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Referência: Protocolado nº 4882/09 – DPCap. Documento referência: Ofício nº 1055/2009 – 2º Juizado Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Douta Corregedora Geral: Trata-se de ofício da Excelentíssima Juíza de Direito do 2º Juizado Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, Doutora Fabiana Silveira Karam, encaminhado ao Delegado de Polícia do 9º Distrito Policial da Capital, a fim de, querendo, manifestar- se acerca do parecer do Ministério Público nos autos de Pedido de Providências nº 2008.0008055-9. Referidos autos tiveram início mediante provocação do então Delegado de Polícia XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXX, questionando o Juízo acerca do procedimento a ser adotado com relação ao crime organizado, representado pela máfia das caça-níqueis e do jogo do bicho, ou seja, se em tais situações, existiria plausibilidade jurídica ou justa causa na autuação em flagrante por crime de contrabando e/ou estelionato, em concurso com a contravenção de jogo de azar, ou se deveria continuar somente lavrando Termos Circunstanciados. Em sua análise, a Excelentíssima Promotora de Justiça da Promotoria de Justiça junto ao Juizado Especial Criminal de Curitiba, Doutora Wilma Erichsen de Sottomaior, assim concluiu: “Do exposto pelo solicitante tem-se primeiramente que o desejado enquadramento 1

Referência: Protocolado nº 4882/09 – DPCap. Ofício nº 1055 ... · Nos termos do art. 11 do CPP, ‘os ... Código de Processo Penal Comentado (Ed. Revista dos Tribunais, 5ª

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Referência: Protocolado nº 4882/09 – DPCap.

Documento referência: Ofício nº 1055/2009 – 2º Juizado Especial Criminal do Foro Central da

Comarca da Região Metropolitana de Curitiba.

Douta Corregedora Geral:

Trata-se de ofício da Excelentíssima Juíza de Direito do 2º Juizado

Especial Criminal do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana

de Curitiba, Doutora Fabiana Silveira Karam, encaminhado ao Delegado

de Polícia do 9º Distrito Policial da Capital, a fim de, querendo, manifestar-

se acerca do parecer do Ministério Público nos autos de Pedido de

Providências nº 2008.0008055-9.

Referidos autos tiveram início mediante provocação do então

Delegado de Polícia XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXX,

questionando o Juízo acerca do procedimento a ser adotado com

relação ao crime organizado, representado pela máfia das caça-níqueis e

do jogo do bicho, ou seja, se em tais situações, existiria plausibilidade

jurídica ou justa causa na autuação em flagrante por crime de

contrabando e/ou estelionato, em concurso com a contravenção de jogo

de azar, ou se deveria continuar somente lavrando Termos

Circunstanciados.

Em sua análise, a Excelentíssima Promotora de Justiça da Promotoria

de Justiça junto ao Juizado Especial Criminal de Curitiba, Doutora Wilma

Erichsen de Sottomaior, assim concluiu:

“Do exposto pelo solicitante tem-se

primeiramente que o desejado enquadramento

1

em crime de estelionato daquele que é detido na

posse da máquina explorando-a e que nunca é

proprietário da mesma, mas apenas arrendatário

do maquinário, não caberia, vez que o delito de

estelionato exige para sua configuração a

existência de vítima certa e determinada. Se o

crime é dirigido “in insertam personam” o delito é

de exploração da credulidade do art. 2º, inciso, IX

da Lei 1521/51, contudo para tal configuração,

necessária a perícia comprobatória da fraude na

máquina, como a pena máxima abstratamente

cominada é de dois anos e a competência seria

também deste Juizado Especial Criminal.

De igual modo, pretender-se a subsunção da

conduta na regra do art. 174 do Código Penal,

que além de exigir vítima determinada esta ainda

deve ter a condição específica exigida pelo tipo:

inexperiência, simplicidade ou inferioridade

mental.

Relativamente a eventuais diligências que

porventura queira a autoridade policial

desenvolver, seja encaminhando máquinas à

perícia, juntamente com questionário que poderá

permitir a verificação de eventual crime mais

grave, com posterior remessa à Justiça ordinária e

ou remessa à Justiça Federal e ou

encaminhamento de peças à Polícia Federal, tais

providencias ficam a critério da autoridade

solicitante, contudo, o encaminhamento do

explorador das máquinas a este Juízo deve

2

continuar por ser da competência deste Juízo a

prática contravencional de exploração e aposta

na máquina caça-níquel, considerada até então

jogo de azar.

Na eventualidade de restar comprovada

eventual fraude na máquina e ou em seus

componentes e apurada a autoria de tais fatos e

ou importação de referentes produtos, se legal ou

não, tais procedimentos seguirão nos Juízos

competentes, não sendo possível pretender-se a

prisão em flagrante do “dono do bar” onde a

máquina caça-níquel foi apreendida para

apuração de conduta mais grave, até porque,

ele não importou a máquina, salvo raríssima e

desconhecida exceção, não instalou seus

componentes, e acredito desconheça o

funcionamento da mesma.”

Por fim, sugere a Excelentíssima Promotora discussão dos fatos seja

levada a todas as autoridades envolvidas, a nível Estadual e Federal,

Judiciária, Ministério Público e Polícias.

Inicialmente, vamos à rotina a ser estabelecida quando do

conhecimento do fato pela Autoridade Policial nos casos em questão,

independentemente de como lhe chega a notícia.

Dispõe os incisos do artigo 6º do Decreto-lei nº 3.689/41, acerca das

providências que deverão ser adotadas pela autoridade policial, logo que

tiver conhecimento da prática da infração penal:

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática

da infração penal, a autoridade policial deverá:

3

I - dirigir-se ao local, providenciando para que

não se alterem o estado e conservação das

coisas, até a chegada dos peritos criminais;

II - apreender os objetos que tiverem relação com

o fato, após liberados pelos peritos criminais;

III - colher todas as provas que servirem para o

esclarecimento do fato e suas circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for

aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll,

deste Livro, devendo o respectivo termo ser

assinado por duas testemunhas que Ihe tenham

ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e

coisas e a acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a

exame de corpo de delito e a quaisquer outras

perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo

processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar

aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o

ponto de vista individual, familiar e social, sua

condição econômica, sua atitude e estado de

ânimo antes e depois do crime e durante ele, e

quaisquer outros elementos que contribuírem

para a apreciação do seu temperamento e

caráter.

4

Mais adiante, em seu artigo 11, estabelece que os instrumentos do

crime, bem como os objetos que interessarem a prova, acompanharão os

autos do inquérito.

O Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça, na Seção

20 do Capítulo 6, que trata do DEPÓSITO E GUARDA DE APREENSÕES,

estabelece no item 6.20.1 a 6.20.23, normas para recebimento e guarda

de armas e demais objetos apreendidos, dispondo que estes deverão ser

encaminhados pelas autoridades policiais, com os respectivos autos,

relacionados em duas vias, ao juízo competente, e, tendo na comarca

mais de uma vara criminal, serão encaminhados à vara a qual forem

distribuídos, e que, tratando-se de veículos, nos quais a adulteração de

chassis inviabilize a descoberta do verdadeiro proprietário ou de qualquer

outro bem cujo dono não possa ser identificado o juiz deverá deixar em

mãos do Depositário Público da Comarca. Proíbe, porém, Seção 21, item

6.21.1, o recebimento, pelas escrivanias criminais, de substâncias

entorpecentes ou explosivas, seja com os autos de inquérito policial,

separadamente, ou com os laudos de constatação ou toxicológicos,

determinando que essas substâncias deverão permanecer em depósito na

delegacia de polícia ou no órgão médico-legal.

Também no item 17.3.9.1 do Capítulo 17, que trata dos Juizados

Especiais, Cível e Criminal, não há qualquer menção sobre a

obrigatoriedade de objetos, exceto os legalmente estabelecidos,

permanecerem sob a guarda da autoridade policial, o mesmo ocorrendo

na Lei nº 9.099/95.

17.3.9.1 – As armas e objetos apreendidos ou

arrecadados poderão permanecer em depósito

com a autoridade policial competente. Não

obstante, ainda assim deverão ser registrados no

5

livro Registro de Apreensões, com anotação de

observação constando o local em que está

realizado o depósito.

Assim também em seus Adendos F e J, dos Livros do Ofício Criminal e

do Juizado Especial Criminal, respectivamente, onde constam os de

Registros de Apreensões (4-F e 4-J), destinado ao registro de armas, objetos

e valores apreendidos, não se observa, em nenhum momento, proibição

quanto ao recebimento de máquinas caça-níqueis apreendidas, nem que

a responsabilidade pela guarda cabe às autoridades policiais.

Aliás, tal fato parece pacífico na doutrina quando o assunto é

tratado. Fernando da Costa Tourinho Filho, em seu Manual de Processo

Penal (Ed. Saraiva, 8ª edição, São Paulo, 2006, p. 84), esclarece:

“Deverá, também, a Autoridade Policial

determinar a apreensão dos instrumentos do

crime e de todos os objetos que tiverem relação

com o fato, após a liberação feita pelos peritos. A

importância dessas diligências é facilmente

constatável. Nos termos do art. 11 do CPP, ‘os

instrumentos e objetos do crime, bem como os

objetos que interessarem à prova,

acompanharão os autos do inquérito’ ”.

Fernando Capez, na obra Curso de Processo Penal (Ed. Saraiva, 14ª

edição, São Paulo, 2007, p. 89):

“Deve também apreender os instrumentos e

todos os objetos que tiverem relação com o fato,

após liberado pelos peritos criminais (cf. Lei nº

6

8.862/94), fazendo-os acompanhar os autos do

inquérito (CPP, art. 11)”.

Guilherme de Souza Nucci, Código de Processo Penal Comentado

(Ed. Revista dos Tribunais, 5ª edição, São Paulo, 2006, p. 108, itens 66 e 67):

“Instrumentos do crime e objetos de prova: os

instrumentos do crime são todos os objetos ou

aparelhos usados pelo agente para cometer a

infração penal (armas de fogo, documentos

falsos, cheques adulterados, facas, etc.) e os

objetos de interesse da prova são todas as coisas

que possuam utilidade para demonstrar ao juiz a

realidade do ocorrido (livros contábeis,

computadores, carro do indiciado ou da vítima

contendo vestígios de violência etc.). Ao

mencionar que os instrumentos e os objetos

acompanharão os autos do inquérito, quer-se

dizer que devem ser remetidos ao fórum, para

que possam ser exibidos ao destinatário final da

prova, que é o juiz e os jurados, conforme o caso.

Além disso, ficam eles à disposição das partes

para uma contraprova, caso a realizada na fase

extrajudicial seja contestada.”

“Guarda dos instrumentos e objetos do delito:

quanto aos instrumentos do delito, são eles

encaminhados juntamente com os autos do

inquérito, para serem armazenados em local

apropriado no fórum...”

7

O próprio Departamento da Polícia Civil do Estado, através de seu

Assessor Jurídico, Doutor Antonio Aparecido Felício, em informação nº 026,

já se pronunciou acerca de assunto semelhante:

“...tem esta Assessoria a esclarecer que a

legislação penal não contempla a possibilidade

de permanência de veículos ou outros objetos

(salvo em caso de apreensão de drogas), nos

pátios das Delegacias de Polícia.”

Manifestou-se também o Senhor Assessor, no sentido que os

instrumentos que interessarem à prova deverão acompanhar os autos de

inquérito policial, e, em se tratando de veículos, permanecerão sob a

guarda do depositário público.

Também a Corregedoria Geral da Justiça, nos protocolados nº

2008.0076145-6/0 e nº 2008.0127062-6/0, respectivamente, proferiu

manifestação em situações semelhantes, provocadas por esta

Corregedoria, e que podem servir como parâmetro na questão aqui

tratada:

“Parecer nº 29/2008 – 1. Consulta acerca da

guarda de veículo apreendido em sede de

procedimento especial a fim de apurar eventual

prática de ato infracional. 2. Autoridade Policial

que remete veículo apreendido ao Juízo

competente. 3. Decisão exarada pela Juíza de

Direito que preside os autos no sentido de ser

competência da Autoridade Policial a guarda do

bem. 4. Situação que deve ser analisada com

base no caso concreto, com base nos critérios da

proporcionalidade e da razoabilidade, a fim de

8

evitar o perecimento ou deterioração do

veículo.”

“Denota-se, por ora, a inexistência de falta

funcional praticada por servidor da justiça, uma

vez que foi a autoridade policial quem restituiu o

veículo à vítima sem lavrar o respectivo auto de

restituição, bem como deixou de encaminhar o

veículo à autoridade judiciária juntamente com

os autos de inquérito policial, após a sua

conclusão.” (grifo nosso)

Outrossim, também não parece adequado que as máquinas caça-

níqueis permaneçam sob a guarda da Autoridade Policial depois de

concluído os procedimentos, de vez que não mais poderá decidir sobre o

destino das mesmas, e o que vemos atualmente não se trata de questão

legal, e sim de costume, pois é mais cômodo deixar às Autoridades

Policiais a responsabilidade pela guarda, destinação de local e o mais

grave, por responsabilidades administrativas, criminais e cíveis por

eventuais irregularidades ocorridas.

Já o art. 69, da Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais para julgar as infrações penais de menor potencial ofensivo, ou

seja, nos termos do art. 61, as contravenções e os crimes a que a lei

comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com

multa, também orienta quanto às providências a serem adotadas pelas

autoridades policiais ao tomarem conhecimento de tais ocorrências:

Art. 69. A autoridade policial que tomar

conhecimento da ocorrência lavrará termo

circunstanciado e o encaminhará imediatamente

9

ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,

providenciando-se as requisições dos exames

periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a

lavratura do termo, for imediatamente

encaminhado ao Juizado ou assumir o

compromisso de a ele comparecer, não se

imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.

Por outro lado, o artigo 144 da Constituição Federal preceitua que a

segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

exercida para a preservação da ordem pública, da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos: polícia federal,

polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias

militares e corpos de bombeiros militares.

A polícia federal, conforme § 1º, do art. 144, destina-se, dentre

outras, a apurar infrações penais em detrimento de bens, serviços e

interesses da União, assim como outras infrações cuja prática tenha

repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,

segundo se dispuser em lei, prevenir e reprimir o tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho e exercer,

com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

As polícias civis, conforme § 4º, do artigo acima citado, dirigidas por

delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência

da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações

penais, exceto as militares.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,

direito e responsabilidade de todos, é exercida

10

para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio,

através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal

....

IV - polícias civis;...

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como

órgão permanente, organizado e mantido pela

União e estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política

e social ou em detrimento de bens, serviços e

interesses da União ou de suas entidades

autárquicas e empresas públicas, assim como

outras infrações cuja prática tenha repercussão

interestadual ou internacional e exija repressão

uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o

descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e

de outros órgãos públicos nas respectivas áreas

de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima,

aeroportuária e de fronteiras;

IV - exercer, com exclusividade, as funções de

polícia judiciária da União.

...

...

§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de

polícia de carreira, incumbem, ressalvada a

11

competência da União, as funções de polícia

judiciária e a apuração de infrações penais,

exceto as militares.

Quanto às infrações penais que, em tese, podem estar ocorrendo na

questão suscitada, estão aquelas dispostas pelo art. 50 do Decreto-lei

3688/41 (Lei das Contravenções Penais), inciso IX do art. 2º da Lei nº

1521/51 (Crime Contra a Economia Popular), arts. 171 e 334 do Decreto-lei

2848 (Código Penal).

Art. 50 - Estabelecer ou explorar jogo de azar em

lugar público ou acessível ao público, mediante o

pagamento de entrada ou sem ele:

Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um)

ano, e multa, estendendo-se os efeitos da

condenação à perda dos móveis e objetos de

decoração do local.

§ 1° - A pena é aumentada de um terço, se existe

entre os empregados ou participa do jogo pessoa

menor de 18 (dezoito) anos.

§ 2° - Incorre na pena de multa, quem é

encontrado a participar do jogo, como ponteiro

ou apostador.

§ 3° - Consideram-se jogos de azar:

a) o jogo em que o ganho e a perda dependem

exclusiva ou principalmente da sorte;

b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de

hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;

c) as apostas sobre qualquer outra competição

esportiva.

12

§ 4° - Equiparam-se, para os efeitos penais, a

lugar acessível ao público:

a) a casa particular em que se realizam jogos de

azar, quando deles habitualmente participam

pessoas que não sejam da família de quem a

ocupa;

b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos

hóspedes e moradores se proporciona jogo de

azar;

c) a sede ou dependência de sociedade ou

associação, em que se realiza jogo de azar;

d) o estabelecimento destinado à exploração de

jogo de azar, ainda que se dissimule esse destino.

Art. 2º (Lei 1.521/51). São crimes desta natureza:

IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em

detrimento do povo ou de número indeterminado

de pessoas mediante especulações ou processos

fraudulentos ("bola de neve", "cadeias",

"pichardismo" e quaisquer outros equivalentes);

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)

anos, e multa, de dois mil a cinqüenta mil

cruzeiros

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem,

vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou

mantendo alguém em erro, mediante artifício,

ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

13

Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida

ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de

direito ou imposto devido pela entrada, pela

saída ou pelo consumo de mercadoria:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 1º - Incorre na mesma pena quem:

a) pratica navegação de cabotagem, fora dos

casos permitidos em lei;

b) pratica fato assimilado, em lei especial, a

contrabando ou descaminho;

c) vende, expõe à venda, mantém em depósito

ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio

ou alheio, no exercício de atividade comercial ou

industrial, mercadoria de procedência

estrangeira que introduziu clandestinamente no

País ou importou fraudulentamente ou que sabe

ser produto de introdução clandestina no

território nacional ou de importação fraudulenta

por parte de outrem;

d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio

ou alheio, no exercício de atividade comercial ou

industrial, mercadoria de procedência

estrangeira, desacompanhada de

documentação legal, ou acompanhada de

documentos que sabe serem falsos

§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para

os efeitos deste artigo, qualquer forma de

comércio irregular ou clandestino de mercadorias

estrangeiras, inclusive o exercido em residências.

14

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de

contrabando ou descaminho é praticado em

transporte aéreo.

Quando tratam do assunto, os tribunais têm decidido que, em razão

do ordenamento jurídico penal brasileiro não permitir revogação da lei

pelo costume, a exploração do jogo de azar mediante máquinas caça-

níqueis, trata-se de atividade ilícita, que traz risco de grave lesão à ordem

social e à ordem jurídica.

PENAL. RECURSO ESPECIAL. APREENSÃO DE

MÁQUINAS "CAÇA-NÍQUEIS". MANDADO DE

SEGURANÇA. CONCESSÃO. REEXAME

NECESSÁRIO. CONFIRMAÇÃO. ART. 50 DA LCP.

VIGÊNCIA. COSTUME. REVOGAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE NO DIREITO PENAL. PRINCÍPIOS

DA ISONOMIA E DA LIBERDADE. NÃO-

FUNDAMENTAÇÃO PARA CONDUTAS ILÍCITAS.

RECURSOS PROVIDOS.

1. O ordenamento jurídico penal brasileiro não

permite revogação de lei pelo costume.

2. "Evidencia-se o risco de grave lesão à ordem

social e à ordem jurídica conquanto a

exploração de jogo de azar mediante máquinas

de “caça-níqueis”, definida no art. 50 da Lei de

Contravenções Penais já foi reconhecida como

atividade ilícita por inúmeras decisões desta

Corte, dentre as quais destaca-se o REsp

474.365/SP, Quinta Turma, Rel. Min. GILSON DIPP,

DJ 5/8/03; ROMS 15.593/MG, Primeira Turma, DJ

15

2/6/03 e ROMS 13.965/MG, Primeira Turma, DJ

9/9/02, ambos da relatoria do Min. JOSÉ

DELGADO". (AgRg no AgRg na STA 69/ES, Rel. Min.

EDSON VIDIGAL, Corte Especial, DJ 6/12/04)

3. Os direitos fundamentais da isonomia e da

liberdade consagrados na Constituição Federal

não podem servir de esteio às condutas ilícitas,

não importando a condição social do agente

infrator.

4. Recursos providos para reformar o acórdão e

cassar a segurança anteriormente concedida.

(STJ Resp.745954/RS RECURSO ESPECIAL

2005/0070033-3 Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA)

PROCESSUAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO

ESPECIAL. REGRA LEGAL TIDA COMO VULNERADA.

FALTA DE INDICAÇÃO. SÚMULA 284/STF.

EXPLORAÇÃO COMERCIAL DE MÁQUINAS DE

JOGOS ELETRÔNICOS. ILICITUDE.

1. É necessária a indicação precisa do dispositivo

de lei federal vulnerado, não basta fazer

considerações genéricas sobre a matéria

debatida nos autos. Incidência da Súmula

284/STF.

2. A exploração de máquinas eletrônicas de

concursos prognósticos, como as caça-níqueis, as

de vídeopôquer e similares, configura a prática

de jogo de azar, vedada pelo ordenamento

jurídico.

Precedentes.

16

3. A aplicação do entendimento jurisprudencial

ao caso concreto prescinde do reexame de

prova. Primeiro, porque a própria recorrida afirma,

na peça vestibular da impetração, que "passou a

operar máquinas de jogos eletrônicos de sorteio

de números, com simuladores de corridas de

cavalo e de jogo de bingo eletrônico, entre

outros, modalidades de concursos de

prognósticos". Depois, com base em perícia

acostada à exordial, o tribunal a quo concluiu

que o equipamento de jogo eletrônico

apreendido caracteriza-se pela "aleatoriedade

das vitórias e derrotas que proporciona",

qualidade que, associada ao reconhecimento

da parte, é suficiente para classificar a

exploração da máquina como prática de jogo

de azar.

4. Recurso especial conhecido em parte e

provido.

(REsp 653020/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,

SEGUNDA TURMA, julgado em 24.10.2006, DJ

08.11.2006 p. 175)

HABEAS CORPUS PREVENTIVO. EXPLORAÇÃO DE

MÁQUINAS ELETRÔNICAS. JOGOS DE AZAR.

CONFIGURAÇÃO DE ILÍCITOS PENAIS:

CONTRAVENÇÃO (ART. 45, CAPUT, DO DECRETO

LEI N.º 6.259/44) E CRIME CONTRA A ECONOMIA

POPULAR (ART. 2º, INCISO IX, DA LEI N.º 1.521/51).

PRETENSÃO DE IMPEDIR A INSTAURAÇÃO DE

17

INQUÉRITOS POLICIAIS E A APREENSÃO DE

EQUIPAMENTOS. IMPOSSIBILIDADE.

1. A exploração de máquinas eletrônicas de

concursos prognósticos, como as caça-níqueis, as

de vídeopôquer e similares, efetivamente,

configura a prática de jogo de azar, considerada

ilegal, podendo ser enquadrada na

contravenção penal do art. 50 do Decreto-Lei n.º

3.688/41 ou do art. 45 do Decreto-Lei n.º 6.259/44,

ou, ainda, no crime contra a economia popular

do art. 2º, inciso IX da Lei n.º 1.521/51.

Precedentes do STJ.

2. Descabimento do pedido deduzido na

impetração, que se traduz em verdadeira

pretensão de conseguir do Poder Judiciário salvo-

conduto genérico contra a ação policial

investigatória e repressiva, sem qualquer respaldo

legal, porquanto não se pode dizer, de antemão,

se cada uma das instituições empresariais

envolvidas desenvolve ou não atividade lícita.

3. Habeas corpus denegado.

(HC 15923/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA

TURMA, julgado em 18.11.2004, DJ 13.12.2004 p.

379)

“O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o

pedido de habeas-corpus de dois supostos

integrantes de uma quadrilha de contrabando e

exploração de máquinas caça-níqueis. O grupo

atuaria no interior do estado do Rio Grande do

18

Sul. Os acusados pediam o trancamento da ação

penal.

A denúncia narra que a quadrilha explorava

máquinas caça-níqueis de origem estrangeira,

cuja importação é proibida. De acordo com o

Ministério Público, agindo por meio de empresas

de fachada, os denunciados importavam

ilegalmente as máquinas de outros países, em

geral, do Paraguai. A quadrilha praticava

também o crime de estelionato, alterando a

configuração de componentes eletrônicos para

simular premiações inexistentes e reduzir as

chances de acerto dos jogadores. A denúncia

ainda atribuiu ao grupo a violação de lacres

fixados nas máquinas por autoridades públicas

após fiscalizações. Por fim, corromperia policiais,

que providenciavam meios para que as

máquinas não fossem apreendidas.

Ao decidir, a Quinta Turma baseou-se em voto do

relator, ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Ele

não verificou no caso as hipóteses em que a

jurisprudência do STJ autoriza o trancamento de

ação penal por meio de habeas-corpus. A

medida somente é possível quando está clara no

processo a inocência do acusado, a atipicidade

da conduta (o ato não configura crime), a

extinção da punibilidade ou a inépcia da

denúncia (falta de descrição clara e

particularizada do ato criminoso).

19

O relator afirma também que, ao contrário do

que alegam os acusados, a falta de identificação

na denúncia do policial ou agente público

corrompido não descaracteriza o crime de

corrupção ativa, se há provas da oferta e

promessa de vantagem. O ministro Napoleão

Maia Filho ressalta que a corrupção ativa é delito

formal que independe da aceitação do

funcionário público para sua caracterização, pois

o sujeito passivo direto é o Estado. A decisão da

Quinta Turma foi unânime.” (Notícias STJ,

07/04/2009)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. ERRO DE PROIBIÇÃO.

NÃO CONFIGURAÇÃO. CRIME DE CONTRABANDO

CONFIGURADO. MANUTENÇÃO EM DEPÓSITO DE

MÁQUINAS DESTINADAS AO JOGO DE AZAR.

CIÊNCIA DA INTRODUÇÃO CLANDESTINA OU DA

IMPORTAÇÃO FRAUDULENTA POR PARTE DE

OUTREM. APELO IMPROVIDO.

1. O desconhecimento da lei é inescusável, nos

termos do art. 21 do CP.

2. Não há que se falar em isenção de pena se o

agente tinha a potencial consciência da ilicitude

do fato.

3. É de rigor a manutenção da sentença que

condenou o acusado no delito previsto no art.

334, § 1º, alínea c, do CP se restar demonstrado,

pelo conteúdo probatório, que o mesmo

manteve em depósito máquinas destinadas ao

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jogo de azar ciente da introdução clandestina no

território nacional ou da importação fraudulenta

por parte de outrem.

4. Apelação improvida.

(TRF1 - APELAÇÃO CRIMINAL: ACR 4653 MG

2003.38.02.004653-4, Relator(a): DESEMBARGADOR

FEDERAL HILTON QUEIROZ

Julgamento:03/12/2007, Órgão Julgador: QUARTA

TURMA)

Portanto, com relação aos crimes que, em tese, estão a ser

praticados, além dos acima referidos e outros tantos que envolvem este

tipo de ilícito, tais como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha,

concussão, corrupção passiva e ativa, etc., a situação mais complexa está

na competência/atribuição, se Estadual ou Federal, surgindo daí vários

questionamentos acerca do procedimento a ser adotado pelas

Autoridades Policiais Civis:

- Máquinas apreendidas em barracões e/ou outros locais, montadas

ou não, porém, sem estarem em funcionamento;

- Máquinas apreendidas em estabelecimentos comerciais ou outros

locais, em pleno funcionamento;

- Máquinas apreendidas sendo transportadas, etc.

Do acima exposto, entendo que o posicionamento adequado a ser

adotado em situações envolvendo máquinas caça-níqueis seria aquele

sugerido pela Excelentíssima Promotora de Justiça da Promotoria de

Justiça junto ao Juizado Especial Criminal de Curitiba, Doutora Wilma

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Erichsen de Sottomaior, devendo, s.m.j., o Delegado de Polícia proceder à

análise aos casos concretos, isoladamente, porém, adotando sempre as

seguintes providências:

1)- Elaborar auto de exibição e apreensão do objeto apreendido ou

apresentado, contendo todos os elementos que possam individualizá-lo,

bem como providenciar lacre com a identificação do respectivo

procedimento;

2)- Solicitar, tão logo possível, sejam os objetos submetidos a exame

pericial, no qual, dentre outros quesitos, deverá o Delegado de Polícia

solicitar que sejam esclarecidos: se a premiação ofertada pelo

equipamento depende exclusivamente da sorte e/ou habilidade do

jogador, se existem evidências de manipulação de resultados (ex: chaves

manuais para alteração de programação) e, se os componentes são de

origem estrangeira, individualizando-os;

3)- Verificar, visando posterior definição de competência, se o

responsável pela exploração do jogo, por meio dos equipamentos, foi

também o responsável pela importação/instalação de componentes de

origem estrangeira;

4)- Elaborar Termo Circunstanciado de Infração Penal pela prática da

contravenção penal, capitulada no art. 50, caput, do Decreto Lei nº

3.688/41 em desfavor do explorador do jogo por meio de referidas

máquinas;

5)- Encaminhar por meio de ofício, nos termos legalmente definidos, os

objetos apreendidos ao Juízo competente, juntamente com os

procedimentos concluídos;

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6)- Ocorrendo recusa formal no recebimento de objetos apreendidos,

solicitar, por meio de ofício, ao Juízo respectivo, indicação do local para

onde deverão ser encaminhados.

7)- Apontando o Laudo Pericial para a existência também de crime de

competência da Justiça Federal, e que ainda dependem de apuração,

encaminhar cópia deste, juntamente com cópia das demais peças

produzidas, à Delegacia de Polícia Federal para as providências cabíveis,

solicitando ao Juízo Estadual respectivo, caso os objetos ainda se

encontrem sob a guarda da unidade policial, que determine e/ou autorize

seu encaminhamento àquela delegacia, bem como encaminhamento de

cópia à Receita Federal, para fins de conhecimento e providências

dispostas na IN/SRF nº 309/03;

8)- Encaminhamento à Divisão Policial da Capital, para conhecimento

e posterior remessa ao 9º Distrito Policial, para atendimento da solicitação

judicial (of. nº 1055/2009).

9)- Encaminhamento de cópia ao Senhor Delegado Geral da Polícia

Civil, para, se assim entender, divulgar as demais unidades policiais do

Estado, bem com adotar as providências que entender cabíveis quanto

ao contido no último parágrafo da manifestação da representante do

Ministério Público

Submeto a Vossa apreciação.

Curitiba, 04 de novembro de 2009.

Sérgio Taborda Corregedor-Geral Adjunto

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