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REGIME ESPECIAL DASOCIEDADE ANÔNIMA

SIMPLIFICADA

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2013

REGIME ESPECIAL DASOCIEDADE ANÔNIMA

SIMPLIFICADA

Walfrido Jorge Warde Jr.Rodrigo Rocha Monteiro de Castro

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F il iais

AMAZONAS/RONDÔNIA/RORAIMA/ACRERua Costa Azevedo, 56 – CentroFone: (92) 3633-4227 – Fax: (92) 3633-4782 – Manaus

BAHIA/SERGIPERua Agripino Dórea, 23 – BrotasFone: (71) 3381-5854 / 3381-5895Fax: (71) 3381-0959 – Salvador

BAURU (SÃO PAULO)Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 – CentroFone: (14) 3234-5643 – Fax: (14) 3234-7401 – Bauru

CEARÁ/PIAUÍ/MARANHÃOAv. Filomeno Gomes, 670 – JacarecangaFone: (85) 3238-2323 / 3238-1384Fax: (85) 3238-1331 – Fortaleza

DISTRITO FEDERALSIA/SUL Trecho 2 Lote 850 – Setor de Indústria e AbastecimentoFone: (61) 3344-2920 / 3344-2951Fax: (61) 3344-1709 – Brasília

GOIÁS/TOCANTINSAv. Independência, 5330 – Setor AeroportoFone: (62) 3225-2882 / 3212-2806Fax: (62) 3224-3016 – Goiânia

MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSORua 14 de Julho, 3148 – CentroFone: (67) 3382-3682 – Fax: (67) 3382-0112 – Campo Grande

MINAS GERAISRua Além Paraíba, 449 – LagoinhaFone: (31) 3429-8300 – Fax: (31) 3429-8310 – Belo Horizonte

PARÁ/AMAPÁTravessa Apinagés, 186 – Batista CamposFone: (91) 3222-9034 / 3224-9038Fax: (91) 3241-0499 – Belém

PARANÁ/SANTA CATARINARua Conselheiro Laurindo, 2895 – Prado VelhoFone/Fax: (41) 3332-4894 – Curitiba

PERNAMBUCO/PARAÍBA/R. G. DO NORTE/ALAGOASRua Corredor do Bispo, 185 – Boa VistaFone: (81) 3421-4246 – Fax: (81) 3421-4510 – Recife

RIBEIRÃO PRETO (SÃO PAULO)Av. Francisco Junqueira, 1255 – CentroFone: (16) 3610-5843 – Fax: (16) 3610-8284 – Ribeirão Preto

RIO DE JANEIRO/ESPÍRITO SANTORua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 – Vila IsabelFone: (21) 2577-9494 – Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565Rio de Janeiro

RIO GRANDE DO SULAv. A. J. Renner, 231 – FarraposFone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 – Porto Alegre

SÃO PAULOAv. Antártica, 92 – Barra FundaFone: PABX (11) 3616-3666 – São Paulo

Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira César — São Paulo — SPCEP 05413-909PABX: (11) 3613 3000SACJUR: 0800 055 7688De 2ª a 6ª, das 8:30 às 19:[email protected]: www.editorasaraiva.com.br/direito

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva.A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Data de fechamento da edição: xx-x-2013

Dúvidas? Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito

Diretor editorial Luiz Roberto CuriaGerente de produção editorial Lígia AlvesEditora Thaís de Camargo RodriguesAssistente editorial Sarah Raquel Silva SantosProdutora editorial Clarissa Boraschi MariaPreparação de originais Ana Cristina Garcia

Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan Flavia Gutterres Falcão de Oliveira

Arte e diagramação Cristina Aparecida Agudo de Freitas Claudirene de Moura Santos Silva

Revisão de provas Rita de Cássia Queiroz Gorgati Willians Calazans de Vasconcelos de Melo

Serviços editoriais Camila Artioli Loureiro Elaine Cristina da Silva

Capa Roney CameloProdução gráfica Marli Rampim ImpressãoAcabamento

136.588.001.001

ISBN 978-85-02-20718-9

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Warde Junior, Walfrido JorgeRegime especial da sociedade anônima simplificada /

Walfrido Jorge Warde Jr., Rodrigo R. Monteiro de Castro. – São Paulo : Saraiva, 2013.

Bibliografia

1. Regime especial 2. Sociedades anônimas – Leis e legislação – Brasil I. Castro, Rodrigo R. Monteiro de. II. Título.

13-06887 CDU-347.725

Índice para catálogo sistemático:

1. Regime especial da sociedade anônima simplificada : Direito comercial 347.725)

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Este livro é para Danielle, Cristina, Olivia e João, porque o amor está sobre a vontade.

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AGRADECIMENTOS

Fomos presenteados com a generosa contribuição de muitos amigos. Foram tantos aqueles que ofertaram sinceras opiniões e críticas, que a omissão será ine-vitável. Não podemos esquecer, todavia, do Deputado Laércio Oliveira (por seu espírito público, por sua fé inabalável na utilidade das nossas ideias) e de suas fiéis escudeiras, Amanda Galvão Ferreira Tabosa e Adriana do Carmo Garcez, deten-toras de todo o conhecimento exotérico em matéria de processo legislativo.

Os nossos sinceros agradecimentos a Bertrand Cocalleman, o construtor do blog www.sasimplificada.com, que nos deu voz e permitiu que colhêssemos, no atacado, preciosas sugestões, bem como a Zínia Baeta e ao Valor Econômico, por-que levaram ao grande público nossas primeiras ideias. Agradecemos também todos aqueles que nos convidaram para, em seminários, palestras e foros de deba-te, falar sobre o Regime Especial da Sociedade Anônima Simplificada, no particu-lar, Ivette Senise Ferreira, Gilberto Haddad Jabur, Renato Berger, Armando Rovai, Henrique Barbosa, Hélio Barbosa, Leonardo Barém Leite, Alexandre Grandese, Gustavo Saad Diniz, Rogério Castro, Fábio Ulhoa Coelho, Ana Frazão, André Pitta, Carlos Alberto Rebello Sobrinho, Cristina Pereira, Patrícia Pellini, Renato Issatugo, Maiara Madureira e André Antunes Soares de Camargo.

Aos muitos que contribuíram para a concepção do Projeto de Lei n. 4.303/2012, com ideias, com críticas e, sobretudo, com palavras de encorajamento, fica aqui registrada a nossa eterna gratidão. Nesse imenso grupo, merecem destaque: Mo-desto Carvalhosa, Everardo Maciel, Ernesto Tzirulnik, Marcelo Knopfelmacher, Gilberto Bercovici, José Alexandre Tavares Guerreiro, Fábio Ulhoa Coelho, Erasmo Valladão A. e N. França, Sérgio Campinho, Francisco Satiro, Chico Müssnich, Guilherme Afif Domingos, Francisco Reyes, Heleno Torres, Fernando Maia da Cunha, Leandro Santos de Aragão, Marcelo Guedes Nunes, Luiz Ernesto Oliveira, Pedro Roquim, Marcelo Godke Veiga, José Horácio Halfeld Ribeiro, Luis André Negrelli de Moura Azevedo, Fabiano Del Masso, Rudi Lehmann, José Luiz Bayeux, Paco Alcalde, Pedro Ramunno, Ruy Junqueira, Alfredo Lazzareschi, Francisco Costa e Silva, Maurício Menezes, João Laudo de Camargo, Carlos Martins Neto, Marcelo Vieira von Adamek, Ives Gandra Martins, Álvaro Luís Fleury Malheiros, Glauco Martins Guerra, Luciano Rollo Duarte, Rachel Sztajn, Celso Azzi, Otávio Yazbek, José Constantino de Bastos Jr., Marco Bottino, Walter Roberto Plaza Jr., Eduardo Spinola e Castro, Roberta Nioac Prado, Danilo Gomes de Araújo, Viviane Muller Prado, Marcelo Sampaio Góes Ricupero, Gustavo Grebler, Alberto Xavier,

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Roberto Duque Estrada, Elias Marques de Medeiros Neto, José Diaz, Bruna Tole-do Pacheco, Amir Bocayuva Cunha, Edison Garcia, João Felipe de Mello, Antonio Velloso, Aline Menezes, Adriana Braghetta, Bruno Salama, Marco Aurélio Greco, Bruno Robert, Sérgio Botrel, Pedro Dutra, Mário Tavernard, Débora Gozzo, Fer-nando Quintino, Iurie Cipriano, Edison Fernandes, Paulo Sergio Restiffe, Luiz Olavo Baptista, Henrique Hildebrand Garcia, Alexandre Hildebrand Garcia, Henry Sztutman, Antonio José Mattos Morello, Marlon Tomazette, Guilherme Afif Do-mingos Filho, Braz Martins Neto, Marcos da Costa, Américo Isidoro Angélico e Marcos Andrey de Sousa, Alexandre Hildebrand Garcia, Thaís de Camargo Rodri-gues e Sarah Raquel Silva Santos.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................. 7

pREfáCIO ................................................................................ 15

ApRESENTAÇÃO ...................................................................... 17

INTRODUÇÃO .......................................................................... 19

CApÍTULO IO NECESSÁRIO APERFEIÇOAMENTO DA ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-SOCIETÁRIA DAS PEQUENAS E DAS MÉDIAS EMPRESAS BRASILEIRAS ............................................................................. 23

1. Uma intervenção reformista no direito societário brasileiro .. 232. A necessária identificação do nexo entre as impropriedades

na matriz regulatória do direito societário brasileiro e as so-luções propostas ................................................................................ 232.1. A descrição prévia do estado do direito societário ............ 23

2.1.1. Alguns pontos de inflexão: uma descrição histórico--dialética ........................................................................... 24

2.1.2. Os pontos de inflexão essenciais à construção do direito societário moderno ........................................... 24

3. A ausência de uma disciplina adequada à organização jurídi-co-societária das pequenas e das médias empresas no Brasil 31

4. A permeabilidade do direito e a necessária atenção aos pro-blemas brasileiros: a adequada adaptação de instituições consolidadas a novas realidades ..................................................... 32

5. O “preço do direito” .......................................................................... 326. Da exceção à regra ............................................................................ 37

6.1. A disciplina das anônimas como objeto precípuo do di-reito societário: âmbito, dirigismo e adaptabilidade .......... 38

6.2. É possível deduzir do “chassi regulatório” das sociedades anônimas uma disciplina especialmente aplicável às pe-quenas e às médias empresas? Um “desmonte” calculado da disciplina das companhias .................................................. 39

7. O sistema interno da Lei das Sociedades Anônimas ............... 40

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7.1. Os elementos do sistema interno ........................................... 417.1.1. A incolumidade do sistema interno ............................ 42

7.2. O acoplamento de disciplinas suplementares: as “compa-nhias” dos arts. 4º e 294 da LSA ............................................. 437.2.1. A “companhia do art. 294” ............................................ 437.2.2. Uma infraestrutura comum, submetida a regimes

jurídicos particulares e diferenciados em razão da dimensão, da complexidade e da natureza organi-zacional ............................................................................. 45

8. O Regime Especial da Sociedade Anônima Simplificada (RE-SAS) .............................................................................................. 45

CApÍTULO IIPROJETO DE LEI N. 4.303/2012O REGIME ESPECIAL DA SOCIEDADE ANÔNIMA SIMPLIFICADA 47

1. O art. 294-A ........................................................................................ 471.1. O que é o RE-SAS? .................................................................... 471.2. Os critérios de enquadramento no RE-SAS: que compa-

nhias podem aderir ao regime? ............................................... 481.3. Por que patrimônio líquido? Por que 100 milhões? ........... 51

1.3.1. Algumas hipóteses de incidência fundadas em cri-térios de mensuração da empresa ............................... 51

1.3.2. O patrimônio líquido como critério de inclusão e de exclusão do RE-SAS .................................................. 53

1.3.3. A medida da “média” ..................................................... 571.3.4. Atualização do critério de enquadramento .............. 581.3.5. O mal do crescimento contido .................................... 581.3.6. A utilidade do RE-SAS às sociedades em crise ........ 591.3.7. A inexistência de critérios relacionados ao capital:

o capital mínimo ............................................................. 591.4. O procedimento de adesão ao RE-SAS ................................ 63

1.4.1. Ações ordinárias e preferenciais ................................. 631.4.2. A exclusão......................................................................... 631.4.3. O término do exercício social e a elaboração das

demonstrações financeiras ........................................... 641.4.4. O escrutínio e uma deliberação sobre a correção

das demonstrações financeiras .................................... 651.4.5. O hiato entre o encerramento do exercício e a

aprovação das demonstrações financeiras: as conse-quências da exclusão ...................................................... 65

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1.4.6. Formalidades .................................................................... 662. Os arts. 294-B e 294-C: a unipessoalidade e a condição do

acionista ............................................................................................... 672.1. A pluralidade de sócios ............................................................. 672.2. Por uma solução de unipessoalidade ..................................... 682.3. Forma jurídica, sociedade anônima e a unipessoalidade .. 682.4. A unipessoalidade no contexto brasileiro ............................ 692.5. Diretiva Europeia ....................................................................... 702.6. O RE-SAS e a solução para o problema da unipessoalida-

de no Brasil .................................................................................. 702.7. Participação em mais de uma companhia sob o RE-SAS . 712.8. A nacionalidade do acionista único ....................................... 73

3. O art. 294-D: diminuição dos custos de publicidade e maior publicidade .......................................................................................... 743.1. Amplo acesso à informação .................................................... 743.2. Faculdade ..................................................................................... 753.3. A guarda e o arquivamento do recibo de convocação ...... 75

4. O art. 294-E: diminuição dos custos de formação das delibe-rações ................................................................................................... 754.1. A economia do voto e o voto à distância .............................. 764.2. Dosagem do remédio ................................................................ 76

5. O art. 294-F: a distribuição desigual de dividendos .................. 775.1. A participação nos lucros: direito essencial ........................ 795.2. A disciplina privada da distribuição de dividendos ........... 80

6. O art. 294-G: o barateamento e a desburocratização da estru-tura administrativa ............................................................................ 81

7. O art. 294-H e a remuneração dos administradores ................. 857.1. Critérios para pagamento da participação de administra-

dores .............................................................................................. 868. O art. 294-I: a ampliação circunstancial e estatutária do direi-

to de retirada como técnica de solução ex ante de conflitos societários ........................................................................................... 868.1. A livre disposição das ações: fundamentos e exceções ..... 878.2. As razões para uma ampliação circunstancial do direito

de retirada .................................................................................... 88

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8.3. A ampliação do direito de retirada e o estímulo à coope-ração .............................................................................................. 90

9. O art. 294-J e a exclusão do acionista faltoso ............................. 919.1. A utilidade da exclusão do acionista faltoso ........................ 919.2. A exclusão do acionista faltoso: procedimento ................... 93

CApÍTULO IIIOS RECENTES ACONTECIMENTOS MUNDIAIS NA DISCIPLINA

JURÍDICA DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS SOCIETÁRIAS:

AS HYBRID BUSINESS FORMS E O RE-SAS ................................ 95

1. As Limited Liability Companies .................................................... 952. O direito societário europeu e as Hybrid Business Forms: da

harmonização à concorrência regulatória ................................... 972.1. Os planos de “harmonização completa” e a influência

alemã ............................................................................................. 982.2. A “harmonização possível” e o domínio inglês ................... 982.3. Cada um por si ............................................................................ 98

3. A experiência latino-americana: a Sociedad por AccionesSimplificada colombiana ................................................................. 104

4. As HBF e o novo direito societário ............................................... 1055. As HBF e o RE-SAS .......................................................................... 105

CONSIDERAÇÕES fINAIS ........................................................ 107

REfERÊNCIAS .......................................................................... 111

ANEXOTABELAS E ILUSTRAÇÕES .......................................................... 121

Tabela 1: Patrimônio líquido das companhias listadas na Bolsade Valores de São Paulo (em milhões de reais) .......................... 123

Tabela 2: Evolução do PIB brasileiro ................................................. 134Tabela 3: Taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e

Custódia – SELIC .............................................................................. 135Tabela 4: Índice de inflação [1980-2012] .......................................... 136

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Tabela 5: Sociedades contratuais com responsabilidade imanen-te nos ordenamentos de tradição romano-germânica ............. 137

Tabela 6: O desenvolvimento da legislação sobre LLC nos EUA . 138Tabela 7: Registro de LLP no Reino Unido ...................................... 140Tabela 8: Comparação – formas societárias francesas ................. 141Tabela 9: Características legais da “nova” GMBH (Alemanha) .. 141Gráfico 1: A popularidade das LLC nos EUA ................................. 143Gráfico 2: A popularidade da SAS francesa .................................... 143

ÍNDICE DE ASSUNTOS .............................................................. 145

ÍNDICE ONOMÁSTICO .............................................................. 151

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PREFÁCIO

É com grande satisfação que prefacio o Regime Especial da Sociedade Anôni-ma Simplificada. A minha trajetória, marcada pela militância na defesa dos direi-tos e interesses das microempresas e das empresas de pequeno porte, se revela concretamente, entre outros aspectos, na busca pela simplificação, que está no cerne da proposta dos autores.

A partir da figura da “pequena anônima”, disciplinada pela Lei das S.A., pretendem, mediante ajustes cirúrgicos, criar uma disciplina especial com a finalidade de prover às pequenas e médias empresas organização jurídica por meio de forma societária de manejo simples e barato. Buscam ajudar o desenvolvimento econômico do Brasil, em um momento no qual florescem o empreendedorismo e as oportunidades de negócio.

Mais uma vez, os contextos são próximos. No passado recente, a partir da figura preexistente do “pequeno empresário”, foi possível criar o Microempreen-dedor Individual – MEI, programa que permitiu a formalização de mais de 3,2 milhões de pequenos negócios sob a perspectiva de inclusão social, por meio da redução expressiva dos ônus tributários e burocráticos. É um dos exemplos máxi-mos do potencial positivo da simplificação.

A proposta dos autores passa por conferir tratamento diferenciado às socie-dades anônimas de menor porte, abrangendo o barateamento da sua constituição e manejo, a facilitação do seu funcionamento e a flexibilização da sua disciplina jurídica. É o simples e conhecido tratamento desigual aos desiguais, que permitiu ao País uma série de importantes avanços, inclusive a verdadeira reforma tributá-ria promovida aos pequenos negócios pelo Simples Nacional.

A proposta veiculada merece elogio e incentivo pelo seu potencial de contribuir para o desenvolvimento de novos negócios, ampliar a capacidade de acesso a re-cursos para investimentos, reduzir os custos de conformidade e outra série de benef ícios inerentes à simplificação.

Simplificar é inovar. Inovar é ousar. É muito bom presenciar preparo técnico aliado à ousadia de não continuar fazendo mais do mesmo. Espero que a obra sirva de inspiração para a necessidade de avanço contínuo nesse campo ainda vasto e resulte nas alterações legais defendidas.

Guilherme Afif DomingosMinistro-Chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa

da Presidência da República

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APRESENTAÇÃO

Sirvo, desde 2011, o povo brasileiro no Congresso Nacional. E não o digo para produzir qualquer efeito, senão o de confessar os meus deveres.

Aos representantes do povo não é dado dizer o que o povo deve querer, mas sim ouvi-lo, despidos de paixões e de interesses particulares. Mas qual é o desejo do povo? Não houve um dia sequer, neste meu primeiro mandato, em que essa pergunta, verdadeiro exame de consciência, desse trégua aos meus pensamentos.

Acreditava que o menino pobre, houvesse aprendido tudo sobre o povo. O povo, contudo, não sou eu. Nós somos o povo! Saber o povo é saber e sentir o outro, sobretudo as suas diferenças. E não há como saber sem perguntar e sem ouvir.

Este livro é um convite. Conclama os leitores a conhecer o Regime Especial da Sociedade Anônima Simplificada, objeto do Projeto de Lei n. 4.303/2012, que apresentei à Câmara dos Deputados, e que foi concebido, em meio a muita reflexão e estudo, pelos Professores Rodrigo R. Monteiro de Castro e Walfrido Jorge War-de Jr.

Mesmo convencidos de que o projeto é para o bem do povo, os autores insis-tem, numa prova inusitada de civismo, em auscultar o leitor, levar a teste suas ideias. E eu os parabenizo por isso. Assim devem caminhar a democracia e os processos democráticos, com transparência e honestidade.

O texto que se segue fala por si, exibe as ideias que me foram trazidas e que, desde logo, seduziram, sobretudo porque atendem os pequenos e médios empreen-dedores. Um esforço para atendê-los, acredito, é condição de nosso desenvolvi-mento e de uma efetiva justiça distributiva.

Laércio Oliveira

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INTRODUÇÃO

Este livro traz a lume o Projeto de Lei n. 4.303/2012, concebido pelos autores e apresentado à Câmara pelo Deputado Federal Laércio de Oliveira.

O projeto revoga o art. 294 da Lei n. 6.404/76 (LSA) e o substitui pelos arts. 294-A a 294-J, para criar o Regime Especial da Sociedade Anônima Simplificada (RE-SAS). Trata-se de uma disciplina especial e eletiva, aplicável a sociedades anônimas com patrimônio líquido não superior a R$ 100 milhões.

O RE-SAS decorre de uma iniciativa que visa a aperfeiçoar o modelo brasilei-ro de disciplina das sociedades, no particular, das formas societárias dedicadas à organização jurídica das pequenas e das médias empresas, que se ressentem, cre-mos, pela ausência de “vias de direito” compassadas aos importantes interesses que gravitam no seu entorno.

O RE-SAS tem por finalidade prover, às pequenas e às médias empresas, or-ganização jurídica por meio de forma societária de disciplina consolidada, que se sujeita, no âmbito do seu regramento especial, a um manejo simples e barato, sem prejuízo da certeza e da segurança jurídicas. Não despreza, nessa missão, a hete-rogeneidade das culturas e das práticas empresariais no Brasil. Pretende, por isso, promover essas funções sob a elogiável e consolidada matriz disciplinar das socie-dades anônimas brasileiras, no âmbito da LSA. O RE-SAS finda, em última análi-se, por atribuir um amplíssimo espectro de utilidades às sociedades anônimas brasileiras, habilitando-as a disciplinar a organização empresarial em todas as suas dimensões, por meio de uma facilitada transição entre as várias dimensões da empresa em desenvolvimento. Nesse particular, em que o mote é o crescimento, o RE-SAS disponibiliza, às pequenas e às médias empresas, as mesmas técnicas de financiamento concebidas para a grande empresa, mas sem os custos que o em-prego desse aparato enseja em sua concepção original.

O livro se divide em três capítulos, aos quais se seguem Considerações Finais dos autores. Por último, em Anexo, foram compiladas as tabelas e os gráficos citados ao longo da obra, cuja função é trazer elementos quantitativos à reflexão proposta.

O Capítulo I demonstrará que um dirigismo estatal dificulta a organização e o exercício das pequenas e das médias empresas no Brasil1. Trata-se, por certo, de

1 A palavra “dirigismo”, em geral, refere-se a qualquer intervenção do Estado; a auto-nomia privada, nesse sentido, não é ausência de Estado, pelo que sua concreção depen-

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uma intervenção, que se funda no louvável desejo de prover segurança, certeza e, sobretudo, equidade material nas operações econômicas, mas que é, em grande medida, incompatível com as realidades da empresa emergente. Essa intervenção enrijece a disciplina das relações societárias, submetendo-as a uma estandardiza-ção, que é incompatível com as particularidades sempre cambiantes de cada ativi-dade e os esquemas jurídicos destacados à sua organização. Faz-se acompanhar da imposição de formalidades e de protocolos, para o bem da segurança e da certeza que pretende promover, os quais invariavelmente aumentam os custos de organi-zação da empresa. Os custos altos são, de todo o modo, incompatíveis com a empresa emergente.

Nesse capítulo, ainda, ressalta-se a importância das pequenas e das médias empresas à geração de empregos, de riquezas e ao desenvolvimento econômico em geral. Quando o Estado é incapaz de prover justiça social e equânime distribui-ção de renda, deve, ao menos, permitir que os cidadãos empreendam, que se or-ganizem na busca de seu sustento e da afirmação de suas potencialidades.

O RE-SAS considera a “heterotipia” como uma característica das sociedades anônimas, que revela a sua ampla flexibilidade e, portanto, a sua vocação para organizar empresas de diversas dimensões. O desempenho pleno dessa vocação não prescinde de ajustes que sujeitam a forma societária a regimes societários, distintos por especialização. A LSA já abriga ao menos dois regimes, o das com-panhias fechadas e o das abertas; o RE-SAS promove uma extensão dessa ampli-tude regulatória da companhia, enquanto forma societária, por meio da articulação de mais um regime, de modo a transformá-la em uma forma societária de amplís-simo espectro. E isso se dará, aprovado o Projeto de Lei n. 4.303/2012, por meio de modificação “cirúrgica”, muito pouco invasiva, e que submete as pequenas e as médias empresas a uma disciplina jurídica elogiável, porque conhecida em seus contornos essenciais e bastante consolidada, mas também, sob o RE-SAS, particu-larmente barata e descomplicada.

O Capítulo II expressa o objeto e as principais características do Projeto de Lei n. 4.303/2012 e, portanto, do Regime Especial da Sociedade Anônima Simpli-ficada, quais sejam: (i) os critérios de inclusão e de exclusão; (ii) a unipessoalidade; (iii) a diminuição de custos de publicidade e o aumento de publicidade; (iv) a fle-xibilização dos processos de formação das deliberações sociais; (v) a distribuição desproporcional de dividendos; (vi) o barateamento e a desburocratização da es-trutura administrativa; (vii) a remuneração dos administradores; e (viii) a amplia-

de do poder estatal. Aqui, referimo-nos, portanto, a um tipo de intervenção, que deve ser preterido em favor de outro, por conta dos efeitos que devem ser pretendidos, se-gundo parâmetros de uma dada política do direito.

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ção da autonomia privada em matéria de autorregramento do direito de recesso e de exclusão “administrativa” de acionista.

O Capítulo III traz ao leitor uma descrição geral de outras tentativas, que se passam fora do Brasil, à proposição de soluções capazes de superar a reinante impropriedade dos atuais modelos regulatórios das pequenas e das médias empre-sas. Essa descrição permite não apenas caracterizar o problema como um fenôme-no generalizado, mas também comparar as técnicas empregadas pelo RE-SAS, uma solução genuinamente brasileira, com experiências estrangeiras.

Os autores, por fim, concluem que o RE-SAS é capaz de especializar as com-panhias elegíveis e aderentes para transmudá-las em forma societária que se ca-racteriza como segue: (i) constituição simples e barata, por pelo menos um acio-nista (pessoa f ísica ou jurídica); (ii) responsabilidade limitada; (iii) diminuição dos custos de administração; (iv) aumento de publicidade conjugado à diminuição dos custos de publicidade; (v) livre cessibilidade das participações societárias; (vi) ampla autonomia privada para regular: (a) estruturas da sociedade; (b) relações entre acionistas; (c) recesso; (d) exclusão de acionista; (e) remuneração de admi-nistradores; (f) divisão de lucros; (vii) acesso a todas as técnicas de financiamento da sociedade anônima; (viii) plena adequação às vias de acesso ao mercado de capitais.

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CAPÍTULO IO NECESSáRIO ApERfEIÇOAMENTO DA ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-SOCIETáRIA DAS pEQUENAS E DAS MÉDIAS EMpRESAS BRASILEIRAS

1. UMA INTERvENÇÃO REfORMISTA NO DIREITO SOCIETáRIO BRASILEIRO

Muito se disputa sobre o que o direito deve ser. Todas as afirmações a esse respeito são opiniões, mais ou menos influentes. Quase todas essas opiniões pre-tendem um efeito; tratam de inspirar transformações no que o direito é, na espe-rança de mudar o mundo, naquilo em que o mundo decorre do direito2. As opiniões neste livro, nisso, não são diferentes: querem mudar o direito.

2. A NECESSáRIA IDENTIfICAÇÃO DO NEXO ENTRE AS IMpROpRIEDADES NA MATRIZ REGULATóRIA DO DIREITO SOCIETáRIO BRASILEIRO E AS SOLUÇÕES pROpOSTAS

O livro trata de uma proposta de intervenção no estado do direito societário brasileiro. Pretende transformá-lo, porque conclui que a modificação é útil e pouco invasiva. A conclusão, contudo, não prescinde de justificativa. A justificativa deve-se fundar, de um lado, na identificação de defeitos no nosso modelo atual de disciplina do fenômeno societário e, de outro, na explicação dos motivos que permitem afir-mar que as modificações sugeridas são capazes de resolver o problema.

Apenas a afirmação desse nexo, que se estabelece entre as anunciadas impro-priedades e os mecanismos de correção, justificará o esforço legislativo que aqui se pretende3.

2.1. A DESCRIÇÃO PRÉvIA DO ESTADO DO DIREITO SOCIETÁRIO

É conveniente que a identificação das impropriedades parta de uma descrição do estado atual do direito societário, como fenômeno global. Essa descrição, para o bem da clareza, pressupõe uma afirmação histórico-dialética dos pontos de in-

2 Por todos, sobre o papel transformador do intérprete, cf. TARELLO, Giovanni. L’Interpretazione della legge. Milano: Giuffrè, 1980. p. 35 (Trattato di diritto civile e commerciale, v. 1, t. 2).3 O processo legislativo, sob a justificativa do escritor político ou jurídico, é a mais legítima e democrática forma de alterar o estado do direito.

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flexão, que se sucedem em fases, capazes de explicar as razões pelas quais o fenô-meno estudado tornou-se o que é. O direito societário brasileiro, nesse passo, acompanha essa generalizada descrição, ou se desvia dela. Isso torna possível, em que pese a importância das suas particularidades, descrevê-lo, e, em alguma me-dida, contextualizá-lo no fluxo de um fenômeno geral entranhado nos processos civilizatórios4. Essa análise poderá revelar alguns equívocos do modelo regulatório brasileiro e, desse modo, prenunciar o que se espera de uma proposta correção.

2.1.1. Alguns pontos de inflexão: umA descrição histórico- -diAléticA

A disciplina das sociedades aparece e se desenvolve sob a inspiração de valo-res e de finalidades cambiantes. A observação do passado permite identificar, por hipótese, padrões evolutivos do direito societário. A caracterização e a descrição desses padrões, quando historicamente contextualizados, revelam fases, em razão do destaque de certos novos acontecimentos à remodelagem do estado anterior do direito. A análise desses momentos (r)evolucionários, e de todos os fatores que concorreram à sua ocorrência, permite arriscar prognósticos acerca do que o di-reito societário será no futuro. Esse é o tipo de reflexão que dá espaço a interven-ções teóricas. São opiniões e propostas que atritam com o fluxo previsível dos processos histórico-evolutivos. No extremo, as intervenções teóricas persuadem o legislador ou o intérprete-judicante a mover os pesados mecanismos de trans-formação do direito. Em caso de bom sucesso, teoria e prática se compassam na dimensão sociológica do direito. Uma mudança de rumo caracteriza ruptura na-quele processo evolutivo que se sujeitou à intervenção: o direito mudou5.

2.1.2. os pontos de inflexão essenciAis à construção do direito societário moderno

É possível distinguir alguns momentos de inflexão no desenvolvimento do direito societário, assim considerado como uma instituição perene, que se alinha

4 Cf. GOLDSCHMIDT, Levin. Storia universale del diritto commerciale. Torino: UTET, 1913.5 Para a ideia de instituição e de evolução institucional, sob o ponto de vista de um institucionalismo jurídico, cf. DUGUIT, Léon. Le droit social, le droit individuel et la transformation de l’Etat. 3ème éd. Paris: Felix Alcan, 1922; Id. Le transformations géné-rales du droit privé depuis le Code Napoléon. 2ème éd. Paris: Felix Alcan, 1920; Id. Les transformation du droit public. 2ème éd. Paris: Armand Colin, 1921; RENARD, Georges. La théorie de l’institution. Paris: Sirey, 1930; HAURIOU, Maurice. Teoria dell’istituzione e della fundazione. Milano: Giuffrè, 1967.

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à composição da civilização ocidental capitalista. Todos esses momentos são mar-cados por um evento, por uma invenção ou por uma prática emblemática, que influem drasticamente na caracterização da porção de direito objetivo que o direi-to societário representa.

A redução de um conjunto intrincado de fenômenos, em fluxo e transforma-ção constantes, para caracterizar momentos inflexivos, é, de todo o modo, uma técnica de descrição por aproximação. O estabelecimento desses padrões despre-za regionalismos e aceita a supremacia de um modelo ocidental e capitalista de direito societário, para o qual, pressupõe-se, convirja a esmagadora maioria dos ordenamentos nacionais.

A passagem de uma fase a outra não importa, por certo, uma completa rup-tura. Muitos elementos estruturantes (que definem o direito societário como ramo autônomo do direito) sobrepõem-se, em camadas, fase a fase, para formar um amálgama em que devem predominar os traços da última fase. Seria impertinente, aqui, descrever detalhadamente cada uma dessas etapas. Uma referência superficial é útil, contudo, para esclarecer o paradigma sobre o qual se pretende intervir6.

A evolução do direito societário pode ser rememorada por alusão: (i) ao pro-todireito societário: compropriedade afetada por fins econômicos; (ii) a uma fase privatista; (iii) à fase de gestão pública de externalidades: limitação de responsabi-lidade e privilégio; (iv) ao financiamento massivo da macroempresa societária e o aparecimento do princípio majoritário; (v) à fase publicista e à “popularização societária”, com a criação da pequena anônima; (vi) à de tutela de interesses trans--societários; e (vii) à fase de regulação de mercados.

(i) O protodireito societário: compropriedade afetada por fins econômicos

As estruturas mais elementares do direito societário surgiram, segundo a hi-pótese mais provável, pela afetação empresarial da compropriedade. Isso se deu, em princípio, quase por acidente, na Roma antiga, com o emprego econômico de bens componentes de condomínio indiviso entre herdeiros, o ercto non cito, e, em seguida, pela criação de uma fórmula (uma “via de direito”) capaz de reproduzir, entre estranhos, e em razão da manifestação de sua vontade, os mesmos efeitos jurídicos desse condomínio acidental7. Aí estão elementos essenciais ao fenômeno societário: pessoas, vontade, patrimônio (universalidade de bens e de direitos), afetação econômica e comunhão de resultados.

6 Essa é, afinal, a tarefa própria da História, como permite concluir Bloch. Cf., BLOCH, Marc. Apologia da história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.7 Cf. DALLA, Danilo; LAMBERTINI, Renzo. Istituzioni di diritto romano. 2. ed. Torino: Giappichelli, 2001. p. 269.

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(ii) Fase privatista

A expressão da autonomia dos contraentes e a plasticidade do direito privado permitiram, ao tempo da revivescência do comércio, na Idade Média, o apareci-mento das formas societárias moldadas pelos juristas de época, essencialmente em atenção aos interesses particulares envolvidos. Nesse período, entre os séculos XII e XV, são consolidadas técnicas históricas de limitação de responsabilidade de algumas classes de sócios, o que mais tarde (já nos séculos XVI e XVII) iria esten-der-se a todos os sócios, com a invenção da sociedade por ações. Essa técnica de mitigação de responsabilidades e de riscos permitiu que as sociedades por ações se afirmassem como a forma societária propícia à atração massiva de capitais ao financiamento e, portanto, ao exercício da macroempresa8.

(iii) A gestão pública de externalidades: limitação de responsabilidade e privilégio

A sociedade por ações se constrói modelarmente como uma máquina dedi-cada à inversão e à geração de riquezas9. Os acionistas concentram, quando do aparecimento da sociedade acionária, em si, todos os interesses da sociedade, aos quais se rende o Estado. A ideia por trás da grande sociedade era, portanto, maxi-mizar riquezas aos acionistas e, ao mesmo tempo, conter seus riscos, por meio da externalização de custos sociais10. Essas benesses, contudo, eram privilégio de alguns poucos, autorizados – por meio de leis e decretos governamentais – a constituir sociedades e a exercer a macroempresa. O privilégio se justificava, até os meados do século XIX, de um lado, pelo interesse público no exercício privado de deter-minadas atividades estratégicas11, com elevados custos de entrada, e, de outro lado, por um modelo de governo baseado na regra de um voto por cabeça, que sujeita-va a companhia a uma efetiva democracia acionária12.

8 Cf. MONTANARI, Massimo. Impresa e responsabilità: sviluppo storico e discipli-na positiva. Milano: Giuffrè, 1990.9 Cf. COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos jurídicos da macroempresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970.10 Cf., por todos, COASE, R. H. The problem of social cost. The Journal of Law and Economics, University of Chicago Law School, Chicago, v. 3, p. 1-44, Oct. 1960.11 Cf. COOKE, Colin Arthur. Corporation, trust and company: an essay in legal history, Manchester: Manchester University Press, 1950.12 Cf. DUNLAVY, C. A. Corporate governance in late 19th – Century Europe and U.S. The Case of Shareholder Voting Rights. In: HOPT, K. J. et al. (Eds.). Comparative cor-porate governance: the State of the art and emerging research. Oxford: Oxford Univer-sity Press, 1998. p. 17.

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(iv) O financiamento massivo da macroempresa societária e o aparecimento do princípio majoritário

No período seguinte, tornaram-se mais e mais complexas as relações e os controles internos (intra e interestruturais) e prenunciaram-se conflitos de agência13,

13 O termo “conflito de agência” representa um desdobro conceitual da ideia de custos de transação, e se repete neste texto, pelo que se justifica uma breve explicação. A moderna teoria dos custos de transações fundou-se no The Nature of the Firm, trabalho seminal de Ronald Coase que, mais tarde, inauguraria o Law and Economics como subdisciplina que propõe a completa sobreposição das reflexões sobre direito e econo-mia. Cf. COASE, R. H. The nature of the firm (1937). In: WILLIAMSON, Oliver E.; WINTER, Sidney G. (Eds.). The nature of the firm: origins, evolution, and development. New York; Oxford: Oxford University Press, 1933. p. 18-33; Id. The problem of social cost, cit., p. 1-44 e CALABRESI, G. Some Thoughts on risk distribution and the law of torts. The Yale Law Journal, Yale Law Journal Company, New Haven, v. 70, p. 499-553, 1961. Partindo de casos de conflito entre vizinhos, em que um produz ruído incômodo ao outro, Coase explica o conceito de custos sociais ou externos (external costs ou social costs) e a ideia de alocação eficiente de recursos por meio da negociação. Tradicional-mente, uma regra de direito seria criada para suprimir o ruído e, portanto, seu custo social. Coase demonstrou, entretanto, com base em exemplos tirados do common law, que, nesses casos, as pessoas tendem a negociar (assumindo e permutando custos em favor de seus interesses, i.e., transactions costs) para promover uma alocação eficiente de recursos. A tutela de um bem jurídico (ruído ou silêncio) pela norma, a despeito de influir na distribuição da renda, não afasta nem a negociação, nem a alocação eficiente dos recursos. É importante compreender, todavia, até que ponto essas conclusões afetam a empresa como uma forma de organização econômica. Em seu trabalho sobre a natu-reza da empresa, Coase argumenta que, na situação em que são ausentes os custos de transação, a estrutura organizacional da empresa seria indeterminada e não haveria mesmo razões para sua existência. Isso significa que a empresa, como organização econômica, é instrumento que, inserto em um contexto em que há custos de transação, dedica-se a determinar uma alocação eficiente de recursos. Outros textos clássicos dessa disciplina, a exemplo dos trabalhos de Alchian e Demsetz, além de confirmar a assertiva de Coase, têm na empresa o ponto de ligação de um feixe de contratos (nexus of contracts). Cf. ALCHIAN, Armen A.; DEMSETZ, Harold. Production, information costs, and economic organization. The American Economic Review, American Economic Association, Nashville, v. 62, p. 777-795, Dec. 1972. Jensen e Meckling, desenvolvendo as mesmas ideias, chegam a uma theory of the firm, em que a empresa pode ser o “agen-te” (the agent) em um feixe de agency relationships. Cf. JENSEN, M.; MECKLING, W. Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economics, Amsterdam: North Holland, v. 3, p. 305 et seq., 1976. O artigo foi reproduzido também em ROMANO, Roberta (Ed.). Foundations of corporate law. New York, NY: Foundation Press, 1993. p. 7-12. Os principals, cujos interesses o agent “representa”, são acionistas e demais constituency groups (e.g., trabalhadores, consumi-dores e, haja vista a função social da empresa, toda a sociedade). Há, contudo, boas razões para crer que o agent nem sempre agirá no melhor interesse dos principals. Estes, por

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multiplicados, por certo, com o advento do princípio majoritário, na transição entre a macroempresa societária de financiamento eminentemente privado para a de financiamento público (i.e., por meio de apelos à poupança privada do público anônimo).

(v) A fase publicista e a popularização societária com a criação da pequena anônima

Seria apenas nesse momento, no final do século XIX, que o direito societário, com quase oito séculos de existência, voltaria suas atenções para os pequenos e médios negócios e, em especial, para a importância de fomentá-los14. Surgiu, na Alemanha, em 1892, a sociedade limitada, concebida, diga-se de passagem, como a “pequena anônima”, sob a pretensão de que seria capaz de incrementar a econo-mia alemã, promovendo, no geral, o empreendedorismo, por meio de uma facili-tação à entrada e à permanência de novos operadores nos mercados15.

(vi) A tutela de interesses trans-societários

As limitadas popularizaram, difundidas entre inúmeros ordenamentos nacio-nais, a atividade empresarial e as suas técnicas societárias de organização, para

sua vez, para evitar o conflito, criam incentivos ao agent, inclusive pagando (bonding costs) para que ele não aja de maneira danosa aos seus interesses, ou para que, havendo dano, indenize-os. Assumem, também, custos no monitoramento das atividades do agent. Sendo impossível assegurar, sem custos de transação, que o agent tomará boas decisões na opinião dos principals, estes, então, além dos monitoring and bonding costs, irão compor os custos do agency relationship, o equivalente em dólar à redução de welfare experimentada pelo principal em razão da divergência de opinião acerca das decisões tomadas.14 cf. LUCIANO, Juan. Sociedades de responsabilidade limitada. Buenos Aires: Jurí-dica, 1927; BRUNETTI, Antonio. Tratatto del diritto delle società. 2. ed. Milano: Giuf-frè, 1948. v. 1; MELO, Inácio de Barros. História e Constituição das sociedades de res-ponsabilidade limitada. Recife: Diário da Manhã, 1950; SOLA CAÑIZARES, Felipe de; AZTIRIA, Enrique. Tratado de sociedades de responsabilidad limitada en derecho ar-gentino y comparado. Buenos Aires: Ed. Argentina, 1950. t. 1; ESCARRA, Jean; ESCAR-RA, Édouard; RAULT, Jean. Traité théorique et pratique de droit commercial: les socié-tés commerciales. Paris: Sirey, 1950. t. 1; PEIXOTO, Carlos Fulgêncio da Cunha. As sociedades por cotas de reponsabilidade limitada: doutrina, jurisprudência, legislação e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1956. v. 1; MARTINS, Fran. Sociedades por quotas no direito estrangeiro e brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1960. v. 1; RODRÍGUEZ, Joaquín. Tratado de sociedades mercantiles. 4. ed. México: Porrúa, 1971. t. 2.15 Cf. ENTWURT eines Gesetzes betreffend die G.m.b.H. Reichstag, 8ª legislatura, 1ª sessão, n. 660, 1890-1892.

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marcar uma epifania do regulador, consciente, então, de que a disciplina da em-presa societária seria técnica eficiente de intervenção estatal na economia16. Essa lógica caracteriza as certezas de quase toda a primeira metade do século XX.

O legislador concluiu, em verdade, que dispunha de uma conveniente técnica de intervenção, mas, antes disso, ganhou consciência do interesse de intervir, que marcaria uma crescente publicização do direito societário.

O nacionalismo e o surgimento de regimes totalitários nas primeiras décadas do século XX proveram combustível ideológico ao contágio da disciplina das so-ciedades e da empresa por interesses que, comparados com aqueles que origina-riamente habitavam o interior da organização, seriam interesses trans-societários17. A falência do institucionalismo publicista, no pós-guerra, deixaria marcas, nota-damente à concepção de “modelos de governo”, mais ou menos influentes desde a década de 1940, alicerçados em um conceito de interesse da companhia, capaz de abranger os interesses do Estado e de alguns dos grupos de detentores-fornecedo-res de recursos que gravitam no entorno da companhia18.

(vii) A fase de regulação de mercados

O Estado que regula a empresa se transmuda, pela empresa, em agente de mercado, inspirado por políticas públicas. Nesse passo, rendeu-se o direito socie-tário, até então majoritariamente sujeito à privatística e, portanto, à autonomia privada, aos interesses e à direção estatal19. Uma direção estatal que se manifesta

16 Cf. SCHOLZ, Franz. Kommentar zum GmbH-Gesetz: mit Nebengesetzen und den Anhängen Konzernrecht Sowie Umwandlung und Verschmelzung. 7. Aufl. Köln: O. Schmidt, 1988. S. 82 et seq.17 Cf. ENDEMANN, Wilhelm. Das Deutsche Handelsrecht. Systematisch dargestellt von Wilhelm Endemann. 2. Auf. Heidelberg: Bangel & Schmitt, 1868; OHMEYER, Camillo von. Das Unternehmen als Rechtsobjekt: Mit einer systematischen Darstellung der Spruchpraxis betreffend die Exekution auf Unternehmen. Wien: Manz, 1906; PISKO, O. Das Unternehmen als Gegenstand des Rechtsverkers. Wien: Manz, 1907; RATHENAU, Walther. Vom Aktienwesen: Eine Geschäftlische Betrachtung. Berlin: Fischer Verlag, 1917; NETTER, Oskar. Zur aktienrechtlichen Theorie des ‘Unternehmens na sich. JWI, Jena, S. 2953-2956, 1927; HAUSMANN, Frederick. Vom Aktienwesen und vom Aktien-recht. Mannheim: Bensheimer, 1929; RIECHERS, Arndt. Das “Unternehmen an Sich’”. Tübingen: J.C.B. Mohr (Paul Siebeck), 1996. 18 Cf., nesse sentido, JORGE WARDE JR., Walfrido. Qual o modelo de governança corporativa que exsurge da disciplina das reorganizações societárias no Brasil? In: ______ (Coord.). Fusão, cisão, incorporação e temas correlatos. São Paulo: Quartier Latin, 2009. p. 130-178.19 Para uma história das origens do momento que caracteriza uma inflexão do direito societário à regulação dos mercados, cf. BONBRIGHT, James C. Railroad capitalization:

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remotamente. As relações entre Estado e empresa são mediadas pela companhia e, no particular, por sua disciplina. O Estado empreende, portanto, dizendo à so-ciedade e, antes dela, aos sócios, o que devem e como devem querer; comunica-os pelo direito societário20. Nesse diapasão, surgiram os já referidos “modelos de governo” da grande companhia, para relativizar o princípio majoritário e emascu-lar o controlador21. Os poderes no âmbito da companhia, no contexto desses modelos, foram transferidos, em alguns casos, para a administração, mais propen-sa – sob os seus deveres fiduciários – a se submeter aos rigores da lei22. Em países onde os mercados de capitais eram imaturos, onde a pulverização acionária, condição dessa transferência de poder do controlador para a administração, era mais dificultosa, o controlador, para além de ser sistematicamente demonizado, foi submetido a deveres de amplíssimo objeto, cujo cumprimento se submeteu ao juízo subjetivo do intérprete-judicante. Esse aparato legal, dedicado à dominação indireta da grande empresa, iria alinhá-la a muitos interesses; e, sob essa lógica, o direito societário passou a conferir eficácia interna a relações externas, para tutelar interesses dos múltiplos constituencies: os grupos de interesses que gravitam no entorno da macroempresa societária23.

a study of the principles of regulation of railroads securities, studies in history, economics and public law. New York: Longmans, Green & Co., Agents, London: P. S. King & Son, 1920 (Edited by the Faculty of Political Science of Columbia University, v. 95, n. 1).20 Para o maior exemplo, entre nós, dessa lógica regulatória, cf. COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1976.21 Sobre a aniquilação seletiva do poder de controle societário, cf. JORGE WARDE JR., Walfrido. Os poderes manifestos no âmbito da empresa societária e o caso das in-corporações: a necessária superação do debate pragmático-abstracionista. In: MON-TEIRO DE CASTRO, Rodrigo R.; MOURA AZEVEDO, Luís André (Coords.). Poder de controle e outros temas de direito societário e mercado de capitais. São Paulo: Quar-tier Latin, 2010. p. 56-83.22 Cf. BERLE, A.; MEANS, G. The modern corporation and private property. Chicago: Commerce Clearing House, 1932. p. 86 et seq.; DOUGLAS, William O. Directors who do not direct. Harvard Law Review, v. 47, n. 8, p. 1315, 1934.23 Cf. SANDROCK, O.; DU PLESSIS, J. J. The German corporate governance model in the wake of company law harmonisation in the European Union. The Company Law-yer, v. 26, p. 88, 2005; ULMER, P.; HABERSACK, M.; HENSSLER, M. Mitbestimmungs-recht. Munich: C. H. Beck, 2006; DU PLESSIS, J. J.; SANDROCK, O. The rise and fall of supervisory codetermination in Germany? International Company and Commercial Law Review, v. 16, p. 67, 2005. Para uma primeira reflexão acerca de possível convergência para um modelo de governo capaz de transcender preocupações com quaisquer grupos de interesses, para além dos acionistas, cf. HANSMANN, H.; KRAAKMAN, R. The end of history for corporate law. In: ROE, Mark J. (Ed.). Corporate governance: political and

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Esse pesado dirigismo, que o mais das vezes se sustentou a pretexto da tutela dos investidores24, foi naturalmente financiado pela pujança da grande companhia. A magnífica capacidade de gerar riquezas, aliada ao comportamento previsível e mesmo burocrático das gigantescas organizações, não se ressentiu tanto da pesada mão do Estado, quanto padeceram, sob o seu toque massacrante, as pequenas e médias organizações, em alguns casos, como o brasileiro, indistintas pelo direito societário.

O direito societário contemporâneo, no Brasil, afirma-se à tutela de inúmeros interesses públicos, transindividuais e individuais, mas, sobretudo, como elemen-to estrutural, essencial à existência e ao bom funcionamento dos mercados. Sem direito societário não há sociedades; as sociedades são a forma precípua de orga-nização da empresa; sem empresa não há mercado e, portanto, não há mercado sem sociedades e sem direito societário25.

3. A AUSÊNCIA DE UMA DISCIpLINA ADEQUADA à ORGANIZAÇÃO JURÍDICO-SOCIETáRIA DAS pEQUENAS E DAS MÉDIAS EMpRESAS NO BRASIL

Essa lógica, que caracteriza a fase de regulação de mercados, e que bem ex-

legal perspectives. Oxford: Oxford University, 2005. p. 439 et seq. E, ainda, a opinião contrária, mas influente, de BLAIR, Margret M. Ownership and control: rethinking cor-porate governance for the twenty-first century. Washington: The Brookings Institution, 1995.24 Nesse sentido, cf. CHEEK, III, James H. Approaches to market regulation. In: ODITAH, Fidelis (Ed.). The future for the global securities market: legal and regulatory aspects. Oxford: Clarendon Press, 1996. p. 245 et seq.; DALE, Richard. Risk and regula-tion in global securities markets. Chichester; New York; Brisbane; Toronto; Singapore: John Wiley & Sons, 1996; FERRARINI, Guido. Exchange governance and regulation: an overview. In: ______ (Ed.). European securities market: the Investment Services Direc-tive and Beyond. London: Kluwer Law International, 1998; JOHANNING, Lutz; RU-DOLPH, Bernd. Handbuch Risikomanagement: Risikomanagement für Markt, Kredit: und operative Risiken. Bad Soden: Uhlenbruch Verlag, 2000. Band 1; FERRARINI, Guido. Securities regulation and the rise of pan-European markets: An overview. In: FERRARINI, G.; HOPT, Klaus; WYMEERSCH (Eds.). Capital markets in the age of Euro: cross border transactions, listed companies and regulation. The Netherlands: Kluwer Law International, 2002. p. 241 et seq.; FILIPOVA, Tatyana. The concept of integrated financial supervision and regulation of financial conglomerates in Germany and the United Kingdom. In: BASEDOW, Jürgen; HOPT, Klaus J.; ROTH, Wulf-Henning (Hrsg.). Europäishes Wirtschaftsrecht. Baden-Baden: Nomos, 2007. Band 48.25 Cf. IRTI, Natalino. L’ordine giuridico del mercato: libri del tempo. Bari: Laterza, 1998. p. 39.

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plica o estado atual do direito societário brasileiro, permite concluir por uma rara e muitas vezes claudicante distinção das organizações societárias segundo o seu tamanho, a sua complexidade e a sua natureza. Obcecados por domesticar a ma-croempresa, o Estado e o legislador brasileiros se olvidaram da pequena e da média empresa, submetendo-as, na ausência de melhor destino, ao regramento das grandes, senão a um arremedo dessa disciplina. Foi esse, aliás, o destino das nossas limitadas, sujeitas, com o advento da Lei n. 10.406/2002 (“Código Civil”), a inex-plicáveis amarras e insuperáveis incoerências.

Isso tudo é evidentemente impróprio se o que se quer é prover meios ao em-preendedorismo no Brasil. O direito, nesse cenário, é obstáculo e, por certo, dis-suade a livre entrada, permanência e mesmo a saída de pequenas e de médias so-ciedades empresárias no mercado.

4. A pERMEABILIDADE DO DIREITO E A NECESSáRIA ATENÇÃO AOS pROBLEMAS BRASILEIROS: A ADEQUADA ADApTAÇÃO DE INSTITUIÇÕES CONSOLIDADAS A NOvAS REALIDADESO direito societário brasileiro, para além de tudo o que já se disse, é muito

marcado, mesmo que não uniformemente, pela submissão aos influxos técnico- -jurídicos e político-ideológicos de todos os momentos de inflexão referidos. É justamente uma permeabilidade a quaisquer influências, raramente submetida a critérios de seleção (que considerem o que de fato nos interessa), outro objeto de crítica. A mímica reverencial de técnicas e de tendências estrangeiras pode levar, e não raro leva, a um descompasso entre a disciplina jurídica e o fenômeno disci-plinado. Muitas vezes, a “última palavra” em direito societário não faz qualquer sentido em língua portuguesa26.

Do mesmo modo, não há que se descartar completamente as boas instituições nacionais, a exemplo do que há de bom no nosso direito societário, quando atua-lizações se tornam necessárias. O melhor é adaptar instituições consolidadas a novas realidades: assim também se manifesta uma necessária criatividade institu-cional, mas com segurança.

5. O “pREÇO DO DIREITO”A intervenção estatal na atividade econômica, para a implementação de polí-

ticas públicas, é um padrão frequente na história do direito societário. E não po-

26 Não nos são desconhecidos os problemas decorrentes dos chamados legal trans-plants, principalmente pela adoção de modelos e regras, por países em desenvolvimen-to, emprestadas de países desenvolvidos, desconsiderando-se as profundas diferenças entre realidades econômicas. Cf. BUSCAGLIA, Edgardo; RATLIFF, Willian. Law and economics in developing countries. Stanford: Hoover Institution Press, 2000. p. 13 et seq.

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deria mesmo ser diferente, o direito societário se resume, desde os seus primórdios, por “vias de direito” ao exercício da atividade econômica. Se o direito permite e pavimenta caminhos a essa atividade, é porque a deseja. Necessário, todavia, ajus-tar a técnica de intervenção às finalidades pretendidas.

Um equivocado discurso afirma que tudo o que se faz, fora de um modelo radicalmente intervencionista, é ausência de regulação. Isso não é verdade, sobre-tudo no que concerne às pequenas e às médias empresas societárias.

O direito, nesse contexto, deve cuidar para que a entrada, a permanência e a saída dos empresários nos mercados se deem de modo facilitado, pela constituição e pelo manejo simples e barato das formas societárias disponíveis. Os interesses de supervisão estatal não se podem concretizar ao custo do absoluto desincentivo à organização e ao exercício da empresa ou, o que é pior, do seu desaparecimento27. Não é acertado um modelo regulatório, que pretende controlar o fenômeno em-presarial, mas que finda por determinar a sua rarefação e, na pior das hipóteses, o seu desaparecimento28.

Esse modelo também não se justifica sob o pretexto da tutela de interesses individuais e coletivos, na linha geral de fundamentação do Estado. O Estado se justifica pelo conflito29; a intervenção do Estado se autoriza para neutralizar a oposição, atual ou potencial de interesses, que enseja o conflito. O temor do con-flito, que se crê insolúvel sem o Estado, estimula uma frouxidão de impulsos de autodeterminação do indivíduo e mesmo de coletividades, em preferência à pron-

27 Vale atentar para os fundamentos da chamada “regulação privada” e para os estudos, que, nesse sentido, autorizam as nossas assertivas. Cf. LÉGAL, Alfred; GRESSAYE, Jean Brethe de la. Le pouvoir disciplinaire dans les instituitions privées: son organisation et sés effects dans les associations, syndicats, societés, enterprises, profissions – étude de sociologie juridique. Paris: Sirey, 1938. p. 18 et seq.; MOREIRA, Vital. Autorregulação profissional e administração pública. Coimbra: Almedina, 1997. p. 52 et seq.; CAFAGGI, Fabrizio (Ed.). Reframing self-regulation in European private law. The Netherlands: Kluwer Law International, 2006.28 Nesse sentido, cf. AYRES, Ian; BRAITHWAITE, John. Responsive regulation: trans-cending the regulation debate. New York; Oxford: Oxford University Press, 1992. p. 158 et seq.; GART, Alan. Regulation, deregulation, reregulation: the future of the banking, insurance and securities industries. New York; Chichester; Brisbane; Toronto; Singapu-re: John Wiley & Sons, 1994. p. 375 et seq.29 As teorias contratualistas autorizam essa assertiva. Cf. HOBBES, Thomas. Leviatan. Peterborough, Ont.: Broadview Press, 2011; LOCKE, John. Two treatises of government: and a letter concerning toleration. Edited and with an Introduction by Ian Shapiro with essays by John Dunn, Ruth Grant and Ian Shapiro. New Haven, Conn.; London: Yale University Press, 2003; ROUSSEAU, J. J. Du contrat social, ou, essai sur la forme de la république: manuscrit du Genève. Sous la direction de B. Bachofen, B. Bernardi, G. Olivo. Paris: Librairie philosophique J. Vrin, 2012.

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tidão dos aparatos estatais de tutela. Isso tudo faz muito sentido quando o conflito é danoso, por suas dimensões, pelos interesses em jogo ou pelo risco de contágio e disseminação dos seus efeitos.

Os números brasileiros, que exibem milhões de empregos informais30, a prevalência quantitativa de pequenas e de médias empresas31, por oposição à durabilidade e o bom sucesso das grandes32, e uma intolerável e custosa buro-cracia registral permitem concluir que, entre nós, menos pode ser mais33.

30 Cf. nesse sentido, os indicadores do IBGE, quais sejam: (i) Pesquisa Industrial Men-sal de Emprego e de Salário. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Pes-quisa Industrial Mensal de Emprego e Salário. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/industria/pimes/tabelas_indicadores/pimes_201208_6.shtm>. Acesso em: 19 out. 2012; (ii) Conjunturais da Indústria Pessoal Ocupado Assala-riado – Agosto – 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Conjunturais da Indústria Pessoal Ocupado Assalariado – Agosto – 2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/industria/pimes/tabelas_indicadores/pi-mes_201208_3.shtm>. Acesso em: 19 out. 2012. E para um estudo analítico, cf., também, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Principais destaques da evolução do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa. IBGE, versão de 4-4-2012. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/retrospectiva2003_2011.pdf>. Acesso em: 19 out. 2012.31 Cf. os dados estatísticos da Tabela do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Departamento de Registro do Comércio – DNRC. Consti-tuição de empresas por tipo jurídico – Brasil – 1985-2005. Disponível em: <http://www.dnrc.gov.br/Estatisticas/caep0101.htm>. Acesso em: 19 out. 2012.32 Cf. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. As micro e pequenas empresas comerciais e de serviços no Brasil, IBGE, 2001 (Estudos & Pesquisas. Informa-ção Econômica). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/microempresa/microempresa2001.pdf>. Acesso em: 19 out. 2012, e, em particular, as tabelas das páginas 19, 21, 22, 24, 34, 36, 40, 46 et seq. Vale também observar os dados estatísticos da Tabela 1 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Tabe-la 1 – Empresas, pessoal ocupado total e assalariado em 31.12, salários e outras remu-nerações, salário médio mensal e idade média das empresas, segundo as seções da classificação de atividades e as faixas de pessoal ocupado total – Brasil – 2010. Dispo-nível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Demografia_das_Empresas/2010/tabela01.pdf>. Acesso em: 19 out. 2012. E, por último, mas essencial a essa reflexão, a Tabela 5 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Tabela 5 – Taxas de nascimentos, entradas, saídas e sobrevivência, de empresas e do pessoal ocupado assalariado em 31.12, segundo seção da classificação de atividades e as faixas de pessoal ocupado assalariado – Brasil – 2010. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Demografia_das_Empresas/2010/tabela01.pdf>. Acesso em: 19 out. 2012. Veja, também, a Tabela do Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Departamento de Registro do Comér-cio – DNRC. Extinção de empresas por tipo jurídico: Brasil, 1985–2005. Disponível em: <http://www.dnrc.gov.br/Estatisticas/Caep0123.htm>. Acesso em: 19 out. 2012.33 Cf., nesse sentido, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

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A formação de uma cultura de autorregramento privado, mesmo que cercea-da por limites que, segundo uma concepção de Estado prevalente no Brasil, seriam inegociáveis, parece preferível à rigidez paralisante do dirigismo em vigor, que se funda em um inglório exercício de adivinhação das necessidades e dos interesses particulares no exercício da pequena e da média empresa. Isso porque, na dúvida, o legislador, impaciente e desinteressado, simplesmente institucionaliza soluções inúteis e ilusoriamente seguras.

É certo que a autonomia privada, aplicada irrestritamente à disciplina de re-lações societárias, pode incrementar conflitos de agência34 e, com isso, institucio-nalizar um tratamento não equitativo, escorado na disparidade de meios e de in-formações eventualmente reinantes entre sócios; nesse ambiente, o direito deve cumprir a sua função de pacificação social35. Mas deve fazê-lo, em se tratando de conflitos ou de riscos menores, quando o indivíduo esgotou – sob gabaritos legais – todas as tentativas autônomas de solução.

O desafio regulatório é evitar, de um lado, a rigidez paralisante causada pela irrestrita publicização do direito societário e, de outro, que a equidade das relações jurídico-formais se sobreponha à igualdade das relações econômicas.

A solução do desafio não prescinde, contudo, que se assumam dadas premis-sas. A primeira e mais importante decorre da certeza de que os efeitos diretos do bom sucesso da empresa são desejáveis. A empresa, como atividade, é capaz de gerar riquezas. E o faz, por meio da apropriação lícita, organização e afetação de elementos de produção, em meio a uma mitigação de custos de transação36. A segunda premissa é de que as sociedades são formas precípuas de organização jurídica da empresa.

O que se propõe não é, por certo, a invulnerabilidade, em abstrato, dessas duas premissas, mas a sua invulnerabilidade circunstancial, para os fins da nossa reflexão neste livro, acerca de prof ícuas modificações no direito societário brasileiro, no particular, à disciplina das pequenas e das médias empresas societárias.

– MDIC. Departamento de Registro do Comércio – DNRC. Ranking das Juntas Co-merciais segundo Movimento de Constituição, Alteração e Extinção. Janeiro a dezembro de 2011. Disponível em: <http://www.dnrc.gov.br/Estatisticas/Ranking_2011%282%29.pdf>. Acesso em: 19 out. 2012.34 O dirigismo estatal, que tem na norma um de seus instrumentos, justifica-se, nes-ses casos, segundo o que professa a “Análise Econômica do Direito”, para mitigar os monitoring and bonding costs, e para facificar os agency relationships. Cf. nota 12 acima.35 Cf. KAUFMAN, Allen; ZACHARIAS, Lawrence; KARSON, Marvin. Managers vs. Owners: the struggle for corporate control in American democracy. New York: Oxford University Press, 1995.36 Cf. JENSEN, M.; MECKLING, W. op. cit.

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Vale, de todo o modo, uma explicação. A empresa enseja uma técnica desejá-vel de geração de riquezas, sob a ideia de eficiência37, que, no esquema de produção capitalista, está fundada na realização de trocas desiguais nos mercados, na aptidão e inaptidão seletivas e no crescimento tendentemente ininterrupto das economias.

As sociedades proveem a articulação dos elementos estruturantes de parte essencial dessa realidade; permitem: (i) a criação de uma subjetividade (de um centro de imputação), que se distingue invariavelmente dos sócios, e que é útil à realização de trocas nos mercados e, ainda mais, à assunção dos efeitos jurídico--econômicos dessas trocas; (ii) a formação de um patrimônio, constituído pela prestação de entradas de capital, onde se reservam as posições jurídicas ativas e passivas indispensáveis às tais trocas; (iii) o exercício da atividade empresarial, por

37 Fazemos referência ao conceito de eficiência lançado pela Escola de Chicago. O conceito parte da assertiva neoclássica de que os indivíduos são maximizadores racionais de seus benef ícios (ou utilidades). Cf. POSNER, Richard A. Economic analysis of law. 3. ed. Boston: Little, Brown & Co., 1986. p. 3. Daí por que, são previsíveis as respostas in-dividuais a específicos estímulos. A Escola de Chicago propõe, então, que seja garantida aos indivíduos a liberdade de perseguir seus interesses individuais compatíveis com os interesses dos outros indivíduos. Nesse sentido, assumem, de um lado, que todo o regra-mento ou ação individual – quando restringe a satisfação de interesses – impõe custos, e, de outro lado, que os envolvidos irão negociar entre si até acomodar – eficientemente – tais interesses frustrados. Essa perspectiva da maximização de benef ícios é transposta à coletividade para que a eficiência seja identificada como a maximização dos benef ícios sociais. É problemática, então, a decisão acerca de quais são e do limite dos interesses divergentes sacrificados. O ótimo de Pareto é uma das soluções empregadas, descreven-do a solução em que os recursos são alocados de modo que não se possa realocá-los sem que o benef ício de alguém importe no prejuízo de outrem. Cf. POLINSKY, M. An intro-duction to law and economics. Boston: Little, Brown and Company, 1983. p. 7 et seq. A solução final da Escola de Chicago, para definir um conceito de eficiência, foi o teorema de Kaldor-Hicks, segundo o qual é injusta uma solução apenas quando o ganho do favo-recido supera a perda do prejudicado. Tem-se, assim, por eficiência da limitação da responsabilidade sua função de promover benef ícios que não sejam maiores do que os prejuízos. Cf. COLEMAN, Jules L. Efficiency, utility and wealth maximization. Hofstra Law Review, Hofstra University School of Law, Hempstead, NY, v. 8, p. 509-539, 1980. Para explicações mais autorizadas e precisas do que a nossa, cf. STIGLER, George J. Law or economics? The Journal of Law & Economics, University of Chicago Law School, Chicago, v. 35, n. 2, p. 459, Oct. 1992; RICKETTS, Martin. The economics of business enterprise: an introduction to economic organisation and the theory of the firm. 2. ed. Cheltenhan: Edward Elgar, 2002. p. 425 et seq. O emprego do conceito econômico de eficiência (e suas inúmeras variantes) como parâmetro disciplinar é, todavia, relativizado por muitos autores. Cf. DWORKIN, Ronald. Why efficiency? In: KUPERBERG, Mark; BEITZ, Charles (Eds.). Law, Economics and Philosophy. New Jersey: Rowman & Allanheld, 1983. p. 123-140 e NUSSBAUM, Marta C. Flawed foundations: the philosophical critique of (a particular type of ) economics. The University of Chicago Law Review, University of Chicago Law School, Chicago, v. 64, p. 1197-1214, 1997.

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meio da qual se perseguem resultados, i.e., sobras positivas; (iv) um acesso indire-to dos sócios, por meio de direitos creditórios, aos resultados da atividade e, so-bretudo, (v) um acesso direto dos sócios, por meio de direitos políticos, ao poder de influenciar decisões e ações da sociedade, essenciais à satisfação dos direitos creditórios dos sócios.

O Estado e a comunidade administrada se servem de parte dos resultados produzidos pelos interesses egoísticos que movem esse maquinário, inventado e aperfeiçoado pelo direito ao longo de centenas de anos, e sob constante influência de influxos político-ideológicos. E esse aparato jurídico presta serviços à comuni-dade porque provê estruturas ao aparecimento de elementos que, essenciais, inte-gram sistemas econômico-sociais, na formação de mercados e na geração de rique-zas, que serão parcialmente distribuídas à comunidade, segundo variados critérios38.

Todas essas utilidades se esgotam se as sociedades, como disciplinadas pelo direito, ensejarem mais custos do que ganhos. Uma disciplina das pequenas e das médias empresas, que simplesmente reproduza o que se dá entre as grandes, des-preza o impacto dos custos nos ganhos, especialmente porque, nesse caso, há uma profunda disparidade de custos e de ganhos.

O direito tem “preço”. Uma disciplina jurídica que, demasiado custosa, difi-culte a constituição e a modelar utilização de sociedades e que, portanto, contenha o empreendedorismo e o exercício da empresa será direito ruim.

6. DA EXCEÇÃO à REGRA

A grande companhia é exceção em meio à profusão de iniciativas empresariais no Brasil. Apenas algumas das 127 companhias presentemente listadas no Novo Mercado são exemplos excepcionais de gigantismo e de complexidade organiza-cional39. E a sua disciplina jurídica se esforça para manter o passo dessas duas ca-

38 A sociologia das organizações oferece uma ideia da complexa interação das orga-nizações societárias, e do seu funcionamento, no âmbito dos sistemas sociais. Cf. SI-MON, Herbert A. Organizations. New York: John Wiley, 1958; PARSONS, Talcott. A sociological approach to the theory of organizations. In: ______. Structure and process in modern societies. Glencoe, IL: Free Press, 1960. Original work published 1956; Id. Some Ingredients of a general theory of formal organization. In: ______. Structure and process in modern societies, cit.; MARCH, James G. Handbook of organizations. Chica-go: Rand MacNally, 1965. Para uma apresentação de todas as teorias do institucionalis-mo que se debruçaram sobre os fenômenos organizacionais e, no particular, às organi-zações societárias, cf. SCOTT, Richard. Institutions and organizations. 2. ed. Thousand Oaks, Calif.: Sage Publications, 2001.39 Essa é a quantidade de companhias listadas em 12-4-2013.

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racterísticas em constante evolução. Curiosamente, a mesma disciplina jurídica que cuida da companhia aberta é capaz, entre nós, de prover disciplina às socie-dades anônimas de capital fechado, por meio de um simples desligamento do re-gramento suplementar, especial e exclusivamente aplicável às companhias abertas. Essa modulação é feita por elementos do suporte fático das normas aplicáveis. A disciplina residual incide quando caracterizado, no caso concreto, o elemento “registro de emissor”. A articulação da disciplina geral das anônimas com a disci-plina residual das companhias abertas demonstra como o legislador brasileiro conseguiu institucionalizar uma matriz regulatória de grande espectro. A discipli-na especial da companhia aberta se deduz da disciplina geral e, a partir dela, espe-cializa-se, em razão da complexidade, do tamanho e das peculiaridades (em constante evolução) do fenômeno societário em foco.

A LSA, verdadeira instituição nacional, por sua durabilidade e ampla aceitação, é o eixo fundamental da disciplina da macroempresa no Brasil40. Foi concebida para articular duas realidades da grande empresa societária, projetadas sob uma con-cepção do futuro da atividade empresarial nacional. Essas duas realidades, expres-sas na disciplina elogiável e consolidada das companhias, abertas e fechadas, confirmam que o direito societário se produz, expande os seus limites e as suas fronteiras, sob o protagonismo da grande empresa societária, que é, inegavelmen-te, uma exceção quantitativa no cenário econômico nacional (em relação à quan-tidade total de sociedades empresárias, mas não no que concerne à quantidade geral de riquezas geradas).

6.1. A DISCIPLINA DAS ANÔNIMAS COMO OBJETO PRECÍPUO DO DIREITO SOCIETÁRIO: âMBITO, DIRIGISMO E ADAPTABILIDADE

A macroempresa societária se encontra sob o foco mais atento do doutrinador, do legislador e do intérprete-judicante. Essa prontidão e esse grande interesse dos produtores e dos operadores do direito são capazes de suplantar a elevada rigidez, decorrente do grande dirigismo regulatório, por atualizações constantes do direi-to objetivo. Há, de fato, todo um aparato dedicado a compassar a disciplina ao fenômeno empresarial de grande porte, que se centra no exercício de um poder regulamentar, delegado pelo legislador à autoridade administrativa, em vista da sua especialização. Possíveis crises funcionais e mesmo impropriedades ideológicas desse modelo não invalidam as proposições acerca de suas características essenciais: a companhia é objeto prioritário do direito societário e a adaptabilidade institu-cional a marca característica de sua disciplina.

40 COMPARATO, Fábio Konder. Aspectos jurídicos da macroempresa, cit.

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6.2. É POSSÍvEL DEDUZIR DO “ChASSI REGULATóRIO” DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS UMA DISCIPLINA ESPECIALMENTE APLICÁvEL àS PEQUENAS E àS MÉDIAS EMPRESAS? UM “DESMONTE” CALCULADO DA DISCIPLINA DAS COMPANhIAS

A aplicação da disciplina da macroempresa societária ao regramento de pe-quenas e de médias sociedades empresárias é, em princípio, imprópria porque: (i) impõe a fenômenos distintos a incidência da mesma norma jurídica; (ii) as peque-nas e as médias empresas são multifárias e sujeitas a ampla instabilidade relacional, econômica e mercadológica (i.e., a fragilidades organizacionais), o que torna a sua submissão a normas cogentes um desafio de dif ícil superação à adaptabilidade do direito; (iii) a criação de órgãos da administração pública encarregados dessa adaptação, para além de inútil, produziria entraves burocráticos superiores aos já criados pelos órgãos de registro de comércio no Brasil; e (iv) os altos custos da burocracia, somados às fragilidades organizacionais, resultariam na inviabilidade das pequenas e das médias empresas societárias.

A atual disciplina das sociedades limitadas, precipuamente dedicada a orga-nizar pequenas e médias empresas, permite, em parte, constatar essas propaladas impropriedades. Isso porque imita o regramento das anônimas, sujeitando empre-sas de menor dimensão e complexidade ao custo das grandes e complexas, sob uma rigidez descompassada com a mutabilidade inerente ao fenômeno regulado, e sem prover qualquer mecanismo de adaptação. A revisão dessa disciplina, que está entranhada na elaborada sistemática do Código Civil, é uma missão, cujo bom sucesso (político e técnico) é improvável. E mesmo que assim não fosse, seria ta-refa demorada. O mesmo destino teria a criação de uma nova forma societária à organização das pequenas e das médias empresas, com o risco de, em caso de in-sucesso, contribuir para a inflação normativa que, há muito, assola o país.

Em verdade, o empreendedor brasileiro, cioso de uma oportunidade de inclu-são nos mercados, não pode esperar uma revisão da disciplina das limitadas ou a criação de um novo tipo societário que lhe dê guarida. O Brasil quer florescer como potência econômica; as brasileiras e os brasileiros despertam para o empreende-dorismo e para as suas oportunidades. Quando as técnicas de distribuição de renda e de mitigação de desequilíbrios econômicos e sociais falham, e as nossas falharam em grande medida, o legislador deve, ao menos, prover ao pequeno e ao médio empreendedor vias de entrada nos mercados. Deve trabalhar para que esses empreendedores tenham uma chance de se beneficiar do próprio esforço e de seu gênio criativo.

A urgência de uma solução pressupõe atenção ainda maior aos dados do problema. A pressa inspira modificações pontuais do que já existe, o que torna necessário adaptar. É importante que a adaptação seja útil, que atenda às necessi-dades que a inspiraram e que não crie novas necessidades.

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A amplitude e a maleabilidade da disciplina da companhia, no Brasil, é, desde logo, uma importante fonte de inspiração. De uma matriz comum são deduzidos, como se viu acima, matizes e pesos regulatórios, que a caracterizam como disci-plina extremamente versátil, capaz de “cobrir” organizações societário-empresariais de diferentes tamanhos e mais ou menos complexas, dentro do amplo domínio (especialmente no contexto brasileiro de disparidades regionais) da empresa de grande porte. Seria possível, do mesmo modo, deduzir desse “chassi regulatório” uma disciplina especialmente aplicável às pequenas e às médias empresas?

Não se trata de medir pequenos e médios com a régua dos grandes, como faz a disciplina brasileira das limitadas. O razoável, aqui, é um desmonte calculado da disciplina da companhia, a diminuição da régua, mantendo-se a sua estrutura es-sencial, que caracteriza os elementos fundamentais da organização societária da empresa, a que se acoplam periféricos moldáveis, disponíveis segundo as peculia-ridades do caso concreto.

Se bem-sucedida, essa iniciativa ensejará uma correção no direito societário brasileiro, por meio da qual a disciplina da macroempresa societária (que, em termos de frequência, é exceção) terá o seu âmbito de aplicação ainda mais am-pliado, a ponto de cobrir as pequenas e as médias, em estrita observância às suas mais variadas dimensões e características.

A adaptabilidade necessária, nesse caso, será introjetada na lei, sob o pulso da autonomia privada, como ordem jurídica parcial, constrita por limites objetivos bem definidos.

7. O SISTEMA INTERNO DA LEI DAS SOCIEDADES ANôNIMAS

A LSA caracteriza um sistema41 que compõe, no âmbito da disciplina das sociedades empresárias e das sociedades em geral, o que alguns autores chamam de microssistema societário (ou seja, um sistema inserto no sistema jurídico que, por sua vez, insere-se no âmbito de um sistema social42). Isso quer dizer que a LSA,

41 Cf. CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.42 Aqui, quando nos referimos ao sistema social ou a qualquer um de seus subsis-temas, a exemplo do sistema econômico, do sistema financeiro e do sistema jurídico, temos em mente uma definição de sistema que em muito se aproxima daquela apre-sentada pela teoria dos sistemas autopoiéticos (transposta à cognição e análise de sistemas sociais por autores como Niklas Luhmann e Gunter Teubner). Para a auto-poiética, grosso modo, o sistema social e os seus subsistemas, como o sistema econô-mico ou o sistema jurídico, são reproduções dinâmico-cíclicas dos elementos funda-dos em relações hipercíclicas de estruturas e processos. A circularidade sugere fecha-mento e, portanto, o sistema autopoiético é um sistema operacionalmente fechado.

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para além de elemento do microssistema societário, contém, em si, um sistema interno, grosso modo, um conjunto de elementos interconectados, que caracterizam um todo organizado, afetado pelo fim de disciplinar a companhia. Os elementos desse sistema interno são os alicerces da disciplina da companhia, que a definem e diferenciam de outras formas societárias. Esses elementos correspondem ao “chassi regulatório” da sociedade anônima, o conteúdo mínimo e essencial de sua disciplina.

7.1. OS ELEMENTOS DO SISTEMA INTERNO

É possível identificar, em razão de um nexo normativo, oito elementos do sistema interno da LSA, quais sejam:

(1) Caracterização societário-organizacional e a constituição da companhia. É elemento que se determina pelo conjunto de normas que definem a companhia como forma societária típica e que prescrevem as técnicas e condutas conducentes à sua constituição e à formação de seu capital, como estrutura elementar.

(2) Técnicas de financiamento e a criação da malha relacional. Dá conta de como a companhia se financia, seja por capitalização (alienação das ações em contraprestação de dinheiro e/ou de bens), seja por suprimento (alienação de tí-tulos de dívida), e como desse financiamento decorre um sem-número de relações, que caracterizam a companhia e os seus órgãos.

(3) Deliberações e ações sociais. Define o processo de formação das deliberações da companhia e as ações que dessas deliberações se seguem e que se plasmam na conduta dos administradores como conduta da companhia.

O fechamento operacional, entretanto, é apenas uma meia verdade, porque quanto maiores o fechamento operacional e a autonomia, maior a abertura em relação aos fatos sociais, demandas políticas, teorias advindas das ciências sociais e às necessida-des humanas. Essa combinação paradoxal entre fechamento e abertura torna o siste-ma mais aberto às realidades, especialmente se houver a identificação de mecanismos concretos a emparelhar o fechamento normativo e a abertura cognitiva. O sistema autopoiético produz e reproduz seus próprios elementos por meio da interação entre eles. O elemento básico dos sistemas sociais é a comunicação, não os seres humanos. Sendo a comunicação a unidade fundamental, informação e entendimento constituem os sistemas sociais ensejando a reprodução da comunicação. Cf. LUHMANN, Niklas. Soziale Systeme. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1983, capítulos 2 e 6, e, espe-cialmente p. 92, 191, 290, 295; Id. Die Einheit des Rechtssystems. In: RECHTSTHEO-RIE. Berlin: Duncker & Humblot, 1983. p. 129, 137; Id. Wissenschaft der Gesellschaft. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1990. p. 11 et seq.; Id. Das Recht der Gesellschaft. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1993. p. 54 et seq.; Id. Die Gesellschaft der Gesellschaft. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1997; TEUBNER, Gunther. Recht als autopoietisches System. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1989.

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(4) Disciplina da responsabilidade de acionistas, de administradores e da companhia. Diz respeito às causas de imputação de responsabilidade a acionistas, aos administradores e à companhia, em vista do descumprimento de deveres que decorrem das relações que entre si se estabelecem.

(5) Estado da empresa e os direitos creditórios dos acionistas. Esse elemento é composto pelo conjunto de normas que disciplinam a expressão contábil da em-presa, que exerce dada companhia, e de sua higidez econômico-financeira, de modo a balizar todos os detentores-fornecedores de recursos que gravitam no entorno dessa companhia, mas, sobretudo, os acionistas, à satisfação de seus direitos cre-ditórios (econômicos) essenciais.

(6) Reestruturação da malha relacional. Cuida das técnicas societárias de reforma relacional, por meio de operações de fusão, de cisão, de incorporação e de transformação, bem como – nessas hipóteses – do tratamento de acionistas e de constituencies, sem preestabelecer os seus fundamentos (justificativas), os quais, como demonstra a prática, podem ser os mais variados.

(7) Extinção da malha relacional e desmantelamento patrimonial. Prevê e disciplina as hipóteses de desfazimento da malha relacional, que caracteriza a companhia e que promove o seu funcionamento (por meio do exercício de uma empresa), e, consequentemente, o desmantelamento do seu patrimônio.

(8) Tutela de direitos societários. Trata das garantias de cumprimento de di-reitos e de deveres societários, que se atribuem (em razão da formação da malha relacional ou mesmo em razão do exercício da empresa) à companhia, aos seus acionistas e aos seus administradores.

7.1.1. A incolumidAde do sistemA interno

O aspecto desses elementos essenciais não pode ser desnaturado, sob pena de se desfigurar a companhia e, portanto, a sua disciplina-base. Bem por isso, o re-gramento das companhias abertas, ressalvada a sua expressa previsão existencial na LSA e os casos em que a lei a elas se refere (a exemplo das particularidades de constituição, formação de deliberações, administração etc.), decorre, em grande medida, do poder regulamentar da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sob orientação do Conselho Monetário Nacional (CMN), na forma da Lei n. 6.385/7643. Esse poder regulamentar não se pode exercer, contudo, contra legem, devendo, portanto, respeitar o que a LSA dispõe, no particular, sobre a companhia aberta, e, no geral, sobre todas as companhias. É isso que preserva, incólume, o sistema

43 Cf. GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Sobre o poder disciplinar da CVM. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, v. 43, p. 72 et seq., 1981.

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interno da lei e que impede seja a companhia (na condição de forma societária) desfigurada (por seus vários regimes).

7.2. O ACOPLAMENTO DE DISCIPLINAS SUPLEMENTARES: AS “COMPANhIAS” DOS ARTS. 4º E 294 DA LSA

À disciplina mínima e essencial, que caracteriza a companhia, são acopladas disciplinas suplementares, capazes de identificar regimes especiais, a exemplo, repise-se, das companhias fechadas em relação às abertas, diferençadas não apenas pela fattispecie do art. 4º, mas pela regência distinta que, como já dissemos, é im-posta pela LSA. Em verdade, essa disciplina-base (o chassi regulatório) correspon-de à disciplina das fechadas, de que se deduzem disciplinas suplementares. O re-gramento das anônimas é a mais conhecida dessas disciplinas suplementares, mas não a única.

7.2.1. A “compAnhiA do Art. 294”

Há ainda, despercebida pela maioria dos operadores, a “companhia do art. 294”, que alguns, jocosamente, chamam de “superanônima” ou “supercompanhia”44, em razão de seu regime especialmente maleável.

O art. 294 da LSA, que se insere no Capítulo XXV, ou seja, nas Disposições Gerais da lei, atribui disciplina específica à companhia fechada que contar com menos de 20 acionistas e com patrimônio líquido inferior a um milhão de reais. A essa companhia é dado: (i) convocar assembleia geral por anúncio entregue a todos os acionistas, contra recibo, com a antecedência prevista no art. 124; (ii) deixar de publicar os documentos de que trata o art. 133, desde que sejam, por cópias au-tenticadas, arquivados no registro de comércio juntamente com a ata da assembleia que sobre eles deliberar; e (iii) pagar participação aos administradores, sem obser-vância do limite disposto no § 2º do art. 152 da LSA, desde que isso seja aprovado pela unanimidade dos acionistas.

É notável que o art. 294, sob a redação que lhe conferiu a Lei n. 10.303, de 2001, institui, em verdade, mais uma disciplina suplementar, que se conecta à disciplina-base, com vistas a, como já aludimos aqui, ampliar ainda mais o âm-bito regulatório da LSA. O seu fundamento é evidente: permitir que a companhia possa organizar as pequenas e as médias empresas, das quais são afastados os

44 Aqui fica a nossa homenagem ao grande advogado, Francisco Antunes Maciel Müssnich, que em suas preleções sobre a companhia do art. 294, a ela se refere como “superanônima”.

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pesados custos com a publicação de convocações e de documentos (à exceção dos atos constitutivos).

Ainda que seja dif ícil avaliar o bom sucesso dessa iniciativa, vez que essas companhias não se diferenciam das demais companhias da lei por meio de sinais externos, senão pela análise de balanços patrimoniais e das listas de presença em assembleias, a sensibilidade e a experiência dos operadores permitem concluir que não tenha vingado. E isso se explica com alguma facilidade. Existem pesados “cus-tos regulatórios”, para além daqueles que decorrem da publicação de convocações e de documentos, a exemplo dos relacionados: (i) a uma administração mínima (diretoria com ao menos 2 componentes, limitações a recondução etc.)45; (ii) à formação das deliberações; (iii) à vedação à unipessoalidade (companhia com único acionista pessoa f ísica)46; (iv) aos entraves à retirada e à exclusão de acionis-tas e a dificuldade de “pacificação” de conflitos47; e (v) à impossibilidade de paga-mento desproporcional de dividendos etc.48.

45 Cf. art. 142 da LSA.46 Cf. art. 251 da LSA.47 Cf. art. 137 da LSA.48 Vale lembrar que o art. 294 da LSA, em sua redação original, conferia tratamen-to especial à companhia fechada, com menos de 20 acionistas, cujas ações fossem nominativas, não conversíveis em outras formas, e cujo patrimônio líquido fosse in-ferior ao valor nominal de 20.000 Obrigações Reajustáveis ao Tesouro Nacional. Tratava-se – e ainda se trata, com as reformas introduzidas pelas Leis n. 9.457/97 e 10.303/2001 –, de um regime especial, com restrita abrangência, cuja única finalida-de é poupar a pequena companhia de elevados custos com publicidade. Para uma explicação a respeito das falhas técnicas normativas, por ocasião da promulgação da Lei n. 9.457/97, posteriormente corrigidas pela Medida Provisória n. 1.681-7, a qual, após reedições, foi convertida na Lei n. 10.194/2001, por sua vez alterada pela Lei n. 10.303/2001, cf. EIZIRIK, Nelson. A Lei das S/A comentada. São Paulo: Quartier Latin, 2011. v. 3, p. 630. A mera existência dessa disciplina especial, nas origens do marco regulatório da macroempresa societária brasileira, demonstra uma evidente preocupação com pequenas e médias companhias e o interesse de compatibilizar o modelo regulatório emergente à sua realidade. Esse regime especial teve, contudo, pouca – ou nenhuma – utilidade como instrumento de fomento e organização das pequenas e das médias empresas. Isso porque a sociedade anônima jamais foi vista como forma organizativa da pequena e da média empresa, e a sociedade (por quotas de responsabilidade) limitada, por outro lado, associou-se visceralmente a essas di-mensões empresariais. Esse cenário mudou com a desfiguração da sociedade limitada, promovida pelo Código Civil de 2002, que lhe impõe uma estrutura burocrática, in-tervencionista e de complexo manejo, contribuindo para a percepção de que o regime do art. 294 pudesse, em determinadas situações, servir como alternativa.

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7.2.2. umA infrAestruturA comum, submetidA A regimes jurídicos pArticulAres e diferenciAdos em rAzão dA dimensão, dA complexidAde e dA nAturezA orgAnizAcionAl

Esse estado de coisas, em que pese o insucesso da “companhia do art. 294”, é muito elucidativo e inspirador.

Demonstra que uma infraestrutura comum é submetida, sem ataques às suas características elementares, a regimes particulares, diferenciados, cada qual dado à organização de empresas distintas segundo a dimensão, a complexidade e a na-tureza.

Permite crer que ajustes, pequenas mudanças, possam permitir que também a “companhia do art. 294” atinja os seus fins regulatórios, a exemplo do que se deu com as companhias abertas e fechadas.

8. O REGIME ESpECIAL DA SOCIEDADE ANôNIMA SIMpLIfICADA (RE-SAS)

A existência de um regime jurídico das pequenas e das médias companhias, plasmado no art. 294 da LSA, mesmo que imperfeito, sugere uma reflexão acerca de modificações capazes de prover a essa disciplina suplementar os predicados que deve modelarmente ostentar.

O RE-SAS nasce, por certo, como consequência desse estado de coisas; nasce dos clamores das ruas, das “bocas de foro”, dos escritórios de advocacia, das asso-ciações comerciais e industriais, dos sindicatos e, também, da academia.

Trata-se da disciplina suplementar, que se acopla ao “chassi regulatório” das companhias, em substituição à “companhia do art. 294”, com vistas a remediar as inconsistências da “superanônima”, sem rechaçar suas qualidades.

Vale, nesse contexto, reforçar que o RE-SAS não cria uma nova forma socie-tária, mas apenas uma nova “via de direito”, capaz de prover caminhos às pequenas e às médias empresas.

O RE-SAS, que se insere no Projeto de Lei n. 4.303/2012, revoga o art. 294 da LSA e o substitui pelos arts. 294-A a 294-J. Suas características e peculiaridades serão expostas ao leitor no capítulo seguinte.

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CAPÍTULO IIpROJETO DE LEI N. 4.303/2012

O REGIME ESpECIAL DA SOCIEDADE ANôNIMA SIMpLIfICADA

1. O ART. 294-A

Art. 294-A. É facultado à companhia, cujo patrimônio líquido for in-ferior a R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), constituir-se sob o regime especial da sociedade anônima simplificada – RE-SAS – ou a ele aderir a qualquer tempo.§ 1º A adesão ao regime especial da SAS depende da aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, caso maior quórum não for exigido pelo estatuto. § 2º Superado o limite do caput deste artigo, a companhia estará ex-cluída, no exercício fiscal seguinte, do regime especial da SAS. A exclusão independe de deliberação de acionistas; mas os acionistas deverão ser convocados a participar de assembleia geral, conforme estabelecido no § 3º deste artigo, para que deliberem a adaptação do estatuto da companhia. § 3º O conselho de administração, se houver, ou os diretores, deverão convocar, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da adesão ou da exclusão a que se referem os parágrafos anteriores, assembleia geral para deliberar sobre a adaptação do estatuto da companhia.§ 4º O estatuto da companhia deverá indicar, expressamente, a adoção do regime especial da SAS.

1.1. O QUE É O RE-SAS?

Uma companhia sob o regime da sociedade anônima simplificada não é uma nova forma societária. O que se tenta aqui é sujeitar algumas companhias, as quais se faculta aderir ao RE-SAS – sob os critérios do art. 294-A –, a uma disciplina particular capaz de equipará-las à estrutura e ao manejo que caracterizam as formas societárias híbridas (i.e., grosso modo, os tipos societários que ostentam, ao mesmo

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tempo, características de sociedades contratuais e institucionais)49. A finalidade é atender as pequenas e médias empresas, prover-lhes formas adequadas de organi-zação jurídica. A técnica é, desse modo, distinta da que se empregou em outros países, como a França, a Colômbia, os Estados Unidos ou o Reino Unido50. Nesses países foram criados tipos societários novos, também para prover “vias de direito” à organização jurídica das pequenas e das médias empresas.

Tratando-se de um regime – como outros já existentes na LSA, a exemplo das companhias do art. 4º (abertas e fechadas)51 –, afirma-se como subsistema. Aplicam--se às companhias enquadradas no RE-SAS, portanto, todas as demais normas da LSA, exceto aquelas que lhe forem contrárias ou incompatíveis52.

Como se verá em detalhes adiante, o RE-SAS apresenta as seguintes carac-terísticas: (i) integra a LSA, como uma disciplina particular; (ii) é elegível por companhias enquadradas; e (iii) as companhias enquadradas aderentes sujei-tam-se à disciplina particular, mas, de resto, continuam a ser regidas pelas nor-mas gerais da LSA.

1.2. OS CRITÉRIOS DE ENQUADRAMENTO NO RE-SAS: QUE COMPANhIAS PODEM ADERIR AO REGIME?

O art. 294, em sua redação atual, enumera três critérios de enquadramen-to, todos de observância obrigatória: (i) ser companhia fechada; (ii) ter menos de 20 acionistas; e (iii) ostentar patrimônio líquido inferior a R$ 1 milhão53-54.

49 Cf. Capítulo III infra.50 Cf., a propósito, Capítulo III deste livro. 51 Aliás, já se reconhece no art. 294 da LSA um regime especial. Os coautores da LSA referem-se à companhia que se enquadra no mencionado artigo como fechada de pe-queno porte. Cf. LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. A lei das S.A.: pressupostos, elaboração, aplicação. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. p. 330. Destaca--se que o existente regime destas sociedades de “pequeno porte” é limitado em sua amplitude, conforme exposto no item 7.21., especialmente por estipular um regime especial de convocação de assembleias e de divulgação de relatório da administração e demonstrações financeiras.52 A LSA é pródiga em admitir o convívio de vários regimes, de modo harmônico, sem desnaturar o sistema. Ora mencionando expressamente que determinado comando aplica-se às sociedades abertas ou fechadas, ora por sua formulação impedir uma cons-trução lógica que admita outros comandos a uma dessas formas. De modo que as in-compatibilidades internas da LSA, em relação a qualquer regime que lhe integra, são extraídas da enunciação legislativa ou da própria estrutura societária. 53 No mesmo sentido, LAZZARESCHI NETO, Alfredo Sérgio. Lei das Sociedades por Ações anotada. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 848.54 Vale lembrar que o texto original da LSA enumerava quatro critérios de enquadra-

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A inexistência de qualquer um desses critérios impede a adoção do regime. O RE-SAS oferece um novo paradigma; abandona critérios extremamente

restritivos que, em verdade, não descrevem as pequenas e as médias empresas. O critério de enquadramento ao RE-SAS é único: patrimônio líquido inferior

a R$ 100 milhões. Para se submeter ao RE-SAS basta, então, que uma sociedade anônima exiba essa característica e adira ao regime.

A ideia é, portanto, permitir a adesão de quaisquer companhias, abertas ou fechadas, independentemente do número de acionistas, que ostentem patrimônio líquido inferior a R$ 100 milhões.

As razões para a facilitação do ingresso são bastante evidentes: a quantidade de sócios é um mero indício das dimensões de uma empresa. Além disso, não é conveniente impedir que a companhia emergente, necessitada de recursos e com auspiciosos planos de desenvolvimento empresarial, tenha acesso ao mercado de capitais e que, portanto, possa apelar à poupança privada para financiar suas ativi-dades. Esse impedimento contraria, por certo, as mais recentes iniciativas. Tome-se como exemplo o “Bovespa Mais”, uma via de negociação de ações, criada e admi-nistrada pela BM&FBOVESPA55, com vistas a tornar o mercado de ações brasilei-

mento (companhia fechada, menos de 20 acionistas, estatuto determinando que todas as ações fossem nominativas não conversíveis em outras formas e patrimônio líquido inferior ao valor nominal de 20.000 ORTNs). A reforma promovida pela Lei n. 9.457/97 os reduziria a apenas dois (companhia fechada com menos de 20 acionistas). A reforma de 1997 omitiu, por lapso, o valor máximo de patrimônio líquido, o que viria a ser corrigido com a Medida Provisória n. 1.681-7. Cf. EIZIRIK, Nelson. op. cit., p. 630.55 A BM&FBOVESPA é uma companhia que administra vias de negociação de ações de companhias abertas, opções e futuros sobre essas ações, títulos de dívida dessas companhias, bem como outros títulos ou direitos normalmente conexionados com tais ativos. É a principal bolsa de valores brasileira. A Bolsa de Valores de São Paulo foi fundada em 1890, vinculada à Secretaria de Finanças do Estado de São Paulo, e reunia, entre seus membros, corretores nomeados pelo poder público. Apenas após as reformas impostas, nos anos 1960, ao Sistema Financeiro Nacional e do mercado de capitais, assumiria a condição de associação civil sem fins lucrativos, com autonomia adminis-trativa, financeira e patrimonial. Em agosto de 2007, entretanto, uma Assembleia Geral Extraordinária aprovou a reestruturação societária da BOVESPA, que deixou de ser sociedade simples e, portanto, não empresária, para transformar-se em sociedade por ações. A medida consolidou o processo de desmutualização, cuja função imediata foi permitir que o acesso às negociações e aos serviços prestados fosse democratizado, vez que, no modelo anterior, era restrito a um pequeno grupo de corretoras proprietárias de títulos patrimoniais. A reestruturação resultou na criação da BOVESPA Holding, em princípio, uma sociedade por ações de capital fechado, que tinha como subsidiárias integrais a Bolsa de Valores de São Paulo (BVSP) e a Companhia Brasileira de Liquida-ção e Custódia (CBLC), ambas igualmente sociedades por ações de capital fechado. A

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ro acessível a um número maior de companhias, especialmente aquelas de peque-no e de médio porte, que desejam se financiar por meio de oferta pública de valo-res mobiliários56. Não faz qualquer sentido submeter companhias emergentes, ao menos em uma fase inicial (às vezes pré-operacional), aos custos elevados impos-tos às companhias abertas. A função do mercado de valores mobiliários é prover meios ao empreendedorismo, financiar a empresa nacional, jamais impedi-la. Cabe ao legislador prover meios, com criatividade e sensatez, para compatibilizar os requisitos de full disclosure57 e de atendimento das boas regras de governança à necessidade de mitigar os custos de manejo das companhias em desenvolvimento.

BVSP tornou-se responsável pelas operações dos mercados de bolsas de valores e de balcão organizado e a CBLC presta serviços de liquidação, compensação e custódia. A desmutualização foi seguida, a exemplo do que já ocorrera entre as maiores bolsas de valores do mundo, de abertura de capital. Em seguida a BOVESPA Holding contrai-se à Bolsa Mercantil & Futuros, para dar vida à BM&FBOVESPA com sua atual confor-mação. A BM&FBOVESPA é, em verdade, responsável pelos negócios celebrados em mercados de bolsas de valores e de balcão organizado, que ocorrem em vários submer-cados (ou canais de negociação), distintos em razão do seu regramento, condições de acesso dos ativos e dinâmica de negociações. O mercado bolsista é dividido em quatro submercados: (i) o Mercado Tradicional; (ii) o Mercado Nível 1; (iii) o Mercado Nível 2; (iv) o “Novo Mercado”. As companhias emissoras de valores mobiliários são sujeitas a regras criadas pela BM&FBOVESPA, que lhes impõem – caso pretendam ter seus ativos admitidos à negociação – a adoção de condutas e de estruturas dedicadas a conferir transparência, accountability e eficiência às suas atividades empresariais e, portanto, a proteger os interesses dos investidores. Essas condutas e estruturas – con-juntamente referidas como níveis de governo corporativo – rumam, em tese, de padrões aceitáveis, no Mercado Tradicional, a ótimos, no Novo Mercado, tendo os Níveis 1 e 2 como patamares intermediários. No mercado de balcão organizado são negociados valores mobiliários sob regramento distinto do imposto ao mercado bolsista. O BOVESPA MAIS (Mercado de Ações para o Ingresso de S.A.) é, por exemplo, um segmento do mercado de balcão organizado, cujo propósito é atrair ativos emitidos por companhias cuja estratégia preveja uma entrada gradual no mercado de capitais.56 Cf. BOVESPA. Regulamento de Listagem Bovespa Mais. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/download/Regulamento-Bovespa-Mais.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2013.57 As regras de disclosure, que obrigam dada companhia emissora de valores mobiliá-rios a revelar o estado da empresa para prover uma tutela aos investidores, também estimulam – caso se queira vencer a “concorrência por recursos” estabelecida no mer-cado – a apresentação de uma organização estruturada e bem governada, capaz de estabelecer trocas econômicas eficientes, que a habilitem a gerar lucros e satisfazer os direitos de crédito dos acionistas. Cf., nesse sentido, LOSS, Louis. O papel do governo na proteção dos investidores. Trad. Ary Oswaldo Mattos Filho. Revista de Direito Mer-cantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, Nova Série, ano 24, n. 58, p. 71-87, abr./jun. 1985.

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Vale, nesse sentido, monitorar todas as reflexões e iniciativas voltadas a atrair as pequenas e médias empresas para o mercado de capitais58.

O limite patrimonial corrente, de R$ 1 milhão, não é, do mesmo modo, razoá-vel, porque não expressa as grandes disparidades regionais que caracterizam a realidade econômica do Brasil. A imposição de um critério restritivo, nesse parti-cular, seria um incentivo à manutenção da insignificância, pelo que o legislador cria uma zona de conforto, que sugere à empresa que se mantenha pequena se quiser se valer dos benef ícios da lei. O que deve querer, ao contrário, é promover o crescimento, ao ponto em que o privilégio não seja mais necessário.

É dif ícil, todavia, afirmar um critério objetivo, capaz de caracterizar o ponto de transição da companhia média à companhia de grande porte e, desse modo, em que medida o incentivo regulatório é necessário.

1.3. POR QUE PATRIMÔNIO LÍQUIDO? POR QUE 100 MILhÕES?

1.3.1. AlgumAs hipóteses de incidênciA fundAdAs em critérios de mensurAção dA empresA

Há, em nosso ordenamento jurídico, inúmeras hipóteses de incidência, de normas e de disciplinas jurídicas especiais, que se caracterizam por um critério de mensuração da empresa.

(i) A sociedade de grande porte

A sociedade de grande porte, definida no art. 3º da Lei n. 11.638/2007, carac-teriza-se ora pelo total de ativos, ora pela receita bruta anual, nos seguintes termos:

Art. 3º Aplicam-se às sociedades de grande porte, ainda que não cons-tituídas sob a forma de sociedades por ações, as disposições da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sobre escrituração e elaboração de demonstrações financeiras e a obrigatoriedade de auditoria indepen-dente por auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários.Parágrafo único. Considera-se de grande porte, para os fins exclu-sivos desta Lei, a sociedade ou conjunto de sociedades sob contro-le comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou re-ceita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).

58 Cf. Impulso à PME. Revista Capital Aberto, São Paulo, ano 10, n. 113, jan. 2013.

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A sociedade de grande porte é detectada, note-se, no contexto grupal; para os fins de sua caracterização, portanto, a sociedade é equiparada ao grupo de socie-dades (de fato), por meio do conceito de controle.

(ii) Leis Tributárias

Certas leis sobre matéria tributária, por outro lado, adotam outros critérios à distinção de contribuintes, exatamente para determinar a elegibilidade à ado-ção de regimes especiais, com base na dimensão empresarial. O interesse, nesse caso, é incentivar as micro e pequenas empresas, sob um critério de progressividade.

(ii.1) A Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 200659

O art. 3º da Lei Complementar n. 123/2006, por exemplo, prevê que:

Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empre-sário a que se refere o art. 966 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I – no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendá-rio, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessen-ta mil reais); II – no caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

O critério adotado exige, para o bem da clareza, a arriscada determinação de um conceito legal de “receita bruta”60.

59 Essa lei, dentre outras funções, institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis n. 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.60 “§ 1º Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste artigo, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos ser-viços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.”

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(ii.2) O critério de adesão ao regime de tributação pelo lucro presumido

O Regulamento do Imposto de Renda (RIR) também adota a receita bruta como critério à adesão ao regime de tributação com base no lucro presumido.

O RIR, diferentemente da Lei Complementar n. 123, faz referência à receita bruta total61.

E por receita bruta (total), entende-se, nos termos no art. 519, aquela definida no art. 224 e em seu parágrafo único:

Art. 224. A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de bens nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado auferido nas operações de conta alheia (Lei n. 8.981, de 1995, art. 31). Parágrafo único. Na receita bruta não se incluem as vendas canceladas, os descontos incondicionais concedidos e os impostos não cumulativos cobrados destacadamente do comprador ou contratante dos quais o vendedor dos bens ou o prestador dos serviços seja mero depositário (Lei n. 8.981, de 1995, art. 31, parágrafo único).

Esses exemplos demonstram que o legislador não se vale de um critério único para distinguir pessoas ou estados econômicos, com vistas a impor-lhes disciplina jurídica particular.

1.3.2. o pAtrimônio líquido como critério de inclusão e de exclusão do re-sAs

A hipótese que faculta a adesão ou que determina o egresso do RE-SAS é o estado da empresa, expresso pelo patrimônio líquido. Esse já é, aliás, o critério adotado pela LSA para caracterizar as “companhias do art. 294”.

A verdade é que o critério parece ser o melhor retrato do estado da empresa, observadas as suas possíveis variações (e em vista dos propósitos e dos fundamen-

61 Note-se, a propósito, a redação do art. 516: “A pessoa jurídica cuja receita bruta total, no ano-calendário anterior, tenha sido igual ou inferior a vinte e quatro milhões de reais, ou a dois milhões de reais multiplicado pelo número de meses de atividade no ano-calendário anterior, quando inferior a doze meses, poderá optar pelo regime de tributação com base no lucro presumido (Lei n. 9.718, de 1998, art. 13)”. Importa des-tacar que, a partir de 1º de janeiro de 2003, por força da Lei n. 10.637, de 30 de dezem-bro de 2002, o limite foi majorado para R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou proporcional ao número de meses do período multiplicado por R$ 4.000.000,00, quando inferior a 12 (doze) meses.

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tos do RE-SAS), especialmente se comparado com outras técnicas de mensuração, a exemplo dos conceitos de receita62, de ativos63 ou de capital64-65.

A LSA usa o patrimônio líquido como hipótese normativa em mais de uma oportunidade. Além de seu emprego ao enquadramento no regime do art. 294, a Lei n. 11.941/2009 (que alterou dispositivos da LSA) também o adotou como cri-tério de dispensa de elaboração, pelas sociedades anônimas, de determinado rela-tório obrigatório, com base na escrituração mercantil a ser apresentada anualmen-te pela administração da companhia.

Com efeito, ao fim de cada exercício social, a diretoria da companhia deve fazer elaborar, com base na sua escrituração, balanço patrimonial, demonstrações dos lucros ou prejuízos, demonstrações do resultado do exercício, demonstração dos fluxos de caixa66 e, em se tratando de companhia aberta, demonstração do valor adicionado67.

62 O Comitê de Pronunciamento Contábeis (CPC) emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 30, que trata das receitas. Define-se como receita o ingresso bruto de benef ícios econômicos durante o período proveniente das atividades ordinárias que resultam no aumento do seu patrimônio líquido, exceto as contribuições dos proprietários.63 O descarte do conceito de ativo como critério tem explicação relativamente singe-la: é possível que uma sociedade pareça exuberantemente hígida, quando considerados apenas seus ativos, mas insolvente se ativos forem confrontados com seus passivos. Esse critério não expressa a situação econômica da companhia.64 O capital é a expressão do patrimônio apenas na data de constituição da sociedade. O exercício da empresa poderá inserir novas posições ativas e passivas no patrimônio, determinando seu incremento ou mesmo o seu esgotamento, sem que isso imponha qualquer modificação ao capital. 65 E não existindo, no geral, o dever de constituir um capital mínimo, exceto para o exercício de atividades muito específicas, a adoção do capital como critério ao enqua-dramento no RE-SAS não se mostraria razoável. 66 O CPC emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 03, que trata da demonstração dos Fluxos de Caixa. Define-se como fluxo de caixa as entradas e saídas de caixa e equiva-lentes de caixa. Por caixa, numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis. E por equivalentes de caixa aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, pron-tamente conversíveis em montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insig-nificante risco de mudança de valor. O objetivo deste relatório consiste em “proporcio-nar aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como necessidades da entidade de utilização desses fluxos de caixa”. 67 O CPC emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 09, que trata da demonstração do Valor Adicionado. De acordo com a definição que lhe dá este Pronunciamento, valor adicionado “representa a riqueza criada pela empresa, de forma geral medida pela dife-rença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros. Inclui também o

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Esses dois últimos “relatórios” foram introduzidos pelo art. 7º da Lei n. 11.638/2007. O último se aplica apenas às companhias abertas; o penúltimo a qualquer companhia. De todo o modo, se a companhia fechada ostentar, na data do balanço, patrimônio líquido inferior a R$ 2 milhões, não estará obrigada à ela-boração e publicação da demonstração do fluxo de caixa.

(i) O conceito de patrimônio líquido

O patrimônio líquido é a diferença entre a totalidade dos ativos e as obrigações, sobre o qual, nas palavras de José Luiz Bulhões Pedreira, se “exerce poder de dispor gratuitamente (além do poder de usar e fruir)”68. São as posições ativas remanes-centes, após a exclusão das obrigações sociais69-70. O Pronunciamento Técnico CPC 00 define-o como “[...] valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos [...]”.

Do ponto de vista topológico, o patrimônio líquido se situa em conta passiva no balanço, conforme disposto no art. 178 da LSA71, e é dividido em capital social,

valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transfe-ridos à entidade”. O objetivo deste relatório, em outras palavras, consiste em evidenciar a “riqueza criada pela entidade e sua distribuição, durante determinado período”, e a destinação desta riqueza, especialmente entre empregados, fisco, credores e acionistas. 68 Cf. BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. Finanças e demonstrações financeiras da companhia: conceitos e fundamentos. Rio de Janeiro: Forense, 1989. p. 205.69 Nas palavras de José Luiz Bulhões Pedreira, é a parte do capital aplicado que per-tence ao titular do patrimônio e que somente se conhece mediante subtração do valor do passivo exigível do valor total do ativo (Id. Ibid., p. 211).70 Conforme Edison Carlos Fernandes: “[...] os valores registrados no patrimônio lí-quido da empresa representam o conjunto de direitos relacionados aos sócios [...] principalmente, o aporte inicial de capital e a remuneração esperada por eles (lucros), embora seja mantida a segregação de patrimônios entre a empresa e os seus sócios”. FERNANDES, Edison Carlos. Demonstrações financeiras: gerando valor para o acionis-ta. São Paulo: Atlas, 2011. p. 65.71 “Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patri-mônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. § 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: I – ativo circulante; e (Incluído pela Lei n. 11.941, de 2009); II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. (Incluído pela Lei n. 11.941, de 2009). § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos : I – passivo circulante; (Incluído pela Lei n. 11.941, de 2009); II – pas-sivo não circulante; e (Incluído pela Lei n. 11.941, de 2009) III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. (Incluído pela Lei n. 11.941, de

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reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. E em seção específica, que versa sobre o patri-mônio líquido, aponta-se o tratamento de cada conta72.

O patrimônio líquido reflete as variações da riqueza esperada pelos sócios. Tanto é assim que o art. 248 da LSA determina que o investimento de companhia em coligadas, em controladas, em outras sociedades que façam parte do mesmo grupo econômico ou que estejam sob controle comum seja avaliado pelo método da equivalência patrimonial73-74.

2009) § 3º Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de com-pensar serão classificados separadamente.”72 “Art. 182. A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedu-ção, a parcela ainda não realizada. § 1º Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem: a) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias; b) o produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição; c) (revogada) (Revogada pela Lei n. 11.638, de 2007); d) (revogada). (Revogada pela Lei n. 11.638, de 2007) § 2º Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto não capitalizado. § 3º Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na com-petência conferida pelo § 3º do art. 177 desta Lei. (Redação dada pela Lei n. 11.941, de 2009) § 4º Serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia. § 5º As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição.”73 “Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimo-nial, de acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei n. 11.941, de 2009) I – o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas desta Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia; no valor de patrimônio líquido não serão compu-tados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas; II – o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou controlada; III – a diferença entre o valor do investimento, de acordo com o número II, e o custo de aquisição corrigido monetariamente; somente será

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O conceito, as características e as utilidades do patrimônio líquido, para além da recorrência com que é empregado na LSA, reafirmam a propriedade de sua utilização como critério de enquadramento no RE-SAS.74

1.3.3. A medidA dA “médiA”

O critério de aplicação da disciplina jurídica da atual “companhia do art. 294” é, como já se disse, extremamente restritivo.

O RE-SAS oferta, por outro lado, um incentivo material – e não apenas formal – ao empreendedorismo, com base em estruturas societárias menos complexas e menos custosas, estendendo às pequenas e às médias companhias eficientes téc-nicas de financiamento, sem prejuízo da transparência e do acesso às informações sobre o estado da empresa.

Daí a importância de se estabelecer um critério de enquadramento que com-passe o incentivo às dimensões empresariais que se quer incentivar. É dif ícil fazê--lo em um país com grandes e graves disparidades regionais socioeconômicas. Os dados econômicos dos estados brasileiros demonstram essas diferenças e explicam, por si, a dificuldade de encontrar uma medida da média empresa.

A mitigação de custos de constituição e de manejo, que se propõe por meio do RE-SAS, ganhará mais evidentes justificativas se beneficiar as pequenas e as médias empresas. O incentivo, portanto, só deve desaparecer quando esses custos já não se mostrarem significativos no contexto do montante de negócios da com-panhia e de seus resultados. Em um cenário, reitere-se, de grandes disparidades, a determinação de uma medida restritiva da média empresa produziria exclusão e, o que é pior, um efeito paralisante, um desincentivo ao crescimento.

Uma companhia que ostenta patrimônio líquido de R$ 100 milhões não é mais uma companhia de pequeno porte, mesmo nas regiões economicamente mais

registrada como resultado do exercício: a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coligada ou controlada; b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou per-das efetivos; c) no caso de companhia aberta, com observância das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários. § 1º Para efeito de determinar a relevância do investimento, nos casos deste artigo, serão computados como parte do custo de aquisição os saldos de créditos da companhia contra as coligadas e controladas. § 2º A sociedade coligada, sempre que solicitada pela companhia, deverá elaborar e for-necer o balanço ou balancete de verificação previsto no número I”. 74 O CPC emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 18, que trata do investimento em coligada e controlada. Define-se como método da equivalência patrimonial o “método de contabilização por meio do qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo e posteriormente ajustado pelo reconhecimento da participação atribuída ao in-vestidor nas alterações dos ativos líquidos da investida. O resultado do período do in-vestidor deve incluir a parte que lhe cabe nos resultados gerados pela investida”.

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pujantes do país, mas também não é grande, visto que a grande empresa exibe patrimônio líquido de centenas de milhões, senão de bilhões de reais. Isso se de-monstra pela tabela 1 do Anexo, que apresenta o patrimônio líquido das companhias listadas na BM&FBOVESPA, no mês de janeiro de 2013.

1.3.4. AtuAlizAção do critério de enquAdrAmento

A superação dos tenebrosos dias de superinflação e de instabilidade econô-mica é incapaz de espantar os fantasmas que assombram a nossa memória cole-tiva. Não sem razão, os dados econômicos recentes exibem mudanças de rumo tão drásticas, que ainda são dif íceis de acreditar. Vejam-se alguns, de bastante relevância:

(i) A evolução do Produto Interno Bruto brasileiro, de 2001 a 2011 (cf. tabela 2, Anexo). (ii) A taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC, desde 199975 (cf. tabela 3, Anexo)(iii) A taxa de inflação, desde 1980 (cf. tabela 4, Anexo)

Esses dados podem inspirar a criação de um mecanismo de atualização cons-tante do critério de enquadramento, especialmente para que: (i) cresça juntamen-te com o PIB, pois o conceito de média empresa vai se alargando com o passar dos anos; e (ii) para neutralizar os efeitos inflacionários.

Apesar dessa tentação, não compete ao direito societário disciplinar fenôme-nos externos às sociedades; e refleti-los, importá-los para o âmbito da companhia, em um período de aparente estabilidade sustentável, seria antecipar instabilidades de dimensão e de existência imprecisa.

É tarefa do legislador, no entanto, e também dos “grupos de interesse”, exercer seu papel cívico, e zelar para que as leis tenham aderência à realidade, revisitando-as de tempos em tempos. O que, por outro lado, dispensa um diploma legal que es-tabeleça limites sempre cambiantes e predispostos à adaptação a uma nova e in-certa situação.

1.3.5. o mAl do crescimento contido

O regime da atual “companhia do art. 294” e mesmo a disciplina das micro e pequenas empresas, como as denomina a Lei Complementar n. 123, padecem do

75 Cf. Receita Federal. Taxa de Juros Selic. Disponível em: <http://www.receita.fazen-da.gov.br/pagamentos/jrselic.htm>. Acesso em: 4 fev. 2012.

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“mal do crescimento contido” ou “síndrome de Peter Pan”76. O motivo é óbvio: o regime simplificado de tributação não estabelece faixas progressivas, contraria-mente ao que faz a Lei n. 12.469, de 26 de agosto de 2011, que trata do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. A regra estimula uma racionalidade econômica indesejável, segundo a qual pode ser mais vantajoso conter a receita bruta, para se manter no regime simplificado de tributação, do que ultrapassá-la e submeter-se a outro regime, mais oneroso. Por outro lado, fossem fixadas faixas progressivas, estabelecendo critérios para cada uma delas, até que se atingisse um patamar de receita bruta a partir da qual se tributasse por alíquota máxima, certamente se daria um incentivo importante para o crescimento das dimensões empresariais e para o desenvolvimento econômico e social sem, contudo, acarretar qualquer perda de arrecadação.

O mesmo mal assombra as sociedades que apuram o imposto pelo sistema de lucro presumido, as quais tendem a conter seu crescimento quando se aproxima do limite de enquadramento, com vistas a remanescer enquadradas, ao menos por mais um exercício. É certo que essa contenção de crescimento se estabelece, mui-tas vezes, por meio da manipulação da expressão contábil do estado da empresa, mas não são infrequentes, entre empresários, iniciativas de refreamento de movi-mentos de expansão, sob o temor de não suportar o custo tributário decorrente da mudança de regime.

O mal do crescimento contido expressa uma atuação contraproducente do estado e, portanto, uma técnica regulatória indesejável.

1.3.6. A utilidAde do re-sAs às sociedAdes em crise

O RE-SAS foi concebido para prover organização jurídica às pequenas e às médias empresas, mas também pode servir à grande empresa que passa por um momento de crise, para que regule a sua situação patrimonial com o critério de enquadramento.

Nesse particular, o regime é especialmente útil e, se bem utilizado, pode con-tribuir para recuperação de sociedades em crise, pois seu manejo simplificado reduz formalidades e custos desnecessários nesses momentos dif íceis.

1.3.7. A inexistênciA de critérios relAcionAdos Ao cApitAl: o cApitAl mínimo

A função ad extra do capital social perdeu, nos últimos tempos, grande parte de seu prestígio. E, nesse sentido, tornou-se menos relevante boa parte de sua

76 Expressão que nos foi sugerida por Everardo Maciel, Secretário da Receita Federal, de 1995 a 2001.

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tutela. Essas afirmações não são uma defesa à abolição de entradas para formação do capital social. Pelo contrário, o capital exerce funções relevantes, como anotar a contribuição pessoal de cada sócio à sociedade, definir o montante do perdimen-to pessoal, em caso de insucesso empresarial e quebra da sociedade, mas, sobre-tudo, estabelecer critérios, sob o princípio majoritário, à atribuição de direitos políticos aos sócios.

Também tem função expressiva e limitadora do “saque”, por acionistas, de sua contribuição, mediante redução de capital, ato que reclama certas formalidades, previstas no art. 173 da LSA77, notadamente a publicidade prévia e a inexistência de oposição de credores.

É sensível a clareza com que, mesmo carecendo de atualização, J. X. Carvalho de Mendonça precisou a distinção entre capital e patrimônio social.

O autor explica que o capital social representa a totalidade, expressa em dinheiro, dos contingentes realizados ou prometidos pelos sócios com o fim de constituir a sociedade. Seria, nesse sentido, a primeira das garantias oferecidas aos terceiros, o fundamentum societatis. A partir dessa ideia distingue capital de patrimônio ou fundo social. O capital social seria o fundo originário e essen-cial da sociedade, fixado pela vontade dos sócios; o monte constituído para a base das operações. O fundo social, por outro lado, seria o patrimônio da so-ciedade no sentido econômico, a soma de todos os bens que podem ser objeto de troca e que são de propriedade da sociedade. Nesse sentido, não compreen-deria apenas o capital social, mas tudo o que a sociedade adquirir durante a sua existência78.

A doutrina mais recente, todavia, construiu, sempre em atenção à semânti-ca obrigatória, imposta pela dogmática nas mais diversas legislações, uma noção multifacetada de capital. O capital social é, atualmente, uma unidade complexa ou um fenômeno complexo, mas unitário79. Na sua vertente formal é o elemento do pacto que se consubstancia numa cifra – representativa da soma dos valores

77 “Art. 173. A assembleia geral poderá deliberar a redução do capital social se houver perda, até o montante dos prejuízos acumulados, ou se julgá-lo excessivo. § 1º A pro-posta de redução do capital social, quando de iniciativa dos administradores, não po-derá ser submetida à deliberação da assembleia geral sem o parecer do conselho fiscal, se em funcionamento. § 2º A partir da deliberação de redução ficarão suspensos os direitos correspondentes às ações cujos certificados tenham sido emitidos, até que sejam apresentados à companhia para substituição.”78 Cf. CARVALHO DE MENDONÇA, J. X. Tratado de direito comercial brasileiro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1933. v. 3, p. 27 et seq.79 Cf. FORTUNATO, Sabino. Capitale e bilanci nella S.P.A. Rivista delle Società, Milano, anno 36, fasc. 1, p. 125 et seq., gen./feb. 1991.

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nominais das participações sociais fundadas em entradas de bens, não do valor das próprias entradas80 – e que, inscrita no lado direito do balanço, determina o valor em que o ativo há de superar o passivo81. Na acepção real, entretanto, é constituído por uma massa de bens – não determinada qualitativamente, exceto no momento da constituição – que é uma fração ideal do patrimônio líquido e que se destina a cobrir o valor do capital social nominal. A sociedade é obrigada a conservar intacta, ao menos contabilmente, tal quantidade de bens, que, quan-do não for excessiva, apenas poderá ser afetada pelos azares e pelas vicissitudes da atividade empresarial82.

O capital social compõe-se, apenas em sua acepção real, por parte das posições ativas que integram o patrimônio e, nesse sentido, é seu componente. Disso se deduz, consequentemente, um conceito de patrimônio.

Nas duas acepções, formal e real, mesmo diante de um esforço legislativo para manter a incolumidade de seu efetivo valor, o capital será um fator de produção, senão apenas uma notação contábil. A garantia de terceiros, função ad extra83, que determina a conservação-preservação de seu valor, não implica vedação do em-prego da massa de bens que o constitui – em sua vertente real – no exercício da empresa (função ad intra)84.

Em verdade, a história do direito societário – nesse particular confirmada por inúmeros autores85 – explica que o capital social surge, originariamente, apenas

80 Mais modernamente, nem sempre o valor da participação social é idêntico ao valor da entrada do respectivo sócio. Cf. URIA, Rodrigo. Derecho mercantil. Madrid: Marcial Pons, 1996. p. 229. Entre nós, para uma explicação sintética, mas bastante correta, cf. CARVALHOSA, Modesto. Comentário à Lei de Sociedades Anônimas. São Paulo: Sa-raiva, 1997. v. 1, p. 47 et seq.81 Cf. PORTALE, Giuseppe B. Capitale sociale e società per azzioni sottocapitalizza. Rivista delle Società, Milano: Giuffrè, fasc. 1, p. 1 et seq., genn./febb. 1991.82 Cf. DOMINGUES, Paulo de Tarso. Do capital social: noção, princípios e funções. Coimbra: Coimbra Ed., 1998. p. 50 et seq.83 Não se trata, propriamente, da função de produtividade, mas de sua condição es-sencial e, desta forma, pode ser considerada fator de produção.84 É o que a doutrina especializada chama de função de produção ou função de pro-dutividade. Nesse sentido, cf. SIMONETTO, Ernesto. La riduzione del capitale exube-rante. Rivista delle Società, Milano, p. 453 et seq., 1966; PÉREZ DE LA CRUZ BLANCO, António. La reducción del capital en sociedades anónimas e de responsabilidad limita-da. Bolonia: Real Colegio de España, 1973. p. 40 et seq.; NICCOLINI, Giuseppe. Il capitale sociale mínimo. Milano: Giuffrè, 1981. p. 23 et seq. DOMINGUES, Paulo de Tarso. op. cit., p. 185.85 Cf. PORTALE, Giuseppe B. op. cit., p. 15, n. 31; CELAYA ULIBARRI, Adrián. Capital y sociedad cooperativa. Madrid: Tecnos, 1992. p. 39; DOMINGUES, Paulo de

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com uma função de produtividade. Tinha, desde seu aparecimento como fenôme-no, a finalidade de reunir os meios econômicos que permitissem o desenvolvimen-to da atividade empresarial, ao que se agregou, mais tarde, com a limitação de responsabilidade alcançada pela classe mercantil, a função de garantia86. O capital social, nesse sentido, afirmou-se, segundo o entendimento de alguns autores, como primeira e última garantia dos credores e o principal motivo de concessão de cré-dito à sociedade87. Mas se demonstrou, com o tempo, apenas uma garantia puta-tiva, particularmente em razão da necessária primazia da função de produtividade; o emprego das entradas de capital é fundamental ao exercício da empresa e, por-tanto, da função precípua da sociedade empresária. Nesse contexto, o esgotamen-to eventual do capital é uma situação aceitável, que rende inútil, como não poderia deixar de ser, a função de garantia do capital. As soluções, nesses casos, serão: (i) impor a sua recomposição, por meio de um comando normativo direto, que de-termine a manutenção de um capital mínimo; e (ii) imputar responsabilidade aos sócios por subcapitalização (nominal ou material). A segunda solução – mesmo que envolta por uma grande dose de subjetivismo – parece preferível, justamente porque contempla as peculiaridades e riscos intrínsecos de cada atividade, tornan-do desnecessária a criação de um critério normativo objetivo à recomposição do capital. Além disso, a imposição de um capital mínimo é um evidente entrave às pequenas e às médias empresas, que devem verter todos os recursos disponíveis ao desenvolvimento e mesmo à sobrevivência da atividade.

No âmbito da subcapitalização, entretanto, atribui-se à sociedade e aos sócios um juízo acerca da necessidade de recomposição do capital, submetendo-os a ampla insegurança e incerteza. Essa constante ameaça ao empreendedor não pa-rece, por outro lado, corresponder a uma proteção eficaz aos credores.

Em qualquer hipótese, as melhores garantias aos credores serão informações que dão conta do estado da empresa, a exemplo do patrimônio líquido, do grau de endividamento, a qualidade dos ativos etc. Essas informações também poderão ex-plicar, para fins de imputação de responsabilidade, a causa do eventual esvaziamen-to do patrimônio social e a efetiva contribuição dos sócios para esse acontecimento.

Daí, portanto, afirmar-se que não é mais disseminada a crença de que o capi-tal serve de garantia essencial aos credores.

Tarso. op. cit., p. 189 et seq.86 Carvalhosa defende, entre nós, especialmente em razão da disciplina das sociedades por ações, uma transformação nas funções do capital social que, externamente, deter-mina um enfraquecimento de seu caráter de garantia. Cf. CARVALHOSA, Modesto. op. cit., p. 48 et seq.87 Cf. SOLA CAÑIZARES, Felipe de; AZTIRIA, Enrique. op. cit., p. 29 et seq.

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Não faria qualquer sentido, desse modo, impor um capital mínimo às compa-nhias aderentes do RE-SAS ou mesmo empregar o capital como critério de enqua-dramento.

Essa é, aliás, a regra geral, prevista no art. 5º da LSA88.

1.4. O PROCEDIMENTO DE ADESÃO AO RE-SAS

A adesão ao RE-SAS pode ocorrer no ato constitutivo da companhia, sempre que seu patrimônio líquido for inferior ao limite máximo legal, ou a qualquer tempo durante sua existência.

Em qualquer hipótese, depende da aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto. Esse é o quórum mínimo, não sujeito a redução, pois representa a garantia de que a adesão (ao regime especial) somente ocorrerá se houver a concordância de número substancial de acionistas.

1.4.1. Ações ordináriAs e preferenciAis

O texto admite, em vista da aplicação supletiva das demais normas da LSA, que companhias emissoras de ações ordinárias e preferenciais, com ou sem direi-to a voto, adotem o RE-SAS. Não se trata, portanto, de regime a que se sujeitam exclusivamente as companhias que emitirem ações ordinárias, ou ações ordinárias e preferenciais, com direito a voto. Consequência desse fato é que o número abso-luto variará em função da existência, ou não, de ações preferenciais sem direito a voto. No caso de companhia que tenha emitido 50% de ações preferenciais, sem direito a voto, o quórum para deliberação será de metade das demais, ou seja, de 25% da totalidade das ações emitidas; enquanto, em companhia cujas ações forem todas ordinárias, o quórum será de 50% da totalidade.

1.4.2. A exclusão

Segundo as sábias palavras de José Luiz Bulhões Pedreira, o patrimônio líqui-do é “[...] conceito formado subjetivamente pelo observador, que representa a quota-parte do estoque de capital aplicado que remanesce no ativo depois de idealmente diminuído do valor do passivo exigível”89. Isso significa que a mutação do patrimônio líquido é constante, para refletir toda e qualquer “formação ou re-dução do capital aplicado no ativo e aumento ou diminuição do passivo exigível; e

88 “Art. 5º O estatuto da companhia fixará o valor do capital social, expresso em moe-da nacional.”89 BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. op. cit., p. 210.

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como o patrimônio é um processo contínuo, as variações no capital próprio são constantes e seu montante somente é conhecido por referência ao estado de capi-talização do patrimônio em determinado momento”.

Daí a necessidade de se estabelecer um momento de verificação do enquadra-mento, com efeitos imediatos e futuros. Essa é a única solução viável, preferível, portanto, do que um modelo em que o reconhecimento da exclusão ocorresse a qualquer momento.

O RE-SAS, nesse sentido, está em harmonia com o art. 176 da LSA, segundo o qual, ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar as demonstrações financeiras da companhia. Apurada, nesse momento, e somente nesse, uma evo-lução do patrimônio que ultrapasse o limite, a exclusão do regime é automática, mesmo que acionistas não a deliberem.

As eventuais variações ocorridas ao longo do exercício, que possam caracte-rizar a superação do limite máximo de enquadramento, não têm consequência prática; apenas indicam que a companhia atingiu uma dimensão que, ao final do exercício, poderá determinar sua exclusão do RE-SAS. Mesmo que seu patrimônio seja superior ao limite durante boa parte do exercício, a companhia se manterá no RE-SAS se, ao término do exercício, o enquadramento persistir.

Por outro lado, verificada a superação do limite de enquadramento, a exclusão é automática, com efeitos a partir do exercício social seguinte. Obrigatória a ela-boração de demonstrações ao final do exercício social, que costuma coincidir com o último dia do ano civil, isto é, 31 de dezembro, então, no exercício social seguin-te, que tem início no dia imediatamente posterior, a companhia excluída já se su-jeita a outro regime.

1.4.3. o término do exercício sociAl e A elAborAção dAs demonstrAções finAnceirAs

O término do exercício social ocorre no último dia do exercício, coincidindo, em resumo, com o fim do exercício fiscal. O último dia do exercício é utilizado como base para levantamento de demonstrações financeiras. É o momento em que se faz uma espécie de fotografia da situação patrimonial e financeira e se apresen-tam relatórios que contêm o balanço patrimonial, as demonstrações de lucros ou prejuízos, os resultados do exercício, o fluxo de caixa e o valor adicionado. Diz-se fotografia porque, no dia seguinte, uma nova foto poderia exibir “imagens” distin-tas, compassadas com os acontecimentos daquele novo dia, na forma como foram escriturados pela companhia.

Apesar dessa cambiante realidade, o que importa para a legislação societária é o momento que marca o encerramento do exercício.

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1.4.4. o escrutínio e umA deliberAção sobre A correção dAs demonstrAções finAnceirAs

Uma deliberação positiva, que se segue a um escrutínio, é fundamental para que o projeto de balanço – ou de demonstrações financeiras – deixe de ser simples ato material, passando a se configurar como ato jurídico90. É nesse momento, em que ocorre a aprovação, no âmbito de uma assembleia geral regularmente convo-cada e instalada, que o balanço e as demonstrações financeiras passam a ter relevo jurídico.

Esse é o marco que identifica, contudo, uma realidade pretérita, uma situação financeira e patrimonial anterior.

De se notar, aliás, que, no momento da deliberação, a realidade da companhia será, necessariamente, distinta da deliberada. Mesmo que ocorra no dia seguinte, delibera-se sobre um estado passado, distinto do atual.

Esse hiato temporal não enfraquece ou diminui a importância do ato que se produz. Revela um importante elemento de avaliação, de que se valem os acionis-tas para conhecer o desempenho da companhia, dos administradores e as riquezas geradas. Permite realizar avaliações verticais e horizontais, comparando-se o re-sultado do exercício com outros exercícios da própria companhia ou com o de-sempenho, no mesmo ano, de sociedades concorrentes.

1.4.5. o hiAto entre o encerrAmento do exercício e A AprovAção dAs demonstrAções finAnceirAs: As consequênciAs dA exclusão

O RE-SAS também reconhece a existência de hiatos temporais entre o encer-ramento do exercício e a aprovação das demonstrações financeiras. No período que se protrai do encerramento do exercício até a elaboração de demonstrações financeiras e a ocorrência de uma deliberação (que as aprove ou rejeite), haverá intervalos temporais que serão tanto menores quanto maior a organização interna da companhia e a diligência de seus administradores. Compete-lhes, inclusive, zelar para que a escrituração se realize com propriedade e rapidez, permitindo a extração de relatórios em curtos espaços de tempo.

90 Cf. Fábio Konder Comparato, “[o] balanço é um ato jurídico e não simples ato material. De balanço, a rigor, só se pode falar depois que o titular do patrimônio balan-ceado – pessoa f ísica ou jurídica – o aprova, obedecidas as formalidades legais. Antes disso, o que há é um projeto ou uma minuta de balanço, sem valor contábil ou existên-cia jurídica” (In: COMPARATO, Fábio Konder. Ensaios e pareceres de direito empresa-rial. Rio de Janeiro: Forense, 1978. p. 30).

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No interregno entre o primeiro dia do novo exercício social e a data da deli-beração das demonstrações financeiras, a companhia que tiver, ao longo do ano, apresentado variações patrimoniais muito próximas do limite de enquadramento, deverá alertar seus acionistas da possibilidade de exclusão automática e de suas consequências.

Em caso de superação do limite máximo de enquadramento, ocorrerá a ex-clusão, desde o primeiro dia do exercício social seguinte. A deliberação, portanto, não é causa da exclusão; apenas serve para identificar e trazer ao mundo do direi-to um evento pretérito, que produz efeitos desde a sua ocorrência.

Mesmo que os acionistas ou a companhia ainda a desconheçam, a exclusão gera efeitos a partir do início do exercício, o que inspira uma maior diligência da diretoria para fazer elaborar as demonstrações. Quanto antes estiverem concluídas, antes os acionistas as conhecerão e mais rapidamente poderão votar sobre sua aprovação ou rejeição. Nesse contexto, essa diligência determina o conteúdo dos deveres fiduciários dos administradores.

Esse aspecto revela outro aspecto positivo do RE-SAS: a diminuição dos hia-tos entre encerramento do exercício, a elaboração de demonstrações financeiras e o seu escrutínio.

Isso, aliás, já ocorre entre as sociedades brasileiras integrantes de grupos transnacionais, as quais praticam prazos exíguos de fechamento e de apresentação de contas, de modo a permitir: (i) maior controle da atividade empresarial por parte de suas controladoras; e (ii) o cumprimento de prazos de publicação de contas consolidadas a que se sujeitam as sociedades controladoras.

1.4.6. formAlidAdes

Apesar de a exclusão ser automática, haverá necessidade de se promoverem certas adaptações ao estatuto, como a supressão da referência ao RE-SAS no esta-tuto da companhia. Para tanto, o PL n. 4.303/2012 prevê que os acionistas sejam convocados a participar de assembleia geral, para deliberarem sobre as necessárias adaptações.

O regime da convocação, instalação e deliberação da adaptação do estatuto segue a disciplina convencional imposta pela LSA, observado que a convocação ocorrerá no prazo máximo de 30 dias contados da exclusão e deverá ser providen-ciada pelo conselho de administração, se existente, ou pelos diretores, na forma prevista no estatuto da companhia.

O mesmo prazo de convocação é adotado para o caso de adesão ao regime. Cumpre enfatizar que essa convocação somente será necessária se a assembleia que deliberar a adesão deixar de deliberar, ato contínuo, a adaptação dos esta-tutos.

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Os estatutos adaptados deverão indicar, expressamente, a adoção do RE-SAS. Essa indicação é relevante para que terceiros conheçam o tratamento excepcional a que se submete essa dada companhia, como a permissão de unipessoalidade permanente de acionista ou o alargamento das hipóteses de retirada.

No caso de exclusão, a adaptação também é necessária para suprimir a men-ção à adoção do regime e para reverter toda a disciplina especial aplicável apenas às companhias sujeitas ao RE-SAS.

2. OS ARTS. 294-B E 294-C: A UNIpESSOALIDADE E A CONDIÇÃO DO ACIONISTA

Art. 294-B. A companhia sob o regime especial da SAS poderá ter um único acionista.Art. 294-C. A SAS poderá ser constituída por pessoa f ísica ou jurídica.

2.1. A PLURALIDADE DE SóCIOS

A regra de pluralidade de sócios é ultrapassada, foi superada em muitos orde-namentos, que aceitam a sociedade unipessoal; o legislador, contudo, ainda impe-de, no Brasil, por incompetência ou sob o argumento de que não haveria socieda-de sem pluralidade de sócios, que se organize sociedade unipessoal de responsa-bilidade imanente91. A vedação não opõe um verdadeiro obstáculo, desde logo, porque condutas puramente pragmáticas são capazes de superá-la, a exemplo da utilização nociva de “homens de palha”, mas, sobretudo, porque o comando que determina a dissolução de sociedades incapazes de superar, em 180 dias, o perdi-mento da pluralidade de sócios, não se concretiza no mundo fático. Não se tem notícias de sociedades dissolvidas em razão do decurso do prazo legal, sem a re-composição da pluralidade.

De todo o modo, a leniência com o emprego de simulações e a absoluta au-sência de concreção de normas não interessam ao direito; a sociedade unipessoal é uma necessidade, especialmente, às pequenas e às médias empresas, que eviden-temente não agregam um grande número de pessoas.

91 Isso, por certo, caso não se rejeite a hipótese que defende seja a EIRELI uma forma societária. Cf. JORGE WARDE JR., Walfrido; SETOGUTI, G. A sucessão mortis causa no âmbito da EIRELI: o ressurgimento da empresa-organização: anacronismo, vacui-dade dogmática e non liquet. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Fi-nanceiro, São Paulo. No prelo.

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2.2. POR UMA SOLUÇÃO DE UNIPESSOALIDADE

A associação, desprovida de causa associativa (independentemente da moti-vação) corrompe os fundamentos do instituto e perpetua distorções desnecessárias, a exemplo do que Tullio Ascarelli chamou de “inércia jurídica”92.

Adotando-se a precisa formulação desse autor, o direito societário vem solu-cionando as exigências da vida prática do empreendedor com velhos institutos, inserindo-o, é verdade, em ambiente formal conhecido e seguro. Mas, paradoxal-mente, inserindo-o, também, em outro ambiente, incerto e inseguro: o da associa-ção com pessoa a quem não se pretende associar.

Mesmo que se argumente, sem razão, que a utilização da sociedade anônima desvirtuou sua verdadeira função, que seria a formatação de grandes empreendi-mentos a partir da contribuição generalizada e anônima de recursos, fato é que as “exigências da vida prática”93 a aproximaram do pequeno e do médio empresários e a alçaram ao melhor modelo para o empreendedorismo. Resta introduzir-lhe mudanças pontuais, cirúrgicas, como as oferecidas pelo RE-SAS.

Essas exigências não podem ser ignoradas pelo teórico, pelo acadêmico; mui-to menos pelo legislador, instrumento de legitimação da vontade social94.

2.3. FORMA JURÍDICA, SOCIEDADE ANÔNIMA E A UNIPESSOALIDADE

O legislador brasileiro vem se mostrando avesso ao reconhecimento de que esses pequenos e médios empreendimentos são, em muitas situações, desenvolvi-dos, na verdade, por apenas uma pessoa, que se depara com duas alternativas: empreender individualmente, assumindo – sem qualquer limitação – todos os riscos da empresa, ou mediante a constituição de sociedade, com o emprego de um “homem de palha”, a emprestar-lhe nome para constituição de pluralidade95.

92 Nas palavras de Tullio Ascarelli: “As novas necessidades são, então, satisfeitas, mas o são com velhos institutos. Nessa adaptação, a nova exigência é satisfeita através de um velho instituto que traz consigo as suas formas e a sua disciplina, e oferece à nova matéria, ainda em ebulição, um velho arcabouço já conhecido e seguro. [...]”. ASCARELLI, Tullio. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado. São Paulo: Saraiva, 1969. p. 93.93 Conforme expressão de Tullio Ascarelli, Id. Ibid.94 Legislador que já havia inserido um elemento de conexão entre a forma de organi-zação jurídica da macroempresa e as pequenas e médias empresas, com a adoção do regime original do art. 294.95 Essa realidade chamou a atenção de Calixto Salomão Filho, que vê no apoio às pequenas e às médias empresas o principal fundamento econômico para o reconheci-mento da sociedade unipessoal com responsabilidade imanente. Afirma o autor que “[a] análise da sociedade unipessoal exige considerações de caráter jurídico e econômico. É

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Admite-se a unipessoalidade, contudo, em situações excepcionais, algumas apli-cáveis exclusivamente às companhias.

Essa esquizofrenia legislativa foi há muito solucionada em diversas jurisdições, que reconheceram e sistematizaram a sociedade unipessoal, mesmo para admitir a constituição de sociedade anônima unipessoal96.

2.4. A UNIPESSOALIDADE NO CONTExTO BRASILEIRO

O sistema vigente já admite a unipessoalidade, de modo canhestro, é verdade, em duas situações: uma permanente, revestida de certas formalidades, e outra transitória; ambas a contribuir para a organização da macroempresa.

A primeira é descrita no art. 251 da LSA, que versa sobre a subsidiária integral97. Trata-se de situação permanente porque a unipessoalidade é essência do instituto. Assim, desde que constituída por escritura pública, a companhia pode ter apenas um acionista. Outra condição, obrigatória, é que o acionista único seja sociedade brasileira.

Destacam-se, pois, as condições fundamentais e necessárias da subsidiária integral: (i) inexistência de escolha do tipo societário (apenas se constitui como sociedade anônima); (ii) pode ser constituída apenas por uma sociedade brasileira; e (iii) por escritura pública.

A situação transitória está prevista no art. 206, I, d, da LSA, e trata das con-sequências advindas da unipessoalidade involuntária. Nessa hipótese, dissolve-se a companhia pela existência de acionista único, verificada em assembleia geral ordinária, se o mínimo de dois não for reconstituído até à do ano seguinte.

Mesma solução, porém com critério distinto para reconstituição da plurali-dade, é prevista no art. 1.033 do Código Civil98.

bastante claro que o empresário individual é, na sua forma típica, um pequeno e médio empresário, com poucos dependentes e pouca utilização de capital. É exatamente nessa característica típica que a sociedade unipessoal encontra sua justificação econômica mais evidente. O apoio à pequena e média empresa é o principal fundamento econômico para o reconhecimento da sociedade unipessoal com responsabilidade limitada. [...]”. Cf. SA-LOMÃO FILHO, Calixto. A sociedade unipessoal. São Paulo: Malheiros Ed., 1995. p. 67.96 Na França e na Colômbia. 97 “Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira. § 1º A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral deverá aprovar o laudo de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo nos termos do § 6º do artigo 8º e do artigo 10 e seu parágrafo único. § 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252.”98 “Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: [...] IV – a falta de pluralidade

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O RE-SAS excepciona o modelo, para compassar a sociedade unipessoal às hipóteses em que é precipuamente necessária. Note-se que o RE-SAS não exige seja o fundador uma sociedade anônima, visto que qualquer pessoa f ísica ou jurí-dica pode constituí-la ou dela tornar-se acionista única; o acionista não precisa ser brasileiro; dispensam-se formalidades injustificáveis, como constituição por escri-tura pública.

2.5. DIRETIvA EUROPEIA

A Diretiva do Parlamento Europeu 2009/102/CE, de 16 de setembro de 2009, que versa sobre sociedades de responsabilidade imanente com um único sócio, estabeleceu, no art. 2º, que a “sociedade pode ter um sócio único no momento da sua constituição, bem como por força da reunião de todas as partes sociais numa única pessoa (sociedade unipessoal)”.

Apesar do reconhecimento da sociedade unipessoal, a Diretiva demonstra acanhamento ao estabelecer, no art. 7º, que “um Estado-Membro pode decidir não permitir a existência de sociedades unipessoais no caso de a sua legislação prever a possibilidade de o empresário individual constituir uma empresa de responsabi-lidade limitada com um património afecto a uma determinada actividade [...]”.

O RE-SAS permitirá, se vier a conviver com a Empresa Individual de Respon-sabilidade Limitada (EIRELI), já disciplinada pelo art. 980-A do CC, a convivência entre duas formas de organização da empresa individual de responsabilidade imanente: o patrimônio de afetação, no caso da EIRELI, e a companhia, com acionista único, sob o RE-SAS. Uma não deve excluir a outra, afirmando-se, cada qual, como uma “via de direito” à disposição da comunidade administrada. Cabe-rá, portanto, em última análise, ao “usuário” julgar sua utilidade e estabelecer preferências.

2.6. O RE-SAS E A SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DA UNIPESSOALIDADE NO BRASIL

O RE-SAS prevê que “a sociedade anônima simplificada poderá ter um único acionista”, que pode ser “pessoa f ísica ou jurídica”.

de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; [...] Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empre-sário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 12.441, de 2011)”

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A proposta não obriga, mas autoriza a unipessoalidade originária ou inci-dental, e afasta a dúvida, que ainda paira sobre a EIRELI, acerca da natureza de seu titular. A Lei n. 12.441, de 11 de julho de 2011, que instituiu o art. 980-A do CC, dispõe que a “empresa individual de responsabilidade limitada será consti-tuída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País”.

Parece certo que o texto de lei não faz distinções, mas esse entendimento não é consolidado, causando ainda insegurança acerca da legitimidade de EIRELI que tenha uma pessoa jurídica como sua titular.

O RE-SAS afasta o impasse e soluciona definitivamente o problema da uni-pessoalidade.

2.7. PARTICIPAÇÃO EM MAIS DE UMA COMPANhIA SOB O RE-SAS

O Projeto de Lei n. 4.303/2012 não proíbe a participação, por pessoa f ísica ou jurídica, em mais de uma companhia sujeita ao RE-SAS. Aliás, O silêncio determi-na a aplicação supletiva da LSA, que não impõe qualquer restrição aos investimen-tos em mais de uma sociedade. Assim, pessoas naturais ou jurídicas poderão ser acionistas de mais de uma companhia aderente ao RE-SAS.

Esse modelo não implica diminuição de direitos ou de proteção de credores, trabalhadores, fisco ou agentes que, de algum modo, tenham interesse na sorte das companhias. Pelo contrário, como se exige que cada uma das companhias divulgue suas demonstrações financeiras e outros documentos em mídia de acesso imediato e ilimitado, o acesso a informações tornará absolutamente trans-parente a formação de estruturas grupais e as suas consequentes repercussões financeiras.

Nesse aspecto, vale observar que a formação de estruturas grupais não inte-ressa apenas à macroempresa, mostrando-se igualmente útil às sociedades emer-gentes, seja para fins de organização do exercício da empresa, seja para estabelecer mecanismos ao seu financiamento.

Nesse contexto, vale lembrar, prevalece o que dispõe o art. 243 da LSA, para determinar que as companhias informem, no relatório da administração, todos os seus investimentos em sociedades coligadas e controladas, mencionando as mo-dificações ocorridas no exercício99. Não será diferente se a companhia investida

99 “Art. 243. O relatório anual da administração deve relacionar os investimentos

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estiver sujeita ao RE-SAS.Ademais, o art. 248 da LSA exige que os investimentos em coligadas ou con-

troladas, sujeitas a controle comum, sejam avaliados pelo método de equivalência patrimonial, de acordo com as seguintes regras:

I – o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de veri-ficação levantado, com observância das normas desta Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia; no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a compa-nhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas; II – o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou controlada; III – a diferença entre o valor do investimento, de acordo com o nú-mero II, e o custo de aquisição corrigido monetariamente; somente será registrada como resultado do exercício: a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coligada ou controlada; b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou perdas efetivos; c) no caso de companhia aberta, com observância das normas expedi-das pela Comissão de Valores Mobiliários. § 1º Para efeito de determinar a relevância do investimento, nos casos deste artigo, serão computados como parte do custo de aquisição os saldos de créditos da companhia contra as coligadas e controladas. § 2º A sociedade coligada, sempre que solicitada pela companhia, de-verá elaborar e fornecer o balanço ou balancete de verificação previsto no número I.

A sociedade controladora deverá, portanto, expressar, por via reflexa, os re-

da companhia em sociedades coligadas e controladas e mencionar as modificações ocorridas durante o exercício. § 1º São coligadas as sociedades nas quais a investido-ra tenha influência significativa. (Redação dada pela Lei n. 11.941, de 2009) § 2º Considera-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores.”

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sultados de seus investimentos em controladas aderentes ao RE-SAS, exatamente como já se dá com as sociedades sujeitas a mesmo controle.

2.8. A NACIONALIDADE DO ACIONISTA úNICO

O art. 300 da LSA manteve vigentes as normas dos arts. 59 a 73 do Decreto-lei n. 2.627/40, que dispõem sobre as companhias nacionais ou estrangeiras. O art. 60, com efeito, anota serem nacionais as sociedades organizadas de acordo com a lei brasileira e que no país mantenham sua sede administrativa.

As companhias estrangeiras, para que funcionem no país, sujeitam-se à regra que impõe autorização do Governo Federal, com o fim de tutelar interesses brasi-leiros e, no geral, direitos de brasileiros e de residentes que se relacionem com companhias estrangeiras.

A lei admite, entretanto, que companhias estrangeiras detenham participação de sociedade brasileira, independentemente de autorização (ressalvadas as proibi-ções ou limitações específicas impostas por legislação especial).

Desse modo, não há restrição, a que sociedade estrangeira seja acionista de companhia brasileira. Aprovado o PL n. 4.303/2012, uma sociedade estrangeira poderá constituir ou se tornar acionista de companhia brasileira, sob o RE-SAS, ainda que seja acionista única.

Vale lembrar que a lei já oferece solução aos possíveis problemas causados por companhia estrangeira, acionista de companhia brasileira, especialmente em razão do enfraquecimento da concreção da tutela do crédito.

O art. 11 da Instrução Normativa RFB n. 568, de 8 de setembro de 2005, de-termina que:

[...] são também obrigados a se inscrever no CNPJ: [...] XIV – pessoas jurídicas domiciliadas no exterior que no País: a) possuam: 1. imóveis; 2. veículos; 3. embarcações; 4. aeronaves; 5. participações societárias; 6. contas correntes bancárias; 7. aplicações no mercado financeiro; 8. aplicações no mercado de capitais; 9. bens intangíveis com prazo de pagamento superior a 360 dias; e 10. financiamentos. b) pratiquem: 1. importação financiada; 2. arrendamento mercantil externo (leasing); 3. arrendamento simples, aluguel de equipamentos e afretamento de embarcações; 4. importação de bens sem cobertura cambial, destina-dos à integralização de capital de empresas brasileiras; 5. empréstimos em moeda concedidos a residentes no País; 6. investimentos; 7. outras operações estabelecidas e disciplinadas pelo Coordenador-Geral da Corat.

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O art. 67 do Decreto n. 2.627/40 determina que as “[...] sociedades anônimas estrangeiras, autorizadas a funcionar, são obrigadas a ter, permanentemente, re-presentante no Brasil, com plenos poderes para tratar de quaisquer questões e resolvê-las definitivamente, podendo ser demandado e receber citação inicial pela sociedade”. Em seu parágrafo único, estabelece, ainda, que “[...] só depois de arqui-vado no Registro do Comércio o instrumento de sua nomeação, poderá o repre-sentante entrar em relação com terceiros”.

3. O ART. 294-D: DIMINUIÇÃO DOS CUSTOS DE pUBLICIDADE E MAIOR pUBLICIDADE

Art. 294-D. A companhia sob o regime especial da SAS poderá:I – convocar assembleia geral por anúncio entregue a todos os acionis-tas, contra recibo, com a antecedência prevista no art. 124;II – divulgar e manter seus atos constitutivos, as atas de assembleia geral, os documentos de que trata o art. 133 e as atas de conselho de administração, se houver, em sítio próprio, mantido na rede mundial de computadores.§ 1º A divulgação dos atos ou documentos referidos no inciso II dis-pensa a Companhia das publicações do art. 289.§ 2º A Companhia deverá guardar os recibos de entrega dos anúncios de convocação e arquivá-los no registro de comércio, juntamente com os demais atos e documentos referidos neste artigo.

O RE-SAS é inovador (e, ao mesmo tempo, realista) em relação à publicidade de atos societários, para inserir a companhia no mundo da acessibilidade à infor-mação. Rompe, por isso, com tendência anacrônica de privar acionistas e agentes que gravitam ao entorno da empresa de conhecer o seu estado.

3.1. AMPLO ACESSO à INFORMAÇÃO

O inciso I, que trata da entrega de anúncio de convocação a acionistas, em nada difere da redação original da LSA. A inovação está no inciso II.

Aqui, com efeito, a companhia sujeita ao RE-SAS goza, por si, por seus acio-nistas e stakeholders, dos benef ícios de acesso rápido e barato à informação.

Isso porque todos os atos societários passam a ser divulgados na rede mundial de computadores e lá mantidos em caráter permanente. A permanência é o pro-pósito da utilização do verbo “manter”, e, nesse sentido, atinge todos os propósitos do full disclosure.

Mantendo-se os atos em meio eletrônico, disponíveis em sítio próprio, ofere-ce-se a possibilidade de consulta rápida e precisa, sem custos diretos ou lapsos

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temporais, contribuindo para a agilidade dos negócios e para a tomada de decisões negociais.

3.2. FACULDADE

A divulgação e a manutenção de atos societários na rede mundial de compu-tadores não são deveres, mas faculdades da companhia submetida ao RE-SAS. Ao fazê-lo, a Companhia deverá manter seu sítio eletrônico em funcionamento; por outro lado, preferindo o sistema tradicional de publicação impressa, irá submeter-se ao regime geral.

Outra consequência relevante do exercício dessa faculdade vem enunciada no § 2º. Além da guarda de recibos de entrega dos anúncios de convocação e arquiva-mento, os demais atos societários, divulgados e mantidos em rede mundial, deve-rão ser arquivados no Registro próprio.

Revela-se, pois, um duplo procedimento de divulgação e guarda da informação: um inovador, por meio eletrônico, que se soma ao segundo, tradicional, feito por via f ísica, levada a Registro.

3.3. A GUARDA E O ARQUIvAMENTO DO RECIBO DE CONvOCAÇÃO

É obrigatória a guarda e o arquivamento do recibo do anúncio de convocação, quando realizado diretamente aos acionistas contra recibo, dispensando-se, nesse caso, a convocação pelo procedimento tradicional. Trata-se de mecanismo salutar redutor de custos, capaz de incrementar segurança, visto que o arquivamento de anúncios entregues a todos os acionistas é garantia de paridade de tratamento.

4. O ART. 294-E: DIMINUIÇÃO DOS CUSTOS DE fORMAÇÃO DAS DELIBERAÇÕES

Art. 294-E. O acionista da companhia sob o regime especial da SAS poderá participar e votar a distância em assembleia geral, conforme disposições do estatuto da companhia.

O art. 294-E transcende algum debate acerca da relevância do voto nas socie-dades anônimas. Se, de um lado, a LSA não o inclui na lista de direitos essenciais, de outro os cultores da chamada governança corporativa o elegeram como um dos pilares da ética e da moralidade corporativa.

Essa questão, que por muitas décadas foi tratada, no Brasil, apenas no plano acadêmico, merece, já há algum tempo, estudos sérios, especialmente por conta dos excessos ideológicos.

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Neste livro não nos cabe enfrentar o tema, pois, como anunciado parágrafos acima, o art. 294-E transcende a questão, para enfrentar e resolver um problema de ordem prática: como estimular os acionistas a participar da formação das deli-berações sociais?

O que se está a estimular, obviamente, é a participação de acionistas detento-res de pequenas frações do capital, pois, por definição, acionista controlador não apenas participa, mas tenta controlar o processo de formação das deliberações. Nesse universo, a minoria qualificada tem incentivos econômicos (e, não raro, políticos) para atuar de modo ativo à proteção de seus investimentos.

Esse estímulo não vem da possibilidade de o acionista fazer-se representar por procurador, nos termos do § 1º do art. 126, que, o mais das vezes, implica apenas uma legitimação do poder, por meio de um absenteísmo material100.

O art. 294-E não se preocupa com a legitimação, perpetuação ou justificação do poder, mas com a possibilidade real – apesar de manifestada por meio virtual – de enfrentamento do poder. Oferece-se um instrumento efetivo para participação do acionista nas assembleias da companhia.

4.1. A ECONOMIA DO vOTO E O vOTO à DISTâNCIA

Qual o benef ício que se pode extrair do voto? A resposta depende da partici-pação do acionista no capital da companhia e do retorno de sua atuação ativa. Se sua participação for irrelevante, não deverá haver modo de justificar os custos de deslocamento e as horas dedicadas à atividade de acionista. Enquanto o benef ício extraído do voto não superar o custo associado ao ato de votar, o ativismo socie-tário, do ponto de vista prático, não deixará de instrumentalizar a perpetuação do poder.

A atuação societária (em contraponto à passividade) está necessariamente conectada à incorporação, na prática societária, da tecnologia. Do ponto de vista procedimental, com a participação e permissão de voto à distância, permitindo que o acionista elimine, em sua atuação ativa, os custos que inibem o ativismo.

4.2. DOSAGEM DO REMÉDIO

O voto à distância não é necessário a todas as companhias. Aliás, o hábito de transplantar estrangeirismos, sem o devido cuidado, costuma causar danos imperdoáveis.

100 A respeito da distinção entre controle societário e empresarial, v. JORGE WARDE JR., Walfrido. Responsabilidade dos sócios. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, e MONTEI-RO DE CASTRO, Rodrigo Rocha. Controle gerencial. São Paulo: Quartier Latin, 2010 (Coleção IDSA de Direito Societário e Mercado de Capitais; v. 2).

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Nesse sentido, uma companhia cujas ações sejam detidas por 2 acionistas, ambos próximos do ponto de vista pessoal e administradores da companhia, que se reúnem de forma habitual para deliberar matérias societárias, não comporta ou não justifica a existência de custos atrelados ao preparo de uma reunião à distância.

Situação inversa é a da companhia cujos acionistas se multiplicaram e se es-palharam em diversas cidades (ou Estados da Federação), seja em decorrência da natureza da empresa, seja em razão de atos sucessórios. A relação de parentesco não inibe, como se sabe, o surgimento de conflitos internos. Aqui, a reunião à distância contribui, de modo claro, para que se igualem as oportunidades de par-ticipação na formação das deliberações.

Bem por isso, o art. 294-E estabelece que o estatuto poderá dispor a respeito da participação e do voto à distância, de modo que cada companhia seguirá, se houver previsão estatutária, o procedimento que os acionistas entenderem ade-quado.

5. O ART. 294-f: A DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DE DIvIDENDOS

Art. 294-F. O acionista participa dos lucros, na proporção das respec-tivas ações, podendo dispor diversamente o estatuto.

A LSA foi concebida, como aqui já se disse, para prover organização jurídica à macroempresa101, em que pese sua capacidade de cobrir outras dimensões em-presariais.

A companhia é a primeira forma societária em que todos os acionistas trans-ferem integralmente à sociedade as entradas de capital (sem que lhes remanesça, sobre essas entradas, qualquer poder dominial), em contraprestação a um direito expectativo (um direito creditório eventual) aos lucros distribuíveis. Esse é o fun-

101 Conforme palavras dos coautores da LSA, “[a] empresa não está necessariamente vinculada a um determinado modelo jurídico, nem mesmo político. Numa economia aberta – como no mundo ocidental – pode nascer e permanecer como produto da iniciativa individual, ou – como é mais comum – tender para revestir juridicamente qualquer das formas societárias (...). Mas a grande empresa, constituída por particulares, reveste necessariamente a forma anônima. É que só esse tipo societário contém o ins-trumental necessário para permitir a mobilização de capitais de vulto requerido pelos grandes empreendimentos que marcam o mundo de hoje”. op. cit., p. 207. Conclusão que não se estende à utilização inversa, ou seja, à utilização desse instrumental para permitir a organização da pequena e da média empresa, a exemplo do que ambos pró-prios propuseram com a redação original do art. 294, e que agora se estende com a proposta do RE-SAS.

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damento da irresponsabilidade dos sócios, especialmente em sociedades de res-ponsabilidade imanente. Nesses casos, é a sociedade que irá exercer a empresa, com o emprego de meios de produção de sua exclusiva propriedade. Os sócios serão meros credores, detentores, repise-se, de um direito creditório especialíssimo, de satisfação eventual, condicionada ao bom sucesso da empresa. Os direitos po-líticos se justificam como instrumento atribuído ao sócio, que lhe faculta influen-ciar – sob o princípio majoritário – as deliberações e ações sociais, com vista a orientar a sociedade à maximização do valor das participações sociais e os lucros distribuíveis. Nas sociedades de responsabilidade imanente, de que a companhia é o exemplo mais perfeito, o sócio não responde pelas dívidas da sociedade, mas experimenta perdas, na medida em que o esvaziamento e o esgotamento do patri-mônio social impõem consentâneo perdimento de valor das participações e a inexistência de dividendos. Daí, por que, também nas sociedades de responsabili-dade imanente, diz-se que o acionista participa dos lucros e das perdas, na propor-ção das respectivas ações.

Não sem motivo, o legislador anuncia, logo em seu art. 2º, de modo explícito, que o objeto da companhia será qualquer empresa com fim lucrativo. Assim, sob perspectiva interna, a companhia deve gerar lucro para, sob perspectiva externa, distribuir dividendos. A realização do objeto social é o meio pelo qual a companhia atinge seus fins: gerar excedentes e distribuí-los.

Aí estão as vigas mestras do modelo, erigidas sobre as bases dos arts. 109, I102, e 202103 da LSA.

102 “Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia geral poderão privar o acionista dos direitos de: I – participar dos lucros sociais [...].”103 “Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a impor-tância determinada de acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) I – metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (Incluída pela Lei n. 10.303, de 2001) b) im-portância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma reserva formada em exercícios anteriores; (Incluída pela Lei n. 10.303, de 2001) II – o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferen-ça seja registrada como reserva de lucros a realizar (art. 197); (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) III – os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo declarado após a realização. (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) § 1º O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou fixar outros critérios para determiná-lo,

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5.1. A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS: DIREITO ESSENCIAL

O reconhecimento da importância da solidez do mercado de capitais parece já ter superado a rasa discussão ideológica, apesar de ainda ouvirem-se vozes, talvez retrógradas, em contrário.

Não existe nação desenvolvida, social e economicamente, sem empresas pu-jantes. E é justamente para desenvolvê-las que o mercado de capitais se organiza104.

O modelo escolhido pelo legislador de 1976 foi erigido com essas preocupa-ções: estabelecer novas bases para o mercado de capitais brasileiro, conjugando-se duas posições aparentemente antagônicas, mas que, na sociedade moderna, se complementam: o empreendedorismo e a diluição da propriedade da “empresa”105.

A tutela dos direitos dos acionistas minoritários é, assim, consistente com o modelo que se pretendia estabelecer, e, mais importante, essencial para atração de

desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas mino-ritários ao arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria. § 2º Quando o estatuto for omisso e a assembleia geral deliberar alterá-lo para introduzir norma sobre a maté-ria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso I deste artigo. (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) § 3º A assembleia geral pode, desde que não haja oposição de qualquer acionista presente, deliberar a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos deste artigo, ou a retenção de todo o lucro líquido, nas seguintes sociedades: (Redação dada pela Lei n. 10.303, de 2001) I – companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não conversíveis em ações; (Incluído pela Lei n. 10.303, de 2001) II – companhias fechadas, exceto nas controladas por companhias abertas que não se enquadrem na condição prevista no inciso I. (Incluído pela Lei n. 10.303, de 2001) § 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que os órgãos da administração informarem à assembleia geral ordinária ser ele incompatível com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar parecer sobre essa informação e, na companhia aberta, seus administradores encaminharão à Comissão de Valores Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da assembleia geral, exposição justificativa da informação transmiti-da à assembleia. § 5º Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão registrados como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação finan-ceira da companhia. § 6º Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 de-verão ser distribuídos como dividendos. (Incluído pela Lei n. 10.303, de 2001).” 104 É evidente que o objetivo final do agente que atua no mercado de capitais é a mul-tiplicação de suas próprias riquezas, mas algo que se atinge, mediatamente, com a aplicação imediata de recursos na atividade produtiva. Daí o relevo dos mercados de ações e de dívida. 105 Correto seria dizer da diluição da propriedade do titular da empresa, sob uma acepção puramente pragmática da relação que se estabelece entre os acionistas e os meios de produção de propriedade da companhia.

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poupança popular. Por isso, a determinação taxativa de certos direitos essenciais. Diz o art. 109, nesse sentido, o seguinte:

Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia geral poderão privar o acionista dos direitos de: I – participar dos lucros sociais; II – partici-par do acervo da companhia, em caso de liquidação; III – fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais; IV – preferên-cia para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; V – retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

Não é irrelevante o destaque topológico que se atribuiu ao direito de participar nos lucros, que, na lista do art. 109, vem em primeiro lugar.

Esse destaque decorre da necessidade de atrair e remunerar o capital compro-metido com a atividade empresarial, em um primeiro plano, e, em segundo lugar, de remunerar o capital que, apesar de não ter ingressado diretamente na companhia (mercado secundário), oferece liquidez e justifica os ingressos primários, que, como dito, estimulam diretamente a atividade empresarial.

A garantia de que o acionista não será privado e participará dos lucros sociais é um direito que justifica, juntamente com a limitação de responsabilidade (cuja finalidade é limitar perdas eventuais), a aplicação de recursos em dada empresa, que, por definição, associa-se a risco.

5.2. A DISCIPLINA PRIvADA DA DISTRIBUIÇÃO DE DIvIDENDOS

A LSA é, já se disse aqui, o estatuto jurídico da macroempresa, em que pese sua capacidade de cobrir uma ampla porção do fenômeno empresarial. Existem, atualmente, 252 companhias listadas no “segmento tradicional” da Bovespa, 128 no Novo Mercado, 18 no Nível 2, 33 no Nível 1, 3 no Bovespa Mais e 12 emissoras de BDRs Patrocinados106. Por outro lado, de acordo com dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo, existem, apenas no estado de São Paulo, 15.546 companhias fechadas107. Ou seja, sociedades empresárias, igualmente disciplinadas pela LSA, cujas dimensões, afetações específicas e estruturas são bastante distintas das com-panhias abertas.

106 BMFBOVESPA. Empresas listadas. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Cias-Listadas/Empresas-Listadas/BuscaEmpresaListada.aspx?idioma=pt-br>. Aces-so em: 18 fev. 2013.107 Junta Comercial do Estado de São Paulo – JUCESP. Disponível em: <https://www.jucesponline.sp.gov.br/BuscaAvancada.aspx>. Acesso em: 18 fev. 2013.

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A LSA não está aparelhada a considerar tamanha diversidade empresarial, nem dispõe, em vista do elevado dirigismo, de mecanismos de adaptação, capazes de dar abrigo a interesses legítimos, que se expressam por conta das peculiaridades de cada empresa. Bem por isso, o RE-SAS confere aos acionistas da companhia autonomia para deliberar pela distribuição desigual de dividendos. No silêncio do estatuto, aplica-se a regra geral, que determina participação proporcional às en-tradas de capital.

Quer-se, aqui, acomodar o interesse, que se sente em concreto, de criar siste-mas particulares de remuneração, especialmente nos casos em que é necessário, por exemplo, premiar a participação estratégica, tão (ou mais) útil à companhia quanto as efetivas entradas de capital.

Não há, pois, afronta ao art. 109; o direito ao recebimento de dividendo está resguardado. O acionista, em qualquer hipótese, participará da distribuição de lucros sociais.

6. O ART. 294-G: O BARATEAMENTO E A DESBUROCRATIZAÇÃO DA ESTRUTURA ADMINISTRATIvA

Art. 294-G. A diretoria da companhia sob o regime especial da SAS será composta por um ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração, ou, se inexistente, pela assem-bleia geral, devendo o estatuto observar, no que couberem, os requisi-tos do artigo 143. Parágrafo único. O prazo de gestão dos diretores e dos membros do conselho de administração poderá ser indeterminado, desde que exis-ta previsão expressa no estatuto.

A administração da companhia, que se caracteriza por órgãos, responde pelo exercício da empresa.

O conselho de administração, órgão de deliberação colegiada, nas hipóteses em que for constituído, tem competências descritas no art. 142, e outras expres-samente previstas na LSA, além daquelas convencionadas no estatuto da compa-nhia108. O poder de fixar e de orientar os negócios da companhia, por si, demons-tra a sua importância. 108

108 As competências desse órgão vêm sendo alargadas por atos da CVM, que parece pretender aproximá-lo do board of directors do direito norte-americano, que exerce função mais ativa do que o conselho brasileiro. Exemplo desse alargamento está estam-pado, por exemplo, na Instrução CVM n. 361 e no Parecer de Orientação n. 35. No

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A diretoria tem função de representação e execução; seus membros são eleitos pelo conselho de administração, quando existente, ou, na ausência dele, pela as-sembleia geral.

A eleição e a destituição de administradores, diretores ou conselheiros, obe-decem regras detalhadamente previstas na LSA.

A LSA, no que concerne à disciplina da administração, oscila entre arrojos liberais e um elevado dirigismo; de um lado, faculta aos acionistas definir aspectos relevantes, a exemplo do processo de escolha de presidente e do modo de substi-tuição de conselheiros, mas, de outro, proíbe a fixação convencional do prazo do mandato.

A plasticidade e liberdade de organização foram ressaltadas na Exposição de Motivos da LSA: “[o] art. 140 deixa ao estatuto ampla liberdade para regular a composição e o funcionamento do Conselho de Administração [...]”. Liberdade que, como se viu, foi tolhida, na mesma lei, e pelo mesmo legislador, como que enver-gonhado pelo arrojo, ao estabelecer prazo máximo de mandato. O mesmo acanha-mento se deu em relação à composição e ao funcionamento da diretoria. Além da exigência de número mínimo – dois –, define-se prazo máximo de gestão, não superior a 3 anos, permitida a reeleição.

A interferência estatal se justifica sob a função de definir a matriz regulatória da macroempresa brasileira, forjada para acelerar o crescimento econômico na-cional e para criar um verdadeiro mercado de capitais.

Conquanto naquele momento a estrutura básica de companhias brasileiras apresentasse importante concentração, a sinalização ao mercado de que um admi-nistrador pudesse se perpetuar no cargo não era – como também não é em dias atuais – salutar. A possibilidade de revisão da estrutura administrativa convidava, portanto, a uma reflexão sobre a distinção dos poderes de controle societário e empresarial e oferecia, em tese, ocasião para que o contribuinte de capital se ma-nifestasse, em assembleia, a respeito de sua percepção sobre a condução dos ne-gócios, visando a influenciar as deliberações da companhia.

Essa opção legislativa de 1976 resgatou, inclusive, estrutura já descartada pelo próprio sistema, no ano de 1940. Isto porque o Decreto-lei n. 2.627/40, que admi-tia em seu art. 116 a administração isolada, já inovara em relação ao antigo Decre-to n. 434/1891, que previa ao menos 2 administradores. O momento era de revisão e reflexão, voltado à fixação do marco da macroempresa.

âmbito autorregulatório, o movimento segue a mesma direção. Regulamentos como o do Novo Mercado e o Código ABRASCA de Autorregulação e Boas Práticas das Com-panhias Abertas também parecem perquirir o fortalecimento do conselho em detri-mento do poder societário.

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Esse movimento revisionista, ou melhor, de resgate histórico de certos pre-ceitos, estendeu-se, mutatis mutandis, ao processo de eleição e reeleição de dire-tores, submetidos ao escrutínio máximo do triênio legal. Aqui, também, a possi-bilidade de influência na formação da vontade da sociedade, como protagonista da empresa, se verifica pela atuação de conselheiros indicados por acionistas não controladores, como aqueles nomeados nos termos do § 4º do art. 141, ou por trabalhadores, na forma do parágrafo único do art. 140.

Custos e burocracia relacionados ao modelo não pareciam ser uma questão relevante. Partindo-se da premissa de que a LSA projetou-se à disciplina da ma-croempresa, não havia motivo para atentar a outras realidades.

A prática desprezou a teoria; milhares de companhias brasileiras não expres-sam o retrato idealizado pelos autores da LSA.

Em primeiro lugar, a quantidade de membros da diretoria. A regra, aqui, é cogente, o que parece desnecessário. A macroempresa normalmente contempla diretorias específicas, com atribuições geralmente detalhadas em seus estatutos, inclusive para fins de imputação de responsabilidade109-110. A intervenção estatal afeta, portanto, direta e talvez exclusivamente as companhias de menor porte. A indignação se traduz por uma pergunta do empreendedor: por que indicar mais um diretor?

O direito brasileiro não repele a administração individual, conforme se depreende do art. 1.060 do Código Civil. Apenas não a estende a todos as formas

109 Traz-se, como exemplo, o estatuto da BRF – Brasil Foods S.A., que estabelece a seguinte composição: “Artigo 20 – A Diretoria Executiva, cujos membros são eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo Conselho de Administração, será composta por no mínimo 2 (dois) e no máximo 15 (quinze) membros, eleitos por um período de 2 (dois) anos, permitida a recondução, sendo 1 (um) Diretor Presidente, 1 (um) Diretor Finan-ceiro, 1 (um) Diretor de Relações com Investidores e os demais Diretores com designa-ção e funções a serem propostas ao Conselho de Administração pelo Diretor Presiden-te, nos termos do Artigo 21 abaixo, todos profissionais que atendam aos parâmetros relacionados nos Parágrafos 3º e 4º abaixo”. BRF S.A. Companhia Aberta. Estatuto Social. Disponível em: <https://www.brasilfoods.com/ri/siteri/web/arquivos/BRF_EstatutoSo-cial_20130412_pt.pdf>.110 Outro exemplo, extraído do estatuto da Klabin S.A., contribui para confirmar a afirmação no sentido de que a fixação de número mínimo é inócua, no universo das macroempresas: “Art. 18. A Diretoria, eleita pelo Conselho de Administração, será composta de até 10 (dez) membros, residentes no País, acionistas ou não, com manda-to de 1 (um) ano, permitida a reeleição, sendo um Diretor Geral; os demais diretores terão atribuições e designações estabelecidas pelo Conselho de Administração”. KLABIN S.A. Estatuto Social consolidado. Aprovado pela Assembleia Geral Extraordinária de 20-12-2011. Disponível em: <http://ri.klabin.com.br/fck_temp/8_17//KLABIN%20SA%20-%20estatuto%20aprovado%20na%20age%2020122011.pdf>.

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societárias existentes. E não o faz, menos por rigor, e mais por falta de aderên-cia à realidade, que se construiu ao longo de quase 40 anos, desde a concepção da LSA.

Ao fixar número mínimo de dois diretores, não se modela a administração da sociedade anônima; apenas se cria um formalismo inócuo à grande empresa, e custoso às pequenas e às médias, cujos fundadores devem, necessariamente, apon-tar mais de um diretor, mesmo quando não haja efetiva necessidade.

Daí, muitas vezes, sobretudo nas pequenas e médias empresas, parentes, amigos ou mesmo empregados, sem uma função realmente estatutária, empresta-rem seus nomes, sujeitarem-se às responsabilidades e aos ônus do cargo, apenas para que não se ignore a lei.

O segundo aspecto da reflexão trata do prazo de gestão, tanto dos membros do conselho de administração quanto da diretoria. O Decreto-lei n. 2.627/40 pre-via prazo máximo de seis anos, reduzido à metade em 1976. Justificativa não há, na Exposição de Motivos da LSA, apesar de a doutrina detectar nesse posiciona-mento uma tentativa de coibir a perpetuação dos administradores111.

O fundamento é frágil; no contexto de controle societário majoritário, a per-petuação se verificará enquanto assim o desejar o controlador, elegendo ou reele-gendo os diretores em assembleia, ou, existindo conselho de administração, con-selheiros que lhe são fiéis.

A regra não se justifica nem sequer em um ambiente de ampla dispersão da base acionária, em níveis que impeçam a qualquer acionista a preponderância nas assembleias gerais. Essa situação enseja um pedido de procuração da administração aos acionistas, o que ordinariamente caracteriza controle gerencial e, portanto, a mesma perpetuação da administração.

O RE-SAS prevê que a diretoria da sociedade anônima, sob o regime especial da SA simplificada, será composta por um ou mais diretores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração, ou, se inexistente, pela assembleia geral, devendo o estatuto observar, no que couber, os requisitos do art. 143. Dispõe, ainda, que o “prazo de gestão dos diretores e dos membros do conselho de admi-nistração poderá ser indeterminado, desde que exista previsão expressa no estatu-to”. Essas normas simplificam e barateiam o funcionamento da administração, submetendo-a, todavia, a qualquer tempo, ao escrutínio dos acionistas, que pode-rão destituí-la.

111 Cf. VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações (comentários ao decreto--lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940): arts. 74 a 136. ed. rev. e atual. Forense: Rio de Janeiro, 1959. v. 2, p. 297.

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7. O ART. 294-H E A REMUNERAÇÃO DOS ADMINISTRADORES

Art. 294-H. Nas companhias sob o regime especial da SAS, o pagamen-to da participação dos administradores poderá ser feito sem observân-cia do disposto no § 2º do art. 152, desde que aprovada por unanimi-dade dos acionistas.

O art. 294-H reproduz o texto do atual § 2º do art. 294 da LSA. Para compreendê-lo, deve-se verificar antes o art. 152, cujo caput determina

que a assembleia geral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, nele incluídos benef ícios de qualquer natureza e verbas de repre-sentação. A fixação leva em conta tempo dedicado às suas funções, a competência, a reputação profissional e o valor dos serviços no mercado.

O art. 152 é de observância obrigatória e a assembleia geral não pode se furtar a, ao menos, fixar o montante global da remuneração. É comum, especialmente na companhia fechada, que se estabeleça um limite112.

A obrigatoriedade de fixação é importante para alinhar os interesses de acio-nistas e administradores.

Sem prejuízo da competência assemblear de fixação do montante global ou individual de remuneração, o estatuto pode atribuir aos administradores, nos termos do § 1º desse artigo, participação, estatutária, nos lucros. Essa participação não poderá ultrapassar a remuneração anual dos administradores, nem um décimo dos lucros, prevalecendo o que for menor. Ademais, apenas as companhias que prevejam, em seus estatutos, dividendo obrigatório em 25% ou mais do lucro podem atribuir essa participação a seus administradores.

Trata-se, novamente, de regra de alinhamento de interesses, a fim de evitar que, na ausência de um piso de dividendo obrigatório, administradores recebam participação pelos lucros sem que acionistas o recebam – ou recebam em mon-tante que o legislador julgou insatisfatório.

112 A Instrução CVM n. 480, de 7 de dezembro de 2009, ao instituir a obrigatoriedade de divulgação de certas informações, mediante relatórios periódicos, previu a disponi-bilização, no formulário de referência, no item 13.11 do Anexo 24, da remuneração in-dividual máxima, mínima e média dos administradores. Esta norma é objeto de ação promovida pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio de Janeiro (IBEF-RJ), o qual obteve liminar para preservação de sigilo enquanto pendente o julgamento do mérito, perante 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. A CVM recorreu ao TRF da 2ª Região e teve seu pedido deferido. O IBEF-RJ interpôs recurso ao STJ, tendo o seu pedido de restabelecimento da liminar sido deferido. De modo que, apesar da insurgência da CVM, por ora associados do IBEF-RJ podem valer-se da liminar para evitar a divulgação dessas informações.

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7.1. CRITÉRIOS PARA PAGAMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE ADMINISTRADORES

A participação é paga aos administradores com base no lucro do exercício, após dedução de prejuízos acumulados e provisão para o imposto sobre a renda (cf. art. 189 da LSA). E ainda, nos termos do art. 190, após o pagamento de parti-cipações estatutárias a empregados, se previstas.

O § 2º do art. 152 estabelece que “[o]s administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo obrigatório, de que trata o art. 202”.

Trata-se de regra confirmadora do intuito estabilizador. Isso porque, sendo a participação dos administradores determinada após a dedução de prejuízos e provisão para imposto de renda, mas antes da apuração do lucro líquido, que ser-virá de base para proposta de destinação do lucro (conforme arts. 191 e 192), é possível, cronologicamente, que, após a dedução da participação dos administra-dores, o lucro líquido não seja suficiente para pagamento do dividendo obrigatório. Nessa hipótese, os administradores não farão jus à participação nos lucros.

As normas analisadas preocupam-se com possível participação de adminis-tradores em lucros, sem que acionistas sejam contemplados com o pagamento do dividendo obrigatório. Por isso, o § 2º impõe condição ao pagamento da remune-ração. Essa condição sujeita-se, contudo, à exceção presentemente aplicável às “companhias do art. 294”, sendo-lhes reconhecida ampla liberdade para remunerar administradores, mediante aprovação unânime dos acionistas.

Isso se justifica porque se trata de uma companhia de pequeno porte, em que a maior parte da remuneração do administrador decorre do bom sucesso da com-panhia. Trata-se de fomentar o emprego da remuneração variável como técnica de incentivo.

8. O ART. 294-I: A AMpLIAÇÃO CIRCUNSTANCIAL E ESTATUTáRIA DO DIREITO DE RETIRADA COMO TÉCNICA DE SOLUÇÃO ex ante DE CONfLITOS SOCIETáRIOS

Art. 294-I. O estatuto da companhia poderá prever que qualquer acio-nista se retire da companhia, devendo o acionista, nesse caso, notificar a companhia com antecedência mínima de 30 (trinta) dias. § 1º Havendo previsão no estatuto e enviada a notificação de retirada, os demais acionistas poderão, nos 30 (trinta) dias seguintes ao do re-cebimento da notificação, optar pela dissolução da companhia, em assembleia geral especialmente convocada, na qual o acionista retiran-te estará impedido de votar.

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§ 2º O estatuto deverá estabelecer regras para a determinação do valor de reembolso, que somente poderá ser inferior ao valor do patrimônio líquido a preço de mercado quando for calculado com base no valor econômico da companhia apurado em avaliação. § 3º O patrimônio líquido deverá ser apurado em balanço especial, com referência no mês anterior ao da notificação da retirada.§ 4º A avaliação seguirá o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 45.

8.1. A LIvRE DISPOSIÇÃO DAS AÇÕES: FUNDAMENTOS E ExCEÇÕES

A livre disposição das ações expressa uma particularidade das companhias. Esse traço característico provê fundamento à celebração de negócios jurídicos, de compra e de venda de ações, que determinam a “entrada” e a “saída” de acio-nistas. Trata-se de uma peculiaridade, que, dentre outras, promove um distan-ciamento entre os acionistas e a atividade empresarial (em vista da impessoali-dade dos liames que entretêm com a companhia)113; é um elemento estruturan-te do mercado acionário, erigido sobre uma autorização geral para o comércio de ações.

A relação dominial, que se estabelece entre o acionista e a ação de que é pro-prietário, mantém-se incólume de quaisquer interferências da companhia e dos demais acionistas, à exceção das hipóteses em que houve uma renúncia contratual a essa incolumidade, na forma de uma preferência ou de uma opção, ordinaria-mente insertas no âmbito de um pacto de bloqueio114. Uma tal renúncia se justifi-ca, em regra, não apenas pelo interesse na mantença do balanço de poderes no âmbito da companhia (evitando-se, por exemplo, o desfazimento de blocos de controle), mas especialmente para impedir a livre ruptura de liames pessoais e subjetivos, que se justifiquem pela dimensão e pela complexidade da companhia em concreto; há, então, uma calibragem, cujo instrumento é o acordo de acionistas, uma verdadeira instância societária, que funciona sob o reconhecimento de que a LSA cobre um amplo espectro de companhias, entre as quais a subjetividade dos liames será mais ou menos relevante. Nesse contexto, então, a impessoalidade e o apartamento entre acionistas e empresa é a regra, que comportará exceções, para as quais a lei pavimenta caminhos.

113 É certo que o aparecimento do princípio majoritário e do controle societário rever-teu esse distanciamento, para promover uma conexão subjetiva mais intensa entre controlador e a empresa exercida pela companhia.114 Cf. arts. 40 e 118 da LSA. Para uma reflexão acerca dos pactos de bloqueio, cf. CARVALHOSA, Modesto. Acordo de acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 273-324.

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A livre disposição das ações se limita, de mesmo modo, para que a lei restrinja ou dirija negócios celebrados pela companhia, que tenham como objeto as ações de sua própria emissão. A norma do art. 171 da LSA prevê, por exemplo, um direito de preferência dos acionistas, na proporção das ações de que forem proprietários, para a subscrição do aumento de capital115. A intervenção do legislador – para travar a “entrada” – sustenta-se, aqui, pelo interesse de evitar uma diluição injusti-ficada dos acionistas e, portanto, a perda de sua influência na formação das delibe-rações da companhia. Um dirigismo de mesma ordem se pode identificar no regra-mento do recesso. As hipóteses do art. 137 da LSA116, sucedidas pelo reembolso das ações do acionista dissidente, caracterizam uma verdadeira aquisição forçada, pela companhia, das ações que emitiu. Isso se justifica por uma evidente perda da base do negócio, do elemento de juízo que motivou o investimento, i.e., das razões que levaram à aquisição das ações que, agora, em vista do recesso, deverão ser reembol-sadas. Trata-se de uma garantia excepcional de “saída”, que se transmuda em verda-deira técnica de solução de conflitos societários, mesmo que esses conflitos não devam causar um impacto devastador nas companhias, justamente porque a sua natureza tende a expurgar a subjetividade das relações. Uma disputa entre acionis-tas, sob a premissa de que há um ideal distanciamento entre os acionistas e a em-presa, não deverá representar um óbice intransponível à continuação da atividade.

8.2. AS RAZÕES PARA UMA AMPLIAÇÃO CIRCUNSTANCIAL DO DIREITO DE RETIRADA

Uma mais ampla permissão de “saída”, garantida pelo alargamento do direito de retirada, é capaz de solucionar aqueles conflitos societários mais nefastos, que se deflagram no âmbito de companhias onde as relações internas sujeitam-se a mais elevada subjetividade. Nesses casos, o conflito pode arruinar a empresa, daí por que o reembolso das ações do acionista insatisfeito, que exerce seu direito de retirada, faz cessar o conflito e salva a companhia117. Essa é, aliás, uma solução

115 No âmbito de uma emissão de novas ações, consequência de um aumento de capi-tal, apenas a companhia aberta poderá aliená-las livremente, na forma do art. 172 da LSA.116 Cf. as exceções dos §§ 3º e 4º do art. 137 da LSA.117 Essa foi a técnica empregada pelo legislador entre as formas societárias disciplinadas pelo Código Civil (v.g., art. 1.029), que, em razão de sua natureza e dimensão modelares, ensejam conflitos mais numerosos, frequentes e danosos à empresa. Cf., nesse sentido, a brilhante tese de doutoramento de Marcelo Guedes Nunes, Jurimetria aplicada ao direito societário: um estudo estatístico da dissolução de sociedade no Brasil. 2012. Tese (Doutorado) – Pontif ícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.

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pretoriana, que se afirma por reiterados precedentes jurisprudenciais, para permi-tir a retirada, sob o fundamento da perda da affectio societatis, em “companhias familiares”118. É, portanto, uma solução para as pequenas e médias empresas, co-bertas pelo RE-SAS.

O certo, contudo, é que, em qualquer hipótese, o remédio deve ser bem do-sado, para não matar o paciente.

A ampliação da retirada pode causar dois efeitos colaterais indesejáveis: (i) o aumento do custo de financiamento da companhia (ou mesmo a escassez de re-cursos), sob o constante receio de esvaziamento do patrimônio, e de diminuição consequente do acervo de garantias à satisfação dos direitos creditórios, dado o dever de reembolsar o acionista retirante; (ii) uma desaceleração do crescimento da companhia, pela perda de elementos de produção, direta ou indiretamente restituídos ao acionista retirante, o que é capaz de comprometer a continuidade da empresa.

A ampliação do direito de retirada pode, do mesmo modo, desnaturar a com-panhia, centrada na primazia do capital, em detrimento da pessoalidade e da subjetividade das relações.

Todas essas considerações permitem concluir que não é possível fazer uma administração geral do direito de retirada como solução para conflitos societários, o que pressupõe a observância das particularidades do caso concreto.

O RE-SAS, note-se, submete a companhia a um regramento transitório, capaz de transmudá-la em uma forma híbrida, em atenção a prevalentes critérios de conveniência econômica. Esse regramento especial não desnatura a companhia, apenas torna pontualmente disponível a sua disciplina, para que se ajuste às di-mensões e às peculiaridades da companhia em concreto. A LSA, aliás, já contem-pla essas nuanças regulatórias. A disciplina atual do direito de recesso é uma concessão à companhia fechada, que, no geral, não organiza a macroempresa, cujas ações são evidentemente ilíquidas ou têm baixa liquidez119. A lei, contudo, não assiste aquele outro conjunto de companhias, para as quais uma ampliação ainda maior do direito de recesso pode ser circunstancialmente útil. Um aumento da autonomia privada, para que os acionistas deliberem uma solução que se afigure benfazeja, não será capaz de desnaturar a companhia, mas apenas permitirá tratar desigualmente companhias diferentes.

Do mesmo modo, não se estranha que uma companhia possa atualmente emitir ações preferenciais com prioridade de reembolso ou resgatáveis em data

118 Cf., por todos, BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Re-curso Especial n. 1.079.763-SP, julgado em 25 de agosto de 2009.119 Cf. art. 137, II, da LSA.

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certa, que representem a metade de seu capital, e ter uma diminuição de metade de seu patrimônio, caso isso seja necessário, no caso concreto, para financiar a empresa120. A emissão dessas ações irá, não se duvida, comprometer novas inicia-tivas de financiamento da companhia, seja pela oposição de entraves políticos, seja pelo inevitável comprometimento de seu patrimônio. O custo de oportunidade dos recursos providos pelos acionistas preferenciais poderá justificar, entretanto, a aceitação das consequências indesejáveis.

8.3. A AMPLIAÇÃO DO DIREITO DE RETIRADA E O ESTÍMULO à COOPERAÇÃO

O art. 294-I do Projeto de Lei n. 4.303/2012 permite que o estatuto da com-panhia determine uma disciplina mais laxista do direito de retirada. Isso se justi-fica, por exemplo, nas hipóteses em que esse direito facilita a captação de investi-mentos, porque estimula o pequeno acionista, sob a condição de que possa forçar a companhia a recomprar as suas ações no futuro. Aqui, atua, em verdade, a mesma lógica econômica que dá fundamento à opção de venda, à exceção da fixa-ção futura do preço do objeto da opção, uma vez que as partes assumem o risco das flutuações patrimoniais e, portanto, da determinação do valor líquido das ações na data da retirada.

A regra, neste caso, submete uma ampliação do direito de retirada à autonomia privada e, portanto, a uma avaliação dos benef ícios e dos riscos envolvidos. Isso permite, do mesmo modo, o posterior afastamento dessa ampliação, quando não se mostre mais justificável.

Do mesmo modo, o regramento proposto pelo RE-SAS enseja a cooperação entre acionistas, particularmente para evitar o abuso do direito de retirada pelo acionista controlador, ou por acionistas detentores de participações significativas, quanto mais em situações de crise empresarial. O exercício abusivo do direito de retirada poderá ser obstado pelos demais acionistas, que, mesmo minoritários, poderão determinar a dissolução da companhia, em vista do impedimento ao voto que, nessa hipótese, a regra do art. 294-I opõe ao acionista retirante. Assim, deter-minada a dissolução, os acionistas apenas terão acesso ao acervo líquido da com-panhia, se houver, após o pagamento de todas as suas dívidas. É um forte elemen-to de dissuasão à retirada, em especial dos maiores acionistas. Esses, cientes de que uma ampliação do recesso deverá beneficiar exclusivamente os minoritários, irão administrar a disciplina da retirada com parcimônia, para incentivar o ingresso de

120 Cf. art. 15, § 2º, da LSA.

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pequenos investidores na companhia, sem que a sua saída eventual represente o fim da empresa.

Assim, como a ampliação do direito de retirada será frequentemente empre-gada como incentivo a investidores minoritários, a lei não pode permitir que o incentivo se falsifique por meio de uma disposição que determine um pagamento de reembolso sem qualquer relação com o valor da empresa. Isso seria institucio-nalizar a má-fé, plasmada na permissão de uso de um falso chamariz de investi-mento. É por isso que a norma do art. 294-I limita a autonomia privada à disposi-ção sobre o método e sobre os critérios de determinação do reembolso, admitindo que seja inferior ao valor do patrimônio líquido a preço de mercado apenas quando calculado com base no valor econômico da companhia, apurado em ava-liação, na forma dos §§ 3º e 4º do art. 45 da LSA.

9. O ART. 294-J E A EXCLUSÃO DO ACIONISTA fALTOSO

Art. 294-J. A companhia ou qualquer de seus acionistas poderá reque-rer a exclusão judicial do acionista que descumprir suas obrigações sociais. § 1º O estatuto da companhia poderá contemplar hipóteses de exclusão extrajudicial do acionista faltoso, devendo definir o procedimento de exclusão e o exercício do direito de defesa, sob pena de invalidade da regra que a determinar. § 2º Aplica-se o disposto nos §§ 2º, 3º e 4º do art. 294-H para determi-nação do valor de reembolso do acionista excluído.

9.1. A UTILIDADE DA ExCLUSÃO DO ACIONISTA FALTOSO

O direito de retirada caracteriza, como dissemos, uma opção de venda em favor do acionista insatisfeito, que poderá forçar a companhia a adquirir suas ações. É solução a um conflito entre acionistas ou entre acionistas e a companhia.

Do mesmo modo, é perfeitamente plausível que a companhia ou que quaisquer acionistas se mostrem insatisfeitos com a conduta de um acionista ou grupo par-ticular de acionistas. Isso será tanto mais problemático quanto mais pessoalizadas e subjetivas forem as relações internas, para caracterizar uma maior proximidade entre acionistas e a empresa exercida pela companhia. Nesse caso, a conduta in-conveniente de um acionista poderá, em termos objetivos, caracterizar uma prá-tica contrária aos interesses da companhia e, portanto, nefasta ao regular desen-volvimento da atividade empresarial. Esse cenário, não raro, intensifica-se pela cumulação dos papéis de acionista e de administrador.

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Um estudo estatístico muito interessante, da autoria de Marcelo Guedes Nunes, realizado em 2010, sobre os pedidos de intervenção judicial na administração das sociedades, dá conta de que, observada uma amostra de acórdãos julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, uma maioria de 83,33% envolvia socie-dades empresárias limitadas, enquanto 2,56% tratavam de sociedades anônimas121. O dado, desde logo, demonstra que esses conflitos, que levam a um pleito de inter-venção judicial na administração da sociedade, são mais frequentes entre formas societárias onde as relações internas são mais subjetivas, ensejando uma proximida-de entre os sócios e a condução das atividades empresariais. O estudo nota, entre-tanto, que a quantidade de sociedades anônimas relacionadas (2,98%) é quase três vezes maior do que o percentual de sociedades anônimas constituídas em 2005, no estado de São Paulo (1,06%). Guedes conclui, com isso, que as companhias estariam proporcionalmente mais propensas a conflitos judiciais do que as limitadas, ocor-rência cuja causa atribui às companhias ditas familiares, incertas em um contexto de absoluta iliquidez de ações e de um restrito direito de retirada. O autor estabelece, do mesmo modo, uma íntima relação entre a intervenção na administração e as ações de exclusão de sócio, para caracterizar um cenário em que a interferência na admi-nistração é, como depreende da análise dos precedentes, uma medida acautelatória ou antecipatória, que busca evitar a desorganização da sociedade no curso dessas ações. A preponderância das exclusões surge da análise de ações originárias com pedidos de interferência, que montam 45% dos casos analisados.

O estudo também demonstra que quase metade dos conflitos societários ana-lisados envolvia sociedades com dois sócios (43,59%), enquanto as sociedades com três sócios respondiam por 20,51% das ocorrências, e as com quatro por 10,25%.

Isso permite concluir que o conflito societário judicial é, em grande parte, uma realidade da pequena e da média empresa, independentemente da forma societária que a organize. Nesse contexto, é conveniente lançar mão de mecanismos internos à solução desses conflitos, de um lado, por meio de um circunstancial alargamen-to do direito de retirada, para prover “saída” ao acionista insatisfeito, e, de outro, criar critérios para o afastamento forçado de acionista que pratique atos capazes de comprometer o bom sucesso da companhia.

A LSA, de certo modo, já disciplina a matéria, no geral, por meio da previsão do resgate (art. 44, § 1º, da LSA), e, no particular, por meio da exclusão do acionis-ta remisso (art. 107 da LSA).

121 Cf. NUNES, Marcelo Guedes. Intervenção judicial liminar na administração de sociedades. In: MONTEIRO DE CASTRO, R.; MOURA AZEVEDO, L. (Coords.). Poder de controle e outros temas de direito societário e mercado de capitais. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p. 83-133.

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A exclusão do acionista faltoso equivale, contudo, sob um ponto de vista es-tritamente econômico, a uma opção de compra, que o obriga, observadas algumas condições, a alienar à companhia as suas ações. A doutrina e a jurisprudência brasileiras, cientes do problema, já o têm tratado, de modo a se admitir a exclusão como solução para conflitos societários em companhias fechadas, onde os acio-nistas e, sobretudo, o acionista controlador entretêm uma relação pessoal com a empresa, que demonstre eventualmente devastadora122. Essa influência nefasta se produz, o mais das vezes, quando é exercida pelo controlador, por meio do abuso de poder de controle, ou, quando decorre de um comportamento das minorias, com o emprego de práticas obstrucionistas e por meio do abuso do direito de voto. Pode acontecer, também, nas situações em que acionistas assumem funções admi-nistrativas, por meio da violação de deveres fiduciários.

9.2. A ExCLUSÃO DO ACIONISTA FALTOSO: PROCEDIMENTO

O art. 294-J do RE-SAS assume a realidade das pequenas e das médias em-presas como premissa, para admitir a adoção de regras e de procedimentos esta-tutários que determinem, caracterizadas condutas faltosas previstas, a exclusão do acionista. Nesse caso, a prescrição estatutária das causas, do procedimento e, em especial, do direito de defesa é condição de validade e, portanto, de eficácia da regra.

Vale notar, ainda, que a exclusão é a única pena aplicada ao acionista faltoso, o qual será reembolsado por meio da apuração do valor de suas ações, sob o mes-mo critério protetivo aplicado ao acionista retirante. Isso, por certo, encarece o procedimento, com vistas a evitar exclusões abusivas, sem prejuízo de que a com-panhia busque eventual ressarcimento por perdas, danos e lucros cessantes que o acionista faltoso lhe tenha causado.

122 Cf. por todos, BARBOSA, H. Cunha. A exclusão do acionista controlador. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 78 et seq.

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CAPÍTULO IIIOS RECENTES ACONTECIMENTOS MUNDIAIS NA DISCIpLINA JURÍDICA DAS pEQUENAS E MÉDIAS EMpRESAS SOCIETáRIAS: AS HYBRID BUSIneSS FORMS E O RE-SAS

1. AS LIMIteD LIaBILItY COMpanIeS

A competência para legislar sobre sociedades é, nos Estados Unidos, atribuí-da aos estados da federação. Esse fato ensejou, ao longo do tempo, alguma dispa-ridade de tratamento do fenômeno societário, uma notória especialização de alguns estados, a exemplo de Delaware123, e uma verdadeira concorrência regulatória, capaz de estabelecer um “market for corporate law”. O direito societário e as formas societárias que provê transmudam-se em produto, sob o escrutínio do “consumi-dor”, que avaliará (em verdadeira “arbitragem regulatória”) os prós e contras: o preço e a qualidade do produto124.

Nesse contexto, o estado de Wyoming criou, em 1977, uma nova forma socie-tária, com características de sociedade de pessoas (partnership) e de capitais (corporation). Surgiu, com essa iniciativa, a Limited Liability Company (LLC), àquela época, com a finalidade de facilitar a criação de empresas petrolíferas. Tratava-se de um verdadeiro híbrido, sujeito à ampla autonomia privada, com responsabilidade imanente125 (assegurada por uma forte dose de anonimato). A

123 Alguns autores sugerem que a supremacia do estado de Delaware decorre da atua-ção altamente especializada e elogiável de seu Judiciário (em especial a mítica Court of Chancery). Cf. BLACK, Bernard S. Is corporate law trivial?: a political and economic analysis. Northwestern University Law Review, v. 84, p. 542, 590, 1990.124 Para uma análise aprofundada da questão, cf. ROMANO, Roberta. The State competition debate in corporate law. Journal of Law, Economics & Organization, v. 1, p. 225, 1985.125 As expressões “sociedade por quotas de responsabilidade” ou “sociedade de res-ponsabilidade limitada” são incorretas. A sociedade não tem, via de regra, a sua respon-sabilidade limitada. Pode, à vista do que determinem eventuais relações jurídico-obri-gacionais de que seja parte, ser titular de deveres de prestar, pelos quais responde – sem exceção – todo o seu patrimônio. Por isso, alguns autores sugerem o emprego da ex-pressão sociedades de responsabilidade imanente (quando apenas o patrimônio social responde pelas dívidas), em oposição a sociedades de responsabilidade transcendente (para os casos em que o patrimônio dos sócios responda também por dívidas sociais). Confirmam nossa proposição, entre muitos outros, RUBIO, J. Curso del derecho de

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constituição e o manejo pretendiam-se simples e baratos. A popularidade desse novo tipo societário, cuja inspiração foi a sociedade limitada alemã (GmbH)126, daria logo ensejo à promulgação do Wyoming LLC Act127.

Em 1982, a Flórida adotou um modelo muito assemelhado ao do Wyoming, mas em razão de incertezas acerca do tratamento tributário da nova forma socie-tária, outros estados não a adotariam até 1988, quando o Internal Revenue Service (IRS), a autoridade fazendária federal norte-americana, deu à LLC de Wyoming o mesmo tratamento fiscal dispensado às partnerships128. Em meados da década de 1990, quase todos os estados dispunham de leis que instituíssem e disciplinassem seu próprio modelo de LLC. Destacou-se, reitere-se, nesse processo, o Delaware Limited Liability Company Act.

As LLC afirmaram-se como forma societária híbrida. Ressalvadas as pe-quenas variações entre os modelos adotados por cada estado, as LLC caracte-rizam-se como sociedade contratual, com personalidade jurídica, em que os sócios dispõem de ampla autonomia privada e se beneficiam de uma confiável limitação de responsabilidade, que se escora, o mais das vezes, em um fortíssi-mo regime de sigilo societário. Essa fórmula, especialmente em vista da ampla autonomia privada e do sigilo societário, distanciou a LLC das limitadas, para ostentar – em que pesem importantes críticas acerca do seu emprego poten-cialmente abusivo129 – uma popularidade sem precedentes130. Nesse sentido, observe-se o desenvolvimento da disciplina das LLC na Tabela 6, e a populari-dade que alcançou, em comparação a outras formas societárias naquele país, no Gráfico 1, ambos no Anexo.

sociedades anónimas. Madrid: Editorial de Derecho Financiero, 1967. p. 131 e RIVOL-TA, Gian Carlo M. Sulla società a responsabilità limitata: precedenti storici ed orienta-menti interpretativi. Rivista di Diritto Civile, Milano, v. 1, p. 470, 1980; PÉREZ DE LA CRUZ BLANCO, António. op. cit., p. 26, n. 2.126 Observe-se a evolução histórica das sociedades limitadas, as primeiras formas hí-bridas na Tabela 5 do Anexo.127 Wyoming Legislative Service Office. Chapter 29. Wyoming Limited Liability Com-pany Act. Disponível em: <http://legisweb.state.wy.us/statutes/statutes.aspx?file=titles/Title17/T17CH29.htm>. Acesso em: 11 fev. 2013.128 A adoção do regime fiscal das corporations tornou-se, posteriormente, facultativa.129 Cf. VESTAL, Allan; CALLISON, William. They’ve created a lamb with mandibles of death’: secrecy, disclosure, and fiduciary duties in limited liability firms. Indiana Law Journal, v. 76, p. 271, 2000.130 Observe-se um dos principais estudos estatísticos que dão conta dessa popularida-de, RIBSTEIN, Larry; KOBAYASHI, Bruce H. Choice of form and network externalities. William & Mary Law Review, v. 43, n. 79, 2001.

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O tratamento fiscal contribuiu definitivamente para essa popularidade, em especial para atrair “consumidores” de todo o mundo, o que iria estabelecer uma concorrência regulatória de proporções planetárias.

A LLC, assim como a partnership, pode ser tratada, para fins tributários, como um pass-through entity. Isso significa que a renda auferida será tributada apenas quando distribuída ao sócio e não, como via de regra acontece entre as corporations, quando experimentada pela pessoa jurídica e, novamente, quando distribuída, a título de dividendos, aos seus sócios. É o que dispõe a section 301.7701-3(a) do US Tresury regulation131. Desse modo, quando o sócio é nonresident alien e a LLC não elegeu o regime de tributação das corporations, não tem bens e não exerce ativi-dade nos EUA, então, não pagará imposto de renda naquele país e as autoridades fiscais americanas não serão competentes para fiscalizá-la e impor-lhe o pagamen-to forçado de impostos.

Esse estado de coisas deu importante contribuição a uma disseminada reflexão, em inúmeros centros de pensamento jurídico, acerca da criação de novas formas societárias, sob as seguintes premissas: (i) flexibilidade e hibridismo; (ii) constitui-ção e manejo simples e baratos; (iii) capacidade de induzir a atividade econômica e de atrair investimentos; (iv) facilitação de entrada e do desenvolvimento de pe-quenas e de médias empresas nos mercados.

A reflexão e o debate determinaram o aparecimento de novas formas socie-tárias, genericamente chamadas de Hybrid Business Forms (HBF).

2. O DIREITO SOCIETáRIO EUROpEU E AS HYBRID BUSIneSS FORMS: DA HARMONIZAÇÃO à CONCORRÊNCIA REGULATóRIA

O direito societário europeu, inspirado pela ideia de unificação, ostentou, por muito tempo, um padrão recorrente: a tentativa de promover uma harmonização legislativa. Esse foi, desde logo, o traço marcante da chamada Diretiva de Publici-dade, de 1968, que se caracterizou pela crença na possibilidade de uma harmoni-zação completa dos ordenamentos jurídicos envolvidos.

131 US Tresury regulation section 301.7701-3(a): “(a) In general. A business entity that is not classified as a corporation under §301.7701-2(b)(1), (3), (4), (5), (6), (7) ou (8) (an eligible entity) can elect its classification for federal tax purposes as pro-vided in this section. An eligible entity with at least two members can elect to be classified as either an association (and thus a corporation under §301.7701-2(b)(2)) or a partnership, and an eligible entity with a single owner can elect to be classified as an association or to be disregarded as an entity separate from its owner […]” (gri-fo nosso).

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2.1. OS PLANOS DE “hARMONIZAÇÃO COMPLETA” E A INFLUêNCIA ALEMÃ

Vale lembrar que a promulgação da lei de sociedades por ações, na Alemanha, ocorrera havia apenas 3 anos, estabelecendo as bases para uma prevalente influên-cia do direito societário alemão na Europa continental.

Os planos de harmonização, traçados em 1968, culminariam com a 5ª Direti-va, uma diretiva estrutural, que propôs a harmonização da disciplina das socieda-des por ações e apresentou os primeiros debates acerca da “Societas Europaea”, uma forma societária que se pretendia aplicável à Europa unificada.

Os especialistas europeus concluiriam, contudo, com o passar do tempo, que uma total harmonização não seria possível, o que deflagrou uma verdadeira “crise do direito societário europeu”. A Alemanha opôs o principal obstáculo ao ideal de completa harmonização. O modelo alemão de cogestão, caracterizado pela participação dos trabalhadores na administração da companhia, era muito pouco palatável aos demais estados-membros, e, em vista da falta de condições políticas ao seu afastamento na Alemanha, impedia o bom sucesso de planos mais ambiciosos.

2.2. A “hARMONIZAÇÃO POSSÍvEL” E O DOMÍNIO INGLêS

O célebre relatório “Europa 1992”, que congregou reflexões e conclusões sobre os obstáculos à afirmação de um direito societário europeu, respondeu às dificul-dades para determinar uma mudança de rumo. A “harmonização completa”, que se concluíra utópica, já não era mais o objetivo central, substituída por uma “har-monização possível e pontual”; os nortes iniciais e a liderança da Alemanha foram superados.

Uma crescente influência inglesa, impregnada pelos encantos da regulação privada, já se sentia, desde os meados da década de 1970. Essa tendência teve início com o Relatório Pennington, de 1974, que sugeriu um regramento europeu das reorganizações societárias e das aquisições de controle societário, com base no City Code e no Takeover Panel. A tendência se aprofundou com o aparecimen-to de um modelo inglês de disciplina jurídica do mercado de capitais, que trouxe consigo um elogiável tratamento de temas fundamentais, a exemplo da tutela de minorias, do insider trading, das ofertas hostis etc. Foi essa a tônica dos trabalhos que levaram à “Diretiva Geral XV” e que, mais tarde, instruíram a concepção da Lei Europeia do Mercado de Capitais.

A 13ª Diretiva de Direito Societário, de 2004, e a 10ª Diretiva, de 2006, apro-ximaram-se ainda mais do modelo inglês.

O abandono do padrão de “harmonização completa”, que foi substituído por uma mais modesta “harmonização possível”, e a influência inglesa trariam novos componentes à evolução dos acontecimentos.

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2.3. CADA UM POR SI

Os impasses e o relativo fracasso do processo de harmonização foram incen-tivos para o florescimento de iniciativas nacionais, em busca da criação de formas societárias mais eficientes e, portanto, mais aptas à atração de negócios.

Surgem, então, na Europa, em meio a um acalorado debate, novas formas societárias híbridas, para institucionalizar uma nova fase do direito societário europeu, em que a harmonização perde lugar para a competição regulatória.

(i) Limited Liability Partnerships

A Inglaterra promulgou em 2000, o Limited Liability Partnerships Act, e em 2002, o Limited Liability Partnerships Act (Northern Ireland), aplicável na Irlanda do Norte. Essas novas leis, que instituem as Limited Liability Partnerships (LLP), uma nova forma societária híbrida, atribuem ao Reino Unido a condição de com-petidor qualificado na concorrência regulatória mundial, que se deflagrou, em uma forma mais virulenta, desde o início deste século132.

As LLP inglesas são o produto da evolução de uma forma societária que aparece, em 1997, nas Ilhas Jersey (uma dependência da Coroa Britânica, que não faz parte do Reino Unido), com a promulgação do Limited Liability Partnerships (Jersey) Law133.

A LLP se inspirou, por certo, nas LLC americanas. É uma forma societária com personalidade jurídica e responsabilidade imanente, cujos sócios ostentam amplíssima autonomia privada para contratar as estruturas e regras de governo da sociedade.

Os sócios da LLP, entretanto, devem divulgar sua identidade às autoridades notariais, assim como a LLP deverá informar qualquer alteração nos quadros sociais, o que importa em diferença essencial em relação às LLC, especialmente no que concerne à força do regime de anonimato134.

132 The Official Home of UK Legislation. Limited Liability Partnerships Act 2000. Disponível em: <http://www.legislation.gov.uk/ukpga/2000/12/contents>. Acesso em: 13 fev. 2013.133 Jersey Law. Limited Liability Partnerships (Jersey) Law 1997. Disponível em: <http://www.jerseylaw.je/law/display.aspx?url=lawsinforce%2Fconsolidated%2F13%2F13.475_LimitedLiabilityPartnershipsLaw1997_RevisedEdition_1February2008.htm>. Acesso em: 13 fev. 2013.134 Observe-se, como causa dessa diferença, o papel desempenhado pelos notários, na Europa, cf. BEBCHUK, Lucian A.; ROE, Mark J. A theory of path dependence in cor-porate ownership and governance. Stanford Law Review, v. 52, p. 127, 1999.

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Uma LLP pode ser constituída eletronicamente, ao preço de 14 libras esterli-nas. O crescimento da popularidade das LLP é notável na Tabela 7 do Anexo, que dá conta da quantidade de sociedades constituídas, ano a ano, desde seu apareci-mento.

(ii) Société par Action Simplifiée

É verdade que a França, antes mesmo do aparecimento da LLP, já havia insti-tuído a Société par Action Simplifiée (SAS), com a criação das normas dos artigos L227-1 a L227-20 e L244-1 a L244-4, do Code de Commerce.

A SAS é um misto de companhia e de sociedade de pessoas. Preserva algumas estruturas da sociedade anônima, entretanto, sob ampla autonomia privada. En-seja uma completa dissociação entre controle e propriedade, justamente porque permite uma livre disposição dos direitos de acionista. Observe-se o quadro com-parativo das formas societárias francesas, na Tabela 8 do Anexo.

Essas características fizeram da SAS a forma societária francesa precipuamen-te dedicada à organização de pequenas e de médias empresas, bem como o veícu-lo mais adequado à consecução das funções de holding financeira, particularmen-te no contexto de investimentos de private equity e venture capital.

O capital mínimo da SAS é de 1 euro.A SAS pode funcionar com um único acionista, caso em que será submetida

ao regramento especial da Société par Action Simplifiée Unipersonnelle (SASU).A SAS pode se submeter a um regime tributário mais favorável, para o caso

em que: (i) conte com menos de 5 acionistas; (ii) tenha sido constituída há mais de 5 anos; (iii) metade do capital votante seja detido por pessoas naturais; (iv) o admi-nistrador e sua família detenham menos de 34% das ações votantes; (v) dedique-se à atividade comercial, artesanal, agrícola ou liberal; (vi) empregue menos de 50 trabalhadores; e (vii) ostente um patrimônio líquido não superior a 10 milhões de euros135.

É ainda relevante ressaltar que a SAS, a despeito de inspirada na sociedade acionária francesa, constitui-se por subscrição privada, sendo-lhe vedado ofertar ações por meio de sistema público de distribuição de valores mobiliários136.

Vale notar a crescente popularidade dessa forma societária na França, o que se depreende da análise do Gráfico 2 do Anexo.

135 Cf. o sítio da Agence Pour la Creation D’enterprise (APCE). Disponível em: <http://www.apce.com/pid593/sas-sasu.html>.136 Cf. ANDENAS, Mads; WOOLDRIDGE, Frank. European company law. Cambridge: Cambridge, 2009. p. 107.

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(iii) Besloten Vennootschap

A SAS, que teve bom sucesso na França137, foi, em verdade, uma resposta à besloten vennootschap met beperkte aansprakelijkheid (BV) holandesa, que existe desde 1971138.

A BV também é uma forma híbrida, com personalidade jurídica e responsa-bilidade imanente, que pode ser constituída por um ou mais fundadores, holan-deses ou estrangeiros. O quadro societário e o registro de participações societárias são, via de regra, mantidos e realizados em livros, mantidos na sede da sociedade, à exceção dos casos de unipessoalidade, que obrigam o registro público de tais informações.

Os atos constitutivos, escritos em holandês, devem ser levados ao registro perante o notário público, os órgãos de comércio e as autoridades fiscais, conten-do: (i) informações sobre os fundadores e os primeiros sócios; (ii) os estatutos; (iii) sede e objeto; (iv) o capital e sua representação em participações societárias; e (v) as regras de cessibilidade de participações societárias.

A denominação social sempre se inicia com BV e as autoridades registrais zelarão para evitar homonímias.

Há, entre as BV, exigência de constituição de capital mínimo de 18 mil euros139.A diretoria tem competência ilimitada, ressalvadas as hipóteses em que os

estatutos dispõem diversamente. Aos membros da diretoria, nomeados e destituí-dos em assembleia geral, podem ser outorgados mandatos de prazo indetermina-do. As BV que empregam mais de 100 trabalhadores, na Holanda, devem criar e manter um conselho de administração.

As BV devem ter suas contas auditadas por auditores independentes nas hi-póteses em que a receita exceda 12 milhões de euros, o patrimônio líquido seja superior a 6 milhões de euros e o número médio de empregados seja igual ou su-perior a 50140.

137 Lei n. 94-1 de Jan. 3, 1994; Lei n. 99-587 de Julho 12, 1999. Cf. GUYON, Yves. L’élargissement du domaine des sociétés par actions simplifiées (Loi du 12 juillet 1999, art. 3). Revue des Sociétés, v. 3, p. 505, 1999.138 WOUTERS, Jan. European company law: quo vadis? Common Market Law Review, v. 37, p. 257, 275, 2000.139 Cf. Código Civil holandês, art. 2.178(2).140 Para maiores detalhes, cf. o sítio da câmara de comércio holandesa, disponível em 13-2-2013 no: DE BESLOTEN Vennootschap (bv). Disponível em: <http://www.kvk.nl/ondernemen/rechtsvormen/overzicht-van-alle-rechtsvormen/de-besloten-vennoots-chap-bv/>. Acesso em: 13 fev. 2013.

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(iv) Gesellschaft mit beschrankter Haftung

É certo que todas essas formas societárias híbridas, que surgem no contexto europeu a partir da última década do século XX, reproduzem uma fórmula anterior, plasmada na “pequena anônima”, a Gesellschaft mit beschränkter Haftung (GmbH) alemã, muito conhecida entre nós, e transplantada para o direito brasileiro sim-plesmente como sociedade limitada.

A sociedade limitada surge, no final do século XIX, em essência, pelos mesmos motivos que hoje impulsionam o aparecimento das HBF na Europa. As modernas HBF, é bem verdade, surgem em plena globalização, insertas em esquemas de atração de capitais internacionais141, mas se fundam, em última análise, nos mesmos interesses de incremento de economias nacionais, por meio da facilitação dos meios de entrada e permanência nos mercados142.

A sociedade limitada, que nasce na Alemanha e se espraia, com algumas va-riações, por muitos países, especialmente aqueles vinculados à tradição romano- -germânica, é uma forma híbrida. É a pequena anônima, mas, ao mesmo tempo, a sociedade em nome coletivo com relevância externa e responsabilidade imanente. Note-se, nesse sentido, a influência da lei alemã de sociedades limitadas em todo o mundo, conforme se depreende da análise da Tabela 5 do Anexo.

O modelo alemão, contudo, a despeito de pioneiro, não foi capaz de prevale-cer em meio à atual revivescência das formas híbridas. E isso se explica porque se tornou demasiado complexo, burocrático, mas, sobretudo, altamente dirigido. A sociedade limitada foi, naquele país, submetida a complexas regras de capitalização (a exemplo do capital mínimo e dos critérios à detecção da subcapitalização), em resposta a uma “crise da responsabilidade limitada” e ao temor de que a supressão desse privilégio (a limitação de responsabilidade) encarecesse ou inviabilizasse a captação de recursos143.

A sofisticação do pensamento e das soluções jurídicas deu ensejo a soluções de questionável utilidade, a exemplo da Vor-GmbH, que é uma sociedade limi-tada em potência (ou pré-limitada); permanece sem personalidade jurídica, sob regra de responsabilidade transcendente, até que as autoridades de comércio alemãs concluam que foi adequadamente capitalizada e que não opõe riscos significativos a credores e à comunidade em geral. A lei alemã, a GmbH Gesetz

141 Cf., por todos, MCCAHERY, Joseph A.; VERMEULEN, Erik P. M. Regulatory competition and the evolution of closely held business forms in Europe. APF Working Paper, n. 1, 2006. Dsponível em: <http://papers.ssrn.com/paper.taf?abstract_id=292766>. Acesso em: 13 fev. 2013.142 Cf. JORGE WARDE JR., Walfrido. Responsabilidade dos sócios, cit., Capítulo III.143 Cf. Id. Ibid.

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(GmbHG)144, nesse contexto, sempre impôs às limitadas uma rígida e predeter-minada estrutura organizacional, para restringir consideravelmente a autonomia privada. Essa rigidez regulatória cassou da sociedade limitada um sem-número de utilidades, incapacitando-a de concorrer com as modernas HBF.

Em resposta às reformas implementadas no direito societário inglês, e ao sur-gimento constante de novas e atrativas HBF, importantes doutrinadores alemães recomendaram uma abrangente reestruturação da GmbHG, de modo a afastar entraves estruturais desnecessários e os deveres de constituição de capital mínimo145.

O legislador alemão não desprezou o clamor dos especialistas e promulgou, em 23 de outubro de 2008, a Gesetz zur Modernisierung des GmbH-Rechts und zur Bekämpfung von Missbräuchen (MoMiG), lei que impõe profundas reformas na lei de sociedades limitadas alemã, com a finalidade de: (i) simplificar e acelerar a constituição de novas sociedades e a criação de novas empresas; (ii) aumentar a atratividade das sociedades limitadas, no contexto das HBF europeias; e (iii) com-bater abusos da limitação de responsabilidade e da personalidade jurídica146.

A reforma, em verdade, tomou medidas pragmáticas (cf. Tabela 9 do Anexo), a exemplo da diminuição do capital mínimo de 25 mil para 10 mil euros, facultan-do, para além disso, a constituição de novíssima forma de organização empresarial, a Unternehmergesellschaft (haftungsbeschränkt) (“UG – haftungsbeschränkt”)147, uma sociedade empresária, com responsabilidade imanente, constituída na forma da § 5ª da GmbHG. A UG pode ser constituída com capital no valor de 1 a 24.999 euros, sob a condição de que: (i) todas as quotas sejam integralizadas antes do registro; (ii) não haja prestação de entradas com bens; e (iii) 25% dos resultados anuais sejam mantidos em fundo de reserva em garantia a credores. O aumento

144 Abreviatura para Gesetz betreffend die Gesellschaften mit beschränkter Haftung (Lei das Sociedades Limitadas alemã).145 BACHMANN, Gregor. Grundtendenzen der Reform geschlossener Gesellschaften in Europa Dargestellt am Beispiel des britischen Reformprozesses und der Europaischen Privatgesellschaft. Zeitschrift für Unternehmens- und Gesellschaftsrecht, v. 30, n. 3, Jun. 7, 2001; LUTTER, Marcus. Limited liability companies and private companies. Tübingen: J.C.B. Mohr (Paul Siebeck); Dordrecht; Lancaster: Martinus Nijhoff, 1998 (International encyclopedia of comparative law, v. 13, Business and private organizations; ch. 2, Detlev Vagtsed).146 BEURSKENS, Michael; NOACK, Ulrich. The reform of German private limited company: is the GmbH ready for the 21st century? German Law Journal, v. 9, n. 9, p. 1069-1092, 2008.147 A abreviação UG não pode ser empregada na denominação social senão segui-da da advertência de que se trata de uma sociedade de responsabilidade imanente (limitada).

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de capital da UG a 10 mil euros deve transmudá-la em GmbH, tornando desne-cessária a manutenção do dito fundo.

No geral, a MoMiG vale-se da internet e de meios eletrônicos de comunicação para acelerar e facilitar a constituição das limitadas alemãs, bem como para des-burocratizar os procedimentos notariais.

A disciplina jurídica da quota também foi simplificada. Antes da reforma, cada sócio deveria ter uma quantidade de quotas correspondente a uma participação no capital divisível por 50 euros, mantendo, no mínimo, uma participação corres-pondente a 100 euros148. Para complicar as coisas, cada sócio não poderia ter mais do que uma participação no momento da constituição da sociedade; a divisão das quotas existentes submetia-se a regras especiais e complexas e os direitos de voto eram atribuídos pro rata149. A reforma permite que os sócios detenham quantas quotas pactuarem, atribuindo livremente valor a cada uma (em múltiplos de 1 euro).

A MoMiG institui uma lista oficial de quotistas, que tem fé pública. A ideia é, por certo, proteger o adquirente de boa-fé.

Outra modificação importante à “internacionalização” das limitadas alemãs é a possibilidade de dissociar o local de constituição do lugar da sede social, sob a condição de que a sociedade tenha escritório na Alemanha, onde possa receber citações, intimações e notificações150.

3. A EXpERIÊNCIA LATINO-AMERICANA: A SOCIeDaD pOR aCCIOneS SIMpLIFICaDa COLOMBIANA

A Colômbia foi o primeiro país latino-americano a se interessar pela adoção desses novos modelos híbridos. Promulgou a Lei 1258 de 2008, que instituiu a Sociedad por Acciones Simplificada (SAS), em grande parte concebida por Fran-cisco Reyes151, especialista de renome mundial, com evidente finalidade de incre-mentar a atividade empresarial naquele país, provendo meios jurídicos à organi-zação das pequenas e das médias empresas.

A SAS colombiana reproduz, grosso modo, um padrão mundial que marca essa nova leva de híbridos, e que exibe as seguintes características: (i) personalidade jurídica; (ii) responsabilidade imanente; (iii) ampla autonomia privada; (iv) bara-teamento dos custos de constituição e de manejo; (v) acesso a múltiplas técnicas

148 § 5, parágrafos 1, 3 GmbHG.149 § 17, GmbHG.150 § 4, parágrafo 1 GmbHG.151 Cf. REYES VILLAMIZAR, Francisco. SAS: la sociedad por acciones simplificada. 2. ed. actual. Bogotá, CO.: Legis, 2010.

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de financiamento; e (vi) transparência da expressão de resultados empresariais para fins da aplicação de regime de tributação simplificado.

O sucesso dessa fórmula, transplantada à realidade colombiana, sentiu-se, desde logo, pelos expressivos números, que dão conta de que, nos 24 meses seguin-tes à criação da Lei 1258, foram constituídas 54 mil SAS, para superar, em popu-laridade, quaisquer outras formas societárias existentes naquele país.

4. AS HBf E O NOvO DIREITO SOCIETáRIO

As tendências aqui descritas, caracterizadas pelo aparecimento de um novo modelo híbrido, que combina algumas características essenciais e as técnicas de financiamento da companhia à ampla autonomia das sociedades contratuais, marcam um novíssimo momento de inflexão na história do direito societário. E isso, não em razão da utilização de técnicas jurídicas revolucionárias, mas especialmente por conta de um claro alinhamento das técnicas existentes aos interesses das pequenas e das médias empresas. O momento se define pela consciência estatal acerca da importância de se promover o empreendedorismo para o bem da economia das nações, mas, sobretudo, para melhorar a vida das pessoas.

O direito é, nesse caso, instrumento precípuo de mudanças sociais, que se põem, não mais por meio de um controle estatal externo, burocrático e paralisan-te, mas pelo reconhecimento de que a ampliação da autonomia organizativa per-mitirá uma distribuição social mais eficiente e mais justa dos resultados da ativi-dade empresarial. Nesse ambiente, a fiscalização e a punição de abusos se sofisticam, seja pela organização espontânea dos constituencies (o que encontra na regulação privada a sua expressão mais evidente), seja por uma drástica ampliação do acesso às informações empresariais, seja pela adoção de técnicas regulatórias extrassocie-tárias, a exemplo da relativização dos sigilos bancário e fiscal, de modo a compen-sar um alargamento do sigilo societário.

O direito societário se submete, portanto, notadamente no âmbito da organi-zação das pequenas e médias empresas, a uma reversão do contágio publicista, que marcou uma já anacrônica tendência da primeira metade do século passado. E mesmo a disciplina da macroempresa se rende aos apelos da regulação privada, a exemplo do bom sucesso dos regulamentos do Novo Mercado e de tantas outras iniciativas da sociedade civil, que superam, em bons propósitos e em eficiência, a ação do legislador e do intérprete-judicante.

5. AS HBf E O RE-SAS

O RE-SAS mostra-se, em linhas gerais, compassado com as tendências mun-diais que se expressam nas HBF, mas parece ostentar vantagens adicionais.

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Não é uma nova forma societária, mas um regime societário especial, a que se submetem algumas companhias, ao satisfazerem os critérios de enquadramen-to e de adesão voluntária. Assenta-se no consolidado e elogiável regramento das sociedades anônimas brasileiras. Isso evita os riscos invariavelmente associados a novidades, no particular, a extensos textos de lei, sujeitos a toda a sorte de erros e de interpretações. Evita, em grande medida, a repristinação de toda a disciplina essencial às companhias, para excetuá-la apenas naquilo que é necessário para caracterizar a especialidade do regime.

O RE-SAS aproveita todas as técnicas de financiamento da companhia, ali-nhando-as em proveito das pequenas e das médias empresas, as quais foram, in-convenientemente, privadas de seu emprego. Promove o crescimento da empresa, não apenas por meio do barateamento de sua organização e de seu exercício, mas, sobretudo, pelo barateamento de seu financiamento. Nesse sentido, permite a adoção de diferentes estruturas de capitalização (seja pela emissão de ações de diferentes espécie e classes, seja por meio da distribuição desigual de dividendos), bem como a emissão de títulos de dívidas, sempre no contexto de valores mobiliá-rios, que poderão mais facilmente ingressar (ser negociados) nos níveis de acesso ao mercado bolsista.

De resto, o RE-SAS interioriza a solução de conflitos societários, facultan-do uma ampla determinação da disciplina do recesso e da exclusão do acionis-ta faltoso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É necessária uma intervenção reformista no direito societário brasileiro, para que se dê a devida atenção à organização jurídica das pequenas e das mé-dias empresas, de que se esqueceram – centrados na disciplina da macroempre-sa – o Estado e o legislador brasileiros. Submeteram, na ausência de melhor destino, as pequenas e as médias ao regramento das grandes, senão a um arre-medo dessa disciplina, a exemplo do que se deu com as limitadas, com o adven-to do Código Civil.

A intervenção estatal na atividade econômica, para a implementação de polí-ticas públicas, é um padrão frequente na história do direito societário. E não po-deria mesmo ser diferente, o direito societário se resume, desde os seus primórdios, por “vias de direito” ao exercício da atividade econômica.

O direito, nesse contexto, deve cuidar para que a entrada, a permanência e a saída dos empresários nos mercados se deem de modo facilitado, pela constituição e pelo manejo simples e barato das formas societárias disponíveis. Os interesses de supervisão estatal não se podem concretizar ao custo do absoluto desincentivo à organização e ao exercício da empresa ou, o que é pior, do seu desaparecimento. Não é acertado um modelo regulatório, que pretende controlar o fenômeno em-presarial, mas que finda por determinar a sua rarefação e, na pior das hipóteses, o seu desaparecimento.

Os números brasileiros, que contam milhões de empregos informais, a pre-valência quantitativa de pequenas e de médias empresas, por oposição à durabili-dade e o bom sucesso das grandes, e uma intolerável e custosa burocracia registral permitem concluir que, entre nós, menos pode ser mais.

A formação de uma cultura de autorregramento privado, mesmo que cercea-da por limites que, segundo uma concepção de Estado prevalente no Brasil, seriam inegociáveis, parece preferível à rigidez paralisante do dirigismo em vigor, que se funda em um inglório exercício de adivinhação das necessidades e dos interesses particulares no exercício da pequena e da média empresa. Isso porque, na dúvida, o legislador, impaciente e desinteressado, simplesmente institucionaliza soluções ilusoriamente seguras e inúteis.

É certo que a autonomia privada, aplicada irrestritamente à disciplina de re-lações societárias, pode incrementar conflitos de agência e, com isso, instituciona-lizar um tratamento não equitativo, escorado na disparidade de meios e de infor-mações eventualmente reinantes entre sócios. Nesse ambiente, o direito deve

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cumprir a sua função de pacificação social. Mas deve fazê-lo, em se tratando de conflitos ou de riscos menores, quando o indivíduo esgotou – sob gabaritos legais – todas as tentativas autônomas de solução.

O desafio regulatório é evitar, de um lado, a rigidez paralisante causada pela irrestrita publicização do direito societário e, de outro, que a equidade das relações jurídico-formais se sobreponha à igualdade das relações econômicas.

A empresa enseja uma técnica desejável de geração de riquezas, sob a ideia de eficiência, que, no esquema de produção capitalista, está fundada na realização de trocas desiguais nos mercados, na aptidão e na inaptidão seletivas e no crescimen-to tendentemente ininterrupto das economias.

Todas essas utilidades se esgotam se as sociedades, como disciplinadas pelo direito, ensejarem mais custos do que ganhos. Uma disciplina das pequenas e das médias empresas, que simplesmente reproduza o que se dá entre as grandes, des-preza o impacto dos custos nos ganhos, especialmente porque, nesse caso, há uma profunda disparidade de custos e de ganhos.

Uma disciplina jurídica que, demasiado custosa, dificulte a constituição e a modelar utilização de sociedades e que, portanto, contenha o empreendedorismo e o exercício da empresa, será direito ruim.

O empreendedor brasileiro, cioso de uma oportunidade de inclusão nos mer-cados, não pode esperar uma revisão da disciplina das limitadas ou a criação de um novo tipo societário que lhe dê guarida. O Brasil quer florescer como potência econômica; as brasileiras e os brasileiros despertam para o empreendedorismo e para as suas oportunidades. Quando as técnicas de distribuição de renda e de mitigação de desequilíbrios econômicos e sociais falham, e as nossas falharam em grande medida, o legislador deve, ao menos, prover ao pequeno e ao médio em-preendedor vias de entrada nos mercados. Deve trabalhar para que esses empreen-dedores tenham uma chance de se beneficiar do próprio esforço, de seu gênio criativo e do favorável contexto macroeconômico.

A urgência de uma solução pressupõe atenção ainda maior aos dados do problema. A pressa inspira modificações pontuais do que já existe. A ordem é adaptar. E a adaptação deve ser útil, para atender às necessidades que a inspiraram, sem criar novas necessidades.

A amplitude da disciplina da companhia, no Brasil, é, desde logo, uma impor-tante fonte de inspiração. De uma matriz comum são deduzidos matizes e pesos regulatórios, que a caracterizam como disciplina extremamente versátil, capaz de “cobrir” organizações societário-empresariais de diferentes tamanhos, mais ou menos complexas, dentro do amplo domínio (especialmente no contexto brasilei-ro de disparidades regionais) da empresa de grande porte. É possível, acreditamos, deduzir desse “chassi regulatório” uma disciplina especialmente aplicável às pe-quenas e às médias empresas.

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Não se trata de medir pequenos e médios com a régua dos grandes, como faz a disciplina brasileira das limitadas. Mas é razoável um desmonte calculado da disciplina da companhia, a diminuição da régua, mantendo-se a sua estrutura es-sencial, que caracteriza os elementos fundamentais da organização societária da empresa, a que se acoplam periféricos moldáveis, disponíveis segundo as peculia-ridades do caso concreto.

Se bem-sucedida, essa iniciativa ensejará uma correção no direito societário brasileiro, por meio da qual a disciplina da macroempresa societária (que, em termos de frequência, é exceção) terá o seu âmbito de aplicação ainda mais am-pliado, a ponto de cobrir as pequenas e as médias, em estrita observância às suas mais variadas dimensões e características.

A adaptabilidade necessária, nesse caso, será introjetada na lei, sob o pulso da autonomia privada, como ordem jurídica parcial, constrita por limites objetivos bem definidos.

À disciplina mínima e essencial, que caracteriza a companhia, são acopladas disciplinas suplementares, capazes de identificar regimes especiais, a exemplo, repise-se, das companhias fechadas em relação às abertas, diferençadas não apenas pela fattispecie do art. 4º, mas pela regência distinta que é imposta pela LSA. Em verdade, essa disciplina-base (o chassi regulatório) corresponde à disciplina das fechadas, de que se deduzem disciplinas suplementares. O regramento das anôni-mas é a mais conhecida dessas disciplinas suplementares, mas não a única.

A existência de um regime jurídico das pequenas e das médias companhias, já plasmado no art. 294 da LSA, mesmo que imperfeito, sugere uma reflexão acer-ca de modificações capazes de prover a essa disciplina suplementar os predicados que deve modelarmente ostentar.

O RE-SAS nasce, por certo, como consequência desse estado de coisas; nasce dos clamores das ruas, das “bocas de foro”, dos escritórios de advocacia, das asso-ciações comerciais e industriais, dos sindicatos e, também, da academia.

Trata-se da disciplina suplementar, que se acopla ao “chassi regulatório” das companhias, em substituição à “companhia do art. 294”, com vistas a remediar as inconsistências da “superanônima”, sem rechaçar suas qualidades.

Vale, nesse contexto, reforçar que o RE-SAS não cria uma nova forma socie-tária, mas apenas uma nova “via de direito”, capaz de prover caminhos às pequenas e às médias empresas.

O RE-SAS, que se insere no Projeto de Lei n. 4.303/2012, revoga o art. 294 da LSA e o substitui pelos arts. 294-A a 294-J. O objeto e as principais características do RE-SAS são: (i) os critérios de inclusão e de exclusão; (ii) a unipessoalidade; (iii) a diminuição de custos de publicidade e o aumento de publicidade; (iv) a flexibili-zação dos processos de formação das deliberações sociais; (v) a distribuição des-proporcional de dividendos; (vi) o barateamento e a desburocratização da estru-

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tura administrativa; (vii) a remuneração dos administradores; e (viii) a ampliação da autonomia privada em matéria de autorregramento do direito de recesso e de exclusão “administrativa” de acionista.

O momento se define pela consciência estatal acerca da importância de se promover o empreendedorismo para o bem da economia das nações, mas, sobre-tudo, para melhorar a vida das pessoas.

O aparecimento de um novo modelo híbrido, que combina algumas caracte-rísticas essenciais e as técnicas de financiamento da companhia à ampla autonomia das sociedades contratuais, marca um novíssimo momento de inflexão na história do direito societário. E isso, não em razão da utilização de técnicas jurídicas revo-lucionárias, mas especialmente por conta de um claro alinhamento das técnicas existentes aos interesses das pequenas e das médias empresas.

O RE-SAS mostra-se, em linhas gerais, compassado com as tendências mun-diais que se expressam nas HBF, mas parece ostentar vantagens adicionais.

Não é uma nova forma societária, mas um regime societário especial, a que se submetem algumas companhias, ao satisfazerem os critérios de enquadramen-to e de adesão voluntária. Assenta-se no consolidado e elogiável regramento das sociedades anônimas brasileiras, o que evita os riscos invariavelmente associados às novidades, no particular, a extensos textos de lei, sujeitos a toda a sorte de erros e de interpretações. Evita, em grande medida, a repristinação de toda a disciplina essencial às companhias, para excetuá-la apenas naquilo que é necessário para caracterizar a especialidade do regime.

O RE-SAS aproveita todas as técnicas de financiamento da companhia, ali-nhando-as em proveito das pequenas e das médias empresas, as quais foram, in-convenientemente, privadas de seu emprego. Promove o crescimento da empresa, não apenas por meio do barateamento de sua organização e de seu exercício, mas, sobretudo, pelo barateamento de seu financiamento. Nesse sentido, permite a adoção de diferentes estruturas de capitalização (seja pela emissão de ações de diferentes espécie e classes, seja por meio da distribuição desigual de dividendos), bem como a emissão de títulos de dívida, sempre no contexto de valores mobiliá-rios, que poderão mais facilmente ingressar (ser negociados) nos níveis de acesso ao mercado bolsista. De resto, o RE-SAS interioriza a solução de conflitos socie-tários, facultando uma ampla determinação da disciplina do recesso e da exclusão do acionista faltoso.

Submetemos todas essas reflexões ao escrutínio do leitor, para que julgue a utilidade do PL n. 4.303/2012.

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REFERÊNCIAS

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ULMER, P.; HABERSACK, M.; HENSSLER, M. Mitbestimmungsrecht. Munich: C.H.Beck, 2006.

URIA, Rodrigo. Derecho mercantil. Madrid: Marcial Pons, 1996.

VALVERDE, Trajano de Miranda. Sociedade por ações (comentários ao decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940): arts. 74 a 136. ed. rev. e atual. Forense: Rio de Janeiro, 1959. v. 2.

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ANEXO

TABELAS E ILUSTRAÇÕES

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123

TABELA 1

pATRIMôNIO LÍQUIDO DAS COMpANHIAS LISTADAS

NA BOLSA DE vALORES DE SÃO pAULO EM JANEIRO DE 2013

(em milhões de reais)

EMPRESA PATRIMÔNIO LÍQUIDO SETOR/SUBSETOR

HRT PETRÓLEOOGX PETRÓLEOPACIFIC RUBPET MANGUINHPETROBRASQGEP PART

3.844.4948.361.9936.934.013(258.270)338.889.0162.143.880

Petróleo, Gás e Biocombustíveis/ Petróleo, Gás e Biocombustíveis

OSX BRASIL 2.839.742 Petróleo, Gás e Biocombustíveis/ Petróleo, Gás e Biocombustíveis

CENT MIN-RIOLITELMANABIMMX MINERVALE

101.80229.353.830777.4142.578.554160.616.001

Materiais Básicos/Mineração

CCX CARVÃO 724.729 Materiais Básicos/Mineração

FERBASAGERDAUGERDAU METSID NACIONALUSIMINASVICUNHA SID

1.137.91728.421.86226.443.7557.870.37218.788.2148.757.261

Materiais Básicos/Siderurgia e Metalurgia

ALIPERTIFIBAMMANGELS INDLMET DUQUEPANATLÂNTICATEKNO

329.26323.897171.55189.163165.781225.221

Materiais Básicos/Siderurgia e Metalurgia

PARANAPANEMA 1.593.213 Materiais Básicos/Siderurgia e Metalurgia

BRASKEMELEKEIROZGPC PARTM G POLIESTUNIPAR

8.698.444474.870186.244187.289388.729

Materiais Básicos/Químicos

FER HERINGERNUTRIPLANT

426.68231.626 Materiais Básicos/Químicos

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124

MILLENNIUM 409.642 Materiais Básicos/Químicos

DURATEXEUCATEX

3.816.7801.027.003 Materiais Básicos/Madeira e Papel

CELUL IRANIFIBRIAKLABIN S/AMELHOR SPSANTHERSUZANO HOLDSUZANO PAPEL

450.17815.358.4315.025.972848.91274.98710.258.70310.901.005

Materiais Básicos/Madeira e Papel

METAL IGUAÇUPETROPARRIMET

45.320477.760(372.708)

Materiais Básicos/Embalagens

MAGNESITA SAPROVIDÊNCIASANSUY

2.778.576678.713(267.782)

Materiais Básicos/Materiais Diversos

EMBRAER 6.453.315 Bens Industriais/Material de Transporte

COBRASMA (4.218.962) Bens Industriais/Material de Transporte

AUTOMETALD H BFRAS-LEIOCHP-MAXIONMARCOPOLOMETAL LEVEPLASCAR PARTRANDON PARTRECRUSULRIOSULENSETUPYWETZEL S/A

1.234.260(231.854)358.7011.027.9431.227.0961.381.849444.2881.832.110(39.660)15.0681.138.791(13.595)

Bens Industriais/Material de Transporte

METALFRIO 270.411 Bens Industriais/Equipamentos Elétricos

LUPATECHSCHULZWEG

13.388294.1343.913.668

Bens Industriais/Máquinas e Equipamentos

BARDELLAINDS ROMIINEPARKEPLER WEBERNORDON MET

428.934649.408572.171300.692(61.043)

Bens Industriais/Máquinas e Equipamentos

AÇO ALTONAMETISA

62.134173.692

Bens Industriais/Máquinas e Equipamentos

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125

BAUMER 59.958 Bens Industriais/Máquinas e Equipamentos

FORJA TAURUS 353.331 Bens Industriais/Máquinas e Equipamentos

CONTAXCSU CARDSYSTDTCOM-DIRECTVALID

463.864162.5315.505503.891

Bens Industriais/Serviços

MINASMÁQUINAWLM IND COM

70.695458.565 Bens Industriais/Comércio

LARK MAQS (25.263) Bens Industriais/Comércio

CHIARELLICP CIMENTOETERNITHAGA S/APORTOBELLO

(151.416)287.458459.238(100.396)102.607

Construção e Transporte/Construção e Engenharia

BROOKFIELDCC DES IMOBCONST A LINDCR2CYRELA REALTDIRECIONALEVENEZTECGAFISAHELBORJHSF PARTJOÃO FORTESMRVPDG REALTRODOBENSIMOBROSSI RESIDSERGENTECNISATGLTTRISULVIVER

2.622.898660.347(7.016)424.9095.170.2561.331.4471.699.8571.583.9522.746.1451.035.7461.244.648629.9023.916.5416.062.277768.0762.822.486158.2421.590.375189.997475.303938.344

Construção e Transporte/Construção e Engenharia

AZEVEDOCONST BETERLIX DA CUNHAMENDES JRSULTEPA

31.525(2.531)46.0824.186.974257.189

Construção e Transporte/Construção e Engenharia

SONDOTÉCNICATECNOSOLO

67.45570.490

Construção e Transporte/Construção e Engenharia

MILLS 793.108 Construção e Transporte/Construção e Engenharia

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126

BR BROKERSLOPES BRASIL

761.027583.047

Construção e Transporte/Construção e Engenharia

GOLLATAM AIRLN

1.486.91610.637.158

Construção e Transporte/Transporte

ALL AMER LATALL NORTEALL PAULISTAFER C ATLANTMRS LOGIST

4.236.0191.314.690402.2771.412.0152.374.126

Construção e Transporte/Transporte

HIDROVIAS BRLOG-INTREVISA

159.494525.49280.518

Construção e Transporte/Transporte

JSLTEGMA

934.401401.680

Construção e Transporte/Transporte

AUTOBANCCR SACONC RIO TERCONCEPAECONECONORTEECOPISTASECORODOVIASECOVIASINVEPARNOVADUTRAOHL BRASILRT BANDEIRASTRIUNFO PARTVIAOESTE

554.6063.629.650100.62492.0761.175.980106.087223.5602.040.426485.4373.825.397522.2751.489.718467.8831.366.333278.292

Construção e Transporte/Transporte

CENT ACUDOC IMBITUBALLX LOGSANTOS BRASSANTOS BRPWILSON SONS

63.54762.307934.1461361.376.904917.934

Construção e Transporte/Transporte

RASIP AGRORENARSLC AGRÍCOLAV-AGRO

62.04028.9951.854.0431.235.716

Consumo Não Cíclico/ Agropecuária

BIOSEVCOSANCOSAN LTDSÃO MARTINHOUSIN C PINTO

2.4719.371.3559.354.4331.987.6921.013.348

Consumo Não Cíclico/Alimentos Processados

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127

CACIQUECAF BRASÍLIAIGUAÇU CAFÉ

206.655(278.148)(116.538)

Consumo Não Cíclico/ Alimentos Processados

CLARION 1.022.843 Consumo Não Cíclico/Alimentos Processados

BRF FOODSEXCELSIORJBSMARFRIGMINERVAMINUPAR

14.070.1645.56621.060.6245.946.442576.644(6.286)

Consumo Não Cíclico/Alimentos Processados

LAEPMONTICIANOVIGOR FOOD

282.141918.5431.220.031

Consumo Não Cíclico/Alimentos Processados

J.MACEDOJOSAPARM.DIASBRANCOMARAMBAIAODERICHTEREOS

337.700483.5862.228.7902.41191.6593.562.000

Consumo Não Cíclico/Alimentos Processados

AMBEV 27.833.302 Consumo Não Cíclico/Bebidas

SOUZA CRUZ 2.280.356 Consumo Não Cíclico/Fumo

NATURA 1.166.405 Consumo Não Cíclico/Produto de Uso Pessoal e de Limpeza

BOMBRIL (40.639) Consumo Não Cíclico/Produto de Uso Pessoal e de Limpeza

BIOMMCREMER

(14.150)307.343 Consumo Não Cíclico/Saúde

AMILDASAFLEURYODONTOPREVQUALICORPTEMPO PART

1.647.0702.600.6161.698.322714.1571.982.601324.933

Consumo Não Cíclico/Saúde

HYPERMARCAS 6.668.286 Consumo Não Cíclico/Diversos

AGRENCOP.AÇÚCAR-CBD

(962.507)10.506.778

Consumo Não Cíclico/Comércio e Distribuição

BR PHARMADIMEDPROFARMARAIADROGASIL

1.312.440219.442569.8942.234.786

Consumo Não Cíclico/Comércio e Distribuição

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128

BUETTNERCEDROCOTEMINASDOHLERENCORPARFAB C RENAUXIND CATAGUASKARSTENPETTENATISANTANENSESCHLOSSERSPRINGSTEC BLUMENAUTECEL S JOSÉTEKATEX RENAUXVICUNHA TEXTWEMBLEY

(49.923)307.6951.733.407409.185166.534(142.483)147.33932.586122.065237.812(101.931)1.298.382(31.827)(114.185)(780.893)(148.448)907.3421.860.845

Consumo Cíclico/Tecidos, Vestuário e Calçados

CIA HERING 746.552 Consumo Cíclico/Tecidos, Vestuário e Calçados

ALPARGATASCAMBUCIGRENDENEVULCABRAS

1.577.58141.2491.801.185136.154

Consumo Cíclico/Tecidos, Vestuário e Calçados

MUNDIALTECHNOS

47.343384.015

Consumo Cíclico/Tecidos, Vestuário e Calçados

BRASMOTORIGB S/ASPRINGERWHIRLPOOL

905.335(239.843)142.1232.092.431

Consumo Cíclico/Utilidades Domésticas

UNICASA 210.678 Consumo Cíclico/Utilidades Domésticas

HERCULESNADIR FIGUEI

(362.159)298.460

Consumo Cíclico/Utilidades Domésticas

NET 4.332.004 Consumo Cíclico/Mídia

ABRIL EDUCASARAIVA LIVR

996.920482.260 Consumo Cíclico/Mídia

BETAPART 7.903 Consumo Cíclico/Mídia

BHGHOTÉIS OTHONSAUÍPE

757.751(147.937)(5.540)

Consumo Cíclico/Hotéis e Restaurantes

IMC HOLDINGS 855.556 Consumo Cíclico/Hotéis e Restaurantes

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129

BIC MONARKPRO METALURG

193.611(271.945) Consumo Cíclico/Viagens e Lazer

ESTRELATECTOY

(208.147)7.148 Consumo Cíclico/Viagens e Lazer

PQ HOPI HARI 118.086 Consumo Cíclico/Viagens e Lazer

MAORISPTURISTIME FOR FUN

(44.731)60.469365.276

Consumo Cíclico/Viagens e Lazer

LIGAFUTEBOL (1.923) Consumo Cíclico/Viagens e Lazer

ANHANGUERAESTÁCIO PARTKROTON

2.134.865679.1292.191.076

Consumo Cíclico/Diversos

LOCALIZALOCAMERICAUNIDAS

1.194.426293.998518.232

Consumo Cíclico/Diversos

MULTIPLUS 160.785 Consumo Cíclico/Diversos

AREZZO COGRAZZIOTINGUARARAPESLE LIS BLANCLOJAS HERINGLOJAS MARISALOJAS RENNER

409.447309.4002.372.996189.7022.419921.0241.119.851

Consumo Cíclico/Comércio

MAGAZ LUIZAVIAVAREJO

602.5332.696.984 Consumo Cíclico/Comércio

B2W VAREJODUFRY AGLOJAS AMERIC

1.057.0252.289.1031.219.067

Consumo Cíclico/Comércio

BEMATECHITAUTECPOSITIVO INF

358.180535.430633.398

Tecnologia da Informação/Computadores e Equipamentos

GAMA PARTIDEIASNETSENIOR SOLTELEBRASTOTVS

8.159113.44712.795(34.753)798.544

Tecnologia da Informação/Programas e Serviços

CTBC TELECOMEMBRATEL PARJEREISSATILA FONTE TELLF TELOITELEF BRASILTELEMAR PART

614.37013.725.0054.575.4252.962.0904.160.03320.743.56543.397.43518.323.981

Telecomunicações/Telefonia Fixa

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AMERICELINEPAR TELTELE NORT CLTIM PART S/A

3.628.827(21.893)12.432.79713.353.743

Telecomunicações/Telefonia Móvel

521 PARTICIP524 PARTICIPAES ELPAAES SULAES TIETÊAFLUENTEAFLUENTE TAGCONCESSÕESAMPLA ENERGBAESABONAIRE PARTBRASILIANACACHOEIRACEBCEEE-DCEEE-GTCELESCCELGPARCELPACELPECEMARCEMATCEMIGCEMIG DISTCEMIG GTCESPCOELBACOELCECOPELCOSERNCPFL ENERGIACPFL GERAÇÃOCPFL PIRATINDESENVIXEBEELEKTROELETROBRASELETROPARELETROPAULOEMAEENERGIAS BRENERGISAENERSULEQUATORIALESCELSAFORPARTGER PARANAPGTD PART

56.4635144.374.913905.3461.912.78542.88275.7592.272.7401.770.921635.370296.2777.553.06288.244777.6181.335.4802.463.4892.173.610(1.259.496)297.5981.592.0831.062.3981.310.11012.897.8842.695.1845.200.58610.298.1492.395.0771.493.41912.483.568772.7448.476.8362.697.709365.100721.387690.7692.109.01779.037.975179.9183.641.937778.8646.526.7221.386.701751.5261.374.697692.31342.2983.004.52620.739

Utilidade Pública/Energia Elétrica

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INVESTCOITAPEBILIGHTLIGHT S/AMPX ENERGIANEOENERGIAPAUL F LUZPROMANREDE ENERGIAREDENTORRENOVARIO GDE ENERTAESATERMOPETRACTEBELTRAN PAULISTUPTICK

1.115.144402.8842.360.8043.219.7072.448.94212.383.089855.6927271.813.890427.512648.7001.310.3202.207.973398.4905.606.7904.639.96072.150

Utilidade Pública/ Energia Elétrica

CASANCOPASADALETH PARTSABESPSANEPARSANESALTO

1.271.8374.822.490244.45411.042.4772.458.053(21.074)

Utilidade Pública/Água e Saneamento

CEGCOMGÁS

812.0851.356.721 Utilidade Pública/Gás

ABC BRASILALFA CONSORCALFA HOLDINGALFA INVESTAMAZÔNIABANESEBANESTESBANPARÁBANRISULBICBANCOBRADESCOBRASILBRB BANCOBTGP BANCOCRUZEIRO SULDAYCOVALINDUSVALITAÚSAITAÚUNIBANCOMERC BRASILMERC INVESTNORD BRASILPANAMERICANOPARANÁPATAGONIA

1.565.7711.045.670673.2271.116.8052.032.753237.586830.955362.7014.652.2132.010.17663.920.08861.998.776869.7858.935.8661.145.6702.013.361582.44033.631.00081.413.586813.05354.5002.570.4252.835.8141.132.1621.349.463

Financeiros e Outros/ Intermediários Financeiros

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132

PINESANTANDER BRSOFISA

1.083.89380.208.163768.760

Financeiros e Outros/ Intermediários Financeiros

ALFA FINANCFINANSINOSMERC FINANC

669.09321.646141.131

Financeiro e Outros/Intermediários Financeiros

BICLEASINGBRADESCO LSGBV LEASINGDIBENS LSG

180.5859.633.2201.314.73332.212.705

Financeiro e Outros/Intermediários Financeiros

BRAZILIAN FR 749.869 Financeiro e Outros/Intermediários Financeiros

AETATIS SECALTERE SECASTER SECBETA SECURITBRAZIL REALTBRAZILIAN SCBRC SECURITBRPR 44 SECBRPR 45 SECBRPR 46 SECBRPR 51 SECBRPR 52 SECBRPR 53 SECBRPR 55 SECBRPR 56 SECBTG PACT SECFIBRA SECGAIA SECURITIMIGRANTESIMOWEL SECINFRASECOCTANTE SECPÁTRIA SECPDG SECURITRBCAPITALRESRBCAPITALSECTC SECURITTFA SECURITUNI CIDADEUNIVERCIDADEWTORRE PICXX NOVEMBRO

8.4306774530.0009.142191.16259247.70977259.065107.79622.088127.85613.13169.00896814.3382.14714(198)1.201315414.12515.08514.8894(287)(9.643)1202.22449.084

Financeiro e Outros/ Securitizadoras de Recebíveis

BNDESPARBTG PACTUALGP INVESTTARPON INV

77.598.1953.379.0692.651.21238.808

Financeiro e Outros/Serviços Financeiros Diversos

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133

BMFBOVESPACETIPCIELOREDECARD

19.407.5941.307.9612.177.1871.605.525

Financeiro e Outros/Serviços Financeiros Diversos

ITAUSEGPAR AL BAHIAPORTO SEGUROSEG AL BAHIASUL AMÉRICA

14.900.784531.5484.816.413168.6833.084.571

Financeiro e Outros/Previdência e Seguros

BR INSURANCE 451.414 Financeiro e Outros/Previdência e Seguros

ALIANSCEBR MALLS PARBR PROPERTBRASILAGROCOR RIBEIROCYRE COM-CCPGENERALSHOPPIGUATEMIMENEZES CORTMULTIPLANSÃO CARLOSSIERRABRASIL

1.426.5217.736.3647.558.363597.7138.527671.755261.5001.642.011118.1903.133.570889.5602.622.762

Financeiro e Outros/Exploração de Imóveis

AGPARTBAHEMABATTISTELLABRADESPARDOCASHABITASULJ B DUARTEMONT ARANHAULTRAPAR

2.012.54350.491(79.849)9.602.562(393.143)514.24222.3641.1445.885.902

Financeiro e Outros/Holdings Diversificadas

ALEF S/AALL OREALLIS PARTARAUCÁRIABASELBELAPARTCABINDA PARTCACONDE PARTCAIANDA PARTCAPITALPARTCEMEPECIMSDINÂMICA ENEDOMMO EMPRELETRONFUTURETEL

56(10.323)21.140688.33685.2272.874(73)(67)(69)927(4.381)3311.681(11.521)8.55129.449

Financeiro e Outros/Outros

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134

GRUÇAÍINVEST BEMGEINVIT LEGACYITAITINGALONGDISNANTES PARTNAOMI PARTNEWTEL PARTNISA PARTNOAH PARTOPPORT ENERGPARCOM PARTPOLPARPROMPT PARTRET PARTRJCP EQUITYSELECTPARTSETIBA PARTSTIGMASUBESTAÇÃOSUDESTE S/ASUL 116 PARTTELINVESTVALETRONZAIN PART

(38)146.306958(67)282(50)(49)25.495(50)(53)(53)39.4584.9912815.38018.009555(70)197.5287.4253440.8967.2052.9165.203

Financeiro e Outros/Outros

TABELA 2EvOLUÇÃO DO pIB BRASILEIRO

Taxa de crescimento trimestral e anual

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

8%7%6%5%4%3%2%1%0%

-1%-2%-3%-4%-5%

Taxa de crescimento trimestral ante trimestre imediatamente anterior

Taxa de crescimento anual ante ano imediatamente anterior

0,6%

-0,6% -0,7%-1,2%

-0,1%-0,3%

-4,2%

-1,9%

-0,3%0,4%

0%0,3%

0,3%

-1%

0,1% 1,2%

1,2% 1,2%

1,2%

1,2%0,6%

1,4%2%

1,4%1,8%

1,3%

1,9%

2,4%2,2%

1,4%

1%1%

1%1%1,1% 1,1%

1,3% 1,3%1,8% 1,9%

2,7% 2,4%

5,7%

3,2%4%

6,1%

5,2%

7,9%

2,7%

Regime Especial de Sociedade Anonima Simplificada_001_152.indd 134 12/08/2013 14:18:30

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135

TABELA 3TAXA REfERENCIAL DO SISTEMA ESpECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTóDIA – SELIC

Mês/ Ano

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Jan. 2,18% 1,46% 1,27% 1,53% 1,97% 1,27% 1,38% 1,43% 1,08% 0,93% 1,05% 0,66% 0,86% 0,89% 0,60%

Fev. 2,38% 1,45% 1,02% 1,25% 1,83% 1,08% 1,22% 1,15% 0,87% 0,80% 0,86% 0,59% 0,84% 0,75%

Mar. 3,33% 1,45% 1,26% 1,37% 1,78% 1,38% 1,53% 1,42% 1,05% 0,84% 0,97% 0,76% 0,92% 0,82%

Abril 2,35% 1,30% 1,19% 1,48% 1,87% 1,18% 1,41% 1,08% 0,94% 0,90% 0,84% 0,67% 0,84% 0,71%

Maio 2,02% 1,49% 1,34% 1,41% 1,97% 1,23% 1,50% 1,28% 1,03% 0,88% 0,77% 0,75% 0,99% 0,74%

Jun. 1,67% 1,39% 1,27% 1,33% 1,86% 1,23% 1,59% 1,18% 0,91% 0,96% 0,76% 0,79% 0,96% 0,64%

Jul. 1,66% 1,31% 1,50% 1,54% 2,08% 1,29% 1,51% 1,17% 0,97% 1,07% 0,79% 0,86% 0,97% 0,68%

Ago. 1,57% 1,41% 1,60% 1,44% 1,77% 1,29% 1,66% 1,26% 0,99% 1,02% 0,69% 0,89% 1,07% 0,69%

Set. 1,49% 1,22% 1,32% 1,38% 1,68% 1,25% 1,50% 1,06% 0,80% 1,10% 0,69% 0,85% 0,94% 0,54%

Out. 1,38% 1,29% 1,53% 1,65% 1,64% 1,21% 1,41% 1,09% 0,93% 1,18% 0,69% 0,81% 0,88% 0,61%

Nov. 1,39% 1,22% 1,39% 1,54% 1,34% 1,25% 1,38% 1,02% 0,84% 1,02% 0,66% 0,81% 0,86% 0,55%

Dez. 1,60% 1,20% 1,39% 1,74% 1,37% 1,48% 1,47% 0,99% 0,84% 1,12% 0,73% 0,93% 0,91% 0,55%

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136

TABELA 4ÍNDICE DE INfLAÇÃO

[1980-2012]Índices percentuais

JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.ACUMULADO

NO ANO

1980 6,62 4,62 6,04 5,29 5,70 5,31 5,55 4,95 4,23 9,48 6,67 6,61 99,27%

1981 6,84 6,40 4,97 6,46 5,56 5,52 6,26 5,50 5,26 5,08 5,27 5,93 95,65%

1982 6,97 6,64 5,71 5,89 6,66 7,10 6,36 5,97 5,08 4,44 5,29 7,81 104,80%

1983 8,64 7,86 7,34 6,58 6,48 9,88 10,08 9,11 10,30 8,87 7,38 8,68 163,99%

1984 9,67 9,50 8,94 9,54 9,05 10,08 9,72 9,35 11,75 10,44 10,53 11,98 215,27%

1985 11,78 10,87 10,16 8,20 7,20 8,49 10,31 12,05 11,12 10,62 13,97 15,07 242,24%

1986 14,37 12,72 4,77 0,78 1,40 1,27 1,71 3,55 1,72 1,90 5,45 11,65 79,65%

1987 13,21 12,64 16,37 19,10 21,45 19,71 9,21 4,87 7,78 11,22 15,08 14,15 363,41%

1988 18,89 15,70 17,60 19,29 17,42 22,00 21,91 21,59 27,45 25,62 27,94 28,70 980,22%

1989 37,49 16,78 6,82 8,33 17,92 28,65 27,74 33,71 37,56 39,77 47,82 51,50 1.972,91%

1990 67,55 75,73 82,39 15,52 7,59 11,75 12,92 12,88 14,41 14,36 16,81 18,44 1.620,96%

1991 20,75 20,72 11,92 4,99 7,43 11,19 12,41 15,63 15,63 20,23 25,21 23,71 472,69%

1992 25,94 24,32 21,40 19,93 24,86 20,21 21,83 22,14 24,63 25,24 22,49 25,24 1.119,09%

1993 30,35 24,98 27,26 27,75 27,69 30,07 30,72 32,96 35,69 33,92 35,56 36,84 2.477,15%

1994 41,31 40,27 42,75 42,68 44,03 47,43 6,84 1,86 1,53 2,62 2,81 1,71 916,43%

1995 1,70 1,02 1,55 2,43 2,67 2,26 2,36 0,99 0,99 1,41 1,47 1,56 22,41%

1996 1,34 1,03 0,35 1,26 1,22 1,19 1,11 0,44 0,15 0,30 0,32 0,47 9,56%

1997 1,18 0,50 0,51 0,88 0,41 0,54 0,22 -0,02 0,06 0,23 0,17 0,43 5,22%

1998 0,71 0,46 0,34 0,24 0,50 0,02 -0,12 -0,51 -0,22 0,02 -0,12 0,33 1,66%

1999 0,70 1,05 1,10 0,56 0,30 0,19 1,09 0,56 0,31 1,19 0,95 0,60 8,94%

2000 0,62 0,13 0,22 0,42 0,01 0,23 1,61 1,31 0,23 0,14 0,32 0,59 5,97%

2001 0,57 0,46 0,38 0,58 0,41 0,52 1,33 0,70 0,28 0,83 0,71 0,65 7,67%

2002 0,52 0,36 0,60 0,80 0,21 0,42 1,19 0,65 0,72 1,31 3,02 2,10 12,53%

2003 2,25 1,57 1,23 0,97 0,61 -0,15 0,20 0,34 0,78 0,29 0,34 0,52 9,30%

2004 0,76 0,61 0,47 0,37 0,51 0,71 0,91 0,69 0,33 0,44 0,69 0,86 7,60%

2005 0,58 0,59 0,61 0,87 0,49 -0,02 0,25 0,17 0,35 0,75 0,55 0,36 5,69%

2006 0,59 0,41 0,43 0,21 0,10 -0,21 0,19 0,05 0,21 0,33 0,31 0,48 3,14%

2007 0,44 0,44 0,37 0,25 0,28 0,28 0,24 0,47 0,18 0,30 0,38 0,74 4,45%

2008 0,54 0,49 0,48 0,55 0,79 0,74 0,53 0,28 0,26 0,45 0,36 0,28 5,90%

2009 0,48 0,55 0,20 0,48 0,47 0,36 0,24 0,15 0,24 0,28 0,41 0,37 4,31%

2010 0,75 0,78 0,52 0,57 0,43 0,00 0,01 0,04 0,45 0,75 0,83 0,63 5,90%

2011 0,83 0,80 0,79 0,77 0,47 0,15 0,16 0,37 0,53 0,43 0,52 0,50 6,50%

2012 0,56 0,45 0,21 0,64 0,36 0,08 0,43 0,41 0,57 0,59 – – 4,38%

Fontes: Base de dados do Portal Brasil e IBGE.

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137

TABELA 5SOCIEDADES CONTRATUAIS COM RESpONSABILIDADE IMANENTE NOS

ORDENAMENTOS DE TRADIÇÃO ROMANO-GERMÂNICA

PAÍS NOME ANO OBSERVAÇÕES

Alemanha Gesellschaft mit beschränkter Haftung(GmbH)

1892

Argentina Sociedad de Responsabilidad Limitada(S.R.L)

1932

Áustria Gesellschaft mit beschränkter Haftung(GmbH)

1906

Brasil Sociedade por Quotas de Respon-sabilidade Limitada (Limitada)

1919 Substituída pela Sociedade Limitada, regida pelo Código

Civil Brasileiro de 2002

Bélgica Besloten vennootschap met beperkte

aansprakelijkheid (BVBA)

1935 Criada aos moldes da partnership

Bolívia Sociedad Limitada (S.L.) 1941

Bulgária Druzhestvo z Ogranichena Otgovornost

(OOD)

1924

Chile Sociedades de responsabilidad limitada

1923

Colômbia Sociedades de responsabilidad limitada

1937

Dinamarca Anpartsselskab (ApS) 1973 Criada para evitar a aplicação das diretrizes do Direito

Societário Europeu (European Company Law)

França Société à responsabilité limitée(S.A.R.L.)

1925

Espanha Sociedad Limitada (S.L.) 1953

Grécia Eteria Periorismenis Efthinis (E.P.E.)

1955

Holanda Besloten vennootschap met beperkte

aansprakelijkheid (BV)

1971 Criada para evitar a aplicação das diretrizes do Direito

Societário Europeu (European Company Law)

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138

Hungria Korlátolt Felelosségu Társaság (Kft)

1930

Itália Società a responsabilità limitata (s.r.l.)

1942

Japão Yugen-Kaisha 1938 Extinta em 2005/2006

Paraguai 1941

Polônia spólka z ograniczonaodpowiedzialnoscia (sp. z o.o)

1934

Portugal Sociedade por Quotas (Lda) 1901

Romênia Societate cu raspundere limitata (SRL)

1990

Suíça Limited liability company (GmbH) 1936 Criada aos moldes da partnership

Venezuela Sociedad de Responsabilidad Limitada(S.R.L)

1955

Fonte: Adaptado de Lutter, Limited Liability Companies and Private Companies (Chapter 2) in International Encyclopedia of Comparative Law, Business and Private Organizations (Volume XIII).

TABELA 6O DESENvOLvIMENTO DA LEGISLAÇÃO SOBRE LLC NOS EUA

EstadoAno de

Promulgação

Adotou o

ULLCA

ULLCA

§ 409

UPA

§ 21

8 Delaware

Code § 144

MBCA

§ 8.30

Alabama 1993 Sim Sim

Alaska 1994 X X

Arizona 1993

Arkansas 1993 X

California 1994 X

Colorado 1990 X

Connecticut 1993 X X

Delaware 1992

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139

Florida 1982 X X

Georgia 1994 X

Hawaii 1997 Sim Sim

Idaho 1993 X

Illinois 1994Em sua maior parte

Sim, mas não

exclusi-vamente

Indiana 1993 X

Iowa 1992 X X

Kansas 1990

Kentucky 1994 X

Louisiana 1992 X X X

Maine 1994 X X

Maryland 1992

Massachusetts 1995

Michigan 1993 X X

Minnesota 1993 X X

Mississipi 1994 X

Missouri 1993 X X

Montana 1993 Sim

Nebraska 1993

Nevada 1993

New Hampshire 1993 X

New Jersey 1993

New Mexico 1993 X X

New York 1994 X X

North Carolina 1993 X X

North Dakota 1993 X X

Ohio 1994 X X

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140

Oklahoma 1992 X X

Oregon 1994 X X

Pennsylvania 1995 X

Rhode Island 1992 X X

South Carolina 1994 Sim Sim

South Dakota 1993 Sim Sim

Tennessee 1994 X X X

Texas 1991 X

Utah 1991

Vermont 1996 Sim Sim

Virginia 1991 X

Washington 1994 X

West Virginia 1992 Sim Sim

Wisconsin 1999 X

Wyoming 1977

Washington DC 1994

Fonte: Adaptado de LLCWEB.com. Disponível em: <http://www.llcweb.com/>, e MURDOCH, Charles W. Limited liability companies in the decade of the 1990s: legislative and cases developments and their implications

for the future. The Business Lawyer, v. 56, Feb. 2001.

Legenda:ULLCA – Uniform Limited Liability Company ActUPA – Uniform Partership ActMBCA – Model Business Corporation ActRULPA – Revised Uniform Limited Partnership Act

TABELA 7REGISTRO DE LLp NO REINO UNIDO

Março (Ano) Total de Registros de LLPs Aumento Anual

2001 0 –

2002 1845 1845

2003 4442 2597

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141

2004 7396 4799

2005 11924 4528

2006 17499 5575

2007 24555 7056

2008 32066 7511

2009 38443 6377

2010 40604 2161

2011 45376 4772

Fonte: Adaptado de Companies House.

TABELA 8COMpARAÇÃO – fORMAS SOCIETáRIAS fRANCESAS

Société Anonyme (SA)

Société à Responsabilité Limitée (SARL)

Société par Actions Simplifiée (SAS)

Capital Mínimo € 37.000,00 Não Não

Numero mínimo de acionistas 7 1 1

Estrutura Administrativa

3 a 8 membros do Conselho (mandatário) – o presidente deve ser

uma única pessoa

Um ou mais diretores, que não podem ser

entidades empresariais (pessoa jurídica)

Flexível – ao menos um presidente

Transferência de direitos Deve restringir

Limitação de Responsabilidade Sim Sim Sim

Contador Mandatário Isento abaixo de um certo valor Mandatário

Fonte: Adaptado de N. 222 April 2004 L’Entreprise.

TABELA 9CARACTERÍSTICAS LEGAIS DA “NOvA” GMBH (ALEMANHA)

Características GmbH (revisada)

Personalidade Jurídica Sim

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142

Administração Ao menos um Diretor

ConstituiçãoEstatuto Social + documento registrado em cartório + registro no

Registro de Comércio + Exame pelo Tribunal local + publicação em jornal legal

Autonomia do Estatuto Social

Algumas disposição são apenas válidas se incluídas no Estatuto Social. Acordos e resoluções com efeitos futuros ou a falta de

anuência de todos os sócios são nulos ou anuláveis

Autenticação do Estatuto Social

O Contrato Social deve ser registrado em cartório, caso contrário será nulo

Deveres Fiduciários Direito estatutário do sócio de informação/ jurisprudência acerca do dever de boa-fé e lealdade

Direitos Financeiros Sócios têm o direito de divisão de lucros na proporção de suas participações sociais

Interesses Transferíveis Ofertas Públicas não são permitidas; a transferência de participa-ções requer uma escritura pública para ser válida

Manutenção da Personali-dade Jurídica Sim

Limitação da Responsabili-dade Sim, exigência de capital social mínimo de € 10.000,00

Demonstrações Financeiras Divulgação obrigatória

Tributação Tributação das Companhias

Conexão com outros dispositivos legislativos de maneira subsidiária

Estrutura de gestão de empresa pública (Aktiengesellschaft, AG)

Fonte: McCAHERY, Joseph A.; VERMEULEN, Erik P. M.; HISATAKE, Masato; SAITO, Jun. The new company law: what matters in an innovative economy? Law Working Paper, n. 75, Sept. 2006. Disponível em:

<http://www.ecgi.org/wp/>.

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GRáfICO 1A pOpULARIDADE DAS LLC NOS EUA

Corporations

LLCs

LPs/LLPs

Statutory Trusts

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010Ano

Porc

enta

gem

(%)

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

GRáfICO 2A pOpULARIDADE DA SAS fRANCESA

SAS

SARL

SA

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010Ano

Porc

enta

gem

(%)

100

90

80

70

60

50

40

30

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10

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ÍNDICE DE ASSUNTOS

BESLOTEN VENNOOTSCHAPBV

BM&FBOVESPABovespa Mais

CAPITAL SOCIALCapital social nominal

Função de produtividadeConcessão de crédito à sociedadeFunção de garantiaFundamentum societatisGarantia dos credoresGarantia de terceiros

Função ad extraFunção ad intra

Subcapitalização

CÓDIGO CIVILArt. 980-A

Lei n. 12.441, de 11 de julho de 2011Empresa individual de responsabi-lidade limitada

Art. 1.033Art. 1.060Lei n. 10.406/2002

COMISSÃO DE VALORES MOBI-LIÁRIOS (CVM)Poder regulamentar

CONSELHO MONETÁRIO NACIO-NAL (CMN)Lei n. 6.385/76

DECRETO-LEI N. 2.627/40Art. 67Companhias nacionais ou estrangeiras

DIREITO SOCIETÁRIOConstruçãoDireito societário modernoEvoluçãoProtodireito societário

CompropriedadeErcto non citoFenômeno societário

Fase privatistaAutonomia dos contraentesFormas societáriasPlasticidade do direito privadoSociedade por ações

Fase de gestão pública de externalidadesExternalização de custos sociaisLimitação de responsabilidade e privilégio

FinanciamentoConflitos de agênciaFinanciamento públicoMacroempresa societária de finan-ciamento eminentemente privadoPrincípio majoritário

Fase publicistaCriação da pequena anônimaEmpreendedorismoNovos operadores nos mercadosPequenos e médios negóciosPopularização societária

Tutela de interesses trans-societários

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Disciplina da empresa societáriaInteresse da companhiaInteresses do EstadoIntervenção estatal na economiaPublicização do direito societárioRegimes totalitários

Fase de regulação de mercadosEstadoAgente de mercadoDireção estatalRelações entre Estado e empresaPrincípio majoritárioTransferência de poder do contro-lador para a administraçãoGrupos de interessesInteresses públicos, transindivi-duais e individuaisFuncionamento dos mercadosOrganização da empresaIntervenção estatal na atividade econômica

DIRETIVA EUROPEIAArt. 2ºArt. 7ºDiretiva do Parlamento Europeu 2009/102/CESociedade unipessoalSociedades de responsabilidade ima-nente com um único sócio

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI)Empresa individualNatureza

GESELLSCHAFT MIT BESCHRANKTER HAFTUNGDireito societário alemão

Gesetz zur Modernisierung des GmbH-Rechts und zur Bekämpfung von Missbräu-chen (MoMiG)GmbHGmbH Gesetz (GmbHG)Vor-GmbH

INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB N. 568Art. 11Registro do Comércio

LEI EUROPEIA DO MERCADO DE CAPITAISLimited Liability Partnerships ActLimited Liability Partnerships Act (Northern Ireland)

LEI N. 12.469, DE 26 DE AGOSTO DE 2011Imposto sobre a Renda da Pessoa Física

LIMITED LIABILITY COMPANIESCorporationDelaware Limited Liability Company ActPartnershipWyoming LLC Act

LSAArt. 4ºArt. 5ºArt. 44Art. 45Art. 109

Participação nos lucrosArt. 137Art. 140Art. 171Art. 176Art. 189

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Art. 202Atividade empresarialCapitalizaçãoCaracterização societário-organi-zacionalCompanhias abertasCompanhias fechadasConstituição da companhiaDeliberações e ações sociaisDireitos creditórios dos acionistasDisciplina da macroempresaDisciplina da responsabilidade de acionistas, de administradores e da companhiaDisciplina das sociedades empre-sáriasElementosEstado da empresaMacroempresa societáriaMalha relacionalSuprimentoTécnicas de financiamentoReestruturação da malha relacional

AcionistasCisãoConstituenciesFusãoIncorporaçãoTécnicas societárias

Art. 206Art. 243Art. 248Art. 251Art. 294Art. 300

NacionalidadeConselho de AdministraçãoExtinção da malha relacional e desman-telamento patrimonial

Tutela de direitos societáriosGarantias de cumprimento de di-reitos e de deveres societários

MENSURAÇÃO DA EMPRESALeis Tributárias

Adesão ao regime de tributação pelo lucro presumidoLei Complementar n. 123

Sociedade de grande porteArt. 3º da Lei n. 11.638/2007

Técnicas de mensuração

MERCADO DE VALORES MOBI-LIÁRIOSFunçãoFull disclosureRegras de governança

PATRIMÔNIO SOCIALFundo socialPatrimônio da sociedadePropriedade da sociedade

PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESASCapital fechadoCompanhia abertaComplexidade organizacionalDisciplina jurídicaFenômeno societárioImportânciaNovo MercadoOrganizações societárias

Empregos informaisDisciplinaGeração de riquezas

RE-SASUsado para Regime Especial da Socie-dade Anônima SimplificadaAcesso à informação

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Acionista únicoAções ordinárias e preferenciaisAdesãoAdministração da companhiaArt. 294-A

Adesão ao regime especial da SASExclusãoAssembleia geralConselho de administraçãoEstatuto da companhia

Arts. 294-B e 294-CUnipessoalidadeCondição do acionista

Art. 294-DCustos de publicidadePublicidadeDivulgação e a manutenção de atos societáriosGuarda e o arquivamento do recibo de convocaçãoGarantia de paridade de tratamento

Art. 294-EDiminuição dos custos de forma-ção das deliberaçõesVoto nas sociedades anônimasMoralidade corporativaParticipação do acionistaVoto à distância

Art. 294-FDistribuição desigual de dividendosParticipação proporcional

Art. 294-GDesburocratização da estrutura administrativa

Art. 294-HRemuneração dos administradores

Art. 294-IDireito de retirada

Conflitos societáriosAffectio societatis

Art. 294-JExclusão do acionista faltosoExclusão judicial do acionistaProcedimento

Autonomia privadaBarateamento e a desburocratização da estrutura administrativaCaracterísticasConselho de administração

CompetênciasConstituiçãoCritérios de inclusão e de exclusãoDemonstrações financeiras

AprovaçãoBalanço patrimonialDemonstrações de lucros ou pre-juízosResultados do exercícioFluxo de caixaValor adicionado

Diminuição dos custos de administraçãoDiretoria da sociedade anônimaDistribuição desproporcional de divi-dendosEnquadramentoExclusão

Encerramento do exercícioFormalidades

FinalidadeFlexibilização dos processos de forma-ção das deliberações sociaisFormalidades

PL n. 4.303/2012Formas societáriasLivre cessibilidade das participações societárias

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Organização empresarialOrganização jurídicaParticipação de administradoresPeculiaridadesPequenas e médias empresasPluralidade de sócios

UnipessoalidadeSubsidiária integral

Projeto de Lei n. 4.303/2012PublicidadeRecuperação de sociedades em criseRegime jurídico das pequenas e das médias companhiasRelações societáriasRemuneração dos administradoresResponsabilidade limitadaSA simplificadaSociedade estrangeiraSociedades em criseTécnicas de financiamentoTipos societáriosÚnico acionistaUnipessoalidade

REGIME ESPECIAL DA SOCIE-DADE ANÔNIMA SIMPLIFICA-DA (RE-SAS)

REGIME SIMPLIFICADO DE TRI-BUTAÇÃO

REGULAMENTO DO IMPOSTO DE RENDA (RIR)Lucro presumido

SOCIEDAD POR ACCIONES SIM-PLIFICADA COLOMBIANALei 1258

SOCIEDADES ANÔNIMASHeterotipiaCaracterística

SOCIÉTÉ PAR ACTION SIMPLIFIÉECode de CommerceSociété à Responsabilité Limitée (SARL)Société Anonyme (SA)Société par Action Simplifiée Uniperson-nelle (SASU)

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ÍNDICE ONOMÁSTICO

ALCHIAN, Armen A.ANDENAS, MadsASCARELLI, TullioAYRES, IanBACHMANN, GregorBARBOSA, H. CunhaBASEDOW, JürgenBEBCHUK, Lucian A.BEITZ, CharlesBERLE, A.BEURSKENS, MichaelBLACK, Bernard S.BLAIR, Margret M.BLOCH, MarcBONBRIGHT, James C.BRAITHWAITE, JohnBRUNETTI, AntonioBULHÕES PEDREIRA, José LuizBUSCAGLIA, EdgardoCAFAGGI, FabrizioCALABRESI, G.CALLISON, WilliamCANARIS, Claus-WilhelmCARVALHO DE MENDONÇA, J. X.CARVALHOSA, ModestoCELAYA ULIBARRI, AdriánCHEEK, III, James H.COASE, R. H.COLEMAN, Jules L.COMPARATO, Fábio KonderCOOKE, Colin ArthurDALE, RichardDALLA, DaniloDEMSETZ, Harold

DOMINGUES, Paulo de TarsoDOUGLAS, WilliamDU PLESSIS, J. J.DUGUIT, LéonDUNLAVY, C. A.DWORKIN, RonaldEIZIRIK, NelsonENDEMANN, WilhelmESCARRA, ÉdouardESCARRA, JeanFERNANDES, Edison CarlosFERRARINI, GuidoFILIPOVA, TatyanaFORTUNATO, SabinoGART, AlanGOLDSCHMIDT, LevinGRESSAYE, Jean Brethe de laGUERREIRO, José Alexandre TavaresGUYON, YvesHABERSACK, M.HANSMANN, H.HAURIOU, MauriceHAUSMANN, FrederickHENSSLER, M.HISATAKE, MasatoHOBBES, ThomasHOPT, Klaus J.IRTI, NatalinoJENSEN, M.; MECKLING, W.JOHANNING, LutzJORGE WARDE JR., WalfridoKARSON, MarvinKAUFMAN, AllenKOBAYASHI, Bruce H.

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KRAAKMAN, R.KUPERBERG, MarkLAMBERTINI, RenzoLAMY FILHO, AlfredoLAZZARESCHI NETO, Alfredo SérgioLÉGAL, AlfredLOCKE, JohnLOSS, LouisLUCIANO, JuanLUHMANN, NiklasLUTTER, MarcusMARCH, James G. MARTINS, FranMcCAHERY, Joseph A.MEANS, G.MELO, Inácio de BarrosMONTANARI, MassimoMONTEIRO DE CASTRO, Rodrigo RochaMOREIRA, VitalMOURA AZEVEDO, Luís AndréMURDOCH, CharlesNETTER, OskarNICCOLINI, GiuseppeNOACK, UlrichNUNES, Marcelo GuedesNUSSBAUM, Marta C.ODITAH, FidelisOHMEYER, Camillo vonPARSONS, TalcottPEIXOTO, Carlos Fulgêncio da CunhaPÉREZ DE LA CRUZ BLANCO, AntónioPISKO, O.POLINSKY, M.PORTALE, Giuseppe B.POSNER, Richard A.RATHENAU, WaltherRATLIFF, Willian

RAULT, JeanRENARD, GeorgesREYES VILLAMIZAR, FranciscoRIBSTEIN, LarryRICKETTS, MartinRIECHERS, ArndtRIVOLTA, Gian Carlo M.RODRÍGUEZ, JoaquínROE, Mark J.ROMANO, RobertaROTH, Wulf-HenningROUSSEAU, J. J.RUBIO, J.RUDOLPH, BerndSAITO, JunSALOMÃO FILHO, CalixtoSANDROCK, O.SCHOLZ, FranzSCOTT, RichardSETOGUTI, G.SIMON, Herbert A.SIMONETTO, ErnestoSOLA CAÑIZARES, Felipe deSTIGLER, George J.TARELLO, GiovanniTEUBNER, GuntherULMER, P.URIA, RodrigoVALVERDE, Trajano de MirandaVERMEULEN, Erik P. M.VESTAL, AllanWILLIAMSON, Oliver E.WINTER, Sidney G.WOOLDRIDGE, FrankWOUTERS, JanWYMEERSCHZACHARIAS, LawrenceZTIRIA, Enrique

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