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Ministério da Saúde FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Escola Nacional de Saúde Pública Regra e Realidade na Constituição do SUS Municipal: Implementação da NOB 96 em Duque de Caxias por Elenice Machado da Cunha Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública Orientadora: Lígia Giovanella Julho/2001

Regra e Realidade na Constituição do SUS Municipal ... · modificar regras sempre que estas não promovam a justiça. AGRADECIMENTOS ... MPAS - Ministério da Previdência e Assistência

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Ministério da Saúde FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Escola Nacional de Saúde Pública

Regra e Realidade na Constituição do SUS Municipal: Implementação da NOB 96 em Duque de Caxias

por

Elenice Machado da Cunha

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública

Orientadora: Lígia Giovanella

Julho/2001

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Os meninos em volta da fogueiraVão aprender coisas de sonho e de verdade Vão perceber como se ganha uma bandeira E vão saber o que custou a liberdade.

Palavras são palavras, não são trovas Palavras desse tempo sempre novo

Lá, os meninos aprenderam coisas novas E até já dizem que as estrelas são do povo.

Já que os homens permanecem lá no alto Com suas contas engraçadas de somar, Não se aproximam das favelas nem dos campos E têm medo de tudo que é popular.

Mas os meninos desse continente novo

Hão de saber fazer história e ensinar.

(Martinho da Vila)

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Dedico esta dissertação as pessoas que, ao cruzarem meu caminho,

contribuíram para que eu acreditasse na igualdade, e que devemos tentar modificar regras sempre que estas

não promovam a justiça.

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AGRADECIMENTOS Aos técnicos da Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias e da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro por disponibilizarem dados, imprescindíveis para elaboração desta pesquisa, e pela receptividade. Aos professores do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva – NESC/UFRJ, que colaboraram com o curso de especialização em Saúde Coletiva, no qual tive acesso a conhecimentos que muito contribuíram para realização desta pesquisa. Aos professores Maria Eliana Labra e Miguel Murat Vasconcellos - Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública – pela dedicação e carinho durante o período do mestrado. As amigas Maria José e Luísa Guimarães pelo apoio e carinho em momentos difíceis. As amigas Gabriela e Giane pelo companheirismo, compreensão e alegria. E também Carlos, Jefferson, Sergio e outros colegas de mestrado, pelos momentos de descontração e boemia que marcaram este dois anos de curso. Ao meu amigo Jorge Garcia Quiroga, que nos poucos minutos de convivência durante os 12 últimos anos, demonstrou, através de palavras, carinho e credibilidade. Aos amigos Cristiane, Glaydes e Geandro pela disponibilidade em cooperar em questões técnicas e serem solidários em questões afetivas. A minha orientadora Lígia Giovanella, cuja dedicação e competência foram imprescindíveis para elaboração desta pesquisa, e acima de tudo, pelo carinho e amizade, imprescindíveis para tranqüilidade da pesquisadora. A Marcelo, meu namorado, pela coragem de ser amado por mim.

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LISTA DE SIGLAS

AIH - Autorização de Internação Hospitalar

AIS - Ações Integradas de Saúde

CAIPE - Central de Atendimento Integrado a Pacientes Externos

CEATA - Centro de Atenção Integral ao Adolescente

CEPESC - Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva

CERAPD - Centro de Atenção Integral ao Portador de Deficiências

CIB - Comissão Intergestores Bipartite

CIT - Comissão Intergestores Tripartite

CIS - Certificado de Inspeção Sanitária

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

COMLURB - Compania de Limpeza Urbana

CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

CONASS - Conselho Nacional de Secretários de Saúde

COSEMS/RJ - Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado do Rio de

Janeiro

CNS - Conselho Nacional de Saúde

FAE – Fração Assistencial Especializada

FAM - Fundo de Apoio aos Municípios

FEEMA – Fundação Estadual de Meio Ambiente

FNM - Fábrica Nacional de Motores

FPE - Fundo de Participação sobre Exportações

FPM - Fundo de Participação dos Municípios

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

IAP - Instituto de Aposentadoria e Pensões

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência e Previdência Social

INPS - Instituto Nacional de Previdência Social

IPVA – Imposto sobre Veículos Automotores

IVISA – Índice de Valorização do Impacto em Vigilância Sanitária

IVR – Índice de Valorização de Resultados

MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social

MS - Ministério da Saúde

NOB-SUS - Norma Operacional Básica do SUS

OMS - Organização Mundial de Saúde

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PAB - Piso da Atenção Básica

PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde

PAM - Posto de Assistência Médica

PBVS – Piso Básico de Vigilância Sanitária

PDAVS – Programa Desconcentrado de Ações de vigilância Sanitária

PESB - Programa Especial de Saúde da Baixada

PPI - Programação Pactuada e Integrada

PSF - Programa de Saúde da Família

REDUC - Refinaria de Duque de Caxias

SAMDU - Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência

SES/RJ - Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro

SIA-SUS - Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS

SIH-SUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS

SIM – SUS - Sistema de Informações sobre Mortalidade

SMS/DC - Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias

SINASC - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

SINAN - Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação

SPA - Serviço de Pronto-atendimento

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

TFA - Teto Financeiro da Assistência

TRS - Terapia Renal Substitutiva

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Relação consulta/SUS por habitante em Duque de Caxias - 1997, 1998 e 1999______________________________________________________________ 81 Gráfico 2: Relação exame de patologia clínica por consulta médica em Duque de Caxias - 1997, 1998 e 1999____________________________________________ 82 Gráfico 3: Nascidos vivos segundo número de consultas de pré-natal - Duque de Caxias - 1996 a 1998 ________________________________________________ 83 Gráfico 4: Local de ocorrência dos partos de mães residentes em Duque de Caxias - 1996, 1997 e 1998 ___________________________________________________ 89

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estimativa para o ano 2000 da população do Estado do Rio de Janeiro,

Região Metropolitana e dos quatro municípios fluminenses mais populosos - .... 60

Tabela 2: População do Município de Duque de Caxias segundo distrito - 1996 -

................................................................................................................................ 60

Tabela 3: Receita corrente no estado do Rio de Janeiro, Região metropolitana,

capital do estado e Duque de Caxias – 1997 ........................................................ 61

Tabela 4: Taxa de escolaridade por anos de estudo –Duque de Caxias –1996 .... 61

Tabela 5: Escolaridade materna segundo faixa etária – Duque de Caxias – 1998

– ............................................................................................................................ 62

Tabela 6: Principais causas de mortalidade, segundo CID 10 Duque de Caxias –

1996 – 1998 .......................................................................................................... 63

Tabela 7: Leitos/SUS por especialidade em Duque de Caxias -Setembro/2000 . 86

Tabela 8: Internações em unidades hospitalares vinculadas ao SUS no município

de Duque de Caxias – 1997, 1998 e 1999 ............................................................ 87

Tabela 9: Principais causas de internação, segundo CID 10, em hospitais

vinculados ao SUS no município de Duque de Caxias - 1998 e 1999 .................. 88

Tabela 10: Fluxo de pacientes: internações/SUS de residentes de Duque de Caxias

segundo natureza do prestador e local de internação - 1997, 1998 e 1999 - ..... 90

Tabela 11: Arrecadação municipal, recursos e gastos/SUS segundo fonte - Duque

de Caxias 1997- 1999 ........................................................................................... 119

Tabela 12: Gastos/SUS no município de Duque de Caxias segundo tipo de

despesa e fonte do recurso – 1997 a 1999 .......................................................... 122

Tabela 13: Gastos relativos/SUS segundo tipo de despesa -Duque de Caxias –

1997 a 1999 .......................................................................................................... 122

Tabela 14: Gastos/SUS e principais itens de despesa que compõem a categoria

serviços de terceiros e encargos, em valores absolutos e percentuais - Duque de

Caxias –1998 e 1999 - ....................................................................................... 123

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estimativa para o ano 2000 da população do Estado do Rio de Janeiro,

Região Metropolitana e dos quatro municípios fluminenses mais populosos - .... 60

Tabela 2: População do Município de Duque de Caxias segundo distrito - 1996 -

................................................................................................................................ 60

Tabela 3: Receita corrente no estado do Rio de Janeiro, Região metropolitana,

capital do estado e Duque de Caxias – 1997 ........................................................ 61

Tabela 4: Taxa de escolaridade por anos de estudo –Duque de Caxias –1996 .... 61

Tabela 5: Escolaridade materna segundo faixa etária – Duque de Caxias – 1998

– ............................................................................................................................ 62

Tabela 6: Principais causas de mortalidade, segundo CID 10 Duque de Caxias –

1996 – 1998 .......................................................................................................... 63

Tabela 7: Leitos/SUS por especialidade em Duque de Caxias -Setembro/2000 . 86

Tabela 8: Internações em unidades hospitalares vinculadas ao SUS no município

de Duque de Caxias – 1997, 1998 e 1999 ............................................................ 87

Tabela 9: Principais causas de internação, segundo CID 10, em hospitais

vinculados ao SUS no município de Duque de Caxias - 1998 e 1999 .................. 88

Tabela 10: Fluxo de pacientes: internações/SUS de residentes de Duque de Caxias

segundo natureza do prestador e local de internação - 1997, 1998 e 1999 - ..... 90

Tabela 11: Arrecadação municipal, recursos e gastos/SUS segundo fonte - Duque

de Caxias 1997- 1999 ........................................................................................... 119

Tabela 12: Gastos/SUS no município de Duque de Caxias segundo tipo de

despesa e fonte do recurso – 1997 a 1999 .......................................................... 122

Tabela 13: Gastos relativos/SUS segundo tipo de despesa -Duque de Caxias –

1997 a 1999 .......................................................................................................... 122

Tabela 14: Gastos/SUS e principais itens de despesa que compõem a categoria

serviços de terceiros e encargos, em valores absolutos e percentuais - Duque de

Caxias –1998 e 1999 - ....................................................................................... 123

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RESUMO O presente estudo constitui-se em análise da implementação da Norma

Operacional Básica SUS 1/96 em Duque de Caxias, município da região metropolitana

do Rio de Janeiro. Esta Norma teve por finalidade dar continuidade ao processo de

descentralização e preconizou dois níveis de gestão para municípios. Por ter sido

habilitado na forma mais avançada, o município objeto deste estudo deveria gerir o

sistema público local e garantir acesso da população a todos os níveis de atenção à

saúde. Entendendo-se a implementação como momento de efetivação da política, a

pesquisa buscou apreender a consonância entre as competências estabelecidas pela

Norma e as responsabilidades assumidas pela gestão local. Para tal foi elaborado

instrumento de coleta de dados composto de itens de verificação contemplando cinco

âmbitos: organização da rede assistencial, ações de vigilância sanitária e

epidemiológica, planejamento setorial, controle e avaliação e financiamento do setor.

Os dados foram levantados com base em: entrevistas com atores privilegiados,

análise documental, consulta a bancos de dados e observação de reuniões de

instâncias colegiadas do SUS. Os resultados indicam que novas responsabilidades

são assumidas, todavia de modo incompleto. Dentre os resultados destacam-se: oferta

inadequada de serviços de saúde uma vez que a atenção básica apresenta resultados

pouco satisfatórios, a relação leito/habitante está aquém do recomendado (1,2/1.000)

e mais de 50% das internações de residentes são realizadas fora do município;

inexistência de pactos intermunicipais para garantia da atenção integral; execução das

ações de vigilância sanitária e epidemiológica aquém do seu potencial diagnóstico

para a prevenção de riscos e de definição de prioridades; planejamento setorial pouco

vinculado aos problemas identificados; e ações de controle e avaliação limitadas às

exigências burocráticas relacionadas aos mecanismos de financiamento, assim como

ausência de avaliação de resultados. Observou-se ainda extensão da cobertura da

atenção básica, ampliação da capacidade gerencial e elevação dos gastos municipais

com saúde. Ainda que avanços tenham sido evidenciados, as principais conclusões do

estudo apontam para importantes dissonâncias entre o preconizado e o implementado,

corroborando a teoria que esta etapa do processo decisório requer monitoramento.

Fatores internos e externos ao âmbito de governabilidade do gestor municipal

contribuíram para o descompasso observado. Ressalta-se ser necessário sanar

dificuldades técnicas, gerenciais e financeiras para a constituição de um sistema

público de saúde efetivo.

Palavras-chave: Implementação de políticas, descentralização, sistemas municipais

de saúde.

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ABSTRACT This study presents an analysis about the implementation of the Basic Operational

Norm 1/96 (Brazilian Public Health System) in Duque de Caxias, a neighboring town of

Rio de Janeiro city. The Norm's purpose was to carry out the decentralization process

and established two management levels to the cities. Since Duque de Caxias was

qualified for the most advanced manner, it was supposed to manage the local public

health system and guarantee the population access to all health system levels.

Supposing the implementation to be the exact moment of carrying out a policy, this

study aimed to understand the convergence between the recent functions just

established by the Norm and the responsibilities that were actually taken by the local

authorities. Thus, an instrument to collect data with five scopes was elaborated: health

care system organization; sanitation and epidemiological surveillance actions; sectional

planning; evaluating and controlling program; financial policy. The collected data was

gathered through: interviews, document analysis, databases researches, and

observation of several SUS collegium meetings. The results show that new

responsibilities are partially taken. Some features can be highlighted: there is an

inadequate availability of health services since the basic health system level does not

present adequate outcomes; the ration hospital-bed/inhabitant is lower than the

recommended rate (1,2/1000) and more than 50% dwellers hospitalizations take place

outside the city as there is no formal mechanisms of reference; sanitation and

epidemiological surveillance actions are shyly done and their great capacity to

diagnosis risk factors and to define priorities is not exploited; there is a lack of inter-city

cooperation; sectional planning is weakly related to the identified problems; strategies

for evaluating and controlling are limited to the financial system bureaucratic demands;

also, the outcomes are not evaluated. However, it was observed an increase in the

availability of basic level health services, an improvement in the management ability

and a raising in the local expenditures with health policies. Although some progress

has occurred, the main conclusions of this study show that there are significant

divergences between what was established and what was actaully carried out, which

confirms the hypothesis that the decision making process should be monitored. Internal

and external facts to the local manager competence have contributed to the observed

gap. It should be emphasized that it’s necessary to solve some technical, managerial

and financial difficulties in order to build an effective public health system.

Key words: policy implementation; decentralization, municipal health care systems.

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INTRODUÇÃO

A progressiva responsabilização da gestão municipal com relação à

atenção à saúde dos habitantes é o cerne do processo de descentralização do

setor. O poder de decisão na área de saúde, quando exercido por autoridades

administrativas que se encontram próximas da realidade local, proporciona

melhores condições de adequar a oferta de serviços às reais demandas da

população e contribui para uma assistência mais efetiva.

A descentralização do setor saúde tem sido conduzida, principalmente,

por meio da edição de Normas e Portarias por parte do Ministério da Saúde. Na

expectativa de operacionalizar este processo, entre 1990, quando da

promulgação da Lei Orgânica da Saúde, e 2000, quatro Normas Básicas foram

editadas: a NOB-SUS 01/1991, a NOB-SUS 01/1992, a NOB-SUS 01/1993 e a

NOB-SUS 01/19961.

Este trabalho consiste em uma análise específica do processo de

implementação da NOB-SUS 01/96, a quarta a ser editada, tendo por base as

responsabilidades que esta Norma preconiza para a habilitação na condição de

gestão plena do sistema. O campo de estudo é Duque de Caxias, município de

grande porte integrante da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Sendo assim, o objetivo do presente estudo é a análise da consonância

entre as competências preconizadas pela NOB SUS 1/96 para a condição

plena do sistema e as responsabilidades assumidas pela administração

municipal de Duque de Caxias, visando identificar e discutir as dificuldades

para a implementação desta Norma no âmbito local.

Partindo do princípio de que as Normas Básicas operacionalizam a

constituição de sistemas municipais públicos de saúde, este estudo consiste na

apreciação do estágio de implantação do SUS na esfera municipal. A fim de

facilitar a compreensão dos resultados e conclusões da pesquisa, o conteúdo

da dissertação encontra-se dividido em cinco capítulos explicitados a seguir.

1 Mais recentemente, em 26 de janeiro de 2001, foi editada a Norma Operacional da Assistência à Saúde/SUS –NOAS-SUS 01/2001 -, após o término da coleta e análise dos dados para a dissertação. Logo, esta norma não está sendo considerada no presente estudo.

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O primeiro capítulo refere-se ao processo de implementação de políticas

públicas na constituição do SUS no nível local. Entende-se a implementação

como momento do policy-making onde decisões tendem a ser alteradas.

Discute-se também, brevemente, a avaliação de políticas públicas, uma vez

que o presente estudo pode ser tratado como apreciação pontual da política de

descentralização e constituição do SUS municipal, ao cotejar as

responsabilidades assumidas pelo gestor local com aquelas preconizadas na

regulamentação ministerial.

Processos relevantes na constituição do SUS também são tratados no

primeiro capítulo, que aborda de forma sucinta aspectos conceituais e

operacionais da descentralização e, em seguida, trata das Normas Básicas que

a conduziram.

As três primeiras NOBs são revisadas a partir das alterações que

promoveram, destacando pontos positivos e negativos na perspectiva dos

vários autores pesquisados. A NOB SUS 1/96, objeto de análise deste estudo,

é melhor detalhada quanto ao seu conteúdo e inovações na organização do

setor. Esta Norma recomendou duas formas de gestão municipal: plena da

atenção básica e plena do sistema de acordo com a capacidade administrativa

e disposição da municipalidade para assumir as responsabilidades

concernentes.

O segundo capítulo apresenta a metodologia empregada na realização

da pesquisa. Para a análise da adoção das responsabilidades preconizadas na

NOB SUS 1/96 para municípios habilitados em gestão plena do sistema, foram

definidos cinco âmbitos, a saber: oferta de serviços e organização da rede,

ações de vigilância sanitária e epidemiológica, planejamento municipal da

saúde, controle e avaliação da atenção prestada e financiamento, que foi

acrescentado devido à importância da alocação de recursos para a

implementação das medidas prescritas.

Para cada âmbito foram listados itens de verificação do cumprimento

das atribuições. O levantamento de informações foi realizado principalmente a

partir de análise documental e entrevistas com informantes privilegiados.

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O terceiro capítulo revisa as peculiaridades da implementação do SUS

no estado do Rio de Janeiro, caracteriza o município no qual foi realizado o

trabalho de campo com relação aos aspectos sócio-demográficos e traça um

breve histórico da atenção local à saúde. Nesta parte já estão apresentados

alguns dos resultados empíricos da pesquisa.

A revisão da implementação do SUS no âmbito estadual tem por

finalidade explicitar a atuação dessa esfera de governo na condução do

processo de municipalização do setor, merecendo destaque os entraves

ocasionados por questões político-partidárias que influenciaram no processo

de habilitação dos municípios.

O quarto capítulo refere-se às responsabilidades assumidas pelo

município de Duque de Caxias e apresenta os resultados da pesquisa

propriamente dita a partir dos cinco âmbitos de análise citados na metodologia.

Nestes âmbitos são destacadas as atividades executadas pela administração

local em comparação com as atribuições aconselhadas na Norma e

identificadas as principais dificuldades para a sua implementação.

O primeiro âmbito refere-se à organização e oferta de serviços de saúde

no município e enfatiza: a capacidade ambulatorial e hospitalar instalada; a

produção de procedimentos ambulatoriais, hospitalares e de diagnose e terapia

no próprio município; a realização de procedimentos de média e alta

complexidade; o fluxo de pacientes para outros municípios em termos de

internações; e a articulação da rede. Este tópico foi mais detalhado em virtude

da amplitude da temática e da disponibilidade de dados.

O segundo âmbito de análise contempla as ações de vigilância sanitária

e epidemiológica. Considerando que o texto da NOB SUS 1/96 deixou lacunas

em relação a estas atividades, ocorreu uma preocupação inicial com a

especificação das atuais atribuições do município nesses dois campos, para

em seguida explicitar o conjunto de atividades desenvolvidas pela gestão

municipal.

A análise do planejamento municipal em saúde compõe o terceiro

âmbito. Neste tópico, são contemplados os instrumentos preconizados pela

NOB SUS 1/96 para este fim (Plano de Saúde e Relatório de Gestão) e ainda

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as metas estaduais e os possíveis pactos intermunicipais, bem como

salientadas as implicações destas estratégias na gestão do sistema local.

As atuações que compõem o Sistema de Controle e Avaliação da

Atenção prestada são de extrema relevância para a constituição do SUS na

esfera local. Trata-se de atividades que até então não eram executadas no

campo de governo municipal. A abordagem deste item explicita a dificuldade de

o município assumir tarefas sem modelos prévios, e está contemplada no

quarto âmbito de análise.

Devido à relevância da alocação de recursos para que a gestão

municipal possa assumir as responsabilidades recomendadas na NOB SUS

1/96, o financiamento do setor constitui o quinto e último âmbito. No entanto,

estes dados não tiveram tratamento aprofundado com relação ao quantitativo

orçado e realizado, pois teve por propósito apenas permitir a visualização da

evolução dos gastos em saúde no município, durante o período estudado. Os

gastos são apresentados por item de despesa, total de recursos repassados

por outras esferas de governo e o aporte de recursos do próprio município em

termos absolutos e relativos.

O último capítulo constitui uma síntese do trabalho e discute as

dificuldades encontradas na implementação da NOB SUS 1/96 no plano

municipal à luz do aporte teórico referente ao processo de implementação de

políticas públicas, com o qual iniciamos o presente estudo.

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CAPÍTULO I - A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DO SUS Este capítulo inicia-se com algumas considerações referentes à

implementação de políticas públicas, com a finalidade de tornar inteligíveis os

fenômenos pesquisados. Apresenta em seguida os elementos necessários

para delimitação e contextualização do tema, ao tratar do processo de

descentralização do setor de saúde e das Normas Básicas que o tem

conduzido.

1. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE POLÍTICAS

O presente estudo refere-se à implementação das políticas de saúde

consubstanciadas na NOB SUS 1/96 no nível municipal, tendo por base as

responsabilidades preconizadas para esta esfera de governo quando da

habilitação na condição de gestão plena do sistema. A análise desta etapa do

processo de decisão de políticas (policy-making) possibilitará apreciar o estágio

de implantação do SUS em Duque de Caxias.

Policy-making aplica-se ao modo de operar do Estado e se traduz no ato

de fazer políticas públicas (Viana, 1996). Este processo tem sido objeto de

diversos estudos (Lindblom, 1980, Hogwood e Gunn, 1984; Viana, 1996; Perez,

1999). No entanto, dada a crescente complexidade dos sistemas políticos e

das sociedades modernas com repercussões no modo pelo qual as políticas

são produzidas, “não se dispõe de modelos acabados ou consensuais para o

estudo do processo de decisão de uma determinada política, mas de variadas

correntes de pensamento ou abordagens.....” (Labra, 1999).

Uma das estratégias metodológicas citada na abordagem do policy-

making é a divisão deste em etapas diferenciadas, mas interdependentes.

Autores como Lindblom (1980), Perez (1999), Viana (1996) e Labra (1999),

identificam as seguintes fases: construção da agenda, formulação da política,

implementação da política e avaliação da política, e distinguem ainda a

maneira como os temas entram para a agenda política e os tipos de agenda.

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A construção da agenda refere-se ao espaço de constituição da lista de

problemas ou assuntos que chamam a atenção do governo e do cidadão, ou

seja, o reconhecimento de determinado tema enquanto problema de ordem

pública. Segundo Viana (1995), esta etapa tende a ser influenciada por

processos que de alguma forma provocam a proeminência de determinados

temas e por participantes ativos tanto governamentais (staff administrativo,

parlamentares, funcionários de carreira) como não governamentais (grupos de

interesse, academia, partidos políticos e em alguns casos a mídia).

A fase de formulação de políticas pode ser definida como a elaboração

de alternativas de ação/intervenção de ordem pública em resposta a problemas

que constem na agenda política. Esta etapa sofre influências de diversos

atores de acordo com os interesses em jogo, contudo é executada ou deferida

por autoridades com reconhecimento legal para tal.

A implementação é a etapa em que a política formulada se transforma

em programa e, em geral, obedece aos objetivos e diretrizes expressos em

uma legislação de caráter geral e/ou em normas regulamentadoras (Martes et

al., 1999). Esta fase poderia constituir-se em simples execução de ações

previamente desenhadas mas, na prática, é marcada pela imprevisibilidade e

renegociações, já que nenhum texto cobre completamente todas as

contingências (Lindblom, 1981). Este fato permite mudanças de rumo na

política delineada.

Estudos que abordam o período de implementação ressaltam a

necessidade de superação da visão desta fase do policy-making enquanto

processo linear, administrativo e meramente executório, característicos do

enfoque top-down2. Segundo esta concepção, os implementadores cumpririam

funções prescritas em obediência a normas e a uma hierarquia, buscando

sempre a eficiência. A política seria executada de “cima para baixo” de forma

organizada e hierárquica, não havendo qualquer tipo de interação ou atrito

entre formuladores, pertencentes à esfera política, e implementadores,

funcionários da burocracia governamental (Hogwood e Gun, 1984; Perez,

1999; Meny e Thoenig, 1992).

2 Para melhor definição desse enfoque ver: Hogwood e Gun (1984) e Perez (1996).

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Nesse aspecto, vale citar Martes et al. (1999) que definem a etapa de

implementação como um conjunto complexo de relações entre formuladores e

implementadores, e entre implementadores situados em diferentes posições

na máquina governamental, cujas vontades, interesses, lealdades e

concepções ideológicas dificilmente são inteiramente coincidentes (Martes et

al., 1999).

A avaliação de políticas, considerada como a última fase do policy-

making, significa análise crítica que apreende em que medida as metas estão

sendo alcançadas e também é entendida como forma de retroalimentar o

processo de produção de políticas (Lindblom, 1980; Hogwood e Gunn, 1984;

VIANA, 1995).

No campo da saúde, o tema avaliação tem sido tratado sob diversos

aspectos mas, geralmente, alude a serviços e ações em particular (Hartz, 1999;

Aguilar e Ander-Egg, 1994), e não em relação ao policy-making, cuja

abordagem apresenta-se mais abrangente por tratar-se da política em sua

totalidade. No entanto, como a política efetiva-se por meio de programas, a

contribuição desses autores também revela-se pertinente.

O presente estudo refere-se à análise da implementação de uma norma

que instrumentaliza uma política. Não se trata de avaliar a política em sua

totalidade, que no caso do SUS é amparada pela Constituição Federal e pela

Lei Orgânica da Saúde mas, sim, de analisar o processo de efetivação de seus

postulados, a partir da implementação de uma Norma Básica. Nesse sentido, a

colaboração de Figueiredo e Figueiredo (1986) mostra-se oportuna. Ao revisar

diversas obras, esses autores classificam a avaliação de políticas em dois

tipos: de processo e de impactos.

Enquanto a avaliação de impactos diz respeito à aferição dos efeitos do

programa sobre a população alvo, a avaliação processual visa averiguar se o

programa está sendo ou foi implementado de acordo com as diretrizes

concebidas para a sua execução e se o seu produto atingirá as metas

desejadas (Figueiredo e Figueiredo, 1986:110). Nesse sentido, a análise da

implementação de uma Norma que operacionaliza a atual política nacional de

18

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saúde pode ser considerada como uma avaliação processual do estágio de

implantação do SUS no âmbito municipal.

Para melhor proceder esse estudo, faz-se necessário destacar aspectos

da implementação da NOB SUS 1/96 - e, conseqüentemente do SUS ,

enquanto etapa do policy-making no setor saúde.

2. A ETAPA DE IMPLEMENTAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DO SUS

A formulação e implementação de políticas referem-se à ação

governamental, têm por objeto atingir um grupo de cidadãos ou a população

como um todo e, por finalidade, causar algum tipo de impacto a curto, médio ou

longo prazo (Viana, 1996).

Como dito anteriormente, a implementação enquanto etapa do policy-

making, alude à efetivação de uma política amparada por uma legislação de

caráter geral e regulamentada por normas específicas. No caso do SUS, o

amparo legal encontra-se na Constituição Federal e sua regulamentação na Lei

Orgânica da Saúde (Lei nº 8080/90) e na Lei nº 8142/90. Esta legislação

contém os postulados que compõem a política nacional de saúde.

Trata-se de uma legislação ampla, cuja efetivação envolve um grande

número de modificações em um espaço de tempo não delimitado e em um

cenário em constante transformação, tanto de ordem política quanto social e

econômica. Tal como aponta a teoria, os imprevistos da implementação

contribuem, inclusive, para o surgimento de políticas complementares, de

caráter mais específico. Nesse aspecto, não parece redundante frisar que o

presente estudo atém-se, em termos de análise, à implementação da NOB

SUS 1/96, embora em alguns momentos seja necessário reportar-se ao policy-

making da saúde de forma mais ampla. O enfoque diz respeito à gestão do

sistema e não aos aspectos assistenciais da política.

Com relação à elaboração da legislação que ampara o SUS, dada a

abrangência do tema saúde e a complexidade das questões envolvidas, para

os legisladores, torna-se difícil contemplar todas as contingências. Por mais

que o processo tenha sido participativo, não havia como abranger todas as

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diferenças regionais, a realidade de cada município e as contingências de

ordem política (eleições periódicas, interesses partidários,....). Nesse aspecto,

pode-se concordar com Lindblom (1981) quando ele afirma que o que os

formuladores de políticas fazem é permitir que os responsáveis pela

implementação determinem muitos elementos da concepção que apenas

esboçam (Lindblom, 1981:60).

Para Lindblom (1981), ainda que a etapa de implementação se constitua

em processo fundamentalmente administrativo, um problema da burocracia, as

decisões tendem a ser alteradas, pois os administradores estariam em situação

de participantes no processo decisório. As justificativas de tal afirmação

segundo o autor são as seguintes:

• Nenhum formulador pode enunciar completamente as políticas, pois o texto

legal, normalmente, não cobre todas as contingências em todos os

aspectos;

• Os executores de políticas, muitas vezes, recebem instruções conflitantes

de mais de uma fonte;

• A existência de políticas conflitantes a cargo dos administradores pode levá-

los a estabelecer suas próprias políticas;

• A disponibilidade de recursos pode não ser condizente com as

necessidades do projeto, levando administradores a priorizar alguns

projetos em detrimento de outros;

• Os burocratas estão sujeitos a um certo desvio, em razão de incentivos

pessoais que podem ser divergentes com a regra da obediência;

Hogwood e Gunn (1984) concordam em grande parte com esses

postulados, pois afirmam que nenhuma implementação é “perfeita”. Para tal, na

opinião dos autores, seriam necessárias as seguintes condições: controle das

circunstâncias externas, recursos humanos suficientes e capacitados,

atualização de recursos, base em causa/efeito válida e direta, poucas agências

envolvidas no processo, clareza e concordância dos objetivos, etapas bem

especificadas, perfeita comunicação e coordenação entre agências envolvidas

e aceitação da autoridade enquanto forma de controle sobre o processo.

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Com relação ao controle de circunstâncias externas, para que essa

condição estivesse presente, o texto referente à política a ser implementada,

além de cobrir todas as contingências do momento, a legislação que ampara o

SUS e também o texto da NOB SUS 1/96, teria que levar em consideração as

prováveis alterações das mais diversas ordens. Neste caso, os

implementadores seriam meros cumpridores de tarefas previamente prescritas.

Quanto aos recursos humanos suficientes e capacitados como condição

para uma boa implementação é preciso considerar que, com a

descentralização os municípios devem assumir novas responsabilidades até

então não exercidas, o que exige, para a grande maioria destes, investimentos

em contratações e formação/atualização de pessoal. Outro aspecto que

constitui-se em empecilho para a garantia desta condição seria a dificuldade de

fixação de profissionais qualificados em localidades periféricas e rurais.

Os recursos financeiros necessários à implementação do SUS tem sido

algo difícil de prever e garantir. Ao volume já insuficiente somam-se os

constantes conflitos políticos entre os níveis governamentais na disputa de

verbas por um lado, e por outro, os diferentes perfis epidemiológicos, as

precárias condições de saúde de grande parte da população e a diversidade de

medidas que precisam ser implementadas. Portanto, um dos desafios que se

impõe na implantação do SUS é o compromisso das autoridades setoriais de

conhecer a situação de saúde e os principais agravos à saúde da população no

âmbito municipal, a fim de definir prioridades e estratégias.

Em relação à quantidade de agentes envolvidos no processo de

implementação da NOB SUS 1/96 e a comunicação e articulação entre as

mesmas, há de se atentar para dois aspectos. O primeiro refere-se somente às

responsabilidades que devem ser adotadas pela gestão municipal que, em sua

maioria, dependem não só da articulação com as outras esferas de governo

mas também da colaboração de outros municípios para que sejam cumpridas a

contento. Este fato engloba questões de ordem técnica e política. O segundo

alude, no mesmo âmbito municipal, a determinadas medidas que atingem

outras secretarias de governo além da de saúde e esses órgãos podem ter

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prioridades e interesses divergentes daqueles do setor saúde em determinados

momentos.

Quanto à clareza e concordância dos objetivos, apesar de a elaboração

da NOB SUS 1/96 ter incluído atores representando as três esferas de

governo, pela sua natureza esta etapa aconteceu no seio da burocracia federal

e em um período delimitado e, provavelmente, muitos municípios da União se

mantiveram à parte. O quantitativo de profissionais mobilizados na

implementação, sem dúvida, apresenta-se bem maior do que o da etapa de

formulação.

Mesmo quando há clareza quanto aos objetivos, no plano de ação

estadual e municipal, os técnicos vinculados à implementação da NOB SUS

1/96 e, conseqüentemente, à operacionalização do SUS sofrem interferência

de fatores políticos e econômicos. Os interesses em jogo nem sempre

favorecem o cumprimento da norma em questão.

Característica importante em relação à implementação da NOB SUS

1/96 no âmbito municipal é a abrangência do escopo da política de saúde, que

abarca desde a oferta de serviços assistenciais (de caráter individual e coletivo)

até questões relacionadas com o ambiente, que muitas vezes não estão sob o

controle administrativo do setor saúde.

Soma-se à questão da amplitude das medidas prescritas, a

complexidade do processo decisório, muitas vezes restritivo ou coibidor da

participação daqueles agentes, técnicos governamentais e conselheiros, que

não se esforçam na difícil tarefa de compreensão de normas. Estas, além de

não muito claras, ainda são passíveis de alterações formuladas nas áreas

federal e estadual.

Em suma, a implementação consiste na execução da política formulada

e tende a apresentar conflitos diferentes daqueles da fase de formulação,

derivados de diversos fatores, como: a quantidade de modificações envolvidas,

a participação ou não de implementadores na fase de formulação e a

dependência de vários órgãos para sua efetivação (Lindblom, 1981:60).

Em se tratando do processo de constituição e descentralização do SUS,

a implementação engloba uma vasta gama de atores. Esta etapa abarca a

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burocracia estatal e demais funcionários da União, dos estados e dos mais de

cinco mil municípios, além da participação legal das instâncias colegiadas do

SUS.

A burocracia estatal, de acordo com alguns autores (Lindblom, 1981;

Hogwood e Gunn, 1984), é a responsável pelo processo de implementação de

políticas. No caso da NOB SUS 1/96 no âmbito municipal, a burocracia é

liderada pelos técnicos que apresentam-se à frente de coordenações e

departamentos, subordinados diretamente ao gestor local. Para fins de análise,

é importante assinalar o modo como se dá a regulação dos conflitos existentes

na ordem estatal. Segundo Labra, na burocracia os atores dependem da

coordenação e do controle hierárquico, sendo exercido o papel regulador do

Estado por meio de leis, por concertação, por persuasão e por coerção (Labra,

1999:136).

Se por um lado os técnicos e gestores possuem certa autonomia para

traçar estratégias e implementar ações, por outro estão subordinados ao poder

executivo municipal, cujos interesses podem não ser condizentes com as

metas estabelecidas e modificações desenhadas pelas autoridades. A ação

dos técnicos está ainda limitada por regras e normas estabelecidas em outras

esferas de governo, em particular as econômico-financeiras. Logo,

especificamente no caso da saúde, a autonomia da burocracia municipal é

reduzida.

Ressalta-se ainda o fato de o gestor e técnicos que possuem maior

poder de decisão, exercerem cargos de confiança. Muitas vezes, a

permanência deles no cargo depende da concordância com determinadas

regras e decisões que vão ao encontro de interesses partidários, pessoais, ou

de qualquer outra ordem que podem ser contrários à ideologia que rege os

princípios e diretrizes do SUS.

Essa característica dos cargos de confiança e as mudanças da gestão

municipal quando há eleições, também contribuem para que haja interrupções

na implementação de determinadas ações ou modificações nas metas

pactuadas. Nesse aspecto, Silva (2000) lembra o papel desempenhado pelas

instâncias colegiadas do SUS, que foram institucionalizadas para atenuar

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descontinuidades e regular conflitos de forma equilibrada e participativa (Silva,

2000:23)

É necessário observar que o papel relevante desempenhado pelos

técnicos da gestão municipal na implementação do SUS acontece também nas

unidades assistenciais, cujos diretores se vêem obrigados a cumprir

determinações que podem até modificar rotinas. Na NOB SUS 1/96 e em

algumas das portarias recentes, determinadas responsabilidades prescritas

envolvem direta ou indiretamente essas unidades. Neste caso, os diretores de

unidade podem igualmente ser compreendidos como atores da fase de

implementação pois, embora inseridos na hierarquia burocrática maior, também

lhes cabe parcela de poder de decisão e de interferência no processo.

Fato a ser destacado em relação à implementação da NOB SUS 1/96 é

seu caráter dinâmico, pois durante esta etapa várias decisões são tomadas por

parte das três esferas de governo e pelos órgãos colegiados. Estas decisões

podem implicar em modificações no rumo de ações. Nesse aspecto,

recomenda-se que a política seja permanentemente acompanhada (Perez,

1999).

Hogwood & Gunn (1981) também afirmam a necessidade de

monitoramento da etapa de implementação. Para a viabilidade desse

acompanhamento, faz-se necessária a especificação dos objetivos e

estratégias do programa na fase anterior, já que não se pode medir o que não

está especificado (Hogwood & Gunn, 1981).

O interesse pelo estudo da implementação surgiu a partir da constatação

de que as políticas não eram executadas conforme o prescrito, contrastando

com o pressuposto de que as decisões tomadas pela autoridade competente

seriam cumpridas (Perez, 1999; Hogwood e Gunn, 1984). Todavia, os modelos

propostos para abordagem dessa etapa são pouco elucidativos e enfocam

aspectos específicos. 3

3 Os autores que citam modelos e/ou abordagens para o estudo do processo de implementação de políticas são: Medina (1987); e Hoogwood e Gunn (1984).

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Meny e Thoenig (1992) defendem que o estudo da etapa de

implementação das políticas públicas deve ocorrer enquanto esta se

desenvolve, a fim de possibilitar a observação dos fatos em sua diversidade e

evolução em tempo real. O risco dessa opção metodológica seria o apego a

detalhes conjunturais em detrimento da explicação do porquê e de como as

ações são implementadas (Meny e Thoenig, 1992:181).

Esses autores ressaltam as seguintes dificuldades para analisar a etapa

de implementação: a multiplicidade de atividades a serem executadas; a

repartição destas em um período relativamente longo, cujos limites relativos ao

princípio e ao final são imprecisos; e a quantidade de agentes e organizações

envolvidas. Visando à superação de tais dificuldades, propõe-se que a coleta

de dados contemple várias fontes, através de diversos métodos como:

discussão com os atores envolvidos, observação participante, anotações de

campo, entrevistas estruturadas para completar observações, análise de

documentos administrativos e de notas divulgadas pela imprensa, com

posterior confronto das informações obtidas (Meny e Thoenig, 1992:180-181).

Embora se reconheça os obstáculos para abordagem metodológica da

implementação de políticas, constata-se que esta etapa geralmente apresenta

percalços por envolver mudanças em relação às metas iniciais.

Com relação à municipalização do SUS, as modificações pretendidas

pela NOB SUS 1/96 fazem parte de um conjunto de ações cuja assunção por

parte da gestão municipal dá continuidade ao processo de descentralização

das políticas de saúde em nível nacional. Para melhor proceder a análise da

implementação da NOB SUS 1/96, torna-se interessante revisar esse processo,

bem como as Normas Básicas que o tem conduzido.

2.1 - Descentralização: breve revisão conceitual

A atual configuração do sistema público de saúde brasileiro,

estabelecido na Constituição Federal de 1988, tem como um de seus pilares o

ideal de saúde enquanto direito social. Este direito se concretiza com a

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garantia do acesso universal aos serviços assistenciais do sistema público em

todos os níveis da atenção à saúde, independente de contribuição

previdenciária (Giovanella e Fleury, 1996:177).

Na intenção de garantir atenção à saúde enquanto direito universal,

com a primazia da promoção e prevenção sem descuidar da assistência

curativa, a descentralização, o atendimento integral e a participação da

comunidade foram definidos como diretrizes do Sistema Único de Saúde -

SUS.

A descentralização traduz-se, principalmente, na atribuição gradual de

responsabilidades aos governos estaduais e municipais quanto aos cuidados

para com a saúde e consiste em importante estratégia para a implementação

das outras duas diretrizes, atendimento integral e participação popular.

A proximidade do processo decisório tende a facilitar a participação

popular e o exercício do controle social. Contudo, autores como Arretche

(1997) e Junqueira (1995) advertem para o fato de apenas essa proximidade

não ser suficiente para abolir as condutas clientelistas na prestação de serviços

de saúde, uma vez que estas práticas tradicionalmente estão vinculadas às

instituições implementadoras na forma de arranjos políticos partidários.

Diversos autores atentam para a importância da diferenciação entre

descentralização e desconcentração (Vianna,1992; Arretche,1997; Junqueira,

1995). Na primeira há transferência de poder do âmbito federal para as outras

esferas de governo. Na segunda, há apenas deslocamento de

responsabilidades administrativas para níveis hierárquicos inferiores de uma

organização. Ocorre, assim, dispersão físico–territorial de instituições

inicialmente localizadas de forma concentrada, com autorização para executar

somente determinadas tarefas, mas persiste a subordinação política ao plano

central e, por conclusão, falta de autonomia.

Nessa lógica, poderia haver participação popular e implementação de

determinadas medidas de caráter administrativo por agências ou entes

federativos estaduais e municipais em um sistema que funcionasse de forma

desconcentrada, mas sem independência política para estabelecer ou alterar

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metas e estratégias, e sobretudo para dispor livremente dos recursos

financeiros.

Enquanto na desconcentração há apenas deslocamento de algumas

responsabilidades para níveis inferiores de um mesmo órgão governamental e

dispersão em termos de estrutura física, mas com continuidade da submissão a

regras centrais, a característica fundamental da descentralização é o

deslocamento de competências e poder decisório para outros níveis

governamentais. No setor saúde, com a descentralização, haveria a maior

autonomia das instâncias subnacionais para exercitar sua principal

competência: organizar seu respectivo subsistema de acordo com as

peculiaridades e necessidades locais, respeitados os demais postulados

constitucionais – universalização, acesso igualitário, regionalização,

hierarquização da rede, direção única, atendimento igualitário, prioridade para

atividades preventivas e participação da comunidade (Vianna, 1992:32). Esta

autonomia em parte foi facilitada por outra mudança constitucional, a que

transformou os municípios em entes federativos.

Um dos perigos da descentralização, dada a independência política

inerente a este processo, seria a fragmentação e/ou atomização do setor

saúde, dando margem para que municípios e estados formulem e

implementem metas e estratégias desvinculadas das diretrizes e princípios

preconizados. No entanto, o respeito aos postulados constitucionais e aos

pactos estabelecidos entre as instâncias colegiadas e o aparato estatal tende a

minimizar esse risco.

Se por um lado a transferência de atribuições para estados e municípios

desobriga a União de manter determinadas responsabilidades, por outro, novas

funções como a regulamentação, controle e fiscalização, precisam ser

assumidas. Nesse sentido, Arretche (1997) aponta para um provável paradoxo

entre a maior responsabilização de estados e municípios com relação à

atenção à saúde, e o fortalecimento do órgão federal, que assume novas

atribuições – de comando, regulação e financiamento.

A descentralização, enquanto diretriz política, vincula-se, em parte, aos

princípios democráticos, já que em governos autoritários, o processo decisório

27

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tende a ser centralizado. No Brasil, embora tenha havido iniciativas de

desconcentração do setor saúde ainda no período ditatorial, com incentivos

para que municípios e estados implementassem e articulassem determinadas

ações, o processo de descentralização somente teve impulso significativo com

a redemocratização do país.

Em relação às ações e serviços de saúde, o longo período em que o

processo decisório foi centralizado na administração federal, além de inibir

iniciativas próprias por parte das outras esferas de governo, contribuiu para o

despreparo das administrações estaduais e municipais na elaboração e

implementação de políticas públicas. Esse despreparo constitui-se em

empecilho para a descentralização porque o exercício efetivo da autonomia

político-administrativa está condicionado à capacitação técnica (Arretche,

1997).

A descentralização na área de saúde no Brasil tem sido marcada por

avanços e retrocessos, uma vez que esta diretriz envolve diversos aspectos de

ordem política e administrativa, atrelada ainda a diferentes realidades quanto

às características sócio-econômicas dos estados e municípios do país.

Além da adesão política ou não da tecnoburocracia do setor aos

princípios do SUS e da capacitação técnica da equipe, outros fatores como as

redes hospitalar e ambulatorial prévias, qualificação dos recursos humanos,

arrecadação municipal, capacidade organizativa e participação política da

população tendem a influir, em maior ou menor grau, na municipalização das

ações e serviços de saúde (Vianna, 1992). Com relação à capacidade instalada, o modelo de atenção à saúde,

além de enfatizar a assistência curativa, favoreceu a concentração da oferta de

serviços públicos e privados nos grandes centros urbanos. Como resultado

disso, muitos municípios permaneceram desprovidos de qualquer estrutura

física. Contudo, o movimento de descentralização tem favorecido a ampliação

da oferta de serviços à proporção que há responsabilização dos municípios e

não mais da União (Herman et al., 1992).

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2.2 - Operacionalizando a descentralização – As Normas Básicas

O arcabouço legal que instituiu o SUS não foi suficiente para

implementar as modificações pretendidas, ou seja, transformar um setor saúde

caracterizado pela centralização do processo decisório na esfera federal,

predomínio da assistência individual-curativa de cunho hospitalar, sem

integração interinstitucional e sem participação social, em um setor cujas

diretrizes versam sobre a descentralização, atendimento integral com

prioridade das ações preventivas e participação da comunidade.

Com o propósito de efetivar as modificações propostas relativas à

saúde, legislação normativa complementar, de caráter mais detalhado, tem

sido elaborada. As Normas Operacionais Básicas (NOBs), formuladas no

âmbito do Ministério da Saúde, vêm-se constituindo nos instrumentos principais

de regulamentação e orientação do processo de implantação descentralizada

do SUS.

As NOBs podem ser definidas enquanto documentos operacionais cujo

caráter dinâmico e flexível permite a incorporação de peculiaridades que vão

colaborando para a configuração do SUS. Conforme a NOB SUS 1/96, a partir

da avaliação do estágio de implantação e desempenho do SUS, se voltam mais

direta e imediatamente para a definição de estratégias e movimentos táticos,

que orientam a operacionalidade do Sistema.

Embora a institucionalização do SUS tenha acontecido em fins da

década de 80, sua implementação ainda não está consolidada. Nesse sentido,

Carvalho (1999) afirma que, enquanto o processo de concepção e criação do

SUS desenvolveu-se em uma conjuntura política favorável, marcada pelo fim

da ditadura militar e redemocratização do país, sua regulamentação e

implementação deu-se em período diferente, caracterizado pelo acirramento da

crise fiscal e de tentativas de reestruturação da economia brasileira, aliados à

expansão do pensamento e prática do neoliberalismo, no qual prevalece a idéia

do Estado mínimo e de contenção de gastos sociais.

Nesta lógica, a primeira NOB, editada em 1991, não foi fruto de

processo participativo, nos moldes da legislação anterior, e sim uma Portaria

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do então Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

(INAMPS) que, naquela época, permanecia como órgão centralizado do

Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), responsável pela

assistência à saúde, pelos repasses financeiros e pela formulação de normas

no âmbito previdenciário (Carvalho, 1999).

A NOB SUS 1/91 padronizou os fluxos financeiros e implantou no

sistema público o pagamento por produção. Para Lucchese (1996), tal medida

constituiu-se em entrave para o processo de descentralização, já que

transformava estados e municípios em prestadores de serviços a serem

ressarcidos por produção, ao invés de estimular a responsabilização

progressiva pelas ações e serviços de saúde por parte destas esferas de

governo. No entanto, apesar dos efeitos negativos sobre a descentralização daí

decorrentes, essa Norma, junto com a Lei nº 8142 de 1990, incentivou a

capacitação para a gestão municipal à medida que favoreceu a formação dos

Conselhos de Saúde e os Fundos de Saúde, requisitos indispensáveis para o

repasse de recursos financeiros (Carvalho, 1996; Heimann et al., 2000:33).

A NOB SUS 1/92, também editada pelo INAMPS, manteve as mesmas

orientações da Norma Básica anterior, e até reforçou os critérios de repasses

financeiros estabelecidos para estados e municípios (Oliveira Jr., 2000). Vale

lembrar que o ano de 1992 foi marcado pela efervescência política do processo

de impeachment do presidente da República, encontrando-se assim

comprometido o funcionamento da máquina político-administrativa no âmbito

federal (Luchesse, 1996:114).

Ainda em 1992, as resoluções da IX Conferência Nacional de Saúde que

propugnou a continuidade do processo de descentralização dificultado pelas

NOB SUS 1/91 e 1/92, serviram como parâmetro para a elaboração de um

documento pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), denominado

“Descentralização das Ações e Serviços de Saúde: a Ousadia de Cumprir e

Fazer Cumprir a Lei”. Este documento foi a base de um longo processo de

discussão e negociação entre os vários atores interessados nos prováveis

rumos do SUS, a saber: gestores dos três domínios de governo, setor privado,

entidades de representação popular e sindical, instituições públicas federais e

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entidades científicas com interesses afins. Tal discussão resultou em uma nova

versão do documento que, por sua vez, veio a originar a NOB SUS 1/93,

editada no mês de abril daquele ano (Lucchese, 1996: 115).

A NOB SUS 1/93 recomendou três diferentes níveis de gestão, aos

quais os municípios podiam se habilitar conforme a capacidade instalada

existente e o cumprimento de responsabilidades e requisitos gerenciais (quadro

1). Esses níveis hierarquicamente diferenciados conforme a capacidade

gerencial dos municípios foram denominados: incipiente, parcial e semiplena.

Quadro 1: Responsabilidades, requisitos e incentivos financeiros previstos pela NOB SUS 1/93 para os municípios, segundo condição de gestão

Condições de Gestão Responsabilidades Requisitos Incentivos Financeiros

Incipiente

Programação e controle da assistência das atividades ambulatoriais e hospitalares locais; ações básicas de saúde, nutrição e educação, vigilância epidemiológica e vigilância sanitária.

Conselho Municipal de Saúde Fundo Municipal de Saúde ou conta especial

Recebe recursos correspondentes ao FAM

Parcial

Gestão de parte do sistema local (rede ambulatorial e controle de AIH, ações básicas de saúde, nutrição, educação, vigilância epidemiológica e sanitária).

Conselho Municipal de Saúde Fundo Municipal de Saúde Plano Municipal de Saúde Relatório de Gestão Plano de Cargos, Carreiras e Salários Contrapartida orçamentária

FAM Saldo financeiro equivalente à diferença entre o teto estabelecido para suas atividades e o gasto efetivo

Semiplena Gestão de todo sistema de saúde local

Mesmas obrigações da gestão parcial.

Recebe o volume global de recursos correspondentes ao teto financeiro global (amb/hosp/FAM) estabelecido na CIB e aprovado na CIT, para o sistema sob sua gestão

Fonte: NOB SUS 1/93 apud Lucchese, 1996:123

O Fundo de Apoio ao Município (FAM) estabelecido nessa Norma deve

ser repassado mensalmente a todo município que se habilite a alguma forma

de gestão a fim de objetivar progressos no processo de municipalização das

ações e serviços de saúde (quadro 1).

31

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Na condição de gestão parcial, entre outras atribuições, o município se

responsabilizaria pelo gerenciamento das unidades ambulatoriais públicas e na

condição de gestão semiplena, a Secretaria Municipal de Saúde deveria

assumir a completa responsabilidade pela prestação de serviços, inclusive em

relação ao planejamento das ações de saúde, contratação da rede privada e

gerenciamento de toda rede pública existente no município, exceto de unidades

de referência sob gestão estadual.

Os municípios habilitados na condição de gestão incipiente e parcial

continuariam a receber por produção de serviços acrescidos da parcela

referente ao FAM, observando-se que, para os habilitados nesta última

condição estava previsto um saldo para, na medida do possível, cobrir a

diferença entre o teto estabelecido e o gasto efetivo. Os habilitados na

condição semiplena receberiam repasses globais fundo a fundo,

periodicamente, como forma de facilitar o planejamento das ações de saúde.

Neste caso, os critérios que deveriam ser considerados para o cálculo do

montante eram os seguintes: serviços prestados em 1992, tamanho

populacional, capacidade potencial de produção de acordo com os recursos

físicos e humanos e o grau de complexidade da rede (Heimann, 2000:72).

Outro feito da NOB SUS 1/93 foi a criação das Comissões Intergestores

Bipartite (CIB), compostas por gestores estaduais e municipais de saúde,

consagrando-as sob forma de instâncias privilegiadas de negociação no

âmbito estadual em relação aos aspectos operacionais do SUS4. Os

Conselhos de Saúde também foram fortalecidos como órgãos deliberativos na

formulação de estratégias e no controle da execução das políticas de saúde.

(NOB SUS 1/93, itens 2.1 e 2.2).

A NOB SUS 1/93 preconizou, relativamente aos estados, dois planos de

gestão: parcial e semiplena, igualmente com responsabilidades, requisitos e

incentivos previstos, como pode ser verificado no quadro a seguir. Visando ao

progresso no curso de descentralização, também foi estabelecido um montante

4 Segundo a NOB 93, a CIB deve ser integrada paritariamente por dirigentes da Secretaria Estadual de Saúde e do órgão de representação dos Secretários Municipais de Saúde do estado, devendo ser criada e formalizada através de portaria do Secretário Estadual de Saúde. A Comissão Intergestores Tripartite foi instituída anteriormente em 26 de abril de 1991, através da Resolução nº 02, do Conselho Nacional de Saúde.

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específico (Fator de Apoio aos Estados -FAE) sob o aspecto de incentivo para

que estes entes federados assumissem determinadas atividades.5

Quadro 2: Responsabilidades, requisitos e incentivos financeiros previstos pela NOB SUS 1/93 para os estados, segundo condição de gestão

Condições de

Gestão Responsabilidades Requisitos Incentivos Financeiros

Parcial

Programação Integrada com os Municípios; Política de Investimentos; coordenação da rede de referência, vigilância epidemiológica, controle dos hemocentros e laboratórios de saúde pública; Gerência dos sistemas de alta complexidade; Controle do meio-ambiente e do processo de trabalho.

Conselho Estadual de Saúde Fundo Estadual de Saúde Plano Estadual de Saúde Relatório de gestão Plano de Cargos, Carreiras e Salários Contrapartida orçamentária

Recebe através de convênio recursos de custeio correspondentes ao FAE . Saldo financeiro correspondente à diferença entre o valor estabelecido e aprovado na CIT para suas atividades e o gasto efetivo.

Semiplena

Inclui responsabilidades da gestão parcial e ainda: total responsabilidade na gestão da prestação dos serviços sob sua gestão.

Mesmas obrigações da gestão parcial

Recebe volume global de recursos equivalente ao teto financeiro global (ambulatórios+hospital+ FAE), definido e aprovado na CIT, para o sistema sob sua gestão.

Fonte: NOB SUS 1/93 apud Lucchese, 1996:123

A implementação destas modalidades de gestão para os estados não se

efetivou. Apesar de inicialmente previstos, os repasses financeiros

correspondentes ao FAM e ao FAE não foram regularizados, e o mesmo

aconteceu com o saldo destinado aos entes federados habilitados na condição

de gestão parcial para cobrir a diferença entre o teto e o gasto efetivo e o teto

financeiro global dos estados que assumiram a condição de gestão semiplena.

Para Lucchese somente foi possível implantar a condição de gestão semiplena

para municípios, o que ocorreu em novembro de 1994, após regulamentação

da forma e condições para transferência automática de recursos federais a

estados e municípios (Lucchese, 1999: 124-125).

5 Estas atividades eram as seguintes: tratamento fora do domicílio, aquisição de medicamentos especiais e provisão de órteses e próteses.

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Deve-se enfatizar que, embora a NOB SUS 1/93 tenha contemplado em

seu texto outras ações de saúde além da assistência ambulatorial e hospitalar,

somente estas foram objeto de repasses financeiros.

Segundo o Ministério da Saúde (1999), em termos numéricos, houve

avanços do processo de descentralização durante a vigência da NOB SUS

1/93, uma vez que nesse período, 62,9% dos municípios foram habilitados em

alguma forma de gestão, sendo 4,6% destes na forma mais avançada

(semiplena), 19,7% em gestão parcial e 75,7% em gestão incipiente. No

entanto, com relação à constituição de sistemas municipais, os progressos não

foram significativos, já que somente em municípios habilitados na condição

semiplena houve aumento das responsabilidades assumidas.

Em recente pesquisa, Heimann et al. (2000) estudaram os avanços na

constituição de sistemas locais de saúde tendo como campo doze municípios

de sete estados de três regiões geográficas diferentes, habilitados segundo a

NOB SUS 1/93 em gestão semiplena durante pelo menos dois anos. Dentre os

avanços apontados pela pesquisa destacam-se: desenvolvimento da

capacidade gerencial, aumento da oferta de serviços, maior aporte de recursos

municipais e controle social atuante.

Os entraves para a efetivação da descentralização no período de

vigência dessa Norma mencionados por Lucchese (1996) são os seguintes:

constrangimentos financeiros resultantes da política governamental de não

expansão de recursos setoriais, dificuldades na operacionalização de critérios

consensuais para a definição de valores financeiros a serem repassados fundo

a fundo e reticência dos municípios em assumir unidades de outras esferas

governamentais (Lucchese, 1996).

2.3 - A NOB – SUS 1/96

Com o objetivo de superar obstáculos e dar continuidade ao processo de

descentralização do setor, nova Norma Operacional/SUS foi editada em

novembro de 1996. Esta NOB foi fruto de um prolongado encadeamento de

discussões na Comissão Intergestores Tripartite (CIT), no Conselho Nacional

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de Saúde (CNS) e pelos gestores das três esferas do governo, por intermédio

de suas formas associativas (CONASS e CONASSEMS), submetidas,

inclusive, à X Conferência Nacional de Saúde.

A princípio, a proposta contida no texto da NOB SUS 1/96 visa ao

aperfeiçoamento da gestão do sistema e o reordenamento do modelo de

atenção à saúde, já que intenciona redefinir:

• Os papéis de cada esfera de governo e, em especial, no tocante à direção

única;

• Os instrumentos gerenciais para que municípios e estados superem o papel

exclusivo de prestadores de serviços e assumissem seus respectivos

papéis de gestores do SUS;

• Os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo progressiva e

continuamente a remuneração por produção de serviços e ampliando as

transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em programações

ascendentes, pactuadas e integradas;

• A prática do acompanhamento, controle e avaliação no SUS, superando os

mecanismos tradicionais centrados no faturamento de serviços produzidos,

e valorizando os resultados advindos de programações com critérios

epidemiológicos e desempenho de qualidade;

• Os vínculos dos serviços com seus usuários, privilegiando os núcleos

familiares e comunitários, criando, assim, condições para uma efetiva

participação e controle social. (NOB 96, item 2)

A redefinição do papel de cada esfera de governo ocorrerá quando os

municípios assumirem, progressivamente, a responsabilidade pela gestão da

atenção à saúde em sua área de abrangência, levando em consideração, como

nas outras esferas, três campos: o da assistência individual e coletiva, o das

intervenções ambientais e o das políticas externas ao setor que interferem nos

determinantes sociais do processo saúde/doença das coletividades. Conforme

a NOB SUS 1/96 o município dever ser, de fato, o responsável imediato pelo

atendimento das necessidades e demandas de saúde do seu povo e das

exigências de intervenções saneadoras em seu território.

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O texto da NOB SUS 1/96, em relação aos instrumentos gerenciais para

a superação do papel de prestador por parte dos municípios, enfatiza a

necessidade de planejamento e programação e preconiza os seguintes

instrumentos do processo de habilitação: o plano de saúde, o relatório de

gestão e o comprometimento com a elaboração e a implementação da

Programação Pactuada e Integrada (PPI).

A redefinição dos fluxos e mecanismos de financiamento é pretendida à

medida que são recomendadas transferências globais e automáticas tendo por

base uma programação pactuada e integrada. Nesse aspecto, a principal

inovação é a introdução da lógica per capita no repasse financeiro para

procedimentos que compõem a parte fixa do Piso da Atenção Básica (PAB).6

Esta modalidade de transferência garante um repasse mínimo, proporcional ao

contingente populacional do município, na tentativa de superar desigualdades

geradas pelo pagamento por produção.

São instrumentos propostos pela NOB SUS 1/96, referentes à prática do

acompanhamento, ao controle e à avaliação: plano de saúde, relatório de

gestão, a Programação Pactuada e Integrada (PPI), além da análise

sistemática das informações contida nos bancos de dados cuja alimentação

está a cargo do setor saúde (Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM,

Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação -SINAN, Sistema de

Informações sobre Nascidos Vivos -SINASC, Sistema de Informações

Ambulatoriais/SUS - SIA/SUS e Sistema de Informações Hospitalares/SUS -

SIH/SUS).

A NOB SUS 1/96 propõe uma redefinição do vínculo dos serviços de

saúde com os usuários e a valorização dos núcleos familiares através da

implementação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e do

Programa de Saúde da Família (PSF), além da introdução do cartão SUS

nacional. Esta última estratégia tem sido considerada de difícil implementação

por envolver questões éticas, técnicas e financeiras.

6 A parte variável do PAB é composta pela implementação dos programas: Saúde da Família (PSF), Agentes Comunitários de Saúde (PCS) Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica e Ambiental.

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Visando à continuidade do processo de descentralização, com

progressiva responsabilização das unidades estaduais e municipais pelos

cuidados para com a saúde da população, a NOB SUS 1/96 alterou as

condições para habilitação da norma anterior e aconselha dois níveis de

gestão tanto para estados como para municípios, a partir do cumprimento e da

comprovação de determinados requisitos (NOB 96, itens: 2, 15 e 16).

Para os estados, as formas de gestão indicadas pela NOB SUS 1/96

foram: avançada do sistema estadual e plena do sistema estadual. O processo

de habilitação deveria então ser decidido na Comissão Intergestores Tripartite

(CIT). As responsabilidades, requisitos e incentivos financeiros para ambas as

formas de gestão estadual estão resumidas no quadro 3.

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Quadro 3: Responsabilidades, requisitos e incentivos financeiros previstos pela NOB SUS 1/96 para os estados, segundo condição de gestão

Condições de Gestão Responsabilidades Obrigações Incentivos financeiros

Avançada

PPI e coordenação da negociação na CIB; coordenação das atividades de vigilância epidemiológica, controle das doenças e vigilância sanitária; formulação e execução da política de sangue e hemoterapia; operação do SIA/SUS e alimentação dos bancos de dados; controle do meio-ambiente; contratação dos serviços incluídos no PAB de municípios não habilitados; ordenação do pagamento.

Conselho Estadual de Saúde Fundo Estadual de Saúde; CIB; Relatório de Gestão; Plano Estadual de Saúde; Contrapartida de recursos; comprovar transferência de gestão hospitalar e ambulatorial para municípios habilitados; comprovar capacidade técnica e administrativa; comprovar o funcionamento de ações em vigilância epidemiológica e sanitária; Programação Pactuada e Integrada; 60% dos municípios habilitados ou 40% com 60% da população; 30% do valor do TFA para municípios.

Transferência regular e automática da FAE (Fração Assistencial Especializada), PAB, PBVS (Piso Básico de Vigilância Sanitária), IVISA (Índice de Valorização do Impacto em Vigilância Sanitária); remuneração por serviços produzidos em vigilância sanitária; transferência de recursos para as ações de epidemiologia e controle de doenças.

Plena

Mesmas da gestão avançada e ainda: total responsabilidade na gerência dos serviços sob sua competência; operação do SIA/SUS e SIH/SUS e alimentação dos bancos de dados de interesse nacional.

Mesmas da gestão avançada e ainda: PPI das ações ambulatoriais, hospitalares e alto custo; comprovar os mecanismos de controle da prestação de serviços ambulatoriais e hospitalares; 80% dos municípios habilitados ou 50% com 80% da população; 50% do valor do TFA com transferências regulares e automáticas para os municípios.

Transferência regular e automática do; TFA, IVR (Índice de Valorização de Resultados), PBVS e IVISA; remuneração por serviços produzidos em vigilância sanitária; normalização complementar relativa ao pagamento de prestadores de serviços assistenciais sob sua contratação; transferência de recursos referentes às ações de epidemiologia e controle de doenças.

Fonte: Brasil. MS. NOB - SUS 01/1996. Apud Almeida et al., 1999: 58

Para os municípios, as condições de gestão previstas foram: plena da

atenção básica e plena do sistema municipal. Enquanto a habilitação do

município, na condição de gestão plena da atenção básica, é decidida na CIB

do respectivo estado, o processo para habilitação na condição de gestão plena

do sistema deve, após apreciação pela CIB, ser encaminhado à CIT.7

7 Segundo a NOB 96, “no que se refere à gestão plena do sistema municipal, a habilitação dos municípios é decidida na CIT, com base em relatório da CIB e formalizada em ato da SAS/MS (NOB 96, item 17.3).

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Para a habilitação em qualquer uma dessas formas, deve haver adoção

de responsabilidades e cumprimento de requisitos e, em contrapartida, por

parte da União incentivos financeiros, conforme resumido no quadro 4 e

melhor detalhado nos anexos 1, 2 e 3.

Quadro 4: Responsabilidades, requisitos e incentivos financeiros previstos pela

NOB SUS 1/96 para os municípios, segundo condição de gestão

Condições de Gestão Responsabilidades Obrigações Incentivos financeiros

Plena da Atenção Básica

Programar os serviços básicos, de referência ambulatorial e hospitalar; gerenciar unidades próprias, ambulatórios do estado e União; reorganizar as unidades sob gestão pública; prestar serviços cobertos pelo PAB, controlar e efetuar pagamentos; operar SIA/SUS dos serviços do PAB; autorizar AIH e UCAs especializadas; executar ações de vigilância sanitária, epidemiológica e controle de doenças.

Conselho Municipal de Saúde; Fundo Municipal de Saúde; Plano Municipal de Saúde; Relatório de Gestão; contrapartida de recursos; capacidade para ações de vigilância sanitária e vigilância epidemiológica; disponibilidade de recursos humanos.

Transferência regular e automática dos recursos do PAB, do PBVS, e para ações de epidemiologia e controle de doenças; subordinação à gestão municipal de todas as unidades básicas de saúde.

Plena do Sistema Municipal

Controle total sobre o sistema (controle, pagamentos e contratos); garantir prestação de serviços em seu território; administrar oferta de procedimentos de alto custo; operar SIH e SIA/SUS; avaliar impacto das ações de vigilância sanitária e de epidemiologia e controle de doenças.

Conselho Municipal de Saúde; Fundo Municipal de Saúde; Plano Municipal de Saúde integrado; Relatório de Gestão; contrapartida de recursos; elaboração e implementação da PPI; serviços de vigilância sanitária, epidemiológica e controle de doenças; assegurar oferta de serviços do PAB; apoio diagnóstico em patologia clínica e radiologia básica

Transferência regular e automática do TFA, PBVS; normalização complementar relativa ao pagamento de serviços assistenciais; PDAVS (Programa Desconcentrado de Ações de Vigilância Sanitária); subordinação à secretaria municipal de toda a rede referida; transferência de recursos para controle das doenças.

Fonte: Brasil. MS. NOB - SUS 01/1996. Apud Almeida et al., 1999:58

A principal diferença entre os tipos de gestão com relação ao incentivo

financeiro aparece quando o município habilitado na condição de plena da

atenção básica recebe a parcela de recursos referente ao Piso da Atenção

Básica (PAB) e os recursos destinados às ações de epidemiologia e de

controle de doenças mas os serviços hospitalares de maior complexidade

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continuam a ser pagos por produção dentro de um teto pré estabelecido. Já o

município habilitado em gestão plena do sistema municipal recebe o montante

referente ao teto financeiro global de forma regular e automática.

O município habilitado em gestão plena do sistema, mas que não

disponha de capacidade instalada cadastrada para realizar determinados

procedimentos de maior complexidade, tem parcela de seu teto alocado em um

município que ofereça tal serviço. Este arranjo deve-se realizar mediante

pactos regionais ou estaduais sendo prevista auditoria com possível

cancelamento dos repasses quando da denúncia do não cumprimento do

acordo.

Embora fosse fruto de um longo processo de discussão entre atores

interessados, a NOB SUS 1/96 deixava lacunas como a não definição do valor

monetário do “Piso Assistencial Básico (posteriormente denominado “Piso da

Atenção Básica) e a pouca de clareza das exigências do processo de

regulamentação para a habilitação dos municípios. Tais omissões

comprometeram a sua implantação imediata e geraram dificuldades gerenciais,

já que não poderiam ocorrer habilitações pela norma anterior. Apesar de ter

sido editada em 1996, esta Norma somente entrou em vigor a partir de 1998.

Para viabilizar a execução desta norma, houve prosseguimento das

discussões e várias portarias foram editadas. Nesse aspecto, vale destacar a

Portaria 1882/GM de 18 de dezembro de 1997, que estabelece o Piso da

Atenção Básica, e a Instrução Normativa Nº 1/98 de 02 de Janeiro de 1998,

que regulamenta instrumentos e fluxos do processo de habilitação dos

municípios e estados e do Distrito Federal e esclarece questões relacionadas

ao cumprimento dos requisitos definidos na Norma Operacional.

A princípio, as inovações propostas pela NOB SUS 1/96 teriam por

objetivo promover avanços na constituição de sistemas municipais de saúde e

respeitar as diretrizes do SUS. No entanto, a implementação desta norma tem

sofrido críticas por parte de alguns autores (Bueno e Merhy, 1997; Almeida,

2000), que alegam dentre outros aspectos, indução para a implantação de

determinados programas e interferência na autonomia municipal por parte do

governo federal.

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Bueno e Merhy (1997) criticam o estabelecimento de incentivos

financeiros, por parte da União, para ações de saúde específicas e

normatizadas. Na visão desses autores, a opção pelos programas de Agentes

Comunitários (PACS) e de Saúde da Família (PSF) referidos no texto da NOB,

prevendo inclusive repasses financeiros para a sua implantação, fere o

princípio da autonomia de gestão, inerente ao processo de descentralização.

Para Almeida (1999), a NOB SUS 1/96, ao institucionalizar o PAB e,

sobretudo, criar incentivos financeiros ao PACS e PSF, tem funcionado

enquanto instrumento indutor da reforma administrativa na área da saúde, já

que estas estratégias tendem a fortalecer a focalização que também é

preconizada por organismos internacionais enquanto elementos para

efetivação da Reforma de Estado.

Embora se reconheça que NOB SUS 1/96, enquanto instrumento de

regulação do sistema público de saúde, possua potencial para promover

modificações de ordem gerencial e assistencial, o rumo destas alterações sofre

influências de diversos fatores como: disponibilidade de recursos, capacidade

gerencial e intenções políticas do poder executivo nas três esferas de governo.

Como visto anteriormente, a fase de implementação tende a ser

marcada pela imprevisibilidade e por renegociações e pode até modificar os

rumos de uma política. Tal cenário justifica plenamente o presente estudo, em

particular o exame apurado da implementação da NOB SUS 1/96, tomando

como caso um município específico.

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CAPÍTULO II – METODOLOGIA

O atual sistema público de saúde foi estabelecido legalmente há cerca

de uma década, quando da promulgação da Constituição Federal. A partir de

então, deliberações normativas vêm conduzindo e regulando de forma

progressiva a responsabilização de gestores estaduais e municipais pela

atenção à saúde da população, ocasionando modificações de diversas ordens

(financeira, gerencial, e assistencial). A NOB SUS 1/96 constitui-se em mais

um desses instrumentos de regulação e foi elaborada em substituição à Norma

anterior para dar continuidade às transformações setoriais necessárias à

constituição do SUS.

Apesar do grande número de ações e modificações instituídas pelos

textos das Normas Básicas que têm regulamentado o SUS, raros estudos

propuseram avaliar a implementação de tais medidas. Embora algumas

pesquisas tenham analisado o processo de descentralização na saúde

(Almeida,1999; Arretche,1997; Arretche e Marques, 2000; Heimann et al.,

2000; MS, 1999; entre outros), a implementação do SUS ainda tem sido pouco

contemplada com a realização de estudos sistemáticos que permitam melhor

apreciar atuações e resultados nos seus diversos estágios (Mendes, 1998:41).

Um dos raros esforços de avaliação do processo de municipalização do

setor partiu do Ministério da Saúde (MS,1999). Trata-se de estudo exploratório

realizado em 23 municípios brasileiros de grande e médio porte habilitados,

segundo a NOB SUS 1/96, em gestão plena do sistema.8

As principais constatações desse estudo, cujo foco são questões

relacionadas à gestão do sistema, foram: processo de habilitação

extremamente rápido durante o ano de 1998, sem definição de parâmetros

para a avaliação, dificultando o acompanhamento da municipalização das

ações e serviços; desvirtuamento do papel de algumas CIBs, que têm

funcionado mais como espaço para denúncias e queixas do que como

8 Neste estudo (MS 1999) optou-se por analisar a situação dos pactos nas capitais brasileiras, e nos estados em que estas não estavam habilitadas em gestão plena do sistema. O município escolhido foi o de maior contigente populacional, habilitado nessa forma de gestão.

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instância de discussão e negociação entre gestores; e não cumprimento por

parte de alguns desses municípios de requisitos gerenciais considerados

básicos (MS, 1999).

Em seis das localidades estudadas, por exemplo, não havia registro de

unidade ambulatorial sob gestão municipal. Logo, ou estes entes federativos

não assumiram a gerência dessas unidades, ou não mantinham cadastro

atualizado. Em relação à assistência hospitalar, também foram detectadas

falhas, tendo em vista que, em alguns dos municípios, não havia qualquer

controle sobre o fluxo de internações, ocorrendo migração de pacientes sem o

devido estabelecimento de pactos.

Levando em conta os achados dessa pesquisa, pode-se concluir que as

medidas preconizadas pela NOB SUS 1/96, para municípios habilitados em

gestão plena do sistema, podem não estar sendo assumidas em sua totalidade.

Lamentavelmente, o estudo do Ministério da Saúde não contemplou

investigações sobre o porquê da não adoção de tais requisitos por parte da

administração local.

Considerando as constatações da pesquisa acima citada e a

necessidade de apreciação do processo de descentralização apontada pelo

Ministério da Saúde por um lado e, por outro que a etapa de implementação

pode até modificar o rumo da política, conforme já visto, o presente trabalho

tem por objetivo analisar a consonância entre as competências recomendadas

pela NOB SUS 1/96 para a condição plena do sistema e as responsabilidades

assumidas pela gestão municipal de Duque de Caxias e também identificar as

dificuldades enfrentadas para a implementação desta Norma.

Entendendo a NOB SUS 1/96 como instrumento que permite

operacionalizar as modificações e ações instituídas pela atual política nacional

de saúde, a questão que orienta este estudo é se as recomendações da NOB

SUS 1/96 para municípios habilitados em gestão plena do sistema estão sendo

devidamente assumidas pelos gestores do SUS em Duque de Caxias?

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1. ÂMBITOS DE ANÁLISE

O presente estudo consiste na análise do processo de implementação,

com a ressalva de que trata-se de exame pontual com recorte temporal

limitado, que pretende verificar quais das atribuições municipais definidas pela

NOB SUS 1/96 foram implementadas e apontar dificuldades enfrentadas pelos

gestores.

Para examinar o modo como as responsabilidades foram assumidas

pelo gestor municipal, foram considerados cinco âmbitos: organização da rede

e oferta de serviços de saúde, ações de vigilância sanitária e epidemiológica,

planejamento setorial, sistema de controle e avaliação e financiamento do

setor. Os quatro primeiros foram definidos a partir das recomendações

arroladas na NOB SUS 1/96, e o último foi acrescentado devido à importância

da alocação de recursos para a implementação das medidas preconizadas por

esta Norma.

Para o estudo da adoção das competências inscritas na NOB SUS 1/96

para a condição de habilitação mais avançada foi utilizado instrumento de coleta de dados composto de “itens de verificação” com base em objetivos

específicos construídos a partir das responsabilidades prescritas,

compreendendo os seguintes tópicos:

I - Analisar a organização do Sistema de Saúde Municipal valendo-se de: oferta de serviços em seu território; organização da rede; funcionamento do sistema de referência para média e alta complexidade; operação de centrais de controle de procedimentos ambulatoriais e hospitalares: 1. Que especialidades médicas são oferecidas pelo próprio município ou por

meio de pacto com outro município?

2. A gestão municipal é responsável pela administração de todas as unidades

de natureza pública?

3. Como a rede básica se relaciona com os serviços ambulatoriais

especializados e hospitalares?

4. O PACS e o PSF, se existentes, estão integrados ao sistema municipal de

saúde? Como?

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5. Existe sistema de referência ambulatorial e hospitalar reconhecido pelas

instituições prestadoras de serviço?

6. Existe central de marcação de exames e consultas? Como funciona?

7. Existe identificação única dos usuários do serviço ou projeto para tal (cartão

SUS), de forma a facilitar o atendimento por diversas instituições e

profissionais?

II - Verificar a execução de ações de vigilância sanitária e epidemiológica: 1. Existem setores responsáveis pela execução destas ações?

2. Os profissionais responsáveis têm formação específica para a área em que

atuam?

3. As informações seguem fluxo definido e são remetidas aos órgãos

competentes nos prazos estabelecidos?

4. Existem rotinas e normas prescritas?

III - Discutir o planejamento municipal baseando-se na sua correspondência com os agravos à saúde da população local, com o modelo preconizado pelo Ministério da Saúde e com a programação estadual: 1. O Plano Municipal de Saúde identifica problemas prioritários? Contempla

metas e estratégias de acordo com os agravos identificados?

2. Corresponde ao modelo sugerido pelo Ministério da Saúde?

3. Como é elaborado? O processo é participativo?

4. A elaboração das metas e estratégias contempla possíveis pactos para a

oferta de serviços de média e alta complexidade?

5. Os conteúdos do plano estão incorporados às metas estaduais?

IV - Verificar o funcionamento e organização do sistema de controle e avaliação da atenção prestada e de acompanhamento do impacto das ações do sistema sobre as condições de saúde dos munícipes: 1. Há algum setor responsável pelo controle e avaliação da atenção prestada?

2. O cadastro de prestadores está atualizado?

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3. Os bancos de dados são alimentados regularmente?

4. Existem rotinas e/ou normas para o controle e avaliação da atenção

prestada?

5. Há acompanhamento do impacto das ações do sistema sobre as condições

de saúde?

V - Examinar os gastos em saúde tomando-se por base os recursos provenientes dos governos federal, estadual e do próprio município: 1. Qual é a composição das fontes orçamentária?

2. Qual é a regularidade dos repasses federais e estaduais?

3. Como os recursos são distribuídos entre os itens de despesa?

2. ESCOLHA DO MUNICÍPIO

Por se tratar de tema complexo e abrangente, que por sua vez envolve

vários aspectos de uma mesma realidade, adotou-se como campo de trabalho

apenas um município. Logo, em termos metodológicos, esta pesquisa pode ser

considerada um estudo de caso (Chizzotti,1998). A relevância da abordagem

de um único caso consiste na possibilidade de alcançar maior grau de

detalhamento e conhecimento sobre a situação em questão.

O município escolhido, além de ser habilitado segundo a NOB SUS 1/96

em gestão plena dos sistema, deveria pertencer à Baixada Fluminense. Os

motivos da opção por tal região foram os seguintes: o fato de ser bem

conhecida pela pesquisadora, a proximidade da capital e ainda pelo fato de

este conjunto de municípios ter provisão inadequada de serviços de assistência

à saúde.

A Baixada Fluminense é uma área geográfica pertencente à região

metropolitana do Rio de Janeiro, localizada entre o litoral e os maciços

litorâneos. Até as eleições de outubro de 2000 era composta por dez

municípios, sendo que destes seis encontram-se habilitados, segundo a NOB

SUS 1/96, em gestão plena do sistema. 9

9 Geograficamente, Seropédica também faria parte da Baixada Fluminense. Este município, anteriormente um distrito de Itaguaí, foi emancipado nas eleições de 1996. Mesquita emancipou-se recentemente, nas

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Localização dos municípios que compõem a Baixada Fluminense Rio de Janeiro – 1999

A fim de melhor definir o campo de trabalho relativo ao objeto da

pesquisa, foi realizado estudo exploratório, que constou de: análise de

documentos da situação de habilitação dos municípios da Baixada Fluminense,

entrevistas semi-estruturadas com profissionais vinculados à Secretaria

Estadual de Saúde –SES/RJ, pesquisa de dados relacionados ao setor saúde

na Internet e participação em reuniões da Comissão Intergestores Bipartite -

CIB/RJ.

Quanto ao processo de habilitação, dos dez municípios da Baixada

Fluminense, seis encontravam-se habilitados, segundo a NOB SUS 1/96 em

gestão plena do sistema. Durante a vigência da NOB SUS 1/93, apenas três

destes foram habilitados em alguma forma de gestão e somente Duque de

Caxias encontrava-se na condição mais avançada (quadro nº 5).

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eleições municipais de 2000, estando em termos administrativos e geográficos ainda vinculado a Nova Iguaçu.

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Quadro 5: Municípios da Baixada Fluminense segundo habilitação pela NOB SUS 1/93 e pela NOB SUS 1/96

Habilitação segundo a NOB SUS 1/96 Municípios Habilitação

pela NOB SUS 1/93

Plena da Atenção Básica

Plena do Sistema Data

Belford-Roxo - X 14/05/98 Duque de Caxias Semiplena X 14/05/98 Guapimirim - X 28/07/98 Japeri - X 12/03/98 Magé - X 02/06/98 Nilópolis Parcial X 07/04/98 Nova Iguaçu - X 14/04/98 Paracambi - X 05/01/98 Queimados - X 12/03/98 São João de Meriti Parcial X 14/05/98 Fonte: Manual do Gestor – COSEMS/RJ - Elaboração própria.

Os documentos analisados foram os exigidos para a aprovação na

condição de plena do sistema pela Instrução Normativa nº 01/98 referente aos

municípios da Baixada Fluminense habilitados nesta forma de gestão, com o

intuito de averiguar o cumprimento dos critérios estabelecidos. Tal tarefa foi

dificultada pela falta de padronização dos mesmos documentos.

Foram realizadas duas entrevistas com técnicos vinculados à SES/RJ. A

primeira, com um representante da Câmara Técnica, buscou apreender

peculiaridades do processo de habilitação dos municípios, bem como obter

sugestões de municípios apropriados para o desenvolvimento do estudo. A

segunda, com um profissional do setor Controle e Auditoria, teve por objetivo a

coleta de informações sobre o possível acompanhamento dos municípios

habilitados em relação às exigências recomendadas pela NOB SUS 1/96.

A pesquisa na Internet teve por finalidade permitir uma caracterização,

ainda que limitada, do perfil do setor saúde dos municípios da Baixada

Fluminense habilitados na condição de gestão plena do sistema. Constou,

principalmente, de dados sobre a oferta de serviços de saúde, capacidade

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instalada hospitalar e ambulatorial, mortalidade por causa específica, além de

dados da área materno/infantil.10

A participação na reunião da CIB/RJ procurou a familiarização com este

órgão colegiado enquanto esfera decisória privilegiada no processo de

implementação da NOB SUS 1/96.

Para a escolha do município, foi considerada ainda a opinião dos

entrevistados acima referidos com relação à organização gerencial do sistema

local, à existência de rede hospitalar própria e à proximidade com a capital do

estado, prevendo a necessidade de várias visitas durante o trabalho de campo.

Outros critérios também foram considerados tais como manutenção de

maior capacidade gestora e existência de rede de serviços mais ampliada,

justificando assim a escolha de Duque de Caxias enquanto município que

dispõe de condições mínimas para a implementação daquelas

responsabilidades aconselhadas pela NOB SUS 1/96.

Ao fim da pesquisa exploratória, Duque de Caxias ficou confirmado

enquanto campo escolhido pois, além de preencher os requisitos previamente

definidos, revelava-se como o único da região que havia sido habilitado,

segundo a NOB SUS 1/93, em gestão semiplena, pressupondo melhor

capacidade administrativa e gerencial, face as exigências para aprovação

naquela condição de gestão.

Considerando que a fase de coleta de dados deveria encerrar-se em

novembro de 2000 e que as habilitações pela NOB SUS 1/96 tiveram início

apenas depois de 1998, o curto período de vigência dessa Norma constituiu-se

em dificuldade na delimitação do tempo de realização do estudo. A alternativa

encontrada foi contemplar dados referentes a 1997, 1998 e 1999, tendo em

vista que o município escolhido passou a receber repasses fundo a fundo após

1995, quando da habilitação em gestão semiplena, e que as informações

necessárias para o desenvolvimento do estudo apresentaram sensível melhora

em sua conformação a partir de 1997.11

10 Os bancos de dados pesquisados foram: SIM, SINASC, SIH/SUS E SIA/SUS 11 Trata-se especificamente do SIH/SUS, SIA/SUS e SINASC, além dos dados relacionados ao financiamento.

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3. FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE DADOS

Devido à dinâmica presente no atual estágio de implantação do SUS,

onde metas, normatizações e estratégias definidas nos âmbitos federal e

estadual promovem constantes alterações nas funções pertinentes à gestão

municipal, vários caminhos foram utilizados para alcançar os objetivos

propostos.

Os dados foram coletados por meio dos seguintes métodos e fontes:

• Análise documental (cadastro de unidades prestadoras de serviços de

saúde, Relatório de Gestão, Plano de Saúde, relatórios das coordenadorias

e serviços do município, Plano Diretor do Consórcio Intermunicipal e

Relatório de Gestão da SES);

• Entrevistas com: técnicos da SES/RJ, diretores de unidades e profissionais

responsáveis pelas coordenadorias da SMS/DC, Conselheiro de Saúde;

• Análise de dados do Sistema de Informações em Saúde e de indicadores

demográficos e sócio-econômicos do IBGE;

• Observação em reuniões da CIB/RJ e do Conselho Municipal de Saúde;

• Visita a unidades assistenciais.

A observação em reuniões mensais da CIB/RJ visou acompanhar as

determinações provenientes das administrações federal e estadual que

promovem modificações no SUS municipal, pois é nesta instância colegiada

que tais deliberações são discutidas. Esse acompanhamento perdurou de

dezembro de 1999 a outubro de 2000. Nesse período, quando não foi possível

participar das reuniões, foi efetuada a leitura da ata das reuniões.

Em virtude da relevância da esfera estadual para a constituição do SUS

municipal e considerando os itens de verificação, a Subsecretaria de

Planejamento e a Coordenação de Controle, Avaliação e Auditoria da SES/RJ,

foram inicialmente previstas como fonte de informações. Infelizmente, apenas

na Subsecretaria de Planejamento houve disponibilidade por parte dos

profissionais para marcação de entrevista e acesso aos documentos. Assim,

foram consultados não só relatórios referentes ao planejamento estratégico

para a Baixada Fluminense com ênfase nas metas e estratégias estabelecidas,

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mas também o Plano Diretor do Consórcio Intermunicipal, o Relatório de

Gestão da SES e a programação orçamentária.

Estas duas estratégias iniciais auxiliaram na discussão dos conjuntos de

itens referentes ao planejamento e ao financiamento do setor, juntamente com

a análise do Plano Municipal de Saúde, do Relatório de Gestão do município,

dos indicadores sociais, econômicos e demográficos e entrevistas com técnicos

da SMS de Duque de Caxias responsáveis pela Coordenadoria de

Planejamento.

Vale ressaltar que, embora a execução deste estudo tenha sido

metodologicamente dividida em cinco conjuntos de itens construídos

baseando-se nos objetivos a serem alcançados, na prática, esses tópicos

mostram-se interligados. Assim, um mesmo dado, obtido através de relatório,

entrevista ou outra fonte preestabelecida, por vezes foi utilizado na discussão

de mais de um âmbito.

Para verificar o conjunto de itens referentes à organização do setor e à

oferta de serviços, foram realizadas: consultas ao banco de dados de cadastro

das unidades da SES/RJ e ao guia de unidades próprias e contratadas do

município; visita a unidades assistenciais; entrevistas com diretores de

unidades e com os responsáveis pela coordenadorias de Planejamento, Saúde

Individual, Saúde Coletiva, Controle e Avaliação e Auditoria; levantamento de

dados do SIA/SUS, SIH/SUS e SINASC; análise dos indicadores de produção

de consultas médicas e fluxo das internações.

O exame do cadastro de unidades, bem como da capacidade instalada

ambulatorial e hospitalar permitiram uma primeira aproximação para análise da

adequação da oferta de serviços, ao passo que a visita às unidades e as

entrevistas com os gerentes destas possibilitaram complementar os itens

anteriores.

Os dados do SINASC referentes à cobertura de consulta de pré-natal e o

fluxo de partos foram utilizados sob o aspecto de indicadores da assistência

básica uma vez que a padronização e a informatização deste sistema permitem

a construção de série histórica. Este fato não acontece com as informações

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relacionadas com a oferta de consultas médicas naquele município, por sua

implantação recente.

A existência de fluxos definidos para determinados agravos e de sistema

de referência e contra-referência foi considerada item chave na organização do

sistema municipal de saúde, juntamente com a oferta de serviços em todos os

graus de complexidade. As centrais de regulação representam estratégias que

refletem esta organização.

A análise do fluxo das internações objetivou a verificação da oferta

adequada deste serviço no próprio município ou através do estabelecimento de

pactos, e foi averiguada através da consulta aos CD ROMs do Movimento de

Autorização Hospitalar referentes aos anos de 1997, 1998 e 1999. Antes de

1997, a variável relativa ao local de residência do paciente não era

contemplada no formulário da AIH e isto impossibilita a elaboração de uma

série histórica mais abrangente.

As entrevistas com os responsáveis pelas coordenadorias citadas

tiveram por finalidade maior compreensão da organização do setor saúde no

município e o conhecimento das dificuldades de cunho gerencial e

administrativo na implementação do SUS.

O conjunto de itens referente à execução das ações de vigilância

sanitária e epidemiológica teve como estratégia de verificação entrevistas com

os responsáveis pelas coordenadorias de Saúde Coletiva e Vigilância Sanitária,

e também com a coordenadora do setor de Epidemiologia, além do estudo dos

relatórios produzidos por esses setores. Este item não foi considerado

prioritário pelo fato de as ações preconizadas não estarem bem definidas na

NOB SUS 1/96, especialmente no que se refere à Vigilância Sanitária, e devido

ao grande número de portarias das três esferas de governo que tratam do tema

que ora são complementares de tarefas, ora são substitutivas, dificultando a

análise.

O grupo de itens relativos às ações de controle e avaliação da atenção

teve por principal fonte de informação entrevistas com responsáveis pelo

serviço, e ainda consultas ao cadastro de unidades.

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Ao todo foram realizadas 20 entrevistas com intuito de obter informações

sobre o tema em questão: oito com profissionais vinculados diretamente à

diretoria de unidades assistenciais, uma com conselheiro de saúde

representante dos usuários, nove com técnicos vinculados às coordenadorias

da SMS/DC e duas com técnicos da SES/RJ. Três dos entrevistados

solicitaram a não utilização do gravador. Todas as entrevistas geraram

relatórios sucintos.

A análise dos dados preservou os âmbitos estabelecidos no instrumento

de coleta de dados, a saber: organização de rede e oferta dos serviços de

saúde; ações de vigilância sanitária e epidemiológica; planejamento setorial;

sistema de controle e de avaliação da atenção prestada; financiamento do

setor.

Para os quatro primeiros âmbitos foi averiguada a adoção das

responsabilidades preconizadas pela NOB SUS 1/96 por parte da gestão

municipal e identificaram-se as dificuldades para a implementação das

atribuições pertinentes. Quanto ao quinto âmbito, a análise contemplou tanto a

arrecadação municipal total, quanto os gastos em saúde por item de despesa

nos anos de 1997, 1998 e 1999.

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CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E O MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS

1. A MUNICIPALIZAÇÃO DO SETOR SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Antes de efetuar análise da implementação da NOB SUS 1/96 no âmbito

municipal, convém realizar uma breve revisão do processo de descentralização

do setor saúde na esfera estadual, tendo em vista os acontecimentos que

marcaram o período inicial de implantação do SUS no Rio de Janeiro e a

relevância de um desempenho adequado por parte da gestão estadual para a

consolidação das reformas pretendidas no setor.

Até a implementação das Ações Integradas de Saúde (AIS), nos anos de

1980, estados e municípios em sua maioria, não possuíam estrutura técnica e

administrativa para gerenciar a assistência à saúde da população, limitando-se

a oferecer alguns serviços de caráter coletivo e atendimento de menor

complexidade para os não cobertos pela Previdência Social.

No caso do Rio de Janeiro, segundo Dal Poz (1996), a estrutura central

da Secretaria Estadual de Saúde (SES) exercia basicamente funções de

vigilância sanitária e epidemiológica. A gestão dos hospitais estaduais e dos

centros de saúde eram realizadas precariamente pelas Coordenadorias

Regionais da SES e as funções de programação, controle e avaliação de

políticas de saúde, exercidas pela Superintendência Regional do INAMPS.

Com o advento das Ações Integradas de Saúde (AIS) e posteriormente

com o SUDS, houve incentivos financeiros para que estados e municípios

ampliassem não só a participação na organização do setor, mas também a

oferta de serviços de saúde. Para o exercício das novas funções, esses

governos necessitaram modificar estruturas existentes, inclusive aumentando o

quadro de pessoal.

As condições políticas favoráveis do fim da década de 80 contribuíram

para que houvesse avanços significativos no processo de descentralização do

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setor saúde e impulsionaram a implantação do SUDS e ainda a

municipalização e estadualização de unidades assistenciais.

No Rio de Janeiro, a partir da segunda metade da década de 1980,

outros fatores colaboraram para que houvesse avanços significativos no setor

saúde, como por exemplo a ocupação de cargos na Secretaria de Saúde por

técnicos comprometidos com um projeto de reforma sanitária. Esses

profissionais, dentre algumas iniciativas, preocuparam-se em promover uma

maior articulação entre as esferas de governo. Um outro fator que exerceu

certa influência foi a existência de um movimento social organizado localizado

em alguns municípios que reivindicava aumento da cobertura e qualidade no

atendimento (Albuquerque, 1994).

O esforço de articulação dos governos federal e estadual resultou na

promoção de importantes iniciativas, como o Programa SOS Baixada e a

estadualização de alguns hospitais federais. O Programa SOS Baixada,

posteriormente denominado Programa Especial de Saúde da Baixada (PESB)

foi implementado a partir de 1988 com recursos federais e objetivou ofertar

serviços de emergência e ambulatoriais em áreas desprovidas de assistência

médica. Para tal, foram construídas unidades mistas, que deveriam funcionar

ininterruptamente, em três municípios da Baixada Fluminense (Duque de

Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti), onde haveria gestão colegiada com

a participação da comunidade local (Dal Poz, 1996; Parada, 1997; Silva, 2000).

A partir de 1990, com a eleição de um candidato conservador para a

Presidência da República no final do ano anterior, ocorreu mudança do cenário

político nacional com reflexos nas esferas estadual e municipal. Nessa época,

a imposição de medidas, determinadas pela NOB SUS 1/91, concorreu para

que houvesse retrocessos e entraves no prosseguimento da implantação do

SUS de acordo com as diretrizes e princípios preconizados na Constituição de

1988. É importante ressaltar que, mesmo com a aprovação da Lei Orgânica da

Saúde (Lei Nº 8080/90) que regulariza o SUS, o INAMPS persistiu atuando

como estrutura independente do Ministério da Saúde até 1993, controlando

inclusive recursos financeiros e hospitais federais que não foram

estadualizados.

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Com a introdução do pagamento por produção previsto na NOB SUS

1/91 para hospitais públicos, o governo do estado teve a sua influência

reduzida e passou a desempenhar, praticamente, a função de repassador de

recursos segundo tetos estabelecidos, enquanto os municípios alcançaram um

contato mais direto com o governo federal, por meio de convênios de

municipalização.

Segundo Dal Poz (1996) o critério utilizado para estabelecer cotas

referentes ao repasse financeiro para os municípios privilegiou o tamanho

populacional. Como afirma esse autor, as municipalidades com população

relativamente mais alta que a capacidade instalada de serviços assistenciais

tiveram uma elevação nos seus níveis de repasse de recursos, enquanto que

regiões que mantinham uma rede instalada de razoável atendimento, inclusive

com serviços de referência para outras localidades viram-se em situação de

escassez de recursos não experimentada desde o período prévio ao SUDS,

pois a cota imposta não correspondia à estrutura local para a realização dos

procedimentos (Dal Poz,1996:78).

Houve ainda defasagem e atrasos nos pagamentos a serem efetuados

tanto para unidades públicas quanto contratadas, além de falta de garantia de

verbas para a manutenção dos hospitais federais estadualizados. Estes

acontecimentos contribuíram para a refederalização destes em fins de 1993.

Além das dificuldades geradas pela nova modalidade de repasse, a

partir de 1992, no segundo mandato do governador Leonel Brizola (PDT-

1991/1994), alguns cargos de confiança passaram a ser considerados motivo

de negociação, aliado à instabilidade na política estadual ocasionada pelas

constantes trocas de partido por parte de deputados estaduais. Em apenas

dois anos, três secretários de estado de saúde ocuparam a pasta, quando

foram contemplados para o cargo até profissionais com posição contrária aos

princípios do SUS. Este fato agravou ainda mais o distanciamento do estado

nas discussões em curso no âmbito federal (Parada, 1997:137).

As restrições financeiras e a imposição política dos atores influentes na

administração estadual, bem como os baixos salários dos profissionais de

saúde, colaboraram para que houvesse um retrocesso na gestão regional,

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fazendo com que a SES limitasse sua atuação às atividades clássicas de

saúde pública e à condução da sua rede própria (Parada,1997:148).

Embora no âmbito estadual tenha havido um afastamento das

discussões relacionadas à implantação do SUS, os avanços da época do

SUDS e as vitórias legais estabelecidas na Constituição de 1988 permitiram

que os municípios se organizassem na defesa de seus interesses. No entanto,

a falta de uma condução regional e as dificuldades impostas pela NOB SUS

1/91 favoreceram uma “municipalização desordenada”, sem articulação

regional (Parada, 1997:139-148).

Depois de 1993, quando foi editada uma nova NOB, segundo Parada

(1997:144), ocorreu inicialmente uma certa resistência por parte dos municípios

em pleitear a habilitação na condição mais avançada de gestão. Essa cautela

teria como causa os atrasos e a defasagem de repasses dos recursos. Para

Silva (2000:55), a aprovação na condição de gestão semiplena obedeceu a

critérios políticos, já que ocorreu em uma época em que a SES mantinha

atitude centralizadora, facilitava a habilitação de municípios sem estrutura

organizacional e gerencial adequada mas dificultava a habilitação da capital do

estado.

A resistência da SES em aprovar a habilitação do município do Rio de

Janeiro à condição semiplena foi motivada, segundo Silva (2000:82), pelo

gerenciamento de R$31 milhões que eram repassados ao estado, enquanto a

capital não estivesse na forma mais avançada de gestão. Esse montante era

equivalente a 43% do teto total do estado. É importante ressaltar que apesar de

ter sido estabelecida legalmente na NOB SUS 1/93, no Rio de Janeiro, a CIB

só foi oficializada em fevereiro de 1994, após forte pressão do COSEMS/RJ e

do Ministério da Saúde, que ameaçou até cortar recursos (SILVA, 2000:50).

A gestão seguinte do governo estadual (Marcello Alencar, PSDB - 1995-

1998) mostrou-se, inicialmente, favorável ao prosseguimento do processo de

implantação do SUS, com melhorias na SES e apoio ao trabalho da CIB/RJ.

Apesar disso, o governo estadual continuou oferecendo resistência à

habilitação do município do Rio de Janeiro, alegando indefinições com relação

à adoção da gerência de unidades assistenciais.

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Posteriormente houve mudança de atitude por parte da gestão estadual,

quando ocorreram, novamente, constantes trocas de secretários de saúde.12

Além da interferência política no processo de habilitação dos municípios, a

SES/RJ ainda disputou com os municípios os recursos do REFORSUS. O

desprestígio das instâncias colegiadas e a terceirização da administração de

alguns hospitais em detrimento de novos investimentos na rede pública foram

outras características da gestão Marcello Alencar. Durante todo este período, o

estado não estava habilitado em qualquer forma de gestão preconizada (Silva,

2000).

Já sob a vigência da NOB SUS 1/96, em 1998, o município do Rio de

Janeiro continuou pleiteando a habilitação na condição mais avançada (plena

do sistema). A SES/RJ persistiu na posição contrária e reivindicou transferência

de recursos do município para manter hospitais estaduais localizados na capital

como uma espécie de pré-requisito para a aprovação do pleito. Os municípios

da Baixada Fluminense, segundo Silva (2000:55), também foram contra a

habilitação da capital em gestão plena do sistema pois alegaram que seus

munícipes ficariam sem referência.

O processo de habilitação do município do Rio de Janeiro só foi

aprovado em fins de 1998, quando o candidato ao governo do estado da

situação perdeu as eleições. Naquele momento, dos dez municípios da

Baixada Fluminense, seis já estavam habilitados na condição mais avançada

de gestão. Com o início da nova gestão estadual em 1999, (Antony Garotinho,

PDT - PT) e a nomeação de um secretário com experiência e tradição na

militância pelo SUS, retomou-se o processo de implantação do SUS no âmbito

estadual.

12 Nessa gestão também foram nomeados três secretários de estado de saúde: Antônio Luiz Medina (1995), Ivanir Martins de Mello (1996) e Rosangela Bello (1998)

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2. O MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS

2.1 - Características demográficas e sociais

Duque de Caxias é um dos onze municípios que compõem a área

geográfica localizada entre a costa e os maciços litorâneos, denominada

Baixada Fluminense, que por sua vez pertence à Região Metropolitana do Rio

de Janeiro. Foi elevado à categoria de município em 1943 e antes desta data

era distrito de Nova Iguaçu.

Desde a emancipação, vários fatores econômicos e sociais contribuíram

para o crescimento populacional desse município que, nas suas três primeiras

décadas de existência, aumentou em 1422%. Ainda na década de 40,

ocorreram melhorias na via férrea e a instalação da Fábrica Nacional de

Motores (FNM) no 4º distrito (Xerém). Na década de 1960, a instalação da

Refinaria de Duque de Caxias (REDUC) e a formação de um complexo

industrial composto por petroquímicas e distribuidoras de gás de cozinha e

combustível constituíram-se em atrativo à migração de habitantes do interior do

Rio de Janeiro e de outros estados.

Outro fator que concorreu para o aumento populacional em Duque de

Caxias, ainda na década de 1960, foi a especulação imobiliária na cidade do

Rio de Janeiro, quando parcela da população carente deste município, em sua

maioria de baixa escolaridade e sem qualificação profissional, transferiu-se

para municípios próximos, mantendo vínculo empregatício no centro da

metrópole. Contudo, segundo Albuquerque, (1994:89) e Lago (2000), essa

ocupação crescente não teria sido acompanhada de obras suficientes de infra-

estrutura urbana.

Segundo IBGE, esse município é o quarto do estado em população,

cuja projeção para ano 2000 foi de 754.489 habitantes.13 A densidade

demográfica revela-se alta, de 1.535,5 habitantes/Km2, e o crescimento

13 Dados preliminares do Censo de 2000 para Duque de Caxias apontam uma taxa de crescimento de 1.90 entre 1996 e 2000 e população de 770.858 habitantes em agosto/2000 (Fonte:\\:www.ibge.gov - abril de 2001)

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populacional, acelerado. A taxa média geométrica de crescimento anual para

os anos de 91/96 foi de 1,38%, muito maior do que as médias do estado

(0,92%) e da região metropolitana (0,76%).

Tabela 1: Estimativa para o ano 2000 da população do Estado do Rio de Janeiro, Região Metropolitana e dos quatro municípios fluminenses mais populosos

Local População Estado do Rio de Janeiro 13.905.404Região Metropolitana 10.506.782Município do Rio de Janeiro 5.610.528São Gonçalo 878.013Nova Iguaçu 870.988Duque de Caxias 754.489

Fonte: IBGE – Anuário Estatístico do Rio de Janeiro – 1998

O município de Duque de Caxias é composto por quatro distritos: Duque

de Caxias (distrito sede), Campos Elíseos, Imbariê e Xerém. É basicamente

urbano e, segundo os dados do IBGE para 1998, essa localidade possuía uma

taxa de urbanização de 99,38%, a população rural concentrava-se nos distritos

de Imbariê e Xerém.

Tabela 2: População do Município de Duque de Caxias segundo distrito - 1996

Distritos População1º - Duque de Caxias 332.5962º - Campos Elíseos 216.2173º - Imbariê 119.1824º - Xerém 47.094Total 715. 089

Fonte: IBGE – Anuário Estatístico do Rio de Janeiro – 1998

Os dados econômicos apontam o município de Duque de Caxias como o

terceiro pólo industrial do estado (o primeiro é o município do Rio de Janeiro e

o segundo é o município de Petrópolis) e o segundo em receita corrente,

conforme mostra a tabela abaixo (tabela 3).14

14 Dados relativos à renda per capita ou rendimento familiar não estão disponíveis por município.

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Tabela 3: Receita corrente no estado do Rio de Janeiro, Região Metropolitana, capital do estado e Duque de Caxias – 1997

Local/receita TOTAL Rec. Tributária Patrimonial Industrial Transfer.

correntes Outras receitas

Estado 4.523.216.404 1.893.949.681 92.674.836 1.738.655 2.232.969.564 301.883.668R. Metropolitana 3.335.416.346 1.673.756.794 84.592.696 43.810 1.352.908.325 224.114.721R. de Janeiro 2.459.616.571 1.406.176.012 81.475.527 - 825.784.325 146.180.674D. de Caxias 201.140.187 36.661.798 10.575 - 154.692.733 9.775.081Fonte: IBGE – Anuário Estatístico do Rio de Janeiro – 1998

Os indicadores sociais, que em muito auxiliariam na caracterização do

município, quando disponíveis, encontram-se defasados, uma vez que, em sua

maioria, são baseados em informações do Censo de 1991. Há exceção quanto

aos dados relativos à educação, cuja referência é do ano de 1996.

Como mostra a tabela 4, o grau de escolaridade em Duque de Caxias é

relativamente baixo, já que cerca de 9% da população acima de 20 anos, em

1996, não possuíam nenhum grau de instrução e 63% tinham menos de 8 anos

de estudo. Na faixa etária de 20 a 34 anos apenas 30% dos habitantes

possuíam entre 9 e 11 anos de estudo, o que equivaleria à possibilidade de

terem concluído o primeiro grau e alcançado o segundo.

Tabela 4: Taxa de escolaridade por anos de estudo –Duque de Caxias –1996

Anos de estudo 20 a 34 35 a 49 50 a 59 60 e + Total Frequência acumulada

Sem instrução 2,58 6,61 15,84 31,8 8,88 8,9Menos de 1 ano 0,19 0,37 0,72 1,04 0,41 9,31 ano 1,59 2,82 5,21 6,93 3,04 12,32 anos 3,08 5,23 8,33 9,02 5,09 17,43 anos 5,18 7,65 11,14 10,21 7,28 24,74 anos 11,87 20,09 23,54 19,73 16,85 41,65 a 7 anos 24,52 20,06 15,99 11,06 20,48 62,68 anos 19,42 15,44 9,25 5,07 15,24 77,39 a 11 anos 26,28 15,93 6,94 3,53 17,96 95,212 anos ou mais 4,45 4,72 2,39 1,07 3,9 99,1Ignorado 0,84 1,08 0,64 0,55 0,86 100,0Total 100 100 100 100 100

Fonte: SES e IBGE. Informação contida no \\ www.saude.rj.gov.br.

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Outra forma de averiguar o grau de escolaridade de parcela da

população é a consulta ao banco de dados do SINASC, onde podemos

constatar a presença de mães sem nenhuma escolaridade em todas as faixas

etárias, como mostra a tabela 5. Outro fato que chama a atenção é o elevado

percentual de mães com apenas o primeiro grau incompleto (54%).

Tabela 5: Escolaridade materna segundo faixa etária – Duque de Caxias – 1998

Faixa Etária

Nenhuma 1º grau incomp.

1º grau completo

2º grau completo

Superior Ignorado

10 a 14 2,7 80,3 4,1 0,0 0,0 12,9 15 a 19 1,3 67,5 17,2 7,0 0,1 6,9 20 a 29 1,6 51,5 21,4 17,2 1,8 6,6 30 a 39 2,7 46,1 22,0 18,9 4,2 6,2 40 e + 3,1 60,0 14,5 11,7 3,1 7,9 Ignorado 1,3 47,4 16,7 21,9 2,6 10,1 Total 1,8 54,1 20,3 15,2 2,0 6,7

Fonte: SINASC – Informação contida no \\ www.saude.rj.gov.br. (Elaboração própria)

Quanto as indicadores de mortalidade, como mostra a tabela 6, são

recentes. O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) permite a

elaboração de séries históricas: nos três anos analisados, 1996, 1997 e 1998,

as doenças do aparelho circulatório aparecem como primeira causa morte,

seguidas pelas causas externas e pelos sintomas, sinais e achados anormais

(capítulo XVIII). 15

No município de Duque de Caxias, em 1998, as doenças do aparelho

circulatório ocuparam o primeiro lugar (23,7%), as causas externas o segundo

(17,5%) e as causas mal definidas o terceiro (17%).

Das causas externas da mortalidade , consideradas no capítulo XX da

CID 10, 55% foram ocasionadas por agressão com arma de fogo,

correspondendo a 9,6% do total de óbitos no município naquele ano, o que

configura alto índice de violência urbana.

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Tabela 6: Principais causas de mortalidade, segundo CID 10 Duque de Caxias – 1996 – 1998

Capítulo/Causa 1996 1997 1998 IX. Doenças do Aparelho Circulatório 26,2 26,6 23,7 XX. Causas Externas de Morbidade e Mortalidade 16,5 17,5 17,5 XVIII. Sint Sinais e Achad Anorm Ex Clín e Laborat 13,5 12,9 17,0 X. Doenças do Aparelho Respiratório 10,9 9,7 9,4 II. Neoplasias (Tumores) 9,4 9,6 9,6 I. Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias 6,1 5,1 5,4 Fonte: SIM. Informação contida no \\ www.saude.rj.gov.br. (Elaboração própria)

No que refere à mortalidade por sintomas e achados, 91% das mortes

(ou 15% do total de óbitos) foram atribuídas a causas mal definidas. Como era

de se esperar, a proporção elevada desta classificação pode indicar tanto a

qualidade ruim do preenchimento do formulário quanto a dificuldade no acesso

aos serviços de saúde. 16

2.2 - A situação ambiental de Duque de Caxias

Dois problemas relativos ao meio ambiente merecem ser enfocados: a

contaminação do solo por organoclorado, na localidade de Cidade dos Meninos

e o aterros sanitários que receberam, durante muitos anos, lixo da cidade do

Rio de Janeiro e de outros municípios limítrofes de forma inadequada.

A contaminação por organoclorado (hexaclorociclohexano - HCH) foi

constatada a partir de 1989, quando houve denúncia nos meios de

comunicação de que um inseticida altamente tóxico estava sendo

comercializado em feira livre no centro do município. As investigações

comprovaram a existência de grande quantidade de HCH ainda in natura em

uma fábrica desativada no bairro Cidade dos Meninos (Bastos, 2000; Mello,

1999; Oliveira, 1994).

15 O ano de 1999 não foi contemplado por ter havido modificações no formulário, com inclusão de novas variáveis. Contudo, neste ano, não foram observadas alterações das principais causas de morte em relação aos anos anteriores. 16 Esta informação está contida no \\ www.saude.rj.gov.br/indicadores.

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Essa fábrica, inaugurada em 1950 para produzir inseticidas a fim de

controlar e/ou erradicar vetores cujas doenças na época provocavam grandes

danos à saúde pública, fora desativada em 1961. O inseticida produzido teve

seu uso restrito em 1985 devido à comprovação de danos à saúde da

população exposta.

No início da década de 90, estudos toxicológicos e clínicos

comprovaram a presença do produto em solo, frutas, leite bovino, leite e

plasma humano nos arredores da antiga fábrica. Em 1995 houve tentativa de

descontaminação do solo com a adição de cal (óxido de cálcio). Entretanto,

pesquisa recente comprovou que, por causa da técnica usada e das

características do solo e da vegetação local, houve aumento da concentração

do produto em determinadas áreas (Bastos, 1999).

Os aterros sanitários, segundo o responsável pela coordenadoria de

Vigilância Sanitária, são de responsabilidade da Companhia de Limpeza

Urbana (COMLURB). Um deles, localizado no bairro Gramacho, ainda recebe

lixo de vários municípios da Região Metropolitana mediante pagamento ao

órgão gerencial. O outro, localizado próximo à divisa com o município do Rio de

Janeiro, há alguns anos não recebe mais resíduos, tendo sido ocupado por

grupo populacional de baixa renda.

2.3 - Histórico da atenção à saúde

Até 1967, a assistência pública à saúde em Duque de Caxias era

prestada pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) mas apenas o IAP

dos Bancários (IAPB) possuía ambulatório próprio e os outros institutos

mantinham convênio com a rede privada. Havia ainda o Serviço de Assistência

Médica e Domiciliar de Urgência (SAMDU), que era mantido pelos diversos

institutos e atendia à população independente da categoria ou vínculo

empregatício.

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Serviços municipais de saúde foram criados ao final da década de 1960.

Em 1966, o prefeito eleito pelo partido de oposição17 (MDB) tinha por uma de

suas metas de governo a criação de uma rede assistencial própria. Em 1968, a

prefeitura recebeu como doação de uma instituição filantrópica dois hospitais,

que foram inaugurados em 1969 e 1970, constituindo-se assim rede própria.

Naquela época, segundo Rosa (1990), os limites entre o público e o

privado eram pouco nítidos, e se confundiam para os administradores, já que o

diretor do Departamento de Saúde era também dono de uma casa de saúde

localizada no município e de certa forma incentivava profissionais médicos do

setor privado a manterem vínculo com a rede municipal de saúde, alegando

uma espécie de intercâmbio que em tese auxiliaria o funcionamento dos

hospitais municipais.

A fim de promover a distribuição da oferta de serviços ambulatoriais, a

gestão municipal da época (1969) desapropriou terrenos para a criação de

subpostos de saúde no 2º e 3º distritos. Esses foram construídos e deveriam

ser mantidos pelo governo estadual. Em razão de dificuldades para fixação e

supervisão dos funcionários, essas unidades funcionavam precariamente e a

população local pouco utilizava esses serviços, pois preferia deslocar-se para o

distrito sede em busca de assistência (Rosa, 1990).

Em 1971, durante o período da ditadura militar, Duque de Caxias foi

considerada área de segurança nacional devido à localização, no município, da

REDUC. A partir de então, o prefeito passou a ser nomeado e não mais eleito

diretamente pela população. Os vereadores, que continuaram a ser eleitos,

tinham por hábito a distribuição de favores em troca de votos, incentivando

práticas clientelistas (Albuquerque, 1994).

A contratação de pessoal desqualificado para trabalhar no hospital geral

foi um exemplo de prática clientelista, que na opinião de um dos entrevistados

gerou dificuldades administrativas que perduraram por muitos anos.18

(Entrevistado 2)

17 Posteriormente, esse prefeito mudou de partido. Naquela época, da ditadura militar, havia apenas dois partidos: ARENA e MDB 18 Naquela época, ainda não havia a exigência da realização de concurso público para preenchimento de vagas no âmbito do município. Esta exigência só foi estabelecida com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

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Em 1975, teve início o Projeto Baixada que foi financiado pelo Ministério

da Previdência e Assistência Social (MPAS). Este projeto teve por finalidade

aumentar a oferta de serviços assistenciais de caráter individual, sobretudo,

mediante contratação de serviços da rede privada, além de potencializar os

atendimentos ambulatoriais na rede pública. Tal projeto contribuiu para que, em

fins da década de 70, Duque de Caxias concentrasse uma das maiores rede de

serviços contratados do Estado.

Ao final dos anos de 1970, o atendimento ambulatorial à população

vinculada ao INPS era prestada através de quatro Postos de Assistência

Médica (PAM) e ambulatórios contratados, além 26 serviços auxiliares de

diagnóstico e tratamento. A atenção hospitalar era viabilizada por 1450 leitos

contratados em dezesseis casas de saúde.

A população não vinculada ao INPS tinha acesso à assistência

hospitalar através de dois hospitais municipais (o Geral, cujos serviços

oferecidos eram pronto-atendimento, maternidade, clínica médica e cirúrgica; e

o Pediátrico), identificados como de baixa complexidade e resolutividade. O

atendimento ambulatorial ficava a cargo do governo estadual, que mantinha no

município um centro de saúde e sete subpostos que funcionavam

precariamente por causa das dificuldades já citadas (Albuquerque,1994).

A década de 1980 foi marcada por crise econômica e política em nível

nacional que repercutiu em várias instituições da sociedade. Diversos atores

mobilizaram-se em torno do tema saúde e difundiram-se propostas

racionalizadoras, como as AIS.

Em Duque de Caxias, no início da década de 1980, a atenção médica

previdenciária caracteriza-se pelo favorecimento do setor privado em

detrimento da rede pública, inclusive com o fechamento temporário do Hospital

Geral. Segundo Albuquerque (1994), a orientação vigente era a transferência

de pacientes para a rede contratada, independente da existência de vagas nos

hospitais públicos. Os serviços de diagnose e terapia também deveriam ser

solicitados aos estabelecimentos conveniados.

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Não bastasse o abandono dos hospitais públicos, eram também

freqüentes as queixas alusivas à péssima qualidade do atendimento dos

serviços contratados. Esta realidade contribuiu para que diferentes setores da

sociedade (associação de moradores, sindicato dos médicos, Igrejas Católica e

Metodista) buscassem se organizar e unir para reivindicar melhorias no

atendimento, especialmente, mediante o aumento da oferta de serviços

públicos e descredenciamento de alguns estabelecimentos privados. Essa

mobilização teve como um dos resultados a constituição dos Conselhos

Comunitários de Saúde em meados da década de 1980 (Albuquerque, 1994).

A partir de 1984, teve início a implementação das AIS em Duque de

Caxias. Este programa tinha como um dos objetivos aumentar a cobertura

ambulatorial a toda população, inclusive aos não vinculados à Previdência

Social. Em Duque de Caxias, a opção inicial foi pelo plano de instalação de

módulos simplificados vinculados às associações de moradores, também como

ardil, por parte da administração municipal, para desmobilizar a organização

popular em torno do tema, já que as reuniões eram marcadas no mesmo dia e

horário dos conselhos comunitários de saúde (Albuquerque, 1994). (Entrevista

17)

Em 1985, com o retorno da eleição direta para o chefe do executivo

municipal, assumiu a prefeitura um candidato vinculado a um partido de centro-

esquerda (o mesmo do então governador Leonel Brizola - PDT). No primeiro

ano de mandato, houve tentativa de moralizar a Secretaria de Saúde, com

exigência de cumprimento de horário por parte dos profissionais e

transparência na utilização dos recursos destinados ao setor. Tais medidas

provocaram confrontos até com o prefeito, trouxeram ainda ameaças anônimas

à secretária municipal de saúde, fazendo com que ela se afastasse do cargo no

segundo ano de exercício da função. (Entrevista 2)

A partir de 1987, já sob vigência do SUDS, houve investimentos por

parte dos governos federal e estadual na recuperação e na ampliação da rede

de serviços públicos. Foram construídas três unidades mistas e viabilizada a

construção de mais duas por intermédio de acordos firmados com a Shell e

com a Petrobrás. Estas unidades iriam fazer parte do Programa Especial de

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Saúde da Baixada – PESB que, com o prosseguimento do processo de

descentralização em curso, deveriam vir a ser repassadas ao município.

Inicialmente houve resistência por parte da gestão municipal em assumir

unidades de outras esferas de governo. Duque de Caxias foi o último município

da Baixada Fluminense a assinar o convênio de municipalização – o processo

teve início em 1988 e só foi firmado em 1991. Tal fato teria ocorrido em razão

da precariedade da estrutura administrativa deste município, além do receio,

por parte dos gestores, da restrição e/ou da não continuidade de transferências

financeiras correspondentes (Bodstein et al., 1999).

O repasse das unidades do PESB ocorreu ao final da gestão do

governador Moreira Franco, em 1990, quando estas já encontravam-se

sucateadas e seus profissionais insatisfeitos com as condições de trabalho e

com os salários. Esses funcionários, antes vinculados ao Instituto Vital Brazil,

foram transferidos para o quadro de pessoal do estado, numa época de

extrema defasagem salarial. (Entrevista 2 e 17)

Outro agravante da situação foi o fato de as unidades herdadas do

INAMPS (quatro PAMs) funcionarem em prédios alugados, com grande parte

dos serviços terceirizados, havendo, ainda, falta de manutenção dos

equipamentos. Como disse um entrevistado, com o passar do tempo o

município teve que ir se desfazendo das unidades. O único ganho herdado do

INAMPS teria sido os recursos humanos, que eram mais preparados

tecnicamente do que os funcionários do município e acompanhavam mais

atentamente as modificações na área da saúde. Esse profissionais deram

suporte gerencial e administrativo à SMS/DC e muitos fazem parte do quadro

de pessoal até os dias de hoje .(Entrevista 2)

Apesar desse quadro, Duque de Caxias foi um dos sete municípios do

estado e o único da Baixada Fluminense a ser habilitado pela NOB SUS 1/93

em gestão semiplena porque, quando o INAMPS e o estado repassaram suas

unidades, o município herdou a capacidade instalada. Todavia, como

mencionado acima, alguns destes estabelecimentos funcionavam em prédios

alugados e foram desativados em seguida, devido à falta de recursos para

mantê-los. (Entrevista 2)

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As dificuldades iniciais do processo de municipalização da saúde em

Duque de Caxias, segundo Bodstein et al, (1999), só foram superadas em

1995, quando o município passou à gestão semiplena e obteve maior

autonomia financeira. Este município, caracterizado inicialmente por oferecer

atendimentos mais simples, com rede básica pouco resolutiva, assistência

secundária insuficiente e praticamente sem oferta de procedimentos de nível

terciário, com a descentralização e maior alocação de recursos,

progressivamente, segundo as autoras, alcançou melhorias na oferta de

serviços e aumento da capacidade do setor público. A ressalva surge em

virtude de a gestão municipal ainda não ter conseguido responder à demanda

por procedimentos de média e alta complexidade.

Atualmente, o município de Duque de Caxias está habilitado segundo a

NOB SUS 1/96 em gestão plena do sistema. Para a adoção das funções

pertinentes a essa condição de gestão, sua Secretaria de Saúde estruturou-se

com base em três departamentos - Saúde, Administração e Suprimento e

Farmácia - e seis coordenadorias. Estas últimas possuem funções distintas,

conforme discriminação abaixo:

• Saúde Coletiva - Engloba duas divisões: Epidemiologia, responsável pelas

ações de vigilância epidemiológica e de organização, controle e análise dos

registros de dados vitais; e a de Implantação de Programas de Saúde,

responsável pela coordenação dos programas de saúde pública.

• Saúde Individual – Responde pelo controle e coordenação de ações nas

unidades de saúde do município, com atenção especial para a alocação de

recursos humanos.

• Vigilância, Fiscalização e Controle de Zoonoses – Responsável pelo

controle de zoonoses e de doenças causadas pela água, alimentos e

condições insalubres de trabalho. Deve também fiscalizar e reprimir

situações que causem riscos à saúde de indivíduos e coletividades e, ainda,

fornecer as devidas orientações.

• Planejamento – Tem por função traçar estratégias diante dos problemas de

saúde e limitações dos serviços, valendo-se de dados epidemiológicos e

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gerenciais. Coordena a elaboração do Plano Municipal de Saúde e do

Relatório de Gestão, além de elaborar projetos.

• Controle e Avaliação e Auditoria – Deve coordenar, fiscalizar e realizar

auditorias de serviços públicos e contratados pelo SUS, cadastrar e

descredenciar serviços, emitir e controlar o fluxo de AIH e Autorização para

Procedimentos de Alto Custo - APAC, além de processar a produção de

serviços. Deve ainda controlar o faturamento de todas as unidades da rede.

• Informática – Responsável pelo suporte de informática a coordenadorias e

unidades por meio da produção de softwares, de administração de cursos e

de busca e consolidação de dados da Internet. (SMS/DC, 1999; entrevistas

1 e 3)

Conforme podemos verificar no organograma da Secretaria Municipal de

Saúde de Duque de Caxias (Anexo 4), o Departamento de Saúde agrega as

Coordenadorias de Vigilância, Fiscalização e Controle de Zoonoses; Saúde

Individual e a de Saúde Coletiva. Já o Departamento de Administração engloba

as Coordenadorias de Informática; Planejamento e de Controle e Avaliação. Há

ainda um gerente geral e dois gerentes distritais que permanecem vinculados

ao setor de Planejamento, com a finalidade de proporcionar melhor controle da

situação das unidades assistenciais do município e favorecer a adequação do

orçamento e planejamento às necessidades locais. Essa estrutura

organizacional é recente, de fins de 1999 e, em termos gerenciais e

administrativos, ainda não está consolidada. (Entrevistas 1, 2 e 3).

O capítulo seguinte detalha a maneira como as exigências preconizadas

pela NOB SUS 1/96 estão sendo assumidas por Duque de Caxias, conforme os

âmbitos de análise mencionados.

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CAPÍTULO IV – DIMENSÕES ANALÍTICAS DA IMPLEMENTAÇÃO DA NOB 96 EM DUQUE DE CAXIAS: RESPONSABILIDADES DO EXECUTIVO MUNICIPAL

O município de Duque de Caxias foi habilitado em gestão plena do

sistema em junho de 1998 e deveria desde então assumir as recomendações

preconizadas pela NOB SUS 1/96 para essa condição de gestão. Neste

capítulo, descreve-se e analisa-se a prática de tais competências no plano de

ação local, bem como são identificadas e discutidas as dificuldades para a

adoção das mesmas e, conseqüentemente, para a implementação do SUS

municipal. A análise está organizada em cinco âmbitos. Os quatro primeiros

estão relacionados aos campos de responsabilidades arroladas na Norma e

são os seguintes: organização da rede e oferta de serviços de saúde; ações de

vigilância sanitária e epidemiológica; planejamento setorial; sistema de

controle, avaliação e auditoria. O quinto âmbito refere-se ao balanço

orçamentário do setor, e está sendo contemplado em virtude da relevância da

alocação de recursos para a implementação das medidas prescritas.

1. ORGANIZAÇÃO DA REDE E OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE

Dentre as diversas responsabilidades preconizadas pela NOB SUS 1/96,

merecem destaque aquelas diretamente relacionadas à oferta de serviços

assistenciais à população. São elas: gerência de unidades próprias e de outras

dimensões de governo (salvo decisão contrária da CIB); garantia da prestação

de serviços em seu território e/ou referência; administração da oferta de

procedimentos de alto custo e de alta complexidade; atualização do cadastro

de unidades assistenciais; criação, regulação e operação de centrais de

controle de procedimentos.

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A princípio, a finalidade da assunção desse conjunto de

responsabilidades pela esfera municipal consistiria na garantia do acesso dos

munícipes às ações de promoção, prevenção e recuperação em todos os

níveis de complexidade da atenção à saúde de forma organizada, visando ao

atendimento integral. Para atender a tal quesito, um município deveria dispor

de uma rede de serviços próprios e/ou contratados, sendo ainda necessário o

estabelecimento de pactos intermunicipais.

Em Duque de Caxias, os serviços assistenciais no âmbito do SUS são

disponibilizados para a população através de unidades de diferentes graus de

agregação tecnológica, sem, no entanto, oferecer procedimentos de alta

complexidade. Para apreensão das características e abrangência dos serviços

oferecidos, a opção foi a separação da atenção local à saúde em: ambulatorial,

incluindo procedimentos de diagnose e terapia; e hospitalar. Em seguida, é

realizada análise sobre a articulação da rede e a hierarquização dos serviços.

1.1 - Atenção ambulatorial

• Oferta de serviços

A assistência de caráter ambulatorial vinculada ao SUS em Duque de

Caxias é disponibilizada à população por unidades com diferentes graus de

agregação tecnológica.

Considerando a complexidade do atendimento e o tipo de serviço

prestado, os estabelecimentos ambulatoriais públicos podem ser classificados

em: rede básica (unidades comunitárias, postos de saúde, centro de saúde e

unidades ambulatoriais próprias com pronto-atendimento); atendimento

ambulatorial especializado (Posto de Assistência Médica); centros de

reabilitação e prevenção de deformidades; e um “centro odontológico” que

apesar desta denominação, possui apenas um ambulatório cadastrado. Há

ainda, vinculadas ao SUS, unidades ambulatoriais privadas e unidades

ambulatoriais em hospitais públicos e privados.

A fim de facilitar a compreensão dos serviços ambulatoriais ofertados

pelo SUS à população no município em estudo, segue uma breve descrição da

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rede, categorizada por natureza (público e privado) e, na medida do possível,

por nível de agregação tecnológica, uma vez que alguns dos estabelecimentos

oferecem tanto atendimento básico, quanto especialidades clínicas, o que

dificulta a classificação.

Rede básica – públicas:

1) Unidades comunitárias – Em número de 48, situam-se em bairros

periféricos. São de menor complexidade e encontram-se vinculadas às

associações de moradores. Dispõem de atendimento em pediatria e clínica

médica em alguns dias da semana. Não mantêm em seu quadro de pessoal

qualquer outro profissional além dos médicos, seja atendente ou auxiliar de

enfermagem. Algumas destas unidades oferecem também consulta de

ginecologia. A gerência imediata fica a cargo da diretoria da associação de

moradores, que ainda controla horário dos profissionais médicos. Um terço

dessas unidades possuem equipes de PSF implantadas ou em fase de

implantação. Estes estabelecimentos tiveram a planta física adaptada e/ou

transformada para abrigar módulos do PSF. (Entrevistas 3 e 5)

2) Postos de Saúde – Totalizam 8 unidades também situadas em áreas

periféricas. Estes postos têm por principal característica o funcionamento de

alguns programas de saúde pública, principalmente o da criança com todas

as ações implantadas. A gerência destes serviços nem sempre é exercida

por profissional de nível superior. Em algumas destas unidades, o

atendimento é garantido mediante marcação de consultas para os

programas e distribuição de senha no dia anterior ao previsto para os

atendimentos de clínica médica , ginecologia e pediatria. (Entrevista 16)

3) Centro Municipal de Saúde – É a unidade de referência para os programas,

exceto adolescente e idoso. Funciona como pólo do programa de vacinação

e do serviço de epidemiologia e coordena as ações nos quatro distritos. O

acesso às consultas ocorre por meio de marcação prévia e da distribuição

de senha para o mesmo dia. Por estar localizado próximo à estação

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rodoviária municipal e junto à divisa com outros municípios, recebe

pacientes de várias localidades. Os diretores afirmam que com a

descentralização do setor e adoção por parte da gestão municipal de ações

e serviços antes exercidos por outras esferas de governo, a equipe da

unidade tem-se mostrado sobrecarregada. (Entrevista 11)

4) Postos médico-sanitários – A principal característica destas cinco unidades

é o funcionamento 24 horas por dia, prestando serviço de pronto-

atendimento para emergência clínica e pequenos traumatismos, devendo

para tal manter em funcionamento laboratório de análises clínicas e serviço

de radiologia. Não atende grande emergência, que, em geral, é transferida

para hospitais públicos dentro e fora do município. Além desse caráter

emergencial, essas unidades possuem alguns programas implantados e

dispõem de especialidades clínicas durante o dia. Possuem ainda leitos de

observação por 24 horas (que não caracterizam internação e nem podem

emitir AIH). Dos cinco postos médico-sanitários, três são remanescentes

das unidades do antigo Programa Especial de Saúde da Baixada - PESB,

mantendo em seu quadro profissionais da SES/RJ. (Entrevistas 13 e 17)

Atendimento ambulatorial especializado:

O Posto de Assistência Médica (PAM) é a única unidade reconhecida de

média complexidade por oferecer um grande número de especialidades.

Anteriormente pertencente ao antigo INAMPS, foi municipalizado em 1995 e,

desde então, programas preconizados pelo Ministério da Saúde têm sido

incorporados ao seu atendimento. Não realiza pronto-atendimento e possui em

seu quadro grande número de profissionais federais. Por estar localizada

próximo ao centro do município e oferecer várias especialidades, essa unidade

também recebe pacientes de todos os distritos e de cidades vizinhas. Apesar

de ser reconhecidamente a unidade que oferece maior número de

especialidades, o acesso ao atendimento não é referenciado. São distribuídas

senhas pela manhã, gerando filas (exceto o atendimento nos programas que é

marcado previamente). Mesmo os pacientes que são encaminhados pelas

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unidades básicas enfrentam a mesma fila de porta de entrada. Não há triagem,

o que implica, muitas vezes, em atendimentos que poderiam ser realizados nas

unidades de menor complexidade, pois ocupa-se horário na agenda do

especialista sem que haja uma demanda específica. (Entrevista 2 e 10)

Centros de Reabilitação:

1) CEATA - Centro de Atenção Total ao Adolescente – Esta unidade presta

atendimento ambulatorial ao adolescente usuário de substância química,

nas especialidades de clínica médica, neurologia, psiquiatria, psicologia,

serviço social, pedagogia e arte-terapia;

2) CEAPD - Centro de Atenção ao Portador de Deficiência – Esta unidade

oferece, principalmente, acompanhamento fisioterápico ao portador de

deficiências que impliquem em empecilhos na mobilidade física, sem, no

entanto, incorporar aparelhagens de maior complexidade tecnológica.

Centro Odontológico

Esta unidade possui apenas um consultório e, segundo o guia de

serviços assistenciais da SMS/DC, atende a todas as faixas etárias inclusive

gestantes e lactantes, além de crianças com necessidades especiais.

O quadro a seguir resume a disponibilidade de serviços ambulatoriais

públicos em Duque de caxias.

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Quadro 6: Oferta de serviços públicos ambulatoriais/SUS em Duque de Caxias - 2000

Tipo Nº

unidades Nº Consult.

Programas/Ações Especialidades/ Atendimento

Unidades comunitárias

32 46 _ Clínica Médica e Pediatria

Unidades comunitárias c/ PSF ou módulo de PSF

16 (*) 16 Vacinação, pré natal Clínica Médica, Pediatria e Ginecologia e/ou equipe PSF

Postos de saúde

8 30 Mulher e da criança (7); diabetes, hipertensão e idoso (1)

Ginecologia, Pediatria e Clínica Médica (7); odontologia (2) cardiologia, nutrição e psicologia (1);

Posto médico-sanitário

6 46 Hipertensão (6); Criança (6); Mulher (5); Diabetes (5); Saúde Mental (4); Hanseníase (2); DST – AIDS (1)

Clínica Médica, Pediatria e Ginecologia (6); Odontologia, Serviço Social e Nutrição (5); Cardiologia e Dermatologia (3); Endoscopia e Alergia (1).

Centro de Saúde

1 29 Mulher, Criança, Saúde Mental, Tuberculose, Diabetes, Hipertensão, Hanseníase, DST/AIDS, atendimento à população carcerária

Referência para Programas, exceto Adolescente e Idoso

PAM 1 26 Criança, Mulher, adolescente, Idoso, Hipertensão. (Referência para especialidades)

Ginecologia, Urologia, Cardiologia, Pediatria, Clínica Médica, Dermatologia, Neurologia, Pneumologia, Reumatologia, Oftalmologia, Nutrição e Serviço Social.

Centro de Atenção ao Portador de Deficiências

1 15 Terapia ocupacional, Fisioterapia, Estimulação Precoce.

Clínica Médica, Pediatria, Neurologia, Psicologia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Serviço Social.

Centro de Atenção Total ao Adolescente

1 3 Adolescente usuário de substâncias químicas

Clínica Médica, Neurologia, Psiquiatria, Psicologia, Serviço Social, Pedagogia, Arte-terapia.

Centro odontológico

1 1 Todas as faixas etárias inclusive gestantes e lactentes

Odontologia.

Total 67 212 Fonte: Guia Informativo 1999/2000 - SMS/DC, Cadastro de Unidades da SES/RJ, informações primárias coletadas junto a Coordenação de Controle Avaliação e Auditoria da SMS/DC. Elaboração própria. (*) Com a implantação do PSF, algumas unidades comunitárias estavam sendo ampliadas.

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Unidades ambulatoriais contratadas

Em número de dez, estas unidades, em sua maioria pertencentes a

estabelecimentos de caráter filantrópico, oferecem consultas em neurologia,

dermatologia, alergia, clínica médica, pediatria, odontologia, fisioterapia e

pronto-atendimento de ortopedia, como observado no quadro 7.

Quadro 7: Oferta de serviços ambulatoriais privados contratados pelo SUS em Duque de Caxias –2000

Unidade Consultórios Atendimento/especialidade ABEFAF 2 Fisioterapia ACEBS – Associação Cultural e Educacional Benízio Silva

4 Clínica Médica, Pediatria, Odontologia, Fisioterapia

AFE- Ambulatório Jamil Sabra 14 Clínica Médica, Pediatria AMISA 2 Fisioterapia ASPAS – Ambulatório Sagrada Face

2 Clínica Médica, Pediatria, Fisioterapia

ASPAS – Ambulatório S. Judas Tadeu

2 Clínica Médica, Pediatria, Fisioterapia

ASPAS – Serv. Médico Social Comunitário

2 Clínica Médica, Pediatria, Ginecologia

CREDUC 5 Fisioterapia Centro Social D. S. Reis 1 Fisioterapia CLINAM 9 Ortopedia TOTAL 43 Fonte: Guia Informativo 1999/2000 - SMS/DC, Cadastro de Unidades da SES/RJ, informações primárias coletadas junto à Coordenação de Controle Avaliação e Auditoria da SMS/DC. Elaboração própria.

Ambulatórios em unidades hospitalares

Tanto os hospitais públicos quanto os contratados mantêm consultórios

vinculados à SMS de Duque de Caxias. Nestes, os serviços são diversificados,

destacando pronto-atendimento e consulta de retorno para pós-operatório

como observado no quadro 8.

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Quadro 8: Ambulatórios próprios e contratados pelo SUS em Duque de Caxias - 2000

Unidade Consult. Regime Serviço

H. M. Duque de Caxias 11 Público Fisioterapia, SPA

H. I. Ismélia Silveira 18 Público SPA, Fisioterapia, DST/AIDS,

H. Maternidade de Xerém 07 Público DST/AIDS, Mulher, Criança

C. S. Stª Rita de Cássia 08 Privado Cardiologia, Urologia, Ortopedia.

C. S. e Mater. Santa Helena 07 Privado Ginecologia e obstetrícia

H. de Clínicas S. Paulo 2 Privado SPA ortopédico

TOTAL 53 Fonte: Guia Informativo 1999/2000 - SMS/DC, Cadastro de Unidades da SES/RJ, informações primárias coletadas junto à Coordenação de Controle Avaliação e Auditoria da SMS/DC. Elaboração própria.

Em síntese, considerando-se todos os estabelecimentos vinculados ao

SUS, Duque de Caxias possui 308 consultórios, sendo 80% públicos e 20%

privados. Caso o preconizado seja 3 consultas/hora, em um período de 8 horas

diárias e 22 dias úteis no mês, a capacidade instalada ambulatorial do

município seria suficiente para produzir 162.624 consultas mensais, ou seja,

1.951.488 consultas/ano.19

A produção de consultas médicas no município é melhor detalhada mais

adiante.

• Serviços de Diagnose e Terapia

Quanto à diagnose e terapia, Duque de Caxias mantém laboratórios de

análises clínicas e serviços de radiologia em unidades públicas mas ainda é

dependente do setor credenciado, como nos mostra o quadro 9.

19 A Consulta pública nº 01 de 08 de dezembro de 2000, que está sendo realizada pelo Ministério da Saúde, recomenda enquanto parâmetro de produtividade para o profissional médico o quantitativo de 04 consultas/hora.

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Quadro 9: Serviço de Diagnose e Terapia/SUS em Duque de Caxias segundo regime do prestador – 2000

Unidade Regime Serviço CEPEG Privado Ultra-sonografia, Anatomia

Patologia, Citologia vaginal CLINAM Privado Radiologia, Ultra-sonografia,

Citologia vaginal, Eletrocardiografia

AMISA Privado Radiologia Serv. Radiológico Duque de Caxias

Privado Radiologia

SASE – Caxias (Serviço Social Evangélico

Privado Tomografia computadorizada

SEPAC Privado Análises Clínicas Laboratório I. H. TIMM Privado Análises Clínicas Laboratório A. C. Salomão e Pardelhas

Privado Análises clínicas, Anatomia Patológica, Citologia

Laboratório Telmo Teixeira Privado Análises Clínicas Laboratório de Análises Clínicas São José

Privado Análises Clínicas

Laboratório Lavoisier Privado Análises Clínicas LABORAF Privado Análises Clínicas, Anatomia

Patológica e Citologia ASPAS – Ambulatório S. J. Tadeu Privado Análises Clínicas Microlâmina Privado Análises Clínicas Postos médico-sanitários Público Análises Clínicas e radiologia Hospital Infantil Ismélia Silveira Público Análises Clínicas e radiologia H. M. Duque de Caxias Público Análises Clínicas e radiologia Hospital Maternidade de Xerém Público Análises Clínicas e radiologia Hospital Geral Duque de Caxias (estadual)

Público Análises Clínicas, Anatomia Patológica, Hemoterapia e Radiologia

Fonte: Guia Informativo 1999/2000 - SMS/DC, Cadastro de Unidades da SES/RJ, informações primárias coletadas junto à Coordenação de Controle Avaliação e Auditoria da SMS/DC. (Elaboração própria)

Os exames realizados no município são de pequena e média

complexidade. A oferta no próprio município de procedimentos de alta

complexidade/alto custo resume-se à tomografia computadorizada em unidade

credenciada, que é disponibilizada exclusivamente para moradores do

município.

Alguns dos procedimentos de diagnose e terapia de alto custo não

oferecidos pela SMS/DC são disponibilizados através de pacto estadual. 20

Para a realização destes exames, é necessária autorização prévia de um dos

20 Esses exames são os classificados como diagnose 1, 2 e 3 (medicina nuclear), grupo de procedimentos de diagnose em oftalmologia e o conjunto de cirurgias em aparelho visual realizadas em ambulatório.

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supervisores médicos lotados na Coordenadoria de Controle, Avaliação e

Auditoria do município de residência do paciente, onde o pedido de exame é

encaminhado para a Central de Atendimento Integrado a Pacientes Externos –

CAIPE Rio, obedecendo a uma cota preestabelecida. No estado do Rio de

Janeiro, apenas a capital possui capacidade instalada (pública e credenciada)

para a realização desse grupo de procedimentos. 21

Para acesso ao exame de tomografia computadorizada, também é

necessária autorização do supervisor médico do serviço de Controle, Avaliação

e Auditoria da SMS/DC. Os pedidos de emergência emitidos por plantonistas

do Hospital Municipal de Duque de Caxias e pelo Hospital Infantil Ismélia da

Silveira, sob a responsabilidade dos diretores destas unidade, podem ser

encaminhados ao estabelecimento credenciado que realiza o procedimento

sem autorização prévia, estando, porém, sujeitos à auditoria posterior.

(Entrevista 7)

O município dispõe ainda de serviços de terapia renal substitutiva – TRS

cadastrados, e atende, além da população local, pacientes de outros

municípios. Esse tratamento é regionalizado pela esfera estadual, restando ao

município o controle e auditoria das unidades credenciadas e o pagamento do

prestador com base nos repasses federais específicos.

Outros procedimentos ambulatoriais considerados de alto custo

(oncologia e hemoterapia) são realizados em hospitais públicos da capital,

como estabelecido na PPI do estado. Todavia, é importante frisar que o pacto

refere-se ao prosseguimento do tratamento daqueles que já conseguiram

ingressar no sistema. A referência para o início do tratamento ainda não está

pactuada.

21 A CAIPE-Rio estipulou um dia para que cada secretaria municipal encaminhe as solicitações de exame. Esta central libera os pedidos já agendados em um prazo médio de dez dias. Segundo informação da SMS/DC, a cota estipulada é suficiente para atender a demanda de pedidos, excetuando o exame de “fotocoagulação a laser” que pertence ao grupo de procedimentos de diagnose em oftalmologia. (Entrevista 7)

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• Produção de consultas médicas

Em 1999, foram realizadas 1.588.844 consultas médicas/SUS no

município, significando aumento importante em relação aos anos anteriores

(1.437.391 em 1998 e 1.095.373 em 1997). Como exposto anteriormente, a

capacidade instalada ambulatorial/SUS, se utilizada durante oito horas diárias,

permitiria a realização de 1.951.488 consultas/ano. Em 1999, corresponderia a

uma relação de 2,6 consultas/habitante/ano. No entanto, como mostra o gráfico

abaixo, esse potencial não tem sido alcançado.

0 0,5 1 1,5 2 2,5

1997

1998

1999

Gráfico 1: Relação consultas/SUS por habitante em Duque de Caxias - 1997, 1998 e 1999

Fonte: SIA/SUS - SES/RJ Homepage: www\\saude.rj.gov.br\informação em saúde.

Elaboração própria

O aumento da produção de consultas médicas e, portanto, da relação

consulta/habitante é indicativo de melhoria no acesso ao sistema de saúde. É

preciso, porém, atenção para o fato de que aumento da oferta de serviços

ambulatoriais não implica necessariamente em melhora na possibilidade de

solução dos problemas de saúde da população.

É possível, com os dados que compõem o SIA/SUS, conhecer a relação

de alguns exames e procedimentos por consulta. Contudo, parâmetros

comparativos ainda não estão totalmente estabelecidos.22

Um dos procedimentos por consulta médica passíveis de análise é o

exame de patologia clínica, que nos anos estudados apresentou variações

importantes: aproximadamente 0,6 exames por consulta em 1997; 01 exame

81

22 A Consulta Pública nº 01 de 02 de dezembro de 2000, que está sendo realizada pelo Ministério da Saúde, objetiva estabelecer parâmetros assistenciais para o SUS (MS/SAS, 2000).

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por consulta em 1998; e 0,7 exames por consulta em 1999, como mostra o

gráfico a seguir. Chama atenção a variação no período estudado, embora estas

relações não sejam elevadas, se considerado o parâmetro recomendado pelo

Ministério da Saúde -0,6 exame por consulta, (MS/SAS, 2000).

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

1997

1998

1999

Gráfico 2: Relação exame de patologia clínica por consulta médica em Duque de Caxias - 1997, 1998 e 1999

Fonte: SIA/SUS Homepage: www\\saude.rj.gov.br\informação em saúde. (Elaboração própria)

A análise da assistência básica torna-se difícil, pois o item consulta

médica, variável do banco de dados do SIA/SUS, tem sofrido alterações, além

de considerar consultas básicas e de especialistas. Nesse aspecto, o SINASC

(Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) permite a elaboração de séries

históricas mais confiáveis, uma vez que entre 1996 e 1998 não houve

modificações significativas no formulário que alimenta este sistema. Ressalva-

se porém que este banco de dados abrange tanto procedimentos SUS como

não SUS.23

A atenção ao pré-natal é uma das variáveis observadas pelo SINASC e,

dada a simplicidade e relevância desse tipo de atendimento, será, no presente

estudo, empregada como indicador da cobertura da atenção básica.

Em Duque de Caxias, como mostra o gráfico a seguir, o percentual de

gestantes sem nenhuma consulta de pré-natal diminuiu no período estudado,

passando de 5,4% em 1997 para 3,0% em 1998. O grupo com até seis

consultas aumentou de 50,5% para 57,7% nos respectivos anos. Todavia, a

parcela de gestantes com mais de seis consultas, número considerado 23 Segundo a Pesquisa de Amostragem de Domicílios - Suplemento Saúde de 1998 (IBGE, 1999) a cobertura por plano de saúde na Região Metropolitana do Rio de Janeiro é de 36% da população. Dados por município não estão disponíveis.

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adequado para uma boa atenção, manteve-se constante, em torno de 34%,

conforme pode ser visualizado no gráfico a seguir.

0,010,020,030,040,050,060,0

1 2 31996 1997 1998

Gráfico 3: Nascidos vivos segundo número de consultas de pré-natal - Duque de Caxias -1996 - 1998

NenhumaAté 6Mais de 6Ignorado

Fonte: SINASC Homepage: www\\saude.rj.gov.br\informação em saúde

(Elaboração própria)

Em 1999, o percentual de gestantes com mais de 6 consultas aumentou

para 37,6%, representando melhora na atenção. Entretanto, alterações na

categorização dessa variável, impossibilitaram a inclusão dos dados referentes

a este ano na construção dessa série histórica. A julgar pela assistência ao pré-

natal, ainda insuficiente, a assistência básica em Duque de Caxias carece de

investimentos na organização dos serviços a fim de aumentar a cobertura

desse atendimento, já que o Ministério da Saúde preconiza o mínimo de 6

consultas para 100% da população gestante.

1.2 - Atenção hospitalar

• Oferta de serviços

A rede hospitalar/SUS, atualmente, compõe-se de três hospitais públicos

e cinco privados. Há, ainda, na localidade, um hospital estadual que não está

sob a gestão municipal. Este hospital só passou a integrar o cadastro de

unidades a partir do segundo semestre de 2000, apesar de ter sido inaugurado

em dezembro de 1998, no final do governo Marcello Alencar.

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O cadastro de unidades que integra o banco de dados do SIA-SIH/SUS

encontrava-se desatualizado, já que nele constavam serviços ambulatoriais e

hospitalares que haviam sido descredenciados por falta de interesse destes

prestadores privados em continuar vinculados ao sistema público de saúde,

dado os baixos valores pagos. (Entrevista 6)

A rede hospitalar atende especialidades básicas, sem oferecer

procedimentos de maior complexidade. O acesso às unidades públicas

acontece por demanda espontânea, pois a rede básica e ambulatórios

especializados não utilizam mecanismos formais de encaminhamento e o

sistema de referência não está institucionalizado. Geralmente, o profissional

que atende na rede ambulatorial sugere que o paciente procure a rede

hospitalar quando necessário, sem qualquer formalização.

Quadro 10: Rede Hospitalar/SUS segundo natureza do estabelecimento e serviços oferecido – Duque de Caxias - 2000

Unidades Hospitalares Nº leitos

Especialidades/serviços

Públicas 500 Hospital Municipal de Duque de Caxias 106 Clínica Médica, Obstetrícia, Cirurgia,

Endoscopia, Ortopedia. Hospital Infantil Ismélia da Silveira 82 Pediatria, Cirurgia Infantil, Cardiologia,

Dermatologia, Fisioterapia, Endocrinologia, Otorrinolaringologia, Odontologia, Oftalmologia

Hospital Maternidade de Xerém 78 Ginecologia e Obstetrícia Hospital Geral Duque de Caxias (estadual)

234 Emergência clínica e cirúrgica, Obstetrícia e Ginecologia

Contratadas 412 C. S. Santa Rita 107 Ortopedia (SPA) e CTI Sanatório Duque de Caxias 200 Psiquiatria (adulto sexo masculino) C. S. Santa Helena 62 Obstetrícia Hospital de Clínicas São Paulo 20 Ortopedia Serviço de Assistência Social Evangélico 23 Cirurgia geral, ginecologia TOTAL 912 Fonte: SMS/DC (no cadastro da SES ainda constam unidades que já se descredenciaram do sistema). Elaboração própria.

Conforme o quadro acima, o município possui 912 leitos vinculados ao

SUS, e a rede privada detém cerca de 45% dos mesmos. Metade destes

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destina-se a internações psiquiátricas (tabela 6).24 Considerando que Duque

de Caxias tinha 770.858 habitantes em agosto de 2000, a relação

leito/habitante na localidade no corrente ano era de 1,2 leitos/1.000 habitantes,

baixa se comparada com a recomendação do Ministério da Saúde, 3 a 4

leitos/1000 habitantes.25

Tabela 6: Leitos/SUS por especialidade em Duque de Caxias -Setembro/2000

Unidade Hospitalar C. Cir.

C. Méd.

Obst. Pedi. Psiq. Tisio FPT Total

Unidades Públicas – subtotal 89 136 133 148 0 3 1 500Hospital Geral de Duque de Caxias 63 82 47 40 0 1 1 234Hosp. Municipal Duque de Caxias 10 32 44 20 0 0 0 106Hosp. Inf. Ismélia Silveira 12 0 0 68 0 2 0 82Hospital Municipal de Xerém 4 12 42 20 0 0 0 78Unidades Privadas - subtotal 61 83 33 31 202 0 2 412C. de S. e Mat. Santa Rita de Cássia Ltda

25 79 0 1 1 0 1 107

C. de S. e Maternidade Santa Helena Ltda

6 1 23 30 1 0 1 62

Hospital de Clínicas São Paulo Ltda 20 0 0 0 0 0 0 20Sanatório Duque de Caxias Ltda 0 0 0 0 200 0 0 200Serviço de Assistência Social Evangélico 10 3 10 0 0 0 0 23Total 150 209 166 179 202 3 3 912Fonte: Coordenadoria de Controle, Avaliação e Auditoria SMS/DC e SIH/SUS Homepage: www\\saude.rj.gov.br\informação em saúde. Elaboração própria

A não atualização do cadastro de unidades dificulta o estudo da

capacidade instalada ambulatorial e hospitalar. Mesmo utilizando dados da

SMS, onde teoricamente haveria maior conhecimento, constata-se que as

unidades em obras não informam a real redução da oferta sendo difícil afirmar

exatamente qual o número de consultórios médicos e leitos vinculados ao SUS

em atividade no município. Logo, em razão da complicação em obter dados

confiáveis, não foi possível fazer comparações com anos anteriores.26

24 Segundo cadastro da SES/RJ, em setembro de 2000, havia em Duque de Caxias, 1.543 leitos vinculados ao SUS e a relação leito/habitante era de 2,2 leitos/1000hab. 25 Este parâmetro está contido na Consulta Pública nº 01 de 02 de dezembro de 2000, que está sendo realizada pelo Ministério da Saúde (MS/SAS, 2000).

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• Internações

Em relação às internações/SUS, em 2000, Duque de Caxias dispôs de

uma cota mensal de 5.225 AIH, totalizando no ano 62.700 AIH. Todavia,

parcela significativa desta cota não é utilizada.

Em 1999, foram realizadas 21.748 internações em unidades hospitalares

vinculadas ao SUS em Duque de Caxias: 57% destas na rede privada e 43%

em estabelecimentos públicos. Portanto, conforme exposto no quadro 10 e na

tabela 6, embora haja maior número de leitos públicos, são os hospitais

privados que internam mais. Todavia, vem ocorrendo aumento do número de

internações realizadas em unidades públicas.

Com base na análise das internações entre os anos de 1997 e 1999, é

possível constatar variação da oferta de serviços, tanto nas unidades próprias

quanto nos estabelecimentos privados. Comparando os três hospitais públicos,

podemos constatar que, enquanto o Hospital Infantil e a Maternidade

apresentaram aumento do número de internações, o Hospital Geral teve

desempenho contrário (tabela 7). A explicação para tal fato seria a realização

de obras neste estabelecimento. (Entrevista 12)

Tabela 7: Internações em unidades hospitalares vinculadas ao SUS no município

de Duque de Caxias – 1997, 1998 e 1999

Unidade 1997 1998 1999 Próprias 6.377 10.225 9.287 Hospital Geral Duque de Caxias 4.261 4.571 2.991 Hospital Municipal de Xerém (maternidade) 1.285 4.217 4.343 Hospital Infantil Ismélia Silveira 831 1.437 1.953 Privadas 12.792 12.043 12.461 Casa de Saúde e Maternidade Santa Helena Ltda 8.344 7.011 7.284 Casa de Saúde Santa Paula Ltda 11 0 0 Casa de Saúde e Mat. Santa Rita de Cássia Ltda 120 575 812 Hospital de Clínicas São Paulo Ltda 674 747 394 Sanatório Duque de Caxias Ltda 3.643 3.710 3.933 Serviço de Assistência Social Evangélico 0 0 38 Total 19.169 22.268 21.748

Fonte: DATASUS – CD ROM de Internações (Elaboração própria)

26 Segundo Albuquerque (1994), em 1985, havia 1.450 leitos vinculados à Previdência Social no município.

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Com base na tabela 7 pode-se afirmar que, embora o número total de

internações nas unidades privadas tenha permanecido relativamente constante

nos três anos estudados, considerando as unidades em separado, também

houve variação, com desvinculação de uma unidade e credenciamento de

outra. O Sanatório Duque de Caxias, estabelecimento contratado que interna

apenas pacientes psiquiátricos do sexo masculino, apresentou menor variação

tanto em números absolutos quanto em termos relativos. Esta unidade foi

responsável por 19% do total de internações/SUS em 1997, 16% em 1998 e

18% em 1999 (tabelas 6 e 7).

A construção de série histórica da morbidade hospitalar fica dificultada

devido à modificação ocorrida na Classificação Internacional de Doenças. A

SES/RJ passou a utilizar a 10ª Revisão a partir de 1998. Dados anteriores

estão classificados segundo a 9º Revisão.

Dados de 1998 e 1999 demonstram que deixando de lado as causas

relacionadas à gravidez, parto e puerpério (primeira causa de internação), os

transtornos mentais ocupam o primeiro lugar (18% em 1999) e as lesões por

envenenamentos ou por outras causas externas, o segundo. Esta última está

mais relacionada aos procedimentos de ortopedia e cirurgia (tabela 8).

Tabela 8: Principais causas de internação, segundo CID 10, em hospitais vinculados ao SUS no município de Duque de Caxias - 1998 e 1999

1998 1999 Capítulo CID10 Nº % Nº %

XV. Gravidez, Parto e Puerpério 13613 61,1 12947 59,5V. Transtornos Mentais e Comportamentais 3710 16,7 3934 18,1XIX. Lesões Envenamentos e Algumas Outras Conseqüências de Causas Externas

869 3,9 826 3,8

X. Doenças do Aparelho Respiratório 646 2,9 802 3,7XVI. Algumas Afecções originadas no Período Perinatal 903 4,1 528 2,4XI. Doenças do Aparelho Digestivo 470 2,1 496 2,3I. Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias 263 1,2 320 1,5IX. Doenças do Aparelho Circulatório 455 2,0 327 1,5Fonte: SIH/SUS (Homepage: www\saude.rj.gov.br) Elaboração própria

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As internações realizadas em Duque de Caxias não são apenas de

residente no município, referem-se também a não residentes no município. Em

1997, cerca de 20% desta correspondiam a pacientes provenientes de outros

municípios. Em 1998, este percentual diminuiu para 18% e em 1999, para 12%.

Este dado pode indicar aumento da oferta de leitos em municípios vizinhos. No

entanto, são necessários outros estudos para melhor entender tal fenômeno.

A tabela 9 mostra as internações de moradores de Duque de Caxias

realizadas no próprio município e em outras localidades do estado do Rio de

Janeiro. Como se pode observar, parcela significativa dos habitantes do

município busca assistência hospitalar em outros municípios, sobretudo, em

hospitais públicos e privados localizados na capital do estado. Menos de 50%

das internações de residentes de Duque de Caxias são realizadas no próprio

município.

Tabela 9: Fluxo de pacientes: internações/SUS de residentes de Duque de Caxias segundo natureza do prestador e local de internação - 1997, 1998 e 1999

1997 1998 1999 Local de Internação

nº % nº % nº % No município de residência 15.218 41,8 18.310 47,7 19.056 46,3Públicos 6.059 16,7 9.592 25,0 10359 25,2Privados 9.159 25,2 8.718 22,7 8697 21,1

Outros mun. da Baixada Fluminense 7.597 20,9 6.442 16,8 6.449 15,7Públicos 574 1,6 366 1,0 16 0,0Privados 7.023 19,3 6.076 15,8 6.433 15,6

Capital do estado 11.992 33,0 12.310 32,0 14.790 35,9Federais 725 2,0 2.127 5,5 2.662 6,5Estaduais 6.549 18,0 2.554 6,6 1.244 3,0Universitários 2.828 7,8 3.344 8,7 3.933 9,5Municipais 214 0,6 1.307 3,4 3.239 7,9Privados 1.676 4,6 2.978 7,8 3.712 9,0 Outros municípios 1.581 4,3 1.359 3,4 892 2,2Públicos 252 0,7 154 0,3 126 0,3Privado 1.329 3,7 1.202 3,1 766 2,2

TOTAL 36.388 100,0 38.418 100,0 41.187 100,0Fonte: DATASUS– CD ROM: Movimento de AIH - Arquivos Reduzidos – 1997,1998,1999 - Elaboração própria

88

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A migração de pacientes para outros municípios, em parte, se justificaria

pela ausência da oferta de procedimentos de maior complexidade pela gestão

municipal. Analisando, contudo, o fluxo de parturientes, verifica-se que

percentual significativo de gestantes também procura maternidades de outros

municípios. Em 1998, apenas 66% dos partos de mães residentes em Duque

de Caxias ocorreram no próprio município. Nos dois anos anteriores, esse

percentual foi ainda menor: 61% e 60%, em 1997 e 1996, respectivamente

(gráfico 4). 27

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

1996 1997 1998

Gráfico 4: Local de ocorrência dos partos de mães residentes em Duque de Caxias - 1996, 1997 e 1998

Duque de Caxias Outros municípiosmunicípios da BF Capital do estado

Fonte: SINASC Homepage: www\\saude.rj.gov.br\informação em saúde. (Elaboração própria)

A migração de pacientes não é característica exclusiva do município em

questão. Estudo realizado em municípios da Baixada Fluminense em gestão

plena do sistema constatou que dos seis municípios habilitados nessa

condição, em 1998, apenas um respondeu por mais de 80% das internações

(Cunha e Vasconcellos, 2000). No entanto, Duque de Caxias se destaca pela

migração de pacientes para a capital do estado, provavelmente graças à

proximidade e oferta de serviços desta localidade (tabela 8).

89

27 A Coordenadoria de Saúde Coletiva SMS/DC afirmou, após acesso a essas informações, que o percentual de partos no próprio município foi de 80% em 1998 e 81% em 1999, contrastando com as informações obtidas do SINASC .

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Tabela 10: Fluxo de pacientes: internações/SUS de residentes em municípios da Baixada Fluminense em gestão plena do sistema – 1998

Hospitais/municípios de Internação

Belford- Roxo

Duque de Caxias

Guapimirim Nova Iguaçu

Paracambi São João de Meriti

No município 51,2 47,7 47,1 53,0 87,5 71,4Públicos 25,0 * 18,6 1,5Privado* 51,2 22,7 47,1 53,0 68,9 69,9

Outros municípios da Baixada Fluminense

34,9 16,8 11,9 35,9 1,1 12,3

Públicos 1,2 1,0 4,0 1,0 0,0 1,0Privado* 33,7 15,8 7,9 34,9 1,1 11,2

Capital do Estado 13,7 32,0 2,1 10,4 2,2 15,4Federais 3,4 5,5 0,5 1,6 0,7 3,4Estaduais 1,4 6,6 0,8 1,8 0,3 1,6Universitários 4,3 8,7 0,6 3,1 0,8 5,6Municipais 1,8 3,4 0,0 0,6 0 1,2Privado* 2,7 7,8 0,2 3,3 0,4 3,5

Outros municípios 0,3 3,4 38,8 0,7 9,2 0,9Públicos 0,30 0,2 0,1 0,3 0,04Privado* 0,31 3,13 38,6 0,7 8,9 0,86TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0Fonte: DATASUS – CD ROM: Movimento de AIH - Arquivos Reduzidos – 1998 * Na categoria hospitais privados estão incluídos também os filantrópicos e os universitários privados localizados nos municípios de Nova Iguaçu, Vassouras e Teresópolis.

Nova Iguaçu, mais populoso e antigo município, herdou o único hospital

federal da região, anteriormente pertencente ao INAMPS. No ano em questão

(1998), esta unidade federal ainda não constava no cadastro de unidades da

SES/RJ, prejudicando a análise do fluxo de internações de pacientes da

Baixada Fluminense.

Outro aspecto que deveria ser considerado para discutir a oferta de

serviços de saúde no município seria a disponibilidade de recursos humanos,

em especial, do profissional médico. Todavia, este aspecto não pode ser

apreciado em virtude da falta de informações sistematizadas. Vale ressaltar

que atuam na rede municipal profissionais provenientes da SES/RJ e do

Ministério da Saúde, além dos contratados mediante cooperativas e do próprio

município.

90

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1.3 - Articulação da rede

Como uma das estratégias para garantia da assistência integral à saúde,

o arcabouço jurídico do SUS recomenda o estabelecimento de uma rede

regionalizada e hierarquizada de serviços.

A regionalização pode ser entendida como a articulação e mobilização

municipal, que leve em consideração características geográficas, fluxo de

demanda, perfil epidemiológico, oferta de serviços e, acima de tudo, a vontade

política expressa pelos diversos municípios de se consorciar ou estabelecer

qualquer outra relação de caráter cooperativo (Vasconcellos, 1997).

Em Duque de Caxias, a hierarquização da rede ainda não é uma

realidade, visto que inexiste articulação entre as unidades de diferentes níveis

de complexidade e ainda há carência na oferta de especialidades básicas para

população residente na periferia, além da precariedade de serviços mais

complexos.

Alguns autores (Mendes, 1993; Teixeira et al., 1998) advogam a

reorganização da assistência à saúde valendo-se da rede básica, devendo esta

funcionar como principal porta de entrada do sistema e responder pelos

problemas de saúde de determinada área de abrangência. Para adoção de tal

responsabilidade, é imprescindível que haja adscrição de clientela,

territorialização ou qualquer outra estratégia de delimitação de espaço de

atuação a fim de permitir e/ou facilitar planejamento e efetivação de

estratégias de intervenção.

A organização do sistema de saúde municipal, a começar por uma rede

básica que responda realmente pelos problemas de saúde de uma localidade e

com potencial de resolução funcionaria também como um mecanismo de

triagem para o atendimento secundário racionalizado e facilitaria o acesso a

graus mais complexos da atenção para quem realmente necessitasse.

A reorganização do modelo assistencial, quando privilegia a atenção

básica com recursos fixos e incentivos variáveis, é considerada por Almeida

(2000) uma das principais inovações da NOB SUS 1/96. Nesse aspecto, os

programas de Agentes Comunitários e de Saúde da Família (PACS/PSF)

91

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tornaram-se os principais beneficiados com repasses federais por parte do

Ministério da Saúde.

Em Duque de Caxias, ao que tudo indica, a implantação de novas

equipes de PSF constitui-se em importante estratégia para organização da

assistência e extensão da oferta de serviços básicos. A cobertura almejada até

fins do ano de 2000 compreendia 29% da população e foram escolhidas, para

a implantação de equipes, áreas consideradas como de risco epidemiológico e

social, na expectativa de privilegiar, com serviços básicos, populações

desassistidas. Esses profissionais estariam encarregados também de executar

atividades de promoção e prevenção. (Entrevista 5)

Uma das críticas com relação ao PACS/PSF seria que estes programas,

observados como modelo de atenção básica, estariam em consonância com as

reformas de cunho neoliberal aplicadas ao setor saúde e orientadas por

organismos internacionais. A aplicação desses programas corresponderia a

proposições de garantir uma “cesta básica” para as populações de baixa renda

e deixar a assistência mais complexa sob as regras do mercado (Almeida,

1999; Merhy e Bueno, 1999).

Entretanto, os atuais técnicos responsáveis pela implantação desses

programas no âmbito municipal estão confiantes em que as equipes

implantadas darão respostas a muitos dos problemas de saúde da população

local, vencidas as dificuldades iniciais como a fixação do profissional médico e

a adaptação dos módulos.

Estão previstos, como estratégias de intervenção para o programa, a

adscrição de clientela e o desenvolvimento de ações de promoção à saúde nas

unidades de referência (que já compõem a rede) com oferta de atenção

secundária. As equipes, porém, ainda estão em fase de implantação, sendo

precipitada qualquer avaliação concernente ao potencial de resolução dos

problemas de saúde da localidade e da possibilidade de articulação com a

rede de serviços/SUS de saúde do município.

Em síntese, apesar dos esforços empreendidos, até o presente

momento, a assistência à saúde em Duque de Caxias ainda é fragmentada. A

rede básica tem dificuldade de encaminhamentos e a única unidade que

92

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concentra maior número de especialistas atende segundo demanda

espontânea.

Os postos médico-sanitários, pensados para suprir demanda de pronto-

atendimento de menor complexidade, auxiliar o funcionamento das unidades

básicas e diminuir a sobrecarga das unidades hospitalares, enfrentam

problemas estruturais como, por exemplo, deficiências nos serviços de

diagnose e terapia. Os hospitais (geral e infantil) ocupam-se de pronto-

atendimento, com pouco espaço para realização de procedimentos eletivos e

não absorvem atendimentos que necessitam intervenções de maior

complexidade.

O hospital estadual poderia ser referência para procedimentos

hospitalares de maior complexidade, onde estivessem incluídos gestação de

alto risco, UTI neonatal e traumatologia, mas funciona aquém do esperado,

tendo sido alvo, em passado recente, de divergências entre os governos

estadual e municipal. A atual direção afirma disposição em dialogar com a

SMS/DC, mas a unidade ainda não está vinculada e/ou articulada ao SUS

municipal.

1.4 - Responsabilidades previstas e medidas implementadas

Após análise da organização e oferta de serviços de saúde/SUS, em

Duque de Caxias, tendo por base as competências preconizadas pela NOB

SUS 1/96, observa-se, neste âmbito, que as responsabilidades estão sendo

cumpridas de modo parcial. Tal afirmativa apoia-se em algumas constatações

resumidas a seguir.

Apesar de estar habilitado em gestão plena do sistema, Duque de

Caxias não oferece atenção médica secundária no próprio município ou

mediante pactos intermunicipais. A atenção ambulatorial, embora

disponibilizada em diversos estabelecimentos distribuídos nos quatro distritos,

limita-se, na maioria das vezes, ao atendimento básico.

93

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Mesmo a atenção básica revela-se insuficiente, uma vez que no

atendimento ao pré-natal, apenas 37% das gestantes apresentaram, em 1999,

concentração de consultas adequadas (seis consultas ou mais). Contudo, já

que vem ocorrendo incremento do número de consultas médicas gerais e

constata-se melhora quanto ao acesso da população aos serviços de saúde.

A atenção hospitalar oferecida, em geral, encontra-se restrita aos

procedimentos de menor complexidade, insuficiente para cobrir a população

residente. O hospital, com capacidade para prestar atendimentos mais

complexos, encontra-se desvinculado do sistema local, sob gerência da esfera

estadual. A relação leito/habitante (1,2/1.000 hab.) apresenta-se aquém do

ideal.

Parcela significativa dos habitantes busca internação em municípios

vizinhos (cerca de 54% em 1999), sem que haja pactos estabelecidos para

garantir compensação de internações ou referência. A cota mensal de AIH

(5.225) não é utilizada, o que é indicativo de problemas na gestão do sistema.

As estratégias sugeridas na NOB SUS 1/96 e por certas esferas de

governo para organização da assistência, como cartão SUS e Central de

Marcação de Consultas e Internações, não estão sendo praticadas no

município. A rede de serviços não está articulada, visto que inexistem

mecanismos formais de referência entre as unidades. A assistência à saúde

pelo SUS em Duque de Caxias ainda é fragmentada e insuficiente.

2. AS AÇÕES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA

Este âmbito de análise completa o anterior, referente ao elenco de

serviços ofertados, embora as ações tratadas neste tópico não se identifiquem

como assistenciais. Os três âmbitos seguintes guardam maior relação com os

aspectos gerenciais do setor.

Faltou definição, na NOB SUS 1/96, dos procedimentos de Vigilância

Sanitária e Epidemiológica que deveriam ser executados pelo município.

Portanto, as ações deste âmbito ficaram restritas à verificação das atividades

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desenvolvidas, sem no entanto haver comparações entre o preconizado e o

realizado.

Antes de explicitar as atividades dessas duas formas de intervenção

desenvolvidas pelo executivo municipal, no campo da Saúde Pública, segue

uma breve revisão do tema, a fim de contextualizar a discussão.

2.1 - Contextualizando as ações de vigilância sanitária e epidemiológica

Tradicionalmente, as ações de Vigilância Epidemiológica

desenvolveram-se articuladas com as práticas sanitárias. Já a Vigilância

Sanitária, caracterizada pelo enfoque fiscalizador, normativo e punitivo de sua

prática, estabeleceu maior proximidade com a área jurídica, mesmo estando

vinculada ao Ministério da Saúde (Teixeira et al., 1998).

Enquanto as ações preconizadas pela Vigilância Epidemiológica gozam

de maior simplicidade e sua execução, geralmente, restringe-se aos

profissionais com formação específica na área da saúde, a Vigilância Sanitária

ganha ênfase pela sua complexidade e necessita da articulação de uma gama

de conhecimentos provenientes das várias disciplinas e de profissionais de

diferentes áreas.

No presente estudo, a junção desses dois tópicos vai ao encontro da

concepção de autores como Teixeira et al. (1998) que defendem a integração

desses dois conjuntos de ações como estratégia mais efetiva de intervenção do

setor perante os agravos à saúde da população, embora se reconheça a

especificidade e as peculiaridades de ambas e a dificuldade de articulá-las,

uma vez que o processo de construção desses serviços ocorreu

separadamente e com diferentes enfoques.

As modificações no setor saúde que pretenderam a superação da

dicotomia existente entre as ações de caráter coletivo e a assistência

individual, com a institucionalização do SUS, buscaram maior articulação da

Vigilância Sanitária com as práticas de saúde pública. A Lei Orgânica da Saúde

(Lei nº 8080/90) definiu a Vigilância Sanitária como conjunto de ações capaz de

eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas

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sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e

da prestação de serviços de interesse da saúde. Portanto, a vigilância não

poderia mais ser entendida como a mera fiscalização. Ao inserir a palavra

risco, buscou-se a modificação do enfoque simplesmente normativo e punitivo

para o preventivo.

Embora a Lei nº 8080/90 tenha inaugurado uma nova definição de

Vigilância Sanitária e incluído esta prática no conjunto de ações que deveriam

ser assumidas pela gestão municipal com a colaboração e coordenação das

outras esferas de governo, a descentralização destas ações teve trajetória

diferente daquela reservada aos serviços assistenciais, cujo estágio de

discussão era mais avançado. Ressalta-se que algumas ações já eram

executadas pela gestão municipal, tais como as de caráter meramente

fiscalizador, direcionadas apenas a cemitérios, necrotérios e estabelecimentos

que comercializam alimentos.

A Vigilância Sanitária não foi mencionada na NOB SUS 1/91 e teve

tratamento superficial na NOB 93, cujo texto estabelece prazo de 90 dias para

edição de Portaria que, supostamente, trataria do tema, mas não foi editada

(Lucchese, 2000). A Vigilância Epidemiológica já fazia parte das atividades

desempenhadas pelos profissionais de saúde em muitos municípios, embora,

em geral, de forma precária e restrita ao controle de agravos de maior

magnitude e transcendência.

A NOB SUS 1/96 também não esclareceu quais seriam, de fato, as

atribuições da gestão municipal com relação à Vigilância Sanitária e cita,

apenas, que o município, quando habilitado em gestão plena do sistema,

deveria executar ações de baixa, média e alta complexidade, prevendo formas

de financiamento. Após a edição dessa Norma, um conjunto de Portarias

redefiniu este quesito e também alterou formas de repasses e atribuições. 28

No estado do Rio de Janeiro, a municipalização da ações de Vigilância

Sanitária ocorreu de forma parcial em dezembro de 1998, com a edição da

Resolução da SES nº 1262/98, ao final da gestão do governador Marcello

28 Uma das modificações é a extinção do PBVS – Piso Básicos da Vigilância Sanitária, pela portaria nº 1882/GM, que em substituição criou um novo incentivo e incorporou as ações de Vigilância Sanitária à parte variável do PAB.

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Alencar. Essa Resolução atribuiu aos municípios habilitados em gestão plena

do sistema a responsabilidade de fiscalizar: o comércio farmacêutico, o

comércio de órteses e próteses e de outros instrumentos de auxílio terapêutico

e diagnóstico, consultórios e ambulatórios, serviços de diagnose e terapia,

óticas, estabelecimentos médico-veterinários, institutos de beleza e similares e

veículos de transporte de pacientes.

A fiscalização de indústrias e de estabelecimentos de saúde de maior

complexidade ficaram a cargo da administração estadual. As ações que

envolvem contaminação ambiental continuaram a cargo da Fundação Estadual

de Meio Ambiente (FEEMA) e das Secretarias de Meio Ambiente, tanto

estadual como municipais.

2.2 - A Vigilância Sanitária em Duque de Caxias

No município de Duque de Caxias, o setor responsável pela execução

das ações de Vigilância Sanitária é a Coordenadoria de Vigilância, Fiscalização

e Controle de Zoonoses, cuja criação é recente (anteriormente pertencia à

Coordenadoria de Saúde Coletiva).

Para a execução das ações arroladas na Resolução da SES nº 1262/98

e outras, a Vigilância Sanitária em Duque de Caxias conta com 34 profissionais

de nível superior de diversas áreas (veterinária, biologia, medicina, odontologia,

farmácia e engenharia). Este quadro ainda seria insuficiente por causa do

tamanho e das características do município. (Entrevista 8) A dinâmica de

trabalho consta de visitas de rotina ou a pedido, para emissão de Certificado de

Inspeção Sanitária (CIS), cuja renovação é anual, e também visitas por

denúncia, conforme exposto no quadro abaixo.

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Quadro11: Atividades desenvolvidas pela Coordenadoria de Vigilância, Fiscalização e Controle de Zoonoses– Duque de Caxias - 1999

Solicitações Total

Entrada de requerimentos 3.382

Visitas (fiscalização) 2.394

Visitas (rotina) 3.724

Estabelecimento não localizados/fechados 552

CIS concedidos 3.382

CIS entregues 2.013

Firmas intimadas 1.520

Firmas autuadas 393

Vacinação anti-rábica 84.796 Fonte: Coordenadoria. de Vigilância, Fiscalização e Controle de Zoonoses – SMS/DC (Elaboração própria)

O controle dos processos que envolvem multas fica a cargo da

Secretaria de Fazenda e gera dificuldades no seu acompanhamento pela

Coordenadoria de Vigilância Sanitária. O processo de trabalho não é

informatizado. Apesar de possuir dois computadores, não existe programa que

contemple as tarefas desenvolvidas e os possíveis encaminhamentos, o que é

feito manualmente no final do expediente.

Uma outra dificuldade identificada no cumprimento das

responsabilidades prescritas, além do número insuficiente de profissionais, a

ausência de programas e o não acompanhamento de processos que envolvem

multas, é a formação profissional inadequada para o papel que deve ser

desempenhado pela Vigilância Sanitária. Nesse aspecto, alega-se que tem

havido, por parte da gestão daquele município, investimentos em cursos de

capacitação ou atualização. No entanto, como os salários são baixos, os

funcionários têm outros empregos e torna-se, muitas vezes, impossível a

participação deles nos eventos indicados. (Entrevista 8)

Como se disse, Duque de Caxias abriga várias indústrias e uma refinaria

de petróleo (REDUC), além de diversas unidades de saúde com internação.

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Como citado anteriormente, a fiscalização desses estabelecimentos é

atribuição da esfera estadual. A equipe do município não toma conhecimento.

dos problemas identificados e das medidas tomadas pela equipe da SES.

(Entrevista 8)

O município em questão possui ainda sérios problemas ambientais de

longa data como: existência de aterro sanitário, contaminação do solo por HCH

e poluição de rios por esgotos domiciliares e outros poluentes. Também há

outros esporádicos com repercussão até mesmo na imprensa como a

contaminação da Baía de Guanabara causada pelo derramamento de óleo pela

REDUC e o despejo de substância tóxica em terreno baldio. Sobre esses

transtornos, a Vigilância Sanitária do município não tem qualquer jurisdição.

Algumas ações direcionadas, principalmente, ao controle de vetores e

zoonoses eram executadas pela Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). No

Rio de Janeiro, parte dessas ações estão sendo descentralizadas por

intermédio da construção de pólos, inclusive com investimento em

equipamentos laboratoriais. Estes pólos vão buscar a articulação entre a

vigilância sanitária, epidemiológica e as ações programáticas. O município de

Duque de Caxias sediará um desses pólos (reunião da CIB/RJ realizada em

14/02/2000).

Alguns procedimentos de vigilância sanitária envolvem o uso de

equipamentos de alta tecnologia, sendo necessário a atuação das outras áreas

de governo ou até de outros setores governamentais. Decerto, determinadas

ações dificilmente poderão ser executadas pela equipe municipal. Portanto, o

intercâmbio entre os setores envolvidos faz-se necessário quando se deseja

constituir um sistema municipal que planeja e organiza seus serviços fundando-

se nos problemas identificados.

2.3 - A Vigilância Epidemiológica em Duque de Caxias

A Vigilância Epidemiológica tem por principal objetivo a prevenção e o

controle de agravos à saúde das populações valendo-se do conhecimento

advindo da epidemiologia e de outras disciplinas afins. Implica em um sistema

99

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organizado de obtenção de dados de forma regular e sistemática, seguido de

sua análise e de implementação de medidas pertinentes.

A principal fonte de elementos quantitativos na Vigilância Epidemiológica

ocorre pela notificação compulsória, que consiste em informar à Unidade

Sanitária da região a existência ou suspeita de casos que constem da lista de

agravos notificáveis. Qualquer indivíduo, profissional de saúde ou não, deve

proceder à notificação. Outra forma de obtenção de dados é a busca ativa em

unidades hospitalares ou na comunidade.

A Lei nº 8080/90 define a Vigilância Epidemiológica como um conjunto

de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de

qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde

individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de

prevenção e controle das doenças e agravos. Assim como no caso da

Vigilância Sanitária, ações da Vigilância Epidemiológica deveriam, desde a

promulgação dessa legislação, ser executadas pela gestão municipal sob a

coordenação das outras esfera de governo.

Ao contrário da Vigilância Sanitária, o tratamento superficial dispensado

pela NOB SUS 1/93, às ações de Vigilância Epidemiológica, não pode ser

considerado empecilho ao processo de descentralização por falta de clareza

quanto à especificação das atribuições municipais, uma vez que sua prática

sempre esteve vinculada ao exercício da saúde pública e o conhecimento

necessário para sua execução consta do programa de ensino regular dos

profissionais de saúde. No entanto, os longos anos em que se deu prioridade à

assistência individual curativa em detrimento das ações de caráter coletivo

contribuíram para que as equipes das unidades de saúde não valorizassem

essa prática de intervenção.

A NOB SUS 1/96 responsabilizou a gestão municipal pela execução das

ações de vigilância epidemiológica, com até repasses financeiros. De certa

forma, esta Norma, ao propor mecanismos para avaliação e monitoramento da

atenção básica, contribuiu para a valorização desse serviço no âmbito local.

Em Duque de Caxias, a equipe que realiza as ações de vigilância

epidemiológica está centralizada no pólo que funciona no Centro Municipal de

100

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Saúde localizado no primeiro distrito, sob a coordenação da Divisão de

Epidemiologia. Essa equipe atua em todo o município e as visitas são

realizadas tomando-se por base as notificações das unidades. As informações

obtidas são remetidas à Divisão, para que seja efetuada a análise e

alimentação do banco de dados do SINAN.

No município, foram agregadas mais duas patologias à lista nacional de

agravos notificáveis (varicela e conjuntivite) mas, para estas, ainda não estão

determinadas ações específicas. O número de agravos notificados tem

aumentado graças ao trabalho realizado com a unidades e, sendo assim,

também têm sido necessárias intervenções em maior número,

sobrecarregando a equipe. Por esse motivo, há um projeto pela criação de

mais um pólo para que a investigação de determinados agravos e a

implementação de medidas possa ser agilizada. (Entrevista 4)

A Divisão de Epidemiologia situa-se nas dependências da SMS/DC, que

fica no segundo distrito e engloba, além da coordenação das ações de

vigilância epidemiológica, o setor responsável pela organização das

informações vitais (nascimentos e óbitos), que devem alimentar os bancos de

dados do SINASC e do SIM.

A equipe local procura executar todas a ações recomendadas para o

setor, inclusive investigação de óbitos maternos, mas a principal dificuldade

encontrada é o número insuficiente de profissional médico com formação

específica para tal. As vagas oferecidas nos dois concursos públicos não foram

preenchidas em virtude da falta de interesse dos candidatos aprovados em

manter o vínculo com o município, embora a contratação do médico seja

priorizada em detrimento de outros profissionais sanitaristas tendo em vista a

necessidade de conduzir a quimioprofilaxia.

São duas as dificuldades identificadas quanto à investigação de óbitos

maternos: a demora da notificação quando o parto ocorreu em unidade

hospitalar de outro município e a burocracia de determinados estabelecimentos

que impõem empecilhos para o acesso ao prontuário.

No município em questão, a epidemiologia não tem sido utilizada de

forma sistemática para o diagnóstico de situação de saúde da população e na

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avaliação dos serviços e está restrita ao monitoramento de alguns programas

cujos indicadores são solicitados pela coordenação estadual.

Em suma, nestes dois campos de atuação, a gestão municipal tem

assumido novas atribuições divulgadas no decorrer do processo de

descentralização. Nos dois setores, existe preocupação em definir fluxos de

informações, executar normas e rotinas de serviço e remeter dados nos prazos

estabelecidos. A insuficiência e inadequação do quadro de pessoal e a

informatização precária revelam-se como dificuldades enfrentadas no

cumprimento das responsabilidades prescritas

3. O PLANEJAMENTO MUNICIPAL DA SAÚDE

3.1 - O planejamento enquanto ferramenta da gestão municipal em saúde

Como explicitado nos capítulos anteriores, até início da década de 90,

era o INAMPS o principal provedor de serviços de saúde de caráter individual

curativo, restando aos estados e municípios o atendimento à população não

vinculada à Previdência Social e a execução de algumas ações de caráter

coletivo programadas pelo Ministério da Saúde. Não se atribuía a estas esferas

de governo compromissos claros na elaboração de metas e/ou estratégias

relativas ao setor saúde.

No decorrer do processo de descentralização do setor, o Plano de

Saúde, no âmbito dos municípios, foi instituído e, a partir da edição da NOB

SUS 1/93, este documento, juntamente com o Relatório de Gestão, passou a

ser exigido como requisito para habilitação nas condições de gestão parcial e

semiplena.

Como preconizava essa NOB, o Plano Municipal de Saúde deveria ser

apresentado à CIB do respectivo estado. No entanto, no estado do Rio de

Janeiro, esta instância colegiada do SUS só foi instituída em fevereiro de 1994

e enfrentou ainda vários obstáculos para o seu funcionamento (Silva, 2000).

Portanto, o órgão que a princípio estaria encarregado de verificar o

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cumprimento de tal requisito ainda não tinha seu funcionamento garantido no

segundo estado mais desenvolvido da União.

Por outro lado, a NOB SUS 1/93 não especificava o conteúdo do Plano

de Saúde nem os mecanismos de acompanhamento da sua execução. Em

síntese, não foram estabelecidos critérios de garantia para que esse

documento, quando existente, não se constituísse em um instrumento fictício.

Recente pesquisa realizada em 12 municípios habilitados em um

período superior a dois anos em gestão semiplena, localizados em sete

estados brasileiros, comprovou que, na maioria destes, os planos existiam

apenas formalmente para captação de recursos junto ao Ministério da

Saúde....... Nestes faltavam metas, cronogramas e indicadores de avaliação e

repercussão das ações (Heimann et al., 2000:83).

A partir de janeiro de 1998, quando a NOB SUS 1/96 entrou em vigor, a

elaboração da programação do setor saúde do município passou a ser exigida

para habilitação em qualquer forma de gestão. Segundo esta Norma, a

programação deve contemplar tanto a oferta local de serviços quanto a

referência ambulatorial e hospitalar, estando estes incorporados à

Programação Pactuada Integrada do estado.

A apresentação prévia do Plano Municipal de Saúde e do Relatório de

Gestão do período anterior foi a forma estabelecida para comprovar a adoção

de tal responsabilidade por parte da gestão municipal.

3.2 - O Plano Municipal de Saúde

Segundo o modelo sugerido pelo Ministério da Saúde, o plano de saúde

deve ser plurianual, e conter os seguintes elementos: identificação; princípios

orientadores (do SUS, referindo-se ao arcabouço jurídico-legal e às diretrizes);

caracterização do município (aspectos demográficos e econômico-sociais);

análise da situação de saúde; organização e funcionamento do sistema no

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âmbito local e as ações e serviços de saúde; objetivos a serem alcançados;

prioridades conferidas e ainda as estratégias adotadas. 29

No Plano, devem estar previstas todas as referências à pactuação e ao

acordo entre gestores municipais, especialmente, aquelas relativas ao

atendimento da população, ou seja, o processo de negociação para

formalização da PPI estadual.

Em Duque de Caxias, o Plano de Saúde atual foi elaborado pelo setor

de planejamento da Secretaria de Saúde com a colaboração do Conselho

Municipal e submetido à aprovação em uma Conferência Municipal de Saúde.

Sua vigência está prevista para o biênio 2000/2001. (Entrevista 1)

Por ter sido habilitado pela NOB SUS 1/93 em gestão semiplena, o

município deveria ter elaborado Plano anterior. A esse respeito, informa-se

que, em 1994, profissionais vinculados a uma universidade pública do estado

elaboraram um documento com esta finalidade, juntamente com alguns

membros do Conselho de Saúde. Este Plano estaria direcionado,

particularmente, para a expansão da rede básica. Nos anos posteriores, até

1999, não houve outro documento onde estivessem registradas as metas para

o setor saúde do município, apesar de este ter sido habilitado segundo a NOB

1/93 em gestão semiplena.30 (Entrevista 1)

No atual Plano de Saúde do Município (2000/2001), como aconselhado

pelo Ministério da Saúde, estão contemplados os princípios orientadores do

SUS. Há também uma descrição dos aspectos socio-demográficos e

econômicos do município.31

Como um dos problemas sócio-demográficos reconhecidos, aparece a

tendência à urbanização e a forma precária como este fenômeno vem

ocorrendo, pois 25,8% da população residem em favelas, que, em sua maioria,

estão localizadas em áreas ribeirinhas, alagados e manguezais, e concorrendo

para a disseminação de doenças de veiculação hídrica.

29 Informações sobre o Plano de Saúde, Relatório de Gestão e PPI foram resumidas do conteúdo obtido no site do Ministério da Saúde em outubro/99 (www.saude.gov.br/descentralizacao) 30 O Plano de Saúde de 1994 foi elaborado por iniciativas externas à SMS. No período reservado para a investigação referente a este tópico, o Plano não estava disponível para consulta imediata. 31 Com relação aos aspectos sócio-demográficos, a fonte utilizada foi o Censo econômico realizado pelo IBGE em 1985, havendo provável defasagem dos dados.

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A falta de esgotamento sanitário, com cobertura de apenas 32% dos

domicílios, sugere outra questão identificada mas não resolvida. A coleta de

lixo, apesar de dispor de uma maior cobertura (93% dos domicílios), mostra

falhas quanto ao destino final, já que parcela considerada dos detritos é

despejada em terrenos baldios, rios, lagos e na baía. Há ainda menção ao

aterro sanitário de Gramacho, bairro localizado próximo ao centro comercial do

município. Este aterro, responsabilizado por ocasionar graves agressões ao

eco-sistema, serve como depósito de parte do lixo produzido na capital do

estado e de outros municípios da região.

São citados, ainda, outros problemas ambientais constatados pela

FEEMA: degradação de áreas de preservação ambiental, deficiência de

cobertura arbórea, presença de vetores, refúgios de fauna e flora ameaçados,

poluição das águas, inundações e enchentes, resíduos sólidos, poluição do ar,

assoreamento de corpos de água, vazamento e lançamento de óleo, erosão do

solo, ocupação de encostas e poluição sonora. Todavia, para solucionar esse

conjunto de problemas (ambientais) não está prevista, no Plano, qualquer

medida.

O Plano também trata de dados epidemiológicos. São mencionadas

algumas patologias de notificação compulsória de maior incidência

(tuberculose, hanseníase, AIDS e meningite). A fonte utilizada foi o Anuário

Estatístico do Estado do Rio de Janeiro referente ao ano de 1997 e não os

dados do SINAN ou da própria Secretaria Municipal. Tal fato pode ser

indicativo de falhas na definição do fluxo e na sistematização dessas

informações, uma vez que estes dados são produzidos no próprio município,

mas não discutidos. Não estão descritos procedimentos diretamente

relacionados ao combate das patologias evidenciadas.

Uma listagem das unidades de saúde, pública e credenciadas, é

apresentada, mas não há uma especificação do papel que desempenham na

rede e não são programadas ações a serem realizadas por cada uma delas. O

Plano não aprecia a organização da rede municipal, nem as referências

externas. O número de profissionais das diversas categorias é declarado, mas

não há relato do número de horas trabalhadas ou da produtividade desses

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profissionais, embora a produção de serviços de saúde no município como um

todo seja mencionada.

As cooperativas que atuam no âmbito da setor saúde são apenas

citadas, sem qualquer esclarecimento quanto ao contrato acordado entre estas

empresas e a Secretaria de Saúde, como se sua regulação não fosse

atribuição deste órgão.

A falta de controle de indicadores até período recente; “informações

estanques e desencontradas por parte das coordenadorias” e o

desconhecimento do perfil das unidades com relação aos custos, recursos

humanos e tipo de atendimento foram caracterizadas como algumas das

dificuldade para a elaboração do plano. (Entrevista 1).

No Plano, são citadas as seguintes prioridades para o biênio 2000/2001:

1) Expansão do PACS/PSF;

2) Desenvolvimento do projeto Hospital Amigo da Criança;

3) Hospital de Saracuruna (estadual) como referência para trauma;

4) Potencialização da gestão distrital, da gerência das unidades e do sistema

de informação visando à hierarquização dos serviços e desenvolvimento do

sistema de referência.

Para cada uma destas metas estão previstas ações específicas, sem

que haja, porém, especificação das formas de seu acompanhamento.

Dos quatro alvos estabelecidos, a expansão do PACS/PSF é a que

melhor tem sido implementada com formação de novas equipes e,

conseqüentemente, com aumento da cobertura populacional. Esta estratégia

tem a vantagem de também estar sendo priorizada pela administração federal

e estadual, enquanto modelo de atenção básica, até com incentivos financeiros

por parte do Ministério da Saúde e com alocação de profissionais contratados

pelo governo estadual. No município, funciona ainda um pólo de capacitação

do programa mantido pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual de

Saúde. Sem estes incentivos, provavelmente, não haveria avanços tão

significativos. (Entrevista 5)

Para a implementação do atendimento materno-infantil, a princípio,

tornar-se-ia indispensável a adequação do espaço físico ocupado pelas

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maternidades próprias (Hospital Maternidade de Xerém e Hospital Geral

Duque de Caxias). Durante o período de trabalho de campo, as duas unidades

encontravam-se em obras, uma delas com recursos provenientes do

REFORSUS.

O estabelecimento do Hospital de Saracuruna enquanto referência para

trauma, teria por propósito produzir impacto na mortalidade por causas

externas, muito alta no município. No entanto, o próprio Plano reconhece

dificuldades para o cumprimento desta meta, uma vez que a unidade sofre de

indefinições quanto ao financiamento e está sob a gerência estadual,

implicando em acordos políticos que não dependem apenas da gestão

municipal em saúde.

Ressalta-se que a mortalidade por causas externas é a segunda maior

causa de óbitos no município, com destaque para os ferimentos por arma de

fogo. Situação semelhante ocorre em outros municípios da Baixada

Fluminense e para intervir em problema de tal amplitude, outras medidas, de

caráter intersetorial e intermunicipal, seriam necessárias. Contudo, nada é

sugerido com esse intuito.

A organização e hierarquização da rede e o estabelecimento do sistema

de referência, quarto prioridade, exige, entre outras medidas, modernização do

gerenciamento das unidades e construção de um ambulatório de referência em

especialidades. A implementação desta prioridade envolveria recursos que até

o final do trabalho de campo não estavam disponíveis.

Embora o Plano Municipal de Saúde de Duque de Caxias tenha sido

discutido com a executiva do Conselho Municipal de Saúde e aprovado na

Conferência de Saúde, sua elaboração não contou com a participação ativa de

representantes das coordenadorias da Secretaria e ficou mais restrita ao setor

de planejamento. (entrevista 1) Este fato, sem dúvida, constitui-se em

dificuldade para a sua execução, já que os técnicos da Secretaria podem não

concordar ou simplesmente manifestar indiferença com relação a algumas das

metas e, como conseqüência, não investir na sua implementação.

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3.3 - O Relatório de Gestão

De acordo com a NOB SUS 1/96, a análise do Relatório de Gestão seria

a forma de averiguar o cumprimento das metas. Como não foi possível avaliar

o Plano Municipal de Saúde anterior, a apreciação do alcance de seus alvos foi

inviabializada. Assim o estudo desse tópico restringiu-se ao exame do Relatório

atual enquanto ferramenta utilizada pela gestão local.

Segundo o Ministério da Saúde, o Relatório de Gestão deve contemplar

as realizações, os resultados ou os produtos obtidos em função das finalidades

programadas, bem como o impacto alcançado em função dos objetivos

estabelecidos, constituindo-se em sistematização de um processo contínuo,

permanente, estruturado, articulado e dinâmico de avaliação, permeando todo

o desenvolvimento do Plano e ser executado com a participação e contribuição

dos vários atores envolvidos. Deve ainda conter os mesmos níveis de

abrangência e de detalhe do Plano de Saúde.

Em Duque de Caxias, o Relatório de Gestão referente ao exercício de

1999 foi organizado pelo setor de planejamento e contém duas partes.32 A

primeira constitui-se em relatos de cinco das seis Coordenadorias e de dois

Departamentos. Esses relatos, em sua maioria, descrevem apenas o

funcionamento do serviço e compõem uma síntese das tarefas executadas

durante o ano. Há ainda projetos específicos, visando aumento da produção e

melhoria da qualidade de algumas atividades.

32 O Relatório de Gestão é elaborado desde o exercício de 1993, porém, com enfoque nos aspectos financeiros.

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A segunda parte mostra dados financeiros que abrangem desde

repasses de outras esferas de governo até notas fiscais de compras de

material adquirido durante o ano. Tendo em vista que o Relatório de Gestão

deve ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde, pode-se considerar que

a apresentação dos dados não está organizada de modo transparente, a fim de

facilitar a sua compreensão e, logicamente, o controle social efetivo por parte

dos representantes dos usuários no Conselho Municipal de Saúde.

De modo geral, o Relatório de Gestão referente ao exercício do ano

de1999 não condiz com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde, uma

vez que não apresenta resultados e/ou produtos em função de metas

programadas.

3.4 - As metas da esfera estadual e suas implicações na gestão municipal em Duque de Caxias

A hierarquização da rede e a organização de um sistema de referência,

embora sejam consideradas atribuições da gestão municipal, necessitam, na

maioria das vezes, de articulação no âmbito estadual. Dificilmente, um

município isolado conseguirá oferecer todos as serviços, em especial aqueles

de alto custo e maior complexidade. Nesse sentido, pactos intermunicipais

envolvendo a administração estadual devem ser estabelecidos e considerados

na Programação Pactuada Integrada (PPI).

A PPI, consolidada ao nível estadual, deve corresponder a uma

sistematização do resultado de todo processo de elaboração da programação,

envolver a composição orçamentária, o modelo de gestão, o modelo de

atenção e os recursos estratégicos. No que tange ao modelo de atenção, deve

conter o resultado da programação acordada entre municípios, quanto à

assistência, à vigilância sanitária e à epidemiologia e controle de doenças.

No estado do Rio de Janeiro, até fins de 1999, a PPI não era realizada

conforme recomendação do Ministério da Saúde. O pacto estabelecido era

referente, apenas, a alguns procedimentos ambulatoriais (diagnose e terapia)

de alto custo, cujo repasse federal estava condicionado à capacidade instalada.

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Somente em 2000, iniciou-se o processo de discussão para o estabelecimento

de pactos referentes à assistência básica e à epidemiologia.

Outro importante movimento da Secretaria Estadual de Saúde/RJ que

atinge o município em estudo é o “Planejamento Estratégico da Baixada

Fluminense”. Este projeto está sendo desenvolvido no âmbito da Subsecretaria

de Planejamento e constitui-se em uma tentativa de integração do setor saúde

na região. Tem por objetivo o fortalecimento da gestão local e a ampliação da

oferta de serviços de alta complexidade através da maximização de recursos

disponíveis, além do reordenamento da atenção básica. Sua elaboração teria

privilegiado os conhecimentos técnicos das Secretarias Municipais de Saúde

além de outras fontes: Relatório da III Conferência Estadual de Saúde, Plano

Plurianual da SES e o Relatório preliminar da Oficina do VIGISUS. (Entrevista

19)

Tomando-se por base um conjunto de problemas identificados nas

oficinas do VIGISUS33, das quais participaram técnicos dos municípios

envolvidos e da SES/RJ, foram traçadas várias estratégias. A expansão do

PSF, pensado como modelo de reordenamento da atenção básica, e execução

de ações na área materno-infantil foram escolhidos para iniciar a

implementação do projeto. Duque de Caxias, além de ter sido contemplado

com incentivos para expansão do PSF, deverá ainda obter financiamento para

a construção de uma casa de parto.

Uma das preocupações dos técnicos da SES/RJ responsáveis pelo

projeto seria o intercâmbio entre setores da própria Secretaria, a fim de

compatibilizar metas dos diversos programas e projetos e evitar esforços

desnecessários e ações sobrepostas.

Outra proposta inovadora encontra-se na criação dos núcleos de

integração regional, compostos pelos coordenadores do PSF, programa

materno-infantil, vigilância à saúde e outros programas interessados por um 33 Os problemas identificados nas Oficinas do VIGISUS foram: insuficiência de ações da área materno-infantil; baixa integração dos serviços; baixa resolutividade hospitalar; dificuldade de acesso aos procedimento de média e alta e a medicamentos; inadequação da política de recursos humanos; insuficiência das atividades de promoção; baixa cobertura do PSF; deficiência no sistema de informação e insuficiência no suprimento de sangue e hemoderivados.

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grupo de municípios. Seria uma instância técnica onde se discutiriam

estratégias de atuação com base nos problemas identificados. Até o término

da pesquisa de campo, não havia informação quanto à implementação desta

medida.

Outro fato que merece destaque é a conformação de um consórcio

intermunicipal que envolve 13 municípios, incluindo os dez pertencentes à

Baixada Fluminense, financiado pelo Ministério da Saúde por intermédio do

Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (CEPESC/MS) em convênio

com o Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Este consórcio seria uma estratégia para alcançar a hierarquização e

regionalização das ações e serviços de saúde na região. No plano diretor,

elaborado após seminário que envolveu representantes dos vários municípios,

descrevem-se oito objetivos, articulados a estratégias e projetos. Não há neste

plano nenhum detalhamento com relação à realidade dos entes federativos

participantes, seja referente à organização e oferta de serviços de saúde ou às

condições sócio-econômicas e demográficas. A afirmativa para essa ausência

de informações seria o conhecimento prévio por parte dos prefeitos e

secretários de saúde dos problemas de saúde que assolam a região (MS,

2000).

Algumas propostas descritas no plano implicam em construção de

estrutura física mas não especifica qual esfera de governo responderia pela

sua manutenção. Metas citadas parecem competir com as atribuições da

gestão estadual, como a que refere a auto-suficiência para a oferta de sangue

e hemoderivados e produção de medicamentos na região.

Há sugestão de que hospitais da região que oferecem maior

complexidade submetam-se à gerência do consórcio. A coordenadora do

projeto, responsável pela organização do consórcio, foi secretária estadual de

saúde no governo Marcello Alencar. Em seu mandato, ela apoiou fortemente

terceirizações no setor e não privilegiou as instâncias colegiadas, órgãos

deliberativos e fiscalizadores (Silva, 2000).

Em nenhuma das entrevistas realizadas com técnicos da SMS/DC houve

menção a este consórcio, fato que pode ser considerado indício da ausência de

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integração entre a equipe gestora municipal e os responsáveis pela

implementação do consórcio regional. 34

Enfim, embora houvesse durante o período de realização deste estudo,

indicativos de melhora do desempenho da esfera estadual enquanto gestora

regional do SUS, é oportuno considerar a descontinuidade de projetos e a forte

interferência de fatores politico-partidários que tem caracterizado os últimos

governos.

3.5 - Os percalços do planejamento municipal em saúde

Conforme exposto anteriormente, o planejamento municipal em saúde é

recente, tendo em vista que estes entes federados mantinham pouca atuação

no campo assistencial e limitavam-se, na maioria das vezes, a executar tarefas

prescritas, pela União. No caso de Duque de Caxias, até fins da década de 80,

as responsabilidades no âmbito da atenção à saúde eram apenas de

manutenção dos dois hospitais que realizavam pronto-atendimento e

procedimentos de internação de menor complexidade.

Nesse município, as ações de caráter coletivo, restritas ao controle de

algumas doenças infecciosas e atividades de prevenção preconizadas pelo

Ministério da Saúde, realizavam-se, precariamente, no Centro de Saúde e nos

subpostos que pertenciam ao governo estadual. Com o advento das AIS,

embora tenha havido aumento das suas atribuições com relação à atenção à

saúde, não se englobavam atividades de planejamento e/ou programação.

A aprovação na condição de gestão semiplena em 1995, ao que tudo

indica, não representou avanços significativos com relação ao planejamento

setorial, pois mesmo tendo havido um Plano de Saúde anterior a essa data,

não houve continuidade desta prática nos anos seguintes.

A partir da vigência da NOB SUS 1/96, o Plano Municipal de Saúde e o

Relatório de Gestão foram reforçados sob o aspecto de instrumentos da gestão

local. A princípio, a elaboração de tais instrumentos por parte do executivo local

34 Nas três reuniões do Conselho Municipal de Saúde das quais a pesquisadora participou, também não houve qualquer menção a este Consórcio.

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conforme aconselhado pelo Ministério da Saúde, permitiria maiores

esclarecimentos dos agravos sofridos pela população local e contribuiria para a

definição e pactuação de metas e estratégias relacionadas às reais

necessidades de saúde dos habitantes, assim como para a prestação de

contas das realizações e dificuldades do setor às instâncias de direito.

Em Duque de Caxias, o Plano de Saúde em vigência trata da maioria

dos requisitos sugeridos pelo Ministério da Saúde. Todavia, apresenta

deficiências uma vez que não explicita o papel que cada unidade deve

desempenhar na rede e não define metas específicas para alguns dos

problemas identificados, com ênfase nas intervenções ambientais. Embora a

NOB SUS 1/96 preconize ações em vários campos, ao que tudo indica, o

município em estudo ainda encontra-se absorvido com a organização e oferta

de serviços assistenciais.

O Relatório de Gestão parece pouco valorizado pelas coordenadorias,

apesar de ser instrumento de prestação de contas do exercício anual. Contudo,

no que se refere ao balanço financeiro, foi possível a consulta do Relatório de

anos anteriores e a qualidade concernente à organização dos dados vem

apresentando sensível melhora.

A consonância e integração entre o planejamento municipal e as metas

regionais e estaduais constatam-se tênues e carecem de esforços na

consolidação dessa prática por parte do estado e do município envolvidos.

Em síntese, o planejamento em saúde, importante ferramenta para a

constituição de sistemas municipais de saúde, não está plenamente

desenvolvido em Duque de Caxias, visto que o Plano Municipal e o Relatório

de Gestão encontram-se aquém do prescrito pela NOB SUS 1/96. Contudo, é

preciso considerar que a realização de uma atividade até então não exercida

ou mesmo executada de forma precária consiste em desafio. A inexperiência

em qualquer área, por si só, gera dificuldades no cumprimento de tarefas. Por

outro lado, o fato de a gestão local empreender esforços na elaboração desses

instrumentos caracteriza-se como um passo importante e caberia aos órgãos

competentes do SUS orientar e monitorar a evolução desse processo.

113

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4. CONTROLE E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE

Este quarto âmbito de análise atenta para o último elenco de medidas

preconizadas pela NOB SUS 1/96 para municípios em gestão plena do sistema

e refere-se a ações cuja execução permitiria monitorar o funcionamento da

rede e a oferta de serviços do SUS, bem como avaliar resultados. Na atual

configuração do SUS, o órgão competente por tais atribuições nas três esferas

de governo é o setor de controle, avaliação e auditoria.

Anteriormente às reformas que instituíram o SUS, pode-se considerar

que essa função era exercida precariamente, visto que o INAMPS, que

respondia pela assistência de caráter individual, executava apenas ações

relativas ao controle do setor privado contratado e o Ministério da Saúde,

responsável pela normatização de ações de caráter coletivo, limitava-se ao

acompanhamento de alguns indicadores e taxas vinculadas aos programas

nacionais. Com a descentralização do setor e a conseqüente municipalização

da saúde, a função de controle e auditoria passou a fazer parte da agenda dos

municípios e teve por desafio instituir um serviço sem que houvesse modelos

ou exemplos a seguir (Santos, 1998).

Para serem efetivas, as ações de controle, avaliação e auditoria no

âmbito municipal precisam estar articuladas com o planejamento setorial. A

análise de dados obtidos deve fornecer elementos para a tomada de decisão,

considerando sempre os princípios da integralidade, universalidade e eqüidade

como metas permanentes (FIOCRUZ, 2000:126).

Conforme exposto na NOB SUS 1/96, as atribuições do setor de controle

e avaliação são as seguintes: atualização de cadastro de unidades prestadoras

de serviços; alimentação de banco de dados nacionais; auditoria dos serviços

prestados pelos estabelecimentos de saúde; monitoramento da regularidade e

da fidedignidade das informações; definição de instrumentos metodológicos

adequados à coleta e análise de dados a fim de avaliar a assistência;

consolidação de informações e análise de resultados; proposição de medidas

corretivas.

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Para o bom desempenho das ações de controle e avaliação, são citados

alguns requisitos necessários, tais como: sistema de informação adequado,

fluxo de informações definido previamente, indicadores pactuados, metodologia

de trabalho específica e integração com os setores de Epidemiologia, Vigilância

Sanitária e Planejamento (FIOCRUZ, 2000:127).

A atualização do cadastro de estabelecimentos vinculados ao SUS, tanto

assistenciais como de diagnose e terapia, além de possibilitar o faturamento

com base nos serviços produzidos, visa identificar o limite de cada unidade,

permitir sua localização, na expectativa de adequar a oferta à demanda da

população e também auxiliar na organização de um sistema de saúde

hierarquizado.

Os bancos de dados nacionais (SIM, SINASC, SINAN, SIH-SUS e SIA-

SUS) dentre outras utilidades, fornecem elementos para a elaboração de taxas

e indicadores que auxiliam na caracterização do perfil de morbi-mortalidade da

população e da oferta de serviços de saúde. Logo, constituem-se em um

importante instrumento de monitoramento e avaliação do setor. A gestão

municipal deve não só alimentar esses bancos como zelar pela fidedignidade

das informações necessárias, mediante a realização de supervisão e

auditorias.

Considerando que a principal finalidade do órgão de controle e avaliação

e auditoria no âmbito municipal é redirecionar programas e ações fundando-se

na avaliação da assistência prestada e no impacto destas nas condições de

saúde da população, este serviço deve, em primeiro plano, conhecer a situação

de saúde da população. Daí a importância do trabalho integrado com o setor de

epidemiologia, cuja experiência na utilização dos vários indicadores favorece

esse domínio. Já a interface com o setor de Vigilância Sanitária possibilita

identificar agravos e riscos e propor medidas corretivas.

Os indicadores de saúde devem ser escolhidos previamente de acordo

com prioridades definidas e metas pactuadas pela equipe gestora e Conselho

de Saúde.

Enfim, as ações desenvolvidas pelo setor de Controle e Avaliação

devem estar em consonância com a política assistencial local e com fóruns

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institucionais como as Conferências Municipais de Saúde e Conselho Municipal

a fim de evitar ainda a burocratização excessiva, que prolonga processos e

dificulta compreensão de resultados (FIOCRUZ, 2000:127-128).

4.1 - As ações de controle, avaliação e auditoria em Duque de Caxias

Em Duque de Caxias, a Coordenadoria de Controle, Avaliação e

Auditoria seria o órgão competente para monitorar o funcionamento da rede,

supervisionar a oferta de serviços do SUS e avaliar o impacto das ações

desenvolvidas sobre as condições de saúde da população.

Este setor encontra-se subdividido em: Divisão de Contas Médicas, que

responde pela emissão de AIH, revisão de contas médicas e autorização de

pagamentos e Núcleo Administrativo, que encaminha questões burocráticas e

subordina-se ao secretário do coordenador. Os profissionais que compõem a

equipe são em sua maioria cedidos pela União e alguns pertenciam a órgão do

antigo INAMPS, responsável pela realização de auditorias no município.

A Divisão de Contas Médicas agrega o Núcleo de Auditoria, que, por sua

vez, supervisiona estabelecimentos assistenciais e de diagnose e terapia

vinculados ao SUS. Atenção especial é dispensada às oito unidades

hospitalares que disponibilizam leitos para internações (três públicas

municipais e cinco contratadas), onde há visitação regular para vistoriar laudos

e liberar a emissão da AIH. A média é de três supervisões semanais por

estabelecimento. Para a execução deste serviço há quatro profissionais.35

No Hospital Geral de Duque de Caxias (municipal), funciona uma central

de controle de leitos que emite laudo para internações em unidades

conveniadas. Estes fatos também são passíveis de supervisão para liberação

da AIH. No caso de o paciente procurar essa unidade, receber o primeiro

atendimento mas não ser absorvido pela rede municipal por falta de vagas,

também será emitido laudo e AIH para que a internação seja efetivada em

outro município, de acordo com a disponibilidade de leitos. 35 Como o único hospital público de maior complexidade localizado no município está sob gestão estadual e não consta no cadastro local por questões políticas, não é passível de auditorias.

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O município não tem capacidade instalada cadastrada para a realização

da maioria dos procedimentos ambulatoriais de alto custo. Neste caso, após

autorização por parte dos supervisores e obedecendo a uma cota

preestabelecida, a solicitação de exames é encaminhada à CAIPE. A verba

destinada ao pagamento dessas ações é repassada para o estado. Para os

exames ambulatoriais de menor complexidade também existe uma cota

numérica cujo controle fica a cargo dos diretores de unidades.

Além das supervisões semanais, também realizam-se visitas para o

credenciamento de serviços. Outra atividade desenvolvida é a consolidação de

informações necessárias à alimentação dos bancos de dados nacionais.

Os responsáveis pelo cadastro de unidades afirmam que o mesmo

estaria completo e atualizado. Entretanto, a SES, muitas vezes, não atualiza

as alterações enviadas pelo município e mantém no banco de dados unidades

que já se desvincularam do sistema ou que só se inscreveram para participar

de campanhas promovidas pelo Ministério da Saúde. 36

4.2 - Responsabilidades previstas e medidas implementadas

Um setor de controle e avaliação operante tende a oferecer maior

dinamismo à gestão do sistema, desde que esteja integrado às outras

coordenações da secretaria municipal. Sua atuação deve permitir correção de

falhas e manter atenção na ocorrência de eventos inesperados. Isso só é

possível quando se utiliza uma metodologia de trabalho desenhada para este

fim.

A administração municipal, gestora do sistema de saúde local, não deve

apenas repassar dados para as outras esferas de governo, mas analisá-los e

utilizá-los na tomada de decisão. A avaliação deveria ser propulsora de

melhorias.

Todavia, ao que tudo indica, a equipe responsável pelas ações de

controle e avaliação em Duque de Caxias, em sua rotina, não aproveitam os

36 Até dezembro de 2000, o cadastro da SES não estava atualizado.

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indicadores que reflitam as condições de saúde da população local, nem

admitem o monitoramento destes como uma de suas atribuições. O setor não

dispõe de metodologia de avaliação da atenção e sua atuação acha-se mais

voltada para supervisão da assistência hospitalar e para questões relativas ao

faturamento. Reproduzem, na maioria das vezes, a metodologia de trabalho

utilizada pelo INAMPS, cujo foco principal era o controle de contas médicas.

No atendimento ambulatorial, apenas existe preocupação com a

contabilização da produção das unidades e com a fidedignidade dos dados

enviados, não se considerando qualquer atividade de avaliação da atenção.

Não há, por parte da equipe da Coordenadoria de Controle, Avaliação e

Auditoria, domínio dos vários mecanismos de financiamento do SUS e do valor

repassado pelas outras esferas de governo ao município, apesar de este órgão

ser o responsável pelos dados relativos ao faturamento. O método de trabalho

não promove a articulação direta com o setor de planejamento.

A relação com as outras coordenadorias revela-se informal e não há

reuniões de toda equipe gestora do sistema mas trocas informais,

notadamente, com a Saúde Coletiva e a Individual, motivados pelo

cadastramento de unidades cuja revisão é mensal.

Em síntese, o setor competente pelas ações de controle, avaliação e

auditoria da atenção à saúde em Duque de Caxias, embora execute algumas

medidas, como atualização do cadastro de unidades, alimentação de banco de

dados nacionais sob a responsabilidade do SUS, auditoria de serviços

prestados, monitoramento da regularidade e fidedignidade das informações,

mostra sua atuação limitada, uma vez que não desenvolve ações de avaliação

conforme estipulado na NOB SUS 1/96. Não há o cumprimento da função de

avaliar resultados e redirecionar programas, atividades estas imprescindíveis

para a constituição de um sistema municipal de saúde efetivo.

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5. O FINANCIAMENTO DO SETOR SAÚDE

Este último âmbito de análise, referente ao financiamento do setor, não

trata do conjunto de atribuições previstas pela NOB SUS 1/96 para habilitação

na condição de gestão plena do sistema. Todavia, em vista da necessidade de

alocação de recursos para que a gestão municipal possa assumir as

recomendações da Norma, breve análise da composição do balanço municipal

da saúde torna-se pertinente.

Na expectativa de retratar o perfil dos gastos do SUS no município, as

informações contempladas incluíram: receita municipal; o montante de

recursos destinados à execução das ações e serviços de saúde, tanto próprios

quanto a parcela repassada por outras administrações; e os gastos segundo

item despesa. Os dados são referentes aos anos de 1997, 1998 e 1999.

Em 1999, os gastos públicos com saúde, em Duque de Caxias,

considerando os recursos próprios e os repasses federais para o SUS, foram

de R$ 66.933.852,00. Comparativamente a 1997, observa-se um aumento de

23,7%. Verifica-se maior aporte de recursos próprios e diminuição dos

repasses federais.37 A elevação dos gastos com recursos próprios

acompanhou a evolução da arrecadação, que também apresentou aumento

significativo no período (tabela 10).38

Tabela 11: Arrecadação municipal, recursos e gastos/SUS segundo fonte Duque de Caxias 1997- 1999 (em R$ a preços correntes)

Ano 1997 1998 1999 Arrecadação Municipal Total* 201.140.186,6 249.263.774,0 269.368.978,4 Recursos orçados/SUS total 63.738.635,8 59.395.351,8 66.949.284,4 Gastos c/ recursos próprios 18.299.029,2 19.934.155,3 27.686.291,1 Repasses federais no ano 45.439.606,5 39.461.196,5 39.262.993,3 Gastos/SUS total 51.038.189,9 63.251.461,3 66.933.852,4 Fonte: balanços da SMS/DC de 1997 e 1998 em meio magnético e Relatório de Gestão/1999 -(Elaboração própria)

37 Nos documentos consultados não havia menção a repasses estaduais. 38 O índice de variação anual da inflação (IPC) foi de 7.2, 1.7 e 9.1 nos anos de 1997, 1998 e 1999, respectivamente. (FGV. 2000. Conjuntura Econômica. 54 (3):16-17)

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Identifica-se ajuste progressivo na execução orçamentária quando se

comparam recursos orçados e despesas realizadas. Em 1997, parcela

significativa dos recursos orçados não foram definidos como gastos na

contabilização do balanço.39 Naquele ano, o montante repassado pela União

foi R$45.439.606,50. Se, dessa verba, houver dedução do quantitativo

destinado a programas específicos, R$7.598.518,50, a diferença entre o orçado

e o realmente gasto ainda seria de cerca de 5 milhões de reais.

Em 1998, foram gastos R$ 3.856109,50 a mais do que o orçado,

supostamente cobertos com o saldo do ano anterior. Em 1999, houve maior

aproximação entre recursos orçados e liquidados, indicando possível

aperfeiçoamento gerencial.

Nesses anos de vigência do SUS, uma das principais reivindicações do

setor com relação ao financiamento tem sido a garantia legal da alocação de

percentual da receita fiscal para a saúde. A Emenda Constitucional nº 29,

aprovada em 13 de setembro de 2000, determina que os municípios devem

contribuir com 15% da arrecadação, que inclui impostos municipais e

transferências recebidas da União e dos estados, não vinculadas a rubricas,

previstas na Constituição Federal (Fundo de Participação de Municípios – FPM,

IPVA, ICMS e Fundo de Participação sobre Exportações - FPE). Os municípios

que não aplicam o percentual estabelecido na lei máxima devem alcançá-lo até

2004, diminuindo a diferença na razão de 1/5 ao ano.

Em Duque de Caxias, a Secretaria Municipal de Saúde ainda não

disponibiliza dados que permitem calcular a proporção de recursos próprios

gastos em saúde, conforme o estipulado na Emenda Constitucional nº 29.

Todavia, é possível fazer algumas aproximações para estabelecer proporções

dos dispêndios municipais nesse âmbito.40

Considerando-se a arrecadação municipal total, incluindo repasses da

União e dos estados atrelados a rubricas, o gasto público em saúde com

39 Segundo o balanço orçamentário de 1997, dos R$45.439.606,50 repassados ao município, R$7.598.518,50, correspondiam a transferencias para programas específicos, como, por exemplo, o do leite. Ao que tudo indica, essa quantia não foi contabilizada nas despesas liquidadas. 40 Não foi possível acessar dados referentes à arrecadação municipal detalhada, especificando transferências. Segundo um dos entrevistados o repasse SUS é o de maior volume, seguido pelo FUNDEF, cujo volume seria muito menor.

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recursos próprios no anos de 1997, 1998 e 1999 representou, respectivamente,

9,1%, 8% e 10,3% da receita (quadro 12). Retirando os repasses SUS e

levando em conta o volume de recursos, esses percentuais aumentariam para

11,8%; 9,5%; e 12,0%, respectivamente.41

Quadro12: Relação gastos SUS/arrecadação total, gastos SUS - recursos próprios/arrecadação total e gasto per capita - Duque de Caxias 1997- 1999

(em R$ a preços correntes)

Ano 1997 1998 1999 Gastos SUS/arrecadação total 25,4 % 25,4% 24,8% Gastos SUS-Rec.próprios/arrec. total 9,1% 8,0% 10,3% Gasto per capita 71,8/hab/ano 85,8/hab/ano 89,6/hab/ano Fonte: balanços da SMS/DC de 1997 e 1998 em meio magnético e Relatório de Gestão/1999 -(Elaboração própria)

Outro dado importante refere-se os gastos em saúde em relação à

arrecadação total do município. Em Duque de Caxias, nos anos estudados,

esse percentual significou cerca de 25%, apesar do baixo valor do gasto per

capita – menos de R$ 90 em 1999 (quadro 12). Logo, naquela localidade um

quarto de toda a receita tem sido destinado às ações e serviços de saúde. Tal

informação retrata a relevância desse setor na administração municipal e indica

a necessidade de um gerenciamento competente a fim de otimizar gastos na

garantia desse direito constitucional.

As tabelas seguintes (12 e 13) referem-se aos gastos de acordo com o

item de despesa e fonte da receita, complementando as informações da tabela

11. A elaboração destas tabelas buscou, dentro do possível, manter o mesmo

formato apresentado nos balanços e relatórios fornecidos. Sendo assim, alguns

elementos serão detalhados na tabela 14, com o intuito de facilitar a

compreensão das informações.

41 Segundo Marques e Mendes (2000), a União e os estados têm apresentado redução dos gastos públicos em saúde, ao passo que municípios passaram a contribuir mais e muitos destes já alcançaram o percentual estabelecido na Emenda Constitucional nº 29.

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Tabela 12: Gastos/SUS no município de Duque de Caxias segundo tipo de despesa e fonte do recurso – 1997 a 1999

Anos Despesas Fonte* 1997 1998 1999

Vencimentos 00 16.755.840,6 18.507.972,1 21.688.186,900 7.400,3 46.823,4 106.743,3Material de consumo

SUS 8.473.635,6 12.582.913,2 11.348.364,2Acadêmicos/prestadores de serviços

00 316.586,2 677.250,8 786.990,6

00 1.169.138,9 4.804,2 4.607.613,7Serviços de terceiros/encargos SUS 21.251.872,8 26.724.943,0 26.192.447,1

00 50.064,0 247.304,8 121.774,5Investimentos/ material permanente SUS 3.013.652,3 3.052.577,5 549.950,8

00 - - 347.982,0Obras e saneamento SUS - 3.052.577,5 412.816,1

Restos a pagar SUS - - 412.826,0TOTAL - 51.038.189,9 63.251.461,3 66.933.852,4Fonte: Balanços da SMS/DC dos anos de 1997 e 1998 em meio magnético e Relatório de Gestão referente à 1999. Dados em reais correntes (Elaboração própria) *fonte 00 refere-se aos recursos próprios e fonte SUS aos repasses federais.

Conforme exposto nas tabelas 12 e 13, as despesa mais importantes,

considerado o volume de recursos consumidos, são: serviços de terceiros e

encargos, vencimentos e material de consumo. O item serviços de terceiros e

encargos é o que consome maior volume de recursos, em 1999 alcançou a

marca de 46% dos gastos em saúde/SUS no município.

Tabela 13: Gastos relativos/SUS segundo item de despesa - Duque de Caxias – 1997 a 1999

Despesas 1997 1998 1999 Serviços de terceiros/encargos 43,9 42,3 46,0 Vencimentos 32,8 29,3 32,4 Material de consumo 16,6 20,0 17,1 Investimentos/material permanente 6,0 5,2 1,0 Obras e saneamento 4,3 1,1 Acadêmicos/prestadores de serviços 0,6 1,1 1,2 Restos a pagar 0,0 0,6 TOTAL 100,0 100,0 100,0

Fonte: Balanços da SMS/DC dos anos de 1997 e 1998 em meio magnético e Relatório de Gestão referente à 1999. (Elaboração própria) Dados em reais correntes

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A categoria serviços de terceiros e encargos inclui pagamento de

prestadores privados, referente a internações e a procedimentos ambulatoriais,

e ainda pagamento de serviços terceirizados que, por sua vez, englobam:

manutenção e limpeza das unidades, fornecimento de refeições, cooperativas e

reparo de equipamentos e de veículos. Esse item dispõe de algumas

especificações para os anos de 1998 e 1999 (tabela 14).42

Tabela 14: Gastos/SUS e principais itens de despesa que compõem a categoria serviços de terceiros e encargos, em valores absolutos e percentuais - Duque de

Caxias –1998 e 1999

1998 % 1999 % Gastos/SUS 63.252.461,3 100,0 66.933.852,4 100,0 Serviços de terceiros e encargos 26.729.747,2 42,3 30.800.060,8 46,0 Serviços médicos (hospitalares e ambulatoriais) 10.418.075,6 16,5 12.082.305,0 18,1 Manutenção e limpeza 6.091.598,7 9,6 7.121.365,2 10,6 Fornecimento de refeições 4.107.413,5 6,5 2.734.835,4 4,1 Cooperativas Médicas 4.010.625,0 6,3 3.194.520,6 4,8 Reparo de equipamentos e veículos 1.648.890,3 2,6 .... ... Fonte: Balanços da SMS/DC dos anos de 1997 e 1998 em meio magnético e Relatório de Gestão referente à 1999. Dados em reais correntes. (Elaboração própria)

Em 1999, os gastos com a cooperativas médicas e com o fornecimento

de refeições apresentaram sensível diminuição em relação ao ano anterior, ao

passo que as despesas para o pagamento dos serviços de limpeza e

manutenção das unidades teve aumento significativo. A diminuição da despesa

com cooperativas médicas deve-se à contratação por meio de concurso público

ao longo do ano de 1999, o que pode ser considerado um avanço em termos

de gestão.

Conforme mostra a tabela 13, os vencimentos abrangem as despesas

com salários de funcionários da SMS/DC, regidos por CLT ou estatutários, e

correspondem à segunda maior despesa. Em termos percentuais, a rubrica

representou nos anos de 1997 a 1999 respectivamente 32,8%, 29,3% e 32,4%

do total de gastos em saúde no município. Para esse tipo de despesa, são

utilizados recursos próprios. Outros profissionais, cedidos pelos governos

42Como os valores contemplados na tabela 14 referem-se apenas aos itens principais que compõem a categoria serviços de terceiros e encargos, o somatório não alcança o total gastos nesta rubrica.

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federal e estadual que prestam serviços ao município, não são considerados

como despesa própria.

O item material de consumo engloba, medicamentos, correlatos e gases

medicinais. O gasto com estes insumos variou de 16,6% a 20% das despesas,

sendo pagos ,principalmente, com repasses federais (tabela 13).

As despesas com acadêmicos e prestadores de serviços, que em termos

relativos não ultrapassou 1,2%, refere-se aos gastos com pessoas físicas, por

meio de contratos de curto prazo e estágios. Foram pagos exclusivamente com

recursos próprios.

Segundo a tabela 13, os investimentos em material permanente

receberam aportes significativos nos anos de 1997 e 1998, particularmente, do

Ministério da Saúde, com sensível diminuição em 1999. O item obras e

saneamento foi incluído a partir de 1998, consumindo naquele ano 4,3% dos

recursos e apenas 1,1% no ano seguinte (tabelas 13 e 14).

Os dados apreciados no presente estudo indicam preocupação, por

parte do município, com a execução das ações e serviços de saúde, visto que

houve aumento dos recursos destinados ao setor e, por conclusão, maior gasto

per capita (tabela 11). No entanto, alguns itens cujo volume de recursos

consumidos são elevados precisariam de análise mais apurada como, por

exemplo, as despesas com limpeza e manutenção, que em 1999 consumiram

cerca de 10% do total dos gastos públicos em saúde.

5.1 - Progressos e entraves financeiros na constituição do SUS municipal

Ao longo da primeira década de vigência do SUS, indefinições quanto ao

montante e regularidade de recursos a serem repassados aos municípios

constituíram-se em um dos principais entraves para a viabilização da

descentralização (Carvalho, 1999:31).

A primeira NOB/SUS deveria ter impulsionado o processo de

descentralização, mas ao condicionar os repasses financeiros à produção de

serviços, limitou recursos, restringiu a autonomia e dificultou a constituição de

sistemas municipais. Parte das dificuldades financeiras geradas por essa

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Norma foram superadas com a edição da NOB/SUS 93, quando municípios

habilitados em gestão semiplena passaram a receber repasses fundo a fundo.

No caso de Duque de Caxias, a habilitação na condição semiplena

possibilitou ao executivo local mais liberdade de ação e maior quantidade de

recursos para gerir o sistema, uma vez que os repasses não estavam mais

vinculados à produção de serviços, suscetíveis a variações. (Entrevista 2)

A NOB SUS 1/96 inovou, já que estabeleceu o Piso da Atenção Básica,

cujos repasses obedecem à lógica per capita para financiar um grupo de

procedimentos (PAB fixo) e a implantação de determinados programas e ações

(PAB variável), atentando ainda para as ações de vigilância sanitária e

epidemiológica.

Essa nova modalidade de transferência, ao assegurar recursos para

todos os municípios da União, independente da produção de serviços e da

condição de habilitação, teve por propósito impulsionar a assistência no

primeiro nível de atenção à saúde.

Dos R$ 39.262.999,34 repassados pela União para o município de

Duque de Caxias em 1999, 22% eram destinados à atenção básica. Com a

implantação de equipes de PSF, em 2000, estima-se aumento dessa quantia

para 2001.

Se por um lado, os novos critérios para o estabelecimento de repasses

federais previstos na NOB SUS 1/96 constituíram-se em avanços, por outro, a

não atualização de determinados valores tem gerado problemas. Em Duque de

Caxias, os baixos valores pagos por determinados procedimentos estariam

contribuindo para a diminuição da oferta de leitos por parte do setor privado. A

alternativa encontrada pela gestão municipal para minimizar esta dificuldade foi

utilizar os recursos provenientes do excedente de AIH para negociar preços

com os prestadores privados. (Entrevistas 2 e 6)

Em suma, ao analisar o financiamento do SUS em Duque de Caxias nos

anos de 1997 a 1999 duas questões se destacaram: o aporte crescente de

recursos destinado às ações e serviços de saúde, apesar da diminuição dos

repasses federais e a melhora da execução orçamentária. Com relação ao

financiamento, pode-se concluir que a gestão local tem investido no setor. No

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entanto, é importante ressaltar que o município em estudo é o segundo em

receita corrente no estado, e dispõe de maior volume de recursos, embora seja

o quarto em população (tabela 1 e 3).

Se por um lado, a disponibilização de recursos em volume

moderadamente crescente para gerir o sistema de saúde constitui-se em

avanço, por outro, é preciso atentar para o fato de que apesar de Duque de

Caxias ter comprometido cerca de 25% da arrecadação municipal nos anos de

1997 a 1999 com as ações e serviços de saúde, esta administração não

conseguiu responder pelos procedimentos de maior complexidade, como

preconiza a NOB SUS 1/96 para municípios em gestão plena do sistema.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: AS DIFICULDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DA NOB/96 EM DUQUE DE CAXIAS

A implementação caracteriza-se como o momento em que a política se

transforma em programa, de acordo com as diretrizes e objetivos expressos

nas leis ou normas (Martes et al., 2000; Meny e Thoenig, 1992; Hogwood e

Gunn, 1984; Perez, 1999). É a fase da política pública durante a qual os

marcos normativos de intenções geram fatos e ações. Conforme visto no

primeiro capítulo, esta etapa é marcada pela imprevisibilidade, renegociações e

até modificações no rumo da política. Os implementadores não são meros

executores, estão em situação de participar do processo decisório.

Como etapa do policy making a implementação precisa ser

acompanhada. Deve-se avaliar se a execução de determinado programa

continua de acordo com suas diretrizes e objetivos ou se estão ocorrendo

modificações no rumo da política delineada. Neste caso, torna-se necessário

investigar os motivos dos descompassos e examinar as estratégias de

reajuste, direcionadas ao alcance dos objetivos inicialmente propostos, ou

mesmo à reformulação dos propósitos iniciais.

A princípio, a NOB SUS 1/96 se implementada de acordo com as suas

diretrizes, deveria favorecer a adoção de responsabilidades por parte do gestor

local e, portanto, promover avanços na constituição de sistemas municipais de

saúde. No entanto, isto não vem acontecendo de modo pleno, ainda que se

observem avanços na organização da rede básica e na capacidade gerencial

dos administradores municipais. Constatou-se neste trabalho que em Duque de

Caxias há importantes dissonâncias entre o que a norma preconiza e o que

está sendo realizado, ou entre o que foi delineado e o que está sendo

implementado.

Os descompassos entre o recomendado e o efetivado, reconhecidos nos

vários âmbitos de análise deste estudo, resultam de dificuldades que podem

ser agrupadas em três categorias: técnico-operacionais, gerenciais e

financeiras, que tendem a ocorrer de forma interdependente. A mesma

dificuldade pode estar relacionada com problemas de diversas ordens.

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As falhas técnico-operacionais referem-se, sobretudo, à organização e à

oferta de serviços assistenciais, primeiro âmbito de verificação. No momento da

pesquisa, a administração municipal dispensava esforços na organização da

atenção básica, que por sua vez ainda não apresentava resultados satisfatórios

a julgar pela concentração insuficiente de consultas de pré-natal (apenas

37,6% das gestantes realizaram mais de seis consultas em 1999) e a baixa

cobertura do PSF. Quanto às outras responsabilidades desse tópico, relativas à

atenção hospitalar e hierarquização da rede, observou-se que ainda há um

longo caminho a ser percorrido até a conformação de um sistema articulado de

atenção, em virtude da baixa relação leito por habitante (1,2/1.000), da

inexistência de mecanismos formais de referência e, da falta de acesso aos

procedimentos de maior complexidade. Em Duque de Caxias, parcela

significativa da população buscava internação em outros municípios (cerca de

54% em 1999).

A política formulada dificilmente poderia cobrir todas as contingências,

conforme discutido no primeiro capítulo. A NOB SUS 1/96 foi formulada pelo

Ministério da Saúde e deve ser executada pelos diversos municípios, que por

sua vez apresentam realidades e condições diversas. Na época da instituição

do SUS, quando houve o desencadeamento do processo de descentralização

das ações e serviços de saúde, Duque de Caxias não possuía rede básica

suficiente para atender à população local e a atenção hospitalar era viabilizada

principalmente por meio de prestadores privados contratados. Contudo,

atualmente vem ocorrendo o descredenciamento de prestadores devido aos

baixos valores pagos por determinados serviços.

Face a estas dificuldades, talvez o desafio na organização do SUS não

se localize na diminuição de atribuições, mas na adequação e no

monitoramento dessas responsabilidades mediante um conjunto de metas e

indicadores. Por ser gestora regional do SUS, a atuação da Secretaria Estadual

revela-se imprescindível, embora tal papel não tenha sido cumprido de forma

satisfatória. Neste fórum governamental é possível pactuar metas, definir

indicadores e monitorar resultados. Isto sobretudo porque o SUS não se limita

ao município, visto que as outras esferas de governo permanecem co-

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responsáveis pela garantia da atenção à saúde da população e a SES deveria

articulá-las.

Os transtornos na execução das ações de vigilância sanitária e de

vigilância epidemiológica, podem ser classificados como técnico-operacionais e

também gerenciais. As carências técnico-operacionais dizem respeito ao fato

de não ter sido estabelecida na norma parcela significativa das

responsabilidades da gestão local nesses dois campos de atuação, resultando

em indefinição de competências. Estas atribuições foram reguladas por

resoluções e portarias editadas posteriormente, até pela SES. Constata-se,

ainda, dificuldade de recrutar profissionais com perfil adequado para execução

de determinadas funções. A aceitação desses percalços vai ao encontro dos

postulados de Hogwood e Gunn (1984), que identificam como requisitos

necessários para o sucesso da implementação de políticas a existência de

recursos humanos suficientes e capacitados, além da clareza e concordância

dos executores com os objetivos.

As falhas ou omissões gerenciais, nesse âmbito de análise - ações de

vigilância sanitária e epidemiológica -, correspondem ao fato de que, apesar de

haver esforços para organização desses serviços por parte da administração

municipal, estas duas práticas são pouco utilizadas em seu potencial

diagnóstico de prevenção de riscos e de definição e priorização de metas.

Para o estabelecimento de um sistema municipal de saúde é essencial a

elaboração de diagnóstico que realmente corresponda à situação de saúde da

população e a epidemiologia é instrumento necessário, pois dispõe de métodos

que permitem conhecer o perfil de morbi-mortalidade da localidade. Este

serviço não deve restringir-se a ações de vigilância como fim mas, sim,

procurar maior articulação com as outras práticas desenvolvidas, influenciando-

as.

A vigilância sanitária, como forma de identificar riscos potenciais à saúde

de indivíduos e populações, também possui utilidade diagnóstica e deve ser

considerada tanto para fins de reconhecimento de problemas quanto para a

definição de prioridades.

129

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A constituição de sistemas municipais que atentem para o conceito

ampliado de saúde requer modificações na forma de intervenção. Uma das

propostas de reorganização das práticas de saúde na esfera local seria a

operacionalização do modelo de vigilância da saúde, que, entre outras

atuações, busque integrar a vigilância sanitária e epidemiológica ao conjunto

de ações e serviços (Teixeira et al., 1998). Maior responsabilidade das equipes

locais pelo conhecimento da situação de saúde da população e da

implementação de medidas, tendo por base um território previamente

delimitado, configura-se como requisito básico para a efetivação desse modelo.

Outras dificuldades de caráter gerencial dizem respeito ao planejamento

local em saúde e à atuação do setor responsável pelas ações de controle,

avaliação e auditoria.

O Plano de Saúde em vigência no momento da pesquisa de campo

atendia, na maioria dos seus itens, ao modelo sugerido pelo órgão regulador

(Ministério da Saúde), mas não contemplava metas e estratégias para

solucionar os principais problemas de saúde identificados. Neste âmbito de

análise, destacou-se, também, a fragilidade da articulação com a administração

estadual e com os outros municípios limítrofes, já que ainda não estavam

consolidados os pactos intermunicipais e com o Estado, como meios de

garantir o atendimento integral à população.

As ações de controle e avaliação também não estavam sendo

implementadas a contento, uma vez que o órgão local responsável por

executar tais atividades exercia apenas atividade de controle e não estava

direcionado a avaliar resultados, com o intuito de reorientar programas

vinculados a metas. Sua principal função era o controle e liberação das

autorizações para realização de procedimentos. Os responsáveis por tais

medidas não tinham clareza da função de avaliação dos resultados da atenção

prestada e os dados produzidos pela SMS/DC não seguiam o fluxo destinado.

Os técnicos que estavam à frente das coordenações da SMS/DC não se

reuniam como equipe gestora e a maioria não tinha domínio dos trâmites

gerenciais do SUS. Eles cumpriam tarefas sem demonstrar envolvimento com

metas e diretrizes determinadas. Vale citar novamente que a clareza dos

130

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objetivos e concordância com os mesmos por parte dos responsáveis pela

implementação são condições referidas por Hogwood e Gunn (1984) para o

sucesso da implementação. A articulação desses profissionais e,

consequentemente, das coordenações possibilitaria maior adesão aos

postulados do SUS, promoveria empenho na resolução dos problemas e

favoreceria transparência na gestão do sistema local. Estes fatores são

indispensáveis para a composição de um sistema público de saúde efetivo e

democrático.

As dificuldades de ordem financeira, embora perpassem praticamente

todo o conjunto de atribuições estabelecidos na NOB SUS 1/96, em virtude da

relevância da alocação de recursos para implementação das medidas

pertinentes, ganham ênfase pelo fato de a gestão municipal ter despendido,

nos anos de 1997, 1998 e 1999, cerca de 25% da receita municipal (incluindo

transferências federais) na execução das ações e serviços de saúde e ainda

assim não ter assumido a totalidade das responsabilidades estabelecidas para

a sua condição de gestão.

Como podemos verificar, a constituição do SUS em Duque de Caxias

requer novos investimentos e apresenta atrasos em seu estágio de

implantação de acordo com as exigências da norma vigente. Pode-se

considerar que vários fatores contribuíram para esse descompasso, tanto

internos quanto externos aos âmbitos de governabilidade do gestor municipal.

São exemplos de fatores externos: o fraco desempenho da esfera estadual

enquanto gestora regional do SUS em governos anteriores, por

constrangimentos políticos e; dificuldades geradas por normas precedentes,

seja pelo que determinavam, seja por não contemplarem certos aspectos da

atenção à saúde. Entre os fatores internos destacam-se: as condições próprias

do município, tanto técnicas, tendo em vista que a rede de serviços era

precária ou insuficiente, quanto gerenciais, uma vez que muitos profissionais

tiveram de empenhar-se na realização de determinadas tarefas até então

desconhecidas.

Ao referir-se às dificuldades na implementação do SUS local é

fundamental levar em consideração o pouco tempo de vigência da NOB SUS

131

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1/96 pois, embora as responsabilidades preconizadas tenham sido

estabelecidas como critérios para aprovação na forma de habilitação, os

municípios precisam dispor de um certo período para implementar

determinadas medidas cuja realização depende de condições inexistentes até

então.

Soma-se a isso, a situação de competências compartilhadas, como é o

caso da atenção à saúde, que exige a cooperação entre as várias esferas de

governo. Esta participação envolve acordos complexos dependentes da

solução de conflitos de interesses de diversas naturezas, com enfoque para os

político-partidários. Estes importantes aspectos, em virtude da limitação de

tempo e do escopo deste estudo, não foram analisados, mas estiveram sempre

presente nas entrevistas.

Pode-se concluir que a realização deste estudo possibilitou identificar

numerosos percalços na implementação da NOB SUS 1/96. Tal fato corrobora

a teoria de que esta etapa do processo de produção de políticas precisa ser

monitorada e, se necessário, rumos devem ser modificados, desde que sejam

fundamentados em análises concretas. Os problemas, necessariamente, não

se encontram restritos à fase de implementação e sua formulação também

pode apresentar falhas. Portanto, a interação entre formuladores e

implementadores é muito relevante.

Enfim, este trabalho constitui-se em estudo de caso e as constatações

dele decorrentes, por retratar uma situação real em seus múltiplos aspectos,

permite inferência e comparações com situações similares. Espera-se que a

realização desta pesquisa enquanto análise da implementação da NOB SUS

1/96, no âmbito local, contribua para desvendar as dificuldades na constituição

de sistemas municipais de saúde efetivos, em acordo com os princípios e

diretrizes legalmente estabelecidos, que declaram a saúde como direito de

todos e dever do Estado.

132

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Page 141: Regra e Realidade na Constituição do SUS Municipal ... · modificar regras sempre que estas não promovam a justiça. AGRADECIMENTOS ... MPAS - Ministério da Previdência e Assistência

ANEXOS

141

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................12

CAPÍTULO I - A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E A CONSTITUIÇÃO DO SUS ............................................................................................................................................................16

1. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE POLÍTICAS .......................................................................16 2. A ETAPA DE IMPLEMENTAÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DO SUS.........................................19

2.1 - Descentralização: breve revisão conceitual..............................................................................25 2.2 - Operacionalizando a descentralização – As Normas Básicas..................................................29 2.3 - A NOB – SUS 1/96 ....................................................................................................................34

CAPÍTULO II – METODOLOGIA .......................................................................................................42

1. ÂMBITOS DE ANÁLISE..............................................................................................................44 2. ESCOLHA DO MUNICÍPIO.........................................................................................................46 3. FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE DADOS..............................................................50

CAPÍTULO III - A IMPLEMENTAÇÃO DO SUS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E O MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS.................................................................................................54

1. A MUNICIPALIZAÇÃO DO SETOR SAÚDE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO...............54 2. O MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS....................................................................................59

2.1 - Características demográficas e sociais .....................................................................................59 2.2 - A situação ambiental de Duque de Caxias ..............................................................................63 2.3 - Histórico da atenção à saúde ....................................................................................................64

CAPÍTULO IV – DIMENSÕES ANALÍTICAS DA IMPLEMENTAÇÃO DA NOB 96 EM DUQUE DE CAXIAS: RESPONSABILIDADES DO EXECUTIVO MUNICIPAL ........................................71

1. ORGANIZAÇÃO DA REDE E OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE..................71 1.1 - Atenção ambulatorial ................................................................................................................72 1.2 - Atenção hospitalar.....................................................................................................................83 1.3 - Articulação da rede ...................................................................................................................91 1.4 - Responsabilidades previstas e medidas implementadas ...........................................................93

2. AS AÇÕES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA E EPIDEMIOLÓGICA ............................................94 2.1 - Contextualizando as ações de vigilância sanitária e epidemiológica ......................................95 2.2 - A Vigilância Sanitária em Duque de Caxias ............................................................................97 2.3 - A Vigilância Epidemiológica em Duque de Caxias..................................................................99

3. O PLANEJAMENTO MUNICIPAL DA SAÚDE........................................................................102 3.1 - O planejamento enquanto ferramenta da gestão municipal em saúde..................................102 3.2 - O Plano Municipal de Saúde ..................................................................................................103 3.3 - O Relatório de Gestão..............................................................................................................108 3.4 - As metas da esfera estadual e suas implicações na gestão municipal em Duque de Caxias109 3.5 - Os percalços do planejamento municipal em saúde...............................................................112

4. CONTROLE E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE..........................................................114 4.1 - As ações de controle, avaliação e auditoria em Duque de Caxias .........................................116 4.2 - Responsabilidades previstas e medidas implementadas .........................................................117

5. O FINANCIAMENTO DO SETOR SAÚDE .................................................................................119 5.1 - Progressos e entraves financeiros na constituição do SUS municipal .................................124

CONSIDERAÇÕES FINAIS: AS DIFICULDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DA NOB/96 EM DUQUE DE CAXIAS.............................................................................................................................127

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................................133

ANEXOS .................................................................................................................................................141

142

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ANEXO 1:

Responsabilidades dos municípios habilitados segundo a NOB 96 na

condição de gestão plena da atenção básica

RESPONSABILIDADES

• Elaboração de programação municipal dos serviços básicos, inclusive domiciliares e

comunitários, e da proposta de referência ambulatorial especializada e hospitalar para seus

munícipes, com incorporação negociada à programação estadual.

• Gerência de unidades ambulatoriais próprias.

• Gerência de unidades ambulatoriais do estado e da União, salvo se a CIB ou a CIT definir

outra divisão de responsabilidades

• Reorganização das unidades ambulatoriais sob gestão pública (estatais, conveniadas e

contratadas), introduzindo a prática do cadastramento nacional dos usuários do SUS, com

vistas à vinculação de clientela e à sistematização da oferta dos serviços.

• Prestação dos serviços relacionados aos procedimentos cobertos pelo PAB e

acompanhamento, no caso de referência interna ou externa ao município, dos demais

serviços prestados aos seus munícipes, conforme a PPI, mediado pela relação gestor-

gestor com a SES e as demais SMS.

• Contratação, controle, auditoria e pagamento aos prestadores dos serviços contidos no

PAB.

• Operação do SIA/SUS quanto a serviços cobertos pelo PAB, conforme normas do MS, e

alimentação, junto a SES, dos bancos de dados de interesse nacional.

• Autorização, desde que não haja definição em contrário da CIB, das internações

hospitalares e dos procedimentos ambulatoriais especializados, realizados no município,

que continuam sendo pagos por produção e serviços.

• Manutenção do cadastro atualizado das unidades assistenciais sob sua gestão, segundo

normas do MS.

• Avaliação permanente do impacto das ações do Sistema sobre as condições de saúde dos

seus munícipes e sobre o seu meio ambiente.

• Execução das ações básicas de vigilância sanitária, incluídas no PBVS.

• Execução das ações básicas de vigilância de epidemiologia, de controle de doenças e de

ocorrências mórbidas, decorrentes de causas externas, como acidentes, violências e

outras, incluídas no TFECD

• Elaboração do relatório anual de gestão e aprovação pelo CMS

Fonte: Norma Operacional Básica SUS 1/96

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ANEXO 2:

Responsabilidades de municípios habilitados segundo a NOB 96 na

condição de gestão plena do sistema

RESPONSABILIDADES

• Elaboração de toda a programação municipal, contendo inclusive a referência ambulatorial

especializada e hospitalar, com incorporação negociada à programação estadual;

• Gerência de unidades próprias, ambulatoriais e hospitalares, inclusive as de referência

• Gerência de unidades ambulatoriais e hospitalares do estado e da União, salvo se a CIB ou

a CIT definir outra divisão de responsabilidades;

• Reorganização das unidades sob gestão pública (estatais, conveniadas e contratadas),

introduzindo a prática do cadastramento nacional dos usuários do SUS, com vistas à

vinculação da clientela e sistematização da oferta dos serviços;

• Garantia da prestação de serviços em seu território, inclusive os serviços de referência aos

não residentes, no caso de referência interna ou externa ao município, dos demais serviços

prestados aos seu munícipes, conforme a PPI, mediado pela relação gestor-gestor com a SES

e as demais SMS;

• Normalização e operação de centrais de controle de procedimentos ambulatoriais e

hospitalares relativos à assistência aos seus munícipes e à referência intermunicipal;

• Contratação, controle, auditoria e pagamento de serviços ambulatoriais e hospitalares,

cobertos pelo TFGM;

• Administração da oferta de procedimentos ambulatoriais de alto custo e procedimentos

hospitalares de alta complexidade conforme a PPI e segundo normas federais e estaduais;

• Operação do SIH e do SIA/SUS, conforme normas do MS, alimentação, junto a SES, dos

bancos de dados de interesse nacional;

• Manutenção do cadastro atualizado de unidades assistenciais sob sua gestão, segundo

normas do MS;

• Avaliação permanente do impacto das ações do Sistema sobre as condições de saúde dos

seus munícipes e sobre o meio ambiente;

• Execução das ações básicas, de média e alta complexidade em Vigilância Sanitária

• Execução de ações de epidemiologia, de controle de doenças e de ocorrências mórbidas,

decorrentes de causas externas, como acidentes, violências e outras incluídas no TFECD.

Fonte: Norma Operacional Básica SUS 1/96

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ANEXO 3:

Prerrogativas referentes à gestão plena da atenção básica

PRERROGATIVAS

• Transferência, regular e automática, dos recursos correspondentes ao Piso da Atenção

Básica (PAB).

• Transferência, regular e automática, dos recursos correspondentes às ações de

epidemiologia e de controle de doenças.

• Subordinação, à gestão municipal, de todas as unidades de saúde, estatais ou privadas

(lucrativas ou filantrópicas), estabelecidas no território municipal

Fonte: Norma Operacional Básica SUS 1/96

Prerrogativas referentes à gestão plena do sistema municipal

PRERROGATIVAS

• Transferência, regular e automática, dos recursos referentes ao Teto Financeiro da

Assistência (TFA)

• Normalização complementar relativa ao pagamento de prestadores de serviços

assistenciais em seu território, inclusive quanto à alteração de valores de procedimentos,

tendo a tabela nacional como referência mínima, desde que aprovada pelo CMS e pela

CIB.

• Remuneração por serviços de vigilância sanitária de média e alta complexidade e,

remuneração pela execução do Programa Desconcentrado de Ações de Vigilância

Sanitária (PDAVS), quando assumido pelo município.

• Subordinação, à gestão municipal, do conjunto de todas as unidades ambulatoriais

especializadas e hospitalares, estatais ou privadas (lucrativas e filantrópicas),

estabelecidas no território municipal.

• Transferência de recursos referentes às ações de epidemiologia e controle de doenças,

conforme definição da CIT.

Fonte: Norma Operacional Básica SUS 1/96

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ANEXO 4:

Organograma da Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias

Secretário ExecutivoFundo Municipal de saúde

Coord. Vigilância eFiscalização Sanitária eControle de Zoonoses

Coord. de SaúdeIndividual

Coord. de SaúdeColetiva

Departamento de saúde Departamento deSuprimentos e Farmácia

Coord. de Informática

Gerente GeralGerentes distritais

Coord. de Planejamento Coord. de Controlee Avaliação

Departamento de Administração

Subsecretáriode Saúde

Secretário de Saúde Conselho Municipalde Saúde

Elaboração própria