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1 Universidade de São Paulo Escola de Comunicação e Artes Relatório CNPq Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura Análise da Opinião Pública A Hemeroteca Digital Bolsista: Odhara Caroline de Paula Rodrigues Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa Julho de 2012

Relatório CNPq - eca.usp.br · 3 BOURDIEU, Pierre. A opinião pública não existe. Comunicação feita em Noroit (Arras) em janeiro de 1972 e publicada em Les Temps Modernes, janeiro

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Universidade de São Paulo

Escola de Comunicação e Artes

Relatório CNPq

Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura

Análise da Opinião Pública – A Hemeroteca Digital

Bolsista: Odhara Caroline de Paula Rodrigues

Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa

Julho de 2012

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Índice:

Resumo .............................................................................................................................3

Introdução..........................................................................................................................4

Atividades realizadas.......................................................................................................10

Resultados parciais .........................................................................................................15

Dificuldades encontradas.................................................................................................22

Considerações finais........................................................................................................22

Bibliografia......................................................................................................................23

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Resumo

O projeto busca rastrear e acompanhar o andamento dos processos censurais nos

dias de hoje, captando suas nuances, diferenças entre eles e a censura institucionalizada

do passado, e a Opinião Pública em relação a isso. Com esse objetivo, o Observatório

de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura instituiu uma Hemeroteca

Digital.

Essa plataforma instituída, acessível pela internet por meio do site do Núcleo de

Pesquisa em Comunicação e Censura (http://npcc.vitis.uspnet.usp.br/)deverá coletar

notícias, fomentar discussões e reunir publicações em português, inglês e espanhol,

criando uma documentação consistente sobre as questões censórias. Promoverá, ainda, a

discussão sobre tais documentos entre autoridades da área política, sociológica, histórica

ou legal.

O projeto ainda está em fase de desenvolvimento, sendo que a primeira parte já

foi concluída: a Hemeroteca Digital já está finalizada e no ar, pronta para ser consultada

pelo público.

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Introdução

Introdução: o NPCC, o GPAMS

A presente proposta de pesquisa será desenvolvida no âmbito do Grupo de

Pesquisa Arquivo Miroel Silveira (GPAMS), registrado na Comissão de Pesquisa da

Escola de Comunicações e Artes da USP, parte integrante do Núcleo de Pesquisa em

Comunicação e Censura (NPCC) coordenado pela Profa. Dra. Maria Cristina Castilho

Costa. Entendemos que sua formulação e execução estão intimamente ligadas ao

pensamento sobre censura e sobre opinião pública que vem se desenvolvendo a partir

dos estudos realizados pelo referido Núcleo.

A formação de um pensamento especificamente sobre censura dentro do NPCC

teve em sua base o riquíssimo material sob guarda da ECA-USP, constante do Arquivo

Miroel Silveira1: documentos da censura prévia ao teatro, solicitações de companhias,

ofícios e pareceres dos censores e da burocracia da censura arquivados pela Divisão de

Diversões Públicas (DDP) da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo,

de 1926 a 1968. Esse material, de inegável valor histórico, contém a organização das

emissões de liberações e vetos da censura às produções teatrais do Estado compondo no

total 6.137 prontuários e 5.800 fichas catalográficas.

A partir de 2002 três grandes projetos de pesquisa ligados ao AMS passaram a

ser desenvolvidos. O primeiro foi “A Censura em Cena – O Arquivo Miroel Silveira”,

cujos objetivos eram a organização e análise dos processos e a criação de uma base de

dados informatizada, desenvolvendo um processo de catalogação e análise de seu

acervo. O segundo é “A Cena Paulista”, que estudou a produção cultural paulista do

período abarcado pelo Arquivo, seu dinamismo e profusão cultural e intelectual.

O terceiro e atual é o projeto temático “COMUNICAÇÃO E CENSURA: análise

teórica e documental de processos censórios a partir do Arquivo Miroel Silveira da

Biblioteca da ECA/USP”. Sua proposta envolve atividades de gerenciamento de

informações – relacionadas à arquitetura de informações e à restauração e digitalização

de documentos do AMS – e de pesquisa teórica. Tendo se solidificado uma primeira

fase de exaustiva revisão dos documentos (tanto por via teórica quanto de registro de

dados), é possível ampliar o escopo de abstração sobre os processos censórios que

temos em mãos e alçar vôo em direção a entender os mecanismos e as condições para a

1 Mais detalhes sobre o AMS e sobre o NPCC em www.eca.usp.br/npcc.

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formação de uma opinião pública e igualmente de cerceamento à liberdade de expressão

no Brasil de então (período de nossa história recente abarcada pelo Arquivo) e de hoje.

Censura e opinião pública

No estudo comparativo entre as formas consagradas e atuais de censura, a

opinião pública é elemento fundamental para os mais díspares processos de controle,

fiscalização e punição.

Como defende Jürgen Habermas, no Prefácio da 17ª edição de seu livro

L’espace public, a opinião pública e a pressão social de grupos sociais têm influência no

poder administrativo da sociedade e constituem forma importante de intervenção

social.2 Também em nossos estudos sobre a censura reconhecemos o peso da opinião

pública na instituição e na legitimação de processos censórios. Em razão disso,

decidimos estudar como se dá a informação, a discussão e o debate junto ao público, e o

que pensa hoje a sociedade sobre a censura às artes e aos meios de comunicação.

Muito se tem debatido sobre a opinião pública nas Ciências Sociais e na

Comunicação. Desde J. J. Rousseau, filósofos e cientistas sociais afirmam que a

sociedade civil e a vida pública tiveram início quando os homens se organizaram em

sociedade e se propuseram a discutir a vida coletiva, seus direitos e deveres. Se esse

espírito de cidadania já era percebido na Antiguidade, é na Modernidade que a vida

pública se torna mais concreta, englobando não só as elites, mas o público anônimo das

ruas e das cidades, o mundo dos negócios, o cidadão comum, e se definindo em

oposição à intimidade da recém-criada vida privada. A esse conjunto heterogêneo,

plural e anônimo de pessoas atribuiu-se um pensar racional e crítico, em oposição à

nobreza e à monarquia, a chamada opinião pública. Sua força e importância passaram a

ser questionadas e reconhecidas, acreditando-se estar em sua formulação a base do

comportamento coletivo, das multidões e das massas.

No século XIX, quando surgiu a grande imprensa, diferentes autores procuraram

entender como pensa a sociedade e como os meios de comunicação interferem nesse

pensar. Preocuparam-se com a forma como o público anônimo tem acesso às

informações e como delas se apropriam, criando um conjunto de princípios que dizem

respeito à ética, à moral e à política. As análises envolvendo meios de comunicação e

2 HABERMAS, Jürgen. L´éspace public. Paris: Payot, 1992, p. 18.

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opinião pública se tornaram tão frequentes que em muitas obras, os dois conceitos se

confundiram – aquilo que predomina na imprensa passou a ser chamado de opinião

pública.

O desenvolvimento das repúblicas representativas, o aumento do número de

votantes, com a inclusão de segmentos cada vez mais numerosos na vida pública com

direito ao voto, nos mais diferentes países, fez com que se desenvolvessem técnicas de

sondagem de opinião pública procurando prever como se conduziria a população na

escolha de seus representantes. Confundiu-se então opinião pública com maioria, com

somatórias e porcentagens.

Em nossa pesquisa, consideramos como opinião pública o que Pierre Bourdieu

define como alguma coisa que pode ser formulada num discurso com uma certa

pretensão à coerência e que representa aquilo que se sabe sobre um assunto, envolvido

por um sistema de valores interiorizado desde a infância e que se refere a um ethos

ligado, por sua vez, a um tipo de demanda social.3 Esse tipo de opinião nada tem a ver

com o que pretendem as sondagens políticas e eleitorais, em que se quer descobrir

tendências majoritárias e unanimidades, ou prever um determinado tipo de

comportamento expresso na somatória de afirmações discursivas.

Outro autor que tem contribuído para entender a opinião pública para além da

ideia de uma somatória de posições individuais, ou de uma ação coletiva orquestrada

pelo poder instituído (estatal ou midiático) é Norbert Elias. O sociólogo reconhece a

existência social de uma base comum de tendências e formas de interpretação simbólica

constituída por valores, tradições, interesses, experiências comuns e acesso aos mesmos

meios de comunicação, que ele chama de visão de mundo.4 A partir dela, o público em

geral, ou os cidadãos de uma nação, acompanham determinados acontecimentos tecendo

considerações a seu respeito e tomando posições capazes de interferir no rumo da

história.

3 BOURDIEU, Pierre. A opinião pública não existe. Comunicação feita em Noroit (Arras) em janeiro de

1972 e publicada em Les Temps Modernes, janeiro de 1973, p. 318.

4 ELIAS, Norbert. Escritos e ensaios – estado, processo e opinião pública. Rio de Janeiro: Zahar, 2006,

p. 119.

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É esse processo complexo de pressão popular5 que pretendemos investigar, com

o intuito de entender o que pensa a sociedade a respeito da censura, quais os valores e

tradições que esse pensar envolve, para entendermos de que forma nossa pesquisa pode

esclarecer e interferir no repertório de valores e questionamentos sobre a liberdade de

expressão e a censura.

Além disso, nossas pesquisas mostram que, embora justificada por motivos

morais e éticos, a prática da censura se faz em favor de princípios ideológicos

hegemônicos e não dos interesses da coletividade. Assim, tendo por objetivo trazer a

discussão da censura para o âmbito da educação, do esclarecimento e da cidadania,

desejamos saber o que pensa hoje a população a respeito dos processos censórios, de

suas consequências sociais e dos valores que se expressam no discurso a esse respeito.

Assim, conclui-se que a censura está na origem da cultura e da vida coletiva,

como um mecanismo coercitivo que atua em diferentes níveis das relações humanas,

das relações pessoais e primárias que ocorrem na família ou na vizinhança, às relações

impessoais e secundárias que se estabelecem nas sociedades heterogêneas, através de

mecanismos institucionais como a socialização, a educação formal, a legislação vigente

e as sanções sociais. É esse o conceito de censura trabalhado nas pesquisas do grupo,

impessoal e secundário, próprio do exercício do poder, através dos quais um grupo, uma

dinastia ou uma classe social defende o monopólio do poder, pela coibição do

pensamento crítico, reformador ou divergente.

Com esse suporte teórico foi desenvolvida uma metodologia de trabalho ampla e

plural que resultou na produtividade acadêmica dos pesquisadores envolvidos, no

crescente número de mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos reunidos em torno do

AMS e nas publicações relacionadas ao estudo da censura. Estes geraram livros e

pesquisas que vão do nível de iniciação científica à pós-graduação.

5 Uso popular no sentido de referir-se a um grupo amplo, anônimo e indistinto de pessoas.

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Desenhos da Opinião Pública sobre censura no Brasil contemporâneo

A relevância do estudo sobre Opinião Pública relacionada ao tema da censura se

dá pelo escrutínio dos discursos circulantes classificados como opinião e que sustentam

ações de cunho político, social e institucional. Especificamente foi relevante durante os

anos de pesquisa debruçados sobre o material do Arquivo Miroel Silveira a relação

estreita entre os pareceres de censores, junto com a decisão constante dos certificados de

censura e um tipo de manifestação associada à opinião pública, como o envio de

telegramas, publicação de textos em jornais, o recurso a autoridades públicas em defesa

ou contra a liberação de determinadas obras teatrais. Parte da observação da

manifestação popular a necessidade de investigar mais proximamente os desenhos de

uma opinião pública ligada à censura.

Consideramos tal tema seja pouco explorado, a não ser quando se imagina a

ausência da manifestação de uma opinão pública por coação. No entanto, pretendemos

com uma visão mais ampla deste conceito avançar para a idéia de que ela de alguma

forma se presentifica tanto nos discursos das bases quanto nos mais engajados

institucionalmente, como no caso da censura associada ao Estado.

Assim, pretendemos tratar do conceito de opinião pública enfatizando sua

relevância para: - a relação entre seus efeitos para a mobilização (moções) de censura; -

delinear como ela se manifesta hoje sobre o tema da censura; - realizar uma

investigação sobre tal conceito desenhando os limites em que pode ser socialmente

determinável e observável. “Na verdade, a pesquisa de opinião estaria, sem dúvida,

muito mais próxima do que acontece na realidade se, transgredindo completamente as

regras da ‘objetividade’, fossem dados às pessoas os meios para que elas se situassem

da mesma forma como realmente se situam na prática real, isto é, em relação a opiniões

já formuladas” (BOURDIEU, 1973: 8).

Com respeito a este último item, teremos que acercarmo-nos de certas

problemáticas teóricas ao abordar tal conceito sobre o qual existe polêmica e

dissonâncias. Aproximamos-nos das vertentes que pensam a opinião pública em sua

discursividade e aceitam sua fluidez histórica. “The symbols of public opinion, in times

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of moderate security, are subject to check and comparison and argument. They come

and go, coalesce and are forgotten...” (LIPPMANN, 1998: 11)6

6 “Os símbolos da opinião pública, em épocas de segurança moderada, são sujeitos a averiguação,

comparação e argumentação. Eles vão e vem, aderem e são esquecidos...” (LIPPMANN, 1998: 11)

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Atividades realizadas

A Hemeroteca

No Núcleo de Pesquisa sobre Comunicação e Censura (NPCC), a hemeroteca

digital surge como suporte para uma nova frente de pesquisa da opinião pública que

procura analisar de que maneira e por que meios a censura atua hoje.

Uma hemeroteca é uma coleção de publicações periódicas fadadas à perda e ao

esquecimento quando não há iniciativa para conservá-los. Ao reunir tais publicações -

geralmente de revistas, jornais impressos ou portais de notícia da internet -, a

hemeroteca proporciona uma base referencial para possíveis análises e estudos

posteriores. No caso do NPCC, trata-se, portanto, de um acervo temático que incorpora

materiais divulgados pela mídia a respeito da censura nos últimos anos.

A formação deste acervo, disponível para consulta no site do NPCC, além de

servir como fonte para o desenvolvimento das pesquisas do próprio núcleo, pode

oferecer ajuda também a pesquisadores externos que investiguem questões relacionadas

à liberdade de expressão e à censura na atualidade, na medida em que reúne número

expressivo de matérias publicadas na mídia - especialmente na internet - sobre o tema.

Assim, ele se apresenta como fonte privilegiada para estudos sobre a censura no Brasil e

no mundo.

No princípio da construção deste acervo em 2012, já havia um conjunto de cerca

de trinta e cinco arquivos localizados por Cinthia Alves de Araújo Bissa, bolsista de

iniciação científica do NPCC e por Débora Rangel, bolsista Fapesp de treinamento

técnico, ambas responsáveis pelo início da proposta de hemeroteca. A continuidade do

trabalho com a ampliação do acervo se deu com a entrada das bolsistas de iniciação

científica Fernanda Drumond, Mariana Fujisawa e Odhara Rodrigues que ficaram com a

responsabilidade de definir os contornos do projeto e consolidá-lo.

Com orientação de Profa. Dra. Maria Cristina Castilho Costa coordenadora geral

do NPCC, com coordenação do Prof. Dr. Antônio Reis Júnior, pós-doutorando do

NPCC, e apoio técnico do responsável pelo site do NPCC, Marcelo Gomez, as bolsistas

passaram a procurar material para compor a hemeroteca sem ainda determinar um

padrão de pesquisa. A prospecção foi realizada principalmente em sites de pesquisa

como o Google, sem utilizar nenhuma metodologia precisa.

Posteriormente, foi criada uma planilha de dados na qual o material encontrado era

catalogado. Nessa tabela, constavam o título, o autor, a data, a URL (quando se trata de

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arquivo disponível na internet), a fonte e o veículo pelo qual a informação do

documento chegou ao público. Por todos os arquivos tratarem de temas relacionados à

censura, também foram definidos como categoria o “motivo” pelo qual essa censura

aconteceu - a princípio apenas com as opções “político”, “moral” e “religioso” - e qual

seria o seu alvo.

Mais tarde, foi adicionada uma capa para os arquivos que estavam sendo salvos

em PDF com os mesmos dados contidos na planilha, e uma nova classificação foi

criada: a de categoria, que divide os documentos em notícias, artigos de opinião, notas

oficiais, reportagens, imagens, etc.

Com a criação da página da hemeroteca no site do NPCC, os arquivos foram

adicionados a ela: a planilha foi deixada de lado, e o novo material passou a ser

classificado diretamente na internet, facilitando o processo.

A fim de auxiliar e sistematizar a pesquisa na internet, um e-mail próprio para a

hemeroteca ([email protected]) foi criado, e para lá foram direcionados

“Google Alerts”. Trata-se de um sistema do site Google, que envia qualquer material

que consiga captar com expressões e palavras-chave específicas, como “censura” e

“liberdade de expressão”. As mensagens recebidas com indicações de material eram

lidas e, se houvesse relevância ou coerência com o tema da censura, eram também

catalogadas.

No dia 18 de abril, o projeto da hemeroteca foi unido ao da Cinthia Alves de

Araújo Bissa sobre a opinião pública sobre censura por meio de questionários. A

proposta era de que a hemeroteca conseguisse servir de base para tal pesquisa,

classificando o material de forma interessante para ela. À classificação do material

foram acrescidos, então, os seguintes parâmetros: “data de visualização”, “país de

origem” e “posicionamento” (a favor, contra ou nulo em relação à censura). Também

uma sinopse foi acrescentada a cada documento disponível na página da hemeroteca. A

partir daí, ficou combinado que Cínthia passaria a contribuir com as demais bolsistas

enviando por e-mail as notícias que encontrasse e avaliasse como relevantes à proposta

do site.

Foi feita, então, uma reunião com Antônio Reis. Nesta, ficou estabelecido que as

capas seriam retiradas dos documentos, assim como a classificação de posicionamento.

As capas significavam um trabalho extra que não se mostrava realmente relevante, já

que toda a classificação do material seria disponibilizada e arquivada no próprio site. Já

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o posicionamento foi desconsiderado por envolver uma avaliação por vezes subjetiva

demais dos pesquisadores sobre o material abordado.

Na mesma reunião, ocorreram discussões sobre possíveis projetos conjuntos com

o da Profa. Dra. Mayra Rodrigues Gomes, sobre a classificação indicativa no cinema.

Mais uma vez, a hemeroteca poderia apoiar e se utilizar de uma das frentes de pesquisa

do núcleo. A expressão “classificação indicativa” foi incluída, portanto, como mais uma

expressão a ser procurada na rede pelo “Google Alerts”.

Além disso, foi decidido que as bolsistas de Iniciação Científica Fernanda

Drumond, Mariana Fujisawa e Odhara Rodrigues continuariam a alimentar o site, mas

passariam também a elaborar artigos sobre os documentos com os quais estavam tendo

contato, a fim de tentar verticalizar os arquivos da hemeroteca. Nos artigos, Fernanda

dissertou sobre a questão da censura à internet por meio das leis norte-americanas

SOPA e PIPA, Mariana partiu da suposição da existência de uma censura econômica

sobre as manifestações artísticas, e Odhara sobre a censura política que ocorre sobre a

mídia.

Ao longo do processo, aconteceram discussões sobre como tornar a página da

hemeroteca virtual mais dinâmica para seus usuários. Nelas, decidiu-se que Marcelo

Gomez trataria de fazer da página da hemeroteca uma plataforma bastante interativa

para o usuário, criando um sistema de buscas de arquivos com opções de filtragem de

resultados pelas classificações determinadas, e utilizando ícones ilustrativos.

Posteriormente, foi realizada outra reunião, dessa vez com a presença da Profa.

Dra. Maria Cristina Castilho Costa. Nela, decidiu-se pela suspensão da elaboração de

artigos por parte das bolsistas, para que não se perdesse o foco da hemeroteca como

instrumento útil para o mapeamento da opinião pública sobre censura. Na classificação

dos documentos, os termos “motivo” e “alvo”, foram substituídos, respectivamente, por

“critério” e “objeto”. Algumas palavras-chaves - típicas da realidade virtual

contemporânea - foram acrescentadas à busca do “Google Alerts”, como “sigilo” e

“privacidade”.

A hemeroteca foi finalmente inaugurada durante a reunião seguinte com a

orientadora Cristina Costa do núcleo em 24 de maio de 2012. Nesta data, o acervo

possuía cerca de 250 arquivos.

Concluindo, o processo de pesquisa e de classificação do material encontrado para

a hemeroteca ocorrem da seguinte forma até o momento:

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1. Pesquisa - Por meio do sistema do “Google Alerts”, o e-mail

[email protected] recebe mensagens que possuem as seguintes

palavras-chave: “acesso”, “censorship”, “censura”, “classificação indicativa”,

“liberdade de expressão”, “política de privacidade”, “privacidade”, “sigilo”,

“direito de imagem” e “privacy policy”. O material recebido é lido, e, se

avaliado como relevante ao tema da censura, é escolhido para ser incluído na

hemeroteca.

2. Arquivação - O material selecionado é copiado para um documento do Microsoft

Word, e sua formatação é padronizada. Em seguida, o documento ganha o

formato PDF, pronto para ser implementado no site.

3. Implementação na hemeroteca - O material é colocado diretamente no site com o

preenchimento dos seguintes campos:

a. Título

b. Sinopse

c. Arquivo PDF

d. URL

e. País de Origem

f. Data de veiculação

g. Categoria (artigo, comentário, entrevista, imagem, nota oficial, nota,

notícia, reportagem, outro)

h. Veículo (internet, jornal, revista, outro)

i. Fonte

j. Autor

k. Critério da censura (classificação indicativa, econômico, moral, político,

religioso)

l. Objeto da censura (artes plásticas, cinema, fotografia, imprensa, internet,

livro, música, personalidade, publicidade, rádio, rede social, revista,

teatro, TV)

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As enquetes

Tendo em vista uma análise mais aprofundada da opinião pública sobre tópicos

que chamaram atenção na mídia, agora o Observatório de Comunicação, Liberdade de

Expressão e Censura realiza enquetes em seu site (npcc.vitis.uspnet.usp.br).

Elas são quinzenais e trazem como tema assuntos relacionados à censura, tendo

como base alguma notícia que tenha sido foco de discussão recentemente. As enquetes

buscam um desenho da opinião pública em relação aos imprecisos limites que definem

quais ações podem ser classificadas como censura, e quais apenas atentam a assegurar

os direitos de uns frente ao mau uso da liberdade de expressão de outros.

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Resultados parciais

O conteúdo da hemeroteca

O último levantamento feito sobre a hemeroteca pela bolsista Fernanda Drummond

mostra que a hemeroteca possuía 277 documentos, entre notícias, artigos, reportagens, notas

oficiais e etc.

Conforme ilustrado no tópico “Atividades Realizadas”, cada documento foi classificado

em diversas categorias.

A categoria “Critério de Censura” teve 79 documentos postos como morais, 26 como

econômicos, 139 como políticos, 10 como religiosos. Nove eram referentes a discussões

relacionadas à classificação indicativa. 14 não se encaixavam em nenhuma das definições

estabelecidas.

Quanto a categoria “Objeto”, praticamente todos os meios de comunicação, expressão e

arte figuram na Hemeroteca como tendo sido alvos de censura, ou pelo menos de tentativas de

censura. Dos documentos, 13 se referem às artes plásticas, 9 ao cinema, 17 à fotografia, 19 à

imprensa, 7 à música, 16 à publicidade, 2 ao rádio, 15 a redes sociais, 3 a revistas, 3 ao teatro,

19 a tv. A maioria deles, contudo, referem-se à Internet: 81. 13 documentos referem-se a

censuras a personalidades.

Moral

Econômico

Político

Religioso

Classificação indicativa

Sem critério

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Quanto à natureza dos documentos, temos: 138 notícias, 6 notas, 5 notas oficiais, 38

reportagens, 34 artigos, 3 comentários, 1 imagem, 19 entrevistas e 4 vídeos.

A maioria dos documentos foi encontrada na Internet.

Notícia Nota Nota Oficial Reportagem Artigo

Comentário Imagem Entrevista Vídeo

Internet Jornal Revista

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A Hemeroteca Digital

A hemeroteca já está disponível para consulta no site do Núcleo de Pesquisa em

Comunicação e Censura. Ela foi elaborada pelo técnico responsável pelo site, Marcelo

Gomes, com o apoio das bolsistas de iniciação científica Fernanda Drumond, Mariana

Fujisawa e Odhara Rodrigues, que foram encarregadas da alimentação da hemeroteca

desde o ínicio de seus trabalhos.

Na imagem abaixo, está destacada em vermelho a imagem na página inicial do

site do NPCC que leva à Hemeroteca Digital:

Ao entrar na Hemeroteca Digital, o usuário depara-se com um texto de

apresentação, o qual explica o que é uma hemeroteca e o objetivo da que foi construída

pelo NPCC. Ao clicar em “Todos”, o usuário é direcionado para uma página onde está

presente a lista com todos os documentos presentes na Hemeroteca.

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Abaixo, segue uma reprodução da página:

Os artigos podem ser ordenados por data de veiculação, título e categoria.

Ao escolher o documento, o usuário é direcionado para sua página específica.

Nela, ele encontra todos os dados do documento, conforme classificações estabelecidas

e anteriormente citadas. Além disso, vê uma sinopse do documento e pode consulta-lo

na íntegra, seja na sua url de origem, seja no arquivo pdf armazenado pelo site.

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As enquetes

Até o presente momento, duas enquetes já foram ao ar no site do NPCC.

A primeira teve como tema as fotos da Marcha das Vadias que, ao serem

postadas no Facebook pelas participantes do movimento, foram censuradas pela rede

social.

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Ela já foi concluída. Os resultados estão abaixo:

A enquete que está no ar agora diz respeito a um assunto cada vez mais

espinhoso no Brasil: os limites do humor. Ela tem como base a polêmica decisão de um

juiz de proibir o programa humorístico “Pânico na Band” de fazer imitações do

apresentador de tv Silvio Santos:

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Dificuldades encontradas

A maior dificuldade que eu encontrei ao longo do trabalho foi a elaboração dos

critérios segundo os quais os documentos que comporiam a Hemeroteca seriam

classificados, como fica claro na descrição dos trabalhos presente no tópico de

“Atividades Realizadas”.

Foram muitos os percalços para se definir uma padronização satisfatória para os

documentos, o que gerou um atraso na efetivação da hemeroteca e na sistematização do

trabalho.

Considerações finais

Do meu tempo de trabalho no Observatório de Comunicação, Liberdade de

Expressão e Censura, duas coisas ficaram claras para mim: a ideia de censura é algo

muito abstrato. E, apesar de estar instituído no imaginário popular que a censura é algo

característico apenas dos negros tempos da ditadura e que foi deixada no passado com a

Constituição de 1988, ela ainda continua muito presente na sociedade.

Mesmo que todos aleguem ser contra a censura, poucos entendem o que ela é e

quais são os limites. A fronteira entre censura e medidas que proíbem o uso irracional

da tão aclamada liberdade de expressão não é firme.

Ainda que, no Brasil, o Estado não se valha mais da censura como instrumento

repressor, ela é praticada por qualquer um que tenha poder coercivo e possa ver seus

interesses atrapalhados.

Outro fato que chamou a minha atenção foi o de que, ainda que alguns setores

classifiquem isso como censura, a população em geral entende que há a necessidade de

que limites sejam impostos para o exercício da liberdade de expressão, seja de uma

propaganda, de um humorista, ou da imprensa.

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Bibliografia

HABERMAS, Jürgen. L´éspace public. Paris: Payot, 1992.

BOUDIEU, Pierre. Comunicação feita em Noroit (Arras) em janeiro de 1972 e

publicada em Les Temps Modernes, 318, janeiro de 1973.

ELIAS, Norbert. Escritos e Ensaios – Estado, processo, opinião pública. Federico

Neiburg e Leopoldo Waizbort (org.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

LIPPMANN, Walter. Public opinion. New York: Macmillan, 1998.