Recurso_de_Revista - Gratuidade de Justiça e Isenção Do Depósito Recursal

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Recurso de Revista - gratuidade de Justiça

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  • Rua Bela Cin t ra , n 746 , c j . 11CEP 01415-902 Fon e 113258-4544 - So Paulo /SP

    www.bisker.adv.br EXMO. SR. DR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRGIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8 REGIO. PROCESSO N. 0000218-92.2011.5.08.0002

    VISUAL PRESENCE MARKETING INTEGRADO LTDA., por seus procuradores, os advogados que esta subscrevem ao final, nos autos da reclamao trabalhista que lhe move ARIANE DA CRUZ VIANA, vem respeitosamente perante V.Exa., tendo em vista os termos da r. deciso de fls., ingressar com RECURSO DE REVISTA, de acordo com os termos da alnea c do artigo 896 da CLT, pelos motivos de direito adiante declinados.

    Requer a concesso dos benefcios da justia

    gratuita nos termos no inciso LXXIV do art. 5 da CF/88, ante a situao de insuficincia financeira comprovada pelos documentos anexos.

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    Segue anexa a Relao Anual de Informaes Sociais-RAIS atualizada, documento este que comprova a impossibilidade da Recorrente suportar o pagamento das custas processuais e do depsito recursal, uma vez que encerrou as suas atividades ao passo que no possui nenhuma movimentao financeira.

    A Recorrente reitera o pedido de que todas as

    intimaes e notificaes sejam realizadas exclusivamente em nome do advogado FBIO BISKER, inscrito na OAB/SP sob o n 129.669, com escritrio localizado na Rua Bela Cintra, n 746, cj. 11, So Paulo, SP, CEP 01415.902.

    Termos em que, P. deferimento. So Paulo, 19 de Junho de 2012. FBIO BISKER OAB/SP 129.669 ALFREDO JOS VICENZOTTO OAB/SP 166.823

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    TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO PROCESSO N 0000218-92.2011.5.08.0002 RECORRENTE: VISUAL PRESENCE MARKETING INTEGRADO LTDA. RECORRIDO: ARIANE DA CRUZ VIANA

    RAZES DE RECURSO DE REVISTA

    COLENDA TURMA

    NCLITOS E EMRITOS JUIZES JULGADORES

    I. DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO

    Aos 15.06.2012 foi publicado acrdo pelo Egrgio Tribunal Regional do Trabalho da 8 Regio que no conheceu do Agravo de Instrumento interposto pela recorrente.

    Portanto, tempestivo o recurso de revista protocolado em 19.06.2012.

    Estes signatrios esto devidamente representados

    nos autos conforme instrumentos de mandato anteriormente trazidos. Considerando que a deciso de fls. tem carter

    terminativo do feito, o Recurso ora interposto medida cabvel em face do acrdo que denegou seguimento ao Recurso ordinrio interposto, sob o fundamento de desero, eis que violou os incisos LV e LXXIV da Carta Magna de 1988.

    Desta forma, o presente recurso cabvel de

    acordo com os termos da alnea c do artigo 896 da CLT, a fim de se ver suprimida a violao nos termos expostos.

    II. DAS RAZES DO RECURSO

    Os Desembargadores da 3 Turma do Egrgio Tribunal Regional do Trabalho da 8 Regio, negaram conhecimento ao Agravo de Instrumento interposto pela Recorrente por falta de preparo, em razo da falta de recolhimento do depsito recursal.

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    Ocorre que na petio de interposio daquele remdio jurdico, a Recorrente fundamentou o seu pedido com base no artigo 5, inciso LV, do Cdigo Supremo, da seguinte forma:

    Requer a concesso dos benefcios da justia gratuita nos termos no inciso LXXIV do art. 5 da CF/88, ante a situao de insuficincia financeira comprovada pelos documentos anexos.

    Na oportunidade a Recorrente juntou a relao anual de informaes sociais negativa, que comprova a ausncia de movimentao econmica da Recorrente, evento este suficiente para comprovar a impossibilidade da Recorrente suportar as despesas processuais tal qual o depsito judicial.

    Tal pedido, em razo do despacho denegatrio, foi indeferido.

    A Recorrente, apesar de respeitar a posio da C. turma com ela no compartilha, j que o seu pedido tem como amparo legal a Carta Constitucional de 1988, que assegura a todos o acesso ao Poder Judicirio, sem qualquer tipo de restrio.

    Por oportuno esclarece a Recorrente que

    consoante entendimento sedimentado no STJ, a falta de preparo e pagamento das custas no iro prejudicar a remessa e anlise de recurso para a instncia superior. Seno vejamos:

    O Superior Tribunal de Justia j firmou o entendimento de que a pessoa jurdica pode ser beneficiria da justia gratuita. O importante que a todos dado o acesso Justia, e se, eventualmente, a incapacidade financeira concretamente reconhecida constituir um obstculo, a gratuidade h de ser concedida, independentemente de ser a beneficiria pessoa fsica ou jurdica. Apenas exige a jurisprudncia que haja a efetiva demonstrao do estado de necessidade, no bastando para as pessoas jurdicas a mera alegao nesse sentido (Corte Especial, EREsp n. 388.045/RS, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de 22.09.2003; Corte Especial, EREsp n. 321.997/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJU de 16.08.2004; 4 Turma, REsp n. 556.081/SP, minha relatoria, DJU de 28.03.2005). (STJ-REsp 732884, DJ 05.10.2005, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR). Ademais a gratuidade estende-se ao depsito

    recursal:

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    RECURSO DE REVISTA. FERIADOS LABORADOS. JORNADA DE 12x36. PAGAMENTO EM DOBRO. INDEVIDO. [...]. ISENO DAS CUSTAS E DO DEPSITO RECURSAL. A fim de que a pessoa jurdica tenha direito ao benefcio da gratuidade de justia, deve comprovar a insuficincia de recursos, o que no est evidenciado no presente caso. Precedentes. Recurso de revista no conhecido. Processo: RR - 68700-32.2009.5.03.0025 Data de Julgamento: 06/10/2010, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, 8 Turma, Data de Publicao: DEJT 08/10/2010. (grifo nosso)

    neste sentido a IN n 3, item X do TST:

    X - No exigido depsito recursal, em qualquer fase do processo ou grau de jurisdio, dos entes de direito pblico externo e das pessoas de direito pblico contempladas no Decreto-Lei n. 779, de 21 . 8 . 69, bem assim da massa falida, da herana jacente e da parte que, comprovando insuficincia de recursos, receber assistncia judiciria integral e gratuita do Estado (art. 5, LXXIV, CF). (grifo nosso)

    Desta forma, o benefcio da justia gratuita abrange no somente as custas processuais, estendendo-se inclusive ao depsito recursal, consoante ao dispositivo transcrito.

    Considere-se que outro no poderia ser o entendimento a cerca da matria, uma vez que o intuito da norma Constitucional que prev o benefcio o acesso a todas as instncias na persecuo do direito.

    INSUFICINCIA ECONMICA DO EMPREGADOR. JUSTIA GRATUITA. O Reclamado, dono de uma firma individual, enquadrado como microempresrio, ao interpor o Recurso Ordinrio, declarou, de prprio punho, sob as penas da lei, ser pobre na acepo jurdica do termo, no tendo condies de residir em Juzo pagando as custas do processo sem prejuzo do prprio sustento e dos respectivos familiares. Assim, no se apresenta razovel, diante da peculiaridade evidenciada nos autos, a desero declarada pelo Tribunal Regional, na medida em que o entendimento adotado acabou por retirar do Reclamado o direito ampla defesa, impedindo-o de discutir a condenao que lhe foi imposta em 1 Grau. A tese lanada na Deciso revisanda vai de encontro aos termos do art. 5 da Constituio Federal, pois tal dispositivo,

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    em seu inciso LXXIV, estabelece textualmente que o Estado prestar assistncia jurdica integral e gratuita aos que comprovarem insuficincia de recursos, sem fazer qualquer distino entre pessoas fsica e jurdica. Recurso conhecido e provido (TST 2 T RR 728010-27.2001.5.09.5555 Relator Ministro: Jos Luciano de Castilho Pereira DJ 11/4/2006).

    Desta forma, possvel a concesso da iseno para o empregador quanto ao recolhimento do depsito recursal, visto que a assistncia judiciria gratuita compreende a iseno dos depsitos previstos em lei para interposio de recurso, ajuizamento de ao e demais atos processuais inerentes ao exerccio da ampla defesa e do contraditrio (acrscimo do inciso VII ao art. 3, da Lei 1.060/50, pela LC 132, de 7/10/2009).

    Este entendimento esta sedimentando-se nos Tribunais Superiores, conforme deciso recente:

    EMENTABENEFCIOS DA JUSTIA GRATUITA. PESSOA JURDICA. CONDICIONADA PROVA DE INSUFICINCIA DE RECURSOS. DEPSITO RECURSAL INCLUDO. possvel deferir o benefcio da Justia Gratuita pessoa jurdica, com base no artigo 5, LXXIV, da Constituio Federal, inclusive, de acordo com a alterao promovida no artigo 3 da Lei n 1.060/50, pela Lei Complementar n 132/2009, abarcando a possibilidade de iseno do depsito recursal. Tal benefcio est condicionado prova inequvoca da insuficincia de recurso, o que foi providenciado pela parte reclamada. Agravo de instrumento a que se d provimento. Processo 0000869-51.2010.5.15.0104, TRT15, Relator: CONCEIO APARECIDA ROCHA DE PETRIBU FARIA. 31.01.2011.

    Ressalta a Recorrente que o benefcio pleiteado no resta prejudicado pelo simples fato de ser pessoa jurdica. bem verdade que a questo aqui suscitada j gerou muita controvrsia no mundo jurdico, ante o posicionamento geralmente restritivo que alguns pretrios brasileiros sustentavam, os quais, sistematicamente, vedavam aos entes jurdicos tal via de acesso prestao jurisdicional do Estado, sob o argumento de que esta pretenso no se encontra ao abrigo da Lei 1.060/50.

    No entanto, tal posicionamento no guarda sintonia com as aspiraes da sociedade brasileira, consoante o que passa a ser exposto considerando a recente alterao promovida pela Lei Complementar n 132/2009 na redao do art. 3 da Lei n 1060/50, referiu-se expressamente aos depsitos judiciais, nos seguintes termos:

    Art. 3. A assistncia judiciria compreende as seguintes isenes:

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    (...)

    VII - dos depsitos previstos em lei para interposio de recurso, ajuizamento de ao e demais atos processuais inerentes ao exerccio da ampla defesa e do contraditrio.

    Desta forma, a fim de garantir o exerccio da ampla defesa, a lei assegurou a todos a possibilidade de recorrer sem efetuar o depsito recursal.

    Antes de ingressarmos propriamente no tema, devemos enfatizar o porqu da abordagem da viabilizao do acesso ao Judicirio das pessoas jurdicas atravs da iseno de custas e do depsito recursal, e sua importncia no contexto atual do desenvolvimento do Direito Civil brasileiro.

    Para tanto, importantes so os ensinamentos do emrito Professor e Desembargador carioca Barbosa Moreira, que, com a felicidade que lhe habitual, asseverou, ao dissertar sobre a funo social do processo civil moderno, que hoje h, basicamente, duas preocupaes principais na aplicao deste ramo no ordenamento jurdico: uma, que diz com a eliminao de toda e qualquer distino entre os homens que tenha por base diferenas de sexo, de poder aquisitivo, de grupo tico e dos demais elementos de segregao dos seres humanos; e outra, que objetiva assegurar a primazia dos interesses da coletividade sobre os estritamente individuais (A funo social do processo civil moderno e o papel do juiz e das partes na direo e na instruo do processo, artigo publicado na RePro 37/140, Ed. RT).

    Neste sentido, deve-se atentar que para alcanar tal escopo, o da defesa da coletividade e da igualdade, torna-se imperioso facilitar a criao e a atuao das pessoas jurdicas, entendidas estas no somente pelas fundaes, associaes ou clubes de servio, instituies que agregam e mobilizam os cidados mais carentes na defesa de seus direitos, como tambm as sociedades comerciais que impulsionam a economia brasileira, gerando produo, riqueza, empregos e, principalmente, receita para o Estado.

    O caminho a ser seguido deve ser norteado pela inteno de resguardar os direitos naturais dos menos favorecidos, prerrogativas estas que no podem ser obstaculizadas pela falta de recursos financeiros dos entes fsicos e jurdicos dela necessitados.

    Feitas estas consideraes, passemos a ingressar propriamente no estudo da possibilidade ou no das pessoas jurdicas litigarem sob o benefcio da assistncia judiciria gratuita.

    Neste ensejo, impe-se, preliminarmente, individualizar a natureza jurdica do instituto. E, para tanto, ningum melhor do

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    que Pontes de Miranda, que, ao comentar o 32 do art. 153 da CF 1969, assinalou constituir tal disposio direito subjetivo do necessitado (Comentrios Constituio de 1967 com a Emenda 1 de 1969, 3 ed., v. 5/641).

    Entretanto, convm advertir que no advento daquela Carta tal comando s se aplicava s pessoas fsicas, eis que inserto no captulo dos direitos e garantias individuais. Para ele, as sociedades, de ordinrio, s tinham direitos privados. Quem, eventualmente, poderia ter direitos e garantias constitucionais seriam os seus membros.

    Tal fato, todavia, no obstou que o mesmo Pontes reconhecesse o direito das pessoas jurdicas imunidade das custas e a concesso de advogado gratuito com fundamento nos arts. 68 e 69 do CPC de 1939 (Comentrios ao CPC de 1939, 2 ed., v. 1/159, Saraiva).

    Hoje, a situao diversa. A Constituio de 1988, no ttulo II referente aos direitos e garantias fundamentais, prev, em seu captulo I, disposies aplicveis a indivduos de forma isolada e coletiva.

    o que bem assinala Pinto Ferreira ao dizer que o regime jurdico das liberalidades pblicas protege tanto as pessoas naturais quanto as pessoas jurdicas, pois todos tm direito existncia, segurana, propriedade, proteo tributria e aos remdios constitucionais (Comentrios Constituio Brasileira, v. 1/60, Saraiva, 1989).

    Logo, atualmente, a abordagem da matria deve partir do prprio texto da Lei Maior, uma vez que o inciso LXXIV do art. 5 daquele diploma legal no discrimina, para efeitos de assistncia jurdica, as pessoas jurdicas, sejam elas associaes, fundaes ou sociedades civis e comerciais.

    Alm disso, tal preceito deve ser interpretado de forma harmnica com o inciso XXXV do mesmo artigo, o qual veda a excluso da apreciao pelo Poder Judicirio de qualquer ameaa ou leso de direito, sem que precise ser, como na Constituio passada, individual.

    Consequentemente, o avano da Lei Maior foi marcante, eis que ampliou, e muito, o contedo das garantias, agora no s individuais.

    Nestes termos, ficam assegurados a todos as prerrogativas do art. 5 da CF/88, inclusive aos entes jurdicos, no que lhes for aplicvel, bem como a concesso do benefcio da assistncia judiciria, em sendo necessrio, para evitar afronta ao comando da Carta Federal que obsta qualquer vedao ao acesso dos litigantes ao Judicirio.

    O preceito, como bem acentuou o j citado Pontes de Miranda, continua sendo auto-aplicvel, independentemente de qualquer regulamentao infra-constitucional.

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    Desta forma, desarrazoado o entendimento restritivo de assegurar somente s pessoas fsicas, o benefcio da justia gratuita. O termo personalssimo empregado pelo art. 10 da Lei 1.060/50 quer dizer inerente pessoa, seja fsica ou jurdica. Qualificando o benefcio de personalssimo, quis o legislador significar que s aproveita parte que obteve, no a outra. Isso est bem esclarecido no dispositivo legal supra-referido.

    Da mesma forma, tal posicionamento rechaa a alegao de que sociedade no interessa proteger a existncia precria de uma pessoa jurdica. No procede porque a situao de dificuldade pode ser passageira e at resultante dos fatos que motivaram a demanda. E, depois, justamente porque se trata de proteger um direito personalssimo, individual, este que deve ser considerado, no o social.

    Com a adoo da Carta de 1988, os representantes do povo pretenderam socializar e humanizar o acesso dos milhes de brasileiros completamente alijados do processo de produo e deciso deste Pas, a alguma forma de tutela e proteo dos seus direitos mais elementares, dos quais restaram absolutamente despojados pelo abismo de misria e pobreza que segrega um enorme contingente da nossa gente, da posio relativamente confortvel em que se encontram a classe mdia alta e os ricos no Brasil.

    Neste sentido, impe-se superar as restries que alguns juristas tinham em deferir assistncia judiciria s pessoas jurdicas.

    No h qualquer preceito na Lei 1.060/50 que alimente ou encoraje semelhante discriminao.

    O que deve ser bem entendido que hoje essa questo restou superada.

    Ocorre que, com a inovao constitucional mencionada, alterou-se a esfera legal de disciplinao da matria, que deixou de ser regrada a nvel de lei ordinria e passou a ser regulada na rbita da Lei Maior.

    E, nesta, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, no captulo referente aos direitos individuais e coletivos, h a previso de assistncia jurdica sem que o texto elaborado pelo constituinte discrimine beneficirios fsicos ou jurdicos.

    Alis, foi exatamente essa a inovao, eis que o constituinte abandonou o individualismo que marcou o posicionamento do cidado frente ao Estado desde o advento da Revoluo Francesa, para, agora, sobrepor o interesse coletivo ao Poder Pblico e ao prprio indivduo isolado.

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    No foi outra a inteno dos representantes do povo ao conceberem o instituto do mandado de segurana coletivo, ou ao difundirem a legitimidade para a propositura da ao de inconstitucionalidade s confederaes sindicais, entidades de classe de mbito nacional, partidos polticos e outras agremiaes.

    Nessas e em outras passagens, o supremo legislador foi clarssimo ao privilegiar o coletivo, inclusive, em sendo necessrio, at em detrimento do direito egosta, mesquinho, do indivduo de comportamento anti-social.

    Dentro desta nova sistemtica, nada mais justo do que se oportunizar s coletividades e s instituies que as representam, a faculdade de, quando necessrio, poder litigar sob o abrigo da imunidade das custas e do depsito recursal.

    O escopo do constituinte foi assegurar a todos, e especialmente aos menos favorecidos e em situaes de falta de recursos, o sagrado direito do recurso ao Poder Judicirio, evitando que estes tenham que desviar parte ou at a totalidade de seus preciosos recursos para pagamento de custas judiciais.

    Afinal, o direito constitucional de demandar em juzo no pode sofrer bices que acarretem at o encerramento de suas atividades

    No podemos deixar de salientar ainda a funo social do direito, to bem sintetizada pelo notvel Carlos Maximiliano, ao dizer que toda a cincia que se limita aos textos de um livro e despreza as realidades ferida de esterelidade. Cumpre ao magistrado ter em mira um ideal superior de justia, condicionado por todos os elementos que informam a vida do homem em comunidade. No se pode conceber o Direito a no ser no seu momento dinmico, isto , como desdobramento constante da vida dos povos. A prpria evoluo desta cincia realiza-se no sentido de fazer prevalecer o interesse coletivo, embora timbre a magistratura em o conciliar com o do indivduo (Hermenutica e Aplicao do Direito, 10 ed., Forense, 1988, p. 158).

    No outro o entendimento da j numerosa corrente jurisprudencial que vem se firmando dentro de nossos tribunais, tendo em vista as diversas decises abaixo transcritas que, exemplarmente, refletem corretamente a inteno do legislador, aplicando, na essncia, o verdadeiro sentido da norma jurdica comentada:

    Ementa: Assistncia judiciria. Pessoa jurdica. admissvel possa a pessoa jurdica pedir e obter assistncia judiciria. A lei no distingue entre os

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    necessitados (Lei 1.060/50, art. 2 e pargrafo nico). Caso, porm, em que a requerente no pobre, juridicamente (... possui ela patrimnio, s que imobilizado, mas de qualquer forma, no enquadrada no conceito de pessoa juridicamente pobre, do acrdo local). Fundamento esse no impugnado, envolvendo tambm matria probatria. Recurso especial no conhecido. (Recurso Especial n 70.469 - RJ - Registro n 95.0036321-6, Relator o Sr. Ministro Nilson Naves, Revista do Superior Tribunal de Justia 98/239) (g.n)

    Do teor do voto vencedor, prolatado pelo Exmo. Relator, cumpre destacar o seguinte trecho:

    So oferecidos ao Debate o art. 2 e seu pargrafo, que tem essa redao: Art. 2 Gozaro dos benefcios desta lei os nacionais ou estrangeiros residentes no pas, que necessitarem recorrer Justia penal, civil, militar ou do trabalho. Pargrafo nico. Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situao econmica no lhe permita pagar as custas do processo e os honorrios de advogado, sem prejuzo do sustento prprio ou da famlia. De fato, a lei no distingue os necessitados de modo que pessoa jurdica pode tambm se encontrar em situao econmica tal que no lhe permita pagar as custas do processo e os honorrios de advogado... ... Acho eu que o melhor no distinguir onde em boa verdade no h distino, at porque, logicamente, a situao econmica que no permite algum cobrir as despesas do processo pode tambm ser a da pessoa jurdica, em dado momento de sua existncia til. Recomenda-se que a norma seja interpretada pelo mtodo lgico, em ateno ao seu esprito (g.n)

    No mesmo sentido a deciso publicada na Revista Forense, volume 43, p. 364, proferida no Agravo de Instrumento n 050.101-4/7, 3 Cmara de Direito Privado do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, cujo Relator foi o Des. nio Santarelli Zuliani:

    O acesso ordem jurdica justa que a assistncia gratuita permite no um direito exclusivo das pessoas fsicas, podendo ser reconhecido sociedade comercial que, sem caixa e sem atividade, busca indenizao securitria pelos

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    danos de incndio que destruiu completamente seu parque industrial (g.n)

    Do teor do voto do Exmo. Relator, acompanhado por unanimidade, vale destacar os seguintes trechos:

    No heresia admitir que uma sociedade civil ou comercial, para exercer com plenitude o direito pblico de demandar, necessite de proteo do Estado, a exemplo do que sucede com a pessoa fsica carente e que necessita do amparo - leia-se anistia das despesas do processo - para obter resposta dos Juizes sobre seus anseios e insatisfaes sociais. ... Que a exigncia do pagamento de custas para uma petio inicial formar uma lide representa um nus que embaraa o exerccio do direito de ao, isso inegvel, tanto que a prpria Lei n 1.060/50 veio para eliminar esse bice aos que, carentes de recursos financeiros, abandonavam, antes de comear, a briga judicial para no comprometer receitas indispensveis para a sobrevivncia prpria e ou de dependentes. Quanto ao investimento no processo, preleciona Cndido Rangel Dinamarco (A Instrumentalidade do Processo, Ed. RT, 1987, p. 396), aparece aos olhos da pessoa como desproporcional ao proveito a postular e, em face do risco assumido, ele constitui freio inibitrio ao exerccio da ao e possivelmente ser mais um fator de permanncia de insatisfaes. Para Ada Grinover, a Lei n 1.060/50, mantida como norma absoluta pelo Cdigo atual, obsoleta, cuja regulamentao falha e defeituosa enseja dvidas sobre a constitucionalidade do sistema, que no garante s partes a efetiva igualdade dentro do processo (Os princpios Constitucionais e o Cdigo de Processo Civil, Ed. Jos bushatsky, 1975, p. 60) Discriminar a pessoa jurdica, na avaliao dos beneficirios da gratuidade, afrontar a lgica do princpio de igualdade processual (art. 125, I, do Cdigo de Processo Civil), um enunciado constitucional concebido para permitir que o processo sirva aos necessitados no plano econmico e jurdico, como serve ao rico usurio ... Negar-lhe a gratuidade judiciria diante da indiscutvel precariedade monetria do momento, seria subtrair-lhe o direito de exigir a indenizao securitria que considera justa e compatvel com o

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    resultado danoso, um tipo indireto de presso que fomenta um acerto voluntrio e extrajudicial desastroso e incompatvel com a finalidade do contrato de seguro ... O carter pessoal interpreta-se com que intransfervel e no com exclusividade do conceito de miserabilidade humana com condio de assistncia ao litigante - pessoa fsica - pobre e carente. Para a sociedade comercial, por exemplo, a falncia ganha o mesmo significado de impossibilidade de pagamento das custas do processo. Seria correto tratar a empresa que da noite para o dia perde tudo e somente conta com a expectativa de ganhar na Justia a indenizao securitria, de forma diversa de uma firma falida na hora da distribuio de uma ao indispensvel para o saneamento financeiro. A excepcionalidade de certas situaes permite recepcionar pedidos de assistncia judiciria s pessoas jurdicas, uma garantia do amplo acesso Justia para todos os necessitados de apoio econmico (art. 5, LXXIV, da CR e art. 10 da Lei n 1.060/50). Essa a interpretao consentnea com a doutrina moderna do processo. (g.n)

    Nesse mesmo diapaso, segue abaixo transcrita a ementa da deciso publicada na Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul n 179, p. 265, proferida no Agravo de Instrumento n 596100511, 5 Cmara Cvel - Porto Alegre:

    Processual civil. Benefcio da gratuidade. Concesso a pessoa jurdica. Admissibilidade. Impossibilidade de o benefcio retroagir para livrar o beneficirio de captulo condenatrio de sentena transitada em julgado. 1. perfeitamente admissvel, luz do art. 5, LXXIV, da CF/88, a concesso do benefcio da gratuidade pessoa jurdica que demonstre, cabalmente, a impossibilidade de atender s despesas antecipadas do processo, o que vedaria seu acesso Justia... (g.n)

    Do inteiro teor do voto do Exmo. Sr. Relator Des. Araken de Assis, acompanhado, por unanimidade pelos demais Desembargadores, vale destacar o seguinte:

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    ...Em princpio, a pessoa jurdica em tal situao, ou seja, impossibilitada de atender s despesas do processo, faz jus ao benefcio da gratuidade. O art. 5, LXXIV, da CF/88, no distingue entre pessoas fsicas e jurdicas - argumento do ven. acrdo de fls. 90/96, do egrgio 3 Grupo de Cmaras Cveis, relatado pelo eminente Des. Clarindo Favretto - , e, a despeito de a definio legal de necessitado (art. 2, pargrafo nico, da Lei n 1.060/50), se referir, obviamente, quelas pessoas, isto no impede a concesso do benefcio quando h ameaa de leso do acesso Justia. Vale reproduzir, neste assunto, a lio de Augusto Tavares Rosa Marcacini (Assistncia Jurdica, Assistncia Judiciria e Justia Gratuita, p. 89, Rio de Janeiro, 1996): ... se houver um caso concreto em que a no concesso da gratuidade implique inevitavelmente leso aos princpios constitucionais, a gratuidade deve ser concedida, ainda que o conceito legal de necessitado no se coadune com aquele que postula o benefcio, pois a definio legal no se superpe queles princpios superiores. (g.n)

    V-se, pois, que de acordo com o exposto, a norma legal que regulamenta a matria aquela prevista na Constituio, sendo certo que a mesma no faz qualquer espcie de discriminao. Alis, nem mesmo a lei ordinria estabelece tal diferena.

    Todavia, ainda que esta o fizesse, no encontraria fundamento de validade na Constituio, em virtude da mesma no diferenar a pessoa natural da pessoa jurdica, para efeito do benefcio aqui postulado.

    Ademais, no podemos deixar de se ter em vista que ainda vivemos em um Estado Democrtico de Direito e, como tal, os direitos e garantias previstos no art. 5 da Constituio, dentre os quais est a assistncia judiciria gratuita, constituem uma das clusulas ptreas previstas no art. 60, 4 da Lei Maior.

    Desta forma, a contrrio senso do fundamentada na deciso proferida em instncia inferior, h sim amparo legal no pedido da Recorrente, sendo que a Recorrente no se limitou a alegar a sua insuficincia econmica, sendo que juntou em Juzo o RAIS negativa, suficiente a comprovar a real incapacidade financeira da Recorrente.

    Neste interim, no merece respaldo o fundamento utilizado pelos doutos julgadores, que recacharam a existncia do documento apresentado pela Recorrente e fundamentaram o decisium proferido na insuficincia de comprovao da incapacidade financeira.

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    Observe-se que a RAIS negativa apresentada pela Recorrente, informa de forma cabal a inexistncia de qualquer movimentao financeira da recorrente, evento que por sua vez comprova a inexistncia de recursos suficientes a realizao do depsito Judicial e custas recursais.

    Ademais foge a razoabilidade, o entendimento de que a Recorrente teria condies de realizar o depsito recursal nos termos propostos, ainda que diante do encerramento das suas atividades bem como da inexistncia de qualquer movimentao financeira.

    Ressalte-se que o encerramento das atividades da

    Recorrente deu ensejo ao ajuizamento de aes em todo o territrio brasileiro, certo que a inexistncia de qualquer movimentao financeira, gera a absoluta impossibilidade de a Recorrente arcar com o pagamento das custas e depsito recursal.

    Finalmente, insta observar que a recusa

    apreciao da defesa da Recorrente, ir implicar em enriquecimento indevido do recorrente, que ir receber verbas comprovadamente quitadas, ao passo que ir prejudicar trabalhadores portadores de crdito legtimo.

    Posto isso, e do mais que certamente ser suprido com os notrios conhecimentos dos integrantes desta Turma Julgadora, requer a Recorrente que o presente remdio jurdico seja conhecido e provido, para o fim de determinar-se o processamento do recurso ordinrio, como de direito.

    Da porque, dever ser reformada a deciso que negou conhecimento ao Recurso Ordinrio, e por consequncia pugna pelo retorno dos autos ao Tribunal Regional da 18 Regio a fim de que seja processado e julgado o Recurso ordinrio interposto, como medida da mais ldima JUSTIA Termos em que, P. provimento.

    So Paulo, 19 de Junho de 2012.

    FBIO BISKER OAB/SP 129.669

    ALFREDO JOS VICENZOTTO OAB/SP 166.823

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  • PODER JUDICIRIOJUSTIA DO TRABALHO

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    RECIBO

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    Data e hora do recebimento 19/6/2012 16:07:00(Horrio de Braslia)19/6/2012 19:07:00(Horrio UTC)Nmero de Protocolo 6.137.206Nmero do Processo 0000218-92.2011.5.08.0002

    Destino da Petio Tribunal Regional: TRT8Unidade Judiciria: Tribunal Regional do Trabalho da 8 RegioTipo do Documento Interpondo recurso de revista

    Responsvel pelo Envio FABIO BISKER125.694.848-90

    Responsvel pela assinaturaDigital

    FABIO BISKER125.694.848-90[OAB]129.669

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    I. DO CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO

    2012-06-19T16:11:26-0300FABIO BISKER:12569484890