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Osmar Pastore

São PauloRede Internacional de Universidades Laureate

2015

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Práticas deNegociação

Osmar Pastore

São PauloRede Internacional de Universidades Laureate

2015

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SumárioCapítulo 1: Definição do Processo de Negociação -------------------------------------------5Introdução ------------------------------------------------------------------------------------------51 Características básicas de um processo de negociação -----------------------------------61.1 Os negociadores -----------------------------------------------------------------------------61.2 A Weltanschauung ----------------------------------------------------------------------------92 Uma negociação efetiva --------------------------------------------------------------------- 112.1 Os 6 fundamentos da negociação efetiva ---------------------------------------------- 143 Questões éticas e legais --------------------------------------------------------------------- 15Síntese -------------------------------------------------------------------------------------------- 22Referências Bibliográficas ---------------------------------------------------------------------- 23

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IntroduçãoAs negociações estão intimamente ligadas às diferenças entre as pessoas e à escassez reinante de recursos do nosso ambiente.

O primeiro aspecto é tratado exaustivamente pelas ciências do comportamento humano. Elas evidenciam que as pessoas têm formas diferentes de ver o mundo em função de uma série de experiências vividas, conhecimentos adquiridos e necessidades pessoais. Algumas dessas necessidades são construídas com base em um impulso próprio ou modeladas através de estímulos e condicionantes gerados pela sociedade, principalmente pela mídia e pelas diversas formas que esta usa para alcançar cada indivíduo.

O segundo aspecto tem ligação com a base de estudo da economia, que vê a escassez como origem comum da maioria dos problemas de que trata. Na verdade, a escassez está presente em todas as classes, organizações ou nações. Como não há recursos disponíveis para que se atendam a todas as necessidades da sociedade moderna, quer seja instantaneamente, quer seja a longo prazo, é necessário que se decida o que satisfazer primeiro, com base em múltiplos critérios.

Além disso, uma boa negociação deve considerar os possíveis desdobramentos futuros no ambiente onde ela se estabelece, buscando garantir a sustentabilidade de suas proposições, para além do imediatismo que tanto encanta quanto arruína aqueles que por ele se deixam seduzir.

Por fim, os aspectos mencionados inicialmente – diferenças interpessoais e escassez de recursos – ganham proporção significativamente maior à medida que o processo de globalização avança. Diferentemente de muitos autores, é nossa crença que a origem desse processo não esteja ligada ao advento da internet, na segunda metade do século passado. Sua origem remonta, minimamente, aos tempos da Companhia das Índias, com origem na Holanda, no início do século XVII. Ali se encontra, a um só tempo, um dos primeiros embriões das modernas organizações multinacionais e uma visão estratégica mais ampla do comércio internacional, estabelecendo avaliações simultâneas sobre concorrentes, fornecedores e clientes potenciais.Por sua vez, a globalização implica o convívio, numa mesma mesa de negociação, de culturas diversas, em geral distintas em seus princípios e valores, tendo sobre seus representantes o fardo de preservar seus interesses particulares, ajustando-os às necessidades de seus interlocutores. Tudo isso através de um estreito vale, escavado entre os altos paredões de idiomas, hábitos e situações econômicas bastante heterogêneas.

Nunca foi tão importante saber convergir interesses como em nossos dias. Saber filtrar informações, manter o foco nos objetivos preestabelecidos, priorizá-los e, por fim, atendê-los à medida do que seja de fato possível.

Se antes não era diferente, hoje é ainda mais verdadeiro dizer que de um bom processo de negociação dependem a manutenção do espaço vital de pessoas, a sustentabilidade das instituições e até mesmo a sobrevivência de nações inteiras.

Ao longo desta leitura, espero que você possa:

• Descrever o processo de negociação e sua importância para o sucesso empresarial;• Utilizar metodologias de gestão de conflitos;• Praticar uma postura ética nas negociações.

Capítulo 1Definição do Processo de Negociação

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Definição do Processo de Negociação

1 Características básicas de um processo de negociaçãoAgora que você tem a noção de que as negociações surgem como uma forma de ajustar diferenças entre pessoas e administrar a escassez em suas diversas formas, é possível definir o que vem a ser uma negociação.

Negociar é estabelecer uma visão comum de uma dada situação-problema, compatibilizar interesses e se estabelecer um plano de atuação conjunta para resolver aquela situação-problema de forma sustentável, criativa e capaz de incorporar mudanças no ambiente em que a negociação ocorre (definição criada por este autor em palestra proferida em 2007).

Três expressões merecem destaque nessa definição: a forma sustentável, o que significa dizer que se devem usar bases realistas, em função da disponibilidade de recursos, presentes ou futuros; a forma criativa, o que sugere a necessidade de uma percepção aguçada do ambiente e a resistência à tentação de simples cópia do que outros já fizeram; e, por fim, a forma capaz de incorporar mudanças, uma vez que nem sempre as condições presentes ao final da negociação se perpetuarão enquanto os compromissos assumidos ainda não tiverem sido completamente atendidos.

Tudo muda! Os compromissos assumidos em uma negociação devem ser passíveis de ajustes ao longo do tempo, caso haja mudanças significativas no cenário econômico, por exemplo. Isso tem amparo legal, com base numa cláusula pétrea conhecida como rebus sic stantibus, que dita que os compromissos assumidos devem ser mantidos, “enquanto as coisas permanecerem como estavam antes”. Tal cláusula dá segurança a todas as partes de uma negociação quanto à possibilidade de revisão dos termos de acordo, caso venha a ocorrer algum fato novo, totalmente imprevisto e avesso ao controle de qualquer parte. Uma calamidade, uma guerra, greves etc. são exemplos disso. Tal princípio diz-se remontar ao próprio Código de Hammurabi, aplicado às questões envolvendo colheitas e sua imprevisibilidade.

Mas consideremos, agora, o principal elemento do processo de negociação.

1.1 Os negociadoresVocê está numa mesa de negociação. À sua frente está alguém com interesses que você tenta identificar e compatibilizar com seus próprios interesses. Pode se tratar de uma venda, uma joint venture ou uma entrevista para uma nova colocação profissional.

Não importa. Por trás daquele rosto existem possibilidades a serem exploradas. Mas elas estão subordinadas a uma infinidade de fatores que você precisa entender. Até porque muitos desses fatores podem inclusive já ter predefinido o resultado da negociação, sem que você o saiba.

A análise transacional e, mais recentemente, a programação neolinguística (PNL) exploraram o fato de que uma mesma pessoa exerce diversos papéis na sociedade, alguns deles de forma simultânea e conflitante.

Todos nós migramos de um ambiente para outro, ao longo do dia, permutando posições de poder ou vulnerabilidade e insegurança. Embora o ser humano possa parecer uno, monolítico, na verdade se subdivide em uma série de personagens que nos forçam a resolver conflitos internos e compatibilizar interesses próprios, alguns deles totalmente opostos. O exemplo mais simples disso é o conflito que surge frequentemente entre a vida pessoal e a profissional.

Uma das estratégias para se lidar com tais dilemas pode ser a aplicação de um exercício feito pelo autor em um curso sobre liderança denominado “Mesa do Rei”, convenientemente apoiado

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na távola redonda do Rei Artur.

Conta a história que a távola redonda era uma mesa onde nenhuma pessoa, nela sentada, se sentia constrangida por ocupar uma posição que a diferenciasse dos demais presentes, inclusive o Rei. Assim, todas as pessoas ali presentes se sentiam à vontade para externar seus interesses, opiniões e ideias sobre qualquer assunto, sem constrangimento por ocuparem uma posição de menos destaque em relação a seus vizinhos.

Um exemplo do efeito de suporte a uma posição de poder com o uso de arranjos da disposição de pessoas em um dado ambiente pode ser percebido nas mesas de jantar antigas, longas e retangulares, onde o chefe da casa sentava sempre à cabeceira; ou nas audiências judiciais, onde o juiz está invariavelmente em um pequeno palanque. As pessoas normalmente se sentem intimidadas em relação a quem ocupa a cabeceira ou está numa posição que lhes impõe um nível – mesmo que por arranjo físico – inferior a outrem.

Aquela estratégia – da távola redonda – teria ajudado a prevenir guerras internas entre os barões, que punham em causa a legitimidade do próprio Rei. Esse modelo de disposição democrática em torno da mesa inspirou um exercício em que cada pessoa pode entender as necessidades de todo papel que exerça dentro da sociedade e, a partir daí, orientar sua ação de forma mais coerente e focada nas prioridades que venha a estabelecer.

Basicamente, você, como Rei de si mesmo, dá a palavra a cada papel e, incorporando-o, deixa que este manifeste suas considerações e dúvidas. Ao final da rodada, onde todos os papéis puderam se manifestar, a pessoa (Rei) poderá tomar uma decisão que melhor considere todos os interesses presentes.

E como isso pode influenciar uma negociação? A resposta é simples e direta: em tudo.

Reconhecer que existem interesses conflitantes e pressões de origens distintas sobre os negociadores é o primeiro passo para que se entenda todo o processo de negociação e como esse processo pode ser afetado por fatores que escapariam a uma pessoa menos experiente.

No exercício da Mesa do Rei, é sugerido que a pessoa assuma a posição do Rei e, sucessivamente, “deixe falar” cada papel exercido por ela dentro de um contexto social e que tenha influência

Figura 1 – Mesa do Rei. Fonte: iAnchieta (2013)

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Definição do Processo de Negociação

sobre certa circunstância. Na prática, nada mais é do que uma forma estruturada de identificar necessidades diversas e ordená-las segundo uma escala de prioridades.

Meditar antecipadamente sobre os possíveis conflitos que possam lhe causar desconforto numa dada situação é o primeiro passo para que você possa manter o autodomínio e sair vitorioso de uma rodada de negociações. Entender seus próprios dilemas é o primeiro passo para superá-los e lhe garantir a tranquilidade necessária ao interagir com outras pessoas.

Mas não se esqueça de que a outra parte também é suscetível aos mesmos conflitos. Isso o ajudará a montar, passo a passo, uma estratégia que lhe permita exercer certo controle sobre a negociação ou, ao surgirem mudanças de rumo repentinas, pelo menos estabelecer boas hipóteses acerca de suas justificativas.

Abraham Maslow também contribuiu para que se entenda a motivação das pessoas a partir de uma escala de necessidades.

A pirâmide das necessidades humanas, construída por Maslow, a partir de sua pesquisa na década de 1960, nos leva a inferir que se tem, também na mesa de negociação, mais que os interesses de uma simples transação comercial, por exemplo. Existem as pressões sobre o profissional de carreira, a necessidade de afirmar sua própria autoestima, o desejo de melhorar sua posição social, de dar mais conforto aos familiares etc. Tudo isso passa pela cabeça de cada negociador e influencia seu posicionamento.

Por outro lado, fica claro que os incentivos advindos do sucesso da negociação têm pesos e influências distintas, variando de pessoa para pessoa. Alguém que supervalorize seu ambiente social não se sentiria seduzido por uma premiação que lhe obrigasse a mudar de cidade – ou país. Isso poderia, em casos extremos, até mesmo motivá-lo a fracassar.

Figura 2 – A pirâmide de Maslow. Fonte: MASLOW, 1970.

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Mas estamos falando de uma situação presente. E os condicionantes sobre o comportamento do negociador na verdade sofrem uma forte influência da história pessoal do indivíduo, sendo definidos ao longo de toda a sua vida, conforme veremos no próximo tópico.

1.2 A WeltanschauungTrata-se de uma palavra de origem alemã que significa a maneira como as pessoas veem o mundo, ou sua cosmovisão. Ela sintetiza a expressão que designa uma forma particular de enxergar o mundo, o sentido da vida e os semelhantes. Essa cosmovisão, ou simplesmente “W”, é imposta a cada indivíduo pelas suas experiências e vivências pessoais, traduzindo-se num exercício de fé continuamente renovado e ampliado ao longo dos anos.

Muitas vezes se diz que as pessoas só enxergam o que lhes convém. O entendimento de como a Weltanschauung se forma sugere que, mais que uma conveniência, as pessoas têm um condicionamento sobre a sua maneira de entender pessoas e circunstâncias, sendo este autopercebido em diferentes níveis de consciência, que também variam de pessoa para pessoa.

Não é nosso objetivo aprofundar o estudo dos mecanismos psicológicos e mesmo físicos que acabam por construir a Weltanschauung, mas é importante perceber seu funcionamento, como um filtro que seleciona o que é percebido pelo indivíduo e dá significado a essa percepção.

Ao longo da vida, cada pessoa experimenta situações diversas. Essas situações podem ser circunscritas ao ambiente próprio de certa classe social, à área urbana de uma mesma cidade. Ou ainda mais abrangentes, caso a pessoa possa e tenha pendor por viajar. Quão mais ampla a variedade de experiências, maior será a capacidade do indivíduo de perceber novas visões sobre um mesmo tema ou a existência de outras questões a se considerar numa determinada situação.

Não é preciso aprofundar a discussão da influência de uma vida austera sobre a maneira como a pessoa lida com a escassez no mundo: existem aqueles que a verão como motivação para pouco gastar e amealhar para o futuro. Mas há aqueles que sequer dela se apercebem, ou imaginam que as oportunidades que têm são comuns a todos. Para estes não é difícil julgar que aqueles que não conseguem sucesso sejam pouco dedicados ou indolentes. E mesmo que essa situação possa se mostrar verdadeira “em alguns casos”, pode se tornar “a maneira” como julgam a todos.

Essa é uma motivação para que cada vez mais pais inscrevam seus filhos em programas de intercâmbio culturais, onde possam ver outras estruturas sociais, com maior ou menor grau de emprego de tecnologia, e perceber que o mundo tem muitos matizes. E é também a razão por que, num mundo globalizado, as empresas acabam por valorizar mais as pessoas que têm múltiplas experiências culturais.

Por outro lado, o tipo de discussão a que os jovens são submetidos acaba por lhes proporcionar gostos distintos. Em um programa de entrevistas na televisão, a cantora Fafá de Belém contava que seu interesse por política surgiu quando mal começava a caminhar, presenciando longas e variadas discussões sobre o tema, na casa de seus pais. Frequentemente se enfiava sob as pernas da cadeira onde o pai sentava para conversar e acompanhava o arrazoado de todos os presentes. Pode ter sido mera coincidência seu envolvimento em diversas causas políticas anos depois, mas isso é pouco provável.

Assim, os gostos, a forma de ver o mundo e, até mesmo, a maneira de atacar problemas acabam por ser condicionados pela trajetória pessoal de cada um: o bairro onde nasceu e cresceu, a escola onde estudou, a instituição onde fez seu curso superior e as empresas onde começou sua carreira profissional. Isso apenas para mencionar as influências mais óbvias.Mas a Weltanschauung não apenas orienta como as pessoas veem o mundo: também filtra o que elas veem nesse mundo, fazendo com que deem maior relevância e este ou aquele aspecto

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de uma questão, praticamente ignorando outros. Um exemplo prático é o de uma testemunha de um assalto.

A pessoa que presencia uma cena de violência em que um ladrão toma algo de alguém pode filtrar as imagens do que vê, propiciando a criação de imagens mentais diversas sobre o acontecimento. Para alguns, o aspecto mais relevante pode ser o trauma sofrido pela vítima, como ela irá superar a experiência e retomar sua atividade cotidiana. Para outros, o que pode chamar mais atenção seria a ousadia do ladrão, que com agilidade e determinação é capaz de escolher a vítima, antecipar-lhe movimentos, determinar o melhor momento para o ataque e rapidamente concretizar o ato. Para esses, certa admiração pelo vilão é até possível e, se você estranha isso, pense na quantidade de filmes que conseguem fazer com que a plateia torça pelo bandido.

Pode-se citar ainda uma terceira classe de pessoas, que enxergam no fato a presença de problemas maiores: a marginalização social, a falta de oportunidades para todos, o desespero reinante numa sociedade que foi ensinada a consumir e tem cada vez menos recursos para tal.

Três visões e um mesmo evento. Qual dessas pessoas você preferiria ter como interlocutor? Preste atenção porque a resposta começa a delinear a sua própria Weltanschauung.

Um diagrama pode melhor explicar como a “W” se insere no processo de percepção do mundo.7

Figura 3 – Processo da Weltanschauung. Fonte: Autor.

Note que, por trás dos mecanismos físicos que nos permitem estabelecer comunicação de amplo espectro com o mundo – os órgãos dos sentidos –, a Weltanschauung atua como filtro: deixa passar para o cérebro apenas alguns elementos, que servirão de matéria-prima para a construção de um modelo mental que será, em última análise, sua “realidade pessoal”.

É importante frisar que os elementos que passam pelo crivo da Weltanschauung acabam por transformar e/ou reforçar sua própria maneira de ver o mundo. Fazem com que a sua Weltanschauung seja algo que está em constante processo de construção. Esse mecanismo só perde força e quase para quando o indivíduo atinge a maturidade emocional, o que segundo alguns estudiosos acontece apenas após os 60 anos.

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Observe que no diagrama apresentado a “reação percebida” é o input para outra pessoa que, uma vez processado pela sua própria Weltanschauung, fechará um ciclo que se repete infinitas vezes dentro do escopo de qualquer negociação.

Abrimos espaço aqui apenas para lembrar que todo esse mecanismo é processado por partes específicas do nosso corpo, e a saúde deste ou sua condição de maior ou menor estresse pode afetar nossa reação aos estímulos externos, bem como dificultar nossa própria expressão. Voltaremos a isso mais adiante, quando falarmos, por exemplo, do efeito de jet lag.

Discutidas os condicionantes que levam os negociadores a assumir determinadas posturas durante a negociação, além daqueles explicitamente ligados ao próprio objeto do negócio, vamos considerar o processo de negociação como um todo.

2 Uma negociação efetivaPode-se aplicar uma visão sistêmica sobre a negociação, cuja estrutura não difere do modelo básico de qualquer sistema.

Figura 4 – O processo de negociação. Fonte: Autor.

Nesse processo, as entradas compõem o conjunto de características e problemas que os próprios negociadores trazem para a mesa de negociação e têm tantas origens quantas forem as partes envolvidas na negociação:

• Competências, habilidades e atitudes individuais;• Valores pessoais;• Interesses próprios;• Capacidade de relacionamento;• Informação.• Poder de influência;• Características do objeto da negociação.

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Definição do Processo de Negociação

E as saídas são resultados diretos e indiretos de todas as rodadas de negociação que levam a um acordo ou, na pior das alternativas, à suspensão das negociações por falta de acordo:

• Conquista de pessoas;• Concessões;• Satisfação de necessidades;• Plano de ação conjunto;• Solução planejada da situação-problema;• Plano de contingência (desejável);• Ampliação da experiência dos negociadores.

Colocado dessa forma, o processo de negociação pode parecer extremamente simples, de fácil entendimento e transparente. Infelizmente, a maioria das negociações não segue uma estrutura tão simples. Diversas são as razões para tal, entre as quais podemos citar:

• Os negociadores podem ter diferentes graus de autoridade, o que pode forçar a que o processo tenha frequentes interrupções devido à necessidade de consulta a pessoas não presentes na mesa de negociação. Isso pode, inclusive, ser parte da estratégia adotada por uma das partes;

• A informação debatida muitas vezes é incompleta, o que acontece muitas vezes e provoca insegurança em uma ou todas as partes envolvidas. Novamente, o processo precisa ser interrompido – e é bom que o seja – para que se tenha um embasamento adequado para seguir em frente;

• Os negociadores podem ter diferentes capacidades em interpretar e absorver a informação, o que pode tornar a mesma negociação uma escarpa aridamente íngreme para um dos lados e algo enfadonho e irritante para o outro;

• Não se estabelece um nível de confiança adequado entre as partes, fazendo com que a negociação evolua lentamente, enquanto ambas as partes buscam sentidos ocultos nas proposições dos outros e refreiem a troca de informações, por medo de expor vulnerabilidades ou ceder vantagens para o oponente;

• A combinação das condições de ambas as partes torna impossível o acordo, o que naturalmente leva ao abandono da negociação.

Outras condições, resultantes da combinação daquelas citadas anteriormente ou totalmente diversas delas, podem igualmente tornar a negociação algo truncado e tortuoso, o que nos leva à necessidade de diversas interações, que, infelizmente, nem sempre convergem para a compatibilidade de interesse sob a proteção de um acordo negociado.

Figura 5 – Interações dentro da negociação. Fonte: Autor.

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Recomenda-se que o negociador, mesmo antes do início da negociação, observe seis princípios básicos:

1. As negociações têm uma estrutura – não importa o que é negociado ou em que condições as negociações se estabelecem: mesmo que superficialmente pareçam diferentes, elas sempre envolvem os interesses de duas ou mais partes, em que nenhuma tem poder de impor incondicionalmente sua vontade sobre a das demais partes.

2. A estrutura delineia a estratégia – os negociadores sabem que não há um posicionamento-padrão que garanta sucesso em qualquer tipo de negociação. Mas igualmente sabem que estratégias e táticas devem ser adaptadas e usadas como linha mestra que os conduzirá a uma maior probabilidade de sucesso.

3. Estratégias podem (e devem) ser adaptadas – se o sucesso nas negociações dependesse apenas da memória para recordar qual estratégia usar em cada tipo de negociação, negociar não seria considerado tão penoso pela maioria das pessoas. Os negociadores sabem que se posicionar indefinida e constantemente segundo um mesmo protocolo de atuação os coloca em desvantagem. Assim como os técnicos de futebol assistem aos jogos dos times que irão enfrentar no futuro, para lhes observar o posicionamento tático e as jogadas ensaiadas, seus oponentes procurarão pesquisar seu modo de agir nas mesas de negociação, procurando estar um passo à frente daquilo que imaginam que será a estratégia do oponente.

4. Controlar o processo de negociação é uma fonte de poder – o que pode permitir a programada apresentação de argumentos e propostas ou contrapropostas que levem a negociação para os resultados previamente almejados.

5. A negociação pode ser conduzida para um determinado fim – os negociadores sabem que a apresentação de alternativas ao acordo ou a imposição de barreiras às aspirações da outra parte podem, quando habilmente preparadas, conduzir a negociação para um resultado que lhes seja mais favorável.

6. O estudo eficaz do ambiente de negociação também é uma fonte de poder – os negociadores que vão além das especulações sobre o que a outra parte deseja e estudam as oportunidades e possíveis ameaças que possam lhes afligir conseguem delinear propostas mais sedutoras e perfeitamente dimensionadas dentro de seus próprios limites de concessão. Tal diferencial só se estabelece com o uso de boas fontes de informação e a disciplina de um pesquisador crítico e atento.

Quando a negociação se desenvolve em rodadas sucessivas – e isso ocorre na maioria das vezes

NÃO DEIXE DE VER...

O filme O Conclave mostra a negociação em torno da eleição do novo Papa. Bastante fiel a detalhes históricos, apresenta as idas e vindas do processo de negociação para a eleição do pontífice e a origem do pai de César Bórgia, que por sua vez inspirou Maquiavel a escrever O Príncipe.

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Definição do Processo de Negociação

–, é fundamental a aplicação de técnicas eficazes para a garantia da convergência dos interesses das partes e, caso isso não seja alcançado de imediato, que se proceda à gestão da negociação como um todo, o que inclui:

• A recordação constante dos objetivos mínimos que se pretende alcançar;

• O estudo dos avanços alcançados a cada interação;

• O levantamento das concessões que ainda se possa/queira fazer;

• A interpretação dos movimentos feitos pela outra parte e o estabelecimento de conjecturas sobre suas motivações;

• A avaliação das restrições de tempo que se tenha para estabelecimento de um acordo negociado;

• A cuidadosa elaboração da nova proposta a ser colocada na mesa.

2.1 Os 6 fundamentos da negociação efetivaNeste ponto você já deve estar preparado para entender os fundamentos da negociação efetiva e sua importância:

• O estilo de negociação dos envolvidos;• As metas e expectativas das partes;• Os padrões e normas dominantes;• O poder de influência de cada parte;• Os interesses da outra parte;• Os relacionamentos.

O estilo de negociação das partes envolvidas é algo a ser considerado na fase de planejamento. Sempre que possível, deve-se buscar conhecimento sobre a outra parte: sua história de vida, trajetória profissional, clubes e associações a que pertença etc. Felizmente isso fica facilitado pela difusão de informações sobre as pessoas em redes sociais mais ou menos abertas a todos. O LinkedIn, o Facebook e outras redes podem facilitar essa tarefa de reconhecimento prévio do estilo da outra parte. Mas retornaremos a isso mais adiante em nossos estudos.

As metas e expectativas são outro fundamento relevante. A construção de nossas expectativas e metas é algo relativamente mais simples, mas há de se tentar projetar o que o outro lado almeja. Sem isso, corre-se o risco de fazer barganhas sem fundamento e de ficar em uma posição de desvantagem na mesa de negociação.

Todos nós tivemos ocasiões em que nos surpreendemos com a expectativa de outras partes: em uma negociação de preço, na prorrogação de um prazo ou em uma tentativa de aproximação com alguém que nos atrai. Tente se lembrar de alguma ocasião onde algo não previsto ocorreu, que lhe facilitou ou dificultou alcançar seu objetivo.

NÓS QUEREMOS SABER!

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Os padrões e normas dominantes são relevantes de diversas maneiras. Espera-se que eles existam e os negociadores devem se adaptar a eles. Portanto, conhecer esses padrões permite um comportamento mais condizente com a realidade que se tem e compreender possíveis limites de atuação e flexibilização da outra parte. Mas há que se manter um ceticismo quanto à existência de padrões e normas do outro lado: isso pode ser usado como uma estratégia para que nos imponham restrições que na prática podem não existir. Mais uma vez, conhecer bem a outra parte pode evitar a possibilidade dessa natureza de blefe.

O poder de influência de cada parte pode alterar o equilíbrio de forças na mesa de negociação: quem você conhece, quem você pode comandar – seja por que motivo for – é algo que lhe dá diferenciais na negociação, mas pode também oferecer diferenciais à outra parte. Em muitos casos se negocia com pessoas que têm acesso a níveis de poder muito acima dos nossos e, por essa razão, podem conseguir nos contornar e acessar níveis mais altos em nossa hierarquia. Mas lembre-se: o contrário também é possível! Se esta for a sua posição, use-a.

Os interesses das partes também afetam a condução da negociação e, aqui, se fala dos interesses pessoais também. Encontrar um negociador que queira se promover através de ganhos maiores do que a sua própria instituição objetiva alcançar é algo não tão raro. A melhor estratégia nesse caso, quando se percebe que isso pode estar acontecendo, é ameaçar justamente com o oposto: um resultado que fragilize a imagem da contraparte.

Por fim, os relacionamentos devem ser sempre cultivados e acessados quando as negociações estão em curso. Sempre há alguém que pode nos ajudar a conseguir mais informação, nos recomendar como pessoas idôneas, nos fornecer dicas de posicionamento ou ajudar com visões diferenciadas sobre a mesma situação. São amigos, parentes, colegas do tempo de estudos, membros de agremiações etc. Mantenha sua agenda em dia e os relacionamentos vivos. Para ser ajudado e ajudar também.

NÃO DEIXE DE VER...

A negociação é um excelente filme sobre o poder de influência que se pode ter em um processo de negociação. Mas o filme vai além, dando-nos a cada momento visões sobre a importância de observar detalhes e saber barganhar, mesmo quando tudo parece estar perdido.

3 Questões éticas e legaisAntes de iniciarmos as considerações sobre as negociações, é interessante formalizar pelo menos duas definições fundamentais para embasar nossa discussão: a de ética e a de moral. Foge-se conscientemente, nessa iniciativa, de um tratamento mais formal, que o estudo das ciências sociais preconizaria.

Moral

“[...] um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual dos homens” (VÁZQUEZ, 1992, p. 23).

Tem um aspecto dinâmico histórico, por refletir a “evolução do entendimento” de questões inerentes ao convívio social. Exemplo: a evolução dos ditames do Velho e do Novo Testamento.

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Definição do Processo de Negociação

Ética

Ética tem origem no grego ethos, que significa “modo de ser”. É uma ciência sobre o comportamento moral dos homens em sociedade e está relacionada à Filosofia.

Tem um aspecto dinâmico e presente, por observar e conduzir ações de indivíduos dentro da sociedade, embora possa ser observada sob uma ótica histórica também: o que foi ou não era ético e mudou nos dias de hoje.

Sobre a ética aplicada às negociações, estabelece-se de imediato um dilema: se os fins justificam os meios, os meios definem os fins.

Eticamente falando, não se pode admitir que seja verdade que os fins justifiquem os meios e tampouco que os meios justifiquem os fins. Portanto, os negociadores se veem frequentemente confrontados com questões como:

• Devo cumprir um acordo, embora venha a perceber que fazê-lo me causará prejuízos?

• Sempre devo dizer a verdade ou há ocasiões em que a mentira não apenas se faz necessária como será benéfica ao meu interlocutor?

• Devo persistir numa ação que moralmente é valorada como boa, mas cujas consequências práticas são extremamente prejudicais a outrem?

• Se cumpro ordens de terceiros, posso ser julgado do ponto de vista moral?

• Se meu amigo colabora com o inimigo, devo denunciá-lo?

Na verdade, tais questionamentos surgem em função da superposição de uma série de sistemas éticos, códigos morais e relações pessoais em diferentes planos que geram conflitos sobre as pessoas. Um exemplo disso é o escândalo envolvendo a promoção da namorada do presidente do Banco Mundial em 2007, Paul Wolfowitz, que serviu de base para uma campanha objetivando o seu pedido de afastamento do cargo.

Existem códigos de ética distintos, estabelecendo diferentes escalas de valores, simultaneamente aplicáveis a uma mesma situação:

• Familiar;• Profissional;• Social;• Afetivo.

Esses códigos podem ser formalizados ou não. Exemplo: Código de Ética do Administrador, código de ética de anunciantes. Existem até mesmo sistemas legais baseados na tradição oral, em que as leis são amplamente apoiadas em um sistema de repasse de princípios não escritos, como é o caso do sistema legal inglês.

Ora, a pressão desses sistemas pode variar dependendo da circunstância a que está submetido um indivíduo, bem como da ameaça que diferentes sistemas de punição e a exposição ao julgamento moral da sociedade possam impor a ele.

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Figura 6 – O indivíduo e as pressões dos sistemas éticos. Fonte: Autor.

A fonte de conflitos entre sistemas éticos tem origem nos conflitos culturais resultantes da internacionalização e globalização dos agentes produtivos e dos consumidores do mercado. Diferentes visões sobre aspectos da vida cotidiana e profissional convivem hoje a uma distância quase infinitesimal, reduzida pelo advento da internet.

Por outro lado, os sistemas legais também espelham os interesses da sociedade, ou pelo menos da classe dominante em um determinado momento, capaz de influenciar os legisladores em seu benefício. Assim, os sistemas legais têm certa semelhança com os sistemas éticos, embora se atualizem de forma mais lenta em função das mudanças no meio social:

• Evoluem com o tempo;• Têm grau de flexibilidade variável;• São predominantemente reativos em relação aos outros condicionantes socioeconômicos.

O entendimento básico dos sistemas legais garante as bases que dão segurança aos negociadores em relação a questões futuras ligadas aos acordos firmados.

O negociador que perceber que os sistemas legais são moldados por fatores culturais dará maior importância à sua consideração, dentro do processo de negociação. Assim, desconsiderar o entendimento que a sociedade tem do mundo em que nós vivemos, os princípios morais vigentes, os interesses econômicos presentes e futuros e a força das classes sociais dominantes é duplamente perigoso, porque tais fatores moldam as leis a que tudo deve se submeter, inclusive as negociações particulares.

Na verdade, dentro do sistema legal, qualquer tipo de acordo, resultante de uma negociação, deve se submeter a três princípios básicos:

• O acordo de vontades;• A relação entre agentes capazes;• A fixação de objeto lícito, determinado e possível.

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Definição do Processo de Negociação

Significa dizer que as partes não podem ser coagidas a firmarem o acordo: devem fazê-lo por livre e espontânea vontade, em função de suas necessidades percebidas.

Essas mesmas partes devem ser julgadas capazes diante da lei: devem estar aptas a praticar os atos da vida civil, tendo as condições para o pleno entendimento de seus direitos e deveres perante a lei.

Por fim, o objeto da negociação não deve ofender os princípios legais, por exemplo, o fornecimento ou a receptação de mercadorias roubadas ou de origem duvidosa.

Os motores do comportamento ético – e por extensão legal – são representados pela seguinte ilustração:

Figura 7 – Motores do comportamento ético. Fonte: Autor.

O posicionamento de cada indivíduo – em particular dos negociadores – depende da maior ou menor pressão percebida, exercida por cada uma dessas forças: a legislação e os valores pessoais que orientam seu livre arbítrio.

Não é raro encontrar situações em que até mesmo os agentes da lei são confrontados com princípios éticos diametralmente opostos ao que é prescrito na letra da lei.

Uma situação levantada em um episódio de antiga série de televisão exemplifica uma situação totalmente verossímil. Enquanto um homem tentava manter a esposa em estado de vida vegetativa, sustentada por aparelhos, após um grave acidente que decretou sua morte cerebral, a mãe dela lutava por fazer valer sua última vontade. Em testamento válido, a mulher expressou seu desejo de não se submeter a sistemas de sustentação de vida artificial, desejando que todos os seus órgãos fossem doados a pessoas que deles necessitassem para ter uma vida melhor.

A motivação do marido era simples: embora os médicos tivessem diagnosticado a morte, o corpo da sua mulher ainda conseguia sustentar a vida do filho, que precisava de mais tempo, para atingir uma idade fetal que lhe possibilitasse melhores chances de sobreviver ao parto. A sogra, no entanto, focava a vontade da filha, exigindo que esta fosse cumprida de imediato.

Após longas discussões sobre o direito da mulher com morte cerebral e do feto, o juiz decidiu que

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a vontade dela era soberana dentro do sistema legal aplicável. Decidiu também interpretar que a manutenção da vida do corpo, em estado vegetativo, atendia seu desejo pela doação de todos os seus órgãos para um ser que deles efetivamente precisava para ter uma possibilidade de vida. Assim, o juiz conseguiu compatibilizar o desejo de ambas as partes, usando de conhecimento, criatividade e extrema sabedoria. Algo que todos os negociadores deveriam almejar alcançar.

Também é interessante que se observem as circunstâncias que levam as pessoas a comportamentos não éticos:

• Necessidades unilaterais prementes;• Pressão desproporcional sobre a geração de resultados positivos;• Ressentimento em relação a situações pregressas;• Ambição desmedida;• Espírito competitivo crônico;• Crença na impunidade.

A manifestação de qualquer desses fatores, combinados ou presentes de forma individual, pode levar os negociadores a posicionamentos-limite em relação ao que as boas práticas de negociação recomendam. É, pois, necessário que, como negociadores conscientes e pragmáticos, observemos a possibilidade de esses fatores influenciarem nossos opositores, o que justificaria a adoção de procedimentos que garantissem a boa e saudável condução das tratativas na mesa de negociação.

Esses procedimentos de segurança passam pelo estabelecimento de cláusulas de manutenção do caráter confidencial das informações trocadas entre as partes. Ou do compromisso de não absorção de mão de obra da outra parte durante um período de tempo acordado e contado a partir do término da negociação, independentemente da realização de um acordo.

São iniciativas simples, com apoio legal e extremamente eficazes para proteger valores necessariamente expostos no processo de negociação. Outros aspectos – como práticas de suborno ou abusos do poder econômico – já são contemplados na legislação, podendo ser denunciados sem a necessidade da formalização de sua improcedência dentro de negociações.

Quanto ao uso indevido de informações e não inibido por instrumentos legais específicos, Gene Roddenberry, criador de uma das séries de ficção científica de maior sucesso em todo o mundo, nos dá um exemplo. Conta que, durante sua peregrinação por diversos estúdios em busca de parcerias para o lançamento de Jornada nas Estrelas, deparou com o que classificou como um comportamento antiético totalmente inesperado.

Ao procurar um estúdio, foi convidado para apresentar suas ideias sobre a série e condicionantes que a tornariam economicamente viável. A exposição foi feita diante de um grupo de executivos do estúdio, que se comprometeu a avaliar a proposta, no prazo de alguns meses. Não somente Gene não foi chamado, como o estúdio, dentro do prazo mencionado, lançou outra série, tirando proveito de uma grande parte dos argumentos apresentados. Foi assim que surgiu o seriado Perdidos no espaço.

Sim Na Terra do Não é um livro de simples entendimento e que pode lhe oferecer dicas importantes de posicionamento adequado em negociações (GALLAGHER; VENTURA, 2006).

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Definição do Processo de Negociação

Existe uma espécie de tripé de práticas éticas que sustentam as negociações saudáveis:

• Empregar argumentos verdadeiros para convencimento da outra parte;• Não omitir dados ou informações relevantes para a tomada de decisão da outra parte;• Não oferecer ganhos marginais durante o processo de negociação (suborno).

A simples adoção dessas práticas já pode garantir a transparência e a equidade necessárias ao processo de negociação. Tanto local como internacionalmente vemos que essas práticas são desconsideradas com frequência, levando muitas pessoas a desacreditarem das instituições, não importa sua data de fundação ou seu tamanho. De fato, a existência de tantos movimentos pela ética e pelas boas práticas comerciais, associados a revisões do sistema legal, cobradas por inúmeros empresários, só ressaltam o enorme número de casos de fraudes e conluios que enchem as primeiras páginas dos jornais.

As negociações são estabelecidas sob o suporte de pirâmides éticas construídas a partir da origem cultural dos negociadores, dos valores das instituições a que pertençam e dos seus próprios valores pessoais.

Figura 8 – Pirâmide ética. Fonte: Autor.

No que diz respeito à instituição, a criação de códigos ético-corporativos é extremamente recomendável, para orientação dos negociadores dessas organizações. O plano de implantação desses códigos deve prever as seguintes fases:

• Criação, com a ampla participação de todos os níveis hierárquicos da empresa, para garantia do entendimento dos princípios utilizados em sua construção, desde as primeiras proposições;

• Divulgação (interna e externa), para garantir o conhecimento de sua existência a todos os interessados. Externamente, a sua divulgação pode se tornar um diferencial em relação a instituições concorrentes que não tenham semelhantes declarações;

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• Explicação, que garanta o amplo entendimento de seu significado, a extensão de sua aplicabilidade e as implicações na não observância de seus preceitos;

• Cobrança de cumprimento, através de práticas orientadoras e punitivas.

Mahatma Gandhi é uma figura histórica de raro poder ético e moral. Condutor principal da negociação para a independência da Índia, ele usou de todos os fundamentos da negociação para conseguir libertar seu país do domínio inglês. Seu nome é referência de persistência e, acima de tudo, da negação à violência como instrumento de pressão sobre os opositores.

VOCÊ O CONHECE?

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Definição do Processo de Negociação

Neste Capítulo você se familiarizou com os conceitos básicos do processo de negociação. A partir deles, pôde construir uma visão abrangente do que está compreendido nesse processo.

Destaca-se a possibilidade sempre presente de que as partes envolvidas não tenham a mesma visão de mundo (Weltanschauung), o que deve exigir um esforço adicional para entender a outra parte e conseguir criar um entendimento da situação que nos seja comum.

Cobrimos também os fundamentos de uma negociação eficaz e fizemos uma abordagem sobre as principais questões éticas e legais que são suscitadas em uma mesa de negociação.

SínteseSíntese

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GALLAGHER, B.; VENTURA, S. Sim Na Terra do Não. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

MASLOW, A. H. Motivation And Personality. New York: Harper & Row, 1970.

VÁZQUEZ, A. S. Ética. São Paulo: Nobel, 1992.

ReferênciasBibliográficas