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Relatório Semanal 14 De 04/02/15 a 11/02/15 Proje to Sociologia dos Encontros Desiguais: alteridade e violência nos bairros Manaíra e São José Plano A Religiosidade dos Outsiders Bolsi sta Lucas de Lima Cavalcanti Gonçalves Epígrafe Tem que encher, né? Seca não presta. (Frase dita sobre uma boneca inflável por um pedinte-cantor no ônibus 510, na noite do sábado, 31.01.2015, aproximadamente às 17h30min). Apresentação Este relatório contém informações acerca do período da semana que corresponde ao intervalo de tempo entre os dias 05 e 11 de fevereiro de 2014. Os oito últimos relatórios não foram entregues porque o pesquisador estava de férias no Canadá. Leituras Devido à quantidade de horas dispendidas nas atividades de campo e na participação, como ouvinte, do I Colóquio Internacional de Estética e Existência, realizado no Campus 1 da Universidade Federal da Paraíba, não foram realizadas leituras referentes à pesquisa no período que concerne este relatório. Atividades de Campo 31.01.2015 Estávamos caminhando pelo Bairro de Manaíra. A entrada para o Bairro São José é logo após o Estacionamento do Shopping. Uma pequena ponte, à qual só é possível acessar passando por um beco entre casas geminadas, divide a paisagem em dois extremos, de um lado, as ruas asfaltadas e o início do bairro nobre de Manaíra, do outro um amontoado de casas disforme que 1

Relatório Semanal 14

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Relatrio Semanal14De 04/02/15 a 11/02/15

ProjetoSociologia dos Encontros Desiguais: alteridade e violncia nos bairros Manara e So Jos

PlanoA Religiosidade dos Outsiders

BolsistaLucas de Lima Cavalcanti Gonalves

Epgrafe

Tem que encher, n?

Seca no presta.

(Frase dita sobre uma boneca inflvel por um pedinte-cantor no nibus 510, na noite do sbado, 31.01.2015, aproximadamente s 17h30min).

Apresentao

Este relatrio contm informaes acerca do perodo da semana que corresponde ao intervalo de tempo entre os dias 05 e 11 de fevereiro de 2014. Os oito ltimos relatrios no foram entregues porque o pesquisador estava de frias no Canad.

Leituras

Devido quantidade de horas dispendidas nas atividades de campo e na participao, como ouvinte, do I Colquio Internacional de Esttica e Existncia, realizado no Campus 1 da Universidade Federal da Paraba, no foram realizadas leituras referentes pesquisa no perodo que concerne este relatrio.

Atividades de Campo

31.01.2015

Estvamos caminhando pelo Bairro de Manara. A entrada para o Bairro So Jos logo aps o Estacionamento do Shopping. Uma pequena ponte, qual s possvel acessar passando por um beco entre casas geminadas, divide a paisagem em dois extremos, de um lado, as ruas asfaltadas e o incio do bairro nobre de Manara, do outro um amontoado de casas disforme que se comunicam atravs de vielas em torno da rua principal do famigerado Bairro So Jos. As pequenas ruas, que mais se assemelham a becos, so disputadas por transeuntes e pequenas motos (vulgarmente conhecidas como cinquentinhas). Era o primeiro contato de Rogrio com o bairro. O choque era inevitvel, apesar de no estar to afastado daquele tipo de realidade. Passamos por dois becos. Tivemos acesso rua principal, onde, dos dois lados, se comprimem casas, igrejas neopentecostais e bares, alm de um terreiro de macumba e uma Comunidade Eclesial de Base. Aps passar pelo segundo beco (o primeiro nos tinha conduzido a uma rua semelhante principal, diferenciando-se dela por ser parcamente iluminada e no apresentar tantos estabelecimentos comerciais quantos possui aquela) chegamos Unidade Evanglica Sara Nossa Terra, localizada na rua principal do bairro, a Rua Edmundo Filho. O templo pertence denominao neopentecostal Sara Nossa Terra, sediada em algum lugar do sudeste e espalhada por todo o Brasil. A denominao funciona tal qual uma empresa: os membros de determinado bairro se filiam a uma unidade j existente em algum bairro da cidade onde moram. Recebem a, a misso de conduzir outros jovens, do mesmo bairro em que vivem, unidade que frequentam. Quando tal nmero cresce, tendo-se um grupo que possa ser considerado relativamente grande, levando-se em conta o grau de marginalidade e desinteresse pela religio aos quais o jovem encontra-se exposto na localidade onde mora, forma-se uma clula. Os membros desta clula, por sua vez, devem fundar outras clulas no bairro onde moram. Quando um bairro possui determinado nmero de clulas, representando o nmero de fiis naquela rea uma demanda, funda-se uma Unidade Evanglica em tal bairro.

No So Jos cada clula, (sendo ao todo nove) que constitui a Unidade Evanglica frequentada por algo em torno de quinze jovens. Uma das clulas, a Clula de Casais, atrai um pblico que, apesar de ser minoritrio entre seus frequentadores, desperta a ateno da denominao pelo crescente nmero de jovens que casam ou se amancebam em torno dos vinte anos. As outras oito clulas denunciam o fato de ser jovem a maioria dos frequentadores da denominao. Os nomes para elas escolhidos, ao contrrio de um triste e obsoleto Clula de Casais, denunciam a jovialidade quase que infantil de seus participantes: Clula 300 (referncia ao filme 300); Clula Renovao; Clula Essncia (frequentada, como o prprio nome claramente indica, em sua maioria por jovens adolescentes do sexo feminino); Clula Os Escolhidos; Clula UFC (a sigla significa Unidos na F em Cristo e referncia a um novo clssico da TV norte-americana, um programa de luta cuja sigla UFC mas cujo significado desconheo no contexto original) e, por ltimo, a mais romntica de todas, Clula Mudando o Mundo.

O ambiente est lotado por jovens. um salo extremamente simples. Parece ter sido planejado para funcionar como um local comercial. Aparelhos e caixas de som, um projetor digital, que serve para exibir imagens e vdeos, que se relacionam com as msicas cantadas e as leituras feitas durante o culto. So dez fileiras, com dez cadeiras cada, divididas por um corredor de acesso que leva ao presbitrio-palco, onde h um plpito de vidro do qual prega o Pastor Daniel Cabral de Lima Florncio, jovem recm-formado em Administrao de Empresas pela Unip; os aparelhos de som e dois acessos: no meio da parede, para o futuro escritrio do Pastor e, na outra extremidade, para a sala onde as crianas so postas durante a pregao.

Este culto a que viemos um evento por eles denominado Arena Jovem, em que se unem, em um culto na igreja, todos os jovens componentes das clulas do bairro. O culto comea com alguns cnticos. As luzes do templo so apagadas. So ligados os jogos de luz, e os jovens, aglomerados diante do presbitrio-palco cantam e danam ritmos como funk e rock com letras religiosas. Entre os cnticos o animador sempre emite gritos de guerra que so repetidos pelos fieis-plateia. Um dos primeiros, que na hora conseguimos anotar, dizia: Ah! Jesus Rei! Ah! Me conquistou! Ah! Me libertou, pra viver uma nova histria. Ao final dos cnticos foram projetados em um telo pendente do teto dois vdeos: uma espcie de propaganda comercial do Arena Jovem, com alto grau de emocionalismo evidentemente, e um vdeo com fotos das nove clulas do bairro. Ao fim da apresentao dos vdeos foi anunciado que a clula que tivesse trazido mais jovens ganharia um prmio. O animador, ento, gritou os nomes de cada uma das nove clulas, e os representantes de cada uma delas, na plateia, ao ouvir o nome de sua clula gritavam. A clula mais gritada e, consequentemente, a que com maior empenho atingiu a meta, foi a Clula Mudando o Mundo. O prmio: o lanche da prxima reunio. O lanche custeado semanalmente pelos prprios membros da clula para a reunio realizada nas casas dos prprios membros. Mas aqueles que trazem mais gente (= divisas) para a igreja recebe como prmio o lanche em uma reunio de uma semana.

Aps a premiao o pastor-animador iniciou a pregao. O tema do discurso: De Deus no se tira frias. A motivao: a queda na captao de divisas causada pelo perodo de frias. O pastor-animador, nesta noite, no o Pastor Daniel Florncio, mas o Pastor Mrco. Aparentando ter aproximadamente trinta anos, Pastor Mrcio exerce algum cargo que equivale a um quase-episcopado na denominao. Algumas frases chamaram ateno: O Bairro So Jos vai ser todo transformado pelo Senhor Jesus e Temos que cheirar Bblia, injetar Jesus na veia e se embriagar no Esprito Santo e ainda Aonde o sangue do seu lder pingar, o seu deve empoar.

Aps a pregao fez-se uma orao final, em que, pelo que ouvimos, o pastor-animador mostrava aos fiis-plateia que aquilo que foi dito durante o sermo aplica-se vida deles: no devem, de fato, tirar frias de Jesus. Samos durante a pregao e voltamos para a praa que fica em frente ao Manara Shopping onde permanecemos um pouco, imersos em divagaes sobre tudo o que havamos ouvido e visto.****

08.02.2015

Fomos ao campo com o objetivo de tirar fotos dos templos religiosos do Bairro So Jos, para comporem o levantamento etnogrfico ainda pendente. No entanto, foi constatado que, sem nenhuma culpa poder ser computada em nenhum dos dois integrantes do projeto, por um erro de calculo a cmera se encontrava descarregada e ento, chegando na entrada do Bairro So Jos, uma mudana de planos se imps. Fomos, ento, missa das dezessete horas na Parquia So Pedro Pescador, em Manara. Era um dos domingos do Tempo Comum. Chegamos j durante o sermo. O templo de arquitetura cnica, sendo o teto da parte do presbitrio mais alto do que o resto do teto e vem enquanto o cho se eleva at s portas. Na nave h quatro fileiras de bancos, sendo que em cada fileira h aproximadamente dezesseis bancos de madeira.

O presbitrio separado da nave por trs degraus. H, no meio do presbitrio um altar retangular de mrmore, coberto com uma toalha verde, sobre a qual foi deposta outra de cor branca, que cai pelos lados do altar at quase tocar o cho. Do lado direito do altar h uma cruz processional de madeira sem a imagem do Crucificado. Ao p da cruz h um vaso de barro com algumas folhas verdes. Sobre o altar do lado esquerdo, h uma vela verde. O padre se senta atrs do altar, de frente para a assembleia, em uma ctedra de madeira. Dos dois lados da ctedra h, separadas dela por pequena distncia, duas fileiras de trs cadeiras cada, para os coroinhas e ministros da comunho.Do lado esquerdo do presbitrio, encontra-se o ambo de madeira totalmente coberto de um pano de cor branca. Da frente do ambo pende pende uma faixa de pano verde. Na parede, onde termina o presbitrio, pende uma imagem de Jesus Cristo com os braos em forma de cruz, tambm existe uma passagem, ao lado esquerdo do presbitrio, pela qual se pode entrar na capela do santssimo. No canto uma esttua de Nossa Senhora das Graas. As paredes da igreja so pintadas de branco gelo.Acabou o sermo.

O ambiente da igreja quente, alguns ventiladores de teto (seis, estando um deles quebrado) lutam contra o mormao do final da tarde. Existem tambm outros oito ventiladores pequenos, esses presos nas paredes laterais e que tambm entram na briga de galo, mas o resultado o mesmo: calor!Sentamos entre duas mulheres, elas pareciam claramente incomodadas com nossa presena Ao nosso redor, ao menos em trs momentos, trs pessoas diferentes atenderam o celular.

O padre pulou a Paz. A parte da missa em que as pessoas se cumprimentam mutuamente foi propositalmente excluda da celebrao. Fato curioso. A missa caminhou ao final, fomos informados pelo padre Geraldo Magella que toda segunda quinta-feira do ms, durante a noite, acontece a reunio do conselho paroquial. Decidimos participar. Levantei a questo de que haviam poucos moradores do So Jos que frequentavam a igreja, decidimos que a semana santa que se aproxima seria um bom momento para notar relaes maiores entre os moradores dos dois bairros. A festa maior, a missa mais populosa. Moradores do So Jos provavelmente sero encontrados em maior nmero. A missa da Quarta-feira de Cinzas acontece s 19 horas. Iremos pegar a programao da semana santa nos dois bairros e acompanhar as movimentaes.

Terminada a missa, acompanhamos um senhor at prximo ao final de Manara, especificamente at a Avenida Pombal, por onde subimos at o nmero 474, especificamente Igreja Batista Fundamentalista. Com o objetivo de realizar observao.

A igreja participante do movimento conversador dentro dos Batistas, tem seus fundamentos apoiados na figura de John Franklin Norris, pregador do sul dos Estados Unidos. A igreja onde o culto de adorao seria realizado podia ser considerada at simples. Seu estilo arquitetnico era o de um galpo. A porta de acesso ficava ao lado direito, existiam nove bancos de um lado e onze de outro; deveriam caber cerca de 100 pessoas sentadas no local. A nave era separada por dois degraus do presbitrio. No presbitrio havia uma mesa de vidro com microfones e um arranjo de flores artificiais. O pblico comeou a chegar, chegou cerca de 20 pessoas antes de comear o culto. Ambos os pesquisadores foram obrigados a se apresentar aos presentes. Lucas e Rogerio. As msicas tinham as letras exibidas em uma tela ao lado do presbitrio e mostravam sempre um tom emocionado, mas a plateia, na nossa viso, acompanhava o celebrante de modo aptico. As leituras foram iniciadas, o pastor convidava os membros pelo nome para realiza-las. Chegamos concluso de que todos se conheciam. Ser chamado para ler junto ao altar parecia algum tipo de reconhecimento do membro, deveria haver um tom de recompensa na voz do pastor. Membros mais integrados a comunidade na semana que antecedeu ao culto deviam ganhar preferncia nas leituras. Uma ferramenta de poder.

O culto demora, o pastor se alonga sobre os perigos que o carnaval pode oferecer a um cristo. Evoca filologicamente o termo a fim de explicar as razes malignas e demonacas do Carnaval. Os termos so mais bem utilizados, o discurso, apesar de divulgar diversos pontos de vista tidos como senso comum, bem enfeitado e evoca uma importncia nobre no uso das palavras. Todos os membros ouviam de modo aptico pregao, sempre apticos. Todos cheiravam fortemente a perfume, Lucas e Rogerio estavam fedendo. Se havia algum morador do So Jos estava perfeitamente disfarado entre a maioria de moradores do Manara.

O culto se estendeu bastante, fomos embora por culpa do nibus.

Levantamento bibliogrfico

No foi feito levantamento bibliogrfico durante o perodo deste relatrio.

Outros

Nenhuma outra atividade foi realizada alm das j referidas anteriormente neste relatrio.

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