 5.10, os dados dos primeiros anos iniciais estão divididos apenas nas

modalidades de cabotagem e longo curso. A navegação atribuída ao Mercosul está

incluída no tipo longo curso.

É importante destacar a movimentação de cargas pela navegação de longo curso no

porto, que em 2005 representou 67,51% de participação, enquanto as navegações

de Mercosul e de cabotagem participaram com 21,66 e 10,83%, respectivamente.

Em 2011, os dados definem uma participação de 73,12% para a navegação de

longo curso, 17,42% para a navegação do Mercosul e 9,46% para a cabotagem.

Essa realidade é paradoxal, haja vista que, a infraestrutura do porto está mais

adequada a cabotagem, que opera navios de pequenos e médios calados.

Entretanto, a cabotagem se manteve inexpressiva ao longo da série, sugerindo estar

o porto, por algum motivo, fora das principais linhas dessa navegação. Em 2011 a

navegação de cabotagem apresentou uma reação positiva, embora com um

pequeno incremento de aproximadamente 85.000 ton., gerando uma expectativa

positiva de crescimento dessa modalidade para o futuro.

99

Tabela 5.10 – Porto do Recife - Movimentação de cargas por Navegação – Ton.

Anos Cabotagem Longo Curso

Mercosul Total

2004 155.803 2.071.196 - 2.226.999

2005 173.769 2.255.612 - 2.429.381

2006 248.823 1.550.968 497.484 2.297.277

2007 235.396 1.648.247 502.100 2.385.743

2008 115.239 1.440.296 437.135 1.992.670

2009 120.310 1.198.067 352.059 1.670.436

2010 104.511 1.461.227 295.243 1.860.981

2011 189.218 1.462.309 348.480 2.000.007 Fonte: Porto do Recife/ANTAQ Elaboração: Própria

Importante destacar que 2011 poderá significar no futuro, o ano da recuperação do

porto em função de alguns fatos novos e interessantes que aconteceram na

movimentação de cargas, que, consolidados nos próximos anos, contribuirão para

melhorar o desempenho do porto em todos os aspectos, mas principalmente pelo

econômico, com incremento de receita que diluirão custos fixos.

A retomada de movimentação de contêineres pela operadora Rodrimar, após sete

anos de ausência desse tipo de operação é um desses fatos. Segundo dados do

Porto do Recife em 2011 a movimentação total de contêineres foi de 7.083 TEUs,

para um volume de 94.143 ton. de cargas. A retomada da movimentação de

contêineres ocorreu a partir de outubro, portanto no último trimestre do ano, com

média do trimestre de 2.361 TEUs transportados para 3.1381 ton. em cargas

movimentadas.

Ainda sobre a movimentação de contêineres, o Porto do Recife credenciou em 23 de

novembro de 2011 a empresa Gulftainer do Brasil, para operar contêiner no porto. A

Gulftainer do Brasil é uma empresa controlada pela Gulftainer Solutions do Emirados

Árabes Unidos (EAU). A meta da empresa é movimentar entre 35 e 50 mil TEUs no

primeiro ano de operação e mais 200 mil ton. de cargas de projeto e granéis. Para

isso, a empresa está importando máquinas e equipamentos, como guindastes e

empilhadeiras para a montagem do seu terminal no Porto do Recife (PORTO DO

RECIFE, 2011).

100

Essas ocorrências geram uma expectativa positiva para a movimentação de

contêineres o ano de 2012, quando se espera que essas operações cresçam e se

consolidem ao longo dos próximos anos.

Outra novidade igualmente importante foi a importação de veículos e máquinas no

sistema roll on roll off, ausente do porto desde ano de 1999. A importação dos

veículos da marca Shineray aconteceu em novembro, quando na oportunidade

foram desembarcados 400 veículos, que foram abastecer as concessionárias da

marca por todo Nordeste e Norte do país. A expectativa dos importadores e das

autoridades do porto é que este tipo de operação se mantenha nos próximos anos.

Noticias divulgada pelo site do Porto do Recife em 02 de dezembro passado, e

confirmada verbalmente por seu gerente de negócios Sr. Carlos Vilar, informam

sobre a assinatura do protocolo de intenção entre a empresa Metro Sharcman,

representante no Brasil da marca chinesa de caminhões Sharcman e o Porto do

Recife, com o propósito de se montar um centro de distribuição da marca no porto,

para em seguida ser distribuída para os concessionários em todo o país. Os

caminhões ficarão armazenados em uma área alfandegada do porto, de

aproximadamente 1,5 hectares, com capacidade para armazenar até 250 caminhões

por vez. A previsão é importar 1,5 milhão de caminhões em 2012.

5.4.5 – Principais produtos movimentados

Os principais produtos movimentados no porto, nos últimos anos, foram açúcar a

granel e em sacos, fertilizantes, cevada, trigo, barrilha, milho, derivado de petróleo,

clínquer, cimento, papel em bobina, entre outros.

A tabela 5.11 monstra a movimentação desses produtos no porto, de 2006 a 2011, a

qual confirma a importância do açúcar para a movimentação do porto. No período

analisado, esse produto apresentou um volume acumulado de 3.934.317 ton.,

estabelecendo uma participação de 32,23% sobre o total da movimentação do porto.

Em 2011 essa participação foi ainda maior, representando 37,27% dos totais dos

produtos movimentados e 94,18% das exportações.

101

Tabela 5.11 – Porto do Recife - Movimentação de produtos – Ton.

Produtos 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Açúcar granel

350.391 316.507 424.616 459.492 585.174 581.008

Açúcar saco 172.349 200.597 255.390 207.051 217.394 164.348

Fertilizante 215.329 267.176 199.181 156.924 301.974 334.745

Cevada 194.133 193.471 238.058 204.727 238.598 223.461

Trigo 516.735 552.679 490.713 322.272 243.917 172.880

Barrilha 126.479 145.344 159.297 143.559 137.652 192.686

Petro coque 183.687 276.904 100.791 116.484 54.623 -

Milho 129.906 110.195 24.402 29.528 - 24673

Der. Petróleo

55.958 74.127 54.271 - 25.274 22.088

Clíquer 202.429 161.628 - - - 24.807

Cimento 75.034 25.459 - - - 30.416

Papel bobina

12.081 4.968 5.491 4.169 4.903 5.155

Container - - - - - 93.929

Outros 62.766 56.688 40.460 26.230 51.472 129.811

Total 2.297.277 2.385.743 1.992.670 1.670.436 1.860.981 2.000.007 Fonte: Porto do Recife

A pauta de produtos importados apresentou uma diversificação bem maior que a

pauta dos produtos exportados, com destaque para fertilizante, barrilha, cevada,

papel em bobina, cimento, coque de petróleo, entre outros na importação de longo

curso; trigo, milho e contêiner na importação do Mercosul e contêiner, derivados de

petróleo na importação de cabotagem.

Importante destacar o crescimento nas importações de fertilizantes, que evoluíram

na média anual em 9,2%, partindo de um patamar de 215.329 ton. em 2006 para

334.745 ton. em 2011. Comportamento semelhante apresentou a barrilha, que

evoluiu na média anual de 8,8%, partindo de um patamar de 126.479 ton. em 2006

para 192.686 ton. em 2011.

Em sentido contrário, o movimento de importação de trigo apresentou um declínio de

66,5% no período, uma queda média anual de 19,7%. Esse declínio, como já dito,

foi decorrente da transferência de um moinho de trigo para o porto de Suape. Outros

produtos também tiveram movimento de queda, como é caso de petro coque,

clínquer, cimento e milho, que, com declínios sistemáticos, desapareceram da pauta

de importação, para alguns deles reaparecer no ano de 2011.

102

Importante ressaltar o aspecto da sazonalidade na movimentação de cargas no

Porto do Recife, ilustrado no gráfico 5.2, que apresenta uma forte movimentação nos

primeiros e últimos meses do ano, com queda acentuada nos meses intermediários.

Tal movimento é definido pela safra da produção açucareira da hinterlândia do porto.

Gráfico 5.2 – Porto do Recife - Movimentação mensal de cargas – Ton.

Fonte: Porto do Recife Elaboração: Própria

Ainda sobre a movimentação de produtos, a distribuição espacial destes no ano de

2011 revela uma concentração de cargas em poucos grupos de produtos, com o

açúcar obtendo uma participação de 37,27% do volume total, seguido por

fertilizantes com 16,74%, cevada com 11,17%, barrilha com 9,63%, trigo com 8,64%,

contêiner com 4,67% e outros produtos com 11, 88% de participação.

Os principais destinos das exportações, foram os mercados da África, América do

Norte, América do Sul, Ásia e Europa, demarcando o foreland do porto com boa

variação de destinos. Enquanto os importadores de carga pelo Porto do Recife se

concentram fortemente dentro do estado de Pernambuco e uns poucos nos estados

da Paraíba e Alagoas, definindo assim a hinterlândia primária do porto pelo estado

de Pernambuco e os demais estados como a hinterlândia secundária.

103

5.4.6 – Movimentação de Navios

A movimentação de navios e atracações no porto, no período de 2006 a 2011, não

apresentou grandes variações, apesar da queda na movimentação de carga já

identificada neste estudo, sugerindo que os navios operaram abaixo de suas

capacidades de transportes de cargas.

Os navios cargueiros totalizaram a maior participação na movimentação do porto no

período, com um montante de 1.084 atracações, seguido dos navios graneleiros

com 675 atracações, passageiros com 430, pesqueiro com 300 e os navios de

guerra com 123. Importante ressaltar o retorno dos navios contêineiros, com

registro de 18 atracações em 2011, marcando o reinício das atividades de

movimentação de cargas em contêineres no porto que estava paralisada já alguns

anos. A tabela abaixo relata a movimentação por tipo de navios no Porto do Recife

no período de 2006 a 2011.

Tabela 5.12 – Movimentação de navios e atracações

Tipos 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Cargueiro 164 174 173 198 187 188

Graneleiro 122 119 95 96 121 122

Guerra 35 20 14 24 19 11

Passageiro 92 65 63 70 72 68

Pesqueiro 102 49 70 40 3 36

Petroleiro 19 30 27 65 61 47

Contêineiro 2 2 - - 2 18

Outros 25 22 15 28 27 16

Total 561 481 457 521 492 506 Fonte: Porto do Recife Elaboração: Própria

Em 2011 a movimentação desses navios no porto registrou um crescimento de

2,85% em relação a 2010, uma evolução definida pelo retorno dos navios

contêineiros. Em relação ao calado, observa-se no gráfico 5.3 que os navios com

calado de até 9,99 pés, representaram 32,73% da movimentação. Navios desse

porte apresentam baixa capacidade de transporte de cargas, com alto custo

operacional. A melhoria na movimentação de cargas no porto depende muito do

fluxo de navios de maior porte, como no caso, navios com calado superior a 35 pés,

os quais participaram com 24,23% da movimentação do porto.

104

Gráfico 5.3 – Porto do Recife - Participação dos navios por calado em 2011

Fonte: Porto do Recife

5.4.7 – Participação dos operadores portuários na movimentação de cargas

Toda movimentação de cargas no Porto do Recife durante o ano de 2011 foi

realizada por um conjunto de dezessete operadores portuários. Entretanto, os dados

divulgados revelam uma grande concentração em apenas sete, que juntos

totalizaram uma movimentação de 1.849.981 ton., portanto, 92,41% do total de

cargas movimentadas.

A liderança da operação de carga ficou para as usinas de açúcar, que

movimentaram 569.471 ton., seguida pela empresa Agemar, com 393.841 ton., a

Suape Navegações, com 308.710 ton, a Start Navegações com 257.053 ton., a

Fertimport, com 141.047 ton, a Rodrimar S/A com 96.671 ton., a Agência Marítima

com, 83.188 ton. e as demais com 150.026 ton. O gráfico abaixo mostra a

participação relativa dos principais operadores portuários do Porto do Recife em

2011.

105

Gráfico 5.4 – Porto do Recife - Participação dos operadores portuários - 2011.

Fonte: Porto do Recife

5.4.8 – Movimentação de passageiros

A movimentação de passageiro no Porto do Recife vem registrando aumento nos

últimos anos. A temporada 2010/2011 registrou um crescimento pequeno de apenas

2,2% sobre a temporada de 2009/2010, que vinha de um crescimento expressivo

da ordem de 35,6% sobre a temporada anterior.

A expectativa para a temporada 2011/2012, em andamento, é de crescimento maior

que 9%. Os investimentos projetados para o novo terminal de passageiros do porto,

que deve ter obra concluída antes final do ano 2013, geram expectativas otimistas

para o crescimento desta operação. O gráfico abaixo mostra a movimentação de

passageiros das últimas temporadas, sendo que os números referentes à temporada

de 2011/2012 são projeções baseada nas paradas já confirmadas até meados de

maio de 2012 (PORTO DO RECIFE, 2012).

106

Gráfico 5.5 – Porto do Recife - Movimentação de passageiros

Fonte: Porto do Recife

5.5 – Análise do desempenho operacional do Porto do Recife

Segundo a Cartilha de Orientação da ANTAQ (2003) o sistema de acompanhamento

de preços e desempenho portuário tem como objetivo prover dados e informações

necessárias às tarefas de monitoração, fiscalização e regulação atribuídas à

ANTAQ, além de dar suporte ao aprimoramento do planejamento e gestão das

administrações, operadores e arrendatários portuários.

Através das informações e dos indicadores gerados será possível a verificação dos

padrões de eficiências na prestação dos serviços, além da eficácia no atendimento

às diretrizes, políticas governamentais, e do cumprimento da missão do setor

portuário. Os indicadores podem ser classificados em três categorias:

economicidade, eficiência e qualidade.

Os indicadores de economicidade são referentes às despesas de movimentação,

carga e descarga, entrada e saída de navios, assim como despesas relativas ao

recebimento e entrega de mercadorias, de armazenamento, de ovação e desova de

contêineres.

107

Os indicadores de eficiência dizem respeito à produtividade ou às pranchas de

atendimento aos navios, à produtividade nos serviços de entrega e recebimento das

mercadorias e nos demais serviços aos importadores e exportadores.

Quanto aos indicadores de qualidade, estes podem ser divididos em atendimento e

confiabilidade. O atendimento se refere ao tempo de espera, nível de serviço,

tempos de atracação, entre outros, enquanto a confiabilidade está relacionada ao

cumprimento de escalas e de freqüência de linhas regulares de navegação e das

datas e horários de chegada e saída dos navios, incidência de faltas e avarias,

segurança das pessoas, defesa e preservação do meio ambiente, entre outros.

A divulgação dos indicadores, apurados pelo Sistema de Desempenho Portuário –

SDP/ANTAQ, permite uma avaliação por parte de clientes e usuários a respeito dos

desempenhos dos portos, além de possibilitar uma avaliação comparando-se a

qualidade dos serviços com a satisfação das necessidades e expectativas dos

usuários. Os indicadores permitem qualificar os serviços de todos os portos,

fazendo-se comparações evolutivas e estabelecendo-se benchmarks.

Mesmo considerando características e circunstâncias operacionais distintas, a

comparação de desempenho entre unidades portuárias permite uma boa visão a

respeito da eficiência e dos custos entre essas unidades portuárias. Nesse sentido,

este trabalho usará este método para aquilatar o desempenho operacional do Porto

do Recife com os portos de Suape, Maceió, Salvador e Fortaleza pelos motivos já

justificados anteriormente neste trabalho. Os indicadores usados são:

a) Quantidade de carga movimentada: é medida em tonelada, por tipo de

mercadoria, segundo a classificação da Nomenclatura Brasileira de Mercadorias –

NBM e por forma de manuseio: carga geral solta, granéis sólidos, granéis líquidos,

contêineres e roll on roll off.

b) Frequência de navios: diz respeito à quantidade de embarcações por tipo, por

terminal, que frequentam o porto.

c) Consignação média: diz respeito à característica do tamanho do navio que

frequenta o porto, para cada tipo de carga ou mercadoria, em cada terminal ou

108

conjunto de berços. É medida em tonelada por navio para carga geral, granéis, roll

on roll off e em unidades carregadas e descarregadas por navio, para contêineres.

d) Prancha média: medida em toneladas por dia, por navio, para carga geral, roll on

roll off, granéis, e em unidades por hora, por navio, para contêineres. Indica a

produtividade média de cada terminal ou conjunto de berços, medido em relação ao

tempo de atracação dos navios, tomado como tempo de atendimento.

e) Tempo médio de espera: é um indicador de qualidade do atendimento, em termos

do tempo, medido em horas e minutos, gasto em espera de atracação dos navios de

cada grupo de carga ou produto, para cada terminal ou conjunto de berços.

f) Preços relativos às tarifas portuárias: são levantados para cada terminal ou

conjunto de berços e para cada tipo de carga, a partir do montante dos valores

pagos ou devidos, conforme os seguintes componentes: utilização da infraestrutura

marítima, ou de acesso e abrigo do porto; utilização da infraestrutura terrestre,

como, cais, acessos terrestres, armazéns, vias internas, etc.; aluguel de

equipamentos para movimentação de cargas; valor pago à administração do porto

pela movimentação de carga, não inclusos nos itens anteriores.

5.5.1 – Evolução do desempenho operacional – Trigo

A tabela seguinte mostra o desempenho declinante na movimentação de trigo no

Porto do Recife e consequentemente queda na frequência de navios. Essa queda

rebaixou o porto da segunda posição em 2007 para quarta posição no ano de 2010.

A queda no volume médio de consignação indica que não apenas ocorreu uma

transferência de carga de trigo para Suape, mas que essa transferência foi de navios

com maior volume de carga.

O desempenho da prancha média do Porto do Recife na média dos três anos foi o

menor dos cinco portos analisados. Em relação ao Porto de Fortaleza, esse

desempenho foi menor que um terço, isto significando na prática, que o Porto do

Recife necessita de mais de três dias para descarregar o volume que o Porto de

Fortaleza faz em um dia.

Em relação ao tempo médio de espera, o Porto do Recife apresentou uma boa

melhora, caindo de 22 horas em 2008, para 11 horas em 2010. Tal desempenho é

109

justificado pela dragagem do porto em 2008, que melhorou as condições de acesso,

mas ainda assim o desempenho ficou abaixo dos portos de Salvador e Maceió,

embora este último tenha registrado o dobro da freqüência de navios nesse ano.

Tabela 5.13 – Indicadores de desempenho operacionais – Trigo

Indicadores Anos Recife Suape Salvador Maceió Fortaleza

Quantidade(t)

2007 552.589 - 349.596 56.953 795.946

2008 490.713 - 365.050 94.599 811.690

2009 321.782 322.743 343.954 65.002 888.922

2010 202.785 403.312 307.840 101.440 897.848

Frequência de navios(n)

2007 32 - 21 4 33

2008 27 - 23 5 38

2009 25 20 33 4 53

2010 15 26 32 10 56

Consignação Média (t/n)

2007 17.268 16.647 14.238 24.120

2008 18.175 15.872 18.920 21.360

2009 12.871 16.137 10.423 16.251 16.772

2010 13.519 15.512 9.620 10.144 16.033

Prancha Média (t/d)

2007 2018 - 2.336 3.663 8.090

2008 2.084 - 3.084 4.639 7.988

2009 2.560 3.322 2.307 3.745 6.988

2010 1.955 4.405 1.844 3.538 7.375

Tempo médio de espera (h)

2007 16 - 10 90 14

2008 22 - 20 43 27

2009 13 5 21 2 15

2010 11 23 8 6 23

Fonte: Sistema de Desempenho Portuário - SDP/ANTAQ

5.5.2 – Evolução do desempenho operacional - Fertilizante

A tabela abaixo retrata o desempenho do Porto do Recife na movimentação de

fertilizantes. O fato relevante foi a evolução de 104,24% no volume movimentado de

2010 em relação ao ano anterior, refletida também na frequência de navios que

evoluiu em 79%.

Apesar dessa evolução, o Porto do Recife foi superado pelo Porto de Salvador, que

evoluiu de um insignificante volume de 5.182 ton. em 2009, para 413.830 ton. em

2010, com uma consignação média de 14.270 por navio e uma prancha média

superior em 63% de desempenho. Em relação ao Porto de Maceió, o desempenho

do Porto do Recife foi melhor em todos os indicadores, a exceção do tempo médio

de espera, no qual o Porto de Maceió apresentou melhoria significativa de

desempenho. A comparação não pode ser feita com Suape, já que este porto não

apresentou movimentação para este tipo de produto.

110

Tabela 5.14 – Indicadores de desempenho operacionais – Fertilizantes

Indicadores Anos Recife Salvador Maceió Fortaleza

Quantidade(t)

2007 268.426 28.156 231.744 11.485

2008 200.286 57.375 173.264 7.006

2009 156.921 5.182 110.256 -

2010 320.552 413.830 162.456 -

Frequência de navios(n)

2007 24 2 22 1

2008 21 5 19 1

2009 19 2 16 -

2010 34 29 24 -

Consignação Média (t/n)

2007 11.184 14.078 10.534 11.485

2008 9.537 11.475 9.119 7.006

2009 8259 2.591 6.891 -

2010 9428 14.270 6.769 -

Prancha Média (t/d)

2007 2.364 1.652 2.512 2.405

2008 2.070 3.649 1.190 1.614

2009 2.437 1.016 1.716 -

2010 2.627 4.286 1.425 -

Tempo médio de espera (h)

2007 24 55 96 21

2008 19 23 151 1

2009 12 1 10 -

2010 18 78 15 -

Fonte: Sistema de Desempenho Portuário - SDP/ANTAQ

5.5.3 – Evolução do desempenho operacional – Açúcar em saco

A tabela 5.15 mostra o desempenho do Porto do Recife em relação à movimentação

de açúcar em saco. Para este tipo de mercadoria a comparação só foi possível ser

feita com os Portos de Suape e Maceió, uma vez que os demais portos não operam

com esse tipo de carga.

Nos três anos analisados, o Porto do Recife registrou uma média na movimentação

superior a Suape e Maceió, porém com uma consignação média abaixo dos seus

concorrentes, o que significa tráfego de navios com menor capacidade de carga . O

desempenho de prancha também foi menor que Maceió nos três anos analisados e

menor que Suape no ano de 2010. O Porto de Maceió, tal qual o Porto do Recife,

possui tradição na movimentação de açúcar, esse fato podendo justificar seu melhor

desempenho em relação aos seus concorrentes.

Em relação ao tempo de espera, o Porto do Recife apresentou um desempenho

bastante superior aos demais portos. Fato que pode ser justificado pela existência

de terminais exclusivos para movimentação de açúcar e pela melhoria de acesso

com a dragagem do porto já mencionada anteriormente.

111

Tabela 5.15 – Indicadores desempenho operacionais - Açúcar em saco

Indicadores Anos Recife Suape Maceió

Quantidade(t)

2007 186.953 124.132 143.923

2008 258.995 185.905 308.989

2009 207.805 167.935 258.879

Frequência de navios(n)

2007 22 13 11

2008 26 18 27

2009 20 13 22

Consignação Média (t/n)

2007 8.498 9.549 13.084

2008 9.961 10.329 11.444

2009 12.871 16.137 16.251

Prancha Média (t/d)

2007 801 745 1.043

2008 865 706 1.094

2009 909 1048 1453

Tempo médio de espera (h)

2007 91 76 244

2008 180 35 281

2009 16 78 64

Fonte: Relatório técnico SDP/ANTAQ (2010)

As tabelas seguintes mostram as evoluções de preços médios cobrados pelo Porto

do Recife referentes às operações de movimentação, cargas e descargas, de alguns

produtos que passam pelo porto. Segundo o relatório técnico da ANTAQ (2010),

essas informações são obtidas através de pesquisas de campo realizadas nos

portos e terminais estudados, assim como no SDP. As informações referentes aos

preços dos serviços portuários foram todas provenientes das empresas

pesquisadas, à exceção das despesas portuárias, que vieram do SDP.

5.5.4 – Evolução dos preços médios totais da movimentação de Trigo

A tabela 5.16 mostra a evolução dos preços médios totais na movimentação de trigo

a granel. Constata-se que o Porto de Fortaleza obteve o menor preço ao longo da

série analisada. Tal resultado é proveniente do desempenho da prancha média do

porto, já analisada neste trabalho, que alcança desempenho muito superior aos seus

concorrentes. O Porto do Recife obteve preços maiores aos seus concorrentes à

exceção do ano de 2009, quando foi superado pelo porto de Salvador.

112

Tabela 5.16 – Preços médios totais da movimentação de Trigo

Anos Preços Recife Suape Salvador Maceió Fortaleza

2005 R$/ton 17,15 - 8,46 - 7,17

US$/ton 7,33 - 3,61 - 3,06

2006 R$/ton 18,57 - 10,17 - 5,41

US$/ton 8,69 - 4,76 - 2,53

2007 R$/ton 26,62 - 8,45 - 5,43

US$/ton 15,03 - 4,77 - 3,07

2008 R$/ton 22,21 - 20,06 20,80 5,88

US$/ton 9,50 - 8,58 8,90 2,52

2009 R$/ton 16,51 15,10 18,25 - 7,19

US$/ton 9,48 8,67 10,48 - 4,13 Fonte: Relatório técnico SDP/ANTAQ (2010).

5.5.5 – Evolução dos preços médios totais da movimentação de Açúcar em

saco

Em relação ao preço médio total da movimentação de açúcar em saco, a tabela

abaixo mostra que o Porto do Recife apresentou o menor custo de movimentação

em relação aos portos de Suape e Maceió. Operar no Porto do Recife em 2009 foi

50% mais em conta que Suape e 14,5% que Maceió.

Tabela 5.17 – Preços médios totais da movimentação de Açúcar em saco

Anos Preços Recife Suape Maceió

2005 R$/ton 20,31 - -

US$/ton 8,68 - -

2006 R$/ton 16,8 - -

US$/ton 7,86 - -

2007 R$/ton 24,11 38,79 -

US$/ton 13,61 21,90 -

2008 R$/ton 19,06 34,72 38,32

US$/ton 8,16 14,86 16,40

2009 R$/ton 21,34 42,66 24,97

US$/ton 12,26 24,50 14,34 Fonte: Relatório técnico SDP/ANTAQ (2010)

5.5.6 – Evolução dos preços médios totais na movimentação de Fertilizantes

Em relação a Fertilizantes, a comparação só pode ser feita com o Porto de Maceió,

uma vez que os demais portos analisados neste trabalho não apresentaram

operação com este tipo de produto ou não entraram na pesquisa do produto. O

113

Porto do Recife apresentou um preço médio total superior aos apurados no Porto de

Maceió. Os preços em Maceió ficaram 16,02 e 27,19% menores que no Porto do

Recife nos anos 2008 e 2009 respectivamente.

Tabela 5.18 – Preços médios totais da movimentação de Fertilizantes

Anos Preços Recife Maceió

2005 R$/ton 11,47 -

US$/ton 4,9 -

2006 R$/ton 24,39 -

US$/ton 11,41 -

2007 R$/ton 24,57 -

US$/ton 13,87 -

2008 R$/ton 24,07 20,22

US$/ton 10,30 8,65

2009 R$/ton 31,00 22,57

US$/ton 17,80 12,96 Fonte: Relatório técnico SDP/ANTAQ (2010)

5.5. 7 – Evolução dos preços médios totais na movimentação de Malte de

cevada

A movimentação de malte de cevada só pode ser comparada com o Porto de

Fortaleza nos anos de 2007 e 2008. Constata-se que na movimentação desse

produto, o Porto do Fortaleza também obteve melhor desempenho de preços em

relação ao Porto do Recife. Em média, os preços de Fortaleza ficaram entre 33 a

40% inferiores ao do Recife.

Tabela 5.19 – Preços médios totais da movimentação de Malte de cevada

Anos Preços Recife Fortaleza

2005 R$/ton 19,17 -

US$/ton 6,19 -

2006 R$/ton 11,64 -

US$/ton 5,44 -

2007 R$/ton 12,70 7,57

US$/ton 7,17 4,27

2008 R$/ton 14,90 9,80

US$/ton 6,38 4,23

2009 R$/ton 14,18 -

US$/ton 8,13 - Fonte: Relatório técnico SDP/ANTAQ (2010)

114

5.6 – Análise do desempenho econômico do Porto do Recife

O anexo C deste trabalho apresenta o balanço patrimonial e o demonstrativo de

Resultado do Porto do Recife, referente aos anos 2008, 2009 e 2010. O

demonstrativo de resultado de 2010 relata uma receita bruta de R$ 18.978.309,85,

com um crescimento de 17,81% em relação ao ano de 2009, representando em

valor absoluto R$ 2.868.460,78.

A melhoria evidenciada na receita bruta também é percebida na gestão dos custos

operacionais, que tiveram uma queda de 20,14%, caindo de um valor de R$

9.444.595,35 de 2009 para 7.542.616,80 em 2010, queda em valores absolutos de

R$ 1.901.978,55, reduzindo assim sua participação proporcional de 58 para 40% da

receita bruta.

Em sentido contrário, as despesas operacionais evoluíram de um patamar de R$

9.028.283,03 em 2009 para R$ 11.851.973,38 em 2010, ou seja, crescimento de

31,28%, alavancados pelo crescimento das despesas gerais e administrativas que

subiram 38,73% entre os dois anos.

Essas movimentações produziram uma substancial redução no prejuízo operacional,

que caiu do patamar de R$ 4.084.330,87 em 2009 para R$ 2.453054,62 em 2010.

Uma redução significativa de 39,94%, mas ainda insuficiente para obtenção do

ponto de equilíbrio da empresa.

A situação descrita acima está bem representada através dos indicadores de

rentabilidade, demonstrados na tabela abaixo, cujos valores negativos estão

distantes de refletir contas com resultados equilibrados.

Em relação ao balanço patrimonial constata-se uma boa evolução nos índices de

liquidez e de estrutura de capital, em função das mutações do patrimônio líquido que

recebeu um aporte de capital no valor de R$ 11.462.500,00 de capital social e de

reservas de capital. Parte desse aporte foi para aplicações financeiras, aumentado

as disponibilidades e melhorando toda a liquidez da empresa.

Outra parte do aporte de capital foi para investimentos no imobilizado da empresa,

para melhorar a infraestrutura do porto. Como particularidade, a atividade portuária

depende muito da qualidade de seus ativos para crescimento e geração de receitas.

115

O aporte de capital aumentou o capital próprio da empresa com repercussões

positivas nos indicadores de liquidez, de endividamento e na composição da

estrutura de capital, porém não foi suficiente para gerar índices de rentabilidades

positivos.

Os índices de rentabilidade refletem a capacidade operacional da empresa na

geração de lucro ou prejuízo. Empresas com históricos recorrentes de prejuízos,

como neste caso, necessitam de integralização de capitais para recompor o seu

patrimônio líquido e restabelecer sua capacidade operativa.

Tabela 5.20 – Indicadores econômicos e financeiros do Porto do Recife

Índices Econômico – Financeiro 2008 2009 2010

Índices de Estrutura de capital (%)

Participação de capital de terceiros 99,25 177,89 83,17

Composição do endividamento 63,12 34,44 24,54

Imobilização do patrimônio Líquido 107,83 138,78 96,19

Imobilização dos Recursos Correntes 78,93 64,07 59,10

Índice de Endividamento (%)

Endividamento 49,82 64,01 40,59

Índices de Liquidez

Liquidez Geral 0,92 0,78 1,04

Liquidez Corrente 0,83 0,79 2,45

Liquidez Seca 0,25 0,31 1,48

Índices de Rentabilidade (%)

Margem Liquida -6,66 -28,39 -14,48

Rentabilidade do Ativo -5,99 -17,96 -7,55

Rentabilidade do Patrimônio Líquido -11,93 -49,91 -15,47 Fonte: Balanço Patrimonial do Porto do Recife

5.7 – Programa de Revitalização de Áreas Portuárias – REVAP - O Porto Novo

Porto Novo é a denominação usada pelos dirigentes do Porto do Recife para

identificar o projeto de urbanização de áreas não operacionais do porto. O projeto

visa transformar antigos armazéns de cargas e áreas adjacentes, hoje sem uso, em

um moderno pólo de turismo, serviço e lazer do bairro do Recife.

O projeto será instalado em área de revitalização portuária dentro do Porto

Organizado e está de acordo com as premissas do Programa Nacional para

Revitalização de Áreas Portuária da Secretaria de Portos, cujo objetivo trata de

promover a integração dessas áreas sem uso, com o seu entorno urbano,

116

possibilitando a utilização da paisagem marítima e gerando oportunidades de

negócios, turismo, lazer, educação e cultura para a população da cidade.

Além disso, e de acordo com SEP/PR, a implantação de projetos de revitalização

deve garantir as condições operacionais do porto, por meio de acessos terrestres e

aquaviários adequados, de forma a maximizar a eficiência, e também garantir

retorno financeiro ao porto, que deverá ser aplicado nas atividades portuárias.

Segundo informações divulgadas pelo Porto do Recife, o Porto Novo compreende a

utilização de oito armazéns e áreas adjacentes, os de números, 9, 12, 13, 14, 15, 16,

17 e 18, que serão reformados para abrigar restaurantes, bares, lojas de

entretenimento e comerciais, escritórios, além de um hotel e um centro de

convenções.

O resultado da licitação foi publicado no Diário Oficial do Estado de Pernambuco no

dia 03 de fevereiro passado, vencido pela empresa Gerencial Brasiltec Serviços

Técnicos, com previsão de assinatura do contrato para os próximos meses. Serão

investidos um total de R$ 151.060.507,00 no projeto, dos quais R$ 50.437.311,00

são referentes à remuneração pelo uso das áreas arrendadas, pagas ao Porto do

Recife, no prazo de 25 anos. O restante, R$ 100.623.196,00, será investido para a

reforma e construção dos equipamentos, com previsão de conclusão em 60 meses.

O projeto de reformas e uso dos armazéns está designado da seguinte forma:

Armazéns 9 – Implantação, manutenção e exploração comercial de escritórios para

desempenho de atividades compatíveis com o plano de desenvolvimento urbano da

cidade;

Armazéns 12, 13 e 14 – implantação, manutenção e exploração comercial de

restaurantes, bares, lojas de entretenimento e comerciais, locais para exposições e

eventos fechados;

Armazém 15 – Implantação, manutenção e exploração comercial de hotel e ou

apartamentos de longa estada, com no mínimo duzentas unidades, observando o

padrão igual ou superior a três estrelas com restaurantes, lojas, bares, salas, salas

de reunião e academia de ginástica.

117

Armazéns 16 e 17 – Implantação, manutenção e exploração comercial de centro de

convenções e exposição integrado ao hotel, com capacidade mínima para 4.000 mil

pessoas com espaços modulares para possibilitar o maior número de eventos

possíveis.

Armazéns 18 – Fica disponível para futuras ampliações.

Todos os equipamentos serão supridos com ar-condicionado, gerador, controle de

acesso por cartão magnético e com vagas de garagem compatível. O anexo D

demonstra o projeto conceitual, sendo que o projeto arquitetônico definitivo e os

projetos complementares encontram-se em fase de elaboração pela empresa

vencedora da licitação.

Ainda compõe o porto novo, mas que não entraram no programa de arrendamento

descrito acima, o armazém 10, que reformado abrigará o museu Luís Gonzaga, com

previsão de inauguração até o final do ano, e o armazém 11 que em está com a

reforma praticamente concluída, onde funcionará um centro de artesanato.

O porto novo vai reduzir a área operacional do Porto do Recife em 1062 m de cais

acostável, precisamente no trecho que vai do berço nove até o berço quinze, que

atualmente só recebiam embarcações de pequeno porte devido a pouca

profundidade comprometida pelo elevado nível de assoreamento desse trecho.

5.8 - Conclusões

O Porto do Recife nasceu para viabilizar o comércio marítimo entre a vila de Olinda e

Portugal. Suas atividades logo atraíram moradores, formando um núcleo urbano que

viria a se transformar no futuro na importante cidade do Recife.

Foi notável a contribuição do Porto para o Estado de Pernambuco e a Cidade do

Recife. Através dele a economia agroexportadora do estado cresceu, ao mesmo

tempo em que lhes proporcionou mais visibilidade, despertando o interesse de

exportadores, comerciantes e governantes pela sua reforma e modernização, que

acabou acontecendo no inicio do século XX, após séculos de tentativa.

O período pós-reforma foi de intenso crescimento para o Porto, que consegue por

muito tempo exercer um relevante papel para a economia do estado. No entanto,

118

nas últimas décadas do século passado, essa importância foi perdendo vigor para

enfim colocar o Porto sob questionamento acerca da sua capacidade de adaptação

ao novo momento da economia globalizada.

Os parâmetros competitivos da navegação marítima mudaram, forçando grandes

adequações nas estruturas portuárias de todo o mundo e é nesse novo ambiente

que o Porto deve encontrar uma saída de sobrevivência e perpetuação.

119

CAPÍTULO 6 – METODOLOGIA PARA IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS

GARGALOS DO PORTO DO RECIFE

6.1 – Introdução

Este capítulo tem como objetivo apresentar a metodologia usada neste trabalho para

identificar e analisar os gargalos e as demandas por intervenção na adequação da

infraestrutura do Porto do Recife.

Segundo GOLDENBERG apud CRUZ (2007), a metodologia proporciona o

questionamento crítico a respeito da construção do pensamento científico e está

estruturada de forma a estudar os caminhos a serem seguidos e os instrumentos a

serem utilizados para a solução de um determinado problema.

Logo, a estratégia metodológica é uma condição, um meio fundamental, para se

atingir os objetivos proposto na pesquisa científica.

6.2 – Metodologia Aplicada

Este trabalho diz respeito a um estudo de caso, e como tal se propõe a conhecer em

profundidade os problemas que interferem na competitividade do Porto do Recife e

para tanto usará várias técnicas para alcançar esse objetivo. Dessa forma, esta

investigação está composta de duas técnicas de pesquisa: a pesquisa bibliográfica e

pesquisa de campo.

A pesquisa bibiográfica, ou de fonte secundária, abrange toda bibiografia já

publicada em relação ao tema em estudo, desde publicações avulsas, boletins,

jornais, revistas, livros, pesquisa monografias, teses, material cartográfico, etc. até

meios de comunicação oral: rádio, gravações em fitas magnéticas e audiovisuais:

filme e televisão. Sua finalidade é familiarizar o pesquisador sobre tudo que foi

escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto ( MARCONI e LAKATOS, 2010.

P - 166). O resultado da pesquisa bibliográfica, que embasa este trabalho está

apresentado da seguinte forma:

a) Capítulo 2 – A evolução dos portos: o estudo faz uma abordagem sobre a

evolução dos portos e do transporte marítimo, suas transformações e adequações

diante dos novos desafios impostos pelo crescimento econômico;

120

b) Capítulo 3 – O sistema portuário nacional: o estudo faz uma abordagem sobre as

transformações do sistema portuário brasileiro decorrente da implantação da lei de

modernização dos portos;

c) Capítulo 4 – Infraestrutura e Logística portuária no Brasil: o estudo faz uma

abordagem sobre a matriz de transporte brasileira, sua estrutura e composição, bem

como o papel dos portos nesse contexto;

d) Capítulo 5 – O Porto do Recife: o estudo faz uma contextualização do Porto do

Recife, abordando sua trajetória histórica, bem com o seu papel no desenvolvimento

da cidade do Recife e o Estado de Pernambuco.

A pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações ou

conhecimento acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de

uma hipótese que se queira comprovar, ou ainda, de descobrir novos fenômenos ou

as relações entre eles ( MARCONI e LAKATOS, 2010.p- 176).

As técnicas usadas na pesquisa de campo para coleta de dados foram o uso de

entrevistas com a comunidade portuária, divididos em quatro categorias:

operadores/agentes do porto, clientes do porto, autoridades do porto, além de

especialistas portuários.

Foram realizadas 17 entrevistas, assim distribuídas: 7 entrevistas com

operadores/agentes portuários; 6 com clientes; 2 com autoridades portuárias e 2

com especialistas em logística portuária, no período de janeiro a abril de 2012.

Para as entrevistas com clientes e operadores/agentes portuários, foi utilizado

questionário estruturado com perguntas abertas, de modo a se obter dos

respondentes respostas iguais ou diferentes as mesmas perguntas (Anexos, E e F).

Para as entrevistas com as autoridades e os especialistas foi usado questionário não

estruturado, com perguntas abertas e direcionais.

Os especialistas entrevistados foram o Engenheiro Civil, Consultor em Transportes

Portos e Logística, Sr. Petrônio Sá Benevides Magalhães, autor do livro Transporte

Marítimo – Cargas, Navios, Portos e Terminais, constante na bibliografia desta

dissertação e o Especialista em Regulação Portuária e professor de logística, Sr.

José Y Plá Trevas, autor da dissertação: A importância da lei 8.630/93 para a

121

modernização dos portos brasileiros: os casos de Pecém, Suape e Salvador,

também constante na bibliografia deste trabalho.

O número de entrevistas foi definido no transcorrer da pesquisa de campo, mediante

a percepção da chegada ao estágio de saturação das repostas. O estágio de

saturação das repostas se caracteriza pela falta de informações novas e também

pelo elevado índice de repostas iguais ou semelhantes.

Outra técnica usada na pesquisa de campo foi observação não participante. Através

de vários contatos com a comunidade portuária e acompanhamentos de operações

de carga e descarga, foi possível registrar dados e informações para uso na análise

dos resultados. Importante registrar a participação como ouvinte observador, no dia

30 de março, na reunião do CAP, que discutiu entre vários assuntos de interesse do

porto, a aprovação do PDZ, o desempenho operacional do primeiro bimestre do ano,

a chegada de novos negócios e assuntos diversos relativos ao cotidiano do porto.

Foi efetuado contato com a prefeitura Municipal do Recife, através do Instituto da

Cidade Engenheiro Pelópidas Silveira, com objetivo de se obter informações sobre

o programa de mobilidade da cidade e da região metropolitana em relação ao porto.

A tabela 6.1 abaixo mostra a representatividade dos operadores/agentes e dos

clientes entrevistados, sobre a movimentação total de cargas ocorrida no Porto do

Recife, no ano de 2011. Nota-se que apenas 7 operadores/agentes foram

responsáveis pela movimentação de 92,5% das cargas que circularam pelo porto

nesse ano. Em relação aos clientes entrevistados, essa representatividade foi de

45,78%.

Tabela 6.1 – Participação das empresas entrevistadas na movimentação de

cargas no porto – 2011 – Ton.

Entrevistados Quantidade de Cargas

movimentada no porto (Ton.)

Quantidade carga movimentada pelos

entrevistados

Participação (%)

Operadores/Agentes 2.000.007 1.849.981 92,50

Clientes 2.000.007 915.508 45,78

Fonte: Pesquisa de campo

122

6.3 – Conclusões

Com a metodologia usada foi possível identificar os gargalos do Porto do Recife,

assim como as prováveis soluções, uma vez que o método teve como mérito, a

participação de diversos atores envolvidos no ambiente do porto.

A participação dos diferentes atores representando os vários segmentos do porto

trouxe a tona uma visão representativa do problema, validando o resultado

alcançado.

123

CAPÍTULO 7 – ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.1 - Introdução

Este capítulo tem como objetivo apresentar e analisar os resultados da pesquisa de

campo efetuada com autoridades, usuários do Porto do Recife e especialistas do

setor, conforme metodologia descrita no capítulo seis deste trabalho.

Os resultados indicam um conjunto de gargalos e demandas de natureza

infraestrutural, os quais se manifestam através de limitações nos acessos

aquaviário, rodoviário e ferroviário, bem como nos terminais, além de problemas

conjunturais, manifestados na ausência de políticas de planejamento e gestão do

porto. Tais problemas têm comprometido o potencial de crescimento do porto.

Considerando a real necessidade de fortalecimento da infraestrutura portuária do

Estado de Pernambuco, a partir da reinserção competitiva do porto ao novo

momento da economia do Estado, encontrar e viabilizar soluções para esses

gargalos e demandas se constitui um importante desafio estratégico para o governo

e especialistas do setor.

7.2 – Gargalos e demandas do Porto do Recife

Um dos maiores bloqueios à expansão do setor portuário nacional, que limita o

crescimento do comércio internacional e de cabotagem do país, está na falta de

investimentos ou investimentos insuficientes, direcionados a obras de atualização da

infraestrutura portuária e de acesso, bem como a equipagem dos portos (CAMPOS

NETO et al. 2009b).

Ao longo dos últimos anos, o Porto do Recife também sofreu com a falta de

investimentos em sua infraestrutura e como resultado acumulou um conjunto de

gargalos e demandas que vem interferindo negativamente na sua produtividade

deixando-o pouco competitivo na manutenção e atração de clientes.

Os gargalos são problemas que além de impedir o crescimento da atividade

portuária, pode no curto prazo comprometer a sobrevivência do porto. Enquanto

124

demandas se apresentam como investimentos necessários na modernização da

infraestrutura operacional, como elemento de promoção a ganhos de produtividade.

Entre os principais gargalos e demandas apontados pelos entrevistados, destacam-

se a necessidade de investimentos para adequação dos acessos ao porto,

equipagem e modernização dos terminais, recuperação de cais e berço, além da

necessidade de aprimoramento na gestão portuária no sentido de sua

profissionalização.

7.2.1 - Acesso aquaviário

Segundo os entrevistados, a profundidade do canal de acesso, dos berços e da

bacia de evolução é o mais importante gargalo do Porto do Recife, uma vez que

restringe a atracação de navios de grandes calados, limitando sobremaneira o

crescimento das atividades do porto.

Importante salientar o verdadeiro significado da expressão “calado”, na linguagem

do transporte marítimo. Encontram-se muitas referências confusas, mesmo entre os

especialistas da área, na utilização dessa expressão.

O calado refere-se ao navio, ou seja, é a distância vertical entre a superfície de água

em que a embarcação flutua e a face inferior de sua quilha, enquanto a profundidade

refere-se ao ambiente, ou a distância vertical entre a superfície da água e o fundo ou

leito do rio ou canal ou de qualquer outra parte de uma hidrovia ou um porto. A

diferença ou folga entre o calado do navio e a profundidade do porto é chamada de

Folga Abaixo da Quilha - FAQ ou “pé de piloto” (MAGALHÃES, 2011, p-27). É

bastante comum no meio portuário, o uso da expressão calado para se referir à

profundidade do porto.

A profundidade de projeto do principal canal de acesso do porto é de 10 m (PDZ,

2011). A profundidade dos berços e bacia de evolução varia entre 9,00 a 10,5 m,

dependendo do trecho. Descontadas a FAQ ( pé de piloto), que no porto é de 1,5 m

essa profundidade limita o acesso de navios com calados até 8,5 m, ou seja, 28

pés, na maré zero. Navios com calados acima de 28 pés tem que aguardar a subida

da maré para entrar no porto. Dependendo do porte do navio, essa espera pode

significar horas ou dias até que a maré seja suficiente para permitir o acesso dos

navios. Na maré máxima o porto recebe navios em torno de 35 pés de calado.

125

Sobre essas condições de acesso o Sr. Manoel Ferreira Jr., Diretor da Agemar

Transporte e Empreendimento Ltda, operador de cargas no Porto do Recife, desde

1983, faz as seguintes considerações:

O Principal gargalo do Porto do Recife é o calado, que limita o acesso de navios com mais cargas e, por conseguinte, aumenta o custo da operação. O importador fica penalizado com um custo maior na medida em que o porto não tem calado (profundidade) para receber navios maiores. Se um navio de 31 pés chega na maré que não é de lua, ele vai ter que esperar a maré subir 2 m para entrar. Esse tempo de espera, que pode chegar de quatro a cinco dias, pode determinar multas de 70 a 80 mil dólares pelo atraso, dependendo do contrato do navio.

Além desse efeito, a limitação de acesso desloca o porto das principais rotas de

cabotagem da costa brasileira, que operaram com navios de médio calado,

necessitando de acessos com profundidades superiores a 11 m. Ainda sobre essa

realidade o Sr. Manoel Ferreira faz a seguinte afirmação:

O calado é importante para o estabelecimento de linha de contêineres, que operam com navios maiores, que precisam de água para entrar no porto. Quando aumentamos a carga do navio, evidentemente gera-se escala, diminui-se custo e melhora-se a relação custo benefício da operação.

Portanto, a profundidade do canal, berços e bacia de evolução se constitui no

primeiro e mais importante gargalo do porto do Recife, na medida em que, como já

foi dito, limita o acesso de navios com maior fluxo de carga, ao mesmo tempo em

que estabelece um patamar de volume de operação por navio, pouco atrativo para o

dinâmico e exigente sistema de transporte marítimo da atualidade.

Historicamente, a profundidade do canal e dos berços sempre foi uma barreira para

crescimento nas operações do porto. Ainda na fase de sua construção, no início do

século passado, como já visto neste estudo, a dragagem do porto teve que ser

refeita, uma vez que a primeira tentativa não produziu os efeitos desejados.

Localizado no estuário de dois rios, o Capibaribe e o Beberibe, o Porto do Recife

sofre permanentemente com assoreamento provocado pela deposição de material

orgânico carreado pelos rios, ao longo de seus trajetos, o que determina a

necessidade de execução de dragagens periódicas como forma de manutenção da

profundidade de canais e berços. Até o ano de 1993, o porto possuía uma draga,

que anualmente fazia a dragagem do porto, mantendo assim a profundidade dos

canais e berços. A ausência de dragagens nos últimos anos produziu uma redução

126

dessa profundidade ao ponto de comprometer o acesso de navios com calado

superior a 20 pés, a partir do terceiro trecho de cais.

Em 2008, o porto foi dragado, mas o resultado alçando, apesar de ter produzido

melhorias, não atingiu o objetivo traçado. A dragagem realizada identificou uma

pedra na entrada do canal, que impede um maior aprofundamento do mesmo. Além

disso, constatada a presença de muito material duro no leito dos berços e da baía de

evolução, que nos dois casos não puderam ser retirados pelo simples processo de

dragagem.

A solução para esse problema consiste na realização de um processo de dragagem

e derrocamento simultaneamente. Nesse sentido, no dia 19 de março passado,

depois de licitada e contratada, a empresa holandesa Van Oord deu início a obra de

dragagem e derrocamento do porto, cuja meta é elevar a profundidade do canal,

berços e bacia de evolução. Serão retirados 711 mil metros cúbicos de areia, argila

e material duro, de uma área de 1,2 km². A previsão de término das obras é de 60

dias. A obra custará R$ 21,5 milhões e a solenidade de início das obras contou com

a presença do Governador e de Secretários de Estado (JORNAL DO COMÉRCIO,

2012).

O resultado esperado após esse evento é de crescimento na movimentação de

navios, além do incremento na consignação média deste, que atualmente é muito

baixa e, principalmente uma substancial redução no tempo de espera dos navios de

maiores calados. Sobre esses prováveis ganhos o Gerente de Negócios do porto,

Sr. Carlos Vilar, fez a seguinte avaliação:

Esse novo calado (profundidade) vai atender navios graneleiros com 55 a 60 mil toneladas de carga e navios de contêineres que normalmente atendem a costa brasileira, com exceção dos post panamax que transportam 5000 TEU’s. O porto ficará com mais ou menos o mesmo padrão de calado dos portos como o de Santos, Paranaguá e Itajaí, que são portos da rota de navios que vem do sul para o Nordeste, bem como no padrão de portos como o de Fortaleza e Salvador que atendem navios que passam primeiro por aqui para depois seguir para o Sul.

7.2.2 - Acesso rodoviário

Localizado no bairro do Recife, área mais central e de maior convergência no fluxo

de transporte da cidade, o Porto do Recife depende da rede viária metropolitana,

para viabilizar sua interligação com as grandes rodovias estaduais e federais que

127

cortam o Estado de Pernambuco e que interligam este a outros estados do

Nordeste, e a outras regiões do país.

Essa realidade é motivo de preocupação entre todos os entrevistados na pesquisa,

porque requer solução complexa de engenharia de tráfego, com envolvimento de

equipes multidiciplinares, atuantes nas diferentes esferas de governo e, que, quase

sempre divergem na visão de integração sustentável do porto com a cidade. Sobre

esse problema o presidente do CAP, Sr. Reginaldo Lafayte Abreu, faz a seguinte

avaliação:

O porto exerce uma hinterlândia muito grande com a cidade. Via de regra o porto nasce, depois vem a cidade. Lá na frente depois de estabelecido o porto, vem a comunidade com todos os eventos naturais da sociedade, e começa a empurrar o porto para fora da cidade. É natural que com o crescimento e com a ocupação dos espaços o trânsito fique muito complicado... E o porto tem se adequado a esse gargalo com medidas pertinentes como: tráfego de caminhões pesados somente à noite; trânsito de trabalhadores somente em turno. O gargalo existe é inevitável e está sendo administrado e a melhor forma de administrá-lo é através de uma parceria entre Autoridade Portuária, Operadores e principalmente a prefeitura da cidade do Recife.

A pesquisa identifica que no momento, para o movimento de carga existente, o fluxo

é considerado bom, a exceção de períodos de eventos como carnaval, festas

juninas e Natal, que, se mal coordenados, pode até paralisar as atividades do porto.

A maior preocupação diz respeito ao esperado crescimento na movimentação de

cargas projetado para o futuro, com as medidas em curso de dragagem e

requalificação do porto. Sobre esse problema o superintendente do SINDAÇÚCAR,

Sr. Marcelo Guerra tem a seguinte posição:

O acesso rodoviário do porto não é bom, mas ainda atende o fluxo de carga atual. O problema vai se agravar com o aumento na movimentação se não encontrarmos uma solução viável. A solução, além de obras físicas, passa necessariamente por bom entendimento com a prefeitura, com vistas a estabelecer uma melhor disciplina e coordenação do tráfego na área do porto e adjacências.

As relações entre porto e cidade são bastante complexas. Algumas, ao longo da

história, têm sido bastante harmoniosas e convergentes. Outras, entretanto, têm se

caracterizado de forma conflituosa, com os diferentes órgãos de gestão do porto e

cidade ignorando-se mutuamente apesar da interdependência. Nesses casos, a

médio e longo prazo, porto e cidade acabam perdendo oportunidades de

desenvolvimento, de criação de novas atividades econômicas, incrementos do

comércio e manutenção de emprego especializado (LOVERA, 1999).

128

Nesse sentido, o REVAP pode ser visto como uma nova fase de entendimento entre

a gestão portuária e as administrações públicas municipais e estaduais do país. No

caso particular do Porto do Recife, o porto novo abre espaço para a utilização de

áreas degradadas, com a implantação de projetos turísticos, culturais, comercias e

de serviços que tendem a valorizar todo o centro histórico da cidade. O

aproveitamento dessas áreas evidencia uma nova estratégia, na qual, porto e cidade

encontram novas formas e funções para seus ativos, diante da nova realidade dos

espaços urbanos ociosos, gerados pela globalização econômica.

A área em que está localizado o Porto do Recife apresenta a maior densidade de

serviços de transporte público da cidade. Logo, encontrar uma solução para

equacionar interesses do porto e da mobilidade urbana, é um desafio que exigirá

grandes esforços de entendimento, o qual será possível diante da premissa de que o

porto é um equipamento indutor do desenvolvimento da cidade, com significativa

contribuição na geração de emprego, renda e impostos. Nessa direção o Porto do

Recife disponibiliza uma vaga para a prefeitura do Recife no colegiado do CAP,

fórum que reúne toda a comunidade portuária.

O PDZ (2011) do Porto do Recife traz no seu arcabouço, um conjunto de

proposições para enfrentamento do problema, porém estabelece como orientação

importante, um intenso relacionamento institucional do porto com a prefeitura,

caracterizado pela participação, proposição, discussão, compartilhamento de

tomada de decisões, com cooperação em termos operacionais e executivas no que

concerne ao tráfego de veículos e obras viárias. Abaixo estão sintetizadas algumas

das propostas contempladas no PDZ do Porto do Recife para essa questão:

a) Elaboração de plano de transporte rodoviário de carga do Porto do Recife: tem

como finalidade estabelecer rotas de acesso às principais rodovias do Estado, com

múltiplas alternativas de percursos, identificando características de calhas, soluções

para planejamento contínuo, monitoramento e gestão do transporte rodoviário de

cargas do porto;

b) Acesso norte: a implantação do corredor norte-sul da prefeitura, prevê a ligação

da Av. Olinda, no bairro do Recife, com a abertura de tráfego da Rua Batista

Rigueira, atualmente restrita ao tráfego interno da vila naval, seguindo até a Rodovia

PE-15 e desta até a BR -101. Este trajeto, assim que concluído, se constituirá na

melhor opção de acesso do porto à rodovia BR-101;

129

c) Acesso oeste: A Avenida Norte Miguel Arraes de Alencar se constitui atualmente

na melhor e mais rápida opção do porto para acessar a BR-101. Acontece que está

previsto no plano de mobilidade da prefeitura a implantação do corredor BRT – Bus

Rapid Trafic nessa avenida até o início da copa. Neste caso, uma alternativa para

manutenção do acesso a BR – 101, seria a implantação do binário à Rua Odorico

Mendes, como desvio para acessar essa Avenida mais adiante, no perímetro de

menor fluxo. Entretanto, informações do Instituto da Cidade Pelópidas da Siveira e

da própria Autoridade Portuária, relatam o entendimento entre Prefeitura da Cidade

do Recife e o Governo Estado, em garantir esta Avenida como o principal corredor

de saída e acesso ao porto, com calha suficiente para isso, independente das

intervenções que vierem a ser executas nessa via;

d) Viabilizar o corredor de acesso à Av. Mascarenhas de Morais que atualmente se

encontra em fase de requalificação no trecho de Jaboatão dos Guararapes, mas que

concluídas as obras se transformará no mais importante corredor de acesso à BR-

101 no sentido Sul.

Os portos cidades no mundo, via de regra, têm dificuldades para compatibilizar o

tráfego de suas cargas com tráfego urbano, porém são muitos os casos na Europa e

na Ásia, onde foi possível encontrar solução de convívio sustentável. No Brasil, essa

dificuldade é maior, em função da pouca tradição do planejamento estratégico,

articulado nos diferentes níveis de governo. Seria normal, até salutar, governos

pensarem as questões de infraestrutura e outras questões de forma diferente,

todavia, mais salutar ainda, seria encontrar soluções a partir de fóruns de

discussões, os quais certamente deliberariam soluções mais criativas e inovadoras

para os problemas das cidades.

Nesse sentido, o Engenheiro Civil, especialista, consultor de transporte, portos e

logística, Petrônio Magalhães, aponta duas direções para o problema em análise:

A primeira seria a construção de via dedicada ao tráfego de caminhões, independente das ruas e avenidas da cidade. A segunda a disponibilização de locais de estocagem e distribuição das cargas descarregadas ou a embarcar em pontos na periferia da cidade acessado por via dedicada.

Ao que parece, a primeira solução já começa a ser discutida entre operadores e

Autoridades Portuárias, manifestada por alguns entrevistados. Seria a construção de

uma via expressa partindo de dentro do porto, a partir da área do Istmo, local cedido

na segunda guerra mundial para os Americanos construírem uma base naval, que

130

não aconteceu, até a PE-15, com a construção de pontes e viadutos.

Evidentemente, essa solução é bastante onerosa, inviável no momento, mas no

futuro poderá se transformar numa alternativa viável de via dedicada, caso a

movimentação do porto justifique investimento dessa magnitude.

7.2.3 - Acesso ferroviário

Apesar de mencionado pelos entrevistados como uma alternativa importante para a

entrada e saída de cargas no Porto do Recife, o acesso ferroviário não é visto como

um gargalo determinante ao crescimento do porto. Com a queda na movimentação

de cargas do porto, sua hinterlândia foi reduzida a apenas ao estado de

Pernambuco, com importadores e exportadores situados principalmente na região

metropolitana da cidade do Recife ou em municípios próximos, nas zonas da mata

sul e norte do estado, onde se concentram as usinas produtoras de açúcar. Como o

transporte ferroviário só é eficiente em operações de longas distâncias, sua

utilização no porto foi perdendo movimento até se tornar impraticável nos últimos

anos.

Atualmente, o porto não movimenta cargas pelo modal ferroviário, pois as precárias

condições do sistema controlado pela antiga CFN, atual transnordestina, não

apresenta condições de tráfego. Ademais, o fluxo de cargas no porto é oriundo e

tem destino a curtas distâncias, condição que viabiliza de forma mais produtiva o

uso do modal rodoviário.

Entretanto, conceber porto sem a interligação com o modal ferroviário é condená-lo

a operar dentro de uma pequena hinterlândia, reduzindo, sobremaneira, sua

capacidade de atração de novos negócios. A expectativa atual se volta para a

conexão do porto com a Transnordestina, ferrovia que se encontra em obras e que

tem como missão escoar grãos, principalmente soja e seus derivados da região

produtora do sul dos Estados do Maranhão e Piauí e Norte do Estado do Tocantins,

denominada de MAPITO, referência as iniciais dos três estados, além de minério de

ferro, gesso e outras cargas geradas pelos empreendimentos que se instalarão no

corredor da ferrovia, atraídos pelo dinamismos econômico da região, a partir da

entrada em operação da ferrovia.

Atualmente a Autoridade Portuária promove investimentos na recuperação da via

férrea do porto, com o objetivo de reativar em breve a operação de movimentação

131

de cargas via esse modal. Na Reunião do CAP no dia 30 de março passado, o

diretor de operações do porto, Sr. Sidnei Aires anunciou adiantadas negociações

para exportação de minério de ferro da Paraíba para a China via modal ferroviário.

A missão de restabelecer o acesso ferroviário do porto é bastante desafiante, dado

sua interface física com a rede de transporte urbana. Tal qual a questão rodoviária, a

revitalização do sistema ferroviário depende de ações coordenadas e sintonizadas

com o plano diretor de transporte público da região metropolitana do Recife, uma

vez que, em alguns trechos da via, a operação deverá ser executada de forma

compartilhada com a rede metropolitana. Nesse sentido, prevalece as

recomendações de participação, proposição e cooperação do porto com os agentes

planejadores e decisores do sistema de transporte público da região metropolitana

do Recife.

7.2.4 - Áreas e retroáreas

A retomada de crescimento na movimentação de cargas do porto a partir da

conclusão exitosa da dragagem de aprofundamento do seu canal, berços e baía de

evolução, traz uma preocupação, para parte dos entrevistados, no que concerne à

disponibilidade de áreas livres de estocagem para absorver o aumento na

movimentação de contêineres e carga em geral, que deverá acontecer.

Em relação a esse problema as opiniões se dividem em dois grupos: um grupo que

considera os portos como locais inadequados para armazenagem de carga e

defendem a posição de que a armazenagem deva ser cara para estimular a retirada

rápida da carga, no mais curto espaço de tempo possível, ou seja, admite essa

prática apenas como necessária somente para o trânsito de carga. Enquanto existe

aquele que considera a capacidade de armazenagem do porto como importante

fator de competitividade, principalmente nas situações de dificuldade de

escoamentos, provocados por fatores alheios, como por exemplo, tráfego urbano

congestionado ou interrompido. O consenso está no fato de que, qualquer que seja

o porto, este deve ter capacidade de armazenagem compatível com o seu

movimento.

O PDZ do porto, dentro de seus vários objetivos, tem o desafio de promover uma

nova arrumação espacial, tanto de áreas operacionais, como de armazenagem, de

132

modo que os terminais possam operar de forma fluente, sem desperdícios ou

retrabalhos. O novo arranjo espacial deve aperfeiçoar o uso de áreas ociosas ou mal

aproveitadas, ampliando assim a oferta dessas áreas para movimentação,

armazenagem e arrendamentos.

No momento atual a oferta de área para movimentação de cargas em todos os

terminais é suficiente para a demanda, inclusive com condições de suportar um

crescimento no curto prazo.Todavia, promover uma maior e melhor disponibilidade

dessas áreas é condição estratégica na captação de novos negócios. Sobre essa

questão o Sr. Carlos Vilar faz a seguinte avaliação:

O porto possui muita área disponível para movimentação de cargas. O PDZ está definindo novas ocupações, por exemplo, na entrado do porto, na Rua Ascânio Peixoto, à direita, está localizado o pré gate em uma área de aproximadamente 22.000 m², adiante existe outra área sob questionamento de terceiro e mais adiante, um armazém, onde operava antigamente a empresa Texaco. Todas essas áreas vão ser desocupadas, preparadas e anexadas ao atual pátio de movimentação de cargas, que possui 60.000 m² de área livre, pavimentado em concreto protendido, reforçado. Somando tudo isso, vamos ficar com cerca de 110.000 m² de área nobre, disponível para futuros arrendamentos e movimentação de cargas.

Atualmente, a administração do porto está promovendo investimentos na melhoria e

ampliação da sua área alfandegada que é constituída do armazém e pátio 5 , além

do terminal da Rodhes. Essa ampliação contempla a anexação de áreas como os

pátios dois e três quarto, além do armazém seis. As melhorias são referentes à

iluminação, sinalização e monitoramento eletrônico. Essa readequação tem como o

objetivo comportar mais cargas e dar mais celeridade na liberação das mesmas. Nas

áreas alfandegadas só podem circular veículos, máquinas e equipamentos,

expressamente autorizados pela receita federal.

7.2.5 - Gestão da Autoridade Portuária

Uma boa gestão promove o crescimento e o desenvolvimento, do mesmo modo que

a gestão deficiente promove atrasos, com consequências danosas à imagem e a

sobrevivência das empresas, em todos os ramos de atividades.

A gestão do Porto do Recife é vista por grande parte dos entrevistados como

problemática, devido principalmente, à alta taxa de rotatividade de seus dirigentes,

indicados muita vezes para os cargos sem a qualificação necessária ou no mínimo

133

questionada para desempenhar funções estratégicas na gestão do porto.

Manifestações do tipo: “como pode o porto ter mudado cinco presidentes em oito

anos” ou, “o porto já teve até psicólogo como dirigente, talvez por causa de sua crise

existencial”, ou ainda, “a velocidade de troca de diretoria é tão grande que às vezes

não dá tempo de conhecê-los”. Resguardando alguns possíveis exageros, tais

depoimentos dão a dimensão de como a gestão do porto foi conduzida nos últimos

tempos.

A raiz desse problema está, na opinião de especialistas, na falta de definição

estratégica quanto ao papel do porto no sistema portuário do Estado. Nas palavras

do Engenheiro e especialista em portos, Petrônio Magalhães:

O maior gargalo do Porto do Recife é a falta de definição estratégica do papel do porto. Acredito que os órgãos de planejamento estadual tenham isto mais claro, mas os gestores talvez ainda não vislumbraram o papel que o porto terá que desempenhar. O porto é lindo e atraente, situa-se na parte mais antiga da cidade... Esse é o seu papel, a referência histórica, cultural e urbana de Pernambuco. Trata-se agora de dar suporte a essa função portuária e os projetos de revitalização em curso já apontam para essa direção.

Ainda sobre essa questão, o professor de logística e especialista em regulação

portuária, José Trevas, confirma como sendo a falta de definição dos papéis dos

portos a causa dos maiores problemas na gestão portuária brasileira e nesse sentido

faz recomendações, que considera fundamentais para se atingir a profissionalização

do setor, entre as quais, que o governo defina claramente o papel de cada porto

dentro sistema portuário do Estado, que o preenchimento das vagas para cargos

estratégicos sejam ocupados por profissionais concursados ou de carreira, com

reconhecida competência técnica e que, desejável seria, que, a indicação da

presidência do porto tivesse a aprovação da assembleia legislativa estadual, no caso

de portos com concessão estadual.

A atual dificuldade em que passa o Porto do Recife é entendida pela maioria dos

entrevistados como decorrente de um modelo de gestão caracterizado pela falta de

comprometimento e de continuidade administrativa, que acabou agravando as

fragilidades estruturais do porto, tão bem conhecidas dos setores estratégicos do

governo. Na verdade, o que se consensa sobre essa questão é que os

investimentos no porto foram escasseando para ser direcionados a Suape, que

134

despontava no cenário local e regional com grandes perspectivas de se transformar

num grande porto industrial, concentrador de cargas, como de fato aconteceu.

A gestão portuária dos portos organizados do Brasil, no modelo Landlord, é exercida

pela autoridade portuária, normalmente um ente público, que define seus dirigentes

por critério político. Esse critério por si só não explica uma má gestão. Um bom

planejamento estratégico, com claras definições de objetivos, metas e ações, com

suporte de recursos humanos qualificados e aporte de recursos financeiros

suficientes, são condicionantes essenciais para uma boa gestão. Entretanto, nada

disso faz sentido na ausência de um bom gestor. Portanto, em qualquer modelo de

gestão a indicação do gestor deveria atender primeiro o critério da competência.

Mais recentemente, a política de desenvolvimento da infraestrutura portuária do

Estado foi revista no sentido de requalificar o Porto do Recife, aproveitando de um

lado, suas antigas potencialidades, para transformá-lo em porto comercial apto a

desempenhar um papel complementar a Suape, que por sua vez, vai se

consolidando como hub port, necessitando de portos menores no papel de

alimentadores, e de outro, aproveitando suas novas potencialidades para

transformá-lo em opção turística, cultural e de entretenimento.

Essa nova visão que define o porto como um equipamento importante para a Cidade

do Recife e o Estado de Pernambuco, apesar de estratégica, não garante gestão

eficiente. A gestão portuária dos portos públicos têm sido questionada Brasil à fora,

pela falta de profissionalização, com Autoridades Portuárias com pouca autonomia

gerencial e financeira e também pelo intenso grau de politização na definição dos

gestores.

A profissionalização da gestão portuária implica a adoção de um modelo que

valorize o planejamento estratégico, com objetivos e investimentos claramente

definidos, nesse caso o PDZ é um instrumento importante como orientador, com

diretrizes, premissas e missão bem definidas; que, estabeleça indicadores

operacionais e administrativos, para orientar os resultados de curto médio e longo

prazo; que, busque uma orientação mercadológica, com capacidade de manter e

atrair novos clientes, através de uma maior diversificação e qualidade no portfólio de

135

serviços do porto e, sobretudo, que seus dirigentes atendam o critério da

qualificação e comprometimento, ainda que a indicação seja política.

7.2.6 - Modernização dos terminais

O porto possui três terminais de granéis, um de cargas gerais e o terminal de

passageiro. Os terminais de granéis são: o açucareiro, o silo portuário e o de

cevada.

O terminal açucareiro está estabelecido em um armazém horizontal, em bom estado

de conservação, com capacidade estática de armazenagem de 180.000 toneladas

de açúcar, equipados com modernas máquinas shiploader com capacidade de

descargas para 600 ton/h e de 1000 ton/h no carregamento dos navios. É avaliado

como moderno e eficiente, porém subutilizado, devido à sazonalidade da produção

de açúcar.

O terminal do silo portuário está estabelecido ao lado do terminal açucareiro com

silos verticais com capacidade estática para armazenamento de 25.000 toneladas de

grãos e equipado com sistemas de sugadores para descargas dos navios. O estado

de conservação desse conjunto é considerado pelos usuários entrevistados, como

ruim. No que tange à capacidade de descarga, os equipamentos com capacidade

nominal de 400 ton/h, só conseguem rendimento na operação em torno de 200

ton/h, devido à sua lentidão e constantes paralisações por falta de manutenção

preventiva de qualidade. O gerente industrial da empresa Moinhos Cruzeiro do Sul,

Sr. Carlos Irineu, avalia assim o desempenho da descarga do trigo:

A descarga é lenta e onerosa. Com investimentos na modernização do sistema poderíamos reduzir o tempo de descarga do navio pela metade. Isso possibilitaria a contratação de navios com pranchas maiores e fretes mais baratos. Como o frete faz parte da base de cálculo do Imposto de circulação de mercadoria – ICMS, acaba que se paga imposto sobre ineficiência.

O silo portuário atualmente é operado pela CEASA, através de um contrato de

operação, não existindo arrendamento formalizado de acordo com a legalização

para esse fim. Esse fato não garante segurança jurídica para o operador efetuar os

investimentos necessários na modernização do terminal, diante disso não é boa a

expectativa de melhorias neste terminal.

136

O terminal de Cevada está estabelecido com um conjunto de oitos silos metálico,

com capacidade estática para armazenamento de 18.000 toneladas de grãos. Está

arrendado pela empresa Rodhes S/A. A descarga dos navios é efetuada com grabs

sobre esteiras, com liberação de poeira para o ambiente e derrame no pátio do

porto. O seu estado de conservação e operação é considerado regular,

necessitando de investimentos de modernização e ampliação. O Gerente de

Negócios do porto, Sr. Carlos Vilar, faz a seguinte avaliação deste terminal:

O terminal de Cevada opera mal. Existe muito derrame e poeira. O arrendatário tem projeto para ampliar a capacidade estática do terminal para 32.000 mil ton., então estamos condicionando para renovação do arrendamento, investimentos também na modernização do sistema de modo a eliminar o desperdício e a poluição causada na operação.

O terminal de cargas gerais é onde acontece a descarga de fertilizantes, barrilhas,

neogranéis e outras cargas. A operação de Barrilha e Fertilizantes são efetuadas

com equipamentos do tipo grabs, com auxílio de moegas móveis sobre rodas. Os

importadores identificam a necessidade de investimentos em moegas modernas e

de maior capacidade, antipoluentes, para efetuar a operação, solucionado assim, os

problemas de derrames, emissão de poeiras, com ganhos em eficiência e qualidade

no serviço.

Esses investimentos são de responsabilidades dos operadores portuários que

relutam em fazê-lo, questionando sua viabilidade diante do volume atual de cargas.

De certo modo, esse impasse reflete a falta de confiança no futuro do porto, que

ainda apresenta-se pouco atrativo ou incerto para maiores investimentos em

ampliação e modernização das operações e terminais. Contudo, são investimentos

importantes para promoção de ganhos de produtividade e adequação as novas

tendências e políticas ambientais.

Ainda nesse terminal, atualmente empresas operadoras de contêineres estão se

estruturando com modernos equipamentos, como guindastes, portêineres e

empilhadeiras para operar no porto com contêineres a partir da conclusão exitosa da

dragagem em curso.

O terminal de passageiros passa por um processo de modernização já descrito

neste trabalho e deverá conferir aos navios e passageiros um elevado padrão de

prestação de serviços.

137

7.2.7 – Outras demandas relevantes

Além dos problemas já relatados, os entrevistados manifestaram interesse na

solução de outras demandas, entre as quais, destacam-se as seguintes:

a) Reforço estrutural dos berços no terminal açucareiro e silo portuário: O projeto

consiste em reforçar a estrutura do cais com um sistema de estacas metálicas por

trás do concreto e com isso evitar a fuga de materiais, conferindo mais consistência

e segurança ao berço na atracação de navios de maior porte, com calados de 12 m;

b) Suprimento de água: com a completa degradação das instalações do sistema de

abastecimento de água do porto , ocorrida já alguns anos, o suprimento de água

para os navios passou a ser efetuado através de caminhões pipas, tornando-se mais

oneroso e inseguro. Condicionantes, como o trânsito da região metropolitana, têm

dificultado o completo abastecimento dos navios, que muitas vezes partem sem

suprimento adequado de água. Ademais, essa situação aumenta o fluxo de

caminhões no porto e no seu entorno;

d) Questão Ambiental: levantada por parte nos entrevistados a necessidade da

implantação de um sistema de gestão ambiental no porto, adequado à legislação

vigente, através da composição de uma equipe de profissionais especializados,

como estabelecido pela ANTAQ; da elaboração de manuais de procedimentos; da

atualização de instrumentos de controle ambiental, tais como, programa de

gerenciamento de resíduos sólidos e de efluentes líquidos; com a intensificação

treinamento e auditorias periódicas, de modo a se criar um cultura de gestão

ambientalmente sustentável dentro da comunidade portuária.

7.3 – Plano de Desenvolvimento e Zoneamento - PDZ e o Programa de

reestruturação do Porto do Recife

Por muitos séculos, o porto e a cidade do Recife tiveram os seus desenvolvimentos

conduzidos de forma interligada e interdependente. Essa realidade conferia ao porto

o reconhecimento de elemento crucial para desenvolvimento da cidade. O porto foi,

nesses tempos, a porta de entrada do desenvolvimento da região e por ele a cidade

podia se conectar com o mundo e estabelecer ricos intercâmbios nas áreas

econômicas, política, social e cultural.

138

Com o crescimento do mercado interno, favorecido pelo projeto de integração

econômica do país, a cidade e a região foram encontrando novas alternativas de

intercâmbios, reduzindo assim, simultaneamente a interdependência porto e cidade.

A partir da segunda metade do século passado e mais intensamente nos anos 80 e

90, período de forte estagnação econômica no país, essas mudanças se

acentuaram, para entrar em ruptura e adquirir uma nova formatação, na qual cidade

e porto passam a divergir em seus interesses.

De um lado a cidade mais forte economicamente diversifica suas atividades, ganha

em autonomia, começa um processo irreversível de difusão e transferência do seu

centro de serviços para outros bairros, distanciando-se de forma inexorável de seu

antigo parceiro. Do outro, o porto com dificuldade para se adequar à nova realidade

dos transportes marítimos, perde em movimentação e diminui sua contribuição para

o desenvolvimento econômico da região e da cidade.

O resultado dessa ruptura foi a criação de externalidades negativas para ambos.

Para o porto a queda de movimentação implicou na ociosidade e degradação de

grande parte de seus ativos, com impactos negativos para a cidade. Para a cidade o

abandono, a marginalização e a desvalorização do bairro portuário, com sérias

implicações de ordem social e econômica.

Apesar do rompimento, permanece a interdependência funcional e territorial, onde

as atividades de um exerce impactos sobre as atividades do outro, condição que

determina a necessidade de entendimentos prévios em qualquer programa de

intervenção espacial, ainda que de forma pontal e, sobretudo, em intervenções de

reconfiguração espacial permanente. Atualmente, ambos, porto e cidade, vivem a

necessidade de implantar programas de modernização e revitalização com impactos

de um para outro.

Nesse sentido, o PDZ do porto, em processo de aprovação, ocupa um papel da

maior relevância. Essa imprescindível ferramenta de gestão tem por objetivo

promover a modernização do porto organizado, otimizando o uso de sua

infraestrutura existente, além de definir uma nova organização e ocupação dos

espaços portuários. O PDZ passa a ser o mais importante referencial de gestão do

porto, orientando plano e projetos específicos, dentro das áreas, operacional e não

139

operacional do porto organizado, além de servir de consulta para os diversos

agentes e instituições pública e privada no estabelecimento de seus planos e

programas, com vistas à exploração econômica das áreas e instalações. O PDZ foi

elaborado em atendimento às exigências legais, e será um instrumento básico de

apoio ao planejamento da Autoridade Portuária.

No que concerne à revitalização porto, o seu programa de modernização, prevê

investimentos da ordem de R$ 353.848.963,33 em estudos e obras de atualização e

modernização de sua infraestrutura, com vistas a promover e suportar um

crescimento de cargas e passageiros previsto para os próximos anos, e está dividido

em dois segmentos: revitalização do porto operacional e a criação do porto não

operacional, denominado de porto novo.

No plano operacional esses investimentos dizem respeito à dragagem do porto, que

objetiva aumentar a profundidade dos canais e berços, obras de recuperação de

cais, recuperação de armazéns de cargas e a ampliação e modernização do TMP. O

quadro abaixo demonstra o cronograma e o valor desses investimentos já

contratados, alguns realizados e outros em fase execução.

Tabela 7.1 – Investimentos no porto operacional 2011 a 2013

Obras Valor - R$ Cronograma

Estação de transbordo 601.944,33 Concluído em 2011

Reforma - Silo Portuário 814.592,51 Concluído em 2011

Elaboração do PDZ 367.498,19 Concluído em 2011

Reforma - Prédio Adm. 3.808.256,17 Conclusão em 2012

TMP – 2ª etapa 27.920.090,69 Conclusão em 2013

Reforma - Armazéns 05 e 06 2.310.340,74 Conclusão em 2012

Alfandegamento 3.085.000,00 Conclusão em 2012

Dragagem 22.541.033,88 Conclusão em 2012

Pavimentação de vias 4.467.620,65 Concluído em 2011

Estudos p/ melhoramento operacional 1.738.045,26 Conclusão em 2012

Fonte: Porto do Recife Elaboração: Própria

140

Constam ainda como investimentos previstos, mas ainda não contratados, valores

da ordem de R$ 201.648.143,00 para melhoramento de infraestrutura de atracação,

R$ 9.475.000,00 para obras de infraestrutura terrestre e mais R$ 450.000,00 na

recuperação dos blocos de fundações da célula do silo portuário.

No plano não operacional os investimentos estão concentrados nas obras de

produção do centro de artesanato e do museu Luís Gonzaga. A obra do centro de

artesanato encontra-se em fase final de execução, com inauguração prevista para

os próximos meses. O museu Luís Gonzaga tem obra em fase inicial, porém sua

conclusão está prevista ainda para este ano, ano do centenário de nascimento do

artista.

O porto novo é um projeto de revitalização de áreas ociosas e degradadas do porto

organizado e tem como objetivo a implantação de um complexo turístico com um mix

variado de atividades, que envolve hotel, centro de convenções, bares e

restaurantes. É um investimento privado, e recentemente teve toda área para esse

fim, licitada. Está prevista a assinatura do contrato para os próximos dias. O quadro

abaixo demonstra o valor e o cronograma dessas obras.

Tabela 7.2 – Investimentos no porto não operacional – porto novo 2011 a 2013

Obras Valor – R$ Cronograma

Centro de Artesanato 5.054.901,45 Conclusão em 2012

Urbanização de Cais 25.932910,54 Conclusão em 2013

Museu Luís Gonzaga 42.543.682,50 Conclusão em 2012

Arrendamentos – porto novo 200.000,00 Concluído em 2011

Fonte: Porto do Recife Elaboração: Própria

O valor apresentado no quadro acima referente a arrendamento do porto novo, diz

respeito apenas aos estudos e despesas de elaboração, lançamento e licitação do

projeto do porto novo. Os investimentos de requalificação e modernização de toda

essa área serão realizados pelo setor privado.

141

7.4 – Cenários possíveis para a movimentação de cargas e passageiros

A expectativa gerada com o plano de revitalização do porto revelou-se muito positiva

para os entrevistados desta pesquisa. A pesquisa pôde captar motivações tanto no

sentido da geração de novos negócios, como de incremento dos atuais, assim como

a manutenção de outros. O relato a seguir não se propõe a fazer projeções de

crescimento e muito menos de predizer o que deverá ocorrer com o futuro do porto,

mas tão somente relatar a expectativa dos respondentes em relação aos seus

negócios, nesta nova fase do Porto do Recife.

a) Trigo: a importação de trigo pelo porto nos últimos anos apresentou uma queda

substancial, saindo de um patamar de 464.144 ton. em 2006, para 172.880 ton. em

2011, uma perda de 62,75% no período. A única razão para esse resultado foi a

transferência do moinho da empresa Bungue S/A para Suape no ano de 2009. Esse

quadro deve sofrer reversão, segundo informações do próprio Porto do Recife, tendo

em vista que a empresa Moinhos Dias Branco S/A irá construir um novo moinho,

onde atualmente funciona a fábrica de biscoito Pilar, recentemente adquirida por

esse grupo. A expectativa é de importação da ordem de 360.000 ton./ ano de trigo a

partir de 2013. O projeto de construção do moinho encontra-se em fases de ajustes

com a municipalidade, mas deve entrar em fase de construção ainda no segundo

semestre deste ano.

Além disso, o grupo Moinhos Cruzeiro do Sul S/A projeta crescimento em sua

operação de 15% para 2012 e 15% em 2013, o que na prática significa um

incremento de 40.000 e 50.000 ton. nos anos de 2012 e 2013, respectivamente.

b) Barrilha: Este produto vem, nos últimos anos, apresentando crescimento linear

ano a ano. Em 2006, o volume importado foi de 126.479 e no ano passado de

192.686 ton., um incremento no período de 52%. A expectativa de crescimento

continua, em função da instalação de uma nova fábrica de vidros da Companhia

Brasileira de Vidros Planos – CBPV na cidade de Goiana, situada na região da mata

norte do Estado. De acordo com o depoimento do importador e gerente de filial, Sr.

Clédson Godim, da empresa S. C.S. Comercial e Serviços Químicos, a importação

de barrilha vai aumentar de forma considerável, mas é preciso estar preparado para

essa oportunidade, segundo ele:

142

Com a instalação da nova fábrica em Goiana a demanda por barrilha deve dobrar. Então precisamos estar preparados para atender esse crescimento, sob o risco de a importação ser efetuada por outro porto. Atualmente quando importamos navios de 30.000 ton. a espera por maré alta pode durar até 15 dias, com crescimento considerável no custo de importação. Com a dragagem do porto a nossa expectativa é de solução desse problema.

Além desse problema o Sr. Clédson aponta a necessidade de melhorais no

processo de descarga do produto, que é realizado com grab e moegas sub

dimensionados para essa operação, gerando derrames, perdas e atrasos. “ Nossos

operadores precisam investir. Não é possível mais conviver com isso”, conclui.

c) Fertilizantes: a importação de fertilizantes também tem apresentado crescimento

nos últimos anos, denotando consistência na operação. Em 2006, o volume

importado foi de 215.329 ton. enquanto no ano de 2011 esse volume subiu para

334.745 ton., um crescimento ponto a ponto de 55%. De acordo com a análise do

gerente industrial da empresa Fertilizantes do Nordeste Ltda. – Fertine, grande

importador do produto, a expectativa de imediato na importação para esse produto é

de pequenos incrementos ou mesmo de manutenção, e ele avalia assim as

possibilidades do segmento:

O mercado de fertilizantes no estado de Pernambuco é definido pelo consumo das usinas, fruticultura e pequenos agricultores e representa um volume da ordem de 250.000 ton./ano. No curto prazo para crescer precisamos de mais mercado, já que atendemos pleno o Estado, no entanto encontramos no custo logístico um grande adversário para sair além das fronteiras do estado.

d) Cevada: a cevada é outro produto que nos últimos anos apresentou evolução,

embora inconsistente, com flutuações ano a ano. A importação de 2006 foi de

194.133 ton., enquanto em 2011 foi de 223.461 ton. um crescimento de 15% no

período. Não foi possível entrevistar ou conversar com importadores dessa matéria

prima e por isso, não é possível identificar a provável tendência para o segmento.

Todavia, segundo informações do Sr. Carlos Vilar, gerente de negócios do Porto do

Recife, o arrendatário do terminal de cevada no porto, a empresa Rhodes S/A, se

prepara para ampliar e modernizar o terminal, tendo em vista a possibilidade de

crescimento dessa operação.

e) Açúcar: o açúcar é o principal produto na movimentação do porto, representando

em 2011, 37,27% da movimentação total do porto. Em 2006 as exportações foram

143

de 522.140 ton. para atingir em 2011 o volume de 745.356, ou seja, crescimento de

42,45% no período.

O mercado do açúcar se comporta muito sensível a preço, como em geral ocorre

com as commodities agrícolas. Considerando que esse produto é bastante regulado

no mercado internacional, onde Americanos e Europeus adotam medidas

protecionistas, em benefício de suas produções locais de cana de açúcar e

beterraba, e que a indústria de moagem de cana de açúcar possui a flexibilidade

para alterar o mix de produção - álcool e açúcar - de acordo com a expectativa de

preços no mercado, e mais a influência do câmbio no comércio internacional, torna-

se muito difícil projetar exportações, dado o cenário de incertezas que caracteriza

esse mercado. Nesse sentido, o gerente comercial da usina União, Sr. Gustavo

Mesquita, faz a seguinte avaliação do negócio:

Aqui analisamos muito preço, usina tem ser assim, safrista tem que ser assim. Se o mercado internacional tem a melhor proposta de preço, exportamos mais, caso contrário, nos voltamos mais para o mercado interno. Nessa safra vamos bater recorde de exportação, porque o preço internacional está melhor que o nacional.

f) Coque de petróleo: o coque é um combustível fóssil derivado do petróleo e é

caracterizado pelo elevado poder calorífico e baixo custo de aquisição. Bastante

usado como material de combustão em fornos industriais. No Estado é importado

pela indústria de cimento. O volume de importação sofreu uma grande redução nos

últimos tempos, saindo de um patamar de 183.687 ton. em 2006 para 2.506 ton. em

2011, praticamente desaparecendo da pauta de importação do porto. Como se trata

de produto poluente, ações de monitoramento dos órgãos ambientais e do Ministério

Público, tem limitado e inviabilizado a operação desse produto no Porto do Recife.

Entretanto, a gestão portuária está promovendo adequações requeridas para que

esta operação volte a ser executada de forma limpa, sem derrame ou geração de

resíduo para o ambiente, e assim, aproveitar a oportunidade gerada pelo

crescimento da indústria de cimento no Estado e na Região. Segundo o Sr. Carlos

Vilar três novas fábricas de cimento vão entrar em operação nesses próximos

tempos. Uma em Carnaíbas, que está praticamente pronta para começar a

funcionar, outra em Serra Talhada, em começo de construção e a última em Currais

Novos no Rio Grande do Norte, com a previsão de crescimento significativo na

144

demanda por esse produto. Sobre a adequação do porto o Sr. Vilar fez a seguinte

consideração:

Estamos nos adequando de acordo com as exigências dos órgãos ambientais e Ministério Público para voltar a operar com coque no porto. Estamos designando um único operador portuário para operação do coque, lavando, drenando e tratando a água do processo, de modo a eliminar quaisquer resíduos, para depois liberá-la limpa ao ambiente. Recentemente fizemos uma operação no porto com zero de derrame, que pareceu que não tinha passado coque pelo porto.

g) Cargas de projetos e veículos: cargas de projetos são máquinas e equipamentos,

como retroescavadeiras, pás carregadeiras, a chamada linha amarela, que estão

chegando para atender à implantação de grandes empreendimentos do estado,

como é o caso da transposição de águas do Rio São Francisco, as obras da copa, a

instalação da Fiat e da Hemobrás em Goiana. Em 2011, o Porto do Recife,

apresentou uma boa movimentação desse tipo de carga, inclusive retomou as

importações de veículo no sistema roll on roll off . Segundo o gerente de negócios,

Sr. Carlos Vilar, o Porto do Recife apresenta grande potencial para atrair e crescer

nesse tipo de movimentação e sobre esse potencial ele faz a seguinte avaliação:

Para a Fiat o melhor seria trazer toda suas cargas pelo Porto do Recife, que está a 40 Km. de distância do projeto deles e o porto tem pátio pronto para fazer o recebimento dessas cargas. Em relação a máquinas e equipamentos o porto tem os maiores importadores do nordeste desse tipo de carga já operando no porto, as empresa XCMC, a Hyundai que estão importando regularmente. A partir de abril vamos começar a desembarcar 100 caminhões todo mês, importados da China, pela empresa Metro Shacman que vai abastecer o nordeste a partir do Porto do Recife.

i) Contêineres: a movimentação de contêineres foi retomada no Porto do Recife,

desativada desde 2004. Em 2011 essa movimentação foi de 7.083 TEUs, para um

volume de 94.143 ton., gerando uma expectativa positiva para o ano de 2012.

Entretanto, os operadores de contêineres instalados no porto, suspenderam

temporariamente a operação de contêineres, para retomar após o término da

dragagem do porto.

j) Movimento de passageiros: As obras de ampliação e modernização do TMP, já

comentadas neste trabalho, continuam dentro do cronograma planejado, com a

Autoridade Portuária confiante na sua conclusão antes da realização da copa das

confederações, previstas para final de 2013. A expectativa em relação a esse

empreendimento é de um crescimento substancial em função dos eventos

relacionados à copa do mundo em 2014 e às olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro

145

e também pelo legado turístico que espera-se que esses eventos deixem para o

país.

7.5 – Conclusões

A pesquisa de campo realizada com os usuários do porto e com as autoridades

responsáveis pela sua operação, destaca os principais gargalos do porto, assim

como outras demandas por intervenções no sentido de atualizar e modernizar a

infraestrutura do porto.

Entre os maiores gargalos destacam-se os acessos aquaviário e rodoviário do porto,

bem como a gestão da autoridade portuária. Sobre o acesso aquaviário,

intervenções de dragagem no leito do canal e berços estão sendo efetuadas e o

resultado esperado é de um aprofundamento em torno de 1,5 m, o que vai permitir o

acesso de navios com maiores calados.

Em relação ao acesso rodoviário, embora ainda seja possível conviver com o

problema, devido ao patamar atual de movimento do porto, a solução de futuro é

mais complexa, na medida em envolve a participação da municipalidade, que em

sentido contrário tem interesse em reduzir o fluxo de veículos pesados na área

portuária para melhorar a mobilidade do sistema de transporte público da cidade.

No que diz respeito à gestão da Autoridade Portuária, avaliada como distante e

inoperante pelos entrevistados, nos últimos tempos toma um novo rumo com a

definição estratégica, que recoloca o porto como integrante do sistema portuário do

Estado e como tal deve ser revitalizado.

A revitalização está sendo conduzida pela Autoridade Portuária com investimentos

em obras na dragagem do porto, requalificação de cais, armazéns, vias de acesso,

além da implantação do porto novo. Essa revitalização no médio prazo deve conferir

ao porto um novo patamar de competitividade.

146

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÕES

A implantação da lei 8.630/93, denominada lei de modernização dos portos, trouxe

para o setor uma nova configuração portuária, refletida no modelo landlord, no qual

governo e iniciativa privada se associaram, com diferentes papéis, para levar adiante

o desafio de modernizar a infraestrutura e a gestão dos portos públicos brasileiros.

Os avanços obtidos com essa lei, demonstrados ao longo desta dissertação,

possibilitou ganhos de produtividade e redução de custos, que em muito

favoreceram a competitividade das exportações brasileiras no mercado

internacional. Decorridos quase 20 anos da implantação desse diploma legal, ainda

é possível se verificar velhos problemas que figuravam na raiz dos atrasos do setor

e que persistem, contribuído negativamente para maiores avanços no setor.

Esses problemas se concentram principalmente nas áreas de gestão e

investimentos e se apresentam de forma interligada. Em relação à gestão, a falta de

planejamento tem favorecido administrações poucos eficientes e em alguns casos

com manifestações saudosistas do velho modelo. A carência de investimentos é

decorrente da baixa capacidade de captação de recursos por parte das

administrações portuárias, o que de certo modo confirma a questionável

competência da gestão portuária na solução dos seus problemas e, sobretudo, pela

constatada falta de prioridade dos governos para o setor portuário nos últimos

tempos, mas que mais recentemente tem dado sinais de mudanças, com maiores

provimentos para o setor.

A implantação dessa lei acelerou a emergência no Brasil de duas distintas

concepções portuárias, até então presentes no sistema portuário mundial. No

primeiro conceito o porto é visto como um elo logístico desterritorializador inserido

numa cadeia logística setorizada (SILVA e COCCO, 1999, p-18), servindo

principalmente aos interesses de grandes empresas localizadas em sua hinterlândia

e a armadores que o subordinam dentro de um sistema logístico global. São os hub

ports, ou portos concentradores de cargas.

O outro conceito diz respeito aos portos localizados nos espaços urbanos e que por

isso exercem uma relação de complementaridade com as cidades, na qual, o porto

encontra no tecido urbano as possibilidades de negócios e as competências para

147

aprimorar seus serviços, otimizando sua capacidade de gerar valor e emprego e

propiciando que a cidade recupere sua relação histórica e paisagística com o mar

(SILVA e COCCO, 1999).

O projeto do Porto de Suape situa-se na concepção de hub port. Suas condições

naturais, caracterizadas por canais e berços de alta profundidade, aliado a uma

grande disponibilidade de áreas no seu entorno, criam condições potencias para a

atração e formação de centro industrial e é o que vem acontecendo mediante

grandes investimentos em infraestrutura, promovidos pelo governo nos últimos

tempos.

Por outro lado, o Porto do Recife, mesmo com os avanços adquiridos com a lei de

modernização, não conseguiu evoluir na sua movimentação de cargas. Por falta de

definição estratégica quanto ao seu papel no sistema portuário do Estado, o porto

foi, nos últimos anos, preterido nos programas de investimentos de requalificação, e

como consequência disso teve a sua competitividade comprometida diante do

agravamento de suas defasagens estruturais.

Diante desse quadro, o objetivo deste trabalho foi dimensionar os gargalos e os

entraves na infraestrutura do Porto do Recife e fazer uma análise de adequabilidade

do porto ao novo contexto portuário nacional.

De acordo com a metodologia estabelecida a identificação desses gargalos foi

possível de ser feita, através de pesquisas bibiográfica e de campo, as quais

recorreram a variadas fontes, nos diversos segmentos e atores da comunidade

portuária, que contribuíram com informações e conhecimentos, esclarecendo a

questão de pesquisa.

Os resultados encontrados nessas pesquisas mostram que o Porto do Recife tem os

seus gargalos claramente identificados pelos diferentes atores, praticamente de

forma consensual, com algumas diferenças na forma de solução, que reflete em

alguns casos o interesse particular do ator na questão. Entre os principais gargalos

levantados estão a questão da gestão portuária, dos acessos aquaviário, rodoviário

e ferroviário, modernização de seus terminais e a ausência de atualizações na

infraestrutura de cais e recuperações nas instalações do porto.

148

A questão colocada a respeito da gestão portuária, está diretamente ligada à falta

de definição estratégica do papel do porto na composição da infraestrutura portuária

do Estado, que tem no porto de Suape a liderança do setor, por suas características

já mencionadas nesta dissertação. Esse problema interfere profundamente no

gerenciamento estratégico do porto, que, classificado como de importância

secundária diante da visão dos governantes, foi submetido a um processo

descontínuo de gestão, haja vista o alto índice de rotatividade de seus dirigentes, os

quais, em alguns casos não tinham qualificação e nem aptidão para exercer o papel

de gestor, agravando a então limitada capacidade operacional do porto.

O problema da profundidade do porto, tanto dos canais, como berços e bacia de

evolução é decorrente da ausência de dragagens frequentes e de um contínuo

processo de assoreamento que sofre o porto, por estar localizado na confluência de

dois rios. A dragagem em andamento tem a missão de aprofundar esses canais,

berços e bacia em mais 1,5 m. A concretização desse processo vai melhorar as

condições de acesso aquaviário, permitindo a atracação de navios de maior calado

e com isso maior volume de cargas e passageiros pela mesma unidade de

transporte, gerando ganhos em escalas e reduzindo custos.

O acesso rodoviário do porto é visto pelos diferentes atores como o de mais difícil

solução, por envolver diferentes esferas de poder, que, de alguma forma tendem a

visualizar a questão sob a ótica de seu interesse. O porto depende da infraestrutura

viária metropolitana para se interligar com os principais corredores rodoviários da

região, como a BR-101 e a BR-232. Os indicativos de solução para essa questão

tem como premissa básica, o entendimento com as municipalidades da região

metropolitana e principalmente com o governo do Estado, no sentido de se preservar

vias com calhas suficientes para o transporte de cargas, como é o caso das

Avenidas Norte Miguel de Alencar e Mascarenhas de Morais e a Rodovia PE – 15,

entre outras, de sorte que o acesso do porto possa ser garantido por esses

corredores metropolitanos.

Em relação ao acesso ferroviário, obras de recuperação das vias férreas do porto

estão em curso objetivando a reconexão deste com a antiga CFN, atual ferrovia

transnordestina, com projeto futuro de interligação com a nova ferrovia

transnordestina, também em obras com conclusão prevista para os próximos anos.

149

Essa reconexão ferroviária criará condições potenciais do porto para atrair negócios

de fora da sua hinterlândia primária.

A evolução do sistema portuário de Pernambuco vai definindo, na prática, os papéis

de seus equipamentos portuários. A proposta para Suape é de porto industrial,

concentrador de cargas e como tal necessita de águas profundas, disponibilidade de

áreas para alocação dos empreendimentos industriais que lhe darão sustentação

para grandes volumes de operações, enquanto o do Recife se posiciona como porto

comercial, com potencial para atrair e desenvolver negócios diferenciados,

caracterizado por cargas de maior valor agregado, como por exemplo, cargas de

projetos, além de apresentar vocação para novas funções portuárias, aproveitando

sua relação histórica com a cidade do Recife.

Nesse sentido, o Porto do Recife vai assumindo uma nova formatação. De um lado,

o velho porto operacional recebendo investimentos de adequações na sua

infraestrutura portuária, como por exemplo, a dragagem dos canais e berços e a

recuperação de cais, de modo a garantir-lhes melhores condições de

competitividade no transporte de cargas e passageiros, e de outro, investimentos de

revitalização e modernização de parte de seus armazéns ociosos e degradados pela

falta de uso e de medidas de conservação, com o propósito de transformá-los em

moderno complexo de turismo e lazer. É o novo porto não operacional.

Os desafios de adequação e revitalização do porto operacional ganharam impulso

com a recente visão e decisão do governo que passou a considerá-lo como

elemento fundamental para dar suporte aos novos negócios que estão se

estruturando na região da mata norte do Estado. Ademais, passado a fase da

concorrência crítica com Suape, na qual ocorreu a transferência de tradicionais

operações do Porto do Recife para esse porto e sucessivas perdas na concorrência

por novas operações, percebe-se uma procura crescente pelo Porto do Recife para

novos negócios.

Segundo a pesquisa de campo realizada por este autor, este movimento decorre de

dois aspectos: o crescimento econômico do Estado voltado para novas áreas; e a

geração de negócios complementares que não possuem viabilidade técnica e

operacional na infraestrutura do hub port. Por esse motivo, está ocorrendo o

150

deslocamento de algumas operações que já não mais se adéquam ao perfil de

Suape, dado o congestionamento que seu rápido crescimento proporcionou. Essa

nova demanda por operação no Porto do Recife, ainda esbarra na dificuldade de

acesso de navios de maiores calados e é interpretado por operadores e

especialistas como uma nova fase de relacionamento com Suape, caracterizada

pela complementaridade de operações e não mais pela concorrência.

Com a aprovação do PDZ do porto, que entre outras diretrizes, estabelece o

segmento da cabotagem como o de vocação natural, e considerando a conclusão

exitosa da dragagem, espera-se que os planos complementares a esse instrumento

de gestão estabeleçam ações comerciais claras e consistentes no sentido de atrair

operadores deste segmento, dado que as condições operacionais do porto ficarão

adequadas para esse tipo de navegação.

Em relação à navegação de longo curso e Mercosul, negócios consolidados dentro

e fora do porto organizado, como no caso açúcar, trigo, barrilha, fertilizantes, cevada

e outros, tendem a ampliar suas operações, mediante ganhos com redução de

custos auferidos com a contratação de navios de maior calado, com fretes de menor

custo.

Espera-se que, com as recentes medidas de adequação e mais as que estão no

plano de investimento, o porto consiga ampliar suas conexões com outros portos e

outros mercados e desse modo, aumentar o volume de sua movimentação de

cargas e passageiros, imprescindíveis para o seu equilíbrio financeiro e importante

para o desenvolvimento econômico e social do Estado de Pernambuco e da cidade

do Recife. Nesse sentido, é imprescindível a qualidade da gestão do porto.

151

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LlOVERA, J.A.. Por um desenvolvimento sustentável da cidade portuária. In: SILVA,

G.; COCCO, G.(Organizadores). Cidades e Portos: os espaços da globalização. Rio

de Janeiro: DP&A, 1999.

MAGALHÃES, P.S.B.Transporte Marítimo – Cargas, Navios, Portos e Terminais.

Aduaneiras. São Paulo, 2011.

MARCONI, M. de A; LAKATOS, E.M. Fundamentos de metodologia Científica. Atlas,

7ª Edição. São Paulo, 2010.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA E COMÉRCIO – MDIC. Site do

MDIC www.mdic.gov.br , acesso 18 de julho de 2011.

PÁDUA, C. de A.; SERRA, E.G. Superação dos Gargalos Logísticos do setor

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PINTO, E. O Porto do Recife e sua evolução histórica. Publicação de propagandas

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154

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em 07 de novembro de 2011.

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ROCHA, L. de A. Abertura dos Portos. Artigo publicado na revista Quebra Mar,

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RODRIGUES, J.;VAZ,J.P.Portos brasileiros: duzentos anos de transformações

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TOVAR, A.C. de A.; FERREIRA, G.C.M. A Infraestrutura Portuária Brasileira: O

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TREVAS, J. Y.P. A importância da lei 8.630/93 para a modernização dos portos

brasileiros: os casos de Pecém, Suape e Salvador. Dissertação de mestrado

apresentado no Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE. Recife, 2005.

WANKE, P. Estratégia Logística: Conceitos, Implicações e Análise da Realidade

Brasileira. In FIGUEREDO, K. F.; FLEURY, P.F; WANKE, P. Logística e

Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: Planejamento do Fluxo de Produtos e

dos Recursos. São Paulo: Atlas, 2006 (Coleção Coppead de Administração).

155

ANEXO A – Porto do Recife - Organograma

Gerência de

Estatística

istica

Coordenadoria

Executiva de

Projetos Especiais

Gerência de Gestão Ambiental e de Segurança

e Saúde no Trabalho

Assessoria de

Imprensa

Coordenadoria

Jurídica

Coordenadoria de

Articulação Institucional

Comissão

Permanente de

Licitação

Coordenadoria de

Licitações e

Contratos

Coordenadoria de

Segurança

Gerência de

Segurança

Diretoria de

Administração e

Finanças

Diretoria Comercial e

Operações

Gerência de

Engenharia e

Manutenção

Diretoria de

Projetos e Obras

Gerência de

Recursos

Humanos

Gerência

Financeira

Coordenadoria

de Operações

Gerência de

Operações

Gerência de

Negócios

Assessoria da

Tecnologia da

Informação

Coordenadoria de

Planejamento e

Gestão

ças

Gerência de

Serviços e

Materiais

Ouvidoria Gabinete

Presidência

Diretoria

Conselho Fiscal

Assembleia

Geral acionista

Acionistas

Conselho de

Administração

Fonte: Porto do Recife

156

ANEXO B – Porto do Recife: Contratos de arrendamentos de áreas

Nº do Contrato Arrendatário Área (m²) Objeto

94.017.00 Petrobrás Distribuidora 3.462,44 Área descoberta

88.085.00 Petrobrás Distribuidora 3.462,44 Área descoberta

92.030.00 Ind. Comércio Quimetal 3.495,38 Armazém 17

92.038.00 Rodhes S/A 7.150,25 Área descoberta

97.016.00 Agemar Transportes e Emp. Ltda 6.060,60 Armazém 18

98.02.00 Fertine – Fertilizantes do NE 6.000,00 Área descoberta

98.033.00 Camil Ltda 12.688,7 Área descoberta

99.004.00 Agemar Transporte Ltda 7.505,74 Área descoberta

99.015.00 SCS - Soc. Com. e de Serv. Químicos 2.861,45 Armazém 3B

99.006.00 OGMO 2.458,16 Galpão de Área descoberta

2001.020.00 Bungue Alimentos S/A 812,04 Antigo centro de operações

2001.024.00 Portus Instituto de Seguridade Social 4.123,50 Área descoberta

2001.048.00 SCS – Soc. Com. e de Serv. Químicos 51,00 Prédio ao norte da Guarita.

2009.018.00 Pronaval 4.854,66 Galpão de Área descoberta

99.014.00 Posto F.V.V. Ltda 800,00 Parte do Armazém 5

2009.025.00 Rioam Máquinas e Locações Ltda 9.504,22 Área descoberta

2009.030.00 Agemar Transporte e Emp.Ltda 2.152,03 Área descoberta

2009.032.00 TIM Nordeste 4.004,50 Área descoberta

2009.036.00 Saveiros Camuyrano Serv. Mar. Ltda 49,00 Área descoberta

558,03 Área descoberta Fonte: Porto do Recife, 2011.

157

ANEXO C – Porto do Recife - Balanço Patrimonial

2010 2009 2008

ATIVO CIRCULANTE 7.915.539,60 3.960.099,49 4.923.333,71

DISPONIBILIDADE 4.799.639,17 1.534.451,83 1.471.423,17

Caixa e Bancos 542.630,02 15.676,12 1.282.793,81

Aplicação Financeira 4.257.009,02 15.676,12 188.620,36

REALIZÁVEL A CURTO PRAZO 3.115.900,43 2.425.647,65 3.451.910,54

Duplicatas a Receber 1.024.797,81 394.060,84 521.415,48

Impostos a Recuperar 1.544.878,85 1.511.590,52 2.144.800,44

Empréstimos e Adiantamentos 204.881,84 146.240,72 171.607,55

Estoques 39.105,34 71.518,96 144.069,89

Débitos da União 302.236,59 302.236,59 470.008,08

NÃO CIRCULANTE 24.575.139,07 18.781.536,21 13.322.185,06

REALIZAVEL A LONGO PRAZO 5.810.074,96 7.424.288,07 3.720588,61

Depósitos Judiciais 164.072,10 164.072,10

Convênio de Delegação 3.504.544,29 3.504.544,29 3.504.544,29

Portus Inst. De Previdência Privada 2.282.711,68 3.729.399,68

Outros Valores a Longo Prazo 22.818,99 26.272,00 51.972,22

IMOBILIZADO 15.253.368,35 11.357.248,14 10.201.596,45

Bens e Uso 17.448.875,23 12.920.856,22 11.462.045,43

Depreciações e Amortizações Acumuladas -2.195.506,88 -1.563.608,08 -1.260.448,98

INATINGÍVEL 67.666,66 0,00 0,00

Bens e Uso 70.000,00 0,00 0,00

Depreciação e Amortização Acumuladas -2.333,34 0,00 0,00

COMPENSAÇÃO 3.444.029,10 0,00 0,00

Garantia de Contratos 1.525.817,16 0,00 0,00

Garantias de Proposta 1.918.211,94 0,00 0,00

32.490.678,67 22.741.635,69 18.845.518,77

Fonte: Porto do Recife

158

ANEXO C – Porto do Recife - Balanço patrimonial

2010 2009 2008

PASSIVO CIRCULANTE 3.236.770,73 5.014.328,78 5.926.353,58

Fornecedores 1.005.644,73 2.968.677,71 729.488,68

Salários e Encargos Sociais 887.765,34 352.866,88 415.399,01

Débitos Fiscais 318.620,90 560.649,20 226.981,81

Débitos Previdenciários 0,00 0,00 376.509,04

Portus Instituto de Seguridade Social 0,00 0,00 3.323.650,70

Provisões de Férias e Encargos 801.854,20 928.939,62 663.333,94

Outras Obrigações 222.885,56 203.195,38 190.990,40

NÃO CIRCULANTE 9.952.063,87 9.543.626,54 3458.217,99

Portus instituto de Seguridade Social 7.866.590,35 7.089.369,44 0,00

Débitos Fiscais/previdenciário 735.373,87 920.683,71 1.924.644,19

Provisão para Contingências 1.311.887,45 1.495.361,19 1.495.361,19

Outras Obrigações 38.212,20 38.212,20 38.212,20

PATRIMÔNIO LÍQUIDO 15.857.814,97 8.183.680,36 9.460.947,20

Capital Integralizado 12.371.200,00 5.510.000,00 5.510.000,00

Reservas 18.462.500,00 13.861.200,00 11.811.200,00

Prejuízos Acumulados -14.975.885,03 -11.187.519,64 -7.860.252,80

Prejuízos Acumulados -14.975.885,03 -11.187.519,64 -7.860.252,80

COMPENSAÇÃO 3.444.029,10 0,00

Garantias de Contrato 1.525.817,16 0,00

Garantias de Proposta 1.918.211,94 0,00

32.490.678,67 22.741.635,69 18.845.518,77 Fonte: Porto do Recife

159

ANEXO C – Porto do Recife - Demonstrativo do Resultado do Exercício

2010 2009 2008

Receita Bruta dos Serviços – Longo Curso 16.360.049,40 13.327.818,69 15.997.213,38

Rec. Bruta dos Serviços – Aluguel e Arrendamento

2.618.160,45 2.782.030,38 2.650.606,32

RECEITA BRUTA OPERACIONAL 18.978.309,85 16.109.849,07 18.647.819,70

Impostos e Contribuições sobre Receita (2.036.773,79) (1.721.301,56) (1.719.914,29)

RECEITA LÍQUIDA 16.941.536,06 14.388.547,51 16.927.905,41

Custos -7.542.616,80 -9.444.595,35 -9.297.209,02

LUCRO BRUTO 9.398.919,26 4.943.952,16 7.630.696,39

DESPESAS OPERACIONAIS -11.851.973,88 -9.028.283,03 -8.758.939,24

Despesas Gerais e Administrativas -13.614.061,73 -9.813.657,60 -9.957.955,58

Depreciação e Amortização (116.278,94) (253.023,61) (203.949,50)

Receitas (Despesas) Financeiras Líquidas 527.124,84 35.774,79 114.432,19

Outras Receitas e Despesas Operacionais 1.351.241,95 1.002.623,39 1.288.533,65

RESULTADO OPERACIONAL -2.453.054,62 -4.084.330,87 -1.128.242,85

RESULTADO ANTES DO IMPOSTO DE RENDA -2.453.054,62 -4.084.330,87 -1.128.242,85

Imposto de Renda e Contribuição social 0,00 0,00 0,00

RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO -2.453.054,62 -4084.330,87 -1.128.242,85 Fonte: Porto do Recife

ANEXO C - Demonstrações das Mutações do Patrimônio Líquido

Capital Realizado

Reservas Capital

Prejuízos Acumulados

Total

Saldos em 31 de dezembro de 2008 5.510.000,00 11.811.200,00 -7.860.252,80 9.460.947,20

Auxílio para Obras-Governo Estadual 2.050.000,00 2.050.000,00

Ajuste de Exercício Anterior 757.064,03 757.064,03

Prejuízo do Exercício -4.084.330,87 (4.084.330,87)

Saldos em 31 de dezembro de 2009 5.510.000,00 13.861.200,00 -11.187.519,64 8.183680,36

Auxílio para Obras-Governo Estadual 6.861.200,00 4.601.300,00 11.462.500,00

Ajuste de Exercício Anterior -1.335.310,77 (1.335.310,77)

Prejuízo do Exercício -2.453.054,62 (2.453.054,62)

Saldos em 31 de dezembro de 2010 12.371.200,00 18.462.500,00 -14.975.885,03 15.857.814,97

Fonte: Porto do Recife

160

ANEXO D – Porto do Recife - Área e Projeto conceitual do Porto Novo - REVAP

Figura 1 – Área do Porto Novo – REVAP

Fonte: Porto do Recife

Figura 2 – Projeto dos Escritórios – Armazém 09

Fonte: Porto do Recife

Figura 3 - Festival Center – Aramazéns 13, 14 e 15.

161

Fonte: Porto do Recife

Figura 4 – Hotel – armazém 15

Fonte: Porto do Recife

Figura 5 – Centro de Convenções – Armazéns 16 e 17

162

Fonte: Porto do Recife

163

ANEXO E – Questionário das entrevistas com os clientes do Porto do Recife

PESQUISA NO PORTO DO RECIFE - QUESTIONÁRIO I

PÚBLICO: CLIENTES DO PORTO DO RECIFE DATA_____/______/_____

A pesquisa sobre o Porto do Recife tem como objetivo identificar os seus principais problemas estruturais, operacionais e de gestão, também denominados de “gargalos”, assim como, as possíveis soluções, que aplicadas poderão proporcionar-lhe um melhor padrão de competitividade. A pesquisa é parte integrante de uma dissertação de mestrado cujo tema trata da adequabilidade do Porto do Recife aos novos desafios do pólo logístico do Estado. É, portanto de natureza puramente acadêmica e deverá ser usado pelo autor nas argumentações dentro do trabalho. 1 - Nome da Empresa:_________________________________________________

Endereço:___________________________________________________________

Nome do entrevistado:_________________________________________________

Cargo:______________________________________________________________

2 - Desde quando sua empresa opera no Porto do Recife?_____________________

3 - Sua empresa opera em outros portos? Quais?____________________________

4 - Quais os Produtos que sua empresa transporta pelo Porto do Recife?

5 – Quais as vantagens que sua empresa tem em operar no Porto do Recife?

6 – Quais as desvantagens que sua empresa tem em operar no Porto do Recife?

7 – Qual a sua expectativa de negócios para os próximos anos?

8 – Quais os gargalos do porto do Recife?

9 - Como o Sr. avalia o acesso aquaviário do porto?

10 – Como o Sr. avalia o acesso rodoviário do porto?

11- Como o Sr. avalia o acesso ferroviário do porto?

12– Como o Sr. avalia os serviços efetuados no porto?

13 – Como o Sr. avalia a atuação dos operadores portuários?

14 – Como o Sr. avalia a gestão portuária?

15 – O Sr. gostaria de comentar mais sobre o porto do Recife?

164

Questionário 1 - Qual a vantagem para sua empresa em operar no porto do Recife? ( ) Localização ( ) Tarifas portuária ( ) Terminal adequado ao produto da empresa ( ) Eficiência do terminal utilizado ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 2 - Quais os problemas que sua empresa enfrenta na operação com o Porto do Recife? ( ) Acesso rodoviário ( ) Acesso ferroviário ( ) Instalações para operação e armazenamento inadequada ( )Terminal de carga ineficiente ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 3 – Qual é a sua expectativa para a movimentação (importação/exportação) de seu produto para este ano? ( ) Redução em relação ao ano anterior ( ) manutenção em relação ao ano anterior ( ) Crescimento de até 10% em relação ao ano anterior ( ) Crescimento em até 20% em relação ao ano anterior ( ) crescimento superior a 20%. Quanto?_____________________________ 4 - Como o Sr. avalia o acesso aquaviário aos berços do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 5 - Qual o principal problema relacionado ao acesso aquaviário? ( ) Profundidade do canal ( ) Profundidade dos berços ( ) Disponibilidade de berços ( ) Sinalização/balizamento ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 6 -. Como o Sr. avalia o acesso rodoviário do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 7 - Qual o principal problema relacionado ao acesso rodoviário do Porto? ( ) Rodovia em precárias condições de tráfego ( ) Circulação por área urbana ( ) Falta de segurança/roubo de cargas ( ) Congestionamento de veículos de carga ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 8 - Como o Sr. avalia o acesso Ferroviário do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 9 - Qual o principal problema relacionado ao acesso ferroviário?

165

( ) Ferrovia em precárias condições de tráfego ( ) Circulação por área urbana ( ) Falta de segurança/roubo de cargas ( ) Congestionamento de veículos de carga ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 10 - Como o Sr. avalia as tarifas e os custos pelos serviços do porto. ( ) Ótimo ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim 11 - Qual o serviço de maior custo cobrado no Porto? ( ) Serviço dos operadores portuários ( ) Serviço de armazenamento ( ) Serviço de despachos aduaneiros ( ) Serviço dos armadores (frete) ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 12 - Como o Sr. avalia os operadores portuários do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 13 - Qual o principal problema relacionado aos operadores portuários? ( ) Custo elevado de serviço ( ) Equipamento obsoleto ( ) Baixa produtividade na execução dos serviços ( ) Fraca concorrência entre eles ( monopólio de operação) ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 14 - Como o sr. avalia a gestão portuária? ( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim 15 - Qual o maior problema relacionado a gestão portuária ( ) Excesso de burocracia ( ) Falta de planejamento ( ) Pouca integração entre os setores ( ) Mudança de dirigentes ( ) Outros. Citar_________________________________________________

166

ANEXO F – Questionário das entrevistas com operadores/agentes portuários

do Porto do Recife

PESQUISA NO PORTO DO RECIFE - QUESTIONÁRIO II

PÚBLICO: OPERADOR PORTUÁRIO/AGENTE MARÍTIMO

DATA_____/______/_____

A pesquisa sobre o Porto do Recife tem como objetivo identificar os seus principais problemas estruturais, operacionais e de gestão, também denominado de “gargalos”, assim como, as possíveis soluções que aplicadas poderão proporcionar-lhe um melhor padrão de competitividade. A pesquisa é parte integrante de uma dissertação de mestrado, cujo tema trata da adequabilidade do Porto do Recife aos novos desafios do polo logístico do Estado. É, portanto de natureza puramente acadêmica e deverá ser usado pelo autor nas argumentações dentro do trabalho. 1 - Nome da Empresa:_________________________________________________

Endereço:________________________________________________________

Nome do entrevistado:______________________________________________

Cargo do entrevistado:______________________________________________

2 - Desde quando sua empresa opera no Porto do Recife?____________________

3 - Sua empresa opera em outros portos?_________________________________

4 - Quais?__________________________________________________________

5 - Em sua opinião quais os gargalos do porto do Recife?

6 - Como o Sr. classificaria na ordem de importância esses gargalos?

7 – Como o Sr. avalia o acesso aquaviário do porto?

8 – Como o Sr. avalia o acesso rodoviário do porto?

9 – Como o Sr. avalia o acesso ferroviário do porto?

10 – Como o Sr. avalia a retroárea do porto?

11- Como o Sr. avalia a mão de obra fornecida pelo OGMO?

12 – Como o Sr. avalia a gestão da autoridade portuária?

13 – Como o Sr. avalia a atuação do CAP?

14 – Como o Sr. avalia os terminais de cargas do porto do Recife?

15 – O Sr. gostaria de comentar mais sobre o Porto do Recife?

167

Questionário

1 - Como o Sr. avalia o acesso aquaviário aos berços do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 2 - Qual o principal problema relacionado ao acesso aquaviário? ( ) Profundidade do canal ( ) Profundidade dos berços ( ) Disponibilidade de berços ( ) Sinalização/balizamento ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 3 -. Como o Sr. Avalia o acesso rodoviário do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 4 - Qual o principal problema relacionado ao acesso rodoviário do Porto? ( ) Rodovia em precárias condições de tráfego ( ) Circulação por área urbana ( ) Falta de segurança/roubo de cargas ( ) Congestionamento de veículos de carga ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 5 - Como o Sr. avalia o acesso Ferroviário do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 6 - Qual o principal problema relacionado ao acesso ferroviário? ( ) Ferrovia em precárias condições de tráfego ( ) Circulação por área urbana ( ) Falta de segurança/roubo de cargas ( ) Congestionamento de veículos de carga ( ) Outros. Citar__________________________________________________ 7 – Como o Sr. avalia a retroárea do Porto? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 8 - Qual o principal problema relacionado a retroárea do Porto? ( ) Espaço físico insuficiente ( ) Estado de conservação ruim ( ) Distribuição espacial inadequada ( ) Sinalização das vias deficiente ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 9 - Como o Sr. avalia as tarifas dos serviços cobradas pelo porto. ( ) Ótimo

168

( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim 10 - Como o Sr. avalia a mão de obra do OGMO? ( ) Ótimo ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim 11 - Qual o principal problema relacionada a Mão de Obra do Porto? ( ) Quantidade excedente ( ) Falta de treinamento ( ) Baixa produtividade ( ) Baixa remuneração ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 12 - Como o Sr avalia a gestão portuária? ( ) Ótimo ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim 13 - Qual o maior problema relacionado a gestão portuária? ( ) Excesso de burocracia ( ) Falta de planejamento ( ) Falta de sinergia entre os setores ( ) Gestores definidos por método político ( ) Outros. Citar_________________________________________________ 14 - Como o Sr. avalia a gestão do CAP ( ) Ótimo ( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim 15 - Qual o maior problema relacionado a gestão do CAP? ( ) Excesso de burocracia ( ) Excesso de regulação ( ) Pouca agilidade nas decisões ( ) Pouca interferência na gestão portuária

( ) outros. Citar___________________________________________________