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2011.2 DSG1002- Projeto Planejamento Professores: Ana Branco e Vicente Barros Intercessora:Silvia Fernandes, professora de alfabetização do Ciep Bento Rubião na Rocinha. Origami, movimento, colorido, papel, bonecos, histórias, brincadeira, livro, florescer, Rocinha.

Relatorio Projeto 2

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2011.2DSG1002- Projeto PlanejamentoProfessores: Ana Branco e Vicente BarrosIntercessora:Silvia Fernandes, professora de alfabetização do Ciep Bento Rubião na Rocinha.

Origami, movimento, colorido, papel, bonecos,histórias, brincadeira, livro, florescer, Rocinha.

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Índice

Índice4.8.9.

12.14.18.20.22.31.38.

43.45.48.49.50.53.

39.39.

PossibilidadesApresentação da IntercessoraPrimeiro EncontroSegundo EncontroTerceiro EncontroQuarto EncontroJogo de PalavrasExperimentaçãoFicha de Experimento ResumidaQuente e Frio

Quente e FrioAlternativasExperimentação FinalConclusão da IntercessoraConclusão do alunoCréditos e Agradecimentos

Partido AdotadoVariação

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A intercessora que iria encontrar na escola é a professo-ra Alessandra, que dá aula de alfabetização a crianças do primeiro ano, do Ensino Fundamental.

Quando cheguei à aula acontecia no chão, crianças sentadas em círculo aprendendo sobre meios de trans-porte. A professora perguntava sobre algum tipo de transporte e as crianças davam exemplos: “...agora fala um que anda por baixo da terra.” “trem”, “trem” “trem não, o trem anda sempre por cima, pensa aí” “o metrô professora” “isso mesmo, agora fala um que ande sem motor” “a bicicleta” “barco a vela, barco a vela anda sem motor” “isso mesmo”

A professora levanta e pede a todos que pintem barqui-nhos de papel e escrevam seus nomes nos barcos. Com os alunos ocupados ela conversa um pouco sobre a es-cola suas aulas e sobre alguns alunos especiais. Diz que ensinou um aluno a amarrar o cadarço e que ele estava muito orgulho de ter aprendido. Durante a con-versa, algumas vezes, ela chama a atenção dos alunos cobrando sobre a postura de aluno dentro da sala de aula. Também fala sobre sempre falar a verdade para as crianças principalmente sobre assuntos tabu, como sexo. Acredita que deve ser sempre honesta com as crianças e que tirar essa dúvida delas é benéfico.

Agradeço a professora Alessandra por mostrar que é possível falar a verdade para as crianças sobre assuntos considerados tabus, passando valores mais importantes como honestidade e respeito que me fez pensar que essa postura é a mais correta, que eu desejo levar pra mim como experiência.

Quando nos despedimos da professora Alessandra, perguntamos a ela se ainda havia algum professor na escola e ela nos indicou a sala da professora Tereza. Nós fomos até a sala, nos apresentamos e ela nos re-cebeu. Os alunos haviam acabado de voltar do almo-ço, apenas metade da turma compareceu. Sentaram--se espalhados pela sala e a professora logo orientou que eles poderiam pegar apenas brinquedos peque-nos, porque a saída seria logo. Um aluno que ficou perto da mesa da professora co-meçou a montar letras com as peças de um brinquedo de encaixe e a professora ficou tirando algumas dúvi-

das dele; “olha professora fiz um C” “muito bem, o nome de que coleguinha seu começa com C?” “o Caio e a Kátia” “a Kátia não, o nome dela é com K” - desenha o K numa folha para o aluno - “o som da letra é o mesmo mas a letra é diferente. “agora fiz um L professora” Enquanto os alunos estavam ocupados, conversamos sobre as outras aulas dela e também sobre alguns alunos que ela lembrava. Quando a diretora do colé-

gio entrou na sala e nos falou que nós não podíamos entrar ali, a princípio, percebi que era realmente não responsável da nossa parte entrar sem avisar à direto-ra, mas ao sair da sala a diretora disse que já que es-távamos não havia problema ficar. Então, me passou pela cabeça que a professora talvez não estivesse à vontade com a nossa presença na sala. Após ao fim da aula a diretora confirmou que a pro-fessora era muito boa, mas não era tão aberta ao projeto.

Agradeço a professora Tereza pelo fato de ela ter nos tratado bem mesmo contra a normalidade da sua rotina. Isso me mostrou que eu também posso fazer mais e ceder em algumas atitudes e me esforçar para mudar.

(R. Barão da Torre, nº90, Ipanema)Professora Alessandra. Escola Municipal José Linhares

PossibilidadesPossibilidades

(R. Barão da Torre, nº90, Ipanema)Professora Tereza. Escola Municipal José Linhares

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PossibilidadesPossibilidades

Depois que entramos na escola e falamos com a di-retora sobre o projeto, ela nos encaminhou para a sala da professora Maria Branca. Explicou que ha-veria um COC no dia e que em função disso, as au-las só iriam até as 15h. Apresentei-me na porta da sala à turma e a professora. Sentei numa cadeira ao fundo da sala. No início a aula estava bem confusa com muitos alunos em pé e falando todos juntos en-quanto a professora aguardava que todos chegassem. “hoje é dia de matemática mas, como temos pou-co tempo vamos fazer as falas do nosso teatro”. Os alunos comemoraram, mas depois de algu-ma discussão chegaram a um impasse pois o alu-

no responsável pelas falas não havia comparecido. A professora então começou um jogo de adivinhas. Or-ganizou a turma em grupos de 4 alunos. Cada um do grupo lia as perguntas em voz alta enquanto os outros não pertencentes ao grupo tentavam acertar as respos-tas; “O que é o que é que a formiguinha tem maior que o elefante?”, os alunos tentaram várias repostas e o grupo que tinha a folha respondeu ao final “o nome!” Uma aluna, em particular, muito ativa, orga-nizou a brincadeira dando pontuações e al-gumas vezes favorecendo o próprio grupo. A professora aproveitou o exercício para falar de en-tonação e leitura. Lembrando aos alunos que quan-

do não falamos direito não somos bem entendidos.

Agradeço a professora Maria Branca por me mostrar que um momento de descontração e bom humor pode ser meio de um exercício sério, o que me fez pensar que talvez isso tenha aplica-ção no design a qual eu não tenha me atentado e eu deveria prestar mais atenção.

Terminada a aula da Maria Branca, voltamos a diretora e ela nos disse que poderíamos livremente ir em qual-quer aula que quiséssemos nos apresentar e assistir. Chegamos a uma sala e conhecemos a professora de matemática Márcia. Uma atividade de livro já estava sendo desenvolvida quando nos apresentamos e entra-mos na sala.

Os alunos estavam divididos em 3 colunas com as me-sas umas de frente para as outras. Um dos meninos começou a falar que os exercícios estavam muito fáceis, enquanto outro dizia que apenas uma das páginas era fácil a outra era difícil.

A professora se atentou disso e deu uma explicação sobre a matéria no quadro;

“...em quantos pedaços está dividido o cubo da letra a?”

“em 10”

“e quantas partes estão pintadas?”

“1 só”

“então qual é a fração disso?”

“1/10”

“e como fala em decimal?”

“0,01?”

“não, lembra das casas onde é a dezena e onde é a centena?”

“0,1”

Após esse momento houve um silêncio muito grande na sala e pouco se falou que fosse para turma toda. A pro-fessora corrigia provas e os alunos faziam o dever do li-vro. Minha impressão foi que aquele momento não era muito normal. Que se não estivéssemos lá talvez esse garoto só tirasse as dúvidas no fim do exercício. Esse sentimento era em razão do fato de que normalmen-te quando estamos na sala, os professores começaram a agir de maneira consciente da nossa presença, com isso afetando suas aulas e suas relações com os alunos. Por isso, esse fato da explicação tão isolado na aula me pareceu anormal. O que me fez pensar que a Márcia poderia estar incomodada com a nossa presença assim como a Tereza. Mas ao contrário da outra escola em que esse nosso sentimento foi confirmado pela diretora que nos avisou sobre o temperamento da Tereza nessa escola foram todos muito simpáticos e nada foi comen-tado sobre isso.

Agradeço a Márcia por nos receber em sala de aula. Isso mostrou para mim que não importa o tipo de pessoa que você é ou venha a conhecer, as boas vindas podem ser muito mais recompen-sadores do que o medo de algo, ou a pura pre-guiça.

(Praça Nossa Senhora Auxiliadora, nº1, Leblon)Professora Maria Branca. Escola Municipal Sergio Vieira de Melo

(Praça Nossa Senhora Auxiliadora, nº1, Leblon)Professora Marcia. Escola Municipal Sergio Vieira de Melo

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Silvia Fernandes

Ciep Professor Bento Rubião

(Rocinha, próximo a UPA da Curva do S)

Houve um problema com as possibilidades e outra du-pla escolheu uma professora que achavamos que po-deríamos trabalhar. Porém, antes de ir nessas 4 pos-sibilidades descritas acima, eu já havia visitado O Ciep Bento Rubião e conhecido a professora Silvia. Mas o Ciep pediu documentos que dificultaram o processo de visita para possibilidade.

Mesmo assim eu gostei muito da professora Silvia como intercessora e da Diretora Flávia durante a visita. Por-tanto fui a 2ºCRE com a minha dupla de projeto Patrícia e ficamos lá algumas horas esperando a nossa autoriza-ção. Para não me atrasar no projeto conseguimos uma autorização com dias específicos da CRE que permitiu, a mim e a Patrícia, ir 3 dias na escola. E então, de-pois dessas visitas conseguimos a autorização definitiva para desenvolvimento do projeto.

A professora Silvia dá aula, de segunda a sexta, nos pe-ríodos da manhã e tarde. De manhã no Ciep e a tarde em uma escola particular em Botafogo. A turma é de primeiro ano, do Ensino Fundamental e está fazendo alfabetização. Ela usa um microfone com uma caixa de

A primeira visita começa às 8h30 da manhã, a Pa-trícia não veio e eu fui até a diretora com a auto-rização da 2ºCRE e ela me levou até a sala, me apresentou a professora, que ainda lembrava-se de mim apesar das semanas sem notícias e me apresentou a turma;

-Esse é o tio Thiago, ele vai assistir aula com a gente

-Oi tio Thiago.

- Então vamos lá, sabe Thiago. -Ela fala direcio-nada para mim, mas ela está na frente da sala com um livro na mão e falando com a turma toda

- , hoje nós lemos o livro do Pato e o Sapo, para aprender toda a família do P”

O quadro tem uma sequência de “SA - SE - SI - SO - SU - SÃO”. A professora diz, vamos fazer agora a família do P para o Thiago ver?”

“Que som faz P com o A?” - a turma responde “pá” e ela escreve no quadro, segue assim até o “pu” e ela continua - “...e aquele negócio gostoso que a gente come de manhã?” - a turma responde “pão” e ela escreve no quadro.

Depois disso ela passa um ditado para as crianças;

“Nós já vimos que as letrinhas se casam para for-

mar pedacinhos agora, vamos lembrar-nos do livro que a gente leu e vamos escrever ‘pipoca’. Quan-tos pedacinhos tem pipoca? Fala comigo; “PI-PO--CA” - ela fala pausadamente - então ‘pi’ são que letrinhas juntas? Tô escutando gente trocar.- A tur-ma responde e o ditado prossegue.

Ao longo do exercício ela vai passando pela mesa de cada aluno olhando o caderno e fazendo co-mentários;

- Tá lindo o seu yasmim (...)

- Viu como você sabe amor, claro que você sabe.

- Gente, já falei pra vocês, pra escrever tem que...? - a turma completa com “falar” e ela - falar, muito bem. Pra escrever tem que falar!

- André Luiz! A Tia está falando!

Um aluno, ( eu ainda não peguei o nome dos alu-nos todos) não fazia as palavras que ela ditava, sempre vinha alguém e escrevia a palavra no ca-derno dele pra ele. A professora parou a aula e falou;

- Eu não quero ver ninguém fazendo o dever pra ele, ele sabe fazer e vai fazer sozinho!

Alguns minutos depois, ela estava passando a pa-lavra ‘pena’ para as crianças escreverem, foi até a mesa dele e perguntou;

- Quem te ajudou a escrever pena? - olhou em vol-ta - você ajudou? Você ajudou? Ninguém te aju-dou? Caramba! Então bate aqui que você escreveu certinho, eu disse que você sabia.

Apresentação daIntercessora do Projeto

som presa a um cinto para falar porque as salas não são fechadas, tanto as janelas que dão para a rua, quanto o muro da porta da sala, que também é parcialmente aberto, deixam muito som entrar na sala de aula. Não é possível conversar sem aumentar um pouco o tom da voz, e é praticamente impossível dar aula sem o aces-sório, porque a voz se perde rapidamente.

Todas as visitas a seguir precisam ser consideradas nesse ambiente, porque esse som que invade as salas é muito intenso e é parte de todo o cotidiano da escola.

Primeiro Encontro

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Primeiro EncontroContinuando pela sala ela vai fazendo mais co-mentários;

- Tauani, porque você está escrevendo o N ao con-trário? Olha aqui, tá tudo virado, o P e o E tão tudo virado aí.

- A gente tem que falar pra escrever, se não falar não vai escrever direito.

Uma aluna muito inquieta chamada Darling, co-meçou a correr pela sala e foi até a parede onde ficam umas placas com o nome de todos os alunos e começou a procurar o seu nome;

- Darling vem cá, eu mandei você mexer aí? O que você tá mexendo aí se ninguém falou pra mexer? Eu vou parar a minha aula só pra esperar a Darling sentar.

A Darling senta.

Outra palavra é posta no quadro, tomate.

- “má” são que letrinhas juntas? - A turma respon-de eme com á - Isso mesmo, falou o «M», escreve o «M», falou o «A», escreve o «A».

Um aluno no meio do ditado diz que ‹Vitor› (o nome dele) é mais fácil de escrever;

- É fácil porque você já está cansado de saber, agora não é pra escrever ‹Vitor› é pra escrever ‹tomate›.

Duas alunas levantam e pedem pra professora fa-zer ponta do lápis para elas. Com as duas, mais alguns levantam e fazem uma fila pra ela fazer ponta de lápis. Os outros continuam escrevendo.

- Muito Bem, as meninas podem formar uma fila na porta agora.

As meninas todas se levantam. Alguns garotos se levatam também e acontece uma brincadeira pela sala como “ah menina! levantou haha”

- Agora os meninos podem formar a fila.

A sala de aula é no 3º andar do Ciep, então des-cemos a professora, eu e a turma os andares com os alunos em fila pela rampa de acesso com vários deles me fazendo um monte de perguntas; se eu sou ‘tio’, se eu faço dever também, se eu vou vir mais vezes, o que vou fazer depois que sair dali.

O pátio do recreio é na base do Ciep, totalmente cercado por grades é um barulho maior do que na sala de aula, e com muita criança correndo e gritando. Mesmo nesse momento a professora mantém o microfone para falar comigo e eu acabo tendo que falar mais alto que o normal para con-versar.

Ela fala primeiro sobre os alunos dela que estão bem avançados porque metade da turma já sabe ler, eu confirmo, afinal, na outra escola que eu vi-sitei na zona sul, nenhum aluno sabia ler ainda. O assunto muda para a escola particular que ela dá aula;

- Nossa você não tem noção. Aqui tem pai de alu-no que me chama de doutora, “Doutoura Silvia”, são super atenciosos. Na escola particular que eu dou aula, tem pai de aluno que me chama de idio-ta. (risadas)

Demora muito até ela conseguir juntar os alunos

de novo em fila sentados para subir, alguns ficam escondidos e levam uma boa bronca por isso. Quando enfim todos estão juntos subimos as ram-pas de volta à sala.

- Nem vai dar tempo de fazer muita coisa porque daqui a pouco já é o almoço.

Ela então sugere a atividade de escrever uma fra-se e desenhar.

- Vamos escrever uma frase com a palavra pato, todo mundo lembra o que é uma frase? - a turma responde que sim - Que frase então que nós va-mos escrever.

Daí a turma fica um alvoroço com as crianças di-zendo “o pato é amigo do sapo”, “o pato é ama-relo” Do meio da barulheira ela tira a frase de um aluno “o pato nada na lagoa”

- Vamos escrever essa então, ‘o pato nada na la-goa’? Vem Vitor escrever no quadro pra turma ver como é - O Vitor nem dá atenção, estava olhando para trás, a Darling levanta dizendo “deixa eu pro-fessora” - Então vem Darling. - O Vitor que estava virado pra trás, vira pra frente porque um colega lhe chama atenção e reclama com a professora que era pra ele escrever. - AH! eu te chamei você nem me deu atenção, agora a Darling já veio es-crever pra mim.

Todo mundo escreve como no quadro;

- Quem já escreveu pode desenhar a lagoa agora. - um aluno pinta a lagoa de verde e pergunta pra professora se essa era a cor da lagoa. A profes-sora responde;

- Olha, a sua lagoa pode ser verde sim. Bem, nor-malmente as pessoas pintam a lagoa de azul. Mas, também pode ser verde. Bem... a lagoa é sua ué.

- Só vai descer quem me entregar o caderno com o desenho também.

E depois de algum tempo

- Meninas, formar para o almoço.

Descemos a rampa com a turma em fila, como no recreio e várias outras turmas vêm atrás de nós. Somos os primeiros a chegar no refeitório e a pro-fessora me apresenta um aluno que ela não sabe exatamente o que ele tem:

- Não, pode me dar aqui que eu sirvo ele. - falando com o merendeiro e pegando o prato e a colher de arroz da mão dele, coloca bem pouco no prato do menino, o rapaz estranha “só isso?”, a professora responde - Eu vou colocar isso e ele não vai comer, fica olhando, que quando ele terminar eu vou tra-zer aqui pra você ver.

E então diz para mim;

- Eu botei só esse pouquinho e ele não vai comer, você vai ver só - eu pergunto, como que ele con-segue ficar de pé comendo tão pouco - Eu não sei - responde a professora, - pra mim ele tem algum nível de autismo, ele não socializa com a turma, não faz os deveres, fica falando sozinho, essas coisas. Eu já encaminhei pro psicólogo da escola, mas não sei o que ele tem.

Depois que todos se servem eu também ganho um prato e almoço junto com a professora e a turma.

Falo a ela da apresentação do projeto no fim do semestre, que é importante que ela vá também. Conversamos algumas outras coisas, sobre a PUC, sobre o curso, ela ficou muito interessada em sa-ber que eu fazia design ( e o quanto isso é inusita-do dentro de uma escola ). Depois do almoço me despedi da turma e da professora.

Agradeço a Silvia por me convidar a almo-çar com ela e com a turma, isso me mostrou duas coisas. Primeiro que ela de fato estava me recebendo e segundo, que o compromis-so dela com as crianças vai além da relação profissional professor x aluno. Ela me mos-trou que a dedicação dela é mais que profis-sional e isso gerou em mim um comprome-timento maior com o projeto, uma vontade de retribuir de alguma forma essa dedicação dela.

Primeiro Encontro

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Segundo Encontro

Nesse dia estava muito frio de manhã, além dis-so, eu cheguei um pouco tarde às 9h e a Patrícia novamente não veio. Assim que entrei na sala a professora falou que eu perdi a leitura da Foca Famosa. A turma já estava formando para o re-creio, então descemos. Mas isso não impediu de alguns alunos fazerem festa por eu ter voltado e me abraçado.

No pátio da escola outros professores se aproxi-mam e ficamos conversando. Um dos professores fala sobre os ingressos pro Rock and Rio que ele comprou que são muito caros.

Hoje a professora levantou o microfone para con-versar comigo. Uma aluna vem correndo até a pro-fessora e mostra o casaco pra ela:

- É ruim que eu vou segurar o seu casaco.

Dois alunos vêm até ela reclamando que um ter-ceiro aluno bateu neles;

- E você tá me dizendo que apanhou com essa cara de riso? Você nem consegue parar de rir e tava apanhando. Vai brincar.

Umas meninas correm perto da gente e uma cai

no chão e se levanta voltando a correr; a profes-sora vira para mim e conta:

- Essa menina é filha da coca, a mãe dela cheirou cocaína a gravidez inteira, a menina hoje em dia tem alguns problemas, mas está aí estudando e tudo, mas a gente aqui na escola diz que ela é filha da coca. - Eu observo, ela olha pra mim em consentimento e não dizemos mais nada.

Um outro aluno vem até ela pedindo para ir ao banheiro;

- Você podia ter ido ao banheiro lá em cima você esperou todo mundo descer pra ir ao banheiro, guenta um bocadinho aí.

Vários alunos vêm amarrar o cadarço durante o recreio.

O recreio acaba e a professora junta os alunos todos sentados em forma para subir para a sala, enquanto fala comigo:

-Pena que hoje você vai ver pouca coisa, porque eles têm educação física e eu vou ficar corrigindo a prova, só vou subir com eles e esperar a profes-sora vir buscar.

Na sala a professora senta os alunos, mas não ini-cia nenhuma atividade. A professora de educação fisica logo chega e os leva eles para a quadra em cima da escola. E a Silvia fica corrigindo umas provas enquanto acabo de escrever esse texto. Me levanto e mostro a ela os desenhos que fiz da primeira aula, tentando puxar um assunto.

- Nossa que legal, olha eu. Aqui nessa escola não tem muitos desenhos porque são muitas crianças

ainda, mas na outra escola que eu dou aula os alunos já são maiores, têm 10 anos e fazem uns desenhos muito legais.

Ela tira de outra pasta guardada desenhos dos alu-nos e me mostra e ficamos conversando sobre o talento de uma aluna em particular que desenhou a turma toda.

Hoje eu não poderia ficar até o almoço porque uma aula minha na PUC começava às 11h da ma-nhã, porém eu liguei para a Patrícia e insisti que ela viesse mesmo tarde, para que ela conhecesse o caminho e a escola.

Fui passando por telefone por onde ela deveria ir e avisei a professora que teria que descer a Rocinha para buscá-la no ponto. Assim que ela chegou eu a trouxe para cima. Fomos conversando e a Pa-trícia estava muito desanimada, dizendo que não conseguia acompanhar a aula, e que tinha proble-mas para acordar cedo e que talvez trancasse a matéria.

Perguntou se eu ficaria bravo com ela por isso e eu disse que não. Afinal, eu mesmo já tranquei a matéria antes.

Quando chegamos à escola e ela e a professora foram apresentadas, era quase hora do almoço e a turma já ia descer, daí as crianças viram ela comi-go e ficaram perguntando se ela era minha namo-rada. No almoço eu já estava muito em cima da hora da aula e a resolvi deixar a Patrícia na esco-la, porque as crianças a alegraram davam abraços nela e perguntavam coisas.

Agradeço a Silvia por compartilhar coisas comigo hoje. Primeiro a história da menina durante o recreio, depois os desenhos que os alunos de outra escola fazem dela e por último pelo gesto simples de tirar o micro-fone ao falar comigo. Esses gestos me mos-traram que eu ganhei um pontinho de con-fiança dela, ela simplesmente não precisava ter feito nada disso, eu teria conversado com ela normalmente, mas a forma natural que ela fez isso me deixou claro que partiu dela essa aproximação com o dia-a-dia dela e da escola. Isso gerou em mim um inte-resse maior pelas coisas específicas que ela gosta, e eu saí me perguntando “o que de todas essas coisas que eu estou vendo ela fazer, ela realmente gosta de fazer?”

Agradeço a Patrícia por ter vindo. Isso pra mim significou que ela também me deu um voto de confiança quando eu insisti para que ela viesse e ela me atendeu. Eu espero que isso faça ela se acalmar, pensar melhor nos benefícios de continuar no projeto se dedi-cando mais e não trancar a matéria.

Segundo Encontro

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Terceiro Encontro

Liguei para a Patrícia às 7h da manhã e surpresa, ela estava acordada! Falei pra ela vir se encami-nhando para a escola e voltei a dormir.

Perto de 8h eu já estava no ponto de onibus espe-rando a Patrícia que chegou pontualmente, mes-mo que com uma cara de sono. Tomamos um suco, onde apresentei a ela o 3 em 1 ( um suco de beterraba, laranja e acerola ), que é ótimo para acordar e fomos para escola. Pus ela num moto-táxi, e pedi para o rapaz ir devagar com ela en-quanto explicava onde segurar e tudo mais. Isso acabou resultando que ela chegou super animada

na escola porque nunca tinha andado de moto.

Então na porta da sala nos deparamos com a se-guinte cena, uma menina chorando muito não querendo ficar sozinha na sala e a mãe gritando e batendo nela dizendo para ela parar de graça, enquanto a Silvia a abraçava a mãe foi embora. A atenção toda da Silvia para a menina:

- Já terminou? (de chorar), agora entra e pega uma mesinha pra você. - Agora para a gente - oi, pode entrar.

A menina não entra e a professora resolve levar

ela na diretora;

- Espera um pouquinho que eu vou levar ela.

Eu olho para a Patrícia e digo “segue ela”, a Patrí-cia vai e eu fico com a turma. Algum tempo depois voltam Silvia, Patrícia e a menina.

Logo alguns alunos vieram nos abraçar e depois de pouco tempo já estavam todos sentados de novo.

- O que eu já conversei com vocês? Eu não quero ninguém agarrado no Thiago e na Patrícia, eles tão aqui, mas estão fazendo dever que nem vocês.

A turma ficou bem quieta e o único som na sala vinha de fora.

- Hoje a gente vai ler de novo o livro da foca famo-sa porque muita gente faltou. - os alunos revesa-vam entre ‘eu não faltei’ e ‘eu faltei’ - até o Thiago faltou a aula!”

- Eu não conto história com barulho! Quem escre-veu esse livro foi a Sônia Junqueira, e quem fez os desenhos foi o Alcy, ele desenha muito bem, igual ao Thiago e a Patrícia.

Ela então começou a ler o livro. Como a maioria dos livros do tipo esse é apenas uma frase com uma ilustração por página.

“o nome da foca é Rosa”

“a foca bota fita na cabeça”

“a foca bota pó na cara”

Numa parte do livro a foca era pedida em namoro por uma outra foca e os alunos todos fizeram vá-

rias brincadeiras.

“A Rosa é bonita” as crianças riram, “Rosa você me namora?”, “Rosa beija o namorado” e as crianças todas fazem smack smack (barulho de beijo).

- Ei, ei, olha pra mim todo mundo. Aqueta! Agora vamos escrever, como que é o “FO” Cauã? E o “CA” ? Na aula passada vocês escreveram e de-senharam...- um aluno interrompe dizendo que ele não desenhou nem escreveu-...Claro que não né, você faltou.

Ela então começa escrever uma frase no quadro;

- Eu vou escrever a frase que o Felipe vai ler.- o Felipe lê - Agora vou fazer uma para a Maria Edu-arda - a Darling levanta e diz que quer ler essa a professora responde - Darling eu vou fazer uma frase só pra você, essa aqui é da Maria Eduarda. Na sua vez você vai falar.”

Depois de algumas frases, a hora do recreio che-ga.

- Meninas formar para o recreio. - As meninas for-mam uma fila na porta -, agora os meninos.

No intervalo ficamos Patricia, Silvia e Eu, próxi-mos ao portão e uma aluna ficou abraçada com ela quase o recreio todo. A professora logo que pode se justificou sobre ter pedido as crianças não ficarem agarradas à gente, dizendo que isso fazia ficar mais fácil para ela manter o controle e evitar muita bagunça.

- Eles muitas vezes não têm atenção dos pais, en-tão são muito carentes, estão sempre abraçando e querendo atenção. Essa aqui é muito manhosa

- se referindo a menina abraçada a ela - Um aluno pede a ela para ler o livro da foca famosa que ela trouxe na mão, para devolver a professora.

- Só se você ler aqui, sentadinho para eu ver. - O aluno pega o livro e vai ler - Esse menino não se interessa assim, isso é porque vocês estão aqui, daqui a pouco ele vai devolver o livro fica olhando.

Olhando o menino o que percebo de cara é o fato de que ele vira as páginas de modo errado, amas-sando livro. Ele vai até metade do livro e devolve a professora. E outro menino que estava junto com ele lendo em pé ao lado da cadeira pede o livro emprestado à professora, só que junto de nós tinham alguns alunos e todos eles queriam o livro;

- Nã....não, não vou emprestar pra mais ninguém, olha só, amassou o livro todo, pode todo mundo ir brincar.

Os meninos todos vão menos o que tinha pedido o livro no início. Ela então empresta o livro pra ele como se fosse escondido.

- lê ali sentadinho.

Dessa vez ela não diz nada e o garoto lê o livro até o final. Durante o intervalo ela conversou muito com a Patrícia, mas, devido ao fato de ela estar conversando sem microfone conosco eu não consegui escutar nada da conversa tamanho era o barulho dentro da escola, não sei o que falaram!

Recreio terminado, a turma se senta no chão em fila e em seguida sobe para a sala. Alguns alunos conversam comigo perguntando em que fila eu vou ficar e eu começo a me preocupar em não vi-

rar um motivo para as crianças fazerem bagunça.

Ao chegar à sala a professora pega uma folha de exercícios e volta a aula;

- Agora o que a gente vai fazer é essa folhinha de exercício aqui. - e vai distribuindo a folha pela turma. - Eu vou fazer junto com vocês não tem porque ter dúvida.

As crianças são muito apressadas e começam a levantar fazendo perguntas;

-Eu não atendo criança em pé. Só atendo criança no lugar que levanta o dedo.

E novamente vai passando de mesa em mesa.

- Como que é o som do “GO” ? - o aluno responde errado “JO” - não, nada disso, não é “jó” é “go” que nem ‘gato’. - Outros alunos insistem em ir até a professora - Não adianta, eu só vou ver a sua dúvida quando você estiver na sua mesa com a mão levantada.

- Davi! Olha a sua ficha no chão, que falta de ca-pricho. - ela finalmente consegue ir até a frente da sala - Como vai ser o exercício que a gente vai fazer, aqui - aponta a folha - tem que desenho? - as crianças respondem - Isso mesmo, uma for-miga, então nós vamos vir aqui desse lado e pro-curar a palavra “formiga” e ligar com o desenho da formiga.

- Aqui embaixo que desenho é? Exatamente, uma flor, mas flor é uma palavrinha mais difícil.

Ela vai andando pela sala vendo os cadernos.

Terceiro Encontro

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Terceiro EncontroTerceiro Encontro- Você não leu, lê aqui, o que tá escrito? (...) viu como você sabe?

- Vamos tentar escrever formiga? Quantos pedaci-nhos tem? FOR-MI-GA - fala pausadamente - três pedacinhos, como é o primeiro? “FO”? - A turma responde F com O - Isso, mas só “fo” não faz for-miga, aqui é FORRR e ressalta o R enquanto es-creve R no quadro.

Um garoto na ultima cadeira começa a chorar, a professora vai até ele, pergunta o que houve, a Darling tinha pegado a borracha do garoto;

-Devolve a borracha do Pedro Henrique, Darling!

Ela não devolve, a professora vai até ela pega a borracha e coloca-a de castigo.

O castigo é um banquinho que tem do lado de fora da sala, bem do lado da porta. Que por sinal a Darling não senta, fica em pé inquieta. A matéria continua.

- “Flor” é mais dificil, acompanha comigo. Quan-tos pedacinhos tem? Fala, “flor”, “flor” quantos pedacinhos? - a turma não responde incerta - Um só gente!

Ela escreve a palavra no quadro.

- Bia você tá com lápis aí tá tudo bem?

Bia era a aluna que estava chorando no início da aula. Ela ficou sentada com o dedinho levantado por um tempo, mas a professora acabou corrigin-do no quadro para que todos pudessem prestar atenção.

Uma aluna começou a reclamar que outro estava olhando o caderno dela para copiar as respostas. E a professora foi até lá para mandar os dois fica-rem quietos. Logo depois disso um aluno come-çou a reclamar que a ficha dele não estava com ele e ele não sabia onde estava, a Silvia passa e vê a ficha no chão;

- O que a sua ficha tá fazendo no chão. Tá com o nome do Davi aqui. Davi! Porque você escreveu o seu nome na ficha do Vitor? Isso significa que a ficha tava com você.

Ficha, caso não tenha ficado claro, é um papel com o nome do aluno que eles usam no início do ano para aprender a escrever o próprio nome.

A aluna que antes estava reclamando que estavam copiando o dever dela começa a dizer que precisa ir ao banheiro e que está se sentindo mal.

Outro aluno pergunta como que faz o segundo exercício da folha e ela já quase esgotando a pa-ciência diz ;

- Eu não cheguei aí ainda, espera, termina o an-terior aqui tá errado. Senta no seu lugar, não vou atender você em pé.

O que ficou claro pra mim é um crescente da per-da de paciência da professora, e com toda razão. Ela não consegue prosseguir a matéria e vários fatos vão se sucedendo exigindo a atenção dela. A minha vontade na hora era levantar e começar a ajudar ela a fazer as coisas. Não pude deixar de pensar que eu que estava ali apenas para observar não consegui acompanhar tudo que acontecia na sala. E imediatamente me pus no lugar da profes-

sora que ainda tinha que ensinar e cuidar de todos os alunos. O desfecho disso foi o inevitável;

- Acabou a brincadeira! - ela grita nervosa na fren-te da sala, todos os alunos param. - Não quero ou-vir mais nenhum barulho! Já me basta o lá de fora!

A turma fica em silêncio um aluno tenta falar e ela continua;

- Shiiiiiu. Não vai falar nada, parou. Só eu vou falar.

Ainda acontece um silêncio por algum tempo. Ela continua o exercício.

- O som do “gue” a gente ainda não estudou por isso eu vou por no quadro.

Nessa parte é importante dizer que o clima é total-mente diferente do de antes. Todo mundo na sala está totalmente calado e virado pra frente com a folha. E apenas falam coisas que ela pergunta “que som tem o F mais o O?” e imediatamente volta a fazer o exercício.

Meia hora antes do almoço, ela termina, sem co-meçar o exercício 2 da folha, e chama as filas para colocar um aviso na agenda. No dia seguinte não haverá aula em razão da limpeza das caixas d’água da escola.

- Meninas podem fazer a fila do almoço. (...) Ago-ra os meninos.

Descemos as rampas com várias turmas na nossa frente. E vamos acompanhando até as crianças chegarem no almoço, vendo mais os alunos que a professora.

Em certo momento o Davi começa a chutar ou-tro menino e a professora coloca ele encostado no muro de castigo. Ele sai do muro. A professora o coloca no muro de novo e começa a falar com ele dando uma bronca com microfone e tudo bem de perto, mas eu, não consigo ouvir novamente, mesmo não estando a mais que 2 metros da pro-fessora. Era o refeitório com várias turmas em hora de almoço. Eu mal me ouvia. Ela passa por mim e pela Patrícia e diz:

- Segura um pouco a fila pra mim, vou levar esse aqui lá na diretora.

A fila segue com as meninas brincando e os meni-nos brincando de soquinhos na mão.

Quando chegamos na hora de servir a professora já está de volta e conversamos um pouco enquan-to liberamos as crianças com seus pratos:

-Ela está bem afetada pelas crianças já. - eu digo para a professora me referindo a Patrícia. Que es-tava do outro lado do refeitório conversando com um número impressionante de crianças ao mesmo tempo, acho que nem ela se deu conta de que tinham tantas crianças em volta dela.

- É verdade - a Silvia me responde - ela está cari-nhosa, dando total atenção, acho que chega a ser um pouco de choque, porque ela não deve estar acostumada com isso.

A gente sorri a Patrícia chega pergunta o que foi, “nada” respondemos juntos enquanto vamos an-dando para a mesa.

Nesse dia na hora da despedida da turma não

pude deixar de dar um abraço na Bia. E um tchau para a turma toda e para a professora.

Agradeço a Silvia por me inserir no contexto da aula quando disse que até eu tinha faltado a aula da Foca Famosa, ( o que na hora foi bem engraça-do ), isso me fez perceber que a Silvia está pondo em prática a decisão de fazer com que eu faça parte do contexto da aula, que eu seja uma pre-sença ‘normal’ para as crianças e não um obser-vador distante. Isso gerou em mim, a vontade de voltar lá no dia seguinte.

Agradeço a Silvia por andar pela sala confe-rindo caderno por caderno um de cada vez. Em todas as aulas até aqui ela teve a mesma atitude, isso mostra para mim que ela se pre-ocupa com cada aluno em relação ao grupo todo. Sempre procurando nivelar a turma. Isso gerou em mim uma primeira dica para experimentos ou partido adotado. Seja lá o que eu fizer, preciso pensar em algo com o grupo com o mínimo de possibilidade de alunos ficarem para trás.

Agradeço a Patrícia por ela ser tão afetiva e espontânea no lidar com as crianças e na forma de observa as atividades. Em deter-minados momentos ela mal sabe o que ob-servar ou agradecer de tanto sentimento que ela põe na tarefa e tamanha é a afeta-ção dela pela turma e intercessora. Isso ge-

rou em mim a percepção de que esse meu jeito ‘lógico’ de pensar afetou demais a mi-nha espontaneidade. Talvez eu não seja nunca como ela, mas consigo perceber o va-lor imenso que ela tem no projeto, pois ela pode ver coisas com uma perspectiva total-mente diferente da minha e que me interes-sa realmente.

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O dia começa às 8h da manhã, mas eu só chego à escola às 9h. Nesse tempo, o máximo que a professora conseguiu fazer foi organizar os alunos para entrarem na sala de aula.

- Agora vamos descer para passar o cartãozinho. Quem já pegou cartão agora forma a fila.

O cartão de passagem está sendo usado como controle da presença dos alunos. Todos os dias pela manhã, os alunos têm que passar o cartão nas máquinas de recarregar para garantir o bene-fício da gratuidade.

Com isso a turma perde pelo menos mais meia hora de aula só para descer, passar o cartão e su-bir.

Quando voltamos a Silvia iniciou a aula, quase às 9h40;

- Vamos ver o nosso calendário? Que dia da se-mana é hoje?

O calendário é uma placa de carmurça presa a pa-rede com um anel que prende envolta das datas. Existe um espaço para o dia da semana e para o clima do dia. Eu nunca cheguei tão cedo na aula

antes, é a primeira vez que vejo essa atividade.

- Gente! Ouvi alguém falar domingo? (risadas) Hoje vocês estão em casa? Que dia é o dia do Faustão, hoje tem Faustão?

Então elas tentam todos os dias da semana em sequência.

- Ah assim né. Hoje é quarta-feira. Eu sei que pra saber o dia eu tenho que descer essa coluna aqui - aponta o dedo pela coluna do calendário - ah mto bem que número é esse aqui que eu achei? Um com quatro? - a turma responde catorze.

E hoje hein, como que está o dia? - os alunos res-pondem que está nublado -, muito bem, hoje não está ensolarado. Agora vamos ler o alfabeto que a gente não leu. SHHHHH, não comecei ainda, que barulho todo é esse.

Em seguida a turma toda faz a leitura de um cartaz com alfabeto.

- Muito bem. Ô Yasmin, me diz que letra vem de-pois do ‹F›.

Ela não tem certeza e demora um pouco pra res-ponder, os outros alunos falam pra ela e ela copia a resposta;

- Vem cá, seu nome é Yasmim? - falando para ou-tra aluna que respondeu - eu quero que a Yasmin responda. Yasmin (ela reforça o nome da aluna indicando que ninguém mais deve responder) me diz então que letra vem antes do F.

Mas a Yasmin não tem certeza. Silvia então ajuda ela apontando as letras com a régua e ela conse-

gue responder.

- Ana Júlia, que letra vem depois do Q? - Ela de-mora um pouco mas responde - Ah isso mesmo, o «R» que a gente está estudando. Bem vamos lá.

Ela termina o exercício inicial e passa para a ati-vidade.

- Essa é a hora de descobrir quem não tem lápis e borracha. - Os alunos gritam que tem.

Ela pega uma folha com exercício e vai distribuin-do entre os alunos. O tema da aula é a letra R, e a folha tem um trava língua «o rato roeu a roupa do rei de Roma” .

-Quem vai ler pra mim a folhinha? Não é uma fra-se, é um texto. - Darling levanta a mão - lê pra mim então;

Ela lê tudo de uma vez “o rato roeu a roupa do rei de Roma. A professora percebe nesse momento que a menina não leu, como ela usou um trava lín-gua muito conhecido a maioria dos alunos já sabia o versinho de cabeça e fala praticamente tudo de uma vez.

- Você “leu”. Mas não leu tudo, quem quer conti-nuar a leitura?

Darling levanta a mão, a professora vai até ela e ela lê tudo de uma vez também.

- Vocês não estão lendo, vocês decoraram, eu quero que vocês leiam uma de cada vez, vamos fazer assim, vocês vão circular todas as palavras que começam com “r”. - os alunos começam a fa-zer o exercício e alguns reclamaram que estavam

sem material;

-Eu já dei borracha e lápis pra vocês, já perderam tudo? Todo dia tem que dar uma borracha pra vo-cês. Eu não vou dar mais nada, esse aqui - pega um lápis - é emprestado ouviu? No fim da aula eu quero de volta.

Hoje diferente das outras visitas os professores fi-zeram um sistema para cobrir os recreios em que eles revezam os dias de supervisão do pátio e cada professor tem que dia sim, dia não ficar com as turmas durante o recreio. Descemos numa fila muito bagunçada e com a professora dando vá-rias broncas nos alunos. Eu aproveitei para levar 1 experimento para ela dar uma olhada. 6 ilus-trações numa folha. Pensei de maneira aleatória então as figuras não têm relação lógica entre si. A professora gostou muito, ficou empolgada com os desenhos e deixou eles para tirar xerox prometeu que usaria no dia seguinte.

Essa quarta visita acabou sendo para preencher uma lacuna de visitas antes da primeira prova, porque eu fiz uma viagem a trabalho que bagun-çou um pouco o cronograma das aulas para mim, então nesse intervalo a professora ficou muito in-teressada em como foi a viagem e os detalhes in-teressantes. Não houve nenhuma atividade com os alunos mais dedicada em razão disso. Quando voltamos para a sala ela mal teve tempo de fazer o primeiro exercício da folha já era hora de almoçar.

A fila do almoço com as crianças é o momento mais barulhento de toda aula, primeiro, porque são quase 12h, as crianças já estão super acor-dadas, dispostas, correndo e gritando. E também

porque todas as turmas da escola descem ao mes-mo tempo para o refeitório. Enquanto descem os alunos são muito indisciplinados. Brincam de se bater o tempo todo e ficam berrando, a Silvia tem muita dificuldade para controlar e eu, na medida do possível tento ajudar enquanto observo. Eu gostaria de não interferir tanto nas coisas assim enquanto faço o projeto, mas não consigo não fa-zer nada diante da situação. A minha presença no ambiente já cria uma anormalidade no cotidiano das crianças e isso se reflete no fato que, grande parte das artes que eles fazem a razão é ‘aparecer’ para mim ou para a Patrícia. Na fila do almoço é quando tudo isso fica mais crítico.

Um dos alunos, Davi, chegou a ser suspenso da escola por chutar um colega da turma e não obe-decer a Silvia. E dois outros André Luiz e Androis estão indo pelo mesmo caminho, se batem o tem-po todo.

O posicionamento da Silvia perante a situação é de “não há o que fazer”;

- Eles são impossíveis, não obedecem, aquele ali - indica um aluno- bate até na mãe. O Davi foi sus-penso 1 dia da escola porque não obedece. É mui-to dificil, eu não entendo, essas crianças parecem que não tem quem as dê educação. Não educação de escola, eu digo, modos. Na outra escola que eu dou aula não é assim, as crianças não brincam de se chutar o tempo todo, é muito diferente.

Almoçamos em pé olhando a turma e depois nos sentamos. Vários alunos vieram mostrar o prato limpo pra mim e pra Silvia, e nós demos os para-béns “comeram tudo isso aí!”.

Quarto EncontroQuarto Encontro

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Jogo de Palavras

Agradeço a Silvia pelo fato de que quando eu entreguei os meus desenhos a ela, como isca, ela ficar muito feliz. Isso gerou em mim a ‘quase’ certeza que a resposta a mi-nha pergunta sobre o que mais encanta a professora, sejam desenhos. Não só meus, mas principalmente os das crianças.

Como as visitas estavam completas e a intenção era entregar o jogo de palavras para a professo-ra, nem eu nem Patrícia chegamos muito cedo. A professora até achou que o dia não seria provei-toso para nós porque ela não ficaria com a turma, era dia de aula extra.

Aula extra é quando um outro professor(a) pega a turma para uma aula qualquer. Pode ser educa-ção física, inglês, e até ciências (no fundo da sala agora tem vários experimentos com água). Nesse dia seria educação física.

Entregamos o jogo de palavras pra ela:

- Isso é pra você arrumar seguindo uma organiza-ção qualquer que você quiser. - eu digo.

- Posso arrumar por substantivo, verbo?

- Bem, até pode, mas na verdade a gente está procurando saber um pouco mais de você, se você achar que arrumando assim, tem a ver com a sua aula e tudo o mais, tudo bem.

- Não, essas crianças não sabem nada disso ainda - Ela vai lendo as palavras e percebe que a quan-tidade delas é muito grande, daí então resolve co-locar tudo em um bolo só e começar de novo, mas dessa vez vai separando em duas pilhas. - Mas tem muita palavra aqui menina.

Patrícia dá uma risada;

- É a gente tirou daqui da sala mesmo, no dia a dia.

Ela vai separando. Então ela pega a palavra “idio-ta”;

- Meu Deus... eu falei idiota? Caramba.

- Não, essa palavra foi de uma conversa nossa em que você falou como os pais de alunos da outra escola que você trabalhava te tratavam. - Eu tran-quilizo ela.

- Ai que bom, achei que eu tinha chamado algum aluno de idiota. ( risadas ) - ela pega outra pala-vra “manhosa” - Ah! Manhosa é a Cauany lembrei direitinho.

Depois que ela separa todo o bolo, e nos apre-senta a organização que fez, nós pedimos a ela

que conte um pouco sobre o que ela pensou ao organizar as palavras, o que isso significa para ela.

- A mãe, o abraçar, a casa, todas essas palavras são palavras... a troca são palavras que envolvem muito carinho, por isso eu separei porque eu acho que elas são as prioridades do meu trabalho e com as minhas crianças. E essas aqui, são, bem, po-dem dizer muita coisa, mas isoladas elas não tive-ram muito sentido para mim - ela pega a palavra Galera - Opa, essa aqui significa pra mim, porque é a minha galerinha. E tem umas aqui, que eu queria excluir mesmo? O acidente, o brigar, o pro-blema, o chutar/chuta.

Nesse ponto o jogo já estaria bom para apresen-tar, mas achei que podia ir mais além e acabei pe-dindo que ela fizesse um jogo de novo só com as palavras que ela não excluiu. Durante todo o jogo eu senti que ela ficava presa em certos momentos procurando palavras então achei que poderia falar para ela também que ela não precisava se prender as palavras que nós trouxemos, ela poderia incluir palavras se quisesse. Daí ela fez frases.

- Tenho uma frase, “tempinho para conversar e abraçar a família”, todos nós precisamos. Posso escrever as preposições?

- Claro.

- Acho que é isso, essas palavras são as mais inte-ressantes. Referente as palavras da esquerda, ela acabou fazendo a seleção da seleção.

O mais legal que eu pude observar é que no meio das frases ela formou a frase “adoro desenho de criança”.

Frase Objetivo Escolhida em Aula;

“Contar uma história é brincar de pintar a vida”

Lista de atividades observadas;

Desenho e pintura, Contação de História, Ditado Oral, Exercícios com Folha, frases baseadas em figu-ras, Supervisão de Recreio, Almoço.

Agradeço a Patrícia pelo fato de ela ter feito o jogo de palavras, que ficou (a feitura dos cartões) sob a responsabilidade dela e ela não faltou ao compromisso, isso gerou em mim uma segurança maior na participação dela no projeto e na dedicação dela com a escola.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela ter se esforçado em dar detalhes sobre o jogo de palavras, sempre procurando nos ajudar e abraçar o projeto, isso gerou em mim uma compreensão melhor das dificuldades em sala de aula e dos objetivos da professora.

Jogo de PalavrasJogo de Palavras

Cauani, a manhosaCauani, a manhosa

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Experimentação

Os Primeiros ExperimentosDevo admitir que até agora não consegui voltar ao fuso horário certo e estou dormindo a tarde em quase todas as aulas da semana (o que não é bom), pois acabei só fazendo 1 experimento. Como a professora gosta de desenhos e de his-tórias, achei que poderia ilustrar alguma que ela ainda não contou. Fiz 6 desenhos aleatoriamente, uma abelha, um tubarão, um cão e um gato, uma caveira, e um menino e uma menina.

No dia seguinte próximo à hora do almoço eu pas-so na escola para falar com a professora e mos-trar o experimento, propondo se lhe interessa usar para alguma atividade no dia seguinte, ela se ani-ma e diz que gostou, fica olhando para cada um deles durante um bom tempo e, então, vai até a xerox para tirar cópia deles;

- Vou usar na aula amanhã.

Patrícia também vem à escola com os experimen-tos (mais numerosos que os meus), uma compo-sição com pet, algumas coisas que não sei definir, outras que foram feitas durante a aula e um feito com dois bambus presos um ao outro por retalhos de pano e atravessados por linhas finas, como um varal.

- Acho que posso usar esse. - A Silvia olha pra mim depois para Patrícia, enquanto levanta o ‘varal’ -, pra segurar os desenhos, o que você acha?

- legal.

No dia seguinte, Patrícia não vem.

No início da aula a professora pensa em pendurar o varal em algum lugar, mas não há como.

- Acho que eu consigo prender aqui. - diz a profes-sora, tentando pendurar o experimento um pouco de mal jeito no quadro.

- Vou tentar conseguir um barbante. - eu respondo

Na sala da direção consigo um barbante e amar-rando nas duas pontas de um dos bambus prendo o experimento no ventilador logo acima do quadro.

A professora tem pregadores enfeitados para pren-der os papéis nas linhas e começa pelo tubarão;

- Que desenho é esse?

“peixe”, “foca”

- Não, olha bem, é um tubarão, olha a barbata-na do tubarão aqui bem apontada. Aquela que fica pra fora da água. E como que está esse tuba-rão?

“machucado”, responde a turma.

- Ah é verdade, alguém amarrou bem a boca do tubarão para ele não mo-der ninguém. Então ago-ra, eu quero todo mundo tentando escrever ‘tuba-

rão’ vamos ver quantos vão conseguir fazer sozi-nho.

A consoante da semana sendo estudada é o “R”, e a figura do tubarão acabou vindo a calhar, já que era a única no meio dos desenhos que tinha “R”.

- Como que faz esse “RÃO” ? A gente praticamen-te estudou ele ontem. Vamos, vamos! Lembra aí.

Os desenhos ficaram pendurados no varal durante a aula enquanto a professora andava de mesa em mesa vendo como os alunos estavam escrevendo, corrigindo uns e dando parabéns para os outros que escreviam certo de primeira.

- A Ana Júlia já sabe escrever “tubarão” sozinha. Olha só!

Uma das meninas, Yasmin, que normalmente não se destaca na aula, nessa aula em específico es-

creveu mais que o normal;

- Meu Deus! Yasmin! Que ótimo, tá saindo o tu-barão aí! Já tem o “tu-ba” mas não é isso ainda, ‘tuba’ é aquele instrumento musical, eu quero o ‘tubarão’, como que é esse ‘rão’ ?

Ela continua andando pela sala. Depois que dá um visto na maioria dos cadernos ela passa para o próximo exercício;

- Agora todo mundo vai escrever uma frase com ‘tubarão’, quem é que sabe me dizer uma frase com ‘tubarão’?

As crianças tentam algumas coisas; “o tubarão nada”, “o tubarão é morde”, “o tubarão vive na lagoa” ...

- epa, na lagoa não. Onde que o tubarão vive? - pausa, as crianças pensam melhor - No mar. Isso aí. Então vamos fazer essa frase, ‘o tubarão vive no mar’.

- Professora pode ser; ‘o tubarão nada na água do mar’ ?

A professora olha pra mim e acha graça da frase.

- Pode. Pode? É, acho que pode.

Enquanto as crianças vão escrevendo, ela vai pas-sando pela sala olhando os cadernos e ajudando as crianças com mais dificuldade.

- Como que é o tubarão? Mas você escreveu ele aqui em cima, como que você pode estar me per-guntando de novo? É só copiar o daqui de cima que você mesmo escreveu.

Depois de todo mundo fazer uma frase, ela pega o desenho da menina.

- E aqui o que a gente tem?

- Uma menina! - A turma responde

- Ah é verdade, mas o que essa menina é. Olha bem. - as crianças não tem certeza - o que que ela tá carregando na mão?

- Livro!

- Ah então, quem é que carrega livro?

- Aluna.

- Muito bem, então vamos escrever aí no caderno ‘aluna’ ? Quem sabe como que escreve?

Ela soletra a palavra ajudando os alunos que não conseguem acompanhar direito.

- Quem é que pode me dizer uma frase com ‘aluna’ ?

“A aluna vai pra escola”, “a aluna é estudante”

- Essa não, você falou a mesma coisa e não falou nada aí.

“A aluna leva o livro”

- Quero ver você escrever essa.

O exercício se repete, ela escreve no quadro a pa-lavra e a frase e passa para o próximo desenho;

- E esse aqui o que é?

- É um menino.

- Só isso?

- Não!

- Então o que?

- Ele tá de mochila professora.

- É porque ele é um aluno. -diz outro.

- Ah, isso mesmo, mas a gente não vai escrever igual não. - a turma pergunta ‘porquê’ - Porque, qual é a diferença entre aluno e aluna?

A turma pensa um pouco e depois de chutarem algumas alguém acerta dizendo o “a” e o “o”.

- Então, isso mesmo, a gente vai escrever nesse aqui “estudante”. Quero ver quem consegue aí.

Ela dá alguns minutos para a turma escrever e vai acompanhando de mesa em mesa.

Chega a hora do almoço.

Essa parte não tem muitas diferenças dos dias anteriores. Muito barulho, a professora o tempo inteiro tendo trabalho com a fila. E a comida que tava boa como todos os dias.

Exceto pelo fato do Davi, um dos alunos que vai bem nos deveres, mas insiste em não obedecer a professora. Suspenso já 2 vezes está quase indo para a 3º suspensão.

A minha opinião sobre o experimento desse dia é que os desenhos deveriam ser mais escuros e maiores, ainda não sei como, mas inserir alguma ação nas personagens pode ser mais interessante que apenas apresentá-los. Mas não sei que ações,

Experimentação

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ExperimentaçãoExperimentaçãocom que fim.

Ps.: O desenho do tubarão, quando o fiz pensei em fazê-lo com dor de dente e não com a boca amarrada para não morder ninguém. Eu comentei isso com a professora depois na hora do almoço.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela ter usado os desenhos e o varal na sua aula. Esse fato gerou em mim uma observação de como a aula segue quando a professora não precisa se ocupar com a folha de exercício, (que foi o papel dos desenhos no varal). Ela pode dar mais atenção a cada aluno, sem se pre-ocupar em ir pra frente da sala toda hora. E isso acabou fazendo cada aluno escrever mais frases do que o normal.

Agradeço a Patrícia pelo fato de ela ter tra-zido o varal como isca, isso gerou em mim o pensamento de que, apesar de eu ter pensa-do em uma folha com ilustração, eu não per-cebi que eu precisaria de um suporte para que a professora usasse os desenhos, usar uma estrutura de suporte fez toda a diferen-ça no resultado final do exercício.

Segundo ExperimentoPara esse diz eu fiz um experimento composto de várias pirâmides com letras, cores nas suas faces,(talvez por muita influencia da prova de geometrica com a qual eu estava preocupado).

Eu levei para a professora no dia anterior à aula, para ela dar uma olhada.

- Ai que legal, adorei, eu posso separar eles em grupos.

- Sério? Que bom, então acho que vou fazer mais.

Como prometido fiz mais.

No dia seguinte logo de manhã, encontro a Silvia no corredor conversando com uma colega, o clima estava um pouco tenso, apesar de eu não saber o assunto. Já eram 9h, os alunos já tinham descido para confirmar presença com o cartão do Riocard. A professora senta--se à mesa e escreve nas agendas dos alunos recados variados.

9h30 é hora do recreio. Descemos e, como hoje não é dia de ela olhar o recreio das crianças, subirmos no-vamente.

- Dá uma olhada neles, ontem você viu muito rápido. - eu digo. Ela abre o saquinho com as pirâmides.

- Eu acho muito legal essas coisas que você está fazen-do, com letra, desenho, porque são boas pra integrar no ambiente escolar. Eu conversei com a Patrícia sobre isso, ela faz muitas coisas legais, mas não tem como eu usar, ela trouxe - tenta se lembrar- como que era, um negócio grande de bambu, não tinha como usar aquilo.

- Entendo.

- É legal, mas não é pra esse ambiente.

Ela pega alguns com palavras e acha interessante.

O recreio acaba e ela desce para pegar as crianças. Na volta começamos a arrumar as crianças em grupos. Eu ajudo nessa parte.

- Presta atenção em mim. O que é isso?

- Triângulo. - grita um aluno

- Pirâmide. Percebe bem, essa pirâmide tem vários tri-ângulos, tem um aqui, outro aqui (...) e o que tem nes-ses triângulos? - as crianças falam as letras impressas - isso mesmo, tem letras, consoantes e vogais, muito bem. O que nós vamos fazer agora é o seguinte, eu vou dar uma pirâmide dessa pra cada um de vocês e vocês vão jogar pro alto, mas não é pra jogar no chão ouviu? Vão jogar pro alto e a letra que cair de frente pra você, você tem que escrever uma palavra. Enten-

deram?

A partir daí, as crianças começam a brincar com o tri-ângulo e escrever. A professora vai de mesa em mesa olhando os cadernos e ajudando alguns, dando certo para outros.

Após alguns minutos, 20 ou 30 (eu não marquei) im-pressionantemente algumas crianças tem 8 linhas de palavras escritas a professora não acredita;

- Meu Deus! Olha que legal! Cara, você escreveu muito aí, que ótimo.

Outros alunos vêm chegando; «e eu professora?»

- Você também,- olha o caderno- aqui tem um erro, fala comigo, tá faltando uma letra.

Além disso, quando separamos os alunos em grupos, ficou muito claro os alunos com mais dificuldade e os mais avançados, de forma que nos grupos onde um aluno avançado sentou com dois alunos com dificulda-de todos os três escreveram a maior parte das palavras corretamente. Onde sentaram três alunos médios, me-nos palavras foram escritas, em torno de 3 ou 4 linhas, porém o nível de acerto foi maior e onde sentaram três alunos com dificuldade, eles conseguiram escrever pou-cas palavras, mais ou menos cinco palavras, mas todas certas.

Apenas dois alunos que realmente não conseguem es-crever ainda não foram bem na matéria, porém mesmo assim eles escreveram um monte de palavras que não existe, como por exemplo; «obtvzm», porque caiu a letra «o» na pirâmide.

No início alguns copiaram das paredes as palavras, mas depois de algumas jogadas eles começaram a pensar

em palavras por eles mesmos. Normalmente palavras muito difíceis pra eles; “osso”, “ilha”.

Depois de um tempo as crianças começaram a trocar as pirâmides um grupo com o outro para ganhar novas letras e escrever mais palavras.

A coisa chegou num ponto que a professora perdeu um pouco o controle do que as crianças estavam escreven-do, porque cada uma escreveu muita coisa.

Quando chegou a hora do almoço o problema de edu-cação dos alunos voltou totalmente. É muito difícil lidar com as crianças que não seguem a professora ou não se comportam e eu estou pensando em como posso abordar isso com os experimentos ainda.

Conversei com a professora no almoço sobre o experi-mento dessa vez;

- o que você achou?

- Foi bem legal, mas eles ainda são muito dependentes. Aqueles meninos lá que você viu que foram bem deva-gar, eles sabem escrever mas estão em processo, eles precisam que eu fique lá perto deles. Esse é o proble-ma talvez, eles dependem muito de mim ainda. Aquele outro que não escreveu nada, ele nem em processo está, faltou 28 dias a escola.

Agora eu tenho que ir pra puc e fazer a minha apresen-tação incompleta e atrasada.

Que dureza.

Agradeço a Silvia por ter usado as pirâmides como exercício na sua aula. Isso me mostrou que quando os exercícios são passados as crian-ças de forma lúdica (eu acho) o rendimento de-las é maior e o controle é menor. E eu ainda es-tou decidindo o quanto isso é bom e o quanto isso não ajuda.

Agradeço a Patrícia por não ter vindo, me fez sentir falta dela durante a experimentação e imaginar como ela poderia ter mudado as coisas e se maravilhado com as coisas também se ela estivesse na sala.

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ExperimentaçãoExperimentaçãoTerceiro ExperimentoLevei vários experimentos nesse dia, então, nem de-veria chamar de “terceiro experimento esse pedaço” porque são vários. A Patrícia está sumida, e eu não sei mais como agradecer a falta dela no projeto.

A professora pega alguns pra dar uma olhada e de cara tira o abraço. Ela mexe nele mas não tem idéia do que fazer, como usar.

- Eu gostei desse, deixa ele aqui separado que eu vou pensar em algo pra ele com certeza.

Depois tira o cubo;

- Ah esse aqui dá pra usar agora, deixa ele aqui que eu vou usar. Agora esses aqui - tira o suporte de ficha e fica olhando pondo a mão pelo experimento. O mesmo acontece com a borboleta, ela olha aperta o experimen-to (porque é macio) mas deixa ele sobre a mesa.

Começamos antes do recreio com o cubo amarrado com fitas. Eu levei o cubo sem nada e a professora escreveu sílabas nas laterais do cubo. Daí separou a turma em dois grupos grandes.

- Darling você vai pro grupo de lá que tá mais fraco, Diego fica aqui, não vai ficar no mesmo grupo da Dar-ling. Maria Eduarda passa pra lá. E vocês dois aí, nada de sentar junto vocês são muito bagunceiros.

Depois de todo mundo passar de um lado para o outro a professora fez as regras da brincadeira;

- Cada um de vocês vai ter que vir aqui jogar o dado e escrever uma palavra da sílaba que cair pra cima. Se escrever certo o grupo ganha ponto. Vem você primei-ro Cauã.

Joga o dado.

Ele joga o dado para o alto e cai a sílaba “na”. Depois de pensar um tempo ele fica na dúvida e diz que não sabe o que escrever.

- Vamo grupo, fala uma palavra pro Cauã escrever.

As crianças não sabiam que podiam falar, e quando a professora falou isso começou uma gritaria danada. “Navio”, “Banana”, “escreve Natália”.

- Tá bom tá bom - a Silvia já tava arrependida de tê-los deixado fazerem tanto barulho - escreve navio aqui.

O Cauã escreve até certo mas como N invertido.

- Pode sentar lá. O grupo, responde pra mim, o Cauã escreveu “navio” certo? - “siiim” dizem as crianças - Sim? Olha bem, olha aqui pro “n” tá que nem aqui no cubo? - “nãão” - Ah bom, então tem que desvirar aqui e o grupo de lá não ganhou ponto. Vem daqui agora, Cauany.

A Cauany vem pra frente e joga o dado. Cai o “Li”, o grupo começa a gritar várias palavras para ajudar até que a Silvia decide que ela iria escrever “palito”. A Cauany também escreve errado, esquece de por o T e faz um palio. E o grupo não ganha ponto.

Depois dela vem a Darling. Joga o dado e recebe um FA, ela já sabe escrever melhor que os outros alunos então nem dá muito pro grupo soprar palavra pra ela. Ela já sai escrevendo “faca” no quadro e a Silvia brinca com ela;

- Mas é muito metida mesmo essa Darling, você já pode ir pra 3º série direto.

Depois dela vem o Diego que também sabe escrever melhor na turma. Ele ganha um “GA” e escreve “galo”.

- Ai Diego, como que eu queria que todos os meus alu-nos fossem iguaizinhos a você.

Daí o intervalo toca e a professora precisa descer todos os alunos.

Quando voltamos do intervalo a professora vê dentro da bolsa com os experimentos e passa o liga-palavra

pela sala.

- Vai fazendo passa pra trás.

As crianças vão fazendo devagar, às vezes em dupla e depois passam para outros coleguinhas. Ela não deu muita atenção em acompanhar esse experimento.

Ao mesmo tempo ela pega o boneco de bambu.

- Que divertido. - olhando para o boneco - esse Thiago viu, acho que ele não trabalha. Vou dar um serviço pra

esse Thiago fazer (brincando).

- Olha só quem o tio Thiago trouxe pra visitar a escola.

As crianças ficam olhando.

- quem sabe o que é isso aqui que eu to na mão?

“É um boneco», «eu não sei», «nem eu».

- É um boneco mesmo, parece um robozinho né? Va-mos dar um nome pra esse boneco?

Daí as crianças começam a gritar um monte de nomes.

- Pera aí, pera aí. «Marcos», qual mais? «Pedro», «João». Tá muita bagunça. Quem quer Marcos. Só você quer «marcos» Pedro Henrique. Quem quer «João»? Muita gente quer João hein. E Pedro? Quase ninguém quer

Pedro. Então o nome dele vai ser João. Vamos colocar o João aqui.

- Agora todo mundo abre o caderno e me diz uma coisa que o João gosta de fazer. Aí vão escrever isso. O que ele gostar de fazer? - ela pergunta olhando pra um aluno, “jogar bola” - Isso, que mais? - “Beber coca”, ela olha pra mim e ri - o Cauã cismou com beber coca, tudo ele falar beber coca.

As crianças levam um tempo para escrever a frase no caderno e depois que 3 ou 4 alunos já tinham apresen-tado a frase para a Silvia ela diz pras crianças fazerem um desenho do João.

Eu não posso ficar até o final da aula porque tinha aula as 11h na puc, então me dispeço da professora e das

crianças com elas ainda fazendo esse exercício.

- Ah tudo bem, já vou levar eles pra almoçar, você não vai almoçar com a gente?

- não posso eu tenho mesmo que ir pra aula.

- acho que foi legal hoje, usamos dois, esses aqui eu não consegui pensar em nada. - mostra a borboleta e o suporte de ficha

- tudo bem, isso é bom também.

- Esse aqui do abraço, você trás amanhã porque eu vou pensar em algo pra fazer com ele.

- tá bem.

Agradeço a Silvia por usar o Cubo com as sílabas como um jogo com a turma toda, isso me levou a pensar que um experimento grande é fácil de ser usado com a turma in-teira, ou seja, com experimentos pequenos o trabalho acaba sendo direcionado para uma única criança.

A Patrícia não apareceu, mas agradeço a ela porque pensar em como seria quando ela estivesse na sala me faz tentar ver (me es-forçando) algum lado mais sentimental do projeto. Apesar de achar que não estou fa-zendo isso ainda pelo menos estou tentan-do.

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ExperimentaçãoExperimentaçãoQuarto ExperimentoLevei novamente todos os experimentos.

- Ah eu pensei numa coisa pro abraço. Cadê ele? A gente coloca uma cesta aqui. As crianças podem depo-sitar frases que falem de carinho de amizade.

- Nossa que máximo, vou fazer isso.

Como eu só podia fazer isso depois porque não tinha material na escola, a professora pegou o pato;

- Ai que lindo esse, eu queria saber fazer isso, eu sou professora, eu devia saber fazer isso (acho que ela fa-lou de brincadeira). vou usar esse porque tem uma his-tória que eu vou contar que tem pato.

Ela pega um livro “o Pato amigo do Sapo”

- Hoje eu trouxe essa história aqui, que foi escrita pela Sonia Junqueira e desenhado pelo Ian, e o que conta essa histórinha pra gente? “o sapo vê o pato e o pato vê o sapo” tão vendo aqui o desenho? - ela mostra o livro para todos os alunos. “O pato pergunta pro Sapo; Sapo você nada? Nado!” - e mostra o livro novamente com o sapo nadando. - “o sapo pergunta pro pato; Pato você pula? Pulo! “ - e mostra o pato dando uns puli-nhos, daí em diante ela vai contando várias frases e as crianças vão ouvindo quietas com atenção, no final da leitura ela pega o pato e mostra pra turma.

- E quem é esse aqui? - é o pato - muito bem, o tio Thiago fez um pato lindo pra gente e trouxe aqui pra nossa aula, agora a gente vai fazer uma frase pra esse pato. Quem sabe frase do pato com o sapo? - No meio das frases que as crianças falaravam o Cauã falou de novo “o pato bebe coca” e a professora riu. Ela pôs

o pato no quadro e depois de as crianças escreverem uma frase desenharam olhando para o pato.

No dia seguinte, com o cesto dentro do abraço fui a aula só para testar isso.

- Então, quem sabe o que é isso aqui? - Ela disse com o abraço nas mãos. “é um braço” fala um menino sen-tado lá na frente – sim, mas e isso aqui que esse braço tá fazendo? - Nesse momento ela abre o experimento e fecha, fazendo o ‘abraçar’ - é um abraço tá vendo? - “mas professora, não abraça assim, tem que cruzar a mão” - eu sei mas é uma repre-sentação, não é um abraço de verdade. Porque eu to com esse abraço aqui? - ela faz uma pau-sa e olha para a turma - ontem, eu coloquei o Davi na secretaria porque ele e o Pedro Henrique estavam brigando, por isso eu trouxe esse abraço. Porque eu queria perguntar o que vocês tem vontade de abraçar? Vocês por acaso tem vontade de abra-çar quem chuta? Quem bate? - ‘não’- pois é, e esse abraço aqui é porque eu tenho vontade de abraçar vocês, mas quando eu vejo a fila toda bagunçada, umas crianças que falam alto, não obedecem a professora eu vou ficar com vontade de dar abraço em alguém? Pois é, en-tão eu vou pedir que vocês pe-guem uma folha e escrevam um sentimento que vocês gostam e então vem aqui e coloquem no

abraço, daí depois, eu quero ver se vocês vão se com-portar como o que vocês disseram que gostam, quando eu ver um correndo e chutando o amigo, vou pegar o papel aqui dentro e perguntar, porque vocês chutam se vocês escreveram aqui que não gostam de ser chuta-do? Alguém gosta de ser chutado? Já tem tanta vio-lência lá fora, quando vocês saem da escola, a maioria de vocês já vê muita violência, vamos deixar a escola bem bonita e não trazer essa violência aqui pra dentro.

Enquanto a professora falava, eu esqueci que estava barulho lá fora, e a turma ficou quieta como eu não ti-nha visto antes. Daí eu levantei e fui andando pela tur-ma enquanto os alunos desenhavam, alguns escreviam carinho, amizade, beijo e outros só faziam desenhos.

Deu a hora de ir.

Agradeço a Silvia por ter usado o pato como ilus-tração da história, isso me mostrou que um bo-neco não é interessante para aula dela só pelo o que ele é, mas pelo que ele pode complementar. Dessa vez com o pato foi praticamente sorte a história ter casado no mesmo dia do experimen-to, mas no futuro eu preciso que o experimento tenha um conteúdo próprio.

Agradeço a Silvia por ter reinventado o experi-mento do abraço, ela transformou uma proposta simples num momento muito bonito da aula, eu não sei nomear o que gerou em mim, mas acho que consegui fazer ela complementar um expe-rimento e isso me parece um ponto importante que eu preciso explorar para futuros experimen-tos.

Quinto ExperimentoO que aconteceu até aqui foi um atraso impressionante. A Patrícia sumiu de vez e levou todos os experimentos com ela. Esperei ela uma semana e nada, liguei e ela não atendia e numa quinta feira a Ana declarou ponto final, se ela não voltasse esse fim de semana era pra seguir sem ela. Eu não gostaria de perder a patrícia como parceira porque eu sei que sozinho eu sou muito atrapalhado, eu acabo não me importando muito comi-go mesmo. E então a Patrícia volta, convencida pela Ana e nós temos muito trabalho pela frente pra voltar ao cronograma.

Todos os experimentos na mão e a Patrícia aparece na escola de manhã. A Silvia a recebe com um abraço;

- Patrícia você voltou! Que bom, a gente sentiu a sua falta.

ela agradece, quando chega na sala as crianças correm para abraçar ela que fica abaixada um tempo com as crianças, a Silvia olha pra mim e sorri.

- tá bom, tá bom, já agarraram muito a tia Patrícia ago-ra senta lá no seu lugar.

Então mostramos a bolsa com todos os experimentos. Começamos pelo bambu em forma de arco;

- Nossa, esse, eu não sei o que faço com esse, deixa ele aqui no canto.

a Patricia faz uma cara de “droga ela não vai usar esse isso é ruim” e a Silvia acalma ela;

- Calma a gente vai usar tudo - ela pega o jogo de sí-labas -, esse aqui é fácil de usar, deixa ele aqui do lado e vamos ver os outros. Daí ela pega o peixe de jornal

e abre ele mexendo. - Como que é isso? - eu pego o peixe e mostro pra ela que tem uma abertura na boca esticando (porque estava dobrado);

- AH já sei o que vou fazer com isso. - Então ela coloca o jogo de sílabas dentro do peixe e vai andando pela sala;

- Vamos fazer uma brincadeira aqui, presta atenção. A tia Patrícia voltou pra escola e trouxe para a gente um presente olha - e mostra o peixe - sabe o que a gente vai fazer agora? Vamos pegar uma sílaba de dentro da boca do peixe!

As crianças dão umas risadas.

- Coloca a mão aí Diego.

O Diego põe a mão e a professora fica dando uma sacu-dida no peixe brincando, ele tira uma sílaba e a profes-sora diz pra ele escrever uma palavra com essa sílaba. Eu não anotei a sílaba nem a palavra, porque ela foi fazendo isso e passando pela sala toda, fazendo a brin-cadeira e depois que tinha feito com todo mundo pôs o experimento na mesa e foi para o próximo.

A boneca de jornal que o Vicente nos ensinou a fazer numa aula estava no topo a professora pegou;

- Esse eu já sei. Olha aqui turma, quem é essa?

As crianças pegaram na hora. “é a mulher do João!”

- e qual o nome dela?

Daí começou um monte de nomes pela sala e depois de um tempo em que a Silvia tentava ouvir todos os nomes, saiu o nome Joana como o mais falado.

- Então ela se chama Joana e eu vou deixar ela aqui

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ExperimentaçãoExperimentaçãobem do ladinho do João. Eita não fica de pé, Tio Thia-go, me ajuda a deixar esse de pé aqui - eu vou lá ar-rumar - e quem é que vai desenhar o João e a Maria, opa - ela ri - Joana.

Agora vamos escrever uma frase pra Joana também, que nem a gente escreveu pro João.

Enquanto as crianças escreviam, eu fui andando pela sala junto com a professora, vendo-a ela conversar com as crianças, corrigir algumas coisas e dizer para-béns para outros que tinham escrito direitinho. Do ou-tro lado da sala a Patrícia faz o mesmo só que as crian-ças começaram a correr para ela perguntando, “que letra vai aqui tia?” e ela respondia, daí eu fui até ela e disse que os alunos já sabiam como escrevia e que a gente não deveria falar as respostas, no máximo só incentivar os alunos a procurar a resposta com a pro-fessora e que eles estavam vindo nela porque era mais “fácil” do que eles pensaram por eles mesmos, que a gente não devia fazer isso.

A Silvia complementou;

- Aluno que tem dificuldade de verdade são mais tí-midos eles não perguntam eu tenho que ir até eles, tem um monte que escreve errado mas não pergunta. Então essas alunas assim tipo Darling, Cauany elas já sabem escrever elas vão até você por ‘manha’, mas aí se um monte se levanta eu tenho que por todo mundo pra sentar porque vira uma bagunça.

Daí vamos para o recreio das crianças. E a professo-ra aproveita para conversar com a Patrícia perguntar como ela está e sobre o projeto.

Quando voltamos a professora precisa liberar as crian-ças para educação física então não conseguimos usar todos os experimentos.

Agradeço a Silvia por ter usado o peixe com as sílabas dentro, isso me surpreendeu porque eu não dei crédito nenhum a esse experimento do peixe, achei que não tinha nada a ver com nada levar ele pra sala e ela transformou esse experimento numa atividade muito divertida.

Agradeço a Silvia por usar a Joana como mulher do João, isso me fez perceber que ela sempre volta na ideia do João reutilizando ele para ou-tros momentos da aula.

Agradeço a Patrícia por ter voltado para o pro-jeto, isso gerou em mim muita alegria pelo fato de não estar fazendo projeto sozinho e estar em contato com uma visão diferente dos fatos do projeto.

Sexto ExperimentoVoltamos no dia seguinte depois do recreio porque no antes as crianças estariam com outra professora e a Silvia não estaria fazendo nada em aula. Com os expe-rimentos em mão a Silvia já foi definindo o que ela ia usar e o que não ia.

- Esse furadinho eu vou tirar esse pano daqui de volta e usar isso, mas como? - ela deixa na mesa e vai pegando os outros experimentos - O que é isso aqui? - é a flor de pet da Patrícia, a gente ri - eu não entendi esse não.

Daí vai mexendo mais e pega o óculos rosa;

- Esses óculos, acho que eu posso por no João.

As crianças chegam na sala acompanhado da professo-ra do turno anterior. Depois que todo mundo sentou A Silvia pegou o óculos rosa e mostrou pra turma.

- Sabe pra que é isso aqui?

as crianças responderam que era um óculos.

- É, mas esses óculos aqui não são óculos quaisquer não, são óculos mágico. E a tia Patrícia trouxe sabe porque? Porque vocês estão fazendo muita bagunça, e ela não quer mais ver bagunça de vocês não, não quer ver menino empurrando menino. Esses óculos aqui só veem as coisas boas. E eu vou colocá-lo no João aqui pra ele ver as coisas boas. Daí as crianças ficaram pe-gando os óculos para ficarem olhando e trocando e a professora pegou a cartela furadinha e entregou para o Caio e pediu que ele fizesse as palavras dentro dos círculos no caderno usando a cartela como molde. Mas não ficou com o ele. Foi para frente da turma e passou uma folha de exercício que ela tinha trazido de casa

impressa.

Deixamos de usar três experimentos que a professo-ra não encontrou função na aula, o arco de madeira grande (gigante), um móbili preso com barbante e um telefone de barbante feito com garrafa pet.

- Não sei, essas coisas não se encaixam na aula, eu pre-ciso de letra de desenho pra trabalhar, eu esses aqui pra mim não sei como usar.

Mesmo não usando esses acredito que já conseguimos várias informações valiosas de tudo que ela usou até aqui.

Agradeço a Silvia por usar os experimentos mas, mais que isso, pela motivação em colocar os ex-perimentos na sala de aula isso me contagiou de uma forma muito grande e me fez perceber nela não só uma intercessora mas uma amiga.

Agradeço a Patrícia por vir para a experimenta-ção, ela está fazendo um esforço grande para acordar cedo por causa dos remédios, eu não sei como posso dar força a ela nesse sentido, mas isso está gerando em mim um estado de estar sempre disposto a ouvi-la ela como amigo tam-bém.

Pirâmides de Letrinhas

Material: papel canson e im-pressão

Uso pensado: gerar letras alea-torias para os alunos escre-verem palavras como num jogo. Uma das pirâmides

diria se a letra seria uma palavra, sílaba ou dese-nho.

Como a intercessora usou: A interecessora deu uma pirâmide para cada dupla de alunos e cada um deles jogava uma vez e escrevia uma palavra. Ela chegou a comentar que os alunos escreveram muitas palavras e que ficou difícil para ela acom-panhar porque alguns são muito dependentes dela para escrever.

Agradeço a Silvia por ter usado as pirâmides como exercício na sua aula. Isso me mostrou que quando os exercícios são passados as crian-ças de forma lúdica (eu acho) o rendimento delas é maior e o controle é menor. E eu ainda estou decidindo o quanto isso é bom e o quanto isso não ajuda.

Dado de Pedacinhos

Material: papelão e fita crepe.

Uso pensado: não pensado, depois de levar uma chamada da Ana a respeito dos meus experimentos com bom acabamento resolvi

fazer um experimento pela metade e levar. Fiz apenas o quadrado e deixei todas as faces vazias.

Como a intercessora usou: A Silvia escreveu uma sí-laba em cada uma das faces do quadrado, dividiu a turma em dois grupos e fez os alunos virem ao quadro para escrever uma palavra que contivesse a sílaba sorteada. Durante o quente-frio a inter-cessora qualificou esse experimento como mais quente porque era o que as crianças mais gosta-ram.

Agradeço a Silvia por finalizar o dado e realizar uma atividade na sala baseada no experimen-tos. Isso me mostrou que um objeto grande serve a um grupo, um dado pequeno serviria a um indivíduo. Se eu quiser fazer algo para todas as crianças então não posso fazer algo pequeno e numeroso, mas sim um experimento maior.

Ficha de ExperimentosResumida

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Ficha de Experimentos ResumidaFicha de Experimentos ResumidaPato Amigo do Sapo

Material: papelão, elástico, caneta e giz de cera.

Uso pensado: Uma variação da idéia de personagens. Usan-do personagens como expe-rimento eu consigo sempre

que a professora conte uma história e estimule as crianças a fazer uma frase. Então decidi mudar a forma de apresentar o personagem para observar variações.

Como a intercessora usou: A intercessora deu no dia um livro que contava a história de um pato e um sapo, e o experimento virou “o pato amigo do sapo” que ficou no quadro e as crianças escreve-ram frases sobre o livro e sobre o pato.

Agradeço a Silvia por usar o experimento como extensão do livro e por nomeá-lo. Isso me mos-trou que dar nomes aos experimentos interes-santes as crianças pode ser um meio mais fácil de alcançar tanto a Silvia quanto as crianças.

João o Robô

Material: bambú e elástico.

Uso pensado: Outra variação da idéia de personagens. Usando personagens como experimento eu consigo sem-pre que a professora conte

uma história e estimule as crianças a fazer uma frase. Então decidi mudar a forma de apresentar o personagem para observar variações.

Como a intercessora usou: A intercessora ficou muito impressionada com o boneco e falou algumas vezes “que divertido”, “esse thiago viu, acho que ele tem muito tempo livre, vou dar um trabalho pra ele” (brincando), para esse experimento ela não fez só uma história como pediu para as crian-ças darem um nome para o boneco. As crianças escolheram joão. A questão do robô é porque a professora fica o tempo todo dizendo que ele pa-rece um robo. Agora ele é usado como mascote da sala.

Agradeço a Silvia por dar nome e quase uma identidade ao experimento, isso me mostrou algo que eu não entendi ainda, esse experi-mento não cativou as crianças apenas, mas ca-tivou a professora em especial, ela agora pede que eu traga ele de volta todos os dias, o expe-rimento virou uma espécie de “vigia” da turma.

Desenhos de persona-gens variados

Material: papel e grafite

Uso pensado: Primeira expe-rimentação com a idéia de personagens. A intenção é que a professora use como

ponto de partida de alguma atividade com as crianças.

Como a intercessora usou: A professora observou cada desenho e tirou 3 que ela gostaria de usar, um tubarão, um menino e uma menina. Na sala ela usou um experimento da Patrícia para pen-durar a folha e pediu que os alunos primeiro es-crevessem que desenho era aquele e depois uma frase usando o nome do desenho.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela ter usado os desenhos e o varal na sua aula. Esse fato gerou em mim uma observação de como a aula segue quando a professora não precisa se ocupar com a folha de exercício, (que foi o papel dos dese-nhos). Ela pode dar mais atenção a cada aluno, sem se preocupar em ir pra frente da sala toda hora. E isso acabou fazendo cada aluno escre-ver mais frases do que o normal.

Agradeço a Patrícia pelo fato de ela ter trazido o varal como isca, isso gerou em mim o pen-samento de que, apesar de eu ter pensado em uma folha com ilustração, eu não percebi que eu precisaria de um suporte para que a profes-sora usasse os desenhos, usar uma estrutura de suporte fez toda a diferença no resultado final do exercício.

Liga Palavra

Material: papelão, caneta, fita crepe e barbante.

Uso pensado: Durante várias aulas eu vi exercícios pareci-dos em papel em que os alu-nos deveriam ligar palavras

a figuras. Esse experimento é uma tentativa de observar esse mesmo processo de maneira tátil, como ele funciona se não for numa folha.

Como a intercessora usou: A professora não usou os barbantes para ligar as palavras como havia pla-nejado. Ela entregou para os alunos que emba-ralhavam os desenhos e organizavam, passando um para o outro por toda a sala.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não ter usado os barbantes desse experimentos. Isso gerou em mim a percepção de que o traço que se faz para ligar palavras no papel só é útil no papel, quando ele passa para algo tátil, a reorganiza-ção das figuras já fica claro para intencionar a ligação.

Caça-Palavra

Material: Bambu, fita crepe e caneta.

Uso pensado: letras sobre uma fita crepe em volta de um bambu que gira sobre um outro que funciona como

eixo e menor. Quando se mexem as letras elas formam palavras escondidas. O uso pensado era como desafio para os alunos e após achar a pala-vrar gerar uma frase.

Como a intercessora usou: A professora não deu mui-ta atenção para esse experimento, apenas passou para os alunos tentarem resolver e passar para o próximo, não acompanhou, mas achou interes-sante, disse que seria bom se fossem vários.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela entregar esse experimento para os alunos tentarem fazer pela sala, isso me mostrou que como é um pouco mais difícil que os outros e é essencialmente in-dividual esse experimento toma muito tempo da aula e da concentração dos alunos sendo difícil conciliar ele com a aula.

Conta

Material: Bambu e elástico.

Uso pensado: Igual ao caça palavras, mas sem palavras, esse experimento está in-completo, a idéia é que a professora completasse o

experimento assim como o dado.

Como a intercessora usou: Não ficou claro para a intercessora que ela deveria contribuir com a finalização do experimento e ela não utilizou, porém ao tentar pensar em um uso para ele disse que só conseguia pensar em coisas matemáticas.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não ter escrito no experimento e o finalizado, isso gerou em mim a percepção de que se não é claro a ela que determinada parte do experimento é uma face “editável” ela pode se sentir inibida de intervir no projeto.

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Ficha de Experimentos ResumidaFicha de Experimentos ResumidaAbraço

Material: Papelão, caneta e elástico.

Uso pensado: Esse experimen-to também foi pensado in-completo para ser terminado pela intercessora numa ten-

tativa de me habituar a fazer peças colaborativas com ela. Não pensei em um uso efetivo para a peça, fiz apenas porque lembrei que as crianças da escola me abraçam o tempo todo.

Como a intercessora usou: A professora achou muito criativo o experimento e ficou um tempo obser-vando e em dúvida do que fazer. Ela começou a dizer que lhe remetia a idéia de acolhida, de amizade e então propôs uma modificação para atividade. Um cesto no meio do braço onde as crianças colocariam palavras sobre o que é ami-zade para elas.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela ter feito essa dinâmica das palavras que significam amizade para as crianças, isso me mostrou que fazer um projeto colaborativo com a Silvia me trás muita satisfação com o resultado final.

Borboleta

Material: Papelão, enchimen-to, pano, linha.

Uso pensado: Na intenção de fazer algo mais “macio” co-lorido e mais aconchegante como experimento resolvi

usar pano e fazer uma outra variação de persona-gem. Por fim não consegui ligar as duas asas.

Como a intercessora usou: Ela achou muito bonito e gostou da asa mas não tinha nenhum texto que lembrasse a borboleta e em função disso ela não usou o personagem na aula. Disse para trazer outras vezes.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o personagem porque isso me mostrou que um personagem é algo muito específico para o que ela quer ensinar, se não tiver um contexto na aula que o justifique, o personagem sobra.

Suporte de Ficha.

Material: Plástico, madeira e pano.

Uso pensado: “ficha” é o nome das cartolinas com o nome dos alunos que eles usam para escrever o próprio

nome no caderno. O Suporte da professora para isso já está muito gasto pois foi posto no início do ano. Essa era uma idéia de como guardá-lo de outra maneira.

Como a intercessora usou: Não ficou claro para a intercessora como usar o experimento, levei várias aulas mas não obteve resultado.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o experimento, isso me fez perceber que ela está muito concentrada na questão de educação e que esse experimento por não ter esse objetivo não pode ser “lido” pela intercessora.

Arco de Bambu Duplo

Material: Bambu e Barbante

Uso pensado: como varal pren-dendo as figuras elas late-rais, seria um suporte móvel das figuras.

Como a intercessora usou: Não entendeu como usa e não pensou em uso alternativo.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o experimento isso gerou em mim a idéia de que o uso dos experimentos tem que ser mais dire-tamente ligado a frase objetivo.

Agradeço a Patrícia por ter feito esse experi-mento, isso gerou em mim expectativa nela de uma nova força para se dedicar ao projeto

Telefone de Garrafa Pet

Material: Garrafa Pet e Bar-bante.

Uso pensado: trabalhar a oralidade e o lado lúdico da formação de palavras. De algum modo o objeto pode-

ria ser ponto de partida para uma historia sobre telefone.

Como a intercessora usou: A intercessora não enten-deu o significado e não conseguiu imaginar uso alternativo para o exprimento.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o ex-perimento me fez perceber que a intenção dela é algo mais voltado ao ensino e a brincadeira.

Agradeço a Patrícia por faz esse experimento, isso me fez perceber que ela está tentando pen-sar em algo que motive os alunos a contar his-tórias também.

Móbili de Estrela

Material: Pet e Barbante.

Uso pensado: um móbili para ilustrar histórias ou dar início a elas.

Como a intercessora usou: A professora achou o ex-perimento “bonitinho” mas pouco expressivo. Acabou não usando por dar atenção a outros ex-perimentos.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o experimento, isso me fez perceber que expe-rimentos precisam ser chamativos, coloridos e interessantes, pontes entre a professora e os alunos.

Agradeço a Patrícia por ter feito esse experi-mento, isso gerou em mim a idéia de que expe-rimentos precisam ter características além das funcionais.

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Ficha de Experimentos ResumidaFicha de Experimentos ResumidaPeixe

Material: Jornal, fita, cola e barbante.

Uso pensado: usar para contar histórias como personagem de algo.

Como a intercessora usou: A intercessora colocou um jogo de sílabas dentro da boca do peixe e fez os alunos pegarem sílabas sortidas, ao fazer isso a turma toda tinha que escrever uma palavra que começasse por essa sílaba.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela usar o expe-rimento de uma forma totalmente diferente da pensada, isso me mostrou que e bem recebido na turma a idéia de misturar o personagem com o conceito de “sortear” coisas.

Agradeço a Patrícia pelo fato e ela ter feito e le-vado o peixe para a escola. Isso gerou em mim a percepção de que eu deveria dar mais créditos a idéias aparentemente simples.

Jogo de Sílabas

Material: Papel e Caneta

Uso pensado: Sortear Sílabas para gerar atividade ou dis-tribuir sílabas pela sala.

Como a intercessora usou (incluin-do os comentários feitos Por ela): Ela gosta muito de jogos com sílabas. Esse ela colocou dentro do experimento do peixe e sorteou pela sala, fazen-do os alunos porem a mão dentro do peixe.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela usar o experi-mento do jogo de silabas, isso me fez perceber que como os jogos com sílabas são sempre bem vindos eu posso adicionar isso a outros experi-mentos para que eles sejam melhor aceitos.

Agradeço a Patrícia por ter feito esse experi-mento o que gerou em mim a percepção de que a professora se interessa por experimentos bem simples.

Óculos rosa

Material: Plástico, papelão e fita.

Uso pensado: vestir nos alunos atribuindo algum valor.

Como a intercessora usou: Ela usou colocando o óculos no João (outro experi-mento) dizendo que era para que o boneco visse as coisas boas na turma, e que a turma fizesse menos bagunça.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela usar o experi-mento no João, isso me fez perceber que o João está se tornando fonte das histórias na turma.

Agradeço a Patrícia por ter feito o óculos e leva-do para a aula, isso me fez perceber que a pro-fessora está realmente muito empolgada com o projeto e abraçou bastante a idéia se esforçan-do para usar os experimentos e colocar eles na aula.

Cartela com furinhos

Material: Plástico e pano

Uso pensado: a idéia é que a professora usasse para “costurar” as letras pela cartela com o pano fomando silabas.

Como a intercessora usou: a professora achou o ex-perimento melhor sem o pano e usou apenas a cartela como separador de palavras no caderno de um aluno.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela usar o ex-perimento, isso gerou em mim a percepção de que experimentos mais específicos também são interessantes para usar em momentos pontuais da aula.

Agradeço a Patrícia pelo fato de ela ter trazido esse experimento para a escola, isso me fez perceber que está tentando fazer experimentos que possam ser construidos pelos alunos duran-te a aula.

Flor.

Material: Pet e pano.

Uso pensado: como persona-gem, gerando ponto de par-tida para histórias.

Como a intercessora usou: A pro-fessora não conseguiu ver o experimento como um personagem e tentou pensar em um uso para o mesmo, mas acabou ficando de lado.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela não usar o experimento, isso me fez perceber que as vezes alguns experimentos por mais que sejam claros durante o processo, não estabelecem relação com pessoas que não participam do processo.

Agradeço a Patrícia por levar esse experimento para a escola, pois me fez perceber que eu pre-ciso ter algum princípio e semelhança com per-sonagens mesmo que eles sejam “não-persona-gens”. Ajudaria muito se fosse posto, olhos e boca nesse experimento.

Joana

Material: Jornal

Uso pensado: Personagem, tentar fazer a professora contar histórias com esse personagem.

Como a intercessora usou (incluindo os comentários feitos Por ela): Pediu que a turma inventasse um nome para o boneco, e depois fez uma frase que a tur-ma escreveu no carderno seguida e um desenho. Nas aulas seguintes usou a boneca como mulher do João e fez com que ela vigiasse a turma para não fazer bagunça.

Agradeço a Silvia pelo fato de ela usar o experi-mento em varias aulas. Isso me fez perceber a intenção dela em ter um personagem palpável pera ilustrar as histórias.

Agradeço a Patrícia por levar esse experimento, isso gerou em mim a percepção de que seria bom ter um personagem que pudesse passar por todas as histórias e também pudesse passar por todos os alunos.

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Variando

Levei os experimentos todos para a professora que no final da aula um pouco antes de dispensar os alunos organizou no chão em uma grande fileira. A frase objetivo do projeto ficou visível num papel escrito enquanto ela organizava. A ordem que ela usou foi; João, Joana, Pato, Abraço, Peixe, Jogo de Sílabas, Dado, liga palavra, Caça-palavra, triangulos, conta, personagens desenhados, varal, Fita de palavras, ócu-los, borboleta, Cartela com furinhos, Suporte de ficha, telefone de pet, Flor, móbili de estrela. Pedi para que ela comentasse um pouco sobre o porque da ordem dos experimentos e ela explicou que estava se base-ando na frase do projeto que era contar história, então colocou como mais quente os experimentos que a aju-dou a contar histórias dessa forma, mas que acha que os jogos são muito importantes, como o dado o triân-gulo e o jogo de sílabas. - ...e o João ficou como mais quente porque foi o que as crianças mais gostaram. Esses outros o tubarão e o Varal foram usados juntos, então tudo que eu usei junto vai junto no quente e frio, eu usei o peixe e o jogo de sílabas junto.

A contação de histórias baseada na figuração de per-sonagens com apoio do material da professora são características em comum dos experimentos mais quentes, Seguidas dos experimentos com funções didáticas. O partido adotado então foi explorar o conceito do “boneco” como instrumento junto com as histórias e suas variações.

1) Bonecão;

material; jornal, plástico, papelão e tecido.

Essa variação é um boneco bem grande do tamanho quase de uma criança. A professora pegou ele no colo e na frente da turma começou a conversar;

- Olha só quem o nosso amigo Thiago trouxe para nos visitar hoje - as crianças começam a fazer comentários tipo, “ele não tem rosto”, a professora diz que pode fazer um rosto pra ele - Mas antes de fazer um rosto vamos dar um nome pra ele? Que nome vai ser?

As crianças todas juntas dão o nome de “thiago” pro boneco. A professora então faz uma atividade muito parecida do que já fazia com o João. Ela coloca o boneco encima de uma bancada que tem a direita do quadro e começa a incentivar os alunos a criar frases para o boneco. Todas as crianças fazem um desenho e uma frase simples, “o nome do boneco é thiago”, “thiago gosta de coca”. Tudo isso demora um tempo que faz com que algumas crianças escrevam muito e outras crianças escrevam bem pouco.

Agradeço a Silvia por usar o boneco como o João, isso me mostrou que mesmo levando um boneco muito diferente do João ele gera um resultado muito parecido o que significa que a idéia do boneco é a mesma ainda que seja um objeto diferente.

Agradeço a Marcela por ter me emprestado essa variação e por me ouvir em relação ao meu pro-jeto, isso gerou em mim um ânimo para conti-nuar o projeto até onde eu conseguir.

2) Mágico

material; Bicuit, isopor, tecido, arame e tinta.

Esse boneco é um reaproveitamento, ele é um antigo boneco que eu usava para fazer animação stop mo-tion, ele é mais bem acabado que os experimentos tem articulações. A professora só pega o boneco e acha ele divertido, meche as mãos dele batendo palma mas diz que “vai usar daqui a pouco”. No geral não desperta muito a professora para algo que ela possa usar. No final da aula ela conversa comigo e diz;

- Mas essa parte eu não estou entendendo, eu já faço

Quente e frio“Contar uma história é brincar de pintar a vida”“Contar uma história é brincar de pintar a vida”

VariaçãoVariaçãoPartido Adotado

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VariandoVariandoisso tudo com o João e agora tem um monte de bone-cos diferentes? É isso? Mas não é a mesma coisa?

a preocupação da professora deixa claro que eu foquei demais o projeto em boneco e pouco na frase objeti-vo.

Agradeço a Silvia por não usar o Mágico, isso me mostrou que quando um experimento é mui-to finalizado ele acaba fugindo da proposta e intimidando o intercessor e que eu preciso fazer agora variações que sejam mais simples.

3) Televisão

material; papel, caneta e arame.

Esse boneco é uma caixinha com uma manivela de arame que vai rodando vários rostinhos. Nesse dia a escola estava particularmente barulhenta, mais que nos dias normais e como se não bastasse, no meio da aula um funcionário ligou uma furadeira no corredor da escola e mesmo com microfone estava impossível realizar qualquer atividade. A professora então levou os alunos para uma sala de tv fechada e sem barulho nenhum. Então ela usou o boneco para conversar apenas com os alunos falando sobre quando ela fica triste e quando ela fica feliz e o que faz com que as

crianças fiquem triste e fiquem felizes. As crianças então começaram a contar histórias enquanto a pro-fessora ouvia a manhã inteira foi assim e a professora pareceu gostar muito.

Agradeço a Silvia por usar o experimento da televisão com os alunos de forma que não didá-tica. Isso me mostrou que é uma possibilidade experimentos que sejam menos constantes (não sejam usados todos os dias) e não falem só sobre histórias com fins didáticos.

Agradeço ao Nelson por ter me ajudado com esse experimento, isso me fez sentir tendo apoio de amigos para fazer as variações é como se eu estivesse ganhando vários parceiros de projeto.

4) Cobrinha de Triângulos

material papel, canudo

Esse boneco é uma sequencia de triangulos um junto do outro por um canudo que faz com que ele fique ar-ticulado como uma cobrinha. A idéia era que a profes-sora fizesse uma intervenção no boneco, com um ros-to ou colorindo mas isso não aconteceu, a professora entendeu a idéia até achou legal mas achou pequeno.

Agradeço a Silvia por não usar esse experi-mento, isso me mostrou que experimentos que precisem que ela desenhe ou rabisque não vão gerar bons resultados ou incentivar ela a fazer atividades.

5) Macaquinho roxo

Material; tecido, espuma

esse boneco tem um encaixe para a mão embaixo. Quando a professora pegou essa variação tudo que ela fez foi dar uma risada e dizer; - eu não tenho talento pra isso de fazer, como se diz, ventriloquismo? (mais risadas) e guardou o boneco de novo.

Agradeço o bom humor da Silvia ao negar o ex-perimento, isso me mostrou que ela reconhece o meu esforço em trazer coisas diferentes para a aula mas mesmo assim é livre pra falar com sinceridade que algo não está adequado ao per-fil dela.

Agradeço da Camila por ter me acompanhado na casa de tecido e me ajudado a escolher os retalhos para essa variação, isso me fez perce-ber que quando eu divido as idéias do meu pro-jeto com outras pessoas essas idéias vão fican-do mais simples de ser feitas e acabam dando menos problema no resultado final.

6) Bruxa

Material; saco plástico, pet e elástico

Essa variação é um saco plástico cortado em fitinhas como um cabelo e uma garrafa pet envolvida numa roupa roxa. A professora logo fez uma associação com uma bruxinha e aproveitou para ensinar o X para os alunos. Foi no armário pegou um livro com uma história em quadrinhos de uma bruxinha.

- O que tem nesse primeiro quadrinho? - as crianças descrevem a cena confusamente e a professora orga-niza as informações - uma bruxinha com um gatinho sentado num banco muito bem, e o que acontece no outro quadrinho? Um passarinho pousa. E o que a bruxinha faz com esse passarinho? - “transforma em um chapéu” dizem as crianças - e depois? Ela coloca o chapéu na cabeça e então o que acontece com o chapéu? O chapéu sai voando! - ela pega a bruxinha - Então, a nossa bruxinha aqui também está sem cha-péu olha só. Vamos fazer uma coisa então? Vamos todo mundo escrever “bruxa” e depois vamos dese-nhar onde é que vocês imaginam que o chapéu da nossa bruxinha aqui foi parar.

E assim segue a aula, os alunos levantaram em alguns momentos da aula para ver a bruxinha de perto e me-cher no cabelo do boneco.

Agradeço a Silvia por usar essa variação na ilustração da história, isso me mostrou que a idéia do “boneco” é na verdade uma extensão de qualquer trabalho que esteja acontecendo na sala e que talvez por isso não seja interessante que o boneco seja o ponto de partida de uma atividade, como tem sido até agora, mas sim o ponto de encontro de uma atividade.

7) Seu Serafim

Material; Papelão, giz de cera, caneta e contact

toda aula a professora canta uma música com a turma para fixar o que as crianças aprendem. A música é assim; “olha aqui seu Serafim / essa letra faz assim / “B” com “A” / Faz “BÁ” / “B” com “E” / Faz “BÉ” / “B” com “i” / Faz “BÍ” / “B” com “Ó” / Faz “BÓ” / “B” com “Ú” / Faz “BÚ”. Baseado nisso decidi desenhar o seu serafim com uma letra em cada mão. Quando a pro-fessora viu ficou muito animada;

- Olha só que legal isso é o Seu Serafim! (eu não pre-cisei dizer o que era pra ela) - Eu coloco uma letrinha aqui, a outra aqui. Que lindo.

na hora de cantar eu achei que ela iria colocar na frente do colo e um pouco mais próximo dos alunos, mas ela passou uma fita atras do Boneco e colou no

quadro como pode. Depois comentei com ela e a ex-plicação foi que,

- É muito importante evidenciar para as crianças a letra, senão passa despercebido, elas não prestam atenção no desenho da letra. Por isso tem que apon-tar mesmo como se dissesse “o ‘X’ é esse aqui”.

Agradeço a Silvia por ter me mostrado específi-camente o objetivo dela ao cantar a música do seu serafim, isso me fez perceber que eu não prestei atenção na intenção dela ao fazer essa atividade repetidamente na sala e talvez o que ela quer não esteja claro para as crianças tam-bém.

8) Cubo que muda de rosto.

Material; Papel, caneta e arame.

Essa variação foi uma tentativa de fazer coisas que mudam e possam gerar mais de uma ação em si. É um boneco composto por 3 cubos que giram, cada face do cubo tem uma parte de um personagem, en-tão é possível misturar os personagens. A Silvia viu, gostou do projeto e da idéia, normalmente ela sempre gosta muito do desenho, mas não despertou nela al-guma atividade na hora, foi mais uma das variações

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Variandoda categoria “vou usar daqui a pouco” e acaba esque-cida.

Agradeço a Silvia por não usar esse experimen-to, isso me fez perceber que ele é pálido, pouco expressivo e não desperta os sentidos, eu estou me prendendo muito a detalhes e prestando pouca atenção no todo.

Agradeço ao Nelson por ter me ajudado com a idéia dessa variação, isso me fez perceber que mesmo quando uma variação não tem um resul-tado que possa ser chamado de “bom” na escola eu ainda posso conseguir boas observações so-bre ele que me fazem retirar o que não condiz com a intercessora.

9) Mandala de Origami em Branco

Material; Papel e Cola

A professora quando viu essa variação ficou realmen-te impressionada, fez um monte de elogios, quando viu que o movimento ficou um tempão brincando e pensando, durante um bom tempo ela continuou fazendo isso mas não conseguiu aplicar nada a aula, porém pediu pra que eu trouxesse outros dias. Depois

disso, numa conversa com a Ana recebi umas dicas para colorir, inserir umas figuras ou coisas que saltem do origami, que possam despertar mais a atenção da intecessora.

Agradeço a Silvia por se admirar com o Origami, isso me mostrou que um objeto que desperte a admiração da professora acaba se tornando funcional por ser prazeroso de se usar, mesmo que leve um pouco mais de tempo.

Agradeço a professora Sandra Gullino por ter cedido seu tempo no trabalho para ensinar como fazer esse origami, isso gerou em mim uma confiança maior com o comprometimento dos professores convidados e uma admiração pelo trabalho com papel.

10 ) Mandala de Origami Colorida

Material; Cartolina, Caneta, Pastel Seco e contact

Essa última variação foi apresentada a intercessora em sua casa, pois uma ocupação por UPP estava aconte-cendo na Rocinha e a escola ficou com as aulas inter-rompidas durante essa semana, assim que mostrei a mandala a professora ela se espantou;

- Nossa! Que linda, tem letras agora - ela vai abrindo

os ‘gomos’ da mandala enquanto fala - Ah tem as letras, desenhos, nossa ficou muito legal agora, isso tem um monte de atividades que cabem aqui. Tem sílabas.

Eu explico pra ela um modo de seguir as letras abrin-do a mandala e ao compreender ela gosta do trabalho e vai propondo vários exercícios com a variação.

- Mais do que só apresentar as crianças vão adorar mexer com esse negócio, por conta desse movimento de ir abrindo.

Agradeço a Silvia por ter me recebido em sua casa e se interessado pela mandala com letras e cores, isso me mostrou o quão sincero é o afeto que ela tem por mim e pelo nosso projeto, isso me deu mais força para concluir essa fase final. Ainda na casa da Silvia com todos as variações

em mãos fizemos o quente e frio enquanto con-versávamos abertamente sobre cada uma das variações;

- Bem vamos lá então vamos montar, do mais quente para o mais frio? - “pode ser” - Então, o mais quente pra mim é esse da televisãosinha, porque esse nós trabalhamos valores, com a carinha feliz, a carinha triste e todas as outras expressões, eles também falaram bastante esse é um boneco que eu usaria várias vezes duran-te o ano tranquilamente porque as crianças não enjoariam, seria muito bom se pudesse de algu-ma forma, não sei como você fez isso aqui, mas pudesse trocar esse rolinho que tem aqui dentro, pra contar história também, esse eu acho muito bom.

Depois vem esse da cobrinha, apesar de eu não ter usado eu queria por as figurinhas aqui em

pra bruxinha também. Mas no dia só deu tempo de fazer um desenho.

agora esses outros aqui, tanto o mágico, esse boneco que troca, o de pano e o ‘thiago’ eu acho que ficam todos empatados, pra mim todos são a mesma coisa, eles são mais ou menos o que o joão já fazia de outro jeito.

Porém, na hora do debate sobre a organização, pela orientação da Ana os experimentos estavam pouco relacionados com a frase objetivo, então uma nova ordem deveria ser feita.

Segundo, Segundo quente e frio

fui novamente na casa da professora com as va-riações todas e a frase objetivo. Ela perguntou porque a primeira vez não tinha servido e eu falei que precisávamos relacionar cada experimento com a frase porque eu tinha esquecido de pedir a

Quente e frio“Contar uma históriaé brincar de pintar a vida”

cada lado, aí dava pras crianças e eles mesmos montavam histórias diferentes e faziam a fra-se. Depois vem a mandala. Eu acho esse lindo e acho que as crianças iriam adorar manipular isso, mas a diferença desse para os outros é que acho que esse eu não ia poder usar todos os dias depois de um tempo as crianças iam enjoar disso aqui.

Depois vem o seu Serafim. Esse eu adorei, acho que esse podia ficar direto colado na parede do lado do quadro e eu usasse todo dia junto com a musiquinha. E tivesse um jeito de guardar a letra diferente, no dia de estudar o “B” o Seu Serafim ia ficar lá o dia todo segurando o “B”.

A bruxinha, esse eu gostei porque tinha a história da bruxinha que a gente contou, não deixa de falar pra sua professora que a gente contou uma história da bruxinha e aí a gente fez o desenho, mas não deu tempo, eu queria fazer um chapéu

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AlternativasQuente e Frioela isso.

Ela de primeira não mudou a ordem das varia-ções. A televisãozinha continua sendo a mais quente. A explicação dela é praticamente a mes-ma do dia anterior. Ela usou para falar com os alunos sobre valores e sobre coisas que fazem ela ficar triste e ficar feliz e depois os alunos conta-ram histórias da vida deles alguns sobre coisas que lhes deixou triste, tipo se machucar brincan-do e outros sobre coisas que lhe deixaram feliz, um menino chegou a mencionar ir pra casa da vó.

O João durante o período de experimentação foi usado todos os dias e várias vezes quando a turma ficava muito agitada a professora usava o João para conversar com a turma sobre “boas ati-tudes que o João gosta de ver” ou “más atitudes que deixam o João triste” e então a partir dessa conversa as crianças faziam desenhos do João e escreviam algo que as deixasse feliz, palavras sol-tas como “carinho”, “abraço”, “amigo” e assim por diante, era um momento muito ‘bonito’ da aula, no sentido de sentimental, como quando você vai no cinema se identifica com um filme e chora, eu não sei te explicar porque é muito subjetivo pra mim, por isso tenho que fazer esse texto enorme.

A mesma coisa aconteceu no dia que foi usado o experimento do abraço, a professora também falou de amizade de sentimentos e comporta-mento, mas o experimento não ficou no quente porque não tinha relação com a frase objetivo e não era “didático”, mas a idéia de como ela usa o objeto é a mesma.

Depois pedi que ela relacionasse a tv com a frase e ela insistiu que as crianças contaram histórias por isso tinha a ver com “contar histórias...” aí eu perguntei sobre a parte de ‘pintar a vida” e ela voltou na proposta de que se as crianças pudessem pegar os desenhos que elas fazem e por nesse rolinho e além disso o rolinho trocasse dentro da televisão seria completo com a frase, e além disso ela falou que “...pintar a vida” não signfica para ela apenas “colorir” e que as frases que as crianças escrevem também estão “pintan-do a vida”, daí lembrou de quando as crianças fizeram frases com o João mesmo quando esse experimento não estava na sala.

Depois disso viria a cobrinha de triângulos, que segundo ela é pelo mesmo motivo. A relação que ela faz com a frase desse experimento é que en-tregando para as crianças escreverem na variação elas montariam uma história juntando todos os desenhos e a parte de pintar já fica até antes da história. Nessa variação eu consigo levar a con-versa com ela porque ela mesma não desenvolve muito esse experimento. A conversa é pratica-mente, “desenhar do lado tem a ver com pintar, e juntar tudo tem a ver com história”, não é uma variação que desperte nela qualquer coisa além disso. Mas ela colocou em segundo justamente porque eu mostrei a frase objetivo, do contrário seria um dos últimos.

A mandala que vinha em terceiro ela colocou pra quinto, porque não via nenhuma maneira de contar histórias com a mandala, tanto a branca quanto a com os desenhos e sílabas, ela disse que é um objeto muito legal para manipular que ia ser muito divertido, mas que ele é muito mais

pedagógico do que para contação de história. E quando eu pedi que relacionasse com a frase ob-jetivo ela não conseguiu encaixar a parte de his-tórias e disse sobre pintar que; “talvez quando eu desse a sílaba para as crianças formarem uma palavra ou frase elas pudessem fazer o desenho do que elas escreveram”. O que mais de interes-sante tem nessa variação que ela sempre ressalta é a questão de manipular.

Daí ela colocou pra terceiro a bruxinha, que é um boneco de pet. A relação foi que na sala ela ilustrou a história da bruxinha, que as crianças escreveram “bruxa” no caderno (para aprender o X), e que no final desenharam para onde ima-ginavam que o chapéu para a bruxinha tinha voado. E então subiu todos os bonecos para “quarto” lugar, com a mesma justificativa, de que alguns ela não quis usar e outros apenas ilustra-ram histórias, mas que tinham mais a ver com a frase do que os outros. Ela qualificou os bonecos todos como iguais.

Por último ficou o seu Serafim que ela falou vá-rias vezes que gostava muito mas não tinha rela-ção com a frase então ficou mais pro final. Assim como a mandala esse para ela também era mais didático.

A minha impressão de tudo foi que ela trocou a ordem de algumas coisas um pouco contraria-da. A Silvia está preocupada comigo, as vezes fala sobre estar fazendo algo errado. Eu sempre falo com ela que não tem nada de errado e que o que ela diz é importante, mesmo que ela ache que é “negativo”. Mas hoje, quando ela trocou a ordem das variações, ficou parecendo que ela fez

mais porque queria me ajudar do que concordas-se com isso, ela falou várias vezes que não acha o Serafim frio por exemplo, e que os bonecos que ela trouxe mais pra o quente mesmo achando que eles “são todos iguais” ela relaciona com a frase mais fácil mas não acha que eles são quen-tes. E que fique claro que eu não pedi para ela mudar de ordem, apenas pedi para que ela me falasse um pouco sobre o que ela acha que cada experimento tem em relação a frase.

Esses bonecos tem a ver com a frase, mas eles não despertam nada na Silvia. Ela só usou os bo-necos da variação quando uma história coincidia com uma característica do boneco que ela podia usar. E quando ela tratou do “pintar a vida” des-sa maneira além de colorir, me levou a pensar que “contar uma história” pelo que eu vi até ago-ra na sala de aula é muito mais do que abrir o livro e reler o que está lá. Pelo experimentos que ela pôs no quente até agora.

Alternativa Adotada

A partir dessa conversa com a professora e com a Ana, a frase objetivo começou a se tornar muito mais abrangente para mim. “Contar uma história é brincar de pintar a vida”.

“Contar uma história” não é apenas narrar um conto. Para a Silvia os valores, as emoções e o que fica depois da história são as coisas que mais importam. “Pintar a vida” não é apenas colorir, vai além, tem quase o significado de revelar, des-cobrir, surgir do vazio uma história. E quando olhamos para as duas arrumações que ela fez do quente e frio e as motivações dela ao fazer cada arrumação, o que ela mais se encantou e no que ela acredita seja mais próxima do quente, fica claro a questão de que as idéias mais interessan-tes estão nos objetos como a tv e a cobrinha de triângulos, mas a forma mais atraentes está na mandala.

A televisãozinha reuniu os conceitos de movimen-to, humor e histórias que geram valores. Porém ainda é um quadrado, pequeno pouco atraente. Por outro lado a mandala foi o experimento que mais interessante em se manipular, mais atraiu atenção com as cores e a forma. Esses duas va-riações se tornaram então duas alternativas.

Gerando AlternativasA primeira alternativa pensada foi a mandala bem como ela é, com funções a mais, com faces ser-vindo de suporte para os desenhos das crianças. A idéia é transformar a mandala no rolinho que tem dentro da televisãozinha mas sem a caixa que a esconde. Revelar a forma, os desenhos e a partir disso trazer as histórias que geram valores, que falam de emoções com os alunos.

Mandala

material: tecido, entretela, papelão, elástico.

Essa mandala ficou bem grande, e quando eu cheguei nas escola para usar as crianças vieram logo encima interessadas pelo colorido. A profes-sora começou o exercício com a mandala falando sobre o natal e sobre que presente as crianças gostariam de dar para Jesus. Antes de as crian-ças fazerem os desenhos a professora conversou

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AlternativaAlternativas

bastante com as crianças porque, quando ela perguntou o que as crianças dariam de presente para Jesus muitas responderam “bicicleta”, “bola” e coisas assim. Mas a Silvia falou que não se dá esse tipo de presente para Ele, e que presente era algo que deixavam as pessoas que nós gos-tamos felizes. Então o presente deles para Jesus deveria ser algo que O deixasse feliz.

Então as crianças fizeram desenhos falando sobre ajudar os outros, respeitar, obedecer e várias ou-tras coisas.

Quando a maioria das crianças terminaram de de-senhar a Silvia começou a chamá-las para colocar os desenhos na mandala, mas aí, aconteceu que a mandala não suportou a manipulação das crian-ças. Primeiro o elástico não pareceu um bom suporte para as folhas com desenhos, as crianças

se confundiram o tempo todo, pegaram elastico de onde não era para prender os seus desenhos e toda hora um desenho caía. Além disso muitas partes da mandala amassaram, as partes internas do papelão dobradas ficaram vincadas de forma a não deixar mais a mandala ficar em pé.

Agradeço a Silvia e as crianças por usarem a mandala, isso me mostrou muito sobre o material, e como as combinação de itens usados funciona ao ser usado, as crianças puxaram várias vezes a mandala para o lado errado, e o material não estava pronto para isso.

Mandala Partida no Meio

A geração de alternativa seguinte foi uma idéia de partir a mandala no meio. A mandala é em base, uma ‘sanfona’ com as duas pontas fecha-das, ao abri-la, temos uma estrutura muito pare-cida com uma mola e simplificando ainda mais, um livro.

Mas um livro comum não é proximo da mandala, porque, essa tem volume, ela fica em pé e pode ser vista de muitas maneiras, além do fato de servir de suporte para vários desenhos de crian-ças. Essa foi a alternativa usada logo em seguida da mandala.

Livro de Mandala

material: papel e clips.

Esse experimento é um livro que fica de pé de maneira circular, assim como a mandala, ele su-porta várias folhas.

O uso dele na aula foi bem melhor que a man-

dala de tecido, ele suportou a manipulação das crianças e principalmente tem uma forma que faz o seu uso ser muito mais intuitivo do que o ante-rior.

Com os mesmos desenhos que não deu pra ficar preso na mandala usamos esse livro e as crian-ças todas de novo foram montar ele junto com a professora, cada crianças escolheu uma cor e foi montando. Depois de todos os desenhos presos a Silvia foi para a frente da sala e falou de cada desenho, contando do significado da coisa escrita ali junto com o aluno que desenhou, mais ou me-nos assim;

-Esse é o desenho de quem? - a Silvia olha o de-senho - Ah sim, aqui, é o desenho da Ana Júlia, e ela desenhou ela mesma indo pra igreja junto com a amiga dela, quem é sua amiga Ana?

- é a Yasmin.

-Ah e vocês foram visitar a casa de Jesus no natal para dar presente pra ele.

Daí ela passou para outro desenho e foi ressal-tando o que tinha de bom em cada desenho.

Esse alternativa se tornou a mais interessante para ser a alternativa adotada por vários motivos;

primeiro, ela reunia a idéia de suporte para de-senho das crianças, depois funcionava como um “rolo” da televisãozinha que poderia ser trocado o tempo todo, além disso, a montagem dos dese-nhos nessa alternativa era por si só uma ativida-de em grupo, onde as crianças podiam manipular o objeto, sentir seu peso, textura, cores além de explorar o seu formato, o uso da alternativa fo-mentava a contação de histórias desenhadas pe-las crianças que com a orientação da professora se tornavam histórias sobre valores e emoções e por fim, a forma as cores que de maneira intuitiva mostravam as crianças e a Silvia onde prender e como montar tudo.

Agradeço a Silvia por usar essa alterna-tiva como para contar as histórias que as crianças desenharam, isso me fez ver, que a partir da orientação dela da atividade os valores e a mensagem importante que ela queria passar as crianças ficaram interes-santes para as crianças pelo uso do objeto.

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Experimentação FinalMaterial; papel paraná, tecido, costura, cola quente e botões.

A experimentação final aconteceu bem pouco an-tes da apresentação final desse projeto. A Silvia já viu ansiosa o livro todo de tecido com um sor-riso e com bom humor disse;

- que trabalhão! Você aprimorou o livro que legal.

Então para essa atividade a Silvia deu uma folha pra cada aluno e começou assim;

- Então presta atenção no que eu to falando ago-ra. Presta atenção. Hoje é o último dia do tio Thiago com a gente. Sim sim, ele está se despe-dindo hoje. E por isso, nós vamos fazer um pre-sente de natal pra ele, pra dizer “tchau tio thiago” todo mundo tem uma folinha, pode fazer ou um desenho, quem quiser pode escrever tá bem?

As crianças começaram a rabiscar e algumas per-guntavam; “tio porque vc vai embora?”, “tio vai não”, “vou fazer um desenho mas é surpresa, não pode ver agora”.

No meio do exercício o André Luiz pediu pra eu desenhar uma moto pra ele, porque ele queria me desenhar indo embora de moto. Eu achei graça e fiz o desenho pra ele, daí um monte de crianças começaram a pedir carro, avião e fiz só mais um ou dois.

A Darling fez uma carta muito bonita sem dese-nho. Eu perguntei se ela não iria fazer desenho e ela me pediu para ensina-la a fazer uma bicicleta,

então eu desenhei uma bicicleta no quadro com poucas linhas.

Depois de algum tempo, fizemos a montagem do livro bem como o protótipo anterior;

- Esse é pesado, abre aqui?

Eu mostro a professora como fica aberto na mesa e ela elogia. Então ela vai passando os desenhos e dizendo um pouco de cada um.

- Ana Júlia você fez o tio Thiago indo embora de táxi. - e ela tinha escrito “táquisi” - Tailane fez um coração colorido, olha só o da Cauane - as crian-ças conversam falando dos desenhos - Diego fez o tio Thiago indo de bicicleta.

Tchaau tio thiago.

Conclusão da intercessorapor Silvia Fernandes

Durante este semestre tive o prazer de conhe-cer e conhecer o “tio Thiago”, uma pessoa que conquistou todas as crianças com seu carinho, brincadeira e com sua arte. Nos trouxe inúmeras iscas que contribuiram de forma positiva para o processo de ensino-aprendizagem. Esses expe-rimentos incentivaram bastante as crianças nos momentos da s contações de histórias, promo-vendo e instigando a imaginação a imaginação dos pequenos. Isso se tornava claro nos rosti-nhos, boquinhas e olhos brilhantes que percebía-mos nos momentos das histórias.

Quando o “tio Thiago” não comparecia as crian-ças sentiam falta e sempre perguntavam por ele, pelo “João e Joana” e pelos demais experimentos que enriqueciam nossas aulas.

O protótipo apresentado despertou atenção devi-dao ao seu formato e colorido que muito os atrai. No processo ensino-aprendizagem tal instrumento será de grande valia, visto que é bastante flexível e pode ser usado de diferentes maneiras: para contar histórias através de gravuras, produção de textos coletivos observando uma sequência além de ser muito útil em todo o processo de alfabe-tização, incluindo apresentação de novas sílabas depois das histórias.

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Conclusão do AlunoDesde o princípio do projeto, quando eu decidi me inscrever na matéria, em casa, dentro da mi-nha zona de conforto e eu cliquei naquele botão de confirmação já tinha em mente o que estava buscando no projeto de planejamento e nas aulas com a Ana Branco. E é muito importante citar específicamente a Ana Branco porque faz parte dessa conclusão a presença dela nesse curso.

Eu reconheço em mim várias características que durante muito tempo pensei que se tivesse a chance, as mudaria deliberadamente. Demorou muito para mudar esse pensamento e chegar no pensamento que tenho hoje que esse perfil, posi-

tivo ou negativo meu, eu mesmo preciso aceitar. E quando cliquei no botão para fazer a aula da Ana Branco pela segunda vez, era isso que estava fazendo, aceitação. Eu estava aceitando quem sou, quem a Ana Branco é, aceitando as nossas diferenças, a diferença de todas as pessoas que eu iria encontrar naquela barraca entre duas ja-queiras. E aceitando que teria uma dificuldade imensa de passar por ali e ser bem sucedido ao final do semestre. Só que, ao mesmo tempo que aceitei, também tomei a decisão de que, não iria desistir, até o fim do semestre, não importasse o resultado, não importasse minha nota. Quando eu cliquei no botão, o que mais importava era que queria tentar, mesmo que fosse pra dar er-rado, não era passar de semestre que importava, o que me importava era tentar me aceitar como

sou, dentro daquele ambiente.

Mas nada que eu pudesse planejar, chegaria per-to do que encontrei nesse semestre em compania desses professores e desses amigos que eu fiz. A algum tempo que venho pensando em como con-cluir o projeto e me senti muito tentado montar a conclusão em forma de agradecimento, até como um jeito divertido de escrever.

Primeiro agradecendo por ter conhecido a Patrí-cia, minha dupla de projeto no início do curso. Que figura! Eu olhava para ela e tudo que via era uma pessoa tão diferente, tão diferente que chegava a me maravilhar com o fato que como a mente pode caminhar por vias tão diferentes. Como pode uma pessoa ser totalmente movida pelo sentimento no estado mais bruto, é quase como uma criança que se encanta ao ver a coi-sa mais normal do dia-a-dia. Olhava para essa minha dupla e dizia, «como gostaria de ser tão encantado com a vida como ela é». Até citaria as qualidades da Patrícia, mas é regra de todo agradecimento não usar adjetivo! Por isso, muito obrigado Patrícia, você ficou no projeto tempo suficiente para me ensinar com o exemplo, a valiosa lição de se encantar sempre, de ser mais sentimento e menos discernimento.

Depois eu teria que agradecer a Silvia. Essa in-tercessora é uma pessoa incrível, eu me lembro que no início do projeto logo que eu a vi pensei na hora que tinha que ser ela, mas a diretora do colégio me barrou por conta dos documentos da CRE. E quando eu voltei na barraca a Ana me orientou a ir pra outra escola, que não pedisse documento. Ah! Mas eu não queria, a Silvia já

era a minha intercessora, se eu tivesse visto 20 escolas, com 20 professores(as) não ia mudar de idéia. E foi um corre de documento pra cima e pra baixo, tinha que ser naquela escola. Tudo valeu muito mais do que todo o esforço. Perto do que recebi de carinho, de atenção, de com-panheirismo da Silvia, esse corre-corre atrás de documento foi muito pouco. Quando cheguei na escola fui com a intenção de ter um intercessor e agradeço tanto a Silvia porque ela me ensinou que a intenção é sempre de fazer um amigo, um companheiro com quem se possa contar. Isso vou levar para sempre, os amigos que fiz de-pois que a Silvia me mostrou isso eram pra ser, «parceiros», «colegas», «grupo de trabalho», «professor», «monitor da turma», «atendente do rdc», esses nomes todos quem dá é a PUC, pra mim o nome deles todos agora é «amigos».

Logo em seguida não deixaria de agradecer a Luciana. Ela, junto com a Marcela me salvaram de desanimar do projeto logo depois da saída da Patrícia. A Luciana teve que me aguentar num email infindável de desabafo sobre o projeto, de um Thiago que não sabia fazer amigos, que es-tava tentando saber o que estava sentindo e que não sabia direito a quem recorrer. E a Luciana, professora de desenho, foi a identificação mais próxima que encontrei na hora de alguém que poderia recorrer. Foi graças a ela que fiz o João, o experimento mais quente do projeto que levan-tou a maioria das perguntas.

A Marcela, por ter uma atitude simples, de me procurar, saber como eu estava. Eu simplesmen-te senti uma falta de alguém que se interessasse pela minha situação no meio do curso. Quando a

Patrícia saiu do projeto me senti dando um passo pra trás, perdendo algo muito importante e isso me abateu bastante, a Marcela apareceu bem nesse momento. E agradeço muito isso ter acon-tecido. Ela me deu uma força para continuar que sozinho não teria. E talvez ela nem ache que fez isso tudo.

Reestabelecido desse momento, o que seria de mim sem a aula de Sandra Gullino. É bem verda-de que já vi algumas apresentações de origami, de professores muito bons, e que quando ela veio se apresentar na Puc, nem me passou pela cabe-ça que fosse algo diferente do que eu já vi, «mais um professor de origami que sabe fazer origamis super legais, vai me ensinar algo super fácil», mas a Sandra abriu a minha mente para uma possibilidade infinita de pensamento. Não faço a menor idéia do que foi que ela dobrou naquela aula, mas jamais vou esquecer do que ela falou sobre origami quando se apresentou, das pessoas que fazem dobraduras iguais em diferentes par-tes do mundo, de pessoas que criam dobraduras, das que dividem e principalmente quando ela disse que eu poderia construir qualquer coisa de papel para testar e então, depois que funcionasse mudar o material, eu me identifiquei tanto com isso que eu não pude deixar de prestar atenção nela a partir daí. Estava diante de uma sabedoria simples, isso pra mim sempre foi a coisa mais en-cantadora que existe. Portanto, agradeço muito a Sandra, não só por ter me recebido, me ensi-nado. Mas agradeço por ela ter essa sabedoria simples, essa coisa de «é só fazer assim», não complicar.

Agradeço também aos meus amigos da turma,

Camila, Felipe, Nelson, por todo companheirismo durante o curso, pelo apoio pra concluir algumas etapas do projeto, pelos conselhos, pelas risadas e principalmente pela amizade.

Agradeço a Socorro. No início do curso eu come-cei a me perguntar como que ela conseguia, ela lia todos os textos de todos os alunos da turma e se a Ana tem outra turma, ela lê de outra turma também! E corrige todos, ela está corrigindo esse texto agora, e se eu escrevo errado ela percebe, não passa nada. Eu não demorei para perceber a admirar essa paixão que ela term pelo que faz, e começar a admirar essa pessoa incrível. Eu agradeço a Socorro por me fazer lembrar que eu também amo o que eu faço e que por isso como eu devo parecer louco pra quem não compartilha da minha paixão! Socorro você é louca!? Você corrige milhares de textos pela madrugada. So-mos todos loucos.

Agradeço ao Vicente por dar atenção ao projeto e por ele sempre nos apoiar, destacando o que há de bom no que fizemos. Depois que a Patrícia saiu do projeto, percebi que ele ficou mais aten-cioso com o meu projeto. E isso me ajudou bas-tante a continuar motivado.

E por fim, porque esse agradecimento é na or-dem crescente, agradeço a Ana Branco. Por tudo que eu vi até agora até poderia dizer que eu aprendi sobre círculos, ou sobre movimento, ou sobre encatamento, sobre mudanças, sobre dedicação, sobre iniciativa, mas não é nada disso no final. Aprendi uma coisa muito interessante nesse semestre assistindo a sua aula.Patrícia com vergonha de aparecer na foto

Felipe e Nelson

Conclusão do Aluno

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52 53

CapítuloConclusão do AlunoDurante toda a minha vida, nas escolas, eu estu-dei e passei. Sempre me esforcei muito para ser o melhor aluno que conseguia ser. Alguns anos tinha um ou outro aluno mais ‹cdf› que eu que conseguia tirar um A+ enquanto eu tirava um A, nada que me aborrecesse. Quando entrei para o segundo grau, estudei e passei todos os anos, nunca fui reprovado nem fiquei de recuperação em nada na minha vida. Depois, fiquei traba-lhando um pouco e era o melhor que poderia nos departamentos. Quando aprendi videografismo, animação, sempre estudei muito para fazer a melhor animação possível, para fazer mais bem feito, para ser um bom profissional. Quando en-trei pra Puc, pelo Enem (sou bolsista), tirei o 3º lugar no Rio de Janeiro, estudando e passando. Durante todos esses anos eu tenho estado tão contente com o meu desempenho, estudando e passando, estudando e passando e quando eu entrei pra sua aula pela primeira vez e senti que ia ser reprovado, tranquei o curso. No final, eu não fiquei reprovado, mas por dentro foi a primei-ra reprovação da minha vida, de fato.

Já passei pela experiência de «não passar» em algumas coisas, mas nunca tinha passado pela experiência de ser reprovado em algo que eu es-tava me dedicando para ser bom.

E esse semestre quando voltei para a Puc depois de 2 anos fora e cheguei até esse momento da conclusão desse relatório, comecei a pensar que, tudo que tenho feito é «estudar e passar». E agradeço imensamente a Ana Branco, por me en-sinar que «estudar e passar» não é a única coisa que importa, não é o único jeito de se ter uma aprovação.

Não se trata de «estudar e passar.

Ana, você me ensinou que ceder é muito mais difícil do que a vontade de ceder. Quando eu confirmei naquele botão que eu queria vir para a sua aula, aquela vontade que eu tive, de me aceitar e de aceitar você não chegava nem perto do que é ceder de verdade no dia-a-dia, você me fez chegar no fim do semestre passando na minha própria prova, na prova que eu me colo-quei quando confirmei a matrícula nessa aula, de que sou capaz sim de aceitar, de conviver, de me admirar e de me dedicar a uma idéia que não é minha, abraçar essa idéia e ainda levar outras pessoas a abraçar essa idéia também.

Foi tudo muito difícil eu não vou negar. Eu sem-pre brinco com a minha afilhada quando cami-nhamos, mesmo que seja bem pouco, ela diz que a perna dela está doendo, manha de criança ten-tando fazer com que eu a carregue, eu respondo que está doendo porque ela nunca usa a perna e que se ela usasse mais a perna para caminhar ela não sentiria dor. E agora me vejo na mesma situação dela, foi tudo tão difícil pra mim, me relacionar com as pessoas, me inserir no grupo, fazer parte, ceder e eu sei no fundo, que só foi difícil pra mim porque eu nunca tinha usado es-sas coisas antes.

Agradeço a Ana Branco, pelo fato de ela ter me ajudado a caminhar, que gerou em mim uma dor na perna.

muito obrigado.

Thiago Macedo2011.2

2011.2DSG1002- Projeto PlanejamentoProfessores: Ana Branco e Vicente BarrosIntercessora: Silvia Fernandes, professora de alfabetização do Ciep Bento Rubião, Rocinha.

Luciana GretherSocorro CalhauSandra GullinoCristina VianaMana BernardesCarlos André Cortes

supervisão de ilustraçãocorreção dos textos

oficina de origamioficina de encadernaçãooficina de preciosidades

oficina de aquarela

Agradecimentos;

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2011.2DSG1002- Projeto PlanejamentoProfessores: Ana Branco e Vicente BarrosIntercessora:Silvia Fernandes, professora de alfabetização do Ciep Bento Rubião na Rocinha.

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