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RELATÓRIO FINAL
1. O presente processo foi instaurado na sequência do recebimento de um ofício
do Exmo. Procurador Adjunto dos Serviços do Ministério Público de … , datado
de … .
2. O referido ofício capeava uma certidão de fls. … , extraída dos autos de
inquérito que corre termos pela Secção Única daqueles Serviços, sob o nº … ,
bem com do despacho de fls. … daqueles mesmos autos, o que tudo aqui se
dá para os devidos efeitos por integralmente reproduzidos.
3. Compulsada a referida documentação, em … foi remetido por este Conselho
Disciplinar o ofício com a … , dirigido ao Exmo. Senhor Dr. … , para que este,
querendo, se pronunciasse sobre o conteúdo da participação.
4. O referido ofício, porém, apesar de remetido para a morada do Arguido
constante dos ficheiros da Secção Regional de … da Ordem dos Médicos, foi
devolvido ao remetente por não ter sido levantado pelo Arguido.
5. Em face daquela devolução, em … foi remetido um novo ofício, com a refª … ,
com o mesmo propósito e para a mesma morada, ao qual o Arguido não
respondeu.
6. Os elementos constantes dos autos permitiram concluir pela existência de
indícios suficientes da ocorrência de factos violadores dos deveres
deontológicos a que o Exmo. Senhor Dr. … se encontra obrigado, o que
determinou que, em … , contra si tivesse sido deduzido o seguinte despacho
de acusação:
«Contra o Exmo. Senhor Dr. …, médico, titular da cédula profissional
nº …, residente na Rua … , é deduzida acusação nos termos e com os
fundamentos seguintes:
1. O Arguido, Exmo. Senhor Dr. … , subscreveu um atestado médico no
qual atestou «sob compromisso de honra que … , portador do BI nº …,
se encontra doente e por esse motivo impossibilitado de sair de casa
neste dia e por um período de 48 horas. Por ser verdade e me ter sido
pedido passo o seguinte atestado que dato e assino. … , … ».
2. O referido atestado foi utilizado pelo Exmo. Senhor … para justificar
falta de comparência em diligência de inquirição a realizar no âmbito
do processo de inquérito que correu termos pela Secção Única 1 dos
Serviços do Ministério Público de … , sob o nº … , e que esteve
designada para o dia … .
3. Sucede que o mesmo atestado foi junto aos aludidos autos de inquérito
no dia … , por via de requerimento apresentado nesta data pelo
referido … com o seguinte teor:
«… , residente na Rua …, freguesia de …, concelho de , vem aos autos
de processo supra à margem identificado que por motivos de saúde,
não pode comparecer no próximo dia …, às … horas (Anexo junto
atestado médico).
Pelo exposto solicito a V. Exa. se digne considerar a falta justificada.»
4. Dos factos descritos resulta que:
4.1. O referido atestado foi emitido e entregue pelo Arguido ao referido …
pelo menos cinco dias antes da data dele constante como sendo a da
sua emissão;
4.2. Á data da entrega do atestado o referido … não se encontrava doente;
4.3. O Arguido apôs no atestado data não coincidente com a da sua
efectiva emissão, mas antes coincidente com aquela designada para a
inquirição do …, cujo impedimento de comparência o atestado se
destinava certificar.
5. Os factos descritos revelam que o Arguido atestou uma doença
inexistente, emitindo correspondente atestado com data não
coincidente com o da correspondente emissão, por mera complacência
com o interesse do em justificar a sua falta a uma diligência judicial.
6. O descrito procedimento constitui violação do disposto nos artºs 5º,
nºs 1 e 5, 10º, 98º, nºs 1 e 3, e 99º do Código Deontológico da
Ordem dos Médicos.
7. O mesmo comportamento, porque grave e culposo, é punível com a
pena disciplinar de censura, nos termos dos artºs 12º, al. b), 14º e
16º do Estatuto Disciplinar dos Médicos.
8. Ao Exmo. Senhor Dr. … é fixado o prazo de quinze dias, a contar do
recebimento deste Despacho de Acusação, para, querendo, apresentar
a sua defesa escrita e quaisquer elementos de prova que repute
relevantes.»
7. Naquela mesma data foi remetido ao Arguido o ofício com a refª …,
integrando notificação para que o mesmo, querendo, apresentasse defesa
escrita e/ou quaisquer diligências probatórias.
8. O referido ofício foi também devolvido ao remetente por não ter sido
levantado pelo Arguido, pelo que lhe foi reenviado em …, por via do ofício com
a refª. … .
9. O Arguido não interveio no processo, não apresentando defesa escrita nem
tendo requerido quaisquer diligências probatórias.
10. Cumpre apreciar e decidir.
11. Os factos constantes da acusação, concretamente os consignados nos pontos
… . a … . do despacho de acusação de fls. …, encontram-se devidamente
sustentados na documentação dos autos.
12. Os mesmos factos, a nosso ver, traduzem, de forma inequívoca, o atestado
de uma doença inexistente, certificada em data não coincidente com a da
emissão do atestado, por notória complacência.
13. Em face do expendido, e sem necessidade de mais considerações,
consideramos devidamente sustentados os factos imputados ao Arguido em
sede de acusação, cujo comportamento é gravemente violador dos seus
deveres deontológicos, nomeadamente os consignados nos artºs 5º, nº 1 e 5,
10º, 98º, nºs 1 e 3, e 99º do Código Deontológico da Ordem dos Médicos.
14. Tal comportamento, como tal, deve ser sancionado.
15. O Arguido não tem antecedentes disciplinares.
16. Ponderadas todas as circunstâncias, proponho que o Exmo. Senhor Dr. … seja
punido com a pena disciplinar de censura, aplicável por força do disposto nos
artºs 12º, al. b), 14º e 16º do Estatuto Disciplinar dos Médicos.
O Relator