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Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de representação documentária, mediação e comunicação científica Departamento de Biblioteconomia e Documentação Escola de Comunicações e Artes Universidade de São Paulo Dezembro de 2007 THIAGO GAUDÊNCIO SIEBERT FREIRES

Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da

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Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de representação documentária, mediação e comunicação científica

Departamento de Biblioteconomia e DocumentaçãoEscola de Comunicações e Artes

Universidade de São Paulo

Dezembro de 2007

THIAGO GAUDÊNCIO SIEBERT FREIRES

THIAGO GAUDÊNCIO SIEBERT FREIRES

Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de representação

documentária, mediação e comunicação científica

Trabalho de conclusão de curso apresentado aoDepartamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia

Orientadora: Profª Drª Marilda Lopes Ginez de Lara

São PauloDezembro de 2007

AUTORIZO A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO, CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA.

AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL DESTE TRABALHO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, POR QUALQUER MEIO, CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, DESDE

QUE, POSTERIORMENTE, A FONTE SEJA CITADA E COMUNICADA.

ContatoE-mail: [email protected]

Catalogação na publicação elaborada pelo próprio autor

FREIRES, Thiago Gaudêncio Siebert

Relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação: um estudo dos conceitos de representação documentária, mediação e comunicação científica / Thiago Gaudêncio Siebert Freires; Marilda Lopes Ginez de Lara (Orientadora). São Paulo, 2007.

202 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) -Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Escola de Comunicações e Artes. Universidade de São Paulo.

1. Ciência da Informação - epistemologia. 2. Biblioteconomia - epistemologia. 3. Ciências da Comunicação - epistemologia. 4. Representação documentária. 5. Mediação. 6. Comunicação científica. I. Autor. II. Título. III. Orientadora.

Para você, o leitor que desvenda, descobre e dá novos significados a estas

palavras.

AGRADECIMENTOS

Um especial agradecimento para minha família, meu pai, Vagner, meu tio

Anésio, meu irmão, Davi, minha tia Sônia, minha avó Hélia, e, principalmente, minha

mãe, Cristina, que, embora pareça ser tão diferente de mim, me ajudou a ser o que sou.

A cada dia percebo melhor a importância de vocês na minha vida.

À Marilda, por compreender meu ritmo de trabalho, por desconsiderar meus

sumiços e por continuar comigo na orientação da pesquisa. Foi importante contar

contigo, tinha certeza que te escolher como orientadora seria essencial.

Aos meus professores, que facilitaram meu aprendizado e me fizeram gostar a

cada dia mais da idéia de ser bibliotecário. Todos foram importantes demais!!! Em

especial, para Plácida, da Unesp, onde cursei o meu primeiro ano de faculdade, pela

discursividade impactante e arrebatadora. José Augusto, também da Unesp, por conta da

inteligência e das aulas epistemológicas. Asa, por ser tão legal, estar presente na vida dos

alunos, e, pela fascinante capacidade de falar por mais de três horas sobre o mesmo

assunto e não se perder. Johanna, pela carreira brilhante e pela delicadeza. Milanesi, por

provocar e instigar a reflexão sobre o papel do profissional da informação na sociedade.

Daisy, pelo carinho e atenção nas etapas iniciais da pesquisa. Teixeira Coelho, pela

clareza e pela proposição de outros pontos de vista. Anna Maria, pela presença na

escolha dos rumos do trabalho de conclusão de curso. Vania, por suas sugestões na

delimitação do tema do trabalho. Fernando, pela ponte entre o universo profissional e o

mundo acadêmico. Maria Christina, por conta da excelência e correção das suas aulas.

Nair, pela atenção e parceria. Regina, pelo apoio também nos projetos extra-acadêmicos.

Aos meus melhores amigos, tão importantes e especiais, amo todos vocês!!! À

Viviane, a irmã mais nova que eu escolhi e que quero sempre por perto. Carolina, pela

alegria constante e pela amizade tão forte. Fernanda, pelas reflexões que me trouxe a

partir da firme defesa da sua opinião. Vanessa, seu sorriso é uma das lembranças mais

bonitas desse período. Luciana, sempre presente, parceira em múltiplas atividades,

companhia mais do que agradável. Ana, pelos seus ideiais de vida e pelos abraços

apertados. Miriam, pela prestatividade. Dani, um exemplo de dedicação e de

determinação, a quem desejo muita sorte nos seus planos. Ellen, pela atenção, pelo

carinho e pela capacidade de juntar bastante gente ao seu redor. Rapha, por estar junto

na hora de descobrir mais coisas sobre o mundo. Gisele, pela pessoa que é. Mônica, pelas

nossas conversas e pela amizade incondicional apesar da distância.

Às inteligentes Fernanda e Julietti, pelas nossas discussões acadêmicas, que, de

maneiras distintas, foram determinantes para a realização desta pesquisa.

Aos companheiros de representação discente, organização de eventos e

movimento estudantil, por acreditar na união das pessoas e no debate de idéias.

Aos colegas de todas as salas pelas quais passei, que também contribuíram para

minha formação. Pessoal da Unesp, a melhor classe de toda a história, seria demais se eu

continuasse junto com vocês. Todas as turmas com quem cursei disciplinas na USP,

foram quatro anos especiais.

Às pessoas que me orientaram em meus estágios e projetos profissionais.

Obrigado, professora Maura (CEDHUM/Unesp), Solange, Miriam e Eliana (SciELO),

professora Regina (Projeto Alavanca), e, Bira e Eliene (Instituto Unibanco).

Aos meus maravilhosos alunos no Projeto Alavanca, com quem aprendi muitas

coisas. Em breve, a nossa biblioteca comunitária estará pronta pra funcionar e realizar os

sonhos de muitas pessoas.

Obrigado Melina, Tiago, Viviane e Isis, pela revisão do texto.

Preciso congratular também os corajosos cientistas que propuseram a seção de

agradecimentos nas pesquisas acadêmicas e possibilitaram outros tantos agradecimentos.

Acima de tudo, a ciência é feita por pessoas, e, sobretudo, pela cooperação entre as

pessoas.“Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior”

Fernando Anitelli e Maíra VianaO Teatro Mágico

“A fronteira entre a comunicação e a informação é cada vez mais tênue e a sua relação desenrola-se num jogo contínuo

de mundos correspondentes que se alimentam o tempo todo: uma boa informação dá vida à comunicação”.

Olga Tavares*

“A biblioteca é por definição o espaço das contradições e com possibilidades de ser um espaço de produção. Se o público

encontra as contradições será estimulado a resolvê-las”.Luis Milanesi**

“Em outras palavras: entre o homem e a realidade, entre o sujeito e o objeto, há uma ‘cerca’, há uma ‘força’ que o

impele a perceber essa realidade de um determinado modo. E a raiz dessa força é a palavra”.

Maria Baccega+

“Os resultados da pesquisa não pertencem ao cientista, mas à humanidade. Constituem produto da colaboração social e como tal devem ser partilhados com todos, sem privilegiar

segmentos ou pessoas”.Maria das Graças Targino*

“Mesmo a interdisciplinaridade, muitas vezes repetida discursivamente e quase nunca atestada, começa a ser

melhor situada como estratégia de abertura e, ao mesmo tempo, de sedimentação do campo, mais do que palavra

ornamental e sem eficácia na afirmação da identidade acadêmica e científica da Ciência da Informação”.

Regina Marteleto e Marilda Lara++

* Consultar lista de referências.** Ordenar para desordenar: centros de cultura e bibliotecas públicas. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 251.+ Palavra e discurso: literatura e história. São Paulo: Ática, 1995. p. 28.++ Sobre o Workshop... Anais do Workshop em Ciência da Informação: políticas e estratégias de pesquisa e ensino na pós-graduação, realizado em Niterói/RJ, no período de 11 a 12 de novembro de 2004.

RESUMO

Discute as relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação, a partir dos conceitos de representação documentária, mediação e comunicação científica. Analisa os percursos de construção e consolidação, a história, a natureza interdisciplinar e os objetos de estudo de cada campo do conhecimento. Identifica a aproximação entre as disciplinas sob as perspectivas da relação histórica, da relação local (na França), da relação institucional, da relação comparativa, da relação intermediada pela cultura, da relação intermediada pela Lingüística, da relação com as tecnologias de produção e reprodução da informação, e, da relação interdisciplinar. Aponta o caráter comunicacional da Ciência da Informação e o caráter informacional das Ciências da Comunicação.

PALAVRAS-CHAVE

Ciência da Informação - epistemologia; Biblioteconomia - epistemologia; Ciências da Comunicação - epistemologia; representação documentária; mediação; comunicação científica.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Mapa interdisciplinar da CI, por Lena Vania R. Pinheiro ................................62

Figura 2. Mapa interdisciplinar da CI, por Yves François Le Coadic................................64

Figura 3. Modelo matemático da comunicação de C. Shannon e W. Weaver.................84

Figura 4. Modelo de fluxo comunicacional de Melvin De Fleur .....................................85

Figura 5. Modelo comunicacional de José Marques de Melo.........................................134

Figura 6. O ciclo da informação, por Yves François Le Coadic .....................................152

Figura 7. Sistema de recuperação da informação, por F. Wilfrid Lancaster ..................154

Figura 8. Modelo de comunicação científica de Garvey e Griffith ................................173

Figura 9. Modelo de comunicação científica a partir da influência do modelo matemático da comunicação......................................................................................... 177

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABECOM - Associação Brasileira de Escolas de Comunicação

ABEPEC - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa da Comunicação

ABI - Associação Brasileira de Imprensa

ADBS - Association des Profissionnels de L’information et de la Documentation

ADI - American Documentation Institute

ALA - American Library Association

ANCIB - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação e

Biblioteconomia

ASIST - American Society for Information Science and Technology

ASLIB - Association for Information Management

CC - Colon Classification

CCCS - Centre of Contemporary Cultural Studies

CCN - Catálogo Nacional de Publicações Seriadas

CDD - Classificação Decimal de Dewey

CDU - Classificação Decimal Universal

CECMAS - Centre d'Études de Communication de Masse

CI - Ciência da Informação

CIESPAL - Centro de Internacional Estudios Superiores de Comunicación para América

Latina

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

COSATI - Committee on Scientific and Technical Information

DCC - Dewey Decimal Classification

EBLIDA - European Bureau of Library, Information and Documentation Associations

ECA/USP - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

ECO/UFRJ - Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro

ELACOM - Escola Latino-Americana de Comunicação

FABICO/UFRGS - Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

FID - Federação Internacional de Documentação

IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação

IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

ICINFORM - Instituto de Ciências da Informação

IFLA - International Federation of Library Associations and Institutions

IIB - Instituto Internacional de Bibliografia

IIS - Institute of Information Scientists

INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

IUPAC - International Union on Pure and Applied Chemistry

LC - Library of Congress

NATIS - National Information Systems

NOMIC - Nova ordem mundial da informação e da comunicação

SFSIC - Societé Française des Sciences de L’information et la Communication

SRI - Sistemas de Recuperação da Informação

UFOD - Union Française des Organismes de Documentation

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UnB - Universidade de Brasília

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNISIST - Acrônimo para representar o estudo de viabilidade do sistema universal de

sistemas de informação

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................................................14

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................171.1 JUSTIFICATIVAS.................................................................................................. 191.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 201.3 OBJETIVOS......................................................................................................... 24

2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO...........................................................................252.1 PERCURSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO ........................... 252.2 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS........................................................................... 412.3 A NATUREZA INTERDISCIPLINAR......................................................................... 522.4 O OBJETO DE ESTUDO......................................................................................... 66

3 CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO......................................................................733.1 PERCURSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO ........................... 733.2 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS........................................................................... 78

3.2.1 Estudo do organismo social...................................................................... 793.2.2 Escola de Chicago .................................................................................... 803.2.3 Mass communication research................................................................. 813.2.4 Teoria da informação ............................................................................... 833.2.5 Colégio invisível ...................................................................................... 863.2.6 Escola de Frankfurt .................................................................................. 883.2.7 Estruturalismo.......................................................................................... 903.2.8 Sociedade do espetáculo........................................................................... 933.2.9 Cultural studies ........................................................................................ 943.2.10 Economia política da comunicação.......................................................... 973.2.11 Sociologia interpretativa ........................................................................ 1003.2.12 Etnografia das audiências....................................................................... 1033.2.13 Escola Latino-Americana de Comunicação ........................................... 1063.2.14 Estudos brasileiros ................................................................................. 1093.2.15 Estudos das redes de comunicação......................................................... 115

3.3 A NATUREZA INTERDISCIPLINAR....................................................................... 1223.4 O OBJETO DE ESTUDO....................................................................................... 130

4 RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ..................................................................................................133

4.1 REPRESENTAÇÃO DOCUMENTÁRIA.................................................................... 1514.2 MEDIAÇÃO...................................................................................................... 1604.3 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA.............................................................................. 169

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................182

6 REFERÊNCIAS...............................................................................................185

7 BIBLIOGRAFIA TEMÁTICA ..........................................................................1937.1 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ............................................................................... 1937.2 CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ........................................................................... 1957.3 INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO........................................................................ 1967.4 REPRESENTAÇÃO DOCUMENTÁRIA.................................................................... 1977.5 MEDIAÇÃO...................................................................................................... 1987.6 COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA.............................................................................. 1987.7 ESTUDOS DISCIPLINARES................................................................................... 1987.8 METODOLOGIA DA PESQUISA............................................................................ 199

8 ÍNDICE ONOMÁSTICO .................................................................................2008.1 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ............................................................................... 2008.2 CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ........................................................................... 201

14

Apresentação

Um projeto pessoal, uma empreitada profissional ou uma pesquisa científica, são

desencadeados, sobretudo, por motivos e por contextos. Na delimitação do tema do

nosso trabalho, o contexto é o curso de graduação em Biblioteconomia, que tem como

ponto final esta monografia, e, a sua inserção na unidade de ensino, na universidade e

no campo científico-profissional. Nesse cenário encontramos inúmeras motivações para

a pesquisa, e elas serão explicadas a seguir.

A inserção do curso de Biblioteconomia na Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo (ECA/USP) é constantemente questionada por colegas e

professores das demais carreiras da unidade. As respostas para essa indagação não

parecem ser tão simples, tampouco são trabalhadas com ênfase nas disciplinas que

compõem a estrutura curricular do curso de graduação.

Durante este período, a questão da relação do curso de Biblioteconomia e do

programa de pós-graduação em Ciência da Informação com a Escola de Comunicações e

Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) foi pontualmente discutida, mas, não foi

satisfatoriamente respondida. E exemplos factuais desse debate pouco explorado não

faltaram.

Todos os anos, no âmbito da disciplina Biblioteca e Sociedade, o professor Luís

Milanesi propõe uma atividade a partir da singela pergunta: “O bibliotecário é um

comunicador?”. Na nossa jornada em busca da resposta nenhum texto ou trabalho

convincente sobre o tema foi encontrado, pelo contrário, a dúvida ganhou proporções

maiores.

No ano de 2005, as comunidades dos cursos de Biblioteconomia e Editoração da

ECA, ministrados em departamentos diferentes, se reuniram para discutir projetos de

cooperação e integração entre as áreas. Até o presente momento, esta aproximação

resultou no oferecimento de vagas exclusivas em determinadas disciplinas de graduação,

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ainda assim de modo desigual, com uma abertura maior por parte do Departamento de

Biblioteconomia e Documentação.

Em 2006, a área de concentração em Ciência da Informação encerrou um período

de 34 anos de vinculação institucional direta com o Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Comunicação da ECA/USP, e se constituiu em um programa de pós-

graduação autônomo.

Ainda nessa temporada do curso de graduação foi possível observar outros

exemplos da premência de maior diálogo, integração e comunicação no âmbito da Escola

de Comunicações e Artes. Nada mais simbólico para disciplinas que têm como objetos de

estudo os significados, os discursos, a informação e a comunicação.

O clima de isolamento e desconexão se manifestava, e ainda se manifesta,

persistentemente, nas pessoas, nos cursos, nos departamentos e em muitas instâncias.

Como resultado da insatisfação com o problema surgiram desde iniciativas formais,

como as conversações e propostas de alunos para a formação de comissões e grupos de

discussões, até propostas institucionais como a de reformulação da estrutura do ensino

na graduação, sob a liderança da diretoria da ECA/USP.

Com o objetivo de contribuir para o debate das relações entre a Ciência da

Informação e as Ciências da Comunicação, sugerimos a inclusão do tema na

programação da I Semana de Biblioteconomia da ECA/USP, evento organizado em 2005

pelos alunos do curso. As participações e discussões foram proveitosas, e, outra vez,

instigaram ainda mais o aprofundamento dos estudos deste tema.

Ao observar a produção científica das duas áreas é possível notar que o discurso

sobre as imbricações entre estes campos do conhecimento geralmente permanece

implícito ou indireto. A ligação entre Ciências da Comunicação e Ciência da

Informação, no entanto, nos parece tão forte e estreita que merece maior destaque no

cenário do conhecimento acadêmico.

16

Como uma motivação periférica para o desenvolvimento da nossa pesquisa,

podemos citar a vontade de aproximar os estudos da graduação à pesquisa da pós-

graduação. Não apenas para suprir uma carência de base científica da formação

profissional, mas, sobretudo, para fomentar a discussão epistemológica e para apontar a

sua importância ainda no âmbito dos cursos de graduação.

Nesse sentido, a partir da construção coletiva de conhecimento, proveniente de

todas as discussões destacadas anteriormente, delimitou-se uma percepção da relevância

de abordar cientificamente o tema deste trabalho. A incursão inicial ao debate sobre as

relações entre os campos do conhecimento da informação e da comunicação instigou a

vontade de delimitar um problema e estudar as formas de desenvolver, trabalhar,

destrinchar, e, porque não, minimamente responder esta questão.

17

1 Introdução

Etimologicamente, a palavra informação tem origem no verbo latino informare,

que corresponde à ação de criar idéias ou noções, ou ainda, ao processo de dar forma a

algo. No entanto, desde o surgimento da expressão, até os dias de hoje, um longo

percurso multiplicou os significados do termo, sobretudo a partir dos valores e das

funções que a informação conquistou no cotidiano das sociedades.

A informação ganhou relevância social ao se tornar elemento indispensável para

a cidadania e um direito de toda pessoa. Através desta modalidade de conhecimento o

sujeito pode conquistar a independência e a liberdade que lhe permitirão uma atuação

social mais consciente.

O conceito de informação está ainda relacionado com a educação, a formação e o

desenvolvimento da pessoa em um processo de aprendizagem, no qual é o insumo

básico, em toda e qualquer modalidade de transmissão de valores, tradições e costumes.

Da mesma forma, a partir uma perspectiva cultural, a informação cumpre o papel

de materializar valores, princípios, normas, condutas e características de determinado

grupo e/ou indivíduo. E, principalmente, cabe à informação a função de comunicar tais

expressões da cultura, ao mesmo tempo possibilitando e promovendo as relações sociais

entre estes grupos e indivíduos.

Em outro sentido, a informação tornou-se tão importante que despertou atenção

como capital de um negócio com grande potencial de expansão. Sob o viés econômico, a

informação transformou-se em mercadoria globalizada, pressuposto fundamental para o

sistema de produção de bens e serviços.

Esses aspectos do conceito de informação não são sistemas fechados e isolados,

pelo contrário, denotam relações estreitas. Tampouco se esgotam os valores que podem

ser atribuídos à informação hoje, ontem e amanhã, afinal, ela é um objeto social cuja

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transformação é inerente, isso sem mencionar a subjetividade que o ato de dar algum

valor incorpora.

No âmbito das ciências, por exemplo, os valores atribuídos ao conceito de

informação ganharam outras abordagens, a partir das inúmeras significações que o

termo tem assumido na sociedade. Dentre os principais campos do conhecimento

preocupados com o estudo da informação estão a Ciência da Informação e as Ciências da

Comunicação.

A Ciência da Informação é a área do conhecimento que se ocupa com a seleção,

preparação e disseminação da informação, para públicos determinados conforme

características e necessidades especiais. Apenas essas poucas palavras trazem à tona

inúmeras questões relacionadas à informação. Além dos aspectos gerais da informação,

na Ciência da Informação existem considerações específicas acerca da representação, da

adequação ao público, da utilização e do registro, por exemplo.

A Comunicação também é um campo de estudos relacionado com a informação,

entretanto, em comparação com a Ciência da Informação, a sua visão é mais ampla, onde

o enfoque é o processo comunicacional. Nesse âmbito, os aspectos mais destacados são o

formato, o estilo, a tecnologia e os canais de divulgação da informação.

Entretanto, com a atual tendência de aumento de geração de informação por

inúmeros e variados meios de comunicação estabelece-se uma aproximação entre os

conceitos de informação e comunicação. Em princípio, o que eram simplesmente o

produto e o processo passam a influenciar-se com uma enorme força. E isso se reflete no

universo científico, onde campos como a Ciência da Informação e as Ciências da

Comunicação revelam-se complementares no objetivo de compreender esse fenômeno

social: o processo de comunicação da informação.

Nesse sentido, as aproximações entre Ciência da Informação e Ciências da

Comunicação podem suscitar o aperfeiçoamento das reflexões acerca das representações

19

da informação e da comunicação na sociedade, a partir do pressuposto do diálogo e do

compartilhamento entre teorias e metodologias de ambas as disciplinas.

1.1 Justificativas

Nas últimas décadas, o universo científico passou por intensas transformações,

sobretudo no sentido de aproximar os estudos de campos até então considerados

distantes. E essas modificações, por sua vez, tiveram impacto na conformação de cada

ciência.

Nesse contexto, nos pareceu interessante investigar como uma área

interdisciplinar em sua gênese - a Ciência da Informação - tem lidado com essa

tendência de aproximação científica, em particular com um campo também

naturalmente interdisciplinar - as Ciências da Comunicação.

A relação entre as duas áreas poderia ser pesquisada de várias maneiras como, por

exemplo, através de uma análise das mudanças no posicionamento das disciplinas nas

tabelas das áreas do conhecimento das agências de fomento à pesquisa, ou por meio de

um estudo dos vínculos dos cursos de graduação e pós-graduação em Biblioteconomia e

Ciência da Informação com escolas de Comunicação, analisando-se, também, suas

estruturas curriculares e bibliografia.

No entanto, os principais elos da ligação interdisciplinar entre Ciência da

Informação e Comunicação parecem ser os conceitos compartilhados entre os dois

campos. A investigação dos pólos de aproximação e de distanciamento entre os conceitos

de cada área, inclusive a partir da diversidade de abordagens dentro de cada campo,

pode contribuir para constatar (ou não) as conexões entre elas.

20

1.2 Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos utilizados para responder às indagações dos

problemas e para alcançar os objetivos da pesquisa foram essencialmente teóricos, a

partir de uma análise qualitativa da literatura da Ciência da Informação e da

Comunicação.

O nosso pressuposto teórico é a epistemologia histórica, “que busca elucidar a

produção de teorias e dos conceitos científicos a partir de uma análise da própria história

das ciências, de suas resoluções e das ‘démarches’ do espírito científico” (JAPIAUSSU,

Hilton citado por PINHEIRO, 1999, p. 155).

Deste modo, no desenvolvimento do trabalho, percorremos as seguintes etapas:

Orientação preliminar

O objeto da pesquisa, as aproximações de conceitos da Ciência da Informação

com as Ciências da Comunicação, foi analisado sob os pontos de vista dos dois campos

do conhecimento. Para abordar efetivamente os aspectos dessas áreas, principalmente, a

partir das relações estabelecidas entre elas, ocorreram orientações preliminares para

delimitar o foco do estudo. É importante frisar que a colocação dessa atividade como

uma etapa não eliminou o trabalho contínuo e presente de orientação da pesquisa.

Levantamento bibliográfico

O levantamento bibliográfico foi uma etapa indispensável para o trabalho, afinal,

nos possibilitou verificar qual é o estado da arte do tema em que desenvolvemos nossas

considerações, e mais, indicar qual a posição da pesquisa que se inicia nesse panorama.

Embora provavelmente existam abordagens do assunto em literatura estrangeira,

restringimo-nos inicialmente a pesquisar a literatura nacional, conveniente e abundante

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para a execução do trabalho, visando ressaltar as particularidades que marcam as

relações entre as duas áreas no Brasil. No entanto, posteriormente, foram utilizadas

fontes de informação de origem de outros países, em sua maioria já traduzidas para o

português.

As fontes de informação utilizadas no levantamento bibliográfico foram

consultadas sob a perspectiva dos conceitos abordados na pesquisa, a partir da

elaboração das seguintes estratégias de busca:

a) Ciência da Informação e Ciências da Comunicação

A pesquisa foi efetuada no banco de dados bibliográficos Dedalus, do Sistema

Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo - SIBi/USP, através das

estratégias de busca “ciencia and informacao” e “comunicacao”.

Outros textos foram indicados pela orientadora do trabalho e por outros

professores.

b) Relação entre informação e comunicação

A partir da estratégia de busca - “informacao and comunicacao” - foram

consultados os arquivos eletrônicos de 16 revistas científicas em Ciência da Informação

e de 20 títulos de periódicos em Comunicação, listados no Portal Livre!, do Centro de

Informações Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CIN/CNEN.

Além disso, oportunamente, outros textos foram localizados a partir da primeira

estratégia de busca.

c) Representação documentária, mediação e comunicação científica

Os conceitos foram pesquisados na base de indexação de periódicos Library and

Information Science Abstracts - LISA, na Biblioteca de Referência Eletrônica Electronic

Reference Library - ERL, e, através da ferramenta Google Acadêmico, com o auxílio das

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estratégias de busca “representacao and documentaria”, “mediacao”, e, “comunicacao

and cientifica”.

Além disso, oportunamente, outros textos foram localizados a partir das duas

estratégias de busca anteriores.

Seleção dos recursos informacionais

É uma etapa essencialmente atrelada à anterior, complementando-a. A seleção

consistiu na consulta do material levantado com a finalidade de analisar a sua

pertinência para a pesquisa, fornecendo elementos adicionais àqueles encontrados nas

referências bibliográficas e nos títulos dos documentos.

Leitura

O cerne da pesquisa foi a leitura, processo cognitivo de compreensão do texto

que fomenta o surgimento de novos textos a partir do instigamento de idéias e da

formulação de outras relações.

Especificamente neste trabalho foram relacionados dois conjuntos teóricos

bastante delimitados, os campos científicos - a Comunicação e a Ciência da Informação -

e os conceitos - representação documentária, mediação e comunicação científica.

Coube à leitura fornecer subsídios para conectar essas dimensões, de modo que a

pesquisa conseguisse alcançar seus objetivos.

Essa etapa foi um momento de absorção e aproveitamento das idéias que se

interligam com o tema, algo que é imprescindível para a sustentação da pesquisa e para a

criação de outras idéias que se juntem e contribuam para o referencial de um campo de

estudos.

23

Anotação e síntese da leitura

O fichamento foi uma etapa essencial, tanto para garantir a segurança no

desenvolvimento do texto, quanto para maximizar o aproveitamento da leitura.

Metodologicamente, os textos foram lidos em duas fases, a primeira para identificação

dos conceitos e idéias e a segunda para a sistematização dos conteúdos, a partir das

necessidades específicas da fundamentação da pesquisa.

Desenvolvimento do texto

O texto da pesquisa é a consolidação das etapas anteriores, que se somam ao

principal componente do trabalho, a opinião do pesquisador sobre o assunto tratado. É

aqui que se revela como refletimos sobre os conceitos e os apropriamos para os objetivos

visados pela pesquisa.

Como um processo, um trabalho científico requer um entrosamento entre as suas

fases, que também precisam ser desenvolvidas satisfatoriamente. Por isso, se o caminho

percorrido antes do desenvolvimento do texto foi bem planejado e executado, não há o

que temer.

A expressão própria deve ser pensada como uma modalidade de contribuição à

coletividade, sobretudo na academia, onde essa característica é mais acentuada por causa

da formalização e da sensação de materialização da ciência, do campo científico.

Digitação, normalização e revisão do texto

A digitação e normalização são etapas operacionais, cuja finalidade é adequar o

trabalho às normas e padrões vigentes para a formatação de uma pesquisa científica. Já a

revisão foi um momento especialmente dedicado à reflexão e ao questionamento da

adequação do texto elaborado, com o objetivo de promover modificações para o seu

aperfeiçoamento.

24

A consecução destas etapas foi intermediada com a ação da orientação da

pesquisa, um vetor transversal que possibilitou a participação, a discussão e o

questionamento do percurso do trabalho científico.

1.3 Objetivos

Geral

Investigar as relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação.

Específicos

Analisar os conceitos de representação documentária, mediação e comunicação

científica da literatura de Ciência da Informação;

Verificar a correlação dos conceitos estudados com a pesquisa em Comunicação;

Identificar os pólos de aproximação interdisciplinar entre as duas áreas.

25

2 Ciência da Informação

2.1 Percurso histórico de construção do campo científico

A Ciência da Informação surgiu no período pós Segunda Guerra Mundial, a

partir da insatisfação dos setores industriais dos Estados Unidos e da Europa. Os

empresários dos países envolvidos no conflito mundial mantinham negócios num

contexto econômico em franca recuperação, mas não se contentavam com os índices de

produtividade e inovação apresentados pelas empresas. “Então, alguns cientistas

qualificados se deslocaram para a área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção

com o intuito de estabelecer um serviço de informação ativo para seus colegas”

(OLIVEIRA, 2005, p. 14).

As atividades destes grupos de cientistas tomaram maiores proporções e

apontaram para a necessidade de uma formação profissional complementar

especializada, fomentada pelo desenvolvimento da pesquisa acadêmica e aplicada. Tal

formalização é evidente na criação de associações de pesquisa e de entidades de classe,

como o Institute of Information Scientists (IIS), considerado um marco inicial na

história dá área do conhecimento, criado em 1958, no Reino Unido (OLIVEIRA, 2005,

p. 14).

Segundo Maria Eugênia A. Andrade e Marlene de Oliveira (2005, p. 45), a

diferença da pesquisa em âmbito acadêmico consiste em que “a atividade científica é

caracterizada como o compartilhamento de teorias entre pessoas, de modo a possibilitar

a geração de novos conhecimentos”, de modo organizado, cooperativo e integrado.

Outros fatores também determinaram o desenvolvimento da Ciência da

Informação, entre eles, o surgimento de novas tecnologias, com destaque para o

microfilme e para o computador, e, a “necessidade social, histórica, cultural e política do

26

registro e transmissão dos conhecimentos e informações, produto do processo de

desenvolvimento da Ciência e Tecnologia” (PINHEIRO, 2002, p. 72).

No entanto, segundo alguns autores, a história da Ciência da Informação está

relacionada primeiramente a “influências marcantes de duas disciplinas, que

contribuíram não só para sua gênese, mas, também, para seu desenvolvimento: a

Documentação, que trouxe novas conceituações; e a Recuperação da Informação, que

viabilizou o surgimento de sistemas automatizados de recuperação de informações”

(OLIVEIRA, 2005, p. 10).

A contribuição da Documentação consistiu, principalmente, na ampliação do

conceito de documento, até então resumido aos livros, para qualquer modalidade de

registro do conhecimento, o que também “ampliou o campo de atuação dos profissionais

da área ao ultrapassar os limites do espaço da biblioteca e agregar novas práticas de

organização e novos serviços de documentação” (OLIVEIRA, 2005, p. 10).

A Documentação surgiu a partir da Bibliografia, disciplina cuja origem remonta à

Idade Antiga, na Inglaterra. Pouco mais tarde, na metade do século XVI, o suíço Johann

Tritheim foi responsável pela primeira tentativa de preparação de uma bibliografia

universal. No fim deste mesmo século, na Europa, as bibliografias eram produzidas

constantemente, o que levou “os estudiosos [a] sentirem necessidade de sistematizarem

este grande volume de índices catalográficos e bibliográficos. Surgiram então muitas

bibliografias comerciais, precursoras das bibliografias nacionais, mas pouco adequadas

aos estudiosos” (SHERA, Jesse H. e EGAN, Margaret E. citados por ORTEGA, 2004).

No bojo da Revolução Industrial, no fim do século XIX, sob a liderança de Paul

Otlet e Henry La Fontaine, a Bibliografia se consolida e se transforma em

Documentação. A partir da idéia de “promover um levantamento bibliográfico

universal”, os pesquisadores criaram o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB),

atualmente denominado Federação Internacional de Documentação (FID), para

coordenar as atividades de controle bibliográfico universal, e, a Classificação Decimal

27

Universal (CDU), com o objetivo de adotar um mesmo sistema nocional para a

indexação de documentos (OLIVEIRA, 2005, p. 10).

O século XIX também foi o cenário de outros avanços na criação de instrumentos

de controle e gestão da informação, principalmente, cânones e regras universais de

descrição bibliográfica.

Anthony Panizzi publicou Ninety-One Cataloguing Rules, obra fundamental

para a catalogação durante várias gerações. Charles Jewett “[...] propôs a criação de um

centro nacional de bibliografia e documentação a partir de um catálogo coletivo do

acervo das bibliotecas públicas” dos Estados Unidos. Melvil Dewey publicou a Dewey

Decimal Classification (DCC), ou Classificação Decimal de Dewey (CDD), primeiro

sistema de classificação bibliográfica adotado universalmente. Charles Ammi Cutter

publicou Rules for a Dictionary Catalog, que, “além do código de catalogação incluía

uma declaração sobre os objetivos do catálogo” (SHERA, Jesse H. e EGAN, Margaret E.,

e, FAYET-SCRIBE, Sylvie e CANET, Cyril citados por ORTEGA, 2004).

Em 1899, pesquisas sobre catalogação foram publicadas na obra Instruktionen für

die Alphabetischen Kataloge der Preussischen Bibliotheken. Mais tarde, em 1901, a

Library of Congress (LC), a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, promoveu uma

ação de “[...] organização bibliográfica em bibliotecas com o sistema de distribuição de

fichas catalográficas impressas e padronizadas” (SHERA, Jesse H. e EGAN, Margaret E.,

e, FAYET-SCRIBE, Sylvie, CANET, Cyril citados por ORTEGA, 2004).

Já no século XX, Murilo Bastos Cunha* aponta mais alguns pioneiros da Ciência

da Informação:

a) Samuel Clemente Bradford, presidente da FID e autor do livro

Documentation, publicado em 1948;

* CUNHA, Murilo Bastos. Ciência da Informação 2. Mensagem eletrônica enviada à lista Listadeinformaçãoecrônicassobreinformaçãoeconhecimento em 4 de julho de 2007.

28

b) Suzanne Briet, fundadora da Union Française des Organismes de

Documentation (UFOD) e autora de Qu'est-ce que la documentation, publicado em

1951;

c) Paul Otlet, que, além da luta pelo controle bibliográfico universal, publicou o

Traite de la Documentation, em 1934;

d) Shiyali Ramamrita Ranganathan, cujos postulados, regras e princípios são

impressionantes e se encontram sintetizados nas cinco leis da Biblioteconomia e na

Colon Classification (CC), publicada em 1933;

e) Jesse H. Shera, professor e diretor da School of Library Science da Western

Reserve University e da obra clássica The foundations of education for librarianship,

publicada em 1972.

O termo Documentação foi adotado principalmente na França e na Índia. Nos

Estados Unidos tal designação não chegou a se consolidar, assim como no Brasil, cuja

influência da escola norte-americana foi preponderante, a partir do vínculo de

professores deste país com a criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e

Documentação (IBBD), hoje chamado Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

Tecnologia (IBICT) (PINHEIRO, 2002, p. 65-66).

A contribuição da Recuperação da Informação consistiu na proposição da

utilização de “quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas empregados para o desempenho

da operação” de descrição e de busca de informações. O termo de identificação do

campo foi cunhado pelo estudioso Calvin N. Mooers. Outro pioneiro essencial para a

área foi Vannevar Bush, que, antes mesmo do surgimento do computador pessoal, em

estudos incipientes, “chegou a propor uma máquina com capacidade de ‘associar idéias’,

que duplicaria os ‘processos mentais artificialmente’” (OLIVEIRA, 2005, p. 12).

A Recuperação da Informação foi uma disciplina proposta na década de 40,

criada apenas um pouco antes da época em que surgiu a Ciência da Informação. A área

beneficiou-se e estimulou-se com o crescimento da ciência e da tecnologia e com a

29

conseqüente explosão informacional relacionada a este movimento (OLIVEIRA, 2005, p.

12).

Dessa maneira, “o termo recuperação da informação - RI - é possivelmente um

dos termos mais importantes no campo conhecido como CI. Uma questão crítica é,

portanto, saber por que e em que sentido a RI usa o termo informação. A RI pode ser

vista tanto como um campo de estudo quanto como uma entre as muitas tradições de

pesquisa relacionadas ao armazenamento e recuperação de informação” (CAPURRO e

HJORLAND, 2007, p. 179).

Para F. Wilfrid Lancaster, “um sistema de recuperação de informação não

informa (isto é, muda o conhecimento sobre algo) ao usuário sobre o assunto de sua

investigação. Ele meramente informa sobre a existência (ou não) e a localização dos

documentos relacionados ao seu pedido” (LANCASTER, F. Wilfrid citado por VAN

RIJSBERGEN, C. J. citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 180).

Tal paradigma da Recuperação da Informação seria problematizado nos trabalhos

de especialistas da área, mas discussão persistiu (e ainda persiste) mais tarde nas

pesquisas da Ciência da Informação. A principal questão levantada tratava da

necessidade de diferenciar os conceitos de fato, informação e documento (CAPURRO e

HJORLAND, 2007, p. 180-184).

A tendência de atrelar a disciplina à recuperação dos fatos consiste em considerar

que a Recuperação da Informação deveria atender à necessidade informacional de obter

acesso às opiniões contidas nos documentos. Entretanto, “[...] ocorre que nem a pessoa

que solicita a informação, nem quem a entrega deveria ignorar a confiabilidade dos

dados e esquecer sobre o contexto geral em que os dados são obtidos. [...] Além do mais,

várias investigações de alguma propriedade têm levado, freqüentemente, a diferentes

resultados que não podem ser comparados e avaliados separadamente da informação

sobre sua origem. Um fato empírico sempre tem uma história e, talvez, um futuro não

muito certo. A história e o futuro podem ser conhecidos somente através da informação

30

de documentos particulares, isto é, através da recuperação de documentos” (SPANG-

HANSSEN, Hennning citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 184).

Na tentativa de dissociar recuperação de informação e recuperação de

documentos, Bertram C. Brookes propôs que “se a teoria de recuperação de informação

fosse chamada de teoria de recuperação de documentos, a anomalia desapareceria. E a

teoria de recuperação de documentos estaria no lugar como um componente da

biblioteconomia, que está do mesmo modo relacionada a documentos” (BROOKES,

Bertram C. citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 181).

Porém, como mostra a própria distinção entre informação e fato, a Recuperação

da Informação não se preocupa exclusivamente com a recuperação de documentos. Por

isso, é mais adequado destacar as variações concernentes ao objeto da disciplina, ao invés

de minimizar as diferenças advindas de determinadas orientações de pesquisa e trabalho

(CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 182).

A Biblioteconomia foi outra disciplina preponderante para o desenvolvimento da

Ciência da Informação. Os estudos da área acompanharam o surgimento das primeiras

bibliotecas, ainda no terceiro milênio a.C., e perpassaram muitos momentos históricos.

No entanto, “o termo ‘biblioteconomia’ foi usado pela primeira vez somente em 1839 na

obra intitulada ‘Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e

l’administration des bibliothèques’, publicada pelo livreiro e bibliógrafo Léopold-

Auguste-Constantin Hesse. Mas foi efetivamente no século XIX que as técnicas e

práticas dos bibliotecários começam a ser sistematizadas” (LAHARY, Dominique citada

por ORTEGA, 2004).

Para Le Coadic, a Biblioteconomia atualmente responde aos problemas de gestão

dos acervos de livros (formação, catalogação, desenvolvimento, classificação e

conservação), de gestão da própria biblioteca como serviço organizado (regulamento,

pessoal, contabilidade, local, infra-estrutura), e, de gestão dos leitores e dos usuários

(acesso à informação, consulta, empréstimo) (LE COADIC, 2000, p. 12-13).

31

O núcleo temático da Biblioteconomia tradicionalmente envolveu as

metodologias de gestão de acervos e de bibliotecas, mas, durante o Iluminismo, “o

movimento de criação e disseminação das bibliotecas públicas” “levou os bibliotecários a

desviar suas atenções dos processos de análise e representação das unidades do

conhecimento registrado” para as perspectivas educacionais de cada cidadão. “Em

especial na Inglaterra e nos Estados Unidos [...], a biblioteca pública era considerada

uma agência educacional das massas e da democratização da cultura”, o que demandou

do bibliotecário outras capacidades e incluiu outros assuntos na agenda de pesquisas da

área (ORTEGA, 2004).

O “modelo estadunidense de biblioteca pública” teve especial participação na

conformação da área no Brasil, o que “trouxe benefícios, dentre os quais, a renovação

dos processos técnicos e administrativos, a melhoria e diversificação dos serviços, como

no caso do empréstimo domiciliar, maior liberdade nas relações com o público e a

compreensão sobre o papel da biblioteca para a educação e recreação da população em

geral e como estímulo às pesquisas especializadas”. Porém, “processos e instrumentos

(como a CDU e o catálogo dicionário, que foram substituídos pela CDD e pelo catálogo

dicionário) foram deixados de lado, sem considerar a especificidade das coleções e dos

usuários” (ORTEGA, 2004).

Por fim, Lena V. R. Pinheiro aponta uma outra contribuição na constituição da

Ciência da Informação, ao destacar o conceito de informação científica de A. I.

Mikhailov, A. I. Chernyi e R. S. Gilyaresvskii. Segunda a autora, “fica claro que eles

estavam se referindo à Ciência da Informação: ‘nova disciplina científica que estuda a

estrutura e propriedades da informação científica, bem como as regularidades das

atividades de informação científica, sua teoria, história, métodos e organização’”

(MIKHAILOV, A. I., CHERNYI, A. I. e GILYARESVSKII, R. S. citados por PINHEIRO,

2002, p. 67).

32

A partir destas variadas matrizes teóricas, a Ciência da Informação surgiu com o

objetivo básico e preliminar de “reunir, organizar e tornar acessível o conhecimento

cultural, científico e tecnológico produzido em todo mundo” (OLIVEIRA, 2005, p. 13).

Harold Borko definiu a Ciência da Informação como uma disciplina que

“investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam

seu fluxo e os meios de processamento para otimizar sua acessibilidade e utilização.

Relaciona-se com o corpo de conhecimento relativo à produção, coleta, organização,

armazenagem, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da

informação” (BORKO, Harold citado por OLIVEIRA, 2005, p. 16).

Para Tefko Saracevic, a Ciência da Informação é “um campo dedicado às questões

científicas e à prática profissional, voltadas para os problemas da efetiva comunicação do

conhecimento e de registros de conhecimento entre seres humanos, no contexto social,

institucional ou individual do uso e das necessidades de informação” (SARACEVIC,

Tefko citado por OLIVEIRA, 2005, p. 16).

Segundo Le Coadic, “a ciência da informação, preocupada em esclarecer um

problema social concreto, o da informação, e voltada para o ser social que procura

informação, situa-se no campo das ciências sociais (das ciências do homem e da

sociedade), que são o meio principal de acesso a uma compreensão do social e do

cultural” (LE COADIC, 2000, p. 19).

Na perspectiva de Aldo Barreto*, “o objeto interno da ciência da informação, do

seu estudo, do ensino e da pesquisa se relaciona, na atualidade, unicamente, [com] a

apropriação e compreensão da tecnologia da informação”. Dessa maneira, em síntese,

cabe ao campo:

1- “Registrar, organizar e distribuir, unicamente, a informação de conteúdo

delimitado pela tecnologia da informação”;

* BARRETO, Aldo de Albuquerque. Novos objetivos da Ciência da Informação. Mensagem eletrônica enviada à lista Listadeinformaçãoecrônicassobreinformaçãoeconhecimento em 19 de abril 2007.

33

2- “Conhecer e mediar o processo de produção, distribuição e consumo da

informação nas mídias atuais da TI”;

3- “Facilitar a ação de integração social, através das redes eletrônicas,

fortalecendo a participação cidadã em comunidades eletrônicas”;

4- “Promover a fluência digital como uma forma de educação para operar novos

instrumentos de acesso e interatuação com a informação”;

5- "Estimular o desenvolvimento e competência para operar o software e a

informação livre”;

6- “Promover ambientes informacionais abertos nos quais o usuário possa, de

maneira consciente e responsável, alterar os estoques de informação gerando nova

qualidade informacional para toda a sociedade”;

7- “Promover a formação, o respeito e a integridade dos ambientes colaborativos,

dentro das regras firmadas por seus integrantes”.

Em uma visão mais recente da área, o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) afirma que “Ciência da Informação designa o campo

mais amplo, de propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que

tem por objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e

utilização de informações em todos os campos do saber”. Como uma grande área do

conhecimento, a Ciência da Informação abriga disciplinas como a Biblioteconomia, a

Arquivologia e a Museologia (CNPq citado por OLIVEIRA, 2005, p. 17).

A discussão dos limites e das características de distinção entre a Ciência da

Informação e a Biblioteconomia é justamente um assunto em destaque na literatura da

área, ou das duas áreas, conforme o ponto de vista. Trata-se de um dos critérios decisivos

na conformação das correntes epistemológicas da Ciência da Informação.

A imbricada história da Ciência da Informação, em virtude das suas interfaces

com as disciplinas antecessoras, pode ser considerada o primeiro recorte epistemológico

da área. De acordo com Ortega (2004) “parte da relação entre Biblioteconomia e Ciência

34

da Informação é decorrência da continuidade da oposição entre Biblioteconomia e

Documentação. Afinal, se a Documentação surgiu de uma cisão da Biblioteconomia e

impulsionou a formação da Ciência da Informação, seria coerente considerar as duas

últimas como divergentes. Apesar de ser verificável relativa divergência, ela só não é

maior pois a Biblioteconomia assimilou algumas técnicas da Documentação, sendo por

isso definida atualmente como uma grande área nomeada ‘Biblioteconomia e

Documentação’”.

Na visão de Francis L. Miska, o paradigma da Biblioteconomia “consiste em um

grupo de idéias relacionadas com a biblioteca, então considerada como uma instituição

social”, que “existe, principalmente, para tornar possível o uso, por um dado público, de

suas coleções de documentos” (MISKA, Francis L. citado por OLIVEIRA, 2005, p. 22).

Em contraposição, “o paradigma da Ciência da Informação compõe-se de um

grupo de idéias relativas ao processo que envolve o movimento da informação em um

sistema de comunicação humana”. Trata-se de um modelo de sistema de informação

com origem em um contexto mais geral, que é a teoria matemática da comunicação

(OLIVEIRA, 2005, p. 23 e p. 24).

Também no sentido de distinção entre as áreas, Lena V. R. Pinheiro (2002, p. 63)

aponta para o reconhecimento exclusivo da Ciência da Informação “[...] não a

considerando, portanto, prolongamento ou dimensão maior da Biblioteconomia,

conforme defendido por alguns autores”.

Michael Buckland observa que “a disputa sobre Ciência da Informação e

Biblioteconomia poderia ter ocasionado uma grande mudança se tivesse ocorrido uma

retomada das primeiras posições dos documentalistas europeus e dos estudos e propostas

dos pioneiros estadunidenses que atuaram em fins do século XIX. Considera que as

pesquisas e aplicações em Ciência da Informação dos Estados Unidos do pós Segunda

Guerra realizadas por engenheiros, foram caras e ineficazes, mas que poderiam ter sido

produtivas se não tivesse havido uma separação institucionalizada e atitudinal entre

35

engenheiros e bibliotecários. Pesquisadores e profissionais da Ciência da Informação

eram percebidos por muitos bibliotecários como uma espécie de ameaça até o final dos

anos 70, quando o debate sobre Ciência da Informação versus Biblioteconomia dispersou

em segmentos diferentes aquilo que era uma ênfase construtiva sobre teoria, modelos e

serviços” (BUCKLAND, Michael citado por ORTEGA, 2004).

No entanto, segundo Marlene de Oliveira (2005, p. 26), a “unidade de análise da

Biblioteconomia não é mais somente o livro, mas também a informação; e suas

atividades, agora automatizadas, ultrapassam o espaço da biblioteca”. Dessa forma, o

paradigma da Ciência da Informação “tem influenciado profundamente o campo da

Biblioteconomia, [...] suprindo a área com um conjunto completamente novo de termos

com os quais os participantes caracterizaram suas atividades” (OLIVEIRA, 2005, p. 24).

Dessa forma, a tendência de construção coletiva entre as três disciplinas é

preponderante, sobretudo se considerarmos o núcleo comum de pesquisa no processo de

circulação da informação. Além disso, apesar das distinções, outras aproximações são

notáveis. “A Biblioteconomia assimilou algumas técnicas da Documentação, sendo por

isso definida atualmente como uma grande área nomeada ‘Biblioteconomia e

Documentação’”, por exemplo. A Documentação, por sua vez, forneceu subsídios à

“conteúdos essenciais para a composição da Ciência da Informação por considerar,

respectivamente, a natureza lógico-semântica da estruturação do conteúdo dos

documentos e os requisitos tecnológicos para a sua produção, organização e

disseminação” (ORTEGA, 2004).

Nessa perspectiva, “[...] a crescente tendência de usar o termo informação em

instituições de biblioteconomia e documentação está relacionada principalmente a: 1)

um crescente interesse em aplicações computacionais (ou de tecnologias da informação)

e 2) uma influência teórica, indireta da teoria da informação (SHANNON e WEAVER,

1972) e o paradigma do processamento da informação nas ciências cognitivas”

(HJORLAND, Birger citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 177).

36

Outro aspecto importante nessa discussão é que “a literatura produzida na

Ciência da Informação e na Biblioteconomia não expressa conflitos existentes na

comunidade profissional ou científica, apesar da formação nessas duas áreas ser

oferecida em diferentes níveis”, no caso brasileiro, em nível de graduação e pós-

graduação, respectivamente (OLIVEIRA, 2005, p. 26).

No entanto, é notável que a percepção do “a-historicismo (supostamente devido a

uma origem remota não reconhecida)” da área a as “constantes dissidências de grupos

profissionais e campos de estudos” resultaram “[...] em uma atual e urgente necessidade

de construção de identidades para a área e para os profissionais envolvidos nesta

trajetória”. Um resgate cuja função é estabelecer a especificidade do campo, a partir da

sua história, principalmente (ORTEGA, 2004).

Aldo de Albuquerque Barreto* complementa a tendência de contemporizar as

diferenças entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação ao afirmar

que, no caso brasileiro, a CI foi construída como uma extensão das duas áreas

precedentes.

Mesmo em âmbito internacional, “somos, portanto, capazes de traçar uma linha

de desenvolvimento das bibliotecas especializadas, passando pela documentação, até a

CI tanto no Reino Unido quanto nos EUA” (WILLIAMS, Robert V. e RAYWARD, W.

Boid citados por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 177).

Essa tendência de continuação do legado de pesquisas pela Ciência da Informação

aponta para uma questão fundamental para a consolidação do campo científico: a

preocupação excessiva com o tecnicismo. Isso porque, como alertam Nair Kobashi,

Johanna Smit e Maria de Fátima Tálamo, “a Biblioteconomia entrou atomista no século

XX, realizando de um ponto de vista genérico e substancialista uma série de atividades

técnicas. Apenas nomeia o já produzido e não desenvolve um objeto específico: vem

sempre a reboque das várias disciplinas produtoras do conhecimento. Imagina-se a- * BARRETO, Aldo de Albuquerque. Ciência da Informação 2. Mensagem eletrônica enviada à lista Listadeinformaçãoecrônicassobreinformaçãoeconhecimento em 4 de julho de 2007.

37

histórica, não reconhece as relações sociais e o contexto de circulação daquilo que

preserva e nomeia” (KOBASHI, SMIT e TÁLAMO, 2001).

Como vimos anteriormente, segundo Oliveira, um dos marcos iniciais da

formalização da Ciência da Informação é a fundação do Institute of Information

Scientists. Entretanto, outros autores observam que a área foi oficializada na

Conferência dos Especialistas em Ciência da Informação, sediada no Georgia Institute of

Technology, realizada em 1962, “quando foi formulada a primeira definição formal de

CI” (SHERA, Jesse H. e CLEVELAND, Donald B. citados pro BRAGA, 1995 e FOSKETT,

Douglas J. citado por PINHEIRO, 2002, p. 74-75).

É interessante notar que a criação da Ciência da Informação não é um

acontecimento isolado, pelo contrário, constitui parte de um movimento científico

condizente com as necessidades informacionais da época. Isto porque em 1962 também

surgem a Informática e a Sociologia da Ciência, outras disciplinas fundamentais no

âmbito dos estudos da informação (PINHEIRO, 2002, p. 78).

A relação com a tecnologia é notável ainda antes da formalização da Informática

e da Ciência da Informação como áreas do conhecimento. Nas décadas de 40 e 50

surgem três frentes de estudos tecnológicos sobre a informação, “[...] cujas influencias

vão se fazer sentir na Ciência da Informação, em maior ou menor grau”. Trata-se da

Cibernética, da teoria da matemática da informação, sobre as quais falaremos no capítulo

dedicado às Ciências da Comunicação, e, a teoria geral dos sistemas (TGS), cujos

conceitos como meio ambiente, retroalimentação e inter-relação foram bastante

aproveitados (PINHEIRO, 2002, p. 73-74).

Com o decorrer do tempo, “para o desenvolvimento das atividades científicas,

torna-se necessária uma infra-estrutura mínima composta por elementos básicos”, como

“instituições de ensino e pesquisa fortes, recursos humanos qualificados, e, canais de

comunicação e intercâmbio científico” (ANDRADE e OLIVEIRA, 2005, p. 46).

38

No Brasil, “a história da Ciência da Informação passa, necessariamente, pela

história” do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O

IBICT foi pioneiro na realização de pesquisas bibliográficas indispensáveis ao controle

bibliográfico, através de produtos como o Catálogo Nacional de Publicações Seriadas

(CCN), e, “[...] atuou como centro irradiador de novos conhecimentos tanto para o Brasil

quanto para outros países da América Latina”, a partir dos cursos de capacitação e

especialização ao trabalho com a literatura científica e técnica (ANDRADE e

OLIVEIRA, 2005, p. 46 e 47).

A qualificação de recursos humanos brasileiros em Ciência da Informação ocorre

principalmente em dois momentos, durante os cursos regulares de graduação e de pós-

graduação em Biblioteconomia, Gestão da Informação ou Ciência da Informação.

O ensino em pós-graduação, no entanto, é mais influente na conformação do

campo científico, uma vez que é o nível de formação de aprofundamento dos estudos e

das pesquisas. Nesse sentido, como sinalizador de tendência já observada em nossa

discussão sobre a nomenclatura da área, “é interessante notar que, na década de 1990, os

cursos já existentes na área de Biblioteconomia optaram pela mudança de nome para

Ciência da Informação” (ANDRADE e OLIVEIRA, 2005, p. 54).

Entre os principais canais de intercâmbio científico estão as sociedades

científicas, que, a partir do século XX, se firmaram como pólos de promoção de eventos

científicos e de publicação de periódicos e documentos de divulgação da pesquisa

(ANDRADE e OLIVEIRA, 2005, p. 49).

Além da Federação Internacional de Documentação (FID) e do Institute of

Information Scientists (IIS), citados anteriormente, é possível destacar mais algumas

instituições e associações científicas e/ou profissionais do campo da Ciência da

Informação, entre elas:

39

[1] American Documentation Institute (ADI), que foi fundado a partir do

advento das novas tecnologias de reprodução de documentos, principalmente o

microfilme;

[2] American Library Association (ALA), que, em sua primeira conferência, em

1876, já discutia a necessidade de realizar esforços cooperativos;

[3] International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA);

[4] Association des Documentalistes et Bibliothécaries Specialisés, atualmente

denominada Association des Profissionnels de L’information et de la Documentation

(ADBS), na França;

[5] American Society for Information Science and Technology (ASIST);

[6] Special Libraries and Information Bureaux, hoje denominada Association for

Information Management (ASLIB), na Grã-Bretanha;

[7] European Bureau of Library, Information and Documentation Associations

(EBLIDA) (PINHEIRO, 2002, p. 68-69; ORTEGA, 2004; LE COADIC, 2000, p. 23).

A principal associação científica brasileira é a Associação Nacional de Pesquisa e

Pós-Graduação em Ciência da Informação e Biblioteconomia (ANCIB), fundada em

1989, “com o objetivo, entre outros, de promover o desenvolvimento da pesquisa, o

intercâmbio e a cooperação entre seus associados, a sistematização e a divulgação dos

conhecimentos gerados pela comunidade de pesquisadores” (ANDRADE e OLIVEIRA,

2005, p. 49).

O cenário da publicação acadêmica em Ciência da Informação no Brasil é

extremamente relacionado com os cursos de pós-graduação da área, pois é decisiva “a

participação de professores/pesquisadores nos conselhos editoriais e na produção de

artigos que veiculam as idéias e pesquisas de seus docentes e discentes”. Essa vinculação

consiste também em uma característica essencial para a consistência e a manutenção das

revistas (ANDRADE e OLIVEIRA, 2005, p. 53).

40

No âmbito mundial, as primeiras revistas em Ciência da Informação surgiram

ainda na época de crescimento da Documentação. Na Grã-Bretanha, o Journal of

Documentation (1945), nos Estados Unidos, a American Documentation (1950), e, na

Rússia, o Nachrichten für Dokumentation (1950) (PINHEIRO, 2002, p. 78).

Até os dias de hoje o número de veículos de comunicação científica da área

cresceu consideravelmente. Além das revistas do núcleo geral da Ciência da Informação,

existem periódicos especializados em sub-campos como informação eletrônica, em

Biblioteconomia e Documentação, em estudos da cultura, em ciências sociais (LE

COADIC, 2000, p. 117-118).

Especificamente na França, por exemplo, “a totalidade dos títulos e revistas

publicadas não é suficiente para dar visibilidade à produção científica” local. Viviane

Couzinet explica que a lacuna de publicações tem sido preenchida pela prática

profissional, que, no entanto, fica limitada aos aspectos técnicos e aplicados

(COUZINET, 2004, p. 34).

Ainda na esteira da consolidação do campo, a contribuição dos eventos

científicos não pode ser desconsiderada. Lena V. R. Pinheiro enfatiza a importância de

quatro deles em especial:

[1] Conferência de Informação Científica da Royal Society (1948);

[2] Conferência da International Union on Pure and Applied Chemistry

(IUPAC), sobre documentação especializada em Química Aplicada (1955);

[3] Conferência Internacional de Informação Científica (1958), realizada pela

Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos;

[4] Conferência dos Especialistas em Ciência da Informação (1961-1962), sediada

no Georgia Institute of Technology, quando se estabeleceu a primeira definição formal

para Ciência da Informação (FOSKETT, Douglas J. citado por PINHEIRO, 2002, p. 74-

75).

41

Outro impulso à Ciência da Informação partiu das instâncias de formulação das

políticas públicas, notadamente o governo e as cúpulas mundiais. Nos Estados Unidos,

na década de 60, “muitas pesquisas de informação recebem financiamento de órgãos

federais e atividades de informação importantes têm a chancela do Estado”, como o

Committee on Scientific and Technical Information (COSATI). A UNESCO incentivou

iniciativas de implantação de centros e sistemas de informação nos países do terceiro

mundo, através de Sistemas Nacionais de Informação (NATIS, sigla para National

Information Systems) vinculados a uma central cooperativa denominada Sistema

Mundial de Informação Científica e Tecnológica (UNISIST, acrônimo para representar o

estudo de viabilidade do sistema) (PINHEIRO, 2002, p. 79-80).

Para Le Coadic, o principal desafio da Ciência da Informação, a se consolidar

décadas após o seu surgimento, seria a condição de acompanhar as revoluções científicas

deste período. Entre estas transformações estão o paradigma do trabalho coletivo, a

dinamização do fluxo da informação, a mudança do foco dos serviços de informação

para os seus usuários, e, a revolução eletrônica (LE COADIC, 2000, p. 109-111).

Em seu histórico de aproximadamente 40 anos de existência, a Ciência da

Informação construiu uma trajetória de estudos e pesquisas que refletem tendências e

abordagens peculiares ao campo, a partir da conexão com diversas disciplinas

antecessoras. Tais discussões, por sua vez, para fins de estudo e de análise da área, podem

ser classificadas em grupos comuns de interesse, denominado correntes epistemológicas.

2.2 Correntes epistemológicas

As correntes epistemológicas da Ciência da Informação não podem ser

facilmente identificadas, tampouco podem ser consideradas pontos pacíficos entre os

pesquisadores da sua comunidade acadêmica. A recente história da área, em comparação

42

com outros campos do conhecimento, não permitiu a consolidação de modelos, teorias e

conceitos, pelo contrário, favoreceu (e ainda favorece) um ambiente de experimentações

e tentativas de explicação dos fenômenos informacionais.

Em uma primeira versão, “os relatos da literatura inglesa da década de 60 e

mesmo de boa parte da década de 70 mostram uma ciência da informação atrelada à

teoria matemática da comunicação; empolgada com a nascente automação de sistemas

de recuperação da informação e de bases de dados; voltada para os problemas da

semântica, visando à representação da informação; preocupada com os primeiros estudos

de relevância e medidas de desempenho e avaliação de SRIs [sistemas de recuperação da

informação]; envolvida com leis e teorias bibliométricas para explanar o comportamento

e a estrutura da literatura; realizando estudos para entender a dinâmica dos processos de

comunicação e o comportamento de usuários” (BRAGA, 1995).

“A implantação, na década de 80, dos sistemas de microcomputação,

especialmente nos Estados Unidos, direcionou grande parte das pesquisas para a

automação e processos a ela associados: inteligência artificial, hipertextos, bases de

conhecimento, sistemas especialistas etc” (BRAGA, 1995).

Mais tarde, a Ciência da Informação vai se dedicar também ao estudo do caos e

da complexidade, ao participar de um saudável movimento de conexão com o fluxo

geral de todas as ciências. “A complexidade é o limite do caos - a fronteira, segundo

vários autores, entre ordem e caos. Sistemas complexos exibem uma grande quantidade

de componentes independentes interagindo uns com os outros de inúmeras formas”

(BRAGA, 1995).

Eliany Alvarenga de Araújo aborda o desenvolvimento destes temas de pesquisa

em Ciência da Informação através da definição de correntes epistemológicas ou de

visões científicas, que consistem em “referenciais teóricos que apóiam as abordagens

utilizadas” nos estudos do campo do conhecimento (ARAÚJO, 2002 p. 19).

43

A primeira corrente epistemológica é denominada visão sistêmica, na qual “a

função da informação é garantir a estabilidade dos sistemas”, e, “a finalidade do sistema é

atingir um nível ótimo de performance nos processos de comunicação, fazendo com que

uma informação emitida por um sujeito x chegue até um sujeito y com um mínimo de

tempo e de perda de energia” (ARAÚJO, 2002, p. 20).

No contexto da visão sistêmica estão as seguintes abordagens:

[1] centrada na mensagem - com base na teoria matemática da comunicação, foi

largamente empregada na Ciência da Informação;

[2] pragmática - a partir “do pressuposto de que a informação é um elemento que

auxilia o sujeito a tomar uma decisão, centrando-se na influência da mensagem no

receptor”;

[3] estruturalista - considera que “toda estrutura do mundo, percebida ou não,

constitui uma informação”;

[4] centrada no significado - oriunda da Lingüística, analisa a predominância do

valor sintático, semântico ou pragmático da informação;

[5] centrada no processo - “considera que a informação não é um dos

componentes do processo comunicacional, mas, ela seria o próprio processo [...] que

ocorre na mente humana quando um problema é dado”;

[6] cognitivista - a partir da constatação de que o conhecimento é um fenômeno

subjetivo, tem como função “estudar o aspecto objetivo do processo de comunicação: os

processos cognitivos do emissor e do receptor ao produzirem informação” (ARAÚJO,

2002, p. 20-22).

A segunda corrente epistemológica definida por Araújo é denominada visão

crítica, “[...] que parte do pressuposto de que a informação é um fenômeno social, pois

ela é gerada, organizada, disseminada e utilizada por sujeitos que estão inseridos num

determinado contexto social. Assim, a informação possui dimensões políticas,

econômicas, culturais e históricas, que devem ser analisadas, para que se possa

44

compreender o fenômeno informacional de forma mais completa” (ARAÚJO, 2002, p.

22).

A principal abordagem desse modelo é a teoria crítica, proposta por Jürgen

Habermas, cujo ponto de partida é a constatação de que “o fenômeno informacional é

um produto das relações sociais, seja para criar condições de diálogo entre os cidadãos

(agir comunicativo), entre as instituições científicas e políticas” (ARAÚJO, 2002, p. 23).

Finalmente, a terceira vertente teórica da Ciência da Informação da proposta

conceitual de Araújo é denominada visão pós-moderna, na qual a informação perde o

estatuto de “elemento que garante o equilíbrio dos sistemas ou que modifica os

contextos sociais” e é entendida como “elemento que apenas mediatiza, tanto os

processos de apreensão do real, como as próprias relações sociais” (ARAÚJO, 2002, p.

26).

A autora se baseia nas pesquisas de Jean-François Lyotard para analisar a função

da informação no contexto da pós-modernidade. Além da destinação mediatizadora, a

informação “[...] adquire características de mercadoria, pois se torna indispensável à

força produtiva, [...] fica submetida às leis de mercado e ganha valor de troca”

(ARAÚJO, 2002, p. 26).

Viviane Couzinet, a partir os estudos de Jean-Paul Metger, indica três

orientações epistemológicas da Ciência da Informação: “o estudo dos ‘objetos portadores

do saber’; ‘as práticas humanas e sociais em matéria de elaboração, compartilhamento do

saber, do acesso à informação’ e ‘a formalização e o cálculo’ ligado à tecnologia digital e

à pesquisa da matematização” (METZGER, Jean-Paul citado por COUZINET, 2004, p.

26).

Le Coadic propõe a análise de um campo científico a partir de cinco aspectos:

conceitos, métodos, leis, modelos e teorias. Eles apresentam a característica comum de

resultar da própria produção da área, mas apresentam variações significativas quanto ao

nível profundidade e de consolidação das abordagens.

45

O primeiro nível é o dos conceitos, cuja função é estabelecer formulações

explícitas para fundamentar as discussões teóricas de uma disciplina. “Os conceitos

científicos e técnicos são conceitos unívocos que tornam os conhecimentos científicos e

técnicos em conhecimentos objetos ou tendentes à objetividade”, que diferem dos

conceitos lingüísticos que são naturalmente ambíguos (LE COADIC, 2000, p. 55).

Le Coadic cita inúmeros conceitos científicos importantes para a Ciência da

Informação. Freqüência de publicação de um periódico, sistema de gerenciamento de

bases de dados, citação (e referência), fator de impacto, e, hipertexto podem ser

classificados como aspectos da comunicação científica. As noções de sintagma, índice e

classificação se relacionam com o campo do tratamento da informação. Relevância,

revoção, precisão e obsolescência podem ser consideradas características da informação

e do processo de recuperação da informação. Os conceitos de necessidade de

informação, interação, atitude e espera revelam a faceta psicológica do processo de uso

da informação (LE COADIC, 2000, p. 56-63).

Também é possível destacar conceitos técnicos como referência bibliográfica,

catálogo, formato bibliográfico, tesauro e ontologia (LE COADIC, 2000, p. 63-64).

Rafael Capurro e Birger Hjorland ressaltam que “a literatura de CI é caracterizada

pelo caos conceitual. Este caos conceitual advém de uma variedade de problemas na

literatura conceitual da CI: citação a-crítica de definições anteriores, fusão de teoria e

prática, afirmações obsessivas de status científico, uma visão estreita da tecnologia,

descaso pela literatura sem o rótulo de ciência ou tecnologia, analogias inadequadas,

definições circulares e multiplicidade de noções vagas, contraditórias e, às vezes,

bizarras quanto à natureza do termo informação” (SCHRADER, A. M. citado por

CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 154).

Sobre a ausência de reflexão própria e contextualizada dos conceitos

concernentes ao campo, Kobashi, Smit e Tálamo apontam que “[...] na ausência de um

assentamento conceitual ou na presença de ambivalências semânticas, que poderiam

46

supostamente estabelecer condições de criação, tem-se um impasse ou retardamento

teórico, que compromete a área como um todo” (KOBASHI, SMIT e TÁLAMO, 2001).

No segundo aspecto da proposta de Le Coadic, os métodos são os princípios

científicos que refletem as características da condução do trabalho de pesquisa de uma

área, cujo objetivo é formalizar os objetivos dos estudos, a partir do pressuposto que o

método exerce determinada influência no processo científico.

O autor aponta que os métodos empregados na pesquisa em Ciência da

Informação consistem basicamente em princípios de análise dos documentos e da

informação. São eles a catalogação, a indexação, a análise de co-citações, a análise de

termos associados, a reformulação (elaboração de resumos) e a infometria (LE COADIC,

2000, p. 64).

A catalogação visa descrever através de metadados as informações de origem do

documento. A indexação “consiste em selecionar, num documento textual, certas

palavras-chave consideradas como as mais representativas do conteúdo desse

documento”. À análise de co-citações cabe analisar “a freqüência de citações recebidas

por um artigo”, para determinar o quão ele é importante em dado contexto científico. A

análise de termos associados denota a relevância de uma palavra-chave para o seu setor

de pesquisa. A elaboração de resumos é o processo de condensação do texto em uma

estrutura sumária. E, por fim, a infometria é a análise aperfeiçoada das atividades de

informação científica e técnica, através da formulação de índices estatísticos e

matemáticos (LE COADIC, 2000, p. 64-65).

Quanto aos métodos de pesquisa propriamente ditos, Le Coadic (2000, p. 67)

menciona o questionário, a entrevista e a observação, todos de origem sociológica e

psicológica. No entanto, o autor não aprofunda a análise destes métodos, o que suscita a

dúvida se eles se referem de fato aos modos de condução da pesquisa em Ciência da

Informação ou se eles se aplicam a análises específicas do campo, como os estudos de

usuário e de comunidade, por exemplo.

47

De forma explícita, Maria Yêda F. S. de F. Gomes constata “a predominância da

pesquisa empírica com predomínio das abordagens quantitativas e dos estudos

exploratórios, sendo o levantamento e os estudos de caso os procedimentos

metodológicos mais empregados nas dissertações e teses analisadas. O questionário e a

entrevista foram os instrumentos de coleta de dados mais utilizados” (GOMES, 2006).

Segundo Viviane Couzinet, a metodologia da pesquisa no campo informacional

pode ser classificada em três grupos. O trabalho exploratório é feito por meio de leituras

e entrevistas, além de pesquisas sociológicas ou econômicas. “Para estudar os

conhecimentos registrados, nós buscamos suporte nas análises de conteúdo, análises

semióticas ou análises documentárias”. Finalmente, “os métodos quantitativos são

utilizados na elaboração de modelos de observação, ou mesmo na elaboração de novas

ferramentas de acesso à informação” (COUZINET, 2004, p. 28).

Divergências à parte, o ponto comum de todas as propostas de organização das

correntes epistemológicas da Ciência da Informação é a indicação da falta de atenção à

metodologia da pesquisa. “A pesquisa da área parece unidirecionada no uso de métodos

empíricos, o que sugere unidirecionamento nos pressupostos teóricos e formulações de

problemas. [...] No entanto, a discussão metodológica e a análise dos fundamentos da

disciplina são ambas pré-requisitos para o uso mais diversificado de estratégias de

pesquisa e uma articulação mais abrangente dos problemas de pesquisa” (JÄRVELIN,

Kalervo e VAKKARI, Pertti citados por BRAGA, 1995).

Dessa forma, a ausência da discussão metodológica se configura como um

importante problema a ser resolvido pela comunidade acadêmica da área, sobretudo, no

bojo da trajetória de consolidação da Ciência da Informação. A resolução da questão não

é simples e apenas o trabalho científico aplicado aos aspectos epistemo-metodológicos

pode esgotar o debate sobre estes tópicos tão cruciais ao campo do conhecimento, ainda

que seja para contrapor a idéia da insuficiência do debate e apontar para outros

caminhos.

48

Retomando a proposta de Le Coadic, o terceiro plano do amadurecimento de

determinada disciplina são as leis científicas. As leis podem ser consideradas “[...]

relações quantitativas relativamente constantes e exprimíveis como funções

matemáticas que estabelecem relações universais e necessárias entre o aparecimento de

um fenômeno e as condições que o fazem surgir” (LE COADIC, 2000. p. 67).

No âmbito da Ciência da Informação, o autor identifica duas tendências: as leis

bibliométricas, cuja função geral é observar o comportamento social de uso da

informação, e, as leis epidemiológicas, cujo prospecto é “fazer uma analogia formal entre

o curso das epidemias e a difusão oral das informações numa população de cientistas”

(LE COADIC, 2000, p. 70).

A maior relevância, na visão de Le Coadic, no entanto, é observada nas leis

bibliométricas, destacadamente a lei de Bradford, a lei de Lotka e a lei de Zipf.

A lei proposta por Samuel Clement Bradford “permite localizar a informação

relevante na massa das referências disponíveis”, a partir da observação da ocorrência de

certa regularidade na correlação entre o artigo científico relevante e a publicação

periódica importante. Bradford verificou a existência de três tipos de periódicos:

especializado, pouco especializado e não especializado, em referência a um núcleo

científico. Quanto maior a especialização, maior a relevância do artigo para o periódico,

e, conseqüentemente, para o campo científico. A formulação matemática da lei de

Bradford pondera que 20% dos periódicos contêm 80% dos artigos relevantes (LE

COADIC, 2000, p. 69).

Outras ramificações baseadas da proporção 20/80 ou 80/20 já haviam sido

formuladas por pesquisadores de áreas incipientes ao campo da informação. Entre elas, a

dimensão de que 80% dos usuários concentram o uso em 20% do acervo dos serviços de

informação, e, a lei de Lotka, cujo pressuposto é que 20% dos autores publicam 80% dos

artigos.

49

Alfred James Lotka propôs a sua lei a partir da consideração das desigualdades dos

níveis de produtividade dos cientistas. Entre os fatores intervenientes neste cenário

estão a natureza da área científica, a formação do pesquisador, os meios de comunicação

científica disponíveis, e, a concorrência com os pares (LE COADIC, 2000, p. 29-31).

A lei de George Kingsley Zipf, originalmente formulada no contexto da

Lingüística, aponta para a proporcionalidade entre a posição da palavra e a ordem

decrescente de freqüência desta mesma palavra no texto. Em termos matemáticos, “a

palavra que estiver em décimo lugar aparecerá no texto com freqüência dez vezes menor

do que a palavra que se encontra em primeiro lugar” (LE COADIC, 2000, p. 69-70).

Tal abordagem é bastante instrumental para o contexto dos serviços de

recuperação da informação, sobretudo no processo de indexação dos registros

documentários. À luz da lei de Zipf é possível, por exemplo, determinar métodos de

indexação automática de textos, e, analisar a correlação desta modalidade de indexação

com o processo tradicional de representação de conteúdo.

O penúltimo estágio de desenvolvimento teórico de uma ciência, segundo a

proposta de Le Coadic, é o da modelização, ou seja, a constituição de modelos

científicos. A partir de McQuail e Windahl, o autor observa que “[...] um modelo

permite interpretar um conjunto de fenômenos por meio de uma estrutura da qual

mostra os principais elementos e as relações existentes entre eles” (McQUAIL, D. e

WINDAHL, S. citados por LE COADIC, 2000, p. 71).

Os primeiros modelos da Ciência da Informação foram os modelos empregados

nas Ciências da Comunicação, cuja análise se concentrava na transmissão de sinais, na

comunicação interpessoal, na audiência e na recepção. A evolução do foco de análise

destes modelos será nosso objeto de estudo no capítulo sobre o campo da Comunicação

(LE COADIC, 2000, p. 72-73).

50

Entretanto, as pesquisas em Ciência da Informação também construíram,

discutiram e consolidaram modelos específicos, que teorizam os processos de

recuperação da informação.

O modelo booleano identifica as relações de dependência entre os operadores

booleanos e, que une os componentes de uma expressão, e ou, que une termos

sinônimos ou parassinônimos na formulação de estratégias de busca. O modelo vetorial

considera que o conjunto dos atributos textuais ou paratextuais (tópicos da

representação da informação) “permite resolver as operações de recuperação ao efetuar

cálculos de similaridade entre o documento e a consulta”. O modelo probabilístico é

bastante complexo porque se apóia na noção de relevância, a partir da definição do

usuário da informação. Por fim, os modelos lingüísticos promovem relações e

associações entre os componentes lexicais, sintáticos e semânticos da informação (LE

COADIC, 2000, p. 73-74).

Sobre a consolidação da modelização, Le Coadic frisa que os modelos

“permanecem válidos enquanto não são refutados pela experiência”. Portanto, cabe ao

campo do conhecimento manter constante atenção acerca do uso de modelos

inadequados para o estudo do conjunto de fenômenos correlacionados (LE COADIC,

2000, p. 71).

A fase final da explicação de Le Coadic para o estatuto científico das disciplinas é

o nível de formulação de teorias. Trata-se do aperfeiçoamento da epistemologia da

ciência através de sofisticados sistemas explicativos. Assim, as teorias consistem em um

avanço em direção à consolidação de uma ciência, pois conduzem à interpretação e à

discussão de todo o conjunto de dado campo do conhecimento, principalmente por

conjugar os demais princípios científicos (conceitos, métodos leis e modelos).

Segundo Le Coadic, “a ciência da informação não possui ainda, lamentavelmente,

uma teoria ou conjunto de teorias” próprias e específicas. Isso porque, “em matéria de

informação, a prática sempre precedeu a teoria. A teoria corre atrás dos fatos para

51

compreendê-los”. A falta de teorias da área foi compensada com a utilização de

abordagens de outros campos científicos, com destaque para as Ciências da

Comunicação. Esta relação entre os dois campos será objeto de estudo na próxima seção,

e, principalmente, no penúltimo capítulo deste trabalho (LE COADIC, 2000, p. 73).

Dessa forma, a crítica à insuficiência metodológica pode ser ampliada para os

demais aspectos da produção da Ciência da Informação. De acordo com Yêda Gomes,

“numa revisão da literatura em biblioteconomia e ciência da informação no Brasil pode-

se constatar o reduzido número de trabalhos que têm como objeto de análise o

conhecimento produzido nessas áreas” (GOMES, 2006).

“Tem sido assinalada a ausência, na área, de um corpo de fundamentos teóricos

que possam delinear o seu horizonte científico, e ainda se encontra em construção a

epistemologia da Ciência da Informação ou a investigação dos conhecimentos que o

permeiam” (PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro e LOUREIRO, José Mauro Matheus citados

por KOBASHI, SMIT e TÁLAMO, 2001).

Segundo Johanna W. Smit, Eduardo W. Dias e Rosalí F. de Souza, "a análise das

áreas de concentração e respectivas linhas de pesquisa é reveladora de uma visão

pragmática da área, freqüentemente voltada à solução de problemas da atividade

profissional e menos voltada para a consolidação conceitual e epistemológica da própria

área" (SMIT, Johanna W.; DIAS, Eduardo W. e SOUZA, Rosalí F. de citados por

GOMES, 2006).

Le Coadic complementa ao afirmar que “[...], sob a demanda premente da

tecnologia da informação e das máquinas de comunicação, a preocupação dominante dos

cientistas foi a utilidade, a eficácia, o prático e a prática, e muito pouco o teórico, a

teoria”. Para o autor, mais emblemática é a falta de ligação entre os dois planos (LE

COADIC, 2000, p. 19).

52

2.3 A natureza interdisciplinar

A interdisciplinaridade é um tema constante nas pesquisas da ciência moderna,

tanto no âmbito interno de cada de disciplina quanto na produção bibliográfica da

Sociologia das Ciências, cujo objeto de estudo é o conjunto das áreas do conhecimento.

No entanto, a constância da discussão conceitual não parece ter consolidado uma

única visão sobre o assunto. E mais, em determinados contextos, como o do processo de

ensino e aprendizagem, “a interdisciplinaridade aparece tão só como uma ‘palavra vaga e

imprecisa’ cujo sentido está ainda por descobrir ou inventar” (POMBO, 1994, p. 9).

Os conceitos científicos empregados para designar a interdisciplinaridade

invariavelmente divergem. Olga Pombo traz as definições de três importantes autores

sobre o tema. Para Jean Luc Marion, a interdisciplinaridade é a “co-operação de várias

disciplinas no exame de um mesmo objecto”. Já conforme Piaget, ela é o “intercâmbio

mútuo e integração recíproca entre várias disciplinas (... tendo) como resultado um

enriquecimento recíproco”. No ponto de vista de Palmade é a “integração interna e

conceptual que rompe a estrutura de cada disciplina para construir uma axiomática nova

e comum a todas elas, com o fim de dar uma visão unitária de um sector do saber” (LUC

MARION, Jean; PIAGET, Jean e PALMADE, Guy citados por POMBO, 1994, p. 10).

A oscilação terminológica dos estudos disciplinares fica ainda maior com a

discussão de conceitos congêneres como transdisciplinaridade, multidisciplinaridade e

pluridisciplinaridade. Todos “[...] têm em comum o facto de designarem diferentes

modos de relação e articulação entre disciplinas”, e, é justamente o nível de aproximação

que os torna noções sensivelmente distintas (POMBO, 1994, p. 11).

As definições de multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade são mais

convergentes em comparação com os outros dois conceitos dos estudos disciplinares.

Georges Gusdorf as considera diretamente equivalentes, e, mesmo nas pesquisas que

mantém os dois conceitos, a distinção entre eles é mínima. Segundo Arthur Asa Berger,

53

a multidisciplinaridade consiste na “justaposição de disciplinas diversas, às vezes sem

relação aparente entre elas”, enquanto a pluridisciplinaridade preconiza a “justaposição

entre disciplinas mais ou menos próximas nos seus campos de conhecimentos”

(BERGER, Arthur A. citado por POMBO, 1994, p. 11).

O conceito de transdiciplinaridade considera a aproximação disciplinar em um

patamar superior, que “não só atingiria as interacções ou reciprocidades entre

investigações especializadas, mas também situaria estas relações no interior de um

sistema total, sem fronteiras estáveis entre as disciplinas” (PIAGET, Jean citado por

POMBO, 1994, p. 11).

Olga Pombo estabelece a noção de interdisciplinaridade como o ponto

intermediário desse conjunto de conceitos, “no qual a pluridisciplinaridade seria o pólo

mínimo da integração disciplinar, a transdisciplinaridade o pólo máximo e a

interdisciplinaridade o conjunto das múltiplas variações possíveis entre os dois

extremos” (POMBO, 1994, p. 10-11).

Em complemento, Japiassu pondera que a interdisciplinaridade “se afirma como

reflexão epistemológica sobre a divisão do saber em disciplinas para extrair suas relações

de interdependência e de conexões recíprocas”. O objetivo ideal da imbricação entre os

campos é “descobrir as leis estruturais de sua constituição e funcionamento - o seu

denominador comum” (JAPIASSU, Hilton citado por PINHEIRO, 1999, p. 159).

A Ciência da Informação, enquanto campo do conhecimento criado na sociedade

moderna, se construiu à luz de aproximações disciplinares. Aproximação no âmbito da

continuação do legado de pesquisas, como vimos anteriormente a partir da ligação da

área com a Biblioteconomia, a Documentação e a Recuperação da Informação. E

aproximações interdisciplinares no sentido estrito, em virtude do estabelecimento de

relações de troca de conceitos e teorias, como vimos no bojo das correntes

epistemológicas da área e como especificaremos detalhadamente a seguir.

54

Segundo Marlene de Oliveira, “a participação de outros campos do conhecimento

na Ciência da Informação permanece em função da complexidade dos problemas a

serem equacionados pela área, o que exige a contribuição de diferentes profissionais e/ou

pesquisadores” (OLIVEIRA, 2005, p. 20).

A intensa relação com outros campos do conhecimento aponta que é impossível

dissociar a Ciência da Informação da sua natureza interdisciplinar. Como observa Le

Coadic, “os problemas de que trata cruzam as fronteiras históricas das disciplinas

tradicionais, e o recurso a várias disciplinas parece evidente” (LE COADIC, 2000, p. 20).

A literatura especializada da Ciência da Informação identifica diversas disciplinas

relacionadas, e também aponta diferentes níveis de interdisciplinaridade, mesmo

quando trata da aproximação com uma única disciplina. Além disso, é necessário

diferenciar a interdisciplinaridade, relação contínua e generalizável de conceitos e

teorias, da aplicação, uso contextual e pontual do conhecimento de outro domínio

científico (PINHEIRO, 1999, p. 176).

Kobashi e Tálamo lembram que “a interdisciplinaridade proposta distancia-se,

portanto, da dissolução da Ciência da Informação em campos conexos, tais como a

Teoria da informação, as Ciências da Comunicação, as Ciências cognitivas, a Teoria de

Sistemas. Ao contrário, propõe-se um percurso que adote simultaneamente a abertura e

o fechamento disciplinares, reconhecendo os campos com os quais estabelece relações

preferenciais e solidárias” (KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 18).

Entre os estudos com maior aprofundamento e discussão da natureza

interdisciplinar da Ciência da Informação estão os trabalhos de Yves-François Le Coadic

(2002) e Lena Vânia Ribeiro Pinheiro (1999). A partir destes dois textos estabelecemos

os principais campos de conhecimento compartilhado com a Ciência da Informação:

Psicologia, Ciências Sociais, Sociologia das Ciências, Ciência Cognitiva, Informática e/ou

Ciências da Computação, Terminologia, Lingüística, e, Ciências da Comunicação.

55

O fundador da Lingüística foi o suíço Ferdinand de Saussure, a partir de três

cursos ministrados na Universidade de Genebra, no início do século XX. Segundo o

autor, “a língua é um sistema organizado de signos que exprimem idéias; representa o

aspecto codificado da linguagem. A lingüística tem por tarefa estudar as regras desse

sistema organizado por meio das quais ele produz sentido” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 86).

O cerne da relação da Ciência da Informação com a Lingüística é o campo da

representação da informação. O paradigma lingüístico é essencial para a questão da

informação, uma vez que se refere “[...] à apreensão do significado, quando um esquema

de conceitos estruturados é assimilado pela mente do receptor que pode ajustar o

esquema já existente em sua mente para incorporar dados novos” (FOSKETT, Douglas J.

citado por PINHEIRO, 1999, p. 163-164).

A aproximação entre as duas áreas é análoga à relação entre a Lingüística e as

Ciências da Comunicação, cuja análise será foco do próximo capítulo deste trabalho. Por

conta dos princípios fundamentais para os dois campos, a Lingüística pode ser

considerada o principal elo entre a Ciência da Informação e as Ciências da

Comunicação, relação a ser analisada no quarto capítulo do nosso estudo.

Vinculada à Lingüística, a Semiótica, área sobre a qual também falaremos no

capítulo 3, apresenta contribuições ao campo da Ciência Informação, sobretudo ao

fomentar as atividades de análise conceitual do processo de representação e de

recuperação da informação.

Tradicionalmente o campo é dividido em três núcleos temáticos: pragmático,

semântico e sintático. O pragmatismo semiótico está presente, por exemplo, nos

pressupostos de elaboração de resumos documentários, visto que este “é um trabalho de

condensação que deve ser inteligível e conter o essencial”. A vertente semântica da

Semiótica se manifesta na Ciência da Informação por conta do papel decisivo do valor

dos sinais lingüísticos “na criação e análise de linguagens e sistemas de recuperação da

56

informação”. Já os estudos sintáticos favorecem o estabelecimento e o arranjo dos

vínculos entre um signo e outro, ou, no âmbito dos serviços de informação, entre

assuntos e documentos, e vice-versa (MIKHAILOV, A. I. citado por PINHEIRO, 1999,

p. 162).

Outra disciplina da esfera da análise dos discursos e das palavras é a

Terminologia, “área interdisciplinar que dá suporte a várias disciplinas no estudo dos

conceitos e sua representação em linguagens de especialidade”. O objetivo da

Terminologia é fornecer “metodologia para a descrição, ordenamento e transferência do

conhecimento, indicando princípios que regem a compilação, formação dos termos,

estruturação de campos conceituais, uso e administração de terminologias” (LARA,

2004, p. 234 e p. 235).

A contribuição deste campo à Ciência da Informação consiste na “modelagem do

conceito e dos sistemas de conceitos, além de referências concretas para a interpretação

dos termos por meio dos glossários e dicionários terminológicos, que são seus produtos”.

Tal fornecimento de arcabouço teórico assume fundamental importância no processo de

construção e de desenvolvimento das linguagens documentárias, no âmbito da

Lingüística Documentária, subdomínio da CI (LARA, 2004, p. 233).

Marilda L. G. de Lara reitera a idéia ao firmar que “recorrer à terminologia, nesse

caso, significa operar com termos, não palavras, opção que permite restaurar as

referências de sistemas de significação particulares às áreas do conhecimento” (LARA,

1997, p. 77).

A interface da Psicologia com a Ciência da Informação pode ser analisada a partir

de um ponto de vista geral e sob uma perspectiva específica. Na visão geral, a Psicologia

é essencial para o entendimento dos fenômenos de comunicação interpessoal, inerentes

ao processo de mediação da informação que ocorre no plano dos serviços de referência.

No âmbito específico, a relação ocorre a partir de três sub-campos: Psicologia do

Trabalho, Psicologia da Engenharia e Psicolingüística.

57

A aproximação disciplinar com a Psicologia do Trabalho se dá através do

aproveitamento dos estudos de aumento de eficiência do trabalho, de racionalização de

habilidades, e, das técnicas de seleção e treinamento de pessoal. Em contrapartida, as

análises destes tópicos no âmbito da Ciência da Informação consistem em contribuições

ao campo da Psicologia do Trabalho (MIKHAILOV, A. I. citado por PINHEIRO, 1999, p.

162).

A Psicologia da Engenharia “[...] abrange complexos estudos de sistemas homem-

máquina, a aplicação do conhecimento ao comportamento humano para a concepção de

sistemas e seus componentes, com o propósito de obter o máximo de eficiência com o

mínimo de esforço para sua operação e serviço”. Dessa forma, a Psicologia da

Engenharia se configura como importante campo de análises dos processos e dos

sistemas de recuperação da informação (CHATARIS citado por MIKHAILOV, A. I.

citado por PINHEIRO, 1999, p. 163).

A relação da Ciência da Informação com a Psicolingüística incide na reflexão do

caráter psicológico do processo de transferência da informação. Isso porque o objeto de

estudo da área é “a natureza do discurso, a organização hierárquica do comportamento

verbal, mecanismos do discurso e da percepção, problemas de semântica e de motivação

verbal e não-verbal, bem como tarefas práticas envolvidas na comunicação de massa e

no discurso da cultura” (LEONTIEV, Dmitri A. citado por MIKHAILOV, A. I. citado por

PINHEIRO, 1999, p. 163).

O estudo da informação também é uma questão natural para a Informática e/ou

Ciências da Computação, que, como vimos anteriormente, surgiu em 1962, no mesmo

ano de criação da Ciência Informação.

Ângela S. Fernandes e outros autores, a partir dos estudos de Philippe Breton,

resgatam três sentidos para o conceito de informação da Informática. A primeira

vertente de pesquisas consistia em analisar a forma e o sentido intrínsecos à informação.

No segundo momento, os estudos indicaram a necessidade de codificação da informação

58

a partir de duas operações “[...] a primeira, consistia na transformação de cada letra do

alfabeto em uma simples combinação de dois símbolos e a segunda operação, consistia

em fazer como que o texto correspondesse a cada símbolo”. A terceira tendência foi a

das pesquisas sobre os algoritmos, o “conjunto completo de regras que permitem a

resolução de um problema determinado” através de uma máquina (BRETON, Philippe

citado por FERNANDES, 2005, p. 33-36).

Desse modo, “aspectos da Ciência da Computação não relacionados ao início da

evolução da Ciência da Informação apresentam componente informacional significativo,

associado à representação da informação, sua organização intelectual e ligações, busca e

recuperação da informação, qualidade, valor e uso da informação” (SARACEVIC, Tefko

citado por PINHEIRO, 1999, p. 172).

Na era das tecnologias da informação e da comunicação, décadas mais tarde, a

relação entre estes dois campos culminará em um estreitamento, quando “o homem

passa a ser encarado como um processador e agregador de informação”. A partir do uso

de ferramentas híbridas como o computador, se amplia a capacidade de processamento

da informação, o que, conseqüentemente, facilita o fluxo de produção da informação

(FERNANDES, 2005, p. 26).

Da mesma forma que a Lingüística, a Informática também exerce o papel de

ligação entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação. Assim, atualmente,

informação, tecnologia e comunicação são conceitos estreitamente conectados, o que

denota que as três áreas do conhecimento se inter-relacionam profundamente.

Nesse contexto, conforme Aldo Barreto*, “a CI coordenará e induzirá o

desenvolvimento de uma infra-estrutura de possibilidades democráticas e sem barreiras

para se exercer a opinião pessoal. Esta habilidade de enunciar diretamente sobre os

conteúdos em rede será a mais importante entre as futuras fontes de informação, através

da realimentação, retorno e avaliação da comunidade de cada usuário”. Embora as * BARRETO, Aldo de Albuquerque. Novos objetivos da Ciência da Informação. Mensagem eletrônica enviada à lista Listadeinformaçãoecrônicassobreinformaçãoeconhecimento em 19 abr. 2007.

59

questões do cérebro sejam debatidas desde a Antiguidade, é apenas nas duas últimas

décadas do século XX que se constituiu um campo específico para este objeto de estudo.

A Ciência Cognitiva também nasceu interdisciplinar por natureza, ao conjugar análises

físicas, biológicas, psicológicas, filosóficas, entre outras, do processamento cognitivo

humano (SARACEVIC, Tefko citado por PINHEIRO, 1999, p. 172).

A influência da Ciência Cognitiva na Ciência da Informação emerge na

contribuição enquanto fonte de “estruturas teóricas para cognição, na qual a informação

é o fenômeno que desempenha o mais importante papel” (SARACEVIC, Tefko citado

por PINHEIRO, 1999, p. 172).

Na análise dos aspectos interdisciplinares, é indispensável ressaltar que a Ciência

da Informação é, antes de tudo, uma ciência social. Tal consideração parece óbvia, mas

precisa ser reafirmada, sobretudo no bojo da discussão interdisciplinar da área.

Historicamente, os primórdios da área estão mais relacionados à computação e à

recuperação automática da informação do que aos estudos da sociedade. É apenas na

década de 70, quando a figura do usuário do serviço de informação ganha papel

fundamental, que “[...] as ciências humanas e sociais passam a contribuir também, com

seus métodos e práticas, para a composição dessa ciência emergente” (CARDOSO, Ana

Maria Pereira citada por ARAÚJO, 2003, p. 22).

As Ciências Sociais cresceram e se consolidaram no decorrer do século XX,

impulsionadas pelo crescimento da sua comunidade acadêmica e pelo incremento da sua

produção científica. Entre tantas possibilidades de organização epistemológica do

campo, Carlos A. A. Araújo (2003) propõe a análise dessa trajetória a partir de três

momentos históricos.

O primeiro estágio histórico é denominado Sociologia Funcionalista, cuja

contribuição fundamental partiu de Augusto Comte, que “propôs a realização de estudos

sobre a sociedade com o máximo de objetividade, em busca de leis universais que

regessem o comportamento da vida social em toda parte” (ARAÚJO, 2003, p. 22-23).

60

Para Cláudio Paiva, “o funcionalismo mostra-se etnocêntrico e moralista, ou seja,

prescreve um modelo de como ‘as coisas devem ser’, sem aceitar as dinâmicas

transformações que ocorrem no mundo vivido; parte de uma visão de mundo fechada e

narcisista, deduzindo que a sociedade e a cultura podem ser explicadas a partir de um

único paradigma científico” (PAIVA, 2002, p. 175).

A segunda fase dos estudos sociais, a Sociologia Crítica, é fundamentada nas

pesquisas de Georg Wilhelm Friedrich Hegel e de Karl Marx. Nessa abordagem, os

paradigmas funcionalistas são profundamente questionados, por conta da

desconsideração da constante transformação da sociedade e da tentativa de estratificar as

mudanças dos grupos sociais. Algumas correntes epistemológicas dessa vertente serão

abordadas no capítulo 3 deste trabalho, sobre as Ciências da Comunicação (ARAÚJO,

2003, p. 23).

O terceiro momento histórico das Ciências Sociais tem como precursores Max

Weber e Georg Simmel, e, pode ser caracterizado como Sociologia Interpretativa. A

principal mudança consiste no advento do conceito de ação social, que é a ação do

indivíduo dotada de significado para ele. Dessa forma, ao invés o ato consciente toma o

lugar do sujeito inexoravelmente alienado e preso ao sistema social (ARAÚJO, 2003, p.

23-24).

Na interface com a Ciência da Informação, Araújo também aponta diferenças

conforme o estágio histórico da pesquisa social. No primeiro e no segundo níveis, o

debate social ficara isolado em sub-campos da CI, em linhas de pesquisa como ação

cultural, informação e cidadania, e, combate à exclusão informacional. “É, apenas com a

aproximação junto ao ‘terceiro ramo’ das ciências sociais, isto é, aos enfoques

microssociológicos e interpretativos, que a ciência da informação vai conhecer uma

reformulação mais profunda de seus pressupostos, que vai alterar sobretudo o significado

do que é entendido como ‘informação’” (ARAÚJO, 2003, p. 25).

61

Os vínculos com as Ciências Sociais são evidentes, no entanto, conforme observa

Pinheiro, a Ciência da Informação apresenta um isolamento em relação às Ciências

Sociais, sobretudo por conta de não formular contribuições efetivas para este campo do

conhecimento (SMALL, Henry e SMITH, Linda citados por PINHEIRO, 1999, p. 170).

Ainda entre as Ciências Sociais, a Sociologia das Ciências é outra área com

interesses disciplinares compatíveis com o campo da Ciência da Informação. O seu

objeto de estudo pode ser “[...] representado por tópicos inter-relacionados: os impactos

da ciência na sociedade e vice-versa, a estrutura social, o processo de produção do

conhecimento científico, os aspectos sociais das áreas específicas, [...], e naturalmente o

comportamento dos cientistas como integrantes da comunidade científica”. A relevância

destes assuntos para a CI consiste em fornecer, principalmente, “[...] estudos que

discutem o comportamento da comunidade científica, e mais especificamente as normas

comportamentais, as quais influenciam a produção científica” (ZUCKERMAN, H. citado

por TARGINO, 2000, p. 14). Além das relações com estes campos, é possível ressaltar

mais algumas aproximações da Ciência da Informação com outras três áreas do

conhecimento. A Administração cooperou principalmente com modelos, métodos e

sistemas de gestão dos serviços de informação em todos os seus âmbitos (recursos

humanos, físicos, materiais). A Matemática e a Lógica Matemática apresentam insumos

para “a análise de sistemas, algoritmização de operação de armazenagem da informação,

recuperação e disseminação, métodos matemáticos, medida de eficiência dos sistemas de

informação e compatibilidade”. E a Estatística fornece ferramentas essenciais para a

construção de modelos, tanto para a CI quanto para todas as ciências sociais (MERTA,

Augustin; KITAGAWA, Takashi citados por PINHEIRO, 1999, p. 165).

A análise de Lena Vânia Ribeiro Pinheiro (1999, p. 174) acerca da

interdisciplinaridade da Ciência da Informação resultou em um modelo gráfico (figura

1), no qual a autora relaciona as interdisciplinas aos sub-campos da Ciência da

Informação.

62

Figura 1. Mapa interdisciplinar da Ciência da Informação, por Lena Vania R. Pinheiro

A Biblioteconomia, por exemplo, figura simultaneamente enquanto um sub-

campo e como uma área interdisciplinar, conforme a necessidade teórica da CI. Isto

porque alguns sub-campos da Ciência da Informação (Representação da Informação;

Sistemas de Recuperação da Informação; Redes e Sistemas de Informação; Automação;

63

Administração de Sistemas de Informação; Informação, Cultura e Sociedade) também

são sub-campos da Biblioteconomia.

A configuração interdisciplinar da autora contempla todas as áreas do

conhecimento estudadas com detalhes anteriormente, e inclui disciplinas como a

Economia, a Antropologia, a Filosofia, a Arquivologia, a Museologia, o Jornalismo

Científico, e, a Filosofia, a Sociologia e a História da Ciência.

O estudo análise da interdisciplinaridade da Ciência da Informação de Yves-

François Le Coadic (2002, p. 22) também pode ser expresso em um modelo gráfico

(figura 2), no qual o autor relaciona as interdisciplinas aos conceitos, métodos, leis,

modelos e teorias da CI, conforme analisamos no tópico anterior deste trabalho.

64

Figura 2. Mapa interdisciplinar da Ciência da Informação, por Yves François Le Coadic

Em comparação com a apresentação gráfica de Lena V. R. Pinheiro, a proposta de

Le Coadic se apresenta como um modelo mais elaborado da análise interdisciplinar, uma

65

vez que indica os temas da Ciência da Informação a partir da perspectiva da

contribuição dos outros campos do conhecimento.

Dessa maneira, por exemplo, à Lingüística corresponde a elaboração da

representação da informação (paratexto), à Lógica, à Estatística e à Matemática

correspondem os processos poissonianos e booleanos inerentes à recuperação da

informação, e, à Psicologia e à Ciência Cognitiva correspondem os comportamentos do

indivíduo na comunicação.

Além dos campos do conhecimento discutidos com exaustão anteriormente, Le

Coadic sugere interfaces da Ciência da Informação com disciplinas como a Economia, o

Direito, a Política, a Etnologia, a História, a Eletrônica, a Telecomunicações, o

Jornalismo, a Epistemologia e a Filosofia.

Sob outra perspectiva, é possível exemplificar (e comprovar) as conexões

interdisciplinares por meio da análise da produção científica do campo do

conhecimento.

Gilda Braga cita o levantamento dos temas dos Special Interest Group da

American Society for Information Science como uma amostra desta variação disciplinar.

Entre alguns dos recortes possíveis da Ciência da Informação estão: pesquisa em

classificação, educação, grandes redes de computação, informação científica e

tecnológica, questões internacionais da informação, processamento automático da

linguagem (BRAGA, 1995).

A natureza interdisciplinar da Ciência da Informação é constantemente

questionada pela comunidade acadêmica da área. A partir da criação de três novos

cursos de pós-graduação, em agosto de 2007, o debate* voltou à tona, com a participação

de Johanna W. Smit, Aldo de Albuquerque Barreto, Maria de Fátima G. M. Tálamo e

* SMIT, Johanna W.; BARRETO, Aldo de Albuquerque; TÁLAMO. Maria de Fátima G. M. e GUIMARÃES, José Augusto Chaves. Propostas multidisciplinares. Mensagens eletrônicas enviadas à lista Listadeinformaçãoecrônicassobreinformaçãoeconhecimento em agosto de 2007.

66

José Augusto Chaves Guimarães, importantes nomes no âmbito da epistemologia do

campo.

Dois dos novos cursos recém-criados, sob a responsabilidade da Universidade

Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), se caracterizam

como multidisciplinares. Essa configuração levantou a discussão sobre a abrangência

disciplinar da CI, sobretudo por conta de uma preocupação com o abandono do vínculo

institucional com a área, cujo alicerce científico ainda se encontra em discussão.

Segundo os pesquisadores, ao se definirem multidisciplinares, os cursos estariam,

principalmente, desconsiderando o legado da Ciência da Informação.

Teorias, métodos, instrumentos e outros princípios científicos são fundamentais

na análise da interdisciplinaridade, no entanto, o foco central das aproximações

disciplinares da Ciência da Informação é o conceito de informação, o objeto de estudo

do campo.

2.4 O objeto de estudo

O objeto de estudo de uma ciência “não surge como algo dado na própria

natureza dos fenômenos que observa. O ‘como se olha’ é uma construção voluntária e

intencional de uma maneira de olhar. Além disso, a definição de objeto é muito mais

influente na delimitação do campo dos fenômenos do que o inverso” (FERNANDES,

1995, p. 26).

Dessa maneira, o objeto de estudo se caracteriza como um recorte epistemológico

no universo da realidade, da sociedade e do conhecimento. Trata-se do parâmetro mais

básico, junto com o campo dos fenômenos, de delimitação de uma ciência

(FERNANDES, 1995, p. 25).

67

A discussão sobre o objeto da Ciência da Informação pode ser definida,

contraditoriamente, pela indefinição. Existem algumas explicações e conceituações

diferentes’ acerca dos objetos de estudos da área.

A primeira e principal vertente define que o objeto da área é a própria

informação. Nessa abordagem, “a informação é um fenômeno tão amplo que abrange

todos os aspectos da vida em sociedade, pode ser abordado por diversas óticas, seja a

comunicacional, a filosófica, a semiológica, a sociológica, a pragmática e outras”

(OLIVEIRA, 2005, p. 19-20).

A partir desta perspectiva interdisciplinar, “a noção de informação tem sido

usada para caracterizar uma medida de organização física (ou sua diminuição, na

entropia), um padrão de comunicação entre fonte e receptor, uma forma de controle e

feedback, a probabilidade de uma mensagem ser transmitida por um canal de

comunicação, o conteúdo de um estado cognitivo, o significado de uma forma lingüística

ou a redução de uma incerteza” (BOGDAN, Radu J. citado por CAPURRO e

HJORLAND, 2007, p. 160).

Além da multiplicidade de significados disciplinares, “a informação é, de fato, um

dos elementos básicos para a inteligibilidade dos processos sejam eles naturais ou

culturais. Por isso mesmo, enfrenta-se dificuldade crescente para abordá-la

nocionalmente. Sabemos que, dependendo do contexto, haverá uma variação conceitual

acentuada, cujos efeitos de sentido, não raro, induzem significados fracamente

discriminatórios que distorcem o entendimento das principais questões em jogo. Ao lado

da complexidade da informação instala-se a extrema fragilidade do termo. Ambas

acabam sendo o grande desafio a ser superado por uma organização mais coerente de

estudo a ela dedicados” (KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 9).

Para Oliveira, no campo específico, ou seja, “[...] na ótica da Ciência da

Informação, o objeto ‘informação’ é uma representação. Como é uma representação do

68

conhecimento, que já é uma representação do real, ela se torna uma representação de

representação” (OLIVEIRA, 2005, p. 18).

Fernandes e outros caracterizam a informação como “uma abstração informal

(isto é, não pode ser formalizada através de uma teoria lógica ou matemática), que está

na mente de alguém, representando algo significativo para essa pessoa” (FERNANDES,

2005, p. 28).

Le Coadic complementa, ao observar que a informação “é um significado

transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte

espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc. Inscrição feita graças a um

sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem que associa

um significante a um significado” (LE COADIC, 2000, p. 4).

Para Bruno Latour, “a informação não é um signo, e sim uma relação estabelecida

em dois lugares, o primeiro que se torna uma periferia e o segundo, que se torna um

centro, sob a condição que entre os dois circule um veículo que denominamos muitas

vezes forma, mas que para insistir em seu aspecto material, eu chamo de inscrição”

(LATOUR, Bruno citado por FERNANDES, 2005, p. 29).

Lena V. R. Pinheiro observa a vasta e complexa capilaridade da informação, cuja

ocorrência se dá em variados espaços e processos, seja “[...] num diálogo entre cientistas,

em comunicação informal, numa inovação para o setor produtivo, em patente, numa

fotografia ou objeto, no registro magnético de uma base de dados ou numa biblioteca

virtual ou repositório, na Internet” (PINHEIRO, 2002, p. 63).

Segundo Eliany A. de Araújo, a informação pode ser compreendida “como prática

social de um sujeito cognitivo-social que desenvolve ações de atribuição e comunicação

de sentido que, por sua vez, pode provocar transformações nas estruturas (tanto

individuais, como sociais), pois geram novos estados de conhecimento” (ARAÚJO, 2002,

p. 18-19).

69

A informação também pode ser interpretada como fenômeno de organização do

pensamento, que conjuga “um estímulo externo, uma reordenação mental (classificação)

e uma designação (ainda que articulada apenas em nível de identificação de algo que não

o havia sido anteriormente)” (BRAGA, 1995).

Também nesse sentido, “quando reconhecida como inscrição organizada, a

informação é vista como resultado de uma ‘construção institucional e intencional que

tem nos valores simbólicos e funcionais a condição para a construção do sentido e para

circular socialmente, desencadeando processos de conhecimento’” (LARA, M. L. G. de

citada por LARA, 2007, p. 3).

Além de organizar o pensamento, a informação possui um potencial de

conformação cultural do indivíduo. Para Richard Saul Wurman, a partir do princípio de

que a informação é internalizada através de uma leitura do mundo, “somos o que lemos.

Tanto em nossa vida profissional quanto pessoal, somos julgados pela informação que

utilizamos. A informação que ingerimos molda nossa personalidade, contribui para as

idéias que formulamos e dá cor à nossa visão de mundo” (WURMAN, Richard Saul

citado por TARGINO, 2000, p. 7).

Sob uma visão da informação a partir dos seus resultados, ela “[...] é um recurso

para a ação política do sujeito social que transforma estruturas mentais e sociais, pois

possibilita aos sujeitos sociais a criação de novos estados de conhecimento, nos quais se

dá uma consciência de si e do mundo” (ARAÚJO, 2002, p. 32).

Independentemente da delimitação do conceito, a informação é o elemento

central do fenômeno informacional. Trata-se de “[...] um processo constantemente re-

construído pelo sujeito do conhecimento, a partir de uma determinada realidade social e

de significativos pessoais. Informar-se, portanto, não é um processo finalizado quando o

sujeito do conhecimento recebe/usa a informação. Tal processo é algo aberto/inacabado

e, como tal, sempre propício a reestruturações; caso contrário não poderíamos criar

70

novas informações, uma vez que, as informações já existentes representariam a realidade

de forma completa e satisfatória” (ARAÚJO, 2002, p. 19).

A discussão sobre o conceito de informação não pode desconsiderar a delimitação

de dois conceitos correlatos: dado e conhecimento. A partir da definição da Informática,

“dado é a representação convencional, codificada, de uma informação em uma forma

que permita submetê-la a processamento eletrônico”. Conhecimento é o conjunto de

estados representados por uma estrutura de conceitos interligados por suas relações, que

conformam a nossa imagem do mundo (LE COADIC, 2000, p. 8-9).

Dessa forma, por exemplo, a definição de dado, válida para a Informática, pode

não o ser necessariamente válida para a CI, uma vez que o dado já pode implicar o

resultado de um recorte, como no caso da informação estatística. Trata-se de verificar

em que dimensão se discute o dado.

A segunda definição de objeto de estudo da CI é “a comunicação ou os meios de

transmissão da informação”. Em outras palavras, o processo de geração, transferência,

uso e reuso da informação (FERNANDES, 1995, p. 26).

Nesse sentido, Bertram C. Brookes define a informação como um artefato de

produção de efeitos, cuja influência incide na passagem de um estado de conhecimento

para outro estado de conhecimento. Para exemplificar o processo, o autor propõe uma

equação do processo de informação, denominada equação da Ciência da Informação,

expressa da seguinte forma:

K(S)+ K = K(S+S)

(BROOKES, Bertam C. citado por OLIVEIRA, 2005, p. 18).

Onde:

I é a informação

K(S) é o atual estado de conhecimento

K é o conhecimento extraído da informação

K(S+S) é o novo estado de conhecimento

I

71

Também em acordo com esta visão, Nicholas J. Belkin observa que a “informação

é uma mensagem propositadamente estruturada por um gerador e resultante da decisão

deste de comunicar determinado aspecto de seu estado de conhecimento, isolando-o e

modificando-o conforme sua intenção. Essa estrutura comunicável vai compor o corpo

de conhecimentos a que receptores em potencial têm acesso, e que ao reconhecerem

uma anomalia em seu estado de conhecimento, convertem-na numa estrutura

comunicável (a pergunta), usando-a para recuperar do corpo de conhecimentos o que é

apropriado para solucionar a anomalia, decidindo se está suficientemente resolvida - in-

certeza reduzida ou eliminada” (BELKIN, Nicholas J. citado por TARGINO, 2000, p. 7).

Em sentido correlato, numa explicação da informação como um processo, está o

paradigma central da Ciência da Informação, segundo Gilda M. Braga. Conforme a

autora, este é um “contexto básico, porque há, na área, uma aceitação quase tácita de que

informação implica processo de comunicação: um emissor, um receptor, um canal - em

sua descrição mais sumária” (BRAGA, 1995).

Para Le Coadic, a CI “tem por objeto o estudo das propriedades gerais da

informação (natureza, gênese, efeitos), e a análise de seus processos de construção,

comunicação e uso” (LE COADIC, 2000, p. 25).

Outra explicação para o objeto de estudo da Ciência da Informação é a gestão da

informação. Segundo Couzinet, o foco do campo “está centrado na construção e no

compartilhamento de conhecimentos em contextos sociais e culturais variados, nas

empresas, nas universidades, na pesquisa etc” (COUZINET, 2004, p. 25).

Na mesma linha, Fernandes (1995, p. 29) aponta que “[...] o objeto de estudo da

CI é a ‘gestão institucional dos saberes’, enfim, as ações exercidas pelas instituições (e

não por pessoas) modernas sobre o fluxo do saber produzidos pela sociedade e seus

reflexos sobre esta última”.

Tal gestão dos saberes se tornou necessária porque, com a modernidade, ocorre

uma separação do conhecimento anteriormente reunido, limitado e organizado. Por

72

exemplo, “[...] separam-se o ‘fazer’ do ‘saber-fazer’, o conhecimento religioso do

filosófico e do científico”, além disso, a própria ciência se especializa, assim como as

profissões, com a onda de divisão do trabalho (FERNANDES, 1995, p. 27).

Conforme Rafael Capurro e Birger Hjorland, “[...] o foco dos profissionais da

informação (distintos dos outros grupos de profissionais a que estão servindo) implica

uma abordagem sociológica e epistemológica para a geração, coleta, organização,

interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da

informação. Os cientistas da informação – pela própria natureza de seu campo – devem

trabalhar de cima para baixo, ou seja, do campo geral do conhecimento e suas fontes de

informação para o específico, enquanto os especialistas do domínio devem trabalhar de

baixo para cima, do específico para o geral” (CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 187).

Para Kobashi e Tálamo (2003, p. 19) “compete, portanto, à Ciência da Informação

estabelecer os princípios e as práticas relacionadas à produção da informação, sua

distribuição e formas de acesso. Ela responde também por parte da operação de troca,

pois etapa se concretiza apenas com a intervenção da moeda de conversão do usuário”.

As duas primeiras vertentes de delimitação do objeto da CI, a da informação e a

da comunicação, são diferentes, mas não completamente divergentes. No quarto

capítulo do nosso trabalho tal relação será melhor explicitada. Mesmo a terceira

vertente, parece convergir com as explicações anteriores em alguns pontos.

73

3 Ciências da Comunicação

3.1 Percurso histórico de construção do campo científico

As Ciências da Comunicação surgiram no contexto das sociedades modernas,

como um dos pilares da organização social e coletiva da democracia. Com o objetivo

geral de analisar as relações entre as pessoas e os meios de comunicação, tais disciplinas

apresentam um desenvolvimento científico intenso e profícuo, que constitui um olhar

peculiar para entender as transformações da sociedade.

A história da pesquisa em comunicação, antes da sua institucionalização

enquanto campo do conhecimento científico autônomo, pode ser observada a partir de

três principais eixos: a retórica grega, o enciclopedismo francês e a ciência social

(MELO, 1977, p. 38-42).

A primeira fase é fundamentada nos estudos da retórica de Aristóteles, que

surgem em meados do século III a.C. Caracterizada “por uma natureza nitidamente

filosófica ou psicológica”, a retórica aristotélica abordava o processo de transmissão de

informações, sobretudo pela ótica da persuasão e da influência de um interlocutor em

seu meio social (MELO, 1977, p. 38).

No século XVIII, os enciclopedistas avançam na discussão acerca da necessidade

de comunicação humana. Este é o marco da segunda fase da área antes da sua

consolidação. Bacon concebe uma “ciência de comunicar” e D’Alembert aprimora tal

concepção com a sugestão de uma “arte de transmitir ou comunicar pensamentos”

(MELO, 1977, p. 39).

O terceiro eixo histórico da área, datado no século XIX, é marcado pela

ampliação do seu objeto de estudo, com o surgimento de pesquisas sobre a comunicação

coletiva e a imprensa. No âmbito das ciências sociais, “estudiosos como Gabriel Tarde,

Max Weber, Alfredo Nicéforo, Alexis de Toquevile e James Bryce [...] sentiram a

74

necessidade de estudá-la [a influência da imprensa] como fenômeno característico de

uma sociedade em transição” (MELO, 1977, p. 40).

Os estudos destes três momentos históricos estavam diretamente voltados para o

processo da comunicação, no entanto, outras ciências sempre se preocuparam (a ainda se

preocupam) indiretamente com a questão da comunicação. São áreas que também

contribuíram para a constituição das Ciências da Comunicação. A Biologia funda a

noção de comunicação enquanto atividade sensorial e nervosa, e, a Pedagogia ressalta a

relação da transmissão de informações com o processo de aprendizado. A História

considera a comunicação fator essencial para o estabelecimento dos “princípios de

cooperação e coexistência”, a Sociologia entende a comunicação como “elemento

desencadeador e delimitador da interação social” e a Antropologia analisa a função de

“elemento formador da cultura” da cultura. A Psicologia identifica a comunicação com a

necessidade humana de influenciar - afetar com intenção - e com o processo de

modelagem do comportamento dos indivíduos (MELO, 1977, p. 14-25).

Além da ciência, a filosofia foi outra matriz de subsídios teóricos à Comunicação.

O Transcendentalismo baseia-se na concepção de que a verdadeira comunicação enseja

“uma comunidade metafísica específica, formada pelo eu transcendental ou pela mente

universal, de que fazem parte ou de que participam as mentes individuais”. O

Naturalismo explica o processo de comunicação a partir da realidade comum a todos e

da estrutura física e intelectual análoga das pessoas. Já o Marxismo identifica a

Comunicação, juntamente com o Trabalho e o Pensamento, “entre os fatores básicos da

evolução social” (MELO, 1977, p. 26-29).

Segundo Bernard Miége, “o pensamento comunicacional constitui-se, portanto,

ao mesmo tempo, como contribuição de teóricos (geralmente rompendo com suas

disciplinas ou escolas de origem) e com a sistematização de concepções que dependem

diretamente da atividade profissional e social” (MIÉGE, Bernard citado por MELO,

2003, p. 37).

75

Além das contribuições teóricas, também é possível identificar acontecimentos e

movimentos que, de alguma forma, colaboraram para a consolidação dos estudos

comunicacionais. Entre estes aspectos estão: o movimento renascentista italiano; o

desenvolvimento da atividade econômica na Europa; as viagens marítimas e o

alargamento dos mercados nos séculos XV e XVI; o surgimento da sociedade burguesa; o

fortalecimento do humanismo; o aparecimento da escrita, e, mais tarde, a invenção da

impressão tipográfica; a urbanização, a industrialização e a sociedade de massas; o

desenvolvimento de vias de comunicação terrestres e marítimas (FERIN, 2002, p. 15-

18).

Sob outra perspectiva histórica, Pierre Lévy* aponta a evolução dos estudos da

comunicação a partir dos instrumentos simbólicos utilizados universalmente para a

comunicação entre as pessoas. Dessa forma, existiram cinco estágios de comunicação

simbólica: a oralidade (memória oral), a escrita (signos ideográficos), o alfabeto

(universalização e digitalização da escrita), os meios de comunicação de massa

(informação e democracia) e o ciberespaço (capacidade de ação autônoma).

A partir do século XX, a concorrência entre os meios de comunicação, a

intensificação da propaganda comercial (valorização no meio empresarial), a repercussão

da propaganda política nazista (valorização nas esferas de governo), e, a

profissionalização da formação de pessoas em nível universitário (valorização no meio

acadêmico), entre outros fatores, contribuíram para o estabelecimento de um campo

autônomo do conhecimento, denominado Ciências da Comunicação ou Ciências da

Informação (MELO, 1977, p. 42).

Com base nos estudos de Pierre Bourdieu, na afirmação das ciências a partir do

seu reconhecimento social, Maria Immacolata Vassallo de Lopes define como campo

acadêmico da comunicação “um conjunto de instituições de nível superior destinado ao

estudo e ao ensino de comunicação e onde se produz a teoria, a pesquisa e a formação * LÉVY, Pierre. Web semântica: o futuro da comunicação e da colaboração no ciberespaço. 2º Simpósio de Comunicação, Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM). S. Paulo, 17 de ago. de 2007.

76

universitária das profissões de comunicação”. Desse modo, a autora aponta três esferas

(sub-campos) de atuação do comunicador: científico, educativo e profissional (LOPES,

2000, p. 48).

A variação terminológica em torno da definição do nome da área foi um ponto de

constante discussão nas décadas de 60 e 70. “O uso do termo ciências da comunicação é

característico dos norte-americanos e de grupos científicos por aqueles influenciados.

Enquanto, ciências da informação é utilizado principalmente por instituições francesas,

além de organismos internacionais como a UNESCO” (MELO, 1977, p. 55). No Brasil,

consolidou-se a denominação Ciência(s) da Comunicação, ou apenas Comunicação, de

forma abreviada.

A distinção entre o termo no singular e no plural tem sido objeto de discussão na

área. Na visão de Eliseo Verón, “o plural ciências, freqüentemente utilizado, expressa

indiretamente a complexidade de tal campo. Não dizemos ciência da comunicação nem

comunicologia, porque não se trata de uma disciplina, mas de um cruzamento de

múltiplas problemáticas correspondentes a disciplinas tradicionalmente diferenciadas.

As ciências da comunicação constituem hoje em dia um nó transdisciplinar, no campo

das ciências brandas, comparável ao nó das ciências cognitivas, no território das ciências

duras” (VERÓN, Eliseo citado por SANTAELLA, 2001, p. 5).

Ao mesmo tempo em que o campo da Comunicação revela singularidades, ao

alcançar um conjunto sustentável de pesquisas e ao se estabelecer com autonomia

científica, a diversidade de disciplinas integradas à área aponta para a pluralidade,

inclusive na denominação. Jornalismo, Editoração, Relações Públicas, Publicidade e

Propaganda, Entretenimento e Metodologia da Pesquisa são algumas das facetas desta

diversidade de objetivos das Ciências da Comunicação (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p.

156-169).

O Jornalismo é o “processo de produção de mensagens culturais relativas a fatos,

idéias e situações atuais, interpretados à luz do interesse coletivo e transmitidos

77

periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a

opinião pública, no sentido de promover o bem comum” (BELTRÃO e QUIRINO, 1986,

p. 156).

À Editoração cabe “pôr à disposição do consumidor o produto codificado da idéia

do agente cultural elaborador da comunicação”, através da industrialização e da

comercialização de bens e serviços como os livros, os discos, os filmes e os sítios da

internet (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 156).

O campo das Relações Públicas gerencia “o intercâmbio de mensagens culturais

mantido deliberada e permanentemente entre uma instituição pública, governamental

ou privada, e pessoas ou grupos que a ela estejam ligadas direta ou indiretamente, com

vistas a [...] obtenção de benefícios à comunidade” (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p.

161).

Publicidade e Propaganda é a área cujo objetivo é a “promoção de procedimentos

os mais adequados à divulgação de idéias ou ao estabelecimento de relações de ordem

econômica entre indivíduos ou grupos capazes de oferecer bens, produtos e serviços”.

Enquanto a Propaganda se destina à difusão de idéias e conceitos, a Publicidade se ocupa

com a divulgação de mensagens de vendas (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 164).

Ao campo do Entretenimento “se dedicam agentes especializados na produção

(idealização, planejamento, realização, execução e emissão) de mensagens destinadas ao

preenchimento do lazer individual e coletivo, especialmente no campo do imaginário”

(BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 169).

A atividade de Metodologia da Pesquisa tem a finalidade de “investigar

motivações, desempenhos e efeitos do processo comunicacional”, através de

instrumentos como a pesquisa de opinião, a pesquisa de mercado, a aferição de índices

de leitura e compreensão das mensagens, o estudo morfológico e a análise de conteúdo

(BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 166-168).

78

A despeito da proposta de Beltrão e Quirino, é de se ressaltar um viés de

organização do campo do conhecimento a partir das mídias, e não dos processos e dos

objetos que poderiam unificá-las, conforme se vê hoje em muitos programas de pós-

graduação, como por exemplo, o da ECA/USP.

Existe também o vetor da Epistemologia das Ciências da Comunicação, espaço

dedicado à discussão e à reflexão interna da ciência, do seu objeto e dos seus objetivos.

Nesse sentido, deveria se destacar uma preocupação constante com as metodologias da

pesquisa na comunicação. Para Maria I. Vassallo de Lopes “[...] a reflexão metodológica

não só é importante como necessária para criar uma atitude consciente e crítica por

parte do investigador quanto às operações que realiza ao longo da investigação”, No

entanto, “no percurso da pesquisa as ‘questões de método’ não têm sido preocupação dos

pesquisadores de Comunicação, a ponto de não sentirem necessidade de seu estudo”

(LOPES, 2004, p. 20 e p. 32).

Além do debate sobre as bases históricas e sobre a nomenclatura da área, as

Ciências da Comunicação desenvolveram teorias, modelos e metodologias, entre outros

resultados científicos, que também são elementos fundamentais para entendê-la e

estudá-la. São as denominadas correntes epistemológicas e os seus respectivos objetos de

estudo.

3.2 Correntes epistemológicas

O percurso de pesquisa das Ciências da Comunicação foi delineado através de

linhas de organização do pensamento acadêmico, denominadas correntes

epistemológicas, que representam as tendências e os grupos de interesse da área. Em

aproximadamente cem anos de estudos, muitas vertentes científicas surgiram,

desapareceram, foram resgatas e rediscutidas.

79

Tal debate gerou um grande número de textos, livros, artigos e outros

documentos, no entanto, em virtude da natureza deste trabalho e do tempo disponível

para a execução desta pesquisa, buscaremos empreender uma abordagem básica do

desenvolvimento do conhecimento científico do campo, a partir da perspectiva da

consolidação histórica e da garantia literária (ocorrência das correntes epistemológicas

na literatura introdutória da área).

Embora Maria I. Vassallo de Lopes (2004, p. 27) afirme que a Comunicação “[...]

já tem história suficiente que proíbe que ela seja reduzida a uma seqüência linear de

teorias”, não é possível dispensar uma análise detalhada das correntes epistemológicas da

área. Essa observação nos parece ainda mais relevante se considerarmos que esta

pesquisa não se insere diretamente no campo comunicacional, e sim procura estabelecer

relações entre a área e a Ciência da Informação.

3.2.1 Estudo do organismo social

No século XIX, período de “invenção dos sistemas técnicos básicos da

comunicação e do princípio do livre comércio”, “o pensamento da sociedade como

organismo, como conjunto de órgãos desincumbindo-se de funções determinadas,

inspira as primeiras concepções de uma ‘ciência da comunicação”. Deste modo, a

primeira corrente epistemológica das Ciências da Comunicação pode ser denominada

estudo do organismo social (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 13).

Neste paradigma pode ser incluída a pesquisa econômica, apoiada nas questões da

industrialização e da mercantilização, que indica como “[...] a divisão do trabalho e os

meios de comunicação (vias fluviais, marítimas e terrestres) rimam com opulência e

crescimento” (SMITH, Adam citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 14).

Também fazem parte desta corrente os modelos de biologização do social, que se

baseavam na concepção da história “articulada em etapas, sem desvios nem retornos,

80

sem regressão, comandada por uma idéia de progresso linear”, na qual são sistemas de

comunicação são agentes essenciais de promoção do desenvolvimento (MATTELART,

Armand citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 18-19).

O agrupamento da sociedade em massas suscita o estudo do comportamento

individual no contexto coletivo, e conceitos como influência, sugestão e sugestibilidade

são bastante discutidos nas pesquisas comunicacionais. A primeira abordagem desta

tendência, denominada psicologia social, foi liderada por Gabriel Tarde e George

Simmel, tem como objeto de pesquisa o processo “das trocas, das relações e ações

recíprocas entre indivíduos”. A segunda concepção, a sociologia positiva, proposta por

Émile Durkheim, “define seu objeto a partir do ‘instituído’ e das ‘estruturas’, tais como o

Estado, a família, as classes, as Igrejas, as corporações e os grupos de interesse” (JAVEU,

C. e QUÉRÉ, Louis citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 26).

3.2.2 Escola de Chicago

No início do século XX, com a escola de Chicago, a partir de questões como a

imigração, a cidade se transforma em “laboratório social”, “com seus signos de

desorganização, de marginalidade, de aculturação, de assimilação” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 30-31).

Uma das linhas de pesquisa desta corrente epistemológica foi a ecologia humana,

comandada por Robert Ezra Park e E. W. Burgess, que “estuda os processos pelos quais a

‘balança biótica’ e o ‘equilíbrio social’ mantêm-se uma vez conquistados, assim como

aqueles pelos quais, desde que um ou outro se ache perturbado, se opera a transição de

uma ordem relativamente estável a outra” (PARK, Robert Ezra citado por MATTELART

e MATTELART, 2000, p. 32-33).

Outra contribuição à escola de Chicago foi levantada por Charles S. Pierce, que

mais tarde fundaria a Semiótica. Método empírico que não considera as abstrações,

81

desconfia das verdades universais, e, prefere adotar uma visão concreta dos objetos, o

pragmatismo parece contar um paradoxo em seu próprio escopo, pois “continua sendo

de uma abstração terrível” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 33).

A discussão entre a diversidade e a homogeneidade do comportamento

individual também foi uma preocupação dos pesquisadores de Chicago, através de uma

abordagem etnográfica de análise da comunicação. “Se existe comunicação é em virtude

das diversidades individuais. E se o indivíduo está submetido às forças da

homogeneidade ele é capaz de se subtrair a ela” (DEWEY, John citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 36).

3.2.3 Mass communication research

Em meados da década de 40, constituiu-se mais uma corrente epistemológica das

Ciências da Comunicação, denominada mass communication research, a partir dos

estudos de cinco pesquisadores: Lasswell, Lazarsfeld, Merton, Lewin e Hovland.

As pesquisas de Harold D. Lasswell dotam “a sociologia funcionalista da mídia de

um quadro conceitual, que, até então, alinhava apenas uma série de estudos de caráter

monográfico. Traduzidos em setores de pesquisa, resultam daí, respectivamente: ‘análise

do controle’, ‘análise do conteúdo’, ‘análise das mídias e dos suportes’, ‘análise da

audiência’ e ‘análise dos efeitos’” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 40).

Segundo Laswell, o processo de comunicação cumpre três funções principais na

sociedade: “a) a vigilância do meio, revelando tudo o que poderia ameaçar ou afetar o

sistema de valores de uma comunidade ou das partes que a compõem; b) o

estabelecimento de relações entre os componentes da sociedade para produzir uma

resposta ao meio; c) a transmissão da herança social” (LASSWELL, Harold D. citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 41).

82

O autor também foi responsável por elaborar um dos primeiros modelos teóricos,

conhecido como modelo de Lasswell. Ali “[...] são identificados os sectores potenciais de

investigação em Comunicação: os emissores (Quem diz?), as mensagens (O quê), os

suportes tecnológicos (Através de que canal?), as audiências (A quem?) e os efeitos (com

que efeitos?)” (FERIN, 2002, p. 29).

Paul F. Lazarsfeld formulou um projeto de metodologia empírica que incluía

máquinas encarregadas de registrar as reações do ouvinte de rádio em termos de

aprovação, aversão ou indiferença a determinado conteúdo. Tal método de pesquisa

“junto à mesma amostragem de pessoas (panel) sobre os efeitos da mídia indica uma

vontade de formalização matemática dos fatos sociais” (MATTELART e MATTELART,

2000, p. 44). O autor assume o papel de administrador, “preocupado em aperfeiçoar

instrumentos de avaliação úteis, operatórios, para os controladores da mídia por ele

considerados neutros. Contra a ‘pesquisa crítica’, reivindica a ‘pesquisa administrativa’”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 41).

O terceiro importante pesquisador da mass communication research foi Robert

K. Merton, que, “preocupado em preservar a prioridade de um programa de pesquisa

operacional [...] propõe acumular uma série de ‘teorias de médio alcance’, ‘teorias

intermediárias entre as hipóteses menores, que brotam a cada dia no trabalho cotidiano

de pesquisa, e as vastas especulações, que partem de um esquema-mestre conceitual, do

qual se espera extrair grande número de regularidades do comportamento social

acessíveis ao observador” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 46-47).

No início dos anos 50, o modelo de efeitos diretos da mídia na sociedade perde

força. Isto a partir do surgimento do conceito de grupo primário, que se baseia “[...] no

fluxo de comunicação como um processo em duas etapas, no qual o papel dos ‘líderes de

opinião’ se revela decisivo. É a teoria do two-stepflow. No primeiro degrau estão as

pessoas relativamente bem informadas, porque diretamente expostas à mídia; no

83

segundo, há aquelas que freqüentam menos a mídia e dependem dos outros para obter

informação” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 48).

O pesquisador Kurt Lewin se destaca por analisar tal fenômeno, e “ao longo

dessas experiências, ganha contornos mais precisos a noção de gatekeeper, ou

controlador do fluxo de informação, função que garante o ‘formador de opinião’

informal” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 52-53).

O último dos grandes representantes da mass communication research foi Carl

Hovland, “conhecido especialmente por seus estudos experimentais sobre a persuasão,

durante a Segunda Guerra Mundial”. Trata-se de “pesquisas sobre os meios de aumentar

a eficácia da persuasão de massa, por meio de experiências que faziam variar a ‘imagem

do comunicador’, a natureza do conteúdo e a contextualização da audiência”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 54).

Um dos poucos dissidentes da corrente foi o sociólogo C. Wright Mills,

“considerado um dos iniciadores dos american cultural studies, num período histórico

em que se formam as bases de dos cultural studies britânicos”, a partir dos anos 50. O

pesquisador “mostra-se aberto às contribuições de um marxismo crítico. Suas análises

restabelecem a conexão entre a problemática da cultura e a do poder, entre a

subordinação e a ideologia, relacionando as experiências pessoais vividas na realidade

cotidiana às questões coletivas cristalizadas nas estruturas sociais” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 55-56).

3.2.4 Teoria da informação

Na década de 40, o matemático Claude Shannon propõe a existência de um

“sistema geral de comunicação”, modelo teórico fundador da corrente epistemológica

denominada teoria da informação ou teoria da comunicação ou teoria matemática da

informação. O problema da comunicação consiste, segundo o autor, em “reproduzir em

84

um ponto dado, de maneira exata ou aproximativa, uma mensagem selecionada em

outro ponto”. O objetivo é “delinear o quadro matemático no interior do qual é possível

quantificar o custo de uma mensagem, de uma comunicação entre dois pólos [emissor e

receptor] desse sistema” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 58-59).

Inicialmente aplicada ao contexto das máquinas e dos computadores, a teoria da

informação foi transformada em objeto de estudo das Ciências da Comunicação. O

modelo de Shannon foi finalizado e aprimorado pelo também matemático Warren

Weaver. “Com esse modelo, transferiu-se, nas ciências humanas que o adotaram, o

pressuposto da neutralidade das instâncias ‘emissora’ e ‘receptora’. A fonte, ponto de

partida da comunicação, dá forma à mensagem que, transformada em ‘informação’ pelo

emissor que o codifica, é recebida no outro extremo da cadeia” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 60).

Figura 3. Modelo matemático da comunicação de Claude Shannon e Warren Weaver

Extraída de PIMENTEL, Mariano Gomes; ANDRADE, Leila Cristina Vasconcelos de. Educação a distância: mecanismos para classificação e análise. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2000/texto 16.doc>. Acesso em: 14 jul. 2007.

Também nos anos 40, Norbert Wiener lançou as bases da Cibernética, campo

científico baseado no conceito de entropia, definida como a “tendência que tem a

natureza a destruir o ordenado e precipitar a degradação biológica e a desordem social”.

A área apresenta uma visão extremamente progressista, fundada na livre circulação da

informação, que, “[...] é por definição incompatível com o embargo ou com a prática do

segredo, com as desigualdades de acesso à informação e sua transformação em

mercadoria” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 66).

transmissor canal receptor destina-táriofonte sinal sinal mensagem mensagem

ruído

85

A Cibernética é a disciplina que mais implicações diretamente acarretará ao

estudo das Ciências da Comunicação, na medida em que, na sua acepção mais lata, toma

como objeto a informação e os fenômenos da comunicação na natureza, no homem, na

sociedade. A contribuição da área também no desenvolvimento de conceitos como

“feedback, controle da informação, output e input nos sistemas” (WIENER, Norbert

citado por FERIN, 2002, p. 72).

Além do diálogo com a Cibernética, “o modelo sistêmico tem outras repercussões

[...] permite ao americano Melvin L. De Fleur, por exemplo, tornar mais complexo o

esquema linear de Shannon, evidenciando o papel desempenhado pela

‘retroalimentação’ (feedback) no ‘sistema social’” (MATTELART e MATTELART, 2000,

p. 64).

Figura 4. Modelo de fluxo comunicacional de Melvin De Fleur

Extraída de LEITE, Fernando César Lima. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. 2006. Dissertação (mestrado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília. Brasília, 2006. p. 65. Disponível em: <http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/ tde_busca/ arquivo.php?codArquivo=79>. Acesso em: 24 nov. 2007.

86

O estudo do processo de formação das decisões políticas foi a primeira aplicação

do sistema geral de comunicação nas pesquisas comunicacionais. “A política é concebida

como sistema de entradas e saídas (input-output, ação-retroação) formado por interações

com seu meio e que responde adaptando-se melhor ou pior a ele” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 62-63).

A teoria da informação repercutiu inclusive na criação de áreas de pesquisa.

Abraham Moles, matemático e engenheiro francês, inspirado também pela Cibernética,

cria a Ecologia da Comunicação, por ele definida como a “ciência da interação entre

espécies diferentes no interior de um dado campo” (MOLES, Abraham citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 64-65).

Outra contribuição de Moles consistiu no estudo da interface entre os campos da

cultura e da comunicação, no sentido de ampliar os fatores de construção das culturas e

na aquisição de conhecimentos. Para o autor, a cultura só “‘assumiu uma importância

real a partir do dia em que os meios de comunicação a transformaram uma característica

da sociedade - e também uma alavanca desta’”. E todas as indústrias culturais, entre elas

a imprensa, a televisão, as bibliotecas e os centros de documentação, conformaram uma

nova noção de cultura na modernidade, a cultura-mosaico, a partir da multiplicação das

instituições de socialização e da diversificação das fontes de informação (MOLES,

Abraham citado por FERIN, 2002, p. 131).

3.2.5 Colégio invisível

A corrente epistemológica, no entanto, sofreu algumas objeções, entre elas as

análises do chamado colégio invisível, formado na década de 50 por pesquisadores da

escola de Palo Alto (São Francisco - Estados Unidos). Este grupo defendia que a

comunicação deveria ser estudada pelas ciências humanas a partir de um modelo

próprio. A teoria da informação consistia em um esquema limitado para contemplar

87

pesquisa comunicacional, pois “a essência da comunicação reside em processos

relacionais e interacionais (os elementos contam menos que as relações que se instauram

entre eles)” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 67).

O colégio invisível reuniu “antropólogos, psicólogos, terapeutas que se

propuseram analisar os comportamentos humanos na perspectiva interactiva dos

sistemas de relações em que indivíduos se encontram inseridos”. Nesse contexto, “toda

mensagem comporta dois níveis de significação, ou seja, a informação e a relação que

existe entre os interlocutores” (FERIN, 2002, p. 26 e p. 27).

Segundo um dos principais estudiosos da corrente epistemológica, George

Bateson, “a interacção realizar-se-ia ‘como um sistema adaptativo em que o indivíduo

alterna papéis complementares de participação (transmissão) e observação (recepção)’”.

O autor cunhou o conceito metacomunicação para “distinguir entre as mensagens que

constituem uma comunicação e a comunicação que se processa sobre a comunicação”

(LITTLEJOHN, S. citado por FERIN, 2002, p. 95).

Complementarmente, os estudos de Paul Watzlawick apontam “que cada ser

humano tende a considerar a sua realidade construída, a realidade real, não distinguindo

a realidade de primeira ordem, perfeitamente objectiva e fenomenal, e a realidade de

segunda ordem, vinculada à interpretação construída pelos sujeitos” (FERIN, 2002, p.

97).

Mais tarde, o grupo de Filadélfia, liderado por Ray Birdwhistell, irá retomar as

bases científicas do colégio invisível. Através da criação de uma nova disciplina, a

Cinética, os pesquisadores deste grupo estudam “[...] a comunicação pelo corpo, na

medida em que esta revela um comportamento altamente codificado, apreendido no

interior de uma cultura particular, utilizando multicanais e ligado a contextos de espaço

e tempo” (FERIN, 2002, p. 97).

Também na direção de ampliação do espectro dos estudos comunicacionais,

Edward T. Hall propõe a criação da Proxémica, cujo objeto de estudo é a percepção e o

88

uso do espaço pelo homem. Para o autor, “a cultura surge como um conjunto de códigos

inerentes à concepção social do tempo, à organização do espaço de interacção e à

mudança social” (FERIN, 2002, p. 97-98).

3.2.6 Escola de Frankfurt

Em 1923, alguns intelectuais alemães fundaram o Institut für Socialforschung

(Instituto de Pesquisa Social), filiado à Universidade de Frankfurt, cujos estudos

construiriam a corrente epistemológica escola de Frankfurt. Durante a tomada de poder

de Hitler, os pesquisadores foram exilados e se transferiram para centros de estudos em

Londres, Paris, Genebra e Columbia, onde, na Universidade de Columbia, vislumbraram

“uma convergência entre a teoria européia e o empirismo americano” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 75).

O núcleo dos estudos de Frankfurt é o conceito de indústria cultural, proposto

por Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, a partir do “pensamento político marxista

sobre a cultura, e os desdobramentos que nele imbricam”. Eles “analisam a produção

industrial dos bens culturais como movimento global de produção da cultura como

mercadoria” a partir de características como serialização, padronização e divisão do

trabalho, que selam “a degradação do papel filosófico-existencial da cultura” (FERIN,

2002, p. 40 e MATTELART e MATTELART, 2000, p. 77-78).

A indústria cultural “não é uma ‘cultura surgindo espontaneamente das próprias

massas’, uma espécie de forma contemporânea da arte popular, mas sim uma ‘integração

deliberada, a partir do alto, de seus consumidores’ onde [...] ‘o consumidor não é rei [...],

mas seu objeto’”. Dessa maneira, com a sociedade da indústria cultural promove uma

democratização do acesso aos bens culturais, mas não contempla a produção de

manifestações culturais (ADORNO, T. W. citado por FERIN, 2002, p. 107).

89

Outro importante pesquisador da escola de Frankfurt, radicado em Paris, Walter

Benjamin discordava dos companheiros de Instituto, por considerar que os conceitos de

cultura e arte deveriam ser repensados a partir do princípio da reprodução e não

simplesmente a partir da relação das tecnologias com a derrocada dos paradigmas

culturais e artísticos. Para ele, “com certeza, o modo industrial de produção da cultura

corre o risco da padronização com fins de rentabilidade econômica e controle social.

Nem por isso a crítica legítima da indústria cultural deixa de estar estreitamente ligada à

nostalgia de uma experiência cultural independente da técnica” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 79).

A crítica de Benjamin se fundamenta na concepção de cultura de Frankfurt, na

qual “existiriam formas superiores de cultura - como a pintura, o teatro, o cinema e a

literatura - e funções superiores de cultura, inerentes ao ritual e ao sagrado”. Trata-se do

“conceito de ‘obra de arte’, não reprodutível, possuidora de aura, valor cultural e

autenticidade” (BENJAMIN, Walter citado por FERIN, 2002, p. 108).

No campo da Sociologia, mas também com estudos voltados ao fenômeno

comunicacional, Herbert Marcuse exerceu críticas às novas formas de dominação

política, fundamentadas no discurso midiático. Segundo suas pesquisas, “[...] sob a

aparência de um mundo cada vez mais modelado pela tecnologia e pela ciência,

manifesta-se a irracionalidade de um modelo de organização da sociedade que subjuga o

indivíduo, em vez de libertá-lo” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 81).

A escola de Frankfurt dispensara mais atenção aos estudos filosóficos e

sociológicos até o surgimento das pesquisas históricas de Jürgen Habermas. O autor

provocou uma mudança no conceito de opinião pública, que passou a ser caracterizada

como “espaço de mediação entre Estado e sociedade que permite a discussão pública em

um reconhecimento comum da força da razão e a riqueza da troca de argumentos entre

indivíduos, confrontos de idéias e de opiniões esclarecidas”. No atual cenário das

90

Ciências da Comunicação, tal formulação teórica é essencial para área de Publicidade,

por exemplo (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 82).

A partir desta concepção de espaço de mediação, Habermas desenvolve os

conceitos “situação comunicacional ideal” e teoria do agir comunicativo. O autor

“propõe ainda a distinção ‘entre o agir orientado para a compreensão que se desenvolve,

mediante a linguagem, na base de acordos racionalmente motivados acerca de exigências

específicas de validade, e o agir orientado para o sucesso, no qual estão incluídas as

formas do agir instrumental, ou agir de tipo técnico, não social e as do agir estratégico,

de tipo social’” (FERIN, 2002, p. 61).

3.2.7 Estruturalismo

A partir da década de 40, as pesquisas comunicacionais convergem para o

estruturalismo, corrente epistemológica extremamente abrangente e interdisciplinar,

que “estende as hipóteses de uma escola lingüística a outras disciplinas das ciências

humanas”, como, por exemplo, a Antropologia, a História, a Literatura, a Psicanálise e as

Ciências da Comunicação (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 86).

Os estruturalistas “fundamentam a sua metodologia na busca da estrutura, isto é,

na procura das relações constantes entre os diversos elementos, assim como na

identificação da dinâmica criada entre a dimensão sincrónica e a dimensão diacrónica”.

Esta estrutura pode ser entendida como a sociedade, um organismo “[...] que dita regras

à constituição das formas culturais, tanto como às da ordem social” (CRESPI, F. citado

por FERIN, 2002, p. 41).

O fundador da Lingüística, Ferdinand de Saussure, sonhara com “uma ciência

geral de todas as linguagens (faladas ou não), de todos os signos sociais”. No entanto,

apenas após algumas décadas, em meados dos anos 50, coube a Roland Barthes fixar as

grandes linhas deste projeto, a partir da Semiologia. “A semiologia tem por objeto todo o

91

sistema de signos, qualquer que sejam seus limites: as imagens, os gestos, os sons

melódicos, os objetos e os complexos dessas substâncias que encontramos em ritos,

protocolos ou espetáculos constituem, se não ‘linguagem’, ao menos sistemas de

significação”. Barthes “[...] pretendia captar, através da análise semiológica, as

mistificações ideológicas, isto é a produção social de significações, que estavam

subjacentes à cultura de massa” (BARTHES, Roland citado por MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 86-87, e, FERIN, 2002, p. 55).

O primeiro lingüista a utilizar o termo estrutura foi Roman Jakobson, a partir da

fundamentação de algumas regras de funcionamento da linguagem. Segundo ele, o

esquema do processo comunicacional apresenta seis elementos que correspondem,

respectivamente, a seis funções: “[1] o ‘emissor’ determina a função expressiva; [2] o

destinatário, a função conativa (que só pode se definir de maneira tautológica: função da

linguagem à medida que essa visa ao destinatário); [3] a mensagem, a função poética

(que engloba todas as grandes figuras da retórica); [4] o contexto determina a função

referencial; [5] o contato, a função fática, que tende a verificar se a escuta do

destinatário efetivamente se estabeleceu; [6] o código, a função metalingüística, que

incide sobre a linguagem tomada como objeto (por meio dele, emissor ou destinatário

verificam se utilizam o mesmo léxico, a mesma gramática)” (JAKOBSON, Roman citado

por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 88-89).

A proposta de Jakobson “[...] reforçou a concepção de comunicação enquanto

processo linear, reduzindo os contextos aos referentes imediatos do acto comunicativo e

impossibilitando, deste modo, uma abordagem mais lata em função da sociedade e da

cultura” (FERIN, 2002, p. 54).

O estruturalismo ganhou força no âmbito da Comunicação a partir de estudos

conduzidos em inúmeras instituições de diferentes lugares do mundo.

Na França, em 1960, é criado o Centre d'Études de Communication de Masse

(CECMAS) da Ecole Pratique des Hautes Etudes. Entre os principais pesquisadores do

92

CECMAS estavam Roland Barthes, cujo trabalho foi baseado na Lingüística, e, Georges

Friedman, que buscou “se dedicar aos problemas da civilização tecnicista, a seus

‘fenômenos de massa’: produção e consumo de massa; audiência de massa; surgimento

do tempo do não-trabalho; generalização do lazer”. Outro nome de destaque foi Edgar

Morin, cujas pesquisas, desde o início da década de 70, “orientaram-se cada vez mais

para a cibernética, a teoria dos sistemas e as ciências cognitivas” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 91-93).

Morin define cultura de massas como “um corpo de símbolos, mitos e imagens

concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projecções e de

identificações específicas”, que dialoga com as variáveis culturais da complexa

pluralidade das sociedades. Diferentemente de culturas como a escolar e a nacional, a

cultura de massas caracteriza-se “por estar associada ao consumo, ao prazer e ao desejo,

não se impondo por qualquer forma de coacção aparente, mas por vontade pessoal

expressa” (MORIN, Edgar citado por FERIN, p. 132 e p. 133).

Também nos anos 60, na Itália, surge o Instituto A-Gemelli, cujos pesquisadores,

entre eles Umberto Eco, “[...] empenhar-se-ão de maneira mais constante do que os

semiólogos franceses nas pesquisas sistemáticas sobre os fenômenos da comunicação e da

cultura de massa” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 92).

Como afirma Isabel Ferin, “os estudos lingüísticos contribuem com muitos dos

conceitos e teorias utilizados hoje para a compreensão dos fenómenos da comunicação e

da cultura - tanto numa perspectiva teórica, como operatória e de senso comum”. Trata-

se de uma estreita relação científica, que conduz, entre outras atividades, “à

interpretação dos códigos verbais e visuais, à compreensão das mensagens, à análise de

conteúdos e dos discursos” (FERIN, 2002, p. 52).

Além do paradigma lingüístico, outra vertente do estruturalismo comunicacional

foi a releitura dos textos do Marxismo, principalmente sob a liderança do filósofo Louis

Althusser. Nos seus estudos os “aparelhos significantes (escola, Igreja, mídia, família etc.)

93

têm por função assegurar, garantir e perpetuar o monopólio da violência simbólica, que

se exerce sob o manto de uma legitimidade pretensamente natural” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 93-96).

Tal imposição simbólica dos poderes institucionais também foi objeto de estudo

do sociólogo Pierre Bourdieu. “Suas análises das atitudes e práticas culturais se baseiam

na noção de habitus, termo que designa sistema estável de disposições a perceber e agir,

que contribui para reproduzir uma ordem social estabelecida, em suas desigualdades”.

Assim, cabe à cultura exercer o papel de “campo de lutas entre grupos, com o objectivo

de manter determinados privilégios distintivos” (BOURDIEU, Pierre citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 96, e, FERIN, 2002, p. 47).

Outro ponto de discussão desta questão é o estabelecimento da nova ordem

mundial, denominada sociedade do espetáculo e da abundância, e a relação dos

diferentes países e regiões com este novo modelo de organização social.

3.2.8 Sociedade do espetáculo

Os estudos de Guy Debord indicaram que “a sociedade portadora do espetáculo

não domina as regiões subdesenvolvidas apenas por sua hegemonia econômica. Ela as

domina como sociedade do espetáculo”. Para o autor, “os indicadores destas alterações

encontram-se na preferência concedida à imagem, à cópia, à representação e à

aparência, em detrimento, respectivamente, da coisa, do original, da realidade e do ser”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 94 e FERIN, 2002, p. 110).

O conceito de controle social ganha contornos midiáticos com as teses de Michel

Foucault. “O modelo de organização em ‘panóptico’, utopia de uma sociedade, serve

nessa perspectiva para caracterizar o modo de controle exercido pelo dispositivo

televisual: um modo de organizar o espaço, controlar o tempo, vigiar continuamente o

94

indivíduo e assegurar a produção positiva de comportamentos” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 98).

Em 1970, Wolfgang Enzensberger inclui o papel da classe política nas reflexões

sobre a comunicação. Segundo ele, nem mesmo a visão moderna da nova esquerda,

categoria de políticos radicados na Europa, “reduziu o desenvolvimento da mídia a um

simples conceito - o da manipulação” (ENZENBERGER, Wolfgang citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 99).

Em diálogo direto com a obra de Enzensberger, Jean Baudrillard aprofunda e

radicaliza as análises do papel da mídia na conformação das relações e do extrato social.

“Toda a arquitetura atual dos meios de comunicação de massa funda-se nessa última

definição: eles são o que proíbe para sempre a resposta, o que torna impossível todo o

processo de troca (a não ser sob a forma de simulação de resposta, ela própria integrada

ao processo de emissão, o que não muda nada quanto à uniteralidade da comunicação).

Nisso consiste sua verdadeira abstração [em] que se baseia o sistema de controle social e

de poder”. Na visão do pesquisador, “na sociedade ocidental o consumo é um modo

activo de relação - não apenas com objetos, mas com a coletividade e com o mundo - um

modo de actividade sistemática e de resposta global no qual se funda todo o sistema

cultural” (BAUDRILLARD, Jean citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p.

100-101, e, FERIN, 2002, p. 110).

3.2.9 Cultural studies

A transição entre as décadas de 60 e 70 é o momento de constituição de mais

uma corrente epistemológica das Ciências da Comunicação, denominada cultural

studies. A origem distante desta tendência foi o conjunto de pesquisas do crítico literário

Frank Raymond Leavis, baseadas na “análise textual, na pesquisa do sentido e dos

valores socioculturais” da literatura (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 100-101).

95

A trajetória de pesquisa dos cultural studies pode ser agrupada em três principais

períodos. Nos anos 50 e 60, ao “enfatizar as práticas cotidianas como formas de

resistência ao capitalismo industrial”, e, a partir do caráter ideológico da cultura,

“predominaram os estudos sobre as relações e análise de classe”. “Nos anos 60, e em

função dos desenvolvimentos da Lingüística e da Semiótica, o Centro [...] vira-se para a

análise dos discursos”. Na transição para a década de 70, a corrente “incorpora, por

diferentes vias, a perspectiva antropológica e sociológica do Interacionismo da Escola de

Chicago e a noção de hegemonia advinda de Gramsci” (FERIN, 2002, p. 137-138).

Precisamente a partir de 1964, a corrente epistemológica ganha mais força, com a

criação do Centre of Contemporary Cultural Studies (CCCS), vinculado à Universidade

de Birmingham, na Inglaterra. Se anteriormente a pesquisa comunicacional era

dependente dos estudos de pesquisadores isolados, com o estruturalismo e com os

cultural studies, o percurso das Ciências da Comunicação se desenvolve a partir de

centros de estudos em nível acadêmico, com a participação de inúmeros cientistas, o que

denota a formação de uma intensa rede de comunicação científica (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 100-101).

Raymond Williams é considerado um dos pioneiros dos cultural studies, em

primeiro lugar por definir que “a cultura é um processo global por meio do qual as

significações são social e historicamente construídas” e também pela distinção entre

cultura e outras práticas sociais. A principal crítica a estas idéias vem de outro pioneiro

da área, Edward P. Thompson, que abandona o uso do termo cultura no singular, “ao

passo que o trabalho dos historiadores revela tratar-se de culturas no plural, e que a

história é feita de lutas, tensões e conflitos entre culturas e modo de vida, conflitos

intimamente ligados às culturas e formações de classe”. O terceiro pioneiro foi Richard

Hoggart, cuja obra “é ao mesmo tempo um elogio das formas tradicionais das

comunidades da classe operária de onde ele saiu, que resistem à cultura comercial e uma

96

crítica severa às expressões dessa cultura” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 104-

106).

A base conceitual desta corrente foi formada por múltiplas influências, no

entanto, duas tendências podem ser claramente identificadas. A primeira é a influência

do interacionismo social da escola de Chicago, a partir da preocupação de “analisar

valores e significações vividas, maneiras pelas quais as culturas dos diferentes grupos se

comportam diante da cultura dominante, ‘definições’ que dão os atores sobre sua própria

‘situação’”. Em segundo lugar, os cultural studies dialogam com a “tradição etnográfica

britânica que renovou a maneira de fazer história social, a saber, a partir ‘de baixo’,

criando ateliês de história oral, associando-se aos trabalhos das feministas sobre as

mulheres” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 106-107).

Justamente na relação entre as classes sociais surge outra referência, o conceito

de hegemonia do filósofo italiano Antonio Gramsci. “A hegemonia é a capacidade de um

grupo social assumir a direção intelectual e moral sobre a sociedade, sua capacidade de

construir em torno de seu projeto um novo sistema de alianças sociais, um novo ‘bloco

histórico”. Com isto, o autor traz “ao primeiro plano a questão da sociedade civil como

distinta do Estado” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 108).

No entanto, Gramsci ressalta que apesar da “cultura hegemônica exercer um

papel coercitivo e dominador, sempre no limite do seu equilíbrio, por outro lado, as

culturas populares apresentam ‘uma espessura e uma presença sociocultural específicas’

aliadas a uma ‘capacidade de resistência, adaptação e modificação das relações que

mantêm com a cultura hegemônica’” (LOPES, M. I. V. de e GRAMSCI, Antonio citados

por FERIN, 2002, p. 109).

Além das pesquisas de Birmingham, os cultural studies também foram

desenvolvidos por estudiosos de outras origens. Charlotte Brundson e David Morley, por

exemplo, fazem um estudo sobre a correlação entre os programas de humor da televisão

e as representações de gênero, de classe social e de grupos étnicos. Já Stuart Hall avança

97

na pesquisa crítica sobre os meios de comunicação de massa, analisando sobretudo o seu

papel ideológico (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 109-111).

Hall também aponta para uma distinção entre a concepção estruturalista e a visão

estrutural da cultura. Segundo o autor, “enquanto a concepção estruturalista dá ênfase

aos traços estruturais internos das formas simbólicas”, a visão estrutural da cultura tem

como objetivo “o estudo das acções, objectos e expressões significativas em contextos e

processos historicamente específicos e socialmente estruturados”. Esta diferenciação é

um exemplo da interligação dos cultural studies com “conceitos e metodologias advindas

do estruturalismo” (THOMPSON, J. B. citado por FERIN, 2002, p. 44 e p. 111).

3.2.10 Economia política da comunicação

Em meados da década de 60, a reflexão acerca do “desequilíbrio dos fluxos de

informação e de produtos culturais” continua vigente em outra corrente epistemológica,

denominada economia política da comunicação. Diferentemente do estruturalismo e dos

cultural studies¸ a economia política rompe com as teses marxistas, sobretudo a partir da

adoção da idéia das indústrias culturais. “A passagem do singular ao plural revela o

abandono de uma visão demasiada genérica dos sistemas de comunicação. No momento

em que as políticas governamentais de democratização cultural e a idéia de serviço e

monopólio públicos são confrontadas com a lógica comercial num mercado em vias de

internacionalização, trata-se de penetrar na complexidade dessas diversas indústrias para

tentar compreender o processo crescente de valorização das atividades culturais pelo

capital” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 113).

Herbert Schiller defendeu e introduziu nesse debate o importante conceito de

imperialismo cultural. Trata-se do “conjunto de processos pelos quais uma sociedade é

introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é

levada, por fascínio, pressão, força ou corrupção, a moldar as instituições sociais que

98

correspondam aos valores e estruturas do centro dominante do sistema, ou ainda para

lhes servir de promotor dos mesmos” (SCHILLER, Herbert citado por MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 113).

Nesse período, a América Latina apresenta um desenvolvimento intenso dos

meios de comunicação e dos estudos dos seus impactos sociais. A principal contribuição

científica dos latino-americanos à economia política da comunicação é a criação da

teoria da dependência, que, entre outros aspectos, aborda a “a margem de manobra e o

grau de autonomia creditados a cada nação em relação às determinações do sistema-

mundo”. Outro viés de pesquisa é a comunicação popular, a partir de trabalhos como o

de Paulo Freire no Brasil (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 118-119).

“Sustentado pelo movimento dos países não-alinhados, o debate sobre os

desequilíbrios de fluxos e trocas [da informação] atinge a comunidade internacional

como um todo nos anos 70, década da ‘nova ordem mundial da informação e da

comunicação’ (NOMIC)”. E a principal mudança ocorre também no âmbito das

pesquisas científicas, que, ganham contornos regionais e locais, em virtude da

necessidade de “representações de desenvolvimento formuladas por aqueles que se

faziam sujeito do próprio desenvolvimento” (MATTELART e MATTELART, 2000, p.

120-121).

Já na segunda metade da década de 70, pesquisadores franceses retomam a

discussão sobre as indústrias culturais, e de maneira bastante incisiva.

Um grupo de estudos liderado por Bernard Miège aponta a diversidade de

interesses dos inúmeros setores das indústrias culturais, “nas modalidades de

organização do trabalho, na caracterização dos próprios produtos e de seu conteúdo, nos

modos de institucionalização das diversas indústrias culturais (serviço público, relação

público/privado etc.), no grau de concentração horizontal e vertical das empresas de

produção e distribuição, ou ainda na maneira pela qual os consumidores ou usuários se

99

apropriam de produtos e serviços” (MIÈGE, Bernard citado por MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 122-123).

A partir de uma perspectiva mais tecnológica, Patrice Flichy “dedica-se a

compreender essa ‘cultura de onda’, esse continuum de emissões - no qual cada

elemento conta menos em si mesmo do que pelo conjunto da programação oferecida -

que caracteriza a economia audiovisual” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 123).

A repercussão da economia política da comunicação atingiu patamares

internacionais. Na França, a corrente “pretendia suprir as carências da semiologia da

primeira geração, atenta antes de mais nada aos discursos como conjuntos de unidades

fechadas sobre si mesmas e que contêm os princípios de sua construção”. Na Grã-

Bretanha ocorreu “uma polêmica aberta com a corrente dos cultural studies, acusada de

privilegiar de maneira isolada o nível ideológico”. Também são fortes e destacados os

pólos de pesquisa da corrente epistemológica no Canadá e na Espanha (GARNHAM,

Nicholas citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 123).

Em um destes estudos, o canadense Dallas Smythe, especialista em televisão,

“irritara-se com os malefícios das teorias que só a viam como lugar de produção de

estratégias discursivas, de ideologia. Smythe defendia a idéia contrária, de que a

televisão é, antes de mais nada, em qualquer contexto que seja, uma ‘produtora de

audiências vendáveis aos publicitários’”. “O pesquisador britânico Nicholas Garnham

rebatia, dizendo que essa posição deixava de levar em conta a dimensão política e

cultural da televisão, que lhe constitui tanto quanto sua lógica econômica” (GARNHAM,

Nicholas citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 124-125).

Justamente as novas tecnologias da informação e da comunicação e os meios de

comunicação eletrônica, como a televisão, suscitam uma nova discussão dentro da

economia política. Marshall McLuhan, por exemplo, propõe o conceito de aldeia global

para explicar a força da mídia na conformação da organização da ordem mundial, poder

advindo principalmente da sua capacidade de impulsionar o progresso. A partir deste

100

momento histórico, “o imperativo técnico comanda a transformação social”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 125-128).

A única fragilidade dos estudos de McLuhan parece ser a ausência de uma relação

complementar entre a aldeia global e as identidades locais. Apesar disso, o autor se

destaca no campo da Comunicação por colocar “pela primeira vez os media no centro do

desenvolvimento cultural e social” e por evidenciar “que as mudanças sociais e culturais

não podem se explicar sem referência ao contexto sociológico em que se inserem”

(FERIN, 2002, p. 130).

3.2.11 Sociologia interpretativa

As correntes epistemológicas das Ciências da Comunicação, com algumas

exceções, como a escola de Chicago, geralmente se destacaram por uma abordagem

estrutural e universalista (macro) da questão comunicacional. No entanto, ainda na

década de 60, surgiram “metodologias que consagravam outras unidades de análise, a

pessoa, o grupo, as relações intersubjetivas na experiência da vida cotidiana”, através da

discussão “sobre o risco de reificar os fatos sociais, sobre o papel do ator em relação ao

sistema e o grau de autonomia das audiências diante do dispositivo de comunicação”.

Trata-se de uma nova corrente epistemológica, denominada sociologia interpretativa,

fundamentada em modelos como o interacionismo simbólico e a etnometodologia

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 131).

A etnometodologia, segundo Harold Garfinkel, “analisa as atividades do dia-a-dia

como sendo métodos dos membros [de um grupo] para tornar essas mesmas atividades

visíveis-racionais-e-relatáveis (no sentido de que se pode dar conta delas) - para-fins-

práticos, ou seja, observáveis e descritíveis”. “O fato social não mais está dado, portanto.

É o resultado da atividade dos atores para conferir sentido à sua prática cotidiana. O

101

esquema da comunicação substitui o da ação” (GARFINKEL, Harold citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 133; p. 134).

Dessa forma, ganham importância estudos como o de Harvey Sacks, concernente

à análise da conversação. “Lugar privilegiado das trocas simbólicas, a conversa é

abordada como uma ação, não mais para o estudo da língua, mas como prática

lingüística, para que se compreenda como os locutores constroem as operações dessa

forma predominante de interação social e se desvendem os procedimentos e as

expectativas pelos quais essa interação se produz e é compreendida” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 134).

O modelo etnometodológico também sofreu influências do sociólogo austríaco

Alfred Schütz, a partir da utilização do conceito de estoques do conhecimento. “Esses

estoques de saber disponíveis no cotidiano e no ‘mundo da vida’ são distribuídos de

maneira diferencial, criando uma diversidade de conhecimento na ação e na interação,

conforme o indivíduo, os grupos, as gerações e os sexos” (MATTELART e MATTELART,

2000, p. 135).

Outra contribuição parte do sociólogo britânico Anthony Giddens, que “propõe

uma ‘teoria da estruturação’ que incorpore a reflexão etnometodológica sobre a

‘consciência prática’ e as metodologias de ação e permita pensar a imbricação entre

práticas e estrutura, ação e instituição, as relações concretas entre práticas e coerções

externas, entre indivíduo e totalidade social, entre micro e macro” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 138-139).

Com o filósofo John L. Austin, “a etnometodologia é influenciada pela teoria dos

atos da fala, que reabilita à condição de ator do discurso o sujeito excluído dos jogos dos

signos”. Nesta abordagem, “a linguagem não é somente descritiva; é também

‘performativa’, isto é, voltada para a realização de alguma coisa. Pode-se afirmar que sua

verdadeira função é formativa” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 140).

102

Também a partir desta visão de desmistificação da linguagem, Ludwig

Wittgenstein “dedica-se a compreender as regras do saber comum, esse saber que

‘conhece a regra’, que conhece o How to go on, ou seja, a capacidade do saber prático

que possui o usuário para realizar as rotinas da vida social”. Segundo o autor, “a

linguagem não mais é descritiva em suas estruturas formais, mas no uso prático que dela

se faz na vida cotidiana” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 140-141).

A inclusão das questões da linguagem e da fala na agenda das Ciências da

Comunicação suscitou inúmeras propostas de teorias e explicações, sobretudo

formulações de organização das disciplinas relacionadas à área. Entre estas propostas,

Aaron Victor Cicourel sugere “uma vasta aliança entre a sociologia, a antropologia, a

lingüística e a filosofia, em torno de uma ‘antropossociologia’”. No entanto, Cicourel

ressalta algumas barreiras a serem superadas para o estabelecimento da nova área,

principalmente a correlação entre a “análise limitada a atos da fala bastante concretos”,

originária da Lingüística, e, a “análise de situações de interação complexas”, proveniente

da Sociologia (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 141).

A síntese mais conhecida desta discussão é a sociologia crítica do agir

comunicativo, de Jürgen Habermas. Segundo esta teoria, “ação e interação não mais são

vistas unicamente como produção de efeitos, mas analisadas como associadas a tramas

simbólicas e contextos lingüísticos”. Além da ação racional e instrumental, o autor

preconiza que existem outros modos de ação e de relação com o mundo: “a ação objetiva

e cognitiva que se impõe dizer a verdade, a ação intersubjetiva que visa à correção moral

da ação, a ação expressiva que supõe a sinceridade” (MATTELART e MATTELART,

2000, p. 142-143).

O outro modelo científico sob a égide da sociologia interpretativa, o

interacionismo simbólico, se detém com maior atenção à “natureza simbólica da vida

social”. Em 1969, Herbert Sacks funda as três premissas fundamentais deste modelo: “[1]

os seres humanos agem em relação às coisas com base nas significações que elas têm para

103

eles”, “[2] a significação dessas coisas deriva ou surge da interação social de um

indivíduo com outros atores”, e, “[3] essas significações são utilizadas em, e modificadas

por meio de, um processo de interpretação realizado pelo indivíduo em sua relação com

as coisas que ele encontra” (BLUMER, Herbert citado por MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 135).

Nesse sentido, Erving Goffman afirma que o indivíduo “tende a encenar papéis

sociais em conformidade com normas estabelecidas na sociedade e em função de padrões

culturalmente definidos, o que transforma os processos de comunicação interpessoal e as

práticas culturais em elementos por excelência de manutenção da cena social” (FERIN,

2002, p. 79-80).

O interacionismo simbólico “desenvolve a idéia de que o indivíduo é tanto um

produto social e cultural como uma força ativa de criação de formas culturais”. E, para

completar, de acordo com George Herbert Mead, “a pessoa age então socialmente,

através de um processo complexo e indissociável que envolve a reflexão sobre o si

mesmo, a interiorização do papel do Outro”. Na mesma linha de pensamento, Herbert

Blumer focaliza “as acções e interacções de grupo sublinhando o papel individual nestes

contextos e propondo a distinção de conceitos como massa, multidão e opinião em

função da noção de ‘meio’ em que se realizam as interacções” (FERIN, 2002, p. 81 e 82).

3.2.12 Etnografia das audiências

Com a sociologia interpretativa a pesquisa em Ciências da Comunicação inicia

uma trajetória de valorização do indivíduo enquanto sujeito ativo no processo

comunicacional. Porém, tal tendência se consolida de fato com a corrente

epistemológica denominada etnografia das audiências, cujos estudos convergem para o

papel do público dos meios de comunicação de massa.

104

Para Mikhail Bakhtin, “a linguagem é o campo de tensões e interesses conflituais.

As avaliações de um discurso e as respostas individuais a um enunciado estão longe de

ser uniformes. Encontram-se em constante transformação, de acordo com a história e a

evolução da subjetividade” Isto porque a linguagem está atrelada “em redes de relações

sociais inscritas em sistemas políticos, econômicos e ideológicos”, que dialogam com as

questões do sujeito usuário dos signos e dos significados (MATTELART e MATTELART,

2000, p. 145-146).

A primeira ocorrência científica da etnografia das audiências é o trabalho de

Hans Robert Jauss sobre a estética da influência e da recepção. O autor “compreende por

‘influência’ a parte que cabe ao texto na definição da leitura e de sua consumação por

parte do leitor, receptor, público, ‘parceiro’ indispensável da obra literária. Por

‘recepção’ compreende as ‘sucessivas concretizações de uma obra’, a relação entre texto e

leitor, a liberar em cada época o potencial semântico-artístico da obra e inscrevê-lo na

tradição literária” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 146).

Nesta mesma linha, Jean Paul Sartre indica o “esforço conjugado entre o autor e o

leitor, que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito”

(SARTRE, Jean Paul citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 146-147).

Para Umberto Eco, “o artista producente sabe que a estrutura, com seu objeto,

uma mensagem, não pode ignorar que trabalha para um receptor. Sabe que esse receptor

interpretará o objeto-mensagem perfilando todas as suas ambigüidades, mas não se sente

por isso menos responsável por essa cadeia de comunicação” (ECO, Umberto citado por

MATTELART e MATTELART, 2000, p. 147).

O autor desenvolve também o conceito de obra aberta, “um conceito que permite

atribuir a uma obra um indeterminado número de interpretações, através da

improbabilidade das suas mensagens”. Originalmente formulado para os estudos da arte

e da literatura, o conceito se expandiu para os meios de comunicação de massa, com a

função de analisar os valores estéticos e narrativos, o espaço, o tempo e a relação de cada

105

meio com o seu fruidor. Tal análise das narrativas e dos gêneros comunicacionais aponta

a dupla função das pesquisas do autor, que, ao mesmo tempo, é teórico e prático, ao

contribuir tanto com o campo científico e quanto com a esfera profissional da

Comunicação (FERIN, 2002, p. 134 e 135).

No âmbito dos estudos dos meios de comunicação eletrônica, o trabalho de David

Morley “destaca o lugar ocupado pela televisão nas atividades de lazer dos diversos

membros da família, as leituras particulares, a distribuição desigual do poder de decisão

na escolha dos programas, os horários, os diferentes comportamentos de recepção”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 148).

O estudo das influências da televisão foi uma das principais forças da etnografia

das audiências. Através de pesquisas conduzidas pelo próprio Morley, em conjunto com

Janice Radway e Laura Mulvey, entre outros, constituiu-se uma tendência de estudos

feministas da comunicação. “A reflexão sobre as interações texto/contexto/público

feminino volta-se rapidamente para o estudo dos gêneros que a televisão destina de

modo particular a essa categoria de audiência”, com atenção especial à novela

(MATTELART, Michèle citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 149).

Em uma reflexão epistemológica sobre a pesquisa das audiências, Clifford Geertz

indica que “a análise dos sistemas simbólicos não é pois uma ‘ciência experimental em

busca de leis, mas uma ciência interpretativa em busca de significações’, e é preciso

aceitar a condição intrinsecamente fragmentária e incompleta da análise cultural”

(GEERTZ, Clifford citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 150).

A Sociologia também apresenta pesquisas sobre a influência e a recepção dos

meios de comunicação, principalmente, a partir dos estudos da teoria uses and

gratifications. Segundo esta vertente, à mídia cabe “o papel de ‘mestre-de-cerimônias’ ou

ainda de um quadro de avisos no qual viriam a se inscrever os problemas que devem

constituir o objeto de debate em uma sociedade”. Não existe, portanto, uma

transferência direta e imediata das questões pautadas pelos meios de comunicação para a

106

vida cotidiana das pessoas. Pelo contrário, “a ‘seletividade’ dos receptores constitui

obstáculo” indispensável para adesão do público às mensagens midiáticas (KATZ, Elihu

citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 150-151).

Outro fator da eficiência da influência dos meios de comunicação é a

proximidade da pessoa com o assunto, fato, idéia ou tema discutido pela mídia. “A

experiência direta, imediata e pessoal de um problema torna-o suficientemente saliente

e significativo, a ponto de atenuar, em segundo plano, a influência cognitiva da mídia”

(ZUCKER, H. citado por WOLF, 2005, p. 155-156).

Embora discreta, pois não devidamente divulgada e propagada, a grande

contribuição da etnografia das audiências foi discutir o poder institucional dos meios de

comunicação de massa, através da valorização dos processos de escolha e de co-

participação dos receptores da informação. Questões como concorrência entre empresas

e entre diferentes mídias, comércio desigual, e, hegemonia cultural, entre outras, cedem

espaço aos estudos do consumidor e do público dos meios de comunicação

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 152-153).

3.2.13 Escola Latino-Americana de Comunicação

No início da década de 60, pela primeira vez, é possível identificar uma corrente

epistemológica das Ciências da Comunicação na América Latina. Os estudos anteriores

eram conduzidos isoladamente e apontavam para direções não consistentes entre si. A

pesquisa baseava-se nas inúmeras questões levantadas pela produção internacional, sem

correlacionar-se estreitamente com a realidade local.

A Escola Latino-Americana de Comunicação (ELACOM) aponta para um viés de

crescimento da área no âmbito regional. “As primeiras pesquisas de comunicação na

América Latina surgem em ambientes tipicamente profissionais”, em trabalhos como

estudos da opinião pública, análises de audiência da mídia, e, pesquisas de persuasão dos

107

consumidores, além de abordagens relacionadas ao jornalismo político e eleitoral

(MELO, 2003, p. 41, 68 e 69).

No começo dos anos 70, a UNESCO ofereceu o principal impulso para fortalecer

uma comunidade acadêmica regional na área, através da criação de programas de

investigação sobre informação e comunicação. Na visão dessa organização, a

comunicação consistia em especial fator de desenvolvimento social e econômico, além

de preponderante para a democratização, uma vez que, na época, os países latino-

americanos encontravam-se sob a égide de ditaduras militares. A produção científica

refletiu esse contexto com “pesquisas funcionalistas descritivas sobre políticas de

informação e comunicação nacionais e internacionais” (LOPES, M. I. V. de citada por

FERIN, 2002, p. 141).

A ELACOM apresenta intensa produção científica nas décadas seguintes,

sobretudo com reflexões sobre as especificidades da comunicação na sociedade latino-

americana, e, nos anos 80, se consolida como uma verdadeira comunidade acadêmica,

inclusive com projeção internacional (MELO, 2003, p. 41-42).

Nesse período, as Ciências da Comunicação ganham espaço também nas

universidades e institutos de pesquisa, como o importante Centro de Internacional

Estudios Superiores de Comunicación para América Latina (CIESPAL), vinculado a

UNESCO, criado em 1959 no Equador (MELO, 2003, p. 70).

Os marcos teóricos desse fortalecimento institucional foram os estudos do

pesquisador boliviano Luis Ramiro Beltrán, consultor da UNESCO para a América

Latina, as pesquisas de Daniel Lerner e Wilbur Schramm, sobre as desigualdades da

comunicação internacional, e, outros trabalhos também financiados pela UNESCO,

como o Relatório McBride e as pesquisas de Armand e Michèle Mattelart (FERIN, 2002,

p. 142).

Tematicamente, as vertentes e abordagens da pesquisa latino-americana são

variadas. “Confluem em seus marcos teóricos dois paradigmas dominantes: a teologia da

108

libertação e a denúncia do imperialismo cultural”, mas “também estão presentes, porém

com menor impacto intelectual, as metodologias herdadas do funcionalismo norte-

americano”. A escola de Frankfurt, no entanto, “é a corrente que mais fascina os

cientistas latino-americanos da comunicação” (MELO, 2003, p. 71-72).

Outra matriz conceitual da corrente é a obra de Gramsci, a partir da qual as

investigações latino-americanas “tendem a conferir à cultura popular o papel de cultura

de resistência, levando, posteriormente, ao desenvolvimento de novas concepções sobre

os efeitos dos media na sociedade” (FERIN, 2002, p. 111).

A expressão dos problemas comunicacionais latino-americanos encontra espaço e

se desenvolve com destaque na obra de dois pesquisadores, Nestor García Canclini,

responsável pelo conceito de culturas híbridas, e, Jesus Martín-Barbero, que reformulou

o conceito de mediação (FERIN, 2002, p. 144).

No conceito de Nestor García Canclini, as culturas híbridas “[...] resultam de

muitos fatores concorrentes, de caráter histórico e social, inerentes à formação dos

diversos países [da América Latina], nomeadamente as peculiaridades derivadas de

colonizações ibéricas, dos cruzamentos entre indígenas e grandes contingentes de

imigrantes advindos da África, da Europa, e, mais recentemente, da Ásia”. Tal hibridez

foi potencializada a partir do processo de industrialização destes países, quando também

houve um crescimento no acesso aos produtos culturais e aos modelos de trabalho

estrangeiros. O sistema político então vigente na América Latina eram as ditaduras

militares, que, contraditoriamente, com o objetivo de defender as culturas nacionais,

“[...] criaram condições para o surgimento de empresas e produtos alternativos de

natureza híbrida, em oposição aos de inspiração norte-americana” (FERIN, 2002, p.

144).

Jesus Martin-Barbero analisa o processo de mediação a partir da cultura popular

das periferias urbanas, formadas por camponeses e imigrantes. O autor investiga “a

articulação existente entre os processos de produção dos media e as suas rotinas de

109

utilização no contexto familiar, comunitário e nacional”, isto porque “as mediações

implicam um processo no qual o discurso narrativo dos media se adapta à tradição

narrativa popular do mito e do melodrama, e as audiências aprendem a reconhecer a sua

identidade cultural coletiva nesse mesmo discurso” (FERIN, 2002, p. 145-146).

3.2.14 Estudos brasileiros

A pesquisa em Comunicação no Brasil surgiu por volta do fim do século XIX, no

entanto, o campo se institucionalizou a partir da década de 40. Para analisar esta

história, José Marques de Mello propõe a organização da área em cinco fases: 1-

desbravamento (1873-1922); 2- pioneirismo (1923-1946); 3- fortalecimento (1947-1963);

4- consolidação (1964-1977); 5- institucionalização (1978-1997). Para abranger os

estudos contemporâneos podemos acrescentar mais uma fase à proposta do autor: 6-

crescimento (1997-2007) (MELO, 2003, p. 144).

No estágio de desbravamento, prevalecem os estudos liderados por “intelectuais

que se valem da imprensa para disseminar idéias e conhecimentos”. Alfredo de Carvalho

é o principal responsável pelo “primeiro projeto de ‘pesquisa integrada’ realizada no

Brasil, repertoriando informações sobre toda a imprensa do país”, no fim do século XIX e

no início do século XX. O autor continua o trabalho de pesquisa de José Higino Duarte

Pereira, cujo objeto de estudo foi a tipografia pernambucana, fundada a partir da invasão

holandesa (MELO, 2003, p. 145 e p. 149).

Tratava-se de um inventário de documentos, jornais, gazetas e livros publicados

no Brasil deste período. Cabe ressaltar que outras iniciativas similares já tinham sido

empreendidas por outros pesquisadores localizadamente. Em todas elas “estamos, ainda,

no território restrito do ensaísmo, produzindo conhecimento oriundo da análise

documental, mesmo assim ancorado em fontes secundárias” (MELO, 2003, p. 151).

110

A fase seguinte é marcada pelo pioneirismo e “acena em direção ao empirismo,

apesar de persistir uma certa hegemonia ensaística” Alexandre José Barbosa Lima

Sobrinho “escreve o primeiro tratado do jornalismo brasileiro, fazendo generalizações e

extrapolações que foram se confirmando com o passar dos anos. Nesse sentido é um

estudo que nasceu clássico” (MELO, 2003, p. 152).

Outras pesquisas floresceram em campos como a Fotografia, o Cinema, as Artes

Plásticas, e, principalmente, a Publicidade. Nesta área, surgem as primeiras pesquisas de

mercado, além de estudos sobre os fundamentos psicológicos dos anúncios. São análises

específicas da Publicidade que se relacionam com todo o campo comunicacional

(MELO, 2003, p. 153).

O pioneirismo também se projetou no âmbito do ensino da Comunicação. Por

um lado, os pesquisadores lutavam pela criação de escolas de Jornalismo, o que iria se

concretizar no início da década de 40. Por outro, “a modernização e a multiplicação das

empresas do ramo apontavam em direção ao esgotamento do modelo caracterizado pelo

treinamento de recursos humanos dentro das próprias redações” (MELO, 2003, p. 154).

Em 1946, o jornalista Carlos Rizzini publicou o “primeiro tratado de história da

mídia impressa, resultado de uma pesquisa erudita e bem documentada”. A obra foi

prontamente legitimada pela incipiente comunidade acadêmica da Comunicação, à qual

o autor se juntou mais tarde (MELO, 2003, p. 155).

O período de fortalecimento das Ciências da Comunicação foi liderado pelas

universidades. No âmbito acadêmico, “profissionais guindados à condição de professores

sistematizam conhecimentos empíricos e os transmitem às novas gerações de jornalistas

ou os convertem em livros, monografias, apostilas, ampliando a sua circulação no espaço

e no tempo” (MELO, 2003, p. 156).

A principal característica desta fase foi a tentativa de ampliar a “rede

institucional dedicada ao ensino da comunicação”. Surgem iniciativas de criação de

escolas de Propaganda, Relações Públicas e Cinema, mas, “até o início da década de 60 o

111

Jornalismo permaneceria como o único setor comunicacional legitimado pela

universidade brasileira”. Em 1963, Pompeu de Souza criou a Faculdade de Comunicação

de Massa na Universidade de Brasília, a primeira instituição de ensino a articular os

estudos de Jornalismo, Publicidade, Cinema e Rádio-Televisão (MELO, 2003, p. 157 e p.

158).

No mesmo ano, sob a responsabilidade de Luiz Beltrão, surge o Instituto de

Ciências da Informação (ICINFORM), em convênio com a Universidade Católica de

Pernambuco. Considerado o “primeiro centro brasileiro de pesquisa na área”, o

ICINFORM nasce “com a finalidade de desenvolver pesquisas, realizar cursos e manter

publicações acadêmicas” (MELO, 2003, p. 158).

Fora dos muros acadêmicos, o mercado cultural do país vivia um período de

desenvolvimento autônomo, no bojo do início da modernização da sociedade brasileira.

O pano de fundo foi a “divisão entre as órbitas de atuação do Estado e das empresas

privadas na esfera da cultura”. A indústria cultural se impôs como produtora da

comunicação mantida pela publicidade (televisão, rádio e cinema) e ao poder público

coube a função manter as atividades cuja sobrevivência dependia dos subsídios

governamentais (preservação do patrimônio histórico e artístico nacional, música,

dança, arte erudita) (LOPES, 2000, p. 52-53).

A fase de consolidação das Ciências da Comunicação revelou a ampliação pelo

interesse no conhecimento científico e técnico, a partir da criação de cursos de pós-

graduação e do surgimento de publicações especializadas.

Além das universidades e centros de pesquisa, as empresas do ramo começaram a

se interessar em produzir e divulgar estudos empíricos e reflexões críticas sobre a

comunicação de massa. “Sua meta é a qualificação profissional, possibilitando o acesso

das novas gerações a estudos e pesquisas capazes de orientá-las a trilhar novos caminhos

na complexa engrenagem midiática” (MELO, 2003, p. 160-161).

112

Embora tenha surgido uma certa preocupação teórica, a real intenção do

mercado cultural era movimentar a sua própria cadeia de produção, através do

aperfeiçoamento das ferramentas de acompanhamento e de resposta do público, por

exemplo. Trata-se, portanto, da geração de conhecimentos técnicos aplicáveis

preponderantemente ao cenário das empresas de comunicação.

No início dos anos 70 foram criados os primeiros programas brasileiros de

mestrado em Ciências da Comunicação, na Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo (ECA/USP) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ). Ambos “se destinavam a formar docentes/pesquisadores para o sistema

universitário, acolhendo jovens professores de todo o país que ali buscaram

sedimentação acadêmica para atuar nos inúmeros cursos de graduação em comunicação

social que proliferaram em todas as regiões brasileiras” (MELO, 2003, p. 164).

O terceiro curso de mestrado da área no Brasil foi oferecido pela Universidade de

Brasília (UnB), sob a denominação Comunicação para o Desenvolvimento. Ao contrário

dos programas da ECA/USP e da UFRJ, cujo enfoque era a formação de um corpo

docente em Ciências da Comunicação, o objetivo do mestrado da UnB era formar

“especialistas para exercer funções técnicas específicas em comunicação, além de

capacitá-los em metodologia da pesquisa” (UnB citado por MELO, 2003, p. 164-165).

Os programas de pós-graduação foram o principal vetor de configuração do perfil

dos comunicólogos brasileiros. Além dos egressos dos cursos de graduação em

Comunicação Social, “alguns são profissionais da área que fizeram estudos pós-

graduados e outros são pesquisadores oriundos de áreas afins que se interessam pelos

fenômenos comunicacionais” (MELO, 2003, p. 165).

No estágio de institucionalização, a “massa crítica de comunicólogos ‘ilhados’

dentro dos campi” sentiu “a necessidade de intercomunicar-se e intercambiar

experiências”. A principal via de integração foram as tentativas de organizar eventos

com representantes das instituições pesquisa e ensino da Comunicação de todo o país.

113

No entanto, o insucesso das primeiras empreitadas “[...] esboçou a fisionomia da

nossa emergente comunidade acadêmica: frágil, conflituosa, fragmentada”. O I Encontro

de Professores de Comunicação, realizado em 1967 na UnB, por exemplo, só contou com

a presença dos pesquisadores da própria instituição e da ECA/USP (MELO, 2003, p. 166

e p. 167).

Em 1970, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) promoveu no Rio de Janeiro

o I Congresso Brasileiro de Comunicação. O evento reuniu estudiosos de São Paulo, Rio

de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, que até então

constituíam os principais núcleos de pesquisa comunicacional no Brasil (MELO, 2003, p.

168).

A aproximação proporcionada pelos encontros da comunidade acadêmica de todo

o Brasil fomentou iniciativas de constituição de instituições e associações de classe. Em

1972, surgiu a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa da Comunicação (ABEPEC),

que se dissolveu em 1985, por conta da dificuldade de conciliar os interesses de toda a

cadeia de agentes da Comunicação. Em 1977, foi criada a Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM). Em 1984, foi fundada a Associação

Brasileira de Escolas de Comunicação (ABECOM). E, em 1990, Associação Nacional dos

Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS) (MELO, 2003, p. 169 e p.

171).

Paralelamente ao estabelecimento formal do campo científico ocorreu um

“grande despertar” para a reflexão “sobre o se estava e como se estava pesquisando” em

Comunicação no Brasil. A principal razão desse amadurecimento foi a “crítica

epistemológica aos paradigmas científicos” do funcionalismo, da Escola de Frankfurt e

do estruturalismo. Como proposta alternativa se consolidou uma tendência de

“priorização de certos temas de estudo como as novas tecnologias de comunicação, as

políticas de comunicação e as formas populares de comunicação” (LOPES, 2000, p. 50).

114

A institucionalização configurou “uma comunidade acadêmica multifacetada que

inclui desde os produtores de conhecimento sobre os processos midiáticos aos analistas

de discursos e aos pesquisadores dos entornos e mediações culturais que marcam o perfil

dos fenômenos da reprodução simbólica na sociedade”. O desafio para o período

subseqüente da Comunicação foi o fortalecimento do campo e o combate à diluição dos

seus objetos de estudo (LOPES, M. I. V. de citada por MELO, 2003, p. 173).

A partir do fim dos anos 90, as Ciências da Comunicação no Brasil podem ser

determinadas como uma área em franco crescimento. Como indicador desse processo, é

possível analisar os indicadores bibliométricos do campo.

Maria I. Vassallo de Lopes divide o universo dos estudos comunicacionais

brasileiros em cinco períodos (até 1959, 1960-1969, 1970-1979, 1980-1989, e, 1990-

1995) e pondera que aproximadamente 40% da documentação científica da área foi

produzida apenas nos seis primeiros anos da década de 90 (LOPES, 2002, p. 57).

Em uma análise temática das dissertações e teses de todos os programas de pós-

graduação em Comunicação do Brasil, entre os anos de 1992 e 1996, Ida Stumpf e Sérgio

Capparelli apontam a produção de 754 trabalhos, número expressivamente maior do que

o total de 496 pesquisas concluídas em toda a década de 80. Os autores indicam ainda

uma tendência de diversificação dos assuntos pesquisados no campo, com destaque para

uma abertura disciplinar aos estudos sobre Semiótica, Literatura, Educação e Cultura

(STUMPF e CAPPARELLI, 2000, p. 246 e p. 249).

No plano temático, a globalização se consolidou como “um novo paradigma

epistemológico para as ciências sociais” e como “uma nova dimensão da cultura que

complementa, combina e altera a cultura nacional e a local”. Com isto, a Comunicação

retoma a discussão acerca da diversidade e da heterogeneidade cultural, entre outros

fatores (IANNI, Octavio e ORTIZ, Renato citados por LOPES, 2002, p. 55).

O impacto da globalização na comunicação é capitaneado pela

desnacionalização” do mercado de bens culturais brasileiros. Primeiro com da entrada

115

de grupos estrangeiros no processo de produção de conteúdos, por meio de parcerias

com a indústria nacional de entretenimento. E, principalmente, pela crescente

veiculação de conteúdo internacional nos meios de comunicação de massa (LOPES,

2002, p. 55).

Segundo Maria I. Vassallo de Lopes, “todas essas mudanças desafiam a pesquisa

impondo revisão e elaboração de novas categorias de análise”. A partir da preocupação

simultânea com a globalização é possível perceber uma aproximação entre a esfera

acadêmica e a indústria da Comunicação. Além do entendimento do fenômeno da

sociedade global, a convergência temática exigiu também uma reflexão sobre a

autonomia destes dois universos frente ao outro (LOPES, 2002, p. 55).

Outro movimento que parece ocorrer no fim do período de crescimento, no fim

dos anos 90, é o alinhamento entre a produção científica nacional e internacional, a

partir da corrente epistemológica dos estudos das redes de comunicação.

3.2.15 Estudos das redes de comunicação

De volta ao âmbito mundial, a última corrente epistemológica das Ciências da

Comunicação é denominada estudos das redes de comunicação. A partir dos anos 80, “a

sociedade é definida em termos de comunicação, que é definida em termos de redes”, ou

seja, a comunicação é o fio condutor de qualquer relação social, através de complexos

sistemas de interação entre pessoas, grupos, instituições etc (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 157).

Os estudos das redes de comunicação têm início com Everett Rogers, a partir de

uma revisão do difusionismo, modelo científico criticado pela falta de ligação entre os

sujeitos e pela ausência de conexão com o contexto. Tal paradigma foi substituído “pela

‘análise da rede de comunicação’ (communication network analysis). A rede compõe-se

116

de indivíduos conectados entre si por fluxos estruturados de comunicação” (ROGERS,

Everett citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 157).

Outro contraponto ao difusionismo surgiu com Bruno Latour e Michel Callon,

sob o nome de modelo da “tradução” ou da construção sociotécnica. “‘Traduzir’ é unir

em rede elementos heterogêneos; pela tradução são captados e articulados elementos

heterogêneos num sistema de interdependência”. Desse modo, a tradução ultrapassa as

relações entre homens e envolve as relações com a natureza e com objetos técnicos

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 157).

As ciências cognitivas também contribuíram para a pesquisa das redes de

comunicação, sobretudo a partir do conceito de inteligência artificial (IA). “No centro

da hipótese cognitivista, está a noção de representação. Ela induz uma maneira de

compreender o funcionamento do cérebro como dispositivo de tratamento da

informação, que reage de maneira seletiva ao meio, à informação proveniente do mundo

exterior. A IA pensa a organização como um sistema aberto em constante interação com

esse meio, com inputs e outputs” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 162-163).

Em oposição à noção da informação como um sistema aberto, os biólogos

chilenos Humberto Maturana e Francisco J. Varela desenvolveram a idéia de sistema

autopoiético (dos radicais gregos autos - “si mesmo” - e poiein - “produzir”). Assim, a

informação “não é preestabelecida como ordem intrínseca, mas como ordem que emerge

das próprias atividades cognitivas. O específico de nossa atividade cognitiva é o fazer

emergir, ‘criador de um mundo’” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 163-164).

No plano macroeconômico dos sistemas de comunicação, os conceitos de

dependência e imperialismo cultural são suplantados pelas questões relacionadas à

formação das grandes redes comerciais e privadas da informação.

A primeira diferença é velocidade com que as próprias empresas e corporações

organizam o mercado dos meios de comunicação de massa. Além disso, “o modelo

empresarial de comunicação foi promovido à tecnologia de administração das relações

117

sociais, impondo-se como único modo ‘eficaz’ para estabelecer o vínculo com os diversos

componentes da sociedade” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 167).

O processo de mercantilização da comunicação é marcado pela

transnacionalização e pela desterritorialização das organizações dedicadas à informação,

isto porque a capilaridade tecnológica possibilita conexões entre regiões isoladas

geograficamente. Dessa forma, poucas empresas tendem a ganhar muito poder, pois

conseguem liderar a produção de informação em escala mundial. As corporações

também se fortalecem porque se transformam “em produtores de teorias e doutrinas,

confundem o campo conceitual da comunicação na era mundialização” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 167).

O crescimento da indústria da comunicação tem impacto direto na quantidade (e

na qualidade) de informação produzida, o que suscita inúmeras problematizações e

teorizações.

Jean-François Lyotard propõe uma discussão “a respeito do estatuto do saber e

sobre os processos que afetam o modo de pensar, de ensinar e de tratar a informação, na

era da digitalização do signo e da nova aliança entre som, imagem e texto”

(MATTELART e MATTELART, 2000, p. 176-178).

Segundo Pierre Lévy, as redes de comunicação também possibilitam uma nova

ordem da comunicação, “graças às ‘infovias’ da era pós-mídia, que se tornam o suporte

de uma derradeira utopia da comunicação, a da ‘democracia em tempo real’” (LÉVY,

Pierre citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 178).

O psicanalista Félix Guatari acredita que “as máquinas tecnológicas de

informação e comunicação, da informática à robótica, passando pela mídia, operam ‘no

centro da subjetividade humana, não só em suas memórias, em sua inteligência, mas

também em sua sensibilidade, em seus afetos e em seu inconsciente’” (GUATARI, Félix

citado por MATTELART e MATTELART, 2000, p. 180).

118

Sobre a influência da comunicação em rede na vida das pessoas, Paul Virilio

destaca a relação do processo comunicacional com a questão do tempo na sociedade

moderna. Para o autor, “é a aceleração das mudanças sofridas por ela [a tecnologia] que

motiva um pensamento situado sob o signo de uma ‘dromologia’ (de dromos,

velocidade)” (MATTELART e MATTELART, 2000, p. 180).

Jean Baudrillard “vê nas escaladas tecnológicas e no aumento de sua sofisticação,

tanto em dimensão planetária, como na intimidade doméstica, o avanço de um sistema

de controle que é exaltado em nossa ‘fantasia de comunicação’: a compulsão geral por

existir em todas as telas e no interior de todos os programas” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 182).

A interligação entre o poder da comunicação e as formas de organização social

foi a principal questão abordada pelos estudos das redes, no entanto, ainda na década de

50, o canadense Harold Adams Innis já falava sobre o assunto. Segundo Innis, “o poder é

uma questão de controle do espaço e do tempo. Os sistemas de comunicação moldam a

organização social porque estruturam relações temporais e espaciais” (MATTELART e

MATTELART, 2000, p. 177).

Na transição entre os séculos XX e XXI, os estudos das redes convergem para um

efervescente momento científico, a partir das pesquisas sobre o impacto das novas

tecnologias da informação e da comunicação e sobre as questões do processo

comunicacional na internet. A era da internet é “um período histórico caracterizado por

uma revolução tecnológica centrada nas tecnologias digitais de informação e

comunicação, concomitante, mas não causadora, com a emergência de uma estrutura

social em rede. Isto ocorre em todos os âmbitos da atividade humana” (CUNHA, 2003).

O conceito de comunicação em redes foi retomado e revitalizado por Manuel

Castells. Segundo o pesquisador, “a formação de redes (conjunto de nós interconectados)

ganhou vida nova e foi energizada pela internet. Flexíveis e adaptáveis, as redes se

proliferam em todos os domínios da economia e da sociedade, desbancando corporações

119

verticalmente organizadas e burocracias centralizadas e superando-as em desempenho”

(CUNHA, 2003).

O estudo das redes digitais resgata também a questão da comunicação enquanto

fluxo/processo/sistema, idéia originalmente formulada pelos pesquisadores da teoria

matemática da informação. No entanto, ao invés de um fluxo linear, a era digital

preconiza um processamento contínuo da informação, a partir da “inserção do conceito

de agregação - a atividade de formatação da informação conforme as características do

meio e do seu público-alvo” (SAAD, 2003, p. 60).

A flexibilidade da plataforma tecnológica é uma das explicações para o sucesso da

rede mundial de computadores, porém, é necessário destacar também a sua capacidade

de sintetizar diversas linguagens comunicacionais. A internet é o meio de comunicação

de massa no qual texto, imagem, som e outras linguagens de expressão do homem

convergem de forma harmônica, com infinitas possibilidades de combinação e

ressignificação (CUNHA, 2003).

O princípio fundamental da mídia digital é o conceito da hipermídia, cujo

objetivo é possibilitar o acesso randômico às informações de qualquer natureza e

linguagem. Tal ferramenta enseja uma “tridimensionalidade da informação associada a

recursos comunicacionais” e facilita “como [as] mensagens podem ser construídas nesse

novo cenário de não-linearidade, em que começo, meio e fim ficam sob o controle do

usuário” (SAAD, 2003, p. 70-71).

A capacidade de convergência de linguagens da internet tem provocado algum

impacto nas mídias tradicionais, principalmente a partir da facilidade de personalização

dos conteúdos e da democratização do papel de emissor da informação. No primeiro

caso, “os meios, acostumados a falar para as grandes massas, a informar as grandes

audiências, encaram um paradoxo: a demanda por uma informação individual”. Por fim,

é possível citar a febre dos blogs, “uma iniciativa que começou associada aos diários

íntimos, hoje ganha uma perspectiva de espaço para narração de informações antes

120

restritas ao jornalismo”, com apropriação pelo próprio Jornalismo, com o surgimento de

páginas de profissionais vinculados ou não aos jornais tradicionais (CUNHA, 2003).

Entretanto, o crescimento da internet não implica necessariamente na extinção

do rádio, da televisão, do cinema ou de qualquer outro campo comunicacional. Como

aponta Roger Fidler, na era digital, os meios de comunicação tradicionais passam por um

processo de midiamorfose, que consiste em um estágio de adaptação e evolução às

transformações dos novos tempos, a partir do princípio de co-existência entre as diversas

formas de comunicação humana (SAAD, 2003, p. 55-56).

As transformações também têm ocorrido nas funções e elementos do fluxo

comunicacional, mas, “independente da força da alavanca tecnológica, o processo de

comunicação e seus valores intrínsecos não dispensam a existência de emissores,

receptores, mensagens e seus impactos no ambiente” (SAAD, 2003, p. 57).

Ainda na esfera do comportamento humano, Muniz Sodré* aponta para a

temporalidade fluída que caracteriza as sociedades contemporâneas, nas quais trabalho,

lazer e educação podem ocorrer simultaneamente. Temporalidade que afeta diretamente

princípios centrais da Comunicação.

Nesse contexto, o conceito de acontecimento, um dos paradigmas do Jornalismo,

perde o seu valor, afinal, um clique no computador pode substituir a formulação de uma

pauta ou de uma política editorial. As Relações Públicas, por sua vez, dispensam a

atenção especial exclusiva aos meios de comunicação e ampliam o foco de atuação para

toda a sociedade civil organizada. Nos dois casos, cada indivíduo aumenta o impacto do

seu papel de comunicador em potencial, através da capacidade de atingir um número

maior de pessoas e de interagir de inúmeras formas com elas, o que tende a consolidar a

força da sua mensagem.

* SODRÉ, Muniz. Epistemologia da Comunicação. Aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. S. P;, 29 de mar. de 2007.

121

A real transformação da mídia digital, de acordo com Derrick de Kerckhove**,

ocorreu com o estabelecimento da web 2.0, a partir do início deste século, quando se

consolida a configuração de uma inteligência hipertextual de uso e produção da

informação. Em primeiro lugar, as possibilidades de interação em rede crescem

infinitamente, com a criação de ferramentas colaborativas. Outra mudança é a

habilidade dos indivíduos em selecionar o que é informação relevante para si,

independentemente das fontes da mensagem, sejam elas jornalísticas, documentárias,

individuais, coletivas etc. E, os textos e os contextos perdem bastante espaço para as

etiquetas e rótulos, a partir de uma redução considerável dos significados e de um

movimento de total fragmentação do conteúdo.

O estudo das correntes epistemológicas das Ciências da Comunicação se revela

um caminho indispensável para entender os fatores e os atores da história deste campo

do conhecimento. Tal missão adquire maior relevância se consideramos, que,

atualmente, “[...] os meios de comunicação de massas constituem, ao mesmo tempo, um

setor industrial de máxima relevância, um universo simbólico que é objeto de consumo

em grande escala, um investimento tecnológico em contínua expansão, uma experiência

individual cotidiana, um terreno de conflito político, um sistema de mediação cultural e

de agregação social, uma maneira de passar o tempo etc” (WOLF, 2005, p. ix).

** KERCKHOVE, Derrick de. Brain frames, digital technologies and intelligence connected. Palestra promovida pelo Centro de Pesquisa da Opinião Pública (Cepop-Átopos) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 9 de novembro de 2007.

122

3.3 A natureza interdisciplinar

Segundo Olga Pombo, a interdisciplinaridade visa a integração dos saberes e

implica “[...] algum tipo de trabalho de colaboração entre duas ou mais disciplinas”

(POMBO, 1994, p. 8).

A Comunicação é “um campo vocacionado para a interdisciplinaridade, na

medida que seus objetos específicos são produtos cujo conteúdo está enraizado no

território das demais disciplinas que constituem o universo científico” (MELO, 2003, p.

60).

Para Isabel Ferin, “se é consensualmente aceito que as Ciências da Comunicação

devem ter como referentes os paradigmas vigentes nas Ciências Sociais e Humanas, não

é menos consensual que a sua tarefa se encontra extremamente dificultada pela

necessidade de recorrer a conceitos advindos de disciplinas constituídas” (FERIN, 2002,

p. 31).

Um dos exemplos de incorporação interdisciplinar é a validação metodológica.

Os estudos da Comunicação, em seu princípio, e mesmo atualmente, utilizavam

“métodos empregados nas pesquisas das ciências sociais, como a observação, a

experimentação e a comparação”. O objetivo era garantir legitimidade ao campo

comunicacional, a partir de métodos e práticas de pesquisas consolidadas

cientificamente (MELO, 1977, p. 45-47).

No nível institucional, outro ponto de observação da interdisciplinaridade, as

principais áreas de conexão com as Ciências da Comunicação são a Lingüística, a

Filosofia, a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia Social (FERIN, 2002, p. 31).

O paradigma essencial da Lingüística, proposto por Ferdinand de Saussure, é

também fundamental para a Comunicação. Trata-se da “compreensão da palavra como

fenômeno de interacção significante, na medida que a elege como fator primordial de

comunicação” (FERIN, 2002, p. 52).

123

A contribuição da pesquisa no campo da linguagem aos estudos comunicacionais

se estendeu por todo o percurso posterior à fundação da disciplina. Isso porque,

essencialmente, “as relações humanas, sejam elas quais forem, expressam-se pelos signos

e pelos símbolos”, que, por sua vez, são ampliados e ordenados a partir de inúmeras

combinações (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 44).

Os códigos lógicos, artísticos, estéticos e sociais são o principal produto dessa rede

de relações lingüísticas, e, assim como os signos e símbolos, se modificam

constantemente. Com o auxílio da ciência aplicada, da tecnologia e das fontes de

energia, tais elementos fomentaram o surgimento dos modernos meios de comunicação

de massa (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 52).

Também no campo das ciências da linguagem, a Semiótica, por meio de Roland

Barthes, estuda “a produção social de significações” e “as mistificações ideológicas” da

cultura. O mesmo pesquisador foi responsável por estabelecer uma ponte com as

Ciências da Comunicação e iniciou uma série de pesquisas sobre a “como fala mítica se

apresenta nas suas diversas manifestações”, por exemplo, no cinema, na fotografia e no

cotidiano urbano (FERIN, 2002, p. 55).

De forma ainda mais específica, os estudos da Pragmática Lingüística ressaltam a

importância da “relação dos signos com os seus utilizadores”. Ludwig Wittgenstein

propôs um “paralelismo completo entre o mundo dos factos reais e as estruturas da

linguagem”, uma “concepção que se encontra presente em muitas das análises sobre os

media, tanto na perspectiva da produção como da recepção”. Através da teoria dos atos

lingüísticos, John Langshaw Austin e John Searle apontaram a relação das atitudes

humanas com seu respectivo contexto lingüístico e situacional, a partir de um objetivo e

de uma intenção, voluntária ou não (FERIN, 2002, p. 58 e BITTI, P. R. e ZANI, B.

citados por FERIN, 2002, p. 58 e p. 59).

A relação das Ciências da Comunicação com a Filosofia ocorre em um nível

deliberadamente especulativo, em comparação com as outras áreas relacionadas aos

124

estudos comunicacionais. Por conta da natureza ensaística da pesquisa filosófica, são

conceitos mais abstratos e menos delimitados cientificamente (MELO, 1977, p. 26).

Entre as questões filosóficas estão a percepção humana e inata sobre a qual a

comunicação age metafisicamente, a indicação da preparação física natural do ser

humano para se comunicar, e, a sucessão histórica da herança social através da fala

(MELO, 1977, p. 27-29).

A contribuição da Sociologia para o campo da Comunicação consiste,

principalmente, na oferta de conceitos, que, foram renovados e operacionalizados pela

pesquisa comunicacional.

A noção de socialização, “processo pelo qual são transmitidas crenças, valores,

normas e atitudes aos novos membros da sociedade”, é o primeiro conceito operacional

transferido para as Ciências da Comunicação (FERIN, 2002, p. 63).

Isabel Ferin observa que existe uma socialização primária, que ocorre na primeira

infância, quando “o indivíduo desenvolve inter-relações pessoais com a família e os

grupos de proximidade, incorporando normas e estruturando a sua personalidade”, e,

uma socialização secundária, quando “o indivíduo confronta-se como os sistemas e

subsistemas sociais, assimilando e reorganizando as experiências particulares, em

contextos sociais e culturais mais latos” (FERIN, 2002, p. 64).

Em tese, a interferência dos meios de comunicação de massa incidiria apenas no

momento da socialização secundária do sujeito, no entanto, cada vez mais, veículos

como a televisão “tende[m] a sobrepor-se a todas as outras instâncias socializadoras, em

virtude de assumir, logo na pequena infância, um papel central de regulador de sanções

e estímulos positivos e negativos, veiculando normas e padrões de comportamento”

(FERIN, 2002, p. 64).

Nesse sentido, a Comunicação se aproxima de outra ciência social, a Educação.

José Marques de Melo apresenta a visão de John Dewey, que considera que a Educação

“[...] consiste primariamente na transmissão por meio da comunicação. A comunicação é

125

o processo da participação da experiência para que se torne patrimônio comum. Ela

modifica a disposição mental das duas partes associadas” (DEWEY, John citado por

MELO, 1977, p. 18).

De volta aos laços com a Sociologia, “as múltiplas dimensões da vida em

sociedade levam a constantes encenações do papel social pelos indivíduos e grupos,

perante si mesmos e os outros, originando inúmeros jogos e construções da realidade, ao

mesmo tempo que obrigam os actores sociais a assumir, num curto espaço de tempo e

em variados cenários, uma multiplicidade de papéis e identidades”. A definição de

papéis sociais é importante para a indústria da comunicação porque suscita a sua

capacidade de adaptação e inserção em variados contextos (FERIN, 2002, p. 65).

Dessa forma, na perspectiva de relação com o outro, o conceito de grupo é

fundamental. “O grupo é um dos elementos centrais da vida em sociedade,

caracterizando-se pela interdependência entre os seus membros e o reconhecimento

recíproco” (FERIN, 2002, p. 66).

A Sociologia, e, na nossa visão interdisciplinar, a Comunicação, vinculam os

grupos ao conceito de classe proposto por Marx. A classe social “é formada pelo conjunto

de indivíduos que ocupam a mesma posição no processo de produção”. Atualmente este

princípio é essencial para analisar as relações de consumo e venda, objetos de estudos

comunicacionais da Publicidade (FERIN, 2002, p. 67).

Os papéis, os grupos e as classes sociais convergem para a noção de estatuto,

fundada por Max Weber. Para o autor, o estatuto representa “a hierarquia das

representações, positivas e negativas, de prestígio e honra” que são naturais na

sociedade. Dessa maneira, Weber pondera que os conflitos sociais das culturas

democráticas e igualitárias podem ser definidos mais como uma luta em busca de

estatuto para um indivíduo ou para um grupo do que um conflito de classe (FERIN,

2002, p. 67).

126

Todos os conceitos sociológicos anteriormente citados, por sua vez, se

fundamentam nas questões de poder e ideologia, que exerceriam “[...] um enorme peso

interpretativo sobre os fenômenos e processos da Comunicação” (FERIN, 2002, p. 70).

Segundo Weber, “o poder constitui a capacidade de fazer triunfar no interior de

uma relação social a sua própria vontade, sendo necessário para tal superar as

resistências ou interesses que se lhe opõem”, seja através da persuasão ou por meio da

coerção. Niklas Luhmann complementa que o poder “[...] implica a existência de pessoas

em ambos os lados da relação de comunicação, imbuídas de vontade e possuidoras de

liberdade”, com o objetivo de distribuir oportunidades e construir consensos (FERIN,

2002, p. 68 e 69).

À ideologia, na visão de Marx, cabe a função de refletir “a consciência e a

racionalização que a classe dominante faz da realidade a partir da sua posição de classe e

dos seus interesses” de manutenção do estatuto e do poder (ROCHER, G. citado por

FERIN, 2002, p. 70).

Finalmente, para estruturar tantos conceitos, a pesquisa em Sociologia chega à

formulação da noção de sistema, “um conjunto de objetos ou entidades que se inter-

relacionam de forma a constituir um todo único”. Trata-se de um vetor complexo,

controlado, auto-regulado, subdivido, e, de certa forma, equilibrado, do qual as Ciências

da Comunicação não pode lançar mão para entender os seus processos e fenômenos

(LITTLEJOHN, S. citado por FERIN, 2002, p. 71).

A Antropologia, cuja preocupação central é “estudar o homem numa perspectiva

global”, é mais um campo do conhecimento de interação disciplinar com a

Comunicação. Por meio de subdisciplinas como a antropologia cultural e antropologia

social, se “pretende entender e explicar a diversidade da conduta humana, mediante o

estudo comparativo das relações e dos processos sociais no maior número possível de

sociedades”. O entendimento da faceta humana será preponderante, por exemplo, para

os estudos de audiência e da recepção de conteúdos (FERIN, 2002, p. 83 e 84).

127

Outra contribuição da pesquisa antropológica, em conjunto com outras áreas

como a Lingüística, a Filosofia e a Psicologia, é a delimitação do conceito de identidade.

Primeiramente, a partir da distinção entre a dimensão pessoal e a dimensão social. A

identidade pessoal é uma “elaboração interna consciente ou inconsciente, sobre as

experiências vividas e refletidas constituintes da imagem que o indivíduo tem de si

mesmo”. Já a identidade social “corresponde à imagem construída pelo indivíduo para os

outros, através das interacções sociais”. Também é possível falar em identidade cultural,

“em função das relações entre grupos sociais, seja na dimensão interpessoal, mediada,

mediatizada ou ainda a nível local ou global” (FERIN, 2002, p. 88 e 89).

A questão da identidade suscita a discussão acerca do conceito de representações

sociais, “as formas como os grupos, e os indivíduos dentro dos grupos tendem a olhar e a

descrever os outros e a si mesmos”. Em conseqüência, estas representações são

compartilhadas e fomentam outras formulações sociais, muito mais enraizadas,

denominadas estereótipos (FERIN, 2002, p. 89 e 90).

Mais um campo de aproximação curricular com a Comunicação é a Psicologia,

“ciência que visa estudar o homem na sua dimensão intrapessoal e interpessoal,

buscando modelos teóricos complexos capazes de propor leis e explicar fatos” (FERIN,

2002, p. 84).

Especificamente, “os estudos sobre mudanças de atitude têm influenciado

diretamente a reflexão sobre a propaganda e as audiências” e “os trabalhos sobre

influência social e consenso em decisões em grupo (Kurt Lewin) e os estudos sobre a

motivação (Festinger)” incidem sobre as análises da produção e dos efeitos dos media

(FERIN, 2002, p. 85).

É possível identificar ainda relações com outras disciplinas cuja própria

constituição também foi marcada pela interdisciplinaridade, como a Análise do

Discurso. Patrick Charaudeau estendeu a “noção de discurso ao conjunto dos processos

de enunciação”, o que inclui os fenômenos resultantes da interação entre o sujeito e a

128

mídia, por exemplo, “informação objectiva, democracia, deliberação social, denúncia do

mal e da mentira, explicação dos fatos e descoberta da verdade”. Mesmo na análise do

discurso tradicional, em nível individual ou grupal é possível observar relação com a

Comunicação. Teun A. Van Dijk aponta que “grande parte do nosso conhecimento

social e político, e muitas das crenças existentes hoje sobre o mundo [que refletem no

discurso dos sujeitos], derivam das leituras da imprensa ou da visualização dos

telejornais” (CHARAUDEU, Patrick e VAN DIJK, Teun A. citados por FERIN, 2002, p.

56 e 57),

Além do nível metodológico e do plano institucional, a interdisciplinaridade

pode ser analisada a partir da perspectiva da atuação do profissional da Comunicação. A

área é fundamentada nas construções e nos discursos, que, por sua vez, possuem temas,

assuntos e especificidades tão diversificadas que não podem ser abordadas por completo

e que não integram os currículos de formação do aluno. Nesse sentido, invariavelmente,

o comunicador necessita se especializar, ao complementar os seus estudos iniciais, seja

de maneira formal ou informal.

Hugo Levisolo propõe a classificação do currículo do comunicador em três

conjuntos: 1- formação cultural, 2- formação básica do campo disciplinar e 3- formação

técnica (LEVISOLO, 2002, p. 132-133).

O conjunto da formação cultural “abrange disciplinas de outros campos, como

filosofia, sociologia, psicologia, psicologia social, economia, história, lingüística e

estatística, entre outras, e tem por intenção criar uma base de conhecimentos

considerados necessários ou significativos para operar com o campo dos fenômenos

comunicacionais” (LEVISOLO, 2002, p. 132).

O segundo grupo de disciplinas “orienta-se a transmitir conhecimentos sobre

dimensões ou problemas da comunicação”, o que é efetuado por meio da “aplicação dos

conceitos e instrumentos desenvolvidos em campos disciplinares mais tradicionais”,

129

muitos dos quais já são estudados na ênfase de formação cultural (LEVISOLO, 2002, p.

132).

A abordagem da formação técnica consiste em ministrar conteúdos aplicáveis à

“realização de uma atividade ou função a ser realizada no seio da produção de

comunicações nos meios de comunicação ou nas empresas”. Trata-se da faceta

profissionalizante do campo comunicacional, que dá continuidade à formação que

anteriormente ficava sob a responsabilidade dos próprios meios de comunicação. A

diferença da formação no âmbito acadêmico é o “maior rigor no processo de seleção de

procedimentos e técnicas eficientes, usando recursos padronizados de metodologias de

pesquisa para seu controle” (LEVISOLO, 2002, p. 133).

Nos dois primeiros conjuntos, formação cultural e formação básica, a

interdisciplinaridade ocorre através da relação da Comunicação com os variados campos

do conhecimento citados anteriormente. No nível da formação técnica, a

interdisciplinaridade se implementa de modo invariável e imensurável, isto porque é

neste espectro que se localiza a necessidade de especialização do comunicador.

Nessa esfera de formação, o profissional da Comunicação se depara com o

discurso especializado de cada campo ou de cada assunto com o qual trabalha, o que

exige uma transversalidade temática, cuja materialização pode ser um curso de

especialização, a autoformação, outro curso de graduação, por exemplo.

Dessa forma, ressalta-se a “compreensão das Ciências da Comunicação como uma

área multidisciplinar de estudos em constituição, a partir de recortes disciplinares

teóricos e metodológicos” (FERIN, 2002, p. 30).

A necessidade de recorrer aos recursos teóricos de outras disciplinas é um

movimento natural para um campo do conhecimento moderno, como é o caso da

Comunicação. E é justificado por causa do encadeamento entre a história e a ciência,

ambas produções do homem e da sociedade. Não foi possível, tampouco seria desejável,

ignorar o passado das demais ciências sociais.

130

3.4 O objeto de estudo

O objeto de estudo das Ciências da Comunicação são os “[...] fenômenos

associados aos processos de produção, transferência e efeitos de sistemas de símbolos e

sinais” (BERGER, C. R. e CHAFFEE, S. H. citados por FERIN, 2002, p. 24).

A definição do conceito de comunicação não é tarefa simples, isso porque este é

um fenômeno extremamente complexo, diversificado e contextual. No entanto, é

possível afirmar que todos os conceitos de comunicação têm “como denominador

comum os processos de troca, recepção, partilha de conteúdos e significações”

(LITTLEJOHN, S. citado por FERIN, 2002, p. 23).

Segundo José Marques de Melo, “o objeto central do processo da Comunicação é

a informação, transmitida por um comunicador a um receptor, utilizando um canal e um

sistema de códigos específicos, e, posteriormente, recuperada para a transmissão de

novas informações” (MELO, 1977, p. 32).

Na visão de Luiz Beltrão e Newton de Oliveira Quirino, a natureza do processo

comunicacional é o “intercâmbio de elementos simbólicos mediante o qual os seres

humanos exprimem idéias, sentimentos e informações, visando a estabelecer relações e

somar experiências”. No entanto, os autores diferenciam a comunicação oral da

comunicação de massa, compreendida como “o processo industrializado de produção e

distribuição oportuna de mensagens culturais em códigos de acesso e domínio coletivo,

por meio de veículos mecânicos [...], visando informá-la, educá-la, entretê-la ou

persuadi-la” (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 56 e 57).

Para Décio Pignatari, “[...] a comunicação não é apenas a resposta, mas a relação

estabelecida pela transmissão de estímulos e pela provocação de respostas. O estudo dos

signos, das regras que o regem e de suas relações com os usuários ou intérpretes forma o

cerne do problema da comunicação” (PIGNATARI, 1981, p. 16).

131

Dessa maneira, “entende-se o conteúdo deste processo como mensagem. Mais do

que dados, esta mensagem insere-se em um contexto, é transformada pelo e transforma

o leitor. Unidade básica à produção de conhecimento, a informação estabelece-se como

mensagem no fluxo comunicacional” (BRAMBILLA, 2004).

Mauro Wolf lembra que os meios de comunicação de modernos são considerados

“[...] como parte de um único sistema de comunicação cada vez mais integrado e

complexo, que pode ser analisado em seus diversos aspectos (conteúdos veiculados,

modalidade de transmissão das mensagens, nível de eficácia, formas de produção) apenas

mediante uma abordagem multidisciplinar” (PORRO, R. e LIVOLSI, M. citados por

WOLF, 2003, p. xiv).

Neste mesmo sentido, Maria I. Vassallo de Lopes destaca “[...] a centralidade da

comunicação para o próprio modo organizativo da sociedade contemporânea, isto é, em

que a comunicação passa a operar ao nível das lógicas internas de funcionamento do

sistema social” (LOPES, 2004, p. 17).

Para Isabel Ferin, a comunicação “compreende todos os fenômenos de interacção

efetivados de forma presencial ou mediados por instituições, inclusive pelos media”.

Com base em formulação de J. B. Thompson, a autora propõe o estudo da comunicação a

partir de três dimensões: interpessoal, mediada e mediatizada (FERIN, 2002, p. 24).

A comunicação interpessoal é realizada diretamente entre dois ou mais sujeitos,

na qual “são fundamentais os mecanismos não verbais e verbais, determinados pelos

contextos culturais e de socialização, vividos pelos indivíduos desde o momento do seu

nascimento” (FERIN, 2002, p. 26).

Na segunda dimensão, “a comunicação mediada assenta nos processos de

socialização primários e secundários que, ao transmitirem comportamentos,

informações, hábitos e atitudes, criam condições de vida em sociedade”. As instituições

de socialização são, por exemplo, a escola, a família, a igreja e a mídia tradicional (rádio,

ltelevisão, jornal, cinema etc). Ganham importância as questões das linguagens (das

132

pessoas e dos meios de comunicação) e as tentativas de aproximação entre as esferas de

produção e consumo da informação (FERIN, 2002, p. 27).

Finalmente, a comunicação mediatizada “se realiza através dos media, dos novos

media e das indústrias culturais e de conteúdo”. A diferença para a dimensão anterior

consiste na ampliação, em escala global, da natureza mediadora dos meios de

comunicação de massa. Este conceito, no entanto, ainda não foi completamente

incorporado pela comunidade acadêmica da Comunicação, isto porque ele é “[...]

bastante complexo, na medida que em cada um dos segmentos constituintes encontra

‘ressonâncias’ de todos os outros segmentos” (FERIN, 2002, p. 27-28).

Muniz Sodré* reafirma esta abordagem, mas pondera que o objeto de estudo da

Comunicação pode ser observado a partir de duas perspectivas distintas. Numa análise

tradicional, que também pode ser denominada ontológica ou informacional, a área

estuda o processo de transmissão de mensagens de um ponto a outro. Já sob um ponto de

vista moderno, o foco de análise da Comunicação é a mediatização, ou seja, o

funcionamento articulado entre as instituições de mediação da sociedade cada vez mais

organizada e profissionalizada.

* SODRÉ, Muniz. Epistemologia da Comunicação. Aula inaugural do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 29 de março de 2007.

133

4 Relações entre Ciência da Informação e Ciências da Comunicação

As relações entre a Ciência da Informação e as Ciências da Comunicação podem

ser denotadas a partir de variados aspectos. Isso porque a própria história de ambos os

campos do conhecimento é caracterizada pela diversidade, sobretudo porque as áreas

têm como princípios fundamentais a interdisciplinaridade e a associação com esferas

aplicadas da informação e do conhecimento.

No decorrer deste trabalho alguns sinais desta aproximação já puderam ser

identificados, no entanto, além de identificar, é necessário ressignificar, atualizar e

discutir constantemente as ligações entre as duas áreas. Além de contribuir para o

debate epistemológico de cada campo, a discussão das relações entre CI e Ciências da

Comunicação pode favorecer o florescimento de um entendimento da co-existência e do

compartilhamento de informações.

A primeira modalidade de interconexão entre Ciências da Comunicação e

Ciência da Informação, no Brasil, pode ser denominada relação histórica. Nesse plano, as

relações entre os campos consistem em aproximações determinadas pelo percurso

histórico das disciplinas e das ciências em geral.

Na década de 60, a discussão do campo da Comunicação acerca do nome da área

do conhecimento, a partir da alternativa de utilização do termo Ciências da Informação,

suscitou a inclusão dos estudos da Documentação (uma das áreas de pesquisas

precursoras da atual Ciência da Informação) no rol das disciplinas de sua abrangência.

José Marques de Melo propôs uma classificação das Ciências da Comunicação em

três grandes grupos: Ciências da Informação Individual ou Grupal (Lingüística,

Educação, Folkcomunicação), Ciências da Informação Coletiva (Jornalismo, Propaganda,

Lazer), e, Ciências Fontes de Informação (Documentação, Estatística e Cibernética)

(MELO, 1977, p. 53).

134

Além da inserção do grupo de ciências da gestão da informação na classificação

das Ciências da Comunicação, a proposta de José Marques de Melo considera a

recuperação da informação um elemento preponderante e essencial no processo de

comunicação. Segundo o autor, “o estágio da recuperação compreende o

reaproveitamento de uma informação transmitida, seja em sua forma original, seja em

outra forma que por sua vez, vai atuar como fonte para a transmissão de novas

informações” (MELO, 1977, p. 32).

Figura 5. Modelo comunicacional de José Marques de Melo

CANAL

CANAL

FONTE

M5

M1 M2

M4

COMUNI-CADOR

RECEP-TOR

RECUPE-RADOR

1. ESTÁGIO

2. ESTÁGIO

1. ESTÁGIO - TRANSMISSÃO2. ESTÁGIO - RECUPERAÇÃOM1. MENSAGEM CODIFICADAM2. MENSAGEM DIFUNDIDAM3. MENSAGEM TRANSMITIDAM4. MENSAGEM RECUPERADAM5. MENSAGEM REAPROVEITADA

M3

135

O modelo proposto por Melo difere do tradicional modelo matemático da

informação, e das adaptações correspondentes, por explicitar a importância da fase de

recuperação da informação para a revitalização e continuidade do processo

comunicacional. No entanto, mesmo nas demais propostas de explicação do fluxo da

comunicação, a função da recuperação está presente, desempenhada pelo conceito de

feedback ou retroalimentação.

Outra ocorrência de composição única, mas não uniformizante, entre

Comunicação e Informação é a proposta de Cláudio Cardoso de Paiva. “Trata-se de uma

experiência que se realiza em contato com os vários campos da ação pragmática

(trabalho, vida, sociedade). Deste modo, é compreensível que o feixe de reflexões

teóricas sobre a informação e a comunicação dificilmente se deixe apreender nos limites

de um campo homogêneo; as chamadas ‘Ciências da Informação e da Comunicação’ se

definem antes enquanto um domínio do conhecimento que abrange diferentes

enfoques” (PAIVA, 2002, p. 167).

Segundo Luiz Beltrão e Newton Quirino, a concepção de José Marques de Melo

determina que a recuperação da informação “[...] está na raiz do próprio conceito de

comunicação”. No caso das organizações jornalísticas, por exemplo, as instituições

promotoras da recuperação da informação, nomeadamente arquivos e serviços de

documentação, possuem a função de colocar à disposição “[...] os antecedentes das

situações ocorridas que se devem transformar em notícia” (BELTRÃO e QUIRINO,

1986, p. 75).

Para Stumpf e Weber reforçam a idéia, ao afirmar que “[...] a rapidez, a

quantidade e os diferentes formatos de material midiático, essencial à produção do

conhecimento na comunicação, necessitam de armazenamento, recuperação e

acessibilidade” (STUMPF e WEBER, 2003, p. 131-132).

Dessa maneira, é possível destacar a aproximação histórica entre os campos da

Informação e da Comunicação também a partir da premência de desenvolver a pesquisa

136

do processo comunicacional em consonância com o pressuposto da importância da

recuperação da informação.

Ainda na interface entre os fazeres de cada área, Le Coadic destaca que os

serviços informacionais, “sob o efeito destas três categorias de mudanças - culturais,

econômicas e tecnológicas - tornaram-se multimídias de massa, como seus colegas da

imprensa escrita e audiovisual”. Isso porque, a partir dos serviços disponibilizados na

internet, o campo da Informação amplia e maximiza o seu público em potencial (LE

COADIC, 2000, p. 18).

As aproximações históricas entre os campos são evidentes, no entanto, a relação

entre Comunicação e Informação deve ser observada enquanto fenômeno localizado no

período histórico mencionado. Tal conjunção não se desenvolveu posteriormente, pelo

contrário, a Ciência da Informação se desvinculou dos estudos comunicacionais, em

busca de crescimento, amadurecimento e autonomia.

A junção do campo da Informação ao campo da Comunicação, ou vice-versa, é

característica da relação local entre as duas áreas do conhecimento. Em um plano geral,

é conveniente falar em relações locais, no plural, uma vez que em distintos países o

panorama de ligação entre os campos é diferente, e mesmo a conformação de cada

campo apresenta variações. No âmbito do nosso trabalho, é utilizado o termo relação

local, no singular, por conta do enfoque especial, a título de exemplo, dado ao

desenvolvimento das duas áreas na França.

A citação do caso francês é extremamente compatível com os objetivos do nosso

trabalho, uma vez que a Ciência da Informação francesa, em sua designação comum no

Brasil, “[...] apresenta na verdade a particularidade de estar ligada à pesquisa em Ciências

da Comunicação [também em sua denominação corrente brasileira]. Essa associação,

pouco comum na Europa e no mundo, na verdade influencia seu próprio

desenvolvimento” (COUZINET, 2004, p. 21).

137

Na França, as Ciências da Informação foram institucionalizadas em 1975, com a

criação da 52ª Seção do Comitê Consultivo das Universidades, órgão responsável pela

gestão da carreira dos professores-pesquisadores do país. Em outra esfera de pesquisas,

essencialmente no campo da Biblioteconomia, estavam os estudos da École Nacionale de

Chartes (COUZINET, 2004, p. 22).

Antes disso, durante os anos 60, pesquisadores dos temas leitura, leitores,

documentação, história do livro, mídias, cultura, entre outros, buscavam se aproximar e

se comunicar, “a fim de serem reconhecidos pela comunidade científica francesa”.

Também em 1975, eles criaram um comitê de estudos, que, em 1977, se transformou na

Societé Française des Sciences de L’information et la Communication (SFSIC) (TÉTU,

Jean-François citado por COUZINET, 2002, p. 23).

No entanto, Viviane Couzinet aponta que “ainda que, no plano institucional,

informação e comunicação estejam associadas, é bem possível identificar dois campos

distintos”. Os pesquisadores são atrelados ao campo das Ciências da Informação,

compatível com a junção da Ciência da Informação e das Ciências da Comunicação

brasileiras, e, os profissionais da informação são designados no âmbito da

Documentação, ou Ciências da Informação - Documentação (COUZINET, 2002, p. 23).

Nesse sentido, a relação local francesa entre Ciência da Informação e Ciências da

Comunicação, conforme a denominação brasileira, se configura preponderantemente no

plano institucional, embora neste grau de aproximação seja possível ocorrer variadas

trocas e simbioses científicas. Viviane Couzinet destaca que a proximidade entre os

campos incide principalmente na utilização de métodos de pesquisa comuns e

compartilhados (COUZINET, 2002, p. 27).

A partir das análises histórica e local é possível delimitar o tipo de relação

institucional entre Ciência da Informação e Ciências da Comunicação. As relações

institucionais revelam laços formais entre os organismos de ensino, pesquisa e extensão

138

dos dois campos, o que inclui cursos de graduação, programas de pós-graduação,

associações técnico-científicas, por exemplo.

Em nível de graduação, segundo Ida Stumpf e Maria Helena Weber, “[...] não

foram questionados os fundamentos da união dessas duas áreas do conhecimento e em

poucas universidades se manteve”. Entre as instituições em que persistem vínculos

formais estão a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

(ECA/USP) e a Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (FABICO/UFRGS) (STUMPF e WEBER, 2003, p. 128).

As autoras complementam que “nas universidades que decidiram pela junção dos

cursos de Comunicação e Biblioteconomia, isso foi considerado estratégia política,

servindo aos governos militares para neutralizar a voz dos ‘políticos e atuantes’

comunicadores pela convivência com os ‘passivos’ bibliotecários” (STUMPF e WEBER,

2003, p. 128).

A escassez de literatura especializada na discussão acerca da junção entre as

carreiras das Ciências da Comunicação e da Ciência da Informação, através do

correspondente curso de graduação em Biblioteconomia e Documentação, nos parece

apontar para certa insuficiência de preocupação da comunidade científica dos campos

em questionar tais contatos e aproximações.

No entanto, a ênfase no debate das relações entre as áreas é mais freqüente no

nível da pós-graduação. Historicamente, foram os programas de pós-graduação os

organismos de principal contato entre Ciência da Informação e Ciências da

Comunicação, embora os laços venham se extinguindo sucessivamente.

Hoje, o único programa de pós-graduação em que a interface entre as duas áreas

persiste é o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Faculdade de

Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(ANCIB, 2007).

139

Entre os anos de 1983 a 2003, os cursos de mestrado e doutorado do Instituto

Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) eram diretamente vinculados

ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do

Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). Cabe lembrar que o curso de pós-graduação do IBICT foi

pioneiro e fundamental para o desenvolvimento da área no Brasil (PPGCI/UFF, 2007).

Da mesma forma, no período de 1972 a 2005, a área da Ciência da Informação

esteve sob a designação do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Na longa

trajetória de vivência compartilhada, o grau de vinculação e o nome do programa

sofreram diversas modificações. A instituição foi a primeira e a única a oferecer titulação

em doutorado durante 12 anos, o que lhe confere grande responsabilidade no

aprofundamento dos estudos em Ciência da Informação no Brasil (PPG-CI/ECA/USP,

2007).

Aldo de Albuquerque Barreto* não concorda com a vinculação entre os campos,

ao afirmar que “a ciência da informação e a comunicação não têm a mesma história, o

mesmo desenvolvimento, nem igual operacionalização de seus atos e teorias. Seu objeto

é diferente”.

Segundo o autor*, a diferença consiste nos objetivos das duas áreas do

conhecimento. Enquanto “a comunicação transfere mensagens para atingir um maior

público comum, com a intenção de propagar idéias, moldar e influenciar a opinião do

‘público’ ou entreter”, a “Ciência da Informação comemora o seu gerador, nomeia seu

autor. Estuda com carinhoso afinco o seu receptor e as suas necessidades de informação

e faz dele um perfil, que pode ser somente um indivíduo ou um grupo com coesão de

interesses informacionais específicos”.

Em complemento, Maria de Fátima G. M. Tálamo observa que as Ciências da

Comunicação estudam o “conjunto dos meios que atingem um público amplo, * BARRETO, Aldo de Albuquerque. Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí. E-mail enviado à lista CInforme em 24 out. 2006.

140

diversificado e não individualizado (efeitos de uniformização das mensagens, de

modelização e de manipulação do público, visto como destinatário passivo e acrítico)”. Já

para a CI “o ator social não é passivo, é potencial produtor de conhecimento/informação;

[e as] variáveis do processo encontram-se em relação solidária: domínio de atuação (do-

cumento e seus conteúdos) X usuário como ator social” (TÁLAMO, 2005, p. 5-7 e 17).

Nesse sentido, Ida Stumpf e Maria H. Weber apontam que “a grande diferença

entre os dois campos de conhecimento parece residir no caráter persuasivo da

comunicação. [...] Trata-se, em essência da manipulação de informações” (STUMPF e

WEBER, 2003, p. 131).

No contexto das novas tecnologias da informação e da comunicação, é necessário

questionar tal vantagem de individualização e da personalização do atendimento como

qualidade exclusiva dos serviços de informação, pois esta tendência já encontra

correspondência nos meios de comunicação de massa. Além disso, embora existam

diferenças entre os objetos de estudos da CI e das Ciências da Comunicação, conforme

foi observado na trajetória de desenvolvimento de cada disciplina, a essência de ambos

os campos é o processo de comunicação da informação.

Desse modo, a questão da vinculação institucional dos cursos de pós-graduação

nos parece naturalmente fundamentada, afinal, os laços existentes entre as duas áreas se

colocam mais fortes e sólidos do que as diferenças persistentes. Tal aproximação ganha

ainda mais sentido se, comparativamente, analisarmos a relação da Ciência da

Informação com qualquer outro campo do conhecimento.

As três modalidades de aproximação até aqui discutidas (relação histórica, relação

local e relação institucional) dão margem a uma interpretação da Ciência da Informação

e das Ciências da Comunicação por meio da relação comparativa entre as disciplinas, um

viés de análise mais especulativo.

Com base na literatura científica da outra área é possível observar orientações de

pesquisa, sem desconsiderar, evidentemente, a preocupação em verificar a pertinência

141

destas questões ao próprio campo específico. Isso porque a história de cada área pode

iluminar caminhos de pesquisa ainda não explorados pela outra, ainda que a

transferência de modelos não seja simples e direta.

A comparação histórica entre os dois campos aponta que apenas recentemente a

Ciência da Informação passou a se dedicar ao auto-questionamento metodológico, um

dos principais fundamentos de qualquer ciência. Ainda que os estudos em Comunicação

reclamem a falta de atenção a esta vertente, este campo ao menos inclui a reflexão

metodológica em sua agenda de discussões há mais tempo.

Por outro lado, a pesquisa em Ciências da Comunicação praticamente não

desenvolve estudos através dos modelos científicos da Ciência da Informação. São

escassos os trabalhos comunicacionais relacionados a análises de citação (bibliometria e

infometria), que, assim como as reflexões metodológicas, também são importantes

instrumentos de avaliação do estado da arte de um campo do conhecimento.

Nesse sentido, Olga Tavares pondera que “as fundamentações teóricas de ambas,

informação e comunicação, quando estudadas em conjunto, precisam tornar-se mais

consistentes e melhor definidas, no sentido de as colocarem sob o estatuto da ciência

para que se chegue a resultados mais objetivos e precisos” (TAVARES, 2002, p. 146).

A comparação no âmbito temático aponta que as Ciências da Comunicação têm

se dedicado “aos estudos de audiência, persuasão, indústria cultural, identidades

culturais e, mais recentemente, à revisão de seus conceitos implicada pelas novas

tecnologias”. Já a Ciência da Informação tem se preocupado “com a organização, o

crescimento e a distribuição do conhecimento documentado, a relação entre sistemas de

registro e recuperação e seus usuários, além de uma constante revisão do próprio

conceito de informação, dada a abrangência de tal campo” (BRAMBILLA, 2004).

Outro critério passível de comparação é o crescimento da produção

informacional nas esferas de intervenção de cada campo. A explosão quantitativa da

informação foi gerada, e ao mesmo tempo afetou, “três instituições eminentemente

142

modernas: o sistema produtivo capitalista, o Estado e os serviços de utilidade pública e a

Ciência” (FERNANDES, 1995, p. 27).

Segundo Meadows, “todos os meios de comunicação de massa têm ampliado a

produção de informação nas últimas décadas (mais páginas nos jornais e mais canais de

rádio e televisão). No entanto, a produção de pesquisas [científicas] aumentou com

rapidez ainda maior, de modo que o problema da seleção não se tornou mais fácil”

(MEADOWS, 1999, p. 151).

No bojo da comparação entre os campos é possível identificar tendências de

deslocamento da Ciência da Informação para os estudos das questões comunicacionais.

“A informação, que antes era tida como estoque a ser preservado e tinha seus estudos

calcados unicamente nas formas de registro segundo os parâmetros do conhecimento

científico, é tomada agora no seu sentido dinâmico. Nele os processo de circulação

assumem importância social, determinando que a distribuição e o acesso à informação

sejam tratados como questões sócio-político-econômicas, de natureza pública, portanto.

A informação não se apresenta mais como uma questão individual, é um problema

social” (KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 11).

Tal orientação da pesquisa em CI, no entanto, pode ser considerada um

movimento natural, em sintonia com as transformações dos valores sociais da

informação. Isso porque, “por outro lado, a qualificação da informação pela etimologia

da palavra, a associa objetivamente ao coletivo. Verifica-se, por essa via, que a sua

importância encontra-se relacionada ao fato de a mesma promover modos de

organização social que vão além de noções espaciais e territoriais: a agregação dos

indivíduos, assim como a segregação entre eles, faz-se pela informação, sua circulação,

distribuição e consumo” (KOBASHI, SMIT e TÁLAMO, 2001).

Le Coadic (2000, p. 12-13 e p. 16) propõe ainda outra vertente de comparação,

por meio da análise das tradições profissionais dos campos, a partir da Biblioteconomia e

do Jornalismo. Cabe ressaltar que estas duas áreas são os principais contextos de pesquisa

143

da literatura especializada em Ciência da Informação e Ciências da Comunicação,

respectivamente. Tal ocorrência suscita inclusive um questionamento acerca do

privilégio e da concentração das análises em domínios que refletem apenas parcelas de

cada campo científico.

Em síntese, portanto, em uma visão limitada, a Biblioteconomia está para a “arte

de organizar bibliotecas” como o Jornalismo está para a “arte de organizar um jornal,

uma rede de rádio ou televisão”. O Jornalismo responde aos problemas de coleta (e não

coleção) de informações com o objetivo de produzir documentos, sejam eles audiovisuais

ou textuais. À Biblioteconomia concerne a gestão de acervos de documentos, através das

práticas de formação, desenvolvimento, classificação, catalogação e conservação, por

exemplo. A convergência entre as duas áreas consiste na atenção ao público, seja ele o

usuário/cliente/leitor dos serviços informacionais ou o receptor/leitor/ouvinte/

telespectador dos meios de comunicação de massa (LE COADIC, 2000, p. 12-13 e p. 16).

Sob outra perspectiva, a ligação entre Ciências da Comunicação e Ciência da

Informação pode ser designada em termos de uma relação intermediada pela cultura. A

cultura é um dos campos de conexão das interfaces entre as duas disciplinas, afinal, as

instituições de mediação das duas áreas têm o objetivo correlato de produzir e transmitir

as formas e os conteúdos simbólicos das culturas e das sociedades.

Atualmente, as culturas podem ser compreendidas “[...] como formas de

apropriação de sentidos presentes em mensagens de natureza diversa. Estas mensagens

emergem a todo o momento actualizadas, como forma de afirmação de uma identidade,

sendo indissociáveis dos contextos em que se inserem, das instituições de mediação a

que se vinculam, assim como dos valores, das formas de espiritualidade e criação

humana” (FERIN, 2002, p. 10).

Entre os meios de comunicação da memória cultural das sociedades estão os

acervos das bibliotecas, arquivos e museus, cuja atividade é orientada pelas discussões do

campo da Ciência da Informação. A aproximação com as Ciências da Comunicação

144

consiste na consideração de que “estes acervos vão constituir as potenciais referências do

segmento que formata conteúdos simbólicos adequados a hipotéticos receptores, os quais

exercem sua capacidade de descodificação de mensagens, negociando-as em função das

suas heranças culturais e das suas vivências quotidianas” (FERIN, 2002, p. 28).

Com o advento dos meios de comunicação de massa, constitui-se o conceito de

cultura de massa, que “[...] decorre da coexistência e das tensões das sociedades

policulturais modernas, onde estão presentes diversas culturas, determinantes e

determinadas por interacções múltiplas (pessoais, familiares, escolares, nacionais,

religiosas, políticas, promovidas pelos media...)” (FERIN, 2002, p. 125).

Dessa maneira, “a indústria cultural, estruturada a partir da exploração

sistemática de um desejo consumista da cultura, padronizou o conteúdo informativo das

mensagens, simplificando os processos cognitivos e abrindo, ao mesmo tempo, um

amplo leque de opções de informação para um público ávido e carente que, até pouco

antes, estava à margem dos circuitos do saber” (ODDONE, 1998, p. 5).

O conceito de cultura apresenta determinada transversalidade ao se relacionar

com a CI e as Ciências da Comunicação. Isabel Ferin indica pontos de conexão entre

cultura e comunicação, nos quais podemos incluir o campo da informação. Dessa

maneira, “ambas se encontram no âmago da actividade humana; podem ser formalizadas

através de códigos e tecnologias; são simultaneamente individualizadas e partilhadas por

um grande número de pessoas; estão sujeitas a rituais de aprendizagem inerentes a

hábitos, costumes, inovações e rupturas” (FERIN, 2002, p. 48).

Nesse sentido, CI e Ciências da Comunicação podem ser considerados campos de

estudos dos significados. Na interface entre as áreas, “a problemática da informação, na

Ciência da informação, aproxima-a do campo teórico da Teoria da Comunicação,

precisamente porque ambas operam com o sentido. Pode-se afirmar, nessa perspectiva,

que a informação documentada é objeto material da Ciência da Informação, enquanto os

145

processos de sua estruturação para o fluxo e a recepção são seu objeto formal”

(KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 10).

Também na esfera dos campos promotores da aproximação entre Comunicação e

Informação, é possível destacar a relação intermediada pela Lingüística. Como vimos

anteriormente nos históricos das áreas, os estudos lingüísticos fundamentam os

princípios científicos de ambas as disciplinas.

A linguagem é o conjunto de estruturas minimamente necessário para a

construção da informação e para a sua posterior comunicação. Dessa maneira, “em toda

comunicação há implícita uma informação porque não se pode prescindir de uma carga

cognitiva no menor gesto comunicativo que seja” (TAVARES, 2002, p. 140).

Ana Maria Brambilla fala em subordinação dos campos comunicacional e

informacional à linguagem, uma vez que a informação passa necessariamente pela

mediação da linguagem. Além disso, “enquanto sistema, a linguagem torna a memória

coletiva algo inteligível, registrável e transmissível, a transforma, portanto, em

informação” (McGARRY, Kevin citado por BRAMBILLA, 2004).

A Lingüística foi essencial para a ampliação da definição dos conceitos de

comunicação e informação, originalmente atrelados às tecnologias, aos meios e aos

suportes, como exemplifica a teoria matemática da comunicação. Os estudos

lingüísticos, em conjunto com as pesquisas semânticas e semióticas, acrescentaram os

conceitos de fluxos de idéias e de mensagens cheias de significado aos temas de trabalho

da CI e das Ciências da Comunicação (OLIVEIRA, 2005, p. 24-25).

Em síntese, “colocando em discussão os códigos, os signos, as formas simbólicas,

as cadeias de significação, os modos de produção de sentido, os estudos de linguagem nos

permitem compreender as montagens e desmontagens dos significados formalizados

pelos meios de informação e de comunicação” (PAIVA, 2002, p. 191).

Dessa maneira, é possível dizer que as duas disciplinas prescindem (e continuarão

a prescindir) necessariamente da Lingüística. E, atualmente, os dois campos de estudos

146

também incluem suas questões e discussões na pesquisa lingüística. As convergências são

tão grandes a ponto de tornar extremamente complicado identificar os limites de uma

área em relação às outras.

Até porque, as imbricações lingüísticas são determinantes na proposição de

variações nas designações de comunicação e de informação. Como observam Rafael

Capurro e Birger Hjorland, “o fato de que o conceito de comunicação de conhecimento

tem sido designado pela palavra informação parece, a primeira vista, um acontecimento

lingüístico” (CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 149).

A interface da Ciência da Informação com as Ciências da Comunicação pode ser

analisada também a partir da estreita relação com as tecnologias de produção e

reprodução da informação.

Em princípio, à Ciência da Informação coube a gestão do conhecimento

previamente produzido. Ainda que com o objetivo de facilitar a produção da informação

pelo leitor, esse paradigma ainda estava essencialmente atrelado à inexistência do papel

de produtor no âmbito dos serviços de informação. Esse panorama nos parece explicar a

insuficiência de uma relação imediata da informação com o processo de comunicação.

Também em uma visão tradicional, a natureza dos meios de comunicação de

massa era “o processo industrializado de produção e distribuição oportuna de mensagens

culturais em códigos de acesso e domínio coletivo, por meio de veículos mecânicos

(elétricos/eletrônicos), aos vastos públicos que constituem a massa social, visando a

informá-la, educá-la, entretê-la ou persuadi-la” (BELTRÃO e QUIRINO, 1986, p. 57).

No entanto, como exemplifica Ivete Pieruccini, “a invenção dos suportes de

inscrição das representações, concedendo-lhes possibilidades de circulação para além do

âmbito imediato dos produtores, instituiu um novo paradigma de mediação, não mais

exclusivamente natural, dependente do aparato biológico dos sujeitos” (PIERUCCINI,

2004, p. 31).

147

Ainda Pierucinni observa que “o novo quadro de desenvolvimento de

tecnologias, portanto, não significa tão somente a concorrência de novos meios de

transporte de informação à distância. Trata-se do estabelecimento de uma nova ordem

história mundial, de novas concepções, modos e recursos de configuração da sociedade e

da informação” (PIERUCCINI, 2004, p. 32).

Nas palavras de Edgar Morin, trata-se do processo de “tecnologização” da

informação e da comunicação, onde “a esfera de informação encontra-se de tal forma

tecnologizada, não sendo incomum confundir os meios das mediações”. Para solucionar

tal problema, cabe às ciências “[...] não somente uma posição epistemológica que

incorpore a tecnologia como meio, e não como fim, poderá livrar-nos da submissão à

tecnoesfera” (MORIN, Edgar citado por KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 16).

Segundo Ronald Day, “a facilidade com que as tecnologias de informação

convergem para as tecnologias da comunicação, e vice-versa - por exemplo, no caso da

Internet que é entendida como meio, tanto de comunicação quanto de informação -

sugere que a tentativa de definir a diferença 'real' entre ambos os termos é menos

importante do que a de acompanhar sua congruência história na teoria e na prática”

(DAY, Ronald E. citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 188).

Dessa maneira, “a obsolescência de conceitos envolvendo as mídias e o

direcionamento para uma personalização cada vez maior de conteúdos são dois fatores

que começam a se desenhar no atual horizonte, envolvendo as áreas da comunicação,

informação e tecnologia. Isto ocorre por intermédio das possibilidades tecnológicas

acessíveis e também amigáveis, onde comunicação e informação misturam-se no

processo, tornando muitas vezes nebulosas as fronteiras, especialmente no que diz

respeito às diferentes utilizações das tecnologias e ainda sobre quem produz os

conteúdos que circulam cada vez mais sem controle” (CUNHA, 2003).

Os novos usos das tecnologias cumprem, assim, o papel de unir os paradigmas da

Ciência da Informação e das Ciências da Comunicação, por meio da indistinção entre

148

funções de emissão e recepção de mensagens. Os meios de comunicação e os serviços de

informação passam a operar como espaços privilegiados de facilitação e de fruição da

informação, em uma conformação que consiste pura e simplesmente no processo de

comunicação.

Outra modalidade de vinculação entre Ciência da Informação e Ciências da

Comunicação pode ser denominada como relação interdisciplinar. Como vimos

anteriormente, a interdisciplinaridade é um dos estágios de aproximação entre as

ciências, o que a aponta como uma das principais perspectivas de análise das relações

entre campos do conhecimento.

A base de compartilhamento interdisciplinar das áreas pode ser observada sob

dois prismas. “Num universo amplo, ambas dão suporte a outros campos do saber”, por

conta da transversalidade natural das ciências que tratam da linguagem e do discurso.

Em uma abordagem específica, “tanto a uma quanto a outra cabem visões tecnológicas,

educacionais e/ou sociológicas” (TAVARES, 20002, p. 147).

A interdisciplinaridade pode ocorrer em diversos níveis e planos, mas, segundo

Le Coadic, as principais formas de relação interdisciplinar são aquelas explícitas pelas

aproximações entre conceitos, métodos, leis, modelos e teorias (LE COADIC, 2000, p.

55).

No bojo da discussão entre os laços interdisciplinares, uma das principais facetas

de análise é a relação entre conceitos da CI e das Ciências da Comunicação. Aos

conceitos cabe delimitar precisamente a abrangência do significado de um termo para

determinado campo do conhecimento. Dessa forma, o estudo dos conceitos nos permite

encontrar consistentes aproximações entre as duas disciplinas.

Sobre a importância dos conceitos, a partir dos seus usos interdisciplinares pos-

síveis, Olga Tavares indica que “em nível epistemológico, o excesso de conceitos escolhi-

dos sem uma reflexão crítica e relacional tem contribuído para a apresentação de traba-

lhos equivocados. Não se pode é, sob a justificativa da interdisciplinaridade, fazer uso de

149

determinados fundamentos teórico-metodológicos indiscriminadamente, sem um exame

prévio da delimitação do objeto a que se propõe investigar” (TAVARES, 2002, p. 146).

Em todas as ciências, os conceitos traduzem “proposições acerca de observações

devem ser expressas na linguagem de alguma teoria. Conseqüentemente, discute-se que

as proposições e os conceitos que nelas figuram serão tão precisos e informativos quanto

a teoria em cuja linguagem se apóiam seja precisa e informativa” (CHALMERS, Alan

Francis citado por CAPURRO e HJORLAND, 2007, p. 152).

Entre os principais conceitos para os dois campos está a noção de informação.

“Ainda que informação, para cada uma das áreas, tenha particularidades fundamentais,

ambas partilham de um conjunto de concepções que pode ser traduzir informação por

um quase-sinônimo do termo fato, um reforço do que já se conhece, a liberdade de

escolha ao selecionar uma mensagem, a matéria-prima da qual se extrai o conhecimento,

aquilo que é permutado com o exterior e não apenas recebido passivamente, definida em

termos de seus efeitos no receptor ou ainda algo que reduz a incerteza em determinada

situação” (McGARRY, Kelvin citado por BRAMBILLA, 2004).

Daniel Bougnoux ressalta que “os conceitos de informação e comunicação são

inversamente relacionados. A comunicação está relacionada à previsibilidade e à

redundância, enquanto a informação, com o novo e o imprevisto. Não há informação

pura ou informação em si (isto é, a informação está sempre relacionada a algum tipo de

redundância ou ruído). Informar (aos outros ou a si mesmo) significa selecionar e

avaliar. Este conceito é particularmente relevante no campo do jornalismo ou mídia de

massa, mas, obviamente, também em CI” (BOUGNOUX, Daniel citado por CAPURRO e

HJORLAND, 2007, p. 173).

Segundo Paiva, “a informação enquanto vetor de comunicabilidade, desta

maneira, inscreve-se como uma faculdade de permuta, de troca e de mutualidade,

implicando no ritual de aproximação de um espírito ‘comum’” (PAIVA, 2002, p. 171).

150

Na perspectiva da Ciência da Informação, a disciplina “preocupa-se com a

pesquisa científica e a prática profissional relativas à comunicação, necessidades e uso da

informação em contextos sociais, institucionais e individuais. Informação e comunicação

são as palavras-chave de sua proposição” (KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 13).

Capurro e Hjorland apontam que “quando usamos o termos informação em CI,

deveríamos ter sempre em mente que informação é o que é informativo para uma

determinada pessoa. O que é informativo depende das necessidades interpretativas e

habilidades do indivíduo (embora estas sejam freqüentemente compartilhadas com

membros de uma mesma comunidade de discurso)” (CAPURRO E HJORLAND, 2007, p.

154-155).

Nesse sentido, parece legítima e enriquecedora a intenção de ampliar a discussão

da Ciência da Informação para os processos e os fenômenos de geração, comunicação e

uso da informação. E, de modo operacional, a interface com as Ciências da Comunicação

pode contribuir para o entendimento deste caráter comunicacional da Ciência da

Informação, e, porque não, para um certo esclarecimento do caráter informacional do

campo da Comunicação.

No nosso trabalho, selecionamos o estudo das relações conceituais entre

Comunicação e Informação a partir dos conceitos representação documentária,

mediação e comunicação científica. A escolha destes três exemplos considerou a

relevância dos conceitos para o campo da Ciência da Informação, e a correlação com as

Ciências da Comunicação.

151

4.1 Representação documentária

Os serviços de informação, prestados por pessoas ou por instituições, são a

principal modalidade de prática e de aplicação dos estudos da Ciência da Informação.

Com o objetivo de favorecer o acesso à informação, os serviços de informação

desenvolvem atividades e processos que envolvem os fenômenos de construção,

comunicação e uso da informação (LE COADIC, 2000, p. 25).

O processo de construção da informação envolve, basicamente, “a aplicação do

raciocínio ao corpo de conhecimentos acumulados ao longo do tempo e armazenados

nas bibliotecas e centros documentação”. Relaciona-se, portanto, à necessidade de

circulação (comunicação) e à utilização (uso) anterior da informação (LE COADIC,

2000, p. 26).

O papel da comunicação da informação consiste em promover e assegurar o

intercâmbio dos trabalhos, das pesquisas e de qualquer outro tipo de informação entre as

pessoas potencialmente interessadas. Trata-se da função de mediação entre o estágio

inicial (construção) e o estágio final (uso) do processo de transferência da informação

(LE COADIC, 2000, p. 31).

Finalmente, “usar informação é trabalhar com a matéria informação para obter

um efeito que satisfaça a uma necessidade de informação”. Dessa maneira, o uso da

informação envolve o estoque de conhecimento do assunto (construção) e a

identificação da informação pertinente nesta massa informacional (comunicação) (LE

COADIC, 2000, p. 38).

O trinômio construção, comunicação e uso é uma proposta de modelização social

do processo de transferência da informação, cujo objetivo é explicar os fenômenos

relacionados ao ciclo informacional de modo harmônico e interacional (LE COADIC,

2000, p. 10).

152

Figura 6. O ciclo da informação, por Yves François Le Coadic

Para identificar as relações da Ciência da Informação com as Ciências da

Comunicação, e assim manter o foco do nosso trabalho, privilegiaremos a análise da

etapa de comunicação da informação, com atenção especial aos processos de

representação da informação.

A representação da informação é uma das atividades mais tradicionais dos

centros e serviços informacionais. Entre os seus objetivos estão o controle bibliográfico e

documentário, a gestão das coleções e dos acervos, e, principalmente a representação

temática da informação. Para tanto, a Ciência da Informação desenvolveu inúmeros

métodos de análise da informação.

A catalogação visa “escolher como palavras que servirão de entradas no catálogo

as que descrevam a origem do documento: nomes de autores, editores, lugar, data,

língua de publicação, título do documento”. A análise de co-citações consiste em

verificar a co-ocorrência das menções entre trabalhos de uma mesma área de atuação. À

análise de termos associados cabe verificar “as palavras-chave [que] indicam quais são os

assuntos relevantes em determinado setor de pesquisa em dado momento”. Também

podem ser citados o processo de reformulação de textos (resumos), a análise quantitativa

da informação (infometria) e a indexação (LE COADIC, 2000, p. 64-67).

A indexação consiste na seleção de assuntos representativos do conteúdo de um

texto. Dessa forma, a indexação também é denominada representação temática,

Comunicação

ConstruçãoUso

153

representação de conteúdo, ou ainda, representação documentária, termo preferido em

nosso estudo.

F. Wilfrid Lancaster propõe a visualização do fluxo da representação

documentária através de um modelo, preparado especialmente para explicar as funções

detalhadas dos sistemas de recuperação da informação (SRI) (figura 7). É importante

ressaltar que, na proposta do autor, este sistema está inserido no cenário de um ciclo de

transferência da informação.

Para Lancaster, o processo de indexação envolve dois passos distintos: a análise

conceitual propriamente dita e a tradução da análise conceitual para determinado

vocabulário. A análise conceitual consiste em reconhecer os assuntos dos quais o texto

trata, a partir da capacidade de uso do usuário do sistema de informação. Já á tradução

abrange relacionar os assuntos selecionados na análise conceitual aos códigos de

representação documentária utilizados no sistema de informação (LANCASTER, 1979,

p. 9).

A partir dos anos 90, em proposta de Antonio Garcia Gutiérrez, os estudos sobre

a representação do conteúdo da informação convergiram para a Lingüística

Documentária, um subdomínio da Ciência da Informação. Este ramo da CI “preocupa-se

com os problemas decorrentes dos processos simbólicos do tratamento e da recuperação

da informação, buscando pesquisar soluções que diminuam a distância entre os estoques

e o uso da informação a partir dos estudos das estruturas simbólicas da documentação,

das questões lingüísticas de mediação entre produtores e consumidores da informação e

da ligação entre os processos documentários e a construção e verbalização da

informação” (LARA, 2007, p. 4).

154

Figura 7. Sistema de recuperação da informação, por F. Wilfrid Lancaster

Nesse sentido, “entende-se como representação documentária o produto

resultante de um processo de análise e síntese do conteúdo dos textos. A síntese

documentária, por sua vez, pode transformar-se numa outra representação quando in-

temediada por uma Linguagem Documentária”. A primeira relação deste processo com o

155

campo das Ciências da Comunicação consiste em que, “enquanto representação, estes

produtos instauram situações de comunicação ‘documentária’” (LARA, 1997, p. 74).

Maria Salet Ferreira Novellino, no entanto, problematiza o caráter

comunicacional do conceito de representação documentária, ao afirmar que “este é um

processo isolado do contexto no qual a transferência da informação se insere; a ela é

dada uma autonomia cuja conseqüência é a sua alienação do processo total de

comunicação da informação” (NOVELLINO, 1998, p. 137).

Segundo a autora, tal visão desconsidera a questão do significado e do contexto da

informação, uma vez que “o significado da informação não é estabelecido previamente

por quem organiza, mas vai sendo estabelecido durante o processo de comunicação,

havendo um sentido partilhado de valor, considerando-se, não apenas a essência ou o

conteúdo da informação, mas, também, seus contextos de produção e os possíveis

contextos de uso” (NOVELLINO, 1998, p. 138).

Em seu questionamento, Novellino identifica duas visões distintas do processo de

representação da informação, uma de concepção representacionista ou referencial e

outra de concepção comunicacional. A primeira está fundamentada nos estudos da

filosofia da linguagem tradicional, segundo a qual “[...] a linguagem é essencialmente

individual e a sua função comunicativa é considerada secundária”. A segunda se baseia

na filosofia da linguagem ordinária, que “considera não apenas regras para garantir a

inteligibilidade de enunciados, mas leva em conta os contextos de produção,

comunicação e uso da informação” (NOVELLINO, 1998, p. 140).

Entretanto, a concepção comunicacional da representação da informação,

conforme a proposta de Novellino, envolve uma forte capacidade de intervenção no

domínio a ser representado, a partir da identificação minuciosa das redes de relações

entre assuntos e contextos. Para adotar esta orientação, seria necessário um intenso

trabalho documentário, o que pode extrapolar as exigências de tempo e recursos

156

humanos dos serviços de informação. De qualquer maneira, a questão levantada pela

autora é extremamente relevante, por isso, merece ser discutida e considerada.

Além disso, a própria abordagem do conceito de representação revela

proximidade com o campo comunicacional, a partir da concepção de signo de Charles S.

Pierce. Para o autor, representar “significa ‘estar em lugar de, isto é, estar numa relação

com um outro que, para certos propósitos, é considerado por alguma mente como se

fosse o outro’” (PIERCE, Charles S. citado por LARA, 1997, p. 73).

A representação documentária é viabilizada a partir de sistemas de significação

compartilhados. Isso porque “muito embora se possa construir sistemas de significação

independentemente da possibilidade de eles serem utilizados em processos de

comunicação, não pode existir os processos de comunicação sem que exista um sistema

de significação” (LARA, 1997, p. 74).

Dessa forma, não é possível falar em comunicação documentária sem a

vinculação a um sistema de significação, seja ele o da linguagem natural, o da linguagem

especializada ou o da linguagem documentária.

As linguagens documentárias são instrumentos de uma das modalidades de

representação documentária. Além delas, é possível representar o conteúdo do

documento por meio da condensação intensiva do texto. Nesse último caso, “o produto

documentário obtido situa-se entre a generalização e a individualização, expressando a

tensão entre estes dois pólos” Trata-se do caso dos resumos, cujo objetivo é garantir

aquilo que é comum, ao mesmo tempo em que deve destacar aquilo que é particular no

texto (LARA, 1993, p. 73).

Uma linguagem documentária é um código comutador que “tem como função a

normalização das unidades significantes ou conceituais presentes no texto original, a

partir de elementos que constituem, de alguma forma, uma condensação de áreas de

assunto” (LARA, 1993, p. 73).

157

Mais uma vez, Novellino aponta limitações nessa abordagem e sugere as

linguagens de transferência da informação como instrumentos com maior capacidade de

comunicação da informação, por “[...] agregar ao termo o sentido que é dado pela

conjuntura na qual ele se insere: o texto e o contexto de produção do texto”

(NOVELLINO, 1998, p. 139).

No caso das linguagens documentárias, por razões pragmáticas, cabe ao próprio

termo efetuar a relação com o contexto de produção do texto representado, ainda que tal

contextualização não atenda completamente as necessidades de representação da

informação.

Diante disto, “o trabalho de representação documentária de textos envolve

questões de comunicação e de significação que se sobrepõem às do próprio texto-objeto:

trabalha-se sobre representações que são, por sua vez, objeto de novas representações”. É

necessário conciliar ainda o processo de representação da informação com os variados

sistemas de significação inerentes a cada pessoa (LARA, 1997, p. 75).

Em um paralelo entre CI e Ciências da Comunicação, a intervenção da

representação da informação se relaciona diretamente com a noção de ruído dos

modelos dos processos comunicacionais. Isso porque a inserção de outra representação

no fluxo de comunicação da informação pode atrapalhar o desenvolvimento da

transmissão das mensagens.

No entanto, pelo contrário, “a função básica das atividades de representação de

conteúdos é sua disseminação, oferecendo, através de produtos condensados, indicações

para que o usuário possa ter acesso a porções selecionadas de documentos relativos a

assuntos específicos” (LARA, 1997, p. 75).

A identificação positiva dos ruídos também é recorrente na literatura das

Ciências da Comunicação. Segundo Paiva, “invertendo os termos da Teoria (tradicional)

da Informação, onde o ‘ruído’ emperra a comunicação telefônica, uma perspectiva

158

compreensiva concebe o ‘ruído’ positivamente como um vetor de evolução das formas

de participação social” (PAIVA, 2002, p. 180).

O princípio da seleção é outro paradigma da Ciência da Informação. O ato de

selecionar é necessário para determinar desde os recursos informacionais relevantes para

o público, as fontes de informação pertinentes nos resultados de uma busca, até as

perguntas a serem elaboradas em uma entrevista com o usuário, por exemplo.

Gabriel Cohn observa que este processo de seleção “[...] não se iguala aos critérios

comunicacionais. Ao passo que a comunicação é da ordem da circulação, o processo

informacional determina o modo como os conteúdos entram ou não nesta circulação”

(COHN, Gabriel citado por BRAMBILLA, 2004).

“A seleção do que é informativo ou não na constituição dos sistemas de

informação não é tarefa simples, pois os domínios e áreas de atividade diferem quanto

aos aspectos que os unem: alguns domínios ‘têm alto grau de consenso e critérios de

relevância explícitos’, outros ‘têm paradigmas diferentes, conflitantes’” (CAPURRO,

Rafael e HJORLAND, Birger citados por LARA, 2007).

Da mesma forma, o universo de informações é definitivamente maior do que o

alcance de qualquer indivíduo, o que faz o tratamento da informação por serviços

especializados despontar como uma solução extremamente adequada para o problema.

E, nesse espectro, a representação documentária é um dos elementos mais importantes.

Em mais uma possibilidade de comparação com o campo das Ciências da

Comunicação, Marilda Lopes Ginez de Lara aponta que “realmente, a atividade de

representação tem sido desenvolvida marcadamente centrada no emissor,

desconsiderando, ou minimizando, os problemas relativos à comunicação. Esse modelo

não enfrenta convenientemente o fato de que a transferência da informação se realizada

na mediada em que táticas e estratégias de distribuição considerem o espaço social onde

ela se realiza” (LARA, 1999, p. 191).

159

Ao apontar a desconsideração com o contexto social do uso informacional, tal

afirmação questiona o cerne dos estudos da Ciência da Informação, a questão do usuário

da informação. Dessa maneira, para efetivar a comunicação documentária, a

representação documentária precisa aprofundar os estudos das questões relacionadas à

apropriação da informação.

Nesse ponto, as pesquisas em Ciências da Comunicação e Ciência da Informação

parecem denotar uma fantástica capacidade de convergência. Embora as áreas executem

seus estudos a partir de questões diferentes, em virtude da natureza de cada campo, a

apropriação está presente em ambos os processos de comunicação da informação.

Independentemente da fonte, o indivíduo necessita executar um processamento

cognitivo da informação, e, nesse ponto, os paradigmas comunicacional e informacional

podem encontrar inúmeras imbricações.

Segundo Lara e Tálamo, “a inclusão da recepção nos fluxos sociais da informação

ainda tem de ser mais profundamente estudada, já que o tratamento que

tradicionalmente marca a atividade documentária é muito vinculado às estruturas de

codificação da informação, ignorando que o acesso e o uso da informação têm como ator

o sujeito real, territorializado” (LARA, Marilda Lopes Ginez de e TÁLAMO, Maria de

Fátima Gonçalves Moreira citadas por LARA, 2007, p. 7-8).

Na nossa perspectiva de identificação de níveis de aproximação entre Ciências da

Comunicação e Ciência da Informação, a tendência da CI de incluir a questão da

recepção em sua agenda, através da Lingüística Documentária, suscita outro

questionamento. Torna-se imprescindível analisar as diferenças e as semelhanças entre

os efeitos das mensagens documentárias e dos conteúdos comunicacionais.

Se um dos pressupostos da Comunicação é a mensagem persuasiva, teoricamente

a informação produzida nesta esfera teria maior impacto na recepção do indivíduo.

Entretanto, tal afirmação não parece adequada e precisa ser comprovada, uma vez que a

informação veiculada pelos serviços informacionais também possui grande capacidade

160

de modificar as estruturas cognitivas do sujeito. Além do que, a menção aos critérios de

escolha e organização da Ciência da Informação denota uma preocupação com questão

da seletividade, o que pode favorecer um maior potencial de aproveitamento da

informação, por exemplo.

Entre os resultados já alcançados pela Lingüística Documentária nos estudos da

apropriação da informação estão a identificação “[...] das referências mais

compartilhadas, das variações designacionais e conceituais, das formas de uso dos

termos, bem como dos modos como se organizam as áreas e respondem, nem sempre de

forma homogênea, pelos partidos epistemológicos adotados” (LARA, 2007, p. 5).

Em suma, a representação documentária tem como principal característica a

mediação entre os contextos de geração e utilização da informação. Tal função

mediadora já enseja em si fenômenos comunicacionais. No entanto, existem outros

aspectos do campo da Informação relacionados ao conceito de mediação, como será visto

a seguir.

4.2 Mediação

Os processos de mediação da Ciência da Informação são extremamente amplos e

variados, cuja abrangência contempla a representação documentária, como abordamos

na seção anterior, a ação cultural e educacional do profissional da informação, a

atividade de auxílio ao usuário na localização da informação, a natureza mediadora dos

serviços culturais, entre outros fenômenos.

Dessa maneira, dentre os termos selecionados para o nosso trabalho, o conceito

de mediação é a noção que apresenta o maior número de variações de significados. Além

disso, muitas vezes, o conceito não aparece explicitamente na literatura especializada da

área, embora possa ser encontrado na forma de correspondentes. Cabe ressaltar também,

161

que este é o único dentre os conceitos estudados que emprega a designação direta

adotada nas Ciências da Comunicação.

Em um plano geral, o próprio objeto da Ciência da Informação pode ser

considerado um exemplo de mediação, pois “na Informação há um processo de

permanente mediação entre a informação gerada pelos registros sobre a realidade e a dos

sujeitos que a elas terão acesso. Nesses procedimentos são construídas memórias cul-

turais, políticas, científicas, econômicas e poéticas” (STUMPF e WEBER, 2003, p. 132).

Stumpf e Weber observam o mesmo fenômeno na área da Comunicação, onde “o

processo de mediação é sua própria essência, identificável nos movimentos contínuos de

apreensão e representação da realidade disponibilizada por meio de mídias, linguagens e

técnicas jornalísticas, publicitárias e promocionais” (STUMPF e WEBER, 2003, p. 132).

Sobre as características da Ciência da Informação, Maria Aparecida Moura aponta

que, “embora nosso trabalho incida em grande medida sob as informações

materialmente suportadas (aquelas sustentadas organicamente por ferramentas, objetos,

processos e manifestações culturais, sociais e organizacionais), nossa ação requer uma

interação mais dinâmica com os processos informacionais, e por que não dizer,

comunicacionais”. E, principalmente, “o exercício da mediação exige o entendimento da

perspectiva comunicacional envolvida” (MOURA, 2005, p. 18 e p. 19).

Ivete Pieruccini identifica duas vertentes para o conceito de mediação nos

serviços de informação. “Numa concepção passiva (tecnicista, ‘neutra’) de mediação o

mediador teria como função a simples transferência da informação; um canal entre os

dois pólos, Ao contrário, numa concepção dinâmica, participativa, interativa de

mediação, a ação tenderia a intervir entre os dois pólos, definindo e/ou alterando as

relações entre eles” (PIERUCCINI, 1998, p. 64).

Já no campo da Comunicação, o significado mais corrente para mediação é o de

“elos intermediários’ entre o estímulo inicial e a resposta, gerando ‘ao mesmo tempo as

162

respostas aos estímulos que os precedem e, por sua vez, estímulos para os elos que

seguem’” (DUBOIS, Jean citado por SIGNATES, 1998, p. 38).

Luiz Signates observa que o conceito de mediação, no campo da Comunicação,

apresenta aproximações com as noções de intermediação, filtro e intervenção, no

entanto, é necessário apurar as definições e os limites de cada termo, para evitar usos

indevidos do conceito.

Intermediação é a proposta de religar a realidade separada em categorias

preexistentes e independentes, em uma visão atrelada ao pensamento positivista. O

conceito é constantemente utilizado para designar a “‘função’ das instituições de

comunicação como intermediários entre grupos e instituições sociais ou mesmo entre

racionalidades distintas”. Signates discorda do uso do termo, pois o verdadeiro papel dos

meios de comunicação de massa não é o de um agente externo que necessariamente

precisa intervir no processo (SIGNATES, 1998, p. 40).

O autor também afirma que “mediação não é tampouco ‘filtro’. [...] Como parece

evidente, a idéia de filtragem remete especificamente à seleção de conteúdos e

pressupõe um enfoque condutivista ou informacional da comunicação” (SIGNATES,

1998, p. 40-41).

Nas próprias palavras de Signates é possível notar que, ao contrário da

Comunicação, na Ciência da Informação os conceitos de filtro e mediação não

apresentam grandes distinções. Isso porque, como vimos anteriormente, a questão da

seleção é paradigmática para os serviços de informação.

No entanto, a noção de filtro da Ciência da Informação apresenta um viés de

facilitação de acesso, a partir da identificação das necessidades do usuário da informação,

o que não pode ser interpretado negativamente, como uma ação indiscriminada e

arbitrária de escolhas.

Nesse sentido, “sob a denominação ‘mediação’ impõe-se a abordagem dos fluxos

de informação com a pretensão de viabilizar contínuas relações entre circulação da in-

163

formação e produção do conhecimento”. No entanto, tal ação não valida a “idéia de que

a presença do mediador neutralizará imperfeições do sistema de informação e de que

este exerce apenas uma função patrimonialista” (KOBASHI e TÁLAMO, 2003, p. 20).

Na continuação da sua proposta de diferenciação dos conceitos comunicacionais

relacionados à concepção de mediação, Luiz Signates distancia o termo do conceito de

intervenção, que consiste em “um ato de censura ou de modificação de um fragmento de

informação”, que provoca “interferências no processo de significação” (SIGNATES,

1998, p. 41).

Também diferentemente da Comunicação, a Ciência da Informação considera a

mediação a partir da prerrogativa de intervenção em uma relação. A partir da visão de

Lev S. Vygostki, a mediação em CI “[...] atua nos processo de significação do universo

concreto e, neste sentido, a humanização dos sujeitos é ‘processo’ de reconstituição

social do que foi adquirido e acumulado pela espécie” (PINO, Angel citada por

PIERUCCINI, 1998, p. 64).

A intervenção da Ciência da Informação é uma proposta de facilitação do acesso

à informação, com base no pressuposto de que a alteração dos significados também pode

ser positiva. Para tanto, os serviços de informação se cercam de todos os cuidados na

identificação do contexto de produção e uso da informação, além das características dos

agentes da comunidade discursiva envolvida neste contexto.

Embora a CI possa incluir as noções de filtro e intervenção em seu conceito de

informação, a partir do ponto de vista de interpretação dos conceitos é possível

identificar um alinhamento com as diferenciações propostas por Luiz Signates. Isso

porque, por mais que ocorram intervenções e seleções, a decisão de uso da informação é

dada ao usuário, não existe imposição ou arbitrariedade. O limite de atuação dos serviços

de informação é a criação e manutenção do ambiente de apropriação da informação.*

* FUJINO, Asa. Discussão do conceito de mediação. Aula da disciplina Informação, Ciência e Tecnologia, ministrada no Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CBD/ECA/USP). São Paulo, 5 de abril de 2006.

164

Pierre Lévy acrescenta outros dois conceitos nessa discussão. “A noção de

interface pode estender-se ainda para além do domínio dos artefatos. [...] Tudo aquilo

que é tradução, transformação, passagem, é da ordem da interface”. Por outro lado, com

a rápida ligação entre emissor e receptor, “as instituições e profissões fragilizadas pela

desintermediação e o crescimento da transparência só poderão sobreviver e prosperar

[...] efetuando sua migração de competências para a organização da inteligência coletiva

e do auxílio à navegação” (LÉVY, Pierre citado por ODDONE, 1998, p. 6-7, grifos

nossos).

Sob outra perspectiva do conceito no campo da Ciência da Informação, segundo

Ivete Pieruccini, a mediação “não depende exclusivamente da ação humana direta”, pois

toda “a relação homem-mundo é uma relação mediada por símbolos, por instrumentos,

por outros homens” (PIERUCCINI, 1998, p. 64).

Dessa maneira, outro ponto de ligação entre os conceitos de mediação da Ciência

da Informação e das Ciências da Comunicação é o conceito de informação. À informação

cabe o papel de estrutura portadora de significados, que, nesse cenário, sem minimizar

as outras acepções do conceito, é uma das construções que possibilita a relação homem-

mundo.

E, como vimos anteriormente, necessariamente a informação está relacionada ao

paradigma da linguagem. “Nesse sentido, é por meio da linguagem que ocorre o processo

de incorporação progressiva (da criança) à comunidade humana, forma unívoca de

internalização da cultura que torna o indivíduo social, humanizado”. E, mais tarde, nos

demais estágios de desenvolvimento do sujeito, a linguagem continua a exercer o papel

de ressignificar a sua relação com o mundo (PIERUCCINI, 1998, p. 67).

Aqui reside a importância da representação documentária como instrumento de

comunicação da informação, cuja função é facilitar as trocas informações entre os

autores e os receptores da informação. Isso porque “não é suficiente unicamente, que a

mensagem esteja intencionalmente dirigida ao acesso, mas que a mensagem atinja as

165

geografias semânticas do receptor, compatíveis com a sua compreensão e aceitação”

(BARRETO, Aldo de Albuquerque citado por TARAPANOFF, SUAIDEN e OLIVEIRA,

2002).

De volta à esfera das múltiplas formas de mediação do homem em sua relação

com o mundo, Pieruccini identifica mais uma modalidade de aproximação entre CI e

Ciências da Comunicação, por meio do caráter institucional enquanto serviços culturais.

Isso porque “os serviços culturais passam a ter importante papel de mediação das novas

relações com o mundo, em contextos contemporâneos, quando formas de relação

‘espontânea’ com a cultura são cada vez mais substituídas por forma intermediadas por

organizações como museus, bibliotecas, meios de comunicação de massa, entre outros”

(PIERUCCINI, 1998, p. 64).

Nesse sentido, no campo das Ciências da Comunicação, a partir de Jesus Martin-

Barbero, “a mediação é, assim, definida como processo pelo qual os meios de

comunicação adquirem materialidade institucional e espessura cultural, abordagem que

supera os estudos sobre estrutura econômica e conteúdo ideológico” (MARTIN-

BARBERO, Jesus citado por SIGNATES, 1998, p. 43).

Régis Debray chega a propor uma disciplina, a Midiologia, para estudar a

mediação, entendida como “o conjunto dinâmico dos procedimentos e corpos

intermédios que se interpõem entre uma produção de signos e uma produção de

acontecimentos” (DEBRAY, Régis citado por ODDONE, 1998, p. 6-7).

Ainda na discussão do conceito de mediação nas Ciências da Comunicação, mas

em interface direta com o campo da Ciência da Informação, Guillermo Orozco Gómez

aponta a diversidade de fontes de mediação da sociedade: “cultura, política, economia,

classe social, gênero, idade, etnicidade, os meios, as condições situacionais e contextuais,

as instituições e os movimentos sociais” (OROZCO GÓMES, Guillermo citado por

SIGNATES, 1998, p. 44).

166

No caso dos serviços de informação, o seu papel, na sociedade atual, é “[...]

propiciar a interface de treinamento entre o usuário e as ferramentas da meta-

informação, e tornar-se ponto focal de uma comunidade (real e virtual) de

conhecimento, centro cultural e ponto de referência para encontros de comunidades de

cibernautas” (ALLEN, Mathew e RETZLAFF, Lothar citados por TARAPANOFF,

SUAIDEN e OLIVEIRA, 2002).

Além de todas as fontes de mediação, a própria “consciência humana é fruto de

mediações, atribuindo à atividade mental (memória e pensamento), às relações sociais

(sociabilidade) e às tecnologias (instrumentos) a responsabilidade pela organização da

‘nossa sensibilidade aos estímulos, nossa percepção e memória deles, e nossas reações a

eles’” (RATNER, Carl citado por PIERUCCINI, 1998, p. 66).

Mesmo com a generalização do caráter de mediação do mundo, os estudos da

Comunicação apontam a perspectiva da mediação da atuação profissional, no que

também revelam sintonia com a pesquisa em mediação na Ciência da Informação.

Segundo Daniel Bougnoux, “o mediador é o homem do meio: intermediário ou pontifex

entre duas extremidades, mostra-se sensível às circunstâncias, às oportunidades

ambientes” (BOUGNOUX, Daniel citado por ODDONE, 1998, p. 6).

Jiron Matui, pesquisador do campo da Pedagogia, identifica “[...] os mediadores

do conhecimento por sua ação no sentido de favorecer a interação entre sujeito e objeto

do conhecimento e de facilitar a apreensão pelo indivíduo dos objetos físicos inseridos,

histórica e culturalmente, no contexto da rica rede de relações simbólicas que permeia o

social” (MATUI, Jiron citado por ODDONE, 1998, p. 7).

Para Kira Tarapanoff, Emir Suaiden e Cecília Oliveira, “o fluxo da informação

entre os estoques ou espaços de informação e os usuários é tarefa de profissionais que

devem qualificar este acesso em termos das competências para assimilação da

informação, como sendo uma condição, que deve ter o receptor da informação acessada;

167

elaborar a informação para seu uso, seu desenvolvimento pessoal e dos seus espaços de

convivência” (TARAPANOFF, SUAIDEN e OLIVEIRA, 2002).

Ao falar do profissional da informação, Nanci Oddone considera que “muito mais

relevante é o papel que lhe está reservado nos processos de comunicação e transferência

da informação e de mediação na construção do conhecimento”. “Seria seu papel

identificar e atender as necessidades informacionais de seus usuários imediatos e

potenciais, procurando estabelecer uma dinâmica entre os repositórios estáticos do

conhecimento que se encontram sob sua responsabilidade e as questões vivas dos

indivíduos na busca de novas informações e conhecimentos” (ODDONE, 1998, p. 2).

O exercício do papel de mediador é conveniente em todas as esferas de atuação

profissional, sobretudo, a partir das novas tecnologias da comunicação. Assim, “é

necessário que o profissional da informação atue como um mediador entre o mundo

digital e a capacidade real de entendimento do receptor da informação, garantindo a

efetiva comunicação e a satisfação da necessidade informacional do usuário dessa

tecnologia” (TARAPANOFF, SUAIDEN e OLIVEIRA, 2002).

Na esfera dos serviços de informação social e cultural, como as bibliotecas

públicas e comunitárias, “[...] cabe ao profissional da informação um papel de mediador

da informação, onde ao mesmo tempo ele utiliza novas tecnologias alicerçadas ao

desenvolvimento social, ou seja, ele desenvolve um papel fundamental para acabar com

a exclusão digital e a falta de acesso á informação” (TARAPANOFF, SUAIDEN e

OLIVEIRA, 2002).

Em outro plano, dos serviços de informação em negócios, “numa economia

baseada na informação e no conhecimento o centro informacional e o profissional a

informação devem fazer a transição de: centro de custo para centro de valor agregado;

oferta de serviços para oferta de informações em resposta a necessidades específicas;

provedores de informação para parceiros na geração do conhecimento” (RYSKE, E. e

SEBASTIAN, T. citados por TARAPANOFF, SUAIDEN e OLIVEIRA, 2002).

168

Por fim, a habilidade de mediação do bibliotecário também é exigida no contexto

científico e tecnológico, no qual a sua atividade de interação com autores, editores,

avaliadores, agências de fomento e universidades, por exemplo, pode potencializar os

processos de geração, transferência e uso da informação.

O ponto em comum entre estas esferas é o objetivo de capacitar o indivíduo para

“[...] encontrar, avaliar e usar a informação eficazmente para resolver problemas ou

tomar decisões. Uma pessoa alfabetizada em informação é aquela que reconhece a

necessidade da informação; organiza-a para uma aplicação prática; integra a nova

informação a um corpo de conhecimento existente; usa a informação para solução de

problemas e aprende a aprender” (LENOX, Mary F. citada por TARAPANOFF,

SUAIDEN e OLIVEIRA, 2002).

Seja no plano social, educacional, científico, tecnológico, administrativo, ou em

qualquer outra esfera, a mediação também deve ser observada enquanto processo prático

do serviço de referência das unidades de informação. A referência consiste na situação

comunicacional de interação direta entre o profissional e o usuário, cujo objetivo é

auxiliar e potencializar o resultado das buscas da informação.

Dessa maneira, conforme Nanci Oddone, nos “parece claro que, como conceito, a

idéia de mediação permanece íntegra sob todos os ângulos através dos quais é observada

e, de forma inequívoca, poderá trazer uma grande contribuição ao estudo do perfil

profissional do bibliotecário do futuro, enquanto agente interfaciador no processo de

transferência da informação e de construção do conhecimento” (ODDONE, 1998, p. 9).

Diante da multiplicidade de constatações e de intervenções no contexto das

sociedades contemporâneas, a mediação consiste na função precípua dos serviços de

informação. Entre os principais espaços de manifestação do caráter mediador da CI está

o contexto da comunicação científica, que será visto e analisado a seguir.

169

4.3 Comunicação científica

A ciência é uma modalidade de produção, transferência, uso e discussão da

informação, cujo objetivo é explicar, sistematizar e averiguar ilimitado número de

fenômenos da realidade e da sociedade. Dessa forma, a partir das suas características, das

suas propriedades e dos seus princípios, é possível indicar que a ciência é prática

provisória, controlada, e, comunicável.

A primeira das propriedades da ciência é o estudo dos fenômenos por meio da

aplicação rigorosa de uma metodologia de pesquisa, que consiste em um conjunto de

regras definidas, controladas e compartilhadas por uma comunidade de pesquisadores

(MUELLER, 2000, p. 21).

Maria das Graças Targino destaca que “[...] vale dizer que a ciência avança não

como resultado de um processo cumulativo de uma positividade de idéias, mas pela

negação de hipóteses e teorias, cuja rejeição aproxima o homem da verdade, ainda que

provisória e mutável, por ser histórica, e portanto, redefinível a qualquer momento”

(TARGINO, 2000, p. 2).

O caráter provisório é justamente o segundo aspecto delimitador do universo

científico. A ciência é, antes de tudo, “uma instituição social, dinâmica, contínua,

cumulativa”. Tal carência de um nível de permanência está relacionada à natureza da

sociedade, dos objetos e dos indivíduos que a ciência pesquisa, pelos quais ela é

construída, e, com os quais ela interage (TARGINO, 2000, p. 2).

Por fim, a terceira característica da ciência é a comunicabilidade. O papel

fundamental da comunicação reside na sua capacidade de imprimir níveis de

confiabilidade aos resultados dos estudos científicos. Trata-se do processo de divulgação

e de avaliação do conteúdo das pesquisas acadêmicas pelo conjunto de pessoas

170

envolvidas com determinada área, disciplina, grupo ou linha de atuação (MUELLER,

2000, p. 21).

No mesmo sentido, Le Coadic observa que “a ‘comunicabilidade’ é a característica

principal da produção científica, pois permitirá o reconhecimento do cientista pelos

pares e lhe garantirá sucesso na comunidade científica” (LE COADIC, 2000, p. 33).

Dessa forma, a primeira aproximação do conceito de comunicação científica com

o campo das Ciências da Comunicação consiste na adoção da própria designação do

conceito de comunicação, enquanto conjunto dos fenômenos e dos processos de

interação entre dois ou mais sujeitos.

O correspondente material e formal da comunicação científica é o documento

científico, que, ao explicitar e compartilhar as idéias de uma ou mais pessoas, “[...]

permite expor o trabalho dos pesquisadores ao julgamento constante de seus pares, em

busca do consenso que confere à confiabilidade” (MUELLER, 2000, p. 22).

A principal classe de documentos científicos surgiu no século XVI, como produto

da comunicação entre os membros de sociedades de pesquisa da Europa. Em Londres, os

membros da Royal Society, constituída no ano de 1662, trocavam constantes

correspondências, “com o objetivo de discutir questões filosóficas e acompanhar os

progressos ocorridos no mundo”. Na França, a sociedade Sçavans, que contava com a

mesma produção de cartas, formulou uma apresentação formal destes documentos. O

Journal de Sçavans, lançado em 1665, “tem boas razões para ser chamado a primeira

revista em sentido moderno”. No mesmo ano, a Royal Society cria o seu próprio título

de periódico, o Philosophical Transactions (MEADOWS, 1999, p. 5-6).

Além do impulso institucional das sociedades de estudos, outro facilitador do

advento da revista científica foi o surgimento da imprensa. “A capacidade de multiplicar

os exemplares de um livro [ou qualquer outro tipo de documento] representou um passo

importante rumo a uma difusão melhor e mais rápida das pesquisas”. E, ao mesmo

171

tempo, “[...] começaram a ser produzidas folhas noticiosas, de caráter oficial ou não-ofi-

cial, que descreviam acontecimentos de particular interesse” (MEADOWS, 1999, p. 4).

Mais uma vez, portanto, os objetos de estudo da Ciência da Informação e das

Ciências da Comunicação se cruzaram e se relacionaram, por conta do

compartilhamento das benesses da evolução da tipografia. Assim, a revolucionária

tecnologia de reprodução da impressão se consolidou como o principal motor da

comunicação científica e da comunicação de massas.

Para alcançar a legitimação da ciência, os conceitos, as metodologias, as teorias,

os princípios, os resultados, as ferramentas, e, qualquer outro aspecto inerente ao fazer

científico, precisam ser coletivizados e discutidos por um grupo delimitado de

estudiosos. Cabe ao processo de comunicação operacionalizar o compartilhamento

dessas informações.

Nesse sentido, é possível observar outro viés de aproximação entre os campos da

informação e da comunicação. A formalização da comunicação científica está para a

Ciência da Informação como o surgimento dos meios de comunicação de massa está para

as Ciências da Comunicação. Nos dois casos, ocorreu uma institucionalização do

processo comunicacional, com a participação de agentes de mediação, em sua maior

parte profissionais.

No âmbito dos modelos acadêmicos de análise da comunicação de massa, surgiu o

conceito de gatekeeping, para analisar a função de determinadas pessoas-chave na

disseminação, comprovação ou distorção da mensagem veiculada pela mídia

(SHOEMAKER, Pamela J. citada por MEADOWS, 1999, p. 148).

Os primeiros estudos sobre o gatekeeping foram desenvolvidos na década de 50

por David Manning White, a partir de princípios de Kurt Lewin. O objetivo foi “[...]

definir onde, em quais pontos do aparato, a ação de filtro é exercida explícita e

institucionalmente”. O papel do gatekeeper está relacionado à função “[...] de seleção

172

como processo ordenado hierarquicamente e ligado a uma rede complexa de feedback”

(WOLF, 2005, p. 185-186).

A abordagem do conceito de gatekeeper difundiu-se rapidamente nas pesquisas

da Ciência da Informação, no entanto, “esse modelos sociológicos são úteis para

concentrarmos nossa análise em aspectos específicos da transferência da informação,

mas não podem ser aplicados de modo muito amplo” (MEADOWS, 1999, p. 148).

Além da função de gatekeeper, existem outros facilitadores e organizadores do

fluxo de transferência da informação científica. “O primeiro desses grupos é formado

pelas editoras. Sua atribuição é receber as obras dos autores, organizá-las de forma que

seja aceitável pelos leitores, e em seguida divulgar os resultados. O segundo grupo

consiste em bibliotecários e pessoal da informação, que codificam e armazenam o

material oriundo das editoras de modo a torná-los acessíveis aos leitores” (MEADOWS,

1999, p. 127).

Dessa maneira, é possível notar a relação de continuidade entre as atividades

exercidas pelo pessoal do campo da Comunicação e da área da Informação, a partir do

fluxo da comunicação científica.

O fluxo da comunicação científica “é um conceito que pretende representar o

caminho percorrido pela pesquisa, desde que nasce uma idéia na mente de um

pesquisador, passa pelo ponto mais alto que é a publicação formal dos resultados,

geralmente em um artigo científico, e continua até que a informação sobre essa

informação possa ser recuperada na literatura secundária ou apareça em citações em

outros trabalhos” (MUELLER, 2000, p. 27-28).

O modelo mais famoso de fluxo da comunicação científica é o de W. D. Garvey e

B. C. Griffith, em uma proposta formulada a partir de um estudo sobre o

comportamento de pesquisadores da Psicologia (MUELLER, 2000, p. 28).

173

Figura 8. Modelo de comunicação científica de Garvey e Griffith

Extraída de LEITE, Fernando César Lima. Gestão do conhecimento científico no contexto acadêmico: proposta de um modelo conceitual. 2006. Dissertação (mestrado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília. Brasília, 2006. p. 65. Disponível em: <http://bdtd.bce.unb.br/tedesimplificado/ tde_busca/arquivo.php?codArquivo=79>. Acesso em: 24 nov. 2007.

Suzana Mueller lembra que “nesse modelo é fácil perceber que a informação flui

por muitos canais e que diferentes tipos de documentos são produzidos, cujas

características variam conforme o estágio da pesquisa e tipo de público a que se destina e

o objetivo de quem a comunica” (MUELLER, 2000, p. 30).

No bojo da discussão do modelo de Garvey e Griffith, os canais de comunicação

científica tradicionalmente podem ser classificados como formais e informais.

Entretanto, a partir da revolução tecnológica contemporânea, é fundamental considerar

também a função dos canais eletrônicos, cujo espaço no campo da comunicação da

ciência cresce cotidianamente.

Os canais formais costumam tornar a informação “disponível por longos períodos

de tempos para um público amplo”. O paradigma é a comunicação escrita, transmitida

174

através de documentos como livros e periódicos, que constituem o formato tradicional e

mais comum de transmissão da informação (MEADOWS, 1999, p. 7 e p. 116).

Em contraposição, a comunicação científica informal “é em geral efêmera, sendo

posta à disposição apenas de um público delimitado”, a partir do paradigma da oralidade.

As principais características dos canais informais são “retroalimentação imediata,

informação adaptada ao receptor, implicações explicitadas, e conhecimento prático

transmitido junto com conhecimento conceitual” (MEADOWS, 1999, p. 7, 116 e 137).

A caracterização dos canais da comunicação científica em formal e informal

aponta para uma correspondência com o binômio comunicação mediada e interpessoal,

conforme proposta de Isabel Ferin. A comunicação informal e interpessoal tem como

princípio o contato direto entre os indivíduos, geralmente com interação simultânea

entre emissor e receptor, autor e leitor. Já a comunicação formal e mediada inclui

necessariamente processos de mediação e de socialização, através do trabalho dos

responsáveis pelos serviços de informação e pelos meios de comunicação (FERIN, 2002,

p. 26-27).

O formato canal eletrônico da comunicação científica se caracteriza pela hibridez

dos modelos formal e informal. “A princípio, como os formais, atinge um público

potencialmente amplo e mais ainda, a seleção de canal e do conteúdo é de

responsabilidade do pesquisador. Só que, tal como o informal, permite acesso a

informações recentes e dá respostas imediatas aos autores, apesar de apresentar volume

de redundância, às vezes significativo, e não passar pelo crivo da comunidade científica,

salvo cuidados recentes concernentes à editoração eletrônica de periódicos” (TARGINO,

2000, p. 23).

A apresentação do processo de comunicação em formato de fluxo ou contínuo é

mais um exemplo de relação entre Ciência da Informação e Ciências da Comunicação.

Trata-se de uma clara vinculação ao modelo matemático da informação de Shannon e

175

Weaver, constantemente adotado para explicar os fenômenos da comunicação de

massas.

De acordo com Araújo, “embora [a teoria matemática da informação] não possa

explicitar as dimensões psicossociais e sociológicas da informação, em razão de seu

estatuto físico, ela tem sido largamente utilizada na Ciência da Informação” (ARAÚJO,

2002, p. 20).

Ida Stumpf e Maria Weber apontam que “esse paradigma passou a vigorar como

explicativo dos problemas relacionados à Comunicação e à Informação, independente do

tipo de mensagem veiculada, quer de natureza científica, tecnológica, artística, afetivas,

quer de outra ordem” (STUMPF e WEBER, 2003, p. 124).

Segundo Marlene de Oliveira, a relação com o paradigma da teoria matemática

da comunicação “não permitiu considerar os aspectos cognitivos da informação e nem o

desejo do usuário como componentes que alteram significativamente o processo de

recuperação da informação dentro de um sistema” (OLIVEIRA, 2005, p. 25).

Para Capurro e Hjorland, propostas como a teoria matemática da comunicação

“não são necessariamente adequadas para a biblioteconomia, documentação e

comunicação científica. Um sério risco surge uma vez que conceitos e teorias

relacionados à teoria da informação tendem a reduzir o estudo da comunicação

documentária à ciência da computação e à ciência cognitiva, retirando, assim, a base do

campo em suas prerrogativas” (HJORLAND, Birger citado por CAPURRO e

HJORLAND, 2007, p. 177-178).

Em uma crítica ainda mais veemente ao modelo matemático, Le Coadic afirma

que “[...] a analogia da transmissão de um sinal elétrico conseguiu bloquear os progressos

concernentes à comunicação das informações e contribuir para reunir fenômenos

irredutíveis sob uma mesma bandeira enganosa, como ainda vemos hoje em dia”. Tal

empreendimento afeta negativamente tanto a Ciência da Informação quanto o campo da

Comunicação (LE COADIC, 2000, p. 11).

176

Por outro lado, a teoria matemática da comunicação contribuiu para atrair “a

atenção para a necessidade de se definir claramente o caráter da informação com que os

profissionais da área se preocupavam”, uma vez que estabeleceu um complexo processo

de transferência da informação (OLIVEIRA, 2005, p. 13).

Além disso, o modelo de Shannon e Weaver “[...] cria conceitos, tais como ruído,

entropia e redundância, importantes para os sistemas de recuperação da informação,

mesmo que, diferentemente da Ciência da Informação, não considere os aspectos

semânticos ou até mesmo influencias da informação” (PINHEIRO, 2002, p.73-74).

No sentido contrário, de contribuição a partir da pesquisa em Ciência da

Informação, os estudos da comunicação científica consolidaram a idéia de informação

como medida de incerteza ou de entropia, cuja influência e utilização extrapolaram para

outras áreas do conhecimento, principalmente para o campo das Ciências da

Comunicação (WIENER, Norbert citado por FERIN, 2002, p. 19-20).

Embora os modelos possam ser criticados por esquematizar as relações entres os

elementos do fluxo comunicação e por desconsiderar os desvirtuamentos do

processamento normal da informação, eles exercem a importante função de explicar de

modo generalizável os fenômenos, sejam eles comunicacionais ou não. Sem dúvida é

necessário detalhar a abordagem em níveis conceituais e acadêmicos, mas os modelos

são um ponto de partida para a análise científica.

Desse modo, nos parece válida a tentativa de propor um modelo que permita

visualizar a relação entre os dois modelos, com o objetivo de denotar, a partir dos

mesmos princípios originais, a ligação entre os dois campos do conhecimento, e,

conseqüentemente, entre os seus objetos de estudo.

177

Figura 9. Modelo de comunicação científica a partir da influência do modelo matemático da comunicação

Em síntese, “na primeira etapa, os cientistas produzem informação; na segunda,

inserem essa informação num ou em vários dos canais de comunicação que se acham

disponíveis”. Na última etapa, “quem deseja conhecer as pesquisas procura recuperar

informações pertinentes em um desses canais” (MEADOWS, 1999, p. 209).

Nesse modelo conjugado, as noções de mensagem, ruído, transmissor e receptor

não aparecem diretamente, mas também constituem o processo, pois estão relacionadas

aos conceitos dos canais de comunicação científica.

As noções de transmissor e receptor se referem aos meios tecnológicos

empregados para executar a comunicação, nesse contexto elas correspondem aos

formatos documentários, como os livros ou os periódicos. A questão do ruído é inerente

ao próprio ato de comunicar, a partir da premissa da falta de controle sob a interpretação

FonteDestinatário

Canais

Canais

178

dos significados. E, principalmente, os canais consistem em veículos de informações

(mensagens).

Nesse sentido, “ao conceber comunicação enquanto processo, norteado pelo

princípio básico do diálogo, entende-se o conteúdo deste processo como mensagem.

Mais do que dados, esta mensagem insere-se em um contexto, é transformada pelo e

transforma o leitor. Unidade básica à produção de conhecimento, a informação

estabelece-se como mensagem no fluxo comunicacional” (BRAMBILLA, 2004).

“É esta idéia de circulação contida na assertiva transcrita que se denomina

comunicação. Esta permite a troca de informações, donde se conclui que enquanto a

informação é um produto, uma substância, uma matéria, a comunicação é um ato, um

mecanismo, é o processo de intermediação que permite o intercâmbio de idéias entre os

indivíduos. A comunicação é um fenômeno natural e intrínseco ao homem, variando de

acordo com as características dos grupos nos quais e entre os quais se efetiva”

(TARGINO, 2000, p. 10).

Mais tarde, com o aprimoramento das discussões acerca do modelo matemático

da comunicação, a informação supera o paradigma do objeto e se firma também como

um processo (BRAMBILLA, 2004).

Segundo Tálamo, na verdade, a afirmação da informação como processo está na

própria concepção da Ciência da Informação, uma vez que “comunicação e uso são

conceitos solidários, de modo que supera-se a idéia dos SI [serviços de informação] como

‘vitrines’ e ‘estoques’ para a [noção de agentes promotores] de ‘ativação de ordem para o

uso’” (TÁLAMO, 2005, p. 4).

No âmbito da comunicação científica, essa modificação fica clara e evidente,

embora as naturezas do processo comunicacional geral e do correspondente científico

sejam distintas. Segundo Gabriel Cohn, “a informação não diz respeito à transmissão de

conteúdos. Seu domínio é o da seleção daquilo que terá valor significativo e que, com

179

base nesse valor, comporá o campo dos conteúdos aptos a integrarem a comunicação”

(COHN, Gabriel citado por BRAMBILLA, 2004).

Embora o modelo matemático da comunicação prevaleça enquanto representação

do fluxo de transferência da informação científica, existem outras propostas de

organização do processo comunicacional da ciência.

Segundo o modelo da difusão, “quando se produz uma nova informação, ela será

colhida rapidamente pelos pesquisadores que têm mais interesse imediato, depois, mais e

mais lentamente, pelos que têm interesses de pesquisa cada vez mais divergentes”

(MEADOWS, 1999, p. 147).

No modelo epidemiológico, existem “três grupos equivalentes: os que têm

informação sobre um tema científico e podem compartilhá-la; os que têm informação,

mas não estão disponíveis (por exemplo, por causa de mudança de local ou de interesse

de pesquisa); e os que ainda têm de receber a informação” (MEADOWS, 1999, p. 147).

Outra modalidade de conciliação entre Ciências da Comunicação e Ciência da

Informação consiste na inserção das questões da ciência na pauta dos meios de

comunicação. Os tradicionais veículos de comunicação da ciência, os documentos

científicos, passam a ser utilizados pelos profissionais da comunicação como fonte de

informação para a execução das suas atividades. Tal conjugação de esforços possui forte

impacto na sociedade, isso porque, estes são os dois mais importantes espaços de

produção e uso da informação coletiva e compartilhada.

No entanto, persistem diferenças de objetivos de cada núcleo produtor da

informação. Se a ciência se concentra analítica e profundamente em um problema, a

mídia apresenta como prioridade máxima a pertinência imediata do assunto para a vida

do público em geral.

Dessa maneira, o foco midiático inviabiliza a veiculação de temas mais

especializados e é mais fácil comunicar os resultados das pesquisas em ciências de

180

observação, como a Botânica, a Astronomia e a Arqueologia, em comparação com as

ciências experimentais, como a Física e a Química (MEADOWS, 1999, p. 70-71).

Além disso, “os princípios de seleção que se aplicam à mídia são não apenas

diferentes dos adotados pelos cientistas, mas podem realmente contradizê-los. Por

exemplo, a mídia tem particular interesse quando as coisas dão errado ou por idéias

altamente especulativas. Nada disso goza de alto preço entre os cientistas” (MEADOWS,

1999, p. 203).

Outro formato de apresentação da ciência nos meios de comunicação é a

abordagem extensiva e especial dos temas científicos. Por exemplo, é comum, no rádio e

na televisão, a oferta de produtos, programas e até canais inteiramente dedicados ao

universo da ciência. Paralelamente, as peças de divulgação e publicidade passaram a se

preocupar com a base científica das informações a serem veiculadas. E, os profissionais

de Relações Públicas, cada vez mais recorrem ao conhecimento científico para

consolidar a imagem das organizações e das instituições (MEADOWS, 1999, p. 150).

Por fim, a transformação essencial dos laços entre Ciências da Comunicação e

Ciência da Informação, tanto no contexto do conceito de comunicação científica, quanto

no contexto da comunicação em geral, é a revolução da tecnologia da informação.

Tal mudança “está tornando indistintas as diferenças anteriormente

estabelecidas, como, por exemplo, entre comunicação de massa e comunicação pessoal”.

Por um lado, o computador pode ser utilizado como equipamento de recepção

simultânea de serviços de variados meios de comunicação. Por outro, ele se transforma

em uma potente ferramenta de auxílio, facilitação e democratização da produção da

informação (MEADOWS, 1999, p. 160).

E o papel da ciência nesse contexto de revolução é inegável. Para Capurro e

Hjorland, “o conceito moderno de informação como comunicação de conhecimento,

não está relacionado apenas à visão secular de mensagens e mensageiros, mas inclui

também uma visão moderna de conhecimento empírico compartilhado por uma

181

comunidade (científica). A pós-modernidade abre este conceito para todos os tipos de

mensagens, particularmente na perspectiva de um ambiente digital. Talvez possamos

chamar uma ciência da comunicação do conhecimento (melhor: mensagem) de ciência

da informação ou angeletics” (CAPURRO, Rafael citado por CAPURRO e HJORLAND,

2007, p. 173).

Se, por um lado “as ‘infovias’ apresentam um novo modelo bem-sucedido de

produção”, por outro, a nova ordem informacional traz “uma angústia existencial de

uma espécie de vazio do saber, ou a ‘pobreza de informações substanciosas em conteúdo

em face da enorme quantidade de informações insignificantes difundidas’” (AUN, Marta

Pinheiro e ARRUDA, Maria da Conceição Calmon citadas por LASTRES, Helena M. M.

citada por TAVARES, 2002, p. 148).

Assim, “considerando o caráter relacional da comunicação, dependente de um

conteúdo definido segundo algumas concepções, por informação, é possível entender

que informação está inserida na comunicação”. E, em contrapartida, “ao entender que

toda a informação, para ser válida, deve ser passível de intercâmbio, pode-se afirmar que

a comunicação faz parte da informação” (BRAMBILLA, 2004).

182

5 Considerações finais

As relações entre Ciência da Informação e Ciências da Comunicação têm sido

construídas (e reconstruídas) paulatinamente, e, desde o surgimento de cada campo, o

entrelaçamento entre as áreas demonstra inúmeros graus de variações.

Nesse percurso evolutivo, se consolidaram variadas modalidades de aproximações

disciplinares, entre elas aquelas identificadas neste trabalho: relação histórica, relação

local (na França), relação institucional, relação comparativa, relação intermediada pela

cultura, relação intermediada pela Lingüística, relação com as tecnologias de produção e

reprodução da informação, e, relação interdisciplinar.

Por conta do escopo desta pesquisa, nos limitamos a analisar com mais atenção a

relação da Ciência da Informação com as Ciências da Comunicação no nível da

integração disciplinar (interdisciplinaridade). Em outro recorte do estudo, a abordagem

das contribuições interdiscipinares se concentrou na análise de conceitos cuja base

teórica é minimamente compartilhada.

O conceito de representação documentária enseja um caráter comunicacional

imprescindível. Sem a função comunicacional, a representação de conteúdos não se

realiza. Isto porque a representação está condicionada a um processo de significação por

parte do usuário dos serviços de informação.

A mediação é um conceito amplamente compartilhado entre os dois campos. Por

conta desse uso direto e constante, existe uma multiplicidade de significados para o

termo, seja no âmbito de cada disciplina, seja nas comparações entre CI e Ciências da

Comunicação. Mesmo nas diferentes abordagens, é possível observar que existe um

núcleo comum centrado na ação de intermediação dos processos de geração,

transferência e uso da informação.

O conceito de comunicação científica apresenta claras aproximações com os

modelos tradicionais das Ciências da Comunicação, em virtude da sua natureza

183

processual e sistêmica. Além disso, progressivamente, os meios de comunicação de

massa e a ciência vislumbram um estreitamento em suas relações, o que pode aproximar

ainda mais a reflexão teórica acerca da comunicação de massa e da comunicação

científica.

O princípio geral compartilhado entre as duas disciplinas é a função de

comunicação da informação. Na Ciência da Informação, o foco de atenção recai sobre a

gestão do fluxo de geração, transferência e uso da informação, principalmente, em

âmbitos documentários, Nas Ciências da Comunicação, o objeto nuclear é a veiculação

em massa de mensagens por meio de dispositivos tecnológicos ao maior número possível

de pessoas.

Por conta destas diferenças, claramente delimitadas, poderíamos falar em

comunicações no plural, entretanto, a partir do objetivo central do nosso trabalho, mais

do que divergências parecem existir e aflorar estreitos laços de cooperação.

Dessa maneira, é necessário atribuir maior relevância aos estudos da Ciência da

Informação no processo de construção do conhecimento, sobretudo, ao comemorar o

poder comunicacional dos serviços informacionais.

Tal natureza comunicacional do campo da Informação não parece tão clara na

literatura científica, seja da própria área, ou ainda na esfera dos estudos da

Comunicação.

As transformações sociais provenientes dos serviços de informação parecem mais

silenciosas do que a revolução dos meios de comunicação de massa, no entanto, é

impossível desconsiderar o papel da Ciência da Informação no estabelecimento de uma

nova ordem comunicacional. Comparativamente, cada vez mais é possível afirmar que

as duas mudanças sociais são equivalentes.

Como exemplo, podemos citar o franco desenvolvimento das ciências nos século

XX, baseado, principalmente, na possibilidade de comunicação das informações,

paradigma social estabelecido com sucesso pela Ciência da Informação.

184

Os serviços de informação foram pioneiros no sentido de democratizar o papel

social de autor/produtor da informação. A partir da natureza científica, os serviços de

informação se consolidaram como a principal arena, canal de comunicação, dos

cientistas.

Mais tarde, o conceito de cidadão produtor da própria informação se espalharia

por outros tipos de serviços de informação, sobretudo as bibliotecas públicas e escolares.

Mas, infelizmente, nestes espaços a autonomia do sujeito ainda não tem sido praticada

plenamente.

Além disso, o vínculo das Ciências da Comunicação e da Ciência da Informação

com as tecnologias de produção e reprodução de informações é indiscutível. O que

diferenciava um campo do outro, até o surgimento da internet, era o uso que se fazia

destas ferramentas de comunicação.

No atual contexto da sociedade, diminuem as barreiras entre o que é

informacional e o que é comunicacional, a partir do pressuposto da democratização da

produção da informação. Por um lado, o usuário dos serviços de informação, já

autônomo e produtor de conhecimento, consegue multiplicar o alcance das suas

mensagens. Por outro, o receptor dos meios de comunicação, até então pouco

participativo, ganha o poder de diálogo direto e de intervenção na outra ponta do

processo de produção das mensagens.

185

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STUMPF, Ida Regina; WEBER, Maria Helena. Comunicação e Informação: conflitos e divergências. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.). Epistemologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003. p. 121-134. (Coleção Comunicação Contemporânea, 1).

TÁLAMO, Maria de Fátima Gonçalves Moreira. Ciência da Informação e Comunicação na sociedade contemporânea. Palestra (apresentação visual). In: SEMANA DE BIBLIOTECONOMIA DA ECA/USP, 1., 24 de agosto de 2005, São Paulo. 22 lâminas.

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WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Coleção Leitura e Crítica).

193

7 Bibliografia temática

Em virtude da diversidade dos núcleos temáticos do trabalho, a bibliografia temática

tem o objetivo de facilitar a consulta às fontes de informação utilizadas em nossa

pesquisa. Como toda categorização, a designação dos textos nos assuntos está

subordinada a um critério de escolha, que, nesse caso, consiste na identificação da

matriz temática de cada fonte de informação.

7.1 Ciência da Informação

ANDRADE, Maria Eugênia Albino; OLIVEIRA, Marlene de. A Ciência da Informação no Brasil. In: OLIVEIRA, Marlene de (Coord.). Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. cap. 3. p. 45-60. (Coleção Didática).

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. A Ciência da Informação como uma ciência social. Ciência da Informação, v. 32, n. 3, p. 21-27, set./dez. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19020.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2007.

ARAÚJO, Eliany Alvarenga de. O fenômeno informacional na Ciência da Informação. In: CASTRO, César Augusto (Org.). Ciência da Informação e Biblioteconomia: múltiplos discursos. São Luís: EDFAMA; EDUFMA, 2002. cap. 1. p. 12-34.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ANCIB). Cursos de pós-graduação. Disponível em: <http://marula. ibict.br/ancib//index.php?option=com_content&task=category&sectionid=5&id=9&Itemid=28>. Acesso em: 26 nov. 2007.

BRAGA, Gilda Maria. Informação, ciência da informação: breves reflexões em três tempos. Ciência da Informação, v. 24, n. 1, 1995. Disponível em: <http://dici.ibict.br/ archive/00000144/>. Acesso em: 22 jul. 2007.

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 12, n. 1, p. 148-207, jan./abr. 2007. Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-99362007000100012&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 29 nov. 2007.

COUZINET, Viviane. Olhar crítico sobre as Ciências da Informação na França. In: WORKSHOP EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA E ENSINO

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NA PÓS-GRADUAÇÃO, Niterói/RJ, 11 a 12 de novembro de 2004. Anais... Niterói: ANCIB; UFF, 2004. p. 21-37.

FERNANDES, Ângela Silva et al. Tecnologia e comunicação. In: MIRANDA, Antonio; SIMEÃO, Elmira. Informação e tecnologia: conceitos e recortes. Brasília: Departamento de Ciência da Informação e de Documentação/Universidade de Brasília, 2005. cap. 1. p. 22-42. (Comunicação da informação digital, 1).

FERNANDES, Geni Chaves. O objeto de estudo da Ciência da Informação. INFORMARE -Caderno do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, v. 1, n. 1, p. 25-30, jan./jun. 1995.

GOMES, Maria Yêda Falcão Soares de Filgueiras. Tendências atuais da produção científica em Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v. 7, n. 3, jun. 2006. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun06/F_I_art.htm>. Acesso em: 09 nov. 2007.

KOBASHI, Nair Yumiko; SMIT, Johanna W.; TÁLAMO, Maria de Fátima Gonçalves Moreira. A função da terminologia na construção do objeto da Ciência da Informação. Datagramazero -Revista em Ciência da Informação, v. 2, n. 2, abr. 2001. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/abr01/Art_03.htm>. Acesso em: 03 dez. 2007.

KOBASHI, Nair Yumiko; TÁLAMO, Maria de Fátima Gonçalves Moreira. Informação: fenômeno e objeto de estudo da sociedade contemporânea. Transinformação, v. 15, n. 3 (edição especial), p. 7-21, set./dez. 2003. Disponível em: <http://revistas.puc-campinas. edu.br/transinfo/include/getdoc.php?id=139&article=43&mode=pdf>. Acesso em: 03 dez. 2007.

LE COADIC, Yves François. A Ciência da Informação. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos, 2000.

OLIVEIRA, Marlene de. Origens e evolução da Ciência da Informação. In: ______. (Coord.). Ciência da Informação e Biblioteconomia: novos conteúdos e espaços de atuação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. cap. 1. p. 9-28. (Coleção Didática).

ORTEGA, Cristina Dotta. Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v. 5, n. 5, out. 2004. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out04/F_I_art.htm>. Acesso em: 22 jul. 2007.

PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Campo interdisciplinar da Ciência da Informação: fronteiras remotas e recentes. In: ______. (Org.). Ciência da Informação, Ciências Sociais e interdisciplinaridade. Brasília / Rio de Janeiro: IBICT/DEP/DDI, 1999. p. 155-182. Também disponível em: <http://www.ejournal.unam.mx/iibiblio/vol12-25/ IBI02508.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2007.

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PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Gênese da Ciência da Informação: os sinais enunciadores da nova área. In: AQUINO, Mirian de Albuquerque. O campo da Ciência da Informação: gênese, conexões e especificidades. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2002. p. 61-86.

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO DA ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (PPG-CI/ECA/USP). Apresentação e histórico do PPG-CI. Disponível em: <http://poseca. incubadora.fapesp.br/portal/informacao/org-ci/apresentacao-hist/>. Acesso em: 26 nov. 2007.

7.2 Ciências da Comunicação

BELTRÃO, Luiz; QUIRINO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. 2. ed. São Paulo: Summus, 1986. (Novas buscas em Comunicação, 13).

CUNHA, Magda. Possibilidades tecnológicas apontam para mudanças em conceitos da Comunicação. Razón y Palabra, v. 11, n. 53, out./nov. 2003. Disponível em: <http:// www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n53/mcunha.html>. Acesso em: 09 jun. 2007.

FERIN, Isabel. Comunicação e culturas do quotidiano. Portugal: Quimera, 2002. (O que é).

LEVISOLO, Hugo. “Epistemologia prática” no campo da Comunicação. Contracampo, v. 7, p. 125-140, 2002. Disponível em: <http://revcom2.portcom.intercom.org.br/ index.php/contracampo/article/view/21/20>. Acesso em 08 nov. 2007.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. A institucionalização dos estudos de comunicação no Brasil. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de; BUONANNO, Milly (Org.). Comunicação no plural: estudos de Comunicação no Brasil e na Itália. São Paulo: Intercom ; EDUC, 2000. p. 49-65.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. O campo da comunicação: reflexões sobre seu estatuto disciplinar. Revista USP, n. 48, p. 46-57, dez. 2000/fev. 2001.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisa de comunicação. Revista Intercom, v. 27, n. 1 , p. 13-39, 2004. Disponível em <http://revcom2.portcom.intercom.org.br/ index.php/rbcc/article/view/850/633>. Acesso em 01 nov. 2007.

MATTELART, Armand; MATTELART, Michèle. História das teorias da comunicação. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000.

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MELO, José Marques de. Comunicação Social: teoria e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 9-79. Parte 1 - Teoria. (Meios de Comunicação Social, 1).

MELO, José Marques de. História do pensamento comunicacional: cenários e personagens. São Paulo: Paulus, 2003. (Coleção Comunicação).

PAIVA, Cláudio Cardoso de. O campo híbrido da informação e da comunicação. In: AQUINO, Mirian de Albuquerque. O campo da Ciência da Informação: gênese, conexões e especificidades. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2002. p. 165-197.

PIGNATARI, Décio. Informação, linguagem, comunicação. São Paulo: Cultrix, 1981.

SAAD, Beth. Estratégias para a mídia digital: internet, informação e comunicação. São Paulo: Senac, 2003.

SANTAELLA, Lucia. Novos desafios da comunicação. Lumina, v. 4, n. 1, jan./jun. 2001. Disponível em: <http://www.facom.ufjf.br/lumina/R5-Lucia.pdf>. Acesso em: 26 jul. 07.

STUMPF, Ida Regina C.; CAPPARELLI, Sérgio. Produção discente dos programas de pós-graduação em Comunicação (1992-1996). Revista de Biblioteconomia & Comunicação, v. 8, p. 241-250, jan,/dez. 2000.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Coleção Leitura e Crítica).

7.3 Informação e comunicação

BRAMBILLA, Ana Maria. Comunicação e informação: diálogos possíveis. Trabalho de conclusão da disciplina Teorias da comunicação e da informação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, jul. 2004. Disponível em: <http://ambrambilla.blaz.com.br/teorias_info_com.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2007.

MOURA, Maria Aparecida. Informação: objeto interdisciplinar - estudos disciplinares: desafios. Palestra (apresentação visual). In: SEMANA DE BIBLIOTECONOMIA DA ECA/USP, 1., 24 de agosto de 2005, São Paulo. 22 lâminas.

STUMPF, Ida Regina; WEBER, Maria Helena. Comunicação e Informação: conflitos e divergências. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. (Org.). Epistemologia da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2003. p. 121-134. (Coleção Comunicação Contemporânea, 1).

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TÁLAMO, Maria de Fátima Gonçalves Moreira. Ciência da Informação e Comunicação na sociedade contemporânea. Palestra (apresentação visual). In: SEMANA DE BIBLIOTECONOMIA DA ECA/USP, 1., 24 de agosto de 2005, São Paulo. 22 lâminas.

TAVARES, Olga. Comunicação e informação: caminhos de conexão. In: AQUINO, Mirian de Albuquerque. O campo da Ciência da Informação: gênese, conexões e especificidades. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2002. p. 137-151.

7.4 Representação documentária

LANCASTER, F. Wilfrid. The functions of information retrieval systems. In: ____. Information retrieval systems. 2. ed. New York: Willy Interscience, 1979. cap. 1, p. 1-14.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Linguagens documentárias: instrumentos de mediação e comunicação. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 26, n. 1/2, p. 72-80, jan./jun. 1993.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Representações documentárias e comunicação. Revista Comunicações & Artes, v. 20, n. 32, p. 73-79, 1997.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Representação e linguagens documentárias: bases teórico-metodológicas. 1999. Tese (doutorado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Linguagem documentária e terminologia. Transinformação, v. 16, n. 3, p. 231-240, set./dez. 2004. Disponível em: <http://revistas. puc-campinas.edu.br/transinfo/include/getdoc.php?id=217&article=72&mode=pdf>. Acesso em: 09 nov. 2007.

LARA, Marilda Lopes Ginez de. Informação, informatividade e lingüística documentária: paralelos com as reflexões de Hjorland e Capurro. In: VIII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (ENANCIB). Salvador, 28 a 31 de outubro de 2007. p. 1-10. Disponível em: <http://www.enancib.ppgci.ufba.br/ artigos/GT2--185.pdf>. Acesso em 28 nov. 2007.

NOVELLINO, Maria Salet Ferreira. A linguagem como meio de representação ou de comunicação da informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 3, n. 2, p. 137-146, jul./dez. 1998.

198

7.5 Mediação

ODDONE, Nanci. O profissional da informação e a mediação de processos cognitivos: a nova face de um antigo personagem. Informação & Sociedade: Estudos, v. 8, n. 1, p. 1-11, 1998. Disponível em: <http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/425/ 346>. Acesso em: 28 nov. 2007.

PIERUCCINI, Ivete. Mediação: perspectivas de um conceito. In: ______. Estação Memória: lembrar como projeto. Contribuições ao estudo da mediação cultural. 1998. Dissertação (mestrado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1998. p. 64-68.

PIERUCCINI, Ivete. A informação e os dispositivos: mediação e mediatização. In: ______. A ordem informacional dialógica: estudo sobre a busca de informação em Educação. 2004. Tese (doutorado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004. p. 30-37.

SIGNATES, Luiz. Estudo sobre o conceito de mediação. Novos Olhares: Revista de Estudos sobre Práticas de Recepção a Produtos Midiáticos, v. 1, n. 2, p. 37-49, 1998.

TARAPANOFF, Kira; SUAIDEN, Emir; OLIVEIRA, Cecília Leite. Funções sociais e oportunidades para profissionais da informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v. 3, n. 5, out. 2002. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/out02/ Art_04.htm>. Acesso em: 09 jun. 2007.

7.6 Comunicação científica

MEADOWS, A. J. A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos, 1999.

MUELLER, Suzana Pinheiro Machado. A ciência, o sistema de comunicação científica e a literatura científica. In: CAMPELLO, Bernardette Santos; CENDÓN, Beatriz Valadares; KREMER, Jeannette Marguerite (Org.). Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2000. cap. 1. p. 21-34. (Coleção Aprender).

TARGINO, Maria das Graças. Comunicação científica: uma revisão de seus elementos básicos. Informação e Sociedade: Estudos, v. 10 , n. 2, p. 37-85, 2000. Disponível em: <http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/326/248>. Acesso em: 09 jun. 2007.

7.7 Estudos disciplinares

POMBO, Olga. Interdisciplinaridade: conceito, problemas e perspectivas. In: POMBO, Olga; LEVY, Teresa; GUIMARÃES, Henrique M. A interdisciplinaridade: reflexão e experiência.

199

Lisboa: Texto, 1994. cap. 1. p. 8-14. Disponível em: <http://www.educ.fcul. pt/docentes/opombo/mathesis/interdisciplinaridade.pdf>. Acesso em 27 ago. 2007.

7.8 Metodologia da pesquisa

CINTRA, Anna Maria Marques. Preliminares a um percurso de pesquisa. Texto de apoio ao desenvolvimento do projeto de pesquisa da disciplina Introdução à Pesquisa em Ciência da Informação, do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo: s. l., 2005. cap. 1.

CINTRA, Anna Maria Marques. O projeto: um balizador para a pesquisa. São Paulo: s. l., 2005. cap. 2.

CINTRA, Anna Maria Marques. Sobre leitura. São Paulo: s. l., 2005. cap. 3.

CINTRA, Anna Maria Marques. Sobre métodos. São Paulo: s. l., 2005. cap. 4.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1991. (Estudos, 85).

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Sistema Integrado de Bibliotecas. Grupo DiTeses. Diretrizes para apresentação de teses e dissertações da USP: documento eletrônico e impresso. São Paulo: SIBi-USP, 2004. (Cadernos de Estudos, 9). Disponível em: <http://www.teses.usp.br/info/diretrizesfinal.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2007.

200

8 Índice onomástico

A partir da relevância do papel de cada autor na discussão e construção do

conhecimento científico, o objetivo da inclusão do índice onomástico é facilitar a

identificação dos conceitos e idéias desenvolvidos pelos pesquisadores da Ciência da

Informação e das Ciências da Comunicação.

8.1 Ciência da Informação

BBorko, Harold ..................................... 32Bradford, Samuel Clemente.......... 27, 48Breton, Philippe .................................. 57Briet, Suzanne ..................................... 28Brookes, Bertram C. ...................... 30, 70Buckland, Michael .............................. 34Bush, Vannevar ................................... 28

CChernyi, A. I. ...................................... 31Cutter, Charles Ammi ........................ 27

DDewey, Melvil ..................................... 27

GGilyaresvskii, R. S. .............................. 31

HHesse, Léopold-Auguste-C. ................ 30

JJewett, Charles .................................... 27

LLa Fontaine, Henry ............................. 26Lotka, Alfred James ............................ 49

MMikhailov, A. I. ................................... 31Miska, Francis L. ................................. 34Mooers, Calvin N. ............................... 28

OOtlet, Paul ..................................... 26, 28

PPanizzi, Anthony ................................ 27

RRanganathan, Shiyali Ramamrita ...... 28

SSaracevic, Tefko .................................. 32Shera, Jesse H. ..................................... 28

TTritheim, Johann ................................ 26

ZZipf, George Kingsley ……................. 49

201

8.2 Ciências da Comunicação

A

Adorno, Theodor W. ..........................88Althusser, Louis ..................................92Austin, John L. ..................................101Austin, John Langshaw .....................123

B

Bakhtin, Mikhail ...............................104Barbosa Lima Sobrinho, A. J. ............110Barthes, Roland..................... 90, 92, 123Bateson, George ..................................87Baudrillard, Jean ......................... 94, 118Beltrán, Luis Ramiro .........................107Beltrão, Luiz......................................111Benjamin, Walter................................89Birdwhistell, Ray ................................87Blumer, Herbert................................103Bordieu, Pierre....................................93Brundson, Charlotte............................96Burgess, E. W. .....................................80

C

Callon, Michel...................................116Canclini, Nestor García.....................108Carvalho, Alfredo de.........................109Charaudeau, Patrick..........................127Cicourel, Aaron Victor .....................102

D

De Fleur, Melvin L..............................85Debord, Guy........................................93Dewey, John......................................124Durkheim, Émile ................................80

E

Eco, Umberto .............................. 92, 104Enzensberger, Wolfgang.....................94

F

Festinger, Leon..................................127Fidler, Roger......................................120Flichy, Patrice .................................... 99Foucault, Michel ................................ 93Friedman, Georges ............................. 92

G

Garfinkel, Harold ..............................100Garnham, Nicholas............................. 99Geertz, Clifford .................................105Giddens, Anthony .............................101Goffman, Erving................................103Gramsci, Antonio ............................... 96Guatari, Félix.....................................117

H

Habermas, Jürgen ........................89, 102Hall, Edward T. .................................. 87Hall, Stuart ......................................... 96Hoggart, Richard ................................ 95Horkheimer, Max............................... 88

I

Innis, Harold Adams .........................118

J

Jakobson, Roman................................ 91Jauss, Hans Robert.............................104

L

Lasswell, Harold D. ............................ 81Latour, Bruno ....................................116Lazarsfeld, Paul F. .............................. 82Leavis, Frank Raymond...................... 94Lerner, Daniel ...................................107Lévy, Pierre ...............................117, 164

202

Lewin, Kurt............................... 127, 171Luhmann, Niklas...............................126Lyotard, Jean-François ......................117

M

Marcuse, Herbert ................................89Martin-Barbero, Jesus ............... 108, 165Marx..................................................125Mattelart, Armand ............................107Mattelart, Michèle ............................107Maturana, Humberto ........................116McLuhan, Marshall.............................99Mead, George Herbert ......................103Miège, Bernard....................................98Moles, Abraham..................................86Morin, Edgar .......................................92Morley, David ............................. 96, 105Mulvey, Laura...................................105

O

Orozco Gómez, Guillermo................166

P

Park, Robert Ezra................................80Pereira, José Higino Duarte ..............109Pierce, Charles S. ........................ 80, 156

R

Radway, Janice..................................105Rizzini, Carlos ...................................110Rogers, Everett..................................115

S

Sacks, Harvey ....................................101Sacks, Herbert ...................................102Sartre, Jean Paul ................................104Saussure, Ferdinand de..........55, 90, 122Schiller, Herbert................................. 97Schramm, Wilbur..............................107Schütz, Alfred....................................101Searle, John........................................123Shannon, Claude .........................83, 174Simmel, George .................................. 80Smythe, Dallas.................................... 99Souza, Pompeu de .............................111

T

Tarde, Gabriel..................................... 80Thompson, Edward P. ........................ 95

V

Van Dijk, Teun A. .............................128Varela, Francisco J. ............................116Virilio, Paul .......................................118

W

Watzlawick, Paul ............................... 87Weaver, Warren..........................84, 175Weber, Max.......................................125White, David Manning .....................171Wiener, Norbert................................. 84Williams, Raymond............................ 95Wittgenstein, Ludwig................102, 123