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Reine  A história de uma Bruxa Alex Mayer 

Reine a Historia de Uma Bruxa Por Alex Mayer

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Reine A história de uma Bruxa

Alex Mayer

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DIREITOS AUTORAIS: Obra registrada no Escritório de Direitos Autorais (EDA) da FundaçãoBiblioteca Nacional (BN) sob o Registro N° 457.146, Livro 859, Folha 319.

Dedicatória

Dedico este livro a todo Coração Leve e toda Mente Livre que, neste confusamentetriste século XXI, mesmo cercados pelos espinhos do cinismo, pelas feridas do materialismo e pela doença do individualismo da Sociedade do Espetáculo e da Loucura, ainda acreditam naMagia da Virtude, na Magia do Bem, na Magia do Belo e na Magia do Verdadeiro!

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e desta forma a ilha de Atlântida se abismou no mar e desapareceu. É por isso que até hojeesse mar é difícil e inexplorável, devido a seus fundos baixos e limosos que foram depositadoscom a submersão da ilha”

Trecho 21d-25b da obra “Timeu”, obra escrita na Antiguidade pelo filósofo Platão

Todo o solo tremia assustadoramente por toda a parte!

O terror havia se instaurado no seio de um povo inteiro!As paredes do gigantesco Templo, construídas em cristal, metais e pedras preciosas,ruíam terrivelmente num espetáculo de horror.

O som apavorante dos estrondos da gigantesca construção desabando e de tudo o quehavia em toda a parte sendo devorado pela terra e pelo Mar Oceano atormentaria os ouvidosdo mortal mais corajoso!

Era a consumação da fúria das divindades em resposta às atrocidades da antigahumanidade!

E em meio ao Grande Cataclismo, uma última batalha se travava.No chão, jaziam os corpos de seis bravos Magos e Magas da Luz que deram suas vidas

e ofereceram suas mortes para que a Virtude sobrevivesse na outra Era que viria...Frente a frente, enquanto as paredes ruíam, dois homens ainda de pé, muito feridos pelocombate mortal que travavam, encaravam-se pela última vez...Os segundos pareciam momentos infinitamente eternos.... até que o homem todo

vestido de negro diz:- Só falta você, X! O último Mago do Círculo da Virtude ainda de pé!... Basta matá-lo e

aprisionar sua Alma para sempre e estarei eternamente livre de você!O último Mago, trajado de branco e dourado, com as vestes maculadas pelo sangue de

sua amada e de seus próprios ferimentos, sorri:- Então tente, Ludibrium! Mas olhe bem para meu rosto, pois será a ultima coisa que

você vai ver neste mundo antes de eu enviá-lo ao Abismo, verme maldito!E ambos, manipulando Forças da Natureza que iam muito além da nossa compreensão,

cruzam violentamente seus poderes e suas armas um contra o outro, enquanto as paredesruíam e o Mar Oceano avançava... sons ensurdecedores nasciam dos golpes violentos entre asArmas Magísticas e as manipulações das Forças Ocultas da Natureza que o Mago das Trevase o Mago da Luz lançavam um contra o outro...

Até que o Mago da Luz, num golpe veloz e certeiro, vara mortalmente, com a lâmina deseu cajado, o Mago das Trevas. Este cai de joelhos perante o homem cujas vestes brancas edouradas estavam manchadas de sangue inocente... o ente maligno tenta dizer-lhe algumaspalavras de maldição, mas o sangue em sua garganta não lhe permite dizer mais nenhumaatrocidade. E o Mago da Luz agarra fortemente o Mago das Trevas pelos cabelos, obriga-o aolhá-lo firmemente nos seus olhos e diz:

- Olhe bem para mim, seu maldito! Olhe nos meus olhos, a última coisa que você verá!Pelo Amor à Virtude, pelo Amor à minha esposa assassinada por você, eu agora o lanço noAbismo e de lá você não sairá até que a próxima Era esteja próxima de seu fim!

E gritando um poderoso encantamento, o Mago desfecha o golpe final contra seu maisterrível inimigo.

Acabou.Finalmente... acabou...O Mago deixa cair ao chão, sem ter mais forças, seu cajado tingido do sangue

amaldiçoado de seu inimigo... o cajado cai no piso de cristal do templo, ressoando levementepor todo o outrora glorioso salão, agora engolido pelo som ensurdecedor da ira da Natureza...

As paredes de cristal do Grande Templo Solar desabavam, devoradas pelas fúrias da

terra. O Mago aproxima-se dos seis corpos de seus irmãos de destino... Senta-se no chão, aolado do corpo de uma jovem mulher. Coloca-a em seu colo e, abraçando-a, com o rostobanhado em lágrimas, espera o seu próprio fim...

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O gigantesco Templo desaba, engolido pelo solo e pelos vagalhões furiosos do Mar Oceano, o Oceano Atlântico, que agora cobririam para sempre todas as terras, por toda a partedo continente onde a terra tremeu... e tudo, além do local que um dia Platão chamaria deColunas de Hércules, o Estreito de Gibraltar, desapareceu para sempre no fundo do Mar Oceano...

Era o fim da Era de Ouro...O fim da Era dos Grandes Magos e Alquimistas...

“Pecado, Doença e Morte,os 3 males que tem atormentado a humanidadedesde o fim da Era de Ouro,sustentam perversamente a Ilusão. Apenas a Luz da Verdade irradiada pela Virtude,vinda de infinitas e diversas lamparinas, poderá libertar a humanidadee conduzi-la ao nascer de uma verdadeira e eterna Era de Ouro:a Nova Era.” Antigo canto da Uma Tradição

Capítulo 1 - ReinePrimavera de 1921 - Aquitânia, Pirineus Atlânticos, Sul da França.

Você chegou... E espera algo de mim... Sinto isso nos seus olhos, nas suas mãostrêmulas! Você espera que eu lhe conte algo sobre Reine, não é? Sobre Magia, sobreBruxaria... Sobre os Guardiões... Enfim, você espera que eu lhe conte o que eu vi, não é? Vocêespera também que eu lhe conte o que significa o que está escrito nesse pórtico, na entradadeste jardim em que estamos, não é?

Nesse momento, o velho aponta para o imponente pórtico na entrada do jardim,trabalhado em bronze, e no seu alto a seguinte frase: “E o Leão morrerá para que a Virtude etudo o que ele mais amou viva para sempre no Jardim de Deus”.

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Bem... eu vi muita coisa... Posso te contar o que eu vi... Mas unicamente porque vejonos seus olhos que Você é uma pessoa especial... senão Você, com seus olhos tão puros esedentos pela Virtude, jamais teria chegado até mim, este pobre e decrépito velho...

Notei que você tem um lindo sotaque, que não escuto há muitos anos... É de Londres,não é? Ah, eu sabia, Você é da Inglaterra! Fez boa viagem até aqui, nos Pirineus franceses?

Bem... mas oh, desculpe-me a indelicadeza... nem me apresentei oficialmente a Você.Que grosseria a minha! Desculpe-me, é a idade! Quando se passa dos 90 anos, começamos a

cometer certas gafes indelicadas que não cometeríamos se fôssemos mais jovens... perdoe-me!Permita-me então que eu me apresente... Meu nome é Árthur. Também sou inglês como

Você! Mas vivi desde a juventude aqui, no sul da França, e passei a maior parte da minha vidanesta casa, a Mansão dos Spiritualité, no alto desta montanha... Fui governante desta Mansãoaté quando minhas pernas e meus olhos foram vencidos pelo cansaço da velhice... Vi geraçõesde Spiritualité passarem por mim, até que eduquei o último deles que nasceu, o Patrão Éxis...

Mas chega de falar de mim... Você certamente não deve ter vindo aqui para ouvir sobrea vida de um velho insignificante como eu. Você deve certamente estar se perguntando: “quemé Reine” ou “Ela é Bruxa? Como assim, uma Bruxa?” e coisas do gênero, não é, Compatriota?Posso lhe chamar assim, de Compatriota? Certo, então lhe chamarei dessa forma, Você queveio da minha amada Ilha do outro lado do Canal da Mancha!Vou lhe contar essa história baixinho porque não quero que Srta. Reine saiba que euestou novamente contando minhas histórias. Ela continua dizendo que não devo falar da vidadela e das coisas que aconteceram nesta Mansão para qualquer um. Mas Você, Compatriota,não é uma pessoa qualquer. Posso ver isso nos seus olhos e nas perguntas inteligentes queVocê me fez. Por isso eu lhe contarei a história de Srta. Reine, mas contarei baixinho, nestecantinho do jardim, e caso Srta. Reine chegue e lhe indague o que se passa, você diz que eu,o velho Árthur, estava filosofando de como o mundo parece-se com um imenso jardim.Estamos combinados, Compatriota? Certo então!

Quando Srta. Reine nasceu, lá pelos anos da década de 1870, o pai dela havia ficadomuito desgostoso com a vida. Ele havia ficado muito decepcionado: ele queria um menino enão uma menina. A mãe de Srta. Reine teve complicações após o parto e nunca mais tevecondições de engravidar. Assim, Srta. Reine foi a filha única deste casamento.

O pai da Srta. Reine era um homem equivocado... muito equivocado... Eu perderiaminha compostura agora e me arriscaria a afirmar que ele era um desqualificado! Machista,autoritário, agressivo e por vezes violento... Apreciava excessivamente as tavernas, asmulheres da noite, a bebida... Não dava atenção à sua família... deixava a esposa e a filhaabandonadas à própria sorte, enquanto saía a viajar com suas amantes. Gastava tudo queganhava com aquelas mulheres tão equivocadas quanto ele, deixando sua esposa e filhapassando severas necessidades num bairro miserável de Paris...

Com tudo isto, era natural que conforme a Srta. Reine crescesse, seu relacionamentocom o pai fosse tornando-se insuportável. Srta. Reine, que sempre ganhou a vida desde muitopequenina, vendendo coisas na rua, chegou à adolescência. Na efervescente Paris dos artistase pintores, descobriu a oportunidade de ganhar também algum dinheiro posando como modelo, já que ela era muito bela. Foi então que conheceu a Srta. Cristabel Blanche, pintora oriunda deuma rica família de Paris.

Srta. Cristabel, uma mulher refinada, erudita e muito culta, encantou-se pelo jeito únicode Reine. Com a convivência, que passava com o tempo a tornar-se cada vez menosprofissional e mais íntima, ensinou Reine a ler e escrever. Mostrou-a um novo mundo,completamente diferente dos becos miseráveis da Paris dos deserdados e dos esquecidos. Foiassim que Reine descobriu o mundo da Arte, da Pintura, da Literatura, da Filosofia, da Política,dos Direitos Civis, das Lutas Sociais, o mundo em que Cristabel vivia.

Todavia, mesmo com uma amizade tão valiosa, que lhe alçou vôo para um mundototalmente diferente daquele ao qual tinha nascido, Reine estava profundamente infeliz... Vaziae infeliz... e repleta de problemas insolúveis que se agravavam cada vez mais: problemas desaúde muitos estranhos que a atormentavam desde a infância, alucinações, visões de coisas

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que não existiam, uma fraqueza generalizada que parecia lhe sugar a vida... uma dor infinitamente gigantesca dentro de si mesma, como se milhões de pessoas chorassem emsofrimento dentro dela...

E Reine iniciou sua peregrinação: começou a buscar auxílio em diversos lugares. Com oapoio de Cristabel, andou pelos consultórios médicos mais renomados da França e de outrospaíses da Europa Central, e até mesmo da Inglaterra... Mas nada era encontrado: para osmédicos, Reine gozava de perfeita saúde em todos os exames que lhe eram realizados. Foientão que Srta. Reine desistiu dos consultórios médicos, desistiu da Ciência Oficial... ela

precisaria buscar ajuda em outras portas que não a dos médicos... foi assim que ela começoua conhecer o mundo dos ocultistas, dos espiritualistas e dos espíritas.Srta. Cristabel se opôs firmemente a essa idéia, em princípio... mas como a saúde de

Reine só piorava e todos os recursos médicos que o dinheiro podia pagar já se haviamesgotado, Cristabel aceitou auxiliar Reine em sua busca, embora descrente de que “ essascoisas” pudessem fazer algo de bom por Reine. Cristabel, marxista e promotora de reuniões dedebates e discussões socialistas, era uma materialista dialética convicta, e acreditava que ocaminho que Reine agora iniciava a seguir nada mais era que o ópio do povo, nada mais quepuro charlatanismo... Todavia o carinho que ela possuía por Reine a fez reconhecer que aquelatalvez fosse realmente a última esperança de salvar a menina.

E a peregrinação recomeçou, agora em locais diferentes. Reine e Cristabel procuraramajuda em diversos lugares. Não houve porta em que elas não haviam batido, procurandosocorro, amparo, auxílio, ou ao menos uma explicação convincente de porque a vida de Reineera um verdadeiro inferno sobre a Terra... Mas nenhuma porta que se abriu conseguiu ajudá-la.Muitas só deixaram a menina ainda mais confusa. Outras só arrancaram-lhe seu dinheiro. Ehouveram portas que nem sequer tiveram a compaixão de se abrirem para ela quando forambatidas, negando-lhe completamente o auxílio. E a situação ficou cada vez pior, até que Reinechegou aos 21 anos, nos anos da década de 1890... Foi então que Reine bateu à porta de umocultista, um famoso mago chamado León, que morava numa pequena e pacata aldeia daNormandia. Este mago tentou de todas as formas auxiliar Reine, sem conseguir resultadossatisfatórios. Até que um dia León, num ato de grande sinceridade e ética cósmica, típica deum verdadeiro amante da Virtude, assim falou para Reine:

- Senhorita, todos os meus recursos, todos os conhecimentos que eu possuo, eu jáutilizei... Realmente eu não sei mais o que fazer! Todavia acredito que eu conheça alguém quecertamente possa lhe ajudar: meu Mestre nas Ciências Ocultas e na Virtude. Ele mora naAquitânia, nos Pirineus Atlânticos.

León foi até sua mesa, em seu gabinete, pegou um pedaço de papel e escreveu algumacoisa; depois foi a uma gaveta, retirou uma soma em dinheiro e entregou nas mãos de Reine eCristabel, dizendo-lhes:

- Estou lhes devolvendo todo o dinheiro que vocês investiram em mim na esperança decurar a Srta. Reine, pois minha consciência não pode aceitar o dinheiro fruto de um trabalhoque eu não consegui realizar com êxito. Utilizem-no, se acharem necessário, para financiar asua viagem até os Pirineus, onde mora meu mestre. Aqui, neste papel, está seu nome eendereço.

Reine pegou o papel, trêmula... e leu com certa esperança incontida o nome daqueleque, àquela altura, já era a sua última esperança de voltar a viver: Sr. Spiritualité.

E foi assim que Cristabel e Reine vieram para cá, na Aquitânia, para este povoado nasmontanhas... foi quando eu a conheci...

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Capítulo 2 - Como conheci ReineNaquela manhã haviam chegado poucas pessoas na Mansão Spiritualité para consultar

com o famoso Mestre em Ocultismo e Magia, Sr. Éxis Spiritualité, o Patrão Éxis. Como decostume, eu conduzia os consulentes e os deixava aguardando na ante-sala ao Consultório,até que ele iniciava os procedimentos de consulta. Haviam sentado-se naquela ante-sala, aolongo de vários anos, pessoas de todas as classes sociais, de muitas etnias e das maisdiversas regiões da França, da Europa e até mesmo pessoas vindas da América e dascolônias européias na África e Ásia.

Estranhamente, naquela manhã, o fluxo de pessoas que chegavam em busca do MestreMago era muito pequeno. Haviam apenas duas pessoas aguardando, na ante-sala, que PatrãoÉxis iniciasse os atendimentos. Até que, enquanto eu realizava meus afazeres habituais, vi,

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através da janela, que uma carruagem subia lentamente pela estrada da montanha, a única viaque levava ao único ponto habitado naquele monte: a Mansão Spiritualité.

Desci calmamente as escadas e aguardei alguns instantes à porta da Mansão, até que acarruagem chegou. O condutor desceu de seu banco e abriu a porta da carruagem, auxiliandouma bela jovem, loira, de grandes olhos azuis, a descer da condução. Notei que ela estavacom muitas dificuldades para caminhar, muito pálida e muito abatida, então imediatamente fui junto ao condutor auxiliar a levar aquela jovem para o interior da Mansão.

Mal entrou na Mansão, auxiliei a jovem a sentar-se e o condutor saiu, esperando lá fora

junto à carruagem. Imediatamente lhe ofereci um chá revigorante, velha receita minha parasituações como aquela, e a jovem aceitou.Enquanto ela sorvia o chá com gosto, me apresentei.- Meu nome é Árthur, senhorita. Sou o governante desta Mansão e mordomo particular

do Sr. Spiritualité.- Obrigada pelo chá, Árthur - disse-me a jovem, em tom já revigorado e mostrando

bastante desinibição. Seu olhar estava agora demonstrando vivacidade, e eu diria, até mesmoousadia. Seu rosto superava a palidez inicial, descontraía-se, e mostrava uma expressão joviale ao mesmo tempo irreverente e até mesmo, desafiadora.

- Vim de Paris, Sr. Árthur. Vim indicada pelo Sr. León, da Normandia, em busca de umMestre em Magia chamado Sr. Éxis Spiritualité. Informaram-me que ele morava nesta Mansão,a única habitação que existe nesta longa estrada. Ele realmente mora aqui?- Sim, senhorita. Lhe indicaram tudo corretamente. Conheço perfeitamente o Sr. León!Ele morou conosco aqui por muitos anos, enquanto foi educado pelo Patrão Éxis nas CiênciasOcultas e na Virtude.

Ela estava muito ansiosa. Não somente suas palavras demonstravam isso, mas seucorpo irrequieto, cujos pés não paravam de se mover, denunciavam sua profunda inquietação.

Procurei então acalmá-la, planejando conversar algumas amenidades com ela até que,mais calma, eu a conduzisse à ante-sala do Consultório.

- E a senhorita, qual a sua graça?- Oh, perdoe-me Árthur. Estou muito nervosa, acho que o senhor já deve ter percebido, a

ponto de eu nem ter me apresentado! Desculpe-me! Meu nome é Reine, Reine Du Air.- Muito prazer, senhorita Du Air!- Não, Árthur, por favor, não me chame assim! Por favor, chame-me apenas de Reine,

está bem?- Está bem, Srta. Reine!Ela sorriu e completou:- Pode abolir o senhorita também! Pode chamar-me apenas de Reine, Árthur. Acredito

nos ideais revolucionários de nossa bandeira: igualdade, liberdade e fraternidade, por issoacho os pronomes de tratamento desnecessários, já que somos todos iguais!

- Oh, desculpe-me senhorita! Posso lhe chamar por seu prenome, naturalmente, masnão conseguirei evitar o pronome de tratamento “senhorita”, afinal tive uma educaçãorigorosamente clássica na Inglaterra, já tenho mais de sessenta anos, e estou, portanto, velhodemais para abrir mão de uma série de preceitos que adquiri em minha vida!

Srta. Reine riu descontraída e gostosamente. Acredito que ela tenha gostado de meuestilo de ser. Foi uma simpatia quase imediata, embora aquele ar de ousadia - e eu poderiadizer, muito mais que ousadia ou irreverência, um ar de enfrentamento até - que emanavadaquela jovem me deixasse um tanto quanto constrangido. Apesar disso, posso dizer que foiuma simpatia mútua imediata que se instaurou entre nós. Então Srta. Reine me respondeu:

- Está bem, Árthur! Pode me chamar de Senhorita se você sente-se mais à vontadeassim!

Observei bem aquela jovem, enquanto conversávamos amenidades que a deixavamcada vez mais descontraída, completamente diferente do nervosismo e abatimento com que

ela havia adentrado naquela sala. Seu ser emanava um ar que, senti, intuitivamente, iria ir deencontro frontal ao Patrão Éxis. Pressenti que a consulta com aquela jovem, tão irreverente,seria realmente muito complicada para o Mestre Mago. Definitivamente, não seria umaconsulta tranqüila, pois, posso dizer sem receio, que a jovem agora estava exalando uma

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atmosfera que beirava a prepotência, infelizmente... Percebi que ela tinha um longo caminho apercorrer na Estrada dos Ensinamentos da Vida... Estaria ela disposta a fazê-lo? Estaria eladisposta a percorrer esse caminho?

Minha velha intuição me alertava: Patrão Éxis teria uma consulta muito difícil aquelamanhã...

Conduzi Srta. Reine até a ante-sala. Ela seria a terceira e última pessoa a receber atendimento. A segunda pessoa já estava sendo atendida, e em breve chegaria a sua vez. Euestava apreensivo: a personalidade irreverente dela e o mau humor típico do Patrão Éxis dos

últimos anos iriam resultar numa combinação explosiva! Oh, que desagradável! Acho tãodesgastante esses atritos desnecessários... Mas seria inevitável...A segunda pessoa saiu do Consultório. Sua expressão fisionômica demonstrava o brilho

da esperança e a beleza do alívio. Estava sorridente. Creio que esta é a melhor parte ematender as pessoas que sofrem: vê-las aliviadas de suas dores, de seus sofrimentos, eiluminadas pelo sorriso poético da esperança! Conduzi a segunda pessoa até a porta de saídada Mansão. Srta. Reine estava novamente impaciente, muito nervosa quando cheguei até ela ea conduzi até o interior do Consultório. Patrão Éxis estava atrás de sua mesa, levantou-se, fezuma saudação à jovem dama. Ela retribuiu, nervosa e sem jeito, como se nunca tivesse tidouma única aula de etiqueta em toda a sua vida. Este foi o primeiro encontro entre os dois: aprimeira vez que seus olhares se cruzaram.

Saí do consultório e deixei os dois a sós. Fiquei sentado, apreensivo, na ante-sala,esperando o que iria resultar. Minha intuição estava me deixando aflito.Patrão Éxis fez um sinal com a mão para que Srta. Reine se sentasse na poltrona à

frente de sua mesa. Éxis sentou-se em sua cadeira. Colocou os cotovelos sobre a mesa,cruzando as mãos sob o queixo. Fitou a jovem profundamente nos olhos, como sempre faziacom todas as pessoas, e disse:

- Meu nome é Sr. Spiritualité, Éxis Spiritualité. Em que posso auxiliá-la?Mas Srta. Reine estava muito mais impossível do que de costume! E essa foi justamente

a primeira frase que ela dirigiu ao Patrão Éxis:- Você não é Mestre Mago? Por que você mesmo não descobre?Havia amargura, descrença, hostilidade e enfrentamento em suas palavras.Patrão Éxis moveu as sobrancelhas. Franziu a testa. Percebeu imediatamente que

estava perante uma figurinha difícil. Mas não retribuiu aquela indelicadeza. Ao menos não por hora. Pegou de um canto de sua mesa um baralho que continha várias figuras medievais.Ficou o segurando nas mãos. E dirigiu novamente a palavra à Srta. Reine:

- Por favor, diga em voz alta seu nome completo e data de nascimento.Ela disse, nervosa.Nesse momento Éxis largou sobre a mesa as cartas, com as figuras voltadas para cima.

Era sua armadilha, sua vingança. Reine mordeu a isca:- Eu conheço estas cartas. É o Tarot de Marselha! Já o estudei!- Verdade? Então já que estou perante uma expert , porque você mesma não o joga e eu

fico aqui olhando? - respondeu Éxis, largando o baralho na frente dela, sarcástico e mostrandoexplicitamente a sua irritação com a irreverência da jovem.

Reine corou e silenciou. Percebeu que seu anfitrião não estava brincando, pois ele ficouconstrangedores instantes encarando-a profundamente nos olhos, carrancudo, esperandomesmo que ela tomasse o Tarot nas mãos...

Como ela silenciou, e constrangida pelo olhar fixo e firme de Éxis, passou a olhar para ochão, balançando a perna, nervosa, Éxis retomou o Tarot em suas mãos.

E Patrão Éxis ficou embaralhando e embaralhando as cartas... olhava para Reine,retirava uma carta... franzia a testa... repetia o processo várias vezes...

A jovem não se agüentou... aquele procedimento era completamente diferente de todosos que ela já havia presenciado em todas as cartomantes que já foi... e então perguntou:

- Não vai espalhar enfileiradas as lâminas na minha frente e pedir que eu escolha ascartas?Éxis deu um esboço de sorriso, visivelmente debochado, e respondeu olhando firme nos

olhos dela:10

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- Para quê? Para deixar seus obsessores manipularem o jogo através da tua energiaviciada? Esquece...

Éxis jogava e colocava as lâminas do Tarot por sobre a mesa... Imediatamente suasensibilidade canalizava o Plano Astral e o seu mental conseguia visualizar o problema deReine: ele estava diante de um caso de vampirismo espiritual muito grave, orquestrado por uma entidade das trevas muito poderosa, ardilosa e inteligente. Este era o motivo pelo qualReine havia feito toda a sua peregrinação em vão, o motivo pelo qual tantos ocultistas, magos,espiritualistas e espíritas não conseguiram solucionar o seu problema. O ente das trevas

estava por demais oculto, agindo por meios extremamente inteligentes e não convencionais.Era um autêntico caso de obsessão espiritual em que se aplicava ao pé da letra a frase que umgrande sábio da Antiguidade havia falado aos seus aprendizes quando estes lhe vieramreclamar que não conseguiram curar um “endemoniado”:

“Para esta classe de espíritos é necessário muito jejum e oração!” Era um caso muito complexo. Éxis precisaria da ajuda de seus pares. Precisaria do

Círculo da Virtude.Ao mesmo tempo, o Mestre Mago havia pressentido algo mais: que aquela entidade das

Trevas, muito perigosa e inteligente, era apenas a ponta de um grande iceberg. Havia muitomais a ser desvendado...

Éxis foi entrando no campo energético de Reine, até que chegou a acessar informaçõesde encarnações passadas da jovem. Nesse momento o Mago ficou lívido... Começou a suar frio... Não podia ser verdade o que ele via...

Ele a encarou novamente, com o rosto totalmente transformado. E a analisou de formacompletamente diferente. Olhou para seus longos cabelos loiros, que emolduravam seu rosto...olhou para aqueles enormes olhos azuis... não podia ser verdade...

Patrão Éxis deve, talvez, ter pensado isso: aqui na minha frente, está uma jovem de 21anos, passando por um dos quadros mais difíceis de se tratar que eu já vi... eu já tenho poucomais que o dobro da idade dela, já não sou mais nenhum jovenzinho... sinto sobre meu corpo opeso dos anos, o peso de tantos anos de combates contra as Trevas, o peso de tantos anos deluta pelos ensinamentos mais Sagrados do Ocultismo e da Virtude... estou já tão velho,prematuramente envelhecido pelas agruras de meu caminho... meu corpo é mais jovem que ode Árthur, mas minha Alma já se sente tão velha e tão acabada... e agora, do nada, numamanhã, sem que a Vida me avisasse nada, surge em minha presença, em minha vida, esta jovem...

Éxis foi interrompido em seus pensamentos por uma frase provocante de Reine, quevoltava à carga, alfinetando-o:

- Pelo visto, o Sr. Mestre Mago não está conseguindo desvendar meu problema, não é?O Mago saiu de seus pensamentos. Voltou a olhar a jovem fixamente nos olhos. Ela

revidou o olhar, sustentando o enfrentamento. E ficaram ambos se olhando duranteintermináveis instantes, até que ela arrematou:

- Não o culpo por fracassar... afinal, já estive nos melhores ocultistas de toda a Europa enenhum deles foi capaz de me mostrar uma solução... não se preocupe, você não está sozinhoem seu fracasso...

Realmente... a consulta, o primeiro encontro entre Reine e Éxis, foi um enfrentamentocontínuo, em que Reine parecia estar testando o solitário Mago da montanha, medindo forçascom ele o tempo todo. Mas aquela última frase realmente fez com que Patrão Éxis se irritassepra valer. Ele atirou o Tarot violentamente sobre a mesa, e fitando Reine com raiva, disseáspero e seco:

- Escute aqui, fedelha! Eu não sou o imprestável bêbado e mulherengo do seu pai! Se tutem raiva de todos os homens, com aquela conversinha furada de “todos os homens sãoiguais, todos são porcos machistas e chauvinistas” , isso é problema seu com seu pai, e nãomeu! Se você é sufragista e feminista daquelas que odeiam os homens, ótimo pra você,

prossiga com seu ódio e dane-se! Eu não tenho nada a ver com seus problemas, com seustraumas. Já que você tem tanta raiva dos homens, porque não faz uma coisa digna ao menos?Porque não sai por aquela porta por onde entrou e leve embora contigo seu ódio, e nunca maisvenha aqui perder seu tempo e fazer eu perder o meu?

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Dito isso, Patrão Éxis chamou-me, levantou-se violentamente de sua cadeira e apontoupara Reine a porta em direção à saída.

Reine ficou estática. Não esperava ouvir aquilo. Como ele sabia dos seus problemascom seu pai? Como sabia que ele era um bêbado e mulherengo? Como sabia que ela erasufragista e feminista? E o tom áspero de Éxis desarmou completamente o ímpeto desafiador da jovem irreverente. Ela não esperava uma postura tão decidida e áspera do tão famosoMestre Mago dos Pirineus. Reine ficou tonta. E sem saber o que dizer nem o que fazer,levantou-se cambaleante da poltrona e rumou depressa para a ante-sala, onde eu a estava

aguardando.Eu acompanhei uma moça abatida e pálida até a porta da Mansão. A auxiliei a subir emsua carruagem. E ela se foi, com lágrimas contidas nos olhos.

Imediatamente fui até a sala de consultas de Patrão Éxis e lá o encontrei mirando pela janela, fitando a carruagem da jovem desaparecendo enquanto descia lentamente a estrada damontanha. E os olhos de Patrão Éxis estavam úmidos. Eu já sabia o que havia acontecido:minha intuição, não a de um mordomo ou de um governante, mas a minha intuição de umvelho homem que criou, educou e viu crescer aquele poderoso Mago, havia acertado em cheio.Mas porque haviam lágrimas em seus olhos?

- Patrão Éxis, tudo bem com o senhor? - perguntei aflito.Ele suspirou longamente e me grunhiu alguma coisa.Aproximei-me da janela e vi a carruagem desaparecendo. Comentei:- Bem, uma consulente a menos... essa não volta mais...Patrão Éxis deu um leve sorriso e me respondeu:- Meu caríssimo Árthur, ela voltará... Não sei se foi ela que demorou demais para vir ou

se fui eu que esperei demais... realmente, não sei... mas pode contar, Árthur, que ela voltaráainda esta semana...

Não compreendi aquelas palavras de Patrão Éxis... aliás, não compreendê-lo deimediato era a coisa mais comum para mim, um velho tão tolo para tantas coisas... mas embreve eu o compreenderia completamente...

Capítulo 3 - Retorno

Reine subia em sua carruagem pela estrada até a Mansão do Mago, mais uma vez. Elaestava pensativa. Confusamente pensativa. Imagino que ela devia estar lembrando-se doencontro com Cristabel, logo após chegar à casa que alugaram na Aldeia ao pé daquelasmontanhas.

- Cris, estraguei tudo! - disse Reine chorando para Cristabel.- Como assim? O que aconteceu? - perguntou a Srta. Blanche, franzindo a testa e com o

olhar preocupado por detrás de seus óculos inconfundíveis.Reine chorava, se lamentava e suspirava. Quando acalmou-se, não sabia explicar o que

havia acontecido:- Simplesmente eu estava muito nervosa... e também sentia uma raiva enorme, algo quebeirava o ódio, daquele homem e de tudo o que ele representava... e eu nem o conhecia... me

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comportei como uma bárbara... não sei dizer de onde vinha tanta raiva, tanto ódio... então eleme mandou embora.

Srta. Reine não sabia dizer, não sabia explicar para Cristabel o que aconteceu. Mas láno seu íntimo, um pensamento muito estranho deve ter se apresentado... uma pensamento quedizia isso: “Eu o odeio porque ele me abandonou!” . Mas porque ela sentia isso e pensavatamanho disparate? Como aquele homem, que ela nunca havia visto antes na vida, poderia tê-la abandonado? Que loucura! Reine deve ter ficado preocupada e pensado: que doideira...estarei enlouquecendo?

Enquanto a carruagem subia mais uma vez para a Mansão do Mago, Srta. Reinecertamente cismava consigo mesma uma infinidade de coisas... Por que se comportou daquele jeito? Por que tanta raiva daquele senhor? E por que a sensação tão estranha de que ele ahavia abandonado, se nunca haviam se visto antes? Tudo aquilo era tão esquisito, tão...estranho... tão incomum... seus sentimentos e pensamentos davam voltas e mais voltas, comose fizessem verdadeiros nós dentro de sua cabeça... tudo estava tão confuso... ela não sabia oque fazer... só sabia que tinha que fazer uma única coisa: ir novamente à Mansão e desculpar-se com o Mestre Mago antes de ir embora para Paris...

Vi a carruagem chegando ao longe e reconheci pertencer à Srta. Reine. Estranhei muitoela estar retornando. Mas imaginei que deveria ser apenas algum recado dela, alguma cartaque o condutor devia estar trazendo para Patrão Éxis. Parei meus afazeres e fui até a porta,aguardando a chegada da condução.Quando a carruagem chegou, qual não foi a minha surpresa ao ver que Srta. Reineestava ali! Não é que o Patrão havia acertado? Ela havia retornado ainda mesmo naquelasemana!

Auxiliei-a, junto com o condutor a descer do carro. Ela estava novamente pálida eparecendo muito adoentada. Ela sorriu para mim e disse de imediato:

- Boa tarde, Árthur. Antes de mais nada, perdoe-me por todos os aborrecimentos que eulhe trouxe na minha visita anterior, por favor... perdoe-me...

Eu não soube o que responder! Não esperava um ato de tamanha humildade daquela jovem tão irreverente! Principalmente para um simples mordomo como eu! A conduzi para ointerior da Mansão e a sentei confortavelmente numa poltrona enquanto busquei rápido umpreparado de ervas em infusão para restabelecer as forças da menina. Voltei com o cháespecial e lhe ofereci:

- Por favor, Srta. Reine, tome-o, molhando bem a sua boca, fazendo bochechos antes deengolir, e logo irá se sentir melhor!

Ela sorriu, tomou conforme eu a instruí e me agradeceu.A jovem estava muito fraca, cerrou os olhos e descansou a cabeça na poltrona,

enquanto meu preparado especial de ervas fazia o seu efeito. Passados alguns minutos, elacomeçou a corar e recuperar as forças. Sorriu para mim, e disse-me:

- Árthur, você deveria abrir uma farmácia! Seus chás são realmente muito especiais,assim como você... muito obrigada!

Fiquei sem saber como responder ao seu elogio! Sorrimos um para o outro. Ela entãome falou:

- Árthur, vim não apenas me desculpar com você mas também com o Sr. Spiritualité,antes de ir embora para Paris. Eu me comportei de forma vergonhosa e não quero ir emboraantes de reparar o que fiz... poderia chamá-lo para mim?

Fiquei espantado. Mas imediatamente fui chamar o Patrão Éxis. Em alguns minutos eleentrava na sala. Srta. Reine se levantou imediatamente, muito nervosa. A simples presençadaquele homem a perturbava demais. Seria muito difícil agora falar qualquer coisa para ele, atémesmo um simples “olá” .

Ele estava de pé a sua frente. Ela estava muda, olhando-o assustada. Então Patrão Éxisquebrou o silêncio:

- Boa tarde, Srta. Reine. Veio insultar mais um pouco este “porco homem machista” ?Srta. Reine corou com a frase fria e ríspida do Mago, voltou os olhos para o chão, efazendo um visível esforço para superar seu mutismo, conseguiu gaguejar, completamentesem jeito:

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- Vim me desculpar com o senhor antes de partir para Paris... senti vergonha do modocomo me comportei e como tratei o senhor... perdoe-me...

Ela não conseguiu dizer mais nada... pegou suas coisas e rumou rapidamente para aporta de saída, olhando para mim, implorando com os olhos que eu abrisse a porta para queela saísse dali o mais rápido possível.

Patrão Éxis, surpreso, falou:- Espere, por favor! Não vá embora! Sente-se mais um pouco e tome um chá comigo...Srta. Reine estava muito nervosa, mas o tom subitamente amável do Mago, inesperado

para ela, funcionou como um tranqüilizante. Eu me aproximei, e procurando mostrar a poltronapara que ela se sentasse, lhe disse:- Srta. Reine, por favor, prove um dos meus deliciosos bolinhos, é uma velha e saborosa

receita de família para os chás da tardinha! Garanto que a senhorita iria adorar!E ela assentiu com a cabeça. E sentou-se novamente na poltrona.Ela então passou a fitar o Mago. E o viu caminhar para uma outra poltrona, à frente da

sua. Foi então que ela percebeu que aquele homem andava mancando um pouco, utilizandouma bengala para apoiar-se.

Ele sentou-se na frente dela. Colocou os braços sobre os descansos da poltrona e ficouobservando-a. Ela fez o mesmo, mas de forma completamente diferente da primeira vez emque se viram, no consultório. Ela observou que ele esboçava um sorriso amável para ela, umsorriso hospitaleiro e convidativo para uma agradável conversa.Foi então que ela reparou pela primeira vez em como era a aparência do famoso MestreMago das Montanhas. Reparou que ele estava trajando roupas alinhadas mas extremamentesimples para quem devia ser muito rico, pois aquela Mansão era enorme e muito refinada: suaroupa não passava de uma túnica toda negra, muito simples. Observou que o Mago era umhomem maduro mas que exalava um encantador charme, uma energia misteriosa eincrivelmente atraente. Reparou nos seus longos cabelos escuros, amarrados para trás à moda1700, com algumas mechas de fios brancos... Reparou na lucidez de seus olhos escuros e naprofundidade que aqueles olhos exalavam para qualquer um que os quisesse contemplar.

Tudo isso havia passado completamente despercebido para Reine no seu primeiroencontro com o Mago. Agora, no entanto, ela o enxergava com uma nitidez e de uma formacompletamente diferente.

A jovem divagava agora em seus pensamentos, analisando o Mago, até que percebeuque ele não desviou os seus olhos dos dela por nenhum instante. Nesse momento ela voltou asi, corou e olhou para o chão. E resolveu iniciar a conversa que o sorriso convidativo do Magoinsinuava:

- Acredito que começamos com o pé esquerdo... gostaria de apagar tudo, como quemapaga uma tela de pintura e começa tudo de novo, a partir do zero... pois bem! Meu nome éReine Du Air, muito prazer!

Patrão Éxis deu uma gargalhada da fala jovial da moça. E participou de sua jovialidade:- Meu nome é Spiritualité, Éxis Spiritualité. Muito prazer em conhecê-la, Srta. Reine!Aquela seria realmente uma tarde bem agradável!E a conversa se desenrolou entre os dois repleta de amenidades e gentilezas, enquanto

eu chegava e servia meu chá com bolinhos. Nesse momento, quando eu entrava na sala, aoabrir a porta, Alfred, o cão pastor belga do Patrão Éxis, cruza por entre minhas pernas, quaseme derrubando, e entra na sala, indo direto para o colo de Reine, onde colocou sua patasdianteiras, como que se pedisse carinho.

Reine gargalhou! Adorava animais, especialmente cães e gatos! E começou a conversar com o cão, palavras meigas, enquanto lhe fazia carinhos. Ela nos perguntou o nome dele.

Eu... e Patrão Éxis... ficamos assustados com aquilo! O cão era uma fera! Nunca seaproximava de ninguém sem rosnar e mostrar ferozmente os dentes, e apenas era carinhosodaquele jeito comigo e com Patrão Éxis! O que estava acontecendo ali? Alfred parecia até um

cachorrinho de crianças!Reine novamente perguntou o nome do cão, enquanto brincava e acariciava o animal.Foi então que eu e o Patrão Éxis balbuciamos, meio estupefatos:

- É Alfred...14

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E a jovem começou a acariciar o pelo todo negro de Alfred, o chamando pelo nome.Alfred abanava a cauda e latia exatamente como fazia comigo e com seu dono! Parecia queconhecia a Srta. Reine de muitos anos! Isso nunca havia acontecido com nenhum aluno oudiscípulo do Patrão Éxis, nem mesmo com seus pares do Círculo da Virtude... era algorealmente inacreditável!

Mas para que Srta. Reine pudesse apreciar seu chá, retirei Alfred dali e fechei a porta.Como o cão não parava de latir do outro lado da porta, fui para dentro com ele.

Ficaram a sós Reine e Éxis na sala. A conversa entre ambos se desenrolava amena e

agradável enquanto se deliciavam com o chá da tardinha: falavam de Paris, das Montanhas, daAldeia em que Srtas. Reine e Cristabel estavam instaladas... até que Éxis foi objetivo:- Srta. Reine...- Por favor, não me chame de senhorita... pode me chamar apenas de Reine!- Está bem, Reine...Patrão Éxis sorriu da espontaneidade da moça. Ficou alguns instantes calado. E

finalmente disse:- Reine, percebo que você tem algo muito sério para me dizer e está constrangida em

fazê-lo... por favor, faça-o, pois se não o fizer, infelizmente nada poderei realizar para teauxiliar, por mais que eu queira...

A jovem suspirou. Não sabia como começar... não sabia o que dizer... não sabia comofalar. Éxis, percebendo isso, disse:- Se você veio até a mim, e por duas vezes, é sinal de que confia em mim. E se confiaem mim e não sabe o que dizer, apenas repita o que eu vou dizer...

Srta. Reine ficou em silêncio, com seus olhos enormes fitando atentamente o PatrãoÉxis, aguardando ansiosa o que ele iria dizer. E ele assim falou:

- Repita para mim essa frase: “Mago Éxis, quero que você me ajude. Eu contrato osseus serviços”.

Reine, sem pestanejar, repetiu a frase.- Ótimo! Agora eu posso ajudá-la, sem pegar para mim o seu carma! Começamos seu

tratamento amanhã à noite.- Carma? Como assim? Tem a ver com as crenças dos povos da Índia e dos espíritas?Éxis nada disse, apenas sorriu. Ela perguntou novamente:- Tratamento? Então devo vir aqui amanhã à noite que horas?Éxis sorriu novamente. E respondeu:- Não, Reine, não é necessária a sua presença física aqui, nesta Mansão, amanhã à

noite. Basta você seguir as minhas instruções, que lhe darei agora.A jovem ficou mais uma vez ansiosa, fitando atentamente o Mago com seus olhos azuis

enormes, aguardando o que ele iria dizer:- Amanhã tenha um dia tranqüilo ao máximo que puder. Ou seja, evite irritar-se com

banalidades, evite se exaltar, evite pensamentos e sentimentos negativos e pessimistas aomáximo, colocando no seu lugar sentimentos otimistas, tais como: de cura, de regeneração, desaúde, de uma vida nova, de um novo horizonte luminoso que passa a se desenhar a partir dehoje em sua vida. A palavra chave é Esperança. Tenha esperança num futuro próximo muitomelhor do que foi toda a sua vida. Tenha esperança de ficar completamente curada de todos osmales que lhe afligem, pois tudo isso deixará de lhe afligir nas próximas semanas. Procure ler coisas leves, agradáveis, que lhe preencham o espírito de otimismo, de amor, de esperança ede fé.

Srta. Reine estava muito atenta. Patrão Éxis prosseguiu:- Vá para a cama às 21 horas, mesmo que esteja sem sono, e na cama procure relaxar,

respirando profundamente. A respiração não deve ser realizada apenas com o tórax, mas simdeve ser uma respiração relaxante: use também o abdome. Para isso, coloque as mãos sobrea barriga e sinta-a inflar para frente quando você inspirar... e desinflar quando você expirar.

Faça essa respiração até você se sentir muito relaxada e, sempre, pensando coisas boas.Quando os pensamentos e sentimentos ruins vierem, não os rechace, nem também lhes dêmuita atenção, apenas procure se concentrar em novos pensamentos e sentimentos, bons eotimistas.

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Éxis deu uma pausa. Sorveu uma boa dose de chá. E prosseguiu:- Será realizada em você uma verdadeira Operação Magística pelo Espaço, enquanto

você dormir. Por isso é importante você procurar ter um dia tranqüilo, bem calmo, para que anoite você possa relaxar bem e estar em melhor sintonia comigo e com os entes benéficos queirão te ajudar. Entendeu?

Reine assentiu com a cabeça. A próxima noite, sentia e imaginava ela, certamente seriauma das mais importantes de sua vida.

Capítulo 4 - O Círculo da Virtude: os Guardiões

dos 7 Elementos

Imediatamente após a partida de Srta. Reine, Patrão Éxis chegou para mim e disse:- Árthur, hora de enviar, mais umas vez, os nossos convites!Eu sorri. E disse:- Oh, Patrão Éxis! Então teremos uma noite bem movimentada amanhã! Será...

empolgante?- Mas e como, Árthur! Será muito empolgante! Iremos fazer uma visitinha de cortesia a

um velho conhecido nosso nas esferas inferiores. Ele realmente tem passado há muito doslimites e chegou nossa hora de darmos a ele esse recado...

- Seria interessante eu preparar doses extras de meus chás especiais para estasocasiões, Patrão Éxis?

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- E como, Árthur! Faça-os bem reforçados, porque pelo visto nossa visita será um tantotensa àquele cavalheiro das Trevas...

Eu entendi perfeitamente o recado. Seria uma operação bem complexa a da próximanoite, pois algo muito forte estava por detrás dos sofrimentos de Srta. Reine.

Imediatamente comecei a preparar os convites para a Srta. Aqueux e para os SenhoresFerrer, Herbe, Flamme e Terre. Peguei um cartão para cada um deles, cartão este onde estavadesenhado uma gravura que representava a Távola Redonda, com o Rei Arthur e seuscavaleiros sentados ao seu redor, e neste cartão, com o endereço de cada uma das pessoas,

eu apenas escrevia “ noite tal, tais horas” e mais nada. Realmente, mais nada era necessário,pois todos conheciam a senha para as reuniões do Círculo da Virtude no Templo da Mansão:aquele cartão, com o selo do Patrão Éxis.

Entreguei os cartões ao nosso mensageiro. Seu trabalho era fácil, pois todos osmembros da nossa “Távola Redonda” moravam na Aldeia próxima, a mesma em que as Srtas.Reine e Cristabel haviam se hospedado.

A próxima noite havia de ser empolgante!

*****

Conforme a noite caiu, os cavalheiros foram chegando. Eu os recebia e os levavaimediatamente para a Biblioteca da Mansão, onde Patrão Éxis os aguardava.Quando a dama e todos os cavalheiros estavam presentes, Éxis foi até uma prateleira

que todos já conheciam. Lá, moveu um livro falso, que escondia dentro de si mesmo umaalavanca. Esta moveu lentamente a pesada estante e revelou uma estreita abertura na paredede pedra. Patrão Éxis pegou seu lampião e cada membro daquela assembléia muito especialfez o mesmo, inclusive eu. Éxis passou pela estreita passagem primeiro, sendo seguido pelosoutros e por mim. A passagem dava para uma escadaria muito longa e estreita, escavada, comarchotes nas paredes, que Patrão Éxis ia acendendo com seu lampião. Descendo a longaescada, estávamos nas cavernas, nos subterrâneos da Mansão, de onde podiam-se ver osantiqüíssimos alicerces que por gerações sustentaram o lar dos Spiritualité.

E, numa das várias trilhas daquelas cavernas, de metros em metros, um archote nasparedes era aceso por Éxis até que chegava-se a uma caverna principal: a sede do Templo doCírculo da Virtude, o Templo dos Cavaleiros dos 7 Elementos!

Naquela caverna principal, a mais alta e mais extensa do complexo de cavernas quehaviam nos profundos subterrâneos daquela Mansão, incrustada naquela montanha, erguia-seum belo Templo, em estilo que lembrava vagamente o greco-romano mesclado ao egípcio, masque na verdade traduzia as memórias de Patrão Éxis de uma Era de Ouro que a humanidadesequer sonhava que um dia havia existido sobre a face da Terra. Aquela arquitetura tinha sidovista por Éxis desde sua infância, quando eu o acompanhava em suas primeiras descobertasespirituais mais inquietantes e perturbadoras: em sonhos, em Projeções Astrais, emmensagens do Além... E a partir de suas visões, e seguindo sua intuição de que havia umaenorme caverna próxima aos alicerces da antiga Mansão Spiritualité, lembro-me de quando o jovenzinho Éxis e eu nos embrenhamos montanha adentro, procurando a tal caverna, até que aencontramos, assim como aos alicerces da Mansão. Como os pais de Patrão Éxis já eramfalecidos, num acidente trágico, e eu era o tutor legal do pequenino Éxis, nunca conseguinegar-lhe um pedido sincero... e assim, a pedido do jovenzinho, contratamos operários dedistantes locais do mundo para que construíssem aquele Templo e aquela passagem secretapara a Biblioteca, pagando os operários muito bem para que mantivessem segredo sobreaquela obra, e que se, caso indagados, dissessem apenas que estavam sendo contratadospara reconstruir os velhos alicerces de uma antiga e tradicional Mansão em uma montanhafrancesa.

Eu criei e eduquei várias crianças da família Spiritualité... inclusive o pai de Éxis...gerações da família passaram por minhas mãos... todavia, embora amasse a todas aquelaspessoas, com nenhuma delas eu tive um vínculo tão estreito, tão intenso, tão belo e tãopaterno como o vínculo que me unia ao pequeno Éxis... Desde que nasceu, quando eu lhe fiz o

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parto e o peguei nos braços, ele lançou um olhar nobre pra mim que nunca esqueci: um recémnascido fazer isso! Ele não havia chorado, mas sim balbuciava algo a mim, o que mostrava queseus pulmões estavam funcionando bem após o parto... Mas aquele olhar... parecia umreencontro... parecia que um velho amigo de incontáveis eras estava em meus braços!

E o pequenino bebê foi crescendo... e se mostrando cada vez mais especial... Desde os4 anos Éxis mostrava ter dons extremamente incomuns, como “adivinhar ” os pensamentos daspessoas... entortar talheres da cozinha sem fazer força alguma, quase sem toca-los... e mover pequenos objetos apenas com o seu olhar concentrado neles! Isso tudo me impressionava

muito! Algumas vezes tentei mostrar seus dons a seus pais, estimulando o pequenino amostrar a eles o que ele me mostrava com tanta naturalidade: mas na frente de mais ninguémo menino demonstrava suas proezas! E eu por algumas vezes fiz papel de bobo, até queentendi o que se passava: havia uma espécie de “ acordo” entre o menino e eu... O acordo eraque só eu poderia conhecer o que ele sabia fazer e quem ele verdadeiramente era... era nossosegredo, só nosso, e de mais ninguém. Quando entendi isso, nunca mais contei ou revelei aninguém nada de especial que eu via o pequenino fazer.

Por volta dos 5 anos, após eu já estar muito impressionado com os inúmeros dons quemeu pequenino especial já havia me mostrado, ele começou a falar a sós comigo sobre coisasmuito estranhas para uma criança de 5 anos. Eu consegui compreende-lo porque, quando euera jovem, havia entrado em contato com alguns livros que falavam sobre doutrinas orientais,como a reencarnação... Temas espiritualistas sempre me chamaram a atenção, embora eu,como simples governante de uma mansão, não tivesse tempo para exercer qualquer atividadede estudos nos círculos esotéricos que pululavam naquela época na França e por toda aEuropa Ocidental.

Mas no seu quarto, quase sempre na hora em que eu o colocava para dormir, opequenino me dizia que tinha mais um segredo para me contar. E ele, ao longo dos meses, foime contando muitas coisas, sempre num tom muito sério, quase adulto, nem parecia que erampalavras ditas pela boca de uma criança de apenas 5 anos!

Pouco antes dos 7 anos, uma noite antes de ir dormir, o pequenino Éxis me contou queele havia nascido nesse mundo com uma missão e que precisaria de mim para concretiza-la.Eu lhe indaguei que missão era essa, mas ele me disse que dentro de alguns anos ela seriarevelada. Mas o menino, naquela mesma noite, me avisou: quando ele fizesse 7 anos, iria seiniciar para ele um período de tormento espiritual e lutas hercúleas pessoais que durariam 14anos, que iria ser vencido apenas quando ele chegasse aos 21 anos... ele me disse que elenasceu sob uma proteção espiritual especial, para que sua encarnação “ vingasse”, mas queessa proteção seria retirada quando ele fizesse 7 anos. E que até os 21 anos, ele deveria setornar um homem capaz de se proteger espiritualmente sozinho, para executar sua missão...mas se não conseguisse essa autonomia, seu corpo não resistiria às provações e ele “ voltaria para casa ”.

E as palavras do menino se tornaram realidade. Pouco antes de completar 7 anos, o paide Éxis, a quem eu queria como filho, assina uma série de documentos que me tornariam otutor legal do pequenino Éxis e de todos os seus bens até a sua maioridade. E, na noite doaniversário de 7 anos do menino, numa noite horripilantemente chuvosa, a carruagem em queviajavam o pai e a mãe do garoto, trazendo seus presentes de aniversário, sofreu um terrívelacidente num deslizamento de terra nas montanhas... e meu pequeno Éxis havia se tornadoórfão...

Os 14 anos de tormento haviam se iniciado... e que tempos horríveis para nós, pois meucoração não era o de um tutor ou um governante, mas como o de um pai...

Quando o jovem Éxis fez 14 anos, ele me revelou sua missão e o motivo dos váriosanos de tormento que ele estava passando: sua missão era formar um grupo de encarnadospara que se tornassem Guerreiros da Luz, para combaterem no mundo espiritual, sob a égidedas Divindades da Luz, as Trevas na espiritualidade1, sempre em busca da Justiça e das Leis

1 Nota do Autor : A grande espiritualista e ocultista inglesa Sra. Dion Fortune (1890 - 1946), em seu clássico livro“ Autodefesa Psíquica : um Estudo sobre a Patologia e a Criminalidade Oculta: como se defender dos ataques de natureza

psíquica desencadeados contra nós” , publicado no Brasil pela Editora Pensamento, nas páginas 145 e 195, fala a respeito dos“Vigilantes ”, que ela define como “ grupos de ocultistas que se reúnem no propósito de combater o Ocultismo Negro... tendo

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Celestiais, sempre em busca da Virtude, e para esse grupo de Guerreiros da Luz, chamados deGuardiões dos 7 Elementos, deveria lhes construir um Templo secreto...

Tantas lembranças...Tantas histórias para contar...Oh, Compatriota, me desculpe! Acabei me perdendo em minhas lembranças e deixando

de narrar a Você o que eu estava contando antes... Perdoe-me! Depois dos 90 anos acho queacabamos perdendo um pouco da objetividade, vencidos por nossas inúmeras memórias...

Como eu dizia antes, acho que eu falava sobre o Templo...

Bem, o Templo era enorme. Patrão Éxis acendia os inúmeros archotes em suasextensas paredes, auxiliado por seus companheiros. Em instantes, o Templo todo estavailuminado, e nele, podiam se observar as paredes ricamente adornadas com imagens em altorelevo das visões de Patrão Éxis sobre a Era Dourada e sobre os ensinamentos maisimportantes e valiosos da Uma Tradição, a Tradição do Círculo da Virtude, a Tradição dosGuardiões dos 7 Elementos.

Em uma posição central, havia um enorme altar, o Altar Mor. Ao seu redor, haviam 7leitos confortáveis, talhados em madeira, cada um contendo os símbolos sagrados de um dos 7Elementos da Criação, cada um consagrado a uma ou várias Divindades de Deus.

Antes de chegar ao Altar Mor, havia uma mesa de pedra circular, ricamente trabalhadacom entalhes de símbolos sagrados, e ao seu redor, 7 cadeiras de madeira sagrada, e no altodo encosto delas havia um local onde se encaixavam Insígnias Sagradas, medalhõesmagísticos. As Insígnias não estavam nos locais de encaixe das cadeiras porque estavampenduradas nos pescoços dos companheiros de Éxis, bem como em seu próprio pescoço: asInsígnias Magísticas dos 7 Elementos.

Com o Templo do Círculo da Virtude todo iluminado pelos archotes, cada um tomou asua cadeira ao redor da “Távola Redonda”; ela era assim chamada porque, à semelhança daTávola Redonda do Rei Arthur e seus cavaleiros, a mesa era circular para mostrar que nenhumdos seus membros era maior ou menor que qualquer um dos outros, mas sim que todos eramiguais; a Távola Redonda do Círculo da Virtude demonstrava que cada Elemento, que cadadom que cada Elemento simbolizava, que cada Divindade da Luz, eram não apenas iguaismas, também, igualitariamente importantes para que a Virtude se estabelecesse no mundo eno coração da Humanidade.

Na nossa Távola Redonda havia, entretanto, uma cadeira vazia, com uma Insígniaincrustada no alto de seu encosto: era a Insígnia do Elemento Ar, que ficava ao lado da cadeiraocupada por Éxis.

Todos tomaram seus assentos, em cada cadeira inscrita com os símbolos sagrados deseu Elemento. Apenas a cadeira ao lado direito do Patrão Éxis permanecia vazia. O Magoesperou todos se acomodarem em seus lugares, enquanto fitava aquele assento vazio ao seulado, como que se mergulhasse no interior da Insígnia do Elemento Ar.

Quando todos se acomodaram, Patrão Éxis foi direto ao assunto:- Dama... cavalheiros... estava agora tentando penetrar nos mistérios da Insígnia do Ar...

todavia, como sempre... ele permanece fechado... até que seu verdadeiro portador de direitovenha buscar o que lhe pertence desde há incontáveis eras...

- Pois é... e o cavalheiro responsável pela Insígnia do Ar até hoje nunca chegou até nós -disse o Sr. Ferrer, o Lorde do Metal.

- E se não fosse um cavalheiro, Ferrer? E se fosse uma Dama? - indagou Patrão Éxis.- Então a Srta. Aqueux não teria mais motivos para reclamar em ser a única dama deste

grupo! - e Sr. Ferrer deu uma gargalhada.- Ei, até parece que eu estou sempre reclamando sobre isso! - protestou a Srta. Aqueux.Patrão Éxis sorriu, e fitando o grupo, disse-lhes:- E se eu lhes afirmasse que tenho, quase certeza absoluta, que encontrei a dama a

quem pertence a Insígnia do Ar?

Todos ficaram espantados. O silêncio naquela imensa Câmara foi sepulcral! Até mesmoeu fiquei espantado com a afirmação de Patrão Éxis!

por tarefa caçar as Lojas Negras ”. A autora narra casos vivenciados por ela, muito interessantes, ocorridos na Inglaterra dosanos 1920, de brutais lutas em Projeção Astral contra ocultistas negros.

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O silêncio permaneceria indefinidamente, se Sr. Terre, Lorde da Terra, não interviesse:- Bem, Éxis... o que você sabe que nós não sabemos?... quem é a candidata, depois de

todos esses anos que buscamos em vão completar o Círculo da Virtude?Éxis pegou sua Insígnia nas mãos... passou seus dedos sobre seus símbolos

sagrados... e fitando sua Insígnia do Elemento Éter, falou baixinho:- Acredito que seja a jovem que iremos atender esta noite...Sr. Ferrer perguntou, curioso:- Jovem? Como assim? Que idade essa moça tem?

Éxis, já lendo os pensamentos de seu inquiridor, respondeu com um sorriso maroto:- 21 anos...- Quê!? Além de ser uma mulher, uma pirralha! 21 anos!! Isso é uma piada, Éxis?- Ei, olha o machismo! O que há de errado em ser uma mulher? E jovem? Lembrem-se

que eu comecei ainda jovem aqui no Círculo, e Éxis também! - protestou novamente Aqueux, aDama da Água.

- A idade não significa nada, desde que ela tenha um caráter à altura... e acredito queesse pré-requisito certamente já foi avaliado por Éxis. Agora restaria a ela apenas ser beminstruída quanto aos Mistérios e os Dons da Uma Tradição... - disse Sr. Flamme, Lorde doFogo.

Éxis sorriu novamente. E fitando sua Insígnia em suas mãos, disse:- Consultei o Oráculo... e ele me foi bem claro: se formos bem sucedidos na difícilmissão de hoje, de libertar essa jovem da grave e complexão obsessão espiritual e vampirismo

de que é vítima, ela em breve irá me procurar para trilhar o Caminho da Magia...Houve um silêncio geral.Srta. Aqueux comentou, rompendo o silêncio:- Bem... segundo a Uma Tradição, não podemos negar socorro a quem nos bate à porta,

exceto se a pessoa negar socorrer-se a si mesma... e não podemos negar ensinar os Dons eos Mistérios da Uma Tradição a todo aquele que o buscar de coração e Alma, exceto se opróprio buscador esmorecer e desistir de sua busca...

Patrão Éxis fitou a Srta. Aqueux e todos os membros do grupo. E lhes disse:- Por acaso, não foi assim com cada um de vocês? Por acaso eu não lhes ensinei tudo

que vocês um dia vieram à porta de minha Mansão buscar? Acaso alguma vez eu neguei algolegítimo a vocês em todos esses anos? Por acaso, eu não treinei e eduquei cada um de vocêsno caminho da Uma Tradição, comungando com vocês tudo que de mais sagrado eu sabia esentia?

Havia uma enorme dose se sentimento naquelas palavras de Éxis.- Claro que sempre fez isso conosco, Éxis! Por isso confiamos em você! Você educou

cada um de nós da melhor forma que poderia ter feito, a partir de tudo que você descobriu aduras penas, lembrando-se do seu passado milenar. Te respeitamos muito! E sabemos que sevocê acha que encontrou a portadora da Insígnia do Ar, assim como você encontrou cada umde nós, então ela sentará naquela cadeira ao seu lado um dia! - disse Srta. Aqueux, olhandofirme e desafiadora para Sr. Ferrer.

E ela prosseguiu:- Como ela é?Éxis sorriu. Olhou profundamente para Aqueux e disse:- Ela é como os ventos indomáveis de uma tempestade!- Hahaha, você foi tão poético, Éxis! Que belo! Se eu não o conhecesse, diria que está

encantado por ela! - disse Aqueux.Éxis sorriu completamente sem jeito. Não sabia o que responder! Tossiu, acomodou-se

melhor na cadeira, largou sua Insígnia, deixando-a pender sobre seu pescoço, e prosseguiu,em tom sério:

- Nossa paciente chama-se Reine Du Air. Mora no endereço tal, na Aldeia, junto com

outra senhorita chamada Cristabel. Ambas vieram de Paris, após peregrinarem pela Europainteira, desde consultórios médicos até grupos espíritas, espiritualistas e ocultistas, até queencontraram nosso amigo, Leon da Normandia, que a indicou até nós.

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Éxis deu uma pausa, e vendo que todos o fitavam em busca de mais informações,prosseguiu:

- Ela sofre de um obsessão e vampirismo complexos. O autor está no 5° níveldescendente das Trevas, e pela forma incomum e completamente fora dos padrõesconvencionais, e pela forma agressiva como age, acredito que é nosso velho conhecidoSenhor das Pestes...

- Oh, não... Lorde Morbus!... teremos de entrar em seu Reino mais uma vez? - indagouSr. Herbe, o Lorde do Vegetal.

- Possivelmente sim, pois ele está vampirizando Reine por meio de cabos, inclusivevindos de seu Trono Negativo na 5° esfera descente... - respondeu Éxis, enrugando a testa.- Éxis, por favor, isso é muito arriscado! Lembra da última vez que estivemos lá, vários

anos atrás? O que aconteceu comigo? E você, para me salvar, veja o que aconteceu com suaperna! Olhe o preço que você pagou! - falou Aqueux, angustiada.

O Mago fitou a amiga carinhosamente. E disse:- Minha querida, não somos mais os mesmos... você naquela época estava ainda em

treinamento... não foi culpa sua... aliás, ninguém teve culpa de nada... simplesmenteaconteceu... e agora, tantos anos depois, somos muito mais vividos... experientes... epoderosos! Um acidente como aquele, numa Operação, jamais aconteceria de novo!

- Espero mesmo que sim... - retrucou Aqueux, visivelmente nervosa - Espero querealmente você esteja certo, meu querido Éxis...

Capítulo 5 - A Doença

Os membros do Círculo da Virtude dirigiram-se para o Altar Mor. Cada um foi para o leitoonde estavam inscritos os símbolos sagrados de seu respectivo Elemento e Divindade.Deitaram-se no leito, como já haviam feito dezenas de vezes em dezenas de operações aolongo de tantos e tantos anos juntos.

Em breve, cada um deles entraria em relaxamento profundo e consciente, e seusespíritos gradualmente desacoplariam-se de seus corpos físicos: eles estavam realizandoProjeções Astrais em perfeito estado de consciência!

Projetando-se dos corpos físicos, os espíritos dos Guerreiros da Luz do Círculo daVirtude ligavam-se aos seus corpos físicos pela nuca, através de um cabo principal, prateado,chamado por isso de “cordão de prata ”, e por cabos secundários, mais finos e mais tênues.

Quando todos estavam de pé, ao lado de seus corpos físicos, o espírito projetado de

Éxis deu o famoso comando:- Dama e Lordes! Vistam suas Armaduras Astrais e saquem suas Armas MagísticasAstrais!

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Nesse momento, o perispírito de cada um deles, que antes trajava uma cópia fiel dasroupas que eles estavam usando fisicamente, transformou-se, e deu lugar a lindíssimasarmaduras, com a força de seus pensamentos, sustentadas também pela força magísticaoriunda de cada Insígnia, que no plano astral brilhavam intensamente na vibração de seuElemento e Divindade.

E cada Guerreiro da Luz sacou sua respectiva Arma Magística, existente apenas nomundo espiritual, invisível aos olhos carnais dos não sensitivos, tão invisível como o eram assuas Armaduras.

- Agora, sigam-me até a casa de nossa consulente, Srta. Reine.E o grupo de Guerreiros da Luz partiu, volitando pelos ares, em bloco único, até a casaonde viviam Cristabel e Reine.

Chegando à frente da casa, na Aldeia, Éxis deu nova instrução:- Vamos elevar nossa vibração ainda mais, elevar a nossa freqüência espiritual, para

que fiquemos invisíveis aos espíritos e entes descarnados inferiores que estão atormentandoesse lar. Invisíveis, os servos menores e menos experientes das Trevas não nos perceberão, epoderemos fazer uma avaliação mais cuidadosa do quadro de Reine.

O grupo elevou então sua freqüência espiritual ainda mais, e tornaram-se invisíveis paraa maioria dos entes trevosos. Após isso, colocaram proteções magísticas inscritas no éter aoredor da casa, bem como fitas magnéticas que isolariam toda a casa de Reine enquantodurasse a operação. Feito isso, eles penetraram pelas paredes da casa e foram ao quarto da jovem. Lá parecia haver um verdadeiro festim diabólico!

Incontáveis espíritos trevosos, entes naturais negativados e ovóides infestavam o quartoda jovem, tornando o ambiente completamente “irrespirável ” em termos espirituais!

Éxis sorriu e perguntou ao Sr. Flamme:- Relatório, Lorde do Fogo...- Como relatório eu digo uma única palavra: suruba! Isso aqui parece mais um bacanal

horroroso de trevosos fora-das-Leis Celestiais!- Exatamente como eu imaginava - suspirou Éxis - por isso essa moça procurou tanta

ajuda em tantos lugares e com tantas pessoas e não obteve sucesso algum... seu quadro émuito complexo para os meios de desobsessão tradicionais...

Neste momento um espírito das Trevas, próximo a Reine, enorme, vestindo um pútridohábito religioso, com um capuz escondendo sua face horrenda, levantou os olhos e olhou, semver, exatamente para a posição em que os Guerreiros da Luz estavam dentro quarto. O entetrevoso então fez um símbolo magístico e desapareceu:

- O Mago Negro nos captou e fugiu! Certamente foi avisar seu chefe de nossa presença!- disse o Lorde da Terra.

- Bem, isso não importa mais, pois em alguns minutos ele iria saber mesmo de nossapresença. Mas já que seremos anunciados, acho bom não deixarmos nosso anfitriãoesperando, não acham cavalheiros? O que pensam disso, Lorde do Metal e Lorde do Fogo? -indagou Éxis para seus companheiros.

Eles sorriram. O Lorde do Metal então respondeu:- Vamos ao Reino daquele pilantra fétido de uma vez e ajustar nossas contas!Éxis então deu instruções:- Lorde da Terra, Lorde da Madeira, fiquem aqui e enquanto a Dama da Água limpa

Reine dos maus fluidos que estão em seu corpo e em seu espírito, vocês lhe dão cobertura ecapturam todos os entes das trevas que estiverem nesta casa. Enquanto isso, Lorde do Metal,Lorde do Fogo e eu iremos ao 5° nível descendente.

Imediatamente o Lorde da Terra sacou seu Gadanho e começou a esgotar osnegativismos dos entes malignos que estavam no quarto de Reine, enquanto o Lorde daMadeira sacou seu Arco e Flechas e começou a abater os entes que estavam ao seu redor. Deimediato os dois lordes tornaram-se visíveis a todos os membros daquele festim diabólico,

gerando pânico entre estes. As criaturas buscavam fugir, mas quando tocavam nas faixasmagnéticas por fora da casa e nos símbolos magísticos estrategicamente colocados pelosGuerreiros da Luz, caíam no solo, em convulsões causadas pelo verdadeiro choque vibracionalque levavam.

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A Dama da Água, com sua Rede, ia recolhendo todos os ovóides espirituais queencontrava fixados em Reine e ao seu redor, que sugavam a vitalidade da jovem e lheirradiavam pensamentos e sentimentos negativos e perturbadores.

Éxis, Flamme e Ferrer iriam descer ao 5° nível:- Éxis!- Sim, Aqueux?- Por favor... tome muito cuidado dessa vez... não se arrisque, está bem?Éxis sorriu com a preocupação da amiga, piscou o olho e desceu junto com seus

companheiros.A Dama da Água teria muito trabalho: Reine estava muito intoxicada por fluidosnegativos, densos, doentios e muito pesados. Mas ela era a Senhora dos Fluidos, e comsímbolos magísticos riscados no éter, no astral, ela começou um processo magístico de sucçãode todos aqueles fluidos, que iam exsudando do corpo físico e do espírito de Reine. A jovemestava parcialmente projetada do corpo, completamente inconsciente, tendo pesadelos, mas àmedida que os fluidos negativos estavam sendo extraídos por Aqueux, ela se debatia menos eparecia que seu pesadelo se amenizava. Todavia, havia uma quantidade enorme de cabosligando o espírito de Reine a vários vampiros astrais e demais entes trevosos que estavamnaquela casa. Entretanto, conforme o Lorde da Terra e o Lorde da Madeira iam caçando,imobilizando e esgotando esses entes de seus negativismos, os cordões que os ligavam àReine iam se rompendo. Até que todos os cordões se romperam, exceto um, o pior de todos:um cordão extremamente grosso, negro e fétido que estava ligado mais ou menos na região doestômago de Reine e que descia infinitamente para baixo. A Dama da Água já sabia ondeestava a ponta deste tenebroso cordão: no 5° nível descendente das regiões das Trevas...exatamente para onde Éxis havia descido!

Os Lordes do Éter, do Metal e do Fogo chegaram a uma região incrivelmente escura,fétida e lamacenta. Estavam perante gigantescos portões de algo que na Terra pareceria demetal. E na frente dos portões, incontáveis legiões de soldados e guerreiros deformados, emforma de esqueleto, trajando antiqüíssimas armaduras, colocavam-se em postura ofensivacontra os três recém chegados.

Imediatamente o Lorde do Éter ergueu um círculo magístico ao redor de si e dos doiscompanheiros, protegendo-os da hostilidade das legiões que guardavam os portões do Reinodo Lorde das Pestes e das Doenças. Éxis ergueu sua mão e disse em voz muito alta, audívelpara aqueles milhares de guerreiros das Trevas:

- Ó Guerreiros das Trevas, guardem suas armas pois viemos em paz! Queremos apenasuma audiência pacífica com seu Senhor, o Poderoso Lorde Morbus!

Um gigantesco guerreiro esqueleto, com mais de 3 metros de altura, trajando umaimponente armadura negra, responde a Éxis com uma voz gutural e assustadora:

- Guerreiro da Luz, nosso Mestre já sabe de sua presença e não irá recebê-los! Váembora, senão provarão, do nosso aço, o tormento eterno!

O Lorde do Metal e o Lorde do Fogo já estavam com suas mãos sobre suas armasmagísticas. O clima estava muito tenso. Éxis tentou mais uma vez a diplomacia:

- Respeitável e poderoso comandante dos Guerreiros das Trevas do Poderoso LordeMorbus, peço vossa compreensão! É imperativo uma audiência com seu Senhor e Mestre, poisaqui estamos a serviço da Justiça e das Leis Celestiais!

O gigantesco esqueleto bradou, de forma horripilante:- Ao inferno com seu falatório! Guerreiros das Trevas, atacar!E as legiões de cavaleiros e soldados esqueleto partiram para cima dos 3 Guerreiros da

Luz, mas conforme tocavam no círculo magístico, tornavam-se pó, restando apenas os seusovóides, que despencavam ao chão.

Éxis resmungou para si mesmo:- Droga... seu trevoso cabeça dura... nada disso era necessário, era só usarmos a

diplomacia... agora teremos de ir do pior jeito...E o Lorde do Éter disse aos seus companheiros:- Precisamos de nossas montarias para sermos mais ágeis...

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Seus dois companheiros concordaram. Então cada um traçou no éter um respectivosímbolo magístico e para cada um deles surgiu um cavalo vindo de uma respectiva dimensãoda natureza. Flamme evocou o seu cavalo, Ignus, um cavalo completamente de fogo, vindodas dimensões ígneas; Ferrer evocou o seu cavalo Metalicus, um cavalo completamente demetal, vindo das dimensões naturais metálicas; e Éxis evocou seu velho amigo, o seu cavalochamado Sr. Aetheris, vindo das dimensões etéricas da natureza, um ser de forma como quevaporosa.

Do alto de seus cavalos, os três Guerreiros da Luz estavam prontos. Bastava que Éxis

desse sua famosa ordem para que eles sacassem suas armas e avançassem implacavelmentepor sobre aquele exército das Trevas. Éxis empinou o Sr. Aetheris, e deu o seu inesquecívelbrado:

- Pela glória de Deus, da Sua Justiça e de Suas Leis Celestiais, atacar!Em formação triangular, em forma de cunha, com o Cavaleiro do Éter à frente,

destroçando tudo e todos com seu Cajado magístico, os três Guerreiros da Luz abriram umaimensa brecha no meio daquele oceano de soldados esqueleto; pelo flanco direito, o Cavaleirodo Fogo arrasava os entes trevosos com seu Machado de Duas Lâminas magístico, e peloflanco esquerdo o Cavaleiro do Metal aniquilava qualquer coisa que se movesse com suaenorme Espada magística.

Em segundos os três arrombavam os portões do Reino de Lorde Morbus e continuavamabrindo espaço por entre um mar de soldados trevosos, até que estavam às portas do Paláciodo Senhor das Pestes, no 5° nível descendente das Trevas.

Neste momento os Guerreiros da Luz uniram as forças de suas armas magísticas e numfacho de luz derrubaram as gigantescas portas do Palácio e entraram cavalgando a todavelocidade, arrasando com tudo que estava pela frente, até que finalmente estavam no salãoprincipal do castelo de Lorde Morbus.

No fundo do salão principal, sentado num Trono gigantesco, um ser enorme, fétido,repleto de chagas e pústulas, completamente deformado, brada:

- Guerreiros da Luz, como ousam adentrar mais uma vez meus domínios? Daqui jamaissairão inteiros por tamanha ousadia!

Éxis novamente criou um círculo magístico de proteção ao redor dos três, no que o entemonstruoso levantou-se hostil de seu Trono, em postura de ataque, e riu:

- Hahaha, acham que um ridículo círculo de proteção desses podem protege-los deminha ira?

- Não, ó Lorde Morbus, pois não viemos enfrenta-lo, mas sim ter uma audiência comvossa excelência, ó Poderoso Senhor das Pestes! - bradou respeitoso Éxis.

Com tais palavras, Lorde Morbus abaixou a sua posição de ataque e pareceu um poucodisposto a conversar:

- Maldito Servo da Luz, o que quer aqui, invadindo meu Reino e trazendo destruição?Tínhamos um acordo de que vocês jamais invadiriam meu Reino novamente!

- Ó poderoso Senhor das Pestes, viemos com intenções pacíficas apenas pleitear umaaudiência com vossa excelência, todavia seu general nos negou o direito de conversarmospacificamente!

O ente monstruoso sentou-se novamente em seu Trono. E segurando a enorme cabeçadeformada por sobre seu pescoço fino e fétido, com a mão esquerda repousada no braço deseu Trono, indagou:

- Audiência... pois bem... o que quer, Cavaleiro do Éter?Com o clima mais amistoso, os Cavaleiros do Círculo da Virtude desceram de seus

cavalos, mas com as armas em punho, e extremamente atentos a cada gesto do terrível entedas trevas, começaram a expor suas razões através de Éxis:

- Viemos por causa de seu vampirismo das energias vitais de uma jovem chamadaReine e de sua atuação obsessiva implacável contra ela durante anos. É da vontade da Justiça

e das Leis Celestiais que ela seja libertada imediatamente!- Nunca! Ela nos pertence!- “Nos pertence”? Então ela não é apenas considerada uma propriedade de vossa

excelência?24

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Lorde Morbus enfureceu-se. Havia cometido um ato falho, revelando muito mais do quequeria. Foi então que percebeu que todo o seu salão estava “ contaminado” com a energia daEspiritualidade Superior emanada por Éxis, e que Éxis tentava sutilmente hipnotiza-lo.

O ente das trevas tomou novamente postura ofensiva. Era visível, saindo de seu corpodeformado um cordão negro muito grosso que subia e terminava na crosta da Terra, em Reine.Enfurecido pela tentativa de hipnotismo de Éxis, o ente infernal bradou:

- Hoje eu acabarei com você para todo o sempre, maldito Servo da Luz! Irei me livrar devocê!

- Pare, Lorde Morbus! Pois seus crimes contra a Justiça e Leis Celestiais já são tãoextensos que já temos autoridade para executa-lo e transformá-lo num ovóide! Arrependa-seenquanto ainda é tempo!

Mas o ente das trevas ignorou o Cavaleiro do Éter e atacou com poderosas ondas demagia negra.

O Cavaleiro do Éter ergueu um escudo magístico e conseguiu segurar a devastadoraonda de ataque, enquanto os cavaleiros do Fogo e do Metal cercavam a besta infernal pelosflancos. Foi então que, num golpe velocíssimo, o Cavaleiro do Fogo lança ao longe seupoderoso Machado contra o pescoço do ente infernal, porém este velozmente abaixa-se, eenquanto contra-atacava o Cavaleiro do Fogo, o Cavaleiro do Metal cravava em seu corpanzil,num golpe certeiro, sua poderosa Espada magística, atravessando-o.

O monstro deu um urro e caiu por sobre seu Trono. Tentando sentar-se nele, vaticinou:- Se a menina não for minha, ela não será de mais ninguém!Dito isso, o monstro espiritual lança, de seu grosso cabo negro uma quantidade

absurdamente gigantesca de energia negativa venenosa, num supremo esforço final de vitória,em direção a Reine, que estava na crosta.

Éxis, em uma fração de segundo, entendeu o que acontecia: Morbus queria desencarnar Reine através de um poderoso choque de energias altamente negativas e pestilentas. E emuma fração de segundo, na velocidade do pensamento, Éxis estava de volta ao quarto deReine.

Aqueux olhou assustada para Éxis, enquanto cuidava da desintoxicação de Reine, poisele havia aparecido do nada e se atirado por sobre o corpo e o espírito de Reine.

Nesse momento Reine teve um lampejo de consciência.Numa fração de segundo, Éxis envolveu Reine com toda a sua energia, e nesse

envolver, como que um par de asas emplumadas e iluminadas saem das costas do Mago e,enquanto envolvia completamente Reine num abraço protetor, surgia pelo cabo a enormequantidade de energia venenosa de Lorde Morbus.

Envolvendo a jovem da cabeça aos pés com sua energia protetora, Éxis torna-se umescudo vivo e recebe diretamente todo o impacto da energia morbosa do Senhor das Pestes! Ador foi lancinante! Éxis berrou enquanto sua energia positiva se chocava e anulava ogigantesco pulso de energia negativa enviada pelo poderoso ente infernal.

Éxis não se lembrou de mais nada...Até que sentiu-se nos braços de Aqueux, que clamava por seu nome:- Éxis, Éxis!- O que houve... Reine! Como ela está?- Ela está bem, seu maluco! - respondeu a Dama da Água.Éxis retomou a plena consciência de seu espírito. Estava nos braços de Aqueux, no

chão do quarto de Reine. Ele suspirou e perguntou:- Consegui segurar toda a energia venenosa de Morbus?- Sim, seu louco! Conseguiu! Ela está bem, muito bem! Mas olhe para você, está um

farrapo!E a Dama da Água estava furiosa:- Seu maluco! Podia ter se matado! Eu pedi pra você não se arriscar! Porque nunca me

escuta? Porque você não aprende a se cuidar?Éxis, novamente lúcido, sentado no chão, fita firmemente os olhos da velha amiga e diz:- Você tinha uma idéia melhor em uma fração de segundo? Ou preferia ver a menina

morrer?25

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A Dama da Água silenciou. Mas continuou irritada. Estava visivelmente emburrada.Éxis olhou para Reine. O cabo grosso havia desaparecido, desmanchando-se no ar.Nesse momento surgem no quarto de Reine o Lorde do Fogo e o Lorde do Metal,

trazendo em sua mão esquerda algo extremamente precioso, de inestimável valor: o ovóide deLorde Morbus!

- Aquele asqueroso verme nojento nunca mais vai incomodar ninguém! - exclamou muitosorridente o Cavaleiro do Metal.

Parcialmente refeito do choque venenoso do ente maligno, Éxis pega o ovóide em suas

mãos. Era hora de rastrear quem eram os cúmplices que Morbus havia revelado existirem.Enquanto o Cavaleiro do Éter tentava desvendar os mistérios do corpo mental - o ovóide- daquele milenar ser das Trevas, os outros membros do Círculo da Virtude faziam umavarredura final na casa de Reine. Desintegravam os últimos miasmas e energias negativas erecolhiam as faixas magnéticas e as proteções magísticas que haviam colocado ao redor dacasa para evitar a fuga dos entes trevosos. E dentro do quarto de Reine, e apenas no dela, jáque apenas Reine havia lhes pedido ajuda e aberto seu campo para isso, diferentemente deCristabel, que sequer acreditava na espiritualidade, os Guerreiros da Luz deixaram uma sériede proteções magísticas para zelar pela segurança da jovem e para que as falanges da Luzfossem alertadas caso ela fosse novamente atacada, obsedada ou vampirizada: agora Reineestava sob a guarda e a tutela do Círculo da Virtude e assim permaneceria enquanto suavontade assim o quisesse.A Dama da Água fica ao lado de Éxis. Enquanto isso os demais Cavaleiros dos 7Elementos descem à 5° esfera descente, no Reino de Morbus. E no salão principal do Paláciodo ente infernal derrotado, ao redor de seu Trono, eles cravam, em círculo, os 7 EstandartesSagrados dos 7 Elementos e o Estandarte Sagrado do Círculo da Virtude. Nesse momento, oTrono negro, fétido e negativado recebe um enorme choque vibracional e se transmuta em umTrono luminoso, lindíssimo, cravejado de jóias de tonalidades mil e de rara beleza! Nessemomento, seres de Luz começam a descer por sobre toda a parte do antigo Reino de Morbus,um reino antes fora-das-Leis Celestiais, que agora passava a ser um território controlado pelosServos da Luz, da Justiça e das Leis Celestiais de Deus.

- Nesse momento, em nome da Virtude, em nome da Justiça, das Leis Celestiais e deDeus Amantíssimo, pai Criador de tudo o que existe em toda a parte, tomo posse desse Reino!- bradou em alta e clara voz o Cavaleiro do Fogo, cuja voz ressoou como que por toda aextensão do vastíssimo território.

Um ser muito luminoso e com os olhos imersos em profunda paz e imenso amor aproximou-se dos Guerreiros da Luz. O Cavaleiro do Fogo, representando o grupo, saudou-oajoelhando-se e foi seguido por seus companheiros. E perguntou à entidade luminosa:

- Irmão em Deus Pai! O que será feito deste lugar agora que o devolvemos ao controleda Justiça e das Leis Celestiais?

E o ente, que irradiava uma imensa bondade, disse amavelmente:- Aqui, em pleno 5° nível descendente das Trevas, será erguido um hospital-fortaleza, a

partir deste Trono recuperado para a Justiça e Leis Celestiais, um hospital que irá abrigar etratar todos os nosso irmãos em Deus Pai que nesta esfera estiverem cansados do mal e desuas ilusões e quiserem novamente trilhar o caminho da Virtude!

O Cavaleiro do Fogo ergueu as mãos ao alto e disse:- Pela Glória de Nosso Pai Celestial!E o ser luminoso respondeu:- Pela Glória de Nosso Pai Celestial!E os membros do Círculo da Virtude retornaram para o quarto de Reine, sendo

recepcionados pela Dama da Água.Éxis permanecia imóvel com o mental de Morbus em sua mão. E assim permaneceria

indefinidamente se Ferrer não tocasse em seu ombro, dizendo:

- E então, velho amigo? Desvendou algum mistério?Éxis franziu a testa, afirmativamente.- E quem são os comparsas de Morbus?O Cavaleiro do Éter balançou a cabeça e limitou-se a responder:

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- Alguém que não visito desde minha juventude, antes de conhecer vocês... alguém queeu nunca mais queria ver...

E sem dizer mais nada, por mais que lhe indagassem, Éxis apenas deu as instruçõesfinais da operação.

E voltaram para o Templo na Mansão, para junto de seus corpos físicos.

Quando eu percebi que a dama e os cavalheiros começavam a se mover em seus leitos,percebi que eles estavam retornando de sua Projeção Astral. Imediatamente coloquei ao lado

da cama de cada um deles uma boa taça do meu especial chá desintoxicante, revigorante ecurativo. Conforme eles acordavam em seus corpos carnais e tomavam posse de suas funçõesorgânicas, eles, já acostumados com meu chazinho especialíssimo, imediatamente o sorviamcom gosto!

Srta. Aqueux, sorvendo seu chá, olhou para mim e reclamou muito irritada:- Éxis aprontou de novo, esse maluco do seu patrão!Imediatamente voltei minha atenção para a cama de Patrão Éxis e percebi que ele

retornava ao seu corpo se sentindo muito mal... Ele, mal tomava posse novamente de suasfunções orgânicas, começou a vomitar muito, um líquido escuro e esverdeado.

Eu me aproximei para acudi-lo. Ao me ver, Patrão Éxis sorriu, e tentando ser bem-humorado, buscando disfarçar seu semblante de dor, me disse:

- Árthur, por favor, prepare caldeirões enormes dos seus chás pra mim... amanhã euestarei completamente moído...

Capítulo 6 - A Aprendiz de Magia

Srta. Cristabel havia sido acordada por Srta. Reine de forma completamentesurpreendente: mal eram 7 horas da manhã, e Reine havia levado para a cama de suacompanheira um vistoso café da manhã!

Cristabel caçou seus óculos, próximos à cama, enquanto acordava com um sonoro emuito alegre “Bom dia! ” proferido por Reine.

A mulher colocou seus óculos inconfundíveis, olhou aquele belo café em uma bandejaem cima de sua cama e disse:

- Mas o que significa isso?- Seu café da manhã, ué!- Como assim “café da manhã ”? Onde você arranjou tudo isso, se não há lojas

especializadas nesta Aldeia de fim de mundo? Onde você comprou essas coisas todas?- Cris, eu não comprei! Eu fiz tudo, preparei na cozinha!

- O quê?Cristabel não acreditava no que estava acontecendo. Como Reine, que há incontáveismeses mal se agüentava de pé, conseguiu preparar aquela suntuosa refeição?

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- Ei, mas mal são 7 horas da manhã! Como é que você está de pé, tão cedo? E comoconseguiu preparar essa refeição tão bonita em tão pouco tempo?

- Bem, é que eu levantei às 5h da manhã hoje e me deu uma vontade de fazer algo bemgostoso, diferente, então eu cozinhei pra você!

- Como é? 5 da manhã! Como assim, 5 da manhã? Como você conseguiu sair da camatão cedo?

Cristabel arrumou os óculos e encarou Reine. O rosto de sua jovem companheira estavacorado, bonito como nunca, e seus olhos estavam brilhantes, como que se deles exalasse o

mais puro esplendor de vida. Sim, vida! Reine parecia exalar uma enorme quantidade de vida,como a de qualquer jovem no esplendor de seus 21 anos! Mas como aquilo era possível? Nodia anterior, ela mal se sustentava de pé, precisando ficar deitada, acamada, como havia sidona maior parte do tempo dos últimos anos! Mas que diabos havia acontecido? - deveria estar pensando a Srta. Cristabel Blanche!

- Reine, como você está? Como está se sentindo? O que aconteceu com você?A jovem suspirou, sorridente, olhou ao redor, fitou a vista através da janela do quarto de

Cristabel, e disse;- Ah, Cris, amanheci me sentindo tão bem... tão... viva! Como que se uma cruz de uma

tonelada, que eu carreguei tantos anos, houvesse sido retirada de meus ombros!Srta. Cristabel estava atônita. Seus olhos estavam assustados. No dia anterior a amiga

estava pálida, amarelada, com um semblante de dor... agora parecia que nunca havia estadoficado doente em sua vida! Parecia uma jovem tão normal e saudável quanto qualquer outra dasua idade!

E a mulher ficaria ali parada, sem saber o que fazer, o que falar, se Reine nãointerviesse:

- Vamos lá, Cris! Coma, antes que esfrie! E está um sol maravilhoso lá fora! Coma deuma vez, vista-se e vamos passear a pé pela Aldeia! Estamos aqui há vários dias e nem aconheço, pois só a vi do alto da carruagem! Assim não tinha a menor a graça...

- Como é que é? Você está me convidando... a mim... para passear a pé... com você?- Claro, Cris! Ou você acha que, com um sol lindo desses lá fora, eu vou ficar aqui

mofando dentro desta casa?Cristabel, meio apalermada, não acreditando naquilo tudo, começou a comer. Bebeu sua

bebida favorita, preparada por Reine. E continua pensativa. Talvez Cristabel pensasse:“Ela foi na mansão daquele mago... ele marcou com ela uma sei lá o que... uma tal

‘operação pelo espaço’ nesta noite... e então, pela manhã, Reine acorda assim...completamente refeita... ela já tomou todos os remédios possíveis, dos melhores médicos daEuropa, e nunca havia estado assim antes... o que será que aquele tal mago fez? Será que foi ele? Não... não pode ser... só pode ser coincidência... como é que um destes charlatões emque minha pobre Reine tanto confia poderia provocar um milagre medicinal desses? Não podeser... só pode ser coincidência... só pode... tem que ser... ”

Então Srta. Cristabel se deu conta de perguntar, com um ar investigativo:- Como foi sua noite? Dormiu bem?Reine ficou séria. Mas seus olhos continuavam a brilhar:- No começo não... tive pesadelos, aqueles de sempre... com criaturas deformadas me

perseguindo... me sentindo muito fraca... mas depois isso passou...- Passou?- Sim, quando eu sonhei com o Anj... - Reine parou de falar. Sabia que Cristabel

detestava qualquer menção religiosa, inclusive anjos. Sim, Reine havia sonhado com um Anjo!Um Anjo lindo aos seus olhos, com longos cabelos escuros, vestindo uma linda armadurabranca e dourada, portando um belíssimo cajado, e que, com suas macias, quentes eamorosas asas, a havia abraçado e a protegido de um demônio! Sim, desde que sonhou com oAnjo, ela sentiu-se protegida, dormiu bem e depois, ao amanhecer, acordou sentindo

incrivelmente bem, maravilhosamente viva! Mas não podia contar nada disso para Cristabel:- Não foi nada... eu não me lembro o que aconteceu... só sei que os pesadelos seforam, e tive uns sonhos gostosos, mas que não me lembro direito... e então acordei super bem disposta!

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Cristabel continuava não acreditando no que estava acontecendo! E ficou ainda maisperplexa quando Reine a apressava:

- Vamos Cris, come duma vez! Põe uma roupa bem bonita e vamos passear!Reine saiu do quarto de Cristabel, se trocar, para que ambas pudessem conhecer a

Aldeia em que estavam há vários dias.Enquanto se trocava, Reine teve um vontade imensa de largar tudo e ir até a Mansão do

Mago. Sabia que sua melhora súbita havia sido obra dele! Ela acreditava completamente nisso!Precisava ir lá lhe agradecer!

Mas, de repente ela ouviu como que uma voz, a lhe dizer:“Hoje não! Deixe-o descansar. Vá visita-lo amanhã!” Reine, sem se dar conta de que ouvia uma voz, achando que eram seus pensamentos,

completou:- É mesmo, ele hoje deve estar cheio de afazeres, talvez atendendo muitas pessoas. Irei

vê-lo amanhã!

*****Naquela manhã alguém havia tocado a campainha da Mansão. Ainda era cedo. Quem

poderia ser aquela hora? E eu sequer havia avistado carruagem alguma ou cavalo se

aproximando através da estrada! Desci as escadas e fui atender a porta. Qual não foi minhasurpresa quando vi que era a Srta. Reine!- Árthur, querido Árthur, bom dia!- Srta. Reine! Mas que surpresa inesperada, a esta hora da manhã!Olhei para fora e não vi carruagem nem cavalo algum e perguntei:- Onde está sua carruagem, Srta. Reine?- Oh não, Árthur, eu vim a pé! Por isso deve ter notado que estou um pouco

despenteada e com ar de cansaço, não é?- A pé? A senhorita disse que veio a pé? Da Aldeia até aqui, a pé?- Claro, Árthur! Eu sou bem fortinha... apesar de ter me cansado um pouco... puxa, estou

muito fora de forma!- Por favor, queira entrar, sente-se e descanse, senhorita! Vou trazer imediatamente algopara a senhorita beber e se refazer!Reine entrou e eu a acomodei em sua já velha conhecida poltrona. Enquanto isso eu

exclamava:- Srta. Reine, da Aldeia até aqui são vários quilômetros de subida! Como conseguiu vir a

pé?- Conseguindo, ué! - e ela deu uma gostosa risada, embora visivelmente cansada.Rimos juntos! Seu modo tão espontâneo de se expressar era, para mim, encantador!

Mas realmente eu mal conseguia acreditar que aquela jovem, que mal conseguia descer sozinha de sua carruagem, dias atrás, tão pálida e com um semblante quase cadavérico, agoraestivesse ali, embora suada e cansada pela penosa marcha de subida por aquela longaestrada, bem corada e com um rosto e sorriso esbanjando alegria e vida!

Fui buscar uma bebida e ofereci à Srta. Reine, que agradeceu e a bebeu, sedenta.Ela relaxou confortavelmente na poltrona. Esticou-se, como uma menina sapeca, voltou

os olhos para mim e indagou-me:- Árthur, preciso falar com o Mago Éxis. Ele está?- Ainda está em seu quarto, senhorita. Dê-me alguns instantes para que eu lhe anuncie e

ele venha atende-la, sim?- Claro Árthur! Sinta-se como se você estivesse em sua casa, fique bem à vontade!Fiquei sem saber o que responder ao gracejo de Srta. Reine, mas como ela começou a

rir, rimos juntos!Subi ao quarto de Patrão Éxis e anunciei a Srta. Reine. Ele, deitado em sua cama,

sorriu, como se já a estivesse esperando. Ele colocou lentamente seu roupão sobre o pijama edesceu.

Na sala, Patrão Éxis cumprimentou a jovem:

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- Desculpe-me pelos meus trajes tão informais... mas tive coragem de levantar-me dacama só agora... estou com uma preguiça daquelas... - e sorriu, beijando a mão de Reine.

- Hahaha, então olhe para mim, toda despenteada após subir esta estrada toda!Também não estou nada apresentável!

Ambos sentaram-se. Ela brincou:- Preguiça daquelas? Quer dizer que magos também tem seus dias de preguiça, é?- Oh, e como!E os dois riram gostosamente.

Enquanto isso, Alfred farejou Srta. Reine e veio direto para seu colo, lambendo-lhe.Patrão Éxis o retirou da poltrona e o deixou ao lado da moça, que ficou fazendo-lhe agrados ecarinhos.

O Mago fitou bem a jovem. Ela estava completamente diferente da última vez que havialhe visto: agora a Vida exalava por seus poros. Definitivamente uma coisa era mais quecertíssima: a operação do Círculo da Virtude havia sido um sucesso estrondoso na vidadaquela jovem!

Éxis sorria satisfeito. À sua frente estava o fruto de seu trabalho... seu e de seuscompanheiros da “Távola Redonda”. Realmente, vê-la tão bem, completamente transfiguradaem questão de apenas alguns dias, fazia com que toda a intoxicação energética negativa queÉxis havia enfrentado nos últimos dias tivesse valido a pena. Como ele mesmo havia preditopara mim: após a operação magístico-espiritual, ele havia ficado “moído” por mais de 24 horas,acamado, vomitando e sem forças. Mas estava se recuperando rapidamente da intoxicação,principalmente agora, quando via perante si aquela jovem tão bela e tão cheia de vida, liberta eagora com uma vida nova, inteira pela frente, repleta de possibilidades!

Patrão Éxis ficaria pensativo mais algum tempo se Srta. Reine não houvesse tomado apalavra:

- Mago Éxis, precisava muito falar com você!O Mago permaneceu em silêncio, completamente aberto para ouvir o que a jovem tinha

a lhe dizer.- Você deve ter percebido que estou completamente diferente de quando estive aqui as

outras vezes, não?Éxis assentiu com a cabeça. Seu olhar a estimulava a prosseguir falando:- Dois dias atrás, tive um sonho muito estranho, mas muito bonito. E desde que tive este

sonho, minha vida mudou completamente!Éxis permanecia olhando-a com amabilidade, estimulando-a com seu olhar a prosseguir.- Bem... eu sonhei com um Anjo lindo! Ele tinha longos cabelos escuros e estava

vestindo uma lindíssima armadura branca com detalhes dourados. Em uma de suas mãoshavia um cajado...

Os olhos de Reine brilhavam:- Eu estava sendo agredida por um ser demoníaco, e este Anjo me abraçou, num abraço

muito terno, e me envolveu completamente com suas asas lindas, enormes... brancas...macias... repletas de ternura... e me protegeu! Ele me salvou de um terrível demônio! E quandoeu acordei pela manhã, eu me sentia incrivelmente... viva!

Reine suspirou.Patrão Éxis arregalou os olhos com a descrição do sonho de Reine... ela, de alguma

forma, havia estado consciente alguns instantes e percebido parte da Operação! Será que elao reconheceria? Preocupado, Éxis tocou em seus cabelos: eles estavam amarrados para trás,à velha moda do século XVIII, bem diferente de como ele fica quando em Projeção Astral, comos cabelos longos soltos... não... ela não o reconheceria... “melhor assim”, deve ter pensadoPatrão Éxis...

Srta. Reine, suspirando mais uma vez, olhou fixamente para Patrão Éxis e disse:- Vim lhe agradecer, Mago Éxis! Sei que o sonho com meu Anjo da Guarda só foi

possível com seu auxílio, na noite em que você disse que me trataria... e exatamente naquelanoite, eu me curei! Tenho certeza que foi obra sua e de meu Anjo da Guarda!Patrão Éxis não sabia o que dizer, e apenas sorriu, meio sem jeito.Reine, olhando-o ainda fixamente, prosseguiu:

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- Mas eu não vim aqui apenas lhe agradecer, Mago Éxis... vim decidida a também fazer outra coisa...

- E que outra coisa seria essa, Reine?Ela foi extremamente direta:- Decidi que quero aprender Magia com você!Patrão Éxis teve um assombro estampado visivelmente em seu rosto... não esperava

ouvir aquilo aquela manhã...- Quero ser sua aprendiz, assim como Léon da Normandia foi seu aprendiz! Quero que

você seja meu mestre!Éxis ficou sem saber o que responder. Ficou em silêncio vários instantes.Ouvia-se o tique-taque do relógio da sala como que se ele fosse a única coisa presente

naquele ambiente.Até que Patrão Éxis rompeu o silêncio:- Por que você quer aprender Magia?Reine foi rápida como uma bala:- Por dois motivos: primeiro, para sobreviver neste mundo, ficar inteira e ter uma vida

decente nesse mundo ingrato! Segundo, para ver meu Anjo mais vezes e ficar mais próximadele!

Éxis começou a gargalhar:- Hahaha, esta foi a resposta mais prática e mais sincera que eu já havia recebido de umcandidato a aprendiz em toda a minha vida!Patrão Éxis então fez a sua famosa pergunta:- Está disposta a pagar o preço que o Caminho da Magia exige?Sem pestanejar, Reine respondeu:- Olha... uma coisa que eu aprendi na minha vida: grandes decisões na vida da gente

tem de ser tomadas de assalto, tem que ser tomadas rapidamente, e toda decisão tem seupreço. Então eu não vou ficar divagando sobre quais são os preços, pois toda decisão tem umpreço, e quanto mais importante é o que a gente busca, maior o preço. Então seja qual for opreço que você está me dizendo, mesmo que eu não saiba qual é, eu pagarei!

Muito decidida aquela jovenzinha! Ninguém poderia dizer que sob a aparência de umamoça tão magrinha e pequena, talvez não medindo mais do que 1,55m e pesando pouco maisdo que uns 40 quilos, pudesse haver tamanha determinação!

Éxis gargalhou novamente:- Está bem! Eu a aceito como minha aprendiz! Mas vou ser generoso: vou te dar uma

chance de recuar em sua decisão amanhã mesmo, na nossa primeira lição, quando você teráuma idéia de qual o preço lhe será cobrado... combinados?

- Não recuarei! Já decidi!- Quando amanhã chegar, nós veremos...

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Capítulo 7 - O Lado Sombrio

Srta. Reine havia chegado à Mansão naquele entardecer. Patrão Éxis a esperava naporta, trajando sua túnica negra, sua cartola preta e seu longo sobretudo negro. Pegou suabengala e dali saíram lentamente pela estrada da montanha.

Era assim a forma predileta de Patrão Éxis ensinar: ao ar livre, caminhando lentamente.Como os antigos peripatéticos gregos.

Eles caminharam um longo trecho pela estrada, sem trocar palavra alguma, apenasolhares.

Passado um certo tempo, Éxis não havia dito ainda uma palavra e Reine estava ansiosapor receber as suas lições de Magia.

Caminhando lado a lado pela Estrada da Montanha, Éxis, a passos curtos, admirandocomo sempre a paisagem, enquanto sua bengala acompanhava seus passos, finalmente disse:

- Sabe, Reine... a primeira lição do Caminho da Magia é o autoconhecimento.

Ela estava silenciosa, ouvindo atentamente.- Muito pensam que para aprender Magia começa-se com encantamentos, processosparanormais, instrumentos magísticos, contato com o mundo oculto e invisível, etc., etc. ... mas

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isso não passa do meio da grande peça teatral que é o Caminho da Magia, não sendo,portanto, o seu início.

Eles passaram por uma grande e velha árvore à beira da Estrada da Montanha. Éxisapontou para ela com sua bengala:

- Veja esta árvore... está aqui há tantos anos, séculos talvez... desde menino me lembrodela e Árthur também... enfrentando todos os ventos e tempestades, nunca nada a derrubou. Esabe por que não?

Éxis aproximou-se da velha árvore. Reine acompanhou-o. Ele a tocou. E cravou

calmamente sua bengala no solo, até que ela parou de afundar porque tocou algo sólido:- Ela nunca caiu por causa disso: por causa de suas poderosas raízes! Porque elas sãofortes, sempre sustentaram seu tronco e seus vastos galhos durante todos esses anos. Veio osventos, veio as tempestades e ela sempre se manteve firme em seu posto, umbilicalmenteligada ao solo, à Mãe Terra.

“O caminho da Magia é o mesmo. Fazer prodígios, coisas paranormais, conhecer omundo oculto, estar circulando entre o mundo visível e invisível, conhecer símbolos e grafiassagradas, conhecer as Divindades e seus poderes, conhecer as técnicas e processos, enfim...tudo isso são os troncos e os galhos como os desta árvore... mas sem as raízes, nada dissofaria sentido, nada disso se sustentaria. Teríamos então uma bruxa frágil, que perante osventos e tempestades da vida poderia facilmente desabar... E há muitas formas de desabar...Para um mago e uma bruxa, a pior forma de desabar tem um nome: a Magia Negra...Todavia, se o mago e a bruxa tiver raízes fortes, virão as tormentas e os vendavais destemundo de fenômenos sem fim e inconstância eterna, mas a árvore da Vida do mago e da bruxanunca desabará. Pois suas raízes tem um nome: chamam-se autoconhecimento.”

Reine olhava fixamente para a imensa árvore. Ela devia estar ali realmente há décadas,talvez até mesmo séculos! E nunca havia caído!

Ambos voltaram a caminhar pela estrada. Éxis disse:- Por isso, no mais famoso Oráculo de toda a Grécia antiga, o Oráculo de Delfos, em seu

templo, estava escrita essa tão curta mas tão profunda e sábia frase: “Conhece-te a ti mesmo” .O sol começava a perder gradualmente sua força e o anoitecer ia bem lentamente

tomando consistência, anunciando-se para breve.O Mago pegou uma estreita trilha à esquerda da estrada, cercada de vegetação pelos

dois lados. A trilha era estreita, e não poderiam mais andar lado a lado. Éxis foi caminhando nafrente e Reine o seguia de perto. Estava anoitecendo. Ela comentou:

- Está anoitecendo. Em breve vai ficar tudo escuro. Não temos lamparinas. Não seriainteressante voltarmos à Mansão?

- Tem medo da noite, Reine?- Eu? Claro que não!- E do escuro, Reine? Tem medo do escuro?- Claro que não! Por acaso eu pareço uma garotinha? Ter medo do escuro é coisa de

criança! Claro que não tenho medo do escuro!- Tem medo do que pode encontrar no escuro, Reine?- Como assim?- A escuridão esconde muitas surpresas, Reine... algumas são apenas coisas curiosas...

outras são coisas assustadoras...Reine começou a se abalar com as frases do Mago. Por que aquele assunto agora? E a

voz do Mago, parecia que estava ficando tão tétrica conforme o sol ia desaparecendo e aescuridão ia tomando corpo e forma naquela picada, no meio do mato, que parecia ficar cadavez mais fechada e mais sombria.

A jovem começou a se assustar... eles não paravam de caminhar mato adentro e embreve a escuridão iria tomar conta de tudo. Estavam já bem longe da Mansão, há bem mais de1 hora de caminhada rápida. E ela estava ali, com aquele homem misterioso, que começava de

repente a lhe causar medo. Ela, no meio de um matagal, na escuridão, com aquele homemque, se bem não fosse um estranho, ela não o conhecia bem. O medo começou a se apossar da jovem. Ela continuava caminhando, acompanhando os passos mais rápidos do Mago.

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Parecia que quanto mais anoitecia, mais rápido o Mago caminhava, mais longe da Aldeia, daMansão, de tudo, de qualquer socorro possível eles ficavam.

Os passos da jovem, antes tão decididos, começaram a ficar inquietos e temerosos... elacomeçava a olhar para todos os lados... os sons dos animais da noite começavam a ser ouvidos no meio daquela longa e interminável trilha, no meio do mato... as árvores e avegetação começavam a jogar suas sombras para cima de Reine, sombras fantasmagóricas. OMago caminhava cada vez mais rápido... ela pode ouvir sua voz se afastando dela, por issodecidiu caminhar mais rápido para alcança-lo e ficar perto dele, pois ficava cada vez mais

escuro e ela já começava a ter dificuldades de enxergar:- Reine, a escuridão é assustadora porque é incontrolável... mas o medo a torna muitopior do que é...

“Da mesma forma que a escuridão que nos rodeia agora, todos nós temos dentro de nósum lado escuro, um lado muito sombrio, sem luz, uma face que esconde muitas armadilhas.

Para que uma pessoa avance rumo ao seu autoconhecimento, a primeira coisa é eladescobrir que dentro de si mora esta escuridão. Muitos nunca sequer perceberam isso aolongo de todas as suas vidas. Mas quando se deparam com a dimensão de sua própriaescuridão, ela tem uma primeira reação: o medo.

O medo muitas vezes vai crescendo, crescendo... como um câncer, ele vai tomandoconta da mente e do coração da pessoa. E quanto mais o medo cresce, mais a pessoa vaificando imobilizada, perdendo sua capacidade de se mover... ela vai ficando paralisada... omedo é altamente paralisante...

Após o medo da escuridão ter tomado conta da pessoa e a paralisado, surge a segundareação: a negação.

A pessoa considera insuportável ter tanta escuridão, tanta treva assustadora dentro de simesma, e o pavor que esta lhe causa é tamanho, que ela opta por utilizar a estratégia doavestruz: esconder sua cabeça embaixo da terra...

A pessoa resolve negar a existência de sua própria treva interior, de sua escuridão... elanão aceita que dentro de si mora uma terrível noite escura repleta de coisas assustadoras edas quais ela tem uma tenebrosa vergonha.

E no momento que alguém nega enxergar toda a dimensão de sua própria treva interior,treva que a pessoa construiu para si mesma como uma pesada corrente, elo por elo, com suaspróprias mãos... no momento que a pessoa resolve optar pela negação, fugindo de sua própriatreva, ela fecha-se para o autoconhecimento e se torna refém de sua própria treva parasempre...”

Houve um silêncio total. Apenas as criaturas da noite podiam ser ouvidas e o ventoassustador movendo as folhas das árvores. De repente o Mago rompe o silêncio e pergunta,com uma voz assustadora:

- Reine, você tem que escolher agora: nega sua treva interior e encerra aqui o seuCaminho na Magia ou aceita encarar sua treva interior e prossegue seu Caminho?

Reine estava cada vez mais assustada, mas juntou forças para balbuciar:- Eu... eu... aceito... aceito encarar a minha treva...Já estava quase noite completa quando Éxis parou de caminhar. Ela só enxergava o seu

vulto à sua frente. Ele disse:- Chegamos. Prepare-se para em alguns instantes enfrentar sua treva interior. Mas

escute bem: aconteça o que acontecer, não se mova!Reine ficou ainda mais assustada com o que o Mago disse. Mas desde aquele momento

ela ficou imóvel. O vulto do homem então passou ao seu lado, negro como a noite, e ela sentiuque ele posicionou-se atrás dela, bem próximo. Só então ela percebeu que ela estava na frentede um enorme paredão de rocha, onde a trilha terminava, e que no paredão havia uma grandefenda, bem à sua frente, uma espécie de caverna.

A jovem ficou imóvel. Seguia as instruções. De repente ela começou a ouvir uns

barulhos estranhos vindos da caverna.Éxis falou severo:- Aconteça o que acontecer, não se mova!

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Os sons foram ficando cada vez mais intensos e aterradores! Era alguma coisa vindo dacaverna, e se aproximava cada vez mais da saída e de Reine. Ela quis correr, mas o Magoestava atrás dela, bloqueando a passagem.

De repente, eles começaram a aparecer!Nos primeiros instantes foram apenas alguns, mas em breve eram muitos... Muitos!

Muitos!Morcegos! Começava a sair uma aterrorizante nuvem de morcegos da boca da caverna,

voando ao redor de Reine, passando próximos de seu corpo, de seus cabelos, de seu rosto!

Morcegos! Incontáveis! Centenas! Milhares! Dezenas de milhares, numa verdadeiranuvem!O coração da jovem disparou, parecia que ia sair pela boca! Ela tinha verdadeiro horror

de morcegos! Horror das histórias terríveis que ouvia desde sua infância sobre esses seres daescuridão!

Um terror gigantesco tomou conta da jovem! Ela tinha vontade de correr, mas estavacompletamente cercada por uma nuvem infinita deles! E o horror era tal que ela não conseguiamover suas pernas, estavam endurecidas, como concreto, paralisadas! Nem seu rosto elaconseguia mover, um músculo sequer!

A nuvem não parava de sair da boca da caverna, e dentre os milhares de morcegos quepor ali estavam passando, nem um único havia tocado em Reine!

Ela estava em pleno horror! Monstros, estava cercada por uma nuvem de monstros! Elespodiam come-la em segundos, como piranhas, pois eram milhares! Nem seus ossos sobrariam!Monstros! Eles iam devora-la!

De repente, ela sentiu que o Mago se aproximou mais dela. Ele aproximou sua cabeçabem próxima ao ouvido dela e lhe disse:

- Reine, você aceitou, agora encare suas trevas! Olhe bem para o rosto das suaspróprias trevas e depois me diga o que viu!

Dito isso, o Mago pendurou sua bengala no braço, e caminhando lenta e calmamente,como alguém que caminhava numa praça repleta de flores, passou por Reine, no meio daquelanuvem gigantesca de seres da noite, e sem ser tocado por um único deles, que desviavam decada movimento do Mago, este ficou de costas para Reine, alguns metros à sua frente, bempróximo a boca da caverna. E ele ergueu seus braços, que envoltos pelo sobretudo, fizeram-noparecer como que se fosse um morcego gigante, um homem morcego, completamente unido econectado com todo aquele espetáculo da Natureza!

Foram os minutos mais longos da vida de Reine! Passado esse tempo, os últimosmorcegos saíam daquela caverna e o fenômeno havia terminado.

Éxis estava numa espécie de êxtase.Nesse momento, ele fechou os braços. Pegou sua bengala. Arrumou sua cartola negra

sobre a cabeça, virou-se para Reine e disse apenas essas palavras:- Acabou... Siga-me até a Mansão.Como estava completamente escuro, Reine, como uma cega, trêmula, segurava na

ponta do sobretudo do Mago, pois este parecia andar naquela escuridão como se tivesse ummapa na cabeça...

*****- Você teve a visão de seu lado sombrio.Patrão Éxis disse isso, estendendo uma xícara dos meus famosos chás para Srta.

Reine. Ela estava pálida e trêmula! Parecia ainda muito assustada.- O que você viu quando encarou o rosto de suas trevas?A jovem permanecia trêmula, em silêncio.Patrão Éxis sentou-se à sua frente, bebendo tranquilamente seu chá. Ele tinha todo o

tempo do mundo.Srta. Reine estava olhando para o chão, com o olhar vago. O tempo passava. O tique e

taque do relógio era o único a falar durante momentos que pareciam eternamente longos. Atéque a jovem balbuciou alguma coisa:

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- Eu... não sabia... que haviam tantos monstros... dentro de mim...O silêncio retornou.Ela balbuciou mais um pouco:- Tão grandes... tão poderosos... tão feios... bem dentro de mim...Patrão Éxis nada dizia, apenas ouvia:- Tanto ódio...- Quando você disse para mim encarar o rosto de minhas trevas... depois que você ficou

na minha frente e se movia tão seguro entre aqueles milhares de morcegos... eu me acalmei

um pouco... e fechei meus olhos... eu mergulhei dentro de mim mesma...- E o que eu vi?... o rosto das minhas trevas era o rosto do meu próprio pai... e então euvi o rosto de todo o meu ódio... todo meu ódio por ele... meu ódio por todos os homens... meuódio pelo mundo inteiro...

- Ódio e raiva... amargura... é isso que eu sou... sou só um poço sem fundo de ódio,raiva e amargura...

A moça olhou nos olhos do Mago, e com um olhar implorando por socorro, lheperguntou:

- É só isso que eu sou? Puro ódio... ?Patrão Éxis largou sua xícara de chá. Olhou fixamente nos olhos da jovem aprendiz:- O que você viu não é você, mas apenas uma parte de você. É o seu lado sombrio. O

lado que todas as pessoas temem ver.O relógio trabalhava, inundando a sala com seu som monótono.- Todas as pessoas temem ver sua próprias trevas, que construíram com suas próprias

mãos... e temem tanto que negam vê-la, encará-la, fita-la, preferindo nega-la... você não anegou, teve coragem de vê-la, e por isso você agora é capaz de prosseguir firme no caminhodo autoconhecimento...

O relógio trabalhava...- Você está chocada com o que viu... e esta é a reação mais saudável... pois o nosso

lado sombrio não é nada bonito de se ver, nem de se descobrir...O relógio trabalhava...- E agora que você descobriu o que há dentro da sua escuridão interior, tem que

prosseguir não negando o que viu... tem que seguir o próximo passo...- E qual passo é esse, Éxis?- O próximo passo é aceita-la... aceitar a existência de toda a treva que você viu...- Como posso aceitar dentro de mim algo tão horrível e feio? Isso é impossível...Patrão Éxis sorriu:- Você não me viu caminhando em paz entre aquela nuvem de morcegos que você tanto

temia? Pois saiba que o mesmo horror de morcegos que você tem, eu também tinha...O relógio trabalhava...- E você não me viu entrar em um verdadeiro êxtase espiritual, bem na sua frente, no

meio daquela revoada assustadora de morcegos? Não viu eu me harmonizar com eles, metornando como que um só com eles?

Srta. Reine balançou a cabeça afirmativamente.- Eu só tive aquele êxtase porque eu conheço toda a dimensão das minhas trevas

interiores, do meu lado sombrio. Eu aceitei meu lado sombrio, e por isso mesmo, porque eunão o neguei, eu o dominei e o venci...

- Você dominou e venceu suas próprias trevas? - perguntou a jovem com seus olhosazuis enormes fitando fixamente o Mago, quase que como hipnotizada por suas palavras.

- Sim...“Dominar as próprias trevas é uma desafio constante, pois elas são uma energia muito

poderosa. Nossas trevas não devem ser destruídas, como ensinam muitas religiõesRevelacionistas, muito menos negadas... elas precisam ser controladas e dominadas, isso sim.

Esse é o primeiro passo. Elas não podem ser nem negadas nem destruídas, pois são parte denós mesmos. Se as negarmos ou a destruirmos, estamos destruindo a nós mesmos.Primeiro precisamos aceita-las... depois controla-las... e finalmente transmuta-las.

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A transmutação das trevas se dá lentamente, através do autoconhecimento constante...os vícios das trevas acabam sendo transformados nas Virtudes da Luz. E então atingimos aLuz Interior”

- E porque não nos fixamos diretamente apenas nas nossas Virtudes e esquecemos asnossas trevas? Porque não vamos direto para a Luz Interior?

- Não fazemos isso porque, para reconhecer a sua Luz Interior, é preciso primeiroreconhecer a sua Sombra, as Trevas que moram em você. Tanto a nossa Luz Interior como asnossas trevas são a herança de nós mesmos. Nós criamos ambas, através de inúmeras

encarnações... ambas fazem parte de nós... as trevas nos levam ao sofrimento, a Luz nos levaà Libertação... sofrimento e Libertação são construções nossas.“Temos que estar atentos a todas as nossas construções. Temos que estar conscientes

de todas as nossas edificações dentro de nós: as bonitas, a Luz, e as feias, as trevas... poistodas foram feitas com nossas próprias mãos... e então poderemos fazer a nossa escolha:continuar sofrendo ou atingir a Libertação: continuar edificando construções feitas de trevas ouprosseguir edificando construções elaboradas de Luz.

Mas repito: as trevas não devem ser negadas ou destruídas, porque além de ser partede nós mesmos, elas são muito poderosas. Elas devem ser é, isso sim, transmutadas.

Muitas pessoas escolhem as trevas... justamente por seu imenso poder, facilmentevisível para todos nós... diferente do poder da Luz, que não é imediatamente visível, o poder das trevas é imediato, evidente... está na cara... ele se exibe esplendorosamente...As trevas são tentadoras, justamente por causa do imenso poder imediato que exala...mas você deve resistir a ela, mesmo sabendo que é parte de você. Deve encara-la comtranqüilidade, e assumi-las como parte de si, não nega-la. Mas assumir suas próprias trevas jamais é deixar-se ser seduzido por elas.

As trevas são muito sedutoras, cuidado com elas, Reine!Assumir suas próprias trevas, sem deixar-se ser possuído por elas, torna-nos mais fortes

e lúcidos no caminho da assunção da nossa própria Luz.Só assumindo nossa própria escuridão interior, estaremos aptos a conquista-la e, por

fim, transmuta-la.”Srta. Reine estava muito abalada e Patrão Éxis percebeu isso:- Reine, você precisa de alguns dias para digerir o que viu hoje... precisa de tempo para

aceitar que o que viu fazer parte de você... mas desde já, precisa controlar o que viu, senão assuas trevas irão escraviza-la para sempre, entendeu?

Ela balançou a cabeça afirmativamente.- Fique uma semana digerindo isso. Daqui há 7 dias nos encontraremos novamente aqui

na Mansão. Darei continuidade aos seus estudos de Magia. Você teve a chance de fugir de simesma hoje e não o fez. Isso a tornou apta a continuar...

Patrão Éxis chamou-me e disse-me:- Árthur, providencie um condutor e minha carruagem, e acompanhe por favor a Srta.

Reine até sua casa na Aldeia, sim?

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Capítulo 8 - Caminhando de costas

Haviam se passado 7 dias. Senhorita Reine e Patrão Éxis estavam novamente saindoda Mansão. Uma nova aula teria início. Uma, dentre as muitas que estavam por vir...

Caminharam bastante tempo pela Estrada da Montanha sem trocar uma só palavra.Num determinado momento, Patrão Éxis parou. Ele virou-se de costas. E disse para

Reine:- Me observe... e faça como eu faço...Ele começou a caminhar de costas, pela estrada! Caminhava para frente, voltado para

trás!Reine ficou parada na estrada, e olhando a estranha ação de seu companheiro de

caminhada, começou a gargalhar:- O que está fazendo? Pirou?E continuava a rir.O Mago sorriu e já distante vários metros, berrou:- Você não quer aprender Magia? Não quer ser Bruxa? Então faça o que eu estou

fazendo, oras!

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A jovem, mesmo achando aquilo tudo uma doideira, virou-se se costas e começou acaminhar. O Mago parou, esperando que ela o alcançasse. Quando estavam emparelhados,começaram a caminhar juntos, de costas.

Então ele disse:- Repare com profundidade no que estamos fazendo, está bem?O sol batia em seus rostos. Uma brisa suave lhes afagava as partes dos cabelos longos

que não estavam cobertas pelos chapéus. A Aldeia ao longe podia ser vista. E o valeverdejante que rodeava a montanha... Que lindo vale, que mostrava toda a sua encantadora

beleza!E os dois, parecendo dois malucos, a caminhar de costas, estrada acima!Reine tropeçou diversas vezes, em pedras, em fendas no solo da estrada e em outras

irregularidades do terreno e, portanto, resolveu caminhar mais devagar. O Mago pareciaconhecer aquele terreno como a sala de sua casa, e mesmo caminhando mais devagar paraacompanhar a marcha de sua aprendiz, caminhava resoluto e muito confiante, completamentediferente de Reine: ela estava andando devagar, cada vez mais insegura a cada tropicão quedava nas irregularidades e imprevisões da estrada.

Os dois caminharam bastante, até que Reine caiu pela primeira vez ao chão da estrada.Ela ficou irritada, enquanto Éxis ria:

- Quem cai é porque antes estava de pé! Então volte a ficar de pé!Ele parou, esperando-a se levantar. Não a ajudou. Ela devia reerguer-se sozinha.Quando ela se pôs novamente de pé, ele prosseguiu caminhando naquela forma

estranha. Ela estava bem irritada, mas ainda assim continuou seguindo as instruções.Até que Reine caiu, algum tempo depois, pela segunda vez, após tropeçar num buraco

da estrada.Ela caiu sentada. E desta vez havia ficado furiosa:- Buraco desgraçado!E começou a reclamar, muito enraivecida:- Mas que diabos é isso? Estou aqui pra aprender Magia e não pra andar como uma

idiota, de costas, numa estrada cheia de buracos e ficar caindo! Isso não é Magia, isso éidiotice! Magia é fazer coisas especiais, ter contato com o mundo oculto, aprender evocaçõesmágicas! Eu quero ser Bruxa e não andar de costas como uma louca!

E ficou ali, sentada naquele buraco da estrada, esbravejando.Reine ficaria ali resmungando muito tempo se Éxis não houvesse se aproximado, lenta e

calmamente, balançando sua bengala e assoviando uma antiga canção francesa. Aquilodeixou-a mais irritada ainda, porém quando o Mago se aproximou ela conteve sua língua.

Ele sentou-se ao seu lado, naquele buraco da estrada. Retirou sua cartola. Sentiu abrisa suave e o sol da manhã a lhe acariciarem os cabelos. Ficou alguns instantes admirandoaquela paisagem que ele tanto amava desde que era um menino...

Pegou umas pedrinhas que haviam na estrada. E começou a joga-las a esmo, estradaabaixo.

Ficou ali, calado, sentado ao lado de Reine, o tempo suficiente para que ela seacalmasse. Ela percebeu isso - estar mais calma - quando ela mesma havia pego algumaspedrinhas e estava também jogando-as estrada abaixo, exatamente como Patrão Éxis.

Foi quando o Mago começou, finalmente, a falar:- O tempo... o passado, o presente e o futuro...“O tempo... é como um rio que passa, diria o senso comum...Mas o tempo não passa de uma ilusão...”- Ilusão? - perguntou a jovem, interessada naquela estranha conversa, após aquela

igualmente estranha experiência de caminhar andando de costas...- Olhe, Reine, como eu pedi que você olhasse: com atenção para o que estávamos

fazendo...

“Caminhamos de costas... ao fazermos isso, estávamos enxergando tudo por onde nóspassamos... estávamos enxergando o exato momento em que passávamos por um trecho daestrada... mas não enxergávamos absolutamente nada à nossa frente...

Da mesma forma é o tempo...39

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Por onde nós passamos e vimos mais ao longe: eis o nosso passado.Por onde estávamos passando naquele exato momento: eis o nosso presente.Aquilo que não enxergávamos, bem à nossa frente: eis o nosso futuro.”O Mago lança uma pedrinha... ela cai e rola alguns metros estrada abaixo... E a jovem

permanecia atenta às suas palavras:“Você deu vários tropicões... caiu por duas vezes... porque seus olhos não sabiam o que

estava por vir... exatamente como é o futuro: algo, na verdade, desconhecido.Você começou caminhando meio rápida e resoluta, como eu... mas diferente de mim,

você não conhecia o terreno... mas caminhou rápida e resoluta porque fez uma projeção doque havia mais à frente.Você projetou, imaginou como devia ser os metros a frente de seus pés, e por isso

andou resoluta. Porque acreditou na sua projeção. Mas a Vida lhe mostrou o que era naverdade o que você fazia: uma mera projeção, e nada mais. E a Vida tratou de lhe derrubar, avocê e às suas projeções, mostrando que o futuro, os próximos passos no metros à frente desuas pernas, eram completamente diferentes daquilo que você havia imaginado.”

- Mas você caminhou depressa e resoluto! - reclamou a jovem.- Sim, eu caminhei resoluto, porque de fato eu conhecia o terreno, tinha uma certa noção

de como ele era. Porém eu não corri. Eu caminhei, sempre afirmando bem cada pé antes dedar o próximo passo, coisa que você não fez... eu caminhava, sem que você prestasse atençãoem mim, cuidando o presente de cada passo meu... sem temer o que viria, mas sem ser imprevidente ou inconseqüente.

“A cada passo que eu dava, eu firmava bem o pé que tocava o chão, e só depois dava oseguinte, na minha própria velocidade, respeitando o meu ritmo.

Você, ao contrário, confiante na sua projeção e querendo competir comigo, queria ira tãoou mais rápida do que eu, desrespeitando a sua velocidade e ritmo. E confiando numa meraprojeção, que não passava de uma sombra, de uma ilusão, esquecia de se concentrar no quevocê estava realmente fazendo: em um passo de cada vez, firmando bem um pé no chãodepois do outro.

Diferente de você, eu não projetei, mesmo conhecendo bem a estrada, os metros que seseguiam aos meus pés. Não. Eu vivi apenas cada momento em que eu colocava meus péssobre o chão, firmando-os bem, um de cada vez.

Foi por isso que eu não tropecei uma vez sequer e muito menos perdi o equilíbrio aponto de cair duas vezes como você:

porque eu vivi com intensidade cada momento... eu estava completamente presente emmim mesmo em cada passo... eu estava vivendo no Agora, na Eterna Presença, no eternopresente.”

Reine franziu a testa:- Como assim, eterna presença? E o futuro? E o passado? Como o presente pode ser

eterno, se existem o passado e o futuro?O Mago sorriu:- É esta a questão, Reine: não existe passado, não existe futuro, pois nem em um nem

em outro está o Poder. O Poder só existe no Agora. Por isso apenas o presente, o Agora, éRealidade!

E Srta. Reine fez um cara como que se dissesse ao Patrão Éxis: “que conversa maisesquisita essa...”

O Mago pegou outra pedrinha... atirou-a... ela rolou... e ficou alguns momentosadmirando a paisagem.

A jovem fez o mesmo. Por um momento, voltou-se para trás, sentada naquele buraco daestrada, olhando para o que a esperaria nos próximos metros, curiosa. Depois passou a fitar apaisagem junto com o Mago.

E Patrão Éxis prosseguiu:

“Note como o futuro vai desaparecer para você, se prestar atenção às minhas palavras...E quando o futuro desaparecer, todos os seus medos e preocupações quanto ao futuro,que sugam suas energias vitais, como um vampiro, irão desaparecer também...

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O que está às nossas costas, na estrada, é o futuro. Nós não podemos vê-lo, mas temosa tendência de querer controla-lo, e para fazer esse controle, realizamos um monte deprojeções, um monte de planejamentos, um monte de modelos de como ele deverá ser,imaginando como será o futuro.

Porém, a Vida, supremamente sábia, vem e põe literalmente por terra as nossasprojeções: ela nos derruba! E nos derrubando, ela nos mostra que estamos fazendo errado emnos preocuparmos desta forma tão neurótica com o futuro, como nós fazemos.

Note que, com isso, eu não estou pregando viver irresponsavelmente, sem planejar

nada para o futuro. Não! O que eu estou dizendo é que nós erramos quando gastamos a nossaenergia vital nos preocupando com o futuro desta forma tão neurótica em que insistimos emfazer, ao invés de concentrarmos a nossa energia vital na única coisa que importa de verdade,que é nos concentramos no exato momento de nossas vidas em que estamos vivendo. A únicacoisa que importa de verdade, Reine, é fixarmos nossas energias e atenção no Agora!

O futuro é incontrolável... e nós gastamos uma quantidade imensa de energia tentandodominar o que não pode ser dominado.

Imagino que seja por isso que um grande sábio da Antiguidade certa vez disse:‘Não se preocupem com o dia de amanhã, pois a cada dia basta a sua própria

preocupação’.O futuro não passa de uma fantasia, de uma ilusão criada por nossas cabeças, por

nossas mentes. Por isso a preocupação com o futuro perde todo o sentido se passarmos aouvir a lição que a Vida nos dá quando nos derruba, pondo por terra todas as nossas projeçõesdo futuro. A lição é esta:”

Dito isso, o Mago aproxima-se do ouvido da jovem e lhe sussurra:- Concentre-se apenas e totalmente no Agora. Faça o seu melhor no Agora e apenas no

Agora. Esteja completamente presente e imersa no Agora!

Mais uma pedrinha rolou pela estrada...Mais alguns instantes se passaram... E Reine perguntou:- Foi por isso que você disse que o futuro não passa de uma ilusão? Por que sem o

Agora ele não é nada? Por que ele não passa de uma projeção fantasiosa da nossa cabeçaque não quer viver no Agora?

Patrão Éxis sorriu largamente:- Grande garota!- Mas e o passado? Eu estou voltada para ele: as partes da estrada em que eu

caminhei. Então o passado tem que ser real, não? O passado é sólido, então, pois eu o vejoperfeitamente, diferentemente do futuro...

Mais uma pedrinha rolou pela estrada...E o Mago disse:- Reine me descreva o pedaço da estrada que você vê... descreva para mim...E a jovem começou a contar o que via.Após ela descrever, o Mago falou:- Agora, note que eu estou olhando para a mesma estrada... estou exatamente do seu

lado... vamos fingir que eu e você somos uma só pessoa... que temos exatamente o mesmopassado... afinal, caminhamos exatamente pela mesma estrada... agora ouça a minhadescrição da estrada.

E Patrão Éxis fez um descrição para Reine do que ele via... e era um descriçãocompletamente diferente da que Reine havia feito instantes antes!

- Notou algo?- Sim, você fez uma descrição totalmente diferente da minha, embora estejamos

sentados lado a lado e olhando fixos para a mesma estrada!

- Exato, e sabe o que isso quer dizer?Srta. Reine fez uma cara de dúvida e extremo interesse. O Mago disse:- Isso quer dizer que o passado que nós vivenciamos não passa de discurso.

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“Um discurso é uma narrativa de alguém. Mas como nós dois, agora há pouco, fingimosser a mesma pessoa, nossos discursos então poderiam ser diferentes por estes motivos: oestado de espírito que nos movia no Agora, no momento em que fizemos a descrição; asemoções que estávamos sentindo no Agora; e os pensamento que tínhamos em nossa menteno Agora quando fizemos a descrição... percebe?

Percebe o quanto o passado é plástico, é moldável, em função do Agora? Percebe comoo passado não é algo concreto com a gente imagina, mas como ele pode ser descrito, vivido esentido de forma completamente diferente em função das diferenças com que vivermos o

presente, o Agora?Por isso eu posso afirmar: assim como o futuro é uma ilusão, porque não passa de umaprojeção, de um discurso do que imaginamos em função do Agora, o passado é a mesmacoisa! O passado é um discurso construído a partir do Agora, que pode ser mudado conformenossa vontade no Agora! Por isso o passado não é sólido, e sim é uma ilusão, como o futuro!

Por isso, na Uma Tradição, afirma-se: o tempo não passa de uma ilusão. Só o que existerealmente é o Agora, a Eterna Presença.

O Agora é nossa única certeza!O Agora é o espaço onde todas as coisas acontecem.O Agora é o espaço onde reside nossa Fonte de Poder!”Ao afirmar isso, o Mago aproximou-se novamente do ouvido de sua aprendiz e

sussurrou:- O Agora sou eu! O Agora é você!Reine ficou muito pensativa com tudo aquilo.Os dois continuaram sentados. Ela parecia contemplar a paisagem, mas na verdade

estava contemplando, dentro de si mesma, as palavras do Mago.Foi quando, após algum tempo de silêncio entre os dois, ela perguntou:- Como posso mudar o meu passado, que me envergonha? Como posso transformar

todo o ódio e a raiva que alimentei minha vida toda, como posso mudar esse discurso? Comoposso transmutar as minhas trevas?

O Mago levantou-se. Limpou a poeira que o solo da estrada havia depositado em suasroupas. Estendeu a mão e auxiliou sua jovem aprendiz a levantar-se. Pegou sua bengala,colocou sua cartola. Ofereceu o braço à jovem. Ela o tomou. E ambos começaram a descer aestrada de braços dados.

Ambos fitavam a paisagem. Ela estava ansiosa por uma resposta, mas se continha.Aprendia a respeitar o tempo de seu professor.

Finalmente, ele respondeu:- Calcando nossos dois pés no Agora, enquanto nos autoconhecemos, nos

autodescobrimos, vamos cada vez mais nos desidentificando com as máscaras, aspersonalidades várias que criamos de nós mesmos em nosso passado ou que projetamos parao nosso futuro. Cravando nossos pés no Agora, nós ficamos capacitados a ouvir alguém quenunca ouvimos: a nossa Alma, o nosso Ser!

“Quando ouvimos o nosso Ser - também chamado de ‘Eu Superior’, ‘Semente Divina’,‘Divindade Interior’, ‘Jissô’, ‘Atma’, ‘Adhi’ e muitos outros nomes - a forma como vemos nossopassado e a nós mesmos muda radicalmente. E a nossa antiga e viciada visão, que fixava-sedemasiadamente nas trevas, fica cada vez mais sendo guiada pela visão do Eu Superior, doSer, que se fixa exclusivamente na nossa própria Luz. Tudo isso acontece graças ao Agora. OAgora é nossa Fonte de Poder. O Agora é a ponte que nos leva direto para o nosso Ser, anossa Luz Interior. Cruzando a ponte do Agora, transmutamos as nossas trevas em Luz.

Através do Agora - nossa Fonte de Poder - podemos lançar uma ponte com nosso Ser eele é capaz de lançar a Luz que é capaz de ressignificar as nossas experiências do passado,dando-lhes novos sentidos, desta vez com significados construtivos e luminosos.

Por exemplo, as suas trevas: elas são marcadas por ódio e raiva.

Mas não devemos destruir o ódio ou a raiva que moram em nós, pois senão estaríamosdestruindo uma valiosa matéria-prima para algo muito superior, para a construção de umavirtude muito bela.

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Mas ao cruzar a ponte do Agora, as suas trevas, Reine, podem ser transmutadas navirtude correspondente aos vícios da raiva e do ódio:”

Os enormes olhos de Reine, atentos, imploravam ao Mago que terminasse sua frase.E o Mago disse:- A bela virtude chamada Coragem!Os olhos de Reine brilharam!Eles continuaram descendo a estrada e admirando a paisagem. Caminhavam bem

devagar.Eles se olharam. Patrão Éxis sorriu, e disse, finalmente:- Deus é o grande reciclador do Universo! Ele recicla e reaproveita tudo! Quando nos

religamos a Deus, através de Sua Teia da Vida, ele é capaz de transformar a nossa maisvergonhosa treva e vícios na nossa mais gloriosa Luz e Virtude!

Capítulo 9 - Deus e Divindades

Naquela tarde, Patrão Éxis havia levado Srta. Reine para as ruínas de uma antiqüíssimacapela católica que ficava escondida numa estrada abandonada entre a estrada da montanha,que levava à Mansão, e a Aldeia de Reine. Como de costume, quando o tempo estava bom,eles andavam a pé, conversando.

Aquela capela datava do século XIII, não possuindo mais telhado, apenas algumasparedes compostas por pesadas pedras que se harmonizavam com a vegetação ao seu redor.

Caminhando lado a lado por aquela antiqüíssima estrada abandonada, Patrão Éxiscomeçou a falar:

- Em nosso último encontro, falamos sobre Deus... Eu disse que Deus é o grandereciclador do Universo. Pois hoje gostaria de falar mais sobre Ele!

O Mago suspirou profundamente. E fitou Reine dizendo:- Acho que já somos íntimos o suficiente para que eu lhe revele um hábito meu de

reverência ao meu Pai... de agora em diante, perante você, como faço perante Árthur e osmeus companheiros de Magia, toda vez que eu estiver de chapéu e tocar no nome de meu Pai,

de nosso Pai, eu tirarei meu chapéu.E dito isso, o Mago retirou sua cartola e a ficou segurando em sua mão esquerda:

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- Quando as pessoas pensam em Deus, geralmente pensam em um velho barbudo quemora no céu e que pune a humanidade, divertindo-Se sadicamente com seus destinos.Lamento que as pessoas tenham uma visão tão infantil do Pai Amantíssimo!

“As pessoas não erram quando olham para o céu quando oram por Deus ou quando Obuscam. Mas é uma visão incompleta. Incompleta porque Ele não está apenas no céu mas simem toda parte.

Mas de todas as partes, a mais importante e a que as pessoas mais esquecem, é deque Deus mora também dentro de nós mesmos. Deus é o nosso Ser! Deus é nosso Agora!

Deus é o espaço em nossas vidas em que as coisas acontecem! O Agora é a ponte para o Ser,e o Ser é a ponte para Deus!”- Você entende, agora, Reine, por que eu te fiz caminhar de costas aquele dia na

estrada da montanha? Porque eu queria que você sentisse, dentro do seu coração, dentro doprofundo do seu Ser o que eu estou te dizendo agora!

Nesse momento o Mago sorriu. Ele piscou para Reine e disse:- Me lembrei agora de um antigo conto humorístico sobre Deus...“Conta-se que um dia Deus estava muito aborrecido com tantas orações das pessoas

pedindo coisas e mais coisas para Ele, esquecendo-se de fazer elas mesmas a diferença emsuas próprias vidas.

Então Deus ficou com vontade de se esconder da humanidade!Ele pensou então: “Vou morar no fundo do mar, assim a humanidade nunca mais meachará para me incomodar com seus eternos pedidos repletos de insatisfações” .Mas um Anjo disse a Deus: “Senhor, olha que a humanidade um dia terá tecnologia para

se aventurar no fundo do mar e nesse dia irá encontra-Lo!” .Deus então ficou pensativo. E teve outra idéia: “Então vou me esconder no meio do

deserto mais hostil do mundo!” .Mas o Anjo lhe disse: “Senhor, olha que as caravanas do deserto um dia poderão

encontrá-Lo lá...” .Deus pensou mais e disse: “Então irei me esconder no espaço sideral, no meio das

estrelas e dos planetas!” .Mas o Anjo novamente aconselhou: “Senhor, olha que um dia a humanidade inventa

máquinas voadoras capazes de viajar entre as estrelas e poderão encontra-Lo!”. Então Deus deu um sorriso maroto e respondeu ao Anjo: “Irei morar no último lugar que

a humanidade irá pensar em me procurar: irei morar dentro dos próprios seres humanos! ”Reine sorriu com a historinha de Patrão Éxis:- Deus mora em nosso próprio Ser... ou seja, Deus mora em nós... não é? Dentro de

nosso coração, de nossa Alma?- Sim! E você acabou de explicar porque uma pessoa sem compaixão e sem amor ao

próximo nunca enxergará ou sentirá a Deus! Porque se Deus mora em ti, se Ele mora em mim,se Ele mora em Árthur, em Cristabel, então se não tivermos compaixão e respeito pelaspessoas que nos rodeiam, jamais poderemos compreende-Lo ou senti-Lo! Por isso sentir-sedesligado das pessoas ao nosso redor, em profundo egoísmo, ou viver sem respeitar aspessoas ao nosso redor, dominando-as, manipulando-as, chantageando-as, prejudicando-as eainda dizer que ama a Deus, é um profundo paradoxo! Não faz sentido! E isso é o que os auto-intitulados “religiosos” mais fazem! Rezam a Deus, cultuam a Deus, mas tem um profundodesprezo e desrespeito pelos seres humanos que ousam serem um pouco diferentes delesmesmos ou que professam outras religiões, doutrinas ou filosofias...

“Não há jeito de chegar a Deus a não ser através de duas coisas absolutamente eumbilicalmente ligadas: a Natureza e as pessoas. Qualquer outra proposta de se chegar aDeus não passa de ilusão... ascetismo... isolamento das pessoas e do mundo... repúdio àNatureza em prol da urbanidade e de um suposto ‘progresso’... nada disso pode levar acomunhão com Deus”.

Um profundo silêncio se estabeleceu entre o Mago e sua aprendiz.Os olhos de ambos deliciavam-se com a visão da Natureza que envolvia aquela velhaestrada abandonada. Éxis aproveitou aquele momento:

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- Deus criou tudo isso. Todavia, segundo a Uma Tradição, a que você pertencerá e a queeu pertenço, Deus não sustenta, não mantém a Sua Criação sozinho. Não! Ele a mantématravés de suas Divindades!

- Divindades? Quer dizer, deuses?- Não... Deuses e Divindades são coisas diferentes. Deus existe um só. Tudo o que

existe vem de Deus e é emanação Dele. Portanto as Divindades são, como poderíamos dizer,os filhos mais próximos de Deus. Seriam como se fossem os “dedinhos” de Deus! A palavra“deuses ” dá a idéia de que existe um outro Criador além de Deus... por isso, na Uma Tradição,

não utilizamos a palavra “deuses ” e sim “Divindades” ou “Deidades”.Reine cortou o pensamento de Patrão Éxis, pois uma curiosidade lhe coçava na língua:- Notei que você fala em “Uma Tradição”... Por que a tradição magística a que

pertencemos não tem um nome mais específico? Tipo “Tradição da Lua”, “Tradição do Sol”,etc.?

- Hahaha! Nossa Tradição tem um nome específico sim! Mas eu nunca o contei paraninguém! Preferi usar o humilde nome de “Uma Tradição” e sabe por quê?

Reine enrugou a testa, esperando a resposta.- A Uma Tradição tem esse nome porque a nossa Tradição de Magia é apenas Uma

entre VÁRIAS! Cada Tradição de Magia possui um pedaço importante da Verdade, da Virtude,porém nenhuma detém a Virtude por completo. Mas as várias Tradições de Magia que temaflorado no mundo nos últimos anos, bem como as que sobreviveram aos horrores da “Santa”Inquisição dos cristãos, tem o péssimo hábito de acharem-se detentoras de toda a Verdade, detoda a Virtude. As Tradições de Magia cometem o mesmo erro das religiões: acham-se “Donasda Verdade ”! Que absurdo, que loucura, que insanidade! Por isso eu escolhi chamar a nossaTradição de Uma Tradição: para que nunca nos esquecêssemos de que somos filhos eherdeiros de APENAS uma dentre as várias e infinitas emanações da Verdade e da Virtude, ede que jamais teremos a pretensão de nos adonarmos da Virtude, da Verdade! Entendeu?

- Puxa, isso é um ato de humildade e tanto... e você deixou esse ato impresso no próprionome da nossa Tradição...

Patrão Éxis sorriu. Sim. Ele queria que os adeptos da Tradição de Magia que ele haviatrazido ao mundo novamente, uma Tradição que estava perdida no plano material desde o finalda Era de Ouro, nunca fosse dominada pela prepotência, pela arrogância e pela falta derespeito e diálogo com todas as outras Tradições Naturais.

- Voltando ao tema principal... eu falava das Divindades...“As Divindades ou Deidades de Deus, que regem a Criação bem como guiam a

evolução e ascensão do Espírito das pessoas, estão presentes nas mais diversas tradições:são os Kami na Tradição Xintoísta japonesa; são os Devas na Tradição hindu da Índia; são osDeuses do Olimpo na cultura greco-romana; são os Orixás e Inkinsis nas culturas da ÁfricaNegra; são os Voduns no Caribe; e estão presentes entre os Celtas, na Tradição Wicca.

Na Uma Tradição acredita-se que toda pessoa tem sua vida consagrada a umadeterminada Divindade quando nasce. Assim, toda pessoa que nasce é filha de uma Divindadeespecífica, que através de Sua vibração, de Sua energia, irá guiar esta pessoa rumo à suaevolução, consciência e plenitude!

“Como cada pessoa é filho ou filha de uma Divindade, que a sustenta e a ampara emsua evolução espiritual, milenar e sem fim, rumo à sua perfeição individualizada, conformeevolui, cada pessoa vai se aproximando cada vez mais das características de sua DivindadeNatal, de sua Divindade Geradora, de sua Divindade Ancestral. A filiação de uma Divindadenos torna Filhos Divinos e, porque não, pequenas divindades, pois fomos gerados e gestadosdivinamente por uma Divindade, e isso nos torna únicos! As Divindades nos dão característicasespecíficas, quase como uma Genética Sagrada, uma Hereditariedade Divina! Por isso apadronização dos sentimentos, dos pensamentos, das ações, da moral, é algo inaceitável naUma Tradição. São os Revelacionistas que adoram tornar todos idênticos, uniformizados,

padronizados, pasteurizando a tudo e a todos.”- Revelacionistas?- Sim, Reine. Eu chamo de Revelacionistas todas as religiões ou filosofias religiosas que

se desconectaram da Natureza, que desprezam o Culto à Natureza e interpretam o mundo à45

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revelia das Leis da Natureza, passando a acreditar como leis unicamente nas revelaçõesdadas por um Profeta, por um grupo de Profetas, por um Messias ou por um Salvador. Comoacreditam somente nessas “ revelações ”, eu os chamo de “Revelacionistas”. Eles, por sedesconectarem da Natureza, passam a acreditar que os homens foram, conforme sua própriasrevelações que cultuam, criados por Deus para dominar, para usar, para saquear a Natureza!E, do alto de sua arrogância, os Revelacionistas partem para massacrar os adeptos das maisdiversas tradições dos Cultos à Natureza, tachando-os de “ atrasados ”, “bárbaros” e “não-civilizados”.

“Nós, dos Cultos à Natureza, somos para eles os ‘bárbaros’ , Reine... e por sermosbárbaros, eles acham que podem, ao longo da história, nos esquartejar vivos, nos lançar àsfogueiras da Inquisição para ‘sermos purificados dos nossos pecados’ , e até mesmo podemosser escravizados como animais, como fizeram com os negros da África e os indígenas daAmérica.

Os Revelacionistas destroem a Natureza, cospem em sua face, e nós é que somos osbárbaros!... Como disse o Chefe Seattle, líder indígena e um grande sábio, nos anos 1850, emsua fala ao presidente dos Estados Unidos: o homem branco desrespeita a Natureza e por issodefeca em sua própria cama e morrerá, por isso, um dia, afogado em seus próprios dejetos.”

Havia uma enorme mágoa nas palavras do Mago. Reine ficou impressionada comtamanho sentimento de dor que haviam naquelas palavras... e impressionou-se ainda maisquando eles haviam chegado às ruínas da antiga capela católica, e o Mago exclamou:- Cristãos... Revelacionistas... por onde passaram, deixaram um rio de sangue em nomede seu próprio Messias! Eu os enojo!

Eles adentraram a antiga capela cristã. E sentaram-se em grandes blocos de pedra,enquanto admiram o local por algum tempo.

Foi quando o Mago retomou a sua aula:- A Uma Tradição tem basicamente sete Divindades principais, e cada uma delas

representa um dos sete Elementos do Cosmos e uma das sete Virtudes Maiores! E essas seteDivindades principais tem, cada uma, um Guardião na Uma Tradição, e os sete Guardiõescompõem o Círculo da Virtude.

Reine Arregalou os olhos. Aquilo de “Círculo da Virtude” a interessava muito!Ela estava extasiada sobre aquele assunto! Seus olhos brilhavam! E percebendo isso,

Patrão Éxis prosseguiu animado:- Eu falei nos sete Elementos...“ Bem, cada Elemento tem suas características e uma Virtude associada a ele na Uma

Tradição.O Éter, por exemplo, dá forma às coisas, as materializa, as concretiza, bem como

desintegra o que é desnecessário; ele também facilita a meditação, dando esperança, quietudee paz. A sua Virtude, a Virtude que eu, Guardião do Éter, defendo, é a Virtude daEspiritualidade. Os Filhos da Divindade do Éter, quando estão de bem com a Vida, podem ser tímidos, introvertidos, circunspetos, preferir ouvir a falar, ser amorosos, alegres,compenetrados, emocionar-se facilmente, ter compaixão, acreditar em todos e serempersistentes. Mas quando estão de mau com a Vida, podem ser ranzinzas, briguentos, frios,perversos, perigosos, agressivos e vaidosos.

O Metal, assim como o aço, dá características rígidas, permite condutividade,agregação, reunião, atração, permite a ligação das coisas; também está associado àprosperidade, à transmutação, à generosidade e à doação. As pessoas que vivem sob esseElemento lutam com tenacidade e garra por seus objetivos, são determinadas, resolutas. AVirtude que o Guardião do Metal defende é a Ordem. Os Filhos da Divindade do Metal, quandoestão de bem com a Vida, podem ser irredutíveis, se impor a todo custo, serem leais, vigorososno amparo aos seus afins, protetores, ciumento dos seus, podem não abandonar um amigo àprópria sorte, gostar de viajar, competir, fazer debates acalorados, ser ligeiros, mudar rápido de

interesses, podem ser falantes, superficiais nas idéias e conservadores. Mas quando estão demau com a Vida, podem ser possessivos, intolerantes, insensíveis, encrenqueiros, irascíveis,aguerridos, irredutíveis nos seus pontos de vista, terem humor variável, serem dispersos,nervosos, terem fé vacilante e medos não admitidos, medos interiores.

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A Madeira relaciona-se à flexibilidade, à resistência, a expansão, como os brotos dasplantas se expandindo em direção ao Sol; se relaciona, assim, como buscam o Sol, à buscapela Verdade. A Virtude que o Guardião do Vegetal defende é a Criatividade. Os Filhos daDivindade do Vegetal, quando estão de bem com a Vida, podem ser curiosos, sentir atraçãopor tudo o que for interessante, galanteadores, verborrágicos, leais, prestativos, confiáveis,sensíveis às necessidades do próximo, talentosos, esmerados, ativos, ágeis, extrovertidos,podem ser ótimos nas relações públicas, podem perceber melhor o macro do que o micro,podem ser diplomatas, gostar de novidades, progresso e causas humanitárias. Mas quando

estão de mau com a Vida, podem ser vingativos, linguarudos, briguentos, críticos ácidos,perigosos, respondões, instáveis, podem isolar-se, terem dificuldade em direcionar seusobjetivos, se perdendo no macro, faltando atenção aos detalhes.

O Fogo está relacionado ao calor solar, à eletricidade, às chamas. Ele representa oequilíbrio e a disposição. A Virtude que o Guardião do Fogo defende é o Equilíbrio. Os Filhosda Divindade do Fogo, quando estão de bem com a Vida, podem ser calmos, racionais,meditativos, perspicazes, observadores atentos, geniais, terem ótima memória, fala alta,motivados, corajosos, determinados, terem grande discernimento, raciocínio agudo, podem ver o mundo de forma clara e sistemática, podem apreciar o poder da punição, podem ser ótimosoradores, promoverem a guerra perante a injustiça. Mas quando estão de mau com a Vida,podem ser reclusos, calados, rancorosos, implacáveis nos seus juízos, intratáveis, agressivos,belicosos, raivosos, autoritários, ególatras e não tolerarem ser questionados.O Ar é a direção, é o movimento, a leveza, a mudança, a transformação organizada dascoisas. É a própria liberdade! A Virtude que a Guardiã do Ar defende é o Movimento. As Filhasda Divindade do Ar, quando estão de bem com a Vida, podem ser emotivas, comunicativas defala rápida, criativas; caso não se impõem na relação, elas rompem pois acham que tem quese impor; podem ser envolventes, amorosas, alegres, decididas, ágeis no pensar e no falar,objetivas, lutadoras, risonhas, possessivas com os seus, amigas e companheiras leais, líderesnaturais e gostar de novidades. Mas quando estão de mau com a Vida, podem ser pavio curto,briguentas, faladeiras, bravas, muito emotivas, intolerantes, apassionadas, desleais, podemnão perdoar mágoas, serem explosivas, inconstantes em tudo, dispersivas, mimadas e teremdificuldade de concretizar seus objetivos.

A Terra é segurança, é estabilidade, é firmeza. É a fartura que vem de seu seio, ocrescimento das colheitas. Por isso é desenvolvimento, é compreensão das experiênciasvividas. A Virtude que o Guardião da Terra defende é a Estabilidade. Quando os Filhos daDivindade da Terra estão de bem com a Vida, eles podem ser rigorosos, patriarcais, gostar devida errante, magia e coisas religiosas; podem não gostar de terem patrão, serem reservados,alegres mas discretos, observadores, podem ter mau agouro nos relacionamentos, serem meioranzinzas, metódicos, taciturnos, terem tendência a serem solitários e fechados, podem ter manias e hábitos incomuns. Mas quando estão de mau com a Vida, eles podem ser perigosos,violentos, intolerantes, cruéis, insensíveis à dor alheia, serem solitários, ultra-conservadores,podem não ser cooperativos nem competitivos, podem ser frios e superficiais nosrelacionamentos.

Finalmente, a Água! Ela é criatividade, novidades, absorção, purificação, renovação,manutenção da vida, e representa o emocional dos seres. Sem água não existira vida na Terra.Cerca de 70% de nossos próprios corpos são feitos de água! A Dama da Água é sua Guardiã,e ela pode se manifestar na água doce, ou na água salgada. E a Virtude que ela defende é aVida! As Filhas da Divindade de Água Doce, por exemplo, quando de bem com a Vida, sãoamorosas, delicadas, meigas, sensíveis, perceptíveis, perfeccionistas, cuidadosas, amáveis,protetoras e maternais, generosas, previdentes, calmas, podem gostar de conforto, terem boaauto-estima, serem otimistas. Mas quando de mau com a Vida, podem ser ciumentas,agressivas, vaidosas, insuportáveis, vingativas, não se esquecerem ou perdoarem uma ofensaou mágoa, terem baixa auto-estima, ser inseguras, fofoqueiras, intrigueiras, acharem que o fim

justificam os meios, podem ter atração pelo luxo, pelo poder, podem ter descontrole emocionale impulsividade. Já as Filhas da Divindade de Água Salgada, quando de bem com a Vida,podem ser matronas, matriarcais, alegres, leais, fiéis, impositivas, generosas, trabalhadoras,muito ativas, muito esmeradas em tudo o que fazem, possessivas, terem religiosidade firme,

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apreciarem a família e a vida doméstica, terem fala melodiosa, serem românticas, podem nãogostar muito de esportes e serem sensíveis. Mas quando de mau com a Vida, podem ser respondonas, irritantes, intolerantes desrespeitosas, briguentas, vingativas, inseguras,medrosas, podem criar ilusões e viverem nelas, serem inconstantes e terem muita variaçãoemocional.”

Srta. Reine estava nas nuvens com todo aquele Universo que acabara de se descortinar para ela! O tempo havia voado! Se o Mago não falasse ela nem teria percebido:

- Puxa, o Sol já está baixando! Em breve será noite! Vamos indo, Reine?

- Hã... Ah, sim... vamos!Quando retornaram à Mansão, Patrão Éxis deixou Srta. Reine comigo e subiu para seuquarto, dizendo que em breve retornaria.

Nesse momento em que Srta. Reine e eu ficamos a sós, ela aproveitou para falar algumas coisas comigo. Então ela me puxou pelo braço e começou a falar, baixinho:

- Árthur, descobri que Éxis tem uma implicância incrivelmente forte com os cristãos e ocristianismo! Cheguei a ficar assustada um pouco quando descobri, te confesso!

- Ah, sim, Patrão Éxis é assim desde criança! Ele traz isso de outras encarnações, emque, como mago e sacerdote das tradições que cultuavam a Natureza, ele foi muito perseguidopela intolerância e violência daqueles tempos...

- Só de outras encarnações?- Bem, na verdade, nesta encarnação, quando ele foi educado em História,principalmente sobre o colonialismo e o neo-colonialismo, ele se revoltou muito com o que os

europeus “cristãos” fizeram aos índios norte-americanos, índios centro e sul-americanos, aosaborígines da Austrália, bem como a outros povos que cultuavam a Natureza e foramdizimados pela força da cruz e da espada de nós, europeus...

- Mas Árthur, o que eu percebi quase beira o ódio! Será que Éxis e sua Magia nãoacabariam pendendo a ser algo do tipo, sei lá, coisa de anti-cristo?

Nesse momento eu dei um gargalhada, perdendo toda a minha compostura perante osolhos arregalados daquela mocinha assustada! Mas a minha descontração acabou acalmando-a um pouco, pois ela ouviu com um sorriso nos lábios as minhas palavras:

- Srta. Reine, posso lhe garantir com a minha própria vida: se existe neste mundograndes colaboradores da Causa do Cristo, que é o Amor e a Virtude, Patrão Éxis é um dessesgrandes auxiliares Dele.

Vi que Srta. Reine estava meio confusa com o que eu disse. Então eu lhe falei:- Lembra do Evangelho, aquela parte em que os discípulos chegaram para Jesus e lhe

disseram, assustados: “Mestre, mestre! Tem um estranho, que não pertence ao nosso grupo,curando e ajudando as pessoas em Seu nome! O que devemos fazer com esse intruso? ”. E oDivino Mestre Jesus assim respondeu: “Deixem-no! Porque aquele que não está contra mim,está por mim” .

Reine ficou pensativa. Então eu conclui:- Patrão Éxis é como aquele estranho: ele ama tudo o que o Divino Mestre Jesus amou

e defende tudo o que Ele defendeu... mesmo ele não sendo cristão, mesmo ele não sendo “dogrupinho” como os apóstolos achavam que deviam ser, mesmo que ele não aceite a fé cristã,por causa dos seus traumas de encarnações passadas, ele é um colaborador muito leal deJesus.

Nesse momento Srta. Reine sorriu. Ela havia me entendido completamente.- Você fala de Jesus com muito respeito, Árthur...- Obviamente, Srta. Reine, pois eu sou cristão!- Você?- Sim!- E Éxis não briga com você?- Hahaha, brigava muito quando ele era adolescente! Quando eu orava a Jesus e aos

Santos e acendia minhas velas para eles em meu quarto, Patrão Éxis ficava emburradocomigo! Até que um dia eu cheguei para ele e disse: “A Uma Tradição não se propõe arespeitar todas as Tradições?” e ele respondeu “Sim”. Então eu completei:“Então, Patrão Éxis,se você defende o respeito entre todas as Tradições, porque é incapaz de respeitar a minha

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Tradição, que é a cristã?” . Nesse momento algo aconteceu com o jovem Patrão Éxis, e elenunca mais implicou com minha fé. Posso até dizer que passou a ter muito respeito pelasminhas orações, novenas, promessas, imagens dos Santos e velas que a eles eu acendia...

Nesse instante Patrão Éxis desce as escadas, rapidamente, como um menino quetivesse um brinquedo nas mãos!

- Reine, este é um presente meu para você!E estendeu para Reine um livro de capa ricamente adornada, com detalhes em ouro!Srta. Reine pegou o presente, maravilhada com sua beleza, mas surpreendeu-se

quando o abriu: era um grosso livro com todas, absolutamente todas as páginas em branco!Antes que Reine lhe lançasse um olhar inquiridor, Patrão Éxis lhe explicou:- Você tem em mãos o seu e só seu Livro das Sombras!- Livro das Sombras?- Sim! Todo Mago e toda Bruxa tem o seu Livro das Sombras! Em breve eu começarei a

lhe ensinar técnicas e processos magísticos propriamente ditos, técnicas de projeções astrais emuitas outras coisas. Quero que você escreva nesse livro tudo o que você aprender, tudo oque você sentir e todas as suas experiências, inclusive sonhos, durante a sua aprendizagem eaté o último dia que você praticar Magia!

- Até o último dia?- Sim! Mas é claro que com os anos as páginas em branco deste livro se acabarão.

Então você costurará nele mais páginas em branco!Reine ficou admirando o seu presente. Até que perguntou:- Porque ele se chama Livro das Sombras?Nesse momento Patrão Éxis deu um suspiro... e disse, com pesar:- Porque todos que amaram a Magia da Natureza, por séculos, precisaram viver nas

sombras, ocultos nela, para que não fossem perseguidos e...Reine não deixou Éxis terminar sua frase dolorosa. Deu um forte abraço no Mago, olhou

fixamente em seus olhos e disse-lhe:- Obrigada, Éxis... meu mestre, meu querido amigo...

Capítulo 10 - Os dois caminhantes e os dois

caminhos

Patrão Éxis e sua jovem aprendiz agora estavam se vendo todas as semanas. Por vezesela o vinha procurar vários dias seguidos. Eu já notava algo muito diferente nele. Parecia quequando ela vinha, seu humor, antes um tanto quanto amargo, tornava-se extremamente amávele doce!

Eu também percebia algo diferente na Srta. Reine. Seus olhos pareciam que se vestiamde um brilho diferente, muito bonito de se ver, toda vez que Patrão Éxis se aproximava dela...

Naturalmente, isso deveria estar começando a preocupar a Srta. Cristabel...Em mais um encontro, novamente os dois saíram da Mansão, caminhando sob o suave

sol da manhã, por aquela estradinha, desta vez em direção à Aldeia. Patrão Éxis resolveu-lhenão lhe falar nada naquela aula-passeio, a não ser contar-lhe uma historinha que ele gostavamuito... um conto sobre escolhas e caminhos:

- Reine, vou lhe contar uma historinha que aprendi ao longo de minha vida... Ouça:

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“Há muito tempo atrás, dois homens, Teófilo e Drákon, estavam trilhando por uma longaestrada. Teófilo sabia ler e compreender o Grande Livro da Vida. Drákon não era alfabetizado:não conseguia ler palavra alguma do Grande Livro da Vida.

Os dois homens estavam caminhando por uma estrada como esta, até que encontraramuma bifurcação, que assim dava origem a duas novas estradas. E cada uma delas tinha umpórtico que marcava o seu início, e em cada pórtico, havia no seu alto uma inscrição.

Na estrada da direita, em seu início, poderia se ver que a vegetação estava ressequida,a estrada era muito irregular, era poeirenta e seca, e haviam várias pedras e buracos naestrada. E no pórtico da estrada da direita estava assim escrito:

Aquele que por aqui trilhar, encontrará Deus pelo Caminho da Luz.A estrada começará amarga mas terminará doce.

No amargo encontrará a dor, as dificuldades, a auto-superação, o equilíbrio dasemoções e a vitória sobre o ‘eu inferior’.

Na doçura encontrará a Compaixão, o Amor e a Plenitude.E a Deus terá chegado.

Na estrada da esquerda, em seu início, podia-se ver que havia campos verdejantes,

árvores frutíferas com frutos abundantes, e a estrada era primorosamente urbanizada. E nopórtico da estrada assim estava escrito:

Aquele que por aqui trilhar, encontrará Deus pelo Caminho das Trevas.A estrada começará doce, no meio haverá o tormento sem fim, e terminará

amarga.Na doçura encontrará o prazer imediato, a facilidade momentânea e a glória

passageira.No meio encontrará o Pântano do Labirinto das Ilusões, e caso perder-se nele,

haverá o tormento sem fim.

No amargo encontrará a sublimação das emoções, a vitória sobre o ‘eu inferior’, aJustiça e a Lei.E a Deus terá chegado.

Teófilo leu as duas inscrições. Depois olhou cuidadosamente para as duas estradas: ada esquerda era bela e tentadora. Mas a inscrição dela o arrepiou. E ele decidiu seguir pelafeia estrada da direita.

Drákon, olhando apenas as estradas, nem viu as inscrições, e decidiu ir pela estrada daesquerda. Nisso, Teófilo berrou para ele:

- Ei, nessa estrada tem um pântano, e nele um labirinto perigoso! Tem certeza que quer ir por aí?

E Drákon respondeu:- Que pântano que nada! Olhe para essa estrada! Ela é linda. Bem capaz que tem essas

coisas por aqui! Está querendo me enganar, é? Olha a sua estrada, como é horrível! Estápensando que eu sou trouxa como você, é?

E Drákon xingou Teófilo e seguiu pela esquerda. Teófilo sentiu compaixão, mas seguiuseu caminho, porém pensativo, sabendo que ele mesmo teria muitas dificuldades no iníciodaquela estrada esburacada, agreste e ressequida.

Anos depois, Teófilo encontrou e decifrou, ao longo de sua jornada pela estrada dadireita, um mapa das duas estradas. E no mapa havia a resposta para a saída do labirinto daestrada da esquerda, bem como mostrava muitas rotas de ligação entre o Caminho da Luz e o

Caminho das Trevas. Teófilo atingira a Sabedoria.Muitos anos depois, cada um dos caminhantes encontrou uma cabine mágica quepermitia que um pudesse ouvir a voz um do outro. Então cada um falou com o outro.

Teófilo disse:50

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- Puxa, estou morando agora num oásis que encontrei na estrada. Há até um lago deáguas cristalinas! Estou me sentindo muito bem aqui! Valeu a pena todos esses anos decaminhada pelas estradas ressequidas e poeirentas! Que sorte a minha!

Drákon disse:- Puxa, estou morando num pântano, com lama até os joelhos, repleto de serpentes,

dentro de um labirinto e não sei como sair dele. Que azar o meu! Ah, se eu soubesse que issoiria acontecer...

- Mas eu lhe avisei sobre o pântano e o labirinto!- Que nada. Como você poderia saber? Você estava era com inveja da minha estrada

que começava repleta de delícias!- Mas eu li na inscriç...- Só porque sabe ler acha que é melhor do que eu? Não enche o saco! Vai cuidar da sua

vida que da minha cuido eu!E Drákon, irritado, abandonou sua cabine mágica, deixando Teófilo a falar sozinho.Teófilo ainda chamou algumas vezes por Drákon. Mas este não lhe deu ouvidos. E

Teófilo então deixou seu colega de caminhada seguir seu próprio destino.E até hoje, no meio daquele labirinto, no Pântano do Caminho das Trevas, está a cabine

mágica. Nunca mais foi usada. Até que um dia, Drákon se canse e fale com Teófilo. Mas

ninguém nunca pode dizer quando esse dia chegará...”- Minha cara Reine... você tem bons ouvidos e é esperta... tire você mesma as suas

conclusões sobre essa minha história...

Capítulo 11 - O Bispo

Em frente a uma belíssima mansão num bairro nobre de Paris, um mensageiro leva umacarta. Ele bate à porta e é atendimento pelo mordomo Alfonse. Este recebe a importante carta,vinda diretamente de Roma. E imediatamente a entrega ao seu senhor:

- Monsenhor Bispo! Uma mensagem, vida diretamente de Roma, com o selo papal!O Bispo Chrétien Fausseté levanta-se de sua confortável poltrona e recebe, ansioso, da

bandeja de seu mordomo, o precioso envelope. Abre-o, visivelmente nervoso e lê seuconteúdo.

Imediatamente o Bispo esboça um largo sorriso e fala ao seu mordomo, velhocompanheiro de muitos anos:

- Caríssimo Alfonse, prepare as minhas malas! Fui convocado para Roma! E finalmente,para assumir o que me é merecido: serei mais um membro do colégio cardinalício!

- Santo Deus, meu senhor! Quer dizer...- Sim, Alfonse! Serei Cardeal!E o Bispo, esboçando um largo sorriso, ergue as mãos para os céus e diz:- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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Capítulo 12 - As 7 Propostas de um Viver

Iluminado

- Você sabe montar? - perguntou Patrão Éxis.- E como! Sou uma amazona de primeira! - respondeu Srta. Reine muito segura de si!- Então, Árthur, providencie meu cavalo e uma das nossas melhores montarias para

Reine, pois hoje iremos cavalgar ao invés de caminhar! Esta manhã está ótima para sentir umpouco de vento no rosto!

Imediatamente fui ao estábulo e providenciei junto aos jovens tratadores dos animais asduas montarias: o cavalo de Patrão Éxis, chamado carinhosamente de Sr. Magus, e a éguaLuna.

E ambos saíram da Mansão em suas montarias.Patrão Éxis estava cada vez mais vivo e mais alegre! Há muitos anos que ele não

cavalgava a passeio, por puro prazer! Realmente a companhia da jovem Srta. Reine estavafazendo-lhe tanto bem! Eu nem mais reconhecia o meu menino! Antes tão amargurado,tristonho e mau-humorado... agora tão repleto de brilho nos olhos, tão entusiasmado, tão cheiode... Vida! Sim, Vida! Eu conhecia aquele brilho nos olhos de um homem por uma mulher...

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meu menino estava, digamos, com uma “amizade colorida” junto da Srta. Reine. E ela nãoparecia menos animada que ele!

Após cruzarem os portões da Mansão, Patrão Éxis sorriu de forma marota e disse parasua acompanhante de cavalgada:

- Vamos descer até o rio... mas só te ensinarei alguma coisa se tu for capaz de mealcançar!

Dito isso, ele saiu em disparada. Sr. Magus soltava quase que fogo pelas ventas! Erauma cavalo velocíssimo!

Aquilo reverberou no espírito competitivo de Srta. Reine, que imediatamente pôs Luna acorrer em alta velocidade!E os dois cavalgaram numa carreira, rindo, trocando gracejos competitivos, até que

chegaram às margens da cabeceira do rio.Chegaram quase ao mesmo tempo, pois o Sr. Magus era muito ligeiro e Patrão Éxis,

mesmo com a perna ferida, era o melhor cavaleiro que eu já havia visto. Embora meus elogiospossam parecer os de uma “pai coruja” , eles são absolutamente verdadeiros!

Nas margens do rio, ambos, do alto de seus cavaleiros, respiravam o ar úmidomisturado com o delicioso cheiro da mata que acompanhava o rio.

O som da água correndo por pequenas cachoeiras causadas por irregularidades docurso do rio produziam um som altamente relaxante e tranqüilizador...

- Nesses meses em que estamos juntos, bem que poderíamos já ter vindo aqui maisvezes, não? - perguntou Reine.Patrão Éxis riu:- Hahaha, eu queria vir aqui a cavalo mas não sabia se você sabia cavalgar!- Mas era só me perguntar, não?- Tem razão!E ambos riram.Começaram a andar lentamente, no alto de suas montarias, acompanhando as margens

daquele rio de águas límpidas, cristalinas.Ficaram muito tempo em silêncio, contemplando toda aquela calma e beleza.Então, o Mago falou:- Reine, ao estar presente, neste momento, e presenciando algo tão belo, não te dá

vontade de agradecer a Deus por tudo que Ele criou?O olhar da jovem percorreu o rio, as matas. Seus ouvidos saborearam os sons das

águas correndo:- Sim...- Pois eu te digo: uma das grandes portas de ligação com o Sagrado e com o Poder

Divino está justamente neste simples ato que esquecemos de fazer quase que nossa vidainteira: agradecer!

O silêncio permanecia. Até que Reine, pensativa, pergunta:- E existem outras portas de ligação com o Sagrado e com o Poder Divino?- Sim...O silêncio permanecia. E Reine perguntou novamente:- Elas tem um nome?E assim o Mago falou:- Eu chamo essas portas de 7 Propostas para um Viver Iluminado.Reine cavalgava ao lado de Éxis e o olhava curiosa, ansiosa por ouvi-lo.E então o Mago começou a falar:- Eu as chamo de Propostas porque não acredito em normas, em regras impostas...

acredito sim em sugestões que o coração das pessoas podem ou não querer seguir.“Cada um é livre para seguir aquilo que seu nível de consciência achar que é o melhor

para si naquele momento do Agora. Por isso acredito em proposições e não em imposições.

A primeira proposição, ou proposta, é justamente a gratidão: Agradecer a todas as coisas do Cosmos que foram criadas por Deus.

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Não menciono agradecer a tudo que existe, pois muita coisa não foi criada por Deusmas sim co-criada pela humanidade... e dentre essas criações, podem haver árvores boas eárvores más, plantas virtuosas ou plantas viciosas.

Porém, das árvores plantadas por Deus neste Universo inteiro, todas são, se analisadassem os véus das ilusões, árvores boas.

Foi por isso que um sábio da Antiguidade disse certa vez, alertando para quando ahumanidade entrasse no fim de um ciclo de sua evolução e início de outro:

‘Toda árvore que Deus não plantou será arrancada pela raiz’ .

Ele se referia às árvores de maus frutos. Pois mesmo as árvores plantadas pelahumanidade, se boas, são como se fossem árvores plantadas pelo próprio Deus, uma vez queessas pessoas se tornaram Seus instrumentos, pois com Ele estavam sintonizadas.

Reine, estar sintonizado com Deus é estar sintonizado com nossa própria Alma, comnosso Ser Interior mais profundo. Esse Ser Interior tem vários nomes: Atma, Centelha Divina,Chama Crística, Ser Búdico, Jissô, Eu Superior... vários nomes para uma mesma coisa: anossa própria essência divina. É isso que nós somos de verdade: uma Essência Divina!

Por isso a 2° proposta é esta:Estar sempre sintonizado com o meu Ser.O Ser não é a nossa “ cabeça ”. Não. A cabeça é a mente, e a mente é muito mentirosa!O nosso Ser se manifesta em todo o nosso corpo! Em cada célula, em cada nervo, em

cada músculo, em cada movimento verdadeiro, quando a nossa cabeça cheia de bobagensque enfiaram dentro de nós não interfere.Reine: cuidado com a cabeça! Ela mente muito!A cabeça está sempre inventando desculpas, arrumando justificativas:‘Sou assim por causa dos meus pais’ , ‘tudo deu errado na minha vida por causa de

fulano’ , ‘eu não valho nada’ , ‘tudo que eu faço dá errado’ , ‘sou azarado ’, ‘nasci nesse mundo pra me sacrificar e sofrer ’, ‘estou pagando carmas’ , ‘tenho que agradar aos outros ’, ‘tenho queser pobre para agradar a Deus ’... tudo isso são mentiras da nossa cabeça.

Ah, Reine, como a cabeça complica tudo o que é simples! O Ser é tão simples! Ele estáapenas no Agora, na Eterna Presença, e se manifesta alegre em nosso corpo e em nossasvidas naturalmente, se não deixarmos a cabeça atrapalhar!”

Patrão Éxis notou que Srta. Reine estava meio dispersa naquele dia e estava comdificuldade em digerir o que ele dizia. Então resolveu parar a cavalgada. Mostrou a mão paraSrta. Reine e disse, erguendo cada um dos dedos conforme ele falava:

- Eu lhe contei e expliquei duas propostas, apenas duas, e você já está ficando confusae distraída, hahaha. Então olhe para minha mão e acompanhe, um a um, os meus dedos, queerguerei, apenas para que você saiba quais são as outras 5 propostas que você perdeu deaprender hoje:

- Terceira: Manifestar Amor, Sabedoria e Discernimento em todas as minhas ações.“Quarta: Prestar atenção a todas as pessoas, coisas e acontecimentos ao meu redor no

Agora, dando atenção aos Sinais e Detalhes.Quinta: Desintegrar totalmente o “eu inferior ” que me separa da Teia da Vida.Sexta: Transformar a minha vida humana em uma Vida Divina, jamais temendo a minha

Divindade.E finalmente, a Sétima: Iluminar a minha Alma, praticando uma meditação ou ritual que

me ligue a Deus, todos os dias de minha vida.E é isso aí por hoje!”- Hei, como assim? Você não vai me explicar detalhadamente cada uma delas?- Hahaha, não!- Hei, isso não é justo!O Mago sorriu debochadamente e disse:- Faça como eu: aprenda sozinha o significado de cada uma delas! Você tem a vida

inteira pela frente pra isso, hahaha!E dando gargalhadas, ele saiu em carreira montado no Sr. Magus, sendo imediatamenteseguido por uma discípula frustrada, emburrada e muito mau humorada!

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Capítulo 13 - Cristabel

Os meses se passavam e Patrão Éxis havia ensinado a Reine a grafia sagrada, rituaisde evocação das Forças Ocultas da Natureza, rituais e processos de evocação das Forças ePoderes das Divindades, e muitos, muitos segredos e mistérios das Divindades da Luz.

Srta. Reine também havia aprendido a ler e interpretar oráculos, e, principalmente, astécnicas mais importantes de Projeção Astral para defender-se e lutar contra as Trevas.

E a jovem e dedicadíssima aprendiz anotava todas as experiências, sentimentos epensamentos que ela tinha durante as práticas magísticas e projetivas que ela já começava arealizar em seu quarto, longe dos olhos de Cristabel, no Livro das Sombras presenteado por Patrão Éxis.

O Mago e sua mais brilhante aprendiz passavam cada vez mais horas e horas juntos.

Podia-se dizer que eles já estavam se tornando quase como que “ unha e carne ” um do outro.Um vínculo de afetividade profunda unia cada vez mais os dois. Srta. Reine passava maishoras em companhia do Mago do que em sua casa na Aldeia.

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E isso começou a gerar uma situação que ninguém percebia, mas que traria um diaconseqüências terríveis. Patrão Éxis estava tão feliz em companhia de Srta. Reine, pela formacomo ela aprendia tudo tão rapidamente, pelo amor dela cada vez mais crescente pela Magia,pela Virtude e por tudo o que ela representava, e Srta. Reine estava tão maravilhada emdescobrir aquele Universo tão vasto, tão novo, tão misterioso e tão belo através de um homemque ela passava a admirar cada vez mais, um homem que ela nunca sonhou que pudesseexistir, que nenhum dos dois acabou por perceber que uma tormenta tenebrosa estava seformando. Que uma situação horrível estava sendo gerada e um dia explodiria ferindo

profundamente a todos em sua volta. E a protagonista desta situação tinha um nome: Srta.Cristabel Blanche.A pintora Cristabel estava, naquela manhã, pintando um quadro em que Reine posava

como modelo, como tantas e tantas vezes já haviam feito na Paris dos artistas, na Paris dospintores, na Paris da efervescência cultural do século XIX.

Naquele pequeno atelier improvisado, naquela casa simplória daquela Aldeia perdidanos Pirineus, a mente de Cristabel fervilhava em pensamentos atormentados, que ela nãoconseguia esconder, por mais que quisesse, pois a expressão de seu rosto a traía.

Reine, pousando para a pintura, observava o rosto da companheira de tantos anos:- Cris, o que te incomoda?- Nada!Srta. Reine ficou por mais alguns segundos em silêncio. Mas logo retrucou:- Cris, nos conhecemos há anos... fale o que te incomoda, não adianta esconder de

mim, pois sei que há algo errado com você!A pintora suspirou. E permaneceu em silêncio, dando atenção apenas ao seu quadro.- Cris, o que foi?Reine insistiu mais algumas vezes, até que obteve uma resposta.Srta. Cristabel arrumou seus inconfundíveis óculos sobre o nariz, suspirou fundo e disse:- Você não fica mais em casa...- Claro! Estou tendo muitas aulas, de graça, com o Sr. Spiritualité, e essas aulas tem

feito muito bem à minha saúde! Você deve ter notado, não? Eu nunca mais fiquei doente!- Sim, eu notei que você está bem... mas...- Mas...?Srta. Cristabel Blanche deu um longo suspiro, olhando para o chão, e disse:- Eu me sinto cada vez mais sozinha nesta casa, perdida nessa aldeia fedorenta de fim

de mundo...- Como assim?- Você não me dá mais atenção, Reine!Nesse momento, Srta. Reine entendeu o que sua companheira queria dizer. Ela saiu da

pose, se aproximou da pintora e lhe disse:- Cris, nada vai mudar entre nós!A pintora de Paris irritou-se e disse:- Já mudou!- Como assim?- Você passa muito mais tempo com esse charlatão desse tal mago do que comigo!Reine respondeu como um raio:- Ele não é um charlatão! Ele é um sábio!- Sábio? Sábio? Menina, olhe o que ele fez com sua cabeça, enchendo ela dessas

besteiras de espíritos, de rituais, de bruxarias, de toda essa baboseira que só os ignorantes, osanalfabetos, os brutos e os sem educação acreditam!

Reine se afastou de Cristabel e se aproximou da mesa onde estavam os objetos depintura. Não acreditava no que estava ouvindo de sua tão antiga companheira.

- Eu te eduquei, eu te recolhi daquele beco fétido que teu pai te condenou a morar, eu te

acolhi, eu te dei os melhores professores particulares de Paris, eu te coloquei no meio doscírculos mais cultos da França, eu fiz tudo por você, e agora você age como uma ignorante,como uma mulher vulgar de beco, que acredita em bruxas e em charlatões!

Reine permanecia calada, apoiando-se sobre a mesa. Seu sangue começava a ferver.56

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- E agora, Reine, depois de tudo que eu fiz por você, você me troca por este charlatão,por este sem vergonha!

Reine permanecia em silêncio.- O que ele tem que eu não tenho? Dinheiro? Cultura? Amor? Por acaso ele te dá mais

amor do que eu?Reine permanecia calada. Cristabel prosseguia furiosa:- Reine, pelo seu bem, eu a proíbo de hoje em diante de ver esse charlatão! Nós

voltaremos a Paris imediatamente!

Nesse momento, Reine tem um acesso de raiva que Cristabel nunca havia visto! Elapega a mesa de pintura e a vira, jogando-a para longe furiosamente, despedaçando-a contra aparede. Ergue o dedo em riste, furiosa para Cristabel, enquanto fechava o punho da outra mãocomo se soqueasse o ar e grita:

- Eu não sou propriedade sua!“Eu não sou propriedade de ninguém! Eu sou livre, entendeu? Livre! A minha vida inteira

eu fiz as suas vontades e você nunca perguntou se era o caminho que eu queria seguir ou não!Você sempre mandou em mim! Nunca mais mande em mim! Eu sou livre! Eu vou continuar aqui, nessa aldeia, vendo quem eu quiser, aprendendo o que eu quiser, e se você quiser voltar pra Paris, vá sozinha!”

Reine deu um soco na tela de pintura e a derrubou longe:- Nunca mais mande em mim! Eu sou livre! Livre!Reine estava fora de controle, como o vento furioso de uma tempestade. Cristabel ficou

assustada, paralisada, enquanto Reine saía batendo a porta da casa, num estrondo, e tomavaa rua, repleta de fúria.

Srta. Cristabel fica em silêncio, apalermada, dentro do que restou do seu ateliê. Ficariaassim indefinidamente se as lágrimas não começassem a jorrar por seu rosto. E a pintorasentou-se no chão e começou a chorar convulsivamente.

Capítulo 14 - As Brumas do Passado: a

regressão de ReineSrta. Reine andava chateada com o comportamento cada vez mais insuportavelmente

implicante de Cristabel. Todavia parecia que uma transformação acontecia toda vez que elachegava à Mansão: ela, simplesmente ao ver e começar a falar com o Patrão Éxis, esquecia-sede todas as preocupações que Cristabel porventura lhe havia criado. Na verdade, ela acabavasimplesmente esquecendo-se até mesmo que Srta. Cristabel existia!

Naquela tarde Srta. Reine havia sido convidada não apenas para ter as habituais aulas,mas também para pousar na Mansão Spiritualité. Seria uma noite muito especial, e tanto euquanto Patrão Éxis queríamos monitorar a menina de perto por várias horas após ela sofrer oimportante ritual pela qual ela passaria.

Patrão Éxis, sentado na sala de estar, com a Srta. Reine sentada na sua poltrona desempre, enquanto Alfred, balançando o rabo, se aninhava no colo da moça, começou a lheexplicar:

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- Reine, há diversas doutrinas, filosofias e religiões que pregam não apenas aimortalidade da alma, mas também que ela retorna à Terra várias e várias vezes para sedepurar, para se iluminar. Isso é chamado reencarnação.

“Porém uma coisa é nós entendemos isso apenas cerebralmente, apenas com a razão.Outra coisa é compreender também com a emoção, com o coração, com a certeza de ter estado lá, de ter vivido em outras épocas.

Você pode ler muitos livros sobre o mar. Pode estudar faculdade de Oceanologia. Podeouvir relatos de dezenas, de centenas de marinheiros e pessoas que vivem no mar. Pode fazer

mestrado e doutorado sobre o mar. Porém, enquanto você um dia não for a uma praia, nãoretirar os sapatos e não sentir o que é o mar tocando em você, o que é o som das ondaschegando à praia, o que é ver com seus próprios olhos a imensidão azul que existe naquelehorizonte sem fim, você nunca vai SABER e SENTIR o mar”.

Patrão Éxis tomou um gole de chá enquanto Srta. Reine acariciava o pelo de Alfred.Então o Mago olhou para ela e lhe perguntou:

- Reine, você acredita em reencarnação?- Claro que acredito!Patrão Éxis sorriu. E disse para Reine:- Faça para mim esta mesma pergunta.- Qual?- Pergunte para mim se eu acredito em reencarnação...Reine sorriu e disse:- Está bem. Senhor Éxis Spiritualité, ó poderoso Mestre dos Magos e da Virtude, vossa

excelência acredita em reencarnação?- Não.- O quê? Você não acredita em reencarnação?- Não. Eu não acredito em reencarnação. Eu SEI e SINTO a reencarnação!“Eu não apenas li todos os livros sobre o mar. Eu não apenas estudei tudo o que podia

ser estudado sobre o mar, nem apenas ouvi todas as pessoas que já viveram no mar. Eu fui aomar, molhei meus pés nele, mergulhei nele, e contemplei toda a sua imensidão azul!”

Reine sorriu. Entendeu o que o Mago quis lhe ensinar.- E hoje a noite será o momento em que você vai colocar seus pés no mar, Reine...Reine fez uma cara, num misto de assombro e alegria:- Quer dizer que eu vou conhecer minhas vidas passadas hoje? Quer dizer que eu vou

sentir e saber a reencarnação hoje?- Sim!Após mais algumas xícaras de chá entre os dois, com Reine bebendo enquanto Alfred

deliciava-se em seu colo, Patrão Éxis prosseguiu:- Reine, para um Mago e uma Bruxa, servos fiéis da Virtude, apenas conhecer

intelectualmente sobre a imortalidade da alma ou a reencarnação, é insuficiente. Não. Épreciso sabe-la, senti-la, vive-la. Isso a tornará mais forte quando as dificuldades destaencarnação baterem à sua porta. Porque você saberá: “Hei, mas eu já vivi muitasencarnações, já passei por muitos problemas, e, no final, todos eles passaram” . Você saberáque a carne, por mais bela e jovem que seja, não durará para sempre, e assim quando avelhice chegar, isso não a assustará. Você não fará tantos dramas como as pessoas comunsfazem, fazendo tempestades em copos d’água em situações comuns do cotidiano, porquesaberá que você é eterna, que esse seu corpo, esse seu nome “Reine Du Air” não passa de umrótulo passageiro. Enfim, você saberá e sentirá que tudo o que os 5 sentidos podem captar,tudo isso também passa, e você sentirá a sua eternidade brilhar dentro de você! Em resumo,você não será mais enganada pelo tempo, porque você vai se saber e se sentir, de verdade, oque você é: uma imortal!

Mais uns goles de chá ao som monótono do tique-taque do relógio da sala. E Patrão

Éxis lhe perguntou:- Reine, você nunca se perguntou porque, logo após você ter se curado, dentre todos oscaminhos que podia seguir, tal como o materialismo dialético de Cristabel, o movimentofeminista e sufragista, o movimento político dos direitos da mulher, você justamente veio no dia

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seguinte até minha Mansão e pediu para eu te ensinar Magia? Nunca se perguntou porquevocê tomou essa decisão tão rápido? Nunca se perguntou porque não desistiu, mesmo apóster enfrentado aquele furacão de morcegos, para ver sua própria treva interior? Nunca seperguntou porque tudo fluiu tão natural para você desde que se curou, no caminho da Magia?

- Pra ser sincera, não... por quê? Você tem a resposta?- Sim.- E qual é?Patrão éxis tomou calmamente mais um gole de chá. Olhou Reine fixamente nos olhos e

lhe disse:- A resposta é: porque você já foi uma Bruxa. Uma grande Bruxa...

*****Conforme a noite caiu, patrão Éxis e eu estávamos no consultório fazendo todos os

preparativos magísticos para a Sessão de Regressão de Srta. Reine. Eu havia montado umacama dentro do consultório especialmente para a regressão da jovem. Ela olhava a tudo, commuita curiosidade, e não parava de fazer perguntas. Patrão Éxis sorria, satisfeito com ointeresse de sua melhor pupila, e respondia a todas as perguntas com muita alegria.

- Por que tantos símbolos magísticos dentro desta sala? Inclusive um em cada canto dacama em que eu vou me deitar para regredir?- Reine, as Trevas são muito ardilosas. Sem os símbolos magísticos, que após ativados,

se tornam verdadeiros portais para as dimensões naturais e para as Forças Sagradas dasDivindades, a Sessão de Regressão pode sofrer mistificação por parte de entes trevosos. Por isso há tantos “ portais” de defesa e proteção que Árthur e eu estamos montando, inclusive nospontos cardeais em que você vai se deitar, para sofrer o relaxamento profundo que vai permitir que você acesse seu passado imortal.

- Mistificação?- Sim, Reine. Sem essas proteções, já vi casos em que entes descarnados maléficos

entram na sala em que a Sessão de Regressão se realiza, hipnotizam a pessoa que estásendo regredida e lhe “implantam” várias memórias falsas, sempre com o intuito dedesarmonizar e desequilibrar a pessoa que está regredindo. Eles também distorcem os fatosdo passado, sempre em prejuízo do paciente que está sofrendo o ritual de regressão. E asconseqüências às vezes são terrivelmente danosas: estes entes maléficos acabam criandocabos e cordões energéticos de vampirismo com a pessoa que regrediu, passando a se tornar obsessores implacáveis e vampiros terríveis.

Reine ficou espantada. Patrão Éxis prosseguiu:- Já houve um caso, Reine, em que, o paciente regredido, num ambiente sem estas

proteções, foi hipnotizado por um espírito inimigo seu de encarnações passadas, e hipnotizado,passou a acreditar que aquele espírito era seu mentor, seu guia, seu Anjo da Guarda! E assimo invocava sempre que pretendia fazer o bem, pois acreditava ser um Ser da Luz! Naquelecaso criou-se uma obsessão espiritual super complexa, que me deu muito trabalho para libertar aquele pobre e ingênuo sujeito, vítima de uma Regressão a Encarnações Passadas feita semos devidos cuidados...

- Puxa!- Por isso, para nós, Magos e Bruxas, todo cuidado é pouco quando se trata de uma

Sessão de Regressão. Bem, para falar a verdade, para nós, Magos e Bruxas da Luz, todocuidado é pouco para qualquer coisa que a gente fizer na vida!

Srta. Reine e Patrão Éxis riram do comentário irônico do Mago. Enquanto isso euarrumava os últimos preparativos para a sessão, e já estava com meu violino a postos.

- Árthur, pra que esse violino? Vai tocar pra mim, é?- Na verdade, vou, Srta. Reine!A jovem ficou surpresa. Nisso, Patrão Éxis lhe explicou:- Reine, o que vai acontecer é o seguinte: você vai se deitar na cama, da forma mais

confortável possível. Depois irá, junto comigo, me acompanhar em exercícios respiratórios de

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relaxamento, enquanto Árthur tocará uma canção muito tranqüila e relaxante no violino. Entãovocê irá seguir as instruções da minha voz, que será suave e baixa, porém firme. Irei pedir paravocê sentir a música do violino de Árthur, para relaxar ao seu som, para sentir o seu som,enfim, para você entrar e tornar-se uma só com a música. Depois você irá acabar seprojetando parcialmente, afrouxando os vínculos que te unem ao corpo físico, e vai acessar umdos teus corpos espirituais mais sutis, justamente o corpo em que estão registradas asmemórias imortais do teu Ser eterno. Tudo isso, obviamente, com a benção, a proteção e oamparo das Sagradas Divindades da Luz. Então você vai começar a ver várias imagens e

sentir muitas coisas, e mesmo que não tenha muita certeza, vai contar elas para mim, estábem?- Está bem! Entendido! Estou pronta!Eu apaguei as luzes, e apenas a iluminação das velas que estavam nos pontos

magísticos iluminavam o ambiente. Então comecei a tocar minha suave e relaxante melodia emmeu violino. E o importante processo para a vida da jovem Srta. Reine se iniciou.

É evidente, Compatriota, que não contarei a Você os detalhes magísticos daquelaSessão de Regressão. São segredos dos magos, sabe? Mas posso lhe contar o que Srta.Reine começou a contar enquanto regredia...

“Eu me vejo... me vejo vivendo próxima à Normandia, ‘a Terra dos Homens do Norte’, nonorte da nossa França... mas não é agora... faz muito tempo... muito tempo... eu me lembro... éno século X, mais ou menos nos meados dos anos 900... foi depois que o Império de CarlosMagno já havia há muito tempo caído pelas mãos de seus descendentes... era uma época deinsegurança... de muitas guerras... eu me lembro do meu nome... Faya... meu nome eraFaya... eu morava numa aldeia... eu era Bruxa, cultuava os deuses normandos, os deuses de Asgard... acreditava em Thor, no Val Halla, nas runas... mas tinha que ter minha fé escondida, porque fomos forçados a ser convertidos ao cristianismo... eu era parteira... eu jogava asrunas... eu era a curandeira da aldeia...

Eu vejo um homem... seu nome é Siegm... ele é o líder da aldeia... ele é um cavaleiromuito forte... ele também é mago... ele cultua os deuses da Natureza como eu... ele os cultuacomigo... ele é meu marido! Nós somos casados! E somos muito felizes!

Lembro de nosso casamento... embaixo de uma gigantesca e antiga árvore, que era onosso Templo... Lembro do presente que eu dei a meu marido naquele dia... eu havia feito comminhas próprias mãos uma jóia para Siegm, uma miniatura do Martelo de Thor, que ele, desdeo dia de nosso casamento, passou a usar sempre pendente em seu pescoço...

Temos uma filha... uma linda menina... e Siegm adotou um menino órfão, Harold, queacabou se tornando seu fiel escudeiro!

Nós somos normandos... nossa aldeia toda é normanda, mas vivíamos fora daNormandia... por isso éramos tão pressionados pelos cristãos...

Foi Siegm que cedeu às pressões do Barão dos Cristãos local para que toda a aldeia seconvertesse ao cristianismo... como líder, ele temia que fôssemos massacrados pelas forçasdo Barão Cristão, acusados de pagãos... mas ele orientava os demais líderes da aldeia acultuarem nossos deuses e deusas escondidos, a sete chaves...

Vivíamos felizes... até que o Barão dos Cristãos entrou em guerra com outros barões... e para financiar sua guerra, ele aumentou absurdamente os impostos de todas as regiões sobseu domínio... impostos em ouro, impostos em colheitas... há alguns anos as nossas colheitasnão estavam mais boas, e tínhamos pouco alimento para a nossa aldeia... mas as tropas doBarão Cristão foram lá e confiscaram tudo que tínhamos em ouro e esvaziaram nossosceleiros...

A partir de então nossa aldeia passou a sofrer de fome e pestes...No ano seguinte, pouco antes da próxima colheita, nossa única filha adoeceu... ela

estava subnutrida... e logo ela morreu...” Nesse momento, Reine começa a chorar...

“Eu e Siegm ficamos arrasados... e pouco depois, no fim da nova colheita, algunssoldados do Barão Cristão vieram para saquear novamente nossa colheita... foi então queSiegm se rebelou... e junto com os outros líderes da aldeia e cavaleiros, os enfrentaram e osvenceram... Mas o Barão Cristão não deixaria essa rebelião sem ser punida... Siegm me disse

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que ele enviaria um exército numeroso para saquear tudo e matar a todos... como exemplo para que ninguém mais se rebelasse...

Eu me lembro daquela noite... na reunião de todos da aldeia... Siegm disse que emalguns dias, uma expedição do Barão Cristão iria chegar ali...iriam estuprar as mulheres daaldeia, saquear tudo e depois matar a todos... houve muita preocupação e tumulto na reuniãoquando Siegm disse isso... mas Siegm parecia estar sendo inspirados pelos deuses... ele tinhaum plano...

Siegm lhes disse que a única chance deles era fugir para o norte, para a Normandia,

fora da influência do Barão Cristão, para junto de nosso povo... Mas os anciões disseram quenossas lentas carroças seriam alcançadas pela cavalaria do Barão antes de alcançar aNormandia... Foi então que Siegm completou o seu plano: que cada mulher, criança e velhofossem colocados nas carroças, junto com toda a comida, mantimentos e víveres que pudessem carregar, e rumassem naquela madrugada mesmo para o norte, para aNormandia... Enquanto isso, ele, e os últimos 6 cavaleiros restantes da aldeia, bem comoqualquer homem jovem o suficiente para erguer uma espada, iriam rumar para sudoeste, diretoao encontro das tropas do Barão, nas florestas, e lá preparariam emboscadas e ataquessurpresas para atrasar as tropas do Barão Cristão, dando cobertura à fuga de nossa aldeia àNormandia...

Muitos homens disseram que aquilo era morte certa... Mas Siegm olhou fixo para mim,depois olhou para toda a assembléia, e disse:- Há morte mais honrosa do que morrer com a espada na mão, defendendo a vida denossas mulheres, de nossos filhos e de nossos velhos pais?

E assim Siegm convenceu os 6 cavaleiros e todos os homens que podiam brandir umaespada ao acompanharem para as florestas do sudoeste...

Naquela mesma madrugada, pouco antes de amanhecer o dia, todas as carroças jáestavam carregadas com tudo o que podíamos carregar... todas as pessoas já estavamembarcadas nas carroças... então Siegm deu a ordem de queimar toda nossa aldeia, paraque, quando as tropas do Barão ali chegassem, nenhum resquício de víveres ou materiaisaproveitáveis fossem encontrados, dificultando sua jornada em perseguição ao norte...

Harold, um menino ainda, escudeiro de Siegm, decide ir com seu pai, pois Siegm eratudo para ele... Ele queria ir com seu mestre e pai para sua última batalha... Siegm aceita comuma única condição: que Harold, antes da batalha final contra o Barão Cristão, jure pelosdeuses que irá cumprir fielmente a missão mais importante de sua vida, dada pelo próprioSiegm, sem discutir... Harold aceita... meu Deus!... eu reconheço Harold... Harold é Árthur!”

Nesse momento eu parei de tocar o violino. Eu havia me surpreendido com o que Srta.Reine havia dito! Puxa, ela havia me reconhecido em uma encarnação passada! Ela havia sidominha mãe adotiva!

Puxa, agora fazia sentido porque, desde o primeiro momento em que Srta. Reinecolocou os pés na Mansão Spiritualité, eu havia tido uma simpatia tão grande por ela! Puxa, elahavia sido minha mãe!

Santo Deus! Os mistérios da vida... os mistérios da eternidade da Alma, os mistérios dareencarnação...

Eu ficaria mais alguns instantes surpreso com aquela revelação, se Srta. Reine não meretirasse de meus pensamentos ao prosseguir seu relato:

“Antes das carroças partirem, eu estou na minha carroça... Siegm está montado em seu cavalo, ao lado de minha carroça... ele aproxima seu cavalo o suficiente, se inclina próximo demim e me dá um beijo... um longo e demorado beijo... depois ele pega minha mão... minhacarroça começa a entrar em movimento... Siegm fica parado, do alto de seu cavalo, segurandominha mão até o último instante... até que o movimento da carroça faz com que nossas mãosse separem... a vida quer nos separar... Não! Eu o amo!... Eu amo ele demais... Siegm... Éxis...eu te amo! Volte pra mim, por favor... volte pra mim...”

A última frase de Srta. Reine me deixou chocado! Siegm era Patrão Éxis? Santo Deus!Nesse momento olhei para Patrão Éxis. Ele permanecia impassível, ouvindo todos os detalhesque Srta. Reine lhe contava. Eu estava muito surpreso com aquela revelação, mas Patrão Éxisnão moveu um músculo de seu rosto!

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Srta. Reine chorava muito:“Eu vejo meu Siegm e os homens da aldeia ficando para trás, começando a queimar a

aldeia... a carroça me leva para onde eu não quero ir... eu quero ficar com Siegm, até o fim... por favor, volte pra mim... volte pra mim!”

Passaram-se alguns instantes até que Srta. Reine se acalmasse. Patrão Éxis fezsímbolos magísticos sobre ela para fazê-la retornar ao equilíbrio emocional. Quando a jovemse acalmou, ela prosseguiu:

“Os 7 cavaleiros e todos os homens que podiam erguer com bravura uma espada

marcharam para as florestas do sudoeste naquela mesma madrugada...Lá, Siegm e seus guerreiros armaram diversas tocaias e escaramuças contra os maisde 50 cavaleiros que o Barão Cristão havia enviado para destruir nossa aldeia... As tocaias eas escaramuças realmente conseguiram atrasar as tropas assassinas daquele homem perverso, pois nós conseguimos chegar a salvos na Normandia... Desde que cheguei lá, juntode nosso povo, eu ficava todos os dias no alto de um morro, olhando para o sul, esperandoSiegm retornar...

Siegm foi perdendo seus homens nas tocaias e escaramuças... ele sabia que isso iriaacontecer... mas seu objetivo havia sido alcançado... as tropas do Barão Cristão nuncaconseguiriam cumprir sua missão assassina... e chegou o momento que Siegm não tinha maishomens para fazer tocaias... havia chegado a hora do combate final... agora restava umaúltima vida a salvar... a de seu filho, Harold... Então Siegm chegou para Harold e disse:- Agora, meu filho, chegou a hora de você cumprir o que prometeu perante os deuses...esta é a missão mais importante de sua vida... ouça com atenção...

Nesse momento, Siegm retirou de seu pescoço o martelo de Thor, meu presente decasamento para ele... o colocou nas mãos de Harold, firmemente... Deu o melhor e mais veloz cavalo da Aldeia, o seu próprio, a Harold, e lhe disse:

- Você jurou pelos deuses... se me desobedecer, eu o amaldiçoarei e os deusestambém, para sempre... se me obedecer e cumprir essa, que é a missão mais importante desua vida, terá a benção dos deuses e a minha benção para sempre... pegue o martelo de Thor,coloque em seu pescoço, e cavalgue para o Norte, para a Normandia, sem nunca olhar paratrás, só pare para dar de beber ao cavalo... não pare para nada nem para ninguém... é amissão mais importante de sua vida... nunca olhe para trás, nunca! E só pare quandoencontrar sua mãe, Faya... e quando encontrá-la, dê-lhe o martelo de Thor!

Harold estava chorando... Siegm foi duro com ele: não chore e não olhe para trás! Agoravá! Vá!

E Harold partiu naquela noite como o vento, no mais veloz cavalo de nossa aldeia...Naquele amanhecer, aconteceria o combate final... eu não sei como eu sei disso... mas

eu vejo Siegm e os outros 6 cavaleiros, e apenas os 7, montados em seus cavalos, distantesvários metros das dezenas de cavaleiros do Barão Cristão... eu vejo Siegm erguendo suaespada e dar seu último grito:

- Pela honra e glória de Thor! Atacar! Eu... eu... não vejo mais nada...Eu só me vejo sentada naquele monte... como eu fazia todos os dias desde que cheguei

à Normandia.... espere... eu vejo um cavaleiro vindo de longe... numa marcha cansada,exausta... eu corro monte abaixo a toda velocidade... enquanto cavalo e cavaleiro seaproximavam de mim, exaustos... eu berro por Siegm... Siegm... até que de repente eu vejoque não é ele... eu reconheço quem é... é Harold!

Eu corro em direção ao meu filho... meu coração se enche de esperança e alegria...Eu chego até o cavalo... meu filho cai exausto em meus braços... eu pergunto por

Siegm... Harold não consegue me falar nada... só começa a chorar... e retira de seu pescoço o presente que fiz para Siegm... e o coloca em minhas mãos...

Siegm... me deixou... Siegm me deixou! Ele morreu... Ele morreu... pelos deuses, ele

morreu, ele me deixou! Não!” Srta. Reine estava desesperada, chorando o choro mais doído que eu já havia visto...ela abre os olhos e começa a soquear o peito de Patrão Éxis, berrando, incontrolável:

- Você me abandonou! Você me deixou! Me deixou! Não! Não!62

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Ela dá vários socos no peito de Patrão Éxis, e sem mais forças, continua só a chorar e aberrar:

- Por que você me abandonou? Por quê?E sem mais forças nem para berrar, só para chorar, Srta. Reine chora abraçada ao peito

de Patrão Éxis. O Mago começa a chorar discretamente também, lhe dizendo ternamente:- Eu estou aqui, Reine... eu estou aqui... está tudo bem agora... está tudo bem, eu te

prometo... tudo isso já passou, já passou...E Patrão Éxis ficou por muitos momentos acalentando Srta. Reine na energia de seu

abraço, na energia de seu imenso carinho que ele nutria pela jovem... Sim... Pela primeira vezeu percebi, naquele abraço, que Éxis não tinha apenas carinho por Reine... que Éxis não sentiaapenas a afeição que um mestre tem por seu melhor discípulo... não... pela primeira vez, vendoaquele abraço, eu percebi o que Éxis sentia verdadeiramente por Reine... um puro e profundoAmor...

E acalentando a jovem, ele finalmente lhe disse:- Fique calma, Reine... eu estou aqui... eu sempre vou estar aqui, de um jeito ou de

outro... eu sempre vou estar aqui... de um jeito ou de outro, eu sempre estarei perto de ti...

Capítulo 15 - Stardust: Poeira das Estrelas

Srta. Reine havia adormecido após a regressão, quando lhe dei um dos meus cháscalmantes. A pobrezinha estava exausta, e dormiu ali mesmo, no consultório. Patrão Éxis e euficamos também ali. Arrumei poltronas e ficamos sentados confortavelmente. Resolvemos nosrevezar: enquanto um dormia, o outro velaria o sono de Srta. Reine.

E assim a noite se passou, sem maiores contratempos. A jovenzinha parecia que tinhase “apagado ” completamente, porque praticamente nem se mecheu durante toda a noite.

Eu estava dormindo quando o sol amanhecia.Reine havia acordado. Levantou. Enrolou-se nas cobertas. Ela havia me visto dormindo,

mas não havia visto Éxis, que estava na poltrona mais distante, no lado mais escuro doconsultório.

Ela saiu do consultório, enrolada no cobertor. Chegou na sala e se aproximou de uma janela. Passou a admirar o nascer do sol lindo, que as alturas em que se situava aquelaMansão permitia ver em todo aquele vale.

Éxis aproximou-se por trás, fazendo algum ruído a fim de ser notado, pois não queriaassusta-la. Reine já o havia sentido se aproximar. Ela não se moveu. Permaneceu olhandopela janela o alvorecer de um novo dia por todo aquele vale.

O Mago se aproximou e ficou ao seu lado.63

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Eles ficaram um bom tempo em silêncio, admirando a visão do raiar do novo dia.O silêncio perdurou entre os dois, até que Reine sussurrou:- É tão diferente...Silêncio.- É tão diferente... quando você entra no mar... quando você olha para si mesma...

quando você se descobre que sua vida não começou no berço nem terminará no túmulo...Silêncio.- É tão diferente... quando você sente o porquê tem simpatia e carinho à primeira vista

por algumas pessoas...Silêncio.- É tão diferente... quando você sente mágoa de alguém que nunca tinha visto antes...

mas depois sente que existia muito mais coisa por detrás, muito mais do que uma simplesmágoa...

- E o que há por detrás da mágoa?- Eu... eu... estou muito confusa... eu... não sei...O Mago ficou um bom tempo em silêncio.- Eu me sinto como se estivesse toda “desencaixada ”... como se não tivesse retornado

direito ao meu corpo atual...- Você quer ficar aqui mais um dia e mais uma noite, até estar completamente

restabelecida?Reine pensou em Cristabel... se voltasse pra casa, naquele estado, não teria comoenfrentar as crises de ciúmes cada vez mais insuportáveis da pintora de Paris. Reine pensouem Éxis... o quanto se sentia bem ao seu lado...

- Quero ficar...Nesse momento eu havia adentrado a sala. Patrão Éxis chegou para mim e disse:- Árthur, por favor, mande um mensageiro até a casa na aldeia onde a Srta. Reine está

hospedada e envie uma mensagem para a Srta. Cristabel de que ela, por motivos de saúde,permanecerá mais um dia e uma noite aqui na Mansão, está bem?

Imediatamente providenciei o pedido de Patrão Éxis.

*****Naquele dia todo, Srta. Reine havia estado calada. Patrão Éxis havia feito nela alguns

procedimentos que a “reencaixaram” em seu corpo físico, realinhando todos os corpos sutis damoça. Mas ela estava muito calada. Não estava triste. Mas estava calada. Pensativa. Deviaestar pensando em muitas coisas depois de ter mergulhado no mar e descoberto tanto sobreseu Ser imortal.

À tardinha, Patrão Éxis chegou para Srta. Reine e fez o seguinte convite:- Gostaria de passar a noite fora comigo? Pensei em colocar cobertas em nossos

cavalos, após o jantar, e te levar a um local muito especial de meditação para mim, aqui namontanha...

A jovem, ainda calada, assentiu com a cabeça.Então prepararam os cavalos, Sr. Magus e Luna. E após o jantar, partiram pela estrada

que levava ao alto da montanha.Durante o trajeto, eles não trocaram nenhuma palavra. Parecia que as palavras não

eram mais necessárias...Finalmente chegaram num pequeno local plano, perto do cume da montanha.- É aqui, um de meus locais sagrados, desde que eu era menino...Desceram dos cavalos e os amarraram na vegetação próxima.Patrão Éxis colocou cobertas sobre a relva, como se compusesse um colchão. Pegou

suas cobertas e se deitou. Convidou Srta. Reine a fazer o mesmo. Ela deitou-se ao seu lado.Ambos cobriram-se com grossos cobertores, pois estava frio naquela altitude.

O Mago deu um longo suspiro, enquanto colocava as mãos atrás da cabeça e fitavademoradamente o céu.

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O céu daquela noite... Que céu! Incrivelmente estrelado. Com a escuridão da montanhae do vale, podiam-se ver estrelas que jamais poderiam ser vistas nos céus de Paris e de outrascidades com muita iluminação noturna.

Que céu...- Eu amo essa visão desde que era criança... sempre que me acontecia algo e eu

precisava refletir, deixar as coisas decantarem, digerir alguma coisa na minha vida,compreender algo que me acontecia, eu vinha para cá... e ficava a noite toda olhando esteincrível céu estrelado, no silêncio da noite...

Reine o ouvia com atenção.- Meu simples contemplar destas Estrelas, criadas pelo nosso Pai Celestial, era minhaOração a Ele...

Houve um silêncio entre os dois. Reine começava a se envolver com a beleza daqueleespetáculo da Criação... tantas estrelas... ela havia olhado para as estrelas tão pouco ao longode sua vida... mas agora, as contemplava, com olhos completamente diferentes... com olhosmais sensíveis... com olhos incrivelmente mais abertos às dádivas do Criador.

- Eu sempre Orava a Ele e às Divindades daqui... e minhas preces sempre foramatendidas...

“Minhas dúvidas sempre foram respondidas... minhas dores sempre foram amenizadas...meus momentos de indecisão sempre foram curados... minhas fraquezas em minha fé e meustemores sempre foram acalentados... aqui... nesta relva... olhando para estas estrelas...”Reine se deixava envolver pelas palavras do Mago.

Estava frio. Ela perguntou:- Estou com frio... posso me aproximar mais de você?O Mago sorriu. E a envolveu com seu braço.Ele apontava as constelações da mitologia grega e as contava para Reine. Parecia que

ele conhecia cada Estrela que brilhava naquele céu tão perfeito!Reine estava muito atenta às palavras do Mago. Foi quando ele disse:- Na Uma Tradição, acreditamos que nossos corpos físicos são feitos da poeira das

estrelas... As Estrelas são importantíssimas para nós, Magos e Bruxas da Uma Tradição...acreditamos que não apenas nossos corpos, mas toda a matéria que se pode ver, em toda aparte, veio das Estrelas...

“Somos, em parte, ‘ poeira das Estrelas’ ... Árthur, com seu velho sotaque londrino, chamaisso de ‘Stardust’ ...

Nossos corpos e todas as coisas vivas e não vivas, materialmente, segundo a UmaTradição, vem das Estrelas. Por isso acreditamos que tudo e todos somos interligados, nãoapenas física, mas também espiritualmente, a um Todo muito maior... um Todo que a UmaTradição chama de ‘Teia da Vida’, uma Teia que foi criada e é mantida pela força das Estrelas...E dentre todas as Estrelas, para nós, daqui da Terra, a mais importante é o Sol, a fonte de todaa Vida que compõe a infinita Teia da Vida.”

O Mago silenciou alguns instantes. E apontando para o céu estrelado, disse:- Eu, você, pertencemos a essa Teia infinita... eu e você somos partes desta Teia... eu e

você somos filhos das Estrelas!- Éxis...- Sim?- Quando você... Siegm... quando você morreu naquela batalha... você devolveu às

Estrelas o corpo que você havia construído... pedido emprestado da Poeira das Estrelas?O Mago sorriu carinhosamente para Reine e apenas disse:- Sim...Os dois ficaram em silêncio mais alguns instantes. E o Mago falou:- Na Uma Tradição há um canto antiqüíssimo, “Poeira das Estrelas ”, cuja letra significa

isso:

“Ele não nasceu, ele não morreu,apenas desceu e visitou este planeta Terrae conviveu entre nós.Quando desceu, ele tomou emprestado uma roupa,

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feita a partir da poeira das estrelas, para que se fizesse visível a nós.Hoje ele devolve sua roupa,unindo-a novamente à poeira das estrelas,voltando a fazer parte da Grande Mãe, a Teia da Vida.Ele não nasceu, ele não morreu,apenas desceu e visitou este planeta Terrae conviveu entre nós.”

Quando o Mago falou esse canto para Reine, os olhos dela brilharam. Ela havia selembrado de alguma coisa. Ela havia começado a ter visões. Inconscientemente ela se abraçouforte em Éxis.

- O que houve, Reine?- Quando você me falou deste canto antigo da Uma Tradição, eu comecei a ver coisas

muito estranhas, que eu sei que são reais, que eu sei que são de um passado muito distante,mas que parecem loucura...

- O que você está vendo?- Eu tenho medo de contar, posso parecer uma louca!- Hahaha, você acha que pode ser mais louca do que eu?O gracejo do Mago havia relaxado e tranqüilizado a jovem. Realmente, o Mago era a

pessoa mais estranha que Reine conhecera em toda a sua vida. A mais estranha, mas tambéma mais encantadora...- Está bem... vou te contar o que eu estou vendo...“Estou vendo um continente gigantesco que ficava bem onde hoje é o Oceano

Atlântico... ele ia da Groenlândia até quase a costa da América do Sul... as Ilhas Canárias eIlhas de Açores e Cabo Verde eram as montanhas mais altas daquele continente enorme...

Eu vejo muitas pessoas... usavam trajes diferentes dos que usamos hoje... eu vejotemplos enormes, gigantescos, altíssimos, feitos de metais e de cristais... eu vejo umacivilização toda baseada no poder dos cristais... você, acho que vai rir de mim... mas eu vejoaté máquinas voadoras, muito mais rápidas que nossos balões de ar quente, e estas máquinastiravam seu poder para voar dos cristais, de um jeito que eu não sei explicar...

Eu vejo que nessa época não haviam médiuns... eles eram desnecessários, pois todasas pessoas podiam ver os espíritos das pessoas que já partiram... e podiam ver muito mais doque isso: as pessoas podiam ver até os seres da natureza com seus próprios olhos carnais,aquilo que hoje a gente chama de fadas, elfos, ninfas, gênios e outros seres que parecem vir das histórias de contos de fadas infantis!

Eu vejo coisas ainda mais incríveis: as pessoas encarnadas, podiam, em certos locaisda Natureza, onde haviam muita Energia Natural de um determinado Elemento, podiam ver,com seus próprios olhos carnais, as Divindades da Luz!

Eu vejo grandes Magos e Bruxas, fazendo coisas incríveis, coisas que se eu tecontasse, você iria me achar louca...

E... meu Deus... eu vejo você, Éxis... eu vejo eu! Nós estávamos lá!”Nesse momento Reine percebeu uma gota cair sobre ela. Era uma lágrima. Uma lágrima

de Éxis.- Éxis, o que houve? Por que chora?O Mago enxugou suas lágrimas. Deu um sorriso, olhou fixamente para Reine, e lhe

disse:- Tudo o que você viu é verdade... o nome do continente se chamava Atlântida... sim,

nós vivemos lá... e nós morremos lá, quando a sua última parcela restante, perto do Estreito deGibraltar, afundou... Sim, tudo o que você viu agora, eu vejo desde meus 4 anos de idade... Oque você viu foi o que os antigos poetas gregos, como Hesíodo, chamavam de “Era de Ouroda Humanidade”...

Reine ficou em silêncio. Surpreendeu-se que Éxis via tudo isso desde os 4 anos deidade...- Aquela foi a Era dos Grandes Magos e dos Grandes Alquimistas... quando a última

parcela restante do continente afundou, a Uma Tradição, na sua forma mais integral, foi66

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perdida... apenas fragmentos dela sobreviveram... alguns foram para a América Central e doSul... outros para o antigo Egito e para a África Negra... e outros para a “Terra do Sol Nascente ”, o Japão...

Reine permaneceu em silêncio.- Agora, neste século, quando a humanidade está para encerrar um longo ciclo de

sofrimento, a chamada “Era do Ferro”, pesou sobre meus ombros a responsabilidade de trazer para este plano material tudo o que eu pudesse trazer da Uma Tradição... para que ahumanidade tivesse consolo e apoio no início de uma Nova Era que está por nascer. Por isso

nasceu o Círculo da Virtude...- Me fale mais sobre o Círculo da Virtude, Éxis...- É um grupo de Magos e Bruxa que eu eduquei, assim como faço com você agora... Foi

justamente este grupo que foi, projetado, até a sua casa na Aldeia, naquela noite que teatendemos à distância, pelo espaço, na noite em que você foi curada...

Reine ficou em silêncio. Gostaria de conhecer o Círculo da Virtude e lhes agradecer por terem lhe trazido sua vida de volta! Mas ela estava ainda muito espantada com as visões queacabara de ter:

- Era Dourada da Humanidade?- Sim...Reine ficou calada. Olhou para Éxis. Ele estava fitando as Estrelas. Ela resolveu

acompanha-lo em sua Oração silenciosa.E permaneceram muito tempo assim.Até que o Mago começou a cantar baixinho uma canção muito melodiosa, muito linda,

em uma língua completamente estranha e diferente de tudo o que Reine já havia ouvido.Éxis, prevendo a pergunta na ponta da língua de Reine, sorriu e lhe respondeu:- O que estou te cantando é aquele canto que te dei a tradução: “ Poeira das Estrelas ”...

só que estou cantando na língua da Era de Ouro, na língua que você e eu falávamos em nossaúltima encarnação em Atlântida...

Reine recostou a cabeça no peito de Éxis:- Puxa, ele é lindo... tão lindo... por favor, não pare de cantá-lo...E o Mago cantou toda a canção, na língua da Idade de Ouro, num tom e ritmo

infinitamente harmoniosos, por várias vezes, até que Reine dormiu abraçada em seu mestreMago, e sonhou sonhos de uma época há muito desaparecida nas profundezas do Mar Oceano...

Capítulo 16 - A Insígnia do Ar

Por causa das terríveis crises de ciúmes de Srta. Cristabel, principalmente por Srta.Reine ter passado duas noites seguidas “fora de casa”, nas palavras da pintora parisiense,Srta. Reine ficou alguns dias sem poder ir até nossa Mansão.

Porém, na primeira oportunidade, ela aproveitou para estar novamente em nossacompanhia!

Quando ela e Patrão Éxis se viram, ela correu em sua direção, como uma menina, e deuum abraço muito forte no Mago. Ela lhe sussurrou:

- Estava com muitas saudades!- Eu também... eu também...Resolvi deixar os dois a sós.Patrão Éxis e Srta. Reine ficaram na sala, olhando um para o outro. Parecia que eles

conseguiam se comunicar apenas com olhar! E a prova disso foi o que Patrão Éxis disse:- Você quer conhecer o Círculo da Virtude, não é?- Hei, como você sabe disso?- Lá no alto da montanha... eu li nos seus olhos...- Danado! Agora está lendo meus pensamentos, é? Precisa de permissão por escrito

para isso, assinada em cartório!

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Ambos riram.Patrão Éxis e Srta. Reine tomavam chá, mas desta vez eu havia prendido Alfred, para

deixar a moça tomar seu chá em paz!Entre um gole de chá, o Mago atiça a curiosidade de Reine:- Mas antes de apresenta-la ao Círculo da Virtude... eu tenho um presente para você...- Um presente? O que é?- Segredinho, por enquanto...- Ah, isso não vale! Eu sou curiosa!

- Sim, eu sei disso! Hahaha- Hei, isso é crueldade, sabia?- Bem, eu falei que todos nós temos nosso lado de trevas, não? O meu é ver você se

contorcer de curiosidade!- Seu perverso! Isso não se faz... agora eu fico aqui toda curiosa...E eles trocaram de assunto... Patrão Éxis se divertia ao ver Srta. Reine se mordendo de

curiosidade. Ele queria realmente criar nela muita expectativa mesmo. Afinal, o presente queele lhe daria seria o maior presente da vida daquela jovem. E se Patrão Éxis estivesse certodesde o princípio, aquele presente retornaria para as mãos às quais sempre pertenceram.

Após mais de duas horas de expectativa, quando Srta. Reine já quase se explodia deansiedade, Patrão Éxis chamou-me. E nós três fomos ao seu consultório.

Lá, dentro de uma caixa ricamente adornada, em cima de sua mesa, o Mago apontou edisse:- Dentro daquela caixa está o seu presente. Abra-a. Se o presente a aceitar, ele é seu,

para sempre.- Se o presente me aceitar? Como assim?- Se você ficar me fazendo perguntas, nunca vai saber o que há dentro daquela caixa...Nesse instante eu descobri o que Patrão Éxis pretendia! Eu sabia o que havia naquela

caixa!Srta. Reine teve uma estranha reação: não sabia se ficava ao lado de nós ou se dirigia-

se até a mesa e abria a caixa. Ela estava com os sentimentos completamente confusos.Sentimentos e pensamentos. Ela sentia como que se uma energia muito poderosa estivessedentro daquela sala, perto daquela mesa, exatamente dentro daquela caixa. Ela não sabia se oque sentia era medo, era ansiedade, era curiosidade... ela não sabia de mais nada... apenascaminhou lentamente em direção à mesa.

Patrão Éxis e eu estávamos com os olhos super atentos. Não queríamos perder nada doque iria acontecer!

As mãos dela estavam trêmulas... ela abre lentamente a caixa... e seus olhos brilhamquando vislumbram o que havia lá dentro: um opaco medalhão... um medalhão feito de ummaterial completamente desconhecido... um medalhão ricamente adornado, repleto desímbolos magísticos altamente sagrados que simbolizam e evocavam os poderes ocultos esantificados de um dos 7 Elementos: o Ar!

A jovem estava ofegante... e com as mãos trêmulas, retirou da caixa o opaco medalhãoe o segurou em sua mão. Nesse instante algo que Você, Compatriota, certamente não vaiacreditar, aconteceu!

O medalhão, antes opaco, adquiriu um brilho com várias tonalidades! Parecia que omedalhão, a Insígnia do Ar, que estivera adormecida durante milênios, estava ressuscitando,voltando à Vida!

Enquanto a Insígnia do Ar começava a brilhar cada vez mais, um vento começou asoprar, não se sabe de onde, movendo os cabelos da jovem Reine. E ela começou a chorar sem saber o porquê! Ela chorava como se estivesse reencontrado algo que ela tivesse perdidohá muitos tempo, como se tivesse encontrado algo que buscou a vida inteira e não sabia o queera!

Nesse momento, eu apenas consegui murmurar para Patrão Éxis:- Meu Deus... ela é... ela é a portadora da Insígnia do Ar...Patrão Éxis olhou para mim, com lágrimas nos olhos, me abraçou e bradou:- Eis a Guardiã da Divindade do Ar, a Dama e Senhora do Ar!

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E não se contendo em si, Éxis abraçou Reine, pegou-a no colo, levantando-a ao ar ebradou:

- Bem vinda! Bem vinda ao Círculo da Virtude! Eu te esperei minha vida inteira e vocêchegou! Bem vinda!

Srta. Reine acabava de entrar para o Círculo da Virtude! Agora o Círculo estavacompleto, após tantos anos de espera de meu amado filho Éxis!

*****Na noite seguinte, Compatriota, Srta. Reine foi apresentada aos demais membros na

Biblioteca da Mansão! Obviamente que o Sr. Ferrer não foi muito simpático, pois a considerava jovem demais. Todavia a Srta. Aqueux deu nele fervorosos corretivos verbais e defendeu suanova companheira, Bruxa da Luz.

E lá, na Biblioteca mesmo, Srta. Reine fez um juramento de nunca revelar a ninguém oque viria ou ouviria em todas as reuniões do Círculo da Virtude. Ela jurou solenemente! E todosos membros, com Patrão Éxis radiante à frente, a levaram até o Templo, nos alicerces daMansão, e lá realizam o ritual magístico de ordenação de Reine como Guerreira da Luz doCírculo da Virtude, como Guardiã da Insígnia do Ar, como a Dama do Ar!

Claro que não posso lhe contar, Compatriota, como foi este ritual, pois como muitosprocedimentos da Uma Tradição, ele só poderia ser revelado para aqueles que conhecem osseus segredos sagrados e tem permissão de ensiná-los. Mas não me leve a mal,Compatriota... não é nada pessoal com Você, sabe? É apenas a rotina de segredos que osMagos precisam ter em suas vidas...

Capítulo 17 - Os 7 Guerreiros da Luz

Ah, Compatriota! Você deveria ter visto como ela estava naquela noite!Srta. Reine estava ansiosa, radiante, empolgada, luminosa, parecia uma esquilinha

serelepe! Ela finalmente teria a sua primeira chance de colocar em prática tudo o que haviaaprendido com seu mestre, Patrão Éxis, e com seus companheiros do Círculo da Virtude nasdiversas reuniões de rotina que ela já havia participado.Naquela noite haveria uma Operação! Era isso que Srta. Reine mais esperava! Eleslutariam em Projeção Astral!

O que houve foi o seguinte: uma das consulentes que Patrão Éxis atendeu, que estavamuito enfermiça, foi a ponta do iceberg para que ele descobrisse uma grande rede devampirismo espiritual e de obsessões orquestrada por um ente das Trevas que se assentavaem um Trono negativo no 3° nível descendente.

O plano era muito simples: como o ente trevoso era a cabeça de toda a rede devampirismo, e seu Trono negativado e seu Reino os sustentadores daquela obsessão espiritualem massa, era só derrota-lo e restituir aquele Trono para a Luz, bem como aquele Reino. Elesnão teriam que se preocupar com os exércitos do ente infernal nem com as centenas deobsedados em várias partes do mundo que ele afligia, pois este criminoso astral, sendo acabeça, com ele aconteceria a lição que Patrão Éxis sempre ensinava:

“Corte a cabeça e o corpo desmorona!”

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O plano então era os 7 Guerreiros da Luz se projetarem para o 3° nível descendente edestituir o criminoso astral que atentava contra a Justiça e as Leis Celestiais. Os largos abusosdaquela criatura já permitiam que ele até mesmo fosse executado se oferecesse resistência.

E assim foi, então: todos os membros do Círculo da Virtude, completo, já perante o Altar Mor, foram cada um para o seu respectivo leito. Srta. Reine foi novamente para o seu leito,onde Patrão Éxis e eu a treinamos muitas e muitas vezes a se projetar e travar combate astral,antes de ela participar de sua primeira missão real.

Antes de começarem o processo projetivo, Patrão Éxis disse para Srta. Reine:

- Se algo der errado, qualquer coisa, e você se sentir em perigo, volte imediatamentepara o seu corpo e Árthur estará aqui para cuidar de você, está bem?Srta. Reine assentiu com a cabeça. Eu só observava Patrão Éxis: era óbvio que durante

toda a operação ele não desgrudaria os olhos de Srta. Reine, para protege-la e leva-la de voltaao corpo numa emergência, uma vez que ele sempre teve muita preocupação com asprimeiras operações reais dos novatos em toda a história do Círculo da Virtude.

E assim aconteceu: os espíritos de todos eles já estavam projetados fora de seuscorpos, quando, mais uma vez, e desta vez numa alegria que lhe aflorava pelos poros, oespírito projetado de Éxis deu o famoso comando:

- Damas e Lordes! Vistam suas Armaduras Astrais e saquem suas Armas MagísticasAstrais!

Srta. Reine trajou sua armadura vermelha e branca, com detalhes em dourado, einspecionou suas armas Magísticas Astrais: um leque como que se fosse de metal, suas duasespadas curtas em forma de raios e seu chicote. Tudo estava em ordem! Ela já haviaaprendido a manipular cada uma das suas armas através dos exaustivos treinamentos emProjeção Astral que ela e o Mago realizaram ali mesmo no Templo, nas incontáveis semanasque se sucederam à sua entrada no Círculo da Virtude.

- Guardiões dos 7 Elementos! Iremos fazer um ataque fulminante a este entedemoníaco, e ele será executado, pois minutos atrás, um mensageiro da Luz contou-me que jáo alertou para que cessasse suas atividades maléficas, avisando que ele poderia ser executado a qualquer momento pela Justiça e Leis Celestiais, mas o ente infernal permaneceuarrogantemente com suas atrocidades. A diplomacia já foi utilizada e falhou. Desta vez, iremosdireto ao combate! Para isso, já sairemos do Templo montados em nossos cavalos dasdimensões naturais. Portanto, agora, evoquem-nos!

Dito isso, o Cavaleiro do Éter traçou no éter o seu respectivo símbolo magístico, e seuvelho amigo, o Sr. Aetheris, com seu aspecto vaporoso, já estava a postos vindo da dimensãodo éter. E cada Guardião dos 7 Elementos fez o mesmo: vieram os seus respectivos cavalosdas dimensões naturais ígnea, metálica, vegetal, telúrica, aquática e, finalmente, a aérea, adimensão da Guardiã do Ar.

O cavalo de Reine parecia como que se fosse todo feito de vento!E o Cavaleiro do Éter, do alto de seu cavalo, ergueu seu cajado, e um portal para o 3°

nível descendente se abriu, e eles ao cruzarem o portal, estavam diretamente na frente dosgigantescos portões do Reino do ente infernal. Foi quando Éxis empinou o Sr. Aetheris, e deu oseu inesquecível brado:

- Pela glória de Deus, da Sua Justiça e de Suas Leis Celestiais, atacar!Eles estavam organizados em formação em diamante, e começaram a cavalgar em

direção furiosamente ao portão e aos soldados deformados e apavorados do ser maléfico,quando, para surpresa de todos os Guardiões da Luz, os portões foram arrombados por umagigantesca rajada de vento com raios elétricos: era Reine, a Dama do Ar, que dava suaprimeira contribuição aos Guerreiros da Luz!

Éxis sorriu largamente e todos, em formação de ataque, iam com suas armas magísticasdevastando todos os entes e seres infernais que opunham resistência à sua cavalgada até afortaleza e o Trono negativado em que se assentava o criminoso astral. E num ataque

surpresa, relâmpago, todas as forças de resistência daquele Reino das trevas já estavamdesbaratadas e eles já adentravam, em alguns segundos, o interior da fortaleza.

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Porém, quando entraram na sala em que estava o Trono, o ente demoníaco, com asasdeformadas e putrefatas, saltou de seu Trono e pulou diretamente em cima do Guerreiro daLuz que estava mais próximo, cravando suas garras em seu peito: justamente em Reine!

Ela caiu de seu cavalo e o ente infernal ia desferir contra ela, caída no chão, um golpe,quando Reine viu surgir na sua frente um ser com enormes asas brancas, armadura brancacom detalhes dourados, cabelos longos escuros e, que, num único golpe, com seu cajado,decepou a cabeça do ser infernal, salvando-a!

Era Éxis, irradiando todo o seu poder!

Ele então se vira para Reine, a pega no colo, e traçando no éter símbolos sagrados, lhesussurra:- Você foi ótima! Tenho muito orgulho de você! Agora volte para seu corpo, que Árthur

cuidará de você!E Srta. Reine não se lembrou de mais nada depois disso. Só de que estava deitava no

leito do Templo, tossindo muito. Eu estava exatamente ao seu lado, a pedido prévio de PatrãoÉxis.

- Srta. Reine, tussa bastante! A Srta. está expulsando energia negativa que se acumulouem seu corpo espiritual durante a Operação, e seu corpo físico agora está fazendo o seutrabalho de desintoxicação!

Ela me fixou os olhos, e tentou falar enquanto tossia:- A criatura... com asas de demônio... saltou em cima de mim... e me derrubou docavalo... ainda sinto a pressão das garras da criatura sobre meus pulmões...Eu sorri:- Sim, Srta. Reine, por isso a tosse! Seu corpo está expelindo a energia negativa que

aquele criminoso astral jogou contra você! Mas não se preocupe, isso é muito comum nasprimeiras operações. A senhorita se saiu ótima e logo estará muito bem!

Ela sorriu para mim. A tosse começava a parar e ela então sorveu com gosto um dosmeus preciosos chás para aquelas situações!

Instantes depois todos os membros do Círculo da Virtude estavam de volta aos seuscorpos. Patrão Éxis não parava de sorrir e falar alegremente! Ele nem percebeu que Srta.Reine o fitava incrivelmente admirada, enquanto o Mago desamarrava os longos cabelos, queficaram despenteados durante a operação, para amarrá-los para trás novamente.

A jovem, segurando sua xícara de chá, olhando fixamente para o Mago, conseguiuapenas balbuciar para si mesma:

- É ele... sempre foi ele... ele é... o meu Anjo!

Capítulo 18 - Amar e ser amado

Compatriota... lembro-me muito bem daquela noite...Como chovia! E soprava um vento gelado pelas montanhas! Naquela noite, nada melhor

do que ficar em casa, bem protegido da intempérie.A água escorria pela estrada da montanha abaixo... nenhuma carruagem seria capaz de

cruzar aquele lamaçal, pois atolaria na certa nos primeiros metros da estrada.Já era tarde da noite. Patrão Éxis e eu nos preparávamos para dormir... quando de

repente alguém bate na porta!Não vimos cavalo algum se aproximar da Mansão... muito menos seria possível uma

carruagem, pois estaria atolada muito antes de chegar em nosso lar.Preocupado, desci as escadas e fui abrir a porta. E no meio daquela noite escura, fria e

chuvosa, estava Srta. Reine, chorando no átrio da nossa porta!Fiquei chocado com o que vi! Não esperava encontra-la, naquele estado, naquela noite

horrível:- Srta. Reine, meu Deus! O que aconteceu?Só consegui dizer isso. Ela, tremendo de frio, ensopada até os ossos, me disse:

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- Cristabel me expulsou de casa... eu não tinha pra onde ir... então subi a estrada a pé...por favor Árthur, posso ficar aqui esta noite?

- Meu Deus! Entre! Entre!Imediatamente berrei por Patrão Éxis. Ele, ao ver Reine, desceu as escadas voando:- O que houve? O que houve?- Srta. Cristabel expulsou Srta. Reine de casa e ela não tem onde passar a noite. Ela

subiu toda essa estrada enlameada, nessa chuva e vento horríveis até aqui!Patrão Éxis arregalou os olhos, pegou as mãos de Reine. Elas estavam geladas e o

rosto de Reine estava roxo pelo frio.- Meu Deus, Árthur, ela está começando a fazer uma hipotermia! Precisamos aquece-lao mais rápido possível! Árthur, rápido, prepare um banho quente, rápido!

Como um raio aqueci a água e preparei um banho para restabelecer a temperaturacorporal de Srta. Reine. Enquanto isso Patrão Éxis trazia um roupão bem quente e pedia paraque Srta. reine retirasse seu vestido ensopado e enlameado. Ele virou-se enquanto ela setrocava. Após isso, Patrão Éxis a levou até a lareira, bem perto do fogo, enquanto eu preparavao banho.

Ela estava tão fragilizada que Patrão Éxis necessitou leva-la em seus braços até obanheiro e eu precisei banha-la na água bem quente. Graças a Deus a cor da pele delacomeçava a voltar ao normal, desaparecendo aquele roxo de frio. Sua pele voltava a ficar rosada enquanto eu a banhava.Patrão Éxis ficava andando de um lado para o outro, no corredor, perguntando a todomomento para mim como ela estava. Ele só se aliviou quando ela saiu do banho quente,envolvida no roupão mais quente que tínhamos, e com a pele com a tonalidade normal.

- Venha, vamos descer até a lareira. Você precisa ficar aquecida o máximo possível.Árthur, por favor, prepare um daqueles seus chás super especiais e bem quente, está bem?

Em instantes, Srta. Reine estava junto de Patrão Éxis, em frente a lareira, tomando meuchá bem quentinho.

O rosto de senhorita Reine estava muito abatido. Patrão Éxis e eu não lhe fizemospergunta alguma. Ouvia-se só o vento uivar lá fora, a chuva cair e o tique e taque do relógio dasala.

Ficamos assim por um bom tempo. Não sei dizer por quanto tempo.Até que Srta. Reine, com lágrimas nos olhos, balbuciou alguma coisa:- Cristabel está doente... doente de ciúmes...O silêncio permanecia entre nós.- Ela... ela... nem suporta mais ouvir falar em seu nome, Éxis... ela o odeia...Nós apenas a olhávamos, com compaixão e ternura.Ela, olhando para baixo, com o olhar meio perdido, continuou:- Ela quis me forçar a obedecê-la... a nunca mais vê-lo... a nunca mais estudar magia,

nada que não fosse concreto e palpável... ela é muito materialista... ela quis me forçar a voltar a Paris com ela amanhã...

Patrão Éxis suspirou. Permaneceu em silêncio.- Cristabel ficou furiosa quando eu lhe neguei e disse que minha vida estava agora

aqui... então ela me expulsou de casa... eu fiquei furiosa... ela me tratou como se eu fosse umacoisa... uma propriedade dela...

Reine começou a chorar. Mas teve forças para terminar de falar:- Então eu saí da casa, exatamente como ela queria... ela disse para eu esperar a chuva

passar e ir embora amanhã... eu fiquei furiosa, eu não sou uma coisa... então saí na mesmahora, só com a roupa do corpo, e bati a porta com toda a minha força... saí para a rua... para ovento gelado, para a chuva cortante... e daí eu pensei em você... e caminhei até aqui...

Patrão Éxis aproximou-se da jovem. Sentou-a bem na frente na lareira. Sentou-se aoseu lado, e a abraçou.

- Reine, você não é uma coisa... nunca foi e nunca será... você é a pessoa mais especialque eu já conheci... por favor, fique aqui na Mansão o quanto você quiser...A jovem sorriu e abraçou forte o Mago. E ambos ficaram abraçados por um bom tempo.Então eu perguntei a Patrão Éxis, imaginando que eles queriam ficar a sós:

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- Patrão Éxis, necessita de mais alguma coisa?- Árthur, meu velho e amado amigo! Você já fez muito por nós hoje... pode descansar...Então eu os deixei a sós.

*****Muito tempo havia se passado. O fogo crepitava na lareira, sempre alimentado por Éxis.

Reine havia se aninhado nos seus braços e parecia estar dormindo profundamente. Ela deviaestar exausta depois de tudo o que aconteceu.

O Mago estava abraçado a ela. A jovem recostava sua cabeça em seu peito.Ele sussurrou:- Reine, está dormindo?Ela nada respondeu. O Mago imaginou que ela estava ferrada num sono profundo.E o Cavaleiro do Éter, olhando aquele fogo crepitar e a aquece-los... sentindo o calor de

Reine em seus braços, começou a fazer um balanço de sua própria vida. Seus pensamentos esentimentos sempre eram confusos quando se tratava de Reine. E agora ela estava ali...aquecida em seu braços, com seus cabelos lindos ao alcance do toque de suas mãos...

O Mago começou a fazer carinho nos cabelos da jovem Bruxa. Um carinho repleto damais pura, inocente e doce ternura. Meu Deus, o que o Mago sentia por aquela moça que

dormia recostada em seu peito parecia que não tinha nome... era algo tão puro... tãoluminoso... tão intenso... tão belo!As mais belas palavras, os maiores poetas e os mais renomados literatos não

conseguiriam encontrar no vocabulário humano uma palavra sequer, que descrevesse comfidelidade, o que o Mago dos Pirineus sentia por Reine...

Foi então que o Mago suspirou profundamente... e julgando que a moça dormiaprofundamente, começou a murmurar baixinho para si mesmo:

- Reine... Reine... é tão estranho uma pessoa como eu admitir isso...- Eu enfrento os mais diabólicos criminosos do astral desde minha tenra infância... eu já

estive nos lugares mais aterradores, horríveis e medonhos do plano espiritual... eu já meprojetei em combate nos mais sombrios vales da morte, da desgraça e das maldades... eu jáguerreei tanto pela Causa da Luz, contra as Trevas... eu já vi tantas coisas e seresmonstruosos que assustariam o mais bravo soldado deste mundo...

- E mesmo tendo passado por tudo isso... uma das coisas mais belas da Criação meaterroriza...

- Depois de tudo que enfrentei desde que nasci, e agora que estou envelhecendo...depois de tudo isso, talvez as pessoas pensem: “ O Grande Mago dos Pirineus nada teme ”...

- Até mesmo meus melhores amigos, os membros do Círculo da Virtude, acreditam queeu não temo nada...

- Apenas o velho Árthur sabe o que eu temo...- Reine... Reine... eu nunca diria isso a você... mas o que eu mais temo é a coisa mais

bela que Deus e as Divindades da Luz já criaram... eu temo o Amor...- Vivi minha vida inteira combatendo sem trégua os servidores das Trevas, os criminosos

do Astral, os Magos Negros...- Vivi minha vida inteira até os joelhos imerso na lama, combatendo-os...- Vivi minha vida inteira procurando salvar vidas, confortar os enfeitiçados, os magiados

pelos entes das Trevas e os Magos Negros... vivi minha vida inteira tentando plantar o Bem, aVirtude, o Belo e o Verdadeiro e tudo o que ela significava de mais sagrado...

- E tanto me dediquei, com tanta garra, com tanta determinação... que acabei metornando um cavaleiro solitário no meio de um gigantesco deserto de desamor...

- Eu tanto me dediquei... que sempre procurei esquecer de mim mesmo...- Eu tanto me dediquei a meu Amor a Deus, que esqueci e fingi ser surdo aos gritos que

uma parte importante do meu coração me suplicava...- Por Deus, Reine... eu fiz de tudo para esquecer que eu queria ser amado...- E assim, eu, uma criatura tão exótica, tão esquisita, desde que nasceu, acabei me

tornando um cavaleiro solitário, no meio do deserto escaldante do desamor...

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- Mas mesmo no meio do deserto em que eu passei a viver... eu sempre esperei que umdia, um dia... uma Estrela caísse dos céus, em meus braços... eu sempre sonhei com minhaEstrela, a Senhora do Meu Coração... mesmo no deserto, nos momentos de maior solidão,parte de meu coração sempre a esperava...

- Parte do meu coração nunca aceitou eu viver apenas no combate às Trevas e pelaGlória da Virtude... parte do meu coração sempre esperou, esperou e esperou, fiel, sempre fiel,à minha Sagrada Estrela...

- E os anos foram se passando... eu fui envelhecendo... não tanto o corpo... mas muito

mais minha alma... tanta guerra, tanta feiúra, tantas Trevas a enfrentar... e a espera sem fimpela Estrela que eu sentia e sabia que um dia me tiraria daquele deserto em que eu me pus...- Parte de mim sabia que minha Estrela seria capaz de curar as minhas feridas depois

de tantos anos de solidão, guerras e combates sem fim...- Mas minha Estrela não vinha... eu a esperava... e ela não vinha...- Os anos foram se passando... o Círculo da Virtude foi sendo completado... cada

Insígnia recebia novamente seu antigo e verdadeiro portador... mas ao meu lado, a Insígnia doAr sempre permanecia vazia...

- E eu fui ficando amargo... mau-humorado... rabugento... rançoso... meu coraçãocomeçava a ficar cada vez mais amargurado com este planeta, com esta vida...

- Eu começava a secar por dentro... tantos anos no deserto, e o desamor e secura dasareias escaldantes começavam a entrar dentro meu coração...- Ah, Reine, Reine... por quantas vezes eu pensei, que após a passagem de Árthur aoplano espiritual, eu ficaria sozinho até minha morte nessa enorme Mansão...

- E eu me imaginava envelhecendo... e ficando velho, seco e carcomido como umesqueleto sem vida, tomado pela secura do deserto do meu coração...

- Mas, um dia...- Um dia, quando eu menos esperava, uma mocinha vinda de Paris... topetuda,

irreverente, desrespeitosa e atrevida veio consultar comigo...- E desde aquele dia, minha vida começou a mudar...- Quando aquela mocinha resolveu ser minha aprendiz na Magia... meu Deus, eu fui

elevado aos céus!- E os meses foram se passando... e aquela mocinha foi tornando minha vida, antes tão

amarga e cinzenta, numa vida doce como o néctar, e colorida como o arco íris mais puro...- Aquela mocinha começou a trazer de volta o sentido para minha vida, em cada coisa

que eu agora fazia... tudo voltava a ter cores novamente...- E eu não percebia, mas eu estava pela primeira vez me entregando às súplicas

daquela parte de meu coração que eu sempre busquei ignorar...- E quando eu percebi... eu que havia estudado e lido tudo o mar... mas nunca havia

colocado meus pés em suas águas... quando eu percebi... eu já estava imerso no mais doce,belo e cálido mar que eu jamais havia sonhado poder um dia tocar: eu estava dentro do mar doAmor...

- E eu finalmente havia percebido, que eu havia saído do meu deserto... eu finalmentehavia descoberto que, depois de tantos anos de espera, minha Estrela Sagrada desceu doscéus, colocou seus pezinhos abençoados sobre as areias do meu deserto... e onde seuspezinhos tocaram o solo, nasceu uma abundante fonte de água, água da vida... e minhaEstrela se aproximou de mim, e me ofereceu aquela sua água... e quando eu a bebi, em suasmãos, ela curou a sede do meu coração com a sua água do Amor...

- E foi só então que eu descobri... que a minha Estrela Sagrada era aquela mocinha...que ela tinha um nome lindo... ela se chamava... Reine...

O Mago suspirou profundamente enquanto balbuciava seus pensamentos. Olhou paraReine, enquanto continuava a acariciar seus cabelos... ela parecia dormir um sono profundo.

- Como me sinto vivo ao seu lado, Reine... como gostaria de ter coragem de te dizer

isso... como eu te amo, minha Estrela Sagrada... como eu não pensaria duas vezes em dar minha vida pra te proteger e te fazer feliz...- Como eu gostaria de viver uma época de paz ao teu lado, para sempre... envelhecer

contigo... sem mais guerras contra as Trevas...74

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- Como eu gostaria de poder viver pra sempre ao teu lado... de ter uma família contigo...como eu gostaria de poder ter filhos contigo... como eu gostaria, na verdade, de ter uma filhacontigo, para que toda vez que eu visse nossa filha, eu te visse refletida nela!

- Como a Luz da Vida pulsa de novo nas minhas veias quando tu está comigo, Reine...mas...

- Mas amanhã, pela tarde, quando a lama da estrada estabilizar...- Amanhã, pela tarde... Cristabel virá até aqui... ela virá busca-la... e sei que você irá

com ela...

- Eu não a culpo... eu sempre fui, sou e sempre serei um anormal neste mundo... não énada fácil gostar de mim...- Amanhã à tarde, sei que vocês voltarão para Paris...- E... amanhã à tarde... eu voltarei para o meu deserto novamente...- Talvez eu termine meus dias aqui... sozinho... nessa enorme Mansão... mas ao menos,

quando meus dias terminarem... eu terei a tua lembrança, a lembrança do quanto eu te amei...- Eu... eu terei a lembrança de um dia ter entrado no mar do Amor... graças a ti... minha

Estrela Sagrada... minha Reine...Nesse momento, o Mago começou a chorar... e balbuciou sua prece a Deus, enquanto

acariciava ternamente os cabelos de Reine:- Ó Deus, meu Pai!“Quando eu nasci neste mundo, eu sabia o que eu iria passar...Eu sabia que minha vida seria atormentada pelos que amam as Trevas...Eu sabia que teria que pagar um preço muito alto... talvez o preço da solidão, da

incompreensão, do isolamento por eu ser tão diferente das outras pessoas...Eu sabia que pagaria o preço que os espíritos antigos e raros pagam quando renascem

neste mundo junto aos espíritos jovens e ingênuos que dominam e preponderam nestemundo...

Quando eu nasci, ó Pai, eu imaginava que talvez fosse necessário eu ter que abdicar domeu maior sonho como homem: o de ser amado e amar uma companheira, o sonho deconstituir uma família, o sonho de ter filhos, o sonho de amá-los com todo o Amor que meucoração pudesse lhes oferecer!

Ó Pai... eu sabia que quando eu nascesse e os anos de sofrimento e sacrifício seamontoassem uns sobre os outros, sem cessar, e que a guerra contra as Trevas, a guerracontra os que odeiam a Justiça e as Leis Celestiais esgotassem o meu Espírito e ameaçassemo meu coração com a amargura e a secura do desamor, da crítica, do julgamento e darabugice, eu sabia que nessa hora eu seria tentado a buscar apenas a minha própriaIluminação...

Eu seria então, tentado a me libertar de Sansara, o Ciclo das Reencarnações... eu seriatentado a buscar apenas a minha própria Iluminação e Libertação... e eu seria finalmentetentado a me tornar indiferente à Terra, à Humanidade terrícola, e, após a morte do meu corpo,seria tentado a ascender a outros mundos, a outros planetas, mundos em paz, maisavançados, repletos da Paz e do Amor com que tanto sonhei, para me ver livre para sempredesta guerra sem fim contra as Trevas deste mundo...

Mas, ó Deus, meu Pai... nesse momento em que fui e sou testado a isso, eu descobri...Eu descobri que mesmo que fosse um sonho ilusório, que mesmo que fosse uma

mentira, eu sonharia o sonho que todos os Cristos, que todos os Budas, que todos os Avataresque nasceram neste planeta chamado Terra sonharam: o sonho de erguer na Terra aCivilização do Amor e da Sabedoria! O sonho da Jerusalém Celeste na Terra, o sonho doMundo do Jissô na Terra, o sonho do mundo Búdico e Crístico na Terra, o sonho do Mundo deRegeneração na Terra, o sonho da Nova Era para este mundo!

Mesmo que este sonho seja uma mentira, um engano, e que todos os Cristos, os Budase os Avatares tenham se enganado em Seus sonhos, eu escolho sonhar os Seus sonhos!

Ó Deus... mesmo exausto de tanta guerra contra as Trevas, cansado de tantasfeitiçarias, magias negras, cansado de tantos corações que amam, cultuam e veneram as maisterríveis formas do mal que existem, mesmo exausto, ó Deus, Meu Senhor, eu Te digo: meulugar é aqui...

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Meu lugar é aqui, na Terra!Meu lugar... meu posto, é aqui, onde sei que voltarei a reencarnar muitas e muitas vezes

até que o Sonho dos Sonhos se transforme em Realidade!Não sei, meu Pai, se o que sinto é Amor ou uma forma de apego, ilusão, por este

planeta, por esta humanidade, por estas pessoas que não me compreendem e me condenamao isolamento e à solidão...

Mas só sei que tenho um imenso carinho por estas pessoas, embora eu tantas vezestenha perdido a paciência com a humanidade...

Só sei que tenho um imenso carinho por este planeta, por esta Terra Azul, por estaespaçonave linda que viaja pelo Cosmos, orbitando ao redor do Sol...Eu só sei que meu lugar é aqui... que devo me iluminar cada vez mais e trazer consolo e

amparo aos que aqui sofrem...Eu só sei que ficarei aqui, reencarnando tantas vezes quanto precisar, para sonhar o

Sonho de todos os Cristos, de todos os Budas e de todos os Avatares...E só sei que... se necessário fosse eu passar por todos os sofrimentos e dores que

passei nessa encarnação... todas as perdas que tive... eu o faria de novo... e o faria em nomedo Sonho dos Sonhos a ser sonhado”.

O Mago terminou sua prece imerso em lágrimas...Ele inclinou-se levemente e beijou os cabelos de Reine, sussurrando entre lágrimas:- Adeus, Reine... adeus minha Estrela... nunca me esquecerei de você... nunca...

*****Exatamente como Patrão Éxis esperava, a carruagem da pintora de Paris havia chegado

em nossos jardins aquela tarde. Todavia, Srta. Cristabel nem mesmo quis entrar na Mansãoquando eu a atendi e convidei-a gentilmente. Ela apenas chamou por Srta. Reine, que jáestava ao meu lado. E foi no átrio da porta mesmo onde Srta. Reine conversou com ela. A jovem estava com os punhos cerrados, e falava muito firme, enquanto eu, fiquei ali, parado,sem saber o que fazer, pois nunca ninguém havia se recusado a entrar na Mansão antes, emtamanho ato de grosseria!

Eu fiquei ali sem reação, quando Srta. Cristabel olhou firme, autoritária, para os olhos deReine e disse:- Você não precisava ter saído daquele jeito de casa, no meio daquela chuvarada. Vim

busca-la para voltarmos à Paris.Reine cerrou ainda mais os punhos, com os braços ao longo do corpo, e disse um firme

e sonoro “Não”.A pintora se surpreendeu! Fez uma carranca de espanto! E enquanto a pintora era pega

de surpresa, Srta. Reine, com a voz muito firme e tranqüila, com a serenidade dos sábios, lhedisse exatamente essas palavras:

- Cris... tudo na vida é em ciclos... as estações, as fases da lua, a vida, a morte, orenascimento da vida... mas todos os ciclos tem um começo e um fim.

“Eu agradeço por tudo o que você fez por mim. Não guardo mágoas de você, pelastantas vezes nos últimos tempos em que você me tratou como propriedade sua, como umaobjeto, como uma reles modelo sem vida e sem sonhos para suas pinturas. Mas meu ciclo comvocê acabou, Cris.

Por isso, volte para Paris sozinha. Meu lugar agora é aqui, nesta aldeia, nestasmontanhas. Um novo ciclo se iniciou na minha vida e eu serei fiel a ele até o seu fim, assimcomo sempre fui fiel a você.

Acabou, Cristabel Blanche. Siga o seu destino. Nossos destinos se separam aqui. Seseparam exatamente aqui e agora. Siga o seu destino e tenha a Paz Interior. E eu seguirei omeu. Não tenho mais nada a lhe dizer. Adeus!”

Dito isso, Srta. Reine voltou para o interior da Mansão.Cristabel ficou paralisada na porta... até que se virou e foi para sua carruagem, como se

fosse um robô.

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Quando Srta. Reine entrou novamente na Mansão, ela viu que, do alto da escada,Patrão Éxis havia presenciado, à distância, toda a cena. Eles trocaram olhares por algunssegundos. Reine se aproxima e pergunta ao Mago:

- Posso ficar aqui na Mansão mais alguns dias, até encontrar um novo lugar pra mim naaldeia?

Patrão Éxis, apalermado, só conseguiu balbuciar um “Sim”... Então Srta. Reine se dirigiuao quarto de hóspedes onde eu a havia instalado, e lá ficou até a hora do jantar.

*****Naquela noite, bem tarde, Srta. Reine levantou-se. Saiu de seu quarto e andou por todo

o longo corredor da Mansão, com os passos lentos, porém firmes.Ela parou diante de uma porta fechada. E deu umas batidinhas.Alguns instantes depois alguém abria a porta. Era a porta do quarto de Patrão Éxis.- Reine! O que aconteceu?- Posso entrar e falar com você?Completamente sem jeito, o Mago disse:- Sim... claro... por favor, entre.Ela entrou.

- Desculpe, não tenho poltronas no meu quarto, até porque ninguém a não ser Árthur eeu entramos aqui. Quer se sentar em minha cama?- Sim.O Mago sentou-se na sua cama, mas em posição de lótus, recostado na cabeceira da

cama.Srta. Reine perguntou:- Posso me sentar na sua frente, assim como você está sentado?- Hã... bem... acho que pode, né?Eles sentaram-se um de frente para o outro.- O que houve, Reine? Teve algum pesadelo? Foi atacada durante a noite enquanto

estava projetada?- Não...- Então?Houve um silêncio que parecia não ter fim entre os dois. Até que ela olhou firme nos

olhos do Mago e lhe perguntou:- Aquilo tudo que você falou, lá, enquanto estávamos na lareira, noite passada... era

verdade?Patrão Éxis fez uma cara de espanto e começou a corar:- O que eu falei? Eu não falei nada eu acho... você estava dormindo profundamente, não

estava?- Pode ser que sim... pode ser que não...Patrão Éxis não sabia o que dizer, estava extremamente envergonhado!A jovem foi incisiva de novo:- Era verdade? Eu sou a sua Estrela?O Mago olhou para baixo...Ela então pegou as mãos de Éxis... e segurou entre as suas...Então o Mago conseguiu erguer seus olhos, fitar os olhos dela e dizer:- Sim... sempre foi...A jovem sorriu. Aproximou-se mais do Mago e lhe sussurrou no ouvido:- E você é meu Cavaleiro... é meu Anjo...E ao sussurrar ternamente essas palavras, ela beijou os olhos do Mago... beijou seu

rosto... e beijou seus lábios...Ambos se beijaram, o beijo de um antigo reencontro, um beijo que eu não sou

suficientemente capaz de descrever...

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E então o Mago e a Bruxa se amaram. E se amaram com uma intensidade, com umaternura, com uma pureza e beleza que eu, Compatriota, e nem o maior dos poetas, seríamoscapazes de descrever...

*****Reine dormia nos braços de Éxis. Ele a admirava. Admirava cada detalhe de seu rosto,

cada traço, cada linha, cada fio de cabelo que emoldurava seu rosto, cada contorno de seucorpo nu e tão puro ao seu lado...

Foi quando instintivamente, o Mago sentiu uma estranha e irresistível vontade de tocar oventre de Reine, como se suas mãos fossem guiadas por outras mãos, invisíveis... e ele tocouo ventre da jovem... e sentiu uma emoção indescritível!

Lágrimas começaram a rolar de seu rosto... e ele balbuciou:- Meu Deus... será uma menina... uma menina!

Capítulo 19 - O PecadoNaquele mesma madrugada, poucas horas antes do alvorecer, Srta. Cristabel parecia

ser a própria encarnação do desespero.Desespero. Pensamentos atordoados. Pensamentos horrorosos martelando em suamente sem cessar.

A mulher, caminhando como se fosse uma marionete, vai com uma lamparina ao jardimda casa em que ela e Srta. Reine haviam escolhido se hospedar naquela Aldeia. E colhe do jardim várias e pesadas pedras.

Depois vai ao seu quarto. Abre o guarda-roupas e escolhe o seu vestido preferido.Ela pega o vestido e coloca sobre seu colo. E começa a colocar as pedras do jardim em

seus bolsos. Em seguida, como se ela fosse um fantoche, começa a costurar os bolsos dovestido com as pedras em seu interior.

Ela então troca de roupa. Veste o vestido especialmente costurado e olha-se no espelho,com um olhar abobalhado. Sua mente estava confusamente desesperada, repleta depensamentos doentios, parecendo que acolhia em seu íntimo as vontades sombrias de uma

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outra mente extremamente maligna, como que se estivesse hipnotizada por um ente infernalque adentrara em sua alma pela convidativa porta do seu próprio desespero...

E Srta. Cristabel pega sua lamparina, sai do quarto, com o rosto abobalhado como o deum zumbi, presa em seu próprio desespero. E sai de casa, tomando a deserta e escura rua daAldeia, caminhando em direção ao rio próximo.

Conforme ela dava seus passos lentos e contínuos em direção ao rio, a madrugadacomeçava lentamente a ceder seu espaço para o alvorecer de um novo dia.

A claridade do sol já dava seus primeiros sinais, quando Cristabel chegou ao rio.

Ela desliga a lamparina e a coloca sobre uma enorme rocha à beira d’água.Retira seus óculos e os coloca cuidadosamente junto à lamparina, sobre a rocha.Então ela dá o primeiro passo. As águas do rio molham seus sapatos.Ela dá o segundo passo, o terceiro passo...Até que aquela que, um dia na Terra foi chamada de Srta. Cristabel Blanche, a famosa

pintora e intelectual de Paris, desapareceu completamente dentro das águas do rio...E minutos após, uma gargalhada sarcástica pôde ser ouvida, vinda de um Trono nas

Trevas do 6° nível descendente...

Capítulo 20 - O ResgatePatrão Éxis havia levantado muito cedo. Havia descido até o jardim e colhido uma linda

rosa vermelha. E a deixara ao lado de Srta. Reine, sobre seu travesseiro, para que elaadmirasse sua fragrância quando despertasse! A jovem dormia um sono extremamenteprofundo, reparador, como se estivesse curando todas as feridas que um dia a machucaramem toda a sua vida!

O Mago desceu novamente ao 1° andar da Mansão, quando, bem cedo da manhã,quando eu mal me levantava, alguém batia nervosamente à porta da Mansão. Eu fui atender,mas Patrão Éxis já havia atendido. Quando me aproximei, Éxis estava com os olhosesbugalhados e segurava nas mãos um par de óculos, que o homem - informante de Éxis detudo o que se passava na Aldeia - havia lhe trazido. Eu imediatamente reconheci: eram osinconfundíveis óculos de Srta. Cristabel!

Patrão Éxis subiu correndo para seu quarto. Reine dormia como uma pedra. Ele vestiu-se como um raio, desceu as escadas, olhou firme para mim e me disse:

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- Árthur, pelo amor de Deus, aconteça o que acontecer, não deixe Reine sair destaMansão até que eu volte, está bem? Se ela perguntar por mim, diga que eu saí pelasmontanhas colher ervas especiais, está bem, e que volto assim que terminar, certo?

- Sim, senhor, sim! Mas o que está acontecendo?- Meu velho amigo, por favor, sem perguntas! Cada segundo é valioso agora. Depois te

explico tudo!E Patrão Éxis foi correndo para o estábulo, montou em Sr. Magus e, junto com o seu

informante, desceram em disparada a estrada da montanha.

O informante lhe falava, enquanto cavalgavam lado a lado, em disparada:- O corpo foi encontrado por pescadores!Patrão Éxis foi levado por seu informante exatamente na parte do rio em que haviam

retirado o corpo, próximo aonde acharam uma lamparina e os óculos.O Mago, ainda montado em seu cavalo, ao ver o corpo, exclamou:- Cristabel!Patrão Éxis desce do cavalo e se ajoelha junto ao corpo. Começa a toca-lo e sente as

pedras costuradas no bolso. Não havia dúvida alguma: havia sido um suicídio!O Mago então pega sua mão direita e coloca sobre a testa do cadáver e a mão

esquerda sob a nuca. E então tem várias visões. Em segundos, tudo já estava esclarecido namente do Mago dos Pirineus!

Ele solta o cadáver. Chama seu informante, lhe dá uma grande soma em dinheiro e diz:- Quero que vá agora ao coveiro da Aldeia, e lhe dê esse dinheiro, para que deixe ocadáver desta mulher impecável, limpo e apresentável. Não quero que sua amiga a veja nesseestado deplorável. E quero isso para ontem! Vá logo, e diga ao coveiro que depois do velório,eu lhe pagarei em dobro! Agora vá!

O informante montou como um raio e foi acordar o coveiro. Enquanto isso Patrão Éxisvolta em disparada pela Estrada da Montanha, mas por um caminho secreto que só ele e euconhecíamos, um caminho por detrás das montanhas que levava às cavernas dos alicerces daMansão e ao Templo.

Chegando ao Templo, o Mago imediatamente saúda o Altar Mor, deita em seu leito e seprojeta. Ele tinha que ir urgentemente visitar um antiqüíssimo conhecido seu, do 6° níveldescendente das Trevas!

Projetado, com sua Armadura e Armas a postos, e evocado o Sr. Aetheris, Éxis abre umportal para o 6° nível descendente e cavalga em direção a ele.

Quando chega às muralhas do Reino de seu antiqüíssimo conhecido, um gigantescoexército de seres completamente deformados, trajando armaduras muito antigas, o estavaesperando. Mas para surpresa do Cavaleiro do Éter, aquele mar de soldados se organiza emfileiras e abrem uma passagem livre, direto para o portão da muralha. E o portão se abre,convidativo, para o Guerreiro da Luz. Nenhuma resistência! Nenhum ataque! Absolutamentenenhuma resistência à chegada do Mago da Luz!

Ele, do alto de seu cavalo, cavalga devagar, passando por aquele mar de soldados comfaces horripilantes. E cruza os portões.

O Mago entra no palácio gigantesco do ente infernal, ainda montado em seu cavalo.Todas as portas que levavam à sala do Trono, guardadas por enormes soldados, um maishorrível que o outro, lhe eram solenemente abertas!

Até que finalmente, Patrão Éxis penetra na sala do Trono, de onde uma voz conhecidasua, desde os seus 7 anos de idade, é ouvida:

- Meu querido garotinho! Que prazer inominável em revê-lo mais uma vez! A que devo aalegria de sua visita?

E uma gargalhada penetrantemente infernal foi dada. Ela vinha do tenebroso Trono,onde assentava-se uma criatura de cerca de 2 metros de altura, vestindo roupas do séculoXVIII, completamente roxas. A criatura usava uma longa peruca branca, à moda Luís XIV, e

possuía toda a sua pele completamente branca como a neve. Apenas uma pinta no seu rostoquebrava a sua fantasmagórica brancura. Fora a cor de sua pele, a criatura pareceria umhomem normal do século XVIII, um nobre, exceto por um detalhe: sua boca! Era uma bocarra

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enorme, que rasgava o seu rosto e fazia com que o ente infernal parecesse que estivessesempre sorrindo sadicamente!

Patrão Éxis desce de seu cavalo e diz, ríspido:- Lorde Peccatum, vim buscar o Espírito de Cristabel Blanche.- É assim que você me trata, meu querido? Sem saudações mais cordiais nem

reverências ou cortesias?O ente infernal levanta-se de seu Trono, caminha lentamente em direção ao Cavaleiro

da Luz, e aproximando sua bocarra de seus ouvidos, diz:

- Por quê está tão sério?E deu uma gargalhada penetrantemente infernal!- Isso é jeito de tratar o titio Peccatum, que sempre tanto bem te quis?- Assassinar meus pais e atormentar um menino de 7 anos, durante 14 anos, sem

cessar, não é exatamente o que eu chamaria de um “ bem querer ”...Nesse instante, Lorde Peccatum pega seus dedinhos completamente brancos e os faz

caminhar sobre as ombreiras da armadura do Mago da Luz:- Hahaha, você ainda se lembra das nossas brincadeiras de infância! Quando eu saía do

seu armário ou debaixo da sua cama, e nos divertíamos a noite toda!- Sim, me lembro muito bem de quando você me machucava, me perseguia e me

apavorava tanto em meu quarto, como um bicho-papão, que eu ia correndo dormir na cama deÁrthur para me sentir mais seguro...- Ah, mas isso era só porque você era uma criança muito complicada... sem senso dehumor, sabe?

E uma nova gargalhada penetrantemente infernal ecoou por todo o salão!- Você acha que eu deveria ter senso de humor nas várias vezes em que você me

infringiu doenças terríveis que quase me mataram durante aqueles 14 anos?- Oh, meu pequenino... isso já não foi obra do titio Peccatum e sim do malvado Lorde

Morbus, que até onde eu sei, já não está mais entre nós, não é mesmo? Acho que nossafamília feliz diminuiu um pouco de tamanho sem titio Morbus...

E a criatura deu um longo suspiro fingido, de pesar, enquanto caminhava ao redor doMago da Luz.

- Destino igual ao que dei em Lorde Morbus, queria eu poder dar em você agora,Peccatum!

- Tsc, tsc, tsc... menino levado... não sabe que diferentemente do tolinho Morbus, eununca ajo fora dos limites extremos, nas fronteiras da Justiça e das Leis Celestiais? Se faço oque faço é porque a Justiça e as Leis me permitem tentar e testar os seres humanos...

- É unicamente por isso o único motivo que não arranco a sua cabeça agora... porquesei que a Justiça e as Leis ainda te amparam...

Peccatum estava atrás de Éxis, colocou as suas mãos sobre os ombros do Mago,aproximou sua bocarra de seu ouvido e sussurrou:

- Oh, tanto amor que nos une... é tanto amor que me comove tanto...E dito isso, fingiu escorrer uma lágrima de seus olhos demoníacos:- Oh, é tanta emoção, perante tanto amor na nossa família feliz, que até choro!E novamente uma gargalhada penetrantemente infernal ecoou por todo o salão...- Chega de bobagens, Lorde Peccatum. Onde está Cristabel?- Quem?- Não se faça de desentendido...- Cristabel... Cristabel... hum, deixe ver se me lembro...- Chega, Peccatum! Onde está ela?- Hei, não me apresse! Eu sou um titio muito antigo... às vezes minha memória é tão

falha...- Você a induziu ao suicídio nessa madrugada, seu maldito!

- Oh, agora me lembrei... acho que talvez eu saiba de quem você está falando, meupequenino garotinho...O monstro aproximou sua bocarra sorridente do ouvido do Mago e sussurrou:

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- Por acaso você estaria falando da pintora, Cristabel Blanche, amante de uma tal...Reine Du Air?

- Isso é você quem está falando.- E por que o Espírito daquela comunista suicida, daquela feminista materialista, te

interessaria?O Mago foi curto e grosso:- Ela se suicidou sim, eu sei, mas pelo agravante de sua atuação virulenta e impiedosa

contra ela. Ela pagará sim o preço que os suicidas pagam, o preço do sofrimento espiritual em

que se lançaram. Mas pela Justiça e Leis Celestiais, o agravante de sua atuação brutal me dáo direito de tira-la do seu Reino e leva-la para um Posto de Socorro dos Servos da Luz.Lorde Peccatum ficou pensativo:- Engraçado... eu achava que isso seria diferente... ela foi testada e sucumbiu... ela

rodou no teste... por isso ela me pertence... e achava que ela ficaria aqui comigo, me fazendouma doce companhia...

- A Justiça e as Leis Celestiais estão do meu lado, Lorde Peccatum. Se você me impedir de leva-la, estará excedendo os seus limites.

- E quem disse que eu impediria meu mais amado afilhado de pegar algo que ele julgalhe pertencer?

Nesse momento, Lorde Peccatum volta a sentar-se em seu Trono.- Sabe, meu pequenino garotinho... essa guerra que você está travando não é minha...Eu apenas testei Cristabel e ela fracassou admiravelmente em seu teste... Mas em nome de

meu infinito amor por você, eu posso lhe dizer de quem é essa guerra... para quem LordeMorbus trabalhava de verdade... Não... ele não trabalhava para mim, não... quer saber dequem é essa guerra? Então basta olhar para dentro dos meus olhos...

O Mago já era vivido o suficiente. Sabia que Lorde Peccatum queria hipnotiza-lo. Masele usou uma contra-magia ao olhar fixamente nos olhos do ente infernal. E conseguiu ainformação tão preciosa.

Éxis virou o rosto. Estava pálido! Ficou chocado ao descobrir quem estava por detrás detudo aquilo desde o começo!

Lorde Peccatum começou a bater palmas ao ver a sua tentativa de hipnotismo ter fracassado:

- Parabéns! Esse é meu garoto! O titio fica tão orgulhoso dele!E aquela gargalhada perturbadoramente infernal ecoou por todo o salão.A gargalhada do ente demoníaco fez Éxis voltar a si:- Quero o Espírito de Cristabel agora!- Oh, meu amado afilhado... eu não vou impedi-lo de pegar o espírito de Cristabel, meu

querido garoto! Aliás, eu já lhe disse que, dentre todas as crianças que eu já testei eatormentei, você foi a mais cara ao meu coração, meu querido? Sempre o achei tão... divertido!O que seria do mundo sem a sua divertida presença? Um lugar tão sem cores... tão chato... tãoaborrecido... Não, eu jamais iria impedi-lo de realizar uma vontade das Leis Celestiais, seassim você diz... se você acha que é um ato da Justiça Divina recolher o espírito daquelasuicida, faça-o, meu querido! Todavia não posso impedir que meus servos achem que ela épropriedade deles, sabe? Afinal, eu sou um líder democrático, e em meu Reino, eu pratico agestão participativa... por isso eu dou uma certa liberdade a meus servos e não posso interferir nas suas decisões, sabe?

O Mago entendeu imediatamente o que Lorde Peccatum queria: divertir-se vendo-o lutar contra seus servos!

- Não, Lorde Peccatum. Eu não vou lhe dar o show que você quer que eu lhe dê.E dito isso, o Mago recolheu, para dentro de sua Insígnia, a sua arma, o Cajado

Sagrado. Fechou os olhos e localizou o Espírito de Cristabel: ela estava no temível Fosso dosSuicidas do Reino de Lorde Peccatum.

O Mago, vigiado pela legião de servos de Peccatum, que estavam prontos para ataca-lo,abriu então seus braços. E neste momento um brilho muito intenso passou a se irradiar de seucoração, e um par de asas gigantescas, lindamente iluminadas, surgiu em suas costas. E o

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Mago bradou para que todos os entes das trevas que estavam em seu caminho ouvissem comclareza:

- Não lutarei com nenhum de vocês! Mas aquele que se aproximar de mim, num raio de10 metros, será imediatamente torrado pela minha Luz e se tornará um ovóide! Estão avisados!

Alguns se atreveram a atacar o Cavaleiro do Éter, mas as palavras dele se cumpriram, eos agressores foram queimados instantaneamente e tornaram-se ovóides. Isso gerou pânicoentre os demais servos de Peccatum, que imediatamente se afastavam do Mago, abrindo-lhecaminho ao Fosso dos Suicidas.

Éxis chegou ao Fosso na velocidade de seu pensamento.Que lugar horrível era aquilo, Compatriota! Tenho até medo de descreve-lo para Você...por isso eu serei breve em minha descrição...

Era uma cratera gigantesca, que parecia não ter fundo, imersa numa escuridãosepulcral. Mas de sua borda se ouviam lamentos e gritos de horrores de milhares, talvezmilhões de almas humanas, em terrível sofrimento, almas que tiraram de si mesmas aspróprias vidas de seus corpos carnais. Nada podia ser visto da borda do Fosso, apenas seouvir os sons terríveis. Porém quando o Mago iluminou o lugar com sua própria Luz, quandosuas asas sobrevoaram a gigantesca cratera, centenas, talvez milhares de braçosdesesperados ergueram-se em sua direção, clamando por socorro. Parecia haver lá milhões deespíritos, absolutamente deformados, amontoados uns sobre os outros, como se fossem pilhasde cadáveres vivos...Mas o Mago não podia fazer nada por eles... A Justiça e Leis Celestiais havia lhe dadopermissão para resgatar, naquele momento, apenas uma daquelas almas atormentadas.

E sobrevoando como uma estrela cadente sobre aquele fosso de profunda escuridão,Éxis imediatamente encontrou a vibração da alma que ele procurava. Ele então estende seusbraços para baixo, e sob sua irradiação, flutuando rapidamente do fundo do Fosso, sobe emdireção aos seus braços o espírito daquela que na Terra foi um dia chamada de CristabelBlanche.

A mulher estava nos braços do iluminado Cavaleiro. Mas mesmo recebendo a irradiaçãoda compaixão de Éxis, seu estado era lastimável. Ela sentia continuamente a asfixia da águaentrando em seus pulmões espirituais e a agonia de não poder respirar... sentia todas as doresdos instantes finais de sua vida no corpo físico... sentia com toda a intensidade as doresemocionais que a fizeram cometer aquele ato de loucura... mas agora ela seria retiradadaquele Reino infernal e seria atendida por servidores da Luz em um Posto de SocorroAvançado, nas regiões umbralinas do mundo espiritual.

O Mago, com o espírito de Cristabel em seus braços, aparece diante do trono de LordePeccatum.

- Já peguei o que vim buscar. Nada mais me obriga então a olhar a sua cara imunda.Adeus, Lorde Peccatum.

- Ora, não me diga isso, meu querido! Mas lhe dou meus parabéns! Bravo, meu queridogaroto! Sempre vi para você um futuro e uma carreira brilhantes! Você é sempre tão divertido!Agora leve daqui este traste que é seu por direito...

E enquanto o Cavaleiro do Éter montava novamente em seu cavalo, com o Espírito deCristabel em seus braços, e preparava-se para partir, o ente infernal disse, com sua bocarrasempre sorridente:

- Você foi sempre um membro da minha família! Sempre seja bem-vindo ao meu Reino!E sempre que quiser me visitar, o titio aqui estará, esperando-o com chá e bolinhos!

E dito isso, a gargalhada penetrantemente infernal de Peccatum parecia que poderia ter sido ouvida em cada recanto de todo o 6° nível descendente das Trevas...

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Capítulo 21 - Luto, Investigação e TestamentoNaquela manhã toda, Srta. Reine estava incrivelmente radiante...Ela havia colocado em seu cabelo a linda rosa vermelha que Patrão Éxis lhe havia

presenteado...Ela estava tão radiante e feliz... tão feliz que... que nem sequer notou a preocupação

que havia em meu semblante, desde que Patrão Éxis havia saído de manhã bem cedo... e eutambém procurava parecer o mais natural possível...

A jovem Bruxa parecia dançar sobre as nuvens enquanto caminhava pela Mansão,puxando assunto comigo e brincando alegremente com Alfred...

Até que... até que Patrão Éxis chegou...

Ela foi correndo em sua direção abraça-lo, mas, quando fitou os olhos de Éxis...imediatamente ela parou... ela sentiu imediatamente que algo estava muito errado... que algomuito ruim havia acontecido...

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Patrão Éxis buscou no mais profundo de seu coração as palavras mais certas a dizer...havia orado tanto a Deus, ainda quando estava no Templo... Mas por mais certas que fossemas palavras para aquele momento, elas sempre seriam palavras que evocariam muita dor...Patrão Éxis deu voltas e voltas... ele fez o melhor que pôde...

Mas a notícia, de um jeito ou de outro, teve que ser dada... Cristabel estava morta...O mundo parecia ter parado para Reine...A rosa vermelha que estava em seu cabelo caía, lentamente, como que se descesse em

direção a um abismo sem fim... e ao tocar o assoalho da Mansão, tal como uma rosa feita do

mais delicado cristal, ela esfacelou-se em milhões de pedaços...Oh, Compatriota... não imagina o quanto me dói lembrar disso... dos gritos de desesperoque aquela mocinha, que momentos antes parecia bailar nas nuvens, agora proferia...

Ela gritava e gritava:“Sou uma assassina! Sou uma assassina!” .Nada conseguia deter o seu pranto. Nenhuma palavra que Patrão Éxis ou eu

disséssemos parecia conforta-la.E ela ficou aquele dia todo e aquela noite toda sem dizer nada... absolutamente nada...

encolhida e acuada... as únicas frases que ela disse foram apenas durante a madrugada: “Eu preciso ficar sozinha. Preciso sair da Mansão... preciso ficar só” . E ela nada mais disse...

Eu tinha um velho amigo, dono de uma estalagem na Aldeia. Levei de carruagem Srta.Reine para lá, arranjei-lhe o melhor quarto. Contei ao meu velho amigo o que havia acontecido,que aquela jovem estava de luto, e que ele a vigiasse de perto, mas sem ser notado, e quequalquer coisa que acontecesse, ele enviasse um mensageiro a mim na Mansão.

Srta. Reine acreditava fielmente que Cristabel morrera por sua causa...Oh, Compatriota... que dias tristes... que dias horríveis foram aqueles...Patrão Éxis havia caído num mutismo e numa tristeza sem fim também... parecia que

toda a dor de Reine era sua dor também...Mas havia muito mais na mente e no coração de meu filho Éxis do que o pesar e a dor

por Srta. Reine. Desde que ele adentrara o Reino de Peccatum, ele finalmente conhecia asdimensões reais de tudo o que estava acontecendo e o que viria a acontecer...

Ele ficava horas e horas, sozinho, trancado em seu consultório, consultando o Oráculo.E quando não estava no consultório, ele estava a meditar e orar no Templo...

Foi por estes dias que Patrão Éxis mandou um de seus informantes a Paris... ele seriamuito bem pago para lhe trazer todas as informações que pudesse sobre um certo bispo,chamado Chrétien Fausseté. As informações seriam passadas a nós por telégrafo. Assim,todos os dias, eu passei a ir à Casa Telegráfica na Aldeia... e aproveitava para passar naestalagem e saber como nossa Reine estava...

Foi também por volta daqueles dias que Patrão Éxis mandou chamar à Mansão otestamenteiro da região. Ele queria fazer seu testamento. Eu estranhei muito aquilo, do porquêmeu amado filho estar fazendo aquilo, se afinal ele era tão jovem ainda.

E ele sorriu para mim, com certa tristeza no olhar. E assim me falou:- O que aconteceu com Cristabel me fez lembrar-me de que não somos eternos na

carne, Árthur... olhe bem para mim... meus cabelos já estão branqueando... meu corpo já não étão forte quanto outrora... um dia a morte chegará para mim também, não é o lógico? Então, aoinvés de fingir que isso não vai acontecer, resolvi apenas tomar algumas medidas nestes dias,em que me senti disposto para tanto. Afinal, ninguém pode evitar o inevitável... Então resolvideixar as coisas já preparadas, pois de agora para frente, posso viver meus próximos anossem me preocupar nunca mais com isso, não acha?

Eu não sabia o que se passava na mente de meu filho... por isso engoli direitinho aquelasua resposta, que parecia ser tão lógica...

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Capítulo 22 - A última ceiaNaquela manhã, Patrão Éxis voltou novamente às ruínas da antiga capela medieval em

que um dia ele tinha dado aulas à Srta. Reine.Ele sentou-se num grande bloco de pedra e olhou para o céu, através do telhado que

não mais existia.E fitando o céu, o Mago começou uma Conversa Sagrada:- Aqui estou num lugar que foi consagrado a Ti...- Eu nunca tive nada contra Ti... eu sempre tive, isso sim, ojeriza aos que em Teu nome,

massacraram os adeptos dos cultos à Natureza, em todas as épocas, em todos os continentespor onde passava a cruz de horrores, que eles diziam representar a Ti!

- Genocídios, etnocídios, estupros, assassinatos, fogueiras, violência cultural, tudo issofoi feito em nome de Ti!- Por isso sei que Tu me entende: que nunca tive nada contra Ti mas sim contra os

monstros que se diziam ser Teus fiéis...86

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O Mago suspirou profundamente:- Por isso eu sei que Tu me entende... Tu, que é o Senhor do Sacrifício por aquilo em

que se mais acredita, por aquilo em que mais se ama...- Eu O entendo... sempre O entendi... nunca entendi foram os seus fiéis, exceto Árthur...- Eu O entendo... por isso, nessa hora de provas pela qual passarei esta noite, peço a Ti

também, e não apenas a Deus e às Divindades da Luz, a Tua ajuda...- Está para se repetir a mesma tragédia que aconteceu no último dia de Atlântida...- Tudo que eu mais amo está para ser destruído... toda a obra de minha vida e todas as

pessoas que eu mais amei estão para serem destruídas nos próximos dias...- A tragédia de eras atrás está para se repetir...- Por isso, vim aqui, pedir a Ti, o Senhor dos Sacrifícios, aquele que se deixou sacrificar

para que muitos se iluminassem... vim pedir a Ti que me ampare no momento do meusacrifício...

- Sei que Tu temeu, horas antes de passar pelo o que Tu passou, enquanto orava noHorto... quando Tu pediu que, se fosse a vontade de Deus, que Ele afastasse de Ti aquelecálice...

- Mas eu não vim aqui pedir isso... eu aceito beber o meu cálice...- A única coisa que peço a Ti é isso:- Não deixe que eu beba deste cálice em vão...- Não deixe que as Trevas encubram a Virtude...- Não permita que a Virtude perca seu brilho... nem que tudo e todas as pessoas que eu

mais amei sejam feridas pelas hordas da Ilusão...O Mago deu um último suspiro. Levantou-se da pedra, e enquanto saía lentamente das

ruínas da antiqüíssima capela, ainda olhou para o céu mais uma vez e balbuciou:- Por favor... não deixe que eu beba deste cálice em vão...

*****Naquela mesma noite, Patrão Éxis havia marcado um jantar-reunião, para todos do

Círculo da Virtude. Todos estavam presentes, exceto Srta. Reine, que estava lentamente serecuperando da morte de Cristabel. Eu a visitava todos os dias, após passar na Casa dosTelégrafos. Ela ainda estava abatida, mas já dava sinais de estar começando a dar osprimeiros passos para a superação de sua dor...

Durante o jantar, todos comeram e beberam, exceto Patrão Éxis. Ele apenas bebia umde meus mais fortes chás. Mas estava calado. Apenas respondia o que lhe perguntavam eimediatamente voltava a seu mutismo. Ele apenas ficava a observar seus amadoscompanheiros se divertindo.

No meio do burburinho do jantar, quando todos já estavam satisfeitos e haviam jádiversas conversas paralelas, Patrão Éxis levantou-se.

Quando ele fez isso, as conversas começaram a desaparecer. Até que Srta. Aqueuxperguntou:

- O que o preocupa, Éxis? Eu o conheço há anos, muito bem. Ninguém notou, mas eu vique você nem tocou na comida... Só bebeu um dos chás especiais do velho Árthur... Depoisdele, eu sou a pessoa que melhor conhece você! Sei que algo está martelando na sua cabeçae o atormentando... o que é?

O Mago começou a andar ao redor da mesa e de seus convidados, bem lentamente. Eapós alguns instantes, ele começou a falar:

- Pensem bem, dama e cavalheiros: quais são os 3 males que afligem a humanidade naEra de Ferro, a era em que vivemos hoje?

- O Pecado, a Doença e a Morte - disse o Sr. Terre.- E o Pecado, a Doença e a Morte sustentam a desgraça maior da humanidade... não é?- Sim, a Ilusão - disse Sr. Herbe.Patrão Éxis colou as mãos sobre os ombros de Srta. Aqueux e lhe perguntou:- O que dizia aquele antigo canto da Uma Tradição sobre isso, que eu ensinei a vocês?E Srta. Aqueux, com sua bela voz, o cantou:

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“Pecado, Doença e Morte,os 3 males que tem atormentado a humanidadedesde o fim da Era de Ouro,sustentam perversamente a Ilusão. Apenas a Luz da Verdade irradiada pela Virtude,vinda de infinitas e diversas lamparinas, poderá libertar a humanidadee conduzi-la ao nascer de uma verdadeira e eterna Era de Ouro:

a Nova Era.” Éxis prosseguiu:- Agora notem: quem agredia Reine quando ela chegou até nós? O Lorde Morbus,

Senhor das Pestes, das Doenças, não é?Todos concordaram.- Depois Cristabel foi induzida ao suicídio por Lorde Peccatum, o Senhor dos Pecados...

Tudo isso não é familiar demais?Srta. Aqueux completou:- Só estaria faltando, segundo o canto da Uma Tradição, o terceiro sustentador da

Ilusão: a Morte...- Sim - disse Éxis - E eu sei exatamente onde ela está: nos portões do Reino do Lorde

da Ilusão.Eu me espantei:- O Lorde da Ilusão? Não é possível! Então ele voltou mesmo, como o Oráculo havia

previsto ao longo de todos esses anos...!E Éxis me responde:- Sim. Ele esteve por detrás de tudo. Ele fugiu do Abismo, porque os tempos estão

chegados. Ele reencarnou. E os olhos de Lorde Peccatum me revelaram quem ele é. Ele é oBispo Chrétien Fausseté. Mas, segundo meu informante em Paris, ele já se tornou Cardeal.

Houve espanto geral naquele salão. Patrão Éxis prosseguiu:- Com dificuldade imensa consegui entrar no campo mental do Bispo. E descobri coisas

tenebrosas...- Fale logo, Éxis! Não nos deixe aflitos! - implorou Srta. Aqueux.- Ele planeja, através da Magia Negra, agora que pertence ao Colégio Cardinalício,

assassinar o papa Leão XIII, bloqueando todas as inovações que Leão XIII vem tentadorealizar na Igreja, desde que promulgou sua encíclica “Rerum Novarum”... Mas tem mais...

O Mago suspirou e prosseguiu:- O Bispo pretende lançar o cristianismo numa nova era de Trevas, pois como papabili,

manipulando as peças do jogo do conclave, ele planeja tornar-se o novo papa.Eu exclamei:- Imaginem o que ele poderá fazer tendo o poder de um papa! Ele terá milhões de

súditos em todos os países do mundo! Ele terá mais súditos do que qualquer Rei, Rainha ouPresidente!

- Sim, Árthur, e poderá, através da geopolítica, causar grandes males, só que desta vez,em escala global... poderá insuflar perseguições religiosas e até mesmo reacender as antigasguerras de religiões e étnicas...

O Bispo precisava ser detido a qualquer custo. O Terrível Mago Negro Ludibriumprecisava ser derrotado o mais rápido possível, pois Éxis sabia que ele em breve iria desferir um ataque arrasador contra os únicos que poderiam detê-lo: O Círculo da Virtude.

Então Patrão Éxis avisa que a pior e mais sangrenta batalha travada por eles, ao longode todas a suas vidas, estava para acontecer! E disse que certamente, aquela seria a últimaceia em que todos os membros do Círculo da Virtude sentariam juntos, pois certamente algunstombariam em combate...

Houve comoção geral quando Éxis proferiu essas palavras...Então o Mago deu as instruções:

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- Temos de ataca-lo amanhã, na próxima noite, nos projetando até o seu Reino, no 7°nível descendente. Terá que ser na próxima noite, pois senão ele terá tempo de nos atacar primeiro, em novas escaramuças, como fez com Reine através da morte de Cristabel...

“A partir deste momento, peço que cada um de vocês iniciem uma vigília de 24 horas,antes do combate final contra o Lorde da Ilusão, e que dirijam todos os seus pensamentos deVirtude e de Vitória da Luz para o Templo do Círculo, a partir de agora, pois o Templo é o nossoPonto Central de Forças.

Assim, eu os espero amanhã à noite, nesta mesma hora, para o combate mais

importante da vida de todos nós.”Todos estavam consternados. Éxis havia se calado. A reunião terminara.Com o passar do tempo, cada um foi pegando suas coisas e se dirigindo, preocupados,

para suas casas. Até que quando ficaram apenas o Sr. Ferrer, a Srta. Aqueux e eu, Patrão Éxisnos chamou para um canto, tocou em nossos ombros e nos disse:

- Ferrer, Aqueux, Árthur, eu preciso muito de vocês nessa hora... Eu estou ficando velho,e talvez me aconteça algo nessa batalha....

- Não diga isso, Éxis!- Aqueux, por favor, me escute! Quero que vocês me prometam uma coisa, que me

jurem em nome da Virtude uma coisa: que se algo me acontecer, Árthur assumiráinterinamente a presidência do Círculo da Virtude, pois ele sabe praticamente tudo o que eusei. Eu fitei Patrão Éxis com os olhos aflitos. Ele prosseguiu:

- E quero que vocês três, Árthur, Ferrer e Aqueux terminem o treinamento de Reine. Elaé a mais jovem do grupo, ela é a próxima geração... Todos vocês logo estarão tão velhosquanto eu, e chegará a hora dela assumir a liderança do Círculo, me entendem?

- Mas logo eu, treinar aquela pirralha? Tem certeza disso, Éxis?- Ferrer, você é filho do Senhor das Armas, do Senhor da Guerra, da Divindade do Metal!

Você será o melhor professor de combate que Reine poderia ter, me entende?Sr. Ferrer assentiu com a cabeça.- Aqueux, você e sua sensibilidade feminina poderá dar todo o amparo que Reine

necessitar, com sua doçura...- E você, Árthur, assim como foi um pai para mim, você será o pai espiritual de Reine...

Por favor, me jurem que vocês farão isso!Todos estávamos consternados... chocados com tudo aquilo... mas juramos a Patrão

Éxis.Eu não entendia o que ele pensava... se eu entendesse talvez pudesse ter mudado o

destino dos acontecimentos... mas só sei que fizemos exatamente o que ele havia nosindicado: imediatamente começamos a vigília, focados para o Templo.

Capítulo 23 - A MorteQuando Patrão Éxis teve certeza de que eu já estava em transe profundo, na vigília,

naquela mesma noite, ele foi à Biblioteca, e de lá partiu secretamente para o Templo.Não havia tempo a perder. Ele estaria parcialmente amparado pela vibração positiva que

a vigília de todos os membros do Círculo da Virtude estariam enviando ao Templo. Essa era acarta na manga com que Patrão Éxis contava para não arriscar a vida de nenhum de seuscompanheiros e conseguir derrotar Lorde Ludibrium.

Pela última vez, Éxis se projeta. Traja sua armadura, saca sua Arma Magística e evoca oSr. Aetheris. E empinando seu cavalo, abre o mais temível de todos os portais: o portal para o

7° nível descendente das Trevas, o nível mais sombrio que um espírito humano poderia descer!Ao cruzar o portal, quando o Sr. Aetheris coloca suas patas no solo asqueroso eterrivelmente negro do 7° nível, o Cavaleiro do Éter é imediatamente atacado por umverdadeiro oceano de soldados esqueleto, servidores de Lorde Ludibrium!

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Com o seu Cajado Sagrado de um lado, devastando tudo o que estava à sua direita, ecriando um escudo magístico à sua esquerda para se proteger, o Cavaleiro avançava. Eleprecisava cruzar aquele oceano de monstros e criminosos do astral inferior o mais rápidopossível: se ele fosse derrubado de seu cavalo, seria seu fim!

As patas do Sr. Aetheris possuíam tanta energia positiva que, em contato com os corposmaléficos negativos dos soldados das Trevas, explodiam todos os monstros em que tocava...mas ainda assim a marcha por aquele oceano de entes malignos estava muito lenta: ossoldados eram muitos e se avolumavam cada vez mais bloqueando o caminho do Lorde do

Éter. Até que o Mago fechou seus olhos por uma fração de segundo, e de seu peito saiu umclarão enorme como o de um Sol, que cegou milhares de soldados, e de suas costas surgiramlindas e enormes asas. E assim, com um salto do Sr. Aetheris unido à força de suas asas, oMago sobrevoou aquele exército sem fim e atingiu as portas do Palácio!

Com seu Cajado ele explode os portões e penetra na sede do poder do Mago NegroLudibrium.

Porém, ao adentrar o Palácio e chegar ao gigantesco salão principal, onde estava oTrono do Lorde da Ilusão, uma terrível surpresa aguardava o Mago:

O salão estava completamente tomado por gigantescos soldados zumbis. Eram astropas da Dama da Morte, a Dama Occidere!

Éxis, ao vislumbrar aquilo, cria instantaneamente em torno de si um poderoso campo deforças magístico, um círculo de proteção. Ele então suspira. E desce de seu cavalo.Ele sabia que não conseguiria vencer aquelas tropas e ao mesmo tempo enfrentar ederrotar a Dama Occidere e o Lorde Ludibrium...

Aquele era o seu fim...Seu plano de ataque fracassou...Seu amargo cálice havia sido tomado em vão...Então, o Cavaleiro da Luz fita os olhos de seu fiel amigo, Sr. Aetheris. E lhe diz:- Acabou, amigo... Acabou... Meu último pedido a você é este: volte agora para a sua

dimensão natural do éter... Pela nossa amizade, salve-se!Dito isso, o Mago vislumbrou fora de seu campo de forças a horda que o esperava. Ele

sorri e diz ao seu amigo:- Não se entristeça... nós nos veremos novamente na minha próxima reencarnação...

Agora vá! Salve-se!Sr. Aetheris derrubou uma lágrima vaporosa. Encostou carinhosamente sua cabeça no

Mago, e desapareceu, retornando à sua dimensão natural.Dentro do campo de forças magísticas de proteção, o Cavaleiro da Luz sacou seu

Cajado. Ele desfez o campo. Estava pronto para lutar até a morte. Tomou posição de ataque.Até que o incrível, o inesperado, aconteceu!Ao lado do Trono onde o Lorde da Ilusão assentava-se, a Dama da Morte fez um sinal, e

todas as suas tropas abriram um corredor para que o Mago passasse, sem oferecerem umúnico ato de agressão!

Éxis, desconfiado, caminha lenta e atentamente pelo corredor aberto no meio daqueleoceano de gigantescos soldados zumbis, com o Cajado em posição de ataque, indo emdireção ao altar onde o Trono da Ilusão estava, com seu Senhor sorrindo sadicamente.

A Dama da Morte se aproxima do Cavaleiro da Luz. Vindo de arma em punho, antes dese aproximar do Mago, ela recolhe sua arma, para surpresa de Éxis. Então ela se coloca aoseu lado. E o escolta até a presença do Senhor da Ilusão.

Sentado em seu imponente Trono, o Bispo começa a gargalhar. E então, olhando fixopara os olhos do Mago, diz:

- Há quanto tempo, X!O Mago permanecia em silêncio.- Você não pensou que eu ficaria naquele Abismo que você me lançou para sempre,

pensou?- Claro que não. Eu sabia que nos tempos próximos ao final desta era, você se libertaria,e nossos caminhos se cruzariam de novo!

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- Você foi muito prepotente vindo aqui sozinho! Da última vez eu matei seis dos seuscompanheiros... acha que sozinho poderá me derrotar?

- Eu não acho nada... apenas estou aqui...- Hahaha! Brilhante resposta para um futuro homem morto!E o Bispo desceu de seu Trono. Aproximou-se do ouvido de Éxis e lhe disse:- Na realidade, você já estava morto antes mesmo de chegar até aqui...Convencido de sua vitória, o Bispo continuou a falar nos ouvidos do Mago da Luz:- Lorde Morbus falhou! Ele devia ter eliminado Reine antes dela unir-se ao Círculo da

Virtude... Todavia, sua falha me foi muito proveitosa, devo admitir! Pois Lorde Peccatum foibrilhante! Com um único golpe, o suicídio de Cristabel, ele conseguiu destruir três indesejáveisao mesmo tempo: a própria Cristabel, Reine, e você, meu pequeno velho amigo X! Olhe agorapara você! Seu chakra cardíaco está sangrando por causa de Reine... Você já chegou aqui nasportas de meu Reino muito ferido... Na verdade você já chegou aqui morto... Isso torna tudo tãofácil para mim que até se torna aborrecido eliminar você pessoalmente... nem procurareiliquidá-lo, pois seria um aborrecimento me mover para realizar algo tão fácil... Deixarei a DamaOccidere me divertir com o espetáculo de sua tortura e morte!

E o Bispo gargalhou.- Occidere, faça o seu trabalho! Divirta-me!A Dama da Morte se aproximou de Éxis, ainda sem sacar suas armas. Ela ficou a um

palmo do Mago, olhando-o fixamente. Éxis permanecia inabalável, como a mais poderosarocha contra o mal.Os dois pareciam duelar-se apenas com os olhares.E ficaram alguns instantes assim, até que a Dama da Morte viu em Éxis algo que

Ludibrium não imaginava. Ela viu o fogo do Sol, ela viu um leão ferido e acuado contra umaparede, um leão como que se fosse feito do próprio Sol!

A Dama da Morte Occidere então se afasta lentamente do Mago da Luz. E lhe diz:- Sei que tenho contas pendentes com a Justiça e as Lei Celestiais. Sei perfeitamente o

quanto já me excedi nesta guerra. Mas esta guerra não é minha.Occidere olha para Ludibrium, que estava espantado, e repete:- Esta guerra não é minha. Não estou em meu Reino. O Cavaleiro da Luz nada me deve

e eu nada devo a ele. Se ele invadisse meu Reino, teríamos contas a acertar. Como isso nãoaconteceu, vou-me embora!

Dito isso, a Dama da Morte abriu um gigantesco portal, que imediatamente levou todosos seus gigantescos soldados zumbis de volta para seu Reino. O gigantesco salão ficou vazio!

O Lorde da Ilusão fica furioso e começa a protestar. Entretanto, Occidere, antes decruzar também o portal e ir embora, fixa os olhos no Lorde Ludibrium e lhe diz:

- Quem avisa amigo é: Bispo, olhe para este Cavaleiro da Luz e verá um leão ferido eacuado contra uma parede... eu jamais subestimaria um leão ferido e acuado... este é meuúltimo conselho a você!

E dito isso, a Dama da Morte desapareceu.Lorde Ludibrium fita o Mago da Luz e diz:- Mulheres... é isso que dá confiar em uma mulher...

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Capítulo 24 - A Ilusão

- Então... somos só nos dois novamente, X!O Mago da Luz ficou fitando o seu mais terrível oponente desde eras imemoriais.Novamente um duelo de olhares se fazia presente naquele salão gigantesco.Parecia que ambos haviam retornado milhares de anos atrás, naquele que foi o último

dia do continente de Atlântida.Um ódio milenar alimentava Lorde Ludibrium. Ele parecia retirar toda a sua gigantesca

força deste ódio, guardado por milênios, enquanto esteve aprisionado no Abismo. Estar nafrente de X mais uma vez era o seu maior e mais desejado sonho... principalmente o dearrancar-lhe o coração com as próprias mãos e devora-lo, como se tivesse o sabor do maisdoce néctar e o mais puro mel: o néctar da vingança!

O duelo de olhares permaneceu até que o Lorde da Ilusão disse:- Agora, maldito Mago da Luz, vou lhe mostrar um pequeno truque que aprendi ao longodos milhares de anos em que você me aprisionou naquele maldito Abismo...

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E dito isso, o Bispo começou a sofrer uma incrível e inacreditável metamorfose. Sua pelese rachava e de baixo dela um monstro começava a nascer! Um monstro de proporçõesgigantescas!

De repente o corpo humanóide do Bispo explodiu numa nuvem negra gigantesca, e delaemergiu um terrível e enorme Dragão, com asas de morcego e chifres gigantescos!

E o primeiro ato do Dragão foi cuspir uma gigantesca rajada de fogo contra Éxis, que, aoalar-se, conseguiu dar um salto enorme e escapar das chamas.

E o Dragão bradou:

- Eu sou a Ilusão! Eu sou o próprio Pecado! Eu sou a própria Doença! Eu sou a própriaMorte, os três males que tem atormentado a humanidade desde o fim da Era de Ouro!E o Dragão moveu-se, e seu tamanho era tão descomunal, que apenas o seu

movimento fez o salão gigantesco do palácio desmoronar. E novamente cuspiu fogo contraÉxis, que se protegeu, à duras penas, cruzando os dois braços à frente do corpo, conjurandoum escudo magístico, que mesmo assim não impediu que o Mago fosse arrastado váriosmetros para trás.

Éxis mal se recuperava deste ataque de fogo quando o Dragão lhe dá uma violentapatada, que o faz voar longe, cruzando várias salas do palácio, atravessando várias paredes,até que finalmente ele caiu no chão! Não fosse o poder de sua Armadura e a egrégora criadapela vigília dos membros do Círculo da Virtude, Éxis estaria morto naquele momento!

Com os movimentos do gigantesco Dragão, o Palácio estava em ruínas. Ludibrium, emsua fúria, via apenas uma única coisa: destroçar Éxis, X, O Grande Mago da Estrela Solar!O Dragão procurou pelo Mago nos destroços do palácio, revirando os escombros. Até

que, vindo do alto, voando com suas enormes asas quase angelicais, Éxis, de um único golpe,crava seu Cajado no olho esquerdo do Dragão.

Enquanto este urrava de dor, o Mago lhe bradou:- Agora deixe-me mostrar o que eu aprendi a fazer com os malditos “ presentes ” que

você me deixou desde o fim da Era de Ouro!E o Mago da Luz, se expandindo em Luz, numa Explosão como se fosse a de uma

estrela, transforma-se num gigantesco Leão Alado de Fogo!A luta agora era titânica! Duas criaturas gigantescas lutando ferozmente no 7° nível

descendente das Trevas!O Leão e o Dragão se enfrentavam num embate de gigantes, cuspindo fogo, mordendo-

se e desferindo golpes violentíssimos com suas gigantescas patas.Mas Éxis estava muito fraco. A força do Dragão era descomunal. O combate estava

ficando desfavorável ao Leão da Luz.E num golpe de extrema força e violência com suas gigantescas patas e garras, o

Dragão arranca uma das asas do Leão da Luz, e o atira a quilômetros de distância.Éxis, O Leão Alado de Fogo, cai violentamente sobre uma montanha de rochas fétidas.

Ele sangrava muito onde a asa foi arrancada. E começava também a vomitar sangue.Em instantes, o Dragão estava com suas patas sobre ele, sentindo-se vitorioso. O sabor

da vingança tão esperada havia embriagado Ludibrium! Ele já sentia sobre sua cabeça oslouros da vitória e a glória da vida papal! Nada mais estava entre ele e seus sonhos de poder edominação! E embriagado pelo sabor da vitória, Ludibrium disse:

- Sabe, maldito X, a primeira coisa que eu farei após matar você? Será justamenteatormentar e matar bem devagarinho a sua Reine... e a menina maldita que ela leva em seuventre... será tão... divertido!

Embriagado pelo néctar traiçoeiro da vingança, Ludibrium disse o que não deveria.Ao ouvir aquilo, um brilho Solar tomou conta dos olhos e o coração de Éxis: o brilho

Solar do Amor mais profundo!E isso lhe deu forças completamente inesperadas para que, num único e certeiro golpe,

cravasse sua pata direita no peito do Dragão, arrancando-lhe o coração!

O monstruoso Dragão dá um urro... e desaba no chão... Nesse exato momento, emParis, em sua cama, o Cardeal Chrétien Fausseté tem um ataque cardíaco fulminante... emorre...

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Capítulo 25 - E o Cisne CantouDerrotado o Lorde da Ilusão, sobre seu corpo espiritual destruído, o Leão Alado de Fogo

coloca suas patas; abre sua única asa restante e dá um rugido gigantesco, que ecoa por toda aregião inferior, antes dominada pelo Bispo.

Neste momento, Éxis, O Leão Alado de Fogo, começa a brilhar como um verdadeiro Sol,em seu verdadeiro Canto de Cisne, e crava um estandarte dourado do Círculo da Virtude nosolo pútrido e enegrecido do antigo Reino de Ludibrium, e uma Luz intensa e eterna passaria abrilhar, para sempre, naquela região, iluminando-a!

E então, nesse momento, rugindo com todo o seu poder, o Leão da Luz, o Grande Magoda Estrela Solar, emite uma gigantesca onda de Luz Solar consumidora de todas as trevas enegatividades do antigo Reino do mal. E por onde a onda passava, tudo se transformava: asárvores, antes mortas ou ressequidas, adquiriam vida, tornando-se verdejantes; os pântanos

eram drenados e se transformavam em campos floridos; as rochas fétidas, antes nuas,recobriam-se de exuberante vegetação!

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E ali, justamente no 7° nível descendente das Trevas, um Reino da Luz, da Justiça e dasLeis Celestiais acabava de ser implantado e construído para sempre, através do Canto deCisne do Grande Mago!

E estas foram as suas últimas palavras, perante o estandarte que marcaria aquele Reinopara sempre para a Luz:

- Pela Glória de Deus, da Sua Justiça e das Suas Leis Celestiais, este Reino retornapara sempre aos Domínios da Luz...

E dito isso, o Leão, gravemente ferido, desaba sob os pés do estandarte. Em instantes

ele retorna ao seu corpo, no Templo...

*****Ao mesmo tempo em que tudo isso acontecia, o cão Alfred me retirava de minha vigília,

latindo sem parar ao meu lado. Ele estava uivando de forma horrível e arranhando a porta demeu quarto. Resolvi abrir a porta e Alfred correu em disparada para a Biblioteca. Abri a porta daBiblioteca e Alfred arranhava a estante que era a passagem para o Templo, desesperado euivando. Nesse momento é que eu havia finalmente entendido tudo, e gritei:

- Meu Deus! Éxis, meu filho! Meu filho!E desci, junto com Alfred, correndo as escadarias até o Templo, que estava com todas

as tochas acesas. E lá, encontrei Éxis, meu filho, caído no chão, gemendo horrivelmente de dor e vomitando sangue.- Meu filho, meu filho!Foi tudo o que eu consegui dizer enquanto o socorria.Éxis olhou para mim, e mesmo vomitando sangue, conseguiu com dificuldade me dizer:- Árthur... me leve para meu quarto... por favor... chame Reine... antes que seja tarde...Eu não sabia, eu não queria acreditar, mas Éxis estava ferido de morte 2... resistiria

apenas mais algumas horas...Carreguei meu filho até seu quarto... ele estava consciente o tempo todo. Quis chamar

um médico, mas ele me proibiu:- Pai... nada de médicos... é tarde demais... deixe-me ir com dignidade, meu pai...

apenas chame Reine...Chamei o mensageiro e lhe disse para ir correndo à cavalo até a estalagem onde Reineestava, levando outro cavalo consigo, chamar Reine, dizendo-lhe que Patrão Éxis estavamorrendo. O jovem partiu como um raio!

Em seu quarto, tentei estancar as hemorragias, mas meu filho tinha muitos ferimentosinternos. Eu não sabia o que fazer!

Então Éxis olhou para mim e disse:- Por favor... me alcance meu Livro das Sombras...Eu fui ao local secreto onde ele estava guardado. E deixei o Livro sobre a cama, ao lado

de Éxis. Ele sorriu. E me disse:- Não se preocupe... Árthur... não há nada o que fazer... apenas segure a minha mão...Eu segurei firme a sua mão. E então ele me olhou carinhosamente e me disse:- Você foi o melhor pai... que um filho poderia ter nesse mundo...Eu comecei a chorar. Não sabia o que fazer. Apenas segurava forte a mão de meu filho,

esperando Reine chegar.

*****22 Nota do Autor : Para maiores esclarecimentos de ferimentos no corpo físico que podem surgir após severos combates noPlano Astral durante uma Projeção, leia “ Autodefesa Psíquica : um Estudo sobre a Patologia e a Criminalidade Oculta: como

se defender dos ataques de natureza psíquica desencadeados contra nós” da Sra. Dion Fortune, publicado no Brasil pela

Editora Pensamento, páginas 146 a 149. A autora narra um caso interessantíssimo de uma “ batalha astral ” em que ela lutou projetada, ocorrida na década de 1930, e ela, ao retornar ao corpo, narra que “ senti que minhas costas estavam muito doloridase, tomando um espelho de mão, descobri que eu estava marcada de arranhões do pescoço à cintura, como se tivesse sidoarranhada por um gato gigantesco” . A autora, nesta mesma obra, narra inclusive um caso de assassinato, realizado através deProjeção Astral, por uma Maga Negra.

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Quando Reine entrou no quarto, meu filho estava em coma.Ela se atirou ao seu lado, chorando, e clamando por seu nome:- Éxis, Éxis, por favor, acorde!E um milagre realmente aconteceu: meu filho abriu os olhos. Ele havia perdido muito

sangue e estava sem mais forças.Ainda assim as teve o suficiente para segurar a mão esquerda de Reine, e coloca-la

sobre o Livro das Sombras. Aquilo era um sinal muito claro: meu filho queria que ela ficassecom o seu Livro. Queria que ela fosse a sua herdeira na Magia.

Éxis ainda teve forças para pegar a mão direita de Reine e colocar sobre seu peitoensangüentado... e tentou balbuciar algo para ela... ela aproximou seus ouvidos de sua boca econseguiu ouvir:

- De um jeito... ou de outro... eu sempre... estarei aqui... porque... eu... te amo...E meu filho deu seu último suspiro no planeta chamado Terra...

Capítulo 26 - De volta à Poeira das EstrelasOh, Compatriota... aquele foi o dia mais triste de toda a minha vida...Foram seguidos todos os preceitos da Uma Tradição no ritual fúnebre de meu filho... a

Tradição de Magia da Luz que meu filho Éxis havia trazido de volta ao mundo, para amenizar osofrimento daqueles que necessitassem ser consolados...

Assim, no alto da montanha, no alto da nossa montanha, foi montada uma pira fúnebrepelos Cavaleiros do Círculo da Virtude.

E naquela pira, o corpo de meu filho foi cremado...Depois que tudo terminasse, suas cinzas deveriam ser espalhadas aos 4 ventos, de

forma que elas se unissem novamente à Poeira das Estrelas...Reine estava inconsolável nos meus braços...E eu, Compatriota? O que eu poderia fazer? Eu estava me despedindo de meu único

filho... do bebê em que eu fui seu parteiro... do bebê que eu lhe troquei as fraldas... da criançaque eu ensinei as primeiras letras... do jovem que havia descoberto sua missão do mundo... dohomem honrado que deu sua vida para que tudo o que ele mais amava sobrevivesse...

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Como eu poderia consolar Reine? Eu nem sabia como me consolar, Compatriota... euestava arrasado, em pedaços, por detrás de minha máscara inglesa austera de governante deuma respeitável Mansão...

Foi então que, quando a pira foi incendiada, os quatro Lordes, os quatro Guardiões dosElementos, ergueram suas espadas ritualísticas, e a Dama da Água ergueu seu Athame, todosdispostos em círculo ao redor da pira, e apontando suas armas ritualísticas em direção à piraque ardia, entoaram um antigo canto da Uma Tradição:

“Ele não nasceu, ele não morreu,apenas desceu e visitou este planeta Terrae conviveu entre nós.Quando desceu, ele tomou emprestado uma roupa,feita a partir da poeira das estrelas,para que se fizesse visível a nós.Hoje ele devolve sua roupa,unindo-a novamente à poeira das estrelas,voltando a fazer parte da Grande Mãe, a Teia da Vida.Ele não nasceu, ele não morreu,apenas desceu e visitou este planeta Terrae conviveu entre nós.”Ah, Compatriota... foi o dia mais horrível de toda a minha vida... embora eu saiba que a

morte não passa de uma ilusão... embora eu saiba que todos nós somos, na verdade, sereseternos... ah, Compatriota, embora eu saiba de tudo isso, como é doída a dor da saudade...como é doído saber que eu não sentiria mais nos meus braços aquele menino que eu vinascer, que eu vi crescer, que eu ensinei as primeiras letras, que eu vi tornar-se um jovem, quepresenciei quando tornou-se um honrado homem... Ah, compatriota, como isso dói... quando osvelhos enterram os seus jovens... quando um velho, quase como um pai, vê a única pessoanesse mundo que poderia ter chamado de filho, ir-se para sempre...

Ah, Compatriota... para um velho, o único consolo nessas horas é saber que o tempo deminha prisão na carne não durará muito mais... e que por isso o reencontro acontecerá embreve... Mas e para os jovens que ficam? Qual o seu consolo? O que iria consolar a Srta.Reine? Eu não sabia, Compatriota... juro que não sabia... se eu soubesse, teria feito paraamparar aquela menina que chorava desolada nos meus braços...

Ao retornar da cerimônia fúnebre, Reine caminhava devagar para a entrada daMansão... seu olhar vagava, distante... como se ela estivesse morta em vida... de repente seusolhos se fixam na entrada do Jardim da Mansão, exatamente no pórtico de Bronze... onde elalê: “E o Leão morrerá para que a Virtude e tudo o que ele mais amou viva para sempre noJardim de Deus”.

Ela senta-se, então, Compatriota, exatamente nesse banco em que estamos sentadosagora Você e eu... Ela fita a inscrição do pórtico... seus olhos começam a derramar lágrimasgrossas e doídas... e ela sussurra:

- Éxis... meu amado Leão...E Srta. Reine chorou amargamente, exatamente aqui, há mais de vinte anos atrás, neste

mesmo banco em que estamos agora...

Ah, Compatriota, isto é tudo... Isso é tudo que posso te contar sobre Reine, a história deuma Bruxa...

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EpílogoNeste momento, Reine, acompanhada de uma bela jovem, muito parecida com ela,

vislumbra o velho Árthur conversando com uma pessoa no Jardim da Mansão. Elas seaproximam, os saúdam, dão as boas vindas a Você e Reine pergunta sobre o que estavamconversando.

O nonagenário Árthur responde, sendo confirmado por Você:- Srta. Reine, eu estava apenas divagando... estava devaneando, talvez até mesmo

filosofando, de como o mundo às vezes se parece com um imenso Jardim...O velho Árthur, então, convida Você para ir tomar chá no interior da Mansão. Eles

partem do jardim. Enquanto se afastava, adentrando a Mansão, Reine fala para Árthur:- Querido Árthur, pode providenciar, mais uma vez, os nossos belos cartões da Távola

Redonda, para amanhã à noite?

- Perfeitamente, Srta. Reine! Nada me agrada mais do que ser-lhe útil!- Um cavalheiro gentil como sempre! Obrigada, Árthur!Nesse momento, Seléne, a jovem que estava junto de Reine, berra:- Espera, vovô Árthur! Eu o ajudo! Eu adoro arrumar esses cartões com você!

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- Oh, Srta. Seléne, você está cada vez mais parecida com sua mãe no dia em que elachegou aqui, vinda de Paris, nos idos de 1890... eu já lhe contei como foi? Foi assim...

E então Árthur, Seléne e Você entraram na Mansão. E Reine...E Reine fica a sós, no pórtico do jardim...Ela toca o pórtico, melancolicamente... e senta-se naquele banco, em que tantas vezes

já sentou-se, tão solitária, nas últimas décadas...Reine então lembra-se da frase que Éxis lhe havia dito quando a abraçou, naquele

distante dia em que ela estava tão desesperada após sofrer sua Sessão de Regressão...Aquela terna e carinhosa frase... “Eu sempre estarei aqui, de um jeito ou de outro” ...De repente, Reine sente-se como que se fosse abraçada por um par de asas invisíveis,

de plumas muito macias, muito iluminadas e muito calorosas... um abraço infinitamente repletode carinho e Amor... um velho, gostoso e conhecido abraço...

Reine suspira, sentindo aquele abraço tão amoroso... e a Bruxa sussurra uma únicapalavra:

- Éxis...

FIM

Caríssima leitora e caríssimo leitor!Se após ler meu livro você quiser entrar em contato comigo, então escreva para mim!

Meu e-mail é [email protected] Visite também meu blog: asbruxasnasletras.blogspot.com

Um abração do Alex!