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Revista de Políticas Públicas ISSN: 0104-8740 [email protected] Universidade Federal do Maranhão Brasil Abreu, Marina Maciel; Ferreira Cerqueira Guimarães, Lucilene O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do assistente social a partir do SUAS Revista de Políticas Públicas, octubre, 2012, pp. 163-169 Universidade Federal do Maranhão São Luís, Maranhão, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321131651015 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista de Políticas Públicas

ISSN: 0104-8740

[email protected]

Universidade Federal do Maranhão

Brasil

Abreu, Marina Maciel; Ferreira Cerqueira Guimarães, Lucilene

O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do

assistente social a partir do SUAS

Revista de Políticas Públicas, octubre, 2012, pp. 163-169

Universidade Federal do Maranhão

São Luís, Maranhão, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321131651015

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o SERViÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho doassistente social a partir do SUAS

Marina Maciel AbreuUniversidade Federal do Maranhão (UFMA)

Lucilene Ferreira Cerqueira GuimarãesConselho Regional de Serviço Social (CRESS/MA)

o SERViÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do assistentesocial a partir do SUASResumo: O texto discute a expansão do trabalho profissional na área da assistência social a partir do SUAS,com indicações sobre a particularidade no Maranhão. Parte do pressuposto de que a assistência é fortalecidacomo política no enfrentamento das desigualdades e controle da pobreza, nos marcos das reformas neoliberaisno país desde os anos 1990, e constitui principal espaço de atuação dos assistentes sociais no mercado detrabalho. Aponta contradições e desafios profissionais frente ao revigoramento do assistencialismo e da filantropiacomo padrão assistencial predominante no país a despeito das conquistas constitucionais de 1988 em que aassistência é inscrita como direito e política no âmbito do sistema seguridade social.Palavras-chave: Serviço Social, assistência social, SUAS Sistema Único de Assistência Social, trabalhoprofissional, Maranhão.

SOCIAL WORK lN THE FIELD OF SOCIAL ASSISTANCE: on the expansion of social work from the perspectiveof SUAS (Sistema Único de Assistência Social)Abstract: This paper discusses the expansion of professional work in the area of social assistance from theperspective of SUAS (Sistema Único de Assistência Social), with indications about the peculiarily of the State ofMaranhão. It assumes that the assistance has been strengthened as a policy when facing inequalities andpoverty control within the framework of neoliberal reforms in the country since the 1990s and it is the mainperformance field of social workers in the labor markel. It points out contradictions and challenges facing theprofessional assistance and the strengthening of philanthropy as the standard of assistance prevailing in thecountry despite the constitutional achievements of 1988 in which the assistance is entered as right and policywithin the social security system.Key words: Social Work, social assistance, SUAS Sistema Único de Assistência Social, professional work,Maranhão.

Recebido em: 16.11.2010. Aprovado em: 16.06.2011.

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Marina Maciel Abreu e Lucilene Ferreira Cerqueira Guimarães

1 INTRODUÇÃO

Neste texto discutimos a inserção do ServiçoSocial na área da Assistência Social como partedas reflexões desenvolvidas a partir da pesquisa"Tendências da inserção dos assistentes sociaisno mercado de trabalho e a questão da identidadeprofissional no Maranhão: determinações e formasde expressão nos marcos do neoliberalismo -1990/2010", em andamento desde 2008, no âmbito doGrupo de Estudos, Pesquisa e Debates emServiço Social e Movimento Social (GSERMS),integrante do Departamento de Serviço Social evinculado ao Programa de Pós-Graduação emPolíticas Públicas da UFMA.

Consideramos, com base nos fundamentosnorteadores do projeto de pesquisa, que ainserção das assistentes sociais no mercado detrabalho, nas diferentes áreas,

Foi reconfigurada sob o impacto dastransformações ocorridas no Brasil coma implantação e consolidação doneoliberalismo na década de 1990, nocontexto da reestruturação das relaçõesentre capital e trabalho, desencadeadapelo capital, desde o final da década de1970. Tais transformações produzemprofundo impacto nas práticas sociais emgeral das quais destacamos aqui o campoespecífico das práticas profissionais1 e,em particular aquelas vinculadas áspolíticas sociais. Com o neoliberalismoestas políticas foram redefinidas em todoo mundo, mediante a (re)configuração doEstado para responder as exigências docapital em crise, impondo um claroretrocesso em relação á tendênciaconstitu ída nos anos 30 do séculopassado quando foi instituído, nos paísescentrais do capitalismo, o Estado de BemEstar no âmbito do modelo fordista­taylorista das relações de produção.(GRUPO DE ESTUDOS, PESQUISA EDEBATES EM SERViÇO SOCIAL EMOVIMENTO SOCIAL, 2010).

Assim, a assistência social que, de acordocom o art. 194 da Constituição Federal de 19882,

passa a constituir com a saúde e a previdênciao sistema de Seguridade Social brasileiro,paradoxalmente é fortalecida no processo daReforma do Estado nos anos 1990, comoprincipal estratégia de enfrentamento dasdesigualdades e controle da pobreza; e, combase na Lei Orgânica da Assistência Social(LOAS/1993) e, agora, do Sistema Único de

Assistência Social (SUAS/2006) amplia oespaço do exercício profissional do assistentesocial, com a elevação da demanda paraatuação desse profissional em todos os níveisde gestão da atual pol ítica de assistência social.Essa ampliação do espaço do trabalhoprofissional avança principalmente nosmunicípios através dos Centros de Referênciade Assistência Social (CRAS) e dos Centros deReferência Especializados de Assistência Social(CREAS), por força da NOB-RH-SUAS/2006que estabelece a inserção do assistente socialna composição das equipes de referência3 parao trabalho "na organização e ofertas de serviços,programas, projetos e benefícios de proteçãobásica e especial." (BRASIL, 2006, p. 23).

Ressaltamos que o atual arcabouço legal einstitucional da assistência como políticapública não contributiva,

Embora traduza reivindicações daclasse trabalhadora, incorporadas naConstituição Federal de 1988 comodireito, quanto á garantia do acesso abens e serviços necessários ásubsistência de grande contingentedessa classe desempregados emesmo muitos empregados cujosrendimentos não são suficientes paracobrir as necessidades mínimas de suasubsistência e de sua fam ília eapresente avanços no reordenamentodas ações assistenciais; responde, aomesmo tempo, á necessidade históricado capital de atualização e legitimaçãodo seu sistema de controle sobre otrabalhador e de recomposição dasbases político-culturais de legitimaçãode sua hegemonia. (ABREU, 2011a,p.5).

De fato, no atual contexto de reestruturaçãocapitalista que intensifica a precarização dotrabalho e aprofunda as desigualdades, asmedidas de alivio da pobreza com ênfase natransferência de renda, seguindo ditames deorganismos financeiros internacionais,apresentam-se, de acordo com Leher (2011)

Como a única possibilidade de políticasocial (leia-se, de governabilidade) paraa periferia do capitalismo - outroracriticada como uma opção pela barbárie,pois mantêm os seres humanos miserá­veis como sobrantes que somente nãosucumbem biologicamente pela fomepois recebem uma magra bolsa (e semela retornariam a fome) -, são tidas como

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Contrastam assim, a geração da riqueza socialpautada na superexploração do trabalho e nadesestruturação das bases tradicionais daeconomia maranhense, e a elevação dos índicesde desigualdade e da pobreza que atinge maisda metade de sua população. Por outro lado, areforma político-administrativa do Governo doEstado implementada a partir de 1996 orientadapelas diretrizes político-administrativas eeconômicas da Reforma do Estado na esferanacional, sob o ideário e programáticasneoliberais é direcionada para o atendimento dasdemandas e interesses do mercado, medianteajustes fiscais que privilegiaram privatizações dasempresas estatais no Maranhão assim como,cortes na folha de pagamento do funcionalismopúblico e a reconfiguração das políticas sociaisprincipalmente aquelas direcionadas para aquestão agrária (PEREIRA, 2004), mantendo aassistência como centralidade, seguindo asdiretrizes nacionais do SUAS, inclusive com ofenômeno recente de expansão dos postos detrabalho para o interior do estado.

Os dados da implementação do SUASdivulgados pelo Ministério de DesenvolvimentoSocial- MOS - (BRASIL, 2010), e análises comoas de Silva entre outros (2008), Boschetti eSalvador (2006) e Mota (2008) sobre esseprocesso no país, indicam profundos entravessócio-institucionais e político-administrativos semque sejam desconsiderados os avançostributados ao SUAS, como um amplo sistema deproteção social não contributiva, que reordena eredesenha as ações assistenciais no paísintroduzindo elementos potencialmenteinovadores como os CRAS e CREAS, posto que"situados em territórios vulneráveis, e, muitasvezes, terem uma proposta de trabalhopermanente e sistemática" possam captar e"atender diferentes demandas da população [...]."(SILVA et ai, 2008).

É importante destacar que os investimentosna política de assistência, como analisamBoschetti e Salvador (2006), privilegiam osbenefícios de transferência de renda comoBenefício de Prestação Continuada - BPC e BolsaFamília, rigorosamente seletivos, e mantém adestinação de baixos recursos para as açõesproteção básica e especial. Consideramos quetal orientação traduz

exemplo de governança progressista eopção pelo social, inclusive por muitosque vieram da esquerda.

o SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do assistentesocial a partir do SUAS

os trabalhadores rurais que permanecemno campo ou que migram para a cidade.(SANTOS; ABREU, 2009, p. 71 l.

Uma profunda contradição entre anecessidade histórica de sua organizaçãocomo classe e a dependência de políticasassistenciais míseras que constituem abase de sustentação do assistencialismo.

Elevados investimentos públicos ebaixíssima absorção da força-de-trabalhooriginária do mesmo estado, sobretudo,dos segmentos que perderam as suasreferências históricas de trabalho, como

Entendemos que o assistencialismo, comoprática ineliminável na sociedade capitalista, é amarca do padrão assistencial - criticado porOliveira (1998) como filantropia estatal -,instaurado no país, segundo o autor, desde oEstado Novo. Esse padrão assistencial agora érevigorado pelo neoliberalismo, a despeito da lutae conquistas dos trabalhadores brasileiros nessecampo, tardiamente inscritas no horizonte doEstado de Bem-Estar. (ABREU, 2011b, p. 239).

2 A EXPANSÃO DO TRABALHO PROFIS-SIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NAÁREA DA ASSISTÊNCIA A PARTIR DOSUAS: indicações sobre a particularidadeno Maranhão

A particularidade da expansão do trabalhodo assistente social no Maranhão na área daassistência a partir do SUAS pode serentendida considerando dois processosarticulados. Processos esses determinantes doaprofundamento da questão social nesteestado que assim reflete: por um lado, ascontradições da reestruturação do capitalnessa unidade da federação, cujo modelo dedesenvolvimento econõmico, com base naprodução industrial mínero-metalúrgica e noagronegócio para a exportação, apresenta

Este quadro se agrava com a crise domovimento operário e sindical, a partir dos anos1990, no pais, que favorece uma ondaregressiva conservadora e acentua a luta socialpara o campo dos direitos, em detrimento dapostura combativa, anticapitalista que marcaraa década anterior.

Deste modo, concordamos com Lopes (2009,p.10), quando ressalta que a classe trabalhadoravive hoje

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Marina Maciel Abreu e Lucilene Ferreira Cerqueira Guimarães

Um contra senso em relação ao que seriaa superação de velhos padrõesassistenciais e a instituição de uma novalógica de gestão preconizada pelo SUAS,o que por sua vez, não eliminaria oslimites históricos da assistência enquantomediação que contribui para manter areprodução do trabalhador fora dasrelações de trabalho e reforça adependência material e a submissãopolítico-ideológica em relação ácondições de subsistência física',contribuindo para a reprodução de ummodo de vida - ou seja, de "toda amaneira de ser. de homens reprimidospelas condições alienadas e reificadas dasociedade de mercado". (MÉSZÀROS,2002, p. 1008 apud ABREU, 2011b, p.241).

Nesse novo ordenamento, os CRASdespontam como principal mecanismo nadinãmica desse processo nos municipios, e emmenor proporção, estão os CREAS quedemandam, com base na NOS-RH-SUAS/2006,a inserção dos assistentes sociais em toda aestrutura operacional do SUAS.

Pode-se, então, inferir a tendência docrescimento dessa demanda, ao considerarmosque no pais, de acordo com informações atuaisdo MOS,

De 2005 a 2010,foram implantados nopaís 5.105 novos Centros de ReferênciadeAssistência Social- CRAS e 904 novosCentros de Referência Especializados deAssistência Social - CREAS. Em junhode 2010 já totalizavam 6.010 CRAScofinanciados pelo governo federal,distribuídos em 4.385 municípios,representando 78,8% dos municípiosbrasileiros. No mesmo período, 1.979municípios já possuíam CREAS.(BRASIL, 2010, p. 5).

Além disso, o mesmo documento divulga osníveis de habilitação dos municípios, tratadosem termos de gestão inicial, gestão básica egestão plena, e destaca quantitativamente que

Dos 5564 municípios brasileiros, emjunho de 2010,5.526 (99,3%) estavamhabilitados em algum dos níveis degestão [...], sendo 12,3% em gestãoinicial, 80% em gestão básica e 7% emgestão plena. Apenas 38 municípios(0,7%) não estavam habilitados, o quedemonstra a ampla adesão dosmunicípios ao SUAS. (BRASIL, 2010,p.5).

Isto significa o envolvimento efetivo de umgrande contingente de assistentes sociais nessesistema se considerados os critérios de partilhados recursos que demarcam a distribuição domínimo e do máximo para cada município deacordo com um padrão que estabelece o portedos mesmos e o número correspondente deCRAS, assim como a distribuição epredominãncia dos assistentes sociais nacomposição de todas as equipes de referência.Sobre o porte dos municipios, define:

Pequeno Porte - mínimo de 1 CRAS paraaté 2.500 famílias referenciadas;Pequeno Porte II - mínimo de 1 CRASpara até 3.500 famílias referenciadas;Médio Porte - mínimo de 2 CRAS paraaté 5.000 famílias referenciadas; GrandePorte - mínimo de 4 CRAS para até5.000 famílias referenciada; Metrópolis ­mínimo de 8 CRAS para até 5.000famílias referenciadas. (BRASIL, 2005,p.136).

A NOS-RH/SUAS estabelece em relação àparticipação dos assistentes sociais nas equipesde referência, o quantitativo de um profissionalpara municípios de Pequeno Porte I, doisprofissionais para municípios de Pequeno PorteII e Médio, Grande Metrópole e Distrito Federal.

No Maranhão, dos 217 (duzentos e dezessete)municípios existentes no estado, 03 (três)municipios encontram-se na situação de gestãoinicial, 207 (duzentos e sete) em gestão básica e07 (sete) em gestão plena, resultando em umtotal de 299 (duzentos e noventa e nove) CRASem todo o estado, os quais por força da NOS­RH/SUAS, como dito antes, contam com otrabalho do assistente social. No entanto, cabeponderar que

o número de CRAS não expressadiretamente o número de profissionaisinseridos nestes Centros, pois hácontratação de mais de um profissionalpara atuar em um único Centro etambém de apenas um profissional paramais de um Centro de Referência.(GUIMARÃES, 2011, p. 4).

Particularmente constatamos que, o municipiode São Luis, capital do estado, configurado comometrópole e habilitado em gestão municipal plena,

Entre os anos de 2004 e 201 Oimplantou20 (vinte) CRAS5 instalados em imóveisque não são próprios, localizados em

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Reafírmamos que A atual políticaassistencial centrada na pobreza tendeao reforço à individualização dosatendimentos e à desmobilização edespolitização dos sujeitos atendidos.

A expansão do trabalho profissional doassistente social na área da assistência éimpulsionada, como dito, principalmente pelosavanços legais e reordenamento institucional apartir do SUAS e pela

A construção do trabalho profissional nessaárea, em que pesem as conquistas constitucionaisde 1988 em que a assistência é inscrita comodireito e politica não contributiva no ãmbito dosistema seguridade social, é tensionada pelascontradições e desafios colocados pelorevigoramento do assistencialismo e da filantropiacomo marcas do padrão assistencial aindapredominante no pais e pela intensificação dasprecárias condições e relações de trabalho.

3 CONCLUSÃO

Reiteramos o distanciamento entre os avan­ços empreendidos em termos formais na Politi­ca de Assistência Social e as reais condições desua concretização. Embora no discurso seja pre­conizada uma contraposição às estratégias deflexibilização das relações de trabalhos e de ne­gação dos direitos conquistados pelos trabalha­dores, de fato, no ãmbito da implementação doSUAS, as condições e relações de trabalho mos­tram-se altamente precarizadas o que contribuipara a manutenção e aprofundamento de precá­rios atendimentos.

Pressão que advém da necessidade desubsistência física de grande parte daclasse trabalhadora que dependediretamente das ações assistenciais.(ABREU, 2011b, p. 239).

áreas consideradas de grandevulnerabilidade social, nos quais temosa atuação de 83 (oitenta e três)assistentes sociais, inseridos naexecução e direção desses Centros.Deste número de profissionais, 44(quarenta e quatro) têm vínculofuncional efetivo, 5 (cinco) na condiçãode serviços prestados, 16 (dezesseis)em cargo comissionado e 18 (dezoito)contratados. (GUIMARÃES, 2011).

o SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do assistentesocial a partir do SUAS

quadro sofre certa afieração em São Luiscom a realização de concurso público noano de 2008, onde são ofertadas 60(sessenta) vagas para o cargo deassistente social. Contudo, verifica-se aexistência de escassos instrumentos detrabalho e espaço físico não condizentecom a garantia e reserva de sigiloprofissional, bem como a permanênciade profissionais com vínculos precáriose salários diferenciados. (GUIMARÃES,2011, p. 12).

Com a explicita pretensão de "garantir a"desprecarização. dos vinculos dos trabalhadoresdo SUAS e o fim da terceirização." (BRASIL,2006, p. 20). Pois a inserção destes profissionaisnos Centros de Referência, em grande parte dosmunicipios no Maranhão

[... ] quadro pessoal qualifícadoacademicamente e por profíssõesregulamentadas por lei, por meio deconcurso público e na quantidadenecessária à execução da gestão e dosserviços socioassistenciais (BRASIL,2006, p 12).

Com a ampliação desses espaços, somadosa outras instituições públicas e privadas deprestação de assistência social, eleva-se para235 (duzentos e trinta e cinco) o número deassistentes sociais nessa área no referidomunicipio, que equivale a 37% do total deassistentes sociais no mercado de trabalhocorrespondente a 640 (seiscentos e quarenta)profissionais, em 2008. A concentração deassistentes sociais na área da assistência,nesse municipio, é menor apenas do que aconcentração na área da saúde que conta com283 (duzentos e oitenta e três) assistentessociais, de acordo com os resultados parciaisdo Cadastro Censitário das instituiçõesempregadoras de Assistentes Sociais, realizadopelo GSERMS em 2008.

Por sua vez, as condições de trabalho dosAssistentes Sociais nos CRAS estão longe doestabelecido pela NOB-RH/SUAS, em relaçãoà gestão do trabalho mediante a contratação emanutenção de

Não se efetivou via concurso público,apresentando-se vínculos empregatíciosprecários, sem carteira assinada, fériase décimo terceiro salário, onde a médiasalarial é de dois salários mínimos paraaqueles que estão diretamente naexecução dos serviços, com uma carga­horária de trinta horas semanais. Esse

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Marina Maciel Abreu e Lucilene Ferreira Cerqueira Guimarães

[...] responde aos propósitos do capitalde dissimular a reprodução dotrabalhador pela condição da pobreza, ouseja, como pobre, e de mantê-lo e suafam ília em permanente estado denecessidade em relação à suasubsistência. (ABREU, 2011b, p. 244).

Deste modo, as condições contraditórias dotrabalho do assistente social na área daassistência social ao mesmo tempo em queapontam para retrocessos profissionais emrelação às conquistas das três últimas décadas,ensejam a participação dessa categoria na lutasocial por direito à assistência. Trata-se de umaluta legitima e necessária, todavia cabe ponderarque a mesma situada nos marcos da politicadistributivista da riqueza social, fruto do padrãode distribuição dos instrumentos e dos individuosno processo produtivo -, é, portanto, limitada emrelação às condições estruturais determinantesdas desigualdades sociais. Além disso, osuperdimensionamento atual da assistênciacomo politica tenta suprir, como assinala Mota(2008, p. 144),

Necessidades que seriam do âmbito deoutras políticas e constitutivas de umaluta que mobiliza os trabalhadores desdeos idos do séc. XIX, o direito ao trabalho.

Nesse quadro de contradições, um dosdesafios postos aos assistentes sociaiscomprometidos com as lutas democráticas eemancipatórias da classe trabalhadora éconfrontar a necessidade de desmistificação daluta pela assistência e fortalecer a luta pelo direitoao trabalho. O trabalho em tese é considerado aalternativa "primeira. de garantia das condiçõesde reprodução do trabalhador, ainda que estedireito como assinalou Marx (1989, p. 260)represente,

No sentido burguês, um contra senso, umdesejo misero, piedoso, mas por trás do direitoao trabalho está o poder sobre o capital, e portrás do poder sobre o capital, a apropriação dosmeios de produção, sua subordinação à classeoperária, associada, portanto, à superaçãodialética do trabalho assalariado, do capital e desuas correlações.

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o SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: sobre a expansão do trabalho do assistentesocial a partir do SUAS

NOTAS

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MOTA, Ana Elizabete (Org.). O mito da assistênciasocial: ensaios sobre Estado, política e sociedade.São Paulo: Cortez, 2008.

Marina Maciel AbreuAssistente SocialDoutora em Serviço Social Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo (PUC-SP)Professora do Programa de Pós-Graduação emPolíticas Públicas da Universidade Federal doMaranhãoE-mail: [email protected]

atendimento e as requisições que devem sergarantidas aos usuários". (BRASIL, 2006, p. 23).Essas equipes são compostas por assistentessociais, psicólogos e técnicos de nível médio, paraos CRAS e CREAS, sendo que para estes aequipe é ampliada com inclusão de advogado,auxiliar administrativo outros profissionais de nívelsuperior.

Lucilene Ferreira Cerqueira GuimarãesAssistente SocialMestranda em Políticas Públicas pela UniversidadeFederal do MaranhãoAgente de Fiscalização do Conselho Regional deServiço Social CRESS/MAE-mail: [email protected]

4 Os meios de subsistência física do trabalhadorcorrespondem ao sentido mais estrito dos meios devida (MARX, 1989), os quais são minimizadoscontinuamente na sociedade capitalista pelaintensificação dos processos de exploração ealienação do trabalhador e traduzem acontraditoriedade entre a produção de necessidadesmúltiplas e ricas só alcançadas a partir desse sistemae o crescente empobrecimento do homem. Nestarelação, o ser que trabalha conver!e-se em ser isentode necessidades, isto é, ocorre a homogeneização eredução das necessidades do trabalhador, que deveprivar-se de todas as suas necessidades para podersatisfazer uma só, manter-se vivo.

Conselho Regional de Serviço Social· CRESS IMARua 13 de Maio, 121, Centro São Luís / MA

Universidade Federal do Maranhão· UFMACidade Universitária, Av. dos Portugueses, 1966,BacangaCEP: 65.085-580

5 Os CRAS estão localizados nos bairros de VilaPalmeira, Centro, Vila Nova, Vila Janaina, SãoRaimundo, Cidade Olímpica, Cidade Operária,Itaqui-Bacanga, Coroadinho, Sol e Mar, SãoFrancisco, Anjo da Guarda, Vicente Fialho,Maracanã, Forquilha, Liberdade, Bairro de Fátima,João de Deus, Estiva e Anil.

As equipes de referência "são aquelas constituídaspor servidores efetivos responsáveis pelaorganização e oferta de serviços, programas,projetos e benefícios de proteção básica eespecial, levando-se em consideração o númerode famílias e indivíduos referenciados, o tipo de

O Ar!. 194 da Constituição Federal de 1988estabelece que

A seguridade social compreende umconjunto integrado de ações de iniciativados Poderes Públicos e da sociedade,destinadas a assegurar os direitosrelativos à saúde, à previdência e àassistência social. (BRASIL, 1988).

A referência de análise do Serviço Social comoprática profissional é a categoria da práxis,conforme pensada por Marx e Engels (2007),Gramsci (2000) e Lukács (1981). Comintervenção, fundamentalmente em nível dasuperestrutura, em especial a partir do Estado,os profissionais de Serviço Social são chamadosa desenvolver, quase sempre com outrosprofissionais, funções técnico-pedagógicasatravés das quais implementam políticas eparticipam de estratégias de disseminação deideologias no processo de formação de cultura.(ABREU, 2002).

OLIVEIRA, Francisco. Prefácio. ln: RAICHELlS,Raquel. Esfera pública e conselhos de assistênciasocial: caminhos da construção democrática. SãoPaulo: Cortez, 1998.

SILVA, Maria Ozanira Silva et aI. O Sistema Único deAssistência Social no Brasil: um estudo avaliativo desua implantação. ln: ENPESS, 11., 2008, São Luís.Anais... São Luís: ABEPSS, 2008.

SANTOS, Elder Carvalho; ABREU, Marina Maciel.Informalidade do trabalho no Maranhão: baseshistóricas e expressões atuais. Revista Cadernos dePesquisa, São Luís, v. 16, 2009.

PEREIRA, Gisely Rodrigues. A reforma do Estadono Maranhão e seus impactos sobre o serviçosocial: uma análise do caso da EMATER no âmbitodo desmonte das instituições de política agrária. 2004.Monografia (Graduação em Serviço Social) - Centrode Ciências Sociais, Universidade Federal doMaranhão, São Luís, 2004.

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