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1 Redes Sociotécnicas de Difusão Social de TICs em Porto Alegre e Curitiba. Autoria: Mario Procopiuck, Klaus Frey Resumo O presente artigo tem por objetivo central tratar da rede sociotécnica de políticas para difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. Com base na abordagem da Social Network Analysis buscou-se explicitar detalhadamente metodologia desenvolvida para captar, filtrar e organizar informações expressas no ciberespaço com efetivo potencial para mapear e representar objetivamente, por meio de grafos, a composição do arranjo em que estão implexos agentes públicos, privados e do terceiro setor, tendo como fonte de dados as relações entre websites de instituições envolvidas em ações e projetos vinculados a tal política e executados no espaço geográfico compreendido pelas duas cidades. A estrutura reticular que se descortinou permitiu concluir que possível desvelar modelos estruturais de relações institucionais a partir do ciberespaço capazes de servirem de substrato para aprofundamento de conhecimentos relativo à lógica de articulações políticas em redes de governança local. Introdução Até o final da década de 1980 a lógica subjacente à estruturação dos arranjos institucionais incumbidos da condução de políticas no Brasil era fundada preponderantemente em diretrizes centralizadoras que outorgavam aos agentes estatais a responsabilidade e a autoridade para formulação, implementação e controle de políticas públicas. A partir de então começam a surgir tendências normativas e políticas que abrem espaços para políticas de caráter público serem formuladas e conduzidas com progressivo envolvimento direto de atores pertencentes ao mercado e à sociedade civil organizada, muitas vezes, com endosso, ou inclusão, somente a posteriori de autoridades públicas. Nesse processo surgem novos pólos de mobilização de forças sociais constituídos por agentes pertencentes a diferentes setores, abrindo, com isso, espaços para configuração de uma sociedade que passa a ser paulatinamente estruturada sob um sistema de forças multipolarizadas. A participação articulada em ações de caráter público de uma diversidade de atores emergentes deste novo contexto, que caracteriza as redes de políticas, poderá determinar os rumos dos processos de descentralização do Estado em direção a uma sociedade mais autônoma e democrática. Nessa linha, com o presente artigo, tendo como fio condutor a abordagem paradigmática das redes para tratar de questões sociais conduzidas dentro de arranjos de governança compostos por atores coletivos envolvidos em redes de políticas, busca-se identificar e investigar a configuração das redes sociotécnicas de políticas locais centradas na difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. O estudo parte da hipótese de que é possível identificar e analisar a configuração das redes sociotécnicas de políticas de difusão social de TICs, tendo como objeto empírico a estrutura das redes apreendidas objetivamente a partir das relações entre os websites das instituições que tomam parte em ditas políticas nessas duas cidades. Partindo da estrutura identificada será possível, ainda, apreender e analisar a lógica de ação dos atores envolvidos em tais redes mediante a utilização da abordagem da Policy Network Analysis e Policy Websphere Analysis. O estudo pautado nesse constructo se justifica e tem sua importância em contribuições tanto de cunho social quanto político e instrumental para a gestão pública. Sob o ponto de vista social, a importância do estudo de caso é centrada na possibilidade de obtenção de informações que permitam aprofundar o conhecimento do estágio atual da política de difusão social de TICs, vistas como tecnologias sociais, nas cidades abrangidas pela pesquisa. A relevância de tal política, sobretudo no que diz respeito aos esforços coletivos empreendidos para ampliação do acesso das parcelas de menor poder aquisitivo das sociedades locais, reside no fato das novas TICs representarem o substrato do qual emerge

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Redes Sociotécnicas de Difusão Social de TICs em Porto Alegre e Curitiba.

Autoria: Mario Procopiuck, Klaus Frey

Resumo O presente artigo tem por objetivo central tratar da rede sociotécnica de políticas para difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. Com base na abordagem da Social Network Analysis buscou-se explicitar detalhadamente metodologia desenvolvida para captar, filtrar e organizar informações expressas no ciberespaço com efetivo potencial para mapear e representar objetivamente, por meio de grafos, a composição do arranjo em que estão implexos agentes públicos, privados e do terceiro setor, tendo como fonte de dados as relações entre websites de instituições envolvidas em ações e projetos vinculados a tal política e executados no espaço geográfico compreendido pelas duas cidades. A estrutura reticular que se descortinou permitiu concluir que possível desvelar modelos estruturais de relações institucionais a partir do ciberespaço capazes de servirem de substrato para aprofundamento de conhecimentos relativo à lógica de articulações políticas em redes de governança local. Introdução Até o final da década de 1980 a lógica subjacente à estruturação dos arranjos institucionais incumbidos da condução de políticas no Brasil era fundada preponderantemente em diretrizes centralizadoras que outorgavam aos agentes estatais a responsabilidade e a autoridade para formulação, implementação e controle de políticas públicas. A partir de então começam a surgir tendências normativas e políticas que abrem espaços para políticas de caráter público serem formuladas e conduzidas com progressivo envolvimento direto de atores pertencentes ao mercado e à sociedade civil organizada, muitas vezes, com endosso, ou inclusão, somente a posteriori de autoridades públicas. Nesse processo surgem novos pólos de mobilização de forças sociais constituídos por agentes pertencentes a diferentes setores, abrindo, com isso, espaços para configuração de uma sociedade que passa a ser paulatinamente estruturada sob um sistema de forças multipolarizadas. A participação articulada em ações de caráter público de uma diversidade de atores emergentes deste novo contexto, que caracteriza as redes de políticas, poderá determinar os rumos dos processos de descentralização do Estado em direção a uma sociedade mais autônoma e democrática. Nessa linha, com o presente artigo, tendo como fio condutor a abordagem paradigmática das redes para tratar de questões sociais conduzidas dentro de arranjos de governança compostos por atores coletivos envolvidos em redes de políticas, busca-se identificar e investigar a configuração das redes sociotécnicas de políticas locais centradas na difusão social de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. O estudo parte da hipótese de que é possível identificar e analisar a configuração das redes sociotécnicas de políticas de difusão social de TICs, tendo como objeto empírico a estrutura das redes apreendidas objetivamente a partir das relações entre os websites das instituições que tomam parte em ditas políticas nessas duas cidades. Partindo da estrutura identificada será possível, ainda, apreender e analisar a lógica de ação dos atores envolvidos em tais redes mediante a utilização da abordagem da Policy Network Analysis e Policy Websphere Analysis. O estudo pautado nesse constructo se justifica e tem sua importância em contribuições tanto de cunho social quanto político e instrumental para a gestão pública. Sob o ponto de vista social, a importância do estudo de caso é centrada na possibilidade de obtenção de informações que permitam aprofundar o conhecimento do estágio atual da política de difusão social de TICs, vistas como tecnologias sociais, nas cidades abrangidas pela pesquisa. A relevância de tal política, sobretudo no que diz respeito aos esforços coletivos empreendidos para ampliação do acesso das parcelas de menor poder aquisitivo das sociedades locais, reside no fato das novas TICs representarem o substrato do qual emerge

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uma nova infra-estrutura de aprendizagem e de instrumentalização individual para atuação num ambiente de “Inteligências Interconectadas” (Tapscott, 1996). Nesse ambiente, “alterações cognitivas originam-se e se propagam coletivamente, dependendo e implicando na organização de um corpo social” (Duarte, 2002, p.231). Nessa linha, considerando as implicações relacionais e reflexos políticos, tais tecnologias “oferecem também a possibilidade de sustentar novos modos de criação de redes sociais e novas formas de participação democrática” (Frey, 2002, p.147). Quanto às perspectivas políticas e de instrumentalização da gestão pública, a percepção e compreensão da lógica das relações entre agentes representadas por meio das redes sociotécnicas de políticas suportadas pelas novas TICs, em especial pela Internet, permitem a concepção de sistemas de planejamento e de gestão para lidar com a complexidade típica das relações sociais e políticas que permeiam novos espaços públicos em formação. A aplicação de métodos que possibilitem captar as estruturas emergentes das relações entre entidades envolvidas em políticas com impactos locais abre espaços importantes para avaliar e instrumentalizar ações de uma diversidade de agentes que podem interferir no desenvolvimento social local. A percepção, captação e sistematização de informações provenientes desse novo ambiente podem trazer contribuições não somente para os agentes públicos, mas também para os demais atores sociais, permitindo-lhes desenvolver cenários que situem suas ações em políticas que, de alguma forma, possam lhes interessar. Quanto à abordagem metodológica empregada, a identificação das estruturas, da composição e das características de funcionamento das redes sociotécnicas de políticas tem sua importância fundada no fato de que, como apontam Goldsmith e Eggers, o poder público local tem crescentemente se defrontado com problemas que, de um lado, se tornam mais globais e complexos e, de outro, enfrenta dispersão de fronteiras locais, tornando, por conseqüência, cada vez mais fluída a sua capacidade de reação isolada. Para fazer frente a esses novos desafios, do poder público local é exigida a atuação por meio de redes que lhe permitam organizar-se ou reorganizar-se, expandir-se ou contrair-se, em função das peculiaridades das demandas sociais e políticas emergentes (Goldsmith e Eggers, 2004, p.7-8). Agir diante desses novos desafios trazidos pela ampliação da complexidade da gestão de ações públicas locais exige dos atores com elas comprometidos a utilização de métodos inovadores que os instrumentalizem para mapear e interpretar interconexões entre redes simbólicas, técnicas e sociais. Para tal finalidade, as TICs – ao apresentarem real e inovador potencial para desenvolvimento de sistemas técnicos capazes de estruturar novos espaços democráticos para composição de novos arranjos de governança interativa em redes sociotécnicas de políticas – permitem, pela captação e interpretação das lógicas de funcionamento de tais sistemas e da estruturação das informações, o desenvolvimento de uma visão holística capaz de orientar os atores locais no engajamento e na condução de ações sociopolíticas conectadas a contextos mais amplos. Isso ganha especial relevância ao considerar-se que

o mundo social é, em grande parte, aquilo que os agentes fazem, em cada momento, contudo eles não têm probabilidades de o desfazer e de o refazer a não ser na base de um conhecimento realista daquilo que ele é e daquilo de que nele são capazes em função da posição nele ocupada [...]. A delimitação objectiva [...] do espaço construído das posições permite compreender o princípio e a eficácia das estratégias [...] pelas quais os agentes têm em vista conservar ou modificar este espaço (Bourdieu, 2005, p.150).

Em suma, a compreensão do conjunto constituído por redes simbólicas, sociais e técnicas abre caminhos para visualização e entendimento dos fluxos de recursos e dos fluxos instantâneos de informações interativas que podem ocorrer entre os membros que compõem tais estruturas reticulares. A captação das características intrínsecas de cada um desses tipos de redes pode ser obtida por meio do mapeamento no ciberespaço das relações entre os websites das organizações envolvidas em políticas e por meio dos seus propósitos neles declarados em direção a tais políticas, determinando a configuração da Policy Websphere que os agrega

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nesse novo espaço comunicacional simbólico emergente da convergência das novas TICs. A conjunção das redes simbólicas, sociais e técnicas, por conseguinte, pode ser apreendida por meio do conceito de redes sociotécnicas de políticas para explicitar estruturas a partir das relações institucionais inseridas em contextos de articulação política e social captados a partir do ciberespaço.

1. Social Network Analysis A Social Network Analysis tem início em 1934, nos Estados Unidos, a partir de estudos sociométricos empreendidos por Moreno, que culminaram no desenvolvimento de métodos inovadores para análise das relações dentro de pequenos grupos, ganhando corpo conceitual nas décadas de 1940 e 1950. Entre as décadas de 1960 e 1980 a abordagem agregou significativa densidade teórica e metodológica. De início, principalmente com a abordagem estruturalista e, em seguida, com a abordagem estrutural-funcionalista, especialmente no final do período. Importante frisar ainda que, desde o início, a abordagem da Social Network Analysis vem agregando complexidade conceitual emergente da interação das ciências exatas com as ciências sociais. Não obstante as potencialidades provenientes do aprofundamento teórico-metodológico desenvolvido e incorporado pela Social Network Analysis nesse período, ao passar a exigir alta capacidade de processamento de dados para tratá-los pela aplicação de complexos algoritmos matemáticos, sua utilização prática, em muitos casos, ficou condicionada à evolução computacional. Com progressiva superação de tais restrições tecnológicas, desde meados da década de 1980 a Social Network Analysis passa a ganhar força com o desenvolvimento de sistemas informatizados que passam a viabilizar o tratamento de elevados volumes de dados e a relativamente baixo custo (Wasserman e Faust, 1997; Scott, 2000). Como conseqüência, e em ritmo crescente, os trabalhos empíricos e explicativos passam a buscar nos poderosos instrumentos da Social Network Analysis (cluster analysis, block models, teoria dos grafos, etc.) suporte para descrições mais exatas de estruturas altamente complexas de interações entre atores (Scharpf e Mohr, 1994). Não obstante o grau de precisão de origem matemática agregado, a análise de redes sociais não deixou de ser caracterizada mais como um ramo da sociologia “matemática” do que de “análise estatística ou quantitativa” (Hanneman e Riddle, 2005). Com a expansão da Internet, que ganhou força na década de 1990, surgem correntes de estudos das redes sociais que passam a tratar das relações entre diferentes tipos de agentes nesse novo ambiente comunicacional interativo, surgindo daí trabalhos que abordam as redes sociotécnicas como suporte de relações políticas e sociais entre atores, representadas pelas conexões entre websites (ver, p. ex., Garton et al., 1997; Park et al., 2002; Quan-Haase e Wellman, 2002; Foot et al., 2003; Rogers, 2005; Heimeriks e Besselaar, 2006). Tais estudos partem do pressuposto de que, apesar da natureza rizômica de redes simbólicas virtuais no ciberespaço ser praticamente impossível de visualização ou mapeamento real, as imagens refletidas destes arranjos podem ser compreendidas se tais redes forem captadas e observadas em espaços dimensionais representados por projeções em grafos que expressem as relações entre websites. Usando a linguagem matemática da teoria dos grafos, os web graphs são construídos a partir de nós, que simbolizam websites, e enlaces entre eles, representados por hyperlinks (Farrall e Carpini, 2004). Durante sua evolução, a Social Network Analysis desenvolveu e acumulou uma gama considerável de conceitos e técnicas que dão suporte à captação e representação das relações entre atores sociais com vistas a representá-las e interpretá-las estruturalmente sob a ótica das redes (Wellman, 1988, p.23-25). A análise dessas estruturas emergentes tem buscado entender os padrões e o conteúdo das interações que ocorrem dentro e entre agregados sociais. A rede social passa, com isso, a ser concebida como um conjunto de atores e das relações que os mantêm unidos. Os atores, dentro das redes, são vistos como pessoas individuais ou unidades

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agregadas, como organizações, comunidades ou sociedades. A característica-chave das redes é que elas são configuradas em função das relações entre agentes que intercambiam recursos. Essas relações se constituem nos elementos essenciais que conectam tais agentes dentro de uma rede social. Dentre os recursos intercambiados podem estar inclusos dados, informações, produtos, serviços, etc. Cada tipo de recurso intercambiado pode ser considerado uma relação na rede social. Essas relações, quando expressas na representação de redes por meio de grafos, podem ser vistas como enlaces entre indivíduos. A força e a intensidade dos enlaces podem variar entre “débeis e fortes” (Granovetter, 1983, p.201), dependendo do número, dos tipos e da importância dos fluxos de recursos transacionados. O mapeamento dos fluxos de informações que fluem por meio das conexões pode trazer à tona padrões de comportamento e expressar valores subjacentes à conduta de atores e coletividades que constituem redes delineadas temática e (ou) geograficamente. A característica distintiva da análise de redes dentro das ciências sociais reside na importância atribuída às relações entre entidades, aos padrões delas emergentes e as implicações sociais provenientes dessas relações. Esta perspectiva analítica permite uma nova alavancagem para responder questões e para construção de definições formais e precisas quanto às propriedades do ambiente estrutural político e social por ela descortinados. Tais ambientes podem ser expressos em termos de padrões ou regularidades de relacionamentos entre as entidades que neles atuam. As presenças regulares de padrões de relações, em tais ambientes, determinam as estruturas (Wellman, 1988; Wasserman e Faust, 1997, p.3-4). As estruturas, traduzidas topologicamente sob a forma de redes, podem ser vistas como articulações ou arranjos de elementos para formar um todo que é abstraído das ações individuais concretas observáveis para serem tratadas analiticamente. As redes surgem do entrelaçamento de relações interativas individuais que acabam por determinar o que ocorre com os outros indivíduos que participam da ação. Os padrões emergentes das interações acabam por definir o escopo de análise da rede, que pode ser total ou parcial (Wellman, 1988, p.26-29). A rede total compreende conjuntos ramificados de conexões que se estendem para dentro e para além dos limites de uma determinada organização ou comunidade. Nos trabalhos de pesquisa cujo objeto se insere em amplos contextos sociais, com vistas a obter maior profundidade, faz-se necessário selecionar aspectos particulares da rede total para concentrar a atenção, e, em razão de particularidades da atividade social, definir os contornos da rede parcial a ser tratada. As redes parciais são, portanto, definidas pelo conteúdo ou pelo significado das relações por elas contempladas (Scott, 2000, p.30-31). Normalmente das relações de complexas organizações emerge uma variedade de redes parciais em função dos seus diferentes campos de atuação (Krackhardt e Brass, 1994), definidos temática ou geograficamente. A análise de redes sociais, ainda, busca estabelecer conexões entre a análise de nível micro, médio e macro das estruturas sociais (Rhodes, 1997, p.11; Evans, 2001; Hanneman e Riddle, 2005). No nível micro, a análise de redes examina as díades, as tríades, pequenos grupos e redes ego-centradas. No nível macro, por sua vez, a atenção é voltada para o exame da configuração de redes inteiras, da identificação da sua posição estrutural e de sua composição interna. Portanto, a análise de redes estabelece uma “ponte” entre o micro e o macro nível, permitindo, com isso, que sucessivos níveis analíticos sejam incorporados uns dentro dos outros. As redes, em si, normalmente estão inseridas em amplos contextos institucionais (sociais, políticos, etc.). Assim, dentro de tais contextos há uma miríade de redes que os conectam com outros domínios institucionais no âmbito nacional e internacional. A vantagem da análise de redes sociais está justamente na possibilidade permitida de conectar muitas partes independentes para constituir configurações sociais de ordem micro e macro, bem como de outros níveis analíticos entre estes dois extremos (Galaskiewicz e Wasserman, 1994,

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p.12-13), estruturando, desta forma, configurações específicas em que se desenvolvem ações sociais e políticas entre atores em diferentes níveis (Wellman e Frank, 2001). Na Social Network Analysis são observados os atributos dos atores sociais, representados como nós que podem estar interligados, e as estruturas apreendidas a partir de padrões emergentes das relações entrelaçadas entre eles. Nesta análise, as relações entre os atores ganham preponderância relativamente aos seus atributos individuais, ou às suas características particulares. À conta disso, ao invés de analisar comportamentos, atitudes e crenças individuais dos atores, a análise de redes sociais direciona atenção para as relações entre entidades ou atores sociais em interação, “valorizando padrões de condutas e comportamentos que permeiam sistemas de governança sob os quais ações são conduzidas” (March e Olsen, 2005, p.7). Desta forma, as relações expressam qualidades que só existem se, no mínimo, dois atores são considerados em conjunto, configurando, deste modo, uma relação diádica. Em síntese, a relação não descreve os atores conectados, mas é uma propriedade intrínseca que emerge da relação entre eles. Assim, na Social Network Analysis os atores são descritos em função de suas relações, não de seus atributos particulares (Wasserman e Faust, 1997, p.8; Hanneman e Riddle, 2005).As configurações sociais são resultados, pois, de concretos padrões de escolha entre atores, como atração, repulsão e outras relações em que possam estar implexos. Estes padrões relacionais, quando considerados em grande escala, dão origem a “agregados sociais” – como economia e Estado – que se sustentam e se reproduzem durante o tempo em ambientes físicos, tecnológicos e sociais (Scott, 2000, p.9 e 25). As articulações e intercâmbios nas redes de políticas nesses ambientes acabam por expressar “formas sociais, representadas pelas configurações das interações entre agentes que, em conjunto, constituem as estruturas nas quais eles estão inseridos” (Cederman, 2005, p.871). Na análise das formas sociais traduzidas pelas redes, os grafos possibilitam a visualização da correlação dos dados mais gerais que as definem, permitindo a percepção de algumas importantes propriedades estruturais. A análise visual dos grafos normalmente é intuitiva e qualitativa, sendo fértil para reduzidos conjuntos de dados. Na medida em que os grafos se tornam mais complexos em razão do número de nós e enlaces abrangidos, há necessidade de utilização de técnicas e algoritmos para processamento de dados estruturados em forma de matrizes, e fazer uso de recursos computacionais para processá-las quantitativamente. Este tipo de investigação quantitativa também abre oportunidades singulares para testar conceitos únicos que expressam propriedades de amplas e complexas formas de estruturação social. No estudo das redes de políticas, representando a ação dentro de formas sociais estruturadas como unidades de análise, além das propriedades posicionais e relacionais dos atores, passíveis de serem captadas mediante utilização de técnicas grafo-matriciais, precisam ser complementadas pela análise qualitativa do sistema simbólico em que se inserem. As expressões simbólicas que permeiam as formas sociais, de acordo com Touraine (1969), são justamente os elementos que lhes atribuem sentidos e lhes posicionam dentro de linhas de orientações normativas sob as quais atores se organizam “em rede de relações sociais” (p. 226) para desenvolvimento de ações sob diretrizes emanadas de sistemas sociopolíticos mais amplos (p. 113-121). Nesta perspectiva analítica da ação, as formas de organização social são consideradas justamente como ‘políticas’ (p. 153).

2. Procedimentos metodológicos de coleta e processamento de dados A principal preocupação inicial da pesquisa foi buscar meios de obter dados relacionais sob determinada função capaz de mantê-los coerentes e consistentemente organizados. Com esta finalidade foi desenvolvido um programa em ACCESS para armazenamento e processamento de informações provenientes do conteúdo de websites. Neste banco de dados foram registradas as relações representadas pelos hyperlinks que conectam tais centros nodais de informações no ciberespaço com a finalidade de desvelar eventuais modelos estruturais emergentes que permitissem maior aproximação da realidade em que se insere a política de

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difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba e, com amparo nesta realidade, o aprofundamento do conhecimento sobre a temática. Tomando como suporte o processo descrito por Duarte de apreensão de uma realidade fática, sua transcrição para o universo informacional e, com base nisso, a geração de modelos, buscou-se com a pesquisa a captação, a filtragem e a organização de informações expressas no ciberespaço (desterritorializadas) para construção e representação de um universo informacional em ambiente computacional capaz de delinear aspectos essenciais da política de difusão social de TICs nas cidades estudadas. Disso seguindo sua reterritorialização, agora informacional, em que dados são organizados em modelos, que podem ser articulados para reconstrução de processos sociais e políticos, ou sujeitos a simulações que podem visar a conhecer o espaço abrangido pela rede de difusão social de TICs sob condições presentes, futuras ou hipotéticas (Duarte, 2002, p.246). A temática a ser tratada pela pesquisa foi definida como política de difusão social de TICs e o espaço geográfico abrangeu as cidades de Porto Alegre e Curitiba. Curitiba foi definida como a cidade de início da pesquisa e, dentro dela, como ponto de início da coleta de dados, ou de primeira ordem, buscou-se identificar uma instituição com atuação relevante na política em estudo. Toda a coleta de dados relacionais foi realizada entre os meses de julho e agosto de 2006 e teve como fonte exclusiva de consulta a Internet. Assim, depois de definida a temática, a cobertura geográfica, desenvolvido o sistema para registro e estruturação de dados, o universo da pesquisa foi delimitado por meio da aplicação da técnica denominada “Bola de Neve”, ou “Snowball”. Esta técnica consiste na definição de um, ou de alguns atores, para iniciar os procedimentos de coleta dos dados relacionais para determinação da composição da rede a ser estudada. A partir do ponto inicial são então registrados atores citados como possuindo relações com aquele ou aqueles que deram origem à coleta de dados. O procedimento é, assim, aplicado sucessivamente até que haja a definição dos contornos da rede no momento em que se esgotem as possibilidades de inclusão de novos atores na rede em estudo, e, no caso específico da presente pesquisa, dentro da delimitação geográfica e temática pré-definida. Deste modo, no método “bola de neve” a própria relação entre os atores é usada, de modo encadeado, para localizar e seguir os enlaces que apontam para aqueles que comporão o grupo a ser estudado. No método em questão há tendências de que a composição da rede a ser delineada venha a refletir características relacionais do ator inicial, haja vista que este exerce influências que determinarão a inclusão dos demais atores na rede. Por tal motivo se reveste de grande importância a escolha de um ator, ou de um conjunto de atores, com características relacionais significativas quanto à aderência à temática em exame e à base territorial delimitada. Neste sentido, a literatura adverte que a qualidade dos dados obtidos pelo método “bola de neve” é condicionada por uma criteriosa seleção do ponto de partida natural para a coleta de dados, que bem represente as características das relações entre os atores dentro da população estudada (Scott, 2000; Hanneman e Riddle, 2005). Diante das precauções recomendadas para aplicação do método “bola de neve”, para compor o ponto inicial da pesquisa procurou-se identificar uma instituição com atuação representativa na formulação e implementação de políticas de difusão social de TICs em âmbito local. Sob tais premissas, foi dado início a levantamentos na Internet por meio da utilização da ferramenta de busca Google (http://www.google.com.br), e acesso aos websites de instituições localizadas em Curitiba e atuantes na política de difusão social de TICs para avaliar suas relações com outras instituições em nível local, regional, nacional ou internacional expressas no ciberespaço. Como resultado da aplicação de tais procedimentos, e com apoio em conhecimentos prévios dos pesquisadores, decidiu-se iniciar os trabalhos de coleta de dados a partir do website do ICI

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- Instituto Curitiba de Informática (http://www.ici.curitiba.org.br/), que é o principal fornecedor da infra-estrutura, representada por equipamentos e pessoal técnico especializado, para atender às necessidades da Prefeitura Municipal de Curitiba que envolvam a aplicação de TICs para condução de políticas públicas locais. Aliado à representatividade do ICI na condução da política local de difusão social de TICs, ao analisar seu website, foi também constatado o registro de vários projetos e um número significativo de hyperlinks que o conectam com importantes instituições públicas, privadas e do terceiro setor envolvidas com tais políticas em âmbito local e supra-local. Em termos procedimentais, desde o ponto inicial da coleta de dados, os hyperlinks identificados nos websites pesquisados eram acessados e, depois de analisados, classificados estruturalmente como relacionados a uma rede de atores nucleares à política de difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba e a uma rede de parceiras temáticas. Aqueles hyperlinks cujo website de destino não guardava correlação direta, temática ou geograficamente, com o objeto da pesquisa formam nomeados hyperlinks de referência, dando origem a uma rede de igual nome. A definição de cada um desses três tipos de hyperlinks consta do Quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Categorias Relacionais entre Atores

Tipo de Relação Definição Atores Nucleares São hyperlinks que relacionam instituições com objetivos e missões declaradas quanto ao

envolvimento em políticas de difusão social das TICs nas cidades de Porto Alegre e (ou) Curitiba, e, ainda com projetos ou ações concretas sendo realizadas em quaisquer destas duas cidades.

Parceiros Temáticos

São hyperlinks que relacionam instituições com objetivos e missões declaradas em direção às políticas de difusão social das TICs nas cidades de Porto Alegre e/ou Curitiba, mas sem nelas possuírem participação em ações ou projetos.

Hyperlinks Referência

São todos os hyperlinks, que partiam dos websites das instituições nucleares, identificados como canais de comunicação com instituições que evidenciaram não possuir atuação continuada na política de difusão social de TICs em Porto Alegre e (ou) Curitiba. Nesta categoria foram classificados aqueles atores com participações pontuais em determinadas iniciativas. Tais instituições normalmente são relacionadas como atuantes em ações e projetos na condição de eventuais patrocinadores ou apoiadores, sem que apresentarem em seus respectivos websites missões ou objetivos permanentes vinculados às políticas em estudo. Como exemplo deste último tipo de organizações atuantes conjuntamente com os atores nucleares em ações e projetos foram identificados aquelas vinculadas aos ramos de comércio; transportes; associações com atividades voltadas a outras políticas; à mesma política, mas em localidades diferentes; dentre outros. Não foram incluídos no rol da pesquisa aqueles hyperlinks relacionados exclusivamente às atividades comerciais de empresas ou institucionais de órgãos públicos, mas sem relação com políticas sociais.

Em suma, o critério básico para enquadramento nas duas primeiras categorias do Quadro 1 tem fundamentos na indicação de atuação continuada na política de difusão social de TICs. No primeiro caso com atuação concreta em Porto Alegre e (ou) Curitiba. No segundo bastava que houvesse declaração quanto à atuação relativamente à referida política, independentemente de existirem ações efetivamente sendo executadas em quaisquer das duas cidades. Na aplicação do método “bola de neve” o ator, ou conjunto de atores, que representou o ponto inicial da coleta de dados foi classificado como de primeira ordem, os atores identificados a partir dele foram classificados como sendo de segunda ordem, e assim sucessivamente até atingir a ordem “n”. O momento “n” pode ser determinado pelo pesquisador ou emergir naturalmente no instante em que se esgotam as possibilidades de inclusão de novos atores na rede. Em qualquer destas duas situações há a definição dos contornos da constelação de atores que terão suas posições e relações estudadas, bem como da rede que os circunscreve (Wasserman e Faust, 1997, p.34; Scott, 2000, p.56-60; Rogers, 2005, p.66-67). Com suporte nas premissas classificatórias definidas no Quadro 1, no processo de pesquisa e

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classificação dos hyperlinks que partiam do website de primeira ordem, pertencentes aos atores nucleares, eram todos enquadrados como apontando para websites de segunda ordem de atores nucleares, de parceiros temáticos ou de simples hyperlinks de referência. Depois de acessados todos os websites apontados por aquele de primeira ordem, eram então avaliados os respectivos conteúdos e feita a sua classificação com fundamentos nos conceitos trazidos no Quadro 1. Das três possibilidades de classificação eram selecionados aqueles websites cujos atores se enquadravam na categoria atores nucleares. Estes passavam então a se constituir em referencial para acessar os websites de terceira ordem. Em relação a estes websites de terceira ordem eram aplicados os mesmos critérios classificatórios a que se submeteram os de segunda ordem. Esse procedimento foi aplicado sucessivamente até o esgotamento das possibilidades de surgimento de novas instituições que preenchessem as condições para serem incluídas na ordem seguinte. O procedimento de coleta de dados descrito é representado esquematicamente na figura seguinte:

Figura 1 – Representação Esquemática do Procedimento de Coleta de Dados

Dos websites pertencentes aos atores nucleares foram registrados os dados institucionais arrolados e definidos no Quadro 2, que se configuram como atributos individuais dos atores. Os dados captados de acordo com as diretrizes trazidas neste quadro passaram a constituir o substrato analítico por meio do qual inferiu-se o pertencimento de cada um dos 311 websites pesquisados em cada um dos tipos de relações expressas no Quadro 1. Quadro 2 – Atributos Individuais dos Atores nucleares Pesquisados

Atributo Descrição Nome Nome da instituição Endereço eletrônico Endereço do website na Internet, ou URL. Abrangência da Atuação

Em relação a cada ator pesquisado foi avaliada a abrangência de sua atuação, considerando as cidades de Porto Alegre e (ou) Curitiba.

Escala de Atuação Para cada website a escala de atuação foi classificada em local, regional, nacional ou internacional. Estes atributos foram definidos previamente ao início da coleta de dados.

Setor de Atuação Os atores pesquisados foram classificados como pertencentes ao setor público, ao setor privado ou ao terceiro setor. A definição destes atributos para classificação foi efetuada previamente ao início da pesquisa.

Missão À medida que os websites dos atores eram acessados e considerados como pertencentes ao universo dos atores nucleares da pesquisa era identificada e transcrita a sua missão declarada quanto à sua atuação no campo das políticas de difusão social das TICs, bem como quanto aos objetivos buscados em ações desenvolvidas em tal campo.

Políticas ou áreas de interesse

Foram identificadas e cadastradas todas as políticas sociais nas quais o ator declarou explicitamente atuar ou, na falta desta declaração, foi feita classificação de acordo com o contexto descrito da atuação.

Objetivos Foram identificados e cadastrados os objetivos declarados pelos atores que espelhassem suas intenções relativamente à políticas de difusão social das TICs.

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Projetos Foram registrados os seguintes dados dos projetos identificados nos websites: nome, objetivo, cidades abrangidas (Porto Alegre e/ou Curitiba) e atores envolvidos.

Derivada da convergência de iniciativas – espelhando ações ou projetos em execução nas cidades de Porto Alegre e (ou) Curitiba – dos atores classificados em qualquer das três categorias trazidas pelo Quadro 1, foi definida uma quarta, de caráter relacional, chamada de parcerias em ações e projetos, definida no Quadro 3. Quadro 3 – Convergência de Atores para Parceiras em Ações e Projetos

Tipo da Relação Definição Parcerias em Ações e Projetos

São espaços de convergência de ações empreendidas concretamente e com resultados concretos produzidos no âmbito das comunidades locais tanto por atores nucleares quanto pelos demais parceiros na política de difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. Importante observar que, como se trata de pesquisa relacional entre atores, somente foram considerados os projetos em que os websites indicassem pelo menos um ator externo envolvido. Desta forma, foram desconsideradas todas aquelas iniciativas conduzidas individualmente pelos atores pesquisados.

Na categoria definida no Quadro 3, o critério básico utilizado para enquadramento dos hyperlinks foi a constatação de atuação concreta da organização por eles apontada em ações ou projetos de difusão social de TICs em Porto Alegre e (ou) Curitiba. Sob este critério, portanto, foram consideradas as relações tanto de atores nucleares, parceiros temáticos quanto de hyperlinks de referência.

3. Análise dos resultados A coleta de dados com suporte na aplicação do critério trazido no Quadro 3 deu origem a uma sociomatriz, representada sinteticamente no Quadro 4, em que são registradas as relações do conjunto de 142 organizações com atuação efetiva em 65 ações e projetos identificados por meio da pesquisa. Definidas as linhas para representação das organizações e as colunas para representação dos projetos, nas células da matriz em que ocorre a intersecção correspondente à participação de uma organização em um projeto foi inserido o número 1 (um) enquanto naquelas em que não foi encontrada correspondência entre a organização e o projeto houve a inserção do numero 0 (zero), representado pelo símbolo “-“. Quadro 4 – Dados Quantitativos da Rede de Ações e Projetos em Porto Alegre e Curitiba Ações e Projetos

48**

55

43

28

1 21

44

22

30

52

38

17

57

31

29

3 50

Tot

al d

e R

elaç

ões

*1-Ctba-Prefeitura - - - 1 - - 1 - - 1 - - - - - 1 10 14 5%3-ICI-Instit. Ctba Inf. - - - - 1 - - - - 1 - - - - - 1 10 13 5%1-P.Alegre-Prefeitura 1 - - - - 1 - 1 - - - - - - - - 7 10 4%2-BrasilTelecom - 1 - 1 - - - 1 - - - - - - 1 - 5 9 3%1-Procempa 1 1 1 - - 1 - 1 - - - - - - - - 4 9 3%3-Fun.Pens.Digital - - - - - - - 1 - - 1 1 - - - - 5 8 3%3-CDI/PR - - - - 1 - - - - - - - - - - - 6 7 2%1-PR-Gov. do Estado - - - 1 - - - - - - - - - - 1 - 5 7 2%2-Microsoft - 1 - - 1 - - - 1 1 - - - - - - 2 6 2%1-Ufrgs - - - - - - - - - - 1 1 - 1 - - 3 6 2%1-Ufpr - - - - - - - - - - - - - - - - 6 6 2%1-Banco doBrasil - - - 1 - - - 1 1 - - - - - 1 - 2 6 2%1-Procergs 1 1 - - - - - - - - - - - - - - 3 5 2%3-Puc/RS 1 - - - - - - - - 1 - - - - - - 2 4 1%3-Fund.Bco.Brasil 1 - - - - - - - 1 - - - - - - - 2 4 1%

Org

aniz

açõe

s Par

ticip

ante

s de

Açõ

es e

Pro

jeto

s

Outras 127

15

15

14

9 8 8 8 4 5 2 4 4 5 4 2 3 57

167

59%

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Total de Relações 20

19

15

13

11

10

9 9 8 6 6 6 5 5 5 5 124

281

7%

7%

5%

5%

4%

4%

3%

3%

3%

2%

2%

2%

2%

2%

2%

2%

46%

100%

* O número que aparece antes do nome do ator corresponde ao setor a que ele pertence (1-Público, 2-Privado, e 3-3° Setor) ** A identificação da iniciativa correspondente a cada um destes números poderá ser feita por meio de consulta ao Anexo I.

Com fundamentos nessa estrutura matricial, com a finalidade de apreender propriedades organizacionais e modelar estruturalmente as relações dos atores ligados a ações e projetos, os dados foram processados pelo software UCINET (Borgatti et al., 2002) para construção da base sobre a qual se assenta a visualização da rede por meio do software NetDraw (Borgatti, 2002), originando, deste modo, a partir de relações unidirecionais, o grafo retratado pela Figura 2.

Figura 2 – Rede de Ações e Projetos em Porto Alegre e Curitiba

Na Figura 2 os losangos amarelos espelham ações ou projeto em que há convergência de esforços de duas ou mais organizações. Esta figura, na verdade, traz à tona um espaço interativo emergente na rede de difusão social de TICs, traduzindo “a ação social enquanto ação coletiva orientada para o próximo, o que chamaremos de sociabilidade” (Touraine, 1969, p.21), decorrente da interação de diversos atores vinculados em virtude de uma iniciativa que se constitui em mecanismo que assegura unidade do funcionamento do sistema de ação com objetivos de gerar “produtos” concretos para determinada comunidade. No caso em pauta, a difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. Na Figura 2, à direita de cada um dos losangos há um número que os identifica individualmente. Com este número, consultando o Anexo I, é possível identificar o nome das principais iniciativas representadas. Os diferentes tamanhos dos losangos variam em decorrência do número de instituições que participam da execução do respectivo projeto ou ação. Utilizando a terminologia específica da Social Network Analysis, a área de losango é proporcional ao in-degree de cada ação ou projeto. No Quadro 4 o in-degree, que corresponde

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ao número de organizações envolvidas em cada iniciativa, pode ser verificado na penúltima linha. Os círculos simbolizam as organizações participantes na execução das ações ou projetos. A diferenciação do tamanho de cada um dos círculos é diretamente proporcional ao número de ações ou projetos em que cada uma das organizações participa; ou seja, ao out-degree de cada um dos atores envolvidos diretamente na rede de difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba. O out-degree de cada uma das 15 principais organizações representadas na rede pode ser verificado na penúltima coluna do Quadro 4. Também, na Figura 2, há a classificação das organizações correspondente ao setor a que pertencem. Os círculos verdes identificam organizações públicas; os azuis, organizações do setor privado; e os vermelhos, organizações do terceiro setor. De modo sintético, a representação da rede de política viabilizada pela Figura 2, de acordo com parâmetros trazidos por (Touraine, 1969, p.63), permite, ao considerar as orientações normativas que indicam os fins buscados pelos atores, definir o sentido das relações entre sujeitos e objetos de sua ação, bem como definir as posições relativas entre sujeitos no processo de interações. Isso tudo, além de indicar a amplitude e a capacidade de ação dos sujeitos quando se trata de avaliar as articulações internas à rede sociotécnica de política que veio à tona. A rede que se tornou visível por meio da Figura 2 aproxima-se do que Klijn (1999, p.30) chama de conjuntos de organizações agrupadas em torno de conjuntos de ações específicas nas quais agentes sociopolíticos tentam atingir objetivos em torno de um propósito concreto em que são intercambiados recursos almejando a obtenção de resultados estratégicos individuais e, ao mesmo tempo, comuns aos participantes. A consideração de ações concretas para avaliação da ação social, segundo Touraine (1969, p.19), é importante por uma ação social somente existir se estiver orientada para certos objetivos e orientações coletivas concretas. Não basta, portanto, que seja tratada somente em termos de intenções individuais, uma vez que, por se tratar de processo essencialmente coletivo, é sustentada por sistemas de relações interativas geradoras de inovação, criação e atribuições de sentidos que se fazem comunicar à sociedade e mobilizar novos atores por meio de sistemas simbólicos que ganham corpo a partir de realizações com reflexos concretos sobre a vida de pessoas que convivem em determinada comunidade. A Figura 2, se consideradas as intenções estratégicas implícitas dos atores, permite visualizar globalmente uma estrutura de governança tendo como referência as relações da constelação de organizações centradas em projetos dos quais participam. Também é evidenciada, à conta do número de projetos em que participa, a posição relativa de cada uma dessas organizações dentro da rede em questão. Outra informação trazida pela figura é a simbolizada pela importância relativa de cada iniciativa; a medida in-degree, neste caso, como elemento expressando as potencialidades de atração do interesse de diferentes atores que a ela aderiram. Além de permitir visualizar a macroestrutura da rede da política de difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba, tal figura também serve como referencial para explorar, em nível micro, quem participa e quais são os objetivos de cada projeto ou ação representados. A Figura 2, em essência, materializa um cenário de ação em que cada agente se constitui em auxiliar para os demais participantes de cada uma das 65 iniciativas. Considerando qualquer dessas iniciativas, cada organização participante tem suas perspectivas objetivas e subjetivas contempladas em processos de interação em diferentes graus com diferentes atores. Agora, se considerados atores com participação em mais de uma iniciativa é evidenciado a sua interação com diferentes atores e em diferentes situações construídas em função das peculiaridades intrínsecas de cada projeto ou ação, gerando, tais relações de interatividade, profícuo espaço para intercâmbio de conhecimentos e experiências.

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Nesse processo interativo espelhado pelas ações executadas conjuntamente pelos atores articulados em rede, agora em nível macro, descortina-se um ambiente em que há mescla de diferentes perspectivas subjetivas desses agentes. Com isso, gerando uma estrutura extra-individual, revelada a partir da conjunção de diferentes valores sociais, políticos e ideológicos, resultante da participação de atores pertencentes aos setores público, privado e terceiro setor. Nesse ambiente, cada um destes três grupos de agentes, comparece com suas próprias regras e valores que os distinguem política e socialmente. As diferentes perspectivas normativas que influenciam a conduta dos atores pertencentes a cada um dos setores representados neste ambiente relacional esboçado acabam por se ajustar e se conformar ao serem objetivadas em ações e projetos que revertem resultados concretos no seio das comunidades locais em que se desenvolvem. Neste sentido, dando origem a um espaço para constituição de representações metasociais, conforme processo descrito por Berger e Luckmann (1985, p.91), que poderão determinar características peculiares que distinguirão a rede sociotécnica de política de difusão social de TICs em Porto Alegre e Curitiba perante outras estruturadas a partir de diferentes temáticas ou delimitações geográficas. Além das possibilidades analíticas descritivas de caráter geral até então trabalhadas, a Figura 2 permite identificar particularidades importantes das 65 ações e projetos que emergiram dos trabalhos de pesquisa. Na Figura 2, verificando as diferentes cores dos nós, pode ser constatada e contabilizada a participação relativamente equilibrada em termos numéricos nos 65 projetos e ações de 142 diferentes organizações. Dentre tais organizações, 46 (32%) pertencem ao setor público; 47 (33%) ao setor privado; e 49 (35%) integrantes do terceiro setor. Este equilíbrio relativo dos setores na composição da rede revela uma tendência que cada vez mais caracteriza o provimento de bens sociais e serviços públicos básicos: um maior peso do setor privado, o que traz, de um lado, mais recursos e possibilidades de suprir as necessidades sociais crescentes, mas, de outro lado, aumenta também a possível ingerência dos interesses econômicos da implementação de políticas públicas, fortalecendo a lógica de mercado na prestação de serviços de caráter público. Analisando a Figura 2 quanto à distribuição geográfica entre as duas cidades estudadas, agora com foco nas ações e projetos, verifica-se também a existência de certo equilíbrio numérico, mas com pequeno viés em favor de Porto Alegre, senão vejamos: 30 (46%) das iniciativas são conduzidas em Porto Alegre e 27 (42%) em Curitiba; e 8 (12%) abrangem ambas as cidades. Dentre estes dados, além do relativo equilíbrio numérico de ações e projetos desenvolvidos em ambas as cidades, é importante destacar a emergência daquelas 8 iniciativas que abrangem tanto uma quanto outra cidade, constituindo, deste modo, uma “ponte” de ligação entre a rede de política de difusão social de TICs que envolve as duas localidades. Essas ações e projetos se constituem em espaço de interação e de intercâmbio de experiências entre organizações com atuação extra-local em ambas as cidades. Neste ponto surgem possibilidades de análises comparativas mais aprofundadas quanto a aspectos comuns ou particularidades emergentes dos contextos revelados pelos dois distintos espaços geográficos. Apesar dessa potencialidade, por fugir ao escopo da presente pesquisa, tal análise comparativa não será realizada, ficando, portanto, indicação para futuros estudos. No caso específico da política de difusão social de TICs nas cidades de Porto Alegre e Curitiba, os níveis de participação e de interação em ações conjuntas indicadas na Figura 2, por si só, sugerem terreno fértil para internalização e externalização de normas e valores entre as organizações participantes. A atuação conjunta dos atores indica que estão mutuamente orientados para demandas de ordem social; senão sinaliza ao menos a superação da ação puramente individual para atuação coletiva. De qualquer modo há indicação da emergência de algum grau de sociabilidade, uma vez que “o ator se identifica com um grupo, a um sujeito coletivo; superando assim, sua individualidade compartilhando normas, valores, intenções. Por outro lado, fortalece sua imagem perante os demais membros do grupo ao expressar sua

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identidade” (Touraine, 1969, p.70). No que se refere à identidade individual, Bourdieu (2005, p.118) enfatiza que “existir socialmente é também ser percebido como distinto”. Diante disso tudo, considerando o número de ações e projetos identificados com atuação conjunta de atores nos níveis expressos na Figura 2, o fato de duplas (díades) ou grupos de atores atuarem conjuntamente em diferentes projetos, como demonstra a Figura 2, evidencia a existência de padrões já sedimentados que sustentam um sistema de governança implícito à rede sociotécnica de política de difusão de TICs nas duas cidades pesquisadas, que pode lhe configurar uma unidade real e lhe atribuir uma identidade específica dentro de domínios sociais e políticos mais amplos. Agora, por outro lado, analisando o número de ações e projetos em que cada uma das organizações representadas na Figura 2 participa, tem-se que 103 (71%) tomam parte de apenas uma iniciativa, 15 (10%) participam em duas, 9 (6%) em três, e 17 (12%) estão vinculadas a quatro ou mais iniciativas. Essa relativamente baixa amplitude de participação em diferentes iniciativas pode ter como explicação, por um lado, o fato da política de difusão social de TICs não ser a única que merece atenção da maioria das organizações, ou, por outro, de se constituírem em organizações que têm tal participação como acessória quando considerada ao lado das suas principais atividades, ou se constituírem em atores iniciantes na política, ou, ainda, o fato de se dedicarem única e exclusivamente a ela. Independentemente do motivo que levou a maioria das organizações a se envolverem em iniciativa única, figura-se, em si, como aspecto importante dentro da política o fato de que tais organizações foram movidas a se inserir em um ambiente de sociabilidade com finalidade de atuar cooperativa e efetivamente em busca de resultados concretos em benefício de comunidades locais. Neste ponto abre-se importante espaço para desenvolvimento de outros estudos mais aprofundados para buscar explicações para a realidade que se descortinou; por exemplo, com objetivo de avaliar se há tendência de envolvimento de tais organizações com maior número de iniciativas com o decorrer do tempo. Nessa linha, há interessante estudo empreendido por Spink (2000) que oferece interessantes parâmetros comparativos quanto ao número de entidades envolvidas em iniciativas sociais no Brasil. Quanto à participação em iniciativas, como indicado com maior detalhe no Quadro 4, expressando propriedades posicionais na rede, se destacam no setor público a PROCEMPA-Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação de Porto Alegre (9 participações) e as prefeituras de Porto Alegre (10) e de Curitiba (14); no setor privado ganham relevância o Banco do Brasil (6), a Microsoft (6) e a Brasil Telecom (9); no terceiro setor se sobressaem a Fundação Pensamento Digital (8) e o Instituto Curitiba de Informática (13 participações). Importante se faz notar que a Fundação Pensamento Digital e, por conseqüência, as ações e projetos em que participa contam com ampla participação de atores privados e do terceiro setor ao passo que aqueles desenvolvidos pelo Instituto Curitiba de Informática contam com o envolvimento essencialmente da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Conclusão A delimitação objetiva conseguida em decorrência da abordagem metodológica de viés mais quantitativo construída permitiu adentrar em profundos aspectos da realidade estruturada pelas relações interorganizacionais, sem dependência da percepção exclusiva ou puramente qualitativa das propriedades e dos contornos da rede de difusão social de TICs em Porto Alegre e Curitiba. Dentro deste quadro, partindo das relações diádicas foi possível compreender a lógica subjacente à emergência e à definição de identidades da rede de política e do domínio simbólico em que a rede se inscreve. Evidenciaram-se esses domínios, ou espaços de sociabilidade, como configurações de sistemas simbólicos estruturados por normas e valores institucionalizados em nível macro sob os quais atores organizacionais procuram

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ajustar objetivos e ações sociopolíticas no âmbito micro para, em primeiro momento, obter cooperação entre pares internamente à rede para formulação e execução de ações e projetos com resultados concretos sendo produzidos junto a comunidades locais e, a partir disso, a sua aceitação pela sociedade em que se inserem e, ao mesmo tempo, redefinir tais macroestruturas com referência aos próprios interesses. Um aspecto importante a ser explicitado quanto à definição da população é o fato de que a análise de redes tem a peculiaridade de não utilizar métodos probabilísticos para definição de amostragem. Neste tipo de análise tenta-se incluir todos os atores que integram uma determinada população, cujos contornos se definem dentro de limites naturais originários de características relacionais da própria população estudada. Contudo, não obstante tal possibilidade de abrangência do universo da pesquisa, dos resultados obtidos e perspectivas analíticas viabilizadas, é prudente ressalvar que a apreensão realidade social dificilmente ocorre na sua plenitude; portanto, é natural que a análise tenha por substrato conjuntos significativos da estrutura ou da ação social, dotados de um sentido e de uma lógica interna, no interior de um fluxo de acontecimentos que não somente transborda o escopo da análise possível, mas, sobretudo, carece de existência independente da práxis humana, quer dizer, da orientação normativa dos atores no ambiente sociopolítico em que atuam. Logo, a rede sociotécnica de difusão social de TICs de Porto Alegre e Curitiba que se delimitou se constitui em um modelo complexo de significação que expressou uma situação concreta, cuja explicação, em si, pressupõe uma seleção, um recorte artificial, mas cientificamente fundamentado e com potencial de delinear aspectos essenciais e particulares da política num determinado tempo e espaço. Diante dessas considerações, e dos resultados obtidos no estudo empreendido do objeto empírico, é importante ter em conta que as redes sociotécnicas de políticas construídas objetivamente com apoio nos dados coletados se constituem em apenas modelos estruturais emergentes e informadores das relações sociais lastreadas por uma realidade empírica da qual se busca estruturar e articular informações com a finalidade de obtenção de aprofundamento de conhecimentos aplicáveis à articulação política e gestão nas redes de governança local; logo, não se pretende que expressem a realidade concreta em sua plenitude. Também há que se ter em conta que não expressam uma realidade sociopolítica estática, mas um conjunto significativo de relações dinâmicas no tempo e no espaço. Em sendo assim, ganham relevância os aspectos simbólicos, de cunho qualitativo, que tendem a persistir como uma realidade fundamental; logo, com maior perenidade independentemente da composição quantitativa do conjunto de atores ou de suas relações internas e externas à da rede estudada. Importante considerar, ainda, que mesmo tal realidade fundamental também não está isenta de sofrer alterações com o transcorrer do tempo dando origem a estruturas com diferentes configurações ou, em caso de rupturas, à emergência de novas estruturas. Deste modo, justificando a aceitação do próprio processo de evolução histórica da realidade em marcha. Referências BERGER, Peter L. e LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento.19ª ed. Petrópolis: Vozes, 1985. 248 p. BORGATTI, Stephen P. In: (Ed.) NetDraw: Graph Visualization Software. Needham, MA, USA: Analytic Technologies, 2002. http://www.analytictech.com/ucinet/ucinet.htm, BORGATTI, Stephen P.; EVERETTI, Martin G. e FREEMAN, Linton C. In: (Ed.) Ucinet 6 for social Network Analysis. Needham, MA, USA: Analytic Technologies, 2002. http://www.analytictech.com/ucinet/ucinet.htm, BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico.8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 322 p. CEDERMAN, Lars-Erik. Computational Models of Social Forms: Advancing Generative Process Theory. American Journal of Sociology, v.110, n.4. p.864-893. 2005.

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SCHARPF, Fritz Wilhelm e MOHR, Matthias. Efficient Self-Coordination in Policy Networks. A Simulation Study. Discussion Work Paper 94/1. Köln, Germany: MPIFG-Max-Planck-Institut für Gesellschaftsforschung, 1994. SCOTT, John. Social Network Analysis: a handbook.2ª ed. Thousands Oaks, California: Sage Publications, 2000. 208 p. SPINK, Kevin Peter. The rights approach to local public management: experiences from Brazil. Revista de Administração de Empresas, v.40, n.3. p.45-65. 2000. TAPSCOTT, Don. The digital economy: promise and peril in the age of networked intelligence. New York: McGraw-Hill, 1996. xviii, 342 p. TOURAINE, Alain. Sociologia de la accion. Barcelona: Ediciones Ariel, 1969. 487 p. WASSERMAN, Stanley e FAUST, Katherine. Social Network Analysis: Methods and Applications.Reprinted with corrections 1997. 13th printing 2005 ed. Cambridge: University Press, 1997. 825 p. WELLMAN, Barry. Structural analysis: From method and metaphor to theory and substance. In: B. Wellman e B. Steve (Org.) Social structures: A network approach. Cambridge: University Press, 1988. p.19-61 WELLMAN, Barry e FRANK, Kenneth. Network Capital in a Multi-Level World: Getting Support from Personal Communities. In: N. Lin; R. Burt e K. Cook (Org.) Social Capital: Theory and Research. Chicago: Aldine De Gruyter, 2001. p.233-274 Anexo I- Lista de Ações e Projetos e respectivas instituições nucleares responsáveis 1 – Digitando o Futuro, Prefeitura Municipal de Curitiba; 3 – Projeto Comunitário, Pontifícia Universidade Católica do Paraná; 17 – Digital Cooperation Network: connecting communities to development, The McMahan Center; 21 – Cibernarium Municipal – Espaço para Inclusão e Capacitação Digital, Prefeitura Municipal de Porto Alegre; 22 – Telecentros da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Prefeitura Municipal de Porto Alegre; 28 – Pontos de Acesso, Companhia de Informática do Paraná (CELEPAR); 29 – Telecentros, Companhia de Informática do Paraná (CELEPAR); 30 – Projeto de Inclusão Digital de Mulheres Comunicadoras, CEMINA – Comunicação, Educação e Informação em Gênero; 31 – Laboratório de Estudos Cognitivos da UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 38 – Rede de Cooperação para o Desenvolvimento, Fundação Pensamento Digital; 43 – Projeto Pescar, Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação de Porto Alegre (PROCEMPA); 44 – Programa NetEducação, NET; 48 – 5ª Oficina de Inclusão Digital, Prefeitura Municipal de Porto Alegre; 52 – Centros de Tecnologia XML, Microsoft do Brasil; 55 – 34° Seminário Nacional de TIC para Gestão Pública (Secop), Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul (PROCERGS) 57 – 7° Fórum Internacional de Software Livre, Associação SoftwareLibre.org (ASL).