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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS FERNANDA CATARINA DA SILVA FERREIRA RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO SETOR: ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA JOÃO PESSOA 2019

RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO … · ATWOOD, Margaret. O conto da Aia. RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO SETOR: ESTUDO DE CASO DA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

FERNANDA CATARINA DA SILVA FERREIRA

RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO SETOR:

ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA

JOÃO PESSOA

2019

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FERNANDA CATARINA DA SILVA FERREIRA

RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO SETOR:

ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA

Artigo científico apresentado ao Centro de

Comunicação, Turismo e Artes, da Universidade

Federal da Paraíba, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharela em Relações

Públicas.

Orientadora: Profa. Me. Andréa Karinne

Albuquerque Maia

JOÃO PESSOA

2019

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Dedico ás pessoas mais fortes que conheço: meus pais

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AGRADECIMENTOS

Existem pessoas que passam por nossas vidas de maneiras únicas, devo dizer que os

citados nesses agradecimentos e os que não deu para citar fizeram e fazem isso por mim, me

ajudaram, inspiraram, encorajaram, conversaram e ensinaram tudo que aprendi nos últimos 5

anos.

Agradeço a Deus, inicialmente, a Ele toda a honra, pela bondade em tocar corações

que me ajudaram durante toda minha trajetória. Agradeço aos meus pais Jailton e Zeza e meus

irmãos, por serem exemplos tão vivos de perseverança e inteligência. Um mega obrigada a

meu namorado Matheus, por sempre me apoiar, ouvir e incentivar, love u. A minha miga

maravilhosa Nadine, você foi desespero quando eu estava calma e calmaria quando eu me

desesperei, uma parceria de 5 anos e que espero, dure por muito mais tempo, thanks sister! Ju,

Anna, Andressa, Ilza, Bruna, Ricardo, Cida, Dessão todos vocês me ensinaram lições

importantes sobre sobrevivência acadêmica, competitividade, politica, e me incentivaram a

querer mais do que eu pensei que pudesse querer, obrigada turma!

Chegou a vez da minha orientadora, rainha do CCTA e dona de um coração que só ela

pode ter, obrigada Andréa pelas conversas na coordenação na minha época de estagiária e por

me aceitar como orientanda, graças a você decidi tentar ajudar uma causa que vai além do

meu mundinho, me sinto realizada ao ajuda-los com essa pesquisa e da maneira que posso

como voluntária. Você é um exemplo de profissional e mulher, aprendi demais com você e

espero poder te orgulhar com minha pesquisa.

As professoras da minha banca Lívia e Gislene, escolhi vocês não à toa, escolhi

porque vocês marcaram minha vida acadêmica. Lívia você foi a melhor orientadora de estágio

e melhor chefinha que o LARP já teve, obrigada pelo incentivo e pelas orientações que me

ensinaram muito do que sei e apliquei nesse artigo. Agradeço a Gislene por ser uma mulher

tão incrível, você é um exemplo de pessoa, você ajudou uma aluna a escrever sobre

gerenciamento de crises e isso me marcou, escolhi esse tema porque aquele TCC me

impressionou e claro você também. Juntas vocês três (Andréa, Lívia e Gislene) me inspiraram

a escrever sobre o esse assunto e me ajudaram a pensar fora da caixinha, vocês são demais!

Apenas gratidão.

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Nolite te bastardes carborundorum!

ATWOOD, Margaret. O conto da Aia.

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RELAÇÕES PÚBLICAS NA PREVENÇÃO DE CRISE NO TERCEIRO SETOR:

ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA

RESUMO

Ao decorrer do século XXI a sociedade passou por inúmeras transformações, com essas

mudanças, as organizações também mudaram e passaram a ter um senso de preservação da

integridade de sua reputação, visando o diálogo com seus públicos e a atenuação de danos em

tempos de crise. Nesta situação, a profissão das Relações Públicas funciona como uma

“ponte” até a opinião dos públicos, possibilitando que essas opiniões sejam ouvidas e tenham

feedback. A partir disso, o presente artigo tem como objetivo analisar o papel das Relações

Públicas no Gerenciamento de crises no Terceiro Setor, bem como identificar através de

Pesquisas de Opinião Pública as vulnerabilidades e fatores que possam gerar crises na

Associação Comunitária Nova Vida – ACNV. Da perspectiva da Pesquisa de Opinião foram

realizadas pesquisas com os públicos interno e externo da Associação, assim como uma

entrevista com o Coordenador Pedagógico, a partir de embasamentos teóricos relacionados às

Relações Públicas Comunitárias e Gerenciamento de Crises.

Palavras-chave: Relações Públicas. Terceiro Setor. Gerenciamento de Crises. Prevenção de

crises. Relações Públicas Comunitárias.

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ABSTRACT

The course of the century the company has undergone numerous transformations, one with

these changes, organizations have also changed and now have a sense of preserving the

integrity of its reputation, seeking dialogue with its stakeholders and mitigating damage in

times of crisis. In this context, the profession of public relations functions as a "bridge" to the

opinion of the public, enabling these views to be heard and have feedback. From this, the

present article aims to discuss the role of public relations in crisis management in the third

sector, and identify through Public Opinion Research vulnerabilities and factors that may

cause crisis in Associação Comunitária Nova Vida - ACNV. From the perspective of Opinion

Research surveys were conducted with internal and external stakeholders of the Associação,

as well as an interview with the Pedagogical Coordinator, from theoretical grounds related to

Community Public Relations and Crisis Management.

Key words: Public Relations. Third sector. Crisis Management. Prevention of Crisis.

Community Public Relations.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 ............................................................................................................................. 28

Gráfico 2...................................................................................................................................29

Gráfico 3 ............................................................................................................................. 30

Gráfico 4 ............................................................................................................................. 30

Gráfico 5 ............................................................................................................................. 31

Gráfico 6 ............................................................................................................................. 32

Gráfico 7 ............................................................................................................................. 33

Gráfico 8 ............................................................................................................................. 34

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10

2 TERCEIRO SETOR E AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNTÁRIAS..................... 12

2.1 A CRISE NA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS: DEFINIÇÕES,

CONTEXTUALIZAÇÃO E POSSIBILIDADES ................................................................. 14

2.1.1 Definições iniciais sobre o termo “crise” em comunicação, fatores geradores e

possibilidades de intervenção ............................................................................................ 15

2.1.2 O papel das RRPP na prevenção e gerenciamento de situações de crise ................ 17

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 21

3.1 TIPO DE PESQUISA..................................................................................................... 21

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ............................................................................................ 22

3.3 COLETA DE DADOS ................................................................................................... 23

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................................ 23

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 24

4.1 HISTÓRICO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA ............................... 24

4.2 ANÁLISE DA OPINIÃO DOS COLABORADORES ................................................... 25

4.3 ANÁLISE DA OPINIÃO DO PÚBLICO ATENDIDO .................................................. 28

4.4 RELATÓRIO DE ENTREVISTA COM O COORDENADOR PEDAGÓGICO ............ 32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 34

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 36

APÊNDICE ........................................................................................................................ 38

ANEXO .............................................................................................................................. 47

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1 INTRODUÇÃO

Entender sobre o passado nos ajuda a compreender sobre o presente. Nos Estados

Unidos a profissão das Relações Públicas surgiu como uma maneira de humanizar algumas

práticas empresariais no século XX, além de redefinir a maneira como as grandes empresas se

comunicam com a imprensa, criando um espaço de bilateralidade. No Brasil, a profissão surge

em outro cenário, algo voltado ao poder público e não empresarial, porém com as mesmas

funções, entre elas, melhorar o diálogo com os públicos.

É imprescindível que haja um profissional na organização que entenda a importância

dos relacionamentos, que ocorrem entre pessoas ou organizações, sejam elas privadas,

governamentais ou sem fins lucrativos. A profissão das Relações Públicas (RP) permite que

em momentos de vulnerabilidades, o profissional esteja preparado para conflitos, sempre

adaptando suas estratégias ao tipo de crise que enfrenta, assim como ao tipo de setor em que

ele se encontra. Neste contexto, qualquer setor pode ser alvo de crises:

Independentemente da natureza de uma empresa ou o setor em que se está

inserida, qualquer organização poderá enfrentar uma crise em sua existência

e os dirigentes devem estar cientes dessa possibilidade, todavia quanto mais

credibilidade e confiança adquiridas, a imagem da empresa terá menores

chances de corrosão. (JÚNIOR, 2017, p. 5).

Diante do exposto, a ACNV, fundada há mais de 20 anos, na cidade de Sapé-PB,

trabalha com atendimento a crianças, adolescentes e familiares em situação de vulnerabilidade

social, organizada em dois centros conhecidos como Creche Nova Vida e Casa Novo Futuro.

Atende cerca de 300 crianças e adolescentes diretamente, além de 2000 pessoas

indiretamente. De acordo com a sua missão e para atender seus objetivos, a ACNV realiza

diversos tipos de atividades de atendimento direto a crianças, adolescentes e seus familiares,

como: Atendimento direto com crianças e adolescentes; Cursos teóricos e práticos de

capacitação para o trabalho na área de informática e cabeleireiro; Atividades sócio educativas,

apoio escolar, arte educação (capoeira, percussão, dança e teatro), esporte e lazer; assessoria

para formação humana, na parte espiritual e profissional dos educadores visando um melhor

desempenho de suas atividades; trabalho de apoio a famílias vulneráveis para a promoção

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humana e social; articulação e participação nos espaços de decisões das políticas públicas

voltadas para a infância e juventude; acompanhamento a grupos de liderança juvenil, familiar

e comunitária.

Ao analisar o histórico da ACNV, objeto de estudo deste artigo, é notável como uma

Organização Não Governamental (ONG) pode estar suscetível ao cenário apresentado. Por

estar inserida no ramo educacional, por exemplo, a ONG está propensa a lidar com muitos

conflitos, uma vez que estão diariamente lidando com crianças, adolescentes, famílias e

comunidades em situações de risco social, podendo haver acidentes com crianças, conflitos

com a comunidade, tomada hostil de decisões com o público interno, perda de apoiadores,

doadores e colaboradores, conflitos internos, perdas patrimoniais, mal gerenciamento/ uso

indevido do dinheiro destinado às ações e projetos da ONG. Portanto, a prevenção de

conflitos pode e deve ser planejada para evitar danos permanentes a organização.

Deste modo, o objetivo principal deste artigo é analisar o papel das Relações Públicas

na prevenção de crises no terceiro setor, com foco na ACNV, a partir da identificação das

atribuições do Relações Públicas na prevenção de crises no Terceiro Setor, verificando fatores

geradores de conflitos ou crise na ACNV e evidenciando a importância das Relações Públicas

Comunitárias no Terceiro Setor. A metodologia adotada para elaboração do artigo, foram as

pesquisas exploratória e descritiva; quanto à natureza da abordagem, foi qualitativa e

quantitativa; A população da pesquisa é definida como sendo as famílias e colaboradores da

ACNV.

Neste contexto, os resultados dessa pesquisa possibilitaram uma análise da imagem e

reputação da ONG junto a seus públicos de interesse e identificação de algumas

vulnerabilidades que podem gerar conflitos dentro e fora da ACNV, demonstrando a

importância da comunicação como ferramenta na Prevenção de crises no Terceiro Setor e o

papel das Relações Públicas Comunitárias em casos de crise.

ONGs são organizações que possibilitam às pessoas acesso a direitos básicos como

saúde e/ou educação, portanto, oferecer uma visão sobre a comunicação e como ela é

importante para a causa e útil em momentos de conflitos. O propósito é justamente

proporcionar uma nova perspectiva a essas entidades e contribuir de alguma maneira para seu

crescimento, visto que abordar este tema já é difícil quando trata-se dos setores privados e

governamentais, o trabalho torna-se árduo quando aplicado ao terceiro setor, pois não

possuem recursos para a comunicação ou gerenciamento de crises, no caso da ACNV, sequer

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possuem setor de comunicação ou profissionais interessados na área. Não havendo

profissional treinado/responsável pela comunicação de crise, essa posição fica a cargo de um

profissional da área de educação. Dessa forma, surge o interesse por desenvolver uma

pesquisa que esclareça a seguinte questão: Como as Relações Públicas podem atuar na

prevenção de uma crise institucional que atinja a Associação Comunitária Nova Vida?

2 TERCEIRO SETOR E AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNTÁRIAS

As organizações conseguem ganhar visibilidade para seu nome e sua missão por meio

da comunicação, encontrando uma maneira de alcançar diversos públicos, criando estratégias

e construindo laços com seus consumidores, isso porque utilizam de atributos como imagem e

reputação organizacional para estudar e entender as necessidades de cada público-alvo. O

Terceiro Setor não está imune a essa situação, pois voluntária ou involuntariamente estão

sempre em busca de ferramentas que possam agregar valor à sua imagem.

Para falarmos do Terceiro Setor, é necessário entender o que essas palavras

significam. A sociedade civil é organizada em três setores, o Primeiro é o Poder Público,

responsável pela gestão e governo da sociedade; o Segundo Setor é o Privado, nele estão os

empresários interessados em fomentar o mercado com iniciativas privadas; e por fim, temos o

Terceiro Setor que basicamente é a convergência entre os dois primeiros, onde Organizações

sem fins lucrativos preenchem as falhas deixadas pelo estado.

O Terceiro Setor é um âmbito que ganhou força no Brasil no último século, isso

porque com as constantes mudanças na sociedade, notou-se também a enorme quantidade de

pessoas no país que não possuem acesso às condições básicas para sobrevivência, segundo

uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE1 (2016), 22,8% da

população do país tem restrição de acesso à educação, 12,1% possui restrição de acesso a

proteção social, 9,6% da população tem restrição de acesso às condições adequadas de

moradia, 30,1% da população tem restrição de acesso aos serviços de saneamento básico,

25,5% da população possui restrição a comunicação (internet). O Terceiro Setor surge, então,

como um complemento, sendo um investimento na sociedade civil organizada.

1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE. Sínteses de indicativos sociais: Uma análise das

condições de vida da população brasileira. Disponível em: https://bit.ly/2z2etkJ , Acesso em: 02 nov. 2018.

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As entidades do Terceiro Setor contribuem para a construção de um conceito

de sociedade civil, menos centrado na questão do indivíduo e mais voltado

para a questão dos direitos de grupos. Esses esforços conjugados vão dando voz a uma nova forma de se entender o espaço público como

responsabilidade de todos. (LIMA, 2004, p. 98)

Entende-se aqui o Terceiro Setor como composto por organizações não governamentais,

esclarecem Machado e Almeida (2015, p. 103), “dele fazem parte os institutos, entidades,

associações não governamentais, entidades de classe e beneficentes, movimentos sociais,

entre outros”. ACNV está inserida no Terceiro Setor como sendo uma Organização não

governamental com fortes vínculos em campanhas mobilizadoras, possui uma reputação

positiva quando trata-se por exemplo, do combate ao abuso e exploração sexual de crianças e

adolescentes, em que são criadas campanhas, projetos pedagógicos, simpósios, formação para

adolescentes e professores da ONG e de toda a rede pública de ensino da cidade de Sapé-PB,

sobre o tema.

No ano de 2018 foi realizada uma campanha nacional juntamente com o Ministério do

Trabalho, United Purpose e a ACNV, nomeada “Não deixem as violências ficarem

escondidas”, que aborda estatísticas e várias ações de divulgação contra o abuso e exploração

sexual de crianças e adolescentes, é apenas um exemplo de inúmeros projetos que vêm sendo

desenvolvidos pela ONG em campanhas mobilizadoras.

Nos projetos pedagógicos e institucionais, o principal atributo é a credibilidade que a

ONG possui no que se refere às campanhas em prol do combate à exploração e abuso sexual

de crianças e adolescentes. Nesse sentido, criou-se uma relação de longo prazo com doadores,

escolas, creches e com a própria Prefeitura da cidade de Sapé. Por esse motivo, especulações

negativas acerca da conduta da ONG, podem desestabilizar o relacionamento com esses

públicos, causando prejuízos e uma crise de imagem. A questão se intensifica, quando se é

colocado em risco a segurança educacional de 300 crianças e adolescentes atendidos pela

ACNV.

Nesse contexto, o papel das Relações Públicas Comunitárias é justamente encontrar a

melhor maneira de se comunicar com os públicos que as ONGs atendem, além de manter um

canal de comunicação com apoiadores e patrocinadores, buscando o fortalecimento dos

relacionamentos por meio de estratégias de comunicação que estejam atreladas à

disseminação de sua causa e seus projetos.

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Não obstante, alertamos que a atividade das Relações Públicas, quando

aplicada a ONGs, núcleos comunitários ou movimentos populares, apresenta

condições que lhe são próprias, pois os interesses não se amparam na lógica do capital nem nas teorias da comunicação e informação que tratam o

interesse dos públicos com fim de um controle vertical, ou seja, de cima para

baixo. [...] Tendo em vista que suas estruturas organizacionais tendem a ser

mais flexíveis, e as relações de poder se orientam de forma mais horizontal e genuína quanto ao interesse público, matriz de sua existência. (KUNSH,

2007, p. 329)

A ACNV não possui um profissional de comunicação, toda a comunicação é realizada de

maneira amadora, por profissionais da área de educação, como o Coordenador Pedagógico ou

Coordenadora Geral, nesses casos, o RP surge para dar um norte a esses profissionais, uma

maneira de potencializar a comunicação nesses espaços, facilitando o processo de troca de

informações.

Entende-se que o processo da comunicação possui um papel estratégico e que a atividade de Relações Públicas deve estar presente nesta questão de

forma comprometida para transformar inteligentemente as diretrizes do

relacionamento social para a conscientização e democratização do espaço onde se dá tal comunicação, e produzir nos públicos o desejo de participar

do processo. (LIMA, 2004, p. 99)

Nesse cenário, pode-se delinear que a atividade das Relações Públicas serve não

apenas para divulgação das ações da Instituição, mas também para sensibilizar todos os

públicos envolvidos no processo do repasse das informações, criando um relacionamento

consciente e priorizando a missão que a ONG atende. Em se tratando da ACNV, tais ações

também podem construir, a longo prazo, uma reputação positiva e transparente, conectando

sua imagem a ações de equilíbrio com a sua identidade.

2.1 A CRISE NA PERSPECTIVA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS: DEFINIÇÕES,

CONTEXTUALIZAÇÃO E POSSIBILIDADES

A seguir, buscou-se definir o conceito de crise que será considerado durante todo o

artigo, posteriormente pode-se analisar fatores que podem causar crises, com foco em

Organizações Não Governamentais e o quanto o gerenciamento de crises merece destaque na

busca pelo aperfeiçoamento da comunicação no Terceiro Setor. Foi percebida a necessidade

de se trabalhar esse tema justamente porque em ONGs é um assunto pouco abordado, a

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ausência de profissionais de comunicação é comum e realizar uma pesquisa sobre o tema

ajuda a dar visibilidade a essas instituições. Os próximos tópicos estão divididos em

definições sobre crise na comunicação, fatores que podem gerar crises, gerenciamento de

crises e o papel das RPs no gerenciamento de crises no terceiro setor.

2.1.1 Definições iniciais sobre o termo “crise” em comunicação, fatores geradores e

possibilidades de intervenção

Quando traduzimos do grego, a palavra “crise” no português, segundo o Dicionário

Aurélio é sinônimo de apuro, dificuldade, ataque, conflito, queda. “A palavra Crise vem do

grego Krisis (decisão, julgamento) e é parente do verbo Krinein (julgar, decidir, separar) ”,

(NEVES, 2002, p. 16). Comumente, a palavra crise está relacionada a coisas negativas, como

crises emocionais, crises em relacionamentos, crises financeiras, crise de imagem e assim

sucessivamente. Crise é vista como algo desfavorável, quando atinge a imagem de uma

organização não é diferente, mas também é importante ressaltar que, quando se trata de

imagem corporativa, apesar do excesso de problemas causados pelas crises, é possível extrais

inúmeros aprendizados.

Uma crise empresarial é uma situação que surge quando algo feito pela organização – ou deixado de fazer – ou de sua responsabilidade afeta ou

afetou ou poderá afetar interesses de públicos relacionados à empresa e o

acontecimento tem repercussão negativa junto à opinião pública. (NEVES,

2002, p. 31)

Muitos fatores podem desencadear uma crise, como ambientes desfavoráveis,

vulnerabilidades desassistidas, produtos com defeitos, serviços mal prestados, erro de

interpretação e Fake News2. Tratando-se do objeto de estudo deste trabalho, os principais

motivos que podem levar a uma crise estão relacionados aos interesses dos colaboradores, do

público que a ONG atende, aos familiares deste público, entre outros, ou seja, geralmente são

gerados por fatores humanos.

Podemos citar fatores geradores de crises, segundo Forni (2015, p. 36), como os

relacionados a ética empresarial que envolvem trabalho infantil, fraudes e roubos internos,

2 Fake news é um termo em inglês e é usado para referir-se a falsas informações divulgadas,

principalmente, em redes sociais. Mundo Educação. Disponível em: https://bit.ly/2SJchJO , Acesso em:

04 abr. 2019.

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chantagens e sabotagens, informação falsa, suborno, etc. Os fatores que envolvem relações

trabalhistas ou de pessoal como o não cumprimento de direitos, terceirização indevida ou

proibida, assédios de todo tipo (moral, étnico, sexual), violência no trabalho, etc., catástrofes

naturais como incêndios ou raios, controles financeiros, como perda de doadores e apoiadores,

no caso de ONGs, demissão em massa e perda de contratos, etc.

Segundo Neves (2002, p. 57), Os fatores desencadeadores de crises são

descumprimento de contratos, relacionamento com o submundo: corruptos, traficantes,

contrabandistas, etc., ausência de controles ou controles insuficientes, manutenção deficiente,

terceirizações mal escolhidas ou não-controladas, documentação desatualizada,

desorganizada, problemas pendentes como queixas não-resolvidas, denúncias não apuradas,

ameaças não levadas a sério, recursos humanos não treinados, gente estressada ou com

problemas de saúde ou na família, empregados que se sentem injustiçados e conflitos de

interesses. Além disso pode-se acrescentar a comunicação simbólica negativa:

comportamento dos dirigentes, atitudes dos profissionais, relacionamento com os públicos,

sinais exteriores de poder ou riqueza, etc., atitudes “politicamente incorretas”, envolvimento

com temas polêmicos e envolvimentos em política partidária.

Tais fatores podem afetar a opinião dos públicos e tudo isso pode ser intensificado

com as novas formas de tecnologias. A tecnologia trouxe a internet que ajuda na aproximação

das empresas com seus públicos e com a chegada das redes sociais então, sequer pode-se

medir a velocidade com que a informação pode chegar aos interessados, contudo a

democratização da informação também mostra uma nova perspectiva sobre tudo que se

consome.

É fácil encontrar resenhas no Youtube ou críticas no Facebook sobre produtos e

serviços. É cada vez mais comum as pessoas se organizarem em grupos para obter

informações ou até mesmo, como apoio em situações em que foram negligenciadas por

organizações, um exemplo disso é o site Reclame Aqui, um espaço criado para diálogo entre

empresas e consumidores. Basicamente, o site é um “depósito” de reclamações onde o

consumidor consegue chamar a atenção da empresa com mais facilidade, pois o site atribui

notas a resoluções de problemas que pode afetar a reputação das empresas e pode influenciar

futuros compradores na hora da compra.

Essa nova maneira de se comunicar pode alterar a maneira como a Opinião Pública se

portar, possuindo mais rigidez quanto a suas críticas e exigindo posicionamento das

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organizações. Por exemplo, podemos ter empresas como a Samsung e as explosões de baterias

em celulares novos, ou, a Samarco, e o rompimento da barragem em Mariana. O que possuem

em comum são as crises de imagem geradas por desastres ou comportamento humano, a mídia

e seus clientes exigindo posicionamento dessas empresas, isso porque “nenhuma empresa por

mais sólida, admirada e moderna que seja, está imune à crise”, (FORNI, 2016, p. 387).

2.1.2 O papel das RRPP na prevenção e gerenciamento de situações de crise

A decisão estratégica sobre o gerenciamento da crise é um processo longo e contínuo,

que exige da organização tempo e planejamento. Além disso, necessita-se de recursos

disponíveis para executar ações que antecipem a situação, pois o profissional precisa estar

preparado para os problemas que surgem, com planos de crise exequíveis e atitude de

liderança para lidar com o cenário, porém nem todas as organizações possuem verba ou

planos acessíveis para isso, como algumas ONGs ou empresas de pequeno porte.

[...]Entidades não governamentais, fundações, associações e demais entidades sem fins lucrativos em geral atendem às necessidades específicas

de determinados públicos. [...]todos esses casos são segmentos da sociedade,

públicos específicos, que falam sobre seus interesses para toda a sociedade,

que tornam públicos seus problemas e sua ansiedade por soluções. Como não têm fins lucrativos, dependem de financiamento para sobreviver e

muitas dessas entidades sobrevivem com orçamentos bem magros. (FORNI,

2018, p. 204)

Contudo, é preciso que a organização entenda a diferença entre Gestão de Crise e

Comunicação de Crise, como dito por Forni (2018), a comunicação é uma ferramenta

essencial na gestão de crise, mas não é responsável por sua administração, os encarregados

pela administração da crise são a diretoria ou alguém designado por ela, que irá coordenar o

comitê de crise, a comunicação reflete em seu posicionamento durante a crise, sem ela torna-

se complicado gerenciá-la.

Gerenciar a comunicação não é o mesmo que gerenciar uma crise, é por meio da

comunicação que será estabelecido um canal de bilateralidade entre a organização e seus

diversos públicos, não apenas com a mídia. Nesses momentos todos precisam estar bem

informados e é aí que a comunicação entra, gerenciar uma crise é algo mais pontual,

geralmente realizado por diretores, com ajuda da comunicação e diversos profissionais

especializados. “A gestão (Crisis Management) trata da realidade da crise. Comunicação

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(Communication Management) trata das percepções sobre a crise; da forma como o fato

negativo vai ser contado para a opinião pública. ” (FORNI, 2018, p. 416).

Não obstante, vale lembrar que toda ação precisa ser projetada, portanto para uma

comunicação de crise eficaz é necessário planejamento estratégico. Nesse sentido, é

perceptível que a atividade das Relações Públicas é um bônus quando está devidamente em

sintonia com a alta gestão ou diretoria, isso porque é ela quem vai analisar a organização,

criar estratégias que antecipem os possíveis conflitos, assim como remediá-los e sugerir

soluções quando estiverem em andamento.

Relações Públicas constituem uma “função” da direção de caráter permanente e organizado, através da qual uma empresa pública, privada ou

do terceiro setor procura obter e conservar a compreensão, a simpatia e o

concurso de todas as pessoas a que se aplicam. Com esse propósito, a organização deverá fazer uma pesquisa na área de opinião que lhe convém

(adaptando a ela, tanto quanto possível, sua linha de conduta e seu

comportamento) e, pela prática sistemática de uma ampla política de informação, obter uma eficaz cooperação em vista da maior satisfação

possível dos interesses comuns. (SIMÕES, 1995, p. 82).

Deste modo, o profissional torna-se uma “ponte” entre público e empresa, empresa e

comunidade ou empresa e pessoa física antes, durante e depois de possíveis conflitos. Para

Júnior (1997), a atividade das Relações é importante no confronto da crise, pois, é ela quem

organiza os contatos com a imprensa e também é responsável pela coleta de dados e

informações necessárias, pois não devem ser subestimadas as mínimas situações de risco, uma

vez que, o planejamento começa por um programa que consiga prevenir ou diminuir as

chances de incidência de crises.

O planejamento estratégico é uma ferramenta utilizada por vários tipos de

profissionais, no qual são estabelecidas ações para atingir um objetivo viável em curto, médio

ou longo prazo. Albuquerque (1999, p. 14) esclarece, “o planejamento em Relações Públicas é

um processo intelectual, a determinação consciente de cursos de ação, a tomada de decisão

com base em objetivos, fatos e estimativas submetidas a análise”. Embora não haja um plano

geral a ser seguido durante uma crise, é importante investir na manutenção de fatores que

possam vir a gerar uma crise, como citado por Júnior (1997), algumas ações podem ser

preventivas, como manutenção de equipamentos, programas de treinamento, conscientização

do público interno, entre outros, podem e devem estar em harmonia com os objetivos do

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planejamento estratégico, pois segundo o autor “prevenção custa menos que o reparo de uma

crise. ”

Neste contexto, não há planos pré-estabelecidos que possam ser seguidos

metodicamente, pois cada organização possui sua própria realidade, principalmente aquelas

que não possuem orçamento para isso, mas é possível estabelecer algumas fases a serem

seguidas antes da crise ou uma forma preventiva e pensando na organização como um todo.

A prevenção não é uma fase isolada no processo de gestão de crises. Ela faz

parte integrante desse mecanismo ou processo, chamado gestão de crises, que gira junto, compreendendo a prevenção, a preparação, o

desenvolvimento do fato negativo, seguido da resposta à crise

(comunicação) e da recuperação ou pós-crise. (FORNI, 2015, p. 66)

Não se pode falar sobre o Gerenciamento de Crises sem falar sobre prevenção. Para

iniciar o processo é importante ressaltar que a comunicação é parte fundamental de um bom

gerenciamento, ela pode ser uma ferramenta que auxilia na prevenção e instiga a organização

a não ignorar pequenos acontecimentos.

Na primeira fase da prevenção, como dito por Neves (2002), se faz necessário realizar

um diagnóstico estratégico. Preliminarmente, é preciso saber como está a organização, a

maneira que sua imagem é vista por seus públicos internos e externos, é essencial saber sobre

seus antecedentes e sua propensão a conflitos; pesquisar, mesmo que informalmente, por meio

de conversas com colaboradores, qual o nível de consciência da organização. Esse nível de

consciência nada mais é do que saber se a empresa reconhece a disposição para conflitos e

crises, se possue pouca consciência mas adota uma postura defensiva em relação a conflitos

ou simplesmente não pensam sobre o assunto. E ainda, é importante que a organização

conheça profundamente sobre sua cultura organizacional, missão, visão, valores e código de

ética da organização. Tudo isso demanda tempo, mas torna-se um fator chave na prevenção de

crises.

O objetivo da prevenção de crises é assumir uma posição onde será possível prever e

gerenciar conflitos, dessa forma é importante que os funcionários também façam parte desse

plano, pois todos estão inseridos na cultura organizacional e identidade da organização.

Segundo Forni (2015, p. 69) “Não há como prevenir crises se os empregados e os públicos

que interagem com a organização não conhecem as ameaças”. Se todos estiverem integrados

desde o princípio a tomada de decisões será agilizada na hora da crise.

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O próximo passo, ainda de acordo com Neves (2002), é criar uma equipe para a crise,

com poucos profissionais e de preferência de todos os setores da organização, como

assistência jurídica, contador, Relações Públicas e alguém da diretoria. Essa equipe precisa ser

formada por no máximo oito pessoas que sejam responsáveis e criativas, com conhecimentos

e experiências diversas. A missão da equipe será criar um Sistema de Gerenciamento de

Crise, contribuir com planos preventivos, preparar a organização no teste de consciência,

monitorar vulnerabilidades detectadas no diagnóstico e definir um porta-voz.

Depois de explicar aos colaboradores sobre as vulnerabilidades da organização, é

crucial preparar algumas pessoas da empresa para lidar com a Opinião Pública, assim o Media

Training3 é o passo seguinte, em que há a preparação de fontes e porta-voz. Essa prática é

utilizada por equipes de comunicação como uma maneira de atender à mídia, informando por

meio de pessoas responsáveis e treinadas para situações de estresse.

A capacitação de fontes e porta-vozes é um dos instrumentos de assessoria de imprensa que mais popularizaram nos últimos anos. Aperfeiçoar

continuamente os assessorados em compreender a empresa, atender

adequadamente suas demandas, ser proativo e aproveitar oportunidades para transmitir mensagens de maneira eficiente e com elas influenciar os

interessados. (FORNI, 2016, p. 356)

Assim, o porta voz de uma organização pode definir o futuro dela durante uma crise,

ou ainda, evitar que um conflito se transforme em crise apenas aproveitando as oportunidades

e atendendo adequadamente às necessidades da empresa. Como esclarece Neves (2002), o

porta voz deve ser alguém que possua poder de decisão na organização, seja bem articulado e

esteja por dentro de toda a situação e atuando na mesma. A pessoa deve ser treinada no

processo de prevenção, ou seja, antes da crise, pois o importante é que a organização seja a

principal fonte de informações.

Depois de realizado o diagnóstico, criado uma equipe qualificada, ter um Sistema de

Gerenciamento de Crise, envolver os funcionários no processo de prevenção e treinar um

porta voz, é primordial que sejam feitas simulações de crise. Esclarece Forni (2015, p. 65)

“Não é difícil encontrar exemplos em que a falta de treinamento provocou ou agravou uma

3 Na tradução para o português, o treinamento de mídia é a capacitação dirigida a quem deseja ocupar espaço em

veículos de comunicação para falar aos públicos de interesse oferecendo informações que podem gerar boa

reputação. Mais do que só oferecer conteúdo, o media training é um programa de capacitação que trabalha o desenvolvimento das habilidades do interessado em se comunicar bem na hora da entrevista. NOVA ESCOLA

DE MARKETING. Disponível em: https://bit.ly/2GIHYPn , Acesso em: 26 abr. 2019.

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situação-problema, tendo como desfecho uma crise grave”. Portanto, realizar simulações

ajuda a entender melhor os possíveis cenários e corrigir enganos ou equívocos, tornando

possível compreender a dimensão das ações.

Por fim, torna-se pertinente preparar um plano de emergência que, segundo Neves

(2002), esse plano deve conter informações coletadas no diagnóstico e incluídas também no

manual de crises dos colaboradores, como o nome e cargo de pessoas importante durante uma

crise, assim como pessoas de fora da organização que possam ajudar, o contato da equipe de

crises já definida, quais os primeiros passos para entender sobre a crise ou como compreender

sua extensão. Há várias outras informações que podem ser adicionadas, mas isso depende da

instituição e de suas prioridades.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos serão explicados nos quatro subtópicos que seguem,

que esclarecem o tipo de pesquisa aplicada, qual é o universo e a amostra, qual forma foi

utilizada na coleta de dados e como foi feito o tratamento e análise dos dados. Serão citados

autores como Gil (2002), Gerhadt (2009), Fonseca (2002) e Guimarães (2012).

3.1 TIPO DE PESQUISA

O artigo é abordado, quanto a seus objetivos, por meio de uma pesquisa exploratória e

descritiva. A pesquisa exploratória realiza os levantamentos de dados bibliográficos e

possíveis entrevistas com profissionais do âmbito. Enquanto que, pesquisas descritivas

possibilitam a descrição de características próprias da população estudada, a maneira mais

comum é a utilização de questionários para identificação dessas características (GIL, 2002).

Deste modo, para atingir os objetivos propostos, realizou-se um estudo de caso, que

segundo Gil (2008, p.57), “o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo

de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado”,

esse tipo de estudo busca entender o objeto de estudo nos mínimos detalhes, para então

esclarecer possíveis dúvidas do estudo.

Quanto à natureza da abordagem é qualitativa e quantitativa, no método qualitativo os

pesquisadores buscam aproximar-se do objeto estudado para maior compreensão. De acordo

com Gerhadt (2009, p. 31), “a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade

numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma

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organização, etc.” Pode-se entender que é o processo no qual, serão analisados os dados e

organizados para produção de um relatório. Enquanto que, no método quantitativo, os

resultados são observados e comprovados por meio de números e análises desses resultados

quantitativos:

Diferentemente da pesquisa qualitativa, os resultados da pesquisa

quantitativa podem ser quantificados. Como as amostras geralmente são grandes e consideradas representativas da população, os resultados são

tomados como se constituíssem um retrato real de toda a população alvo da

pesquisa. A pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada

pelo positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos

padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem

matemática para descrever as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa e quantitativa

permite recolher mais informações do que se poderia conseguir

isoladamente. (FONSECA, 2002, p. 20 apud GERHADT, 2008, p. 33)

Neste contexto, a pesquisa quantitativa focaliza nos dados numéricos, na coleta de

dados e procedimentos estruturados, enquanto que, a pesquisa qualitativa analisa informações

narradas, e focaliza na subjetividade como maneira de compreender o objeto estudado, são

complementos uma da outra e por isso, tão importante para este trabalho. Portanto, pode-se

ressaltar a adoção da pesquisa bibliográfica e documental, uma vez que, o artigo utiliza de

livros, revistas, artigos científicos, monografias e sites da internet como fontes de pesquisa.

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

A população da pesquisa é definida como sendo as famílias e colaboradores da

ACNV, por melhor sinalizar quais os possíveis fatores geradores de conflitos dentro e fora da

Associação. Para o cálculo da amostra considerou-se o atendimento de cerca de 50 famílias

por dia, de acordo com informações fornecidas pelo coordenador pedagógico da ACNV,

totalizando cerca de 150 crianças, adolescentes e mães por dia, retirando as crianças dos

cálculos. Considerou-se o nível de confiança de 95%, obteve-se o resultado de 49 mães e 1

pai.

Em relação ao tamanho da amostra de funcionários considerou-se a população de 35,

uma vez que a Associação conta atualmente com esse número de colaboradores. Utilizando os

mesmos critérios de erro amostral e nível de confiança do cálculo dos adolescentes e mães, ou

seja, 5% e 95%, respectivamente, obteve-se a amostra de 22 funcionários. Adotando uma

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amostragem não probabilística, como esclarece Guimarães (2012, p. 19) é aquela em que o

acesso a população tem limitações, ou os recursos são limitados. Pode ser: aleatória,

sistemática, estratificada, por conglomerado e de conveniência.

Além disso, um dos coordenadores gerais da Associação disponibilizou informações,

que foram analisadas por meio de uma abordagem qualitativa.

3.3 COLETA DE DADOS

A pesquisa foi conduzida por meio da aplicação de duas pesquisas de opinião, com

dois questionários estruturados, no primeiro questionário destinado aos funcionários

houveram dez perguntas fechadas e uma aberta; no segundo questionário houveram doze

perguntas fechadas, por fim, houve a entrevista com um coordenador, estruturada em onze

perguntas abertas. As perguntas trataram de assuntos relacionados à prevenção de crise ou

conflitos, se já houveram crises perceptíveis pelo público interno/externo, se há um manual de

conduta a ser seguido, etc. Antes da aplicação dos questionários foram realizados pré-testes

com 25% de cada universo, com o objetivo de avaliar a compreensão das questões expostas

no instrumento de pesquisa e, assim, fazer as modificações necessárias antes da coleta de

dados.

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

No que se refere ao tratamento dos dados, realizou-se a tabulação no Excel4. Em

seguida, foram analisados por meio de estatística descritiva, a partir da distribuição de

frequência e percentuais, conforme se observasse na análise dos resultados.

4 Excel é o nome pelo qual é conhecido o software desenvolvido pela empresa Microsoft, amplamente usado por

empresas e particulares para a realização de operações financeiras e contabilísticas usando planilhas eletrônicas

(folhas de cálculo). O aplicativo Excel é usado para realizar uma infinidade de tarefas como: cálculos simples e

complexos, criação de lista de dados, elaboração de relatórios e gráficos sofisticados, projeções e análise de

tendências, análises estatísticas e financeiras, além de trazer incorporado uma linguagem de programação baseada em Visual Basic. Significados. Disponível em: https://www.significados.com.br/excel/ Acesso em: 01

out. 2018

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos resultados está dividida em um tópico e três sub tópicos, no primeiro é

descrito o histórico da ACNV, em seguida seguem-se as análises, em cada um deles foi

analisado um público e pesquisa diferente. Há análise da Opinião dos Funcionários, Análise

da Opinião dos pais e análise de uma entrevista com o Coordenador da ACNV. São feitas

análises das opiniões, comparações entre os gráficos e citações da Fundamentação Teórica.

4.1 HISTÓRICO DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA NOVA VIDA

Com base no histórico da organização, criou-se uma cronologia para facilitar o

entendimento. A Instituição começou atendendo jovens e adultos, para ajudar em formações

profissionais. Logo em seguida, especificamente no ano de 1998, a ACNV foi formalizada

pela freira Lúcia Catalupo com o apoio de famílias voluntárias, criação de CNPJ e toda a

documentação legal, foram alugadas duas casas que, posteriormente, seriam a Creche Nova

Vida e Casa nova Esperança, ambas ocupando a mesma casa, atendendo crianças de zero a

doze anos; e, continuando com os trabalhos, com a Casa Novo Futuro, que, atendeu

adolescentes de 13 a 17 anos de idade, tendo chegado a atender cerca de 195 crianças e

adolescentes, em meados dos anos 2000.

No ano de 2003, decidiu-se juntar os trabalhos da Casa Nova Esperança, que atendia

crianças doentes de zero a dois anos, e da Creche Nova Vida, que passou a atender 140

crianças, entre um e 6 anos. A Casa Novo Futuro, atendeu 150 crianças e adolescentes ente 7

e 17 anos. Atualmente, há duas casas denominadas “Creche Nova Vida”, que atendem

crianças entre dois e cinco anos. Há também a “Casa Novo Futuro”, que atende adolescentes

entre seis e doze anos. Ao todo, a Associação permanece com cerca de 300 crianças e

adolescentes, além do atendimento indireto à comunidade.

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Figura 1: Linha Cronológica da ACN

Fonte: Criado pela autora, (2019)

4.2 ANÁLISE DA OPINIÃO DOS COLABORADORES

No dia 29 de janeiro de 2019, aplicou-se uma Pesquisa de Opinião Pública, (ver

apêndice A), onde o universo pesquisado corresponde aos funcionários da Associação

Comunitária Nova Vida. Os dados foram coletados através de aplicação de questionário com

11 questões fechadas e 1 aberta. A análise é referente ao grau de vulnerabilidades internas da

ACNV, fatores que podem gerar conflitos ou como os colaboradores sentem-se em relação à

solução dos mesmos. A seguir, o Gráfico 1 mostra a área de atuação em que os respondentes

trabalham na ONG, a pergunta foi justamente “qual sua função na ACNV?”. É notório que a

maior parte do público respondente trata-se de educadores, seguidos pelas cozinheiras,

auxiliares de serviços, coordenadores e pessoal de apoio da Instituição, percebeu-se uma

dificuldade na aplicação do pré-teste, por esse motivo, houveram mudanças na estrutura do

questionário, facilitando o entendimento para os respondentes.

Gráfico 1: Respondentes

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

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A segunda pergunta foi “você já ouviu boatos sobre a ACNV? ”, a alta taxa de

respondentes no Gráfico 2 (45%), que preferem permanecer calados sobre o conhecimento de

boatos negativos a respeito da Instituição é alarmante, e mesmo o número que diz já ter

ouvido boatos negativos (32%), tais dados demonstram insegurança dos funcionários em

relação ao que pode afetar a imagem da ONG.

Gráfico 2: Ciência sobre boatos propagados por terceiros

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Os que afirmam ter ouvido podem sentir-se mais preparados para recorrer a

justificativas junto a Coordenação ou Diretoria, já os duvidosos permanecerão silenciados

mesmo diante de boatos que possam levar a Instituição a crises com o público externo, os

23% que afirma não ouvir, torna-se um percentual relativamente pequeno em relação aos

outros. É importante que a Diretoria e Coordenação desenvolva uma ação de conscientização

em relação a isso, com os funcionários, que também são público alvo da Instituição.

Apesar de 32% (Gráfico 2) dos respondentes já terem ouvido boatos negativos sobre a

Instituição, quando perguntados sobre se esses boatos foram repassados até a coordenação

geral, apenas 14% (Gráfico 3) afirma que os boatos chegaram a Coordenação e 72% alega que

não chegaram, ou seja, há uma dificuldade no repasse de informações negativas, um fato

preocupante pois, levanta-se a questão de como a Coordenação e Diretoria podem lidar ou

esclarecer sobre esses boatos se não estiverem cientes dos mesmos?

Gráfico 3: Sobre boatos que chegaram a coordenação geral

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

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Estimular os empregados e os demais stakeholders (clientes, acionistas, fornecedores, sindicatos, aposentados, políticos etc.) da empresa a dar

feedback sobre problemas potenciais de uma crise resulta num capital

informacional muito bom para construir o plano de gerenciamento de crises. A empresa que não gosta de ouvir e se faz de surda, para não sair da zona do

conforto, acaba sendo surpreendida. (FORNI, 2013, p. 82).

Segundo Neves (2002) e Forni (2015), fatores como vulnerabilidades que a

organização não presta atenção, problemas pendentes como queixas não-resolvidas, denúncias

não apuradas, ameaças não levadas a sério, propagadas como boatos negativos podem sim

levar a Instituição a uma crise. Toda forma de prevenção é bem-vinda diante de situações

como essas.

Por ser uma ONG que atende a crianças e adolescentes em situação de risco social a

preparação para solução de conflitos é importante para que haja reações rápidas em casos de

acidentes com crianças ou até mesmo em denúncias, quando questionados sobre “você sente-

se preparado para atender ao público da ACNV em caso de conflitos, crise ou situação

desagradável que aconteça com eles?”, 86% dos respondentes (Gráfico 4), diz se sentir

preparado para isso, talvez se esse tema surgir em reuniões os indecisos (14%) sintam-se mais

seguros para lidar com situações conflitantes, treinamentos também são indicados.

Gráfico 4: Sobre os funcionários sentir-se preparados (a) para atender os familiares/crianças em caso

de conflitos

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Segundo Forni (2015), de nada adianta planejar ou programar uma prevenção de crise

se não houver treinamentos, para maior exatidão na solução do problema e para que seja

resolvido possíveis desalinhamentos desnecessários, treinamentos resolvem a maioria das

dúvidas na hora da ação.

O que se percebeu durante a pesquisa é que a ONG possui inúmeras formas de diálogo

com seus colaboradores, uma vez que, os mesmos realizam reuniões quinzenais, mensais e

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anuais. Estão sempre observando o público interno, em casos de conflitos pessoais, como dito

em entrevista por Ferreira (2019), isso é importante pois abre um canal de mútuo

entendimento entre todos os envolvidos.

De acordo com Oliveira (2007, p. 165) “Quando existe um planejamento antecipado

de prevenção e gerenciamento de crises, a cultura da integração é fortalecida em lugar do

improviso, trabalha-se com um setor colaborando com o outro, fortalecendo o outro.”. Os

respondentes em sua maioria afirmam que a ACNV dá atenção a queixas prestadas por eles e

realizam reuniões mensais onde é possível debater sobre problemas com colegas e boatos

internos (Gráfico 5).

Gráfico 5: De acordo com o setor

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Em sua maioria, a instituição é bem avaliada por seus funcionários, mas é sempre

positivo prestar atenção nos pontos onde há vulnerabilidades. Os respondentes dizem que a

ACNV não possui plano de emergência, ou preparo para crises maiores como em casos de

fraudes, roubos, assédios ou crises financeiras (Gráfico 5), é relevante considerar essas

situações como ameaças reais para a ONG, uma vez que, prevenção parte do pressuposto de

considerar todas ou a maioria das alternativas, como riscos que podem gerar graves danos a

organização.

4.3 ANÁLISE DA OPINIÃO DO PÚBLICO ATENDIDO

Foi conduzida uma Pesquisa de Opinião também com o público atendido pela ONG. A

partir de um questionário com 11 questões fechadas e uma aberta, a aplicação foi realizada

durante reuniões com as famílias e em dois dias seguidos, 27 e 28 de fevereiro de 2019, na

ACNV no horário em que as mães costumam buscar seus filhos.

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Foram encontradas dificuldades nessa parte da pesquisa, porque as famílias são em

torno de 160, mas 77 delas são mães de adolescentes e não possuem o hábito de buscarem

seus filhos. Além disso, muitas delas pedem o auxílio de terceiros para tal e ainda se percebeu

que muitas delas não frequentam as reuniões porque trabalham fora. No total, respondeu aos

questionários cerca de 49 mães e um pai.

No Gráfico 6, foi perguntado o motivo da escolha da ONG como creche para seus

filhos e 50% respondeu que é porque falam bem da ACNV, um motivo muito positivo para a

Associação, visto que, analisando o percentual, metade do seu público prezou pela boa

imagem e reputação da ONG para leva-la em consideração na hora da escolha.

Gráfico 6: O motivo de escolher a ACNV

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Nesse contexto, é importante manter o público sempre atualizado sobre as novidades

da Associação, pois assim cria-se um vínculo com os mesmos, sendo possível a divulgação

espontânea entre as próprias mães das informações geradas pela ACNV. A exemplo disto,

têm-se 9% respondeu que realizaram a matrícula por indicação de outra mãe, um número

considerável.

Foi observado durante a aplicação dos questionários que muitos pais continuam a

indicar a ACNV (9%), pois há uma “Lista de Espera”, que possibilita o ingresso de novos

alunos em qualquer época do ano, outro bônus gerado pelo valor de suas ações e repercussão

do trabalho realizado. Ainda, 36% afirma que escolheu a ONG por ser próxima de sua casa e

5% porque não teve outras opções, o que é comum, pois é mais cômodo matricular crianças

em seu próprio bairro, pois facilita o acesso e a resolução de emergências.

É sempre bom considerar como as pessoas gostariam de receber informações

desagradáveis (Gráfico 7), pois assim, é possível treinar um profissional, para solução de

dúvidas e uma boa postura, para passar confiança à pessoa que receberá uma má notícia e

depois repassar as mesmas informações para outros pais. Em momentos de crise, a velocidade

com que as respostas são dadas é essencial, além das respostas, as ações também precisam ser

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rápidas, pois quanto mais rápido as dúvidas do público atingido forem sanadas, menos

chances da crise se estender e acabar atingido outros públicos. (OLIVEIRA, 2007).

Gráfico 7: Anúncio de uma má notícia sobre a ONG

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

Dos respondentes 62% prefere receber uma má notícia de um coordenador, às vezes,

algo imprevisível acontece com as crianças, adolescentes ou com os funcionários e pode gerar

dúvidas e comentários entre as famílias. “Fazer prevenção é mapear os principais fatos

negativos, as ameaças à organização, por mais surpreendentes que pareçam”. (FORNI, 2013, p.

68)

É relevante ponderar sobre o posicionamento da ACNV nesses momentos, como a

notícia será dada ou se servirá de exemplo para solução de outros conflitos, essa atitude pode

fazer toda a diferença na prevenção de crises, pois uma notícia mal recebida pode ser o

“estopim” para reclamações ou até mesmo difamação e assim, acabar por confundir o público

atendido e afetar sua imagem junto a doadores.

No Gráfico 8, o percentual de pais que discorda das afirmações é mínimo, a ONG

realmente possui uma boa reputação com o público atendido, as perguntas em relação ao

relacionamento dos pais com a Associação são significativas, porque é notável que a

comunicação com o público atendido gera uma boa imagem e consequentemente, mais

pessoas saberão sobre a instituição.

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Gráfico 8: Relacionamento das mães com a ACNV

Fonte: Dados da Pesquisa, 2019

A solução de dúvidas e reclamações pode ser vistas como as mais difíceis para a

ONG, pois foi observado durante a aplicação dos questionários que, boa parte do público é

impaciente quando se trata do repasse de informações. Consideram perca de tempo reuniões,

se seus filhos não estão com problemas e ainda assim, muitas concordam que nesse quesito

estão satisfeitas. Segundo Neves (2002), crises acontecem quando a organização faz algo que

afeta, afetou ou afetará seu público, então é do interesse da ACNV manter seu público bem

informado acerca de suas dúvidas.

É importante salientar que, o instrumento adequado também é essencial, por exemplo,

muitas mães admitem não possuir contas na rede social Facebook, sendo assim, essa rede

social não seria a melhor escolha na hora de informar as famílias sobre eventos ou reuniões.

Normalmente, a informação é repassada para as professoras, que repassam para as mães na

hora da saída das crianças, também não utilizam de informativos impressos, pois é perceptível

um número de mães analfabetas.

A ACNV busca através de reuniões presenciais mensais passar todas as informações

importantes para o máximo de famílias possível. Tratando-se do relacionamento com as

famílias estão sempre preocupados com a forma com que essas informações serão recebidas

pelo público, possuem paciência em explicar muitas vezes a mesma notícia para que todos

sejam inteirados dos acontecimentos. Assim como, disseminam a missão da Associação como

maneira de conscientizar o público sobre a responsabilidade que é participar de uma

Organização não Governamental.

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4.4 RELATÓRIO DE ENTREVISTA COM O COORDENADOR PEDAGÓGICO

A entrevista foi realizada com Jailton Ferreira, Coordenador Pedagógico da

Associação Comunitária Nova Vida – ACNV, na casa do entrevistado, devido a

disponibilidade do mesmo e da pesquisadora. Utilizou-se um telefone celular como gravador

para captar todas as falas, e um questionário elaborado anteriormente para direcionar a

entrevista e obter os dados almejados para a pesquisa.

O coordenador identifica claramente fatores que podem gerar crises para a

Associação, assim como está ciente de que conflitos internos podem desmotivar os

colaboradores. Porém, percebeu-se o foco apenas em crises financeiras ou internas, (por

internas, incluem-se apenas os desentendimentos entre os funcionários). Dentro da Instituição,

busca-se sempre trabalhar os conflitos em reuniões.

De acordo com a pesquisa quantitativa, isso vem funcionando (ver gráfico 5), já que

86% dos funcionários afirmam que as reuniões resolvem a maioria dos conflitos entre eles.

Entretanto, há diversas causas que também podem desencadear crises na ACNV, como dito

por Forni (2015) causas como ética empresarial, relações trabalhistas e catástrofes naturais.

Dentre estas, a que chama mais atenção é o fato de a ONG não estar preparada para situações

de catástrofes naturais, como incêndios ou emergências (Gráfico 5). De modo geral, as

estratégias de comunicação tendem a ser desenvolvidas quando o problema já está instaurado,

ou seja, não há prevenção, apenas solução de problemas.

Nesse cenário, o entrevistado ressalta que uma crise pode ser facilmente desenvolvida

quando os funcionários não entendem a missão da Instituição. Ele aponta que fica mais difícil

trabalhar com tais funcionários, visto que, ao trabalhar em Organização Não Governamental,

espera-se que o colaborador seja também missionário ou seja, que entenda o motivo da luta

social integrada àquela ação, e que a veja não apenas como vínculo empregatício. Segundo o

coordenador, tal crise já aconteceu inúmeras vezes na ACNV e estimulou muitos conflitos.

Contudo, como razão da existência da Instituição, sua identidade e imagem estão entrelaçadas

à causa social que defendem. Com fortes vínculos em campanhas mobilizadoras, a ONG

espera que os colaboradores também possuam um perfil em consonância com a identidade da

Instituição e entendem que, quando isso não acontece, o funcionário pode instigar conflitos e

crises, por não entender o motivo das tomadas de decisão, geralmente relacionadas ao aporte

financeiro da ONG.

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Por esse ângulo, a atividade das Relações Públicas em Organizações não

governamentais está relacionada, como dito anteriormente, não apenas à divulgação das ações

da Instituição, mas à sensibilização de todos os públicos envolvidos no processo do repasse

das informações, criando um relacionamento consciente e transparente. Segundo o

entrevistado, a ONG já passou por crises de imagem, quando a mesma recebeu doações para

Projetos específicos, como a construção de uma casa, por exemplo. Com o público não

participa ou não conhece o processo para o projeto, não entende o motivo de uma creche

realizar tal trabalho.

De acordo com o coordenador, “há um grupo que faz o processo de articulação de

visibilidade da ONG”, nele estão presentes representantes da diretoria e coordenação geral.

Não há profissionais de comunicação envolvidos no processo, e profissionais voluntários não

são bem-vindos nesse grupo, visto que, ele trata de algo interno que lida diretamente com

problemas de imagem da Associação e isso faz com que as ações não sejam preventivas.

Nesse contexto, percebe-se a necessidade de se trabalhar mais profundamente o

significado de crise para a ACNV apesar da boa reputação junto ao público atendido, e da

consciência da importância de visibilidade para a missão da ONG, dentro e fora da

Instituição. Analisando a fala do entrevistado, ainda estão iniciando a busca da consolidação

da Associação em meio à comunidade (aceitação dos públicos), até mesmo por não possuírem

um setor ou profissional de comunicação especifico para a tomada de decisões, quando se

trata da imagem e identidade da organização.

Atualmente, são desenvolvidas campanhas, simpósios, projetos, formações entre

outros instrumentos de comunicação que divulgam a causa pela qual a ACNV luta. Ainda

assim, percebem-se dificuldades na tentativa de passar uma imagem de Organização Não

Governamental. Durante a entrevista, é ressaltado que muitas pessoas da comunidade não

sabem que a creche é uma ONG, ou pensam a mesma pertence à Prefeitura, um problema

sério que precisa de um planejamento e ações de divulgação.

Outro aspecto que foi percebido refere-se à percepção da importância da comunicação

como instrumento capaz de dar maior visibilidade à Instituição. Já fazem, e planejam fazer,

uso de instrumentos de comunicação dirigidos, mas muitas vezes esbarram na escassez de

recursos e ausência de profissionais. Desse modo, é importante que seja trabalhada a

comunicação como uma ferramenta que auxilie na divulgação não apenas de campanhas

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mobilizadoras, mas também da identidade da Associação para além da comunidade que

atendem, chamando a atenção de potenciais voluntários, doadores e parceiros.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Associação Comunitária Nova Vida faz parte do Terceiro Setor. Está sempre

envolvida em campanhas mobilizadoras, assim como, em ações e projetos sociais que vão

além das estruturas físicas da Instituição, usando de sua missão e valores para chamar a

atenção de seus públicos. Esses instrumentos são repletos de estratégias que envolvem as

Relações Públicas principalmente porque estão sempre planejando os próximos passos,

realizando pesquisas (mesmo que informais) para saber a opinião dos públicos antes de iniciar

projetos que afetam os mesmos. Por essa razão, é importante considerar quais fatores podem

gerar crises e estagnar projetos.

Acredita-se que essa Pesquisa cumpriu seu objetivo, que foi tratar de questões como o

gerenciamento de crises no Terceiro setor, identificar fatores geradores de crises e conflitos

para a ACNV, e identificar o papel das Relações Públicas Comunitárias. Além disso,

possibilitou a análise da imagem e reputação da ONG junto a seus públicos de interesse,

demonstrando a importância da comunicação como ferramenta na Prevenção de crises no

Terceiro Setor.

Pode-se concluir que foi possível identificar quais as áreas que a Associação precisa

dar mais atenção. É notável sua postura quando se trata da disseminação de sua missão, o que

não impede que também seja visto o quanto a identidade ainda permanece frágil, quando se

fala de atingir potenciais doadores ou voluntários. Por esse motivo, a atividade das Relações

Públicas é vital para a prevenção de crises, pois são nesses detalhes que o profissional pode

planejar ações que gerem visibilidade e transparência para a Associação.

É importante ressaltar as dificuldades encontradas durante a pesquisa, por se tratar de

uma ONG há muitas limitações na comunicação, falta de profissionais, de estratégias

especificas e também do entendimento dos funcionários sobre a importância de prestar

atenção ao gerenciamento de crises. É um caminho árduo, de muita conscientização e

dedicação a comunicação. Além desses fatores, também foram encontradas dificuldades na

busca de referenciais, sobre gerenciamento de crises especificamente no terceiro setor, há

muitos autores brasileiros que tratam do assunto nos âmbitos privado e governamental, mas

ainda há muito o que se descobri e escrever sobre o não governamental, por vezes, alguns

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assuntos foram abordados de acordo com o primeiro setor, justamente pela ausência

bibliográfica sobre o terceiro setor.

Por fim, esse estudo pode servir como referência em estudos posteriores que visem a

análise do papel das Relações Públicas no Terceiro Setor, assim como, o significado do

gerenciamento de crises aplicado a Organizações Não Governamentais (como a ACNV). Vale

salientar que, para que a Associação continue expandindo sua identidade e a reputação,

precisam ser propagados seus atos assim como sua missão, sempre aperfeiçoando e com foco

no planejamento de projetos exequíveis, relacionados às reais necessidades da Instituição.

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REFERÊNCIAS

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1999, p. 14.

BATISTA, Rafael. Fakes News. Mundo Educação. Disponível em: https://bit.ly/2SJchJO ,

Acesso em: 04 abr. 2019.

DUARTE, Jorge (Organizador). Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a mídia:

Teoria e Técnica. In: FORNI, João José. Comunicação em tempos de crise. São Paulo:

Atlas, 2016, 4 ed., p. 356 – 387.

_______. Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a mídia: Teoria e Técnica. In:

FORNI, João José. Comunicação em tempos de crise. São Paulo: Atlas, 2018, 5 ed., p. 416.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

FORNI, João José. Gestão de Crises e Comunicação: o que gestores e profissionais de

comunicação precisam saber para enfrentar crises corporativas. 2. ed. – São Paulo: Atlas,

2015, p. 8, 65-90.

GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (organizadoras). Métodos de pesquisa. Porto Alegre:

Editora da UFRGS, 2009, p. 31, 33.

GUIMARÃES, Paulo Ricardo Bittencourt. Métodos Quantitativos Estatísticos. Curitiba:

IESD Brasil S.A, 2012. p. 19.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar um projeto de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002, p.

17, 42.

_______. Métodos de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2008, p. 57, 58.

HALL, Stuart. A identidade cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&, 2006.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS - IBGE. Sínteses de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população

brasileira. Disponível em: https://bit.ly/2IXEtGf , p. 84. Acesso em: 13 ago. 2018.

JÚNIOR, Sergio José Andreucci. FARIAS, Luiz Alberto de. A Comunicação por Ações

Culturais como Estratégia de Gestão de Crises. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação. Curitiba – PR, 40º, 2017. Disponível em:

https://bit.ly/2SzzVfs , p. 5. Acesso em: 10 ago. 2018.

LIMA, Aline Fernanda. Relações Públicas nas entidades do terceiro setor: uma ação para

construir cidadania. Janus, Taubaté – SP, ano I, p. 98, 2º semestre de 2004.

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MACHADO, Layanna Caline Santos. ALMEIDA, Eunice Alves de. O papel da comunicação

nas organizações do terceiro setor: um estudo de caso do gacc de Sergipe. Temática, João

Pessoa – PB, ano XI, n. 06, p. 103, 104, junho de 2015. Disponível em: https://bit.ly/2LeR4rg.

Acesso em: 20 abr. 2018.

MARTINUZZO, José Antônio. Seis questões fundamentais da comunicação

organizacional estratégica em rede. Rio de Janeiro: Mauad X, 2013.

NEVES, Roberto de Castro. Crises empresariais com a opinião pública como evitá-las e

administrá-las. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

OLIVEIRA, Mateus Furlanetto de. O papel essencial das Relações Públicas no gerenciamento

de crises. Organicom, São Paulo, ano 4, p. 164, 1º semestre de 2007.

PINHO, José Benedito. Propaganda institucional: Usos e funções da Propaganda em

Relações Públicas. São Paulo: Summus, 1990, p. 27.

SÁ, Aurea Regina de. Media Training: Como se relacionar com a imprensa. Nova Escola de

Marketing, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2GIHYPn Acesso em: 16 abr. 2019.

SIGNIFICADO DE EXCEL. Significados, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2ZCrpfp ,

Acesso em: 01 out. 2018

KUNSCH, Margarida Maria Krohling (organizadora). Comunicação Organizacional:

Linguagens, Gestão e Perspectivas, Volume 2. In: ALMEIDA, Ana Luisa de Castro.

Identidade, Imagem e Reputação organizacional: Conceitos e Dimensões da Práxis. São

Paulo, Saraiva: 2009, p. 103, 207.

_______. Obtendo Resultados com Relações Públicas. In: JÚNIOR, Waldemiro Carvas.

Relações Públicas no Gerenciamento de Crises. São Paulo: Pioneira, 1997.

KUNSCH, Margarida Maria Krohling. KUNSCH, Waldemar Luiz. (Organizadores).

Relações Públicas Comunitárias: A comunicação em uma Perspectiva dialógica e

transformadora. São Paulo: Summus, 2007, p. 323.

WILCOX, D. L., AULT, P.H., AGEE, W.K. e CAMERON, G.T. Relaciones Públicas.

Estrategias y tácticas. 6 a ed. Madrid: Pearson Educación, 2001, p. 191.

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APÊNDICE A – Questionário da Pesquisa de Opinião com os funcionários

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO: RELAÇÕES PÚBLICAS

A pesquisa realizada é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de

Relações Públicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo é obter

informações relacionadas à sua experiência de trabalho na ACNV.

Reforçamos que as respostas são anônimas. Desde já agradecemos por sua

colaboração, bem como nos comprometemos quanto ao sigilo das informações aqui prestadas.

Pesquisadora: Fernanda Catarina S. Ferreira

Orientadora: Profa. Ma. Andréa Karinne A. Maia

1 - Qual sua função na ACNV? ______________________________________________.

2 - Você conhece a missão e valores da ACNV?

( ) sim ( )não ( )não lembro

3 - Você já ouviu boatos sobre a ACNV?

( )sim ( )não lembro ( )não

4 - Esses boatos foram repassados até a coordenação geral?

( )sim ( )não ( )talvez

5 - Você se sente preparado(a) para atender ao público da ACNV em caso de conflitos, crise

ou situação desagradável que aconteça com eles?

( ) Sim ( ) Neutro ( ) Não

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Responda de acordo com seu setor de

trabalho

discordo

totalmente

discordo neutro concordo concordo

totalmente

6 - Você segue procedimento padrão para

lidar com conflitos dentro da ACNV.

1 2 3 4 5

7 - As reuniões e debates são suficientes

para solucionar conflitos entre funcionários.

1 2 3 4 5

8 - A ACNV dá atenção às reclamações e

queixas dos funcionários e famílias.

1 2 3 4 5

9 - A ACNV está preparada para uma crise

(acidentes, fraudes, roubos, assédios, crise

financeira).

1 2 3 4 5

10 - Possuem planos de emergência

conhecidos entre os funcionários (em casos

de incêndios ou acidentes com crianças ou

funcionários).

1 2 3 4 5

11 - Me sinto seguro (a) em meu ambiente

de trabalho.

1 2 3 4 5

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APÊNDICE B – Questionário da Pesquisa de Opinião com as mães

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO: RELAÇÕES PÚBLICAS

A pesquisa realizada é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de

Relações Públicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O objetivo é obter

informações relacionadas à sua experiência com a ACNV.

Reforçamos que as respostas são anônimas. Desde já agradecemos por sua

colaboração, bem como nos comprometemos quanto ao sigilo das informações aqui prestadas.

Pesquisadora: Fernanda Catarina S. Ferreira

Orientadora: Profa. Ma. Andréa Karinne A. Maia

QUESTIONÁRIO

1. Por que você escolheu a ACNV?

( ) É perto da minha casa

( ) Porque falam bem

( ) Indicação de uma mãe

( ) Não tive mais opções

2. Caso houvesse uma má notícia sobre a ACNV, você gostaria de saber por meio de quem?

( ) Coordenador (a)

( ) Professor(a) do seu filho (a)

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Responda sinceramente Discordo Discordo

totalmente Neutro Concordo

Concordo

Totalmente

3. Já ouvi comentários negativos

sobre a ACNV

4. A comunicação da ACNV com as

mães é muito boa

5. Estão sempre dispostos a tirar

nossas dúvidas

6. Indico a ACNV para outras mães

7. A relação entre educadores e mães

é ótima

8. As reclamações são resolvidas

com agilidade

9. A missão e visão da ACNV é

sempre compartilhada em

Encontros com as Famílias

10. Sempre somos informados sobre

os Projetos da ACNV

11. O Facebook da ACNV me ajuda a

saber o que fazem no dia a dia

12. Me sinto bem acolhida (o) na

ACNV

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APÊNDICE C – Entrevista com o Coordenador Pedagógico da ACNV

1. Fale um pouco sobre a história da ACNV.

ACNV – Associação Comunitária Nova vida, ela surgiu em 1996 e como Instituição

Registrada, porém o trabalho da ACNV vem desde 1988, com a chegada do Pe. Gino e as

Irmãs Ada e Esperança e a voluntária Conceição. Elas faziam trabalho nas comunidades e

detectaram a situação da vulnerabilidade Social que era muito grave na cidade e com isso o

trabalho foi sendo realizado em vários bairros como Cuba de Cima, Cuba de Baixo, Terra

Nova, Multirão, Agrovila, Rua Nova e depois chegou a Irmã Lúcia e ela começou a se

envolver, sendo que ela fazia um trabalho na área de adolescentes, era crochê, bordado,

pintura e as outras faziam outros trabalhos, uma era na área de catequese e a outra n área

social, que era peso das crianças, alfabetização de adultos, que era Irmã Esperança, depois a

Irmã Esperança foi embora e Irmã Lúcia assumiu o trabalho com essa responsabilidade social,

mais voltado para o lado educacional e social.

Em 1996, ela (Irmã Lúcia), funda a Instituição com outras 3 famílias, que são as

famílias Felinto, Figueiredo e Marques. Essas 3 famílias junto a voluntária Italiana Valéria e

Julia, juntos fundaram a ACNV com o intuito de tirar as crianças da zona da prostituição, para

passarem o dia na creche, enquanto suas mães passavam o dia trabalhando lá, elas chamavam

de “trabalho de viver”, que era a prostituição, e durante o dia as crianças ficavam na creche

com essa equipe familiar.

Em 1998 foi fundado a Casa Novo Futuro e junto com a Casa Novo Futuro foi

fundada a Casa Nova Esperança, essa última tinha o objetivo de trabalhar com as crianças

vitimas de tuberculose, eram bebes recém-nascidos que tinham tuberculose e ficavam nessa

Casa Esperança e ao lado ficava a Casa Novo Futuro que cuidava de adolescentes, depois a

Casa Nova Esperança foi desativada e no local foi criada uma biblioteca, o público atendido

lá foi movido para a Casa que posteriormente foi renomeada de Creche Nova Vida, atendendo

a crianças de 1 a 5 anos de idade.

Depois surgiu a Casa Família, que atendia meninas e meninos vítimas de abuso e

exploração sexual, eles moravam na Casa, tinha em média de 10 crianças morando lá, depois

foram relocadas em setores públicos como casas de acolhidas. E a casa em que moravam

tornou-se uma casa de acolhida para voluntários que veem do exterior para cá.

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Atualmente, existe apenas a Creche Nova vida e Casa Novo Futuro, juntas atendem um

público de 1 a 12 anos.

2. O que você entende por crise?

Depende do sentido da crise. Se for no lado financeiro, porque tem crise financeira, crise

institucional, que pode ser quando acontece conflitos entre os membros da Instituição. Se for

pelo sentido financeiro, pode ser quando a Instituição passa or dificuldades nos recursos,

quando não tem projetos para trabalhar, quando os apoios financeiros são cortados, então isso

passa a ter uma interrogação, passamos a olhar como uma crise que a Instituição pode estar

vivendo.

3. O que pode ser considerado uma crise para a ACNV?

Justamente o que falei anteriormente, quando a Instituição passa por momentos de

fechamentos de projetos que antes ela tinha como suporte e hoje ela pode não contar com esse

suporte financeiro, isso passa a gerar uma crise financeira dentro da ACNV, isso é

preocupante para o trabalho atuante no município, com o público que nós temos que são 300

crianças entre as duas Instituições.

4. Quais os principais fatores que podem levar a ACNV a um conflito interno?

Primeiro é não entender a missão, isso a gente vem estudando e analisando isso já em

reuniões de coordenação e diretoria da ACNV e quando há esse desentendimento das pessoas

que chegam sem conhecer a missão, levando para um lado mais empregatício não

missionário, não missão social, isso se torna um conflito porque fazem apenas aquilo limitado

do seu trabalho, não vê como uma missão.

5. Os coordenadores e diretores possuem treinamento padrão para lidar com

conflitos?

Sim, nós sempre estamos trazendo formação. Porque existe o processo de formação

continuada então quando é detectada uma área de grande conflito dentro do grupo ou é feito

formação ou buscamos trabalhar em coletivo para os conflitos serem instituídos.

6. Há histórico de conflitos que poderiam se tornar crise para a Instituição?

Pessoas que já saíram da Instituição, como não se adequaram a missão da Instituição saíram

falando que estavam saindo por motivos de pessoas que não gostavam do trabalho delas e isso

gera desconforto para a ACNV, porque onde elas chegam fazem essas colocações, né? Que

saíram por maldade de pessoas e não pensa que o motivo real foi sua adequação com a missão

da Instituição.

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7. Há um porta voz treinado na ONG? E se sim, qual seria sua principal função?

Como assim?

Porta voz seria uma pessoa de dentro da Instituição que resolve alguns problemas

institucionais com o público externo, sendo a voz da ONG.

Ah, sim. Não apenas uma pessoa, mas sim uma equipe, a coordenação. Porque não fica só,

por exemplo, quem mais fica a frente é a coordenadora geral, eu como coordenador

pedagógico e a representação institucional, que é da diretoria, a Irmã Lúcia. Então, fica um

grupo, não todos da coordenação e diretoria, mas assim pessoas da diretoria com pessoas da

coordenação, esse grupo que faz o processo de articulação de visibilidade da ONG. Todos da

coordenação ajudam, mas especificamente é um grupo.

8. Há histórico de crise?

Tem doadores que dão dinheiro para reformar uma casa ou construir uma casa, para uma

família que está em situação de vulnerabilidade social.

Doadores de onde?

Da Europa para o Brasil, só que acontece o seguinte, a gente não fica pedindo? Aí o povo diz

assim: “como estão pedindo ajuda, se compram casas e dão ao povo? ”, “se estão reformando

casas e deixando elas com estrutura de classe média? ”. Porque por exemplo, tem uma família

que mora em um barraco, ai derrubamos a casa, coloca pia, cerâmica, compra os moveis, tipo

um projeto, só que especifico para aquela família, porque quando os doadores vem pro Brasil,

eles vão visitar, tiram foto e se sensibilizam, quando voltam para a Europa, eles fazem

campanhas e arrecadam dinheiro para fazer esse obra em especifico, só que o público daqui

não entendem, eles entendem que a Instituição vive pedindo e um lado e fazendo diferença no

outro lado. “Como dizem que vivem de doação quando estão fazendo uma casa, comprando

casas para dar? ” “Que Instituição está em crise desse jeito? ”.

Outra crise é justamente porque países desenvolvidos também estão em crise, então o que

acontece? As pessoas que contribuíam muito aqui estão deixando de contribuir por seu pais

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está vivendo em crise, a Europa passa por momentos de crise também, então essas crises

também afetam os doadores, porque eles não são pessoas ricas, são trabalhadores e quando

perdem o trabalho, como vão ajudar? Na casa tinha duas pessoas trabalhando, o marido e a

mulher, o marido foi colocado para fora, ficou só a mulher, então eles já não irão mais nos

ajudar. Porque são professores, funcionários públicos, não são pessoas ricas que nos ajudam,

são todos trabalhadores, donos de lanchonetes.

A mesma campanha que fazem na Europa fazem aqui?

Agora nós fazemos.

Antes não faziam?

Não.

Porque?

Porque antes não tínhamos esse olhar sobre a conscientização e sensibilização dos públicos,

como temos hoje.

9. Vocês possuem treinamentos par prevenção de conflitos e crises na Associação?

Apenas as formações continuadas, a gente sempre pensa em trazer formações de acordo com a

necessidade que se é observado ou colocado pelos educadores e demais profissionais.

10. Já houveram problemas com fornecedores e apoiadores em decorrência de

conflitos internos que chegaram até eles?

Não muito, teve um em uma escola. A diretora não queria mais ser... Porque o pré-escolar é

sempre agregado a uma escola, e aí a direção da escola não queria mais.

Como assim, agregado?

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Assim, os recursos do pré-escolar vem via prefeitura, para ser um suporte da prefeitura na

ONG, ai a direção da escola não gostava da coordenação da Associação, principalmente da

diretoria.

Então, foi um conflito pessoal?

Sim, ela não queria, ela não se preocupava e repassar os recursos. A gente quem ficava

ligando, pra saber se as coisas tinham chegado, se iriam vir ou quando iriam vir, ela nem

ligava.

11. Qual a importância de um profissional de comunicação para a Instituição?

Passaria a ter visibilidade na comunicação, né? E isso é uma outra história que a Associação

precisa estar atenta, não só a de comunicação, mas também Psicologia, Social e Saúde

(Enfermaria), que precisamos na Instituição.

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ANEXO A – Dados Cadastrais e Estrutura da Associação Comunitária Nova Vida

Nome Empresa: Associação Comunitária Nova Vida

Nome fantasia: ACNV

Setor de atuação: 3º setor

Rua: Belino Souto, 162, Centro Sapé-PB, CEP: 58340-000

Horário de funcionamento: Segunda à sexta: 07:00 às 19:00

CNPJ: 02. 634.810/0001 - 25

Redes Sociais: Blog (Blogspotassociacaocomunitarianovavida), Facebook (Associação

Comunitária Nova Vida - ACNV), E-mail ([email protected]), Instagram

(@acnv.sape)

Telefone: (83) 3283 3834

PRINCÍPIOS OPERACIONAIS

Código de ética

A ACNV ainda não possui um código de ética ordenado, segundo o

coordenador pedagógico, toda a administração busca seguir o que consta no regimento, de

acordo com os preceitos abaixo:

Visão

Crescimento do público participante, para atuar como protagonistas de sua própria

história, na busca por uma mais sociedade igualitária.

Missão

Promoção de ações na defesa dos direitos de crianças, adolescentes, familiares e

comunidades em situação de vulnerabilidade social no município de Sapé, através de

atividades de atendimento sócio educativo direto com as diversidades, possibilitando uma

melhor qualidade de vida do público participante.

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Valores

Trabalho em conjunto;

Compromisso com a causa;

Igualdade social;

Respeito; ética: dignidade: democracia e transparência.

Figura 1- Logo marca

Fonte: Associação Comunitária Nova Vida (2019)