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ISSN 2177-8892 1903
RELAÇÃO DE GÊNERO NA PRÁTICA DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Anny Caroline Dos Santos Rocha*
Graduada em Pedagogia (UEMA)
INTRODUÇÃO
Desde o início da humanidade existem diferenças nas relações de gênero, ou
seja, homens e mulheres possuem papéis distintos. Sendo assim quando as crianças
nascem são determinadas a seguirem estereótipos que determinam suas atitudes e
comportamentos em meio ao contexto social.
A família e a escola possuem papéis fundamentais que auxiliam na formação da
identidade do indivíduo. Ressalta-se a educação infantil sendo uma das fases que se
inicia o processo de aquisição de experiências, trocas de conhecimentos, além da
criação de novas relações entre os sujeitos, influenciando na formação da personalidade
e promovendo o desenvolvimento integral das crianças.
Podemos observar que não são as características biológicas dos sujeitos que
determinam seu papel na sociedade, mas sim as maneiras que elas são representadas e
valorizadas, determinando assim o que é pertencer ao sexo feminino ou masculino. A
naturalização dos papéis de homens e mulheres é uma construção histórica e a relação
entre o homem e mulher varia no decorrer do tempo. Strey, Lesboa, Prehn (2004, P.29)
“Ser homem/ser mulher é uma construção simbólica que faz parte do regime de
emergência dos discursos que configuram sujeitos.”
Os estereótipos universais são construídos pela sociedade, e vistos como
naturais, sendo uma categoria social e neste ponto o termo gênero busca analisar a
sociedade demonstrando sua organização discriminatória e coberta de diferenças
segundo o sexo de cada sujeito. E no decorrer da vida aprendemos como ser homem e
mulher, seguindo os padrões estabelecidos pela sociedade. O processo de socialização
de gênero começa na fase infantil, ou seja, as crianças são colocadas a seguirem
estereótipos desde cedo.
ISSN 2177-8892 1904
Desde a pré-escola os meninos e meninas são controlados e conduzidos a
seguirem um modelo ideal imposto pela sociedade. É importante que notemos como os
professores da educação infantil agem influenciando muitas vezes sem perceber na
construção das diferenças de gênero, através de suas práticas.
A relação de gênero é vista nos comportamentos de meninos e meninas, desde
pequenos, pois seguem normas e padrões estabelecidos pelo meio social, sendo assim o
significado do termo gênero é imposto socialmente na vida de meninos e meninas
seguindo as expectativas que a sociedade exige.
Ao construir essas analises pretendo descrever os aspectos teóricos de relação de
gênero e educação infantil, e ainda caracterizar as práticas pedagógicas dos professores,
e como seu trabalho na pré-escola influência na construção das identidades de gênero da
criança, contribuindo para a reprodução ou superação do paradigma.
A escolha deste tema surge da observação em como está se dando as práticas dos
professores na educação infantil perante as situações cotidianas que envolvem as
relações de gênero. Os professores ao transmitirem seu conhecimento, precisam refletir
sobre suas práticas no que diz respeito aos comportamentos e as condutas de meninos e
meninas na educação infantil. Portanto é interessante observar como o educador
contribui positivamente ou negativamente para orientar seus alunos a seguirem modelos
e padrões colocados pelo ambiente social como adequados.
Seguindo um estereotipo antigo que determina que meninos precisem ser
valentes brincar de bola, enquanto que meninas devem ser delicadas e brincar de
boneca. Ou seja, desde o nascimento os bebes são tratados de maneira distinta, por
gênero, as imposições são ditas desde quando nascem e a criança se ver “obrigada” a
seguir certos paradigmas. A instituição de ensino e os professores da pré-escola
reforçam e reproduzem situações específicas para cada gênero resultando na distinção
entre masculino e feminino.
Busco discutir as maneiras que meninos e meninas são colocados na pré-escola
com papéis determinados pela sociedade, observando e fazendo as interpretações da
relação entre professoras e crianças, analisando o que seria “certo” ou “errado” para
cada gênero.
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O trabalho pretende analisar a ação do professor com a relação de gênero na
educação infantil, investigando como meninos e meninas estão sendo educados na pré-
escola. Revelando e interpretando as interações dos educadores com as crianças na
educação infantil.
Para a concretização deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas
relacionadas ao tema, pesquisa de campo, investigando a partir do discurso as ações dos
professores da educação infantil em três creches pré-escolar da rede municipal de
Caxias-MA.
Como base teórica para a realização dessa pesquisa buscou-se os autores: Louro
(1997) que me auxiliou no embasamento para compreender o surgimento do termo
gênero; Auad (2006) discute a ideia das práticas escolares, e trabalha a questão dos
estudos feministas tratando sobre a questão da igualdade entre meninos e meninas no
ambiente escolar; Rego (1995) ao falar de Vygotsky cita que o desenvolvimento do
comportamento do individuo ocorre através da interação com a cultura, ou seja, a
criança se desenvolve e aprende através das interações sociais e com o contato com
outras pessoas; Brandao (1995) destaca a questão de que todos os sujeitos são alvos do
processo educativo, vivem aprendizagens em todos os ambientes (casa, rua, aldeia,
escola). A educação auxilia na criação de ideias, hábitos, costumes, e valores,
socializando ainda o ser humano e é na escola que ocorre as primeiras relações de
gênero; Aranha (1996) onde foca a questão da diferença na educação de meninos e
meninas nas primeiras civilizações.
No primeiro momento são apresentados momentos históricos que tratavam do
estudo do gênero, relacionando-se com o movimento feminista, em seguida destaca a
educação infantil e a relação de gênero, que acontece em todos os âmbitos da sociedade
em especial na escola. Local onde são construídas as relações entre os sujeitos,
ocorrendo dessa forma a reprodução das desigualdades entre meninos e meninas.
A última etapa trabalha-se o papel do professor na educação infantil, visto como
um mediador das ações dos alunos e como um facilitador das transmissões das
diferenças entre os indivíduos.
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1 RELAÇÃO DE GÊNERO ONDE COMEÇOU?
Ao pensarmos na palavra gênero podemos lançar o nosso olhar para muitas
possibilidades, e dessa forma poderíamos questionar, o que seria gênero? Nesse
sentido, a historiadora Joan Scott uma das mais importantes teóricas sobre estudos de
gênero argumenta que, o conceito é utilizado para nomear as relações sociais1 entre os
sexos, além de se tornar uma forma de apontar as construções sociais2.
O termo gênero aponta a ideia sobre os papéis que homens e mulheres devem
desempenhar na sociedade, aplicando em questão a criação social das características
vistas como masculinas e femininas, negando o determinismo biológico.
Pois enquanto gênero se refere à construção do sujeito como sendo masculino ou
feminino, o sexo diz respeito à identidade biológica do indivíduo, não são considerados
sinônimos, portanto, influenciando na aquisição de valores culturais, interpretando as
diferenças sociais entre os sexos, e justificando as práticas de homens e mulheres no
meio social.
Pensando segundo Louro (1997), a desigualdade entre homem e mulher é
construída socialmente e não se dá através da diferença biológica de cada um. Ao se
falar biologicamente das diferenças entre eles, a distinção entre mulheres e homens é
percebida geralmente nas diferenças físicas e comportamentais de cada pessoa. É
importante ressaltar as características biológicas, ou seja, as sexuais que não devem ser
pensadas como peça fundamental no processo de construção do masculino e feminino.
O argumento utilizado para justificar a desigualdade entre os indivíduos é
baseado na distinção anatômica dos sujeitos que demonstra as características
diferenciadas do homem e da mulher. Ao demonstrar que homens e mulheres são
biologicamente diferentes, e que cada um deve desempenhar um papel, observamos que
a distinção biológica tem como objetivo justificar a desigualdade existente entre
masculino e feminino no contexto social. Como a autora Daniela Auad cita em sua obra:
1 Em Ciências Sociais, relação social refere-se ao relacionamento entre indivíduos ou no interior de um
grupo social. 2 Construção social é qualquer entidade institucionalizada ou artefato num sistema social "inventado" ou
"construído" por participantes numa cultura ou sociedade particular, e que existe porque as pessoas
concordam em agir como se ela existisse de facto ou seguem determinadas normas. Um exemplo de
constructo social é o status social.
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“[...] as característica e diferenças anatômicas são enxergadas, percebidas e valorizadas
do modo como são, e não de outro modo, graças à existência das relações de gênero
socialmente construídas. ”(P.21, 22)
Ser homem ou mulher na sociedade significa pertencer ao gênero masculino e
feminino respectivamente, suas diferenças biológicas são interpretadas e percebidas
segundo as construções de gênero que o meio social defende.
Os papéis masculinos e femininos são construídos ao longo da história e a
relação estabelecida entre eles decorre da mesma forma. O papel idealizado ao homem é
o de trabalhar fora de casa e trazer o sustento para a família, sendo detentor do poder,
enquanto que a mulher é subordinada a viver num ambiente doméstico, cuidando da
casa e dos filhos. Como a escritora Alvares cita.
O papel masculino era bem determinado. O homem deveria prover
todo o sustento da família e sentia-se até envergonhado ou fracassado
se não pudesse dar algum luxo para sua mulher e seus filhos. À
mulher, por sua vez, cabia cuidar dos filhos e do lar. Cada um tinha
seu papel bem delimitado e [...]. (2013)
Nessa compreensão podemos perceber que a mulher possui pouco poder
econômico e nenhuma autonomia, sua imagem por muito tempo foi ocultada, e seus
direitos eram limitados, delimitando assim o papel da mulher e do homem na sociedade.
Aos poucos as mulheres iniciavam sua luta contra essa opressão e submissão perante o
homem, e começaram a ser objeto de estudo das feministas. Demonstravam as maneiras
que as mesmas eram tratadas no ambiente social.
Assim o movimento feminista visa superar as desigualdades entre mulheres e
homens, discutindo as questões sociais e políticas colocando fim à insatisfação e
exclusão das mulheres, de muitos países da Europa, Estados Unidos e posteriormente do
Brasil. Esse movimento passou a ter uma relevância significativa, denunciando a
exploração das mulheres em todos os âmbitos sociais como a família e o trabalho.
As estudiosas feministas perceberam a necessidade de criar bases teóricas que
sustentassem estudos sobre a mulher, e assim iniciaram a produção de obras que foram
publicadas em revistas e artigos na imprensa, que passava a ser o principal veículo de
divulgação das ideias feministas. Esses estudos tinham por conteúdo relatos sobre a
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situação que a mulher se encontrava, e seu estado de submissão perante o sexo
masculino.
As construções teóricas, que serão uteis para as mulheres que buscam expressar
socialmente sua liberdade, surgem em meio ao um contexto de grandes transformações
sociais e políticas, como a autora Louro (1997, p, 16) afirma:
É, portanto, nesse contexto de efervescência social e política, de
contestação e de transformação, que o movimento feminista
contemporâneo ressurge, expressando-se não apenas através de grupos
de conscientização, marchas e protestos públicos, mas também através
de livros, jornais e revistas.
Diante disso observamos que as ideias feministas passaram a fazer parte na
imprensa, influenciando ainda mais a participação das mulheres nas manifestações
coletiva que visavam a insatisfação das mesmas. Mulheres desejavam se organizar para
buscar a igualdade no meio social, conquistar cada vez mais sua visibilidade e assim
alcançar sucesso na sua realidade.
Nos estudos de Guacira Lopes Louro essa nova onda do feminismo agita vários
países e chega ao Brasil no meados do século XIX, influenciada pelos movimentos dos
Estados Unidos e Europa. No Brasil as mulheres já lutavam pelos seus direitos e com a
emergência do movimento feminista, reorganizando-se assim vários grupos que
envolviam mulheres em todo o país, neste momento os arranjos políticos e sociais
tinham a participação efetiva das mulheres.
No Brasil a produção de pesquisas que vinculavam os movimentos sociais
femininos, incorporavam as teorias de âmbito internacional. As questões feministas que
eram tratadas em revistas e artigos carregavam em seu conteúdo produção nacional e
internacional.
As estudiosas feministas buscavam demonstrar as condições de vida e de
trabalho das mulheres nas áreas variadas como por exemplos, hospitais e escolas,
pesquisas essas que tratavam das experiências vividas pelas mulheres em situação
perante aos homens.
Neste sentido observamos a grande importância do movimento feminista no
Brasil, como afirmam as autoras Faria e Nobre (1997, p.29) “[...] o movimento
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feminista continua lutando para que cada mulher seja mais independente e tenha mais
autonomia [...] para ter acesso aos meios de produção econômica [...]”.
Dessa maneira, podemos perceber que o foco principal do movimento feminista
era o de propor melhores condições de vida para as mulheres, e sua participação politica
nos vários movimentos sociais.
Após tempos de reivindicações dos grupos feministas que buscavam respostas
teóricas sobre a insatisfação e opressão das mulheres, surge em meio a esse contexto o
termo gênero, criado por elas com o objetivo de analisar a situação em que a mulher se
encontrava no meio social.
O conceito de gênero se entrelaça com o movimento feminista que utilizava o
termo para referir-se a uma maneira de organizar socialmente a relação entre os sexos,
questionando os papéis sociais das mulheres e dos homens. Ressaltando dessa forma a
invisibilidade da mulher no sec. XIX destaca: “É preciso notar essa invisibilidade,
produzida à partir do privado, o mundo domestico, como verdadeiro universo da mulher
já vinha sendo gradativamente rompida por algumas mulheres.”(LOURO 1997 p.17)
Todas as problematizações diagnosticadas pelo grupo feminista colocaram
visíveis as mulheres que anteriormente não tinham direitos, construído assim uma
ciência feminina que desafiava a ciência “normal”, os estudos sobre as histórias das
mulheres e as discussões gerais do feminismo, estabelece um conjunto de conceitos
teóricos que colocava a mulher como objeto e sujeito da produção científica.
Confirmar o caráter social do feminino e do masculino nos diversos aspectos na
sociedade faz com que o termo gênero seja visto de modo nítido nas concepções de
mulheres e homens.
Ao utilizar o conceito de gênero busca-se compreender as diferenças construídas
pela sociedade, nos levando à noção de como se dar o comportamento do indivíduo a
partir dos contrastes existentes na sociedade para além do campo biológico,
determinando a maneira de como ser homem e mulher na sociedade.
Homens e mulheres possuem papéis que são construídos no decorrer da história
e do tempo e modificar-se de acordo com sua cultura. Observamos que desde o
nascimento os bebes são colocados a seguirem certos paradigmas impostos pela
sociedade, a autora Daniela Auad (2006, P.22) destaca:
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[...] no momento em que uma criança do sexo masculino nasce e ouvimos
dizer “É menino!”, assistimos à primeira interpretação de uma série que,
de diferentes formas, moldará as expectativas, as experiências e o modo
como dará a inserção e participação dessa criança no meio social.
Ao identificar o sexo do bebe como sendo menino ou menina, os pais e os
familiares criam expectativas e planos de acordo com o sexo. E desde cedo repassam
conhecimentos de como meninos e meninas devem se comportar, pensar e agir na
sociedade. Ou seja, desde pequenos os meninos percebem que são detentores do poder,
ao brincar livremente na rua e serem valentes e fortes, enquanto que meninas são
direcionadas a seguirem um caminho oposto ao dos meninos e são incentivadas a
brincar de boneca e casinha, reforçando assim o papel de como ser mãe e cuidar de uma
casa.
O feminino relaciona-se com o lado mais frágil, sensível, enquanto que o
masculino é associado à força, coragem, ocasionado uma ideia de oposição entre os
gêneros causando as desigualdades entre os indivíduos.
Dessa forma, percebemos que a relação de gênero é um processo que se dá entre
os indivíduos de ambos os sexos, esse processo ocorre do nascimento ao fim da vida
ocasionando as diferenças entre homens e mulheres.
Apresentando-se como recurso o termo gênero emerge para constituir as relações
sociais que buscam conhecer as diferenças entre homens e mulheres, questionando
como são produzidas as regras e culturas que pertencem aos indivíduos de ambos os
sexos. Como a autora ressalta:
[...] a princípio a distinção biológicas, a diferença entre os gêneros
serviu para explicar e justificar as mais variadas distinções entre
mulheres e homens. Teorias foram construídas e utilizadas para
“provar”, distinções físicas, psíquicas, comportamentais; [...] as
possibilidades e os destinos “próprios” de cada gênero (LOURO, 99,
p.45).
Quando afirmamos que o conceito de gênero propõe o papel social que a mulher
e o homem são destinados a seguir, o termo diferencia a construção social do masculino
e feminino do sexo biológico, como as autoras Faria e Nobre (1997, p.30) citam na sua
obra:
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Esse conceito coloca claramente o ser mulher e ser homem como uma
construção social, a partir do que é estabelecido como feminino e
masculino e dos papéis sociais destinados a cada um. Por isto, gênero,
um termo emprestado da gramática, foi a palavra escolhida para
diferenciar a construção social do masculino e feminino do sexo
biológico.”
É na sociedade que se constroem as ações que reproduzem a desigualdade entre
os sujeitos, sendo assim essa desigualdade não tem respostas somente nas diferenças
biológicas das pessoas, mas também nas relações sociais, históricas construídas por
elas.
E essas relações sociais são construídas a partir das representações que ao longo
da história vão sendo atribuídas de significados e diferenças para cada sexo. Homens e
mulheres são compostos de características biológicas distintas que são interpretadas de
forma diferentes pela sociedade. “O gênero-como um conjunto de ideias e
representações sobre o masculino e sobre o feminino-cria uma determinada percepção
sobre o sexo anatômico. [...].” (AUAD, 2006, p.21).
Quando consideramos que a relação de gênero passa por um processo de
construção percebemos que com o tempo são consideradas “naturais” as características
femininas e masculinas que são repetidas e praticadas na sociedade por todos os
sujeitos.
Os papeis sociais de homens e mulheres são pré-determinados, como a autora
(LOURO, 1997, p.24) destaca: “Papéis seriam basicamente padrões ou regras
arbitrárias3 que uma sociedade estabelece para seus membros e que definem seus
comportamentos, suas roupas, seus modos de se relacionar ou e se portar...”.
Ou seja, a sociedade impõe regras e modelos que devem ser seguidos
cotidianamente e visto como algo natural, sendo transmitida de geração a geração,
considerando o que seria adequado ou não para uma mulher ou homem numa sociedade.
As pessoas agem conforme com o que está sendo colocado para elas, absorvendo
assim características masculinas e femininas, contribuindo para a construção das
identidades de gênero. O conceito possibilita ver o que existe de comum nas mulheres e
3 Que depende do capricho de alguém: decisão, medida arbitrária.
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homens, buscando a homogeneização, mas reconhecendo suas diferenças e respeitando-
as.
A discussão sobre gênero ganhou mais intensidade no Brasil somente nos anos
80, pois o termo foi sendo utilizado e pensado pelas feministas, como parte da
construção da identidade do sujeito no âmbito social. Louro afirma que cada indivíduo
possui sua identidade particular, diferenciando-se uma das outras representando homens
e mulheres, e a pretensão seria entender o termo gênero como constituinte da identidade
dos indivíduos:
Ao afirmar que o gênero institui a identidade do sujeito (assim como a
etnia, a classe ou a nacionalidade, por exemplo) pretende-se referir,
portanto a algo que transcende o mero desempenho de papéis a ideia é
perceber o gênero fazendo parte do sujeito, constituindo-o (LOURO,
1997, p.25).
A autora ressalta que o termo gênero estabelece a identidade do indivíduo,
pretendendo ultrapassar a ideia de que sujeitos desempenham certos papéis, e que ao
longo do tempo esse papel vai sendo reafirmado, destacando as diferenças entre os
indivíduos.
Ao se falar sobre identidade do indivíduo percebemos que sua construção se dar
através das relações que ele mantém com o meio, existe, portanto uma visão de que as
pessoas devem agir conforme as características que são impostas pela sociedade, mas as
pessoas assumem identidades diferentes em diferentes momentos como Stuart Hall
ressalta em sua obra: “Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em
diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente
deslocadas.” (HALL, 1987, P.13)
Ou seja, a identidade não é determinada biologicamente, mas sim socialmente e
no decorrer da história, são através das ações que são realizadas no meio social que
compreendemos o que é ser homem ou mulher, essa ideia nos permite pensar que o
termo gênero é uma construção social.
Dessa forma ao falar da identificação do sujeito, destacou-se a ideia de que o
individuo não possui uma identidade fixa e permanente, mas está disponível à mudanças
conforme as necessidades e relações mantidas, transformando-se continuamente no
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decorrer do tempo, a identidade é construída historicamente e não biologicamente, uma
vez que a identidade tende a mudar de acordo com a maneira que o indivíduo é
representado no meio social. Para Louro “compreendemos os sujeitos como tendo
identidades plurais, múltiplas; identidades que se transformam que não são fixas ou
permanentes, que podem, até mesmo, ser contraditórias.” (1997, p.24)
Ao analisar que o termo gênero é uma construção social, observamos o
comportamento dos sujeitos a partir das diferenças sociais que são estabelecidas no
processo de construção do indivíduo, o gênero interpreta as experiências vividas pelas
pessoas, para além da explicação biológica. Ao se falar em gênero de alguma maneira
remete-se ao termo da sexualidade, mas devemos compreender a diferença existente
entre eles, muitas vezes na sociedade esses conceitos são confundidos.
Ao se falar da sexualidade, podemos compreendê-las como a vivência dos
desejos, vontades e prazeres do indivíduo, ou seja, é uma “invenção social” utilizada
para regular e compreender os conhecimentos com o corpo e assim criar formas
culturais sobre a sexualidade.
Assim, o termo sexualidade interliga-se com o conceito de sexo, que caracteriza
anatomicamente as diferenças entre mulheres e homens, ou seja, essas identidades
sexuais caracterizam como cada indivíduo vive sua sexualidade da maneira que lhe
satisfaz. Nesse sentido [...] tanto na dinâmica do gênero como na dinâmica da
sexualidade as identidades são sempre construídas, elas não são dadas ou acabadas num
determinado momento. (LOURO 1997 p 27)
A identidade sexual e de gênero, estão em constante transformação, ou seja, os
sujeitos constroem suas identidades através das relações sociais estabelecidas, formando
assim sua identidade de gênero.
A relação entre o masculino e o feminino se dá através da situação de um
indivíduo ser dominante enquanto o outro é dominado, ressaltando nas respectivas
funções em meio à sociedade, seguindo dessa forma perfis que são considerados
padrões no campo social, e o termos gêneros se produzem através das relações de poder
de um sobre o outro.
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A questão do feminino e masculino deve ser desconstruída, pois essa relação é
de caráter dicotômico e polarizado4, supondo que a relação entre eles é vista como
sendo polos opostos que se relacionam de forma que um é dominante e outro dominado.
Assim, a construção do gênero ocorre historicamente e não tem fim, pois estão
constantemente mudando. Ou seja, quando se fala sobre a desconstrução das
dicotomias5, venho problematizar a constituição de cada polo, pois cada um tem sua
singularidade, mas não é único, na verdade o polo masculino contém o feminino e vice-
versa.
A desconstrução das dicotomias nos faz perceber através da mesma lógica outros
exemplos como: “razão e sentimento”, “homem e mulher”, “menina e menino”, teoria e
prática, correspondendo assim a uma eterna oposição dos elementos. A lógica
dicotômica defende que os sujeitos que fazem parte dessa ideia não são apenas mulheres
e homens, mas sim mulheres e homens de idades, raças e classes distintas. O termo
gênero supera as dicotomias e demonstra que tanto homens como mulheres fazem parte
do mesmo universo.
Mulheres e homens estão envolvidos na mesma esfera social, e a
desnaturalização do papel que homens e mulheres desempenham, devem sofrer
mudanças para que se compreendam as relações entre eles, e também seu papel na
construção das relações sociais.
E para que ocorra essa desnaturalização dos papéis de homens e mulheres, a
escola sendo reprodutora da educação se ver diante de fatos sociais, divisões de classes,
dominação de uns sobre os outros, implica na discussão sobre a relação de gênero
carregada de preconceitos, mas mesmo assim a escola deve permanecer a serviço da
comunidade como ferramenta de transformação.
Ao pensar de forma epistemológica6 as questões de gênero, de certa forma é um
exercício que rompe com os preconceitos e com o pensamento dicotômico existente na
sociedade.
4 Tem a ver com divisão, separação. Diferentes, assemelhados, parecidos.
5 Tipo de classificação cujas divisões ou subdivisões possuem somente dois termos.
6 Surge do termo: Epistemologia, também chamada de teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que
trata da natureza, das origens, fontes, limitações e critérios de conhecimento.
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2 RELAÇÃO DE GÊNERO E O PROFESSOR DA PRÉ-ESCOLA
A escola assume funções complexas, para além do campo pedagógico como
também o político e social, a instituição de ensino tem a função importante na
construção da identidade de cada indivíduo que frequenta seu interior, mas é
principalmente na educação infantil que essa construção se inicia, através das práticas
dos professores, onde meninos e meninas tem seu primeiro contato com um ensino
formal.
Nos primeiros anos de vida escolar as instituições fabricam, ou seja, produzem
representações étnicas, de classe e gênero fazendo com que os alunos sigam essas
representações que fazem parte de seu processo de formação. Através dessas
representações as diferenças são legitimadas, e a escola naturalmente contribui para a
promoção e reprodução de desigualdades de gênero. Como ressaltam Santos e Souza no
trecho de sua pesquisa:
O sexismo, preconceito referente ao sexo se encontra presente na
educação e no cotidiano através de algumas ações, seja por meio da
linguagem, nos livros, nos gestos, que de maneira muito singular
acabam por distanciar meninas e meninos, reforçando as diferenças e
desfavorecendo a igualdade de gêneros ( 2010, P.5).
Neste primeiro momento é importante reconhecer e valorizar o trabalho do
professor, o mesmo através de suas ações possibilita que se construa a identidade de
cada criança. Além de atuar e promover inúmeras situações em que sujeitos venham
reconhecer e seguir determinadas regras impostas pelo ambiente social.
Diante disso é importante que consideremos que os professores são peças
fundamentais na construção da identidade de gênero, pois através de suas práticas o
indivíduo segue as normas ditadas, ou superam as barreiras impostas pela sociedade.
O professor que trabalha na educação infantil deve constantemente refletir sobre
sua pratica que se relaciona ao processo de aprendizagem das crianças na educação
infantil. Suas atitudes influenciam no desenvolvimento da criança de forma integral,
contribuindo no crescimento das potencialidades e na apropriação do conhecimento.
Nesta perspectiva relacionada ao desenvolvimento humano, destacam-se as teorias de
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Vygotsky que defende a ideia da relação indivíduo e sociedade, ou seja, todas as
características que pertencem aos indivíduos não são criadas desde o seu nascimento,
mas resulta da interação do homem e o meio social. O processo de desenvolvimento é
socialmente construído no decorrer do tempo como frisa a autora REGO ao cita
Vygotsky: [...] , quando o homem modifica o ambiente através de seu próprio
comportamento, essa mesma modificação vai influenciar seu comportamento futuro
(1995, p.41).
Seguindo essa premissa, observa-se que a criança desenvolve suas aptidões
estabelecendo vínculos com outros indivíduos e descobrindo-se como sujeitos sociais
capazes de explorar o mundo, adquirindo valores que servem de subsídios para a
formação da identidade e a formação do gênero.
Pois a educação infantil incorpora de forma integrada as funções de cuidar e
educar as crianças pequenas considerando seu contexto social e cultural. Dessa maneira
as relações estabelecidas entre o indivíduo de classe, raça e gênero distintos
desencadeiam a aquisição de conhecimentos nas crianças, favorecendo um
desenvolvimento completo e necessário para a construção da sua identidade.
Ou seja, é necessário que o professor transmita para o aluno valores a serem
incorporados, que são permeados pelas diversidades e diferenças de cada um. Como o
Referencial Curricular na Educação Infantil defende: “começando pela diferença de
temperamento, de habilidades e de conhecimento, até as diferenças de gênero, de etnia e
de credo religiosos, o respeito a essa diversidade deve permear as relações cotidianas.”
(P.41 V.2).
Diante do que foi dito, o papel do educador é transmitir através de suas atitudes e
práticas os valores de igualdade e respeito entre indivíduos que são de sexos distintos. O
professor não deve repassar ao educando padrões estereotipados em relação ao papel
que homem e mulher devem exercer e assumir no âmbito social.
É recomendável que o professor ao trabalhar a relação de gênero utilize seu
conhecimento para compreender as variadas situações que envolvem respeito. A ação
do professor é de ser um mediador, o mesmo busca mediar as relações que são criadas
pelas crianças com o mundo ao seu redor, auxiliando dessa forma no processo de
integração entre meninos e meninas.
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O papel mediador do professor interfere diretamente nas interações entre as
crianças e a sociedade. O professor nas suas práticas deve buscar meios para valorizar o
respeito entre homem e a mulher estabelecendo um diálogo com as crianças
demonstram através de suas ações em sala de aula os valores de igualdade e respeito
entre os sujeitos de sexos distintos, como no Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil destaca: “(...) a identidade de gênero, a atitude básica é transmitir, por
meio de ações e encaminhamentos, valores de igualdade e respeito (...) e permitir que a
criança brinque com as possiblidades relacionadas tanto ao papel de homem como ao da
mulher.” (V.2 p.42)
Nesse sentido cabe ao professor planejar ações importantes e eficazes que sejam
capazes de romper com os estereótipos existentes e que são vinculados na criança desde
o nascimento. O comportamento da criança é construído através das influências
recebidas pela sua temperamento, de habilidades e de conhecimento, até as diferenças
de gênero, de etnia e de credo religiosos, o respeito a essa diversidade deve permear as
relações cotidianas.” (P.41 V.2).
Diante do que foi dito, o papel do educador é transmitir através de suas atitudes e
práticas os valores de igualdade e respeito entre indivíduos que são de sexos distintos. O
professor não deve repassar ao educando padrões estereotipados em relação ao papel
que homem e mulher devem exercer e assumir no âmbito social.
É recomendável que o professor ao trabalhar a relação de gênero utilize seu
conhecimento para compreender as variadas situações que envolvem respeito. A ação
do professor é de ser um mediador, o mesmo busca mediar as relações que são criadas
pelas crianças com o mundo ao seu redor, auxiliando dessa forma no processo de
integração entre meninos e meninas.
O papel mediador do professor interfere diretamente nas interações entre as
crianças e a sociedade. O professor nas suas práticas deve buscar meios para valorizar o
respeito entre homem e a mulher estabelecendo um diálogo com as crianças
demonstram através de suas ações em sala de aula os valores de igualdade e respeito
entre os sujeitos de sexos distintos, como no Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil destaca: “(...) a identidade de gênero, a atitude básica é transmitir, por
meio de ações e encaminhamentos, valores de igualdade e respeito (...) e permitir que a
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criança brinque com as possiblidades relacionadas tanto ao papel de homem como ao da
mulher.” (V.2 p.42)
Nesse sentido cabe ao professor planejar ações importantes e eficazes que sejam
capazes de romper com os estereótipos existentes e que são vinculados na criança desde
o nascimento. O comportamento da criança é construído através das influências
recebidas pela sua cultura, e auxiliam na formação e no comportamento do individuo.
E a escola tem por objetivo transmitir e reproduzir, através de suas práticas
sociais os comportamentos e valores que são ditos adequados e corretos para formar
sujeitos femininos e masculinos. É necessário que se compreenda a interação professor
e aluno, analisando situações que visem à relação de gênero nas práticas escolares do
cotidiano, pois desde os anos iniciais escolares os meninos e meninas são controlados e
conduzidos a seguirem um modelo ideal de acordo com seu gênero.
Dessa maneira o professor em especial da educação infantil deve tomar atitudes
e criar situações que desnaturalize as questões relacionadas ao gênero. E não criar e
reproduzir uma identidade nos indivíduos masculinos e femininos, seguindo modelos
dominantes na sociedade. Sendo assim durante as atividades em sala de aula os
educadores devem interagir com as crianças refletindo sobre as reais implicações que
acontecem na construção da identidade de gênero.
As crianças não nascem sabendo das normas ditadas pela sociedade, mas no
decorrer do tempo são colocadas a seguirem modelos e padrões que são ditos naturais
para cada sexo. E a escola sendo uma instituição de caráter fundamental na formação da
identidade de gênero do sujeito, busca nos profissionais que atuam nessa fase a postura
de um ser reflexivo. Ou seja, aquele que trabalhe com as questões interligadas a relação
de gênero, superando os paradigmas que prevalece sobre o masculino e feminino, de
forma a refletir sobre suas ações em sala de aula.
É importante que o professor da educação infantil reforce a ideia de que os
indivíduos independentemente de seu gênero se relacionem da mesma forma sem que
haja distinção quanto ao seu sexo, as professoras devem incentivar e discutir os
comportamentos de meninas e meninos, para que não ocorra a distinção entre eles,
buscando o respeito.
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Dessa maneira percebemos que é fundamental o papel do professor no
desenvolvimento individual do educando. Ainda é muito presente as práticas sexistas no
campo escolar, local onde as relações são estabelecidas e uma delas a relação de gênero,
ocasionando assim as diferenças dos comportamentos de meninos e meninas.
O professor ao educar meninos e meninas, deve perceber que desde sempre as
diferenças educacionais estão presentes, pois ambos são educados de maneira
diferenciada, de modo que seu desenvolvimento os torne sujeitos distintos de acordo
com seu gênero.
No decorrer das práticas sociais meninos e meninas são expostos a construção
sociais que os direcionam a seguirem padrões, portanto é de suma importância que o
professor reflita sobre suas atitudes como a autora LOURO(1997) frisa: “Temos de estar
atentas/os, sobretudo, para o sexismo, o racismo e o etnocentrismo que ela
frequentemente carrega e institui. ”(P.64)
É preciso que os educadores se atentem para a forma que utilizam sua linguagem
em sala de aula, pois a mesma carrega inúmeras diferenças, e está presente na maioria
das práticas executadas.
Diante disso o professor deve estar em constante reflexão, pois sua prática
influência na aquisição do conhecimento e na propagação das diferenças de gênero.
Envolvidos nessas práticas escolares o professor da educação infantil consagra diversas
expressões que são carregadas de práticas sexistas.
Professores tem o desafio de adotar uma postura reflexiva diante das
desigualdades e preconceito que surgem em meio as questões escolares. Oliveira
destaca: “Cabe, pois ao professor, com seu olhar atento seguro e disponível,
acompanhar as diferentes formas pelas quais a criança, desde o nascimento, se indaga
sobre o mundo e sobre ti mesma [...].” ( 2007,P.51)
Assim a formação das novas gerações, não tem por ideia o “adestramento” das
crianças para comportamentos ditos correto. Cada criança, independentemente de seu
credo, raça, etnia e gênero devem ser respeitadas, e o professor devera trabalhar a
igualdade entre os indivíduos.
Como parte integrante do processo educativo o trabalho do educador é preparar
os alunos para sua participação na sociedade. Como Libânio ressalta em sua obra:
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Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no
desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará-lo
para a participação ativa, transformadora nas várias instâncias da vida
social. Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa
sem sociedade (1994 p17).
Dessa forma a ação educativa é um processo que compreende na participação
ativa dos indivíduos, tornando-os aptos a vida social.
E o trabalho docente tem a responsabilidade de preparar o educando para se
tornar um cidadão capaz de participar ativamente da sociedade, na vida política e
cultural. O professor sendo um mediador promove as condições e os meios para que o
aluno de desenvolva da melhor maneira possível, além de preparar e orientar alunos
para a formação da personalidade, buscando caminhos para enfrentarem as situações do
cotidiano com uma postura independente.
Para que ocorra uma aprendizagem eficaz e de qualidade o educador combina
objetivos, métodos e conteúdo, tendo em vista a aprendizagem do aluno, observa-se
dessa maneira a influência do professor no processo de socialização das crianças em
sala de aula.
No caso da educação infantil, o professor exerce responsabilidade que são
estreitamente ligadas aos comportamentos das crianças, o professor não transmite ou
ensina somente, mas permeia situações que acontecem no ambiente escolar. E a relação
de gênero se faz presente em meio a essas situações ocorridas na Educação Infantil, e
cabe ao educador propiciar condições que não venham discriminar os meninos e
meninas, para que não cause distinção entre os sexos, e consequentemente uma
discussão acerca do papel que é imposto para meninos e meninas colocando-os como se
fossem de universos diferentes.
Nesta idade dos 0 as 6 anos a criança estar na fase onde utilizam objetos da
maneira como elas enxergam os adultos ao seu redor, ou seja fazem a imitação das
ações.
Em cada etapa de desenvolvimento, a criança adota um tipo de
atividade que permite, dentro das particularidades desse
desenvolvimento, a ampliação de suas qualidades humanas.
Considerando as situações em que observamos as crianças atuando,
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aprendendo e se desenvolvendo, constatamos que as situações que
garantem mais aprendizados são aquelas que envolvem intensamente
as crianças naquilo que estão fazendo: [...] (CARRARA, 2004, p.147).
Diante disso podemos perceber que a criança ao executar uma atividade entre em
contato como mundo ao seu redor, desenvolvendo o pensamento atenção, linguagem, os
traços de caráter e outras habilidades.
Assim o educador juntamente com a escola coordena o processo que foca no
desenvolvimento das habilidades, promovendo dessa forma aprendizagem das crianças.
Tudo que a criança aprende na fazer da pré-escola serve de subsídios para sua
vida adulta, Meninos e meninas são observados e avaliados separadamente e de certa
forma são comparados em certas situações.
Precisamos perceber que existem situações que colocam dois mundos opostos:
masculino e feminino, ou seja, as relações de gênero entre as crianças da educação
infantil participam de representações em que os meninos e meninas são pertencentes a
culturas distintas, onde existe certo contraste que vem refletir nos seus comportamentos.
A prática do professor da educação infantil influência nas ações e decisões que
as crianças executam em seu meio social, o mesmo auxilia na formação da criança para
que possa escolher de maneira crítica e independente os caminhos que ela quer seguir. E
a relação de gênero é algo que ocorre no ambiente escolar, onde existe uma interação
que envolve ambos os sexos num mesmo ambiente e se relacionando juntos.
As questões tratadas na escola podem demonstra as diferenças de gênero no dia
a dia, considerando como o professor age em relação a meninos e meninas, e se
realmente existe diferença no tratamento e na educação. Podemos perceber que as
diferenças entre meninos e meninas é algo que foi construído como a autora cita:
As diferenças entre meninas e meninos certamente não são naturais.
Menina que aparentam meiguice ou meninos que falam aos gritos são
resultados do modo como as relações de gênero foram construídas na
nossa sociedade ao longo do tempo. (AUAD 2006, p.39)
As diferenças são reforçadas muitas vezes pelos educadores através de suas
práticas em sala de aula. Provocando uma educação não igualitária, construindo um
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aprendizado da separação. Além disso, existem várias formas onde os professores
motivam o modo desigual entre meninos e meninas.
Ao lançar nosso olhar para aqueles que participam do processo educativo
escolar, percebemos que são responsáveis pelos comportamentos de seus educandos, se
tornam responsáveis pela aquisição de valores que os mesmos aprendem na escola. Não
é somente na transmissão dos saberes que o professor é importante, mas em como se
darsua maneira seu comportamento, influenciando nas ações que os alunos podem vim a
exercer, servindo como um modelo as ser seguido pelos alunos.
Ele se torna um “especialista da infância”, ele domina os
conhecimentos e as técnicas de ensino, as armas para a conquista das
almas infantis e para a sua vigilância, ele sabe graduar seus
ensinamentos, estimular a vontade, treinar o caráter, corrigir com
brandura-ele é o responsável imediato e mais visível da formação dos
indivíduos. (LOURO, 1997, p.92)
Os docentes possuem, uma autoridade em relação as práticas educativas que são
exercidas, por isso tudo que é transmitido para os alunos são absorvidos. Afinal no
ambiente escolar é que são construídas e reproduzidas as relações entre os indivíduos
masculinos e femininos, ou seja, relações que envolvem a desigualdade entre eles
presentes no âmbito escolar.
Cabe ao professor da educação infantil promover situações que não priorize as
diferenças e preconceitos que são presentes na vida da criança antes de frequentar o
ambiente escolar, ou seja desde o nascimento o menino é determinado a usar roupas nas
cores azuis, enquanto a menina rosa, dessa forma percebe-se que a distinção entre os
sujeitos ocorre de fora precoce.
Neste sentido tudo que ocorre no interior da instituição de ensino ganha
destaque, e o professor é visto como uma representação isto é:
[...], as representações de professoras e professores dizem algo sobre
esses sujeitos, delineiam seus modos e traços, definem seus contornos,
caracterizam suas práticas [...], Professores e professoras- como
qualquer outro grupo social- foram e são objetos de representações
[...] (LOURO, 1997, p.98)
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As representações citadas não podem ser vistas somente como meras descrições
do professor, mas descrições que os constituem e os produzem tendo efeitos sobre esses
indivíduos diretamente, formando sua identidade e personalidade.
Observamos atitudes e ações que geram comportamentos de caráter
discriminatório frequentemente, onde levam meninos e meninas a uma relação de poder,
além de ressaltar que seus papéis são diferentes no ambiente social.
Podemos perceber que as relações de gênero presentes na sociedade, produzem
desigualdades entre os sujeitos. E a educação de meninos e meninas se dar de forma
desigual, pois existem características que são consideradas “naturalmente” femininas ou
masculinas que são valorizadas, segundo a construção social, que contribui para a
promoção e reprodução dessas desigualdades.
Ao considerar as relações de gênero como sendo uma construção social, nos
damos conta que as relações entre homens e mulheres é um processo socialmente
construído ao longo dos anos para deixar mais claro a autora frisa nesse trecho: As
relações de gênero correspondem ao conjunto de representações construída em cada
sociedade, ao longo de sua história, para atribuir significados, símbolos e diferenças
para cada um dos sexos. (Auad, 2006, p.21)
Diante do que foi dito ao considerar as relações de gênero como algo que foi
construído no decorrer da história, percebe-se que o professor da Educação Infantil faz
parte desse processo de construção. O mesmo se ver diante das relações de gênero
constantemente, e suas ações influenciam diretamente nas atribuições das características
ditas femininas, ocasionando dessa maneira a distinção dos sujeitos.
Ressaltando que o processo de educação infantil é um, trabalho que foca na
formação da cidadania, vendo que as crianças devem ser educadas perante a essa
perspectiva, enriquecendo de certa forma sua formação.
Sendo visto como um ambiente adequado para combater os preconceitos e as
diferenças, a Educação Infantil age de forma contrária e passa a ser um local no qual
ocorre um “aprendizado da separação”.
Assim como outras instituições que fazem parte da sociedade, a escola fábrica as
identidades de meninos e meninas e as práticas do educador reforçam os modelos que
são existentes no ambiente social no que diz respeito as aprendizagens sobre as
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maneiras de se comportar, expressar de sujeitos femininos e masculinos. A autora Auad
2006, p.78 destaca:
[...] os sujeitos, meninos e meninas, não são apenas receptores
passivos de imposições externas. Alunos e alunas, de diferentes
modos, reagem, seja ao recusar ou ao assumir, às aprendizagens sobre
o feminino e o masculino propostas implícita e explicitamente nos
processos educacionais.
Fazendo parte do processo educacional, o educador deve observar as ações dos
indivíduos e perceber que elas são importantes para a transformação da realidade dos
mesmos. Ou seja, resistir as desigualdades de gênero e a uma aprendizagem que acentua
a separação de menino e menina.
Cabe a professora refletir sobre sua prática e buscar melhores medidas que
transforme situações escolares, buscando dessa forma objetivos igualitários, métodos
que não trabalhem a distinção entre meninos e meninas.
Dentre essas transformações educativas, estaria a de incentivar a igualdade entre
meninos e meninas, estimulando a interação entre eles. Intervindo em determinadas
situações em que meninos e meninas estejam agindo de forma preconceituosa em
relação ao seu colega de classe.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das pesquisas sobre a relação de gênero nas práticas dos professores da
Educação Infantil, podemos compreender que a família e a escola são espaços onde a
todo o momento as desigualdades estão presentes principalmente as de gênero.
Influenciando na formação do sujeito e estabelecendo as relações sociais que são
construídas, influenciando também diretamente na aquisição de valores.
Ao se falar da relação de gênero e a prática do professor da educação infantil
focamos no papel, sendo visto como um mediador do processo de ensino. Através de
suas práticas geralmente ocorrem a propagação das diferenças entre os sujeito
relacionado ao gênero. No que diz respeito a repassar conhecimentos e saberes ao
educando, o professor reproduz os padrões de homens e mulheres que o meio social
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exige. “Gestos, movimentos, sentidos são produzidos no espaço escolar e incorporados
por meninos e meninas, tornam-se parte de seus corpos. Ali se aprende, a olhar e a se
olhar, se aprende a ouvir, a falar e a calar, se aprende a preferir. Todos os sentidos são
treinados [...] “(Louro, 1997, p.61)
No ambiente escolar e principalmente na educação infantil são executadas e
estabelecidas atitudes sexistas que ocasionam distinção entre meninos e meninas, sejam
através de atividades propostas, brincadeiras, linguagens e a própria prática do professor
que são atravessadas pelas diferenças, percebe-se que a instituição de ensino coloca
regras e padrões que devem ser seguidos pelos alunos que ali frequentam, fabricando
dessa forma as diferenças nos educandos.
É necessário reflexões que conscientize o educador em não reproduzir regras
estabelecidas pela sociedade Nos discursos das professoras pode-se perceber que a
relação de gênero acontece ainda com alguns pontos de preconceito, algumas
incorporam concepções que são rodeadas de diferenças, transmitindo dessa forma
para os seus alunos esses saberes.
De certa forma o educador dissemina os padrões que são colocados pela
sociedade, e reproduzem essas diferenças através de suas práticas pedagógicas. Neste
ponto, cabe ao educador fazer uma reflexão sobre suas práticas e procurar
metodologias para não trabalhar as desigualdades de gênero na pré-escola. Analisando
as entrevista pode-se perceber que ainda existe a distinção em educar meninos e
meninas, para assumirem papéis diferentes no meio social.
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