87
Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Sociais Aplicadas Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários - PITCPES Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho e Desenvolvimento na Amazônia GPTDA Projeto Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais no Estado do Pará Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará Belém Agosto de 2012

Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA

Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos

Solidários - PITCPES

Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho e Desenvolvimento na Amazônia – GPTDA

Projeto Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais

no Estado do Pará

Relatório Analítico do Território

do Baixo Amazonas - Pará

Belém

Agosto de 2012

Page 2: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

1

Universidade Federal do Pará

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas

Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA

Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos

Solidários - PITCPES

Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho e Desenvolvimento na Amazônia – GPTDA

Projeto Desenvolvimento Sustentável e Gestão Estratégica dos Territórios Rurais

no Estado do Pará

Equipe do Projeto

Coordenadora

Maria José de Souza Barbosa

Professores Colaboradores

Maria do Carmo da Silva Dias

Técnicos

Maria José Almeida Teixeira (Técnica da Célula)

Pamela Geraldo Trepaki (Técnico de Apoio)

Belém

Agosto de 2012

Page 3: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

2

LISTA DE SIGLAS

ACOMQPAL – Associação Comunitária do Quilombo de Palmares

ACORQE – Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Erepecuru

ACREQARA – Associação Comunitária Remanescente de Quilombo de Arapemã

ADEMA /SINDIPESCA – Administração Estadual do Meio-Ambiente

ADEPARÁ – Agência de Defesa Agropecuária do Pará

ALCOA – Aluminium Company of America

AMUPAA – Associação de Mulheres Pescadoras, Agricultoras e Artesãs do Município

de Santarém

AOMT-BAM – Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo

Amazonas

APAA - Associação dos Piscicultores e Agroextrativistas da Comunidade de Aná

APRUSAN - Associação de Produtores Rurais de Santarém

AQMUS – Associação Quilombola de Murumurutuba

ASACERS – Associação Agroextrativista do Projeto de Desenvolvimento Sustentável

Renascer

ASBAMA – “Associação dos Servidores do IBAMA”

ASFEBEL – Associação Feminina de Belterra

BAM-Pa – Baixo Amazonas Paraense

CEAPAC - Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária

CEFT-BAM – Centro de Estudo e Formação dos Trabalhadores do Baixo Amazonas

CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira

CFR-BAM – Casa Familiar Rural do Baixo Amazonas

CIAT – Comissão Intersetorial de Ações Territorial

CIAT -BAM - Comissão de Instalação das Ações Territoriais

CITA – Conselho Indígena Tapajós/Arapiuns

CMDRS – Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável

Page 4: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

3

CODESUS – Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul

CODETER - Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural

CONHAB – Conselho Nacional de Habitação

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

EEAGLE - Federação Agroextrativista da Gleba Lago Grande

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FEAGLE – Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento

Agroextrativistas da Gleba Lago Grande

FETAGRI-BAM - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Baixo Amazonas

(Delegacia)

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FNO – Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FOCS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém

FOQS – Federação das Organizações de Quilombolas de Santarém

FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

FUNDAC – Fundo de Desenvolvimento e Ação Comunitária

GCI – Grupos de Consciência Indígena

GDA – Grupo de Defesa da Amazônia

GTA – Grupo de Trabalho na Amazônia

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICV – Índice de Condições de Vida

IDESP – Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará

IDH – índice de Desenvolvimento Humano

IFPA – Instituto Federal do Pará

IGMC – Índice de Gestão em Cultura

INCRA – Imposto Nacional

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

Page 5: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

4

MAIS - Movimento per I'Autosviluppo, l'lnterscambio e la Solidarietá

MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MDA – Ministério de Desenvolvimento Agrário

MOPE-BAM – Movimento das Mulheres Pescadoras PPA – Plano Plurianual

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

ONGs – Organizações Não Governamentais

PDTRS – Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável

PIN – Plano de Integração Nacional

PITCPES – Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e

Empreendimentos Solidários

PLANFOR – Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador

PLANTQ – Plano Territorial de Qualificação

PT – Partido dos Trabalhadores

PTB – PartidoTrabalhista Brasileiro

PMDB – Partido da Mobilização Democrática Brasileira

PV – Partido Verde

PSD – Partido Social Democrata

PSA – Projeto Saúde e Alegria

PTP – Planejamento Territorial Participativo

SAGRI – Secretaria de Agricultura

SEARA - Secretaria de Estado de Assuntos Fundiários e de Apoio à Reforma Agrária

SEDEC – Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico

SEIR – Secretaria de Estado de Integração Regional

SEMA – Secretaria do Meio Ambiente

SEMAB – Secretaria do Meio Ambiente

SEMAGRI – Secretaria do Ministério da Agricultura

SEMDES – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

Page 6: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

5

SEMMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente

SEMPAF - Secretaria Municipal de Produção Familiar

SEPAQ – Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultura

SEMPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento

SEPOF – Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e Finanças

SDS – Secretaria de Desenvolvimento Econômico

SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SGE/MDA – Sistema de Gestão Estratégica

SIMPRUMA – Sindicato dos Produtores Rurais de Monte Alegre

SINTTRAF – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

STTR – Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

ULBRA – Universidade Luterana do Brasil

UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará

UFPA – Universidade Federal do Pará

Page 7: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

6

SUMÁRIO

Introdução ..................................................................................................................................... 8

Aspectos Metodológicos da Pesquisa.................................................................................. 12

1.1 - História, economia e sociedade:.................................................................................. 16

a ) Características Naturais .......................................................................................................... 21

b) Áreas de Conservação ............................................................................................................. 21

C ) Patrimônio Cultural ............................................................................................................... 22

d) Terras Indígenas ...................................................................................................................... 27

1.2 - MUNICÍPIOS AMOSTRA DA PESQUISA .............................................................. 28

ALMEIRIM ......................................................................................................................... 28

CURUÁ ............................................................................................................................... 29

MONTE ALEGRE .............................................................................................................. 31

ÓBIDOS .............................................................................................................................. 32

ORIXIMINÁ ....................................................................................................................... 34

SANTARÉM ....................................................................................................................... 35

TERRA SANTA ................................................................................................................. 36

2- Identidade Territorial .............................................................................................................. 38

3. Capacidades Institucionais ..................................................................................................... 44

CONSELHOS E/OU CONSÓRCIOS PÚBLICO ............................................................... 46

Capacidade Organizacional e Controle Social .................................................................... 47

SEGMENTO SOCIAL QUE REALIZAM AÇÕES DE APOIO AS ÁREAS RURAIS DO

MUNICIPIO ........................................................................................................................ 49

4 - Gestão do Colegiado .............................................................................................................. 52

5. Avaliação de Projetos .............................................................................................................. 65

6. Análise do ICV ........................................................................................................................ 67

6.1 - Fatores do Desenvolvimento ....................................................................................... 68

O trabalho na agricultura: número de família trabalhando e mão de obra .......................... 68

Escolaridade ........................................................................................................................ 70

Condições de moradia ......................................................................................................... 71

Acesso ao Mercado, programa de governo, crédito e assistência técnica ........................... 72

Presença das instituições. .................................................................................................... 72

Page 8: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

7

Programa de governo e acesso ao crédito ........................................................................... 73

Acesso à assistência técnica ................................................................................................ 73

6.2 - Características do Desenvolvimento ........................................................................... 74

6.3 - Efeitos do Desenvolvimento ....................................................................................... 75

6.4 – Considerações acerca do ICV..................................................................................... 77

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto ...................................................................... 79

7.1 - Propostas e ações para o território .............................................................................. 82

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 84

Page 9: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

8

Introdução

As profundas mudanças ocorridas no mundo do trabalho a partir de meados do

século XX exigiram do Estado a criação de um corpus de políticas públicas e sociais

capazes de amenizar as consequências da pobreza, promover a inclusão social,

garantirem direitos fundamentais, fixar o homem no campo e enfrentar a degradação

ambiental.

Essas políticas mais uma vez, acenavam para os trabalhadores com a promessa

do desenvolvimento como indispensável à melhoria das condições de vida, sendo

que os trabalhadores deveriam ser munidos de habilidades e competências para

tornarem-se empreendedores e autogestores, ou seja, desenvolverem condições de

empregabilidade.

Esse entendimento perpassa as políticas públicas voltadas para a geração de

trabalho e renda, sejam estas para o campo ou para a cidade. A proposta engloba

qualificação, capacitação, assistência técnica, organização em cooperativas ou

associações e crédito para que os trabalhadores possam viabilizar os seus projetos e,

ainda, a integração (complementaridade) entre as políticas públicas no sentido de inter-

relação entre elas.

No que diz respeito especificamente às políticas públicas voltadas à agricultura

familiar, o foco principal refere-se ao fortalecimento desta modalidade de agricultura, à

reforma e ordenamento agrário e à promoção do desenvolvimento sustentável.

O ponto de partida, ou a inspiração para a política pública de fortalecimento da

agricultura familiar, diz respeito, pelo menos, a duas razões bem claras. A primeira é a

crítica à concepção de políticas de desenvolvimento homogêneo pensadas em termos

macros e que, consequentemente, não davam conta das especificidades regionais e

locais, das diversidades dos Estados nacionais.

Ocorre que, planejadores e estudiosos do desenvolvimento viam as sociedades

rurais a partir das cidades, ou seja, com racionalidade urbana, sendo que muitas

soluções para os problemas dos agricultores eram encontradas no êxodo rural

(Wanderley, 1999, p. 3). Dessa forma, a atenção com o meio ambiente e com a coesão

social, colocaram o campo no centro das preocupações e das estratégias da sociedade

contemporânea, no que se refere à atenção do Estado com as políticas de

desenvolvimento para a agricultura familiar.

Page 10: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

9

A segunda razão refere-se à evidente necessidade de políticas públicas que

enfoque o seguimento rural dos agricultores familiares, que atenda às especificidades

regionais e locais e que possibilite acesso ao crédito, à assistência técnica e à

infraestrutura básica e fixe o homem no campo. Assim, as políticas públicas voltadas

para o desenvolvimento territorial rural tiveram diversos apelos ao longo da historia do

desenvolvimento do país, sendo os mais recentes: as reivindicações das organizações

dos agricultores familiares por crédito e reforma agrária; a presença de estudos que

apontam a importância e a diversidade da produção familiar e o Plano Plurianual (2004

– 2007) do governo federal, declaradamente comprometido em promover

transformações estruturais na sociedade brasileira.

Ressalta-se, entretanto, o papel desempenhado pelas organizações sociais

(Organizações Não Governamentais - ONGs, Sindicato dos Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais – STTR e igrejas), que, especificamente no Baixo Amazonas

paraense, mobilizados pela necessidade de reforma agrária, pela explosão de conflitos

fundiários, pelo crescimento da pobreza e pela degradação ambiental, passaram a

reivindicar uma política que atendesse a força de trabalho familiar não contemplada

pela política agrícola dos governos militares. Para Avelino Ganzer1, a luta era pela

construção de uma proposta nacional de desenvolvimento rural e de valorização das

identidades dos agricultores familiares em detrimento daquela que foi construída pela

elite dominante do país (DIAS, 2009).

A ideia de políticas públicas para o campo diferenciadas daquelas que

atendiam aos grandes produtores, inscreveu-se nas políticas do governo Luiz Inácio

Lula da Silva (2003-2011), sobre o compromisso de erradicar a pobreza e o

analfabetismo, promover acesso à saúde, à cultura, à moradia e transporte, reter o

homem no campo e promover a geração de renda, ou seja, a cidadania e a democracia

(Plano Plurianual 2004-2007).

O compromisso com a agricultura também estava presente no Plano Plurianual

2004-2007, do Estado do Pará, gestão do governador Almir José de Oliveira Gabriel e

os governos subsequentes, para quem o crescimento econômico se daria por meio da

valorização das potencialidades locais, pela geração de trabalho e renda, por

1 Vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores nos anos 1980, quando foi criado o Departamento

da Rural da CUT, onde se concentrou a luta por políticas públicas para os agricultores familiares.

Liderança do movimento social da Amazônia paraense.

Page 11: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

10

implementos tecnológicos, pela eficiência das redes sociais e pela elevação da qualidade

de vida com base no princípio de desenvolver sem devastar (PPA- PA, 2004-2007).

De acordo com aquele plano, para a agricultura paraense caberia a formação de

cadeias produtivas de origem vegetal, crescimento da produção para atender o mercado

nacional e internacional e autossuficiência em matéria prima (PPA – 2004-2007 –

Estado do Pará), entretanto, o que ficou muito evidente foi a produção de grãos,

particularmente a soja. Essa atividade econômica contribuiu de maneira significativa,

juntamente com a exploração mineral (ouro e bauxita) para promover a desapropriação

de agricultores familiares, o desmatamento, a exploração de madeira e a contaminação

por mercúrio do leito dos rios.

No bojo desses problemas sobressai questão ambiental. Por um lado, esta pode

ser uma alternativa viável aos problemas acima expostos quando a estratégia for a

sustentabilidade possibilitada por atividades econômico-sociais e culturais associada ao

manancial da biodiversidade e do patrimônio natural do território. Assim, a

sociobiodiversidade na relação com a pesquisa & desenvolvimento voltada a criar um

nicho de conhecimento e uso sustentável, na defesa do meio ambiente como condição

de vida no planeta, pois as ameaças do aquecimento global e do desmatamento da

floresta exigem o desenvolvimento de atividades socioeconômicas com base em

recursos de uso renovável.

Por outro lado, a questão ambiental torna-se um problema se a estratégia for a

continuidade dos processos de exploração da natureza a partir de políticas

neodesenvolvimentistas e neoindustriais, constituídas de modo exógeno às dinâmicas

das populações locais.

Assim, para desenvolver as atividades dos sujeitos sociais que mobilizem os

recursos sociais, econômicos, culturais, tecnológicos, ambientais e institucionais se

precisa ter como essencial a referência o potencial dos recursos naturais, as

características físico-geográficas e morfológicas, que originaram espaços extremamente

importantes e significativos à mobilização agroecológica, quando associados à

centralidade das populações locais.

O desenvolvimento do território do Baixo Amazonas, passa pelo enfrentamento

de problemas históricos combinados a diferentes políticas públicas, a fim de favorecer o

protagonismo dos agricultores familiares, pois se trata de outro paradigma de produção

e de valorização dos modos de vida locais até então consideradas obstáculos. As

Page 12: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

11

atividades de base ecológica exigem a relação homem-natureza como estratégia de

desenvolvimento territorial, econômico, social e ambiental.

O diagnóstico sobre a potencialidade das comunidades locais em consonância

com as demandas territoriais precisam estar ancoradas no meio natural, levando-se em

consideração as práticas sócio-produtivas dos sujeitos locais para a adoção de

estratégias de desenvolvimento sustentável. Um contributo à geração de trabalho e

renda em meio amazônico, a fim de melhorar os padrões de vida nesses territórios. As

experiências concretas tornam-se chave para a formação de base econômica com

inclusão social.

Os diferentes sujeitos e seus territórios específicos têm papel importante na

articulação das redes institucionais, potencializadas pela relação direta com os

movimentos sociais em processos de cooperação com governos (municipais, estadual e

nacional) e outros sujeitos que possam contribuir para a valorização da agricultura

família, capaz de fortalecer os vínculos sociais endógenos, tendo em vista que a

cooperação mais do que a competição é a base do desenvolvimento territorial.

A gestão dos recursos naturais é outra característica que pode contribuir para a

melhoria das condições de vida no Baixo Amazonas, espaços onde o isolamento é a

condição primeira da vida dos trabalhadores e a cooperação e o associativismo, uma

prática constante e necessária no território, presente nos mutirões, da produção, da festa,

da comemoração e nos momentos intensos de trabalho e de lazer, baseados na cultura

dos vilarejos e comunidades ribeirinhas em meio à floresta e os fluxos das águas.

Resumidamente a análise da percepção dos entrevistados no Território do

Baixo Amazonas, no Estado do Pará, deve levar em consideração dois grandes eixos de

desenvolvimento: o primeiro é dado pelas condições naturais que possibilitam a relação

homem-natureza em condições extremamente originais, onde constituição de iniciativas

comunitárias tem como perspectiva garantir meios para a permanência dessas

populações tradicionais, com qualidade de vida na floresta e que as áreas ribeirinhas ou

as unidades de conservação são ricas em potencial para a utilização de modo sustentável

de recursos renováveis; o segundo decorre das novas investidas do capital na região,

particularmente com a penetração das grandes plantações de sojas, impulsionadas pelas

novas fronteiras agrícolas, além da implantação de novos terminais portuários, da

exploração mineral e da ampliação da Zona Franca na região Norte.

Neste ambiente de interação e conflitos socioambientais, as atividades da

agricultura familiar visam a atender as necessidades de melhoria das condições e de

Page 13: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

12

valorização da vida, assim como de conservação dos recursos naturais associada às

manifestações culturais autóctones.

Frente a esse cenário de criticas, proposições e expectativas, foi lançada a

concepção de políticas agrárias de âmbito territorial. Essa política fundamenta-se na

valorização das práticas e experiências locais por meio do incentivo à participação das

organizações sociais e demais instâncias do poder público e privado e da sociedade civil

organizada. A proposta consiste em descentralização do poder do Estado por meio da

agregação dos diversos atores sociais para a proposição e execução de projetos, de

acordo com os princípios de governança, gestão social e empoderamento, visando a

promover a cidadania e a democracia. Assim, foi lançado em 2008 o Território

Cidadania, pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, coordenada pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT).

Dessa forma, as análises objeto deste trabalho referem-se ao Baixo Amazonas

paraense, formado pelos municípios de Almerim, Alenquer, Belterra, Curuá, Faro,

Juruti, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Placas, Porto de Mós, Prainha, Santarém,

Terra Santa, cujo potencial do patrimônio natural e cultural tem se colocado como

desafio para o desenvolvimento da agricultura familiar, visto as profundas alterações do

território com a introdução do agronegócio e da extração mineral.

Aspectos Metodológicos da Pesquisa

A pesquisa foi realizada por amostragem

em sete (07) municípios do território do Baixo

Amazonas Paraense: Santarém, Almeirim, Monte

Alegre, Óbidos, Oriximiná, Terra Santa e Curuá.

Foto 2. Reunião

realizada em novembro

de 2010, na cidade de

Santarém –Pará, para a

formação da equipe de

pesquisadores.

Registra-se a presença

da coordenadora Maria

José Barbosa.

Fonte: Equipe

MDA/SDT/UFPA.

2011.

Foto 1- VII Congresso de CEFT-BAM, realizado

em Santarém-Pará, em dezembro de 2010, com a

participação de representantes das organizações

sociais do Baixo Amazonas paraense.

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011.

Page 14: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

13

Primeiro, procedeu-se a formação da equipe, por meio da discussão dos

questionários e das orientações fornecidas pela Secretaria de Desenvolvimento

Territorial (SDT), segundo, buscou-se a formação de parcerias, para isso aproveitou-se a

realização da Feira da Produção Familiar do BAM, no município de Santarém, para os

primeiros contatos com as organizações sócias, particularmente o Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), o Centro de Estudo e Formação dos

Trabalhadores do Baixo Amazonas (CEFT-BAM) e com a Empresa de Assistência

Técnica e Extensão Rural (EMATER), parceiros imprescindíveis neste trabalho.

Terceiro, realizou-se a apresentação do projeto de pesquisa no VII Congresso

do CEFT-BAM, o qual contava com a representação das organizações sociais do Baixo

Amazonas e quarto, procedeu-se o levantamento junto ao IBGE, dos mapas e das

estratégias de acesso às comunidades objeto das amostras. Ressalta-se que a orientação

dos pesquisadores também fez parte da metodologia de pesquisa, onde foi abordo dentre

outras questões a pesquisa participante e elaboração de diário de campo.

A pesquisa, nos municípios de Monte Alegre, Oriximiná, Curuá, e Óbidos,

coincidiram com a realização das plenárias do CODETER para a elaboração do Plano

de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável (PDTRS). Destaca-se que a presença

da equipe de pesquisadores naquelas plenárias foi muito importante, tendo em vista o

encontro com as lideranças, a contribuição nos debates, e veio enriquecer as

observações-participantes.

A pesquisa realizou-se por municípios. A chegada da equipe no município era

previamente planejada com o STTR e com a EMATER, por meio dos quais se

procurava viabilizar o acesso às comunidades, entrevistas com lideranças e transporte

para as comunidades, a fim de ser aplicado o ICV.

Assim tornou-se possível superar os obstáculos e colher dados que permitem

uma análise, ainda que parcial, da realidade da agricultura familiar no BAM. Entanto,

Foto 3. Feira da Produção Familiar, Novembro de 2010, Território do Baixo

Amazonas Paraense.

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011.

Page 15: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

14

uma pesquisa de caráter mais denso exige tempo, pois há poucos registros para a

avaliação do potencial deste território. Os dados secundários nos possibilitaram a

construção de um panorama geral, de sua história, economia e sociedade. Os registros

estatísticos de órgãos oficiais precisam ser confrontados com pesquisas mais

aprofundadas de base teórica e com as políticas públicas, particularmente aquelas

articuladas às demandas territoriais, para que se possa realizar um diagnóstico mais

acurado para a compreensão das ações dos sujeitos sociais e das ações de políticas

públicas de base territorial, o que exige apuração dos dados primários com registros

mais elaborados sobre a realidade do Baixo Amazonas.

A pesquisa realizada a partir da aplicação do conjunto de questionários

orientados pela SDTMDA nos forneceu uma base de dados primários sob a perspectiva

dos entrevistados, na medida em que se prendeu a percepção desses sujeitos, o que

também exige o balizamento de dados obtidos em instituições oficiais, confrontados

com as teorias sociais, mas que não serão realizadas neste relatório.

Assim, partiu-se para uma análise do contexto mais macro a fim de apontar

elementos da formação econômico-social e político-cultural da região do Baixo

Amazonas, para em seguida analisar os índices da pesquisa em articulação com

elementos da história, a política, a sociedade, a cultura tendo como suporte os recursos

naturais e a acessibilidade a este território.

Buscou-se a recuperação histórica da região, sem ser exaustiva, abordando um

conjunto de elementos capazes de ser mobilizados pelos sujeitos da agricultura familiar,

a fim de potencializar os incentivos econômicos de cunho afirmativo e, ao mesmo

tempo, a promoção de infraestrutura adequada aos interesses endógenos, visando a

valorização da relação entre homem e natureza como base de uma nova démarche

estratégica, em níveis de desenvolvimento econômico, com elevação da qualidade de

vida nos espaços mais recônditos da Amazônia.

Por essa razão remeteu-se ao processo de colonização, momento crucial que

deixou marcas na cultura local, particularmente, por destruir quase todos os vestígios

das culturas passadas, embora no Território do Baixo Amazonas seja possível

identificar elementos desse passado mais remoto. Hoje há, pelo menos em aparência,

certo consenso na sustentabilidade, particularmente na Amazônia, devido à abundância

de recursos naturais (REIS, 2008). O que pode favorecer as populações locais, suas

ações individuais e coletivas, se colocadas como sujeitos centrais e estratégicos nos

processos de conservação dos recursos naturais renováveis. A sustentabilidade

Page 16: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

15

ecológica, econômica, social e cultural no desenvolvimento do Território do Baixo

Amazonas, que pode ser observada sob duas matizes diferenciadas: a primeira como

solução e a segunda como problema.

O levantamento de dados e as informações de campo foram extremamente

dificultados, na medida em que a liberação dos recursos coincidiu com o período das

chuvas impossibilitando o acesso aos municípios; algumas amostras (setor censitário)

tiveram que ser substituídas ainda por não existirem ou estarem em outro município; o

retorno das informações foi prejudicado devido aos serviços de transporte e telefonia

não ocorrerem em tempo hábil, implicando no atraso da sistematização para a

elaboração do diagnóstico.

O presente relatório está dividido em sete subseções: a primeira trata dos dados

históricos, socioeconômicos e culturais; a segunda aborda o patrimônio natural; a

terceira indica a acessibilidade e infraestrutura e a quarta consta da análise dos dados

obtidos no Território do Baixo Amazonas.

Ainda, cabe informar que, contrariando as orientações da SDT este relatório

não foi discutido junto ao Colegiado e nem aprovado pela Célula de Acompanhamento

e Informação, tendo em vista que esta nem chegou a ser criada uma vez que o

CODETER tem reiteradamente se negado a criá-la sobre alegação de que MDA não

oferece recursos para a concretização das agendas do Colegiado. Pelas mesmas razões

foram inviabilizadas as discussões do presente relatório.

Page 17: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

16

1- CONTEXTUALIZAÇÃO – BAIXO AMAZONAS PARAENSE

1.1 - História, economia e sociedade:

Mapa 1: Municípios do Baixo Amazonas

Fonte: SDTMDA.

Para Witkoski, do ponto de vista físico a Amazônia é um “complexo de terra,

floresta e água”, do ponto de vista das configurações socioeconômica e ambiental, ela

foi produzida pela dinâmica do capitalismo na região, pelas formas como o Estado tem

promovido o seu desenvolvimento (WITKOSKI, 2007, p. 21). É na perspectiva desse

entendimento que se pretende contextualizar o Baixo Amazonas paraense (BAM-PA),

por meio da apresentação de traços da formação histórica, de alguns aspectos do

desenvolvimento capitalista e da caracterização física e política do referido território.

A história do BAM se confunde com a história da Amazônia como um todo.

As cidades emergiram às margens do Rio Tapajós, particularmente a partir da expulsão

dos jesuítas, quando suas fazendas foram reestruturadas pelo regimento do Diretório de

Índios, que criou as regras para o comando civil, introduzindo as atividades agrícolas,

sob a organização de ramos de produção, visando a suprir as demandas da colonização.

A mão de obra empregada era a indígena utilizada para a construção de fortificações, a

qual, de forma oficial, foi substituída pelo trabalho do negro africano com a fundação da

Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão2, cujo objetivo era intensificar

a extração das drogas do sertão.

2 A Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão, instituída em junho de 1755, teve como motivo

assegurar o domínio territorial da Amazônia a Portugal. “A Coroa, preocupada com a segurança e com o

domínio político da Amazônia, encontrou na Companhia o meio mais eficaz de salvaguardar sua

Page 18: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

17

A economia da Amazônia3 desde a colonização foi associada ao extrativismo

(chamadas drogas do sertão e a pesca nos lagos). A primeira onda de modernização

desta sub-região foi protagonizada pela riqueza obtida com a economia da borracha, na

virada do século XIX para o século XX. O fracasso desse projeto deixou marcas na

história e cultura na região devido à implantação de uma infraestrutura urbana às

margens do Rio Tapajós, cujos resquícios ainda podem ser observados nos municípios

de Aveiro e Belterra.

Com a intervenção dos governos militares a região passou por um processo

intenso de alteração do uso do solo e do modo de vida e trabalho das populações locais,

devido à implantação de grandes projetos agrominerais e agropastoris, bem como, da

implantação das rodovias Cuiabá-Santarém e a Transamazônica, ambas até hoje

inacabadas. Esses investimentos eram justificados pela ideologia da Política de

Segurança Nacional e pelo modelo desenvolvimentista de comando ditatorial. Período

em que a colonização incentivada pelo Estado introduziu um processo de migração de

populações do sul do país, enquanto que as populações locais eram desapropriadas em

nome do desenvolvimento nacional, e viam desaparecer suas condições de auto-

sustentabilidade. O êxodo rural de uns e o eldorado de outros foram estimulados pelas

promessas de progresso.

Esse processo de desenvolvimento iniciado nos anos 60 foi acelerado na

década seguinte por meio de políticas desenvolvimentistas que implicaram na alteração

dos padrões culturais e ambientais da região. Os incentivos e isenções fiscais para a

introdução de infraestrutura, transportes e logísticas voltadas à implantação dos polos

agroindustriais e agropecuários, transformaram profundamente a realidade local, cujos

resultados geraram fortes e profundos problemas econômico-fundiários e

socioambientais, além da violência nos campos e nas cidades.

Nos anos 90, com a abertura dos mercados nacionais e a investida da economia

mineral, do agronegócio e, em menor proporção, as atividades de turismo levaram, entre

outros fatores, a um crescimento populacional e à criação de novos municípios, os quais

soberania num rico patrimônio, permanentemente ameaçado pela luta das grandes potências, que há muito

haviam inaugurado a partilha política e econômica do Atlântico brasileiro (DIAS, 1970, pp.32-3)”. 3 “A rede comercial que canalizou a borracha amazônica dos remotos campos da hévea (seringueira) para

o mercado exterior não representou um afastamento significativo das práticas desenvolvidas pelos

portugueses na era colonial. Ao invés de destruir as relações de produção existentes, o negócio da

borracha amazônica levantou-se sobre elas, consolidando os modos tradicionais de extração e de troca. Os

modelos de comercialização que se desenvolveram com o aumento da exportação de borracha

apresentaram, contudo, um grau incomum de complexidade e de sofisticação” (WEINSTEIN, 1993,

p.30).

Page 19: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

18

somam uma área de 332.945.685 km2. Nela vive uma população de 708,245 habitantes

(IBGE 2010), com densidade demográfica de 4,7 habitantes por km2. É válido ressaltar,

que não se trata de espaços vazios, mas de uma ocupação pautada pelas populações

tradicionais e indígenas, em que os recursos naturais são mobilizados como condição da

própria reprodução, portanto, não modelados pelos padrões demográficos das

instituições do Estado, impostos pela cultura urbana.

Uma parte dos agricultores familiares que perdem as suas terras é absolvida

pelo agrobussiness, comércio ou serviços necessários aos processos industriais parte

dos grandes investimentos, os despossuídos das suas terras, passam a ocupar as

periferias das cidades, viver de pequenos trabalhos.

No que diz respeito aos salários, observa-se que o setor de serviços, apesar de

ser o maior empregador, a força de trabalho empregada, cerca de 52%, recebe até 1

(um) salário mínimo, ocorrendo o mesmo na construção civil, com aproximadamente

10% da força de trabalho. Os setores de transporte e de comunicação também se

encontram nesta mesma situação, com a inserção de 12,14% dos trabalhadores sob a

mesma condição. Os trabalhadores agrícolas e de outras atividades industriais e serviços

auxiliares da atividade econômica e social também se enquadram no patamar de

remuneração de até 1 (um) salário mínimo (SEPOF, 2011).

Neste Território, portanto, as atividades produtivas mais significativas do ponto

de vista estritamente capitalista, dizem respeito à mineração, a pecuária e a soja

extensiva, as quais colocam o Pará em posição de destaque entre o segundo e terceiro

maior produtor do Brasil, respectivamente.

Tabela 01 - PIB por Municípios do Território do Baixo Amazonas

Valor Adicionado

Municípios PIB (R$) Mil

Agropecuária Indústria Serviços

Valor Adicionado

Total

Impostos

Alenquer 152.752 41.759 11.443 95.568 148.770 3.982

Almerim 420.811 33.378 199.964 148.138 381.479 39.332

Belterra 56.689 24.214 3.598 27.701 55.513 1.176

Curuá 35.983 13.604 3.295 18.413 35.312 671

Juruti 125.866 17.789 18.764 71.091 107.644 18.222

Monte Alegre 222.997 59.195 28.198 128.605 215.998 6.999

Óbidos 171.730 55.273 13.205 97.735 166.213 5.517

Oriximiná 644.228 33.128 321.350 231.329 585.807 58.421

Placas 48.647 17.147 4.835 25.415 47.396 1.251

Porto de Mós 71.248 12.499 7.558 48.944 69.001 2.248

Prainha 88.523 34.635 8.988 43.067 86.689 1.834

Santarém 1.578.336 115.177 215.628 1.090.485 1.421.290 157.045

Terra Santa 42.221 8.701 3.596 28.924 41.221 1.001

Pará 49.507.144 3.804.180 13.779.837 26.876.464 44.460.481 5.046.663

Page 20: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

19

Fonte: Elaborado pela equipe a partir dos dados do MPPA-2007.

As privatizações e, em particular, do segmento econômico do minério, com

reservas ainda não exploradas, como ferro, bauxita, ouro, manganês e caulim são

encontrados em todo o solo paraense, têm-se cada vez menos oportunidades para os

pequenos empreendimentos, devido à forte pressão em torno dessas atividades

responsáveis por (75,98%) das exportações do Estado, em grande parte sem agregação

de valor, e sem perspectiva de que esse quadro seja revestido. Hoje o Pará está no

primeiro ranking de exportação de minério (SEPOF, 2011).

No que diz respeito especificamente ao Território do Baixo Amazonas

Paraense a produção dos minérios atende a dez projetos industriais e cinco áreas de

garimpo, com destaque para a extração de manganês no rio Trombetas, e outros

minerais na microrregião do município de Juruti, além da extração no Tapajós, com

impactos ambientais e a destruição da biodiversidade nas áreas de ocorrência e

exploração como em Santarém, espaço aberto aos movimentos ambientalistas.

No Território do Baixo Amazonas, portanto, as atividades econômicas

existentes podem ser identificadas pela mineração, agronegócio, a agricultura familiar e

em menor proporção, pelo turismo. Este último com base nos atrativos naturais que se

destacam pelo chamado “Caribe Amazônico” e pelas paisagens da região naturais,

gerando expectativas para o turismo de base ecológica, o qual enfrenta pressão de uma

atividade econômica extremamente danosa ao ecossistema da região e

conseqüentemente ao ecoturismo.

Neste sentido, para impulsionar a economia local onde se constitui um pólo

econômico potente, mas de caráter predatório, exige uma capacidade de mobilização de

agentes políticos comprometidos com os preceitos do desenvolvimento territorial

sustentável. As atividades capazes de se vincular aos atrativos naturais e culturais

subsistem a pressão das demais atividades na região, na medida em que as

transformações socioeconômicas das últimas décadas vêm alterando e impactando

significativamente essa região, sem que isso seja acompanhado de implantação de novas

infraestruturas e equipamentos coletivos capazes de fazer frente às demandas dadas pela

metamorfose da sociedade local. A tabela 01 mostra os municípios que compõem o

Território do Baixo Amazonas, com suas extensões geográficas, população e densidade

demográfica.

Page 21: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

20

TABELA 02– Nº DE HABITANTES, POPULAÇÃO URBANA E RURAL

MUNICÍPIO Nº DE HAB. População

URBANA

% População RURAL %

ALENQUER 52.626 27.722 hab. 57,7 24.904 hab. 43,3

CURUÁ 12.254 5.791 hab. 47,2 6.473 hab. 52,8

MONTE

ALEGRE

55.462 24.565 hab. 44,3 30.897 hab. 55,4

ÓBIDOS 49.333 25.466 hab. 51,6 23.867 hab. 48,4

ORIXIMINÁ 62.794 40.147 hab. 63,9 22.647 hab. 36,1

SANTARÉM 294.580 215.790 hab. 73,3 78.790 hab. 26,8

TERRA SANTA 16.949 10.335 hab. 61,10 6.614 hab. 39,0 Fonte: IBGE – CENSO 2010

Em síntese, coexiste no território do BAM dois padrões econômicos um

centrado na produção para o autoconsumo, com uma produção de excedente com baixo

valor agregado, apesar do potencial pesqueiro e da biodiversidade, e outro articulado ao

grande capital, tal como a exploração mineral, a produção de grão e a pecuária de corte.

Dessa forma, as políticas de desenvolvimento promoveram ou aprofundaram as

contradições do território com consequências nefastas às populações locais e ao

ecossistema, ainda que se declarassem moldadas nos princípios do desenvolvimento

sustentável.

A impressão que se tem é de que as políticas públicas de caráter social,

também não foram suficientes para amenizar a pobreza. O crédito instituído pelo Fundo

Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) e o Plano Nacional de Fortalecimento

da Agricultura Familiar (PRONAF) bem como, as políticas de qualificação (Plano

Nacional de Qualificação do Trabalhador – PLANFOR e Plano Territorial de

Qualificação – PLANTQ) não promoveram os resultados desejados. Na verdade a

proposta de desenvolvimento rural oferece as políticas públicas inovações que

corroboram para a garantia dos direitos fundamentais, sendo que se percebe a

necessidade de pesquisas que demonstrem o alcance dessas políticas e bem como as

estratégias das populações locais para o alcance das mesmas. Observou-se

empiricamente a existência de agricultores endividados e histórias de experiências mal

sucedidas, bem como o descompasso entre credito, qualificação, existência técnica e

comercialização. Felizmente, registra-se também experiências bem sucedidas como os

sistema agro-florestais, o associativismo, realizados muitas vezes em parceria com as

organizações sociais dos agricultores familiares.

Page 22: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

21

a ) Características Naturais

Os solos do Estado do Pará e em particular da região do Baixo Amazonas,

conforme as posições que ocupam na paisagem geomorfológica, podem ser distintos por

áreas de várzea e de terra firme, com diferentes tipos de cobertura vegetal, que em

conjunto tornam peculiar a paisagem da região da Calha Norte do rio Amazonas, devido

à influência primordial na formação da paisagem natural.

Os solos de várzea se localizam ao longo dos cursos d’água, nas partes mais

baixas e em áreas sujeitas às inundações, as quais podem ser alagadas diariamente ou

em certos períodos do ano. Sobre este solo específico são lançados sedimentos que

fertilizam periodicamente criando unidades de maior importância devido à área em que

abrangem, como: os solos aluviais e glei, pouco úmido. Esses tipos de solos são

encontrados, principalmente, ao longo dos rios Amazonas e seus afluentes de águas

claras, como os rios Tapajós, Tocantins, Araguaia, Mojú, Capim, Guamá, além de

outros.

Os solos de terra firme constituem aproximadamente 90% de território

paraense e ocupam a maior parte do Estado. Nele são encontrados diferentes tipos de

solo, como: cambissolo; solos petroplínticos; solos litólicos; terra roxa estruturada;

podzol hidromórfico, areias quartsozas; e plintossolos, os quais possibilitam o

enriquecimento das paisagens naturais.

b) Áreas de Conservação

As Unidades de Conservação visam garantir a preservação do ecossistema

tendo como uma das perspectivas a realização de pesquisas científicas, preservação do

patrimônio natural, mas com possibilidades variadas de uso e contemplação em busca

da integração do homem com o meio ambiente. A manutenção dos ecossistemas é

fundamental frente ao processo de aquecimento global, porque tem importante interesse

ecológico, ameaçado pela degradação.

Quadro 01: Áreas de Conservação no Território do Baixo Amazonas

Áreas de

Conservação Localização Potencialidades

Reserva

Biológica do Rio

Trombetas

Oriximiná

Com a redução da população da tartaruga amazônica (Podocnemis expansa) na região dos tabuleiros de reprodução às margens do rio Trombetas, foi criado o programa de

proteção dos quelônios. No ano de 1975, o programa POLAMAZÔNIA, criou o projeto

Criação e Implantação da Reserva Biológica do Rio Trombetas, que foi executado em convênio com o IBDF.

Page 23: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

22

Floresta

Nacional do

Saracá-Taquera

Oriximiná e

Terra Santa

A Floresta Nacional de Saracá-Taquera foi criada em 1989 pelo decreto 98.704. Esta

unidade possui cerca de 429.600ha de Floresta Amazônica e está localizada à margem

direita do rio Trombetas, englobando áreas dos municípios de Oriximiná e Terra Santa,

no Estado do Pará.

Floresta

Nacional do

Tapajós,

Belterra e

Aveiro

Santarém,

Aveiro,

Rurópolis

A FLONA Tapajós tem como objetivos a exploração de recursos madeireiros, proteção

ambiental como unidades de conservação e pesquisa de manejo florestal. A FLONA tem mais de 600.000ha distribuídos entre os municípios de Santarém, Aveiro e

Rurópolis.

Reserva

Extrativista

Tapajós-

Arapiuns,

Santarém

Santarém e

Aveiro

A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns é a única reserva extrativista em ecossistema florestal em todo o Pará. Criada em 1998, por decreto s/n de 06 de novembro, em

sistema de cogestão das comunidades, que hoje somam cerca de 16.000 pessoas. A reserva está localizada nos Municípios de Santarém e Aveiro, no Estado do Pará e

possui cerca de 647.610.74ha.

Parque

Estadual de

Monte Alegre

Monte Alegre

O Parque apresenta um complexo de serras, vales, cavernas com painéis de pinturas

rupestres, além da existência de sítios arqueológicos que serviram de base para estudos científicos para a discussão sobre a ocupação da Amazônia, questionando a origem do

homem nas Américas, o que o torna extremamente atraente do ponto de vista do

turismo científico.

Área de

Proteção

Ambiental

Paytuna

Monte Alegre

A APA Paytuna foi criada através Lei nº 6.426, de 17 de dezembro de 2001. A sua finalidade é criar uma área tampão de proteção do Parque Estadual de Monte Alegre e

permitir a manutenção das condições ambientais e o equilíbrio de ocupação das

comunidades existentes do seu entorno.

Área de

Proteção

Ambiental

Inter-Municipal

de Alter do

Chão e

Aramanaí

Santarém e

Belterra

O Município de Santarém, a partir da Lei nº 17.771 de 02/07/2003 criou a Área de

Proteção Ambiental Praia de Alter-do-Chão com 16.180 ha.e o município de Belterra, por meio da Lei nº 097, de 30/05/2003, criou a Área de Proteção Ambiental Praia de

Aramanaí, com uma área contígua totalizando 10.985ha.

Fonte: Elaborado pela Equipe, 2010.

C ) Patrimônio Cultural

O Território do Baixo Amazonas tem um acervo da pré-história com registros

pré-colombianos, constituídos por inscrições rupestres das populações indígenas da

região, que habitavam o território antes da ocupação dos portugueses. Por exemplo, as

populações Wai-Wai cobrem um amplo território geográfico, que se estende até o

Caribe.

O patrimônio cultural mais recente e urbanizado está intimamente ligado à

formação histórica da colonização e aos processos de miscigenação que determinaram

as tradições e atividades sócio-econômicas e culturais, incluindo as comunidades

quilombolas, que em muitos casos ainda se mantém isoladas das demais comunidades

da região, além das populações indígenas.

Quadro 02: Monumentos histórico-culturais do Território do Baixo Amazonas

Monumentos Localização Características

Page 24: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

23

Solar do Barão de Santarém Localiza-se no centro da

cidade, à Av. Senador

Lameira Bittencourt,

antiga Rua dos

Mercadores. Pertenceu ao

Sr. Antônio Pinto

Guimarães, Barão de

Santarém.

Prédio em estilo colonial com três pavimentos. As

instalações térreas destinadas ao comércio e/ou

aposentos de empregados, escravos e viajantes. Com

portas simples e largas. O segundo e terceiro

pavimentos eram destinados ao proprietário e sua

família.

Solar do Barão de São

Nicolau

Situada à Av. Senador

Lameira Bittencourt, ao

lado do Solar do Barão de

Santarém.

Pertenceu a um comerciante que se autodenomina

Barão. Possui dois pavimentos: o térreo destinava-se

ao comércio até os dias atuais. No frontão do segundo

andar pode-se observar entre os dois arcos das janelas,

um raro relógio de sol, único existente na cidade.

Teatro Vitória Centro histórico de

Santarém

Com construção iniciada a 5 de maio de 1895 e

inaugurado a 28 de junho de 1896. A planta foi do

francês Maurice Blaise. Entretanto, em 1965 foi

passou a ser utilizado como Câmara Municipal e hoje

é a Secretaria Municipal de Educação e Desporto.

Teatro Municipal de

Oriximiná

Oriximiná A cidade teve como pioneira a Laura Diniz, que

durante anos dirigiu peças, formada por artistas locais.

Praça Mirante do Tapajós Localizada no Centro

Histórico da Cidade de

Santarém

Construída por Francisco da Costa Falcão, em 1693

com inauguração em 1697, com várias restaurações. A

última em 1867, quando o imperador enviou seis peças

de artilharia, calibre 6.

Igreja de Nossa Senhora da

Conceição

Está situada na Praça

Monsenhor José

Gregório, no centro da

cidade.

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi

construída em 1661, em taipa, no antigo Largo do

Pelourinho, hoje denominado de Praça Rodrigues dos

Santos. No centenário da fundação de Santarém, em

1761, foi iniciada a construção de uma nova matriz,

que teve processos de alteração, restaurações e

modificações em sua arquitetura original.

Praça Barão do Rio Branco Óbidos A praça fica em frente ao largo da Igreja Matriz de

Sant’ana. Sua história está ligada a colonização,

quando em 1758, o então governador da província do

Grão-Pará, fez construir um “Pelourinho”, para

reprimir escravos e criminosos.

Fortaleza Gurjão Óbidos Construída na Serra da Escama para aprisionar os

rebelados nos nas lutas ocorridas entre 1924 e 1932.

Forte Pauxis Óbidos O Forte foi o lugar que deu origem à cidade no século

XVII. O prédio serve para o 3º Pelotão da Polícia

Militar de Óbidos.

Quartel General Gurjão -

Casa da Cultura

Óbidos Inaugurado em 1909, foi restaurado em 2000 e

reinaugurado em 2002.

Biblioteca Pública Municipal

Coronel Sangrado

Óbidos Concentra um acervo cultural de grande valor

histórico, dentre elas as obras de Inglês de Souza.

Museu Contextual Óbidos Uma espécie de “museu de rua”. Contextualiza a

cultura obidense a partir de uma história iconográfica

da trajetória das famílias consideradas ilustres.

Museu Integrado de Óbidos Óbidos Inaugurado em 1985, reúne objetos da cultura local. É

dos pontos turísticos da cidade

Crucifixo de Von Martius

Localizada no Centro

Histórico da cidade de

Santarém

Doado por Karl Friedrich Philip Von Martius, da

Baviera, um cientista que realizou pesquisas sobre a

flora brasileira.

Praça Barão De Santarém Localizada no Centro

Histórico da cidade de

Santarém

Mais conhecida como Praça de São Sebastião, embora

o primeiro nome fosse Largo da Municipalidade, em

virtude da construção do prédio da Câmara Municipal

em 1853.

Praça Rodrigues dos Santos Localizada no Centro

histórico de Santarém.

Construída no lugar onde desembarcou o Pe. João

Felipe Bettendorf, fundador da cidade, que construiu

ainda a capela de Nossa Senhora da Conceição no

centro da aldeia dos índios, que a chamavam “Ocara

Açu”. Hoje homenageia o santareno «Doutor Manoel

Waldomiro Rodrigues dos Santos». Foi construída

sobre um cemitério de valor arqueológico.

Page 25: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

24

Praça do Centenário Localizada entre as

avenidas 24 de Outubro e

Benjamin Constant, no

bairro da Aldeia.

Denominado inicialmente de “Largo do São

Raimundo”. Tem no centro um índio tralhado por João

Fona, com uma estrofe do poema de “Castro Alves”.

Foi inaugurada em 24 de Outubro de 1948 para

comemorar o primeiro centenário da elevação de

Santarém à categoria de cidade.

Escultura Da Praça Barão

De Santarém

Localizada no Centro da

cidade de Santarém

Cópias ampliadas da Cerâmica Tapajônica ou

Cerâmica de Santarém. Suas formas são em “Vasos

Cariátides”, “Vaso de Gargalo”, “Ídolo” e

“Muiraquitã”, dispostos na área da praça como

símbolo da expressão da cerâmica original da região.

Escultura Da Praça Do

Centenário

Localizada no Centro

Histórico de Santarém.

No centro da praça há a escultura de um índio, que foi

trabalhada por João Fona, para identificar a forte

influência do povo indígena.

Centro Cultural João Fona

Localiza-se na Praça

Barão de Santarém, no

centro da cidade.

Construído a partir de 1853, concluído em 1867 e

inaugurado em 1868. No prédio funcionou o Fórum de

Justiça de Santarém, o Presídio, a Intendência

Municipal, a Prefeitura Municipal e hoje é o Centro

Cultural João Fona, também chamado Museu de

Santarém.

Museu Dica Frazão Localiza-se no centro da

cidade.

Inaugurado em 22 de junho de 1999, com objetivo de

expor as peças artesanais da artesã Dica Frazão,

considerada a pioneira na utilização da raiz do

patchouli no artesanato, que introduziu outros

materiais da região, como palhas de tucum, de buriti e

do açaizeiro, além da malva, juta, bambu, casca do

taperebazeiro, cipó escada de jabuti, entrecascas de

madeiras e sementes de melancia, melão, jerimum e

pepino. O acervo tem mais de 150 peças do artesanato

santareno, com réplicas de trabalhos pertencentes hoje

a rainha da Bélgica e ao Papa João Paulo II, além de

outras peças que ganharam destaques nacionais.

Capela do Bom Jesus (ou do

“Desagravo”)

Casarios da Rua Marcos

Rodrigues de Souza

Óbidos Construída pela população obidense no topo de uma

colina que avançava para o interior do Rio Amazonas.

Construídas no século XIX, com padrões

arquitetônicos europeus, uma das primeiras ruas

existentes em Óbidos, onde é possível ver um

patrimônio histórico e cultural da cidade.

“Matutódromo” Alenquer Espaço construído para os grupos folclóricos, danças

indígenas, portuguesas, africanas e em especial o

Matuto.

Círio de Sant’Anna Óbidos A padroeira da cidade e o Círio de Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, padroeira de Apoal.

Fonte: Elaborado pela equipe com base nos estudos realizados em 2009.

Ao tratar da Amazônia em seu livro “Tristes Trópicos”, Lévi-Strauss (2004, p.

341) faz uma descrição das paisagens e da cultura local:

Os vilarejos de seringueiros que dão razão de ser do povoamento

esporádico de suas margens. Parecem menos absurdos que os do planalto,

e o gênero de vida que aí se leva começa a escapar do pesadelo. Pelo

menos se diversifica e ganha matizes, em função dos recursos locais

(idem).

Lévi-Strauss destaca ainda a linguagem em superlativos, as interjeições

solenes, invenção de fonemas de considerações caboclas, “que se referem a

pensamentos confusos e obscuros de todos os tipos, como a floresta” (Idem, p.342).

Euclides da Cunha (1993) também se refere à Amazônia como um espaço em que a

natureza física, em constante mutação reflete a cultura local. No quadro abaixo se

Page 26: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

25

mostra algumas manifestações características das populações autóctones, alteradas em

face dos processos de trocas e assimilação ocorridas com a miscigenação, como as

festas religiosas que têm grandes expressões e são oriundas das missões e permanência

da Igreja, como instituição organizadora e difusora da cultura católica e religiosa, além

de outras manifestações em que se misturam a elementos pagãos e laicos.

Quadro 03: Patrimônio Imaterial: expressões folclóricas e religiosas

Manifestações Características

Festa de São Sebastião Realiza-se em diversas paróquias deste padroeiro, tanto na cidade como na zona rural,

com especial destaque à festa realizada no mês de Janeiro na Praça São Sebastião, onde

está situada a igreja de mesmo nome.

Festa de São Pedro Realiza-se no dia 29 de junho quando o santo pescador é homenageado com a

tradicional procissão fluvial, reunindo grande número de embarcações de variados

portes, enfeitadas para a ocasião.

Festa de Nossa Senhora

da Conceição

A festividade de Nossa Senhora da Conceição começa no Sábado, véspera do Círio,

quando acontece a trasladação da imagem da Virgem da Igreja Matriz para a Igreja de

São Sebastião de onde a romaria sai na manhã de Domingo.

Cristoval Festival católico realizado na mesma época do carnaval reúne milhares de pessoas, no

Estádio Municipal Jáder Barbalho, para um período de reflexão, celebração e orações.

Quadra Junina Interessante manifestação popular mista de sacro e profano, tradicional e moderno.

Neste período consagram-se os costumes e o folclore do povo local.

Festival Folclórico

Colegial

Na semana que antecede o dia do folclore, isto é, 22 de agosto do, acontecem dois

festivais tradicionais: o Festival Folclórico do Colégio Dom Amando e o Festival

Folclórico do Colégio Pedro Álvares Cabral.

Festa do Çairé A Festa do Çairé mistura de elementos religiosos e profanos. Começa com o

levantamento de mastros enfeitados e prossegue com outras atrações. A programação

inclui ainda procissão, ladainhas, torneios esportivos e exibição de diversas

manifestações folclóricas. No quinto e último dia acontece a “varrição da festa”,

seguida da derrubada dos mastros e da “cecuiara” almoço de confraternização, servido

a base de pratos típicos da cozinha santarena. A programação termina à noite, com a

festa dos barraqueiros. O Çairé foi criado pelos índios como forma de homenagear os

portugueses que colonizaram o Médio e o Baixo Amazonas.

Festa do Balão Vermelho No mês de agosto, durante 3 dias, é realizada a tradicional Festa do Balão Vermelho,

com a apresentação de danças folclóricas de Fordlândia e das comunidades vizinhas. O

encerramento da festa conta com o Baile Tradicional, a coroação da garota Balão

Vermelho, a Cerimônia Simbólica da Festa, e a entrega dos prêmios aos vencedores das

danças folclóricas.

Círio de Sant’Anna O da padroeira da cidade e o Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, padroeira de

Apoal. Também existem outras festas como a de Santo Antônio e a de São João, em

Flexal, que movimentam o município o ano todo.

Lendas São incontáveis as lendas nos municípios, destacando-se: do Boto, da Cobra Honorato,

do Curupira, do Jurupari, da Matinta Pereira, da Noiva do Cai-Cai e da Capela de Ouro.

Carnapauxis Em Óbidos o carnaval de rua também chamado “Mascarado Fobó”. Originou-se no

início do século XX, quando as famílias tradicionais realizavam os “entrudos”, a partir

de 1918. Hoje é realizado por blocos com suas “marchinhas”.

Marambiré Tem origem africana Marambiré, uma manifestação folclórica cuja coreografia é

baseada no Lundu, outro ritmo de origem africana parecido ainda com o Carimbó e o

Marabaixo. Em Alenquer.

Festa de Santo Antônio A Festa do Padroeiro da cidade de Alenquer é realizada em 13 de junho. Inicia com a

trasladação da imagem levada para uma localidade do interior do município, no dia 30

de maio, recebida por uma procissão fluvial no cais dia 31.

Festival do Acari Acari é o nome de um peixe muito apreciado na região, o festival realiza-se no último

final de semana de outubro, com diferentes atrações, cujo ponto central são os pratos

preparados com o peixe. O Festival ocorre na vila de Curralinho (região de várzea,

margem direita do Paraná de Gurupatuba).

Exposição Feira

Agropecuária

No Parque de Exposição localizado em Fazendinha ocorre nos meses de setembro e

outubro, a exposição de animais do rebanho pastoril e cultivares agrícolas, além de

atrações variadas. Durante o evento todas as noites são apresentadas danças típicas

dentre outras atrações.

Page 27: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

26

Festa do Produtor Rural Na última semana do mês de junho há a Feira do Produtor, com a escolha da rainha que

representa os produtos de sua comunidade.

Fonte: elaborado pela equipe com base no levantamento, 2009.

Esse patrimônio mostra a importância da relação homem-natureza devido à

proximidade e relação direta com os grandes rios da Amazônia e seu entorno, formado

por escarpas, lagos, serras, cavernas, que dão origem a um imaginário expresso em

hábitos, costumes e expressões singulares, na medida em que as expressões populares

repercutem um artesanal de relações, impressões, representações e significados

desenhados em paneiros, tapetes, peneiras, tipitis, remos e vasos de ouriços de castanhas

e outros os artesanatos misturados à cultura religiosa e às lutas populares.

A gastronomia local também é outro elemento que faz parte da influência da

atividade de pesca de água doce, em que os peixes têm conotação especial nos cardápios

e dietas das culturas locais, os mais utilizados são: tucunaré, tambaquí, pirarucu, muito

apreciados pelo sabor de suas carnes. Também se desataca o Acari, peixe cascudo que

pode ser preparado de diversas maneiras, tais como guisado, cozido, assado e desfiado,

este último constituindo o piracuí, uma farinha de peixe de sabor agradável e alto

conteúdo protéico, utilizada no preparo de bolinhos, tortas, omeletes, sopas, etc.

A Região que constitui o Território do Baixo Amazonas paraense é

considerada uma das mais ricas em termos de um patrimônio histórico-cultural,

constituído por esculturas em praças públicas espalhadas pelos diferentes municípios. O

patrimônio imaterial também é de suma importância, com danças que tratam de

expressões individuais e coletivas. Abordam temáticas ilustrativas da economia e

sociedade locais, como festivais e festas de diferentes modalidades: juninas, da

castanha, onde se pode apreciar a dança-do-coco, dança-de-fitas, boi-bumbá, xote,

quadrilhas, carimbó, siriá, lundu, danças de pássaros, boiadeiro etc. A música dessa

região é outro elemento importante, com festivais que são caracterizadas pela

importância do cancioneiro popular, marcada pela cultura de um povo constituído por

processos de miscigenação. A cultura indígena é revelada nas diferentes expressões

culturais, cuja riqueza é observada nas lendas, mitos e tradições populares, artesanatos,

com influências africanas e européias.

O artesanato de Alenquer, por exemplo, é confeccionado em grandes

proporções por couro do jacaré, como bolsas, cintos e outros objetos. Também em

argila, particularmente na Vila União, onde se produz peças utilitárias: ânforas, bilhas,

potes, panelas, pratos, tigelas, fornos, bacias, assadeiras, torradores etc.

Page 28: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

27

Em Monte Alegre também se produz um rico e diversificado artesanato com

atividades de tecelagem de palha, reciclagem de esteira, trabalhos em balata, argila,

taboca e crochê, além das famosas cuias pintadas, uma tradição que remonta ao século

XIX. Também é possível perceber a influência negra na formação étnica e cultural, com

base nos quilombos da região, oriundos de escravos fugidos das fazendas de Santarém,

que se fixaram basicamente às margens do rio Curuá, como é o caso do mocambo

Pacoval. Esses espaços mostram resistência a partir da manutenção de costumes e

crenças religiosas.

d) Terras Indígenas

Como parte integrante desse rico patrimônio cultura, o Baixo Amazonas ainda

possui muitas terras indígenas sendo que nem todas se encontram demarcadas, como se

pode perceber no quadro abaixo.

Quadro 04- Terras indígenas no Baixo Amazonas – PARÁ

Município Terra Indígena Grupo Indígena

Almeirim Rio Paru D’Este Apalaí, Wayana

Alenquer Zo’e Zo’e, Apalaí, Wayana

Aveiro

Andirá Marau Baixo Tapajós II

Satere-Mawe Munduruku, Cara Preta, Tupinambá

Belterra

Bragança Marituba Takuara

Munduruku

Faro Nhamundá/Mapuera Hixkaryana Wáiwái

Itaituba

Praia do Mangue Km 43 Andirá Marau Pimentel São Luís do Tapajós

Munduruku Munduruku Satere – Mawe Munduruku Munduruku

Monte Alegre Rio Paru D’Este Apalaí, Wayana

Óbidos Zo’e Zo’e

Oriximiná Nhamundá/Mapuera Hixkaryana Wáiwái

Santarém

Aningalzinho, Baixo Tapajós Borari de Alter-do-Chão Cobra Grande Marituba Mirixipi Maratuba do Pará Nova Vista Rio Maró São João

Tupaiu Munduruku, Tupinambá, Cara Preta Borari Arapiun Munduruku Arapiun Tupinambá, Cara Preta Arapiuns Arapiuns Arapiun

Fonte: OLIVEIRA, 2005 p. 223

Page 29: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

28

1.2 - MUNICÍPIOS AMOSTRA DA PESQUISA

O interesse de outros povos pelas riquezas da região amazônica durante a

colonização colocou-a sobre constante ameaça de invasão, o que contribui para que os

portugueses apressassem o processo de colonização.

Dentre as expedições organizadas com a finalidade de expulsar os estrangeiros e

destruir os seus estabelecimentos tem-se a de Pedro Teixeira, em 1626, no Rio Tapajós.

Assim, a origens históricas dos municípios do Baixo Amazonas estão ancoradas

nos esforços dos portugueses em manter a posse da região ocupando-a, contando para

isso com o apoio da igreja católica por meio do catequização.

ALMEIRIM

A fundação do atual município de Almeirim situa-o na zona fisiográfica do

Baixo Amazonas, deve-se aos frades capuchos de Santo Antonio, que fundaram,

juntamente com os índios a aldeia do Paru. Em 1758, adquiriu categoria de vila,

passando a chamar-se Almeirim, sendo extinta na época da Independência.

Reestruturado com o passar do tampo, Almeirim atualmente é formado pelos distritos

de Almeirim, Arumanduba e Monte Dourado. O prefeito seu atual de Almeirim é José

Botelho dos Santos, do Partido dos Trabalhadores (PT).

Atualmente Almeirim possui as seguintes características: área de 72.954,532

Km², com uma população de 33.614 habitantes, apresentando densidade demográfica de

0,46 habitantes por Km² (IBGE 2010).

Foto 4. Vista aérea da cidade de Almeirim-Pa. Fonte: http://www.almeirim.pa.gov.br/?q=node/42

Page 30: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

29

Principal produção agrícola, por tonelada:

Agricultura local – principais produtos

a) Lavoura temporária: arroz com 84 t.; mandioca com 1.920 t.; melancia com 300 t.

(IBGE 2010);

b) Lavoura permanente: banana com 270 t.; laranja com 64 t.; mamão com 210 t.;

maracujá com 210 t.; pimenta-do-reino com 80 t. (IBGE 2010).

Educação

Tabela 3 - Estabelecimento de ensino em Almeirim-Pa (ano de 2009)

Ensino Estabelecimento

Estado Município Particular Total

Pré-escolar - 34 1 35

Fundamental 0 88 1 91

Médio 2 - 1 3 Fonte: IBGE-2009

Saúde:

Tabela 4-Serviços de saúde- número de estabelecimentos por tipo de administração ano de 2009:

SERVIÇO Nº DE ESTABELECIMENTOS

Municipal 23

Estadual 0

Privado 1

Total 24 Fonte: IBGE – 2009

CURUÁ

Foto 5. Foto da cidade de ALMEIRIM – Pará. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Page 31: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

30

O município de Curuá foi criado através da Lei nº 5.924 de 28 de dezembro de

1995, assinada pelo governador Jáder Barbalho, desmembrado do município de

Alenquer, com sede na localidade de Curuá, que passou à categoria de cidade, com a

mesma denominação. Atualmente é administrada pelo prefeito Raimundo Reis Barbosa,

do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Área do município, 1.432,150, possui 12.254 habitantes, densidade

demográfica de 8,56 habitantes por km² (IBGE, 2010).

Vale observar que a elevada densidade demográfica do município deve-se ao

fato da pequena extensão territorial do município.

Agricultura local – principais produtos:

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 30.000 t.; milho, 50 t; melão, 35

t. e tomate 12 t.;

b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 510 t.; laranja, 216 t.;

Foto 6. Foto da cidade de Curuá – Pará. Porto. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Foto 7. Residência de agricultores familiares em época

De cheia dos rio Amazonas- Curuá – Pará.

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011.

Foto 8. Pesquisadora caminha sobre ponte – Curuá-Pará.

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011.

Page 32: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

31

Educação

Tabela 5-etabelecimentos de ensino em Curuá-Pa (ano de 2010)

Ensino Nº de estabelecimentos

Estadual Municipal Particular Total

Pré-escolar - 37 1 38

Fundamental - 38 1 39

Médio 1 - - 1 Fonte:MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF

Saúde:

Tabela 6 - SERVIÇOS DE SAÚDE número de estabelecimento por tipo de administração (ano de 2009)

SERVIÇO Nº DE ESTABELECIMENTOS

MUNICIPAL 6

ESTADUAL -

PRIVADO -

TOTAL 6

FONTE: ( IBGE, 2009)

MONTE ALEGRE

A origem do município de Monte Alegre data do século XVII, com a catequese

dos indígenas da aldeia de Gurupatuba, pelos religiosos capuchos da Piedade. Após a

expulsão de todos os jesuítas de Portugal e de suas colônias e em 1755 elevam Monte

Alegre à categoria de cidade.

Monte Alegre possui área de 18.152,508 km²; 55.462 habitantes e densidade

demográfica de 3,06 Km². (IBGE, 2010). O atual prefeito do município é Jardel

Vasconcelos Carmo, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Agricultura local – principais produtos:

Foto 9. Plenária CODETER elaboração do PDTRS. Fonte: Equipe MDA/S

DT/UF

PA. 2011

Foto 10. Igreja Matriz – São Francisco De Assis – Monte Alegre-Pa. Fonte:

WWW.

citybra

sil.com

Page 33: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

32

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 96.900 t.; milho, 40.106 t.;

feijão, 2.850 t.;

b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 4.943 t. ;limão, 8.640 t. e laranja,

1.920 t.;

Educação

Tabela 7 – Estabelecimentos de ensino em Monte Alegre-Pa (ano de 2009)

Ensino Nº de Estabelecimentos

Estadual municipal Privado Total

Pré-escolar - 145 1 146

Fundamental - 142 1 143

Médio 4 _ _ 4 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011.

Saúde

Tabela 8- Serviços de saúde - número de estabelecimento por tipo de administração (ano de 2009)

Serviço Quantidade de estabelecimentos

Municipal 37

Estadual -

Privado 2

Total 39 Fonte: IBGE 2009

ÓBIDOS

A localização do atual município de Óbidos era estratégica aos colonizadores

portugueses, por ser a parte mais estreita do Rio Amazonas e de grande profundidade.

Originalmente os capuchos da Piedade estabeleceram um aldeamento de índios no rio

Trombetas, chamado Pauxís, nome que foi dado também à fortaleza.

Foto 11. Câmara Municipal de Óbidos – PA. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Page 34: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

33

A divisão jurídico administrativa atual estabelecida pelo decreto-lei nº. 4.505, de 30 de

dezembro de 1943. O atual prefeito de Óbidos é Jaime Barbosa da Silva, do Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB).

O município de possui 28.021.339 km², 49.333 habitantes e 1,76 habitantes por km².

Agricultura local – principais produtos:

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 120.000 t.; melancia, 2.500 t.;

feijão, 2.850 t., milho, 1.360 t. (fonte: IBGE)

b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 720 t.; e laranja, 532 t.; (Fonte:

IBGE).

Educação

Tabela 9 – estabelecimentos de ensino em Óbidos-Pa (ano de 2009)

Ensino Número de estabelecimentos

Estadual municipal Privado Total

Pré escolar - 68 - 68

Fundamental - 117 1 118

Médio 1 - - 1 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011.

Saúde:

Tabela 10- Serviços de Saúde – número de estabelecimentos por tipo de admistração em Óbidos-Pa (ano de 2009)

Serviço Nº de estabelecimentos

Municipal 16

Estadual -

Foto 12. Igreja Matriz – Óbidos – PA. Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011

Foto 13. A força da agricultura familiar. Pescador vende peixe em bicicleta nas ruas de Óbidos.

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011

Page 35: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

34

Privado 3

Total 19 Fonte: IBGE - 2009

ORIXIMINÁ

Historicamente, a colonização iniciou-se em 1877, com a fundação do povoado

denominando-a Uruaã - Tapera ou Mura – Tapera que deu origem ao município de

Oriximiná. No governo de Lauro Sodré, em 1894, foi elevado à categoria de vila, já

com o nome de Oriximiná, e instalado o Município, no mesmo ano. O nome Oriximiná

é de origem indígena, de procedência tupi, que significa “o macho da abelha”, o zangão

ou da derivação de Eruzu-M‟Na. que significa “muitas Praias”.

O prefeito atual do Município é Luiz Gonzaga Viana Filho, do Partido Verde

(PV) . O município possui área de 107.603,24 km² e população de 62.794 habitantes,

com a densidade demográfica de 0,58 hab/km².

Agricultura local- principais produtos:

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 135.000; melancia, 1.200t;

milho, 1.070 t.; (Fonte: IBGE).

b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 2.600 t.;

Educação

Tabela 11 - Estabelecimentos de ensino em Oriximiná-Pa (ano de 2009)

Ensino Estabelecimento

Estadual Municipal Privado Total

Foto 14. Moradores locais fazendo farinha de mandioca, Oriximiná-Pa.

Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011

Foto 15. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011

Page 36: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

35

Pré-escolar - 45 4 49

Fundamental - 87 3 90

Médio 2 - 1 3 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011

Saúde

Tabela 12 - Serviços de saúde- número de estabelecimentos por tipo de administração em Oriximiná (ano de 2009)

Serviço Nº de estabelecimentos

Municipal 20

Estadual -

Privado 5

Federal 1

Total 26 Fonte: IBGE-2009

Produção de Bauxita: em média de 18 milhões de toneladas ao ano.

SANTARÉM

A origem do município de Santarém data de 1639 com a catequese dos índios

Tapaiuçus na foz do Tapajós. A vila de Santarém obteve a condição de cidade pela

Resolução nº 145, de 24 de outubro de 1848, assinada pelo presidente da Província,

Jerônimo Francisco Coelho. A configuração territorial do município mais recente deve-

se à criação dos municípios de Placas e Aveiros nos anos 60. Atualmente o município

de Santarém é constituído dos seguintes distritos: Santarém, Alter do Chão, Boim e

Curuai. A atual prefeita de Santarém é Maria do Carmo, do PT. O município de

Santarém possui as seguintes características: área, 22.886,791km2; população 204.580

habitantes e 12,87 de densidade demográfica.

Agricultura local – principais produtos:

Foto 16. Posto de saúde da reserva dos Arapiuns,

Santarém- PA.

Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Foto 17. Desmatamento decorrente da soja, Santarém-

PA.

Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Page 37: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

36

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca, 273.000 t.; arroz, 25.740 t.;

milho, 15.420 t.; soja, 46.170 t.; (Fonte: IBGE)

b) Lavoura permanente por tonelada: banana, 3.600 t. e 5.136 t.; (Fonte: IBGE)

Educação

Tabela 13 - Estabelecimentos de ensino em Santarém-Pa (ano de 2009)

ENSINO Estabelecimento

Estadual Município Particular Total

Pré-escolar - 181 36 217

Fundamental 30 442 33 505

Médio 27 - 5 32 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011.

Tabela 14- Serviço de saúde – número de estabelecimento por tipo de administração em Santarém (ano de 2009)

Serviço Nº de estabelecimentos

Municipal 82

Estadual 3

Privado 24

Federal 1

Total 110 Fonte: IBGE-2009

TERRA SANTA

Conta a lenda que o nome Terra Santa originou-se de “Pedra Santa”. De acordo

com a lenda as índias da Amazonas encontravam-se muito doentes foram orientadas

pelo pajé, que tomassem banho junto às pedras do lago. As índias obedeceram e ficaram

curadas. Para o IDESP (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental

do Pará) a exploração do território começou por volta de 1883, para aquisição de

riquezas naturais tais como, borracha, essências como o pau-rosa, peles de animais,

pesca, madeiras-de-lei.

Terra Santa passou à categoria de Município através da Lei nº 5.699, de 13 de

dezembro de 1991, sancionada pelo Governador Jáder Barbalho, desmembrado dos

municípios de Faro e Oriximiná, com sede na localidade de vila de Terra Santa. Sendo

que a instalação da cidade deu-se em 1º de janeiro de 1993, com a posse do prefeito,

vice-prefeito e vereadores eleitos no pleito municipal de 03 de outubro de 1992. O atual

prefeito de Terra Santa é Marcílio Picanço, do Partido Social Democrático (PSD).

O município de Terra Santa possui as seguintes características: área, 1.896,501

km²; população 16.949 habitantes e 8,94 de densidade demográfica.

Page 38: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

37

Agricultura local – principais produtos:

a) Lavouras temporárias por toneladas: mandioca 5.000 t.; melancia 40 t. (Fonte:

IBGE, 2010)

b) Lavoura permanente por tonelada: banana 40 t.; laranja 60 t.; maracujá 36 t.

(Fonte: IBGE 2010).

Educação

Tabela 15 - Estabelecimento de ensino em Terra Santa (ano de 2009):

ENSINO Estabelecimento

Estadual Município Particular total

Pré-escolar - 14 - 14

Fundamental - 22 - 22

Médio 1 - - 1 Fonte: MEC/INEP/SEDUC; Elaboração: IDESP/SEPOF 2011.

Saúde

Tabela 16 - Serviço de saúde – número de estabelecimento por tipo de administração em Terra Santa-Pa (ano de 2009)

Serviço Nº de estabelecimentos

Municipal 13

Estadual 0

Privado 1

Federal -

Total 14 Fonte: IBGE 2009.

Foto 18. Moradia em Terra Santa- PA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Foto 19. Igreja em Terra Santa- PA. Fonte: Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA.

Page 39: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

38

2- Identidade Territorial

A identidade é concomitantemente, individual, pessoal, social e coletiva

(OLIVEIRA, 2002). Assim, para entender a identidade territorial é necessário que se

leve em consideração as diferentes dimensões de sua constituição, tendo em vista que

território é por relações socioeconômicas e político-culturais, a partir de uma

conjugação de muitos fatores de ordem histórica, simbólica etc.

No BAM a agricultura familiar aparece como o elemento preponderante na

definição da identidade do território seguido do meio ambiente. Em uma escala que vai

de 0 a 01, a agricultura aparece com o indicador de 0,826 e o meio ambiente com 0,802.

Em um território assim identificado, quais elementos de coesão e conflitos estão

presentes na definição/afirmação dessa identidade territorial?

Muito frequentemente fala-se em crise de identidade e em identidades plurais,

e observam-se nas perplexidades da vida moderna, que as identidades passam por

processo de transformação, reconfigurações seja pela mudança no padrão de consumo,

seja por meio da homogeneidade cultural promovida pelo mercado global, que pode

levar ao distanciamento da identidade relativa à comunidade e à cultura local (idem, p.

21).

Em síntese, os indivíduos nos tempos atuais vivem em contato com múltiplos

valores, posições, pontos de vistas sendo possível afirmar que as identidades estão em

constante processo de transformação e afirmação, portanto em constante movimento de

constituição sob reafirmação de determinadas marcas ou mesmo em confronto e

conflito. Conforme Scherer-Werrem (2003), as identidades sociais podem ser difusas e

fragmentadas. Isto porque, corroborando com Deleuze (2006), a representação é o lugar

da ilusão transcendental, as quais são constituídas a partir de quatro elementos, são eles:

o pensamento, o sensível, a ideia e o ser. Neste sentido, o pensamento se reveste de uma

imagem que desnatura a própria gênese da identidade, a qual está condicionada pelo

sujeito e a subjetividade, a memória e a recognição da consciência de si.

Como afirma Castells (2006, p.79), "as identidades locais entram em

intersecção com outras fontes de significado e reconhecimento social, seguindo um

padrão altamente diversificado que dá margem a interpretações alternativas". Ele

observa ainda, segundo Etzione que o ressurgimento da comunidade é estabelecida no

âmbito local (idem). No entanto, o autor chama atenção para a mobilização social com

Page 40: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

39

base em interesses comuns, sob processos de compartilhamento que podem contribuir

para a construção de novos significados.

A identidade, portanto, é constituída enquanto estatuto que também é inscrita

por elementos que dizem respeito à territorialidade, entendido como elemento

indissociável da condição humana visto que o conceito de sociedade refere-se à

especialização-territorialização nas suas dimensões política, cultural e econômicas

(HAESBAERT, 2006).

Assim, é importante perceber que os dados não falam por si, carecem de

interpretação, da visão de contexto e de processos de subjetivações ou mesmos de

assimilação de elementos constitutivos da identidade, embora sempre do ponto de vista

do sujeitos individual ou coletivo, na medida em que os indivíduos ou grupos assumem

determinadas posições frente às esferas de poder, podendo ser firmada a partir de

consensos ou mesmo de rupturas ou ainda de acordos e pactos, na construção de valores

que passam a servir de critérios e para o estabelecimentos de normas, a fim de

regulamentar os mecanismos de organização da vida social em níveis micro e em nível

macro.

As capacidades de mobilização destes elementos podem favorecer a realização

de determinadas ações e atividades validadas pelo grupo social que deu origem ao seu

fundamento, podendo não necessariamente se estender ao conjunto da vida social. A

“identidade é relacional”, “marcada pela diferença”, “simbólica”, “social” e

“historicamente específica”, “as diferenças decorrem de marcações simbólicas” e das

“condições materiais” (HALL e WOODWARD, 2001).

Nestes termos, o reconhecimento da identidade do Território do Baixo

Amazonas pela agricultura familiar parece indicar uma tomada de posição dos

entrevistados, na medida em que (0,826) se coloca nesta condição, como uma visada do

legado histórico e cultural da região, sem desconsiderar que esta vem passando por um

processo constante de alteração, ao ser confrontada por os movimentos de constituição,

como os novos sujeitos sociais vinculados à expansão do agronegócio, com

possibilidade de perda inumerável de sua sociobiodiversidade e, consequentemente, um

palco de conflitos aberta neste Território, como uma das últimas fronteiras.

Quadro Nº 05 – Identidade do Baixo Amazonas paraense

Page 41: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

40

Fonte: MDASDT/UFPA/2011.

O meio ambiente é o segundo indicador da identidade do BAM, para o qual

muitas atenções se voltam dado a eminente ameaça de degradação ambiental devido ao

problema de alteração de uso do solo para a plantação da soja, criação de gado,

principalmente nos municípios de Santarém e Belterra e pela extração de minérios nos

municípios de Juruti e Oriximiná. Estas atividades têm gerado o desflorestamento com

incentivos e financiamentos do Estado, para grandes firmas nacionais e internacionais,

sob um brutal movimento de transformação e expropriação das populações tradicionais.

Sob este quadro adverso, a agricultura familiar torna-se um sujeito político

importante na organização produtiva dos trabalhadores da economia extrativista e de

subsistência, no território. Neste âmbito, a economia de escala também tem se colocado

como um dos sujeitos políticos importantes no Território, na medida em que tem

capacidade de articulação em plano trans-escalar possibilitando, inclusive, articulação

com as classes dominantes locais que reivindicavam dentre outras coisas, a divisão do

Estado Pará4.

A conjunção dessas duas variáveis (agricultura familiar e meio ambiente), como

já demonstrado no 01 deste trabalho, diz respeito ao fato da agricultura familiar

(entendida como a produção nas roças, coleta de frutos da floresta e a pesca) estar

diretamente associadas à sobrevivência material e cultural das populações do Baixo

Amazonas paraense, seja porque fazem parte da base nutricional daqueles povos ou

pelo fato de que uma parte da produção destina-se ao mercado. Mas, na Amazônia os

ciclos da vida humana se confundem com o ciclo da natureza como um todo. A coleta

de frutos e essências, a exemplo da Castanha do Pará, das essências florestais e das

plantas medicinais estão diretamente relacionada à vida material e simbólica dos povos

4 Tratava-se de um movimento visando à criação do Estado do Tapajós com a capital em Santarém e do

Estado do Carajás, cuja capital seria Marabá. Realizado o plebiscito em dezembro de 2011, a ideia foi

rejeitada.

Page 42: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

41

da Amazônia, bem como a dinâmica dos rios, as peculiaridades da vida nas várzeas, as

festas de Santos, as Pajelanças, são elos que atam o homem Amazônico à terra.

Mas, toda identidade é simbólica, histórica e se encontra em constante processo

de transformação em face das repetições, superação e conflitos. É na dimensão dos

múltiplos valores confrontos entre interesses contraditórios e conflitantes, mesmo por

aqueles que habitam os recantos mais distantes da Amazônia brasileira. Os

entrevistados ao mesmo tempo em que afirmam o meio ambiente e a agricultura

familiar como elementos de identidade do Território, oferecem a si mesmos, formas

peculiares de se relacionar com e agricultura e com o meio ambiente, por meio de

oportunidades que se encontram nas comunidades distantes e não podem acessar bens e

serviços públicos de uso comum, tais como escolas de melhor qualidade, transporte,

lazer, etc.

Talvez essa seja uma das

dimensões do conflito entre o local e

global. Pois enquanto no local

encontra-se preso ao mundo

manifesto, existe um mundo latente,

global, de múltiplas relações, de

informações e possibilidades que estes

não têm como acessar.

Em síntese, as variáveis,

agricultura familiar e meio ambiente

como expressão maior da identidade do Território do Baixo Amazonas, por si só dizem

pouco. É necessário levar em consideração as dimensões históricas, políticas e sociais

desses indicadores. Não se podem observar nestes indicadores os conflitos ali

existentes, explicitados ou não, presente no uso de tecnologias rudimentares, na falta de

acesso às políticas públicas de crédito e qualificação, na falta de assistência técnica, nas

escolas técnicas e nos níveis de escolaridade da bacia de trabalho de qualidades

questionáveis e insuficientes às necessidades das populações locais, na falta de titulação

das terras e de transporte rápido e seguro.

Os dados do SGE indicam que existe certo equilíbrio entre os vários aspectos

constituintes da identidade territorial, com predominância da Agricultura Familiar e

Meio Ambiente, classificado como alto; a Economia, Etnia, Colonização e Políticos,

classificados como médio alto; e a pobreza, classificada como, médio. Estes aspectos

Foto 20. A foto reflete a identidade da dona de casa com o meio ambiente, a cultura de lavar roupa na margem do rio e é possível perceber o processo de degradação ambiental. Território do Baixo Amazonas – Óbidos – Pará.

Page 43: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

42

são importantes por indicar as variáveis presentes na definição dos limites da gestão do

Território, desvelando a própria história deste território e apontar (ainda que

genericamente) as variáveis que estão presentes nos conflitos que ali existem.

Neste Território há uma complexa rede de interação que tem gerado conflitos

extremamente sérios relacionados principalmente à questão da terra e do meio ambiente,

particularmente, na última década, com a forte penetração da soja na região. As

unidades de conservação existentes possibilitam o desenvolvimento de atividades

extrativistas associadas a outras atividades de manejo e também a uma forma de turismo

interativo, em que há a troca de conhecimento entre os habitantes locais e os visitantes.

Assim, analisar a identidade como fator de coesão social no território pode

contribuir para mobilizar os diferentes setores e segmentos sociais sob o arco de

alianças operadas pelos agricultores familiares, que constituem o BAM para além da

subsunção absoluta às formas de relação de exploração dos recursos naturais. Desde a

colonização à atualidade a região vem passando por intensificada exploração e

depredação de seus recursos.

No contexto atual, parece que as relações de poder e a correlação de forças no

Baixo Amazonas, possuem dois grandes extremos: o primeiro vinculado à agricultura

familiar e às lutas ambientais, representadas pelas ONG’s, STTR’s e alguns partidos

políticos e, o segundo, fortemente mobilizado pelo agronegócio e a exploração mineral,

articulada com o capitalismo de ponta sob a economia do capitalismo de redes, portanto,

transnacional. Esta é a fratura exposta.

Foto 21. Trabalho de agricultores familiares – Santarém - Pará

Fonte: Equipe MDA/SDT/UFPA. 2011

Page 44: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

43

E, em meio a diversidades regionais e as características territoriais resultam

uma dinâmica de interação das populações nativas com os imigrantes mais recentes.

Historicamente também foi assim. No Baixo Amazonas a agricultura familiar é induzida

na região no início dos anos 70 no território, por meio do Plano de Integração Nacional

(PIN).

A ocupação oriunda do processo de abertura das rodovias BR-163 – Cuiabá-

Santarém e a BR-230 – Transamazônica, foi possibilitada por incentivos ao

deslocamento de agricultores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Ressalta-se que

alguns desses migrantes tornaram-se lideranças políticas em nível estadual e nacional.

Estes favoreceram a construção de uma identidade referenciada na agricultura familiar.

A produção de grãos, pecuária extensiva e de corte, a exploração de minério de

um lado e, a organização da produção familiar, com a culminância da Feira da Produção

Familiar Rural, de outro lado, tem ensejado lutas sociais em defesa da biodiversidade.

Portanto, a cultura como elemento aglutinador de valores e costumes, ao mesmo tempo

em que une também cria área de conflito fundada na diversidade, que transforma e

muda o modo de vida das populações nativas, bem como, dos recém-chegados. Assim, a

região está diante da inserção do grande capital, seja por incentivos federais ou

externos, a exemplo da ALCOA em Juruti.

O nível de pobreza é considerado médio (0,565), na medida em que os recursos

naturais proporcionam a relação homem-natureza e que hoje são desarticuladas pelas

ações de expropriação e o crescimento das cidades médias onde os hábitos culturais

exigem outras habilidades.

Também a etnia merece destaque com um indicador médio alto (0,704), o que

decorre dos diferentes processos de colonização (longínqua e recente), como a dos

portugueses, africanos, no período colonial; dos sulistas, nos anos 70 e, atualmente, dos

matrogrossenses, entre outros sujeitos vinculados à soja, ao gado, à madeira e à

mineração.

O indicar político também é importante, na medida em que há uma intensa

mobilização social para acesso à terra e às fontes de recursos naturais, as quais têm

repercutido no movimento de divisão territorial para a criação de novos Estados.

O enfrentamento de problemas históricos, apesar dos avanços obtidos a partir

dos anos 2000, persiste nos espaços rurais, especificamente a necessidade de superação

da degradação ambiental e das desigualdades regionais e sub-regionais que repercutem

Page 45: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

44

nos baixos indicadores sociais no campo, onde vivem as populações tradicionais e a

agricultura familiar, já exitosa na produção de alimentos para o mercado brasileiro.

No que diz respeito ainda, à construção das identidades, Gohn (1997), chama a

atenção para a importância das redes, isto é para o uso de novas tecnologias de

comunicação, importante para a exposição de conflitos, para a busca de políticas sociais

compensatórias, enquanto interveniente das relações sociais, impondo consequências

para a formação de identidades individuais e coletivas.

O tempo se altera em função dos novos meios de comunicação. A mídia,

principalmente a TV e os jornais da grande imprensa, passam ser grandes

agentes de pressão social, uma espécie de quarto poder, que funciona como

termômetro do poder de pressão dos grupos que têm acesso àqueles meios.

As Organizações Não Governamentais, por sua vez, ganham proeminência

sobre as instituições oficiais quanto à confiabilidade na gerência dos

recursos públicos. (GOHN, 1997, P. 29).

Nesse contexto de identidades sociais difusas e fragmentadas (SCHERRE-

WERREM, 2006) ou de transformação e afirmação de identidades (CARDOSO, 2002),

as alternativas de geração de trabalho e renda estão sendo criadas e recriadas, seja pela

pluriatividade na agricultura Schneider (2003), seja pela ressignificação do trabalho

(DIAS, 2009). Ficou evidente durante a pesquisa de campo, que outras práticas sociais

precisam ser criadas e que práticas já existente precisam ser potencializadas, para a

geração de trabalho renda, com a introdução de bens e serviços de uso coletivo, como

acesso à escola, saúde, transporte, tecnologias, a melhor rendimento nas atividades

produtiva de mulheres e homens do Baixo Amazonas, a fim de almejar a transfiguração

das políticas públicas sob o enfoque territorial.

3. Capacidades Institucionais

Como foi anunciado no item anterior, a identidade do território é uma

construção história, social e coletiva, realizada pelos indivíduos e pelas

institucionalidades. Assim, para compreender as capacidades institucionais do Baixo

Amazonas paraense é importante conhecer ainda que de forma genérica, as instituições

sociais que atuam no território, como atuam e como se relacionam entre si, para isso se

lançou mão dos dados disponíveis no Q1, do diário de campo e das observações

participante. As entrevistas foram realizadas com os representantes do poder público

municipal, como demonstrado abaixo:

Page 46: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

45

Quadro 06 - Capacidades Institucionais

MUNICÍPIO NOME INSTITUIÇÃO

Alenquer Raimundo R de Oliveira Secretaria de Agricultura

Curuá Círio Bezerra Secretário de Agricultura

Monte Alegre Francisco Carlos C Lima Secretário de Obra

Óbido Hildeane Rabelo de Castro

Oriximiná Elias da Rocha Estumano Sec. M. Planeijamento

Santarém Ivete Santos Sec. M. Produção Familiar

Terra Santa Nelson Carlos Fernandes Sec. Agricultura Fonte: MDA/SGE/2011

As entrevistas votadas à percepção da contribuição das institucionalidades para

o desenvolvimento do território, tiveram as seguintes avaliações: Infraestrututa

Institucional, Médio Alto; Gestão do Colegiado e Instrumentos de Gestão Municipal,

Médio; Capacidades Organizacionais, Serviços Industriais Disponíveis, Mecanismo de

Solução de Conflitos e Iniciativas Comunitárias, Médio Baixo.

Para se tecer (ainda que de forma preliminar) os fios que compõem as

capacidades institucionais do BAM paraense é necessário atentar para questões como:

Gestão do Colegiado, as Capacidades Organizacionais, os Serviços Institucionais

Disponíveis, os Instrumentos de Gestão Municipal, os Mecanismos de Solução de

Conflitos, a Infraestrutua Institucional, as Iniciativas Comunitárias e a Participação,

itens que foram objeto da pesquisa.

Este relatório destina um item para a Gestão do Colegiado assim, cabe aqui

anunciar que o Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural (CODETER) no Baixo

Amazonas paraense enfrenta algumas dificuldades: 1) recursos para deslocamento e

realização de eventos; 2) os representantes do poder público, da maioria dos municípios

parece não oferecer apoio aos eventos e reuniões do colegiado, passando a impressão de

que a política de desenvolvimento fosse algo apenas do movimento social; 3) as

discussões entre as organizações sociais estão mais nas cidades, o entrevistados das

comunidades (ICV) declaravam que nunca tinham ouvido falar nesse assunto.

Neste sentido, o Território mostra-se fragilizado na percepção dos entrevistados,

como pode se observado em relação ao colegiado com um indicador de (0,480),

considerado médio.

As capacidades organizacionais receberam avaliação Média Alta. Chama

atenção que existe nos municípios em termos quantitativos, um significativo número de

conselhos, contudo, alguns relatos dão conta de alguns desses apresentam atuação

Page 47: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

46

inexpressiva, o que pode significar que exercem pouco controle social, como se pode

observar no quadro abaixo.

Quadro 7 – Indicadores Políticos-Institucionais

Fonte: MDSSD, 2011.

Apenas à título de conhecimento apresenta-se abaixo a listagem de conselhos do

município.

CONSELHOS E/OU CONSÓRCIOS PÚBLICO

Quadro 08-Conselhos E/Ou Consócios Públicos

ALENQUER

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

Conselho de Meio Ambiente

Conselho de Saúde

Conselho de Educação

CURUÁ Conselho de Saúde

Conselho de Educação

MONTE ALEGRE Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

Conselho de Meio Ambiente

ÓBIDOS

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

Conselho de Meio Ambiente

Conselho de Saúde

Conselho da criança e adolescentes

Conselho de Educação

Conselho de Assistência Social

Conselho do Idoso

Conselho da Mulher

Conselho da Cultura

ORIXIMINÁ

Conselho de Meio Ambiente

Conselho de Saúde

Conselho da criança e adolescentes

Conselho de Educação

Conselho de Assistência Social

Conselho da Cultura

SANTARÉM

Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)

Conselho Municipal de Cultural

Conselho de Alimentação Escolar

Conselho de Assistência Social

Conselho de Saúde

Conselho da Criança e do Adolescente

TERRA SANTA

Conselho de Saúde

Conselho de Educação

Conselho de Assistência Social

Fonte: MDA/SGE/2011

Page 48: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

47

Em síntese, observa-se que o Conselho de Municipal de Desenvolvimento

Rural (CMDRS) está presente em todos os municípios do Baixo Amazonas, bem como

o Conselho de Saúde e Educação, o que os dados e as observações demonstraram é que

esses não interferem na tomada de decisões e no controle social de forma satisfatória,

suficiente, de forma que venha contribuir plenamente com o desenvolvimento do

territorial e com o processo de democratização da sociedade.

Quanto à orientação para produção por meio de cadeias produtivas, para a

maioria dos entrevistados não existe nos municípios essa orientação com exceção dos

municípios de Santarém e Óbidos que responderam sim a essa questão. Entretanto foi

possível observar que os STTRs e algumas ONG’s realizam orientações para a cadeia

produtiva da mandioca e que, a para isso contam com apoio das organizações de

assistência técnica, dentre aquelas, a EMATER. Resta então indagar: como são essas

cadeias produtivas? Como o poder público municipal interage com as organizações dos

trabalhadores? Observou-se como parte da cadeia produtiva da mandioca, a

preocupação com a qualidade da produção, inclusive com a higienização, o

aproveitamento dos derivados da mandioca, tais como: o tucupi usado para uso na

culinária, a produção de farinha de tapioca, a produção de outras farinhas e a produção

de ração para animais.

Quanto a comercialização da produção do território as opiniões se dividem, dos

sete (07) entrevistados, quatro afirmam que não celebram acordos para a

comercialização da produção, enquanto os três responderam positivamente, orientam.

Quanto ao cadastro de imóvel rural, as opiniões dos entrevistados indicam que a maioria

possui cadastro e que também, possuem mapa da área degradada. Percebeu-se, no

municio de Santarém, projetos da CONAB, mas não foi possível saber a real extensão

do mesmo, nem como isso nos ocorre outros municípios.

Capacidade Organizacional e Controle Social Quadro 09-capacidade organizacional e controle social I

MUNICÍPIO p11 – orientação

cadeia produtiva

p12 – orientação

comerc.produto

p16 cadastro imóvel

rural

p18 – mapa área

degradada

Alenquer Não Não Sim Não

Curuá Não Não Não Não

Monte Alegre Não Não Não Sim

Óbido Sim Sim Sim Sim

Oriximiná Não Sim Não Sim

Santarém Sim Sim Sim Sim

Terra Santa Não Não Sim Sim

Fonte: Pesquisa de campo, com base em informações do BAM, 2011

Page 49: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

48

Também, merece atenção as respostas atribuídas as questões 20, 22, 23 e 27,

por demonstrarem o inexpressivo número de protestos e manifestações sociais, bem

como as existência na maioria dos municípios pesquisados, de Secretaria do

Desenvolvimento Rural, Secretaria de Planejamento e existência de Técnicos

permanentes embora, a assistência técnica seja um grande problema a ser enfrentado.

Ainda, chama atenção os municípios de Curuá e Terra Santa, tendo em vista a

expressiva carência que os mesmos aparentam.

Quadro 10-capacidade organizacional e controle social II

MUNICÍPIO p20 – protestos/

manifestação social

p22 – Sec. Desv.

Rural

p23 – Tec perm.

Sec. Dev. Rural

p 27–Ext. Sec.

Planejamento

Alenquer Nenhum Sim Sim Não

Curuá Nenhum Sim Não Sim

Monte Alegre Nenhum Não Sim Não

Óbido De 1 a 3 Sim Sim Sim

Oriximiná Nenhum Sim Sim Sim

Santarém De 1 a 3 Sim Sim Sim

Terra Santa De 1 a 3 Sim Não Não

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

As capacidades organizacionais e os serviços institucionais aparecem com

indicadores (0,264) e (0,262), respectivamente, consideradas pelo indicador como

médio baixo, o que confere com os determinantes centrais da baixa capilaridade dos

sujeitos sociais, uma vez que o Território tem uma grande trajetória de luas, mas que

não se reflete na percepção dos entrevistados, suas demandas e reivindicações no

Território. Essa baixa capilaridade enfraquece os processos de consolidação da política

territorial na promoção do desenvolvimento territorial sustentável.

Nestes termos, os indicadores relacionados aos instrumentos de gestão municipal

(0,406), considerado médio e os mecanismos de solução de conflitos (0,278), com

indicador de médio baixo, além das iniciativas comunitárias (0,334), com médio baixo

apresentam certa contradição com a percepção dos entrevistados sobre a infraestrutura

institucional (0,655), considerado médio alto, embora seja um dos pontos que aparece

na pauta das reivindicações dos diversos sujeitos locais, como pode ser observado nos

diferentes momentos de consultas públicas de mecanismos institucionais.

Outro elemento importante nessa análise é o apoio ou iniciativa das organizações

sociais, particularmente o STTRs, as associações de mulheres e as organizações

religiosas que, inclusive não configuram nessa listagem.

Page 50: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

49

SEGMENTO SOCIAL QUE REALIZAM AÇÕES DE APOIO AS ÁREAS

RURAIS DO MUNICIPIO

Quadro 11

ALENQUER

Cooperativa de produtores

Comunidades quilombolas

Associação de assentados da reforma agrária

Grupos religiosos

Sindicatos

CURUÁ Movimentos Sociais pela reforma agrária

Sindicatos

MONTE ALEGRE Associações de agricultores familiares

Sindicatos

ÓBIDOS

Associação de agricultores familiares

Cooperativa de produtores

Grupos de mulheres

Comunidades quilombolas

Associação de assentados da reforma agrária

Movimentos Sociais pela reforma agrária

Sindicatos

ORIXIMINÁ

Comunidades indígenas

Grupos de jovens

Comunidades quilombolas

Sindicatos

SANTARÉM

Associação dos Agricultores Familiares

Cooperativa de Produtores

Comunidades Indígenas

Grupo de Mulheres

Comunidades Quilombolas

Movimentos Sociais pela reforma agrária

Grupos religiosos

Sindicatos

TERRA SANTA Associação de agricultores familiares

Sindicatos

FONTE: Pesquisa de campo, 2012.

A literatura demonstra a importância dos movimentos sociais rurais desde

meados do século XX, como as Ligas Camponesas e a Confederação Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). Particularmente no Baixo Amazonas esses

movimentos são de grande relevância devido a concentração fundiária. A Reforma

Agrária é uma das demandas históricas que tem se traduzido em lutas sociais. Assim, a

baixa titulação das terras, é um dos problemas considerado sério, no Território, embora

não apareça na percepção dos entrevistados.

Neste Território, teve momentos intensos de mobilização na conjuntura dos anos

90, quando surgem novas demandas e novos atores sociais no cenário das ações

coletivas, particularmente vinculados à questão da biodiversidade e o biopoder (GOHN,

Page 51: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

50

2008 e FRANK e FUENTES, 1989), como novos sujeitos dos conflitos ali instalados,

portanto, como agentes importantes na constituição de uma nova visão.

O Território do BAM paraense, possui uma intensa rede dessas organizações

sociais, como é mostrado no quadro abaixo e realizam ações de apoio nas áreas rurais

dos municípios. Eles hoje configuram novas formas de organização, assumindo uma

ação articulada a geração de trabalho e renda, além da defesa do meio ambiente, sita-se

alguns dessas organizações e suas novos institucionalidades.

Organizações do Movimento Social do Baixo Amazonas paraense:

Quadro 12

ACOMQPAL – Associação Comunitária do Quilombo de Palmares ;

ACORQE - Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Erepecuru;

ACREQARA - Associação Comunitária Remanescente de Quilombo de Arapemã;

AMUPAA - Associação de Mulheres Pescadoras, Agricultoras e Artesãs do Município de Santarém;

AOMT-BAM - Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas;

APAA - Associação dos Piscicultores e Agroextrativistas da Comunidade de Aná;

AQMUS - Associação Quilombola de Murumurutuba;

ASACERS - Associação Agroextrativista do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Renascer;

ASFEBEL - Associação Feminina de Belterra;

CEAPAC - Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária;

CIAT -BAM - Comissão de Instalação das Ações Territoriais;

CODETER - Colegiado de Desenvolvimento Territorial Rural;

FEAGLE - Federação Agroextrativista da Gleba Lago Grande;

FETAGRI-BAM - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Baixo Amazonas (Delegacia);

FOCS - Federação das Organizações Quilombolas de Santarém;

FUNDAC - Fundo de Desenvolvimento e Ação comunitária

GDA - Grupo de Defesa da Amazônia

GTA - Grupo de Trabalho na Amazônia;

MOP-BAM – Movimento das Mulheres Pescadoras;

PSA - Projeto Saúde e Alegria;

PTP - Planejamento Territorial Participativo

SINTTRAF - Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

STTR - Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

FONTE: Pesquisa de campo, 2012.

Os movimentos sociais atuam na agenda das políticas públicas e sociais, como

parceiros, articuladores e executores daquelas políticas, também se organizam em torno

do desenvolvimento sustentável. Essas organizações não atuam isoladas e no

anonimato, em suas práxis interagem com as institucionalidades públicas e privadas do

território, seja de forma direta ou indireta e contribuem para impulsionar a dinâmica e

os direcionamentos das mesmas. Apenas a título de exemplo com o propósito de ilustrar

o que se afirmou acima, a Moratória da Soja no Baixo Amazonas, as denuncias em

torno das irregularidade no licenciamento do Porto Graneleiro – Cargill e nos

assentamentos do INCRA em Santarém, estes últimos firam conhecidos, no Território,

como Assentamentos de Papel. A repercussão desses acontecimentos na mídia nacional

e internacional, motivam as ações do poder público (DIAS, 2009).

Page 52: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

51

Também, as discussões em torno das questões do BAM promovidas pelas

organizações sociais, possuem dimensões político-pedagógicas, inclusive para a

formação das comunidades locais. Por exemplo, as discussões em torno de um plano de

desenvolvimento para o BAM voltado para os interesses da região, denominado Projeto

Tucumã, data do ano 2002, foi uma estratégia de incorporar as propostas do plano nas

políticas públicas. Fizeram parte diretamente da elaboração do Plano o CEFT-BAM

(com a representação de 75 entidades), CEAPAC (17 associações), AOMTBAM, (38

entidades), Casa Familiar Rural do Baixo Amazonas (CFR-BAM) e MOPEBAM. O

Plano apresentou os seguintes eixos: organização, formação, crédito, assistência técnica,

educação, comunicação, esporte e lazer e infraestrutura.

A concepção do Projeto Tucumã subsidiou o debate em torno do PDTRS, pois

as entidades envolvidas na elaboração do Projeto participaram da Comissão Intersetorial

de Ações Territorial (CIAT), também estão representada no CODETER (DIAS, 2009).

Quadro Nº 13 – Indicadores Sociais

Fonte: MDSSDT, 2011.

Os indicadores sociais refletem uma realidade muito preocupante.

Considerando a escala de 0 a 1, todos os itens levantado foram problemáticos:

positivamente tem-se o IDH da educação, mesmo assim cabe questionar as condições

das escolas, o acesso a essas, a qualidade do ensino, o trabalho docente etc., e chama

atenção de forma negativa o baixo índice de hospitais e o número de homicídios.

Quadro 14 – Indicadores Culturais

Fonte: MDSSDT, 2011.

Com relação aos indicadores culturais cabe questionar se de fato refletem a

realidade já apresentada? A cultura local dá-se, muitas vezes, por redes informais, não

Page 53: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

52

compondo o quadro de uma elite intelectual ilustrada. Os quatro itens deste quadro,

Índice de Gestão em Cultura (IGMC), Índice do Fortalecimento Institucional, Índice de

Infraestrutura e Recursos Humanos (IGMG-IH) e Índice de Ação Cultural (IGMC-AC),

tiveram avaliação elevada, na escala de 0 a 1, se aproximaram de 1, o que parece não

corresponder a realidade, sendo que os dados apresentados precisam ser aprofundados.

4 - Gestão do Colegiado

O BAM é constituído por um conjunto de atores sociais em interação, que se

relacionam a partir de interesses diferenciados, tendo em vista que se trata de

representantes de segmentos sociais diversos, da esfera pública e da esfera privada.

Neste espaço, compreender como se dá a correlação de forças entre os atores, é um

elemento essencial, na medida em que as relações podem ser dimensionadas sob uma

dinâmica desigual, em que as forças em movimento envolvem domínios de ordem

política, econômica e social.

O Colegiado constitui-se numa esfera de discussões em que as relações de

poder estão presentes em busca de hegemonia e construção de consenso ou mesmo de

ruptura, isto faz sentido porque a descentralização do poder do Estado é um dos traços

marcante das políticas pública atuais, sendo relevante nessa orientação, o papel

desempenhado pelos conselhos e pelos colegiados, pela representatividade dos vários

segmentos sociais nos espaço deliberativos da gestão pública.

O Colegiado se organiza para a gestão social do território em busca da

superação de ações fragmentadas, ele se coloca para além da dinâmica restrita do Estado

e do mercado. Neste espaço, a gestão das demandas e necessidades pode atender as

diferentes esferas, sob um processo de cooperação que tem como perspectiva garantir

formas e mecanismos de auto-organização, principalmente, em busca da construção de

um espaço para mediatizar ações de interesses comuns, ou seja, em consonância com as

necessidades da sociedade.

Assim, a gestão social do território Baixo Amazonas não pode desconsiderar a

necessidade de organização, planejamento e controle social; ignorar os interesses

diferenciados existentes entre os diversos seguimentos sociais que compõem o

Colegiado e aqueles que passam fora de sua esfera; não pode e ignorar as estratégias

Page 54: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

53

que algumas dessa forças utilizam para inviabilizar a proposta de um plano de

desenvolvimento territorial rural.

De um lado, estão as forças políticas vinculadas ao Estado, representadas pelos

grupos políticos e econômicos que comandam o destino do território. E, de outro lado,

estão os seguimentos sociais no âmbito da organização do território, como espaço de

decisão, no qual muitas vezes, as organizações populares não têm o mesmo peso para

disputar propostas em nível de igualdade com os grupos políticos e econômicos que

comandam os destinos do território.

Então o que está posto neste cenário é a disputa pela ocupação do espaço,

particularmente, quando se refere à apropriação dos recursos naturais, como: a

exploração desordenada da madeira em tora, do minério, da pecuária, da produção de

grãos, somados à expansão da malha hidroviária, a pavimentação da BR 163; mesmo o

debate acerca da criação do Estado do Tapajós, é uma discussão que vêm sendo

articulada de acordo com os interesses do poder político dominante. Trata-se de uma

situação delicada para o território. Frente a este contexto não se percebe, por exemplo,

uma postura mais contundente da sociedade, em relação às ações de desenvolvimento

implantadas na região. Qual a posição do Colegiado como instância de representação

das diferentes esferas de poder no território, em face às esferas municipal, estadual e

federal e da sociedade civil organizada?

O que se observa na atual conjuntura do funcionamento do Colegiado, é que os

ânimos dos seguimentos que o compõem estão fragilizados, na medida em que não

conseguem dinamizar sua própria participação, não demonstrando uma reação mais

incisiva, participativa, e até mesmo polêmica frente ao quadro instalado na região, que

pode ser explicada pela falta de um planejamento em relação a temáticas

estrategicamente definidas para o território. Isto reflete a participação destes

seguimentos no âmbito mais geral, tendo em vista que a região vive uma efervescência

em termos da intensificação da implantação de grandes projetos, no entanto se vê pouca

movimentação em torno disso da política de desenvolvimento territorial.

Pode-se dizer que o setor mais envolvido e organizado em favor do atual

modelo de desenvolvimento tem sido os partidos, o atual governo, os empresários, os

industriais, os grandes fazendeiros e madeireiros. É válido ressaltar que esse debate está

se dando além do Colegiado.

Assim, a mais prejudicada é a população de menor poder aquisitivo, ou seja,

as mulheres, os indígenas, os remanescentes de quilombo, os pescadores, enfim, a

Page 55: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

54

população em geral. As consequências de ações isoladas, desarticuladas de decisões

coletivas, acabam fragilizando o Colegiado, na gestão estratégica de um território em

que são traçadas ações de ordem macro (para a soja e minério) que alcançam dimensões

globais, embora os efeitos negativos sejam territorializados localmente.

As decisões dos cidadãos se constituem em atos políticos, quer dizer, o

resultado da ação dos atores sociais envolvidos ou não nesses processos decisórios que

dizem respeito ao território, afeta todos, com maior prejuízo para as populações locais,

na medida em que os grandes empresários vivem fora, enquanto seus atos concretos

ultrapassam fronteiras e interferem exclusivamente no território.

O Colegiado, grosso modo, é uma instância criada para “provocar” estratégias

de desenvolvimento do território, no entanto, as decisões relativas aos grandes projetos

passam longe desse espaço, em face de sua forma de estruturação, na medida em que

não se constitui com uma representatividade territorial de fato e de direito.

No entanto, é válido ressaltar que a pesquisa no Baixo Amazonas paraense

contou com o apoio irrestrito dos movimentos sociais, da EMATER e do representante

do CODETER, entretanto, não se conseguiu instituir o Comitê de Acompanhamento e

Avaliação, visto que os representados do CODETER discordam da institucionalização

do Comitê. Nas palavras de seu representante, “uma forma de demonstrar o

descontentamento, com o descaso do MDA com a região”. Ele enumerou as seguintes

dificuldades: a) a ausência de representante do MDA no Baixo Amazonas, com poder

de decisão; b) falta de recursos para deslocamento dos componentes do CODETER; c) o

problema da Caixa Econômica dificultar a liberação de créditos e que ao liberar não

leva em consideração o planejado; e, d) a rotatividade entre os representantes das

entidades no CODETER.

Também chamam atenção à inexpressiva presença do poder executivo

municipal, observado, sobretudo, a participação nas plenárias do CODETER, a exemplo

do que ocorreu na elaboração do diagnóstico municipal. Uma possível explicação para a

ausência/indiferença do poder executivo municipal pode ser a confluência de interesses

políticos partidários, uma vez que nos municípios de Belterra, Jurutí e Santarém onde os

Prefeitos são do Partido dos Trabalhadores (PT), foi possível contar com a participação

dos seus representantes legais nas discussões.

A ausência do poder executivo e de entidades mais alinhadas aos governos

municipais pode representar um desconhecimento de instâncias como o Colegiado

Territorial, ou boicote à atuação do mesmo, movido por razões partidárias. Contudo, a

Page 56: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

55

proposta de um Plano de Desenvolvimento Territorial Rural, não é apenas para uma

parte da sociedade rural do Baixo Amazonas, mas sim, para o desenvolvimento do

território rural, na sua totalidade.

A fragmentação na liberação dos recursos, pela CAIXA, dos projetos

territoriais tem se constituído como fator de desestímulo e descrédito para as lideranças

locais, bem como de desmobilização dos agricultores e do próprio Colegiado.

Também, parece que falta visibilidade para o Colegiado. A gestão dos

Colegiados é percebida por 42,86% dos entrevistados, enquanto 38,86% não conseguem

perceber a atuação do Colegiado e 19,05% não sabe da atuação da atuação daquele.

Assim a maioria dos entrevistados não reconhecem a representatividade do mesmo, o

que pode ser identificado nas figuras abaixo.

Gráfico 1 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

A diferença de percentuais entre os que reconhecem a existência de assessor

técnico no território (42.86%), os que não reconhecem (38,10%), com a diferença entre

um e outro de 4,76%, pode demonstrar que existe falta de clareza na identificação do

articulador territorial enquanto técnico no exercício de suas atribuições no colegiado.

Essa compreensão é reforçada pelo percentual de 19,05%, que declararam que essa

questão não se aplica. Todavia, no Território encontra-se sem assessor/articulador visto

que o contrato do mesmo expirou em dia 30 de junho de 2011 e não foi renovado.

No que diz respeito ao apoio recebido pelo colegiado na ausência do assessor

técnico de um assessor técnico, se existe outro técnico que apoie o colegiado, as

respostas que mais se destacaram foi não, ou não se aplica, o que pode indicar que a

Page 57: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

56

desarticulação do colegiado e a pouca relevância dispensada a política de

desenvolvimento territorial rural, como se observa no gráfico a seguir.

Gráfico 2

Fonte: MDSSDT, 2011.

As variáveis de mensuração para a capacidade de decisão dos membros do

Colegiado, apontam, de acordo com a escala de 1 a 5, que as respostas dos conselheiros

está em média entre (2,00 a 4,00) pontos percentuais. Nesse patamar, as temáticas que

mais se sobressaíram foram as relacionadas aos representantes do governo estadual

(3,25), agricultores familiares (3,75), movimentos sociais (4,00), associações e

sindicatos e as organizações não governamentais (3,25). No entanto, os índices para a

representação do governo federal é de (2,50), governo municipal (2,00), comunidades

tradicionais (3,00), universidades (2,50) e entidades colegiadas (2,75), permanecem

entre médio e baixo.

No que diz respeito à comunicação no colegiado, os entrevistados informaram

que a comunicação é realizada por meio da internet. Em algumas cidades, como

Santarém há o programa NAVEGAPARÁ, do governo estadual, de internet gratuita, o

qual é implantado nas orlas das cidades e em alguns distritos como Alter do Chão, mas

que sempre apresenta problemas de acessos.

Para 52,38% dos pesquisados a seleção e eleição dos membros do colegiado

dar-se por meio de convite direto às organizações participantes, utilizando-se de correio

eletrônico ou telefone. Sendo que (23,81) do total afirma ser convite pessoal. Apenas

(9,52) afirmou que o processo ocorre através de convocatória aberta para a eleição de

seus representantes, enquanto (4,76) disse que a questão não se aplicava à realidade,

Page 58: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

57

além de (9,52) afirmar que existe outro recurso para esse processo, como se pode

perceber no gráfico abaixo:

Gráfico 3 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

As informações presentes nos dados da pesquisa que tratam do número de

reuniões realizadas pelo Colegiado desde a sua criação, demonstram que os conselheiros

não sabem informar com precisão sobre o ano de sua constituição, nem o número de

plenárias realizadas.

Assim, com base nas informações do articulador, o CODETER já realizou mais

de 20 reuniões, com a frequência de dois em dois meses. Fazendo o cruzamento dos

dados da pesquisa com o número de frequências nas plenárias do CODETER, constata-

se que o percentual de (14,29%) esta relativamente de acordo com a lista de frequência

de reuniões. Contudo, (23,81%) afirmaram que foram realizadas entre 11 e 20 plenárias,

o que leva a conclusão de que os entrevistados não têm certeza em relação as suas

respostas. É provável que os integrantes do Colegiado confundam o processo de

transição da Comissão de Instalações das Ações Territoriais (CIAT) com a

nomenclatura o CODETER, que ocorreu no início de 2008.

De acordo com a lista de presença nas reuniões do CODETER, entre os anos

de 2008 e 2010 o número de reuniões sofreu significativa redução, além da falta de

regularidade e assiduidade dos conselheiros nas reuniões. Observou-se que embora

cada instituição tenha seus representantes legais, não são sempre os mesmos ou os seus

suplentes que participam das reuniões. Esse fato tem dificultado a seqüência dos

trabalhos e as tomadas de decisões. Porém, convém considerar as distâncias entre os

Page 59: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

58

municípios e os custos do deslocamento, onde a “troca” de representação pode se

explicar como estratégia para enfrentamento dessas dificuldades.

Gráfico 4 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

Pela figura abaixo se pode perceber que entrevistados não saberem quantas

reuniões foram realizadas pelo colegiado.

Gráfico 5

Fonte: MDSSDT, 2011.

É preocupante a participação das entidades no CODETER. Observa-se no ano

de 2008 uma expressiva participação de entidades, chegando a 120 organizações, as

quais deveriam compor o Colegiado, entretanto, esses números caíram para

aproximadamente (23%) do total de entidades participantes. E, ainda, deve ser

observado que nem sempre é a mesma pessoa (titular ou suplente) que as representa.

Page 60: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

59

A participação nas plenárias no ano de 2008, tomando como exemplo o

município de Almeirim, contou com número considerável de entidades, contudo deve

ser observando a plenária realizou-se na sede daquele município, na Câmera de

Vereadores, ou seja, com o apoio do poder público municipal, situação que não se

repetiu nos anos posteriores. Observa-se situação semelhante que reforça a diferença

significativa do apoio municipal, no município de Santarém, que sedia a maioria das

reuniões do Colegiado, Belterra e Jurutí, onde o apoio do poder municipal é mais

expressivo.

Gráfico 6-

Fonte: MDSSDT, 2011.

Um dos assuntos mais comentados no Território é o desenvolvimento

agropecuário, seguido da saúde e do meio ambiente. Estes temas podem estar

relacionados aos problemas enfrentados pelos movimentos visto que dizem respeito ao

agronegócio, ao desmatamento da região, a expulsão dos homens do campo e ao

inchaço das cidades nos municípios onde esses empreendimentos estão instalados.

Gráfico 7 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

Page 61: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

60

É importante destacar que no mesmo período da pesquisa para o diagnóstico, o

IPAM, estava realizando o levantamento dados para a elaboração do PDTRS. Assim,

em alguns momentos foi possível realizar atividades conjuntas nos municípios de Monte

Alegre, Curuá, Òbidos e Oriximiná. O gráfico Q3_P21 (76,19%) confirma que houve

participação nas oficinas de discussão para a elaboração do Plano. No entanto, (61,90%)

disseram participar na concepção e na elaboração, enquanto (28,57%) disseram ter

participado somente da revisão. Ressalta-se que em uma das últimas plenárias houve a

decisão de constituir uma comissão formada por representantes de todas as esferas

(STTRs, FETAGRI, EMBRAPA, EMATER, SAGRI, CEFT-BAM). Nesse processo, os

STTRs e as instâncias do poder público nos municípios, tiveram expressiva

participação, a exemplo das Secretarias de Agricultura e Meio Ambiente. E pelo fato

das oficinas acontecerem nos municípios outras organizações locais puderam participar.

Gráfico 8-

Fonte: MDSSDT, 2011.

A visão de futuro foi construída ou, pelo menos discutidas ou indicada, quando

do diagnóstico dos municípios para o PDTRS.

Gráfico 9-

Page 62: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

61

Fonte: MDSSDT, 2011.

A elaboração da visão de futuro foi construída nas reuniões realizadas nos

municípios, com destaque para as plenárias municipais com objetivo de discutir o

PDTRS, quando foram apresentados os dados da realidade social, econômica e cultural

dos municípios, com base no IBGE, sendo os mesmos discutidos pelos presentes e,

projetado a visão de futuro. Portanto, como mostra no gráfico (61,90%) dos

conselheiros participaram dessa discussão.

Gráfico 10-

Fonte: MDSSDT, 2011.

De acordo com (33,33%) dos conselheiros que participaram da concepção e

elaboração do plano, estes estiveram presentes nas oficinas realizadas nos municípios,

com um percentual de (28,57%) dos conselheiros que participaram efetivamente da

atividade.

Page 63: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

62

Gráfico 11 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

Segundo a percepção dos entrevistados, (66,67%) das decisões acontecem por

meio de votação da maioria absoluta, em quanto para (38,10%), as decisões são tomadas

por acordos e consensos. Neste sentido, pode-se dizer que as duas formas são adotadas,

embora haja predominância da votação.

Gráfico 12 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

Gráfico 13 -

Page 64: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

63

Fonte: MDSSDT, 2011.

O Colegiado tem como objetivo encaminhar ações, projetos e proposições para

o desenvolvimento territorial sustentável, portanto, a participação das entidades-

membros é essencial, no entanto, a rotatividade dos representantes das instituições

interfere, de forma significativa, prejudicando o desempenho, na medida em que os

representantes nem sempre estão esclarecidos das questões que estão na pauta e, muitas

vezes, não tem condições de contribuir suficientemente os debates e desta forma intervir

em acordo com a pauta em discussão. Portanto, quanto menor for sua participação

destes nas reuniões, menor será seu entendimento acerca das temáticas discutidas nas

plenárias.

No gráfico sobre a questão do Colegiado, isto é, de sua representação referente

aos interesses do território, pode-se dizer que a inviabilidade dos projetos (com recursos

da SDT/MDA), no território, prejudica a ação deste, tendo em vista que o atraso no

repasse de recurso e a morosidade burocrática para resolver os problemas decorrentes

geram desgastes. O que leva ao patamar de descrédito em relação as ações do governo

em face da inoperância dos órgãos públicos. Ou seja, a falta de resolução dos

problemas não está diretamente relacionada à capacidade de operacionalização do

Colegiado, mas nas ineficiências das instâncias do governo (SAGRI, CAIXA

ECONOMIA, MDA), os quais têm poder de decisão, na medida em que são

responsáveis pela operacionalização das questões burocráticas, e com isso acabam

inviabilizando a execução dos projetos.

Essa situação torna-se preocupante, pois ocorre desde 2004. O Relatório de

Execução dos Territórios de Cidadania, de janeiro de 2010, e o de janeiro de 2011,

Page 65: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

64

mostram que o orçamento previsto para o território, com um montante na ordem de R$

639.621.183,50 milhões de reais, os quais deveriam ser investidos em projetos para a

melhoria de qualidade de vida da população local não foi totalmente investido. Do total,

foi investido R$ 420.244.311,26 milhões de reais, para 131 ações no território, de 143

previstas. As duas parcelas previstas para cada ano equivalem a R$ 219.376.872,24

milhões de reais que não foram utilizados.

Os representantes do Colegiado mostram, com esses dados, a não eficiências

dos órgãos responsáveis na execução das ações planejadas, a exemplo, do que também

ocorrera nos anos anteriores.

Com relação às ações desenvolvidas pelo Colegiado para gestão dos projetos

de desenvolvimento territorial, os mesmos afirmam que:

Priorizam e selecionam com base em critérios;

Análise de viabilidade técnica, com a constituição de uma comissão para

analisar os projetos;

Avaliação interna de mérito, após análise das propostas.

As ações do Colegiado para a gestão de desenvolvimento territorial são

realizadas por meio de articulação com o poder público, nas três esferas do governo e

com a sociedade civil, também são realizados levantamento de demandas para serem

desenvolvidas no território, tendo em vista atender as áreas consideradas prioritárias,

bem como garantir o controle social, na gestão territorial.

Gráfico 14 -

Fonte: MDSSDT, 2011.

De acordo com as informações obtidas junto ao articulador, a única temática

que culminou na capacitação dos membros do Colegiado foi na elaboração de projetos,

no ano de 2009, o que corrobora com os dados mais significativos, quando somado os

percentuais de 52,10%; 38,10%; 33,33%, observa-se que estes estão relacionados com a

Page 66: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

65

questão do planejamento e elaboração de planos de desenvolvimento, além da

capacitação para a elaboração de projetos.

5. Avaliação de Projetos

A ação do governo via SDT teve grande importância na perspectiva de

canalizar recursos para o desenvolvimento dos territórios, contudo a ineficiência quanto

à operacionalização e a execução dos projetos, atribuídas a uma falta de funcionalidade

por do acompanhamento da execução dos processo de implantação dos projetos tem

levado ao descrédito do governo e de suas instâncias operacionais. Diante desse

contexto, é difícil visualizar os resultados das ações que possam promover o

desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida do público beneficiário.

O levantamento realizado pela Célula do Baixo Amazonas junto ao articulador

territorial, a lideranças do movimento social, a representantes de instituições de ensino e

órgãos estaduais, mostra que os projetos voltados ao território, de acordo com o contrato

de nº 170.463-75 SAGRI/MDA/CAIXA/2004, sob a execução da SAGRI, estavam

direcionados aos municípios de Belterra, Juruti, Óbidos, Oriximiná e Santarém. Desse

modo, no ano de 2004, foram solicitados para o território, um total de 8 projetos que

previam:

1) Unidade de beneficiamento de fibra de Curuá, em Juruti, sob a responsabilidade

do STTR, orçado no valor de R$70.400,00 – projeto que no momento encontra-

se com processo licitatório paralisado na Caixa Econômica Federal;

2) Construção de 01 galpão de 1.250m² para comercialização de produtos da

agricultura familiar, em Santarém, orçado no valor de R$143.000,00, atendendo

solicitação da APRUSAN (Associação de Produtores Rurais de Santarém) –

projeto que teve seu pedido cancelado pela SDT;

3) Aquisição de 03 kits eletrônicos para análise de água, em Santarém, atendendo

solicitação da ULBRA (Universidade Luterana do Brasil), no valor de

R$39.600,00. Esta meta teve solicitação atendida e entregue à SAGRI, à

EMATER e à CEPLAC, em dezembro de 2006. Porém, segundo informação do

articulador territorial, não está funcionando.

4) Aquisição de 01 espectofotômetro para o laboratório de análise de solo da

ULBRA, no valor de R$71.500,00, para Santarém. Esta meta teve solicitação

Page 67: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

66

atendida e foi entregue a ULBRA, em agosto de 2008. Esse projeto tem uma

ação complementar que é o conjunto de vidrarias para análise de água. Ação a

seguir:

5) Aquisição de 1 conjunto de vidraria para análise de água, para a ULBRA, como

complemento do espectofotômetro de análise água, também para Santarém, no

valor de R$ 12.143,45. Esta solicitação foi atendida 2009, porém, por falta de

outros materiais não está funcionando.

6) Construção de mini-usina e grupos geradores para processamento de óleos de

andiroba e copaíba, para o município de Belterra, no valor de R$ 49.767,30,

atendendo uma solicitação do STTR. Tal solicitação foi atendida e entregue, em

2006. Faltando a prefeitura definir o local de funcionamento, que segundo

informação da Secretária de Agricultura, a situação desse projeto é muito

complexa, existe falta de entendimento entre as comunidades beneficiárias, ou

seja, Pedreira, São Domingos e Maguari. Essa foi a situação alegada pela

Secretária, por isso os equipamentos não foram entregues. Ainda segundo

técnico da Secretaria há outro projeto para a aquisição de um barco, para

escoamento da produção, mas que também não está sendo utilizado, por que

falta legalizar a documentação que discorre sobre sua utilização.

7) Construção de 2 Casas Familiares Rurais, para os municípios de Juruti e

Oriximiná, no valor de R$187.000,00. Esta meta teve sua solicitação atendida

em parte, por que o recurso não foi repassado integralmente. Não sendo,

portanto, suficiente para concluir a construção das Casas, pois a SAGRI não fez

repasse do restante da verba. E as construções encontram-se paralisadas;

8) Ampliação e revitalização da Estação de Piscicultura de Santa Rosa, em

Santarém, para aquisição de equipamentos e criação de alevinos no valor de R$

150.700,00. A solicitação foi atendida em parte, em 2010, pois a SAGRI não

fez o repasse do restante da verba. Neste caso, ocorreu um fato peculiar, ou

seja, após ter chegado ao local do projeto o funcionário que conduziu as

pesquisadoras determinou ao caseiro que trabalha há 9 anos na Base, que as

acompanhasse enquanto ficava dando uma olhada no questionário (em branco),

aplicado dias antes a outra pessoa que havia sido funcionário no governo

anterior, que informou que os tanques redes não foram instalados. Ao retornar

dos tanques redes, uma das pesquisadoras dirigiu-se ao funcionário e

perguntou-lhe acerca do projeto, se a solicitação havia sido atendida

Page 68: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

67

integralmente. O mesmo respondera que não, porque a SAGRI não havia

repassado o restante do recurso. Em seguida, questionou-se sobre o valor da

parcela restante, sua resposta saiu no seguinte tom: “Não posso e nem devo dar

essas informações...Isso, é lá com os de cima...’’ Naquele momento criou-se um

clima de constrangimento no local, não sendo possível obter maiores

informações sobre o funcionamento do projeto. O se soube pelo caseiro é que

foram construídos 12 tanques redes. Então, foram tiradas algumas fotos apenas.

E a viagem de volta ocorreu num clima de silêncio entre as partes.

9) Outros: Foram também beneficiados com tanques redes os municípios de Juruti,

Óbidos e Oriximiná, porém não foi possível obter informações mais precisas

acerca dos projetos, pois o tempo não permitiu conferir a situação dos mesmos,

bem como, dos demais projetos, como é o caso do projeto para aquisição de

equipamentos para ração de peixes, no município de Óbidos, sob a

responsabilidade das mulheres pescadoras daquele município.

A conclusão é que nenhum dos projetos acima mencionados está funcionando

efetivamente.

6. Análise do ICV

Os dados do Sistema de Gestão Estratégica foram obtidos a partir de 290

entrevistados, com objetivo de identificar a percepção de pescadores, ribeirinhos,

quilombolas e agricultores familiares sobre suas condições de vida, nos municípios de

Almerim, Curuá, Óbidos, Oriximiná, Monte Alegre, Santarém e Terra Santa. Se junta às

análises dos dados do ICV, dados do relatório de campo e das observações

participantes.

O Índice de Condições de Vida (ICV) é de 0,537 “médio”. Os Fatores de

Desenvolvimento (0,502) e as Características do Desenvolvimento (0,497) são

considerados Médio. Enquanto que o indicador Efeitos do Desenvolvimento (0,627) é

considerado Médio Alto. Pela percepção das populações pesquisadas estes indicadores

estão em equilíbrio.

Quadro 15

Page 69: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

68

Fonte: MDSSDT, 2011.

Dos 290 entrevistados, 245 possuem domicílio produtivo (84,48%) e 45

pertencem à categoria de domicílio sem produção (15,52%). Entre os domicílios

produtivos, 215 são agricultores familiares (87,76%), o que ressalta a importância da

agricultura familiar no BAM. Historicamente a agricultura esteve vinculada à produção

à economia de subsistência, praticada essencialmente pelas populações da Amazônia. O

trabalho se constituía de várias atividades de extrativistas além da pequena roça, da

pesca e da coleta de pequenos animais, além de diferentes espécie de vegetais nativos e

planta medicinais, o que pode ser percebido.

6.1 - Fatores do Desenvolvimento

O item fatores do desenvolvimento foi classificado como Médio (0,40 – 0,60)

conforme os seguintes subitens: número de famílias trabalhando (0,539); mão de obra

familiar (0,511); escolaridade (0,577), acesso ao mercado (0,490) e presença de

instituições (0,497); enquanto que os subitens área utilizada para produção (0,608) e

condições de moradia (0,620) receberam classificação Média Alta (0,60 – 0,80).

O trabalho na agricultura: número de família trabalhando e mão de obra

Como já comentado acima, a agricultura familiar no Baixo Amazonas consiste

em muitas atividades, tais como roças, pesca e coleta e criação de pequenos animais

(porcos, galinhas, patos) sendo que algumas famílias também criam gado a solta,

principalmente as que habitam nas várzeas. Uma parte do que é produzido e coletado é

utilizada para o sustento da família a outra parte é comercializada com os

Page 70: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

69

atravessadores ou marreteiros. Observou-se que os quintais não possuem muitas

plantações, geralmente mangueiras e cajueiros, também o cultivo de hortas foi mais

visível nas várzeas. Essas produções estão diretamente inseridas na dieta alimentar

daqueles povos. Na agricultura, a base da produção é a farinha de mandioca, é comum

encontrarmos formos de fazer farinha nas casas dos comunitários.

Quadro 16

Fonte: SDT, 2012.

O número de famílias trabalhando está satisfatório com uma escala que se

estende de ótimo a regular, chama atenção que 31,4% consideram bom e 41,6%

consideram regular, sendo que apenas 4,9% atribuíram ótimo à sua avaliação. Neste

sentido, a avaliação negativa, isto é, classificada entre ruim e péssimo, recebeu 22,1%;

A mão de obra familiar também foi considerada em nível satisfatório que se concentra

entre bom (25,7%) e regular (49,0%), sendo inexpressivo, o percentual dos que

consideram ótimo (2,4%). Em termos da avaliação negativa (22,9%), distribuídos entre

regular e péssimo;

É sabido que a agricultura familiar possui formas peculiares de organização das

atividades produtivas, muitas vezes lançam mão do mutirão, que denominam de

puxirum, para o qual são convidados os amigos. A família que promove o puxirum

prepara as refeições e as bebidas para serem servidas antes de iniciar os trabalhos, tendo

em vista que a equipe só pode parar de trabalhar quando a tarefa estiver concluída.

Durante a realização das tarefas as mulheres servem uma espécie de bebida fermentada,

preparada especificamente para a ocasião. Ressalta-se que geralmente os puxiruns são

usados nos trabalhos de derrubada para roças, abertura de estradas, etc. Mas chama

atenção que as práticas associativas e solidárias fazem parte diretamente das estratégias

de sobrevivência das populações que vivem no campo, no Baixo Amazonas paraense.

O trabalho envolve todos os membros da família desde muito sedo, o que

significa dizer que as crianças também fazem parte do processo produtivo, ou seja,

Page 71: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

70

realizam pequenos trabalhos, talvez isso explique a satisfação declarada pelos

entrevistados quanto ao número de famílias e a mão de obra que fazem parte das

atividades produtivas.

Escolaridade

Sobre a escolaridade observa-se que as populações do Baixo Amazonas

consideram positiva, na medida em que 208 entrevistados (83,3%) declararam-se

satisfeitos com a escolaridade dos membros da família, em uma escala de ótimo, bom e

regular, enquanto que (16,7%) dos entrevistados avaliaram como regular ou péssima.

De fato, os indicadores de educação têm crescido no Estado do Pará, embora

ainda estejam baixo, particularmente, quando observada a interiorização do ensino

médio e do ensino superior. Para além do número de escolas e alunos matriculados,

tem-se o agravante das condições de infraestrutura da maioria das escolas do campo, do

acesso de alunos e professores dada as condições do transporte na região associada às

questões climáticas, chuvas, enchentes dos rios e seca, tornado possível inferir que o

elevado nível de satisfação com a escolaridade pode indicar a credibilidade que

depositam na escola, compreendida como meio de ascensão social.

Assim, os entrevistados ao percebem que já existe escola para os filhos, o que

antes não existia, não questionam as condições das mesmas. Nesse sentido, na avaliação

realizada nas plenárias do CODETER a educação mereceu muitas críticas. O cenário

apresentado era de escolas com infraestrutura precária, sem bibliotecas, com falta de

merenda, e péssimas condições de trabalho para professores e alunos. Mesmo nas

escolas recém construídas essa realidade se repete. Eles destacaram as dificuldades o

acesso às escolas, em estradas de barro onde as distâncias são percorridas, na maioria

das vezes, por moto, bicicletas, a pés e/ou rabetas5. Enfatizaram que essas condições se

agravam nos dias de chuva e na enchente ou seca do rio. Também se reportaram ao

sistema modular de ensino6, informaram que faltam professores e que as aulas são

ministradas de forma concentrada o que empobrece o aprendizado. Informaram ainda,

que muitos jovens largam a escola antes mesmo de concluir o Ensino Fundamental.

5 Pequenas canoas com motor, que são utilizados pelas famílias para o transporte familiar e de

mercadorias.

6 È um projeto de levar o ensino médio através de módulos para interior do Pará.

Page 72: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

71

Condições de moradia

Este subitem foi o que recebeu maior pontuação, sendo possível inferir que os

entrevistados estão satisfeitos com as condições de moradia que possuem. A

classificação ótimo, bom e regular, obteve respectivamente 4,5%, 52,4% e 35,5%,

totalizando 91,8% dos entrevistados. Apenas, 21 entrevistados, se declararam

insatisfeitos, o que corresponde a 8,6%.

Chama atenção o percentual de satisfação com as condições de moradia, pois

as casas na maioria, não possuem nenhum dos itens apresentados no questionário de

pesquisa: energia elétrica, água potável e dentro de casa, banheiro dentro de casa,

geladeira, fogão a gás, telefone e computador, coisas que se analisam como essenciais,

de forma que essa resposta instiga a buscar conhecer que critérios de necessidades

desses sujeitos que sustentam tão alto nível de satisfação. De modo geral as casas são de

madeira e cobertas com telhas de amianto, com as paredes de tábuas, também é comum

se encontrar casas com coberturas e paredes de palhas de palmeiras.

As residências um marcadores das diferenças de posse, assim encontra-se casas

maiores, bem arrumadas e outras bem simples, muitas fezes com um ou dois cômodos.

Registra-se também, a distinções arquitetônicas entre as casas construídas em terra

firme e em várzeas. Na várzea as casas são bem altas, uma forma de resistir às

enchentes do rio.

Foto 22. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense.

Foto 23. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense.

Page 73: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

72

Acesso ao Mercado, programa de governo, crédito e assistência técnica

Os entrevistados declararam que o acesso ao mercado é satisfatório, o que é

traduzido na seguinte classificação: Ótimo (1,6%), Bom (33,5%) e Regular (29,8%), o

que corresponde a 159 entrevistados (64,9%). Por outro lado, o percentual de

insatisfação não pode ser ignorado: ruim para 29,4% dos entrevistados e péssimo para

5,7%, num total de 86 entrevistados.

Muitos entrevistados ao externarem suas opiniões sobre o mercado, para

venderem os seus produtos, relataram seu descontentamento com os atravessadores ou

marreteiros, mas concluíam que era melhor vender a eles pelo preço que quisessem

pagar do que levar para vender na cidade em função do transporte, distância, custos,

falta de armazenagem, entre outros fatores. Então, ao que parece, não existe satisfação

com o mercado e sim, conformismo com uma situação que não depende exclusivamente

dele para ser resolvida. Trata-se, antes de tudo, da ausência do Estado, visto que as

políticas agrícolas e sociais não foram capazes de resolver problemas como transporte,

armazenamento. No entanto, os entrevistados (representantes do poder municipal)

declaram que não existe política de comercialização.

Presença das instituições. 69% dos entrevistados declaram-se satisfeitos com

a atuação das organizações sociais: para 8 entrevistados (3,3%) está ótimo; para 87

(35,5%) está Bom e para 74 (30,2%) está Regular. Para 75 entrevistados (31%), a

atuação não é satisfatória: para 46 (18,8%) está Ruim, e para 30 entrevistados (12,2%)

está péssimo. Ressalta-se que neste território é muito forte a presença das organizações

sociais, sindicatos de trabalhadores rurais, associações, igrejas e cooperativas, ficando a

Foto 24. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense.

Foto 25. Tipo de moradias do Baixo Amazonas Paraense.

Page 74: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

73

impressão de que essas organizações fazem parte das estratégias de enfrentamento das

dificuldades existentes na região.

Receberam avaliação negativa os seguintes subitens: Programas de Governo

(0,339), Acesso ao Crédito (0,364) e Acesso a Assistência Técnica (0,364).

Classificados como Médio Baixo (0,20 – 0,40);

Programa de governo e acesso ao crédito. No que diz respeito ao item,

registra-se que os entrevistados enfrentam algumas dificuldades: primeiro, titulo terra.

Eles possuem a terra há muitas gerações contudo, não possuem título de posse, essa é

uma questão que o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), vem tentando

resolver por meio dos assentamentos; segundo, a falta de documentos pessoais (carteira

de identidade, CPF);

Segundo, questionam e criticam as dificuldades de acesso ao crédito. Informam

que existe muita promessa principalmente quando se aproxima as eleições municipais.

Ocorre que o PRONAF, mesmo quando toda a documentação está correta incluindo o

projeto não é aprovado pelo banco. Essa realidade também, é frequentemente criticada

pelas lideranças dos sindicatos dos trabalhadores rurais e dos outros movimentos

sociais, os quais declaram que, mesmo seguindo as orientações dos manuais dos bancos,

o crédito em muitas ocasiões não é aprovado ou é aprovado parcialmente e, nem sempre

sua liberação coincide com o tempo hábil para plantar e colher.

Contudo, nesse indicador (programa de governo) chama atenção a diferença

entre a avaliação negativa (59,1%) em relação à avaliação positiva (40,8%). Os

entrevistados mostram insatisfação com o acesso aos programas de governo, sendo que

para 74 entrevistados (32,9%) as condições para conseguir participar dos programas de

governo são ruins e para 54 (26,2%) as condições são péssimas; Quanto ao acesso ao

crédito, para 125 entrevistados (56,7%) o acesso ao crédito para a produção é ruim ou

péssimo enquanto que, para 106 entrevistados (43,3%) é difícil acessar o crédito,

contudo para (29%) declararam ser regular o acesso;

Acesso à assistência técnica. Este item apresenta pequena diferença entre

satisfação com a assistência técnica expressa por (48,9%) dos entrevistados e a

insatisfação (51%);

Essas variáveis são centrais à política de desenvolvimento territorial rural, pois

se o agricultor familiar não consegue acessar crédito e assistência técnica torna-se

impossível viabilizar a produção rural. A assistência técnica é insuficiente, tanto em

número de técnicos como também em termos equipamentos considerados precários e

Page 75: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

74

insuficientes, para atender um território de tamanha dimensão e com tantas dificuldades

de acessos. No território do Baixo Amazonas paraense a assistência técnica é oferecida

pelas prefeituras (técnicos das secretarias municipais de agricultura) e pela EMATER.

6.2 - Características do Desenvolvimento

O indicador Características do Desenvolvimento (0,497) é composto pelas

seguintes variáveis e índices: renda familiar (0,508); produtividade no trabalho (0,511);

produtividade da terra (0,566); conservação das fontes de água (0,596); conservação da

área de produção: solo (0,589); preservação da vegetação nativa (0,570), os quais foram

avaliadas como Médio e diversificação da produção agrícola (0,348) e diversificação

nas fontes de renda familiar (0,285), foram avaliadas como Médio Baixo.

Quadro 17

Fonte: MDSSDT, 2011.

a) Renda familiar: 199 entrevistados classificaram a renda familiar como satisfatória

(81,2%), e 46 entrevistados (18,8%) declaram-se insatisfeitos, sendo ruim (13,1%)

e péssimo (5,7%); Produtividade do trabalho: consideram-se satisfeitos (79,8%)

dos entrevistados; Produtividade da terra. Declararam-se satisfeitos com a

produtividade da terra (88,5%); Frente a esses dados, é importante considerar que a

agricultura é a identidade do território, contudo os entrevistados informaram que

produzem mais para a subsistência pois as bolsas e a aposentadoria rural fornece

uma boa ajuda, o que também é percebido e comentado pelos sindicatos.

b) Diversidade das fontes de água. Este subitem recebeu avaliação positiva por

parte de (75,5%) dos entrevistados; Conservação da área de produção: Solo. Os

entrevistados na sua grande maioria (85%) considera o uso do solo positivo, ou seja

entende que estão preservando as cabeceiras dos rios, que mantém a cobertura

verde; Preservação da vegetação nativa, também avaliado positivamente por

(83,6%) que considera a vegetação nativa preservada. Percebeu-se que existe

Page 76: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

75

preocupação/cuidado com a preservação ambiental, particularmente com o controle

das queimadas e de roçagem das cabeceiras dos rios e respeito ao defeso.

c) Diversificação da produção agrícola. Este foi avaliado como positivo por (37,6%)

enquanto que a avaliação negativa prevaleceu com o percentual de (62,4%);

Diversificação das fontes de renda familiar. Apenas (24,5%) declararam-se

satisfeitos com a diversificação da renda familiar, enquanto que (54,7%) acha ruim

e (20,8%) péssimo, perfazendo um total de 75,5% dos entrevistados. Os dados

apresentados indicam que a produção não é muito diversificada, sendo

prioritariamente farinha de mandioca, por exemplo, os sete municípios pesquisados

produziram 625.820 de mandioca, (Manihot esculenta crantz), milho 149.956;

melancia 11.549t; questiona-se: não seria importante diversificar a produção pelo

menos para atender a sustentabilidade alimentar das famílias?

6.3 - Efeitos do Desenvolvimento

Quadro 18

Fonte: MDSSDT, 2011.

O indicador Efeitos do Desenvolvimento (0,627) é analisado com base na

totalidade dos 290 entrevistados, por meio das seguintes variáveis: situação ambiental

(0,530); participação em organizações comunitárias (0,600); participação política

(0,553); participação em atividades culturais (0,589), condições de alimentação e

nutrição (0,650); condições de saúde (0,616); situação econômica (0,632) e

permanência dos familiares no domicilio (0,839).

a) Condições de alimentação e nutrição. Esse item recebeu a seguinte avaliação:

ótimo para 18 entrevistados (6,2%); bom para 159 (54,8%), regular para 99 (34,1%),

num total de aprovação de 95,1%; as avaliações negativas foram: ruim para 13

entrevistado (4,5%) e péssimo para 1 (0,3%); A dieta alimentar das populações do

Page 77: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

76

Baixo Amazonas é constituída por farinha de mandioca, peixe, carne (muitas vezes

de caças), frutas e algumas verduras.

b) Condições de Saúde. Ótimo para 19 entrevistados (6,6%); bom para 139

entrevistados (47,9%) e regular para 97 entrevistados (33,4%), perfazendo, 87,9%

de respondentes que se declaram satisfeitos com as condições de saúde. As respostas

que indicam insatisfação foram: ruim para 27 entrevistados (9,3%) e péssimo para 8

entrevistados (2,8%), totalizando (12,1%);

c) Permanência dos familiares no domicilio. A avaliação ficou assim distribuída:

189 entrevistados (65,2%) avaliaram como ótimo, 53 entrevistados (18,3%),

avaliaram como bom, e 24 (8,3%) como regular, num total de (91,8%) dos

respondentes, declaram-se plenamente satisfeitos com a permanência dos familiares

no domicílio, em contraposição de 10 entrevistados (3,4%) que avaliam como ruim

e 14 (4,8) que avaliam como péssimo, totalizando (8,2%) dos entrevistados;

d) Situação econômica. A avaliação dos respondentes ficou assim distribuída: ótimo 8

entrevistados (2,8%), bom 164 (60,0%), regular 73 (25,2%), totalizando (88%) dos

entrevistados que encontram-se satisfeitos com a situação econômica da família, em

contraposição a 33 entrevistados (11,4%) que avaliaram como ruim e 2

entrevistados que avaliaram como péssimo, totalizando (12,1%) de insatisfeitos;

e) Situação ambiental: Para 8 entrevistados (2,8%) foi atribuído o conceito ótimo; 69

(23,8%) bom e 167 (57,6%) regular, perfazendo (84,2%) dos entrevistados,

enquanto que a avaliação negativa foi: ruim para 42 entrevistados (14,5%) e

péssimo para 4 entrevistados (1,4%), o que totalizou (15,9%);

f) Participação em organização comunitária: avaliação ótima para 22 entrevistados

(7,6%); bom para 141 entrevistados (48,6%) e regular para 75 (25,9%) totalizando

(82,1%) com avaliação positiva. A avaliação negativa foi ruim para 35 entrevistados

(12,1%) e péssimo para 17 entrevistados (5,9%);

g) Participação política. Neste subitem as avaliações ficaram assim distribuídas:

ótimo para 17 entrevistados (5,9%), bom para 131 entrevistados (45,2%) e regular

para 71 entrevistados (24,5%), com avaliação positiva de 75,6%. A avaliação

negativa foi de (24,4%), sendo que 39 entrevistados (14,4%) avaliaram como ruim e

32 (11%), como péssimo;

h) Participação em atividades culturais. Avaliação positiva (76,6%), distribuído da

seguinte forma: ótimo (12,4%) bom (49%) e regular (15,2%). Avaliação negativa:

Page 78: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

77

ruim (8,6%) e péssimo (14,8%), perfazendo (23,4%) de análise negativa quanto a

participação em atividades culturais.

6.4 – Considerações acerca do ICV

O propósito do IVC era conhecer a opinião do entrevistado, contudo algumas

vezes parece que a resposta ao quesito da entrevista não estava em consonância com as

opiniões que expressavam nas conversas. No diálogo com os entrevistados, lideranças

sindicais, representantes de organizações sociais, representantes do poder público

municipal e entrevistados das comunidades (questionário ICV), algumas questões

chamaram particular atenção. Primeiro, as afirmações: “não quero que o meu filho seja

agricultor”; “meu filho não vai ficar aqui, professora”; “vou mandar os meus filhos

para estudar e trabalhar em Manaus” (às vezes, Santarém, nunca Belém). Nestas

afirmações fica clara a preocupação em oferecer um futuro melhor para os filhos, pois

declaram que trabalham muito e nunca têm dinheiro com o que fazem. Mas, ao mesmo

tempo afirmam estar satisfeito com a moradia, a produção, etc.

Essa declaração apareceu espontaneamente no decorrer da aplicação dos

questionários e instigou a equipe em querer saber se todos os entrevistados

comungavam da mesma opinião. Assim, quando essa questão não aparecia

espontaneamente durante as entrevistas passou-se a achar uma forma de lançá-la, e a

resposta era sempre no sentido de saída dos filhos, sendo que na explicação deste

desejo/orientação, referiam-se às dificuldades enfrentadas: trabalho “pesado” e com

pouco “resultado”. Que questões, essas afirmações sugerem? O que é falado e o que é

silenciado pelos entrevistados?

Por um lado, a agricultura familiar e o meio ambiente são apontados como a

identidade do território, os entrevistados se declaram satisfeitos com as condições de

moradia, com a renda familiar, com área de produção, com a mão-de-obra familiar. Por

outro lado, não querem que os filhos permaneçam naquele trabalho, acham a atividade

penosa e de poucos resultados.

Isso não é contraditório. Essas afirmações fazem sentido e corroboram para a

compreensão daquela realidade, pois no momento que se ultrapassar a visão romântica

da floresta exuberante, de pulmão do planeta, do maior rio do mundo e se encarar o dia-

a-dia do trabalho na roça ou na pesca, a falta de mercado, energia elétrica, transporte e

assistência médica, será possível perceber que no território do Baixo Amazonas, como

Page 79: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

78

em toda Amazônia, o viver guarda suas particularidade e instabilidades – nada ali é

perene. O ritmo do trabalho e a própria rotina do dia-a-dia obedecem aos ciclos da

natureza, o curso das águas. As atividades rurais tornam-se mais dificultosas por serem

desenvolvidas por meio de tecnologias simples tendo como lócus os rios, a floresta, as

várzeas, sem contar que a presença do Estado por meio dos serviços público é

insuficiente.

Como foi demonstrado que a identidade é relacional e simbólica. Que lugar a

agricultura familiar ocupa e ocupou na história do Brasil e da Amazônia? Que

contradições e conflitos estão presentes naquela realidade? Trata-se de um território

com muitas riquezas naturais (madeiras, peixes, frutos, minérios), mas “a gente nunca

tem dinheiro”, “a gente vive pela metade”. As populações das comunidades distantes

dos centros urbanos expressam esse sentimento por meio das falas intercaladas por

silêncios, por expressões como “é assim mesmo, isso não muda”, “tem muita

promessa”. O fazer do cotidiano está atado à agricultura e ao meio ambiente. Pescam,

desenvolvem atividades coletoras, fazem roças, regulam suas vidas pelos ciclos da

chuva e pela enchente ou seca dos rios.

Mas, não é só isso. Ficou claro que esses sujeitos também sonham com outras

condições de vida e acesso aos bens que a sociedade moderna produz e que, talvez, a

cidade, no imaginário, se apresente para eles como o local privilegiado para realização

daqueles desejos. Desejo esse que lhes chegas como miragem, pelas telas da TV ou

pelas grifes falsificadas que tem acesso nos mercados de Santarém, Parintins ou

Manaus.

É muito comum se ouvir na região “fulano tá na roça...”, “se tu não estudares,

tu vais para roça”, “isso é roça”, para expressar as dificuldades. Então, a roça é

associada a lugar de penúria, de castigo, algo que não é desejável, que não é bom.

Segundo, tomou-se conhecimento de que muitos agricultores familiares estão

endividados pelo FNO; que têm dificuldades em acessar o crédito do PRONAF e que

tem diminuído o tamanho das roças, que desacreditam nas políticas públicas.

Que lugar histórico tiveram até então os Planos e Projetos de Desenvolvimento

para a Amazônia? A política de desenvolvimento territorial rural procura criar outro

marco, quem sabe mudar o curso daquela história, que associava desenvolvimento-

emprego-bem-estar-urbanização. A proposta de desenvolvimento rural que prevê a

participação das institucionalidades locais, interlocução entre as políticas públicas e

sociais, mobilização política das organizações sociais, escolaridade, por meio de canais

Page 80: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

79

de comunicação e/ou reivindicações capazes de influenciar as tomadas de decisões no

território, precisa ser posta realmente em prática e, para isso deve acessar os poderes

públicos municipais, por limites na expansão/exploração do capitalismo e formular um

projeto de monitoramento.

As aparentes contradições nas respostas precisam ser investigadas, mas elas

podem indicar pontos de fragilização da política de desenvolvimento territorial.

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto

A relação entre os indicadores identidade, capacidades institucionais, gestão

do Colegiado e resultados dos projetos associado ao índice de Desenvolvimento

Sustentável no Território do Baixo Amazonas Paraense ( de 0,346), apresenta-se

preocupante. Pode-se dizer que corresponde à própria constituição material deste

Território, quando as contradições sociais parecem estar acirradas e os indicadores, de

um modo geral, refletem em termos da repercussão nas condições de vida da população

locais, com maior efeito para as populações rurais, como é possível perceber nos

quadros abaixo (19 e 20).

QUADRO 19

FONTE: SDT, 2011.

Quadro 20

Page 81: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

80

Fonte: MDSSDT, 2011.

Hoje a cidadania (acesso as políticas sociais, educação, trabalho, saúde,

habitação, saneamento etc.) é condição essencial para a inserção sócio-produtiva, no

entanto, as populações tradicionais (ribeirinhos, quilombolas) e as populações

indígenas, além dos agricultores familiares estão perdendo seus meios básicos de

produção da existência no campo, em decorrência de processos de desapropriação das

terras e da inexistência de políticas públicas e ainda, devido aos impactos da nova onda

de implantação de grandes projetos no Território. No que diz respeito às condições de

vida, o quadro Indicadores Econômicos (21), oferece um retrato daquela realidade,

chamando atenção de maneira preocupante os subitens IDH Renda, a Participação da

agricultura no PIB, Rendimento Agrícola, Agricultura Familiar e Exportação.

Quadro 21

A economia decorrente da implantação desses projetos não promove a

melhoria de condições de vida das populações locais, ao contrário, passa a gerar

pobreza lá onde ela não existia, ou seja, quando desarticula os modos de vida

articulados à floresta e aos rios, gerando entre outros, o êxodo rural. Assim, as

populações expulsas do campo têm se constituído nos novos habitantes das periferias de

cidades como Santarém, Belterra, Juruti, onde os grandes projetos estão implantados e

passam a impor novos padrões econômicos e de sociabilidade (vê quadro 22).

Quadro 22

Page 82: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

81

Fonte: MDSSDT, 2011.

A quebra dos vínculos identitários imanente à relação direta do homem com a

natureza exige, portanto, a descentralização e a territorialização das políticas públicas

voltadas a essa nova realidade. De um lado, a promoção de ações que possam favorecer

a permanência das populações rurais no campo frente às pressões do agronegócio, a fim

de garantir condições de vida vinculadas a suas pequenas produções; de outro lado,

garantir condições para a estruturação da vida em espaço urbano daqueles destituídos de

seus vínculos com a terra.

O que passa pela estruturação de ações inter-setoriais e coordenadas entre

diferentes Ministérios juntamente com o governo estadual e os governos municipais, a

fim de mitigar os impactos nesta sub-região, onde os investimentos públicos e privados

não têm sido suficientes para atender às necessidades básicas da população espoliada.

Trata-se de ampliar as oportunidades de geração de renda, ao mesmo tempo em que

pressupõe a desconcentração das ações e projetos voltados à sustentabilidade em

articulação as redes sociais dos sujeitos atingidos.

Há uma tendência de concentração de bens e serviços coletivos na cidade de

Santarém, com a velha ideia de que esta possa irradiar as ações de desenvolvimento par

o Território. No entanto, o que foi experimentado no passado pode ser vista nos dados

de concentração de riqueza e de renda. Hoje as populações locais são novamente

pressionadas pelos agentes do agronegócio, considerados estratégicos à balança do

comércio internacional, particularmente, quando o estado do Pará desponta em primeiro

lugar no ranking das exportações, devido à produção de minério, mas também tem

participação do setor madeireiro, da produção soja e da produção gado, com efeitos

danosos ao meio ambiente.

A opção pelos grandes investimentos (minerais, agroextativistas, portos,

ferrovias etc.) busca atender setores que historicamente geraram acumulação de riqueza

e concentração de renda, fazendo proliferar às margens dos grandes empreendimentos o

Page 83: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

82

trabalho informal, a mendicância, a prostituição de jovens, dentre outros fenômenos que

se restringiam até recentemente aos grandes centros urbanos.

O espaço-tempo dessa constituição material, os eventos e os acontecimentos

forjados nas lutas sociais desde o século XIX, e com maior intensidade, a partir dos

anos 80 do século passado, tem potencializado as transformações implicadas por

relações de trabalho, educação, produção, comercialização, financiamento, e processo

de aprendizagem, sob uma intensa batalha em termos da permanência das populações

tradicionais nos espaços impactados por grandes projeto, como é o caso da mineradora

Rio do Norte, que disponibiliza de uma infraestrutura urbana que vai desde aeroporto e

transporte aéreo, cinema, dentre outros, um espaço fechado à beira do rio Tapajós. No

entanto, as populações que permanecem no entorno não têm sequer água com qualidade.

Hoje é preciso requalificar esse espaço na medida em que o esgotamento do

minério, uma previsão já dada, este pode se constituir em mais uma "lixo" da história,

como a "cidade" de Fordlândia, no município de Aveiro e de Belterra, resquício de

memória dos investimento da Ford na Amazônia e do boom da borracha, externalidades

que poderiam ser internalizadas, em suas infraestruturas, mas que vem se deteriorando,

salvo alguns casos, a exemplo do Museu, e da Fundação Butantã, que iniciou um

processo de recuperação da estrutura hospitalar, para instalar um de seus laboratórios de

pesquisa na Amazônia.

Nestes termos as noções de externalidade e de oportunismo ex post dos sujeitos

podem contribuir para a fluência de um debate ainda pouco realizado no âmbito do

Território, na perspectiva de um devir ancorado na constituição material e das múltiplas

dimensões e interações das contraditórias relações entre capital e trabalho, a partir de

uma totalidade aberta (LEFEBVRE, 1972).

7.1 - Propostas e ações para o território

Realizar pesquisa de forma minuciosa sobre os municípios do território como

Faro: um município que fica na divisa com o Estado do Amazonas; Alenquer

(pelo potencial agrícola), Prainha (por se inserir na Resex Renascer), Juruti

(considerando os impactos sócios, econômicos-ambientais e culturais com ao

Projeto Juruti - grande projeto de extração mineral), e Belterra (pela

Page 84: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

83

intensificação do cultivo de grãos, soja, milho, arroz) e, pela intensa extração

ilegal de madeira no território.

Realizar pesquisa sobre a construção de estratégias para sensibilização do poder

público municipal em relação a tomada de decisão sobre políticas públicas no

âmbito do Colegiado.

Inovação dos processos de educação, com a ampliação das metas destinada à

escola profissionalizante e tecnológica, sob a base da economia local.

Page 85: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

84

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, Maria José de Souza. A Cabanagem entre a liberdade do mercado e o

mercado da liberdade. Rio de Janeiro: UFRJ: PPGESS, 2003. (Tese de doutorado).

CASTELLS, Manuel. O Poder das Identidades. 4. ed. São Paulo. Paz e Terra, vol.2,

2006. (A era da Informação: economia, sociedade e cultura; v.1).

Disponível em< http://www.almeirim.pa.gov.br/?q=node/42 >acesso em 04/05/2011.

DIAS, Maria do Carmo Da Silva. Qualificação e Capacitação no Plano Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): ressignificação do trabalho

na agricultura familiar do Baixo Amazonas Paraense. 2009. 248 f. Tese de

Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte. MG;

2009.

FRANK, André Gunder; FUENTES, Marta. Dez teses acerca dos movimentos sociais.

Lua Nova. Revista de Cultura e Política: Centro de Estudos de Cultura

Contemporânea. São Paulo, n. 17. 1989.

GOHN, Maria da Glória. Educação não formal no Brasil nos anos 90.

Cidadânis/Textos. Campinas, v. 8, n. 10, pp. 1-15, 1997.

____________. Novas teorias dos movimentos sociais. 1. Ed. São Paulo: Edições

Loyola, 2008.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à

multiterritorialidade. 2 ed. Rio de Janeiro. Ed.: Bertrand Brasil, 2006.

HALL, Stuart, WOODWOARD, Kathryn; SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade

e Diferença, a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis RJ. Ed.: Vozes 2000.

IBGE. Censo demográfico 2010. Disponível em: WWW.censo2010.ibge.gov.br acesso

em xx/xx/2012.

_____. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 . 2009.

acesso em xx/xx/2012.

LEFEBVRE, Henri. A Reprodução das Relações de Produção. Tradução: Antonio

Ribeiro e M. do Amaral. Porto (Portugal): Publicações Escorpião– Cadernos O Homem

e a Sociedade, 1973. 115 p.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Tristes Trópicos. Rio de Janeiro, RJ. Ed.: Edições 70, 2004.

MDA/SGE. Dados da Pesquisa de Campo. 2010-211.

Page 86: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

85

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. BR-316 Cuiabá-Santarém. In.: TORRES,

Maurício. Amazônia Revelada: os descaminhos ao longo da BR-316. Brasília: CNPq,

2005. P. 68.

PARÁ. Governo do Estado. Plano Plurinacional 2004-2007. Disponível em: <

http://www.gp.pa.gov.br/docs%5Cppa_governo.pdf> acesso em 13/03/2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Almeirim. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Curuá. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Monte Alegre. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Óbidos. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal - Oriximiná. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Santarém. 2011.

PARÁ, Governo do Estado. Secretaria de Estado e Planejamento, Orçamento e

Finanças. Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará.

Estatística Municipal – Terra Santa. 2011.

SCHERER-WERREN, Ilse. Sujeitos e movimentos conectando-se através das redes.

Política e Trabalho. PB, n. 19, p. 29-38, 2003.

SCHNEIDER, Sérgio. A pluralidade na agricultura familiar. Porto Alegre: Ed.

UFRGS, 2003.

WANDERLEY, Luiz Eduardo. ONGs e Universidades: desafios e atuais. In.:

HADDAD, Sérgio (org.) ONGs e Universidades: desafio para a cooperação na América

Latina. São Paulo: Abong: Peirópolis, 1999.

WITKOSKI, Antônio Carlos. Terras, florestas e águas de trabalho: os camponeses

amazônicos e as formas de uso de seus recursos naturais. Manaus, Ed.: Editora da

Universidade do Amazonas, 2007. (série: Amazônia: a terra e o homem). 486 p.

Page 87: Relatório Analítico do Território do Baixo Amazonas - Pará

86

WEINSTEIN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência (1850-

1920). São Paulo: HUCITEC, 1993.