63
Região Autónoma dos Açores GOVERNO DOS AÇORES Um Contributo Açoriano Para a Estratégia Marítima para a Região atlântica Fevereiro de 2013

Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores GOVERNO DOS AÇORES

Um Contributo Açoriano

Para

a

Estratégia Marítima para a Região atlântica

Fevereiro de 2013

Page 2: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

2

ÍNDICE 1 – Introdução ……………………………………………………………..……………………Pág. 3 2 – A Dimensão Ultraperiférica da Estratégia Marítima

para a Região atlântica.………………………………….…………………….... Pág. 4 3 – Os Açores e o Atlântico …………………………………………………….………. Pág. 6 3.1 - Os Açores – O coração da investigação e da Estratégia

Atlântica ………………………………………………………………………….………..Pág. 8 4 – Os desafios da Estratégia Atlântica ………………………………….………… Pág. 10

4.1 – Implementação da abordagem ecossistémica…………………………Pág. 11 4.1.1 – Pescas e Aquicultura………………………………………………………Pág. 13 4.1.2 – Avaliação e observação do mar…………………………………..…Pág. 20 4.1.3 – Alterações Climáticas: previsão e adaptação ………………Pág. 22 4.1.4 – Impacte ambiental e gestão das atividades humanas ….Pág. 25

4.2 – Redução da Pegada de Carbono Europeia ………………………….… Pág. 26 4.2.1 – Energia Marinha ……………………………………………………….… Pág. 26 4.2.2 – Transportes marítimos e portos ……………………….……….… Pág. 29

4.3 – Exploração sustentável dos recursos naturais do leito marinho Atlântico …………………………………………………….……….… Pág. 32

4.3.1 – Matéria-prima……………………………………………………………….Pág. 34 4.3.2 – Biodiversidade Marinha …………….……………….…….……….… Pág. 36

4.4 – Responder às ameaças e urgências.………………………….…………. Pág. 37 4.4.1 – Segurança marítima……………………………………………………….Pág. 37 4.4.2 – Avaliação e gestão de risco………….…………………………….… Pág. 40

4.5 – Crescimento socialmente inclusivo…...………………….…………… Pág. 42 4.5.1 – Políticas para aumentar a atração das

profissões do mar………………..…………………………………….Pág. 42 4.5.2 – Educação e formação… …………….………………………….….… Pág. 44 4.5.3 – Promoção de turismo costeiro e marítimo……….……….… Pág. 47

5 – Recursos Financeiros ……………………………………………………………………. Pág. 49 6 – Princípios da Subsidiariedade e da Proporcionalidade……………….. Pág. 52 7 – Conclusões ……………………………………………………………………………………. Pág. 54

Page 3: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

3

1 – Introdução

Os Açores são uma região ultraperiférica (RUP) da Europa situada no

coração do Oceano Atlântico, cuja Zona Económica Exclusiva (ZEE) de

aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de

recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial económico.

Por razões inerentes à sua localização geográfica, à natureza do seu

território e ao papel que o mar desempenha na vida quotidiana dos

açorianos, a Estratégia Marítima para a Região atlântica assume a maior

importância para os Açores. Estando a acompanhar de forma próxima os

desenvolvimentos desta estratégia desde os seus primeiros passos, o

Governo Regional dos Açores propôs-se a receber o primeiro de um ciclo de

5 workshops do Fórum Atlântico. Esse workshop decorreu na cidade da

Horta no passado dia 21 de setembro (2012) e incidiu sobre o tema

“recursos naturais costeiros e do mar profundo”.

Sendo a região atlântica reconhecidamente vasta, rica, frágil, fascinante e

ainda com muitos mistérios por desvendar, a consulta pública lançada agora

pela Comissão Europeia para recolha de sugestões sobre prioridades de

investimento e investigação constitui um momento de enorme significado

para a Europa marítima, e para os Açores em particular.

O Atlântico é o habitat natural dos Açorianos. Com isto em mente, o

Governo Regional tem desenvolvido um conjunto de instrumentos jurídicos e

programas ao nível da gestão de recursos, proteção ambiental e

investigação, que visam explorar as potencialidades existentes e colocá-las

ao serviço do desenvolvimento sustentável da Europa. Agora que a Comissão

Europeia se prepara para definir o conjunto de ações que responderão aos

desafios da Estratégia para o Atlântico, é essencial que olhe para o exemplo

dos Açores para melhor perceber como combinar a proteção ambiental, a

Page 4: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

4

gestão de recursos e o desenvolvimento de investigação em prol das

populações e do crescimento económico das regiões.

É essencial para a União Europeia (UE) a existência de uma orientação

estratégica para o Atlântico que permita desenvolver todo o potencial desta

sua fronteira privilegiada, que a liga a zonas tão importantes do mundo

como a América do Norte, a América do Sul e toda a zona ocidental de

África. O envolvimento que os Açores têm tido no desenvolvimento da

Política Marítima Europeia (PME), a centralidade oceânica do arquipélago e

as suas boas relações, a todos os níveis, com os países ribeirinhos do

Atlântico Norte apontam para que desempenhem um papel central neste

novo capítulo para o mar europeu.

Assim sendo, torna-se essencial que esta Estratégia faça mais do que apenas

agregar instrumentos jurídicos e políticas comunitárias diversas, mas antes

harmonize a atuação futura da UE para esta zona geográfica com base em

objetivos claros e estratégicos, que valorizem também o papel que regiões

como os Açores desempenham para o conjunto da UE enquanto laboratórios

vivos, locais de preservação da biodiversidade e postos avançados da UE no

mundo. Ao mesmo tempo, uma Estratégia para o Atlântico terá de

reconhecer a identidade própria destas regiões verdadeiramente oceânicas,

respeitando a sua dimensão, características únicas e diferenciadoras e

encarar esta estratégia como uma oportunidade única para o lançamento

das suas economias locais em benefício de toda a Europa.

É nesse espírito que apresentamos este contributo para o debate que está a

decorrer, esperando, assim, corresponder ao desafio que tão

oportunamente foi lançado pela Comissão Europeia. O Governo Regional dos

Açores saúda a ambição e a iniciativa da Comissão, e considera que não

podem existir quaisquer dúvidas quanto à necessidade de elaborar um plano

Page 5: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

5

de ação para a região atlântica, que seja realista, inclusivo, coerente,

eficaz e dotado dos necessários meios para ser posto em prática.

2 – A Dimensão Ultraperiférica da Estratégia Marítima para a Região

atlântica

Muito embora a Comunicação da Comissão integre as Regiões Ultraperiféricas

do Atlântico no âmbito da sua aplicação, consideramos que não foi dado o

destaque merecido e necessário à dimensão ultraperiférica deste imenso

espaço marítimo.

Tendo sido uma opção clara e legítima da Comunicação proceder a uma

abordagem geral de toda Região atlântica, pensamos que, pela diversidade

inerente ao espaço atlântico, e pelas características específicas destas

regiões, inclusive do ponto de vista jurídico e do seu reconhecimento no

quadro do Tratado da UE; poderia ter-se optado por um tratamento espacial

mais detalhado. Não obstante, certo é que tal poderá e deverá ser

prosseguido nas fases subsequentes.

Com efeito, torna-se essencial abordar o papel específico que o espaço

marítimo da Macaronésia, e em especial os Açores, (bem como o de outras

zonas atlânticas) podem vir a desempenhar no desenvolvimento da estratégia.

Impõe-se, assim, na concretização da Estratégia para o Espaço Atlântico, ter

em especial consideração aquilo que se nos afigura como inultrapassável: - O

facto de as ilhas atlânticas e ultraperiféricas da União Europeia constituírem

um elemento essencial e específico na dimensão marítima que a mesma

assume e que se veem confrontadas com necessidades muito particulares, mas

também com um potencial único para a Europa, que urge alavancar.

Page 6: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

6

Na verdade, a ultraperificidade dos Açores assume nesta dimensão uma

centralidade incontestável.

Mesmo que não consideremos outros países inseridos no espaço marítimo

atlântico, se tivermos em atenção que os Açores possuem a maior Zona

Económica Exclusiva da União Europeia, então a Estratégia para a Região

atlântica não poderá ignorar as particularidades da gestão desse espaço.

Eis, pois, um aspeto em que a Estratégia para a Região atlântica deverá ir

mais além, com mais detalhe e maior atenção.

Essa importância é tanto mais significativa se atentarmos, por um lado, à

posição estratégica centralizada e privilegiada detida pela Região no contexto

mundial e, por outro, às repercussões a nível económico, social e ambiental

sobre os países comunitários vizinhos, advenientes de possíveis catástrofes ou

acidentes ocorridos dentro do seu domínio marítimo.

Visto do outro ângulo, também a capacidade da Região Autónoma dos Açores

servir de elo central de ligação à América do Norte e do Sul não deve ser

descurada.

Impõe-se, em suma, ter expressamente em conta a realidade insular e

atlãntica nos diversos aspetos sectoriais da Estratégia para a Região atlântica,

como sejam: a proteção ambiental; a preservação dos recursos e

biodiversidade marinha; o reforço da investigação de ponta; a vigilância e

segurança marítimas; a prevenção de acidentes, poluição e catástrofes

naturais; o controlo marítimo de fronteiras e a compatibilização desta com a

Política Europeia de Segurança e Defesa, isso apenas para citar algumas áreas.

3 – Os Açores e o Atlântico

Page 7: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

7

As ilhas dos Açores surgiram no Oceano Atlântico há cerca de 8 milhões de

anos. Estas ilhas constituem um arquipélago oceânico, sendo, no Atlântico

Norte, as ilhas que se encontram mais afastadas das terras continentais:

situam-se a cerca de 800 milhas (náuticas) do Continente Europeu e a cerca

de 2100 milhas (náuticas) do continente Americano.

No presente, a importância do mar nos Açores, ou a importância do mar dos

Açores para a Europa, pode ser aferida pela dimensão dessa subárea da Zona

Económica Exclusiva de Portugal: com 984 300 km2, a ZEE dos Açores

representa 57 % da ZEE de Portugal e, por sua vez, uma significativa fração do

território marítimo europeu.

No seguimento da ratificação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito

do Mar, em 3 de Novembro de 1997, Portugal avançou com o processo de

definição e delimitação da Plataforma Continental, tendo submetido a sua

proposta de extensão às Nações Unidas em Maio de 2009. Em termos práticos,

a proposta prevê o aumento da plataforma continental de 1,7 milhões de km2

para 3,6 milhões de km2, sendo que uma enorme parte desta área acrescida é

contínua à ZEE dos Açores.

Desde a data da sua descoberta em 1427, os Açores constituíram uma

importante plataforma oceânica, tendo, também por isso, uma relação

privilegiada com o mar, patente igualmente no facto da ocupação humana das

ilhas ocorrer predominantemente na faixa costeira.

A sua localização, na zona central do Atlântico Norte, determinou durante

séculos a sua particular relevância nas rotas transatlânticas. Desde o século

XV existem registos de expedições que partiram dos Açores para noroeste.

Ainda nos dias de hoje, o arquipélago é um ponto de paragem estratégico

para inúmeros iates, tendo uma destacada importância na rota dos que,

Page 8: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

8

anualmente se deslocam da América Central para a Europa, fazendo escalas

técnicas a meio do Atlântico.

Deste modo, a história do arquipélago Açoriano está, desde a sua descoberta

até aos nossos dias, intrinsecamente ligada ao mar e à estratégica localização

no meio do Oceano Atlântico.

3.1 - Os Açores – O coração da investigação e da Estratégia Atlântica

Para além da sua importância geográfica nos primórdios da navegação

transcontinental, o arquipélago tem também uma enorme relevância nos

inícios da investigação oceanográfica europeia. Um dos principais nomes

ligados aos primeiros passos da investigação oceanográfica, o Príncipe Alberto

I do Mónaco, realizou a partir de 1875 dezenas de expedições ao largo do

arquipélago.

Na atualidade, a reflexão e redimensionamento do papel e posicionamento

geoestratégico dos Açores encontram um elevado interesse, duplamente

regional e internacional, para a Europa e na sua relação transatlântica. A

centralidade dos Açores no Atlântico permite tornar o arquipélago no palco

principal para a concretização de programas, planos e projetos, no âmbito das

parcerias e redes internacionais no contexto da Estratégia para o Atlântico.

Prova disso são os numerosos projetos e infraestruturas implementados nos

Açores, como sendo:

· Estação de infrassons I42PT da Graciosa que integra o Sistema Internacional

de Monitorização (IMS - International Monitoring System)1;

· Projeto Super Dual Auroral Radar Network (SuperDARN)2 – a implementar

brevemente;

1 http://www.ctbto.org/fileadmin/user_upload/SandT_2011/posters/T3-P49%20N_Wallenstein%20IS42%20A%20new%20IMS%20certified%20infrasound%20station%20in%20the%20Graciosa%20Island,%20Azores,%20Portugal.pdf 2 http://superdarn.jhuapl.edu/index.html

Page 9: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

9

· Estação de Rastreio de Satélites de Santa Maria, operada pela ESA - Agência

Espacial Europeia3;

· Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas e Espaciais (RAEGE)4;

· Rede de Estações Permanentes da Região Autónoma dos Açores (REPRAA)5.

· Estação de monitorização atmosférica PICO NARE 6

A presente Estratégia para o Atlântico é uma oportunidade para continuar a

privilegiar a formação científica avançada no domínio marítimo, incentivar a

criação de parcerias e grupos de trabalho multidisciplinares, nacionais e

internacionais e, sobretudo, deverá permitir a consolidação de infraestruturas

científicas e tecnológicas de suporte, experimentação e desenvolvimento da

investigação marinha, de monitorização do ambiente marinho e da atmosfera

atlântica.

A investigação científica e tecnológica no domínio do Mar é muito dispendiosa

e os custos de investimento necessariamente avultados para poderem ser

suportados exclusivamente com os parcos recursos de uma região

ultraperiférica. Por outro lado, os benefícios da investigação aqui produzida

podem e são, na sua grande maioria, de relevância internacional e que são

“capitalizados” por outros grupos de investigação noutros pontos do globo –

facto que se comprova pelos projetos atrás elencados.

De realçar a inexistência de um navio oceanográfico disponível para a

comunidade científica, adaptado para a investigação do mar profundo e

monitorização da plataforma continental, do Parque Marinho dos Açores e da

Rede Natura 2000 do alto mar, que constitui, porventura, o maior entrave ao

desenvolvimento da ciência e tecnologia nesta região central do Atlântico.

3 http://www.esa.int/por/ESA_in_your_country/Portugal/Reforcando_a_capacidade_A_estacao_de_ Santa_Maria_junta-se_a_ESTRACK 4 http://www.ideia.azores.gov.pt/gate/Paginas/raege.aspx 5 http://www.repraa.azores.gov.pt/SpiderWeb/frmIndex.aspx 6 http://www.cee.mtu.edu/~reh/pico/

Page 10: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

10

Por outro lado é necessário sublinhar as questões de partilha de informação.

No processo de definição e delimitação da Plataforma Continental, Portugal

desenvolveu um significativo trabalho no sentido de coligir a informação

técnica e científica necessária para fundamentar a proposta submetida às

Nações Unidas. Durante os levantamentos efetuados, foram obtidos muitos

dados e recolhidas muitas amostras geológicas e biológicas que, não obstante,

continuam sem se encontrar acessíveis à comunidade científica em geral.

Importa garantir mecanismos de partilha para o estudo de tal informação,

dispondo os Açores, neste contexto, de centros de investigação e especialistas

nas áreas em causa.

Salienta-se o papel da Universidade dos Açores (UAç), através dos seus centros

de investigação especializada, que tem vindo a permitir ampliar o

conhecimento do mar dos Açores nos mais variados domínios. A nível regional,

a UAç tem acompanhado de perto as decisões governamentais relacionadas

com as pescas e com todos os assuntos ligados ao mar.

De facto, os Açores possuem uma série de competências e know-how

científico e um potencial de conhecimento que importa acumular e valorizar

ao serviço não só das políticas públicas de gestão, como também da

“economia do Mar”, como base para o apoio e lançamento de empresas de

base tecnológica e de novos serviços.

É no Mar que os Açores encontram a sua maior dimensão e centralidade,

possuindo condições para o desenvolvimento da investigação científica –

essencial e transversal a todos os setores da Estratégia para o Atlântico - em

domínios de excelência, cuja relevância importa potenciar no quadro do

Espaço Europeu de Investigação.

Page 11: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

11

4 – Os desafios da Estratégia Atlântica

A Agenda UE 2020 estabeleceu três prioridades que se reforçam

mutuamente: Crescimento inteligente, através do desenvolvimento de uma

economia baseada no conhecimento e na inovação; Crescimento

sustentável, através da promoção de uma economia mais eficiente em

termos de utilização dos recursos, mais ecológica e mais competitiva e

Crescimento inclusivo através do fomento de uma economia com níveis

elevados de emprego que assegura a coesão social e territorial. Os objetivos

quantificáveis para a UE no horizonte de 2020 que irão enquadrar o

processo, devendo ser traduzidos em objetivos nacionais, são: emprego,

investigação e inovação, alterações climáticas e energia, educação e luta

contra a pobreza.

Em novembro de 2011 foi adotada uma Estratégia Marítima para a Região

atlântica, a fim de impulsionar a criação de emprego e de crescimento

nessa região mediante o reforço do seu potencial marítimo. A Estratégia

marítima para a Região atlântica pretende ser coerente e compatível com a

Agenda UE 2020 e as suas iniciativas emblemáticas, englobando os desafios

e oportunidades que enfrenta a Região do Atlântico. Esta estratégia

apontou áreas onde se considerou haver potencial para ação ao nível da UE

no apoio às economias costeiras e marítimas dos estados membros. Os cinco

desafios identificados na Estratégia Atlântica são:

• Implementação da abordagem ecossistémica;

• Redução da pegada de carbono da Europa;

• Exploração sustentável dos recursos naturais dos fundos

marinhos do Atlântico;

• Resposta a ameaças e emergências;

• Crescimento socialmente inclusivo.

Page 12: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

12

Seguidamente é feita uma análise de cada um dos desafios propostos, na

perspetiva de desenvolvimento da Região Autónoma dos Açores (RAA).

4.1 – Implementação da abordagem ecossistémica

O conceito de abordagem ecossistémica na gestão do ambiente e das

atividades humanas com incidência no meio natural é recente e tem

enquadrado as iniciativas políticas mais importantes tomadas na União

Europeia, em matéria de ambiente marinho. Este princípio define que a

gestão ambiental deve basear-se não apenas nas interações que ocorram

dentro dos ecossistemas naturais, mas que a componente humana deve ser

considerada como parte integrante desses mesmos sistemas, devendo ser

tida em consideração como componente fundamental em qualquer

estratégia que venha a ser adotada em matéria ambiental. Como tal, a

componente humana diz respeito não apenas à componente socioeconómica

e cultural das comunidades que se relacionam diretamente com o objeto de

gestão, mas terá de considerar igualmente a organização política e

administrativa da comunidade humana que habita e depende da área

geográfica a gerir.

Importa refletir sobre a abordagem ecossistémica e sua aplicação em

regiões politicamente periféricas, como é o caso da região dos Açores, mas

que numa estratégia para o Atlântico assumem a centralidade europeia.

Com efeito, o território sob apreciação constitui território da Região

Autónoma dos Açores.

Para os Açores, o conceito de abordagem ecossistémica na gestão marítima

do Atlântico implica, por isso, desde logo, a não centralização de decisões

relativas ao seu espaço marítimo em instituições que não as regionais –

princípio que releva não só de uma boa governação, mas da própria

aplicação do princípio da subsidiariedade nuclear na arquitetura jurídica

Page 13: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

13

comunitária, assegurando que as populações locais são efetivamente

ouvidas em processos de decisão sobre os usos do território e a gestão dos

seus recursos.

Dada a enorme importância do mar para os açorianos, ao longo da sua história

a preservação do mar e dos seus recursos nunca foi, por estes, ignorada. Com

a instituição do regime autonómico, em 1976, as autoridades regionais cedo

tomaram consciência da necessidade de estabelecer políticas e medidas que

permitissem a salvaguarda desse importante recurso.

A criação de áreas protegidas abrangendo áreas marinhas, como

instrumento que garanta a preservação dos recursos naturais, tem sido uma

das firmes prioridades políticas que os órgãos próprios do Governo Regional

dos Açores têm desenvolvido numa ótica de gestão integrada de áreas

particularmente sensíveis e dos seus ecossistemas, nomeadamente com a

publicação de legislação como os Parques Naturais de Ilha e o Parque

Marinho dos Açores (PMA)m, que integra áreas marinhas protegidas situadas

fora do mar territorial, incluindo quatro localizadas na plataforma

continental adjacente à ZEE dos Açores.

No contexto atual, os desafios que se esperam na RAA em matérias

relacionadas com o mar, e perante um aumento expectável das solicitações

de investimento económico no mar dos Açores, passam por (i) planeamento

antecipado do espaço marítimo, idealmente enquadrado num contexto

Atlântico; (ii) definição da estratégia de exploração e aproveitamento dos

recursos marinhos, inclusive dos tradicionais (como os resultantes das

pescas); e (iii) a necessária dotação da administração pública e dos agentes

económicos privados da Região com as competências próprias para análise e

tomada de decisões, bem como a capacidade operacional para implementar

programas de monitorização e de acompanhamento dos projetos.

Page 14: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

14

No âmbito da investigação marinha, continua muito por estudar, com vista a

ter uma perspetiva sinóptica e holística, quanto à integração das diferentes

componentes, pelágicas e bênticas, para contribuir para uma abordagem de

gestão ecossistémica.

Os estudos de biotelemetria de predadores de topo, juntamente com o

mapeamento de habitats a nível da coluna e fundos marinhos, os quais

permitem a caraterização de habitats essenciais de espécies prioritárias,

nomeadamente os corais de água fria, peixes de águas profundas e grandes

predadores pelágicos, revelam-se essenciais na nossa região com vista à

gestão marinha e ao planeamento e definição de políticas públicas.

4.1.1 - Pescas e Aquicultura

Tal como é reconhecido no documento “Strategy for the Atlantic Ocean

Area (COM (2011) 782 final 21.11.2011)” as pescas têm sido um elemento

central nas economias de ambos os lados do Atlântico. A proposta de

reforma da política comum das pescas (PCP) pretende fazer uma exploração

dos recursos biológicos marinhos vivos que restabeleça e mantenha as

unidades populacionais de peixes em níveis que permitam produzir o

rendimento máximo sustentável.

De facto, é necessário uma gestão dos stocks de modo a conseguir

simultaneamente potenciar o rendimento máximo sustentável para as

comunidades piscatórias e indústrias delas dependentes e preservar os

recursos aquáticos vivos para o presente e para as gerações futuras. Têm

sido efetuados bons progressos neste domínio. Por exemplo, em

conformidade com as resoluções das Nações Unidas 61/105 e 64/72, as duas

Organizações Regionais de Gestão das Pescas para o Atlântico Norte -

Organização das Pescarias do Noroeste do Atlântico (NAFO) e Comissão de

Pescas do Atlântico Nordeste (NEAFC) - fecharam áreas de pesca para pesca

Page 15: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

15

de arrasto, não só para assegurar a sustentabilidade a longo prazo das

unidades populacionais de peixes de profundidade, mas também para

preservar os ecossistemas marinhos vulneráveis, incluindo esponjas e corais-

de-águas-frias.

A Região Autónoma dos Açores, ao longo dos anos, tem atuado de uma

forma precaucionária em relação ao sector das pescas e aquicultura na

salvaguarda da exploração sustentada dos recursos do mar. De facto,

aquando da elaboração de estratégias regionais de exploração de recursos

naturais, foi sempre tida em conta a sensibilidade dos habitats e espécies

que se distribuem na área marinha em torno dos Açores, dada a importância

que representam para o desenvolvimento económico e social desta Região

Ultraperiférica.

Este objetivo tem sido alcançado com medidas como a proibição de

utilização de artes de pesca pouco seletivas (Decreto Legislativo Regional

n.º 29/2010/A, de 9 de novembro; Portaria n.º 91/2005, de 22 de

dezembro; Portaria n.º34/2006, de 27 de abril), assim como a proibição de

desembarque, nos portos da Região Autónoma dos Açores, de pescado

capturado com utilização de artes de pesca pouco seletivas (Portaria n.º

48/2006, de 22 de junho; Portaria nº7/2012, de 11 de Janeiro).

Este tipo de opção tem, aliás, merecido acolhimento no seio da política da

União Europeia, justificando mesmo a adoção do Regulamento (CE) n.º

1568/2005, do Conselho, de 20 de setembro de 2005, diploma que,

pretendendo expressamente proteger os recifes de coral de profundidade

dos efeitos da pesca em determinadas zonas do Oceano Atlântico, proibiu a

utilização de redes de emalhar, redes de enredar e tresmalhos a

profundidades superiores a 200 metros, e de redes de arrasto pelo fundo ou

de redes rebocadas similares que operem em contacto com o fundo, nas

zonas “Açores” e “Madeira e Canárias”.

Page 16: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

16

Urge, por isso, que no âmbito da Estratégia Atlântica, a União tenha

consciência e reconheça que já existem regiões que têm desenvolvido um

trabalho apreciável nesse campo e que contemple uma abordagem

diferenciada a estas situações, ao mesmo tempo que se baseia nelas como

modelo válido a implementar noutras regiões.

A perspetiva contrária, isto é, a de considerar que é com a Estratégia

Atlântica que se vai iniciar a definição de medidas que acautelem a

exploração sustentada dos recursos marinhos, assenta no desconhecimento

de um importante e inovador legado existente na Europa, o qual pode ser

posto em causa.

Este receio não é diminuto, uma vez que os Açores já experimentaram os

efeitos nefastos deste entendimento quando, no âmbito do Regulamento de

Acesso às Águas Ocidentais, viram reduzidas de 200 para 100 milhas a área

de aplicabilidade das suas políticas restritivas da utilização de artes

depredadoras e das limitações impostas aos operadores regionais no que

respeita ao esforço de pesca nesta área do Atlântico. A abertura dessa área

à pesca pela frota de outros países comunitários resultou num aumento de

exploração, podendo comprometer definitivamente a diversidade biológica

desta região atlântica.

O Governo dos Açores apresentou ao Parlamento Europeu, em 2012, o

documento “Uma proposta para uma melhor proteção da área marinha em

torno dos Açores, no âmbito da reforma da Política Comum das Pescas” em

que é justificada a necessidade de ser aumentada a área de proteção para a

frota Regional aplicando-se as restrições já em vigor à pesca com artes

derivantes e de arrasto profundo a todas as pescarias que não as exercidas

pela frota local, dado que a solução atualmente existente não se afigura

como suficiente para garantir o objetivo de gestão sustentável.

Page 17: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

17

Na realidade, a área com disponibilidade de espécies bentónicas, demersais

e de profundidade (anexo 2 do Regulamento CE n.º 2347/2002) até aos 600

metros, dentro das 100 milhas marítimas dos Açores, corresponde apenas a

um terço da área com as mesmas características de recursos, dentro das 12

milhas marítimas do Continente português.

Esta reduzida área explorável condiciona a capacidade da produtividade

piscatória das águas que circundam as ilhas dos Açores e demonstra a sua

situação biológica sensível no que respeita à sua potencialidade em recursos

haliêuticos. A distância de 100 milhas marítimas de proteção definida na

zona dos Açores, para além de não ter sido fundamentada em nenhum

critério científico em termos de sustentabilidade biológica, criou

instabilidade económica no setor das pescas açoriano, por não lhe conferir

uma igualdade de oportunidade em termos de direitos de pesca, quando se

compara a proteção dada à estabilidade económica das atividades da

pequena pesca costeira exercidas no continente europeu.

As pescas sustentáveis e tradicionais exigem uma aposta determinada e com

critérios de equidade aplicados em todo o espaço da UE. Acresce que na

Estratégia para o Atlântico deve estar contemplada a perspetiva segundo a

qual seja garantida às comunidades marítimas a estabilidade no acesso aos

seus recursos pesqueiros tradicionais nas áreas marinhas adjacentes. A

indicação de que a exploração sustentável dos recursos tem de estar

obrigatoriamente associada às comunidades marítimas é fundamental para o

futuro do sector das pescas e para o próprio desenvolvimento social e

económico das zonas e populações insulares e ultraperiféricas.

Passos importantes no sentido da implementação do modelo de gestão

sustentável das pescas, incorporando o conceito de abordagem

Page 18: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

18

ecossistémica, têm sido dados através da PCP e da Diretiva-Quadro

“Estratégia Marinha” (DQEM).

Neste âmbito é essencial apoiar a investigação científica, através de

programas de recolha de dados, monitorização e validação de metodologias,

no sentido de permitir a avaliação do estado ambiental das unidades

populacionais de todos os peixes e moluscos explorados comercialmente.

A avaliação dos níveis de esforço de pesca sustentável, de modo a atingir o

rendimento máximo sustentável para todas as unidades populacionais, exige

recolha de mais dados, pois faltam elementos sobre muitas unidades

populacionais. Assim sendo, é essencial a continuação do estudo das

principais espécies de valor económico e de outras (alternativas) menos

valorizadas ou novas com potencial de exploração e promoção nos

mercados.

Afigura-se fundamental garantir uma maior participação a nível regional,

dos vários sectores (governamental, científico, associativo socioprofissional

e não-governamental), na tomada de decisão, designadamente, através do

reforço das competências dos Conselhos Consultivos Regionais da Política

Comum de Pescas. No início de 2013, num parecer do Comité das Regiões

(CR) sobre o Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca (FEAMP), foi

proposta a criação de um conselho consultivo regional específico para as

Regiões Ultraperiféricas, que entretanto já foi aprovada.

Noutro âmbito, é necessário mais considerações relativamente às pescas

fora das zonas de jurisdição nacional onde frotas europeias atuam. O

impacto da atividade de pesca fora das zonas de jurisdição das frotas

europeias deveria ser mais estudado, pois é inegável a sua influência sobre

os recursos explorados dentro das zonas sob jurisdição. Há necessidade de

Page 19: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

19

tornar os controlos mais eficazes a fim de assegurar que todas as partes

respeitam as regras da política comum de pescas.

É também importante mais determinação no sentido de desenvolver uma

certificação europeia dos produtos do mar. O consumidor deve ser capaz de

identificar os produtos de pesca europeia e ser informado acerca dos

esforços envidados para respeitar a biodiversidade e as exigências de

qualidade sanitária introduzidas pela PCP e pela PME. O Governo Regional

dos Açores tem já promovido o estudo da certificação ambiental, inclusive,

as pescarias mais importantes na Região são já certificadas como “pesca

sustentável” através do “Friend of the Sea” e no caso da pesca ao atum

também com o rótulo “Dolphin Safe”. É no entanto necessário continuar a

apoiar a certificação ambiental e de “denominação de origem”, o marketing

e a rotulagem.

No que respeita à aquicultura, a sua transversalidade impõe que não seja

tratada apenas no âmbito da PCP mas que, em virtude de ser necessário

analisar a forma como as diferentes vertentes socioeconómicas e ambientais

se entrecruzam, deve ter, também, uma abordagem detalhada no âmbito

da estratégia para o Atlântico.

Nos Açores a aquicultura está regulamentada através do Decreto Legislativo

Regional nº22/2011/A, de 4 de Julho. Será importante identificar e definir

locais nas águas marítimas altlânticas com características e potencialidades

adequadas à instalação e desenvolvimento de estabelecimentos de culturas

marinhas de modo a ordenar esta atividade no Atlântico, e em especial no

mar dos Açores.

A aquicultura deve continuar a ser uma indústria produtora líquida de

proteínas de peixe e não conduzir a uma sobre-exploração de unidades

Page 20: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

20

populacionais de espécies para alimentação de peixes de cultura, em

detrimento do equilíbrio da cadeia alimentar e da biodiversidade.

A incorporação desta atividade na gestão integrada da zona costeira, o

incremento de segurança dos produtos aquícolas, a minimização dos

problemas dos resíduos e da poluição, a introdução de espécies exóticas e

de organismos geneticamente modificados e as questões relacionadas com a

segurança da navegação, são exemplos de áreas que devem, a este

propósito, ser detalhadamente tratadas no âmbito das políticas para a

região atlântica.

Um apoio às empresas de comércio e de transformação de peixe com sede

nas ilhas atlântcias, tendo em vista encorajar a valorização dos produtos e

reforçar a estruturação da cadeia de produção, deverá ser encorajado e

acompanhado.

O recurso às inovações tecnológicas que permitam aumentar a

produtividade, em especial em mar alto, deve ser apoiado. Ao mesmo

tempo, estudos integrados sobre otimização da logística do sector das

pescas, exploração do pescado, transformação, valorização, otimização da

cadeia de valor e análise de mercados de exportação que a perspetiva

atlântica oferece, deverão ser promovidos.

Convém, ainda, referir que as indústrias que fabricam produtos da pesca

geram subprodutos que constituem entre 30 a 50% do total do pescado

processado. Importa, por isso, estudar e desenvolver técnicas para o

aproveitamento desses subprodutos. O desenvolvimento de novos processos

biotecnológicos para tratamento da biomassa capturada não utilizada e dos

subprodutos marinhos poderá permitir o aparecimento de novos bens com

grande valor acrescido, nomeadamente hidrolisados proteicos e

Page 21: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

21

concentrados de ácidos gordos da série “ómega 3”, com potencial

específico, por exemplo, na área da saúde, nutrição humana e animal.

4.1.2 – Avaliação e observação do mar

Já em 2006 o Livro Verde sobre a Política Marítima Europeia7 reconhecia

que as regiões ultraperiféricas da União estão bem situadas para a

observação do sistema oceânico, dos ciclos meteorológicos e das alterações

climáticas, entre outros. De facto, a localização privilegiada de RUP como

os Açores confere-lhes vantagens operacionais óbvias para a colocação de

infraestruturas para a observação de diferentes fatores relacionados com o

comportamento dos oceanos, da atmosfera e do leito marinho.

A DQEM trouxe consigo novas exigências em termos de recolha de dados que

permitam a adequada monitorização dos diversos descritores que, no seu

conjunto, definem o bom estado ambiental das águas marinhas. Tendo em

conta o enorme desafio que a implementação da DQEM acarreta para os

estados membros, torna-se importante encontrar formas eficientes e

eficazes de cumprir os seus objetivos. A colaboração, partilha de

informação e sistemas de observação remotos poderão estar na base da

estratégia a delinear para a operacionalização dos planos de programas e

medidas da DQEM. Os Açores propõem-se a desenvolver e participar em

projetos colaborativos de demonstração do funcionamento e da eficácia de

inovadores sistemas e projetos colaborativos de monitorização do bom

estado ambiental.

Acresce referir que o historial de projetos e a presença atual de

instrumentação e recursos humanos de elevado nível nas RUP é uma enorme

mais-valia, e justifica por si só um investimento comunitário no

7 COM (2006) 275 Final

Page 22: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

22

desenvolvimento de redes atlânticas de observatórios, com infraestruturas

situadas nas regiões oceânicas.

A investigação marinha, talvez mais do que noutra qualquer região da Europa,

tem nos Açores um carácter intercontinental assegurado pela intersecção de

instrumentos financeiros, instalação de infraestruturas tecnológicas,

cooperações científicas e experiências desenvolvidas no terreno:

Neste sentido, a iniciativa MoMAR8, enquadrada na rede de observatórios dos

fundos marinhos da Europa, ESONET9, merece ser identificada como uma

plataforma tecnológica capaz de contribuir para colocar a Europa na

verdadeira vanguarda científica e tecnológica dos observatórios a nível

mundial.

O observatório PICO-NARE (integrado na Rede AZores Observation NETwork –

AZONET) é uma estação de investigação atmosférica, instalada na montanha

da Ilha do Pico, que tem demonstrado ser o local por excelência para a

observação e monitorização dos efeitos das políticas de emissão

intercontinentais com impacto nas mudanças globais, nomeadamente de

parâmetros físicos e químicos da atmosfera representativos da região central

do Atlântico Norte.

O projeto Atmospheric Radiation Measurement (ARM) – É uma infraestrutura

de investigação climática para medição de radiação atmosférica, a instalar

definitivamente na Ilha Graciosa, numa colaboração do Governo Regional dos

Açores e do Departamento de Energia dos Estados Unidos (USA), com

coordenação científica do Laboratório Nacional de Los Alamos. Tem como

objetivo principal o estudo das alterações climáticas, designadamente dos

8 www.momar.org

9 http://www.oceanlab.abdn.ac.uk/research/esonet.shtml

Page 23: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

23

modelos climáticos globais através do desenvolvimento e teste de

representações de processos de radiação e de formação de nuvens.

Encontrando-se numa encruzilhada das rotas de várias espécies migratórias

de enorme importância económica e de conservação, ao mesmo tempo que

partilha a região biogeográfica da Macaronésia com outros 3 arquipélagos,

surgem oportunidades extremamente interessantes para o desenvolvimento

de medidas conjuntas de proteção e estudos colaborativos que visem

informar a adequada gestão de espécies (em termos de exploração e

conservação), desta forma contribuindo para o bom estado ambiental das

águas marinhas do Atlântico.

Consideramos que a aposta na investigação e conhecimento pode ser uma

oportunidade impar para combater o isolamento e contribuir para o

desenvolvimento sustentável das regiões oceânicas do Atlântico, uma vez

que elas devem, no âmbito da PME, ser consideradas de forma privilegiada

no que diz respeito à localização de infraestruturas ou projetos de

investigação nessas áreas.

4.1.3 – Alterações climáticas: previsão e adaptação

As ilhas, embora com características geomorfológicas muito diferentes e

enquadramentos climáticos distintos, estão identificadas como os territórios

mais vulneráveis a fenómenos associados às alterações climáticas,

condicionadas geograficamente a possíveis medidas de adaptação. As ilhas

são, normalmente, autênticos santuários para a manutenção da

biodiversidade mundial, concentrado um elevado número de espécies

endémicas, particularmente sensíveis à alteração dos seus habitats e do

clima. As implicações das subidas do nível do mar, geralmente associadas ao

aumento das temperaturas globais, são imensas e afetam todos os sectores.

Page 24: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

24

No caso das regiões costeiras e insulares, como é o caso dos Açores, poderão

implicar investimentos avultadíssimos.

Face a esta realidade, e demonstrando a preocupação da Região Autónoma

dos Açores perante as alterações climáticas, foi criada em 2009 a Comissão

para as Alterações Climáticas na Região Autónoma dos Açores (ComClima)10. A

criação desta Comissão teve como principal objetivo a elaboração de uma

proposta de Estratégia Regional para as Alterações Climáticas (ERAC), que foi

publicada em 201111. A ERAC passa por atacar a origem do problema através

de políticas de mitigação, centradas essencialmente na redução das emissões

de gases com efeito estufa, bem como através de ações e políticas de

adaptação que permitam às sociedades lidar com as transformações que,

mesmo assim, se afiguram como inevitáveis.

A ERAC tem por base um conhecimento dos condicionalismos do arquipélago

dos Açores, mas também das suas excecionais potencialidades. Aborda as

responsabilidades nacionais da Região Autónoma dos Açores, bem como a

necessária cooperação internacional nos aspetos relacionados com as

alterações climáticas, em particular no que diz respeito às regiões insulares, à

bacia atlântica e ao domínio transatlântico.

Entre as áreas de interesse no âmbito da investigação do mar dos Açores

estão questões-chave do funcionamento dos ecossistemas em época de

mudança, resultado dos fenómenos relacionados com as alterações

climáticas. Nesse âmbito encontram-se os estudos de oceanografia,

meteorologia e climatologia, particularmente:

· Os estudos de interação oceano-atmosfera: o arquipélago dos Açores

tem-se revelado uma região de excelência para alguns dos fenómenos

10 Resolução do Conselho do Governo n.º 109/2009, de 30 de junho. 11 Resolução do Conselho do Governo n.º2011, de 19 de outubro.

Page 25: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

25

em apreciação, designadamente sobre as condições de formação de

nuvens baixas, as quais interferem de forma significativa com o balanço

energético terrestre e com o ciclo hidrológico;

· Os estudos de climatologia da agitação marítima: O regime e o clima da

agitação marítima, tendo como objetivo a avaliação das condições de

navegabilidade, segurança, efeitos sobre a geologia, ecossistemas e

infraestruturas costeiras, a par da avaliação do seu potencial

energético, constituem uma matéria de interesse universal mas em

particular das comunidades insulares e ribeirinhas;

· Acidificação dos Oceanos (AO), como parte integrante das alterações

climáticas, é considerada como uma das maiores ameaças para os

ecossistemas marinhos. Os riscos do aumento da concentração de

dióxido de carbono atmosférico e na água do mar começam agora a ser

desvendados, ao nível das potenciais alterações para as cadeias tróficas

marinhas, ciclos biogeoquímicos, organismos, habitats e ecossistemas

marinhos dos Açores. Neste enquadramento, as condições únicas do

Coral Lab12 estão a possibilitar experiências sobre o impacto das

alterações climáticas nos corais de água fria, nomeadamente em

termos dos efeitos da acidificação.

No que diz respeito ao estudo dos padrões que podem demonstrar as

alterações climáticas, podem salientar-se nomeadamente aqueles

desenvolvidos no centro do IMAR da Universidade dos Açores (IMAR-

DOP/UAç), mas também, muito particularmente, no Centro do Clima,

Meteorologia e Mudanças Globais da Universidade dos Açores.

Comprovadamente os Açores encontram-se num ponto estratégico para

aprofundar os estudos das alterações climáticas e seus impactos. Assim,

será imprescindível continuar a investir esforços na investigação científica

12 http://www.eu-hermione.net/news/science/38-corallab-set-up-in-the-azores

Page 26: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

26

nas várias áreas da oceanografia, bem como na biologia e ecologia de

espécies selecionadas. Tal permitirá ir seguindo a evolução das alterações

climáticas e seus efeitos na região atlântica.

Paralelamente será importante a prevenção das consequências que as

alterações climáticas poderão trazer aos territórios insulares. Neste sector,

será importante o investimento a nível de proteção dos portos e da zona

costeira. Deverá haver um esforço e investimento reforçado para a proteção

da faixa costeira com vista à prevenção de acidentes, nomeadamente no que

diz respeito à retardação dos efeitos da erosão, de tempestades e de

inundações.

4.1.4 – Impacte ambiental e gestão das atividades humanas

A Região tem desenvolvido um intenso trabalho no sentido de dotar as

estruturas da administração regional com competências não só legais mas

também técnicas na aplicação das regras da avaliação do impacte

ambiental, que se encontram previstas na Diretiva n.º2001/42/CE. Nesse

sentido, foi preparada legislação regional, a qual procura adequar o regime

já existente à estrutura orgânica da administração regional autónoma e às

tipologias e características dos projetos mais comuns nos Açores. A

legislação produzida veio consolidar o facto de que são as instituições

administrativas regionais que detêm a autoridade de avaliação do impacte

ambiental em território dos Açores.

No quadro expectável de uma maior intervenção humana no espaço

marítimo, espera-se que tal venha a resultar, de futuro, num acréscimo de

situações de conflito e de ameaças ao meio marinho. Alguns usos têm sido

tradicionalmente associados a possíveis impactes negativos, capazes de

promover a deterioração do meio ambiente e de comprometer a

sustentabilidade dos seus recursos. Entre as atividades que deverão ser

Page 27: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

27

seguidas conta-se a pesca, a qual não se encontra tradicionalmente sujeita

a procedimentos de impacte ambiental, mas sim a programas de

monitorização de mananciais haliêuticos.

Outras atividades que não a pesca, as quais têm vindo a gerar interesse

mais recente por parte de agentes económicos, são a atividade de extração

de minérios dos fundos marinhos, bem como a instalação de infraestruturas

de geração de energias alternativas. Os reais impactes de algumas destas

iniciativas são, em geral, mal conhecidos, por estarem pouco desenvolvidas

e por usarem tecnologia de última geração, onde se carece, em geral, de

informação suficiente. Esta situação não permite determinar, com certeza,

qual o grau de precaução a aplicar.

Com efeito, o mar dos Açores parece vir a tornar-se num cenário

privilegiado para projetos inovadores, de alta tecnologia, e potenciadores

de grande mais-valia económica para o arquipélago e para a UE. Tal deverá

ser também encarado como uma janela de oportunidade para criar linhas de

investigação e de investimento em áreas que tenham como objetivo a

avaliação dos reais impactes das novas atividades, bem como qual a

viabilidade das atividades que possam vir a entrar em conflito. Assim, a

falta de conhecimento sobre as novas atividades e os reais impactes no

meio marinho poderá redundar sobretudo num desafio para a UE e para os

Açores em particular, que poderão tornar-se numa zona privilegiada para

este tipo de estudos piloto e investimentos.

4.2 – Redução da pegada de carbono Europeia

4.2.1 – Energia Marinha

O Mar é uma incomensurável fonte de energia renovável, permitindo pela

exploração de sinergias entre as políticas marítima e energética, a produção

Page 28: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

28

de eletricidade originada, nomeadamente, nas ondas, nas marés, nas

correntes marítimas e na diferença de gradiente térmico. No entanto, é

necessário atender a que as tecnologias atualmente disponíveis para

aproveitamento deste tipo de energias de origem renovável necessitam de

elevados montantes de investimento, o que tem inviabilizado a grande

maioria destes projetos.

É perante este cenário que, em nosso entender, se deveria dar um maior

relevo às questões da obtenção de energia a partir do mar, materializando o

empenhamento da Comissão, no sentido de satisfazer os aspetos

referenciados pelo Conselho Europeu, no que respeita o desenvolvimento

dos conhecimentos e práticas existentes, para que venha a traduzir-se em

tecnologias fiáveis e economicamente viáveis e seguras.

De salientar que tais tecnologias serão portadoras de benefícios de vária

ordem, que deveriam justificar uma aposta significativa, pelas

consequências demais comprometedoras do futuro e que respeitam as

questões tanto de natureza ambiental (meio de combate às mudanças

climáticas pelo evitar de emissões de gases com efeito de estufa), como

económicas (desenvolvimento de tecnologias pioneiras suscetíveis de

geração de negócios e maior competitividade e do aumento da

independência dos países, pela não aquisição de produtos energéticos de

origem fóssil e consequentemente a não dependência da volatilidade dos

preços e dos conflitos políticos e bélicos), e sociais (criação de clusters

industriais e de know-how, para além de mais empregos especializados).

Sendo os Açores uma região privilegiada no que diz respeito ao potencial

energético do seu mar, demonstrado pelo projeto-piloto existente no Porto

Cachorro, na ilha do Pico, e encontrando-se impedida de tirar partido dos

benefícios das redes transeuropeias de energia, devido ao seu isolamento

geográfico e próprias limitações ao desenvolvimento caraterizadoras dos

Page 29: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

29

espaços arquipelágicos oceânicos, reafirmamos o entendimento de terem

direito a um tratamento prioritário para a utilização de tais tecnologias.

Tendo em conta que nos Açores a geotermia já contribui com cerca de 21% da

estrutura de produção de energia elétrica, esta fonte energética figura-se

como estratégica para a Região.

O conhecimento do potencial existente em sistemas vulcânicos terrestres e

submarinos é, pois, essencial para se dar continuidade ao processo de

autonomia energética da Região. O enquadramento geoestrutural do

arquipélago junto da Dorsal Médio-Atlântica, na confluência de três placas

tectónicas – americana, africana e eurasiática - proporciona uma intensa

atividade vulcânica, bem como outros fenómenos que demostram bem a

grande quantidade de energia que subsiste no subsolo marinho.

Em termos de inovação deveria ser, no entanto, repensada a viabilidade do

estudo da energia das ondas, para tal aproveitando a estrutura já existente na

ilha do Pico. De igual modo, os exemplos de projetos internacionais

inovadores de exploração de energia renovável em mar aberto também

deveriam ser alvo de atenção, como forma de explorar as imensas

potencialidades da dimensão do Mar dos Açores.

A análise de casos de estudo a nível internacional e o levantamento do estado

da arte e da técnica na produção de energia das ondas, eólica offshore ou

ainda a partir de algas, revelam-se outros exemplos a privilegiar. A presente

Estratégia é uma oportunidade para os Açores poderem estar no

desenvolvimento de know how, nas operações de manutenção e monitorização

de estruturas offshore multifuncionais (instalação de projetos piloto para

testes, manuseamento de ROVs, etc).

Page 30: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

30

4.2.2 – Transportes marítimos e portos

4.2.2.1 Transportes

No que concerne aos transportes marítimos, entendemos relevante a

promoção de estratégias marítimas europeias verdadeiramente integrativas,

ou seja, que considerem as necessidades específicas de regiões

ultraperiféricas, como os Açores, e que explorem devidamente o seu potencial

geoestratégico. Estas duas condições específicas deverão ser tidas em conta,

de futuro, nos planos de ação das estratégias marítimas comuns.

É necessário reconhecer que grande parte das políticas de transportes

transeuropeias não tem qualquer aplicabilidade nas regiões ultraperiféricas,

pois centram-se em medidas de combinação do transporte marítimo com

outros tipos de transporte como o rodoviário ou o ferroviário e, portanto,

excluem estas regiões de participar nos benefícios do Mercado Comum

europeu.

Ora, a Política Marítima Europeia não pode ignorar que, no caso das regiões

insulares, o transporte marítimo não pode ser visto como uma questão de

opção em relação a outros meios de transporte. Este é, a par do transporte

aéreo, o único meio que estas regiões têm de assegurar o abastecimento

regular em bens essenciais ao seu desenvolvimento económico.

Se a este elemento adicionarmos os efeitos que esta questão comporta em

termos de desenvolvimento económico e social, bem como na fixação e bem-

estar das respetivas populações, a importância duma abordagem diferenciada

à situação das regiões insulares e à situação das regiões ultraperiféricas

afigura-se como imprescindível.

Julgamos, por isso, que a cabotagem insular e o transporte marítimo inter-

ilhas deverão ser tidos em conta em programas específicos de apoios

Page 31: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

31

comunitários, num quadro de equivalência ou inserção nos objetivos globais

das redes transeuropeias de transportes e das autoestradas marítimas,

particularmente no que respeita às infraestruturas, superestruturas e

acessibilidades marítimas e portuárias.

Consideramos ainda que o investimento em infraestruturas em regiões

ultraperiféricas, neste caso específico nos Açores, deve passar por integrá-las

e potenciar futuras redes transeuropeias e transatlânticas, na figura de Hubs,

aproveitando fatores como a localização geoestratégica, considerando os

grandes fluxos de carga este-oeste e o aumento do trânsito de navios de maior

porte, atendendo ao alargamento do Canal do Panamá e aos mercados

emergentes da América do Sul.

4.2.2.2 Portos

O setor marítimo-portuário tem vindo a desenvolver-se progressivamente,

materializando a crescente importância do mar para a evolução da economia

açoriana e onde se assistiu a uma modernização das infraestruturas

portuárias.

Esta modernização - e consequente desenvolvimento das estruturas portuárias

- estimula o crescimento económico, na medida em que intensifica o comércio

e as trocas internacionais, aumenta o tráfego de passageiros, reforça a

necessidade de redes viárias mais eficientes, fomenta o desenvolvimento da

indústria de construção naval e de equipamentos eletrónicos, estimula a

atividade bancária, seguradora, de corretagem e de consultoria, e, sobretudo,

gera emprego.

Mais se sublinha a importância desta realidade nas regiões insulares e

ultraperiféricas e a sua potencialidade estratégica para as mesmas, e para a

UE, se integradas em plataformas logísticas intermodais (mar, ar).

Page 32: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

32

É neste contexto que consideramos primário e estratégico, para os Açores e

UE, atendendo à já referida localização geoestratégica, a oportunidade de

transformar os portos da Região em verdadeiras plataformas logísticas

integradas em cadeias logísticas internacionais, indo, assim, ao encontro das

tendências de evolução que hoje marcam o sector.

A implementação destas plataformas nos Açores, criando por assim dizer um

“Hub Atântico”, traria consigo inúmeras oportunidades, já evidenciadas por

diversos estudos, tais como:

­ Alternativa para os fluxos transatlânticos entre a Europa e os EUA,

podendo cruzar com os fluxos provenientes da América Latina e África;

­ Abastecimento direto aos portos de dimensão intermédia do Sul da

Europa, o que reduziria os hinterlands terrestres dado que

progressivamente não fará sentido abastecer a Europa a partir de

Roterdão, permitindo por sua vez uma redução do congestionamento

rodoviário, consequentemente diminuindo a poluição;

­ O transporte intraeuropeu via Açores teria ganhos importantíssimos,

pois apesar do aumento das milhas percorridas por TEU, seria permitido

assegurar o transporte em pequenos drops, para qualquer par origem-

destino do Atlântico (via hub).

­ Existindo uma tendência para o desenvolvimento de circum-navegação

Este-Oeste, um forte hub Atlântico nos Açores representaria um

candidato natural a nó principal desse novo fluxo, funcionando como

placa giratória para consolidação e desconsolidação de tráfegos Ásia –

EUA - UE;

­ Possibilidade de hub marítimo/aéreo de suporte às operações militares

Atlânticas e UE no âmbito da NATO, explorando a atual base aérea

militar das Lajes.

Page 33: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

33

A criação de tal plataforma, atendendo ao potencial fluxo de navios

visitantes, poderá representar um avanço firme para uma abordagem

coerente e completa destinada a reduzir as emissões de gases com efeito de

estufa provenientes do tráfico marítimo internacional, considerando as

potencialidades que o projeto “COSTA – CO2 & Other Ship Transport Emission

Abatement” representa no âmbito da disponibilidade de combustíveis mais

amigos do ambiente (LNG).

O projeto “COSTA”, ao qual a Região Autónoma dos Açores, através da Portos

dos Açores, SA, está ligada desde o seu início, surge enquadrado na nova

política das redes de transportes transeuropeias, no âmbito da estratégia

Europa 2020, pretendendo desenvolver as condições necessárias para a

utilização de gás natural como combustível nos navios, o que poderá vir a

revolucionar o transporte marítimo mundial.

No âmbito da questão de redução de gases com efeitos de estufa no setor dos

transportes marítimos, alertamos para a importância de uma diferenciação

positiva para a Região Autónoma dos Açores, atendendo às condições

arquipelágica e de ultraperiferia que caraterizam esta Região, que impõem

que o abastecimento regular das populações seja efetuado através do

transporte marítimo, pois a descontinuidade geográfica não permite o recurso

a qualquer outro meio de transporte, como o rodoviário, o ferroviário e

mesmo o aéreo, para assegurar a manutenção das condições mínimas de

vivência dos Açorianos.

4.3 – Exploração sustentável dos recursos naturais do leito marinho

Atlântico

Resultado de uma topografia extraordinariamente acidentada e profunda,

ausência de declive continental, isolamento elevado no meio do oceano

Atlântico e da conjunção dinâmica e ativa de três placas tectónicas, as águas

Page 34: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

34

comunitárias que circundam os Açores são ricas em habitats complexos, raros

e sensíveis.

Entre estes, merecem particular destaque os habitats associados às fontes

hidrotermais de grande profundidade, aos montes submarinos, comunidades

de esponjas e aos jardins de corais-de-águas-frias, que foram considerados

habitats ameaçados no âmbito da Convenção para a Proteção do Meio Marinho

do Atlântico Nordeste - Convenção OSPAR.

O mar profundo representa provavelmente a última fronteira do nosso planeta

em termos de conhecimento. A título de exemplo, as descobertas

relativamente recentes de recursos geológicos e biológicos associados às

fontes hidrotermais provaram que os fundos marinhos ainda nos surpreendem

no século XXI. De facto, ainda hoje se descobrem novas formas de retirar

proveito económico do mar.

Por se tratar de formas de exploração novas, é necessário:

· criar um ambiente empreendedor a nível local e europeu, orientado

para estas novas frentes da economia marinha;

· aumentar o conhecimento e a sua disseminação;

· desenvolver ou adaptar tecnologia;

· acautelar os impactes sobre o ambiente marinho.

Neste âmbito, estudos integrados sobre modelação económica e/ou de

avaliação do potencial valor dos recursos do mar, ou ainda sobre os impactos

socioeconómicos das atividades marítimas, nos variados setores, são

essenciais à definição de políticas, prioridades e competitividade económica.

As questões políticas, de segurança, defesa e fiscalização e, sobretudo, as

jurídicas constituem, também, um conjunto de domínios de investigação a

considerar, sendo certo que num futuro próximo, difíceis disputas e

Page 35: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

35

previsíveis conflitos vão envolver interesses públicos e/ou privados,

designadamente, no que concerne a concessões e às propriedades material

e intelectual. Por outro lado será necessário saber conjugar e interpretar o

direito internacional, europeu, nacional e regional no que concerne aos

direitos sobre o mar e os seus recursos.

4.3.1 – Matéria-prima

A formação da crusta pelo alastramento dos fundos oceânicos está

intimamente associada à formação de depósitos de minerais metálicos

submarinos. Por esta razão, a zona da plataforma continental marítima que

rodeia o arquipélago dos Açores possui um reconhecido potencial para a

exploração de recursos minerais. É possível que existam sulfuretos maciços

ligados aos campos hidrotermais e crostas e nódulos de manganês e ferro,

ricos em cobalto, níquel e cobre.

O mapeamento extensivo dos fundos marinhos relacionados intimamente

com a Dorsal Médio-Atlântica é vital para o desenvolvimento económico

deste novo potencial. O estudo das formas vulcânicas e das estruturas

tectónicas, assim como da atividade sismovulcânica que se lhes encontra

associada, é fundamental para se compreender a natureza e a génese dos

fundos oceânicos na designada plataforma dos Açores e assim se

identificarem zonas de potencial interesse para a futura exploração de

recursos minerais (ferro, cobre, níquel, zinco, ouro e prata) e energéticos.

O potencial económico destes recursos minerais submarinos associados aos

campos hidrotermais da região atlântica só pode ser calculado através de

uma prospeção de subsuperfície, de modo a averiguar a extensão dos

depósitos em causa.

De modo a enquadrar o desenvolvimento desta atividade de enorme

envergadura, propõe-se a estruturação de um Consórcio internacional para

Page 36: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

36

o Mar Profundo, sediado nos Açores, que promova a inclusão de

especialistas científicos na matéria, economistas e decisores (locais,

nacionais e europeus).

Este Consórcio será responsável por proporcionar um ambiente favorável ao

investimento, gerando políticas de investigação colaborativa e de

disseminação de informação, apoio legal aos estados membros, e

regulamentação da atividade, nomeadamente no que diz respeito aos

impactes ambientais.

Deverão promover-se cruzeiros com o propósito de recolher os dados

necessários para reduzir os riscos associados ao investimento na atividade.

Aqui, a aposta num navio de investigação para a região atlântica, com base

nos arquipélagos da Macaronésia, trará benefícios em termos de custos de

operação a longo prazo e aumentará exponencialmente a capacidade e

potencial da investigação desenvolvida nesses arquipélagos.

A informação recolhida deverá ser partilhada, de forma a reduzir o

elemento de incerteza e atrair investimento. Assim, a criação de uma base

dados europeia, construindo sobre as já desenvolvidas para o espaço

marítimo da Europa (como sendo o EMODnet), será essencial. As políticas

quanto aos níveis de partilha de informação poderão ser matéria a tratar

pelo Consórcio anteriormente proposto. O resultado deverá ser um

mapeamento extenso dos fundos marinhos do Atlântico, visível através de

ferramentas eletrónicas de utilização aberta.

A prospeção e exploração de recursos dos fundos marinhos constituem uma

oportunidade única para estabelecer inovadoras formas de monitorização

dos impactes da atividade humana, que se baseiem na minimização de

custos e na colaboração transatlântica. Aqui, mais uma vez a

instrumentação e tecnologia de ponta desempenham um papel central,

Page 37: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

37

devendo as Regiões do Atlântico, em especial as insulares, especializarem-

se nesta área. A Universidade dos Açores, através de alguns dos seus

principais centros de investigação, pode assumir-se como pólo dinamizador,

através de ligações, com enquadramento internacional, a laboratórios

associados e a parceiros tecnológicos na área da robótica marinha.

A instalação de observatórios e sistemas remotos de monitorização nas

áreas alvo da exploração mineral abre portas para a avaliação de outras

atividades humanas no mar profundo, como sendo a “sequestração” de

dióxido de carbono (CO2), atividade que pode surgir como resultado dos

primeiros passos a dar na exploração dos leitos do mar profundo.

4.3.2 – Biodiversidade marinha

A ZEE dos Açores apresenta uma profundidade média de 3000 m e uma

extensa área abissal, sendo que sensivelmente 97,5% da ZEE dos Açores tem

profundidades superiores a 1000 m. Tal torna a Região dos Açores uma zona

privilegiada para o estudo do oceano profundo.

O Oceano Atlântico e a sua Dorsal Médio-Atlântica, em particular, abrigam

grande variedade de habitats do mar profundo com os seus montes

submarinos, jardins de corais frios, colónias massivas de esponjas, fontes

hidrotermais, entre outros. Aqui encontra-se uma enorme e mal conhecida

componente da biodiversidade marinha.

O conhecimento do enquadramento geológico dos sistemas marinhos é

fundamental para se compreender o desenvolvimento de comunidades

biológicas exclusivas do mar profundo e, em particular, das zonas

hidrotermais. Um dos principais objetivos nacionais, no momento, é aumentar

o conhecimento que existe sobre os recursos e o funcionamento dos

ecossistemas do mar profundo.

Page 38: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

38

É nos fundos marinhos que se encontram alguns dos ecossistemas mais

complexos do planeta, como por exemplo os ecossistemas quimiossintéticos

que albergam algumas das mais notáveis adaptações animais. Para além disso,

descobriu-se recentemente que é no fundo marinho que se encontram

inúmeras bactérias, representando as mesmas novos recursos genéticos. Estes,

incluindo novas enzimas e proteínas, têm um enorme potencial na chamada

biotecnologia azul.

A Universidade dos Açores, através do centro de investigação IMAR-DOP/UAç,

tem integrado inúmeras parcerias, redes e projetos de investigação

internacionais e desenvolvido um trabalho muito meritório e contínuo no

aprofundamento dos estudos relacionados com os ecossistemas do mar

profundo, com destaque, entre outros, para os ecossistemas dos montes

submarinos e das fontes hidrotermais. Destaquem-se as estruturas

laboratoriais instaladas para o estudo de organismos do mar profundo, em

especial das fontes hidrotermais da Dorsal Médio-Atlântica, às quais foi

atribuído o nome de LabHorta.

A potencialidade de alguns dos organismos presentes nos ambientes extremos

dos Açores, mas também de certas espécies comuns às zonas costeiras, já

demonstrada nos campos da farmacologia, cosmética e da medicina,

fundamenta a importância da dinamização da investigação científica no que

respeita à biotecnologia azul. Assim, os Açores encaram com grande interesse

a exploração e continuado desenvolvimento deste domínio e o

estabelecimento de “blue investiment funds”.

Este potencial não pode deixar de ser evidenciado, reconhecido e incentivado

no âmbito das políticas europeias para o mar, sobretudo no âmbito da

estratégia europeia marítima para o Atlântico.

Page 39: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

39

4.4 – Responder às ameaças e urgências

4.4.1 – Segurança marítima

O Atlântico é vital para o comércio da Europa e crucial para a segurança

energética da UE, pelo que a segurança do abastecimento aos portos deve

ser considerada uma prioridade e, totalmente garantida. Assim, será

imperiosa a existência de uma cooperação internacional e uniformização de

soluções para que os portos, de origem e de destino, consigam eliminar

eficazmente os perigos que se colocam ao transporte marítimo.

Questões como a segurança, vigilância, fiscalização e controlo do tráfego

marítimo, ganham nos dias de hoje nova dimensão atendendo às novas

problemáticas associadas ao transporte marítimo, tais como o combate à

imigração ilegal, à clandestinidade, à pirataria, ao terrorismo, ao tráfico de

estupefacientes, mas também as questões de foro ambiental, tais como a

poluição marinha, a exploração ilegal de recursos marinhos, entre outros.

A Região Autónoma dos Açores, apesar da sua pequena dimensão terrestre,

beneficia da maior ZEE da Europa. Este ativo é tanto mais significativo se

atentarmos, por um lado, à posição estratégica centralizada e privilegiada

detida pela Região no contexto mundial e, por outro, às repercussões a

nível económico, social e ambiental sobre os países comunitários vizinhos,

advenientes de possíveis catástrofes ou acidentes ocorridos dentro do seu

domínio marítimo.

Mercê da sua supracitada localização geográfica, a qual é rota privilegiada

dos navios que cruzam o Atlântico Norte, os Açores encontram-se sujeitos a

riscos acrescidos comparativamente a outras regiões da UE.

Page 40: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

40

Facilmente compreendemos que estamos perante uma situação em que uma

pequeníssima parcela do território da União acarreta com os riscos duma

atividade que reverte em benefício de outros. Como consequência impõe-

se, em suma, ter expressamente em conta a realidade atlântica e insular

nos diversos aspetos sectoriais das estratégias e políticas marítimas

europeias, como sejam: a proteção ambiental; a preservação dos recursos e

biodiversidade marinha; a vigilância e segurança marítimas; a prevenção de

acidentes, poluição e catástrofes naturais; o controlo marítimo de

fronteiras e a compatibilização desta com a política europeia de segurança

e defesa, isso apenas para citar algumas áreas.

É assim nosso entendimento que as estratégias e políticas marítimas

europeias para o Atlantico devem contemplar de forma especial regiões

como os Açores, prevendo a afetação de recursos para o cumprimento,

nessas ou por essas regiões, de funções que são do interesse de toda a

União.

Na verdade, os Açores consideram-se o local privilegiado para a

implementação de um centro de segurança marítima e de um observatório

costeiro, bem como de um laboratório de estudo dos efeitos das alterações

climáticas, que permitam uma vigilância marítima adequada à área do

Atlântico.

O Governo dos Açores considera ser de realçar a necessidade da União ter

uma atenção especial ao espaço atlântico, nomeadamente, no que respeita

a reforçar a visão do Atlântico enquanto fronteira marítima ocidental da

União Europeia e identificar os meios necessários que garantam a segurança

dentro deste espaço marítimo comum.

A UE deverá também promover a criação de plataformas que permitam

assegurar a convergência de diferentes tecnologias de vigilância marítima e

Page 41: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

41

de diferentes estados membros, criando aquilo a que poderemos designar

de EVMS (European Vessel Management System), permitindo aumentar a

interoperabilidade das atividades de vigilância, melhorar a eficácia das

operações no mar e facilitar a aplicação da legislação e das políticas

comunitárias nesta matéria às autoridades dos diferentes estados membros,

promovendo um melhor controlo do espaço marítimo europeu.

A integração destes sistemas permitirão evitar a duplicação de informação

marítima entre os diferentes estados da UE, assim como identificar as áreas

carentes de maior investimento no âmbito da segurança marítima.

4.4.2 – Avaliação e gestão de risco

Uma área de excelência em termos de investigação é, naturalmente, a dos

riscos geológicos, que encontram na região dos Açores um enquadramento

ímpar, fruto da junção tripla definida pela confluência das placas

litosféricas americana, euroasiática e africana.

A significativa atividade sísmica e vulcânica que se regista nesta zona do

Atlântico, como o demonstram o terramoto de 9 de Julho de 1998, com

epicentro no mar a 5 km a nordeste da ilha do Faial, ou a erupção

submarina de 1998-2000, centrada a 10 km da costa noroeste da ilha

Terceira, justificam a necessidade de se incrementarem as ações de

investigação e monitorização em tais domínios.

Esta é, aliás, mais uma matéria de dimensão transnacional que importa

realçar, tendo em atenção a repercussão que fenómenos naturais desta

natureza tiveram e, inevitavelmente, voltarão a ter no Espaço Europeu. A

atividade sísmica que marca a fronteira das placas Açores-Gibraltar, para

além do carácter destruidor direto que comporta, é potencial geradora de

Page 42: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

42

tsunamis, como o exemplifica o caso específico do terramoto de 1755, e de

importantes movimentos de vertente.

Os fenómenos vulcânicos de maior índice de explosividade constituem, por

seu turno, uma das maiores ameaças naturais à vida, estando na origem de

drásticas alterações climáticas e graves problemas de saúde pública, como o

revelam os estudos sobre o impacte da dispersão de cinzas e das chuvas

ácidas.

A Estratégia Atlântica deve considerar esta como uma área prioritária de

investigação e desenvolvimento e a região dos Açores como um laboratório

natural de excelência quer para a condução de projetos integrados dirigidos

para a compreensão dos processos genéticos que presidem à ocorrência de

tais perigos, quer o desenvolvimento de tecnologias adequadas à

implementação de redes de monitorização e de sistemas de alerta,

suscetíveis de garantir mecanismos de resposta a situações de emergência.

O Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos da Universidade

dos Açores, associado do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica

dos Açores (CIVISA) é reconhecido internacionalmente nesta área, integrando

diversas redes científicas, consórcios e mantendo estreitas relações

institucionais com outros centros internacionais.

Por outro lado, é importante desenvolver mecanismos de cooperação para o

planeamento a nível da bacia Atlântica, através de comissões regionais e

transnacionais, e plataformas de partilha de informação e emissão de

alertas que permitam resposta precoce a situações de emergência.

Considerando o interesse geoestratégico dos Açores, foi instalada pela

empresa Edisoft, na Ilha de Santa Maria, uma estação de receção de dados

satélite, tendo em vista, entre outros objetivos, a preservação e segurança

Page 43: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

43

dos oceanos. Este Centro de Monitorização e Vigilância do Atlântico Norte

encontra-se em fase de exploração e não pode deixar de ser incentivado no

âmbito das políticas da UE para o Atlântico.

Ainda neste capítulo há que ter em conta os riscos associados às espécies

invasoras. Nos Açores, as consequências de tais ocorrências já são visíveis,

embora apenas pontualmente no presente. O Governo dos Açores tem vindo

a encetar esforços para conter uma espécie de alga com elevado potencial

invasor conhecido, verificando em primeira mão que facilmente esta se

transforma numa luta sem fim à vista, por falta de recursos financeiros que

permitam um adequado tratamento das zonas afetadas e monitorização

contínua da evolução da invasão.

Reconhece-se que a introdução de espécies exóticas com potencial invasor

tem vindo a aumentar devido aos fenómenos associados às alterações

climáticas bem como ao aumento do trânsito marítimo internacional. Por

outro lado, é consensual que as potenciais consequências negativas destas

invasões ultrapassam o âmbito local. Enquanto este problema continuar a

ser encarado como da responsabilidade única do local afetado, dificilmente

se conseguirá garantir o bom estado ambiental das águas em regiões

desprovidas dos meios necessários para resposta, como é o caso dos Açores.

Assim sendo, o estabelecimento de fundos de emergência para este tipo de

ocorrência poderia ser estruturado a nível europeu.

É importante que a resposta às espécies invasoras passe principalmente pela

prevenção e resposta imediata. Para tal, mais uma vez veem-se enormes

benefícios nas colaborações a nível da região atlântica, instalação de

observatórios e plataformas de partilha de informação.

Page 44: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

44

4.5 – Crescimento socialmente inclusivo

4.5.1 – Políticas para aumentar a atração das profissões do mar

O Governo dos Açores tem vindo a desenvolver uma estratégia sustentável

que apela para que os cidadãos e, em especial, os mais empreendedores, se

aproximem do mar enquanto solução de futuro.

Está neste momento em elaboração o Plano de Ordenamento do Espaço

Marítimo dos Açores. Esta ferramenta, mais do que criar regras de utilização

para o mar, tentará abrir espaços para novas oportunidades de

desenvolvimento sustentável. Neste sentido é também importante que a

PME tenha em conta a promoção do desenvolvimento sustentável das zonas

de pesca.

A Política Marítima Europeia apresenta algumas preocupações com as quais

o Governo dos Açores está de acordo. É o caso da qualidade do emprego e

das condições de higiene e segurança do trabalho nas atividades marítimas,

bem como da atratividade das profissões marítimas, em particular junto dos

jovens. A nível regional, com fundos europeus, têm sido efetuados

investimentos na modernização e no incremento das condições de segurança

e de habitabilidade a bordo das embarcações que deverão continuar de

modo a reforçar a atratividade da profissão de pescador. Contudo, a

estratégia do Atlântico deverá ter uma abordagem mais detalhada no que

respeita ao sector das Pescas e aos desafios específicos que o mesmo

apresenta quando falamos dos seus profissionais.

Em especial, afigura-se-nos como imprescindível não ignorar o tipo de pesca

tradicional que é praticada em regiões como os Açores, bem como o perfil

sociológico das populações que a ela se dedicam.

Page 45: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

45

Sublinhe-se o impacte social de um excesso de exigências legais, ou de uma

grande discrepância entre estas e a capacidade das comunidades locais de

lhes darem resposta.

No âmbito de uma estratégia para o Atlântico, a valorização dos produtos

da pesca passa também por dignificar a atividade e as comunidades

piscatórias, combater preconceitos, coresponsabilizar e colocar a pesca no

centro de um conjunto de opções que podem contribuir para a saúde e para

a qualidade de vida, preservação da natureza, desenvolvimento local

(criando emprego, rendimento, sinergias e complementaridades),

preservação da memória e aprofundamento de novas áreas de investigação

e projeção do território.

No que respeita à reconversão profissional, mais uma vez se reafirma a

necessidade de uma maior atenção ao sector das Pescas. Promover a

reorientação de ativos, diversificar a atividade e criar novas formas de

rendimento deverá ser tido em conta. No caso dos Açores, em que o

Turismo tem uma importância crescente, e, dentro deste, o sector das

atividades ligadas ao mar, a vocação natural desses profissionais é condição

para o sucesso da intervenção nesta área.

Atividades marítimo-turísticas como a pesca turística ou observação de

cetáceos parecem-nos bons exemplos da conciliação de uma nova atividade

com as motivações intrínsecas dos profissionais deste ramo.

4.5.2 – Educação e formação

O sucesso das atividades económicas relacionadas com o Mar exigem

recursos humanos qualificados nas áreas chave a desenvolver e a

certificação por padrões internacionais de formação no domínio do Mar.

Contudo, e como já referido em anteriores relatórios da Comissão, a

Page 46: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

46

crescente escassez de profissionais do mar, oficiais e marítimos da

mestrança e marinhagem cria o risco de se perder a massa crítica de

recursos humanos que mantém a competitividade do sector marítimo

comunitário em geral. Neste sentido, apresenta o Governo dos Açores

algumas preocupações, perante as quais julga necessário um conjunto de

políticas marítimas europeias mais assertivas.

Realçamos, ainda, as preocupações de mobilidade, formação mínima

exigível e reconversão profissional, atendendo à falta de recursos técnicos e

humanos disponíveis em grande parte das regiões ultraperiféricas.

No que respeita à mobilidade e atratividade das profissões marítimas,

defendemos que uma das formas de avançar nesses domínios poderá ser

através da criação de uma rede de “Escolas Europeias das Profissões do

Mar”, ou “Academias Marítimas Europeias”, conforme já proposto pela

Comissão em 2009, funcionando desconcentradas nas regiões com maiores

ligações ao meio marítimo, como é o caso dos Açores, e que, à imagem do

Centro Europeu de Formação Profissional, CEDEFOP, tenha a incumbência

de sistematizar, a nível europeu, a preparação para as profissões marítimas,

bem como formar profissionais altamente qualificados para as profissões de

vanguarda ligadas ao mar.

Neste âmbito, em 2012, foi assinado um protocolo entre o Governo dos

Açores, a Universidade dos Açores e a Escola Superior Náutica Infante D.

Henrique que visa criar uma Escola de Formação de Marítimos na cidade da

Horta, Faial. O projeto tem como objetivo a formação de profissionais do

mar e representa a afirmação e a projeção dos Açores e da sua vocação

marítima no panorama europeu e internacional, pretende ir aonde se

Page 47: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

47

recomenda, respeitando as exigências da Convenção STCW13, privilegiando a

formação teórica em contexto de trabalho, através de estágios promovidos

a bordo de embarcações regionais, assim como de um estreito

relacionamento com centros de investigação dos vários eixos atlânticos.

A existência dessa rede de escolas, com programas de formação idênticos,

facilita também a mobilidade dos trabalhadores do sector dentro do espaço

comunitário, colmatando, assim, as dificuldades de alguns países para

encontrar profissionais devidamente qualificados.

Com este projeto o Governo dos Açores pretende promover uma maior

atratividade dos nossos jovens para as profissões ligadas ao mar e em

simultâneo ultrapassar o défice crónico de mão-de-obra qualificada no

sector marítimo. Trata-se sem dúvida de um projeto de extrema relevância,

que vai ao encontro daquilo que são as prioridades de investimentos no

âmbito da estratégia para a região atlântica, proporcionando as condições

para que os sectores da economia marítima possam florescer, criando

oportunidades concretas de emprego.

À semelhança do projeto da “Escola de Formação de Marítimos dos Açores”

e da relação que esta mantém com o Departamento de Oceanografia e

Pescas da Universidade dos Açores, acreditamos que as escolas deste tipo

devem ter fortes ligações à investigação e à indústria, promovidas através

de incentivos criados ao abrigo de fundos comunitários da UE. Esta é, no

nosso entendimento, umas das melhores formas de manter níveis de

formação elevados e assegurar a competência profissional das tripulações,

de modo a que as atividades de transporte marítimo correspondam às

exigências de segurança e respeito do ambiente.

13 Convenção STCW (Standards of Training and Certification Watchkeeping Convention) estabelece padrões internacionais para o treino dos marítimos, emissão de certificados de qualificação para funções a bordo de navios.

Page 48: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

48

Renovamos, por isso a pertinência da constituição de um Observatório

Europeu do Emprego e Profissões do Mar, de modo a que se possa agir, com

eficácia, sobre a evolução quantitativa e qualitativa das profissões desses

sectores. Este Observatório poderá, igualmente, agir no fomento da

atratividade e valorização das profissões marítimas, causa sublinhada para o

declínio do emprego de profissionais do mar.

A um nível mais abrangente é de relevar, na nossa região, a aposta na

promoção de atividades transversais de divulgação científica, cultural e de

difusão do conhecimento sobre o mar junto das nossas escolas e público em

geral. A par dos currículos do ensino regular, no âmbito dos quais

naturalmente o tema “Mar” assume um destaque - pelo património natural

e histórico que representa na afirmação da nossa identidade - também são

comuns os programas e projetos de sensibilização sobre a valorização do

tema, dinamizados pelas redes regionais de centros de ciência, ecotecas,

associações e centros de interpretação científica/ambiental, envolvendo

dinamicamente os departamentos governamentais, as escolas e os

investigadores.

4.5.3 – Promoção de turismo costeiro e marítimo

O Governo dos Açores qualifica de muito válido e positivo o trabalho que está

a ser desenvolvido pela Comissão Europeia na elaboração da Agenda XXI para

a sustentabilidade do turismo europeu, salientando que as preocupações que

subjazem a esse documento têm sido antecipadas pela Região.

As regiões insulares têm no mar um produto turístico de excelência que

proporciona atividades cujo potencial ainda não está esgotado, como a

observação de cetáceos, big game fishing, pesca recreativa, fotografia

subaquática, mergulho, náutica de recreio/vela, entre outros.

Page 49: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

49

Sendo fundamental que a Estratégia Atlântica assegure que as atividades

humanas de outros setores (transporte marítimo, pescas, etc.) não ameaçarão

os recursos naturais marítimos, é igualmente importante que a mesma

estabeleça medidas de fomento às boas práticas pela parte dos operadores

marítimo-turísticos e seus clientes, no sentido de assegurar a sustentabilidade

dessa atividade e, em última instância, do meio onde se desenvolvem.

Neste âmbito deve ser considerada a necessidade de se aprofundarem os

estudos em economia das pescas diversificando a atividade e integrando o

turismo. Reconhece-se que esta situação tem de ser encarada reduzindo o

conflito entre pescador tradicional e a atividade marítimo-turística. O

impacto da pesca recreacional ainda não está avaliado a nível europeu

necessitando, por isso, de estudos consistentes e regulamentação inovadora.

Nestas matérias a experiência dos Açores também pode ser válida, por

exemplo no que se refere ao planeamento orientador das linhas estratégicas

para o desenvolvimento turístico na Região, que teve uma articulação cuidada

com os planos de ordenamento da orla costeira de forma a prosseguir

objetivos inovadores de sustentabilidade.

Este planeamento, aponta entre outras ações, para a criação/melhoria de

infraestruturas ligadas ao mar, que visam melhorar a qualidade dos serviços

prestados aos visitantes, quer do ponto de vista da receção ao turista, quer do

ponto de vista de reconversão de diversos equipamentos, nomeadamente

marinas e portos de recreio, contribuindo, assim, não só para o reforço da

atratividade turística de cada ilha, mas também para o posicionamento dos

Açores enquanto plataforma incontornável da navegação de recreio e do

turismo náutico no Atlântico.

Page 50: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

50

Outro exemplo é o da legislação específica para ordenar a atividade de

observação de cetáceos14. O fim da caça à baleia — secular atividade com

raízes sócio-económicas, culturais e religiosas que enriquece a história das

Ilhas açorianas e a relação destas com o exterior - projeta uma nova realidade

de inegável interesse para as comunidades envolvidas: a observação de

cetáceos. A herança de um vasto património baleeiro e todas as medidas

legislativas cautelares à sua preservação são elementos imprescindíveis, que

denotam uma preocupação respeitadora do passado, sem deixar de evoluir

para uma situação de prosperidade económica.

Essa envolvência ambiental remeteu-nos para a potenciação de outras

vertentes deste património natural, que a relação dos homens com os

cetáceos o mar encerra, permitindo assim que se retire os necessários

proveitos ecológicos, científicos e turísticos, sem pôr em causa o equilíbrio do

mundo marinho, pelo que foram criadas normas reguladoras desta atividade

face ao aumento exponencial que conheceu nos últimos tempos.

Neste seguimento e na consideração das matérias referentes ao Turismo,

também devemos ter em conta a relevância que este tem na reconversão de

profissionais de outras atividades ligadas ao mar e na potenciação das mais

valias económicas que as comunidades costeiras de ambos os lados do

Atlântico podem retirar.

Há que atender sobretudo às pessoas que ligadas à atividade da pesca

reconvertem a sua atividade profissional em áreas relacionadas com a

animação marítimo-turística, passando pela criação de empresas que

exploram e ganham cada vez mais consistência e projeção, sendo uma mais–

valia na oferta do produto turístico.

14 Decreto Legislativo Regional n.º 9/99/A, de 22 de março, alterado pelo DLR n .º 10/2003/A, de 22 de março, e

pelo DLR n .º 13/2004/A, de 23 de março.

Page 51: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

51

Refira-se, também, as medidas de requalificação e transformação de

edificações militares em unidades hoteleiras, de antigas fábricas da indústria

baleeira em museus, a articulação de antigas atividades piscatórias com o

turismo, a recuperação de botes baleeiros15 e a sua complementaridade

através da promoção de ações que, no fundo, permitam a continuidade de

práticas e costumes marítimos, adaptados e amigos do ambiente, que se

identificam com as comunidades costeiras banhadas pelo Atlântico.

Outro aspeto a realçar, é a questão da arqueologia subaquática16, que

julgamos merecedora, a par de outras atividades semelhantes, de um

tratamento mais detalhado na Estratégia Atlântica, nomeadamente pelo

potencial de aproveitamento que apresentam para o usufruto do meio

marinho.

A UE não pode deixar de olhar o potencial económico e de desenvolvimento

que as comunidades costeiras do continente americano contêm para o

Turismo europeu, em especial para o turismo diretamente relacionado com o

Mar.

Este potencial só pode ser efetivado através do seu reconhecimento e

incentivo no âmbito das políticas estruturais e setoriais europeias, como as

diretamente relacionadas com o Mar e, em especial, com o Atlântico.

5 – Recursos Financeiros

A Estratégia Marítima para a região Atlântica aponta para a sua

implementação alguns instrumentos legislativos e financeiros em

elaboração, referindo que os mesmos terão repercussões importantes no

15 Decreto Legislativo Regional n.º 13/98/A, de 4 de Agosto, alterado pelo DLR n.º 16/2001/A, de 17 de Agosto e

regulamentado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º24/2000/A, de 7 de Setembro.

16 Decreto Legislativo Regional n.º 27/2004/A, de 24 de Agosto, alterado pelo DLR n.º 8/2006/A, de 10 de Março e

regulamentado pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 20/2005/A, de 12 de Outubro.

Page 52: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

52

mar, nomeadamente o Quadro Estratégico Comum 2014-2020, o Programa-

Quadro de Investigação e Inovação Horizonte 2020, a reformulação da

Política Comum das Pescas, a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha, as

iniciativas no domínio da política marítima sobre a vigilância marítima,

conhecimento do meio marinho e ordenamento do espaço marítimo, assim

como os instrumentos de política externa tais como o Fundo Europeu de

Desenvolvimento, o programa da União Europeia denominado Rotas

Marítimas Críticas, o diálogo internacional através da OMI e bilateral com os

parceiros da Região atlântica.

Para a execução da Estratégia é dada ênfase à iniciativa e empenhamento

dos estados-membros das regiões, das autoridades locais, do setor privado,

dos laboratórios de ideias, bem como à promoção das parcerias e

cooperação internacional, sobre questões tão importantes como a

observação e monitorização ambiental, a partilha de dados, as avaliações

marinhas, a investigação, a redução das emissões e da poluição por navios,

a segurança da navegação e portuária, a luta contra a pirataria e contra a

pesca ilegal. Nesse sentido, em todo o processo, é essencial o diálogo, a

implementação de projetos-piloto de referência e uma forte aposta ao nível

dos investimentos nas propostas estratégicas e programáticas em benefício

do Atlântico.

Não é feita qualquer referência ao Mecanismo Interligar a Europa, cujo

projeto de regulamento foi apresentado pela Comissão a 29 de junho de

2011 e proposto pela Comissão para o período 2014-2020, com uma dotação

que poderá ir até aos 50 mil milhões de euros, e que se pode tornar num

instrumento fundamental para canalizar investimentos em infraestruturas à

escala europeia.

De igual modo, não é feita qualquer referência ao programa LIFE + (2014-

2020), que poderia constituir uma oportunidade para se atingir importantes

Page 53: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

53

objetivos da política marítima integrada e da estratégia atlântica, caso este

programa não excluísse os projetos no domínio do ambiente marinho.

Atendendo a que está determinado que não poderá haver um impacto

adicional no orçamento da União Europeia, o plano de ação para a Região

Marítima do Atlântico só conseguirá ter efetividade e atingir resultados se

estiver claramente alinhado com as fontes de financiamento disponíveis,

nomeadamente se for compatível com os objetivos da Estratégia Europa

2020 e com as disposições regulamentares dos vários programas de

financiamento da União Europeia no período 2014-2020.

Com exceção do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca, a

financiar pelo Quadro Estratégico Comum, na maior parte dos casos, a

margem de manobra do plano de ação para a implementação da Estratégia

Marítima para a Região do Atlântico encontra-se muito condicionada pelos

princípios, objetivos e prioridades temáticas dos fundos.

O facto do plano de ação para a implementação da Estratégia Marítima para

a Região do Atlântico estar a decorrer em simultâneo com a programação

dos vários programas de financiamento da União Europeia deverá constituir

uma oportunidade para que seja consagrada na regulamentação comunitária

do Quadro Comunitário de Apoio alguns dos objetivos da Estratégia Marítima

para a Região do Atlântico e para que sejam integradas as prioridades desta

Estratégia nos Acordos Nacionais de Parceria.

No domínio dos Acordos Nacionais de Parceria e dos instrumentos

operacionais a negociar entre cada Estado-Membro e a Comissão Europeia,

considera-se que um dos princípios base a constar como critério

determinante no acesso aos fundos comunitários do Quadro Financeiro

Plurianual deverá ser o da relevância da dimensão da Zona Económica

Exclusiva de cada Estado-Membro, atendendo a que alguns Estados-Membros

Page 54: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

54

ou regiões suportam custos imputáveis ao interesse mais geral europeu no

âmbito de questões associadas à Política Marítima Integrada da União

Europeia, sendo onerados de modo totalmente desproporcionado com os

custos da sua implementação.

Por último, mas não menos importante, entende-se fundamental definir

medidas positivamente diferenciadoras para as regiões insulares atlânticas

sobretudo ao nível da determinação dos recursos financeiros do plano de

ação para a implementação da Estratégia Marítima para a Região do

Atlântico e na possibilidade dos recursos financeiros serem utilizados para

tirar partido do posicionamento geoestratégico das regiões ultraperiféricas

como forma de desenvolver a dimensão externa e internacional da

Estratégia Marítima para a Região do Atlântico e de atrair investimento

estrangeiro.

6 - Princípios da Subsidiariedade e da Proporcionalidade

A dimensão da governação, genericamente referida pela necessidade de se

seguir uma “governação inteligente” para aplicar a estratégia, baseada nas

estruturas atuais – merecia uma maior concretização na Comunicação da

Comissão, pois constitui um aspeto fundamental, não apenas do

desenvolvimento da Política Marítima Integrada em geral, mas, igualmente e

em particular, da Estratégia Marítima para a Região atlântica.

Na verdade, a falta de referências aos princípios da subsidiariedade e da

proporcionalidade assume particular relevância se tivermos em conta que uma

grande parte do atlântico europeu - o espaço da macaronésia - é composto

pelas áreas marítimas de três regiões dotadas de amplos poderes políticos e

legislativos: as Regiões Autónomas portuguesas dos Açores e da Madeira e a

Comunidade Autónoma espanhola das Canárias.

Page 55: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

55

É necessário, por isso, na abordagem sobre o desenvolvimento e

implementação da Estratégia para o Atlântico, ter presente que o princípio da

subsidiariedade constitui um dos pilares do exercício do poder por parte das

instituições da União Europeia e que deve ser plenamente respeitado também

nas políticas ligadas ao Mar.

Os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade constituem, aliás, os

garantes das especificidades regionais – e as Regiões Ultraperiféricas são um

caso único no contexto europeu - na aplicação das diretrizes da União nesta

matéria.

Lembramos que o principal objetivo do princípio da subsidiariedade, enquanto

princípio dinâmico que permite o ajustamento das intervenções relacionadas

com o exercício de competências partilhadas entre instituições da União e as

entidades políticas nacionais, regionais e locais, consiste em garantir que as

decisões são tomadas ao nível mais próximo possível dos cidadãos, sem

prejuízo da sua máxima eficácia.

Assim, é fundamental dar maior destaque à dimensão regional e local da

União no quadro das consultas e num espírito de parceria que deve presidir à

adoção de qualquer ato normativo ou na implementação de medidas e ações

relativas à Estratégia para o Atlântico. Com efeito, a aplicação rigorosa

daqueles princípios implica que a participação dos atores regionais seja um

elemento indissociável do sucesso e eficácia das políticas e da ação das

instituições europeias, que todos ambicionamos.

Page 56: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

56

7 – Conclusões

O mar e a crusta terrestre que este cobre são as áreas de excelência para o

desenvolvimento nas próximas décadas. O atual contexto exige visão e

inovação na procura das melhores soluções e recursos para um crescimento

sustentável. A Estratégia para a região atlântica constitui um enquadramento

ideal para concertar uma resposta a este desafio.

Só uma aposta efetiva na implementação desta Estratégia, a qual exigirá

grandes investimentos e organização, é que permitirá revelar todas as

potencialidades do Mar, com vista ao crescimento económico e sustentável,

contribuindo decisivamente para criar emprego, riqueza e bem-estar social,

com benefícios para as regiões e com repercussões positivas para todo o

espaço Atlântico e Europeu.

Seguem sugestões de investimento e prioridades de investigação para a região

atlântica, da perspetiva da Região Autónoma dos Açores.

A. Implementação da abordagem ecossistémica

A.1. Enquadramento de políticas

a. Criação de estruturas governativas de natureza internacional para o

acompanhamento de iniciativas de ordenamento do território marítimo

no âmbito do espaço Atlântico, em estreita ligação com os

representantes dos diversos setores da sociedade.

b. Assegurar a correta gestão e proteção dos habitats e recursos naturais,

através do reconhecimento da existência de diferenças profundas nos

sistemas presentes na região Atlântica que obrigam a uma definição de

regras também distintas e adaptadas a cada realidade. Nesta linha, é

incontornável uma aposta nas pescas sustentáveis e tradicionais e o

restabelecimento do limite das 200 milhas como área de aplicabilidade

das políticas regionais restritivas à utilização de artes de pesca que

Page 57: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

57

afetam negativamente os recursos marinhos vivos e ecossistemas

marinhos vulneráveis dos Açores.

c. Promoção de parcerias para ações de investigação e conservação

marinha, como sendo programas de marcação de espécies migratórias e

implementação de santuários transnacionais para a proteção de

espécies, no enquadramento da rede Natura 2000.

d. Diversificar a produção haliêutica no Atlântico, nomeadamente através

do desenvolvimento do sector da aquicultura em mar aberto em regiões

oceânicas como os Açores.

e. Promover o funcionamento eficiente e racional da componente humana

do ecossistema marinho Atlântico, atendendo ao princípio da

subsidiariedade.

f. Estabelecimento de plataformas de participação informada da sociedade

para participação nas decisões que envolvam o espaço marítimo.

A.2. Necessidades de investimento

a. Desenvolvimento de programas de certificação dos produtos do mar.

b. Apoio às empresas de comércio e de transformação de peixe com sede

nas RUP do Atlântico, tendo em vista encorajar a valorização dos

produtos e reforçar a estruturação da cadeia de produção.

c. Investir no reforço da proteção da faixa costeira de modo a possibilitar a

prevenção de acidentes associados às alterações climáticas.

d. Formação técnica para acompanhamento de programas de prospeção e

exploração de recursos marinhos, através da formação de observadores

que possam acompanhar as atividades de campo desenvolvidas pelos

consórcios empresariais, contribuindo assim para o conhecimento que é

mantido nas regiões.

e. Otimização e reforço da fiscalização das atividades humanas no espaço

marítimo Atlântico, com o fim de assegurar que todos os utilizadores do

Mar respeitam as regras da PCP, incluindo fora das jurisdições nacionais.

Page 58: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

58

f. Instalação ou melhoria de estruturas existentes que permitam a

observação do sistema Atlântico, conjugando diversos fins, aproveitando

as mais-valias das regiões ultraperiféricas como locais ideias para a

implementação de tais programas de monitorização e recolha de dados.

A.3. Necessidades de investigação

a. Fomentar programas de monitorização e colheita de informação sobre os

mananciais pesqueiros, de forma a permitir a avaliação do estado

ambiental das unidades populacionais das espécies comercialmente

exploradas.

b. Desenvolvimento de know-how sobre novas espécies com potencial de

exploração, bem como de tecnologias de cultivo.

c. Investigação relacionado com a previsão dos fenómenos relacionados

com as alterações climáticas.

d. Desenvolvimento de projetos inovadores no âmbito da avaliação dos

reais impactes das atividades extrativas do mar, criadores de tecnologia

nova, e potenciadores de grande mais-valia económica, estabelecendo

ligações e sincronias com sistemas de observação marinha.

B. Redução da pegada de carbono

B.1. Enquadramento de políticas

a. Redução da componente fóssil da energia usada na Região atlântica, com

atenção especial às potencialidades e limitações das regiões

ultraperiféricas.

b. Promoção do planeamento portuário, de forma a evitar a duplicação de

estruturas e a redundância de serviços, através da identificação de áreas

para potencial crescimento e especialização, de forma a maximizar as

estruturas portuárias já existentes.

Page 59: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

59

B.2. Necessidades de investimento

a. Aumentar a oferta de equipamentos de abastecimento de combustível

nas ilhas periféricas do Atlântico, a exemplo do Projeto Costa.

b. Implementação de plataformas logísticas no Atlântico, criando um “Hub

Atlântico”, aproveitando a localização geoestratégica dos arquipélagos

centrais, nomeadamente os Açores, ao considerar-se os grandes fluxos

de carga este-oeste e o aumento do trânsito de navios de maior porte.

c. A criação de um programa específico de apoios comunitários para a

cabotagem insular e o transporte marítimo inter-ilhas Atlântico,

num quadro de equivalência ou inserção nos objetivos globais das

redes transeuropeias de transportes.

d. Criação de oportunidades para a formação de clusters industriais e de

know-how de desenvolvimento de tecnologias limpas.

B.3. Necessidades de investigação

a. Zonas de teste de tecnologias de produção de energias alternativas em

meio marinho.

b. Experimentação de protótipos de geração de energia não baseada em

combustíveis fósseis, associados a plataformas multiusos.

C. Exploração sustentável dos recursos naturais dos fundos do Oceano

Atlântico

C.1. Enquadramento de políticas

a. Estabelecimento de um grupo de reflexão internacional

UE/USA/Canadá sobre o Atlântico profundo, para coordenação de

políticas entre estados membros e ação.

b. Definição de um consórcio internacional para o mar profundo, com a

participação de especialistas científicos na matéria, economistas e

decisores (regionais, nacionais e europeus).

c. Contribuir para a criação de um ambiente empreendedor a nível local e

europeu, orientado para novas frentes da economia marinha.

Page 60: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

60

d. Criar condições propícias ao aumento do conhecimento sobre o oceano

profundo e sua disseminação.

e. Acautelar impactes sobre o ambiente marinho de programas de

exploração de recursos marinhos.

f. Criação das bases para o desenvolvimento de iniciativas empresariais no

âmbito da chamada “Economia azul”, passando pelo desenho de uma

linha de financiamento própria estimuladora de parcerias investigação-

empreendedorismo.

C.2. Necessidades de investimento

a. Operacionalização de redes de sistemas de observação inovadores para

o estudo do Mar Profundo e a monitorização das atividades humanas em

termos da avaliação dos seus impactes.

b. Aquisição de um navio de investigação e instrumentação para a região

atlântica, baseado nos arquipélagos da Macaronésia, destinado à

investigação, mapeamento dos fundos marinhos e monitorização.

c. Investir no desenvolvimento da capacidade tecnológica na Europa,

especializando as regiões ultraperiféricas do Atlântico nas tecnologias

de ponta para a prospeção e exploração de recursos do mar profundo.

C.3. Necessidades de investigação

a. Desenvolver o mapeamento extensivo dos fundos marinhos na região da

Dorsal Médio-Atlântica e construir as plataformas de partilha dessa

informação.

b. Quantificação de impactes negativos da exploração dos recursos do mar

e determinação de estratégias possíveis para sua mitigação.

c. Avaliação dos benefícios económicos e sociais positivos da aposta na

exploração de matéria-prima do leito marinho.

Page 61: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

61

D. Resposta a ameaças e emergências

D.1. Enquadramento de políticas

a. Identificar e mitigar perigos que se colocam ao transporte marítimo.

b. Tornar eficiente a resposta a ameaças e emergências, através de

mecanismos de partilha de informação e concertação na resposta entre

entidades com competência na matéria.

c. Elaboração de protocolos de ação em situações de deteção de poluição

marinha e de exploração ilegal de recursos marinhos.

d. Definição de protocolos regionais de monitorização e reposta à

ocorrência de espécies invasoras no Atlântico.

e. Criação de fundos comunitários próprios para resposta a situações de

risco e emergências, como sendo ocorrências de poluição e espécies

invasoras.

D.2. Necessidades de investimento

a. Estabelecimento de observatórios offshore para a monitorização do

clima e ocorrências geodinâmicas, potenciando as estruturas já

existentes no Atlântico.

b. Localização, nos Açores, de um centro de segurança marítima e de um

observatório costeiro, que permita uma vigilância marítima adequada a

essa área do Atlântico.

c. Promoção da criação de plataformas que permitam assegurar a

convergência de diferentes tecnologias de vigilância marítima, e de

diferentes estados membros, criando um EVMS (European Vessel

Management System).

d. Estabelecimento de sistema de aviso e resposta a espécies invasoras

marinhas dentro de redes geográficas coerentes de partilha de

informação (por exemplo, um sistema para a Macaronésia).

D.3. Necessidades de investigação

a. Identificação das rotas de entrada de espécies marinhas invasoras.

Page 62: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

62

b. Desenvolvimento de tecnologia de erradicação de espécies invasoras.

c. Desenvolvimento de projetos científicos transeuropeus sobre segurança

marítima, efeitos das alterações climáticas, e monitorização de

espécies invasoras.

E. Crescimento socialmente inclusivo

E.1. Enquadramento de políticas

a. Criação de condições para que os cidadãos se informem sobre as

políticas seguidas para o mar, aumentando a intervenção pública desde

a fase de planeamento do espaço marítimo.

b. Desenvolver políticas que tenham em vista promover o acesso das

comunidades ao crescimento azul, desde o apoio a pequenos projetos a

empreendimentos de maior envergadura.

c. Políticas para maximizar o aproveitamento científico retirado de

atividades económicas e industriais.

d. Diminuição da carga burocrática e agilização dos procedimentos que

envolvem a certificação profissional na atividade marítima.

E.2. Necessidades de investimento

a. Desenvolvimento de programas de reconversão profissional dos

profissionais da pesca para outros sectores como é o caso do turismo.

b. Olhar o potencial económico e de desenvolvimento que as comunidades

costeiras do continente americano contêm para o Turismo europeu, em

especial para o turismo diretamente relacionado com o Mar, que só

pode ser efetivado através do seu reconhecimento e incentivo no

âmbito do financiamento das políticas estruturais e setoriais europeias,

como as diretamente relacionadas com o Mar e, em especial, com o

Atlântico.

c. Continuação do processo de modernização e incremento das condições

de segurança e de habitabilidade a bordo das embarcações.

Page 63: Região Autónoma dos Açores - European Commission · aproximadamente 1 milhão km2 contem uma extraordinária diversidade de recursos, habitats e sistemas de incalculado potencial

Região Autónoma dos Açores

Governo dos Açores

63

d. Estabelecimento de uma escola dedicada à qualificação internacional

de profissionais do mar, com sede no coração do Atlântico, nos Açores.

e. Criação de uma rede de “Escolas Europeias das Profissões do Mar”, ou

“Academias Marítimas Europeias”.

f. Constituição de um Observatório Europeu do Emprego e Profissões do

Mar.

E.3. Necessidades de investigação

a. Aprofundamento dos estudos em socio-economia das pescas,

diversificando o seu âmbito e integrando igualmente o turismo e outras

atividades que se desenvolvam no mar.