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RELAÇÃO FAMÍLIA -ESCOLA: UMA PARCERIA EDUCATIVA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE SÂMIA SILVA GOMES FORTALEZA 2005 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE

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RELAÇÃO FAMÍLIA -ESCOLA: UMA PARCERIA

EDUCATIVA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

SÂMIA SILVA GOMES

FORTALEZA

2005

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE

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Sâmia Silva Gomes

RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA: UMA PARCERIA EDUCATIVA NA

PROMOÇÃO DA SAÚDE

Dissertação apresentada ao Centro de Ciências da

Saúde da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, sob

orientação da Profª Dra. Ana Maria Fontenelle Catrib

para obtenção do título de Mestre pelo Curso de

Mestrado em Educação em Saúde.

FORTALEZA – CE

2005

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Sâmia Silva Gomes

RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA: UMA PARCERIA EDUCATIVA NA

PROMOÇÃO DA SAÚDE

Data da Aprovação: ___/___/___

Banca Examinadora:

_________________________________________ Profª Dra. Ana Maria Fontenelle Catrib - UNIFOR

Orientadora

_________________________________________ Profª Dra. Ana Maria Vieira Lage - UFC

Examinadora

_________________________________________ Prof. Dr. Brendan Coleman Mc Donald - UFC

Examinador

_________________________________________ Profª Dra. Simone Cunha Gomes - UNIFOR

Suplente

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DEDICATÓRIA

Ao meu maior Mestre, meu pai Tony.

À minha maior incentivadora, mãe querida, Lucirene.

Ao meu porto seguro, marido que amo muito, Sávio.

Às minhas amadas filhas Sarah e Sabrina.

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AGRADECIMENTOS

Meu agradecimento primeiro, à Deus, criador e renovador de todas as coisas,

sempre presente em minha vida.

No momento em que olho para trás, vejo que, desde a decisão de preparar-me

para a seleção do mestrado, muitos amigos, profissionais e familiares já me

incentivaram, acreditaram na realização de mais este sonho e me apoiaram nos

momentos difíceis de dúvidas, inseguranças e angústia com o tempo, que passou

rapidamente.

Uma Dissertação de Mestrado envolve então muitas pessoas. Numa situação

como essa, agradecer, explicitando o nome de alguns, pode levar-nos a omitir outros

que tenham participado significativamente desta conquista e aos quais somos

profundamente grata. Feita esta observação, externamos alguns agradecimentos

especiais:

? À minha orientadora e amiga, Profª. Dra. Ana Maria Fontenelle Catrib, que, com

confiança, competência e dedicação, soube conduzir-me no desafio da busca por novos

conhecimentos. Sua tranqüilidade foi fundamental. Sou muito grata à Deus por ter me

proporcionado conhecê-la, pois muito aprendi com ela.

? Agradeço de modo muito especial ao meu esposo Sávio, pelo incentivo,

investimento, ajuda, paciência e compreensão durante estes dois anos e sempre.

? Às minhas princesinhas, Sarah e Sabrina, pelas horas de brincadeira e aconchego

que fiquei lhes devendo durante este período.

? Ao meu pai, Tony, pelo seu exemplo de vida, ele é uma luz que me guia neste

caminho para a docência.

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? À minha mãe, por suas orações e apoio nos momentos de cansaço.

? À Profª Dra. Ana Maria Vieira Lage, por sua ajuda durante este caminho, desde o

exame de qualificação e pela seriedade com a qual avaliou nosso trabalho.

? Ao Prof. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, por ter aceito o convite para ser membro

da banca examinadora e ter contribuído para o engrandecimento desta pesquisa.

? À Universidade de Fortaleza, na pessoa do Vice-Reitor de Graduação, Prof.

Wilhelmus Jacobus Absil – Prof. Gil, pela autorização concedida para que

realizássemos a pesquisa.

? À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico (FUNCAP) pelo

apoio financeiro concedido à este estudo.

? Aos docentes do Mestrado em Educação em Saúde, em especial à Profª Dra.

Raimunda Magalhães, coordenadora do Mestrado, pelo aprendizado pautado em sua

experiência e pelo seu incentivo e à Profª Dra Marilyn Kay Nations, pela luz que nos

acendeu no momento de decisão do ambiente da pesquisa.

? Aos colegas que conheci durante o Curso de Mestrado, em especial à amiga Lídia

Andrade Lourinho, pelas trocas de conhecimento, momentos divertidos de lazer e pela

certeza que muito ainda iremos desenvolver juntas. Ainda à amiga Sandra Rosane

Sampaio Gonçalves, pela sua amizade, confiança e carinho.

? Aos informantes pais e profissionais um especial agradecimento pela disponibilidade

e contribuição com a riqueza de dados fornecidos.

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RESUMO

Família e escola constituem os dois principais elos do processo educativo. Os efeitos de uma relação entre essas instituições, sejam positivos ou negativos, se perpetuam de forma significativa tanto no seio familiar como no ambiente escolar. Este estudo descritivo de abordagem qualitativa teve como objetivo compreender como se tem dado a relação Família-Escola nas instituições de ensino particular de Fortaleza, nas séries correspondentes ao Ensino Fundamental II. Realizamos a investigação na perspectiva de que esta relação, quando bem vivida, promove a saúde de todos os envolvidos. A coleta de dados foi realizada através da técnica de entrevista com roteiro semi-estruturado, tendo sido aplicada a pais de alunos e a profissionais da área de educação. A análise de dados teve como referência a análise categorial temática, da qual emergiram cinco categorias que foram discutidas no âmbito deste estudo: influência da equipe técnico-pedagógica na qualidade da relação; ausência de atendimento humanizado na escola; relação centrada na solução de problemas; repasse de responsabilidades entre as partes e dificuldade em manter um efetivo canal de comunicação. Os resultados revelaram que o cuidado com esta relação é atribuído muito mais à escola do que à família; que à equipe técnico-pedagógica é atribuída a tarefa de elaborar estratégias na construção desta relação; que os pais desejam que a escola ofereça um serviço mais humanizado com um olhar voltado às necessidades de cada família; que esta relação é perpassada na maioria das vezes por um conflito e na busca de uma solução costuma acontecer um repasse de responsabilidades, no qual cada parte atribui à outra a origem do problema; e também a responsabilidade por uma intervenção efetiva. A comunicação entre as partes encontra -se comprometida, dificultando que uma real parceria se instale. Tanto escola como família possuem dificuldade para se expressarem de forma autêntica e espontânea. Concluímos a investigação certos de que sistematizamos um conhecimento sobre a interação família-escola, oferecendo subsídios para que esta seja vista na ótica da promoção de saúde e assim a escola possa cuidar mais de suas relações, revertendo esta realidade. Palavras-chaves: Família. Escola. Promoção da saúde.

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ABSTRACT

Family and Scholl are the two essential links of educative process. The effects from a relationship between these institutions, as been positive or negative ones, perpetually been in a significant way, as at the familiar space, as at the scholar surrounding. This descriptive qualitative approaching study had as objective to comprehend how it is going the relation Family-School at the Fortaleza, Ceará, Brazil’s Private Teaching institutions on the grades corresponding to the High School Level, which is called in Brazil as Second Fundamental Teaching level. We did this investigation considering the perspective that this relationship, when it is well lived, promotes everyone’s involved health. Data collecting was done by the interviewing technique according to a semi-structured script, and had been applied to students’ relatives and to the professionals from education area. The data analysis had as reference the thematic categorical analysis technique, from that had been emerged 5 categories that were discussed into the study ambit: influence from the technical-pedagogic team on the relationship quality; absence of humanized caring at School; relationship centered on the problems’ solving; paying it forward of responsibilities between parts and difficult to maintain an effective communication channel. The results revealed that the caring with this relationship is attributed, more to school than to the family, as also, evidenced that is attributed to technical-pedagogic team the task of create strategies in this relationship construction, showed that the relatives desires that the School needs to offer a more humanized service focused on each family needs, cleared up that this relationship is affected, in the most of times, by a conflict, in which, during the solution’s seeking process, it is common to happen a responsibilities transfer, in that, each part attributes to the other one the problem’s origin and those results still expressed the responsibility for an effective intervention. The communication between both parts is damaged, making difficult the effective and real partnership installation. School and family, both of them, have difficulties to express themselves on authentic and unworried way. We concluded this research totally certain that we have systemized some knowledge about family-school interaction, offering subsidies to permit its seeing into the health promotion’s point of view in order to school becomes capable to take care more about for its own relations, reverting this reality.

KEY WORDS: Family, School, Health Promotion

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SUMÁRIO

O desejo de compreender o problema da relação família-escola ...........................11

1 Escola e a Família: os principais elos da educação .............................................16

1.1 As relações familiares no curso da história ..............................................................16

1.2 A quem compete educar? ........................................................................................16

1.3 A relação família-escola e suas implicações ............................................................22

1.4 A relação que promove saúde ..................................................................................27

2 A trajetória percorrida na pesquisa .........................................................................47

2.1 Elegendo o tipo e a abordagem do estudo ...............................................................47

2.2 Descrevendo o ambiente ..........................................................................................49

2.3 Selecionando os participantes ..................................................................................51

2.4 Coletando dados ......................................................................................................52

2.5 Analisando informações ...........................................................................................54

2.6 Enfatizando a ética na pesquisa ..............................................................................57

3 O aluno no meio do fogo cruzado: a relação família-escola a partir da visão

dos envolvidos .......................................................................................................58

3.1 Conhecendo os Informantes Pais ............................................................................58

3.2 Conhecendo os Informantes Profissionais ...............................................................62

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3.3 A realidade institucional em que acontece a relação família-escola ........................66

3.4 Desafios e desencontros revelados a partir de categorias de análise .....................69

3.4.1 Influência da equipe técnico-pedagógica na qualidade da relação .......................70

3.4.2 Ausência de atendimento humanizado na escola .................................................85

3.4.3 Relação centrada na solução de problemas .........................................................94

3.4.4 Repasse de responsabilidades entre as partes ....................................................98

3.4.5 Dificuldade em manter um efetivo canal de comunicação ..................................110

Os caminhos construtores de uma relação saudável ............................................122

Referências ..................................................................................................................127

Apêndices .....................................................................................................................132

Anexos ..........................................................................................................................136

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O DESEJO DE COMPREENDER O PROBLEMA DA RELAÇÃO

FAMÍLIA-ESCOLA

Este estudo possui como tema a relação estabelecida entre as instituições de

ensino particular e as famílias de seus alunos. O tema foi escolhido devido à

experiência vivida junto a famílias como psicóloga e psicopedagoga, tanto no ambiente

clínico como no escolar. Tais vivências deixaram percepções advindas dos dois pólos

desta relação: tanto a visão da escola, como a da família.

No papel de membro técnico de escolas particulares de Fortaleza, sempre senti

uma tensão presente na relação mantida com os pais e, a preocupação para que eles

estivessem satisfeitos com a escola nos deixa sempre em alerta. Sentimos falta de suas

presenças às reuniões quando são pela escola convocados. Procuram mais a escola

quando querem fazer reclamações de alguma ordem ou para tratar de questões

financeiras. O que eles mais se queixam conosco é de terem acesso restrito aos

professores, no caso dos pais de alunos de Ensino Fundamental II – recorte deste

estudo. Sentimos ainda falta de suas presenças no acompanhamento do rendimento

escolar dos alunos. Quando estamos diante de alunos com baixo rendimento,

chamamos os pais para conhecermos melhor a realidade familiar, e muitos deles não

comparecem.

Já no consultório de psicologia e psicopedagogia, quando recebemos pais de

crianças e jovens com queixas voltadas para a questão escolar, o que comumente nos

deparamos é com uma relação desgastada entre escola e família. A família chega ao

consultório na maioria das vezes porque foi encaminhada pela escola para uma

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avaliação, mas questiona se ela é realmente necessária, ou se é uma forma de a

escola “se pôr de fora” da problemática. Sabemos que isso às vezes pode ocorrer, mas

em muitos casos a avaliação é necessária e a família resiste a essa necessidade,

culpando a escola. Pais também se queixam de serem cobrados pela escola a oferecer

determinado acompanhamento que a eles não é possível, ora por questões de

disponibilidade de tempo, ora por uma questão operacional, considerando que eles não

sabem acompanhar os estudos dos filhos, pois quando aprenderam não era da mesma

forma que hoje é ensinado.

Observamos ainda que quando a dificuldade de uma criança ou adolescente se

evidencia, a primeira reação de muitos pais é pensar em mudar de escola, o que

sinaliza que a relação mantida entre a família e a escola muitas vezes não é convidativa

para um diálogo aberto e produtivo, reconhecida como uma possibilidade de saída para

a dificuldade do aluno. Pais se mostram por vezes tímidos em questionar a escola e

essa, por sua vez, fica cuidadosamente falando o que tem percebido no aluno e delega

aos pais o papel de resolver tal problemática.

Desta forma, na nossa experiência com a temática, sempre sentimos essa

relação muito permeada por melindres. Pretendemos pois ampliar tais percepções com

um estudo mais aprofundado que leve à compreensão dos reais fatores que perpassam

essa relação.

O estudo será realizado tomando-se como referência a Educação em Saúde e

o que fundamenta essa inserção é a concepção de que a escola é um espaço

privilegiado para que se trabalhem as diferentes necessidades de saúde, não só dos

alunos, mas da sociedade como um todo. E ainda uma ampla concepção de saúde,

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como acentuam Barroso et al (2003) comentando sobre dados da Carta de Ottawa,

fruto da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde:

A saúde é construída e vivida pelas pessoas dentro daquilo que fazem no seu dia-a-dia, onde elas aprendem, trabalham, divertem -se e amam. Neste sentido, a escola como elemento de transformação social será capaz de mobilizar ações que concretizem os ideais da promoção da saúde para alcançar a eqüidade. Entendemos que quando a escola se descobrir como um espaço democrático, onde professores, alunos e família se eduquem mutuamente, será possível a socialização da promoção de saúde. (p.42).

Vários são os propósitos de uma boa relação família-escola, dos quais

podemos citar alguns: família e escola precisam estar afinadas quanto ao tipo de

formação que querem oferecer às crianças e aos jovens; a família precisa estar ciente

do desenrolar das atividades pedagógicas e do desempenho de seus filhos; a escola

precisa conhecer o contexto familiar e social no qual o aluno está inserido para melhor

lidar com seu processo de aprendizagem; a escola passa a ser a extensão do lar para

seus alunos, pelo tempo que permanecem no espaço escolar, e dentro da perspectiva

de uma educação promotora de saúde, maior força adquire essa relação. Através da

relação entre família e escola pode-se promover, pouco a pouco, a transformação da

realidade, partindo de mudanças pessoais, nas relações, para enfim atingir mudanças

sociais.

No entanto, o que se tem percebido é um distanciamento nesta relação. As

mudanças na estrutura econômica, social e, conseqüentemente, cultural, implicaram em

mudanças nos papéis parentais. Nas sociedades capitalistas industrializadas é exigida

aos pais a participação ativa no sistema produtivo, deixando-os fora do lar por muitas

horas. A responsabilidade da criação dos filhos está cada vez mais dividida, não só

entre os pais, mas também com babás, avós, outros parentes e, principalmente, com

creches e escolas.

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Cada vez mais cedo os pais estão delegando à escola o papel não só de

informar, mas também de formar seus filhos. O grande desafio dos profissionais da

escola é fazer com que os pais deleguem, mas não abdiquem deste papel. A

expectativa que os pais possuem frente ao desempenho escolar dos filhos é muito

grande. Os pais querem receber um retorno do investimento alto que fazem nos

estudos dos filhos desde cedo. Esta expectativa em relação ao desempenho escolar

sendo grande, significa que este desempenho assume cada vez mais importância na

vida da família. O contato que a família tem mantido com a escola está muito voltado

para esta expectativa: Se o desempenho é positivo, não há necessidade de contato

família-escola; caso não esteja sendo conquistado um bom desempenho escolar pelo

aluno, sua família é chamada a comparecer à escola.

Família e escola precisam caminhar juntas. Isso já virou jargão e “slogan” de

muitas escolas, porém a realidade não é bem essa. A escola não vê com bons olhos

interferências familiares em suas decisões pedagógicas e a família nem sempre aceita

as orientações de caráter formativo da escola. Buscamos, com o estudo, responder as

seguintes indagações: 1) Como se dá a Relação Família-Escola, na ótica dos familiares

e dos profissionais? 2) Esta relação tem possibilitado a escola atuar como promotora de

saúde? Pretendemos ouvir pais de alunos e profissionais que atuem em escolas da

rede particular de ensino da cidade de Fortaleza para compreender melhor que

aspectos têm mantido tão distante e tão frágil essa relação que se faz tão importante, e

desta forma poder contribuir para que medidas sejam tomadas na busca de um vínculo

mais próximo e mais autêntico que concretize os pressupostos da promoção da saúde.

O objeto de investigação deste estudo foi a relação mantida entre família e

escola, nas séries correspondentes ao Ensino Fundamental II, pelo fato de que

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acreditamos ser esse corte mais relevante. A relação família-escola na educação infantil

e Ensino Fundamental I (1ª à 4ª série), geralmente é mais próxima, pelo simples fato de

que a faixa etária das crianças suscita a presença da família periodicamente na escola.

São alunos cuja dependência dos pais é maior, o que faz com que estes realmente

freqüentem mais os espaços escolares. No Ensino Médio (1º ao 3º ano), a relação é

percebida como sendo muito distante, justificada pela faixa etária dos alunos que, neste

outro extremo, já se caracteriza pela independência dos filhos em relação aos seus

pais. Embora a relação família-escola seja uma relação importante independente do

estágio de ensino do aluno, focalizamos nosso olhar em uma fase em que os alunos já

não são mais tão dependentes dos pais, mas também ainda não estão no Ensino

Médio, mais distantes deles.

Como objetivo geral deste estudo definimos: Compreender a relação Família -

Escola nas instituições de ensino particular de Fortaleza, na perspectiva da promoção

da saúde. Ainda definimos alguns objetivos específicos, quais sejam: Analisar a visão

que se tem da atual relação entre Família e Escola, identificar fatores que atuam como

facilitadores ou complicadores desta relação e conhecer a visão dos familiares e dos

profissionais de educação quanto à forma ideal de se manter um relacionamento entre

Família e Escola que promova a saúde dos envolvidos.

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1. ESCOLA E FAMÍLIA: OS PRINCIPAIS ELOS DA EDUCAÇÃO

É necessário ter em mente que há um conflito histórico de fronteiras entre as

instituições família e escola, cujas funções educativas muitas vezes se confundem ou

se sobrepõem. São instituições próximas, mas díspares em suas práticas, constituindo

os dois principais elos da educação. A relação entre elas é de fundamental importância

e tem se apresentado muito distante, ocorrendo sempre permeada por dificuldades na

aprendizagem ou problemas disciplinares. A família tem contribuído para isso na

medida em que se ausenta por falta de tempo e ainda por delegar à escola funções que

lhe competem. A escola contribui quando tem priorizado a formação cognitiva, deixando

em segundo plano a formação sócio-afetiva.

Para compreender essa relação, realizamos uma revisão bibliográfica que

embasa nosso estudo, traz dados sobre a atual realidade familiar, a competência

familiar e escolar frente à educação, a concepção já construída acerca do tema e ainda

discute sobre a possibilidade desta relação promover a saúde, além de ouvirmos pais e

profissionais da educação, tentando identificar limites e desvelar possibilidades na

busca de tornar essa relação promotora de saúde na escola.

1.1 As relações familiares no curso da história

Caldas (2001) diz que já não cabe mais dizer que a família forma e a escola

informa: nesse contexto dicotomizado está talvez a raiz de uma série de desencontros

dessa relação tão íntima que se quer tão distante (p.01). Os papéis estão bem

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misturados se comparados com alguns anos atrás, e isso se deu por reformas ocorridas

não só nas estruturas familiares bem como na educação. Nas estruturas familiares as

mudanças foram significativas, analisando-se desde a idade antiga, na época do

patriarcado, até os dias atuais.

Pode-se chamar a família antiga de um grande clã, onde tudo girava em torno

da terra, do poder e do nome de família. Toda a posse pertencia ao patriarca que

exercia a lei, ele era a figura do saber e das normas.

Fora o patriarca, os outros membros da família estavam em lugares

desprivilegiados. Na época, somente o primogênito homem tinha um lugar de valor,

porquanto ele herdava tudo do patriarca. Herdava a terra, o nome e o poder, isso

somente se tratando de adulto, uma vez que a criança não era valorizada. Na época,

não se tinha a noção de desenvolvimento, ou seja, cuidados com a criança para que

esta conquistasse um bom futuro. A criança não era cuidada e a mortalidade infantil era

muito alta. As pessoas não se apegavam muito às crianças até porque elas morriam

com muita facilidade, além de ser uma norma do saber orientador da época: a igreja.

A família patriarcal possuía um grande elo com a igreja. O patriarca geralmente

construía uma igreja em suas terras. A teologia orientava que quando as crianças eram

batizadas elas passavam a pertencer ao reino de Deus. Isso era muito forte na idade

antiga, período em que os pais eram orientados a evitar a relação com a criança, pois

esta nascia impura e precisava passar por castigos corporais para salvar sua alma.

Bater em uma criança não era crueldade, era sim um cuidado pela alma infantil. Pensar

em vínculos afetivos era considerado luxúria.

Nos séculos XVII e XVIII a reprodução da monarquia ao nível da família

constituía um patriarcado autoritário em que a única função da mulher era cuidar do

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marido, que era o representante rei da família. O relacionamento mãe-bebê não

consistia em proteger a criança por meio da amamentação. Nas grandes cidades, o

rotineiro era deixar os filhos nas mãos de babás (amas de leite), “o que era apoiado

pelos pais que viam os filhos muitas vezes como estorvo”, segundo Volnovich (1993.

p.21).

Em seu artigo sobre o histórico de ser criança, Stellin argumenta:

A autopreservação da família é da responsabilidade do pai e a ele se deve toda obediência. Ele é o representant e do poder econômico como também o organizador social. O social desta época, entenda-se coletividade familiar e seus agregados. Detém o saber e a experiência. A velhice tem um status, os jovens procuram imitá-la no aspecto de alteridade. (STELLIN,1994. p.62)

A autora também aponta como sendo o século XVIII o momento de transição

da família antiga para uma outra estrutura familiar. Volnovich afirma que “ocorre a

domestificidade da mulher para o cuidado com os filhos e uma extraterritorialidade do

homem” (1993. p.23). A mulher assume o cuidado da casa e dos filhos e o homem, do

comércio, para suprir economicamente o lar.

O capitalismo contribuiu fundamentalmente para uma mudança no modelo

familiar, pois o Estado que surge elimina as antigas condições feudais pela não mais

aceitação do poder patriarcal, sendo o clã familiar substituído pelos cidadãos

submetidos ao novo regime. Para tornar-se forte, o Estado necessitava de riquezas e

de poderio militar. Começava a preocupação com o aumento da população e com a

mortalidade infantil que era aberrante e, por isso, a criança passou a ser mais cuidada e

as mães a assumiram esse papel.

A constituição dessa nova família tinha como prioridade a criança, o que

implicava em pais voltados a sua valorização. O ideal de homem estava relacionado

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com a função de pai e, para a mulher, a maternidade era seu objetivo sublime. Amar e

cuidar dos filhos tornou-se a base das relações familiares.

Nasce a “majestade o bebê” (VOLNOVICH, 1993 p.23), o que possui

ressonância até os dias atuais. As crianças assumem um reinado, o que faz refletir

sobre um excesso de poder dado a elas. E os pais não dando conta de dizer o Não, vão

sendo comandados.

No século XX, a ordem familiar sofre alterações por influências políticas,

culturais e econômicas. A mulher também está fora de casa, já não tem como único

objetivo cuidar do lar, dos afazeres domésticos e dos filhos. As questões teológicas, já

não tão rígidas, tornaram as fronteiras do casamento mais tênues. A família que antes

era tida como um núcleo formado por comumente pai, mãe, filhos solteiros e, às vezes,

avós quando já viúvos, hoje não mais se configura somente assim, pois apresenta-se

redimensionada se comparada ao núcleo familiar antigo. Têm-se famílias compostas

de: Mãe, seu segundo marido, seus filhos do primeiro casamento e os filhos do primeiro

casamento de seu marido. Seus filhos possuem irmãos do segundo casamento de seu

pai, mas estes não moram com eles, embora pertençam à família. Enorme é o número

de netos criados por avós pelo fato de seus pais terem retornado à família original após

o casamento desfeito. Ou simplesmente por seus pais trabalharem em período integral.

Todas essas mudanças exigem resignificação de papéis. Uma avó quando assume a

educação de um neto passa a assumir funções que anteriormente não eram suas, por

exemplo.

Esta é a nova família. Esta é a família contemporânea. Parolin (2001, p.12)

sensibiliza-nos a aceitar a família atual e não concebê-la como desestruturada. Ela

apenas possui uma estrutura diferente da família mais antiga. Foram profundas

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mudanças que contribuíram para tal. Como exemplo, citamos algumas que trazem

consigo aspectos sociais, políticos e econômicos:

? Dissolução do casamento;

? Advento do divórcio;

? Entrada da mulher no mercado de trabalho para sus tentar a casa;

? Esvaziamento das igrejas tradicionais (a igreja possuía um aspecto

moralizador que mantinha uma ordem familiar por ela definida).

De forma que se possa situar neste curso que as relações familiares

percorreram, abaixo realizaremos um paralelo entre a família ONTEM (até a década de

70) e a família HOJE baseado nas reflexões de Parolin (2001, p.16).

A família ontem:

? A vida familiar era mais estável. As pessoas casavam sabendo que tinham

que dar conta deste ato com todas as suas peculiaridades. E colocavam a

vida familiar como prioridade.

? A vida profissional e financeira era mais estável, o que dava à família mais

segurança e tranqüilidade.

? Os papéis sociais eram bem definidos e respeitados. As figuras de Pai,

Mestre, Padre, Médicos, eram tidas no cerne familiar como referenciais.

? As regras e os valores eram mais definidos e respeitados. O homem era

arraigado a costumes.

? As relações e os procedimentos dentro da família eram bem definidos e

cristalizados, inquestionáveis e previsíveis.

A família hoje:

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? A vida familiar não é duradoura e a família não é prioridade. O trabalho e a

vida social muitas vezes estão à frente da família.

? A vida profissional e financeira é instável, o que deixa a família intranqüila e

sem poder estabelecer metas e objetivos.

? Os papéis sociais sofrem alterações constantemente pela rapidez como que

tudo acontece na contemporaneidade.

? O que é exigido ao homem hoje é capacidade adaptativa, flexibilidade e

busca constante. Nada de rigidez.

? As relações e os procedimentos dentro da família se alteram pela

impossibilidade de se prever as situações futuras.

Nunes e Vilarinho (2001) são duas autoras que realizaram um trabalho junto a

uma instituição de ensino particular da cidade do Rio de Janeiro, onde situou-se a

ampliação da família como “família possível”, integrada por um grupo de avós, que

assumiu parcialmente a responsabilidade pelos netos mediante a falta dos pais. Essas

autoras ressaltam: “essas mudanças na família afetam a sociedade como um todo e,

particularmente, a educação dos filhos, refletindo também sobre as atividades

desenvolvidas pela escola” (p.22).

As mudanças que ocorreram nas relações familiares no curso da história, hoje

refletem na escola pois têm levado os pais a apostarem mais ainda nas instituições

escolares. Ao colocarem seus filhos em uma escola, esperam estar dando a

oportunidade a eles de ampliação de seus campos de visão. Olhar o mundo com outros

olhos que não aqueles limitados pelo pouco tempo de convívio com a família. Com o

auxílio da informação, do conhecimento técnico, da relação social advinda do convívio

com os colegas e da disciplina escolar, os pais acreditam ser, a escola, o ambiente

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complementar ideal para a educação dos filhos. Então cabe as perguntas: a quem

compete a educação hoje? Como família e escola estão dividindo as atribuições

educativas?

1.2 A quem compete educar?

Como um processo de produção e reprodução cultural e social, a educação

tem duas dimensões, uma mais individual e outra mais coletiva. A dimensão individual é

aquela também considerada como informal que consiste na formação de hábitos,

valores, e habilidades. Está subordinada a um contexto social e cultural mas é iniciada

pela família no lar. A dimensão mais coletiva, considerada formal, consiste na

transmissão de uma herança cultural às novas gerações, que é feita através do trabalho

de algumas instituições.

Historicamente, educar, em seu sentido geral de criar crianças e jovens, não

era uma atribuição exclusiva dos pais biológicos ou dos professores. O cuidado com os

mais novos era uma preocupação muitas vezes estendida a outros membros da

sociedade, pessoas normalmente mais maduras (idosos) ou a pessoas ligadas a

instituições, como a igreja ou outras associações (CARVALHO, 2004a).

Crianças e jovens eram, portanto, educados na família e na comunidade,

antes do surgimento das escolas. A educação ou a transmissão cultural ocorria de

duas formas: a cultura popular (histórias, práticas, rituais, crenças...) transmitida

informalmente e de forma comunitária no dia-a-dia da vida prática; e a cultura erudita,

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considerada como a educação letrada ou formal, sendo reservada às elites,

inicialmente praticada por mestres ou tutores nas próprias residências.

Foi neste contexto das famílias burguesas, que não mais queriam sustentar a

educação dos filhos por professores particulares residentes, que foram criadas as

escolas internatos, onde era realizada uma educação coletiva. Desta forma, com a

especialização das instituições para promoção de uma educação formal, ficou definido

o lugar da família como responsável pelo cuidado físico, psíquico, lugar de afeto e

intimidade. À escola foi definido o lugar da reprodução da cultura letrada, dos valores

sócio-políticos e da qualificação para o trabalho.

A educação escolar tornou-se o modo de educação predominante no final do

século XIX e desta forma a educação foi se tornando sinônimo de escolarização. Para

Carvalho (2004a), “como um processo multifacetado de aprendizagem e

desenvolvimento humano pela experiência e participação nas várias práticas e espaços

sociais ao longo de toda a vida, a educação deve ser distinguida da escolarização”

(p.49).

Como já mencionado no item anterior, a transformação do modo de produção

econômica, dentre outros fatores, provocou drásticas mudanças na vida familiar e hoje,

na sociedade contemporânea, “a educação e a família se diferenciaram e se

especializaram” (CARVALHO, 2004a, p.49/50). A escolarização como um modo

especializado e sistematizado de educação assumiu no contexto atual funções sociais e

emocionais adicionais na formação de crianças e jovens.

Enquanto mudou a família, mudou também a escola, que foi impelida a mudar.

Mudanças relacionadas inclusive à didática, à pedagogia e aos conteúdos. A escola

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passou a não centrar-se mais no conteúdo e no educador e a sim passar a centrar-se

no aluno e em seu processo de aprendizagem. Paro (2002) diz:

o desafio das escolas hoje é sair dos extremos, buscando valorizar tanto a informação, como a formação, tanto o educador como o educando, tanto o método como os conhecimentos acumulados historicamente, resgatando ainda, a importância do grupo na construção de conceitos e valores (p.57).

Esse desafio tem feito a escola viver um momento de crise em sua identidade.

As escolas são, de tempos em tempos, invadidas por modismos e tendências que

rotulam-nas de forma imperativa, como ser “construtivista”, por exemplo. Passam de um

dia para o outro a trabalhar diferente, “somente através de projetos interdisciplinares”,

por exemplo. Os educadores são levados a mudar suas práticas da noite para o dia

sem a devida compreensão e preparação para a mudança.

Grünspun (1978) chamou a atenção para:

a sociedade humana, a partir do momento, em que surgiu neste mundo, sempre se transformou, e sempre para melhor. Isto, entretanto, absolutamente, não é novo. O que é moderno é a reforma. Reforma social, reforma institucional, reforma religiosa, reforma educacional é uma situação deliberada. (...) o que mais interessa é a reforma contínua da educação. A cada 5 anos, há reformas, que se reformam após 2 anos (p.210).

E os pais e familiares? Estes mesmos é que não compreendem as mudanças.

Tornam-se pouco conscientes, se sentem ignorantes no assunto e, reagem aceitando

passivamente. “A família não tem forças para interferir, porque o sistema conseguiu

isolá-la”, justifica Grünspun (1978. p.217). Porém, aos poucos, vão sentindo

dificuldades para lidar com as tarefas escolares, com as dúvidas dos filhos, com a

forma de ensinar a gramática, a matemática e outros conteúdos. As escolas solicitam

que os pais participem e orientem os filhos, mas não têm dado suporte para que isso

possa acontecer.

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Na obra que agora citamos, datada de 1978, o autor já chamava atenção para

essa questão. Realidade essa ainda tão atual nos nossos dias, acentuada, com

certeza, pelo avanço tecnológico e pela sucessão de mudanças.

Os pais dizem aos filhos que já se esqueceram, que não entedem nada do que agora se está ensinando. O contrário também existe. Quando o pai quer realmente ajudar, a criança não aceita, e diz: a minha professora ensina diferente – você não sabe nada (GRÜNSPUN, 1978 p.211).

Carvalho (2004a), 30 anos depois, vem concordar com o autor acima citado.

Ela baseia-se em Durkheim, que aponta a superioridade da escola sobre a família na

função de socialização e ver a família sendo substituída pela escola. Realiza sua crítica

na reflexão sobre o papel do “dever de casa”.

Para a autora o dever de casa surgiu como uma ocupação apropriada para os

estudantes das classes médias, pois os de classe popular já se ocupavam de tarefas

reais ajudando na sobrevivência da família, e tornou-se uma prática para aqueles que

valorizam a escolarização como estratégia de mobilidade social ascendente. Nos

últimos anos sua prática tem sido intensificada e justificada com ênfase no

desenvolvimento da responsabilidade, autonomia e eficácia. Contudo, Carvalho (2004b)

chama a atenção para o fato de que não existem condições para que os pais possam

realmente acompanhar o dever de casa dos filhos. Eles precisam de tempo livre, de

conhecimento sobre as matérias escolares e vontade e gosto pelo feito. Para ela, essas

condições nem sempre são reais. O dever de casa é uma das partes integrantes do

processo de ensino-aprendizagem e um dos meios de interação família-escola, mas

também consiste muitas vezes em um problema para essa relação.

(...) Ao impor aos pais a concepção de que o lar deve ser um lugar para o desenvolvimento explícito e intencional do currículo escolar, obriga-os a converterem as atividades familiares em extensões das atividades de sala de aula, em detrimento de suas própria opções educacionais e de suas necessidades de lazer e de descanso (...) (CARVALHO, 2000, p.149).

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Magaldi (2000), em sua pesquisa de doutorado, traz o pensamento de duas

autoras, Armanda Álvaro Alberto e Cecília Meireles, intelectuais renovadoras do século

XIX, sobre a relação família-escola. A visão dessas autoras frente ao fato de se ver

uma substituição da família pela escola, difere da visão apresentada por Grünspun

(1978) e Carvalho (2000). Para elas, não se trata de desqualificar a instituição familiar

em sua função educativa, ou de defender a sua substituição por outra instituição, mas

sim de qualificá-la para atuar como parceira.

Acreditamos que as intenções da Escola Nova do século XIX deixaram marcas

desse entrelaçamento de responsabilidades entre pais/familiares e professores, no que

diz respeito à aprendizagem em casa. Vemos o dever de casa como algo importante no

que diz respeito à formação de hábitos de estudo e pesquisa pelos alunos e

compartilhamos com o pensamento dos autores que identificam as dificuldades dos

pais para assumirem o acompanhamento dessas atividades. Ainda evidenciamos o

perigo de termos a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso dos alunos atribuídos ao

não acompanhamento dos pais, que se traduz importante, mas não consiste nem

poderia ser considerado como único fator determinante.

Existe portanto um conflito histórico de fronteiras entre as instituições família e

escola, dificultando que possamos responder, de forma simplória, a quem compete

educar. Para Aquino (2002), as funções educativas dessas duas instituições algumas

vezes se confundem ou se sobrepõem. Segundo ele, o que as distingue é o

enfrentamento das questões da vida privada com as da vida pública e, para ele, isso

precisa ser sempre respeitado quando vamos tratar do relacionamento família-escola. O

autor questiona: “Do que reclamar quando os pais suspeitam da competência docente

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ao palpitarem sobre o que ocorre no interior das salas de aula se freqüentemente

fazemos o mesmo quanto às salas de estar?” (p.23).

Sayão (2002) concebe essa questão de forma complexa, afirmando ser difícil

estabelecer a linha divisória entre o que é público e o que é privado:

(...) a escola é um espaço público, a família é um espaço privado. A escola não deve invadir o espaço da família, mas o contrário também não pode acontecer. A família é o lugar da unidade, da continuidade; a escola, o lugar da diversidade, da diferença (p. 40).

1.3 A relação família-escola e suas implicações

Mediante toda a confluência entre essas duas instituições, família e escola, na

missão de educar, os princípios e valores que regem a educação familiar precisam,

mais do que nunca, estar em consonância com a filosofia da escola, escolhida para

dividir com a família a formação dos filhos. Desta forma, a cada dia torna-se mais

importante a relação entre família e escola. Muitos são os ganhos de uma boa relação.

Macedo (1998) ao tratar da relação família-escola ressalta:

uma exposição clara para a família da filosofia da escola e de seus objetivos é de fundamental importância para que uma relação dialógica se estabeleça em base de uma aceitação de princípios de parte a parte. Isso evita muitos mal-entendidos, falsas expectativas e exigências descabíveis (p.196).

O contato com a família possibilita à escola o conhecimento do conceito que os

pais têm de seus filhos, a expectativa quanto ao desenvolvimento dos filhos, o que

esperam da escola e ainda permite que seja solicitado aos pais o que for preciso para

que contribuam para com a escola na formação dos alunos, deixando sempre

clarificado o que cabe à escola e o que cabe à família.

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Contudo, essa relação, que às vezes é identificada como parceria, com

freqüência, se manifesta muito mais como rivalidade (SAYÃO, 2002; AQUINO, 2002;

SILVA e VARGAS, 2002; ESTEVÃO, 2003; e CARVALHO, 2004a/b). Muitos são os

aspectos que podem gerar complicações nessa relação.

Fernandéz (1991) observa que cada família tem uma “modalidade de

aprendizagem”, que seria a maneira pela qual cada grupo familiar se aproxima, ou se

afasta do “saber”. Essa modalidade seria passada de pai para filho e influencia a forma

como estes se relacionam com a escola, que é a instituição que representa o “saber”. O

vínculo com a aprendizagem é uma construção dentro e fora da escola. “Uma postura

positiva com relação ao aprender e ao estudar não acontece de uma hora para a outra,

nem de uma vez por todas: é um valor cultural que precisa se permanentemente

cultivado” (PARO, 2000, p.15). Começa a ser desenvolvida em casa, pelos familiares,

depois recebe estímulos da escola, mas jamais deixará de contar com a participação da

família.

A escola seria então um encontro de várias “modalidades de aprendizagem ”,

de várias dinâmicas familiares reunidas em um só espaço. Famílias que acompanham

mais de perto a vida escolar dos filhos e outras que encontram mais dificuldades para

assim fazer. Cabe à escola equacionar essas diferenças no trabalho a ser realizado

junto às famílias, e que não constitui tarefa fácil.

A escola possui mais facilidade para se relacionar não com a diversidade, mas

com “um único modelo de família”, aquela cujo filhos obtêm sucesso escolar

(CARVALHO, 2004 a., p.54). Parece ser difícil para a escola reconhecer a diversidade

advindas das mudanças familiares que já discutimos. A escola continua buscando uma

participação por parte da família que já não é mais real.

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Um outro aspecto que tem comprometido a participação da família na escola

refere-se às relações de poder. Na instituição particular um “feixe” de poder tem-se

dado de forma bem acirrada. A escola se investe, segundo Faria Filho (2000), da

legitimidade de ser “A Instituição” que educa, que possui o mérito de, com técnicas e

conhecimentos, decidir sobre o que é melhor ou não no que se refere à educação.

Porém, a família também possui um poder a ser exercido frente a essa escola. Na

relação “Fornecedor” (escola) X “Cliente” (família) que se estabelece na venda dos

serviços educacionais como se a educação fosse um produto a venda, a família detém

o poder econômico. A base financeira da escola está subordinada à satisfação do

cliente. E em nome disto, muitas escolas têm aberto mão de princípios que norteiam a

educação, para não desagradar determinadas famílias. Forma-se, portanto, um “feixe”

de poderes que desenham como se dá ou não a relação família-escola.

Para Mittler (2003) esta relação não se dá entre “iguais”:

(...) o poder e a autoridade não são apenas investidos aos professores como indivíduos, mas também à escola como instituição (...) Os professores dificilmente tentam quebrar barreiras e, como conseqüência disso, alguns pais sentirão que a relação de poder está dirigida contra eles. (p.214).

Sobre o assunto , Perrenoud (2000) afirma:

São os professores que, no cotidiano, encarnam o poder da escola, o caráter restritivo de seus horários, de suas disciplinas, dos “deveres” que ela atribui, das normas de excelência, da avaliação e da seleção que decorrem disso. Os professores parecem ser os primeiros artesãos, até mesmo os responsáveis” pelo que a escola faz às famílias (p.112).

Nesta citação, o autor enfatiza que os professores carregam um “poder

institucional” que muitas vezes se sobrepõe as suas atitudes pessoais. Acreditamos

que isso pode ser ampliado a todos os profissionais que compõem a escola.

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Perrenoud (2000) comenta a importância das entrevistas que periodicamente

são realizadas com os pais na escola. Vê-las como algo fundamental para manter a

comunicação ativa, afinal é necessária essa partilha da responsabilidade educativa. Por

falta de tempo, é comum que essas entrevistas estejam ocorrendo apenas quando

surge algum problema. “Certas entrevistas são solicitadas pelo professor, que tem

“necessidade” de ver os pais para partilharem com eles sua inquietação, mobilizá-los,

repreendê-los ou prepará-los para o pior” (p.118). Desta forma, os pais encontram-se

em uma situação desigual na relação. Isso dificulta, pois sentem-se responsáveis

sozinhos pelas dificuldades do filho, suas formas de educar são “postas em cheque”

como sendo culpados pelo fracasso escolar ou comportamento disciplinar do aluno.

Mesmo que as colocações sejam feitas de forma educada, trata-se de uma situação

muito desagradável de ser vivida.

Esse consiste em mais um fator para a pouca freqüência dos pais aos convites

feitos pela escola. Os pais são freqüentemente tratados como alunos também, que

foram à escola para aprender como devem fazer com o filho. A postura para uma boa

relação é de parceria: pais e escola ao lado um do outro. Não que os pais não sejam de

alguma forma responsáveis pelas dificuldades enfrentadas pelo aluno, mas não se

pode negar a possibilidade de co-responsabilidade da própria escola. Caso esteja

evidente a grande responsabilidade da família frente à dificuldade, isso deve ser

discutido com muito cuidado. Se a postura da escola for de apontar e julgar, a

tendência da família será de rebater agressivamente ou até resistir fugindo. O ideal é

instalar uma relação de parceria, num jogo cooperativo, na busca de soluções.

O contrário também pode acontecer, pais solicitarem entrevistas, para tirar

dúvidas ou fazer queixas, e o que freqüentemente ocorre é a escola já recebê-los na

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defensiva, ocupando o papel de acusada. Diante dessa postura, a escuta fica

comprometida, mas sabe-se que muitas vezes é difícil, pois num jogo de poder, muitos

pais abusam da autoridade, alegam pagar pelo serviço, principalmente nas instituições

particulares, sentindo-se no direito de agir com grosseria e agressividade com os

professores ou com a outro profissional que os recebam. Os professores se sentem

ameaçados por pais que insinuam que as dificuldades ou baixo rendimento são

relacionados, pelo menos em parte, à qualidade de ensino oferecida, à política

disciplinar da escola ou à avaliação realizada.

Para Perrenoud (2000), deixar passar a tempestade é uma competência a ser

adquirida. A escola não deve gastar toda a sua energia para se defender, o melhor é

ouvir, tentar negociar, compreender o que os pais estão vivenciando e não renunciar ao

direito de defender-se com suas próprias convicções.

Carvalho (2004a) possui um pensamento concordante com os autores que

dizem ser a relação família-escola permeada pelo poder. E desta forma questiona a

possibilidade de uma parceria, como defende Perrenoud (2000), pois diz que parceria

supõe igualdade, e nas relações na escola, os profissionais da educação (professores,

especialistas) têm poder sobre os leigos (pais e mães). Lembra-nos que as relações

também são mediadas por outros poderes, como classe social, raça ou etnia e gênero

que ora podem favorecer a professores, ora a pais e alunos.

Outro aspecto característico da relação família-escola é o repasse de

responsabilidades diante de uma dificuldade. Procura-se um culpado muitas vezes,

definindo sempre o outro lado como aquele que deve fazer algo para solucionar o

“problema” educacional. Aquino (2002) em seu artigo “Um trabalho a quatro mãos?”

trata desta questão do repasse de responsabilidades:

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É muito comum ouvir que pais e professores são igualmente responsáveis pelo aproveitamento escolar dos filhos/alunos. Daí o velho bordão: “educar a quatro mãos”. Quatro mão que atuam juntas apenas nos casos de êxito pedagógico, pois quando há fracasso de alguma ordem as mãos parentais são mais responsabilizadas pelos profissionais da escola (p.23).

Diante dos aspectos até aqui levantados, podemos observar essa relação

acontecer de diversas formas. Segundo Paniagua (2004), vários modelos foram

descritos quanto à ideologia, à divisão de poder, à participação e ao tipo de relação

interpessoal que se estabelece entre pais e profissionais de crianças portadoras de

necessidades educativas especiais, incluindo entre esses profissionais tanto os clínicos

como os que atuam nas escolas destes. Os modelos variam dos mais tradicionais e

conseqüentemente mais criticados – modelos do “expert” e do “transplante”, até os que

buscam um maior equilíbrio entre as necessidades dos pais e a atividade dos

profissionais – modelos do “usuário” e da “negociação”. Uma reflexão sobre esses

modelos, ampliando o foco, pode ser realizada com as famílias que não possuem filhos

com necessidades educativas especiais, por também se relacionarem com estes

profissionais dentro dos mesmos modelos.

No modelo do “expert”, o profissional é quem detém o poder. Ele tem o

conhecimento, o estudo na área da educação e sabe a melhor forma de agir. Os pais

são considerados pouco competentes e desta forma devem confiar as decisões sobre a

educação de seus filhos aos “experts”. Este modelo traz como característica para a

escola, por meio de seus profissionais, a postura de onisciência e onipotência. O que é

muito perigoso, ao nosso ver. A escola assim assume a responsabilidade toda para si,

ficando difícil depois contar com os pais para que eles assumam seus papéis na

educação dos filhos. Eles se acharão capazes? Ou cobrarão o que lhes foi vendido: a

escola assume.

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O modelo do “transplante” trata-se de uma relação em que se tenta

“transplantar” o poder dos profissionais às famílias. O discurso está embasado na

importância que essa têm para o desenvolvimento do processo de aprendizagem dos

estudantes. Os pais ocupam portanto o papel de co-professores em casa, cabendo à

escola solicitar aos pais aquilo que eles devem fazer para dar essa contribuição. Este

modelo gera participação e neste aspecto consideramos que ele seja positivo. Alguns

pais se sentem bem em poder se envolver, contudo este modelo necessita de uma

atenção especial e um tempo maior de dedicação que os dias atuais não possibilitam à

grande parte dos familiares, como já mencionamos anteriormente. “A obrigação de

trabalhar com os filhos pode significar uma sobrecarga em sua vida cotidiana e,

inclusive, uma distorção em seu papel” (PANIAGUA, 2004).

Podemos ver, como efeito desse modelo, pais desgastando suas relações com

seus filhos, pelos tensos momentos em que tentam ensinar as tarefas de casa às

crianças. Muitas vezes eles não compreendem a metodologia utilizada pelos

professores na escola, criando uma duplicidade de informações na mente do estudante.

Os pais também podem estar em condições de despreparo acadêmico e inexperiência

no campo pedagógico para cumprir tal tarefa. Quanto à questão da responsabilidade,

desta forma os profissionais, a dividem com os pais, pois na prática eles não

conseguem “transplantá -la”. Caso haja um insucesso os pais costumam considerar que

as tarefas não eram apropriadas para seus filhos, tratando-se de uma exigência

descabida. E os profissionais por sua vez, tendem a pensar que a família falhou, não

conseguindo colocar em prática o que lhe cabia.

Segundo Paniagua (2004), os autores Cunningham e Davis, num movimento

por uma relação de autêntica colaboração entre os profissionais e as famílias,

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desenvolveram o modelo do usuário. Neste modelo defende-se o direito dos pais como

usuários de um serviço, valorizando-se os conhecimentos que possuem sobre os seus

filhos. Admite-se que ninguém pode os conhecer melhor que os próprios pais. É

realizado um trabalho junto aos pais dentro de uma perspectiva construtivista, na qual

eles são orientados e são vistos como sujeitos protagonistas no processo ensino-

aprendizagem, parte -se de suas idéias prévias, de suas emoções e suas expectativas

frente ao processo educativo dos filhos. Não se trata de um repasse de informações

técnicas, mas sim de facilitar a atuação dos pais na educação dos filhos, com dados

trazidos pelos profissionais para juntá-los a saberes e a sentimentos da família.

Neste modelo, o conhecimento pedagógico e educacional está com a escola,

mas não é desmerecido o saber familiar. Consideramos o grande valor desta proposta o

fato de ela dar à escola a missão de ter para com as famílias habilidades interpessoais

de respeito, empatia, escuta e abertura. E ainda, o fato de trabalhar o conhecimento,

dividindo-o com a família, sem medo de perder um certo poder. E isso possibilita a

busca de soluções consensuais entre família e escola, divisão de responsabilidades, no

entanto o avanço proposto não condiz com a disponibilidade dos pais para com a

escolarização dos filhos. Os pais precisam estar presentes para que esse padrão de

relacionamento se dê, e eles, hoje, não possuem essa disponibilidade, delegando

mesmo à escola essa responsabilidade.

O modelo de negociação (DALE apud PANIAGUA, 2004) dá mais ênfase aos

aspectos contextuais e institucionais que condicionam a relação profissional – família e

que fazem com que a colaboração possa se tornar uma realidade. Assim como no

modelo do usuário, há um equilíbrio de poderes. Acreditamos que tanto pais como

profissionais têm muito a oferecer à educação das crianças e dos jovens. Leva em

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consideração que os pontos de vista de cada uma das partes são diferentes. Família e

escola não possuem as mesmas perspectivas e interesses. Por isso valoriza o

consenso e não nega a possibilidade de conflitos. Neste modelo é fundamental a

flexibilidade para com a diversidade de situações familiares com que hoje nos

deparamos. Caberia à escola negociar com cada família uma forma de colaboração

adequada a ela, embora saibamos que, para a escola, é difícil ser flexível assim, porém

é fundamental que esteja aberta para essa necessidade.

Carvalho (2004a) aponta dois modelos de relação entre família e escola. O

primeiro, o modelo da delegação, é tradicional e ver a tarefa da escola como educação

acadêmica, enquanto a da família é a educação doméstica. Assim, a escola não espera

contribuição dos pais frente à aprendizagem do currículo escolar e ainda assume parte

do papel da família de cuidar do emocional, social e moral, pois esta teve seu convívio

com os filhos muito reduzido.

O segundo modelo seria o da parceria, que de acordo com a autora, supõe

certas condições, tais como: tempo, valorização da escola, interesse acadêmico,

familiaridade com as matérias escolares e habilidades para ensinar os deveres de casa,

que nem todas as famílias dispõem.

A pesquisadora parece não acreditar na possibilidade de uma parceria,

posicionamento do qual discordamos, pois a parceria entre as instituições não se dá

apenas no âmbito da participação dos pais junto ao aprendizado curricular formal.

Embora essa participação seja limitada, há outras formas desta parceria se dá. Como

diz SAYÃO (2002, p.42), só em colocar o filho na escola e incentivá -lo a ir às aulas, os

pais já dão um grande passo, demonstrando que muito mais pode ser feito, tanto pela

escola como pela família. “A parceria importante da família com a escola é no sentido

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de estimular a criança a se envolver ativamente na vida escolar, a ter curiosidade por

aprender e interpretar o mundo”.

Estevão (2003) também apresenta uma classificação quanto à forma de a

escola se relacionar com os familiares de seus alunos. Segundo o autor, os pais podem

ser vistos de várias formas: como parceiros, cúmplices, hostis, colaboradores, intrusos,

controladores, indiferentes ou calculistas. Ele apresenta quatro modelos de relação.

Num modelo intitulado de “cívico”, a escola funciona como um santuário, onde se exige

postura rígida por parte dos que a freqüentam, os professores são como sacerdotes,

detentores do saber, e a equipe pedagógica como um todo possui uma capacidade de

se autogovernar, dispensando qualquer ajuda por parte dos pais. São realizados alguns

eventos para os quais são convidados, apenas no intuito de reforçar a fidelidade e a

lealdade dos pais, mas estes são mantidos a uma razoável distância impedindo suas

intromissões nos assuntos da escola.

Outro modelo seria o de uma escola cidadã, como uma cidade educativa,

extensão dos lares da comunidade escolar, por isso é chamado de “doméstico”. A

escola é tida pelos pais como um meio de socialização complementar à família. Um

terceiro modelo é considerado como “mercantil”, cujo relacionamento se dá pela

primazia dada aos “clientes”, ou seja, os pais que escolhem a escola são quem a

condicionam nas suas finalidades. Por fim, um quarto modelo é apresentado, o

“empresarial”, no qual os pais são vistos como parceiros educativos.

Diante de tal classificação, observamos que os modelos são determinados pela

própria escola a depender do grau de abertura e da forma com a qual se permitem

relacionarem com os pais. Assim podemos entender que realmente compete mais à

escola, do que aos pais ou familiares, determinar a forma como vai se dar a relação.

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Vários autores atribuem à escola a função de dar os primeiros passos para o bom

relacionamento com a família (PERRENOUD,2000; MAGALDI, 2000; SILVA e

VARGAS, 2002).

Perrenoud (2002) fala da importância dos profissionais da escola tomarem

para si o “grosso do trabalho de desenvolvimento e de manutenção do diálogo” (p.113).

Para ele, os pais vivem uma condição que na maioria das vezes é muito nova para

eles, principalmente para os pais da contemporaneidade, que possuem poucos filhos.

“Cada ano, seu filho cresce, muda de turma. Eles devem adaptar-se a novos

programas, a novas maneiras de ensinar, a estilos diferentes de comunicação” (p.114).

Concordamos com o autor que isso só é possível se os profissionais da

educação realmente virem sentido na comunicação com os pais, dando o seu real valor

e importância. Estes não devem promover a comunicação de forma obrigatória ou

defensiva e sim no intuito de informar e envolver os pais. Também consideramos

fundamental o diálogo, mas não adianta ter competência para fazê-lo sem compreender

seu sentido.

Dentro do mesmo pensamento, Estevão (2003) lembra-nos de que um dos

princípios fundamentais da ética comunicativa é que ninguém pode ser excluído a priori

do diálogo, quando este pretende resolver problemas que lhe envolva. E desta forma,

na prática educativa, nenhum ator, pode ficar à margem dos processos decisórios.

Dessa forma o pesquisador defende que os pais jamais podem ficar de fora.

Encontramos em Perrenoud (2002) “dicas” preciosas para uma boa relação

família-escola, quando o autor aborda os componentes da competência de Informar e

Envolver os Pais e aborda a forma como se deve dirigir reuniões de informação e de

debate. A escola não deve organizar reuniões gerais quando os pais têm preocupações

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particulares para serem discutidas. As reuniões gerais de informação devem ser

realizadas no início do ano letivo, quando se trata de determinar expectativas e

apresentar o sistema de trabalho. Também podem ser realizadas reuniões gerais

quando se perceber que os pais estão tranqüilos e já foram ouvidos nas suas questões

individuais. Essas reuniões podem ser realizadas para debates de tema de interesse

dos pais. “Mesmo quando os pais têm um encontro individual com o professor, a

reunião continua sendo freqüentemente um campo minado” (PERRENOUD, 2000,

p.115). Isso porque os pais trazem consigo inúmeras fantasias sobre o momento em

que o filho fica na escola, momento sobre o qual não possuem o menor controle. Ficam

preocupados com tudo o que possa ameaçar o desenvolvimento físico, intelectual e

emocional de seus filhos e qualquer questão colocada em pauta pode ser estopim para

uma discussão mais acirrada. A caracterização de debate dada às reuniões evita que

os pais voltem as suas casas frustrados por não poderem se expressar.

Isso também é um aspecto que dificulta a relação, sobrecarregar os pais de

informação. Não deixar espaço para os debates, pode ser tão prejudicial quanto realizar

uma reunião sem uma pauta previamente estabelecida e uma organização anterior. É

importante também realizar um debate realmente com os propósitos de ouvir e mudar

(PERRENOUD, 2000, p.116). Manipular os pais gera descrédito e muitas vezes

consiste num dos principais motivos para reuniões esvaziadas.

A relação família-escola muitas vezes não se dá de forma sincera e autêntica

por encontrarmos pais que guardam para si suas impressões e angústias, protestam

apenas internamente. Julgam que não são ouvidos ou se esquivam de falar por medo

de que seus filhos sofram conseqüências das suas reinvidicações ou resistências às

determinações da escola.

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Outro aspecto que perpassa essa relação é o conflito de concepções

pedagógicas entre os pais e a escola. Perrenoud (2000) chama a atenção para uma

competência que a escola precisa ter: envolver os pais na construção dos saberes.

Para ele, isso vai muito além do incentivo para que eles acompanhem as tarefas

escolares diariamente, assistam às apresentações nas feiras de artes e ciências na

escola e motivem os filhos a verem a escola como algo importante nas suas vidas. Para

ele seria uma necessidade: “seja qual for sua pedagogia, um professor precisa que os

pais de seus alunos compreendam-na e adiram a ela, pelo menos globalmente, em

nível das intenções e das concepções do ensino e da aprendizagem” (p.120).

Consideramos importante essa discussão atualmente. Com a ascendência das

pedagogias novas, é comum o embate entre pais mais tradicionais com as escolas mais

abertas e inovadoras, que vêem o processo de adquirir conhecimento como algo que é

preciso trabalhar duro, decorar, repetir várias vezes e ter muita disciplina. As escolas

mais inovadoras angustiam muito os pais, porque elas incitam mais o aluno, não dão o

conhecimento tão nas mãos como a escola tradicional, sendo escolas que por razões

metodológicas e ideológicas solicitam mais o envolvimento dos pais que não estão

acostumados a apostar tanto na autonomia e nos recursos do aprendiz, avaliando o

ritmo dessas escolas como lento e de ensino fraco. Muitos tentam compensar algo,

dando aulas em casa, o que faz com que alguns alunos não saibam o que seguir,

diante de duas pedagogias distintas, a de casa e a da escola.

Esta também é uma preocupação de Paro (2000), quando afirma já ter ouvido

por parte de muitos professores reclamações sobre a realização de trabalhos feitos com

os alunos e “desfeitos” pelos pais, em virtude de uma diferença de percepções sobre a

aprendizagem, o ensino e o estudo.

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É preciso que os pais acreditem no trabalho realizado pela escola junto aos

alunos. Perrenoud (2000) é veemente ao afirmar que nem mesmo o professor mais

tradicional pode fazer um bom trabalho se seu método for mal-interpretado e denegrido

pelos familiares. O educador ressalta que esses problemas são mais freqüentes com a

classe de pais menos esclarecida ou com aqueles que não são profissionais das áreas

de humanas. Ele diz que “nas classes favorecidas, os intelectuais não têm com a

escola, a mesma relação que os executivos” (p.121).

Seja sobre o método ou seja sobre qualquer outra questão, é muito importante

que os pais tenham muito cuidado com os julgamentos que emitem em relação à escola

e aos seus profissionais. Perrenoud (2000) mostra certa preocupação com isso quando

escreve sobre a relação professor-aluno-pais. Ele afirma: “Não é favorável a suas

aprendizagens que um aluno vivencie cada dia um conflito de lealdade. Se seus pais

não compreenderem ou não aceitarem o que ele faz em aula, irão, verbalmente ou não,

minar a confiança de seu filho nos professores” (p.121).

Não são muitos os autores a estudar a relação família-escola, contudo todos

eles expressam um pensamento bem particular sobre o assunto. Carvalho (2000)

pareceu-nos ter um posicionamento bastante cético, ao afirmar:

A família que está por trás do sucesso escolar, salvo exceções, ou conta com uma mãe em tempo integral – ou uma supermãe, no caso daquelas que trabalham muitas horas – exercendo o papel de professoras dos filhos em casa, ou contratando professoras particulares para as chamadas aulas de reforço escolar e até mesmo psicólogas e psicopedagogas, nos casos mais difíceis (p.144).

Paro (2000) acredita que os pais não devem ser cobrados sobre o que não

consiste um papel deles, concordando com Carvalho (2004 a), que fez severas críticas

à relação mantida entre família e escola através do acompanhamento das tarefas de

casa.

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o fato de a escola ter funções específicas não a isenta de levar em conta a continuidade entre a educação familiar e a escolar (...) pode -se pensa em uma integração dos pais com a escola, em que ambos se apropriem de uma concepção de educação que, por um lado, é um bem cultural para ambos (...) (PARO, 2000, p.25)

Já Estevão (2003) apresenta uma visão da relação voltada para uma

perspectiva do “cuidado” e da democratização:

(...) a escola do cuidado não pode interpretar a sua dependência dos pais como uma debilidade, ou como último recurso quando as coisas estão a correr mal (...) ela deve ser interpretada como um “acontecimento social” de intersubjetividades dialogantes, como uma possibilidade de enriquecimento mútuo, e de ampliação do espaço democrático da escola (p.422).

Comungando mais com o pensamento democrático de Estevão (2003) e

refletindo de uma forma muito mais ampla que Carvalho (2000), Perrenoud (2000)

afirma que o essencial da relação família-escola não se dá em reuniões, encontros

esporádicos, informações fornecidas ou eventos escolares, e sim no dia-a-dia, e tendo

como intermediário o próprio aluno. Dá-se nas expectativas alcançadas ou frustradas,

nos julgamentos e nas queixas que circulam todos os dias de casa para a escola e da

escola para casa, por meio das crianças e dos adolescentes, de acordo com o que eles

comentam sobre ambas as partes. O autor argumenta que, para tornar essa relação

melhor, faz-se necessário uma estima recíproca e muita empatia.

Onde as coisas dão certo, observa-se, em geral, uma grande capacidade de cada parceiro em considerar o ponto de vista e as expectativas do outro (...) descobrem que a colaboração é não somente possível, mas fecunda, o que desenvolve confiança mútua (p.113).

Silva e Vargas (2002) realizaram estudo para compreender como a

participação na relação família-escola viabiliza o processo escolar na educação infantil

e concluíram que “a qualidade participativa na relação família-escola precisa ser

repensada e melhor organizada, pela escola, para que o processo participativo seja

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ampliado e real” (p.19). Para eles não é possível pensar na escola sem pensar na

família e vice-versa.

O que não se pode negar é a importância de uma boa relação família-escola,

como ressaltam Nunes e Vilarinho (2001):

É notória a importância da família no processo ensino-aprendizagem desenvolvido pelas escola. Crianças que percebem uma afinidade entre suas famílias e a escola tendem a se sentir mais seguras e naturalmente, a apresentar melhor desempenho nas atividades acadêmicas (p.22).

1.4 A relação que promove saúde

Desde 1945, é intensificada a preocupação acerca do tema “promoção de

saúde”. Isso pode ser constatado com base em documentos importantes que tratam da

questão global da saúde, fazendo uma retrospectiva histórica e servindo de norte para

diretrizes mais atuais.

Realizando uma integração de compromissos internacionais especificamente

relacionados à questão da saúde, pode-se citar documentos da organização Mundial de

Saúde, como: A Declaração de Alma Ata (1978), a Carta de Ottawa (1986), a

Declaração de Adelaide (1988), A Declaração de Sundsval (1991), a Declaração de

Bogotá (1992) e a Declaração de Jacarta (1997).

A declaração de Alma Ata (1978) traz a expressão da necessidade de ação

urgente de todos os governos, de todos os que trabalham no campo do

desenvolvimento humano, para promover a saúde de todos os povos do mundo. Ela

enfatiza a Saúde como o estado de completo bem - estar fís ico, mental e social , e não

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simplesmente a ausência de doença ou enfermidade – é um direito humano

fundamental, o qual, para que se consiga, é necessária a participação de outros

setores, que não só o da saúde sendo o setor educação um deles. Refere, ainda, que é

direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na

execução de seus cuidados de saúde.

Na Carta de Ottawa (1986), as discussões focalizaram principalmente as

necessidades de saúde nos países industrializados. A Carta de intenções explicita o

conceito de promoção da saúde, como sendo o processo de capacitação comunitária

para atuar na melhoria da qualidade de vida e saúde, com uma maior participação no

controle deste processo. E mais uma vez ressalta que a promoção da saúde não é

responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida

saudável, na direção de um bem-estar global pedindo por políticas públicas saudáveis

nos setores que não estão diretamente ligados à saúde. Uma das cinco áreas de ação

prioritárias traçadas nesta conferência internacional foi a criação de ambientes

favoráveis que visam as mudanças quanto ao modo de vida, seja onde as pessoas

estiverem: no trabalho, no lar , no lazer e por que não na escola? Podemos, sim, situar

a escola como um ambiente a ser saudável. Um de seus parágrafos diz:

A saúde é construída e vivida pelas pessoas dentro daquilo que fazem no seu dia-a-dia: onde elas aprendem, trabalham, divertem-se e amam. A saúde é construída pelo cuidado de cada um consigo mesmo e com os outros, pela capacidade de tomar decisões e de ter controle sobre as circunstâncias da própria vida, e pela luta para que a sociedade ofereça condições que permitam a obtenção da saúde por todos os seus membros. (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001 p.22)

Neste sentido, a escola ocupa um lugar privilegiado para que se encontre e se

promova saúde. E a relação família-escola uma oportunidade de que cada membro

desta relação possa cuidar-se e cuidar do outro.

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A Educação em Saúde deve ser considerada não só como uma forma de

garantir a ausência da doença e conseqüentemente a manutenção da saúde, mas

também como um meio para que seja desenvolvida a consciência crítica, o exercício da

cidadania e a formação de indivíduos éticos comprometidos com o social. Dentro desta

perspectiva, uma educação promotora de saúde no espaço escolar tem como base

primordial um bom relacionamento da instituição com as famílias de seus alunos.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) também trazem em seus escritos

sobre o tema transversal “Saúde” uma concepção ampliada sobre o que seja saúde.

Diversas tentativas vêm sendo feitas a fim de se construir um conceito mais

dinâmico, que dê conta de tratar a saúde não como imagem complementar da

doença e sim como construção permanente de cada indivíduo e da

coletividade, que se expressa na luta pela ampliação do uso das

potencialidades de cada pessoa e da sociedade, refletindo sua capacidade de

defender a vida. (BRASIL, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL,

1997, p.89).

Sendo os Parâmetros Curriculares um material de grande importância para o

trabalho pedagógico das escolas de Ensino Fundamental e Médio, acredita-se que essa

conceituação de saúde deve permear desde ações educativas voltadas para a

informação sobre determinados cuidados com a saúde física até uma autêntica e

saudável relação entre os profissionais da escola, alunos e familiares, a fim de que se

promova um melhor aprendizado, uma melhor formação das crianças e dos jovens e

uma melhor convivência, cuidando assim também da saúde cognitiva, emocional e

afetiva de todos os envolvidos.

Saúde, portanto, engloba uma concepção de qualidade de vida, de formação

de um estilo de vida saudável. Acredita-se que uma boa relação entre família e escola

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traga ganhos para a qualidade de vida não só dos alunos, mas também dos pais e dos

profissionais que atuam na escola.

Um aluno tranqüilo de que está entregue a uma escola em que seus pais

realmente confiam e com a qual mantêm uma abertura e uma comunicação coerente,

possui mais qualidade de vida que aquele que não compreende muito bem, como

podem seus pais deixá -lo em um lugar onde não estão satisfeitos, vivem se queixando

e não participam ativamente do seu processo de aprendizagem.

Um pai ou uma mãe que trabalha tranqüilo por saber a quem estar confiando

seu filho, sabe o que seu filho está realizando, aprendendo, enfrentando e até

superando. Pais conscientes de suas limitações de tempo, mas satisfeitos por de

alguma forma poder participar mais da vida escolar de seus filhos, possuem uma

qualidade de vida melhor.

E ainda, os profissionais da escola também podem conquistar uma melhor

qualidade no trabalho por meio de um bom relacionamento com as famílias.

Apresentam-se muitas vezes angustiados por não conseguirem desempenhar bem o

seu papel na educação de jovens e crianças, pela ausência da família. Assumem

muitas vezes um papel que não lhes cabe assumir abraçando uma responsabilidade

que preocupa. Tomando determinadas decisões, ou deixando de tomá-las, esses

profissionais se angustiam e se sobrecarregam com o distanciamento dos pais, ou

ainda, com as cobranças e julgamento dos mesmos. Se as responsabilidades são

melhor divididas, temos uma maior qualidade de trabalho para os profissionais das

escolas, tanto professores, como coordenadores ou diretores, dentre outros.

Uma boa relação família-escola é, portanto, uma relação que produz saúde.

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2. A trajetória percorrida na pesquisa

2.1 Elegendo o tipo e a abordagem do estudo

No intuito de escolher uma metodologia adequada para atender aos objetivos

propostos, optamos por realizar um estudo descritivo de abordagem qualitativa, visto

que tentaremos buscar características, fatos, fenômenos ou aspectos que perpassam a

relação família-escola.

Abordar qualitativamente um tema é partir de uma concepção crítica da

realidade e da premissa de que esta só é compreendida por meio da contemplação de

sentimentos, emoções, representações, vivência dos nela envolvidos e o sentido que

estes atribuem ao seu viver e a todos os aspectos que o permeiam.

Serapioni (2000) lista características dos métodos qualitativos, cuja explicitação

permite tanto fundamentar essa opção nesse estudo, compreendendo o percurso

metodológico aqui empreendido quando:

(a) se analisam o comportamento humano, do ponto de vista do ator,

utili zando a observação naturalista e não controlada.

(b) são subjetivos e estão pertos dos dados (perspectiva de dentro, insider),

orientados ao descobrimento.

(c) são exploratórios, descritivos e indutivos.

(d) são orientados ao processo e assumem uma realidade dinâmica.

(e) são holísticos e não generalizáveis.

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A ênfase dada aos aspectos qualitativos, ou seja, a abertura dada para a

interpretação e a valorização da experiência, de modo singular pelos sujeitos

envolvidos, dá à linguagem verbal e não verbal um lugar muito signi ficativo na

pesquisa.

No entendimento de Minayo (1998), a palavra é um símbolo de comunicação

por excelência e a fala é reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores,

normas e símbolos, sendo ela mesma um deles. A palavra, o discurso, a fala são

fenômenos ideológicos, consistem num campo de expressão das relações.

Para Foucault (1986), é preciso trabalhar arduamente com os discursos,

deixando-os aparecer na sua complexidade. Para ele há enunciados e relações, que

compõem o discurso. A pesquisa qualitativa dá conta dessas relações históricas, de

práticas que se revelam através dele e de tudo aquilo que é vivo no discurso. No

pensamento foucaultiano as palavras também são construções, na medida em que a

linguagem é constitutiva de práticas sociais.

Relacionando o pensamento de Foucault com o objeto de estudo desta

pesquisa, acreditamos que analisar os ditos e falas dos personagens que compõem a

relação família-escola, nessa perspectiva, significará fugir daquilo que é aparente,

procurando explorar ao máximo os materiais e as falas, na medida em que elas são

uma produção histórica, política, social e denunciam um pensar que produz uma

prática.

Os fenômenos qualitativos, para Demo (1998), só existem num contexto

material, temporal e espacial. Para se ter uma compreensão destes fenômenos, faz-se

necessária uma pesquisa de campo. De acordo com Lüdke & André (1986), a pesquisa

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qualitativa possibilita um contato pessoal e estreito entre pesquisador e o sujeito da

pesquisa.

Para o desenvolvimento deste trabalho, inicialmente foi realizada uma pesquisa

bibliográfica sobre o tema pesquisado, sendo feito um levantamento de material já

publicado em livros ou artigos científicos, cujos resultados resultaram no capítulo

anterior deste estudo. Posteriormente, uma pesquisa de campo foi desenvolvida no

intuito de detectar aspectos de sucesso e pontos que devem ser redimensionados na

relação família-escola para que se concretize no espaço escolar um ambiente promotor

de saúde.

2.2 Descrevendo o ambiente

Quando foram delimitados os objetivos deste estudo, decidimos por realizá-lo

em escolas particulares de Fortaleza. Para tanto, solicitaríamos a formação de dois

grupos, com os quais realizaríamos a pesquisa, um grupo de profissionais atuantes na

escola e outro de familiares.

Optamos pelas instituições particulares de ensino pois o que motivou a

realização deste estudo foi o desejo de compreender melhor essa relação pois ela é por

nós vivida na escola como membro da equipe técnico-pedagógica de uma instituição

particular e ainda é tema nas sessões de psicologia e psicopedagogia que

desenvolvemos em consultório particular.

Iniciamos então os contatos com algumas instituições e não encontramos

receptividade para a coleta de dados. As escolas, embora sensibilizadas para a

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importância do estudo do tema objeto desta investigação, recusaram-se a ceder seus

espaços para o nosso ingresso no campo. Acreditamos que tal recusa deve-se ao

temor de perder o controle da situação pela exposição e promoção de discussão entre

seus clientes sobre a relação que estes mantêm com a escola.

Sabendo desta realidade, deparamos-nos com uma nova questão: qual seria o

espaço no qual poderíamos encontrar profissionais que atuam em escolas e também

familiares de alunos? Finalmente definimos que o ambiente da pesquisa seria a

Universidade de Fortaleza – UNIFOR, onde poderíamos selecionar dentre os seus

professores, pais de alunos matriculados em diversas escolas particulares da cidade de

Fortaleza. Nos cursos de Psicologia e Pedagogia, poderíamos encontrar professores

e/ou alunos com experiência considerada e atuação profissional em escolas

particulares.

Inaugurada em 21 de março de 1973, a UNIFOR realiza atividades de ensino

em graduação e pós-graduação. É de cerca de 20 mil a população atual do co rpo de

alunos. Compõe ainda a comunidade acadêmica da UNIFOR, aproximadamente 800

funcionários e 910 professores, que convivem num campus de 55 hectares. São 31

cursos de graduação e, ao nível de pós-graduação, são 35 cursos de especialização,

oito mestrados, um MBA profissional e um doutorado. Trata-se, portanto, de um rico

campo para pesquisa.

A pesquisa foi realizada na UNIFOR, com autorização da Vice-Reitoria de

Graduação, envolvendo os cinco Centros de Ciências: Centro de Ciências da Saúde -

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CCS, Centro de Ciências Humanas - CCH, Centro de Ciências Administrativas - CCA,

Centro de Ciências Tecnológicas - CCT e ̈ Centro de Ciências Jurídicas - CCJ.

2.3 Selecionando os participantes

Na UNIFOR selecionamos professores que tivessem filhos matriculados em

escolas particulares da 5ª à 8ª séries do Ensino Fundamental, os quais, doravante,

chamaremos de INFORMANTES PAIS.

Buscamos também professores e/ou alunos dos cursos de Psicologia e de

Pedagogia, com experiência profissional em escolas particulares com turmas de 5ª à 8ª

séries do Ensino Fundamental, objeto de pesquisa no âmbito deste estudo, os quais

doravante, chamaremos de INFORMANTES PROFISSIONAIS.

Fizemos contato com os diversos coordenadores de cursos para que cada um

pudesse fornecer nomes de possíveis informantes. Solicitamos dois nomes a cada

Centro de Ciências para compor a amostra de INFORMANTES PAIS. Aos

coordenadores dos cursos de Pedagogia e Psicologia, solicitamos 10 nomes para

compor a amostra de INFORMANTES PROFISSIONAIS. O contato com os informantes

foi feito por telefone, com posterior agendamento de uma entrevista com a

pesquisadora.

Os sujeitos foram divididos em dois grupos para facilitar a aplicação do

instrumento de coleta e a análise dos dados. Assim, trabalhamos um grupo com os pais

ou mães (INFORMANTES PAIS) e outro grupo formado por profissionais com

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experiência em escola (INFORMANTES PROFISSIONAIS). O número de informantes

entrevistados foi de 10 pais e 10 profissionais de educação. Esse número revelou-se

satisfatório na medida em que representou onze diferentes realidades escolares e ainda

pelo critério de saturação dos dados, foi percebido nas últimas entrevistas realizadas

que as respostas já revelavam os mesmos aspectos anteriormente levantados por

outros informantes.

Os participantes convidados foram devidamente esclarecidos quanto aos

objetivos e à importância do estudo e de uma forma geral a nossa proposta de

entrevistá -los foi bem recebida. Todos por atuarem na universidade possuíam horários

restritos, mas concordaram em disponibilizar um tempo para conversarmos. Isso foi

uma demonstração de interesse pela temática que, como pudemos perceber, chamou a

atenção de muitos deles, tanto pais, mães como profissionais.

O perfil dos participantes foi construído no intuito de expor a diversidade de

escolas que conseguimos abranger, tornando assim rica a coleta de dados. Os perfis

dos informantes pais e dos informantes profissionais será apresentado no capítulo três

deste estudo por considerarmos relevante para a compreensão das falas, bem como a

análise dos resultados da pesquisa.

2.4 Coletando dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e março de 2005,

através da técnica de entrevista. Para seu desenvolvimento, utilizamos como

instrumento de coleta de dados um roteiro semi-estruturado com três questões

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norteadoras. Foram dois modelos de roteiros (Apêndices 1 e 2), um para os Informantes

Profissionais e outro para os Informantes Pais.

A entrevista semi-estruturada trouxe a possibilidade de se perceber o que

realmente é vivenciado pelos pais em termos de relação com as escolas, já que permite

um contato direto entre o pesquisador e o pesquisado. Esta é a grande vantagem da

entrevista: propiciar ao entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto,

sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador (MINAYO, 1998, p.108).

O entrevistado, ao discorrer sobre o tema, revela suas experiências, permitindo

ao pesquisador captar as informações desejadas, tanto na linguagem verbal, como na

expressão corporal e na entonação de voz do entrevistado.

Optamos por trabalhar com a entrevista semi-estruturada por acreditarmos que

ela permite que o assunto seja abordado sem direcioná-lo, deixando o entrevistado livre

para falar sobre o assunto, tendo maior flexibilidade em suas respostas, trazendo à tona

os mais variados aspectos que pudessem perpassar a relação família-escola.

Levantamos então três questionamentos que serviram de pontos norteadores.

Buscamos assim compreender como a relação família-escola é vivida e

percebida pelos informantes? Que aspectos atuam como facilitadores e complicadores

desta relação? E. ainda, qual a visão dos informantes sobre uma forma ideal de relação

família escola que pudesse promover a saúde dos envolvidos? Com este último

aspecto buscamos observar qual a visão dos informantes sobre a promoção da saúde

nas relações escolares. Acreditamos estar dando oportunidade para que os informantes

pudessem abordar de forma geral a relação entre família e escola.

O procedimento durante as entrevistas foi sempre o de explicar a proposta, o

que estávamos investigando e apresentar para leitura o Termo de Consentimento Livre

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e Esclarecido (Apêndice 3). Após os esclarecimentos iniciais, o informante assinava o

documento e nele já era solicitada a autorização para que a entrevista fosse gravada.

Também dava a garantia aos informantes de que não haveria divulgação de nomes

nem de instituições por eles mencionados, ou de qualquer informação que ponha em

risco a sua privacidade e anonimato. A pesquisadora solicitou ainda aos participantes

algumas respostas sobre dados que foram necessários para se traçar o perfil dos

participantes da pesquisa ( Apêndices 1 e 2).

Os informantes mostraram-se muito à vontade durante as entrevistas que

foram realizadas no campus da UNIFOR, com exceção de três que foram realizadas na

casa de uma Informante Mãe e em duas escolas distintas, nas quais atuam dois

Informantes Profissionais.

2.5 Analisando informações

Todas as entrevistas foram gravadas e depois da fase de coleta de dados

foram transcritas para análise posterior das falas. Os Informantes Pais foram

identificados com as 10 primeiras letras do alfabeto; os Informantes Profissionais

identificados por números de 1 a 10 e as escolas às quais se referiram foram

identificadas por nomes de cores.

Como última fase de aplicação metodológica, a análise de dados compreendeu

um estudo aprofundado de todos os dados coletados. Na busca de uma compreensão

sobre o que foi revelado pelos informantes, optamos por utilizar como referencial a

Análise de Conteúdo.

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Para Bardin (1977), a Análise de Conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (p. 42).

Para Minayo (1998), visa a ultrapassar o nível do senso comum e do

subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de

documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou observação. A autora descreve

como a abordagem qualitativa adotam a Análise de Conteúdo:

Os adeptos das linhas qualitativas aprofundam sua argumentação dentro da seguinte linha: (a) colocam em cheque a minúcia da análise de freqüência como critério de objetividade e cientificidade; (b) tentam ultrapassar o alcance meramente descritivo do conteúdo manifesto da mensagem, para atingir, mediante a inferência, uma interpretação mais profunda (1998, p.203).

A Análise de Conteúdo relaciona estruturas semânticas (significantes) com

estruturas sociológicas (significados) dos enunciados. Para se compreender a Análise

Temática, faz-se necessário entender a noção de tema. Para Minayo (1998),

A noção de TEMA está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto. Ela comporta um feixe de relações e pode ser graficamente apresentada através de uma palavra, uma frase, um resumo (p. 208).

O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura (BARDIN apud MINAYO, 1998, P.208).

Fazer uma Análise Temática significa descobrir os núcleos de sentido que

formam uma comunicação cuja presença ou freqüência signifique alguma coisa para o

objetivo analítico visado. Trata-se de uma técnica de analise de dados apropriada para

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as pesquisas qualitativas por permitir que, por meio de temas, se chegue aos valores

de referência e aos modelos de comportamento presentes nos discursos.

Operacionalmente, a Análise Temática desdobra-se em três etapas: (1) Pré-

análise; (2) Exploração do material; e (3) Tratamento dos resultados e a interpretação.

Assim o fizemos:

Iniciamos pela pré-análise, fase de organização propriamente dita, na qual

organizamos as entrevistas transcritas, retomamos os objetivos iniciais da pesquisa e

realizamos a leitura do material coletado. Fizemos uma leitura “flutuante” (BARDIN apud

MINAYO, 1998, P.208), para estabelecer contato com o material, analisar e conhecer o

texto, deixando-nos invadir por impressões de forma livre, sem nos direcionarmos pelas

questões norteadoras. Estivemos atentos a aspectos como a representatividade, a

homogeneidade e a pertinência nas falas dos informantes. Não partimos de hipóteses

“a priori”, com a utilização destes aspectos, fomos vendo emergir o que havia de mais

significativo nas falas dos informantes, surgindo, assim, os temas. Realizamos uma

espécie de classificação e agregação dos dados, reunindo os significativos em cinco

categorias temáticas, finalizando assim a fase de exploração do material.

As cinco categorias emergidas que aglutinam as falas dos Informantes Pais e

Profissionais foram:

1. A influência da equipe técnico-pedagógica na qualidade da relação;

2. Ausência de atendimento humanizado na escola;

3. Relação centrada na solução de problemas;

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4. Repasse de responsabilidades entre as partes;

5. Dificuldade em manter um efetivo canal de comunicação.

Posteriormente, passamos para a terceira etapa da análise temática, o

tratamento dos resultados e a interpretação.

2.6 Enfatizando a ética na pesquisa

Os princípios éticos (Autonomia, Beneficência, Não-maleficência, Justiça e

Eqüidade) orientaram a pesquisa no sentido de que foram considerados em primeiro

lugar os informantes, salvaguardando seus direitos, interesses e sensibilidade,

protegendo sua privacidade. A preservação do anonimato foi fator primordial para

conseguirmos a confiança e participação dos envolvidos na pesquisa.

Portanto, essa pesquisa esteve ancorada em diretrizes e normas

regulamentares de pesquisas que envolvem seres humanos no território brasileiro,

conforme recomendações da Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, a

qual estabelece que os projetos de pesquisa necessitam de aprovação de um Comitê

de Ética em Pesquisa – CEP das instituições.

O projeto deste estudo foi apresentado ao Comitê da Universidade de

Fortaleza tendo sido aprovado e autorizado (Anexo 1). A coleta de dados só foi

realizada após essa autorização.

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3. O ALUNO NO MEIO DO FOGO CRUZADO: A RELAÇÃO FAMÍLIA ESCOLA A PARTIR DA VISÃO DOS ENVOLVIDOS 3.1 Conhecendo os Informantes Pais

Como foi definido na metodologia deste estudo, os Informantes Pais,

compreendidos no âmbito desta pesquisa como pais e/ou mães, são apresentados e

denominados pelas primeiras letras A, B, C, D, E, F, G, H, I e J. Para as escolas

atribuímos os seguintes nomes de cores: Colégio Branco, Colégio Verde, Colégio

Amarelo, Colégio Preto, Colégio Azul, Colégio Lilás e Colégio Vermelho.

Os pais pesquisados, por serem professores universitários, possuem condições

financeiras compatíveis com o perfil de pais que matriculam filhos em escolas

particulares. Ainda podem ser considerados, na qualidade de professores universitários,

pais com maiores condições intelectuais para realmente atender aos propósitos de uma

reflexão sobre a relação que eles mantêm com as escolas de seus filhos.

Os Informantes pais entrevistados mostraram-se disponíveis para participar do

estudo e prontamente agendaram a data de realização da entrevista. Acreditamos que

por se tratar de docentes do ensino superior, compreenderam a importância da

colaboração com a pesquisa científica. Como informamos na metodologia, eles foram

contactados por intermédio dos Coordenadores dos Cursos de Graduação da UNIFOR

sendo então dois Informantes Pais para cada Centro de Ciências, conforme mostra o

Quadro 1.

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QUADRO 1: Distribuição dos Informantes Pais por Centro de Ciência.

Centros de Ciências

UNIFOR

Informantes

Pais

Mãe J CCH

Pai A

Pai E CCS

Mãe H

Pai D CCT

Pai G

Mãe C CCA

Pai F

Mãe B CCJ

Mãe I

Esta informação é relevante e deve ser ressaltada para que possamos

perceber as variadas formações profissionais dos Informantes Pais entrevistados,

garantindo assim uma diversidade de pontos de vista. Sabemos que a visão de um pai

que é profissional da área humana é diferenciada da visão de outro que atua no campo

tecnológico. Nossa intenção ao selecioná-los foi realmente abranger essa diversidade

de percepções.

Os 10 (dez) Informantes Pais entrevistados têm filhos matriculados em 7 (sete)

escolas diferentes, como pode ser observado no Quadro 2. Esta representatividade foi

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significativa para que pudéssemos obter uma visão ampla de como tem-se dado a

relação família-escola nas instituições particulares de ensino em Fortaleza.

QUADRO 2: Distribuição dos Informantes Pais por escola

Informantes Pais

Escola

Pai A Colégio Branco

Mãe B Colégio Verde

Mãe C Colégio Amarelo

Pai D Colégio Preto

Pai E Colégio Amarelo

Pai F Colégio Azul

Pai G Colégio Lilás

Mãe H Colégio Vermelho

Mãe I Colégio Verde

Mãe J Colégio Verde

De forma não intencional foram entrevistados um número igual de pais e mães,

sendo 5 (cinco) pais e 5 (cinco) mães. Acreditamos que este aspecto da seleção que foi

se configurando naturalmente resultou de forma positiva para que tivéssemos um

equilíbrio entre a visão dos dois genitores, sem, contudo, considerarmos a questão do

gênero.

Em sua maioria os informantes pais são todos casados, com exceção de uma

Mãe, que se encontrava em processo de separação no momento em que colhemos sua

entrevista.

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Quanto ao acompanhamento do estudo dos filhos, as respostas foram muito

semelhantes, pais e mães dividem-se na tarefa de ajudar os filhos nas atividades

escolares, embora não tenha ficado claro se a divisão é eqüitativa entre ambos, pois

não nos detivemos nesta questão por não ser objeto desta investigação.

Encontramos somente uma Informante mãe que afirmou que seu esposo

acompanha mais a vida escolar dos filhos do que ela e dois pais que atribuem às suas

esposas a responsabilidade relativa aos estudos dos filhos.

Através das entrevistas com os Informantes Pais pudemos perceber que

estávamos investigando famílias relativamente pequenas, a quantidade de filhos

oscilava de 1 a 3, cujas idades variavam entre 6 e 24 anos, o que retrata um perfil de

famílias jovens, com cônjuges com idades entre 39 e 48 anos.

Todos os Informantes Pais entrevistados revelaram que, na família, tanto pai

como mãe estão no mercado de trabalho, alguns ainda estudando no terceiro

expediente em cursos de graduação e/ou pós-graduação. A média de horas dedicadas

ao trabalho dos homens é 10 horas diárias, enquanto as mulheres trabalham 8 horas

por dia. Este dado ressalta e vem confirmar a mudança que as famílias brasileiras

atravessam, na qual a mulher está no mercado de trabalho, distante do lar e sem tempo

para dedicar-se a acompanhar permanentemente os filhos, repassando esta tarefa a

outras pessoas: professores de reforço, empregadas domésticas e outros familiares,

além de, muitas vezes, fazerem uso do semi-internato. Também respalda a justificativa

de muitos Informantes Pais de estarem ausentes da realidade escolar por falta de

tempo, como será apresentado em discussões que se seguem. Apenas a Mãe C

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declarou ter um expediente livre para realizar o acompanhamento dos estudos de seus

três filhos. O Pai A afirmou que sua esposa também dedica alguns expedientes à

mesma finalidade. Os demais afirmam que tanto pai como mãe trabalham em tempo

integral.

QUADRO 3: Características familiares e profissionais dos Informantes Pais.

Horas dedicadas ao

trabalho Informantes

Pais

Situação Conjugal dos Pais

Nº de filhos

Pai Mãe

Pai A Casados 03 12 8

Mãe B Casados 02 10 10

Mãe C Casados 03 10 8

Pai D Casados 02 12 8

Pai E Casados 03 8 8

Pai F Casados 01 14 6

Pai G Casados 01 12 10

Mãe H Casados 02 10 10

Mãe I Divorciados 03 8 8

Mãe J Casados 02 8 12

Média de horas dedicadas ao trabalho ?

10 horas diárias

8 horas diárias

3.2 Conhecendo os Informantes Profissionais

Os Informantes Profissionais entrevistados são denominados no âmbito desta

pesquisa pelos números 1,2,3,4,5,6,7,8,9 e 10. Todos eles mostraram-se muito

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disponíveis para nos conceder as entrevistas, mostrando-se interessados em abordar o

tema do estudo. Acreditamos que, por este fazer parte de seu cotidiano, além de

estarem em ambiente externo à escola, o que os deixou livre para se expressarem.

Suas entrevistas tiveram uma duração mais prolongada do que as realizadas com os

Informantes Pais, uma vez que tinham muito mais o que dizer, histórias a contar e

opiniões a emitir.

Esses profissionais foram contactados por intermédio dos Coordenadores dos

Cursos de Psicologia e Pedagogia, os quais constituem-se espaços apropriados para

que se encontrem profissionais que trabalham na gestão pedagógica da educação

básica privada. Geralmente atuam também na academia como professores

universitários, paralelamente as suas atividades, como é o caso dos Profissionais 1, 7,

8, 9 e 10. Muitos alunos desses dois cursos são também funcionários de escolas

particulares e cursam a graduação como uma forma de aperfeiçoamento profissional,

como são os exemplos dos Profissionais 2, 3, 4, 5 e 6.

De forma não intencional, selecionamos cinco profissionais que atuam como

professores universitários, tendo, portanto, mais amadurecimento em termos de

experiência de vida, experiência profissional prática e ainda com mais estudo e

preparação teórica, e cinco profissionais que estão cursando um entre os dois cursos

superiores a seguir: pedagogia ou psicologia (1ª ou 2ª graduação). Embora estejam a

menos tempo na escola, esses profissionais têm vivência no cotidiano escolar e podem

contribuir efetivamente com o nosso estudo. Essa diversidade de informantes foi

importante, pois é um reflexo do que encontramos na realidade das escolas, um misto

de profissionais com variadas qualificações práticas e teóricas.

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Foram, portanto, dez Informantes Profissionais entrevistados que atuam em 8

escolas de diferentes portes como pode ser observado no Quadro 4. Esta

representatividade foi importante para que pudéssemos obter uma visão realmente

ampla de como os profissionais que atuam em educação nas instituições particulares

de Fortaleza, estão avaliando a relação família-escola.

QUADRO 4: Distribuição de Informantes Profissionais por escolas

Informantes Profissionais

Escola

Profissional 1 Colégio Róseo

Profissional 2 Colégio Roxo

Profissional 3 Colégio Lilás

Profissional 4 Colégio Preto

Profissional 5 Colégio Preto

Profissional 6 Colégio Branco

Profissional 7 Colégio Preto

Profissional 8 Colégio Marrom

Profissional 9 Colégio Violeta

Profissional 10 Colégio Vermelho

Os Informantes Profissionais entrevistados foram em sua maioria do sexo

feminino, com exceção de dois profissionais. Suas idades variam de 24 a 60 anos e o

tempo de experiência em escola varia de 1 a 35 anos, constituindo-se assim um grupo

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muito diversificado no que diz respeito à experiência e maturidade dos entrevistados,

como já mencionamos.

Os profissionais mais amadurecidos e com vasta experiência no campo da

educação contribuíram muito, com suas visões críticas e reflexões consistentes para o

engrandecimento deste estudo. Seus discursos elaborados são resultado de uma

prática vivenciada e de aprofundamento teórico permanente na academia.

QUADRO 5: Perfil dos Informantes Profissionais.

Informantes Profissionais Sexo Idade Formação Funções já

assumidas na escola

Tempo em

escola

Profissional 1 F 60 anos Pedagogia Orientadora educacional e

direção. 35 anos

Profissional 2 F 30 anos Psicologia* Professora, auxiliar de

coordenação e coordenação. 8 anos

Profissional 3 F 36 anos Pedagogia* Professora, coordenadora e

Vice-diretora. 18 anos

Profissional 4 F 24 anos Psicologia* Estagiária de Psicologia Escolar. 1 ano

Profissional 5 F 24 anos Psicologia* Psicóloga Escolar. 2 anos

Profissional 6 M 31 anos Pedagogia* Estagiário de inclusão escolar e

auxiliar de coordenação. 2 anos

Profissional 7 F 49 anos Psicologia Psicóloga Escolar 19 anos

Profissional 8 M 51 anos Pedagogia Direção Pedagógica e Direção

Geral 15 anos

Profissional 9 F 42 anos Pedagogia Professora, coordenação e

direção 10 anos

Profissional 10 F 36

anos Pedagogia Professora, coordenação e supervisão. 18 anos

* Profissional em formação / concluindo curso de graduação

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Com a seleção de profissionais realizada, conseguimos abranger diversas

funções da escola, tais como: professor, auxiliar de coordenação, coordenador,

orientador educacional, estagiário de psicologia, psicólogo escolar, supervisor

pedagógico, diretor pedagógico e diretor geral. Essas funções (Quadro 5) sempre foram

exercidas junto a alunos do Ensino Fundamental II, nível de ensino definido como

objeto de investigação do estudo.

Consideramos relevante destacar o perfil dos Informantes Profissionais, uma vez

que este reflete e influencia, através da vivência, a qualidade das informações

prestadas no momento da coleta de dados.

3.3 A realidade institucional em que acontece a relação família-escola

Podemos verificar, com base nos perfis traçados dos profissionais e dos pais

nos tópicos anteriores, que a pesquisa abrangeu um número significativo de escolas de

diferentes portes da rede particular de ensino do município de Fortaleza, o que pode ser

observado no Quadro 6.

Foram ao todo 11 escolas citadas por Informantes Pais e/ou Informantes

Profissionais. Quanto ao porte estamos tomando como referência os seguintes crité rios:

? Micro escolas (até 300 alunos);

? Escolas pequenas (matrícula de 301 a 500 alunos);

? Escolas médias (matrícula entre 501 a 1.000 alunos);

? Escolas grandes (matrícula entre 1.001 a 2.000 alunos) e

? Macro escolas (matrícula acima de 2.001 alunos).

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QUADRO 6: Distribuição das Escolas em relação ao porte e informantes.

Escolas citadas Porte da escola Informantes Vinculados

Colégio Branco Escola média Pai A / Profissional 6

Colégio Verde Macro escola Mãe B / Mãe I / Mãe J

Colégio Amarelo Escola grande Mãe C / Pai E

Colégio Preto Macro escola Pai D / Profissional 4 / Profissional 5 / Profissional 7

Colégio Azul Macro escola Pai F

Colégio Lilás Escola grande Pai G / Profissional 3

Colégio Vermelho Macro escola Mãe H / Profissional 10

Colégio Róseo Micro escola Profissional 1

Colégio Roxo Escola grande Profissional 2

Colégio Marrom Escola pequena Profissional 8

Colégio Violeta Escola pequena Profissional 9

Podemos então perceber que conseguimos abranger os diferentes portes de

escolas, embora tenha ficado evidente que os filhos de famílias de classe média e

média-alta na sua maioria, estão matriculados nas séries finais do ensino fundamental

em escolas médias, grandes e macro. Estas Escolas possuem um respaldo muito

grande na sociedade fortalezense, sendo consideradas verdadeiros corredores que

conduzem à universidade pela aprovação no vestibular. Isso confere às instituições um

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certo poder que muito influencia na relação que mantêm com as famílias. São escolas

que, conseqüentemente, cobram preços elevados em suas mensalidades,

comprometendo-se a oferecer um ensino de qualidade, além de gestão eficiente e

preparação dos alunos para o exercício com sucesso de uma futura profissão.

Algumas das escolas referidas neste trabalho estão sensíveis para a

importância de uma formação integral do aluno, são instituições que vêm realizando

projetos de solidariedade, oficinas para enriquecer as habilidades artísticas e culturais

dos estudantes, debates em fóruns sobre questões políticas e sociais, dentre outras

programações que são acrescentadas à formação intelectual. Contudo, a maioria das

escolas particulares de grande a macro-porte em Fortaleza estão muito voltadas para

uma acirrada competição, pelo maior número de alunos aprovados em concursos,

olimpíadas e vestibulares, o que confere a elas status e garantia de aquisição de novos

alunos a cada ano letivo, mostrando o respaldo que a sociedade tem dado a esse

aspecto, como um forte critério na escolha da escola de seus filhos. Estudar a relação

família-escola nessas instituições consiste em entender essa realidade tão conflitante e

específica, na qual todos os partícipes comungam de um objetivo comum: a formação

cognitiva e a aquisição de conteúdos distribuídos em disciplinas organizadas em um

currículo prescritivo.

Na busca pela excelência na preparação do aluno para que ele se torne apto a

competir nos exames internos e externos à escola, essas instituições adotam uma

metodologia de ensino marcada pela rapidez com a qual os conteúdos são ministrados,

níveis elevados de ensino, acúmulo de tarefas solicitadas aos alunos, pouca ou

nenhuma participação destes na sala de aula, inclusive pelo pouco tempo que o

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professor possui para trabalhar cada unidade didática. Como resultante, os alunos se

dividem em basicamente três categorias: 1) alunos que possuem altas habilidades e/ou

dedicam-se integralmente aos estudos, obtendo excelentes notas; 2) alunos que não

conseguem acompanhar e que recorrem a um acompanhamento paralelo à escola, seja

pela própria família ou professores contratados, assim com muito esforço buscam

atingir a nota esperada; e 3) alunos que se sentem muito distantes do perfil esperado

pela escola e/ou família e que assumem uma postura de desinteresse para com o

estudo, não atingem bons resultados em notas e parecem ter desistido. Estes por mais

que seus pais lhe ofereçam um suporte paralelo à escola, passam a cada ano pelas

mesmas dificuldades.

Consideramos relevante refletirmos sobre esses aspectos pertinentes às

instituições e ao modelo escolar vigente, para que nosso olhar possa ser global no que

diz respeito às queixas escolares, dificuldades que surgem a cada dia na rotina escolar

e que serão precursoras de encontros entre profissionais e pais. Uma visão crítica deve

atravessar os dois meios, o familiar e o escolar.

3.4 Desafios e desencontros revelados a partir de categorias de análise

A análise dos dados oriundos das respostas às entrevistas realizadas junto aos

Pais e Profissionais de educação, tomando como base as falas que se referiam à

relação família-escola, foram agrupadas em cinco categorias temáticas: 1 - Influência

da equipe técnico-pedagógica na qualidade da relação; 2 - Ausência de atendimento

humanizado na escola; 3 - Relação centrada na solução de problemas; 4 - Repasse de

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responsabilidades entre as partes e 5 – Dificuldade em manter um efetivo canal de

comunicação.

Logo, analisaremos e apresentaremos os resultados, tomando como base o

estabelecimento dessas categorias, sabedoras de que os depoimentos foram

expressos em forma de julgamentos, descrições e opiniões e se processaram na

interpretação dos dados.

3.4.1. A influência da equipe técnica na qualidade da relação

A quem cabe o cuidado com a relação família-escola? Sem dúvida tanto família

como escola precisam fazer investimentos de tempo e atenção para que essa relação

aconteça, contudo, a escola deve tomar para si o cuidado maior, pois conta com um

quadro de profissionais que supostamente possuem todas as condições para refletir

sobre os relacionamentos e propiciar esse encontro com as famílias de uma maneira

mais produtiva e saudável a cada dia. Isto é o que podemos observar ao analisarmos

essa categoria temática, considerando que os Informantes Pais e Profissionais

demonstram delegar à equipe técnico-pedagógica todas as expectativas de construção

de uma relação melhor.

Muitos autores comungam com este pensamento, dentre eles Magaldi (2000),

Silva e Vargas (2002) e Perrenoud (2000), os quais ressaltam a importância de que os

profissionais da escola tomem para si o “grosso do trabalho de desenvolvimento e de

manutenção” (p.113) de uma relação entre os familiares dos alunos e a escola.

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Para Caetano (2004), quando os profissionais que atuam em escola se

queixam de que, quando a família não vai bem, a influência no desenvolvimento escolar

dos alunos é imediata. Tal afirmação está correta, contudo a autora alerta: “apenas

diagnosticar as dificuldades dos pais, providenciará um maior afastamento da família,

pois os profissionais é que são especialistas em educação” (p.51). Isto evidencia a

expecta tiva que os pais depositam na equipe técnico-pedagógica no que diz respeito ao

cuidado com as famílias.

Uma informante profissional traduz em poucas palavras a primazia que dá à

escola como parceira das famílias: “Eu vejo na família uma grande parceira da escola

mas acima de tudo a escola parceira da família, porque os filhos não são nossos, os

filhos são dos pais e das mães” (Informante Profissional 9). Quando indagada sobre os

aspectos que facilitam e que complicam a relação família-escola, a Informante

Profissional 7afirmou: “O que facilita e o que atrapalha acaba sendo as pessoas, é uma

equipe pedagógica, então esse grupo de pessoas vai facilitar ou vai atrapalhar”.

É responsabilidade da escola, portanto, esse cuidado com as famílias, como

ressalta Schargel (2002, p. 15) quando afirma: “ As escolas têm a responsabilidade de

prestar assistência às famílias, especialmente àquelas cujo envolvimento dos pais

diminui à medida que os filhos crescem”. No âmbito desta pesquisa, estamos

estudando exatamente as famílias e os pais de alunos matriculados no Ensino

Fundamental II, cuja faixa etária varia entre 11 e 15 anos, etapa inicial da adolescência,

período em que ocorre um certo afastamento dos pais por parte dos filhos.

Diversos aspectos da relação saudável competem à equipe técnico-

pedagogica: o acesso que as famílias terão à escola, as atividades propostas pela

escola, os veículos de comunicação , dentre outros, no entanto, tudo inicia-se na forma

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como a família é vista por essa equipe. A escola e família não devem ser vistas como

times adversários, como defende uma das profissionais entrevistadas:

Diante de alguns momentos difíceis que haviam na escola eu começava esse diálogo, falando que ali não haviam adversários e sim, duas partes interessadas em um único objetivo. Devemos criar essa possibilidade de dialogo com a família e não nos colocar como adversário, colocar-se como alguém que vai somar, que está ali para ajudar (Profissional 10).

Este é também o pensamento de um dos autores pesquisados:

Os pais devem observar os professores como seus parceiros, aliados e nunca como seus adversários, pois tanto a família como a escola têm um objetivo comum: preparar os jovens para o convívio social, transformando-os em cidadãos autônomos e independentes (LOURENÇO, 2005, p.01).

Essa visão nasce com alguém que tem grande importância dentro da equipe

técnico-pedagógica, o diretor da escola. Muitos informantes pais ressaltaram a figura

do diretor quando indagados sobre a relação que mantinham com a escola de seus

filhos. “Qualquer inter-corrência, qualquer reclamação, a gente tem sempre acesso

direto ao diretor, ele está sempre no colégio” (Informante Pai E). São falas como essa

que demonstram como para os pais é importante esse contato que gera confiança. A

Informante Profissional 1, que é diretora de uma escola, emite seu depoimento sobre

como os pais desejam se relacionar com os diretores escolares: “os pais olham a

direção da escola com a necessidade de o diretor se colocar não só como um gestor de

processos administrativos; ele quer que o gestor da escola seja um educador” .

O Colégio Amarelo dá uma abertura, um certo acesso ao próprio dono do colégio, o diretor, também aos coordenadores. Bem diferente de quando eles estudavam no Colégio Azul, que é um colégio grande e que a gente tinha pouquíssimo contato com a coordenação, com a direção, esse é um dos motivos da gente ter tirado eles de lá (Informante Pai E).

A Informante Profissional 10 foi durante muitos anos diretora de uma escola em

Fortaleza e ao falar de um momento em que esta teve um considerável crescimento

afirma:

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O marco desse crescimento foi justamente a relação família-escola, eu dizia que de 7 às 8 horas e de 11 às 12 da manhã eu era diretora de portão. Eu estava no portão da escola, eu conhecia todos os pais, eles me conheciam. Essa minha presença no portão de entrada da escola fazia todo um diferencial. A espontaneidade que surgia nesse contato informal, não precisava de uma sala para atendimento, não precisava de uma sala de espera e não precisava de uma secretaria.

Infelizmente não é essa a realidade das escolas de grande porte em Fortaleza.

Os Informantes Pais entrevistados, cujos filhos estão ali matriculados, se queixam desta

realidade. Não conhecem os profissionais que acompanham seus filhos.

Acho que a dificuldade que eu tenho é não ter proximidade com o coordenador, com o professor, não conheço ninguém que lida diariamente com meus filhos. Quando eu vou lá, eu já fui umas duas ou três vezes buscá-los porque tão doente ou alguma coisa eu não sei nem a quem me dirigir, porque não existe aquele vínculo de amizade, de conhecimento, de nada. Geralmente eu nunca acerto a quem me dirigir (Informante Mãe J)

A questão do acesso também foi muito comentada. A dificuldade e burocracia

vigentes para que ocorra o contato entre família e membros da equipe.

Você vai resolver um problema lá no Colégio Azul, você fica meia hora no telefone, se for por telefone esqueça, você nunca vai falar com a pessoa certa da primeira vez, vai ficar meia hora lá. Quando você chega lá tem que falar com o assessor do coordenador, e tal e tal é uma dificuldade. Parece que ele está fazendo um favor de educar o filho da gente, e nem educa, só da aula e olhe lá. A escola tem que está aberta a aceitar o pai do aluno, não pode colocar de frente uma barreira isolando os pais, tratando os pais, como um mero detalhe (Informante Pai F).

Essa distância que a família sente dos profissionais que atuam na escola, faz

com que os pais, por mais cientes que sejam da importância de suas participações, se

afastem. Como afirma Schargel (2002):

Quando tratados como parceiros e recebem informações relevantes das pessoas com as quais se sentem familiarizados, os pais colocam em prática as estratégias de envolvimento que eles já sabem ser eficazes, mas com as quais hesitam em contribuir (p.20).

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O argumento do autor pode explicar porque todos os Informantes Pais

entrevistados em suas falas mostraram reconhecer a importância de uma boa relação

com a escola de seus filhos, mas no entanto, em sua maioria, afirmaram ser distantes

da escola, nada fazendo para promover uma aproximação. Percebemos que realmente

é esperado que a escola o faça. Essa distância é quebrada pelos pais a partir do

surgimento de algum problema com os filhos, fora disso permanecem distantes.

Os pais do Ensino Fundamental II estão acostumados a uma realidade da

Educação Infantil e do Ensino Fundamental I (até a 4ª série), na qual o acesso às

professoras é facilitado e periodicamente estão conversando sobre o desempenho

escolar e o desenvolvimento das crianças. Uma das mudanças e perdas que

acontecem com a promoção do aluno para o Ensino Fundamental II é este acesso que

passa a ser mais difícil. “No colégio do meu filho há uma certa burocracia para falar com

o professor. A gente tem que se dirigir a um coordenador e depois é que este fala com

o professor. Então há um certo distanciamento com relação ao professor” (Informante

Pai D). Sabe-se que quem mais tem condições de falar sobre o aluno é o professor.

Alega-se que ele está em sala de aula e não pode participar da reunião, ou ainda que

não está na escola pois trabalha em outra instituição. Sabemos que existem saídas

para isso. Investir para que esse professor também seja remunerado pelas horas em

que se dedica ao relacionamento com os pais de seus alunos é uma delas, fazendo

valer um princípio básico da ética comunicativa: não deixar fora do diálogo, nenhum

ator que seja envolvido com a problemática dialogada (ESTEVÃO, 2003).

Contudo, entramos em uma outra questão. O professor está preparado para

este contato? Os diretores costumam temer que seus professores não saibam conduzir

bem os encontros com as famílias, bem como as críticas e sugestões. Estamos

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portanto, falando de segurança e confiança por parte da escola no trabalho que vem

desenvolvendo e do investimento em capacitação que vem fazendo junto ao seu corpo

de profissionais.

Uma Informante Profissional entrevistada levantou essa questão da

capacitação dos profissionais de escola, chamando nossa atenção para o ativismo pelo

qual são tomados estes profissionais, de forma que ficam sem tempo para se

atualizarem. A falta de capacitação compromete o atendimento dado às famílias, pois a

visão que se tem diante dos fatos é simplória, vendo apenas alguns lados da questão.

Quando um coordenador e até mesmo um professor não conhece o desenvolvimento

infanto-juvenil, bem como quando não tem se atualizado sobre os processos

transitórios e as mudanças pelas quais as famílias têm passado na contemporaneidade,

fica limitado para compreender queixas e colocações que por ventura as famílias

venham a fazer.

Seja ele um coordenador ou um psicólogo escolar, precisa parar para pensar e estudar. Na nossa sociedade é como se dissesse: fulano não está fazendo nada, está ocioso, vamos dar função pra ele. Então, esse ativismo atrapalha uma equipe pedagógica, ela precisa de tempo para refletir, para parar, para pensar, para ler, para questionar, para discutir. Uma equipe que tem esse espaço facilita. Quando ela for ouvir um pai , sua escuta não será só o que está ali jogado, ela inclusive vai fazer uma leitura no profundo daquilo que o pai está trazendo (Informante Profissional 7)

Schargel (2002), ao comentar sobre os programas de atendimentos aos pais

nos Estados Unidos, afirma que “um dos desafios mais significativos na condução de

um programa eficaz é a falta de instrução sobre o envolvimento dos pais e da família,

fornecida a educadores e administradores, por ocasião de seus treinamentos

profissionais” (p.20). Caetano (2004), em acordo com isso, sensibiliza que a parceria

família-escola deve ser uma ação planejada e construída de forma consciente. Para

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isso torna -se necessário que os educadores dispensem alguns momentos da sua

formação para “refletirem e reconstruírem essa relação” (p.51).

O professor possui um papel fundamental na escolari zação, contudo, ele tem

estado muito distante no que diz respeito à relação família-escola. É importante

ressaltar que essa relação começa por dois membros: da escola, o professor, e da

família, o aluno. Portanto, a relação professor-aluno, muito bem lembrada por alguns

Informantes Profissionais e Pais.

Perrenoud (2000) diz-nos que a relação família-escola se dá tendo como

grande intermediário o aluno, sendo ele quem, com suas expectativas, descobertas,

queixas ou julgamentos, dá o tom da relação entre a escola e sua família. E o

profissional que está mais próximo ao aluno neste contexto é o professor. A Informante

Profissional 9, fazendo uma crítica aos baixos investimentos nas relações por parte da

equipe técnico-pedagógica, afirma: “Investe-se tanto para que os professores possam

planejar, porque não se investir para que eles possam se relacionar? Quanto mais

relações positivas, melhor a formação pedagógica que acontece em sala de aula.” Em

consonância com essa fala, segue a de outra Informante Profissional:

Quando a escola investe na formação do professor eu sinto que ele extrapola a sua ação na sala de aula. Não há como você controlar. Da mesma forma há o outro lado, quando não se investe na formação dos professores, por mais que uma direção tenha proposta humanista se esse professor não tem uma boa formação ele pode travar, ele pode marcar pro resto da vida o aluno, fazer murchar muitos sonhos, muitos desejos, muitas alegrias (Informante Profissional 1).

Segundo Paro (2000), a falta de formação contínua dos profissionais faz-nos

acreditar que a escola não “assimilou quase nada de todo o progresso da psicologia da

educação e da didática, utilizando métodos de ensino muito próximos e idênticos aos

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do senso comum predominantes nas relações familiares” (p.16) . Para ele, há “uma falta

de habilidade dos professores para promoverem essa comunicação” (p.68).

Na medida em que relações entre família e escola forem se dando de forma

mais próxima e efetiva, os próprios professores ganham com isso. É o que afirma DIAS

(1996):

O envolvimento parental também traz novas perspectivas à escola. Os professores terão uma visão dos pais mais positiva, assumindo atitudes mais favoráveis no processo de interação. A escola terá tendência a enriquecer e diversificar as suas práticas; sentindo-se mais seguro, o professor estará mais disponível para estabelecer a cooperação (p. 40).

A partir do momento em que o professor passe a “saber interpretar

comportamentos de alunos, assim como sua relação com os pais, a sociedade e eles

mesmos” estará afetada a relação professor-aluno e o processo de ensino-

aprendizagem. (SOUZA, 2005, p.01).

Um pai entrevistado falou de forma emocionada sobre um momento em que

viveu na escola de sua filha, no qual percebeu o cuidado que a direção da escola tem

na escolha e na formação dos professores que atuam com os alunos. Ele presenciou os

professores participando ativamente com seus alunos de uma atividade extra -sala de

aula, jogando no pátio do colégio com a turma da 5ª série do Ensino Fundamental,

construindo seu vínculo com os estudantes. “A escola me dá exemplos de como eu

devo ser como pai. Se o professor da minha filha brinca com ela, eu sou obrigado, no

bom sentido, quer dizer, eu tenho que me obrigar também a sentar com ela e brincar

em casa” (Informante Pai A).

Desta forma, antes mesmo de uma preocupação com a relação família-escola,

é preciso que haja uma preocupação com a relação professor-aluno, que acontece

mediante capacitação e formação contínua não só para o professor, mas também

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dirigida a qualquer membro da equipe técnico-pedagógica. Essa capacitação daria à

equipe uma maior segurança, fazendo com que o contato com as famílias não

significasse algo tão ameaçador. Um profissional bem capacitado tem melhores

condições de lidar com situações conflitivas e também estará apto a auxiliar a família

nas reflexões. A falta de capacitação, por sua vez, gera nos profissionais não só uma

visão simplista, como já mencionamos, mas também uma postura de abatimento ou

rancor diante das queixas de alguns pais.

O coordenador não pode se magoar com as queixas, às queixas são pedidos de socorro, é um sintoma. O coordenador precisa compreender que uma queixa é um sintoma, essa leitura não é todo mundo que pode fazer não, precisa ter um estudo mínimo e depois está avançando nas discussões, participando de congressos... (Informante Profissional 7)

Uma maior segurança faria ainda com que a equipe se sentisse confiante para

promover reuniões mais eficientes entre família e escola, não precisariam ser tão

esporádicas, tão impessoais e genéricas, nem, tampouco, tão autoritárias. Quando a

escola tem segurança de sua prática e de seus argumentos pode abrir-se aos pais para

a reflexão e até mesmo a avaliação.

Os Informantes Pais entrevistados, com exceção de um, revelaram não sentir

vontade de participar das reuniões propostas pela escola. Alguns por se sentirem sem

condições de expor realmente as suas necessidades sobre um aluno específico em

uma reunião cujo tema é amplo. Outros por não se sentirem bem num lugar que mais

parece de aluno, queixam-se de reuniões monótonas e repetitivas.

Aquelas palestras e eventos de como educar, onde o palestrante vem de fora dar uma palestra especialmente convidado pela escola pra ensinar os pais a educar os seus filhos, esses tipo de evento eu nunca participei (Informante Mãe B). Eu fui à reuniões apenas uma ou duas vezes. Começou a repetir e eu não fui mais, já sei mesmo o que é! (Informante Mãe C).

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O colégio promove algumas reuniões mas nós não freqüentamos. Primeiro porque é um colégio de freiras, e eu vejo elas montam essa reuniões muito de acordo com a vida interna delas, então assim de manhã ou de tarde, então não procuram um horário que seja possível para os pais (...) aconteceu um fato engraçado numa dessas reuniões de pais, uma vez houve uma exposição das freiras sobre como era a conduta do colégio e alguns pais foram questionar e a freira disse que era pra ser desse jeito e pronto. Então por que convidar os pais? Em outra reunião eu fiz todo esforço pra chegar e quando eu vou entrando uma freirinha me entrega um pedacinho de papel, eu perguntei porque esse papel, ela respondeu que era para eu justificar meu atraso. Eu peguei o papelzinho da freirinha e como eu não ia dizer nada, eu dobrei um vez, dobrei duas vezes, dobrei três, quatro coloquei no bolso e entrei, puxa está tratando os pais como se fosse as crianças, então tem umas condutas assim, e as vezes eu não concordo muito (Informante Pai D).

Podemos ver que as equipes estão falhando na promoção de reuniões mais

atrativas nas quais o pai sinta-se contribuindo realmente com a sua presença para o

desenvolvimento de seu filho e de sua família como um todo. Percebemos a

necessidade dos pais de poder falar sobre seu filho individualmente. É prática das

escolas que possuem um grande número de alunos, realizar apenas uma reunião no

início do ano para abordar aspectos gerais sobre o funcionamento escolar e apresentar

os profissionais. Depois disso, realizam encontros ou palestras nos quais profissionais

da área da educação falam para os pais sobre os mais diversos assuntos. Essa

proposta tem aspectos positivos, porém a grande questão está na ausência de

momentos nos quais possa ocorrer o diálogo entre familiares e profissionais da equipe

técnica, deixando nos pais uma sensação de frustração, que se remete ao fato de ter

ido até a escola, mas não ter tido a oportunidade de discutir sobre suas necessidades

ou saber mais sobre o próprio filho.

As reuniões baseadas em termos teóricos e abstratos, reuniões para chamar a atenção dos pais sobre a lista de problemas dos filhos sobre suas péssimas notas, reuniões muito extensas, sem planejamento adequado, onde só o professor pode falar, não têm proporcionado se quer a abertura para o iniciar de uma proposta de parceria, pois os pais faltam às reuniões, conversam paralelamente, parecem de fato não se interessarem pela vida escolar (CAETANO, 2004, p.58)

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Schargel (2002) apresenta dados que foram coletados da análise realizada

pela National Parent Teacher Association (Associação Nacional de Pais e Professores

nos Estados Unidos) sobre a eficácia do envolvimento familiar na educação. Dentre

eles, apresenta dados sobre as reuniões promovidas pelas instituições de ensino e

afirma:

É importante que os programas de en volvimento dos pais deixem de lado as atividades que têm por objetivo apenas informar os pais sobre os programas escolares e passem a promover atividades que ofereçam aos pais oportunidades para níveis mais amplos de envolvimento (SCHAEGEL, 2002, p. 21).

A Informante Mãe J, quando indagada sobre a relação que mantinha com a

escola de seu filho, informou que esta resolveu com o próprio aluno aspectos que

deveriam fundamentalmente ser discutidos com os pais. Seu filho foi convidado a

passar para uma turma dita “especial”, em que os alunos se preparam para cursos

universitários mais concorridos. Esse convite foi feito ao próprio aluno e sua

transferência foi procedida sem nenhum contato com a família. Afirmou que neste

momento se deu conta do quanto a escola estava distante dos pais, considerando-se

que se tratava de um adolescente de apenas 12 anos, cursando a 7ª série do Ensino

Fundamental.

Outro aspecto que podemos discutir referente às falas acima trata da abertura

que a escola oferece para que os pais possam questioná-la. Como podemos confirmar:

“A escola de pequeno porte favorece mais a aproximação dos pais, essa dos meus

filhos, não. Mantém os pais afastados realmente, nós não temos nenhum tipo de

influência para questionar o ensino e a resposta é: se não quer, tira” (Informante Mãe

J). Isso demonstra a insegurança da equipe técnico-pedagógica bem como um manejo

autoritário em sua prática. O que revela o uso de um certo poder por parte da escola.

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Poder já discutido neste trabalho à luz do pensamento de autores como Mittler (2003) e

Perrenoud (2000), que afirmam ser a escola, na figura de seus professores e outros

profissionais, muitas vezes autoritária, criando barreiras, agindo com o poder de ser

portador de um saber, poder esse interpretado pelos pais como algo contra eles,

afastando-os.

No primeiro capítulo deste estudo, no item 1.3, citamos Farias Filho (2000) que

nos fala que a escola traz consigo o poder de ser a instituição que educa e que tem o

mérito de possuir técnicas e recursos no que se refere à educação. Neste sentido, a

Informante Profissional 10 afirma que a escola precisa assumir uma postura profissional

no contato com a família, sabendo pontuar as colocações familiares no sentido de que:

quem tem o saber pedagógico é a equipe que foi formada para tal.

Recebi um pai que era médico, ele dizia que a escola deveria mudar sua forma de trabalho, que não era correto essa metodologia que estavam utilizando e veja bem esse pai não teve uma formação em educação. Talvez ele possa até ter estudado, ter um pouco mais de conhecimento, mas isso não lhe dar autoridade suficiente pra chegar e dizer que aquela conduta, aquele profissional, ou aquela metodologia é inadequada. Então quando você deixa o pai chegar à escola e assumir esse papel, você deixa de ter uma atitude profissional, porque ali o profissional da relação não é o pai é a escola. Eu acho que a escola precisa ter isso muito bem identificado, dentro da escola particular o que nos vivenciamos é a escola muito vulnerável diante a essa circunstancias. A escola deve ter um principio, deve assumir uma postura metodológica, deve ter uma razão explícita. Não que ela não vá se abalar, ou que ela não vá ser reflexível diante do que está sendo dito, mais ela não pode está vulnerável a diversas circunstâncias, porque isso torna a escola frágil.

A escola precisa ter segurança de sua proposta pedagógica e dos princípios

que norteiam sua prática, concordamos, contudo, trata-se de uma linha muito tênue a

que divide essa convicção de que a escola deve possuir de seu projeto pedagógico e a

abertura que deve ter para ouvir, enriquecendo sua prática constantemente com a visão

das famílias. A segurança e a confiança não podem invalidar as possibilidades de

escuta e avaliação.

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Davis apud Dias (1996) afirma que nas sociedades atuais a ação educativa

extrapola as relações mantidas na sala de aula. Acentua que atualmente “passar a

incluir diferentes atores sociais em contato com a escola é fundamental” pois a escola é

a própria sociedade. Ou seja, fechar-se para os pais e suas opiniões é fechar-se para a

sociedade.

Quanto ao manejo autoritário, este surge da figura do próprio gestor. Na

maioria das vezes, os profissionais que compõem a equipe técnico-pedagógica ficam

norteados pela visão do gestor. Como nos diz a Informante Profissional 9:

Os próprios diretores não tem essa habilidade, não valorizam essa dimensão relacional nem sabem como se relacionar bem com a equipe técnica, com os professores. Infelizmente, muitos diretores, eu não chamaria de gestores nesse sentido, encontram dificuldades pra exercer esta liderança. Então, utilizam muito de posturas autoritárias e isso repercute no trabalho da equipe técnica que já incorpora esse autoritarismo influindo conseqüentemente na família-escola, então se fala tanto nessa excelência de relações em outros tipos de instituições que não essas educativas, e aquela onde deveria acontecer com mais significado é onde muitas vezes esta mais fragmentada. É colher quais são as necessidades dessa família e assim corresponder essas necessidades, porque não adianta você saber quais são se a escola não esta pronta pra isso, as vezes também as reuniões pedagógicas são muito sem graça, assim muito cansativas, eu acho que ai é onde vem a questão da espontaneidade, da criatividade, das dinâmicas, das vivencias.

Na verdade algumas escolas não se sentem à vontade quando os pais a

freqüentam. Algumas não encaram com naturalidade a presenças dos pais nos seus

corredores. Temos escolas em Fortaleza que possuem salas de atendimento aos pais

situadas próximas às recepções, o que sugere um certo cuidado para que o pai não

circule pela escola. Trata-se de uma amarra a ser quebrada, um paradigma a ser

superado.

A escola não é só onde eu paro o carro na porta, coloco meu filho e depois, mais tarde volto para buscá-lo. Nenhum dos pais conhece o ambiente físico da escola. Quantos pais tiveram acesso a observar uma aula? O que se esta sendo ensinando dentro da sala de aula não é nenhum segredo que o pai não possa observar (Informante Profissional 8).

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Para os Informantes Pais e Profissionais entrevistados, a relação família-escola

acontecerá de forma mais próxima e efetiva a partir do momento em que for mais

prazeroso para os pais comparecer à escola. Este aspecto será mais discutido em um

outra categoria temática também emergida neste estudo. A relação será facilitada

quando o acesso for mais fácil e menos burocrático, usando inclusive da tecnologia

como recurso para tal.

Fator que simplifica é o próprio uso da Internet, toda agenda do garoto está na Internet, então eu acompanho, eu posso acompanhar de onde eu estiver, por exemplo, eu estou aqui na universidade e ligo para ele e pergunto: e ai você já fez a tarefa? Eu estou vendo aqui que amanha você vai ter prova, já leu o assunto? Claro que seria ideal se tives se um sistema de áudio e vídeo que eu pudesse esta vendo a pessoa, conversar com o coordenador, com a coordenadora, com o professor acredito que um dia nos vamos chegar lá (Informante Pai G).

Contudo, este recurso precisa ser efetivamente utilizado e ter sua importância

ressaltada, caso contrário corre o risco de prejudicar a confiança em vez de estabelecer

vínculos. “Existe lá no site da escola um e-mail pra você mandar pra escola e você

manda um e-mail e um mês depois você não tem uma resposta. Então não disponibiliza

aquilo pôxa, porque você só vai gerar uma insatisfação” (Informante Mãe B).

Todos esse aspectos devem ser cuidados pela equipe técnico-pedagógica,

propiciando encontros com as famílias e uma boa comunicação. Alguns informantes

apresentaram durante as entrevistas vivências extremamente positivas. São relatos de

atividades desenvolvidas pela escola, aos quais os pais aderiram e participaram muito

bem.

O colégio criou momentos de vivencias, experiências curriculares e extracurriculares que a ge nte pode participar As extracurriculares são as atividades de festas, campeonato, dia do pai, dia da mãe (...), as reuniões de avaliação do filho, seja reunião de rendimento acadêmico, seja de comportamento, sejam as reuniões de acompanhamento e também os convites de formação de pais (...) o colégio faz uma consulta de temas que nos interessam e é quase mensal o nosso encontro com a escola, olha é tão permanente isso, a presença na escola é tão permanente que agora a gente se

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encontra com um pai do Colégio Branco, você parece que está se encontrando com um irmão, do tempo que a gente está junto na educação dos meninos (Informante Pai A). Nós temos um almoço uma vez por semana para as famílias onde o pai liga e agenda que vem almoçar no colégio. Nós temos um self service e reservamos uma mesa para aquela família. Durante o almoço tem uma apresentação de alguma coisa que acontece no colégio para o pai ver, são resultados de pesquisa, de teatro, um saral de poesias que nos já fizemos, apresentação de musicas, então tem várias atividades que se realizam durante o almoço para que o pai possa ver o acontece dentro da escola, ele pode entrar no ambiente da escola, vai pra lá vai pra cá, isso acontece toda semana na sexta-feira (Informante Profissional 8). Nós temos escolas de pais, que é um programa aberto, o pai se matricula se ele quiser, então tem tema que são rodados a gente procura profissionais da cidade ou se tem alguém de fora pra trazer uma dinâmica, não é só uma palestra, porque uma palestra no final da tarde, não é muito produtivo, então tem várias dinâmicas que nos realizamos para pontuar determinados aspectos que a gente quer pontuar para a família (Informante Profissional 8).

Tais relatos mostram como é possível desenvolver atividades mesmo que no

segmento do Ensino Fundamental II. Evidenciam que os pais estão sendo cuidados.

“Não só os filhos precisam, os pais também precisam de pessoas que sejam

referências para eles” (Informante Profissional 1). Essa perspectiva é defendida

também por Schargel (2002), ao afirmar que as atividades escolares permitem que a

família e o corpo técnico-pedagógico se unam no espírito de alegria e descontração.

Ele inclusive cita como exemplo de atividade os almoços, como uma possibilidade de

abertura da escola para a família em horário alternativo que facilite a sua presença.

Nessa área de relações humanas, na humanização, eu investiria na formação humana dos professores mais principalmente da equipe técnica e dos diretores de escola, porque não adianta investir na formação do professor se o diretor e toda a equipe técnica, coordenador, supervisor, psicólogo orientador educacional também não se dispõe a esse movimento, Teríamos resultados brilhantes, gratificantes na relação família-escola se nos trabalhássemos as relações dentro da escola, tanto quanto trabalhamos a formação pedagógica, a escola viveria um outro momento, e ser amigo da escola seria um desejo da família (Informante Profissional 9)

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A relação com a família pode ser para a escola um grande foco de investimento

na medida em que se acredita que, a partir deste cuidado, se está favorecendo uma

melhor qualidade da aprendizagem em sala de aula e se promovendo melhor a saúde

nas relações. Assim a equipe conquistaria um vínculo maior com as famílias, que

passariam a desejar participar mais da vida escolar dos filhos. Para isso precisam ser

eliminados os aspectos que afastam a família da escola, como enfatizamos na

discussão sobre esta questão.

3.4.2. Ausência de atendimento humanizado na escola.

O que espera a família da escola na qual matricula seu filho? Dias (1996)

apresenta alguns aspectos que normalmente estão presentes nas expectativas dos

pais. Os pais esperam que a escola proporcione ao seu filho aprendizagens, que leve

em conta o seu ritmo, suas habilidades e os seus interesses. Desejam que o tempo em

que ele lá permanece seja bem aproveitado e que seja despertada sua motivação para

a aprendizagem. Que as interações sejam fonte de enriquecimento e aproveitamento

na escola e fora dela, para que este seja atuante e autônomo no meio em que o rodeia.

E ainda, que a escola possa dar continuidade e referenciar a disciplina e os valores

cultivados no meio familiar.

Durante as entrevistas pudemos perceber que este é um real interesse também

de nossos Informantes Pais e uma preocupação de alguns Informantes Profissionais no

sentido de permanecerem atentos para atender a essa expectativa que nada mais é do

que o que caracteriza o processo de educação.

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O texto do artigo 205 da Constituição Federal, promulgada em 1988, prescreve

o seguinte: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2005). Esse artigo evidencia como é amplo

educar. A amplitude do que se pretende com a educação tem extrapolado o que se tem

atingido nas escolas brasileiras. Evidenciamos as últimas palavras do Artigo 205 que

deixam clara a atenção pelo “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o

exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, tornando assim fundamental

que, para que esse desenvolvimento pleno se dê, sejam respeitadas as diferenças

individuais, sejam trabalhados os valores humanos e sociais, sejam dados sentido e

vida aos conteúdos ensinados, para que o aluno seja atendido em todos os seus

aspectos: bio-psico-social, cognitivo e político.

Sabemos que a escola ainda traz consigo posturas que se chocam com essa

necessidade, como nos evidencia Dias (1996):

“A escola continua, grosso modo, a ser considerada meramente como uma instituição acadêmica, omitindo a diversidade social e cultural que a habita e excluindo de diversas formas, os que são “diferentes”. Nesta perspectiva, a problemática da relação família -escola, corresponde a uma relação multi-cultural, em última análise, a uma diversidade de modos de ser e estar” (p.02).

O autor ressalta dois aspectos que serão discutidos nesta categoria temática:

1) A dificuldade que a escola possui de atuar de forma menos homogeneizadora,

atropelando as diferenças individuais e as necessidades particulares de cada família e

aluno, com sua cultura e seu modo de ser. 2) A primazia dada à formação acadêmica e

aos resultados a serem obtidos, exercendo uma pressão sobre os alunos no sentido de

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que estes acompanhem um determinado padrão de excelência acadêmica. Estes dois

aspectos levam a escola a atuar de forma pouco humanizada muitas vezes.

No decorrer deste estudo, deparamo-nos com falas que revelam que os pais

estão preocupados com a importância que está sendo dada à formação intelectual e à

preparação para o vestibular. O que traz à tona a questão da competição entre os

alunos, como conseqüência o individualismo, em detrimento das relações e dos valores

que não estão sendo muito ressaltados, e gerando a ansiedade que compromete a

saúde emocional dos estudantes. Estes são aspectos que têm nascido no seio escolar

e que repercutem na formação dos alunos, aparecendo assim no meio familiar.

Percebe-se nos Informantes Pais um enorme desejo de que a escola pudesse trabalhar

com seus alunos outros valores e ampliar seu foco, para que essa realidade familiar de

ansiedade fosse amenizada.

Uma ambigüidade surge junto com essa questão: os mesmos pais que se

queixam desses aspectos confessam em outros momentos das entrevistas terem

matriculado seus filhos em tais escolas por elas oferecerem um bom ensino e

prepararem bem para o desafio do vestibular anos à frente. Isso que denuncia que a

escola é reprodutora de um sistema maior, que é a sociedade, com seus paradigmas.

Dutra (2005) discute sobre essa questão:

Não podemos perder de vista que a economia e a educação andam juntas, legitimando o processo social. A escola procura manter ou implantar o tipo de sociedade que o regime político impõem a todos, é através dos conteúdos fragmentados e distribuídos entre as diversas disciplinas que compõem a grade curricular dos diversos níveis e modalidades de ensino que a ideologia de plantão é repassada. Portanto, torna-se impossível tentar analisar os problemas de ordem pedagógica desvinculado do contexto político, econômico, cultural e social (p.01).

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Então, as mesmas famílias que desejam que outros valores sejam trabalhados

com seus filhos, que não sejam massacrados pela pressão com o vestibular, são

famílias que estão emergidas em um sistema capitalista que valoriza muito o “ter” em

detrimento do “ser”.

Conforme discussão anterior, com base nas palavras de Carvalho (2004), a

escola possui dificuldades para lidar com a diversidade, e o um olhar que respeite a

diversidade no meio escolar foi uma das maiores reclamações apresentadas pelos

Informantes Pais, tendo sido muito citada como um fator que compromete a relação que

eles mantêm com a escola. Os pais se queixam de que a escola generaliza

demasiadamente seus procedimentos, tendo dificuldade para, em alguns momentos,

ouvir e dar importância ao que possa se caracterizar como uma particularidade. E o que

podemos demonstrar com a fala de uma Informante Mãe:

Deveria ser importante uma atenção maior, não precisava ter uma avaliação individualizada mais profunda com o aluno não, bastava ter uma atenção maior, existem sinalizadores para isso. Muitas vezes o professor percebe coisas e nem sempre dá a devida atenção, são pequenos sinais que mostrar alguma coisa. A mesma coisa acontece com os pais, já aconteceu comigo. Tentei mostrar algo e não foi dada importância. Muitas vezes à colocação de um pai pode ser a colocação de vários outros, você pode esta percebendo alguma coisa que não está legal e você não é ouvido com atenção, por que não é uma reclamação geral (Informante Mãe B).

O Informante Pai F foi categórico ao afirmar: “sou contra as regras pedagógicas

pré-estabelecidas, eu acho que cada caso é um caso”. Schargel (2002) afirma que:

O passo mais importante para as escolas é que elas sejam receptivas e convidativas a todas as famílias. É necessário que se comece, envolvendo professores no treinamento da convivência com a diversidade (...) os professores que compreendem isso se comunicam melhor com as diversas famílias (p.16).

Isto também influencia no segundo aspecto que estamos discutindo nesta

categoria: a primazia dada à formação acadêmica e aos resultados a serem obtidos

com ela, exercendo uma pressão sobre os alunos no sentido de que estes

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acompanhem um determinado padrão de excelência acadêmica. O mesmo autor

completa seu pensamento afirmando que:

O treinamento da convivência com a diversidade ajuda também a criar um clima de aceitação aos diferentes níveis de competição e estilo de aprendizagem dos estudantes. Os estudantes têm direito aos mesmos recursos e igual tratamento, independente de sua aptidão ou cultura (SCHARGEL, 2002, p. 16).

Os Informantes Pais apresentaram queixas sobre o grau de exigência da

escola sobre seus filhos.

Acho que o fator vestibular tem feito com que a escola esteja cobrando muito alem do limite que eu vejo no meu garoto. Não quero só formar o cientista. Quero formar o ser social também, um homem equilibrado. Não me interessa ter aqui do meu lado um brilhante pesquisador e um desconsertado social. Prefiro que esse brilhantismo seja revestido para prestar um serviço social (Informante Pai G).

Esta discussão sobre o vestibular levanta uma outra: a competitividade que

surge entre os alunos, mais uma reprodução da realidade competitiva na qual vive a

nossa sociedade. Dentro da escola particular em Fortaleza, esta competitividade hoje

existe em diferentes níveis. Dentro da própria sala de aula, entre alunos, pela

classificação diante dos resultados obtidos em notas. E também entre salas diferentes,

salas onde os alunos são tidos como “especiais”, competindo com outras salas onde os

alunos não possuem essa definição, sendo muitas vezes excluídos. Os alunos

especiais são assim denominados por terem um desempenho escolar superior aos

demais, e são treinados para estarem aptos a concorrer por vagas nos cursos mais

disputados nas universidades. Esse mal-estar que é gerado nos alunos (especiais ou

não) chega à família na medida em que leva os adolescentes a desenvolverem uma

certa individualidade, pouco senso de cooperação e muitas vezes ansiedade, como

demonstram os informantes pais neste estudo.

Vemos que existe uma disputa pela sala que estudará. O meu filho já entrou nesse processo. Tem os alunos da sala A, os alunos da sala B e os alunos da

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sala C. Num processo de disputa eles acabam buscando esse espaço, o que gera uma estratificação social dentro da escola. Eu não sei mais tenho impressão que isso acentua uma individualidade (Informante Pai D).

Acentua o individualismo na medida em que leva cada aluno a buscar uma

vaga em determinada sala, vagas que são disputadíssimas e que, para serem

mantidas, precisam os estudantes manterem um auto grau de desempenho escolar.

Então a cooperação que é tão saudável ao processo de aprendizagem passa a ser uma

ameaça na disputa. Em vez de se promover trocas riquíssimas entre alunos com

habilidades diversas, estratifica-se e se atua de forma excludente. Essa idéia é vendida

aos alunos que, pelo status, aderem com muita facilidade.

Meu filho é da turma especial do Colégio Verde. Eu mesma não concordo dele estar nessa turma mas como ele mesmo quer, e já tem 15 anos, eu permiti. A minha menina mais nova está querendo competir com o irmão. Quer boas notas para também ir para a turma especial. Isso não é uma coisa que lá em casa a gente incentive, Eu digo: quero que vocês aprendam e não essa questão de nota. Não adiante vocês terem notas se vocês não estão aprendendo. isso me preocupa por conta que de repente me vi sem controle nesta situação e isso me preocupa porque gera a questão da ansiedade (Informante Mãe J). Um dia meu filho perdeu uma prova, ele começou a chorar. Fui conversar com ele dizendo que ele teria outra oportunidade. Ele só dizia: eu tinha estuda do tanto. Então eu vejo que existe muita expectativa diante destes resultados, se cobram demais pra se saírem bem. Talvez para mostrar aos colegas que está bem (Informante Pai G).

Por mais que os pais trabalhem essas questões em casa, o clima escolar é

muito contagiante neste sentido. Sabemos que isso é difundido pelos próprios

professores, que muitas vezes são os maiores responsáveis pela competição criada

entre turmas distintas, a partir das comparações que realizam entre elas. Conforme nos

fala a Informante Mãe J:

Meus filhos me falam que os professores chegam na sala de aula e dizem: Há, até os meus alunos da turma tal tiraram notas melhores que as de vocês. Então, isso é pra motivar? Está é criando uma ansiedade. Me pergunto até que ponto a escola está intervindo no fato de orientar os professores para agirem dessa forma, e isso cria ansiedades nos meus filhos. Falo por eles, tem dias que eles estão bem quando tiram notas boas e quando tiram notas que eles

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não consideram boas ficam trancados e sisudos, daqui uns dias tão entrando em depressão.

Então, podemos observar que se tratam de questões despertadas na escola,

que estão afetando o contexto familiar. Se família e escola discutissem esses aspectos

poderiam chegar a denominadores comuns e mudar esse quadro de exclusão que não

promove em nada a saúde dos envolvidos. A família recebe uma demanda para

trabalhar e equacionar que não foi diretamente gerada por ela. Embora compactuada

por ela, na medida em que esta família mantém seu filho matriculado nessa escola, não

promove nenhuma reflexão e respalda o paradigma da melhor preparação para o

futuro/vestibular. A fala de um Informante Pai revela esse paradoxo. O orgulho de ter

um filho obtendo excelentes resultados acadêmicos e ter que lidar com a exclusão de

outro filho que não apresenta o mesmo desempenho.

A questão da competitividade, isso ai eu realmente não concordo. Na entrega de troféu a escola faz a cerimônia pra entregar. Quando você tem somente um filho você acha ótimo. O meu primeiro recebe, mais os outros dois não. O que já causou certas dificuldades, porque um deles questionava: há papai porque eu não ganhei o troféu? Será que eu não estou à altura do colégio? Será que eu não aprendo? Tínhamos uma certa dificuldade para explicar isso a ele. Eles premiam os três primeiro colocados com troféus, até o décimo recebe um certificado, e quem não se inclui nesses dez, já se sente totalmente fora do processo, então isso é realmente um ponto negativo da escola, o estimulo a essa competição (Informante Pai E).

A Informante Mãe H revelou uma situação similar na qual um de seus filhos

pode permanecer com ela em cadeiras situadas ao centro da quadra da escola,

arrodeadas de flores e ornamentações, na cerimônia de entrega de medalhas,

enquanto o outro não pode passar dos degraus da arquibancada. Ela afirmou sentir-se

muito constrangida neste dia.

Acreditamos que esse processo foi se dando com o objetivo de promover uma

maior capacitação acadêmica dos alunos, contudo gerou práticas extremamente

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desumanizadoras na escola. Em nome de uma ordem tecnicista vigente, a escola

perdeu parte do que é da sua função. Algumas Informantes Profissionais também

mencionaram a necessidade de humanizar o atendimento na escola.

A essência do ambiente escolar, não é reproduzir o que um sistema impõe, mas sim, produzir uma nova ordem. Por isso que eu acho que ela precisa romper com algumas coisas. Como exemplo eu digo: Alguns colegas dizem que as crianças e os jovens não vão fugir da competição e que nos temos é que prepará-los para ela. Eu penso que não, nos temos que mostrar que existem outras possibilidades e se eles não encontrarem essas possibilidades na escola que é um ambiente favorável pra isso, eu acredito que vai ser muito difícil encontrarem em outros ambientes (Informante Profissional 10)

Quando falava sobre a relação família-escola, a Informante Profissional 7

afirmou de forma otimista que estava percebendo uma melhoria neste processo e

informem que :

A escola está começando a retomar a base da sua função, que é uma base humanística e ela tinha perdido. Ela se tecnologizou, perdeu o que era humanizar. A sala de aula é um espaço de humanização e estava virando o contrario, de des -humanização. Em prol de uma técnica, em prol de um conteúdo que tem que se repassado. Fruto das abordagens conteudistas e tecnológicas .

A Informante Profissional 7 afirma ainda que os pais hoje não querem mais só

um excelente ensino, querem sim um excelente ensino e pagam a escola por isso, mas

querem também que a escola seja um espaço para a humanização dos seus filhos.

Para ela, a escola pode fazer isto por meio de projetos sociais, projetos de

solidariedade, projetos de cidadania, no entanto alerta: “é preciso ter cuidado pra que

não fique no discurso, é preciso ter cuidado para que não fique no tecnológico ou no

marketing”.

Martins (2005), em seu artigo sobre “A prática de valores na escola”, afirma:

Não é uma tarefa fácil abordar a questão dos valores na educação escolar. E sabemos o porquê. A Pedagogia Tradicional levou -nos acreditar (e sua influência ainda desapareceu totalmente do meio escolar), por muitos séculos, que a principal tarefa da escola era a de transmitir conteúdos escolares. É um

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modelo pedagógico que não se enquadra mais às exigências do mundo moderno (p.01).

As palavras do Informante Profissional 8 representam bem o que é necessário

para que a escola possa atuar de uma maneira mais humanizada com seus alunos e

também com os pais. E desta forma ele também ressalta a importância deste

atendimento humanizado para a qualidade da relação família-escola.

É preciso olhar para o aluno de uma maneira integral. Aqui na Escola Marrom olhamos o aluno por um tripé educacional, ou seja é cognição, afeição e motricidade. Quando há equilíbrio entre essas três áreas você mantém uma estabilidade do educando e conseqüentemente a estabilidade da equipe que trabalha com ele, porque se ele esta estável as relações com ele também são relações estáveis. Então, enquanto escola, a gente não está só contemplando a área cognitiva, o que é andar um pouco da contra mão aqui em Fortaleza, aonde a cognição é contemplada de uma maneira mais forte do que as demais áreas.

Humanizar o atendimento na escola é promover uma melhor relação entre esta

e a família, na medida em que os pais sentirão seus filhos mais cuidados, enquanto

indivíduos, no sentido de ser “um”, “únicos”, com características e necessidades

específicas. Pais se sentirão também mais ouvidos e valorizados em suas queixas e

angústias. Humanizar a escola é trabalhar valores e desta forma contribuir para com a

família na construção de indivíduos conscientes, éticos e que se relacionam bem na

sociedade. Portando, atender a necessidade de capacitá-los para a academia e para o

trabalho, sem gerar desconfortos como a ansiedade presente na competitividade.

A humanização está intimamente ligada à promoção da saúde e à criação de

um ambiente mais saudável na escola e nas relações que giram em torno dela.

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3.4.3. Relação centrada na solução de problemas

Perrenoud (2000), ao comentar sobre os encontros entre família-escola,

menciona que estes ocorrem apenas quando surge algum problema que faça com que

a escola convoque os pais para “partilhar suas inquietações, mobilizá-los, repreendê-los

ou prepará-los para o pior” (p.118). Este aspecto evidenciou-se nas falas dos

informantes deste estudo. Tanto os Informantes Pais afirmaram serem convocados

apenas quando emergem problemas com os filhos, sejam eles disciplinares ou no

desempenho escolar, como os Informantes Profissionais afirmaram que a família

somente procura a escola quando tem queixas a apresentarem ou questionamentos a

serem feitos.

Quando indagada sobre o que facilitaria a relação família escola, a Mãe B

respondeu: “por incrível que pareça, negativamente, a possibilidade da existência de

um problema com o aluno poderia facilitar essa relação, fazê-la acontecer”. O que pode

ser confirmado na fala do Informante Pai D, que afirma não comparecer tanto à escola

de seu filho por não ter problemas para discutir: “as reuniões que o Colégio Preto marca

pouco nós participamos, primeiro porque não ter tempo e segundo porque meu filho

não apresenta muito problema, então a gente não sente a necessidade de ir ao

colégio”. Outro Informante Pai mostrou-se afobado quando na entrevista falou: “tem

uma coordenadora do Colégio Azul que a mulher só fala com a gente para reclamar do

menino” (Informante Pai F).

A Informante Profissional 5, quando falava do trabalho que realiza junto às

famílias, afirma: “sempre que possível a gente convoca os pais daqueles alunos que

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estejam passando por alguma dificuldade”, o que demonstra que realmente a relação

fica restrita à ocorrência de problemas.

A escola sempre foi para família um local para resolver problema. Porque esta não é chamada também para receber reconhecimentos a respeito do seu filho e sobre seu comprometimento? Infelizmente o ser humano pontua muito mais o lado negativo do que o positivo. A escola precisa exergar mais o positivo do adolescente, porque também é uma forma de resgatar a relação família-escola. Se dar valor ao filho então aquela escola passa a ter um valor maior para aquela família (Informante Profissional 9).

A escola também sente falta de uma postura de elogios por parte dos pais bem

como seu reconhecimento, e não apenas críticas. A Informante Profissional 5 afirma

que é difícil ter a visita de um pai à escola para agradecer qualquer procedimento de

cuidado e atenção dado ao filho. Afirma ainda: “quando aparecem, muitas vezes, vêm

com sete pedras nas mãos”.

Dias (1996) afirma que um dos motivos para as famílias apontarem mais os

problemas que elogiarem, procurando a escola com rispidez, às vezes, grosseria, é a

forma normativa como a própria escola trabalha essa relação. Fica como uma norma:

família e escola se encontram na medida em que seja necessário para a resolução de

algum problema. Se a relação acontecesse contínua e naturalmente, se intercalariam

as queixas com os elogios, as dificuldades com as eventualidades da rotina escolar.

Algumas instituições estão mais sensibilizadas para mudar essa realidade, pois

já perceberam que “os pais não agüentam comparecer a uma reunião na qual vá ouvir

somente reclamações” (Informante Profissional 3).

Estamos sempre, seja quando aconteça qualquer coisa com o aluno ou às vezes até quando está tudo bem nos comunicando com as famílias. Percebemos que alguns pais nunca foram convocados à escola para resolver alguma dificuldade então telefonamos para dizer que o aluno estar bem. Perguntamos se o pai quer colocar alguma coisa para a escola, informamos que ele pode vir na ho ra que ele quiser e dar sugestões que venham a somar com o nosso trabalho (Informante Profissional 2).

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A Informante Mãe B, afirmando sobre o fato de sentir-se distante da escola de

sua filha, relatou que para receber uma atenção por parte da escola diante de uma

queixa sua, é necessário que o problema tenha representatividade para a escola como

um todo e trate do que para a escola é primordial, o rendimento escolar dos alunos.

Minha filha me colocou no inicio do ano um certo problema e eu fui à escola me manifestar sobre este. Tratava-se de uma queixa que poderia ter sido perfeitamente trabalhada e foi desconsiderada por completo porque a queixa foi feita por uma aluna que só tirava notas maravilhosas. Então se desconsiderou pois, a aluna que tira notas maravilhosas apontou uma queixa numa disciplina que ela tira notas boas então o problema inexiste.

A Informante Mãe C relatou algo muito interessante para contribuir com nossa

investigação. Afirmou perceber que os pais mais conhecidos da escola não são aqueles

que colaboram na sua gestão, mas aqueles que reclamam e criticam. Ela mesma

percebeu que passou a ser mais reconhecida nas festas depois que teve um problema

com seu filho e participou de várias conversas com coordenação e direção, tendo antes

disso sempre estado presente em todas as festividades e reuniões. Embora seja natural

que pessoas com as quais nos relacionamos de forma mais intensa nos marquem mais,

isso só vem reforçar o aspecto de que a relação família-escola acontece sempre

mediada por um problema a ser resolvido.

Desta forma a relação vai se caracterizando mais e mais como uma relação

conflituosa, como apontam Sayão (2002), Aquino (2002), Silva e Vargas (2002),

Estevão (2003) e Carvalho (2004a/b).

Sendo chamados sempre para ouvir problemas, os pais já chegam à escola

com um discurso pronto que, na maioria das vezes, é de defesa. A escola, por sua vez,

prepara um discurso bem contundente no sentido de tentar fazer com que a família

aceite o que ela está propondo e não se esquive de sua responsabilidade. O encontro

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entre essas duas instituições, na forma de parceria para juntas discutir soluções, fica

comprometido.

Ao discutir a questão, Gomes (1993) faz um paralelo entre as escolas públicas

e particulares:

Em escolas de bairros populares a relação com as famílias é, quase sempre, acompanhada de tensão e desconforto. Os profissionais sentem-se incompreendidos. Na perspectiva dos pais, contudo, a incompreensão e o desrespeito são bem maiores. Tão logo recebam o bilhete para que compareçam à Escola, põem-se em guarda, na expectativa do desastre provocado pelo filho. Para a maior parte deles, a criança é culpada a priori; e a vergonha de ser chamado à Escola justifica surrá-la mesmo antes de tomar conhecimento sobre o que ocorreu. Enquanto isso, os pais de camadas médias colocam-se também em guarda, mas a favor do filho. Para estes a questão é: o que a Escola está aprontando dessa vez? - e não: o que ele aprontou dessa vez? (p. 86).

Mesmo que as famílias sejam convocadas para discutir problemas que surgem

na escola, esta convocação e encontro não precisam ser marcados apenas por críticas,

há de haver algo neste aluno a ser valorizado e dito aos seus pais. Isso reduz o impacto

da problemática dando condições emocionais aos pais para lidar com a dificuldade,

sendo oferecido a eles algumas sugestões e orientações, pois, “se toda pessoa tem

direito à educação, é evidente que os pais também possuem o direito de serem, senão

educados, ao menos informados no tocante à melhor educação a ser propiciada a seus

filhos” (PIAGET, 1972/2000, p.50).

É importante ressaltar que problemas e conflitos sempre surgirão em qualquer

relação, no entanto estes podem ser vistos como fonte de enriquecimento e

crescimento tanto para a escola como para as famílias, além de serem vividos com a

leveza que permita a discussão e o diálogo franco, sincero e desarmado entre as

partes. Para isso o conflito precisa ser, antes de tudo, compreendido.

Na relação com o outro, os conflitos que surgem, os desentendimentos, acredito, são tentativas de sermos felizes, de encontrarmos um equilíbrio ou até mesmo, tentativas de entendermos o outro, que às vezes não é

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compreendido. O convívio com o outro é gerador de sentimentos, de afetos, de idéias, de memórias, de desejos e de valores, ele pode também ser gerador de conflitos, de frustrações e de riscos. Cada um tem uma história diferente, uma necessidade diferente, uma expectativa diferente quando se relaciona (SOUSA, 2005, p.02).

Estamos trabalhando a relação família-escola na perspectiva da promoção da

saúde. Desta forma, a intervenção da escola junto às famílias deve considerar a

necessidade de vivenciar reflexões que lhe possibilitem a reconstrução de sua auto-

estima. Seja dos pais ou dos filhos. Quando pais se sentem incompreendidos ou

julgados, essa condição lhes é tirada. Se sentirem aceitos em suas limitações e não

acusados, recepcionados e não rejeitados e reconhecidos e fortalecidos como parceiros

nesta relação, os resultados das intervenções pedagógicas serão cada vez mais

engrandecedores.

3.4.4. Repasse de responsabilidades entre as partes

Encontramos autores como Aquino (2002) que, ao falar da relação família-

escola como “um trabalho a ser feito por quatro mãos”, mencionou um certo repasse de

responsabilidades que ocorre nesta relação. Para o autor, “quando há fracasso de

alguma ordem, as mãos parentais são mais responsabilizadas pelos profissionais da

escola” (p.23). Este aspecto foi fortemente detectado nas falas dos entrevistados,

originando uma categoria temática a ser agora discutida.

A Informante Mãe C expressa seu sentimento quando é convocada pela escola

para tratar de assunto relacionado ao fato de o seu filho permanecer horas desenhando

em sala de aula. Seu filho demonstra altas habilidades ao rabiscar, freqüenta aulas de

técnica em desenho artístico e possui o hábito de desenhar, segundo ele, quando

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termina as atividades escolares. Trata-se de um aluno que tem dificuldades na sua

socialização com os colegas, recusa-se a participar das atividades extra-curriculares,

como apresentações, maratonas e gincanas. Quando convocada comparece à escola,

a mãe gostaria de poder contar com a ajuda dos profissionais no sentido de que a

criança possa usar o seu talento para participar mais dos grupos, não inibindo sua

expressão.

Eu acho que a escola se limita a transferir o problema pra mim, porque ela não tenta conversar com a criança? A reação é só expulsar da sala de aula e pronto. É chamar o pai e dizer que não é para o seu filho fazer mais isso. (...) eles encrencam muito com esse menino, está sendo um pouco difícil acabar com os desenhos, eu já falei com ele para não fazer mais isso, em contra partida eu estou limitando o desenvolvimento dele. Coloquei-o num curso para compensar. Me dá vontade de tirar os meninos da escola. (...) Porque não tentam traze-lo um pouquinho mais para perto, tentar envolvê-lo, em outras atividades se ele não quer participar dançando na festa junina, por exemplo, de uma outra forma ele pode ajudar, ficar responsável por desenhar uns bonequinhos juninos seria uma opção.

Não só as mães e os pais percebem esse repasse de responsabilidades, os

profissionais também se queixam:

Sinto os pais perdidos na educação e acompanhamento dos filhos, com dificuldades para estabelecer limites aos adolescentes. Então os pais cobram muito esse papel da escola e para eles, temos realmente que dá um jeito, precisamos suprir isso. Se o aluno tem nota baixa a culpa é da escola. Eu vejo que normalmente não é, que a escola está dando todo o suporte, todo o acompanhamento, proporcionando diversos campos de aprendizagem. Percebemos uma certa ausência dos pais, no acompanhando, no estímulo, muitos alunos desmotivados e normalmente a gente relaciona isso à família (Informante Profissional 4)

Analisando esta fala, podemos perceber que a Informante Profissional começa

seu depoimento afirmando que a família repassa a responsabilidade de educar para a

escola e logo em seguida mostra que a escola repassa para a família os insucessos na

escolaridade do adolescente.

O repasse de atribuições que a família faz para a escola encontra explicações

nas mudanças ocorridas nas estruturas familiares ao longo do tempo, como já

havíamos contextualizado no item 1.1 deste trabalho.

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(...) A família nuclear burguesa tinha uma função social bem definida que fazia par complementar com o modelo de uma sociedade da época. A dinâmica social mudou e não cabe mais uma família nos antigos moldes nos tempos de hoje. A figura paterna enquanto encarnação de poder absoluto não se sustenta mais. A família como um todo não sint etiza mais o ideal de segurança e proteção eternas, mas se inscreve em um espaço aberto e sempre provisório, onde os papéis de pai, mãe ou filho não encontram -se mais definidos em um roteiro acabado, mas em um texto em constante construção (LIMA, 2005, p.03).

Em nosso contexto atual, pai e mãe estão envolvidos na subsistência do lar,

pouco é o tempo dedicado ao diálogo com os filhos e ao seu acompanhamento. A vida

prática e objetiva na contemporaneidade fez com que ficasse rara e escassa a

presença dos pais dentro da escola, os quais muitas vezes, deixam os filhos na esquina

da escola e saem apressados para suas atividades profissionais. Surgem críticas por

parte dos profissionais da distância que a família tem mantido dos próprios filhos e de

sua escolarização. A fala da Informante Profissional 3 pode ser citada como um

exemplo disto:

Os pais acabam transferindo sua responsabilidade para escola por não conviverem com os filhos, temos alunos que passam o dia conosco, não tem nada para fazer em casa e ficam lá jogando bola. Ou seja, este aluno fica na nossa responsabilidade enquanto podia está em casa, produzindo alguma coisa, em contato com a família vivenciando as relações familiares .

Esse distanciamento dos pais deixa nos profissionais da escola uma sensação

de sobrecarga e uma angústia muito grande de não poder contar com o apoio dos pais.

Surge ainda o mal-estar de ser cobrado pela família embora esteja fazendo tudo o que

pode ser feito pelo aluno.

A família não está conseguindo assumir o seu papel de educadora principal, assim ela transfere para outras instancias e a escola hoje ainda não está estruturada suficientemente pra dar conta disto. Muitas vezes pedimos a parceria da família para agir numa determinada situação e a família devolve de novo para escola, dizendo: Vocês querem que eu faça o quê? Ainda afirma para a escola muitas vezes que a culpa é nossa, que a gente tinha que ter agido e quando a gente faz, ainda fez errado. Se torna uma situação muito complicada, muito mesmo (Informante Profissional 2).

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Na escola particular um aspecto fundamental entra em jogo, o financeiro. O pai

paga pelos serviços educacionais e muitas vezes usa o argumento de cobrar por isso.

Alguns informantes profissionais afirmam já ter ouvido muitas vezes esse argumento.

Como é o caso de um diretor de escola, que fez um comentário importante:

Quando o pai diz: eu não tenho tempo e por isso eu pago essa escola para vocês cuidarem do meu filho. Opa! Aí tem um sinal de alerta! Aqui não é depósito de menino, aqui é um lugar de soc ialização e de instrução. Devemos dizer para ele que ele está enganado, procurou a instituição errada e dizer: o senhor não nos paga para cuidar do seu filho porque você não tem tempo, o senhor nos paga para investir no seu filho um saber que nós dispomos e que o senhor não dispõe (Informante Profissional 8).

Então, ao mesmo tempo que a família está distante, está muito exigente. A

Informante Profissional 1 analisa historicamente essa realidade afirmando que dos anos

80 para cá, as famílias do Ceará começaram a cuidar de forma diferente do futuro dos

filhos. Passaram a terceirizar os filhos, “vêm os cursos de inglês, os cursos de

informática, o ballet, o Kumon, de uns 20 anos pra cá isso começou a chegar nesta

cidade e influenciou a postura da família em re lação à escola”, afirmou. Da mesma

forma que a família “terceirizou” muitos serviços, ela chama a atenção para o fato de

que a família passou a cobrar algo diferente da escola. É importante ressaltar que

estamos nos referindo sempre à realidade das famílias de classe média e média alta e

as escolas particulares. “A família, hoje, cobra da escola outros resultados”, que antes

não exigia, a questão maior era a aprovação do aluno. Hoje perguntam sobre como o

filho tem se integrado com os colegas, exigem que a escola perceba e acompanhe as

suas mudanças de comportamento, pedem explicações técnicas e reclamam a

presença de profissionais que possam respondê-las. A Informante complementa: “a

família cobra também a formação de hábitos, mas ela se esquece que essa formação

não é a escola quem vai dar inicialmente”.

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Os pais não aparecem querendo discutir ou buscando entender o que está acontecendo. Existe muita cobrança e imediatismo. De nós psicólogos eles esperam uma verdadeira fórmula mágica. Têm a dificuldade de ver que talvez o filho não esteja se dedicando tanto, ou que ele estejam sendo um pouco negligentes. É uma luta constante manter essa relação que parece ser a três: pais, escola e aluno (Informante Profissional 5).

Neste depoimento é apresentado um fator que atua como complicador da

relação família-escola: a dificuldade que a família tem para realizar uma auto -análise. É

difícil para eles vê que a dificuldade cognitiva ou psicológica do aluno possa ser gerada

no seio familiar. Sabemos que os sintomas de comprometimentos emocionais

apresentam-se em primeiro lugar na escola, que é o lugar privilegiado para que se

observe qualquer mudança comportamental no aluno quando este está passando por

problemas sócio-afetivos. Ou ele deixa de freqüentá-la, ou seu rendimento baixa, ou

pode mudar sua interação com o grupo, isolando-se ou ainda ficando mais disperso,

agitado ou agressivo.

A Informante Profissional 10 afirma que nesse “jogo de cobranças e

responsabilidades” entre família e escola o que acontece é que: “a escola não assume

e acaba transferindo para a família que, por sua vez, também não assume as suas

responsabilidades e as transfere para a escola, a bem da verdade eu acho que tanto

escola quanto família estão perdidas nesta definição de papéis”.

“Família e escola têm, em relação uma à outra, senão atitudes de oposição,

sem dúvida atitudes de indiferença e muitas vezes de recriminação” (DIAS, 1996, p.

35). No entendimento do autor, o que mais é percebido na relação família-escola é um

diálogo entre dois culpados, cujo repasse de culpa existe em grande parte, na

descoberta de lacunas no desempenhar do papel de cada uma das partes. Muitas

vezes, há transferência da culpa para o próprio aluno, ele passa a receber rótulos e

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estereótipos de “agressivo”, “aluno problema”, “difícil”, dentre outros, estando, assim,

em meio ao “fogo cruzado”.

Nessa perspectiva, tanto escola como família estão falhando nesta relação:

Acho que a família peca por jogar muito da sua responsabilidade para a escola e esta também peca por não ter a criatividade de conquistar a família para a participação. Há uma certa acomodação de ambas. Talvez a escola até ache bom a distância, porque quando os pais chegam com certas exigências muitas vezes ela não está aberta para isso (Informante Profissional 9).

Infelizmente, esse jogo, como chama a informante, impede que se estabeleça

uma efetiva relação família-escola. A família parece não perceber tanto as perdas que

tem tido com a sua acomodação e com a acomodação da escola. O que nos inquieta é

a escola ter consciência disto e está tirando proveito deste distanciamento da família

para não “desequilibrar”, no sentido piagetiano, a sua concepção de educação e a sua

prática. Tal afirmativa amarra nas falas dos profissionais ouvidos, eles estão na escola,

fazem a educação a cada dia, possuem esta concepção, mas a escola como um todo

não consegue absorver isso e mudar essa realidade, ficando assim prejudicado todo o

desenvolvimento do aluno e o desgaste emocional dos envolvidos neste “jogo de

responsabilidades” compromete a promoção de saúde almejada no ambiente

educacional.

Lima (2005), ao discutir sobre as transformações ocorridas na família no

decorrer dos tempos, fala sobre os jovens: “(...) o mundo dos jovens é insuflado ao

extremo exatamente no momento em que o mundo dos adultos assiste cair por terra os

seus símbolos de poder”. Ele diz que nessa situação onde faltam referências aos

jovens, entra em cena a escola. “Acredito que exista uma curiosa dessemelhança entre

o que acontece com a família e o que acontece nas escolas. Enquanto a família ganha

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novos formatos e redes de significação, a escola continua funcionando nos mesmos

moldes tradicionais” (p. 04).

Diante dessa mudança pela qual passou a família, um dos resultados foi uma

geração de jovens sem consciência de seus limites, o que aparece nos atos de

indisciplina na escola. Aliado a isto, ainda temos a falência do modelo de educação

atual que não consegue competir com a explosão de novas tecnologias e estímulos que

atingem os interesses de nossos jovens, colocando o estudo em segundo plano. A

Internet é atualmente um marco deste desvio de interesse entre os jovens que passam

horas em bate-papos, sites de jogos e outros entretenimentos. Com a ausência de

acompanhamento por parte dos pais, os filhos não se organizam, não se disciplinam

para estudar, e divertirem. Desta forma, a escola sofre com a falta de estudo em casa e

não consegue suprir isso em suas aulas. Pede socorro à família no sentido de que ela

possa dar conta dessa necessidade, porém a família tem tido dificuldades para impor

limites e gerar normas aos filhos. Este quadro deixa em profissionais que não possuem

esta visão do todo a sensação de que a família desistiu e que está sobrecarregando a

escola.

A família fica meio perdida com essa nova situação e procura muito a escola para que ela supra essa necessidade, mas a escola não pode ser escola de aluno e de filho. A escola não tem essa capacidade de suprir de resolver os problemas da sociedade. As famílias buscam ajuda como se elas não tivessem mais condição, como se não soubessem cuidar dos filhos. Sinto algumas famílias como se quisessem livrar-se do problema, como se o pai tivesse apenas a função de custear, de financiar a alimentação, pagar a educação e só. Delegam totalmente o filho a es cola como se estivesse fazendo uma doação (Informante Profissional 6).

Podemos perceber uma resistência na fala deste profissional em assumir

aspectos da formação do aluno que até pouco tempo não era função da escola. Essa

resistência foi mais percebida em profissionais que estão no início de suas carreiras. Os

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profissionais mais maduros e com mais anos de experiência em educação já

apresentam uma postura diferenciada. Eles criticam a distância da família, pois é fato

incontestável que isso acarreta comprometimentos afetivo-emocionais para o aluno,

comprometendo também sua vida escolar e gerando para a escola uma maior carga de

trabalho, no sentido de que esta está tendo mais dificuldade para lidar com os alunos.

Contudo, esses profissionais acreditam que cabe à escola de hoje, dar conta dessa

realidade.

A Informante Profissional 7, que atua em educação há 19 anos, afirma que a

família não tem a quem recorrer para ajudá-la na missão de educar seus filhos, em

meio a esse “caos” de falta de tempo e aproximação dos filhos, bem como de falta de

definição de valores.

A família não tem a quem recorrer mais na nossa cultura. A que instituição social ela pode recorrer para pedir ajuda na formação dos filhos? É só a escola mesmo! Ela delega para a escola porque ela não tem outra opção. Mas, a escola muitas vezes, por falta de compreensão deste contexto e da realidade vai se batendo, vai se peitando com a família. Como quem diz: eu não posso fazer isso não. Como não pode? E quem vai fazer? Então fica o pai querendo uma coisa que ele não tem mais a quem pedir e a escola dizendo que não pode fazer porque tem que dar conta apenas da formação acadêmica.

Gomes (1993), Dias (1996), Dorey e Durkheim apud Dias (1996) e Souza

(2005) tratam em seus estudos sobre família e escola da questão do processo de

socialização do indivíduo, no qual fica evidente a participação da escola.

Segundo Durkheim (apud DIAS, 1996, p. 26), “a escola socializa os indivíduos

no sentido de lhes proporcionar a sua devida integração na sociedade. Neste sentido a

escola é atravessada pelas mesmas tensões e conflitos que se entre -cruzam nessa

mesma sociedade. A escola é o reflexo da sociedade, como se pôr fora deste processo

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então? A sua ação deve se produzir ligada às próprias modificações que se sucedem

na coletividade humana”.

O que a Informante Profissional 7 quis nos dizer foi exatamente isso: a escola

tem dificuldade para se colocar como parte deste processo. Para ela falta um pouco de

compreensão por parte dos profissionais, entendendo que os pais estão muito soltos no

mundo de hoje, no qual os valores são efêmeros. Defende que a escola pode se

transformar, em função de fornecer uma ajuda maior na formação dos filhos.

O pensamento de Caetano (2004) alia-se aos argumentos da Informante

Profissional 7. Para a autora, “as famílias não estão preparadas sequer para enfrentar,

quanto mais para solucionar os problemas que os educadores de seus filhos lhe

entregam e ou transferem.” (p. 58).

Se a escola não se adaptar a essa nova realidade teremos a falência da

formação humana? Como então saber quem se responsabilizará pela educação?

Começamos essa discussão no item 1.2 deste estudo quando indagamos: A quem

compete educar? Alguns informantes colocaram que a escola tem a função de dar

continuidade ao processo de socialização iniciado na família, concordando assim com

os autores citados:

Creio que a escola é um espaço de escolarização e a família e um espaço de educação. Eu, enquanto escola, só tenho a educação que os alunos trazem de casa. Se um adolescente comente alguma tipo de violação de princípios de regras dentro da escola, a autoridade que eu tenho de levá-los a cumprir as regras estabelecidas é a autoridade dos pais. Entendo que a educação é uma tarefa da família e eu tenho como tarefa não deseducar e prepará-lo para a vida social em termos de conteúdos programáticos, de espaços de socialização, aonde ele vai aprender a se relacionar, a respeitar o espaço do outro, enfim esse ambiente social que reproduz e muito o que acontece na sociedade adulta e que vai completar a visão que os pais passam em casa (Informante Profissional 8). Tudo tem que ser ensinado, ninguém nasce sabendo de nada, vamos aprendendo na convivência com o outro. A escola participa disto. São

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ensinamentos que começam lá na família e que não terminam lá. São vivenciados em qualquer canto que a criança e o adolescente vá. Pode ser um professor de biologia, mas na hora que ele ver algo que vá contra os principio éticos, tem que abrir o espaço de pontuar, sem recriminar ou punir. É pontuado sempre que eles aprendem, e assim estaremos contribuindo para a formação (Informante Profissional 7).

Sobre a questão da continuidade e descontinuidade na educação, Gomes

(1993) afirma que a educação escolar se realiza em continuidade à educação famíliar.

“(...) a escola continua a tarefa familiar de educar para a vida e, especialmente, para o

trabalho. O que não fazemos é levar em conta este dado até às últimas conseqüências”

(p.87). Assim sendo a relação família-escola como está ocorrendo nas instituições

particulares promove uma descontinuidade no processo educativo. Uma quebra entre

família e escola devido à distância entre elas.

Portanto, o que está sendo defendido é que a escola não pode achar que tem

ensinamentos que são somente de casa. Será que os alunos devem então chegar

prontos à escola? A sala de aula e a escola como um todo são excelentes lugares e

espaços de aprendizagem de muitas normas de convivência. Então, não é uma questão

de repasse de responsabilidades para a escola, e sim, que é legítimo que lá se aprenda

tudo isso. Seria uma questão de CO-RESPONSABILIDADE.

O envolvimento da família nas escolas requer uma parceria. As parcerias bem sucedidas vêem o aproveitamento do estudante como uma responsabilidade compartilhada e todos os participantes – pais, administradores, professores e líderes comunitários – desempenham importantes papéis no suporte ao aprendizado (SCHARGEL, 2002, p.14).

Outro autor a discutir sobre a co-responsabilidade foi Dias (1996) o qual, no

relato de sua pesquisa sobre A problemática da relação família/escola e a criança com

necessidades educativas especiais, mencionou que as diferenças entre os dois

sistemas (família e escola) não podem anular a existência de um objetivo comum, o

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bem estar do aprendiz. Sabemos que, na prática, existem conflitos gerados entre o

desejo de controle familiar e a necessidade de autonomia da escola para realizar seu

trabalho, mas, para o autor, “se partirmos da premissa de que as diferenças entre a

família e a escola outorgam responsabilidades, de caráter diferente, a pais e

professores, torna-se necessário que a escola permita atuar de forma convergente e

solidária, assumindo a família como parceiros” (p. 01). O autor evidencia isso por ter

detectado em seu estudo que os conflitos têm levado às organizações escolares pôr as

famílias à margem da escolarização das crianças.

A Informante Profissional 2 deixa transparecer em seu discurso a impressão de

que alguns membros da equipe técnico-pedagógica e professores possuem de que os

alunos deveriam chegar melhor trabalhados à escola. Ela afirma que: “a gente tem que

pegar o aluno já pronto e estabelecer uma série de coisas que era de base, que ele

tinha que ter aprendido em casa, mas, a própria relação dele com a família não existe

para dar conta disso”. É importante retomar, aqui, o que discutimos sobre o grande

problema da geração atual de alunos que tem estado muito comprometida pela falta de

limites e presença de pais gerenciando melhor suas ações. Acreditamos que este aluno

não chega pronto à escola; lá, ele continua seu processo de educação social, contudo

não pode chegar sem referências. Referências essas que, como o Informante

Profissional 6 anteriormente evidenciou, darão respaldo à escola no momento de atuar

junto ao aluno. Quando a família não estabelece critérios na educação com os filhos, do

que é certo ou errado, do que pode ou não pode fazer, delegando para a escola

estabelecer critérios básicos que já deviam ter sido estabelecidos pela família, fica mais

difícil para esta trabalhar disciplinarmente com o aluno. “Complica quando a família

repassa para a escola a responsabilidade de estabelecer os critérios e impor isto ao

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aluno. Essa não é uma função primária da escola. Seria uma função secundária,

porque ela mantém os padrões estabelecidos que vieram de casa” (Informante

Profissional 6).

Gomes (1993) também vê a escola como responsável por uma educação social

secundária:

As imposições urbanas de existência, aliadas às condições atuais de vida e de trabalho das mulheres, acabaram por antecipar o início da escolarização da criança, sobretudo de extratos médios da sociedade. Principal agência de socialização secundária, a Escola há de dar continuidade ao processo educativo anteriormente desenvolvido na Família (p. 87).

A situação se agrava um pouco mais quando a escola precisa impor limites ao

aluno e a família não respalda tal decisão. Alguns informantes profissionais se

queixaram em relação a isso. “Os pais são muito coniventes com seus filhos, não

aceitam que o colégio esteja atuando dentro das normas e limites” (Informante

Profissional 5).

Uma parceria tem que acontecer nos dois lados. Se a escola toma uma decisão com o aluno, uma medida disciplinar ou de estudos a família deve apoiar. Embora a família não concorde deve apoiar e depois vir à escola e dizer que não concorda. Na frente do aluno jamais desfazer o que a escola tomou como decisão. É preciso mostrar para o filho que se o pai o colocou naquela escola é porque ele sabe como ela é e confia (Informante Profissional 2).

Infelizmente, em meio a esse repasse de responsabilidades, o aluno acaba

percebendo a fragilidade que existe na relação entre sua família e a escola. Isso

compromete diretamente o vínculo que ele mesmo terá com a instituição, gerando

assim prejuízos para sua formação integral. Daí a importância de que se estabeleça

uma relação de co-responsabilidade entre pais e profissionais.

A Informante Profissional 9, em sua entrevista, defendeu que a relação família-

escola deve ser uma relação de co-responsabilidade. Chamou a atenção de que no

início de cada ano letivo família e escola assinam um contrato de prestação de serviços

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educacionais. Nele, estão pontuados somente os aspectos financeiros, normas

disciplinares do estabelecimento e algumas vezes aspectos pedagógicos,

respectivamente nesta ordem de prioridade. Não é, portanto, ressaltado para cada

membro da escola que ao assinar este contrato, a escola está se comprometendo com

a formação integral deste aluno. E desta forma ela explica:

Eu não consigo desconectar as dimensões do social, do afetivo, do psíquico e do físico quando penso em qualidade de vida. Na escola isso requer um investimento, maior compromisso, mais estudo, maior envolvimento do professor com o aluno que transcende as disciplinas e que o leve a ser co-responsável e não responsável, porque responsável primeiro é a família, mas ser co-responsável na construção desse ser integralmente é função da escola.

Com esta fala, a informante demonstra perceber a relação família escola com a

mesma ótica norteadora desta pesquisa. Uma relação que promove a saúde integral

dos envolvidos, por promover uma melhor qualidade de vida.

Um trabalho mútuo não é só a escola ser co-responsável com a família. É

também a família ser co-responsável com a missão da escola, que precisa ser

apresentada e discutida com as famílias para que isso possa acontecer de fato. Este

consiste em um grande desafio. Um imenso aprendizado que pode ser construído e

reconstruído a cada dia.

3.4.5. Dificuldade em manter um efetivo canal de comunicação

Ao analisarmos as falas coletadas nesta pesquisa encontramos diversos

argumentos que situam a relação família-escola como uma relação na qual é difícil se

manter uma efetiva comunicação. A escola chama a família para comparecer, ansiosa

pelo encontro no sentido de que seja favorecido o trabalho junto ao aluno. Por sua vez,

a família visita a escola ou comparece quando solicitada, desejosa de que o processo

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de educação de seu filho seja o melhor possível. Contudo, esse desejo de obtenção de

bons resultados educacionais não é suficiente para que essa relação se dê. Já

discutimos nas categorias de análise anteriores alguns aspectos que permeiam essa

relação e que dificultam o encontro. Vimos que posturas inadequadas da equipe

técnico-pedagógica podem afastar os pais da escola, mostramos que estes estão em

busca de um atendimento mais humanizado, observamos que essa relação é sempre

atravessada por um conflito, o que já lhe torna uma relação desgastante, e ainda que o

repasse de culpas e responsabilidades impede que família e escola possam dar as

mãos numa parceria de co-responsabilidade.

Outras questões surgiram como obstáculos para uma efetiva comunicação

entre os atores da relação família-escola: pais, alunos, professores e membros da

equipe técnico-pedagógica, que estão explicitadas na discussão desta categoria e

tratam de três aspectos básicos para que esta comunicação aconteça: 1) A

disponibilidade para a comunicação; 2) A necessidade de eliminar os possíveis “ruídos”

(más-interpretações) na comunicação e 3) A necessidade de Saber ouvir e Saber

falar.

A grande queixa dos Informantes Profissionais entrevistados que atinge

diretamente a comunicação que precisa existir entre eles e os pais de seus alunos é a

indisponibilidade dos pais para o diálogo. Queixam-se ainda da objetividade com a qual

conduzem as conversas que chegam a acontecer muitas vezes por telefone.

Da educação infantil até a 4ª série os pais estão mais presentes porque acham as crianças pequenas. Então, mesmo aqueles que não aparecem muito, de vez em quando estão aqui. Quando ele chega à adolescência, ensino fundamental II, existe uma tendência da família em se distanciar da vida escolar (...) quando o pai tem dificuldades de comunicação ou dificuldade de acesso à escola esse é um fator que dificulta o relacionamento de ambas (Informante Profissional 8).

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Muitas vezes, a família não tem tempo para se reunir com a escola, nem em entrega de notas ou reunião de pais e professores. É uma coisa triste e preocupante (Informante Profissional 6).

Um pai chegou à coordenação de 7ª e 8ª série e afirmou que o filho dele estudava lá, mas não sabia dizer qual era a série que cursava: - ele tem 14 anos qual é a série que é pra ele está? Normalmente não se sabe em que turma o filho estuda, não a série. Isso me marcou profundamente (Informante Profissional 4). Como psicóloga, às vezes é frustrante tentar buscar os pais, chamá-los e eles não virem. Alguns que são chamados querem saber logo pelo telefone o que aconteceu, é um pouco frustrante, não só pelo trabalho que eu não estou conseguindo realizar, mas pelo modo estou assistindo a sociedade caminhar (Informante Profissional 5).

Estas falas, além de demonstrar o distanciamento dos pais e muitas vezes a

indisponibilidade deles para a comunicação com a escola, denunciam o sentimento de

preocupação, tristeza e frustração que toma conta dos profissionais que acompanham

os alunos na escola. Neste trabalho estamos tomando a relação família-escola como

uma relação que, se bem trabalhada, produz saúde. No item 1.4 do primeiro capítulo,

defendemos que os profissionais são acometidos por uma angústia muito grande

quando não conseguem contar com a família para dividir a responsabilidade na

formação do aluno. Os discursos vêm comprovar essa angústia, que foi também

percebida na fisionomia de cada profissional entrevistado quando mencionava a

ausência dos pais ou suas recusas a comparecer à escola. Profissionais que consigam

promover um diálogo constante com os familiares de seus alunos têm condições mais

saudáveis de trabalho na educação.

Essa queixa é referenciada por muitos pais entrevistados, porquanto eles

assumem que isso ocorre. Quando indagados sobre a relação que mantêm com a

escola de seus filhos, os Informante Pais, com exceção de dois, responderam explícita

ou implicitamente serem distantes da escola.

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A minha relação com o colégio, como pai, é muito pouca (...) (Informante Pai D) A minha relação com a escola é muito de acompanhá-los só pelos informativos que eles trazem, eu não participo das reuniões quando acontecem (...) (Informante Mãe J)

Uma relação que eu acredito que inexiste, porque uma relação minha com a escola está sem tempo para existir. Da escola para comigo , até que me ligam e pedem para que eu passe lá. Aí, como quero saber mais alguma coisa, esgoto a conversa ali no telefone mesmo. O que era para marcar já virou um contato. Então é uma relação no celular, mais a minha dedicação de ir até lá, eu tenho que dizer que não existe a bastante tempo (Informante Mãe H).

Dias (1996) afirma que, progressivamente, os pais foram se afastando da

escola e que isso foi aos poucos gerando atitudes ambíguas nos pais. Oscilam entre a

culpabilização, o desinteresse e a vontade de participar. Caetano (2004a/b) afirma que

a escola foi se fechando para a participação dos pais e, desta forma, foi promovendo

espaços de participação não muito atrativos. Para Sá (2001), “ao recusarem as ofertas

participativas que lhe são proporcionadas, arriscam-se a ser etiquetados como pais

negligentes, inaptos e irresponsáveis, a quem pode ser facilmente imputada a culpa

pelos eventuais insucessos” (p. 97).

Para alguns Informantes Profissionais entrevistados, essa situação vem se

agravando a cada dia, “a escola procurou incentivar a presença com cursos e palestras,

mas, agora, mesmo que ofereça e proporcione eventos diferentes, está difícil contar

com a participação” (Informante Profissional 3). Para a Informante Profissional 9, o

aluno percebe esse distanciamento, pois experimenta essa fragmentação quando a

escola menciona que convocará seus pais e vê que com o passar dos dias, esse

encontro não ocorre. Além de experimentarem a ausência de resultados da integração

na sua formação.

A Informante Mãe 1 afirmou que não participa como gostaria da vida

escolar de seus filhos e que observa que isto ocorre na maioria das famílias hoje

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em dia. Ela refletiu sobre a não participação em um aspecto mais amplo,

vejamos:

Acho que essa não participação da família na escola e da escola conseqüentemente em contrapartida com a família é um reflexo também da não participação do cidadão na sociedade, é uma manifestação da não-participação dos brasileiros por conta de todo um processo democrático no qual estamos ainda aprendendo a participar.

Lima (2005) também aborda essa questão falando que os acontecimentos dos

últimos dez anos no cenário político e econômico deixaram o brasileiro muito

desacreditado das instituições e, desta forma, vivemos um momento de grande

alheamento social, onde as pessoas se voltam exclusivamente para seus interesses

próprios e imediatos.

A Informante Profissional 10 alertou que estamos vivendo em uma sociedade

que, até por medida de segurança, tem se fechado na sua individualidade, não se

abrindo para as relações e para a participação: “Estamos criando amarras, proteções

em demasia, eu acho que as pessoas estão se fechando cada mais e isso está

impossibilitando os diálogos, está dificultando a convivência”. Vivendo de forma mais

individualizada e mais fechada a idéia de parceria, de comunicação e de interação fica

para segundo plano ou não se encontra simplesmente espaço para isso. Tudo isso

compromete em demasia a qualidade de vida das pessoas, daí a necessidade de se

investir nas relações. Nossa sociedade carece de cuidados na promoção de relações

mais saudáveis.

Todos esses aspectos podem, aliados à excessiva carga de trabalho que reduz

o tempo para cuidar das relações, gerar uma indisponibilidade para a comunicação.

Um outro aspecto existente nas falas dos Informantes Profissionais

entrevistados trata de uma certa omissão da verdade ou cuidado com as palavras

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presente nos diálogos que ocorrem na escola, por medo de más-interpretações. Tudo

isso funciona como ruídos na comunicação e ocorre em diversas situações. Quando um

pai procura a escola e faz queixas sobre determinado professor, mostra-se cuidadoso

com suas palavras e pede o mesmo aos coordenadores no trato da problemática para

que isso não afete o relacionamento do professor com o aluno. Passa pelo imaginário

dos pais que seu filho possa ser “marcado” pelo professor depois de uma reclamação, o

que denota uma insegurança na postura profissional e ética do corpo docente por parte

dos pais, gerada também pelo distanciamento. Se o pai fosse mais próximo do

professor, construiria uma relação e o diálogo seria natural, a troca de idéias e

sugestões de mudanças. Os pais se sentiriam mais à vontade e seguros para realizar

questionamentos. Depois de um contato com uma família que se queixe de

determinado professor ficam os membros da equipe técnico-pedagógica, encontrando

modos e maneiras de repassar a informação ao professor, o que muitas vezes não

ocorre de imediato, tornando assim ineficaz a visita que os pais fizeram à escola.

A Informante Profissional 10 fala dessa dificuldade que a escola possui de

promover diálogos autênticos e verdadeiros.

Na minha visão terapêutica eu acho que nada surge dentro de um espaço escolar para que se fique colocando panos mornos. Às vezes é uma situação muito complicada, muito difícil e que tem uma série de desdobramentos que se hesita em levar a publico. Se é um conflito que o pai traz em relação a um professor a equipe fica atordoada sem saber como resolver o impasse. Simples, conversa com esse professor, coloca esse pai em contato com ele, cria todo esse ambiente favorável. Só existe essa forma, é através do diálogo.

Outra situação comum é na relação inversa professor-pais. Quando a escola

convida os pais para uma conversa sobre dificuldades que os professores possam estar

tendo com o aluno em sala de aula, também faz com todo o cuidado para não ser mal

interpretada. Surge um certo medo com relação à repercussão que isso pode ter. Uma

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profissional entrevistada falou do receio que sente no atendimento aos pais de que

estes possam discordar ou se sentirem indevidamente cobrados ou pressionados pela

escola, podendo inclusive queixarem-se aos seus superiores.

Se em algum momento você deixa claro que a culpa é do pai ou que ele pode está contribuindo para o problema existir, a culpa é repassada ao colégio, adciona palavras que não usamos ao nosso discurso e talvez procure até alguém acima da gente para reclamar. Aí, complica mais ainda. Então tem que ter muito jogo de cintura tanto para lidar com os alunos como para lidar com os pais (Informante Profissional 5).

A fala da Profissional denota a insegurança que ela possui para realizar o seu

trabalho, o que revela a sua imaturidade profissional, mas também demonstra a pouca

ou nenhuma coesão entre os membros da equipe ESCOLAR no sentido de que um

membro não sente o respaldo técnico-pedagógico de seu superior. Se a profissional

tivesse mais apoio da supervisão ou direção da escola, não se sentiria assim tão

insegura. Mais uma vez a relação existe, o pai esteve presente à escola, mas não há

uma efetiva comunicação, pois muitos aspectos ficam velados por receio de má

interpretação ou, ainda, o pai não se permitiu ouvir a escola

Esta dificuldade no diálogo verdadeiro e autêntico também existe na relação

com os próprios alunos. Foi percebido na pesquisa que mesmo na relação com os

alunos os profissionais atuam com cuidados, pensando nas palavras a serem ditas,

para que os seus comentários não cheguem a casa em forma de reclamação aos pais e

assim surjam problemas maiores.

O tratar com o adolescente, que muitas vezes distorce as coisas, exige cuidado. É preciso ter uma posição muito séria, muito ética, para que o adolescente não conturbe o que você falou e chegue em casa com discurso destorcido (Informante Profissional 4).

A presença deste medo faz com que os diálogos realizados na escola não

sejam livres de expressão e não comprometidos apenas com a construção de um

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processo educacional eficiente; existe a preocupação sempre presente de que as falas

não levem a problemas com as famílias dos alunos.

Surpreendemos-nos com o aparecimento deste cuidado e medo nos contatos

aparecessem também na relação dos pais com os filhos. De acordo com os Informantes

Profissionais 4, 5 e 8, muitos pais comparecem à escola escondido dos próprios filhos.

Esse medo revela bem o receio de traumatizar os filhos e ainda de “passar vergonha”

na frente da equipe da escola. O filho pode desrespeitá-lo diante de um coordenador ou

outro profissional e deixar o pai em uma situação constrangedora.

Procuramos ter o máximo de contato possível com a família, mas os pais são muitos temerosos em relação aos filhos, têm medo de traumatizar, medo de reprimir, medo de punir quando for o caso. Isto está fazendo com que eles percam um pouco as rédeas. O adolescente domina o pai, nas reuniões de pais, vemos o filho tratando-o mal, chegando a falar com palavrão e ameaçando. Muitos pais estão lá escondidos dos filhos, não querendo que os filhos saibam que estão ali reclamando. Parece que não conduzem a relação, ficando nas mãos dos filhos, cada vez mais tiranos e os pais cada vez mais perdidos (...) (Informante Profissional 4).

Todas as situações aqui mencionadas demonstram que a comunicação entre

os atores da relação família-escola está impregnada de “ruídos” que precisam ser

eliminados para que o diálogo possa fluir e trazer os resultados esperados na formação

integral dos alunos. Uma comunicação assim torna-se muito tensa e desgastante, o que

já contribui para que a relação família-escola possa ser caracterizada como conflituosa

e difícil. Isto tudo exerce uma força contrária a todo e qualquer movimento da escola na

busca de manter as famílias mais próximas.

Para que esses “ruídos” possam ser eliminados é preciso que todos realmente

se disponibilizem para o diálogo, o que aqui vamos nos referir por meio da expressão:

Saber ouvir e Saber Falar. Em uma das primeiras entrevistas realizadas na fase de

coleta de dados, entrevistamos uma mãe que utilizou essa expressão. Aquilo nos

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chamou a atenção e fomos observando, como transcorrer das demais entrevistas, que

a fala da referida mãe esteve presente no discurso de outros: “Eu sinto falta do Saber

ouvir e do Saber falar. Às vezes, a gente tenta falar, mas você sente que não é ouvido,

escutado como deveria ser” (Informante Mãe B).

Saber ouvir e Saber falar é uma necessidade para escola e para a família.

Tanto a escola como a família precisam em algum momento ouvir e em outros falar.

Trata -se da disponibilidade não mais de está fisicamente presente, mas para realmente

ser uma parte de uma parceria de co-responsabilidade.

Isto implica para a família que ela consiga realmente ouvir quando tiver falhado

nas suas intervenções junto ao filho, quando este não estiver conseguindo respeitar

normas e regras da escola ou quando se mostrar disperso e desatento às explicações

em sala de aula, porque está passando por problemas em casa. Implica que esta

família não tenha medo de desvelar-se, de informar para a escola o que pode está

acontecendo nas relações familiares ou no contexto socioeconômico da família. Que

também se sinta à vontade para questionar procedimentos pedagógicos ou informar

como estes têm sido vivenciados pelo seu filho.

Por outro lado, a escola também precisa estar disponível para ser avaliada,

para ouvir sobre seus procedimentos e realmente discutir, quando necessário,

possibilidades de mudanças. Ouvir quando o pai solicitar adaptações à realidade

específica de seu filho, mesmo quando esta situação não corresponder à maioria dos

alunos e promovê-las. Saber ouvir críticas relacionadas aos professores com

naturalidade e repassá-las aos mesmos como ajustes que precisam ocorrer a cada

realidade vivida, para que estes possam ser aperfeiçoados e significativos. Saber ainda

falar para as famílias o que realmente e concretamente pode ser feito pelo aluno, no

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sentido de orientá-las, promovendo conselhos entre os profissionais que atuam na

escola no sentido que todos falem a mesma linguagem no contato com as famílias,

evitando que os pais busquem outros contatos dentro da mesma escola.

Pequeno (2005) aborda a questão da participação da família na escola,

afirmando que é preciso ter clareza do que entendemos por participação. Desta forma,

ele valoriza também os aspectos que aqui estamos discutindo:

Será que é estar presente nas reuniões para ouvir informações burocráticas e queixas referentes ao mau comportamento dos alunos? Será que é ter acesso a decisões previamente estabelecidas? Será que é ajudar a organizar a festa junina da escola? Será que é poder ouvir e falar? Será que é a possibilidade de uma ação coletivamente construída por todas as partes envolvidas no processo ensino -aprsendizagem, na qual se compartilhar eqüitativamente, resguardadas as particularidades dos sujeitos envolvidos, a possibilidade de planejar, decidir e agir? Enfim, muitos podem ser o significado da palavra participar (p. 04).

Saber ouvir e Saber falar é uma necessidade sentida por pais e por

profissionais.

Queria que a escola olhasse para minha filha e percebesse que naquele momento o que ela solicita pode ser importante. Não esperar que isso vire uma regra geral para abrir os olhos pra isso (Informante Mãe H). Que bom se todos se mostrassem abertos, a realmente assumir que tem alguma coisa errada e querer buscar uma solução (...) (Informante Profissional 5).

A Informante Profissional 3 fala da importância dos momentos de avaliação

entre família e escola: “sem essa reflexão não existe um crescimento, um senso crítico,

porque muitas vezes a escola não quer escutar sua falhas, porque também a família

não admite que possa estar errada.”

A Informante Profissional 4 evidencia como é difícil para os pais ouvir sobre o

filho quando este cometeu falhas, ouvir que o filho errou é admitir seu erro também:

Os pais têm uma dificuldade enorme de ouvir uma falha do filho, se o filho está se saído mal, de uma certa forma ele está reconhecendo que ele falhou como educador. È isso que eu percebo que se passa no imaginário dos pais. É muito complicado está abrindo os olhos desses pais quando eles não estão preparados para ver.

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Como a relação está distante, os pais não se sentem à vontade para

desnudarem-se diante da escola. Pelo contrário, sentem-se julgados, como discutimos

no item anterior, e desta forma já chegam à escola muito armados, o que dificulta a

escuta, bem como, a disposição para falar. A Informante Profissional 2 fala da

importância da família informar à escola o que está acontecendo em seu cotidiano, o

que muitas vezes não acontece.

Ocorre do adolescente está passando por um problema sério em casa, financeiro ou pais com doença grave e não sabermos. Poderíamos entrar em contato com o adolescente, conversar, dar uma atenção diferenciada. Acontece de estarmos com cobranças inadequadas para o momento por não termos a informação.

A Informante Profissional 4, abordando a mesma questão, afirma que os pais

das crianças comparecem freqüentemente à escola, contudo os pais dos adolescentes

deveriam comparecer mais ainda, pois, os adolescentes se fecham no mundo deles e

do grupo de amigos. A visita dos pais a escola possibilita-lhes que saibam mais sobre

eles e que a escola saiba também.

O adolescente é o que menos quer falar, às vezes ele se tranca como uma concha e os pais podem nos explicar ao menos o que se passa em casa, porque o filho vai sintomatizar isso na escola e a gente precisa ter conhecimento para inclusive orientá-los.

Nesta categoria analisamos a dificuldade tanto para escola como para família

em promover um diálogo aberto e franco entre as partes. Este é um dos principais

motivos pelos quais nas instituições particulares não se realizam encontros periódicos

com o intuito de discutir livremente e abertamente a educação dos filhos. Para a escola,

é extremamente ameaçador e para a família também o é, na medida em que esta não

quer se expor. Fica impossibilitada a ocorrência de fóruns de discussão onde os pais

possam trocar experiências. Não existem manuais com receitas prontas sobre

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educação, a troca de vivências consiste numa rica aprendizagem para todos no que se

refere aos conflitos de gerações que diariamente ocorrem nas famílias. Somente

ouvindo outros pais, pode-se ter uma visão mais ampla do mundo de seu filho e suas

necessidades. A escola é um ambiente privilegiado para que isso ocorra, ela se

consititui num espaço privilegiado para a promoção de relações mais saudáveis, no

entanto faz-se necessário Saber ouvir e Saber falar.

O Saber ouvir e o Saber falar na relação família-escola fazem necessários até

para que cada escola possa procurar compreender as razões pelas quais as famílias

não têm correspondido ao que nós educadores esperamos enquanto sua participação

na escola. Para tal, precisamos nos despir da postura de juízes que condenam sem

conhecer as razões; precisamos ouvir.

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OS CAMINHOS CONSTRUTORES DE UMA RELAÇÃO SAUDÁVEL

O ponto de partida deste estudo foi o desejo de conhecer os aspectos que

permeiam a relação família-escola. De nossa prática profissional trazíamos a impressão

de que se tratava de uma relação conflituosa e cheia de melindres. Em determinado

momento, tornou-se importante para nós, compreender o que a torna tão difícil.

Descobrir mais sobre essa relação levou a realizar este trabalho.

Ao término da pesquisa, cabe-nos argumentar sobre a importância da relação

família-escola no intuito de reforçar nossos pensamentos explicitados ao longo deste

ensaio. Os efeitos, sejam positivos ou negativos, do relacionamento entre estas duas

instituições, se perpetuam de forma significativa tanto no seio familiar como no

ambiente de aprendizagem escolar.

Podemos afirmar que a família se relaciona bem com a escola quando mantém

sua presença física, mesmo que eventualmente, e quando está permanentemente

disponível, atenta, acompanhando e respaldando a escola nas suas ações.

Por sua vez, a escola se relaciona bem com a família quando entende sua

participação como um apoio ao fazer pedagógico, estando aberta para ouvir seus

membros e a eles oferecer as orientações necessárias ao bom andamento do processo

educativo.

Neste ensaio, estudamos o encontro entre os dois elos principais da educação:

a família como responsável primária e a escola responsabilizando-se por uma educação

secundária. Não se trata de dar continuidade ao que a família realiza, mas sim de atuar

em conjunto, em uma parceria onde ambas as partes legitimam o fazer uma da outra.

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Assim sendo, torna-se vital uma boa comunicação e interação para que seja

assegurado esse encontro.

Com a pesquisa realizada, pudemos perceber que o cuidado com esta relação

é atribuído muito mais à escola do que à família, cabendo à primeira investir para que

os familiares sintam-se à vontade. À equipe técnico-pedagógica é determinada a tarefa

de construção desta relação, pelas habilidades que possui advindas de suas formações

profissionais. Exatamente pela formação acadêmica dos profissionais de educação, foi

diagnosticado que as famílias esperam que eles possam oferecer um serviço mais

humanizado a cada dia nas escolas, na busca de promover uma educação mais

humana, menos competitiva, com um menor nível de ansiedade para os aprendizes e

professores, com um olhar mais particularizado e atento às diferenças individuais.

Esperamos portanto, que a equipe que atua com as famílias tenha uma

compreensão maior sobre a assistência que precisa prestar a estas, para que possa se

colocar como aliada, recebendo com humanidade e cuidado as limitações de cada

família. Acolhendo-a, fornecendo orientações e ainda adaptando quando necessário o

seu fazer às necessidades circunstanciais de cada aluno.

Com tal acolhimento, o vínculo entre as partes tende a estreitar-se promovendo

uma relação de confiança e cumplicidade, diferentemente do que se tem nas relações

atualmente: família e escola como rivais com posturas de defesa ou julgamento. À

todos os profissionais são atribuídos papéis importantes na construção deste vínculo de

confiança e ao professor principalmente. Nos inquieta saber das limitações existentes

para na relação pais e mestres.

No ensino fundamental II o professor permanece distante das famílias e no

entanto sabemos que é da sua atuação junto aos alunos que os pais extraem seus

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julgamentos quanto a qualidade do ensino e dos demais serviços prestados pela

escola. São as circunstâncias vividas em sala de aula que se configuram como as

principais queixas familiares, sejam elas referentes a problemas no relacionamento

professor-aluno, à aspectos disciplinares, metodológicos ou avaliativos. O fazer deste

profissional específico e seu encontro com os alunos, consistem no espaço no qual

mais se efetiva a relação família-escola.

Infelizmente não há uma preparação dos professores, estes na maioria das

vezes se colocam distantes desta responsabilidade, acreditam que não compete a eles

cuidar da relação. Por outro lado, a estruturação da carga-horária e distribuição de

aulas não permitem que assumam mais esse compromisso. Cuidar da relação família-

escola tem sido papel apenas do diretor, coordenador, orientadores e/ou psicólogos

escolares. Se indagarmos aos professores sobre o que desejam as famílias de seus

alunos e como estas tem avaliado seu trabalho, estes não saberão responder. O

investimento na capacitação de professores e dos demais profissionais, aliado a

abertura de um espaço de contato com os pais, configuram-se importantes para a

construção de uma relação saudável.

As reuniões escolares na maioria das vezes são desinteressantes aos pais e

buscando uma explicação para isso, não podemos nos contentar apenas com os

argumentos da dificuldade que a escola possui em promover encontros mais atrativos e

da ausência dos pais por falta de tempo. Tal realidade revela muito mais que isso.

Revela a pouca importância dada a relação família-escola como promotora de melhores

resultados na aprendizagem e na formação integral dos alunos. Revela ainda, um

desejo de distanciamento de ambas as partes. São retratos de uma sociedade

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capitalista, imediatista, prática e objetiva, na qual o cuidado com as relações tem lugar

reduzido.

A rotina familiar parece se configurar já bastante desgastante para que se

possa abrir espaços para a discussão e reflexão sobre determinados aspectos que

aparentemente não sejam emergenciais. Fazendo com que o contato entre família e

escola fique restrito a momentos em que existam problemas concretos a ser resolvidos.

A escola por sua vez envolve -se em uma rotina de atividades pedagógicas e de

atendimento a emergentes questões que surgem no dia-a-dia escolar que se limita a

atuar junto às famílias com as quais tenha problemas a resolver.

O estudo que aqui finalizamos, revelou como a vida escolar e suas implicações

influenciam a vida em família. A ocorrência de fatos na escola repercutem diretemente

na família, exigindo muitas vezes dos pais habilidade para lidar com conflitos ou

comportamentos por eles não esperados e não compreendidos. Vimos que o alto grau

de exigência acadêmica, a pressão pela preparação para o vestibular e a não aceitação

de determinadas características individuais do aluno por parte dos profissionais da

escola, tem resultado em ansiedade, depressão e outros comprometimentos

emocionais nos filhos, deixando os pais por vezes atordoados. Alguns pais conseguem

perceber essas situações e buscam soluções porém outros não o percebem ou quando

percebem não fazem uma reflexão sobre a influência que a escola pode ter em

determinados comportamentos de seu filho, o que torna-se mais preocupante.

Defendemos então a construção de uma relação família-escola que possa

garantir um cuidado maior com os alunos e suas famílias de forma mais ampla. Que a

família possa discutir com a escola as mudanças comportamentais dos filhos originadas

por questões escolares e que a escola possa também contribuir com a família quando

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estas mudanças forem oriundas de problemas familiares, sendo percebidas no

ambiente escolar.

Um grande obstáculo para a construção de uma relação mais saudável é que

esta revelou-se perpassada na maioria das vezes por um conflito. Seja de ordem

administrativa, financeira, relacional, emocional ou pedagógica. Na busca de uma

solução para esse conflito, costuma acontecer o que denominamos de repasse de

responsabilidades, em que cada parte atribui à outra a origem do problema e também a

responsabilidade pelos primeiros passos de uma intervenção para a solução. Assim

sendo, a comunicação entre as partes encontra-se comprometida, dificultando que uma

real parceria se instale. Tanto escola como família possuem dificuldade para se

expressarem de forma autêntica, despreocupada com eventuais desdobramentos que

venham a surgir diante da exposição.

Parece-nos impossível ter uma relação saudável sem que tanto escola como

família possam sair do automatismo e da objetividade, na qual a escola possa atuar nas

reais necessidades emergentes e não somente através de regras pré-estabelecidas,

ajudando a família a desarmar-se em relação a ela, para que assim possam ter uma

ação voltada para um só objetivo: a formação integral do aluno e o seu bem-estar.

Não foi fácil passar da inquietação que nos motivou a pesquisar para a ação de

produzir conhecimento sobre esta relação. Contudo foi essa inquietação que criou

todas as alternativas que precisamos encontrar durante esse percurso. Uma das

maiores foi descobrir o ambiente ideal para a realização do estudo, diante do obstáculo

apresentado ao nosso desejo de realizá-lo em várias escolas particulares. Poucas

foram as que se disponibilizaram, já indicando o quanto era, para elas, delicado e infértil

o solo sobre o qual queríamos investigar.

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Os caminhos para chegar até essas considerações que finalizam nosso estudo

não foram simples. Surgiram angústias, inseguranças e incertezas. A recompensa vai

além da sensação de ter conseguido superar obstáculos, de ter mais um aprendizado

concretizado, ficando em uma obra que esperamos não se esgotar apenas em um

trabalho acadêmico. Almejamos a transformação e a melhoria da convivência entre

pais, familiares e educadores escolares.

A escola não pode mais ignorar a importância de uma saudável convivência

com a família, ela necessita compreendê-la a partir da visão de co-responsabilização,

não procurando culpados nem melindrando-se no diálogo com os pais. Atuar de

coração aberto, acreditando em seus propósitos educacionais e não centralizando seu

discurso apenas na exigência de que a família prepare seus filhos para que se

encaixem perfeitamente dentro de um padrão predeterminado de bom aluno.

A importância deste estudo está em aprofundar de forma sistemática o

conhecimento sobre a interação entre família e escola, oferecendo assim subsídios

para aqueles que queiram promover relações mais saudáveis no ambiente escolar.

A questão que nos impõe a refletir neste momento, ao se retomar não só os

objetivos da pesquisa postos como justificativa no tema escolhido “A relação família-

escola: uma parceria educativa na promoção da saúde”, assim como os aspectos

teóricos e metodológicos, além das experiências empíricas analisadas é que:

aprofundamos a idéia de que a relação entre família e escola traz resultados relevantes

para a saúde integral dos que nela estão envolvidos.

Fato marcante durante a realização da pesquisa, foi a expressão corporal de

incômodo de alguns informantes durante as entrevistas, expressão que fala de

angústia, de frustração, de culpa, de omissão e de sobrecarga, sensações sentidas ora

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pelos pais, ora por profissionais. Falamos de sofrimentos psíquicos que se desvelaram

durante a investigação e que estão no dia-a-dia dos estudantes, que se situam em meio

ao “fogo cruzado” e que recebem os respingos de uma fragmentada relação entre seus

pais e seus educadores escolares.

A relação família-escola precisa passar a ser vista como uma ação de

promoção da saúde na medida em que contribui para o desenvolvimento de

capacidades e aquisição de competências de cada um dos envolvidos para confrontar-

se consigo próprio (auto-percepção de suas virtudes e limitações) e com os outros,

ajudando assim na construção de ambientes saudáveis não só na escola como também

na família. Esta concepção vai de encontro ao interesse de um movimento que vem

acontecendo internacionalmente, voltado para a implementação da Escola Promotora

de Saúde, na qual acredita-se que todo indivíduo tem o direito de ser educado em um

ambiente saudável. Porque não dizer: em meio a relações saudáveis.

Uma escola saudável deve ser entendida como um espaço gerador de

autonomia, participação, crítica e criatividade. Somente desta forma o escolar pode

desenvolver suas potencialidades físicas, psíquicas, cognitivas e sociais. Uma realidade

escolar onde a relação primordial (família-escola) acontece permeada pela não

participação e pela dificuldade de ambas as partes para lidar com críticas, tem

paralisada, em sua base, a possibilidade de ser promotora de saúde. Os conflitos

existentes nesta relação serão potencializados na medida em que não encontram

espaço para serem equacionados, podendo levar a comprometimentos psico-afetivos e

até físicos, decorrentes de somatizações.

Família e escola, representadas por seus membros, precisam se constituir

como exemplo para crianças e jovens. A convivência social que está sendo passada

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aos nossos aprendizes quando seus pais e seus professores se conflituam ou ao

menos se ignoram não constitui exemplo a ser seguido. Esta relação precisa ser

fortalecida para que assim possa colaborar na promoção de relações socialmente

igualitárias, na construção da cidadania e da democracia, e no reforço a cada dia do

respeito ao outro, da solidariedade e do espírito de coletividade.

Esta pesquisa não é conclusiva, mas abre caminhos para a reflexão e para que

novos estudos sobre a relação família-escola possam ser acrescidos pela visão

promotora de saúde. Esperamos ao término de nossa investigação que a escola possa,

cada dia mais, promover um ambiente saudável no desenvolvimento de ações, que

podem e devem ser realizadas, para proteger e transformar as relações humanas.

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134

APÊNDICES

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135

APÊNDICE 01

INFORMANTES - PAIS

INFORMANTE:

________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA: ____/____/____

PERFIL:

Escola:

Porte da escola:

Sexo

Idade

Estado Civil

Horas dedicadas ao trabalho: Pai

Mãe

QUESTÕES NORTEADORAS:

1. Como você ver a relação que mantêm com a escola de seu(s) filho(s)

matriculados no Ensino Fundamental II?

2. Quais os fatores que atuam como facilitadores ou complicadores desta relação?

3. Qual é a sua opinião quanto à forma ideal de se manter um relacionamento entre

Família e Escola que promova a saúde dos envolvidos?

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE

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136

APÊNDICE 02

APÊNDICE 02

INFORMANTE - PROFISSIONAL

INFORMANTE:

________________________________________________________

DATA DA ENTREVISTA: ____/____/____

PERFIL:

Escola:

Porte da escola:

Sexo

Idade

Formação

Funções já exercidas até o momento atual

Tempo de atuação com escola / educação

QUESTÕES NORTEADORAS:

1. Qual a visão que você tem da atual relação mantida entre Família e Escola?

2. Quais os fatores que na sua opinião atuam como facilitadores ou complicadores

desta relação?

3. Qual é a sua opinião quanto à forma ideal de se manter um relacionamento entre

Família e Escola que promova a saúde integral dos envolvidos?

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE

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137

APÊNDICE 03

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Sâmia Silva Gomes , aluna do Curso de Mestrado em Educação em Saúde da Universidade de

Fortaleza – UNIFOR, estou desenvolvendo uma Pesquisa intitulada: A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA NA

PERSPECTIVA DA PROMOÇÃO DA SAÚDE, sob a orientação da Prof (a) Dra. Ana Maria Fontenelle Catrib.

Com esta pesquisa pretendemos identificar a sua percepção quanto ao relacionamento existente entre a

família e a instituição escola.

Os dados serão coletados mediante uma entrevista individual.

Esclareço que:

? Receberá esclarecimento a qualquer dúvida acerca da pesquisa e do caráter de sua participação;

? Poderá se recusar ou retirar o seu consentimento a qualquer mo mento da pesquisa, sem que com isso ocorra

qualquer penalidade de qualquer espécie.

? Sua participação não afetará em nada seu relacionamento com a instituição de ensino em que trabalha ou em

que possui filhos matriculados.

? As entrevistas, serão gravadas em áudio, apenas com finalidade de registro dos dados, não sendo as fitas

utilizadas para outro fim.

? Está garantido que não terá divulgação de nomes (das pessoas participantes nem da instituição) ou de

qualquer informação que ponha em risco a sua privacidade e anonimato.

? Poderão os participantes ter acesso às informações necessárias durante o decorrer do estudo.

Contato com a pesquisadora:

Endereço: Av. Washington Soares, 1321 Bairro Edson Queiroz CEP: 60811-905

Mestrado de educação em Saúde – 5ª Turma

Fones: 4773280 – 88461511 E-mail: [email protected]

Participante: __________________________________________________________________

Consentimento pós esclarecimento:

Declaro ter entendido os esclarecimentos prestados pela pesquisadora e concordo em participar.

Assinatura do pesquisador: _____________________________________

Assinatura do participante: _____________________________________ Em: ___/___/___

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM SAÚDE

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ANEXOS

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