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RELATÓRIO DE ATIVIDADES: O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes [relatório] dezembro de 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI EDIÇÃO Nº 1 Apresentação: O Núcleo de Pesquisa em Literatura Contemporânea – NUPLIC realizou nos dias 10 e 15 de dezembro de 2014 o evento acadêmico intitulado O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes, cujo maior objetivo era analisar alguns aspectos significativos da obra desse poeta e compositor paulista. Dono de um acervo que, de certo modo, desafia os limites conceituais da tipologia poética, este evento procurou assinalar a importância da produção de Arnaldo Antunes para se compreender o processo de construção artística no século XXI, bem como indicar o modo como a sua obra se insere no atual contexto da sociedade brasileira. O evento foi realizado em parceria com as turmas de Literatura contemporânea e de Literatura infantil do semestre de 2014.2 – disciplinas ministradas pelo professor e também coordenador do NUPLIC, André Pinheiro. A ideia do evento surgiu, em parte, da própria experiência em sala de aula: a obra poética de Arnaldo Antunes constituía importante tópico dessas disciplinas, mas logo se constatou que ela ainda não é muito conhecida na região, nem mesmo no contexto específico do curso de Letras. De modo geral, os alunos só conseguiam associar o nome do autor ao trabalho realizado com os Titãs e com os Tribalistas. Justificativa: Graças à qualidade estética e à amplitude de sua obra, Arnaldo Antunes figura como um dos nomes mais significativos dentro do cenário da arte contemporânea no Brasil. Nesse sentido, a realização do evento já se justificava pela importância do objeto sobre o qual ele pretendia se debruçar. Depois, os trabalhos de Antunes mantêm uma intensa relação com determinados segmentos da sociedade contemporânea, sobretudo com o universo da tecnologia. Explorar a potencialidade dessa obra significava tocar em questões relevantes para a teoria da literatura – como a delicada categorização dos gêneros literários, a relação dialética estabelecida entre a poesia e a sociedade, o papel da tecnologia para o desenvolvimento das artes, dentre uma série de outros mais. O fato de se trabalhar a obra de um poeta vivo e atuante também figurava como justificativa para a realização do evento, pois pretendia-se mesmo que o aluno mantivesse um contato mais estreito com o processo histórico da criação literária; pretendia-se que o aluno encontrasse na obra analisada alguns aspectos da sociedade na qual ele também está inserido.

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES: O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes

[relatório]

dezembro de 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI EDIÇÃO Nº 1

Apresentação: O Núcleo de Pesquisa em Literatura

Contemporânea – NUPLIC realizou nos

dias 10 e 15 de dezembro de 2014 o

evento acadêmico intitulado O lirismo

contemporâneo de Arnaldo Antunes,

cujo maior objetivo era analisar alguns

aspectos significativos da obra desse

poeta e compositor paulista. Dono de

um acervo que, de certo modo,

desafia os limites conceituais da

tipologia poética, este evento

procurou assinalar a importância da

produção de Arnaldo Antunes para se

compreender o processo de

construção artística no século XXI,

bem como indicar o modo como a sua

obra se insere no atual contexto da

sociedade brasileira.

O evento foi realizado em parceria

com as turmas de Literatura

contemporânea e de Literatura

infantil do semestre de 2014.2 –

disciplinas ministradas pelo professor

e também coordenador do NUPLIC,

André Pinheiro. A ideia do evento

surgiu, em parte, da própria

experiência em sala de aula: a obra

poética de Arnaldo Antunes constituía

importante tópico dessas disciplinas,

mas logo se constatou que ela ainda

não é muito conhecida na região, nem

mesmo no contexto específico do

curso de Letras. De modo geral, os

alunos só conseguiam associar o

nome do autor ao trabalho realizado

com os Titãs e com os Tribalistas.

Justificativa: Graças à qualidade estética e à

amplitude de sua obra, Arnaldo

Antunes figura como um dos nomes

mais significativos dentro do cenário

da arte contemporânea no Brasil.

Nesse sentido, a realização do evento

já se justificava pela importância do

objeto sobre o qual ele pretendia se

debruçar. Depois, os trabalhos de

Antunes mantêm uma intensa relação

com determinados segmentos da

sociedade contemporânea, sobretudo

com o universo da tecnologia.

Explorar a potencialidade dessa obra

significava tocar em questões

relevantes para a teoria da literatura –

como a delicada categorização dos

gêneros literários, a relação dialética

estabelecida entre a poesia e a

sociedade, o papel da tecnologia para

o desenvolvimento das artes, dentre

uma série de outros mais.

O fato de se trabalhar a obra de um

poeta vivo e atuante também figurava

como justificativa para a realização do

evento, pois pretendia-se mesmo que

o aluno mantivesse um contato mais

estreito com o processo histórico da

criação literária; pretendia-se que o

aluno encontrasse na obra analisada

alguns aspectos da sociedade na qual

ele também está inserido.

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES: O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes 2

Atividades: Todas as ações planejadas foram

executadas no dia 10 de dezembro

(com exceção da palestra do professor

André Pinheiro, que foi preferida no

dia 15 do mesmo mês, dentro da

programação da Jornada de Culturas

Ibéricas, organizada pelo Núcleo de

Estudos Portugueses da UFPI),

totalizando uma carga horária de 20h

de atividade acadêmica.

INSTALAÇÕES POÉTICAS:

Aberto para toda a

sociedade acadêmica,

inclusive para alunos

de outras

universidades, o

evento começou na

manhã do dia 10 com

a apresentação de

trabalhos de

Intervenção poética,

que estavam expostos

no hall de entrada do

CCHL. De certo modo,

a ideia dessa atividade

surgiu de uma prática

realizada pelo próprio

Arnaldo Antunes. Sabe-se que, vez por

outra, o autor paulista abre

exposições cuja proposta consiste em

atribuir um suporte tridimensional

para os poemas que antes se

encontravam na página inerte do livro.

Situada na zona fronteiriça entre a

literatura e a instalação artística, essa

atividade permite que o leitor tenha

uma relação mais direta com a poesia,

já que ele vai estar literalmente

inserido na obra que lê.

Partindo desse pressuposto, pensou-

se em fazer algumas instalações para

que a lírica antuniana fosse exibida de

forma singular e inovadora, já que os

poemas e as canções seriam

apresentados nos mais diversos

suportes. O processo de idealização,

planejamento e execução das obras

foi desenvolvido durante as

disciplinas. No fim, o trabalho de

Instalação poética contou com as

seguintes obras:

“A nossa casa” – a letra da canção

foi escrita no corpo de um

manequim que trazia em seu

interior a maquete de uma casa;

“Tchau, chupeta” – a letra da

canção aparecia no entorno de

um vasilhame com água cheio de

chupetas;

“Saiba” – a canção foi ilustrada

com fantoches de alguns

personagens mencionados na

letra;

“A luz negra deixa o branco mais

branco” – o poema estava

impresso em branco dentro de

uma caixa que continha uma luz

negra;

“Agora agouro” – as palavras

agora e agouro foram escritas

em vários sacos de gelinho

(sacolé, dindin, geladinho etc.),

que estavam suspensos no teto;

“O buraco do espelho” – a

moldura de um espelho deixava

entrever uma série de outros

espelhos suspensos onde estava

escrito o poema;

“Luz” – o poema foi visualmente

representado da maneira como

aparece no livro, mas em letras

prateadas e douradas suspensas

e sobre um fundo preto;

“O fogo” – os versos do poema

foram escritos em cigarros

dispostos verticalmente sobre o

papel madeira. Um

cigarro gigante foi

colocado ao lado da

instalação com o

intuito de chamar a

atenção do público;

“O pulso” –

imagens de todos as

doenças

mencionadas na

canção foram

dispostas em um

varal que parecia

guiar o público por

um caminho dos

horrores;

“Ponto e

vírgula” – aproveitou-se a ideia

original do poema, de modo que

o ponto e a vírgula foram

grafados em dois ovos grandes

feitos de papel machê;

“O sol” – uma bola amarelada foi

suspensa no teto e logo abaixo

aparecia a letra da canção

pendente por uma linha de lã

laranja;

“Poemas visuais” – os poemas

visuais de Arnaldo Antunes foram

impressos tanto em quadros que

ficaram presos a um barbante,

quanto em uma parede

transparente.

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES: O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes 3

Além das instalações, o espaço foi

ornamentado com diversos tecidos,

banners com fotos do poeta, círculos

e garrafas contendo poemas de

Arnaldo Antunes que só seriam

revelados no recital da noite.

SARAU LITERÁRIO:

No início da noite, antecedendo à

parte científica do evento, foi

realizado um Recital de poemas de

Arnaldo Antunes – atividade

conduzida por alunos vinculados ao

NUPLIC. A proposta era fazer uma

apresentação com um formato mais

contemporâneo, privilegiando um

tipo de leitura dramática que buscasse

explorar os diferentes e inusitados

efeitos sonoros, como a cacofonia, o

eco, o ruído, o silêncio etc. Por isso

mesmo, estavam na pauta do recital

poemas de diferentes temáticas:

erotismo, infância, objetos,

metalinguagem, visualidade, dentre

outros. Para inserir um maior grau de

estranhamento, alguns poemas foram

recitados pela voz feminina e

maquinal do “Google Tradutor”. Em

um determinado momento, as

garrafas que estavam expostas

durante as Instalações poéticas foram

entregues aleatoriamente ao público

presente. Quem recebia uma garrafa,

verificava o poema que estava dentro

dela e depois iria até o palco para

recitá-lo.

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PALESTRAS:

A parte mais esperada do evento era

aquela referente ao conteúdo

científico, quando se discutiria

aspectos importantes da obra do

poeta e compositor paulista. A sessão

foi aberta com a palestra intitulada

“Arnaldo Antunes: música palavra

imagem”, proferida por Adriano

Lobão Aragão, professor do Instituto

Federal do Piauí. O palestrante falou

sobre o modo de construção das

imagens na obra de Arnaldo Antunes,

quase sempre estabelecendo vínculos

estruturais entre a sua poesia e a sua

música.

Em seguida, o professor da

Universidade Estadual do Piauí,

Wanderson Lima, proferiu a palestra

“Dizer a coisa: presença de Francis

Ponge na obra de Arnaldo Antunes”. O

palestrante elencou pontos em

comum entre os dois poetas e

direcionou o teor do seu discurso para

aquilo que ele denominou de “poesia

como um modo de ver”. Wanderson

Lima mostrou que, ao transformar em

objeto poético as coisas simples e

cotidianas, Arnaldo Antunes acaba por

promover uma espécie de reeducação

do olhar.

Para fechar a noite, o poeta e músico

Thiago E proferiu a palestra “Arnaldo

Antunes, tecnologia e novos suportes

para a poesia”. O palestrante

apresentou alguns projetos

multimídia de Arnaldo Antunes e, a

partir daí, mostrou como os recursos

tecnológicos podem auxiliar na

criação do texto poético na

contemporaneidade. Admitindo que a

página do livro impõe certos limites,

Thiago E revelou a necessidade de

buscar outros veículos para se criar

uma nova rede de significados na

literatura.

Por fim, no dia 15 de dezembro, o

professor da Universidade Federal do

Piauí, coordenador do NUPLIC e

organizador do evento, André

Pinheiro, proferiu a palestra “Arnaldo

Antunes pela óptica da topoanálise”.

Examinando o modo como o espaço é

estruturado em alguns poemas e

canções do autor, Pinheiro mostrou

que grande parte da lírica de Antunes

está assinalada pela presença de um

sentimento utópico, motivado pelo

descompasso existente entre o sujeito

lírico e a sociedade na qual ele está

inserido. Segundo o professor, a

imagem de um espaço desordenado

facilmente encontrada na obra do

poeta paulista leva o eu-lírico a

alimentar o desejo de mudança e,

consequentemente, a direcionar o

rumo do seu olhar para o futuro.

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APRESENTAÇÃO MUSICAL:

Para fechar a noite do dia 10 de

dezembro, houve uma apresentação

musical no formato acústico com

cerca de 30 minutos de duração. A

atividade visava promover uma

releitura de alguns sucessos da

carreira de Arnaldo Antunes, sempre

procurando imprimir um olhar

diferenciado à interpretação. A banda

foi composta por alunos do Curso de

Letras da UFPI e contou com a

participação dos alunos da Escola de

Música de Teresina executando os

arranjos de cordas (cellos e violinos).

Na ocasião, foram interpretadas

canções como “Socorro”, “Fora de si”,

“Meu coração”, “Luz” e “Que me

continua”.

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RELATÓRIO DE ATIVIDADES: O lirismo contemporâneo de Arnaldo Antunes 6

Teresina-PI, dezembro de 2014