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PROJETO [FAO] UTF/BRA/064/BRA TERRITÓRIO DE ACAUÃ AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA VIABILIZAR A IMPLEMENTAÇÃO E O ALCANCE DOS RESULTADOS DO PROGRAMA FOME ZERO R R E E L L A A T T Ó Ó R R I I O O D D E E C C O O N N S S U U L L T T O O R R I I A A E E M M P P L L A A N N E E J J A A M M E E N N T T O O E E G G E E S S T T Ã Ã O O D D E E P P O O L L Í Í T T I I C C A A S S P P Ú Ú B B L L I I C C A A S S CLOVIS GUIMARÃES FILHO CONSULTOR PETROLINA 2005 1

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PROJETO [FAO] UTF/BRA/064/BRA

TTEERRRRIITTÓÓRRIIOO DDEE AACCAAUUÃÃ

AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA VIABILIZAR A IMPLEMENTAÇÃO E

O ALCANCE DOS RESULTADOS DO PROGRAMA FOME ZERO

RREELLAATTÓÓRRIIOO DDEE CCOONNSSUULLTTOORRIIAA EEMM PPLLAANNEEJJAAMMEENNTTOO EE GGEESSTTÃÃOO DDEE PPOOLLÍÍTTIICCAASS

PPÚÚBBLLIICCAASS

CLOVIS GUIMARÃES FILHO

CONSULTOR

PETROLINA 2005

1

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ÍNDICE

PÁGINA 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................3 2. A SITUAÇÃO ATUAL DO TERRITÓRIO ...............................................................................................................4

2.1. CARACTERIZAÇÃO AGRO-ECOLÓGICA E SÓCIO-ECONÔMICA ...................................................4

2.2. AS EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO EM ANDAMENTO .......................................................................8

2.3. OUTRAS EXPERIÊNCIAS COM POTENCIAL DE APLICABILIDADE

FORTALECIMENTO NO TERRITÓRIO ..............................................................................................20 3. AS POTENCIALIDADES E AS LIMITAÇÕES DO TERRITÓRIO ........................................................................ 23

3.1. AS ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO AGRÍCOLAS DE MAIOR POTENCIAL DE GERAÇAO DE OCUPAÇÃO DE RENDA ......................................................................................23 3.2. AS LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES GERADORAS DE OCUPAÇÃO E RENDA ..................................................................................................................33

4. UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA O TERRITÓRIO ................................................35

4.1. BASES E ESTRATÉGIAS PARA UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO ................................35

4.2. AS AÇÕES NECESSÁRIAS AO DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO ........................................36

4.3. UMA PROPOSIÇÃO DE APLICAÇÃO DE RECURSOS NO TERRITÓRIO ........................................40 4.4. SELEÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA NOVAS AÇÕES DO MDS .........................................42

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................43 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................................46 7. ANEXOS .................................................................................................................................................................47

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1. INTRODUÇÃO

Este relatório técnico constitui o produto final da missão de identificar e quantificar, junto às entidades

executoras, as ações necessárias para complementar e consolidar a metodologia identificada no âmbito do projeto TCP/BRA/2904 (Abordagem para a Criação de Capacidades para Melhorar a Segurança Alimentar em Populações Rurais Pobres do Nordeste, firmado entre a FAO e o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) – Programa Fome Zero) e analisar as experiências de sucesso que poderão ser replicadas nas demais comunidades nos onze municípios de Pernambuco e do Piauí, componentes do território de Acauã. Essa missão foi definida em Carta de Acordo de Serviços Pessoais, 2005/346 (NPPP – UTF/BRA/064/BRA – Apoio à implementação e ao alcance dos resultados do Programa Fome Zero), com período previsto de duração de 11 de abril a 10 de julho de 2005

A estratégia de trabalho adotada incluiu um processo de coleta e análise das informações efetivamente necessárias a uma avaliação geral do projeto e abrangeu as seguintes etapas e processos:

• Leitura de documentos de trabalho diversos elaborados por entidades participantes (diagnósticos participativos,

planos de desenvolvimento comunitários, memórias de reuniões, relatórios de acompanhamento e publicações técnicas produzidas);

• Consulta a fontes secundárias de informações sobre a realidade e o processo de desenvolvimento nas regiões semi-áridas do Piauí e de Pernambuco;

• Entrevistas com pessoas-chave (coordenadores e dirigentes das instituições participantes, técnicos de campo, agentes de desenvolvimento rural, dirigentes de associações e agricultores individualmente e outros integrantes dos arranjos produtivos locais);

• Visitas de campo (visitas a unidades de produtores com projetos-piloto, a comunidades e participação em fóruns);

• Participação em reunião de discussão e ajustes finais do relatório, em Brasília, com a equipe do MDS/FAO.

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2. A SITUAÇÃO ATUAL DO TERRITÓRIO

2.1. CARACTERIZAÇÃO AGRO-ECOLÓGICA E SÓCIO-ECONÔMICA

O “Território de Acauã”, ilustrado no mapa 1, do ponto de vista espacial, corresponde às áreas compreendidas por oito municípios piauienses localizados na região Sudeste (Acauã, Paulistana, Queimada Nova, Betânia do Piauí, Curral Novo do Piauí, Jacobina do Piauí, Patos do Piauí e Caridade do Piauí) e três municípios pernambucanos localizados no extremo oeste do estado (Afrânio, Dormentes e Santa Filomena). A área total dos onze municípios soma cerca de 12.562 km2 e abriga atualmente uma população estimada em 105 mil habitantes (Tabela 1). Predomina no território a unidade de paisagem Depressão Sertaneja (cerca de 75% da área total), também a unidade mais representativa do Semi-Árido nordestino (Silva et al., 1993). Outras unidades importantes ocorrentes no território são as Superfícies Dissecadas e as Chapadas Intermediárias e Baixas, ambas quase que exclusivamente no lado piauiense do território (mapa 2).

TABELA 1. MUNICÍPIOS, ÁREAS E POPULAÇÕES COMPONENTES DO TERRITÓRIO

MUNICÍPIOS

ÁREA (km2)

POPULAÇÃO *

(habitantes)

PIAUÍ

ACAUÃ BETÂNIA DO PIAUÍ CARIDADE DO PIAUÍ CURRAL NOVO DO PIAUÍ JACOBINA DO PIAUÍ PAULISTANA PATOS DO PIAUÍ QUEIMADA NOVA

8.728

1.029 1.092 423 766

1.443 1.752 723

1.500

60.870

5.594 9.525 4.113 3.978 5.694 17.436 5.756 8.774

PERNAMBUCO

AFRÂNIO DORMENTES SANTA FILOMENA

4.034

1.491 1.538 1.005

44.164

15.891 15.150 13.123

TOTAIS

12.762

105.034

* População estimada pelo IBGE para 2004

A Serra de Dois Irmãos, prolongamento da Chapada do Araripe, corta o território em sua metade sul,

servindo, também de limite entre os dois estados. Na Depressão Sertaneja a paisagem predominante é caracterizada por superfícies de pediplanação desgastadas e dissecadas com relevos residuais e vales pouco profundos e estreitos Os solos do território apresentam em geral baixa fertilidade natural. Em função da baixa pluviosidade, a vegetação predominante é de caatinga hiperxerófila. O clima da área é quente, semi-árido, com média pluviométrica anual da ordem de 400 a 500 mm, irregularmente distribuídos. Nas áreas mais elevadas (serras com altitude entre 600 e 800m) o clima mostra-se bastante mais ameno, com temperaturas médias abaixo dos 25°. O potencial de água subterrânea varia de baixo a muito baixo, exceto nas chapadas intermediárias dos municípios de Jacobina e Patos do Piauí, onde se mostra bem mais favorável.

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O trabalho de diagnóstico foi aplicado em 43 comunidades, abrangendo um total de 2.325 famílias (Tabelas 2 e 3). Seus resultados apontam como maiores limitações à produção agrícola a irregularidade das chuvas

TABELA 2. COMUNIDADES E NÚMERO DE FAMÍLIAS COMPONENTES, POR MUNICÍPIO - PIAUÍ

MUNICÍPIOS

COMUNIDADES RURAIS

NÚMERO DE FAMÍLIAS

ACAUÃ BETÂNIA DO PIAUÍ CARIDADE DO PIAUÍ CURRAL NOVO DO PIAUÍ JACOBINA DO PIAUÍ PAULISTANA PATOS DO PIAUÍ QUEIMADA NOVA

03 COMUNIDADES ANGICAL DE CIMA ESCONDIDO TANQUE DE CIMA 03 COMUNIDADES LARANJO BAIXÃO SILVINO 02 COMUNIDADES CABACEIRA CHAPADA DO ENCANTO 02 COMUNIDADES CAITITU GARAPA 03 COMUNIDADES CAMPO ALEGRE CHAPADA MARIA 03 COMUNIDADES ANGICAL DE BAIXO CHUPEIRO SÃO MARTINS 01 COMUNIDADE FORTALEZA 03 COMUNIDADES PITOMBEIRA SUMIDOURO TAPUIO

85 51 14 24

123 35 48 40

70 50 20

88 39 49

111 22 49 40

73 25 22 26

13 13

92 50 21 21

TOTAIS

20 COMUNIDADES

655

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TABELA 3. COMUNIDADES E NÚMERO DE FAMÍLIAS COMPONENTES, POR MUNICÍPIO - PERNAMBUCO

MUNICÍPIOS

COMUNIDADES RURAIS

NÚMERO DE FAMÍLIAS

AFRÂNIO DORMENTES SANTA FILOMENA

09 COMUNIDADES BAIXÃO BARRA DAS MELANCIAS CAINANA EXTREMA LAGOA COMPRIDA LAGOA DO MATO PEDRA BRANCA POÇÃO SOMBRIO 05 COMUNIDADES CURRAL VELHO MAXIXEIRO MONTE OREBE PEDRA BRANCA PONTA D’ÁGUA 09 COMUNIDADES BAIXIO DOS RODRIGUES CACIMBA LAGOA GRANDE MEARIM RIBEIRA SANTA FÉ SERRA DO INÁCIO I SERRA DO INÁCIO II TABULEIRO

1.003

42 96 226 320 28 74 69 126 22

266 20 96 70 50 30

401 26 23 33 12 23 17 50 200 17

TOTAIS

23 COMUNIDADES

1.670

TOTAL GERAL

(PI + PE)

43 COMUNIDADES

2.325 FAMÍLIAS

e a baixa fertilidade natural dos solos. A superfície agrícola útil é outro fator limitante que potencializa os demais citados. Mais de 80% dos estabelecimentos rurais contam com área inferior a 50 hectares. Nas áreas mais desfavoráveis, principalmente no município de Queimada Nova, predominam a caprino e a ovinocultura em suas formas mais extensivas de criação. Cerca de 112 mil bovinos, 250 mil ovinos e 140 mil caprinos compõem o rebanho total de ruminantes do território (Tabela 4). Dormentes, Afrânio e Jacobina do Piauí são os maiores criadores, representando, juntos, cerca de 43 % do rebanho territorial dessas espécies. Outros rebanhos importantes são representados pelas aves, com efetivo total de 240 mil cabeças, bem distribuídas pelos onze municípios, e pelos suínos, com cerca de 42 mil cabeças.

Nas áreas mais favoráveis desenvolve-se uma agricultura diversificada e rudimentar, tendo o milho, o feijão e a mandioca como principais componentes, associada à pecuária bovina e/ou ovina. Acauã, Paulistana e Betânia do Piauí apresentam as maiores áreas, somando cerca de 40% da área plantada no território com os três

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cultivos (Tabela 5). A maior parte do que se consegue colher é destinada ao auto-consumo e o restante, ao consumo local. Tudo isto, somado a uma condição de apoio, em termos de crédito e assistência técnica, ainda bastante precária na maior parte do território, acarreta um elevado nível de perdas reais e potenciais para o agricultor familiar da região.

TABELA 4. EFETIVOS (CABEÇAS) DOS REBANHOS POR MUNICÍPIO

MUNICÍPIOS

OVINOS

CAPRINOS

BOVINOS

AVES

SUÍNOS

PIAUÍ Acauã Betânia Caridade do Piauí Curral Novo do Piauí Jacobina do Piauí Paulistana Patos do Piauí Queimada Nova

162.230

19.013

25.123

11.503

11.695

32.311

27.182

14.722

20.681

71.158

9.069

4.037

1.538

3.989

9.835

11.781

10.349

20.560

80.453

9.257

12.317

4.713

6.273

15.951

13.605

7.572

10.765

180.360

21.754

33.509

12.543

13.411

19.974

28.577

22.104

28.488

33.918

4.356

4.202

1.754

1.944

2.622

6.322

4.991

7.547

PERNAMBUCO Afrânio Dormentes Santa Filomena

86.400

37.000

40.000

9.400

70.402

26.000

31.500

12.902

32.458

12.400

13.200

6.858

60.542

25.400

24.000

11.142

8.687

2.800

3.030

2.857

TOTAIS

248.630

141.560

112.911

240.902

42.605

Fonte: IBGE, 2003

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TABELA 5. ÁREA (HECTARE) DOS PRINCIPAIS CULTIVOS AGRÍCOLAS POR MUNICÍPIO

MUNICÍPIOS

MILHO

FEIJÃO

MANDIOCA

ALGODÃO

CAJU

PIAUÍ Acauã Betânia do Piauí Caridade do Piauí Curral Novo do Piauí Jacobina do Piauí Paulistana Patos do Piauí Queimada Nova

16.180

3.200

2.920

700

750

1.800

3.150

1.400

2.260

10.020

1.620

1.400

1.270

650

620

1.420

1.300

1.740

252

12

10

10

100

25

20

60

15

4.038

60

1.320

1.000

600

550

508 - -

250

- - - -

30

200 -

20

PERNAMBUCO Afrânio Dormentes Santa Filomena

1.504

336

384

784

2.748

1.008

1.260

480

4.660

80

80

4.500

6 - - 6

- - - -

TOTAIS

17.684

12.768

4.912

4.044

250

Fonte: IBGE, 2003 Em suma, a fragilidade dos sistemas produtivos, aliada a precária condição de acesso ao crédito e a

assistência técnica, resulta em uma limitada e irregular oferta de produtos, de baixa qualidade, condicionante de uma posição de baixo poder de barganha no mercado e responsável pelo baixo padrão de vida e de insegurança alimentar que caracteriza o pequeno produtor da região. 2.2. AS EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO EM ANDAMENTO

O território de Acauã (também chamado território do Alto Sertão do Piauí e Pernambuco) é atualmente objeto

de uma série de ações, executadas basicamente por três instituições: o Emater-PI, com ações nos oito municípios piauienses; a Embrapa Semi-Árido, com ações nos três municípios pernambucanos e no município piauiense de Acauã e a organização-não-governamental Caatinga (Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas), com ação limitada aos três municípios pernambucanos (Tabela 6). Outra instituição, participante inicial nessas ações, o NEPS (Núcleo de Educadores Populares do Sertão) praticamente retirou-se desse esforço.

Essas ações, que, entre outras fontes, foram custeadas pelo projeto TCP/BRA/2904 (FAO-MDS), são desenvolvidas com base numa abordagem de desenvolvimento territorial, a qual privilegia o processo educativo como o instrumento principal para o desenvolvimento das capacidades locais para convivência com o Semi-Árido.

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Nesse sentido, o direcionamento das ações dado pelo Emater-PI às comunidades negras quilombolas, no intuito de apoiar seus projetos sócio-produtivos e o resgate e valorização da sua matriz cultural, constitui outro avanço significativo no esforço de resgate da imensa dívida social que o país tem com esse segmento. Pela sua singularidade a experiência certamente gerará importantes subsídios para delineamento de políticas do setor público voltadas para projetos de território baseados em elementos de identidade etno-cultural e em outros ativos diferenciadores locais.

Espera-se que o resultado geral desse processo se traduzia no empoderamento das populações locais, permitindo o surgimento de um tecido social fortalecido, capaz de assegurar a essas populações um maior controle sobre seu próprio desenvolvimento. É isso que começa a ser observado na região (Guimarães Filho, 2005).

A abordagem territorial adotada se inspirou também nas metodologias de Comunicação para o Desenvolvimento Territorial, buscando uma maior articulação entre os diversos atores, locais e externos ao território, e de Escolas de Campo, processo de construção do saber baseado no encontro dos saberes do demandante e do facilitador. Com a significativa evolução do projeto, essas metodologias vêm sendo constantemente aperfeiçoadas e moldadas às peculiaridades do território, caracterizando um verdadeiro processo de aprendizagem, que, inclusive vem servindo de modelo para o desenvolvimento de novos projetos de desenvolvimento territorial.

Duas linhas de atividades principais caracterizaram o projeto TCP/BRA/094: a linha política, abrangendo as ações-meio necessárias ao alcance dos objetivos traçados, e a linha técnica, abrangendo as ações-fim pertinentes. As ações-meio se fundamentam na articulação e no entendimento entre as instituições locais e as instituições externas, definindo-se claramente as responsabilidades de cada uma delas em torno de objetivos e métodos comuns de desenvolvimento. O fórum foi seu principal instrumento. As ações-fim tiveram por base processos de diagnósticos participativos, realizados nas diversas comunidades trabalhadas, fluindo para processos subseqüentes de capacitação e de aprendizado tecnológico. Esses instrumentos vêm sendo continuamente aperfeiçoados e se apresentam como fundamentais para nortear e apoiar o processo futuro de desenvolvimento do território. 2.2.1. O FÓRUM Caracterização

Segundo Tonneau (2005), a promoção do desenvolvimento territorial, na perspectiva de uma concertação entre o Estado e sociedade civil organizada, deve estar direcionada para a definição das grandes orientações em relação às potencialidades e aos recursos humanos, para a criação de uma dinâmica social que permita que o papel de principal protagonista do processo seja apropriado pelos atores locais e para a construção de arranjos institucionais entre as organizações locais (comunidades, associações, etc.) e os poderes públicos em torno de ações que efetivamente expressem as necessidades da população. É importante considerar que esta forma de “contrato”, segundo Veiga (2001), não deve se restringir a uma mera transferência de recursos. Seu maior desafio seria, na verdade, a partir de uma análise das necessidades reais, ajustar o caráter predominantemente setorial das políticas públicas a uma dimensão horizontal das ações que deve balizar um projeto de desenvolvimento efetivamente territorial.

No projeto TCP/BRA/029, o instrumento capaz de viabilizar essa concertação, o fórum territorial, veio posteriormente ao início do projeto, como decorrência da necessidade de um espaço mais representativo e mais agressivo para superar as dificuldades detectadas nas primeiras reuniões. Importa destacar a “exportação”, já em andamento, dessa experiência para novos projetos de desenvolvimento territorial, como o do Território do São Francisco (UTF BRA/057), onde a criação do fórum constituiu o primeiro passo. Na realidade, a criação do fórum territorial, apesar de ação ainda limitada a três municípios pernambucanos e Acauã-PI, pode ser considerada como o passo decisivo a partir do qual as ações do projeto TCP/BRA/029 começaram a se transformar em ações de cunho coletivo efetivo, abrindo o caminho para a busca da autonomia e do controle social desejados. A capacidade de mobilização de 43 comunidades de pequenos agricultores, afora outros atores locais, demonstrada pelas instituições executoras, foi o principal fator que permitiu a criação e o funcionamento regular, até agora, do fórum.

Atualmente o fórum trabalha em duas linhas de projetos sobre temas suporte priorizados. Esta fase ainda está sendo considerada como de exercício interno de elaboração de projetos. Em seguida estes projetos serão discutidos com os parceiros institucionais externos, caracterizando um modelo de construção do projeto “de baixo para cima”, planejado na base. Um dos projetos atualmente em discussão aborda a questão água, tema considerado como número um em todos os diagnósticos feitos nas comunidades. Nele, duas linhas de ação principais foram definidas: uma sobre recuperação e ampliação da infra-estrutura hídrica do território (cisternas, poços, barreiros, barragem subterrâneas, etc.) e outra sobre educação para o uso da água, envolvendo também as escolas rurais. Uma característica indicativa do grau de envolvimento das comunidades é que estes projetos incluem contra-partidas das comunidades, não apenas na implementação e fiscalização das obras e atividades, mas, também, na sua gestão e conservação.

O outro projeto em discussão aborda os sistemas produtivos. Nele, a principal preocupação é de fortalecer as atividades produtivas do território, através de um melhor conhecimento e valorização dos seus produtos

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TABELA 6. SISTEMATIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR INSTITUIÇÃO EXECUTORA

TIPO DE ATIVIDADE

EMATER-PI

EMBRAPA

CAATINGA

TOTAIS

PROMOÇÃO DE SEMINÁRIOS/PALESTRAS E OUTROS EVENTOS AVULSOS DIAS-DE-CAMPO REALIZADOS OFICINAS DE NIVELAMENTO DE PRODUTORES DIAGNÓSTICOS DE COMUNIDADES ELABORADOS PLANOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIOS ELABORADOS PARTICIPAÇÃO EM ENCONTROS/EVENTOS FORA DO TERRITÓRIO TREINAMENTOS DE PRODUTORES SOBRE TEMAS TÉCNICOS TREINAMENTOS SOBRE TEMAS NÃO AGRÍCOLAS TREINAMENTOS DE TÉCNICOS DE CAMPO DA INSTITUIÇÃO ENVOLVIDOS NO PROJETO TÉCNICOS COM AÇÃO NO PROJETO TREINADOS TREINAMENTOS DE ADR REALIZADOS VISITAS DE INTERCÂMBIO DE PRODUTORES REUNIÕES DE FÓRUM EM QUE A INSTITUIÇÃO ESTEVE PRESENTE PROJETOS COMUNITÁRIOS ARTICULADOS/ELABORADOS PARA CAPTAÇÃO DE RECURSOS UNIDADES DE EXPERIMENTAÇÃO, DE AVALIAÇÃO OU DEMONSTRAÇÃO DE TECNOLOGIAS IMPLANTADAS DISTRIBUIÇÃO DE SEMENTES (KG) DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS (UNIDADE) TÍTULOS DISTRIBUIDOS NAS FORMAS DE CARTILHAS, FOLDERS, APOSTILAS, ETC. PRODUÇÃO AGRÍCOLA COMERCIALIZADA VIA CONAB (KG)

(1) e (2) = trabalho conjunto

23

20

14

20

20

04

20

12

14

08 -

10

07

10

15

> 8.000

450 - -

05

15

12

23 (1)

23 (2)

02

04 - -

-

11

09

07

01

24

5.000 -

35 -

06 -

01

23 (1)

23 (2)

01

09 - -

- -

09

07

02

80 - -

03

1.290

34

35

27

43

43

07

33

12

14

08

11

28

07

13

119

> 13.000

450

38

1.290

10

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(inclusive os não agrícolas), identificando potenciais oportunidades de negócio e buscando, através de uma melhoria na eficiência desses sistemas produtivos, a maior inserção no mercado das comunidades envolvidas.

TABELA 7. PRINCIPAIS ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS PARTICIPANTES DO FÓRUM

ENTIDADE

SIGLA

• Associações das comunidades envolvidas • Articulação do Semi-Árido • Banco do Nordeste do Brasil • Banco do Brasil • Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas • Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural • Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-Árido • Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não

Governamentais Alternativas • Centre de Coopération Internationale em Recherche Agronomique pour le

Développement • Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba • Food and Agriculture Organization • Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí • Instituto de Colonização e Reforma Agrária • Programa Permanente de Convivência com o Semi-Árido • Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada • Ministério do Desenvolvimento Agrário • Núcleo de Educadores Populares do Sertão • Prefeituras dos municípios envolvidos • Petróleo Brasileiro S.A. • Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania - PE • Secretaria de Produção Rural do Estado de Pernambuco

- ASA BNB BB - CMDRs EMBRAPA-CPATSA CAATINGA CIRAD CODEVASF FAO EMATER-PI INCRA PPCSA/SDA-PI IRPAA MDA-SDT NEPS - PETROBRÁS Projeto RENASCER IPA

Os aspectos a destacar no fórum

O fórum, como ferramenta principal de controle social do processo de fortalecimento das capacidades endógenas dos atores locais e de promoção da competitividade do território, apesar de apenas nove meses de existência (a primeira reunião foi 14 de setembro de 2004), tem mostrado acentuados ganhos, entre os quais merecem ser citados: • A grande mobilização alcançada, tanto de parceiros locais como de parceiros externos, demonstrada,

sobretudo, se considerarmos o curto tempo de vida do projeto e o sentimento de descrença, generalizado nas comunidades e em outros atores locais, com relação a tudo que representasse intervenções do Estado. Foi, na verdade, uma expressiva conquista na linha política do projeto. Um cenário de mobilização, de grande animação e, sobretudo, de crença nos resultados do projeto é, agora, claramente perceptível nas comunidades. Ele só foi possível devido ao trabalho inicial, de base, conduzido pelas equipes técnicas, nessas comunidades, na busca da construção de um ambiente sócio-pedagógico favorável à realização do trabalho, traduzido em intensa mobilização e início de recuperação da auto-estima e da cidadania. Esta ação de empoderamento é que permitiu que as comunidades percebessem sua capacidade de protagonizar seu próprio desenvolvimento, tornando então possível ações como os diagnósticos e os planos participativos e o surgimento de idéias como o fórum e os ADRs. O fórum deve ser encarado primeiramente como um instrumento de informação e de articulação e, somente como tal, pode assegurar as condições mínimas para que a fase subseqüente, de desenvolvimento dos projetos produtivos (sócio-econômicos e culturais), possa, mais efetivamente, alcançar os seus objetivos;

• A sua capacidade de auto-ajuste, corrigindo as distorções iniciais ocorridas nas primeiras reuniões, caracterizadas pela excessiva abrangência de instituições externas convidadas e insuficientes discussões prévias com as comunidades envolvidas. Isto foi possível, a partir de discussões abertas sobre os critérios de

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representatividade dos membros, definindo-se as categorias sociais a se representar e o perfil individual de seus representantes (credibilidade, ação comunitária, experiência, conhecimento da realidade, disponibilidade, entre outros);

• A estratégia inicial utilizada de associação com os conselhos municipais de desenvolvimento rural (CMDRs), como forma de dar mais formalidade ao projeto considerando serem estas entidades responsáveis pelas políticas rurais, e a incorporação gradativa de novos parceiros, em função de sua efetiva capacidade de contribuir com os objetivos do fórum;

• A regularidade do trabalho do fórum (já contabiliza mais de 12 reuniões com periodicidade quinzenal), com avanços pequenos, porém firmes, a cada etapa atingida. A cada reunião contabilizam-se ganhos, sejam representados por novos parceiros institucionais que se incorporam, trazendo potenciais contribuições, ou pelo surgimento de novos instrumentos estratégicos de ação, a exemplo do agente de desenvolvimento rural (ADR); Isto induziu uma maior agilidade nos processos de diagnóstico, permitindo uma agenda de trabalho concentrada na elaboração e na captação de apoio para projetos mais consistentes em torno dos temas prioritários identificados nos diagnósticos;

• As articulações institucionais já estabelecidas (embora parte delas deva ser creditada mais às iniciativas anteriores das instituições executoras, do que, propriamente, à atividade formal do fórum) ou em processo de formalização, nas mais distintas áreas, proporcionando avanços concretos nas estratégias, de curto e médio prazos, voltadas para a segurança alimentar (acesso a cestas básicas, construção de cisternas e cacimbas, barragens subterrâneas, comercialização da produção via CONAB, capacitações em alimentação alternativa, implantação de hortas domésticas e apiários, entre outras). Avanços também nas parcerias envolvendo organizações públicas (Embrapa, Emater-PI, Codevasf e outras que estão se incorporando) e organizações-não-governamentais (Caatinga, NEPS, Coordenação das Comunidades Rurais Quilombolas), em contraposição a notória debilidade na nossa cultura de cooperação pluri-institucional, contribuindo para, num processo de aprendizagem coletiva, nivelarem efetivamente os componentes básicos de caráter teórico, conceitual, metodológico e técnico de suas ações;

• A mobilização de recursos adicionais aos alocados pela FAO/MESA foi outro componente importante na obtenção dos resultados positivos alcançados em tão pouco tempo junto às comunidades. Graças a proatividade que caracterizou a atuação das instituições executoras, o montante de recursos adicionais mobilizados foi bastante significativo, alcançando um montante superior a três milhões de reais, o que permitiu a implementação das primeiras ações de caráter estruturante (regularização fundiária, diagnósticos participativos, capacitação em organização e planejamento, implantação de unidades de validação e demonstração, entre outras) que possibilitarão a concretização de projetos agrícolas, sociais, culturais e ambientais, capazes de gerar ocupação e renda.

Ações necessárias para complementar e consolidar a metodologia • A ampliação da área geográfica de ação do fórum, de modo a incorporar as comunidades dos demais

municípios componentes do território, é uma necessidade. Atualmente o fórum contempla apenas os municípios de Afrânio, Dormentes e Santa Filomena, em Pernambuco, e Acauã, no Piauí, excluindo os sete municípios restantes. Eles compõem um outro território? Seria viável, a institucionalização de outro fórum, animado pelo Emater-PI, para o restante do território? Como assegurar a integralidade do território de Acauã com o seu instrumento básico (o fórum) aplicado apenas à parte do território? São questões que precisam ser rapidamente equacionadas. Não há ainda um apoio explícito do Emater-PI a institucionalização do fórum. O Emater-PI teve uma atuação inicial mais de observador do fórum, visando analisar sua posterior expansão para a sua área de atuação ou lá criar um outro fórum. A expectativa era de que com a realização de reuniões do fórum também em municípios do Piauí (como acabou de acontecer agora em maio com a primeira reunião em Acauã), fossem criadas condições mais favoráveis a uma maior integração das suas comunidades e contribuisse para o aprimoramento desse instrumento, via maior participação do Emater-PI. A integralização do Território de Acauã passa, necessariamente, pela sua comprovação como espaço real de convergência de atores e de dinâmicas próprias de ações, sedimentadas pelas suas afinidades naturais e sócio-culturais entre suas diversas comunidades e municípios, o que só será alcançado pela consolidação do fórum;

• Uma maior participação das demais instituições executoras é também altamente desejável. A Embrapa Semi-Árido e o Caatinga podem e devem melhorar o seu nível de participação no fórum. A discussão e a sistematização das idéias sobre os temas objetos de projetos prioritários (como o da água, em discussão atualmente), requerem o apoio e a participação dos técnicos dessas instituições. Projetos mais bem concebidos serão sempre aqueles frutos da interação dos conhecimentos práticos e da vivência do agricultor com os conhecimentos mais técnicos dos agrônomos, veterinários e outros profissionais. São conhecimentos que se complementam e que, por isso, devem ser considerados como do mesmo nível. O que os diferencia é apenas a forma como foram adquiridos. Esses técnicos responsáveis pelas ações iniciais (visitas, palestras, treinamentos e unidades experimentais) que despertaram o interesse dos agricultores, apresentando

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alternativas diversas ao problema, não podem, portanto, estar ausentes nesse momento estratégico do processo. As atividades de apoio técnico devem ser exercidas dentro de visão de um processo contínuo. Quem está no campo desenvolvendo ações técnicas junto às comunidades deve estar também ao lado dela nas reuniões do fórum;

• A promoção de ações que estimulem uma maior participação das prefeituras dos municípios envolvidos. Elas têm apresentado um nível de participação ainda aquém do desejado. Sua participação efetiva no processo é fundamental, considerando a proximidade física e a estrutura localizada desse poder público e a sua capacidade de desencadear mais facilmente um processo institucional de apoio, através de articulações intermunicipais, indispensáveis em se tratando de desenvolvimento territorial, e de ofertar uma contrapartida mais substancial aos recursos oriundos de políticas estaduais e federais. Urge, portanto, que algum arranjo institucional seja adotado para que a maior participação das prefeituras do território possa acontecer sem comprometer a posição da sociedade civil como principal gestora do processo. Convém enfatizar que o fórum é um espaço de convergência onde seus diversos atores não têm, necessariamente, de compartilhar, os mesmos grupos, interesses ou idéias (Tonneau et al., 2003). Deve importar menos ao projeto críticas às limitações das prefeituras e importar mais as estratégias de incorporação do potencial de apoio destas às ações do projeto. Com a emergência das novas administrações municipais faz-se necessária a imediata abertura de diálogo dos responsáveis pelo projeto com os novos prefeitos ainda ausentes, mostrando o fórum como o espaço de apoio e de oportunidade de construção participativa de políticas de desenvolvimento, capazes de articular os projeto locais com o global. Importante ressalvar, contudo, a necessidade de uma dimensão supra-municipal desse apoio, ou seja, a parceria que se deve buscar é com um conjunto harmônico de prefeituras do território e não com cada prefeitura isoladamente;

• As propostas de ações constantes nos planos de desenvolvimento das comunidades e ratificadas no fórum devem ser rapidamente transformadas em projetos formais, mesmo que simplificados, de captação de recursos junto aos parceiros institucionais e a outras fontes internas ou externas que apóiam ou que venham a apoiar o projeto. Isto deve ser feito conjuntamente, ao nível do fórum, com o apoio das instituições parceiras que detenham a competência demandada pela natureza de cada projeto. O mais importante é a identificação prévia dessas competências em cada instituição envolvida e a definição das responsabilidades de cada uma destas dentro do projeto;

• Acelerar os procedimentos necessários à implantação gradativa de um processo de transferência das responsabilidades do processo de animação e da efetiva coordenação dos trabalhos do fórum (criação de um núcleo diretivo seria uma alternativa), como forma de fortalecer a capacidade técnica e operacional dos atores locais. É ainda claramente perceptível no Fórum a sua excessiva dependência da atuação do animador e da instituição animadora contratados. A consolidação do processo de autogestão se dá através da identificação, no grupo de atores locais, de lideranças capazes de gradativamente assumirem o protagonismo do processo, reduzindo, em ritmo compatível, a dependência dos animadores. Ao final do processo, estes animadores se tornam simples parceiros institucionais, numa posição de subsidiaridade aos projetos territoriais, como defende Flores (2003). A identificação dessas lideranças é um processo permanente que deve começar a ser exercitado a partir da primeira reunião do fórum. A assunção desse papel pelos atores locais expressa a sua capacidade técnica e operacional, pavimenta o caminho para a pretendida autogestão e afere o nível de empoderamento das comunidades organizadas de base familiar do território;

• Considerar como prioridade número um a transformação das ações e diretrizes de desenvolvimento territorial discutidas e priorizadas no fórum em um Plano de Desenvolvimento Sustentável Territorial, incluindo, de uma forma articulada e circunstanciada, projetos agrícolas, sociais, culturais e ambientais, que levem em conta as diversidades natural e cultural existentes no espaço territorial. A elaboração desse Plano está ainda numa fase muito incipiente, inclusive por que ainda lhe faltam algumas informações básicas sobre o território, cuja coleta e sistematização não constituem, na verdade, um processo rápido. Ele deve constituir o grande instrumento norteador do processo de desenvolvimento do território, orientando as ações de longo prazo e consolidando espaços de produção de referências. O mais importante é que o Plano reflita e expresse as verdadeiras necessidades das comunidades e não as dos tomadores de decisão distantes da realidade, como os poderes federal, estaduais, bancos, etc. (Tonneau, 2005);

• A institucionalização do fórum é outro passo fundamental para a consolidação do processo de desenvolvimento com abordagem territorial, para a qual se faz necessária uma pronta definição do formato legal mais adequado. Esta ação pode ser inserida como uma das metas primeiras do Plano de Desenvolvimento Sustentável Territorial. Formalizado, seja como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), seja sob outro qualquer formato, o fórum poderá então contar com uma direção mais comprometida com a implementação das deliberações da entidade e legalmente habilitada a representá-lo, sobretudo nas negociações externas. A debilidade ainda acentuada das organizações comunitárias do território pode ser um entrave a essa formalização, mas, certamente, não é impeditiva. A institucionalização do fórum, permitindo o seu reconhecimento perante os poderes constituídos pode ser considerada como o principal indicativo da evolução no processo de auto-organização dos atores sociais do território.

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No cômputo geral, o fórum, apesar do pouco tempo de vida, tem mostrado ser um instrumento muito valioso, se

afigurando mesmo como indispensável para uma gestão técnica e um controle social mais eficazes dos projetos de desenvolvimento com abordagem territorial. Os ajustes recomendados são perfeitamente exeqüíveis e alguns deles devem se dar espontaneamente durante o transcorrer do processo. 2.2.2. O AGENTE DE DESENVOLVIMENTO RURAL (ADR) Caracterização

O agente de desenvolvimento rural (ADR) é o jovem agricultor, integrante da comunidade rural que, por seu potencial de absorção de conhecimentos, capacidade de liderança e interesse e disponibilidade para servir, é recrutado (indicado pela comunidade) e capacitado para desempenhar, nesta mesma comunidade, os papéis de aglutinador, de animador do processo de desenvolvimento local e de multiplicador do conhecimento, constituindo-se como principal instrumento local indutor da interação da experimentação social com a experimentação técnica. Em outras palavras, sua ação na comunidade é, ao mesmo tempo, técnica e política, permitindo, no dizer de Tonneau (2005) a criação de um espaço de interação entre os “saber- fazeres” dos agricultores familiares, do seu modo de vida, da sua identidade e da sua tradição, com o conhecimento e as inovações advindas do progresso da ciência e da tecnologia.

A decisão de estruturar uma rede de ADRs no território foi decorrência da constatação inicial da falta de capilaridade entre as comunidades e os demais parceiros institucionais e da acentuada deficiência quantitativa e qualitativa (em alguns municípios completa ausência) da assistência técnica pública. Na medida em que o setor agrícola exige mais serviços das instituições públicas e estas apresenta pouca ou quase nenhuma capacidade de atender essas exigências, fazem-se necessárias alternativas simples e de baixo custo, com a participação da sociedade, que permitam atender as necessidades das comunidades. O ADR apresenta todas as condições para se firmar como uma delas.

A implantação da rede de ADRs, contudo não exclui a necessidade da assistência técnica, até como forma de apoio (produção de material pedagógico e de referências técnicas) aos agentes locais. As tarefas seriam complementares, correspondendo a um modelo em que a própria comunidade se organiza para interagir com as ações de intervenção. Os ajustes deverão vir naturalmente, procedidos pelos próprios atores, induzidos pelas demandas e especificidades de cada comunidade ou grupo de comunidades.

O projeto já selecionou 18 ADRs, cujo trabalho de capacitação acha-se em andamento, mas que, simultaneamente já vêm desempenhando o seu trabalho nas comunidades, especialmente no que tange a treinamentos de produtores e a implantação de campos de aprendizagem tecnológica (CAT). Os aspectos a destacar no ADR • O seu processo de formação, não limitado a uma formação meramente técnica. Além desta, a formação

incorpora um segmento inicial de sensibilização (noções de cidadania, direitos humanos, preservação ambiental, etc.), um sobre metodologias de intervenção (envolvendo desenvolvimento local) e um outro sobre elaboração de projetos produtivos (técnicas agropecuárias de interesse da comunidade), o que teoricamente o qualifica melhor para atuar na comunidade como um verdadeiro “agente de mudança”, como um líder;

• A sua origem, como membro ativo da comunidade, e, mais importante, por ela indicado, a partir de critérios próprios, como liderança e credibilidade, interesse e capacidade de servir, entre outras. Como membro da comunidade, convivendo o “dia-a-dia”, a utilização desse instrumento apresenta condições reais (ajuda-de-custo ao invés de salário, distâncias curtas que poderiam ser percorridas com bicicletas ou animais) para operar a um custo muito reduzido;

• O entusiasmo e a dedicação inicialmente demonstrados pelos ADRs selecionados, tanto no processo de capacitação como no planejamento e implantação dos projetos-piloto, refletidos no nível de participação das comunidades nesses trabalhos. É também já facilmente perceptível, em uma simples conversa com qualquer um deles, a facilidade e a familiaridade com que discutem tanto os temas técnicos como aqueles mais ligados à análise da realidade e às estratégias de desenvolvimento;

• A iniciativa, em parceria com o Banco do Nordeste, de qualificar os ADRs, para o apoio a Emater-PI nos trabalhos de elaboração, implantação e acompanhamento de projetos de investimento e de custeio (recursos do PRONAF). Em função da estrutura precária do Emater-PI para o pleno atendimento dessa forte demanda na região, a situação é muito crítica nas comunidades, especialmente com relação a liberações de parcelas de financiamentos, em constante atraso em função da falta de técnicos para atestar a correta aplicação das parcelas iniciais liberadas.

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Ações necessárias para complementar e consolidar a metodologia • Definir e formalizar a situação funcional dos agentes de desenvolvimento rural (ADR) no âmbito do projeto

territorial. A indefinição ainda observada, com relação principalmente a compensação pelo tempo dedicado ao trabalho, pode afetar o clima de otimismo ainda predominante entre os selecionados e pode alimentar expectativas impossíveis de serem atendidas pelo projeto, já detectadas. A idéia de uma ajuda de custo mensal a ser aportada por instituições parceiras na primeira fase do projeto, considerando a extrema debilidade organizativa das comunidades envolvidas, é a melhor alternativa, mas precisa ser efetivada na prática. Impõe-se, também, o início de uma discussão voltada para o equacionamento de uma solução definitiva para essa questão, considerando as fases subseqüentes do projeto;

• Urge, também, até para fins de facilitar sua replicação em outros projetos, a concepção e elaboração de um “Manual do Agente de Desenvolvimento Rural” no qual missão, perfil, critérios de seleção, conteúdo de formação, relações de autonomia e de subordinação, formas de compensação pelo tempo dedicado ao projeto, responsabilidades e procedimentos básicos do ADR estejam bem definidos e claramente detalhados;

2.2.3. OS DIAGNÓSTICOS PARTICIPATIVOS Caracterização

Os diagnósticos tiveram o objetivo de reconhecer o estágio da realidade atual das comunidades rurais em suas múltiplas dimensões, com contexto do território específico e nas relações com os contextos estaduais e nacional. Duas metodologias de diagnóstico foram empregadas, uma nas áreas trabalhadas pelo Emater-PI e a outra nas trabalhadas pela Embrapa Semi-Árido e Caatinga, ambas enfatizando o caráter participativo dos atores locais.

As metodologias empregadas são ambas válidas (para fins de desenvolvimento de comunidades), diferindo mais no nível de abrangência dos temas buscados e menos na forma. A utilizada pelo Emater-PI, um pouco mais completa, inspirada nas Escolas de Campo (FAO) e no modelo GESPAR, enfatizou, além dos aspectos técnicos, econômicos e sociais, o trabalho com a auto-estima das comunidades, fundamental se considerado que o projeto ali é direcionado para as comunidades negras quilombolas. A utilizada pela Embrapa/Caatinga se caracterizou pela sua menor abrangência (contexto de desenvolvimento da comunidade, meios de subsistência e problemas prioritários, com enfoque geral de gênero), mas, nem por isso, de menor eficácia, considerando os objetivos e o alto grau de necessidades primárias observado nas comunidades. Os aspectos abordados nas duas metodologias são apresentados nos tabelas 8 e 9:

Foram realizados 43 diagnósticos participativos, correspondentes a igual número de comunidades trabalhadas no projeto, resultando em planos de desenvolvimento específicos para cada uma delas, elaborados pelos seus próprios componentes. Considerando o conjunto das comunidades trabalhadas, os diagnósticos apontaram um quadro de exclusão econômica e social, ligado a extrema fragilidade em infra-estrutura e aos próprios sistemas produtivos. Algumas características predominantes desse quadro são:

• Os principais produtos animais explorados são os ovinos e os caprinos (geralmente rebanhos inferiores a 50 cabeças) e bovinos (inferiores a cinco cabeças) e, em menor proporção, galinhas. A vegetação da caatinga é, via de regra, a principal, quando não a única fonte de alimentação dos rebanhos. Milho, feijão, mandioca e, em menor proporção, cana-de-açúcar, melancia e fruteiras diversificadas, são os produtos vegetais mais cultivados (áreas de cultivos geralmente inferiores a um hectare);

• O extrativismo vegetal, a venda de mão-de-obra, o cheque de aposentadoria e os recursos de programas sociais complementam (ou constituem o principal) a renda do produtor. Em algumas comunidades podem ser observados incipientes processos de beneficiamento da produção agrícola (farinha de mandioca, mel e rapadura de cana, doce de leite e outros) e de outras alternativas não agrícolas (olaria, pedras ornamentais, artesanato, costura e bordados);

• A desfavorabilidade dos fatores naturais (pobreza dos solos, irregularidade pluviométrica) para a exploração dessas atividades é agravada por outros fatores: insuficiente superfície agrícola útil, baixo nível de capacitação gerencial, acesso precário ou inexistente aos serviços públicos de apoio (crédito e assistência técnica, principalmente) e debilidade organizacional (apesar da existência de associações em quase todas as comunidades, o assistencialismo é ainda uma tônica);

• A conjunção de todos esses fatores torna sumamente baixa a eficiência desses sistemas produtivos, impondo à mesma um caráter maior de economia de subsistência. A maior parte da produção é destinada

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TABELA 8. ROTEIRO METODOLÓGICO DOS DIAGNÓSTICOS CONDUZIDOS PELA EMATER-PI

INDICADORES LEVANTADOS 1. INFORMAÇÕES SOBRE O MUNICÍPIO

• Breve Histórico • Localização e Organização Espacial • Demografia • Infra-estrutura: Habitação, Saneamento e Eletrificação

Comunicação Estradas e Meios de Transporte Educação Saúde Produtiva Econômica

• Estrutura Fundiária • Estrutura Organizacional do Poder Municipal

2. DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO DA COMUNIDADE

• Localização da Comunidade • Breve Histórico • Aspectos Geográficos • Aspectos Demográficos • Aspectos Econômicos • Aspectos Fundiários • Aspectos de Infra-Estrutura • Aspectos Sócio-Culturais • Aspectos Organizacionais

3. ANÁLISE DAS RELAÇÕES DOS FATORES INTERNOS E EXTERNOS DA GOVERNABILIDADE DA

COMUNIDADE • Potencialidades da Comunidade: Dimensão Econômica Dimensão Sócio-Cultural Dimensão Ambiental Dimensão Político-Institucional • Fraquezas Internas da Comunidade: Dimensão Econômica

Dimensão Sócio-Cultural Dimensão Ambiental Dimensão Político-Institucional

• Oportunidades e ameaças para o Desenvolvimento da Comunidade 4. SINAIS OU PISTAS DE VOCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE

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TABELA 9. ROTEIRO METODOLÓGICO DOS DIAGNÓSTICOS CONDUZIDOS PELO CAATINGA/EMBRAPA

INDICADORES LEVANTADOS

1. ASPECTOS GERAIS DA COMUNIDADE

• Localização • Demografia e Vivenda • Educação • Saúde • Produção e emprego • Infra-estrutura • Recursos Naturais: Água, Solos, Vegetação

2. ATORES PRINCIPAIS 3. ESTRUTURA SOCIAL 4. SUBSISTÊNCIA E GÊNERO

• Fontes de subsistência • Divisão geral do trabalho • Despesas da família

5. PROBLEMAS PRIORITÁRIOS

ao auto-consumo e eventuais excedentes são vendidos em circuitos de comercialização extremamente danosos ao produtor, inviabilizando a simples reprodução dos seus meios de produção;

• A débil presença ou, mesmo, ausência dos poderes públicos, inclusive o municipal (o mais criticado deles), é outra característica marcante da vida nas comunidades, o que se traduz em condições precárias de educação (alto índice de analfabetismo, especialmente do lado piauiense), de saúde e de acesso a outros serviços básicos como a água potável, o saneamento básico e a energia elétrica;

• Mais de dois terços das famílias que compõem as comunidades podem ser consideradas, no geral, como incluídas no grupo daquelas de “piores condições” (propriedades menores, número muito pequeno ou ausência de animais, casa de taipa, ausência de fonte d’água, sem meio de transporte motorizado, etc.);

Em suma, escassez e qualidade da água, nível tecnológico rudimentar das explorações, falta de organização,

falta de crédito e de assistência técnica, analfabetismo e baixo nível alimentar foram os principais problemas apontados pelas comunidades em seus diagnósticos. Outros temas também apontados incluem o resgate da historia e da cidadania do povo negro, desemprego, degradação ambiental e o alcoolismo. Os diagnósticos podem ser simplificados em uma única constatação: território altamente deficitário em infra-estrutura, organização, educação e comunicação, sintomático das fortes relações de assistencialismo predominantes, ligada, evidentemente, à quase completa ausência do poder público. Os aspectos a destacar nos diagnósticos participativos • A realização de 43 diagnósticos participativos ensejou, como ação subseqüente e imediata, a formulação, pelos

próprios atores locais, de 43 planos de desenvolvimento comunitário, como fruto, sobretudo, da ação inicial de empoderamento desenvolvida juntos às comunidades Essas agendas de desenvolvimento compreenderam a definição dos eixos e ações estratégicas (em função das prioridades definidas nos diagnósticos), prazos, parcerias e distribuição de responsabilidades. Os eixos estratégicos mais freqüentes estavam associados a questões de melhoria da infra-estrutura hídrica, ao fortalecimento dos sistemas produtivos, a qualificação da mão-de-obra, a educação, a saúde e a cidadania;

• A realização dos diagnósticos e dos correspondentes planos de desenvolvimento foi extremamente facilitada na região de Dormentes-PE, pelo apoio inicial recebido da organização Núcleo de Educadores Populares do

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Sertão (NEPS), cuja rede de “facilitadores”, disseminados em diversas comunidades, foi decisiva na mobilização das mesmas para esse trabalho;

• Na tentativa de desenvolver uma perspectiva estratégica de gênero em todas as suas ações, a participação das mulheres foi efetivada de uma maneira eqüitativa nas tarefas de elaboração dos diagnósticos e dos subseqüentes planos de ação das comunidades. Isto foi uma decorrência natural do papel relevante que uma parcela significativa delas já desempenha no processo de tomada de decisão ao nível das comunidades (muitas delas são presidentes ou secretárias de associações) e ao nível das unidades de produção. Essa participação importante da mulher nos processos metodológicos implantados pelo projeto ao nível de campo, já começa a ser observada, também, no âmbito do fórum.

Ações necessárias para complementar e consolidar a metodologia • Os diagnósticos iniciais, sob qualquer uma das metodologias utilizadas, não foram suficientes para definir uma

agenda de trabalho em relação aos sistemas produtivos de maior potencial a serem priorizados nas ações de desenvolvimento territorial. É preciso identificar e avaliar os produtos, agrícolas e não-agrícolas, que o território potencialmente tem para ofertar ao mercado, para que possam ser objeto de um trabalho de valorização como especificidades locais e transformados em “produtos do território”. Mesmo para subsidiar planos de desenvolvimento apenas comunitários, os diagnósticos precisariam ainda ser complementados com informações maiores sobre as limitantes de seus sistemas produtivos (poucos diagnósticos se reportaram sobre esse fator fundamental). Os planos mínimos ou planos de trabalho preparados pelas comunidades no projeto, na prática caracterizaram mais uma listagem de ações voltadas para o atendimento de necessidades mínimas de caráter emergencial, o que os difere claramente de um verdadeiro plano de desenvolvimento comunitário, com ações de curto, médio e longo prazos. Isto, contudo, não os invalida como instrumentos de desenvolvimento, considerando o estágio inicial do projeto e o nível acentuado de marginalização a que estão submetidas aquelas comunidades. A sistematização de todo esse conhecimento sobre a diversidade e as potencialidades do território, constitui, portanto, pré-requisito indispensável para o próprio delineamento das ações prioritárias do Plano de Desenvolvimento Sustentado Territorial;

• Os diagnósticos realizados dizem respeito a cada uma das comunidades trabalhadas no território, isoladamente. Juntos, não compõem, necessariamente, um diagnóstico focado na percepção integral de território, até mesmo por que lhes faltam outras informações que possibilitem formular uma primeira idéia do espaço de convergência, delimitador do território, e de suas vantagens comparativas e competitivas em relação a outros territórios. Temos, no caso, duas metodologias de diagnósticos/planos de desenvolvimento, cada uma aplicada a um espaço distinto de um único território. É fundamental, portanto, a compatibilização das informações geradas em cada metodologia, permitindo sua análise conjunta e consolidando uma visão única do território e do seu processo de desenvolvimento. Esse direcionamento busca uma sintonia maior com a idéia central de uma abordagem territorial de desenvolvimento que, segundo Sabourin (1999) “busca a integração e a coordenação entre as atividades, os recursos e os atores, em contraposição aos enfoques setoriais ou corporativos”;

• Uma maior participação das instituições executoras (com técnicos qualificados) nas fases cruciais de restituição dos resultados dos diagnósticos, hierarquização dos problemas e de discussão das ações que vão compor o plano desenvolvimento deve ser estimulada para ajudar a enfrentar os problemas mais comuns geralmente observados nos processos de planejamento local. Entre eles podem ser destacados a dificuldade na obtenção e na posterior sistematização dos dados levantados, dificuldades na interpretação das demandas (correta identificação das causas do problema e não dos seus sintomas), a indução de demandas não prioritárias, como induzir demandas adaptadas, como operacionalizar o plano uma vez elaborado, como dar-lhe uma versão que possa ser formalmente negociada com potenciais parceiros..

2.2.4. AS CAPACITAÇÕES E OS PROJETOS-PILOTO Caracterização

Projetos de desenvolvimento rural em áreas de populações fragilizadas como a do Semi-Árido nordestino devem, em sua essência, ser processos de aprendizagem coletiva que assegurem o crescimento da eficiência de seus sistemas produtivos, com incrementos simultâneos na valorização de sua cultura e na reafirmação da identidade local. O processo de capacitação é o grande instrumento estruturador que vai assegurar a perenidade das ações através da potencialização das habilidades próprias do agricultor familiar, elevando a produtividade da sua mão-de-obra, estimulando as mudanças de atitudes e de valores, fortalecendo a autoconfiança, elevando o seu nível de ambição e, como decorrência de tudo, reduzindo a sua dependência externa.

No projeto de Acauã esse processo é visível em todas as metodologias empregadas (fórum, diagnósticos, planos de desenvolvimento), com uma ênfase particular no segmento de capacitação e projetos-piloto, cujo

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instrumento básico operativo é o agente de desenvolvimento rural, com o apoio técnico das instituições executoras. Neste segmento, as ações participativas são direcionadas a identificar e implementar alternativas de ações produtivas a partir das demandas das comunidades e de outras experiências adaptáveis a região e favorecer o processo de adaptação de inovações tecnológicas em projetos-piloto, unidades coletivas de aprendizagem tecnológica (chamadas de campos de aprendizagem tecnológica – CATs - pela Embrapa e de unidades de testes e demonstração – UTDs - pelo Emater-PI), em cooperação com grupos de agricultores/experimentadores. Com isso será possível estabelecer um novo tipo de relação, via intercâmbio de conhecimento, e produzir as referências técnicas necessárias ao seu processo de transferência ou extensão para as demais comunidades ou grupos de produtores do território.

As ações de capacitação têm se acentuado neste ano de 2005, apesar da escassez de recursos. A Embrapa Semi-Árido, utilizando recursos próprios, já promoveu em diversas comunidades de Afrânio, Dormentes, Santa Filomena e Acauã três treinamentos de curta duração, 13 dias-de-campo e implantou 33 CATs sobre armazenamento e conservação de forragens, apicultura, galinha caipira, manejo de solo, manejo de caprinos e ovinos, barragens subterrâneas, hortas, e pequena irrigação. O Caatinga, com recursos do Programa de Arranjos Produtivos Locais (APLs) da Codevasf realizou quatro treinamentos de caprino-ovinocultura em Dormentes e mais quatro de apicultura, sendo dois em Dormentes e dois em Santa Filomena. O Emater-PI, com recursos de programas especiais do governo do estado, também vem desenvolvendo esforço similar, com UTDs implantadas de apicultura, galinha caipira e ovino-caprinocultura, em números totais não fornecidos. Os aspectos a destacar nas capacitações e nos projetos-piloto • O número relativamente grande de unidades de ajuste/demonstração já implantadas e em implantação, apesar

de todas as dificuldades de ordem financeira e operacional que as instituições executoras vêm enfrentando. A implantação rápida dessas unidades é que permitiu o surgimento, ainda que incipiente, de uma dinâmica social nas comunidades diretamente envolvidas e indiretos em comunidades vizinhas, as quais passaram a demandar também a implantação dessas unidades em seus espaços, oferecendo, inclusive, contrapartidas;

• O primeiro impacto já causado nas comunidades pela implantação dessas unidades, em termos de resultados da implementação de novas tecnologias, embora ainda sem tempo de uma avaliação conclusiva. Os resultados iniciais observados nos sistemas produtivos da implantação de tecnologias, de modo especial a apicultura, a ensilagem, o sorgo, a barragem subterrânea e o manejo melhorado de galinhas caipiras, causaram um impacto bastante positivo entre os produtores e entre os próprios técnicos envolvidos, resultando em um clima de trabalho altamente favorável ao diálogo demandante-ofertante da tecnologia.

Ações necessárias para complementar e consolidar a metodologia • Eventuais diferenças metodológicas no processo de capacitação/projetos-piloto utilizado pelas distintas

instituições executoras não devem constituir obstáculos ao alcance dos objetivos, já que todos os processos buscam privilegiar o produtor como protagonista do processo, valorizando o seu saber e a sua experiência. Entretanto, dificuldades surgirão naturalmente durante o processo de consolidação desses instrumentos, especialmente em função dos mesmos serem montados e operados pelos ADRs e demais agricultores locais, sem experiência alguma na prática de “experimentadores”. O importante é dar-lhes tempo para esse aprendizado. É imperioso, contudo, que tais procedimentos diferenciados sejam bem discutidos e compatibilizados entres as distintas equipes, de forma a permitir análises comparativas e intercâmbio das alternativas de sucesso;

• Três aspectos precisam ser discutidos e ajustados nas capacitações e nas “unidades experimentais” que estão sendo implantadas ou a implantar: (1) a inclusão das tecnologias e processos ligadas a experiências locais (as unidades já implantadas e a implantar estão se limitando a tecnologias, práticas e processos gerados pela pesquisa convencional, deixando de fora as experiências locais, geradas ou adaptadas pela própria vivência dos agricultores – os diagnósticos das comunidades ainda não identificaram nem mapearam essas experiências locais na forma de “bancos de saber-fazeres”); (2) a manutenção de um mínimo de rigor científico no processo (é fundamental um monitoramento mais rigoroso dos dados, inclusive econômicos e sócio-culturais, relativos ao comportamento da nova prática, processo ou tecnologia que está sendo introduzida ou testada, para subsidiar as discussões grupais nas comunidades com análises comparativas de custo e eficiência e avaliação do potencial do impacto de sua adoção nos sistemas produtivos convencionais; (3) a cooperação maior entre as instituições executoras no que diz respeito a complementaridade de competências (a carência de especialistas em algumas áreas temáticas demandadas nas capacitações ou nas unidades operadas por uma instituição, muitas vezes disponíveis na outra);

• Apesar de teoricamente contemplado nos projetos originais, o intercâmbio de experiências entre agricultores, associações e comunidades é fator complementar essencial no processo de capacitação. Embora algumas iniciativas nesse campo tenham sido levadas a efeito, faz-se necessário dar uma maior prioridade a essa linha

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de ação, implementando um programa mais agressivo de intercâmbio que enfatize os aspectos de organização, privilegiando uma maior participação dos líderes e dirigentes de associações, e de empreendedorismo (para superação dos indicadores de exclusão não adianta ser só experimentador, é necessário estar motivado e qualificado para iniciativas de caráter sócio-econômico). Neste último aspecto, uma parceria com o sistema Sebrae parece ser recomendável;

• Avaliar a viabilidade de aproveitar nos planos de capacitação um segmento direcionado para jovens filhos de agricultores a ser desenvolvido pelas escolas rurais existentes no território. São mais de 500 escolas rurais disseminadas por todas as comunidades, cuja capilaridade permite fundamentar um programa de capacitação de jovens agricultores, transformando-as em núcleos de apoio à formação em convivência com a seca e à plena expressão dos produtos, recursos e valores sócio-culturais locais. O trabalho em cima dos jovens constitui a forma mais eficaz de assegurar a perenidade das idéias e a continuidade das ações introduzidas pelo projeto de desenvolvimento territorial. A fórmula, para isso, consiste na parceria com as prefeituras, na capacitação da professora, na regionalização do calendário escolar e na adequação do currículo pela incorporação de textos e atividades de aprendizagem pertinentes à sua cultura e á sua atividade rural. Tudo inspirado no modelo francês das “casas familiares rurais” ou em similares já existentes na região, adaptados às condições do Semi-Árido. O trabalho inicial limitar-se-ia a escolas existentes nas comunidades trabalhadas pelo projeto;

• Há um espaço significativo para melhoria do processo de comunicação em todos os segmentos do projeto. É através de um processo de comunicação permanente que se constroem as parcerias necessárias a um projeto de desenvolvimento territorial. A comunicação é, portanto, uma ferramenta de vital importância e comum a todos os aspectos até agora discutidos Somente com o fortalecimento do processo de comunicação será possível estabelecer, no projeto, um nível de cooperação entre Embrapa, Emater-PI e Caatinga, suficiente para assegurar o necessário aperfeiçoamento dos processos metodológicos e a disseminação dos seus resultados em todo o espaço do território. A adoção de enfoques diferenciados em trabalhos que já tinham sido iniciados, por estas instituições, antes mesmo da implantação do TCP/BRA/2904, condicionou a formação de duas equipes claramente distintas inibindo este intercâmbio. Entre os instrumentos de comunicação a reprodução de referências técnicas foi, talvez, a menos acionada. Não há nenhuma informação produzida pelo projeto (mesmo um simples folder ou cartilha) sobre as tecnologias que estão sendo experimentadas nos CATs e nas UTDs ou, mesmo, sobre o próprio instrumento metodológico. A providência básica para correção do problema de comunicação no projeto seria a constituição de uma equipe mínima de agentes, qualificados em comunicação, com dedicação exclusiva ao processo no âmbito geral do território.

2.3. OUTRAS EXPERIÊNCIAS COM POTENCIAL DE APLICABILIDADE OU FORTALECIMENTO NO TERRITÓRIO

Outras experiências, de cunho público e privado, têm sido desenvolvidas com sucesso, fora do território, inclusive em zonas vizinhas. Muitas dessas experiências, pela sua simplicidade, eficiência e, sobretudo, pela sua adequação ao perfil do produtor familiar do território constituem formas alternativas perfeitamente passíveis de aplicação direta, ou com poucos ajustes, em seu espaço. A maior parte delas diz respeito a questões como formas de organização das comunidades, implementação de inovações tecnológicas e gerenciais e, mais especificamente, formas alternativas de comercialização dos produtos da comunidade (enfatizadas, nos diagnósticos, como um dos maiores gargalos).

O imediato intercâmbio com essas experiências é um aspecto fundamental que deve ser priorizado pelo fórum, considerando os objetivos de segurança alimentar e geração de ocupação e renda para as populações rurais mais fragilizadas do território. Articulações institucionais visando a simples introdução ou fortalecimento (alguns deles já existem no território, mas de uma forma ainda incipiente) desses programas no território, ou a associação das organizações comunitárias, na forma de “alianças mercadológicas”, a algumas dessas entidades externas, deve constituir os principais passos a serem seguidos. A seguir, são sintetizadas algumas dessas experiências e programas, com maior potencial de aplicabilidade, a serem introduzidas ou fortalecidas no território: 2.3.1. PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS – PAA

A concepção, pela CONAB, de um instrumento legal de intermediação para aquisição (a valores normalmente acima de mercado) dos produtos para programas sociais abre novas perspectivas para as comunidades organizadas. É uma nova forma de relação com o mercado que precisa tomar corpo no território. O Programa de Compra Direta da Agricultura Familiar já existe no Piauí, gerido pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e pela CONAB. Apesar de já atingir mais de 100 municípios no estado, contemplando cerca de 500 famílias de pequenos produtores, ainda não chegou a nenhum município do território, segundo informação dos próprios técnicos do Emater-PI (no lado pernambucano, houve apenas uma venda de cerca de dois mil quilos de milho, em 2004, produzidos em Dormentes e Santa Filomena).

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A incorporação desse importante instrumento de apoio ao desenvolvimento de território já foi motivo de reuniões de planejamento do Emater-PI com as comunidades quilombolas, visando sua efetivação já agora para 2005. É fundamental que isto se concretize rapidamente. 2.3.2. SISPAF

É um Sistema de Informação e Promoção de Produtos e Serviços da Agricultura Familiar, desenvolvido e operado pela Embrapa Meio-Norte, que visa promover e organizar o mercado de produtos da agricultura familiar do estado, através da disponibilização da informação sobre sua oferta e sua demanda ao nível das comunidades organizadas. Atende, entre outros, a associações, cooperativas, órgão governamentais e não-governamentais. Funciona como um canal de intermediação, sem custos, servindo de fonte de consultas ao produtor familiar, promovendo os seus produtos e facilitando as transações comerciais. Precisa ser ativado no âmbito do projeto. 2.3.3. BB CONVIR

O BB Convir (Convênios de Integração Rural) é um tipo de programa, baseado em parceria com o Banco do Brasil, que promove a integração de empresas industrializadoras, beneficiadoras e comercializadoras de produtos agrícolas com os produtores das matérias-prima. O convênio assegura à empresa, além de capital de giro, o financiamento das operações de custeio, investimento ou de comercialização de seus produtores integrados e, a estes, o acesso ao financiamento, a aquisição de seus produtos pela integradora, além do apoio técnico para melhoria de sua eficiência produtiva. O programa, em parceria com a Secretaria de Agronegócios do Piauí, está presente na vizinha São Raimundo Nonato, apoiando o modelo de integração operado pela SAMEL, a maior exportadora de mel do estado, e pode ser implementado no território. 2.3.4. PROGRAMA CONVIVER

O Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Semi-Árido – CONVIVER, voltado para a redução das vulnerabilidades sócio-econômicas dos espaços regionais e sub-regionais com maior incidência de secas é conduzido no âmbito do Ministério da Integração, tendo nos projetos de fortalecimento dos recursos hídricos o seu principal foco de ação, a partir da criação de instâncias locais que definam as prioridades e fiscalizem sua implementação e avaliem os seus resultados.

O CONVIVER já se faz presente no espaço pernambucano do território pelas ações do Caatinga, em parceria com a CODEVASF, em apoio aos arranjos produtivos locais (APLs) de caprino-ovinocultura e de apicultura (municípios de Dormentes e de Santa Filomena). As ações de apicultura neste último município merecem destaque. São 25 produtores da Serra do Inácio (com temperaturas bastante amenas e uma flora apícola de primeira qualidade) que iniciaram com cinco colméias, cada um. A coleta está começando e se mostra bastante promissora, o que induz um ambiente de entusiasmo e de grande expectativa para as 200 famílias da localidade. Programa semelhante existe no Piauí, a cargo da superintendência da CODEVASF sediada em Teresina, só que ainda não chegou a nenhum dos oito municípios do território. 2.3.5. PROJETO RENASCER

É um programa estratégico de desenvolvimento com inclusão social, operado pelo governo do Estado de Pernambuco, que unifica o Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR), o programa de micro-crédito rural e outros programas e projeto governamentais e não-governamentais. Foi expandido em 2004 para as regiões do Araripe e São Francisco, atingindo os municípios pernambucanos do Território de Acauã (Afrânio, Dormentes e Santa Filomena). A comunidade de Santa Fé, em Santa Filomena, foi a primeira a ser beneficiada.

O projeto objetiva criar ambiências de infra-estrutura, atividades produtivas e serviços sociais básicos, indispensáveis à superação da vulnerabilidade dos segmentos sociais rurais mais pobres. Apóia principalmente ações de desenvolvimento local nas áreas de caprinocultura, ovinocultura, apicultura, piscicultura, pequenas unidades comunitárias de beneficiamento de frutas e outros produtos, artesanato, etc. A sua participação, contudo, ainda está pequena, esperando-se que, com a presença de seus representantes nas reuniões do fórum, como já começa a acontecer, ela tenda a crescer. 2.3.6. PAMSA

O advento dos crescentes movimentos de consumo consciente e comércio justo e solidário são exemplos de fatores que têm contribuído, ainda que de forma incipiente, para ações mais efetivas de transformação social para a agricultura familiar. Dentro dessa abordagem, uma iniciativa se destaca e é recomendada como futura parceira preferencial para o Território de Acauã. Trata-se do PAMSA (Programa de Acesso a Mercado no Semi-Árido Brasileiro), movimento lançado conjuntamente por quatro agências de cooperação internacional (CRS, DED,

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MLAL e OXFAM) com o objetivo prioritário de apoiar o aumento da capacidade de grupos organizados, comunidades de agricultores familiares e outros similares para produzir, se organizar, comercializar e defender seus interesses e direitos, permitindo assim vencer relações econômicas de dependência e reduzir desigualdades de acesso a recursos, informações e mercados. O PAMSA articula um melhor gerenciamento das informações de mercado, tais como exigências legais, preferências dos consumidores e compradores, preços praticados, entre outras, permitindo ao agricultor e sua associação um melhor planejamento da produção e uma gestão mais eficiente do empreendimento.

Assim, a inserção no mercado é vista pelo conjunto dessas organizações como a única forma de assegurar a viabilidade e a segurança alimentar dos segmentos de agricultores familiares da região semi-árida. 2.3.7. A EXPERIÊNCIA DA APAEB

A APAEB (Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente) atua em 15 municípios da zona sisaleira do Estado da Bahia, beneficiando quase mil famílias de pequenos agricultores que têm no cultivo de sisal e na caprino-ovinocultura as suas principais atividades. Seu principal referencial está no modelo associativo, que privilegia o comprar, produzir, beneficiar e vender juntos, ou seja, a busca da plena inserção no mercado como forma de garantir a segurança alimentar em uma zona alta incidência de secas prolongadas.

Seus produtos artesanais à base do sisal (tapetes, bolsas, etc.) são exportados para Europa e Estados Unidos. No tocante a caprino e na ovinocultura, a APAEB já conta com unidades industriais de processamento de peles (curtume) e de laticínios (produção de queijos, iogurtes, etc.) presentes, com sucesso, no mercado. No total, são mais de 800 empregos diretos gerados por essas atividades. Já houve uma primeira visita de produtores do território à APAEB, conduzida pelo Caatinga. Esse intercâmbio precisa ser priorizado e ampliado. 2.3.8. A EXPERIÊNCIA DO CAATINGA

O Caatinga já é um participante ativo do projeto de desenvolvimento do território de Acauã. Considerada a sua experiência na região, esta entidade ainda não internalizou todo o potencial de apoio que pode dar ao projeto. Suas experiências em Ouricuri e região do Araripe, com educação rural (inserção do conhecimento da agroecologia em mais de 20 escolas rurais) e com micro-crédito (uma espécie de fundo rotativo que apóia empreendimentos individuais, produtivos e de infra-estrutura, indicados pelas associações e analisados conjuntamente pelo Caatinga + nove associações de produtores) são marcantes e enriquecedoras. O mesmo pode-se afirmar com relação ao seu trabalho com formas alternativas de comercialização dos produtos (Empório Kaeteh, núcleo de comercialização dos produtos de agricultores familiares de cinco associações locais, incluindo verduras, produtos apícolas, galinha caipira, artesanato, cosméticos, etc.) e com sistemas produtivos de apicultura e caprino-ovinocultura (basicamente formas de alimentação no período da seca).

Todas essas experiências apresentam condições bastante favoráveis para replicabilidade no projeto do Território de Acauã. Algumas dessas ações já ocorrem timidamente nas áreas do território, como a apicultura em Santa Filomena e a comercialização de produtos artesanais em palha de milho proveniente da localidade de Monte Orebe, município de Dormentes. 2.3.9. A EXPERIÊNCIA DO IRPPA

O Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada – IRPAA, com sede em Juazeiro-BA constitui outro referencial em termos de apoio às comunidades rurais mais pobres da região semi-árida, privilegiando um trabalho educativo na linha de convivência com a seca. Desenvolve um trabalho eficiente junto às comunidades rurais de diversos municípios do sertão baiano, destacando-se, entre outros, a capacitação de jovens agricultores nas escolas rurais (com ênfase no conhecimento, valorização e preservação do bioma caatinga, constitui a única proposta pedagógico-política para a realidade do Semi-Árido), a organização dos produtores para cultivos orgânicos, bem como formas de apoio à implementação de unidades de beneficiamento de produtos, de caráter comunitário. Neste último aspecto, é de se destacar o trabalho junto aos agricultores do município de Canudos no aproveitamento do umbu e do maracujá-do-mato, transformando-os em sucos, doces, geléias, comercializados em Salvador e outros centros urbanos.

Em 2004, apenas de umbu, foram mais de 30 toneladas processadas. Esta é, sem dúvida, uma experiência que pode ser reproduzida no Território de Acauã (já existe em áreas próximas), considerando a abundância dessas frutas nativas em boa parte dos seus espaços, até agora com pouca ou nenhuma forma de aproveitamento, nem mesmo sua venda “in natura”. 2.3.10. A EXPERIÊNCIA DE MASSAROCA

Massaroca é um distrito do município de Juazeiro, Bahia, onde a Embrapa Semi-Árido, no período de 1984-1997, em parceria com a instituição francesa CIRAD e o Emater-BA, desenvolveu um trabalho de

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desenvolvimento local, junto a associações de nove comunidades de pequenos agricultores, abrangendo um total de 250 famílias. A experiência acumulada nesse trabalho foi muito rica, embora, em face de algumas especificidades e a sua escala, não ser passível de replicação de uma maneira integral. Alguns instrumentos metodológicos trabalhados oferecem, contudo, subsídios valiosos para projetos similares em outras regiões, sobretudo no que concerne a implementação de diagnósticos rápidos e participativos, a micro-zoneamentos agroecológicos, a tipificação de produtores, a organização dos produtores em grupos de interesse, a testes de validação de inovações tecnológicas e gerenciais (inclusive micro-crédito), a implantação de um programa pedagógico adaptado às necessidades dos jovens agricultores e a transformação e comercialização direta dos produtos.

O objetivo principal da intervenção em Massaroca, foi o de apoiar a elaboração um projeto global de desenvolvimento para essas comunidades, o mesmo objetivo a que se propõe o fórum territorial de Acauã. Embora os objetivos não tenham sido integralmente atingids no período, a experiência foi fundamental para estabelecer as bases do processo que permitiram Massaroca continuar evoluindo até se constituir, hoje, em referencial de organização de uma pequena produção possível. 2.3.11. A EXPERIÊNCIA DA AAPI

A Associação de Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes – AAPI conta com cerca de 1.800 pequenos agricultores associados, oriundos de 20 comunidades disseminadas em oito municípios da região. Seu mentor principal, o padre Geraldo Gereon, alemão radicado na região desde 1966, implantou programas de convivência com a seca que incluem a exploração racional da apicultura e da caprino-ovinocultura, dentro de um contexto de harmonia com o bioma caatinga. Seu trabalho permitiu a AAPI, a partir de 2001, exportar mel para a Itália, através do “fair-trade” e para os Estados Unidos. Até agora já foram exportadas mais de 20 toneladas para a Itália e 80 toneladas para os Estados Unidos, sempre a valores acima do mercado. A média é de 20 colméias por agricultor, sendo que cada comunidade conta com sua própria “casa de mel” para recepção e primeiro processamento do produto. São comunidades vizinhas e tão carentes quanto às trabalhadas no projeto Acauã e que conseguem exportar seus produtos. Certamente têm algo a ensinar. A perspectiva de associações de municípios, como Patos do Piauí e Jacobina do Piauí, se associarem a AAPI deve ser considerada dentro das estratégias de articulação do projeto. 2.3.12. A EXPERIÊNCIA DA SAMEL

A SAMEL é um dos maiores e mais modernos complexos de produção, compra, beneficiamento e comercialização de produtos apícolas do país. Localiza-se em Picos, município vizinho ao território. Possuindo atualmente cerca de 60 mil colméias em sistema de integração (além das 20 mil próprias), a empresa pode se transformar em importante via alternativa de apoio técnico e de escoamento da produção melífera a ser implantada no território. A SAMEL foi responsável por 75% de todo o valor exportado em produtos apícolas do estado, em 2003, contribuindo para transformar o mel em terceiro produto da pauta de exportação do estado, em volume (atrás da soja e das ceras vegetais) e quinto em valor (atrás também do camarão e da castanha de caju). Tem capacidade instalada para decantar 100 toneladas de mel por dia. A empresa dispõe de mel o ano inteiro, através da exploração da apicultura migratória, com suas equipes levando as colméias, durante os períodos secos, através do Maranhão e do Ceará. Os agricultores associados recebem da empresa colméias, cera, assistência técnica e apoio logístico.

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3. AS POTENCIALIDADES E AS LIMITAÇÕES DO TERRITÓRIO

Segundo Duncan (2003), “o enfoque territorial é uma visão essencialmente integradora de espaços, atores sociais, agentes, mercados e políticas públicas de intervenção. Busca a integração interna dos territórios rurais e destes com o restante da economia nacional, sua revitalização e reestruturação progressiva ... ”. O fortalecimento da competitividade dos territórios nos mercados é, portanto, condição também indispensável para o seu desenvolvimento. A própria FAO, em recente relatório, afirma ser o crescimento econômico a melhor forma de combater a pobreza.

A conquista de maior acesso aos mercados, é de notória importância para superação da pobreza e da exclusão social no território. Somente com a conquista de espaços no mercado para seus produtos poderá haver geração de renda e ocupação para suas populações. Entretanto é necessário que esse acesso seja qualificado de modo a que esta maior inserção não signifique mais adiante uma submissão que reproduza o regime de exploração predominante tão comum em muitas regiões.

Nesse mister, o projeto pouco avançou e é até compreensível que assim tenha sido, dado ao seu curto tempo de vida. Antes de identificar e buscar espaços para os produtos do território, seja para produção agrícola, cultural, prestação de serviços ou qualquer outro tipo de atividade, é preciso identificá-los e conhecê-los melhor, o que os diagnósticos não fizeram ainda. Que produtos são esses que o território potencialmente tem para ofertar? Como são produzidos e qual a dimensão e potencial de sua produção? Que limitações enfrenta sua produção? Como e para onde são atualmente escoados? Que fatores de competitividade apresentam? Quais são as experiências e os saber-fazeres locais associados a cada um deles? Essas são algumas respostas que precisamos antes de planejar nosso caminho em busca dos mercados. E não estamos nos referindo apenas a alternativas agrícolas. Qual o potencial do território para o ecoturismo? E para o artesanato? Que manifestações culturais devem ser enfatizadas como formas de geração de emprego e renda? Quais deverão ser, afinal, os produtos a serem “territorializados” ?.

A correta identificação das experiências promissoras de desenvolvimento local existentes nas distintas áreas do território constitui pré-requisito para sua ampliação, de forma a assegurar, no futuro, a consolidação destes espaços como espaços de atividades múltiplas e dinâmicas e não, simplesmente, espaços acessórios responsáveis pelo fornecimento de mão-de-obra e alimentos para o abastecimento urbano ou, como atribuído mais recentemente, como meras reservas ambientais. 3.1. AS ATIVIDADES AGRÍCOLAS E NÃO AGRÍCOLAS DE MAIOR POTENCIAL DE GERAÇÃO DE OCUPAÇÃO E RENDA

Adiante são descritas as atividades (agrícolas e não agrícolas) com efetivo potencial de gerar emprego e renda para o território. São indicações fundamentadas na experiência de 37 anos de atividades em extensão e pesquisas junto às comunidades mais pobres da zona mais seca do Nordeste, vivenciada pelo consultor, bem como em consultas a fontes secundárias e visitas e contatos mantidos com técnicos, produtores, líderes comunitários, comerciantes de produtos agrícolas e outras pessoas-chave do território. As indicações abordam tanto atividades que já existem incipientemente no território, como aquelas com potencial de adaptação, ainda a serem introduzidas. Trata-se, evidentemente, de um primeiro exercício, em função do tempo limitado da consultoria e das dificuldades naturais relacionadas ao acesso e a inexistência, quase absoluta, de informações mais detalhadas sobre recursos naturais, econômicos e sócio-culturais do território.

O predomínio da unidade de paisagem Depressão Sertaneja, com solos de baixa fertilidade e médias pluviométricas da ordem de 400 a 500 mm anuais, já constitui uma limitante importante para a maior parte dos cultivos agrícolas. A apicultura e a criação de ovinos e caprinos se afiguram, a princípio, como as mais indicadas, entre as alternativas agrícolas. Outras atividades apresentam excelente capacidade de geração de renda, porém sua exploração, pela sua própria natureza ou por questões edafo-climáticas, se restringe a espaços limitados do território, como a cajucultura e a piscicultura. Outras, ainda, são indicadas como complementares, do ponto de vista de geração de renda, mas, igualmente importantes, no contexto de sistemas diversificados que deve balizar todo o trabalho de fortalecimento das unidades produtivas do território. Entre estas podem ser citadas a criação de galinhas caipiras, a bovinocultura mista, o cultivo da mandioca e o cultivo da cana-de-açúcar para produção de rapaduras.

As alternativas não agrícolas, afora o extrativismo racional de frutas nativas, são muito poucas e inicialmente oferecem poucas perspectivas, considerado o estágio atual de conhecimento sobre seus recursos potenciais no território. 3.1.1. APICULTURA

A apicultura já constitui efetivamente uma das melhores alternativas econômicas para a região semi-árida, considerando ser uma das poucas atividades agropecuárias que preenchem os principais requisitos de sustentabilidade: o econômico, pela sua capacidade de gerar renda para o produtor; o social, por ocupar a mão-de-

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obra familiar rural, reduzindo o êxodo campo-cidade, e o ecológico, por não exigir desmatamento da vegetação natural para sua exploração. É uma atividade que vêm se desenvolvendo no Piauí desde 1975, já conseguindo atingir, em 2003, a terceira posição entre os estados produtores (alguns já o colocam como segundo produtor nacional). Neste ano foram exportados 2,25 milhões de quilos de mel. Além do mel, a atividade gera outros produtos de crescente demanda e valor comercial tanto no mercado nacional, quanto no internacional, como a cera, a própolis, o pólen apícola, a geléia real e a apitoxina (veneno utilizado para fins terapêuticos).

A meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão) é uma atividade extrativista marginal na região, mas, pelo diversidade de espécies nativas e a demanda de mercado pelos seus produtos, pode vir a se transformar em atividade produtiva de boa capacidade de remuneração. A falta de informações sobre esse potencial e de assistência técnica específica para sua eficiente exploração impedem maiores perspectivas sobre a atividade em curto prazo. Aspectos favoráveis à atividade na região Há um cenário favorável para o desenvolvimento da atividade na área do território, a partir dos seguintes fatores: • Ambiente natural propício à atividade

O clima, com temperaturas sempre acima dos 25 graus, muita luminosidade e pouca chuva, e a caatinga, ainda relativamente preservada dessa região do Piauí, com a sua imensa diversidade florística, fazem do semi-árido piauiense uma das regiões de maior potencial apícola da região. Um exemplo desse potencial é o nível de produtividade e, sobretudo, a qualidade do mel obtido a partir das floradas do marmeleiro (Croton sonderianus), arbusto abundante na região, e que tem se tornado o mais cobiçado do mercado. O “mel de marmeleiro” é um mel limpo, não contaminado (praticamente um mel orgânico), denso, claro, com sabor inigualável (único no mundo com sabor de cravo-da-india) e propriedades terapêuticas. Outras floradas também propiciam outros bons méis, como as da aroeira, juazeiro, faveira, angico, imburana e mufumbo, todas elas espécies típicas da região, muito ricas em néctar e pólen. • Demanda crescente e insatisfeita para os produtos apícolas

As condições de mercado para os produtos apícolas, especialmente o mel, são altamente favoráveis, tanto ao nível nacional como internacional. O produto já é o terceiro mais importante da pauta de exportações do Piauí, em volume, atrás da soja e das ceras vegetais. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o potencial do mercado brasileiro está avaliado em cerca de um bilhão de dólares anuais. O consumo per capita nacional é inferior as 400 g anuais. O grande filão, contudo, é o mercado internacional. O consumo per capita é de 850 g nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Canadá. Somente a União Européia movimenta anualmente 12 bilhões de dólares em produtos apícolas e o Japão 300 milhões de dólares, apenas com própolis. A exportação nacional do produto mel vem crescendo desde 2001, quando a receita atingiu 2,8 milhões de dólares. Em 2003, a receita com exportação já era de 46 milhões de dólares. O consumo mundial do mel apresenta tendência de crescimento induzido principalmente pela mudança de padrão de consumo alimentar da sociedade, traduzida na busca pelos “health foods”, alimentos isentos de contaminação e que utilizam processos produtivos harmoniosos com o meio ambiente. O mel oferece uma oportunidade ímpar nesse contexto, em função de praticamente não existirem mais outros países com extensas áreas naturais para produção de mel e outros produtos apícolas com estas características. • Localização estratégica

A atividade, embora incipiente (não há números disponíveis), já existe em alguns municípios do território, principalmente em Jacobina do Piauí, em Patos do Piauí e em Paulistana. Um programa para seu fortalecimento no espaço do território seria extremamente facilitado pela sua posição geográfica estratégica de vizinhança com os principais municípios produtores e entrepostos comerciais do produto no estado. Picos (o maior produtor), São Raimundo Nonato, Simplício Mendes e Jaicós, juntos são responsáveis por cerca de dois terços da produção estadual. Embora Jacobina e Patos, pela sua vizinhança com os demais segmentos do arranjo, sejam os locais mais indicados, a atividade pode ser desenvolvida, praticamente, em todos os demais municípios do território. Um exemplo é a localidade de Serra do Inácio, no município de Santa Filomena, onde uma vegetação exuberante de espécies herbáceas (tipo ervanços) flora a partir do fim do inverno, permitindo prolongar o período de produção e a obtenção de um mel claro, de ótima qualidade para o mercado. Há, em todas as comunidades trabalhadas no território, um cenário de crescente interesse e de clara aceitabilidade pela atividade como um instrumento de melhoria da renda familiar. A demanda por apoio técnico e creditício para iniciar a atividade, identificada nos diagnósticos das comunidades, é muito forte e se baseia no efeito demonstrativo observado a partir do sucesso dessa alternativa nos municípios vizinhos;

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• Políticas públicas de apoio, inclusive de crédito

Os Estados do Piauí e de Pernambuco, especialmente o primeiro, conduzem agressivos programas de apoio à atividade. No Piauí, o PCPR (Programa de Combate à Pobreza Rural) e a Secretaria de Agronegócios têm como metas a implantação de quatro Centros Tecnológicos da Apicultura (um deles na vizinha Picos) e elevar a produção anual do Estado, das oito mil toneladas atuais (quatro milhões de dólares) para 15 mil toneladas até 2006, atingindo um total de colméias implantadas superior a 500 mil. Em Pernambuco, além do trabalho específico da ONG Caatinga, no oeste do estado, programas de apoio à apicultura também são levados a efeito em várias regiões, para pequenas comunidades, especialmente via Projeto Renascer, com recursos do Banco Mundial. O crédito para implantação ou ampliação de apiários em pequenas comunidades rurais tem se expandido em muitos municípios componentes do território. No Piauí, o programa do BB–CONVIR - Convênio de Integração Rural, parceria da Secretaria de Agronegócios do Piauí e BB-PRONAF, constitui um excelente exemplo, financiando até cinco mil reais para o produtor rural, a juros de 3% ao ano, para aquisição de colméias e outros equipamentos e insumos. Há, ainda, a possibilidade do crédito indireto, de origem privada, como o proporcionado pela SAMEL, maior exportadora brasileira, com unidade industrial na vizinha São Raimundo Nonato, através do fornecimento de colméias, cera, apoio técnico e logístico para os produtores associados. • Potencial de rentabilidade da atividade

Cada colméia produz normalmente de 30 quilos de mel por ano, em sistema de apiários fixos, com potencial de chegar até os 50 kg quando bem manejados. Este nível de produtividade seria o mínimo para dar viabilidade econômica ao empreendimento, segundo os técnicos da Embrapa. Trinta colméias por família seria o mínimo a ser considerado por família, em programas de implantação da atividade nas comunidades da região. O custo de aquisição das 30 colméias, incluindo o equipamento mínimo necessário (fumigador, roupa especial, baldes, etc.), seria de cerca de três mil reais. No sistema migratório, em função de não haver entressafras, o potencial de produtividade é de até 100 kg/colméia/ano. Basicamente o produto comercializado na região é o mel, apesar da diversidade de produtos que a atividade oferece. Própolis, pólen e outros produtos vêm ganhando espaço no mercado e os preços são bastante atrativos. A própolis, por exemplo, chega a ser paga a 15 ou 30 dólares por quilo, contra dois a três dólares por quilo de mel. O grama da apitoxina é cotado de 7 a 10 vezes o valor do grama do ouro. A principal limitação reside na questão de escala, já que a produção que pode ser obtida de cada um desses produtos é muito reduzida (própolis = 50 a 250 g/colméia/ano; pólen = 50 a 300 g/dia; geléia real = 70 g/mês/colméia; apitoxina = 1 g/100 mil abelhas). • Outras vantagens

Os produtos da apicultura podem ser usados na merenda escolar, melhorando a alimentação da população e propiciando uma dinâmica econômica local de geração de renda e de ocupação. A sua capacidade de geração de empregos (ou ocupação) diretos é também expressiva. Estima-se que em uma propriedade de base familiar a atividade ocupe duas pessoas, mesmo que em tempo parcial. Indiretamente, em atividades de fabricação de equipamentos, materiais, indumentárias e de máquinas para produção e beneficiamento do mel e de outros subprodutos a proporção é de um emprego indireto para cada um indireto. Um estudo feito em 1998 indicou um número 36 mil pessoas envolvidas diretamente na produção de mel o que, considerando a proporção anterior, correspondia a um total de 72 mil postos de trabalho no estado; Os produtos apresentam um baixíssimo grau de perecibilidade, podendo ser armazenados durante todo o ano e comercializados nos períodos mais vantajosos sem depreciação na qualidade;

Há perspectivas promissoras de a atividade, no futuro, se constituir em mecanismo de polinização da fruticultura no Vale do São Francisco (100 mil hectares irrigados a pouco mais de 100 km de distância), resolvendo o problema de alimentação das abelhas na época seca e proporcionando uma fonte de renda adicional, através do aluguel de enxames. 3.1.2. OVINO-CAPRINOCULTURA

Em que pese seus sistemas caracterizarem mais uma economia de subsistência, a ovino-caprinocultura, nos onze municípios que compõem o território, é uma atividade que desempenha importante função sócio-econômica, como eventual geradora de renda (venda de animais, de carne e de peles) e como fonte de proteína de alta qualidade (carne e leite) para a alimentação das famílias dos pequenos produtores em praticamente todas as comunidades trabalhadas.

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O Piauí é o segundo maior criador de caprinos do Brasil, com um rebanho estimado em mais de 2,0 milhões de cabeças. É ainda o terceiro produtor nacional de ovinos, com um rebanho de cerca de 1,5 milhão de cabeças. A microrregião piauiense do Alto Médio Canindé, que se espalha por boa parte do território, é a principal zona produtora do estado. No lado pernambucano, a atividade também apresenta similar importância, especialmente nos municípios de Dormentes e de Afrânio, onde se distingue do restante do território pela melhor qualidade genética do seu rebanho e nível tecnológico mais elevado de seus sistemas produtivos.

Potencialmente, esta atividade teria como produtos principais a serem inicialmente ofertados ao mercado: (1) carnes e vísceras caprina e ovina, em cortes padronizados, resfriados e congelados, além de derivados embutidos e defumados; (2) produtos lácteos, abrangendo o leite integral pasteurizado de cabra e produtos derivados (queijos diversos, iogurtes e bebidas lácteas, sorvetes); (3) peles salgadas para curtimento e, (4) esterco curtido para suprir a demanda da fruticultura irrigada do Vale do São Francisco. O potencial da ovino-caprinocultura como atividade geradora de emprego e renda na região é resultado da conjunção de uma séries de fatores que a favorecem, destacando-se entre eles: • Vocação natural e histórica da região para a atividade

A atividade de criação de ovinos e caprinos é bastante antiga na região e tem sido historicamente considerada como o mais importante fator de fixação do homem na caatinga. A menor vulnerabilidade da atividade em relação aos efeitos das recorrentes estiagens, caracterizada pela sua alta resistência aos períodos de escassez de forragem e sua pronta liquidez a qualquer época do ano, condicionaram o reconhecimento desses animais como a “poupança” do pequeno produtor e como segmento absolutamente indispensável a qualquer modelo diversificado de produção existente na região. Os ovinos são mais numerosos no território e constituem espécie preferencial para expansão, como decorrência da sua maior facilidade de manejo, ao nível de pequena propriedade, em relação ao controle no acesso às áreas de cultivo (roçados). A ovinocultura poderia ser expandida em todos os municípios do território, especialmente naqueles que já detêm os maiores rebanhos, como Jacobina do Piauí, Paulistana, Afrânio e Dormentes. Já a caprinocultura de corte, mostra-se mais indicada na forma de sistemas mais extensivos praticados, sobretudo no município de Queimada Nova. • Expressividade quantitativa e qualitativa dos rebanhos

O território possui um rebanho total altamente expressivo do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Seus onze municípios concentram um rebanho de cerca de 250 mil ovinos e 140 mil caprinos (Vide Quadro 4). Importantes efetivos como esses, refletem um importante nicho econômico e social no contexto dos sistemas produtivos regionais, ainda não devidamente reconhecido nas políticas públicas. Embora numericamente expressivos, os rebanhos caprino e ovino do território, apresentam, em sua absoluta maioria, níveis acentuadamente reduzidos de desempenho, condicionados pelo baixo nível tecnológico que caracteriza seus sistemas de produção. Na realidade, na maioria das unidades, essas atividades caracterizam muito mais uma economia de subsistência, voltada para o auto-consumo familiar e venda de eventuais excedentes. Existe, contudo, um material genético da mais alta importância, representado pelas raças nativas ou ecotipos, produto de quase 500 anos de seleção natural, que constitue excelente base genética para sistemas mais produtivos. • Disponibilidade de tecnologias para elevação significativa da eficiência dos sistemas de produção

Diversos estudos conduzidos pelas instituições de pesquisa (Embrapa Semi-Árido e Embrapa Meio-Norte, Embrapa Caprinos) e a experiência criativa de alguns produtores têm comprovado ser possível elevar acentuadamente o nível de produtividade dos ovinos e caprinos na região semi-árida. O peso de abate de desses animais pode ser antecipado em pelo menos seis meses (8 x 15 meses de idade) e o total em peso vivo de crias que podem ser comercializados anualmente pode ser mais de duas vezes superior ao atual (50 x 15 kg/matriz criada/ano). Os sistemas melhorados de produção disponibilizados permitem oferecer ao mercado, como produtos principais, carne caprina ou ovina, leite e queijos de cabras, passíveis de certificação de qualidade, dotados de qualidades nutritivas, sanitárias e organolépticas superiores, em relação aos produtos atualmente disponibilizados. Tais produtos, mais importante, podem ser produzidos dentro dos padrões exigidos de sustentabilidade ambiental.

Em termos de rentabilidade, apenas com as tecnologias de suplementação alimentar na seca, vermifugação e mineralização, é possível produzir carne a custo bem inferior a R$ 1,00/kg para um mercado que paga acima de R$ 2,00kg de peso vivo. As opções de produção, com base em alternativas de mercado, são diversas na área do território. Um dos principais produtos poderia ser um borrego ou um cabrito do tipo “ecológico”, produzido com base na caatinga, complementado, no período critico, com pastos e forragens tolerantes a seca, e incorporando uma imagem mercadológica identificada com o território de origem em suas dimensões geográfica, histórica e cultural. Produtos com essas características atenderiam os fundamentos das crescentes demandas de mercado e pressões sociais, representados pelo uso sustentável dos recursos naturais, nos aspectos de segurança alimentar, geração

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de emprego e renda, conservação ambiental e envolvimento e participação popular. Um produto efetivamente diferenciado e difícil, de ser imitado como esse (“sabor da caatinga”), atenderia uma opção de mercado até bem pouco tempo inexistente e se constituiria em importante alternativa de resgate social e econômico do produtor local e de reversão do acentuado processo de degradação dos recursos naturais que atinge a região.

• Mercados crescentes e insatisfeitos para os produtos ovinos e caprinos

Há, efetivamente, um grande potencial de mercado, representado por uma demanda não satisfeita, estimada em 12 mil toneladas anuais de carnes caprina e ovina, apenas para o Nordeste. As carnes caprina e ovina, embora apresentem ainda limitações de qualidade e de consumo per capita (inferior a 1,0 kg/ano), vêm apresentando, sem o apoio de campanhas promocionais, incrementos anuais de consumo superiores a 10%. Recente estudo do grupo Onyc, visando o estabelecimento no país da marca neozelandesa de ovinos Rissington, indicou um déficit anual de 25 mil toneladas apenas para o estado de São Paulo. Estudo conduzido pelo CNPq, aponta um consumo nacional aparente em torno de 70 mil toneladas anuais para a carne ovina e de 46 mil toneladas para a caprina. Com base em projeções do trabalho da Embrapa Semi-Árido, é possível estimar que, somente para atender as cidades-polo de Petrolina (PE) e de Juazeiro (BA), somando hoje mais de 300 mil habitantes, sejam abatidas anualmente cerca de 190 mil cabeças, correspondendo a produção de mais de duas mil toneladas e a um consumo per capita superior a 8,0 kg/ano.

Não há indicativos conclusivos sobre a produção ou mercado para o leite caprino na região. Sabe-se, contudo, que o potencial de produção é grande, considerando o sucesso dos programas governamentais de produção de leite conduzidos nas regiões do Cabugi (RN) e do Cariri (PB). No Vale do São Francisco já existem algumas poucas unidades que comercializam estacionalmente queijos artesanais de boa qualidade. O surgimento de um novo cenário na região, representado pelo funcionamento de oito grandes vinícolas, constitui, sem dúvida, uma boa oportunidade de abertura de espaço para elevar essa produção de queijos de cabra, inclusive os de qualidade mais refinada.

Com relação a peles, o deficit regional estimado pela indústria de curtumes é de 4,5 milhões unidades/ano. Existem dois grandes e modernos curtumes na região, com capacidade somada de processarem em torno de 14 mil peles/dia ou mais de 4,0 milhões de peles/ano. Cerca de 20 a 30% da produção é exportada. O território é um importante fornecedor de peles para esses curtumes. Apenas para Petrolina, estima-se um movimento anual superior a 30 mil peles, sendo dois terços delas de ovinos. Dois grandes problemas que afetam os curtumes continuam sendo a irregularidade na oferta de matéria-prima e a baixa qualidade da mesma, levando a índices elevados de rejeição e de perdas no processo de beneficiamento.

• Programas públicos de apoio em expansão

A atividade atravessa uma fase de grande visibilidade, através dos esforços dos governos em disponibilizar instrumentos de apoio para sua expansão. Assim, quase todos os programas públicos com foco no desenvolvimento do Semi-Árido, incluem a ovino e a caprinocultura como atividades prioritárias. Além da ação do PRONAF, via bancos oficiais (BB e BNB), e dos programas estaduais específicos, programas de quatro ministérios (Desenvolvimento Agrário, Agricultura e Pecuária, Desenvolvimento Social e Integração Regional) contemplam, direta ou indiretamente, essas atividades. O que falta é apenas um pouco mais de articulação e compatibilização entre esses programas.

3.1.3. CAJUCULTURA O cultivo do caju é uma atividade importante no Estado do Piauí, ocupando cerca de 160 mil hectares, o

que coloca o estado como o segundo maior produtor nacional. No estado, a atividade ocupa o quinto lugar, em valor, na pauta de exportação. São mais de 20 as agroindústrias de beneficiamento de castanha de caju em operação. Em 2002 foram produzidas 18 mil toneladas de castanha. Existem, ainda, cerca de 50 projetos de pequenas unidades agroindustriais, em início de implantação e a implantar. A atividade é uma das mais destacadas do ponto de vista da diversidade de seus produtos e, principalmente, pela sua capacidade de geração de renda e ocupação ao longo de sua cadeia produtiva. Contudo, a área do território está ainda fora desse contexto, tanto no Piauí, quanto do lado pernambucano. A área total cultivada sistematicamente, não ultrapassa os 250 hectares, concentrados nos municípios de Paulistana, Jacobina do Piauí e Queimada Nova. Novos cultivos de pequena escala estão sendo implantados. Jacobina, Patos do Piauí e Santa Filomena (PE) estão entre os municípios contemplados. Só em Jacobina foram distribuídas pela prefeitura local 36 mil mudas. Menos de um terço delas sobreviveu, em função da qualidade, plantio tardio e falta de assistência técnica.

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Zoneamento elaborado pela Embrapa, indica os municípios de Patos do Piauí (14% de sua área com aptidão preferencial e 28% com aptidão regular), Queimada Nova (7% de sua área com aptidão preferencial e 0% com aptidão regular) e Jacobina do Piauí (3% de sua área com aptidão preferencial e 6% com aptidão regular), como os de maior potencial para o cultivo. Há no conjunto, uma área expressiva classificada como de aptidão marginal, onde seria possível também o cultivo do caju, embora com níveis de produtividade menores.

Apesar de os municípios componentes do território não serem priorizados no programa estadual de incentivo à cajucultura, outros fatores concorrem para considerar a cajucultura como uma das melhores alternativas para as áreas indicadas: a disponibilidade de tecnologia (o sistema da Embrapa com o cajueiro anão precoce com potencial de produzir acima de 1.000 kg de castanha/hectare, contra cerca de 300 kg dos cultivos convencionais, além de um modelo de mini-fábrica para processamento do produto), um mercado consumidor em expansão, tanto para castanhas quanto para os demais produtos (frutos “in natura” e sucos, principalmente) e a razoável disponibilidade de crédito para a agricultura familiar.

3.1.4. PISCICULTURA

A piscicultura de águas interiores, especialmente em açudes, é uma atividade já integrada à cultura do Semi-Árido, em geral. O potencial hidrográfico da região semi-árida do Nordeste para essa atividade é representado pelo expressivo espelho d’água de seus reservatórios, que corresponde a cerca de 2% de sua área total. É uma atividade que não demanda nenhuma técnica sofisticada, á existindo uma boa prática de peixamento de pequenos, médios e grandes açudes. Embora não disponha de espelho d’água correspondente, o espaço do território apresenta condições, em determinadas áreas, de tornar-se uma alternativa de alta viabilidade, tanto para produção de alimento de alto valor protéico para as populações carentes, quanto para a geração de postos de trabalho e de renda, contribuindo para a criação de uma nova base de sustentação no meio rural. O açude existente ao lado da cidade de Paulistana já é explorado por 40 pescadores artesanais para produção de peixes usando a tecnologia de tanques-rede. A espécie mais indicada para cultivo em gaiola ou tanque-rede é a tilápia do Nilo, a qual poderá atingir, depois dos 140-180 dias, a produção média de 120 kg/m3. Também a barragem de Ingazeira, em Acauã, já é explorada para a pesca. As maiores expectativas, porém, são depositadas nos novos açudes: Pedra Redonda, município de Jacobina do Piauí, e Poço do Marruá, em Patos do Piauí, com 216 e 293 milhões de m3 de água acumulada, respectivamente. Este último açude barra o rio Itaim e, quando concluído, terá mais de 800 m de parede e abastecerá de água vários municípios através de uma adutora de 143 km de extensão. Uma outra alternativa de produção de tilápias seria a partir da água salobra dos poços tubulares existentes na região (tecnologia já disponível). Os fatores favoráveis para o desenvolvimento dessa atividade são a disponibilidade e a simplicidade da tecnologia, o apoio dos programas de alevinagem do governo do estado (programa forte em parceria com a Codevasf, mas que ainda não chegou à região), mercado local e regional crescentes e insatisfeitos, perspectivas altamente favoráveis para o filé de tilápia nos mercados nacional e internacional e a oferta de financiamento pelos bancos oficiais. A estimativa do potencial do território para esta opção fica impossibilitada pela absoluta falta de informações sobre quantidade, localização, qualidade e vazão da água e situação operacional da rede de poços existente. 3.1.5. AVES CAIPIRAS A criação de galinha caipira na região já é uma tradição e tem se mostrado como segmento essencial ao sistema diversificado de produção predominante e um importante instrumento para subsistência de milhares de famílias de pequenos agricultores. A região já detém um rebanho superior a 240 mil aves, bem distribuído entre os diversos municípios, embora o município de Betânia do Piauí detenha, individualmente, o maior rebanho (14% do total). É uma atividade muito importante não apenas para assegurar a segurança alimentar da família, mas, também, como fonte de renda complementar. O mercado para aves caipiras é bastante promissor, mormente no contexto atual em que se enfatiza a importância de alimentos saudáveis e naturais, mais saborosos e sem agressão ao meio ambiente. Atualmente, somente de Paulistana, saem, semanalmente, mais de três mil galinhas para o mercado de Teresina. Em algumas comunidades, uma galinha é normalmente vendida, na roça, ao preço de 12 reais. Em um sistema semi-extensivo de produção de galinhas-caipira o custo de produção por ave (lote de 500 aves) não deve passar de seis reais. Já são 57 galinheiros parcial ou integralmente implantados pelo Emater-PI no território, embora o modo como tenha sido feito (doação completa) não possa ser considerado como o mais adequado para um programa de desenvolvimento local.

O potencial para expandir esta atividade ao nível das pequenas comunidades é enorme, haja visto ser uma atividade já praticada em todas elas. Sistemas melhorados de criação de galinhas caipiras já foram desenvolvidos,

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sendo os da Embrapa (para Regeneração, zona sub-úmida), da EMPARN (para o sertão norterigrandense) e do IRPAA (para o Semi-Árido baiano), os mais conhecidos. O uso desses sistemas, validados para a região, poderá permitir a obtenção, em cada módulo inicial de 01 galo e 12 galinhas, cerca de 30 a 50 frangos/mês e mais de 1.000 ovos/ano. Os frangos serão abatidos até os 120 dias de vida, com cerca de 1,8 kg de peso vivo. O trabalho inicial que vem sendo feito pela Emater-PI para fortalecimento da avicultura caipira, com base no sistema Regeneração, é importante por que já procura adaptar o sistema às peculiaridades locais, especialmente no que concerne à alimentação (em piquetes e no cocho) com base em recursos locais. Na alimentação, o componente de maior custo da exploração, são aproveitados grãos, folhas e flores, desidratadas e trituradas, de espécies nativas (aroeira, angico, canafístula, etc.) e de outras cultivadas (guandu, sorgo, etc.). 3.1.6. BOVINOCULTURA

A pecuária bovina é também uma atividade tradicional no território, embora praticada mais por pequenos e médios produtores já com alguma inserção no mercado. O rebanho do território, de 112 mil cabeças, não deixa de ser expressivo. O modelo de exploração praticado é mais voltado para o duplo propósito (carne e leite), embora existam alguns núcleos raciais mais especializados para leite. Em muitas propriedades (Acauã e Afrânio, principalmente) a produção de leite que ocorre estacionalmente, em pequena escala, é destinada à produção artesanal de queijos e doces, comercializados na região, principalmente em Petrolina-Juazeiro. O “doce-de-leite de Afrânio” já foi um produto bastante conhecido fora do território, que precisa de um trabalho de resgate de sua qualidade e de promoção junto ao mercado. Em Afrânio existe um laticínio, pertencente a CAMAL (Cooperativa Agrícola Mista de Afrânio), que processa diariamente 3.600 litros de leite de vaca, fornecidos por cerca de 60 produtores associados. Noventa por cento do leite é transformado em queijos, tipo manteiga e mussarela, e o restante em manteiga e iogurt, todos sob controle sanitário do serviço estadual de inspeção (SIE). Para o pequeno agricultor das comunidades mais pobres, o aproveitamento dessa estrutura para o beneficiamento do leite de cabra deve ser , também, uma alternativa a ser analisada. 3.1.7. MANDIOCA

O cultivo e beneficiamento da mandioca é, para algumas comunidades do território (sobretudo aquelas das serras), uma atividade que exige um plano específico visando a elevação de sua eficiência biológica e econômica. Santa Filomena é o mais importante município produtor do território, mas a atividade é importante também em Betânia, Curral Novo e Queimada Nova. A busca de produtos alternativos, de melhor qualidade e de maior valor agregado, deve balizar esses esforços. A atividade não deve mais se concentrar nos produtos tradicionais, como a farinha e a goma. A atividade é estrategicamente vital para muitas comunidades do território. Comunidades como as da Serra do Inácio (Santa Filomena) onde existem cerca de 60 casas-de-farinha (300 toneladas de farinha/ano) e da Serra da Parreira (Acauã), que têm na farinha de mandioca o seu produto básico, vêem a sua segurança alimentar ameaçada pela redução significativa dos preços do produto (em 2003 o preço da tonelada era de 200 reais – em 2005 baixou para 70 reais). A estratégia é, portanto, diversificar os produtos ofertados e melhorar a qualidade dos produtos já ofertados. As alternativas, para o primeiro caso, seriam raspa e fécula e, até mesmo, chegar à produção de cambraias. A fécula, teoricamente a de maior relação custo/benefício, poderia ser viabilizada via parceria com uma unidade produtora já existente no município vizinho de Simões. Na Serra da Parreira já há um trabalho da Embrapa voltado para a produção de raspa. Naturalmente, essa diversificação exigiria, também, maior eficiência no processo de comercialização e distribuição. Na maioria das comunidades, sobretudo do lado piauiense, problemas estruturais é que complicam o quadro, sendo a falta de energia elétrica o mais crucial deles. No aspecto da produção, a introdução de variedades mais produtivas (a produtividade não passa de oito toneladas/hectare, contra mais de 20 das novas variedades disponibilizadas pela pesquisa) e a capacitação dos produtores em técnicas de cultivo e de processamento das novas alternativas, parecem ser as ações a serem priorizadas em curto prazo. 3.1.8. CANA-DE-AÇÚCAR O cultivo da cana-de-acúcar para produção artesanal de rapaduras é uma tradição da região, especialmente ao longo dos baixões, nos dois lados da Serra de Dois Irmãos, onde esta gramínea apresenta uma produção mais estável. Não há informações sobre o número de engenhos existentes, nem da quantidade de rapaduras comercializadas. Estima-se que existam mais de 100 pequenos “engenhos-de-rapadura” somente no lado pernambucano do território. A atividade é tida como de boa capacidade remuneratória, considerando-se o emprego da mão-de-familiar. Uma carga de 50 rapaduras (de 1,80 kg cada) é vendida normalmente por 100 reais. Atualmente, ocorre uma espécie de “terceirização” do processo de beneficiamento, com o equipamento de processamento migrando de propriedade em propriedade para fazer a moagem. A produção, retirada a porção para o auto-consumo, é toda vendida no mercado local e nas feiras de Petrolina e Juazeiro.

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3.1.9. HORTAS DOMÉSTICAS

As hortas domésticas têm sido objeto de um forte programa de estímulo na zona de Paulistana e Acauã, liderado pelo padre Otto Beckman. Mais de 500 hortas chegaram a ser instaladas, a partir de um programa de capacitação. Muitas ainda continuam, embora não se saiba, ao certo, o seu número. Com áreas geralmente inferiores a um hectare, nessas hortas são cultivadas comumente espécies folhosas (alfaces, coentro, cebolinha) e tomate que são vendidas nas feiras locais como orgânicas (mesmo sem certificação como tal). As mais bem sucedidas são aquelas irrigadas, tendo como fonte de água poços tipo cacimbão ou açudes. Pela experiência local, as hortas comunitárias não funcionaram bem, ao contrário daquelas familiares (individuais) e as localizadas em escolas rurais. Algumas visitadas, instaladas já após o início do projeto, apresentaram problemas e estão fora de operação. Os problemas são variados, englobando questões tanto de ordem técnica (água salina, como na comunidade Cainana, Afrânio), quer de ordem gerencial (desarticulação entre os componentes, dependência de água potável do sistema abastecedor da vila ao lado, como na comunidade de Cachoeira do Roberto, Afrânio). Os problemas observados são todos de solução possível, a julgar pelo fato de que muitas estarem funcionando razoavelmente. Um maior apoio técnico e gerencial a esses empreendimentos, por parte das instituições executoras, assegurará a sua consolidação como instrumentos essenciais na garantia da segurança alimentar do agricultor e como instrumentos complementares na composição da sua renda familiar. 3.1.10. MAMONA

A mamona não é um cultivo tradicional na região, embora não seja totalmente desconhecida por segmentos dos agricultores locais que eventualmente a cultivavam em pequena escala, até a década de 70. Com o novo programa governamental de produção do biodiesel montou-se um cenário de um “cultivo salvador da pátria” que contaminou também toda a região. Uma grande empresa (Ecodiesel) que implanta uma unidade industrial para processar o produto, no município piauiense de Pedro Laurentino, procura articular os produtores para um modelo integrado de produção. Por conta disso, o Emater-PI iniciou testes de campo com variedades de mamona adaptáveis à região. A expectativa é de que seu cultivo possa ser feito com relativo sucesso (produtividade mínima de 1.000 kg de bagas/hectare) em Betânia, Curral Novo, Acauã e Queimada Nova, do lado piauiense, e, em Afrânio e Dormentes, do lado pernambucano. Não há, aparentemente, um correspondente entusiasmo por parte dos pequenos agricultores do território para com essa nova alternativa. Informam “não gostar do produto”. Possivelmente esse comportamento tenha algo a ver com o temor da planta face ao seu caráter altamente tóxico para os seus rebanhos. Outro fator limitante ao futuro desse cultivo no território é que, no zoneamento elaborado pela Embrapa, nenhum dos onze municípios que formam o território foi classificado como detentor de aptidão (combinação de temperatura média do ar, altitude, pluviometria e tipo de solo) para seu cultivo, e, portanto, teoricamente todos eles estariam fora do sistema especial de crédito a ser montado pelo governo. Na realidade, dos 95 milhões de hectares de Semi-Árido, o zoneamento mostrou viabilidade agronômica para o cultivo da mamona em 446 municípios, totalizando pouco mais de quatro milhões de hectares. Apesar do suporte de um programa estratégico de governo, a viabilidade da mamona como cultivo alternativo para as comunidades de agricultores familiares do território pode ser considerada como ainda a definir. 3.1.11. OUTROS CULTIVOS

Naturalmente existem outros cultivos adaptáveis e adaptados ao território que podem eventualmente compor, em maior ou em menor escala, o sistema diversificado que deve prevalecer na unidade produtiva local. Um bom exemplo de um deles é o sorgo granífero, cultivo perfeitamente adaptado às condições edafo-climáticas da região e substituto potencial do milho. Sua área de cultivo vem aumentando gradativamente no território em função de sua alta tolerância à seca, sua utilização como forragem para o gado no período seco, como ração para as galinhas caipiras e, mais recentemente, como cultivo de renda, em face do crescimento da demanda como matéria-prima para o fabrico de rações para a avicultura industrial. Não há, infelizmente, dados disponíveis sobre a área desse cultivo na região. Outras opções a serem citadas nesse contexto, analisadas as condições de cada unidade produtiva, incluem: o feijão-de-corda (caupi), o feijão guandu e fruteiras diversas (banana, manga, pinha, etc.), na forma de pequenos pomares. 3.1.12. EXTRATIVISMO RACIONAL

O aproveitamento racional de frutas nativas da caatinga é uma linha de estudos que vem sendo desenvolvida pela Embrapa Semi-Árido, tendo como espécies principais o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) e o maracujá-do-mato (Passiflora cincinnata Mast). Ambas são frutas de alta adaptação ao ambiente semi-árido, produzindo mesmo nos anos de estiagem prolongada. Apresentam valor alimentar e de sabor único, com enorme

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potencial de ganhar os mercados urbanos mais sofisticados. Os trabalhos com o maracujá-do-mato, embora bastante promissores, estão ainda em fase de conclusão Com o umbu, os trabalhos envolvem métodos de beneficiamento (sucos, doces, geléias, pickles) e desenvolvimento de um sistema de cultivo sistemático.

Na linha de extrativismo o esforço já começa a dar resultados para diversas comunidades rurais de vários municípios. Em Canudos, Bahia, comunidades de agricultores familiares comercializaram, no ano passado, mais de 30 toneladas da fruta, transformada em sucos e geléias (cada planta produz de 60 a 300 kg da fruta). A iniciativa, apoiada pelo Instituto Regional da Pequena Agricultura Apropriada (IRPAA) possibilitou a venda do produto por valor bem maior, face ao valor que lhe foi agregado pelo beneficiamento. Na área do território de Acauã, a ocorrência de ambas as espécies é bastante freqüente, sobretudo em determinadas zonas, podendo constituir valioso complemento de renda para as unidades agrícolas de base familiar (um estudo para identificação das áreas de maior densidade se faz necessário). Esse valioso recurso, contudo, é quase que totalmente desperdiçado (usado apenas para auto-consumo e como alimento para os animais).

O mesmo ocorre com o maracujá-do-mato (na serra, em Santa Filomena, grandes quantidades apodrecem por falta de uso). Iniciativa similar a de Canudos se observa já no Piauí, na vizinha região de São Raimundo Nonato (localidade de Sítio do Mocó, município de Coronel José Dias), onde pequenos agricultores foram treinados e estão obtendo uma nova fonte de renda com a transformação caseira do umbu e outras frutas nativas em doces, polpas e geléias. O mesmo, na comunidade de Sombrio (Afrânio), onde o Caatinga já capacitou as famílias, levou-as a conhecer a experiência de Canudos e, agora, estas famílias já estão produzindo e comercializando os produtos derivados do umbu

Nos municípios de Patos do Piauí e Jacobina do Piauí existem expressivas áreas cobertas de carnaubais nativos, explorados estacionalmente para extração do pó da folha (comunidades pobres constituem a mão-de-obra barata para este trabalho) que é comercializado para transformação industrial em cera de carnaúba. As ceras vegetais constituem o segundo produto da pauta de exportação do Piauí. É possível, principalmente através da organização, uma maior participação dessas comunidades nos benefícios gerados por essa cadeia produtiva. 3.1.13. ARTESANATO

É uma atividade, que pela sua diversificação, deve apresentar algum potencial na região e que precisa ser rapidamente identificado e dimensionado de uma maneira sistemática. Artesanato de chapéus, esteiras, bolsas, etc. com palha de milho, como em Pedra Branca e em Pajeú (Dormentes), ou com palha de carnaúba, como na comunidade Fortaleza (Patos do Piauí) são alguns dos produtos trabalhados sob as condições mais precárias possíveis. Comunidades quilombolas fabricam panelas, potes, jarros e outros utensílios em argila. Existem ainda pontos esparsos de artesanato em peles, madeira e tecidos (rendas e bordados). A atividade, no Piauí, emprega diretamente cerca de 60 mil artesãos e indiretamente mais 300 mil, em várias regiões do estado, movimentando quase 3% do PIB estadual. Os municípios piauienses do território podem também se incorporar a esse contexto. Do lado pernambucano, a situação é praticamente a mesma. Falta um trabalho inicial de identificação, cadastramento, capacitação (implantação de oficinas) e promoção dos produtos em feiras e eventos. 3.1.14. OUTRAS ATIVIDADES NÃO AGRÍCOLAS

A área rural do território oferece potencial para uma série de outras alternativas de geração de ocupação e renda, mas tais alternativas necessitam, antes, serem devidamente identificadas, estudadas e dimensionadas. Em umas delas já há manifestação desse potencial, apesar do seu estágio de incipiência. Um exemplo disso é o turismo rural que está sendo promovido no antigo povoado de Caboclo (Afrânio), com o seu casario antigo, igreja, museu, culinária (bode e doce de leite) e fazendas típicas.

As belezas naturais, também, não são poucas, em função principalmente da Serra de Dois Irmãos, com altitudes que chegam a 800 metros, que atravessa todo o espaço territorial, dividindo o Piauí de Pernambuco. Formações rochosas de interesse turístico estão à espera de maiores estudos. Há até informações sobre pinturas rupestres no município de Patos do Piauí (Morro do Sitiozinho) e sobre formações rochosas, nascentes e lagos em Queimada Nova (Sumidouro), que precisam ser comprovadas.

No que tange a produtos de origem mineral, não há muito informação de ocorrências na área, a não ser, uma grande jazida de vermiculita (a maior do país), já em exploração pelo complexo industrial da Eucatex, e outras jazidas menores, de amianto e de granito ornamental, em Queimada Nova, Acauã e Paulistana. A comunidade de Sumidouro, em Queimada Nova, já faz alguma exploração de sua jazida de pedras ornamentais, bem como, a de Tapuio, no mesmo município, explora a fabricação de tijolos (olaria). Outras indicações se referem a fontes de água mineral (já em comercialização) em Jacobina e Patos do Piauí e, mais vagamente, de turmalina verde, nas nascentes do rio Canindé, na divisa de Acauã com Pernambuco. É necessário que tudo isso seja levantado e devidamente sistematizado, inclusive avaliado se e como os benefícios da exploração de cada uma dessas alternativas poderiam ser, também, apropriados pelas comunidades de agricultores familiares.

Novas atividades vêm sendo estimuladas com programas de capacitação no âmbito do projeto, especialmente nas comunidades quilombolas, que, no conjunto, podem contribuir para uma melhoria na renda

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familiar. Entre elas podem ser destacadas a produção de sabonetes (de aroeira), vendidos regularmente para Teresina, e produtos de limpeza diversos. 3.2. AS LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES GERADORAS DE OCUPAÇÃO E RENDA

Pode-se afirmar que os fatores responsáveis pelos baixos níveis de produtividade observados nos sistemas produtivos das comunidades trabalhadas no projeto são os mesmas que afligem todas as demais comunidades das áreas mais secas da região semi-árida. Essa condição é decorrência, principalmente, da conjunção de fatores naturais, como a irregularidade pluviométrica e a baixa fertilidade dos solos, fatores tecnológicos, como o manejo rudimentar aplicado aos sistemas de cultivo e de criação, e fatores político-institucionais, como a ainda precária condição de acesso ao crédito e a assistência técnica, não raros, completamente ausentes em muitos de seus espaços. De tudo isso resulta um elevado nível de perdas em suas explorações, condicionando uma limitada e irregular oferta de produtos de baixa qualidade (quando ocorre), adquirida pelo mercado a preços subvalorizados, responsável maior pelo baixo padrão de vida que caracteriza o produtor familiar da região.

Afora as limitantes acima mencionadas a atividade é ainda negativamente afetada pelo baixo nível de capacitação gerencial do produtor e pelo seu débil ou nenhum nível de organização, que o impede de alcançar uma maior inserção no mercado. A extrema debilidade ou completa ausência na região de atores organizados nos segmentos transformador e distribuidor desses arranjos produtivos desestimula ou limita os esforços de melhoria dos produtos regionais e impede a plena ocupação dos seus espaços de valorização e competitividade junto aos mercados local e regional.

Apesar dos esforços recentes na busca de melhor eficiência para as políticas públicas de apoio ao segmento, elas são ainda dispersas e superficiais, além de excessivamente setorizadas dentro de cada atividade, pelo que, em termos de resultados práticos, não propiciaram ainda impacto visível junto às comunidades rurais das áreas mais secas.

A análise individual de cada uma dessas limitantes pode ser assim sintetizada :

3.2.1. DEBILIDADE ORGANIZATIVA

Apesar da existência nominal de associações em cada uma das comunidades, seu funcionamento como tal ainda é muito precário, com a maioria de suas ações não revertendo, na prática, em efetiva melhoria das condições da comunidade como um todo. As atividades agrícolas de cada família são conduzidas de um modo individualizado. O agricultor compra sementes, planta, colhe, beneficia (quando é o caso) e vende sozinho. Como afirma Tonneau (2005): “ele é extremamente dependente das informações, das idéias e dos projetos externos, isto é, dos outros para ele”. Esses laços de dependência com o poder público (especialmente com o municipal), traduzidos em puro assistencialismo, desestimulam e inibem qualquer iniciativa comunitária (“dela para os outros”) que busque o atendimento das suas verdadeiras necessidades. 3.2.2. BAIXA EFICIÊNCIA BIOLÓGICA DOS SISTEMAS PRODUTIVOS

Os sistemas produtivos tradicionalmente explorados pelas comunidades se caracterizam por uma baixíssima eficiência biológica. As produções médias obtidas para o milho (abaixo de 700 kg/hectare) e para o feijão (abaixo de 300 kg/hectare) estão entre as mais baixas observadas na região semi-árida, confirmando a inadequação destes cultivos para a realidade local. A produtividade da mandioca não passa das oito toneladas de raízes/hectare. Mesmo no caso de opções mais adequadas, como a criação de ovinos e caprinos, os índices deixam muito a desejar. Taxas de mortalidade de crias acima dos 15% anuais e idades médias ao abate superiores aos 15 meses são índices que precisam e podem ser facilmente melhorados.

As ações voltadas para o aumento da eficiência produtiva dos principais sistemas de cultivo e de criação devem abranger o aproveitamento do acervo de tecnologias e conhecimentos já disponibilizado pelo sistema Embrapa para todas essas alternativas (ovinos, caprinos, apicultura, caju, mandioca, galinha caipira, sorgo, etc.), em sistemas diversificados e caracterizados pela aplicação conjunta das práticas agroecológicas de conservação e manejo dos recursos. 3.2.3. ESTRUTURA DE APOIO TÉCNICO E CREDITÍCIO DEFICIENTE

O atendimento à demanda por assistência técnica e extensão rural na área do projeto é claramente insuficiente, tanto do ponto de vista quantitativo, quanto do ponto de vista qualitativo, A situação é mais grave do lado pernambucano, onde a extensão rural pública praticamente inexiste. No Piauí, o Emater, apesar da dedicação e boa vontade da equipe, não consegue atender nem a questão crédito. São apenas seis técnicos e apenas um

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veículo em condições de operação e uma moto, para atender os oito municípios. Conseguir uma simples visita do técnico para atestar a correta aplicação da primeira parcela do financiamento do PRONAF, permitindo a liberação da segunda pelo banco, não tem sido uma tarefa muito fácil para o agricultor da região. Do lado pernambucano a situação é minorada pela ação do Caatinga, bem estruturada em termos de equipe técnica (12 técnicos, com quatro veículos e oito motos), embora a sua ação maior se dê em áreas fora do território. O NEPS, por sua vez, não tem estrutura nem capilaridade para conduzir diretamente um trabalho mais técnico em áreas maiores, podendo ser muito útil, contudo, no apoio à mobilização das comunidades, na região de Dormentes. 3.2.4. BAIXO NÍVEL DE CAPACITAÇÃO GERENCIAL DO AGRICULTOR

As comunidades trabalhadas diretamente no projeto estão voltadas prioritariamente para a questão de segurança alimentar, de auto-suficiência na produção dos recursos necessários à subsistência da família. Apesar de terem desenvolvido uma cultura de adaptação ao ambiente natural desfavorável, a situação mostrada nos diagnósticos indica que isto foi absolutamente insuficiente. Mesmo nos eventuais excedentes de produção, não passam de meros fornecedores de matéria-prima bruta. Falta-lhes uma maior compreensão sobre a gestão da sua unidade produtiva, de como distribuir, no tempo e no espaço, com mais eficiência, os seus parcos recursos, de modo a, pelo menos, conseguir reproduzi-los a cada ano. A garantia da subsistência é alcançada trilhando o mesmo caminho da busca de inserção no mercado. É fundamental, portanto, que os agricultores detenham uma visão mais objetiva do contexto econômico em que vivem e das estratégias de valorização dos seus produtos capazes de lhe propiciar uma base segura na busca de sua maior inserção no mercado. 3.2.5. DEFICIENTE INFRAESTRUTURA DE APOIO As comunidades contempladas no projeto apresentam um quadro de extrema fragilidade em termos de infra-estrutura complementar de apoio. Faltam-lhes principalmente recursos hídricos (até água potável), meios de transporte, energia elétrica, meios de transporte e telefonia, sem falar na baixa qualidade e, em muitos casos até completa ausência, dos serviços básicos de educação e saúde.

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4. UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA O TERRITÓRIO 4.1. BASES E ESTRATÉGIAS PARA UMA PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO

Qualquer programa de desenvolvimento para a área compreendida pelos onze municípios contemplados pelo UTF BRA/064/BRA, deve objetivar a reversão do processo de deterioração da infra-estrutura social que atinge as suas populações rurais, oferecendo uma alternativa à proposta de crescimento econômico regional, dando-lhe um maior ordenamento e equilíbrio; viabilizando uma proposta que rompa a marginalização das áreas mais desfavorecidas; minimizando o problema de exclusão social e constituindo-se em instrumento de reafirmação da identidade local.

Na busca de algumas estratégias norteadoras de ações futuras para o território é necessário considerar que, genericamente, toda estratégia de projeto de desenvolvimento territorial, visando o fortalecimento ou a transformação das comunidades agrícolas de base familiar, ocorre, segundo Turnês & Búrigo (1999) em um ou mais dos seguintes sentidos:

. Diversificação para novas atividades agrícolas;

. Mudança da base produtiva para atividades não agrícolas situadas no meio rural;

. Prestação de serviços voltados ao meio rural;

. Beneficiamento ou transformação de produtos agrícolas;

. Modernização das atividades agrícolas atuais. Considerando a realidade do território em foco, as duas últimas direções parecem ser as mais indicadas,

embora, para alguns espaços, uma ou outra, entre as demais, possa vir a se associar ou, até mesmo, a se mostrar como mais indicada. Todas essas ações recomendam Muchnik & Sautier (1998), deverão ser direcionadas para estabelecer um dispositivo capaz de não apenas exteriorizar os recursos específicos internos do território (produtos, conhecimento técnico local, rede de atores, instituições), mas, também, de expressar sua capacidade de recombiná-los e de associá-los aos recursos externos necessários. Elas devem ter como referência balizadora a conservação da biodiversidade, procurando conciliar a intensidade de cada uma das atividades com as restrições ambientais necessárias a neutralizar a erosão dessa diversidade.

Nesse contexto algumas estratégias devem ser consideradas:

4.1.2. PLURIATIVIDADE • O desenvolvimento local e integrado e sustentável demanda a formação de uma cadeia de iniciativas e

empreendimentos que, sem intervir na racionalidade própria do mercado, se complementem, maximizando as potencialidades de produção, comércio, serviços e consumos locais. O aumento da oferta de postos agrícolas e não-agrícolas (e, consequentemente, a segurança alimentar das comunidades) em um programa de desenvolvimento territorial está, portanto, diretamente vinculado ao fortalecimento da natureza pluriativa de sua economia e da eficiente exploração do potencial de sinergias entre os setores primário, secundário e terciário da economia, por mais incipiente que seja o seu estágio. No território de Acauã esses setores são ainda extremamente débeis, embora bastante diversificados. Observa-se, no território, uma multiplicidade de atividades rurais tradicionais, principalmente nas formas de produção vegetal (milho, feijão, mandioca, etc.), de produção animal (ovinos, caprinos, abelhas, bovinos, aves domésticas, etc.) e de atividades não-agrícolas (extrativismo de mel e de lenha/carvão, artesanato em barro, pedras ornamentais, olaria, venda de mão-de-obra, etc.). A esses produtos poderiam se somar outros ainda potenciais, a serem melhor identificados dentre as tipicidades locais e o extenso patrimônio (natural, social e cultural) específico do território. O que a proposta de desenvolvimento deve privilegiar, é a busca de formas de maximização da eficiência desses sistemas que impliquem, simultaneamente, maior interação entre os subsistemas dentro da unidade produtiva e desta com as demais atividades agrícolas e não-agrícolas externas;

• O fortalecimento das interações da unidade produtiva diversificada com as demais atividades agrícolas e não-agrícolas fora da unidade é uma estratégia que deve permear todas as ações acima mencionadas. A estratégia deve contemplar as trocas e as complementaridades dos sistemas de produção diversificados com as demais atividades (agroindústrias, ecoturismo, mineração e quaisquer outras formas de produção de bens e serviços não-agrícolas). A compatibilização dos projetos de desenvolvimento de cada uma dessas atividades em um único projeto e a mobilização institucional para sua implementação é que constitui o principal desafio;

• Um aspecto importante, também a ser considerado, é a distribuição eqüitativa do esforço de desenvolvimento. Recomenda-se uma estratégia de articulações intermunicipais que inclua a participação dos municípios de maior força de gravidade (Afrânio e Paulistana, no caso), de modo a que os municípios menores e de menor

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potencial, possam, na medida do possível, contrabalançar a sua força de gravidade. Os municípios que compõem o território apresentam fortes vínculos sócio-econômicos e culturais e esses vínculos é que necessitam ser trabalhados de forma a dar o necessário equilíbrio ao esforço comum de desenvolvimento.

4.1.3. BUSCA DE INSERÇÃO NO MERCADO • A busca da geração de emprego e renda através da dinamização da economia da região deve procurar

conciliar as tradicionais e pseudo-conflitivas abordagens do agronegócio e da agricultura familiar, associando o desenvolvimento agropecuário a opções não-agrícolas (onde as couber), explorando as inúmeras vantagens de suas complementaridades. Teoricamente o fortalecimento do agronegócio de qualquer produto implica a necessidade de especialização. Por outro lado, o fortalecimento dos sistemas produtivos de base familiar implica o oposto, a diversificação. As duas estratégias não são antagônicas e a própria realidade de algumas regiões do Semi-Árido mostra isto perfeitamente. As atividades agropecuárias já são diversificadas, dentro da propriedade, existindo naturalmente, entre elas, uma ou duas que se destacam pela sua maior inserção no mercado. É perfeitamente possível o desenvolvimento de sistemas diversificados de base familiar, oferecendo ao mercado, pelo menos um dos produtos com as qualificações mercadológicas de ordem sanitária, sensorial e de uso exigidas pelo consumidor. Seria um agronegócio diferente do convencional, na medida em que elegeria como premissas básicas a preservação do ecossistema e a equidade social, refletida numa distribuição mais justa distribuição entre os diversos atores da cadeia dos benefícios gerados;

• Apoiar um processo de desenvolvimento territorial, balizado apenas nos objetivos de segurança alimentar é, sem dúvida um desafio para o MDS. O desenvolvimento territorial de áreas extremamente pobres, como o território de Acauã, implica a necessidade não apenas de ações emergenciais (segurança alimentar), mas, também, de ações estruturantes (inserção no mercado), de curto, médio e longo prazos, sem as quais as emergenciais tenderiam a perder o seu caráter temporário, descambando facilmente para um estado de assistencialismo e permanente dependência. Considerando-se as três condições típicas em que pode se situar o agricultor familiar do Semi-Árido mostradas na tabela 10, a condição mínima de segurança alimentar (que corresponde ao agricultor de subsistência) constitui uma etapa na busca da inserção no mercado. Os caminhos a serem trilhados pelo agricultor de sobrevivência para alcançar a condição de subsistência são os mesmos que o levarão a condição de inserido no mercado. Em outras palavras, somente a inserção no mercado (mesmo que em nível limitado) pode garantir a segurança alimentar. Assim, deve-se buscar uma seqüência lógica de ações (emergenciais e estruturantes) que assegure ao agricultor de sobrevivência as condições para alcançar o estágio de subsistência e ao agricultor de subsistência, através de ações estruturantes, as condições para alcançar o estágio de inserido no mercado. O público-alvo do projeto, portanto, corresponderia a duas tipologias, facilmente identificáveis nas comunidades.

Em suma, um projeto de segurança alimentar para o território deve necessariamente ser direcionado para o

desenvolvimento e o fortalecimento dos sistemas produtivos diversificados da região, em seus diferentes segmentos, através da modernização do seu padrão tecnológico e da valorização dos produtos locais, na busca de estabelecer novas relações com o mercado. A melhoria do nível tecnológico desses sistemas deve ser simultaneamente acompanhada da adoção de técnicas gerenciais e organizativas que permitam ao produtor reduzir seus custos unitários e elevar o valor de venda de seus produtos. Capacitação e organização são as palavras-chave para atingir este objetivo. 4.2. AS AÇÕES NECESSÁRIAS AO DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO

As ações a serem desenvolvidas devem objetivar o desenvolvimento da competitividade do território, através da valorização dos potenciais disponíveis e da modernização da gestão das unidades de produção, o incremento sustentável da capacidade empreendedora dos agentes econômicos locais, com ampliação da base geradora de oportunidades de emprego e de renda, e, fundamental, a aquisição e aperfeiçoamento de novas competências dos recursos humanos disponíveis, ampliando a capacidade de aproveitamento das oportunidades em mercado de produtos e serviços não tradicionais.

Com base no quadro geral identificado para o território, as grandes linhas de ação, independentemente das alternativas econômicas priorizadas, devem contemplar a organização profissional e social do produtor, a mudança do padrão tecnológico, a valorização e a melhoria da comercialização dos produtos do território e o fortalecimento da infra-estrutura complementar de apoio.

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TABELA 10. CONDIÇÕES TÍPICAS DO AGRICULTOR FAMILIAR DO SEMI-ÁRIDO AGRICULTOR DE SOBREVIVÊNCIA

AGRICULTOR DE SUBSISTÊNCIA

AGRICULTOR DE MERCADO

. Propriedade constitui apenas o substrato onde vive – aluga sua mão-de-obra a terceiros . Atividade agrícola mínima . Produção insuficiente para atender as necessidades mínimas da família . Dissociado do mercado – não compra nem vende . Não consegue reproduzir os meios de produção

. Propriedade é normalmente auto- suficiente, exceto em anos de estiagem prolongada . Atividade agrícola mais diversificada . Produção suficiente para as necessidades da família . Excedentes eventuais para o mercado . Consegue reproduzir os meios de produção

. Propriedade menos vulnerável a estiagem prolongada . Atividade agrícola diversificada, com uma ou outra cultura “cash” . Produção consistentemente superior às necessidades da família . Excedentes regulares para o mercado . Consegue reproduzir e acumular os meios de produção

4.2.1. ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL E SOCIAL DO PRODUTOR

Somente organizados, os produtores de base familiar serão capazes de buscar uma redução gradual da dependência externa de suas unidades produtivas, através da criação de seus próprios serviços de apoio, da compra conjunta de insumos, da comercialização conjunta de seus produtos, de investimentos e uso conjunto de bens, do beneficiamento e incorporação de valor agregado à produção, criando, inclusive, condições para viabilizar a economia de escala e propiciar um maior poder de barganha, todos eles necessários à uma maior competitividade no mercado. As ações essenciais para que os objetivos propostos nas ações subseqüentes sejam alcançados abrangem:

• Avaliação e ajustes nas formas associativas existentes e, caso necessário, a introdução de novas formas de organização;

• Estabelecimento de estímulos à criação de novas associações e ao fortalecimento das já existentes; • Intercâmbio com associações, cooperativas e outras formas associativas já consolidadas, de outras

regiões; • Fortalecimento e consolidação do Fórum como instrumento principal de agregação e de articulação entre

as diversas associações. 4.2.2. MUDANÇA DO PADRÃO TECNOLÓGICO

A mudança do padrão tecnológico dos sistemas produtivos atualmente em uso pelas comunidades visa assegurar-lhes uma maior eficiência biológica e econômica, através da elevação dos índices de produtividade (kg/hectare/ano, kg/cabeça/ano) e de redução de custos unitários de produção (R$/kg), sem, contudo, perder a sua característica de sistema diversificado. A redução de tais índices, associada à melhoria da qualidade dos produtos, proporcionará às comunidades a competitividade necessária para pavimentar a sua caminhada na busca da plena inclusão social. A sinergia proporcionada pela interação entre os distintos subsistemas dentro da unidade produtiva em na verdade, o instrumento viabilizador de todo esse processo.

As principais ações demandadas para conduzir esta mudança incluem:

• Estruturação e operacionalização de uma rede de apoio técnico local;

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• Ações de transferência e validação de tecnologias; • Ações de fomento à produção • Ação da pesquisa em apoio ao processo de melhoria da qualidade dos produtos convencionais e no

desenvolvimento de novos produtos para o mercado

O modelo de ADR (agente de desenvolvimento rural) que aproveita e qualifica multiplicadores das próprias comunidades, apoiados por uma equipe regional de especialistas da extensão pública, constitue a melhor estratégia de resolver ou minimizar o problema da ineficácia e da ausência do apoio técnico público, observado nos municípios que integram o projeto territorial, especialmente em Pernambuco. É uma experiência, conduzida pela Embrapa no âmbito do projeto, que tem apresentado resultados animadores e que precisa de apoio para sua consolidação. Somente com a sua consolidação, e extensão para os restantes dos municípios piauienses integrantes do território, será possível a efetivação das ações de transferência.

As ações de transferência abrangem as atividades de difusão propriamente dita (transferência massal das inovações), incluindo a capacitação tecnológica do produtor e as atividades de validação e ajustes de tecnologias através dos campos de aprendizagem tecnológica (CATs) ou unidades de testes e demonstração (UTDs), como são chamadas essas unidades, respectivamente, pela Embrapa e pelo Emater-PI. As principais limitantes de ordem técnica precisam ser sistematicamente identificadas e priorizadas para cada atividade econômica explorada, embora, algumas delas já sejam bastante conhecidas.

É o caso da escassez de alimentos para os rebanhos durante os períodos secos, impondo a necessidade de um programa agressivo voltado para instalação de unidades demonstrativas e de capacitação dos produtores em conservação de forragens (ensilagem, fenação, amonização, diferimento de pastos, cultivo de palma-forrageira, etc.). No caso da mandioca, faz-se urgente a introdução de variedades mais produtivas e a capacitação do agricultor na produção de farinha e goma de melhor qualidade e, inclusive, no processamento de novos produtos da mandioca para o mercado. Para as atividades mais novas, como a apicultura, a cajucultura e a piscicultura o mais importante é zonear as áreas mais indicadas para essas atividades, selecionando as comunidades e os agricultores a serem contemplados nos programas de capacitação e de fomento. Algumas dessas ações já estão sendo trabalhadas pelas instituições executoras.

O fortalecimento das ações públicas de fomento às atividade agropecuárias, disponibilizando efetivamente a tecnologia para o produtor (sementes, mudas, reprodutores, casas-de-mel, casas-de-farinha, tanques-rede, mini-abatedouros, crédito, etc.) complementa as condições indispensáveis para a concretização da mudança tecnológica pretendida. A disponibilização compreende diversas formas, incluindo desde a simples doação de um bem a uma comunidade ou associação, até o seu financiamento via programas normais de crédito, passando pela prestação direta de serviços (aluguel de tratores, revenda de sementes, empréstimo de reprodutores ovinos em comodato) ou política de estímulos para prestação desses serviços localmente pela iniciativa privada. 4.2.3. VALORIZAÇÃO E MELHORIA DA COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DO TERRITÓRIO

No aspecto mais diretamente ligado ao mercado, as ações devem buscar a plena ocupação dos espaços de valorização e competitividade dos produtos da agricultura familiar junto aos mercados regional e nacional, a integração eqüitativa entre os diversos atores dos arranjos produtivos e o maior acesso às políticas públicas de apoio ao segmento. O fortalecimento das atividades produtivas do território, através de um melhor conhecimento e valorização dos seus produtos (inclusive os não agrícolas), identificando potenciais oportunidades de negócio e buscando sua maior inserção no mercado, deve ser a palavra de ordem nessa etapa do projeto. Em outras palavras transformar as “unidades de sobrevivência” em “unidades de subsistência”, habilitando-as a, subsequentemente e por própria conta, alcançarem a condição de “unidade de mercado”. Somente essa inserção será capaz de proporcionar a geração de renda e de ocupação suficientes para promover a inclusão social das comunidades.

Produtos diferenciados, a partir da incorporação de uma identidade geográfica, incluídos fatores naturais (solo, clima) e humanos (tradição, cultura), podem constituir uma alternativa de mercado de grande potencial no território. É o que fazem extensas regiões da França, Espanha, Itália, Portugal e de outros países europeus com seus produtos da pequena agricultura. Para o território, a idéia seria a produção do “borrego de Acauã”, do “mel de marmeleiro de Jacobina” ou o “queijo da Serra de Dois Irmãos”, trabalhando inicialmente com não mais de dois ou três produtos. A certificação de indicação geográfica, concedida pelo INPI, poderia ser o instrumento básico para o reconhecimento e proteção desses produtos, devendo ser a estratégia buscada. Até agora só dois produtos receberem esta certificação: o vinho do Vale dos Vinhedos (RS) e, mais recentemente, o café do cerrado mineiro. A apropriação de fatores naturais e culturais de diferenciação de produtos assegura a agregação de valor aos mesmos, estimulando os produtores a manter e aprimorar os padrões de qualidade e contribuindo para a preservação de sua identidade cultural.

A certificação orgânica é outra alternativa para alguns produtos do território que deve ser incluída na discussão. Os produtos orgânicos no Brasil estão crescendo ao ritmo de 50% ao ano, movimentando valor estimado em 300 milhões de reais (Agrorgânica, 2005). As condições para produção de orgânicos no território são as mais

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favoráveis possíveis. O produtor organizado de São Raimundo Nonato já está discutindo a certificação do seu “mel orgânico”. Do mesmo modo que a certificação de indicação geográfica, a região poderia ter o seu “cabrito orgânico de Acauã”. Depreende-se, do exposto, que a organização do produtor é pré-requisito elementar para viabilizar qualquer uma dessas estratégias, por sinal, não excludentes entre si.

Em termos de ações a serem seguidas, dentro desta visão de apoio à valorização e à comercialização dos produtos da agricultura familiar do território, as principais seriam:

• Definição dos projetos técnico-mercadológicos mais adequados às condições locais de cada comunidade ou do território como um todo, tendo como enfoque a oferta de produtos associados a uma identidade territorial, orgânicos, etc.;

• Capacitação gerencial e tecnológica do produtor voltada para os processos produtivo e “pós-porteira” dos produtos selecionados;

• Estabelecimento de parcerias visando uma maior eficiência nos processos de compra, produção, transformação e venda dos produtos, envolvendo o agricultor familiar organizado com os segmentos localizados à montante e à jusante do processo produtivo.

A definição e a concepção técnica de projetos mercadológicos que agreguem valor aos produtos locais, são os passos iniciais e decisivos que abrangem toda uma estratégia de ações que vão desde a escolha da espécie, variedade, cultivar ou raça, até o produto final que se quer na mesa da dona-de-casa. A definição dos projetos deve ser subsidiada, sempre que possível, por estudos prévios de mercado, incluindo o conhecimento dos circuitos atuais de comercialização (com informações sobre volumes, épocas, qualidade, destinos, preços e formas de pagamento, competidores e outros aspectos relacionados aos produtos) e dos espaços de competitividade dos produtos. Naturalmente, considerando a situação atual das comunidades, tais estudos se tornam de difícil execução em curto prazo.

A capacitação gerencial do produtor é atributo indispensável para sua caminhada segura em busca da inclusão social, devendo ser iniciada com a implementação de instrumentos de gestão da unidade produtiva, como os registros técnicos e contábeis da produção mais simplificados. É preciso que lhes seja dada uma visão mínima do contexto de mercado em que vive e da necessidade que lhe será imposta de cumprimento dos requisitos básicos para a sua inserção e manutenção no mesmo: qualidade do produto, preço competitivo e regularidade na oferta. Um típico exemplo da falta dessa visão é o fato de o território ser um grande fornecedor de esterco para a fruticultura do polo Juazeiro-Petrolina (a fruticultura irrigada é altamente dependente do esterco caprino e ovino para manutenção de sua produtividade), sem nada auferir com isso. Intermediários “limpam” os chiqueiros das pequenas propriedades, sem que o agricultor receba qualquer pagamento. A estimativa é de que mais de seis mil toneladas do produto saiam dessa maneira do território. O produto seria fundamental também para a manutenção de um mínimo de fertilidade nas terras pobres do próprio agricultor.

O fortalecimento das relações de parcerias dos produtores com seus fornecedores de insumos e com os compradores, processadores e distribuidores dos seus produtos é a estratégia mais recomendável para a consolidação de um processo de aumento de eficiência de produção, de melhoria da qualidade do produto e de uma distribuição mais eqüitativa dos benefícios gerados entre os diversos atores ao longo do arranjo.

As formas de por em prática essa estratégia são diversas. O uso da agroindústria como indutora da mudança do padrão tecnológico é perfeitamente possível para um bom número de produtos da agricultura familiar, apesar da debilidade geral de alguns segmentos no território. Os segmentos transformadores e distribuidores mais modernos tecnologicamente e mais fortes economicamente, poderiam constituir a base inicial do exercício dessa estratégia. O passo inicial mais importante seria buscar parcerias e associações com os empreendimentos agro-industriais já consolidados nos mercados e que se localizam no território e nos municípios vizinhos ao território. As alternativas são muitas, principalmente para os produtos apícolas. A associação com a SAMEL (Picos) ou com a AAPI (Simplício Mendes) poderia proporcionar não apenas um mercado inicial seguro para seus produtos, mas, também, apoio na forma de fornecimento privilegiado de insumos e assistência técnica. O mesmo tipo de parceria poderia ser feita com empresas processadoras de castanha da região de Jaicós, com relação ao caju e com fábrica de fécula de mandioca localizada em Simões. Para as peles e esterco ovino e caprino, parcerias para venda direta aos curtumes e às empresas frutícolas, respectivamente, de Petrolina e Juazeiro. Para o leite bovino, associação com a Cooperativa Agrícola Mista de Afrânio (CAMAL) para produção de queijos e outros derivados.

Outra forma seriam as parcerias com compradores institucionais. Nesse contexto, a participação com as prefeituras municipais podem ser também extremamente importantes, já que a merenda escolar pode se tornar o instrumento de garantia de comercialização dos produtos e de indução da melhoria do nível tecnológico da atividade, sem mencionar as vantagens da permanência dos recursos financeiros na própria região. Do mesmo

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modo, os programas federais e estaduais de suplementação alimentar das populações carentes (como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, operado pela CONAB), bem como as aquisições governamentais institucionais (hospitais, creches, presídios, etc.) podem se constituir em importantes espaços de comercialização para os produtos da agricultura familiar, dentro de um processo inicial de “alavancagem” de vendas. O importante é que esta estratégia não converta os produtos do território excessivamente dependentes destes “espaços”, pelo que é importante, a busca simultânea de parcerias com supermercados, restaurantes, casas especializadas e outras empresas privadas ligadas ao agroindústria a ao agrocomércio.

Outras práticas visando fortalecer o processo de comercialização do agricultor familiar devem ser implementadas, inclusive com a participação inicial da pesquisa e da extensão. Ensaios experimentais com novas formas associativas de compras, produção, transformação e vendas devem ser também objeto de CATs e UTDs. Um bom exemplo dessa linha é representado pelo Empório Kaeteh, de venda direta de produtos da comunidades, implantado pelo Caatinga, reportado anteriormente.

Como complemento, deve ser implementado um serviço que garanta o acesso permanente dos produtores às informações atualizadas de mercado (movimentação e preços dos produtos e insumos relacionados à cada produto) o que poderia acelerar e dar maior segurança ao processo de negociação. 4.2.4. FORTALECIMENTO DA INFRA-ESTRUTURA COMPLEMENTAR DE APOIO

O fortalecimento da infra-estrutura de apoio demanda um esforço na captação de recursos externos para pontos que são essenciais na logística do processo de produção e comercialização dos produtos, agrícolas e não agrícolas. O primeiro deles é sem dúvida, assegurar o acesso das populações rurais ao alimento número um: a água. Os diagnósticos apontaram a existência desse problema crucial em todas as comunidades. Nada é mais social do que o acesso permanente à água potável. É o primeiro requisito de segurança alimentar de qualquer cidadão. Para as comunidades, a disponibilidade da água, também, para a planta e para o animal, é uma exigência para a sua própria sobrevivência. O fórum sabiamente elegeu como prioridade número um e está discutindo o primeiro projeto oriundo das próprias comunidades: o projeto estruturante da água. Nele, são previstas ações visando (1) o fortalecimento da infra-estrutura de recursos hídricos, nas suas distintas alternativas (barragens subterrâneas, pequenas e médias barragens, cacimbões, poços tubulares, etc.) e (2) a educação para o uso da água.

O grande mérito do projeto discutido no fórum é a oferta de contrapartida das comunidades, consubstanciada na disponibilização de mão-de-obra, na fiscalização das obras e na manutenção e conservação dos bens construídos. A articulação institucional do fórum para assegurar a conclusão da conclusão do açude Poço do Marruá (em Jacobina do Piauí), com seus 293 milhões de m3, é outra medida que precisa ser priorizada, em função do extraordinário potencial que a obra representa para o abastecimento d’água das comunidades e para a piscicultura regional.

Os outros pontos a serem trabalhados dizem respeito à expansão da rede de energia rural (grande aspiração das comunidades piauienses), melhoria de estradas, implantação da telefonia rural, além das redes básicas de educação e de saúde extremamente carentes. No que concerne às estradas é de se registrar o grande impacto sobre o território a ser causado pela implantação da futura ferrovia Transnordestina, que liga a zona da soja piauiense, a partir de Eliseu Martins, aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), numa extensão total de mais de dois mil quilômetros. A ferrovia corta o território ao meio e, como via de escoamento de baixo custo para grandes centros urbanos, deverá representar o grande fator de estímulo à economia territorial.

No tocante a educação, o aproveitamento da rede escolar rural, transformando as escolas em núcleos de formação de jovens conscientes e comprometidos com a realidade da região, seguindo o modelo francês das “casas familiares rurais” deve ser considerado. O modelo regionaliza o calendário escolar e adequa os currículos, pela incorporação textos, materiais e atividades de aprendizagem pertinentes à cultura e ao ambiente locais.

Um estudo básico das necessidades de cada comunidade em cada um dessas áreas torna-se fundamental para subsidiar as articulações necessárias para a captação de tais investimentos.

4.3. UMA PROPOSIÇÃO DE APLICAÇÃO DE RECURSOS NO TERRITÓRIO

Considerando a análise exposta no presente relatório e as diretrizes que devem balizar os programas apoiados pelo Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), são apresentadas a seguir, a titulo de sugestão, as linhas de ação prioritárias, a serem executadas pelas instituições Emater-PI, Embrapa Semi-Árido e Caatinga, com os recursos financeiros alocados pelo MDS para o presente exercício, no projeto UTF BRA/064/BRA. As ações são direcionadas basicamente para o enfoque de segurança alimentar, porém com uma abordagem mais estruturante, considerando que as ações efetivamente emergenciais (como a distribuição de alimentos, o bolsa-família e o programa de construção de cisternas) já estão sendo postas em prática pelo governo federal no território.

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Objetivo das ações: Fortalecimento e consolidação da base metodológica do projeto de desenvolvimento territorial e da infra-estrutura de segurança alimentar das pequenas propriedades Justificativa:

O contínuo e crescente exercício dos instrumentos metodológicos (fórum, ADR, capacitações, projetos-piloto), permitindo o seu aprimoramento é a base para a consolidação do próprio projeto de desenvolvimento do território e para a replicabilidade de sua experiência. A utilização desses instrumentos na diversificação das atividades produtivas, na valorização dos produtos locais e na melhoria da gestão da unidade produtiva é a estratégia a ser seguida pelas comunidades organizadas na busca de sistemas produtivos consolidados e numa perspectiva de desenvolvimento sustentável.

As ações visando o fortalecimento da infra-estrutura de segurança alimentar das unidades de base familiar são baseadas na capacitação dos produtores a partir da implantação de CATs e UTDs em unidades-piloto, selecionadas em diferentes comunidades. As linhas tecnológicas a serem priorizadas se situam no contexto de "cultura de víveres", abrangendo inicialmente o fortalecimento da infra-estrutura hídrica das pequenas propriedades (cisternas, poços, barragens subterrâneas, cacimbões), o fortalecimento da infra-estrutura forrageira das pequenas propriedades (na prática, um “fome zero” para o bode) e a implantação de atividades mais convencionais de subsistência na região utilizando as técnicas mais simples de cultivos e de criação em sequeiro desenvolvidas pela pesquisa. A idéia seria garantir a auto-suficiência alimentar em uma primeira etapa e a obtenção de excedentes, visando geração de renda, em uma etapa posterior.

O “fome zero do bode” se justifica em função desse animal, juntamente com o ovino, ser considerado o principal fator de sobrevivência e de fixação do nosso “caatingueiro” à terra. Se assegurarmos as condições mínimas para a sua produção no período seco, estaremos consolidando essa fixação e aliviando a pressão sobre a distribuição de alimentos (e à caatinga, também), já que o produtor teria o animal em condições corporais tanto para auto-consumo, como para venda, no período mais crítico do ano. Tal programa abrangeria a implantação de unidades de demonstração/validação de pastos tolerantes a seca (palma, melancia-forrageira, maniçoba, etc.) e de produção de forragem conservada (feno, silagem, amonizados, etc.) que garantirão a sobrevivência dos animais na seca. A vantagem desse processo é sua similaridade ao programa de cisternas, pouco equipamento e uso exclusivo da mão-de-obra local.

No que tange aos cultivos, dependendo das condições de cada comunidade, seriam priorizadas as unidades de hortas domésticas, ou hortos caseiros mistos (horta + pomar + aves e outros pequenos animais), baseadas em sistemas de alta eficiência no uso da água (aproveitamento de cacimbões, de poços, reutilização da água doméstica, hidroponia e outras) e/ou seriam exploradas espécies de subsistência mais convencionais, como a mandioca e o caupi, utilizando técnicas simplificadas desenvolvidas pela pesquisa, destacando-se a captação de água "in situ" (sulcos ou micro-bacias), barragens subterrâneas, irrigação de salvação, cultivos de vazantes em nível e outras formas simplificadas de pequena irrigação.

Outras atividades a serem incluídas nesse programa incluem a criação de galinhas caipiras (priorizando a alimentação com recursos produzidos ou obtidos na propriedade) e a apicultura.

Associadas a essas ações, são incorporadas ações complementares e fundamentais de estudos e diagnósticos necessários para subsidiar a elaboração dos futuros projetos de captação de recursos, como por exemplo a organização de um “banco de saber-fazeres” das comunidades (identificação, quantificação, limitações, potencialidades dos produtores de rapadura, dos artesãos, etc.).

A tabela 11, que se segue, sintetiza as ações sugeridas e a natureza das despesas demandadas por cada uma delas. Os projetos detalhados devem ser elaborados pelas instituições executoras e encaminhados para análise do MDS.

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TABELA 11. PROPOSIÇÃO DE LINHAS PRIORITÁRIAS PARA APOIO DO MDS

OBJETIVO DA APLICAÇÃO

NATUREZA DAS DESPESAS

. Consolidação da instituição Fórum territorial

. Custeio de reuniões ordinárias . Despesas com comunicação . Custeio de viagens de articulação institucional

. Estruturação da rede de Agentes de Desenvolvimento Rural (ADR)

. Custeio temporário de ajuda de custo mensal - Despesas com capacitação do grupo

. Desenvolvimento de projetos-piloto: Ovino-Caprinocultura Apicultura Avicultura caipira Mandioca, sorgo, etc. Hortas/pomares domésticos

. Aquisição de insumos técnicos para CATs e UTDs . Custeio de viagens para implantação e monitoramento dos CATs e UTDs . Infra-estrutura básica (equipamentos para casas-de- mel e aviários, máquinas-forrageiras, etc.) . Capacitação dos produtores (oficinas, dias-de-campo, viagens de intercâmbio, vídeos, cartilhas)

. Estudos e diagnósticos complementares (1)

. Custeio de coleta, sistematização, interpretação e divulgação de dados

(1) coleta de informações complementares (sistemas produtivos, tipologias, mapeamento de saber-fazeres, etc.) para subsidiar a elaboração de projetos comunitários de captação de recursos externos

4.4. SELEÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA NOVAS AÇÕES DO MDS

O quadro predominante nos mais de 90 milhões de hectares de Semi-Árido, no tocante a situação das comunidades rurais das áreas mais afetadas por longas estiagens, é praticamente similar ao relatado nos diagnósticos das 43 comunidades trabalhadas no projeto TCP/BRA/2904. A abordagem territorial é, sem dúvidas, a melhor estratégia para uma ação conjunta e mais eficiente do MDS e MDA nessas áreas. A metodologia para priorização dessas, contudo, oferece mais dificuldades, em função, também, da superposição de programas e projetos de “desenvolvimento territorial” já implantados ou em implantação em diversos estados, nem sempre seguindo conceitos e parâmetros compatíveis que possibilitem uma ação cooperativa única do poder público (federal, estadual e municipal).

A Bahia, onde os trabalhos nesse sentido estão mais avançados, identificou inicialmente 23 territórios, com base na prévia existência de construções sociais, para só depois definir o instrumento de ranqueamento desses territórios para as ações de desenvolvimento a serem promovidas pela SDT/MDA, FAO, CEPLAC e o governo do estado, entre outros. O UTF/FAO/MDS pode vir a ser um dos parceiros, podendo, nesse caso qualquer um desses territórios se tornar um CONSAD. O instrumento de priorização dos territórios adotado é o IRT (Índice Rural Territorial), o qual abrange informações quantitativas (índices de desenvolvimento social, de agricultores familiares, de famílias assentadas e de famílias acampadas) e qualitativas (índices de organização social, de base física e ambiental e de reparos sociais). Este poderia ser um caminho para as ações da DGIP/SESAN.

Uma outra alternativa de definição de áreas prioritárias seria tomar por base a questão indigência, estabelecendo um percentual mínimo de indigentes sobre a população total existente, para a eleição de um município ou região como beneficiária das ações de apoio. Os índices de indigência, disponíveis no MDS, seriam aplicados nos mais de 100 territórios já definidos pela SDT/MDA para proceder a priorização.

Qualquer que seja o direcionamento tomado pela SESAN é importante que, antes de tudo, seja levantado junto ao consultor César Ortega, os CONSADs já existentes na região semi-árida, os novos que estão sendo propostos e os critérios estão sendo usados para isso. Infelizmente não pude ter acesso ao seu trabalho. O Dr. César Ortega foi contratado pelo MDS para essa missão específica e, em função disso, seguir as suas recomendações com respeito aos novos CONSADs, parece ser o melhor caminho.

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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. ENSINAMENTOS PRELIMINARES DO PROJETO

Vale não esquecer o caráter de experiência do projeto, sem referencial anterior de onde pudesse extrair fundamentos ou ensinamentos para seus passos iniciais. Apesar de recente, com pouco mais de um ano de trabalho, tem gerado um grande aprendizado a partir do enfrentamento de inúmeros obstáculos e dos equívocos cometidos ao longo da caminhada. Esse aprendizado coletivo certamente subsidiará o planejamento e a implantação de futuros projetos com abordagem territorial que possam reformular os papéis dos organismos de apoio, incorporando novas estratégias de intervenção favorecedoras da autonomia local.

Os resultados promissores observados até agora, juntamente aos conhecimentos e a experiência acumulados neste curto espaço de tempo mostraram-se mais que suficientes para expressar a convicção de que o projeto caminha na direção correta e que os instrumentos metodológicos utilizados (fórum, ADR, projetos-piloto, etc.), em constante aprimoramento, podem ser replicados em outros projetos de desenvolvimento com abordagem territorial.

Impactos maiores decorrentes do projeto, naturalmente, só poderão ser avaliados mais adiante, embora impactos de prazo mais curto, como segurança alimentar, já possam ser vislumbrados, a partir da dinâmica social que claramente começa a se formar. Na realidade, a visão que se deve ter do projeto TCP/BRA/2904 é a de que suas ações primeiras se destinaram prioritariamente a preparar o território para o desenvolvimento e não propriamente desenvolvê-lo. Nesse sentido, seu foco deve continuar direcionado para uma formação e uma capacitação de recursos humanos, tanto das organizações rurais como das organizações técnicas e de apoio ao desenvolvimento, que tenham como características essenciais a aplicação da pluriatividade ao desenvolvimento local integrado, a aprendizagem, a partir da articulação de projetos em escala real e o fortalecimento das ações coletivas dos atores locais. 5.2. AÇÕES NECESSÁRIAS PARA COMPLEMENTAR E CONSOLIDAR A METODOLOGIA Além das ações, nesse sentido, já apresentadas e discutidas no capítulo 2.2, outras precisam ser consideradas, discutidas e, se for o caso, incorporadas no projeto de desenvolvimento, para assegurar a sua eficácia e a sua replicabilidade:

• Estabelecer um sistema de coordenação geral do projeto que propicie uma maior interação entre as três instituições executoras, Embrapa Semi-Árido, Caatinga e Emater-PI, permitindo uma maior sinergia a partir da intensificação da cooperação entre suas equipes de campo. Ações conjuntas dessas instituições são uma real necessidade do projeto, mormente no presente projeto em que focos diferenciados são aplicados em um mesmo território. Tal condição reforça a exigência de que as complementaridades entre estes focos sejam prontamente identificadas e exercitadas para que não se perca a percepção integral de território no conjunto de suas ações;

• Reforçar quantitativa e qualitativamente as equipes técnicas de campo, especialmente a da Embrapa e a do Emater-PI, para permitir um processo mais eficaz de capacitação dos atores locais e de monitoramento das ações programadas. A capacitação é um processo permanente que se consolida pelo diálogo contínuo entre quem demanda e quem oferta o conhecimento. O “estoque de especialidades” deve ser construído de modo a atender à diversidade das demandas emanadas dos planos de desenvolvimento das comunidades. Evidentemente isso só será possível com recursos financeiros assegurados. A continuidade do processo e o acompanhamento de campo por parte dessas instituições podem ser definitivamente comprometidos se, em curto prazo, não forem equacionados os problemas de alocação e de liberação de recursos financeiros específicos que permitam atender a demanda de reforço e a necessária autonomia;

• Concentrar esforços inicialmente em menor número de comunidades. Se considerarmos o montante reduzido de recursos efetivamente aplicados até agora no projeto, o conjunto de ações executadas, envolvendo mais de 20 produtos e temas priorizados em 43 comunidades-alvo, parece indicar um nível de dispersão acima do recomendável. O risco dessa pulverização de ações é a diluição dos seus resultados e muito pouca ou nenhuma visibilidade de impacto no processo de avaliação. É possível que melhores resultados possam ser obtidos, em termos de impacto, se esforços forem concentrados em um menor número de comunidades onde a experiência de desenvolvimento local seria conduzida de uma maneira mais intensiva, permitindo a otimização dos recursos disponíveis e a aplicação dos ajustes metodológicos que se fizerem necessários, para subseqüente extrapolação para as demais comunidades. Essa maior

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concentração de esforços em comunidades-piloto possibilitaria impactos de maior visibilidade, facilitando a captação de recursos externos necessários para sua expansão dentro do território ou para sua replicabilidade em outros territórios. A concentração maior do trabalho em um número menor de comunidades não significaria, contudo, a exclusão das demais comunidades dos benefícios do projeto. Elas continuariam simultaneamente a ser contempladas com treinamentos e outras formas de apoio técnico e financeiro, em uma menor escala, até que os resultados das comunidades-piloto começassem a gerar novas alternativas e novos fluxos de recursos que permitissem a sua expansão;

• Implantar um sistema de monitoramento e avaliação. A concepção e a implementação de um eficiente sistema de monitoramento e avaliação das ações desenvolvidas no projeto, permitindo a pronta identificação e o rápido aporte dos ajustes e correções que se fizerem necessárias, são outras medidas que já podem começar a ser implantadas. Monitoramento contínuo e avaliação periódica constituem um apêndice gerencial indispensável para uma correta avaliação dos resultados das ações aplicadas e para fundamentar as negociações voltadas para o aporte de novos recursos para o projeto. Em função do pouco tempo decorrido de criação do fórum, isto não foi ainda possível, mas uma proposta neste sentido precisa ser apresentada e discutida pelos parceiros do projeto, tão logo ações mais concretas decorrentes das articulações em andamento comecem a ser implantadas.

5.3. EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO QUE PODERÃO SER REPLICADAS NAS DEMAIS COMUNIDADES

As experiências relatadas e analisadas ao longo do presente documento, tanto no âmbito dos instrumentos metodológicos (fórum, ADR, diagnósticos, capacitações, projetos-piloto) e dos programas e empreendimentos públicos e privados ainda ausentes ou pouco presentes no território (PAA, SISPAF, RENASCER, AAPI, SAMEL, etc.), como no âmbito de inovações tecnológicas isoladas (hortas domésticas, barragens subterrâneas, poços, ensilagem, manejo da caatinga, etc.). Estas últimas, mesmo considerando o tempo curto para uma avaliação conclusiva (menos de um ano agrícola), evidenciaram, em sua maioria, um desempenho indicativo de boa adaptabilidade às condições agro-ecológicas e sócio-econômicas prevalentes nas comunidades rurais do território. As de maior impacto junto ao produtor foram, até o momento, a ensilagem, a barragem subterrânea e as bombas manuais, sem falar nas cisternas, hortas e cacimbões, já conhecidas na região. Há grandes expectativas também na apicultura e na avicultura caipira. Entretanto, as experiências relativas a inovações tecnológicas e gerenciais, devem, em sua maioria, ser consideradas sob um contexto mais amplo do que simples tecnologias isoladas. Em um ambiente sócio-cultural como o trabalhado pelo projeto, a avaliação das tecnologias deve necessariamente incorporar uma visão sistêmica. O sucesso de uma barragem subterrânea em produzir mais milho/feijão, por exemplo, não significa necessariamente o sucesso do cultivo milho/feijão na propriedade. Quais as melhores culturas para a área beneficiada pela barragem subterrânea? Como interage com os demais cultivos e criações da propriedade? Qual o seu custo-benefício? Que efeitos tem na função de múltiplo objetivo da propriedade? Qual será o efeito da nova tecnologia na estrutura de recursos da comunidade? A avaliação de uma dada tecnologia exige não apenas a aferição de sua adaptabilidade às condições edafo-climáticas, mas, também, a sua viabilidade econômica e a sua adequação sócio-cultural (Guimarães Filho & Tonneau, 1988). O uso destes dois últimos critérios exige uma formação bem mais ampla de técnicos e pesquisadores que avaliam as tecnologias. Ampliar a avaliação das novas tecnologias introduzidas via CATs e UTDs, incorporando, com mais ênfase, esses critérios parece ser extremamente recomendável, mormente quando se pensa em sua extrapolação para novas comunidades dentro e fora do território. Essas abordagem já poderia ser adotada nos novos CATs e UTDs a serem implantados com recursos do MDS. 5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O caminho foi traçado, restando percorrê-lo. Desenvolvimento territorial é fruto de construção social, mas, também, de construção política. Desse modo demanda tempo para que os impactos mais efetivos de âmbito social, econômico ou ambiental possam se tornar visíveis. Embora a região, como exposto anteriormente, preencha todos os requisitos para responder positivamente a um programa dessa natureza, os desafios futuros do projeto não são poucos. Entre eles podemos destacar:

• A definição, com precisão, das atividades econômicas que, em processo harmônico com o ambiente natural, possam garantir a perenidade das ações organizadas e garantir a segurança alimentar para as populações rurais mais fragilizadas do território;

• A consolidação do Fórum como centro maior de definição das ações coletivas para o território, sob controle dos atores locais;

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• A elaboração e operação de um plano de desenvolvimento sustentável territorial baseado no potencial da pluriatividade de sua economia, com aproveitamento das tipicidades locais e dos patrimônios social e cultural específicos do território.

Se concebidas e operadas dentro dos princípios e diretrizes expostos e discutidos no presente documento, as

próximas etapas do projeto de desenvolvimento do território de Acauã certamente poderão alcançar resultados efetivamente impactantes no que tange:

• Ao aumento da oferta quantitativa e qualitativa de alimentos no espaço do território, garantindo a segurança alimentar para as comunidades mais fragilizadas de agricultores familiares e disponibilizando excedentes para um mercado crescente e insatisfeito;

• A melhoria nos processos de utilização dos recursos naturais de solo, água, planta e animal do bioma caatinga e de gestão do espaço rural como um todo;

• A retenção e/ou criação de um maior número de empregos nas unidades produtivas e das vilas e povoados, reduzindo o fluxo migratório desses locais para as cidades maiores e para os perímetros irrigados;

• A elevação da renda das unidades produtivas de base familiar, assegurando melhores condições para a reprodução e a acumulação dos seus meios de produção;

• Ao melhor ordenamento e maior equilíbrio no processo de integração econômica e social entre as distintas condições agroecológicas existentes no espaço territorial.

Petrolina (PE), 08 de julho de 2005 Clovis Guimarães Filho CONSULTOR

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGRORGÂNICA. Alimentos orgânicos avançam em todo o mundo. www.agrorganica.com.br, junho 2005 DUNCAN, M. O desenvolvimento territorial: o projeto do MDA. In: SEMINÁRIO SOBRE DESENVOLVIMENTO TERRITORIALE CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO – Experiências de Aprendizagem. Petrolina, PE, 2003. CIRAD/EMBRAPA/FAO/MESA, 2003. CD-ROM FLORES, M.X. Projeto de fortalecimento das capacidades competitivas dos pequenos produtores rurais: desenvolvimento territorial e estratégias inovadoras. Brasília: EMBRAPA-CONTAG-Fundação Lyndolpho Silva-SEBRAE-BID, 2003. 46 p (documento de trabalho) GLOBO RURAL. Da cor do mercado. V. 222, abril 2004 GUIMARÃES FILHO, C.; TONNEAU, J.P. Testes de Ajuste: uma proposta metodológica para validação de tecnologias ao nível de agricultor. Petrolina, PE, EMBRAPA-CPATSA, 1988. 45p. (EMBRAPA-CPATSA. Circular Técnica, 17) GUIMARÃES FILHO, C. Diagnósticos, capacitações e projetos-piloto em apoio ao desenvolvimento territorial. In: FORUM REGIONAL DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 1. 2005. Petrolina, PE: SOBER, 2005. CD-ROM IBGE. Pesquisa Pecuária Municipal, 2003 SABOURIN, E. Concepts, stratégies, acteurs et spécificité du cas brésilien. In: PLANIFICATION DU DÉVELOPPEMENT TERRITORIAL AU BRÉSIL, Colloques. Campina Grande, Brésil, 1999. Actes du Séminaire ... Montpellier, France: CIRAD-UFPB, 1999. p.9-16. SILVA, F.B.R.; RICHÉ, G.R.; TONNEAU, J.P.; SOUZA NETO, N.C.; BRITO, L.T. de L.; CORREIA, R.C.; CAVALCANTI, A.C.; SILVA, F.H.B.B. da; SILVA, A.B. da; ARAÚJO FILHO, J.C. de. Zoneamento agroecológico do Nordeste: diagnóstico do quadro natural e agrossócioeconômico. Petrolina, PE: EMBRAPA-CPATSA/Recife: EMBRAPA-CNPS, 1993. 2v. il. TONNEAU, J.P.; SILVA, P.C.G. da; CARTAXO, W.V.; MENEZES, E.A.; GAVIRIA, L. Desenvolvimento territorial e convivência com o Semi-Árido brasileiro – Experiências de aprendizagem. Relatório Final. Petrolina: EMBRAPA SEMI-ÁRIDO/FAO/FAGRO, 2003. 42p. TONNEAU, J.P. Território, fórum e agentes de desenvolvimento rural: alguns ensinamentos da experiência do projeto de Cooperação Técnica TCP/BRA/2904. In: FORUM REGIONAL DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 1. 2005. Petrolina, PE: SOBER, 2005. CD-ROM TURNES, V.A.; BÚRIGO, F.L. Desenvolvimento local: uma nova forma de ver o espaço rural. In: Planejamento Municipal. Organizado por Eric Sabourin. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 1999. 124p. (Agricultura Familiar, 4). VEIGA, J.E.; FAVARETO, A.; AZEVEDO, C.M.A.; BITTENCOURT, G.; VECCHIATI, K.; MAGALHÃES, R.; ROGÉRIO, J. O Brasil precisa de uma estratégia de desenvolvimento. Brasília: Convênio FIPE-IICA (MDA/CNDRS/NEAD), 2001.108p.

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7. ANEXOS

7.1. PESSOAS CONTATADAS

A maior parte das idéias e questões levantadas no presente relatório foi discutida, ajustada, desenvolvida e consolidada a partir de visitas e contatos, mantidos durante o período de outubro/2004 a junho/2005, com as pessoas abaixo relacionadas:

NOME

FUNÇÃO / INSTITUIÇÃO

ALINEÁUREA FLORENTINO ANA CLAÚDIA DOS SANTOS ANTONIO HOLANDA COSTA ANTONIO JOSÉ SOARES ARLETE DA SILVA ÁUREO JOÃO DE SOUZA BENITA MARIA ALVES SOUZA CAMILO JOÃO DA COSTA CÂNDIDO ROBERTO DE ARAÚJO CARINA MOREIRA CEZIMBRA CARLOS ALBERTO SOUZA DÉCIO SOUZA LOPES EDONILCE BARROS ELIOMAR PEREIRA DE SOUZA EMANUEL ALEXANDRE DA SILVA EVERALDO VALÉRIO TEIXEIRA EVERALDO ROCHA PORTO EXPEDITA DA SILVA FERRAZ FRANCISCO MOREIRA NUNES FRANCISCO PINHEIRO DE ARAÚJO GARNILTON GOMES RODRIGUES GERALDO DE SOUZA CARVALHO GICÉLIO OLIVEIRA GIOVANNE XENOFONTE HENRIQUE GONÇALVES DOS SANTOS IDÍLIO FERREIRA CAVALCANTE ISADORA SOUZA JACINTO COELHO RODRIGUES JAN WENDT JEAN-PHILLIPE TONNEAU JOÃO FRANCISCO JOEL AURÉLIO RODRIGUES JOSÉ BATISTA CAVALCANTE JOSÉ DIAS CAVALCANTE JOSÉ EUGÊNIO FILHO JOSÉ NILSON BARROS JOSÉ SÁTIRO DA COSTA JOSÉ SERGIO ALVES DO NASCIMENTO JOSIMAR MÁRIO RODRIGUES JÚLIO NUNES DA SILVA JUSSARA OLIVEIRA JUVALDI ADELINO LUZ LYDDA GAVIRIA LUÍS ANSELMO PEREIRA DE SOUZA LUIZ ANTONIO DE VASCONCELOS MANOEL IRENO DE SOUZA MANOEL LUIZ SANTANA MARIA BRASILINA PEREIRA MARIA DO CARMO COELHO MAURÍCIO CARMO BARBOSA MARIA ROSALINA DOS SANTOS

Pesquisadora da Embrapa Semi-Árido Consultora Principal FAO/MDS, Brasília Agricultor cooperado do Caatinga Associação Projeto Hortas Presidente associação comunidade Tanque de Cima, Acauã Diretor de Educação e Extensão Rural da Emater-PI, Teresina Secretária Associação de Cachoeira do Roberto Agricultor, comunidade Fortaleza, Patos do Piauí Engenheiro-Agrônomo CIRAD, Acauã Engenheira-Agrônoma CIRAD, Petrolina Agricultor, comunidade Angical Agricultor, comunidade Cainana, Afrânio Socióloga EBDA-ADAC, Juazeiro Gerente da CAMAL, Afrânio Agente de Desenvolvimento Rural, comunidade Serrinha Técnico em Apicultura do CAATINGA Pesquisador Embrapa Semi-Árido Agricultora, Serra do Inácio, Santa Filomena Agricultor, comunidade Lagoa do Mato Pesquisador Embrapa Semi-Árido Agente de Desenvolvimento Rural, comunidade Macambira Agente de Desenvolvimento Rural, comunidade Sombrio Gerente escritório EMATER-PI, Paulistana Técnico do CAATINGA, Dormentes Presidente do CAATINGA, Ouricuri Entreposto de compras de peles caprinas e ovinas Técnica da Prima Peles, Petrolina Agricultor, comunidade Silvino, Betânia Consultor FAO – Metodologia Participativa Animador do Fórum territorial – CIRAD/UFCG Agricultor, comunidade Fortaleza, Patos do Piauí Agricultor comunidade Angical de Cima Produtor de caprinos e ovinos, Afrânio Produtor de caprinos e ovinos, Afrânio Agricultor, comunidade Mafrense, Acauã Presidente Sindicato Trabalhadores Rurais, Santa Filomena Presidente da Cooperativa Mista de Dormentes Técnico Agrícola Emater-PI, Patos do Piauí Presidente Sindicato Trabalhadores Rurais, Jacobina Agricultor, comunidade Mandassaia Técnica da ADAC, Juazeiro Técnico Agrícola da EMATER-PI, Paulistana Consultora FAO – Comunicação Rural Diretor do DGIP/MDS, Brasília Presidente GIS e CMDR, Santa Filomena Coordenador Geral do NEPS Coordenador Projeto APLs, CODEVASF Presidente da Associação das Mulheres, Santa Filomena Agricultora, comunidade Pedra Branca Presidente Associação Mafrense, Acauã Coordenação Estadual dos Movimentos Quilombolas

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(continuação) NAPOLEÃO EBERARD OLEGÁRIO PEDRO DA COSTA ORLANDO FERREIRA COSTA OSVALDINA DOS SANTOS OTÁVIO BASALDI OTTO BECKMAN PAULO PEDRO DE CARVALHO PAULINO PEDRO CARLOS GAMA DA SILVA REJANE EUSTÁQUIO ROBERTO ARRAES ROBERTO VICENTE COBBE RODRIGO VICENTE FERREIRA SERGIO NASCIMENTO VITOR ATHAYDE FILHO WANDERLEY RAIMUNDO DE CARVALHO

Pesquisador Embrapa Algodão, Programa Biodiesel Presidente Associação Angical de Cima, Acauã Coordenador Técnico Emater-PI, Teresina Líder comunidade Tapuio, Queimada Nova Assessor MDS/EMBRAPA, Brasília Padre, líder programas comunitários, Paulistana Coordenador de Programas do CAATINGA, Ouricuri Presidente Associação Sumidouro, Queimada Nova Chefe Geral Embrapa Semi-Árido Engenheira-Agrônoma, MDA/SAF – Projeto Território Juazeiro Técnico EMATER-PI, Acauã/Paulistana Assessor Programa Mini-Bibliotecas do Semi-Árido–EMBRAPA-SCT/MDS, Brasília Presidente da Associação da Serra do Inácio, Santa Filomena Engenheiro-Agrônomo Embrapa Semi-Árido, coordenador projetos-piloto Consultor FAO/MDS, Salvador Representante FUMAC, Jacobina

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7.2. FOTOS

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