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Relações Solo-Geomorfologia e sua
Importância em Levantamentos Tradicionais
e Digitais de Solos
Igo Fernando Lepsch Pesquisador Visitante
(USP/ESALQ)
Geomorfologia compreende o exame sistemático das formas do relevo e sua interpretação como indicadores da história geológica ( Howell, 1957)
Pedologia é a ciência que estuda os solos cujos limites
superiores são a superfície do relevo
Portanto uma grande ligação deve existir entre
estes dois ramos da ciência porque ambos lidam
com partes de uma mesma coisa ( Daniels et
al.,1971)
Levantamento de solos é o exame, descrição, classificação e mapeamento
de solos de uma determinada área ; é executado examinando principalmente
a superfície do relevo
ETAPAS NO DESENVOLVIMENTO DE UM RAMO DA CIÊNCIA
1. Fase Descritiva
2. Fase quantitativa ( classificações etc.)
3. Fase preditiva ( modelagem)
.. é de se supor que as fases (2) e (3) não possam ser bem
desenvolvidas sem que a (1)- descrição- também o esteja
PERFIL DO SOLO representa a imagem
do interior de UM solo
PAISAGEM Onde é
possível
visualizar o
padrão
dos solos
CORPO DO SOLO
Segmentos
homogêneos
da paisagem
usados para
delinear um solo
PEDON Menor
volume de
UM solo
Solos, em Pedologia, solo são definidos como corpos naturais
Perfil
Usadas para MAPEAR SOLOS c/ apoio de conhecimento tácito ou
explícito (geomorfologia, estratigrafia e hidrologia)
Usados para CLASSIFICAR OS SOLOS
c/ apoio da física e química do solo
A
E
B
C
BASES TEÓRICAS DOS LEVANTAMAENTO DE SOLOS (PARADIGMAS): Vasilli V. Dokuchaev (1846-1903) reconheceu o solo como
corpo dinâmico e naturalmente organizado que podia ser estudado por si só
tal como as plantas e animais).
Hans Jenny (1941) definiu os fatores de formação do solo : Solo = f (clima, organismos vivos, material de origem, relevo, tempo)
Hudson (1992) : descreveu o “paradigma dos levantamentos de solos: “...pedólogos experientes e bem treinados podem delinear com exatidão um
corpo de solo na paisagem examinando diretamente menos de um milésimo do
solo abaixo da superfície; eles assim podem fazer por causa do validado
paradigma acerca dos modelos solo-paisagem”
Nas paisagens em que todos os seus aspectos ( geologia, geomorfologia e
hidrologia) são comparáveis, os mesmos tipos de solos vão ser encontrados;
Portanto a natureza dos solos pode ser predita e maapeada, com base que
chamamos : “modelo do mapeamento do solo” (Hartung et al, 1991) –
Não existirem corpos de solo estritamente independentes. Este conceito é restrito a
ciências tais como a botânica (uma planta) ou zoologia (um animal).
Na natureza os solos compõem uma espécie de contínuo, apesar de variações de
suas propriedades são, por vezes suficientemente abrupta apara representar,
rigidamente, os seus limites nos mapas.
Contudo, muitas são as vantagens em se considerar os solos como se fossem
indivíduos distintos, porque : (a) facilita a organização do conhecimento sobre
eles sob a forma de classificações, bem como
(b) possibilita o delineamento de seus limites em mapas.
Esses corpos naturais, são resultado dos fatores clima, organismos agindo
sobre um determinado material de origem sob influencia do relevo local e durante
determinado tempo.
Por isso, eles têm certo grau de previsibilidade: em uma área onde os fatores de
formação solo são similares é de se esperar a maioria dos seus pedons sejam
idênticos e isto forma a base científica - ou paradigma - dos levantamentos de
solos definido por Hudson (1992 ,SSSAJ, 56:836–841)
De fato, é muito comum existir uma gradação de propriedades quando passamos
de um corpo de solo para outro que lhe é adjacente. Essas gradações, podem ser
comparadas às gradações em comprimentos de ondas de luz, quando sua vista
capta uma das 7 cores do arco-íris
A passagem de uma cor para outra é gradual mas, nossa vista consegue
distinguir bem onde está o vermelho, depois o amarelo, o verde etc. (Brady e Weil,
2013)
solo = f ( clima, organismos, material de origem, relevo, tempo )
Solo = f ( hidrologia, estratigrafia, geomorfologia)
Para levantamentos detalhados de uma região onde clima atmosférico
é constante muitas vezes é melhor considerar a equação d e Jenny de
outra forma
Um dos modelos conceituais usados para mapear séries de solos é a catena de drenagem.
ex. dos EUA : Séries: Cecil ----> Appling---> Helena----> Worsham bem drenado--->moderada/ drenado---> imperf/drenado ---> mal drenado
Exemplo da África : solos vermelhos gradando para amarelos e Vertissolos
HIDROLOGIA: FLUXOS DE ÁGUA NA SUPERFÍCIE E NO INTERIOR DO SOLO
Geomorfologia: evolução de encostas 1
11
Recuo da encosta
( backwethering);
dominante nas fases
semi-áridas
Incisão pelos rios formando vales em formato de V . Processo dominante em áreas úmidas cobertas por vegetação densa
Superfície do pedimento com
pedras característica de
pavimento desértico
Sperfície muito antiga e estável
Evolução de encostas 2
12
Pedimento marcado
pela linha de pedras
Pedisedimento
Backslope Sopé
Ombro
Alúvio
Antiga superfície
As feições das encostas do vales vales são
frequentmente indicativas da idade do material
de origem que as cobrem. Suas idades
correlacionan-se com diferentes estágios de
Intemperização e portanto diferentes tipos de solos
Como estes mapas detalhados são feitos ? “O mapa de solos é o produto daqueles que leêm as terras”
(Boulaine, 1996)
Mas muitos pedólogos que as sabem ler não sabem explicar como o fizeram
1º) Pesquisa bibliográfica, exame de mapas
(geológicos etc.), imagens de satélite e
fotointerpretação preliminar elaboração do
modelo de elevação digital do terreno
2º)Trabalho de campo para reconhecimento
geral de toda área para elaboração de um modelo conceitual solo-paisagem com uma
legenda preliminar ( incluindo os tipos de perfis de solos)
PRINCIPAIS ESTAPAS PARA EXECUÇÃO DE UM MAPA DE SOLOS
3º) Com o modelo relação solo-paisagem em mente: delineamento das unidades de mapeamento com base em aspectos da superfície do solo, vegetação etc.
4º) Verificação da composição das unidades de mapeamento . Nos delineamentos hipóteses são
levantadas ( no campo ou e imagens) para depois serem testadas com prospecções (com o trado p/
ex.) visando verificar se a homogeneidade do exterior do solo ( paisagem) corresponde a de seu
interior (perfil ).
6º) Depois, trincheiras são abertas em locais que mais
representem os tipos de solos mapeados. Com base na
descrição dos perfis e análise das amostras dos seus
horizontes os solos são classificados; na maior parte
dos casos os nomes dados aos tipos de solos
delineados são os das respectivas classes de solos
7º) Finalmente elabora-se o
mapa definitivo (com
convenções cartográficas,
legenda etc.) e o
Relatório do Levantamento
com a descrição dos solos
e suas
interpretações para usos
práticos
- Portanto, o mapemanto de solos objetiva entender a organização espacial dos solos no ambiente natural, a
fim de estudá-lo por meio de uma abordagem que é, ao mesmo tempo, específica e interdisciplinar.
- O mapa é construído passo a passo, usando metodologia científica: observações, hipóteses, leis,validação e, depois, aplicação. “Na sua elaboração , é necessário ter em mente um modelo de
organização espacial dos solos (modelo hierárquico solo-paisagem).
“E, como envolve tanto conhecimentos teóricos como práticos, somente um bom naturalista, que tenha entendido bem a
estrutura do meio ambiente, poderá lê-lo para fazer dele um bom mapa ”.
Um exemplo da importância do modelo solo-paisagem: Um pedólogo(a) mapeando na escala 1:100.000 consegue, em
média, um rendimento de 700 ha por dia. Contudo, normalmente não consegue fazer mais do que 20 tradagens por dia. Considerando o tamanho do trado (7 cm diâmetro, área de
38,5 cm2), podemos calcular que ele examina diretamente apenas 0,00000001 % desta área.
Portanto, o pedólogo tem que tirar vantagem dessas pequenas áreas para deduzir que tipos de perfis de solos existem ao redor
e entre elas. E isso tem que ser feito se ele quiser fazer seu trabalho com um custo e tempo aceitável.
Para isso ele faz o melhor uso possível de vários elementos para elaborar o MAPA:
Síntese
Observações diretas (exame no campo dos perfis e da paisagem)
Observações indiretas com o uso de fotos aéreas e de
satélites
Extrapolação de conhecimentos tácitos prévios, relacionado a regras de predição do padrão apresentado pelos solos na paisagem
de terras que “já aprendeu a ler”
MAPA
RESUMINDO: os elementos usados para elaborar
um mapa de solos são:
MAPA
-É importante lembrar um levantamento detalhado de
solos, que visa à compreensão e modelagem da natureza, só será social e economicamente justificado se os mapas
são de fácil acesso e leitura e também se os seus relatórios forem escritos em lingaugem clara e incluirem
interpretações para usos práticos.
Além isso:
1.Solos devem ser nomeados com nomes populares além dos das
classes taxonômicas
2.Mapas devem mostrar, além dos delineamentos dos solos acidentes geográficos
diversos, uso da terra ( cores não são aconselháveis)
3. Solos devem ser identificados não só pelos atributos dos perfis mas também
pelos das suas superfícies ( declividade, pedregosidade, erosão etc.)
Apesar de ter sido este o processo tradicional pelo qual a maioria dos
mapas de solos tem sido feitos, em razão de o mapeamento ser
essencialmente baseado na experiência do pedólogo (ou conhecimento
tácito) várias limitações estão a ele relacionadas, entre as quais se
destacam:
(a) dificuldade na reprodução do modelo mental criado (p.ex.: para
transferência do conhecimento para pedólogos menos experientes).
(b) abordagem essencialmente qualitativa comportando
subjetividades, o que dificulta a transferência do modelo aplicado
de uma região para outra
(c) tempo de execução dos levantamentos e demanda financeira
elevados.
Frente a essas limitações, e considerando a disponibilidade atual de técnicas
modernas (SR e SIG) , uma nova abordagem de execução de levantamentos
de solos vem se destacando: o Mapeamento Digital de Solos (MDS), que
emprega um conjunto de técnicas objetivas, quantitativas de aplicação
otimizada para análise de dados geográficos em uma interface digital.
CONHECIMENTO EXPLÍCITO
CONHECIMENTO
TÁCITO
“Prática de campo” ( inferências solo-paisagem
MENTAIS ( não conseguem ser
transmitidas em palavras)
Taxonomia (SiBCS)
Descrição de perfis
de solo etc........
Um dos maiores desafios do MDS é transformar o conhecimento tácito do
pedólogo de campo e explícito
Exemplo: Em dois solos identificados em um dos mapas acima como LVd-1 e LVd-2 somente o
símbolo LVd tem significado nacional ( refere-se a classe dos
Latossolos Vermelhos Distróficos); os números 1 e 2 não são codificados.
As séries de solos, mais adaptadas a esses mapas detalhados - e comuns em muitos países como EUA e Argentina - ainda não foram oficialmente conceituadas no Brasil
No Brasil, a grande maioria dos mapas elaborados por entidades governamentais
são do tipo de reconhecimento ou semidetalhados (escalas iguais ou menores
que 1:100.000);
A maior parte dos poucos mapas detalhados que temos foram efetuados por
firmas particulares, em propriedades específicas e suas legendas não são
totalmente padronizadas.
Nos EUA, onde quase todos municípios têm mapas detalhados de solos
disponibilizados na WEB.
Nesses mapas as unidades de mapeamento são as “fases de séries de solos” que
são as que mais correspondem ao que estamos chamando de “corpos de solos”
Esses levantamentos sistemáticos começaram da década de 30 ( anos de recessão
mundial) e permanece até o hoje faltando poucas áreas para serem mapeadas
Neste mapa: distribuição geográfica do solo Cecil ( amarelo a marrom) nos
EUA , e áreas já mapeadas em detalhe ( em verde)
-Causas do sucesso: 1. Os mapas são de fácil acesso e leitura e também se os seus relatórios forem escritos em linguagem clara e incluem muitas interpretações para usos práticos tanto para agronomia como para engenharia civil
2. Os solos são nomeados com nomes populares além dos das
classes taxonômicas
3.Mapas mostram, além dos delineamentos dos solos acidentes
geográficos diversos, uso da terra ( cores não são aconselháveis)
4. Solos são identificados não só pelos atributos dos perfis mas
também pelos das suas superfícies ( declividade, pedregosidade,
erosão etc.)
5. Pedólogos tem intenso treinamento em serviço
6. Correlacionadores orientam os trabalhos de pedólogos
7. Depois de pronto s trabalhos tem intensa divulgação em escolas,
igrejas etc.
Exemplo de uma folha de um mapa detalhado de solos
que cobre parte de um município dos EUA que pode ser acessado
na internet: //websoilsurvey.nrcs.usda.gov/app/WebSoilSurvey.aspx
Os símbolos que identificam os solos são padronizados; ex: Ce-C= série Cecil, declive C
O delineamento dos solos é apresentado em escala aprox. 1:30.000, sobre imagem que
mostra uso da terra o que facilita aos usuários a localização dos locais de interesse
Abaixo parte de uma tabela apresentada no relatório de um levantamento
detalhado dos solos de um município americano resumindo as
características físicas e químicas do solos mapeados ( em destaque a
“Série Cecil”, declive B e C)
Nos EUA os poucos municípios ainda não tem mapas detalhados
( escala aproximada de 1:30.000) estão agora sendo mapeados por
Processos digitais ( MDS)
Dois tipos de enfoque podem ser usados nos MDS.
1- Mapeamento quantitativo e automático a partir de técnicas estatísticas
convencionais, geoestatística, aprendizagem automática e mineração de dados -
geralmente usando densa amostragem, tanto em mapas de solos preexistentes
como no campo.
2- Outro tipo, que está sendo mais usado é conhecido como “abordagem
baseada em explicitação de conhecimento tácito” . O conhecimento de
pedólogos experientes é traduzido na forma de conjunto de regras de ocorrência
de solos aplicadas a determinada área.
Para a construção das regras gerais de ocorrência dos diferentes tipos de solos
é comum utilizar dados de áreas piloto representativas e mapeadas por
pedólogos experientes; posteriormente esses dados são extrapolados para
áreas similares a partir das regras definidas com base nas características da
superfície, do perfil do solo e suas relações.
Diferenças entre mapeamento de solos convencional e digital
No levantamento pedológico convencional as unidades de mapeamento de solo (UM) são
delineadas com base em modelo conceitual da relação solo-paisagem mentalizado por pedólogo.
Feito isto, perfis são examinados para identificar os tipos de solo (ou vários tipos de solos, no
caso de unidades de mapeamento combinadas), através de prospecções de campo, e nomeados
segundo uma classe taxonômica
.
O mapeamento digital de solos é semelhante; tal como no tradicional, informações
do perfil de solo são necessárias para “treinar” os modelos. As diferenças estão na
forma em que o modelo procede com as informações dos dados de entrada.
No modelo tradicional essas informações “migram” do conhecimento empírico e
as correlações são definidas mentalmente e tem caráter qualitativo; por isso
existem muitas limitações.
O mapeamento digital do solo contorna essas limitações, porque requer modelos
quantitativos, com fontes de dados digitais, como variáveis de entrada. E essas
variáveis muito dependem dos conhecimentos da geomorfologia.
Soil Sci. Soc. Am. J. 73:1682–1692.
Um exemplo: dados do MDS do Município de Essex, Vermont, EUA
Trabalho preliminar ao mapeamento ( como foi feito o mapeamento
tradicional
na área piloto e como dados para extrapolação para restante do
município foram obtidos)
Exemplo dos delineamentos: nos mais típicos para cada feição
geomórfica, foram efetuadas amostragens para verificar a composição
das Unidades de Mapeamento ( consociação, associação ou complexo ?)
Delineamento dos solos em todo município por MDS
( alguns detalhes)
1. Os diferentes materiais de origem foram primeiro delineados manualmente
2. O programa ArcSIE não pode ser usado para delinear solos em todos
materiais de origem; por isso métodos tradicionais foram usados para
alguns materiais de origem (Alúvios
3. Cerca de 700 amostras foram enviadas para serem analisadas no laboratório
( principalmente textura e carbono) e 10 amostras para caracterização
completa de pedons
Overall, mapping efficiency was improved by about 50 percent. We are
currently using similar procedures in a soil survey of the White Mountain
National Forest, NH. In addition to speeding up the mapping process,
the quality and consistency of the end product is much better. Most of
the gains in efficiency are achieved as shown below- note that no field
observation points were needed to support the mapping on the west side
of the image. This is because the model for the soils there had been well
validated in other parts of the soil survey area. As a result, time was freed
up to investigate more complex areas on the east side of the image.
Another major benefit of many DSM procedures is that knowledge
about soil-landscape relationships is documented and preserved.
Many details, including environmental data, point data, the final
polygons (if required), and the inference rules are available as a
permanent record.
ETAPAS NO DESENVOLVIMENTO DE UM RAMO DA CIÊNCIA
1. Fase Descritiva : descrição detalhada
da paisagem onde se situam os corpos de solos
2. Fase quantitativa: quantificação dos
acidentes do relevo dos solos)
3. Fase preditiva (modelagem):
Mapeamento Digital de Solos
.. é de se supor que as fases (2) e (3) não possam ser bem desenvolvidas
sem que a (1)- descrição- também o esteja. Portanto:
A realidade é que nós pedólogos desenvolvemos muito bem estas fases
mas só para o interior do solo (perfil). Para o exterior – a mais essencial
para os levantamentos de solos - falta-nos inclusive a 1ª fase: “descrição detalhada
das feições do relevo e sua interpretação como indicadores da história geológica”,
objeto da GEOMORFOLOGIA