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Construindo redes colaborativas para a educeceo Nel son De Luc a Pr et to L ic en ci ad o em F is ic a p el a U ni ve rs id ad e F ede ra l d a B ahi a ( 197 7) , m es tr e em E duc ac ;: ao t ar nb em pe la U FB A (1984) e do tor em Ciencias da Comunlcacao pela Universidade de Sao Paulo (1994). E professor associ ado d a Un iv er si da de F ed er al d a B ah ia , c on su lt or ad hoc de diversas revistas e lnstltulcoes, entre as qua s a Faculdade de Educacao da Universidade de Sao Paulo, do Centro de Estudos em Educacao e Sociedade e d a A ss oc ia ca o Na ci ona l de P os -O ra dua ca o e P es qu is a e m E du ca c; :a o (A np ed) . E conselhe ir o do Conselho Estadual d Cultura do Estado da Bahia (2007/2010). T er n e xp er ie nc la na area de Educacao, c om e nfa se em E duc ac ao e O or nu nl ca ca o, a tu an do pr in ci pa l m en te n os s eg ui nte s t ema s: i nt er ne t, s du ca ca o e c om unl ca ca o, i nf or ma ti ca e d c at iv a, t ec no lo gi a e du ca ci on al e e duc ac ao a d ls tan cl a, Mari a Helena Boni ll a Gradua da em Ciencias, Licenciatura de Primeiro Grau, pela Universidade Regional d o No ro es te d o E sta do d o Ri o G ra nde d o S ui ( 198 5) , g ra dua c; :a o e m C ie nc ias , Li ce nc ia tu ra P le na, h ab ll lt ac ao e m M at er nat ic a, p el a U ni ve rs id ad e Re gi on al do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sui (1988), mes tr ado em Educacao nas Ciencias pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do S ui ( 19 97) e d ou to ra do e m E du ca c; :ao p el a U ni ver si da de F ed er al d a B ah ia ( 20 02) . Atualmente e pr of essora-adju nt a da Faculdade de Educac;: aoda Universidade Federal da Bahia. Tern experlencla na area de Educac;:ao,com enfase em Educacao e Tecnologias da lntormacao e Cornunlca cao, atuando principalmente nos seg uintes t ema s: f or mac ao d e pr of es sor es , e du ca ca o, i nc lus ao d ig it al e s oft wa re l iv re . RESUMO Falar em rede e facil, Todos falam, mas, as vezes, referimo-nos a um tipo de rede que nlio e a mais significat va para a educacao. Essas redes, mais li adas aos tradicionais meios de co- muni ca ca o, c on ce nt ra m s ua s a te nc be s n a di st ri bui ca o de in for ma co es, C om a s no va s mi di as, com as conexoes digitais, a televisao - pela internet ou pelo c lular -, novas redes comecam, potencialmente, a se co nfigurar e, 0pr in cipal, comeca m a ser apropriadas, es pe cialmente pela j uv ent ude . A p ar tir de um a br ev e a na li se da s pot enc ia li da de s da s r ed es e d e a lgu ma s pol it ic as pub li ca s q ue bu sc am i mpl ant ar a i nfr a- es tr ut ur a de c omu ni ca ca o n o pa is , q ue po de v ia bil iz ar as chamadas re des horizontais de colaboraca o, ap on ta mo s algu ns elemento s fundamentais para uma radical transformacao da esco la e da educacao. Dezembro d e 20 08 IImml83

Redes colaborativas p/ Educação

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Cons tru indo redes

colabo ra tiv as para a educeceo

Nelson De Luca Pretto

Licenciado em Fisica pela Universidade Federal da Bahia (1977), mestre em Educac;:aotarnbem pela UFBA

(1984) e doutor em Ciencias da Comunlcacao pela Universidade de Sao Paulo (1994). E professor associ ado

da Universidade Federal da Bahia, consultor ad hoc de diversas revistas e lnstltulcoes, entre as quais a

Faculdade de Educacao da Universidade de Sao Paulo, do Centro de Estudos em Educacao e Sociedade e

da Associacao Nacional de Pos-Oraduacao e Pesquisa em Educac;:ao(Anped). E conselheiro do Conselho

Estadual de Cultura do Estado da Bahia (2007/2010). Tern experiencla na area de Educacao,

com enfase em Educacao e Oornunlcacao, atuando principal mente nos seguintes temas: internet,

sducacao e comunlcacao, informatica educativa, tecnologia educacional e educacao a dlstancla,

Maria Helena Bonilla

Graduada em Ciencias, Licenciatura de Primeiro Grau, pela Universidade Regional

do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sui (1985), graduac;:aoem Ciencias,

Licenciatura Plena, habllltacao em Maternatica, pela Universidade Regional do

Noroeste do Estado do Rio Grande do Sui (1988), mestrado em Educacao nas

Ciencias pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do

Sui (1997) e doutorado em Educac;:aopela Universidade Federal da Bahia (2002).

Atualmente e professora-adjunta da Faculdade de Educac;:aoda Universidade

Federal da Bahia. Tern experlencla na area de Educac;:ao,com enfase em Educacao

e Tecnologias da lntormacao e Cornunlcacao, atuando principalmente nos seguintes

temas: formacao de professores, educacao, inclusao digital e software livre.

RESUMO

Falar em rede e facil, Todos falam, mas, as vezes, referimo-nos a um tipo de rede que nlio e

a mais significativa para a educacao. Essas redes, mais ligadas aos tradicionais meios de co-

municacao, concentram suas atencbes na distribuicao de informacoes, Com as novas midias,

com as conexoes digitais, a televisao - pela internet ou pelo celular -, novas redes comecam,

potencialmente, a se configurar e, 0 principal, comecam a ser apropriadas, especialmente pela

juventude. A partir de uma breve analise das potencialidades das redes e de algumas politicas

publicas que buscam implantar a infra-estrutura de comunicacao no pais, que pode viabilizar

as chamadas redes horizontais de colaboracao, apontamos alguns elementos fundamentais para

uma radical transformacao da escola e da educacao.

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A palavra rede ganhou enonne

destaque nos ultimos tempos. Todos

falam de redes, as vezes mesmo sem

saber do que se esta falando. Fomos

acostumados a pensar na rede como

sendo aquela ligada aos tradicionais

meios de comunicacao - que ja fo-

ram inclusive chamados de meios de

corrnmicacao de massa, especialmen-

te com a televisao, Falamos dessas

redes, com suas emissoras cabecas

de rede e as afiliadas, e esse tenninou

sendo0

modele que ocupou todo0

nosso imaginario, Ou seja, uma rede

onde poucos produzem, localizados

nos grandes centros, e toda a socie-

dade consome produtos, informacoes

e cultura.

Seguramente, esse MO e um mo-

delo de rede que nos agrada e, por

isso, precisamos dirigir nosso olhar

para outras possibilidades. Nesse as-

pecto, 0 desenvolvimento tecnologico

pode muito ajudar e demandar um ou-

tro olhar sobre ele. Mas a tecnologia

ern si nao basta. Necessitamos pensartambem, com muito cuidado, sobre as

politicas publicas, Aqui, nao podemos

nos limitar a s voltadas para a educa-

yao. Ternos que olhar atentamente para

as politicas de cultura, de comunica-

yao e para um campo que pode niio

nos parecer muito Jigado a educacao,

mas que e fundamental: as politicas

publicas de ciencia e tecnologia.

Com as novas midias, com as

conexoes digitais, a televisao - pela

internet ou pelo celular -, novas re-

des comecam, potenciaimente, a se

configurar e, 0principal, comecam a

ser apropriadas, especialmente pela

juventude. lmplantam-se redes de

economia solidaria, que articulam

produtores distribuidos por todos os

cantos do pais que, via rede, trocam

experiencias e sobrevivem ao merca-

do que tudo busca padronizar.

Fala-se ern conexao total. Quan-

do ainda ministro da cultura, Gilberto

8 4 1 1 $ U ' 1 1

Gil queria "bandalargar" 0pais, em-

purrando 0 governo para fazer um

acordo com as operadoras e, com

isso, mudar a lei geral das telecomu-

nicacoes de forma a obrigar, como

meta, que as mesmas implantassem

banda larga nas escolas publicas bra-

sileiras.

Algumas cidades sairam na fren-

te, por iniciativa do poder politico lo-

cal. Pirai, no Rio de Janeiro, Tiraden-

tes, em Minas Gerais, e Sud Menucci,

em Sao Paulo, comecaram a corridapara se constituirem nas primeiras ci-

dades totalmente conectadas, atraves

de redes sem fio. Viraram referencia

em todos os debates sobre 0 tema.

Hoje, outras cidades e tambem al-

guns estados ja estao se mobilizando

e investindo em redes proprias e em

tecnologia VolP (voz sobre IP), como

estrategia de reducao de custos e de

maior autonomia, como e 0 caso do

Para e de Santa Catarina, confonne

materia de Fatima Fonseca na revista

ARede, de junho de 2008. No campocientifico, as universidades publicas

brasileiras, as mesmas que tiveram

importante papel na implantacao da

internet no Brasil na decada de 90,

passaram, sob a lideranca impor-

tante da Rede Nacional de Ensino e

Pesquisa - RNP (www.rnp.br) -, a

utilizar 0 chamado FoneRNP, que

possibilita, atraves das centrais tele-

ffinicas das instituicoes, conectar, via

internet (ou seja, usando VoIP), pes-

quisadores de todo 0pais.

Alem dessas acces em tennos de

politicas publicas, temos um movi-

mento coletivo que emerge da ayao

generosa de cidadaos ativistas que,

ao abrirem 0 seu roteador em seus

espacos de trabalho e de moradia,

ampJiam a conectividade e, com isso,

a propria rede e os fluxos de comu-

nicacao e trocas entre todos. Sergio

Amadeu da Silveira, ern seu artigo

Convergencia Digital, Diversidade

Cultural e Esfera Publica, no livro

Alem das Redes de Colaboraciio:

Internet, Diversidade Cultural e Tec-

nologias do Poder, que organizamos

como fruto de evento do mesmo nome

ocorrido ern2008, preconiza que, com

essas iniciativas, instalam-se "nuvens

abertas de conexao colaborativa".

Segundo Sergio Amadeu (p.

40/41), "enquanto a cultura hacker,

uma das culturas que mais infiuen-

ciou a formacao e evolucao da rede,

pennanecer como0

fundamento desua expansao, nenhuma hierarquia

superior, nenhuma grande corpora-

yao ou oligopolio conseguira contro-

lar a rede mundial. Como obra inaca-

bada, em evolucao, onde e possivel

criar novos conteudos, fonnatos e

tecnologias, a internet possui proto-

colos ou regras basicas de comunica-

yao definidas por uma serie de agru-

pamentos tecnicos",

Com isso, as potencialidades

das redes vao alem dessa reducao

de custos e de uma maior autonomiados poderes publicos, As redes co-

nectam pessoas, instituicoes, setores

e ajudam a articular as ayoes. Com

elas, e com as pessoas se aproprian-

do das tecnologias, novos saberes

sao produzidos, novas fonnas de ser

e de pensar esse alucinado mundo

contemporaneo emergern. Passamos

a conviver, mesmo com todas as

dificuldades de acesso, com novas

fonnas de partilhar 0 conhecimen-

to, com novas Jinguagens e novas

fonnas de expressoes, Essas lingua-

gens precisam ser mais atentamente

observadas. Associa-se essas lin-

guagens ao movimento da popula-

yao jovem que ja convive com esse

universo de imagens e informacoes e

que alguns pensam so estar Jigado a

um tipo de publico que e de jovens

de classes mais abastadas, populacao

de classe media alta. Nao podemos

esquecer, no entanto, que as classes

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desfavorecidas socialmente encon-

tram outras formas de fazer parte des-

se universo e se apropriam, de forma

muito evidente, dessas tecnologias,

seja atraves de movimentos como

o hip hop, os raps, os bailes funk, a

rmisica eletronica, entre tantas outras

formas, seja atraves do uso intensi-

vo de celulares, pagers, Ian houses e

outros aparatos tecnologicos que sao

verdadeiramente apropriados e mo-

dificados em seus usos pela propria

juventude.Os jovens, com as tecnologias,

inserem-se na perspectiva da cria-

9iio - de arte, de cultura e de conhe-

cimento -, sampleando e mixando

rmisicas, produzindo videos e grafi-

tagem eletronica, "blogueando", tro-

cando arquivos em redes P2P (peer

to peer) a exemplo do Napster, Bit-

torrent, Emule, entre outros. E cla-

ro, essa perspectiva de liberdade e

criacao gera movimentos repressores

por parte de governos e da industria

cultural. Projetos de lei que buscamimpedir esse livre compartilhamento

de arquivos pela internet e crimina-

lizar praticas que vern se instituindo

na rede ja estao trarnitando em varies

proses, inclusive no Brasil, como 0

Projeto de Lei do senador Eduardo

Azeredo, que criminaliza 0 uso niio

autorizado de conteudos. Sera que

isso significara que, em sendo apro-

vada a lei, mais de urn quarto da ju-

ventude brasileira podera ser respon-

sabilizada judicialmente por "ousar"

usufruir da liberdade e das potencia-

lidades das redes tecnologicas? AFo-

lha de S.Paulo publicou, no dia 27 de

julho deste ano, urn caderno especial

sobre a juventude brasileira (Jovem

seculo 21) e os dados siio contun-

dentes: "a comparacao com dados

do Datafolha colhidos em Siio Paulo

em 2000 mostra que, enquanto na

epoca 45% dos jovens disseram ter

a TV como veiculo de comunicacao

Dezembro de 2008

preferido para se informarem, hoje

33% afirmaram 0 mesmo. Ja com a

internet nota-se urn processo inverso.

o numero dos que disseram ter a rede

mundial como principal veiculo subiu

de 11% para 26%".

Mesmo assim, em depoimento

para essa publicacao, a professora

Regina Mota, da UFMG, que tern se

destacado pelas pesquisas sobre a te-

levisiio brasileira, mais recentemente

sobre 0desenvolvimento da televisiio

digital no pais, enfatiza que, mesmoa TV ainda ocupando urn mimero

significativo de horas, niio quer dizer

que 0jovem fica ali, parado assistin-

do a programacao, nocauteado pelas

emissoes televisivas. De acordo com

Regina Mota, "isso niio significa que

o jovem passe todo esse tempo na

frente da televisao sem fazer outra

coisa. Ele pode deixar a TV ligada

enquanto navega na internet. 0 que

acontece e que, com a disponibili-

dade dos meios, 0 jovem se tornou

multimidia",

Jovem multimidia, Jovem co-

nectado. Juventude em rede. Gera-

9iio alt+tab, como denominamos em

nosso grupo de pesquisa na UFBA.

Rede tecnologica ou niio, niio faz

tanta diferenca, No entanto, 0 que

acontece e que essas redes tern pos-

sibilitado a juventude assumir urn

papel proativo nas a90es publicae e

politicas, gerando urn movimento

ativista de significativa importancia

para a compreensiio do mundo con-

t emporaneo, Muito desse movimen-

to se deve ao fato de que os jovens

tern urna facilidade natural para lidar

com as tecnologias, siio curiosos,

desejosos de viver e experimentar

a niio-linearidade da cultura digital.

Voceja foi a alguma edicao do FISL,

o Forum Internacional de Software

Livre, que acontece de dois em dois

anos em Porto Alegre, no Rio Grande

do Sul? Deveria ir. No ano que vern,

acontece 0 FISL 10.0 e, segundo os

organizadores, esperam-se 10 mil

pessoas. Na maioriajovens, de todas

as idades, que circulam durante tres

ou quatro dias pelo espaco do evento,

trocando informacoes, aprendendo e

ensinado, fortalecendo as redes que

foram sendo construidas entre cada

FISL, de forma a deixa-las mais for-

tes ainda. Uma grande festa da cien-

cia, da tecnologia, da cultura, da edu-

cacao, da colaboracao e da liberdade!

La os grupos se articulam em tornode cada urna das distribuicoes de

software livre, em torno dos pro-

cessos de producao colaborativa de

audio e video, em torno das discus-

soes sobre os direitos autorais e as

patentes que aprisionam os conteu-

dos produzidos pela hurnanidade.

Queremos destacar os movi-

mentos em torno das radios livres

ou comunitarias e da cultura digital,

dando destaque a producao realizada

pela meninada e que esta sendo co-

locada na internet, intensificando adimensiio de producao em lugar da

perspectiva de consumidor que ain-

da insiste em ser dominante. Como

forma de fortalecer essa dimensiio de

producao, temos urna importante po-

litica publica, capitaneada pelo Mi-

nisterio da Cultura, que vern implan-

tando no Brasil os chamados pontos

de cultura, que diio voz e vez as cul-

turas locais. Os pontos de cultura se

articulam atraves de urna grande teia

que, anualmente, reune-se nurn even-

to exatamente denominado de Teia

(www.teia2007.org.br) para trocar

experiencias, aprender e ensinar de

forma colaborativa. Sites como Es-

tudio Livre (www.estudiolivre.org)

favorecem e viabilizam as formacoes

e as publicacoes de tudo 0 que ali e

produzido. Alem disso, temos os jo-

gos eletronicos, os famosos videoga-

mes, com as possibilidades de inte-

ra9iio e, principalmente, da interacao

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on-line. Vivenciamos urna transfor-

macae muito grande do que eram os

antigos videogames de primeira ge-

ra~ao, agora vistos como coisas re-

petitivas, monotonas e sem nenhurn

tipo de criacao, as videogames de

Ultima geracilo ja trabalham em outra

frequencia, onde cada jogada e parte

de urna recriacao da propria historia,

de urna nova historia que se modifica

ao longo do proprio percurso do j ogo

e que exige do jogador a testagem de

hipoteses, a construcao de estrategiase percursos de aprendizagem para

poder ir em frente. Inclusive, muitos

dos jogos eletronicos sao jogados em

rede, articulando jovens situados em

diferentes espacos,

Com essa perspectiva criativa

da meninada, estamos vivenciando

aquilo que Dom Tapscot chamou de

"hierarquia do conhecimento inver-

tida", ou seja, nao sao mais apenas

os mais velhos (pais e professores)

que ensinam os mais jovens. No que

se refere a cultura digital, sao os jo-yens que nos ensinam, provocam-

nos, desafiam-nos. Sao e1es que nos

mostram as possibilidades abertas e

as potencialidades latentes do con-

texto tecnologico, Ficamos sempre

a espera da a~ao de urn hackerzito

para que novos ambientes emerjam,

Tambem nos ligamos a eles, como

companheiros de trabalho e de cami-

nhada, para aprender, superar nossos

lirnites e acompanhar 0movimento.

Sao muitas as possibilidades e a edu-

cacao precisa estar atenta para todos

esses movimentos. Estamos, ainda,

acostumados com dialogos em tor-

no de algo ja estabelecido, como no

sistema de televisao, cujo modele de

comunicacao chamamos de broad-

casting, onde as informacoes sao es-

palhadas e a populacao e mera recep-

tora, onde nossa maxima liberdade e

a de poder mudar de canalou desligar

a televisao, Instala-se na sociedade

8611mal

urna logica de distribuicao de infor-

macoes, de culturas e de valores, que

chega tambem a escola, so que com

urn agravante: nao e possivel mudar

o canal ou desligar a escola!

Com as redes digitais, essa logica

muda. Novas possibilidades espaco-

temporais entram em cena, proces-

sos horizontalizados sao instituidos,

a colaboracao se intensifica, a maior

parte das instituicoes se articula em

rede e na rede. Mesmo a internet ja

mudou muito e nem mesmo com0

"I" maiusculo a escrevemos mais. Ja

virou meio de comunicacao, Possibi-

lidade de comunicacao e de producao

de conhecimentos, culturas e de no-

vas informacoes, Apesar de toda essa

liberdade, nao-linearidade, ainda ve-

mos urna luta desenfreada pela logica

broadcasting, que impera nas escolas

enos grandes sistemas de comuni-

ca~ao de massa. Ainda existe urna

forte tendencia de concentracao e de

se trabalhar com 0 conceito de audi-

encia. as grandes portais, ligados asempresas do mundo das comunica-

~oes e do entretenimento, continuam

a ser valorizados de tal forma que os

donos dos grandes canais da inter-

net continuam sendo os mesmos das

outras mldias, levando-nos, tambem

aqui, a sermos meros consumidores

de informacoes, Mas esse movimen-

to de poder, de concentracao de po-

der, tem seu limite. Isso exige pensar

diferente, e Nelson Hoineff afirmou,

em urn seminario sobre TV Publica,

acontecido na Bahia no ano passado,

que "0digital detonou a massificaeao

dos meios".

Detonar essa massificacao de-

manda pensar a educacao como urn

espaco de resistencia e de luta. Um

espaco mais proximo da comunica-

~ao, das ciencias e das tecnologias.

Um espaco de formacao pautado em

logicas nao-lineares, na aprendiza-

gem colaborativa, na interatividade,

na multivocalidade, nas dinamicas

das redes. Um espaco vivo de cria-

~ao, de producao, de comunicacao e,

portanto, urn espaco de cultura. Para

ser mais preciso, urn espaco de cul-

turas, pensadas no plural, sempre urn

plural pleno. Por falar em cultura,

pensamos ser importante trazer para

o debate a fala do professor Teixei-

ra Coelho, diretor do Museu de Arte

Contemporanea da Universidade de

Sao Paulo, no artigo Mercosul Muito

Alem do Mercado, publicado na Fo-lha de S. Paulo em 5/11/2000.

Para Teixeira Coelho, "0 que

permite a cultura, no delineamen-

to de projetos de construcao con-

tinuada das estruturas nacionais e

extranacionais, e , diretamente, a

consolidacao de algo de que care-

cemos vastamente no SuI, e neste

SuI brasileiro em particular: 0 es-

paco publico. Economia nao gera

espacos publicos, pelo contrario: os

esfacela. E a politica, neste aspec-

to, nao vem sendo outra coisa quenao 0 loteamento do espaco publico

segundo interesses privados, como

demonstra nitidamente, e e apenas

um exemplo, a politica para a comu-

nicacao de massa, numa palavra, a

politica para a televisao",

Mesmo assim, a sociedade se

organiza, movimenta-se em outros

sentidos e direcoes, As discussoes e

perspectivas criadas em torno da im-

plantacao do Sistema Brasileiro de

Televisao Digital e urn exemplo dis-

so. Varias escolas e grupos de pes-

quisa, no Brasil, de forma articulada

ou nao, ja estao desenvolvendo pes-

quisas e acoes em torno das poten-

cialidades dessa tecnologia. A partir

da producao colaborativa e coope-

rativa de materiais que articulem di-

versas midias e linguagens, busca-se

ampliar a capacidade de circulacao,

via TV Digital e web, de imagens

e sons produzidos fora dos grandes

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centros. Obviamente que a dinamica

dessas producoes dependent do pro-

tagonismo de professores e alunos

para construir novas possibilidades

para os sistemas educacionais, arti-

culando os conhecimentos e saberes

emergentes das populacoes locais

com 0 conhecimento ja estabelecido

pela ciencia contemporanea e pelas

culturas. Por outro lado, essa dinami-

ca tambem podera induzir politicas

publicas de formacao de professores

para0

uso das tecnologias digitais,urna vez que estas requerem a exis-

tencia de professores qualificados

para a sua incorporacao nos sistemas

educacionais.

o desafio da educacao e da for-

mac;:aoesta agora pautado na abertura

para a liberdade de experimentar as

diversas possibilidades propiciadas

pelas redes, tecnol6gicas ou nao,

compartilhando coletivamente as des-

cobertas e aprendizados, de forma a

romper a barreira da individualidade

e instituir urna organizacao colabora-

tiva que favoreca a multiplicacao de

ideias, dos conhecimentos, das cultu-

ras. Para tanto, e de fundamental im-

portancia, na escola, a organizacao

de comunidades de aprendizagem,

de ambientes colaborativos, onde a

aprendizagem seja orientada para

as relacoes todos-todos, local-local,local-global.

Essa, entre outras, e mais uma

das questoes que 0 livro a que ja

nos referimos (Alem das Redes de

Colaboraciio ...) aborda ao tratar as

questoes do anonimato na rede, dos

direitos autorais e das novas possibi-

lidades de uso de tecnologias livres.

Insistimos na referencia a essa obra

em razao de a considerarmos mar-

cante para essa discussao contempo-

ranea, Nao custa lembrar que 0 livro

em si ja e urn exercicio dessa liber-

dade. Editado pela EDUFBA, onde

pode ser adquirido, esta, ao mes-

mo tempo, licenciado em Creative

Commons (www.creativecommons.

org.br), disponivel para ser baixado

livremente da internet. Como afirma-

mos na apresentacao do livro Alem

das redes ...,0

que esperamos que nosseja possivel e "ir alem das redes de

colaboracao e evidenciar as possibi-

lidades, a potencialidade e os riscos

que as tecnologias do poder trazem

para a diversidade cultural e para a

emancipacao das subjetividades".

Desafio posto, cabe-nos assurnir ou

nao essa tarefa. A escolha e sua!

Solucoes

Tecnol6gicas

Prode e

Desenvolver solucoes tecnol6gicas para

tornar a prestacao de services a populacao

(ada vez mais simples e moderna; esse e 0

dia-a-dia da Prodemge.

prode geTecnologia de Minas Gerais

Dezembro de 2008 [ lmml87